O Cidadão O Jornal do Bairro Maré
RIO DE JANEIRO
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AGOSTO/2004
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ANO VI
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NO 36
Revirando a questão habitacional na Maré 5
MORADOR IMPROVISA SEM CORREIO
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POLÊMICA REFORMA DA PRAÇA DO 18
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LIVRO DE LENDAS DA MARÉ
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HOMENAGEM AO PESCADOR JAQUETA
EDITORIAL
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roblema de casa se resolve em casa certo? Bom, nem sempre... este mês O Cidadão vai discutir o problema habitacional na Maré. E esse não é um assunto que diga respeito só ao aspecto da arquitetura urbana. Mas da concessão dos
títulos de propriedade, que é o reconhecimento do direito do morador das favelas em ocupar a cidade. Afinal, porque esse direito formal foi concedido às formas de especulação imobiliaria motivada por interesses econômicos. E nessa discussão se desvela a burocracia para a regularizar uma casa, a dificuldade de pagar os longos financiamentos dos conjuntos habitacionais, os projetos habitacionais impostos sem a consulta aos moradores, as estratégias de sobrevivência e moradia específicas da população. Fica claro perceber que tanto no campo como na cidade a questão fundiária de acesso e ocupação do solo refletem a concentração de pode r e renda, as injustiças e desigualdades sociais desses últimos 500 anos da história do país. Falando em estratégias, essa edição traz também uma matéria das diversas formas criadas pelos moradores para distribuir as correspondências nos lugares onde o correio não chega. Tem também uma página inteira apresentando o Livro de Lendas e Contos da Maré produzido pela editora Maré das Letras. E para concluir, vale a pena dar uma olhada na página da Memória, uma homenagem ao sr Jaqueta, antigo pescador do Timbau falecido recentemente.
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O Cidadão é uma publicação do CEASM Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do Timbau Telefones: 2561-3946/ 2561-4604 Sede Nova Holanda: Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 - Nova Holanda Telefone: 2561-4965 Diretoria Antonio Carlos Vieira Cláudia Rose Ribeiro Edson Diniz Eliana S. Silva Jailson de Souza Léa Sousa da Silva Lourenço Cezar Maristela Klem Editor (interino): André Esteves Coordenador de Reportagem: Hélio Euclides Secretários de Redação: Ligia Palmeira Viviane Couto Lúcio Mello Reportagem: Elizabeth Cardoso Rosilene Matos Leonardo Marques Jornalista Responsável: Marlúcio Luna (Reg. 15774 Mtb) Ilustrações: Carlos Contente Gerente de Márquetim: Paulo José Publicidade: Cristiane Ferreira Programação Visual / Diagramação:
Olha só quem anda lendo O Cidadão: O conhecido rapper da Cidade de Deus MV Bill, a pequena moradora do Timbau Júlia Almeida (6 anos)... e até mesmo o Bob Esponja.
Ione Galletti Diagramador assistente: José Carlos Bezerra Repórter Fotográfico: Renata Souza Distribuição: Fabiana Gomes (coordenadora) Elisiane Alcântara Elaine Faustino Givanildo Nascimento Michele Nunes Patrícia dos Santos Charles Alves Arthur de Almeida Fotolitos / Impressão: EDIOURO Tiragem: 20 mil exemplares Correio eletrônico: jornalmares@bol.com.br Página virtual: www.ceasm.org.br
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O Programa de Criança Petrobras atende a diversas escolas públicas da Maré.
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PERFIL
Antônio Oliveira O amigo da escola Nome: Antônio de Souza Oliveira Idade: 40 anos Comunidade: Nova Holanda
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le é o que se pode chamar de “o amigo da Escola”. Mas nada que faça referência ao famoso convite para atuar como voluntário em instituições de ensino público. Na verdade, Antônio é inspetor... ou melhor, agente educador do CIEP Samora Machel há 20 anos. Aí, a pessoa pode pensar: “Poxa, inspetor é aquele cara chato, mal-humorado, que fica dando bronca nas crianças!!”. Definitivamente, esse não é o perfil de Antônio, que é reconhecido pelo carinho, o bom humor, a responsabilidade e o respeito com que trata os pequenos estudantes mareenses. Antônio lembra que veio para a escola sem experiência nesse tipo de trabalho. Entrou junto com funcionários e diretores ainda inexperientes na lida com a tarefa de educação na Maré. “Lembro no início, um caso que ficou gravado: um garoto, que quando fui corrigir, veio com tudo para cima de mim. Sai correndo o quarteirão atrás dele, nos atracamos. Trouxe-o para a secretaria. Depois, a direção veio conversar comigo e dizer que não podia agir assim, tinha que educar. Hoje eu tenho esse domínio, vejo o problema com eles.” – reflete. Mas qual a rotina de um agente educador? Num dia normal, a labuta começa às 7h:15, com café da manhã e a tarefa de ordenar a movimentação das crianças. O mesmo acontece no almoço, às 10h30, e no lanche das 14 horas... ou ainda na saída, às 17 horas. Antônio afirma que a base de seu trabalho é auxiliar na educação da criança, corrigindo comportamentos inadequados com carinho. “As crianças são carentes e esperam da gente esse carinho. Às vezes somos pais e mães das crianças. No início, foi mais difícil com as crianças mais agressivas. Hoje o papel é de amigo. É gratificante, sinto uma espécie de retorno, me sinto familiarizado com eles. Eles me chamam de Ed Murphy. Mais recentemente um aluno quis falar na sala. Em nome de outros escreveu: Eu te amo e mandou um beijo...queremos o senhor sempre com a
gente... Muitas crianças tem problema em casa e trazem agressividade, por isso a gente entende e passa a compreender o aluno, passa a ter mais cuidado por ele ter uma bagagem daquela.” Antônio considera que seu trabalho é facilitado por ser morador da comunidade: “Acho que ajuda morar aqui. Eles se espelham em quem mora aqui. Fica de igual para igual. Aproveito isso. Tenho tentado influenciar com pensamentos de coisas do bem quando vejo desvio do aluno. Digo que isso não leva a nada e que um dia não vai conseguir sair. Eu sou bem brincalhão, mas nessa hora fico sério.” – afirma Antônio, que mora na Nova Holanda há 24 anos e é casado. Ele está concluindo o ensino médio e tem planos de fazer universidade de educação física ou psicologia. Também já fez cursos em agências de modelo com participação em comerciais da Sendas e mesmo uma propaganda de carro com a atleta Fernanda Keller. Nosso amigo da escola mareense se emociona quando perguntado sobre o que aprendeu com o convívio diário com crianças da comunidade: “O trabalho me deu um grande amadurecimento de pensar antes de falar, de controle. A crianças me ensinaram muito. Quando chego aqui, meus problemas ficam lá fora no portão, sou outra pessoa. Cuido de um probleminha aqui das crianças, que conseguem sensibilizar a gente. Vem sofrida para cá e a gente consegue fazer educar. Nossa equipe da escola trabalha junta e um auxilia o outro”.
Como Como vovó vovó já já dizia dizia A chama do gás deve ser azul. Quando estiver parte ou totalmente amarela é porque a mistura de gás não está correta, e pode provocar maior consumo. Mande fazer uma regulagem. Para remover queimados, use uma mistura com água e sabão neutro e deixe até soltar. Uma vez por semana, limpe o forno da seguinte forma: acenda-o , deixe esquentar um pouco e apague-o. Quando o vapor tiver feito a gordura descer, limpe com uma mistura de água e amônia. Enxugue com papel absorvente.
Cuidando do Fogão Bicos de gás ficam brilhando, se você pingar algumas gotas de limão enquanto estão quentes. Depois, limpe-os com água e sabão de coco. Portas de vidro devem ser l impas com água e vinagre ou álcool. Ao derramar alguma coisa no forno, imediatamente coloque sal por cima. Depois de frio, escove a parte queimada e limpe com uma esponja embebida em água e sabão. Coloque o assado sempre diretamente nas prateleiras do forno.
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Mais verde no Piscinão: projeto de Ong constrói viveiros D
esde que assumiu os trabalhos no parque ambiental do Piscinão de Ramos, o Instituto Terra Nova vem trazendo mais verde para o local. Com a participação dos seis funcionários do Piscinão, cinco colaboradores da comunidade e os instrutores da instituição, o terreno ao lado do centro de purificação da água deixou de ser um terreno baldio. Agora é um viveiro com cerca de 1500 m2. Os seis funcionários do Piscinão trabalham de carteira assinada, cuidando da manutenção do parque. As atividades no jardim tem o apoio de cinco moradores que recebem ajuda de custo. O espaço é formado por dois viveiros feitos de bambus num formato de esfera, com estufa. Além das ações na Praia de Ramos, a ong executa trabalhos numa comunidade da Urca e, no futuro, vai estar no Parque Ecológico da Vila do Pinheiro. O Instituto Terra Nova atua em ambientes urbanos de baixa renda, com objetivo de instalar viveiros por todo o Rio. Como todo o grupo de funcionários passou por capacitação no aprendizado de manutenção de jardins, o trabalho acaba abrindo novos caminhos profissionais. “Abriu horizontes. É uma chance na área de trabalho com ajuda técnica. Antes só dava manutenção. Hoje já temos idéia de fundar uma cooperativa, pois temos um elo e trabalhamos com união” – revela
Fotos: Renata Souza
Voluntários e funcionários se revezam na manutenção do viveiro.
Robson Ferreira, 22 anos, funcionário do Piscinão. O grupo também tem outros planos. “Temos idéia de ensinar o que sabemos ao grupo da terceira idade. Mas
precisamos de patrocínio. Trabalho sem estresse, mas preocupado, pois estamos garantidos só até março de 2005.” – comenta Alexandre Felipe, de 30 anos.
Aprendizado gera opção de renda N ão são só funcionários de carteira assinada que cuidam do jardim. Essa tarefa também tem o apoio dos jovens jardineiros que recebem uma bolsa para cuidar do viveiro durante um curso de jardinagem: “É 10... uma oportunidade que recebemos de fazer esse curso durante 4 meses. Gostaria que a comunidade tivesse verde em cada local útil, sendo assim mais agradável. Aqui utilizamos plantas de restingas” – fala Maria Valquíria, 30 anos. Os jardineiros já dão passos com o que aprenderam. Um exemplo é que comercializam produtos e serviços, além de ajudar no paisagismo do piscinão de São Gonçalo. Os idealizadores da idéia falam satisfeitos do sucesso: “Tentamos construir nesse espaço um ambiente de urbanização. Temos a parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (SEMADUR) e a Petrobras. Mas o convênio não cobre os gastos. Mesmo assim, privilegiamos a formação.” – afirma o sub-coordenador do projeto, Bruno Coutinho. Além do viveiro e do jardim didático de restinga, os integrantes do Instituto tem um pensamento sobre o que os jardineiros vão fazer daqui por diante: “No futuro, eles vão inaugurar um quiosque de venda com o que sobra do canteiro do piscinão. Os jardineiros cuidam do
Equipe de funcionários do Parque Ambiental de Ramos.
paisagismo do local, preservando as espécies, recuperando as plantas. Também multiplicaremos as matrizes e com isso não precisaremos comprar mais.” – finaliza o funcionário do Terra Nova, Marcos Villela, de 35 anos.
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O correio não vem... o jeito é improvisar N em todas as comunidades da Maré têm o serviço oficial de entrega domiciliar dos correios. Em muitos pontos do bairro, os correios não fazem entregas nas casas e os moradores tiveram que desenvolver seus próprios sistemas de entrega. Quer um exemplo? Em Marcílio Dias, uma moradora trabalha voluntariamente fazendo a entrega domiciliar. A iniciativa facilita a vida dos moradores das comunidades Kelson, Mandacaru e Terra Nostra, que antes precisavam ir até a associação. “As cartas vêm para a associação e os moradores vinham buscar. Mas muitas ficavam aqui. Então, resolvi fazer a entre-ga. A idéia partiu de mim. Faço porque gosto e não recebo nada. Alguns reclamam porque as cartas chegam atrasadas, não é minha culpa. Faço entrega todos os dias. Se não quisesse fazer um trabalho sério, não pegaria essa responsabilidade.” – explica Ana Célia, 35 anos, a moradora voluntária. Salsa e Merengue é outra comunidade onde não há entrega oficial dos correios o que obriga os moradores a buscarem alternativas. A Associação de Moradores contratou um carteiro comunitário. “Pagamos a uma pessoa para entregar as cartas. Se tivesse condições, pagaria mais carteiros, mas gostaríamos que os Correios entregassem.” – diz Gelson Aquino, 32 anos, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Pinheiro. Apesar do improviso, moradores aprovam o esquema comunitário de correios: “O carteiro já entrega há 1 ano. Antes, pegava as cartas na associação, se não estivesse lá tinha que buscar em Bonsucesso.” – conta Patrícia Rodrigues, moradora do Salsa e Merengue.
Fotos Lúcio Mello / Renata Souza
Acima: XXX, entregador do Salsa. Centro: caixas de correio na Associação da Roquete Pinto. Abaixo: Ana Célia, voluntária da Marcílio Dias.
Ruas pequenas sem entrega domiciliar Em Roquete Pinto, apenas duas ruas têm entrega domiciliar dos Correios. As correspondências são separadas em escaninhos com os nomes dos becos e travessas. “Poderia ter uma parceira entre a associação de moradores e os Correios...eles trabalham bem, mas a comunidade se expandiu. Quem mora nos becos e ruas pequenas têm que vir na associação buscar suas correspondências. O programa “Remédio em casa”, por exemplo, atende a cardíacos, diabéticos e emergência. É ruim que esses remédios fiquem parados na associação...” – fala Joel da Silva. Para algumas pessoas, a falta de entrega domiciliar é responsável por transtornos. “Estou esperando o CPF do meu filho, a mais de um mês. Venho todo dia e ainda não chegou. Como não tem entrega nos becos, tenho que vir buscar. Meu sobrinho pediu o CPF há 15 dias e já chegou porque ele mora na rua principal.” – reclama Silmar da Silva, 53 anos. Em alguns casos, moradores são obrigados a ir em Bonsucesso para pegar a correspondência. É o caso de quem mora no Conjunto Pinheiros II – mais conhecido como Kinder Ovo, onde os moradores precisam ir ao Centro de Distribuição Domiciliar (CDD) de Bonsucesso para pegar suas correspondências.
Por que não recebo cartas em casa? Os Correios informaram que algumas comunidades não têm entrega domiciliar, porque não oferecem a infra-estrutura necessária para o serviço. A empresa informa que para garantir a distribuição é necessário: 1) oficializar, junto à prefeitura, as ruas com nomes e com placas identificadoras; 2) numerar as casas e colocar caixas de correio na entrada delas; 3) numerar os endereços em ordem crescente, sendo um lado par e o outro ímpar. O CDD Bonsucesso já começou a cadastrar no sistema de distribuição as ruas transversais às ruas principais Conjunto Pinheiro II e a Roquete Pinto com o nome que a comunidade adotou. Em Mandacaru e Terra Nostra, o cadastro ainda não foi realizado, porque falta nome e numeração nas ruas. O CDD Olaria, responsável pela área, espera que esse problema seja resolvido para que possa atuar.
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LINHAS DE ÔNIBUS QUE NÃO PASSAM MAIS NA MARÉ Foto: Arquivo CEASM
o passado, o bairro possuía várias linhas de ônibus que permitiam a seus moradores se locomoverem tanto dentro da comunidade como para fora dela. Cada comunidade tem sua história de linhas de ônibus que não circulam mais por ali. Muitos mareenses da Vila Pinheiros e da Vila do João costumavam pegar o 909 (atualmente extinto) e o 919 (que teve seu percurso reduzido) para irem à feira da Teixeira Ribeiro. E também as linhas 927 e 911 (Cidade Universitária-Bonsucesso) que circulavam por várias comunidades e era um meio dos estudantes irem à Escola Muni-cipal Tenente Antonio João, no Fundão. As linhas 320 e 330 também cortavam o bairro com destino ao Centro da cidade. Sem falar no 663 que passava na Praça do 18 em direção ao Méier. Atualmente, resta um número reduzido de ônibus na comunidade e, mesmo com o advento das Kombis, tem prejudicado a população, dificultando sua locomoção intercomunitária e pela cidade. É o que acontece com quem estuda no Fundão, por exemplo. Com o fim de linhas que ligavam a Maré à Cidade Universitária, os estudantes teriam que andar pela Linha Amarela até a escola. Isso só não acontece porque há 4 anos a LAMSA, empresa concessionária da via expressa, custeia dois ônibus que levam e trazem as crianças nesse percurso. A psicóloga e técnica de Desenvolvimento Social da LAMSA, Regina de Cássia, informou que o transporte
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Linha 663, Méier – Parque União, atualmente desativada
propor-ciona segurança e até contribui para dimi-nuição em 70% a evasão escolar, atendendo a 360 alunos. Nos horários em que não estão sendo usados, ficam disponíveis para as escolas públicas e entidades para uso em passeios culturais. Muitos reclamam do fim dos ônibus. “As pessoas que moram na Nova Holanda não têm ônibus para ir à Penha, prejudicando os estudantes. O fim das linhas até aqui me atrapalhou, pois trabalho numa Ong na Nova Holanda e quando perco a hora tenho que vir correndo. Às vezes, acabo não
almoçando em casa, o que atinge meu bolso” – diz a secretária do Ceasm, Neide Barcelos, moradora do Conjunto Pinheiro. Muitos moradores perguntam o porquê do fim da circulação de ônibus nas comunidades. Fica a dúvida: seria a violência... ou pouca rentabilidade? A empresa, procurada para dar explicações sobre o assunto, não se pronunciou. Alguns moradores sugerem o advento das vans. “Acho que o excesso de kombis reduziu o número de passageiros das empresas.” – diz o universitário Fagner Caetano, 22 anos.
Histórinhas de motorista, trocador e morador Desde meados da década de 80 até 1992, a extinta linha 909 era administrada pela empresa Vila Isabel. Eram ônibus velhinhos, em final de carreira, perto da aposentadoria. Na linha existia um motorista que era muito amigo da criançada, conhecido como Luiz, que dava carona para toda garotada que via pela frente. Não importava se o 909 passava cheio ou vazio... o ônibus só chegava a 60 km/h... e quando subia o Timbau quase parava, ia perdendo a força e reduzindo a marcha... e tremia, tremia e tremia. Uma professora da escola Bahia perdoava os alunos que chegavam atrasados, pois vinham de um ônibus que até goteira você encontrava.
O 911 teve seu final como linha de ônibus no ano passado, quando só operava como um ônibus escolar... mas a linha também teve seus tempos de glória. Conseguia que o povo fizessem compras em Bonsucesso e também que os usuários corressem nas ruas do bairro para não perder o último da noite. O 927 circulava pela Baixa do Sapateiro e tinha fama de ser um ônibus animado... existia um grupinho que andava lá atrás só para cantar. Já o 663 era uma condução romântica, onde rolavam paqueras... muitas depois deram em casamento.
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NAS REDES DO CEASM
CEASM recebe Medalha Pedro Ernesto m cerimônia na Câmara Municipal dos Vereadores do Rio de Janeiro, o CEASM recebeu a maior homenagem oficial carioca como reconhecimento dos sete anos de trabalho. Proposta pelo vereador Adilson Pires, a cerimônia ocorreu dia 25 de Junho. Para o veredor do PT, a medalha é o reconhecimento do trabalho de transformação realizado pelas redes de solidariedade: “Este prêmio é uma forma da Câmara reconhecer e prestigiar o trabalho do CEASM”. Estiveram presentes ao evento os professores, colaboradores e simpatizantes dos projetos além de estudantes e ex-estudantes do Curso Pré-Vestibular e do Curso Preparatório. A emoção e alegria esteve presente em todas as falas e discursos da cerimônia. Uma homenagem para todos os que das mais diferentes formas fazem e fizeram o CEASM nesses sete anos.
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Alto: Apresentação da Orquestra de Flautas do Programa de Criança da Maré. Centro: Diretores recebem medalha Pedro Ernesto como reconhecimento da contribuição do CEASM à Cidade do Rio de Janeiro. Ao lado: colaboradores e estudantes prestigiaram a premiação. Abaixo: Maria de Fátima Silva se emociona com a homenagem póstuma à sua filha, Jaqueline Cássia Silva.
Homenagem à Jaqueline Tributo em especial foi prestado em memória de Jaqueline Cássia ex-aluna do pré-vestibular e estudante de economia. Moradora da Nova Holanda, ela morreu dia 19 de junho, quando voltava para casa num confronto entre polícia e grupos da comunidade. A presença da mãe de Jaqueline emocionou quem falou e o sentimento de perda tomou os presentes à Câmara Municipal.
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HUMOR CIDADÃO
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Entre o céu e o inferno
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bitação (CEHAB) está promovendo a pintura na fachada de casas situadas de frente para importantes vias expressas da Cidade: são casas da Praia de Ramos que beiram a Avenida Brasil e do morro do Timbau que dão de cara para a Linha Amarela. Bom para os motoristas de diversos pontos da cidade que, terminada as obras, quando passarem por ali vão relaxar com a imagem de uma comunidade de casas coloridas... Mas o que cevem estar pensando quem mora nas casa de trás, que não podem ser vistas da Avenida Brasil... nada de
obras. Já não bastasse a população sofrer com problemas de saneamento, com polícia violenta, com as escassas opções de lazer... Tá certo que as eleições estão chegando e vale qualquer coisa para engambelar morador... mas fala sério, aí...
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– “Agora é a vez de visitar o Paraíso.”
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– “Não vejo problema, é só me deixar entrar!”– diz o antigo vereador.
Ele sobe, sobe, sobe e a porta abre outra vez. São Pedro está esperando por ele.
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– “Bem-vindo ao Paraíso!” – diz São Pedro – antes que você entre, há um probleminha! Raramente vemos parlamentares por aqui... então não sabemos bem o que fazer com você.
Todos muito felizes, em traje social. Ele é cumprimentado e começam a falar sobre os bons tempos em que ficaram ricos às custas do povo. Jogam uma partida descontraída, depois comem lagosta e caviar. Quem também está presente é o Diabo, um cara muito amigável que passa o tempo todo dançando e contando piadas. Eles se divertem tanto que, antes que ele perceba, já é hora de ir embora. Todos se despedem dele com abraços e acenam enquanto o elevador sobe.
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Assim, São Pedro o acompanha até o elevador e ele desce, desce, desce... até o Inferno. A porta se abre e ele se vê no meio de um lindo campo de golfe. No fundo, ele vê o clube na frente do qual estão todos os amigos dele e outros políticos que haviam trabalhado com ele.
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Ele passa 24 horas junto a um grupo de almas contentes que andam de nuvem em nuvem, tocando harpas e cantando. Tudo vai
muito bem e, antes que ele perceba, o dia se acaba e São Pedro retorna. – “E aí? Você passou um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Agora escolha a sua casa eterna.” Ele pensa um minuto e responde: – “Olha, eu nunca pensei... O Paraíso é muito bom, mas eu acho que vou ficar com os políticos após a morte. É melhor no Inferno. Então São Pedro o leva de volta ao elevador e ele desce, desce, desce... até o Inferno. A porta abre e ele se vê no meio de um enorme terreno baldio cheio de lixo. Ele vê todos os amigos com as roupas rasgadas e sujas catando o entulho e colocando em sacos pretos. O Diabo vai até ele e passa o braço pelo ombro do vereador, que assustado gagueja: – “Não entendo, ontem mesmo estive aqui e havia um campo de golfe, um clube, lagosta, caviar, e nós dançamos e nos divertimos o tempo todo. Agora só vejo esse fim de mundo cheio de lixo e meus amigos arrasados”. O Diabo olha pra ele, sorri e diz: – “Ontem estávamos em campanha. Agora já conseguimos seu voto!”
– “Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores. Vamos fazer o seguinte: você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Aí, pode escolher onde quer passar a eternidade.
Um vereador está andando tranqüilamente na rua Principal da Nova Holanda quando é atropelado por um caminhão e morre. A alma dele chega ao Paraíso e dá de cara com São Pedro na entrada:
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A Maré tem problemas sérios no campo habitacional. A questão do saneamento é grave, comunidades construídas pelo poder público mesmo novas apresentam problemas de infra-estrutura... sem falar na busca por moradia que tem promovido a ocupação de várias construções e galpões abandonados na região. São problemas sérios. Mas olha só isso: a Companhia Estadual de Ha-
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Maquiagem Comunitária
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KINDER OVO: meio final feliz
Foto: Renata Souza
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m março de 2004, terminou a dramática novela para parte dos moradores do Antigo Kinder Ovo – assentamento improvisado que ficava na Vila do pinheiro. Nessa época foram entregues as casas da Vila Pinheiro II. Moradoras como Célia Frazão, 30 anos, lembram das dificuldades. – “Eu morava num abrigo como invasora. Aí derrubaApesar das novas casas, 95 famílias ainda esperam pela segunda etapa das obras. ram nossos barracos e nos colocaram no aluguel. Tenho 5 filhos e morava de favor com a COMUNIDADE NOVA COM PROBLEMAS DE VELHA minha sogra há mais ou menos 3 anos. Foi tudo muito difícil, pois tive que fazer minha mudança a pé. Mas foi um sacrifício Por existir apenas há poucos meses, é lógica pensar: a comunique compensou. Já estou na casa há 2 meses. A casa é boa e os dade não apresenta nenhum problema nos serviços básicos vizinhos são bons.” – conta prestados à população. Parece até brincadeira... mas depois de tanta espera, descobriu-se que a instalação de água é feita através Mas Infelizmente a novela Kinder Ovo não terminou para de uma ligação irregular com o encanamento de uma vila próxima: todo mundo. Existem 95 famílias aguardando a segunda etapa da Vila Lindolfo. “Estamos fazendo assim: de dia vai água para a obra que ainda não começou. De acordo com a prefeitura está Vila Lindolfo, à noite para a Vila Pinheiro II. Entramos em contato tudo certo para o início das obras. No entanto, não há previsão com a CEDAE e há 3 semanas eles falam que vão vir, mas não para a entrega. “Foi gratificante ver todo mundo com suas casas, aparecem. Peço a comunidade para ter paciência com a falta de mas não muito feliz porque nem todos conseguiram.” – conclui água.” – diz Gelson. Apesar de recém nascida, a nova comunidade Gelson Aquino, presidente da associação de moradores da Vila já tem vários nomes: Vila Pinheiro II, Kinder Ovo e Marrocos. Pinheiro, que administra também a Vila Pinheiro II.
Professores cidadãos O Cidadão é o jornal do bairro Maré. Suas matérias, textos, fotos, desenhos abordam questões e fatos da vida nas comunidades mareenses: os problemas, o cotidiano dos moradores, sua história... enfim: o que é a vida na Maré – bem diferente do que faz a grande mídia que só retrata aspectos negativos do dia-a-dia na região. É por isso que O Cidadão vem sendo usado em sala de aula por diversos professores nas escolas públicas da região. Não é raro encontrar provas das escolas com textos do jornal. Isso vale para diversas matérias: Geografia, História, Português. O mesmo acontece com trabalhos de pesquisa, quando numerosos grupos de estudantes mareenses chegam ao CEASM em busca do Cidadão. Pode-se até dizer que nas escolas, o jornal já virou até material pedagógico. Alguns professores do Ciep Gustavo Capanema adotaram o jornal como fonte de pesquisa para seus alunos. “Eu acho o jornal importantíssimo, pois mostra a história da comunidade. No História da Maré os alunos se identificam muito e fazem comparação com os aspectos anteriores das comunidades com os atuais” – afirma a professora Maria das Graças Silva. Mas o jornal não recebe só elogios. Alguns professores e alunos acham que o jornal precisa dar espaço para que as escolas coloquem trabalhos pedagógicos e outro para adolescentes. Para todos que quiserem mandar cartas e sugestões podem ligar para o 2561-4604 e pedir para falar com quem estiver na sala do jornal ou mandar um e-mail: jornalmares@bol.com.br.
O Cidadão
A novela da legalização fundiária D
esde que veio de Natal para a Maré, no início da década de 50, Severino Moura já morou em 3 casas diferentes. Assim que chegou morou em uma casa alugada. Depois construiu uma casa onde morou com a mãe até se casar. Já casado, Seu Severo – como é conhecido na comunidade – construiu ao lado da casa da mãe. “Construí um cômodo no terreno da minha mãe, com dois andares” – lembra. O tempo passa, a família cresce e a casa foi ficando pequena para seus 4 filhos e 6 filhas. Resultado: nova mudança de endereço: “Troquei a antiga casa por uma de estuque, de pau-a-pique... mas com um terreno maior. A nova casa foi Foto: Rosinaldo Lourenço
Seu Severo, antigo morador da comunidade.
ampliada aos poucos. Fiz a sala, fiz um quarto, fiz outro, depois a cozinha, foi tudo aos poucos... obra gasta, né?!”– conta. Quando a crise econômica apertou o cinto de grande parte da população brasileira, uma parte da frente da casa virou uma vendinha. Até hoje, Seu Severo guarda o título de troca feito pela associação de moradores e a escritura que recebeu do Ministro Mário Andreazza, quando sua casa foi regularizada pelo Projeto Rio. Nessa época, cerca de 7 mil moradores de palafitas foram transferidos para as comunidades da Vila do joão, Vila Pinheiro e conjuntos Pinheiro e Esperança. Nas entrelinhas da história de Seu Severo escrevese a forma de habitação da cidade de 10% da população carioca – cerca de 1, 4 milhão de pessoas. São as favelas. Outros espaços da cidade se caracterizam pela ocupação determinada pelas regras do capitalismo e da especulação imobiliária. A favela está ligada às necessidade e estratégias de vida de seu morador. Se precisa ocupar um lugar desprezado pela especulação imobiliária: constrói-se casa no morro ou a palafita no mangue. Se a família cresce, constrói-se um ou dois andares... se o bicho aperta, constróise um puxadinho com uma vendinha na frente da casa... é uma casa-devir morador. Não se pode discutir a questão da cidadania sem a conquista do direito de ver regulamentada sua forma de ocupar a cidade. Isso fica claro quando se percebe que até o início da década de 90, as favelas não integravam os mapas oficiais da cidade. Na Maré e em outros espaços populares, grande parte dos moradores não tem a titulação de sua propriedade.
O Cidadão !
Idas e voltas fundiárias das comunidades a cidade do Rio de Janeiro, nenhum espaço
N concentrou tantas formas de ocupação e
arquiteturas diferentes como a Maré. A favela labiríntica de morro ao mais cartesiano conjunto habitacional modernista, passando por palafitas e conjuntos habitacionais favelizados. Quer dizer: muitas são as estratégias de habitação do bairro. Um bom exemplo é o caso de Maria Felinto Monteiro. Sua história de moradia na Maré é bem distinta de Seu Severo. Mora há 11 anos em Bento Ribeiro Dantas, No Conjunto Pinheiro construções feitas pelos moradores se misturam com o conjunto habitacional construído pela prefeitura na projeto habitacional do governo década de 90. Quando chegou na nova casa, estava cheia de esperança e motivação pela conquista de um sonho comum Moradores de outros conjuntos habitacionais construídos pelo a grande parte dos brasileiros: ter a sua própria casa. Mas aos poucos Projeto Rio como os Conjuntos Pinheiro e Esperança vivem situação as prestações da sua casa de tijolo vermelho foram aumentando. As semelhante. Pois os mutuários que quitaram as prestações parcelas foram pesando e o previsto para ser pago em 4 anos, foi se estabelecidas pelo projeto Rio como os que não pagaram não possuem estendendo.... a titulação definitiva de responsabilidade da Cehab. No conjunto “Moro aqui há 11 anos e tinha 4 anos para pagar. Não me Esperança o financiamento tem sido um dos principais problemas preocupo com o que vai acontecer. Já paguei 8 e ainda faltava, mas para conseguir o título de propriedade. De acordo com a moradora não tinha mais como pagar. Só ganha o título quem já pagou tudo. Maira de Lurdes de Souza, 54 anos, existem mais moradores Nós ainda não pagamos. Já até falaram que iam dar o título pra quem regularizados do que os que não podem pagar. “Paguei durante 18 pagou e quem ainda não terminou de pagar. Em época de eleição, anos. O financiamento é de 10% do salário mínimo e tenho muitos eles falam tudo.” amigos que não têm condição de pagar por este custo”.
Comunidades mais antigas Nas comunidades mais antigas, onde a ocupação se deu pelo próprio morador, regularização do imóveis já está avançada. No Morro do Timbau, a maioria das casas possui escritura, conseguida durante o Projeto Rio. Falta regularizar áreas residênciais em áreas de pedreiras e terrenos particulares desapropriados pelo Estado. Em outras comunidades antigas, como a Baixa do Sapateiro, Parque Maré e Parque União, as associações de moradores acreditam que a maioria das casas possuem título de propriedade. O processo de regulamentação fundiária nessas áreas é mais ou menos o mesmo: primeiro o morador recebe o direito do uso de solo, depois o certificado de posse para depois pedir o título de propriedade, que chega através do usucapião - termo usado para dizer que quem usa a terra por muito tempo acaba se tornando proprietário dela. É o caso de Nicéia Perpétua da Rosa Laurindo, de 62 anos, da Rua da Praia de Inhaúma. “Eu sou filha do Seu Albano, que foi um dos primeiros moradores daqui. Meu pai chegou aqui há 80 anos, ele era pescador” – diz Nicéia. Moradora há mais de 60 anos ni local, o título de propriedade só chegou nos anos 80. Em 1986 conseguimos o título de propriedade.” Em Marcílio Dias não existe um levantamento de quantas casas possuem título de propriedade. Já na Praia de Ramos, depois do Piscinão e da reforma do posto de saúde, houve uma valorização da área, mas grande parte das casas continuam sem regularização. Morro do Timbau é uma das mais antigas áreas de ocupação da Maré. Boa parte dos moradores conseguiu o título de propriedade
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Ocupação dos moradores X projeto do poder público ode-se dizer que a Maré foi ocupada de duas formas: pelo morador e pelo poder público. Seu Severo relembra que esforço e a criatividade eram os instrumentos de ocupação da cidade. “Durante a construção da Ponte Rio-Niterói, os caminhões vinham de madrugada e despejavam o concreto que passava do ponto. A gente ficava às vezes a noite toda esperando os caminhões pra acertar o concreto e fazer as ruas e aterro. Às vezes ficava a noite inteira acertando o concreto e acordava cedo para ir pro trabalho.” – lembra. Esse tipo de ocupação gerou suas próprias regras que só são encontradas nas favelas. Um bom exemplo é o direito de laje, que se transforma num bem familiar ou estratégia de geração de renda. “Terminei minha casa e dei minha laje pra minha filha construir a sua. Agora a laje é dela.”, conta Seu Severo.
P
Na Maré, existem comunidades que se formaram pela ocupação dos moradores (Nova Holanda – foto superior) e outras construídas pelo poder público (Salsa e Merengue - logo acima).
Mesmo antigos projetos habitacionais como a Vila do João e Vila do Pinheiro foram remodelizados de acordo com as necessidades cotidianas do morador. No entanto, nesses 20 anos, uma natureza quase orgânica da casamorador foi transformando o que era padrãoempurrado-goela-abaixo pelos projetos perversos de habitação popular do poder público. O tempo passa e a alinhada casa de um andar ganha um puxado para fazer a vendinha, outro puxadinho para aumentar o quarto, sobe um andar para o filho que casou, bota ladrilho verde para embelezar a moradia, sobe mais um andar para o filho mais moço que se ajuntou com a vizinha, faz uma área de lazer na laje para o churrasco de sábado... e pronto: a casa-feita-pelo-Estado não resiste à potência mutante da casa-morador. Quem compra uma casa em qualquer imobiliária adquire um bem abstrato, neutro, sem história. Cada pequena habitação dos espaços populares guarda histórias de 20, 30 anos de vida. Na Vila do João e Vila do Pinheiro poucos moradores tem a titulação definitiva, que era responsabilidade do BNH, depois da Caixa Econômica e mais tarde da CEHAB.
PROJETOS DESCONECTADOS COM A VIDA DA POPULAÇÃO as comunidades mais recentes feitas pelo poder público, a
N regularização ainda está longe. No Salsa e Merengue, poucos
além do condomínio Sem Terra já existe o Tartaruga, com um desenho de uma tartaruga no portão de entrada. E tem outro onde os novos moradores compraram o terreno da antiga fábrica e construíram suas casas em volta da antiga sede da indústria, que foi preservada para se tornar a Casa de Cultura do Parque União. Nesses novos terrenos a busca pelo título só está engatinhando...
moradores receberam o título da Prefeitura,. Por enquanto, só receberam um documento confirmando o direito de uso do solo. O Novo Pinheiro ficou pronto em 97 e os títulos de propriedade começaram a ser distribuídos pela prefeitura em 2002. De acordo com a moradora e estudante Guaraciara Gonçalves, 23 anos, muitos moradores confundem este documento provisório com o título de propriedade. Ainda segundo ela, o programa habitacional deveria ser melhor pensado, pois segundo o contrato, não é permitido alterar o imóvel. Com esta cláusula o morador fica em uma situação em que ele não pode melhorar a sua própria casa! Situação semelhante acontece com projetos como as casinhas de Bento Ribeiro Dantas e Nova Maré onde a arquitetura impede a utilização da casa pelo morador como o direito de laje por exemplo. Se o poder público não constrói, os moradores estão construindo seus próprios condomínios... Pelo menos é o que parece para quem passa no Parque União no acesso ao Hospital Universitário da UFRJ. As antigas fábricas que ficavam na beira da estrada se mudaram e ficaram por muito tempo ociosas, sem uso. Algumas viraram praticamente terrenos abandonados. No final dos anos 90, algumas pessoas ocuparam o terreno da fábrica e foram chamados Em muitos projetos as casas construídas dificultam a ampliação da moradia, de Sem-Terra, em referência ao MST. O nome ficou e hoje, fundamental para atender as necessidades das familias.
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ASSOCIAÇÕES MEDIAM RELAÇÕES comunidade recentes estão M aslongemuitas da regularização. E quando o título
de propriedade é exigido para alistamento militar, provas para concursos públicos como o vestibular e até entrevista para empregos? É com esse objetivo que as muitas Associações de Moradores se oferecem para mediar os contratos de compra, venda e aluguel de casas, como no caso da associação de moradores da Roquete Pinto, que possui um cadastro de todos os moradores e que emite certificado de compra e venda das propriedades da comunidades. Condomínio recente construído próximo ao Parque União Segundo a associação, a firma do presidente é reconhecida em cartório e o certificado é reconhecido como documento. Apesar de não ser o título de Título individual ou coletivo? propriedade, o certificado é um importante documento para adquirir o título definitivo. E foi uma solução para evitar desentendimentos. Além do título individual existe um outro, o coletivo, que busca reconhecer Além dele outros documentos importantes são as contas de luz e a comunidade. De acordo com o Ministério das Cidades, a prova da de telefone, que indicam que a pessoa morou no local durante todo posse coletiva de uma área pública pode ser efetuada se houver o tempo. Para Sheila Fortino, que trabalha na associação de comprovante por mais de cinco anos dos seguintes documentos: moradores, a associação lembra também que quem comprar ou vender 1) Registro das crianças na escola e dos moradores no posto de saúde; suas casas deve registrar o título de compra e venda em cartório ou 2) Existência de equipamentos públicos e comunitários na área pública procurar a associação como um comprovante. ocupada (escolas, creches, centro comunitário, posto de saúde); A grande preocupação agora é preservar a escritura. Seu 3) Prestação de serviços de coleta de lixo, transporte público, Agamenom Joaquim Agamenon Mendes, antigo líder comunitário fornecimento de energia e água; do Timbau lembra que muitas famílias não conseguiram a escritura 4) Iluminação pública; porque o proprietário faleceu e os familiares não conseguiram transferir a propriedade. Seu Severo concorda: “o processo de 5) Mapas e fotos aéreas. regularização é lento – tem que guardar tudo – guardo tudo”.
Para pensar
em Moradia popular
A construção de casas populares foi muito utilizada como promessa de campanhas de muitos políticos que prometiam a construção e o fim do pagamento das prestações. Feitas na pressa, são construções de casas mal feitas, para ficarem prontas próximo às eleições. “Essas casas são todas de um modelo padrão pro povo saber que foram eles que fizeram”, critica seu Severo. Outras vezes ,são projetos de “melhoria” que emboçam as fachadas e pintam somente as casas próximas as grandes vias como Linha Vermelha e a Linha Amarela. Em cada história, a busca pelo reconhecimento da propriedade pelo uso da terra está sempre presente e é representado por um documento: a escritura de propriedade. que não é só um papel, mas o reconhecimento e o respeito de ocupar formalmenta a cidade em um bairro que há 10 anos atrás, não existia nos mapas oficiais.
É interessante perceber que em grande parte dos espaços populares como a Maré, as casas são construídas através de mutirões, de redes de cooperação e solidariedade entre os moradores. Aqui vale uma consideração: é verdade que a Maré no curso dos últimos 20 grandes intervenções do poder público, tanto na urbanização como na construção de comunidades. Mas qual a natureza dessas obras. Bem... são feitas com nenhuma ou pouca consulta aos moradores. São projetos idealizados fora desses espaços que pouco levam em conta o cotidiano da população. São construções mal realizadas e com acabamento precário. Para não falar das reformas de maquiagem que volta e meia se faz nas casas mais expostas a zonas de fluxo na cidade. Isso sem falar que não bastam obras como o Favela-Bairro que pretendem fazer integraçãoestrutural entre a favela e outros espaços da cidade. É preciso que se pense nas possibilidades de fluxo e acesso dos moradores às opções de vida na cidade nos campos da cultura, lazer e educação. Pesquisas mostram que projetos como o Favela Bairro não conseguiram diminuir o índice de violência nas comunidades onde foram realizados... enfim, cidadania é algo que se pretende ter por inteiro e não pela metade.
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SANTA MÔNICA NA MARÉ: um caso raro de escola particular Foto: Renata Souza
N
a Maré, não é muito comum ver pais colocando os filhos para estudar em escolas particulares. Mensalidades altas e escolas distantes são motivos que fazem o ensino privado no bairro não ser boa opção. No entanto, um grupo de moradores se tornou exceção dentro dessa lógica. São os que conseguiram uma vaga na unidade mareense do Santa Mônica – famosa instituição de ensino privado do Rio – que fica na Capela Jesus de Nazaré, na rua Ivanildo Alves, nº 83, na Baixa do Sapateiro. A escola oferece cursos da 1ª à 4ª série. O ensino é totalmente gratuito. O uniforme e o material didático também. A única coisa cobrada dos pais é estimular seus filhos a estudarem também em casa. Mas isso não tem sido problema: “A participação das mães nas reuniões e nas outras atividades é muito grande” – conta o professor Cícero Leite, coordenador da unidade e morador da Maré. Ele foi o elo entre a escola e a comunidade. “Há algum tempo, eu já falava com eles sobre a possibilidade de se fazer uma escola aqui.” – conta. Cícero lembra que há três anos, quando a unidade foi instalada, o processo de adaptação foi um pouco difícil. Mas aos poucos, as dificuldades foram sendo superadas. No início eram 180 alunos. Hoje já são 304 e o número só não é maior por falta de espaço. A proposta de trazer o Colégio santa Mônica para a Maré foi de um padre. A igreja Jesus de nazaré só precisaria ceder um espaço. “Precisávamos fazer uma obra para receber a escola, pois não havia espaço. Mas um outro padre amigo nosso fez uma doação e pudemos fazer a obra.” – conta Padre Francisco.
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rascunho do Cidadão
Alunos das turmas de 3ª e 4ª série do Colégio Santa Mônica/Maré
Professores se surpreendem com alunos s profissionais do Santa Mônica que vieram trabalhar na Maré se surpreenderam com a resposta das crianças e dos pais. “Houve uma dificuldade de trazer professores para cá. Mas depois que os primeiros vieram, ficou todo mundo querendo vir.” – recorda Cícero. O nível de ensino na Maré não é diferente das outras unidades do Santa Mônica. O programa e o material utilizados são os mesmos. E as crianças não reclamam do ensino puxado: “Só acho um pouco difícil português e matemática” – conta Marcos, de 10 anos, que está na 4ª série. Os pais também gostam do resultado. Gilmara Francisco dos Santos acha que sua filha ficou mais esperta, depois que começou a estudar. “Eu acho a escola muito boa, foi um projeto muito bom. A criança aprende mais. Além de ser tudo de graça.” – comenta ela, que é mãe de Gabriela, de 8 anos, que está na 1° série. Até hoje nenhum
O
dos alunos foi reprovado. Aqueles que têm dificuldade recebem atenção especial para poderem superá-la. As crianças também participam de atividades extra classe. Além de poderem freqüentar o Centro Esportivo do Santa Mônica, em Higienópolis, também são levados a atividades culturais como teatro, museus e exposições. O objetivo é levá-las a conhecer outras realidades. Alguns alunos, depois de saírem da escola, fizeram prova e conseguiram bolsa de 100% em outras escolas particulares. “Mesmo que, depois de passarem por aqui, eles não consigam se matricular em uma escola de alta qualidade, vão conseguir aproveitar de forma muito melhor o ensino de outra escola.” – comenta o Padre Francisco. As inscrições para o Santa Mônica são realizadas através de uma prova de seleção, que ocorre em outubro.
A penúltima página de O Cidadão foi criada para o exercício da livre expressão do morador. É um espaço para publicação de artigos, poesias, contos, charges, fotos ... A Página de Rascunho só tem razão de existir se os moradores ocuparem este espaço. Por isso, não fique acanhado e mande sua colaboração para O Cidadão.
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Morador da Vila do João tem tela exibida em reunião mundial da ONU Leonardo Barbosa, monitor da oficina de grafite da Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro (ACB/RJ) e morador da Vila do João, na Maré, teve uma de suas telas exposta na sala de exibição do ITC (International Trade Centre) durante a XI Reunião Quadrianual da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento). Os debates do encontro giraram em torno das relações entre estratégias nacionais e desenvolvimento e processos econômicos globais. Além da tela de Leonardo e da presença de sua equipe técnica no evento, a instituição também participou, com os produtos sociais desenvolvidos em suas oficinas artísticas, do estande da Abong montado na URBES (termo latino que significa “cidade”), evento que estava ocorrendo paralelamente à reunião da UNCTAD, por iniciativa do governo municipal. Tela de Leonardo Barbosa exibida em reunião internacional da ONU
Está acontecendo na Ação Comunitária da Vila do João n n n
Festa de São João, com quadrilha, comidas regionais típicas e forró, no dia 17 de agosto, a partir das 14h. Espaço Arte e Gula: doces e salgados feitos pela oficina de gastronomia. Venha conferir. Salão Comunitário (reconstrução capilar, coloração, manicure e cabelo afro): às sextas-feiras, de 13h às 17h; aos sábados, de
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Reforma da Praça do 18: polêmicas e controvérsias
A
Praça do 18 passou um longo tempo fechada para obras. Atualmente, com os trabalhos de restauração encerrados, os moradores estão usando a Praça. Fica a pergunta no ar: a reforma da praça está acabada? A reinauguração já foi feita? Como o morador é o último a saber dessas coisas, O Cidadão foi a campo para descobrir isso. De acordo com o assessor da R.A, Charles Gonçalves Guimarães, a Praça foi inaugurada: “Teve uma pequena inauguração e com esta solenidade a praça foi dada como inaugurada”. No entanto, a Praça está sob a responsabilidade da Associação dos Moradores da Baixa do Sapateiro. E o presidente da Associação, Teófilo Dias, afirma que as obras não terminaram legalmente: “Fizeram uma inauguração fajuta que não vale. Faremos uma com a participação da comunidade. E a praça foi pedida pela comunidade”. O término das obras depende de pequenos detalhes e sua inauguração ainda não tem data marcada. De acordo com Dias, a praça terá um novo nome, escolhido num plebiscito feito pelos jovens do projeto Vida Nova. Os nomes em votação serão de moradores falecidos que prestaram algum serviço à comunidade.
ARÉ
Foto: Hélio Euclides
SABOR DE M
Foto: Renata Souza
CERCA NA PRAÇA DESAGRADA Muitos moradores que moram ao redor da praça gostaram da reforma. “Eu cheguei a morar nas palafitas que tinham aqui na praça. Minha mãe é que gostaria de ver a praça bonita desse jeito, ela era uma das moradoras mais antigas, mas infelizmente morreu no ano passado e não viu a praça do jeito que ela está agora” – comenta Maria Cristina da Silva, que mora há 37 anos no local. Mas nem todos acham que a praça está perfeita. Principalmente em função das grades que agora cercam o local e impedem a mobilidade dos moradores quando acontece algum problema. Maria da Penha da Silva, de 27 anos mora ao redor da praça e também trabalha num quiosque local. Ela tem outro motivo de implicância com as grades. “E o movimento também diminuiu, porque as pessoas tem preguiça de dar a volta na praça... antes passavam por dentro da praça”. Essas questões foram levadas ao presidente da associação da Baixa do Sapateiro Teófilo Dias. Ele respondeu: “Em relação a cerca, tudo foi feito de acordo com a comunidade. Apresentaram a planta e ela foi escolhida pela comunidade. É uma questão da gente estudar, mas por enquanto a maioria está de acordo com a praça. Estamos brigando para cobrir a quadra e colocar grama sintética” – finaliza.
Sobremesa favorita da dona Telma INGREDIENTES
MODO DE FAZER
8 gemas 3 colheres (sopa) de açúcar 1 colher (sopa) de margarina derretida 1 lata de leite condensado 1 xícara de leite Raspas de casca de limão
Bata as gemas até formar uma espuma, acrescente o açúcar, as raspas de limão e a margarina derretida. Bata junto o leite condensado e o leite. Unte uma forma refratária com margarina e salpique açúcar. Asse no banho Maria por uma hora mais ou menos.
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Um livro sobre as Lendas da Maré “Era uma manhã nublada... acho que foi num dia de meio de semana... lá para os idos de setenta e alguma coisa. Eu tomava o café da manhã com minha tia. Mergulhava no café com leite, o último pedaço de pão, quando escutei a gritaria. “Nereu, ô Neeeerêu!!!”. Pela voz percebi logo que era Zumira, vizinha do baraco em frente. Estava Eufórica. Entre palavra enroladas, entendi que me chamava para ver uma estranha criatura que tinha nascido no chiqueiro da Baixa do Sapateiro...” texto aí em cima é a introdução de uma antiga história conhecida por muitos moradores da Maré: O Porco com Cara de Gente, que nasceu na Baixa há uns 30 anos. Mas o legal mesmo é dizer que esse caso junto com outras 6 histórias foram transformados no Livro de Lendas e Contos da Maré. E quer saber mais, esse livro está sendo publicado pela Maré das Letras, um selo editorial do próprio bairro. Agora, uma pergunta: “Se não é comum produzir livros em espaços populares como a Maré, como é que esse livro foi feito?” Bem... na verdade, o Livro de Contos e Lendas da Maré é resultado de um projeto iniciado em 2000, que envolveu oficinas de Imagem e Comunicação do CEASM. Durante quase um ano, os jovens alunos do curso de produção literária pesquisou e entrevistou antigos moradores em busca de histórias que ainda hoje habitam o imaginário da população do bairro: A figueira mal-assombrada, O ensopado de cobra, A festa de casamento nas palafitas, O porco com cara de gente, O lobisomem, O bloco Mataram Meu Gato e A mulher loira.
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Na verdade, os 7 contos que compõem o livro são uma mistura de depoimentos e relatos de moradores antigos com a criatividade dos jovens estudantes do curso de produção literária. O projeto gráfico foi esboçado pelos alunos de Produção Gráfica. As ilustrações e fotografias foram produzidas também pelos alunos das Oficinas da Imagem e Comunicação... Enfim... eis um livro produzido quase inteiramente por jovens de diferentes comunidades da Maré. Sem contar com o importante apoio da Rede Memória do CEASM e da Infraero – que patrocinou o livro e as oficinas. Só para concluir, vale dizer que O Livro de Lendas e Contos tem como pano de fundo as singularidades geográficas, históricas e sociais do bairro. São estórias contadas por antigos moradores: pescadores, migrantes do campo e do sertão... pessoas que foram empurradas para a aventura urbana pela desigualdade social do país e que trouxeram na bagagem uma forma própria de olhar a realidade... uma forma de ver a vida cada vez mais esquecida na fria lógica de consumo do mundo globalizado.
Maré das Letras: uma editora mareense A editora Maré das Letras tem por objetivo estimular a publicação de publicações escritas de diversas ordens – livros, cartilhas, revistas, jornais, etc – elaboradas por moradores da Maré, de outros espaços populares do Rio de Janeiro e de outras partes do Brasil. A idéia é criar um pólo de produção editorial desenvolvendo produtos culturais a partir das narrativas, reflexões, linguagens, e práticas cotidianas dos moradores dos espaços de favelas do Brasil. Livro de Contos e Lendas da Maré Ed. Maré das Letras – 80 pag Preço: R$ 10,00 À venda no CEASM - Nova Holanda e Timbau (tel: 2561-4604)
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''' Maré Musical
IRACI COSTA
foto: Renata Souza
Iraci Costa é cantora, compositora e atriz. Nasceu em Minas Gerais e veio para o Rio de Janeiro ainda na infância. Há quase 30 anos, vive na Nova Holanda. Aos 48 anos, resolveu cantar. E hoje, aos 64, realiza o sonho de ter o seu cd. O cd Estrela da Madrugada foi gravado com o dinheiro conseguido catando latinhas na Praia do Flamengo. Iraci trabalha como diarista. “Trabalho em duas casas por semana e nos finais de semana, cato lata. Tenho apoio das minhas patroas e das pessoas que juntam latas pra mim” – diz a cantora. É ela mesma quem vende os cd’s. Fofoqueira, sua música de trabalho, é de sua autoria. Assim como as outras do cd. Iraci já se apresentou em clubes, restaurantes e lugares bem conhecidos – como o Palácio do Catete – mas reclama que seu trabalho não é reconhecido na Maré. “Não precisei vender milhões para ser reconhecida. Com 130 cd’s já dei entrevistas para jornal e televisão. Não precisei de muita coisa para chegar a algum lugar. Mas aqui nunca se importaram com meu trabalho. Teve gente que torceu o nariz pra mim.” – conta. A falta de apoio da comunidade desanima a cantora. “Meu plano é cantar, fazer shows e conhecer muitos lugares. Espero que apareça um empresário, ou alguém que se interesse em me ajudar.” – deseja. Se você se interessa em conhecer o trabalho de Iraci Costa, pode procurá-la na Rua Juscelino Caetano, nº 4, Nova Holanda (próximo à praça).
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ALHO, CEBOLA E PEIXE DAS MÃOS
Faça VOCÊ mesmo! Passo-a-passo 1 Pique, direto na panela, a base de glicerinada em lascas bem finas; 2 Deixe derreter, misturando com o mexedor. Na falta do fogão elétrico, derreta em banho-maria no fogão a gás, com fogo baixo; 3 Quando a base estiver bem derretida, desligue o fogo e deixe descansar; 4 Com a panela morna, vamos para o próximo passo. 9 Coloque o óleo de oliva. Mexa bem, até que o óleo se incorpore na base; 5 Agora, coloque o pó de café, mexendo bem para tirar os grãos que insistem em ficar grudadinhos na panela;
Material necessário • Panela esmaltada (não serve de alumínio ou vidro); • Moldes para sabonete em silicone ou plástico; • Mexedor de plástico (pode ser uma colher ou um palito); • Glicerinada branca; • 4 col. (sobr.) bem cheias de pó de café; • 3 col. (sobr.) de essência de café; • 1 col. (sobr.) de óleo de oliva, são 5 ml (utilizado para temperar salada). 6 Coloque a essência de café; 7 Por fim, coloque a mistura em forminhas de plástico ou em moldes de silicone; 8 Deixe secar por uma hora. Desenforme fazendo uma leve pressão e pronto.
Nota: Os materiais você encontra em supermercados ou em lojas de artesanato.
} NATUREZA CIDADÃ FOLHA DA SAMAMBAIA Equipe de Fitoterapia da Sala Comunitária
Indicações Reumatismos, artritismos e tosses rebeldes Ingredientes 1 colher de sopa de folha de samambaia 1 copo de água (200 ml) Modo de preparo Quando a água estiver fervendo, coloque a folha. Desligue o fogo e deixe descansando por 15 min. Coe e beba. Dica: o chá deve ser feito sempre na hora em que se vai bebê-lo. Onde encontrar chás terapêuticos: Via A1, 120. Centro Comunitário Vila do Pinheiro
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UM ESPAÇO PARA O TÊNIS NO SALSA E MERENGUE
Q
uem gosta de um esporte quer fazêlo em qualquer oportunidade. E às vezes o destino prega peças na gente. Foi o que aconteceu com Débora de Paula Viana da Costa, de 14 anos, moradora do morro do Timbau. Antigamente, ela jogava vôlei na Vila Olímpica da Maré. Mas como tinha que esperar o primo e acabava assistindo suas aulas de tênis, começou gostando do esporte. Daí, faltou pouco para trocar o vôlei pelo tênis. Hoje Débora é treinada pelo mesmo professor Ricardo Santana. Só que não mais na Vila Olímpica – que está fechada. O point do tênis mareense do momento é uma quadra construída com a ajuda dos moradores no Salsa e Merengue. Ricardo dá aulas de tênis no local para cerca de 60 alunos da comunidade, de 4 a 18 anos, no período da tarde. Todos os alunos são inscritos na Federação de Tênis do Estado do Rio de Janeiro. Na verdade, esse é o projeto Tênis Para Todos, que começou em dezembro de 2003. Através de doações, conseguiu-se equipamentos como roupas, raquetes e o direito de competir sem pagar. Numa kombi, Ricardo sempre leva as crianças para os torneios que participa fora da Maré. Afirma que é uma forma de mostrar para os alunos que esse esporte não é só para pessoas da zona sul. “Quando comecei,
QUADRO DE VACINAS
Veja aqui em que idades e que vacinas se deve tomar desde o nascimento
queria dar um esporte diferente, pois aqui só tem futebol. E o tênis pode ser jogado tanto por meninos como meninas” . Os alunos já competiram em diversos lugares como Angra do Reis, na Barra (esporte center), no clube Payssandu (na Lagoa Rodrigues de Freitas), Jardim Guanabara e no Fluminense. E o grupo já tem até jogadores IDADE
Ao nascer 1 mês 2 meses 2 meses 2 meses 4 meses 4 meses 4 meses 6 meses 6 meses 6 meses 6 meses 6 meses 9 meses 15 meses 15 meses 15 meses A partir dos 6 anos 10-11 anos 15-49 anos
VACINAS BCG e Contra Hepatite B Contra Hepatite B DTP (tríplice bacteriana) VPO (sabin) Contra H. influenzae b (Hib) DTP (tríplice bacteriana) VPO (sabin) Contra H. influenzae b (Hib) DTP (tríplice bacteriana) VPO (sabin) Contra H. influenzae b (Hib) Contra Febre Amarela Contra Hepatite B Contra Sarampo DTP (tríplice bacteriana) VPO (Sabin) Tríplica viral ou Dupla viral BCG-ID Dt (DUPLA ADULTO) / Contra Febre Amarela Rubéola monovalente
esboçando um início de carreira vencedora. É a história de Débora que já ganhou um campeonato e outros dois segundo lugares. Os alunos que se destacam ganham uma raquete. Infelizmente, o projeto ainda não tem patrocinador. Quem estiver interessado em ajudar pode ligar para 2230-4403 de 10h às 19h. DOENÇAS EVITADAS Tuberculose e Hepatite B Hepatite B Difteria, Tétano e Coqueluche Poliomielite Meningite por Hib e outras infecções Difteria, Tétano e Coqueluche Poliomielite Meningite por Hib e outras infecções Difteria, Tétano e Coqueluche Poliomielite Meningite por Hib Febre Amarela e outras infecções Hepatite B Sarampo Difteria, Tétano e Coqueluche Poliomielite Sarampo, Rubéola e Caxumba Tuberculose (em suas formas mais graves) Difteria e tétano / Febre Amarela Rubéola
O Cidadão !
Página de
rascunho
do Cidadão
Espaço para a livre expressão do morador. Não representa, necessariamente, a opinião do Jornal.
O poder da mente MENTE DE ADOLESCENTE MENTE CONTUNDENTE MENTE CONTENTE A MENTE QUE MENTE SERÁ QUE A MENTE MENTE? OU SERÁ QUE A MENTE É DEMENTE? NÃO, A MENTE QUE MENTE PODE SER DE QUALQUER UM PACIENTE OU IMPACIENTE TALVEZ A MENTE SEJA CONTENTE E NÃO DEMENTE DEMENTE É A MENTE QUE NÃO É CONTENTE!
Amanda A. da Silva
Maré... Memórias de Resistência Maré, seus encontros, sua resistência, sua memória. Para alguns, apenas romantismo ideológico, para outros, uma ousadia. Mas a Maré traz um legado de transformações. Um apelo de bravura que luta contra o tempo e constrói sua história produtiva e as vezes silenciosa, numa alternativa de força moral e digna. Ela avançou no tempo e mudou seu estigma, sendo justa. Essa gente brasileira que aterrou seu próprio chão, Mostra hoje sua transformação e resgata suas camadas num discurso Que cresce em cada continuidade, em cada capítulo. Somos honrados em conhecê-la. Somos cavalheiros ao conhecer essa senhora Maré. A senhora Mãe Gentil, às vezes marginalizada, As vezes cruelmente renegada Mas orgulhosa e bravamente livre! Admilson Rodrigues Gomes
&
CARTAS Quem quiser enviar cartas ou sugestões para o jornal, deve fazê-lo endereçando para o Centro de Ações Solidárias da Maré Jornal O Cidadão – Praça dos Caetés, 7 – Morro do Timbau – Rio de Janeiro/RJ – CEP: 21042-050
Sinto falta de uma parte em O Cidadão em que haja um pouco de literatura. Quase todos os jornais e revistas contam com uma sessão em que há uma crônica, por exemplo. O jornal cumpre bem o papel de informar, mas sinto falta de cultura nele. Talvez fosse interessante propor a comunidade que participe enviando textos. Se houver interesse do jornal em trabalhar cultura, gostaria de participar. Mariana Gesteira
MEMÓRIA DA MARÉ
as edições passadas, a Rede Memória apresentou alguns temas que, de várias formas, marcaram e ainda marcam a História da Maré. Nesta edição, O Cidadão presta homenagem ao Sr. Gerson da Silva Jaqueta mais conhecido como Sr. Jaqueta nasceu na Maré em 13/09/1922, aqui viveu e veio a falecer em 27/04/2004, aos 81 anos. Como forma de reconhecimento a todos os moradores que participaram da História da Maré, dedicamos a ele esta página.
N
Sr. Jaqueta e d. Eugênia. O casal ficou famoso na comunidade pela organização das festas de São Pedro, padroeiro dos pescadores.
Jaqueta, memórias de um pescador Integrante do primeiro núcleo de ocupação da Maré, que foi a vila dos pescadores do Morro do Timbau, Sr. Jaqueta teve uma intensa participação na construção da História da Maré, o que podemos atestar em seus depoimentos. A pesca era a principal ocupação dos primeiros moradores da Maré. Como meio de sustento, era organizada por colônias de pescadores, das quais o Sr. Jaqueta fazia parte. A atividade pesqueira era preservada, passando de geração para geração, fazia parte da vida dos moradores, como podemos conferir com ele: “Eu, com 10 anos pesquei com meu avô, aí gostei. Era muita fartura, muito peixe. Então eu pensei: Ah! Vou me arrumar. Vou me dar bem com essa pescaria. Ai fui me aprofundando e fiquei até hoje”. “(Eu) chegava pra descarregar (os peixes), o pregoeiro vendia, tirava a comissão, e a gente recebia o restante. Do que sobrava, a gente dividia pelos companheiros. Tirava a parte da embarcação, da rede e era dividido pelos companheiros”. “Ali no Catalão*, perto da ponte, tinha um peixe que era muito saboroso, robalo, peixe de primeira... hoje, de repente, tu olha e vê aquele pretume em cima do mar. Aquilo tudo é plástico, que engata na rede e se perde muito tempo para retirar”. A festa dos pescadores, devotos de São Pedro, era muito popular, o Sr. Jaqueta participava todos os anos, desde criança. A festa era no Portinho de Inhaúma. “Era festa dos pescadores. Festa de São Pedro. Havia todos os anos, na festa dos pescadores tinha procissão, tinha tudo. Saíam os barcos, todos enfeitados, iam até a Glória”. Depois que se casou com D. Eugênia Menezes, que faleceu em 21/02/2001, a festa passou a acontecer na rua Capivari, onde moravam. A animação era grande! O relato é de D. Eugênia: “...depois que casamos, começamos a fazer a festa de São Pedro aqui na rua. Vinha conjunto, fechava a rua aqui em baixo e lá em cima. Eram dois dias! Eu ia lá na loja do Juquinha, antigamente era o Juquinha. Ia * Uma das oito ilhas que no período de 1949-1952 foram interligadas através de aterro para a construção da Cidade Universitária.
lá em Bonsucesso e trazia prêmios que me davam pras crianças. Trazia uma porção de coisas. Aí, fazia brincadeiras o domingo todo: quebra-pote, a dança da cebola, corrida do ovo na colher. As brincadeiras das crianças aconteciam no domingo. No sábado, tinha baile. Antigamente, quem tomava conta disso aqui era o quartel. Vinha escolta pra tomar conta da festa, não saía uma briga”. No início tudo era diferente, os moradores foram construindo o seu chão, suas moradias, obtendo conquistas, o que temos muito a agradecer a eles, ao Sr. Jaqueta, à sua esposa e a todos os antigos moradores das comunidades da Maré, que lutaram e lutam para uma melhor forma de vida e na valorização do nosso bairro. “Você chegava aqui, por exemplo, e dizia: quanto é esse pedaço aqui? Era tanto. Fazia um muro na frente... pra tampar a visão e por trás construía. Quando derrubava o muro a casa estava pronta. Assim que eles faziam ali. Daqui do ferro velho pra lá, foi tudo feito assim. Faziam um muro alto e atrás iam fazendo as casas. Quando a casa estava pronta, derrubavam o muro, a casa estava de frente pra rua e ficava uma beleza. Bom, mas cada um dá o seu jeito...” Saudações, Sr. Jaqueta! Uma das identificações de pescador profissional do Sr. Jaqueta, integrante da Colônia Z-11 – Ramos. Antes fez parte das Colônias Z-16 e Z-4.
Esta sessão de O Cidadão é uma iniciativa da Rede Memória da Maré. Se você conhece um fato interessante sobre a história do nosso bairro e quer que ele seja contado aqui, escreva pra gente. É só enviar sua carta para o jornal ou para o e-mail: contato@ceasm.org.br