O Cidadão
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RIO DE JANEIRO
JUNHO/JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2006
ANO VIII Nº45
Mas que tristeza!
E agora, eleições!
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CARAMUJOS INVADEM A MARÉ
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OFICINA DE DANÇA DÁ SHOW NO CEASM
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ELEIÇÕES: SINÔNIMO DE DESESPERANÇA
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SAÚDE: DERRAME MATA
O Cidadão
2 EDITORIAL
O Cidadão de cara nova
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aros mareenses, a edição 45 do jornal O CIDADÃO foi completamente reformulada para que você possa ter mais prazer em lê-lo. Pedimos desculpas por ter falhado em nossa periodicidade, pois enfrentamos graves problemas para viabilizar a produção do jornal. Priorizando a qualidade de nossas matérias e resguardando a confiança depositada por nossos leitores, durante este período reorganizamos o jornal, para podermos apresentar O CIDADÃO de cara nova. O colorido tomou conta de nossas páginas, que também receberam uma diagramação mais moderna e dinâmica para facilitar a sua leitura. Para diversão e entretenimento, uma nova página, com palavras cruzadas e piadas. Esperamos que as mudanças sejam bem recebidas, porque tudo isso foi feito para você. Esta edição traz matérias importantes, como a frustração do mareense com a Copa do Mundo, que mostra a mobilização dos moradores para enfeitar as ruas e assistir aos jogos com amigos e familiares. Nos dias das partidas, o orgulho da nação estava estampa-
O Cidadão
é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré
do no rosto e no corpo dos moradores da Maré, que se vestiram de verde e amarelo. Infelizmente, para ir às urnas em outubro, não encontramos a mesma emoção e disposição. Muito pelo contrário, encontramos pessoas descrentes com a política e decepcionadas com o nosso primeiro governo popular após a ditadura, administrado pelo presidente Lula. Mas não podemos nos deixar abater, temos que votar com consciência e seriedade. O nosso voto não pode ser trocado por documento de identidade, cortes de cabelo, peixes e uniformes de futebol. Saiba que a nossa escolha interfere diretamente nas políticas implantadas dentro das comunidades. É por isso que se devem conhecer as idéias e os programas defendidos por cada candidato a presidente, a senador, a deputado federal, a deputado estadual e a governador. Nesta edição há ainda matérias sobre o novo ponto cultural do bairro, o Museu da Maré, a hidroginástica da Vila Olímpica, os cuidados para prevenir o derrame e muito mais. Boa leitura e vote consciente!
ELES FAZEM O CIDADÃO CRISTIANE BARBALHO
Parte da equipe do O CIDADÃO: Silvana, Renata, Rosilene, Ellen, Cristiane, Hélio, Carla e Gizele
Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965
Conselho Institucional Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana S. Silva Jailson de Souza • Léa Sousa da Silva Lourenço Cezar • Maristela Klem Coordenadora: Rosilene Matos Editora: Renata Souza Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Renata Souza • Cristiane Barbalho • Ellen Matos Hélio Euclides • Rosilene Matos • Silvana Sá Gizele Martins Colaboraram nesta edição: Observatório da Maré • Rede Memória Jornalista Responsável: Marlúcio Luna (Reg. 15774 Mtb) Ilustrações: Mayara e Jhenri Publicidade: Elisiane Alcantara Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra Assistente de Diagramação: Fabiana Gomes Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço Foto de Capa: Hélio Euclides Repórter Fotográfico: Cristiane Barbalho Distribuição: Patrícia dos Santos (coordenadora) Charles Alves • Eliane Souza e Silva Givanildo Nascimento da Silva • Marcele de Araújo José Diegos dos Santos • Maxwell Lima de Melo Raimunda Nonato Canuto de Souza Fotolitos / Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br
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3868-4007
O Cidadão CRÔNICA
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A saga de ser uma lagarta A natureza é sábia. Cada animal tem o seu papel, cada inseto, por mais estranho que seja, tem a sua importância. Vejamos uma lagarta: muitas vezes a criticamos por comer as nossas plantas, mas, no fundo, ela apenas se alimenta, realizando um ritual ou uma contribuição ao meio ambiente. Apesar daquela pacata vida, ocorrerá uma transformação. Ela pode até relutar, mas o que era apenas rastejante e de uma cor apenas entrará num casulo, dando um tempo em tudo. E surgirá assim uma linda e colorida borboleta. Isso pode ser algo romântico, mas é simplesmente um hábito, podendo ser corriqueiro. Contudo, é fantástico. Isso também pode acontecer em nossa vida. Depois do nascer, vem o engatinhar, o andar, a juventude, a vida adulta e o envelhecer. São etapas que devem ser obedecidas. Causam transtornos, mas é algo necessário. Vamos mais longe e faremos essa comparação com um jornal. As pessoas mais antigas lembram de “O Globo”. Nos anos 80, era impossível imaginar aquele azul no logotipo do jornal. No início do milênio, “O Dia”
perdeu o amarelo “cheguei”, e recebeu a suavidade do azul e do vermelho. Mais recentemente, o tradicional “Jornal do Brasil” revelou certa graça, num tamanho menor. Essas são mudanças gráficas, de veículos de comunicação impressa, que precisam acompanhar o tempo e não cair na mesmice. Com O CIDADÃO não foi diferente. Tivemos que entrar num casulo, desde
abril, para uma reformulação total. Modernização foi uma palavra questionada, em torno da qual fizemos diversas discussões, envolven-
do a equipe, o Ceasm, a Ediouro e os leitores. Do nosso time, nasceu a vontade do profissionalismo. Do Ceasm, o desejo de melhorar as instalações da redação e de aumentar o apoio pessoal. Da parceria com a Ediouro, um fortalecimento maior a cada dia. Daí vem a novidade de um jornal dinâmico, com uma página dedicada ao entretenimento, com a popular palavras cruzadas “Coquetel”. Outro fato é o colorido da borboleta, que as páginas ganham, avivando as matérias e dando um tom todo especial aos anúncios. E, por fim, a união com os leitores, que com competência escolheram a nova logomarca de O CIDADÃO, revelando que o mareense participa de cada letra escrita nesse veículo de comunicação comunitária. Esse é o novo O CIDADÃO, que agora, como uma borboleta, deve voar até as flores, ou seja, num primeiro passo, continuar cumprindo seu papel na comunicação, e com o objetivo de manter a periodicidade bimestral. Não fugindo nunca da verdade e do interesse do nosso leitor. Obrigado pelo compromisso de construir, através da leitura, o bairro Maré. Hélio Euclides
A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da
Uma conquista dos moradores da Maré O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da Maré.
Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso
Promove oficinas e atividades que se tornam extensão da sala de aula.
Tel: 3882-8200 Fax: 2280-2432
O Instituto Telemar apoia o jornal O Cidadão
O Cidadão
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SERVIÇO
O alimento que virou doença Caramujos considerados hospedeiros de doenças chegam à Maré CRISTIANE BARBALHO
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om sotaque francês, o escargot é considerado um prato requintado e caro. Pensando no lucro, na década de 80 o achatinafulica (nome científico do caramujo africano), que não é comestível e pode ser hospedeiro intermediário de vermes (nematódios), além de parasita definitivo de animais domésticos e ratos, foi trazido para o Brasil. De acordo com a assistente social sanitarista do Posto de Saúde da Vila do João Vera Joana, 57 anos, o caramujo chegou na Maré em 2002, no Conjunto Esperança. E estes moluscos, que a cada dois meses põem 200 ovos, se alastraram em espaços com mato, perto de valões. “Interessante é o tamanho dos caramujos africanos. A Prefeitura deveria tomar uma atitude para acabar com eles. Atravesso o valão e posso contrair doenças graves”, reclama o morador do Conjunto Pinheiro Carlos Reis, 32 anos. O presidente da Associação de Moradores do Conjunto Pinheiro (AMACOVIPI), Alderley Júlio, diz que a Comlurb jogou sal. Já o ex-presidente da Associação de Moradores da Vila do João (AMOVIJO) Paulo Gatelha, 51 anos, diz que encaminhou o problema para a Defesa Civil (DC), mas ainda não obteve resposta.
Caramujos africanos se reproduzem rapitamente em lugares com grande concentração de mato e umidade
De acordo com a Prefeitura do Rio, a Defesa Civil Municipal já vem dando orientação à população desde 2004 e não recebeu nenhuma solicitação para as comunidades da Maré. Em 2005, realizou palestra para os agentes de saúde do Posto de Saúde da Vila do João, com material explicativo para a orientação à po-
pulação local. Entretanto, afirma que não recolhe os moluscos, mas encaminhou amostras à Fiocruz para análise e não foi encontrado nenhum animal infectado na cidade. A própria DC revela que o caramujo africano pode transmitir uma doença conhecida como angiostrongilose abdominal, que ataca o intestino de pessoas e de animais e produz sintomas parecidos com os da apendicite: dor abdominal, febre prolongada, náusea, vômitos, diarréia e dor de cabeça. Para mais informações basta visitar a página www.rio.rj.gov.br/ defesacivil/caramujo ou ligar para 199.
VERA JOANA
Elimine os caramujos A Prefeitura recomenda os seguintes passos: - Evitar manuseá-lo diretamente, protegendo as mãos com luvas e/ou sacos plásticos, para evitar o contato do molusco com a pele - Desidratá-lo através da colocação de sal de cozinha ou sal grosso - Queimá-lo - As cascas devem ser colocadas no lixo doméstico para que a Comlurb recolha, já que uma casca vazia,com o acúmulo de água da chuva, pode virar um criadouro de mosquitos da dengue. Grupo de jovens recolhe os caramujos africanos que se alastraram pelos matagais da Vila Esperança
O Cidadão CULTURA
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Museu da Maré: um retorno ao passado O espaço é inaugurado na Casa de Cultura com a presença do ministro Gilberto Gil CRISTIANE BARBALHO
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história dos mareenses já tem um lugar cativo no seio da comunidade: o Museu da Maré, o primeiro do Brasil em comunidades populares, que nasce com o objetivo de resgatar a história e a identidade dos mareenses. Organizado pelo projeto Rede Memória do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), o novo espaço conta a história dos moradores por meio de fotografias e objetos doados pela comunidade. De acordo com a coordenadora da Rede Memória, Claudia Rose Ribeiro, a idéia de se construir um museu surgiu pelo trabalho desenvolvido pela própria Rede, que prioriza a preservação da história dos mareenses. “Esta idéia foi reforçada a partir do contato com o coordenador técnico do departamento de museus e centros culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Mário Chagas”. O Museu funciona na Casa de Cultura da Maré, que fica na rua Maxwell nº 26, próximo ao SESI. A visitação é gratuita. A inauguração do museu, realizada no dia 8 de maio de 2006, contou com a presença do ministro da Cultura, Gilberto Gil. Ele destacou a importância da cultura nas comunidades. “São 400 e tantos pontos de cultura que inauguramos pelo Brasil. Estimulamos para que recebam o kit digital, com ferramentas para áudio e vídeo. Aqui foi priorizado o museu. Vamos ver a construção da história. Esse é o primeiro museu numa localidade como esta. Agora, vai depender do ritmo e da vocação de cada comunidade para se apropriar dessa cultura histórica. Esse espaço é importante já que a diversidade cultural da Maré é muito grande”, afirma. O coordenador da Rede Memória da
Na inauguração do museu, alunos da Oficina de Maracatú posam junto ao minstro da Cultura, Gilberto Gil
Maré, Antonio Carlos Vieira, se diz sensibilizado com a iniciativa de vários moradores que ao saberem que haveria um lugar para mostrar a história da Maré logo doaram seus objetos. “O museu foi construído com a participação de todos. Ver os moradores aqui para contribuir é uma coisa muitobacana. O Ceasm tem que fazer mais isto, trazer a comunidade para dentro do seu espaço e o museu é o caminho”, afirma. Segundo Claudia Rose, a Maré não pode deixar de participar da manutenção do espaço. “O museu precisa da colaboração da comunidade para fazer, cada vez mais, me-
lhores exposições, que são a memória dos moradores. Por isso, todos devem contribuir com seus objetos, para que o morador seja representado aqui. Desse modo, faz sentido a existência do museu”, diz.
Recordações A moradora da Baixa do Sapateiro Neli Ferreira, de 42 anos, em visita ao museu relembra a época em que esperava as fábricas, que existiam no bairro, fecharem à noite para poder pegar água. “Os vigias das fábricas não negavam a água, porque sabiam que era difícil conseguir já que não havia, sequer, saneamento básico. A idéia de construir o museu é maravilhosa por que faz a gente relembrar o passado”, diz. Para Renato Reis, de 24 anos, que trabalha no arquivo da Rede Memória, o museu é capaz de recuperar lembranças esquecidas: ”Noto a nostalgia das pessoas e percebo que por mais difícil que fosse aquela época, não havia o individualismo”. O Museu da Maré está aberto a visitação de segunda à sexta-feira, das 10h às 18h. Aos sábados funciona das 10h às 14h. Para agendar visitas guiadas, com grupos maiores, é necessário ligar para 38686748. E boa viagem.
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6 PERFIL
CRISTIANE BARBALHO
Isabel Cristina Uma mulher de fibra Comunidade: Manguinhos Profissão: Técnica da Ouvidoria de Direitos Humanos Idade: 44 anos
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egra, longos cabelos em estilo afro e porte elegante. A bela mulher é Isabel Cristina Martins, 44 anos, assistente técnica da Ouvidoria de Direitos Humanos do Estado. Nascida na Nova Holanda e criada na Febem, ela tem como rotina de trabalho ouvir denúncias de violência policial. Além disso, é integrante da Rede de Comunidades Contra a Violência. Por causa de sua atuação já sofreu oito tentativas de assassinato. Uma mulher para quem dificuldades jamais foram obstáculo; pelo contrário, serviram como estímulo. Ela nasceu na Nova Holanda, onde sua mãe e avó moravam. Eram oito filhos e, para que não passassem fome, a mãe resolveu levá-los para a Febem (Fundação do Bem Estar do Menor). Foi na instituição que Isabel começou a pôr em prática as ações de luta pela defesa dos direitos e da integridade física das pessoas. Lá, a luta era para se proteger, junto com suas colegas. Para defenderse dos abusos das meninas mais velhas, elas andavam sempre juntas. Outra tática usada em momentos piores (quando a comida começava a vir estragada), eram os motins na sala da diretora. “Daí vinha a fiscalização e as coisas melhoravam. Mas quem não tinha família apanhava muito”, conta ela. Grande parte da infância de Isabel foi passada na Febem, dos seis aos 13 anos de idade. Mas nem só de recordações ruins é povoada a memória desta mareense. “Eu sempre lembro de uma tia que deixava a gente ler, brincar no pátio. Cresci ouvindo disco de historinhas”, diz.
Isabel Martins: na luta contra as injustiças e a violência policial é odiada por poucos e amada por muitos
O regime era integral e as crianças só podiam ir para casa uma vez por mês. Para prolongar sua estada com a família, Isabel sempre tomava todos os remédios que enc o n t r a v a pela casa. Mas o plano não dava certo e sua mãe a levava de volta. Assim a menina ficava, alguns dias, na enfermaria da Febem. Até que chegou o esperado momento em que ela e os irmãos saíram da instituição. A sua mãe havia dado uma surra na diretora da unidade, depois que viu uma marca de violência no braço de uma das filhas. A mãe de Isabel foi uma figura muito marcante na vida dela. De personalidade forte, é lembrada com admiração. “Apesar de ter estudado pouco, escrevia cartas muito coerentes. Também defendia os meninos da violência dos policiais. A Nova Holanda era pequena para ela.
Todo mundo conhecia minha mãe e minha avó. Vovó era parteira e mamãe, namoradeira” conta, com saudade. Sua mãe faleceu há cerca de um ano, com pneumonia, aos 69 anos. Sem preconceito, Isabel não esconde a opção sexual da mãe. “Ela era bissexual, mandava e batia nos namorados e namoradas”. Outra referência na vida de Isabel são as leituras, principalmente o que leu na faculdade. “O livro que mais me marcou foi ‘A crítica da razão pura’, de Kant”, relata a militante. “Se eu pudesse lia um romance por dia. Estou lendo ‘O dia em que Nietzsche chorou’”, comenta. Também declara gostar da escrita. “Gosto de escrever poesias e pensamentos”. Isabel afirma que, muitas vezes, não é compreendida pelas pessoas mais próximas. “Minha família não me entende porque quando eu era criança eu dizia que ia estudar, trabalhar e ficar rica. Não tenho carro, não tenho moto, mas sou rica de conhecimento. Eles dizem que eu sou um talento desperdiçado. Mas não sei viver de outro jeito, meu trabalho é meu alimento. Os professores do meu filho dizem que ele fala de mim e da minha atividade com orgulho”, diz. Também não é para menos, Isabel é, de fato, um exemplo de mulher.
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Oficina de Bonecos Banto Resgate da cultura negra e geração de renda Texto: Leonardo Marques Na edição de janeiro do Fashion Rio, a moda da ACB/RJ chamou atenção com pequenas bonecas negras vestidas com roupas idênticas às da coleção. Todas foram vendidas e ainda receberam mais encomendas. Apesar de parecer novidade, as bonecas são fruto de um trabalho três anos na oficina de bonecas banto. O objetivo do projeto é resgatar parte da cultura africana, onde capoeira, orixás, jongo e ciranda são retratados em forma de bonecos.
O sucesso veio rápido e com apenas seis meses a produção começou a ser vendida. As alunas foram acrescentando novas idéias como o chaveiro e o broche e hoje elas próprias coordenam a oficina. Edite Nunes trabalhava por conta própria, como desenhista de instalações elétricas e de gás. A necessidade de criar sozinha o filho Vítor a levou a deixar o emprego de técnica de construção civil para trabalhar em casa. Porém, os projetos passaram a ser pelos feitos em computador. Como Edite não tinha o equipamento em casa, foi se afastando do mercado. Foi então que ela ingressou na oficina da ACB/RJ. “Se um lado está ruim, você tem que ir pra outro, né?”, brinca ela. Hoje, a bolsa que recebe da ACB/RJ é boa parte de sua renda mensal. Parte do lucro das vendas é dividida entre ela e as demais artesãs Maria Catarina Ferreira, a mais antiga na oficina, Joice Gonçalves e Liliane de Jesus.
AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL www.acaocomunitaria.org.br
RIO DE JANEIRO
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Fotos: Leonardo Marques
Para elas, o trabalho significa mais do renda. “Quantas coisas a gente aprendeu. Antes de eu trabalhar com as bonecas, eu não prestava atenção em racismo, por exemplo”, comenta Edite. As oficineiras contam que esse é as alunas evangélicas têm dificuldade com a oficina. “Muitas pessoas eram evangélicas e saíram porque não entenderam”, comenta Edite. Maria Catarina é membro da Igreja Universal e crê que algumas mulheres têm dificuldade de separar a cultura da religião: “Eu sei separar as coisas. Estou trabalhando em cima de uma cultura”.
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9 NAS REDES DO CEASM
Dois pra lá, dois pra cá Oficinas de dança na Maré mostram um novo universo cultural aos moradores CRISTIANE BARBALHO
O
s pés de valsa de plantão podem contar com aulas de dança na Maré. O Ceasm (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré) desenvolveu o projeto Escola de Dança, que visa capacitar jovens e adultos na arte. As aulas são ministradas na Casa de Cultura da Maré e na sede do Ceasm da Nova Holanda. O projeto oferece oficinas de dança, balé, jazz, consciência corporal, street dance, teatro, percussão, dança contemporânea e Hip-Hop. Segundo a coordenadora do projeto, Patrícia Riess, a escola foi criada em 2000 e ao longo do tempo foi se expandindo. Além dos cursos de dança, a escola possui o Corpo de Dança da Maré, que já fez apresentações em diversos teatros e museus no Rio de Janeiro. Outro projeto vinculado à escola é o Ano Um, que trabalha com jovens de 14 a 17 anos que são preparados para ingressar no Corpo de Dança.
Só mareenses A Escola de Dança atende somente a moradores da Maré, porque, segundo a coordenadora, a demanda seria maior do que eles estão preparados para atender. “Qualquer morador que tenha interesse pelas artes, de modo especial a dança, é bem-vindo no projeto. Nosso principal objetivo é fazer uma aproximação desse universo artístico com o morador que não teve acesso a esse tipo de informação”, diz. A Escola está montando a primeira turma de dança para adultos, a partir de 25 anos, também na Nova Holanda. O número de matrículas chega a 370. Para tanto, 14 professores são escolhidos a dedo para atuarem junto aos alunos. “São
O CIDADÃO dá dicas de cursos
Alunos do curso de Dança se exercitam com movimentos corporais que são essenciais para a performance
pessoas com formação superior em dança. Quando não, em educação física, mas bailarinos. São todos vindos das universidades que atualmente disponibilizam cursos de dança, entre elas a UFRJ”, enfatiza a coordenadora. A aluna da oficina de Hip-Hop Natália Dionísio, de 16 anos, diz que sempre sonhou com a dança. “Eu já gostava de dança, só estava esperando uma oportunidade para atuar. E pretendo continuar na área”, avisa. Ramon Willian, de 14 anos, morador da Vila do Pinheiro, diz que iniciou suas atividades no curso de Dança Contemporânea no início de 2006 e encontrou dificuldades. “O mais difícil é aprender a coreografia, todo dia é uma batalha para aprender, mas a gente consegue”, afirma. Mesmo com o financiamento da Petrobras, uma das principais preocupações de Patrícia é conseguir manter o pro-
jeto. “Precisamos conseguir parceiros para apoiar a idéia. Já temos espaço, salas, pessoas, mas precisamos de parceiros”, diz a coordenadora, que a partir de setembro precisará buscar novamente patrocínio para dar continuidade ao projeto em 2007. “Essa incerteza na continuidade, infelizmente, é muito comum em projetos sociais”, lamenta. Outro importante desafio apontado pela coordenadora é conseguir adequar a bagagem pessoal dos professores à realidade dos alunos e aos objetivos do projeto. “A arte oferece mil possibilidades de educar. Informar é um dos papéis da arte nos nossos tempos. Com tudo isso buscamos trazer felicidade para as pessoas”, afirma. As vagas estão abertas nas sedes do Ceasm na Nova Holanda e no Timbau. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones 2561-4965 e 3868-6748.
Matemática Formar licenciados professores de Matemática do ensino fundamental e médio e bacharéis em Matemática; preparar profissionais para realizarem estudos de pós-graduação em Educação Matemática, Matemática Pura, Matemática Aplicada ou em áreas afins à Matemática. O curso de Matemática, além das atividades obrigatórias, oferece ao
aluno a oportunidade de participar, como bolsista, de projetos de Iniciação Científica, projetos específicos para Licenciatura e Monitoria de diversas disciplinas, complementando sua formação profissional. Duração: De 3 a 7 anos Curso: Pode ser encontrado na UFRJ, UFF e UERJ.
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10 ACONTECEU NA MARÉ CRISTIANE BARBALHO
Futebol na Vila do João
45 anos de educação
O Radar foi o vencedor da Copa Valter Lopes Sub-20. Foram premiados, ainda, os destaques da competição: Romário (Radar), que ficou com o titulo de melhor jogador, Igor (Torino), com o de revelação, Rodrigo Cabeça (Amacovipi), com o de melhor artilheiro e Leonel (Radar), com o titulo de goleiro menos vazado na competição.
Com o slogan “Este Espaço Também é Meu”, na manhã de 11 de agosto foi comemorado o aniversário da Escola Municipal Armando de Salles Oliveira, localizada na Praia de Ramos. A festa reuniu professores, direção, amigos, alunos, representantes das entidades próximas, familiares e ex-alunos. A diretora Anna Maria, 45 anos, abriu o evento emocionada. “Fico feliz em estar trabalhando pela comunidade. Houve, também, celebração religiosa, discursos de agradecimentos, apresentação de alunos e exposições. O celebrante Frei Cleber, 25 anos, estava emocionado, pois foi aluno do colégio.“Meu aprendizado teve inicio aqui, e a minha professora é a diretora agora. Sabemos que são 45 anos de dificuldade, mas também de perseverança em Deus, no desafio do ensino”, lembra. O cinegrafista Walter Gonçalves, 58 anos, destaca a importância da escola para vida dos moradores. “Meus filhos estudaram aqui, hoje são quatro netos. O próprio Frei é uma lição de vida, mostrando que na favela nem tudo está perdido”, diz.
Inauguração da biblioteca da comunidade Rubens Vaz
Rádio apaga velinhas na Praia de Ramos Comemorado no mês de março o aniversário de dois anos da Rádio 91 FM. A festa, que aconteceu no Piscinão de Ramos, teve roda de música e partida de futebol, disputada contra o Balança a Rede, time local que venceu o jogo com placar de 8 X 3. Mas nem isso ofuscou o brilho da comemoração. “É uma confraternização com os ouvintes. É uma vitória, pois lutamos contra a repressão e pelo direito da comunidade. Este é o trabalho comunitário, mostrar o outro lado da moeda”, comenta o locutor Divan Souza, 45 anos. ARQUIVO PESSOAL
A vida como ela é: Gegê e Nelsinho(Nelson Rodrigues Filho)
A vida como ela é Encenada a peça “A vida como ela é”, de Nelson Rodrigues, pelo grupo de teatro da Ação Comunitária do Brasil (ACB), formado por jovens moradores da Maré e do Conjunto Habitacional da Cidade Alta. O espetáculo ficou em cartaz até o dia 03 de setembro e teve como um dos destaques o ator Evandro Rosa, o Gegê da Maré. Portador de deficiência visual, devido ao glaucoma, Evandro recebeu elogios do diretor Nelson Rodrigues Filho. “Ressalto o total profissionalismo do Gegê”, disse o filho autor do texto e diretor do espetáculo. “É gratificante trabalhar na peça “A vida como ela é”. Eleva o nosso currículo”, diz o ator Gegê, de 28 anos.
Biblioteca é inaugurada na Rubens Vaz Aberta, na Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz, a biblioteca comunitária Maria Julieta Drummond de Andrade. A biblioteca nasceu da iniciativa da professora Aline de Andrade, com o apoio da associação e de voluntários, empenhados em garantir o acesso à leitura aos alunos do curso de alfabetização, que funciona no mesmo local, e a todos os moradores da comunidade. O acervo é formado com doações e já conta com mais de 800 livros. “A leitura é uma grande confluência, é necessária e boa. Ela nos identifica e nos lembra que estamos no mesmo mundo, apesar das diferenças, das barreiras, tornando-nos sempre iguais”, disse Pedro Augusto Drummond, 46 anos, neto de Carlos Drummond de Andrade, que doou os primeiros livros da biblioteca. “Ninguém nunca ouviu falar de um ambiente de estudos dentro de uma associação. Mas estou vendo isso agora. Nos juntamos, ligamos para vários lugares e recebemos muitos livros”, diz José Alcides de Oliveira, 49 anos, aluno do curso de alfabetização da associação.
Sesi comemora finalização de curso A tarde de 28 de julho foi especial para os jovens da turma de ensino médio do Sesi. Na unidade Bonsucesso ocorreu a formatura dos alunos, reunindo professores, lideranças, familiares e amigos. O curso foi realizado em parceira com Ceasm, que desenvolveu um trabalho de expressão corporal com os alunos. Na festa, o diretor do Ceasm Edson Diniz, 35 anos, destacou a qualidade do curso e dos alunos que chegam ao final como vencedores. A gerente da unidade de Bonsucesso do Sesi, Lucrecia Guimarães, 44 anos, afirmou ser muito especial o sentimento de realização após a formatura. “A gente vê a gratificação nos olhos das pessoas. Alguns não sabiam o que fazer, hoje já tem esperança no futuro”.
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Futvôlei e beach soccer em uma das quadras da ciclovia do Pinheiro.
Futvôlei e beach soccer na Maré Inaugurada a primeira quadra de beach soccer da Maré. Mais conhecido como futebol de areia, o esporte foi trazido para a comunidade pelo morador Evandro de Menezes. Ele faz parte do grupo de 25 pessoas que mantêm a quadra e compram os equipamentos. Aqueles que quiserem se associar ao grupo de futevôlei da Maré devem procurar por um dos integrantes do grupo na quadra, que está localizada próxima ao bloco 34 do Conjunto Pinheiro, a partir das 15h, nos dias de semana, e das 10h, nos fins de semana.
O Cidadão CIDADANIA
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Light dá uma força para a Maré Companhia firma parceria para ampliar o trabalho social no bairro CRISTIANE BARBALHO
mpresas dos mais variados tipos e tamanhos, com o objetivo de melhorar o relacionamento com seus usuários, investem cada vez mais em ações sociais. Com isso, estas empresas, além de agradar o cliente, têm os seus impostos diminuídos. A Light, continuando o trabalho de proximidade com a Maré, que já vinha realizando através do posto instalado na 30ª Região Administrativa, reafirmou o desejo de ações sociais junto às comunidades. Em 2006, a empresa assinou um termo de compromisso com os presidentes das associações de moradores da Maré, firmado com base na cooperação mútua. O principal objetivo do trabalho é a educação e conscientização do uso eficiente de energia, para melhorar o fornecimento. O projeto Comunidade Eficiente II é um bom exemplo de iniciativas como esta. Os funcionários recadastraram as casas e levaram informações sobre uso da energia elétrica e dicas de segurança para os moradores. O ponto alto foi um sorteio, no qual os contemplados ganharam uma reforma elétrica nas suas resi-
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CRISTIANE BARBALHO
Severina, moradora da Baixa do Sapateiro, mostra a reforma elétrica feita em sua casa pela empresa
dências e receberam lâmpadas eficientes. “Foi um trabalho de alto nível. Antes, as tomadas do ferro e do liquidificador derretiam, agora estão bonitas e embutidas”, diz a moradora da Baixa do Sapateiro Severina Josefa, 46 anos , contemplada pelo sorteio. Ainda na área educacional, a Light desenvolve parceria com o Ceasm, desde 1998, com financiamento de turmas de pré-vestibular na Maré. Além disso, a empresa investe na utilização de mão-de-obra local.
Roquete reclama
João Batista aponta os transformadores que vazaram
Nem tudo são flores na prestação de serviço da empresa. Quando a equipe de reportagem de O CIDADÃO esteve na Rua Ouricuri, na comunidade Roquete Pinto, dois prestadores da empresa faziam testes na carga e voltagem dos transformadores, o que deixou alguns consumidores inconformadas. A proximidade com os equipamentos também deixa os moradores inquietos. Na rua principal da comunidade, um transformador vazou. “O técnico disse que quando o óleo secar ele explode. A minha janela é perto dele”, comenta assustada a comerciante Cleuza Oliveira, 63 anos. No poste z-40056, na Rua Vila Sampaio, a reclamação é de trans-
formador perto da residência. “O encarregado tirou foto, mediu e constatou 26 centímetros de distância. Um raio já acertou a fiação, mas nada de remoção”, conta, Pedro Serafim, 31 anos. Andando na comunidade, percebem-se casas sem medidor, apesar do pedido. Hozana da Silva, 31 anos, lembrou que alguns foram instalados com numeração errada. O presidente da Associação de Moradores da Roquete Pinto, João Batista, 38 anos, reclamou por ter ficado 36 horas sem luz. Ele pediu, ainda, que a empresa faça a instalação de transformadores na antiga gráfica do INSS, que foi ocupada por sem-teto. E a melhoria nos transformadores próximo aos quiosques junto ao Colégio Tenente General Napion, para acabar com a queda de energia. A Light informou que no segundo semestre deste ano efetuará o rodízio de cerca de 50% dos transformadores instalados, priorizando os que apresentarem sobrecarga. A empresa soluciona as interrupções na transmissão de energia com a equipe do programa Eletricistas Comunitários, que atua na Maré. O telefone de emergência é 0800 21 0196. Mais informações ligue para o DisqueLight 0800 282 0120.
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Copa do Mundo: mundo: que que dece dece O orgulho de ser brasileiro tomou conta da Maré, mas a derrota trouxe a rotina de volta
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lguém que sofreu uma desilusão amorosa, que sonhou, planejou, mas, no fim, teve de sofrer com um gosto amargo na boca e na alma. Assim se sentiu a maior parte dos brasileiros, inclusive os da Maré, após a eliminação do Brasil na Copa. O assunto continua bem indigesto. Mas O CIDADÃO o traz de volta para que, alguns aspectos desta conturbada relação sejam vistos mais de perto. Os mareenses se prepararam para as comemorações com animação e toda a garra. Bem diferente da forma como a seleção jogou. As crianças pareciam ter sido escaladas para dar mais brilho à festa, com os rostos pintados de verde e amarelo, elásticos no cabelo da cor da bandeira e roupa combinando. As ruas também não deixavam a desejar, se comparadas com qualquer outro bairro, como confirma Esli Correa, 57 anos. “Morei 50 anos na Baixa do Sapateiro, hoje moro no Engenho de Dentro. Apesar de lá enfeitarem as ruas também, aqui é mais caloroso”. Na rua Teixeira Ribeiro, que fica no Parque Maré,
por exemplo, havia bandeiras do país e de outras nações competidoras. Os muros e as ruas eram telas para criativas pinturas com o rosto dos jogadores e os símbolos da Copa. E não parava por aí: depois dos jogos havia, nas ruas, funk e shows de grupos de pagode. Algumas ruas eram fechados após as partidas. Os jogos eram vistos em grupo, na casa de familiares, vizinhos ou amigos. Alguns faziam churrasco. Outros, no fim das partidas, reuniam-se na rua, onde cada um contribuía com um prato, no clima de boa vizinhança, comum na Maré, como atesta Antônio Cabral, 67 anos, morador da Baixa do Sapateiro. “Aqui é uma alegria. Na favela é sempre mais animado, todo mundo é mais unido”. Até o triste dia em que o Brasil foi eliminado pela França e a festa acabou. Os moradores, como todos os brasileiros, sentiram-se frustrados. “Aqui na rua fizemos uma feijoada, mas, depois do jogo todo mundo estava desanimado. Cada um pegou seu prato, dividiu a feijoada e RENATA SOUZA
levou para casa. Ia ter uma festa, mas ninguém ficou”, conta Maria José, 36 anos, moradora do Morro do Timbáu. Os enfeites de grande parte das ruas da Maré foram arrancados como forma de protesto.
Especialistas Segundo o escritor e jornalista Mario Augusto Jakobskind, que acompanha a Copa do Mundo de forma crítica há alguns anos, esta grande expectativa e a frustração que veio, a seguir, não foram à toa. “A mídia fez uma cobertura atrás da audiência. Vale tudo para ganhá-la. Joga-se com o sentimento da população. Cria-se um clima artificial. O povo foi levado a pensar que a seleção já tinha entrado na Copa como vencedora”. Ele vai além e declara haver fortes interesses comerciais envolvidos. “Existe um acordo que envolve milhões e milhões, entre a Globo e a FIFA. A criação do clima de ‘já ganhou’ é para garantir audiência”. Outro fator a ser pensado é o patriotismo, em alta nos anos de Copa. Para Jakobskind, este também é um elemento sobre o qual a grande mídia tem influência. “É um nacionalismo vazio, mobilizado pelos grandes meios Na Rua Principal, na Nova Holanda, a cada vitória do Brasil as pessoas saíam em grupo, cantando e pulando
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epção! epção! de comunicação. Acabou a Copa, acabou o nacionalismo”, critica o jornalista. Há quem pense diferente, como Edson Diniz, professor de História do Curso PréVestibular da Maré. Para ele, a competição é uma oportunidade para se pensar o Brasil “A Copa pode, inclusive, levar a população a se perguntar: ‘Que país é este que é campeão de futebol e, também, campeão da desigualdade social?’”. Jakobskind enfatiza a importância de se canalizar esta energia para outros temas. “O melhor seria que toda esta mobilização fosse para outros assuntos, como saúde e educação”, reforça. Para muitos, a ocasião em que a Copa foi realizada não foi a ideal. Como declara o técnico do Flamengo Jaime de Almeida. “O futebol é uma coisa boa, mas esta época ajuda a quem gosta de empurrar as coisas para debaixo do tapete. Na Copa todo mundo pára e depois vêm as eleições. E não adianta só chamar de ladrão, tem que apurar. O que dá desânimo é que ninguém é punido”. Alguns mareenses reafirmam a idéia. “Na Copa, a gente esquece de política”, admite José Monteiro, 42 anos, do Parque União. Mas não há unanimidade. “Acho que não influência em nada a política. Até porque a eleição é só em outubro”. RENATA SOUZA
As ruas foram enfeitadas com alegria e criatividade
Após a derrota para a seleção da França, moradores revoltados destruiram as bandeirinhas e os enfeites da Copa
O Brasil não poderia ter sido hexa egundo o dicionário Aurélio, a palavra hexa é denominada como seis: hexandro ou hexagrama. Mas, para alguns estudiosos no assunto, a seleção brasileira não poderia ter sido hexa. Segundo eles o Brasil não traria o título, porque as vitórias não foram consecutivas, exigência para ostentar o rótulo de hexacampeão. Esse pensamento é defendido pelo comentarista de futebol e professor universitário Fábio Tubino, 38 anos, sendo 21 dedicados ao rádio. “Hexa significa seis vezes seguidas, o que não aconteceu nas
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conquistas do Brasil no futebol. Na verdade nem tri é, porque a seleção só ganhou em 58 e 62 continuamente. Acho incrível a mídia, principalmente a Rede Globo, invocar nas suas transmissões esse termo, induzindo a população menos informada a repetir a palavra achando que é correto. Nos meus comentários no rádio, sempre falei que buscamos a sexta estrela ou simplesmente o título mundial”.
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CAPA
Agora o jogo é outro Após a Copa, o Brasil se prepara para as eleições, mas não há sinal de entusiasmo HÉLIO EUCLIDES
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nquanto o clima de preparação para a Copa do Mundo na Maré foi de alegria e de empolgação, às vésperas das eleições, o que se vê é o desânimo e a falta de esperança. Isto pode ser notado no desabafo da maioria dos mareenses, quando o assunto é política. A grande parte mostra descrédito pelos candidatos e suas propostas. Muitos afirmam que já desistiram até de assistir o horário político-eleitoral. “Ali todo mundo parece direito. Todo mundo quer ‘mamar na vaca’”. Os que vêem a programação partidária também não mostram entusiasmo. É o caso de Edna Martins, 39 anos, moradora de Roquete Pinto. “Eu não gostava, mas, agora assisto e é muito cansativo. Não dá confiar na informação”. Há até quem se divirta com a propaganda eleitoral, como a comerciante Leila Rodrigues da Costa, 52 anos, moradora do Parque União. “Acho bem engraçado. É uma comédia. É espetacular, melhor do que o ‘Caceta e Planeta’”, diz.
Para os estudiosos, do assunto, este desinteresse no horário político é gerado pela falta de debate e de idéias. “As campanhas são, cada vez menos, fundamentadas em ideologias e plataformas políticas e, cada vez mais, em uma briga de percepção da imagem do candidato. Hoje o período de eleições é uma batalha de marketing”, afirma a especialista na área Maura da Cruz Xerfan. Contudo, os mareenses têm suas estratégias para escolher os candidatos. Muitos têm o telejornal como guia. “Vejo o jornal, na televisão, para saber alguma coisa sobre os políticos”, diz Natália Lucas, 53 anos, comerciante da Roquete Pinto. Mas, há outras formas de se interar sobre o tema. “O melhor é conversar com alguém que saiba do assunto, algum amigo ou parente que entenda de política e conheça os candidatos”, declara Antony Rodrigues, 17 anos, do Parque União. A pesquisa de opinião também influenHÉLIO EUCLIDES
Eleitores mareenses votando nas últimas eleições, em CIEP, da Maré
Faixas de propaganda sendo espalhadas na Maré
cia a decisão do eleitor da Maré. “Pretendo anular o meu voto. Mas se a Heloísa Helena conseguir chegar em segundo lugar no Ibope eu voto nela”, afirma José Carlos de Lima, 50 anos, do Parque Maré. Já o presidente da Associação de Moradores do Parque União, Tadeu Ribeiro, de 53 anos, discorda com esta prática: “Nosso povo não é politizado, é fácil ser ludibriado. Espero que o voto seja consciente, analisando as propostas”, diz. Entretanto, o que todos reconhecem é o abandono da Maré. A região, como outras áreas populares da cidade, é deixada de lado pelo poder público. “Políticos só andam na favela na época das eleições. Eles só vêm colher os frutos. O povo só tem valor na hora de votar”, afirma Jocimar Oliveira, 58 anos, comerciante no Parque União. E os mareenses apontam caminhos para se mudar esta relação desigual e oportunista. Segundo o morador da Vila do Pinheiro, Rickson de Lima, de 35 anos, “os políticos deveriam, primeiro, vir nas comunidades, ouvir o que nós precisamos e depois apresentar os seus projetos”. Por isso, os mareenses precisam estar atentos aos programas de cada candidato, antes de escolher em quem votar.
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15 FOTOS DE CRISTIANE BARBALHO
Cuidado Eleitor
“Penso que os políticos andam sujando muito as comunidades. Aqui nós arrancamos os papéis, para não ficar igual a Vila do João, onde há muita papelada. Eles deveriam vir dentro da comunidade para conversar e não colar papel”, Edna Maria, 30 anos, dona de casa, Bento Ribeiro Dantas.
“Esses candidatos são tudo fantasmas, é uma palhaçada! Só sabem sujar as ruas e depois da eleição esquecem de tirar o lixo. Falta uma lei que impeça que façam tanta sujeira”, Ivanildo de Araújo, 52 anos, aposentado, Conjunto Pinheiro.
“Se vivemos numa democracia não deveríamos ser obrigados a se alistar e a votar. Acho isto errado e afirmo que no país ainda há uma ditadura. Ainda temos que agüentar toda essa sujeirada que os políticos fazem em época de eleição. Fica cheio de lixo no meio da rua. Isso é um absurdo. Eles deveriam apresentar os seus projetos, ao invés, de ficar sujando as ruas”, Rickson de Lima, 35 anos, atendente de serviço, Vila do Pinheiro.
“Nós brasileiros já caímos na real! Esperamos um país melhor sem corrupção. E com a eleição o que espero é que alguém ligue para 8643-2794, me indicando um emprego. Falta respeito por parte dos políticos que deveriam procurar ser mais conhecidos, para não precisarem dessa propaganda toda que só sujam as ruas”, João Gutemberg, 38 anos, desempregado, Salsa e Merengue.
Para conscientizar os moradores da Maré para não trocarem o seu voto por nada que seja oferecido pelos candidatos que só aparecem em época de eleição, Bhega compôs uma música, cujo clip foi gravado na Praia de Ramos: Cuidado eleitor está chegando a eleição, Eles chegam de fininho, falando bonitinho e apertando a sua mão. (bis) E o nosso povo sofrendo, passando fome, desempregado, E eles enchendo o bolso, e nosso povo cantado lixo e roendo o osso. Não troque o seu voto, pra manhã não se arrepender. Hoje ele é seu amigo, e se for eleito esquece você. (bis) OH! OH! OH! Ele foi eleito não fez nada e nem voltou pra agradecer aos seus eleitores. “Xi! Vai começar a baixaria e o festival de promessa, poluição sonora,poluição visual, eu já não agüento mais” Para assistir o clip gravado na Praia de Ramos é só entrar no site: www.youtube.com e digitar o título da música no campo Search for: cuidado eleitor. FOTO DE HÉLIO EUCLIDES
O que você acha da sujeira feita pelos candidatos nas eleições?
Mareenses fazem lista de reivindicações Saúde, educação e uma política de segurança séria são as prioridades dos moradores O CIDADÃO foi às ruas para saber o que os mareenses querem dos candidatos que vêm buscar votos na comunidade. Caso fosse feita uma lista com os itens do que a Maré mais precisa seria desta forma: “O que precisamos é de saneamento básico, de escola de ensino básico e médio”, afirma Zélia Silveira, 30 anos, da Marcílio Dias. “O que precisam fazer aqui é acabar com a marginalidade”, declara a Horosina Maciel, de 76 anos, também da Marcílio Dias.
“O que a gente precisa é de saneamento, quando chove, fica tudo alagado”, diz Airton Raulino, 34 anos, da Marcílio Dias. “A Maré precisa de emprego para quem está desempregado”, afirma Carlos Antônio de Lima, 40 anos, Rubens Vaz. “A Maré precisa de esgoto, bom calçamento, água encanada. Precisa de posto médico 24 horas. O daqui só funciona até às 16h. As pessoas não escolhem a hora para passar mal. Precisei de um exame de sangue e só ia ter o resultado seis meses depois. Então, tive que pagar R$ 25 reais”, conta
Mário José da Costa, 47 anos, da Praia de Ramos . “O que precisa ser feito na Maré é um banco”, afirma José Melo, 67 anos, do Parque União. “Na Maré o problema maior é o carro blindado da polícia, que sempre entra atirando na comunidade”, diz João Gutemberg, 38 anos, da Salsa e Merengue. Mario José da Costa, 47 anos, morador da Praia de Ramos, resume a maior reivindicação dos mareenses: “Não queremos saber de ilusão, queremos coisa séria”.
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GERAL
Baixa sob nova direção Associação de Moradores desenvolve diversos projetos para a comunidade CRISTIANE BARBALHO
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oi título de música cantada por Jair Rodrigues, é nome de bairro da Bahia, e tem grande importância na Maré. Esta é a Baixa do Sapateiro, cuja Associação de Moradores está sob a direção de Charles Gonçalves Guimarães, 47 anos. Na Associação dos Moradores da Baixa do Sapateiro (AMBS) são desenvolvidos projetos como o reforço escolar, que funciona de manhã e à tarde, e o “Segundo Tempo”, do governo federal, atendendo a aproximadamente 210 crianças, a partir dos 8 anos, que treinam futebol na praça. No prédio da associação funciona o projeto Vida Nova, que beneficia quem está há muito tempo fora da escola. Os alunos que mantiverem a média de presença exigida recebem bolsa-auxílio de R$100. A moradora da comunidade Clarice Coelho da Silva, de 39 anos, começou na aula de alfabetização há pouco tempo e aposta no futuro. “Espero no futuro não precisar depender dos outros para ler ou escrever uma carta”, diz. No prédio há ainda exames de vista, que são pagos. Mas a entidade doa dois óculos por mês aos moradores. Segundo Guimarães, a AMBS, com a parceria da Secretaria de Meio Ambiente, implantou o projeto Guardiões de Rio, que empregou dois moradores para lim-
Crianças estudam e fazem exercícios na aula de reforço escolar promovida pela associação
par o valão da rua Projetada, na Baixa do Sapateiro. Em parceria com a Rio-Luz, também conseguiu melhorar a iluminação na comunidade . Guimarães avalia ser um presidente de associação presente, pois sua casa fica na comunidade, o que permite às pessoas falar com ele mesmo fora do horário de trabalho. Mas,
como a maioria das associações de moradores, a da Baixa do Sapateiro padece com problemas de infra-estrutura. Além da falta de computadores na secretaria, o espaço pequeno dificulta o atendimento. Segundo o presidente da AMBS, o fato de depender do governo municipal prejudica o desenvolvimento do trabalho para a comunidade.
REPRODUÇÃO
E por falar em governo... Entidades governamentais no Catálogo de Instituições da Maré CCDC – Centro Comunitário de Defesa da Cidadania Rua Principal, s/n - Baixa do Sapateiro – Maré – CEP: 21044-690.Telefones: 22903212 / 2280-8787 / 2280-9898. Vínculo: Secretaria de Estado de Ação Social. Funcionamento: 2ª a sábado, 8h às 18h. Serviços: Cursos (parceria com a Faetec): montagem e manutenção de computador e de operador de telemarketing. Emissão de documentos. Segunda via de certidão de nascimento gratuita.
Centro de Referência das Mulheres da Maré (anexo ao Posto de Saúde da Vila do João) Rua 17, s/nº ,Vila do João. Vínculo: Ministério da Justiça – Sec. de Estado de Direitos Humanos /Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher. Funcionamento: 2ª, 4ª e 6ª, 14h às 17h. Programa: Projeto Cidadania das Mulheres.
CEDAE – Comp. Estadual de Água e Esgoto Rua Teixeira Ribeiro, s/nº Nova Holanda . CEP: 21044-700. Telefones: 2270-5454 / 22705286. Vinculação: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. Funcionamento: 2ª a 6ª, 7h às 16h. Serviços oferecidos pela instituição: desentupimento de esgotos, obras e consertos.
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O Cidadão SAÚDE
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AVC, sigla do perigo Na Maré, apenas o Posto Américo Veloso tem tratamento para doenças como derrame CRISTIANE BARBALHO
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acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, é uma das doenças neu-
rológicas mais comuns. Sua incidência é maior em pessoas idosas, mas ela pode ocorrer em qualquer idade. Há dois tipos de AVC, o isquêmico e o hemorrágico. O primeiro caso ocorre quando há obstrução de uma das artérias do cérebro, o que impede a circulação do sangue na região. Já no hemorrágico, acontece o rompimento de uma dessas artérias, causando sintomas igualmente graves, e seqüelas. Em 30% dos casos, o AVC leva à morte, e quando isso não ocorre algumas pessoas acabam ficando com deficiências permanentes. “A família tem que cooperar, tendo sempre uma pessoa para levar o doente para a fisioterapia que ajuda na recuperação”, diz a enfermeira do Posto de Saúde Operário Vicente Mariano Vera Freira, 63 anos. Os principais fatores que ocasionam o AVC são: hipertensão não tratada, tabagismo, diabetes, obesidade, colesterol alto e sedentarismo. Por isto é necessário o controle de todos esses fatores para prevenção da doença. Além disso, especialistas recomendam a prática de exercícios físicos e pelo menos 30 minutos de caminhada diária. Segundo Vera Freira, a doença pode ser evitada com uma boa alimentação. “Para evitar o derrame é necessário que as pessoas comam frutas e verduras e evitem carne de porco, frituras e embutidos. Além disso, aquele tempero do miojo tem um alto teor de sal, prejudicando
COMO VOVÓ JÁ DIZIA
Vítima de AVC durante sessão de fisioterapia para recuperar os movimentos no Posto Américo Veloso
ainda mais a saúde”, afirma. Assim que o derrame acontece, o paciente deve ser socorrido, para evitar conseqüências mais graves. A Maré ainda não tem condições de tratar as pessoas afetadas por AVCs, mas aqueles que necessitarem de atendimento poderão se dirigir ao PAM de Ramos Maria Cristina Roma Paugartten. Lá, os
pacientes podem fazer a fisioterapia para a recuperação dos movimentos. O atendimento, porém, é limitado devido à grande procura e às poucas vagas. Há até uma lista de espera que é aberta poucas vezes ao ano. Os postos da comunidade fazem apenas o atendimento primário, ou seja, a distribuição dos remédios.
Dicas domésticas * Para assar o bolo por dentro: Se o bolo que você pôs no forno ficou dourado por fora mas não assou por dentro, experimente colocar numa panela ou assadeira com água na grade de cima do seu forno.O resultado será ótimo. * Sem gosto de arroz queimado: Não se preocupe se você deixou o arroz grudar na panela e ele ficou com um gostinho de queimado. Veja como é fácil deixá-lo novamente saboroso; bote uma fa-
tia de pão sobre o arroz, tampe a panela e espere alguns minutos. Depois, basta tirar o pão e servir o arroz. * Para alargar os sapatos apertados: Basta enchê-los com papel umedecido em água ou álcool e 12 horas depois calçá-los, de preferência ainda um pouco úmidos, para dar-lhes a forma dos pés. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, Editora Vozes.
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ESPORTES
Inverno aquático na Vila Olímpica Exercícios na piscina aliviam tremores e animam idosos que cuidam da saúde CRISTIANE BARBALHO
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o inverno, a estação que deixa muitas pessoas com vontade de ficar debaixo do cobertor , a piscina nem sempre é uma boa opção. Mas quando o lazer pode ser associado à saúde, muita gente prefere o esporte à preguiça. É o que mobiliza cerca de duas mil pessoas na Vila Olímpica da Maré, de segunda a domingo, nas aulas de hidroginástica. Uma destas alunas é dona Dulcinéia Patrícia de Lima, 64 anos, esportista fanática da região. Antes mesmo de a Vila ser construída, ela já caminhava com as amigas na ciclovia que existia no lugar. Hoje, Dulcinéia é aluna de alongamento, caminhada e hidroginástica. “Minha saúde melhorou muito, antes das atividades ia para fisioterapia toda semana, por causa da artrose. Hoje não preciso mais”, afirma. Já Geruza Maria de Souza, 55 anos, que está fazendo hidroginástica desde 2002, diz que não teve tanta melhora. No entanto, o seu médico lhe explicou que o problema que sofre é irreversível e a aconselhou a não largar as atividades. A professora Karla Monteiro, 33 anos, deu aula de hidroginástica na Vila Olímpica por dois anos e conta que muitos alunos sofriam de depressão e tinham medo de entrar na água. “É muito bom ver que o incentivo dado aos alunos serviu para vê-los com a felicidade estampa-
Turma de hidroginática da Vila Olímpica faz exercícios que ajudam a manter a forma e garantir o bem-estar
da no rosto. No início só iam tristes para as aulas”, afirma a professora, que hoje dá aula de dança na instituição. Segundo o coordenador técnico da Vila Olímpica, Antonio Bezerra, os interes-
sados em participar das atividades devem ficar de olho nas inscrições, que acontecem durante o ano inteiro. Para se inscrever, basta levar atestado médico, xerox da identidade e comprovante de residência. RENATA SOUZA
SABOR DA MARÉ
Omelete caseiro nordestino A receita é de Zefinha do Parque Maré Ingredientes: - Meio copo d’água - Um tablete de caldo sabor galinha - Folhinhas de salsinha ou coentro - Um tomate - Um pimentão maduro - Uma cebola - Uma colher de sopa de massa ou extrato de tomate - Uma colher de sopa de manteiga ou margarina (se preferir de óleo) - De três a cinco ovos
Preparo: Dissolva o tablete de caldo na água fervendo, retire e aguarde. Depois acrescente a manteiga (margarina ou óleo) e dissolva. Quando estiver dissolvido coloque o tomate, o pimentão, e a cebola, todos picados em cubos pequenos. Depois, para ficar homogêneo, coloque a massa de tomate e aguarde. Nesse momento coloque os ovos para o cozimento, podendo ficar inteiros ou mexidos. E ponha a mistura em cima dos ovos. Agora é só se servir.
O omelete permite diversos acompanhamentos
Dica: Quando estiver cozido retire e coloque em um pirex na mesa. Acompanhado de um arroz branco, peito de frango ou carne seca desfiada. “Aprendi essa receita com minha vó” – Zefinha da Costa, 57 anos, Parque Maré.
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21 MARÉ MUSICAL CRISTIANE BARBALHO
A voz que clama na periferia Grupo evangeliza através do Hip-Hop les têm um estilo despojado, um tanto diferente dos evangélicos tradicionais. Usam boné, calça-bag e também fazem “cara de mau”. O grupo evangélico Hip Hop com Fé sabe fazer a diferença na hora de evangelizar as comunidades que visita. Criado em 2002, é composto por seis pessoas. Três constituem a banda: Alexandre, na guitarra, Sidiclei de Oliveira, na bateria, e Robson, no contrabaixo. Os outros três são os MC’s Elias Lima (Mano Lia), Carlos André Farias (Professor) e Jomar Fonseca (Levita). Todos moradores da Maré, das comunidades de Vila do João, Vila do Pinheiro e Salsa e Merengue. O Hip Hop Com Fé já se apresentou em diversos lugares da Maré, em outros bairros
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Xandi, Elias e André protestam e evangelizam através do rap cantado pelo grupo “Hip Hop Com Fé”
cariocas e até em São Paulo. Mas faz shows especiais em asilos e casas de recuperação. “Através desse trabalho já conseguimos resgatar muitas vidas. Com nosso estilo conseguimos nos aproximar das pessoas e passar para elas a palavra de Deus”, afirma Elias. Suas músicas relatam histórias do cotidiano da Maré, embasadas nas palavras do Evangelho. Numa delas, “Visão de um morador”, eles relatam a entrada do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) na Vila dos Pinheiros, quando os policiais obrigaram moradores a deitar no chão e os espancaram.
“Somos protestantes e fazemos um som de protesto”, argumenta Elias. O grupo está na fase de produção de seu primeiro CD, mas ainda não há previsão de lançamento. “Queremos abrir uma instituição para profissionalizar pessoas oriundas de cadeias. Esse seria um fruto que sonhamos poder colher através da venda do CD. Somos a voz que clama na periferia”, diz Elias. O grupo pode ser contatado pelo site www.oe.maisemconta.com e pelos telefones: 3104-8989 e 8205-3908 (Elias) e 8749-3902 (André).
A movimentada rua Nova Jerusalém Sobra pedestre e falta espaço nas calçadas CRISTIANE BARBALHO
Rua Nova Jerusalém, localizada no Morro do Timbau, na Maré, é conhecida por sua grande movimentação. Durante toda a sua extensão há vários tipos de comércio, como bares, restaurantes, lojas, armazéns, feiras, fábricas e até a conceituada editora de livros, Ediouro, que é a grande responsável pela impressão do jornal O CIDADÃO. Além disso, a Nova Jerusalém é a rua de principal acesso dos moradores, carros e vans. Segundo a funcionária da Ediouro Josilene de Andrade, de 34 anos, a empresa está presente no local há cerca de 60 anos. “Aqui foi o local escolhido pela empresa por causa da grande área industrial e da facilidade de acesso”, afirma. A rua também é ponto de educação. Nela funciona a escola municipal IV Centenário, que existe há 48 anos. “Agora a escola faz a entrada pela outra porta, por conta da grande movimentação de pessoas e de carros”, diz a coorde-
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Na Nova Jerusalém as pessoas andam no meio da rua por falta de espaço nas calçadas tomadas pelo comércio
nadora do colégio, Cátia Maria Fernandes, de 50 anos. A moradora Míriam Débora dos Santos, de 62 anos, reclama da inexistência de um espaço para a saúde. “O que falta mesmo é um posto, pois quando passamos mal não temos onde nos socorrer. Por que to-
dos os outros lugares da Maré têm um posto, e nós aqui não?”, reclama ela, com razão. O CIDADÃO entrou em contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura, que respondeu estar estudando as possibilidades de abrir um posto de saúde no local.
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ANA MUNIZ
É Bola na Rede...é Gol! A Copa do mundo É um mistério. O espírito brasileiro Se torna bola: Bate, volta Cai e rola, é gol! Um grito democrático Onde o verde e o amarelo Contracenam com a vaidade De um Brasil cinco estrelas. A nossa fé É gritar com o coração, Um aprendizado dessa “Brava gente brasileira”. É bola na rede É magia no pé É um senhor Brasil Que sonha em ser hexa. Em um único momento nos tornamos continente É bola no chão É troca de passes, É gol! Admilson Rodrigues Gomes Parque Maré
CARTAS As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)
Quero receber o jornal Primeiramente, gostaria de dizer que vocês estão de parabéns pelo jornal. Moro aqui desde que tinha meses de idade e nunca vi um grupo que desse tanta importância e apoio a nós quanto vocês. De nota 10 vocês merecem 100, porque fazem um jornal com vários temas interessantes, que sempre tem como único objetivo melhorar a nossa comunidade. Apesar de gostar muito do jornal, eu queria fazer uma reclamação: raramente ele chega em minha porta em todos os meses. Sei o quanto deve ser difícil entregar O CIDADÃO em todas as casas, por isso quero saber se tem algum lugar onde possa pegá-lo. Também gostaria de saber como funciona o pré-vestibular. Um grande abraço e continuem sempre com este trabalho maravilhoso para a nossa Maré! Diogo Liberato Salsa e Merengue Caro Diogo, obrigada por reconhecer o nosso incessante trabalho! Se o jornal não chegar em sua casa, você pode encontrá-lo na Associação de Moradores ou na sede do Ceasm, que fica na Praça dos Caetés, nº 7, Morro do Timbau. Sobre o pré-vestibular, o telefone para informações é o 2561-4604
Apelo aos meninos da Maré Transpor = dar beiço na dor. Pouco importa o que engole ou deixa de engolir o cósmico buraco negro o que interessa é o sol-posto do seu rego a luneta dos olhos e a lista espessa dos seus óbitos. quem atea fogo ao corpo ilumina as suas trevas? Sim, entornar o caldo num choque anafilático na boca de espera
mapear um som improvisado é na louca lavoura dos perdidos e achados que encontrarás um céu derramado por intermédio de pedras e valas (duas asas) qualquer bagatela poderá enlaçar sua pálida alma difícil é façanha de mantê-la suada. Rogério Batalha Morador da Penha
Parabéns Vocês estão de parabéns. Adorei a edição 44, principalmente o editorial falando do que passamos com a violência. Percebi que vocês se preocupam com a nossa realidade. Pois hoje o nosso direito de ir e vir está sendo violado. Em um simples dia de domingo não se pode ter lazer, pois somos importunados pelo Caveirão. Isso ocorre por culpa de um governo fraco e sem qualidade. Oroandi Teixeira Salsa e Merengue
Voto obrigatório Solicito aos senhores a publicação desse manifesto, já que criaram um plebiscito para impor a fabricação de armas. Solicito que seja retirada a arma maior que eles vêm utilizando há muito tempo, o voto obrigatório. Desejo que se veicule neste meio de comunicação uma consulta para saber se o povo é a favor ou contra o voto obrigatório. O meio encontrado para acabar com a fraude política e o descaso das autoridades, quando as coisas que acontecem no cenário que eles dizem ser política, mas que, para mim, é o cenário das facções unidas para dilapidar o patrimônio público. Washington Luiz Grupo de Pais do Ciep Ministro Gustavo Capanema
Roquete Pinto Segundo o Presidente da Associação de Moradores da Roquete Pinto, João Batista, o número de moradores da comunidade, informado na edição 41 do jornal O CIDADÃO, está incorreto. Amatéria, publicada na página 4, que falava sobre a falta de saneamente na comunidade, afirma que em Roquete Pinto há cerca de 2.600 habitantes, baseada nos dados do Censo Maré 2000. Para o presidente da associação, o número correto é de 15 mil moradores. Ele obteve este número a partir de um censo interno, feito por alguns moradores, a seu pedido.
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Piadas
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS © COQUETEL 2006 Função do guru Adepto do deísmo, Dois Pai do doutrina golpes de Teatro capoeira Moderno religiosa
Qualidade (?)-Mirim, Modificar o carro que é município para que ele tenha mais de São Água, em obtida potência Paulo latim com a idade
Baliza Deus, para o povo hebreu
Pasmo; surpreso
I O professor pede que os alunos digam um verbo. Renata diz: bicicleta Gizele levanta o dedo e responde: amarelo As duas garotas levam nota zero. Joãozinho sem pestanejar fala: hospedar O mestre bate palma e pede que ele complete uma frase: O menino entusiasmado conclui o raciocínio: "Hospedar" da bicicleta é amarelo.
Meu medo Dia do folclore, a professora pergunta do que os alunos têm mais medo: Cristiane responde: da mula-semcabeça Fabiana diz: do saci-pererê O Juquinha abre a boca e fala: do “malamem” A professora não entende e pergunta o que aquilo significa. Juquinha explica: Não sei, mas minha mamãe reza toda noite contra ele. A educadora tenta pesquisar: Como assim? Ele esclarece a oração da mãe: ...não deixei cair em tentação, mas livrainos do “malamem”.
O período antecessor ao Cretáceo (Geol.)
Tipo de casa para botão Com, em francês Festa popular do mês de junho
Distúrbio Dispensadas que leva de impostos à hiperglicemia Início de jornadas (pl.) Órgão de registro de patentes (sigla) Exatidão de uma operação (Mat.)
Tucano e arara Aquela mulher Jovens; moços
Círio Cabelo atado no alto da cabeça
O S
Tipo de cheque de crediários
1.000, em romanos
Partido de Vargas (sigla)
Privados de roupas
B
Atuo; opero Rio dos EUA
Vitamina de efeito antigripal
O ambiente do caipira
Aquele que promove confusão na rua Limpo, em inglês
Guisado de vitela (?) Massa de Coruña, água cidade da salgada Espanha
Tranqüilidade; sossego
Sem habitantes
Amazonense Acentuar; exacerbar
Forma do piercing usado pelos jovens
BANCO
L
Poema religioso do Antigo Testamento
4/baré. 5/clean. 6/acerar. 7/ladairo. 8/acurácia.
O Verbo
Solução
M B O J D I
G A T U R Q U I A U R A S A B E T I S E I N P I D A I R A R R A S I E P T B R R U A L E A N L D L MA A A R O
M I D A B E R S I CO E S N T A A V O E P I C M B N C E I R AG B A C E R S A
J D E T O V A A S E S L A H O A JO A R O U R E A R L MO
3868-4007
L A C N U R A C I C A
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O Museu é inaugurado! C
CRISTIANE BARBALHO
aro leitor de O CIDADÃO, quem acompanha esta página do jornal, com certeza, estava ansioso por notícias, pois, há vários meses, falamos sobre a criação de um museu. Depois de muito planejamento e trabalho, no dia 08 de maio, finalmente concretizamos nosso sonho! Com a colaboração de várias pessoas de diferentes lugares, em particular dos moradores e moradoras, conseguimos inaugurar o Museu da Maré. Todo o esforço e cansaço da equipe da Rede Memória e de tantos colaboradores que se juntaram ao trabalho para conseguir terminar a tempo a montagem das exposições foi recompensado pela emoção e pelo carinho de todos e todas que até agora visitaram o museu. A imprensa saudou a iniciativa como pioneira, referindo-se ao Museu da Maré como o “primeiro museu em favelas”. Várias matérias foram realizadas na televisão, no rádio, nos jornais, revistas e internet. A inauguração do Museu da Maré não deixou, porém, de trazer polêmicas. Em um site, várias pessoas fizeram duras críticas à iniciativa, como as que reproduzimos aqui: “Me diga: quem vai visitar esse museu logo na Maré, tão dividida por facções?” “Esse negócio de glamourizar favelas em vez de promover a sua extinção via remoções ou reurbanização levou o Rio à situação que se vê hoje.” “Que lembranças terríveis são essas que as pessoas querem tanto guardar na memória? Morar em palafitas, sem rede de esgoto e inúmeras dificuldades enfrentadas” Contrariando estas críticas, o museu é um sucesso! Mais de cinco mil pessoas já visitaram as exposições. Gostaríamos de agradecer a estas pessoas que de alguma forma colaboraram para a concretização desse sonho. Um sonho realizado, mas não terminado! As críticas construtivas e as palavras de apoio, incentivo e afeto nos impulsionam a pensar um museu que se transforma a cada dia. Queremos reproduzir aqui alguns destes depoimentos emocionados: “Eu estou orgulhosa de ver uma conquista tão dificultosa a ser vista da forma dolorosa, mas vitoriosa. Mas isso mostra a cada pessoa que passa por aqui o lugar no qual nós moramos. Se fizermos, poderemos mudar a situação que ainda aflige a todos nós, a violência. Estão de parabéns”. CRISTIANE BARBALHO
Gil acena da varanda de uma réplica, em tamanho real, de uma casa de palafitas
Rede Memória presenteia o ministro com uma camisa estampada com a foto da Maré
“O museu está lindo. Só tenho uma ressalva a fazer: o primeiro morador da Maré é Seu Otávio da Capivari e o 1º bloco de carnaval é o Bloco dos Tamanqueiros, que depois se transformou no Cacique de Ramos”. “Adorei! Revi parte da minha história junto a essa gente bonita e trabalhadora. Fui professora do CIEP nos seus primeiros anos. Aprendi muito aqui. É fantástico ter uma outra forma de contar a história”. “Eu morei nas palafitas, hoje moro no Pinheiro. Tenho 31 anos, já levei tiro, já fui agredido fisicamente, mentalmente. Mas essa visita faz você notar a evolução de um povo que não tinha nenhuma chance, um povo que luta, que sofre e que, com certeza, vence a cada dia que passa. Falo isso como um vencedor que tem muito que fazer para continuar na luta!” “Achei ótima idéia viajar ao passado. As fotos que pude observar me levaram a uma viagem que já havia me esquecido. Pude ver que o avanço da urbanização não extinguiu, infelizmente, a violência”. “Gostei muito. Fiquei emocionada com a luta do nosso povo procurando melhoria de vida. Vindo dos interiores do Brasil, com a ilusão de morar e trabalhar e ganhar bem. Só que a realidade que encontrava era muito diferente dos sonhos”. “Hoje foi a primeira vez que visitei o museu: estava passando e resolvi entrar. Foi uma das melhores experiências que tive nos últimos anos. Incrível! É bom saber que temos história, cultura, tradição, etc. Não somos números ou censo de pobreza; somos gente. Que bom que há quem saiba disso e nos faça lembrar, porque às vezes esquecemos. Obrigado.” A equipe da Rede Memória é que agradece a colaboração de todos e todas. Parabéns Maré! Caro leitor, este espaço do CIDADÃO é seu. Conte sua história para que ela seja publicada aqui. Pergunte o que você gostaria de saber sobre a história da Maré e da cidade do Rio de Janeiro, e nós responderemos. Envie sua história, perguntas e sugestões para a Rede Memória nos endereços: Morro do Timbau (Pç. dos Caetés, nº 7. Tels.: 2561-4604; 2561-3946); Nova Holanda (R. Sargento Silva Nunes, 1012. Tel.: 2561-4965); Casa de Cultura (Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748). Se você tiver facilidade de acesso à internet, envie sua colaboração para os seguintes endereços eletrônicos: contato@ceasm.org.br ou jornalmares@bol.com.br.