O Cidadão
1
RIO DE JANEIRO
JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2007
ANO IX Nº47
Chuvas na Maré
3
VIDA REAL: UMA PROPOSTA SOLIDÁRIA
6
PERFIL: UM ADMINISTRADOR DO FUTEBOL
11
MAREENSES SÃO CONVOCADOS À DOAR SANGUE
18
VACINAÇÃO: UMA FORMA DE PROTEGER
O Cidadão
2 EDITORIAL
Reciclagem, chuvas etc...
C
aro leitor, os últimos acontecimen tos na cidade convocam a todos para uma reflexão. A morte do menino João Hélio foi uma barbárie e comoveu o Brasil. No entanto, não devemos esquecer dos outros “João Hélio”, meninos e meninas de nossas comunidades, que convivem diariamente com a barbárie do descaso do poder público: falta de segurança, emprego, saúde e educação. Situações que levam à mortes tão brutais quanto a morte de João Hélio, mas que são menos divulgadas e que não mobilizam a sociedade. Por isso, o jornal O CIDADÃO se solidariza com todas as famílias que sofrem com a violência no Rio de Janeiro. Contudo, o jornal O CIDADÃO busca revelar também o que há de belo na Maré, como a música, a cultura e a alegria que somente nós, moradores, ou quem nos visita, conhecemos. O musical mostra Ronaldo, morador da Vila do Pinheiro, que canta MPB nas noites da Lapa. O aproveitamento do lixo também está
presente em nossa edição: na Marcílio Dias, mostrando a organização dos moradores na formação de cooperativas de reciclagem; na Nova Holanda, contando a história de um morador que ensina às crianças a fazer arte com garrafas pets. Nossa matéria principal toca na questão dos alagamentos que ocorrem na comunidade. Por isso, buscamos relatar o drama daqueles que perderam bens materiais e mesmo a saúde, devido às fortes chuvas. Nesse contexto, damos ênfase à leptospirose, doença transmitida pela urina do rato e proveniente das águas contaminadas. Mostramos também a necessidade da presença do Estado com obras, como a troca das tubulações de águas pluviais e do esgoto. Além disso, tratamos do problema do lixo colocado em locais indevidos pelos moradores. Com isso, queremos que o morador e o Estado se responsabilizem pelo cuidado com o Bairro. Aqui há muita coisa boa, mas ainda há muito que fazer. Boa Leitura!
ELES LÊEM O CIDADÃO HÉLIO EUCLIDES
Acima, Emerson da Silva, de 33 anos, comerciante e ambientalista, morador do nonononononononono, à direita, João Pedro Stédille, de 50 anos, Coordenador do MST
FRANCISCO VALDEAN
O Cidadão
é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965
Direção Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana S. Silva • Jailson de Souza Léa Sousa da Silva • Lourenço Cezar Maristela Klem Coordenadora Geral: Rosilene Matos Editora: Cristiane Barbalho Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Revisão: Viviane Couto Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Renata Souza • Cristiane Barbalho Ellen Matos • Hélio Euclides • Rosilene Matos Silvana Sá • Gizele Martins • Douglas Baptista Colaboraram nesta edição: Rede Memória • Faísca Gelson Francisco Valdean • NIC Jornalista Responsável: Ellen de Matos (Reg. 27574 Mtb) Ilustrações: Jhenri Publicidade: Elisiane Alcantara Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra Diagramação: Fabiana Gomes da Silva Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço Foto de Capa: Hélio Euclides Repórter Fotográfico: Hélio Euclides Distribuição: Patrícia dos Santos (coordenadora) Charles Alves • Roselene Ferreira da Silva Luiz Fernando • Marcele de Araújo José Diego dos Santos • Jéssica de Oliveira Raimunda Nonato Canuto de Souza Fotolitos / Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br
Ligue e anuncie!
3868-4007
O Cidadão GERAL
3
Um exemplo de solidariedade Tião Araújo, criador do Instituto Vida Real, cuida de jovens na Nova Holanda ARQUIVO PESSOAL
U
m autêntico ser humano. Assim é Sebastião Antônio de Araújo, o Tião, de 44 anos. Morador da Nova Holanda desde a infância, pai de quatro filhos, e é o criador e vice-presidente do Instituto Vida Real, uma instituição que busca oferecer uma existência mais digna para adolescentes de 13 a 17 anos. Lá, eles têm aulas de computação, designer gráfico, grafite, literatura, bijuterias, além de atendimento psicológico e reforço escolar. A organização não governamental possui três anos e meio e tem levado Tião e os jovens a lugares inesperados, como o programa do Luciano Huck. Mas vai além, amplia o horizonte destes moços, aumentando, também, suas oportunidades de vida. Em 2006 atendeu aproximadamente 30 jovens. Tião sempre teve um coração aberto à solidariedade. Entretanto, há apenas quatro anos seus projetos puderam realmente ser executados.“Tudo começou quando era inspetor do Colégio César Perneta. Desejavam fazer um documentário com adolescentes. Fui chamado para fazer os contatos”, conta. Daí, para que tudo acontecesse, foi um pulo. Os diretores do filme queriam ajudar os jovens, mas não sabiam como. Sebastião apontou o caminho. “Eu disse que o que precisavam, de verdade, era de aulas de reforço, informática e de um espaço com biblioteca”, conta. E, hoje, este lugar existe na Nova Holanda, mais especificamente na Teixeira. Lá, eles recebem capacitação profissional, ingressam no mercado de trabalho e têm um
À esquerda Gabriel Anderson Rodrigues, no centro Tião Araujo e a direita Max Dias da Silva
olhar mais bonito da vida. Muito graças a Tião, que para estes meninos é mais que um mestre. “Eles vêem meu pai como amigo. É bem durão, mas tem amor”, revela a filha, Geisiana de Araújo, 18 anos, que auxilia o pai no Vida Real. Foi por causa deste espírito de entrega que o fundador do Instituto participou do programa de Luciano Huck, no último 13 de Janeiro. Lá ele precisava, de olhos vendados, encher cubos com combustíveis. Por causa do nervosismo, não conseguiu. Ainda assim, o amor de Tião pelos adolescentes não passou desapercebido. O apresentador decidiu ofertar R$1000 pela almofada feita pelos adolescentes. Depois da aparição no programa, muitas colaborações
têm sido feitas. “A OAB ofertou alimentos. Muitas pessoas têm ligado para nós”, declara o fundador da ONG. A iniciativa doadora e o coração aberto não vieram de hoje. Têm suas raízes nas dificuldades passadas na infância e juventude.“Já descarreguei caminhão por um prato de comida”, relata. E seus sonhos não cessam com o Instituto Vida Real. “Desejo ter condição de ter um abrigo para menores, onde eles possam estudar, ter uma profissão, trabalhar. Também ter roupa e comida. Se você der estas coisas a estes meninos, eles nunca esquecerão”, exprime Sebastião Antônio de Araújo, o Tião, um exemplo genuíno do que é ser humano.
A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da
Uma conquista dos moradores da Maré O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da Maré.
Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso
Promove oficinas e atividades que se tornam extensão da sala de aula.
Tel: 3882-8200 Fax: 2280-2432
O Instituto Telemar apoia o jornal O Cidadão
O Cidadão
4
SERVIÇO
Plano de minutos Telemar. vantagem ou prejuízo? Anatel prevê que todas as residências serão atendidas pelos planos de minutos até julho HÉLIO EUCLIDES
A
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) determinou que, a partir de julho de 2006, as empresas de telefonia fixa devem oferecer aos clientes a tarifação por minuto. A Telemar, então, lançou seus planos de minutos, gerando uma grande discussão sobre as vantagens e desvantagens que este tipo de tarifação traz para o consumidor. Para avaliar se a nova tarifação beneficia ou não os usuários, é preciso entender como funciona o sistema hoje. Todo mês, a conta de telefone traz o valor da assinatura, fixado em pouco mais de R$ 41, que dá direito à utilização de 100 pulsos. Cada pulso corresponde a quatro minutos de ligação telefônica. A partir de julho de 2006, o assinante passou a poder optar por planos de 230, 350, 500 e 1.000 minutos mensais. Os minutos não gastos em um mês ficam disponíveis para o mês seguinte, como funciona com os créditos dos celulares prépagos. Em termos financeiros, a franquia de 230 minutos custa aproximadamente R$ 44, sem impostos. Já quem precisa falar muito paga R$ 110 por 1.000 minutos.
Roberta Bonfim é uma das pessoas que não aprovaram a decisão da Telemar pelo plano de minutos
Isso significa dizer que o consumidor estará pagando em torno de R$ 0,19 por cada minuto, dentro da franquia de 230 minutos e R$ 0,11 se optar pela franquia dos 1.000 minutos. Existem outros valores para quem utiliza internet discada. Segundo a Telemar, quando o cliente excede seu limite de minutos tem a opção de adquirir um novo pacote para não ficar com o telefone bloqueado. No entanto, para cada pulso utilizado além da franquia o consumidor deverá pagar cerca de R$ 0,20. Só para comparar: pelo sistema antigo cada pulso custa R$ 0,10 (sem os impostos) e equivale a quatro minutos de ligação. Logo, cada minuto custa menos de R$ 0,03. Isto significa que o valor dos minutos no novo sistema pode ser até 600% maior do que no plano convencional. Segundo dados da assessoria de imprensa da Telemar, em
seis meses subiu para mais de um milhão o número de clientes atendidos pelos planos de minutos. As maiores vantagens são a possibilidade de transferir os minutos não utilizados para o próximo mês e de ter a conta detalhada, com os dias, horários e valores de todas as ligações. “Dessa forma fica mais fácil para o consumidor detectar qualquer erro na conta”, declara Marli dos Santos, de 27 anos, moradora da Nova Holanda. A partir de agora, quem solicitar uma linha telefônica já terá de optar por um dos planos de minutos. O cliente receberá a conta detalhada gratuitamente até junho deste ano. Roberta Bomfim, de 27 anos, moradora do Parque União, lamenta a decisão da Anatel. “Acho um absurdo o consumidor não ter o direito de escolher entre a medição de pulsos e os minutos. Isso já demonstra que não é muito vantajoso para nós”, diz. Roberta possui duas linhas telefônicas em casa. Uma delas é usada principalmente para acessar a internet. “Eles dizem que oferecem acesso ilimitado à internet e mais os serviços de telefonia, mas não informam o valor. Com certeza vai custar muito mais caro, ou seja, vou precisar pagar por dois serviços”, antecipa a moradora.
O Cidadão GERAL
5
Lixo vira renda Moradores de Marcílio Dias e Mandacaru têm como fonte de renda a reciclagem CRISTIANE BARBALHO
A
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Beija-Flor é uma iniciativa que busca a geração de renda, cuidando do meio ambiente. A entidade foi fundada há seis anos por Iraci Moreira, de 54 anos, expresidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias. Ela, com a ajuda dos dois filhos, criou o galpão de reciclagem localizado entre as comunidades de Mandacaru e Marcílio Dias. Hoje, a partir desse trabalho, mais de 70 pessoas se sustentam exclusivamente do reaproveitamento de material. “Quando houve um alagamento em Mandacaru, os moradores ficaram desabrigados. Minha mãe resolveu ocupar este galpão abandonado e pôr as famílias aqui dentro. Depois, conseguiu 37 casas, onde foram morar. Mas nós resolvemos continuar com este espaço”, conta Iara Moura, de 27 anos, filha de Iraci. “Essas pessoas estão desempregadas e necessitam muito de ajuda. Algumas têm crianças doentes e precisam de remédios. Com este trabalho, elas conseguem sobreviver e ajudar em casa. O galpão não pode acabar”, completa Iraci. Cristina da Silva Mendes, de 23 anos, também funcionária e moradora de Mandacaru, reafirma a importância do empreendimento: “Foi a necessidade que nos trouxe para cá. Temos filhos e o bom de trabalhar aqui é que fica perto de casa”. Apesar dos benefícios gerados pelo
COMO VOVÓ JÁ DIZIA
Gil Cruz Miranda é um dos catadores do galpão de reciclagem da comunidade de Marcílio Dias
galpão, ainda há muitas necessidades. “O mais urgente é um caminhão, mas também precisamos melhorar a cobertura, de uma empilhadeira e de uma prensa”, lista a coordenadora Iara. “Estamos precisando muito de doações, porque pagamos luz e telefone. Se as empresas pu-
derem ajudar será muito bom, porque esta iniciativa tem que continuar. É um trabalho social para o povo”, completa. Há outras necessidades ainda mais elementares, como luvas e uniformes. O galpão funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h.
Dicas diversas Para cuidar bem das plantas Uma vez por mês, regue as plantas com água em que ferveu ovos: é cheia de minerais. Após a adubação regue imediatamente as plantas e evite adubar no inverno: nesta época elas devem descansar. Quando for viajar, conserve suas plantas viçosas, enterrando em cada vaso uma garrafa com água de boca para baixo. Assim, ela irá regando a planta lentamente.
Para uma viagem tranqüila Providencie para que todos os ocupantes do carro usem cinto de segurança, Nunca exceda a velocidade máxima. Nas refeições não tome bebidas alcoólicas. Se beber, não dirija. Se a viagem for longa, programe paradas para descanso. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, Editora Vozes.
O Cidadão
6 PERFIL
FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES
Walter Fragoso Lopes O administrador do futebol Comunidade: Vila do João Profissão: Chefe de Recursos Humanos Idade: 67 anos
P
ara um bom futebol, é necessária uma boa organização. E na Vila do João, Walter Lopes foi a pessoa que sempre contribuiu com o esporte da comunidade. Por isso chegou a ser homenageado em maio, numa copa, realizada com o nome dele. Tudo começou em 1991, quando foi o membro da primeira diretoria do time Marajá. Daí iniciou a administração dos campeonatos e organizações dos times no Campo da Vila. Nascido em Vila Isabel, e criado em Olaria desde criança pensava em jogar futebol, mas nunca saiu do juvenil. Segundo ele, naquele tempo ninguém queria ser profissional, o sucesso era as peladas. Em 1982, ele veio morar na recém fundada Vila do João, de onde não saiu mais. “A Vila do João é uma cidade. Eu já tive oportunidade de sair, mas eu gosto daqui, e nessa comunidade passei a melhor fase da minha vida”, revela Walter. Quando começou o trabalho de administração, o campo era careca, sem cerca e nem tinha iluminação. Então, Walter se uniu com a associação de moradores.Mandaram vários ofícios para a Secretaria de Esporte e Lazer e a reivindicação foi parar no diário
Walter Lopes passa a bola para o seu sucessor David Silva no campo de futebol na Vila do João
oficial. E, depois de quatro anos, as obras começaram a sair do papel. Tanta insistência, o campo ganhou melhorias como a grama sintética, os alambrados e refletores. Casado, aposentado e pai de um casal de filhos, que lhe deram seis netos, Walter é uma pessoa feliz com tudo o que conquistou durante sua vida. Além das amizades no futebol, continua saindo todos os dias para uma transportadora em São Cristóvão, onde trabalha há 26 anos, como chefe de recursos humanos. Dessa função conseguiu ajudar mais de 50 moradores, com emprego. “Tudo que eu tenho agradeço a ele, que é uma pessoa de caráter. Ele me arrumou emprego e quando não tinha nada para comer, ele ma-
Walter Lopes ergue troféu no final da copa que tem o seu nome no campo da Vila do João
tou minha fome, não sei como recompensar”, disse William Santos, de 31 anos, hoje instrutor de futebol. Um fato marcante para Walter foi a implantação da arbitragem comunitária. Antes eram os juizes da federação, como o Ubiraci Damásio, que vinham apitar. Era uma fortuna e os profissionais vinham com um certo medo. Para continuidade do trabalho, ele conseguiu ao longo da jornada um colaborador, que virou sucessor: David Silva. O aluno disse que aprendeu muito com Walter. Hoje é escudeiro e em muitos lugares é reconhecido como o mesário da Vila. E, por isso, tem uma gratidão eterna ao mestre. Foram muitas histórias durante o trabalho em prol do campo. Uma foi a da sua bicicleta, que era muito emprestada e, as vezes, chegava a sumir dois dias. Quando reaparecia, descobria-se que tinham tentado vender, mas ninguém comprava pois sabiam que era do administrador. Outra foi em 2002, quando a paz permitiu que ele convidasse times de fora para jogarem nos campeonatos. E, para surpresa de todos, dois times de fora, o Unidos da Nova Holanda e o Flecha, disputaram a final. Walter comenta que a idade vai chegando e, assim, ele deu lugar aos mais novos, mas que a bola continua rolando. “Futebol é emoção, e eu desenvolvi o futebol sem problema. Entre prós e contras, deixei mais a favor”, diz. Ele ainda completa que nunca ficou com dinheiro de nenhum time e que com as sobras sempre realizou churrascos e ceias de natal. “Sou respeitado por todos, pois não me envolvo com coisas erradas”, finaliza.
O Cidadão ANÚNCIOS
7
Informe Publicitário
Ação Comunitária do Brasil/RJ leva estilo e consumo consciente ao Fashion Rio Texto: Cris Araujo A primeira edição de 2007 do Fashion Rio badalou a cidade que parou para conferir cada detalhe de tops e famosos nos desfiles da semana de moda. Foram seis dias de irreverência e negócios, com destaque para o Fashion Business, feira de moda que completa o evento. Neste espaço, a Ação Comunitária do Brasil/RJ mais uma vez se fez presente com os produtos sociais do Núcleo de Moda e Estilo. O Fashion Business também foi palco
para o lançamento da coleção outono/inverno 2007 da Moda Social da ACB/RJ, que impressionou até mesmo a esposa do Governador Sergio Cabral. Ao lado do marido, Adriana Cabral visitou o stand da ACB/RJ, no espaço SEBRAE, onde se encantou com o Vestido da Favela, carrochefe da nova coleção da ACB/RJ. A peça é produzida em fustão com estampa de artistas da ONG e ilustra a remoção da extinta Favela do Pinto, na Lagoa. Com relação ao trabalho do Núcleo de Moda, a primeira dama afirmou: - Achei bárbaro, pois as costureiras conseguem fazer esse trabalho de forma primordial, que é delicado, bem feito. Conseguem externar coisas com muito mais profundidade do que a moda em si, concentrando-se na divulgação do trabalho delas. Achei de uma sensibilidade enorme, aquela favela subindo na barra do vestido que nenhum outro estilista saberia expressar tão bem, comentou Adriana.
AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL www.acaocomunitaria.org.br
RIO DE JANEIRO
Fotos: Ronaldo Breve
Os produtos da ACB/RJ vêm encantando personalidades há cinco edições no Fashion Rio. A atriz Sonia Braga também conheceu o trabalho e hoje é madrinha do Núcleo de Moda. A assessora de imprensa do Ministro da Cultura, Nanan Catalão, também adotou o visual “da favela” e a Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Benedita da Silva, que já conhecia o trabalho da ACB/RJ, não resistiu aos encantos do “modelito retrô”.
Rua 11, na quadra 5 – Vila do João. Tel: 3868-7056 Sede: Rua da Candelária, 4, Centro – Tel/fax: 2253-6443
8
ANÚNCIOS
O Cidadão
O Cidadão
9 NAS REDES DO CEASM REPRODUÇÕES DE VÍDEO DO NIC
Comunicando a imagem na Maré Jovens estudam fotografia, vídeo, serigrafia e criação gráfica
M
uitas vezes os jovens têm inte resse na área de fotografia, fil magem, criação gráfica ou serigrafia, estampas de camiseta, mas não sabe como lapidar essa habilidade. Aqui na Maré esse problema pode ser resolvido pertinho de casa com projeto Trabalho Comunicação e Arte - PTCA. Este é o trabalho realizado no Ceasm com o Núcleo de Imagem e Comunicação - Nic. O projeto tem parceria com a Infraero e oferece novas possibilidade de atuação ao jovem da Maré. Esse curso é gratuito e destinado há 60 jovens de 15 a 21 anos. Os alunos são divididos em três turmas que duram seis meses. Durante esse período, eles recebem uma ajuda de custo para se dedicar às aulas. O projeto conta ainda com um curso de empreendedorismo oferecido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae, destinados a todos os alunos. “Esse curso pode até não ser utilizado dentro das especializações de cada um, mas é uma experiência para toda a vida”, afir-
O Cidadão dá dicas de cursos
ma Rosinaldo Lourenço, de 23 anos, coordenador executivo do Núcleo. Daniel Luna Alves, de 19 anos, está terminando o curso de fotografia e revela que a especialização trouxe a grande oportunidade de fotografar o que ele já queria há muito tempo.“Pude registrar um goleiro agarrando a bola, só a fotografia pode eternizar esses momentos que são maravilhosos na vida”, afirma. O professor de serigrafia, estampa de camiseta, Adriano Almeida, de 24 anos, nos conta que muitos alunos chegaram no curso sem experiência em todas as três áreas, mas nem por isso deixaram de se esforçar. “Eles se acostumaram a cumprir as regras como pontualidade, nas aulas e no compromisso de um trabalho bem feito”, afirma. O Nic existe a cerca de dois anos no Ceasm e a cada seis meses novas turmas são abertas. Para participar do curso, é bom ficar atento às divulgações na sua comunidade ou ligar para a instituição. O telefone é 2561-4604 ramal 202.
No sentido horário: Rodrigo Guimarães dando aula na oficina de formação política, alunos da serigrafia estampando camisas, professor Marden ensinando a utilizar a câmera fotográfica e estudantes participando de filmagem
Informática O objetivo é dar uma formação complementar mais aprofundada, para que possa interagir prontamente com os profissionais deste campo. O projeto de graduação do aluno deverá ser uma aplicação de seus conhecimentos de informática no campo secundário de sua es-
colha, na forma de um sistema de informação, implementação de algoritmos específicos ou projeto de sistema computacional. Duração: De 3 a 6 anos Curso: Pode ser encontrado na UFRJ, Uerj e Unirio.
O Cidadão
10 ACONTECEU NA MARÉ HÉLIO EUCLIDES
Maré no Teatro João Caetano
Real Maré já é conhecido entre os grande clubes
Todo final de ano lembra amigo oculto, confraternização, formatura, festa e encerramento. Na Usina da Cidadania não foi diferente. O projeto encerrou os trabalhos de 2006 com a peça teatral “Salve Rio – Uma Crítica Social Bemhumorada que Percorre os Espaços Democráticos da Cidade Maravilhosa”. Mais de 200 crianças e adolescentes, com apoio de educadores e ex-alunos, se apresentaram no Teatro João Caetano, na noite de 19 de dezembro. O espetáculo contou a história de um retirante nordestino que tenta a sorte na cidade do Rio de Janeiro. Quem dá a vida ao personagem Zé da Silva, é o ex-aluno e morador do Conjunto Esperança, Walney Gomes, 18 anos. “Aqui resgatamos a comunidade. Mostrando a lei da sobrevivência, num mundo de selva. E ao final vencer, demonstrando que viver já é uma vitória”, comenta Walney. Outro que estava emocionado era o coordenador do Usina da Cidadania, Flávio Cristiano, 29 anos. “É uma realização ter feito esse trabalho, com alunos que se comportaram como atores”. Finaliza.
O ano de 2006 foi destaque para o time que leva o nome do bairro. Estreando no Campeonato Amador da Capital de Juniores, com outras 11 equipes, conseguiu a proeza de chegar a final. O jogo foi no estádio do Olaria, na manhã de 10 de dezembro. Um ônibus saiu da comunidade com cerca de 60 torcedores, que vibraram muito com o feito. “É muita pressão, por estar pela primeira vez em uma final. Mas é uma vitória chegar até aqui, algo valioso”, comenta o torcedor, Everaldo Oliveira, 35 anos. Contudo o nervosismo atingiu o grupo que deixou escapar a vitória para o El Shaddai. Conquistando assim, o título de vice-campeão. “Fizemos um bom trabalho, com um grupo novo, mas de ouro, que vai superar esse jogo. O time batalhou, e esse placar elástico vai servir de conhecimento”, diz o técnico e presidente Sidnei. Os atletas apesar da derrota por 5x0, no próprio gramado agradeceram a Deus e a torcida ao final. E também avaliaram o momento. O clube prepara os atletas para o Campeonato Brasileiro deste ano.
HÉLIO EUCLIDES
A tristeza dos componentes do Gato durante a apuração
Gato cai do muro A nota 10 em bateria não foi suficiente para ajudar a Escola de Samba Gato de Bonsucesso. Com um sete em fantasia e menos seis pontos por desfilar com pouco número de ritmistas, baianas e componentes, a agremiação foi rebaixada para o grupo D. “A comunidade não apoiou, fomos boicotados. Tudo que podíamos foi feito, não devemos um centavo. Agora é rever os erros e correr atrás de união”, revela o diretor presidente, Mauro Camillo, de 53 anos. O Gato ficou ao final com a pontuação de 138,6, e o 14º lugar.
Os integrantes do Boca de Siri comemoram a vitória
Boca de Siri é campeão “Amazônia verde que te quero verde”, esse foi o enredo que trouxe o título de campeão ao Bloco Carnavalesco Boca de Siri. A Praia de Ramos ficou eufórica com a conquista e os 195 pontos conquistados. “Nós somos uma família. Agradeço do pequeno ao mais velho integrante do bloco. Ano que vem estamos de volta”, disse o diretor presidente, Vitor Conceição, de 52 anos. A agremiação ainda foi escolhida pelos jurados como a melhor Ala de Baianas.
A cultura fala mais alto Alunos do pré-vestibular do Ceasm realizaram a 2ª Convergência Cultural no Morro do Timbau. O primeiro evento da série de encontros foi realizado na Nova Holanda, no dia do livro. Na segunda edição, que ocorreu no dia 22 de outubro, a festa começou com um almoço, cujo prato principal foi um saboroso salpicão. E a partir das 15h os alunos e professores puderam “degustar” um maravilhoso sarau, visitaram a exposição de grafite, e assistiram a exibição de vídeo, hiphop e a apresentação de bandas musicais. O baixista Leco, 34 anos, da banda Raça Humana, ficou empolgado com o convite. “Estou agradecido, essa é uma oportunidade que deveria acontecer em todas as comunidades”, diz. No final do evento houve a troca de livros, no estilo amigo oculto.
Palestra sobre concursos públicos São muitas as dificuldades de se conseguir um emprego no Brasil. Os concursos públicos surgem como uma solução para o problema. E para esclarecer os moradores da maré sobre o assunto foi organizada no dia 27 de janeiro uma palestra sobre o tema no Ceasm Timbau. A apresentação do assunto aconteceu em clima de bate-papo. O idealizador do evento foi Fábio Ramos, de 25 anos. Seu objetivo é estimular a comunidade na busca por outra opção de trabalho. Ele contou com o apoio da Academia do Concurso Público.
REPRODUÇÃO DE VÍDEO DA NIC
Alunos durante a formatura do PTCA da NIC
Formatura dos alunos do NIC Com uma bela formatura, os alunos do Núcleo de Imagem e comunicação (NIC), se despediram depois de seis meses de muito aprendizado e prática. A formatura foi realizada na Casa de Cultura da Maré, dia 13 de Fevereiro, às 9 horas da manhã. Com a presença dos professores, alunos e patrocinadores. Durante o curso os alunos tiveram aulas de formação política. “Através das aulas de formação política, pudemos conhecer melhor a história da Maré, e vimos vários documentários. Além disso, o curso foi muito bom, deu para aprender muitas coisas. Através dele vi que a fotografia não é apenas apertar um botão”, diz o aluno Tiago Mariano da Conceição, de 19 anos.
O Cidadão CIDADANIA
11
A vida pelas veias do corpo Moradores da Maré são convocados para a doação de sangue HÉLIO EUCLIDES
Q
uando o assunto é salvar vidas, muitos acham que a única forma de fazê-lo é através da doação de órgãos. Um grande equívoco. Com uma simples doação de sangue, um cidadão pode ajudar até três pessoas, pois cada bolsa é dividida em hemácias, concentrado de plaquetas e plasma. No entanto, levando em conta que este ato é muito mais rápido que uma partida de futebol, poderíamos imaginar que a adesão a esta prática é muito grande. Errado. Ela contagia apenas 2% da população. E, assim, os bancos de sangue estão sempre operando no limite. Na doação de sangue não existe discriminação. Todos os tipos sanguíneos (A, B, AB e O), e Rh (positivo e negativo) são aceitos. “É um exercício de cidadania que deveria fazer parte da rotina, virar um hábito”, comenta o assessor de comunicação do Hemorio, Marcos Araújo, de 37 anos. Ele lembra que o instituto é um pólo que atende a cerca de 200 hospitais, mesmo assim as doações diárias equivalem a 300, metade da capacidade do centro. Contudo, esse número sofre redução no carnaval e em feriados prolongados. É por isso que as campanhas não param, tentando atender principalmente as emergências dos hospitais que estão sempre precisando de sangue e o tratamento de inúmeras doenças que dependem de transfusões constantes. “Doação é tudo de bom. Eu precisei e sem ela não tinha feito minha
Voluntários participam de doação de sangue em sala do Hemorio no centro do Rio de Janeiro
cirurgia”, alerta a residente no Parque Maré, Jaira Pereira, de 41 anos Para doar, o homem pode comparecer quatro vezes ao ano, e as mulheres três. Os bancos de sangue necessitam de pessoas que doem regularmente. É nessa classe que se enquadra o morador do Conjunto Pinheiro, Francisco Ricardo, de 57 anos, que doa desde 1978. “Pode ser uma vida que eu estou salvando”, diz ele. Quem por algum motivo não pode doar sangue, deve transformar-se num multiplicador, divulgando as campanhas. Mitos, medos e tabus Existem alguns mitos sobre a doação, como, por exemplo, a dor, o risco de con-
taminação e de infecção, o risco de desmaio, de engordar; de emagrece ou ficar com coceira, que doar engrossa ou afina o sangue, além de que não se pode doar menstruada. Essas informações são irreais. Doar não engrossa e nem afina o sangue, pois na mesma hora ele começa a renovar-se. Os desmaios acontecem pelas pessoas irem em jejum, numa confusão com o exame de glicose. A questão da menstruação é a única que deve ser levada a sério, mas somente quando houver muito fluxo, pois pode acarretar anemia. É por esse motivo que a mulher doa menos que os homens, chegando a pouco menos de 30% do total de doadores.
Passos para a doação de sangue Estar em boas condições de saúde; Portar documento de identidade original; Ter entre 18 e 65 anos e mais de 50 quilos; Ter descansado no mínimo seis horas nas últimas 24 horas; Não estar gripado (a) ou com febre; Não estar grávida ou amamentando; Não ter ingerido bebida alcoólica nas últimas seis horas. Depois, dirija-se ao local : Lá faça o cadastro e preencha um questionário; Passe por uma triagem clínica para pequenos exames;
Doe o sangue. Logo após você receberá um lanche. Onde doar: Hemorio – Rua Frei Caneca, 8, Centro. Doações de segunda a segunda, das 07 às 18h. Só fecha no dia 1º de janeiro. Hospital Geral de Bonsucesso – Avenida Londres, 616, Bonsucesso. Funciona de segunda a sexta, das 08 às 12h. Hospital do Fundão – Avenida Brigadeiro Tromwsky, s/nº, Ilha do Governador. Recebe doadores de segunda a sexta, das 8h as 13h30. Hospital Pedro Ernesto (Banco de San-
gue Herbert de Souza) – Rua Boulevard 28 de Setembro, 109, Vila Isabel. Aberto de segunda a sexta, das 8h às 12h30.
O Cidadão
12
CAPA
Chuvas causam transtornos na Maré Moradores têm suas casas invadidas pela água das chuvas
“Q
uando chove esta rua alaga muito, vira uma piscina. Em janeiro do ano passado, a água entrou aqui no meu trayller e quase perdi meus dois freezeres”, lembra o comerciante Alexandre dos Santos, de 26 anos. Ele é um dos muitos mareenses que sofrem com as enchentes na rua Guilherme Maxwell. Assim como outros bairros da cidade, a Maré vem sofrendo com as chuvas de verão. A água invade as casa de muitos moradores e várias ruas da comunidade ficam alagadas. As causas das enchentes são muitas. Entre elas estão a colocação de lixo fora do horário de coleta e o despejo em valões. Quando vem a chuva, o lixo entope a rede e a água que deveria escoar volta pelos valões e bueiros, misturada com mais lixo e esgoto. A comerciante Tânia Maria Farias, de 41 anos, moradora da Vila do Pinheiro, conhece bem o problema. “Fica difícil andar aqui quando a rua enche. Cai muito o movimento na minha barraca. Aqui há locais para
se jogar lixo, mas infelizmente os moradores jogam do lado do colégio. Acho isto falta de educação e respeito com o outro”, diz. E o poder público Mas os alagamentos não são causados apenas pelo descuido dos moradores. A população da Maré aumentou muito nos últimos anos, mas foram feitos poucos investimentos em infra-estrutura na região. Novas comunidades, como a Tekno Parque, não apresentam um sistema de saneamento básico que comporte todo o esgoto. O número reduzido de fossas causa transtorno aos moradores. Para o comerciante Manuel de Castro, de 56 anos, o problema vem se agravando com os anos. “Moro aqui desde 1971 e essa rua sempre encheu. A água fica toda na rua. Antigamente não acontecia com freqüência, mas, hoje, enche até o meu bar e as casas vizinhas”, diz. HÉLIO EUCLIDES
Durante a chuva, Kombi espalha a água, molhando pedestres e residências na Via A-1 na Vila do Pinheiro
Segundo o administrador regional Paulo Cunha, de 52 anos, é necessário que o saneamento básico e as tubulações de águas pluviais sejam todas refeitas dentro da comunidade. Para ele, um conjunto de fatores prejudica o morador, como o número reduzido de garis comunitários e o despejo de lixo em locais impróprios. O crescimento do número de moradias também sobrecarrega o sistema, facilitando a ocorrência de alagamentos. Muitos moradores fazem novas ligações na tubulação de esgoto sem pedir ajuda à Cedae. Para o representante da Cedae na comunidade, Vilmar Gomes, de 42 anos, é necessário que as ligações clandestinas sejam regularizadas. “Não há nenhuma comunidade aqui dentro que não tenha estas ligações. Os moradores deveriam enviar uma carta ao governador para pedir a troca das tubulações, já que nós só podemos fazer pequenas intervenções, como obras de até três metros”, afirma. A opinião do morador não é diferente. Para muitos, torna-se necessário a troca das manilhas e tubulações. Dulcinéia Lima dos Santos, de 31 anos, da Nova Maré, acredita que seja necessário rever o sistema de saneamento da comunidade. “O ideal é que as manilhas sejam refeitas”, conclui. A Maré possui apenas três elevatórias
O Cidadão
13 HÉLIO EUCLIDES
de coleta de esgoto - na Baixa do Sapateiro, na Nova Holanda e no Parque União. Para Vilmar Gomes, de 42 anos, deveria ser feita uma nova elevatória na comunidade, já que parte do Parque União não tem seu esgoto levado para a elevatória. “Uma solução seria a ligação de parte deste esgoto com a elevatória da Roquete Pinto”, diz. Aterramento O processo de aterramento da região não foi acompanhado com cuidado pelo poder público, como explica o geógrafo Elmo Amador. O resultado disto a população percebe hoje. “A atuação do governo no saneamento básico na área da Maré foi tímida e os impactos dos aterros não foram considerados pelo poder público. Sem dúvida, os sucessivos aterramentos provocaram o levantamento do fundo de algumas áreas dificultando a circulação da água, sendo isto um dos principais responsáveis pelas inundações na região”, resume o geógrafo.
Moradores ficam ilhados na Via C-11, na Vila do Pinheiro, logo após um temporal no verão de 2006
A Maré já foi uma região alagada O aterramento da região começou com a construção da Estrada de Ferro Leopoldina, no final do século XIX. Nas décadas de 1920 e 1930, a Companhia de Saneamento e Melhoramentos iniciou, novamente, o aterramento do local. A partir deste momento, os aterros não pararam mais. Uma outra parte da área alagada foi soterrada para a construção do Aeroclube de Manguinhos, hoje Vila do João.
Com a criação da Cidade Universitária, a Baía de Guanabara, vizinha da Maré, perdeu oito ilhas, o que reduziu o espelho d’água. O Projeto Rio, realizado na década de 1970, previa a urbanização da Maré e o saneamento da região do Caju, até os rios Sarapuí e Mereti, além da construção de uma via expressa. Com base no projeto, anos mais tarde foi inaugurada a Linha Vermelha. Com todas essas intervenções, a geografia da região mudou.
Segundo Elmo Amador, a região da Maré, incluindo o arquipélago do Fundão e a Enseada de Inhaúma, já foi um paraíso tropical. A Ilha do Pinheiro fez parte do paraíso descrito pelo geógrafo. “A Enseada de Inhaúma era um extenso braço de mar, largo, limitado à direita pela Ponta do Caju e pela Ilha dos Ferreiros e à esquerda pela Gamboa do Viegas e pelo arquipélago das ilhas do Fundão”, relata. REDE MEMÓRIA DA MARÉ
Vista panorâmica da Praia de Inhaúma e da Vila dos Pinheiros antes do aterramento que transformou a área em conjuntos habitacionais
O Cidadão
14
CAPA
Moradores são responsáveis por parte das enchentes Lixo depositado em locais impróprios é uma das causas dos alagamentos na Maré HÉLIO EUCLIDES
D
iariamente a Comlurb coleta o lixo na Maré. Mesmo assim, ele é uma preocupação dentro da comunidade. O excesso nas ruas pode causar entupimento da rede de esgoto e transbordamento dos canais. Com isso, os alagamentos das ruas acabam sendo inevitáveis. E, muitas vezes, o morador é o responsável por jogar seu lixo em locais impróprios. “Às vezes eu vejo as pessoas jogando lixo no valão. Às vezes eu mesma jogo, mas apenas quando ficam pequenas coisas aqui dentro do meu sacolão. Eu faço isto por preguiça de colocar o lixo no latão. Depois o valão enche e as pessoas dizem que a culpa é do governo”, relata a comerciante Josefa Severina, de 30 anos, moradora do Rubens Vaz. Essa falta de cuidado pode ser fruto de uma visão equivocada da favela.Considerada um lugar à margem da sociedade que, por isso, não precisa de regras ou cuidados. Visão reforçada pelo
Morador se desespera com transbordamento do bueiro e tenta desentupi-lo com uma vassoura
que não se fez presente na infra-estrutura das comunidades. As primeiras construções nas encostas dos morros não ti-
nham saneamento básico. As valas corriam a céu aberto e em muitos casos o detrito era despejado em rios próximos. GIZELE MARTINS
CRISTIANE BARBALHO
Como acabar com os problemas da chuva na Maré? O CIDADÃO foi às ruas perguntar aos moradores o que deveria ser feito para acabar com os alagamentos na região
Acho que para acabar com as enchentes aqui na rua, é necessário fazer saneamento, asfaltar a rua e endireitar o esgoto, pois fomos nós que fizemos tudo. Isto já ajudaria bastante. Mas, a nossa maior preocupação é a luz, porque a fiação é muito baixa. Entramos em contato com a light e eles disseram que nós temos que comprar os postes. Rosicleia dos Santos Lara, de 46 anos, moradora de Mandacaru GIZELE MARTINS
Na minha opinião, tem que ser trocada a tubulação de todas as ruas, já que o número de pessoas cresceu. E os valões têm que ser limpos. Eles são muito cheios de lama. É muita sujeira. Manoel de Castro da Silva, de 56 anos, comerciante e Morador do Parque União
Acho que pra melhorar esta situação de enchentes na Maré, é preciso desentupir os esgotos, limpar o valão e as ruas todo dia, e fazer com que os moradores aprendam a jogar o lixo no lugar certo. Dalvanira Maria Batista, de 62 anos, comerciante e moradora da Nova Holanda CRISTIANE BARBALHO
Para não acontecer mais, deveria mudar o manilhamento, levantar as ruas que estão baixas , limpar os ralos e colocar tampa. E as pessoas devem ter um pouco mais de carinho com o outro. Não jogar lixo no chão e só colocar o lixo fora quando for a hora da Comlurb passar. E está faltando a prefeitura olhar um pouco mais para a gente. João Alves Seriano, de 46 anos, carpinteiro e morador da Vila do Pinheiro
O Cidadão
15 HÉLIO EUCLIDES
Hoje, o crescimento populacional empurra os moradores para as margens dos rios e valões, em busca de áreas ainda desocupadas. Infelizmente essa busca por espaço prejudica os próprios moradores, que são afetados pela ocupação desordenada da região. Segundo Paulo Cunha, de 52 anos, as construções às margens dos canais dificultam a limpeza, já que é necessário utilizar máquinas de grande porte. “Os valões mais complicados são os que dividem a Vila do Pinheiro e a Vila do João e o rio Ramos, no Parque União, devido às construções”.
A construção irregular às marges do valão prejudica a dragagem do canal, o que facilita alagamentos CRISTIANE BARBALHO
Leptospirose: a doença que vem do rato “A leptospirose é uma doença transmitida ao homem por uma bactéria através da água contaminada com a urina do rato. A pele nem precisa ter ferimentos para haver o contágio”, alerta o médico sanitarista Carlos Alvarenga, de 46 anos. A enchente é uma das responsáveis pela transmissão da leptospirose ao homem. Quando as redes de esgotos, de coleta das águas da chuva e de lixo funcionam de forma ineficiente, as inundações são inevitáveis. O contato das pessoas com a água contaminada possibilita o contágio. Por isto, áreas que sofrem inundações, como a Maré, estão sujeitas a epidemias de leptospirose. A falta de investimentos em infra-estrutura básica, como esgoto e coleta de lixo, pelo poder público facilita a disseminação da doença. A limpeza e drenagem dos córregos e rios é fundamental para evitar as enchentes e o contato com a água contaminada. Mas a responsabilidade não cabe somente ao Estado. O morador tem obrigação de colocar o lixo no lugar certo para facilitar a coleta. O despejo de sacos de lixos, sofás e fogões nos canais prejudica a vida do próprio habitante da região. Com estas atitudes, as enchentes são inevitáveis e crescem as chances de a água invadir as casas próximas aos ca-
nais. Com isto podem ocorrer perdas de móveis, aparelhos eletrônicos é até da saúde. Sintomas Grande parte das pessoas contaminadas pela leptospirose desenvolvem sintomas discretos ou não apresentam manifestações da doença. Os sintomas em geral aparecem entre dois a trinta dias após o contagio. Inicialmente, as pessoas apresentam febre alta de início súbito, sensação de mal estar, dor de cabeça constante e acentuada, dor muscular, cansaço e calafrios. É freqüente a ocorrência de dor abdominal, náusea, vômito e diarréia que podem levar à desidratação. Além disso, os olhos podem ficar avermelhados e o doente pode apresentar tosse, faringite e manchas avermelhadas pelo corpo. São grande as chances do desenvolvimento de meningite. O caso mais grave da doença pode ocorrer a partir do terceiro dia, com o surgimento de icterícia (olhos amarelados), sendo o sintoma mais comum em adultos, jovens do sexo masculino, e raro em crianças. Podem ocorrer manifestações hemorrágicas, como equimoses , sangramento em nariz, gengiva e pulmões. Outras formas de contágio A leptospirose também tem outras formas de transmissão. As pessoas
Morador exibe feridas feitas pela mordida do rato
devem evitar água e alimentos contaminados. Refrigerantes, cervejas e água mineral não devem ser consumidos diretamente da garrafa ou lata, sem que sejam limpas adequadamente (risco de contaminação com a urina do rato). Deve ser utilizado copo limpo ou canudo de plástico.
O Cidadão
16
GERAL
Arte da reciclagem Artista Plástico ensina crianças a reaproveitar garrafas pet CRISTIANE BARBALHO
Q
uem tem garrafa pra vender? Carlos Augusto Oliveira Calixto, de 32 anos, conhecido como “Professor”, tem! Há oito meses na Nova Holanda, Professor faz das pet’s obras de arte. Iniciou o trabalho em 2002, na Cidade de Deus, e não parou mais. No período do Natal, produz peças exclusivas. Durante a Copa, enfeitou algumas ruas da Nova Holanda com peças verdeamarelas. Ele conta que assim que chegou a Maré, as crianças que viam seu trabalho pediam para que ele as ensinasse. Então, na quadra do Gato de Bonsucesso, iniciou um curso para crianças. “Nunca cobrei por isso, a única coisa que pedia era para que elas trouxessem garrafas”, lembra. O curso, chamado de Recicriar, está atualmente parado. “Retomaremos as atividades após o Carnaval”, diz. Wallace Oliveira, de 10 anos, morador da Nova Holanda, disse que quer fazer o próximo curso “Acho as peças bonitas para dar de presente e enfeitar a casa”. Camila Cristina Castro, também de 10 anos, já freqüentou o curso este ano, mas diz que quer voltar. “Gosto muito. Já aprendi a fazer taças, plantas e peixes. Já até consegui vender algumas peças”, diz a aluna.
Carlos Augusto com algumas de suas obras na quadra da Escola de Samba Gato de Bonsucesso
Professor diz que seu trabalho visa a geração de renda e a conscientização ambiental, mas que não é tarefa fácil. “O avião, para subir, precisa voar contra o vento. Essa frase me dá forças porque vivo esta situação. É preciso parceria, pessoas
que queiram dar as mãos e ajudar”, diz emocionado. Quem se interessar pelo trabalho de Professor pode encontrá-lo na quadra do Gato de Bonsucesso, na Rua São Jorge, s/nº, Nova Holanda, ou pelo telefone 3976-8872. REPRODUÇÃO
E por falar em governo... Entidades governamentais no Catálogo de Instituições da Maré FUNLAR – Fundação Mun. Lar Francisco de Paula Endereços das unidades de atendimento: XXX Região Administrativa Rua Principal, s/nº – Baixa do Sapateiro – Maré Assembléia de Deus Fonte Eterna – Vila 86, 12 Bento Ribeiro Dantas – Maré Paróquia São José Operário – Via A1, 150 – Vila do Pinheiro – Maré Telefone: 3801-0400
E-mail: funla@pcrj.rj.gov.br Vinculação: Sec. Mun. de Assistência Social – SMAS Ano de fundação (unidade na Maré): 1995 Funcionamento: XXX R.A. – 2ª, 4ª e 6ª, 8h às 17h Assembléia de Deus Fonte Eterna – 3ª, 14h às 16h Paróquia São José Operário – 5ª, 8h às 17h Instituição voltada às pessoas portadoras de necessidades especiais, que procura
garantir-lhes seus direitos e desempenha atividades que os estimulam a desenvolver uma vida autônoma e de qualidade. Principais serviços oferecidos: a - Atendimento preliminar nas áreas de psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia e serviço social com posterior encaminhamento para unidades de saúde da rede pública. b - Atividades voltadas para geração de emprego e renda através do artesanato.
O Cidadão ANÚNCIOS
17
Ligue e anuncie!
3868-4007
PEÇAS P ARA PARA AUT OMÓVEIS UTOMÓVEIS NACIONAIS TEL: 3976-8431 AV. CANAL, 41 – LOJA B VILA PINHEIRO - AO LADO DA LINHA AMARELA
18
O Cidadão
ANÚNCIOS
Ligue e anuncie!
3868-4007
O Cidadão SAÚDE
19 FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES
Prevenir é o melhor remédio Vacinação protege crianças, jovens e adultos das doenças
“E
stá na Constituição que saúde é direito de todos e dever do Estado. E as vacinas não são favores, mas os impostos que voltam para a população”, revela o médico sanitarista do Centro Municipal de Saúde Américo Velloso, Carlos Alvarenga, de 46 anos. Para respeitar a lei, o Ministério da Saúde adquire uma grande quantidade de vacinas. Do outro lado, os cidadãos devem cumprir as datas das doses, evitando a negligência. “Seguindo a caderneta, evita-se os problemas que futuramente a criança pode ter”, explica Jaqueline da Silva, de 35 anos, que levou sua sobrinha Maria Luiza para se imunizar. A vacina é feita com o agente causador da doença que enfraquecido no organismo faz com que ele crie anticorpos, um jeito de prevenir e combater os micróbios. Ela tem como principal papel garantir a proteção das crianças. Qualquer dúvida sobre vacinação é só comparecer ao CMS Américo Velloso, na Rua Gérson Ferreira, 100, Praia de Ramos. Que funciona de segunda a sábado, das 07 às 17h. A história da vacina A vacina tem origem na China. Onde pesquisadores pegavam a casquinha da varíola, triturava, virando um pozinho, e soprava no
Dr. Carlos mostrando as caderneta de vacinação
nariz das pessoas. Os Mulçumanos melhoram essa idéia. Nos séculos XIX e XX vêm os grandes avanços tecnológicos na área de testes e pesquisas. E hoje em dia os maiores passos vêem da engenharia genética. No Brasil o grande destaque foi quando baniu-se, em 1989, a poliomielite (paralisia infantil). Em 1994 o país recebe o certificado de erradicação, eliminando de vez o custo social de uma pessoa viver na cadeira de roda. “É uma pena que isso não é notícia nos grandes jornais, que só denigrem a saúde pública”, desabafa o doutor Carlos Alvarenga. Apesar do feito as campanhas continuaram, já que alguns turistas estrangeiros que nos visitam, em suas terras de origem ainda têm contato com o vírus.
Maria Luiza é levada por sua mãe para vacinação
Esquema básico de vacinação
O Cidadão
20
ESPORTES
A Karateca da Maré Priscila é uma das mareenses que pratica o esporte e coleciona títulos HÉLIO EUCLIDES
E
la deu um golpe nas dificuldades e coleciona vitórias no Karatê. Priscila Xavier da Silva, de 13 anos, é estudante e moradora da Vila do João, na Maré. Pratica karatê na Ação Comunitária da Vila do João desde os nove anos. Priscila relata que, no início, não tinha tanta vontade de participar do esporte: “Entrei só para saber como era, não queria competir, depois comecei a me interessar mais e fui praticando”, conta. Hoje, com sua faixa roxa, praticamente é uma colecionadora de medalhas. Em seu primeiro campeonato, a jovem inventou de tudo para não participar. No entanto, depois das medalhas que recebeu, interessou-se mais ainda pelo esporte. “O meu primeiro campeonato foi em Barra do Piraí, eu não queria competir, inventei que estava passando mal, mas meus professores falavam que eu tinha que ir e acabei ficando em terceiro lugar no Kata e em primeiro no Comitê (luta)”. Priscila, que tem hoje em seu quarto mais de 60 medalhas, diz que pretende se dedicar ao karatê como profissão e que já tentou fazer outros esportes, como dança, natação, judô, entre outros, mas que sua paixão mesmo é o Karatê. Também contou o seu maior desejo: “Meu sonho é ser campeã mundial e dar continuidade ao trabalho dos meus professores, que sempre foram as minhas inspirações,
Ensaio do grupo Reciclasom na Casa de Cultura da Maré
Priscila exibe as medalhas conquistadas em diversos campeonatos realizados no Brasil
dando aula em comunidades para crianças, oferecendo oportunidade a elas de conhecerem este grande esporte, que infelizmente ainda não é tão divulgado”, afirma. Faixa roxa de karatê, Priscila mora com seus pais e duas irmãs. Mesmo classificada para diversos campeonatos, já teve que desistir das viagens por falta de patrocínio: “Teve um ano que não consegui ir para o campeonato mundial na Romênia por causa da falta de patrocinadores. Este campeonato, por exemplo, só acontece de dois em dois anos”, ressalta.
SABOR DA MARÉ
Como surgiu o karatê? O karatê, que tem como significado “O Caminho das Mãos Vazias”, ainda não é um esporte muito praticado pelos mareenses. Ele começou aproximadamente no século XVIII em uma ilha chamada Okinawa. Essa arte marcial era praticada pelos guerreiros como forma de exercício físico, através do qual educavam para a disciplina, impondo sempre a moral e a paz a sua nação. No século XX, ele começou a se popularizar no Japão. O karatê faz uso de todas as partes do corpo para fins de autodefesa.
HÉLIO EUCLIDES
Salada de frutas do verão Ingredientes: 300 ml de água mineral 250 gramas de mamão 2 laranjas 2 bananas pratas grandes 1 manga rosa grande 250 gramas de melão 2 goiabas pequenas 1 maçã pequena 3 colheres (sopa) de açúcar
Modo de preparo: Corte todas as frutas em cubos pequenos. Aproveite o que sobrou da manga, da goiaba e do sumo da laranja e bata no liquidificador com os 300 ml de água. Após coar coloque dentro de um pote de vidro junto com as frutas e o açúcar. Leve a geladeira e após uma hora é só servir. Bom apetite. Rendimento:oito a dez porções.
Mimiu apresenta sua famosa salada de frutas
O Cidadão
21 MARÉ MUSICAL ARQUIVO PESSOAL
Voz e violão da Maré Ronaldo faz sucesso na Lapa tocando MPB
E
stilo alternativo, cabelos black, o músico Ronaldo Breve, de 28 anos, morador da Vila do Pinheiro, conquistou um público fiel nos bares do Centro e da Lapa. No seio da boemia carioca, Ronaldo mostra o seu talento, que diz ter herdado do pai, fazendo voz e violão com músicas que vão de Djavan a Legião Urbana. “Acho que a música está no meu DNA. Meu pai é cantor e compositor e meus irmãos também são ligados à música. Mas, até o ano de 1996, eu não pensava em tocar. Mas em um dia de férias peguei o violão e fui praticando. À noite já estava fazendo acorde”, diz o autodidata. O desafio agora é produzir um CD com 10 faixas de músicas compostas por ele. A idéia é lançá-lo até o final de junho. Compositor de músicas românticas, no estilo de Djavan, Ronaldo vê na música uma forma de
O cantor Ronaldo Breve, morador da Vila do Pinheiro em uma de suas apresentações pela cidade
ultrapassar a timidez. Na primeira banda, montada com amigos da Igreja São José Operário, imitava a voz do Renato Russo, mas não conseguia encarar o público. “Sou muito tímido e tenho dificuldade para fazer amizades, mas com a música as pessoas se aproximam de mim. Acabo fazendo grandes amigos e consigo até arrumar namorada”, diz rindo. Foi com essa suposta timidez que o rapaz conquistou o 2º lugar no festival de música de moradores de comunidades, organizado
pelo Viva Rio, em 2002. Com o carnaval, o ritmo de apresentações diminuiu, por isso Ronaldo trabalha duro como fotógrafo profissional para conseguir custear o CD. “Ao longo desses 11 anos de trabalho, analiso a minha produção e vejo como ela amadureceu. Isso é uma vitória minha e do meu pai, que me ensinou que era preciso ter calos nos dedos para obter resistência e tocar o violão”, afirma o compositor que sonha em fazer sucesso para viver da música.
Guilherme Maxwell... Ou rua da escola Bahia? Dois nomes para uma única via HÉLIO EUCLIDES
U
ma das mais importantes vias de acesso à Avenida Brasil e à Linha Amarela, a Rua Guilherme Maxwell, mais conhecida como Rua da Escola Bahia, é passagem obrigatória para milhares de moradores que se deslocam diariamente. Diferente das outras ruas do bairro, ela abriga, basicamente, grandes e pequenas empresas e poucas casas. Segundo a moradora Marinalva de Souza, de 39 anos, a falta de iluminação é a principal queixa dos vizinhos. “À noite temos que passar por um grande caminho escuro. Como é uma rua principal, deveria ser melhor iluminada”, afirma. Para Luciano dos Santos, de 25 anos, comerciante local, a rua é privilegiada. “O acesso à Avenida Brasil, ao aeroporto Santos Dummond e às Linhas Vermelha e Amarela valorizam ainda mais a região”, diz.
Rua Guilherme Maxwell: do lado esquerdo a Casa de Cultura da Maré, do lado direito oSesi
O dono da Rua Guilherme Maxwell era engenheiro e dono de várias propriedades. Descendente de ingleses, batizou várias ruas de Bonsucesso com nomes inspirados na Europa. Assim surgiram as avenidas Londres, Roma, Paris, Nova York e Bru-
xelas, além da Praça das Nações, centro comercial do bairro. Por seu trabalho, Maxwell foi homenageado com o nome da rua onde se localizava o antigo caminho do Porto de Inhaúma.
O Cidadão
22 PÁGINA DE RASCUNHO
Filha do Nordeste A boa semente plantei E fiquei muito contente A terra é quem dá o fruto que muda a vida da gente Eu sou filha lá do Nordeste Há tempos que não voltei A saudade bate forte na terra que tanto amei Viver no Rio de Janeiro é muito interessante Mas sempre sentirei saudade da minha terra Que ficou distante Eudesia Santos Moradora da Vila do Pinheiro
CARTAS As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)
Uso racional da água Ao escovar os dentes, feche a torneira. Encha um caneca com água e utilize a mesma após a escovação. Uma torneira aberta, durante 1 minuto, consome até 6 litros de água.
Ao se ensaboar, feche o registro da água. A cada minuto são 12 litros de água que saem do seu chuveiro. Um banho de 5 minutos consome 60 litros de água.
ESTE É O LIVRO DO MAIOR TREINADOR DE LÍDERES DO MUNDO
R$
19,90
VOCÊ FAZ A DIFERENÇA
Mais de 8 milhões de livros vendidos. Descubra qual é a atitude que trará um impacto revolucionário e duradouro em todos os aspectos de sua carreira, família e cotidiano. Maxwell despedaça os mitos comuns sobre a atitude e mostra como superar os cinco maiores obstáculos para o desenvolvimento de uma atitude positiva. www.thomasnelson.com.br Já à venda • São Paulo (0xx11) 2133-2233 e 0800-707-21-212 para outras cidades.
Não dê descargas demoradas. Cada vez que você usa a caixa de descarga pelo menos 10 litros de água vão para o esgoto. Evite dar descarga muitas vezes.
Lave seu carro com balde e um pano. Não use mangueira! Usando a mangueira, 400 litros de água são consumidos.
Fonte: Calendário da CEDAE 2007
Luzes II Do único morro da Maré, Admiro o pôr do sol. E o surgimento do luar, Que vai nos iluminar. No alto vejo a Igreja da Penha, Também no morro. Olho e vejo outra igrejinha bem no alto, Que não está mais esquecida. De Ramos, mostra emoção, A Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Emoção esta, que vejo todos os dias. Do Conjunto Esperança, Até a Marcílio Dias. Pois somos filhinhos de Manguinhos. Temos o sucesso de Bonsucesso. Celebramos com Ramos. E da alegria que a Penha tenha. Mas sobretudo a fé, No nosso bairro Maré. Hélio Euclides da Silva Jornal O Cidadão
Errata Na edição 46, na página 13 a foto de baixo é da Rede Memória da Maré. As legendas das fotos da página 14 são as seguintes: Terreno abandonado da Vila Olímpica da Maré (foto de cima) e CCDC é um dos poucos locais em que o Estado atua na Maré (foto de baixo).
O Cidadão
Piadas
23
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br Criatura como a ovelha Dolly Material que forra fôrmas e assadeiras Entrada principal de edifício
Loucos fugitivos Dois loucos estavam doidos para fugir do hospício e o mais inteligente deles apresentou um plano: - Vamos fugir pelo buraco da fechadura! - Genial! – comemorou o outro. Você passa primeiro e eu te sigo! O louco tomou distância, correu em direção da porta e ploft! Bateu de cabeção na porta. Furioso e sentindo a dor da pancada, ele reclama: - Droga! Deixaram a chave no buraco!
Tamanho da dentadura Uma paciente idosa estava infeliz com seus dentes novos. Não cabiam, queixou-se. Depois de examinar a dentadura, o dentista lhe disse que parecia boa. - Na minha boca está boa – concordou ela. - Mas não cabe no meu copo!
© Revistas COQUETEL 2007
Vontade de vencer (fig.)
Emissora como a Band ou o SBT Parte de uma máquina
Oceano que banha o Brasil
O tricolor do futebol gaúcho Preparar (o remédio da receita)
Metro (símbolo) Ilude; engana
1, em romanos Torcida (bras.)
Muito velha
6 Soar como trovão
Produto extraído da ovelha
Oferece O anão malhumorado (Lit. inf.)
Formato de cantoneiras Oposto de "drama" (Teatro)
(?) estomacal: azia Poeira Cubo numerado usado em jogos
(?)e-julieta: queijo e goiabada
Responsável legal por um menor
Ódio; raiva Sílaba de "antro"
(?)-transporte, direito do trabalhador Acessório da equipe de reportagem
Forma da elipse
Lance inicial do vôlei
Ligação (fig.)
O V A L
Gênero musical de Gabriel O Pensador
Na escola
Solução
CL
A G T A R L D E A M N T I T R O I A C I D O I D V A L A D O L O AI E
I A T V I G A A R L E Z R A A N G R A A D P O
BANCO
O R N A E Ç A A E D A P O R O L M E Q U
3868-4007
Hortaliça também chamada "salsão"
P C A P E L CO M A N TU T E F I G S A
Ligue e anuncie!
Gemido; lamento
4/peça. 5/aviar — clone — saque. 6/galera. 7/zangado.
Um professor pede aos alunos que escrevam uma redação sobre o tema: “Se eu fosse diretor de uma empresa”. Todos começam a escrever, exceto um: - Menino Luisinho, por que não começa a escrever? - Estou a espera de minha secretária, professora!
O Cidadão
24 MATÉRIA ESPECIAL
Atanasio, um morador que fez história Um alfaiate que ajudou a alinhar o início da nossa comunidade CRISTIANE BARBALHO
Q
uando se pensa na Maré, vem logo a cabeça as construções das palafitas. Mas, poucas pessoas viveram aquele momento como seu Atanasio Amorim, de 76 anos, morador da Baixa do Sapateiro e um dos mais antigos da comunidade. “A Maré era uma parte no chão e a outra em cima d’água, e essa área tinha pontes de madeira”, conta. Nascido no estado do Maranhão, chegou à Maré em novembro de 1954, com 23 anos. “Cheguei e passei uma longa temporada sendo um ilustre desconhecido. Depois, por influência de amigos, cheguei a ser diretor da associação de moradores. Graças a Deus sempre tive livre acesso a todas as comunidades da Maré”, comenta. Segundo Atanasio houve um tempo em que o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) dizia que o terreno da Baixa pertencia à União. O que causou desespero nos moradores. “O que mais me preocupava, em entrar para a associação, era ficar na comunidade. Depois saiu um boletim do INPS dizen-
O senhor Atanasio Amorim trabalhando em sua alfaiataria na Baixa do Sapateiro
do que a área era deles e que haveria a desocupação da região. Foi aí que corri atrás. Procurei as autoridades até solucionar o proble-
ma e garantir nossa permanência no local. O INPS suspendeu o boletim e permitiu que ficássemos aqui, mas não como donos”, afirma.
REDE MEMÓRIA DA MARÉ
Projeto Rio O projeto Rio foi um novo drama na vida dos moradores. Ele previa a urbanização da Maré e a construção da Linha Vermelha. “Com o Projeto Rio começou tudo de novo e tivemos que ir, novamente, em busca das autoridades. Conseguimos que desviassem a construção da via expressa. As pessoas que moravam dentro d’água não tinham para onde ir mas, felizmente, deu tudo certo. A preocupação dos moradores era que, com a construção da via expressa, a favela acabasse, mas conseguimos contornar”, relata Atanasio. Para ele, a grande vantagem do Projeto foram as casas de alvenaria. “Foi o início de tudo, na Maré, o desenvolvimento. Os becos se alargando, dando espaço às rua e os moradores modificaram seus barracos”, lembra.
Sr. Atanasio (à direita) e a equipe da Rede Memória durante o jantar em homenagem ao Museu da Maré em Brasília
Até o fechamento desta edição, a Rede Memória da Maré não enviou para O CIDADÃO, a matéria referente a esta página que é de exclusiva responsabilidade do projeto. Sendo assim, decidimos elaborar uma matéria especial para que a edição não sofresse atrasos.