O Cidadão
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RIO DE JANEIRO • ANO IX • Nº53 • NOVEMBRO/DEZEMBRO 2007
www.jornalocidadao.net
Avenida Abandonada Transferência de empresas para outras áreas da cidade, causa o abandono de galpões na região ao longo da Avenida Brasil
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projetos educacionais nas igrejas
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Godoy: um exjogador a serviço do futebol na Maré
Banco Popular na Maré
Evento de combate à Dengue
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EDITORIAL
As águas da Maré trazem um ano novo
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novo ano traz desejos de tempos melhores, e as tão graciosas promessas, que teremos 366 dias para cumprir. E como o ano novo é bissexto, teremos um dia a mais para aproveitar. Contudo também será um ano para ficar de olho, pois acabou a CPMF, imposto cobrado em transação financeira. E o governo diz que o prejuízo será sentido na saúde do brasileiro. O interessante é que o dinheiro da CPMF não era utilizado apenas para a saúde pública, mas, agora que acabou, só a saúde pública, que já está em fase terminal, sentirá os efeitos colaterais. Por isso, fiquemos espertos, 2008 é ano de eleição municipal. Não podemos repetir os erros que elegeram candidatos que vivem de centros sociais, mas, em contra partida, faltam nas votações da câmara municipal e, quando votam alguma lei, votam contra você e a favor de interesses próprios. Para um total sucesso em 2008, cada
um precisa fazer a sua parte. Faça feliz as pessoas que vivem perto de você. Viva em um clima total de comunidade, de comum unidade. Lembremos dos tempos das palafitas, em que todos ajudavam a construir a casa dos seus vizinhos e outras coisas mais. A Maré já não tem mais palafitas, mas tem muitas coisas para melhorar, e melhorar juntos. Lembremos de um fragmento da música do cantor Bhega: “A comunidade deseja transporte, saúde, educação e habitação”. Nossa matéria principal, por exemplo, aborda uma questão delicada para nós, mareenses, e para a sociedade em geral: moradia. Nós só abordamos a questão, mas todos nós moradores refletir a partir dela e reivindicar melhorias, lutar coletivamente pelos nossos direitos. Que entremos em 2008 nesse ritmo, de luta pela causas, mas sempre levando o lema da Paz! FELIZ 2008!!!
Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965
Direção Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana Souza Silva Maristela Klem • Lourenço Cezar Coordenadora Geral: Rosilene Matos Editora: Cristiane Barbalho Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Revisão: Viviane Couto, Iara Erminia Madeira, Luiz de Oliveira e Audrey Barbalho Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Cristiane Barbalho • Gizele Martins • Hélio Euclides • Renata Souza Rosilene Matos • Silvana Sá Colaborou nesta edição: Rede Memória Jornalista Responsável: Ellen de Matos (Reg. 27574 Mtb) Ilustrações: Jhenri
ELES LÊEM O CIDADÃO HÉLIO EUCLIDES
O Cidadão é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré
Publicidade: Elisiane Alcantara REPRODUÇÃO DE VÍDEO DA NIC
Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra Diagramação: Fabiana Gomes Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço Foto de Capa: Hélio Euclides Repórter Fotográfico: Hélio Euclides Distribuição: Maria Matilde (coordenadora) Ana Carla • Charles Alves Givanildo Nascimento • Regiane de Matos José Diego • Rosilene Ferreira Luiz Fernando Fotolitos / Impressão: Ediouro
À esquerda, Luciana da Silva Abreu, educadora de informática do Luta Pela Paz, acima, Benedita da Silva, secretária de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro
O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da maré. Promove oficinas e atividades que se tornam Uma conquista dos extensão da sala moradores da Maré de aula.
A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso
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Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br
O CIDADÃO recebe o apoio do
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EDUCAÇÃO
Igrejas e suas obras sociais Instituições religiosas oferecem cursos para adultos, jovens e crianças na Maré RENATA SOUZA
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om o objetivo de levar oportunidades e alternativas de trabalho para os moradores da Maré, algumas igrejas têm oferecido cursos de educação, de música e também profissionalizantes. Algumas delas são a Paróquia Jesus de Nazaré, a Igreja Universal do Reino de Deus, a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes e a Igreja Batista Central de Bonsucesso. A estudante de pedagogia Laura Teixeira, de 23 anos, junto com outros membros da Igreja Universal, teve a iniciativa de organizar o curso de alfabetização. Hoje, com 10 alunos, o curso funciona nas sextas e sábados, das 18h às 19h30min, em janeiro será de segunda a sábado. “Aqui na igreja têm muitos idosos que não sabem ler e escrever. Então, esta foi uma forma de ajuda-los. Para que eles possam ter a satisfação de assinar o próprio nome, de construir algum texto e dizer que foram eles que fizeram”, conta Laura. O curso é gratuito e recebe ajuda da própria igreja, que cede o local, e do Jardim Creche Escola Esperança, que doa materiais como quadro e cadeiras. Para o próximo ano a igreja pretende oferecer curso de telemarketing, etiqueta, entre outros. A Paróquia Jesus de Nazaré, além de oferecer curso de alfabetização para adultos e capoeira, também cede um espaço para a Escola Santa Mônica
Crianças do Colégio Santa Mônica posam com artistas após peça de final de ano nas dependência da Igreja
disponibilizando formação básica. É importante ressaltar que todos esses cursos são gratuitos. A APAR Associação Patrulha Jovem do Rio, localizada na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes oferece o curso de iniciação ao mercado de trabalho, voltado para adolescentes. “Ele tem duração de quatro meses e abre inscrições do dia 17 de janeiro até dia 31 do mesmo mês. Com a conclusão do curso, ocorrerão encaminhamentos para empresas conveniadas ao programa”, diz o coordenador Carlos Sá, de 60 anos. Hoje, com aproximadamente 300
alunos a Igreja Batista está oferecendo cursos de alfabetização, inglês, espanhol, reforço escolar, crochê, produção artesanal, entre outros. Segundo a coordenadora Denise Amaral, de 41 anos, alguns cursos já tem financiamento, mas outros ainda não. “Estamos ainda tentando algumas parcerias, já temos com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com o curso de alfabetização. Mas precisamos de outros porque queremos futuramente colocar outros cursos. Nosso objetivo também é o de tirar crianças da rua e ajudar os adultos”, relata.
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Endereço das Igrejas: Paróquia Jesus de Nazaré: Rua Ivanildo Alves, 83, Parque Maré Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes: Rua Luis Ferreira, 217, Baixa do Sapateiro Igreja Universal do Reino de Deus: Rua Guilherme Frota, 343, Baixa do Sapateiro Igreja Batista Central em Bonsucesso: Rua Capivari, 39, Morro do Timbau Mulheres exibem trabalho feito na oficina de artesanato da Igreja Batista Central de Bonsucesso, no Timbau
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GERAL
Um clube na praia
A história da Maré contada pela presença de um Iate em Ramos, dando lazer aos moradores HÉLIO EUCLIDES
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udo começou em 15 de novembro de 1941. Ao lado do antigo posto de gasolina, na Rua Gerson Ferreira, 27. Assim se iniciava a história do Iate Clube de Ramos, que depois de 13 anos, teve a mudança de endereço para a atual sede, na Rua do Iate. De lá para cá, foram muitos campeonatos de pesca e regatas, que serviram de cenário, na década de 1970, para uma matéria no Jornal Nacional. O clube nasceu, na verdade, num barraco construído por um grupo de amigos, para guarda a roupa nos domingos de sol na Praia de Ramos. Depois foram criados vários galpões, vieram as reformas e o crescimento. Hoje são 38 mil metros quadrados, com sauna, churrascaria, salão de sinuca e piscina. O sócio que tiver barco ainda pode usufruir de duas rampas, uma marina e dois guinchos. “Aqui temos um dos melhores lugares para se comer. Qualquer pessoa pode vir almoçar no nosso restaurante, é um prestígio para o clube”, orhulha-se o comodoro, Waldemiro Gonçalves, de 67 anos. O clube possui sede própria, com excelentes instalações e suporte aos associados e amigos. Atua em quase todos os desportos náuticos, destacando-se a pesca adulta e infantil, e o mergulho. É, também,filiado à Federação de Pesca e Desportos Subaquáticos do Estado do Rio de Janeiro e a respectiva Confederação. “Tenho box há 20 anos no Iate. Gosto muito daqui, o bar tem ambiente familiar”, conta J. Ney, de 56 anos. O ICR conta com 220 sócios, que pagam pelo título R$ 1.000
Iate Clube de Ramos: visão panorâmica onde mostra os barcos ancorados ao longo do litoral mareense
em dez vezes, mais R$ 63,53 por mês de mensalidade. O sócio não precisa ter barco, para usufruir do clube, que ainda oferece salão de festa, com capacidade para 200 pessoas. A vida do clube se mistura a Praia de Ramos O bairro da Maré se formou em volta do ICR. E por esse motivo se criou uma relação de atividades sociais entre clube e morador. “Há uma parceria com a comunidade. Liberamos o campo para peladinhas e apoiamos a associação”, afirma o comodoro. Um exemplo dessa ligação é o músico Wellington Fernandes, de 27 anos. Ele passou na prova escrita para a Marinha, mas
precisa de treinamento para os testes físicos. “Treino aqui duas horas por dia, gratuitamente. A piscina é perfeita”, diz Wellington, conhecido como Biliu. O ICR já teve sócios ilustres, como o humorista Mussum. “São muitas histórias do passado. Uma foi de um Comodoro, que pediu ao funcionário que descesse no mar para segurar uma estaca. Ele não obedeceu, então o próprio comodoro com roupa social caiu na água e fez o serviço. Foi um verdadeiro ato de amor ao Iate”, conta o mecânico náutico do Clube, Carlos Alberto, o popular Bebeto, de 48 anos.
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GERAL
Consciência Negra Dia 20 de novembro comemorado na Maré
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reservar a memória é uma das formas de construir a história. Em nome da história, nos últimos 37 anos se comemora no dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra. Nessa data, em 1695, foi assassinado Zumbi, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, que se tornou
“O dia da consciência negra é muito importante para refletirmos sobre o que nossos antepassados passaram” Lucas dos Santos Professor de capoeira um grande ícone da resistência negra e da luta pela liberdade. A escolha desse dia foi muito mais do que uma simples oposição ao 13 de maio, (dia da abolição da escravatura) até porque os movimentos sociais sugeriram essa data para mostrar o quanto o país está marcado por diferenças e discriminações raciais. Isso não é pouca coisa, pois o racismo sempre foi negado, dentro e fora do Brasil, como se não existisse. Aqui na Maré, todos os anos, vários movimentos comemoram o Dia da Consciência Negra, cultivando a cultura afro e mostrando o quanto ela é importante para a sociedade. Um desses gru-
COMO VOVÓ JÁ DIZIA
pos fica localizado no Centro Cultural Capoeira Angola de Pastinha, que procurou o Centro, e juntos organizaram esse dia tão especial. O professor de capoeira Lucas dos Santos Brito, de 23 anos, estava animado. “O Dia da Consciência Negra é muito importante para refletirmos sobre o que nossos antepassados passaram”, relata. O Centro Cultural contou com a presença de mais de cinqüenta pessoas, que puderam assistir a capoeira de Angola, grafite, makulelê (dança africana de antigos guerreiros) e samba de roda. Em um de seus poemas, o gaúcho Oliveira Silveira define o 13 de maio, como um dia de “traição, liberdade sem asas e fome sem pão. Por isso muitas pessoas repudiam essa data, quan-
do milhares de negros foram ”soltos” nas ruas, sem nenhuma condição de sobrevivência. O negro perdeu força em nossa sociedade, que atribuiu a abolição à atitude exclusiva da princesa Isabel, aparentemente paternalista e generosa. Em 1971 o 20 de Novembro foi celebrado pela primeira vez. A idéia se espalhou por outros movimentos sociais de luta contra a discriminação racial, e no final dos anos 70, já aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado.
A verdadeira história O dia 20 de novembro lembra o assassinato de Zumbi em 1695 , o mais importante líder do Quilombo dos Palmares, que representou a maior e mais importante comunidade de escravos fugidos nas Américas, com uma população estimada em mais de 30 mil negros. Em várias sociedades escravistas nas Américas houve fugas de escravos e formação de comunidades
como os quilombos. Palmares durou cerca de 140 anos: as primeiras evidências são de 1585 e há informações de escravos fugidos na Serra da Barriga até 1740, ou seja, bem depois do assassinato de Zumbi. Embora tenham existido tentativas de tratados de paz os acordos fracassaram, prevalecendo o furor destruidor do poder colonial contra Palmares.
Saúde pela alimentação Água e digestão: Líquido durante as refeições, principalmente, bebidas gasosas dificulta a digestão e distende o estômago. Mas, um ou dois copos de água em jejum facilita a digestão. Alimentos e emoções: Os alimentos estão diretamente ligados ao estado emocional das pessoas. Para controlar a concentração e a preocupação, coma verduras, frutas e granulados. Para dispersão e falta de concentra-
ção, prefira raízes ou tubérculos em purê: batata, cenoura, beterraba, mandioca. Para o nervosismo, agressividade, irritabilidade, agitação, responda com hortaliças, frutas e ervas. Já para a preguiça e sonolência, coma proteínas animais e vegetais e carboidratos. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus - Editora Vozes
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PERFIL
Uma vida a serviço do futebol Apaixonado pela carreira, o ex-jogador Godoy continua trabalhando na área esportiva FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES
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om apenas 14 anos de idade, Nivaldo da Silva mais conhecido como Godoy, começou sua carreira como jogador profissional no time da Portuguesa, da Ilha do Governador. Seu primeiro contato com a bola ocorreu por volta dos seus oito anos, no time mirim do Potiguar. Hoje, com 44 anos, relembra sua trajetória no futebol. “Passei pela Portuguesa, Olaria, Mesquita, Madureira, Rubro e Rio Branco, do Espírito Santo”,diz.
“Foi através do exemplo dos meus irmãos que comecei a pegar gosto pelo futebol” Godoy Ex-jogador de futebol Godoy, morador da Praia de Ramos fala que o sonho de ser jogador veio de berço, seus irmãos já jogavam, sendo grandes referências para ele. “Foi através do exemplo dos meus irmãos que comecei a pegar gosto pelo futebol”, relata. Estimulado também por um amigo, fez seu primeiro treinamento. “Um amigo que viu meu talento e me levou para treinar na Portuguesa, e daí comecei a carreira”, conclui. Ele diz que parou de jogar um pouco
Reprodução de jornal com matéria sobre Godoy
Godoy mostra com orgulho, no campo da Praia de Ramos, um de seus troféus e a sua ferramenta de trabalho
cedo, aos 24 anos. Mas, até hoje trabalha em locais ligados ao futebol, um exemplo disso, é a escolinha de futebol - projeto social do Governo do Estado, no campo do piscinão de Ramos - voltada para meninos e meninas, de 10 a 17 anos, que estejam estudando. “Apesar de eu não ter tido escolinha, sonho em ver alguns garotos desses se destacando em clubes, treinando e jogando em algum time um dia”, diz. Além disso, Godoy trabalha como auxiliar técnico da equipe do Angra e no seu comércio, próximo ao piscinão. Pai de dois filhos, Godoy fala da importância dos estudos e do incentivo dos pais em qualquer carreira que o filho queira seguir. “Eu não incentivo o meu filho a ser um jogador. Sempre falo que os estudos vêm em primeiro lugar. Se o meu filho quiser seguir a carreira de jogador, digo que o futebol será uma conseqüência. E sempre o incentivo a participar das escolinhas, mas não o obrigo, porque isso pode atrapalhá-lo. É ele quem deve decidir. Não faço cobranças”, conta. Para aqueles que sonham com o futebol, o ex-jogador deixa um recado: “Tem que ser bom de bola, ter talento. Mas não é muito fácil a carreira de jogador profissional. A primeira coisa é ter uma estrutura psicológica muito boa, porque muitos jogadores vão fazer teste e não passam na primeira vez, e alguns ficam meio revoltados e desistem, sendo que é preciso tentar sempre”, completa.
Ele aconselha ao futuro jogador, que não pare de estudar nunca, porque a carreira de um profissional de futebol é curta, nem todos chegam ao ponto de ser um Ronaldinho ou um Kaká. Muitos que estão
“Eu não incentivo o meu filho a ser um jogador. Sempre falo que os estudos vêm em primeiro lugar” Godoy Ex-jogador de futebol começando, jogam em times com contratos muito curtos e outros nem ganham, jogam por amor ao futebol. Godoy guarda com orgulho uma coleção de jornais em que aparece jogando por alguns times e recorda um grande momento em sua vida. “Em 1984, disputamos o campeonato carioca da primeira divisão. Eu era capitão do Olaria. Lembro que foi um campeonato muito bem disputado, eram grandes e pequenos clubes com grandes craques”, diz.
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CIDADANIA
Nova Biblioteca na Maré
ARQUIVO PESSOAL
Moradores de Marcílio Dias ganham sua primeira biblioteca.
“O
livro já está na minha vida desde que me conheci como gente.” Assim Geraldo de Oliveira, de 59 anos, demonstra seu amor pelos livros. Ele é morador da comunidade Marcílio Dias e está fundando uma biblioteca comunitária. Geraldo justifica sua atitude não só pelo amor a leitura, mas também por causa da violência que o faz não deixar seu filho, de 11 anos, ir fazer pesquisas no centro da cidade. “Nós estamos vivendo na era da informática, mas nem todos têm acesso a internet, então é importante ter um núcleo de conhecimento nas comunidades.” Diz. Elisângela Oliveira da Costa, de 31
Seu Geraldo e um morador da comunidade, carregando os primeiros livros doados para nova biblioteca
anos, acredita que a biblioteca só trará benefícios pra comunidade, possibilitando às crianças usufruírem de um espaço para pesquisa e leitura em geral. “Quanto mais a gente lê, mais a gente aprende” fala. A biblioteca se chamará Nélida Pion. Uma homenagem a escritora e primeira mulher a presidir a Academia Brasileira
de Letras. Contando com um acervo de 3 a 4 mil livros, a biblioteca precisa de doações de cadeiras e mesas para as leituras e pesquisas. Quem estiver interessado em conhecer, a biblioteca fica localizada na travessa José Sarney, ao lado da Igreja Assembléia de Deus da Penha, e o telefone é 2584-0523.
“Nós estamos vivendo na era da informática, mas nem todos têm acesso a internet, então é importante ter um núcleo de conhecimento nas comunidades.” Geraldo de Oliveira Seu Geraldo arrumando os livros nas pratileiras da primeira biblioteca da comunidade de Marcílio Dias
CURSOS
Filosofia
O Cidadão dá dicas de cursos
O curso desenvolve a capacidade crítica e a reflexão nos diversos campos de aplicação do pensamento filosófico, formando uma visão universalizante do homem, do mundo e de seus fundamentos. Este profissional pode prestar serviços de orientação e assessoria em instituições educacionais, artísticas e culturais,
Morador da comunidade Marcílio Dias
em projetos de pesquisa, empresas de comunicação, editoras científicas e em orgãos de planejamento social, entre outras. Duração: 8 semestres Curso: Pode ser encontrado na UERJ e UFRJ
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10 ACONTECEU NA MARÉ
Festa Cultural Para homenagear as crianças, a tarde do dia 20 de outubro na Biblioteca Lima Barreto, na Nova Holanda, foi repleta de alegria. Com o lema “Ler é a maior diversão”, foram organizadas brincadeiras, leitura de histórias, ginásticas, recital de poesia e ao final um lanche. “Há uma freqüência enorme de crianças. Nossa equipe tem se esforçado para construir uma metodologia para trabalhar esta demanda, visando a contribuir para a democratização do acesso ao livro e formação de novos leitores”, diz o professor Ernani Alcides, de 50 anos. O ponto alto foi quando crianças, após criar livrinhos, recitaram poesias para os coleguinhas.
Reinauguração do CRMM na Vila do João O Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher foi festejado 24 horas depois, no dia 26 de novembro com a reinauguração do Centro de Referência de Mulheres da Maré, que ganhou o nome de Carminha Rosa, uma pedagoga, que foi exemplo de luta pelos direitos humanos. Ela faleceu no início do ano, deixando um trabalho fundamental na criação e consolidação do CRMM. “A luta não foi em vão, faltava recurso, mas ela sempre correu atrás”, comentou sua filha, Karina Rosa, de 28 anos. O evento contou com a participação de diversas autoridades, entre elas a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire e o reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira.
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Guardiões limpam valão da Vila do Pinheiro
Guardiões do Rio No mês de novembro, o projeto que busca a vigilância diária, conservação e proteção dos rios esteve presente na limpeza de parte do valão da Vila do Pinheiro. Para o guardião da Secretaria Municipal do Meio Ambiente Abílio da Silva, de 62 anos, faltava draga. “Para a comunidade está ótimo. Para nós é pesado, pois usamos as mãos”, relata o popular Seu Duzentos. A encarregada do Conjunto Esperança, Edna Gomes, de 33 anos, explicou a ausência. “Não há máquinas disponíveis, e por isso unimos duas equipes em mutirão”diz. O encarregado da Baixa do Sapateiro, Antonio de Pádua, de 44 anos, informou que o próximo passo é um projeto paralelo para conscientizar a população e que o trabalho deles é a limpeza dos rios.
Lançamento de revista A revista Global lançou o seu nono número no dia 1° de dezembro na Casa de Cultura da Maré. O local foi escolhido pelo fato de uma das matérias da revista, escrita pela psicanalista Glaucia Danley, abordar trabalho com a memória da comunidade que o Museu da Maré desenvolve. Um dos objetivos da revista é ampliar a discussão política sobre o Brasil e o mundo.
Nasce a Casa Laranja Na Rua Projetada F, nº 187, no Salsa e Merengue foi inaugurado o espaço do Movimento Humanista. A casa vai reunir o Fórum da Maré, biblioteca, bazar, produtora de vídeo e a redação do jornal “Guia de Comércio”. Na sede, serão divulgadas idéias sobre transformação e liberdade. “Uma ideologia de descentralização do poder. Somos mais laranja do que César Maia, pois estamos no mundo inteiro desde a década de 60”, critica o voluntário Vinícius Pereira, de 22 anos. Informações: www.casa.laranja.zip.net ARQUIVO PESSOAL
Pessoas observam os desenhos expostos na Lona
Exposição de desenho A Lona Cultural Herbert Vianna é a única a oferecer curso de desenho gratuito. E para comemorar o sucesso das aulas foi organizada no dia 27 de outubro a primeira exposição de desenhos. O objetivo é mostrar o trabalho de alguns alunos, como os de Tarcizio Felix, de 14 anos, e Lidiane dos Santos, de 18 anos, ambos participantes da oficina. O curso acontece nas segundas e quartas de 09:30h às 10:45h. Para maiores informações ir à secretaria da Lona na rua Evanildo Alves s/n. REPRODUÇÃO
E POR FALAR EM ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS
Entidades não-governamentais no Catálogo de Instituições da Maré Projeto Uerê Endereço: Rua Tancredo Neves, s/nº, quadra 3, bloco 255-A, casa 1 – Nova Maré – Maré – CEP: 21043-230 Telefone: 3881-6219 Site: www.projetouere.org.br Natureza da instituição: Org. NãoGovernamental Fundação: 1995 Principais atividades: a - Reforço escolar b - Curso informática c - Computação gráfica d - Incentivo à leitura (biblioteca p/ uso
do público atendido) e - Coral f - Dança moderna g - Capoeira e maculelê Abrangência do atendimento: jovens de 3 a 18 anos e seus familiares UEVOM – União Esportiva Vila Olímpica da Maré Endereço: Rua Tancredo Neves, s/nº Nova Maré – Maré – CEP: 21032-970 Tels.: 3868-7452 / 3868-7552 / 3977-5788 Natureza da instituição: Org. Não-Governamental Fundação: 1999
Principais atividades: a - Atividades esportivas e culturais: natação, hidroginástica, ginástica olímpica, dança folclórica, balé, coral, street dance, etc (num total de 28 atividades). Abrangência do atendimento: crianças a partir de 3 anos, adolescentes, jovens, adultos e idosos.
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11 ACONTECEU NA MARÉ HÉLIO EUCLIDES
HÉLIO EUCLIDES
Comemoração por novas acomodações do PIC
Festa pelo início das atividades da Tele-Sala
Ampliado espaço infantil
Universidade Aberta
O ambiente conhecido como casa das irmãs, estava pequeno para atender o Programa da Infância Cabriniana (PIC). E na tarde de 14 de dezembro, o novo espaço foi inaugurado. A obra teve o apoio da Obra Social Santa Cabrini, das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus. O trabalho tem como lema “Educando o coração para o amor”, e funciona na rua 17, número 217, na Vila do João.
Com o objetivo de estudos, debates, reflexões e capacitação para ação política, foi inaugurada na tarde de 13 de dezembro, a Tele-Sala Che Guevara. O Projeto é vinculado a Universidade Aberta Leonel Brizola, onde trabalha módulos de educação via satélite. As aulas acontecem aos sábados, ao lado da Associação de Moradores da Vila do João. “A finalidade é clarear as mentes, para poder reivindicar uma cidadania plena”, comenta o líder comunitário, Tadeu Ribeiro, de 54 anos.
Matrícula de ensino A Rede Intersetorial de Proteção à Criança e ao Adolescente com Histórico de Desenvolvimento (Ripcahd) pede aos responsáveis, que não deixem de matricular seus filhos na escola. A educação é um direito fundamental garantido por lei. Faça a sua parte! As inscrições acontecem do dia
09 até o dia 18 de janeiro. Os pólos de matrícula na Maré são na Escola Municipal Paulo Freire e Tenente Napion. Nos pólos haverá vagas para educação infantil, pré-escola, ensino fundamental, alunos com necessidades especiais e Peja. Mais informações: 2462-3996 e 3393-5167
Curso Preparatório Dia 25 de janeiro às 13h, acontecerá no Ceasm Timbau a inauguração oficial do curso preparatório para concurso público (Academia do Concurso Maré).
SABOR DA MARÉ
Cursos do Projovem No mês de novembro o Projovem, Programa Nacional de Inclusão de Jovens, formou cerca de 200 alunos na Lona Cultural Herbert Vianna na Maré. Os alunos aprendem durante um ano uma das seguintes profissões: esporte e lazer, arte cultura, construção civil e turismo. O programa funciona em algumas escolas como na Escola Municipal Carlos Chagas em Ramos e na Escola Municipal Odilon em Olaria e trabalham com grande parte das comunidades da Maré. Ao final do curso os alunos recebem um certificado de conclusão do ensino médio e um outro de especialização profissional. Quem estiver interessado em participar do Projovem deve estar matriculado ou se matricular nas escolas de 5ª a 8ª série que tenha o projeto ou fazê-la pelo telefone 0800-722-7777.
Pré-vestibular humanista Inscrições abertas, com apenas 130 vagas. Aulas aos sábados. Local: Centro de Ciências da Saúde (CCS) – Bloco B – sala 32 – Ilha do Fundão. Inscrição: R$ 50,00 de seis em seis meses (sem mensalidades). Informações: Alice 92180575 (alicemedinamh@gmail. com); Jacqueline 9415-6061 (pvhhumanista@yahoo.com. br); Mônica 8808-8685 (monicab.rocha@yahoo.com.br).
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Suco refrescante de verão Ingredientes:
Preparo:
1/2 melão grande 1 limão grande ou 3 pequenos 350 ml de água filtrada ou mineral (gelada) 4 cubos de gelo Açúcar ou adoçante a gosto
Descascar o melão. Cortá-lo em pedaços pequenos. Pegue o limão, esprema e coe o suco. Misture o melão, limão, água, gelo e adoce. Bata no liquidificador até ficar cremoso. Depois é só coar e servir. Beba na hora. Rendimento um litro. Um sabor leve, típico do verão. Mimiu e seu suco refrescante da nova estação
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CAPA
Avenida Brasil
Do sonho industrial nos governos de Vargas e JK à decadência nos últimos anos CRISTIANE BARBALHO
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Avenida Brasil é uma das mais importantes vias da cidade do Rio de Janeiro. Ela foi criada em 1946, durante o Governo de Getúlio Vargas, com o objetivo de descongestionar os eixos da Rodovia Rio-Petrópolis e Rio-São Paulo, além de incorporar a cidade terrenos para a construção de fábricas e galpões. Somente em 1950, com a instalação da indústria automobilística, no governo de Juscelino Kubitschek, a economia começou a demonstrar alguns avanços. Contudo, com a mudança da capital em 1960 para Brasília, a economia da região começou a enfrentar grandes problemas. O Rio de Janeiro deixou de ser capital, transformando-se em Estado da Guanabara e depois em município. Essas mudanças foram crucias para a economia da cidade, permitindo a estagnação da região ao longo da Avenida Brasil. Hoje, as muitas indústrias que ocupavam a via expressa foram transferidas para outras áreas da cidade. E alguns galpões acabaram sendo ocupados e dentro deles foram construídos moradias. Esse é o caso do antigo prédio da Quartzolit, localizada na Rua Capitão Carlos, na Baixa do Sapateiro. Um dos responsáveis pela ocupação do terreno da Quartzolit foi Jorge Luiz Mendes Bezerra, mais conhecido como Jorginho, vice-
Casas construídas dentro do espaço onde era o antigo prédio da Quartzolit localizado na Baixa do Sapateiro
presidente da ONG Centro Social e Cultural Sarah Hanani. A idéia partiu depois que algumas pessoas na Praia de Ramos ficaram sem lugar para morar. “Eu me sensibilizei com isso e no decorrer dos dias soube que tinha uma pessoa vendendo terreno no prédio da Quartzolit. Então chamei algumas pessoas que
são líderes na comunidade e perguntei se aquilo era legal e se eles estavam sabendo de alguma coisa que estava errado, pois ali tinha um dono e não estava tão abandonado. Além disso, a prefeitura tem o alvará de tudo aquilo, toda a documentação. Procurei saber de tudo pelos
O Cidadão meios legais e, então, fui à associação de moradores da Baixa do Sapateiro e peguei um papel com o presidente da associação. Não queríamos que no local fossem construídos barracos de lona, madeira. O objetivo era que as casas fossem de tijolo com pelo menos a telha, por isso, foram escolhidas pessoas que teriam como construir casas naquele momento”, diz. Mas não foram somente os moradores da Praia de Ramos os beneficiados. Segundo Jorginho, muitas pessoas que pagavam aluguel começaram a procurálo perguntando se poderiam construir no local. “Espalhei cartazes por vários locais aqui na comunidade, dizendo o seguinte ‘Você que mora de aluguel e pretende sair, nos procure. No dia tal, na Quartzolit, haverá uma reunião sobre moradia’. Apareceu muita gente. Perguntei quem morava de aluguel, e deixei bem claro que iríamos
“Eu pagava R$150 por mês de aluguel” Ivonete do Rosário Moradora da Quartzolit abrir o espaço e que não seriamos demagogos ou hipócrita e que nós iriamos saber quem tem ou que não tem casa própria. Eu deixei aberto o que iria acontecer se eles mentissem e se alguém, futuramente, soubesse que eles tinham casa. Eu falei que eu não seria o juiz dele e sim a consciência de cada um, porque se já estivesse construindo e nós descobríssemos que já tinha casa, ela seria dada para a pessoa mais pobrezinha. Então fizemos senso de todas as pessoas para confirmamos se elas moravam mesmo de aluguel”, completa. A ocupação do local teve início há um ano e alguns de seus moradores são de outros locais da Maré. Ivonete do Rosário, de 32 anos, que morava em outra comunidade da Maré, mudou-se para o novo endereço há seis meses. “Vim porque eu pagava aluguel. Soube através do meu filho, que faz curso na Vila Olímpica, que tinha um pedaço de terra para quem pagava aluguel. Eu pagava R$150 por mês de aluguel. Aqui está bem melhor já que meu marido está desempregado há alguns meses”, diz. Mas não é somente de outras comunidades da Maré que são os moradores da nova ocupação. O sonho de conquistar um bom emprego no sudeste ainda atrai muitas
13 CRISTIANE BARBALHO
Jorge Luiz Mendes Bezerra é um dos responsáveis pela organização da ocupação da antiga área da Quartzolit
pessoas de outros estados para a cidade do Rio de janeiro, principalmente do Nordeste. Como no caso de Sandra Cardoso, de 25 anos, que veio do Rio Grande do Norte com o marido e há quatro meses mora no antigo prédio da Quartzolit. “Quando a gente chegou aqui tinha um rapaz que queria passar esse terreno. Meu marido, então, só comprou o material para a construção da casa. Não acho o lugar aqui muito agradável, porque a minha outra casa era bem melhor e maior, já que sou de Natal. Vimos
de lá para o meu marido trabalhar com o irmão dele que está aqui há dez anos”, completa. Embora a Prefeitura tenha cedido o espaço, os moradores da área ainda não têm a documentação do terreno, o que ainda causa insegurança entre os moradores. O CIDADÃO também entrou em contato com a Secretária de Assistência Social para saber a exata situação dos galpões ocupados, mas nenhuma resposta foi obtida até o fechamento dessa edição. REPRODUÇÃO DA INTERNET
Lei Vargas Na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, a área da Leopoldina, com o decreto 6000/37, é transformada em zona industrial, mudando a configuração da região. De acordo com matéria publicada no site G1, no dia 15 de janeiro de 2007 a prefeitura assinou decreto modificando as normas de ocupação da Avenida Brasil, que vai do Centro da Cidade à Zona Oeste. Para confirmar a informação, O CIDADÃO procurou o Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos que confirmou a sanção da lei. O objetivo dela é permitir a construção ao longo da via de edifícios residenciais, de comércio, ou os dois, dependendo agora do interesse da iniciativa privada, sendo essa a forma encontrada pela prefeitura de recuperar uma área degradada. Segundo o Instituto Pereira Passos, a medida evitaria a sua “favelização”. O CIDADÃO também entrou em contato com a Assessoria de Comunicação do
Cartaz do projeto de construção da Avenida Brasil
gabinete do prefeito, contudo nenhuma resposta foi obtida até o fechamento dessa edição.
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CAPA
Crescimento urbano e conseqüências A cientista social Jaqueline Luzia da Silva fala sobre a desigualdade social
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CIDADÃO entrevistou a cientista social e Mestre em Educação pela Ufrj, Jaqueline Luzia da Silva, de 29 anos, e doutoranda em Educação pela Puc-Rio, sobre as ocupações dos galpões ao longo da Avenida Brasil.
O CIDADÃO - Como você percebe a vinda de pessoas de outros estados para o município do Rio de Janeiro? Jaqueline Luzia - A migração no Brasil se acirrou com o êxodo rural na década de 1930, motivado pelas expectativas da população em melhorar suas condições de vida, na maioria dos casos vinda da região nordeste. O Rio de Janeiro se tornou um dos destinos desta população por ser capital do país até o ano de 1960. Portanto, vir morar no Rio significava estar perto do centro comercial e político e, assim, conseguir emprego e formas de sustentabilidade. Até hoje esta situação está contida no
O Rio de Janeiro, além de apresentar desenvolvimento econômico diante de outras metrópoles, é reduto de turistas e foco da mídia, em todas as suas expressões Jaqueline Luzia Cientista social imaginário da população. O Rio de Janeiro, além de apresentar desenvolvimento econômico diante de outras metrópoles, é reduto de turistas e foco
da mídia, em todas as suas expressões. O CIDADÃO - Há grande influência da televisão nesse processo de migração para o Rio de Janeiro? Quais são essas influências? E como você percebe esse processo? Jaqueline Luzia - A mídia de uma maneira geral exerce forte influência sobre a imagem da cidade. Percebemos isto nas novelas, cuja maioria se passa no Rio, além de filmes etc. A cidade “vende” uma imagem que é a da beleza, saúde, paisagens, praias, mar, juventude, representações
sociais agregadas a um estilo de vida buscado pela sociedade atual. Por um lado, esse processo tem saldo positivo para a cidade, pois além de atrair turistas, gera emprego e renda. O CIDADÃO - Como você vê as ocupações dos antigos galpões ao longo da Avenida Brasil? Que atitudes o governo deveria tomar? E o que leva essas pessoas a ocuparem esses espaços? Jaqueline Luzia - A desigualdade social é a principal causa para ocupa-
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e suas A desigualdade social é a principal causa para ocupações desordenadas do espaço urbano. Jaqueline Luzia Cientista social ções desordenadas do espaço urbano. Numa sociedade estratificada como a nossa, onde poucos são muito ricos e uma grande massa da população vive em estado de miséria, não é difícil que se crie estratégias de sobrevivência como esta. Acredito que o planejamento urbano, atrelado a um oferecimento de melhores condições de vida (salário digno, saúde e educação de qualidade, oportunidades de lazer, saneamento básico etc.) seria a medida necessária para que as ocupações não acontecessem. O CIDADÃO - Como você define o tipo de pessoa
A cientista social e doutoranda Jaqueline Luzia comenta sobre as ocupações ao longo da Avenida Brasil
ou grupo que ocupa essas áreas? E como você percebe a situação dessas pessoas? Você acha que a Constituição está sendo respeitada? Jaqueline Luzia - É difícil classificar pessoas sem homogeneizá-las. E isso significa tomar uma atitude preconceituosa diante destas pessoas. Os motivos que as levam a ocupar essas áreas são variáveis e precisam ser investigados individualmente. São pessoas que necessitam de condições básicas de sobrevivência, além de estabilidade física, psicológica e social. Não dá para estigmatizá-las sem uma compreensão
global das condições em que se encontram. Pois assim, além de estarmos ferindo a Constituição Brasileira (Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II -a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político)., estaremos infringindo os princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos).
Ocupações de galpões na Maré Segundo o historiador Alexandre Dias, a ocupação dos galpões ao longo da Avenida Brasil está ligada ao fato dos mesmos estarem abandonados há muito tempo. “Acho que o povo deveria realmente ocupar esses prédios, principalmente se for para gerar emprego e renda, transformando-os em áreas de produção cooperada de algum produto artesanal, centros comercias como feiras livres, galerias comunitárias de serviços, ou mesmo em centros de arte e cultura. No entanto, se for para fazer desses prédios, moradias, deve-se cobrar do governo a infra-estrutura básica e tomar muito cuidado com a manutenção
da construção”, completa. Contudo, as ocupações na Maré costumam acontecer com pouca ou nenhuma intervenção do poder público. A comunidade Tekno Parque, que fica no Parque União, por exemplo, pouco lembra os seus tempos de galpão. Contudo, a reestruturação do espaço foi feita sem a intervenção do poder público. A organização ficou sob responsabilidade da associação de moradores que organizou a ocupação e a construção de casas. Mas esses antigos galpões não funcionam apenas para a construção de moradias. Outros tipos de ocupações acontecem nesses locais, sendo esse o caso de um velho galpão, na comunidade de Marcílio Dias, transformado em posto
de saúde com a ajuda dos Médicos Sem Fronteira. Esse grupo tem como objetivo organizar as atividades em locais que o estado não está atuando e depois repassar a responsabilidade para ele. Iniciativas como essas estão acontecem em vários lugares da Maré. O Ceasm Nova Holanda também é fruto de uma ocupação social. O local foi o antigo prédio do Centro Municipal de Assistência Social Integrada (Cemasi) (Confere a informação) que fazia a triagem das pessoas que chegavam da Favela do Pinto, no Leblon. A Casa de Cultura da Maré, na Av. Guilherme Maxwell, próxima ao Sesi, é um outro exemplo de ocupação social. O local era uma antiga fábrica de barcos.
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SERVIÇO
Um banco popular na Maré Projeto auxilia nos pagamentos, abertura de contas-correntes e concessão de empréstimos HÉLIO EUCLIDES
O
Banco Popular do Brasil funciona desde 2004, e é subsidiário do Banco do Brasil. O projeto não utiliza agências convencionais, mas permite acesso a produtos e serviços bancários. O atendimento aos clientes é feito por meio de correspondentes (empresa terceirizada), que aqui na Maré, há dois anos é o Supermercado Vianense. Em um quiosque dentro da loja, o cliente pode ter uma conta corrente, solicitar empréstimo e pagar contas, como água, luz,
“Mas é um quebra galho para o morador que só tem a loteria...”
Funcionárias do Supermercado Vianense que exercem a função de atendente no quiosque do Banco Popular
Ivair Borges Gerente do Supermercado telefone, boleto e fatura de cartão, no valor máximo de R$1.000, e sem ter ultrapassado o vencimento, que precisa acrescentar juros. Apesar da comodidade, o espaço ainda é pouco conhecido. “Vira e mexe fica fora do ar. Aí o pessoal fica chateado, por isso tenho medo de divulgar. Mas é um quebragalho para o morador que só tem a loteria, ou precisa ir a Bonsucesso”, diz o gerente de loja Ivair Borges, de 50 anos. Essa facilidade é elogiada pelo usuário Cláudio Ramos, de 37 anos. “Rápido e fácil, deveria ter
mais agências e opções de pagamento”, comenta. Apesar da loja ter que ceder funcionários, há um maior fluxo de clientes para o comércio. A fiscal Flávia Galdino, de 30 anos, informa que o funcionário que está no quiosque tem que estar capacitado para um bom atendimento ao público. A operadora Claudinéia Martins, de 30 anos, admite que recebe até elogios pelo serviço prestado. Só fica triste quando o usuário desiste do pagamento. “Quando as pessoas tentam pagar conta e o sistema está fora do ar, que voltem mais tarde ou no outro dia”, envia o recado Claudinéia. Sua colega de Banco Popular, Verônica de Lima, de 30 anos, confessa que prefere o trabalho no terminal. “Gosto, pois aqui tem um intervalo, ao contrário do caixa da loja”, conclui.
O Banco Popular da Maré funciona de 2ª a 6ª, nos dias úteis, das 07:30 às 15hs, com intervalo das 11hs às 12:45. E fica na Avenida Brasil, 6.288, próximo a Teixeira Ribeiro. Informações: 0800-7292929 ou www.bancopopulardobrasil.com.br.
O passado do banco na Maré O bairro já possuiu dois Bancos Populares, ambos na Nova Holanda. Um funcionava na farmácia City Farma, situada na Teixeira Ribeiro. O sócio proprietário, Jovini Corrêa, de 41 anos, deslocava um funcionário do balcão para realizar o serviço bancário, só ganhando R$0,10 por documento autenticado. “Tinha que falir, só dava dor de cabeça e prejuízo. Um dos problemas era o limite de caixa de R$ 3.000,00, o que muitas vezes deixava o sistema fora do ar metade do dia”, finaliza. O outro ponto era na loja da Light, na Rua Principal. A Light Maré informou que os funcionários da época não fazem mais parte da empresa. Mas que o fim do serviço foi simplesmente por término de contrato. A área de comunicação do Banco Popular do Brasil foi procurada via telefone e correio eletrônico, mas não se pronunciou sobre o assunto.
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SAÚDE
Combate a dengue na comunidade Evento na Vila Olímpica da Maré conscientiza moradores sobre as causas da doença HÉLIO EUCLIDES
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omo já diziam Lulu Santos e Nelson Motta, nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, já que na década de 1980, um famoso mosquito começaria a mudar totalmente nossas vidas: o Aedes aegypti. Hoje conhecido mundialmente como o mosquito transmissor da dengue, ele deposita seus ovos em água limpa e parada. Segundo o entomologista da Fundação Oswaldo Cruz Ricardo Lourenço, as pessoas ainda não estão muito conscientes do risco da dengue, mesmo com a ocorrência de muitas mortes. “Para ter impacto maior no controle da doença, deveriam ser feitas campanhas intermediárias no inverno no auge da seca, quando o mosquito está recolhido, e não apenas no verão”, afirma. A dengue se instalou no Brasil em 1986, quando atingiu estágio de epidemia, e com o tempo foram realizadas campanhas de combate a essa doença. Em novembro aconteceu na Vila Olímpica da Maré mais uma mobilização para o combate ao mosquito transmissor da dengue. A iniciativa foi da Secretária de Saúde do Rio de Janeiro em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Social de Assistência a Saúde (IDASE), a Vila Olímpica da Maré, o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) e a rádio comunitária da Maré. Todos mobilizados com o objetivo de combater o mosquito transmissor da dengue e conscientizar o morador. No local foram espalhadas tendas que falavam sobre a dengue, as doenças sexualmente transmissíveis e os moradores ainda tiveram atendimento odontológico e puderam verificar a pressão arterial e a glicose.
Mesmo com mobilizações as pessoas ainda deixam água limpa acumulada permitindo, a proliferação dos ovos
Medidas básicas de Prevenção • Ralos Abertos: jogar CLORO puro, Sal ou Creolina três vezes por semana e tapar com tela. • Trilhos de Box de Banheiros: escovar, pelo menos três vezes por semana. • Vaso Sanitário sem uso ou tampa: tampar e jogar CLORO puro. • Copos ou recipientes com água: tampar ou esvaziá-los. • Vasos e jarros de plantas, xaxim: eliminar vasos com água. Colocar areia nos pratos das plantas. • Calhas entupidas: desentupir e escovar com água e sabão. • Caixa d’água e tambor sem tampa: lim-
par a cada seis meses e tampá-los. • Vasilhas de água para os animais: escovar todos os dias e trocar a água. • Garrafas, frascos, latas, potes vazios: deixar virados de boca para baixo. • Aquário sem tampa ou tela: tampar ou colocar tela de proteção. • Pneus e outros entulhos velhos: guardar os pneus, limpos e secos em lugar coberto. • Bromélias: não jogar água em cima delas. Furar as folhas que acumulam água. Fonte: http://www.cefetsp.br/edu/ jornal/2003maioDengue.html
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ESPORTES
FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES
Campos da Maré
Seleção de fotos de alguns dos maiores palcos de futebol do bairro
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as últimas duas edições foram mostrados quatro campos da comunidade: Marcílio Dias, Praia de Ramos, Paty e Mania de Bola. E agora vamos encerrar essa série, com um álbum de fotos, com os campos localizados no Rubens Vaz, Nova Holanda, Nova Maré, Baixa do Sapateiro, Vila do Pinheiro, Vila do João e Conjunto Esperança.
Campo da Rubens Vaz: uma arena sintética, localizada ao lado do CIEP Hélio Smidt Campo Romarinho: Localizado dentro da Vila Olímpica é o único espaço de grama natural da Maré
Campo Carecão da Nova Holanda: fica ao lado do ginásio da Vila Olímpica, e lá é disputado o III Campeonato Amador de Futebol 2007
Campo Esperança I: encontra-se ao lado da Escola Municipal Teotônio Vilela, onde é o Centro Esportivo Social Comunitário Educacional Alex dos Santos Fortino
Campo Pinheirão: estar no final da Via B/3 e é onde treina as crianças do Projeto Escolinha 2002
Campo Toca da Raposa: Entre a Vila do Pinheiro e o Conjunto Pinheiro, o espaço leva o mesmo nome do centro de treinamento do Cruzeiro, em Belo Horizonte
Campo da Praça do 18: bem em frente a 30ª RA, e o local escolhido para treinamento do Real Maré
Campo da Vila do João: soçaite sintético, se destaca por reunir um dos maiores campeonatos de veteranos do bairro
Campo Kalada Bar: também conhecido como Esperança II, é onde joga o time que leva o nome da arena soçaite e se encontra a pelada do São José
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MUSICAL
ARQUIVO PESSOAL
Jeremias Di Caetés lança seu primeiro Cd Cantor procura profetizar através de mensagens musicadas
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eremias de Jesus Santos, de 26 anos é um músico nato. Com três anos já dava os primeiros passos na música. Sendo incentivado por todos, que em seus aniversários sempre o presenteavam com discos. Dessa forma em junho de 2007 nasce ‘O Triunfo’ título do seu Cd gospel, que acompanha dez canções, sendo quatro compostas por ele. E ainda como brinde cinco playbacks (músicas para karaokê). Jeremias teve uma trajetória de início de vida difícil. No segundo ano de vida passou pela perda de sua mãe, e logo em seguida o do seu pai. Foi morar com a irmã, que estava grávida, e não tinha como dar tanta atenção. Encaminhado para uma residência de uma irmã da igreja, foi adotado num lar cristão. E dessa forma tinha que viver conforme o significado de seu nome: O elevado por Deus, que se somou a um sobrenome artístico de evidência, Di Caetés. No final de 2004 começou a produzir o seu sonho. “Não
foi fácil, não recebi patrocínio de nenhuma empresa. Então criei meu selo independente, o Caetés Produções Musicais, e mostrei que cantar é exprimir sentimentos”, diz. Como se trata de um cantor jovem, se espera muitas vezes músicas agitadas. Contudo o seu repertório traz canções tranqüilas. “O que atrai pessoas é o diferente, eu quis trazer um louvor que liberta e restaura, e também um presente para minha igreja”, comenta. Jeremias já divulga o seu trabalho em diversas rádios, recebendo muitos elogios. Mas o seu lado compositor também se destaca em seu ministério, como gosta de ser chamada a sua carreira. “Na canção Minha Oferta, eu quis mostrar Deus em primeiro lugar, é triunfar sobre as diversidades da carne, do pensamento e das atitudes. O triunfo é Deus em evidência”, finaliza. O Cd pode ser adquirido nas Lojas CPAD, algumas Americanas, na Assembléia de Deus de Caetés, ou pelos telefones 8602-1480 ou 3105-3742. Pelo preço de R$ 15,00.
Jeremias: supera as dificuldades e vira cantor
RUA
Largo IV Centenário Um pouco da história do bairro Maré
HÉLIO EUCLIDES
S
e eu perguntar onde fica a Rua União, na Baixa do Sapateiro você saberia responder? Talvez os mais antigos moradores da Maré saibam, mas esse era o antigo nome do Largo IV Centenário. Na década de 60 o governador Carlos Lacerda recebeu solicitações dos moradores do morro para a construção de um colégio em um terreno que ficava entre as ruas União e Nova Jerusalém. Ali existia um campo de futebol, onde os moradores jogavam aos finais de semana, mas a escola para eles seria bem melhor. Firmando uma parceria onde os moradores entrariam com a mão de obra e o governo com o recurso financeiro, a escola foi construída e inaugurada em 1965, com o nome de E.M. IV Centenário. Uma homenagem aos 400 anos da Cidade do Rio de Janeiro, tornando-se uma referência de ensino da região da maré. Conversando com os moradores do lar-
Apesar dos problemas, em dia de sol, o largo IV Centenário ainda é um lugar tranqüilo para os moradores
go, conhecemos Dil, um dos moradores mais antigos que está por ali desde 1962. Ele diz que por ali há muita tranqüilidade, mas muitas coisas ficaram esquecidas. Ainda existem postes de madeira, não tem bueiros para a escoação da água e não se pode lavar nada na rua. Se chove, ficam várias poças, pois a água não tem destino. O presidente da Associação de Moradores, Charles Guimarães, disse que vem cobrando
uma solução à Cedae e que ainda não obteve nenhuma resposta. Quanto aos postes, vários ofícios foram enviados para a Light informando o risco que os moradores correm com o mal estado das madeiras, mas nada até agora. Fora esses problemas, os moradores dizem que a diversão é garantida aos finais de semana. Amigos se reúnem no famoso cantinho do xodó para assistirem jogos, fazer churrascos e até shows de rock.
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Campo Minado DESTRUIU nossa esperança, Calou a nossa voz, Encurtou a nossa distância, Nesse dia tão feroz
CARTAS As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)
O culpado está livre, O meio em nosso olhar, Usuário de terno e gravata, Tentando nos enganar HOJE as pessoas querem gritar, Jogar pedras ao vento, Bater no seu próprio corpo, Nesse dia violento MÃES com lágrimas de sangue, Pais com vingança nas mãos, O mundo se encontra na desigualdade A existência se une a destruição DIGA as pessoas que vai resolver, Que está tudo controlado, Nos engana com suas promessas, Mais vivemos em campo minado
Ela está nas suas mãos. Só é preciso saber usá-la.
Roberto N. Alves
Errata Na última edição O CIDADÃO foi a Paróquia Jesus de Nazaré e a Paróquia Sagrada Família, mas os padres não foram encontrados para comentar a pesquisa que coloca os católicos a favor do aborto, o que ocasionou a reclamação de alguns sacerdotes da comunidade.
Que parte da vida de cada um cabe ao destino? E aos outros? E a si mesmo? Em A Chave do Segredo você conhecerá os princípios e processos para realizar uma comunicação eficiente com o seu mundo interior. Descubra esse poder, que todos têm e não sabem utilizar, e controle cada acontecimento de sua vida.
O jornal da Maré quer saber como ele é utilizado por você. Se você o aproveita, nos diga como. Telefone: 3868-4007 E-mail: jornaldamare@yahoo.com.br
Nas livrarias.
www.ediouro.com.br
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PICOLÉ
© Revistas COQUETEL 2007
Piia P ad d as Fábrica do papai
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- Comporte-se, porque Deus, que está em todo lugar, está vendo seu comportamento. - Deus está em todo lugar? Até na fábrica do pai? - Até na fábrica do pai! - Mentira, “fessora”, meu pai não tem fábrica.
O esperto da esmola No pátio da igreja, o vigário deu uma bronca em um espertalhão que pedia esmola: - Você não tem vergonha?! Mês passado você se fazia de cego. Hoje faz papel de paralítico! - Não é para ficar com raiva, reverendo! O senhor deveria se alegrar! É que recuperei a vista... Mas a emoção de ser curado tirou-me os movimentos da perna!
Mãozinha amiga Hélio se dirige ao seu supervisor no escritório: - Chefe, amanhã vamos fazer uma faxina pesada em casa e minha mulher precisa de mim para arrumar e carregar as coisas no sótão e na garagem. -Estamos com falta de pessoal, Hélio – respondeu o chefe. – Não posso lhe dar folga amanhã. - Obrigado, chefe – diz Hélio. – Sabia que podia contar com o senhor!
É RECORDE,
Perdido no interior
É GUINNESS
- Ô meu chapa! Qual é o caminho para Itu? - Sei não! - E a estrada para São Roque, qual é? - Sei não, moço! - E esta estrada, onde é que ela vai dar? - Tô sabendo não, meu sinhô! - É rapaz! Você não sabe nada mesmo, hein? - É, seu moço, mas eu não to perdido, não!
Solução
1611 NOVOS RECORDES! 15 BRASILEIROS! O
MELHOR PRESENTE DE NATAL.
FOTOS DE REDE MEMÓRIA DA MARÉ
O surgimento da Maré
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Maré foi ocupada por um grande número de imigrantes, em sua maioria, nordestinos que deixaram famílias, amigos, casas, esperançosos em encontrar oportunidades de uma vida melhor no Rio de Janeiro. Após o sucesso na ocupação do Morro do Timbau, na década de 40 do século passado, as moradias em terra firme se espalharam pela Baixa do Sapateiro até o momento em que a terra faltou e a necessidade de moradia motivou a construção de barracos sobre as águas da Baía de Guanabara, as palafitas. No início da década de 50, as palafitas já se tornariam marca registrada na Maré, principalmente nas comunidades da Baixa do Sapateiro e Parque Maré. Marca que representava a luta das pessoas que aqui chegavam e vivenciavam o descaso do governo, que não implementava na Cidade do Rio de Janeiro, planos habitacionais que possibilitassem a todos o direito a moradia digna. As construções das palafitas foram verdadeiros exercícios de trabalho coletivo, onde a solidariedade tinha que falar mais alto. A foto em preto e branco retrata um pouco do processo da construção de uma palafita. Dois homens e duas crianças parecem descansar sobre as primeiras tábuas utilizadas para fazer o piso do barraco. Essa foto, exposta no Museu da Maré, espaço que você, amigo(a) leitor(a), não pode deixar de visitar, nos remete a um dos moradores que construíram
As primeiras casas da Maré eram feitas de palafitas
O barraco é uma das muitas obras expostas no Museu da Maré que está aberto a visitação dos moradores
várias palafitas, o Sr Luiz Gonzaga, morador da Vila do Pinheiro, que faleceu em agosto de 2007. Ao Sr. Luiz, nessa oportunidade, registramos o reconhecimento por sua luta e a de tantos outros que não pouparam esforços em garantir moradias para os seus familiares e aos que aqui chegaram sem ter onde morar. A narrativa do Sr. Luiz Gonzaga em uma entrevista para o Programa de História Oral da Rede Memória da Maré no ano de 2004 reflete aquela realidade: “[...] A gente fazia mutirão. [...] é isso que eu acabei de falar. ‘Vamos fazer ali, vizinho ao meu barraco que aí eu te dou uma força. Eu te ajudo. Já acabei o meu barraco. Tem umas tábuas já que vão servir’ [...] Então ali a gente se dava bem e ajudava a partir daquele momento... a gente ajuda o outro. É como se fosse uma comunidade unida[...]” O relato explicita uma das inúmeras situações de solidariedade na história de ocupação da Maré. A professora da UFRJ Lilian Fessler Vaz, que realizou várias pesquisas sobre as comunidades mais antigas da Maré, declarou sua admiração pelo que aconteceu em nosso bairro: “O chão que é dado, aqui ele teve que ser construído. Fazer a casa sem ter o chão é algo absolutamente incrível. O processo de ocupação da Maré tem um caráter histórico.” O movimento da maré, a vegetação, onde predominavam os manguezais contribuíram para dificultar a construção das palafitas. Outro problema eram os afundamentos das bases, sobre as quais eram construídos os barracos, exigindo um reforço constante para que suportassem o sobe e desce da maré. Para dar maior sustentação às bases, primeira etapa da construção, muitos moradores subiam nos ombros de outros a fim de obter uma altura satisfatória no momento de fincar as madeiras no mangue.
Todo esse esforço por vezes era ignorado pelas autoridades. A Guarda Municipal, por exemplo, realizou várias demolições. Passavam cabos de aço, presos em tratores, em torno de alguns barracos para derrubá-los. Os moradores então criaram estratégias para evitar as ações da Guarda Municipal. Construíam as palafitas em mutirão durante toda a noite e em seguida mulheres e crianças ocupavam as casas, com a certeza de que assim poderiam evitar as demolições. As construções continuaram e os moradores se familiarizando com os movimentos da maré e todas as adversidades, facilitando o surgimento de novas moradias. As palafitas da Maré, acabaram se tornando um símbolo da miséria nacional, foram erradicadas no início dos anos 80, através do Projeto Rio, que consistia em aterrar uma grande área do espelho da Baía de Guanabara para a construção de conjuntos habitacionais. Assim surgiram as comunidades Vila do João, Conjunto Esperança, Vila do Pinheiro e Conjunto Pinheiro. Doe ou empreste fotos antigas. Traga algum objeto que, para você, represente a História da Maré, ou simplesmente venha com a sua família visitar o Museu da Maré. Participe! O Museu é nosso! End: Av. Guilherme Maxwell, 26 – Maré. (em frente ao SESI) 2ª à 6ª das 10h às 13h e das 14h às 18h. Sábado das 10h às 14h. Este espaço representa a história dos moradores da Maré. Envie sua história, perguntas e sugestões para a Rede Memória na Casa de Cultura da Maré. Endereço: Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748 ou para o e-mail: contato@ceasm.org.br. A matéria referente a esta página é de exclusiva responsabilidade do projeto Rede Memória.