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A Mudança
by CeSIUM
Escrito por José Peixoto
zmpeixoto13 @gmail.com
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Estava sentado à mesa, durante um almoço de família e não havia falta de comida. Vários tipos de carne exibiam-se sobre as travessas. Quase não havia espaço para as panelas, pratos e pessoas que se sentavam em volta dela. Fazia, aproximadamente, 3 meses que tinha mudado a minha alimentação. Passei de uma dieta omnívora para uma à base de plantas. Acabei a comida que tinha no prato e olhei em volta enquanto o resto das pessoas comiam e socializavam. Naquele momento, foi como se o tempo abrandasse. Analisei aquela imagem durante uns segundos. Estava saudável como nunca estivera, tanto fisicamente como psicologicamente. O que via à minha frente, aquele consumo desnecessário de animais para o qual há 3 meses atrás eu contribuí, agora parecia não ter qualquer sentido. Senti algo que nunca tinha sentido, uma reafirmação na decisão que tinha tomado. Nunca me tinha acontecido algo do género. Senti-me tão leve que podia jurar que estava a ver aquela imagem em terceira pessoa. Talvez a falta de carne me estivesse a afetar. É difícil ter a certeza na decisão que tomamos para o nosso futuro, ao contrário de um videojogo onde temos um mapa ou recebemos uma notificação. Mas ali, naquele momento, tive uma confirmação de que tomei a decisão certa ao abandonar o consumo de animais e derivados... Mas vamos retroceder um pouco. Como é que esta ideia surgiu? Sempre quis melhorar a minha alimentação, comia pouco e pouca variedade. Na minha procura por uma melhor alimentação, deparei-me com a alimentação 100% vegetal. Até àquele momento, o pouco contacto que tinha com pessoas veganas acabava sempre comigo a fazer alguma piada com carne. O feitiço acabou por se virar contra o feiticeiro. Nunca tinha tentado perceber o outro lado até então, mas algo mudou com o pouco que li. Despertou-me interesse e pesquisei bastante sobre o assunto. Assisti a documentários, vídeos e li estudos realizados acerca dos prós e contras. Ao fim de alguns dias, não conseguia manter-me indiferente ao que tinha absorvido. Será que a alimentação e o modo de vida que me foi transmitido não era o mais correto? Que parte da minha cultura estava errada? A melhor forma que eu encontrei para responder a estas questões foi experimentar e passar pelo processo. Durante uma tarde em que me debruçava sobre mais um vídeo acerca deste modo de vida vegan, pausei o vídeo que assistia e saí de casa direto ao hipermercado mais próximo. Comprei legumes que repugnava, tofu e seitan que nunca tinha comido. Foi o último dia que consumi produtos animais.
Em relação à moralidade e praticidade do veganismo, acho difícil haver discussão, pois os argumentos a favor são muito fortes. A única preocupação que eu tinha era em termos de saúde, pois há opiniões bastante divergentes nesse assunto. Nos primeiros dias, fazia constantemente um auto check-up para prever a possibilidade de desmaiar devido à falta de carne. Não aconteceu nos dias seguintes nem nas semanas a seguir. Passado meses, sentia um bem-estar como nunca tinha sentido. Comecei a comer mais variedade de alimentos e, consequentemente, a dar mais valor à minha saúde. Esforço-me para não ser um daqueles veganos que tenta impor o seu estilo de vida, mas, por vezes, torna-se complicado, pois, no final do dia, vivemos todos debaixo do mesmo teto. Para mim, resume-se a perceber a situação em que vivemos e fazer a mudança por nós próprios. Não deveríamos precisar que nos imponham regras para mudar o rumo em prol do futuro da sociedade. O que era uma realidade no passado não significa que seja o melhor no presente e a história mostrou isso várias vezes. Muda-te a ti próprio e o mundo muda contigo. “Na história da humanidade (e dos animais também) aqueles que aprenderam a colaborar e improvisar foram os que prevaleceram.” - Charles Robert Darwin