O Cidadão
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RIO DE JANEIRO
ABRIL 2007
ANO IX Nº48
O mundo pede socorro Aquecimento global compromete a saúde do planeta
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MARÉ SEM PROFESSORES SECUNDARISTAS
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PERFIL, A POETISA MAREENSE
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BELEZA X ANOREXIA E BULIMIA
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DIABETES, A DOENÇA DO AÇÚCAR
O Cidadão
2 EDITORIAL
A natureza se vinga do homem
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notícia do momento é o aqueci mento global. E este fenômeno surge como mais um dado alarmante da ação do homem na natureza. A elevação da temperatura no planeta é uma realidade e suas conseqüências afetam toda a população mundial. Outra questão relacionada é a água. Considerada por muitos o “petróleo” do futuro, já causa guerras em diversos países. E a sua falta é preocupante, pois todos os organismos vivos precisam de água. Infelizmente, no Brasil, a falta de cuidado e o uso indiscriminado desse bem tão precioso preocupam especialistas. O mareense deve ter consciência de que sofrerá com as conseqüência. E, por isso, deve fazer a sua parte, evitando o lançamento de gases poluentes na atmosfera, a queima de pneus e o uso inadequado de carros, por exemplo, prejudicando o planeta em que vivemos. Todos esses problemas têm solução. E elas sempre começam pela Educação. E falando em educação, a carência de profes-
sores em nossas escolas secundárias é outro drama enfrentado pela população da Maré. Alunos sofrem com a falta de aulas e sentem seu futuro ameaçado. Muitos ficam tristes todas as vezes que vão à escola e não têm aula. Como o Brasil quer crescer com tantas falhas em um setor importante como a educação? A Coréia do Sul é a décima economia do mundo. Nos últimos trinta anos sua renda per capita, a divisão da renda de um país por seus habitantes, passou de 100 dólares em 1963 para 9.800 dólares em 2002. Para isso, o investimento na educação foi fundamental. Esperamos que os nossos governantes espelhem-se nesse exemplo. Falando de saúde, a diabetes é um outro problema enfrentado pelo mareense. Grande parte da população tem diabetes e muitas pessoas que sofrem com a doença não buscam ajuda. Os postos da Maré oferecem tratamento, mas o governo deveria fazer campanhas para conscientizar a população. E, assim, estimular a prevenção de mal que trás tantas dificuldades. Boa Leitura!
ELES LÊEM O CIDADÃO HÉLIO EUCLIDES
CRISTIANE BARBALHO
Ao lado, Vitor Conceição, de 52 anos, Diretor Presidente do Bloco Boca de Siri, acima, Paulo Leite, de 58 anos, fotógrafo
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é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965
Direção Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana S. Silva • Jailson de Souza Léa Sousa da Silva • Lourenço Cezar Maristela Klem Coordenadora Geral: Rosilene Matos Editora: Cristiane Barbalho Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Revisão: Viviane Couto Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Renata Souza • Cristiane Barbalho Ellen Matos • Hélio Euclides • Rosilene Matos Silvana Sá • Gizele Martins • Edvania Braga Colaborou nesta edição: Rede Memória Jornalista Responsável: Ellen de Matos (Reg. 27574 Mtb) Ilustrações: Jhenri Publicidade: Elisiane Alcantara Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra Diagramação : Fabiana Gomes da Silva Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço Foto de Capa: Alexander Abolinsh Repórter Fotográfico: Hélio Euclides Distribuição: Matilde (coordenadora) Charles Alves • Rosilene Ferreira da Silva José Diego dos Santos Luiz Fernando • Jéssica de Oliveira Jefferson Kionede Jesus Martins Fotolitos / Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br
A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da
Uma conquista dos moradores da Maré O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da Maré. Promove oficinas e atividades que se tornam extensão da sala de aula.
Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso
Tel: 3882-8200 Fax: 2280-2432
O Instituto Telemar apoia o jornal O Cidadão
O Cidadão EDUCAÇÃO
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Escolas sem professores Alunos da Maré voltam para casa por falta de aula e reclamam do descaso do estado
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volta às aulas é um momento de reencontrar os amigos, professores e de contar tudo o que aconteceu nas férias. Infelizmente muitos alunos não vivem esse momento pela falta de professores, um problema que atinge o Brasil, e não é diferente na Maré. São muitas as dificuldades encontradas pelos diretores das escolas. A grande quantidade de tempos vagos prejudica às aulas. “Para um começo de ano escolar, com as turmas cheias de alunos, é importante ter uma equipe de trabalho renovada. É complicado manter a qualidade com a falta de professores de tantas matérias”, afirma João Lan-zellotti, diretor do Ciep Prof. César Pernetta. Além da falta de mestres, alguns diretores ainda não receberam verbas para a merenda escolar. Falta de professores A partir de dados retirados do site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) por ano no Brasil se formam, em média, 50 mil professores. No Rio de Janeiro são sete mil profis-
“É complicado manter a qualidade com a falta de professores” João Lanzellotti Diretor do CIEP Cesar Pernetta
sionais. Esses números deveriam deixar a população feliz, mas a realidade não se enquadra nas salas de aula. Com essa situação, os maiores prejudicados são os alunos. “Um fato marcante na educação estadual é a falta de professores”, diz o funcionário Rogério Correia, de 33 anos, que confirma a ausência de mestres no Colégio Ten. Gal. Napion. O diretor do colégio, Denílson Nogueira, de 54 anos, conta que o estado contrata os professores em março e dispensa em dezembro. Mas, eles nem sempre são chamados no começo do ano. “Não acredito mais no estado é tudo falácia, já vejo essa situa-
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ção há trinta anos”, afirma. Segundo o governo do estado, o objetivo é garantir o ensino a todos os estudantes. Foram chamados dois mil professores aprovados no concurso de 2004. Além da contratação de 200 professores temporários. Mas não é a reali-
“Fico muito triste quando vou para a escola e descubro que não terei aula” Ana Costa Carlos Aluna do CIEP César Pernetta dade encontrada na Maré. Ana Costa Carlos, de 30 anos, do terceiro ano do ensino médio, perdeu as contas de quantas vezes voltou para casa porque não tinha aula. “Fico muito triste quando vou para a escola e descubro que não terei aula, é mais um dia que não aprendo nada. Quando isso vai terminar?”, pergunta.
O CIDADÃO procurou a Secretaria estadual de Educação. A seguir as principais respostas.
Existe algum projeto ou ação que tenha a intenção de mudar esse quadro? Assessoria de Imprensa da Secretaria de Educação (AISE) - Como prevê a Lei de Diretrizes e Bases, a prioridade da Secretaria de Educação é atender o Ensino Médio. Planeja ampliar a oferta dessa modalidade nos turnos da manhã e da tarde em todo o estado. A Secretaria de Educação também está solicitando o retorno de outros dois mil docentes que estavam à disposição de outros órgãos. Com esse planejamento, a Secretaria espera combater eficientemente o déficit de professores até o dia 20 de março e estuda a hipótese de chamar novos concursados, se houver necessidade.
O bem-vindo do cartaz contrasta com a falta de aulas
O CIDADÃO levantou o número de aula das 15 turmas do Colégio Napion. Por dia deveriam ser 90 tempos, mas há só 45 com aulas. “Não temos professores de Português, Educação física e Matemática e, mesmo havendo merenda, não existem profissionais para fazê-la”, diz.
Quais os canais que a população possui para entrar em contato direto com a Secretaria para maiores esclarecimentos e qual a disponibilidade das escolas? AISE - As coordenadorias são um canal de comunicação com a população, já que fornecem orientações e encaminham os pais e os alunos para as escolas com vagas mais próximas para que façam a matrícula. A Coordenadoria que atende a Maré e bairros adjacentes da Zona Norte é a Metropolitana III. Os telefones são 2597-8849 / 2597-8367. O CIDADÃO esperou até o dia 20 de março, que foi o prazo que a Secretaria Estadual de Educação deu para amenizar a falta de professores. Até o fechamento desta edição, dia 23 de março, não houve contato com nenhuma das escolas citadas nesta reportagem.
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SERVIÇO
A explosão das ‘lan houses’ A internet e os jogos eletrônicos viram febre entre a garotada do bairro Maré HÉLIO EUCLIDES
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era digital chegou e com ela vieram as “lan houses”. Elas já estão presentes em todas as comunidades da Maré. Não é possível precisar quantas estão em funcionamento, porque grande parte delas é clandestina. Isso não impede que o número de usuários continue a crescer, principalmente entre adolescentes. As “lan houses” oferecem de impressões de documentos e gravações de CDs a acesso ilimitado a internet e jogos eletrônicos. O jogo da moda é o Counter Strike, que vem incentivando a abertura de novas “lan houses” na Maré. J., de 11 anos, diz que gosta de ir para a “lan house” “porque alivia a cabeça e distrai”. Ela confessa que gasta o dinheiro do lanche para jogar: “Acabo me distraindo e esqueço de comer”. O que mais a agrada no jogo são as mortes. “É legal quando você mata ou morre no jogo”, comenta eufórica. O Counter Strike reproduz diversas situações, como a luta entre policiais e traficantes do morro Santa Marta. Por isso, já foi acusado de fazer apologia ao crime. Na Maré, as “lan houses” oferecem este jogo para ser disputado em rede. Embora seja proibido para menores, é o mais procurado por crianças e adolescentes. “As crianças sabem que é proibido, mas mesmo assim querem freqüentar. Alguns pais preferem que o filho esteja na ‘lan
Lan House no “shopinho” da Teixeira Ribeiro: moradores em busca de entretenimento e informação
house’ do que na rua”, diz o dono de uma das “lan houses”, que preferiu não se identificar. Maria Lúcia dos Santos, de 35 anos, moradora da Rubens Vaz e mãe de um menino de 10 anos, sabe que seu filho freqüenta “lan houses”. “Trabalho o dia inteiro. Sei que quando ele não está na escola, está jogando, mas não posso fazer nada. É melhor do que ele se meter em con-
fusão na rua”, diz. Bianca Souza de Oliveira, de 17 anos, moradora do Parque União, também freqüenta “lan houses”, mas com outros objetivos. “Utilizo a internet para fazer pesquisas e conversar com meus amigos via orkut e do MSN”, diz. “Nunca acessei esses jogos violentos e não gosto da bagunça que os meninos fazem. Prefiro lugares mais tranqüilos, completa.
Leis existem, mas não são cumpridas na Maré Embora existam leis que proíbam a utilização de “lan houses” por crianças e a instalação dos estabelecimentos a menos de 1 km de distância das escolas, não é o que acontece na Maré. O descumprimento da lei acontece não apenas por falta de conhecimento, mas também por imprudência dos adultos. Alguns pais até estimulam seus filhos, menores de idade, a freqüentarem estes lugares. O prefeito
Cesar Maia, em 8 de setembro de 2003, sancionou a Lei 3.634, que proíbe a freqüência de menores de 18 anos em lojas de jogos eletrônicos de quaisquer espécie e que induzam e estimulem a violência. Esta lei também prevê o fechamento da loja e multa. A Lei Estadual 4.782, de 26 de junho de 2006, sancionada pela então governadora Rosinha Matheus, proíbe a abertura de “lan houses” a menos de 1 Km de escolas de Ensinos Fundamental e Médio. A lei prevê fechamento imediato da loja que descumprir a lei.
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Mulheres fazem sucesso em profissões de homens Elas ocupam espaços que antes só pertenciam a eles
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ulheres virtuosas, guerreiras, sem medo de ir à luta. Assim é o dito sexo frágil do nosso tempo. Não temem por a mão na graxa ou carregar um homem grande na garupa de uma moto. Mas sem perder a feminilidade. Um exemplo disto é Franciele Tavares, de 27 anos, moradora da Nova Holanda. Ela é motorista de motocicleta há um ano, no ponto próximo à Passarela Oito. Franciele começou por indicação de uma amiga. “Ela disse que eu pilotava muito e podia trabalhar com isto. Eu já dirigia há oito anos e adoro a adrenalina”, diz.
COMO VOVÓ JÁ DIZIA
Apesar de alguns olharem com estranhamento, há pessoas que preferem o serviço da motoqueira. “Algumas mulheres só vêm comigo. Alguns homens elogiam o meu trabalho e dizem: ‘Agora só dá você’, conta. Ela afirma que o namorado vê a profissão com bons olhos. Só os pais dela é que mostram algum temor. “Eles me apóiam, mas ficam preocupados”, diz. Outro caso de ousadia profissional é o de Lucilene Vasconcelos da Silva, a Loira da Bicicleta, de 37 anos. Ela é moradora da Praia de Ramos e mecânica de bicicletas. Seu marido tinha uma oficina e ela o observava nos consertos. Um dia, ele precisou cuidar da mãe doente. Ela teve que assumir o trabalho. Isso há 10 anos. Hoje o negócio dos dois fica na Rua Gerson Ferreira, no Piscinão. Apesar da rotina atarefada, Lucilene diz que é feliz na profissão. Ela trabalha das 8h às 18h, de segunda a sábado, e tem
Lucilene Vasconcelos é mecânica de bicicletas
duas filhas. “É uma correria só. Faço o café da manhã. Levo e pego minhas filhas na escola”, conta. E quando chega, ainda organiza a casa. O marido, Júlio Cezar Frazão da Silva, de 42 anos, é só elogios. “Ela é mais atenciosa com os clientes. E na hora do conserto é mais detalhista. È uma companheira”, afirma. No que depender dessas mulheres, a Maré terá, cada vez mais, profissionais atentas aos detalhes e responsáveis. Além de postos de trabalho com mais ternura.
Dicas diversas - Quando o colchão das crianças ficar com cheiro desagradável de urina ou suor, passe nele uma esponja umedecida em água quente misturada com um pouco de vinagre. Deixe secar ao sol. - Se sua gaveta anda emperrando, passe sabão seco ou jogue um pouco de talco nas partes corrediças. Assim elas deslizarão livremente. - As roupas que forem atingidas pelo mofo ficarão como novas se forem coloca-
das de molho numa bacia com água, sal e limão, sob o sol. No dia seguinte, lave-as normalmente, com sabão e água fria. - Se as formigas estão trilhando sua cozinha, é fácil eliminá-las. Basta colocar nos cantos onde elas costumam passear um pouco de pó de café, sal, talco ou casca de pepino. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus - Editora Vozes
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Eudesia A poetisa lutadora Comunidade: Vila do Pinheiro Profissão: Dona de Casa Idade: 58 anos
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que se espera de alguém que lutou, criou filhos e já é bisavó? Você deve pensar: descansar um pouco, curtir a família. No entanto, Eudesia Santos da Silva não parou aí. A jovem senhora de 58 anos, moradora do Pinheiro, voltou ao banco da escola e hoje é poeta. Sua rotina em nada se parece com a daquelas vovós que passam o tempo tricotando em uma cadeira de balanço. A baixinha (como a família carinhosamente a chama) realiza diversas atividades durante o dia: arruma a casa, ajuda a cuidar dos pais, faz as tarefas da escola e colabora na criação da neta. Além disto, ama cães e cultiva plantas e, sempre que pode, vai à Igreja. Não bastasse tudo isto, com a alma de artista, ainda escreve poesia. Para se aprimorar, Eudesia, que havia parado de estudar muito jovem, voltou a estudar e está na 7ª série do segundo segmento do Ensino Fundamental. Quem vê o ar feliz e sereno da senhora, não imagina o caminho que percorreu. Aos 18 anos, saiu da Paraíba para fugir da pobreza. Seu pai veio na frente. Eudesia, com a mãe e oito irmãos, chegaram depois. Veio morar na Maré. A primeira
Eudesia Santos, a poetisa da Vila do Pinheiro, exibe alguns dos poemas feitos ao longo de sua vida
residência foi uma palafita, na Nova Holanda. Foi lá que ela conheceu o amor. A janela da casa ficava de frente para a do vizinho, Manoel Guilherme da Silva. Os dois trocavam olhares apaixonados, até que se casaram. Ela tinha 20 anos e ele 23 e Manoel era encarregado de obra. Três anos depois, acabou a felicidade do casal. Eudesia um dia acordou e viu o marido morto na cama. Ele morreu durante o sono. Até hoje ela não sabe o motivo. “Foi ignorância minha. Podia ter ido atrás dos exames do óbito. Mas pensava: nada disso vai me trazer ele de volta”, conta a poeta, com os olhos marejados. Mas ficaram dois frutos desta bela história, Ailton e Ana Cristina, os dois filhos mais velhos de Eudesia. A jovem viúva seguiu com a vida. Foi trabalhar e, depois de um ano do falecimento do marido, conheceu um rapaz na vizinhança. Eles namoraram e tiveram dois filhos: André e Alaine. Ficaram juntos seis anos, mas o romance não deu certo. Ela criou as crianças por conta própria, com a ajuda da irmã. Para isto traba-
lhava de dia numa fábrica e à noite fazia faxina. “Tinha que dar um jeito de comprar os livros. Mas valeu a pena. Hoje são pessoas de bem e terminaram o segundo grau”, conta satisfeita. O filho, André Santos de 31 anos, fala da mãe com orgulho: “Criou quatro filhos com praticamente um salário mínimo. Ela me pegava pela orelha e me levava até a escola”. Hoje, Eudesia é quem não falta um dia de aula. “Estudar é muito bom. Estou crescendo, ganhando mais conhecimento”, declara a senhora entusiasmada. E os sonhos dela vão além: “Quero ver o meu livro de poesias publicado”, afirma.
Na janela Em um barraco na favela Tinha quem me olhava Era alguém que me paquerava Debruçado na janela Era como eu esperava Aquele que eu avistava Sempre viveu nos meus sonhos E eu já sentia que amava Mas o destino uma peça pregava Aquele que eu namorava A morte levava Já casada estava E novamente sozinha eu ficava E chorava Calada Sozinha Na janela
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Informe Publicitário
Idosos da Maré fazem tour pelo Rio Alunos de turismo e hotelaria levam moradores ao centro, zona sul, e Quinta da Boa Vista Texto: Cris Araujo Um grupo de 40 idosos da Vila do João participou do primeiro City Tour realizado pelos alunos do Projeto Ampliando Horizontes, de Turismo e Hotelaria. No roteiro, Vista Chinesa, Lagoa Rodrigo de Freitas, Praia Vermelha e Quinta da Boa Vista. O clima era de entusiasmo, pois os jovens nem sempre vêem os ido-
sos como capazes de trocar experiências e fazer atividades físicas. Foi por isso, que os alunos da ACB/ RJ definiram a terceira idade como foco da atividade proposta em sala. A caminho da Vista Chinesa (Botafogo), a passagem pela Lagoa Rodrigo de Freitas e a visão da Zona Sul do Rio impressiona os visitantes. A Urca também foi um dos pontos visitados e Dona Maria foi quem gostou, pois há mais de 10 anos não via o local. E foi lá, no calçadão da Praia Vermelha, que a turma fez o aulão de ginástica do Passeio. O professor Luiz Mario foi como voluntário e comandou a atividade. Após uma caminhada pela ladeira à margem da Praia Vermelha, o grupo dirigiu-se à Quinta da Boa Vista. No ônibus, jovens e idosos
AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL www.acaocomunitaria.org.br
RIO DE JANEIRO
Fotos: Ronaldo Breve
entoavam cantigas de roda, como se tivessem a mesma idade. O Passeio da Melhor Idade teve apoio de pequenos comerciantes da região que doaram biscoitos, água, guaraná-natural e o transporte que foi cedido pelas empresas Breda Rio e Viação Real. Assim, a alegria foi garantida gratuitamente.
Rua 11, na quadra 5 – Vila do João. Tel: 3868-7056 Sede: Rua da Candelária, 4, Centro – Tel/fax: 2253-6443
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ANÚNCIOS
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9 NAS REDES DO CEASM
Vestibular do Ceasm Mais alunos são aprovados para a faculdade
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or mais um ano o curso pré-ves ti-bular do Ceasm, Timbau e Nova Holanda, ajudou a alegrar muitos corações, na verdade sessenta alunos que conseguiram passar no vestibular de 2007. E essa é simplesmente mais uma prova de que na Maré há sim pessoas esforçadas e com grande vontade de fazer valer o direito que cada cidadão tem de estar em uma faculdade. “Fiquei dois anos no curso pré-vestibular. É muito bom passar para faculdade, ainda mais sendo um curso que você quer, tendo a certeza, desde já que você não vai ser um profissional frustrado, pois vai fazer o curso com o qual se identifica”, diz Fernanda Santiago, de 20 anos, que passou para Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Damião de Brito, de 28 anos, que passou para Enfermagem na Uerj, descreve a emoção de ter visto seu nome na lista de aprovados. “Recebi a notícia com seriedade, pois senti que era o momento certo”, diz. Sobre os três anos que passou no curso afirma que foi bem produtivo. Além disso, fez vários amigos. “Quero manter sempre o contato com eles e muitos dos que passaram este ano, iniciaram o curso comigo”, completa. A mais nova universitária Hellen de Barros, de 20 anos, que passou para UFRRJ de Nova Iguaçu, para o curso de Administração, Sistema Públicos e Privados, fala de sua emoção . “Quando vi meu nome na lista, nem dormi. Fiquei a noite inteira pesquisando sobre o meu curso na internet. Adorei minha grade, me identifiquei muito com o curso e com as matérias que vou fazer”, diz. Larissa de Oliveira, de 21 anos, que passou para o curso de Letras na Uerj, deixa um recado aos que ainda continuam tentando vestibular. “Para aqueles que não passaram, ou aqueles que chegaram agora no CPV, falo para vocês não desistirem, pois vão aparecer muitas dificuldades. Mas não desistam dos seus sonhos e acima de tudo, é preciso ter disciplina nos estudos”, conclui.
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10 ACONTECEU NA MARÉ CRISTIANE BARBALHO
Blocos embalam a Maré
Luiz conta a história do Museu ao grupo da Fiocruz
Museu da Vida visita Museu da Maré
Alguns blocos empolgaram e vários relembraram os antigos carnavais. Com instrumentos e muitos componentes levaram alegria às ruas do bairro. Na Vila do João, o “Gargalo” e o “Raiz” não deixaram o espírito do carnaval ser esquecido. E, na tarde de 03 de março, foi a vez do “Se Benze que Dá” saiu da Casa de Cultura da Maré em direção à Nova Holanda, cantando seu enredo. CRISTIANE BARBALHO
O museu da Maré recebeu a visita de um grupo do Museu da Vida, da Fiocruz. O encontro tem como objetivo qualificar os funcionário e guias dos museus, com visitas a diversas instituições. No dia 30 de março, foi a vez do Museu da Maré receber o grupo. O grupo foi recebido com palestra, que apresentou a história do Museu antes da visita.
CPV na Floresta da Tijuca
Alunos participam do aulão de língua portuguesa
Outra atividade do pré-vestibular do Ceasm aconteceu no dia 18 de março. Foi uma caminhada pela floresta da Tijuca. O passeio durou 7 horas e contou com a presença dos professores de biologia, história e geografia. “Achei muito interessante o passeio porque pude conhecer todo o Rio. Lá de cima da para ver toda a zona norte”, contou Thiago dos Santos, de 20 anos, aluno do CPV.
Atividades movimentam o Pré-Vestibular da Maré O curso pré-vestibular do Ceasm realizou este ano o primeiro aulão de linguagens da história do curso, chamado de “A Palavra no Mundo da Lusofonia”. O evento foi realizado no dia 10 de março, com todos os professores da área de línguas. Teve ainda a
participação da ex-professora de literatura africana da UFRJ e, é claro, um grande número de alunos. Segundo a professora Tereza Cruz, de 27 anos, o objetivo maior deste evento é “É fazer o aluno pensar a sua língua materna. Queremos mostrar que temos um continente africano inteiro que fala a mesma língua, que é a língua portuguesa, e mostrar que ela pode ser um instrumento que nos une”, diz. “Fiquei encantada em poder ajudar a perceber e unir esta língua que é falada em todos os continentes”, afirma a ex-professora de Literatura Africana da UFRJ, Cláudia Vasconcelos, de 58 anos. A aluna Fernanda de Oliveira, de 20 anos, fala sobre o que aprendeu no aulão. “O aulão foi muito interessante, despertou muitas curiosidades durante o debate. Mostrando que é um tema muito mais amplo do que agente pensava. Foi uma excelente idéia, e deveria haver mais aulões e filmes sobre o assunto”, conclui.
Feijoada do “Se Benze que Dá” Com o objetivo de integrar os componentes e discutir o tema do próximo carnaval, os organizadores do bloco “Se Benze que Dá” realizaram no dia 31 de março, às 17h, uma feijoada na Casa de Cultura da Maré. HÉLIO EUCLIDES
Pérolas de metal retorcido Ferro velho da Nova Holanda é exemplo de organização
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que vem a sua mente quando você pensa em ferro velho? Um lugar feio, cheio de metal retorcido e coisas sem valor? Nem sempre é assim. É o que se pode ver no ferro velho da Rua Sete de Março, na Nova Holanda. Um enorme galpão, que lembra tudo, menos bagunça. A impressão é mesmo a de um lugar organizado. São longas tubulações devidamente empilhadas, placas de metal enfileiradas. Claro que cada ferrovelho tem seu tipo de produto e isto muda a forma de organização. No caso da Nova Holanda, são materiais para a construção civil, serralheria e torneiro mecânico. O mareense que parar um pouco e olhar com mais atenção, vai ver muita beleza no meio da sucata. “É um pouco da história de cada lugar”, diz Ana Glória
Silva, de 39 anos, moradora do Timbau, apontando para uma janela antiga de madeira. Ela e seu marido, Samuca são os donos do ferro velho. Ele começou cedo, com 12 anos. Trabalhava para o antigo proprietário. Até que comprou o empreendimento. Ana casou-se com Samuca e a profissão veio de brinde. Hoje, ela tem prazer em trabalhar com a sucata. “Aqui se acham coisas que não se encontra em outros locais”, garante. Além disto, a sucata garante a renda da família. “Meu pai era o dono deste ferro velho. Minha mãe, meu tio, meus três irmãos e eu nos sustentamos disto. Vendo e coloco peças de carro antigas. Vem gente de todo lugar - Méier, Barra da Tijuca, Magé”, conta Móises dos Santos, de 26 anos, morador do Timbau.
Ferro velho da rua Sete de Março na Nova Holanda
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Uma viagem de ônibus Moradores do bairro sofrem com a falta de linhas para outros pontos do Rio HÉLIO EUCLIDES
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pesar da localização privilegiada do bairro, a população da Maré também sofre com a falta de linhas de ônibus para outras áreas da cidade. Entre os mais prejudicados estão os moradores de Marcílio Dias, que dispõem de apenas uma linha, que liga a comunidade ao município de Duque de Caxias. Ao longo dos anos, algumas linhas de ônibus que cruzavam o bairro foram extintas. Outras reduziram a frota, mas resistiram. É o caso da linha 919, que a moradora do Morro do Timbau, Ilda Josefa, de 49 anos, utiliza todos os dias. Porém ela diz que a Maré ainda comporta linhas novas. “Da Rua Praia de Inhaúma à Avenida Brasil para pegar o 665 é um bom pedaço de chão. Aqui caberia um ônibus que ligasse o bairro à Tijuca”, sugere. Além dos ônibus, o morador da região conta com a presença do metrô. Uma das ramificações do ônibus expresso, que faz a integração entre a estação Del Castilho e o Hospital do Fundão, passa pela Linha Amarela. “Essa integração é ótima. Antes ia até a Avenida Brasil pegar o 349. Hoje faço uma viagem tranqüila, segura e no ar-condicionado”, conta o morador do Conjunto Pinheiro Leandro Ângelo, de 30 anos.
Ônibus expresso do Metrô, passa pela Linha Amarela, beneficiando os moradores da Maré
Recordar é viver Apesar da grande quantidade de veículos coletivos, o passado do bairro já foi mais glamuroso. Ao entrar no túnel do tempo surgem grandes lembranças das extintas linhas 911, 927, 909. Ou ainda dos ônibus que deixaram de circular por dentro da Maré, como o 663, que ligava o Méier ao Parque União; o 998, que vinha de Niterói e passava pela Linha Amarela; e o 919, que reduziu o
trajeto, deixando de fazer a viagem até o Rubens Vaz, e agora com ponto final no Morro do Timbau. O transporte vira história da Maré na cabeça dos moradores. Raimundo Nonato, de 34 anos, é um desses passageiros saudosos. “Era muito divertido na nossa adolescência. Na época dava muito calote para ir jogar na Cidade Universitária. Entrava por trás e saia pela mesma porta. O 911 faz falta, agora vamos a pé”, finaliza Raimundo.
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CAPA
O planeta Terra está com Mesmo que o homem acabe com suas atividades, a temperatura continuará subindo CAIO BELTRÃO
Chuvas torrenciais, tufões, derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, ressacas mais violentas, morte de corais, longos períodos de seca, ondas de calor. O mundo está assistindo fenômenos da natureza cada vez mais intensos. O planeta pede socorro, grita aos homens seus lamentos. “Olhem o que vocês fizeram comigo”, diz a Terra. Nós, no entanto, não ouvimos.
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equipe de O CIDADÃO fez uma enquete na Maré para saber o que o morador sabe sobre o aquecimento global e que medidas toma para contribuir com o ‘retardamento’ dos seus efeitos. Todos os entrevistados disseram não saber nada sobre o tema e que não entendem o que a grande mídia publica sobre o assunto.
Uma das maiores geleiras do mundo, em Perito Moreno na Argentina, pode sumir com a elevação da temperatura
Sendo assim, vamos esclarecer. Aquecimento global é o aumento da temperatura em todo o mundo, um fenômeno que preocupa cientistas, ambientalistas e governos. Acredita-se que seja provocado pelo uso de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, e outros processos industriais, que levam à acumulação na atmosfera de gases que prendem o calor provocado pelo Sol. A esse processo damos o nome de efeito estufa. É bom lembrar que este efeito é natural e através dele é permitida a vida em nosso planeta. No entanto, as agressões à natureza têm contribuído para o agravamento do efeito estufa, a ponto de elevar a temperatura na Terra e piorar muito a qualidade de vida das pessoas. Gases como o dióxido de carbono (CO2, lançado pelos automóveis) e o metano, entre outros, são os principais causadores desse efeito. Estima-se que o homem, principalmente após a descoberta do carvão mineral e do petróleo, há 150 anos, fez o proces-
so de aquecimento natural da Terra aumentar em dez vezes. Isso significa dizer que os problemas do clima que estamos testemunhando hoje deveriam acontecer somente daqui a, aproximadamente, cem anos. O aumento do nível do mar Com o aumento da temperatura da Terra, as principais geleiras do planeta estão desaparecendo. O derretimento das calotas polares, que são as grandes placas de gelo dos pólos Norte e Sul, encontra-se em processo acelerado. Com isto, há um grande risco de aumento do nível dos oceanos. Pequenas ilhas e cidades inteiras podem desaparecer em alguns anos, cobertas pelo mar. O professor de Jornalismo Ambiental André Trigueiro, da PUC,lembra um estudo do Ministério do Meio Ambiente que aponta os lugares da costa brasileira mais vulneráveis ao aumento do nível do mar. Segundo esse estudo, as cidades do Rio de Janeiro e de Recife seriam as mais atingidas. “Como isso vai acontecer ainda é incerto. A Maré, por exemplo, tem uma característica que, em tese, pode significar uma vantagem. Está situada sob o amparo da Baía de Guanabara. Poderia ser mais fácil construir diques para conter o avanço da água, como os que existem na Holanda. Mas, num cenário mais drástico, a saída seria a remoção dessas pessoas”, diz o jornalista.
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m febre O avanço do mar se dará ao longo deste século. Alguns estudos apontam que, em 2100, o mar poderá subir seis metros. Neste cenário, a Maré deixaria de existir, pois está situada ao nível do mar. Qualquer elevação das águas trará conseqüências para a região. Esse aumento já ocorre, mas é imperceptível em regiões mais acidentadas, porque são poucos milímetros por ano. Já existem ilhas desaparecendo com o avanço do mar. “Cerca de 20 mil pessoas saíram das Ilhas Tuvalu e foram para a Austrália, porque o mar está tomando conta de suas casas. A elevação do nível do mar já está acontecendo. É um processo lento, mas constante”, alerta Trigueiro. Um outro problema grave que o aumento do nível do mar pode causar é a infiltração da água salgada nos mananciais de água doce, o que pode acarretar complicações no abastecimento de água. “Este é um cenário provável”, diz Trigueiro. O estudante de Oceanografia e morador do Parque União Roberto Freires, de 24 anos, afirma que nas próximas décadas há o risco de mais de 50% das espécies do mar serem extintas. “Os corais já estão morrendo e eles são fonte de alimento e ‘moradia’ para uma série de outras espécies”, diz. A importância das florestas As queimadas e o desmatamento também agravam o aquecimento. Todas as plantas, para crescer, precisam capturar da atmosfera dióxido de carbono. Desta forma, as florestas são verdadeiros reservatórios de CO2 e fonte do oxigênio que respiramos. Com as queimadas e derrubadas de árvores, todo o CO2 absorvido por elas durante sua vida é devolvido para a atmosfera, agravando o efeito estufa. Com o aquecimento, a floresta mais atingida seria a Amazônia. Estudos indicam uma elevação de 3º C na região nos próximos anos, o que modificaria totalmente sua vegetação. “Parte expressiva da Floresta Amazônica se transformará numa savana, com arbustos e árvores menores”, diz Trigueiro. Como efeito, diversos animais deixarão de existir naquela região. Podemos comparar a mudança de temperatura com nosso próprio corpo. Nossa
O excesso de carros aumenta a emissão de gás carbônico na atmosfera, principalmente nos engarrafamentos
temperatura normal é de 36,5ºC. Com uma temperatura 3º C acima do ideal, estaremos com febre de 39,5º C. É o que está para acontecer com o nosso planeta e com a floresta amazônica. O Brasil é responsável por 6% de toda a emissão de CO2 do mundo. Desses, 4% são em decorrência do desmatamento. Se deixássemos de queimar e derrubar nossas árvores, contribuiríamos para uma diminuição de 75% da nossa emissão de gases de efeito estufa. Tratado de Quioto Este tratado é um acordo internacional que visa à redução da emissão dos poluentes que causam o efeito estufa no planeta. Entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, no Japão. Infelizmente os Estados Unidos, país que mais emite poluentes no mundo e responsável por 40% de toda emissão de CO2 do planeta, não aceitou o acordo. Afirmou, que para tanto ele prejudicaria seu desenvolvimento. Cerca de 20 países, incluindo o Brasil, são responsá-
veis por mais de 95% de todo o CO2 emitido no mundo. Nosso estilo de vida O aquecimento global tem muito mais a ver com nossa vida cotidiana do que imaginamos. Toda a energia que consumimos está relacionada ao aquecimento, assim como o lixo que produzimos em nossas casas, o tipo de transporte que utilizamos. Dessa forma, a responsabilidade pelas mudanças climáticas é compartilhada por todos nós. Nossa sociedade vive, talvez, o ápice do consumismo. Compramos coisas que muitas vezes não necessitamos, mas que nos garante status. A faixa mais jovem da população é a mais atingida por este tipo de problema. “Isto é um problema ambiental”, diz André Trigueiro. “Quando eu compro, eu estou levando para minha casa matéria-prima e energia. Quando acumulamos coisas, temos um estoque de água, de matérias-primas de diferentes espécies, que ficam sem utilidade”. CHERYL EMPEY
Refinaria de petróleo no Texas, Estados Unidos, um dos países que mais emitem monóxido de carbono
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CAPA
Aquecimento prejudica planeta Professor José Abrantes faz previsões para daqui a cem anos
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CIDADÃO entrevistou o pro fessor titular e pesquisador da Unisuam, José Abrantes, que há dez anos estuda os efeitos do clima e como nosso modo de vida contribui para o agravamento da situação no planeta. Confira a entrevista:
O CIDADÃO - O que o aumento do nível do mar pode representar para áreas litorâneas do Rio de Janeiro? José Abrantes - As pesquisas comprovam que o nível do mar vem subindo lentamente e a tendência é de que até 2100 possa subir até seis metros. Todas as cidades, no mundo inteiro, que estão junto ao mar, vão sofrer conseqüências graves. Falando especificamente da Maré, ela está numa área que, aliás, nem deveria estar. O problema não é porque há gente aqui, o problema é que está no nível do mar. Agora, esta subida é lenta, é sorrateira. O mar sobe poucos milímetros por ano, mas sobe constante. E esta subida já está acontecendo.
“O todo é feito de várias partes. Se cada um fizer a sua parte, o todo será feito”
seguinte: vai ser uma subida lenta, gradual. Hora após hora, dia após dia, mês após mês, ano após ano. A tendência é de que as pessoas mais novas já não continuem morando lá. Será uma tendência normal. Pelas previsões, nos próximos 20 anos vai se notar muito pouca diferença. Não vai ser uma cena catastrófica. Ela é lenta, gradual, mas constante e, até onde nós sabemos, irreversível. Vai acontecer, está acontecendo.
O CIDADÃO – Mesmo que o mundo todo tome consciência, diminua drasticamente a emissão de gases, ainda assim vai acontecer? Há possibilidade de “retardar” os efeitos? José Abrantes – Existem vários estudos que dizem o seguinte: mesmo que nós parássemos toda a atividade humana, por questões naturais de evolução do planeta Terra e por tudo que já fizemos, a temperatura continuará subindo e os oceanos continuarão aumentando, como reflexo doderretimento das geleiras. Então, infelizmente, a informação que nós temos hoje é esta, de que é um pro-
cesso quase que irreversível. Pelo menos, num espaço de tempo superior a vida de qualquer humano.
O CIDADÃO – Está sendo usado na mídia o termo “exilados do clima”. Eles já existem? José Abrantes – É, ou exilados ambientais. Isto já está acontecendo em diversas partes do mundo. Já existem na Índia, na China. No Nordeste brasileiro, regiões da Paraíba, do Ceará estão vivendo complicações. Aqui, no Norte Fluminense, há ressacas e as marés já estão avançando mais. Quando uma família de pescadores, que vivia ali há 80 anos, precisa sair, vai para o interior, isto pode ser chamado de exílio ambiental. Ainda não existem em quantidades catastróficas, mas já é o início de um grande problema. O CIDADÃO – Na Maré são muito comuns cooperativas de catadores de papelão, latinhas de alumínio, garrafas pet. Isso contribui para reduzir o problema? José Abrantes - Ajuda muito! O camiLUIZ BALTAR
O CIDADÃO – Já existem regiões desaparecendo? José Abrantes – Sim. Inclusive tem uma ilha no Sul da Índia que sumiu, ela foi completamente tomada pelas águas. Existem mais umas 30 ilhas que nos próximos dez anos vão sumir. Tuvalu é um caso. Falando da Maré, o que pode ser feito? Sair de lá, ir para um lugar mais alto. Não tem outra coisa a falar. Não é algo que dependa do morador da Maré. A água vai subir e vai subir mesmo. Não tem jeito. O CIDADÃO – É possível precisar em quanto tempo os moradores da Maré poderão estar sendo afetados com essa elevação do nível do mar? José Abrantes – É bom deixar claro o Ilhas como Fernando de Noronha, na foto, correm o risco de desaparecer com a elevação do nível do mar
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nho é esse, a conscientização pessoal e depois coletiva. Para mim, a solução vem por aí. Não é uma solução total, mas cada vez que você recicla alguma coisa, você está deixando de tirar material da natureza e gastar energia. Isso é excelente. Só que tem um outro ponto: quando você junta pessoas, você permite a interação como seres humanos. Fica mais fácil refletir e mudar hábitos. Eu gosto muito de usar uma colocação assim: “O todo é feito de várias partes. Se cada um fizer a sua parte, o todo será feito”.
“Existem mais umas 30 ilhas que nos próximos dez anos vão sumir” O CIDADÃO – Nosso objetivo com essa matéria é alertar as pessoas para esse problema. Fazer com que avaliem o que estão fazendo em suas casas para melhorar o clima do nosso planeta. O que o senhor poderia falar? José Abrantes – A grande solução é reduzir ao mínimo os seus desperdícios. Não se deve tomar banho com o chuveiro aberto o tempo todo. Não devemos fazer a barba com a bica aberta. Você não deve lavar a louça com a água escorrendo. Não se deve lavar a calçada com a borracha aberta o tempo todo. Você estará ajudando a aumentar o consumo de energia, estará ajudando a aumentar o efeito estufa. Uma pequena ação que cada ser humano toma, ele ajuda. É como a história do beija-flor
José Abrantes, professor da Unisuam, explica os efeitos do aumento da temperatura no planeta
que está tentando apagar um incêndio na floresta. O beija-flor pegava uma gotinha de água, ia lá e jogava. E aí foi chegando mais um beija-flor, mais um, mais um... apagaram o incêndio. Nós somos pequenos beija-flores. Pode parecer mínimo, mas se você economizar um copo de água, sorria, você estará ajudando.
O CIDADÃO – Além do desperdício de energia, existe o de comida. Não é verdade? José Abrantes – No Brasil, nós desperdiçamos 50% dos alimentos que são produzidos. Se fosse possível acabarmos com os desperdícios, isto significaria para o país algo em torno de 3% de toda a riqueza produzida. Em 2006 nosso PIB (Produto Interno Bruto), que é a soma de todas as riquezas produzidas no país, foi de R$ 2 trilhões. Três por cento desse valor são R$ 60 bilhões. Se fosse possível deixar de jogar alimen-
Veja o que você pode fazer para amenizar o problema: - Use lâmpadas fluorescentes. - Deixe o carro em casa sempre que puder. Use transporte público, vá a pé ou de bicicleta. - Recicle lixo. - Plante árvores. Muitas árvores. - Não queime o lixo. Além de fazer mal à saúde, a fumaça contribui para aumen-
tar o efeito estufa e, por conseqüência, o aquecimento global. - Tente limitar seus banhos a, aproximadamente, 5 minutos. - Aproveite melhor a luz do sol.
tos fora, ninguém passaria fome no Brasil. Todos teriam três refeições ao dia. Talvez entre 30 e 40 milhões de pessoas não tenham acesso à água potável e nós jogamos 40% da água fora. Cerca de 10 a 15 milhões de pessoas não têm acesso à energia elétrica no país e nós jogamos 30% da energia fora. Isso tem a ver com aquecimento global, mas tem a ver conosco. É muito fácil criticar os americanos. Mas o que estamos fazendo? O Brasil é o país do desperdício. Nós jogamos fora, em 2006, R$ 3 trilhões, 150% de nossa riqueza. É o país no mundo que mais desperdiça recursos. Isso tem a ver com a forma errada com que nós vivemos. Isso contribui para o aquecimento global. Toda a família joga dinheiro fora e não sente, por mais pobre que ela seja. Estamos em emergência planetária. Não adianta se esconder. Todos serão atingidos. Sendo assim, todos devem mudar os seus hábitos.
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GERAL
Anorexia e bulimia: doenças da moda ANOREXI BULIMI KONTAKT / WWW.YOUTUBE.COM
A obsessão com a aparência compromete a saúde das jovens
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anorexia e a bulimia são uma das principais causas de morte entre mulheres jovens em todo o mundo. E a maioria das vítimas costuma ser de adolescentes que buscam uma beleza magra a qualquer custo, até mesmo colocando suas vidas em risco. A morte da modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, mostra bem este drama. Ela faleceu no dia 26 de outubro de 2006, com apenas 40 kg, mais uma vítima da ditadura da beleza. “Às vezes ainda me acho gorda. Eu tenho uma imagem distorcida de mim”, afirmou sete meses antes de falecer. Na Lona Cultura Herbert Viana há cursos para quem deseja seguir a carreira de modelo, mas a preocupação com a saúde das jovens também está em foco nas aulas. Segundo o professor Luiz Sá, a orientação é fundamental para as adolescentes. “Falo para os alunos não seguirem
Comercial veiculado na Suécia mostra o drama das meninas que sofrem com a aneroxia e a bulimia
o padrão Gisele Bundchen, não cultivarem a obsessão pela magreza, afirmando a importância da alimentação. Algumas crianças se assustam quando falo sobre o assunto, devido às conseqüências dessas doenças. Assim, os alunos acabam cuidando da beleza de forma saudável, não deixando de comer”, afirma. Os problemas com a aparência e o dese-
jo da magreza têm tirado o sono de muitas famílias em todo o mundo. Muitos pais vêem suas filhas às voltas com dietas e programas de beleza, e nem sempre sabem distinguir o limite entre a preocupação com a beleza e a distorção da auto-imagem. E, na maioria das vezes, as famílias só percebem o problema quando a situação está crítica e o risco de morte devido à doença aumenta.
Como essas doenças atuam Anorexia Nervosa O paciente mantém um peso corporal abaixo do nível normal mínimo para a sua idade e altura. Não há uma verdadeira perda do apetite, mas sim uma recusa em se alimentar, devido à obsessão pela magreza e o medo de ganhar peso. Causas: A interação sociocultural mal adaptada, fatores biológicos, psicológicos e especial vulnerabilidade de personalidade. Entre os sintomas estão depressão, falta de menstruação, preocupação excessiva com o valor calórico dos alimentos, atividade física e, ao se olhar no espelho, se vê gorda.
Bulimia nervosa As principais características da bulimia nervosa são as compulsões periódicas e métodos inadequados para evitar ganho de peso. O paciente tende a usar laxantes, diuréticos e fazer jejuns ou exercícios físicos. Causas: Os aspectos socioculturais, psicológicos, individuais e familiares, neuroquímicos e genéticos. Os sintomas são: fadiga depois dos vômitos induzidos, diarréia, desidratação e sensação de fraqueza pelo uso de laxantes, diuréticos e irregularidades menstruais.
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Sem açúcar, com saúde A diabetes, causada pelo aumento de glicose no sangue, é crônica, mas pode ser controlada JAN ROGER JOHANNESEN
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ansaço, perda de peso, muita sede, grande necessidade de urinar e visão turva. Esses são os principais sintomas da diabetes, uma doença que, se não controlada, pode causar grandes transtornos ao paciente e até levá-lo à morte. Segundo dados do IBGE, a população brasileira, em 2006, era de 190 milhões sendo 12% de diabéticos. Esse dado é preocupante. A diabetes é uma doença crônica, mas quando tratada, pode ser controlada. Ela se caracteriza pelo aumento da taxa de glicose, ou seja, o acréscimo de açúcar no sangue. Existem dois os tipos de diabetes: tipo um e tipo dois. No tipo um, o pâncreas não produz insulina, ou sua produção é insuficiente. Isso obriga o paciente a fazer aplicações de insulina periódicas. Ocorre com mais freqüência em jovens. O Tipo dois atinge pessoas que produzem insulina, mas não de forma adequada. As vítimas geralmente são os adultos, pessoas com antecedentes familiares de diabetes ou com excesso de peso. Sintomas A diabetes pode levar a sérios problemas nos olhos, levando à cegueira. A doença também afeta os nervos, o coração, os pés, as artérias e as veias. Em alguns casos não há sintomas, por isso, é preciso que todos, pelo menos uma vez no ano, façam exames para saber o nível de açúcar no sangue. Formas de controle A disciplina alimentar é fundamental
Aparelho de glicose: é importante para o diabético o exame regular para medir o nível de açucar no sangue
para o controle da doença. Já que o paciente não produz insulina como um indivíduo comum, ele precisa ingerir menos açúcar que os outros. O comportamento desses pacientes deve respeitar um novo ritmo de vida, mantendo uma dieta saudável, equilibrada e dentro dos seus padrões. Segundo Mariana Batista, de 49 anos, enfermeira do posto de saúde do Ciep Samora Machel, é complicado falar de disciplina alimentar para um diabético de uma comunidade como a Maré. Isto acontece porque o fator socioeconômico define, inclusive, a alimentação. “Nesses casos, temos que adequar a situação socioeconômica desse paciente com a realidade da patologia”, diz. Os exercícios físicos são sempre necessários, auxiliando muito no tratamento
da doença. Eles devem ser feitos com acompanhamento médico, respeitando os limites de cada paciente. “É necessário ter um nutricionista, controlar o peso, a pressão arterial e fazer 30 minutos de atividade física durante o dia. A caminhada é uma boa opção”, conclui. Fatores de risco Alguns fatores podem desencadear o aparecimento da doença, como o cigarro e a obesidade. Pacientes hipertensos, também podem vir a desenvolver a diabetes. Mas há, ainda, um fator genético: filhos de pacientes diabéticos devem ficar atentos aos níveis de açúcar no sangue. Mulheres que já tinham ou que desenvolveram a diabetes no período da gestação precisam de acompanhamento durante e depois da gravidez.
A importância e o cuidado do pé de um diabético O alto nível de glicose no sangue pode afetar os nervos dos pés e causar problemas de circulação do sangue. O primeiro sintoma é uma sensação de formigamento e “agulhadas”. Depois há a perda da sensibilidade dos pés. Se tiver uma lesão qualquer, o diabético pode não se dar conta dela imediatamente, facilitando o surgimento de infecções. Um outro problema é a dor causada nas pernas ou nos pés pela falta de circulação do sangue. Esse sintoma, junto com a infecção, pode provocar a
amputação desse membro.Os inchaços constantes podem apresentar coloração azulada, além disso a planta dos pés pode ressecar e rachar. Hoje, os hospitais públicos e os postos de saúde têm programas que auxiliam o doente com reuniões e palestras. O diabético precisa: - Fazer acompanhamento regular da doença e não faltar às consultas marcadas. - Tomar a medicação corretamente. - Manter o nível de glicose (açúcar) no sangue controlado.
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ESPORTES
Futevôlei também é praticado na Maré HÉLIO EUCLIDES
O esporte, que nasceu nas areias da orla carioca, chega à comunidade
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ol, calor, verão. Época boa para praticar esportes como futebol, basquete, natação e – por que não? - o futevôlei. Este esporte já é praticado na Maré há muitos anos. O seu “point” é o projeto Centro Esportivo da Maré, que funciona na Av. Bento Ribeiro Dantas, em frente aos apartamentos da Vila do Pinheiro. A iniciativa começou há 15 anos, quando cinco amigos começaram a se reunir para jogar futevôlei e conheceram alguns professores que ensinavam o esporte. Com ajuda destes profissionais, resolveram levar o conhecimento para outras pessoas. O grupo, hoje, tem 25 pessoas e conta com o apoio de alguns comerciantes da comunidade. “Ainda estamos recebendo doações de materiais para melhorar a estrutura do campo, pois temos poucos recursos. Mas, com um passo de cada vez e com ajuda de novos patrocinadores, teremos mais chances de dar continuidade ao projeto”, afirma Evandro Meneses, um dos idealizadores. Jean Ulisses, de 13 anos, é um dos alunos mais dedicados do projeto. Ele lembra que quando viu vários meninos jogando “bola” no campo, logo se interessou. E convidou seus amigos para fazerem parte da
Priscila exibe as medalhas conquistadas em diversos campeonatos realizados no Brasil
equipe. “Gosto muito de praticar esportes. Porém, meu sonho é ser veterinário”, revela. O professor de Futevôlei e Beach Soccer Ricardo Alves, de 35 anos, diz que sempre conversa com os alunos sobre a importância de fazer um esporte, da mesma forma que motiva seu filho, de 7 anos, em casa. “Todos os alunos também são incentivados a continuar estudando e ter boas notas. Esporte sem acompanhamento escolar não funciona”, finaliza. O projeto oferece, ainda, aulas de futebol gratuitas, às terças, às quintas, às sextas e aos sábados, a partir das 15h30 min. E quem estiver interessado em participar do grupo, é só comparecer ao local.
O surgimento de um novo esporte O futevôlei foi criado em 1965 pelo arquiteto e esportista Otávio Moraes, o Tatá. Para fugir da proibição policial de bater bola, pelada ou linha de passe na praia, resolveu jogar em uma quadra de vôlei, com rede e campo delimitados, o que era permitido. Alguns amigos acompanharam o Tatá nessa jogada e logo apareceram as primeiras regras do novo esporte. Uma delas dizia que para dar o saque, o jogador deveria pegar a bola com a mão e chutá-la para o campo adversário. Isso depois sofreu várias alterações. HÉLIO EUCLIDES
SABOR DA MARÉ
Panquecas da Tia Terezinha Ingredientes para a massa: - 2 copos grande de leite (300 ml) - 2 copos grande de farinha de trigo (300 ml) - 2 ovos - 1 colher de sopa de queijo ralado - ½ colher de café de sal Ingredientes para o preparo: - Uma caixinha de molho de tomate - 1 pacote de queijo ralado - Óleo (para assar) - Manteiga ou margarina (para untar)
Modo de preparo: Bata os ingredientes da massa no liquidificador até ficar consistente. Coloque um fio de óleo numa frigideira teflon. Pegue de massa uma medida de xícara de café e despeje na frigideira. Ao tostar vire e espere a coloração do outro lado. Retire e bote o recheio a gosto (carne moída, camarão, sardinha em lata, atum em lata...). Feito isso leve-a até um pirex untado. Refaça esses passos até acabar toda massa. Lembrando que entre cada panqueca cabe
Terezinha e as panquecas: da Paraíba para a Maré
uma pincelada de molho de tomate e um pouco de queijo ralado. Leve ao forno pré-aquecido, e deixe por 10 minutos. Rendimento: De doze a catorze panquecas.
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21 MARÉ MUSICAL DIVULGAÇÃO
O samba que empolga a Maré Grupo Parabalar faz shows na comunidade e em breve lançará CD
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samba é um dos ritmos mais po pulares do país. Um ritmo que leva o nosso jeito de ser para além das fronteiras nacionais, e que, claro, tem raízes fortes em nossa comunidade. Foi com base nessa tradição de samba, partido alto e pagode que surgiu em 2000 um grupo formado por seis jovens entre 21 e 29 anos, em sua grande maioria moradores da Maré: o Parabalar. Seu primeiro nome foi Reflexão, mas como já havia outras bandas com o mesmo nome, decidiram mudar, por votação feita pelos próprios componentes. Os jovens do samba já se apresentaram em diversas comunidades. “Sempre fomos muito bem recebidos e isso nos dá uma alegria muito grande”, afirma Rogério Ricardo Aguiar, de 29 anos, mais conhecido como
Grupo Parabalar, da esquerda para a direita: Gabriel, Paulinho, Henrique, Índio, Rogerinho e Thiago
“Rogerinho”. Segundo Gabriel Lessa, de 21 anos, um dos objetivos do grupo é fazer uma apresentação de lançamento do novo cd. “Caso haja oportunidade, queremos fazer um show gratuito na Lona Cultural Herbert Viana na Maré”, diz. No entanto, até chegarem a este tão grande passo, muitas portas se fecharam algumas situações difíceis marcaram a história do grupo, como por exemplo, uma festa de aniversário em que não havia lugar para eles sentarem para
tocar e, por isso, fizeram o show em cima de caixas de cervejas. Hoje, o grupo conta com a ajuda dos empresários Marcelo Thirim e Luiz Boca, que ajudaram na carreira de vários grupos, como Soweto, Revelação, Alô Som e Molejo. Foi por meio deles que veio a oportunidade de gravar o primeiro cd, ainda sem nome. As pessoas que quiserem contratá-los devem ligar para: 8841-0501/ ou Nextel 32*15136 e falar com Marcelo.
Roberto Silveira: uma das ruas mais movimentadas do Parque União Apesar dos pontos positivos, moradores reclamam do excesso de barulho HÉLIO EUCLIDES
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Roberto Silveira é uma das princi pais ruas do Parque União. Inicia-se na Av. Brasil e prossegue até a linha Vermelha, cortando toda a comunidade. Seus primeiros lotes foram demarcados em 1958. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, novos aterros e lotes foram dando prosseguimento à rua. Grande parte dos moradores que ainda hoje residem nela vieram no início da década de 1980. Eles foram testemunhas da canalização, do sistema de esgoto, do calçamento e da iluminação. A rua abriga a feira da comunidade. Às quartas-feiras, frutas, legumes e verduras são oferecidos fresquinhos aos moradores. A feira existe há mais de 20 anos. Sebastião Antônio dos Santos, de 60 anos, morador e comerciante há 18, não trocaria seu ponto por nenhum outro. “A rua é a melhor da comunidade para o comércio. Por aqui passam todos os moradores. Tem a feira de roupas, às sextas, que também atrai muita gente”, come-
Rua Roberto da Silveira em dia de feira: uma das principais da comunidade do Parque União
mora. Apesar dos pontos positivos, os moradores apontam um problema com unanimidade. “O barulho nos finais de semana é insuportável”, reclama a moradora Maria do Carmo de Oliveira, de 53 anos. De fato, bares, igrejas e o baile funk da
comunidade abusam do limite de barulho. “As pessoas não conseguem dormir direito nos finais de semana e na segunda-feira precisam acordar cedo para trabalhar”, diz Ivonete Gomes de Sousa, de 49 anos, moradora da rua há 21.
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Morre o Profeta do Parque União “Eu sou marujo. Sei nadar e sei a hora de deixar o navio” - Natanael Um ataque cardíaco, na madrugada de segunda-feira, 12 de março, vitimou o militante e fundador do Partido dos Trabalhadores na Maré, Natanael Pereira de Araújo, de 75 anos, conhecido como o Profeta do Parque União. Natanael deu entrada no Hospital Geral de Bonsucesso, por volta da uma da manhã, mas não resistiu. O sepultamento aconteceu às 10h de terça-feira, 13 de março. Natanael sempre foi um militante ativo. Preocupado com as causas sociais de nosso tempo, combateu a ditadura militar e colocava-se ao lado da causa nordestina, dos pobres, dos moradores da Maré, onde morava desde a década de 50. Era um denunciador dos exploradores do nosso povo.
Luzes III Quem passa na Linha Vermelha, Amarela, Na Av. Brasil ou saída da Ilha. Pode ver as luzes da Maré. A confiança do Conjunto Esperança. A solução da Vila do João. O empenho da Vila do Pinheiro. O desempenho do Conjunto Pinheiro. O amor quente do Salsa e Merengue. A Bento Ribeiro Dantas, que encanta. O Timbau, o morro legal. A Baixa do Sapateiro, hospitaleiro. A Nova Maré, uma nova fé. O Parque Maré, que dá pé. A Nova Holanda, que em frente anda. A Rubens Vaz, que bens traz. O Parque União, mostrando emoção. A Roquete Pinto, ao lado vem vindo. A Praia de Ramos, que tanto amamos. A Marcílio Dias, dos belos dias. Essas são as comunidades, Que trazem luzes ao bairro Maré. Hélio Euclides da Silva Jornal O Cidadão.
Errata Na edição 47, na seção “Eles lêem O Cidadão” o leitor Emerson da Silva mora na comunidade do Parque União. A foto no alto da página 13 é de Faísca Gelson.
CARTAS As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050) Carta da Maré Não há uma fórmula pronta e acabada para a realização do desafio de diminuir o índice de violência no Rio de Janeiro. Proporcionar as condições ao exercício do direito de todo cidadão, ter acesso à educação é um fator básico e de cidadania. A eleição do Governador Sergio Cabral Filho gerou uma grande expectativa da sociedade civil organizada da Maré para a construção da tão sonhada escola de 2° grau com aulas diurnas. Na busca de vencer esses desafios, lideranças da Maré vêm realizando um esforço permanente para realização desse projeto. Já em governos passados, foram realizadas várias solicitações sem êxito, toda esta mobilização vem se arrastando por mais de 10 (dez) anos. Quando se abre oportunidades de participação para aqueles(as) cidadão(ãs) que nunca tiveram vez e voz sejam incluídos nas decisões objetiva-se de fazer justiça social. A democracia adquire outra di-
Prisão sem muro Quero andar pelas ruas Conheço as pessoas Buscar novas aventuras Tocar as mulheres boas Quero ouvir o cantar dos pássaros Voando de um lado pro outro Comer a fruta madura Tocar esse lindo tesouro
mensão quando a sociedade participa da elaboração, do acompanhamento e da execução dos programas que se referem à educação. Os jovens da Maré quando terminam o primeiro grau e desejam dar continuidade aos estudos, ficam sem rumo, pois na Maré não existe uma escola de segundo grau com aulas diurnas. Eles, na maioria, acabam se transformando em vítimas ou algozes da violência. Pode parecer redundância no papel, mais na pratica representa insistência, perseverança, garra e esperança que esse sonho se realize. Diante do exposto, viemos, em nome de toda comunidade da Maré, solicitar, o apoio e o empenho necessário para que o sonho desta escola de segundo grau com aulas diurnas se realize, propiciando para nossos jovens um futuro melhor. Rio de janeiro, 05 de março de 2007 Wladimir Aguiar
Quero enxergar no horizonte Fazer uma linha imaginária Sentir a brisa no rosto E no mar tocar suas águas Quero buscar na fonte Quero sair do escuro Quero escutar o meu nome E sair da prisão sem muro Roberto N. Alves
Uso racional da água Não desperdice água quando lavar a roupa no tanque. Feche a torneira quando for ensaboar a roupa. Aproveite a água que sobrou para lavar o chão de sua casa. Coloque uma bóia em sua caixa d´água. Assim você não desperdiça água e evita que seu vizinho fique sem ela. A bóia não permite que a água transborde, quando a caixa enche.
Não jogue lixo no vaso sanitário. Ele entope a rede de esgotos. Coloque em uma lixeira perto do vaso sanitário e jogue lixo, como: papel, fio dental, cotonete, palito de fósforo, absorvente, grampo, fio de cabelo, fralda descartável....
Fonte: Calendário da CEDAE 2007
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Jogo dos 8 erros
Piadas O jovem e a TV Um rapaz entra na loja de eletrodomésticos e aborda um vendedor: - O senhor tem televisão colorida? - Temos sim, senhor! - Então, me dá uma amarela! O assalto O assaltante aborda o rapaz no meio da rua. - Pare! – grita. - Impare! – grita de volta o rapaz estendendo três dedos. - Mas eu estou te roubando! – explica o assantante. - Então não brinco mais!
O vizinho O vizinho bate a porta do outro. - Ei, você usar seu cortador de grama hoje? - Que Pena! Vou usar, sim. Hoje é dia de arrumação. - Maravilha! Vim pedir sua raquete de tênis emprestada.
1. Por que os grossos não podem cantar? 2. Qual é o mudo mais poderoso do mundo? 3. O que aumenta e diminui duas vezes por dia? Respostas: 1. Porque têm que estar afinados; 2. O dinheiro; 3. A maré.
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A Casa da Cultura da Maré, ao longo dos últimos 05 anos, vem trabalhando para ampliar, divulgar e preservar junto à população da Maré atividades sócio-culturais, visando romper possíveis barreiras, que nos são impostas pelo cotidiano. Esse trabalho já vem dando resultados, através dos projetos e eventos desenvolvidos no espaço tais como: as aulas da Escola de Dança, o Museu da Maré, Festa Junina, além de aulões e festas realizadas pelo curso Pré-Vestibular do CEASM. Com o objetivo de criarmos uma identidade visual, para a Casa de Cultura, que apesar de todos esses projetos e tamanha atuação, não conta com uma logomarca estamos laçando o concurso “A cultura DA MARÉ tem marca”, com o intuito, de que os moradores da Maré possam participar de forma direta da concepção e escolha de uma logomarca, para a Casa de Cultura da Maré. Regulamento: Objetivo: A criação de uma logomarca para a Casa de Cultura da Maré, com a participação dos moradores da Maré. Categoria: Apresentação de uma logomarca. Logomarca: A imagem deve ser feita, levando em consideração o nome da instituição destacando o nome “DA MARÉ” e da proposta do espaço Casa de Cultura da Maré em trabalhar com as mais diversas linguagens culturais. A concepção da logomarca é livre, podendo ser utilizada qualquer técnica artística em sua elaboração.
Condições: 1ª Poderão participar deste concurso somente pessoas físicas, moradoras da Maré ou com vínculo com a comunidade. 2ª A apresentação da logomarca pode ser realizada em grupo. 3ª É obrigatório que a logomarca seja de propriedade exclusiva do concorrente. 4ª As logomarcas deverão ser apresentados impressos no papel A4 e com uma cópia em disquete ou CD em qualquer formato. 5ª As logomarcas ficarão sob a responsabilidade da instituição até o término do concurso, e somente serão devolvidos mediante a presença do(a) concorrente. 6ª O(a) concorrente vencedor cederá os direitos de utilização da logomarca à instituição. Inscrições: As inscrições serão totalmente gratuitas e deverão ser realizadas do dia de 20 de abril de 2007 até o dia 30 de maio de 2007, somente nos seguintes endereços: Casa de Cultura da Maré Rua Guilherme Maxwell, 26 (em frente ao SESI) e no CEASM (Timbau) Praça dos Caetés, 07. Maré RJ. No ato da inscrição, o(a) concorrente deverá apresentar o seu projeto em papel A4, dentro de envelope pardo, lacrado e sem identificação. No ato de inscrição cada participante receberá um número, que o identificará. Premiação: O primeiro colocado receberá o prêmio de R$ 500,00 (quinhentos reais). Vale ressaltar, que só o primeiro colocado será premiado e terá a sua logomarca utilizada. Os segundo e terceiro colocado receberão um certificado de participação e um Kit com livro e fotos da Maré. Além dos vencedores, todos os participantes receberão certificados de participação. Resultado: O resultado do concurso será divulgado durante o mês de junho. Contamos com a participação de todos. Até lá. Caro(a) leitor(a), este mês, a Rede Memória cede seu espaço para apresentar o regulamento do concurso “A cultura na Maré tem marca”. Mais uma vez, pedimos sua colaboração para que esse evento seja um sucesso! E não perca no próximo mês, um novo tema sobre a história da nossa comunidade. Até lá!