3 minute read

A VELA ABERTA

2

A VELA ABERTA

Advertisement

Na vida as coisas acontecem e o importante é estarmos abertos a este ritmo de acontecimentos aos quais não estávamos preparados. Muitos fatos na minha vida foram assim: simplesmente aconteceram e eu tive que me adaptar. Os imprevistos... Quando tinha uns doze, treze anos, escrevi uma redação na escola (não lembro muito bem o tema, mas lembro que era sobre a nossa vida pessoal). Então, coloquei que minha vida foi orientada por um fato trágico (a perda de meu pai aos 2 anos) e, que por conta disso tive que sair de Premana muito pequeno. E isto me abriu o mundo. O fato de ter que sair de Premana, abriu uma oportunidade na minha vida de ter contato com um mundo para além do meu lugar. Como dizia o Abbè Pierre: “se a vela não estiver aberta, o vento não serve para nada, pois é o vento que dá a direção!” Então, o vento e a vela se complementam, pois

o barco não anda sem a vela estendida e a direção quem dá é o vento que sopra na vela! A morte de meu pai determinou minha saída de Premana. Eu era o caçula dos homens e minha mãe ficou sozinha com dez filhos e não tinha condições de criar todos sozinha, estando em Premana. Meu pai morreu em 22 de dezembro de 1944. Eu completaria 2 anos um mês depois. Carlo, meu irmão mais velho tinha 11 anos e estava no seminário fazia três meses. Meu tio Giovanni (irmão de meu pai) foi buscá-lo no seminário próximo de Brescia. Tinha muita neve neste dia. Era véspera de Natal e o caixão descia em procissão para o enterro no cemitério, quando, de longe, avistou-se duas pessoas a pé marcando as pegadas na neve, em Piazzo, do outro lado do vale. Eram meu tio e meu irmão. Todos esperamos quase uma hora no frio de dezembro, na neve até que eles chegassem para que meu irmão Carlo pudesse ver meu pai pela última vez. 1. O orfanato: o fato de estar no orfanato me fez, através do diretor do colégio entrar em contato com os jesuítas e este contato me fez decidir seguir a vida no seminário e me tornar padre. 2. Na chegada ao Brasil: como missionário, já era membro da ordem dos jesuítas. A decisão de ir à Teresina não foi minha, foi de meus superiores. Mas esta decisão me levou a outra escolha: a de não continuar mais como jesuíta, mas de fazer uma opção de vida totalmente integrada à realidade da população. 3. Eu escolhi ir a São Paulo pra fazer uma experiência de integração com a vida do povo. A presença de Padre Ângelo e Don Evaristo em São Paulo me levaram

a fazer uma opção de ter uma vida operária e ligada à igreja popular, engajada, da Teologia da Libertação. A presença deles e este contato foram determinantes na minha vida. Se não fosse este contato, a minha vida teria tido outros rumos, com certeza! 4. A decisão de viver como operário no contexto do Brasil daquele tempo, implicou correr todos os riscos de quem se opunha ao poder dos ditadores. A experiência da prisão e da tortura fortaleceram cada vez mais em mim a vontade e a disposição de lutar na defesa dos trabalhadores e na denúncia das injustiças sociais. Este mesmo engajamento no Movimento sindical nos levou (eu e Djanira) à decisão de mudar para Recife para trabalhar na escola de formação profissional e sindical. 5. O vento que sopra em diferentes direções me levou a Recife. Aqui conheci Dom Helder que também deu novos rumos para minha vida: a Comissão de Justiça e Paz de Trapeiros de Emaús.

This article is from: