No íntimo da rosa

Page 1

1


2


NO ÍNTIMO DA ROSA

3


I

O que o mundo conta, há destinos que não se separam, outros que têm tanto para contar que até se esquecem. É dia de sol e, numa pequena agenda de flores coloridas, se vai registando a vida servida pelo sabor do tempo mal passado. Ritmos de sentimentos duros e de caprichos que tentam destruir o futuro de uma palavra que teima em reinar no seu coração. É dia de sol, resplandecente de luz, cheira às flores da primavera, às rosas do seu jardim quando abre a janela pela manhã. Encosta as cortinas e deixa entrar tão bela luz ainda avermelhada pelo amanhecer despertino. Os vidros não deixam sentir a brisa suave e saudável em seu rosto, mas é esse gesto de calmia que a faz olhar para o céu e sorrir todas as manhãs pela mesma hora. Sorri porque é alegre e bem disposta. Porque é preciso mostrar a felicidade às andorinhas que ali chilreiam, nas árvores folhadas e verdes de contentamento. O seu rosto sempre rosado, sugere a festa das flores do verão que se aproxima. Os olhos brilham de azul do mar que a encanta e os lábios singelos soltam vontade de beijar até as penas dos passarinhos. Naquela manhã teve vontade de vestir uma roupa propícia à alegria do dia. Assim, depois de um banho quentinho, procurou no roupeiro, umas calças azuis de ganga justas, uma camisola de gola alta de licra laranja e outra de nylon da mesma cor que lhe justasse bem por cima. Pegou no casaco camel, calçou umas botas mexicanas azuladas e desceu até à cozinha. O pequeno-almoço espera-a, já preparado pela mãe. Sai de casa para a universidade, disposta a felicitar todos os amigos. - Bom dia Sofia. O trabalho de Sociologia está pronto! O Miguel pediu-me uma fotografia para a Serigrafia. - Identificaste o trabalho, certo? Também já lhe entreguei a minha. No momento em que decidiu ir fotocopiar um texto de leitura para apresentar com a amiga, pensou em ir até ao computador da biblioteca por causa de um registo que lhe faltava. Quando retirava da prateleira um livro sobre História de Arte, outro lhe escorregou e caiu no chão. Pedro logo se prontificou a apanhá-lo para lhe entregar, com um suspiro de quem esperava aquela oportunidade há já algum tempo. Um rapaz viçoso, de olhos e cabelos castanhos de mel, rosto claro e meigo, com os seus óculos

4


intelectuais estilosos, encantou de imediato a Rosa. Parece que o destino lhe deixou um arco-íris a rir de surpresa ou talvez de vergonha. - Obrigada! Às vezes sou mesmo desajeitada! - Sabes que tens uns olhos lindos? – uma pausa de olhar mútuo – Desculpa, sou muito direto com o que vejo. - Não faz mal a ninguém ouvir um elogio de vez em quando. Obrigada! Andaram dias a olhar-se de longe, mas nenhum teve a coragem de se aproximar do outro. Esses olhares cruzados deixavam antever que qualquer história viria por aí. Até os amigos de Rosa comentavam o futuro que a menina letrada iria ter, ela que era feliz andava agora muito séria e apenas sorria perante o sorriso do Pedro. Chegou a desabafar em segredo com a sua melhor amiga, que nunca tinha estado assim! Os seus vinte anos eram ainda pouco maduros, mas o suficiente para se sentir atraída por um jovem simples como ele.

5


II Passados dias, a Rosa pensou em dizer um olá baixinho e discreto, para que os amigos não a importunassem mais com as brincadeiras do costume. Aproximou-se: - Olá! Como tens estado? - Bem! E tu? – ficou admirado e rosado de satisfação . - Eu também! Sabes, eu... – e não conseguiu terminar, porque foi interrompida. - Queres ir beber um café hoje à noite? - Mas não te conheço assim muito bem! - Prometo responder a tudo, se me prometeres também que vais comigo ao Crokas Bar. - Está bem. Depois de jantar estou lá, mas não me faças esperar! Separaram-se cada um para seu lado, deixando um rasto de alegria e paixão no ar. Desdobrou-se então aquela que seria a primeira história de amor entre Rosa e Pedro. Quando chegou a casa e logo que entrou a sua irmã Selma, mais velha, correu a contar-lhe tudo o que acontecera até ao momento. Mas Selma ficou apreensiva com o que ouvia, porque tinha receio do que poderia acontecer quando os pais soubessem. Sim, porque os pais eram demasiado conservadores e era difícil aceitarem determinadas situações, talvez como esta. Ainda assim, aconselhou Rosa a pedir-lhes autorização para sair, pois mesmo sendo maior de idade, poderia ser problemático se não o fizesse. Assim foi, assim que o pai chegou do trabalho, acorreu para lhe dizer, mas faltou-lhe de todo a coragem, pois era um acontecimento novo e teve receio da sua reação. Preferiu esperar pela mãe e assim que a porta se fechou, dirigiu-se a ela: - Mãe, tenho uma coisa para lhe contar! - O que aconteceu? Foi na escola? Estás bem? - Estou até demasiado bem. Sinto-me extremamente feliz. Sabes, conheci uma pessoa muito simpática e convidou-me para ir a um café esta noite. Eu até já lhe respondi que ia! - E quem é essa pessoa?! Uma amiga da escola? – perguntou com um ar de desconfiada.

6


- É!... Quer dizer... Não!... Bem... é da escola, mas não é uma amiga, é... um amigo! – e dispara a contar o resto – conheci-o há já alguns dias ma biblioteca, mas hoje convidou-me! - Não sei que te diga. Não o conheço, nem sei se o teu pai vai aceitar isso! - Mas mãe, eu só vou a um café, com muita gente, até posso encontrar mais amigos por lá! Já reparaste que eu tenho vinte anos e que também me quero divertir! Até já devia ter começado como os meus amigos! - Bem... Vê lá, não abuses da nossa confiança! Eu digo ao teu pai, tu vais, mas muito cuidado! E não chegues muito tarde. - Muito obrigada, mãe! – abraçou-a em sinal de alegria por estarem as duas de acordo e a mãe sorriu. Parece que as horas não queriam passar. Estava difícil conseguir chegar até àquele momento que ela tanto queria. Mas chegou, e com um suspiro de vontade, decidiu colocar uma corzinha na pele para se sentir diferente e talvez mais atraente, tudo para chamar a atenção. Pintou os lábios de um lilás bastante forte, tal que a mãe quando a viu sair mostrou um ar de preocupada com o que poderia acontecer a partir daí. O pai não a voltou a ver, acabando por questionar o que se passava. A resposta que obteve não o satisfez, mas não teve outro remédio senão contentar-se, porque a filha mais nova já era crescidinha e tinha mais do que razões para se divertir.

7


III Entrou no bar, instalou-se num cantinho, pois a companhia ainda não tinha chegado. Pediu um café torrado e um copo de água enquanto esperava e, passados uns quinze minutos, lá estava ele. Com um toque de cinza no seu casaco bordado chinês, mostrou um sorriso pertinente ao olhar de quem estivesse a observar. Então, aproximou-se e cumprimentou-a com um beijo no rosto que a deixou corada mas feliz. Conversaram sobre imensos assuntos mas sempre catrapiscando os olhares um do outro. A dada altura ela tomou um sentido de oportunidade e perguntou: - Que curso andas a tirar? É que eu não te conhecia, acho que nunca te tinha visto até àquele dia na biblioteca! - Eu não ando a estudar. O que tinha de estudar, já estudei. Por isso fiz uma pequena formação em Gestão Bibliotecária e estava apenas a ajudar no serviço! - Então porque continuaste a aparecer na universidade? - Porque me contrataram temporariamente para o serviço. Satisfeita?! A Rosa ficou assustada pelo facto de o seu amigo especial poder desaparecer quando deixasse de ali trabalhar, mas não o demonstrou de modo algum. Não seria justo fazer um filme sobre algo que ainda não tinha acontecido, fosse o moço ficar surpreendido. Nem sequer tinha a certeza se ele lhe ajeitava o gosto como desejava. Intimamente queria mais, mas não tinha coragem de lhe falar desse sentimento. Não sabia que fazer mas, em contrapartida, a paixão de Pedro por ela depressa se revelou. Quando saíram do café e ele se prontificou para a acompanhar até à porta de casa, o fresco da noite tomou conta do espaço que os envolveu. Ele aproximou-se dela e, perante um olhar indeciso, deu-lhe um beijo rápido no rosto. A jovem Rosa não se conteve e avançou mais depressa ainda, beijou-o intensamente ao que ele correspondeu com todo o fulgor. Despediram-se depois, com um sorriso maroto, ela entrou em casa e ele seguiu até à sua também. Já todos dormiam ou, pelo menos, estavam recolhidos, quando ela se infiltrou no seu quarto, com as suas memórias infinitas de paixão. Agora sim, ela sabia o que sentia verdadeiramente. Arrepios pelo corpo, o coração quase a saltar pela boca... Estaria ali o seu destino? Não se sabe, mas ela acreditava que sim, pois nunca se sentiu assim tão apertada por ninguém. Pegou no seu caderninho florido e apontou depois da data, unicamente duas palavras: Estou apaixonada! Deitou-se, mas

8


eram três horas da madrugada e o sono não vinha. Essa história de contar carneiros não é coisa para ela, mas a razão mais certa era pensar no que tinha acontecido. Não lhe saía da cabeça aquele que foi o seu primeiro beijo de amor, realmente sentido, abrasivo e louco. A partir dessa noite, a vida parece ter mudado. Até decidiu dar um corte radical ao cabelo, mudar o visual e adaptar-se mais às novas tecnologias. A mãe não lhe perguntou nada, muito menos tentou saber alguma coisa pelos amigos. Ainda assim, começou a achar estranhas as atitudes de Rosa. Música nas alturas, pulos na cama como uma adolescente, enfim, feitos que não eram nada usuais naquela casa. Com o passar dos dias foi descobrindo coisas novas naquela que passou a ser uma relação cheia de carinho e afeição mútua. Pedro vivia recentemente ali na localidade, mas era natural de outra a cerca de cem quilómetros dali. Acabando o seu trabalho era possível que fosse procurar noutro local, ponderando a hipótese de ir até aos países estrangeiros. Para Rosa era uma surpresa, mas não podia evitar que fosse ele a decidir o futuro. Promessas não faltaram, e foram horas de conversa, para além da expressão sentimental vir à flor da pele, horas de passeio depois das aulas ou trabalho, piqueniques, cinemas, discotecas, jantares... a idade do seu amor era ligeiramente inferior à sua, mas isso para ela era insignificante.

9


IV O problema chegou, quando em casa souberam quem era o menino com quem andava a sua filha das saias. Os pais de modo algum pensavam em aceitar uma relação com quem, para eles, era um “zé ninguém”. Como poderiam pensar assim, se não o conheciam nem se preocuparam em conhecer, se o que mais importava no momento era a felicidade de um ser humano, ou melhor, de dois?! Estes pensares retrógrados fizeram dos risos de Rosa, um manar de lágrimas, pois não queria perder o seu amor, mas também não pretendia desobedecer totalmente aos pais que tanto gostava. - O que é que eu faço? – pensava ela enquanto sua mão tremia ao escrever uma carta de concurso a emprego temporário. Depressa desistiu de a escrever e avisou decisivamente a mãe de que teriam de aceitar o que ela queria, tão simples quanto isso. Sente-se crescida o suficiente para decidir a sua vida. No prolongar do tempo, com o outono de dois anos depois, a aproximar-se, a Rosita, como os amigos lhe chamam, começou a entender que o amor que ela sentia já não estava a ser correspondido da mesma forma, principalmente quando entendeu que Pedro tinha tomado a decisão de sair do país para um novo trabalho, já que aquele terminara. Ainda o tentou demover dessa ideia, mas sem resultados. Foi-lhe dito que era importante conhecer novos ares e que de futuro poderia voltar para uma vida mais avultada. A linda Rosa murchou de tristeza porque percebeu que o mais importante ali era, de momento, o dinheiro. Sentiu-se desolada pois dera tudo por uma relação que se revelou uma perda. Entendia-se um amor feliz que parecia eterno mas que fugiu por caprichos fora de série. A Rosa sentiu um aperto no coração, ao que se chama despedaçado, partido, desolado. Mas teve de ser, tinha de lhe dizer que isso seria o fim daquele sentimento que julgava já numa promessa de anel e tudo. Abraçou a mãe, que lhe disse a razão de tal preocupação. Chorou com os amigos, que a consolaram sem perder tempo. Entrou num tempo de desespero, faltou a exames de frequência devido a início de depressão, foi medicada. A partir daí, foi Rosa uma pessoa ligeiramente diferente, um pouco mais fria, desconfiada, com receio de quem se aproximava dela para procurar novas intenções que não a amizade.

10


Discutia com os pais, fugia à família para estar com os amigos. Enfim, começou a pensar em ter uma nova vida, porque esta lhe ensinou os erros e é com esses que se aprende. É como pintar um quadro, o esboço é essencial caso contrário, se o pintor se engana, é difícil remediar, por maiores e melhores que sejam as pinceladas.

11


V Rosa, perdida de tristeza, começou a ser uma pessoa diferente. Apesar do apoio dos amigos, acabou por se afastar deles, referenciando as dificuldades de diálogo e convivo. Preferia ficar sozinha, no seu quarto fechada, escrevendo no seu caderno de apontamentos. Tudo era razão para discussão, todos eram motivo para fugir da realidade. Até os estudos foram descurados, de dia para dia ia arranjando desculpas para não estudar, para não fazer nada que desenvolvesse a sua autoestima. Um dia decidiu desarrumar tudo no seu quarto. Tirou do roupeiro, toda a roupa e atirou-a para cima da cama. Começou a selecionar o que mais e menos gostava. E, por ironia, tomou a decisão de usar uma mistura de roupas em tons mais escuros. Fez uns enormes rasgões nas pernas de umas calças de ganga pretas, cortou as mangas e arrancou os botões da gola a uma camisa cor cinza, procurou um casaco preto com manchinhas cinzentas e vestiu-se. Passou um pouco de creme branqueador na cara. Calçou botas de cavaleiro pretas e luvas de cabedal, pôs um chapéu de ilhós cinza escuro e foi até à quinta de Zarpanas, a quinta da tia Dália, irmã mais velha da mãe. A tia Dá, como era conhecida, tinha dois cavalos brancos, raça pura lusitana. Era muito amiga dos sobrinhos, mas a Rosa parecia sempre ser a especial. - Tia Dá!? Dália aparece à porta, ainda em pijama e robe quentinho de lã. - Querida, que fazes aqui? - Posso dar um passeio a cavalo? - Vai ter com o Duarte Pinto, ele sela-te um cavalo! - Obrigada tia! – Em paço de corrida dirigiu-se ao estábulo. Lá estava Duarte Pinto, o fazendeiro da quinta, amigo de Rosa e apaixonado por ela desde que a conhecera quando começou ali a trabalhar. Duarte era um rapaz da mesma idade de Rosa mas mais baixo que ela, de olhos castanhos, cabelo cenoura e andava sempre de jardineiras de ganga, camisas quadriculadas, botas castanhas de pelica e chapéu à cowboy. - Duarte!? – O sorriso do rapaz abriu de canto a canto da boca. - Menina Rosa! Que a traz por cá? - Sela-me o Dieser. Quero dar uma volta.

12


Duarte ficou abismado por Rosa não lhe ligar nenhuma mas assistiu. - Está bem menina. O cavalo foi preparado convenientemente, nada falhou. Rosita montou Dieser e foi até à ribeira de Zarpanas. Parou por lá, desceu do cavalo e sentou-se à beira da ribeira, junto a um tronco de árvore caído. Enquanto meditava, olhava o horizonte e atirava pequenas pedras na água. Pensava no que nunca esquecera nem queria esquecer, pensava no que poderia fazer para alcançar a felicidade. Pensava nele, em Pedro. Fazia-se tarde, decidiu ir para casa, não fosse escurecer e perder-se no caminho. - Duarte!? - Menina! - Tome a rédea do cavalo. Vou-me embora. - Mas menina! Dona Dália está-lhe esperando em casa para um pouco de companhia! - Não tenho tempo agora. Depois falo com ela. Xau! - Vai ficar triste! - Não fica, é demasiado tarde para ficar. – E dá uma corrida até casa. Deixa as botas na entrada, descalça entra e sobe até ao quarto. Ligou o computador e foi até à internet procurar Sofia no chat de conversação. Não a encontrou e desligou, transtornada.

13


VI A jovem estava quase a terminar o segundo ano de curso de Arqueologia. Mas deixara já uma cadeira de História da Arte Sacra para trás, no ano anterior. A falta de vontade e desinteresse súbito pelos estudos, fê-la perder-se nesse caminho. E nem os amigos a conseguiam levar a bom porto. O resultado deu-se pela negativa. Dois meses e meio depois, o ano letivo terminou e, apesar de conseguir terminar a tal cadeira em atraso, o ano ficou por ali mesmo. Por esse motivo, Rosa queria desistir por completo. Os pais fizeram tudo para a motivar, mas naquele momento complicado da sua vida, nada valia a pena. Sofia e Miguel terminaram o ano distintamente classificados na sua média anual, o que deixou Rosa furiosa, pois começou a pensar que os amigos tinham abdicado da amizade por completo para se dedicarem aos estudos. Os três acabaram por discutir e afastar-se por algum tempo, apesar de os amigos dela não estarem de acordo e quererem ajudar mais e mais.

14


VII Passam dias, meses… dois anos e mais qualquer coisa. Rosa encontra-se com antigos colegas da universidade e começa a sair com eles pela noite dentro. Inicia uma nova vida, cheia de movimento e diversão noturna. As roupas negras e justas, os cabelos despenteados e volumosos, o rosto carregado de maquilhagem de tons escuros. Tudo foi motivo de mudança, mas nada faria parte da sua própria vontade. Vontade ela teria de ser feliz, mas aquela nova descoberta de vida era apenas um jeito de perder o sentido de espírito pessoal e encontrar algo ou alguém que satisfizesse seus mais íntimos desejos. As suas novas companhias de noite e de dia, eram simplesmente pessoas desajeitadas, vividas pelo álcool e drogas, pela música de discotecas e de interiores subterrâneos. Pessoas que procuravam ser felizes individualmente ou com a ajuda de momentos negativos e ações espontaneamente ridículas. Isolou-se do mundo que tinha, da família, de todos os intervenientes que antes lhe davam a verdade e a vida que ela sempre quisera. Via-se em seu rosto que a felicidade morava nela apenas pelo estímulo, não pela vontade de querer ser como era. Quando chegava a casa, altas horas da madrugada, sua mãe a esperava sempre, com tanta preocupação que o sono a levou quase à loucura. Seu pai não sabia mais que fazer, de tanta preocupação, chegando ao ponto de procurar ajuda em médicos especialistas nas mais diversas áreas da saúde, para si e sua senhora. Uma noite, bem bebida, bem dançada, bem apertada pelo cinto da angústia, bem exausta pelo efeito dos estupefacientes, foi uma noite desgraçada! Rosa rodopia no palco de dança, salta, grita, canta e… acaba por cair no chão, inconsciente. Quase morta, Rosa é transportada para o hospital mais próximo. - Nossa filha nunca mais chega a casa, Rui! Desta vez é demais! Já são quase sete horas da manhã! – sua mãe com uma preocupação acrescida, em lágrimas bentas. - Tens razão, Gídia. Vou ligar para a polícia e o hospital! - Não me digas que aconteceu alguma coisa! Não pode ser nada de mal! Em desespero total, acorrem ao seu encontro. Chegam até ao hospital onde se encontra Rosa, já num estado de combate pela vida. O desespero é demasiado penoso, mas apenas resta esperar por informações.

15


- Senhora, diga-me onde está minha filha. Disseram que ela entrou aqui inconsciente! - apela a mãe atormentada. - A moça que chegou aqui há cerca de uma hora, com sinais vitais quase negativos, foi a única pessoa a dar entrada de emergência neste hospital, nas últimas doze horas. Presumo que se refira a ela! Não conseguimos contactar ninguém mas temos os dados da paciente aqui. Chega um dos médicos de urgência. - Senhor doutor, como está minha filha? - Quem é sua filha? - A Rosa, doutor, a minha Rosa! - Aquela moça que entrou há uma hora atrás inconsciente, doutor! – interrompeu a senhora do atendimento geral. - Ah bom! Sua filha encontra-se inconsciente e em tratamento ambulatório. Veio de uma discoteca, desmaiada. Estamos a fazer exames médicos, mas tudo indica que seja derivado a álcool ou drogas ingeridas com álcool. - A minha filha, com drogas? Não pode ser! Ela nunca foi dessas coisas! - Acalme-se, pois assim nada resolve! Pode demorar algum tempo a acordar e os exames irão indicar exatamente a razão! - Faça tudo o que for possível, senhor doutor! Por favor! – lavada em lágrimas. É comprovada a situação médica de Rosa, que entra num estado de inconsciência por tempo indeterminado. Os médicos fazem tudo para que seja rápida a sua recuperação. O tempo passa… seus pais revezam a sua estada no hospital, sempre na ansiedade de ver a filha voltar a sorrir. Sofia e Miguel sabem mais tarde do sucedido e acorrem de imediato ao hospital para ver a amiga e dar apoio aos pais. Conversam entre eles e apercebem-se que todo o aparato se deve ao distúrbio sentimental de Rosa. Contam aos pais todo o sucedido desde que Pedro se foi embora, ao que estes incentivam os dois moços a procurarem o rapaz, esteja onde ele estiver. Querem o bem de Rosa a todo o custo e finalmente compreendem que a sua felicidade está no amor da sua vida.

16


VIII Os amigos decidem iniciar uma procura exaustiva por Pedro. Vão até à biblioteca local e procuram via internet. Dividem-se territorialmente para descobrir seu paradeiro. São muitos dias numa corrida contra o tempo, não descurando do início do novo ano universitário, o terceiro. Grande a coincidência foi quando, de um momento para o outro, ele vem de visita à universidade. A sua maneira de andar, suave e descontraída, mostra a todos o seu novo estilo, mais moderno e sofisticado, com o seu penteado escorrido. Miguel encontra-o num dos corredores e rapidamente se aproxima. - Pedro!? Por aqui? - Achei por bem fazer uma visita às pessoas que mais me apoiaram! E talvez procurar emprego de novo por estes lados! - Não te passa pela ideia do que já procurámos por ti! Por onde tens estado? - Procuraram por mim? Por que razão? Esqueci de alguma coisa? - Nada disso! A Rosa… Pedro não deixou terminar a frase de Miguel e incendiou numa palavra. - Rosa? Que tem a Rosa? Entre nós ficou tudo esclarecido, penso eu! – comenta com um ar de apreensivo. - A Rosa teve um incidente! – e acrescenta em voz baixa – Tens culpa no cartório! - Eu? Culpado? – agarra nos colarinhos de Miguel e, impacientemente – Que tem ela? Que lhe aconteceu? Como está? Onde está? - Calma amigo! Uma pergunta de cada vez, por favor! - Não brinques, fala! - Depois de tu partires, o seu desgosto foi tal que enveredou pela loucura das festas, bebidas, noitadas e… - E? - E drogas! - Drogas? A Rosita? Ela não é assim! – Gira em si mesmo, com as mãos atadas na cabeça e um ar desesperado. - Não era assim, mas tornou-se! Mudou, afastou-se de todos os que mais gostavam dela, é uma menina rebelde e difícil! - Leva-me até ela, por favor!

17


Toca o telemóvel de Miguel, que atende rapidamente. - Sofia, imagina só quem aqui está? - Diz-me tu! Adivinha não sou, com certeza! - O Pedro! Veio de visita e já lhe contei tudo! Vou levá-lo ao hospital agora! Querias dizer-me algo? - Óptimo! Queria contar-te que a dona Gídia me ligou a dizer que do hospital lhe avisaram que haveria notícias, para se deslocarem até lá! - Vamos para lá agora! Até já! - Até já!

18


IX Miguel e Pedro chegam ao hospital e encontram os pais de Rosa já na sala de espera, aguardando o médico para saberem informações. Entra também Sofia. - Então, que novidades são essas? - Ainda não sei de nada, querida. – diz dona Gídia, ansiosa – Olha, vem ali o senhor doutor! – dirige-se a ele e pergunta – Doutor, que tem a me dizer sobre a minha filha? Porque me pediu para vir assim de repente? - Tenha calma! Todos o rodeiam para ouvir. - A Rosa deu um primeiro sinal positivo esta manhã. Mexeu a mão direita em aviso ou pedido. Caíu uma lágrima quando perguntei se me ouvia. Nada mais conseguimos até agora, mas já é um bom indício! - Claro que sim, doutor! – afirma Sofia – Obrigada por tudo e mantenha-nos sempre informados! - Com certeza! - Obrigada, senhor doutor! – dona Gídia, respirando melhor. - Fique descansada! – e seguiu para o gabinete de consultas. Sofia apresenta Pedro aos pais de Rosa e diz-lhes que gostariam de poder ver a doente. Dirigem-se a um enfermeiro que passa e pedem autorização de visita, que lhes é concedida, mas por breves instantes, para não perturbar o equilíbrio emocional que a Rosa possa estar a sentir, mesmo que temporariamente. - Primeiro entram seus pais e depois os amigos! – afirmou o enfermeiro de serviço. Os pais, comovidos, apenas conseguiram estar à entrada, junto à porta, com um sorriso escondido e lágrimas amedrontadas com a reação que pudessem suscitar na filha. Foram uns curtos dez minutos, sem palavras nem ações. O quarto de hospital tinha um aspeto limpo, arrumado, paredes de cor azul clara, cama no canto direito com uma mesinha e um armário pequeno do lado direito desta, uma televisão apagada mesmo à frente, aquecimento central, um lavatório branco com toalha da mesma cor e um frasco de sabonete creme desinfetante com cheiro a morango. O chão plastificado em tons acastanhados, brilhava de tão desinfetado.

19


Seguem-se os amigos a visitar Rosa. Entram e encaram a jovem num dormir profundo e silencioso. Está ligada a uma série de tubos e máquinas, num controle total de vida. Pedro fica apreensivo com a situação e aproxima-se mais da cama. Pega na mão de Rosa e sente-a muito fria. Nada mais consegue dizer nem fazer, ficando estático por minutos. Os outros observam e sorriem entre si. A partir deste dia, Pedro não mais quis voltar a sair daquela região. Passou horas e horas naquele hospital, esperando um momento feliz do abrir dos olhos de Rosa. Sempre que entrava no quarto, pegava na mão da pessoa que, ao fim de tanto tempo e de tantas dificuldades e controvérsias da vida, afinal descobrira que afinal, o seu sentimento por ela era verdadeiro e intenso. Sempre que se despedia até ao dia seguinte, beijava sua mão de uma forma doce e com lágrimas correndo o rosto. Falava com ela, declarava seu amor, na esperança de ser ouvido. Talvez fosse mesmo! Um dia, até conseguiu ver vestígio de uma lágrima no cantinho do olho direito de Rosa. Os poucos momentos que Pedro tinha livres, dedicou-os à procura de um novo emprego, que encontrou ao fim de uma semana. Iria voltar para a biblioteca da universidade, mas desta vez como orientador executivo da mesma. Encontrou um cantinho simples para viver, alugado e com um aluno da universidade para repartir as contas. Nestes momentos complicados, nada o faria mais mover dali. Estes momentos ternos chegavam a ser observados pelos pais de Rosita, fazendo de seus corações cada vez mais molengões quanto ao verdadeiro sentimento do rapaz, pela menina das saias.

20


X Outro susto! Passados mais dois meses de coma, repete-se um sinal de vida em Rosa. Desta vez aperta ligeiramente a mão de Pedro. Suave e calmamente, abre os olhos. Pedro, numa reação imediata, levanta-se da cadeira onde permanecia tempos infinitos, arregala os seus olhos intensos de vontade de gritar de alegria. Sorri perante o olhar indefeso de Rosa e é-lhe retribuído um sorriso terno, mas sem forças. - Não digas nada! Sorri, mas não digas nada! Estou aqui. Estive aqui desde que soube de tudo o que se passou. Chora, mas de felicidade. Rapidamente vai chamar uma enfermeira que por ali passava no momento. - Ela voltou! Ela está viva de novo! A enfermeira responsável manda chamar o médico no ativo. Quando este chega, pede para fazer os exames necessários, para saber a evolução da recuperação da menina. Entretanto Pedro liga aos amigos e familiares dela, avisando do sucedido. Uma novidade que os levou de imediato ao hospital, esquecendo os estudos ou o trabalho. Após mais de duas horas, finalmente chegam os resultados dos exames. Apesar de algumas pequenas mazelas, fruto dos problemas iniciais de saúde e também pelo facto de estar deitada tanto tempo numa cama de hospital, o médico revelou uma sensação de alívio ao divulgar aos pais e amigos de Rosa, o estado saudável em que se encontrava no momento. De qualquer modo, achou por bem, impor regras de alimentação e repouso absoluto durante as próximas semanas, marcou novos exames para um mês depois. Mas o mais importante foi, quando finalmente, a moça pôde falar com os pais e amigos. Estes puderam entrar no quarto e vê-la a sorrir. Aquele sorriso da manhã de todos os dias, de quem observa os passarinhos a cantar nos ramos das árvores, daquele sentimento especial de estar de volta, de ter todos os que ama à sua volta e poder dizer “Estou aqui”. A emoção era geral e inesquecível. Foram ainda uns dias de repouso no hospital, mas depois foi-lhe dada a alta médica a tempo de passar o aniversário dela em casa. Isso deixou a todos uma felicidade extrema. Decidiram preparar um… dois em um, uma receção de boas vindas e um aniversário, em tons de festa. De bolos a cartazes, de balões a poemas

21


escondidos, de prendas a música ambiente. A irmã Selma foi a organizadora, porque queria sentir-se útil e mostrar desta forma, a vontade que tinha de rever a mana das saias voltar a casa. - Quero mostrar a minha capacidade de construir e de criar algo exclusivo para a Rosita. Ela passou por muito e merece! – contou ela à mãe, num desabafo, um dia antes da irmã voltar. - Mostra a tua garra e felicidade! – apoia a mãe. Chega o dia. Rosa entra em sua casa com um sorriso e uma beleza originais. Os olhos brilhavam de tanta felicidade. Encara com um grupo de pessoas alegres querendo abraçá-la. Aos poucos cumprimentou toda a gente, deixando para o fim o amor de sua vida. Isto porque ele, propositadamente se afastou até ao piano antigo, sentou-se no banco de cabedal e começou a tocar uma pequena peça de piano, dedicada exclusivamente à sua amada, que de sempre merecia e não chegou a receber na altura que devia. Ela sentiu-se tão comovida que até parecia ter esquecido tudo o que a rodeava. Sentou-se ao colo de Pedro e beijou-o intensamente. Sem muita agitação mas com a alegria suficiente, festejaram, divertiram-se e, algumas horas depois, achou mais correto descansar. Mas antes, mais um beijo a Pedro, agora de despedida. A concordância foi geral e ela dirige-se para o quarto, aquele que ela deixou há tanto tempo atrás. Observou cada cantinho do seu espaço e percebeu que continuava tudo na mesma. Até as fotografias da universidade estavam expostas no placard de sempre. Apenas um pormenor que desconhecia, uma foto de Pedro em tamanho pequeno e de cor sépia, na sua mesinha de cabeceira esquerda à cama. - Mãe, como aquela foto veio ali parar? - Querida, o Pedro mostrou o sincero afeto e carinho que tem por ti. Mostrou o amor intenso não te deixando sozinha nos momentos mais importantes. - Isso não responde! - Foi-nos dito, a mim e a teu pai, o que se passou entre vocês dois, antes de ele ter ido embora. Chegámos à conclusão de que nada vale estar contra o que é demasiado evidente. Foi ideia de teu pai em pedir a Pedro uma foto e colocar aí. Espero que gostes! - Adorei mãe! Obrigada! – abraçou a mãe, mais uma vez comovida. - Agora descansa. Está mais do que na hora! – saindo do quarto – boa noite e até amanha! E não te esqueças de chamar sempre que precisares! E sabes que a partir de agora tens de descansar muito para recuperar! - Tudo bem, não esqueço. Até amanhã!

22


XI Pedro já tinha ponderado permanecer por ali e agora decidira de vez. Queria manter-se perto da amada Rosita, queria apoia-la em todas as circunstâncias da vida, queria mostrar o seu amor por ela e leva-la de encontro àquela felicidade que ela mostrava quando a conhecera. Precisava também de a convencer a voltar aos estudos e terminar o curso universitário, pois pouco faltava para tal. A Rosa passou a ser a sua flor desabrochada e de um cheiro suave e doce. Com o tempo, os dois apaixonados foram vivendo esse amor intenso, com declarações e surpresas. Uma dessas surpresas foi um jantar especial à beira mar, com direito a luz de velas e candelabros. Ao fim de alguns meses, Pedro celebra seu aniversário em casa da família de Rosa, a pedido dela e de seus pais. Nesse mesmo dia, tomou a iniciativa de, mais uma vez, surpreender Rosita com um pedido oficial de namoro e um anel de prata dourada com dois pequeninos brilhantes de zafira. Como já era, de facto, um relacionamento longo, de pedido de namoro aprofundou a um pedido de casamento. A admiração foi geral, mas a alegria de rosa foi suficiente para ele perceber o sim nos seus olhos a brilhar de maresia. - Sim, claro que sim! – Afirma Rosa com um sorriso abrasador. – Só vamos esperar mais um pouco, quero completar os 22 anos, pode ser amor? - Por mim tudo bem, mas qual é a razão? - Quero acreditar que não é um sonho e como sou crente em capicua e falta pouco para la chegar… - Claro! – Sorriu, mesmo não acreditando nessas superstições. Naquele momento, nasceu uma alma nova no seu corpo. O seu coração voltou a mostrar quem era Rosa há uns anos atras, feliz, aos saltos na cama, com a música nas alturas. O jovem Pedro sentiu uma luz vibrar dentro do seu coração, reviveu o passado feliz, aquele passado que ele sempre escondera. Foi uma criança feliz, mas quando seus pais partiram para o estrangeiro, ele viveu tempos difíceis e, por si só, lançou-se à vida. Encontrou apoio numa amiga de infância, o seu primeiro amor, que tragicamente acabou num acidente de viação. Foi nessa altura que decidiu mudar de vida, estudar Gestão Bibliotecária em Faro e procurar emprego em regiões como esta de Coimbra. Foi assim que encontrou Rosa, foi assim que ao fim de tanto tempo

23


descobriu o verdadeiro amor, um misto de sentimentos que o levaram a agir desta forma tão arrebatadora. Esta história da vida foi contada ao pormenor à sua amada, que aceitou e tolerou, prometendo todo o apoio possível.

24


XII Depois de alguns meses de preparativos e organizações, chegou o dia do casamento. Os dois sentiam-se orgulhosos de combater as dificuldades e chegar à felicidade extrema. Mas também se sentiam nervosos com o dia especial que estava a começar. A igreja estava decorada com cores brilhantes de rosas vermelhas viçosas, que rodeavam o altar e a entrada principal, envolta em diversos verdes resplandecentes. Mas não deixava de estar simples, como a Rosita sempre desejou. Os 20 anos de Pedro mostravam já a maturidade dos seus sentimentos. De fato cinza escuro, camisa branca, gravata de um tom avermelhado, cabelo curto esticado para trás e sapatos de lustro pretos, foi o primeiro a chegar â beira do altar da igreja de Nossa Senhora do Carmo, não fosse a tradição. Rosa, já com 22 anos feitos, quando entrou na igreja, acompanhada de seu pai pelo braço, um casalinho de crianças na sua frente com uma pomba e aliança cada um, e sua mãe e irmã atrás, sorridentes e esplendorosas. Seu vestido era invejado pela sua simplicidade e deslumbramento. Simples, brocado branco com pequenas rosinhas vermelhas do peito e na cintura, comprido, com um véu transparente branco. As mesmas rosinhas enfeitavam o toucado superior e o ramo. Os olhos brilhavam de alegria, mas quase deixavam sair uma lágrima de emoção. Para convidados, nada mais do que as respetivas famílias e amigos íntimos da vida de cada um. A festa foi caprichada como seus pais também fizeram questão, mas com o cuidado de fazer entender as pessoas de que não haveria lugares sentados. Mesas recheadas de salgados, assados e doces. O bolo de noivos, quiseram-no muito simples, massa branca e com uma grande rosa vermelha adocicada, no centro. Nada de danças, disse ela, preferia uma música ambiente muito suave. O seu ramo, ao contrário das tradições, foi oferecido à sua irmã que, mesmo mais velha e solteira, ficou muito comovida. As núpcias, ambos preferiram guarda-las para mais tarde, por questões de trabalho, porque ele continuava na biblioteca da universidade e ela tinha começado recentemente numa pequena empresa de restauro arqueológico, na função de museologia. Mas ficou clarificado que daí a cerca de 2 meses iriam uns dias ao Egito.

25


Mesmo antes da celebração, já tinham programado as suas ideias para escolher um espaço para viver e como decora-lo. Pois bem, encontraram um apartamento mesmo à medida: 3 quartos, um deles transformado em escritório e outro com casa de banho privativa, cozinha de balcão, arrumos, sala comum e mais duas casas de banho, uma de serviço. As paredes em tons de branco e cinza, sendo que na sala haviam um estilo de riscas finas vermelhas e pretas numa parede branca, e no quarto uma das paredes apresenta uma pintura rupestre, mesmo ao jeito da arqueóloga. A decoração é totalmente moderna e simplista, mas com muita cor e vida, com formas metálicas de prateados. As cortinas são todas transparentes mas de cores fortes, desde os laranjas aos azuis, acompanhando os sofás pretos e as colchas vermelhas. As madeiras escuras das mobílias em contraste com as claras dos chãos e dos tetos. As casas de banho todas em tons de brancos e verdes claros refrescantes, porque a Rosa sempre gostou de claridade. A luz, quer natural ou artificial, era intensa por todo o espaço. Enfim, imensas ideias cristalizantes para criar um espaço ao gosto dos dois, espaço este que se encontra para os lados da quinta da tia Dália, Zarpanas. É um lugar sereno e verdejante, próximo da cidade, mas totalmente equilibrado visualmente.

26


XIII Ao fim de quase um ano e meio, Rosa engravida e meses depois nasce uma menina de olhos azuis como a mãe e escassos cabelos alourados, como os do pai. De nome Susana, dedicado à avó paterna, cresceu delgadinha e mimada por todos. Entretanto, Pedro consegue trepar no posto de trabalho e chega à organização curricular bibliotecária, enquanto Rosa instala a sua própria empresa de conservação e restauro de peças arqueológicas e mundanas, isto depois do seu fascínio e sonho tornado realidade, ao ver ao vivo o túmulo e sarcófago de Tutankamon e as pirâmides de Gizé, no Egito. Selma conheceu seu par no jantar de inauguração da empresa da irmã e, ao fim de 1 ano de namoro, casaram, já a sobrinha estava quase a comemorar 3 anos. dona Gídia, mãe delas, sofreu um enfarte logo após este casamento, tornando-a incapaz de andar e falar, mas sempre com um sorriso por ver as filhas felizes. Por sua vez, o pai Rui, foi sempre o mais presente e apoiante em todas as situações. Pedro e Sofia, incontornável e surpreendentemente, de amigos passaram a namorados e ambos ficaram a trabalhar na empresa de Rosa. O romance vivido entre Pedro e Rosa formou história entre os amigos e família, pela forma como se desvendou. A sua felicidade fez inveja a muita gente, pelo sorriso contagiante e os olhares constantes entre os dois. Tudo começou com um catrapiscar de olhares que levou a um amor intensificado pelo destino.

27


28


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.