jornal o cidadao 50

Page 1

O Cidadão

1

RIO DE JANEIRO

JUNHO 2007

ANO IX Nº50

Obesidade A doença que aumentou nos últimos 30 anos e atinge adultos e crianças

3

ALUNOS DO RIO SEM PASSE LIVRE

16

19

O USO DAS ERVAS MEDICINAIS

O PERIGO DOS REMÉDIOS

20

BASQUETE : O GRANDE MAICON


O Cidadão

2

EDITORIAL

Oito anos e muitas histórias

O

CIDADÃO completa, em julho, oito anos e 50 edições com a proposta de mostrar uma Maré que poucos conhecem. Diferente dos grandes meios de comunicação, o nosso jornal é uma mídia alternativa que valoriza o detalhe da nossa comunidade e se interessa pelo que é importante para o morador. O jornal apresenta uma linha editorial que busca integrar e fortalecer os mareenses. Em nossa matéria principal, falamos da obesidade que pode ser considerada uma epidemia. Nos últimos trinta anos, o número de brasileiros que estão acima do peso aumentou. O consumo cada vez maior de gordura e de açúcar compromete a saúde da população. Esse fato deve-se não só aos nossos maus hábitos alimentares, como fast-food, biscoitos recheados e refrigerantes, produtos que a nossa sociedade capitalista vende como sinônimos de beleza, sabor e aceitação, mas que são na verdade um veneno para a saúde e apenas uma forma fácil de gastar pouco e obter grandes lucros. Por isso, as crianças, alvo fácil dessa nova forma de “consumir”, também estão com a saúde comprometida. Tudo isso sem falar que

fazer dieta balanceada, ganhando o nosso tão magrinho salário mínimo não é tão fácil quanto parece: os produtos “lights” são sempre muito mais caros, as verduras e legumes estão cheias de agrotóxicos e as frutas estão caras. Isso não isenta os pais de ficarem atentos aos hábitos alimentares de seus filhos, além de incentiv á-los à prática de atividades físicas. No entanto, é de extrema importância cobrar de nossos governantes que possamos ter condições básicas para viver, uma vez que nem o direito de brincar na rua para gastar energia as nossas crianças têm. Na editoria de educação abordamos o tema do passe livre, que novamente é colocado em “xeque” pela ganância dos donos das empresas de ônibus. Como um país quer crescer se não consegue valorizar um dos pilares para esse desenvolvimento? Devemos todos exigir a devida atenção do Estado à educação, porque sem ela realmente não existirá mudanças significativas em nosso país. A população tem que se unir e exigir os seus direitos, mas não deve esquecer que também tem deveres para cumprir. Boa Leitura!

O Cidadão é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965

Direção Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana S. Silva Maristela Klem • Lourenço Cezar Coordenadora Geral: Rosilene Matos Editora: Cristiane Barbalho Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Revisão: Viviane Couto e Audrey Barbalho Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Renata Souza • Cristiane Barbalho • Hélio Euclides Rosilene Matos • Silvana Sá • Gizele Martins • Edvania Braga • Vinicius Zepeda Colaborou nesta edição: Rede Memória Jornalista Responsável: Ellen de Matos (Reg. 27574 Mtb) Ilustrações: Jhenri

ELES LÊEM O CIDADÃO

Publicidade: Elisiane Alcantara FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra Diagramação: Fabiana Gomes da Silva Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço Foto de Capa: Niels Rameckers Repórter Fotográfico: Hélio Euclides Distribuição: Matilde Nonato (coordenadora) Carla de Almeida • Charles Alves Jefferson Kione • Jéssica de Oliveira José Diego dos Santos • Rosilene Ferreira Luiz Fernando de Souza Fotolitos / Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares

Á esquerda, Zezinho, jogador de 46 anos, morador do Conjunto Pinheiro, acima, Paulinho Esperança, de 53 anos, coordenador da Fundação Leão XIII

O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da maré. Promove oficinas e atividades que se tornam Uma conquista dos extensão da sala moradores da Maré de aula.

A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso

Tel:3882-8200 / Fax:2280-2432

Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br

O Instituto Telemar apoia o jornal O Cidadão


O Cidadão

3

EDUCAÇÃO

Passe livre é posto em xeque Fetranspor e Justiça negam passagem para estudantes da rede pública

HÉLIO EUCLIDES

O

s estudantes que precisam utilizar transporte público para chegar até a escola correm o grande risco de ficar a pé. A Federação de Empresas de Transporte do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), há alguns meses, entrou com uma ação no Tribunal de Justiça alegando a inconstitucionalidade da Lei Municipal do Passe Livre, e ganhou.

“Na minha escola tem gente que não tem mais créditos (...) e está pagando R$80 por mês na kombi escolar” Letícia Albuquerque Estudante da Escola Municipal Brasil A qualquer hora a empresa pode suspender o serviço já que, com esta decisão, o passe tornou-se ilegal. O argumento da federação é que não há fonte de custeio para sustentar o passe livre que, segundo o Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ônibus), beneficia 1,5 milhão de pessoas. De acordo com o cientista político Eduardo Alves, a Fetranspor está equivocada ao tratar o passe livre como um “prejuízo” do Estado, quando esse benefício representa um investimento na educação.

COMO VOVÓ JÁ DIZIA

Estudante do ensino médio desce do ônibus 919 vindo da Escola Estadual México no bairro de Botafogo

O passe livre, destinado a estudantes da rede pública, portadores de necessidades especiais e idosos, de acordo com o cientista político, é uma conquista da sociedade e não pode ser suspenso. Segundo Thiago Franco, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), os alunos do Rio possuíam 156 passagens mensais, mas os créditos estão sendo reduzidos. “A iniciativa da Fetranspor e a decisão da Justiça vai contra o direito à educação. O passe deveria ser ampliado porque o ensino vai além da escola, passa pelo acesso a bens culturais e à informação”, afirma. Estudantes da Maré O término do passe livre causará grande prejuízo aos estudantes com baixo poder aquisitivo. Alberto Vitor de Lima, de 18 anos, morador do Parque Maré e estudante

da Escola Taciel Cylleno, em Ramos, diz que teria que deixar de comer para estudar. “A dificuldade financeira é extrema. Além disso, ficaria desestimulado a estudar por não ter muitos motivos para estar indo à escola, devido à falta de professores”. Já no caso de Letícia Albuquerque, de 12 anos, moradora da Nova Holanda que estuda na Escola Municipal Brasil, em Olaria, com o fim do passe livre ficará difícil ir à escola já que sua mãe não tem dinheiro para pagar a passagem todos os dias. “Na minha escola tem gente que não tem mais créditos no cartão de passagem e está pagando R$80 por mês na kombi escolar”, diz. Segundo o presidente da Ubes, o movimento estudantil continuará organizando passeatas para que o benefício volte a ser lei. O CIDADÃO entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura do Rio de Janeiro, mas não obteve respostas.

Dicas de limpeza Limpeza das chapinhas do fogão: Para que as chapinhas do fogão fiquem como novas, coloque-as numa vasilha com vinagre e sal. Depois de uma hora esfregue com palha de aço e sabão. Elas ficarão brilhando. Para limpar garrafas: Deixe as garrafas térmicas bem limpas e sem aquele cheiro desagradável, colocando dentro delas, por uns 10 minu-

tos, uma solução de água quente e sal. Depois é só lavar com uma escovinha. Ralador de queijo limpinho: Quando o ralador ficar com partículas de queijo, esfregue-o com batata crua antes de lavá-lo. Ficará bem limpo. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus - Editora Vozes


O Cidadão

4

GERAL

Conseqüências do tabagismo No Brasil morrem cem mil pessoas por doenças causadas pelo cigarro HÉLIO EUCLIDES

S

egundo estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS), morrem mais pessoas no mundo vítimas de doenças provocadas pelo cigarro do que a soma das mortes provocadas por AIDS, acidentes e violência. O Brasil tem 30 milhões de fumantes. Destes, morrem cem mil a cada ano por complicações causadas pelo fumo. Ou seja, o tabagismo, transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias que causam dependência, também mata. Os sintomas mais corriqueiros são bronquite crônica, tosse seca, falta de apetite, impotência sexual, sinusite e hipertensão. Os mais sérios, e causa de morte da maioria dos fumantes, são enfisema pulmonar, câncer de garganta, de

Fumante reproduz o gesto glamuroso do cinema, expelindo a fumaça sem a preocupação de quem está ao lado

pulmão e derrames. O fumante tem a saúde fragilizada e corre o risco de adoecer três vezes mais do que um não fumante. O Centro de Saúde Américo Veloso, na

“O tratamento tem várias etapas e dura um ano” Jorge Rodrigues Fisioterapeuta acupunturista Praia de Ramos, tem um serviço especializado no acompanhamento de pessoas que desejam parar de fumar. A iniciativa é uma parceria entre a

O fumo durante a gravidez A mãe que fuma durante a gravidez envia para seu bebê as substâncias tóxicas do cigarro. A criança nasce com baixo peso, com menor estatura e problemas neurológicos. Os riscos de aborto espontâneo e de parto prematuro também são maiores. Há possibilidade de má formação do feto, de sangramentos e de aumento das cólicas no bebê.

Mães que não fumam, mas que convivem com fumantes também colocam a saúde de seus bebês em risco. Um feto exposto à fumaça do cigarro poderá ter problemas respiratórios. Apenas um único cigarro é capaz de acelerar os batimentos cardíacos do feto, diminuir a passagem de oxigênio e causar danos à aprendizagem.

Prefeitura do Rio, o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer. O fisioterapeuta acupunturista Jorge Rodrigues Moreira é um dos responsáveis pelo grupo. “O tratamento tem várias etapas e dura um ano. Primeiro uma entrevista, depois palestras e só aí começam os encontros semanais”, diz o doutor Jorge. Mais informações pelo telefone 2590-3941.


O Cidadão

5

GERAL

Pintando o Nordeste na Maré Seu Manoel aprendeu a pintar quadros depois dos 60 e já tem suas obras reconhecidas HÉLIO EUCLIDES

C

abra, boi, galinha d’angola, beija-flor, cavalo, lobo e forró, tudo lembra o nordeste do Brasil. São esses elementos que Manoel do Nascimento, de 66 anos, morador da Nova Holanda, utiliza para inspirar suas pinturas de Arte Naïf. Com traços pontilhados e coloridos, Seu Manoel, como é conhecido, revisita sua terra natal. “Eu pinto os temas da minha terra, Campina Grande, e volto a ela em pensamento. O nordeste é a minha grande inspiração”, diz. Um de seus quadros pode ser visto no acervo permanente do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil, que fica no Cosme Velho. No entanto sua arte ainda não pode ser admirada na Maré porque não há um espaço disponível para expor sua obra. Manoel é pedreiro aposentado, mas passou a se dedicar ao ofício da jardinagem no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Foi lá que, em 2003, freqüentou uma oficina de desenho e pintura promovida pelo Centro Cultural do HUCFF. Segundo ele, quando começou a pintar, sua professora Renata Luca o deixou de lado, sem orientação, para que pudesse criar sem restrições. O argumento utilizado pela professora é que a obra de Manoel é tão genuína e autêntica que ela não poderia interferir no processo de criação.

Manoel, morador da Nova Holanda, pinta uma de suas obras Naïf em seu ateliê improvisado na laje de casa

Prestígio A importância de seu trabalho já é reconhecida. Com quase 150 obras, Manoel já expôs no Museu da República, na Academia Nacional de Medicina e também em diversas unidades da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outra universidade que admira a pintura do artista mareense é a Universidade Federal Fluminense (UFF) que já serviu de palco para palestras sobre Arte Naïf feitas por Manoel. Entretanto, o reconhecimento de sua arte não é revestido em renda. “As pessoas poderiam dar mais valor à arte porque, além da obra, há todo o trabalho do artista. Mas eu não vivo da venda dos quadros porque é muito difícil vendêlos. Precisa ter bastante divulgação. E o pintor de arte só tem valor depois que morre”, afirma. Contudo, se depender de suas filhas “corujas” e orgulhosas, Manoel poderá obter sucesso em vida. “Eu admiro muito o trabalho do meu pai. Como não podemos levar os quadros para todos os lugares, por conta da fragilidade, eu fiz um álbum com as fotos de todos os quadros. Eu e minha irmã estamos pensando em fazer uma página na internet. Nós temos dificuldades em pôr preços nos quadros porque não temos a noção do valor de uma obra de arte. Então, a professora

dele costuma dar os preços”, afirma Mariluce Nascimento, de 24 anos. Manoel gostaria de expor suas obras na Maré, mas ainda não encontrou um espaço. “Uma vez, os meus quadros foram expostos em algumas escolas da Maré por um educador

O nordeste é a minha grande inspiração” Manoel do Nascimento Artista da Nova Holanda do Programa de Criança Petrobras do Ceasm, mas não passou disso. Queria que todos pudessem conhecer o meu trabalho”, diz. Os interessados em saber mais sobre as obras de Manoel podem ligar para o telefone 2290-4283. Arte Naïf O adjetivo naïf é o mais empregado para o gênero de pintura chamado de ingênuo e, às vezes, primitiva. Na época em que foi lançado, o termo naïf era um estilo, como em outras épocas, os pintores foram chamados de impressionistas, cubistas, futuristas, etc... Os naïfs, em geral, são autodidatas e sua pintura não é ligada a nenhuma escola ou tendência. Essa é a força desses artistas que podem pintar sem regras, nem constrangimentos. Podem ousar e usar tudo. São os “poetas anarquistas do pincel”. Fonte: Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil.


O Cidadão

6

PERFIL

A contadora da Maré A história da comunidade pode ser ouvida pela voz de Marilene, no museu do bairro

HÉLIO EUCLIDES

Nome: Marilene Nunes Comunidade: Morro do Timbau Profissão: Aposentada Idade: 71 anos

M

arilene é uma contadora de história. Até aí tudo bem, de louco e contador de história todo mundo tem um pouco. Mas ela fez da contação de história sua profissão e tem uma missão importante: ajudar a resgatar a história da Maré e fazer com que os pequenos mareenses cresçam conhecendo e valorizando a sua história. E já que o assunto são as narrativas, a vida de Marilene tem todos os ingredientes de uma história.A idade ela não revela para ninguém, mas lembra da sua chegada na Maré quando tinha 10 anos. “Achei muito estranha a Nova Holanda, pois só havia casas de um lado da rua. Porém, com o passar do tempo, me adeqüei à realidade do local”, fala. Depois de um tempo, a água encanada e o esgoto chegaram à comunidade, mudando o aspecto da Maré. Antes ela carregava água para sua família e ainda vendia um pouco para ganhar um “trocado”. Sem falar que catava lixo e pescava peixes, mas nunca encarou como trabalho. “Minha infância foi muito bonita, a gente podia brincar na rua, dormir de porta aberta

Para Marilene, a contação de história é mais do que um trabalho, é uma forma de manter viva a história da Maré

e as famílias, como não possuíam tanta tecnologia, eram mais unidas”, diz. A compra da primeira televisão pela mãe foi marcante em sua vida. Ela lembra emocionada do dia em que não tinha TV e assistia aos seus programas preferidos pela janela do vizinho. “Era muito chato, pois alguns fechavam a janela na nossa cara para que não víssemos a programação, por isso quando ela pôde comprar foi o dia mais feliz da minha vida”, conta. Alguns anos mais tarde, Marilene começou a trabalhar na Zona Sul e era conhecida como “hippie” pelos moradores da Maré, devido ao seu modo de vestir. E como conheceu muita gente ligada à arte, conseguiu

u m a oportunidade de fazer o curso de teatro do Tablado com Louise Cardoso. Atuou no teatro e no cinema, mas nunca fez televisão. Seu nome artístico é Lene Nunes. Nesse período

morou em Santa Teresa, onde conheceu seu marido. Quando casou, voltou a morar na Maré e engravidou de sua primeira filha, Sara, hoje com 16 anos. Ainda assim, continuou viajando fazendo produção teatral. Logo depois teve Ana, hoje com 14 anos e dois anos mais tarde nasceu Lucas. Nesse momento, decidiu que seria apenas mãe. “Parei com os trabalhos e tive a recompensa da maternidade, mas não gostei de ter parado a minha mente”, revela. Depois de cinco anos, começou a trabalhar em uma creche e conheceu Marielle, que a indicou para o curso de contação de histórias. Naquele momento achou que aprenderia a contar contos infantis, mas quando foi selecionada para fazer o curso, descobriu um mundo de lendas e contos da Maré. “Sempre contei histórias para meus filhos e procurei mostrar um pouco da felicidade que tive na minha infância. Sei que a deles foi diferente, mas somos muito unidos e, as vezes, brincamos juntos dentro de casa”, afirma. Hoje, ela é coordenadora do Grupo Maré de Histórias do Museu da Maré. Lá, faz mediações históricas pelo acervo. Ainda trabalha na Lona Cultural Herbert Vianna, como contadora para crianças, na biblioteca. “Recebo crianças entre quatro e 12 anos e acho esse trabalho muito importante, pois elas são estimuladas à leitura e quando começam a descobrir ‘o novo mundo’ fico com uma enorme felicidade”, finaliza.


O Cidadão

7 ANÚNCIOS

Tie Dye, Batik e Serigrafia

Informe Publicitário

A valorização da cultura afro na comunidade da Maré Texto: Cris Araujo Conexão Brasil-Africa em parceria com o SEBRAE/RJ, a Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro, na sua sede na Vila do João, no Complexo da Maré, está realizando uma experiência-piloto de desenvolvimento de produtos de vestuário e decoração utilizando técnicas milenares de pintura em tecido, tie dye e batik, inspiradas na

arte africana. Neste sentido, busca agregar valor simbólico ao valor de uso na produção que envolve ainda integrantes da oficina de Serigrafia. Este projeto é destinado a jovens e adultos com muito talento e criatividade, moradores de áreas ditas faveladas e /ou periféricas. Estes são alocados nas três diferentes oficinas da cadeia de produção: Tie Dye, Batik e Serigrafia; Artes Visuais (produção de imagens) e Costura e Bordado. O produto desta cadeia consiste em artigos de vestuário e decoração, além da geração de um banco de imagens étnicas. Para além da oficina propriamente dita, seus participantes têm aulas de informática, empreendedorismo , plano de negócios e educação para cidadania. Ação Comunitária do Brasil do

AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL www.acaocomunitaria.org.br RIO DE JANEIRO

Fotos: Ronaldo Breve

Rio de Janeiro - ACB/RJ com 40 anos de experiência, a ONG contribui com a definição de políticas e práticas de geração de trabalho e renda para moradores de comunidades de baixa renda. Desde 2002 é a entidade-âncora no Estado do Consórcio Social da Juventude, uma vertente do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego.

Rua 11, na quadra 5 – Vila do João. Tel: 3868-7056 Sede: Rua da Candelária, 4, Centro – Tel/fax: 2253-6443


O Cidadão

8 ANÚNCIOS


O Cidadão

9

NAS REDES DO CEASM

O cidadão: cinqüenta edições, oito anos de vida Equipe lembra de algumas das histórias contadas ao longo da existência da publicação CRISTIANE BARBALHO

A

busca pela transformação social faz parte da vida de José Carlos Bezerra desde os tempos de adolescência, quando militou na Pastoral da Juventude. Hoje, publicitário formado, é um dos diagramadores do jornal “O CIDADÃO”, que este ano chega à sua 50ª edição, e faz oito anos de vida.“Aqui junto o que gosto de fazer com um veículo que trabalha a autoestima do morador mostrando que, apesar das dificuldades que enfrentamos aqui, existem muitas coisas positivas”, afirma o diagramador. A equipe inclui ainda coordenação, repórteres, fotógrafo, administrador, editor, diagramadores e distribuidores. Mensalmente são 20 mil exemplares distribuídos aos quase 140 mil moradores da Maré. Para Gisele Martins, uma das repórteres, ali ela encontrou o lugar para praticar o que seus pais lhe ensinaram desde a infância. “Uma vez fizemos uma matéria sobre um movimento dos moradores da Marcílio Dias contra a remoção de

Diversas capas do jornal O CIDADÃO mostram a diversidade de temas abordados durante esses oito anos

suas casas. Graças à repercussão da reportagem, evitamos o ocorrido”, lembra emocionada. A redação de O CIDADÃO encontra-se no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm) na sede do Timbau. O jornalista André Esteves foi o editor do jornal de 2000 a 2005, tempo de recursos bem mais limitados. Hoje, a situação é bem melhor. “Depois que o Esteves saiu, a equipe assumiu o jornal, que cresceu muito. Tivemos que aprender na prática a fazer todas as etapas de um periódico. Temos consciência que estamos aprendendo, mas procuramos ajuda cada vez menos”, o rg u l h a - s e Rosilene, coordenadora do periódico.

CURSOS

Far mácia

O Cidadão dá dicas de cursos

O curso de Farmácia é prático teórico, contando com laboratórios bem equipados, projetos de pesquisa e docentes em dedicação exclusiva. A Faculdade de Farmácia está estruturada em quatro departamentos: o de Produtos Naturais e

Cristiane Barbalho, editora, exalta a qualidade do jornal. “Isto desmente a visão preconceituosa da sociedade de que a produção de comunidades não é bem feita”, afirma. Já para Hélio Euclides, administrador, repórter e fotógrafo, a publicação só existe por causa dos moradores da comunidade. “Estou aqui desde 1999 e fico muito feliz quando ligam agradecendo por uma matéria. Aqui a gente aprende a conhecer a Maré como um todo. Através de uma reportagem descobri que a rua Tatajuba, que nasce na Nova Holanda, corta três comunidades”, explica. No período em que o jornalista André Esteves respondia pelo jornal foram plantadas as bases para a qualidade atual do produto, que inclusive foi tema de sua tese de mestrado. Hoje, Estevez viaja pelo país montando oficinas de comunicação comunitária inspiradas no sucesso do jornal O CIDADÃO. Afinal, mesmo distante, ele não esquece o exemplo que a publicação dá não só para a Maré, mas para todo o Brasil.

Alimentos; o de Análises Clínicas e Toxicológicas; o de Fármacos e o de Medicamentos. Duração: 10 semestres. Curso: Pode ser encontrado na UFRJ, UERJ e UFF,


O Cidadão

10 ACONTECEU NA MARÉ PTCA/NIC

Apresentação de teatro nas comemorações do museu

Comemoração do primeiro aniversário do Museu da Maré O Museu da Maré que retrata a história de cada morador trazendo suas experiências e costumes, está completando o seu primeiro ano. Nesse tempo de existência, o museu conseguiu despertar muita emoção nos moradores, quando eles, por meio das obras expostas, recordam grandes momentos de suas vidas. Kátia Bastos, de 38 anos, diz que mora na comunidade há pouco tempo, mas já aprendeu bastante. “Para a gente isso tudo é muito importante. Trago sempre meus filhos, gosto muito da contação de história feita nas escolas”. Nilsilmar de Souza Braga, de 43 anos, moradora do Salsa e Merengue, diz que também sempre vai ao museu, “É muito bom, a gente conhece melhor a nossa comunidade, sempre trago meus filhos e recomendo para aqueles que ainda não vieram, que venham conhecer e aprender um pouco mais da sua própria história”, conclui. O museu já atingiu a marca de nove mil visitantes, sendo a sua maioria crianças e jovens de até 30 anos.

Denunciar para viver e transformar No dia cinco de maio, por volta das 10h, foi realizado no Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, Ceasm, a oficina “Comunicação e violência”, realizada pela Rede de Comunidades e Movimentos contra Violência, que contou com a presença de aproximadamente 30 pessoas tanto da Maré, como de outras localidades. O objetivo era fazer com que os próprios moradores de comunidades relatassem o que vivem, denunciando não só os abusos policiais, mas outras formas de preconceito.

Mutirão na ciclovia da Vila do Pinheiro No dia 14 de maio, na ciclovia do Pinheiro, o professor de educação física Luiz Mauro, de 40 anos, junto com seus alunos de ginástica fizeram um multirão. Antes de iniciar a aula, eles recolheram o lixo acumulado no local, uma vez que os garis não atuam na ciclovia a quase um ano, a aluna Francisca Souza, de 57 anos, diz que a sujeira no local é muito grande. “Este é um lugar que a gente se reúne, tinha que ter uma limpeza geral”, opina. Francisca Xavier, de 58 anos, se preocupa com as crianças. “Os brinquedos estão todos quebrados, as crianças não têm onde brincar”, relata. O professor, que dá aulas há três anos e meio no local, reclama. “Aqui encontramos de tudo. É imundo. Antes tinha um gari, mas há um ano ele saiu daqui, com ele isso aqui, era impecável”, relata.

HÉLIO EUCLIDES

Governador inaugura o primeiro UPA 24h da cidade

Inauguração do Posto 24 horas na Maré A Maré foi a primeira comunidade a receber a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA). A inauguração aconteceu no dia 30 de maio, às 14h, na Vila do João. O evento contou com a presença do governador Sergio Cabral, de seus secretários, de moradores da comunidade e da equipe médica que trabalhará no posto.

Lona Cultural Herbert Vianna completa dois anos Com a presença do Núcleo de Artistas da Maré (NAM) e dos moradores, a Lona Cultural comemorou seu segundo aniversário. O evento aconteceu no dia 25 de maio, às 14h, e contou com diversas atrações e com as oficinas que funcionam na própria Lona. O cantor Herbert Vianna participou do festejo.

REPRODUÇÃO

E POR FALAR EM ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS

Entidades não-governamentais no Catálogo de Instituições da Maré Ação Comunitária do Brasil Endereço: Rua 11, nº 243 - quadra 5 Vila do João – Maré – CEP: 21040-361 Telefone: 3868-7056 / 2253-6443 Site: acaocomunitaria.org.br Fundação: 1983 Principais atividades: a - Curso de informática b - Oficinas de teatro, capoeira, jiu-jitsu, karatê, hip-hop, grafite, desenho e pintura, culinária, cerâmica e cestaria c - Circo-escola d - Atendimento psicológico e fonoaudiológico e - Reforço escolar

Abrangência do atendimento: Moradores de toda a Maré e de bairros e/ou favelas adjacentes. Atende principalmente jovens de 14 a 24 anos. Centro Comunitário Beato José de Anchieta Endereço: Via A-1, 120 – Vila do Pinheiro – Maré – CEP: 21042-020 Telefone: 3976-8084 Natureza da instituição: Projeto coordenado pela Pastoral da Saúde / Paróquia São José Operário Fundação: 1992

Principais atividades: a - Horta comunitária b - Produção e venda de remédios à base de ervas medicinais c - Oficinas de capacitação para a produção de produtos fitoterápicos d - Confecção e distribuição de “multimistura” Abrangência do atendimento: Moradores de toda a cidade do Rio de Janeiro.


O Cidadão

11

GERAL

Sem atendimento médico Ausência de posto de saúde na comunidade do Parque União prejudica a população HÉLIO EUCLIDES

V

árias comunidades da Maré possuem Postos de Saúde, mas como tudo na vida tem a sua exceção, encontramos o Parque União que ainda não tem a sua própria unidade. O diretor de saúde da Associação de Moradores da comunidade, Nerel Lopes, de 54 anos, revela que a situação do Parque União é complicada. A comunidade conseguiu verba junto ao Governo Federal para a construção de um posto, mas até o momento a Prefeitura não liberou o local. A desculpa é a de estar mapeando a região

“O triste disso é que as pessoas precisam do posto e ele não existe” Nerel Lopel Diretor de Saúde do Parque União para definir o melhor local para iniciar as obras. “O triste disso é que as pessoas precisam do posto e ele não existe”, afirma Nerel. A moradora do Parque União Maria do Socorro, de 56 anos, conta o drama q u e passou.

Ambulância que serve à comunidade, enquanto os moradores aguardam funcionamento de posto médico

“Por duas vezes tive sangramento pela manhã no nariz e só consegui ser atendida em um hospital público às 21h”. Sem precisar andar

muito, encontramos uma mãe que passou por uma situação complicada. “Meu filho quase morreu por falta de ar. Se tivéssemos esse posto aqui seria mais fácil prestar socorro. Eu rezo todos os dias para que ele seja construído”, completa. A estudante Josikelli Avelino de Souza, de 16 anos, prefere não ir ao médico,

em muitas situações, pois sabe que se não sair de casa antes 4h, não conseguirá atendimento nos postos da Nova Holanda ou Ramos. “Seria muito bom ter um dermatologista e outras especialidades perto de casa para não ter que passar por essas situações”, conclui. Para amenizar as dificuldades enfrentadas pelos moradores, o presidente da associação de moradores, Ed naldo Batista, de 52 anos, com a ajuda do secretário de Esportes, Márcio Gregório Augusto, de 34 anos, e o de saúde colocaram a disposição da comunidade uma ambulância que fica em frente à associação de moradores. Solução que não resolve o problema do Parque União, pois quando há emergência é necessário que haja cuidados imediatos. O CIDADÃO entrou em contato com a prefeitura por e-mail e até o fechamento desta edição não obteve resposta.


O Cidadão

12

CAPA

Obesidade, a doença

A quantidade de pessoas com sobrepeso aumentou nos últimos anos no Brasil e já é um problem VINICIUS ZEPEDA

“Até o ano passado, antes de iniciar a consulta com a médica (nutricionista), comia até dois ‘x-tudo’ de uma só vez e pesava 130 quilos. Hoje, como mais frutas, saladas e pouco sal”, conta Fabio Caetano, de 16 anos, morador da Baixa do Sapateiro.

D

evido ao excesso de peso, Fabio sofre de hipertensão, doença causada pelo sobrepeso. Hoje ele pesa 110 quilos, vinte a menos do que no ano passado, graças as dicas dadas pela nutricionista. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos trinta anos o número de pessoas que estão acima do peso ou que são obesas aumentou no Brasil. Um dos responsáveis por esse quadro é a alimentação com alto teor de açúcar, como os refrigerantes, e o pouco consumo de frutas e hortaliças. “Existem vários tipos de obesidade, elas podem acontecer por diversos fatores, como uma alimentação inadequada, problemas

A alimetação compulsiva pode levar a obesidade: doença que causa problemas e que cresceu nos últimos anos

genéticos, psicológicos, estresse, entre outros”, afirma Ana Lucia, de 45 anos, enfermeira do posto de saúde da Vila do João. A maior parte das calorias consumidas diariamente pelos brasileiros é prove-

niente dos carboidratos, que chegam a 59,6%. Já a ingestão de proteínas é de 12,8% e dos lipídios de 27,6%. Esse consumo está dentro dos padrões nutricionais recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Mesmo estando dentro dos parâmetros da OMS, o carboidrato é o grande vilão, devido a grande quantidade de açúcar (sacarose) contida nele. O brasileiro ingere 13,7% de açúcar, com o consumo de carboidratos, enquanto que o recomendado é de no máximo 10%. O consumo de proteína animal corresponde a 50% da alimentação da população brasileira. O consumo de produtos industrializados é outro fator que contribuiu para o aumento de peso dos brasileiros. Com a ingestão desses produtos, a população elevou a quantidade de gordura e carboidratos que o corpo precisa. Esses alimentos ainda possuem uma quantidade reduzida de fibras que pode dificultar a digestão. “Em um estudo realizado foi constatado que o consumo de fibras ajuda a reduzir


O Cidadão

13 ARQUIVO PESSOAL

a que mata!

blema de saúde pública

VINÍCIUS ZEPEDA

a quantidade de gordura ingerida durante a alimentação”, diz Gisele Valério Pessoa, de 27 anos, nutricionista. Automedicação Para tentar resolver o problema da obesidade de forma rápida muitas pessoas recorrem a automedicação.“Soube que havia uma forma fácil e ágil de emagrecer, então tomei a decisão de tomar a formula para perder peso. Sei que não podemos tomar remédio por conta própria, por isso procurei um médico e comprei. Tomava três vezes ao dia, mas depois que parei de usar a medicação engordei o dobro do peso que tinha antes de tomar a medicação”, relata M., de 21 anos. O Brasil é um dos países que mais produz e consome remédios para emagrecer, segundo o Relatório Anual da Junta Internacional de Fiscalização de Intorpecentes, da ONU. De acordo com o documento, do total de fenproporex e anfepramona consumidas no mundo inteiro, 98,6%

“As pessoas devem se conscientizar que não é preciso tomar remédio para emagrecer Gisele Valério

Lourenço Cezar pesa 106 quilos e tem obesidade tipo 1

A nutricionista Gisele alerta para o excesso de peso

da como cirurgia para redução de estômago. Ela costuma ser utilizada quando a pessoa tem massa corporal igual ou superior a 40 e os tratamentos convencionais, como reeducação alimentar e a utilização de remédios não funcionam. E mesmo apresentado benefícios a cirurgia possui alguns riscos. “A decisão de se submeter a uma operação para a cura da obesidade mórbida é definitiva porque as operações não são realizadas para serem desfeitas depois, embora, tecnicamente, isto seja até possível”, analisa Gisele.

Segundo site da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Sindrome Metabólica (Abeso), a distribuição da obesidade e do sobrepeso entre homens e mulheres sofreu alteração nos últimos trinta anos. De acordo com a pesquisa, o número de pessoas acima do peso cresceu no decorrer dos anos, aproximandose o percentual de pessoas de ambos os sexos com elevação da massa corporal na década de 90.

Nutricionista e 89,5%, respectivamente foram produzidas no Brasil. E o país consumiu a maior parte dessa medicação. “As pessoas devem se conscientizar que não é necessário tomar remédio para emagrecer. Elas devem primeiro tentar a reeducação alimentar, tendo a orientação de um nutricionista. Assim, o indivíduo perde peso e ganha saúde”, comenta a nutricionista Gisele Valério. Segundo ela, o consumo excessivo dos remédios pode comprometer seriamente a saúde do usuário, ocasionando problemas cardíacos, como a aceleração dos batimentos do coração, diabetes tipo 2 e hipertensão. O uso constante também pode provocar alteração do sistema nervoso. Cirurgia A obesidade mórbida é uma das mais graves e pode levar a morte. Por isso, para muitos a única solução é a cirurgia bariátrica, mais conheci-

Percentual de Sobrepeso e Obesidade em adultos (1975 a 1997) HOMENS

MULHERES

1975

1989

1997

Fonte: Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).


O Cidadão

14

CAPA

Obesidade infantil Nos últimos anos aumentou o número de crianças acima do peso no Brasil

ARQUIVO PESSOAL

“A

obesidade infantil desenvolve-se no primeiro ano e após o oitavo ano de vida”, diz a nutricionista Gisele Valério. De acordo com pesquisa realizada pela Abeso, o número de crianças até cinco anos obesas no Sudeste é de 5,2%, equiparando-se ao de crianças desnutridas que é de 5,6%. A televisão, o vídeo game, o computador e a falta de atividades físicas são uns dos grandes responsáveis pelo aumento do peso em crianças e adolescentes. O consumo de produtos in-

“A apelação da mídia contribuiu com a obesidade infantil” Gisele Valério Nutricionista dustrializados, como sorvetes, biscoitos recheados e refrigerantes ajudam a compor o quadro do sobrepeso infantil. “A

Obesidade infantil: as pessoas acham bonita crianças gordinhas, mas o excesso de peso compromete a saúde

apelação da mídia contribuiu com a obesidade infantil, como os fast-food”, comenta a nutricionista. E o excesso de peso na infância é uma das responsáveis pela obesidade na fase adulta. O desmame precoce e a introdução de uma alimentação inadequada são alguns dos responsáveis pelo início da obesidade nas crianças. O hábito fa-

miliar e as influências culturais podem colaborar para o desenvolvimento da doença. A obesidade acontece quando há uma ingestão elevada de mais energia do que cada pessoa precisa para se manter. De acordo com o Manual de Psiquiatria Infantil, de 1983, qualquer criança pode ser considerada obesa quando o seu peso médio passa de 20% do cor-

Comparação entre desnutrição e obesidade nas regiões nordeste e sudeste (1997) 17,9

Desnutrição

12,9

Obesidade

10,4 8,5 5,9 5,9 4,6 2,7

5,6 5,2 5,3

4,2

Menos de 5 anos Adolescentes Adultos

Nordeste

Sudeste

Fonte: Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).


O Cidadão

15 CRISTIANE BARBALHO

respondente a sua idade. Os pais devem ficar atentos a alimentação de seus filhos para evitar o desenvolvimento da doença. Crianças até dez anos podem ser consideradas obesas quando o seu índice de massa corporal for de 20% ou mais do peso dela para a idade. Controle da família Quando uma criança apresenta um quadro de obesidade, toda a família deve ter uma alimentação especial, e não somente a criança. E o controle de porções é fundamental para a perda de peso e sua manutenção. O consumo de cereais com pouco açúcar, leite desnatado, iogurte desnatado com granola, frutas e pães integrais são fundamentais para uma dieta saudável. A escola tem grande importância na alimentação das crianças. De acordo c o m estudo da Universidade de Minnesota, nos

O acumulo de gordura no abdomen é prejudicial a saúde, podendo levar ao infarte e prejudicar demais órgãos

Estados Unidos, os estudante que consomem alimentos com alto teor de gordura e poucos nutrientes nesse ambiente tendem a não ter uma alimentação saudável. Os pais devem preparar uma merenda nutritiva para as crianças levarem para a escola, ensinando seus filhos a comer. A prática de exercícios físicos, como correr,

pular corda, andar de bicicleta e apoio individual e familiar são fundamentais para evitar as distorções alimentares. No caso da obesidade infantil a presença de nutricionista, educador físico e psicólogo são essências para o tratamento da criança. E a presença dos pais é importante para o bom andamento do tratamento, pois o excesso de gordura no corpo pode provocar diversos problemas na vida adulta. “Os pais tem que prestar mais atenção na alimentação de seus filhos. Uma alimentação saudável, com alta ingestão de frutas e legumes e um baixo consumo de gordura e açúcar refinado seria o ideal”, declara Gisele Valério.

Estudo mostra aumento de obesos De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), de 2002 a 2003, realizada pelo IBGE, a população adulta brasileira não está mais exposta a desnutrição. O aumento da renda é um dos responsáveis pela redução. Contudo, a pesquisa mostra que em 2003 o excesso de peso afetava 41,1% dos homens e 40% das mulheres do país. O número de obesos representa 20% dos homens e um terço das mulheres. A pesquisa aponta que a obesidade no homem tende a acompanhar a renda, e os que possuem ganhos superiores a cinco salários mínimos apresenta excesso de peso. E as mulheres que têm rendimento de até dois salários-mínimos são as que mais sofrem com

o excesso de peso (42%) e obesidade (14%). Até 1974 o número da obesidade masculina era praticamente inexistente. Em 2003, o percentual de homens com excesso de peso praticamente duplicou, pulando de 18,6% para 41%. E o de obesos triplicou, passando de 2,8% para 8,8%. A quantidade de mulheres com excesso de peso e com obesidade cresceu 50% de 1974 à 1989, permanecendo estável até 2003. Para saber se você está acima do peso basta calcular o seu índice de massa corpórea (IMC). O calculo é feito dividindo o peso (em Kg) pela a altura ao quadrado (em metros). O resultado pode ser visto na tabela a seguir. Ele também pode ser feito pelo site: www.abeso.org.br

JULIA FREEMAN-WOOLPERT

Balança: a vilã que revela drama de todo gordinho

Categoria Abaixo do peso Peso normal* Sobrepeso Obesidade Grau I Obesidade Grau II Obesidade Grau III

IMC Abaixo de 18,5 18,5 - 24,9 25,0 - 29,9 30,0 - 34,9 35,0 - 39,9 40,0 e acima

* Peso normal equivale a peso saudável. Fonte:Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).


O Cidadão

16

GERAL

Alimentos e remédios naturais Odilon, ensina a fazer remédios e dá dicas para uma boa alimentação CRISTIANE BARBALHO

“D

evido ao comércio, a influência da televisão, da moda e da correria do trabalho e dos estudos, a juventude hoje não tem uma alimentação saudável, acaba comendo qualquer coisa, misto quente, refrigerantes, salgados, tudo o que não é recomendado para a saúde”, afirma Odilon Raiz Brazin Ribeiro, de 47 anos, morador da comunidade Mandela. Segundo ele, viver num mundo globalizado, consumista, onde ninguém tem mais tempo para nada, acaba gerando conseqüências como o aumento das doenças provocadas não só pela má alimentação, mas também pelo estresse. Foi essa descoberta que levou Odilon, um grande conhecedor das plantas que trabalha atualmente na Fiocruz, a querer passar o que sabe e o que aprende a cada dia para as pessoas. “Trabalho com isso há aproximadamente 30 anos. Desde

Odilon mostra algumas de suas ervas medicinais e remédios naturais no espaço cedido pela Fiocruz

criança que eu aprendi tudo isso. Aqui na Fiocruz já tenho seis anos. E tudo o que sei, aprendi com a minha avó”, diz. Ele também já trabalhou na Maré vendendo ervas e temperos. Hoje, além das aulas, ele dá palestras sobre como fazer remédios, chás e temperos. “Um conhecido meu falou que estava com colesterol alto, então ele me pediu uma garrafada. Fiz e ele gostou muito”, re-

SABOR DA MARÉ

lata. E diz ainda que “há outras pessoas do prédio que vêm sempre aqui reclamando que estão resfriadas, tomam um chazinho e no outro dia ficam bem melhores”, conta. São muitos os tipos de remédios feitos e ensinados. Eles servem para sinusite, dor de cabeça, alergias, obesidade, colesterol, dores no corpo, diabetes, depressão, hipertensão, entre outros. E além de não fazer mal à saúde, pois são feitos sem químicas, os remédios são mais baratos. As plantas, por exemplo, são colhidas diretamente das matas, compradas nas casas de ervas ou em feiras e mercadões. As aulas são realizadas todas as terças-feiras, de 9h às 11h, na Casa Sol, que fica na Av. Brasil, sala 07-parte Manguinhos, Campos de Expansão Fiocruz. Telefone para contato: 2230-4864, falar com Declair.

VINICIUS ZEPEDA

Bolo de milho da Dona Norma Ingredientes: - 3 ovos - 3 copos de açúcar - 3 copos de leite - 3 colheres de sopa de farinha de trigo - 1 copo e meio de Milharina - 100 gramas de margarina - 2 colheres de sopa de fermento - 50 gramas de queijo parmesão ralado - 50 gramas de coco ralado

Modo de fazer: Bata todos os ingredientes no liquidificador. Despeje a massa em uma forma bem untada e asse em forno médio. Para verificar o ponto certo para tira-lá do forno, basta espetá-la com um palito, e se sair limpinho pode desligar o forno. É importante verificar se está douradinho por cima. Deixe o bolo esfriar e bom apetite!

O bolo de milho é uma comida típica da festa junina


O Cidadão

17 ANÚNCIOS

PEÇAS PARA AUTOMÓVEIS NACIONAIS Tel: 3976-8431 AV. CANAL, 41 – LOJA B VILA PINHEIRO - AO LADO DA LINHA AMARELA


O Cidadão

18 ANÚNCIOS

Ligue e Anuncie!

3868-4007


O Cidadão

19

SAÚDE

Você toma muito remédio? Saiba os perigos da automedicação, uma prática muito comum no Brasil HÉLIO EUCLIDES

O

consumo autônomo de remédios é uma característica clássica do povo brasileiro. A dificuldade encontrada por boa parte da população para conseguir um atendimento médico digno é uma das causas. Joel Barcelos, da Drogaria Boa Saúde, no Parque União, reconhece a responsabilidade do Estado nessa questão. “O brasileiro tem uma cultura muito forte de automedicação, mas isso acontece porque as pessoas, embora tenham direito à saúde, não conseguem atendimento quando precisam. A saúde no nosso país é muito precária”, diz. Segundo os relatos, uma boa parte dos moradores que procuram as farmácias na Maré não possuem receita para comprar seus medicamentos. Durante a reportagem, a equipe do jornal não conseguiu encontrar pessoas comprando remédios com indicação médica. Luciana Rodrigues Bonfim, de 35 anos, trabalha no Parque União e conta que não costuma ir sempre ao médico. “Sou difícil de ir ao médico, só em último caso mesmo. Sou alérgica e tenho os remédios certos em casa. Então, quando estou em crise, eu já tomo. Não espero ir ao médico não”, conclui. Além disso, existe um grande perigo quanto a dose correta do medicamento. Uma dose acima da indicada pode transformar um inofensivo remédio em um tóxico perigoso. A consulta ao médico é fundamental para indicar o remédio certo e a dosagem adequada para cada pessoa e em cada situação. “Intoxicação medicamentosa é pior que alimentar. Dependendo da dose, o remédio pode se tornar um veneno”, diz o balconista Fábio Roberto Taveira, da Nova Farma, na Rubens Vaz. E completa. “O maior exemplo é o do cantor que

Armário do banheiro é o local preferido para esconder os remédios de quem os toma por conta própria

morreu recentemente porque exagerou na dose do antidepressivo e teve uma parada cardíaca”, comenta, referindo-se ao cantor Fabinho Mello, ex- integrante do grupo “Os Travessos”, que morreu no dia 11 de abril, com 26 anos. O CIDADÃO conversou com balconistas de dez farmácias na Maré. Alguns estabelecimentos pesquisados informaram orientar o cliente a procurar um médico antes de comprar qualquer remédio, principalmente antibióticos, que são fortes e podem gerar outras reações, principalmente into-

xicações quando utilizados em crianças. Nenhum dos farmacêuticos responsáveis pelas farmácias pesquisadas estavam presentes no momento da reportagem.

Os genéricos É importante falar sobre os medicamentos genéricos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que as pessoas que mais consomem genéricos são pertencentes as classes média e alta. Ou seja, quem menos precisa é quem mais lucra com os preços mais baixos. Esse tipo de medicamento tem o mesmo efeito que aqueles de marca, com a vantagem de ser mais barato. Isso, porque não existe uma marca

associada ao remédio, que possui o mesmo princípio ativo. “Muitas pessoas vêm comprar remédios, mas não aceitam um genérico quando oferecemos, sempre dizem que o genérico não serve. Outros chegam a dizer que o próprio médico recomendou comprar apenas os remédios de marca”, diz a balconista Tânia Barcelos. Sempre que for consultado por um médico, peça-lhe que indique o medicamento genérico. Estes possuem a letra “G” na embalagem.


20

O Cidadão

ESPORTE

ARQUIVO PESSOAL

Tamanho é documento no basquete Garoto da Maré se destaca em esporte de gente grande

P

ara obter sucesso no basquete, Maicon Bento teve que provar que suas habilidades iam muito além dos seus dois metros e oito centímetros foram suficientes para o sucesso no basquete. Hoje, com 21 anos, ele lembra da infância de dificuldades, em que seus pais trabalharam muito para criar uma família de seis irmãos. “Da favela sai coisa boa, um exemplo é meu filho que nasceu aqui e sempre andou direito”, relata sua mãe, Helenice Lourdes, de 46 anos. Helenice que lembra da vez que Maicon foi treinar e todos os jogadores foram a uma lanchonete, e ele não pode comer, pois só tinha cinco reais no bolso para a passagem. O contato com o basquete começou na adolescência, com 12 anos. Pela altura, os coleginhas “colocaram pilha” e Maicon se matriculou na escolinha do Olaria. Desmotivado por ter poucos alunos, partiu para natação, mas não

Maicon, com seus dois metros e oito centímetros, exibe a medalha de campeão pelo time rubro-negro

era o seu forte, ele desistiu. Mas amigos e sua mãe continuaram a incentivá-lo na prática do desporto. “As crianças não devem ficar de bobeira. O esporte nos transforma em grandes seres humanos”, diz Maicon que um dia, passeando na frente do Clube do Vasco da Gama, se inscreveu na escolinha de basquete. Lá era de graça e assim ele foi subindo de degrau em degrau, até o time adulto. Contudo, antes da equipe adulta do Vasco acabar, Maicon jogou pela Seleção Brasileira Sub-21. Logo depois, mostrou sua técnica no time Tijuca. Após temporada, teve chance no clube em que Oscar era diretor, o Telemar, sendo campeão carioca em 2004 e brasileiro no ano seguinte. E daí seu sucesso não teve mais fronteira. Partiu para Belém de Pará, jogando no Paissandu, em um time não muito forte, mas esse foi o fator fundamental para seu destaque. A saudade era muita, então

Pan Social na Vila Olímpica da Maré Com a proximidade dos jogos PanAmericanos foi criado o Pan Social que será realizado nas Vilas Olímpicas. O projeto acontecerá em julho e contará com diversas atividades. A Vila Olímpica da

Maré estará aberta à população durante o período do Pan. As pessoas interessadas em participar das atividades devem procurar Antonio Bezerra ou Carlos Godim, na Rua Tancredo Neves, s/n°- Maré.

Maicon retornou à cidade maravilhosa, onde seu talento foi reverenciado pelo clube rubro-negro. No Flamengo também foi “pé-quente”, conquistando o título carioca. Agora a busca é pela premiação no campeonato nacional. Para manter um bom preparo físico, o nosso atleta não se priva do treinamento na Vila Olímpica da Maré. “Treinava lá até debaixo de chuva, isso me ajudou. O basquete nas comunidades está crescendo, só falta continuidade no investimento”, revela Maicon. O esportista fica sem jeito quando comentam que ele é um orgulho para a Maré. “Quando faço ponto penso nessas pessoas que me dão força e na confiança da minha família. Quando tiver jogando fora do Brasil, nunca vou esquecer deles”, comenta o jogador que no momento faz faculdade de Educação Física.


O Cidadão

21

MUSICAL

Concerto para a juventude Músico católico compõe canções para atingir o coração do jovem DIVULGAÇÃO

“P

Eduardo, cantor e compositor de canções católicas

ara entrar no Céu tem que ter o coração de criança”, com essas palavras na consciência, o cantor e compositor de música gospel Eduardo Soares, de 28 anos, ex-morador da Nova Holanda, compôs a música “Morar no Céu”. A canção, interpretada juntamente com seu filho João Marcos, de 8 anos, faz parte do primeiro CD solo “Nos braços do Senhor” lançado no ano passado. “Essa música chega nas crianças como uma flecha, mas a idéia não é levála ao público infantil, pois a proposta do meu trabalho é atingir os jovens em geral, porque só cantar para a juventude católica é pescar no próprio aquário”, afirma. Eduardo começou sua carreira na Paróquia Jesus de Nazaré, que fica na Baixa do Sapateiro, e compõe canções embaladas por arranjos modernos e letras alinhadas com a linguagem dos jovens. Possui 50 músicas gravadas que podem ser ouvidas do Oiapoque

ao Chuí. “O jovem dentro da igreja não precisa ser careta. Ele tem que ter a liberdade de ser jovem”, diz. Depois de 15 anos de estrada, e apenas dois em carreira solo, seu reconhecimento já é flagrante. “Recentemente, fiz um show no Rio Sampa e foi muito gratificante ver o povo absorvendo o trabalho e cantando as minhas músicas. Isso não tem preço”, afirma. O cantor, que fez parte da banda “Kenosis” durante 13 anos, já sente o peso de estar sozinho na carreira artística. “Agora vejo que a responsabilidade é toda minha, mas a decisão de seguir uma carreira solo partiu da necessidade de me expressar por inteiro”, diz. No Rio, suas músicas podem ser ouvidas na Rádio Catedral 106.7. Se deseja conhecer melhor o trabalho de Eduardo, envie mensagens para o correio eletrônico educantor78@yahoo.com.br, ou telefone para os números (21) 36669601 ou 8798-0626.

RUA

Via C4: a “gigante” do Pinheiro Moradores sofrem com o baixo movimento do comércio e com as enchentes HÉLIO EUCLIDES

A

Via C4 é uma das ruas mais importantes da Vila do Pinheiro. Iniciase na ciclovia, em frente ao Morro do Timbau, e termina na Linha Amarela, próximo à colônia de pescadores do Pinheiro. Sempre foi sinônimo de grande movimento, mas ultimamente está um pouco esquecida pelos pedestres. “Infelizmente a rua ficou marcada pela guerra, muita gente ficou com medo de passar por aqui”,conta o comerciante Marcelo Ramos, de 39 anos, morador da comunidade há 20 anos. Gabriela Sobrinho, de 39 anos, moradora da comunidade há 24, relembra um fato marcante. “Na época da guerra, algumas pessoas vieram ao aviário comprar frango e não puderam voltar para as suas casas. Pelo menos dez pessoas dormiram aqui”, diz. Os moradores dizem que a rua é boa para moradia e que a paz se restabeleceu. O grande problema agora é a chuva. “Quando chove enche tudo. Os meninos chegam

Crianças brincam e pessoas conversam em frente de casa, mostrando a tranqüilidade da Via C4

a surfar aqui”, diz Ramos. As tubulações estão entupidas, por isso a água não tem para onde escoar. Os moradores contam que a associação de moradores não resolve o problema e que a Cedae toma medidas paliativas.

Uma outra questão levantada pela moradora Josivânia Cavalcante, de 34 anos, é a falta de área de lazer. Ela também reclama do transporte. “Antes de ir para qualquer lugar temos que pegar uma kombi ou moto-táxi primeiro. Com isso, acabamos gastando mais do que o necessário”, finaliza.


O Cidadão

22 PÁGINA DE RASCUNHO

Amor de poeta Depois de mil momentos tão banais eu te revi... ...e parei no tempo de outra galáxia fecundando a sorte de não te rever somente depois da morte. E flutuei perdido numa multidão... vagando com o coração na voz tentando entender o dia e a noite, o sol, a lua... as estrelas. Meus versos são mágicos, me fazem pensar... te amei no tempo... no espaço... a vida de poeta é um retroceder constante! A luz do sol se oculta.... meus pensamentos tentam te traduzir. Posso ser um sonho... todo poeta é um sonhador, mas sou autor de um amor que se transforma em estrelas, porque amor de poeta é como a Chuva. Admilson Gomes

CARTAS As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)

O Cidadão - O Jornal do Bairro Maré O Jornal Cidadão é um meio de comunicação muito importante para comunidade da Maré. A finalidade dele é mostrar os problemas e as dificuldades que a comunidade enfrenta. No jornal de janeiro e fevereiro, ele mostra um dos grandes problemas que a comunidade enfrenta: as cheias. Quando chove, os rios transbordam e as ruas ficam todas alagadas. Mostra também os problemas como falta de saneamento básico e água encanada. Existe também trabalhos muito fortes dos voluntários, há vários exemplos de solidariedade dentro da comunidade. Ex.: Lixo vira renda e instituto que cuida de jovens carentes. A importância desse jornal é mostrar para toda a sociedade que é

importante colaborar para que essas comunidades saiam da marginalidade, e que cada um tem seu potencial, basta ter oportunidades, por isso a importância desse jornal. Parabenizo o projeto do professor que mostrou as jovens dentro desse espaço. Devemos nos informar e arregaçar as mangas e mão a obra. Despeço-me desejando saúde e paz a todos pelo dia dos trabalhadores. Maria José Carlota da Silva Ipanema Cara amiga Maria José, ficamos emocionados com suas palavras e esperamos que você consiga bom resultado no seu trabalho. Obrigado pelo seu carinho.

O jornal da Maré quer saber como ele é utilizado por você. Se você o aproveita, nos diga como. Telefone: 3868-4007 E-mail: jornaldamare@yahoo.com.br

Quando o amor está errado Quando o amor está errado Nada vai dar certo O sol não aquece mais O dia fica nublado A lua anda escondida O tempo está parado Quando o amor está errado Nada vai dar certo A vida tem mais sentido

A morte fica do lado O abraço é espinhoso O beijo está amargo Quando o amor está errado Nada vai dar certo O café não fica mais doce A cachaça não embriaga A água não acaba com a sede E a droga ainda malhada

Quando o amor está errado Nada vai dar certo As crianças não correm mais A bola está furada A música não tem arranjo A voz fica calada Quando o amor está errado Nada vai dar certo... Roberto N. Alves


O Cidadão

23

Jogo dos 8 erros

Piiada P ad ass O açougueiro esperto A mulher chega ao açougue e pede um frango. - Uma beleza! - diz o açougueiro, depois de pesar o único frango que tem na casa. - Este é muito pequeno - diz ela. O açougueiro, esperto, põe o frango na geladeira, finge pegar outro e o pesa novamente, desta vez forçando a balança com o polegar. - Este é bem mais gordo - diz ele. - Muito bem. Vou levar os dois.

A família grande Antes do casamento, o pai da noiva chega ao futuro genro e pergunta: - Você pode sustentar uma família? - É claro - responde o rapaz. - Que bom - diz o velho. - Comigo são nove pessoas.

A casa iluminada Um bêbado, de madrugada, estava batendo num poste achando que era a porta da casa onde morava. Foi aí que apareceu outro bêbado conhecido dele e falou: - Oh, Zé! Vamos passar a noite ali debaixo daquela marquise, porque o pessoal aí da sua casa já deve ta todo mundo dormindo. O bêbado que estava batendo na “porta” engrossou a voz, dizendo: - Não tem ninguém dormindo, não, seu bobo... Você não ta vendo que a luz ta acesa!...

Pneu que corre O marido para a esposa: - Acho que o pneu está com falta de ar. - É claro! Do jeito que você está correndo!


O pescador que virou santo FOTOS DE REDE MEMÓRIA DA MARÉ

C

om olhar profundo de quem fita o horizonte, consciente dos perigos do mar, assim está a imagem de S. Pedro na entrada do Museu da Maré. Colocada na proa do barco, que abre o “tempo da água”, a figura feita de gesso e com 61 cm de altura, carrega nas mãos o Evangelho e uma chave. Apesar de sua fragilidade, ela nos inspira confiança, que é necessária a todas as pessoas que precisam enfrentar os desafios da vida. E desafio é o que não falta aos pescadores da Maré. Os moradores mais antigos sabem que a atividade pesqueira ficou mais intensa com as obras para a construção da Cidade Universitária, localizada na ilha do Fundão. Na verdade, o Fundão era uma das 9 ilhas que formavam um belo arquipélago próximo à Maré. O mar em torno dessas ilhas foi aterrado na década de 1950, durante o governo de Getúlio Vargas. Por isso, diversas famílias tiveram que abandonar as ilhas e vieram morar aqui, pois a região era cheia de mangues e praias de águas muito limpas. O ofício de pescador era passado de pai para filho e, durante muitos anos, sustentou várias famílias. Hoje, com a poluição da Baía de Guanabara, muitas espécies de peixe já desapareceram e o lixo jogado nas águas, principalmente as garrafas pet, estragam as redes. Mesmo assim, alguns pescadores ainda resistem. Muitos estão organizados na colônia Z-11, localizada na Praia de Ramos. Viver da pesca é enfrentar muitos desafios. É preciso ter fé! S. Pedro, o pescador

Gerson e sua esposa Eugênia Jaqueta com a imagem de São Pedro na rua Capivari, no Morro do Timbau

que virou santo, é o protetor desses profissionais que fizeram da pesca o seu ganha-pão. No dia 29 de junho o santo é festejado em todo o Brasil. Antigamente, o povo da Maré participava de lindas procissões de barcos, que iam da Penha até a Glória. Algumas famílias de pescadores ficavam responsáveis pelos pre-

“...depois que nós casamos, começamos a fazer a festa de São Pedro aqui na rua” Eugênia Jaqueta Moradora do Morro do Timbau

Imagem de S. Pedro na entrada do Museu da Maré

parativos da festa nas ruas. A famíla Jaqueta era uma delas que empolgava os festejos. Dona Eugênia, casada com seu Gerson Jaqueta, falou sobre a festa: “...depois que nós casamos, começamos a fazer a festa de São Pedro aqui na rua (rua Capivari, no Morro do Timbau). Vinha conjunto, fechava a rua aqui em baixo e lá em cima. Eram dois dias. Eu ia lá na loja do Juquinha, antigamente era o Juquinha. Eu ia lá em Bonsucesso e trazia prêmios que eles me davam para as crian-

ças. Trazia uma porção de coisas. Aí fazia o dia todo no domingo, brincadeiras. Quebra pote, a dança da cebola... corrida do ovo na colher. Tinha prêmios para as crianças. De noite era baile. As brincadeiras da criança eram no domingo... Antigamente quem tomava conta disso aqui era o quartel. Vinha escolta pra tomar conta da festa... não saía uma briga...” O casal Jaqueta já é falecido há alguns anos, mas sua história de luta pela organização da comunidade ficou como herança para as pessoas que também acreditam que a comunidade organizada pode mudar a realidade em que vive. A imagem de S. Pedro também faz parte dessa herança. Ela já estava na família há mais de 50 anos e acompanhou muitas daquelas procissões festivas. Eliana Jaqueta, filha de dona Eugênia e seu Gerson, doou a imagem para o Museu da Maré em 2006. Graças à generosa doação da Eliana, hoje a imagem faz parte do patrimônio de todos nós e está na entrada do museu, recebendo os visitantes e nos conduzindo pelo imenso mar da memória. Este espaço representa a história dos moradores da Maré. Envie sua história, perguntas e sugestões para a Rede Memória na Casa de Cultura da Maré. Endereço: Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748 ou para o e-mail: contato@ceasm.org.br. A matéria referente a esta página é de exclusiva responsabilidade do projeto Rede Memória.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.