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VENTO RUMO AO SUL
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VENTO RUMO AO SUL
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Garoava. A visão que eu tinha do navio decepcionou minha expectativa de chegada ao Brasil, país tropical! Era a primeira vez que eu pisava em solo estrangeiro e chegando à cidade maravilhosa o céu estava nublado... O navio Enrico Costa (Enrico C) foi minha morada durante treze dias de viagem, desde que eu havia saído do porto de Genova. Dezoito de novembro de 1968. Ao desembarcar me aguardava um padre que de imediato entregou em minhas mãos uma carta de Tarcisio Botturi, superior dos Jesuítas. Estava escrito que meu destino seria o Nordeste, cidade de Teresina, capital do estado do Piauí. Não pude esconder um certo desapontamento, não porque não quisesse ir para lá e sim pelo fato de não ter sido sequer consultado antes. Mas como uma das principais virtudes, característica dos jesuítas é a obediência... A única coisa que eu sabia era que o trabalho que me esperava em
Teresina era numa escola, o Colégio diocesano. A cara do Brasil foi se desenhando aos poucos para a mim a partir do Nordeste e à medida em que fui me integrando na realidade local. O superior do colégio, Padre Carlo Bresciani, me deu a liberdade de manter um contato mais freqüente com uma comunidade da periferia de Teresina. A realidade do país, seus enormes contrastes foram se escancarando a partir dos dois lugares que eu começava a conhecer: a comunidade e o colégio. Pobreza e precárias condições de vida da comunidade gritavam a desigualdade com a escola freqüentada pelos filhos das classes abastadas da região. Sentia grande satisfação no meu trabalho com a comunidade, no contato direto com o povo. Sonhara com isto! Mesmo trabalhando a maior parte do tempo no colégio, me sentia satisfeito. O que me incomodava, porém, era o fato de ser encarado como estrangeiro presente em outro país e a língua dificultava um contato mais próximo com as pessoas. Isto fez amadurecer em mim um sentimento de ter uma experiência de vida comum, mais próxima da realidade do povo. Deixei crescer a vontade ir pra São Paulo. Lá o fato de ser estrangeiro não me fazia sentir tão longe da realidade, pois lá haviam muitos estrangeiros. São Paulo era uma cidade cosmopolita, uma metrópole com pessoas de vários lugares do Brasil e de outros países. Depois do primeiro ano de estágio em Teresina eu deveria ir à Porto Alegre viver lá por 4 anos, freqüentar o curso teológico. Isto também me motivou a pedir uma experiência mais próxima ao povo. A isto se juntou a ideia
de fazer uma experiência no meio operário de São Paulo, conseguindo um emprego numa empresa italiana de gás, a Liquigás, através de um amigo. A partir deste trabalho entrei em contato com o movimento operário organizado, através das comunidades de base na região sul de São Paulo. Morei alguns meses com Padre Angelo Gianola, meu conterrâneo de Premana, até a volta ao Nordeste. Esta experiência em São Paulo durou de março a novembro de 1970. Fui à Salvador, onde se situava a sede dos jesuítas italianos no Nordeste, para definir a continuidade ou não dos estudos para que me tornasse padre. Foi o momento em que fiz a opção de continuar uma vida operária em São Paulo, para onde voltei em seguida.