Cid_54

Page 1

O Cidadão

1

RIO DE JANEIRO • ANO IX • Nº54 • FEVEREIRO/MARÇO 2008

www.jornalocidadao.net

Lazer da Maré Mesmo com espaços para descansar, o morador encontra locais em péssima situação, caso da Lona Cultural na Praia de Ramos

3

Ensinar e morar na Maré

6

Felipe Gomes, o atleta da Maré em Pequim

16 19 Crochê, arte que retorna

Óleo de cozinha e o ambiente


O Cidadão

2

EDITORIAL

Lazer: um ponto de discussão

O

CIDADÃO, nessa edição, discute a existência de áreas de lazer na Maré e como o morador percebe esses locais. Segundo o Censo Maré, são dezesseis comunidades que compõem o conjunto de favelas, totalizando mais de 130 mil moradores. Então, até que ponto, o morador tem a sua disposição locais para relaxar e para seus filhos brincarem, como praças. Um outro ponto importante a ser levantado é com relação ao salário mínimo. Será que atualmente ele cobre todas as necessidades do trabalhador, incluindo o lazer? Todas as pessoas têm direito a um momento de descanso, sendo ele fundamental para a reposição das energias, permitindo assim, que elas voltem bem e saudável para as suas atividades normais, como o trabalho. Além disso, o lazer é muito importante para as crianças. Para elas, um lugar disponível para correr, soltar pipa, jogar bolinha de gude, e outras brincadeiras é indispensável. Sendo esse, um dos momentos de socialização e crescimento pessoal, ajudando essas crianças a ser tornarem adultos responsáveis.

O Jornal também trás outras matérias de grande importância para a vida do morador, como a necessidade da reciclagem do óleo de cozinha. Visto que hoje, a questão ambiental é uma das principais discussões no mundo. Por isso, é necessário que o morador saiba quais as conseqüências ao se jogar óleo nas redes de esgoto e qual a melhor forma de lidar com esse material. O artesanato também está presente na nossa edição com o crochê, mostrando um pouco da realidade de quem utiliza a linha para ganhar a vida. Já na editoria de educação falamos um pouco da história dos professores que lecionam nas escolas da Maré e também são moradores da comunidade. Além, é claro, da luta deles para melhorar o ensino no nosso bairro. E ainda, vamos contar um pouco da história da Rua José Moreira Pequeno, a primeira Rua da Maré vista pelos motoristas que passam pela Av. Brasil no sentido Campo Grande. O lugar tem histórias interessantes que todos devem conhecer. Boa Leitura!

O CIDADÃO é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604

Direção Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Maristela Klem • Lourenço Cezar Coordenadora Geral: Rosilene Matos Editora: Cristiane Barbalho Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Revisão: Audrey Barbalho Administradora: Fabiana Gomes Reportagem: Cristiane Barbalho Gizele Martins • Hélio Euclides • Julie Alves Renata Souza • Rosilene Matos Colaborou nesta edição: Rede Memória Jornalista Responsável: Renata Souza (Reg. 29150/RJ) Ilustrações: Jhenri Publicidade: Maria Matilde Projeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra

ELES LÊEM O CIDADÃO

Diagramação: Fabiana Gomes FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

Criação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço Foto de Capa: Cristiane Barbalho Repórter Fotográfico: Hélio Euclides Distribuição: Maria Matilde (coordenadora) Ana Carla • Charles Alves Givanildo Nascimento • Raio Nonato José Diego • Caíque Mendes • Luiz Fernando Fotolitos / Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares

Acima, Sandro Marcio, de 31 anos, Arquivista e Morador da Vila do Pinheiro. Ao lado, Rogéria Silva, de 35 anos, Comerciante e Moradora da Vila do Pinheiro.

A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso

Tel:3882-8200 / Fax:2280-2432

Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Site: www.jornalocidadao.net Página virtual: www.ceasm.org.br


O Cidadão

3

EDUCAÇÃO

Como morar e educar Professores além de residirem na Maré, contribuem com a educação de moradores HÉLIO EUCLIDES

“T

estemunho que não deve faltar em nossa relação com os alunos a permanente disposição em favor da justiça, da liberdade e do direito de ser”. Essa frase do educador Paulo Freire, do livro “Professora sim, tia não”, revela a posição do professor, e diz muito mais ao docente que mora e leciona no mesmo bairro. Aqui na Maré encontramos vários mestres na situação em que educar valoriza a qualidade de vida de seus vizinhos. Quem olha para Ernani Alcides, de 50 anos, pedalando pelas ruas de Rubens Vaz, não imagina que ele está indo para o Ciep Hélio Smidt. Lá, o professor amplia o horizonte de crianças do ensino fundamental. “Escolhi esse colégio porque há 14 anos era uma estrutura ocupada por sem tetos, as salas eram usadas como dormitório, e lutamos para que o prédio fosse utilizado para sua real função”. Ele completa comentando o medo de outros professores. “Quando sugeri o Hélio (escola) para lecionar, vi colegas agradecendo, pois não seriam eles que viriam para a Maré”, diz Ernani. E quando esse desejo de educar em seu bairro de origem contagia irmãos. Esse é o caso do diretor e professor de matemática e física, João Lanzellotti, de 45 anos, que trabalha nos Cieps Professor César Pernetta e Operário Vicente Mariano, de seu irmão Roberto Lanzellotti, de 39 anos, professor de geografia, do Ciep César Pernetta e de Stella Lanzellotti,

Professor Ernani Alcides utiliza a bicicleta no transporte da residência para o ciep Hélio Smidt no Rubens Vaz

de 44 anos, professora de apoio a direção, da Escola Municipal Paulo Freire. João já deu aula em vários bairros, mas diz que a criança da Maré tem diferencial, são carinhosos, acolhedores, atentos, participativos e aceitam as propostas. Ele acha difícil lutar pela educação no próprio bairro. “Esbarramos nas políticas públicas, e na desagregação da família. Hoje para o aluno só existe a escola e a rua”, desabafa. Seu irmão Roberto algumas vezes troca o quadro negro pela manutenção da escola. “Sou morador e conheço as dificuldades. Sinto a necessidade de ajudar a deixar

arborizado. Me vejo importante, por ser professor e da comunidade”, afirma. Sua irmã Stella reconhece que fica mais fácil ensinar no próprio bairro que mora. “Aqui vejo o que as crianças passam, nos interagimos. Como ficar sem dormir por causa de tiros. Conhecendo bem, apagamos o que dizem das comunidades pobres”, comenta.

Os prós e contra da proximidade A ponte entre o professor, pais e aluno fica mais próxima, quando todos se esbarram no seu dia-a-dia. “Diariamente conversamos, enfrentamos junto o preconceito, pois a única diferença entre os alunos da comunidade e os outros são as oportunidades desiguais. Os sonhos e desejos são os mesmos”, revela Ernani Alcides. Contudo ele assume que nem todos têm o mesmo pensamento. “Certa vez um professor me disse que perdia a privacidade, e que era professor só na escola. Eu não concordei, e respondi que é normal conversar com todos, e que fazendo isso só sou transparente”, fala. O diretor João Lanzellotti encontra situações contra, mas vê muitos prós. “O ruim é que muitas vezes misturam liberdade com amizade. Já o bom da matrícula próxima é que se gasta menos tempo, com uma facilidade de acesso. Além de se conhecer a Maré”, finaliza.


O Cidadão

4

INFORME INSTITUCIONAL

11 anos de Ceasm Em 2008, a ONG desenvolve oficinas culturais, na Casa de Cultura, para os moradores da Maré

ROSINALDO LOURENÇO

É

com grande alegria, amigo(a) leitor(a), que estamos comemorando os 11 anos do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré! O CEASM foi criado em 1997, por alguns moradores que tinham uma longa história de envolvimento nas lutas comunitárias no bairro da Maré. Quem acompanha o jornal O Cidadão sabe que o trabalho do CEASM está voltado para a educação e a cultura, buscando o desenvolvimento comunitário do local. Por isso, os projetos realizados pela instituição sempre valorizam a história do lugar e as memórias de seus moradores. O CEASM acredita que essa valorização é a base para o exercício da

“O trabalho do CEASM valoriza a comunidade” Vanessa Maria da Silva aluna do curso pré-vestibular cidadania na Maré. As pessoas conhecem a riqueza de sua história, se identificam com o lugar onde vivem e se organizam para reivindicar seus direitos. A luta pelo exercício da cidadania é sempre coletiva. Por isso, ao longo desses 11 anos, o CEASM vem investindo RODRIGO RAIDAR

Vanessa Maria é uma das alunas do pré-vestibular

Primeiro encontro de coordenadores dos projetos do Ceasm em 2008, no Morro do Timbau

em parcerias com os moradores, várias instituições públicas e privadas e com outras ongs. Dessa forma, estamos fortalecendo a articulação de redes sociais que valorizam o morador, enquanto agente de transformação da realidade local e global. Sobre o trabalho do CEASM, Vanessa Maria da Silva diz o seguinte: “Já fiz o curso de internet na Casa de Cultura da Maré e, atualmente estou fazendo o Curso Pré-Vestibular. O trabalho do CEASM valoriza a comunidade. O CPV vai me ajudar, assim como ajudou outros jovens a alcançar seus objetivos. Por enquanto, eu não sei o que quero, penso em fazer Administração, mas gosto muito de Biologia. Estou fazendo o acompanhamento de Orientação Profissional do CPV para descobrir a carreira que quero seguir”,diz. O Curso Pré-Vestibular e a Informática, dos quais Vanessa fala, são dois projetos muito importantes do CEASM. Mas, além desses, a instituição desenvolve mais seis projetos nas áreas de educação e cultura. Durante o primeiro semestre de 2008, em comemoração ao aniversário de 11 anos, apresentaremos esses projetos, seus parceiros e os resultados alcançados até agora. Vamos iniciar nossa apresentação por um projeto novo que ainda está com as inscrições abertas. Estamos falando das Oficinas Culturais de Dança, Música,

Teatro e Artesanato. Esse projeto está sendo desenvolvido na Casa de Cultura da Maré, que já é bem conhecida dos mareenses. A Casa de Cultura está localizada num espaço com cerca de 800m² e uma área construída de 668m², na Avenida

A luta pelo exercício da cidadania é sempre coletiva. (...), ao longo desses 11 anos, o CEASM vem investindo em parcerias com os moradores Guilherme Maxwell. Lá funcionava uma antiga fábrica de transportes marítimos, que pertence ao Terminal 1, empresa privada parceira do CEASM. Em 2007, nós participamos da seleção pública do Programa de Democratização Cultural, promovida pela empresa Votorantim. Somente 12 projetos foram selecionados em todo o Brasil. O único do Rio de Janeiro foi o nosso! E isso,


O Cidadão

5

- Vamos Comemorar! ARQUIVO CEASM

caro(a) leitor(a), é uma grande responsabilidade. As Oficinas Culturais oferecem diferentes linguagens artísticas para as comunidades da Maré. São ao todo 11 oficinas: street dance, jazz, ballet, expressão corporal, dança criativa, dança de salão, teatro,

As Oficinas Culturais oferecem diferentes linguagens artísticas para as comunidades da Maré artesanato, canto coral, percussão, teclado, violão e flauta. O objetivo do projeto é reforçar o espaço da Casa de Cultura com a participação dos moradores e a criação de novos produtos culturais, a partir dos conhecimentos das comunidades. O projeto criou uma verdadeira rede de parcerias, pois reúne duas empresas

Fachada da Casa de Cultura da Maré, antiga fábrica de transportes marítimos, na Av. Guilherme Maxwell

privadas, os moradores, o CEASM, instituições locais e o poder público, por meio da Lei de Incentivo do Ministério da Cultura. Além disso, os profissionais envolvidos no projeto formam um grupo entrosado e que desenvolve o trabalho de forma competente e comprometida com os objetivos do CEASM e com a valorização das comunidades da Maré. As inscrições para as Oficinas Culturais ainda estão abertas de segunda à

sexta, das 8h às 21h, e aos sábados, das 8h às 14h, na Casa de Cultura da Maré. Ceasm Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Tel.: 2561-4604 Casa de Cultura da Maré Av. Guilherme Maxwell, 26 - rua da escola Bahia Tel.: 3868-6748


O Cidadão

6

PERFIL

Prata da casa rumo à Pequim Felipe Gomes é um dos atletas selecionados para a paraolimpíada que acontecerá na China HÉLIO EUCLIDES

C

om os olhos da alma, o atleta Felipe Gomes, de 21 anos, venceu obstáculos e premiou o Brasil e a Maré com medalhas nos jogos olímpicos Parapanamericanos. Divertido e sorridente, foi dessa forma que Felipe Gomes recebeu “O CIDADÃO” em sua casa no Parque Rubens Vaz. Acompanhado das mulheres de sua vida, mãe, irmã, esposa e sobrinha. Felipe mostrou que a convivência familiar garantiu forças para lutar por seus sonhos e ser vencedor. O atleta, que convive com a deficiência visual, conquistou nos Jogos Parapanamericanos de 2007, realizado no Rio de Janeiro, a medalha de prata nos 100 metros rasos e a de bronze nos 200 metros. O próximo desafio é garantir vaga na seleção brasileira que vai competir nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, na China. Felipe já está entre os 26 atletas pré-convocados para a seleção que possui 48 vagas em Pequim. “As competições serão em agosto, mas os treinos já começaram. Todos os meses eu me reúno com os pré-convocados para exames médicos e treinos. Estou bastante confiante”, disse o modesto atleta que é o terceiro melhor do mundo na categoria 100 metros rasos. Essa marca foi conquistada no Mundial ocorrido em junho do ano passado, em São Paulo.

“Eu criei meu filho para que não fosse digno de pena. Sempre estimulei sua independência Denise Ramos Mãe de Felipe Gomes Felipe iniciou sua vida esportiva no Instituto Benjamim Constant, onde aprendeu o braille, sistema de leitura para pessoas com deficiência visual. No Instituto jogou futsal e fez atletismo. A partir daí, conquistou um currículo de invejar seus concorrentes. Em dezembro de 2007, foi medalhista de ouro no Meeting Internacional, competição que reúne os melhores atletas do mundo. Em 2005, bateu o record brasileiro na prova dos 100 metros rasos. No Mundial em São Pau-

Felipe Gomes posa com suas medalhes. Ele é um dos atletas que participaram do parapanamericano 2007

lo, conquistou o ouro no revezamento 4 por 100 e o bronze nos 100 metros . Nosso atleta mareense carrega nas costas, desde 2003, o título de tetra campeão brasileiro nos 100 metros rasos. A garra é uma das características mais marcantes de Felipe. No Parapan, o atleta sofreu uma séria lesão dias antes da prova dos 200 metros. Passou uma noite em tratamento intensivo na clínica de fisioterapia. No dia da competição, dois dias após o tratamento, con-

quistou o bronze nos 200 metros . “Eu tive muito apoio da torcida brasileira. Minha família e meus vizinhos iam em massa assistir aos jogos. Fui muito estimulado”, diz Felipe que também competiu na categoria salto à distância, mas precisou abandonar a prova porque estava sentindo muitas dores. “Eu não esperava que meu filho chegasse tão longe. Estou muito feliz. Eu criei meu filho para que não fosse digno de pena. Sempre estimulei sua independência”, diz a mãe coruja Denise Ramos, de 41 anos. O maior desejo de Felipe é conseguir se manter financeiramente através do esporte. Ele sonha em comprar uma casa para sair do aluguel. Felipe está sem patrocínio e recebe uma bolsa atleta, concedida pelo governo federal. A Maré e o Brasil estão torcendo por você!


O Cidadão

7 ANÚNCIOS


O Cidadão

8 ANÚNCIOS


O Cidadão

9

RUA

Primeira rua da comunidade Passando de carro pela Avenida Brasil, a rua José Moreira Pequeno, é o abre alas da Maré FOTOS DE HÉLIO EUCLIDES

Q

uem passa em frente ao prédio anexo da Fiocruz não percebe uma placa mal conservada, na qual se indica a Rua José Moreira Pequeno e o começo do Conjunto Esperança. A longa rua vai até a praça da comunidade, e contêm além de prédios, igrejas, antenas de celular de três operadoras, comércios em ambos os lados e casas de até quatro andares. Mas no pas-

“A rua é boa, mas quando chove vira um rio, devido ao lixo espalhado na rua” Humberto Morador sado as coisas eram bem diferentes. “Houve uma época que só se via mato, alguns apartamentos e a rua não era asfaltada. Hoje há prosperidade com muitas lojas”, comenta a moradora, Maria Creuza, de 54 anos. A presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança (Amace), Marilene Lopes, de 61 anos, acha importante esse resgate histórico. “Tudo vai melhorar, quando todos acharem importância na formação da comunidade”. Ela exalta o valor da rua para o bairro. “Ela é muito importante, tem 101 pontos de comércio e indústria, muita gente desconhece esse fato. Como todo lugar precisa de continuidade na con-

José Moreira Pequeno é a maior rua do Conjunto Esperança e concentra moradia, comércio e lazer

servação, especialmente na iluminação dos postes”, fala a presidente da Amace. Mas, com o progresso vêm as dificuldades, um problema visível é a sujeira causada pelas folhas de amendoeira. Apesar dos latões de lixo particular que se encontram na rua, há reclamações. “Tem que melhorar, especialmente na limpeza. Aqui não tem gari comunitário”, reivindica o morador e comerciante, Edivan de Souza, de 32 anos. Essa ausência de limpeza causa outras perturbações. “A rua é boa, mas quando chove vira um rio, devido ao lixo espalhado na rua”, revela o cidadão que se identificou apenas por Humberto, de 35 anos. Contudo o morador improvisa soluções. “Suja não pode ficar, então para amenizar cada um limpa sua frente”, diz a recepcionista

Sujeira espalhada pela rua do Conjunto Esperança é uma das grandes preocupações dos moradores

da academia, Mônica Cristina, de 19 anos. Mas não só a sujeira incomoda. “Aqui só é ruim quando os policiais entram varados”, relata Bruno Ramos, de 28 anos. Respostas às reclamações No assunto coleta domiciliar não há problema. “Caminhão da Comlurb passa todos os dias”, explica a presidente da Amace, Marilene Lopes. Sobre a ausência de varredores, o diretor financeiro do projeto Gari comunitário, Rogério Lima, de 43 anos, informou que no contrato com a Comlurb são 120 garis para tomar conta da Kelson até o Conjunto Esperança. Sendo isso no papel, pois estão reduzidos a 72 garis. “Quantidade insustentável, e por isso a população sofre. Não podemos admitir sem a prefeitura autorizar, a promessa é que depois de junho o quadro mude”, conclui. O Gestor do projeto Eletricista Comunitário da Rio Luz, José Gomes Barbosa, de 45 anos, comunicou estar com falta de caminhão para realizar reparos. Outro problema é que algumas luminárias ainda utilizam vapor de mercúrio, que falta no mercado. Afirma que em breve dará atenção às 16 comunidades, trocando as lâmpadas pela de sódio, mais moderna e econômica. “Isso acontecerá gradativamente, trabalho a ser realizado pelos nossos três eletricistas e três ajudantes”. E completa que o morador deve ir a associação de sua comunidade ao encontrar postes com lâmpadas queimadas, esta enviará ofício solicitando o serviço de reparo, afirma.


O Cidadão

10 ACONTECEU NA MARÉ

Diversidade sexual nas favelas A liberdade sexual foi o tema posto em debate no lançamento da campanha: “A Maré contra a homofobia dst/aids! Diversidade sexual e paz nas favelas.”, no dia 23 de fevereiro no Complexo da Maré. A campanha é encabeçada pelo grupo Conexão G, formado por jovens moradores das comunidades da Maré. Segundo a organização, o objetivo da campanha é promover uma manifestação pública em defesa do direito à liberdade de orientação e expressão sexual como garantia dos Direitos Humanos. “Essa mobilização também é para pôr em discussão a questão da aids, pois sabemos que na Maré vem aumentando cada vez mais o número de pessoas infectadas pelo vírus do HIV.”, diz o presidente do Conexão G, Gilmar Santos. O Conexão G inova ao propor a discussão dentro das favelas, locais onde, de

FRANCISCO VALDEAN

Gilmar, presidente do Conexão G, faz a abertura da mesa políticas públicas contra a homofobia

acordo com o grupo, a discriminação e a intolerância são marcantes. “Queremos incluir a luta contra dst/aids e homofobia, na agenda política dos movimentos de favelas como meio de combater a exclusão de líderes GLBTTs (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais) e de pessoas que são soropositivas nesses espaços.”, diz Gilmar. Desse modo, é possível conscien-

tizar a comunidade acerca dos benefícios do respeito à diversidade como dimensão importante na luta pela paz e justiça. “Valorizamos o enfrentamento pacífico das práticas discriminatórias que orientam as ações violentas, como por exemplo, a violência policial, a violência sexual, o racismo e a violência de pessoas que são soropositivas.”, completa Gilmar.

REPRODUÇÃO

E POR FALAR EM...

Instituições comunitárias da Maré Assoc. de Moradores e Amigos do Conjunto Esperança Endereço: Rua Manoel Falcão A. Maranhão, 129 - Conjunto Esperança – Maré – CEP: 21041-615 Telefone: 2230-3373 (contato) Ano de fundação: 1981 Associação de Moradores da Vila do João Endereço: Rua 14, 224 - Vila do João – Maré – CEP: 21040-361 Telefone: 2290-5878/ 3104-9875 Ano de fundação: 1987 Associação de Moradores do Parque Ecológico da Vila do Pinheiro Endereço: Via A-2, nº 2 - Vila do Pinheiro – Maré – CEP: 21042-020 Telefone: 2230-1235/ 3104 8172 Ano de fundação: 2000 Associação de Moradores e Amigos da Vila do Pinheiro Endereço: Via B-9, s/nº - Vila do Pinheiro – Maré – CEP: 21042-020

Telefone: 2230-3028 Ano de fundação: 1987 Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas Endereço: Av. Bento Ribeiro Dantas, 100 Bento Ribeiro Dantas - Maré - CEP: 21042-000 Telefone: 2598-5980 / 2598-5851 Ano de fundação: 1995 Associação de Moradores do Morro do Timbau Endereço: Rua dos Caetés, 131 - Morro do Timbau – Maré – CEP: 21042-070 Telefone/FAX: 2560-1353 Ano de fundação: 1954 Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro Endereço: Rua Nova Canaã, 8 - Baixa do Sapateiro – Maré – CEP: 21040-560 Telefone: 2290-1092 / 3977-5859 Ano de fundação: 1959 Assoc. de Moradores do Con-

junto Habitacional Nova Maré Endereço: Rua Tancredo Neves, s/nº bloco 100 loja 5 – Nova Maré – Maré CEP: 21043-230 Telefone: 2598-7413 / 3881-6182 Ano de fundação: 1998 Associação de Moradores do Parque Maré Endereço: Rua Flávia Farnese, 45 - Parque Maré – Maré – CEP: 21040-450 Telefone: 3105-6930 Ano de fundação: 1960 Associação de Moradores e Amigos de Nova Holanda Endereço: Rua Sargento Silva Nunes, 1008 - Nova Holanda – Maré – CEP: 21044-240 Telefone: 3105-7148/ 7842-3039 Ano de fundação: 1979


O Cidadão

11

GERAL

Os locutores da comunidade Eles buscam uma inclusão social dos moradores da Maré com os meios de comunicação HÉLIO EUCLIDES

B

asta passearmos pelas estações de rádio, que lá estão eles para alegrar os nossos dias. O talento e o sucesso dos locutores pode ser medido pela audiência de seus programas.Uns são jovens, outros mais experientes, mas quando falam no microfone a linguagem é a mesma, pois eles procuram ter com os ouvintes da rádio a mesma intimidade que tem com as pessoas nas ruas. Esse é o caso do jovem Alexandre Master que apresenta um programa diário na rádio do Parque União, tocando ritmos variados. Para ele, é muito gratificante trabalhar na comunidade onde mora. “Os moradores e amigos comentam, o retorno é imediato. É muito bom andar pelas ruas e saber que as pessoas gostam do que você fala”, diz. E completa. “O lado negativo é a falta de privacidade, além do assédio que sofremos”.

Locutores de rádios comunitárias na Maré, Agnaldo, à esquerda e Alexandre, à direita mostram a força do veículo

Em suas mensagens, Alexandre procura passar que há muitas pessoas talentosas nas comunidades. Segundo ele, deveria haver um registro no sindicato para os locutores comunitários. “Os nossos jovens poderiam ser aproveitados em projetos nas rádios, aprendendo a operar equipamentos, assim sairiam das ruas”, completa. Com um pouco mais de experiência Agnaldo Leandro trabalha há 20 anos como locutor. Seu programa também é diário

em uma rádio no Morro do Timbau, onde ele só toca clássicos e sertanejos. Ele já passou por várias rádios consagradas, como a antiga Manchete AM, mas é aqui que ele se sente realizado. “Os ouvintes daqui valorizam mais o nosso trabalho, e nos dão preferência”, conta. Segundo ele, para manter um programa é necessário que os comerciantes locais façam anúncios, o que acontece muito pouco. “Eles valorizam muito o trabalho de fora, deveriam pensar mais naqueles que dão lucros, que somos nós, um ajuda o outro”, afirma. Para Agnaldo, o trabalho é difícil. “Aqui nesse trabalho é salve-se quem puder, pois por não sermos regularizados, ficamos a própria sorte”, diz. Ele ainda tem em sua programação um quadro social que ajuda as pessoas perdidas nas comunidades a localizarem ruas e documentos.

CRISTIANE BARBALHO

SABOR DA MARÉ

Beirute de Atum Ingredientes:

Modo de preparo:

• 2 pães sírios • 1 lata de atum light • 1colher (café) de orégano • 1colher (sopa) de cebola picada • 2 colheres (sopa) de salsa • 2 colheres (sopa) de maionese light • 2 tomates picados em cubinhos • Alface • Sal e pimenta a gosto

• Misture o atum, a maionese, a cebola, o tomate e a salsa. • Tempere com sal, pimenta e orégano. • Corte os pães ao meio. Forre com uma folha de alface e cubra com o recheio. • Feche os Beirute e sirva em seguida. Fonte: livro: 50 lanches light de 15 minuto. Editora: Ediouro

Beirute de atum,uma opção de lanche saudável


O Cidadão

12

CAPA

CRISTIANE BARBALHO

Pracinha em um dos pontos mais importantes do Parque União, com lixo e brinquedos quebrados, reflete o descaso das autoridades com as áreas de lazer da comunidade

Os mareenses e o lazer

Como os moradores da comunidade percebem esses espaços dentro da Maré

O

dicionário define lazer como o tempo disponível de descanso ou folga. E todos os brasileiros, principalmente os trabalhadores, têm o direito de tirar um momento para relaxar fato que é garantido por lei. De acordo com a constituição brasileira, o salário mínimo brasileiro deve atender as necessidades básicas do trabalhador e de sua

“Ele é péssimo. É o pior que existe. Com R$ 415 por mês não dá para fazer nada” Valdenice Loriano Moradora da Nova Holanda família. Sendo elas entendidas como moradia, alimentação, educação, saúde, vestuário, higiene, transporte, previdência social e lazer. O direito é do trabalhador, mas o dever de oferecer locais para diversão e descanso é do Estado. Porém, para alguns moradores o atual valor do salário mínimo não permite

o acesso a maior parte do que é obrigado pela constituição. Essa é a opinião da moradora da Nova Holanda Valdenice Loriano Silva, de 43 anos, que considera baixo o valor fixado pelo governo. “Ele é péssimo. É o pior que existe. Com R$ 415 por mês não dá para fazer nada. Uma família não consegue passar o mês com um piso salarial desse, eles devem é passar fome. Imagina sair para se divertir”, diz. A moradora do Parque União Edna Alice de Lima, de 51 anos, tem a mesma opinião de Valdenice. Segundo ela, o salário mínimo não permite fazer nada. “Temos que pagar o aluguel, comer, comprar roupas e mistura para a comida, e com ele não dá para fazer tudo isso. Ainda mais agora que estou desempregada. Antes eu tinha a minha profissão, agora fico de um lado para o outro. Eu tenho que fazer ‘bico’ para pagar as minhas contas”, afirma. Mas não é somente o salário mínimo que deve garantir o lazer da população. Locais públicos, como praças, devem existir para garantir a diversão de todos. De acordo com o Censo Maré, realizado em 2000, as dezesseis comunidades da Maré possuem juntas mais de 130 mil moradores. Número esse que exige uma quan-

tidade maior de áreas de lazer para atender a todos esses habitantes. Para alguns moradores, a Maré tem poucos lugares para as brincadeiras e diversão das crianças e adultos. Essa é a opinião da moradora da Nova Holanda Maria das Neves, de 53 anos, que considera importante a existência de mais locais para lazer. “A Vila Olímpica é uma opção, pois lá tem aulas para adultos e crianças. Mas a pracinha aqui em frente a minha casa é uma vergonha, já que os brinquedos estão todos quebrados”, diz.


O Cidadão

13 HÉLIO EUCLIDES

Alternativas para o descanso dentro da comunidade existem, como a Vila Olímpica da Maré e a Lona Cultural Herbert Vianna, porém alguns moradores da comunidade não conhecem as atividades desses dois lu-

“Para mim não tem muita área de lazer na comunidade” Marilene Alves Moradora da Vila do Pinheiro gares. Esse é o caso de Marilene Alves, de 27 anos, moradora da Vila do Pinheiro que demonstrou desconhecer a Lona e as atividades existentes na Vila Olímpica. “Para mim não tem muita área de lazer na comunidade. A única coisa que faço é utilizar a ciclovia aos domingos com os meus filhos. Além disso, acho que deveria ter uma praça para as crianças brincarem. Aqui não tem nada disso”, completa.

Pracinha na ciclovia da Vila do Pinheiro; descaso fica evidente para quem, hoje, passa pelo local

Morador também da Vila do Pinheiro Wilberllan Barcelos, de 21 anos, reclama das condições de conservação da ciclovia localizada próxima a comunidade. “Lá é um ótimo lugar para a prática de exercícios, mas tem que tomar cuidado para não cair ou torcer o tornozelo, pois a pista atrapalha devido a suas irregularidades. Também ouvi falar da Lona Cultural Herbert Vianna. Me disseram que é um lugar legal, mas eu ainda não fui lá. Além disso, aqui na comunidade tem muito espaço para a construção de novas áreas de lazer, mas as vezes as pessoas deixam um pouco a desejar e não se interessam em construir nada”, afirma. Essa é a mesma opinião do morador da Baixa do Sapateiro Allan Rosa dos Santos, de 21 anos. Para ele, a comunidade está abandonada em relação a lazer e cultura. “Existem poucos atrativos para as crianças. A Praça do 18 é uma opção, mas o local não é mais seguro por causa dos conflitos entre facções. Acho que na comunidade deveria ter mais atrativos, como o tele-cine para todas as idades que existe na L o n a Cul-

tural que poderia ser mais freqüentado”, completa. Já na Praia de Ramos o grande atrativo dos moradores é o piscinão. O lugar ficou meses fechados, mas para a alegria de seus freqüentadores voltou a funcionar quinze dias antes do carnaval. Segundo Edio dos Santos, de 55 anos, um dos ambulantes cadastrados pela prefeitura, a média de freqüentadores do piscinão é de cinco mil pessoas por dia. “Aqui é muito tranqüilo, a água é limpa e

“Acho que na comunidade deveria ter mais atrativos, como o tele-cine (...) na Lona Cultural que poderia ser mais freqüentado” Allan Rosa dos Santos Morador da Baixa do Sapateiro depois que os ambulantes foram cadastrados o espaço melhorou muito em organização”, analisa. Wedna Barbosa, de 18 anos, moradora da Praia de Ramos tem a mesma opinião. “Só freqüento o piscinão. Aqui é ótimo no final de semana, quando está cheio. É bom principalmente para as crianças”, afirma. O CIDADÃO entrou em contato com a Secretaria Estadual de Esporte e Lazer para saber sobre projetos desse segmento para os moradores da região. Mas até o fechamento dessa edição nenhuma resposta foi obtida.


O Cidadão

14

CAPA

Praia de Ramos

Há poucos meses o local voltou a funcionar com a administração da prefeitura FOTOS DE CRISTIANE BARBALHO

M

uitas áreas de lazer estão abandonadas na Maré, assim como o Parque Ambiental da Praia de Ramos. Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do morador da região, em 2001, foi criado projeto de Requali-

“Trabalho aqui há quatro anos e a cada dia o lugar está pior, principalmente a manutenção” Sebastião Gonçalves Gari da Comlurb ficação Urbana da Praia de Ramos. E um ano depois, em 2002, o projeto teve seu nome alterado para Parque Ambiental da Praia de Ramos. A idéia partiu do Governo do Estado, em parceria com a Petrobras. Além do piscinão foram instalados no Parque dois conjuntos de banheiros, cinco quiosque de alvenaria e madeira, uma estrutura de atendimento e salvamento de banhista, estacionamento com 150 vagas, lona cultural, pista de skate, três áreas com brinquedos infantis, ciclovia e conjunto esportivo. Mas hoje, quem anda pelo espaço percebe a degradação das instalações em menos

Acima, imagem atual do local onde ficava a horta comunitária da Lona Cultural da Praia de Ramos. À direita, imagem do local, em 2006

de uma década. Esse é o caso

da Lona Cultural da Praia de Ramos que inicialmente teve o apoio do Circo Voador, depois ofereceu atividades viabilizadas por projetos de uma empresa de


O Cidadão

15 HÉLIO EUCLIDES

telefonia móvel, e hoje é de responsabilidade da prefeitura. A lona que chamava a atenção das pessoas que passavam pela Linha Vermelha, pelo seu tom azul, está rasgada. No espaço também existia uma pequena horta, e atualmente no local, há

“Às vezes deixamos de fazer o serviço em outro lugar para limpar o espaço da lona” João Lira Gari da Comlurb somente mato. Segundo o gari Sebastião Gonçalves, de 42 anos, ainda existem muitas atividades no espaço da lona, como capoeira, dança e bailes de vários estilos musicais toda sexta-feira. Porém, a qualidade do espaço não é mais a mesma. “Trabalho aqui há quatro anos e a cada dia o lugar está pior, principalmente a manutenção. Antigamente existia uma equipe formada por quinze pessoas, de uma empresa terceirizada, para cuidar e limpar o espaço. Hoje são seis pessoas para a limpeza”, completa. Para o também gari João Lira Silva, de 42 anos, o governo poderia aproveitar a mão-deobra local para a manutenção e conservação do espaço da lona. Para ele, essa seria uma solução para o desemprego na região. “Tem tanto pai de família sem emprego e o governo nem precisaria se preocupar com o transporte”, diz. Segundo ele, são apenas seis garis responsáveis pela limpeza do local desde a entrada do Parque União à Praia de Ramos. “Às vezes deixamos de fazer o serviço em outro lugar para limpar o espaço da lona. E ainda tem a limpeza da areia do piscinão que era feita a

Biblioteca da Lona Cultural Herbert Vianna é uma das opções de lazer para o morador da comunidade

noite. Hoje temos que limpar de dia e as pressas, isso acaba nos sobrecarregando. Além disso, os chuveiros dos banheiros estão quebrados e são os próprios barraqueiros que pagam uma pessoa para limpa-los”, relata. Opções na Maré Uma das opções é a Lona Cultural Herbert Vianna localizada na Rua Ivanildo Alves s/nº. No local há diversas atividades de lazer, como apresentações teatrais e o cine pipoca que acontece às quartas e quintas. As demais oficinas estão suspensas temporariamente a espera de autorização da Secretaria Municipal de Cultura para o funcionamento. Segundo Didi de Aquino, de 50 anos, diretor da Lona e professor de Teatro e Caratê, o espaço funciona em prol da comunidade. “As peças que vem de fora cobram o preço mínimo, de acordo com a nossa realidade. E as produzidas aqui são apresentadas gratuitamente para os moradores, e o que mantém a longevidade do lugar são as oficinas abertas a comunidade”, afirma. Um outro lugar que os moradores podem utilizar para o lazer é a biblioteca que fica dentro da Lona Cultural Herbert Vianna. O acervo da biblioteca é de mais de 3000 títulos e qualquer morador pode ter acesso aos livros. Segundo a responsável pela biblioteca Glauce Etelvino, de 35 anos, a biblioteca poderia ser mais utilizada. “Nosso maior público é

o infanto-juvenil e às vezes acontecem eventos e visitas orientadas. O projeto é de responsabilidade da prefeitura, sendo a única dentro de uma comunidade”, completa. E aqueles que quiserem pegar livros emprestados devem se cadastrar levando comprovante de residência, foto 3x4 e identidade. Os menores de 18 anos só podem fazer o cadastro na biblioteca com o responsável.

“As peças que vem de fora cobram o preço mínimo, de acordo com a nossa realidade” Didi de Aquino Diretor e professor da Lona Cultural O esporte também pode ser entendido como lazer. E um dos lugares que os moradores da comunidade podem ter acesso é a Vila Olímpica da Maré, localizada na Rua Tancredo Neves s/n°. “Qualquer morador da Maré pode utilizar o espaço da Vila Olímpica. É só chegar no dia e pedir autorização, se o local não estiver sendo usado, em outras atividades, o morador poderá aproveitar o espaço. Além disso, se algum material estiver disponível ele poderá ser emprestado”, diz Bira Carvalho, de 37 anos, fotógrafo e diretor da Vila Olímpica.


O Cidadão

16

SERVIÇO

Você sabe fazer crochê? Muitos moradores da Maré ganham a vida produzindo diferentes peças com a técnica HÉLIO EUCLIDES

A

arte das nossas mães e avós está sendo muito valorizada pela beleza e pela maneira criativa como são produzidas. O sucesso das peças em crochê no Fashion Week mostra a força dessa arte que é praticada em quase todo o Brasil. Aqui na Maré não é diferente, tem muita gente que usa o crochê como forma de sustento, uma delas é Valdirene de Oliveira, de 35 anos, moradora da Praia de Ramos.

“O Crochê é como uma assinatura, cada um tem a sua,...” Valdirene de Oliveira Moradora da Praia de Ramos Ela começou aos 12 anos fazendo paninho de prato, depois foi se especializar em um curso oferecido, na época, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) onde se aperfeiçoou e hoje dá aulas particulares. E com um quiosque na Praia de Ramos, vende e expõe várias peças entre roupas e acessórios. “O Crochê é como uma assinatura, cada um tem a sua, por isso mesmo pessoas diferentes não têm traços totalmente iguais”, diz Valdirene. Uma de suas exalunas Fabiane Fortes, de 28 anos, sem-

COMO VOVÓ JÁ DIZIA

Valdirene de Oliveira em seu quiosque, na Praia de Ramos, onde exibe e vende o crochê feito por ela

pre gostou de crochê e depois que fez o curso continuou aperfeiçoando-se. Diferente da professora, Fabiane só trabalha com roupas e conjuntos, mas diz que vale a pena. “Trabalho normalmente por encomenda, mas mesmo assim existe épocas que quase não durmo”, afirma. Outra apaixonada pelas linhas de crochê é Zeni Valença, de 49 anos, moradora do Morro do Timbau. Ela diz que começou a arte com a chegada de seu primeiro filho, há 30 anos, e desde então não parou mais. “Com a chegada da industrialização o crochê feito à mão ficou menos valorizado, mas dependendo da moda as pessoas ainda procuram”, afirma Zeni.

Um pouco da história O crochê é uma técnica antiga que tem origem na palavra francesa croc, que significa gancho, mas onde e como surgiu, ninguém sabe com precisão. No entanto, pesquisas arqueológicas comprovam que o crochê teve origem na China, como uma forma de costura. Alguns lugares como igrejas e associações de moradores costumam oferecer o curso de crochê.

Dicas de Limpeza - Ferva dentro da panela que você usou para cozinhar peixe algumas folhas de chá usadas. O cheiro de peixe desaparecerá completamente. - A água onde cozinhou batata é ótima na limpeza de talheres e objetos de prata. - Para que seus panos de prato fiquem brancos, experimente fervê-los com a casca triturada de um ovo cru. Você vai gostar do resultado. - Para não ficar com as mãos com cheiro de peixe, antes de tratá-lo, es-

fregue nelas vinagre, suco de limão ou sal. - Um jeito rápido de eliminar o cheiro de alho e cebola de suas mãos é lavá-las com água e bicarbonato de sódio. - Antes de usar uma frigideira nova, ferva nela um pouco de vinagre para evitar que os alimentos grudem durante as frituras. Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus - Editora Vozes


O Cidadão

17 ANÚNCIOS

20.000 exemplares distribuídos gratuitamento por todo o bairro.

Ligue e Anuncie!

3868-4007


O Cidadão

18 ANÚNCIOS


O Cidadão

19

SAÚDE

Reciclagem e meio ambiente Como o morador da comunidade pode reciclar o óleo utilzado na cozinha HÉLIO EUCLIDES

E

m 2006 o presidente Lula sancionou um decreto de nº5940 destinando todos os resíduos recicláveis de órgãos e entidades públicas a cooperativas de catadores. Atendendo a esse decreto a Fundação Oswaldo Cruz

“O óleo que sobra aqui em casa coloco em jornais velhos até ficar bem encharcado e depois jogo no lixo” Kátia Garcia Moradora do Parque União passou a receber desde o dia 14 de fevereiro de 2008 o óleo de cozinha que já foi utilizado. Para a dona de casa Kátia Garcia, de 34 anos, moradora do Parque União é novidade saber que esse produto pode ser aproveitado. “O óleo que sobra aqui

Funcionário da Fiocruz mostra como é feito o condicionamento do óleo de cozinha para a reciclagem

em casa coloco em jornais velhos até ficar bem encharcado e depois jogo no lixo” diz. Mas deixa claro que só faz isso para que o ralo de sua cozinha não fique entupido com gordura. Em termos técnicos, para o meio ambiente o óleo vegetal (cozinha) é considerado tão poluente quanto ao óleo lubrificante (utilizado em máquinas para reduzir o atrito entre suas peças), por isso deve ser tratado como material perigoso. O óleo além de contaminar a água e o solo, obstrui as tubulações e atrapalha o tratamento do esgoto, com um litro de óleo é possível contaminar mais de um milhão de litros de água. O CIDADÃO conversou com o responsável pela gestão ambiental da Fundação Oswaldo Cruz, Tatsuo Carlos Shubo. Segundo ele, desde agosto de 2007 há dificuldades de encontrar uma cooperativa que atenda as normas da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema). Esse foi um dos motivos que o levou até Brasília questionar os assuntos que o estatuto não cobra, como o transporte do material que deve ser feito por moto-

ristas treinados para cargas perigosas. Já que qualquer acidente ambiental será de responsabilidade da Fiocruz. Por enquanto esse material ficará em barris que se encontram na fundação. Após sua reciclagem se tornará detergente para limpeza doméstica. Segundo Tatsuo, será aberta uma licitação para a escolha de uma cooperativa que terá ajuda para se licenciar na Feema. Onde os funcionários poderão se especializar para fazer o transporte com máxima segurança para o meio ambiente. “Não adianta dar somente o trabalho, temos que ensinar o perigo da poluição que esse produto pode causar”, afirma. É importante a inclusão social das comunidades do Complexo da Maré, fornecendo mão-de-obra capacitada e, ainda, conscientização sobre as agressões ao meio ambiente e a importância da reciclagem. Todas as quintas-feiras, das 8h às 11h30, a Fiocruz estará recebendo esse material em seus postos de coleta. O Óleo deverá ser entregue em garrafa pet. Locais de entrega: - Portaria da Dirac (Avenida Brasil 4365 – Fio cruz) - Almoxarifado Central - Portaria da Expansão (Avenida Brasil 4036 – Ao lado do Conjunto Esperança) A Fio Cruz fica na Avenida Brasil 4365 Manguinhos.


O Cidadão

20

ESPORTE

Nocaute na exclusão social Cidadania e esporte caminham juntos nos projetos da ONG Luta Pela Paz HÉLIO EUCLIDES

O

projeto Luta pela Paz fundado há oito anos pelo inglês Luke Dowdney funciona na Nova Holanda. Um dos seus objetivos é criar campeões no esporte e na vida. “O interesse do projeto é fazer com que as pessoas, consigam se incluir na sociedade, no mercado de trabalho, na educação, entre outros”, diz Ana Caroline da Silva, de 22 anos, moradora da Nova Holanda. A ong oferece atividades esportivas, como boxe, capoeira, luta livre, e educativas, como informática e cidadania, todas de graça, para jovens de 7 à 25 anos. Segundo Miriam Gonzaga, de 51 anos, educadora social do projeto e moradora da Nova Holanda, além dos cursos há as aulas de cidadania, que todos os alunos devem participar. Os temas discutidos nessas aulas são sempre atuais e de acordo com a realidade de cada jovem. Alguns temas são direitos e deveres, mercado de trabalho, sexualidade, violência, educação, preconceito, fome, mas principalmente, alegria, amor e paz. Além desses cursos, a organização tem a preocupação de inserir os jovens atendidos no mercado de trabalho, criando oportunidades para eles, como a inserção em estágios e no programa primeiro emprego. Para Débora Cordeiro, de 12 anos, que está cursando a quarta série do ensino fundamental, as aulas são muito produtivas. “Participo do boxe, e gosto muito, é um esporte muito bom. Desde o dia que cheguei até agora. Já melhorei bastante. Participo também das aulas de cidadania, onde

Atleta treinando em frente ao espelho na ong Luta pela Paz localizada na comunidade de Nova Holanda

eu aprendo muita coisa boa sobre a vida”, afirma. Diogo Sampaio, de 16 anos, que dá aula em alguns projetos e faz informática, tem a mesma opinião que Débora sobre a importância do Luta Pela Paz. “O que tiro das aulas de boxe, são as disciplinas, porque eu posso colocar em prática tanto

na rua, quanto em casa. Já nas aulas de cidadania, aprendemos vários temas que levamos para nossa vida. Por isso, a importância deste projeto”, afirma. Ana Caroline participa do projeto há quatro anos. Começou como aluna e hoje faz parte da equipe como agente de mobilização, acompanhando os alunos e seus familiares. “Achamos que as duas coisas devem andar juntas, acompanhamos os alunos aqui e realizamos visitas domiciliares. Quando um jovem não aparece, vamos até a sua casa saber se alguma coisa aconteceu e, então, o ajudamos”, diz. A equipe do ong, cerca de 20 pessoas, sempre organiza eventos para a comunidade. “Realizamos competições de boxe pelas rua. E quando realizamos estes eventos, o número de jovens e crianças à procura do curso aumenta”, diz Caroline. O projeto já conquistou premiações no boxe, como a Luva de Ouro e os Jogos Abertos, em São Paulo; na Holanda três meninos e uma menina venceram competições. No ano passado ganharam o prêmio Loureus, considerado o “Oscar” do esporte. E ainda teve também outros campeonatos importantes. Para participar das atividades basta ir à Rua Teixeira Ribeiro, 900, Nova Holanda, ou ligar para o telefone 3105-5341.


O Cidadão

21

MUSICAL

Música, uma opção de vida Mesmo com dificuldades, Milton Bragança busca o sonho de ser reconhecido em todo Brasil FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

E

xemplo de empenho e determinação, Milton Bragança, de 34 anos, morador do Parque União, desde os oito anos pegou gosto pela música. Mesmo com dificuldades, não largou o seu sonho de ser cantor. Aos 11 anos, tornou-se profissional da área passando por algumas bandas, até gravar seu primeiro cd solo. Hoje, mesmo sem patrocínio, já têm dois gravados. Tudo começou na Igreja Católica do Parque União.

Capa do Cd “Jesus Chorou”, primeiro de Milton

“Um dia participei da banda ‘Rebeldia’, eles me convidaram para integrar o grupo e virei vocalista. Aos 19 anos, entrei para igreja evangélica e comecei carreira solo”, conta. Um dos seus objetivos é transmitir aquilo que acredita através das canções. “Quando você canta música secular, não há muito compromisso com as letras, são apenas inspirações. Mas, quando são evangélicas, você tem que cantar aquilo que confia e sente”, diz. Um outro interesse do cantor é o de realizar um projeto social de música em comunidades, voltado para crianças e jovens. Este projeto surgiu de um trabalho final apresentado, por ele, na faculdade de administração. Para Milton, não é simples produzir, gravar e divulgar um cd sozinho. “Quando alguém vê um cd pronto, não tem idéia do quanto é difícil. Quando se tem uma gravadora, tudo é mais fácil. Meu desafio é conseguir uma gravadora”, diz. Seu desejo é de que suas músicas toquem nas rádios, facilitando a divulgação de sua carreira no Brasil. Seu primeiro cd, “Jesus Chorou”, gravado

“Deus é fiel” é o segundo Cd de Milton Bragança

em 2005, vendeu mais de mil cópias. Recentemente lançou o cd “Deus é Fiel”. Segundo ele, as vendas dos cd’s dão pouco retorno financeiro. “O meu sustento vem por meio do meu trabalho. Se pudesse escolher, seria só cantor”, revela. Suas apresentações acontecem em igrejas e casamentos e no local vende seus cd’s a dez reais. Os telefones de contato são: 3881-0742, 8126-7044 e 8746-0742 ou pelo e-mail: miltonbragança@oi.com.br.

CARNAVAL

Retrospectiva da Folia Maré fez bonito no carnaval 2008, empolgou todos e a alegria foi geral

HÉLIO EUCLIDES

O

s foliões mareenses aproveitaram o início de fevereiro para brincar. O Gato de Bonsucesso, o Boca de Siri e o Se Benze Que Dá, colocaram todos para balançar no carnaval 2008. O Boca empolgou no sábado, dia dois de fevereiro, na Avenida Rio Branco, no Centro. O Gato fez sua apresentação na segunda-feira, dia quatro de fevereiro, na Estrada Independente Magalhães, em Campinho. Já o Se Benze Que dá levou muita gente pelas ruas da Maré. A Escola de Samba Gato de Bonsucesso, do grupo D, veio com o enredo “Delírios e devaneios de sua alteza real dona Maria vai com as outras”, homenageando os 200 anos da chegada da família real ao Brasil. O que conquistou 154,1 pontos, dando o oitavo lugar. O Bloco Carnavalesco Boca de Siri, do grupo 1, mostrou “Zumbi dos Palmares, o líder negro de todas as raças”, trazendo para a Praia de Ramos, o título de bi-campeão.

Quiosque na Praia de Ramos é o ponto de encontro dos sambistas do Bloco Carnavalesco Boca de Siri

Já o “Se benze que dá” saiu do Largo IV Centenário, no Morro do Timbau, nos dias, 25 de janeiro e 09 de fevereiro, com destinos diferentes. No primeiro dia se dispersou na Ação Comunitária do Brasil, na Vila do João, e segundo dia na Rua Sargento Silva Nunes,

na Nova Holanda. “Enquanto o ‘caveirão’ passa com alto-falante dizendo ‘sai da rua morador’, nos cartazes que levamos para a rua está escrito ‘pelo direito de ir e vir nas favelas: vem pra rua, morador!’”, diz Mariluci Nascimento, uma das integrantes do grupo.


O Cidadão

22 PÁGINA DE RASCUNHO

Loucura Ao seu lado Exercito minha loucura A mistura dos sentimentos O meu sim e o meu não. Somos a liberdade Somos essa dualidade O Eu e o Tu Se contradizem. Caminhamos... Seguimos caminhos Às vezes opostos Às vezes entrelaçados. Um elo se faz presente No nosso dia-a-dia Como melodia, Loucura e sentimentos. Sinto-me oco Somos loucos nesse continuar Constante. Admilson Rodrigues Gomes

A cidade ideal Muitas pessoas dizem que para alcançarmos a cidade ideal é preciso amor, paz, união ... Mas muitas delas ou pequena parte não sabe que é preciso investir em outras coisas, como educação. As pessoas têm que entender que o cidadão deveria ser educado desde o berço pelos pais e depois pela escola. Os pais ensinando o certo e o errado e depois a escola oferecendo um futuro de qualidade. Todos precisam melhorar nesta cidade, todas as crianças e adolescentes devem estudar para conseguirem um bom emprego. Isso é o principal para se obter a desejada cidade ideal. Muitos países estão no caminho, o Japão é um deles. Mas não podemos esquecer de que a paz e o amor entre as pessoas também é muito importante, principalmente para que a violência chegue ao fim em todas as cidades do mundo e se tornem cidades ideais. Juliana Siqueira de Almeida Morro do Timbau

CARTAS As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O CIDADÃO (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050) Crônica

O Complexo da Maré grita por socorro Olha meus moradores eu quero falar com vocês da minha tristeza e indignação, por tão grande abandono e tanto descaso. Eu já não sou mais o mesmo, todos os tipos de bicho e insetos andam em minhas ruas e entram em suas casas, causando muitas doenças e enormes transtornos a vocês e seus familiares. São eles: moscas, moscas varejeiras, ratazanas, pernilongos, caramujos africanos, baratas de todas as espécies, lacraias em suma, estou proliferado. E isso é grave, muito grave! Esgoto a céu aberto, sem falar nas minhas praças e jardins que estão em total abandono. Minhas ruas estão sem iluminação, esburacadas ou sem remendas. E ainda fazem demagogias com faixas contendo frases que não batem com a realidade, desde quando a operação tapa buraco é asfaltamento? Imaginem vocês! Tem moradores tão ruins para mim que pegam pedaços de minhas praças para fazer varandas para suas casas, e outros fazem até no meio de uma determinada avenida. Isso não é desrespeito com a via pública que em mim existente? O meu canal ficou conhecido como vala shopping de tantos comércios variados em minhas margens, mais o nome verdadeiro é canal do Cunha. Dentro do meu canal encontra-se muito lixo e bem variados por sinal, onde no passado era um manguezal, hoje é um grande deposito de lixo, quase um lixão, falta pouco de tanto entulho.

E as garrafas pet que coisa feia! Daria pra fazer outra casa flutuante. Tudo isto junto entope meus bueiros por onde passam minhas águas pluviais que em dias de grandes tempestades inundam minhas ruas, além disso, nesses dias chuvosos em que o valão está cheio e as crianças se esbaldam tomando banho em minhas águas hiper poluídas trazendo para elas enormes complicações de saúde. Não tem guardiões do rio que de conta de tanta sujeira. A Comlurb fazia em mim uma limpeza com o codinome de operação “vassourão”, mas eu sei que a muito tempo nada é feito para melhorar o meu aspecto que continua horroroso. As minhas calçadas estão ocupadas com vocês que vendem coisas para sobreviver e ainda obrigam todos os moradores, adultos, jovens e crianças, a andarem pelo meio das minhas ruas arriscando suas vidas inocentes. Todos os meus muros estão pichados e cheios de buracos. As minhas escolas, creches, creches escolas e maternais todos sujos e mal conservados. As minhas áreas de lazeres com os brinquedos todos quebrados. Eu, Complexo da Maré, grito por socorro e peço humildemente que vocês me ouçam, pelo amor de Deus. Atenciosamente, O seu Complexo da Maré Autora: Maria Euzete r.c


O Cidadão

23

Jogo dos 8 erros

Piadas Aprendendo na Escola O que foi que você aprendeu no colégio hoje, Marquinhos? - Aprendi a dizer “Sim, senhor” e “Não, senhor”. - Então, não se esqueça mais, viu? - Falou, pai! Quando dizer obrigado Joãozinho acompanha a mãe nas compras. Quando passam pelo caixa, a moça lhe dá uma bala. - Como se fala? – pergunta a mãe. - Põe na conta! A volta para casa Um bêbado saiu da boate e deu de cara com aquele camarada enorme com uma bela farda, parado debaixo da marquise. Virou-se para ele e disse: - Chame um táxi! - Que desrespeito é esse? Eu sou um almirante! - Então me chame um navio! Vale a pena usar de novo Um sujeito vê um fósforo no chão. Recolhe o palito e esfrega a cabecinha do palito numa pedra. Vê que se acende e logo apaga a chama. Feliz da vida coloca o fósforo no bolso e diz: - Já que funciona, eu fico com ele!

1. Por que quando o galo canta, fecha os olhos? 2. Qual é a coisa que se uma pessoa tiver duas, não tem nenhuma? 3. Que virtude se forma juntando o saber a um instrumento de trabalho? Resp.: 1. Porque ele sabe a música de cor; 2. Personalidade; 3.Paciência.


Um pente de memórias FOTOS DE REDE MEMÓRIA DA MARÉ

C

aro(a) leitor(a), em nossa última edição do jornal O CIDADÃO, falamos do barraco sobre palafitas, construído em tamanho natural e que está colocado no centro do Museu da Maré. Esse lugar foi escolhido com muito carinho. A casa foi e continua sendo o sentido da vida dos moradores. Por isso, ela ocupa um lugar de destaque em nossa exposição. Dessa vez, falaremos de um objeto que está no barraco, em cima do fogão. É um objeto muito simples, como a maioria dos objetos desse museu. Ele é feito de ferro e madeira e fazia parte do cotidiano de muitas mulheres da Maré. De que objeto estamos falando?... Acertou quem disse “pente quente”, também conhecido como “ferro quente”. Isso mesmo, amigo(a) leitor(a)! Um pente cujos dentes eram feitos de ferro e o cabo, de madeira. Ele era usado para alisar os cabelos não somente de mulheres negras, mas de todas que tinham o cabelo muito crespo ou encaracolado. O pente quente era aquecido no fogão e, depois de bem quente, era pressionado num tecido para não ir direto do fogo aos cabelos. Mas mesmo com essa medida de prevenção, o cheiro de cabelo queimado era muito forte e acidentes eram cons-

Marilene mostra como era utilizado o “pente quente”

O “pente quente” muito utilizado pelas mulheres, no passado, para alisar os cabelos está exposto no Museu

tantes, sendo comuns as queimaduras no pescoço, nas orelhas e na testa. É, naquele tempo não existia prancha, muito menos as escovas progressivas e inteligentes de hoje em dia. Era muito sacrifício pra manter o cabelo liso! Qualquer pouca água, até mesmo o suor da cabeça, acabava com tudo... O que estava por trás de tanto sacrifício?... Alisar os cabelos era uma forma de fugir do preconceito que se expressava nos apelidos dados a quem tinha o cabelo crespo: sarará, cabelo de bombril, pixaim, nega do cabelo duro e tantos outros. O “pente quente” representava o esforço de muitas mulheres para não se sentirem inferiores, já que o bonito era ter cabelo liso. Aqui no Museu da Maré, o “pente quente” é uma denúncia contra o preconceito e a dominação, mas, ao mesmo tempo, ele tem um novo significado. Esse pente é sinal de resistência! A intenção do Museu é romper com a idéia de que as experiências e os objetos que merecem ser lembrados são apenas aqueles eleitos pela versão oficial, “vencedora” da história. De acordo com essa visão, o “pente quente” de uma moradora da Maré, por exemplo, não precisa ser preservado, muito menos exposto em um museu. Essa versão diminui

a importância da história e das memórias dos moradores e das moradoras da Maré. O Museu traz uma nova visão para a cidade e o país, sendo ele um lugar de muitas memórias e que tem uma história para ser contada e preservada. Por isso, amigo(o) leitor(a), é muito importante que o “pente quente”, seu significado, sua história e as memórias que ele carrega consigo nunca sejam esquecidos, pois ele faz parte do nosso patrimônio cultura. Esperamos que o Museu seja um lugar onde as novas gerações vão conhecer e aprender a respeitar as histórias de luta e resistência de quem construiu a Maré. Da mesma forma, queremos que pessoas de tantos e diferentes lugares conheçam e respeitem nossa história. Assim, com as trocas de experiências e o diálogo, vamos contribuir para enriquecer ainda mais o patrimônio cultural e histórico da cidade do Rio de Janeiro e do país. Este espaço representa a história dos moradores da Maré. Envie sua história, perguntas e sugestões para a Rede Memória na Casa de Cultura da Maré. Endereço: Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748 ou para o e-mail: contato@ceasm.org.br. A matéria referente a esta página é de exclusiva responsabilidade do projeto Rede Memória.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.