O livro dos Tutus

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João Pessoa | 1ª edição | 2018


© Blandina Franco e José Carlos Lollo, 2012 © desta edição, Mundial Edições, 2018 Responsabilidade editorial: Ana Mortara Supervisão comercial: Fábio Mantegari Projeto gráfico e capa: José Carlos Lollo Revisão: Iuri Pereira Impressão: Yangraf Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Franco, Blandina Os livros dos tutus: os assombrosos, monstruosos, horríveis, cruéis e terríveis bichos-papões do folclore brasileiro / Blandina Franco e [ilustração] José Carlos Lollo. – São Paulo: Mundial Edições, 2018. ISBN 978-85-68699-85-0 1. Folclore – Literatura infantojuvenil 2. Poesia – Literatura infantojuvenil I. Lollo, José Carlos. II. Título. 12-06165

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Folclore: Poesia: Literatura infantil 028.5 2. Folclore: Poesia: Literatura infantojuvenil 028.5

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Quando a noite enchia de escuro o seu quarto, uma coisa sombria, mais gelada que um lagarto, pelo chão, entre os brinquedos, se esgueirava uma coisa que de crianças se alimentava. E no quarto vazio, porque o menino não dormia, essa coisa por ele esperava, por mais que seus pais mandassem, pra cama ele não ia e mais faminta essa coisa ficava. Quando finalmente o menino se deitava e a luz no quarto se extinguia, essa coisa, que por tanto tempo aguardava, bem baixinho, agora gemia.



O menino acende a luz assustado: o que será que o mantém acordado? Um Tutu-marambá, um Zambeta? Algum bicho mais feio que o capeta? Mas é só a luz se acender, pra essa coisa desaparecer, como se estivesse camuflado, pela luz do quarto iluminado. E agora? O que é isso? Me explica? Fala logo, não me deixa aqui aflita! Quem espreita criança que não dorme? Que ser é esse de alma tão disforme?


Uma Cabra-cabriola esfomeada? Que odeia crianรงa acordada. Que com dentes muito afiados, sai devorando os desavisados?




Talvez um Alma-de-gato? Que nenhuma crianรงa viva jรก viu, mas todo mundo sabe, no ato, foi quem levou a crianรงa que sumiu.


Talvez seja a Cuca danada, que persegue crianรงa tagarela. Se uma crianรงa foi devorada, pode saber, foi ela!




Ai meu Deus, será o Chibamba, que ronca por aí feito um porco? Se para o choro o menino descamba, pobre coitado, está morto!


Jรก pensou se for um Papa-figo? Negro, velho, de farrapos vestido, sรณ de pensar, jรก me sinto perdido. Escapar dele, eu nรฃo consigo.




No Mão-de-cabelo não quero nem pensar! Ele persegue quem faz xixi na cama, não importa você se desculpar, não importa o quanto se reclama.


E se for a Pisadeira? Acho que fico aliviado, ela ĂŠ pesadelo, ĂŠ passageira, acaba quando estou acordado.




Já o Quibungo é um animal, que imaginar me causa muito mal, com aquele buraco nas costas, onde joga as crianças que não gosta.


Mal o menino percebe, que enquanto os monstros por ali zanzavam, sua cabeça ficava leve e seus olhos aos poucos se fechavam. Era o sono, que na verdade ia o menino levar. Não importa se no campo ou na cidade, monstro nenhum vem aqui te pegar. Porque monstros só servem pra isso: pra fazer criança dormir. Falam que vão te dar um sumiço, mas mal conseguem na cama subir.



Conhecido como Tutu-zambeta, Tutu-marambá ou Tutu-do-mato, dependendo da região do Brasil, os Tutus são bichos-papões que devoram crianças malcriadas. Eles fazem parte do ciclo do terror infantil do nosso folclore e aparecem para amedrontar as crianças de todas as regiões de nosso país. Antigamente as amas – como eram chamadas as babás – cantavam cantigas de ninar falando dos Tutus para fazer as crianças dormirem. Se você quiser cantar uma, para ver se o seu irmão mais novo dorme logo, na página ao lado tem três dessas cantigas para você experimentar.


“Calai, menino, calai. Calai, que lá vem Tutu, Que no mato tem um bicho Chamado Carrapatu.”

“Tutu-zambê, Vem papá sinhazinha! Tutu, vá-se embora, Sinhazinha está dormindo!”

“Tutu Marambaia, Não venha mais cá Que o pai do menino Te manda matá.” (Cantigas de domínio público. In: CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2002)


Aparece em Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia É um monstro terrível, tem uma boca enorme com dentes muito afiados. Invade a casa dos outros durante a noite e devora todas as crianças que encontra pela frente. E, para piorar, solta fogo pelos olhos, nariz e boca.

Aparece no Rio Grande do Norte O mais assustador desse monstro é que ninguém sabe como ele é, nem o que ele faz direito. Mas é só falar o nome dele que todas as crianças ficam com medo. É como um fantasma que ninguém vê, mas que podemos sentir ao nosso lado.


Aparece em todo o Brasil Na maioria das vezes, ela aparece como uma velha, muito velha mesmo, toda enrugada, muito magra e corcunda. Ela é mesmo muito feia e desgrenhada e aparece durante a noite para levar embora as crianças que não param quietas e ficam matraqueando em vez de dormir.

Aparece no sul de Minas Gerais Ele gosta de amedrontar as crianças que choram muito na hora de dormir. Geralmente aparece vestido com folhas de bananeira e ronca como um porco. Ele entra na casa dos outros dançando compassadamente.


Aparece em Recife e, algumas vezes, no Rio de Janeiro É um homem negro, velho, muito sujo, que sofre de lepra e vive vestido de farrapos. Às vezes, ele é confundido com o homem do saco, que ronda as escolas, para descobrir onde as crianças moram e depois raptá-las. A diferença é que o Papa-figo rouba as crianças para comer o seu fígado, acreditando que isso poderá curá-lo da lepra.

Aparece no sul de Minas Gerais É uma entidade fantástica. Ele parece normal, um homem alto e magricela, mas, no lugar das mãos, ele tem um chumaço de cabelos. Anda sempre com uma roupa branca e leva embora as crianças que fazem xixi na cama.


Aparece em São Paulo A Pisadeira é o pesadelo. Normalmente, ela aparece como uma velha magra de dedos compridos e unhas enormes, que se senta sobre a barriga da criança que acabou de dormir, fazendo ela acordar assustada.

Aparece na Bahia É um monstro meio homem, meio bicho. Cabeçudo e todo peludo, ele tem um buraco enorme nas costas, que se abre quando ele abaixa a cabeça. Ele adora comer crianças. Quando encontra uma, ele abaixa a cabeça, o buraco nas suas costas abre, ele agarra a criança e a joga lá dentro.


Blandina Franco escreve histórias para crianças. Tem mais de dez livros publicados em parceria com o Lollo e, quando não está escrevendo, está lendo ou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo. Ela diz que não tem medo de bicho-papão e que, se algum aparecer na casa dela, acaba com ele usando golpes certeiros de canetinhas hidrocor. José Carlos Lollo ilustra livros para crianças. Ele tem um monte de livros publicados e, quando não está desenhando em um papel bacana, está desenhando no guardanapo, na toalha da mesa ou até mesmo no celular. Ele diz que não tem medo de bichos-papão porque, segundo ele, são todos seus amigos: foram os monstros que ensinaram ele a desenhar. O livro dos Tutus apresenta uma história que muito pode contribuir para o incentivo a leitura e aprendizado aos alunos, principalmente do 4º ou 5º anos do ensino fundamental. Por se tratar de um conto da tradição popular, tem extensão adequada para leitores dessa faixa de aprendizado. Este livro é uma ótima ferramenta para possibilitar discussões sobre as relações de respeito às diferenças e, do ponto de vista dos contextos regionais, auxilia no trabalho com o folclore em sala de aula. Categoria: para alunos do 4º ou 5º anos do ensino fundamental Gênero: texto da tradição popular Tema: encontros com a diferença, folclore



Quando a noite enchia de escuro o seu quarto uma coisa sombria, mais gelada que um lagarto, pelo chão, entre os brinquedos, se esgueirava uma coisa que de crianças se alimentava. Pelo Brasil, todo tipo de bicho-papão aparece nas brincadeiras e nos pesadelos das crianças – bando de bicho chato! No texto de Blandina Franco e nas ilustrações de José Carlos Lollo, esses chatos ganham vida e nos mostram que esse mundo dos assombrosos, monstruosos, horríveis, cruéis e terríveis seres do folclore brasileiro, mesmo amedrontador, pode ser divertido.

ISBN 978-85-68699-85-0

9

788568

699850


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