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O ensino médico no Algarve, embora recente, tem caminho feito

O ensino médico no Algarve, embora recente, tem caminho feito

Paulo Águas¹

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¹Reitor da Universidade do Algarve

No ano letivo 2020/21 a Universidade do Algarve (UAlg) diplomou 50 novos médicos. Em 2022 teremos o 10.º grupo de médicos diplomados pela UAlg, ficando próximo dos 400, em termos acumulados. Ainda em 2022 iniciarão a formação 72 novos estudantes, mais 40 dos que ingressaram na 1.ª edição, em setembro de 2009.

Mas tudo o que tem vindo a acontecer tem a sua origem na Lei n.º 11/79, de 28 de março, que criou a UAlg, após aprovação, por unanimidade, a 16 de janeiro. Somos a única Instituição de Ensino Superior criada pela Assembleia da República, singularidade que muitos nos orgulha.

O período de instalação esteve sujeito a grandes dificuldades, impostas pela escassez de recursos e pelo contexto institucional inerente ao processo de consolidação do regime democrático, em curso à época. Daí que a inscrição dos primeiros estudantes, nas Licenciaturas em Biologia Marinha e Pescas, em Gestão de Empresas e em Hortofruticultura, tenha ocorrido apenas em outubro de 1983.

Em 2008 foi criado o Departamento das Ciências Biomédicas e Medicina com o propósito de acolher o Mestrado Integrado em Medicina (MIM). Não foi curto o tempo de gestação do MIM. Data de 2004 a solicitação do governo à UAlg, sendo então reitor Adriano Pimpão, para elaboração de uma proposta para a criação de um curso de Medicina inovador, na qual José Ponte, pelo seu conhecimento e experiência, desempenhou um papel determinante.

Em 7 de junho de 2004, noticiava a agência Lusa: “A ministra da Ciência e do Ensino Superior, Maria da Graça Carvalho, admitiu hoje que poderá vir a ser criada uma faculdade de Medicina no Algarve, integrada no futuro Hospital Central, a construir no Parque das Cidades, próximo de Faro.” As naturais desconfianças perante um novo curso, com um novo modelo de ensino, numa área tão sensível, foram dissipadas em 2013, aquando da graduação dos primeiros 29 médicos. Em fevereiro desse ano, a anteceder a graduação, um jornal nacional fazia o seguinte título: “Bastonário prevê “bons médicos” no Algarve”, ultrapassando reservas iniciais manifestadas pela Ordem antes da entrada em funcionamento do curso.

Em 2016, através de portaria conjunta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e do Ministério da Saúde, foi criado o Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve (ABC), consórcio entre o então Centro Hospitalar do Algarve EPE (Centro Hospitalar Universitário do Algarve EPE desde 2017) e a Universidade do Algarve. O Centro Académico, liderado por Nuno Marques, tem vindo a cumprir, com distinção, os seus objetivos, nomeadamente o “desenvolvimento ao máximo do potencial disponível, tanto ao nível dos recursos humanos como materiais, assegurando a combinação da investigação básica, translacional e clínica e a educação médica que é necessária para alcançar melhorias significativas dos cuidados de saúde”, ajudando a projetar o MIM.

No seio da UAlg, o pleno reconhecimento do projeto Medicina consubstanciou-se com a aprovação pelo Conselho Geral, em setembro de 2019, da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas (FMCB). Em julho de 2021, a região reconheceu o trabalho desenvolvido através da participação de todos os municípios no contrato programa “Alargar e modernizar o ensino da medicina e a investigação clínica e biomédica na Universidade do Algarve”, que permitirá a renovação dos equipamentos existentes e aumentar, até 2025/26, o número de vagas até um valor não inferior a 96. Já este ano, ficou concluído o Centro Simulação Clínica (UAlg TEC HEALTH), um projeto com financiamento do Programa Operacional CRESC Algarve 2020, infraestrutura que também permitirá dar resposta a necessidades formativas dos profissionais de saúde.

O ensino médico no Algarve, embora recente, tem caminho feito. O contributo dos tutores hospitalares, do CHUA e da ARS tem sido determinante para os resultados alcançado. A equipa da FMCB, docentes, investigadores e trabalhadores não docentes, liderada por Isabel Palmeirim, simultaneamente diretora da FMCB e do MIM, tem provas dadas e continuará na linha da frente da inovação, com um elevado sentido de missão, contribuindo para a melhoria dos cuidados de saúde na região do Algarve.

Bom, até parece que aconteceu tudo o que tinha que acontecer. Será? Não, não aconteceu tudo. O futuro Hospital Central anunciado em 2004 continua ausente no presente!

A ausência de um Hospital com verdadeiras valências universitárias tem dificultado o desenvolvimento do ensino médico na região. O novo Hospital é essencial para a atração e fixação de médicos na região, para o aumento da investigação, para o desenvolvimento do curso de medicina, para a melhoria dos cuidados de saúde, para a coesão territorial, para a competitividade regional.

Muitos de nós teremos a oportunidade de testemunhar os 20 anos do curso Medicina. Todos nós desejamos, exigimos e estamos convictos que nessa data o novo Hospital terá que marcar presença, pois não poderá continuar ausente no futuro, para bem de Portugal.

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