O Cidadão RIO DE
3
O Jornal do Bairro Maré JANEIRO - DEZEMBRO/JANEIRO 2006 - ANO
HABITAÇÃO: PRÉDIOS VAZIOS
VIII
-
Maré via Zona Sul 5
RUA PRINCIPAL PROTAGONISTA DA MARÉ
11
PREFEITURA QUER REMOVER MANDACARU
19
NO 43
GLAUCOMA: CONHEÇA E PREVINA-SE O Cidadão _ 1
EDITORIAL
O Cidadão é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604
Ano cheio de notícias
F
eliz Ano Novo! 2006 é ano de eleições e temos que exercer nosso direito cívico com responsabilidade. Muitos se desiludiram com o governo de Lula, mas temos que ser capazes de fazer uma crítica séria que não se baseie, apenas, no que se vê na televisão. Com certeza, O CIDADÃO terá um espaço cativo para discutirmos o assunto, mostrando como a Maré vê o desempenho do governo e o que espera do próximo mandato. No ano velho, o jornal passou por muitas mudanças, começando pelo projeto gráfico. Incorporamos novas caras e olhares sobre a Maré. O reflexo das mudanças foi sentindo lá longe, no mais antigo prêmio do jornalismo brasileiro. O jornal O CIDADÃO foi indicado ao Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria Contribuição à Imprensa. A divulgação do resultado surpreendeu a equipe: não houve vencedores na categoria. Perdemos o prêmio, mas preservamos nosso direito de dar vida e voz às comunidades do Rio de Janeiro.
Pois as vozes desta primeira edição de 2006 se misturam ao ruído do trânsito nosso de cada dia, na matéria de capa. Apresentamos o cotidiano dos moradores que utilizam as linhas de ônibus que vão da Maré à Zona Sul. Eles vão trabalhar, estudar e se divertir, pois também são filhos de Deus. Os prédios-fantasmas também foram retratados na edição. Pesquisamos os edifícios privados e públicos que estão completamente abandonados. São monumentos ao descaso, numa cidade de muitos sem-teto e poucas moradias. Falando em moradia, apresentamos o problema da comunidade Mandacaru, onde os moradores estão sob a ameaça de remoção. A Prefeitura oferece indenizações vergonhosas, que não dão para comprar nem um barraco de tábua. Temos ainda a rua Principal com suas histórias de luta e diversão. A matéria sobre glaucoma, que mostra a falência do sistema de saúde e muito mais. Boa leitura e um ótimo ano!
ELES TAMBÉM LÊEM O CIDADÃO Hélio Euclides
Acima, Adelson Alves, locutor da Rádio MEC AM. Ao lado, Ana Carla, 35 anos, cabeleireira, moradora da Praia de Ramos
Programa de Criança
BR
PETROBRAS 2 _ O Cidadão
Uma conquista dos moradores da Maré O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da Maré. Promove oficinas e atividades que se tornam extensão da sala de aula.
Cristiane Barbalho
Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965
Conselho Institucional Antonio Carlos Vieira Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz Eliana S. Silva Jailson de Souza Léa Sousa da Silva Lourenço Cezar Maristela Klem Coordenadora: Rosilene Matos Editora: Renata Souza Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Renata Souza Cristiane Barbalho Ellen Matos Hélio Euclides Rosilene Matos Silvana Sá Viviane Couto Gizele Martins Colaboraram nesta edição: Oservatório da Maré Ratão Diniz Rede Memória Ana Muniz Jornalista Responsável: Marlúcio Luna (Reg. 15774 Mtb) Ilustrações: Mayara e Caique Publicidade: Elisiane Alcantara Diagramação: José Carlos Bezerra Assistente de Diagramação: Fabiana Gomes Foto de Capa: Hélio Euclides Repórter Fotográfico: Cristiane Barbalho Distribuição: Patrícia dos Santos (coordenadora) Josiane dos Santos Sabrina da Silva Elizângela Felix Charles Alves Maria Matildes de Sousa Regiane de Matos Sara de Andrade Alves Fotolitos / Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br
A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da
EDIOURO Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso Tel: 3882-8200 Fax: 2280-2432
HABITAÇÃO
Fantasmas da Maré Prédios públicos e privados estão abandonados por todo o bairro Cristiane Barbalho
Rio de Janeiro enfrenta graves problemas de moradia, que obrigam famílias inteiras a se organizarem para ocupar prédios públicos inativos, exercendo assim, o seu direito de moradia, resguardado pela Constituição. Essas ocupações são reprimidas com extrema violência pela policia. Enquanto isso, na Maré, há vários imóveis abandonados, que poderiam ser utilizados tanto para moradia, quanto para a criação de novos espaços culturais e educacionais. Entretanto, o que acontece é o desperdício do dinheiro público e a falta de políticas para a solução do problema. Exemplo disso é o prédio do Mc Donalds da Avenida Brasil, próximo à Nova Holanda, que foi desativado e virou um entulho gigante. Além disso, há as ruínas daquilo que seria um mercado popular da Vila do Pinheiro, que é um dos prédios fantasmas da região. Apesar de não assustar os moradores, tem frustrado pequenos comerciantes que tinham o sonho de abrir uma loja no novo centro comercial. Ainda no Pinheiro há um imóvel, que seria um prédio público municipal, às moscas. O espaço vem sendo ocupado, de vez em quando, por atividades que não se encontram na proposta inicial. O descaso dos órgãos competentes também fica claro no caso do prédio abandonado da Quartzolite, no morro do Timbau, onde foi posta uma faixa com a seguinte frase: “Em breve,
O
Imóvel onde ficava a lanchonete Mc Donalds, na Avenida Brasil, virou entulho gigante Cristiane Barbalho
nesse local, será construída uma escola de ensino médio”. A faixa foi erguida há anos e nada aconteceu. Esses são apenas alguns exemplos, embora existam outros espalhados pela Maré. Os fatos mostram que não há interesse por parte do poder público em transformar esses fantasmas em locais eficientes e produtivos para a comunidade.
Prédio público municipal está às moscas Renata Souza
Cristiane Barbalho
Quartzolite fecha e prédio é abandonado
Mercado popular da Vila do Pinheiro não sai do esqueleto e frustra pequenos comerciantes
O Cidadão _ 3
EDUCAÇÃO
De volta à escola Programas de educação dão oportunidade a quem precisou abandonar os estudos
“
Fotos de Cristiane Barbalho
E
nquanto muitos alunos querem sair da escola, jovens e adultos que precisaram abandonar os bancos escolares se esforçam para voltar”. A constatação é da diretora do Ciep Gustavo Capanema, Eliane Ferreira. A escola abriga, desde 1985, o Programa de Educação para Jovens e Adultos (Peja), responsável pelo retorno e pela iniciação escolar de muitos moradores da Maré. O programa é uma das iniciativas desenvolvidas na região para mudar o quadro de analfabetismo e baixa escolaridade que ainda persiste entre jovens e adultos da comunidade. Gente como seu Paulo, 34 anos, aluno do primeiro segmento. Há quatro anos, quando chegou de Pernambuco, ele não conseguia pegar ônibus, porque não sabia ler. “Agora que voltei a estudar vou para onde quiser. É só ter o endereço que chego a qualquer lugar”, garante. Na Maré o ensino supletivo viabiliza o retorno dos moradores às salas de aula. Além do Peja, o Educação para Jovens e Adultos (EJA), desenvolvido pelo Sesi de Bonsucesso em parceria com o Ceasm, recebe os alunos a partir dos 17 anos. A metodologia utilizada é a do Sesi Educa, que foi desenvolvida pela própria instituição para atender à realidade financeira e educacional de cada aluno.
Jovens que voltaram a estudar aprendem que o estudo em grupo é mais construtivo
O programa contempla o primeiro segmento, que vai da alfabetização até a quarta série, e o segundo segmento, da quinta à oitava série. Estes módulos são gratuitos, pois a parceria cobre os custos. Já o supletivo do Ensino Médio, realizado à noite, é pago. A duração do curso completo varia de seis meses a dois anos, dependendo do desempenho de cada aluno. A ex-diretora de educação do Sesi Carla Nascimento sente prazer ao ministrar as aulas do supletivo. “É
Turma de adultos estudando: para concluir os estudos não há idade; somente, a vontade de crescer 4 _ O Cidadão
muito bom ver as pessoas ficarem surpresas com a proposta e sentirem que podem conseguir. Um aluno ajuda o outro e o estudo acaba se tornando uma tarefa do grupo”, afirma. Na Igreja Nossa Senhora dos Navegantes também funciona um projeto de supletivo, que pertence ao Telecurso 2000. O curso, que atende uma turma com 30 alunos, é patrocinado pela a ONG Viva-Rio e pelo governo do estado, que fornecem livros e bolsas para o pagamento dos professores. A professora de português, Daniele Neves de Mello, 24 anos, diz que a procura pelo curso é grande. “Muitos deixaram de estudar por muito tempo e para conseguirem um emprego precisam, no mínimo, do ensino fundamental. Por isso, a procura aumenta a cada ano”, afirma. A cada final de módulo os alunos fazem uma prova, que é aplicada pelos patrocinadores. O curso tem duração de um ano e ainda não há previsão de abertura de novas turmas para o ano que vem. No Ciep Gustavo Capanema funciona a alfabetização de jovens e adultos pelo Peja 1, e o Peja 2, que abrange até a oitava série. Hoje, através da organização dos alunos e de debates, surgiu a idéia de se fazer um documento para o governo do estado do Rio de Janeiro para conseguir a instalação de um programa de ensino médio.
GERAL
A protagonista da Maré A Rua Principal corta inúmeras comunidades e agrupa grandes histórias Cristiane Barbalho
I
magine o bairro sendo um corpo humano. Com certeza a coluna vertical da Maré seria a Rua Principal. Além da dimensão, chama a atenção o traçado, que corta várias comunidades, da Rubens Vaz, passando pela Nova Holanda, Parque Maré e Baixa do Sapateiro, até chegar na Nova Maré. Ela funciona como via para pedestres, linhas de ônibus e kombis. O grande fluxo de pessoas atraiu vários tipos comércio, escolas, além do Banco Popular, o posto da Light e diversas igrejas. Quando se fala da Rua Principal surgem histórias engraçadas que embalam as conversas dos mais antigos. O sapateiro Messias Santana, 67 anos, não vê com bons olhos o aterramento. “Acabaram com nossa alegria. Quando a maré subia, pegávamos bagre e bebíamos com cachaça. Depois, para nos divertirmos, íamos ao baile do Risca Faca e, logo depois, dormíamos de portas abertas”, recorda.
Baile Risca Faca Manuel Paulino, 67 anos, o Manuelão, dono do antigo Risca Faca, conta que chegou em 1968, e só encontrou água e pinguela (pontes provisórias). “Comprei o Risca Faca por 3 mil contos, era um ponto de referência para os nordestinos. Muitos surgiam sem dinheiro, então, se alojavam nos meus quitinetes”. O estudante Rogério Paulino, 29 anos, destaca que na época da construção do Cieps Samora Machel e Elis Regina, foi encontrado
Umas das ruas mais agitadas da Maré, a Principal, foi palco de lutas por melhorias na comunidade
um tesouro. “Na construção da escola uma draga encontrou um baú com moedas antigas. Não valiam nada, mas foi uma festa”, lembra. As primeiras lideranças políticas da rua vieram da Associação, como Vera Lucia, Eliane Souza e Milton de Jesus. Alguns já não moram na Principal, mas a rua marcou as vidas deles. Vera Lúcia, que vive na Nova Holanda há 41 anos, destaca sua passagem na Associação de Moradores e conta com emoção que nem tudo “eram flores”. “A vala e o esgoto eram um horror. E ainda teve um incêndio, do qual me salvei com um par de chinelas trocadas e apenas uma roupa íntima, que lavava durante a noite e vestia pela manhã. Ficamos dormindo na calçada. Entretan-
to, as pessoas eram mais unidas”, afirma Vera. Tiago de Oliveira, 21 anos, ressalta que há problemas na rua. “Nós sofremos com má iluminação e asfalto irregular”, lamenta. Hoje, Milton de Jesus, o popular Militão, é vice-presidente da associação da Nova Holanda. Ele lembra-se do “tempo em que sujava as calças no barro da Principal”. Sobre as reclamações, afirma que a associação já mandou oficio para manutenção do asfalto e construção de quebra-molas. “Quanto à iluminação dos postes já reivindicamos, mas com a colocação das lâmpadas surgem as faixas da menina (Teresa Bergher). Isso é injusto”. Ele aproveita para reclamar que os moradores quase não aparecem na entidade.
O Cidadão _ 5
PERFIL Fotos de Cristiane Barbalho
Enxergando com a alma Gegê, deficiente visual e ator, não encontra limites para realizar seus sonhos. Comunidade: Vila do Pinheiro Profissão: Ator Idade: 27 anos
B
em humorado, piadista e criativo. Assim é a personalidade do ator deficiente visual, Edvandro Rosa, mais conhecido como Gegê, que tem 27 anos e mora na Vila do Pinheiro. Sua vida treatral começou aos 19, quando era da Pastoral da Juventude da Igreja São José Operário, que fica na Vila do João. “Participei de um encontro ecumênico, Flor e Canto, em Petrópolis, e lá apresentei um esquete, que é uma pequena cena. Desde então, não parei mais”, lembra. Usando os olhos da alma, o ator não encontra limitações visuais para concretizar seus desejos. Gegê foi consagrado com seu último trabalho na peça “Roda Mundo Severino”, produzida pelo grupo de teatro da Ação Comunitária do Brasil
(ACB), que fica na Vila do João. O espetáculo ficou em cartaz de agosto a setembro no teatro Glauce Rocha. Durante e depois das apresentações, o ator foi rodeado pela imprensa e deu várias entrevistas. “Eu não me impressiono com isso, mas é muito bom ver o meu trabalho reconhecido”, afirma o ator, que está estudando para montar a peça “Anjo Negro”, de Nelson Rodrigues. A família do ator é só alegria. A mãe Carmem Lúcia dá seu apoio incondicional. “Acho muito bom meu filho seguir na vida artística, está no caminho certo. 6 _ O Cidadão
Gegê e as máscaras que produziu para utilizar em cena do espetáculo “Roda Mundo Severino”
Mesmo se não conseguir ir em frente, vai ter uma história bonita para contar para os filhos. Mas tudo que eu puder fazer para ajudá-lo, farei”, garante a mãe artista, cantora de forró em bares da Maré. Mas nem tudo são flores. Por causa da deficiência visual, que é he-
O ator encena parte da peça ao posar
reditária e tem se agravado, gradualmente, depois dos 20 anos, Gegê teve uma forte depressão. “Foi muito difícil aceitar no começo, pois eu enxergava feito águia. Mas hoje já me conformei e sei, que um dia, ficarei cego. Estou preparado”. Ele queria ser psiquiatra, mas acha difícil, já que não há uma estrutura específica nas universidades para comportar os deficientes visuais. “Se encontrar uma escola para deficientes já é difícil, imagine encontrar uma universidade”. Em abril, o ator entrou para o Instituto Benjamin Constant para aprender braile, que é um sistema de escrita em relevo, desenvolvido para os cegos. Mas foi obrigado a trancar sua matrícula para participar da peça Roda Mundo Severino. “Estou estudando o braile em casa. É bastante difícil, mas quando aprendi a letra A e a Z, ficou menos complicado”, conta. Gegê pretende passar o resto de sua vida trabalhando com artes engajadas socialmente. “Penso nas pessoas e na parte social. Por isto quero fazer projetos sociais com cinema e teatro para ajudar as pessoas. Este é o meu sonho”.
ANÚNCIOS
O CIDADÃO LIGUE E ANUNCIE
3868-4007
PLACAS FAIXAS CAVALETES BANNERS CORTE ELETRÔNICO FRONT LIGHT BACK LIGHT
COMUNICAÇÃO VISUAL Josenildo 8809-5221
Telefax 3884-8765 agata.cvisual@ig.com.br
RUA PRAIA DE INHAÚMA, 82 - BONSUCESSO
Lambaeróbica - Musculação Ginástica - Helipticos - Massagem Spinning - Bicicleta - Esteira - Lutas
Tel.: 3104-3200
Av. Guilherme Maxwel, 79 - Ao lado do SESI e Escola Bahia
Trazendo este anúncio, ganhe GRÁTIS a matrícula
ACB/RJ oferece cursos e serviços de beleza na Maré Oficinas da ONG valorizam a estética africana Texto: Ana Muniz No dia 30 de outubro, o núcleo de Beleza e Gênero da Ação Comunitária do Brasil/RJ, fez a abertura do Rio Beleza 2005. Os participantes do evento, promovido pelo Sindicato dos Institutos de Beleza e Cabeleireiros de Senhoras do Município do Rio de Janeiro e o Centro de Tecnologia em Beleza do Senac Rio, assistiram à performance do núcleo de beleza da ACB, que produzia penteados africanos no palco.
Eventos deste tipo já fazem parte do cotidiano deste núcleo, que aos poucos vem ganhando espaço para divulgar a cultura africana, refletida na produção dos cabelos de diversos jovens de toda a cidade. Durante o ano de 2005, o Beleza e Gênero recebeu convites para participar de 15 eventos da área de saúde e beleza. O Núcleo de Beleza e Gênero, localizado no espaço que a ACB/RJ mantém na Vila do João, oferece cursos de qualificação profissional e serviços de qualidade para toda a comunidade. Dentre os cursos oferecidos estão os de Assistente de Cabeleireiro, Manicura e Maquiagem. Somente este ano, cerca de 170 jovens passaram pelas oficinas do núcleo, adquirindo capacitação e a possibilidade de aumentar a renda de suas famílias. Além dos cursos, o bairro da Maré também pode contar com os serviços oferecidos pelo Salão Comunitário.
AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL www.acaocomunitaria.org.br
RIO DE JANEIRO
Fotos Paulo Macedo
Com preços populares, que variam de R$ 1,99 à R$ 30,00, os moradores têm a oportunidade de cortar o cabelo, fazer penteados africanos, unhas artísticas, escova e sobrancelhas contando com a qualidade de um trabalho já reconhecido por empresas e produtores de eventos desta área. Para os interessados em participar dos cursos ou pelos serviços oferecidos, basta entrar em contato com o núcleo da Vila do João pelos telefones: 3868-7056 ou 3104-7010. O endereço do Salão Comunitário é Rua Onze - Quadra 58 - nº. 243, Vila do João - Complexo da Maré .
Rua 11, na quadra 5 – Vila do João. Tel: 3868-7056 Sede: Rua da Candelária, 4, Centro – Tel/fax: 2253-6443
O Cidadão _ 7
ANÚNCIOS
MICROCRÉDITO
Mais força para seu negócio JURO S DE 3,6% a.m.
VEJAM AS VANTAGENS: Financiamos de R$ 400,00 até R$ 10.000,00. Análise de crédito personalizada. CONHEÇA ALGUMAS OPÇÕES DE FINANCIAMENTO: VOCÊ FINANCIA
E PAGA EM 6X DE
OU PAGA EM 12X DE
OU PAGA EM 18X DE
R$ 1.000,00
R$ 197,24
R$ 110,16
R$ 81,51
R$ 2.000,00
R$ 394,89
R$ 219,88
R$ 162,30
DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA: CPF, identidade e comprovante de residência. E no caso das micro empresas, apresentar o cartão do CNPJ e contrato social.
Tel.: 3284-9759 O Empréstimo é concedido pela Microinvest S/A Sociedade de Crédito ao Microempreendedor. Sujeito a análise de crédito. Primeiro crédito até R$ 5.000,00. Simulação de crédito com taxa de 3,6%a.m. + taxa de abertura de crédito + IOF. Capital de giro em até 12 parcelas. Ativo fixo e capital misto em até 24 parcelas. Taxa promocional válida somente para empreendedores/empresas da Maré. 8 _ O Cidadão
NAS REDES DO CEASM
Nova holanda ganha biblioteca Parceria entre Ceasm e Rotary Club possibilita novo espaço de leitura ue 2006 é um ano eleitoral, todo mundo sabe. E para começar o ano exercendo o sagrado direito de todo cidadão, os moradores da Nova Holanda vão encarar uma importante eleição pela frente: a escolha do nome da primeira biblioteca da comunidade. Inaugurada em julho do ano passado, graças à parceria entre o Ceasm e o Rotary Club do Rio de Janeiro, a biblioteca está localizada, provisoriamente, na sede da instituição. A intenção é a conquista de apoios para a construção de um prédio com instalações mais adequadas para ao seu funcionamento. De acordo com a diretora do Ceasm Eliana Souza a biblioteca de Nova Holanda pretende ser um espaço para o incentivo e a prática da leitura e reflexão. “Os alunos dos diversos cursos do Ceasm, bem como o público em geral, agora terão acesso a um acervo que vai do livro didático à literatura universal”, resume. O trabalho de catalogação e organização de todos os livros para empréstimo vem sendo realizado pelos ex-alunos do Curso Pré-Vestibular, atuais universitários e profissionais de biblioteconomia e arquivologia, sob a orientação de professores da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio). Uma outra parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também possibilitou o estágio de universitários na biblioteca.
Cristiane Barbalho
Q
O CIDADÃO dá dicas de cursos
Crianças lêem na biblioteca da Nova Holanda: um novo ambiente de leitura e diversão
O lema da biblioteca, “Ler também é um direito”, reflete a proposta do espaço para os moradores da Maré. O projeto Maré de Literatura do Ceasm, uma vez por mês, realiza atividades voltadas para crianças e adolescentes, ampliando ainda mais o universo de freqüentadores, hoje em torno de 30 pessoas, diariamente. Eles ouvem histórias e são apresentados a livros de literatura infanto juvenil.
“O nosso principal objetivo é permitir o acesso a esse bem cultural que é limitado por causa da dificuldade econômica”, disse o diretor do Ceasm, Edson Diniz. A biblioteca funciona das 14 às 21h 40m no Ceasm da Nova Holanda, que fica na rua Sargento Silva Nunes, 1012. Os interessados em pegar livros emprestados devem comparecer ao local com a cópia da identidade, uma foto 3X4 e um comprovante de residência original.
Serviço Social
desenvolvidos por órgãos da administração pública, direta e indireta, empresas, entidades e organizações da sociedade civil, que favoreçam a luta pela cidadania e a democratização da sociedade brasileira. Duração: 4 anos Curso: Pode ser encontrado na UFRJ, UERJ, UFF e Uni-Rio.
O curso de serviço social tem como objetivo a formação de bacharéis capacitados para a produção de conhecimento sobre a realidade social. Os formandos são capazes de implementar, gerir e avaliar políticas sociais, planos, programas e projetos
O Cidadão _ 9
ACONTECEU NA MARÉ
Consciência negra Em memória aos 310 anos da morte de Zumbi dos Palmares, último líder da revolta do Quilombo dos Palmares, no dia 20 de novembro, a Ação Comunitária do Brasil (ACB), a Associação de Moradores da Vila do João e o Ceasm realizaram um grande evento. De acordo com o mobilizador social da ACB, Sérgio Carlos de Barros, o objetivo da iniciativa é resgatar e mostrar a cultura africana a todos. “O lugar não foi escolhido por acaso. Temos que estabelecer uma relação entre povos mareenses e acabar com a violência das etnias. Isso porque na Vila do João e na Maré há muitos angolanos e descendentes de escravos”, disse. O evento reuniu, entre outras entidades, a Lona Cultural, Grupos da Ação Comunitária e artistas locais, além da participação de moradores. Cristiane Barbalho
Organizadores do lançamento do CD de Eduardo
Lançamento de CD na Lona Cultural No dia 19 de novembro, na Lona Cultural Hebert Vianna, o cantor Eduardo Soares, vocalista da banda católica Kenosis e morador do Parque Maré, lançou seu primeiro CD solo. O disco conta com participações de cantores conceituados no meio católico, como padre André Luna e Ítalo Villar. Outra participação especial é a do filho dele, João Marcos, de seis anos. No evento houve apresentação da banda Comunidade Carisma de Magé e do DJ Guto, da equipe Engels Night de São Paulo, que trabalha em um movimento de “cristoteca” católico. “A idéia do evento surgiu do intuito de festejar o dia de Cristo Rei”, contou o padre Francisco Ribeiro, pároco da Igreja Jesus de Nazaré, localizada no Parque Maré. Segundo uma das organizadoras, Viviane Rocha, 27 anos, o evento ocorre uma vez por ano para festejar o dia do padroeiro. “A igreja fica em comemoração durante uma semana e o fechamento se dá com um grande evento”, informa. A festa está em sua terceira edição e nos anos anteriores foi realizada no ginásio da Vila Olímpica. 10 _ O Cidadão
Cinemaré: “Diários de Motocicleta” Em memória ao dia da morte de Che Guevara, no dia 8 de outubro, a escola IV Centenário, que fica no Timbau, juntou-se com o Movimen-to Cinemaré e apresentou o filme “Diários de Motocicleta”, que narra vida e morte do revolucionário. O debate contou com a presença do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédille. Mais de 80 pessoas estiveram presentes ao debate, incluindo alunos, moradores e professores da Maré. O Movimento Cinemaré, organizado por moradores e professores do bairro, vem apresentando filmes socialmente engajados, seguidos de debates por todas as comunidades da Maré. A finalidade desta iniciativa é conscientizar politicamente os moradores, com discussões sobre política, violência, educação, entre outros temas. Os moradores apóiam o movimento. “Estes filmes são uma boa iniciativa, pois quando são passados nas ruas conseguem atingir várias pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ir ao cinema. Os debates são de grande importância, pois os assuntos nos fazem pensar tanto individualmente quanto coletivamente,” comenta Gabriela Nunes, 18 anos, estudante. Cristiane Barbalho
Ana Muniz
O rapper Leroy canta para Chico Buarque e Camila
Vinícius de Moraes na Vila do João A pré-estréia do filme “Vinícius: Quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores”, ocorreu na Ação Comunitária do Brasil (ACB), no dia 29 de outubro. Cerca de 120 moradores da Vila do João assistiram à pré-estreia, que contou com a presença do cantor Chico Buarque, da atriz Camila Morgado, do compositor Carlinhos Vergueiro e dos diretores do filme, Miguel Faria Jr. e Suzana Moraes, filha do poeta. Após a exibição do filme, os rappers Bom, Nego Jeff e Leroy, que são do grupo de hip hop Nação Maré e atuam no filme cantando a poesia “Blues para Emmet” em ritmo do rap, fizeram todos dançar. A integrante do grupo de teatro da ACB, Roberta Rodrigues, cantou “Folhetim” à capela para o autor Chico Buarque. A idéia do evento foi proporcionar à comunidade o contato com a obra do poeta.
Ato “Maré diz sim à vida”
Alunos da Escola Bahia fazem maquete da Maré
50 anos da Escola Bahia No dia 7 de dezembro foi comemorado o aniversário de 50 anos da Escola Bahia. No evento foram exibidos cartazes e alguns alunos fizeram uma apresentação oral, contando um pouco sobre a escola. Além disso, alunos das turmas 1001 e 1002 apresentaram uma maquete representando parte da comunidade. O trabalho da maquete foi realizado com apoio de uma empresa, para a aquisição do material, e do Ceasm, que serviu como fonte de consulta, por meio de mapas do projeto Rede Memória.
O referendo sobre a proibição do uso de armas de fogo serviu de ponto de partida para o “Maré diz sim à vida”, um ato pela paz. O manifesto foi promovido pelo Observatório de Favelas, no Parque Maré. O debate sobre o “Sim” ou “Não” à comercialização de armas teve como principal temática o valor da vida humana e a violência sofrida por moradores de comunidades. Dois filmes foram apresentados “A morte do leiteiro” e “Até quando?”, sendo o último produzido pelos próprios alunos da Escola Popular de Comunicação Crítica. Estiveram presentes moradores de diversas áreas da cidade. Muitos eram a favor do desarmamento e outros defendiam o voto nulo, como protesto ao governo federal e ao referendo. Mas, todos saíram com certeza de que atos como este só fortalecem a democracia, na Maré e fora dela.
GERAL
Remoção em Mandacaru Comunidade é ameaçada e a indenização não dá para comprar nem um barraco Ratão Diniz
A
política de remoção de favelas chegou na Maré. No mês de Outubro, moradores da comunidade Mandacaru, próxima à Marcílio Dias, protestaram contra a prefeitura e a rede de mercados São Sebastião, que ameaçam desocupar o local. Os moradores acusam a prefeitura de os terem enganado, por informar que a demarcação das moradias, feita há meses, possibilitaria obras de saneamento básico. Mas, segundo eles, era um despejo disfarçado. Depois do anúncio de remoções, a prefeitura deu um prazo de apenas uma semana para que todas as famílias saíssem de suas casas. O valor oferecido como indenização varia de R$ 800 a R$ 5 mil, dependendo do tamanho do imóvel. A dona de casa Marta Rodrigues, 50 anos, defende que foram os moradores que desenvolveram o local. “Eu acho isto um absurdo. Há oito anos, quando eu vim morar aqui, só tinha mato. Agora eles querem tirar as nossas casa por R$ 1,4
Moradores e simpatizantes da causa de Mandacaru reunem-se para discutir o problema das remoções
mil, nos deixando sem condições de comprar outra”. Depois de vários protestos, os moradores ganharam apoio de grupos como a Federação das Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj). Mais de 180 moradores participaram da Assembléia Geral, realizada em
Mandacaru, no fim de outubro. O presidente da Faferj, Rocindo de Castro, disse que está esperando uma resposta da Prefeitura. “A100 metros daqui há um terreno do governo federal. Propusemos que o utilize para uma política habitacional para a comunidade. Ainda não obtivemos respostas”.
Uerê: as crianças de luz Projeto enfatiza e pratica o Estatuto da Criança e do Adolescente Cristiane Barbalho
ito anos depois, as marcas da Chacina da Candelária continuam presentes na memória dos sobreviventes. Mas os reflexos da tragédia na vida de 62 adolescentes que escaparam da morte vão se apagando pouco-a-pouco. Graças à ação de um grupo de voluntários, estas e outras 240 crianças foram acolhidas pelo projeto Uerê, que fica na Nova Maré, cujo objetivo é fazer valer os direitos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O Uerê, que em iorubá significa crianças de luz, foi criado logo após o assassinato das oito crianças na porta da Candelária. O trabalho começou ali mesmo, nas ruas do centro, e lá funcionou por quatro anos, até que foi para a Maré. Hoje, o trabalho é realizado por 24 pessoas,
O
que desenvolvem atividades de alfabetização, música, teatro, capoeira, alimentação, dança e coordenação, entre outras. São atendidas 350 crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos. O objetivo é fazer com que completem o ensino médio e ingressem no mercardo de trabalho formal. Uma das coordenadoras do projeto, Yvonne Bezerra de Melo, 58 anos, ressalta que a falta de apoio do governo dificulta o trabalho. “Para o estado o Uerê não interessa., porque é um projeto que custa pouco”. Um programa de bolsas beneficia 41 crianças, com R$300, que são encaminhadas para escolas de Bonsucesso e da Ilha do Governador e recebem acompanhamento escolar . A coordenadora diz que esta é uma experiência que tem dado certo e que o trabalho continuará.
“Para o Estado o Uerê não interessa”, diz Yvonne
Crianças do Uerê em atividades de recreação
O Cidadão _ 11
CAPA
Cristiane Barbalho
O Ônibus que faz a linha Maré-Zona Sul, além de levar os moradores para trabalhar, estudar e passear, propricia uma integração social entre a população
Histórias passageiras As alegrias e dificuldades dos mareenses que viajam rumo à Barra e à Zona Sul
V
iajar de ônibus é uma atividade necessária e, por vezes, desgastante. Em geral, os cidadãos da cidade passam muito tempo dentro do coletivo, pela distância ou pelos intermináveis engarrafamentos. Situações que tiram qualquer um do sério. Verdade? Não para todo o mundo. Observando as relações criadas em algumas linhas especiais, com destino à Zona Sul, para atender aos moradores da Maré, percebemos que os mareenses encontraramumamaneiradefazercomque essas viagens tenham um final feliz, iniciando e terminando bem o dia. Os ônibus começam a circular às 5h30m e avançam até às 20h30m. São duas linhas principais, uma que sai do Parque Rubens Vaz, passando pela Nova Holanda, Baixa do Sapateiro, Nova Maré e Vila do Pinheiro, com destino à Zona Sul e à Barra. A outra linha sai da Vila do Pinheiro e faz o mesmo itinerário. Após às 16h, fazem o caminho inverso. São vários os motivos que levam o mareense para a Zona Sul. O mais comum é o trabalho. Porém, o ônibus possibilita uma interação total en-
tre os trabalhadores. Há debates que variam desde do programa de TV do dia anterior, à crise política, educação dos filhos e violência nas ruas. É nesse contexto que algumas pessoas conseguem fazer amizades verdadeiras. De acordo com o cozinheiro João Vicente, 40 anos, morador do Parque Rubens Vaz, “a linha é um prato cheio para quem gosta de fazer amizade. Tem gente que aproveita até para paquerar”. O estudante de economia da Uerj e morador do Salsa e Merengue Wallace Rangel, 22 anos, tem opinião diferente. Ele não acredita no cultivo de afeto, no coletivo. “Todo mundo se conhece, mas enquanto tem um grupo de colegas aqui na frente, tem outro, lá atrás, falando mal de quem está aqui”. Ainda assim, Wallace reconhece que as relações nos transportes da Maré se dão de forma diferente. “Eu já fui assaltado duas vezes no 322, quando voltava do trabalho. Por isso, quando eu venho no ônibus daqui me sinto seguro, porque todo mundo já se conhece”, diz.
“No ônibus daqui me sinto seguro”, diz Wallace
12 _ O Cidadão
Outro ponto positivo reconhecido pelo estudante é a capacidade de mobilizar as pessoas. “Os passageiros do 179 estão organizando um abaixo-assinado pela melhoria dos carros, que estão quebrando. Há um tempo, fizeram um abaixo-assinado pela volta de um cobrador, e conseguiram”, lembra.
Agência de emprego As relações se estendem para além dos coletivos e as conversas rendem emprego. A moradora da Bento Ribeiro Dantas Eliane Maria, 44 anos, arrumou trabalho para as colegas de
Viviane Couto
linha na confecção onde trabalha. “Eu arrumei emprego para Dalva e ela arrumou para Nininha”, conta Eliane. Ela resume o clima entre os passageiros. “Um precisa estender a mão para o outro”. Marilúcia Silva, auxiliar contábil, 38 anos, moradora do Parque União, que pega o ônibus todos os dias há dois anos, costuma visitar as amigas que fez no ônibus. “Conheci uma amiga no ônibus, que trabalha numa lojinha em Copacabana, e eu já virei freguesa. De vez em quando passo lá”, conta.
Confraternização As festas, logo cedo, demonstram o clima das viagens. “Já presenciei muitas festas no ônibus, cafés da manhã. A sensação ao se viajar nestas linhas é a de se estar em casa. Todos acabam se conhecendo”, conta Maria Elizabete, 33 anos, moradora da Nova Holanda que trabalha em Ipanema. A cobradora Valéria dos Anjos não esquece o chá de bebê feito pelas amigas passageiras. “O chá de bebê ia ser no ônibus, mas como eu saí de licença, eles vieram aqui pra casa. É um pessoal muito divertido, amigos mesmo. Já estou morrendo de saudades”, comenta a cobradora de Belford Roxo, que está de licença maternidade. Os motoristas e cobradores gostam da descontração. “O pessoal da Maré é diferente. Eu fazia a linha Praça Mauá - Jardim de Alá e não é igual. Aqui eles fazem amizade com o cobrador, com o motorista”, afirma a cobradora Elizangela de Paula, 25 anos, moradora de Campo Grande. O motorista Lucenildo Ferreira, 27 anos, morador de Nilópolis, diz que ficaria chateado se saísse da linha. “No fim do ano, além de fazerem amigo oculto, dão presente para o motorista. Eles têm um ótimo astral”, garante. Outro caso que chama atenção é a “mulher do apito”. Ela é conhecida no ônibus por sempre levar nas viagens um apito. A utilidade, por mais que incomode alguns passageiros, é solidária. “Todo dia quando o ônibus entra na rua da sua amiga Batata ela começa a apitar. A Batata escuta o apito e desce correndo para não perder a condução”, conta Mayara Gonçalves, 16 anos, moradora da Vila do Pinheiro que pega o ônibus todo o dia com as duas.
Repórteres de O CIDADÃO acompanham os moradores para conhecer a rotina de nossos viajantes
Livro retrata o cotidiano das viagens de ônibus
S
egundo a pós-doutora e professora da UFRJ, e autora do livro Jornadas urbanas : exclusão, trabalho e subjetividade nas viagens de ônibus na cidade do Rio de Janeiro, Janice Caiafa, “as pessoas que moram num determinado local da cidade se encontram com freqüência numa linha de ônibus, num percurso que fazem freqüentemente. Acabam se conhecendo e há toda uma vivacidade e até um entusiasmo nesses encontros. Esse fato é característico do que poderíamos chamar de ônibus de vizinhança. Há por exemplo, relatos de festas de aniversário em plena viagem”, analisa a professora. No livro, Janice também conta as dificuldades enfrentadas pelos motoristas, como não conseguir ir ao banheiro, ou até mesmo deixar de lanchar por causa do tempo apertado. Mais do que isto, eles literalmente “sofrem na pele” a exploração capitalista. São dores na coluna, queimaduras nas pernas e hemorróidas. Ela demonstra que, sob as circunstâncias a que são submetidos, muitos motoristas e cobradores, por vezes, esquecem que estão lidando com seres humanos. E, com isto, não é difícil ver os condutores cariocas desrespeitarem os direitos dos estudantes,
serem impacientes com idosos e frearem bruscamente. No entanto, neste quesito, os “pilotos” que atuam na Maré dão exemplo de como uma relação mais afetuosa entre prestadores de serviços e usuários pode minimizar os problemas. Os passageiros relatam que a forma de dirigir dos condutores das linhas locais é diferente e defendem que isto se deve à relação fraterna que se construiu. Segundo eles, estes motoristas respeitam mais os idosos e estudantes. “Acho importante o carinho que o motorista tem na hora de o passageiro subir e de descer. Só depois é que ele arranca, o que nós não encontramos por aí”, afirma Maria do Socorro Matheus, 59 anos, moradora da Nova Holanda. Mas para a estudiosa ainda há um degrau mais alto a atingir. “É de se esperar que haja maior receptividade entre conhecidos, o que nos faz pensar que primeiro precisamos nos familiarizar, para depois acolher. O ideal é que, nas cidades, possa haver algum tipo de receptividade entre desconhecidos - que o desconhecido não seja recebido com violência ou indiferença, mas que um encontro de algum tipo possa se dar também entre estranhos”, comenta.
“O ideal é haver receptividade”, diz Janice
O Cidadão _ 13
CAPA
As vans pegam carona Cooperativas também são opção para quem vai para a Zona Sul Cristiane Barbalho
C
onfirmando a necessidade de mais ônibus identificada pelos moradores e tirando proveito de um mercado ainda pouco explorado, as cooperativas de kombis e vans começaram também a fazer o trajeto para a Zona Sul. A Cooperativa Caracol, que já fazia outros trajetos, percebeu a oportunidade e suas vans começam a circular às 5h e só param à meia-noite. Tem dois pontos de partida na parte da manhã: Passarela Caracol - Parque Rubens Vaz e Rua 14 - Vila do João. Com 14 carros em cada terminal, as vans levam, diariamente, oito mil pessoas para a Zona Sul, segundo estimativas do Presidente da cooperativa, Núbio Paulo Siqueira, conhecido como Lobão, 33 anos, morador do Parque Rubens Vaz. A cooperativa Transvitória também aproveitou a oportunidade e faz o mesmo trajeto do ônibus 497 (Penha - Largo do Machado). Ela começa a circular às 5h e pára de circular às 21h, só não vai até a Penha, pois faz o retorno depois do Parque União.
Os Trabalhadores chegam cedo na fila para não perderem a vaga na van e chegarem no horário ao emprego
Moradores aprovam linha, mas dão sugestões Cristiane Barbalho
Na opinião dos usuários da linha, fica claro que ela é uma necessidade. “É uma das melhores coisas que já fizeram”, comenta Eroaldo. Outros acreditam que a Maré está em vantagem sobre outros bairros. “Aqui tem ônibus direto para a Zona Sul e a Barra. A Ilha, por exemplo, não tem. Com as vans, a competição é grande, mas o ônibus é importante para o pessoal que usa o RioCard”, afirma Marilúcia. Ainda assim, os moradores aproveitaram a presença do jornal para reivindicar algumas melhorias. Para Maria do Socorro não há uniformidade entre as linhas. “Todo mundo gosta mais do 127, ônibus que vai pela orla, mas só o que vem é 128 lotado. Também deviam colocar ar
condicionado no 128”, reclama. Para ela, o horário também poderia passar por modificações. “Os ônibus deviam começar a rodar antes das 16h, porque têm pessoas que saem do trabalho mais cedo”, completa Maria. Eliane acha que a saída do primeiro carro deveria ser adiantada. “Tenho amigas que são domésticas e pegam no trabalho muito cedo, às 6h. Este ônibus só começa a rodar às 5h30, então, elas têm que fazer baldeação”. Dalva Maria, 51 anos, moradora da Baixa do Sapateiro, acha que deveria ter uma linha para a Penha. A empresa Real Auto Ônibus, ao ser procurada diversas vezes pelo jornal O Cidadão, não se pronunciou.
“Deveriam rodar mais cedo”, diz Maria
Os ônibus lotados deixam usuários insatisfeitos 14 _ O Cidadão
A caminho do trabalho Imagine um dia em que os médicos não atendam às primeiras consultas, os advogados não apareçam nos escritórios. Um dia em que os restaurantes não consigam abrir ao meio-dia. Um dia em que as calçadas dos prédios continuem cheias de folhas. Parece até um cenário apocalíptico, em que parte das pessoas desaparece da Terra. Mas este é o quadro de um dia imaginário no qual, por alguma razão, as secretárias, as domésticas, as babás, as costureiras, os pedreiros, os cozinheiros e auxiliares de serviços gerais não chegam ao trabalho. É claro que esta descrição está longe da realidade. Mas ela demonstra como as atividades consideradas mais simples são fundamentais para o cotidiano da cidade. E é, muitas vezes, para atuar nestas profissões que os mareenses pegam ônibus rumo à Zona Sul. São pessoas que alcançaram um papel fundamental nos seus locais de trabalho. Este é o caso de Neli Araújo Ferreira, 64 anos, moradora do Parque União. “Dona Neli é muito importante. Ela é de total confiança, só o fato de confiarmos as nossas crianças novas a ela já demonstra isto” conta o médico Jairo Borda, 43 anos, morador de Laranjeiras, patrão de Neli. Ela começou a trabalhar
Viviane Couto
Dona Neli e Licelene têm visões diferentes sobre a relação entre patrões e empregados
para o casal depois que Jairo e Marta se casaram, há 19 anos, e acompanhou o crescimento dos três filhos do casal. Os mais velhos, gêmeos, estão com 18 anos e o caçula com 10 anos de idade. Em algumas ocasiões, o caminho inverso foi feito e o médico foi à casa de Neli. Uma vez quando estava doente e outra durante o Natal. Ela confirma a relação. “Lá me sinto como se fosse a minha casa”. Os mareenses afirmam que, em geral, a
“Lá me sinto em casa”, diz Neli
relação com os empregadores é boa. E sabem o que os satisfazem. “A patroa gosta de serviço bem-feito”, relata a doméstica Anita Onório Vicente, 42 anos, moradora da Nova Holanda. No entanto, outros acreditam que a relação é somente profissional. “Eu gosto, mas não participo de festas”, conta Licelene Bernardina Soares, 25 anos, moradora da Nova Holanda, sem muito entusiasmo na voz. Para ela, as meninas que têm este trabalho deveriam buscar outra profissão. “Se eu tivesse oportunidade não trabalharia com isso. Nem sempre se trabalha para uma patroa legal”. O preconceito também incomoda. “Quando perguntam no que trabalha e você responde em casa de família, as pessoas já olham com cara de desprezo”, diz Licelene.
“Nem sempre a patroa é legal”, diz Licelene
Viviane Couto
Discriminação
Eroaldo diz que trabalhadores evitam dizer onde moram, pois temem a discriminação
A discriminação também insatisfaz trabalhadores de outros setores. “O preconceito sempre existe. As pessoas tratam as outras diferentes, dependendo do lugar onde se mora. Eu moro num dos melhores lugares do Rio, mas tem gente que se envergonha de dizer que mora na Maré”, afirma Eroaldo. Mas, segundo os moradores, na hora das dificuldades todos são iguais. “A vida dos patrões, às vezes, é pior do que a da gente que mora na favela”, afirma Licelene. O Cidadão _ 15
SERVIÇO
Prefeitura castra animais Mini-centro realiza esterelização gratuita em cães e gatos Hélio Euclides
A
bandonados, fugidos ou perdidos, cães e gatos sem dono fazem parte da paisagem do Rio de Janeiro. Para conter a explosão populacional, a Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais (SEPDA) criou o Bicho Rio - O Bicho Feliz. O programa é executado em de cinco mini-centros, que esterilizam os animais. Os mareenses contam com um minicentro bem pertinho. Fica na rua Teixeira Ribeiro, do outro lado da passarela nove, em Bonsucesso. No centro há cinco profissionais, dos quais três são veterinários vindos de um convênio com a Universidade Estácio de Sá. Segundo eles, o centro realiza 12 esterilizações diárias, atendendo, em média, a 60 animais por semana. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, exceto feriados, das 9h10m às 16h10m. Para conseguir o atendimento, o morador deve ir ao local às sextas pela manhã, com a carteira de identidade, CPF e comprovante de residência. Não é neces-
sário levar o animal, porque o agendamento é feito para a semana seguinte. Os animais devem ter, no mínimo, seis meses de vida. O posto também atende a animais de rua, mas os funcionários alertam para a necessidade de cuidados pós-operatórios, que devem ser realizados pela pessoa que encaminhou o animal. A representante da Comissão de Protetores Autônomos do Parque União e usuária dos mini-centros, Rita Serafim Gomes, 52 anos, acha o trabalho importante, mas não está satisfeita com a forma com que a Prefeitura vem tratando o assunto. “Antigamente tinha em média 60 fichas por semana, distribuição de ração para os animais e uma casa ao lado para recuperação de animais de rua. Um dia cheguei lá e só havia três vagas”, reclama Rita. Os moradores acham que deveria existir mais postos de atendimento na região. “Falta um posto desse na Maré. É um sacrifício trazer o meu animal aqui”, diz a moradora do Conjunto Esperança Rosalina Menezes, 66 anos.
“Falta um posto desse na Maré”, diz Rosalina
Veterinária castra um gato em mini-centro
E por falar em Educação... Continuação do primeiro capítulo do Catálogo de Instituições da Maré presentaremos agora a continuação do primeiro capítulo do catálogo. A seguir, informações sobre as escolas da Maré:
A
Escola Municipal Professor Josué de Castro Ensino Fundamental I (1o ano do ciclo à 4a série) / Ensino Fundamental II (5a à 8a série) Imagem do Catálogo de Instituições
Escolas municipais Escola Municipal Nova Holanda Ensino fundamental I (1o ano do ciclo à 4a série) Endereço: Rua Sargento Silva Nunes, 1004 Nova Holanda, Maré. CEP: 21044-242 Telefone: 2590-4690 Ano de fundação: 1962 Funcionamento: Manhã e tarde 16 _ O Cidadão
Um aluno faz os exercícios
Endereço: Av. Brasil, 4040 / Rua 6, s/nº Vila do João, Maré. CEP: 21040-360 Telefone: 2230-4010 / 2590-0890 (fax) E-mail: emjosue@pcrj.rj.gov.br Ano de fundação: 1985 Funcionamento: Manhã e tarde Escola Municipal Tenente General Napion Ensino Fundamental I (1o ano do ciclo à 4a série) / Ensino Fundamental II (5a à 8a série) Endereço: Av. Almirante Frontin, 50 Parque Roquete Pinto, Maré. CEP: 21030-040 Telefone: 2260-5315 / 2270-0783 (fax) E-mail: emnapion@pcrj.rj.gov.br Ano de fundação: 1972 Funcionamento: Manhã e tarde
ANÚNCIOS
Cicle Carijó Ltda Carlinhos Bicicletas
PEÇAS E ACESSÓRIOS EM GERAL PARA SUA BICICLETA E MOTO
PEÇAS PARA AUTOMÓVEIS NACIONAIS
Aceitamos cartões de crédito Tel.: 3109-5516/3109-0044 Av. Canal 1, nº 73 - Vila do Pinheiro (em frente a entrada do Pinheiro)
3976-8431
O CIDADÃO
AV. CANAL, 41 – LOJA B VILA PINHEIRO AO LADO DA LINHA AMARELA
LIGUE E ANUNCIE
3868-4007
BAZAR SENENSE
PAPELARIA • BRINQUEDOS • UTILIDADES EM GERAL
CASA DE D CES E BAZAR HJ
Tudo em juros no 3x sem s cartõe s*
VENHA CONFERIR! Aceitamos: Via A1 nº 83 Vila do Pinheiro Temos filmes e revelações
*Mínimo por parcela: R$ 30,00.
Não Perca! Tudo em material escolar. Voltas às aulas é no Bazar Senense, tudo em 3x sem juros nos cartões. Temos mochilas, lápis, cadernos, lápis de cor e muito mais.
SANTOS TURISMO
PASSAGENS RODOVIÁRIAS
ÚTIL JUIZ DE FORA B. HORIZONTE BARBACENA
GONTIJO IPÚ PETROLINA CRATEUS SOBRAL EXÚ SALGUEIRO GUARACIABA F. SANTANA PENHA CURITIBA SOBRAL PORTO ALEGRE
santosturismo@ig.com.br
MURIAÉ LEOPOLDINA GOV. VALADARES
ITAPEMIRIM ARACAJÚ BELÉM BRASÍLIA C. GRANDE FORTALEZA GUARABIRA ITABAIANA SÃO PAULO
COMPRE SUA PASSAGEM EM ATÉ 6 VEZES SEM JUROS
AÉREA: VARIG - TAM - GOL R. TEIXEIRA RIBEIRO, 650 R. DOIS, 301 - V. DO JOÃO
Tel.: 2560-7576
Tel.: 3869-7858
À
TODOS CLIENTES , REVENDEDORES E AMIGOS UM ÓTIMO 2006
DIREÇÃO: EUCLIDES VIA B1 Nº 191 E 193 - VILA DO PINHEIRO
REGIDAL MADEIRAS
TUDO EM MADEIRAS PARA SUA OBRA
Aceitamos todos os cartões de crédito. Parcelamos em até 3x sem juros SÃO GERALDO ILHEUS ITABUNA JOÃO PESSOA MACEIÓ NATAL NOVA CRUZ PORTO SEGURO RECIFE RIO DOCE
D ESEJA
ACEITAMOS TODOS OS CARTÕES DE CRÉDITO ACEITAMOS CONSTRUCARD (CAIXA ECONÔMICA) COMPENSADOS - ASSOALHO - FÓRMICA - VÁRIOS MODELOS DE PORTAS - MADEIRAS PARA TELHADOS EM: MASSARANDUBA, GUAJARÁ, IPÊ, CEDRINHO, ETC - FERRAGENS EM GERAL - TÁBUAS EM PINHO, PINUS, CEDRINHO E MASSARANDUBA
CONFIRA OS PREÇOS DE TÁBUAS EM PINUS MENOR PREÇO DO BAIRRO
T ELS .: (21) 2290-9286 / 2270-2142 Rua Praia de Inhaúma, 318 - Loja Bonsucesso RJ (Próximo ao SESI)
O Cidadão _ 17
ANÚNCIOS
Cicle Carijó Ltda
Carlinhos Bicicletas
Aceitamos cartões de crédito
Tel.: 3109-5516/3109-0044
*Não incluso mão de obra
TEMOS: PEÇAS E ACESSÓRIOS EM GERAL PARA BICICLETA E MOTO Todos os sábados, grande promoção de preços baixos* Venha ver para crer
Av. Canal 1, nº 73 - Vila do Pinheiro (em frente a entrada do Pinheiro)
18 _ O Cidadão
SAÚDE
Glaucoma atinge moradores Tratamento para a doença que pode causar cegueira ainda é precário na Maré Cristiane Barbalho
glaucoma é uma doença que causa danos ao nervo óptico. A causa não é totalmente conhecida, mas o aumento da pressão interna do olho é o fator de risco mais importante, pois pode levar à cegueira. Se depender de tratamento dentro do bairro, os doentes correm risco de ficarem cegos, pois não existe oftalmologista no bairro. Estudos mostram que as pessoas negras são mais suscetíveis à doença. Em geral, o glaucoma se manifesta entre os que já passaram dos 40 anos. Outros fatores de risco são: histórico de glaucoma na família, pressão intra-ocular elevada, diabetes, miopia alta e uso regular ou prolongado de cortisona.
O
Mareenses sofrem com a glaucoma A moradora da Vila do Pinheiro Roberta Alves, 23 anos, descobriu a doença há dois anos: “Sentia muita dor de cabeça, apesar de já usar óculos”. Ela procurou um oftalmologista e descobriu, após exames detalhados, que se tratava de glaucoma. “Levei um choque, porque eu realmente corro risco de perder a visão”, desabafa. Roberta não procurou atendimento na Maré, pois tem plano de saúde. Luzia da Silva, 63 anos, que mora na Vila do Pinheiro, convive com a doença há três anos: “Eu via as coisas embaçadas e não enxergava no escuro”. Então, buscou tratamento no Hospital do Fundão, que já dura
Roberta Alves, com glaucoma diagnosticado há dois anos, usará colírio pelo resto de sua vida
dois anos, e obteve uma melhora na qualidade de vida. Apesar de não ter cura, a doença pode ser tratada. Em busca de alternativas médicas para os pacientes da Maré, O CIDADÃO conversou com o enfermeiro Marcelo Menezes, do Posto Nova Holanda, que revelou a inexistência de médico oftalmologista do sistema público de saúde da Maré. Os moradores que precisam de atendimentogratuito recebem encaminhamento nos postos comunitários para marcar consulta através da Central de Regulação da CAAP 3.1, que fica na Penha. Uma opção dentro da Maré é o atendimento feito pelo Sesi. Lá o paciente paga
Como vovó já dizia
uma taxa para consulta, que varia de R$ 17 a R$ 22. Todos os hospitais da CAAP 3.1 só prestam atendimento através da Central de Regulação, que atende às regiões da Maré, Bonsucesso, Ramos, Ilha do Governador, Olaria e Penha. Esse procedimento demora de um a dois meses e é feito para todas as especialidades médicas. “A gente tenta fazer o melhor. Mas os problemas são muitos e as questões burocráticas criam barreiras”, afirma o enfermeiro Marcelo. Ele acrescenta que somente os moradores que são pacientes das unidades de saúde há mais de três anos conseguem tratamento nos hospitais públicos da região.
Utilidades
* Um pano úmido com um pouco de pasta dental remove marcas de giz e lápis de cera de qualquer espécie. * Guardar um pedaço de giz com as bijuterias evita que escureçam. * Passando uma batata crua na superfície do ralador, os resíduos de queijo sairão facilmente. * Para eliminar a ferrugem de objetos
de aço, passe uma borracha escolar. * Passe o veludo a ferro sempre pelo lado do avesso e ligeiramente umedecido. Os pêlos que ficarem amassados do lado direito voltarão ao normal se você segurar o ferro acima deles, sem tocar no tecido. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, Editora Vozes.
O Cidadão _ 19
CIDADÃOZINE
Bem acompanhadas Fundação Getúlio Vargas mostra que mulheres da Maré não ficam solteiras Arquivo Pessoal
U
ma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas provou que no Rio de Janeiro 43,1% das mulheres vivem sem par. Existem 120 mulheres para cada cem homens. Copacabana é o bairro com o maior número de mulheres sozinhas: 64%. Entretanto, os dados do estudo revelam que a realidade da Maré é bem diferente. A pesquisa mostra que a Maré é o segundo bairro do Rio com o maior número de mulheres acompanhadas: 61,6% do total. Perde apenas para Guaratiba, com 63,1%. Uma das conclusões da pesquisa é que a renda interfere no estado civil das mulheres. Em entrevista ao jornal “O Globo”, o economista Marcelo Neri explicou que a principal causa das uniões mais duradouras nas famílias de baixa renda é a dependência financeira. “Quando a mulher tem melhor condição econômica, ela pode optar entre ficar sozinha ou acompanhada”, disse. O CIDADÃO foi às ruas para saber se as mulheres concordam com essa estatística.
SABOR DE M
ARÉ
“Percebo que, na Maré, existem muitas mulheres acompanhadas. Muitas delas não se importam em oficializar a relação. Muitas estão acompanhadas só para a ‘farra’, mas na hora de enfrentar os problemas acabam se vendo solitárias.” Bianca Willemen, 27 anos, casada há seis moradora do Parque Maré
Cristiane Barbalho
“Eu não concordo com a pesquisa. Tem muita mulher solteira por aí, com filho, mas sem marido, em busca do seu próprio sustento. Os homens de hoje em dia não ajudam em nada, não servem pra nada”. Maria Aparecida, 35 anos, moradora da Nova Holanda Cristiane Barbalho
Cristiane Barbalho
“O que eu vejo são muitas mães solteiras, que namoram por um período muito curto e quando engravidam acabam ficando sem parceiro. Vejo muitas mulheres nessa situação. Para mim a pesquisa não procede muito.” Tauana Cristina Félix, 25 anos, moradora do Novo Parque
“Devido a todas as situações, principalmente a econômica, e outras adversidades, as pessoas encontram necessidade de se unirem para ajudar e serem ajudadas. Acho que esse é um quadro muito comum, não só na Maré, mas nos espaços de favela como um todo” Simone Lisboa, 23 anos, moradora da Rubens Vaz
Sopa Paraguaia Cristiane Barbalho
Ingredientes: 2 cebolas grandes / 2 colheres (sopa) de manteiga / 2 latas de milho / 200 a 250 ml de leite / 250 ml de água / 4 ovos (clara em neve) / 1/2 quilo de queijo prato (picadinho) / 1 colher (sopa) de fermento em pó / 6 colheres (sopa) de fubá / 1 pitada de sal Modo de fazer: Derreta a manteiga e doure a cebola, junte a água numa panela e deixe ferver ligeiramente. Reserve.
Coloque o milho no liquidificador e bata com o leite. Despeje o milho batido sobre as cebolas já frias e mexa bem, Separe as gemas e misture juntamente com o queijo ralado, o fubá, o fermento , a cebola com o milho verde e o sal. Mexa bem para ficar bem uniforme. Por último, coloque as claras em neve e incorpore-a à massa. Leve para assar em assadeira untada, no forno quente.
Hélio Euclídes ao lado da sopa Paraguaia
A sopa paraguaia, apesar de se chamar sopa, tem consistência de bolo, é deliciosa e muito consumida no Mato Grosso do Sul. Está perfeitamente integrada à nossa culinária. Ela surgiudepois da Guerra do Paraguai. Como os soldados não podiam levar a sopa para os acampamentos, pela dificuldade no transporte, ela foi ganhando fubá até ganhar a consistência que tem hoje. 20 _ O Cidadão
MARÉ MUSICAL Foto de divulgação
Forró Frente a Frente O ritmo nordestino alegra fins de semana do bairro
O casal do forró: Patrícia Caboi e Dany
A dupla Frente a Frente, que toca forró pelos bares da Maré, é formada por Patrícia Caboi e Dany. O casal está junto há cinco anos e começou a trabalhar com banda própria por necessidade. “Eu e o Dany nos conhecemos quando trabalhávamos em uma banda que fazia shows na Feira de São Cristóvão. Ele tocava guitarra e eu fazia voz. Então, começamos a namorar e nutríamos a vontade de montar um grupo próprio. Daí, montamos o Frente a Frente”, conta Patrícia, que mora no Parque Maré. O dom herdado do pai, que era tecladista e cantor, fez com que Patrícia largasse um emprego fixo para se dedicar à música. A partir daí a banda não parou mais. “Aqui na Maré tocamos, freqüentemente, na Praça do Parque União e no Shopinho da Teixeira Ribeiro, fora os bares e as lonas culturais”, diz. De acordo com a cantora, o ponto negativo da profissão é a falta de reconhecimento. “É
horrível quando se faz um show e não querem pagar. O trabalho dos artistas é pouco valorizado”. Outra dificuldade é sobreviver somente dos shows, porque o trabalho varia de acordo com as datas festivas. “De junho a agosto é forró pra todo lado, então trabalhamos sem parar. No Ano Novo a procura também é grande. Já no carnaval é muito ruim, porque as pessoas só querem ouvir axé. Mas, ultimamente, temos tocado de quinta a domingo”, diz. A dupla já lançou dois CDs independentes. O primeiro foi feito com 13 músicas compostas pela dupla. Já no outro, as músicas são regravações de outros artistas. “É muito importante ter um CD gravado, porque é o cartão de visitas de qualquer banda” , afirma Patrícia. Quem quiser conhecer ou contratar o trabalho da banda Frente a Frente basta entrar em contato pelos telefones 3105-9752 ou 91968474.
Marias Maré em Minas Projeto de artesanato apresenta sua produção em grande feira do Brasil
O
projeto de artesanato do Ceasm, Marias Maré, que funciona na Casa de Cultura da Maré, participou da segunda maior feira de artesanato do Brasil, Expor Minas, de 22 a 27 de novembro, em Minas Gerais. O projeto foi convidado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que trabalha pelo desenvolvimento sustentável das empresas de pequeno porte. Outras organizações nãogovernamentais da Maré, como a Devas e a Ação Comunitária do Brasil, também participaram da feira. Como o projeto não tem patrocínio e o Sebrae não arcou com as despesas, as mulheres, que fazem trabalhos com retalhos, enfrentaram dificuldades para conseguir dinheiro para o transporte. Porém, depois de muito esforço conse-
guiram o valor exato das passagens. “No início não tínhamos nenhum dinheiro, mas com muita luta conseguimos todas as passagens: uma foi paga pelo Sebrae e as outras por comerciantes locais e por uma colaboradora do Ceasm”, conta a integrante do projeto e moradora do Morro do Timbau, Cleuma Lucinda, 41 anos. De acordo com a participante do evento, a viagem, apesar de cansativa, foi proveitosa: “A viagem foi muito gratificante, até mesmo porque participamos de uma das feiras mais importantes do Brasil e a segunda maior do país. Lá adquirimos muitas informações, tanto através dos estandes brasileiros quanto dos outros países. Por isso queremos agradecer a todos que proporcionaram a nossa ida para Minas, e que confiaram em nós”.
Arquivo Pessoal
As Integrantes do Marias, projeto de artesanato
O Cidadão _ 21
ESPORTES
A luta musical Na Maré capoeira é uma forma política, educacional e de troca Fotos Cristiane Barbalho
Os Meninos do Centro Cultural Popular Ypiranga tocam e cantam músicas para embalar a roda
J
á dizia o Mestre Pastinha: “Capoeira de Angola é, antes de tudo, luta e luta violenta”. Mas, atualmente, a capoeira é praticada como um esporte, um exercício físico e mental, ou até, folclore para preservar a tradição. Na Maré, diversos moradores praticam a arte, seja de forma política, educacional ou para repassar ensinamentos. Na Lona Cultural da Praia de Ramos, Guaracy Guedes, conhecido com mestre Caçapa, 29 anos, reúne cerca de 50 alunos às terças e quintas-feiras, das14h às 19h30m, para ministrar aulas de capoeira gratuitamente. Atuante do grupo Muzenza, ele explica que, mesmo com a discriminação, o esporte é democrático, pois pode ser dança para quem quer dançar, luta para quem quer lutar e jogo para quem quer jogar. “Hoje há grupos diferentes, mas tudo cai na Capoeira”, diz mestre Caçapa. No Morro do Timbau, quem mostra a ginga da capoeira de Angola é o Mestre Emanoel Lopes, 42 anos, no Centro Cultural Popular Ypiranga de Pastinha.
22 _ O Cidadão
O local já abrigou uma instituição de acolhida de menores infratores, com histórias de mortes e violência. Hoje, é um espaço de arte e cultura que atende a 50
crianças e adolescentes. As aulas são às 8h e às 13h. De acordo com Emanoel, a capoeira é uma forma política de conscientização. Por isso, com o propósito de divulgar a arte e fazer um intercâmbio com outros grupos, dez representantes viajaram pela França, Espanha e Alemanha. Na Academia do Haroldo, na Rua 6, da Vila do João, é Jonailson Paulo, conhecido como Mestre Montanha, 34 anos, que ensina o esporte. Ele trabalha com 15 crianças, em encontros às terças e quintas, às 16h30m, e com mais de dez adultos, após as aulas das crianças. Cada aluno contribui com R$ 15 para aprender a arte que, segundo Montanha, “além de não engordar, ensina o respeito ao próximo”. O mestre lembra que a luta foi utilizada, em tempos passados, na revolução dos negros. E que, na época guerreira, o Maculelê ajudou com o bastão. “As suas músicas têm louvor a Deus e às pessoas, mas, ao contrário do que se pensa, não é espiritismo, é esporte. Na capoeira não há divisão, ela é uma só, eu jogo o que o berimbau manda”, disse.
Na Praia de Ramos, a capoeira é democrática: adultos jogam com as crianças sem problemas
PÁGINA DE RASCUNHO
SONHO Certa noite entrou em meu sonho Uma varanda linda, ajardinada Um céu muito azul, um mar risonho Uma casa bela e bem decorada.
E indaguei meu Deus! Com o que ganho Como vou bancar esta mansão dourada Aqui muito conforto, ali o banho Enfim, a vida me corria toda folgada.
No meio dessa gente sofredora Que tem o sono cortado por um tiro qualquer E ainda são vítimas dessa guerra tola.
Despertei e mal me pondo de pé Fugiu-me a imagem sedutora Eu estava dentro do Complexo Maré.
Sérgio Murilo Tavares Baixa do Sapateiro
& CARTAS Os deputados do Rio de Janeiro aprovaram, sem nenhum voto contra, o projeto de lei do Deputado Dica (PFL), que prevê a construção de muros nas linhas expressas da cidade próximo à favelas (linhas Vermelha e Amarela, por exemplo). A proposta de construir muros demonstra o desejo de dividir a cidade em duas: a que os ricos vão desfrutar e a que os pobres vão ter que aceitar. Partem da certeza de que a favela é o espaço do crime e que tudo o que vem dali não presta. Dizem que os muros vão servir para proteger os motoristas dos tiroteios. Mas... E a gente, como é que fica? Será que o muro vai resolver o problema da violência na cidade? E as pessoas que estão do outro lado do muro? Não somos animais para ficar cercados! Qual será o próximo passo: colocar guaritas e arames farpados nos muros? Conversem com seus vizinhos, discutam, dêem sua opinião: essa já uma maneira de participar. Mantenha-se informado sobre o assunto, assine o abaixo-assinado. Derrube esse muro de preconceitos! A omissão é uma forma de aceitação. Esse MURO racha a cara! “O Brasil está formando essa cultura. A visão de que os pobres são em princípio bandidos, de que os nordestinos retirantes são uma ameaça (...) de que a cultura pobre é “brega”(...).” (Cristovam Buarque) Rede Maré Jovem ¦¦ marejovem@grupos.com.br ¦¦
Errata No jornal 42, na página 13, a foto é de Cristiane Barbalho e não de Rondinele Barbalho, na página 20, o nome da comunidade católica é "Preciosa Vida".
As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)
Gostaria de agradecer aos organizadores de “O Cidadão” pelo espaço cedido, à página 19, da edição março/abril, que tratou da Pastoral da Sobriedade. Cumprimento-os pelo trabalho realizado nesta região de pessoas tão sofridas, abandonadas e marginalizadas pela nossa sociedade. Orgulho-me de ter morado por três anos e atuado na Paróquia São José Operário, Vila do Pinheiro, por 12 anos, onde aprendi muito com aqueles irmãos, que conseguem alimentar a esperança por justiça, e mesmo em meio a tantos problemas, conseguem esbanjar
alegria e muito talento até mesmo para o exterior. Se politicamente a Maré só é lembrada em época eleitoral, existe um Deus que se importa com esse povo e caminha lado-a-lado com ele, sustentandoos na esperança. Parabenizo-os uma vez mais por serem um espaço a mais para esse povo sofrido, porém maravilhoso, que muito me ensinou e do qual me orgulho de ter convivido. A todos um forte abraço. Diácono Claudio dos Santos.
O Cidadão _ 23
MEMÓRIA DA MARÉ Um prêmio para o Ceasm Cristiane Barbalho
N
as últimas edições do nosso jornal, temos falado muito sobre o Museu da Maré. E não é pra menos! Esse é um projeto muito especial para nós da Rede Memória, para o pessoal do Ceasm, e também para toda a Maré. O museu é muito especial porque será um espaço onde pessoas de diferentes lugares e gerações estarão interagindo entre si, trocando suas experiências de vida. E fazer um museu que seja vivo não é uma tarefa fácil. A responsabilidade é muito grande! Principalmente agora que o trabalho da Rede Memória obteve reconhecimento nacional ao receber o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, oferecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Esse prêmio foi criado em 1987, com o objetivo de reconhecer ações de preservação do patrimônio cultural brasileiro. Este ano, o IPHAN selecionou sete iniciativas em todo o Brasil, tendo sido a Rede Memória premiada na categoria de salvaguarda de bens de natureza imaterial. É isso mesmo, caro(a) leitor(a)! Nós ganhamos esse prêmio porque estamos ajudando a preservar o patrimônio cultural e histórico do nosso país! E queremos dedicar esse prêmio a você, que vem contribuindo generosamente com nosso projeto, doando objetos e fotos de família, dando seus depoimentos, contando sua história, seu cotidiano, suas memórias, expectativas, realizações e conquistas... E tudo isso será apresentado no museu. Por isso, nossa responsabilidade no processo de implantação do Museu da Maré é muito grande, pois esse projeto representa a materialização da confiança que os moradores têm tido no trabalho desenvolvido pela Rede Memória ao longo desses oito anos.
A Placa do Prêmio IPHAN 2005, recebido pela Rede Memória do Ceasm Caro leitor, este espaço do CIDADÃO é seu. Conte sua história para que ela seja publicada aqui. Pergunte o que você gostaria de saber sobre a história da Maré e da cidade do Rio de Janeiro, e nós responderemos. Envie sua história, perguntas e sugestões para a Rede Memória nos endereços: Morro do Timbau (Pç. dos Caetés, nº 7. Tels.: 2561-4604; 25613946); Nova Holanda (R. Sargento Silva Nunes, 1012. Tel.: 2561-4965); Casa de Cultura (Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748). Se você tiver facilidade de acesso à internet, envie sua colaboração para os seguintes endereços eletrônicos: contato@ceasm.org.br ou jornalmares@bol.com.br. Arquivo Pessoal
Antônio Carlos Vieira discursa na cerimônia de premiação oferecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) 24 _ O Cidadão