Cambres um patrimonio no douro lucília monteiro

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CAMBRES Um Património no Douro

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“Vamos iniciar a nossa romagem por terras de Lamego, partindo da Régua a caminho da vetusta e artística cidade, pela antiga via pombalina que atravessa Portelo de Cambres, de extremo a extremo assinalada por 2 antigos relógios de sol… Avançando pela marginal e deixando para trás algumas quintas, como a da Varanda… ou dos Varais… fixe-se a atenção na da Pacheca…(cit. Correia de Azevedo, O Douro Maravilhoso)

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Prólogo

“Conheceis Cambres? É uma ridente e progressiva freguesia do concelho de Lamego, que vê a norte, as serranias do Alvão… e, mais ao perto, a do Marão… Cambres, desde a margem esquerda do soberbo e majestoso Douro, em suave e doce anfiteatro, lá se vai estendendo e crescendo, encosta acima… Encosta verde, e cheia de vegetação frondosa; salpicada… de aglomerados de casario alvo… é terra de sonho… e formusura sem par… esta terra com os seus alcantis cheios de pomares, vinhedos e fontes…” (In Varanda do Douro, fevereiro e março 1967)

Nos dias de hoje, e após uma evolução relativa à noção, Património Cultural engloba uma série de pareceres reais, para além da paisagem e bens eclesiásticos. Isto porque subentende também as tradições, costumes, história e cultura dos povos. Evidencia-se o entendimento humano quanto à transformação da vida social que, a par das novas tecnologias, vai renovando este conceito, patenteando ainda as artes, os materiais e os locais. O primeiro documento sobre a paróquia de Cambres data de 1155. A Região Demarcada do Douro é de extrema relevância pelas suas virtudes, capacidades produtivas e pelo fascínio das suas belas e ingremes paisagens. É tendo em conta as caraterísticas paisagísticas que definem a região do vale do Douro, que esta foi reconhecida como Património Mundial, segundo os critérios definidos pela UNESCO, os quais designam por paisagem cultural “obras combinadas da natureza e do homem”, abrangendo paisagens artísticas, interativas entre o homem e a 6


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natureza, e culturais. Tal como afirma Jorge Osório, “a beleza do Douro não se esgota na paisagem, nos socalcos do tão generoso vinho, ela tem uma vertente humana muito forte.” O calor de maior queima, em junho escalda, em julho e agosto sufoca. Na época do outono, a paisagem deste Douro, apresenta encostas, ravinas e vales esquecidos pelas ladeiras, harmonizando cores com sinfonias. Os tons, desde verdes a castanhos, dourados e roxos, confundem espaços e lugares, pela sua multiplicidade de valores e caraterísticas únicas. É este clima quente que fortalece a terra e benze o Douro com o seu mel – o Vinho. De entre os diversos locais, ao longo dos caminhos verdes e airosos da região, demarca-se aqui a freguesia de Cambres, vila do concelho de Lamego desde 4 de junho de 1997, região interior norte – Douro Sul, Beira Alta, onde dela cresce um dos principais centros de produção vinícola do Douro, fruto do tão afamado vinho do Porto ou vinho generoso do Douro. São várias as quintas conhecidas e privilegiadas, quer pela sua paisagem, quer pela sua qualidade vitivinícola e agrícola. “Desejamos referir nas ‘povoações ruraes’ (terras de 6.ª ordem) a contribuição de Cambres – freguesia notável do nosso concelho.” (cit. Cordeiro Laranjo, No Compasso do Concelho de Lamego)

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Capítulo 1

“O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a refletir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta.” (Cit. Miguel Torga, In Diário XII)

Origens e geografia

“A chamada estrada velha de Lamego a Régua, por Portelo de Cambres, é bastante íngreme, mas de uma rara beleza: magníficas vistas sobre o vale do Douro, tendo ao fundo a coroa mais alta do Marão.” (Cit. Raul Proença)

Nos primeiros séculos da nossa era, a romanização definiu o vale do Douro com linhas de ocupação territorial, acrescentando atividades económicas. Desde o século I que os romanos se juntaram aos povos locais de ocupação castreja e transformaram os espaços em pontos de defesa militar ou atalaias de vigilância. Desta forma incrementaram a cultura da vinha, da oliveira e dos cereais. Tiraram 9


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proveito de diversas fontes termais, entre elas as de Cambres. Desenvolveram a mineração, construíram algumas estradas e pontes e uniram povoações. Em épocas medievais, até perto do nascimento de Portugal enquanto nação, o vale do Douro era dominado pelos suevos (século V) e visigodos (século VI). Um dos fortes meios de domínio romano encontra-se nos diversos marcos miliários, que serviam para a passagem de tropas e correios, entre eles um que subia por “Portela de Cambres”, vindo da foz do Varosa, seguindo para o castro de Lamego. No princípio do século VIII, os árabes (muçulmanos) tomaram conta destas terras e muitos dos habitantes desta região tiveram de fugir para as Astúrias. Existem vestígios da passagem dos árabes no nome da Quinta de Paços de Moçul e Quinta do Mourão. O primeiro documento escrito que faz referência a este local, data de 1155, onde o então pároco de Almacave (Lamego) Munio Sandinio, junto com os seus paroquianos, venderam algumas fazendas no lugar de Mosteirô ao mosteiro de São João de Tarouca. Já em 1163, ficou ainda registado que, com a autorização de D. Afonso Henriques, Pedro Viegas vendera a Dona Teresa Afonso (mulher de Egas Moniz), tudo quando tinha em Lamego e Armamar. Mais tarde Dona Teresa doou as terras recebidas ao Convento de Salzedas, entidade religiosa pertença do Clero, detentora da maior parte dos terrenos aráveis da região e que hoje se denominam em terras de Douro Sul. Era vigararia do padroado real, no termo da antiga comarca de 10


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Lamego e tinha 2 curas e beneficiados. Em poder eclesiástico, nomeadamente no Arquivo diocesano de Lamego, encontram-se registos: batismos – 1588-1859; casamentos e óbitos – 1623-1858. Dos clérigos desta freguesia, há referência descrita (abril de 1705): ao vigário Teotónio Soares de Carvalho (1715); ao padre Manuel Coelho Dinis (1716); ao padre João Veloso de Araújo (1739); a João Félix (1747); ao reitor Bernardo João Veloso Arães (1758). Para além destes, também outros clérigos e pessoas de renome aparecem confirmados em documentos da época: padre António Rebelo Teixeira (residente na Corredoura até 1616); Domingos Lopes Rebelo (até 1622); Baltasar da Costa; Manuel Pereira (capitão da Infantaria da Índia) e o jesuíta António Cardoso (teólogo e provincial da Ordem em Portugal, entre 1697 e 1700), ambos do lugar de Rio Bom; Pedro Dias da Costa (cura que representou a igreja de Cambres no Sínodo de 1639). No São João de 1648, o calígrafo padre Francisco da Costa Guedes (natural de Cambres, assumiu o lugar de cura, protegido da colegiada de Resende); o jesuíta Manuel de Seixas (de Rio Bom). De Cambres, designadamente da Quinta de Monsul, foi o Dr. Francisco Carreiro, que aceitou a cogula monacal nas Salzedas e, enquanto teólogo, foi para Coimbra para receber as divisas doutorais, contendendo com o jesuíta Francisco Soares. Regeu o lugar de Gabriel (10 de março de 1587), o de Durando (17 de janeiro de 1597) e o de Escoto (28 de maio de 1605). Foi escolhido como reitor da Universidade de Coimbra em 1584 e 1594, onde, após a sua 11


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morte, enriqueceu a livraria com livros e quadros com figuras cistercienses. Foi-lhe outorgado o códice guardado no convento de Alcobaça – Commentarii à Suma des Tomás. Ainda do paço de Monsul, foi um cambrense sargento-mor, de nome Gaspar Gomes, que, por volta de 1729, conseguiu autorização para a construção de uma capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Morte, na igreja da Graça, em Lamego. Outras gentes de Cambres: Luís Guedes de Vasconcelos (da quinta de Monsul, secretário do cabido em 1697, comissário em 1700, fidalgo de linhagem); Luís Pinto de Miranda (do lugar de Lamelas, mestre escola em 1741, testamenteiro em 1747, diligente em 1755, procurador de Manuel Freire Gameiro em 1775); padre João Pinto Castanho (com diligências no Cabido de Évora em 1686); José Carvalho Veloso (do lugar de Rio Bom, bacharel em cânones, obteve bulas no canonicato e prebenda do Dr. João Pais do Amaral, apresentou carta ao Santo Ofício em 1732); Manuel Teixeira Camelo (de Portelo de Cambres, administrador de rendas, com autorização de executar as obras que os visitadores da Diocese ordenassem nas igrejas); Manuel Faustino Loureiro (mestre na reconstrução da igreja de Cambres em 1769, contratado para o escadório de Nossa Senhora dos Remédios em Lamego, em 1777); Manuel da Fonseca (do lugar de Felgueiras, carpinteiro no convento de Ferreirim em 1747); José Vicente Correia (do lugar de Rio Bom, mestre e presbítero do hábito de São Pedro em 1763); Columbano Pinto (militar em Viana, coronel em Goa, notável no reinado de D. João V); padre António Pacheco Pereira (da quinta da Pacheca, sepultado na 12


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capela mor local); Cipriano Pinto da Silva (do lugar de Lamelas, cavaleiro professo da Ordem de Cristo). Foi Marquês de Pombal, pelo século XVIII, com a sua real nobreza de sangue e capital, que mandou construir palácios, pela região duriense. Nos finais do reinado de D. Pedro IV (mais concretamente em finais de maio de 1834) foram extintas no reino de Portugal, todas as casas religiosas de quaisquer ordens regulares e os seus bens foram incorporados nos próprios da Fazenda Nacional. Assim, o governo de então, procedeu ao inventário de todos os bens, dos quais constavam algumas quintas de Cambres. De seguida procedeu-se á rematação de cada um dos bens ao arrematante com a melhor oferta. Deste modo deu-se início à constituição de pequenos grupos de habitantes, donos das quintas arrematadas e suas famílias, que, com o decorrer dos tempos, se lhes juntavam outros, que vindo á procura de trabalho, por aqui ficavam, estabeleciam vida, casavam, dando origem a um processo evolutivo do número de habitantes.

* “A freguesia de Cambres pela sua importância não somente sob o ponto de vista populacional, como também pela riqueza que representa para a nação, merece ser olhada com maior respeito e atendida nas suas justas aspirações com mais solicitude.” (In Boletim da Casa Regional da Beira Douro, fevereiro 1963)

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No século XIII, de acordo com as atas das inquirições de 1258, de D. Afonso III, com a rubrica «De parrochia Sancti Martini de Cambres», Cambres já nessa altura seria uma das mais populosas regiões do país. Atualmente Cambres tem em média, pouco mais de 2000 habitantes e as suas principais atividades económicas são a vinicultura, a agricultura e o comércio. Detém uma área aproximada de 11,2 km2. Situa-se a sul do rio Douro, com o qual confina, rodeado pelas freguesias de Samodães, Ferreiros, Almacave (Lamego) e Sande. Tem a norte a serra das Meadas e encontra-se entre duas cidades (Lamego e Peso da Régua). É uma das maiores freguesias do concelho de Lamego, do distrito de Viseu. É caraterizado por um clima extremista, muito frio de inverno e muito quente e seco de verão, visto estar no interior do país. Compõe-se pelas seguintes povoações ou lugares: Adega do Chão, Arteiros, Bogalheira, Calçada, Cambres, Carneiro, Carosa, Corredoura, Cruzinhas, Eirô, Felgueiras, Lagares, Lamas, Lameirão, Lamelas, Mesquinhata, Moinho de Vento, Mosteirô, Palhais, Pedreira, Penelas, Pinheiro, Pinguéis, Pio, Pomarelho, Pontão, Portela, Portelo, Pousada, Quintãs, Quintião, Ranhadouro, Raposeira, Raquel, Rio Bom, Souto e Varais.

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Localização de Cambres no mapa de Portugal

Mapa geográfico de Cambres

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Mapa turĂ­stico de Cambres

Mapa simplificado da vila de Cambres

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Mapa cartogrĂĄfico de Cambres

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“Até que pouco antes do Salgueiral, o vale de Cambres, enxameado de quintas, irrompe em toda a sua grandeza, dando-nos o exacto valor da cultura vinífera à volta da Régua, onde não há terreno inculto… nem nada que possa despertar nas pessoas um sentimento de tristeza.” (In Douro Maravilhoso) Os vinhedos que rodeiam a vila só muito tenuemente se vão dispondo por vertentes mais ou menos íngremes e mais ou menos pedregosas, até ocuparem a inevitável distribuição que o terreno tem no Douro e em cujos geios nascem e frutificam. Este conjunto de encostas com os seus geométricos calços, lembra um enorme anfiteatro no meio do qual a Régua se determina, como pequeníssimo espaço para a luta do quotidiano. “A subida para Lamego pela antiga estrada pombalina que atravessa Portelo de Cambres, abre-nos um dos mais famosos panos de boca deste maravilhoso palco que é o Douro, e em que a vinha, descendo em socalcos até junto do rio, tem por vezes a circunda-la a vegetação campestre do Minho… Aqui se juntam em promiscua intimidade, a encosta vinhateira e o campo de lavoura, o pinheiro bravo e a árvore frutícola. E tudo isto contribuindo para tornar a paisagem mais bela ainda, a que não falta o rio ao fundo…” (cit. Correia de Azevedo, in O Douro Maravilhoso) * “… vasta paróquia, onde várias «villas» nos indicam a toponímia, como: «villa Mundini», «villa Ramualdi», «villa Kintilani» … Algumas vezes nos

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Lucília Monteiro séculos XII e XIII, encontramos a expressão hagiotoponímica «Sancto Petro de Tauraes» (1199) … e no século XIII … de «Sancto Laurencio» (1008, 1011) … na Corredoura ainda uma ermida de S. Lourenço, se menciona no século XVIII … Ainda quanto ao culto de São Pedro, há a anotar como ele é remoto no lugar de Felgueiras …” (In As origens nas igrejas da diocese lamecense)

Quanto à origem do nome, alguns estudos, apesar de não terem conclusões exatas, dizem que a palavra deriva da comunhão entre outras várias, parecidas em várias línguas pré-romanas camb (relevo) e ar(a) (que indica realidade local, geral, natural). O nome pode ter derivado de um castro que havia na localidade, ligado também ao culto de São Martinho, que ascende ao século VI (época de culto do homónimo turonense São Martinho de Dume). Poderá estar ainda ligado à palavra Cambra, “Calambriga” (Caambria), mas que faz uma relação indireta e confundível com Cambra em Vouzela ou Vale de Cambra. Outra hipótese seria Câmbar, por ser comum, apesar de indissociável, uma vez que cam-bar significa caminhoromano. Neste caso teríamos o pré-romano cam, mas não sendo possível de identificar morfológica e toponimicamente a derivação bres. Também se pode pensar no genitivo “Cambri”, “Cambrus”, gerados de Cambre, na Galiza, mas podemos admitir a evolução “Cambares > Camberes > Cambres”, presumível do século XII. Desta forma, foi considerado um topónimo de difícil resolução e talvez único. Cambres encontra-se num terreno bastante acidentado e que desde tempos memoriais foi ocupada por diversos povos que se iam fixando.

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O sufixo anum aparece em cantabriano, nome da família Cantabri. É um antropónimo romano e deduz-se que possa corresponder à paróquia de Cambres. O povoamento pré-histórico encontra-se documentado nos morros fortificados do castro, sítio outrora calcetado pelos romanos. Num texto redigido entre 572 e 582, na introdução ao “Parochiale suévico”, dando seguimento à carta do rei, foram criadas novas Dioceses, incluindo a de Lamego, sendo que nesta se enumeraram as seguintes paróquias: Lamecum, Tuentia, Aravoca, Cantabriano, Omnia e Camianos. Segundo outras investigações, a palavra deriva dos suevos, que ocuparam esta região e que se dividiram em duas famílias importantes: os Câmbrios e os Torónios. Os primeiros, mais a sul (Corredoura e Portelo) e os segundos mais a norte (margem do rio Douro). Daqui originam dois topónimos: Cambres deriva de Cambrios e Tourais deriva de Torónios. Ainda, segundo a menção das paróquias da igreja de Lamego, chamada «Divisio Theodimiri» ou o referido anteriormente «Parochiale» suévico do século VI e, de acordo com 2 outros investigadores, Pina Manique e Albuquerque, e Almeida Fernandes, podem haver outras formas de conseguir identificar toponimicamente as paróquias. Pina Manique dizia que a “Tuentica” corresponde atualmente a Teões (Armamar), “Cantabriano” a Cambres, “Camianus” a Balsemão e “Omina” talvez a Onega (Bairros, Arouca). Já Almeida Fernandes carateriza “Tuentica” como Tarouca, “Cantabriano” como a igreja batismal de São João 20


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de Pinheiro (vertente sul de Montemuro), “Camianus” como Tamanhos (Trancoso) e “Omina” como Carregal (Sernancelhe). Num outro contexto antroponímico, encontra-se datado do século XI: «vobis filiis meis Sindila et Camariz et Eugenia». O nome Camariz, de origem germânica, poderá indicar um indivíduo de nome Camar(iz) que povoou o local nos fins do século IX, aquando da reconquista neogótica, fundando, reconstruindo e criando a igreja de São Martinho.

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Capítulo 2

Património histórico e artístico

“«O povo apresentava o pároco» mas «passou ao padroado real com nome de vigário, ficando a cura das almas a dois coadjutores ou curas», os quais faziam «todas as obrigações paroquiais». … «tem dois beneficiados» e… «os dízimos se repartem na comenda da Ordem de Cristo, do Conde de Cocolim e dos frades bernardos»... “ (In Censual da Sé de Lamego)

Como comunidade cristã, Cambres também é muito antiga, pois no tempo da ocupação sueva, deu-se a cristianização desta terra. A primeira comunidade cristã organizou-se no castro, junto à ermida que fundou a paróquia, sob a invocação de São Martinho de Tours, vindo da influência de São Martinho de Dume (Bispo de Dume). A constituição local como paróquia, reuniu capelas antes levantadas nas diversas vilas romanas, sendo que algumas ainda conservam os seus oragos pré-nacionais. De alguns que falamos ou falaremos adiante, são exemplo: São Pedro de Felgueiras, recordado em toponímia como São Paio e São Caetano; São João e São Roque, de Rio Bom; São Miguel de Quintião; São Sebastião, da Corredoura; São Brás, de Pousada; São Lourenço, do Souto; São Bernardo, da Quinta das Salzedas; São João Batista, de Mosteirô.

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Então, em data de “Parochiale”, pela segunda metade do século VI, considerado um “tempo de grande incremento de vida cristã” a noroeste da península, foi nesta altura que se fundaram diversos mosteiros, assim como se organizaram várias igrejas e diversificadas comunidades cristãs. Nesta mesma altura, deu-se a chegada das relíquias de São Martinho de Tours à península, assim como a conversão do rei dos suevos (Carrarico) e ainda a ação missionária do Bispo de Braga São Martinho de Dume, propagando-se um culto direto com São Martinho. Na diocese de Lamego foram encontradas 13 paróquias dedicadas a São Martinho de Tours, talvez devido a esta origem, sendo uma delas a de Cambres. A primeira comunidade religiosa de Clarissas a instalar-se em Portugal, fixou-se inicialmente no lugar da Mesquinhata, ainda aquando viva a fundadora Santa Clara. Ter-se-á então estabelecido nesse lugar, pois dizem as inquirições de 1258, que os jurados colocaram a herdade “in Maciata, in loco ubi moratal fuerunt sorores” (em Macinhata, no lugar onde muraram as “irmãs”). Depois, a sua igreja foi a de Nossa Senhora da Guia em Tourais, segundo indicam as casas ajuntas em forma de claustro, sob iniciativa das senhoras devotas locais, apresentadas por outras freiras oriundas do estrangeiro, no cumprimento da regra. Mudaram-se para Lamego por volta de 1253, aquando das doações executadas por D. Teresa Gonçalves, sendo que o respetivo convento foi assegurado 5 anos depois, a 20 de fevereiro, através da bula “Cum omnis vera religio”, com recomendações ao povo da cidade, do papa Alexandre IV. 23


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Em 1258, os inquiridores deram direito de nomeação do pároco, concedido pelo juiz a ser escolhido pelos paroquianos. Ignorava-se, no entanto, em que herdade seria construída a igreja. Mas sabia-se que era cercada em 3 lados, por património real, onde num dos lados se situava o cemitério. D. Egas Moniz passou o terreno legado do padroado, ao povo. Pelos dotes de físico-médico, foi conhecido e conceituado em 1432, o abade João. Por volta do século XVI, a abadia de Cambres, considerada reitoria, desce a vigararia, devido à comenda da Ordem de Cristo, em carta de D. João III. Em junho de 1590, por ordem de Filipe II, o pároco passa a ter limitações paroquiais, celebrando apenas missas cantadas nas festas do ano, um “caso único no reino”. Em 1653, o lugar de Pousada era conhecido como “Pousada das Freiras”, tendo origem assim o seu topónimo. No século XVIII, perfazendo um total de 386, eram contabilizados fogos nesta freguesia: 16 em Cambres; 6 em Mondim; 32 na Portela; 10 em Pomarelhe; 20 no Souto; 5 nos Maduros; 11 em Lamelas e Quintã; 18 em Carosa; 5 no Eirô; 31 em Felgueiras; 17 em Pousada; 9 na Corredoura; 10 em Palhais; 7 em Várzeas; 15 na Mesquinhata; 9 em Arteiros e Lamas; 38 em Portelo; 33 em Quintião; 47 em Rio Bom; 25 na Bugalheira e Quintais; 22 em Penelas. No ano de 1801 foi relatado por escrito, um documento com as pratas existentes em Cambres. Assim: 24


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duas cruzes processionais modernas “com seus raios e resplendor”; uma lâmpada lavrada; um vaso de comunhão liso e um de reserva; uma custódia de prata dourada e lavrada; um turíbulo e naveta lavrado; três cálices de prata, dois lavrados e um liso; uma cruz de guião da Confraria de Santo Nome de Jesus; uma coroa de Nossa senhora do Rosário lavrada; oito cálices e patenas de prata, destinadas a oito capelas. Em 1882 foi instituído nesta freguesia, o Centro Apostolado de Oração. No dia 5 de janeiro de 1917, as congéneres das paróquias de Castro Daire, Santa Comba (Foz Côa), Cambres, Vila Jusã (Mesão Frio) e Nespereira (Cinfães) ficaram agregadas à Congregação de Doutrina Cristã da Sé. As Conferências da Diocese femininas realizaram-se em Cambres, no ano de 1925. Em fevereiro de 1957 foi criada a Biblioteca Paroquial. Construíram-se 10 casas dos pobres em 1958, no lugar designado por Bairro dos Pobres, situado no que é atualmente a povoação da Pedreira. Em setembro de 1966, realizaram-se algumas doações à igreja. O Sr. Carlos de Oliveira, do Porto, ofereceu um campanário e uma estante em metal. Por sua vez, a D. Maria Amélia Lacerda, de Lamego, ofereceu seis cíngulos. Por altura de junho de 1968, o Rev. Pe. Manuel Peixoto Martins ofereceu à igreja quatro jogos de paramentos góticos, uma capa de asperges e um véu de ombros. Deu de oferta também à capela de São Roque de Rio Bom, três jogos de paramentos romanos. 25


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Celebraram-se na Diocese várias Assembleias Regionais Familiares ao longo do ano de 1980, sendo que em 15 de junho correspondeu a Cambres. Em maio do mesmo ano, haviam vários periódicos na Diocese, representando e noticiando serviços e informações necessárias das freguesias a que correspondiam, nomeadamente sobre a igreja e o seu povo, pelo que em Cambres persistiu durante longa data o jornal Varanda do Douro. Seis anos depois, criaram-se as Famílias kolping, entre elas esta paróquia. Já em junho de 1996, chegou à igreja, uma oferta, vinda de Veneza, por parte de uma pessoa que pediu anonimato, um rico candelabro em cristal de Murano. No ano seguinte, à data de 12 de janeiro, deu-se a inauguração e bênção do Centro de Dia de Cambres, com uma eucaristia presidida pelo Bispo D. Américo do Couto Oliveira. Estiveram presentes no evento, um representante da Câmara Municipal de Lamego, a Junta de Freguesia de Cambres, a Comissão da Fábrica da Igreja, a Diretora escolar, um membro da direção da Segurança Social e um elemento do Centro Social. Deste espaço se fez padroeira a Santa Teresinha (Santa Teresa de Lisieux ou Santa Teresinha do Menino Jesus), cuja simbologia está patente no brasão criado para o estabelecimento. Seguindo o anuário diocesano de 2011, existem instituições de caráter social em diversas paróquias, uma delas Cambres. Para além da Irmandade das Almas, a igreja contempla ainda de outras, escritas em testamento, como os 26


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casos da de Nossa Senhora do Rosário e do Santíssimo Nome de Jesus.

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Igreja Matriz

Figura da “Virgem com o Menino”, da paróquia de São Martinho de Cambres – Peça do século XVII, em prata branca e dourada, com uma coroa circular rematada com flores-de-lis. “A Virgem ergue-se sobre um crescente lunar… veste túnica prateada, cingida na cintura, sob manto em prata dourada… o cabelo é dourado e encaracolado.” (In O Compasso da Terra – A arte enquanto caminho para Deus). Peça de ourivesaria, com heráldica (armas com escudo, elmo, timbre e paquife, numa moldura oval decorada por um torçal, dentro de uma cartela dourada; armas Teixeira, Cabral, Leite e Rebelo), que indica que os mais poderosos podiam “aceder às oficinas e mercados que produziam tais objetos, ofertando-os como forma de reforçar a sua posição ante a comunidade e a Igreja.” (In Igreja de Lamego – A dimensão da Fé) Segura o Menino Jesus com a mão esquerda e, supostamente, teria um rosário na mão direita, sendo intitulada também de “Virgem do Rosário”. Emoldurada por uma orla ou mandorla de raios que circundam da coroa (superior) à nuvem (inferior). O menino Jesus aparece como salvador do mundo, segurando, aparentemente, um orbe com uma cruz. Assente numa base (com folhas de acanto) com um pé liso em forma de urna. A figura encontrou-se exposta no Museu Diocesano de Lamego. Reflete uma união pela prática religiosa e pelas missões dominicanas. Nas memórias de 1758, faz-se referência a procissão da Virgem do Rosário e que tinham o seu próprio retábulo nas matrizes respetivas. A sua doação está ligada à quinta do Paço de Monsul, uma vez que, à data de 1677, um dos proprietários era José Teixeira Cabral de Azevedo, com dois dos apelidos registados na heráldica.

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Pressupõe-se que a igreja de Cambres possa ter sido um «mosteiro pré nacional», pertencendo às diversas comunidades religiosas pré nacionais. Também talvez por se encontrar relativamente perto de Mosteirô (monasteriolo), de caráter dúplice, dada a religião praticada nos dois lugares. Desta forma, como disse em época remota o Pe. David, era possível organizar «une communauté qui est a la fois groupe religieux et personnel d’exploitation agricole, souvent pour doter un fils clere ou une fille vouée au célibat». (Uma comunidade que é ao mesmo tempo um grupo religioso e de exploração pessoal agrícola, muitas vezes para dotar um filho ao clero ou uma filha condenada ao celibato.) O padroado era singular, pois pertencia única e exclusivamente aos paroquianos, de acordo com o preceito «nulla ecclesia sine domino». E foi por esse direito que o templo terá sido reedificado num local abaixo do primeiro castrejo, este suévico-visigótico, após 877, aquando das diversas obras de restauro do território lamecense, depois da reconquista afonsina. Era também considerado um padroado duvidoso, pelo chão do assento do templo não pertencer diretamente à coroa. Por não se tratar de uma igreja “própria”, é possível que se tenha sido instituída uma espécie de abadia secular, juntamente com a supressão para um só pároco – «domina» ou «sanctimonial». Neste caso, teria sido D. Maria Gonçalves a última a ter posse instituída nos valores religiosos da Igreja de Cambres. 29


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Desta forma, segundo as Inquirições de D. Afonso III, de 1258, o “juratus et interrogatus de patronatu ecclesie Sancti Martini de Cambres dixit quod parrochiani presentant eidem ecclesie” (In As origens das igrejas da diocese lamecense) O primeiro arcediagado surgiu pelo século XVI, em Lamego, por confirmação numa lista de 1320, onde constam ordenadas as igrejas da Diocese, fazendo referência a Cambres como pertença do referido arciprestado. Consta num dos documentos mais antigos (transcrito por Alfredo Pimenta e publicado pela Academia Portuguesa de História em 1942), com cópia de 1368, à ordem do Bispo da altura D. Lourenço e a pedido do Cabido da Sé de Lamego – Leituário da Sé de Lamego – a descrição das várias igrejas existentes na Diocese, entre elas, a de São Martinho de Cambres. A Igreja Matriz da paróquia de Cambres, tem como padroeiro S. Martinho de Tours (Bispo Turonense, São Martinho de Dume, promotor de muitas igrejas do século VI e fundador da Diocese de Lamego na mesma data) – Sanctus Martinus de Cambres. Gerou-se uma predominância devota a São Marinho desde o século X. No entanto, comemora-se anualmente, a festa em honra de Nosso Senhor da Aflição. Esta celebração teve origem numa situação verídica passada em 1875. A mesma conta que nesse ano, surgiu a doença da filoxera nas videiras, destruindo toda a produção. A população em desespero e aflição, decidiu aclamar ao Senhor dos Aflitos, para que as vinhas fossem salvas, realizando pela primeira vez uma 30


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procissão de penitência, entre a Igreja Matriz, percorrendo uma grande parte da freguesia, até uma capela – Santo António. A partir daí, como as preces foram ouvidas, todos os anos, em devoção extrema, se concretiza esta procissão. “Um dos males maiores que tem atingido a viticultura duriense é o da doença das vinhas. Depois da mangra em 1851, surge a filoxera no último quartel do século XIX, reduzindo toda a ridentíssima gala de vinhedos que vestia cerros e vales, chapadas e ravinas, desde o Baixo Corgo até ao Douro Superior, a um estendal de infinita tristeza e trágica miséria. (cit. Correia de Azevedo, In O Douro Maravilhoso) Igreja Matriz de São Martinho de Tours

Altar de Nosso Senhor da Aflição

A informação mais remota acerca desta igreja levanos a 1197, mais tardia em relação à sua construção inicial. Em documento, entre outros assuntos, estão escritas as décimas «quae pertinent ad ecclesian Sancti Martini de 31


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Cambres» (documento da Breve Relação, das Doações de Salzedas). No mesmo livro existe um documento que fala da troca de terrenos no lugar de Carosa com a Mitra de Lamego. “Em 1258… «de patronatu ecclesie Sancti Martini de Cambres», diz-se «parrochiani presentaverunt semper et presentant eidem ecclesie»,e que o templo – assim da coroa, e daí o padroado dos moradores por consentimento régio – estava rodeado de três partes… de reguengos (prédios reais diretos) e da outra parte… pelos bens da abadia, «hereditas Sancti Johannis de Tarauca». Assim, o padroado dos paroquianos explica o notável caso das funções nela, nos finais do século XII, exercidas, a mandado deles, por Maria Gonçalves”. (In Livro das doações de Tarouca) Neste contexto, presumese a existência de uma «sanctimonialis» ou «domina» – D. Maria Gonçalves – na igreja em transição do século XII para o século XIII, uma sugestão feita Hierotopografia: Orientação pelos paroquianos da altura. espacial da Igreja Matriz

É assim, reconhecida cronologia antes do século X, sendo considerado um santuário de relevância histórica e carateriza-se por algum ecletismo. Virada a poente (alusão ao mihrab, orientação a Meca), encontra-se em espaço urbano e é uma preciosidade de construção interior e exterior. Foi reconstruída no século XVIII e restaurada em 1967. 32


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A 28 de setembro de 1687, o escultor João Ribeiro, de Lamego, assinou escritura, obrigando-se à obra do retábulo da capela-mor, assim como do sacrário, mais precisamente colunas, capiteis e talha miúda, sendo que seria “conforme a traça mostra e a arte o pede”, de madeira de castanho lisa e seca, de forma a poder ser pintada e/ou dourada sem abrir qualquer tipo de fendas. Um pedreiro de Barcelos, mas residente em Cambres, Francisco Fernandes, enquanto mestre de cantaria, assinou escritura a 24 de fevereiro de 1713, onde se compromete na construção da capela-mor e sacristia, acrescentando 15 palmos à abside e 28 palmos de altura, com acrescento de pirâmides e cruzeiro. A remodelação feita no século XVIII, destruiu uma tribuna de talha seiscentista, ainda por dourar, e os altares laterais de Jesus e da Nossa Senhora do Rosário, cuja imagem esculpida em madeira policromada, apresentando um rosto sério, foram atribuídos então ao início do século XVII. A imagem de Nossa Senhora do Rosário (Virgem com o Menino) terá sido a relatada anteriormente, de prata branca e dourada, o que pode ter sido uma proclamação devocional, de culto à Virgem. Nessa altura, no altar-mor, junto a São Martinho, figurava a Nossa Senhora da Conceição. O mestre entalhador, escultor e imaginário João da Fonseca (da Granja Nova, Tarouca), arrematou em 26 de março de 1713, a obra do retábulo mor e tribuna da igreja, tendo o primeiro sido substituído posteriormente por outro. A 10 de agosto de 1716, ficou concluída a obra da sacristia, pelo carpinteiro João Pereira, sendo esta armada de 3 águas oitavadas, com 3 cachorros na parede que 33


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sustentavam o frechal, com armação e ferros. Tinha uma porta no adro para a sacristia e outra no cimo da escada para a casa de cima (já não existente). Também pelo mesmo, “… será soalhada de baixo e em cima com duas traves no soalho de baixo e no de cima outras duas e tem uma porta do adro para a sacristia e outra no cimo da escada que vai da sacristia para a casa de cima, com um frontal que tape a escada e uma janela de peito na casa de cima, e assim barrotes como caibros…” (In Artistas e artífices das dioceses de Lamego e Viseu). Meses depois, por abril de 1717, fizeram-se algumas obras de pedraria, carpintaria e talha, pelo mestre carpinteiro José Vieira. Encontravam-se registados em inventário da altura, alguns artefactos, objeto de culto: 3 cálices de prata, 4 véus, 1 caixa para hóstias, 1 vazador, 5 mesas de corporais, 3 toalhas de dar comunhão, 3 missas, 1 manual, 6 alvas, 4 vestimentas, 4 castiçais, 4 galhetas e 1 capa. Foi novamente remodelado em 1743. Em 1758, a igreja era ocupada por 84 sepulturas, o púlpito situava-se ao lado da epístola e o teto era apainelado, com florões nos remates dos quadros. Também neste mesmo ano, o pároco da freguesia deixou anotada arqueologia encontrada junto da igreja, no sítio identificado como “Crasto” e, entre vários, um sino, que foi cedido ao alto castro da freguesia de Penude. Deixou ainda indicações da existência de um templo primitivo erigido dentro de muros castrejos “ao alto do outeiro que está sobre o de hoje in loco qui dicitur Crasto”. 34


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Reza a história que D. João III baixou a abadia de Cambres para Reitoria e Vigararia e que D. José mandou recuperar e amplificar a Igreja ou mesmo reconstruir de raiz de acordo com o barroco da última fase em 1767. O retábulo da capela de São José foi construído em 1789. “… escritura de obrigação da capela-mor da igreja de Cambres, completada por nova arrematação, em 1769.” (In História do Bispado e cidade de Lamego) Atualmente apresenta revestimentos de talha dourada em todo o retábulo do altar-mor, no arco cruzeiro de volta perfeita e nos altares encostados ao corpo, de uma só nave, ao estilo românico, com caraterísticas ligadas às épocas do barroco (principal), rococó e neoclássico, caraterizado por um dinamismo de linhas, planos e volumes por vezes assimétricos.

Teto

Tem um teto repleto de caixotões de madeira, com uma pintura policroma de motivos religiosos (pintado à mão) e um entablamento bem estruturado, indicando vestígios do estilo gótico. Destacam-se primeiramente à pintura dos elementos que 35


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pertencem à celebração eucarística (cálice, patena, ostensório), havendo também representados alguns símbolos cristológicos (objetos da sua caminhada para o Calvário, do percurso glorificante da Paixão). Encontram-se ainda alguns monogramas marianos, que retratam as virtudes da Virgem. Depara-se um arco triunfal imponente, com uma abóbada de berço coberta por estuque. Predomina o granito e a madeira de castanho. Fazem parte ainda do altar-mor dois serafins com apoio de velas, mas que estão atualmente guardados na capela de São Sebastião e que revelam o estilo de D. João V.

Altar-mor e Arco do cruzeiro

No século XVII deu-se uma mudança na produção de azulejaria, nomeadamente na paleta das cores utilizadas. Ao que antes se pintada em quatro tons – azul, amarelo, verde, manganês – adaptou-se depois apenas os tons azuis, 36


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prevalecendo apenas a sua função ornamental, durante longos anos. Na azulejaria portuguesa dos meados do século XVII, já se encontram pequenos painéis com padrões figurativos, como santos ou alegorias religiosas (custódias, cruzes, pombas). Painéis esses que estão circundados ou ladeados por barras independentes. A igreja de Cambres é rica em azulejos decorativos, datados já do século XX, mas com essas caraterísticas cromáticas e representativas do século XVII e inícios do século XVIII. Representam os quatro Evangelistas, São Marcos, São João, São Lucas e São Mateus, exibidos na capela-mor, representados pelas figuras do Leão, Touro-Homem e Águia, respetivamente.

Decoração de azulejos

Os pilares ou colunas de sustento, caraterizadas de salomónicas, tanto no altar-mor como nos altares adjacentes, apresentam capitéis com motivos essencialmente vegetalistas (ordem coríntia), revivendo um certo naturalismo, mas de origem barroca, datada do século 37


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XVIII, pelas suas colunas torsas e pelos enrolamentos florais. Os seus fustes variam desde o redondo, fasciculado, helicoidal ou espiralado, relembrando o românico português, alguns deles ricamente decorados com motivos vinícolas, em que os temas predominantes são folhas de videira, cachos de uvas (símbolo de eucaristia), pâmpanos, aves e espigos. Alguns dos pilares decorativos dos altares laterais, recordam o maneirismo. Quase todos os altares contíguos são cobertos por um baldaquino de diferentes formatos, lembrando o forte poder de culto ali prestado.

Diferentes estilos de pilares ou colunas

Desenho de pormenor de coluna (Lucília Monteiro)

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Possui também de um coro alto, situado por cima do endo-nártex ou eso-nartex e porta principal, enfrentado por arcos de volta perfeita em madeira. Na época paleocristã, o nártex servia para albergar os penitentes, catecúmenos, pecadores, loucos e mulheres, antes de ser permitida a sua entrada no templo. Fazia ligação direta com o conceito de cemitério (daí a existência de diversos túmulos na igreja). No entanto, já na época bizantina, esta área retangular definida como Litai, servia para benzer os corpos antes de entrarem na igreja. O da igreja de Cambres, data do século XI, aquando da transição do espaço, aproximando-se das entradas das catedrais da alta Idade Média. No século XVII foram construídas duas capelas de altares: o de São José e o das Almas. O segundo tem uma pintura em madeira, alusiva ao anjo da morte e entrada no céu ou no purgatório, reportado já a 1725 como a Irmandade das Almas, esta que deverá ter sido ereta antes do fim desse século. De pouca luminosidade e cores atenuadas, nos tons brancos, azuis e vermelhos, indica pertencer à época pós renascentista (finais do século XVII). No entanto, não há Pintura referências acerca do autor da obra. “Irmandade das Almas”

Em 1758, no corpo da igreja encontravam-se cerca de 84 sepulturas (cobertas atualmente pelo chão de 39


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madeira), o púlpito estava do lado da epístola e o teto era apainelado com florões a rematar os quadros. A capela-mor não pertencia “ao primor” do corpo, pois tinha uma tribuna em cantaria trabalhada. Em escritura de obrigações assinada, de 10 de dezembro de 1767, o mestre entalhador e escultor João Correia Monteiro responsabilizou-se em concretizar a obra do interior da capela-mor, nomeadamente trabalhos de pedraria e a tribuna por conta e provisão de D. João V, assim como do Pe. José Viegas de Brito. Dois anos depois, em maio, foi incumbida ao mestre pedreiro Manuel Faustino Rodrigues a arrematação da obra de pedraria e carpintaria da igreja. O mesmo mestre, em maio de 1769, “arrematou a obra de pedraria, carpintaria e talha”. No dia 28 de junho de 1789, o entalhador Manuel José Coelho fez contrato com António de Moura Gouveia, como forma de construir o retábulo da referida capela do altar de São José. Quanto aos retábulos laterais, verifica-se uma evolução das suas estruturas a nível nacional, de estilo maneirista, onze exemplares dos quais se encontram na região de Lamego, nomeadamente também em Cambres. Aos mesmos, correspondentes à segunda fase do estilo barroco, época joanina, mas com um cariz menos significativo que o anterior, existem 8 exemplares na região, dois em Cambres. Ainda acerca dos retábulos, a partir de finais do século XVIII, surge o estilo rococó, sob influência de D. João V, prolongando-se pelo reinado de D. José, até à época de D. Maria I. Igualmente neste arciprestado ocupa 40


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lugar, nomeadamente em alguns retábulos mor, sendo distribuídos 9 exemplares, entre eles também nesta freguesia. Existem ainda exemplares de retábulos rococós, mas com uma transição para o estilo neoclássico. A sua frontaria em cantaria, com reboco nas laterais e traseira, é de uma grandiosidade e riqueza artística, com uma abertura central, cuja porta principal se constitui de duas folhas e de duas almofadas cada. Aí se encontram três óculos, um de cada lado e outro a encimar. Esta é ladeada por duas aberturas laterais, uma de cada lado, sendo que apenas uma é utilizada (lado da sacristia). Estas duas são sobrepostas por janelas decoradas em vitrais recentes. O conjunto é composto por um telhado de duas águas, rodeado por cornijas retas, com um portal principal de linhas simples direitas, encimado por uma espécie de frontão triangular, com pequenos motivos vegetalistas. Por sua vez, a torre sineira, com uma escada de acesso à mesma e ao coro alto interior, apresenta pequenas gárgulas (que serviam para o escoamento de águas). A cobertura é composta por uma estrutura forrada de madeira (tipo M) e com um telhado de telha lusa (tipo L), onde se encontra uma cruz de ordem latina. Apresentam-se pináculos encimados nos cantos superiores da fachada e da torre, compostos por base, gola e o coroamento em formatos de pera e piramidal. Todas estas informações nos indicam que a reconstrução da fachada é pelo fim do século XIX ou início do século XX.

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Portal principal

Pormenor da torre sineira

Em junho de 1958, a Irmandade de Nosso Senhor da Aflição mandou dourar o altar de Nosso Senhor dos Passos, sendo que a Irmandade das Almas deliberou também na mesma altura, dourar o altar das Almas. Três anos mais tarde, mandou-se cimentar a torre da igreja, a fim de substituir a plataforma de madeira apodrecida com o tempo. Em abril deste mesmo ano (1961), procedeu-se ainda à reconstrução do muro no lado sul do adro da igreja, uma vez que ameaçava ruina. No mês de dezembro de 1964, a Comissão dos Amigos de Portelo de Cambres, iniciou uma campanha de fins lucrativos, com a finalidade de restaurar a igreja, procurando ofertas de azulejos por parte dos interessados em ajudar. Em maio do ano seguinte, a cal antiga que revestia as paredes interiores foi substituída por uma massa adaptável à colocação de azulejos. Remodelou-se ainda a instalação elétrica. Fizeram-se alguns retoques nos caixotões do teto, pintando os que faltavam, de forma a uniformizar o espaço. Também o batistério foi reformulado, pois a pia batismal passou a ficar ao centro, sendo que dentro dessa ficou uma pia mais pequena para conservar a água, e o piso foi revestido com mármore de cor. Na mesma 42


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altura se desaterrou a frente da igreja, para poder ser coberta com granito. Fizeram-se obras de restauro no guarda-vento do paramenteiro, em dezembro de 1968, assim como em duas credências, na cadeira paroquial e nos dois serafins. Nesta altura, ficou encarregue o construtor civil cambrense Artur de Oliveira Rocha, da obra das bancadas. A sacristia, depois de reconstruída, também é um lugar apreciado. Ao longo dos tempos, a igreja foi sendo requalificada, de modo a inovar e a manter o equilíbrio artístico, como: a eletrificação dos sinos; o restauro de peças e altares; incrustação de vitrais figurativos religiosos nas janelas e rosáceas. Vitral (século XXI)

Desenho da Igreja Matriz, do original retirado do antigo jornal Varanda do Douro (Lucília Monteiro)

“Esta arquitetura “nacional… mal liberta de um passado incerto, onde irrompia o gosto simples” (“chão”) do século XVII português pré-barroco, aquele a que se chama em Portugal, o “estilo pombalino”… é sobretudo de tipologia pombalina… sólidos, despidos, … burgueses, simbolizam 43


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pelo seu próprio rigor a época de uma classe que acede ao poder.” (In Triunfo do Barroco) No século XIV, entre outras, a igreja de Cambres está registada como pertença ao Senhor Bispo da altura.

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Torre do Relógio

Existiram “villas”, supõe-se suévicas, como “villa Teodesindi”, “villa Mundini”, “villa Quintilani”, ligadas à cristianização nos séculos VI e VII. Os suevos vieram numa altura em que esta região era ocupada pelos romanos, dos quais ainda existem alguns vestígios. Entre eles: o castro romano (onde hoje se situa o cemitério) de que se preserva ainda a torre do relógio, sobranceiro à igreja; os restos da estrada romana que vinha de Braga. Esta torre tinha ligação com a serra de São Domingos, pela sua elevação estratégica e, após a invasão romana da Península, romanizou-se e servia de vigilância para o rio Douro, tal como outras. O sino da torre é de fundição de origem árabe. Achados arqueológicos encontrados em tempos, no castro, relatam memórias paroquiais do século XVIII: uma bigorna de ferreiro (de tal valor que enriqueceu quem a adquiriu); uma enxada de prata; grandes alfinetes de ouro; um sino (mandado fundir); objetos vários de culto celta.

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Sino da torre

Torre / Castro Desenho da Torre / Castro (Lucília Monteiro)

Num documento de 1197 descreve-se a alusão a um «muratorio», «muradouro» ou cabeço «murado», que pode indicar a fortificação de um castro.

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Capelas / Ermidas

“Mostra-se como S. Pedro e mais apóstolos mandavam edeficar as igrejas no lugar em que os gentios tinham as suas mesquitas. Hé certo que o Apostolo S. Pedro depois que recebeu o poder das chaves e governo da Igreja, mandava edificar os templos naquellas mesmas cazas em que os gentios adoravam seus falssos deuses e à imitassam dos mesmos e seus sacerdotes flamineos, e archeflamineos instituhiu os graus dos prelados eclesiásticos…” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60)

Há referências, cedidas em listagem pelo pároco de 1949, à existência de 22 capelas na freguesia, já no século XVIII, em que apenas 8 pertenciam ao povo, sendo as restantes particulares, principalmente de quintas. De entre as várias capelas, situadas nos diferentes povoados da freguesia, destacam-se as seguintes: - Capela da quinta de Santo António – Retém algumas imagens seiscentistas e um altar azulejado (1701) – magnífico exemplar onde a sanefa, os sebastos e o pano são de fundo amarelo Capela da quinta ocre, decorado com folhagens com traço de Santo António em azul e ao centro uma cartela arcaizante com a imagem de Nossa Senhora do Pilar, espaço este que serve de frontal ao altar principal, dividido em edículas bem esculpida, a fim de aí poderem ser colocadas imagens. Aí se encontram 47


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pinturas com a figura de Nossa Senhora do Carmo (1769), de São Francisco de Paula, São Francisco, Nossa Senhora do Leite e Nossa Senhora do Bom Despacho, assim como duas imagens de Nossa Senhora da Conceição (a mais antiga dos meados do século XVII, no ato de pisar um dragão). Tem também datada na pedra exterior, o ano de 1692. Faz parte da demarcação pombalina. - Capela de São Pedro, de Felgueiras – Reconhecido como São Pedro Apóstolo. Com associação para fins religiosos. Recorda um dos primitivos núcleos cristãos, por estar muito próximo do castro romanizado. É uma reconstrução datada do século XVIII. Altar composto por duas tábuas renascentistas pintadas, pendentes de um e outro lado, que representam São Francisco e Santo António. O lugar de Felgueiras constitui referência pelo estilo das suas Casas Renascentistas, nas portas e nas janelas.

Capela de São Pedro

Retábulo mor da Capela, com a imagem de São Pedro

- Capela de Nossa Senhora da Guia, na quinta de Tourais – Outrora igreja da primeira comunidade religiosa de Clarissas em Portugal (1253). Apesar de pertencer à quinta, é aberta ao povo. 48


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“… tem confraria… a quinta que está juncta à capella nas cazas terá ainda a forma de claustro com murtas e buxas e alguns arcos… se acha em pergaminho escripto hum contratto que huma abadeça daquele convento fez com abbade deste e seus religiosos.” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758)

Capela de São Sebastião

- Capela do mártir São Sebastião, na Corredoura – Pelo santo padroeiro dos escoteiros e pela sua função acolhedora de atos fúnebres. Ruiu nos princípios do século XVIII, sendo depois reconstruída por João de Lemos, em 1717. Restaurada já no século XIX.

- Capela de São Lourenço – Com reconstrução do século XVIII, guarda incrustadas no altar barroco, duas tábuas pintadas do começo do século XVII, que representam a “Natividade” e “Circuncisão” de Jesus; aproxima-se da pintura da época renascentista portuguesa, intitulada de “Primitivos”. - Capela de Nossa Senhora da Conceição, de Penelas – A imagem da Senhora é de madeira estofada, dos fins do século XVII; a sua veste natural era em branco e ouro, com um manto azul e dourado; também revela importância a imagem de São João Batista, uma vez que o seu escultor marcou a cabeça do carneiro na pele do revestimento.

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Capela de Nossa Senhora da Conceição

Imagem de Nossa Senhora da Conceição (imagem de livro)

- Capela de São Miguel de Quintião – Com a figura do arcanjo São Miguel, escultura de vulto adaptada à arquitetura, de granito, colocada num nicho aberto, na fachada principal do edifício, por cima da porta, como que protegendo o lugar sagrado; retrata um moço de rosto esférico, com os olhos em forma de amêndoa, nariz pequeno, lábios de rasgo estreito, queixo saliente, com uma coroa de cabelos em pequenos caracóis, um pescoço e pernas distintos pela sua forma cilíndrica, um corpo direito; um manto a abrir a túnica, sendo esta curta, sugestão de botões, com uma blusa e uma saia lavrada em pregas simétricas, tendo os joelhos descobertos; tem ao seu lado representada uma imagem do mal (iconografia imaginária portuguesa de São Miguel desde os tempos primordiais da época gótica), que desempenha o papel de juízo particular das almas (juízo ou julgamento final), em contrapartida com os pés calçados celestiais; segura na mão esquerda uma espada, na direita um ramo de flor-de-lis e é acompanhado por duas figuras humanas; na base, encontra-se um relevo esculpido de uma figura antropomórfica, de uma cabeça com uma mitra; “Se na Península Ibérica este cunho esteve presente desde o início da reconquista cristã e teve longa 50


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vida, também se apela à sua intercessão nas montanhas, alturas, lugares agrestes e covas, como santo protetor das águas ou como aliviador de doentes em paralelo com São Martinho de Tours, situado como orago da igreja de Cambres que é a freguesia mãe de Quintião.” (In O compasso da Terra – A arte enquanto caminho para Deus); é uma figura escultórica medieval portuguesa, datada do século XIV (incerto), de autor desconhecido, com o padrão reinterpretativo visual próprio, relativo a valores do românico de Compostela, através dos seus elementos e simbologias, embora arcaico; no entanto, pode representar uma iconografia mista, ou seja, é um mensageiro divino, pelas suas asas, e um guerreiro vencedor do mal, pela espada que ostenta. A imagem interior de São Miguel de Quintião, representa: um arcanjo demónio – anjo com asas / guerreiro com elmo, couraça e sabre / psicopompo, com balança (atributo recente) – que pisa o demónio com os pés, o direito na cabeça e o esquerdo no ventre; um híbrido (homem serpente) e anjo de asas – pela sua expressão dos olhos em tom azul, boca aberta, nariz pequeno e saliente, sobrancelhas bem delineadas – com pequenos chifres a surgir na testa, corpo filiforme a terminar em cauda de serpente, com a mão direita no peito em sinal de súplica e o demónio deitado a seu lado, outrora matizado com flâmulas a irromper do chão.

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Capela de São Miguel

Arcanjo São Miguel (exterior da capela)

- Capela de São João Batista, da quinta de Mosteirô – Datada no frontispício da capela, com o escudo da ordem, apresenta uma forma elíptica, com uma banda axadrezada de duas faixas, um báculo em pala no centro e uma flor-delis de cada lado da espiral correspondente. A mesma capela foi mandada restaurar por D. Silvandira da Gama Fonseca Almeida, em 22 de outubro de 1953. A talha data do século XVI e no espaço há imagens de pedra de ançã. “… outra do Senhor Santo António; outra de Nossa senhora da Assumpsam.” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758) - Capela de São Roque, de Rio Bom – Reconhecido como São Roque de Montepellier. Dotada de uma associação para fins religiosos. Outrora Rio Bom era denominado Riomau.

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Capela de São Roque

- Capela de Nossa Senhora da Boa Nova, na quinta da Salada – O seu retábulo do século XVIII, que se encontra em exposição no museu de Lamego, é de madeira de castanho, entalhada, sem qualquer tipo de revestimento. Era usual a utilização deste material, muitas vezes vindo do Brasil, para depois ser utlizado na decoração quer de espaços, quer para mobiliário, pela sua resistência, dureza e cor escura. Altar de Nossa Senhora da Boa Nova Exposição do Museu de Lamego Pormenor do altar de Nossa Senhora da Boa Nova Exposição do Museu de Lamego

“…huma de Nossa Senhora da Boa Nova…” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758) 53


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- Capela de Nossa Senhora do Repouso, na quinta de Monsul - Revestida interiormente de bonitos azulejos, com vasos floridos em tons azuis (fabricados em Lisboa em 1760), caraterísticas do que genericamente se conhece como “azulejos de jarras”, normalmente usados para ornamentar espaços como corredores, sacristias, escadas e jardins, pela sua variedade de motivos. Tem também um arco cruzeiro onde existem numerosas inscrições que ilustram factos. Uma dessas inscrições designa o seguinte: “Esta capella edificou Gaspar de Carvalho de Lucena Sousa Guedes, fidalgo cavaleiro d’el rei e sua mulher D. Ana Carreiro Sallema, anno de Christo de 1599”. - Capela de São Brás, em Pousada – Reconhecido o nome por São Brás de Sebaste.

Capela de São Brás

- Capela de Santo António, na quinta da Azenha – Armoriada com um brasão de armas das famílias Rebelo, Pereira, Pinto e Osório. Possui um teto de caixotões de castanho, com retábulos reproduzindo a lenda de Santo António.

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- Capela de Santo António, de Pomarelhe – Reconhecido por Santo António de Lisboa.

Capela de Santo António

Outras ermidas existem na freguesia, umas públicas e outras privadas, de que se destacam: 2 particulares, de São João Batista e São José, em Rio Bom; 2 particulares, de Santa Cruz e Nossa Senhora da Conceição, em Portelo; uma particular de São Domingos, em Felgueiras; as de Santo António, na Portela e em Lamelas; a de Nossa Senhora da Conceição, da Pedreira (construída em honra doa habitantes do bairro dos pobres); uma particular de Santo António, em Quintião; a de São Lourenço, do Souto; 4 particulares na Bugalheira, de Santo António, Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora do Desterro e Nossa Senhora das Preces; 2 particulares, na quinta da Estrada ou quinta de Santo António, de Nossa Senhora das Preces e Nossa Senhora do Pilar; a de São Pedro, na quinta de Bouçós; a de São Bernardo, na quinta dos religiosos das Salzedas.

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Alminhas

Existem pela freguesia alguns lugares de culto de pequena dimensão, o que conhecemos como alminhas. No entanto, nem todas apresentam imagem de culto, mas apenas o espaço. Entre elas, denominam-se: Alminha (estrada de São Lourenço)

Alminha (junto à entrada do recinto festivo)

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Relógio de Sol

Ainda relativo à história, embora não se encontrem registos específicos sobre o caso, apenas um vestígio real no lugar da Adega do Chão, “Levantou-se um relógio de Sol, ao princípio, que ainda está relativamente conservado…, mas monumento mutilado, que foi erguido na freguesia de Cambres”. (cit. Cordeiro Laranjo, In No Compasso do Concelho de Lamego) No entanto, tudo indica que tanto este como um outro relógio situado na entrada norte de Lamego, foram mandados erguer por Marquês de Pombal, aquando da sua passagem e qualificação territorial da Região Demarcada do Douro, como forma de orientação. Desenho do Relógio de Sol (Lucília Monteiro)

Relógio de Sol Lugar da Pacheca – Rio Bom

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Relicários e Pinturas

Com algumas semelhanças diretas ao busto relicário de Santa Teresa de Ávila, que se pode deparar na paróquia de Nossa Senhora da Assunção, da Sé de Lamego, encontram-se dois bustos relicário, posteriores a esta, pertencentes à capela de São Brás (lugar de Pousada – Cambres). São do século XVIII e em madeira policromada, sendo que representam dois santos, embora sem identificação precisa, um masculino e outro feminino, com um trabalho mais arcaizado, considerando-se um grupo de figuras de anatomia visual agradável.

Bustos Relicário Capela de São Brás

Segundo o mestre Nuno Resende, existem duas tábuas maneiristas, com representação da Adoração dos Pastores ou Natividade e da Circuncisão, que poderiam pertencer a um retábulo desconjuntado da Igreja de Cambres. É um conjunto de obras com elementos estilísticos “do pietismo do Divino Morales, mostra 58


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afinidades com o Calvário do Museu de Lamego… por isso à responsabilidade de Guedes”. Em 1589, a oficina deste artista recebia um sobrinho do vigário do termo do Porto, para aí aprender e exercer a arte da pintura, pelo que se pressupõe que as ditas obras sejam responsabilidade dele. Foram uma Comenda da Ordem de Cristo, por escolha de D. João III. Estes dois painéis de pinturas definidas por quinhentistas, podem encontrar-se na capela de São Lourenço (lugar da Portela – Cambres). Há poucas informações históricas acerca dos mesmos, mas tornam-se possível de interpretação. Natividade de Jesus ou Adoração dos Pastores – Há a possibilidade de o quadro ter sido em parte destruído, daí a dúvida relativa à sua verdadeira identificação. Na traseira da figura de São José podem ver-se algumas personagens que se deduz pertencerem à continuidade de um cortejo (talvez pastores). Divide-se em três partes: a inferior, de cariz arquitetónico; a superior, subdivide-se numa ostentação celeste (nuvem com cabeças de anjos e uma filactéria com a inscrição «GLORIA, IN EXCELSIS, DEO»); o intermédio, com a indicação de uma abertura. As figuras principais representadas são as do presépio: Menino (figura pequena numa manjedoura, rodeado por mandorla); Maria (figura de maiores dimensões e mais significativa, apesar de distorcida, com um manto azul, uma túnica rosa e um véu branco entre a cabeça e os ombros); São José (atrás do Menino, com a mão a acariciar o queixo e uma túnica vermelho sangue).

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Circuncisão de Jesus – No plano central, encontra-se apoiada em degraus, uma mesa circular de um só pé, coberta com um tecido branco e franjado. Na parte superior apresenta um baldaquino verde. As figuras centrais: Maria, que apresenta Jesus sobre a mesa; no centro e virado de frente está São José; do lado oposto um sacerdote (celebrante com finos brocados) e detrás deste um varão (com uma cartela no barrete, onde aparece a inscrição «H»). Apesar de algum traçado cuidado, apresenta também algumas fragilidades no desenho das estruturas.

“Natividade”

“Circuncisão”

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Casas e Quintas

“…tornemos aos solares. O da Corredoura, em Cambres, concelho de Lamego, é tão amplo, tão firme, tão airoso de vistas e de construção, que daria a Lamego um hotel semelhante ao de Seteais… Não é um arranha-céus capaz de melindrar o céu da Beira Alta. É um solar, coisa catita…” (Cit. João de Araújo Correia)

De entre as imensas casas senhoriais e quintas, salientam-se: - Casa da Corredoura – Segundo consta, esta casa era de José de Magalhães Meneses, depois passando para seu filho Francisco Perfeito de Magalhães e Meneses Vilas Boas e família, que foram conhecidos por fidalgos da Corredoura. Eram os donos de uma mata magnífica, onde existiam as famosas águas de Cambres (que muitas curas fizeram outrora e que entretanto encerraram). Tudo isto se passou pelo século XIX. Deste passou para as mãos do neto António Perfeito Pereira Pinto Osório. Segundo as inquisições de 1258, destaca-se o local desta propriedade «in loco qui dicitur castro prope devesam».

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Casa da Corredoura

Desenho da Casa da Corredoura (Lucília Monteiro)

- Quinta de paços de Moçul, Monsul ou Moçulo – Situada no coração da freguesia, é essencialmente do século XVI. Existe um tanque com a gravação datada de 1469 «como voltasse ao domínio monacal por aquelle fidalgo morrer sem descendência, sendo abade D. Vicente Nunes, foi aquella emphyteuticação renovada em favor de Gonçalo Afonso Coutinho» (In O Douro – principais quintas, navegação, culturas, paisagens e costumes). Existe aí uma capela com a data de 1599 gravada no fecho do arco de volta inteira (entrada). Quer interior ou exteriormente, parte das paredes são revestidas por azulejo e dentro guarda algumas pedras com inscrições. Sobre esse arco de entrada de estilo românico e curvado por duas ameias e uma sineira, encontra-se um grande termómetro “Stephen Inks”, de ferro esmaltado branco. Assenta aí também o brasão de armas dos Guedes de Vasconcelos, datado de 1599. É um brasão esquartelado: no 1.º e 2.º tem cinco espadas de ponta para baixo (do apelido Vale mal representado); no 4.º e 5.º encontra-se um faixado ondulado (talvez do apelido Coelhos); o timbre com a representação de um leão. Encontram-se ainda duas sepulturas epigrafadas, que datam de 1600, cobertas de lousa e mármore negro, 62


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pertencentes uma aos fundadores e outra aos descendentes de Gaspar Leal Gomes (sargento mor de Lamego). No interior da casa estão duas celas dos monges cistercienses, presumindo-se ser uma espécie de museu. O topónimo Moçul indica a presença árabe, confirmada na quinta do Mourão (o grande mouro). Segundo consta, a quinta “celebra” um grande amor que existia entre o casal Afonso Cabral e Inês Guedes de Carvalho. O primeiro proprietário legítimo da Quinta do Paço (Resende) e Torre de Monsul (Cambres), foi D. Afonso Henriques, 1.º rei de Portugal, que depois a ofereceu em 1163, ao seu amigo Pedro Viegas. Por sua vez, foi vendida a D. Teresa Afonso, viúva de Egas Moniz. Esta propriedade foi ainda pertença do Mosteiro de Salzedas, que fez desta o primeiro emprazamento do 1.º Conde de Penela, D. Afonso de Vasconcelos e Meneses, em 25 de julho de 1331. Desta feita, também foi pertença da ferreirinha e a sua administração faz-se agora conjunta com cerca de 200 legatários. Foi nesta quinta que se fizeram grande parte das cenas do filme Vale Abraão, de Manoel de Oliveira. - Quinta da Azenha – Conhecida com a quinta das meninas da Azenha. O nome deriva da existência de uma azenha, datada de 1640. Foi propriedade de António Perfeito Pereira Pinto Osório, um fidalgo da casa real. Atualmente é reconhecida como Casa da Azenha, na pertença da família Mascarenhas Gaivão. - Quinta da Casa Amarela – Casa de 1836 e com uma capela dedicada a São Gonçalo. 63


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- Quinta de Mosteirô – Granja situada próxima da foz do Varosa. De tempos remotos, com uma capela cujo altar veio do Conde de Barcelos legado ao Mosteiro de São João de Tarouca, com brasão de origem eclesiástica, dos Monges de São Bernardo, da ordem de Cister. A quinta foi desde logo referenciada na carta pombalina como produtora de vinho de embarque, sendo considerada uma fonte de lucro para a paróquia, “considerando-se a igreja de São Martinho nas inquirições de D. Afonso III, cercada pelos haveres da abadia” (In O Compasso da Terra – A arte enquanto caminho para Deus). No século XVI, esta quinta foi reconhecida por Rui Fernandes, pela sua qualidade produtiva de vinho, azeite, cereais, castanha, alguns legumes, cereja e outros frutos, cuja proveniência deriva da localização e das ótimas técnicas agrícolas que os monges deixaram de herança. O topónimo Mosteirô – monasteriolo – indica memórias da cristianização primitiva e insinua à existência de um ermitério de clérigos que viviam em comunidade, talvez pertencente a fundação de São Martinho. De acordo com provas documentais e epigráficas, encontra-se registo sobre a fundação cisterciense do mosteiro de São João de Tarouca, dando referência à quinta de Mosteirô. “Esta quinta do mosteiro é de S. João de Tarouca, e está junto ao Douro, parte com a ribeira de Barosa…” (In Lamego do século XVI). - Quinta dos Álamos – Pertencia à Sra. D. Virgínia de Alcântara Guedes Vasconcelos Botelho, casada com o Sr. Abel Acácio de Almeida Botelho, escritor português (nascido 64


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em Tabuaço em 1854). Casa de arquitetura senhorial, mas com uma entrada primitiva. - Quinta dos Varais – Hoje pertença da família Girão, data do século XVII; inicialmente conhecida como casa de Balsemão, por pertencer ao convento de Salzedas; o seu nome deriva do facto de estar junto ao rio Douro e ser nesse local que os barcos rabelos varavam (faziam inversão de marcha); esteve ligada ao general Carlos Azevedo, assim como à Casa das Brolhas, em Lamego. De acordo com provas documentais e epigráficas, encontra-se datação sobre a fundação cisterciense do mosteiro de São João de Tarouca, relativo à quinta dos Varais, nomeada como herdade: 1142, 47 documentos. - Quinta de Tourais – Foi, em tempos remotos, um pequeno Mosteiro; historiadores afirmaram ser uma várzea fertilizada pelas cheias do rio. A toponímia Tourais estará relacionada com a presença da tribo germano-celta dos Torónios (equivalente aos Túrdulos), séculos antes de Cristo. “Tourais assi chamados segundo a tradissam, porque antes destas terras se cultivarem por serem mui pingues, criavam tão elevados e densos arvoredos e tão intrincadas matas… Hé este sítio… muito abundante pela fertilidade das suas muitas vinhas e poucas leiras que vezinham nos espaçozos areais do ameno Douro…” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60) - Quinta da Pacheca – As primeiras referências documentais datam de 1738, destacando uma casa nobre, com uma 65


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capela. A casa de habitação original, senhorial, data dos séculos XVI - XVIII, de vestígios rocaille, com alterações feitas em 1910, 1975 e 1983. Compõe-se de 4 salas com tetos de talha e algum mobiliário, obra de artistas italianos, também com varandas de cantaria trabalhada e portas almofadadas viradas a nascente. Encontra-se situada na margem esquerda do rio Douro na antiga demarcação pombalina da feitoria, composta por calços repovoados com castas durienses antigas e de grande qualidade. Considerada uma das importantes propriedades do Douro, pela sua produção e instalações vinícolas. Um dos primeiros proprietários foi o Sr. Eng. Dr. Eduardo Mendia Freire de Serpa Pimentel, passando depois para Dr. José Freire de Serpa Pimentel. - Quinta do Mourão – Dos Viscondes de Guiães. Com uma capela do século XVI. - Quinta das Laranjeiras – Cuja casa está datada de 1836. - Quinta do Vale Abraão – Situada na margem esquerda do rio Douro, pertence em parte à freguesia de Cambres, outra seja à freguesia de Samodães, ambas do concelho de Lamego. Outrora pertencente ao Sr. Eng. Dr. Eduardo Mendia Freire de Serpa Pimentel, foi transformada em hotel de luxo já no século XXI, pela sua magnífica localização paisagística e vinhateira.

A 17 de abril de 1311, em conjunto com outros tabeliões, Miguel Domingues, de Quintião, iniciou trabalhos 66


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de inquirições por Cambres. Assim, uma parte das herdades, casais e lugares foram recobrados para a coroa, sendo doadas por D. João I, ao marechal Gonçalo Vasques Coutinho.

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Lugares

Quintião e Rio Bom encontram-se na história, devido à célebre crise do Vinho do Porto, que na Câmara Municipal de Lamego colocou frente a frente agricultores e comerciantes. Deste confronto morreram seis cambrenses, que estão numa sepultura comum, talvez para testemunhar este facto eternamente. Quintião será o nome dado por um comandante da Legião Romana que lá se fixou, assim como pode ter sido gerado do nome de família Quintilianus. Por sua vez, Rio Bom marca um dos caminhos obrigatórios dos romeiros de Santiago de Compostela. Seria aí que os caminhantes encontravam um lugar de repouso e de recuperação dos pés cansados, e nas suas águas o alívio para as dores. “… Rio Bom, de cincoenta e cinco vezinhos que servem ao Senhor S. Roque a quem fizeram capella e tem confraria. Hé neste povo mais duas particulares, huma do senhro Sam Joam Baptista e do enhro S. Jozeph a outra. E deste povo sobem três valles pellos quaes descem três regatos…” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758)

O Lugar da Bugalheira, vem da palavra latina “Buccália”. No entanto, também as formas antigas Bugalaria (século XII), Bugaleira (século XIII) e Bugalheira (século 68


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XIV), levam-nos ao termo bucularia, que significava a terra própria para a criação de bovídeos infantes.

Do termo de evolução palatal Mesquinhata surge-nos no século XIII a forma antiga Maciata, talvez derivado do étimo matianata, de mattiana ou maçã. “… Mesquinhata com dezasseis vezinhos…” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758)

São identificados alguns documentos relativos ao lugar de Penelas. Entre 1771 a 1780, no livro de casamentos da freguesia de Almacave, está registado um termo que o reitor assinou a 3 de junho de 1779, que dita: “(…) na minha presença e à vista de outras m.tas mais pessoas, que lhe vieram assistir, se receberam na forma do sagrado Concílio Tridentino, constituição deste Bispado e ritual de que nelle se uza Paula (…), filha legítima de Manuel (…) e de sua mulher Maria (…) do lugar de Penellas este ano desta minha freguesia e Manuel (…) filho legítimo de outro Manuel (…) e sua mulher Maria (…) do lugar das Penellas, freguesia de Cambres (…)”. Em 1758 o Rev. José Taveyra deixa escrito: “Ultimam.te outro lugar chamado de Penellas he desta freguesia com alternativa, porq hum anno pertence a ella, outro à de São Martinho de Cambres q he do Padroado Reale da comenda do Ex.mo Conde de Coculim.” O 1.º Conde de Coculim foi D. Francisco Mascarenhas, nascido em 1662, filho do primeiro marquês 69


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da Fronteira, senhor de Coculim e Verodá, no estado da Índia, comendador de São João de Castelães e de São Martinho de Cambres (Bispado de Lamego) e de São Martinho de Pina (Bispado de Viseu). Como diz o poeta «Corrêa d’Oliveira», “ Ó Conceição de Maria… Por nós descendo a terreiro, Deus-Homem jamais viera, Se não vieras primeiro.” Esta mesma localidade de Penelas, situado entre as freguesias de Almacave (Lamego) e de Cambres, chegou, em tempos, a ter pertença quer a uma quer a outra freguesia. “… lugar de Penellas com dezanove vezinhos e a capella de Nossa Senhora da Conceissam, com confraria… Neste povo tem alternativa o reitor e beneficiados de santa Maria Maior de Almacave em Lamego” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758)

Tanto Portelo (estrada pombalina) como Portela (caminho do rio Douro) foram lugares de passagem de pessoas e mercadorias. Nos dois locais existiam cobranças de portagem tanto das pessoas como dos serviços e bens de direito. “… regatos… o da parte do Nascente forma-se por baixo de dois povos que hé Portello com coarenta vezinhos e duas ermidas particulares, huma de Santa Cruz e de Nossa Senhora da Conceissam a outra … Oregato de parte do Poente forma-se na fonte dos lugares de Lamellas, Portella e Pumarelhe, contíguos, que constam de sessenta e três fogos. Tem a capella do Senhor Santo António com 70


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confraria e outra particular do Senhor S. Caetano.” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758)

Felgueiras reconhece-se pelo estilo renascentista de algumas casas ainda existentes. “… regatos… o de Felgueiras que conta trinta vezinhos. Tem a capella do Senhor S. Pedro do povo, com confraria. E tem outra particullar do Senhor S. Domingos, esta antes do terramoto já tinha alguma ruina mas com elle a padeceu de sorte…” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758)

Desenho da fonte de Felgueiras (Biblioteca Municipal de Lamego)

“… fonte dos lugares de Caroza e Heiró que sustentam dezanove vezinhos. Todos estes povos… compondo a freguesia… ficando Quintas ao Nascente com trinta vezinhos e a capella do Senhor S. Miguel com confraria… tem ai uma particular do Senhor Santo António… a Calssada, Lamas e Vargeas contíguos que constam de 71


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vinte e dois fogos, se chega a Palhaes que contem dezaseis e a Corredoura e Cambres vinte e o Senhor Sam Sebastiam com confraria… subindo a Pouzada que tem… o Senhor S. Brás, com confraria e dezassete fogos, ficando-lhe… Souto e Maduros com vinte e três vezinhos, que servem ao Senhor S. Lourenço com confraria…” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758)

Desenho da fonte de Carosa (Biblioteca Municipal de Lamego)

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Capítulo 3

“Foi outrora o Douro a região mais rica do país e a primeira demarcada do mundo implantada nas encostas íngremes do rio Douro e seus afluentes, em socalcos pedregosos e solos xistosos e pobres.” (In Douro sul no sulco do amanhã)

Produtividade, etnografia e património cultural

[De Cristo] Item São Martinho de Cambres e apréstamos, de pão 500, de vinho 500, de castanha 700, de azeite 120. [De Christus] Item São Martinho de Cambres, e apréstimos de pão vc, de vinho vc, de castanha viic d’azeite ctoxx.

Situa-se a norte de Portugal, nas montanhas do Douro, com as suas caraterísticas próprias mesológicas e climáticas. Segundo a reforma administrativa de 1936, é no Baixo Corgo que se encontra esta localidade vinhateira, diferenciando-se das outras regiões, nomeadamente Cima Corgo e Douro Superior, assim como das respetivas qualidades produtivas. Esta sub-região onde se encontra inserida a vila, ocupa cerca de 29,9% de área territorial, estendendo-se entre Barqueiros na margem norte e Barrô na margem sul, até à zona do Cachão da Valeira. A Toda a amplitude da região demarcada do Douro compõe uma área de produção vinhateira num total de 18,3%, com uma média aproximada de 33 mil hectares de vinha. A maior parte da região demarcada, principalmente perto do rio Douro e 73


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afluentes, é caraterizada por uma formação geológica do complexo xisto – grauváquico ante-ordovício, pré-câmbrico, com alguns abarcamentos de natureza granítica. Os solos são quase todos provenientes de arroteias, surribas ou “saibramentos”, acompanhadas de fragmentação da rocha mãe.

“… O verão, em Trás-os-Montes, é sinónimo de inferno. Cá no Douro, porém, no fundo desses caldeirões, que apuram o vinho, o inferno refina … Estes anfiteatros de calços, onde os cachos, sem se saber como, roubam a ceiva à fraga e gemem vinho, são círculos de inferno … O Douro é uma estufa. Dentro dela a vide é flor exigente. Dá uma gota de vinho em troca de um suor ou uma vida…” (Cit. João de Araújo Correia, Jornal de Notícias de 16 de junho de 1944) 74


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A norte de Lamego, junto ao rio Douro, se vê um vale apertado, de uma terra dura de xisto, com um infinito de socalcos, onde crescem as uvas para a riqueza do vinho da região. As pessoas que por ali vivem retratam povos de gente laboriosa e nos mostram um rico e poderoso património artístico. De belas paisagens a freguesia se rodeia, sejam elas locais ou mirando a região.

Paisagem da vila (ao pôr do sol)

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Paisagem da vila, abrangendo o rio Douro e a cidade do Peso da Régua – a partir do miradouro de S. Brás, do lugar de Pousada (Cambres)

Paisagem da serra do Marão – a partir do miradouro de S. Brás, do lugar de Pousada (Cambres)

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Paisagem da serra de São Domingos (Armamar) – a partir do miradouro de S. Brás, do lugar de Pousada (Cambres)

E de boas colheitas ela também sobrevive. São vários os produtos que fazem justo à cultura da vila, sendo que Cambres é um dos maiores centros de cultura vinícola, produzindo um grande número de pipas de vinho duriense, provinda das várias quintas.

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O vinho – principal meio de subsistência “… chega-se às encostas soalheiras, de xisto e de socalcos plantados de videiras, onde se ergue a mais antiga região demarcada de vinhos do mundo, a região do Douro, criada pelo Marquês de Pombal, em 1756… É uma mancha xistosa, precâmbrica que marca o verdadeiro solar deste nobre vinho…” (In revista Douro)

Podemos recuar na história e descobrir que o vinho já era produzido nesta região, entre os séculos III e IV. Já em 1678 são apreciados os vinhos da província, mas a primeira região vinícola do mundo demarcada e regulamentada, corresponde à atual denominação de origem controlada. È portuguesa e define-se pela constituição de alvará da Instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, a 10 de setembro de 1756, assinado pelo rei D. José e seu então secretário de Estado, Sebastião José de Carvalho e Melo (pela sua dedicação ao serviço público, tornou-se conde de Oeiras e mais tarde, a 18 de setembro de 1770, compensado com o título de Marquês de Pombal). Neste alvará régio, confirmam-se as propostas de uma apresentação enviada ao rei a 30 de agosto do mesmo ano, assim como valoriza os vinhos e a cultura da vinha nesta região, de forma a favorecer o comércio e assegurar os rendimentos do Estado. Desta forma também se protegeria um produto – vinho do Douro – e a sua qualidade. Assim, foi demarcado um território regional, cadastraram-se e classificaram-se parcelas de vinhas, tal como os seus vinhos, de acordo com a qualidade. Estabeleceram-se preços segundo categorias e ações de 78


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escoamento, desenvolveram-se organismos de controlo e certificação registada e estabeleceu privilégios, poderes e monopólios à Companhia. Introduzem-se desta forma, outros princípios essenciais: fiscalização do transporte do vinho entre as diversas regiões, fixação dos limites de produção, estabelecimento de cadastro dos produtores (na altura conhecido como “tombo”)

Livro da Instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do alto Douro (Museu de Lamego)

Pelo célebre tratado de Methuen, em 1703, entre Portugal e Grã-Bretanha, assinado por D. Pedro II e o embaixador inglês John Methuen, feito em proveito e consolidação da viticultura duriense, as plantações vão tomar novo rumo, pelas encostas, até ao rio, onde se drenava a colheita. Este tratado era definido como Tratado dos Panos e Vinhos, onde os portugueses se comprometiam na compra de tecidos ingleses, livres de impostos e alfandegários, sendo que em contrapartida, os vinhos portugueses teriam privilégios iguais aos ingleses. Foi 79


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também considerado uma “liga contra a França”, país que o considerava um acordo prejudicial à indústria têxtil, por perder estímulos produtivos e meios de concorrência. Em contrapartida, beneficiou o afluxo à metrópole do primeiro ouro do Brasil. Apesar das condições do tratado, Portugal continuou a receber tecidos de Holanda e França, proporcionando a ruína da manufatura têxtil portuguesa, mas que não prejudicou o mesmo economicamente. Já no que diz respeito ao vinho duriense, este teve uma valorização e aumento de produção notável. Mas a ambição adulterou por completo o mercado de exportação e arruinou o autoritarismo de Pombal. A partir de 1756, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro – Companhia Velha, como era vulgarmente conhecida, regeu o destino da região vinhateira, durante mais de um século, conferindo autenticidade do produto e assegurando a pureza, de forma a valorizar as exportações. Do documento, formado por 53 capítulos que compõem o diploma orgânico da Companhia, pode destacar-se: X – “Sendo o principal objeto desta Companhia sustentar com a reputação dos vinhos a cultura das vinhas, e beneficiar ao mesmo tempo o commercio…” XIV – “Para facilitar as entradas das acçoens a favor dos lavradores dos vinhos do Alto Douro…” XXIX – “Devendo-se separar inteira e absolutamente para o embarque da América e reinos estrangeiros os vinhos das costas do Alto Douro e do seu território de todos 80


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os outros vinhos, dos lugares, que somente os produzem capazes de se beber na terra…” Assim, foi demarcada e circunscrita em regime de monopólio e feitoria com fama readmitida, sendo, um ano depois, considerada a primeira região demarcada do mundo – a região demarcada do Douro. A área produtora fica assim bordada por 335 marcos de pedra com a designação de feitoria. Desta forma, foi elaborado um registo de todas as vinhas as margens do Douro, autorizadas a fazer produção de vinho de consumo e de exportação. Os orientadores da demarcação histórica de cada região forram D. Bartolomeu Pancorbo, Frei João de Mansilha e o Dr. Luís Beleza de Andrade.

Painel da região da Beira Douro (Museu de Lamego)

Em 1834, no reinado de D. Maria II, a Companhia é extinta, como forma de libertar o comércio das regalias concedidas ao Douro pelo Marquês de Pombal. Entra em liberdade de comércio e começa então a desacreditar-se e desvalorizar-se o produto com a decadência das exportações que, mais tarde, retomou o seu valor e qualidade. 81


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Por volta do ano de 1851, surgiu uma doença nos vinhedos – oídio – que causou muitos prejuízos, prolongando-se por cerca de 10 anos. Por sua vez, um primeiro surto de filoxera apareceu em 1868, que devastou o vinhedo duriense, levando à fome e miséria de famílias cujo sustento se baseava no cultivo das vinhas. Foi em 1887 que se formaram diversos sindicatos para a defesa das vinhas e contra a filoxera. Mas, para não bastar, em 1893, aparece o míldio que dizima a vinhas, levando ao aparecimento de mortórios, ou seja, espaços térreos vazios de cepas, como se ao abandono estivessem. A 10 de maio de 1907, João Franco, em governo de ditadura, assina um decreto que regulamenta a produção, venda, exportação e fiscalização do vinho, regressando aos princípios orientadores da política pombalina da defesa da marca, de 150 anos antes. Um ano depois, em decreto de 27 de novembro, realizou-se a demarcação por freguesias, reduzindo a área de produção, o que se manteve até 1921. Foram sucessivas as delimitações da região demarcada: entre 1757 e 1761; entre 1788 e 1793; entre 1907 e 1908; a partir de 1921. Os marcos delimitativos pombalinos (ou de feitoria), eram colunas em granito com pequenas inscrições. No entanto, a maioria levou rumos inexplicáveis, como adegas e entradas de habitações, sendo que alguns se encontram em museus. “… deixou-se a descida para o rio e seguiu-se o caminho de Samodães e Cambres, em direcção a Lamego, onde se colocou o 9.º marco por cima da fonte. Dentro da freguesia de Cambres, a divisória seguiu até ao sítio da Mó, 82


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com o 10.º marco, dali virou para sueste para a Corredoura, com o 11.º marco; deixou-se estrada à mão direita, para a igreja e seguiu a da esquerda… por Eirô… e passando pela capela de São Sebastião colocou-se o 12.º marco no Ranhadouro. Dali endireitou a Pomarelhe com o 13.º marco e com o 14.º, mais adiante… do lugar de Lamelas. Deixando então à esquerda a estrada para o Douro, prosseguiu até à fonte de Caroza, passou além do carreirão para Rio Bom e seguiu pela estrada real para Lamego, com o 15.º marco, e mais acima o 16.º, no cruzamento do caminho da igreja. Deixando então à direita a fonte de Felgueiras, endireitou a Portelo… se levantou o 17.º marco… O 18.º marco assinalou a extremidade do lugar de Portelo, onde a demarcação atravessou a estrada que vinha do Peso para Lamego, continuando pelo ribeiro até Quintião, pela azenha velha no sítio da Lameira…” (In História do Bispado e cidade de Lamego) Marco pombalino (Internet)

«Sam Martinho de Cambres / he da presentação delrey / Confirmaçaom do Sõr bpº / pagua de confirmaçaom hum marco e meio ~ pagua de uisitaçaom ~ As rações da dtã igreia / sam dapresentacão do aba/de. A confirmação he do S / bpõ. pagua cada racão de / cõfirmaçaom meio moc ~» (In Censual da Sé de Lamego) 83


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A 27 de novembro de 1908, regulamenta-se em cumprimento do artigo 24.º, a constituição da comissão de viticultura da região do vinho generoso do Douro. Em 1915, mais propriamente a 20 de julho, Cambres, juntamente com Valdigem, Sande e Figueira, formam a “marcha da fome”, em que se concentraram cerca de 5000 pessoas junto à Câmara Municipal de Lamego. Tudo pela reclamação da regulamentação do setor dos vinhos de mesa do Douro, de modo a conseguir apoios aos viticultores que tinham sido grandemente afetados pela crise derivada do míldio. Deu-se então uma catástrofe humana, sendo a população atacada com bombas e metralhadoras, havendo desta forma mortos e feridos. Contudo, as entidades oficiais da Câmara culpabilizaram os manifestantes. No entanto, o motim foi visto como ação popular heroica, em defesa dos interesses regionais, pelo que os mortos foram considerados mártires. A este respeito, julga-se ainda existir no cemitério da freguesia, uma sepultura de pedra, com uma cruz onde se encontra a inscrição “Pela causa do Douro” e, numa placa de mármore, o nome das seis pessoas de Cambres, que faleceram por essa causa. Atualmente, também na entrada do mesmo cemitério, se encontra uma placa de mármore, em memória de todos quantos morreram nesse ato, tanto cambrenses como das restantes freguesias envolvidas. Três anos depois, por decreto de 10 de julho, classificam-se as freguesias e propriedades que passam a constituir a Região Demarcada do Douro. Em 1921, pelo decreto de 10 de dezembro, são confirmados os limites dispostos, de forma a regulamentar convenientemente a produção e o comércio do vinho do Porto. 84


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Refletiram as variações técnicas e domínios produtivos, em transportes e comercialização e deram continuidade aos princípios orientadores da população, mantendo a identidade regional. Com o fim da Monarquia e durante a 1.ª República e com a agitação política e social, deu-se um dos momentos mais buliçosos da história do Douro, com manifestações, motins e assaltos. Em 1926, novas alterações na organização comercial e lavoura duriense, com intervenção do Estado. Registado está, de 1932, a Comissão de Viticultura da Região do Douro, onde se encontra um mapa catalogado com uma legenda explicativa, com os sinais convencionais que demarcam a Demarcação Pombalina região pombalina e da Antiga (Museu de Lamego) Companhia do Alto Douro. Também nesta data foi criada a Federação Sindical dos Viticultores da região do Douro – Casa do Douro – enquanto entidade em auxílio da produção. Em 1933 institui-se o sistema de benefício, que consiste na cadastração dos vinhedos, em que cada produtor fica com autorização para produzir uma certa quantidade de mosto, que é determinada através de critérios definidos: localização, caraterísticas do terreno, castas, idade da vinha e qualidade (diferenciada da letra A – melhor – a F). Este método ainda hoje é utilizado.

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Em 1995, é alterado o quadro institucional da região demarcada do Douro, dando apoio aos representantes da lavoura e do comércio, de forma a controlar a produção e comercialização do vinho desta região, com direito de denominação de origem, dentro de normas históricas, culturais e sociais. O vinho do Porto, antes de o ser, era vinho do Douro e, antes disso, vinho de Lamego. Foi esse vinho o encontrado e negociado pelos ingleses, apesar da sua identidade duvidosa. No entanto, estudos efetuados pelo Instituto do vinho do Porto, chegam a admitir a hipótese dos vinhos doces de Lamego, serem fruto originário das vinhas localizadas na região cambrense.

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O produto “Quando, em 1868, a filoxera se abateu sobre o Douro, morreu quase tudo, a vinha, os homens e a esperança. Foi preciso recomeçar… O despotismo pombalino, a ditadura franquista (de João Franco) e o corporativismo salazarista foram momentos singulares de consolidação e de recuperação do douro vinícola.” (Cit. António Barreto) “Depois da epiphytia da mangra em 1851 eis o que succedeu com o apparecimento do phylloxera. Este inimigo execrando realisou, no último quartel do século XIX, sobre o Douro, um dos antigos castigos de Deus… E de toda essa ridentíssima gala de vinhedos que vestia cerros e valles, chapadas e ravinas, desde o Baixo Corgo até ao Douro Superior, fez um estendal de infinita tristeza e da trágica miséria..” (In O Douro – principais quintas, navegação, culturas, paisagens e costumes)

Depois de, por volta de 1875 (outras indicações referenciam como primeira vez em 1862), a região do Douro ser atingida pela phylloxera / philoxerica, o que deixou as vinhas desbastadas e, depois de várias tentativas falhadas, o problema foi resolvido um ano depois, com a plantação do porta-enxerto americano, que se tornou resistente à praga. Desta forma, a região duriense ganhou vinhedos desordenados, pequenas explorações, variadas castas, diversos granjeios (escada, poda, empa, tratamentos fitosanitários, vindima). Ainda no início da reconstrução dos vinhedos durienses, por volta de 1893 surge uma nova praga, o míldio, que, mais uma vez, destruiu as vinhas, apesar de ter sido por um curto espaço de tempo. O produto de maior riqueza do Douro é o vinho do Douro, tanto pela sua qualidade como quantidade, sendo que este primeiramente era de Lamego (século XVI). No entanto, conhecem-se exportações deste vinho já pelos 87


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séculos XIII e XIV, apesar de nessa altura o vinho ainda não reter qualquer nome, origem, demarcação ou notoriedade. Esse vinho generoso tão apreciado nacional e mundialmente que, em eras longínquas, era transportado da Régua ao Porto em grandes pipas, pelo descer do rio Douro no barco rabelo. A vinha desde sempre foi cultivada em terraços, geios ou socalcos, amparados por muros ou calços construídos com o abundante xisto e, atualmente, em patamares sustidos por taludes naturais, ou mesmo em largas extensões de terreno inclinado sem muros ou taludes. Tanto os geios como os patamares seguem geralmente as curvas de nível, transformando as ingremes e pedregosas encostas durienses em gigantescos e belos escadórios. As videiras, de talhe baixo, são dispostas em bardos paralelos: filas de cepas amparadas em arames e estacas de pedra ou madeira. A produção deste néctar é feita por distintas e poderosas fases de granjeio. Destaca-se aqui o modo mais tradicional. Inicia-se, por novembro, pela escava, abertura de covas em volta das videiras, com a finalidade de conservar águas de inverno. Depois a poda ou corte das vides (derivação da colheita anterior), que são armadas em molhos, retiradas ou queimadas, preparando assim a próxima frutificação. Por volta de janeiro, repete-se algum do processo anterior e faz-se replantação. Por fevereiro e março, faz-se a adubação e herbicidas, e preparam-se os bardos, ajustando arames e pedras, como forma de segurar posteriormente as uvas. Segue-se nova época de herbicidas 88


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e adubagem com fertilizantes (adubos químicos) como os azotados (nitrato de sódio, nitrato de potássio, cal azotada e nitrato de cálcio), os fosfatos (naturais e superfosfatos) e os compostos. Segue-se nova escava, encaldeiramento e aplica-se o enxofre em calda ou em pó. Depois, quando já há gomões (entre maio e junho), a empa / erguida / enrodriga / tanchoa / levanta / ampara ou arruma, que consiste em atar as vides ao arame com fios de junco (atar pâmpanos). Em julho é a despampa e redra ou entravessa (arrancam-se as ervas, amolece-se o solo para aconchegar a cepa). Chega então a época do tratamento com enxofre e sulfato (com a ajuda e atomizadores ou tratores). De seguida, por agosto e setembro, quando as uvas e videiras já estão bastante crescidas, faz-se a esfolha e enrolam-se os pâmpanos (enrolam-se as vides longas aos arames). “… a vindima é de maior importância para a região do Douro…” (In A arte e a natureza em Portugal)

Vindimas (Museu de Lamego)

Por fins de setembro e princípios de outubro (época de outono), inicia-se a vindima, com a colheita das uvas e sua vinificação. É o culminar de todo um ano de trabalho e sacrifício, de canseiras e amor genuíno. A alegria reina, 89


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chegam bandos ou rogas de vindimadores das serras circunvizinhas (ranchos de homens, mulheres e crianças, um grupo organizado e comandado por um rogador), alguns ainda ao som das típicas musicatas (ao som de concertinas, bombos, harmónios e flautas). Cortam-se e colhem-se as uvas, que eram tradicionalmente conduzidas às costas de homens para os lagares ou adegas, onde são pisadas e sovadas. O mosto fermenta até ao momento desejado. É-lhe então adicionada uma certa quantidade de aguardente vínica (cerca de 1/5 do seu volume) que sustém a fermentação. É, posteriormente, remexido, aguardando a viagem para o entreposto, no Porto, sendo daí o produto vendido. Nos fins dos anos 60 e inícios dos anos 70, surgiram os patamares horizontais com taludes em terra. No entanto, como é um tipo de plantação que exige espaço, este sistema não pode ser utilizado em zonas de minifúndio. Pipas de madeira (Internet)

Também nesta altura (outubro de 1969), se inaugurou a construção da adega exportadora de vinhos generosos, Sandeman, situada no lugar da Pacheca, sendo considerada então, a primeira do país e a mais avançada da europa, dessa época. Nos dias de hoje todo o processo é feito com maquinaria, havendo quem cumpra a tradição apenas como forma turística ou devido à indisponibilidade económica. 90


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Atualmente o transporte é quase todo motorizado e os lagares (tanques retangulares e pouco profundos, de cantaria) e toneis (pipas de grandes dimensões para verter o vinho), estão suplantados por modernas cubas de fermentação. O entreposto é como uma verdadeira extensão da região demarcada. Situa-se junto à foz do rio Douro, a um passo do Atlântico. Pequena área definida por lei em 1926, mas onde tradicionalmente sempre se localizaram os armazéns dos exportadores deste vinho. Diminuto enclave na muito antiga vila de Gaia, mesmo em frente ao Porto. O entreposto, rigorosamente fiscalizado pelo Instituto do Vinho do Porto (que garante o vinho comercializado, com selo de garantia e certificado de origem), funciona como uma espécie de clausura, onde o vinho calma, solene e honradamente envelhece, até atingir aquela perfeição e refinamento, a que se deve a sua merecida fama. Todas as firmas exportadoras possuem aí os seus armazéns, que na maioria, estão abertos a visitantes. Entretanto foi também instituído o entreposto da Régua. Vinhas em geios (Internet)

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O vinho do Porto deve as suas caraterísticas de aroma, corpo e sabor à alta qualidade das uvas e ao complexo agro climático da região. Na conjugação das caraterísticas morfológicas climatéricas – “Temperaturas escaldantes entre junho e agosto, o ar é de fogo. É deste calor e da união do sol com a terra bendita do Douro que nasce e se produz o vinho do Porto, único no mundo, pela fragrância do seu perfume, pela sua cor e pela delicadeza do seu paladar.” (cit. Correia de Azevedo, O Douro Maravilhoso) – e agrológicas da região do Douro, surgiu uma ecologia muito particular, onde nasceu o habitat que a videira soube aproveitar para refinar a qualidade do seu produto. Os contrastes manifestam-se pelas temperaturas médias anuais, entre os 10º e os 15º, assim como da pluviosidade (que tem vindo a aumentar nos últimos anos). Também a insolação determina as caraterísticas qualitativas, pois uma maior exposição solar indica uma maior qualidade, mas em excesso pode acelerar o processo de maturação e secar o fruto. Ainda que, nos últimos anos, se tenham verificado modificações ambientais, continua hoje a ser usado um ditado popular, para definir o ambiente climatérico da região: Nove meses de inverno e três meses de inferno. Existem várias castas de vinho do Douro, dependendo de cada situação climática e caraterísticas do solo, regulamentadas e autorizadas em determinadas percentagens: uns envelhecidos em vasilhas de madeira, outros na garrafa. Desde o branco, tinto, tinto aloirado, aloirado, com indicação de idade, com data de colheita, 92


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vintage, late bottled vintage. São conhecidos nomes tintos como: Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional e Tinto Cão. De castas brancas conhecem-se: Malvasia Fina, Viosinho, Donzelinho e Gouveio. A história de um povo pode ser contada pelos seus hábitos de consumo, em que o vinho também delimita espaço. Para o consumidor, o vinho é um conhecimento com envolvimento histórico, cultural, etnográfico e gastronómico. O consumo de um vinho é um ato sensual que deverá ter uma atenção ordenada, em que a experiência confere autoridade. A prova é um desfrutar de uma sedução numa arte de convívio, de troca de impressões, de comunicação e de formação, que leva o consumidor a preferir vinhos de qualidade, bebendo com moderação. “A época das vindimas no Douro é a época mais ruidosa e alegre de toda a roda do ano. Tudo quer ir às vindimas, tudo vai às vindimas… (cit. Correia de Azevedo, O Douro Maravilhoso) “Depois das vindimas, todo aquele vale que de Lamego, pelo relógio de sol, vai até ao magnífico rio, deixanos enlevados, deslumbrados, pelos tons das folhagens das videiras, cumprindo mais um ciclo da sua vida. E ficamos a meditar nas cores quentes e nobres de um pedaço de capa que São Martinho deu ao pobre e ainda chegou para cobrir Cambres.” (cit. Cordeiro Laranjo, No Compasso do Concelho de Lamego) 93


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Barco Rabelo Biblioteca Municipal de Lamego

Livro das vindimas (Internet)

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A agricultura, fruticultura e o azeite A par de outras colheitas anuais da época, de frutas (essencialmente cereja, pêra e maçã e tomate) e legumes (como batata, cebola, couve e pepino), encontra-se uma outra riqueza de produção – o azeite. Este último, já no século XVI se produzia, apesar de ser em menor quantidade. Iniciando pela apanha da azeitona (varejar as oliveiras e apanhar a azeitona das redes), é depois transportada para os lagares, onde é abafada em água, sendo esta mudada várias vezes. De seguida é deitada em tulhas, que segue para um cinfão, a caminho de um moinho. Depois de moída, vai para uma batedeira, com uma temperatura elevada, transformando numa massa, que é espalhada por diversas ceiras (em proporções certas e individuais). Seguem das ceiras depois, para a prensa, para apertar e escorrer o azeite, juntamente com a sangra (água e outros resíduos). O líquido cai nas tarefas (caldeiras) que, quando cheias, passam por um filtro a alta temperatura, de modo a separar o azeite da sangra. A massa prensada fica seca nas ceiras, procedendo-se à limpeza das mesmas, com o intuito de ficar apenas o bagaço da azeitona, que pode ser utilizado para fazer óleos ou adubos. Outrora existiu em Cambres um lagar de produção de azeite, sendo depois extinto.

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Capítulo 4

Mais-valias atuais e as que ficam para a história

Varanda do Douro O Varanda do Douro, enquanto jornal mensal e, por vezes, bimensal, teve início de sessão em abril de 1950. Primeiramente dirigido pelo Sr. Pe. José Joaquim Cardoso e tendo como um dos fundadores Viriato de Lemos, foi interrompido e reiniciado anos mais tarde à direção do Mons. Dr. Pe. José Fernandes Bouça Pires. Atualmente o mesmo jornal existe em formato digital, aproveitando as novas tecnologias de informação para continuar a divulgar e informar à população da freguesia. Pode ser visitado em cambres.wix.com .

Capa do jornal Varanda do Douro

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No entanto, Cambres teve nos primeiros anos do século XX, com Correia Guedes, um outro jornal, de publicação quinzenal, de nome “Esperança”. * Banda Marcial de Cambres “Para abrilhantar as festas promovidas pela Casa Regional Beira Douro, partiu para o Porto, na madrugada do dia 23 de Agosto, a afamada Banda de Cambres, dirigida pelo seu regente, Exmo. Sr. Gonçalo Pinto Cardoso. O seu comportamento, no Palácio Cristal foi de ordem a merecer os mais rasgados elogios não só aos promotores da festa e do público que a apreciou, mas também da imprensa que procurou fazer-lhe justiça…” (In Varanda do Douro, setembro 1954)

Considerada uma das bandas mais antigas nacionais, aquela que sempre tem sido mantida em harmonia com a população, fazendo justo valor pela sua evolução. Esta tem sido revelada pelo seu esforço e qualidade. Os seus elementos, uns da terra outros da região, justificam isso mesmo. O seu prestígio já eleva alémfronteiras e as suas atuações regem por festas, romarias, festivais e eventos, quer locais, regionais ou nacionais. Segundo determinadas informações, presume-se ter surgido a 1 de janeiro de 1881, com o nome de Banda Filarmónica de Cambres. Anos mais tarde (1978) foi-lhe dada uma nova denominação, Banda da Casa do Povo de Cambres, por fazer parte dessa instituição. Mas só em 1996, a identificação se fixou em Banda Marcial de Cambres. Durante muitos anos a Banda Marcial de Cambres não tinha qualquer fim lucrativo. As poucas receitas 97


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destinavam-se à aquisição e manutenção dos instrumentos musicais. Apesar de alguns momentos menos bons, chegando mesmo a cessar funções entre 1987 e 1988, a banda superou e voltou em força, pelo empenho e dedicação dos elementos intervenientes. Desta forma, organizou-se uma angariação de fundos, com a ajuda de um grupo de sócios. Têm sido vários os maestros que a vêm dirigindo, cada um com a sua destreza e qualidade únicas. Em maio de 2008 foi editado um CD, com várias músicas e uma dedicada à Atuação da Banda Marcial de Cambres (Internet) freguesia: Cambres – uma vila do Douro. Foi ainda criada uma música indo de encontro ao hino dedicado a Nosso Senhor da Aflição. Em conjunto com a banda, desde outubro de 2010, opera uma Escola de Música para jovens.

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Águas de Cambres – Património Ambiental “… o valor das águas de Cambres e da grande quantidade de pessoas que delas têm beneficiado, com alívios imediatos para os males…” (In Varanda do Douro, abril 1966)

Segundo relatos noticiados, conta-se com a existência de uma albergaria, construída junto a uma nascente, onde uma das vias era utilizada para romagem a Santiago de Compostela. Existem quatro nascentes: duas em Caldeirão, uma na Fonte e uma nas Fontainhas. Andrade (1925) narra então: “A mancha cambriana que segue de Espanha por Barca d’Alva até um pouco a oeste de Mesão Frio, cobre toda a região da Régua e também o local onde existem as nascentes”, e refere uma quinta nascente, “mais perto da Casa da Corredoura, junto a um cedro grande, donde lhe provem o nome, aparece no contacto dos xistos cambrianos com as aplites”. Estas águas são indicadas para o aparelho digestivo (estimulante da nutrição), utilizadas também como água de mesa, calmante e ainda benéfica para as dermatoses. São de natureza hipossalina cloretada sódica, bicarbonatada e cloretada sódica. As águas foram comercializadas até início de 1980, com alvará de concessão de novembro de 1926, como água aligossalina, tendo alvará de transmissão em agosto de 1935, a favor da Sociedade das Águas de Cambres Lda. (área reservada de 117 hectares). Possuiu ainda alvará de transmissão: em agosto de 1941, a favor de Francisco 99


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Perfeito de Magalhães Menezes; em 1968, a favor de D. Maria Helena Brazão Vilas Boas. Desta forma, após a morte de D. Maria, ficou com atividade suspensa, sendo proprietário o Eng.º Carlos Santos, o qual colocou a propriedade à venda. A fábrica de engarrafamento é uma construção de 1960, com uma área de cerca de 200 m2. Possuía um armazém, com um escritório de administração local, com 3 tanques e 2 sistemas de canalização, que se juntavam na torneira comum de engarrafar, correspondendo a águas das duas nascentes diferentes. Tinha ainda uma máquina para encher garrafões, uma outra para enrolhar e uma terceira para lavagem do vasilhame. Todo o material é agora ultrapassado e revela um processo de engarrafamento bastante artesanal e pouco salubre (talvez por isso esteja inativo). Propriedade das Águas de Cambres (Internet) Propriedade das Águas de Cambres (Internet)

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* Produção fabril Foi estabelecida uma fábrica de queijo – Paiva, no lugar de Penelas (Cambres), que veio promover emprego e produção. No entanto, no lugar onde esta foi instalada, foi outrora (anos 90) uma fábrica de confeção, exclusiva para exportações e de capital alemão, denominada Gamic.

* Desporto Também já foi época de existência de um clube de futebol na freguesia, de nome Sporting Clube de Cambres, fundado em 1981. Deu muitas alegrias vitoriosas à população, no estádio dos Linhares, este que está ainda em funções mas para jogos de iniciados, entre outros. Símbolo do Sporting Clube de Cambres

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Banda Musical Em tempos existiu um grupo musical (conjunto) denominado Napolitano, que muito abrilhantou as festas da região, atualmente denominado banda de São Lourenço.

* Fanfarra Subsistiu também a Fanfarra do Grupo CNE, fundada em 11 de novembro de 1980, pelo Sr. José Magalhães, que acompanhava procissões e cortejos e que era constituída por um grupo de escoteiros, mas com o tempo terminou. No entanto, o grupo do Corpo Nacional de Escutas continua ativo.

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Capítulo 5

Festividades e costumes Festas em honra de Nosso Senhor da Aflição “Uma imponente procissão deu ao acto religioso um momento de rara beleza. Muito antes da hora marcada, já nas ruas… se aglomeravam milhares de pessoas vindas de toda a região duriense. Das janelas e varandas dos prédios pendiam ricas colgaduras…Numeroso grupo de anjinhos e figuras deram um brilho desusado a esta solenidade. Ao aproximar-se o andor do Senhor da Aflição, a multidão ajoelhava piedosamente. As duas bandas… abrilhantaram esta sumptuosa procissão que por entre a mesma massa de gente recolheu à Igreja Matriz…” (In Varanda do Douro, julho 1952)

Apesar do padroeiro ser São Martinho, todos os anos, pelo último fim-de-semana de julho, se celebram as festas em honra de Nosso Senhor da Aflição. A ele se rezam novenas. Esta opção deveu-se à crise da filoxera descrita anteriormente, pois a população em aflição, realizou uma procissão de penitência com o Senhor dos Aflitos, que se prolongou até aos dias de hoje, acreditando na fé para a salvação da terra e da produção. Essa procissão concretizase na sexta-feira à noite, a pé (algumas pessoas descalças) entre a Igreja Matriz e a capela da Quinta de Santo António. No sábado seguinte, é a procissão da chamada dos andores das diferentes povoações, que faz o percurso contrário à anterior. No domingo, por sua vez, é a procissão 103


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do triunfo, com o andor de Nosso Senhor da Aflição e os andores das povoações, acompanhados por figuras reais bíblicas e bandas de música, percorrendo algumas ruas da freguesia. Para além da festa religiosa, existe também a celebração profana, com grupos musicais, concertos e o despique de bandas habitual de segunda à tarde.

Procissão do triunfo – cavalaria, andor e figuras bíblicas

Procissão do triunfo – andor de Nosso Senhor da Aflição

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Capítulo 6

Gastronomia e doçaria regional Cambres, em conformidade com a região, tem como tradição gastronómica, o cordeiro, o cabrito e o anho assado, com batata assada e arroz do forno. Arroz, cordeiro e batata assados no forno (Internet)

Podemos encontrar também o conhecido bolo podre ou bolo de azeite, assim como a bola regional de carne, fumado, sardinha ou bacalhau. Estes produtos normalmente são confecionados em casas particulares.

Bolo podre (Internet)

Bolas (Internet)

No que respeita à doçaria, entre muitas, as mais comuns são a aletria, os sonhos (cobertos de caramelado 105


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de açúcar, açúcar granulado e canela) e as fritas de abóbora. Uma tradição também é a travessa de clara de ovo com noz, usualmente servida em fatias.

Aletria, Sonhos, Fritas de abóbora e clara de ovo com noz (Internet)

Uma qualidade típica e, por vezes caseira, de pão, é a reconhecida broa de centeio, mais tradicionalmente identificada como broa ou pão de relão.

Broa de relão (Internet)

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Capítulo 7

Escritos e curiosidades Fonseca Almeida De entre alguns representantes da escrita na freguesia de Cambres, é de destacar, primeiramente, Fonseca Almeida, cujo exemplo fica aqui registado: Marão Eu recordo com saudade Os tempos que já lá vão, Em que olhava a majestade Do nosso lindo Marão! Passaram dias e anos A correr, tantos já são… Esperanças e desenganos E sempre o mesmo, o Marão! Altaneiro olha o Douro Em grandeza seu irmão! P’ra mim és sempre um tesouro Quando te olho, Marão! Diz o povo, oh crueldade! Oh suprema ingratidão! «Tu és grande, na verdade» «Mas não dás palha nem grão!» Oh Marão, querido Marão, 107


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Dás-nos tanto na verdade… Se não dás palha nem grão Dás-nos tua majestade! E no inverno, então, Como és admirado! Quando nos surges Marão De branco arminho toucado! Diz o povo, oh ilusão… Ai como nos enganamos… Para cá de ti Marão Somos nós os que mandamos… A vingar este rifão Nascido da fantasia, Mandando os que cá estão, Certo ninguém s’entendia… * Ricardo Rebelo Ricardo Costa Rebelo, já falecido, deixou um testemunho escrito, com versos dedicados à sua terra e que ficaram na memória dos cambrenses. Fica aqui um exemplo: Cambres és velha e garrida E tu hás-de ser sempre velhinha És uma terra à Beira Douro Foste sempre uma rainha Tens campos, vales e montes 108


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Tens vinho da região A tua maior riqueza É o Senhor D’ Aflição Da minha casa velhinha Vejo a serra do Marão Vejo Fontelas e Loureiro Com os vinhos de tradição Vejo a serra das Meadas Vejo São Brás no miradouro Vejo a serra de São Domingos E vejo Cambres com seu tesouro Com seu rico património És uma terra sem rival És a capital do Douro sul A mais bela de Portugal * Isabel da Azenha Também Isabel Perfeito de Magalhães e Meneses, uma das três “meninas da Azenha”, assim conhecidas na região, escreveu um livro intitulado “Revoada de contos”, com contos e histórias dedicadas a vários familiares e amigos. Aqui fica um excerto do conto “Deus escreve direito por linhas tortas”: «O José era alto, bem proporcionado, distinto, - com todas as caraterísticas de uma grande alma: inteligência, generosidade, franqueza ingénita… Grandeza de alma com 109


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o seu quê de sonho… Sonhador era ele como todos os da sua Raça desde os avós longínquos, navegadores gloriosos, até aos Pais… convictos sebastianistas de Desejado D. Miguel!...» Ou então um extrato da história “O folar”: «A Páscoa aproxima-se. A madrinha que sempre presenteara a afilhada com o folar olhava com desdém para as Pastelarias, para as apetitosas caixas de amêndoas, para os biblots preciosos que se exibiam nas montras e, preocupada, só desejava uma coisa: entender-se com o noivo da sua afilhada. (…)»

* Fernando Monteiro de Amaral Nasceu na freguesia de Cambres a 21 de dezembro de 1924, faleceu a 24 de janeiro de 2009. Concluiu no Porto o Curso da Escola do Magistério Primário, profissão que exerceu na escola de Valdigem, nas escolas de Lamego e na sua freguesia natal de Cambres. Enquanto exerceu o Magistério Primário, frequentou a Universidade de Coimbra, como aluno voluntário, e concluiu a Licenciatura em Direito. Dedicou-se à advocacia, durante 30 anos e foi Delegado na Ordem dos Advogados pela Comarca de Lamego (1965 a 1974). Após o 25 de abril, dedicou-se à 110


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política, primeiro no Concelho de Lamego como Vereador da Câmara Municipal, membro da Assembleia Municipal e seu Presidente. Foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Presidente da Assembleia Geral e Presidente da Assembleia Geral da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários. A nível nacional cumpriu as funções de: Ministro da Administração Interna do 7.º Governo Constitucional (janeiro a setembro de 1981); Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro e dos Assuntos Parlamentares do 8.º Governo Constitucional (setembro de 1981 a junho de 1982); Deputado à Assembleia Constituinte; Deputado à Assembleia da República na 1.ª, 3.ª, 4.ª, 5.ª e 6.ª Legislaturas; Presidente da Comissão Parlamentar de Timor-Leste, Presidente da Comissão Parlamentar de Petições e Presidente da Comissão Parlamentar para a Reforma do Parlamento; VicePresidente da Assembleia da República na 3.ª Legislatura (junho de 1983 a outubro de 1984); Presidente da Assembleia da República na 4.ª Legislatura (outubro de 1984 a agosto de 1987); Conselheiro de Estado (1985 – 1987). A nível internacional cumpriu as funções de: Deputado da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (dezembro de 1987 e janeiro de 1996) e seu VicePresidente (1988,1989,1991 e 1994); Deputado da Assembleia Parlamentar da União da Europa Ocidental (março de 1990 a janeiro de 1996) e Presidente da Comissão de Regimento e Mandatos desta organização. 111


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As suas publicações: “Discursos de Circunstância que as Circunstâncias Ditaram”; “Palavras que foram exigência da Função”; “A Reforma do Parlamento”; “O Estatuto dos Deputados - Notas e Comentários”; “Recordações menores”; “Águas Passadas - Visita à Estónia - Cancelada”; “Memórias de uma Toga Antiga”; vários artigos em jornais, nomeadamente no “Povo Livre” e “A Capital”. Foi ainda condecorado pelo Estado Português, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e distinguido por outros Estados (Brasil, Itália, Grécia, Suécia, França, Venezuela, Marrocos e Reino Unido). A Câmara Municipal de Lamego nobilitou-o com a medalha de ouro da cidade, em 28 de março de 1994. Participou energicamente nos 1.os Cursos da Cristandade e, foi reitor dos cursos da Diocese por longa data. Foi também Presidente da Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia de Lamego durante vários mandados. De entre os muitos escritos seus, exemplifica-se um excerto do artigo “Dos velhos tempos”, no Boletim da Casa Regional da Beira Douro (n.º7): «Nem toda a gente saberá que a figura extraordinária de Miguel Ângelo – o celebérrimo Beronaroti – deu origem a que um insigne autor português do século XIX escrevesse um drama, em que alguns episódios da vida do maior e mais enciclopédico artista da Renascença, se desenrolam em cinco actos e um prólogo.»

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* Mestre José Luís Perpétua Artista contemporâneo, de notável gabarito. Executou a primeira torre do santuário de Nossa Senhora dos Remédios, enquanto cinzelador, dirigindo a obra da segunda torre, tendo como colaborador Alexandre Magalhães, também de Cambres. Foi ainda um exímio desenhador arquitetural. Construiu e executou obras de cinzelagem num palacete manuelino. Como canteiro, e com o mesmo colaborador, construiu a fonte do Espírito Santo.

* Pe. Ismael Augusto Guedes Filho de uma família de caráter nobre, nasceu a 18 de setembro de 1884, na quinta das Laranjeiras, lugar de Rio Bom. Desde logo se sentiu chamado ao sacerdócio e exerceu funções em vários lugares, chegando e permanecendo longos anos na paróquia de Cambres. Foi depois cônego da paróquia da Sé de Lamego. Em 25 de março de 1923, reconheceu e aplaudiu no lugar de Quintião, Dom Agostinho. A partir de 1949, começou a adoecer gravemente e foi nessa altura que lhe foi permitido regressar a sua própria casa e usufrutuar do Sacramento na sua capela de família. 113


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Veio a falecer a 14 de abril de 1954, pela Semana Santa. Considerava-se muito devoto ao Santíssimo Sacramento, ao Coração de Jesus e a Nossa Senhora, assim como em ajudar os pobres e rezar. Ficou reconhecido pela sua vocação e santidade, tendo sido mesmo proclamado como santo pela população local. “Coração sublime e sublimado no amor de Deus e do próximo; alma de eleição, rescendente de pureza sem mácula… A vida do Pe. Ismael… foi verdadeiro modelo…” (In Varanda do Douro, abril 1969) “Contavam-se casos em que o demónio se lhe atravessava no caminho com armadilhas… amparado pelo seu Anjo da Guarda, repelia com gesto decisivo… a perfídia do maligno. E o povo sabia-o e, por isso, lhe chamava santo.” (In Homens e Mulheres do Douro)

* Pe. Luís Gonzaga Cabral Nasceu em 1866, natural da Casa de Monsul, em Cambres. “… um dos alfobres mais férteis de vocações inacianas em Portugal… foi quem melhor estudou Vieira Pregador e até quem mais se aproximou dos cimos da oratória a que o génio de Vieira pôs balizas.” (Cit. Cónego José Mendes de Castro) Foi obrigado a abandonar Portugal pelos maçons, para evitar o exílio jesuíta. Foi para Espanha, 114


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depois Bélgica e por fim, Brasil. Funda o colégio Padre António Vieira, na Baía, tornou-se educador e continuou as suas valiosas pregações já exercidas em Portugal. Publicou apontamentos intitulados Inéditos. Entre outras referências e apesar da distância, falava e escrevia muito sobre o Douro como “as ametistas, os rubis, as esmeraldas e os topázios que em pingentes gigantescos formam brincos e colares da sua terra.” (Cit. Cónego José Mendes de Castro) Faleceu aos 73 anos, em 1939.

* Reverendo Cónego José Joaquim Cardoso Considerado um dos mais importantes padres da diocese de Lamego, dos maiores benfeitores da paróquia de Cambres, virtuoso, de uma cultura e valor incomensurável, que valorizava a amizade e respeito pelo ser humano. Foram suas obras notórias as casas e as sopas dos pobres e o Centro Social Paroquial de Cambres (intitulado primeiramente de Centro Social de Assistência, inaugurado em abril de 1981; alberga o Centro de Dia desde 1994). Também o jornal Varanda do Douro teve início com ele, em conjunto com Viriato Lemos. Aquando da comemoração das suas bodas de ouro enquanto sacerdote, foi-lhe demonstrado pela população da freguesia, o carinho recíproco, pela sua benfeitoria e bondade. 115


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Segundo Viriato Lemos, nas suas palavras sentia-se sempre um enaltecer a Deus – “Crer em Deus é crer em todos”. Encontra-se sepultado no cemitério de Cambres, conforme sua vontade.

* Isaura Monteiro Natural de Bouçós, deixou alguns testemunhos poéticos escritos, como é o caso de – À minha terra, datado de 30 de junho de 1950: É a ti, e só a ti Cambres, meu berço encantado! Que te dedica estes versos Quem te tem hoje a seu lado. Longe de ti anda sempre Esta tua filha errante; Que te visita é bem certo, Mas somente por um instante… Gostaria de te ver A toda a hora do dia, A ti, minha linda terra, Meu cantinho de magia! Mas não posso e por enquanto Com saudades me despeço, Quando te digo adeus 116


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Até um novo regresso. E lá vou eu muito triste Pronunciando baixinho: «Como me deixa partir O meu Cambres tão mauzinho»… Vejo então como tu ficas Todo zangado comigo… E ouço-te: - «Não confias Num verdadeiro amigo?»… Mas se queres que contra ti Esta filha se não queixe. Pede a Deus que eu aqui fique E que nunca mais te deixe. * João Miranda Em meados do século XVIII, foi notável um cirurgião cambrense, de nome João Cardoso de Miranda, autor de um livro de medicina intitulado “Relação cirúrgica e médica”.

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Chico Ribeiro Mais um conterrâneo que decidiu escrever pela terra duriense, conhecido como Chico Ribeiro, de que se relata um exemplo: Cantigas ao meu Portelo Rio Douro, porque corres Tão depressa para o mar? Porque a vida são dois dias Que é mister aproveitar. Devagar que tenho pressa, Assim o deves querer. Pois não avança quem corre Mas quem cumpre o seu dever. Quem espera desespera Não gosto desse ditado Quem espera sempre alcança É, sim, mais do meu agrado. Não queiras ser como o sino Que a todos cedinho chama Para a missa, p’ras novenas, Mas ele fica na cama Se queres estimar o pobre Nele deves ver Jesus Pisando o pó dos caminhos Vergado ao peso da Cruz. Preguiça, desembaraça-te 118


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Se não queres que a pobreza Leve à praça a tua casa, Como o pão da tua mesa. Amor de mãe é a coisa Que melhor nos acalenta. Amor de mãe é o porto Seguro em toda a tormenta.

Outras imagens fotográficas de Cambres Paisagem pela subida ao lugar de Pousada

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Paisagem do miradouro de São Brás - Pousada

Vista geral de Cambres – Portelo, Palhais e Calçada

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Vista geral de Portelo de Cambres. Ao fundo, a cidade do Peso da Régua

Vista de Penelas, Calçada e Chalé

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Vista de Quintião

Rua de Rio Bom

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Paisagem da regiĂŁo e vale de Cambres

Paisagem de Cambres

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Vista de Cambres – Escola, Felgueiras e Carosa

Vista de Cambres – Pedreira

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Paisagem da região e vale de Cambres

Vista de Cambres – Eirô, Pinheiro e Corredoura

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Capítulo 8

Escritos relevantes

“Caso curioso foi o da prelatura concedida, no século XII, a senhoras devotas, ao modo de abadessas nos conventos, como sucedeu com a célebre Maria Gonçalves, em Cambres. Ela mesma se refere aos fregueses como «paroquianis meis»” (In História do Bispado e cidade de Lamego)

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(Museu de Lamego)

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«1159, Janeiro, 21: Mem Gonçalves e sua mulher, Dordia Viegas, doam ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em Mosteirô…»

(Museu de Lamego)

«1159, Novembro: Pedro Viegas e sua mulher, D. Maior, doam ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em Quintião…, com a condição de qualquer da sua descendência, que o desejar, ser recebido na regra do mosteiro.» «1175, Janeiro, 11: Pedro Viegas e sua mulher, Maria Viegas, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca a “herdade” que possuem junto à granja da abadia em Mosteirô…» «1180, Abril: Mendo Eres, encomendado da igreja de São Martinho de Cambres, cede, com o consentimento dos paroquianos, ao Mosteiro de São João de Tarouca o dízimo que a igreja percebe desde a Carreira Cavalar até ao Douro e ao Barosa, e o casal que havia sido de D. Dordia, em troca 127


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de um casal em Quintião, recebendo ainda um porco e dois moios de pão, de presente…» «1197, Dezembro: o Bispo de Lamego D. Pedro, com o consenso de Maria Gonçalves, que preside à igreja de São Martinho de Cambres, e o dos paroquianos, concede ao Mosteiro de São João de Tarouca os dízimos das vinhas que o dito mosteiro tem na Bugalheira… por troca de um casal em Quintião, o qual o mosteiro trazia da igreja em penhor, recebendo com ele, de presente, a dita igreja um cálice argentado e um livro colectâneo.»

(Museu de Lamego)

«1201, Dezembro: Gomes Viegas e sua mulher vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em riba de Douro, onde chamam Vale de Xameia…» «1185, Janeiro: Afonso Reimondes vende a Pedro Dias, por doze soldos, a “herdade” que tem a cima de Valongo, ante a casa da Bugalheira…»

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«1179, Março, 12: Maria Gonçalves vende ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em Souto Peceno, termo de Mosteirô…, por três maravedis.» «1158, Julho: Pedro Garcia e sua mulher, Gontina Pais, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca, a sua “herdade” entre Mosteirô… e São Veríssimo…, por um bragal.» «1142: Múnia Esteves, com seus filhos e filhas, vende ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em Varais, termo de Mosteirô…, por três maravedis.» «1155, Junho: Múnio Sandins, com seus fregueses, vende ao Mosteiro de São de Tarouca a quarta parte do “Testamento” da igreja de Santa Maria de Almacave em Mosteirô… por três mouros.» «1200, Outubro: Egas Peres vende ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” junto à fonte de “Guigogiars”, por quinze maravedis…» «1230, outubro: Paio Esteves e seu irmão João Esteves vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca por cento e cinquenta maravedis (e doze de robora) o que têm no termo de Tourais…» «1197, Junho: Maria Viegas vende ao Mosteiro de São João de Tarouca, por cinco maravedis, a sua “herdade” em Cefail…» «1179, Março, 12: Reimondo Reimondes vende, por três maravedis, ao Mosteiro de São João de Tarouca, a sua 129


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“herdade” em Souto Peceno (Souto Pequeno), termo de Mosteirô…» «1193, Novembro, 9: Pedro Pais e sua mulher, Maria Gonçalves vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca, por dois maravedis, a sua “herdade” em “Guiguigaes”…» «1203, Abril: Maria Dias, com suas filhas, vende ao Mosteiro de São João de Tarouca, por dois maravedis, a sua “herdade” em Pego (ou Poço) de Reza junto ao rio Barosa…» «1233, Maio: João Pais e sua mulher, Elvira Anes, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca, por seis maravedis, um bacelo em termo de Gontim…» «1228, Setembro: Ermígio Rodrigues e sua mulher, Onega Gonçalves, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca dois casais em termo de Ribeira…, por setenta e cinco maravedis.»

(Museu de Lamego)

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«1163, Maio, 11: Gontinha Pais, para sufrágio de trezentas missas por alma de Egas Ramires, transfere ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” de Mosteirô…» «1206: Garcia Viegas e sua mulher, D. Gontrode, com seus filhos e filhas, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” na Formiga e em Várzea de Barosa…, por dezoito maravedis.» «1160, Maio: Diogo Dias e sua mulher, Ermesenda Gonçalves, vendem por um bragal ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em riba de Douro, entre Mosteirô e São Veríssimo…» «1190, Agosto: Egas Moniz, com seu filho Martim Viegas, e João Pais, com sua mulher, Gontinha Gonçalves, vendem a Martim Peres a sua “herdade” em Valongo…, por um maravedi e seis soldos.» «1191, Dezembro: Pedro Dias, com seu filho Martim Peres, doa ao Mosteiro de São João de Tarouca toda a sua vinha em Valongo…, com estas condições: seu referido filho trará em vida essa vinha, devendo receber do mosteiro conselho e auxílio, em todas as situações de necessidade, e ainda certo casal que do mosteiro já trazia, com vinte moios de vinho até dois anos, passando depois do segundo ano à mãe do outorgante em toda a vida dela.» «1179, Maio: Pedro Viegas e sua mulher, Maria Viegas, vendem por três maravedis, ao Mosteiro de São 131


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João de Tarouca a sua “herdade” que haviam comprado na foz do rio Barosa…» «1203, Maio: A condessa Elvira Gonçalves doa ao Mosteiro de São João de Tarouca o que tem em Quintião e Bouçós… sob a condição de que se celebre no mosteiro, perpetuamente uma missa por sua alma, após a sua morte.» «1180, Maio: Pedro Viegas e sua mulher, Maria Viegas, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca por dois maravedis a “herdade” que tinham de compra em Cefail…» «1184: Mendo Oriz, com sua mulher, Goinda, vende, por três maravedis, ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” da foz do rio Barosa, e outra, da carreira de “Goigogaes” para cima…» «1188, Abril: Maria Viegas, com seu filho e sua filha, vende ao Mosteiro de São João de Tarouca, por dois maravedis, um campo em “Guigagais”…» «1213, Abril: Pedro Mendes e sua mulher, Gontinha Viegas, com seus filhos, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca, por sete maravedis, a sua “herdade”, em termo de Mosteirô, onde se diz “Gugugaes”…» «1182, Abril, 11: Soeiro Peres e sua mulher, Dordia Viegas, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca um casal que têm na “villa” de Quintião…, por vinte maravedis.» «1188, Abril: Sancha Garcia e Maria Garcia, com seu marido, Miguel, vendem ao Mosteiro de São João de 132


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Tarouca, por seis maravedis, a quarta parte de um casal em Portelo, no sítio de Nogueira…»

(Museu de Lamego)

«1154, Março: Pedro Viegas e sua mulher, Maior, doam ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em Mosteirô, no termo de Quintião, riba de Barosa, a qual têm com o mosteiro de Recião e ele obtivera com sua mulher Ouroana…» «1158, Outubro, 9: Raimundo Baldemares e sua mulher Dordia Danieliz doam ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em Mosteirô…» «1125, Fevereiro, 7: Godinha Fernandes cede a Daniel Alvúraz e a Mido Olides a quarta parte de Mosteirô…, a qual ela havia comprado.» «1183: Fernando Peres e sua mulher D. Elvira Gonçalves doam ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” de Souto Peceno, junto à igreja de Mosteirô…»

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«1202, Abril, 30: Paio Pais e sua mulher, Maria Anes, doam ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em termo de Mosteirô...» «1203, Novembro: Egas Peres e sua mulher, Teresa Gonçalves, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” do vale de Goigoaes, por oitenta maravedis e um boi…» «1154, Abril: Vásquida Pais e as monjas de Recião, dão ao Mosteiro de São João de Tarouca a “herdade” que possuem em Mosteirô, no termo de Quintião… trocada… pelas décimas do casal dos monges na foz do Barosa…, esperando deles outros benefícios tanto espirituais como temporais.» «1215, Junho: D. Maria Viegas, com seu filho D. Egas Peres, vende ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” em São Miguel… por vinte maravedis.» «1195: Maria Viegas vende por três maravedis ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” da portela de Locogaes…» «1200, Outubro: Egas Peres e sua mãe, Maria Viegas, vendem a sua “herdade” junto à estrada da Cerdeira e do monte Labrão… ao Mosteiro de São João de Tarouca, por onze maravedis.»

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(Museu de Lamego)

«1175, Maio, 7: Múnio Viegas doa ao Mosteiro de São João de Tarouca a sua “herdade” sita em Riba de Douro onde chamam Fontelo…» «1182: Afonso Reimondes, seus irmãos Martinho e Vasquida, e Vermudo Peres vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca, por oito maravedis, a sua “herdade” junto ao Mosteirô, em Souto Pequeno…» «1181, Abril, 1: Pedro Viegas e sua mulher, Maria Viegas, vendem ao abade do Mosteiro de São João de Tarouca, por três maravedis, a sua “herdade” de Vale de Locaia…» «1231, Fevereiro, Abadia de São João de Tarouca: Pedro Esteves e sua mulher, Teresa Viegas, e Paio Viegas, com a sua mulher, Maria Esteves, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca toda a “herdade” que têm em termo de Tourais…, por cento e sessenta e dois maravedis.» «1218, Maio: Pedro Esteves e sua mulher (Teresa Viegas), e Paio Esteves, João Esteves e Maria Esteves, 135


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com seu marido (Garcia Anes), vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca todas as “herdades” que têm em São Pedro de Tourais…, por trezentos e cinquenta maravedis.» «1207, Setembro: Gomes Viegas e sua mulher, Pala Alvites, vendem ao Mosteiro de São João de Tarouca as suas “herdades” em São Martinho de Cambres, a saber, uma “quintã” e um casal, e em Cefail duas vinhas e um campo… por trezentos maravedis.» «1181, Novembro, 1: Maria Peres, com seus filhos, Paio Peres e Rodrigo Martins, vende, por seis maravedis, a Pedro Dias a sua “herdade” do Freixieiro, junto a Monçul…»

(Museu de Lamego)

«1182, Fevereiro: Reimondo vende a Pedro Dias, por três maravedis, a sua “herdade” do Freixieiro, junto a Monçul…» «1183, Outubro, 27: Reimondo e sua mulher, Maria Ermiges, vende, por cinco maravedis, a Pedro Dias e aos frades de São João de Tarouca a sua “herdade” no Freixieiro…» 136


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«1182, Fevereiro, 19: A abadessa Marinha Mendes, com suas freiras, vende por um maravedi, a Pedro Dias a sua “herdade” em Riba de Douro onde se chama Freixieiro…» «1181, Outubro: Pedro Mendes e sua mulher, Maria Mendes, vendem a Pedro Bugalho, por dois maravedis, um campo no Freixieiro, cerca de Monçul…»

* “Em 1197 e 1199, [D. Pedro Mendes, 1.º Bispo saído da corporação capitular] fez a doação à paróquia de Tarouca dos dízimos da Bugalheira e outros, pertencentes a São Martinho de Cambres, tendo obtido para isso autorização de Maria Gonçalves, «prelada» desta igreja. Reza assim o texto: D. Pedro «cum consensu Mariae Gonsalvi quae praest Ecclesiae S. Martini de Cambres et per autoritarem paroquianorum» passa carta de doação ao abade de São João. A mesma santimonial, juntamente com o Bispo «et Parrochianis meis», consente na entrega dum campo sito em Tourais, a Estevão e mulher Gontina Pelágio, com a condição de pagar à igreja um foro de 2 soldos.” (Cit. Manuel Gonçalves da Costa, in História do Bispado e cidade de Lamego)

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“… a mulher medieval deixou bem vincada a sua personalidade afirmando-se como plenamente emancipada… basta citar… o caso absolutamente inédito de Maria Gonçalves, prelada da igreja de São Martinho de Cambres e outros santimoniais que, segundo um documento de Viseu de 1213, presidiam à recolha dos dízimos e à administração paroquial…” (Cit. Manuel Gonçalves da Costa, in História do Bispado e cidade de Lamego)

* “… D. Maria Gonçalves que presidia a igreja de S. Martinho de Cambres… ela própria falava dos seus paroquianos (parochianis meis). A sua função era semelhante à das abadessas dos conventos, cujas igrejas eram em simultâneo sedes de paróquia… os sacerdotes que serviam essas igrejas não passavam de capelães amovíveis apresentados pelas ditas abadessas… No que diz respeito ao direito do padroado ou da apresentação dos párocos à confirmação do Bispo da Diocese…, tal direito pertencia ao próprio Bispo…” (In História da igreja de Lamego)

* Domna Alda – “… certamente trata de D. Alda Vasques, descendente direta, bisneta de Egas Moniz, o aio, que várias honras teve nesta localidade… Seus pais, D. 138


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Vasco Fernandes e D. Teresa Gonçalves são referidos com bens nesta localidade... O nome de mulher Alda é de origem germânica e o seu uso… entre nós é de proveniência francesa ou italiana…” (Cit. A. Fernandes, Livro de Doações de Tarouca – II) Martins Muniz (prestameirus, Bugalheira) …”cavaleiro fidalgo… pois que como prestameiro é naturalmente nobre…” (Cit. A. Fernandes, Livro de Doações de Tarouca – II)

* “…1770…Marquês de Pombal… instrução datada de 5 de Março… expôs o seguinte: «O Bispado de Lamego… tem, por um lado, 30 grandes léguas de comprido, principiando a contar da capital até junto à terra da Feira, onde confina com o do Porto. Pelo Douro acima tem mais, de extensão, 18 léguas contadas, desde a mesma capital até Vila Nova de Foz-Côa, e se estende por mais de 16 léguas até chegar a Alfaiates e ao Sabugal, confinando pelo nascente com o reino de Leão e sendo estas terras de Riba Côa chamadas Bispado Novo.» Pelo sul, confina com o Bispado de Viseu, «servindo-lhe a vila de Nossa Senhora da Lapa de limite.» Compreende 991 igrejas paroquiais «divididas em 4 visitações, a saber: de Riba Côa, com 50 freguesias; de Entre Côa e Távora, com 83; da Serra de Nossa Senhora da Lapa, com 87; das terras de Riba Douro que tem 66 paróquias.» Integrariam o território da nova Diocese os arciprestados de Pinhel, Trancoso e Castelo 139


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Mendo, desmembrados de Viseu; e as visitações de Entre Côa e Távora e de Riba Côa, desanexados de Lamego, com as suas 133 paróquias. Estas, somadas às 92 vindas de Viseu, perfaziam 225.” (Cit. Manuel Gonçalves da Costa, in História do Bispado e da cidade de Lamego)

* “… inscrições de 1258, ordenadas por D. Afonso III, preciosa fonte documental que nos apresenta em Cambres, mais do que em qualquer outra região da Diocese, uma panorâmica completa da situação da terra e da agricultura…” (Cit. Manuel Gonçalves da Costa, in História do Bispado e da cidade de Lamego)

* “Das 15 fogueiras do rei (entre elas contava-se a de Quintião), a de «Maciata» (Mesquinhata)… Salzedas era senhora de 3 casais em Mondim…Possuía ainda o mosteiro 2 casais em Quintião, outros 2 em Portelo que foram de Egas Moniz, uma quintã em Mesquinhata, vinhas e pomares na fogueira do Eirô, 3 casas no Rio Mau. Os frades eram ainda senhores da vila de Bouços. São João de Tarouca aparecia como dono da fogueira do Eirô, com vinhas e olivais no vale de Eixameia; e de uma herdade em Felgueiras, situada no lugar conhecido por Pedra de Calabano, sobre as salinas… Da igreja de Braga era uma 140


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herdade no Couto. À igreja de Lamego pertencia Vale Majorino, na fogueira de Caroza, um casal em Figueiredo, 2 em Lamelas… outro em Portela… Lamego era senhora de 2 casais em Lamelas, 1 em Portelo, 2 em Pomarelhe, 2 em Quintião, 1 em Figueiredo… Da ordem do Hospital de Malta eram a vila de Pousada e uma herdade na fogueira… no lugar do Miradouro. 2 casais de Quintião pertenciam ao convento de Recião. A vila de Barqueiros fora de cavaleiros por avoenga, sem foro, mas passou a vilãos por ter sido doada por D. Sancho… A quinta de Bolfeine, também de vilãos… O lugar da Raposeira era de herdeiros por avoenga e património. À quinta da Corredoura, de Savarigo Paces, arrogava-se o direito de honra, por ter sido honrada… por 4 casais levantados no cabo da mesma quintã… a Sé recebia, no ano de 1300, os dízimos da granja do Pieiro, junto à igreja de Cambres. Por sua vez os capelães da Sé eram senhores dum prazo em Rio Bom, constituído por diversas propriedades, e ao Cabido foi doado o casal do Souto, em Caroza...” (Cit. Manuel Gonçalves da Costa, in História do Bispado e da cidade de Lamego)

* “… em 1170, o abade Mendo… tinha «dimitido» a Salzedas todos os direitos na granja de Monsul, em troca pelo casal de Caroza…” (Cit. Manuel Gonçalves da Costa, in História do Bispado e da cidade de Lamego) 141


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* “Na noite de 20 de abril de 1911, foram assaltadas duas igrejas, em Cambres e Samodães… Na igreja de Cambres as «sagradas partículas» ficaram espalhadas pelo chão, tendo sido pisadas pelos ladrões, enquanto procediam ao roubo.” (In O Bispado de Lamego na 1.ª República – Os efeitos da lei da separação do estado das igrejas)

* O Bispo “D. Manuel Vieira de Matos, ordenou na Diocese de Lamego, entre 1912 e 1913, 18 sacerdotes: … um numa capela particular em Cambres.” (In O Bispado de Lamego na 1.ª República – Os efeitos da lei da separação do estado das igrejas)

* “Em 1920 o padre João Pinto Cortês de Macedo, já com mais de 80 anos de idade, vigário mor da paróquia de Cambres, concelho de Lamego, é acusado de ter realizado diversos registos de nascimentos, casamentos e óbitos, sem os respetivos boletins de registo civil, sendo condenado na pena de 12 meses de prisão correcional e 30 dias de multa à razão de 10 centavos por dia. Mas, atendendo ao seu bom comportamento e idade a pena é-lhe substituída por uma 142


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multa de 10$ por cada dia de prisão.” (In O Bispado de Lamego na 1.ª República – Os efeitos da lei da separação do estado das igrejas)

* João Pina de Morais, oficial do exército, poeta e escritor, nasceu a 6 de janeiro de 1889, em Valdigem. Intervencionista e fervoroso adepto da participação de Portugal na 1.ª Guerra Mundial… Na sequência do fracasso do golpe de 1927, exila-se e radica-se em França, tendo como companheiros de exílio, o político Afonso Costa, Bernardino Machado e José Domingos dos Santos (opositores à ditadura). Obras publicadas: Ânfora partida (1917); Ao parapeito (1919); Soldado Saudade (1921); A paixão do maestro (1922); Sangue plebeu (1942); Sombras (1949; as desaparecidas Memórias de um exilado da República.

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Marquês de Pombal (Internet)

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Sebastião José de Carvalho e Melo nasceu em Lisboa, a 13 de maio de 1699, oriundo de nobres, filho primogénito de Manuel de Carvalho de Ataíde e de D. Teresa Luísa de Mendonça e Melo. Conta entre os seus ascendentes, uma dinastia de desembargadores, entre outros parentes de relevância, apesar de não pertencer à primeira nobreza da corte. Foi considerado um grande ator da história portuguesa. Idolatrado por uns (pela renovação do país) e odiado por outros (pelas suas decisões muitas vezes despropositadas). Com 20 anos dedicou-se à vida agrícola e à leitura. Em 1703 assina o Tratado de Methuen, rompendo relações com a França e aliando-se à Inglaterra e Holanda, de forma a consagrar direitos mais baixos aos vinhos de origem portuguesa a comercializar pelos ingleses. Assim, conseguiu um aumento do número de produtores e da própria produção, mas, em contrapartida, diminuiu a qualidade vinífera. Acredita-se ter frequentado a Universidade de Coimbra. Casou com D. Teresa de Noronha e Bourbon de Mendonça e Almada, em 1723, conseguindo com este feito entrar no grupo representante da alta fidalguia. Em 1733 entrou na Academia Real da História Portuguesa. Por outubro de 1738, é nomeado como Ministro Plenipotenciário, enviado especial à Corte de Londres, sendo que substitui o embaixador Marco António de Azevedo Coutinho. Seis anos depois, é enviado especial, desta vez para a Corte de Viena de Áustria. Casou em segundas núpcias com D. Maria Leonor Ernestina, Condessa de Daun, em 1745, contrato nupcial que lhe deu lugar como secretário de estado do Governo de Lisboa. Esteve novamente em Londres e Viena e nesta última adquiriu princípios de despotismo iluminado, assim como 144


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ideias económicas e culturais, que viria depois aplicar em Portugal, quando voltou em 1749. Um ano depois entrou na secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, num governo de ideias e mentalidades que renovaram o país. Com o terramoto de 1755, viu-se no cargo para o plano de reconstrução urbanística de Lisboa. Em setembro do ano seguinte, de retorno às propostas do Frei dominicano João Mansilha e com o apoio de grandes proprietários, deu-se a criação da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro, com o objetivo de sustentar a reputação dos vinhos e vinhas e beneficiar o comércio com a regularização de preços. Esta foi contestada um ano depois, que levou a um motim no Porto e consequente processo, com o julgamento de 478 pessoas, das quais apenas 36 foram absolvidas e cuja principal punição se deveu ao crime de lesa-majestade. Cria ainda a primeira Região Demarcada do Mundo, no Douro, com as mesmas finalidades produtivas e qualificáveis. Em junho de 1759 recebe o título de Conde de Oeiras, por parte de D. José I. Em 1769 é-lhe dado o título de Marquês de Pombal, tendo as mesmas honras, autoridades, franquezas e isenções dos restantes marqueses do reino. Nessa mesma data, Pombal publica a Lei da Boa Razão. Em 1773 cria a Companhia Geral das Reais Pescarias do reino do Algarve. Com a subida ao trono de D. Maria I, em 1777, as atividades públicas do Marquês de Pombal decaíram significativamente, sendo impedido de diversas tarefas, chegando, por fim, a ser demitido por decreto régio. Muitos foram os inimigos que pensavam mesmo em abate-lo. Chega a ser acusado de abuso de poder, corrupção e fraudes, motivos suficientes para a elaboração de uma ação judicial. No ano de 1781 é julgado 145


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e condenado ao desterro, sendo que a sua pena é abolida devido à sua idade e estado de saúde avançados. Morre a 11 de maio de 1782, sendo o seu corpo depositado no convento de Santo António, em Pombal, e transladado para a ermida das Mercês, em Lisboa, em 1856/57, a mando do marechal Saldanha. Em 1923 os seus restos mortais foram levados definitivamente para a igreja da Memória, em Lisboa. O Marquês de Pombal revelava um carácter aristocrático indubitável, por não aceitar limites e querer cumprir a lei por normas estadistas, obedecendo à coroa e ao bem dos submissos.

* Relatório de 30 de agosto de 1832, à rainha: “Senhora! Os vinhos do Douro são o mais valioso produto da nossa agricultura e da exportação do País.”

* De acordo com o Abade de Baçal, o texto mais antigo encontrado, que refere a região de Trás-os-Montes como vinícola, é aquele escrito por Strabão (geógrafo grego, nascido em 60 a.C. este dizia que “os montanheses colhiam pouco vinho e ainda menos lhe durava, consumindo-o logo em patuscadas…” 146


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* «Principia a demarcação em Penajoia, e discorre por Samudães até Touraes e Cambres, cortando pela Estrada Real que vay para Lamego, em tudo o q. jaz da mesma estrada ate ao rio Douro, excluindose o que está da mesma estrada para a parte do sul e serras do Monte de Mouro…»

«… para ramo, e seguindo a mesma estrada thé o cazal, seguindo pela Barroca de Paulos athé a fonte de Caroza, e desta pelo lugar de Pumarelhe, estrada pública athe o lugar de Felgueiras. E deste pela mesma estrada, athe Portelo, todas as vinhas que ficão abaixo athé o Rio Douro, ficão dentro da demarcação exceptuando chantoadas bardos e ramadas. Do Portello pela estrada publica athe o Muinho de Vento de João Diogo, da mesma forma todas as vinhas que ficão de estrada abaixo até o rio Douro; do Muinho de Vento por hu caminho que vai em direitura athé a cappella de S. Miguel cita no lugar de Quintião, todas as vinhas que ficão deste caminho para o nascente ficão dentro da demarcação. Da cappella de S. Miguel de Quintião em direitura por hu caminho às Fragas de Sanctos de Deos1 todas as vinhas que ficão para a parte do norte das fragas da Sanctos de Deos, desse ao Ribeiro que vem de quintião por estrema da vinha de Manoel Duarte, e António Luís, ficando esta vinha 147


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fora da demarcação e seguindo pelo Ribeiro abaixo athe a Azenha Velha no cítio da Lameira…» 1

Fragas a nascente de Quintião sobrestantes ao Ribeiro que desce para o Varosa.

«… seguindose ainda a mesma estrada se vay dar ai sítio da Corredoura; aonde se mete o undécimo marco. E neste marco se larga a estrada q. á mão direyta guia pª a lgr.ª e se segue a estrada da mão esquerda, q. vay pª Lamego e passa por Eyró direito a Soutello e passando por Eyró q. fica á mão esquerda, se vay ter a Fonte de Simudães… … seguindo a mesma estrada, passando pela Capp.ª de S. Seb.am q. fica da mesma sorte á mão direyta e dali seguindo ainda a m.ma estrada se passa p.lo Ranhadouro adiante aonde no canto da vinha de Ant.º P.to, de Palháes se pôs o duodécimo marco q. demonstra, q. a demarcação corre pele Estrada q. vay direyto a Pumarelhos deyxando o Cam.º da mão direyta, q. vay pª a Igr.ª de Cambres. E deste marco sevay correndo ainda a m.ma estrada q. guia ao dº Pumarelhos q. é a mais seguida deixando a mão direyta a q. vay p.ª o Souto o q. se demonstra pelo decimo terceyro marco q. se pos na vinha de Seb.am Cardozo, do lugar do Souto; do qual continuando ainda a m.ma estrada q. passa pelo meyo de Pumarelhos se vay dar á caza de Leonor Pr.ª. 148


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… se pôs o decimo quarto marco á custa … do sargento Mór Jerónimo Pinto, do lugar de Lamellas. Neste marco se larga a estrada … e se segue a q. vay pª diante e passa pelo Olival Vasto, e vay dar á Fonte de Caróza … se segue e vay dar ao canto da vinha de Manoel Cardozo das Córtes, aonde está hu carreyrão q. vay pª Ribô… … se segue ainda a m.ma estrada q. vay pª Felgr.as deixando hum caminho q. á mão direyta se aparta pª a Igr.ª de Cambres; o q. se demonstra pelo decimo sexto marco q. se pos na mesma estrada na testada da vinha de M.ª Gomes, de Felgueyras … passando p.la fonte de Felgr.as q. fica á mão direyta… … se vay ainda seguindo a m.ma estrada … m.mo lugar de Felgueyras, aonde á mão esquerda se aparta hum caminho q. vay pª Ribô … a estrada corrente e direyta q. vay meter em Portello… … se vira sobre a mão esquerda, e correndo de Suduoeste a Nordeste, e deyxando a estrada q. do dº Lugar de Portello sahe pª Lamego…»

* «Demarcarão pª o preço dr dez mil e quinhentos no destricto desta freg.ª todo o vinho produzido fora do destricto demarcado pª feytoria, do qual consta do autto de demarcação, q. se fes do vinho de feytoria; exceptuando os 149


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sítios q. se hãode declarar na demarc.am do vinho de seis mil e quatro c.tos pertencente a esta freg.ª. E nesta forma houverão ellas Dezembargadores, coccelheyros e Dep.dos esta demarcação por bem feyta e acabada.» «Demarcarão e separarão p.ª o preço de seis mil e quatro centos no destricto da Cid.de e freg.ª o Sítio da Franzea, e vão; e da mesma sorte os Sítios das Varges, e Calçada q. desagoão pª hum ribr.º q. corre junto ao lugar do Portello; e as vinhas q. ficão a p.te do Sul da estrada q. vay do dº lugar de Portello direyta á Corredoura1, e dahi p.la Capp.ª de S. Seb.am vay por Cambres até o lugar da Pouzada , agoas vertentes pª o rio das Barges2.» 1

Casa da Corredoura que foi do Sr. Conde de Alvelos

2

Várzeas

* “«…Cambres, nome este que addequerio do tempo que os mouros a pessuiram, pois nella fizeram habitassam… a igreja matriz desta frequezia… apareceram algumas prendas que bem mostravam ser despojos daquella barbara nasçam… huma bigorna… huma eixada… de bella prata… alfinetes de fino ouro… … Já havia maes annos tinha aparecido hum sinno de ademiraveis metaes… 150


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… O Senhor S. Martinho bispo hé o seu ilustre padroeiro… Tem o corpo desta igreja noventa palmos de vam caminhando do Poente por honde dá a principal intrada… Sobre o sollo princepia em uma soberba faixa fazendo dois cortes com reforçadas bases, cunhaes apilarados de pedra de cantaria… athé chegar a huma valente e bem sahida alchitrave… O pavimento está repartido em oitenta e coatro sepulturas, fora alguns fechos para os innocentes, cujas campas ascentam sobre fortes esperas frizos ou incaixes tudo de pedra de cantaria… Fica o púlpito da parte da Epistolla, o forro que hé de castanho está todo repartido em coadros para se apainelar com bellas devizas de bem miúda tralha… … A sacristia acompanha toda a cappella mor, da parte do Norte mensos três palmos, e no primor igualla em tudo a obra da igreja, ficando a caza da fabrica debaixo por ser de sobrado. … ascenta sobre o altar mor o tabernáculo em que se venera o Santíssimo Sacramento…” (In Memórias Paroquiais, Volume 8, memória 60, 1758)

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A bandeira da freguesia de Cambres foi criada por concurso, editado e regulamentado pela Junta de Freguesia de Cambres, em 23 de abril de 1994: cores obrigatórias – amarelo e preto; simbologia – o vinho e a vinha, assim como elementos do brasão da cidade concelho. Desta forma, surgiu um brasão com: o castelo da cidade de Lamego, na parte superior; no espaço central, podemos ver uma lua, uma estrela, uma fonte (talvez alusiva às aguas de Cambres), o rio (Douro, que banha a freguesia) e as uvas (símbolo da riqueza patrimonial local, que é a produção vinhateira); a insígnia de Cambres, na parte inferior. A 18 de junho de 1995, realizou-se a celebração do primeiro hastear da bandeira de Cambres, com a presença do Presidente da Junta de Freguesia e o Presidente da Câmara, entre os demais. O ato foi ainda acompanhado pelo toque do hino da Maria da Fonte, pela Banda Marcial de Cambres.

* “Vindimas … É que na grande maioria dos casos, notara-se um aumento de produção considerável … As graduações deste ano são boas e os vinhos … devem ser muito bons.” (In Boletim da Casa Regional da Beira Douro, n.º 10) 152


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* Os barcos rabelos – Barcos de tábuas encaixadas em trinco, com um mastro no centro, uma vela latina de forma quadrangular (presumivelmente de origem árabe), de caraterísticas mediterrânicas, duvidosamente entre os séculos IV e IX.

* Segundo a portaria de 2 de maio de 1866, deu-se a aprovação do ante projeto de 7 de março de 1864, referente à construção de uma ponte sobre o rio Douro, que une a estrada de “São Pedro do Sul e Vila Real”, correspondente a uma distância de 318 metros. Já em março de 1866, El-Rei D. Luís I solicitou um parecer para o mesmo projeto, ao concelho das obras públicas e minas, com o intuito de levar a efeito a sua edificação, em frente à Régua, ligando a Beira a Trás-os-Montes. A adjudicação aconteceu a 4 de janeiro de 1869, com licitação de 90.000$00, sendo esta proposta arrematada por um valor final de 88.900$00 reis, pelo Sr. Guilherme Dulhesser. A obra ficou pela autoria dos engenheiros Wilibald Liebe e Chelmicky, iniciada a sua construção ainda no mesmo ano. Todo o material de construção era transportado de barco rabelo a partir do Porto. A ponte foi inaugurada a 1 de dezembro de 1872.

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* “João Marques, de Cambres, viveu na Barrafunda, S. Paulo, Brasil (emigrou depois de casar com Hermínia de Sousa Cardoso, de São Cristóvão de Nogueira).” (In Riba do Doiro 2)

* Nos séculos XVII e XVIII “a Mitra trazia inúmeras casas e herdades emprazadas em…, Quintião (Cambres)…” (In História da igreja de Lamego)

* O código de direito canónico atual diz: “O território de cada diocese deve ser dividido em zonas territoriais distintas, tendo cada uma a sua igreja particular, uma população determinada e um sacerdote encarregado do cuidado das almas: são as paróquias.” (In História da igreja de Lamego)

* “As igrejas (de castelli, de vici ou de villae) podem considerar-se paroquiais. A conclusão retira-se do próprio nome – ecclesia – e também no facto de nelas se celebrar diariamente o santo sacrifício da missa (sacrificium 154


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quotidiannum), o que não acontecia nos pequenos templos ou oratórios privados, de fundação particular, dedicados aos santos pela piedade dos fiéis, e que normalmente eram conhecidos por oratorium ou basilica.” (In História da igreja de Lamego)

* “Em 17 de abril de 1827, o vigário capitular da Diocese recebeu do Juiz de Fora de Lamego, um aviso a pedir-lhe que, dentro de 3 dias, lhe fizesse apresentar os títulos legais pelos quais fora concedida à Exma. Mitra de Lamego, parte das rendas das comendas de…, de S. Martinho de Cambres, …” (In História da igreja de Lamego)

* Durante o ano de 1924, realizaram-se as Missões Populares em várias paróquias da Diocese. Em Cambres, especificamente mais tarde, entre 4 e 12 de novembro de 1946. A 2 de agosto de 1949, o Bispo D. João da Silva Campos Neves propôs à Santa Sé a nomeação de 5 cónegos dos mais antigos, a fim de atribuir cargos específicos na ordem, pelo motivo principal de garantir a “solenidade do culto na Sé, mas também a docência no seminário”. Assim, em Cambres, foi nomeado tesoureiro o pároco da Sé, Ismael Augusto Guedes. 155


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Cumprindo o que se encontra redigido no cânone de 1349 do Código de Direito Canónico, em notas oficiosas de 12 de maio de 1955 e 15 de fevereiro de 1964, o Bispo D. João Neves confinou as paróquias onde não tivesse havido qualquer Missão em Forma durante os 10 anos anteriores, para que estas pudessem concretizar uma preparação para a visita pastoral. Determinou ainda que estas deveriam ter uma semana de pregação. O mesmo Bispo tomou iniciativa para o desenvolvimento da Associação de Ajuda Mútua do Clero da Diocese de Lamego, sendo que, para tal, entre outros, encarregou o Pe. Cândido para coordenador da comissão organizadora e redação de estatutos. Algum tempo depois, a mesma comissão foi limitada a 3 sacerdotes do aro: Pe. Afonso Ferreira, Pe. Martins Peixoto e Pe. José Joaquim Cardoso, todos de Cambres.

* À data de 11 de fevereiro de 1981, em Assembleia Geral do Clero, foi proposta uma reorganização da diocese pelo Bispo D. António Xavier Monteiro. Desta forma seriam colocados 4 “vigários de zona”, sendo também convidados a assumir os cargos de vigário geral e vigário episcopal em cada zona. Consequentemente, foi o Monsenhor Pe. José Fernandes Bouça Pires nomeado coordenador adjunto, sendo depois designado ainda como coordenador da pastoral em 29 de outubro de 1984. Também lhe ficou consignada a realização dos congressos de leigos, no Dia 156


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da Igreja Diocesana, assim como os cursos bíblicos realizados na Diocese durante esse mandado. O mesmo Bispo, em 19 de maio de 1985, nomeou alguns cónegos capitulares, entre eles José Joaquim Cardoso, pároco de Cambres. Realizou-se em Lamego o Congresso Diocesano dos Leigos, nos dias 21 e 22 de novembro de 1987, com o tema “Nós, os leigos, também somos igreja”. Foi coordenador da pastoral diocesana e instigador do congresso o Monsenhor Pe. José Fernandes Bouça Pires.

* Nos textos transcritos em “Portugaliae Monumenta Histórica” das inquirições de D. Afonso III (século XIII), podem encontrar-se igrejas e respetivos padroeiros, ordenadas por terras e julgados. Designa-se entre outras, a apresentação dos paroquianos, da paróquia de São Martinho de Cambres.

* “Como bens imóveis do mosteiro de Salzedas, constavam: … Quinta de Monsul em Cambres…” (In História da igreja de Lamego)

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* “Ficaram na memória das gentes… os caminhos de Santiago… Ao longo destes percursos, restam ainda hoje lugares, capelas e igrejas marcadas por essa devoção ao apóstolo. Por Lamego passava um desses caminhos para Compostela. Iniciando a caminhada em Viseu, seguiam os peregrinos por Ribolhos, Castro Daire, Moura Morta, Mezio, Bigorne, Magueija, Penude, passavam em Almacave e descendo a Cambres e Sande, continuavam na direção de Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Vila Real e Chaves.” (In História da igreja de Lamego)

* “Fazendo parte do seu termo [Lamego], de duas léguas e meia de comprido e légua e meia de largo, encontramos algumas das freguesias que hoje integram o concelho: … os lugares de Cambres e Corredoura com 17 [moradores]…” (In O Compasso da Terra – A arte enquanto caminho para Deus)

* “… várias são as comunidades religiosas estabelecidas no Porto, que possuem produções vinícolas próprias no Douro. Os religiosos de São João de Tarouca e de Salzedas possuem terras de vinha na área de demarcação, como acontece na freguesia de Cambres, onde só o Mosteiro de Salzedas colhe mais de 100 pipas de [Século XVIII]

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vinho fino.” (In O Compasso da Terra – A arte enquanto caminho para Deus)

* “Em meados do século XVIII, encontramos como padroeiros, no arciprestado de Lamego, … o real Mosteiro de S. João de Tarouca em três (Lalim, Meijinhos e Cambres)…” (In O Compasso da Terra – A arte enquanto caminho para Deus)

* Foi participante no Sínodo diocesano de 1639, Pedro Dias da Costa, beneficiado de Cambres. Deste Sínodo resultou o livro das Constituições Sinodais de Lamego de 1683, cujo rosto lavra: «Constitviçoes / Synodaes do Bispado de Lamego / Feitas pello illustrissimo, & reverendissimo Senhor / D. Migvel de Portugal / Pvblicadas, e aceitas no Synodo / que o dito Senhor celebrou em o anno de 1639. / E agora impressas / por mandado do Illustrissimo, & reverendissimo Senhor / D. Fr. Lvuis da Sylva, / Bispo do dito Bispado de Lamego, / do Conselho de S Alteza, & c. / [Brasão] em Lisboa. / Na Officina de Migvel Deslandes. / M.D.C.LXXXIII. / com todas as licenças necessárias.»

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“Aos quinze do mês de Janeiro da era de mil e trezentos e cinquenta e nove, principiaram os juízes executores na cidade de Lamego a taxar as igrejas dela e de todo o seu Bispado na forma que adiante se segue… A igreja de S. Martinho de Cambres em cento e vinte libras.” (In História da Igreja em Portugal)

* Um documento de 1197 sobre Cambres, com texto também referido nas inquisições de 1258, fala-nos de um local chamado Pedra de Anta: no primeiro «in directu ad Antam», no segundo «in loco qui dicitur Pedra de Anta». Tudo indica que essa anta, tenha sido derrubada no século XIII, daí a sua não existência conhecida. Outros exemplos na freguesia, também descritos sobre pedras, «de monte de sub Petra Curva», ou «in loco qui dicitur Selada», esta última referindo-se, possivelmente às pedras seladas e escritas que organizavam e delimitavam as “vilas” rústicas. Documentos do século XII também falam destas pedras: «per arcas antiquas et per petras silicatas», ou «per illam petram scriptam».

* “Os relegiozos do Convento de S. Joam de Tarouca que dista desta freguesia duas legoas e meia, pessuem no 160


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sitio de Mosteiro huma quinta de vinho e algum azeite e para este mesmo sítio tem demarcassoens… Tem outra em Touraes os religiozos de Santa Maria de Salzedas da mesma Ordem de S. Bernardo, com as mesmas demarcassois…” (In Memórias Paroquiais, Volume 8, memória 60, 1758)

* Foram obreiros de Cambres, na época de quinhentos, na Sé de Lamego, os canteiros António Mendes, Bento Pinheiro, Domingos Henriques, Francisco Baptista, João Bento, Joaquim Afonso, Manuel Rodrigues e Martim Cabral. No livro de contas da Sé, de 1735 e 1736, se apresentam os nomes dos aparelhadores António Afonso, Domingos Novais e João Ferreira. Constam também os oficiais António Mendes, António Rodrigues, Custódio Francisco, Francisco Bento, Francisco Teixeira, Henrique Almeida, João Melo, José Afonso e Luís da Cunha. Nas despesas de obras do recolhimento de Santa Tereza da Regueira, em 1723, encontram-se Agostinho Simões, João Marçal, Joaquim Meireles, Jorge Pinto e Manuel Aparício. No livro de contas das obras do convento das Chagas, de 1753, estão Afonso Rodrigues, Agostinho Simões, Alberto dos Santos, Luís Novais, Narciso Nogueira e Pedro Moreira. Em 1747, nas despesas de restauro do antigo Paço Episcopal, salientam-se Bernardino Simões, Bernardo Afonso, Fausto Maria, Manuel de Matos, Melchior Pinto e Rodrigo Pinheiro. 161


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* Por escritura de 19 de janeiro de 1697, o mestre arquiteto de Portelo, António de Barros, fez contrato com o Dr. Manuel Monteiro Cardoso, para fazer um «açude numas terras aonde chamam Porto de Bois, termo da vila de Valdigem, que partem do rio Tábora, no qual rio era necessário tirar um açude de água para regar e limar parte das ditas terras». (In Artistas e artífices nas dioceses de Lamego e Viseu) Por abril de 1717, o mestre carpinteiro José Vieira, fez obra de carpintaria na capela de São Sebastião. A 23 de agosto de 1747, o mestre carpinteiro de Felgueiras, Manuel da Fonseca, foi fiador de Pascoal Homem, no que respeita à escritura de obrigação de obra de carpintaria a executar no convento de Santo António de Ferreirim. À data de maio de 1762, o mestre pedreiro do Paço de Ferreiros, Manuel Rodrigues, foi contratado para a realização de umas casas, armazéns e lagares na quinta do Couto. Em escritura de 12 de julho de 1772, o carpinteiro de Pumarelhe, António de Azevedo, fez contrato de carpintaria das casas do armazém e lagares da quinta do Couto, de Rodrigo Pinto de Sousa.

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* “Em um livro da primeira metade do século XVIII, encapado a pergaminho endurecido… , onde se lavravam… os autos da Câmara Municipal de Lamego, encontr[a-se] um auto respeitante a certa arrematação de recovagem… pelo qual o leitor pode observar… algumas formalidades exigidas, assim como as penalidades aplicadas em caso de transgressão, a dois heroicos caminheiros [almocreves], sendo um deles natural de Portelo e outro de Felgueiras… «Auto de arremataçam que se fez na recovagem desta cidade para a de Lisboa que se arrematou a João Ferreira de Felgueiras e Manuel Roiz Lona de Portêllo… com obrigação de serem sempre prontas catorze bestas e de que levarão a seis centos reis por arroba os quaes ditos recoveiros se obrigavão por suas pessoas e bens móveis e de raiz não fazerem falta alguma na dita recovagem e a levarem e trazerem todo o dinheiro que lhe for entregue e que para isso fiavão e abonavão hum a outro e que avendo de fazer alguma falta só querião da cadeia serem ouvidos e estarião prontos com as ditas catorze bestas para toda a terra que tivessem cargas desta cidade para Lisboa levando só com efeito seis centos reis por arroba de que fiz este termo que assinarão em Lourenço Pereira da Rocha, escrivão da Câmara o escrevi.»” (In Varanda do Douro, março 1951)

* “Do lugar de Caroza foi natural Manoel Ozorio da Foncequa, Cappitam de cavalos… Culumbano Pinto da 163


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Silva, comandante que a Magestade Fidelissima do Senhor D. Joam Quinto foi servido mandar para os Estados da Índia no ano de coarenta e oito…; Jironimo Pinto da Silva, seu sobrinho, Sargento mor de auxiliares em Vianna; do lugar de Rio Bom, Manoel Pereira, Cappitam de infantaria na Índia e António Cardozo, Provincial da Companhia,… theologo… Junto a este mesmo lugar de Rio Bom, em Pel de Coelho, huma religiosa no Convento da Ribeira juncto à Senhora da Lappa da Ordem de S. Francisco…” (In Memórias Paroquiais, volume 8, memória 60, 1758)

* Notícia relatada no jornal Varanda do Douro, de maio e junho de 1959, da qual fica apenas o essencial: “Cambres está de luto No dia vinte e sete de maio pelas vinte e uma horas e cinco minutos, desabou sobre esta freguesia uma violenta tromba de água, acompanhada de uma pavorosa trovoada. Balanço da catástrofe Seis mortos e quatro feridos gravemente – nove casas totalmente destruídas – vinte pessoas sem abrigo – seis mil contos de prejuízos nos campos devastados. Riobom, a localidade desta freguesia, mais atingida, encontra-se sem água, sem caminhos e sem pontões…” 164


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* «O grémio de “Tecelôas em tear à mão”, neste grupo de terras, em 41 contribuintes, contava com 11 na freguesia de Cambres. Só em Riobom mencionavam-se 7, e apenas um em Lamelas, Mosteirô, Raposeira e Rego. Dos 30 padeiros do respectivo grémio no circuito de Cambres, 10 eram moradores nesta freguesia. No grémio dos “mercadores por miúdo d’Azeite d’Oliveira com estabelecimento”, encontrámos 7 contribuintes:… 2 de Cambres (Riobom). No grémio de “Apontadores d’Obras” só vimos 2 contribuintes, e eram ambos de Portelo de Cambres. …sessão camarária de 14 de Fevereiro de 1863… tanoeiros na freguesia de Cambres: 18 contribuintes… » (In No Compasso do concelho de Lamego)

* «Carvalho da Costa, na sua “Corografia Portuguesa e descripçam topográfica do famoso Reyno de Portugal (…)”, ao escrever sobre a “Comarca de Lamego”…, no princípio do século XVIII, diz: “São Martinho de Cambres tem 300 visinhos com h~u Vigario da colação ordinária, & dous Beneficiados símplices, que poem em seu lugar dous 165


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Econonos para administrar~e os sacramentos aos Freguezes. A vigayraria he do Padroado Real, & os dízimos se repartem com o Comendador [da Ordem de Cristo], Frades Bernardos [de S. João de Tarouca], & Beneficiados, tirada a porção de Vigario que paga salário ao Sacristão”.» (In No Compasso do concelho de Lamego)

* «Nos meados do séc. XVIII, escreveu-se: “O grangio nesta freguesia he vinho, de pam podersehão recolher hum anno entre com outro, seis para sete mil alqueires de azeite athe oito, novecentos almudes, mas a qualidade dos frutos he excelente principalmente o vinho, que para o embarque he o que em todo o Alto Douro logra a primazia por generoso…» (In No Compasso do concelho de Lamego)

* «… Mostra-se que os religiosos dos Conventos de S. Joan de Tarouca e Salzedas tiram nesta freguesia muitos dízimos por doações dos sobranos que lhe fizerem de muitas terras… Os religiosos do Convento de S. Joan de Taroucapossuem no sítio de Mosteiro huma quinta de vinho e algum azeite e para este mesmo sítio tem demarcassoens… Tem outra em Touraes os religiosos de Santa Maria de Salzedas da mesma Ordem de S. Bernardo, com as mesmas demarcassois… como esta freguesia hé do 166


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termo de Lamego, os menistros régios, juiz de fora corregedor e provedor são os que aqui ademenistram a justiça e só há hum juiz pedaneo ou da vintenna com escrivão para obrar o que lhe determina a Ord. … Tourais assi chamados segundo a tradissam, porque antes destas terras se cultivarem por serem mui pingues, criavam tão elevados e densos arvoredos e tão intrincadas matas que entre outras feras se criavam touros… … Tem capella do Senhor S. Pedro do povo, com confraria. E tem outra particullar do Senhor S. Domingos, esta antes do terremoto já tinha alguma ruina, mas com elle a padeceu de sorte, que está especada em taboas e barrotes e abobeda e não se vio outra alguma ruina nesta freguesia… [Felgueiras]

… Junto a… Rio Bom, em Pel de Coelho, huma religiosa no Convento da Ribeira juncto à Senhora da Lappa de Ordem de S. Francisco que se faleceu com evidentes e claras demonstrassoens de santa.» (In Memórias Paroquiais, Volume 8, memória 60, 1758)

* Em 20 de julho de 1915, perfazendo 100 anos, realizou-se no mesmo dia mas de 2015, as conferências de temática “Movimentos Políticos e Sociais no Douro, nos 100 anos do Motim de Lamego”. Nestas, foi debatida a questão 167


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social e política, por uma causa que se tornou marco histórico, apesar de por muitos esquecido ou desconhecido – o Motim de Lamego. Numa ligação entre culturas e movimentos, localizam-se contextos históricos em relatos escritos, alguns deles documentados, numa relação com a sociedade local e temporal, onde escritores, jornalistas e familiares descendentes, podem partilhar emoções. Escritores como Alves Redol e a sua visão realista da história e a sua preocupação com o Douro, criando uma trilogia de um enredo passional, com uma integração etnográfica e histórica, intitulada “Vindima de sangue”. Ou ainda como Pina de Morais, no seu livro novelístico “Sangue plebeu”, onde figuram personagens de Portelo de Cambres, ele que viveu durante algum tempo na casa de Quintião e também em Valdigem, com o intuito de se ligar e conhecer as gentes locais e os trabalhadores rurais do Douro e assim transformar as suas vivências em texto. Numa sequência histórica, desde as invasões francesas e restauração da independência nacional que deram lugar a reformas em Portugal, refletindo-se também na região transmontana. Passando pelos conflitos liberais dos inícios do século XIX, transpondo diferentes posições entre os a favor e os contra a Companhia, refletindo o malestar pelas misturas nas produções vinícolas do vinho do Porto. Pela revolta da Maria da Fonte (de reformas legislativas na administração, nos impostos e no Estado, numa ligação ao imposto da décima), iniciada no Minho mas que se alastrou ao Douro, devido às movimentações de 168


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elites, à procura de ações de revolta na região, por causa da insatisfação e instabilidade popular, que chegara a Lamego a 17 de maio de 1845. Foram várias as manifestações organizadas, assim como pilhagens e destruições, com a finalidade de abolir a crise comercial que se gerara no início do século. A região do Alto Douro foi, de veras, afetada e o ambiente de revolta foi crescendo, com manifestações populares, chegando a conflitos sociais e mesmo a motins. O tratado luso britânico da altura aprovava a designação vinhos de Lisboa a todos os tipos de vinho, incluindo os do norte e do Douro, provocando concorrência desleal e desigualdades comerciais. Antão de Carvalho defendeu a denominação Porto para todos os vinhos da região demarcada do Douro, para tal liderando ações populares com a finalidade de fazer alterar e aclarar o artigo 6.º desse tratado. De entre as várias manifestações a favor da alteração da cláusula, enquanto Antão de Carvalho a negociava em Lisboa em parlamento, dava-se em Lamego um ato «considerado como gesto heroico em defesa dos interesses da região» - o Motim de Lamego de 20 de julho de 1915. Juntaram-se em protesto, cerca de 5000 populares da região, à porta da Câmara Municipal de Lamego. A manifestação, que deveria ser pacífica, terminou com 11 mortos e alguns feridos. Os mortos foram baleados pelas costas e eram das freguesias de Cambres (maioria), Valdigem, Sande, Parada do Bispo e Figueira. As culpas foram diferenciadas, pois do lado da Câmara levou-se ao facto de procurar defesa aos ataques dos populares, 169


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enquanto a população se referia às mortes como um ato de cobardia da Câmara e dos militares. Ainda assim, todos os populares mortos ficaram conhecidos como mártires e heróis do combate regional. Um dos feridos, João Carlos Guedes, de Cambres, foi um dos líderes da revolta duriense e está registado, assim como todos os acontecimentos e visões, no jornal Defesa do Douro, de 26 de julho de 1925. Em 2005, aquando da comemoração dos 90 anos do motim, foi erguida uma lápide comemorativa de mármore, em memória de todos os findos, que se encontra junto ao portão norte do cemitério de Cambres.

* Documentos da Torre do Tombo

Igreja; São João de Tarouca; Tourais…

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Rio Bom, Portelo; Felgueiras, Portela, Pomarelhe, Eirô, Quintião, Corredoura, Pousada…

Mesquinhata; 20 0 maio 1758

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Epílogo

“Cambres, com as suas belezas naturais, seu vasto horizonte, o rio Douro a espreguiçar-se a seus pés como serpente ao sol, as videiras simetricamente alinhadas, o seu casario a branquejar por entre o verdeesmeralda dos vinhedos, é sem dúvida a princesa do Douro. O miradouro de S. Braz é dos pontos mais lindos do país. A estrada pombalina que atravessa a freguesia de Cambres, é um trecho turístico dos mais sugestivos…” (In Varanda do Douro, outubro 1958)

A região mais impressionante, mais rica, mais atribulada e talvez a mais desconhecida de Portugal. Tão impressionante, que ninguém a vê, que não abra os olhos do assombro. Tão rica que produz o ouro líquido de maior reputação. Primeira região demarcada do mundo, por lei de 1756, alterada através dos tempos e confirmada em 1921. O decreto de 10 de dezembro de 1921 define o vinho do Porto como «o vinho generoso que a tradição firmou com essa designação, proveniente da região vinícola do Douro». Entre camadas populares portuguesas, o vinho do Porto é também conhecido pela designação de vinho fino. Como diz Manuel Monteiro, vinho do Douro é a designação «caseira, familiar, nacional, resultante da sua procedência de origem». Perdem-se na lonjura dos séculos, as origens da cultura da vinha e do vinho nos bravios territórios que, depois, haveriam de ser berço deste vinho. A história começa com o desenvolvimento do comércio e a sua expansão, na segunda metade do século XVII. Já no século 173


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XVIII (mais precisamente 1703), celebra-se entre Portugal e a Inglaterra o Tratato de Methwen que dá tratamento preferencial ao nosso vinho. Desta forma dá-se um aumento da exportação. Por meados do século XVIII (reinava D. José e governava Marquês de Pombal), sobreveio uma grande crise com causas e consequências graves, que abalou a viticultura duriense, o comércio do vinho do Porto e a própria economia nacional. Para fazer face à situação, foi instituída em 1756 uma poderosa e majestática companhia que decidiu realizar a primeira demarcação do Alto Douro.

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Glossário

Aligossalina – Água à base de sal, com capacidades terapêuticas. Alva – Túnica que os sacerdotes usam por cima da veste de celebração. Ameia – Abertura no alto da muralha de uma fortaleza, por onde se visava o inimigo. Antropónimo – Nome próprio de uma pessoa. Antropomórfico – Com forma humana ou semelhante ao Homem. Apainelado – Forma de revestimento decorativo de um espaço interior fechado, abobadado ou plano, originária da antiguidade romana; painéis ricamente perfilados e ornamentados. Arcediagado – Arciprestado. Arco cruzeiro – Estrutura curva que cobre um vão, na união ou cruzamento de dois espaços contíguos. Argentado – Conjugado. Armoriada – Com brasões de armas. Aro – Círculo ou grupo de pessoas. 175


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Arroteia – Arroteamento. Atalaia – Torre, guarida ou local onde se vigia. Avoenga – Herança de avós. Baldaquino – Estrutura semelhante a um pequeno telhado por cima de um objeto de culto ou de uma estátua. Bardo – Videiras ligadas por arames, que servem de apoio para as vides, em forma de grade. Bragal – Porção de uma fazenda. Cachorro – Peça saliente de apoio. Caixotão – Espaço em forma de caixa, onde se inserem pinturas ou imagens alusivas a um tema. Calço – Muro Canonicato – Dignidade de cónego. Capitel – Parte superior de um suporte arquitetónico vertical, sobre o qual assenta a carga e que é geralmente decorada com elementos em relevo. Cartela – Parte de um pedestal, lápide ou friso, que pode ser também em tecido, onde se faz uma gravação ou se apoia uma figura ou peça. Casal – Propriedade rústica de menor importância que uma quinta. Castreja – Referente a castro. 176


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Castro – Castelo senhorial. Catecúmeno – Pessoa que religiosa, para poder ser batizado.

recebe

instrução

Ceira – Espécie de prensa metálica. Chapada – Extensão plana clareira. Cepa - Tronco da videira Cogula – Túnica larga, normalmente com um capuz, com ou sem mangas, usado pelos frades beneditinos. Colgatura – Colgadura; colcha. Congénere – Semelhante, do mesmo género, pertencente ao mesmo. Coríntia (ordem arquitetónica) – Estilo de um capitel, ornamentado com elementos florais ou vegetalistas. Cornija – Elemento arquitetónico, em relevo, de ligação horizontal. Couraça – Proteção de uma armadura, para o corpo (peito e costas). Credência – Mesa junto ao altar, para o serviço eucarístico. Despampa – Tirar os pâmpanos. Ecletismo – Mistura de diversos estilos históricos. 177


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Elmo – Proteção de uma armadura, para a cabeça e rosto. Emprazamento – Contrato de foro. Encaldeiramento – Limpeza das ervas daninhas. Endo-nartex (eso-nartex) – Nártex ou espaço estreito transversal à nave, que se situa à entrada, mas no interior do edifício. Entablamento – Conjunto de arquitrave, friso e cornija. Ermitério – Casa ou lugar onde habita um eremita (pessoa que vive no ermo, para contemplar ou rezar). Esfolha – Retirar folhas das videiras, de forma a permitir que o sol atinja diretamente as uvas e as amadureça. Etnografia – Estudo da cultura, hábitos, tradições, atividades, dos povos. Faixado – Campo tapado por faixas de metal e cor. Fasciculado – Em forma de feixe. Filactéria – Espécie de amuleto. Filoxera – Doença das videiras, causada por esse inseto. Flâmula – pequena chama. 178


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Fogueira – Povoação. Frechal – Viga em que se pregam os caibros à beira do telhado. Frontão – Remate frontal de um telhado de duas águas ou da parte superior de uma janela ou porta. Gárgula – Abertura por onde corre a água. Geio – Terreno entre dois muros ou degraus para plantação. Genitivo – Declinação linguística, com complemento possessivo, limitativo e determinativo. Gomão – Rebento da videira. Granja – Propriedade, quinta. Hagiotoponímia – Designação de uma localidade através do nome de um santo. Hierotopografia – Descrição minuciosa de um lugar sagrado. Lampadário – Peça metálica suspensa no teto, que segura uma ou mais lâmpadas. Leituário – Relatório do que se escreveu para poder ser lido; mais antigo seria descrito como “beiçoeiro”, “bençoario” ou “bençoairo”, que significava inventário ou rol dos bens de uma casa, igreja ou outro. 179


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Mangra – Humidade ou orvalho que prejudica os frutos. Mandorla – Contorno, que está à volta de algo. Maravedi – Antiga moeda espanhola. Mesológica – Relativa à ciência que estuda as relações entre o ambiente e os seres que nele habitam. Miliário – Marco que indica ou assinala uma distância. Minifúndio – Propriedade rústica de dimensão limitada. Moio – Medida do que a mó pode moer em um dia. Monograma – Entrelaçamento de algumas letras iniciais. Naveta – Vaso de incenso. Orbe – Bola, esfera. Pâmpanos – Parra; ramo tenro da videira, com folhas. Paquife – Ornato pendente do elmo. Précâmbrica (pré-câmbrica) – Rocha pregueada e metamorfoseada, com uma duração relativa a 4 biliões de anos, que pode revelar vestígios de seres vivos; terreno da mesma altura. 180


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Redra – Segunda cava para tirar ervas das vinhas. Retábulo – Obra de arte de pedra ou madeira esculpida, de encontro ao altar. Sabre – Espada curta. Sebastos – Tira de pano com cores diferentes, usadas em vestidos, paramentos ou outros. Cíngulo – Cordão que o sacerdote utiliza para apertar na cintura. Socalco – Porção mais ou menos plana de terreno numa encosta, sustida por parede. Soldo – Uma das antigas moedas portuguesas. Surriba – Terra escavada. Tábua – Superfície sobre que assenta a pintura em madeira. Talude – Declive ou inclinação que se dá à superfície do revestimento de um muro ou paredão. Timbre – Insígnia colocada sob um escudo de armas, que marca o grau de nobreza. Topónimo – Nome próprio de um lugar, sítio ou povoação. Torçal – Cordão de fios torcidos.

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Tribuna – Espécie de púlpito do alto do qual falam os oradores. Tulha – Lugar onde se junta e deposita a azeitona, antes de ser levada para o lagar. Turíbulo – Incensório (vaso de queimar incenso). Vetusta - Deteriorada pelo tempo.

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Bibliografia

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Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano IX, n.º 103, outubro 1958 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano X, n.ºs 110 e 111, maio e junho 1959 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XI, n.º 132, março 1961 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XII, n.º 133, abril 1961 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XV, n.º 168, abril 1964 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XVI, n.ºs 181 e 182, maio e junho 1965 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XVII, n.º 192, abril 1966 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XVII, n.ºs 196 e 197, agosto e setembro 1966 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XVII, n.ºs 202 e 203, fevereiro e março 1967 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XVIII, n.ºs 216 e 217, maio e junho 1968 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XVIII, n.ºs 222 e 223, novembro e dezembro 1968 Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XIX, n.º 227, abril 1969

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Varanda do Douro, Boletim mensal da paróquia de Cambres, ano XX, n.º 233, outubro 1969 Varanda do Douro, Boletim mensal – Cambres, ano 42, n.º 434, junho 1992 Varanda do Douro, Boletim mensal – Cambres, ano 42, n.º 436, agosto 1992 Varanda do Douro, Boletim mensal – Cambres, ano 42, n.º 437, setembro 1992 Varanda do Douro, Boletim mensal – Cambres, ano 42, n.º 440, fevereiro 1993 Varanda do Douro, Boletim mensal – Cambres, ano 42, n.º 441, março 1993 Varanda do Douro, Boletim mensal – Cambres, ano 43, n.º 447, novembro 1993 Varanda do Douro, Boletim mensal – Cambres, ano 47, n.º 469, maio e junho 1996 Varanda do Douro, Boletim mensal – Cambres, ano 47, n.º 473, janeiro e fevereiro 1997 Varanda do Douro, Boletim bimensal – Cambres, ano 47, n.º 475, junho e julho1997 Varanda do Douro, Boletim bimensal – Cambres, ano 47, n.º 476, julho e agosto 1997 BERNARDO, Edgar, MARTINS, Elisabete, Vivências passadas, memórias futuras: a cultura do linho, pão e vinho, Município de Felgueiras, 2011

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Sumário

Início

4

Prólogo

6-7

Capítulo 1 Origens e geografia

9-21

Capítulo 2 Património histórico e artístico

22-27

Igreja matriz

28-44

Torre do relógio

45-46

Capelas e ermidas

47-55

Alminhas

56

Relógio de sol

57

Relicários e pinturas

58-60

Casas e quintas

61-67

Lugares

68-72

Capítulo 3 Produtividade, etnografia e património cultural 196

73-77


Lucília Monteiro

O vinho – principal meio de subsistência

78-86

O produto

87-94

A agricultura, fruticultura e o azeite

95

Capítulo 4 Mais valias atuais e as que ficam para a história Varanda do Douro

96-97

Banda Marcial de Cambres

97-98

Águas de Cambres – Património ambiental

99-100

Produção fabril

101

Desporto

101

Banda Musical

102

Fanfarra

102

Capítulo 5 Festividades e costumes Festas em honra de Nosso Senhor da Aflição

103-104

Capítulo 6 Gastronomia e doçaria regional Capítulo 7 197

105-106


Lucília Monteiro

Escritos e curiosidades Fonseca Almeida

107-108

Ricardo Rebelo

108-109

Isabel da Azenha

109-110

Fernando Monteiro Amaral

110-112

Mestre José Luís Perpétua

113

Pe. Ismael Augusto Guedes

113-114

Pe. Luís Gonzaga Cabral

114-115

Reverendo Cónego José Joaquim Cardoso

115-116

Isaura Monteiro

116-117

João Miranda

117

Chico Ribeiro

118-119

Outras imagens fotográficas de Cambres

119-125

Capítulo 8 Escritos relevantes

126-171

Epílogo

173-174

Glossário

175-182

Bibliografia

183-195 198


LucĂ­lia Monteiro

SumĂĄrio

196-199

Agradecimentos

200

Fim

201

199


Lucília Monteiro

Agradecimentos

Cedência documental, registos, livros e informações: Mons. Dr. Pe. José Fernandes Bouça Pires Biblioteca particular do Museu de Lamego Biblioteca Municipal Gulbenkian de Lamego Biblioteca particular do Arquivo Museu Diocesano de Lamego Biblioteca Municipal de São João da Pesqueira

Todos aqueles que tornaram possível este projeto.

200


Lucília Monteiro

«A paisagem duriense é inteiramente diferente de toda a paisagem do País. Como desenho, é forte e doce; pela cor, azul e verde; pela expressão, violenta e carinhosa. Azul, na tranquilidade das terras nuas e nos longes montanhosos que se perdem de vista; verde, durante quase todo o ano, das videiras anainhas e prodigiosas que se desentranham, cada ano, nos fins do verão, em pérolas negras ou aloiradas de maná; forte, nas suas linhas declivosas e grimpantes, como titânicas escadarias; violenta, pelo arrojo dos seus arremessos e discretos movimentos: onde o Marão avança logo o Montemuro recua, e onde este vai logo o outro se afasta e sobe, no fundo, o vale do Douro nasceu da luta entre estas duas serras tremendas; finalmente, carinhosa, pelo mimo do jardim da sua monocultura canseirosa. O rio Douro é, seguramente, o rio mais impressivo e rico de grandiosas perspetivas do velho mundo. O Douro e os seus afluentes cavaram, em terrenos exclusivamente xistosos, vales profundamente encaixados.» (In Guia de Portugal – Trás os Montes e Alto Douro, volume 5)

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LucĂ­lia Monteiro

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Lucília Monteiro

NOTA BIOGRÁFICA DA AUTORA Lucília Monteiro nasceu a 27 de setembro de 1977, natural da vila de Cambres, do concelho de Lamego. Licenciada em 2000, via ensino, docente de Educação Visual e Tecnológica do 2.º ciclo. Lecionou desde logo e durante 12 anos, em diversas instituições públicas de norte a sul do país. Diplomada em Eventos, Relações Públicas e Marketing, em 2013. Exerceu funções de grafismo e marketing no Museu de Lamego em 2014, passando depois para o Arquivo Museu Diocesano de Lamego, como Relações Públicas, técnica de turismo, marketing e eventos. Colaborou como ilustradora de um dos textos do livro “Dos grandes, Leituras d’Ouro, para os pequenos”, com o apoio da Equipa de Apoio às Escolas Douro Sul / DREN / Ministério da Educação, o qual foi lançado no dia 24 de maio de 2011, em Lamego. Dedica-se ao artesanato, por vezes, pintura e desenho e ainda à escrita, com apresentações e publicações online.

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LucĂ­lia Monteiro

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Lucília Monteiro

Cambres Um Património no Douro SINOPSE Hoje em dia, Património Cultural abrange aspetos reais, para além da paisagem e bens eclesiásticos. Pressupõe tradições, costumes, história, cultura dos povos, as artes, os materiais e mesmo os locais. Cambres, freguesia ou paróquia do concelho ou diocese de Lamego, vila desde 1997, não é exceção. Incumbida da Região Demarcada do Douro, Património Mundial, nas suas virtudes, capacidades produtivas e belas paisagens, está reconhecida num primeiro documento datado de 1155. Um livro informativo, onde se destacam a sua história longe dos tempos, geografia sinuosa, tradições e costumes locais, os povos, assim como a produção vinícola conceituada pela generosidade do vinho do Douro, tão conhecido vinho do Porto, mais-valias dignas de registo. Território que merece reconhecimento e que, desta forma, se pode valorizar e fazer progredir para lá de si.

Lucília Monteiro

205


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