O Cidadão RIO D E
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O Jornal do Bairro Maré JANEIRO - FEVEREIRO/M A R Ç O/ABRIL 2006 - A N O
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Quem vai levar a sua alma?
MANDACARU: DILEMA DA REMOÇÃO
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PONTES INCOMODAM MORADORES
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COMUNIDADE É CONECTADA NA INTERNET
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SAÚDE NA MARCÍLIO DIAS O Cidadão • 1
EDITORIAL
O Cidadão é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré
Respeito e dignidade jornal O CIDADÃO nesta edição aborda um tema que afeta a vida de várias comunidades: a violência. O morador é obrigado a viver em constante tensão, sem saber se a sua vida ou a de um outro companheiro acabará com uma bala perdida. Violência que afeta sua qualidade de vida, que o deixa doente, prejudica seu estudo, desvaloriza o seu imóvel e restringe o seu direito de ir e vir. Somos solidários a essas pessoas que têm, diariamente, seus direitos desrespeitados, inclusive pelo Estado, que tem o dever de dar segurança à população. Porém, percebemos que o Estado não nos vê como parte da população, por isso somos indignos de receber saúde, educação, habitação, alimentação e além disso, uma política de segurança séria, que valorize a vida e a dignidade humana. A matéria de capa aponta os erros da política de segurança pública utilizada pelo governo da senhora Rosinha Garotinho. Uma política que adota como principal instrumento o uso do veículo “pacificador”, carro blindado mais conhecido com Caveirão. O pacificador já vitimou inúmeros moradores da Maré e de outras comunidades do Rio de Janeiro. Enquanto isso, a grande mídia prefere tratar o tema violência como forma de mercadoria. Que dá ibope à TV e vende jornais durante algumas semanas, e depois o assunto é esquecido e não foi discutido como deveria. Exemplo disso foi o documentário “Falcões: meninos do
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tráfico” exibido pela a rede globo, no Fantástico, onde novelistas comentaram o assunto como se aquele fato fosse uma ficção e não uma realidade. Nossa matéria tem o objetivo de promover um debate responsável sobre a violência, pois acreditamos que a solução só virá se nos unirmos e cobrarmos de nós mesmos e dos órgãos responsáveis a atenção que merecemos, não só na área de segurança, mas na saúde, educação e demais esferas. Pois, só chegamos ao estágio que nos encontramos por um contínuo e articulado processo de exclusão destas garantias de vida dos moradores das comunidades. Para todos os moradores, deixamos o recado: se nos perdermos em vaidades, jamais conseguiremos atingir o nosso objetivo, que é o mesmo: uma Maré melhor para todos. Por isto, o jornal O CIDADÃO se coloca à disposição de todos os moradores e grupos que trabalham com essas questões, para ajudar no que for possível. O jornal também vai falar de iniciativas ecológicas de moradores, que visam preservar o meio ambiente, sobre a orquestra de flautas e da alegria dos novos universitários do bairro. As angustias vividas pela comunidade Mandacaru, por causa da falta de informações da prefeitura sobre a remoção, também é retratada nesta edição. Uma Maré de paz para todos. Boa leitura!
ELES TAMBÉM LÊEM O CIDADÃO Hélio Euclides
Cristiane Barbalho
Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965
Conselho Institucional Antonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz • Eliana S. Silva Jailson de Souza • Léa Sousa da Silva Lourenço Cezar • Maristela Klem Coordenadora geral: Rosilene Matos Editora: Renata Souza Coordenadores de Edição: Flávia Oliveira • Aydano André Motta Coordenadora de Reportagem: Carla Baiense Administrador: Hélio Euclides Reportagem: Renata Souza • Cristiane Barbalho • Ellen Matos Hélio Euclides • Rosilene Matos • Silvana Sá Viviane Couto • Gizele Martins • Douglas Baptista Colaboraram nesta edição: Rosinaldo Lourenço • Rede Memória • Cleuma Lucindo • Francisco Valdean • Bira Carvalho Jornalista Responsável: Marlúcio Luna (Reg. 15774 Mtb) Ilustrações: Mayara Gonçalves e Carlos Maciel Publicidade: Elisiane Alcantara Diagramação: José Carlos Bezerra Assistente de Diagramação: Fabiana Gomes Foto de Capa: Postal da Campanha contra o caveirão Repórter Fotográfico: Cristiane Barbalho Distribuição: Patrícia dos Santos (coordenadora) Josiane dos Santos • Sabrina da Silva Elizângela Felix • Charles Alves Maria Matildes de Sousa • Regiane de Matos Sara de Andrade Alves Fotolitos / Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br jornaldamare@yahoo.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br
O CIDADÃO Acima, Raquel Marini, estudante do CPV. Ao lado, Rose Esquinazi, jornalista do JB e professora da PUC
2 • O Cidadão
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HABITA Ç Ã O
Mandacaru espera solução da Prefeitura Além da falta de informações sobre a remoção, os moradores sofrem com as chuvas Agência Imagens do Povo
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ão bastasse a ameaça de remoção, que aflige a comunidade desde o ano passado, os moradores de Mandacaru agora convivem com um novo fantasma: as fortes chuvas de Verão. Segundo a presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias, Iraci Moreira da Silva, 53 anos, também responsável por Mandacaru, foram muitos os estragos causados na região. “Nas enchentes do último mês, muitas famílias perderam as únicas coisas que tinham. Os telhados caíram e alguns estão sem geladeira, fogão, cama, entre outros objetos pessoais. Até agora, foram poucas as iniciativas para ajudar a comunidade. Mas o comércio local está avaliando os prejuízos e ajudando como pode”, diz. Enquanto lutam para recuperar as perdas, os moradores aguardam uma posição da Prefeitura. A presidente da Associação conta que o último contato aconteceu em outubro, quando foi feito um cadastro de moradores. Desde então, nada aconteceu. “Estamos ansiosos por uma resposta, porque ninguém sabe o que fazer. Eles não merecem viver nessa miséria e já estamos cansados de ligar para várias entidades, como a Prefeitura, e nada ser resolvido”, afirma. O vice-presidente da Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj), José Nelson de Oliveira, 44 anos, diz que foi eleita uma comissão entre os moradores e que cada rua tem um representante. “Fizemos o cadastro de todos os moradores, que computa um total de 554 famílias. Até o momento, a prefeitura não entrou em contado conosco, mas a secretária de obras, Solange Amaral, assumiu o compromisso de não promover a remoção. Neste caso, uma comissão iria à Brasília para solucionar o problema”, afirma.
Moradores de Mandacaru vão ao Mercado São Sebastião para protestar contra a remoção
Ele conta, ainda, que a Prefeitura queria dar aos moradores de barracos RS 1,5 mil. Já os que moram em casas de alvenaria receberiam R$ 5 mil. “Fomos contra a remoção e ajudamos os mora-
dores a promover a manifestação que impediu a ação da Prefeitura”, diz. O Jornal O CIDADÃO entrou em contato com a Prefeitura, mas esta não se posicionou sobre o caso.
Desemprego também assusta Os projetos de geração de renda da comunidade também estão parados, por falta de apoio. “Estávamos realizando um trabalho de reciclagem para que os moradores desempregados pudessem ter de onde tirar o seu alimento, mas hoje, o
galpão está sem luz, porque não temos como pagar. Estamos precisando de ajuda. É triste saber que muitos têm apenas este meio de sobrevivência, e simplesmente nada é feito”, lamenta a presidente da Associação. O Cidadão • 3
GERAL
Verde que te quero verde Moradores tomam iniciativas individuais para cuidar do meio ambiente Cristiane Barbalho
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á cerca de 13 anos, era realizado o encontro ECO-2002. Líderes mundiais, ongs e ecologistas discutiram alternativas para recuperar o meio ambiente. Entretanto, de lá para cá pouca coisa mudou: o planeta continua sofrendo com a poluição e devastação. Contudo, cidadãos se mobilizam e remam contra a maré, ou melhor, a favor do bairro Maré e pelo planeta. Um exemplo é o funcionário da empresa que realiza manutenção no Piscinão, o jardineiro Alexandre Felipe, 31 anos. No entorno da Lona Cultural do Piscinão ele iniciou o horto e a horta orgânica. Depois de seis meses, já há legumes que variam de vagem a couve-manteiga e frutas, que são doadas aos moradores mais necessitados. As sementes são colocadas em placas de isopor e o canteiro é demarcado por garrafas pets. “Nada tem agrotóxico, tudo é natural, pois utilizo esterco. Agora esse espaço tem verde”, diz Alexandre, que dá aulas de educação ambiental para cerca de 100 crianças numa
escola que fica no Méier. Na Vila do Pinheiro quem cuida do meio ambiente é Lauro João, 50 anos. Em meio às paredes abandonadas do que seria o Mercado Popular da Vila do Pinheiro, ele organizou um espaço para o aproveitamento de sementes e outro para o plantio. “Comecei em outubro, limpando o terreno. Depois sai plantando milho, amendoim, abóbora, melancia, erva-cidreira, arnica, banana e hortelã. Com esse trabalho acabei com a água parada”, diz Lauro. Outros mareenses improvisam o espaço da varanda ou do quintal para o plantio. É o caso da dona de casa, Lenice Augusto, 41 anos, moradora do Parque Maré, que vê nas suas plantinhas a preservação da saúde. “Pitanga serve para febre e gripe; Romã, para garganta; Roseira branca, para inflamação e Babosa, para a beleza dos cabelos”, diz Lenice que explica que para manter as plantas saudáveis e bonitas “basta regar e conversar, ao mesmo tempo, com a natureza”.
Alexandre e sua plantação na Praia de Ramos
Cristiane Barbalho
Rua Ouricuri Moradores reclamam da falta de saneamento básico rua Ouricuri, que fica na comunidade de Roquete Pinto, na Maré, é bem extensa, com inúmeros comércios, muitas casas e algumas empresas. Mas, como nada é perfeito, a rua sofre as conseqüências da falta de investimentos públicos e de obras mal-feitas. São os próprios moradores que apontam as melhorias necessárias. Humberto dos Santos, 34 anos, reclama da água e do asfaltamento. “Esta é uma ótima rua. Mas, algumas coisas ainda devem ser reparadas, como as constantes faltas d’água e o asfalto irregular que atrapalha os moradores”. Um outro problema citado pela comunidade é o de uma praça, que se encontra ao final da rua, completamente abandonada. A vendedora Tereza Lima, 49 anos, disse que a praça foi fechada a cerca de um
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Rua Ouricuri:moradores pedem melhorias 4 • O Cidadão
ano e as crianças não têm onde brincar. O grande número de insetos que há na Ouricuri também incomoda os moradores. Eles vêm do mangue que não é tratado e que exala um cheiro fedorento. O esgoto, por sua vez, agrava o problema, porque em alguns trechos encontra-se a céu aberto. Isso possibilita que inúmeras doenças proliferem. “Aqui também não há um saneamento básico de qualidade, e tem muitos ratos”, diz o morador José Paiva. Mesmo com todos esses problemas, moradores dizem que o lugar é bom de se morar, se comparado a outras ruas. Para Antônio Carlos, 36 anos, “a rua é bem estruturada e calma. Próximo dela há um posto de saúde, que funciona muito bem e a iluminação é excelente”.
GERAL
Fotos de Cristiane Barbalho
No meio do caminho não tinha uma passarela Vila do João reclama da ausência de passagem uem tenta passar da Vila do João para o Conjunto Pinheiro sente na pele a falta de passarelas sobre o canal que separa as duas comunidades. Hoje, existe apenas uma em toda extensão da comunidade. Para driblar as dificuldades, os moradores juntam pedaços de gravetos e improvisam pontes. “Antes de atravessar peço a proteção do Pai-docéu, pois a madeira se destrói. A vala já é uma tristeza, com esse acumulo de lixo. Imagine cair dentro, prejudicando a saúde e tendo risco de contaminação”, teme a moradora do Conjunto Pinheiro, Vanda Basto, de 78 anos, que só consegue ultrapassar a ponte improvissada com uma escora no braço. Pessoas que precisam carregar algum tipo de material podem perder o produto
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por falta de uma estrutura segura. “Isso aqui é muito ruim, tem degraus e tenho que levar minha bicicleta nos braços”, conta o morador da Vila do João, José Serafim, 40 anos, na passagem da rua 10. A última ponte de madeiras é a da rua 11, onde uma parte fica submersa. “Deveria ser feito uma ponte de ferro, pois minha sogra não tem condições de usar essas pontezinhas. Por isso caminha bastante para encontrar uma mais segura”, diz o morador da Vila do João, Alberdan Luiz, 31 anos.
Com a mão na massa Não é apenas a Passarela do Samba que tem importância. Pensando dessa forma, a Associação de Moradores da Vila do João (Amovijo) uniu-se com Associação do
O presidente da Associação da Vila do João, Paulo Gadelha, atravessa a nova passarela
Pessoas atravessam ponte improvissadas
Conjunto Esperança e reformaram uma das passarelas que dá acesso as duas comunidades. Outra iniciativa foi tomada com a parceria entre a empresa de container NHJ do Brasil e a Amovijo, que possibilitou a construção de uma passarela ligando a Vila do João ao Salsa e Merengue. “Fiquei satisfeito em ter trabalhado nela, pois nunca mais vou ver idosos caírem no valão”, disse o pedreiro da Amovijo, Ademar de Azevedo, 68 anos. O presidente da instituição, Paulo Gatelha, o Casa Grande, 51 anos, disse que a Associação fará outra ponte em frente à rua 10 e reformará a passarela da rua 12. “Não temos verba, realizamos os trabalhos graças a negociações com a iniciativa privada. Procuramos a Prefeitura e o Governo do Estado mas não obtivemos resposta”, reclama Casa Grande. O Administrador Estadual Severino Gouveia, 50 anos, disse que a urbanização da cidade é de responsabilidade municipal. Já o Administrador Regional (30ª RA), Paulo Cunha, 51 anos, declarou ter procurado a Secretaria de Obras por três vezes para falar sobre o assunto. “Estou cansado de pedir, até o engenheiro já foi ao local e até agora estou aguardando uma resposta”. O Cidadão • 5
PERFIL
O Forrest Gump da Maré Luiz Fernando Barreto de Queiroz encanta ao contar suas histórias Comunidade: Vila do Pinheiro Profissão: Agricultor Idade: 38 anos uem passa de carro pela Linha Amarela e Vermelha já percebeu uma horta entre as duas vias. Mas muitos moradores da Maré desconhecem as cerca de 40 mil mudas de plantinhas do local. O autor dessa obra ecológica é o agricultor Luiz Fernando Barreto, 38 anos, que começou plantando jaca, em novembro de 2004. Hoje o terreno conta com várias frutas e legumes. O nosso amante da natureza nasceu na Praia de Ramos e tem seus pés assentados na Maré. Ele só se afastou do bairro durante um ano e meio, quando foi morar no Amazonas. É daí que vem a sua história de protetor da natureza. Em 2001, resolveu tocar fogo no mato
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dentro do seu sítio e o incêndio se alastrou pela floresta Amazônica. O resultado do acidente foi a morte de um córrego e a criação de um deserto. Para se retratar com a natureza, plantou 10 mil pés de açaí. Desde então vem trabalhando em prol da saúde do planeta. Seu projeto futuro é reflorestar a região da Maré e criar uma cooperativa. Ele pensa em distribuir sementes de árvores de pequeno porte, como amoreiras, para os moradores colocarem nos terraços. Para isto pretende utilizar barris com esterco e adubo de lixo. Por enquanto, vai distribuindo copos com mudinhas por toda a cidade. “Esse é o meu mundo. Cada muda tem a minha identidade e cada árvore que sai daqui está me representando. Sou o tutor provisório das plantas porque elas me dão satisfação e esperança de um futuro melhor”, diz Luiz. Filiado ao Partido Verde, foi candidato a deputado estadual, mas conseguiu apenas 700 votos. “O povo só quer camiseta e chaveiro. Isto é assistencialismo. O certo seria propor políticas públicas sérias”, afirma. Com personalidade forte, ele não tem papas na língua. “Da cidade de Nazaré, que era uma favela, nasceu Jesus. Da Vila do Pinheiro pode sair um
Fotos de Cristiane Barbalho
Luiz Fernando aguando suas inúmeras plantas
filósofo, mas isso não dá ibope. Penso que quem mora debaixo da ponte tem os mesmos direitos do morador da Barra da Tijuca”, afirma. O seu trabalho tem o apoio da Comlurb, que fornece o adubo, e também do Nilo da bicicleta, que o ajuda no transporte de mudinhas. Para continuar o trabalho de preservação da natureza, Luiz aceita a doação de copos de guaraná natural e caixas d’água. Seu telefone é 9873-4846.
O agricultor Luiz Fernando hasteando a bandeira do Brasil: todos os dias o cidadão Luiz levanta a bandeira da nação como um grande patriota 6 • O Cidadão
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Karate da Vila do João forma campeões Dedicação e criatividade para superar dificuldades Fotos: Ronaldo Breve
Texto: Rogério Máximo Após quatro anos de início das aulas de Karate, no núcleo da ONG Ação Comunitária do Brasil na Vila do João a equipe e seus educadores colhem a cada competição novas medalhas. Apesar das já conhecidas dificuldades enfrentadas pelo esporte, os educadores Daniel Caputo e Igor Anjo conseguiram patrocínio do Bolsa Atleta, e com auxílio da ACB/RJ participaram da competição Internacional na Nova Zelândia. Igor Anjo é campeão Brasileiro, campeão Sulamericano e tricampeão Estadual e Daniel Caputo,
vice-campeão mundial, tricampeão brasileiro e hexa-campeão Estadual. Os alunos também têm participado de várias competições, inclusive internacionais, como o 5º Jogos Nacionais da Argentina. Segundo o educador Igor Anjo, este é um trabalho pioneiro e visa dar boas oportunidades para os alunos. - Queremos que eles tenham as mesmas oportunidades para se tornarem expoentes no esporte. O trabalho também é feito para mostrar que a vida não é só dentro da comunidade, porque através do esporte e do estudo podemos abrir um leque fora da área de risco da comunidade - explica o educador Igor, que pela simplicidade ainda não se coloca como exemplo. Mesmo sem patrocínio fixo, o saldo em 2005 foi muito positivo para os educandos de karate da Ação Comunitária do Brasil/RJ com um resultado impressionante de vitórias. No total foram 470 medalhas, sendo 195 de ou-
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RIO DE JANEIRO
ro, 144 de prata e 131 de bronze. E 2006 promete ser ainda melhor, porque aumenta o número de competições por ser um ano Pré-Olímpico. De acordo com Daniel Caputo, coordenador de Artes Marciais do núcleo da Ação Comunitária no Complexo da Maré, as aulas de karate podem ser mais um incentivo para os educandos comprovarem que existem diversos talentos na comunidade, e o que falta para eles é oportunidade. E o papel da ACB é orientar estes talentos e auxiliar no desenvolvimento social deles.
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NAS REDES DO CEASM
Maré ganha mais universitários Ex-alunos do CPV animam os colegas que tentarm passar pelo funil do vestibular Cristiane Barbalho
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ão pessoas que com grande força e vontade de vencer ultrapassaram as barreiras diárias impostas pelo péssimo ensino que tiveram durante a vida escolar e passaram no funil do vestibular. Até agora, no Vestibular de 2006, já foram aprovados cerca de 60 alunos do PréVestibular (CPV) do Ceasm. É um número pequeno, se comparado à grande quantidade de pessoas que entram no início do ano nas salas de aula, aproximadamente, 380. Mas é significativo. Maria Aparecida Rodrigues de Araújo, 47 anos, moradora do Conjunto Esperança, voltou a estudar depois de 30 anos sem pegar num caderno. Fez cursos supletivos desde a 5ª série e no segundo ano de prévestibular conseguiu entrar para a Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Ainda não caiu a ficha. Não acredito que passei no vestibular, porque era algo fora da minha realidade. Minha mãe sempre diz que a única coisa que se pode deixar de herança é a educação. É isto que passo para meus filhos. Mas para passar no vestibular tem que abrir mão de muita coisa e estudar”, afirma. A moradora da Vila dos Pinheiros, Gilmara Pereira Gonzaga, 19 anos, passou para a faculdade de Agronomia da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). “Tudo será um novo desafio porque vou ter que me mudar e dependerei
O CIDADÃO dá dicas de cursos
A partir da esquerda: Fabiana, Renan, Gilmara e Gabriela com o estudo entraram para a universidade
da bolsa da universidade. Mas quem não passou, nunca deve desistir, pois o tempo de Deus é o certo”. Já Fabiana Oliveira e Gabriela Nunes, ambas de 19 anos, passaram para o curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). “O que me incentivou a estudar e tentar vestibular na área de serviço social foi uma palestra
realizada no Ceasm. Descobri que esta carreira tinha tudo haver comigo”, diz Fabiana. Gabriela elogia o CPV e dá um recado para os novos pré-vestibulandos: “Os professores do curso ajudaram bastante e estavam sempre dispostos a ensinar. Os que ainda não entraram para uma faculdade não devem desistir, porque pode ser difícil, mas não impossível”.
Artes Plásticas Permite o desenvolvimento e a expressão das idéias do artista de forma que ele possa interpretar o mundo que o cerca. O aluno cria pinturas,desenhos, esculturas, trabalhando com lá-
pis, papéis, tintas, pinceis etc...usando sua criatividade e inspiração. Duração: 4 anos Curso: Pode ser encontrado na UFRJ e Uni-Rio O Cidadão • 9
INCLUSÃO
Maré Conectada Os moradores poderão acessar a internet gratuitamente Cristiane Barbalho
s mareenses já podem começar o seu processo de adaptação às novas tecnologias digitais. Isso porque o programa Comunidade Conectada, que visa capacitar a população para utilizar o computador no trabalho e no seu dia-adia, chegou na Maré. O projeto propiciará o acesso irrestrito ao mundo digital, com a oferta de cursos gráficos (para desenho e fotografia), administrativos (incluindo o pacote Office: Windows, Word e Excel) e Internet. Comunidade Conectada é organizado a partir da parceria entre o Ceasm, o Instituto Ayrton Senna (IAS) e a Microsoft. Segundo Lea Souza da Silva, diretora do Ceasm, a parceria nasceu para que os moradores da Maré possam está incluídos no mundo da informática. “Nós já somos parceiros do Instituto Ayrton Senna há três anos, no projeto Viver Com Arte, que trabalha a arte aliada à educação. Em 2005 o IAS abriu inscrições para esse programa na área de informática e resolvemos nos inscrever para o desenvolvimento de metodologias para a área de inclusão digital”, diz. Para viabilizar um curso de qualidade e que atenda às necessidades dos mareenses, os orientadores do projeto recebem treinamentos específicos e respondem,
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Representantes do Ceasm, do IAS e da Microsoft na inuguração do Projeto Comunidade Conectada
mensalmente, a questionários sobre educação e o desenvolvimento das turmas. Além de o programa propiciar a impressão de documentos e arquivos, a comunidade terá acesso à internet gratuitamente. Para participar da Comunidade Conectada o interessado deverá pagar uma taxa de participação, mas o valor ainda não foi definido. Os laboratórios de informática foram instalados na Casa de Cultura da Maré. Mais informações pelo telefone 2561-4604. Cleuma Lucindo
Instrutor do projeto Comunidade Conectada auxilia aluna no laboratório da Casa de Cultura 10 • O Cidadão
Microsoft e IAS A representante da Microsoft, Alcely Strutz Barroso, diz que a empresa se preocupa em dar acesso às comunidades ao mundo digital. “A Microsoft tem uma missão de oferecer serviços para o desenvolvimento das comunidades e promover o acesso à tecnologia para quem não tem. Para nós é muito gratificante ver uma comunidade, tão organizada e estar em busca de novas oportunidades de ampliação do seu potencial, como a Maré”. Ela afirma que o papel da empresa é ajudar aos jovens a serem protagonistas de seu próprio futuro. A gerente do programa Comunidade Conectada e representante do IAS, Kátia Ramos, diz que o Ceasm foi escolhido para organizar o programa porque a entidade trabalha com educação. “Selecionamos esta instituição pelo compromisso com a causa social e pela proposta de educação aliada ao desenvolvimento humano”. Desde 2005, o programa de inclusão digital para comunidades de baixa renda já atende a cinco ONG´s em todo o Brasil: Liceu, na Bahia; Asas Fortes, em São Paulo; Água, no Ceará; Humbiumbi, em Minas Gerais; e Ceasm, no Rio de Janeiro. Os interessados em saber mais sobre o programa podem acessar o site na internet: www.comunidadeconectada.org.br.
GERAL
Fotos de Cristiane Barbalho
Carnaval agitado O Gato de Bonsucesso e blocos abalaram na folia Maré fez bonito no Carnaval deste ano. Na alegria dos bailes ou na irreverência dos blocos, o mareense mostrou que tem samba no pé. O Gato de Bonsucesso, a escola de samba da Maré, levou para o Terreirão de Samba o enredo “No esplendor de uma noite fez-se a magia de um ser milenar. Gato do Egito ao imaginário popular”. O tema apresentou o gato, um animal de muitas caras e inúmeras crendices.
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Integrantes do Gato retocando as fantasias
Apesar de receber nota dez em alegorias/ adereços e enredo, a escola somou apenas 150,2 pontos, ficando em 12º lugar no Carnaval 2006. Este resultado causou o choro da diretora Bianca Araújo. “Não entendo, a escola estava tão bonita. Mas um dia ganhamos e no outro perdemos. Alguém tem que chorar, para outros ficarem alegres”, diz Bianca, que também foi responsável pela Ala de Crianças, que apresentou os inimigos do gato, o cachorro e o rato. Com o enredo “Canto do Dicró, sua praia é de Ramos” o Bloco Boca de Siri desfilou com cerca de mil componentes. O bloco alcançou nota máxima em todos os quesitos. Dessa forma obteve o 1º lugar, e ano que vem desfilará pelo grupo 1. “Foi um sufoco, mas conseguimos dez em tudo. Espero que a comunidade participe e confie mais”, diz emocionado o presidente, Vitor Conceição, 52 anos. O Bloco das Piranhas e o Bloco da 18, ambos da Vila do João, desfilaram pelas ruas da comunidade com cerca de cem integrantes cada. Já o Bloco Se Benze que Dá, que existe há dois anos e é formado por pessoas que participam de alguma forma do Ceasm, percorreu, as ruas do Morro do
Carro abre-alas do Gato de Bonsucesso foi um dos sucessos no desfile de carnaval
Bloco Se Benze que Dá desfila pela comunidade
Timbau, Baixa do Sapateiro, Parque Maré e Nova Holanda, com o tema “O mareense no mar”. A comissão de frente, Felipe em sinal de protesto, Herculano ergueu o cartaz com do Corpo de a seguinte frase: Dança da “Esse ano queremos Maré romper as barreiras, queremos ampliar nosso caminho”. Na Vila Olímpica o Baile de Carnaval teve muita marchinha, confete, serpentina e brincadeiras para as crianças. O evento foi voltado para as crianças, jovens e adultos que fazem aulas nas suas dependências.
Baile de carnaval infantil na Vila Olímpica
O Cidadão • 11
CAPA
Políticas públicas de segu seg
Indignados com a falta de segurança nas comunidades, moradores relatam Bira Carvalho
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pesar do discurso oficial de que o Rio de Janeiro tem uma Política de Segurança, o que se vê, na prática, são ações pautadas pela repressão e violência. Esta é a constatação que se faz a partir dos relatos de moradores da Maré. São histórias de personagens que preferem não se identificar, já que a população não se sente segura sequer em denunciar a violência sofrida. É o caso de Monique. Ela conta que depois de uma noite tumultuada na comunidade, se deparou com vários policiais e dois Veículos Pacifi-cadores, carro blindado mais conhecido como Caveirão, na porta do CIEP Operário Vicente Mariano, na Baixa do Sapateiro. Logo depois, apareceu um menino, com cerca de oito anos, que não se deu conta da situação e ficou na porta da escola esperando que o portão fosse aberto. Assim que viu os blindados, a criança entrou em desespero. “Ele ficou vermelho, com tom de voz alterado, balançando os braços, demonstrando muito nervosismo e dizendo que ia embora, já que a mãe havia lhe dito para correr para casa quando visse o Caveirão”, relata Monique. O Caveirão é a síntese do tipo de política
Crianças brincando na quadra da praça da Nova Holanda quando derrepente passa um Caveirão
de segurança repressora que tomou conta do Estado do Rio de Janeiro. Repressora e desigual, pois ameaça exclusivamente moradores de baixa renda. Esse problema é global. Na Inglaterra, a morte de Jean Charlés, confundido com um terrorista, mostra como as políticas
de segurança são sinônimo de preconceito. Mas enquanto na Inglaterra são registrados três casos de morte nessas condições, por ano, no Rio de Janeiro somente em 2003 a polícia militar matou 1.195 civis. Outra marca da violência são as ocupações do exército em comunidades. “ A polícia ainda tem uma coisa de ditadura, de oprimir o operário e o pobre”, avalia Edílson Ernesto, 37 anos, diretor da Lona Cultural e cantor.
Neoliberalismo = Violência
Menino observa reportagem sobre o blindado na inauguração do Mural Contra a Violência 12 • O Cidadão
Segundo estudiosos, a violência no Rio de Janeiro é fruto de anos de descaso com a população em suas necessidades básicas, e só virou pauta nacional porque começou a atingir a elite. “Na década de 90 se consolidou o modelo neoliberal no Brasil e a desigualdade estrutural atingiu marcas nunca vistas. Entre 1995 e 2003 tivemos o maior crescimento da população carcerária de nossa história, 93%. Em paralelo, aumentou o número de mortes por policiais, todos registrados como ‘Auto de Resistência’. O que assistimos é a completa criminalização da pobreza, em que os presídios e a polícia passam a ter um papel fundamental na manutenção da ordem urbana”, analisa
gurança? Será que existe?
m a violência vivida nesses locais onde a categoria de cidadão é esquecida Marcelo Freixo, professor de História, pesquisador do Centro de Justiça Global e excoordenador da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. De acordo com a assistente técnica da ouvidoria da Secretaria de Direitos Humanos Isabel Cristina Ferreira Martins, o Auto de Resistência seria uma reação do policial, quando está sob a mira do suposto agressor. “Mas, na realidade, encobre uma execução sumária, em que o suposto agressor é morto com tiros na nuca ou pelas costas”, diz.
Pânico e Medo Enquanto isso, nas comunidades, fica evidente que o clima de pânico toma conta dos moradores. “Nós não temos segurança. Mudei meus hábitos. Antes eu chegava às 4h. Hoje, a partir das 19h eu não saio mais de casa”, diz Rosemeire, moradora do Morro do Timbau. Eles têm medo de tudo e de todos e não tem a quem recorrer. “Para os governantes nós não temos importância. Me sinto esquecida, sim. Acredito que os policiais não são bem preparados. Eles não olham para onde atiram, nem observam se têm crianças na rua. E nada melhorou com o novo Batalhão. Vivemos tensos 24 horas”, diz Maria, moradora da Nova Maré. A violência afeta até a vida financeira dos moradores. “Meu filho perdeu um emprego com salário de quase mil reais porque não podia chegar de madrugada. Ele chegava tarde e, várias vezes, ficou no meio de fogo cruzado”, conta Maria. A banalização da violência policial é apenas um dos problemas de nossa “política de segurança”. Para Marcelo Freixo, os principais são “a precária formação dos policiais, a falta de controle interno e externo, os péssimos salários, as condições de trabalho, a corrupção estrutural e, principalmente, a falta de uma política pública que seja transparente e que tenha objetivos claros a curto, médio e longo prazo”, afirma. O CIDADÃO entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, mas ela não se posicionou.
Comunidades em Movimento A solução para o problema não é mágica, mas exige uma mobilização séria da população e, prin-
cipalmente, dos governantes. Mas diante da situação de desrespeito, a tendência dos moradores das comunidades é a falta de esperança. “Os policiais deveriam respeitar os moradores e não confundilos com bandidos. Se os moradores se unissem para combater a violência eu não participaria, pois tenho medo”, relata Antônia, moradora do Parque União. O fato que atrapalha a mobilização é a total descrença na instituição policial. “Acredito que os policiais são preparados, mas não têm moral, já que fazem pior que os bandidos. Roubam, matam...”, diz Orlando, morador da Marcílio Dias. No entanto, ainda há pessoas que acreditam na mudança. Em toda a cidade estão surgindo grupos com este objetivo. O “Movimento Posso Me Identificar?” é um exemplo. Ele foi formado depois do assassinato de quatro jovens, em abril de 2003, no Morro do Borel, e luta por mais respeito e dignidade para com os moradores de comunidades. Para isso, escreveram um documento, enviado aos poderes públicos. Na carta há propostas que visam garantir os direitos assegurados pela Constituição e mudanças estruturais, que facilitem a superação gradual e contínua da violência que atinge a sociedade. Na Maré, depois da morte de várias pessoas em confrontos, alguns moradores começaram a se mobilizar. Nas reuniões do grupo Legítima Defesa, fica evidente a intenção do movimento: mobilizar a comunidade para que ela comece a reagir em favor da vida. Tentando ganhar a confiança dos moradores, o grupo realizou no dia 22 de fevereiro um evento na Praça da Nova
Cristiane Barbalho
Marcelo Freixo em debate na Nova Holanda
Holanda. O acontecimento marcou a inauguração do Mural Contra a Violência, onde são colocadas reportagens sobre temas ligados à violação dos direitos, e principalmente casos de violência cometidos por policiais do Caveirão. O evento contou com cerca de 200 moradores, além de integrantes de outros movimentos contra a violência espalhados pela cidade. Durante as atividades, houve o debate entre Marcelo Freixo e os moradores e a exibição de dois vídeos. Um com a reportagem do fantástico em que crianças falam do medo que têm do Caveirão. Outro, um documentário feito pelo Observatório de Favelas, “Até Quando?”, que mostra depoimentos dos atores envolvidos e atingidos pela violência. Agora, o mural está na parede do Gato de Bonsucesso, na Rua Principal, esperando contribuições. E o grupo convida a todos para participar dos encontros quinzenais, às quartas-feiras, na Escola Municipal Nova Holanda. O Cidadão • 13
CAPA
Quem tem medo do Caveirão? Moradores aterrorizados podem participar da Campanha Contra o Caveirão uinta-feira, 8 de outubro de 2005. Estava na Nova Holanda conversando com amigos. De repente, vi um carro com o farol alto. Pensei: O caveirão! Ia tentar correr, mas não deu tempo. Alguém soltou fogos e eles responderam com tiros. Uma bala me acertou de raspão”. Essa é a história de José, mas poderia ser narrada por outros mareenses, que sofrem com as investidas do Caveirão. O veículo protege os policiais. No entanto, todos ficam acuados, pois o Caveirão não tem hora para entrar na comunidade e intimida
“Q
Fotos de Cristiane Barbalho
através de ofensas feitas por um alto-falante. “Não podemos admitir o fato da polícia utilizar um carro de guerra. O princípio de qualquer guerra é a destruição do inimigo. Quem seria o inimigo da sociedade? O pobre, negro e favelado? O Caveirão viola todos os tratados internacionais e todas as leis nacionais”, diz Freixo. O Governo do Estado diz que o carro foi feito para entrar na comunidade em situação de conflito, mas o que acontece é que na briga de facções ele não aparece. Um exemplo foi a invasão da Rocinha por grupos rivais, em que os moradores não puderam contar com o Cavei-
rão, que se manteve estacionado na subida do Morro até o fim do conflito. Ainda assim, no site de relacionamentos Orkut, há “comunidades” exaltando o veículo. Para mobilizar a sociedade , as entidades: Justiça Global, Anistia Internacional, Centro de Defesa de Direitos Humanos de Petrópolis e Rede de Movimentos Contra a Violência estão realizando uma Campanha Internacional Contra o Caveirão. Eles estão arrecadando assinaturas para um abaixo-assinado e distribuindo postais com foto do carro pelo mundo para serem entregues à Governadora .
O rap ‘Sai, Caveirão’ Depois de vivenciar muitas situações de risco e de ver o funcionamento da Lona Cultural prejudicado pela violência, Edílson Ernesto resolveu se manifestar através da música. Domingo na favela era um dia normal Crianças brincavam, adultos liam o jornal Há muito que eu não via nada igual A favela vivia numa paz total Mas de repente algo de errado pintou Por alguém que nos avisou E as pessoas começaram a correr Todo mundo assustado Com medo de morrer E o pastor fazia sua oração Saiu correndo com a Bíblia na mão Quando logo fulano gritou: Sujou! O caveirão pintou
Edilson com sua viola apresenta o rap à comunidade 14 • O Cidadão
Ih ih ih, o caveirão vem aí Sai caveirão
Ih ih ih, o caveirão vem aí O caveirão é um carro blindado Cheio de cana, fuzil pra todo lado Ele chega na favela e vai logo atirando Pessoas inocentes ele vai alvejando O governo tem que dar segurança Mas vem o caveirão trazendo insegurança Isso não pode acontecer Quem mora na favela tem o direito de viver Quem vive na favela não agüenta mais sofrer Ih ih ih, o caveirão vem aí Sai caveirão Ih ih ih, o caveirão vem aí Sai caveirão, sai caveirão, sai caveirão...
Violência igual a mercadoria A imprensa utiliza a violação dos direitos dos cidadãos como espetáculo oramos em um lugar onde os meios de comunicação só chegam para contar os mortos”, essa frase foi escrita em um cartaz por pessoas de diversas comunidades do Rio de Janeiro que protestavam contra a violência policial no ano de 2005. Ela demonstra a insatisfação dos moradores com a maneira na qual a imprensa noticia a violência nas favelas: um grande espetáculo. “A imprensa vem aqui para falar dos mortos porque isso dá ibope. Ela não faz matérias sobre o nosso dia-a-dia e nem sobre os projetos de educação e cultura desenvol-
“M
vidos na comunidade. Isso é uma discriminação”, diz o Presidente das Associações de Moradores da Maré, Alder-ley Júlio dos Santos. De acordo com a jornalista Cláudia Santiago, na maioria das vezes a violência do Estado e de bandos de criminosos contra a população são tratados como espetáculo durante uma semana e depois não se toca mais no assunto. “As matérias não explicam qual a razão e a origem desta violência. Isso acontece porque eles fazem parte do jogo do poder de uma sociedade dividida
em classes. E é por isto que a campanha contra o Caveirão não está nos jornais”, diz Cláudia, que pertence a Central Única dos Trabalhadores e integra a Rede Nacional de Jornalistas Populares (Renajorp), movimento criado para denunciar e combater toda manifestação de violência contra as classes populares. Marcelo Freixo diz que a mídia criminaliza os pobres da sociedade. Outro problema que se evidencia na maneira com que a grande imprensa aborda a violência é o fato de ignorar o sofrimento submetido, cotidianamente, aos moradores das comunidades. “Quando há um tiroteio, aparecem matérias nos jornais sobre como os moradores dos prédios que ficam no entorno da favela estão desprotegidos. Eles não entram na comunidade para saber como estamos nos sentindo. Não sofremos com a violência?”, pergunta a moradora Luciane, do Parque Maré.
Governo do Estado tem ouvidoria Secretaria de Direitos Humanos dá pensão se confirmada a culpa de policiais ara fazer o atendimento às vítimas da violência policial, o Governo do Estado tem a ouvidoria da Secretaria de Direitos Humanos. “Se for o caso de testemunha com denúncia a gente encaminha para a Corregedoria. Lá eles colhem os depoimento das pessoas. A partir daí começa um processo de investigação para avaliar a responsabilidade dos policiais sobre aquela determinada morte”, explica a assistente técnica em ouvidoria Isabel Cristina Ferreira Martins. Um outro encaminhamento é montar o processo para fazer a análise conforme a Lei 2749/2005, para que estas pessoas tenham uma avaliação do Procurador da República do Estado e da Governadora, para receberem uma pensão de até três salários mínimos. A pensão está prevista na Lei, para todas as pessoas que possam comprovar tecnicamente, em denúncia ou pronunciamento, que houve responsa-
P
bilidade policial na morte relatada. Esta lei foi promulgada em setembro de 2005. “Nós já encaminhamos mais de 154 processos”, diz Isabel. Segundo a técnica, em geral as vítimas são jovens negros, entre 15 e 17 anos. Ou mulheres de mais idade que estão saindo para trabalhar em horário de confronto, entre 4 e 6h da manhã. “Na maioria dos casos, pelos laudos, dá para comprovar que foram execuções. No registro de ocorrência vem “Auto de Resistência”. E aí, a grande briga destes familiares é provar que não houve resistência”, diz Isabel. Para entrar nessa luta, são necessários os registros de ocorrência, o laudo cadavérico, o comprovante de escolaridade e o comprovante de trabalho da vítima. Depoimentos de testemunhas também ajudam muito. Segundo Isabel, a ouvidoria se interessa por todos os aspectos envolvidos no fato, e não só no registro de
Isabel Cristina:”Quanto mais testemunhas melhor”
ocorrência. “A reparação é um reconhecimento do Estado de que cometeu um erro. Isto, politicamente, para a gente que atua na militância de direitos humanos, é um grande avanço”, diz Isabel. Para entrar em contato com a ouvidoria basta ligar para os telefones 2299-4304 / 2299-3452 / 2299-4306 ou ir a rua da Ajuda, 5 - 27º andar - Centro. O Cidadão • 15
SERVIÇO
Mães que são cegonhas Mulheres que fazem de sua casa uma creche se capacitam para atender as crianças Hélio Euclides
cada vez maior a necessidade de mulheres se ausentarem dos lares para contribuírem com a renda familiar. Mas faltam creches para deixar os seus filhos. Para tentar mudar essa realidade, a concessionária que administra a Linha Amarela (Lamsa) e o SESC Engenho de Dentro uniram-se para promover o projeto Mães Cegonhas, como forma de colaborar com 13 comunidades em torno da via expressa, entre elas a Maré. O objetivo é capacitar mulheres como agentes multiplicadores de saúde, aprimorando a higiene, cultura e lazer para cuidados básicos com crianças. Dessa forma, as participantes estão habilitadas para receber as crianças em suas casas. O curso, que já acontece há três anos, em 2005 formou 13 turmas de 25 mulheres. As aulas foram ministradas durante 15 dias, numa parceria com as associações de moradores de cada localidade. Na Maré foram beneficiadas a Vila do João, Vila do Pinheiro, Parque Ecológico e Baixa do Sapateiro, sendo atendidas diretamente 100 mulheres. “Aprendi a fazer diversos pratos e entender a linguagem dos meus netos. Foi uma ótima oportunidade”, diz a moradora da Vila do João, Valdecir da Costa, 56 anos. A vice-
É
As pessoas formadas no curso de Mães Cegonhas encerraram o projeto com grande festa
presidente da Associação de Moradores do Conjunto Pinheiro, Eunice Cunha, 58 anos, faz coro. “Aproveitei para fazer o curso. Foi útil em tudo, nota mil. Lutarei pela continuação do curso na comunidade, pois aqui não tem creche”,diz Eunice. Na festa de encerramento do curso houve a apresentação de uma peça teatral
e também um almoço dançante. “O projeto foi muito bem recebido na Maré, com a participação intensa das lideranças comunitárias”, diz a gerente de desenvolvimento sócio-ambiental da Lamsa, Giovanna Curty. O presidente da Associação da Vila do João, Paulo César, 51 anos, espera que o projeto continue em 2006.
E por falar em Governo... Apresentaremos as Instituições governamentais que existem na Maré partir desta edição serão informados os dados relacionados as instituições governamentais, mas a última escola Tetônio Vilela será apresentada.
A
Escolas municipais Escola Municipal Teotônio Vilela Educação infantil / Ensino fundamental I (1o ano do ciclo à 4a série) / Ensino fundamental II (5a à 8a série) Endereço: Rua Manuel Falcão A. Maranhão, s/no - Conjunto Esperança, Maré. 16 • O Cidadão
CEP: 21041-615 Telefone: 2561-4214 / 2280-3816 Ano de fundação: 1985 Funcionamento: Manhã e tarde
Instituições Governamentais ADL-Maré - Agência de Desenvolvimento Local da Maré Endereço: Rua Teixeira Ribeiro, 629, loja A Parque Maré, Maré. CEP: 21040-250 Telefone: 2299-8911 / 3869-7829 Vinculação: Secretaria de Estado de Gover-
no – SEGOV Ano de fundação: 2001 Funcionamento: 2ª à 6ª feira das 9h às 18h Principais serviços oferecidos: 1. Programa Trabalho Educação: curso de capacitação de jovens, com duração de 3 a 4 meses, e posterior encaminhamento dos mesmos para exercício profissional em órgãos públicos do Estado ou da União ou na iniciativa privada. 2. Supervisão de serviços de infraestrutura implementados na Maré pelos órgãos do Governo do Estado.
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18 • O Cidadão
SAÚDE
Saúde chega à Marcílio Dias Na comunidade saiu o Médico Sem Fronteiras e entrou o Saúde da Família Cristiane Barbalho
A
comunidade Marcílio Dias vive um momento de mudanças na área da saúde. A modificação foi efetivada em dezembro de 2005, quando saiu o programa Médicos Sem Fronteiras (MSF) e entrou o Saúde da Família (SDF), da prefeitura do Rio. Uma das vantagens da mudança é o fato de o programa Saúde da Família ser permanente, diferente do MSF, como atesta o sanitarista Guert Wimmer. “O Médico Sem Fronteiras atua em áreas de guerra. Não é próprio do programa MSF uma permanência, como há no Saúde da Família”, diz. Por outro lado, o programa enfrentada a falta de profissionais em especialidades importantes para saúde dos mareenses. Não há, por exemplo, especialistas em saúde bucal. “Esse é um problema que a população da Maré enfrenta já há algum tempo. Não existem dentistas disponíveis nos postos comunitários, e isso é muito ruim”, lamenta Guert. De acordo com o sanitarista, a comunidade tem aprovado o novo programa. “Estamos mudando de uma política não governamental (MSF) para um programa de governo da Prefeitura. Como boa parte da equipe continua, a população tem aceitado bem, pois já está acostumada a conviver com esses profissionais de saúde”, diz. Os serviços atualmente disponíveis no Saúde da Família são clínica médica, ginecologia, pediatria e enfermagem. Há, neste
Parte da equipe do Programa Saúde da Família que atua no Posto de Saúde da Marcílio Dias
programa, uma proposta de trabalho conjunto entre os profissionais de saúde e a população. “O ponto principal é que hoje temos um ganho na política de governo. Teremos vantagens porque o serviço estará sendo descentralizado. À medida que descentralizamos podemos atender melhor a demanda da comunidade, de acordo com as informações que ela nos passar”, afirma o sanitarista.
A equipe do SF teme que alguns fatores atrapalhem o trabalho. “No momento, nosso maior medo é a falta de insumos que tem ocorrido na Prefeitura, inclusive nos postos comunitários”, alerta Guert. Entretanto, estão confiantes por causa da integração entre os profissionais e a população local. Ele acredita que isto contribuirá para que as metas estabelecidas pela equipe sejam cumpridas.
C Co om mo ov vo ov vó ój já ád di iz zi ia a Dicas diversas e de cozinha Para acabar com as formigas de cozinha: Coloque pedaços de limão murcho nos cantos dos armários, da pia, etc. As formigas não toleram o odor do limão e desaparecem rápido. Mantenha as traças longe de suas roupas: Borrifando as paredes dos armários com um pouco de cânfora diluída em álcool, ou coloque ervas aromáticas (alecrim, arruda, coentro, hortelã, manjericão e sálvia) dentro de um saquinho e guarde-os no armário.
Recupere a maionese com água: Se a maionese talhar, experimente recuperá-la passando-a aos poucos para outra vasilha em que tenha colocado um pouco de água. Mas não deixe de bater rapidamente com o batedor, até obter a consistência normal. Para limpeza de esquadrias de alumínio: Use creme de limpar a prata. Esfregue bem e depois passe um pano seco. O Cidadão • 19
CIDADÃOZINE
Quem Lê Sabe Mais Estudantes da Maré aprendem a produzir matérias para jornais impressos Cristiane Barbalho
O
programa “Quem lê jornal sabe mais”, realizado pelo jornal O Globo, reúne 50 escolas e fundações do estado, todos os anos. O Ceasm participou do projeto durante o ano de 2005 e recebeu, durante o curso, dez exemplares do jornal, todos os dias, para ser utilizado em sala de aula. Assim, os textos serviram para que professores e alunos pudessem compreender a importância da leitura e da informação. Dentre as atividades do programa, um destaque é o curso Repórter do Futuro, que na Maré teve três representantes: Rondinele Barbalho, Gizele de Oliveira e Douglas Baptista. Esses alunos estudaram na sede do Globo, recebendo informações sobre como se faz um texto jornalístico. A idéia do programa Repórter do Futuro é orientar na produção de reportagens feitas por estudantes, sobre temas ligados ao universo juvenil. O curso possibilita que os futuros repórteres encarem o desafio de exercer o jornalismo a serviço da cidadania. “Nesse sentido, gostaria de destacar que a participação dos três cumpriu esse objetivo integralmente. Inteligentes, críticos e cooperativos, eles souberam defender seus pontos de vista com sólidos argumentos e delicadeza necessária”, disse a jornalista e coordenadora do Programa Repórter do Futuro, Nívia Carvalho, 47 anos. Ela lembra que o trabalho também foi levado a alunos de escolas públicas e privadas. Do meio ao final do ano passado, os jovens tiveram suas reportagens publicadas no jornal Zona Norte, do O Globo. A primeira reportagem, feita por Douglas, 15 anos, focalizou o trabalho realizado pelo Ceasm nas escolas. Ele 20 • O Cidadão
Legenda
Os estudantes Gizele e Douglas escrevendo matéria no computador para o jonal O CIDADÃO
reconheceu a importância da entidade e descobriu durante o estudo a sua vocação. “O curso me fez pensar no caminho a seguir, num futuro que pode está relacionado com o jornalismo esportivo.”, disse. Na segunda reportagem o bairro Maré foi o destaque. Isso porque Gizele quis mostrar para seus colegas, principalmente os da Zona Sul, como é uma comunidade, seu abandono e a presença de pessoas do bem. “É uma pena que a imprensa escreva para os ricos. Mas desejo que todos moradores daqui lutem contra o preconceito, e nunca se acomodem”, diz Gizele, 20 anos, que deseja seguir a linha do jornalismo político.
Fragmentos dos textos impressos: O Pré-vestibular comunitário na Maré, publicado em 31 de julho de 2005 “...Ele surgiu no ano de 1997, como projeto principal do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, o Ceasm, e foi criado por moradores da própria comunidade que, com muita dificuldade, ingressaram na universidade e sentiram o desejo de que outros tivessem a mesma oportunidade...”. Pelo fim da exclusão social, publicado em 13 de novembro de 2005. “...A sociedade é separada pelo preconceito e pela justiça, gerando, de um lado, a classe dos excluídos e, do outro, a dos que excluem. Essa exclusão é percebida de forma clara em espaços populares. Na Maré, moradores e profissionais sentem na pele as conseqüências desse sistema...”.
MARÉ MUSICAL
Orquestra de Flautas lança CD Músicas relembram as brincadeiras e as cantigas de rodas Rosinaldo Lourenço
O
s amantes de música de qualidade agora têm um motivo para comemorar: a Orquestra de Flauta da Maré acaba de lançar um CD. As brincadeiras de criança, as cantigas de rodas e outras tradições populares da Maré são o tema central do trabalho. A questão indígena e o folclore brasileiro também são retratados nas músicas. A Orquestra de Flauta da Maré faz parte do Programa de Criança Petrobrás e é desenvolvido pelo Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm). A primeira proposta para gravação do CD foi feita ao grupo em 2004, durante o lançamento do livro “Lendas e Contos da Maré”. Em janeiro do ano passado a Petrobrás se comprometeu em viabilizar o CD, arcando com os custos de produção. Em junho, o grupo já estava em estúdio para a gravação. Outros projetos do Programa de Criança Petrobrás, como a Oficina da palavra, Marécatu, Contação de História e Hip-hop, tiveram participação especial na gravação. Aproximadamente 50 pessoas participaram da produção. Este é o segundo trabalho do grupo, que produziu um DVD com o patrocínio da Fundação Nacional de Arte (Funart), a partir do espetáculo apresentado no Teatro Cacilda Becker. A primeira apresentação em público do grupo foi durante a Senama (Semana do Meio Ambiente), realizada na Vila Olímpica da Maré, em 2001. A partir da divulgação, a procura pelo projeto aumentou e a orquestra chegou a ter cerca de 70 alunos. Hoje, é composta por 30 integrantes fixos. José Cabral tem 15 anos e está no projeto desde os 10 anos. Ele conta com orgulho os lugares em que já tocou: “Já nos apresentamos no teatro Cacilda Becker e no Palácio do Catete. Quando me ensinaram a ouvir música, acabei descobrindo o mundo”, diz o jovem instrumentista.
As aulas e ensaios O monitor da orquestra nas escolas, Anderson Barros, 20 anos, conta como são realizadas as aulas e como se dá o processo de aprendizagem: “Eles passam por uma
Alunos da Orquestra de Flautas afinando os seus instrumentos para mais um show Reprodução
iniciação musical para conhecer a teoria da música e depois começam a praticar. Quando a criança não se identifica com o instrumento escolhido no primeiro momento, nós apresentamos outro”, diz. Os ensaios, com o grupo antigo, acontecem aos sábados. Neles o acesso do público é mais livre. Já durante a semana o acesso é mais restrito, pois os ensaios são com as crianças que estão ingressando no projeto. Os treinos são realizados nas oficinas das escolas, já que um dos critérios para fazer o projeto é estar matriculado nos Cieps Elis Regina e Samora Marchel. O diretor musical da orquestra, Roberto França, diz que o grupo pretende trabalhar com ritmos africanos. “Vamos estudar o papel da música na época da escravidão, as diferenças de etnias e os tópicos religiosos. Faremos um repertório inédito”,
Capa do CD da Orquestra de Flautas da Maré
garante. Roberto ressalta que as melodias e letras são produzidas pelos integrantes da orquestra e que os arranjos musicais são feitos coletivamente. O Cidadão • 21
ESPORTES
Rolando a bola do sucesso Clube da Vila do João ajuda a descobrir novos talentos e projeta o futuro Cristiane Barbalho
N
ão é fácil chegar a um clube conhecido para jogar futebol, especialmente se o jogador não tiver condições financeiras. Para estes meninos a solução é treinar perto de casa, num time que dispute campeonatos importantes, para dar visibilidade ao seu trabalho. O Vila do João Futebol Clube é um dos divulgadores dos jovens talentos da Maré e já levou três alunos para times grandes. O presidente do clube, Edilson Barbosa, 50 anos, diz que tudo é gratuito e seu trabalho é voluntário. Um passo importante para o reconhecimento do clube ocorreu em 2002, quando se filiou a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FEFRJ). Já no ano seguinte, foi convidado para participar da 3ª divisão, mas a falta de patrocínio tirou a chance tão almejada. A diferença do sonho para a realidade foi o valor de R$ 12 mil, necessário para os três meses de campeonato. Entretanto, o que chamou atenção de outros dirigentes foi a disposição do clube ao disputar o campeonato de favelas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), do qual foi campeão, na classificação infantil, duas vezes. Em 2000, recebeu das mãos do jogador Ronaldo o prêmio e em 2004 foi premiado por Parreira e Zagalo. “O troféu não é o mais valioso. Importante é o trabalho social, indicando as melhores crianças para a seleção da CBF”, comenta Edílson. O presidente lembra que um dos que tentam receber um título na categoria mirim
SABOR DE Ingredientes: - 1 e 1/2 Tapioca - 1 litro de leite - 1 lata de leite condensado - 1 e 1/2 xícara de açúcar - 200 gramas de coco ralado - 100 gramas de margarina - 4 ovos 22 • O Cidadão
MARÉ
Os meninos do Vila do João Futebol Clube com o técnico René e o presidente Edilson Barbosa
deste ano é Luis Carlos, 11 anos, indicado para a CBF. “Comecei a jogar e me afastei da rua. Hoje minha avó sempre fala: Junior vai treinar”, diz o menino. O clube tem o apoio da empresa NHJ do Brasil e de algumas associações de moradores. O outro braço forte é o Projeto Inter de Milão. “Minha maior realização é ajudar as crianças. É muito gratificante, especialmente quando os familiares avaliam o antes e o depois dos filhos”, diz o representante do clube espanhol no Brasil, Hildebrando Gonçalves, 35 anos, o popular Del.
Clube não tem sede A falta de local para a sede é uma das dificuldades do clube. Por isso, o dirigente entrou com processo de cessão de uso de um terreno na Rua 9, mas não conseguiu. “A vereadora Teresa Bergher embargou a liberação. O lugar cheio lixo só serve para os urubus. Enquanto isso, utilizo a minha casa como sede”, diz Edilson. Ao ser procurada, a vereadora negou o fato. “Estou fora da 30ª RA desde 1998, desconheço o processo. Esse assunto não faz parte do papel de vereadora”, afirma Teresa Bergher.
Pudim de tapioca Modo de fazer: Colocar a tapioca de molho no leite. Depois juntar o leite condens a d o , o a ç ú c a r, o c o c o r a l a d o , a margarina derretida e os ovos ligeiramente batidos. Assar em forma caramelada.
Cristiane Barbalho
Telma é a autora desse pudim maravilhoso
PÁGINA DE RASCUNHO
CARTAS A Barbearia do Zé
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Homenagem a todas as mulheres Hoje é um dia muito especial, como são todos os dias, as flores desabrocharão sorrindo, e o sol despertou mais lindo. Hoje é um dia sem igual, ouço o cantar dos pássaros, as canções do mar, que cantam para lhe homenagear. De você vem o encanto, que encanta a vida da gente. Esta é uma simples homenagem , por que todo dia, é dia internacional da Mulher. Elcio dos Santos - Atendente comunitário da 30ª Administração Regional
As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)
-Ah... tá alisando homem!... - Ele ficava irritadiço com as indiretas dos transeuntes, conforme disse-lhe certa vez, uma graciosa moçoila: - Em Zé!... - Ah... falta apenas um grau!... Argumentava o maestro evangélico Zé Marinho, a afirmar que o irrequieto barbeiro sempre foi um neurótico, o qual havia perdido noventa e nove por cento do raciocínio: - Pro Zé Barbeiro, ficar completamente doido... doidinho da silva!... - Aqui é pequeno... mas, o ponto é de primeira!... - Dizia o Zé Barbeiro, a vangloriarse da afluência de sua barbearia, a localizar-se na principal esquina da entrada da favela: Aqui, o movimento vale tudo... é gente pra lá, é gente pra cá!... - Ora... você é um morto-vivo, que ainda tá de pé!... - Exclama o João do Açu, sob um falar gritado. Porém, intromete-se no assunto, o alourado Sandir, a dizer: - Porque... não cortaram os pés dele!... - Não... graças as garrafadas de catuaba... aquelas garrafadas, da Feira dos Nordestinos, no Campo de São Cristóvão... Ah!... - Ao desagradá-lo profundamente, prossegue o João do Açu a ironiza-lo com os seus ditos, que eram negativos vaticínios: - Agora... se você se deitar, nem a injeção 914 alemã... te alevantará!... - Ah... pra raspar a barba na cara daqueles matutos... lá no norte, utilizava-se uma faquinha afiada... porque, naquele tempo, nem navalha existia!... - Atalha o seu compadre Ananias Medeiros, que era-lhe um amigo sincero, porém um tanto objetivo: - A aprender no tapa, a profissão de barbeiro... Zé você foi um pupilo!... - Olha a sacanagem!... - Reclama o Zé Barbeiro, a não entender o vocábulo pupilo: Até você, compadre?... - Aquela barata do Zé Barbeiro, é uma duvidança!... - Alguns indivíduos supersticiosos, exclamam com cepticismo: - Sei não, tem coisa naquela fiunça... Tem puchin no meio!... - Ao vê-lo prosperar, tudo indica que... foi, uma seta de macumbaria!... Diziam em surdina, ao vê-lo todas as manhãs a olhar com languidez,
ao lado oposto ao Largo Gerardo Marques do Pinho. Ao amarga-se de um desconsolo sem precedente, o que era o rarear-se de sua freguesia: - Maldosamente, atiçaram aquela barata... a alojar-se, em seu ouvido!... - Ao acorrer-se com urgência, foi-lhe fraterna... a atitude do Severino da Nevinha!... - Relembram-se de seus impropérios, ao vê-lo pular e espernear dentro do beco: - Ao retirarlhe com uma pinça, o imundo inseto... que já estava morto, dentro de seu tímpano esquerdo!... - A inveja, é uma miséria... e ali, só tem gente invejosa!... Exclama aliviado o Zé Barbeiro, após mudar-se para a recéminaugurada Vila dos Pinheiros, onde instalouse com a sua barbearia num obscuro ponto: Agora tô aqui, perto da antiga Ilha dos Macacos... e dali, agora eu me arrenego!... - Ah... vou passar os muafos, tudo de cobre... e vou embora agora, pra minha Juripiranga!... - A fala do barbeiro é decisiva, ao estar nervoso a morar naquele ambiente, que ele elogiara um dia: - “Aqui... é o melhor lugar do mundo!” - Porém, ao afrontar-se com uma decepção do cotidiano, vem a mudar-se radicalmente de idéia: - Todos morrem um dia, e comigo não será diferente... e o meu desejo, é ficar pra sempre lá... no cemitério de lá!... - Acredito, e tenho fé... que Santa Bárbara, há de me ajudar na minha saúde!... - Ao ver-se enfermiço e desenganado, apega-se a uma promessa. Ao deixar a barba crescer, em agradecimento a santa de sua convicção fervorosa: - Desacordade, eu fui parar no hospital... eu fiquei, todo inchado por dentro, nas hemorróidas, na pomba e tudo!... - Interessante... todos aqueles, que zombavam da minha saúde precária... já embarcaram na frente, a abotoar o pijama de madeira!... - Acrescenta o Zé Barbeiro naquele dia, sob um curto período de permanência na Vila dos Pinheiros. Antes de adoecer fatalmente, a forçá-lo a retirar-se pra o seu Nordeste, sem direito a retorno: Agora... por enquanto, eu ainda tô aqui!... Elpídio Bernardes da Costa Morador do Conjunto Esperança. O Cidadão • 23
MEMÓRIAS DA MARÉ
Rede Memória da Maré
Concurso de Fotos e Histórias da Maré
A
Rede Memória, ao longo dos últimos 07 anos, vem trabalhando para preservar e divulgar a história das comunidades do bairro da Maré. E esse trabalho já deu muitos resultados! O Museu da Maré será mais um importante projeto que vai colaborar para o reconhecimento da nossa história. Estamos trabalhando para inaugurá-lo em breve. Ele ficará aberto à visitação para que muitas pessoas possam ter acesso ao patrimônio construído pelos moradores. Mas esse patrimônio já está sendo divulgado. Neste ano, em parceria com o SEBRAE, no desenvolvimento do Projeto Integra Maré, constituído por várias instituições do bairro, a Rede Memória preparou um calendário e uma agenda. Composta por fotos históricas da Maré, a agenda contou com mais uma participação valiosa dos moradores das comunidades. Os moradores cederam, através de entrevistas, suas lembranças e memórias de experiências de vida que nos enchem de motivação para continuar o nosso trabalho.
Regulamento 1. Objetivo: Incentivar o trabalho de preservação e divulgação da história da Maré. 2. Categorias: O concurso está dividido em 2 (duas) categorias: 1ª. Fotografia: o(a) concorrente poderá apresentar uma ou mais fotos da Maré que pertençam a seu acervo pessoal. As fotos deverão ter mais de 10 (dez) anos e poderão retratar pessoas, paisagens, festas, obras etc., de qualquer comunidade da Maré. As fotos deverão ser identificadas com nome, endereço e telefone do(a) concorrente. 2ª. História: o(a) concorrente poderá apresentar uma ou mais histórias inéditas sobre fatos ocorridos na Maré, que possam virar um "causo", com por exemplo, O casamento na Palafita e O porco com cara de gente. As histórias deverão ser identificadas com nome, endereço e telefone do(a) concorrente.
Agenda e calendário, com fotos dos moradores, organizados pela Rede Memória 3. Condições: 1ª. Poderão participar deste concurso somente pessoas físicas, moradoras ou não da Maré. 2ª. É obrigatório que as fotografias sejam de propriedade do concorrente. 3ª. As histórias poderão ser redigidas à mão ou digitadas, devendo ser apresentadas em papel A4. 4ª. As fotografias e histórias ficarão sob responsabilidade da Rede Memória até o término do concurso, e somente serão devolvidas mediante a presença do(a) concorrente. 5ª. O(a) concorrente que desejar, poderá autorizar a reprodução ou a doação das fotografias e das histórias para que estas possam compor o acervo do Arquivo Orosina Vieira da Rede Memória. 4. Inscrições: As inscrições serão totalmente gratuitas e deverão ser realizadas até o dia 15 de maio de 2006, somente no seguinte endereço: Casa de Cultura da Maré - Rua Guilherme Maxwell, 26 (em frente ao SESI) - Maré - RJ. No ato da inscrição, o(a) concorrente deverá apresentar as fotografias e/ou as histórias. 5. Premiação: O primeiro lugar de cada categoria receberá um kit composto por: 1 (uma) agenda 2006, 1 (um) calendário 2006, 1 (um) livro Contos e Lendas da Maré, 4 (quatro) postais e 1 (uma) camiseta produzida artesanalmente pelas integrantes do projeto Marias Maré. O segundo e o terceiro lugares de cada categoria receberão 1 (um) livro Contos e Lendas da Maré e 4 (quatro) postais. As dez primeiras histórias e fotografias selecionadas serão publicadas no jornal O Cidadão entre junho de 2006 e maio de 2007. Além da premiação colocada acima, todas as histórias concorrentes poderão compor o repertório do grupo Maré de Histórias, sendo contadas em suas apresentações. O resultado do concurso será divulgado durante o mês de maio. Esperamos poder contar com sua participação. É só trazer a(s) foto(s) e/ou a(s) história(s) e torcer. Até lá!
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Uma conquista dos moradores da Maré O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da Maré. Promove oficinas e atividades que se tornam extensão da sala de aula. 24 • O Cidadão
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