INSIDE
CHAPEL Edição 22 - Março de 2021 / ISSN 2527-2160
ANDANÇA PELAS ARTES Danilo Caymmi transita da música às artes plásticas
UNIVERSO DE POSSIBILIDADES Os recursos informacionais das bibliotecas da Chapel
IMERSO EM SONS E TONS Ex-aluno Rodrigo Frangione conta como a Chapel o preparou para a diversidade artística e cultural
O QUE ACONTECE NO MEIO Crônica de Martha Medeiros
UMA VIDA FEITA DE ESTREIAS Os recomeços e projetos para o futuro do pianista e maestro João Carlos Martins
INSIDECHAPEL
SUMÁRIO
Pe. Lindomar Felix da Silva OMI, Provincial dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada da Província do Brasil
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rezados(as) leitores(as) da revista Inside Chapel, é com o coração exultante de esperança que me dirijo a vocês nesta oportunidade, para apresentar mais um número do nosso querido informativo da família Chapel School. Continua o desafio da luta contra a Covid-19, porém, muito maior que o vírus é a nossa força de lutar e superar as limitações que ele nos impõe, porque, como cantamos no Hino Nacional: “(...) verás que um filho teu não foge à luta (...)”. E é movido por esta certeza que trazemos na matéria de capa um dos maiores nomes da música brasileira, que é um exemplo extraordinário de superação, o grande maestro João Carlos Martins; um homem que enfrentou mais de vinte cirurgias, mas que nunca perdeu o sentimento mais essencial em qualquer luta que combatemos: A ESPERANÇA. Nesta edição, a cultura vem despontando como o grande carro chefe, e é fiel a esse compromisso que a jornalista Adriana Calabró conta a história de vida de nada menos que Danilo Caymmi, que só pelo sobrenome que carrega dispensa comentários e apresentações, por já sabermos tratar-se de um filho do consagrado Dorival Caymmi. Influenciado pelo movimento da bossa nova, da qual sua família foi grande ícone, contamos sua trajetória de vida, como grande intérprete e, por que não dizer também, poeta da música, que consegue com leveza e destreza delinear com lindos traços o que há de melhor na música brasileira. Depois, Maurício Oliveira nos traz a história do nosso ex-aluno Rodrigo Frangioni, que, ao sair da nossa escola, viajou para a cidade de Boston, nos Estados Unidos, onde teve a oportunidade de estudar música numa das mais conceituadas escolas ali existentes, conhecida como Berklee. Paula Veneroso nos leva a conhecer mais a fundo o que de fato são as bibliotecas da Chapel: donas de invejável portfólio que conta com mais de cinquenta mil livros, muito mais do que pura e simplesmente serem apoio às matérias lecionadas em salas de aula, tais espaços são um verdadeiro celeiro formador de pessoas gabaritadas a aspirarem ingresso em qualquer grande instituição de ensino do mundo, o que faz da Chapel uma das poucas escolas com esse grau de competência educacional e cultural no mercado brasileiro e internacional. Contaremos nesta edição com uma profunda crônica escrita por Martha Medeiros, intitulada: “O Que Acontece no Meio”. Trazemos ainda, com muito orgulho e alegria, um feito que mostra por que a Chapel é hoje tão respeitada no cenário estudantil brasileiro e internacional, ao apresentarmos os nossos alunos que participaram da maior competição mundial de Matemática, conquistando medalhas de ouro e prata. Nesta edição os parabenizamos e rogamos ao bom Deus que sigam crescendo no conhecimento matemático e científico, ajudando nosso país a crescer também. E, por fim, trazemos a seção Talentos & Paixões, com lindas e tocantes histórias de vida e dons, que nos enchem de orgulho, por termos em nosso quadro de alunos(as) pessoas com um alto grau de sensibilidade para com seu próximo e de capacidade de crescimento profissional. É isso que Livia Deleuse nos revela, ao falar da história do voluntariado, presente no centro de tudo que faz sua família; é isso que se passa na vida de Yeongin (Elren) Chae, uma jovem sul-coreana que se destacou na competição internacional de matemática, levando o nome da sua família e da Chapel para o lugar mais alto do podium; trazemos a história da jovem de 15 anos, aluna do 10º ano da Chapel e competente amazona, Chloe Tanzilli Teillere, que fez do hobby da sua família um meio de chegar ao lugar mais alto do podium na maioria das competições que concorreu. Contamos ainda a saga de Bruno Stille, talentoso compositor de rap e agora aluno nosso; mostramos um verdadeiro gênio dos teclados, Pedro Malagoni, que, de tão inteligente e destacável que é seu dom para a música, chamou a atenção de produtores musicais de estrelas consagradas como Andrea Bocelli; e, para fechar com chave de ouro, trazemos um breve relato da vida de Nicholas Blikstad, que é um verdadeiro gênio do tênis, apesar de suas habilidades não se limitarem apenas a esse esporte, pois ele também pratica boxe e faz aulas de bateria, em outras palavras, um jovem com muitos talentos, que, com leveza e tranquilidade, consegue pôr tudo isso em prática, com uma humildade muito bonita. E agora que já vou concluindo minha apresentação deste número da nossa consagrada revista Inside Chapel, faço votos de que todos(as) sigam se protegendo nestes tempos de pandemia, e que a leitura das notícias do que anda acontecendo na nossa querida instituição educacional seja mais uma forma de lhes ajudar a seguirem em casa, aguardando logo serem vacinados(as), e, enfim, podermos todos voltarmos às nossas atividades presenciais. Boa leitura, um grande abraço, e que Deus abençoe poderosamente cada um(a) de vocês.
EXPEDIENTE INSIDE CHAPEL É UMA PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA CHAPEL SCHOOL WWW.CHAPELSCHOOL.COM
CONSELHO EDITORIAL: Miguel Tavares Ferreira, Marcos Tavares Ferreira, Adriana Rede e Luciana Brandespim EDITORA: Paula Veneroso MTB 23.596 (paulaveneroso@gmail.com) ASSISTENTE EDITORIAL: Fernanda Caires (publications@chapelschool.com) COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Adriana Calabró, Martha Medeiros, Maurício Oliveira e Paula Veneroso FOTOS: Ale Catan, Arquivo Chapel, Carin Mandelli, Fernando Mucci, Karin Kahn, Luis França, Marie Simonova e William Aguiar DESIGN GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Vitor de Castro Fernandes (design.vitor@gmail.com) TRADUÇÕES: Chapel School IMPRESSÃO: Pifferprint
EDITORIAL
Lucy Nunes, Superintendente, Chapel School
ARTE E INTELECTO
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que seria do nosso mundo sem arte? É difícil imaginar, eu sei. Certamente possuiria menos alegria e beleza, mas, muito mais do que isso, seria um lugar sem profundidade, criatividade e até inteligência. A arte está tão intrinsecamente ligada ao intelecto que a humanidade provavelmente não teria evoluído como evoluiu sem o impulso para a autoexpressão. A sociedade às vezes considera, erroneamente, que o importante trabalho de criação é mais como a cereja em cima do bolo em vez do que realmente é: a essência do que nos diferencia como humanos. Apenas uma mente criativa pode dar vida ao verdadeiro gênio que, por sua vez, traz grandes coisas à fruição. O gênio intelectual pode ser expresso de muitas formas, seja por meio das ciências, matemática, literatura e, claro, das artes. Em sua essência, o gênio é a capacidade de pensar e sentir profundamente, avaliar criticamente e criar autenticamente. Na educação moderna vemos a aprendizagem como a capacidade de adaptar e aplicar com criatividade os conhecimentos adquiridos a novas situações e contextos. Em outras palavras, a velha noção de aprendizagem como memorização foi substituída pela aprendizagem como um processo que leva à compreensão, síntese e transformação de informações para novas aplicações e soluções criativas. A própria definição de aprendizagem da Chapel School, exposta abaixo, é permeada pela arte inerente ao processo: O aprendizado é um processo singular que acontece ao longo de toda vida, despertado pelos interesses, curiosidades, interações e experiências de cada indivíduo; baseia-se no conhecimento anterior e leva a fazer conexões significativas. É o processo de compreensão e aquisição de conhecimentos, habilidades e disposições, bem como a capacidade da aplicação desses saberes a diferentes ambientes e contextos. Envolve o desenvolvimento do aluno como um todo, abordando as dimensões social, emocional, cognitiva e física. A aprendizagem tem como objetivo maior impactar positivamente a sociedade. É essa essência transformadora do poder criativo da mente que alimenta músicos, pintores, escultores e poetas a criarem obras inesquecíveis. É também essa capacidade de se envolver com pensamentos de ordem superior que dá asas às criações inovadoras de cientistas, matemáticos, filósofos, linguistas e empresários de todos os tipos. Não seria maravilhoso se consistentemente enfrentássemos nossos desafios do dia a dia com uma mentalidade de compreensão, apreciação, transformação e criatividade? Esta edição da Inside Chapel mostra algumas pessoas incrivelmente talentosas que fizeram exatamente isso e, no processo, nos presentearam com uma arte excepcional produzida por meio de um intelecto notável. Foi uma alegria ler sobre suas incríveis jornadas cheias de alegrias, dificuldades, resiliência e realizações.
COLABORADORES
ADRIANA CALABRÓ [Expressão do talento, p. 09] É jornalista, escritora e roteirista. Foi premiada nas áreas de comunicação (Best of Bates International, Festival de NY, Clube de Criação) e literatura (Selo Puc/Unesco Melhores livros de 2017, ProAc – bolsa de literatura, Prêmio Off-Flip – finalista, Prêmio João de Barro – 1º lugar, Prêmio Livre Opinião – finalista e Prêmio Paulo Leminski – finalista). Idealizou e atua desde 2005 como facilitadora da Oficina de Escrita Criativa Palavra Criada (palavracriada.com.br). PAULA VENEROSO [Tocando a vida. E o coração das pessoas., p. 19, e Em forma e em função do conhecimento, p. 14] É editora da Inside Chapel. Jornalista e mestre em Língua Portuguesa pela PUCSP, atuou como revisora, redatora e repórter nas revistas Veja, Veja São Paulo e no jornal Folha de S.Paulo. Atualmente, é professora de Técnicas de Reportagem e de Redação Jornalística em cursos de graduação, além de atuar na produção e edição de reportagens para mídias impressas e digitais.
MAURÍCIO OLIVEIRA [Sonho com trilha sonora, p. 30] É jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com mestrado em História Cultural e doutorado em Jornalismo pela mesma instituição. Trabalhou como repórter do jornal Gazeta Mercantil e da revista Veja. Há 15 anos atuando como freelancer, escreve com regularidade para veículos como Valor Econômico e O Estado de S. Paulo. É autor de 15 livros, incluindo as biografias Patápio Silva, o Sopro da Arte, Garibaldi, Herói dos Dois Mundos e Pelé 1283.
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MARTHA MEDEIROS [O que acontece no meio, p. 35] Tem 26 livros publicados entre poemas, crônicas e ficção. É colunista dos jornais O Globo e Zero Hora. Seu livro mais recente é Quem diria que viver ia dar nisso, e acaba de lançar-se como youtuber no canal M de Martha.
SUMÁRIO
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A COR E O SOM
TEMPO DE RENOVAÇÃO
A efervescência criativa de Danilo Caymmi, músico profissional e artista plástico.
Atualização e organização dos acervos, recursos e ambientes das bibliotecas da Chapel.
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Entrevista exclusiva com o pianista e maestro João Carlos Martins, maior intérprete vivo da obra de Johann Sebastian Bach.
Recém-formado na prestigiada escola Berklee de música, o ex-aluno Rodrigo Frangione relembra momentos marcantes dos quinze anos vividos na Chapel.
UMA CONVERSA EM MUITO BOAS MÃOS
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SOUND DESIGNER
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ENTRE O NASCIMENTO E A MORTE
SPOTLIGHT
Com aguçada sensibilidade, a escritora Martha Medeiros elenca algumas descobertas que a vida nos revela.
Alunos premiados no Concurso Canguru de Matemática, grêmio estudantil inovando na organização de eventos, edição 2020 da conferência modelo das Nações Unidas e implantação do Programa Escola Sem Bullying. O que foi notícia na Chapel.
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Conheça seis alunos que se destacam pela dedicação a atividades sociais, hobbies, esportes e música, além dos estudos.
Registro de eventos que marcaram a comunidade escolar durante o primeiro semestre letivo: Atividades after school, Dia das Crianças, Halloween, Spirit Week, Thanksgiving e formatura da turma de 2020.
TALENTOS & PAIXÕES
GALLERY
Em fevereiro de 2021 a Santo Eugênio Ensino Integral completou 2 anos de trabalho no bairro de Americanópolis, zona sul da cidade de São Paulo.
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A escola está atendendo seus 100 alunos diariamente, seguindo todos os protocolos de prevenção à covid-19.
PERFIL – DANILO CAYMMI
Por Adriana Calabró Fotos: William Aguiar
EXPRESSÃO DO TALENTO
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ma árvore frondosa, de fortes raízes, que atravessou as décadas e segue surpreendendo com a qualidade de seus frutos. Assim é a família Caymmi que, por meio de vozes literalmente ativas, segue somando contribuições ao acervo musical do país. Danilo Caymmi, 72 anos, natural do Rio de Janeiro, arquiteto de formação e músico profissional por vocação, é um dos principais representantes dessa linhagem de gente talentosa que deixa marcas em várias gerações. Ele concedeu à Inside Chapel uma entrevista regada a memórias do passado - muitas com seu pai, Dorival Caymmi, e cheia de planos para o futuro, pois sua pulsão criativa só se multiplica. Para Danilo, honrar a tradição artística de sua família é natural, mas ele acredita que é a inovação que faz com que essa história, repleta de ícones, se mantenha viva por tanto tempo. Os novos projetos no ar, sejam os seus próprios, sejam dos irmãos, ou mesmo da sua filha, Alice Caymmi, também cantora e compositora, é uma prova viva dessa continuidade. Instalado em sua residência em Curitiba, Danilo está mergulhado em novas composições em fase de maturação assim como em um projeto junto à Orquestra Sinfônica do Paraná. Mas não apenas isso. Também está cercado de telas que tem pintado durante o período de isolamento social. Sim, assim como o pai, que pintava temáticas do mar, o filho enveredou pelos pincéis para trazer ao mundo mais uma expressão artística. Em se tratando de um Caymmi, quanto mais possibilidades, melhor.
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O COMPOSITOR, FLAUTISTA E INTÉRPRETE DANILO CAYMMI MERGULHA FUNDO AO TRANSFORMAR AS POSSIBILIDADES DA MÚSICA EM PURA POTÊNCIA CRIATIVA
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O FILHO CAÇULA DE DORIVAL CAYMMI INCLUIU AS ARTES PLÁSTICAS COMO MAIS UMA FORMA DE EXPRESSÃO ALÉM DA MÚSICA. E VÊ SIMILARIDADES ENTRE OS DOIS UNIVERSOS
De tom a tom O primeiro disco com a participação de Danilo Caymmi foi com a sua família em um álbum dedicado aos sucessos de Tom Jobim. “Eu tinha 15 anos, fui chamado para tocar no disco Caymmi visita Tom... e leva seus filhos (1964), foi minha primeira gravação, junto ao
meu pai e meus irmãos, e eles me deram muitas oportunidades para participar – um disco icônico com produção de Aloysio de Oliveira”, comenta. Alguns anos depois, veio o primeiro trabalho solo, Cheiro Verde (1977), repleto de parcerias e feito em uma fase de muita experimentação, inclusive com a própria voz. “Era uma geração muito legal de jovens compositores com muita vontade de ousar, de pesquisar e buscar a beleza”, conta ele. A mineirice presente nesse trabalho, inclusive no título de uma das faixas (“Mineiro”), é uma das influências que acompanha a carreira de Danilo. Principalmente a partir dos famosos festivais, esse intercâmbio artístico foi muito rico para ele. “No final dos anos 60, eu tinha conhecido o Milton Nascimento, ele estava fazendo o seu primeiro disco, com arranjos maravilhosos do Luiz Eça, e teve um solo de flauta meu na música “Catavento”. A partir daí conheci o Toninho Horta, Nelson Angelo, Beto Guedes, Lô Borges. Era uma troca, uma competição bonita, cada um tentando fazer algo mais bacana do que o outro. Quando essa turma ia em casa, minha mãe, que era mineira, aproveitava para lembrar suas origens na Zona da Mata”, comenta ele. Outras privilegiadas experiências musicais, de pura inspiração, fazem parte da história de Caymmi. Entre elas, participar, a partir de 1983, da Banda Nova, composta por instrumentistas e cantores de altíssimo nível técnico e artístico que acompanhavam Tom Jobim em suas turnês pelo Brasil e pelo mundo. Além de instrumentista e cantor, Danilo assumia a função de uma espécie de gerenciador de toda a logística de ensaios e apresentações. Dessa experiência, ele conta uma passagem muito emocionante, que, mais tarde, iria refletir em seu próprio disco de homenagem a Tom, lançado em 2017. “Com o tempo fui criando uma intimidade com ele, que era muito reservado, não se abria, inclusive sobre sua doença. Ele estava fazendo a música “Querida” (1994) e acompanhei a construção dessa letra, a gente estava
no exterior em alguma turnê, era uma encomenda. Quando fui gravar, percebi que ele estava falando da finitude, e essa temática estava disfarçada no fox trot. Por isso, no meu álbum, eu escolhi tirar esse ritmo”, revela Danilo. Mais do que cantor, intérprete Essa sensibilidade, que revela as intenções das letras, é um dos diferenciais de Danilo Caymmi. “Na verdade é uma característica da família, eu chamo de mergulhar profundamente na essência da música. Minha irmã, Nana, também faz isso e sempre incentivei muito minha filha Alice, que também é intérprete, a seguir o mesmo caminho”, conta ele. Vale dizer que o tempo é um fator importante nessa interação com a música, e o compositor lembra que um dos motivos de só lançar o trabalho em homenagem a Tom muito depois de seu falecimento foi justamente o de realizar algo com bastante significado. “Eu pensei comigo: tenho que fazer um disco cantando da maneira que ele me admirava, com tudo aquilo que ele gostava em mim. Fiz o mergulho nas músicas, e a partir disso comecei a vesti-las com a flauta, o cello e o violão”, explica. Uma especial atenção foi dedicada a faixas como “Felicidade” e “Samba do Avião”, pois eram os solos interpretados por Danilo durante o período da Banda Nova. “Durante as turnês, Tom falava pra mim: ‘canta essas porque minha voz é abafada ao alho’. Até hoje não entendi muito bem essa expressão”, brinca ele. Outra particularidade, bem coerente com a ousadia do cantor, é que quando enfim lançou o álbum Danilo Caymmi canta Tom, ele decidiu não incluir o piano, justamente o instrumento símbolo do famoso maestro. Ou seja, mais do que uma homenagem, o resultado foi um diálogo artístico entre dois grandes talentos. Expressões da arte Durante esse tempo de isolamento social, Danilo está extremamente produtivo. E entre os projetos em andamento estão novas composições juntamente com o poeta Geraldo
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Raízes profundas Danilo Caymmi é filho de dois grandes artistas que ofereceram a ele e aos irmãos, Dori e Nana, a oportunidade de crescer em meio a um ambiente cultural rico, de plena efervescência criativa. A casa de sua infância recebia renomados artistas plásticos, além dos maiores nomes da música e da literatura daquele tempo. A mãe, Stella Maris, cantora nascida em Minas Gerais é, segundo Danilo, a grande influenciadora de uma das marcas registradas da família: a forma sutil e profunda de cantar. “Eu tenho um pouco do timbre dela no agudo”, conta o compositor. O pai, Dorival Caymmi, é reconhecidamente um pilar da música nacional: cantor e compositor, famoso por trazer consigo a baianidade, o jeito autêntico de compor e a sua íntima ligação com a temática do mar. “Quando eu era pequeno meu pai era contratado de uma gravadora, a Odeon, e tinha acesso a uma discoteca incrível, especialmente de jazz e dos grandes arranjadores daquele tempo. Era o que eu ouvia também. Lembro que eu tinha 12 anos quando ele me levou ao concerto do Louis Armstrong, no Municipal, e a uma exposição da Ligia Clark, com seus móbiles em movimento. Íamos muito ao cinema também, e na parede da minha sala havia obras de artistas como Di Cavalcanti e Pancetti, ou seja, eram muitas referências”, afirma o músico. Vem da infância também o encontro que marcou a vida de Danilo Caymmi para sempre. Era bem novo ainda quando o pai lhe trouxe uma flauta de madeira. A paixão foi imediata e o menino seguiu estudando, até se tornar o exímio instrumentista que é hoje. Sem dúvida essa foi uma estreia em terra fértil que multiplicou possibilidades.
PERFIL – DANILO CAYMMI
UM AMBIENTE DE MUITA EFERVESCÊNCIA CULTURAL FEZ PARTE DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA DE DANILO CAYMMI. A HISTÓRIA SE REPETIU COM SUA FILHA ALICE, TAMBÉM CANTORA
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Carneiro e a Orquestra Sinfônica do Paraná, cidade onde vive ao lado da atual companheira, Patrícia, “no friozinho gostoso da cidade”. Mas não foi apenas isso. Ele também pegou gosto pelos pincéis e tem se dedicado às artes plásticas com afinco. Ao se referir a mais essa faceta artística, ele usa toda a sua bagagem: “A parte da harmonia vindo antes da melodia, como uma construção musical, acontece na pintura também. E mais, a harmonização de cores tem um paralelo com a das notas”, contextualiza. Outra das suas percepções é tão sutil como os sons que atravessam o ar. “Eu não gosto que as pessoas antecipem para onde a música vai. Na arte é o mesmo. Eu vou descobrindo na própria tela, pois às vezes a tinta acaba e eu tenho de usar o que eu tenho, criando, descobrindo as possibilidades”,
diz ele. Embora linhas e formas não sejam algo totalmente novo para ele, devido à formação em arquitetura, provavelmente muito da influência vem também de Dorival. “Além de também pintar, meu pai tinha grandes amigos artistas como José Pancetti, Carybé, Rebolo, Di Cavalcanti. Aliás, visitei ainda pequeno o ateliê do Portinari no Leme, no Rio de Janeiro. Ele também gostava dos impressionistas, e havia muitos livros em casa. Dos filhos fui o que mais se interessou por esse caminho e, agora na pandemia, aflorou ainda mais”, diz o multifacetado artista. O valor da autenticidade Danilo Caymmi é pai de quatro filhos, Juliana e Gabriel, frutos do casamento com a poeta e compositora Ana Terra; Alice, sua filha com Simone Caymmi,
que cantava com ele na banda do Tom; e Martin, de 4 anos, do relacionamento com Tarsila Alves. “A Alice foi a que mais conviveu comigo e foi criada musicalmente por mim. Um dos principais valores que passei para ela foi que, na arte, não se deve obedecer a padrões, porque quando você cai em um padrão fica complicado”. E isso é de família. Ele conta que uma das frases que Dorival Caymmi mais detestava era aquela que diz “Naquele tempo é que era bom”, e Danilo compartilha da mesma opinião. “O mundo está sempre mudando, e é essa liberdade que eu quero que meus filhos tenham. Por exemplo, eu aprendo muito com a Alice também sobre o que ela está vivendo agora na música. Os rótulos são muito ruins, e eu falo para ela fugir disso, para que tenha uma manifestação
PERFIL – DANILO CAYMMI Fama como consequência Esse artista completo, acostumado aos holofotes, seja nas experiências próprias,
seja na de seus colegas e familiares, demonstra bastante equilíbrio quando o assunto é sucesso. “Hoje, mais do que nunca, existe quase uma profecia, de que as pessoas vão se manter por pouco tempo em alta. De repente somem, um consumo rápido que faz parte da mecânica da rede mundial muito imediatista. Mas se formos pensar, a música de arte tem o seu lugar. Ela tem um lastro, uma âncora”. Para Danilo, o que tem qualidade se destaca entre a infinidade de lançamentos, e se mantém através do tempo. “O importante é que se continue produzindo com a intenção de sensibilizar as pessoas”. Ele conta mais um caso engraçado da família, quando Dorival Caymmi compôs um de seus maiores sucessos, “Maracangalha”. Danilo diz que o pai estava pintando um quadro e começou a cantarolar a música
e a letra. Uma vizinha escutou e pediu pra ele colocar o nome dela, que era Cinira, em vez do nome escolhido para a música (“Se Anália não quiser ir, eu vou só...”). No final, essa vontade da vizinha mostrava que ela tinha sido sensibilizada e, portanto, a música já era um sucesso. O compositor diz ainda que ser alçado à fama é o momento mais perigoso na vida de um artista, pois as pessoas dizem muitos “sins”, mesmo quando ele deveria ouvir “nãos”. “O sucesso que vem de forma arrebatadora é perigoso. Quando é construído, é mais controlável, pois ele não é para sempre, é uma senoide, de altos e baixos, e o segredo é se manter nesse equilíbrio. Não se pode subir numa escada de vapor”, conclui o músico, com metáforas que bem cabem a alguém que, além de ter um olhar de arquiteto, enxerga a poesia da vida.
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artística fluente, sem ter anteparos de nenhuma pessoa ou grupo”. Caymmi é categórico nessa questão da liberdade. “Tem de deixar o talento fluir, se você força, aula disso, aula daquilo, a criança se desinteressa. Mesmo com toda a habilidade da Alice, eu sempre evitei que ela fosse uma criança prodígio que trabalhasse, eu sou totalmente contra. A arte tem de vir naturalmente. Você descobre as coisas. Um instrumento, por exemplo. O meu primeiro contato com a flauta foi muito forte, você não consegue explicar. Com o tempo fui vendo minha arte evoluir”. Quem duvidaria disso depois de ouvir sucessos como “Andança” e “Casaco Marrom”?
Por Paula Veneroso Fotos: Arquivo Chapel
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EM FORMA E EM FUNÇÃO LONGE DE SEREM MERO DO CONHECIMENTO APOIO À SALA DE AULA, AS BIBLIOTECAS DA CHAPEL CUMPREM PAPEL FUNDAMENTAL NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS E NO REGISTRO DA MEMÓRIA INSTITUCIONAL: SEUS RECURSOS PROPORCIONAM UM UNIVERSO DE POSSIBILIDADES PARA O PLENO DESENVOLVIMENTO ACADÊMICO E CULTURAL DOS USUÁRIOS
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e 2020 foi um ano atípico em todo o mundo, na Chapel ele foi motivo para investimentos e atualizações. Nas bibliotecas do colégio, o ano que passou serviu para, literalmente, arrumar a casa, o que resultou na organização e renovação de acervos, recursos e até ambientes. “Ao iniciar este ano letivo, os alunos puderam encontrar uma biblioteca repleta de títulos novos”, afirma Fernanda Caires, bibliotecária da Chapel. Ela explica que a renovação do acervo ultrapassou a reposição de livros realizada periodicamente pelo setor: foram adquiridos muitos lançamentos, vários deles inéditos no Brasil. Um exemplo são as obras que deram origem a séries televisivas de sucesso como The Queen’s Gambit, Anne with an E, The 100, Zoo e The Worst Witch, que estão disponíveis na biblioteca do high school. “Sempre partimos do princípio de que a biblioteca tem que ser um ambiente de geração de interesse para os leitores, ou seja, um lugar de referência, seja para se encontrar os clássicos, seja para se obter indicações de lançamentos recentes”, explica Ms. Caires. O trabalho de renovação do acervo teve início com o inventário e a análise do conteúdo das obras disponibilizadas pelas três bibliotecas – do high school, do elementary school e dos professores. “Com o tempo, alguns conteúdos ficam obsoletos ou não dialogam mais com as novas gerações”, comenta a bibliotecária acerca da revisão dos títulos que foram substituídos por versões atualizadas ou, na falta delas, por obras mais adequadas. Depois, há a questão do desgaste natural
Visibilidade dos recursos e materiais de apoio Além dos livros, o setor de bibliotecas mantém assinaturas premium de bases de dados de artigos científicos e de livros, contemplando todas as séries, do Pre I ao HS. A base de artigos científicos mais relevante é a Ebsco, que disponibiliza desde conteúdos elementares para as séries iniciais – alunos do 1º ano já podem acessar – até materiais científicos de nível universitário – os quais servem como referencial teórico para os alunos do IB produzirem seus Extended Essays e outros trabalhos do high school. A Chapel mantém as assinaturas do Ebsco Explora Primary (para as séries
iniciais, a partir do Pre I), Ebsco Explora Secondary (para o middle school, do 6º ao 9º ano) e Ebsco Academic Search Premier (para o high school). Entre as crianças mais novas, o TumbleBooks faz muito sucesso. Trata-se de uma base de livros infantis em formato e-book com animações, atividades e jogos, que é acessada por alunos do Pre I ao 3º ano do ES. “É muito interessante para as crianças, principalmente as mais novas, que gostam de ler o livro impresso e depois encontrar a mesma história em outro formato, com interação e atividades relacionadas à narrativa”, comenta Ms. Caires. Todo o material de apoio oferecido pelas bibliotecas contempla exemplares impressos e conteúdo digital. A assinatura do jornal infantil Joca, por exemplo, é adquirida para os alunos do 5º e 6º ano, individualmente, o que representa atualmente 110 assinaturas por ano. Ainda em língua portuguesa, a base de dados Árvore de Livros foi assinada recentemente para os alunos do 3º e 4º ano. Estão disponíveis desde a versão em português da Encyclopedia Britannica até periódicos nacionais e internacionais como Time, The Economist, Le Monde, The Washington Post, The New York Times, Estadão, Exame, Veja, Carta Capital, Aventuras na História, Galileu, Cult, Piauí, Você S/A, entre outros. A bibliotecária explica que os conteúdos e artigos disponíveis apenas em formato digital – em razão dos impressos não circularem no Brasil
INSTITUCIONAL – BIBLIOTECAS DA CHAPEL
Crescimento e controle do acervo Agora, o acervo das bibliotecas da Chapel ultrapassa 52 mil exemplares, um acréscimo de 16 mil livros em menos de três anos – em setembro de 2018 beirava os 36 mil exemplares. Em números, as bibliotecas do high school e do elementary school somam, respectivamente, 15.884 e 10.500 livros. Por sua vez, o acervo mais numeroso, com cerca de 27 mil obras catalogadas, é o da biblioteca dos professores, que reúne os livros didáticos e paradidáticos utilizados nas disciplinas de todas as divisões, incluindo os do Programa International Baccalaureate (IB), os quais, embora cheguem a custar centenas de dólares, são constantemente substituídos por causa do manuseio – afinal, algumas obras passam o ano letivo inteiro em posse dos alunos . Em 2020, a fim de otimizar os processos e facilitar o dia a dia de alunos e professores que passaram grande parte do ano letivo em aulas remotas, as bibliotecas implantaram um novo sistema para a retirada de livros didáticos e paradidáticos, que continuou mesmo após o retorno das aulas presenciais. Em
vez de os alunos se dirigirem à biblioteca para solicitar os livros requisitados pelos professores, os funcionários do espaço montam um kit individual, de acordo com a grade de disciplinas cursadas pelos estudantes, e o entregam a cada um. Conforme os conteúdos do ano letivo vão avançando, novos kits são montados. “A biblioteca também existe para apoiar o trabalho docente e notamos que esse sistema economiza um tempo enorme para os professores, agilizando as aulas”, explica Ms. Caires. Ao montar os kits, cada livro tem seu código de barras escaneado com o nome do respectivo aluno, garantindo que a biblioteca tenha total controle de qual exemplar está em posse de cada aluno do colégio.
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dos livros, em razão do manuseio. Aqueles com páginas ressecadas ou que se tornaram amareladas com o tempo foram substituídos por novos exemplares. Mas o forte mesmo foi a inclusão de novos títulos: apenas no mês de dezembro foram adquiridos mais de 1200 livros.
PRESERVAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA MEMÓRIA DA CHAPEL
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tuando em parceria com todas as áreas e se relacionando com os professores, diretoras e orientadoras das três divisões, a biblioteca desfruta do privilégio de reunir informações sobre tudo o que acontece no colégio: projetos acadêmicos, eventos, viagens, cursos, oficinas, palestras, entre outras atividades, passam por ela. Isso fez com que, naturalmente, fosse incorporado à rotina da bibliotecária Fernanda Caires o papel de observar os acontecimentos e cuidar para que houvesse o devido registro deles: “Afinal, assim como ocorre em muitas organizações, a biblioteca é o lugar ideal para o registro da memória institucional”, observa Ms. Caires. Assim, a bibliotecária da Chapel exerce uma segunda função, a de assistente editorial, atuando nas publicações do colégio como Yearbook, Digital Chapel e Inside Chapel. O Yearbook, por exemplo, conta, ano a ano, a história do colégio. Na ocasião do aniversário de 70 anos da Chapel, foi a biblioteca, por meio dos anuários e de outros materiais catalogados, que propiciou grande parte da pesquisa que embasou o conteúdo da edição especial da revista Inside Chapel.
– podem ser solicitados por e-mail à biblioteca, que os disponibiliza em questão de minutos. Formado em 2019, um grupo de estudos trabalha no sentido de tornar mais visível e acessível à comunidade os recursos disponibilizados pelas bibliotecas. “No exercício de autorreflexão e de autoavaliação proposto pela Neasc, identificamos que, apesar de as bibliotecas receberem altos investimentos, o que propiciou a aquisição de recursos tecnológicos para além do acervo, não havia visibilidade suficiente para que alunos e professores pudessem usufruir deles, incorporandoos ao seu dia a dia de estudos e trabalhos”, explica Ms. Caires. Uma das primeiras providências nesse sentido foi deixar visível e acessível a maioria das assinaturas de websites, bancos de dados e periódicos na página da biblioteca, que pode ser acessada tanto do colégio como de casa.
Outro recurso largamente utilizado pelos professores é o software Turnitin, de verificação de plágio, com assinatura individual, por aluno. Todos os trabalhos feitos pelos estudantes são enviados aos professores por meio desse software, que é conectado ao sistema do colégio. “Ele funciona como um filtro, que detecta se alguma (e qual) parte foi copiada, de onde, fornecendo o endereço do trecho extraído e a porcentagem de conteúdo não original em cada trabalho”, comenta a bibliotecária. Ambiente renovado, equipe atualizada Além da renovação do acervo, o espaço físico das bibliotecas também passou por extensa manutenção. As maiores mudanças aconteceram na biblioteca do high school, cujo projeto foi assinado pelo premiado arquiteto Fernando Brandão. Todas as madeiras foram lixadas e envernizadas, e o local antes destinado a computadores e guarda-
volumes foi transformado em um espaço multiuso, com capacidade para reunir até cinquenta pessoas. “A nova configuração permite que a biblioteca sedie eventos, plenárias, em um espaço muito mais versátil”, analisa Ms. Caires. Os dez computadores continuam à disposição, agora nas paredes, mas com a mesma acessibilidade. Além deles, o setor oferece aos alunos 26 laptops, 112 chromebooks e trinta iPads. Pelo fato de a bibliotecária e as três assistentes atuarem na Chapel há muitos anos – a mais nova conta oito anos de casa e a mais antiga, 25 –, todas conhecem a fundo a comunidade e os processos, o que facilita o trabalho cotidiano e a relação com alunos e professores. Contribuem para o trabalho de excelência feito pela equipe a reciclagem contínua de conhecimentos e a adoção das melhores e mais modernas práticas na área da biblioteconomia.
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INSTITUCIONAL – BIBLIOTECAS DA CHAPEL
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Por Paula Veneroso Fotos: Ale Catan, Fernando Mucci, Karin Kahn e Luis França
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oão Carlos Gandra da Silva Martins tinha 8 anos de idade quando começou a estudar piano. Aos 13, iniciou carreira profissional no Brasil e, aos 18, estreou em palcos internacionais. Tinha 21 anos quando se apresentou pela primeira vez no Carnegie Hall de Nova York, com lotação esgotada e a presença da ex-primeira-dama Eleanor Roosevelt na plateia. Os primeiros sintomas da distonia focal – doença que afeta os músculos e causa movimentos involuntários – apareceram nessa época. Aos 26, uma queda em um jogo de futebol afetou o nervo ulnar, responsável pela sensibilidade e movimento de três dedos da mão esquerda. O pianista seguiu carreira se apresentando em palcos do mundo inteiro, em meio a cirurgias e fisioterapia. Gravou ao piano toda a obra de Bach em 21 discos. Tinha 55 anos quando, num assalto na cidade de Sofía, na Bulgária, uma pancada na cabeça ocasionou problemas neurológicos, comprometendo dessa vez os movimentos da mão direita. Persistiu nos tratamentos – ao todo, foram 24 cirurgias. Aos 63 anos de idade, tendo recebido dos médicos a notícia de que suas duas mãos estavam irremediavelmente comprometidas e que nunca mais poderia tocar piano profissionalmente, reinventou-se e foi estudar regência. Maestro aos 64 anos, fundou a Orquestra Bachiana para fomentar a profissionalização de músicos e disseminar a música clássica pelo Brasil. Em 2019, aos 79 anos, luvas biônicas desenvolvidas por um designer paulista lhe devolveram o prazer de tocar piano novamente com os dez dedos. Aos 80 anos, completados em junho passado, João Carlos acorda diariamente às 5h30 da manhã para estudar, afinal, no dia 17 de outubro de 2021 ele vai comemorar sessenta anos da sua estreia no Carnegie Hall com um concerto em que começará regendo e, no final, tocará piano. De sua casa, em São Paulo, em entrevista exclusiva para a Inside Chapel, o pianista e maestro relembrou momentos marcantes de sua vida e carreira, e revelou seus projetos para os próximos vinte anos.
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MAIOR INTÉRPRETE VIVO DA OBRA DE JOHANN SEBASTIAN BACH, O PIANISTA E TAMBÉM MAESTRO JOÃO CARLOS MARTINS DEFINE EM UMA FRASE A SUA MISSÃO DE VIDA: “TENTO FAZER COM QUE, AO FINAL DE UM CONCERTO, O PÚBLICO TENHA UM SORRISO NOS LÁBIOS E UMA LÁGRIMA NO CANTO DOS OLHOS”
ENTREVISTA DE CAPA – JOÃO CARLOS MARTINS
TOCANDO A VIDA. E O CORAÇÃO DAS PESSOAS
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É SEGREDO, MAS, NESSES PRÓXIMOS DOIS ANOS EU VOU REALIZAR ESSE SONHO. EU NUNCA FUI LIGADO EM REDE SOCIAL, MAS ESTÁ LÁ NO PERFIL @MAESTROJOAOCARLOSMARTINS. EU ESTOU FAZENDO, PELO INSTAGRAM, A MELHOR BIOGRAFIA DA MINHA VIDA, ESTOU POSTANDO VÍDEOS DE TURNÊS QUE REALIZEI DURANTE A VIDA E DAS QUAIS NEM ME LEMBRAVA MAIS
O senhor poderia nos contar como a música e, notadamente, o piano passaram a fazer parte de sua vida? João Carlos Martins: A música começou a fazer parte da minha vida em 1898, quando meu pai nasceu. Meu pai, aos 10 anos de idade, queria ser pianista, mas perdeu um dedo da mão num acidente. Então, ele alimentou o sonho de, talvez, ter um filho pianista. E eu, em 1948, comecei a realizar o sonho dele. Foi assim que a música começou a fazer parte da minha vida e vai continuar fazendo pelos próximos vinte anos. O senhor é um exemplo de determinação e força de vontade. A que fatores atribui sua capacidade de superação? JCM: Eu acredito que já se tenha falado muito sobre superação, por isso, eu diria que a palavra certa para mim é teimosia, e não superação. O que eu acredito realmente é que, se a pessoa tem um objetivo na vida, ela tem uma missão a cumprir. Então, ela tem que ser como uma flecha que vai alcançar o seu destino. E eu já tive desvios nesse caminho da flecha, mas sempre procurei corrigir, pois, como todo ser
Mesmo tendo realizado milhares de concertos por todo o mundo, há alguma apresentação que ficou especialmente marcada em seu coração? JCM: Engraçado, as quatro apresentações que mais marcaram meu coração foram todas no Carnegie Hall de Nova York. A minha estreia, na estação de 1961, depois, a minha volta após sete anos, sendo cinco parado e dois estudando após o primeiro acidente no braço. Foi uma volta emocionante. Depois, a minha volta novamente, após a lesão cerebral sofrida no assalto na Bulgária, ocasião em que fiquei um ano fazendo reprogramação cerebral
É notória a intensidade da sua relação com Johann Sebastian Bach. Como essa “amizade” começou e por que Bach? JCM: Posso dizer que existem duas formas de se relacionar com Johann Sebastian Bach: ou se tentar uma viagem ao século 18 ou convidá-lo a conhecer o século 21. E eu tentei unir ambas, uma viagem ao século 18 e um convite para que ele conhecesse o século 21. Li todas as cartas que ele escreveu e imagino como seria ele no século 21. Assim sendo, a minha interpretação da obra de Bach é uma interpretação que é uma busca em algum lugar do passado e, ao mesmo tempo, uma viagem de volta para o futuro. É uma combinação de “Em algum lugar do passado” com “De volta para o futuro”. Então, é essa a minha relação com ele, sempre respeitando o texto, mas procurando misturar a minha individualidade com a personalidade dele. Sabendo, antes de tudo, quem sou eu perto do maior gênio da história da música. Mas você tem que encarar, respeitar o texto, você tem que encarar a interpretação de quem quer que seja, mostrando a que você veio. Quando o senhor pensou que sua carreira como pianista estava definitivamente encerrada, a ideia de estudar regência lhe veio em um sonho. Como foi isso? JCM: Eu sonhei com o maestro Eleazar de Carvalho um dia depois que os médicos falaram que eu não podia mais tocar piano profissionalmente. No mesmo dia eu tomei um avião para o Brasil e, no dia seguinte, tive o sonho. Havia andado o dia inteiro pela cidade,
tinha perdido o chão. No sonho, ele disse: “Vai estudar regência, Jão” – ele me chamava assim. Aí comecei uma nova vida; se antes era uma vida voltada para o piano, a partir da regência, a vida abriu meus braços para setenta músicos. Quais foram as motivações que o levaram a criar a Orquestra Bachiana? JCM: Dois meses depois que os médicos me deram a notícia de que eu não poderia mais tocar profissionalmente, eu estava na porta de uma faculdade para tomar minha primeira aula de regência. Tomei só umas quatro ou cinco aulas. Reuni dezoito músicos aqui em casa e resolvi aprender com os próprios músicos. Seis meses depois, eu já estava regendo em Londres e em Paris. Foi um processo tão rápido quanto foi o meu processo como estudante de piano. Idealizei a Fundação Bachiana, mas hoje eu sou simplesmente um funcionário dela. A Fundação cuida de projetos sociais e da organização dos concertos da Bachiana Filarmônica, a qual, por sua vez, foi adotada pelo SESI-SP, razão pela qual ela passou a se chamar Bachiana Filarmônica SESI-SP. Hoje sou o diretor artístico da Bachiana Filarmônica, mas já realizei mil e setecentos concertos com ela.
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O senhor sempre diz que ser músico exige sacrifícios e que se sente um missionário. Fale-nos um pouco acerca dessa sua missão de vida. JCM: O que é um artista? Um artista, quando entra no palco, tem que procurar o perfeccionismo e transmitir emoção. Quanto à emoção, qual é a missão de um artista? É fazer o público sair com um sorriso nos lábios e, ao mesmo tempo, com uma lágrima nos olhos. Naquele momento, o público percebeu que o coração do artista atingiu seu coração. Portanto, é por isso que eu considero a profissão de um artista no palco como a profissão de um missionário que procura levar para o público três palavras principais: solidariedade, paz e amor. Essa é a minha missão. E, ao mesmo tempo, procurar levar o público a um quase suspense, a missão do artista é levar o público a uma reação que talvez ele não tenha em casa, mas que acaba se expandindo ao final de um concerto que talvez não acontecesse em outro lugar, e daí você levou a palavra entusiasmo também. O entusiasmo é muito importante no final de um concerto, a reação e a relação entre artista e plateia.
no Jackson Memorial Hospital, em Miami, e, finalmente, a minha estreia como maestro, também no Carnegie Hall. Eu sempre digo que o número mais importante para Johann Sebastian Bach em todas as músicas dele é o número quatro, se você analisar as músicas dele perceberá que existe uma analogia incrível com o número quatro. Então, essas são as quatro datas mais importantes na minha relação com o palco e com o público.
O senhor sente o mesmo entusiasmo tanto tocando piano quanto regendo, ou há alguma diferença? JCM: Nenhuma diferença. Na hora em que entro no palco, estou lá, como já disse, cumprindo uma missão. Então, seja regendo, seja tocando, a emoção e a concentração são as mesmas. Eu, como pianista, num concerto muito importante, chegava a perder mais de um quilo durante a apresentação. Como maestro, num concerto importante, chego a perder dois quilos. Esse é o tipo de concentração que eu tenho. Como foi a sensação de, no dia 1º de novembro de 2020, voltar a tocar piano com os dez dedos e a ajuda da luva biônica? JCM: Fazia vinte e dois anos que eu não encostava os dez dedos no teclado, e
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humano, tive defeitos e qualidades. Os defeitos eu procurei corrigir, as qualidades, aprimorar. E agora posso dizer que estou numa rota mais certa do que nunca, em direção ao meu destino e à minha missão.
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realmente foi uma reação incrível. Postei uma foto desse momento no Instagram e chegou a milhões de visualizações no mundo inteiro. Então, eu vi que estava procurando expressar todos os meus sentimentos através das minhas mãos e das luvas. Elas foram desenvolvidas pelo designer Ubiratan Bizarro, da cidade de Sumaré (SP). As luvas não me ajudam somente a tocar, mas também a reger, pois com elas eu posso virar as páginas da partitura. Então, vou ficar um pouco mais preguiçoso. Antes delas, eu decorei mais de duzentas partituras enormes, regi as nove sinfonias de Beethoven, regi Brahms, Tchaikovsky, tudo decor. Mas a luva não é uma solução definitiva, por isso vou começar uma campanha este ano sobre distonia focal, que atinge 33 milhões de pessoas no mundo. Como só em 2020 a imprensa internacional trouxe mais de seis mil notícias a respeito das minhas mãos, eu vou iniciar uma campanha internacional sobre distonia que deverá culminar no dia 17 de outubro com uma coletiva, após o concerto, comigo e com alguns neurologistas.
O senhor acredita que a distonia seja ainda mais velada entre os músicos profissionais, que dependem dos movimentos de mãos, braços, cordas vocais e boca para garantir seu sustento? JCM: Eu tenho distonia desde os 18 anos de idade. Comecei a perceber no final de um concerto que saiu perfeito, foi fantástico. Quando terminei, na volta ao palco para agradecer o público, eu percebi que a minha mão apresentava movimentos um pouco involuntários e falei para o meu professor: “Não, não vou fazer o bis, porque foi tudo perfeito e eu não vou me arriscar”. Depois, eu comecei a perceber que tinha dificuldade para manusear cartas de baralho ao jogar com meus pais, brincadeiras de fim de semana. Daí eu percebi... Nos anos 1950, distonia era considerada um problema psicológico, e não é isso. Eu, dos 18 aos 26 anos, escondi que tinha distonia. O que eu fazia? Antes de um concerto, eu dormia até cinco horas antes de entrar no palco, porque dessa forma eu entrava completamente relaxado, como se fossem 7 horas da manhã. Isso porque os sintomas vão se manifestando ao longo do dia, conforme você vai fazendo suas atividades. Somente nos anos 60 a distonia começou a ser tratada. Existe uma
grande diferença entre distonia e LER (lesão por esforço repetitivo): distonia é um problema central, que é do cérebro. LER é um problema periférico resultante do excesso de exercício, que acomete as pessoas que digitam no computador, por exemplo. A LER causa dor, a distonia causa movimento involuntário. Na sua opinião, a campanha sobre a distonia contribuirá para diminuir o estigma da doença e, entre os músicos, deixar de ser uma sentença anunciando o fim de suas carreiras artísticas? JCM: Do mesmo jeito que durante um tempo eu escondi, depois eu passei a ser a pessoa que mais coragem tinha de mostrar uma mão de Frankenstein tentando tocar piano, uma mão que antes tinha uma facilidade incrível e que chegava a fazer vinte e uma notas por segundo, e eu, mostrando sem receio nenhum, uma mão totalmente defeituosa tentando tocar uma peça. No momento em que você assume essa coragem, você vai despertando a atenção dos cientistas e dos médicos. Hoje eu recebo cartas e e-mails de músicos do mundo inteiro falando que têm distonia e nunca tiveram coragem de falar... é uma loucura. Pessoas que quase tomaram decisões trágicas e que hoje eu tenho prazer em responder seus e-mails e mostrar o caso das minhas luvas que foram notícia no mundo
ENTREVISTA DE CAPA – JOÃO CARLOS MARTINS inteiro. É mais um passo, não é a solução para a doença, mas um passo para o conforto nas mãos. de pessoas. Eu estou abraçando essa causa. Também vou me dedicar mais à parte da responsabilidade social, por meio da qual eu já trouxe milhares de crianças para esse universo fantástico da música clássica; à campanha da distonia; a procurar transmitir emoção através da regência; e o que eu puder tocar no piano eu vou tocar. São quatro ou cinco metas que eu tenho pela frente, pelos próximos vinte anos. Há muitos anos o senhor se dedica a trabalhos sociais em prol da popularização da música clássica no Brasil. Conte-nos um pouco sobre seu mais recente projeto. JCM: Hoje eu tenho os programas Orquestrando o Brasil e Orquestrando São Paulo, com centenas de orquestras parceiras. No website do programa, cada uma das parceiras vai colocando vídeos de ensaios e apresentações em locais que você jamais poderia imaginar como, por exemplo, no Piauí, Amapá, Rondônia, Roraima... Eu mantenho contato direto com os músicos através do site Orquestrando Brasil. É um trabalho com orquestras parceiras e, ao mesmo tempo, pela criação de novas orquestras. Isso é uma das coisas mais importantes que eu faço. Assisto aos vídeos dos
ensaios, converso remotamente com os músicos e tenho um prazer enorme quando uma orquestra apresenta evolução. Recentemente acompanhei a fantástica evolução de orquestras em Pernambuco, na Paraíba e em outros estados. No interior de São Paulo, por exemplo, a cidade de Laranjal Paulista criou um espaço para a sua orquestra, e isso vem ocorrendo em outras cidades pequenas. Fiquei surpreso em saber que existem duas escolas estaduais chamadas Maestro João Carlos Martins, uma em Guarulhos e outra no bairro de Santo Amaro, na zona sul da capital. Já existem auditórios com o meu nome e estão criando um teatro também. É esse tipo de reconhecimento que me faz ter certeza de que a música venceu. E por falar em escola, qual a sua opinião acerca do ensino da música como parte integrante do currículo escolar? Em que medida a música contribui para a formação do ser humano? JCM: Eu respondo com um exemplo. Nós temos uma orquestra com alunos na cidade de Suzano (SP), numa escola
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Ao completar 80 anos, em junho passado, o senhor disse que tinha planos para, pelo menos, mais vinte anos. Quais são os seus próximos projetos? JCM: Durante os próximos anos é claro que vou continuar regendo, vou tocar piano dentro das minhas possibilidades, claro que não serei o pianista de antigamente, mas vou tocar piano. Consegui, depois de um ano e meio de estudo, tocar uma música de três minutos de Bach como nos velhos tempos, como na melhor forma da minha vida. Mas, se demorou um ano e pouco para eu conseguir tocar essa música como nos velhos tempos, então, em vinte anos eu aprenderia apenas vinte músicas. Sendo assim, eu prefiro tocar músicas mais lentas, mais adequadas à minha situação atual, dedicar-me, cada vez mais, à democratização da música clássica no Brasil, e iniciar essa campanha internacional sobre a distonia e a distonia focal, que é um assunto tabu, pois quem sofre de distonia tem vergonha de falar que tem. Se hoje são 33 milhões de pessoas que se tem notícia no mundo, quando a campanha iniciar pra valer, vai aparecer muito mais gente, pelo menos umas 40 milhões
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ENTREVISTA DE CAPA – JOÃO CARLOS MARTINS
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dealizada por João Carlos Martins, a Bachiana Filarmônica estreou em 2004, na Sala São Paulo, apresentando no repertório sinfonias de Beethoven, Brahms e Tchaikovsky, entre outros. Dois anos depois, o maestro fundou a Orquestra Bachiana Jovem, com o objetivo de promover a evolução musical de jovens musicistas e também democratizar a música clássica no Brasil, com apresentações em escolas públicas e praças de cidades, grandes e pequenas, e comunidades carentes. Nessa época, ele idealizou a Fundação Bachiana, cujo tema norteador é arte e sustentabilidade. Em 2009, as duas orquestras se fundiram, formando a Bachiana Filarmônica SESI-São Paulo, ao ser adotada pelo SESI (Serviço Social da Indústria) de São Paulo e se transformar na maior orquestra de iniciativa privada do Brasil. Desde 2004, a orquestra já atingiu mais de 16 milhões de espectadores ao vivo, apresentando-se em teatros, escolas, ginásios, campos de futebol, praças e avenidas, e mantendo seu propósito de difundir a música clássica pelo país.
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FUNDAÇÃO BACHIANA: ARTE E SUSTENTABILIDADE
municipal, próxima daquela escola que foi alvo de um massacre em 2019. Os alunos que fazem parte da orquestra são os que obtêm as melhores notas em Matemática, Geografia, Português e outras disciplinas. A música, certamente, exerce influência muito grande no cérebro humano. E no coração.
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Que conselho o senhor deixaria aos jovens que pretendem seguir carreira musical? JCM: Eu não dou um conselho, mas conto uma história. Uma menina de 16 anos chegou a Nova York e, assim que deixou o aeroporto, tomou um táxi até a rua onde ficaria hospedada. O maior desejo dela era, pelo menos, olhar para o Carnegie Hall. Desceu à rua e perguntou para uma senhora idosa: “Como é que eu faço para chegar ao Carnegie Hall?” Eis que a velhinha respondeu: “Estudando, estudando e estudando
muito”. Esse é o meu conselho: estudar, estudar e estudar. O senhor tem algum sonho que ainda não foi realizado? JCM: Ah... é segredo, mas, nesses próximos dois anos eu vou realizar esse sonho. Eu nunca fui ligado em rede social, mas está lá no perfil @maestrojoaocarlosmartins. Eu estou fazendo, pelo Instagram, a melhor biografia da minha vida, estou postando vídeos de turnês que realizei durante a vida e das quais nem me lembrava mais. Há poucos dias, postei um vídeo em que toquei um rock como desafio para uma gincana beneficente... O meu sonho também está muito ligado ao pós-pandemia, e acho que vou ter muito sucesso. É uma coisa forte e está muito ligado à palavra preconceito. E, se Deus quiser, vou realizar esse sonho, depois te digo como. Bem, já te
aviso que dia 14 de abril começa uma exposição no centro cultural Fiesp, que vai até 31 de agosto, sobre a minha vida. O curador da exposição é o diretor e produtor Jorge Takla, uma das maiores figuras do nosso país, e a pesquisa que está sendo feita está impressionando a todos. O respeito que a imprensa internacional mantém há 60 anos pela minha interpretação da obra de Johann Sebastian Bach é incrível. Nem eu sabia que tinha tanto noticiário, mesmo depois de eu ter parado no piano. Isso para o meu ego foi fantástico. Mas eu sempre digo que a vida tem vales profundos e altas montanhas. No vale profundo você tem que ter determinação. E se você chega numa alta montanha, tem que ter humildade. E é assim que eu levo a minha vida, sempre respeitando que tudo se faz com a disciplina de um atleta e a alma de um poeta.
ENTREVISTA DE CAPA – JOÃO CARLOS MARTINS
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distonia é um distúrbio do movimento e se caracteriza por contrações musculares involuntárias repetitivas – ou de longa duração – que podem produzir torções em membros como pescoço, mãos e tronco, ou ainda no corpo todo. Os músculos da parte afetada do corpo contraem-se, distorcendo a posição daquela parte do corpo. Quando a doença atinge somente uma parte do corpo, ela recebe o nome de distonia focal. No início da doença, os espasmos ou contrações podem acontecer periodicamente ou somente durante estresse ou fadiga, mas, com o passar do tempo, os espasmos tendem a ficar mais frequentes, até chegar a um ponto em que parte afetada do corpo permanece distorcida, às vezes, numa posição anormal e bastante dolorosa. A distonia, que pode se manifestar em qualquer idade, afeta hoje cerca de 65 mil brasileiros. No mundo, são mais de 33 milhões de pessoas com a doença. Embora exista pouquíssima literatura médica a respeito da incidência da distonia em intérpretes, alguns estudos calculam que haja, pelo menos, 1% de músicos com a doença reconhecida, mas ela ainda é um tabu no campo das artes, pois, não raro, incapacita o intérprete de exercer seu ofício. Por isso, estima-se que muitos escondam o problema ou nem saibam que sejam portadores. No entanto, cada vez mais, se tem conhecimento de que não é raro violonistas e pianistas terem os dedos das mãos afetados, enquanto trompetistas podem desenvolver a doença na boca e cantores nas pregas vocais. Apesar de ser incurável, a distonia tem tratamento, a fim de minimizar as limitações funcionais e os desconfortos causados ao paciente, procurando melhorar sua qualidade de vida.
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O QUE É DISTONIA FOCAL
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epletas de fatos inusitados, a vida e a carreira do pianista e maestro foram extensamente retratadas em livros, filmes, documentários, peça teatral e até mesmo em enredo de escola de samba. Em 2011, ele foi homenageado pela escola de samba paulistana Vai-Vai, que se sagrou campeã do Carnaval com o enredo “A música venceu”. Confira abaixo as obras que foram produzidas sobre ele:
FILMES E DOCUMENTÁRIOS Die Martins – Passion (direção de Irene Langemann). França-Alemanha, 2004. Rêverie (direção de Johan Kenivè e Tim Herman). Bélgica, 2006.
LIVROS O piano como destino (direção de José Roberto Walker). Brasil, 2015. João, o maestro (roteiro e direção de Mauro Lima). Brasil, 2017.
ENTREVISTA DE CAPA – JOÃO CARLOS MARTINS
POR DENTRO DA VIDA DO JOÃO
PEÇA TEATRAL Maestro! A volta por cima de João Carlos Martins e outras histórias (Ricardo Carvalho). Gutenberg Editora, 2015.
João de A a Z. (João Carlos Martins). Editora Sextante, 2019.
Concerto para João (direção de Cassio Scapin). Brasil, 2018.
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A saga das mãos (Luciano Ubirajara Nassar e João Carlos Martins). Editora Campus, 2007.
Por Maurício Oliveira Fotos: Marie Simonova
SONHO COM “APRENDI INGLÊS JUNTO TRILHA SONORA COM O PORTUGUÊS,
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DE UMA FORMA QUE SE TORNOU MUITO NATURAL PRA MIM. MEUS COLEGAS EM BERKLEE NÃO ACREDITAVAM QUE EU ERA BRASILEIRO QUANDO TOMAVAM CONHECIMENTO DISSO”
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epois de ter feito toda a sua formação na Chapel School, Rodrigo Frangioni ingressou na famosa escola Berklee de música, em Boston – e está voltando ao Brasil repleto de horizontes. Que som é o mais fascinante de todos para Rodrigo Frangioni, o ex-aluno da Chapel School que está se formando na prestigiada escola Berklee de música? Depois de pensar por alguns instantes, ele responde que é o riff de guitarra de “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin. “É um som esfarelado, que desmancha na boca”, diz Rodrigo, usando uma das metáforas às quais costuma recorrer para tornar sua paixão mais tangível para o interlocutor. Aos 24 anos, ele está a poucas semanas de voltar ao Brasil, depois de cinco anos de estudos nos Estados Unidos. Virá com uma bagagem que lhe permitirá trabalhar nas mais diversas frentes da tecnologia musical, campo em que se aprofundou durante o bacharelado em Professional Music na prestigiosa escola. Referência global na área da música, Berklee teve nada menos que 29 ex-alunos indicados ao Grammy de 2020. Foi durante os 15 anos passados na Chapel School que Rodrigo viu despertar em si o interesse pela música. O primeiro instrumento ao qual se dedicou foi o baixo, por uma razão bem prática: era o único que não tinha concorrência na banda que estava sendo montada por um grupo de colegas. Além disso, havia também a admiração por um primo mais velho e baixista.
ENTREVISTA ALUMNUS – RODRIGO FRANGIONI – Giovanni Turra, Arthur Nasimbene e Fabian Fuxa. No repertório, canções das bandas que eles mais admiravam: Foo Fighters, Metallica, Nirvana. Quando foi preciso escolher o nome do grupo, alguém sugeriu 22 Lies, e assim ficou. “Foi um nome aleatório, sem qualquer explicação”, lembra Rodrigo. “Combinamos que, se ficássemos famosos e as pessoas perguntassem a origem do nome da banda, inventaríamos 22 histórias diferentes. Aí o nome finalmente faria sentido”, ele se diverte. Tradição e modernidade A banda teve que acabar – afinal, cada um iria seguir o seu caminho. Quando se deu conta, no entanto, Rodrigo estava pensando seriamente em seguir carreira na música. E sonhou alto: por que não ingressar em Berklee, referência na área, que já formou grandes nomes do show business, como Quincy Jones, John Mayer e Diana Krall, além de uma infinidade de músicos e técnicos que se
destacam em suas especialidades? Fundada em 1945 sob inspiração do jazz e dos ritmos de origem africana, Berklee se desenvolveu ao longo das décadas, promovendo a fusão permanente entre as raízes históricas e o cenário contemporâneo da música – e também da dança e do teatro. A diversidade artística e cultural tornouse a marca da instituição, que abriu filiais em Nova York e em Valência, na Espanha. “Essa mistura bem dosada entre passado, presente e futuro é o grande diferencial da escola”, observa Rodrigo. Um exemplo simbólico disso é que, nos últimos anos, ao mesmo tempo em que se tornou proprietária da maior escola de música online do mundo, Berklee uniu forças com o Conservatório de Boston, o mais antigo e um dos mais prestigiosos estabelecimentos de ensino de música, dança e teatro dos Estados Unidos. Além da grande dedicação aos estudos teóricos e à prática da música, Rodrigo sentiu-se seguro para disputar
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Nome inusitado A primeira apresentação foi no show de talentos da Chapel. “Acho que eu estava na quinta série. Lembro até hoje como aquele palco pareceu enorme... Era uma banda cheia de gente, reunida mais por amizade. Quem não tocava instrumento, cantava ou cuidava das luzes”, lembra Rodrigo. Um prazer especial foi ter apresentado “Smoke on the Water”, do Deep Purple. “Foi a primeira composição que aprendi a tocar do começo ao fim.” A banda foi se diluindo aos poucos – já que, para a maioria dos integrantes, era apenas uma diversão passageira. Rodrigo, ao contrário, via a música conquistar cada vez mais espaço no seu cotidiano. Ele trocou o entusiasmo, até então direcionado ao futebol e à natação, por horas e horas de prática. Nesse meio tempo, a guitarra despontou como uma nova paixão. O rapaz começou a fazer aulas de música dois dias por semana, depois três e, por fim, cinco. Já no High School, montou uma banda com três colegas
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uma vaga em Berklee por dominar perfeitamente o inglês, resultado da formação na Chapel. “Aprendi inglês junto com o português, de uma forma que se tornou muito natural pra mim. Meus colegas não acreditavam que eu era brasileiro quando tomavam conhecimento disso”, ele lembra. Apesar de todo o preparo, a aprovação de Rodrigo em Berklee não ocorreu na primeira tentativa. Trata-se de um lugar disputado por virtuoses e estudantes brilhantes de todas as partes do mundo. Por isso, o processo de seleção é rigoroso. Inclui a apresentação de uma peça preparada, a submissão a uma série de questões teóricas e um teste de memória musical, em que um dos professores executa uma sequência e os candidatos precisam repeti-la em seguida. Aprendizado amplo Depois do primeiro processo seletivo em Berklee, Rodrigo conseguiu ingressar no curso de Tecnologia da Música da Universidade de Tampa, na Flórida. Lá ele passou o ano letivo de 2015 em contato com um lado da música que até então conhecia pouco, e foi paixão à primeira vista. “Quando meu professor mostrou um documentário sobre sintetizadores, fiquei maravilhado. Percebi que poderia ser um campo fascinante de trabalho”, ele lembra. O curioso é que a fusão entre arte e tecnologia representava, de certa forma, a conciliação entre os interesses do pai, Alexandre, ex-executivo de uma indústria farmacêutica que passou a se dedicar às artes visuais (e sempre foi fã de rock), e da mãe, Zélia, que acompanhou de perto a evolução dos computadores e se tornou webdesigner. Ao final do primeiro ano na Universidade de Tampa, Rodrigo tentou
novamente ser aprovado em Berklee – desta vez, com sucesso. O curso escolhido, Professional Music, tem a peculiaridade de permitir aos estudantes um alto índice de customização das disciplinas – não por acaso, é descrito pela escola como a alternativa ideal para quem “está interessado em aprender tudo”.
Timberlake, a rapper Missy Elliott e o músico, arranjador e maestro Alex Lacamoire, célebre compositor de peças da Broadway e um dos poucos a já ter sido agraciado com os prêmios Emmy, Grammy e Tony. “Foi o maior palco em que já me apresentei. Até então ainda havia sido o da Chapel”, conta Rodrigo, sorrindo.
Anos intensos A carga de estudos e de tarefas mostrouse alta desde o início das aulas. “Percebi claramente o quanto a Chapel havia me preparado bem para o volume de trabalho que encontrei na faculdade”, conta Rodrigo. O ambiente de grande diversidade – Berklee tem alto índice de alunos estrangeiros – não causou qualquer dificuldade de adaptação ao jovem brasileiro. “Desde cedo me habituei a conviver com diferentes aspectos culturais, pois essa é a grande marca da Chapel.” Em 2018, ele se tornou assistente do Laboratório de Operação, cargo que continua ocupando nesta reta final do curso. “O trabalho no laboratório me deixou bem treinado para lidar com os mais diversos tipos de problemas com softwares e equipamentos”, descreve Rodrigo. “Vivi o melhor dos mundos nestes últimos três anos: ser pago para aprender todos os dias e ter acesso à tecnologia mais avançada na área da música.” Um momento marcante da trajetória em Berklee ocorreu em maio de 2019. Ele foi convidado para formar a equipe que, na cerimônia de formatura, apresentou-se em homenagem às pessoas que receberiam o diploma de doutorado honoris causa da escola, em reconhecimento à contribuição para a música e a cultura popular. Atuando como DJ de hip hop, Rodrigo tocou para 7 mil convidados – incluindo os homenageados, entre os quais Justin
Campo vasto Pode-se dizer que Rodrigo respira música. Ele passa o dia todo imerso em sons. Se não está trabalhando diretamente na criação, está ouvindo os mais diferentes tipos de música, do mundo inteiro e de diversas épocas – o que também faz parte do trabalho. “Pra mim ficou muito difícil ouvir música 100% por prazer, sem prestar atenção em detalhes, sem fazer relações. É algo que se tornou automático.” Da mesma forma, mesmo os sons mais prosaicos do cotidiano, como o pisca-alerta do carro, podem inspirar algo. Essa forma de lidar com a criação o tornou um grande fã de Hermeto Pascoal, o músico brasileiro de 84 anos que se notabilizou por transformar qualquer tipo de som em música. “Hermeto tem uma genialidade e uma criatividade que são muito inspiradoras.” Nos últimos tempos, já preparando a transição de estudante para profissional de sound designer e produção musical, Rodrigo realizou alguns trabalhos como DJ e vem investindo na produção de músicas próprias. Mixou e masterizou canções do irmão Leonardo, três anos mais jovem, que também está seguindo carreira na música, como rapper (seu nome artístico é Libra Rap). Outra frente em que o ex-aluno da Chapel pretende investir é a criação de efeitos sonoros e trilhas para séries, filmes e videogames. “Certamente tenho um campo de atuação muito vasto pela frente”, ele projeta.
ENTREVISTA ALUMNUS – RODRIGO FRANGIONI 33 INSIDECHAPEL
“PERCEBI LOGO NO PRIMEIRO ANO EM BERKLEE O QUANTO A CHAPEL HAVIA ME PREPARADO BEM PARA O VOLUME DE TRABALHO QUE EU ENCONTREI NA FACULDADE”
Ícone da arquitetura moderna no Brasil, a Casa de Vidro, primeira obra construída de Lina Bo Bardi, completa 70 anos como importante patrimônio cultural da cidade de São Paulo.
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Localizada no Bairro do Morumbi, a Casa de Vidro foi a residência da arquiteta e de seu marido Pietro Maria Bardi, co-fundador e diretor do Museu de Arte de São Paulo, por mais de quatro décadas.
www.institutobardi.org
O espaço abriga, desde de 1990, o Instituto Bardi, criado pelo casal como espaço de reflexão sobre as diversas expressões de arte e que reúne o legado de seus fundados, formado por acervo de mais de 45 mil itens entre desenhos, obras de arte, coleções, fotografias e mobiliário. Com um jardim exuberante, plantado pela própria arquiteta, a Casa de Vidro abre ao público com visitas educativas, que revelam diferentes aspectos da vida e obra dos Bardi, responsáveis por consolidar no país um novo paradigma cultural a partir da valorização do povo e da cultura popular brasileira.
Instagram @institutobardi
ENTREVISTA ALUMNUS – , RODRIGO FRANGIONI
Por Martha Medeiros Fotos: Carin Mandelli
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O QUE ACONTECE NO MEIO
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ida é o que existe entre o nascimento e a morte. O que acontece no meio é o que importa. No meio, a gente descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo. Que a primeira metade da vida é muito boa, mas da metade pro fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma
aventura sem igual. Que é preciso abrir a nossa caixa preta de vez em quando, apesar do medo do que vamos encontrar lá dentro. Que maduro é aquele que mata no peito as vertigens e os espantos. No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa. Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito rápido
pode ser bem frustrante. Que Veneza, Mykonos, Bali e Patagônia são lugares excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa. Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase? Ora, é sempre mais forte. No meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Que é muito narcisista ficar se consumindo consigo próprio. Que todas as escolhas geram dúvida, todas. Que depois de lutar pelo direito de ser diferente, chega a bendita hora de se permitir a indiferença. Que adultos se divertem mais do que os
ENTREVISTA ALUMNUS CRÕNICA – , –RODRIGO MARTHAFRANGIONI MEDEIROS
busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo. No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.
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adolescentes. Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio. No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo). Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em
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MAIOR COMPETIÇÃO DE MATEMÁTICA DO MUNDO PREMIA ESTUDANTES DA CHAPEL
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oze alunos do 8º ao 12º ano participaram, em 8 de outubro de 2020, do Concurso Canguru de Matemática, competição internacional que reúne anualmente cerca de seis milhões de participantes de mais de oitenta países. Aproximadamente 500 mil alunos brasileiros participam do concurso. Destes, recebem premiação os 4% mais bem colocados no país de acordo com a sua faixa etária, categorizados, respectivamente, em ouro (quem integra o 1% melhor do seu nível no Brasil), prata (integra os 2% melhores), bronze (integra os 3% melhores) e menção honrosa (para os que se classificam entre os 4% melhores do país). Os premiados da Chapel foram: Yeongin (Elren) Chae, do 11º ano, que recebeu ouro (top 1% Brasil), Beatriz Abram, do 8º ano, que recebeu prata (top 2%), e Qing Tian (Bobby) Huang, do 12º ano (top 4% do país). Pedro Loureiro, do 11º ano, obteve pontos suficientes para o prêmio menção honrosa (top 4% do país), mas não o recebeu porque apenas 10% dos alunos de cada escola e, em cada nível, podiam receber um prêmio participando online. Para o professor Jaisen Bell, chefe de departamento de Matemática da Chapel, o resultado dos alunos no Canguru “foi encorajador, pois mesmo sendo online, os alunos se dedicaram e superaram as barreiras, sempre com uma boa atitude”. Maior competição do mundo, o Canguru nasceu da ideia de um professor de matemática australiano – Peter O’Halloran – que, no início dos anos 1980, elaborou uma prova digital para ser resolvida simultaneamente por milhares de alunos. Em 1991, na França, os professores André Deledicq e Jean Pierre Boudine transformaram em competição a ideia do colega australiano e, em sua homenagem, deram-lhe o nome de Canguru. Hoje, a Associação Internacional Canguru sem Fronteiras (AKSF – Kangourou sans Frontières) reúne
personalidades do mundo da matemática e, anualmente, um distinto grupo de professores se reúne para discutir o ensino da disciplina e também para preparar as provas que serão aplicadas nos países participantes. De acordo com o website da AKSF, “a finalidade da Associação é promover a divulgação da matemática por todos os meios ao seu alcance e, em particular, com a realização do concurso que envolve e motiva milhares de alunos pelo mundo”. A medalhista de ouro Yeongin (Elren) Chae conta que, apesar de o concurso ter sido desafiador, ela se divertiu porque os testes são criativos. “A matemática do concurso é mais interessante do que aquela que aprendemos na escola. Além disso, por ser online, senti menos pressão por estar em minha casa, e me diverti mais”. Beatriz Abram, medalhista de prata, também achou mais confortável fazer a prova em casa, embora tenha sentido falta da interação com os colegas. “Gostei muito de fazer o Canguru porque os problemas são diferentes, parecem jogos, e requerem pensamento criativo. Amo participar dessas competições e acho que todos deveriam participar”, comenta. Para Qing Tian (Bobby) Huang, que recebeu honra ao mérito e está acostumado a participar de campeonatos similares, o fato de a prova ter sido online o deixou mais relaxado, mas acredita que o ambiente doméstico acaba prejudicando a concentração. “Achei meio complicado fazer online, pois não tem o ambiente, o clima de prova a que estou mais acostumado. No colégio, sinto-me mais focado e menos distraído”, comenta. Mr. Bell afirma que o resultado dos alunos da Chapel não foi uma surpresa porque eles se dedicam e trabalham muito bem em equipe: “Fico feliz que eles tenham se divertido participando da competição. É muito bom ver alunos vivendo bons momentos fazendo matemática. Fico orgulhoso por eles”, finaliza.
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StuCo, grêmio estudantil da Chapel, demonstrou muita criatividade na organização dos eventos do semestre passado. Todas as tradicionais comemorações do colégio tiveram de ser adaptadas para plataformas online, e o engajamento dos estudantes foi decisivo para o sucesso das festividades. O professor Marcio Kuroiwa, coordenador do grêmio, explica que os professores orientadores apenas fazem propostas pontuais, pois quem decide, organiza, lidera e executa são os alunos. “Existe um senso de comunidade bem grande dentro do StuCo, todos estão realmente juntos nos momentos bons e naqueles não tão bons”, afirma. De acordo com Maria Fernanda Melo, do 12º ano, o grêmio manteve todas as reuniões semanais programadas para o semestre: “O StuCo é composto por comitês e cada um se responsabilizou por alguns eventos, a fim de que ninguém ficasse sobrecarregado e para que todos trabalhassem de maneira organizada”, relata. Para Luisa Tolda, também do 12º ano, o principal desafio foi fazer com que os eventos resultassem interessantes. Ela cita como exemplo o 7th Grade Fun Night, que aconteceu no dia 4 de setembro e contou com a participação de cerca de quarenta alunos: “Trata-se de uma das festas mais tradicionais organizadas pelo StuCo e, por ser uma introdução dos alunos ao high school, é uma memória super importante que eles registram do seu percurso acadêmico. Então, traduzir isso para o ambiente virtual foi difícil, mas acho que conseguimos imprimir nos participantes o espírito do que significa fazer parte do high school da Chapel”, comemora. Para tanto, o grêmio se valeu de aplicativos como o Kahoot, por exemplo, que propicia a criação de quizzes – jogos dinâmicos de perguntas e respostas. Jogos como caça ao tesouro e concursos com premiação foram outras iniciativas que geraram o engajamento da comunidade escolar nas comemorações. Outros grandes desafios foram o Halloween (dia 30/10), a Spirit Week (3 a 6/11) e o Pep Rally (6/11), todos mantidos e comemorados com distanciamento. O aplicativo Instagram
foi bastante utilizado para manter os alunos ativos e interagindo com o grêmio. No Halloween, o concurso de fantasias aconteceu pelo aplicativo, com fotos enviadas pelos participantes e votação online. Mas não foi apenas isso, até o Google Docs foi utilizado pelo grêmio para criar um jogo de caça ao tesouro, em que uma pista – ou link – levava até um documento, que continha outra pista, e assim por diante. “Fizemos ainda algumas transmissões em vídeo do colégio, uma delas foi no Halloween, com os professores fantasiados e os alunos que antes estavam fazendo atividades extracurriculares presencialmente. Quem estava assistindo às aulas de casa também se fantasiou e participou da festa. Esses vídeos transmitiram uma sensação boa, servindo para aplacar um pouco da saudade que todos estavam sentindo ao enfatizar esse espírito escolar que sempre foi a nossa marca”, relata Pedro Loureiro, do 11ºano. Maria Fernanda conta que, na falta do tradicional Bazar de Natal, em dezembro, o StuCo promoveu um concurso, incentivando as pessoas a postarem fotos das suas árvores enfeitadas. “Tivemos que adaptar várias ideias, mas, ao mesmo tempo, todos foram muito criativos ao propor novas versões dos eventos”, afirma. A colega Luisa concorda: “Sinto que superamos os desafios. Conseguimos muita interatividade, organizando, inclusive, uma espécie de advento de Natal, com posts para congregar a comunidade durante doze dias do mês de dezembro”. Pedro valoriza a liberdade de atuação do grêmio: “Para mim, a maior lição que tivemos foi ver o quanto o StuCo é responsável e mantém uma relação muito direta com o corpo estudantil, afinal, as atividades do grêmio são feitas por alunos e para alunos”. Mr. Kuroiwa elogia a dedicação dos membros do StuCo: “Tivemos um ano bastante desafiador, principalmente para adaptar os eventos ao formato online e tomar conta a distância, mas tudo deu certo porque realmente os alunos se dedicaram mais do que o suficiente. Eles são ótimos”.
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GRÊMIO ESTUDANTIL INOVA NA ORGANIZAÇÃO DOS EVENTOS ESCOLARES
ALUNOS BRILHAM EM CONFERÊNCIA MODELO DAS NAÇÕES UNIDAS DA AASB
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última edição da Conferência Modelo das Nações Unidas da AASB (Associação de Escolas Americanas no Brasil), nos dias 21 e 22 de novembro, foi realizada por meio de videoconferências. Organizada pela ISC – International School of Curitiba, que sediaria o evento presencial, ela manteve a mesma estrutura e equipes de liderança, e a principal diferença é que os debates foram realizados pela plataforma Zoom. Tal formato, apesar de impedir a interação presencial dos delegados, permitiu a participação de um maior número de alunos por escola, aumentando consideravelmente o público dos debates. Segundo o professor Benjamin Vaughan, coordenador do MUN na Chapel, nessa edição houve a adição de dois comitês de middle school (que corresponde ao fundamental II), o que representou “uma grande experiência para os delegados mais jovens”. Apesar de a Chapel ter participado com uma equipe renovada de delegados, a preparação dos novos membros foi primorosamente realizada pelos veteranos, propiciando que seis delegados fossem reconhecidos por suas atuações nos respectivos comitês (ver tabela). Pedro de Marchi, do 12º ano, que neste ano letivo atua como chefe de operações do BRAMUN, foi responsável por preparar os novos membros da Chapel para a conferência juntamente com Luisa Tolda e Guilherme Vercelli, além de oferecer uma mentoria para os colegas de Curitiba que estavam organizando o evento. O tempo de preparação foi curto – apenas quatro semanas – e bastante trabalhoso, mas rendeu excelentes resultados. “Durante a conferência, sentimos que nossos delegados estavam mais seguros e preparados do que delegados de outros colégios”, afirma o chefe de operações. De acordo com Luisa Tolda, do 12º ano, o clube MUN da Chapel está vivendo um momento peculiar, de renovação quase total: “A grande maioria dos integrantes é nova e nós temos a responsabilidade de formar esses novos integrantes, pois queremos que o clube prospere. O nosso legado será transmitir para os mais novos tudo o que aprendemos, tudo o que dominamos em relação ao MUN”. Ela, que está atuando como chair e é responsável por organizar os comitês, afirma que o destaque dos alunos
da Chapel no evento representou um excelente feedback da liderança dos membros veteranos. O formato do evento, no entanto, apresentou prós e contras. Para Luisa, o fato de ter sido online permitiu que os participantes se sentissem mais à vontade para falar e participar dos debates: “A situação presencial é mais tensa. No formato online, senti que fluiu mais, não houve monopolização do debate, tornando mais democrática a participação de todos, e isso é ótimo pois gera mais ideias e melhores resoluções para os conflitos”. Pedro concorda, mas diz ter sentido muito a falta das interações presenciais e das relações de amizade que se estabelecem durante eventos dessa natureza: “Uma das características mais legais desses eventos é encontrar pessoas diferentes e trabalhar junto nos projetos com pessoas que nunca vimos antes na vida. Fazemos amizades muito legais e conhecemos pessoas com os mesmos interesses, e aprendemos muito. Essa experiência me impactou durante o high school inteiro”. Para Mr. Vaughan, “embora a conferência digital não seja ideal, pois as interações pessoais são um ponto forte do MUN, os delegados da Chapel fizeram um ótimo trabalho, como se pode ver nos resultados alcançados”.
DELEGADOS DA CHAPEL RECONHECIDOS NA EDIÇÃO 2020 DA AASB MUN MARINA SILVA – elogio verbal por seu trabalho representando a Rússia no ECOSOC (Conselho Econômico e Social) PABLO GUIMARÃES SILVA – elogio verbal por seu trabalho representando a Alemanha na OMT (Organização das Nações Unidas para o Turismo) TONI SERRES – melhor delegado representante da Arábia Saudita no ECOSOC BARBARA MONTE ALTO – melhor representante da Eslováquia no Comitê de Direitos Humanos do middle school LORENZO PERROTTI – melhor representante da República Dominicana no Conselho de Segurança do middle school BRUNO MONTE ALTO – melhor delegado representando o Egito no Comitê de Direitos Humanos do high school.
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o início do ano letivo, o Programa Escola sem Bullying, do Instituto Abrace - Programas Preventivos , passou a integrar o currículo socioemocional da Chapel. A adoção do programa é uma ação resultante de nosso processo de autoestudo junto à agência pela qual somos acreditados, a The New England Association of Schools and College (NEASC), que envolve um processo rigoroso e contínuo de autorreflexão e melhoria escolar, e com o qual a Chapel School está comprometida. Partindo do princípio de que nenhum aluno consegue aprender se não estiver emocionalmente bem, o programa envolve toda a comunidade escolar em um movimento contínuo de prevenção total ao bullying e desenvolvimento de relações saudáveis e respeitosas. De acordo com o processo de autorreflexão praticado constantemente pelo colégio, buscou-se um programa que estivesse alinhado com os valores da Chapel, e cuja abordagem privilegiasse o desenvolvimento da empatia e da autoconfiança nos alunos. “A Chapel sempre adotou como postura entender a complexidade das relações humanas e criar um clima positivo de comunidade e de inclusão. A adoção do Escola sem Bullying se deu justamente porque o colégio se preocupa continuamente com a formação do ser humano e, nesse sentido, o programa é de extrema importância para atingir a consciência interna dos membros da comunidade, principalmente quanto às questões psíquicas que envolvem situações de violência nas relações humanas”, avalia Luciana Brandespim, coordenadora de Character Education. A Abrace-Programas Preventivos foi escolhida por ser uma organização brasileira com alcance internacional (ver box) e também em razão da metodologia utilizada, uma fusão do Olweus Bullying Prevention Program – programa norueguês considerado o mais eficaz no combate e prevenção ao bullying do mundo – e o programa da Abrace, desenvolvido pela própria
instituição. O trabalho é feito em parceria com a Clemson University, da Carolina do Sul, nos EUA, e inclui a utilização de práticas restaurativas, que consistem na aplicação de uma disciplina positiva. “Por meio de uma abordagem dialógica e sempre positiva, é primordial que os alunos envolvidos em alguma questão de intimidação consigam entender um pouco melhor de si mesmos, do outro e do contexto em que estão inseridos”, explica Benjamim Horta, diretor-geral da Abrace. A metodologia utilizada prevê que todas as pessoas inseridas direta ou indiretamente na escola – incluindo a comunidade externa – tenham contato com o tema. Por isso, inicialmente, um comitê formado por representantes dos professores, funcionários, direção, corpo administrativo, alunos e famílias recebeu um treinamento de três módulos em dezesseis encontros: fundamentos do programa, metodologia e melhores práticas. O passo seguinte foi a capacitação dos professores e funcionários, depois, houve reuniões com pais e alunos e, ao longo deste ano, o programa será expandido para toda a comunidade escolar. “O conjunto de ações preventivas de combate ao bullying deve ser comum a todos os colaboradores do colégio”, explica Mr. Horta, complementando: “O trabalho deve ser completo, constante e a longo prazo, pois se trata da instauração de uma cultura para aprendermos a nos relacionar de modo respeitoso e gentil. E isso passa bem longe da punição ou da imagem de um bedel vigiando o corredor, está relacionado com aprender a ser e aprender a conviver”. O aluno Pedro Loureiro, do 11º ano, integrante do comitê, concorda: “Aquele estereótipo de bullying, em que o aluno grandão passa derrubando os livros do nerd, não existe na vida real. Muitas agressões são cometidas sem a pessoa ter noção de que está magoando a outra, principalmente no ambiente online, e daí vem a importância desse programa. Não se trata de uma mera vigilância, mas sim de realmente mostrar para os alunos como eles podem lidar com situações de violência a partir deles próprios, e também de saber que podem contar com todos os adultos da escola para resolver qualquer problema, na tentativa de quebrar as barreiras que existem entre nós”.
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PROGRAMA DE REFERÊNCIA EM PREVENÇÃO AO BULLYING É ADOTADO PELA CHAPEL
Apesar de ser um fenômeno global, este nem sempre é corretamente identificado. Algumas brincadeiras ou conflitos interpessoais podem ser erroneamente classificados como bullying, ao passo que atos de intimidação são, muitas vezes, caracterizados como brincadeiras. Mr. Horta afirma que “o bullying é muito mais subjetivo, grave e doloroso do que se possa imaginar”. Em maio de 2019, a Unesco publicou um relatório sobre violência escolar constatando que 58% dos estudantes que sofreram cyberbullying não contaram aos pais. Os motivos para guardar segredo, segundo Mr. Horta, são vários: vergonha, receio de que o problema piore ou medo de sofrer alguma retaliação são alguns deles. Por isso, o intuito do programa da Abrace não é criar uma cultura de denuncismo, que apenas contribui para manter a vítima na posição de vítima, mas, sim, criar mecanismos para que o estudante encontre facilidade de se comunicar com algum adulto para uma intervenção imediata. “O trabalho é feito para que, a longo prazo, o aluno se sinta empoderado e acolhido dentro das suas características, como ele realmente é. Não se trata de transformar agressor e agredido em melhores amigos, mas de se estabelecer uma convivência
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sem transtornos ou danos a ninguém, respeitando os limites éticos de cada um”, analisa o diretor da Abrace, complementando: “Vivemos numa sociedade muito punitiva, que tem o costume de superproteger quem sofre e condenar quem pratica a violência. Nesse trabalho, precisamos entender que o comportamento de quem é agressivo também pode ser um pedido de ajuda ou grito de socorro”. O programa é orgânico e se adapta à realidade de cada colégio, o que foi elogiado pelos professores que participaram da capacitação. “Senti no curso um cuidado especial com as particularidades da nossa comunidade, nada foi imposto, adaptamos todo o conteúdo do curso para a nossa cultura”, comenta Sylvia Almeida, professora de Artes do HS. Para a professora de Religião do ES, Ana Lucia Dias, o programa será importante para reforçar a atmosfera acolhedora que predomina na Chapel: “Nosso colégio tem um ambiente muito bom, um ambiente familiar, que deve ser bastante cuidado. Acredito que o programa vem complementar algo que a Chapel já faz com muita dedicação, que é aprimorar essa conexão e empatia que mantemos dentro e fora da sala de aula”.
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nica instituição brasileira a palestrar no Fórum Mundial Antibullying, em Dublin, no ano de 2019, a Abrace – Programas Preventivos foi reconhecida pela Unesco, em 2017, como programa referência de combate e prevenção ao bullying no Brasil. A instituição auxilia no desenvolvimento de políticas públicas antibullying no País ao integrar a Frente Parlamentar de Combate ao Bullying e Outras Violências, do governo federal. Fundada em 2012, já atendeu mais de 50 mil alunos no Brasil.
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TALENTOS & PAIXÕES
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onciliar as demandas acadêmicas de um colégio internacional com atividades extracurriculares não é tarefa fácil. No entanto, os alunos da Chapel conseguem isso e muito mais. Conheça seis alunos que se destacam pela dedicação a atividades sociais, hobbies, esportes e música além dos estudos.
“O QUE MAIS EMOCIONA NO VOLUNTARIADO É QUANDO VOCÊ PERCEBE QUE SUA ATITUDE ESTÁ REALMENTE MARCANDO A VIDA DE ALGUÉM”
LIVIA DELEUSE
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VOLUNTARIADO EM FAMÍLIA O trabalho voluntário está presente na vida da jovem Livia Deleuse há bastante tempo e já virou atividade familiar. “Sempre que me dedico a algum projeto social, meus pais também acabam se envolvendo e passamos a fazer juntos”, conta a aluna do último ano do high school. Por sinal, a sua última atuação teve início por causa do colégio. Para o projeto de responsabilidade social do CAS (Criatividade, Atividade e Serviço), integrante do currículo IB (International Baccalaureate), Livia atuou junto ao “Amigos da Rua e seus Pets”, programa de apoio a moradores de rua e a seus animais de estimação – população que ficou mais vulnerável durante a quarentena por causa do fechamento de bares e lanchonetes. “Eu e minha mãe tivemos a ideia de cozinhar para moradores de rua e, conversando com a minha avó, conhecemos esse projeto. Participei montando os kits de higiene, preparando os alimentos, montando as marmitas e fazendo as entregas”, conta a jovem de 17 anos. Livia explica que o projeto fornece cerca de cem refeições por dia, e também leva máscaras, água e sobremesa aos moradores de rua do bairro do Glicério, no centro de São Paulo. “O que mais me marcou foi estar presente, na rua, interagindo com as pessoas. Um senhor veio falar comigo, agradecendo a existência de pessoas que se dedicam a ajudar outras, e isso me emocionou demais”, comenta. Como sempre, seus pais se envolveram na ação, e a família pretende continuar o trabalho mesmo depois de finalizado o projeto de CAS do IB. “Com certeza o voluntariado vai sempre fazer parte da minha vida, tanto pela minha vontade quanto pelo envolvimento da minha família”, pontua. Na Chapel desde o 7º ano, Livia considera o colégio o melhor lugar que já estudou. Paulistana de nascimento, já morou em Santiago (Chile), Miami (EUA) e Rio de Janeiro (RJ), cidades onde frequentou escolas bilíngues e internacionais. “Na Chapel, criei amizades que levarei por toda a vida, e não senti dificuldade de adaptação principalmente por causa dos esportes”, explica. Ela conta que o futebol e a equipe de cheerleader a aproximaram de todos na Chapel. Além de integrar os times Junior Varsity e Varsity de futebol, Livia praticou basquete, futsal e vôlei. Prestes a deixar o colégio, a jovem pretende fazer universidade no Brasil: “Quero estudar administração por ser um curso mais abrangente, e talvez atuar em marketing ou negócios, mas ainda não tenho certeza absoluta”, finaliza.
TALENTOS & PAIXÕES
“DESDE CEDO, FUI BASTANTE EXPOSTA À MATEMÁTICA, TANTO NA ESCOLA QUANTO FORA DELA, PARTICIPANDO DE TORNEIOS E COMPETIÇÕES”
YEONGIN (ELREN) CHAE NOTÁVEL EM MATEMÁTICA
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Há três anos, em razão do trabalho do pai, a sul-coreana Yeongin (Elren) Chae mudou-se com a família para o Brasil e desde então estuda na Chapel. Atualmente cursando o 11º ano, Elren sempre obteve destaque nos torneios de matemática dos quais participa: num dos últimos, o Canguru de Matemática Brasil, em outubro de 2020, ela conquistou ouro no nível Júnior – que engloba alunos das duas primeiras séries do ensino médio –, premiação recebida por apenas 1% dos participantes. A jovem de 17 anos conta que participa de competições e torneios desde criança e que sempre foi estimulada a praticar matemática. “Na Coreia do Sul, o ensino de matemática é levado muito a sério, é um dos grandes pilares da educação. Por isso, desde cedo, fui bastante exposta à matemática, tanto na escola quanto fora dela”. Na Chapel, além do Math Club, Elren integra mais três clubes: NHS (National Honor Society), STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e Knowledge Bowl, o seu preferido. Mas ela não vive somente para estudar. Seus hobbies incluem artes e esportes. “Sou bem eclética, meus gostos variam bastante”, revela, complementando: “Adoro desenhar e gosto muito de jogar badminton, pena não se tratar de um esporte popular no Brasil”. Elren diz que conheceu o badminton na Coreia, onde sempre jogava com as amigas. No Brasil, seu contato com o esporte predileto se deu apenas nas aulas de educação física da Chapel, o que a deixa saudosa. Os últimos meses foram de bastante estudo e demandas acadêmicas, o que a deixou com pouco tempo para se dedicar aos hobbies. “Confesso que atualmente minha vida está sendo basicamente a escola, fazer tarefas nas aulas, fazer os deveres de casa e me preparar para as provas. Quando vejo, já é hora de dormir”, afirma. No entanto, a jovem ainda encontra tempo para se dedicar a um trabalho voluntário. Ela realiza a tradução (do inglês para o coreano) de relatórios dos escritórios da Compassion International, organização sem fins lucrativos que atua em 25 países em prol do desenvolvimento e proteção de crianças carentes. Depois de um dia de muito estudo e trabalho, o que Elren mais aprecia é conversar com os amigos.
“O MAIS INTERESSANTE DO HIPISMO É LIDAR COM O ANIMAL. HÁ UMA FORTE CONEXÃO ENTRE A AMAZONA – OU O CAVALEIRO – E O SEU CAVALO”
CHLOE TANZILLI TEILLERE
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SALTANDO PARA A VITÓRIA No início, andar a cavalo era um hobby que os pais da franco-brasileira Chloe cultivavam antes mesmo dela nascer. A paixão pela montaria foi aumentando à medida que a garota crescia, até ela saltar em seu primeiro campeonato de alto rendimento, três anos atrás. “A partir daí, meus pais viram que eu tinha condições de competir, e eu passei a me empenhar muito, treinando mais intensamente, tendo aulas com excelentes professores e buscando bons cavalos”, conta a jovem de 15 anos, aluna do 10º ano. A dedicação a levou a representar o Brasil em duas edições do Campeonato Sul-americano da Juventude – um dos mais importantes do hipismo: em 2018, no Chile, saltando na categoria pré-mirim (1,10m), foi bronze na prova individual e ouro em equipe, e em 2019, no Paraguai, na categoria mirim (1,20m), foi ouro novamente em equipe e ficou em quinto lugar na prova individual. Por causa do hipismo, a família de Chloe se mudou de casa – para ficarem mais próximos do Clube Hípico de Santo Amaro, onde ela treina –, e a jovem, em termos de escola, deixou o Liceu Pasteur, onde estudou durante onze anos, e ingressou na Chapel para cursar o 9º ano. A adaptação foi tranquila, conta: “Desde o início, me senti super acolhida, os professores são muito compreensivos, e o colégio sempre me ajuda quando preciso faltar para participar de algum campeonato”. Com uma agenda apertada, a jovem chega a participar de mais de vinte campeonatos durante o ano. “Minha rotina é bem puxada. Faço academia bem cedo, antes das aulas, me dedico aos estudos e mais tarde vou para a hípica treinar e cuidar dos cavalos”, resume. Normalmente, os fins de semana da Chloe são dedicados a participar de provas ou treinar os cavalos, mas quando tem algum tempo livre ela gosta de cozinhar, de passear com a mãe e viajar com a família. “Vivo praticamente para a escola e para o hipismo, que acho um esporte lindo. O mais interessante é lidar com o animal. Há uma forte conexão entre a amazona – ou o cavaleiro – e o seu cavalo”, aprecia. No momento, a jovem se dedica a três deles: Empire, o principal, Dryca, sua segunda égua, e Uegond, um cavalo mais novo que ainda está sendo treinado. No final de 2020, entre 22 concorrentes, Chloe e seu Empire venceram o Concurso Nacional e Internacional de Salto Indoor, na Sociedade Hípica Paulista, na série 1,20m da categoria Jovens Cavaleiros. “Um dia pretendo saltar nas Olimpíadas ou nas provas de 1,70m, pois meu sonho é ser campeã brasileira e sul-americana”, almeja a jovem amazona.
TALENTOS & PAIXÕES
“EU GOSTARIA DE ME TORNAR UM ARTISTA E INSPIRAR AS PESSOAS COM A MINHA MÚSICA”
BRUNO STILLE Mesmo sendo filho de brasileiros, Bruno Stille nunca havia morado na terra natal de seus pais até um ano atrás. Nascido na Noruega, o jovem de 15 anos passou por outros quatro países antes de se mudar para o Brasil, no início de 2020, e ingressar na Chapel, em agosto, para cursar o 9º ano. Armênia, Nova Zelândia, Jordânia e Portugal foram os lugares onde Bruno passou a infância e parte da adolescência. No último deles, começou a compor letras de rap junto com os amigos: “Morava em Portugal quando comecei a fazer rimas, há três anos. Meus amigos e eu gostávamos de passar o tempo fazendo rap, e começamos a aprender mais”, conta o jovem, que é adepto do “freestyle”, gênero do rap cuja principal característica é a improvisação das letras, expressando o que o rapper sente sobre determinado assunto. “Gosto de usar nas rimas o que está na minha cabeça naquele momento e que, consequentemente, reflete os meus sentimentos”, pontua. Seu maior ídolo é o rapper americano Hopsin, nome artístico de Marcus Jamal Hopson, artista e produtor musical de Los Angeles. Ele conta que se interessou pelo trabalho de Hopsin justamente porque as músicas dele abordam emoções e a vida em geral, mas de uma maneira mais profunda. “Foi isso que me tocou, e acabei criando uma conexão com o trabalho dele”, explica. Apesar de ainda não se considerar pronto para tornar públicas suas composições, Bruno posta suas músicas na plataforma soundcloud e revela que já conquistou alguns fãs. O jovem tem em mente aprimorar essa atividade e, futuramente, transformá-la em uma carreira profissional. “Eu gostaria de me tornar um artista e inspirar as pessoas com a minha música”, afirma. Atualmente, a rotina do colégio e de atividades extracurriculares toma a maior parte do seu dia, mas, depois que termina as tarefas, Bruno gosta de passar o tempo jogando videogame e se dedicando a compor músicas. Sua atividade predileta, aliás, é ouvir música enquanto joga. Os ritmos prediletos são o rap, claro, e o lo-fi. Em sua playlist não falta o ídolo Hopsin, mas Bruno abre espaço para outros artistas como Eminem, por exemplo. Seus esportes prediletos são o basquete e o futebol, os quais ficaram um pouco de lado no final do ano passado em razão de uma lesão na mão.
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RAP COMO EXPRESSÃO DOS SENTIMENTOS
“QUANDO TOCO PIANO, ME ISOLO – NO BOM SENTIDO. NAQUELE MOMENTO, SOMOS APENAS EU E O INSTRUMENTO”
PEDRO MALAGONI MÚSICA QUE TOCA OS CORAÇÕES
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Pedro Malagoni tinha apenas quatro anos de idade quando, na casa de férias, descobriu o teclado da irmã e se encantou pelo instrumento. A mãe, que toca violão, ensinou-lhe os primeiros acordes antes de matricular o filho na mesma escola de música em que estudara – Pedro tinha dez anos quando ingressou no Centro Musical RMF. “Os gêneros musicais que mais gosto de tocar são o pop e o rock. Me inspiro bastante no Queen, mas, para mim, Richard Clayderman é um dos maiores pianistas do mundo”, afirma o jovem de 14 anos. Quando a família morou em Portugal, dois anos atrás, Pedro teve aulas de música no colégio em que estudou, onde foi “descoberto” por um professor e produtor musical de artistas como Maroon 5, Lady Gaga e Andrea Bocelli. “Eu estava numa sala tocando uma música do Queen quando ele passou e me ouviu tocar”, conta Pedro, complementando: “Passamos a conversar bastante e ficamos muito amigos durante o tempo em que morei lá. Eu já adorava o piano, e esse professor me ajudou a aprimorar minha performance”. Atualmente cursando o 8º ano, Pedro faz aulas de piano duas vezes por semana com o Maestro Reynaldo Martinelli Filho, com quem criou fortes laços de amizade, e dedica-se ao instrumento todos os dias por, pelo menos, uma hora. Geralmente, ele toca de fone de ouvido, mas, às vezes, costuma deixar o som alto a pedido da avó, que adora ouvi-lo tocar. “Quando toco piano, me isolo, mas no bom sentido. Naquele momento, somos apenas eu e o instrumento”, revela. Este ano será de muito ensaio: em outubro, ele fará um show beneficente numa das maiores casas de espetáculo de São Paulo, a UnimedHall, na inauguração do Instituto Pedro Molina, criado pela mãe para apoiar os portadores de doenças neuromotoras como a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), que acometeu seu avô materno. O instituto será dedicado a fomentar pesquisas em busca de novos tratamentos. Pedro se apresentará ao lado da irmã, Julia, que se graduou na Chapel em junho de 2020 e que cantará no espetáculo. O repertório foi carinhosamente selecionado: “Todas as músicas foram escolhidas para passar uma mensagem positiva às pessoas”, adianta.
TALENTOS & PAIXÕES
“EU JOGO DE UM JEITO CALMO, NÃO GRITO EM JOGO. ME INSPIRO NO ROGER FEDERER, QUE É BEM EDUCADO NA QUADRA”
NICHOLAS BLIKSTAD SERENIDADE NAS QUADRAS
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Aos três anos de idade, Nicholas Blikstad ganhou do pai sua primeira raquete de tênis, “para brincar de tocar na bola”, como ele conta. Começou a treinar aos seis, no Clube de Campo de São Paulo, mas quando passou a disputar torneios pela Federação Paulista de Tênis, o garoto – que hoje tem doze anos de idade – passou a treinar na David’s Tennis School. O jovem tenista já disputou mais de vinte torneios, geralmente conseguindo uma boa colocação. “Ainda não fui campeão, mas fui vice umas cinco ou seis vezes”, conta. Com um estilo de jogo tranquilo, Nicholas se inspira em Gustavo Kuerten, o Guga, e em Roger Federer: “Gosto do jeito que o Federer joga, é educado na quadra, diferente de outros que são agressivos”, afirma, complementando: “Eu jogo de um jeito calmo, não grito, não falo quase nada em jogo. Meu pai, inclusive, diz que eu sou muito quieto”. A rotina do aluno do 7º ano é repleta de atividades esportivas e musicais. Quando termina de assistir às aulas da Chapel, Nicholas faz aulas de tênis, de boxe e de bateria. Aos domingos, treina futebol no clube de campo. Quando participa dos torneios da Federação, geralmente aos fins de semana, é o pai, que sempre jogou tênis, quem o acompanha. “Depois das partidas, ele me dá sugestões para eu melhorar para o próximo jogo”, conta. Quando podem, os dois sempre batem uma bola juntos. Há cerca de três anos, Nicholas começou a estudar bateria para desestressar. “Comecei guitarra, mas achei chato. Gosto da bateria porque posso soltar a raiva”, brinca. Música é algo muito presente na vida dele. Em 2019, ganhou seu primeiro equipamento para fazer discotecagem: computador, caixa e mesa de som. “Comecei a me interessar numa festa da minha irmã, quando gostei muito do DJ que se apresentou”, conta. Sua primeira atuação na discotecagem foi na festa de um amigo. “Toquei nessa festa e fui convidado para fazer o som em mais três eventos”, revela o garoto. Aluno da Chapel desde o Pre I, o que Nicholas mais gosta no colégio são os professores e os colegas. “Os professores são muito bons, e fiz muitas amizades, tenho amigos que conheci no Pre I”, finaliza.
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s atividades after school, as brincadeiras do Dia das Crianças, do Halloween e da Spirit Week, as comemorações do Thanksgiving e da formatura da turma de 2020 foram alguns dos acontecimentos que movimentaram a Chapel no último semestre. Acompanhe, nas próximas páginas, registros fotográficos desses momentos de diversão e confraternização que uniram ainda mais a comunidade escolar.
14 - Antonio Tavares e Lucas Golino, do 11º ano, concentrados na atividade. 14 - Antonio Tavares and Lucas Golino, from 11th grade, focused on an activity.
13 - Na sala do 2º ano, Manuela Gurgel e Joana Marques. 13 - Manuela Gurgel and Joana Marques in a 2nd grade classroom.
12 - Antonio Andrade, do 8º ano, treina com a bola de basquete. 12 - Antonio Andrade, from 8th grade, practices with a basketball.
10 e 11 - Matheus Merlo e Isabella Haddad, do Pre II, trabalhando com massa de modelar. 10 and 11 - Matheus Merlo and Isabella Haddad, from Pre II, working with play-doh.
09 - As colegas Manuela Pedreira, Sophia Oporto e Nina Vianna, do 4º ano, dominam a bola. 09 - Manuela Pedreira, Sophia Oporto, and Nina Vianna, from the 4th grade, play ball.
08 - Joana Marques, do 2º ano, fazendo atividade after school. 08 - Joana Marques, from the 2nd grade, engaged in an after school activity.
07 - No campo, Felipe Campana, do 4º ano, faz uma pequena pausa para a foto. 07 - On the field, Felipe Campana, from 4th grade, takes a quick pause for a picture.
06 - Zac Sanders, do 2º ano, se diverte na área coberta. 06 - Zac Sanders, from 2nd grade, has fun in the covered area.
05 - Ansiosas para as atividades, as alunas do 4º ano Lorena Cortelaso, Isabella Schahin, Rafaela Braga, Nina Viana e Ana Luísa Nagano. 05 - Anxiously waiting for activities to start are 4th grade students Lorena Cortelaso, Isabella Schanin, Rafaela Braga, Nina Viana, and Ana Luísa Nagano.
04 - Pablo Guimarães Silva, do 11º ano, exercita passes de basquete. 04 - Pablo Guimarães Silva, from the 11th grade, honed his basketball skills.
03 - As alunas do 10º ano, Juliana Sousa, Carolina Montenegro e Delfina Girardi, aproveitam o treino de Cheerleading. 03 - 10th grade students Juliana Sousa, Carolina Montenegro, and Delfina Girardi enjoy Cheerleading practice.
02 - Junto com os colegas, Bianca Ludgero e Luisa Scardua, do 5º ano, aguardam sua vez. 02 - Along with her friends, Bianca Ludgero and Luisa Scardua, from 5th grade, wait for their turn.
01 - Laura Gervazoni, Lucca Prospero, Gustavo Zito, Bernardo Pereira e Heitor Carvalho, do 6º ano, participam das atividades after school. 01 - Laura Gervazoni, Lucca Prospero, Gustavo Zito, Bernardo Pereira, and Heitor Carvalho, from 6th grade, participate in after school activities.
Foto: Arquivo Chapel / Chapel Archive
ATIVIDADES AFTER SCHOOL AFTER SCHOOL ACTIVITIES
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08 - As irmãs Sarah (Pre I) e Rebecca Buffara (Kinder) aguardam as lembrancinhas. 08 - Sisters Sarah (Pre I) and Rebecca Buffara (Kinder) wait for their gifts.
07 - Bianca Lembi, do 1º ano, escolhe a cor do marcador. 07 - Bianca Lembi, from 1st grade, chooses the color of her maker.
06 - Juan Blanco, do 1ºano, assina na tela 06 - Juan Blanco, from 1st grade, signs the board.
05 - Mateus e Gabriel de Jongh Gomes, do Pre I, chegam com os pais para o Dia das Crianças. 05 - Mateus and Gabriel de Jongh Gomes, from Pre I, arrive with their parents on Children’s Day.
01 a 04 - No Dia das Crianças, os alunos ganharam mimos como cubo mágico, garrafinha de alumínio e brigadeiro. As canetas coloridas foram usadas pelas crianças para deixar recordações numa tela. 01 to 04 - On Children’s Day students picked up Chapel swag, which included a Rubik’s cube, a water bottle, and brigadeiro. Kids used markers to leave a message on a grade level canvas board.
Foto: Arquivo Chapel / Chapel Archive
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17 - Mr. Desai entrega as canetas para a aluna Augusta Rojas, do 6º ano, assinar a tela. 17 - Mr. Desai delivers markers to Augusta Rojas, from 6th grade, to leave her mark.
16 - Antonia Amaro, do Kinder, foi trazida pela mãe para participar da comemoração. 16 - Antonia Amaro, from Kinder, was brought by her mom to participate in the celebration.
15 - Stephanie Raposo, do 5º ano, e Valentina Inácio, do 6º, recebem seus mimos. 15 - Stephanie Raposo, from 5th grade, and Valentina Inácio, from 6th grade, get their swag.
14 - Sofia Garzon, do 4º ano, coloca a sua assinatura na tela. 14 - Sofia Garzon, from 4th grade, signs the grade level canvas board.
13 - Felipe Tourinho, do Kinder, recebe seu presente. 13 - Felipe Tourinho, from Kinder, receives his gift.
12 - Marina Pereira, do Kinder, mostra seus desenhos. 12 - Maria Pereira, from Kinder, shares her drawings.
11 - Maria Valentina Boesel, do Pre II, posa para o retrato do dia festivo. 11 - Maria Valentina Boesel, from Pre II, poses for a picture during the festivities.
10 - Marina Almeida, do 3º ano, capricha na assinatura. 10 - Marina Almeida, from 3rd grade, carefully signs her name.
09 - As meninas da família Carui com a amiga Isabela El Khouri fazem festa ao chegar ao colégio. 09 - The Carui family girls and their friends Isabela El Khouri celebrate as they arrive at school.
Foto: Arquivo Chapel / Chapel Archive
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07 - Vencedoras do concurso de fantasia, as seniors Maria Rosa Aboud e Rocio Maria Arruiz exibem seus looks de Donna and the Dynamos (Mamma Mia). 07 - Costume contest winners, seniors Maria Rosa Aboud and Rocio Maria Arruiz show off their Donna and the Dynamos (Mamma Mia) looks.
06 - Os seniors fazem a festa: Arthur Almeida, Raphael Boueiri, Qingtian Huang (Bobby), Alexia Castellanos, Luisa Tolda, Amanda Monte Alto, Maria Rosa Aboud, Rocio Maria Arruiz, Maria Fernanda Melo, Livia Deleuze, Sofia Buazar e Luana Moussa. 06 - Seniors have a ball: Arthur Almeida, Raphael Boueiri, Qingtian Huang (Bobby), Alexia Castellanos, Luisa Tolda, Amanda Monte Alto, Maria Rosa Aboud, Rocio Maria Arruiz, Maria Fernanda Melo, Livia Deleuse, Sofia Buazar, and Luana Moussa.
05 - A agente policial Sofia Buazar (12º ano) conduz a detenta Luana Moussa (12º ano). 05 - Officer Sofia Buazar (12th grade) escorts inmate Luana Moussa (12th grade).
04 - Mr. Bryan Sanders exibe sua inusitada fantasia da Tartaruga Ninja. 04 - Mr. Bryan Sanders shows his ingenious Ninja Turtle costume.
03 - De pirata, Mr. Brian Manning saca sua espada. 03 - Dressed up as a pirate, Mr. Brian Manning draws his sword.
02 - Na quadra, Livia Deleuse, do 12º ano, exibe sua fantasia de Malévola. 02 - In the gym, Livia Deleuse, from 11th grade, shows off her Maleficent look.
01 - O ninja Raphael Boueiri, do 12º ano, participa do Halloween. 01 - Ninja Raphael Boueiri, from 12th grade, participates in the Halloween celebration.
Foto: Arquivo Chapel / Chapel Archive
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06 - As amigas Alexia Castellanos e Amanda Monte Alto, do 12º ano, aproveitam a Spirit Week. 06 - Friends Alexia Castellanos and Amanda Monte Alto, from 12th grade, enjoy Spirit Week.
05 - Martin Castellanos, Toni Serres, Nicolas Ibarra e Gabriel Lins, do 10º ano, curtem o Dia do Azul e Branco. 05 - Martin Castellanos, Toni Serres, Nicolas Ibarra, and Gabriel Lins, from 10th grade, enjoy Blue and White Day.
04 - Os seniors Pedro de Marchi, Arthur Almeida e Arthur Freitas vieram à caráter no Dia do Moleton. 04 - Seniors Pedro de Marchi, Arthur Almeida, and Arthur Freitas dressed for the occasion on Sweatshirt Day.
03 - No clima da Spirit Week, os colegas do 10º ano: Mathias Reimer, Rodrigo Garrido e Antonio Esteves. 03 - In the spirit of Spirit Week, 10th grade pals: Mathias Reimer, Rodrigo Garrido, and Antonio Esteves.
02 - Ana Clara Martins, do 10º ano, entrou na brincadeira. 02 - Ana Clara Martins, from 10th grade, joined the fun.
01 - No Dia do Pijama, Carolina Montenegro (10º) e Luisa de Marchi (10º) assistem à aula. 01 - On Pajama Day, Carolina Montenegro (10th) and Luisa de Marchi (10th) in class.
Foto: Arquivo Chapel / Chapel Archive
SPIRIT WEEK 01
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05 a 08 - A turma do Kinder A (Marina Pereira, Maria Fernanda Dirani, Agness Choi e Lucas Guglielmetti) usando suas bandanas com motivos comemorativos. 05 to 08 - Kinder class A (Marina Pereira, Maria Fernanda Dirani, Agness Choi, and Lucas Guglielmetti) using their headpiece with Thanksgiving motifs.
04 - Valentina Figueiredo, do 1º ano, exibe sua bandana colorida. 04 - Valentina Figueiredo, from 1st grade, shows off her colorful headpiece.
03 - Pierre Chofard, do 1º ano, concentra-se na sua atividade. 03 - Pierre Chofard, from 1st grade, focuses on his activities.
01 e 02 - Felipe Pimentel Almeida e Isabela Figueiredo, do Pre II, exibem suas atividades de Thanksgiving. 01 and 02 - Felipe Pimentel Almeida and Isabela Figueiredo, from Pre II, show their Thanksgiving projects.
Foto: Arquivo Chapel / Chapel Archive
THANKSGIVING
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11 - Rafael Lopes com os pais, Edmar Lopes e Carla Lopes, a irmã Mariana Lopes, e Leticia Barbosa. 11 - Rafael Lopes with his parents, Edmar Lopes and Carla Lopes, sister Mariana Lopes, and Letícia Barbosa.
10 - Maria Luiza Tavares com seus pais, Romero e Fabíola, e irmãos, Helena e Antonio. 10 - Maria Luiza Tavares with her parents, Romero and Fabíola, and siblings Helena and Antonio.
09 - Enrique Esteve com seus irmãos, Luís e Isabel. 09 - Enrique Esteve with his siblings, Luis and Isabel.
08 - Joaquim Ferraz e familiares. 08 - Joaquim Ferraz and family.
07 - Rafael Lopes foi o orador da turma. 07 - Rafael Lopes spoke on behalf of the class.
06 - Yeongseo Chae (Alex) foi a oradora Class Valedictorian. 06 - Yeongseo Chae (Alex) was the Class Valedictorian.
05 - Os oradores, Class Salutatorians Neil Kapur falou juntamente com sua irmã Anika Kapur, que participou da cerimônia virtualmente. 05 - Class Salutatorians Neil Kapur spoke alongside his sister Anika Kapur, who participated online.
04 - Os formandos receberam a bênção inicial do Padre Miguel Pipolo. 04 - Graduates received Father Miguel Pipolo’s blessing.
01 a 03 - A cerimônia de formatura dos seniors ocorreu em dezembro de 2020, respeitando os protocolos de saúde. 01 to 03 - The Senior graduation ceremony took place in December 2020, following all the recommended health protocols.
Foto: Arquivo Chapel / Chapel Archive
FORMATURA TURMA DE 2020 GRADUATION CLASS OF 2020
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