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O Cidadão

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RIO DE JANEIRO • ANO IX • Nº52 • SETEMBRO/OUTUBRO 2007

www.jornalocidadao.net

Aborto O que os mareenses pensam sobre o assunto

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LEI MARIA DA PENHA

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MORADOR DA MARÉ DISCUTE MAIORIDADE PENAL

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MEDALHA VÊM PARA MARÉ

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ALIMENTO TAMBÉM É SAÚDE


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EDITORIAL

A vida nas linhas do jornal

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CIDADÃO abre a discussão sobre a legalização do aborto dentro da Maré, após o governo federal ter levado esse assunto à mídia. Esse fato causou muita polêmica entre grandes entidades, inclusive igrejas. Mas como o assunto chegou na Maré? Esse era o questionamento jornalístico que desejávamos descobrir. Então buscamos a resposta ouvindo moradores, representantes religiosos e especialistas. E principalmente a mulher, que por diversos motivos, algumas vezes procura clínicas de “fundo de quintal”, para interrupção da gestação. O nosso papel como comunicadores é o de nunca interferir no tema, não sendo a favor ou contra. Nas entrevistas realizadas para a matéria muitas pessoas expressaram-se a favor do aborto quando ele é resultado de estupro ou quando a mãe corre risco de morte. Isso mostra um posicionamento diferente do religioso ou dos que defendem radicalmente a legalização do aborto. Os mareenses, principalmente as mulheres, demonstraram-se

a favor em certos casos, como já citado, porém os homens, em sua maioria, colocaram-se contra a interferência na gestação. Sabemos que cada pessoa tem a sua opinião, por isso, buscamos produzir uma matéria que faça ambos os lados pensarem nas conseqüências e motivações para a realização do aborto. O jornal também trás reportagens leves que buscam informar o morador sobre assuntos pertinentes à sua vida. Esse é o caso da matéria das frutas, verduras e legumes que mostra a importância do consumo desses alimentos para a saúde. A ginástica na terceira idade também está presente em nossas páginas, mostrando que a prática do exercício não está limitada aos jovens e que é essencial em todas as fases da vida. Mas nem tudo é maravilhoso na vida, por isso tocamos no assunto da maioridade penal que atinge a todos, principalmente os nossos jovens da Maré. Boa Leitura!

O Cidadão é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965

Direção Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana Souza Silva Maristela Klem • Lourenço Cezar Coordenadora Geral: Rosilene Matos Editora: Cristiane Barbalho Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Revisão: Viviane Couto e Audrey Barbalho Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Cristiane Barbalho • Gizele Martins • Hélio Euclides • Renata Souza Rosilene Matos • Silvana Sá Colaborou nesta edição: Rede Memória Jornalista Responsável: Ellen de Matos (Reg. 27574 Mtb) Ilustrações: Jhenri • Carlos Contente • Damião Brito

ELES LÊEM O CIDADÃO

Publicidade: Elisiane Alcantara FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra Diagramação: Fabiana Gomes Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço Foto de Capa: Hélio Euclides Repórter Fotográfico: Hélio Euclides Distribuição: Maria Matilde (coordenadora) Ana Carla • Charles Alves Givanildo Nascimento • Regiane de Matos José Diego • Rosilene Ferreira Luiz Fernando Fotolitos / Impressão: Ediouro

À esquerda, Uilian Gonçalves, de 35 anos, presidente do COMOVIP, acima, Tatiane Santos, de 19 anos, atriz da peça “Qual é a nossa cara”

O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da maré. Promove oficinas e atividades que se tornam Uma conquista dos extensão da sala moradores da Maré de aula.

A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso

Tel:3882-8200 / Fax:2280-2432

Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br

O CIDADÃO recebe o apoio do


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CIDADANIA

A mulher e o sistema Para vivência pacífica é preciso lei que proteja o sexo feminino dentro da residência

FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

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o conceito da justiça, o homem e a mulher têm direitos iguais. Mas na realidade isso não é tão fácil, ainda existe cônjuge que se acha dono da companheira, causando até lesões corporais. Por isso foi aprovada a lei de proteção a mulher, mais conhecida como Lei Maria da Penha. Ela determina a detenção, que antes era de no máximo um ano, agora, pode chegar a três. Outro avanço foi a proibição do pagamento de multas ou de cestas básicas como forma de punição. Segundo a Advogada do Centro de Referência à Mulher da Maré (CRMM), Andréa Ferreira, de 34 anos, a lei é um avanço, mas ainda encontra-se em fase de mudança no judiciário. “A lei tem que pegar pelo caráter. Superar problemas, como a insuficiência do número de defensores público. E tem que se mudar a cultura, mas isso é um processo”, comenta Andréa. A agente de saúde, Luzinete Casimiro, de 49 anos, já pesquisou sobre o assunto. “Sei que é a lei de proteção da violência contra a mulher. E também que ainda está sendo respeitada em parte, tem que ter mais rigor”, coloca Luzinete. Para a Assistente Social do CRMM, Adriana Dutra, de 30 anos, qualquer lei tem restrições e provoca a ilusão de que bateu o martelo está pronto, criando expectativas. “Não devemos parar por aí com a lei, esse deve ser o ponta-pé inicial para igualdade da mulher. E os juízes e defensores têm que se incorporar a lei”, ela vai mais além, e diz que a melhora depende de toda sociedade. “A lei

Placa que mostra as entidades que apoiam o trabalho realizado pelo CRMM, na Vila do João, junto as mulheres

não vale nada se não garantir o direito humano. Não é só o direito à vida, mas a algo social. Englobar emprego e moradia. Não só para a mulher, mas para a população em geral”, desabafa. As mulheres do bairro que passam por essa situação são encaminhadas ao CRMM, um posto de extensão do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da UFRJ. Lá recebem assistência jurídica, psicológica e social, além de palestras que ajudam na conscientização. “Mostramos que é um ciclo, o homem agride e dá carinho, ou seja, bate e no outro dia envia flores. Porém quando está nervoso não bate no patrão”, finaliza Andréa.

LEI nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 Segundo o artigo 1º: Esta Lei cria mecanismo para coibir, prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher; como Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e também, estabelece medidas de assistência e proteção as mulheres. O caso Maria da Penha Maia Fernandes Em 29 de maio de 1983, a biofarmacêutica Maria da Penha recebeu um disparo quando dormia, praticado pelo seu ex-marido. A tentativa de homicídio deixou seqüelas permanentes: paraplégica nos membros inferiores. Ainda durante o período de recuperação, Maria da Penha sofreu um segundo atentado contra a sua vida: seu ex-marido, tentou eletrocutá-la enquanto se banhava. Ela lutou durante 20 anos para ver seu agressor condenado, sendo a precursora da lei, e a partir daí conseguiu a cidadania, virou símbolo contra a violência doméstica. Informações: CRMM: Rua 17 na Vila do João (ao lado do posto de saúde). Aberto de 2ª a 6ª das 8h às 17h. Tel.: 3104-9896 ou www.cfch.ufrj. br/crmm. CIAM (Centro Integrado de Atendimento à Mulher): 2299-2122 / 2299-2125.

Equipe do Centro de Referência à Mulher da Maré, com Adriana Dutra e Andréa Ferreira à frente do grupo


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GERAL

Senado aprovou a redução da Defensores da juventude exigem o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente

HÉLIO EUCLIDES

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polêmica está posta na sociedade: pôr ou não os menores de idade que cometeram crimes no banco dos réus? Diante da pressão social, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, presidida por Antônio Carlos Magalhães, aprovou no final de abril, com 12 votos a 10, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que reduz de 18 para 16 anos a maioridade penal. A decisão ainda passará por outras instâncias. Os defensores desta iniciativa alegam que a medida é capaz de diminuir os índices de violência. Já para os que são contra a

“Há um certo oportunismo em reduzir a idade penal” Ignácio Cano Pesquisador do Laboratório de Análise da Violência redução da maioridade, as leis impostas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) devem ser cumpridas ao invés de pôr a juventude na prisão. Segundo o pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, Ignácio Cano, o pico de violência é praticada pelos jovens ocorre entre os 20 e 24 anos, portanto crimes cometidos por pessoas maiores de idade que respondem penalmente por suas ações. “Há um certo oportunismo em reduzir a idade penal. Querem levar o debate sobre a violência para a redução da maioridade e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Para diminuir a criminalidade entre os jovens temos que ter políticas de inserção social como educação, saúde, lazer e esporte”, diz. Sistema não recupera Na Maré, muitos jovens que cometeram crimes já passaram pelo sistema sócio-educativo, que visa reabilitá-los para o convívio em sociedade. Este é o caso

Redução da idade penal é vista como a solução para a diminuição da violência: crianças tratadas como adultos

de Jorginho, de 18 anos, morador do Parque Maré. Segundo sua mãe Denise, de 34 anos, Jorginho já teve 15 passagens por roubo. “Quando ele foi para Instituto Padre Severino ficou pior. Ele saiu de lá muito revoltado porque apanhava todos os dias. Quando ia visitá-lo, o encontrava com o olho roxo. Ele entrou com 17 anos para o Departamento Geral de Ações Sócio-educativas (Degase) e saiu aos 18. Queria que ele arrumasse um emprego, mas as coisas estão muito difíceis. Jorginho ainda não parou de roubar, se droga o tempo inteiro e está viciado em crack”, afirma. De acordo com o ex-diretor do Degase, Sidney Teles, de 49 anos, o sistema sócio-educativo não consegue reabilitar os jovens, porque não respeita suas individualidades e ataca a conseqüência e não a causa do problema. “A maioria dos jovens que estão cumprindo medidas sócio-educativas praticaram roubo ou tráfico de drogas. Os que praticam atos violentos é uma ínfima minoria. Ao invés de se criar instrumentos que privem a liberdade, o Estado deveria criar serviços de atendimento aos jovens envolvidos com drogas e cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente”, afirma. Teles acredita que a iniciativa de reduzir a maioridade penal faz parte do histórico de penalização da juventude, principalmente àquela que não serve para o atual modelo econômico e são excluídos.

“Responsabiliza-se os jovens pelas mazelas dos adultos. Não há uma cultura dos direitos humanos. É fundamental que se compreenda que direitos humanos não é coisa só para bandido, pois todos têm o direito de ser humano”, diz.

De acordo com a vice-coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (LI-


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da maioridade penal PIS) da PUC-Rio, Maria Helena Zamora, o sistema brasileiro como um todo é inadequado tanto às exigências constitucionais quanto ao seu próprio objetivo “sócio-educativo”. “É preciso desconstruí-lo como parte do modelo repressivo que coloca pobres

“Responsabilizase os jovens pelas mazelas dos adultos” Sidney Teles ex-diretor do Degase

e negros no ‘seu lugar’, na marginalidade. É preciso abdicar do regime da vingança que desconta no infrator pobre todo o ódio por um sistema social absolutamente injusto. É possível também investir nos laços familiares e comunitários, numa educação de qua-

lidade e na construção e reativação de equipamentos sociais que promovam cultura, lazer e esportes”, diz. Para Zamora, todos esses direitos garantidos pela constituição não significa deixar de responsabilizar o jovem por sua conduta.

O que você acha da redução da maioridade penal? Diante da polêmica que gira em torno da redução da maioridade penal, O CIDADÃO foi às ruas para saber o que os mareenses acham dessa medida. FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

“Acho que não deve reduzir a idade penal. Um jovem com 16 anos tem que ser recuperado e não levado direto para a prisão. O sistema sócio-educativo deveria oferecer meios para que o jovem tenha acesso à educação e saia pensando em fazer o bem para a sociedade”. Paulo Henrique Costa, de 15 anos, Salsa e Merengue

“Eu sou completamente contra. Acho que todo mundo tem direito a uma segunda chance. Os lugares onde são levados os jovens deveriam dar meios para eles estudarem e aprender uma profissão. Mas é justamente o contrário, eles saem de lá pior do que entraram”. Sônia Ferreira, de 43 anos, Baixa do Sapateiro.

“Acho certo reduzir a maioridade penal. A partir do momento em que fez algo de errado a pessoa tem que pagar, não importa a idade. Aqui tinha que ser igual aos Estados Unidos, onde os menores pagam pelos seus crimes independente da idade que tenham”. Carmem Trindade, de 31 anos, Vila do João.

“Já deveriam ter reduzido a maioridade penal há muito tempo. O menor tem que pagar pelo seu crime. Mas ele não pode ficar junto com os outros presos maiores senão sairá da prisão pior do que entraram, porque estarão na verdadeira escola do crime. Valmir Gomes, de 46 anos, Conjunto Pinheiro.

“Sou contra. Os Padres Severinos da vida não conseguem fazer com que os jovens saiam da criminalidade. Eles saem de lá revoltados, pois são tratados como animais. Agora, imagine se esses adolescentes são colocados em presídios comuns? Sairão uns verdadeiros monstros!” Adriana Ferreira, de 32 anos, Bento Ribeiro Dantas.

“Não adianta reduzir a maioridade penal. Se os jovens estão assim hoje é porque o governo deixou de investir neles. É tudo culpa do governo! Como eles querem reduzir a maioridade penal se não dão escolas e emprego para a garotada? O governo deveria investir nos jovens ao invés de colocá-los na cadeia!” Carlos Henrique Martins, de 32 anos, Marrocos.


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ESPORTE

Pan-americano e azul da Samsung vem para a Maré Carateca Priscila supera obstáculos e recebe duas medalhas por mérito esportivo WALDELAMIR GOMES

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CHARG E DE C ARLOS CONTE NTE

egundo Christian, do estado de Salvador, Priscila deu um ippon no preconceito, um nihon nas dificuldades da vida, e um sanbon nas barreiras. Isso resume o que a faixa roxa, Priscila Xavier da Silva alcançou no mês de agosto. No dia 25, ela conquistou a Medalha Azul da Samsung, concorrendo com mais dois atletas após concurso realizado na internet para escolha do melhor esportista. E na noite de 29, a menina da Vila do João, recebeu na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a Medalha de Mérito Esportivo Pan-americano. Apesar de em quatro anos de carreira já acumular cerca de 60 medalhas e dois títulos internacionais, a vida da garota mareense só mudou após a aparição no quadro Minha Periferia do Fantást i c o , apresentado por Regina Casé. Onde mostrou seu esforço para treinar. Contudo seu treinador, Igo Magalhães, não deixou de acreditar nela. “Eu vi um brilho interno muito grande nela. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria, pois valeu a pena”, confessa. No concurso promovido pela empresa de eletrônicos, o objetivo foi incentivar jovens promessas do esporte Olímpico nacional, através do pa-

Priscila posa já com a medalha no peito ao lado dos representantes da ACB, Confederação e de seu treinador

trocínio a três atletas mirins visando proporcionar melhores condições de treinamento e incentivo em suas carreiras. E a carateca da Maré levou o título, com 47,32%. “Agradeço a todos que votaram e divulgaram, e os que me ajudaram de todas as formas até em pensamento e principalmente a Deus. Estou super emocionada com tudo.”, revela Priscila, de 13 anos. Na solenidade para entrega da Medalha do Mérito Pan-americano, foi explicado que a nova comenda municipal foi criada com o objetivo de fortalecer o esporte brasileiro e intensificar a discussão sobre o esporte. Após votação em plenário, o nome de Priscila foi aceito, e no recebimento a atleta não se conteve, a emoção fez surgir lágrimas. “Não acredito que cheguei tão longe. Dedico a minha família que sempre me apoiou nas derrotas e vitórias. Passamos por diversas dificuldades, mas não foi em vão, estou aqui”, discursa. O momento também foi de cobrança. O mobilizador social da Ação Comunitária do Brasil, da Vila do João, Sérgio Carlos, desabafou. “Vivenciamos um paradig-

ma social. Um momento econômico que massacra o povo brasileiro. Os representantes precisam dar espaço para as classes populares”. Esse pensamento foi compartilhado pela vereadora Andréa Gouvêa. “É difí-

“Eu vi um brilho interno muito grande nela. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria, pois valeu a pena” Igo Magalhães Treinador de Priscila cil de ouvir que, para Priscila viajar, é necessário passar o pires. O Pan gastou muito, mas precisa gerar conseqüência. Com inclusão via esporte”, completa. Os próximos passos para Priscila de 1,59m de Altura e pesando 56 quilos, é a disputa do campeonato brasileiro e ano que vem o mundial.


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Baú literário da Ação Comunitária Baú Literário da ACB é reformado na Vila do João Foto: Ronaldo Breve

Texto: Cris Araujo Todo mundo ficou feliz com o novo visual e os materiais novos da sala do Baú Literário da Ação Comunitária do Brasil/RJ (ACB/RJ). O espaço é destinado à contação de histórias e ao estímulo à leitura. As novas instalações ganharam ainda computadores com impressora, DVD e muitos brinquedos, que deixaram a sala com ar alegria e conhecimento. Tudo com isso com o

apoio do Programa Fundo Canadá de Apoio a Iniciativas Locais. Mais do que um incentivo o Baú Literário é também reforço escolar dentro das atividades do projeto Ação Escola, patrocinado pela Fundação Joaquim. Em parceria com escolas locais, a ACB/RJ recebe alunos com deficiência no aprendizado, ou seja, alunos atrasados em relação à idade e a série que cursam. A oficina é aberta à Comunidade, ou seja, basta procurar a ONG e ficar a par dos procedimentos para inscrição. Só no último ano as atividades do Baú chegaram a atingir mais mil crianças, dentro e fora das instalações da Ação Comunitária. Assim que as crianças viram o espaço renovado ficaram espantadas e felizes. Fizeram muitas perguntas e a mais repetida era, “A sala é nossa?”. A resposta, em forma de negociação, insinua que sala é de todos, desde que cuidem.

AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL www.acaocomunitaria.org.br RIO DE JANEIRO

A coordenadora pedagógica Ana Paula Degane afirma que o intuito é: - Fazer com que as crianças tenham amor pelo espaço e assim compreendam que também é delas e por isso deve ser cuidado. Desde os livros até os brinquedos e móveis. O objetivo é despertar o hábito da leitura nelas e fazer com que vejam o espaço como algo a ser passado para outras crianças conforme forem crescendo. Daniela Pinto, coordenadora do Fundo Canadá e protagonista na reforma do Baú Literário da Vila do João, elogia o espaço de conhecimento e diversão: - Estou muito impressionada com o trabalho de vocês. Ver a participação das crianças me deixou muito emocionada. A sala ficou linda e a gente fica muito feliz de ver o resultado do trabalho feito com a nossa apoio. Vocês estão de parabéns!

Rua 11, na quadra 5 – Vila do João. Tel: 3868-7056 Sede: Rua da Candelária, 4, Centro – Tel/fax: 2253-6443


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NAS REDES DO CEASM

Ceasm comemora dez anos Agosto marca o início das atividades da ONG que visa a transformação da Maré FOTOS DE PROJETO NIC/CEASM

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m agosto de 1997 surgiu o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm) com o objetivo de realizar uma transformação política na comunidade. Sua principal frente de atuação na época era incluir os moradores da Maré nas universidades públicas. E para comemorar seus dez anos, a ONG organizou quatro dias de festas para moradores e colaboradores. As festividades tiveram início no dia 14 de agosto com o “Café com Memória”, no Museu da Maré, que contou com a presença dos moradores mais antigos da comunidade. No segundo dia foi organizado um debate com os alunos do curso pré-vestibular, do Ceasm Timbau, com o tema Educação, Comunicação e Cultura. Atividades culturais, exposições, música e almoço comunitário aconteceram no dia 16, na Casa de Cultura da Maré. As atividades foram encerradas no sábado, com uma festa. Antonio Carlos Vieira, diretor do Ceasm, iniciou a festa às 20h falando

Jovens se encontram em instalações do Ceasm Timbau e conversam sobre a tragetória da ONG dentro da Maré

do grande sonho que era o Ceasm. E que depois de algum tempo tornou-se realidade. Pontuou a importância das pessoas que estudaram e colaboram hoje com a instituição e com o desenvolvimento da Maré. Falou também da importância do centro para os morado-

A mesa estava farta de comida, numa comemoração que agradou a todos os convidados presentes no evento

CURSOS

Nutrição

O Cidadão dá dicas de cursos

A Nutrição é reconhecida como o campo de conhecimento que investiga a relação homem-alimento mediada por situações historicamente determinadas que envolvem aspectos biológicos, sociais e econômicos e o estudo dos processos decorrentes da ingestão de alimentos, da

res da Maré. Em seus dez anos, mais de oito mil pessoas passaram pela ONG e 600 foram aprovadas no vestibular. Para o ex-aluno do pré-vestibular e atual aluno de matemática da Uerj, Eraldo Carlos, de 34 anos, o Ceasm é muito importante para a comunidade. “Eu acho que é uma instituição que colaborou com muitas pessoas que estavam paradas, sem objetivos. Hoje, elas estão na universidade vendo um mundo diferente daqui. O Ceasm nos ajudou a ampliar nossos horizontes, ideais e filosofia de vida”, relata. A moradora Marilene Rodrigues, de 39 anos, que também estava presente na festa, falou da importância do Ceasm para os moradores da Maré. “Tenho certeza que o Ceasm ajudou muito a todos, principalmente através dos cursos que tem. Porque muitos de nós não temos condições de pagar um outro, e isso aqui vale muito. Minha filha, por exemplo, faz o curso preparatório aqui”, diz.

biodisponibilidade de nutrientes, bem como da produção, distribuição e consumo desses alimentos. Duração: 8 semestres. Curso: Pode ser encontrado na UFRJ, UERJ e UFF.


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10 ACONTECEU NA MARÉ

Vila apaga as velinhas A primeira fase do Projeto Rio foi iniciada em 1982. Com a remoção, nascia o primeiro conjunto habitacional, batizado de Vila do João. No feriado da independência a comunidade comemorou os seus 25 anos de fundação. A associação de moradores fechou a Rua 14 e organizou diversas brincadeiras, com direito a bolo para os cidadãos presentes.

JOÃO PENONI

Companhia Marginal em cena na Casa de Cultura

Qual é a nossa cara? Maré no Festival do Rio O bairro mostrou presença no encontro internacional de cinema. O longa-metragem ‘A Grande Família’ abrilhantou o espaço da Lona Cultural Herbert Vianna, com direito à pipoca. Em outro ponto foram realizadas exibições do ‘Maré, Nossa História de Amor’, que conta a tragédia de Romeu e Julieta nos dias de hoje, que tem como cenário Marcílio Dias. O grupo Nação Maré organizou a trilha sonora do filme. “É maravilhoso mostrar o nosso trabalho. E ajudar na composição dessa ficção. É uma trama legal, que busca a realidade, fazendo pensar”, comenta o músico, MS Bom, de 26 anos.

Esse é o título da peça que foi apresentada na Casa de Cultura da Maré. Reunindo sete jovens moradores do bairro, a Companhia Marginal interpreta vários fatos do diaa-dia da Nova Holanda. “É uma peça sobre a memória dos moradores e dos próprios atores. É um retalho dos fatos, após captação das histórias”, comenta a diretora Isabel Penoni, de 28 anos. Em umas das cenas a atriz Priscilla Andrade abre uma caixa com artigos de recordações. Entre eles O CIDADÃO, número 27, e fala de seu artigo sobre valorização de ser mareense. “Ela abre os guardados e relata o que faz parte da história da Maré”, diz a diretora. O grupo foi contemplado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.

Lula na FioCruz O Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, na manhã do dia primeiro de Outubro, inaugurou o Centro de Produções de Antígenos Virais (CEPAV), na Fundação Oswaldo Cruz. Essa foi a sua segunda visita, em menos de um ano no local.

Nocaute na exclusão social Centro Esportivo e Educacional Luta Pela Paz comemorou seus sete anos de ação. O espaço localizado na Nova Holanda atende 360 inscritos, de sete a 25 anos, que realizam aulas de boxe, capoeira e luta livre. Com um quadro de 15 profissionais, sendo a maior parte da Maré. “Me sinto grata com essa equipe de base comunitária. Depois dessa festa estaremos dando início para uma nova jornada”, afirma a coordenadora Leriana Figueiredo, de 37 anos. O evento do dia 22 de agosto contou com apresentações teatrais, e ao final um grande bolo.

Quase dois irmãos Esse foi o filme apresentado na Rua Sargento Silva Nunes, para a comunidade da Nova Holanda, na noite de 19 de setembro. O evento foi promovido pela Pró-Reitoria de Extensão, da UFRJ, com finalidade de mobilizar moradores, estreitar laços e divulgar ações dessa instituição na localidade. “Essa é a primeira exibição, e foi legal. O objetivo foi de perceber os projetos da faculdade no bairro Maré. Como o laboratório de inclusão digital, musicultura, alfabetização para jovens e adultos e o Núcleo Interdisciplinar de Ações para Cidadania (NIAC)”, diz o Coordenador do Núcleo de Comunicação, Alexandre Bortolini, de 27 anos. A estudante do pré-vestibular do Ceasm Nova Holanda, Luciana Alves, de 22 anos, gostou do tema exposto no filme. “Interessante como foi a divisão da violência, e o apoio dos criminosos políticos no início. Isso reflete o que vemos hoje”, afirma Luciana. REPRODUÇÃO

E POR FALAR EM ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS

Entidades não-governamentais no Catálogo de Instituições da Maré APAR – Associação Patrulha Jovem do RJ Endereço: Rua Luiz Ferreira, 217 (na sede da igreja de Nossa Sra. dos Navegantes) Morro do Timbau – Maré CEP: 21042-210 Tel.: 2560-4804 / 2560-3467 / 2560-4943 Natureza da instituição: Projeto do Rotary Club – entidade sem fins lucrativos. Fundação: 1986 – atua na Maré desde 2000 Principais atividades: a - Curso de iniciação ao mercado de trabalho: preparação de jovens de 14 a

16 anos, que estejam cursando no mínimo a 5ª série do Ensino Fundamental, para o mercado de trabalho b - Curso de informática comercial e operador de telemarketing (complementar ao curso de iniciação ao mercado de trabalho) Abrangência do atendimento: somente para moradores da Maré CAMEP – Centro de Apoio ao Menino Patrulheiro Endereço: Via A-1, 150 – Vila do Pinheiro - Maré – CEP: 21042-020 Telefone: 9854-6729

E-mail: asbousquet@bol.com.br Natureza da instituição: Associação Fundação: 2003 Principais atividades: a - Curso de informática b - Estágio para adolescentes c - Reflexão sobre cidadania e saúde Abrangência do atendimento: moradores prioritariamente da Maré.


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GERAL

Orkut gera confusão na Maré Tudo fica à mostra, sua identidade e sua vida. O tumulto está formado HÉLIO EUCLIDES

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turco-alemão Orkut Buyukkokten, engenheiro de software que inventou o site de relacionamentos batizado com seu prenome, não imagina a confusão que está arrumando na Maré. A garotada, para participar da página virtual, anda inventando a idade, namorando escondido, arquitetando fofocas e gastando dinheiro “a torto e à direita”. “Todo dinheiro que minha filha pega ela gasta na lan-house. Já dei uma surra nela porque fiquei sabendo que ela estava arranjando namoradinho pelo orkut. Ela tem apenas 12 anos, não tem idade para namorar. Ela está proibida de entrar nesta página virtual”, diz Marlene Albuquerque, de 45 anos, moradora da Nova Holanda. Mas o que é uma simples surra da mãe comparada a destruição de um lindo romance? Isso quase aconteceu com a viciada em páginas de relacionamentos virtuais, Viviane Oliveira, de 24 anos, moradora da Vila do João. “Eu invadi demais a privacidade alheia e acabei me aborrecendo. Briguei com meu namorado por causa de um scrap (recadinho) que uma menina mandou para ele perguntando se ele ia a um show na praia. Apesar de não ter nada demais, acabei me chateando muito e quase que o namoro

Jovem ao computador acessando o orkut, página de relacionamento virtual, que tem milhares de pessoas cadastradas

terminou”, disse. Segundo Viviane, esse tipo de desentendimento é muito freqüente entre casais que usam a página, porque sempre há mensagens e fotos trocadas que podem gerar confusão. Depois de todo esse tumulto, Viviane saiu dos sites de relacionamentos que participava: orkut, msn e google talk. “Eu sempre odiei a invasão de privacidade, muitos detalhes ficam expostos e com o orkut não precisa de detetive para saber da vida de todos sem sair de casa. Quando pensei em sair do site as coisas boas que ele trazia para mim pesaram. É muito bom encontrar e trocar mensagens com muitos amigos que não estão tão próximos e também participar de comunidades para

responder tópicos com assuntos polêmicos. Mas aquilo lá é uma ‘fofocaiada’ e as coisas ruins começaram a pesar mais, então acabei me afastando dos contatos que mantinha através do orkut”, diz.

Lucratividade Enquanto isso, a febre das páginas de relacionamentos virtuais já rende muito aos seus criadores. Só o Brasil corresponde a cerca de 60% do volume de tráfego do sistema, com mais de 20 milhões de usuários do orkut. “No meu trabalho eu tenho acesso livre à internet, então ficava conectada praticamente o dia inteiro, é muito tempo desperdiçado. É muito viciante, quanto mais você sabe das coisas mais você quer saber. Lá em casa tenho o plano que custa R$ 70” , conta Viviane. A estudante decidiu que não vai ficar perdendo horas do seu tempo para ficar sabendo da vida alheia. “Vou aproveitar o meu tempo com coisas mais produtivas”, completa.


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CAPA

Aborto estimula discus Nos últimos meses o debate sobre a legalização do aborto voltou a ser assunto no Brasil

RATÃO DINIZ

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dicionário define aborto como a expulsão do feto do ventre da mãe antes do nascimento. No Brasil, essa prática que interrompe a gestação é proibida. De acordo com o artigo 128 do Código Penal, ela somente é permitida quando a gestante corre risco de morte ou quando a gravidez é conseqüência de estupro. Nos últimos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi questionado sobre o envio de um projeto para a legalização do aborto, questão aberta pelo Ministro da Saúde José Gomes Temporão, e afirmou que não enviara nenhum projeto ao Congresso. Mas não é de hoje que o tema suscita grande discussão. O assunto traz muita polêmica, uma vez que questões religiosas, econômicas e sociais estão por trás de cada opinião apresentada. E é por isso que a Maré, cujos índices de maternidade e gravi-

“Sou contra o aborto. As pessoas são a favor porque a mãe deles não os abortou” Gilson Santos morador do Morro do Timbau dez precoce são altos, não pode deixar de refletir sobre a proibição ou legalização do aborto. De acordo com o Censo Demográfico de 2000, feito pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), a nupcialidade (matrimônio) e a fecundidade, aumentaram entre os jovens de 15 a 19 anos, em dez anos. O morador da Vila do Pinheiro, José Hélio, de 30 anos, não concorda com a possibilidade de legalização. “Sou contra o aborto. As pessoas são a favor porque a mãe deles não os abortou”, afirma. E Gilson Santos, de 28 anos, morador do Morro do Timbau reafirma a posição de José. “Em qualquer momento eu serei contra o aborto. Minha mulher teve problemas na gravidez os médicos me mandaram escolher entre a mãe e a criança, mas uma médica disse que iria tentar salvar os dois. Hoje, meu filho está vivo, saudável”, finaliza.

O grande questionamento sobre a legalização do aborto coloca em xeque o valor da vida no ventre materno

Mas nem todos são contra o aborto, como no caso de M., de 42 anos, moradora da Nova Holanda. Com apenas 21 anos, e grávida do seu segundo filho, ela decidiu abortar por não ter condições de criar e cuidar de duas crianças. “Eu não me arrependo de ter abortado porque eu sei que não teria condições de sustentar mais uma criança”, relata. E completa. “Sou a favor até que meninas de 13 e 14 anos também abortem. Sei que nesta idade é muito complicado o aborto e que elas correm riscos de morte, mas elas não têm estrutura para criar um filho”. Todos A moratêm direito à dora do Morvida! ro do Timbau, Denise Brito, de 34 anos, é a favor do aborto quando a criança pode nascer com algum problema ou quando traz risco à saúde da mulher e da criança. “Abortar por abortar é crime e sou contra”, afirma. Já S., de 28 anos,

alega ser contra o aborto, mas ressalta que cada um tem sua consciência e por isso a legalização é importante. “Acho que deve legalizar porque serve de proteção as mulheres, já que quando está na ilegalidade os médicos são precários e colocam a vida da mulher em risco”, completa. O pastor Antonio Ildefonson Neto, de 64 anos, da Assembléia de Deus Caetés localizada no Morro do Timbau, afirma que a Igreja é contra o aborto. “Deus diz na bíblia: ‘crescei e multiplicai-vos e enchei a terra’ (Gen 1, 26-28.31a), ‘os filhos são as bênçãos do Senhor’ (Salmo 127 126,3). Isso vai contra a vontade Dele e a bíblia afirma que só Deus tem o direito de tirar a vida. O homem faz isso por rebeldia. A posição da Igreja é sempre de acordo com o que está na palavra de Deus”, afirma. Mesmo que a proibição do aborto tenha um cunho religioso, alguns movimentos surgidos na Igreja se mostram partidários da idéia. De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), a pedido da


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ussão entre mareenses CRISTIANE BARBALHO

organização Católica pelo Direito de Decidir (CDD), 76% dos católicos entrevistados são favoráveis a prática do aborto em hospitais público e 75% é a favor da legalização. Joice Monteiro, de 21 anos, moradora da Baixa do Sapateiro e membro da Segunda Igreja Batista de Bonsucesso que fica na Maré, não se mostrou a favor da legalização. “Sou contra a qualquer tipo de aborto, mesmo naqueles casos da mulher ser violentada, ou quando os médicos sabem que a criança vai nascer com problemas de saúde. Sou contra porque é Deus quem dá a vida e apenas Ele pode tirar. E sabemos que tudo o que acontece, mesmo que pareça ruim aos nossos olhos é por vontade Dele. Somente Ele tem o direito de tirar a vida de alguém”, diz.

O ginecologista e obstetra Dernival da Silva Bandão considera a falta de dinheiro uma das causa do aborto

Causas Saindo da questão religiosa, segundo pesOutra questão é a pílula do dia seguinte quisas feitas nos países subdesenvolvidos, que para alguns é abortiva, mas para outros como o Brasil, o número de mulheres que somente previne a gravidez. Para Pedro Meabortam é conseqüência da nezes, de 23 anos, morador da Baixa Ela tem falta de planejamento do Sapateiro o uso da pílula não o direito de decidir familiar. Para o estué abortiva. “Não considero pordante de enfermagem que quando você toma a pílula sobre o seu corpo! Tiago Canellas, de 20 do dia seguinte o feto ainda não anos, uma das grandes cauexiste, não aconteceu a divisão celular, sas do aborto é a desigualdade social. “O não houve a multiplicação das célumundo capitalista dificulta as pessoas de telas, ou seja, a vida ainda não existe”, rem uma renda que ajude na criação de completa. uma criança”, diz. O ginecologista Conseqüências e obstetra Dernival Ao abortar, a muda Silva Branlher pode correr sérios dão, membro riscos, como a perda emérito da da vida, infecAcademia ções, hemorraFluminense gias, cancro de de Medicina, mama (tipo também conde câncer), sidera a questão dificuldaeconômica uma des futuras das causas da de engraviprática do abordar e até risto. “Acredito cos psicológicos. “Há que a pressão uma síndrome que é o econômica, conjunto de sintomas de certa fore sinais nas mulheres ma, faz as que fazem o aborto, mulheres chamada de síndrome optarem por não ter pós-aborto. Ocorre porfilhos, mas acredito que que a mulher tem a visão isso não é a única coisa”, de que ela matou o próprio afirma.

filho. Essa síndrome já foi muito estudada e tem conseqüência para o resto da vida da mulher”, afirma o ginecologista. O estudante de enfermagem Tiago Canellas acha prejudical o aborto na saúde da mulher. “As tentativas de suicídio, problemas no relacionamento, alimentação desordenada e o consumo de álcool constituem o quadro. Além disso, o uso do tabaco e de outras dro-

“Eu não me arrependo de ter abortado porque eu sei que não teria condições de sustentar mais uma criança” M. Moradora da Nova Holanda gas podem compor o quadro clínico de uma mulher que fez aborto”, completa. Segundo o ginecologista Brandão, Algumas mulheres praticam o aborto por acharem que o feto não sente dor. “Ele sente dor sim. Bernard Nathanson, um americano que foi responsável pessoalmente por milhares de aborto, durante uma curetagem, viu, através do ultra-som, como o feto se esquivava dentro do útero. Isso mostra que ele sentia dor”, conclui.


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CAPA

O aborto não é a única forma de evitar a gravidez Informação e planejamento familiar podem ajudar a evitar os casos de aborto

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aborto é um assunto que desencadeia muitas discussões. Em qualquer lugar, não só na Maré, é possível encontrar pessoas que são a favor e contra a sua legalização.

Para a mulher há diversos tipos de anticoncepcionais, mas é preciso que cada mulher procure um médico para que ele possa indicar qual o melhor procedimento Mas a interrupção de uma gestação não é a única solução para a mulher. Existem diversos métodos que podem ser utilizados pelas mulheres para evitar a gravidez, como as cirurgias de vasectomia, para o

homem, e a laqueadura, para a mulher. A laqueadura ou ligadura de trompas, esterilização definitiva da mulher, ocorre quando o médico faz um corte na região abdominal, ao redor do umbigo ou próximo dos pêlos pubianos, locais em que estão localizado as duas trompas de falópio, canais que ligam o ovário ao útero feminino. A cirurgia consiste em um corte nas trompas que interrompe o caminho do óvulo. Esse método é irreversível, e recomendado para mulheres que tenham mais de 25 anos e pelo menos dois filhos. As mulheres que optarem por essa técnica passam por grupos educativos durante 60 dias. A laqueadura não é recomendada para mulheres que ainda querem ter filhos. Já a vasectomia, procedimento cirúrgico que faz a ligadura dos canais deferentes no homem, interrompe a circulação de espermatozóides. É um método seguro que faz com que o homem fique estéril. Contudo, muitos se recusam a fazer porque acham que a cirurgia pode provocar distúrbios de ereção, o que, segundo os médicos, não é verdade. A vasectomia não interfere no desempenho sexual e nem na produção de hormônios. Como também é uma cirurgia definitiva, o homem tem que estar seguro se quer realizar esse procedimento cirúrgico. Outras formas de prevenção Para a mulher há diversos tipos de anticon-

GH

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cepcionais, mas é preciso que cada mulher procure um médico para que ele possa indicar qual o melhor procedimento. É bom lembrar que a maioria das técnicas usada para evitar a gravidez não previne contra a AIDS e ouPílula anti-concepcional é um dos métodos para se evitar a gravidez


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tras doenças sexualmente transmissíveis. Por isso, muitos médicos recomendam o uso de preservativos. O preservativo masculino, por exemplo, mais conhecido como camisinha, é um artifício que impede o esperma de alcançar o óvulo. O preservativo feminino segue a mesma lógica. Os dois têm lubrificante e podem oferecer proteção contra doenças sexualmente transmissíveis. Já a pílula, usada por mulheres, contém hormônios, estrogênio e progesterona. Ela é tomada todos os dias para impedir a liberação dos ovos pelo ovário. Contudo, pode acarretar sérios problemas de saúde, como, por exemplo, doenças cardíacas, pressão alta, entre outras. Seus pontos positivos são que ela ameniza o fluxo durante a

Tipos de aborto Há diversos tipos de aborto, como o espontâ-

menstruação e protege contra doenças inflamatórias prévias. O DIU T de cobre é um dispositivo em forma de T, os braços dele contém cobre e é colocado no útero da mulher por um ginecologista. Sua duração no corpo da mulher é de dez anos. Há também o DIU Progestasert que é colocado no útero da mulher por um profissional. Ele é um plástico em forma de T que contém progesterona, hormônio produzido pelo ovário durante o ciclo menstrual. E ele só pode ficar no útero por um ano. A mulher que utiliza o DIU T ou o DIU Progestasert deve ir ao médico frequentemente para saber se não há nenhum problema decorrente desse método. Há também o diafragma, que funciona no corpo da mulher como uma

Sucção ou Aspiração Consiste em ligar um aparelho de sucção ao útero da gestante. Ele cria uma sucção que despedaça o feto Aborto por sucção e a placenta. Curetagem É feita com a cureta, uma espécie de colher, que retira a criança do útero.

neo e o provocado. O primeiro caso ocorre involuntariamente devido a anomalias orgânicas ou defeito do próprio óvulo. Normalmente acontece nos primeiros dias ou semanas de gravidez, com fluxo igual ao menstrual. O segundo caso ocorre quando há interferência externa na gravidez, seja por um profissional ou por alguém que deseje interromper a gravidez.. O aborto provocado pode acontecer de diferentes formas, pela dilatação ou corte, utilizando uma faca em forma de foice, despedaça-se o corpo do feto para a sua retirada do útero materno. Dilatação ou corte Dilacera o corpo do feto, com uma faca, que o retira em pedaços.

Drogas e plantas Existem muitas substâncias que quando tomadas causam o aborto, são tóxicos inorgânicos, como arsênio, antimônio, chumbo, cobre, ferro, fósforo e vários ácidos e sais. Mini-aborto Lava-se a vagina com uma solução antiséptica, anestesia-se o útero em três pontos e introduz uma sonda de plástico fino e flexível no útero. A esta sonda liga-se um aparelho de sucção e, desse modo, remove-se o endométrio e os produtos de concepção. Envenenamento por sal Aplica-se anestesia local entre o umbigo e a vulva, no qual irá ultrapassar a parede do abdômen, Aborto por sal

(...)a maioria das técnicas usadas para evitar a gravidez não previne contra a AIDS e outras doeças sexualmetes transmissíveis “barreira” em que o esperma é impedido de alcançar o ovo. O diafragma tem tamanho variado, mas precisa de um profissional para escolher o que melhor se encaixa no útero da mulher.

do útero e do âmnio ( bolsa d’água). Com esta seringa aspira-se o fluído amniótico, o qual será substituído por uma solução salina. Depois de 24 à 48 horas, o feto é expulso pela vagina, como num parto normal. Sufocamento Este método de aborto é chamado de “parto parcial”. Nesse caso, puxa-se o bebê pra fora deixando apenas a cabeça dentro, já que ela é grande demais. Daí introduz-se um tubo em sua nuca, que sugará a sua massa cerebral, levando-o à sua morte. Só então o bebê consegue ser totalmente retirado. Esquartejamento Esse tipo de morte é a mais fria. Consiste em esquartejar o feto ainda dentro do ventre da mãe. Como qualquer Aborto por esquartejamento ser humano, ele sente dor e medo. Um feto de apenas um mês ao ser perseguido por algum objeto introduzido dentro do útero tenta desesperadamente fugir, mas não tem escapatória. Fonte: Wikipédia, Dr. Dernival Brandão, www.aborto.com, www.garotasadolescentes.hpg.ig.com.br


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GERAL

Ginástica para todos Iniciativa estimula moradores da Maré a praticarem exercícios físicos pela manhã HÉLIO EUCLIDES

“O

idoso tem poucas opções de lazer e de inclusão digital”. Foi a partir desse pensamento que o morador do Parque União Pedro Edson, de 48 anos, conseguiu algumas parcerias com empresas e amigos para montar o grupo chamado Ginástica para todos. Ele funciona na quadra da Rubens Vaz, toda segunda, quarta e sexta, de 7h às 9h. Esse grupo começou há pouco mais de três meses e já possui cerca de 80 alunos, entre 11 e 80 anos, divididos em várias turmas. O aposentado Rui Celsio, de 53 anos, morador do Parque Rubens Vaz, é um dos poucos homens que fazem atividade física no local. Ele começou por

O projeto Ginástica para Todos incentiva a terceira idade a trabalhar o corpo todos os dias na Rubens Vaz

“Praticando exercícios físicos fica mais fácil ter uma vida saudável” Rui Celsio Aposentado motivos de saúde, pois sua glicose não estava controlada. “Praticando exercícios físicos fica mais fácil ter uma vida saudável”, diz. Iraci Maria de Oliveira, de 60 anos, moradora do Parque Rubens Vaz conta que a ginástica faz com que ela esqueça os problemas com filhos e marido, além de melhorar a saúde. “Venho aqui para brincar, jogo bola e danço. Só

lembro das adversidades do meu dia quando saio daqui”, completa. Para a professora de Educação Física Dione Brito, de 39 anos, ex-moradora da Baixa do Sapateiro, a evolução da turma é evidente. No início das atividades, a professora encontrou muita resistência dos alunos, na interação e de comunicação, que estão sendo superados. Os exercícios são voltados para a Terceira Idade, mas não há empecilho para que pessoas mais jovens participem da oficina. “A finalidade principal é diminuir a ingestão de medicamentos e tem funcionado”, finaliza. O projeto conta ainda com dois estagiários e com equipamentos para verificar a pressão dos alunos. Há também colchonetes e bastões para os exercí-

SABOR DA MARÉ

cios.Quem estiver interessado em participar, é só aparecer no campo sintético do Parque Rubens Vaz, nos dias e horários já informados, para preencher uma

“A finalidade principal é diminuir a ingestão de medicamentos e tem funcionado” Dione Brito Professora de Educação Física ficha de cadastro. É necessário apresentar um atestado médico autorizando o aluno a praticar exercícios físicos.

HÉLIO EUCLIDES

Suco de abacaxi e morango Ingredientes: - ½ abacaxi - 10 morangos - gelo - 200 milímetros de água (um copo)

Modo de preparo: Bata tudo no liquidificador e adoce a gosto (se possível utilize adoçante). Fonte: Mural da Nutrição do Centro de Saúde Américo Veloso Morango e abacaxi uma união saborosa e saudavél


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SAÚDE

O equilíbrio que vem dos alimentos Para um dia-a-dia saudável é indispensável uma nutrição correta e balanceada HÉLIO EUCLIDES

I

maginemos um grupo musical. Ele nunca é formado apenas pelo vocalista. Em uma boa dieta não é diferente. Essa “banda” é composta de frutas, legumes e verduras. Claro que seguido de outros alimentos, que continuando a alusão à música, formariam o coral. Apesar do Brasil ser um país beneficiado pelo clima, facilitando o plantio, muitos excluem do seu prato alguns componentes saudáveis. Seja pela situação financeira, por falta de tempo de comprar ou por não cultivar esse hábito e estar acostumado às opções apetitosas, mas pouco saudáveis, que nos são apresentadas pelo mundo moderno. Nessa briga de consumo, muitas vezes as frituras e os carboidratos saem na frente. Mas os médicos dizem que essa preferência na mesa é prejudicial. “Temos que aprender a substituir o macarrão e a diminuir a farinha, a batata e o arroz. A maior parte dos pacientes que atendemos é de nordestinos, que não consomem legumes, frutas e verduras, por falta de hábito. É necessário ter uma alimentação harmonizada, quanto mais colorida, mais saudável”, revela a nutricionista do Centro de Saúde Américo Veloso, Neide aparecida, de 39 anos. As vitaminas são importantes para o bom funcionamento do organismo. Elas ajudam a evitar uma série de doenças. Para impedir a carência de qualquer um dos tipos de vitamina, é indispensável manter uma alimentação equilibrada. “Sou apaixonada por legumes, só feijão e arroz não é comida. As frutas e legumes previnem o câncer. Se as pessoas soubessem o bem que esses alimentos fazem, não ficariam sem eles em casa. Não deixo também de ingerir vegetal e cereal”, conta a proprietária do Sacolão Volante, Raphaella Pomponet, de 25 anos. O morador da Vila do Pinheiro, Sérgio Vozzoler, de 45 anos, gosta de voltar das compras com o carrinho cheio de frutas. “Consumo quase todas, pois fazem bem. Minha preferida é o Morango, que faço suco. Mas quando não tenho tempo, como ao natural”, comenta. A alimentação é um direito humano universal, sendo uma das bases da própria existência. Dessa forma, todas as pessoas deveriam ter acesso, diariamente, a alimentos variados, em quantidades suficientes e de boa qualidade, necessários para ter uma vida ativa e saudável. O morador da Nova Holanda, Anderson Felipe, de 24 anos, concorda,

A comerciante Raphaella Pomponet exibe as frutas, que fazem bem a saúde, aos seus clientes do sacolão

mas acha que falta diálogo sobre a importância das frutas, verduras e legumes. “Quem não se alimenta desses produtos não sabe o valor. Dinheiro não é desculpa, pois é barato

e acessível. Minha mãe e meu irmão mais velho sempre recomendaram o uso, uma tradição que não é muito conservada. Hoje é o hamburguer”, diz ele.

Pirâmide Alimentar A Pirâmide Alimentar é o mais moderno Guia de Alimentação, aprovado pela Organização Mundial da Saúde. Nela, os grupos de alimentos são subdivididos, para melhor garantir o consumo de todos os nutrientes nas quantidades adequadas.

Gordura: usar o mínimo possível

Leite, queijo e iogurte: comer no café da manhã, lanche e ceia

Verduras e legumes: comer no almoço e no jantar

Açúcar e doces: usar pouca quantidade

Carnes, ovos e leguminosas: comer no almoço e no jantar

Frutas: comer em todas as refeições

Cereais, pães e batatas: escolher um tipo para cada refeição FONTE: ADAPTADO DE PHILIPI, S. T. E COL, 1996


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RUA

Rua Sargento Silva Nunes Moradores elogiam a proximidade com comércio, iluminação e tranquilidade do local FOTOS DE RENATA SOUZA

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Rua Sargento Silva Nunes, na Nova Holanda, foge um pouco dos padrões de nomeação das ruas da comunidade. Muitas são denominadas por números, flores, datas comemorativas e até nome de santo. Agora, homenagem militar é novidade. Nomes à parte, crescer e morar nesta rua é sinônimo de alegria para os seus moradores. De acordo com eles, os serviços oferecidos pela Cedae funcionam bem na Rua e a iluminação é boa. Mas, a saudade dos tempos antigos vem à tona. “Aqui na rua tinha as coisas mais básicas como saúde e educação. Eu estudei na Escola Nova Holanda, que sempre foi referência de bom ensino e segurança, pelo fato de es-

tar ao lado de minha casa, e fazia tratamento hospitalar na antiga Golden Cross que infelizmente acabou”, disse Rodrigo Pereira, de 30 anos. Joaquim Severino da Silva, de 76 anos, também sente falta do posto de saúde próximo de casa. “A minha filha trabalhou ali durante muitos anos. E lá prestavam um serviço de muita qualidade. Foi uma gran-

“Aqui na Rua tinha as coisas mais básicas como saúde e educação” Rodrigo Pereira Morador de perda. Mas, mesmo assim, morar aqui é muito bom, pois tudo é próximo. Não tenho nenhum filho ou neto analfabeto. Todos estudaram na Escola Nova Holanda, que ajudei a construir, e já estão encaminhados na vida. Gosto de morar aqui porque é a Rua menos zoada, é muito tranqüila”, afirmou.

Joaquim ajudou na construção da E.M. Nova Holanda

COMO VOVÓ JÁ DIZIA

Mil e uma utilidades Mesmo não tendo um comércio tão forte como o da Rua Teixeira Ribeiro, a Sargento Silva Nunes, que corta a Av. Brasil, se destaca pelo grande número de instituições governamentais e não-governamentais. É lá que se encontra a sede do Ceasm Nova Holanda e a Fundação Leão XIII, órgão do Estado responsável por emitir 2ª via de carteira de identidade e certidão de nascimento entre outros. A rua também agrega templos católicos e evangélicos, além de padaria, sacolão,

Trecho da rua Sargento Silva Nunes, na Nova Holanda

campo da Paty, fábrica de macarrão, depósito de contêineres e muitos bares. A diversão da rua, além do campo de futebol que enche nos fins de semana, fica por conta do badalado Rodrigo’s Bar, herdado por Rodrigo após a morte de seu pai. “Aqui o pessoal se sente seguro e o atendimento, modéstia à parte, é da melhor qualidade. Virou o ponto de encontro e de referência dos amigos da Nova Holanda e de outras comunidades. Mas a melhor coisa que aconteceu aqui na rua foi a construção do Ceasm. Vários amigos que estudaram lá estão freqüentando a faculdade. Isso é uma alegria”, disse Rodrigo.

Na gripe e resfriado Evitar alimentos que diminuem a imunidade: Sal: comidas salgadas, enlatados, embutidos e sal adicionado às refeições desidratam o organismo; Leite: produz secreções, coriza e catarro, podendo evoluir para uma sinusite; substitua-o pelo iogurte;

Doces: devem ser evitados, facilitam a proliferação de micróbios no organismo; Alimentos gordurosos: diminuem a imunidade, pois prejudicam a absorção de vitaminas e minerais. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus - Editora Vozes


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MUSICAL

ARQUIVO PESSOAL

Raça Humana Com muita raça a banda de Rock pop lançará o seu primeiro CD independente

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dia-a-dia do mareense é transformado em poesia de protesto nas canções produzidas pela Raça Humana. Com o estilo Rock, harmonizado com o pop, a banda, que tem 9 anos de estrada, junta elementos do Hip hop para garantir o mais perfeito acorde. Eclética em suas temáticas a principal inspiração da banda se encontra na “Legião Urbana” liderada pelo poeta Renato Russo. Foi com esse estilo que a banda abriu o show dos “Detonautas”, no início do ano, na Lona Cultural Herbert Vianna. A Raça Humana é formada pelos moradores da Vila do João: o guitarrista Vagner Lima, de 23 anos, o baixista Anderson de Jesus, de 35 anos e o baterista Hugo Alexandre, de 23 anos. A

O Grupo Raça Humana que já abriu show dos Detonautas lançará em breve seu novo CD

voz e violão ficam por conta de Leonardo Santos, de 33 anos, morador da Nova Holanda. Foi preciso muita raça para conquistar um antigo sonho. Juntando grana daqui e dali a banda conseguiu o suficiente para custear o primeiro CD independente “A mais pura realidade”. O disco que será lançado, ainda sem previsão, apresenta 11 músicas inéditas e conta com a participação especial do guitarrista Flitz, morador da Vila do João e grande parceiro da banda. As composições da banda variam de músicas extremamente críticas e politizadas a músicas românticas, recheadas de sensibilidade. “A banda é formada por pessoas com diferentes bases mu-

sicais e essa diversidade se reflete no nosso trabalho. Isso faz com que a gente cresça a cada composição e harmonia”, disse Vagner. O começo do trabalho foi difícil. “Lá na lage onde a gente ensaia tem um rato que odeia a nossa música. Ele passava ‘voando’ sempre que a gente tocava. Agora, ele traz a sua família para assistir aos ensaios e ouvir a nossa música. Agora, até os vizinhos estão elogiando o nosso trabalho”, disse Vagner. A Raça Humana toca em todos os lugares em que for convidada. Ela também está no orkut: bandaraçahumana@ibest. com.br. Contatos: 3109-0935 (Anderson) e 9415-4724 (Vagner).

ESPORTE

Campos da Maré Parte II Contos de Arenas das comunidades

HÉLIO EUCLIDES

N

a edição passada, começamos a conhecer as histórias dos campos da Maré. Hoje vamos falar das arenas da Nova Holanda. A começar pelo Campo da Paty, que existe a cerca de 45 anos. Ele tem esse nome por causa de uma fábrica de macarrão que se localiza ao lado do campo. No ano passado ela pegou fogo e não funciona mais na comunidade. A arena possui um administrador que é o Elson Rosa. Edmilson Joaquim da Silva cuida da manutenção há oito anos. Segundo ele, muitas pessoas acreditam que os campos de futebol só podem ser usados para o esporte. “ Já aconteceram missas aqui e veio bastante gente”, diz. Rafael Pereira da Silva, morador da comunidade, é visitante constante da arena e expõe sua felicidade ao lembrar dos vários torneios que já viu acontecer no campo. “É muito bonito ver as famílias reunidas ao re-

Moradores da Maré se divertem jogando “pelada” no campo Mania de Bola, atrás da Igreja Sagrada Família

dor do campo para ver os jogos”, completa. Outro campo bem conhecido da comunidade é o Mania de Bola, localizado atrás da Paróquia Sagrada Família. Ele recebeu esse nome porque a maioria dos atletas são veteranos. O responsável pelo campo é Remildo Alves, de 51 anos, mais conhecido como Nino. Os próprios jogadores contribuem para a manutenção do campo

e juntos conseguiram um container para servir de vestiário. Porém, a arena precisa de um cercado para impedir que a bola saia da quadra. “A bola já caiu várias vezes dentro do batalhão e da igreja. Uma vez ela caiu na hora da missa e bem no colo do padre que a abençoou e nos devolveu. Isso é chato, mas infelizmente não temos como colocar uma cerca”, afirma Remildo.


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22 PÁGINA DE RASCUNHO

Como obter uma cidade ideal Ingredientes: 2 xícaras de cidadãos / 4 colheres de paz / 3 xícaras de união / 1 colher de amor / 7 colheres de chá de respeito / 1 copo de paciência Modo de preparo: Pegue um tabuleiro grande e coloque as 2 xícaras de cidadãos e as 3 xícaras de união. Misture bem até você ver que os cidadãos estão unidos. Logo após, coloque as 4 colheres de paz e deixe descansar por 45 minutos, para que ela possa entrar na vida dos cidadãos. Após os 45 minutos, coloque 1 colher de amor e 7 colheres de chá de respeito. Misture bem até você ver que estão todos unidos, uns amando os outros e se respeitando. Não se esqueça de acrescentar 1 copo de paciência.

CARTAS As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)

Caros amigos do CIDADÃO Vim por meio desta chamar atenção sobre um assunto muito importante: a consciência no trânsito. As aulas voltaram em julho e é aí que mora o perigo. Pela lei de trânsito, no horário escolar, veículos em geral teriam que trafegar à 30 Km/h. Mais não! O que vejo são kombis de lotada, moto táxi, carros e até caminhão passarem à 60 Km/h na frente das escolas (principalmente no CIEP Ministro Gustavo Capanema), buzinando para os alunos saírem da frente e acabam esquecendo que têm filhos, sobrinhos e até filhos de amigos nas escolas. Com objetivo de carregar o maior número possível de passageiros e obter lucros maiores, esquecem de tudo. Então venho chamar atenção dos amigos do volante e moto táxi para consciência e cuidado com as crianças nas ruas. Paz no trânsito. Jorge Luiz - Vila do Pinheiro

Natália Rodrigues de Souza Projeto Preparatório do Ceasm

O jornal da Maré quer saber como ele é utilizado por você. Se você o aproveita, nos diga como.

Medicina Natural Na edição 50 publicamos reportagem com Odilon Raiz sobre os benefícios de uma boa alimentação. Seu trabalho acontecia na Fiocruz. Após a matéria o espaço ficou pequeno devido à procura. Para facilitar o acesso dos moradores da Maré, Odilon conseguiu uma sala na Associação de Moradores da Vila do João onde haverá cursos. Os interessados devem entrar em contato com Odilon ou Declair.

Telefone: 3868-4007 E-mail: jornaldamare@yahoo.com.br

Errata Na edição 49 saíram alguns dados errados sobre a Fundação Leão XIII. O telefone da instituição é 3105-9352, o atendimento é de 9h às 16h, não há mais entrega de leite. Os novos serviços são: alfabetização para adultos e exame de vista.

Meu Coração Parou... Longe de você o tempo parou e uma desordem se instalou em mim... é como se o meu relógio ficasse desequilibrado e as horas se soltassem pelos ponteiros à fora. Amar é esse deserto.

Eu queria não ter te conhecido mas é inevitável sentir o que sinto... chega a ser duvidoso! Longe de você meu coração parou ficou como uma ilha... é como se um labirinto entrasse dentro de mim...

pura loucura! Amar é um verbo que não existe? O que sinto longe de você é febre! Porque você não volta e faz uma reviravolta no meu mundo? Admilson Rodrigues Gomes


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CAÇA-PALAVRAS

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© Revistas COQUETEL 2007

Procure e marque, no diagrama de letras, as palavras em destaque no texto.

James Bond Os galãs que viveram na telona o personagem 007.

A morte no mundo Um viajante de ônibus fica impressionado com uma matéria que lê no jornal falando sobre o índice de mortalidade no mundo. Tentando puxar conversa com a passageira ao lado, diz: - A senhorita sabia que cada vez que eu digo uma palavra morre uma pessoa no mundo? - Você já experimentou escovar os dentes antes de falar?

As velhinhas e o guarda Quatro velhinhas estavam em um carro andando a 40 km/h, em uma estrada de 100 km/h. O policial pára o carro e diz para velhinha que dirigia o carro: - A senhora está atrapalhando o trânsito! - É a placa, diz a senhora. - Como a placa? - É que na placa está escrito, BR 40. O policial, então, olhou para o banco de trás e viu três senhoras brancas e tremendo. - O que aconteceu? – pergunta o policial. - Nada, diz a motorista. É que acabo de sair da BR 180.

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Solução

R O B E R T S

O louco conversa com um visitante no sanatório. Conversa tão bem, com tal desembaraço, que o sujeito começou a duvidar da insanidade dele. - Mas você é doente mental mesmo? – perguntou o visitante. - Eu? Claro que não! Sou apenas surdo-mudo.

U R S U L A

O louco

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G E O R G E O N H N AO E LN R LO Y ER

A mãe: - Para que você quer dinheiro? Juquinha: - Para dar a um velhinho. Mãe: - Muito bem! E quem é esse velhinho? Juquinha: - É aquele que grita: “Olha a pipoca quentinha!”

T I MO T H Y MO OR E D GRACE A N I E C L P I HH EA RM CA E

Juquinha e o dinnheiro

BM A I RC BH AE RL AL E

Piia P ad d as

• 1963 — 1967: Sean CONNERY • 1969: GEORGE Lazenby • 1973 — 1985: Roger MOORE • 1987 — 1989: TIMOTHY Dalton • 1995 — 2006: PIERCE Brosnan • 2007: DANIEL Craig Bond girls (as principais) URSULA Andress — HONOR Blackman — Mie HAMA — GRACE Jones — Mand Adams — MICHELLE Yeoh — Jill St. John — BARBARA Bach — Tanya ROBERTS — Teri Hatcher — HALLE Berry

X B K B D H X B J B B


FOTOS DE REDE MEMÓRIA DA MARÉ

Do São Francisco para a Maré Carranca que pertenceu a Dona Orozina pode ser vista pelos mareenses no Museu da Maré

A

peça pode possuir grande valor afetivo para quem conhece a sua história. Ela está exposta no barraco do Museu da Maré, na varanda, como acontece nas casas do interior do Brasil. A escultura tem cerca de cinqüenta centímetros é de madeira e rústica e não tem o nome do autor. A carranca pertenceu a uma das primeiras moradoras do Morro do Timbau, Dona Orozina, que a trazia consigo há muitos anos e a manteve até sua morte, junto ao balcão da tendinha, como objeto de proteção ao seu comércio. Dona Orozina chegou ao Rio no final da década de 1930, de trem junto com o marido, da cidade de Ubá, no sul de Minas. No começo não tinha onde morar e ficou em um quarto de casarão atrás da Central do Brasil. A construção era muito antiga, segundo ela “cheio de goteiras” e muito ruim de viver. O marido, “fraco do pulmão”, precisava de um lugar melhor e foi num passeio de domingo que o casal conheceu uma praia tranqüila, num recanto habitado por poucos pescadores, a Praia de Inhaúma. Ali o casal viu a possibilidade de refazer a vida. A madeira trazida

A mineira Dona Orizina foi a primeira moradora da Maré

A carranca era utilizada por Dona Orozina para afastar maus espíritos, hoje está exposta no Museu da Maré

pela maré ofereceu o material para demarcar o terreno, a casa poderia ser construída aos poucos e morar num morro distante não seria problema, pois lembrava até a vida em Minas, com exceção da proximidade do mar. Anos depois o marido faleceu e o lugar recebeu novos moradores. Orozina então instalou um pequeno comércio, primeiro uma barraca para vender frutas e legumes, depois uma tendinha. E repetiu uma prática comum em algumas regiões do interior do Brasil. No seu comércio colocou alguns objetos para dar boa sorte: uma ferradura, uma figa, um quadro de São Jorge, um vaso com comigo-ninguémpode e guiné e uma carranca, a mesma que está hoje no Museu. Originárias do Rio São Francisco, as carrancas, também chamadas pelos remeiros de figura, figura de proa e leão de barca, são objetos muito conhecidos em todo o Brasil, sendo vendidas em feiras e lojas de produtos artesanais das grandes cidades. As carrancas são esculpidas em madeira e apresentam forma humana ou animal. Se para alguns tratam-se de mero objeto decorativo, para outros estão repletas de misticismo, tendo poderes de trazer boa sorte e afastar os maus espíritos. Fixadas na proa dos barcos que navegam pelo Rio São Francisco, segundo alguns, inicialmente as carrancas eram usadas pelos barqueiros que transportavam mercadorias para chamar atenção da população ribeirinha, como uma espécie de chamariz comercial. E assim foram sendo esculpidas das mais diversas formas e tamanhos e eram pintadas com cores fortes, fazendo a diferença nas embarcações. Com o tempo as escul-

turas na proa dos barcos passaram a ser um elemento importante para o barqueiro, que as viam como amuleto de proteção contra os maus espíritos do rio. Aos poucos as carrancas deixaram os limites do rio e ocuparam outros lugares, mas sempre com a mesma função: proteger, afastar o mal e trazer o bem. Como sentinelas foram aparecendo na frente das casas, nas varandas, atrás das portas dos bares e armazéns. Para a sabedoria popular, se funcionavam nos rios também poderiam cumprir essa mesma função em outros lugares. Essa prática foi cada vez mais utilizada nas cidades e povoados no curso do São Francisco e ganhou o Nordeste e o Sudeste. Vários artistas se destacaram e transformaram as carrancas em verdadeiras obras de arte, assim surgiram os mestres carranqueiros, que imprimiam à sua obra características próprias, com cores, detalhes e estilos. A carranca não esteve em uma embarcação, mas traduz um Brasil que tem muitas identidades. E seu maior valor é o de ter pertencido a Dona Orozina primeira moradora da Maré. Ao conhecer a história desse objeto do acervo do Museu, você tem mais um motivo para visitar e encontrar parte de nossa história e patrimônio. Visite o Museu da Maré! Este espaço representa a história dos moradores da Maré. Envie sua história, perguntas e sugestões para a Rede Memória na Casa de Cultura da Maré. Endereço: Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748 ou para o e-mail: contato@ceasm.org.br. A matéria referente a esta página é de exclusiva responsabilidade do projeto Rede Memória.


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