jornal o cidadão 51

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O Cidadão

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RIO DE JANEIRO • ANO IX • Nº51 • JULHO/AGOSTO 2007

www.jornalocidadao.net

Pan 2007 População questiona os bilhões gastos pelo governo para realização dos jogos

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Samu já atende à comunidade

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Dificuldades dos moradores especias

História da Rua da Proclamação

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Cemear ajuda crianças


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EDITORIAL

Pan-Americano não foi sinônimo de investimento no esporte de base

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odos concordam que esporte é fundamental na vida do ser humano. Ele ajuda a manter a saúde física e mental e ainda contribui para a socialização das crianças e dos jovens. Porém, mesmo recebendo um evento de tamanha importância no mundo esportivo, os investimentos nos atletas brasileiros e nos equipamentos públicos indispensáveis à vida humana - e, também, à prática esportiva -, como saúde, educação e segurança foram deixados de lado pelos nossos governantes. Foi absurdo o gasto de bilhões para a realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, com a construção de arenas esportivas e estádios de futebol, enquanto a base do esporte e a população sofrem com a falta de investimento. Sem falar das obras feitas para o Pan que serão desmontadas depois do evento. Nem isso ficará para a população. Não temos nada contra a competição. Mas devemos lembrar que o Brasil tem uma das piores distribuições de renda do mundo. A desigualdade no país envergonha a qualquer brasileiro. Por que, em vez de gastar rios de dinheiro na realização dos jogos, nossos go-

vernantes não fizeram uma competição mais modesta e usou o restante dos recursos para o desenvolvimento geral do estado? Por que a saúde, a educação e a segurança não recebem investimentos parecidos? Além disso, não devemos esquecer que, por causa dos Jogos, algumas comunidades foram removidas e mendigos, retirados das ruas. Houve vasto policiamento na cidade. Tudo para transmitir uma falsa sensação de segurança e mostrar ao mundo que o Brasil consegue organizar um grande evento esportivo. A melhoria não foi sentida pela população, porque nossos governantes fizeram obras de maquiagem. O Rio de Janeiro não sofreu nenhuma mudança profunda na sua estrutura social. A população deve lutar e exigir dos governantes o mesmo empenho que tiveram no Pan para melhorar a vida da população. O CIDADÃO ainda traz nessa edição reportagens que retratam o cotidiano dos mareenses, como a que mostra os campos de futebol da Maré e suas histórias. E conta um pouco do cotidiano dos moradores portadores de necessidades especiais. Boa leitura!

O Cidadão é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965

Direção Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana S. Silva Maristela Klem • Lourenço Cezar Coordenadora Geral: Rosilene Matos Editora: Cristiane Barbalho Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Revisão: Viviane Couto Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Cristiane Barbalho Gizele Martins • Hélio Euclides Renata Souza • Rosilene Matos Silvana Sá • Vinicius Zepeda Colaborou nesta edição: Rede Memória Jornalista Responsável: Ellen de Matos (Reg. 27574 Mtb) Ilustrações: Jhenri

ELES LÊEM O CIDADÃO

Publicidade: Elisiane Alcantara FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra Diagramação: Fabiana Gomes da Silva Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço Capa: Fotos de Cristiane Barbalho Repórter Fotográfico: Hélio Euclides Distribuição: Maria Matilde (coordenadora) Carla de Almeida • Charles Alves Jefferson Kione • Rosilene Matos José Diego dos Santos • Rosilene Ferreira Luiz Fernando de Souza Fotolitos / Impressão: Ediouro

Acima, Sebastião Santos, de 50 anos, coordenador da Área de Comunicação do Viva Rio. À direita, o treinador Ademar Francisco, conhecido como Barba, Francisco, de 56 anos, morador da Vila do Pinheiro.

O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da maré. Promove oficinas e atividades que se tornam Uma conquista dos extensão da sala moradores da Maré de aula.

Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.jornalocidadao.net

A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso

Tel:3882-8200 / Fax:2280-2432

O Instituto Telemar apoia o jornal O Cidadão


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ARTIGO

Ajudando na construção de um novo bairro Maré

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urante esses oito anos, com muito sacrifício, o jornal O CIDADÃO procurou sempre informar a todos os leitores sobre temáticas que realmente interessam aos moradores da Maré, mostrando notícias que nunca serão estampadas na “grande” mídia. Além disso, buscou denunciar os problemas, identificar as alternativas encontradas em cada comunidade para eles e ajudou a cobrar soluções por parte de nossos governantes. Por diversas vezes tivemos uma ausência de periodicidade, mas nunca esquecemos do compromisso com a Maré e o respeito na composição das notícias. Infelizmente, por motivos financeiros, o jornal tem grandes dificuldades de ser manter. A cobrança sempre foi muito grande quando o jornal atrasava. Se por um lado ficávamos felizes, pois a comunidade sentia falta do jornal, por outro ficávamos tristes, pois a maior parte da comunidade não tinha noção das dificuldades que enfrentávamos para colocar o jornal na rua, como falta de equipamentos básicos e de bolsas para equipe. É importante que a comunidade perceba o quanto é difícil trabalhar com a comunicação comunitária. Contudo, o empenho de sua equipe de jovens residentes no bairro nunca deixou que a situação ficasse evidente em suas matérias. Assim como as crianças, a comunicação é uma ciência não exata, que necessita de transformações a cada instante. E vocês, moradores, puderam acomPanhar ao longo do tempo as nossas transformações. Iniciamos num tamanho bem menor

do que o existente e fomos nos moldando sempre com o objetivo de melhorar o formato para o leitor. Sem esquecer do design, que evoluiu para um jornal comunitário de excelência, misturando uma fórmula de entretenimento, notícias, utilidade pública, lembranças e a valorização do morador e do comércio local. Como toda criança que passa pela infância, o jornal ainda precisa de muita maturidade, mas sabemos também que a

“Depoimentos que exaltam a criação e a continuidade desse meio de comunicação criativo, de qualidade e, acima de tudo, porta-voz do mareense” ajuda de vocês moradores é importantíssima para esse amadurecimento. Daqui para frente, precisamos que vocês assumam que o jornal não é só da equipe, nem do Ceasm. Ele é da comunidade. E como isso pode acontecer? Acontece quando vocês sugerem matérias, quando vocês utilizam o jornal para reclamar os seus direitos, quando vocês nos escrevem fa-

zendo críticas e sugestões para a melhoria do jornal. É em busca de aumentar essa parceria que queremos caminhar agora, ou seja, aumentando ainda mais o vínculo que nos impede de fugir das características de um veículo comunitário. Mas estamos em um momento de festa. E como é bom olhar para trás e perceber quantos momentos de tristeza e de alegria. Contudo, nesses oito anos, o principal sentimento é de agradecimento a todos que de alguma forma contribuíram com cada página, palavra e até letra, colocada no jornal. Como num aniversário, esse é o instante de dar o primeiro pedaço do bolo, e sem dúvida, será para cada leitor, que ajuda a construir uma nova Maré nas linhas do jornal O CIDADÃO. Muito obrigado também pela confiança da Ediouro, da Oi Futuro e da Petrobrás, nossos parceiros/patrocinadores. E para comemorar esses oito anos trazemos uma edição especial, em que alguns leitores e especialistas na área da comunicação falam sobre a importância do jornal para a Maré e, por que não dizer, para a cidade do Rio de Janeiro. O resultado foi animador, conferimos e repassamos nessas páginas depoimentos que exaltam a criação e a continuidade desse meio de comunicação criativo, de qualidade e, acima de tudo, um dos portadores da voz do morador. E que venha o ano nove e a comemoração futura de edições centenárias. A Equipe

Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? HÉLIO EUCLIDES

“O CIDADÃO é o exemplo bem sucedido de comunicação comunitária. Eu gosto muito, serve de pesquisa na Faculdade de Comunicação (ECO) e no Rio de Janeiro. É um objeto de integração com a universidade. Não pode ficar na mão de um grupo só, deve estar sempre em formação e renovação para não acabar” Raquel Paiva, professora da UFRJ e pesquisadora do CNPQ

“Hoje o jornal traz o dia-a-dia, mostrando as dificuldades sociais, sendo o retrato do bairro. Fala dos preconceitos dos governantes que não dão atenção à área da Maré e revela que a violência não é a principal notícia”

HÉLIO EUCLIDES

Marcelo Dias, carteiro comunitário do Conselho de Moradores da Vila do Pinheiro


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SAÚDE

HÉLIO EUCLIDES

Samu pede passagem para atendimento Serviço de ambulâncias de urgência transporta pacientes com qualidade

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uerida da minha infância, eu garotão dirigindo ambulância”, como na música cantada por Moreira da Silva, as crianças brincam de socorrer os outros. Na vida real, o trabalho é levado a sério. Foi-se o tempo em que, ao chamar uma ambulância, o que aparecia era um Opala branco, sem conservação e mal aparelhado. Agora com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, mas conhecido por Samu, as coisas mudaram. As viaturas estão prontas para qualquer tipo de atendimento, com importantes diferenças. As básicas trazem um técnico em enfermagem, que

Ambulâncias do Samu: esperança de vida para muitos moradores da Maré que precisam de atendimento médico

socorre os casos menos graves. As avançadas vêm com um médico, para atendimentos mais urgentes. O programa Samu foi implantado há cerca de dois anos e meio, pelo governo federal, mas é administrado pela Secretaria Estadual de Saúde. Na cidade do Rio de Janeiro, há 62 ambulâncias, espalhadas em 28 pontos, para chegarem mais rapidamente. Com três bases

próximas à Maré: Ilha do Governador, Fundão e Hospital Geral de Bonsucesso. Quando acionado, o serviço envia a ambulância para resgate e salvamento, pela manhã, à tarde ou à noite. Em média, são 7.900 atendimentos mensais. Com cerca de 40% dos atendimentos estão relacionados a doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? ARQUIVO PESSOAL

“O CIDADÃO cumpre um papel muito importante na Maré, na medida em que dá voz ao morador, tantas vezes retratado na mídia através de estereótipos e preconceitos. O direito à representação é, como o próprio jornal prega, um direito de todo cidadão”

Carla Baiense, jornalista e colaboradora do CIDADÃO

“O jornal veio unir as comunidades, nunca sonhei que podia existir isso. Morei em Cabo Frio. Lá o jornal de bairro é voltado para os políticos. Aqui o jornal é para o povo, e joga para cima os moradores”

HÉLIO EUCLIDES

Paulo Roberto, carteiro comunitário do Salsa e Merengue


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Hoje o maior problema do programa na Maré é a dificuldade de acesso. “Não temos objetivo de olheiro, tampouco somos uma armadilha. O ideal é alguém ir até a porta da comunidade para receber a ambulância”, comenta o coordenador geral do Samu, Eduardo Ferreira, de 49 anos. O condutor, Rafael Ramos, de 24 anos, está há cinco meses no trabalho, e também reclama. “É muito complicado, estamos sendo abordados, esculachados, revistados. Tiramos até os sapatos e a viatura é vasculhada. Meu único papel é socorrer vidas”, relata. Maria Lúcia, de 50 anos, enfermeira do Samu, explica que o brasileiro muitas vezes “guarda a doença” em casa e só vai ao hospital em estado grave. “Muitos acham que (ambulância) é táxi. Como a cultura não é de prevenção, cuida-se da ferida, não da causa. Mas não culpo o povo, que não tem dinheiro nem para comer, imagine para comprar remédio”, diz a enfermeira. Ela agora vê seu trabalho facilitado pela instalação de uma central de regulação. Nasce assim um elo entre as ambulâncias e os hospitais, criando vagas nas unidades.

Daniel dos Santos, de 25 anos, sofreu uma lesão na coluna durante um jogo de futebol no campo do Conjunto Esperança. Recebeu socorro de uma unidade do Samu. “O atendimento foi show de bola. Muito atenciosos, eles só foram embora quando viram que eu ficaria internado. E ainda ligaram no outro dia para saber como eu e s t ava ” , conta Daniel. Para acionar o serviço de ambulância existem duas formas. A primeira, discando 192, número do Samu. A segunda é 193, do grupamento de socorro de emergência do Corpo de Bombeiro. Ambos tra-

balham em conjunto. Eles apelam para que se evite o trote telefônico. “Isso atrapalha, pois deixamos de ajudar a quem precisa de fato”, diz Eduardo Ferreira.

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ARQUIVO PESSOAL

“É ferramenta de cidadania - o nome do jornal não foi escolhido por acaso - abordar de forma crítica e responsável as condições dos serviços públicos de educação, saúde, transportes, por exemplo, ajudando na construção da identidade local, a ‘identidade mareense’” Flávia Oliveira, colunista do “Globo” e colaboradora do CIDADÃO

“O grande mérito do O CIDADÃO é estar a serviço da Maré. Se você ler uma matéria no jornal e comparar com outra sobre o mesmo assunto veiculada nas corporações de mídia, perceberá a diferença. Ele é um importante veículo para a afirmação da identidade de quem vive na Maré” Marcelo Salles, editor do jornal alternativo Fazendo Média


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SERVIÇO

UFRJ se volta para a Maré Universidade monta escritório de atendimento gratuito em diversas áreas

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Núcleo Interdisciplinar de Ações para a Cidadania (Niac) é o novo projeto da UFRJ, coordenado pelas Faculdades de Direito e Arquitetura e Urbanismo, pelo Instituto de Psicologia e pela Escola de Serviço Social. Inaugurado em 25 de junho, é voltado para o atendimento gratuito aos moradores da Maré. O coordenador do Núcleo, professor Marcos Silva, informou que a intenção do projeto

“O caso pode ser direcionado a uma área específica ou continuar interdisciplinar” Marcos Silva Coordenador do Niac é exPandir sua atuação para outras comunidades: “Manguinhos poderá ser atendida a partir do ano que vem”. Para Silva, a vantagem principal do Niac é ser interdisciplinar. Quem busca ajuda é atendido por uma equipe das três áreas: direito, psicologia e serviço social. Alguém que

precise da ajuda de um advogado, por exemplo, poderá também ser atendido por um psicólogo ou por um assistente social, dependendo do caso. “Depois do atendimento, os entrevistadores conversam entre si e o caso pode ser direcionado a uma área específica ou continuar interdisciplinar”, diz Silva. O núcleo tem estrutura para atender 40 novos casos por semana. Os atendimentos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo serão voltados para o desenvolvimento de projetos públicos, como urbanização de pracinhas, construção de áreas de lazer, entre outros. Os atendimentos são feitos pelos alunos de graduação da universidade, mas eles têm o suporte de uma equipe de profissionais.

Para participar O primeiro atendimento é feito de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h. Novas visitas são agendadas de acordo com a disponibilidade da pessoa e da equipe que vai acomPanhar o caso. O telefone para contato é o 2598-9268. Outras informações podem ser obtidas no site www.pr5.ufrj.br/niac. htm. O núcleo fica na Praça da Prefeitura Universitária, no prédio anexo da PR-5.

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HÉLIO EUCLIDES

“Afirmar que todo cidadão tem o direito de comunicar significa garantir a proposta da democratização da comunicação. Este projeto político vem sendo realizado pelo jornal O CIDADÃO”

Leonel Aguiar, professor do Departamento de Comunicação Social e coordenador do curso de Jornalismo da PUC-Rio

“O jornal é bom por ser informativo, falando tudo referente à saúde. Exclarece ao morador o que acontece na Maré” Laura Cristina, moradora da Comunidade Marcílio Dias


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Ação Comunitária lança moda afro-brasileira Arte étnica conquista Fashion Business Foto: Ronaldo Breve

Texto: Cris Araujo A tarde de artesanato vivo do estande Empreendedorismo Social do SEBRAE ganhou um clima afro com a participação da Arte Étnica da Ação Comunitária do Brasil/RJ (ACB/RJ). Na ocasião, a artesãs desta oficina participaram do quadro “Artesanato Vivo” do estande confeccionando as Bonecas Banto. O sucesso da linha de produtos de Arte Étnica contou com a originalidade da Moda Étnica, que levou para o es-

tande do SEBRAE peças confeccionadas a base de Batik e Tye Dye, técnicas africanas de pintura em tecido. O espaço abre novos modos de inserção de arte desenvolvida em Comunidades, mostrando a criatividade dessa população, geralmente pouco notada. Neste sentido, o trabalho de incubação empreendedora realizado pela ACB/RJ em seus núcleos Vila do João e Cidade Alta, foi fundamental para que a ONG participasse da empreitada. A gerente da Assessoria de Projetos Especiais do SEBRAE-Rio, Márcia Manhães explica que: “A idéia deste espaço é contribuir para a inserção dos artesãos no mercado da moda, com o resgate da cidadania e com a promoção de resultados de impacto social”. A Gestora em RH, Márcia Queiroz vê o espaço como meio de dar visibilidade a novas concepções de arte, nascidas

AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL www.acaocomunitaria.org.br RIO DE JANEIRO

muitas vezes da necessidade financeira e revela: “Gostei do trabalho desenvolvido nas roupas e da bonequinha. Achei muito bonitinha, delicada!”. Quem marcou presença no estande foi o vocalista do grupo O Rappa, Falcão. O artista ficou encantado, tanto com as peças expostas no espaço, quanto as histórias por trás delas. O que de acordo com o vocalista, servirá de inspiração para o novo trabalho da banda, em fase de produção. A arte étnica busca resgatar as raízes afro que formam a identidade brasileira, para tanto, possui um linha de produtos específica sobre o tema. Nela incluem-se as bio-jóias, as bonecas banto, feitas com retalhos de Pano oriundos do núcleo de moda, que agora lança a marca Moda Étnica, com roupas inspiradas na cultura africana, em suas cores e modelos.

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ESPORTE

FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

Boleiros da Maré As histórias dos campos de futebol do bairro

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partir desta edição, O CIDADÃO começa a viajar pelos espaços de peladas das comunidadesda Maré para contar as histórias de nossos boleiros. O primeiro giro é por Marcílio Dias e Praia de Ramos. Os campos são ainda amadores, mas no quesito garra dos jogadores não devem nada a outras

Crianças utilizam o campo de futebol society de areia da comunidade Marcílio Dias como área de lazer

Ex-jogador, Godoy em frente ao campo do Piscinão

arenas. Afinal, os atletas até pagam para exibirem seus talentos e deixarem o campo sem situação de jogo. Em Marcílio Dias , o campo fica atrás da Associação de Moradores. Ele foi criado em 1993 e há seis anos passou por uma reforma para construção de uma quadra ao lado. “No passado tinha alagamento. Então, nos unimos e colocamos vários caminhões de areia. Lembro com saudade do Flakelson, um dos times da época”, conta Luis Cláudio, de 28 anos. Outro fato marcante foi a instalação dos refletores dentro do campo e a colocação do alambrado. Antes disso, um atleta não enxergou um poste e bateu de frente. O campo é um incentivo à rapaziada. Para a emoção ser maior, os peladeiros esperam um dia a instalar grama sintética. Na Praia de Ramos, os peladeiros corriam atrás da bola já nos anos 70. Havia dois campos : um na praia , outro na rua. O último tinha marcação feita por cordas e trave de madeira.

Além disso, os jogos eram sempre interrompidos para a passagem de carros. “Recebíamos gente de fora. Era jogo o dia todo. Aqui era um local de formação de craques”, revela o ex-jogador Nivaldo João, o Godoy. Em 2000 os

“ Era jogo todo dia. Aqui era um local de formação de craques” Nivaldo João, o Godoy Ex-jogador de futebol espaços se unificaram. No sistema de mutirão, o campo virou soçaite, com menor dimensão. Com a construção do Piscinão, o velho campo ganhou grama sintética. Os freqüentadores fazem questão de ressaltar que a reforma já completou três anos, mas até hoje não houve uma manutenção.

Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? HÉLIO EUCLIDES

HÉLIO EUCLIDES

“O CIDADÃO tem uma coisa que agrada, a diagramação. O visual de alguns jornais me incomoda e aterroriza. O texto para chamar atenção deve ter um aspecto interessante e não dar arrepio, o JB, por exemplo, não me agrada. O CIDADÃO chama atenção pelo formato e por suas matérias diversificadas”

Miriam Magalhães, professora de Jornalismo e Comunicação Comunitária da Unisuam

“O Jornal é um meio muito importante de informação do nosso bairro, o jornal é um importante meio de cultura informativa e escrita, veículo em que as pessoas podem se expressar suas felicidades e necessidades” Marilene Lopes da Silva, moradora do Conjunto Esperança


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GERAL

Dificuldades no caminho dos portadores de necessidades especiais Falta de recursos financeiros e até preconceito dos pais prejudicam tratamento e socialização

HÉLIO EUCLIDES

O

s versos das canções de Leonardo atraem fãs de todo o Brasil e também, têm lugar cativo no aparelho de DVD de uma fã especial: Silvinha, como é conhecida no Parque União, onde mora. Aos 29 anos, ela adora ouvir música e, desde que nasceu, é portadora de paralisia cerebral, distúrbio que causa dificuldade na fala e nos movimentos. Silvinha não anda. Porém, seu raciocínio é igual ao de qualquer pessoa. Ela não é a única portadora de necessidades especiais da Maré. Na Vila do Pinheiro vive Matheus Fernando, de 4 anos, que tem feito exames para diagnosticar sua doença. Os médicos suspeitam de paralisia. Silvinha mora com a mãe, dona Marilene, o pai e a irmã. Por dez anos, fez tratamento no hospital público Oscar Clark, na Tijuca, e estudou numa escola pública especial de lá. Infelizmente, o custo de transporte, sempre de táxi, tornou-se alto demais para a familia e os estudos foram interrompidos no fim da quarta série. Apesar disso, ela hoje conversa com seus pais e amigos - que entendem seu modo de falar - lê muito, vê televisão e ouve música, seu hobby preferido. Mas o amor dedicado pela família à Silvinha não é realidade geral na Maré.

Silvinha com a mãe, Marilene: a jovem é uma das muitas mareenses que convivem com o drama da paralisia cerebral

Muitos pais de portadores de necessidades especias ainda preferem escondê-los.“Tem uma moradora da vizinhança que perdeu sua filha há uns seis anos. Acho que a menina, que devia ter uns 12 anos, tinha paralisia também. Eu quase não a via. Eu, dona-de-casa, só a vi umas duas vezes no colo dos pais, saindo de casa à noite para ir à igreja”, lamenta Marilene.

Já os pais de Matheus Fernando têm procurado ajuda. O garoto está fazendo fisioterapia no Hospital Geral de Bonsucesso e é acompanhado por fonoaudiólogos da clínica social (gratuita) da Universidade Suam. Aos quatro anos, ainda engatinha e não fala. Desde bebê sofre de problemas respiratórios e várias alergias que o le-

Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? HÉLIO EUCLIDES

“Sou fã desse trabalho. Acho bonito, com cara de trabalho jornalístico. Esse jornal costuma ser igual à marca, um trabalho para O CIDADÃO”

Paulo César, professor de Comunicação Empresarial e Assessoria de Imprensa da Unisuam

“Gosto do jornal, porque ele valoriza os moradores e, também, quando ele fala de cidadania. Acho que ele deve continuar fazendo o seu papel, que é o de esclarecer sempre as pessoas sobre a nossa realidade”

CRISTIANE BARBALHO

Flávio Aguiar Rodrigues, presidente da Associação de Moradores da Nova Maré


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“Tem uma moradora da vizinhança que perdeu sua filha há uns seis anos. (...) Eu quase não a via. Eu, dona-decasa, só a vi umas duas vezes no colo dos pais, saindo de casa à noite para ir para a igreja” Marilene, mãe de Silvinha Moradora do Parque União vam constantemente a internações em hospitais. “Ele toma remédios fortes, como calmantes para poder dormir. Parece um bebê, de tão frágil”, conta a prima, Gizele Martins.

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Prefeitura garante acesso à educação e saúde A Prefeitura do Rio de Janeiro informa que o acesso às escolas municipais é garantido por lei a todos os alunos, independentemente de suas condições físicas. Nas imediações da Maré existem classes especiais nos Cieps Hélio Schmidt, Gustavo Capanema, Samora Machel, Elis Regina e Leonel Brizola e nas escolas municipais Prof. Josué de Castro, Teotônio Vilela e Armando Salles de Oliveira. Há também as escolas especiais, que atendem alunos com deficiências múltiplas e necessidades de adaptação extrema, como o Especial

Rotary, na Ilha, e o anexo do Ciep Yuri Gagarin, em Bonsucesso. Quanto à saúde, há o Instituto Municipal Nise da Silveira, no Engenho de Dentro, e o Centro de Apoio Psicossocial Infantil (CAPSi) Maria Clara Machado, em Piedade. Há ainda outros dois CAPSis, na Taquara e em Sulacap, que atendem pacientes de até 18 anos. Para mais informações, ligue Tele-Saúde (2273-0846) ou acesse www.saude.rio.rj.gov.br. A ouvidoria da Secretaria Municipal de Educação atende no 2503-2000 ou via e-mail (ouvidoriasme@pcrj.rj.gov.br), de segunda a sexta, das 9h às 18 h.

Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? HÉLIO EUCLIDES

WESLEY DE OLIVEIRA

“Em ‘O CIDADÃO’, reza o expediente, sou ‘Consultor editorial’. Meia verdade. Até ajudo, mas sobretudo aprendo, com a turma talentosa, responsável por um veículo essencial a uma população esquecida pelo ‘andar de cima’. No expediente, deveria ser ‘honrado-aprendiz-que-dáuma-força’. Viva ‘O CIDADÃO’!” Aydano André Motta, jornalista do jornal O Globo e coloborador do jornal O CIDADÃO

“É um mecanismo de exPansão de conhecimento da Maré e ainda estabelece a importância da cultura e história das comunidades.E nos oferece a oportunidade educacional nos trazendo leitura, conhecimento e informação de maneira a formar verdadeiros Cidadãos.” Jeferson Almeida do Carmo, morador da Vila do João.


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CAPA

Pan-Americano: qual o legado social? Governos gastam muito mais dinheiro do que o previsto nos jogos do Rio de Janeiro CHRISTOPHE LIBERT

E

sporte faz bem para o corpo e para a alma. O próprio jornal O CIDADÃO divulga e apóia todas as iniciativas ligadas ao esporte na Maré. No entanto, é impossível não notar a insatisfação de uma boa parte da

Para o Pan, tem dinheiro, mas quando o Pan acabar vai tudo embora, como as patrulhas da Linha Amarela” Verônica Freitas de Souza

O atletismo é um dos esportes mais nobres do Pan-americano e das Olimpíadas e existe desde da Grécia Antiga

população brasileira diante dos grandes investimentos em tecnologia de primeiro mundo para as competições do Pan, enquanto equipamentos públicos básicos para sobrevivência da população, como segurança, educação e saúde estão a beira de um colapso. Isso sem falar no gasto para a realização dos jogos na cidade, que excedeu, em muito, a previsão inicial. “O governo gastou muito com o Pan, mas com que a gente precisa, como hospitais e remédios, não gastou nada. Quando acabar o Pan eles vão estar cheios de dinheiro e nós não.

Além disso, sou aposentada e só tenho aumento de 3% ao ano. Isso é um absurdo”, relata Derly do Espírito Santo, de 66 anos, moradora da Baixa do Sapateiro.

ASIF AKBAR

Moradora do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Os governos federal, estadual e municipal, juntos, gastaram cerca de R$ 4 bilhões de reais. Esse valor é 20 vezes superior ao gastonasedições anteriores. Com o dinheiro público foram construídas arenas esportivas, campo de futebol e ginásios olímpicos iguais aos que existem em países de primeiro mundo. Contudo, restam algumas dúvidas. O que acontecerá com essas construções após as competições? De onde veio o dinheiro que excedeu a previsão? Por que não houve um diálogo maior com a população para que junto com as obras do Pan, outras medidas fossem tomadas no sentido de melhorar a vida da população? Segundo a assessora da Secretária de Esporte e Turismo, Mônica Magalhães, os apartamentos do conjunto de edifícios da Vila do Pan, fi-

nanciados pela Caixa Econômica, foram vendidos durante a construção. E seus proprietários tomarão posse depois dos jogos. Já as instalações esportivas permitirão ao Rio sediar a final da Copa de 2014, caso ela seja no Brasil, e habilitam a cidade a lutar pelas olimpíadas de 2016. Infelizmente esse tipo de planejamento prévio não acontece em outros setores da sociedade, como nos hospitais, na segurança e na educação, fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento de um país. A assessora ainda afirma que o governo não considera ter tido falta de diálogo com a população. “Esse diálogo existe desde o início. Prova disso são os inúmeros projetos sociais vinculados ao Pan, com recursos do go-


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o seu grande verno federal e participação do estado, ainda em andamento”, afirma. E completa. “Os projetos vão beneficiar mais de 500 mil jovens, através de uma série de cursos e programas esportivos que visão a inclusão social”. Porém alguns moradores da Maré questionam o valor alto dos gastos com as obras.“ Para o Pan tem dinheiro, mas quando o Pan acabar vai tudo embora, como as patrulhas que estão aqui na Linha Amarela”, desabafa a moradora do Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Verônica Freitas de Souza, de 21 anos. “Além disso, os investimentos feitos para o Pan, com certeza, não continuarão nos próximos meses”, diz. De uma forma geral, todos acreditam que o investimento no Pan não era prioridade. Esse é o caso de Vanessa Cristina da Silva, de 25 anos, moradora da Vila do João. Para ela, o governo deveria investir mais em escolas e hospitais. “Vi na televisão que tem hospitais que estão fechados e maternidades que não tem lugar

para as crianças recém-nascidas por falta de dinheiro”, afirma. A moradora do Morro do Timbau Ellen Damiana, de 33 anos, concorda com a colocação de Cristina. “Acho o gasto que o governo teve uma ‘porcaria’. Eles deveriam ter investido o dinheiro na saúde, pois tem tantos hospitais precisando de macas e remédios”, relata. Uma boa comparação é o dinheiro investido na construção dos complexos esportivos. O investimento nessa construção foi oito vezes superior ao que será utilizado para a revitalização do Complexo do Alemão por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Esse programa do governo visa a recuperação de algumas comunidades no Rio de Janeiro e de outras partes do Brasil. Mas há moradores que estão de acordo com a ação do governo. “O dinheiro foi gasto com esporte e isso foi uma coisa boa”, afirma o morador da Baixa do Sapateiro Andembergue Machado Silva, de 16 anos. Já para Edileuza Ferreira da Costa, de 41 anos, moradora da Baixa do Sapateiro, o dinheiro gasto valerá a pena se trouxer melhorias para a população. “Se o investimento vai trazer algum beneficio para nós, como na saúde, é bom. Porque foi feito um investimento alto e muito dinheiro foi utilizado. Com esse dinheiro poderia melhorar a educação e a saúde”, conclui. Segurança dos Jogos Durante o ano, comunidades populares, como a Maré, sofrem com o descaso do poder público. Mas com o objetivo de garantir a tranqüilidade dos atletas e dos turistas durante os jogos Pan-Americanos, o estado reforçou o policiamento dentro dessas áreas. A finalidade era evitar contratempos nas principais vias de acesso ao Aeroporto Tom Jobim, na Ilha do Governador, e a Vila do Pan, na Barra da Tijuca. Essa ação contou com 20 mil policiais.

Vanessa Cristina e Verônica: contra os gastos do governo

O governo federal aplicou R$ 562 milhões para a segurança durante os jogos. Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública, 75% dos equipamentos ficarão no Rio após o Pan. Para garantir a tranqüilidade durante os jogos, a cidade do Rio de Janeiro recebeu 1.500 veículos, 24 novas aeronaves, 18 mil rádios digitais, 18 mil agentes de segurança, além de um Sistema de Monitoramento Integrado (600 câmeras), Rede Segura de Inteligência, Controles de Acesso, Central única de Comando e Contro-

“O dinheiro foi gasto com esporte e isso foi uma coisa boa” Andembergue Machado Silva Morador da Baixa do Sapateiro le. E mais oito Centros Regionais de Comando e Controle, armamentos letais e não-letais e equipamento antibomba. As 600 câmeras foram instaladas nos locais de competições e nas principais vias de acesso, além de pontos estratégicos. Isso tudo é para garantir a segurança de atletas e turistas. E ainda a imagem de um país tranqüilo no exterior. O Ministério da Defesa usou R$ 3 milhões na segurança dos aeroportos da cidade para transmitir uma “sensação de segurança” durante o evento. Outra coisa que causou estresse aos moradores da Maré foi a passagem dos comboios dos atletas. Segundo Verônica Freitas, moradora do Conjunto Bento Ribeiro Dantas, quando passavam as comitivas dos atletas que vinham do aeroporto, a Linha Amarela parava. “Os policiais, em vez de utilizar apenas a faixa destinada a eles, fechavam a pista toda e passavam devagar”, contou ela.


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CAPA

HÉLIO EUCLIDES

Barracos de madeira servem de abrigo para moradores que foram retirados de área controlada pela Serla: as construções foram erguidas a alguns metros do antigo local

Remoção na Maré Intervenções: para garantir “sossego” durante os Jogos, governo ameaçou deslocar algumas favelas

C

om a preparação do Rio de Janeiro para os Jogos Pan-Americanos, o governo fez muitas obras. Foram melhoradas as pistas de trânsito, as ruas e os lugares turísticos. As favelas também passaram por uma intervenção do estado. Ao contrário dos outros lugares, elas passaram por mudanças violentas e desleais como as remoções. Tudo foi feito com uma única preocupação, a de recepcionar os turistas da melhor forma possível. Na Maré tivemos dois casos de remoção. No final

de 2005, na comunidade de Mandacaru. E o outro, agora no início do ano, próximo à comunidade Vila do Pinheiro, junto ao Canal do Cunha. Em Mandacaru a situação foi contornada, moradores que já estavam ali há anos fizeram protestos, abaixo-assinado, foram às ruas e à Prefeitura para buscar os seus direitos. Com isso, conseguiram não ser removidos. A Prefeitura na época queria pagar uma indenização

que variava entre R$ 800 e R$ 5 mil por cada barraco. Para as pessoas que moram perto do Canal do Cunha, há cerca de seis meses, a situação é ainda pior. Antes elas estavam embaixo da ponte, próximo ao Canal, mas a Serla os tirou e pôs uma cerca no local. Eles construíram seus barracos do outro lado da cerca e a responsabilidade agora é da Prefeitura.

“Eles estão no regime de miséria total” Uilian Gonçalves Presidente da Associação de Moradores da Vila do Pinheiro Segundo o presidente da Associação de Moradores da Vila do Pinheiro, Uilian Gonçalves Silva, de 35 anos, o que está acontecendo com os moradores é uma injustiça. “Eles estão num regime de miséria total. O que sei é que os órgãos públicos os abandonaram e os deixaram à própria sorte. A maior causa disso tudo é que os dois lados querem maquiar a Linha Vermelha por causa do Pan, pra quando o chefe de estado passar ali, achar tudo bonitinho”, conclui.


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Brincando de soldado. Mas de verdade.

Best-seller do NY Times

Trezentas mil crianças-soldado, lavagem cerebral, entorpecentes, abusos dos senhores da guerra, mortes. Uma narrativa convincente, com uma linguagem bem-acabada, da visão do inferno por quem esteve lá e conseguiu sair com vida.

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Nas livrarias.


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RUA

Rua da Proclamação Comunidade sofre com trecho esburacado e falta de área de lazer para as crianças VINICIUS ZEPEDA

L

ocalizada na Baixa do Sapateiro, a Rua da Proclamação é cortada pela Av. Brasil e pela rua do Serviço, seguindo até Bonsucesso. Pouco povoada por moradores, possui muitas empresas e, por isso, muitos problemas de infra-estrutura e asfalto na região. Robson Alves, de 41 anos, nascido e criado na Rua da Proclamação conta que depois de obras feitas na tubulação de esgoto, ficou tudo esburacado. “Minha irmã caiu no bueiro e, por isso, levou vários pontos”, alertou o comerciante. Em conversa com o presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro Charles Gonçalves Guimarães, de 48 anos, ele nos aponta os vários problemas do local e a dificuldade de resolvê-los. Um deles é que a rua não é toda asfaltada e isso faz com que suba muita poeira principalmente quando os carros passam. Já a comerciante Valéria Ferraz, de 26 anos, reclama da velocidade dos veículos. “Eles passam muitas vezes em alta

velocidade, temos que ter vários quebramolas nessa rua”, finaliza. O morador José Fellipe, de 51 anos, conta que existem pessoas que moram na Proclamação há seis décadas. Elas consideram o lugar muito calmo e por isso não a trocam por nada.“Resido aqui desde que nasci e me sinto orgulhoso em ver que os visinhos se ajudam até hoje e sempre que há ocasião temos festas na rua”, afirma. Um outro ponto citado pelo presidente da Associação de Moradores é a falta de atenção do poder público com a comunidade. “O poder público pouco olha para gente”, afirma. E devido aos problemas emergenciais Charles se comprometeu em tapar os buracos que existem na região. O CIDADÃO convoca os moradores para contar aqui a história da Rua da Proclamação, inclusive com a explicação para o nome, os relatos serão divulgados na próxima edição.

Buraco no meio da rua atrapalha vida dos moradores

SABOR DA MARÉ

RENATA SOUZA

Maçã do amor da Gabriela Ingredientes: - 1 quilo de açúcar - 1 colher (sopa) de cremor de tártaro - 1 colher (sopa) de corante vermelho bordô - 1 copo americano de água Modo de fazer: Misturar todos os ingredientes e por

fim colocar a água. Levar ao fogo brando até levantar fervura. Está pronto quando estiver em ponto de fio. A quantidade de maçã vai ao gosto de cada um. “Quem quiser saborear é só dar uma passadinha na tenda, que fica na Via C/4, nº 86 - Vila do Pinheiro”

Gabriela vende maçã do amor em frente a sua casa

Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? HÉLIO EUCLIDES

“O meu ponto de vista sobre o O CIDADÃO, é sempre positivo, apóio qualquer meio de comunicação que vier da comunidade e que seja para ela própria. E o papel da mídia é esse, o de mostrar a verdade. O jornal melhorou muito”

Charles Gonçalves Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro

ARQUIVO PESSOAL “O CIDADÃO é muito importante, pois atinge toda a Maré, divulgando a história do bairro, fatos guardados na memória de antigos moradores. Além de cultura, lazer e interatividades que ajudam os jovens a se manterem mais informados sobre a comunidade. Parabéns ao CIDADÃO, desejo muito tempo de caminhada” Bruno Oliveira, estudante de informatica da Uerj e morador da Nova Holanda.


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19 ACONTECEU NA MARÉ HÉLIO EUCLIDES

Visitante admira quadros na exposição do Museu da Maré

O que pinta no Museu da Maré O Museu da Maré expõe muitas obras de diversos artistas do Brasil. No dia 12 de julho foi aberta a exposição O Que Pinta na Maré - Arte Local, reunindo sete artistas de diversas comunidades que mostram os seus trabalhos, refletindo no pincel, o dia-a-dia do bairro. O espaço será dedicado até o dia seis de setembro, para arte da localidade. “Isso é o coletivo. Temos que dar continuidade a essa integração das obras de fora com as daqui”, disse um dos coordenadores, Luiz Antonio, de 39 anos. Um dos objetivos da mostra é trazer mais moradores para o museu, que em três meses recebeu mais de 10.000 visitantes.

COMO VOVÓ JÁ DIZIA

Jovens discutem a realidade

Ceasm realiza festa junina na Maré

Na manhã do dia 19 de maio, jovens e adolescentes do curso preparatório do Ceasm, no Morro do Timbau, reuniram-se para discutir sobre cidadania, violência, preconceito, cultura, família e o atual papel da mídia. Todos os assuntos debatidos surgiram de um fanzine com falas de jovens de algumas favelas do Rio de Janeiro e de outras cidades.

A Casa de Cultura da Maré realizou mais uma festa junina. O evento aconteceu no dia 14 de julho e contou com muitas barraquinhas. A festa foi dividida em dois momentos. A parte da tarde foi dedicada as crianças e a noite aos jovens e adultos. A comemoração contou, também, com a apresentação de um grupo de dança que foi convidado para a festa junina.

Cine Maré apresenta mais um filme No dia 30 de junho às 18 horas no Largo IV Centenário, na Baixa do Sapateiro, foi apresentado o filme “Tapete vermelho” pelo movimento Cinemaré. O objetivo é levar aos moradores Maré diversos filmes que tratem da realidade de cada um. Depois de cada sessão é realizado, como aconteceu em “Tapete vermelho”, um debate com a participação dos moradores.

Curso de Formação Política na Maré Do dia 30 de junho a primeiro de julho aconteceu na Casa de Cultura da Maré, o curso de Formação da Classe Trabalhadora. O evento terá duração de um ano e teve início na Escola Florestan Fernandes em São Paulo. As aulas aconteceram uma vez por mês, intercalando os espaços da Casa de Cultura da Maré e a UFRJ da Praia Vermelha.

Frio assa mais Pode parecer maldade tirar a roupa do bebê com mais freqüência justamente quando está frio. Mas isso é necessário para evitar assaduras, cujo risco aumenta no inverno. Sob temperaturas mais baixas, a eliminação de líquidos pelo suor é menor, por isso a tendência, em todas as faixas etárias, é urinar mais. “Se a fralda não for trocada mais vezes, maior será o tempo de contato entre a pele do bebê e o xixi, condição respon-

sável pelo aparecimento da assadura”, explica o dermatologista pediátrico Antônio Carlos Madeira de Arruda, da Sociedade de Pediatria de São Paulo. E mais: as roupas extras necessárias para manter o bebê quentinho abafam a região, o que eleva ainda mais o risco, diz o médico. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus - Editora Vozes

Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? HÉLIO EUCLIDES

ARQUIVO PESSOAL

“O Jornal ‘O CIDADÃO’ tem sua fagulha lançada em cada possibilidade de cada processo, como força que irrompe da comunicação comunitária. Parabéns e continue alimentando o coração da história da Maré e do Rio” Adair Rocha, professor de Comunicação Comunitária da PUC e representante do Ministério da Cultura no Rio

“O ‘CIDADÃO’ já nos identifica de cara, afinal somos o que? se não cidadãos. Um jornal que sintetiza através de suas matérias os anseios e alegrias de um bairro que cresce tanto em área espacial quanto em cultura. Parabéns” André Lucena, pintor de obras de arte e morador do Parque Rubens Vaz


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GERAL

MARCO DAVI

“Cemeando” esperança Instituição atende crianças desde a Educação Infantil, até o final do Ensino Fundamental

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Centro Educacional do Menor para Assistência e Reintegração (Cemear) atende crianças de quatro a 16 anos, em período integral. Além das matérias de Educação Infantil e Ensino Fundamental, o Cemear desenvolve várias oficinas, que trabalham o corpo e a criatividade dos alunos. Atende 250 crianças. Dessas, pelo menos 70% são da Maré. Fundado em 1993, o Cemear funcionava como abrigo e escola de menores. Com o Estatuto houve a necessidade de descontinuação do abrigo. Em contrapartida, a instituição pôde aumentar o número de crianças beneficiadas. Para o assessor da diretoria do Cemear, Adolfo Breder, a maior dificuldade é a escassez de recursos, apesar do patrocínio da Petrobras e da Läkarmissionen, uma instituição internacio-

Crianças atendidas pelo projeto Cemear realizam atividade na instituição: educação infantil é a prioridade

nal. As famílias que procuram o Cemear passam por uma fase de inscrição, com entrevista feita por assistentes sociais. Há, então, uma triagem, na qual são selecionadas as famílias que mais carecem de recursos. A equipe realiza encontros com as famílias das crianças para acomPanhamento psicológico, visando ao desenvolvimento dos alunos. Normalmente eles chegam à instituição com défi-

CURSOS

Geografia

O Cidadão

O curso de graduação em Geografia habilita o aluno como Bacharel com vistas à carreira acadêmica nas universidades ou em instituições de pesquisas, órgãos de planejamento e desenvolvimento econômico regional e setorial, podendo, ainda, atuar em indústrias extrativas e em serviços públi-

dá dicas de cursos

cit de aprendizagem e desacreditados. “Após o período de adaptação eles passam a não querer mais sair do projeto. Mas não conseguimos sozinhos. É necessária a parceria com a família”, ressalta a assistente social da instituição, Alessandra Fogaça. Breder critica o fato de as crianças não terem direito ao RioCard. “Fazemos a nossa parte ajudando na formação dessas crianças, mas, infeliz-

cos como o IBGE. Após a conclusão do Bacharelado, o aluno pode obter a Licenciatura em Geografia mediante complementação pedagógica. Duração: 8 a 10 semestres. Curso: Pode ser encontrado na UFRJ, UERJ e UFF.

Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? ARQUIVO PESSOAL

CRISTIANE BARBALHO

“O CIDADÃO é uma iniciativa muito estranha à mídia, porque é produzido por pessoas da própria Maré. É exatamente este tipo de meio de comunicação que a mídia dá menos visibilidade e, não por acaso, uma das mais importantes frentes de ação. Lá, o Caveirão não recebe maquiagem” Gustavo Barreto, editor da publicação alternativa consciencia.net

“O CIDADÃO é um meio onde todo mundo dá a sua opinião. O jornal dá informações importantes aos moradores da Maré”

Jenifer Gabriele Ferreira, moradora do Morro do Timbau


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mente, o governo não faz a parte dele. Isso dificulta o trabalho e força o afastamento de muitas crianças que moram longe e acabam não tendo dinheiro para a passagem”, lamenta. As crianças do projeto não são atendidas com RioCard porque, pela legislação, somente as crianças que estudam em instituições públicas de ensino têm direito ao benefício. Não é o caso do Cemear, uma instituição privada.

As inscrições para a educação de nível infantil e fundamental serão feitas no mês de outubro, na sede do Cemear: rua Júlio Ribeiro, 378 – Bonsucesso (atrás do supermercado Guanabara).

Um espaço para os adultos Em paralelo ao Cemear, um outro projeto se inicia. É a Academia da Cidadania e do Talento (ACT), que visa a capacitar profissionalmente maiores de 18 anos. Os cursos oferecidos são de telemarketing e gastronomia, ambos gratuitos. A instituição já recebe inscrições para novas turmas. Há oferta de 120 vagas para telemarketing. Um call center modelo está sendo instalado e em breve os alunos terão oportunidade de aprender a prática dos atendimentos. Eduardo Dias, aluno de gastronomia, diz que já teve oportunidade de aprender coisas úteis ao trabalho. “Fizemos um bufê para 80 pessoas e todos gostaram muito. Isso

dá crédito ao Cemear e também aos alunos”, diz. A ACT tem apoio da empresa Callmunity, e recebe também patrocínio da Petrobras. Outras informações podem ser obtidas através do telefone 22905444.

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3868-4007 Qual a importância do CIDADÃO CIDADÃO? ? ARQUIVO PESSOAL

HÉLIO EUCLIDES

“Para mudar esta sociedade profundamente injusta é preciso quer milhares de pessoas se envolvam neste projeto. A função do jornal O CIDADÃO é essa: ser uma ferramenta na construção de uma nova sociedade” Vito Giannotti, coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação

“O CIDADÃO é um jornal informativo muito importante para a Maré, que deixa a população atualizada sobre as situações e problemas vividos em cada comunidade. E ainda expõe os benefícios que cada uma oferece” Ronaldo Juvino da Silva, morador do Conjunto Pinheiro


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22 PÁGINA DE RASCUNHO

Priscila precisa do seu voto A moradora da Vila do João Priscila Xavier precisa do seu voto. Ela treina karatê há cinco anos e já ganhou 60 medalhas, como no Campeonato Sul-Americano. Porém a menina, de13 anos, não tem patrocinador para continuar sua vitoriosa caminhada. Ela disputa com mais dois esportistas R$100 mil para poder competir e treinar. Entre no site: www.samsungnoPan.com.br e responda por que Priscila merece o patrocínio. Ajude nossa atleta. A votação vai até 25 de agosto-. Participe e não perca a oportunidade de criar uma nova medalhista olímpica.

Errata: Na página 6, dona Marilene Nunes é moradora da Nova Holanda, Contadora de História e não revela sua idade.

CARTAS As cartas ou sugestões para o jornal devem ser enviadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O CIDADÃO (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)

Formigueiro A cidade é um ninho de formigas Onde um atropela o outro, Onde um briga com o outro, Onde todo mundo vive num buraco. A cidade é esmagada Pelas mãos da injustiça, Alguns morrem por nada E ninguém percebe;

10 anos do Ceasm De 15 a 18 de agosto o Ceasm vai comemorar seus dez anos com várias atividades abertas à comunidade: - Debates e apresentações culturais. - Abertura da exposição sobre os dez anos. - No sábado, dia 18, grande festa no Ceasm Timbau, a partir das 19h. Venha participar com a gente. Essa história também é sua!

E quando percebem, correm Para não serem mortos também. A cidade é escura E há alguns cegos E os que não são Levam vantagens. Jeferson Machado – Nova Holanda Turma 801 do Preparatório do Ceasm


PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

© Revistas COQUETEL 2007

Resolva esta Direta, sabendo que letras iguais correspondem a números iguais. As letras que não se repetem já estão impressas.

5 Antônimo de "criticado"

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Trago de Que bebida se comEstado prometeu 2 vegetativo a casar

Ladeira (abrev.) Tipo de 3 sanduíche

Unidades de venda do papel 4 higiênico

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A pulga fora de casa

A galinha do vizinho O vizinho corre até a cerca de arame que separa as duas propriedades e grita para o dono da casa ao lado: - Ô João! O seu cachorro está levando uma galinha do meu quintal. Faço o favor de chamá-lo! E o João muito tranqüilo responde: - Por que você não chama a sua galinha?

Mau (?), sinal de algo ruim 9 Argolas

1 Cerimônia religiosa

7 Cenário de festas juninas (bras.)

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U

Animal abatido no matadouro

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A família Objeto se(fig.) melhante ao leque Antecede 9 o "M"

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Ligeiro; veloz

País cuja capital é Buenos Aires

Tico-(?), ave Formação capilar

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Redação (abrev.)

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Causa sofrimento

O cartão enviado pelo turista

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Pôr em lista

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País cuja capital é Santiago

(?) Moreira, locutor brasileiro

B

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Tempero do feijão Resso1 nância

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(?) house, casa de jogos 7 eletrônicos

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H

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Espaço de 365 dias

Verdadeiro; real

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4

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Solução

L A R D O L O S

A dona-de-casa e o mendigo: - Puxa, mas o senhor me parece tão forte e sadio, por que será que não consegue achar trabalho? - Sei não, madame! Acho que é pura sorte!

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R E D

Trabalho X Sorte

5

A N O

- O dono de uma festa resolveu mandar todos os penetras embora, mas de forma educada, pois não queria dar vexame. Disse ao microfone: - Por favor, os convidados do noivo queiram se colocar à minha direita. Muitas pessoas se dirigiram para a direita do anfitrião. Ele voltou a dizer: - Agora os convidados da noiva queiram se colocar à minha esquerda. Novamente, muitas pessoas se dirigiram à sua esquerda. E então ele disse: - E agora, os que estiverem à minha direita e à minha esquerda, peço-lhes, por favor, que se retirem, porque esta não é uma festa de casamento, e sim de batizado.

Comboio ferroviário Habitação indígena

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R E L A C I O N A R

Barrados da Festa

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Ingrediente do quindim

G N O C I O N L O G I A E M V T A G O U EM A R R R A I A O I L S T A L O B C A A L H G E N T I I C O L L O V E

- O senhor não se importa de chegar esse cachorro mais para longe? disse uma senhora sentada ao lado do homem no banco de jardim. - Já estou sentido uma pulga no sapato! - Vem pra perto de mim, Joli - respondeu o homem. - A moça aí tem pulgas.

A E M E T R I O C A D P O N O A R T P E

Piia P ad das as

Continente que abriga os EUA Comover

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Uma feliz coincidência

FOTOS DE REDE MEMÓRIA DA MARÉ

A

migo leitor, o que tem a ver um bar localizado na rua Aspicuelta, 533, na Vila Madalena, em São Paulo com a história da Maré? Você arrisca um palpite? Em 2003, algumas pessoas da Rede Memória foram a São Paulo participar de um seminário internacional sobre memória e mudança social. Numa das noites, um grupo de particiPantes do seminário foi conhecer a Vila Madalena, um famoso bairro da cidade, de intensa vida noturna. Esse bairro tem um número muito grande de bares e restaurantes, por isso o grupo ficou indeciso com relação ao lugar onde iria ficar. Passaram duas vezes diante de um pequeno bar, que tinha a estrutura de uma casa baixa de varanda e chamava atenção por ter todas as suas paredes forradas com fotografias. Como o preço ali era mais interessante, o pessoal resolveu entrar. O bar se chamava São Cristóvão, numa homenagem ao clube carioca, cuja sede social fica no bairro do mesmo nome e a sede náutica, na Maré, próximo ao Parque União. Grande coincidência! Mas não foi a única. Quando o grupo entrou, percebeu que todas as fotos tinham como tema o futebol. E logo na parede de entrada, num local de destaque,o pessoal da Rede Memória viu uma grande foto. Todos ficaram admirados! Era uma fotografia em preto e branco, que retratava um grupo de crianças jogando futebol

Crianças na favela do Rala-Côco, removida na década de 1970. No local foi construída a comunidade Bento Ribeiro Dantas

numa área alagada. Havia barracos de madeira construídos sobre palafitas e, ao fundo, parte de um morro com casas de alvenaria e a fachada de um grande galpão. Não demorou para um dos integrantes do grupo, nascido no Morro do Timbau, reconhecer o local: era a Praia de Inhaúma, com crianças brincando num campinho do areal junto aos barracos da antiga Favela do RalaCôco. Ao fundo, estavam as casas da Travessa Conrado das Neves e o galpão do Café, onde hoje funciona uma igreja Universal.

Bar São Cristóvão localizado na Vila Madalena, em São Paulo, tem em sua parede foto da comunidade da Maré

Imediatamente perguntaram se o pessoal do bar não teria uma cópia, mas a resposta foi negativa. Assim, restou apenas a possibilidade de tirar uma foto daquela foto, o que foi feito.Talvez o desejo de trazer aquela imagem tenha sido tão forte que acabou resultando numa foto de muito boa qualidade, que hoje faz parte do acervo do Museu da Maré e está exposta no tempo da água. Mais tarde, descobriu-se que a foto é de autoria do consagrado fotógrafo Evandro Teixeira, e tinha feito parte de um calendário cujo tema era o futebol. Graças à feliz coincidência, mais uma pedaço da nossa história está preservado. Amigo leitor, se depois dessa história toda, você quiser ver a foto de perto, só dar um pulinho no bar São Cristóvão e apreciar os detalhes da imagem com uma cerveja bem gelada ou um bom copo de vinho ou refrigerante. Mas, não querendo esnobar, mesmo sem bebida, a fotografia ficou muito mais bonita aqui no nosso museu. Vem conferir! Este espaço representa a história dos moradores da Maré. Envie sua história, perguntas e sugestões para a Rede Memória na Casa de Cultura da Maré. Endereço: Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748 ou para o e-mail: contato@ceasm.org.br. A matéria referente a esta página é de exclusiva responsabilidade do projeto Rede Memória.


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