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CACILDA TANAGINO
AO TOQUE DE UM OLHAR
1ª Edição 2016
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Título original: Ao toque de um olhar. Diagramação:Thiago Carvalho Design de capa: Cildinha_may Imagem: licença:CCO Public Domain/FAQ www.pixabay.com Revisão: www.ortografa.com Publicação Eletrônica: Clube de Autores Publicaçãoes S/A. 1ª Edição 2016 Contatos com o autor : tanaginoc@gmail.com ©2016 by cacilda Tanagino Todos os direitos reservados ao autor. Proíbida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Todos os livros no Clube de autores são de responsabilidade editorial e legal dos usuários que os publicam, sendo o papel do site exclusivamente de permitir a publicação e de comercializar e entregar as obras adquiridas pelos leitores. Atendimento e venda direta ao leitor: https://www.clubedeautores.com.br Esta é uma obra de ficção, nomes e situações ocasionalmente podem levar o leitor a fazer algumas comparações, todavia, apesar de algumas semelhanças com o cotidiano, os personagens encontrados nesta história são apenas alusões a pessoas reais e nenhuma das situações e personalidades aqui encontradas refletem a realidade; esta é apenas uma criação de propriedade intelectual do autor, não são descrições da vida real. Esta obra contém cenas de sexo explícito, a leitura não é aconselhada a menor de 16 anos, salvo a supervisão de um responsável. Esta obra não tem o intuito de ofender crenças e tão pouco fazer apologia ao sexo sem-compromisso. Mediante a este aviso à autora exime de qualquer responsabilidade de ofensa ou mesmo de mudança de comportamento de alguns leitores.
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Nota da autora
Olá meus queridos leitores, novamente estou aqui, sonhando com vocês mais uma história de amor. Quando idealizei este projeto pensei exclusivamente em vocês, principalmente nas pessoas que desde o primeiro livro, vem acompanhando meus passos. Como nos outros livros, esta história também se passa nos Estados Unidos, o motivo para que seja assim, não é por falta de nacionalidade, mas retratar outros horizontes é uma liberdade que cabe apenas aqueles que sonham. Este projeto vem contar a vocês a história de Demétrius e Charlie. Demétrius e Charlie viveram um romance ardente ainda na adolescência, porém, mesmo apaixonado Demétrius abandonou Charlie para realizar seu projeto de se tornar um homem público. O tempo passou, ele se tornou um renomado promotor de justiça, mesmo com sua vida conturbada pelo trabalho as nuances de Charlie assombravam os sonhos de Demétrius, o peso na consciência não deixava ele em paz, até que em uma tarde, em um tribunal na Califórnia os dois voltam novamente a se ver. E o mundo de Demétrius desmoronou. A garota de cabelos vermelhos ainda era dona de seu coração, Charlie havia se tornado uma mulher. Uma mulher linda e cheia de propósitos, e para o desespero de Demétrius descobrira que ela era uma mulher casada. Demétrius precisava lutar novamente para conquistar o coração de Charlie, mas um segredo afastava Charlie de sua vida. Ele não iria descansar enquanto não soubesse que segredo era aquele. Por outro lado, Charlie ainda amava Demétrius, mas o sofrimento que ele causou em sua vida não podia ser apagado apenas com um sorriso, ela queria fazê-lo sofrer, porém seu coração novamente a traiu. Ao ser beijada por Demétrius descobriu que não poderia viver sem o calor que emanava daquele homem. Ela precisava respirar novamente o mesmo ar que ele. Mas o segredo que guardava a sete chaves não poderia lhe ser revelado, a não ser que uma manobra do destino viesse mudar totalmente a história para os dois. O toque de um olhar revela um romance ardente cheio de controvérsias e contratempos, dois personagens fortes que lutam por suas ideias paralelamente ao amor que sente um pelo outro.
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"Nada neste mundo nem no outro, pode nos separar. O tempo é sempre curto demais para quem precisa dele, só que para os amantes ele dura para sempre. Não pense separadamente nesta e na próxima vida, pois uma dá para a outra a partida." Rumi.
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A vocĂŞ, por ser esta pessoa linda, que sempre me faz sorrir nas horas em que quero chorar. Meu querido e eterno amor.
Prólogo
Quando cheguei a Great Falls em Montana, tinha apenas dez anos, não
sabia da existência desta cidade e tão pouco conhecia a história de meu pai, muito menos imaginava que poderia existir em algum lugar do meu passado a existência de um pai. O pai que nunca conheci e que falecera muito antes de minha mãe supor que estava grávida. Chegamos à pequena cidade para ficarmos apenas um mês, mas um mês se tornou um ano e um ano se tornou dez e quando percebemos já estávamos mais do que enraizados na pequena Great Falls. Muitas coisas na minha vida mudaram depois que viemos viver com meu avô. Antes disso, minha mãe e eu vivíamos mudando de um lado para o outro, sem-muita parada. Infelizmente, ela tinha o dedo podre para a escolha de seus parceiros. Todos, dos quais me lembro, eram sempre violentos e beberrões. Ela vivia com os olhos e os lábios inchados devido aos maus tratos que recebia de seus parceiros. Isso perdurou por toda minha infância até que um belo dia, depois de brigar violentamente com seu parceiro número seis ou sete, ela decidiu fugir, saímos apenas com a roupa do corpo e as economias que ela conseguiu guardar para alguma emergência, como essa. Então, viajamos por uns cinco dias cortando o estado; em algum momento da viagem chegamos a dormir no relento como também alimentávamos apenas nas paradas que encontrávamos pelo caminho. Por incrível que apareça não me encontrava triste, estava aliviada, minha mãe havia tomado uma atitude, finalmente estava cumprindo com a palavra dada a mim tantas vezes. Ao fugirmos descobri um novo sentimento brotar em meu coração, descobri que podia ter esperanças. Antes de chegarmos ao rancho de meu avô em 1983, morávamos em um pequeno trailer, onde tinha uma divisória de compensado que separava minha pequena cama de minha mãe. Tínhamos um pequeno banheiro que consistia em um vaso sanitário e um chuveiro, não existia um lavatório para lavarmos o rosto e escovar os dentes. Isto? Bem, fazíamos, isto do lado de fora do trailer, no mesmo lugar onde minha mãe lavava a roupa e as panelas. Pensar nisso é deprimente, mas para mim era uma situação normal, minha infância foi em
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meio a total pobreza. A nossa sala e a nossa cozinha eram o mesmo ambiente; digo isso, porque tínhamos uma pequena mesa que ficava embaixo da janela, a televisão ficava em uma prateleira acima da janela do lado da mesa; em frente à mesa se encontrava o pequeno fogão de duas bocas, além dos poucos talheres e vasilhas, haviam quatro bancos que ficavam em torno da mesa vermelha. Eu odiava a cor daquele trailer, por fora era todo encardido, por causa da ferrugem e por dentro, além da cor vermelha, tinha um revestimento de parede que imitava madeira. No verão, quase morríamos de calor e no inverno, bem, nem preciso dizer, você pode imaginar o quanto era gelado. O aquecedor vivia quebrado, contávamos com as fogueiras externas que Billy fazia para assar seus pedaços desprezíveis de carne. Mas era minha casa, morava ali com minha mãe e de alguma maneira ela queria que aquele lugar fosse legal e habitável. Uma das desvantagens de se morar em uma cidade pequena é justamente não ter onde trabalhar, pois as opções são.... Como posso dizer.... Precárias? Hum! .... Insuportáveis, seria um termo mais adequado para caracterizar o serviço de uma garçonete, auxiliar de cozinha ou mesmo auxiliar de agentes de coleta seletiva; salvo aqueles que resolvem terminar o secundário para se casarem ou nem terminarem, como aconteceu com minha mãe. Ela trabalhava como estoquista em um empório agrícola, o dinheiro não era muito, mas dava para sobrevivermos. Enquanto viajávamos, para passar o tempo, ela me relatava algumas coisas sobre a história de amor que teve com meu pai. E para vocês compreenderem a minha vida terei que lhes contar um pouco do que ela me contou... Ela se casou com meu pai aos dezesseis anos, ele era, três anos mais velho que ela. Conheceram-se na infância, a paixão nasceu mutuamente. Ela me contou entre lágrimas que adorava os domingos, pois era o momento de vê-lo na igreja, ela fazia parte do coral, e do altar ficava olhando para ele. O menino de cabelos vermelhos e o rosto cor de ferrugem. Os olhos pareciam duas grandes esmeraldas de tão verdes que eram, ela ficava hipnotizada cada vez que ele a olhava. Essas características peculiares dele foram passadas para mim; filho de um rancheiro, criador de cavalos, morava em uma grande propriedade, embora,
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fosse uma família abastada da pequena cidade, eles não eram arrogantes e muito menos orgulhosos, tratavam a todos com muito carinho e respeito. O tempo foi passando, e a aproximação entre eles foi inevitável, viviam juntos, faziam tudo juntos, e num final de tarde, depois de cavalgarem, acabaram cedendo à vontade e a curiosidade, dando vazão ao desejo, e uma vez só não era o bastante para quem estava com os hormônios a flor da pele. Com isso, não demorou muito para os planos de meus avós irem por água baixo, duas famílias extremamente recatadas e religiosas não podiam deixar os dois jovens se amando pelas pradarias e cachoeiras, não houve jeito, tiveram que fazer o casamento dos dois jovens adolescentes. Meu pai era um proeminente caubói, aprendera montar ainda na tenra idade, o que fez jus a sua ascensão profissional, tornou-se um dos mais jovens campeões de rodeio pelo estado de Montana. Mas sua destreza e seus vários prêmios não o impediram de cair violentamente no alambrado e diante de centenas de olhos partira dessa vida deixando minha mãe sozinha. A partir daquele momento nada mais foi perfeito. A dor foi tão grande que ela juntou seus pertences e foi se embora de Great Falls para nunca mais voltar. Três meses depois de sua partida se descobriu grávida, numa tarde fria do mês de dezembro cheguei ao mundo. E agora estávamos juntas rumo a sua cidade natal onde tudo começou. No final da tarde de junho, chegamos em Great Falls, não descemos na cidade, descemos alguns quilômetros antes, na estrada que dava acesso ao rancho de meu avô, receosa, minha mãe caminhava em silêncio, suas passadas fortes pelo chão empoeirado da estrada durou uns quinze minutos, ou talvez mais um pouco, quando já estava preste a lhe dizer que estava cansada avistei uma casa enorme de madeira sobre uma grande rocha arredondada, a casa era acolhedora, porém, parecia que estava abandonada. As janelas estavam empoeiradas e alguns vidros quebrados, a porta também estava fora do lugar, à impressão que se tinha era que alguém chutara a porta com toda violência do mundo, um arrepio percorreu meu corpo. Acreditei muito cedo na palavra esperança. Apertei a mão de minha mãe demonstrando meu pavor, porém ela se manteve firme, e sorriu para me dar conforto, então ela chamou pelo nome que supus ser de meu avô:
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— Mitchel! Mitchel! - Minha mãe chamou mais alto enquanto seguia o entorno da casa. — Ei Mitchel! Onde você está? — Quem chama? Eu... – Em nossa frente estava um velho sisudo e desconfiado olhando em direção a minha mãe. A impressão que tive que ele não acreditava no que seus os olhos estavam vendo, mas depois de alguns instantes de hesitação, ele percebeu que a mulher a sua frente era a viúva de seu filho. Então com uma voz grave e rabugenta perguntou com aspereza: — O que é que você quer por aqui? Meu coração disparou. Minha mãe também tremia, então, ela olhou para o homem de tez pálida, seu olhar era melancólico e profundamente desbotado, cabelos brancos e feições amarrotadas. Eu o olhei com receio, estava vestido com um macacão jeans, e uma camisa xadrez, seu chapéu estava amassado e muito empoeirado, trazia um cigarro na boca, e nenhuma paciência no olhar. — Mitchel, me perdoe por aparecer assim sem avisar.... Eu.... Eu não tinha para onde ir.... Pensei em você, não está me reconhecendo???? - O velho nos olhava, com desconfiança, porém minha mãe continuava: — Sou eu. Audrey.... Não está me reconhecendo? -O velho levou um tempo para responder, ainda nos observando quase desacreditando no que via, então depois de uns minutos de suspense ele respondeu inquisidoramente a minha mãe: — Audrey. Depois deste tempo todo de ausência. Não quero acreditar, que você resolveu aparecer do nada em minha casa. Mas meus olhos estão me mostrando.... É você mesmo.... Por onde você andou? Por que você foi embora? Sua dor não era menos ou mais que a minha? Eu perdi meu único filho, minha dor ainda está aqui - ele bateu no peito com força -, estou ainda mais dilacerado com o passar dos anos. Você foi muito egoísta ao partir. Fiquei muito magoado com sua atitude. Mas agora que está aqui, não sei o que lhe dizer. As coisas por aqui ficaram muito ruins depois que Charlie se foi... E depois teve a Charlotte, ela não suportou ver minha dor e a minha bebida e como você partiu sem dizer nada.... Agora ela está casada com outro morando no Canadá. Ele concluiu, enquanto me olhava, me analisando. Então algo nos olhos dele iluminou e ele perguntou quase que em desespero por ouvir a resposta. — Quem é esta menina? Não vai me dizer que ela é sua
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filha? Minha mãe olhou para ele e depois olhou para mim, e em seguida lhe respondeu: — Ela é nossa Mitchel. Ela é filha de Charlie. — Filha de Charlie, mas como? Você não nos disse nada. Você estava grávida e ficou em silêncio, talvez se tivesse dito a história poderia ter sido diferente para todos nós. Foi-se e a levou de nós? Por quê? E agora aparece assim. O que você ainda quer de mim? Já não tenho riqueza, nem sou mais o grande criador de cavalos. Olha a sua volta, está tudo destruído. Não tenho força para tocar a propriedade, e que dirá mantê-la aqui. Ele olhou para ela não com raiva, mas com muita mágoa, e com certeza ao olhá-la no rosto viu os hematomas no canto dos olhos e no queixo. — É muito complicado. Não fique zangado comigo e nem me condene pelo meu silêncio, eu também... só fui saber que estava grávida um tempo depois que parti. Depois não pude voltar, porquê nunca tinha dinheiro o suficiente. — E agora você tem? Agora? Depois destes anos todos, você me aparece aqui desfigurada com uma menina que eu nem sei se posso realmente ter certeza que é minha neta. Você sabe o que está me pedindo Audrey? Explodiu o velho. — Perdoe-me, jamais quis magoar você ou qualquer outra pessoa na minha vida, mas como você também fui condenada, também fiquei semCharlie, também perdi o sentido da minha vida até que descobri que carregava em meu ventre um pedaço da única pessoa que me fez feliz. Aquelas palavras devem ter sido um murro no estomago do meu avô, pois ele ficou mais pálido e com o chapéu em torno das mãos tremulas se dirigiu a mim: — Como é seu nome menina? Ele me perguntou ainda com aspereza na voz e eu lhe respondi: — Meu nome é Charlie Robson. — Charlie? Mas isso é inapropriado para uma menina. — Na verdade meu nome é Charlotte, mas minha mãe me chama de Charlie desde pequena. Ele sorriu, de repente aquele velho rabugento transformou a face amarrotada em um sorriso quase igual ao meu. E eu amei aquele sorriso.
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— Qual a sua idade Charlie? — Tenho 10 anos. — Também chamávamos sua avó de Charlie. É... Gostei muito de seu nome. E desamarrando os entraves do primeiro encontro com minha mãe, ele relaxou e estendeu as mãos em direção à porta de entrada da casa. — Venham. Vocês devem estar exaustas. Audrey; não sei quais são os seus planos para o futuro, se é que você tenha feito algum, mas quero que saiba que aqui é seu lugar, sempre foi, fique quanto tempo quiser. A casa não está muito bem, depois que Charlie partiu, desgostei de tudo. Vendi os cavalos. Minha mulher foi embora... Bom.... Enfim, chega de histórias. Vamos! Venham.... Podem ficar no quarto que foi de Charlie, acho que é o único lugar da casa que ainda está intacto. E foi assim que tudo começou... Os anos passaram. Em pouco tempo minha mãe fez com que a casa se tornasse habitável novamente, um mês depois de nossa chegada, ela já havia arrumado emprego na cidade e eu havia me matriculado na escola. Na medida em que crescia ia fazendo amigos e me tornando popular entre eles, meu avô aos poucos foi adquirido confiança e com a ajuda de alguns amigos voltou a criar cavalos meses depois de nossa chegada minha mãe encontrou-se com Greg, ele era o xerife da cidade, os dois começaram um relacionamento tão logo já estavam morando juntos, meu avô o conhecia, a chegada de Greg no rancho foi algo muito positivo pois, ele tornou-se um forte aliado de meu avô na criação dos cavalos, então fui para o ensino secundário. Já no primeiro dia de aula conheci Demétrius, o arremessador de ouro do nosso time de beisebol. Durante meses curti uma paixão secreta por ele, até que um dia ele me viu na equipe de torcida. E secretamente começamos a trocar torpedos e logo em seguida já estávamos cavalgando pelas planícies de nossas terras. Como eu, ele adorava cavalgar, por ele teria se tornado um caubói, mas seu pai não permitiu, queria que ele fosse um político. Mas enquanto isso não acontecia aproveitávamos o nosso tempo. O tempo que passou muito depressa, então veio à formatura e consequentemente a vaga tão sonhada em Harvard saiu para Demétrius, ele ficou maravilhado com a sorte que teve, posso dizer que nunca tinha visto tanto entusiasmo assim, que acabei aceitando seu convite para ir ao
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baile de formatura, se eu soubesse tudo que iria acontecer depois daquele dia jamais teria aceitado seu convite. Na noite da formatura, depois de alguns ponches batizados com vodca, não resisti aos seus apelos e me entreguei, sem-nenhuma reserva, semnenhum encantamento deixei me levar. Entreguei minha virgindade em uma bandeja de prata bem embaixo do palco, encostada na parede dura e áspera, com um barulho ensurdecedor da música. Sem romance, sem-luz de vela, semchampanhe, mas estávamos bem, estávamos apaixonados, apaixonados? Não! Corrigindo: Eu estava apaixonada. Eu sabia o que estava fazendo. E ele? Bem... Depois de me deixar em casa, todo constrangido por termos ido além do necessário, ele me beijou apressadamente e saiu quase que correndo de perto da minha casa, mais tarde um torpedo de agradecimento surgiu em meu celular: “Obrigado Charlie, nunca vou esquecer essa noite”. Apenas um beijo e nenhum adeus. Partiu sem fazer promessas. Não chorei, não me desesperei, porém, fiquei realmente arrasada, quando descobri que a nossa noite havia me deixado grávida, não por mim, mas por aquela criança que não tinha sido planejada, não tinha sido amada. E nem esperada. Gerada por dois adolescentes sem juízo e com grandes sonhos para o futuro, um futuro pelo qual não havia lugar para aquele pequeno ser. Fiquei desorientada no princípio, aquela novidade me tirou o chão e pela primeira vez na vida pude avaliar os sentimentos de minha mãe ao se deparar, grávida de mim. Decidi procurar por ele, mas vão consegui comunicar-me. Tentei falar com o pai dele, também não tive nenhum sucesso. Depois daquela noite de formatura, nunca mais o vi e tão pouco tive notícias. Por conta disso, minha família tomou todas as providências a respeito de minha gravidez, decidiram que eu deveria ter o bebê, decidiram que eu me afastaria da escola até ele nascer e depois retornaria para meus estudos, noites exaustivas de conversas e preparação, então numa noite fria, estava eu sentada em frente à lareira da grande sala, meu avô sentado em sua poltrona de costume, olhou para mim e me fez prometer que jamais deveria dizer a alguém quem era o pai de meu bebê, este segredo estaria solenemente guardado dentro daquela sala. Assim, ainda duvidando da minha própria vontade, prometi ao meu avô que teria
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meu filho e que continuaria com meus estudos, mesmo sem ter certeza do que realmente queria, cumpri com minha palavra. Anos mais tarde, depois de formada, comecei a trabalhar para um escritório na Califórnia, então numa tarde de correria entre departamentos e cartórios eu vi Demétrius, eu o reconheci quase que imediatamente, ele estava acompanhado de uma morena estonteante entrando na sala ao lado de onde eu estava, pela primeira vez na minha vida senti-me pequena, escondi-me, e fiquei observando no homem que ele havia se transformado, ele mantinha o mesmo rosto da adolescência, porém os traços agora eram mais fortes e definidos, estava mais forte, sua aparência era notadamente a de um homem decidido e de sucesso, ele emanava uma força que fazia qualquer mulher rastejar aos pés dele. Fiquei imaginando inúmeras coisas, mas aí o vi sorrindo, e vi quando ele colocou a mão estrategicamente nas pernas da acompanhante, vi bem a mesma malícia que me seduziu anos atrás. Quis morrer, foi muito dolorido vê-lo se derretendo com outra. Então, depois de tantos anos, pela primeira vez chorei por causa daquele homem, coloquei para fora toda minha raiva, minhas mágoas. Lágrimas quentes lavaram meu rosto. “Como fui tola e inocente. Como pude imaginar que entre nós havia amor.... Acreditei nas palavras de Demétrius cegamente. E tudo que ele fez, foi apenas um jogo de sedução. Um jogo sujo e cruel”. Fiquei assim por um tempo, mais tarde depois de secar minhas lágrimas decidi que precisava voltar para a casa, aquela cidade se tornara insuportável, o ar me sufocava, o brilho me ofuscava, o ar me lembrava do perfume da mulher que ocupava um lugar que poderia ser meu. Precisava voltar. Afinal, minha família estava em casa esperando por mim, e meu filho também, embora não o tenha criado, minha mãe e meu avô cuidaram da educação dele e desde a tenra idade sempre o fizeram saber da importância de minha existência na vida dele. Então, todas as férias, todos os feriados, meu destino era Montana para ficar junto de meu bebê. Desde pequeno, meu filho sempre foi muito amoroso e meigo, sempre se dirigiu a mim por mãe, isso sempre me fez muito feliz. Talvez, a existência de meu filho tenha sido a razão de meu empenho na área profissional e também pessoal. Então, decidida a ir para casa fui para o aeroporto de Sacramento. Já estava no saguão de
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embarque, quando fui surpreendida por Edmund S’inclair, ofegante ele veio até mim e me impediu de embarcar. — Charlotte! Graças a Deus te encontrei. — Edmund? O que faz aqui? Você não havia embarcado para o Caribe? — Eu ia, porém, resolvi ligar para seu escritório então me disseram que você estava partindo. Eu não poderia deixar você partir sem antes lhe dizer o que preciso. Por favor, ouça-me e se você ainda achar que precisa ir embora. Eu vou entender, mas não deixarei de lutar por você. — Edmund... Não seja precipitado, você tem seus compromissos com o País, sei que você ama o que faz... — Mas amo muito mais você. E se para ficar com você é preciso desistir de meus sonhos, eu declaro a ti neste instante que desisto em nome do amor que lhe tenho. Abro mão de minha carreira militar, mas por favor não vá, quero ficar com você, quero ser seu marido. — Edmund... Eu.... Não sei o que dizer. Você me pegou de surpresa. Eu... — Não diga nada. Apenas aceite. Charlotte Robson aceita ser minha esposa para que eu possa te amar e te respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de minha vida. Olhei para aqueles olhos profundos, aquele rosto marcado por um vinco no meio da testa e então olhei para suas mãos. Alguns segundos ou um pouco mais que isso, me fez pensar naquela situação. O que significava viver com Edmund? Ele sempre foi tudo aquilo que nunca pensei em ter. Melhor dizendo, pensei em ter sim, mas com outra pessoa, de amigo querido se tornou o melhor dos amantes. O conheci no final da faculdade, ele ainda era um jovem “aspirante-oficial” da Força Aérea, tinha o porte atlético, braços e pernas bem torneadas por músculos firmes, não era muito alto, tinha menos de 1,80m. Louro e de olhos escuros, tez muito clara, tão clara que o sol não o bronzeava o deixava vermelho igual a um tomate, mas Edmund possuía uma qualidade que eu amava, aqueles olhos negros que me olhavam profundamente cada vez que me encontrava transmitiam paz, segurança e confiança, três qualidades que meu avô sempre me dizia que devia encontrar nas pessoas, as outras coisas
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seriam complementos, mas a principal era a honestidade. E Edmund era muito honesto em tudo que fazia. Quando ele chegou em mim no aeroporto, pensei que estivesse brincando, então, ele me mostrou o anel, fiquei sem respirar por segundos.... Quanto tempo, estávamos juntos? Não conseguia me lembrar, nunca falamos de namoro e muito menos de formalizar nossa relação. Ali estava ele emocionado e com os olhos marejados me pedindo em casamento. Respirei profundamente ante aquela decisão. Pensei em Demétrius e vi que ele era um sonho de adolescente que não voltaria jamais. Pensei no meu filho e em meu avô, o sonho dele era que eu tivesse uma família. Que eu tivesse um marido para cuidar de mim, e outros filhos para encher aquele rancho de alegria. Coitadinho de meu avô, ele sempre quis a minha felicidade. Olhei para aqueles olhos negros, profundos como a noite e as minhas dúvidas se dissiparam no momento em que aquele meio sorriso me aqueceu. — Sim! Eu me caso com você. Aceitei o pedido. E dias depois, estávamos no rancho em Montana oficializando meu sim diante de minha família e da família de Edmund, foram os meses mais felizes de minha vida, mas nada é para sempre, antes do natal viajamos para a Europa, e depois de um logo passeio pelas ruas de Andaluzia, fomos surpreendidos com um telefonema na noite, novamente fora convocado para o Afeganistão. Já tinha um tempo que ele vinha se esquivando de voltar para aquele inferno, mas não tinha como mudar as decisões de seus superiores. Então, voltamos para casa. Ele arrumou seus pertences em um grande saco de viagem tipicamente usado pelos militares e com o sorriso mais lindo pediu para eu não me preocupar com nada, que mesmo distante estaria cuidando de mim, fizemos amor até de madrugada, ainda estava sonolenta quando ele me beijou e fechou a porta do quarto para não mais voltar. Uma de suas missões tirou-o de mim para sempre. Agora, como forma de agradecimento preciso tirar Brian da enrascada que entrou. Para minha surpresa terei que enfrentar meu passado mais uma vez. O promotor que está conduzindo o processo é nada mais, nada menos que Demétrius Ballinderry. Vou vê-lo frente a frente, antes de voltar definitivamente para casa, antes de voltar para Great Falls.... Estou tão apreensiva, que nem sei se vou dar conta de ajudar meu cunhado. O meu
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pensamento está confuso, não sei o que está acontecendo comigo. Já estava claro que ele era apenas um sonho que não se realizou, já estava claro que ele jamais seria o homem da minha vida, porém, meu pensamento me bombardeava com perguntas sem respostas... como será que ele está? Será que se casou com a morena estonteante? O que mais me incomodava nessa história toda foi o afastamento total que ele tivera da minha vida, ele nunca me procurou, nunca quis saber de minha vida, nem ao menos ligou para desejar feliz natal ou mesmo feliz aniversário. Nada... E eu pensei tanto nele, pensei tanto em lhe contar sobre o que houve conosco naquela noite, pensei tanto em lhe falar sobre Kaleb, o quanto ele é parecido com ele, mas nunca pude dizer nada, e agora, iria olhar nos olhos azuis dele e tratá-lo com a mesma indiferença que fui tratada, será que terei forças? E se ele me reconhecer o que farei? Meu coração está na goela. Em menos de seis horas estarei diante dele. Preciso ir dormir e deixar as coisas rolarem, já repassei os documentos, já estudei as possibilidades de defesa, já fiz minhas anotações, já pensei nas possibilidades de acordo. E escolhi minhas roupas umas duzentas vezes, sei conseguir decidir qual ficará melhor em mim. No fundo eu sei que quero impressiona-lo. Sei que no momento em que eu entrar naquela sala, tudo poderá mudar em minha vida novamente. Agora, é ver no que vai dar...
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Um Demétrius e Aleska
Já passava da meia-noite, quando Demétrius saiu do pequeno pub da rua quase escura de Glen Park em San Francisco, seus pensamentos escorregavam pelas curvas sensuais de Aleska; não gostava de pensar nela, mas naquela noite chuvosa, era a única coisa que lhe perturbava a alma, mas para sua frustração nada disso havia acontecido, então depois de algumas doses de uísque decidiu ir embora. Desceu o quarteirão da rua do pub às pressas, neste momento um arrependimento lhe ocorreu à mente, estava sem seu veículo. Era assim, todas às vezes que ia se encontrar com Aleska, caminhando há mais de dez minutos na avenida deserta, eis que a sorte lhe enviou um taxi. Ele deu o sinal para parar; ao abrir a porta sentiu a temperatura morna do interior do veículo, entrou apressadamente. Após um segundo de silêncio disse ao motorista: — Westwood Park, rua Eastwood, 5210. Por favor. - Demétrius falou com seu timbre baixo e firme. O motorista olhou pelo retrovisor e observou o homem que estava sentado na poltrona de atrás. — Ok. O carro começou a trafegar pelo bulevar Montrey em questão de minutos, logo estaria em sua casa para tomar um banho e dormir e deixar de vez Aleska para trás e dar um novo sentido para sua vida. Desde que chegara a San Francisco, Demétrius se entregara ao trabalho por inteiro, até se deparar com Aleska, em um dos corredores da corte superior do município de San Francisco, estava cuidando de um caso complexo de estupro quando a viu
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passar igual uma brisa suave em uma manhã de outono, foi atração instantânea, ela olhou para ele e sorriu. Seu coração aqueceu, e pela primeira vez desde que saíra de Montana, se viu atraído por uma mulher do mesmo naipe de Charlie, internamente se questionou se não fosse o excesso de trabalho que o estava perturbando ou quem sabe o velho remorso batendo em sua consciência novamente, mas vislumbrar aquela mulher vestida em um tailleur preto com uma camisa branca colada ao corpo foi realmente a melhor coisa que lhe aconteceu em anos depois de Charlie Robson. Quando o taxi o deixou em frente à sua casa, ele caminhou cabisbaixo até o portão, procurando a chave no bolso do sobretudo, ele percebeu que estava tenso e mal humorado, por causa do bolo que Aleska lhe deu, pensou em arrumar uma companhia qualquer, mas um homem na posição dele não podia se dar ao luxo de se misturar aos homens normais, afinal, era um promotor público que estava em vias de ser indicado para a procuradoria, a política e a pressão que vinha sofrendo nos últimos meses o estava deixando com os nervos à flor da pele, afinal não era muito comum um jovem homem ser indicado tão precocemente a uma cadeira da magnitude que era ser um procurador estadual. Desde sua indicação ao cargo de promotor na Divisão Criminal do Departamento de Justiça da Califórnia, não pensava tanto em sua carreira como agora, em pouco tempo de serviço na divisão seu nome passou a ser respeitado como nenhum outro, com inúmeras investigações apuradas e inúmeros processos ganhos o fizeram despontar na Associação dos Magistrados da Califórnia, então em meio a essa corrida frenética de trabalho surgiu Aleska, uma mulher forte e muito sensual, que circulava em meio a todos, desde o mais pobre dos réus aos grandes magnatas de San Francisco.
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O sexo entre Demétrius e Aleska era selvagem e semqualquer sentimento ou pudor. Uma válvula de escape para os dois, não havia compromisso, nem de jantares e muito menos flores. Era apenas sexo por sexo, uma troca favorável e secreta entre uma jovem advogada e um promotor da Divisão Criminal. Ela era estonteante, com quase um metro e vinte de pernas, sem esforço nenhum conseguia mexer com a libido de qualquer pessoa que a olhasse, cabelos castanhos claros, tez morena e olhos de um verde oceano incrivelmente claros. Ela fazia mais o gênero “femme fatale” do que uma mulher séria do meio jurídico; era impossível não ceder aos caprichos profanos daquela mente quase perversa na intimidade, e desde que os dois começaram a se encontrar secretamente, a selvageria e a obscenidade de seus encontros só aumentavam a cada dia; era difícil de acreditar que duas pessoas centradas como os dois, fossem tão insanos em matéria de sexo. Mas agora, depois de tanto tempo, ele sentia um gosto amargo em sua boca, o relacionamento deles já estava cansando-o, os encontros furtivos, as viagens e as madrugadas já estavam perdendo a graça, e de repente em uma tarde, depois de uma audiência lhe ocorreu que Aleska estava apenas usando do prestigio dele para se promover; uma situação perturbadora que estava ganhando uma proporção muito maior que o trabalho que havia realizado até o presente momento. Naquela tarde, depois de uma audiência exaustiva, do nada, ele decidiu que era hora de acabar. Então, em meio a uma audiência e outra, conseguiu deixar um recado em sua caixa postal, mas ela não foi ao encontro e não atendeu a nenhuma de suas chamadas. — Demétrius - Uma voz atrás do pequeno arbusto chamou sua atenção, virou-se para ver quem era e então se deparou com os olhos verdes de Aleska. — Você por aqui? - Ele respondeu surpreso e apressadamente olhou em torno das imediações para ver se não havia ninguém os observando.
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— Vi seu recado agora a noite. Mas meu celular ficou sem bateria. – Ela falou sensualmente, depois percebeu que ele olhava pelas imediações, continuou convidativa: — Não se preocupe. Neste frio, as pessoas querem mais é estar no aconchego de casa ou quem sabe em um quarto. Sorriu languidamente. — Vamos entrar. Ignorando a afirmação dela. — Não lhe disse para nunca vir a minha casa. Finalizou olhando para Aleska. Ela o olhou profundamente e então entrou pelo corredor amplo da sala em granito claro daquela casa, colocou sua bolsa sob um amparador ao lado de uma porta, e atravessou o espaço até o pequeno bar localizado em um dos cantos daquela bela sala, servindo-se de uma bebida, o pequeno copo de uísque brilhava na penumbra, voltou-se para ele e observando-o disse em tom firme: — Eu sei o que combinamos. Mas preciso de sua ajuda, estou em um caso que está demandando uma investigação complexa, e confesso, não tenho meios e nem ferramentas para descobrir o que está acontecendo com minha cliente. E também não estou muito afim de me queimar com os meus sócios. — Mais um daqueles casos mirabolantes entre seu sócio e companhia limitada? — Mais ou menos. Vou ser direta com você. - Disse sem rodeios, enquanto sentava-se de maneira a se impor sua presença naquele ambiente. — Estou falando em trocas de influências, manipulação de provas entre outras, vistas grossas para determinados processos. — E de quem se trata? - Perguntou sério. — Juíza Kimberley e o meu sócio Tony Reids. - Demétrius sentiu seu estômago revirar, ele já havia ouvido alguma coisa a respeito, mas eram apenas suposições, boatos de corredor. — Não acredito no que eu acabei de ouvir. - Falou com voz grave. —Isso é muito sério. — Isso mesmo que você acabou de ouvir. Depois de uma reunião entre os meus sócios fui designada para representar e
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consequentemente defender os direitos da Juíza Kimberly, mas o problema que na medida em que fui apurando os fatos percebi que fui envolvida de propósito em suas artimanhas, e agora estou enrolada até o pescoço. — Em suma. Ela é culpada, mas você terá que fazer vistas grossas sobre isso e provar ao Estado o contrário. — É mais ou menos isso. — Entendo o que isso significa, mas não sei onde você quer chegar com essa conversa. Há muitos meios de deixar outro assumir seu lugar. O escritório de Tony tem outros advogados de nomes tão bons quanto o seu. — Não é tão simples assim. Estou de certa forma a mercê deles. - Ela deu uma pausa avaliando a expressão de Demétrius, e prosseguiu: — Ela sabe de nós dois, e também tem conhecimento do seu interesse pela procuradoria do Estado. E como você está para ser indicado .... - Tomou mais um gole do uísque. — Não tenho meios de sair fora dessa situação, sem-que haja um saldo negativo para alguém. – Demétrius a olhou avaliando a conversa e seu instinto investigativo lhe deixou claro que ali havia algo muito maior que aquela simples consideração pelo seu destino como mero procurador do Estado. Ela estava tentando manipulá-lo, e ele não gostava disso, entre o desejo de ser procurador ou a lealdade para com seu trabalho, ele sem dúvida nenhuma ficaria com seu trabalho, entre ser exposto ou ser manipulado, ele preferia ser exposto, afinal, tinha muito mais a perder como alguém suscetível a manipulação do que alguém que de vez em quando fica com a advogada mais gostosa de San Francisco. Uma raiva crescente em seu interior pedia para ter cautela e muita frieza. Ele duvidou daquele cenário que ela estava pintando, parecia tão montado quanto o relacionamento deles. Ele nunca se preocupou com a clandestinidade dos seus encontros, ainda mais com Aleska, mas também não gostava da ideia de saber que andavam futricando sua vida intima pelos corredores do judiciário. Ele
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respirou profundamente e sorveu um pouco do líquido amarelo âmbar do copo de cristal que estava bem na sua frente nas mãos daquela mulher diabólica. Sem emoção nenhuma; frio como gelo ele argumentou: — Nunca me preocupei com o fato de alguém saber sobre o nosso envolvimento, aliás no início eu queria que fossemos um casal, mas você com seus jogos, sempre se esquivou, até que eu percebi que não era importante que nossa relação fosse de conhecimento das pessoas. – Caminhando pela sala, ele sentou-se em uma das poltronas em frente Aleska ela o fitou com curiosidade, ele parecia um tigre caminhando lentamente em seu próprio território, com uma voz mais controlada ele continuou: — Então, estou aqui pensando, se eles sabem de nossos encontros furtivos, alguém muito chegado a eles teve a liberdade de falar sobre nós. E antes que eu tire qualquer conclusão sobre este assunto. Eu lhe pergunto quem mais poderia dizer sobre nós que não fosse você própria. - Antes de ouvir a resposta prosseguiu. — E o que a minha indicação ao cargo tem a ver com o caso em questão? Isso é muito ingênuo e ao mesmo tempo temerário. Essa investigação não tem nada a ver comigo, nunca tive qualquer relacionamento direto com a juíza Kimberly, então não vejo aonde você quer chegar ou qual o meu grau de participação nos meios escusos de Kimberly. - Ela olhou para ele tensa, ele a avaliou e prosseguiu: — Até onde sei, a juíza Kimberly sempre julga sessões litigiosas, uma área totalmente ao contrário do que eu lido em meu departamento. Não estamos vinculados. E mesmo que se tivéssemos, sou do lado do que é certo, doa a quem doer não me preocupo com questões que vão ao contrário daquelas em que eu acredito. - Finalizou com severidade e quase sem paciência para as refutações que ela lhe apresentava. — Você não compreende! - Disse ela áspera. — Muitos dos casos que representei, tanto em seu departamento, quanto na área cível, foram de certa forma beneficiados com a interferência dela.
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E mesmo que você não tenha estado diretamente ligado a ela, eu estou. E você e eu somos amantes. Isso leva a todos a formularem outras ideias em relação a linha de investigação. Ele ouviu a réplica apresentada em um silêncio mortal; e percebeu que aquela seria uma possibilidade a ser avaliada. Mas afinal? Ela queria o convencer a fazer o que realmente? Olhando para aquele vestido azul, colado ao corpo dela, ele se dividia entre: satisfazer a pressão que sentia abaixo do ventre ou colocá-la para fora de sua casa, mas tentando se controlar, entre a razão e o prazer, ele acabou perdendo a paciência e explodiu, levantando-se da poltrona ele caminhou pela sala com uma série de palavras fortes em sua boca. Pela primeira vez, desde que se conheceram Demétrius se zangou diante de Aleska. Momentaneamente aquilo a assustou, mas depois ela retomou seu controle novamente. Ela sabia que ele era duro quando queria, mas não era o tempo todo, ele explodia, mas logo voltava ao seu estado normal frio e cauteloso. — Que droga! Aleska! - Levando a mão até a cabeça e enquanto tentava controlar sua explosão, soltava o nó da gravata e abria a camisa com uma violência aparente. Continuou a esbravejar: — Você não tem ideia do que passa na minha cabeça neste exato momento. As coisas insanas que me ocorrem fazer neste exato momento com este vestido azul sobre o seu corpo. Eu não sou de ferro! E nem sou um santo! - um silêncio mortal caiu pela sala por alguns momentos, então ele respirou fundo e desabafou: — Gostaria muito de mandar você, seu sócio e a juíza para o inferno. Mas já que isso não é possível, estou me linchando para esta investigação. Amanhã verei em qual pé está este lamaçal que você está trazendo para minha vida, mas isso farei só amanhã, depois que eu resolver os meus problemas e já lhe adianto não vou segurar nada. Não pense você que estou preocupado com minha indicação a procuradoria, este é um item que virá a mim naturalmente. Não irei cavar minha sepultura para subir um degrau
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que seja na minha profissão. Ele concluiu ainda revoltado. Ela sorriu maliciosamente de modo bem significativo, de algum modo que ele não sabia explicar, ela havia conseguido êxito na sua visita. — Bom, estou vendo que você está cansado, e de mal humor. Vou deixá-lo e amanhã nos veremos em seu escritório. Disse ela com uma falsa preocupação estampada no rosto moreno. Ele olhou para o decote proeminente e pensou “por que não tirar este vestido agora? Ela está se oferecendo, vejo isso, tudo nela é obsceno, por que não aproveitar para acalmar minha raiva e me deliciar com ela a noite inteira, como sempre fazemos. ” — Termine seu cowboy. Disse ele aproximando-se dela. — Você quer que eu fique? Ela sussurrou. — Não queria. - Ele respondeu grosseiramente. Mas agora que você está aqui, me deu outras ideias. - Ele já estava diante dela contornando seu vestido com uma mão e enfiando a outra nos cabelos de Aleska, juntando uma porção considerável de cabelos ele a puxou forçando-a a oferecer seus lábios a ele. —Não sei como você consegue. - Aleska o empurrou e saiu caminhando até o aparador para pegar sua bolsa, então ele a puxou pelos braços e a prendeu contra a parede, e com um olhar diabólico ele massacrou seus lábios nos dela, deu-lhe um beijo bruto, sem emoção, com raiva. Com um sorriso malévolo Aleska correspondeu aos apelos velados do olhar dele. Entre os dois, o sexo não era normal, era profano, sujo e pecaminoso. Eles conseguiam ultrapassar a barreira da normalidade e caminhavam juntos por uma ladeira de perversões e crueldade na cama. Dominadores por natureza, o choque sempre fora inevitável, ardente e cruel e na maioria das vezes insano. Sem-amor, sem-medo, somente instinto animal. Ruídos de roupas e gemidos se misturavam entre aquelas paredes, ele a apertava com as mãos, enquanto subia-lhe a saia até a cintura e com uma violência já conhecida rasgou-lhe a pequena calcinha, e com apenas uma arremetida a penetrou, sem-culpa, uma respiração
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mais forte o fez soltar um gemido mais profundo, ele entrou mais forte naquela cavidade, ela tentou se ajeitar para facilitar a penetração, mas ele a imobilizou, ele queria que ela sentisse dor, queria sufocar a tensão que sentia, queria puni-la. E foi assim, por breves e intermináveis segundos, ele entrou e saiu, uma, duas, cinco, perdeu-se a conta; então o ápice estava por vir, ele sentiu aquele calor infernal surgindo entre suas entranhas e seus joelhos amoleceram despejando todo seu líquido quente e viscoso naquele vão. Nem um dos dois se preocupou com a falta do preservativo, naquele momento ele só queria aplacar a raiva que estava sentindo dela. — Você é um cretino. Ela dizia entre a respiração ofegante e as trocas de mordidas que davam um no outro. — Nós somos. Cara advogada, nós dois somos. Venha comigo, vou lhe mostrar o restante da casa. Atravessaram um corredor e subiram uma escada com o mesmo tipo de granito claro que viu na entrada da casa, e depois de passar pela porta aberta do escritório, ela viu o enorme quarto, onde uma parede de vidro fumê servia como divisória entre o closet e o toillet. O aroma amadeirado daquele recinto revelava o quão sofisticado Demétrius era. Antes que ela percebesse, ele já estava terminando de tirar-lhe as roupas. Agora sim. Agora ela estava do jeito que ele queria, ele a tocou lentamente por toda extensão dos braços, e a beijou sem-nenhuma gentileza, então a jogou sobre a grande cama coberta pelo cetim negro, ela se espalhou pelo colchão e sorrindo convidativa buscou por ele. Igual a uma gata no cio gemeu. Ele não sentiu pena, mas perversamente sorriu, então disse a ela: — Quero que você se toque para mim. Mostre-me como você faz, quando não está com um homem ao seu lado. Mostre-me seu prazer. — Você está falando sério? - Ela perguntou com falsa surpresa.
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— Sim. Quero ver como você faz. Quero ficar excitado, enquanto você geme implorando para eu rolar com você novamente. Não seja tímida. Porque isso você não o é. Mostre-me como você pode ser persuasiva. - Uma gargalhada rouca e feminina ecoou naquele quarto, ela adorava quando ele se mostrava assim cafajeste e másculo. Falou quase desdenhando do pedido dele. — Está querendo me subjugar senhor promotor? Ou isso é apenas uma vingança por eu ter vindo me aninhar na sua cama? Ela falou enquanto observava a nudez imperiosa de Demétrius. Seu nome fazia jus, ele parecia com um deus grego, com seus quase 2,00 metros de altura, sua masculinidade o tornava maravilhoso. E seus atributos sexuais fazia qualquer mulher se rastejar até ele. Ela gostava dessa faceta de dominador que ele tinha, gostava de ser tratada com aspereza, se sentia desejada, e aquele sentimento a entorpecia. Deixar ele no comando não a subjugava, na verdade a colocava como a verdadeira deusa do sexo. — Chame do que quiser, mas neste momento só o que me importa é te levar para as alturas e depois dormir. - Ele respondeu sorrindo – Ela olhou furtivamente para aquele membro viril, olhou para ele e molhando os lábios com a própria língua começou seu ritual de erotização, ela estava tensa, estava arrepiada, sua pélvis ainda pulsava por causa do sexo que acabara de fazer, estava toda molhada pelo orgasmo de Demétrius, o líquido escorria entre seus dedos, um cheiro forte de sexo pairava no ar e pela primeira vez se viu diante de um desafio arrebatador, pois embora se tocasse com frequência, tocar-se para um homem era a primeira vez que iria fazer. E de repente sentiu-se deslocada, sem graça, mas não deixou se intimidar, era uma mulher forte e como tal deixou ser conduzida para aquele voyeur. Os dedos começaram a passear pelo rosto quente e vermelho e em seguida ela o introduziu na boca, vagarosamente o movimentava como se estivesse chupando
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algo delicioso, e como uma cascata seus dedos desceram pelo pescoço, até alcançar a ponta do seio direito, apertou-o com delicadeza e com um gemido ela deu uma pequena inclinada com o dorso, continuou a caminhar com os dedos pelo corpo parando suavemente sobre o ventre, gemendo ela abriu as pernas exibindo toda a sua intimidade depilada e seus dedos procurou suavemente seu sexo, ora brincava com os dedos na boca ora massageava um dos seios, ora sua mão descia até o baixo ventre ora brincava com os grandes lábios, até que decidiu introduzir o indicador entre eles. Gemendo, ela se viu totalmente molhada e ao mesmo tempo quente, ela introduzia o dedo na fenda vermelha e retirava, com maestria, ela segurou um pequeno ponto duro acima dos lábios, seu broto entumecido pedia por uma língua ávida, mas ela não implorou por isso, novamente introduziu seu indicador pela fenda e retirou, então escorregaram os quatro dedos sob aquele ponto duro e o manipulou, agora gemendo mais alto, falava palavras obscenas para seu interlocutor que estava babando com aquela visão, ele nunca havia visto uma mulher se tocar com tanto desejo até aquele momento, entregue ao seu prazer Aleska continuava a se tocar, e de repente um líquido branco e viscoso descia por entre a cavidade convidativa, molhando a colcha de cetim, ela estava tendo prazer ali bem diante dos olhos dele. Então ele se aproximou de suas pernas abertas e escorregou para dentro dela, um grito ecoou dentro do quarto e ele a socou profundamente. Ela se contorceu pela introdução e ao mesmo tempo o envolveu com suas pernas e braços. Arranhando-lhe as costas, mordendo o torso, o peito, os lábios. A respiração de ambos estava acelerada e entrecortada. Ele sussurrava palavras fortes aos ouvidos dela, ela gemia, correspondendo aos anseios dele. Ele entrava e saia com muito mais vigor. Como se tivessem ligados no automático, ele a virou e a colocou de quatro sobre a cama, quando ele vislumbrou aquele par de nádegas suave e deliciosamente convidativa, ele não pensou duas vezes, lhe agarrou pelos cabelos se introduziu no
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meio delas ele se projetou urrando bestialidades insanas, dessa vez ele realmente chegou ao seu prazer. Finalmente ele se abastou. Era o que ele estava precisando. Aquele prazer de forma bestial o fez descarregar a pressão dos últimos dias. Então, suado ele saiu de trás dela e dando-lhe uma palmada nas nádegas caiu sobre o colchão ao lado dela. A respiração de ambos estava entrecortada e acelerada. Ele se sentia completo, mas ainda não tinha terminado, queria fechar aquela noite com chave de ouro e era o que ele pretendia fazer. Então, olhando para o rosto vermelho de Aleska, ele se posicionou acima dela e tomou um dos seios, e começou a sugar a ponta entumecida e vermelha, ela já estava o enjeitando, mas ele prendeu seus braços sobre o alto da cabeça dela e com uma risadinha rouca sussurrou indecentemente. — Ainda não acabei minha diabinha cruel, ainda quero ver você se derreter mais uma vez. — Você está ficando doido! Não aguento mais nada, você está insaciável, o que significa isso, eu quero... -Ela foi interrompida com um beijo. —Você não está... -E novamente o ciclo de sedução começou só que agora ele estava mais suave, então como um ritual culinário, ele começou a saborear a pele salgada daquela mulher quente que estava derretendo em seus braços. Sorrindo ele a ouviu gemer e sussurrar seu nome. Era isso que ele queria, e beijando-lhe ele ficou sobre ela, e seguiu o mesmo caminho que há poucos instantes ela percorrera com os dedos quando estava se tocando para ele, ele fez o mesmo caminho e chegou até a sua intimidade molhada, o odor forte não o inibiu a fazer-lhe um carinho oral. Era obsceno e erótico colocar a boca naquela pequena cavidade molhada, ela se contorcia, empurrando a cabeleira negra, mas naquele momento ele estava entregue ao prazer de estimulá-la com a língua, e assim chupando seu pequeno ponto entumecido, ele introduzia os dedos na fenda molhada, ela já não o afastava, ela afagava os cabelos dele e gemia, então espasmos sobre o ventre anunciava o prazer terminal, e ela
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explodiu em um frenesi alucinante, seus pensamentos incoerentes denunciavam a ela que aquele homem tinha realizado sua doce vingança, e ela de bom grado deixou com que ele saboreasse todo o néctar de suas entranhas, sem inibição nenhuma ele a desnudou como nenhum outro homem havia feito, aquilo era quase um flagelo de sua alma. Era desumano, humilhante. Era constrangedor ter consciência do prazer que podia se ter nos braços de um homem viril como aquele. Muito tempo depois. Os dois corpos ainda estavam entrelaçados, misturados entre os lençóis, ela falou quase sem força na voz. — Você é um sádico... —Eu sei. Mas você também não está longe, é tão obscena quanto eu. - então sarcasticamente ele enumerou os joguinhos sensuais que cada um gostava de fazer. Ela odiava quando ele fazia aquilo, na verdade antes do sexo ela via aquelas expressões pejorativas como um estímulo, mas depois do sexo, ela se sentia suja. Não havia razão para deixá-lo continuar aquele jogo de palavras contra ela. — Por que você sempre faz isso comigo? Isso é uma falta de respeito muito grande com a minha inteligência, você sabia disso? — Ora, está ofendida nobre colega? Pensei que você gostasse de sexo selvagem, sempre foi assim, por que seria diferente agora? - Ele respondeu sem perceber que ela estava realmente ofendida pelo comportamento dele. — Já lhe ocorreu que nem sempre que estou com você quero ser tratada como objeto! Você nunca pensou que eu também quero ser amada? Ela tentou intimidá-lo. Mas ele não recuou, olhou para ela com as emoções contidas. E falando um pouco mais alto que o habitual ele a rechaçou: — Você? Dra. Aleska! Não! Jamais uma mulher como você quer ser amada. - Ele concluiu e afastando dela sentou-se na beirada da cama, e de costas para ela desabafou: — Entre nós,
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desde o princípio sempre foi sexo. Você é muito executiva para se render ao amor. No início até pensei em ter um relacionamento sério com você, mas me enganei. Você jamais será uma mulher que ficará em casa esperando pelo marido, ou quem sabe cuidar de filhos. Concluiu levantando-se da cama e indo direto para o banheiro. Ela olhou o dorso torneado dele, e intimamente concordou com o que havia acabado de ouvir. Enquanto ele tomava banho, ela olhou o entorno do quarto, viu uma grande fotografia na parede, uma montanha coberta pela neve, parecia com algum lugar do Canadá, ela ficou curiosa, pois viu que a foto trazia o nome de Charlie Robson na lateral, provavelmente o nome do fotógrafo, em outro canto viu outra foto também de mesma proporção era a foto de um grande lago com um rancho ao fundo. Era um lugar rústico, mas de uma beleza singular. Ela se levantou da cama embrulhada no lençol e caminhou até a janela, a noite seguia fria e chuvosa, olhou pela vidraça e viu as luzes da rua, ao virar-se em direção ao toillet, viu a esquerda da porta uma cômoda enorme com umas dez gavetas, em cima dela havia uma sequência de porta retratos, todos de paisagem, exceto uma, era um casal de adolescente. Dois jovens sorridentes perto de um cavalo malhado, ela olhou a foto e viu que o jovem rapaz se parecia com Demétrius, mas a adolescente era ruiva e de olhos cinza bem expressivos, formavam um belo casal, a curiosidade aumentou, quem eram aqueles dois? Demétrius era muito reservado quanto sua vida particular, ele nunca falava de si, e na profissão que exerciam isso era irrelevante. O que realmente contava eram as barganhas que poderiam obter entre um processo e outro. Ele saiu do banho enrolado em uma toalha branca, ela foi ao encontro dele. — Quem são estes na fotografia? - Ela perguntou. — Ninguém importante. - Ele pegou a foto e olhou demoradamente e então colocou novamente sobre a cômoda. — As fotos são maravilhosas. Que lugar é este?
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— Montana. Onde vivi, antes da universidade. — Montana? Pensei que você fosse californiano. — Tem muitas coisas a meu respeito que você não sabe. — Já pensou que talvez eu queira saber mais sobre você, mas não tenho abertura para isso. — Não tenho nada para dizer sobre minha vida. O que importa você já sabe. Respondeu secamente, depois continuou. — E a propósito? Enquanto você toma seu banho você quer que eu prepare uma bebida ou algo para comer, ou você quer que eu chame um táxi? —Vou tomar um banho, não quero comer nada. Pode chamar um táxi. Preciso estar em casa pela manhã. — Ótimo. Então esteja à vontade, vou ligar para a central de táxi. - Ela se dirigiu até o banheiro. E ele foi colocar uma roupa, abriu uma das gavetas e pegou um jeans desbotado. Pegou uma camiseta de algodão branca em outra gaveta. E ao fechá-la, olhou para a foto dos dois adolescentes. Momentaneamente voltou ao dia em que aquela foto foi tirada, e sentiu saudades de Charlie, no que será que ela se transformou? Vinte quatro anos é um tempo muito longo, as pessoas se transformam por inteiro, as aparências não são mais as mesmas, uns engordam, outros envelhecem bem mais que a idade real. Se estiver vivendo ainda em Great Falls deve ser casada e com vários filhos, talvez ela fosse uma professora de jardim de infância cheia de sardas e de óculos com duas tranças vermelhas ladeando o rosto suave. Só de imaginar a cena, ele sentiu um nó no estômago. Uma vida provinciana que ele nunca teve desejo de viver, porém não sabia explicar porque razão sempre se sentia mal, por que razão sentia um vazio profundo quando pensava nessas coisas simples, quando pensava nela. Na noite da formatura, se tornou o mais cretino dos homens, aproveitando-se do sentimento de despedida, ele a seduziu com promessas de amor, Charlie se entregou a ele sem reserva
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nenhuma, que ridículo, fizeram sexo embaixo do tablado do auditório, enquanto a música tocava; descaradamente se aproveitava do amor de uma adolescente meiga e muito linda, perdidamente apaixonada, se entregou a ele, sem-questionar sobre o futuro, se ofereceu em uma bandeja de prata para ele. Muitas vezes o remorso o corroía por dentro, às vezes ele pensava em procurar por ela. Sentia a necessidade de saber o que havia acontecido depois daquela noite, afinal, ele tinha sido o primeiro homem da vida dela, e ela tinha sido a primeira mulher a lhe dar um orgasmo. “Como será que foi para ela? ” Porém seu pensamento o acusou de hipócrita e aproveitador. Este era um dos pecados que ainda não havia se redimido. E agora tinha Aleska, uma mulher que ao contrário da doce Charlie jamais seria a escolhida para ser a mãe de seus filhos. Ela era sem dúvida uma mulher fria e muito previsível, o dom da maternidade não era sua qualidade. Então, antes de sair do quarto para chamar um taxi, ela sai impecavelmente vestida e maquiada do banheiro, era perfeita demais para carregar um filho no ventre, pensou com tristeza. — Tem certeza que não quer dormir comigo? - Ele perguntou sem rodeios. Ela sorriu. — Não. Gosto de dormir sozinha. E como já lhe disse, pela manhã tenho um compromisso em minha casa. — Entendo. Então venha, vamos sair daqui. - Voltaram para a sala e no caminho, Aleska olhou melhor o ambiente. — Sua casa é muito bonita. — Eu também gosto dela. — Nunca pensou em morar com alguém. — Você diz aqui? — Sim. — Não. Desde que mudei para San Francisco, nunca pensei em ter alguém por aqui. — Sério? Então você não pensa em se casar, constituir família, essas coisas que os homens fazem ao chegar a certa idade.
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— Não pretendo me casar. Não penso em constituir família. Fui criado sozinho, pelo meu pai e a governanta de minha casa, desde que saí de casa para estudar, nunca mais soube o que era ter uma casa ou aconchego de um lar. — Eu também, não pretendo constituir família. Na nossa profissão é complicado demais, e constituir uma família requer dedicação e zelo, duas coisas que não sei se terei competência para realizar. - Ela falou quase como para si mesma. — Seu taxi chegou. - Ele abriu a porta para ela, ela se virou para ele e antes de se despedir lhe deu um beijo. — Estar com você é muito bom. Você me faz sentir muito bem. Concluiu séria. — Eu também curti os nossos momentos, mas nada é eterno. - Ele ergueu o queixo dela e olhou para os olhos verdes de Aleska, eles brilhavam, reflexo da noite acalorada que acabaram de ter então lhe deu um beijo suave nos lábios. Em seguida continuou: — Guarde essa noite como uma boa recordação, porque é só isso que teremos, daqui para lá nossa relação será estritamente profissional. - Ele proferiu as palavras em um tom suave, porém firme, já não estava mais alterado como no início, estava calmo, elaborado, estava sendo definitivo, esta era a maior certeza entre eles. Ela o olhou, depois abaixou os olhos para os botões de seu casaco se questionou incrédula: “-Esse cretino está pondo um fim em nossa relação? Assim nessa calma toda? Não acredito!!!!” - Com uma altivez quase extraordinária saiu pela porta e entrou no veículo que estava estacionado em frente da casa dele, e não mais o olhou....
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Dois A misteriosa Charllote S’inclair
Embora a noite tenha sido perfeita, Demétrius não estava de bom humor naquela manhã, o fato de Aleska ter lhe pedido ajuda não o convenceu, e enquanto se barbeava pensava no que ela havia dito. O apito da cafeteira tirou-lhe a concentração por um instante, então terminou sua tarefa matinal e foi até a cozinha. O aroma do café invadiu toda a casa, aquilo era bom, então se serviu de uma dose generosa do líquido escuro e sentou-se à mesa com seu jornal, estava bebericando o primeiro gole quando seu telefone tocou. Era do escritório e com uma carranca de desagrado ele atendeu no “viva voz”. — Espero que seja urgente McRay. - Demétrius atendeu o telefone com a voz fria. — Bom dia, senhor Ballinderry. Temos dois representantes do FBI aguardando-o em sua sala. — FBI? Há quanto tempo? - Demétrius perguntou com a voz séria. — Acabaram de chegar. — Mantenha-os por aí, chego em vinte minutos. - Finalizou sem alterar o tom de sua voz. — Sim senhor. Minutos mais tarde, entrava por uma sala um homem de estatura alta, tez levemente dourada e com os cabelos negros e olhos azuis, trajando um terno cinza, e um sobretudo negro em um dos braços, e no outros uma pasta contendo alguns papéis e seu laptop. Cumprimentou a todos na antessala com apenas um bom dia e se dirigiu com uma controlada confiança e severidade até sua sala.
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Os homens que o aguardavam se levantaram imediatamente a sua chegada. — Senhores. Sentem-se. - Foi o que disse, enquanto despejava suas coisas em cima de uma poltrona a sua esquerda. E em seguida sentou-se diante dos homens olhando-os com uma curiosidade instigadora. Esperou pela manifestação de um deles. — Bom dia promotor Ballinderry. Sou o agente especial Carlton e este é meu parceiro agente especial Webster. — Bom dia senhores. Em que posso ajudá-los? — Sabemos que sua agenda está abarrotada, por isso, seremos o mais breve, precisamos de sua cooperação para esclarecer algumas coisas em nossa investigação. — Em que consiste a investigação de vocês? — Bom, não queira nos levar a mal, mas a investigação corre em segredo, porém podemos lhe dizer algumas coisas a respeito. — Eu entendo. E espero poder ajudar no que for possível. — Então, para começar o senhor pode nos dizer qual a sua ligação com a Dra. Aleska Carmine? - Ele sentou-se e olhou firmemente para os dois homens sisudos sentados à sua frente. Um deles era calvo deveria ter seus cinquenta anos, possuía um bigode grisalho, manchado nas bordas, provavelmente era viciado em rum ou alguma bebida barata. O outro que estava à frente das perguntas era mais novo deveria ter entre trinta e cinco a quarenta anos, não mais que isso. Os dois o observavam atentamente, ele avaliou bem a resposta que deveria dar aos investigadores, em uma fração de segundos ocorreu-lhe a ideia de que ambos sabiam muito bem sobre os seus encontros com Aleska e também à natureza deles. Achou melhor não se arriscar e muito menos se comprometer com alguma coisa relacionada diretamente a ela. — Quando não estamos travando alguma batalha nos tribunais, temos nossos encontros, somos bem mais que amigos. - Os dois homens se entreolharam sem surpresa nenhuma. Bingo! Para Demétrius.
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— Ontem ela estava com o senhor? — Sim! Esteve em minha casa depois da meia-noite. Ficou um tempo e depois chamei um taxi que a levou para casa. — Gostaríamos de saber o que conversaram. O senhor pode nos dizer? — Na verdade, a natureza de nossos encontros não é muito para conversarmos. No local de trabalho tudo bem, mas em casa tratamos de outras necessidades. Se é que os senhores me entendem. Ele respondeu quase sarcástico. —Mas afinal? Onde vocês querem chegar com este inquisitório sem sentido? Alguma coisa errada com meus encontros com a dra. Aleska. Ela não é funcionária do meu departamento, então não tem nada que nos impeça de se relacionar. — Uma coisa puxou a outra, houve algumas denúncias contra alguns agentes do judiciário, ao apurarmos alguns fatos chegamos a Dra. Carmine e consequentemente chegamos ao senhor, embora ainda não termos feito nenhuma ligação do seu nome com as denúncias. O investigador explicou. E em seguida perguntou: — O senhor tem contato com a juíza Kimberly? Já trabalhou em algum caso em que ela estivesse presidindo? — Não tenho nenhum contato com a juíza Kimberly. - Ele respondeu sem denotar surpresa com a pergunta. — Nunca tive nenhuma audiência presidida por ela, visto que minha área é bem diferente da dela. E quanto à senhorita Carmine e eu não é tratado nada de trabalho. Não sei como poderei ajudá-los. — Esperamos realmente que o senhor não esteja envolvido nas denúncias apuradas. — Eu gostaria de saber qual a natureza dessa investigação? O que posso fazer para ajudar. — No momento estamos apenas esclarecendo alguns fatos, tendo em visto que a advogada está concorrendo a uma vaga de promotora no departamento criminal. E o senhor possivelmente também será indicado para a procuradoria.
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— A Dra. Carmine está concorrendo a uma vaga de promotora? Ele perguntou surpreso. Aquela notícia realmente lhe causou espanto. — Sim. Ela não lhe disse? O investigador perguntou sarcástico. Demétrius fechou o cenho. — Como lhes disse. Meu relacionamento com Aleska não tem nada a ver com nossa vida profissional. — Senhor Ballinderry, só para lhe mostrar que não estamos aqui para iniciar uma caça às bruxas. Vou lhe dar apenas uma pincelada do que realmente está acontecendo. - O investigador falou com severidade. — Esta investigação tomou um rumo inesperado. Percebemos uma teia de fatos, envolvendo nomes de pessoas do judiciário, precisamos esclarecer os vínculos de cada nome que encontramos para separar as responsabilidades. — Faz sentido. - Demétrius respondeu olhando para os dois agentes, e finalizando aquela reunião levantou-se de sua cadeira e estendeu-lhes a mão em cumprimento. — Bom, estou aqui para contribuir da melhor forma que puder para esclarecer o tiver que ser esclarecido. — Contamos com isso já sabemos de sua reputação Senhor. Temos certeza que o senhor não medirá esforços para esclarecer o envolvimento de sua amiga nas denúncias, ainda mais com a eleição estando por vir. - Um dos agentes lhe falou quase em tom de deboche, ele não gostou e imediatamente revidou o sarcasmo presente naquela afirmação. — A eleição está por vir sim, mas não tenho nada a esconder frente a este caso, se lhes ocorreram que estou preocupado com meu relacionamento pessoal com a Dra. Carmine e minha possível candidatura a procuradoria do Estado, saibam que antes vem meu dever público para com a sociedade, minha vida pessoal vem em segundo plano. Ou seja, doa a quem doer. Não tenho porque esquivar-me de nenhuma investigação.
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— Isso é muito bom. Qualquer novidade a respeito, gostaríamos que nos informassem, e esperamos nos encontrar em breve. Aqui está o meu cartão, ligue se precisar. O investigador deixou o cartão em cima da mesa. Demétrius o pegou e o colocou dentro de um porta cartão de visitas. — Tenha um bom dia. Todos se levantaram e se despediram cordialmente. Os homens haviam saído de sua sala há quase dez minutos e Demétrius ainda estava sentado olhando em direção à pilha de processos em cima de sua mesa que deveriam ser resolvidos até o fim do mês. Estava pensando em sua conversa com os agentes e na possibilidade de ver seu nome misturado a essa lama, precisava procurar o juiz McCrow e comunicar-lhe o que estava acontecendo antes de tomar qualquer atitude. Suas têmporas davam sinal de que iam incomodar o dia todo, isso era um péssimo sinal. E antes mesmo de apertar o interfone, seu fiel assistente já entrava porta adentro com um copo de água e um vidro de aspirina. Ele olhou surpreso diante daquela imagem. Às vezes não acreditava naquela eficiência em pessoa. — Você ouviu os agentes? - Perguntou enquanto abria o vidro. — Não pude deixar de ouvir, sua porta estava aberta. - Falou o assistente meio sem jeito. — E o que você acha? - Perguntou ao jovem rapaz de estatura mediana que sentava a sua frente segurando um calhamaço de papel. — O que eu acho? - Ele perguntou surpreso e olhando para seu chefe respondeu sem rodeios. —É que o senhor batalhou muito para chegar até aqui. Precisamos apagar este fogo antes que venha queimar sua reputação. Pelo que entendi, na verdade estão querendo um bode expiatório. — Talvez. Ele olhou para a expressão preocupada McRay. — Antes de ficarmos divagando sobre as reais intenções vou falar com o juiz McCrow.
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— É a coisa mais sensata a se fazer. - Concordou o jovem assistente levantando-se e pegando os papéis e processos. — Bom, agora já podemos ir para a corte, temos três audiências hoje. — Podemos ir sim, mas antes de sairmos quero que você marque um horário com o McCrow para hoje e também quero que chame os agentes Antony e Dawson para se encontrarem comigo, assim que tiverem uma folga entre uma investigação e outra. Meu instinto não erra. - Sussurrou. — Alguém está querendo se promover as minhas custas, mesmo que isso signifique perder a minha indicação para a procuradoria, eu vou colocar essa sopa em pratos bem limpos. — Ainda estou meio atordoado, o senhor e a senhorita Carmine, desde quando? - McRay não aguentou a curiosidade, e perguntou com a maior cara de pau. Eu cuido da sua agenda e das suas atividades há bastante tempo, quando perdi isso? McRay coçou a cabeça. Demétrius levantou o olhar de seu laptop e olhou para seu assistente muito eficiente e nada discreto e se lembrou daquela tarde em que seu olhar cruzou com o de Aleska, ele não passava de um mero assistente preiteando uma vaga na promotoria, mas ainda assim, mais tarde ela entrou em sua sala e lhe pediu uma caneta emprestada. Então pegou sua mão e anotou seu telefone pessoal. “Estarei livre este final de semana, se você quiser me encontrar. Ligue para combinarmos alguma coisa. ” Ele olhou para ela e se viu escorregando para dentro daquele corpo convidativo. Isso aconteceu há mais ou menos meia década atrás, e entre eles nunca houve nada mais que sexo, sexo bruto e selvagem, às vezes chegava ao limiar da loucura consensual, agora estava avaliando se isso não traria problemas a ele. Afinal era uma particularidade que só pertencia a ele, e por hora a ela em questão. — Isso já faz um tempo, ainda era assistente de McCrow quando a conheci. Mas nunca tivemos nada sério. Só encontros casuais.
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— Uau!!!! Encontros casuais com aquela dama é o sonho de muitos dentro do departamento, talvez, para o senhor não seja nada sério, mas nunca a vi acompanhada de ninguém, isso pode ser indicio que para ela talvez o encontro casual, não fosse assim tão sem importância. Rebateu o assistente. Demétrius respirou quase perdendo a paciência, mas como o assistente sempre teve total liberdade para ser franco, ele se conteve e explicou o que para ele não precisava de explicação. — Isso é o que você pensa, ela é uma mulher inteligente e desprendida, não sou o único que se aquece naquelas coxas, há outros, como também há outras em minha vida. Aprenda uma coisa, em nosso meio, não devemos ser sentimentais, precisamos ser práticos e racionais. Agora vá fazer o que lhe pedi. Enquanto isso, Demétrius pegou sua agenda para analisar as demais audiências do dia. Mas estava sem concentração nenhuma. Levantou-se e foi até o pequeno refeitório tomar um café para enfrentar o dia cheio que teria até às dezessete horas, estava abaixando o dorso para pegar o pequeno copo descartável, quando ouviu o som suave de uma voz nostalgicamente familiar aos seus ouvidos, “eu só preciso de alguns carimbos nestes recibos” a voz suave falava com a assistente do departamento. Levantou-se semchamar a atenção e então viu uma mulher de cabelos ruivos, uma beleza exótica que há muito não via, ela se vestia de maneira sóbria, e estava totalmente sem-maquiagem no rosto, apenas um batom rosa tingia os lábios grossos. “Que beleza é essa? ”, “tão natural”, “tão delicada e forte”. Um sentimento de reconhecimento quis instalar no seu coração, mas a dúvida foi maior, “De onde a conheço? ” - Perguntouse. A mulher estava acompanhada de uma assistente social e de outro funcionário do departamento, o timbre de voz era muito suave, com um ligeiro sotaque montano; foram momentos mágicos que lhe trouxe um pouco de paz ao peito. Viu-se nostálgico, o que era aquilo afinal de contas? Sentir falta de casa
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não era um sentimento normal, aquela mulher, de repente, lhe pareceu tão familiar que trouxe uma lembrança que já tinha estado com ele na noite anterior, Great Falls. Novamente seu pensamento foi até a pequena sardenta que ele deixara para trás, seria o remorso que o estava rondando? Ou de repente, ele estava tão cansado, que estava abrindo a caixinha de memórias guardada no fundo da gaveta. Mas aquele perfume de gerânio só vinha contribuir um pouco mais para pensar em Charlie, era sua marca pessoal. Aspirou profundamente aquele aroma e então quando abriu os olhos se viu sozinho, não tinha mais nenhuma pessoa naquela sala, então ele pegou o café que já estava frio e o jogou no lixo. E foi ao encontro de seu assistente. Que já estava no corredor com seus pertences e para sua alegria trazia um copo de café. — Estamos dentro do horário? - Perguntou para esquecer aquela impressão. — Sim, estamos. — Um dos advogados do caso esteve aqui com a assistente social para pegar alguns registros. — Um dos? Quantos advogados, iremos encontrar neste pronunciamento? — Fui informado que teremos quatro e dos bons, inclusive a moça que estava por aqui atrás de alvarás e recibos. — Aquela ruiva? Também é a advogada do acusado? — É sim. Muito linda não? — Não observei. Vi apenas de relance. Este perfume? É dela ou da assistente social? — Está de brincadeira, a senhora Rachel usando perfumes? Está fora de cogitação. - Ambos riram do comentário. — Quem é a advogada? — Deixe-me ver, hum... hã.... Aqui está ... hã...o nome dela Charlotte S’inclair, e os demais são... - O assistente não concluiu sua fala, pois Demétrius já estava diante da moça em questão. Olhou para os pés da moça, ela calçava um belo par de scarpin
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pretos, salto agulha, vestia meias de seda e cobria o corpo com um belo tailleur cinza, a saia ia até o comprimento acima dos joelhos, tinha pernas torneadas e uma panturrilha bem definida, Demétrius subiu os olhos vagarosamente pelo corpo da bela moça e percebeu que a cintura não era fina, mas tinha uma barriga bem definida, percebeu os seios arredondados e ligeiramente empinados, embaixo da casimira vermelha. Há muito tempo não via uma mulher tão bem vestida quanto aquela que estava a sua frente. Sua beleza o deixou constrangido, olhou para o rosto da advogada muito depressa, mas registrou bem a cor dos lábios e dos olhos, porém a expressão recatada da moça o fez desistir de flertar deliberadamente com ela. Demonstrando total controle da situação, Demétrius se dirigiu a ela de uma maneira fria e bem impessoal: — Senhorita S’inclair? Podemos conversar em outra sala a respeito do seu cliente? - Dirigiu-lhe a pergunta olhando diretamente nos olhos cinzas à sua frente. Um forte arrepio cruzou toda a extensão de sua coluna. Por um instante o ar lhe faltou no peito, então a moça com um sorriso quase familiar lhe respondeu: — Senhora S’inclair, por favor. Uma voz carregada de autocontrole lhe devolveu ao chão. Então, ele viu a delicada argola de diamantes no dedo anelar da mão esquerda. — Me perdoe. Sinto muito pela minha distração. - Respondeu meio confuso, quase constrangido. Ela olhou para ele como quem estivesse se divertindo com aquela situação, então lhe respondeu: — Não se perturbe com isso, é apenas um pequeno detalhe, caro promotor Ballinderry. Um instante de silêncio se fez e ela continuou: — Se o senhor ainda quiser, podemos conversar na outra sala, mas lhe adianto, não estamos abertos a acordos, pois nosso cliente é inocente, e temos argumentos suficientes para provar sua inocência diante dessa acusação. — Se é assim, vamos ver o que vocês têm. - Olhou novamente para ela os olhos cinzas, aquele perfume era familiar, franziu a
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testa e alisou o queixo, pensativo, mas a voz de seu assistente o tirou do pequeno transe indiferente ele se concentrou na audiência. Voltou novamente para os papéis em suas mãos e mais seco que o habitual prosseguiu: — e então, o que é que vocês têm para nos apresentar e assim dispensar um possível acordo. - Novamente o silêncio ocupou o instante. Mesmo tendo consciência da familiaridade que aquela mulher lhe trazia, ele permaneceu natural e totalmente dono da situação. Há muito tempo que dominara suas atitudes, era raro ás vezes que manifestava algum sentimento. Havia se condicionado a não reagir. E ali não era diferente. A praticidade e a razão eram algo simples e singular. Dentro da lei não há espaço para sentimentalismo e nem paternalismo. Assim sendo, o grupo de pessoas caminharam para uma sala oposta ao salão principal do tribunal. Charlotte e Demétrius seguiram o grupo em silêncio <<vai saber o que aqueles dois estariam pensando>> até a pequena sala juntamente com seus respectivos assistentes, conversaram sobre as possibilidades de condenação do acusado, Charlotte passou a palavra para o advogado sênior que estava à frente do caso desde as primeiras audiências, este expôs ao promotor que não havia uma fundamentação legal para atribuir ao seu cliente à acusação de estupro em primeiro grau, pois parte do levantamento realizado durante as investigações primárias do inquérito, haviam irregularidades, uma nítida incoerência atribuída às provas demonstravam que a polícia havia sido negligente e rápida em apontar um culpado pelo crime em questão, Demétrius rapidamente avaliou o relatório apresentado a ele, e apreciou a falta de coerência na investigação dos policias e a investigação feita pelos representantes do acusado; Contra o acusado havia: * DNA da vítima - encontrado sob suas unhas; * DNA do próprio réu nas roupas da vítima;
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* Vários ferimentos no réu que supostamente foram causados pela vítima, durante o suposto estupro. Já a defesa apresentava as contraprovas bem consistentes. Segundo o relatório preliminar feito pela defesa, o réu tinha estado com a vítima um dia antes do estupro, tiveram uma briga, que foi registrada por uma câmera no bar onde estavam, de acordo com as imagens, a vítima fora a primeira a desvencilhar um golpe contra o acusado o que resultou na imediata reação contra a vítima, isso por si só, já demonstrava o primeiro indicio de erro na execução dos relatórios preliminares da investigação feita pela polícia, outro fato importante e bastante contundente, no dia do estupro, o acusado viajou para outra cidade no horário que supostamente a vítima estava sendo estuprada, e o que provava isso, era a cópia do bilhete de viagem e também um vídeo que o mostrava na estação rodoviária, entrando no ônibus , o acusado declarava que a confissão feita aos investigadores fora realizada mediante a coação, pois ao admitir que havia agredido a vítima de forma violenta, supôs também que havia feito sexo contra a vontade da vítima, mas conforme aqueles relatórios nada do que foi apurado pelos investigadores havia consistência, exceto a agressão realizada pelo o acusado, e o alto teor etílico e toxicológico no sangue, o fato do acusado ter se declarado inocente das acusações era irrelevante naquele momento, pois mesmo alegando falta de domínio de suas faculdades, o acusado desferiu vários socos contra a vítima, demonstrando falta de piedade e excesso de violência contra uma mulher, amparado nessa questão Demétrius não poderia deixar ele sair livre de todas as acusações, era preciso frear aquele indivíduo. Diante deste caso, ele viu que não era perda total, pois parte dos ferimentos da vítima tinham sido causados pelo acusado. Depois das argumentações expostas na mesa, Demétrius expôs sua possibilidade de condenação, o acusado ficaria livre da acusação de
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estupro, mas responderia pela violência praticada contra a vítima, a defesa contrapôs, e então depois de algumas propostas, chegaram a um acordo que satisfazia ambas as partes, que tanto beneficiava o estado, quanto os direitos do acusado. Logo após as negociações e formalização de fato da acusação, advogados e promotor foram para a sala de audiência, onde houve a explanação do processo. — Sessão 0919. O povo vs Brian S’inclair. A acusação: lesão corporal em primeiro grau. — O que o réu tem a dizer? - Pergunta o juiz. — O réu se diz culpado meritíssimo. - Responde um dos advogados. — O que o povo tem a dizer? - O juiz novamente pergunta. — O povo pede 2 anos de reclusão, destes: nove meses de internação em uma clínica para a reabilitação. Os dois anos podem ser diminuídos, caso o réu venha oferecer trabalho voluntário na comunidade. — Apelação? - Pergunta o juiz para os advogados do réu. — Não meritíssimo. — Sendo assim, condeno o réu Brian S’inclair, há passar nove meses internado no Centro de reabilitação de Alta Mira, com os custos da internação financiados pela própria família, e assim que terminar o período de reabilitação, o réu poderá escolher entre ir para o Centro de detenção de San Jose ou trabalhar até ao final da pena de dois anos no “Instituto Familiar das Raças”, o que deverá ser firmado neste momento. O que tem a dizer senhor S’inclair. O Juiz perguntou avaliando o jovem rapaz a sua frente bem vestido, porém com as feições amarrotadas, talvez pela ressaca da bebida e também pelo uso continuo das drogas. O jovem rapaz olhou para seus advogados e em seguida olhou para o juiz, e com uma voz titubeante respondeu: — Quero ir trabalhar no Instituto. Meritíssimo. — Boa escolha rapaz, porém, não se considere livre de sua punição, durante o período em que estiver trabalhando no
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Instituto, você irá usar a tornozeleira e deverá morar no instituto enquanto durar sua condenação. Isso é tudo. - O martelo bateu três vezes na pequena placa de madeira sobre a mesa encerrando assim a sessão. Aquela sessão foi encerrada ali sem-muitas glórias para Demétrius, mas ele não se importou muito com o caso, mas a moça em questão chamou-lhe a atenção, percebeu então, que os sobrenomes dela e do réu eram iguais, com certeza eram parentes próximos, ficou curioso, e então pediu para seu assistente procurar saber mais um pouco sobre o réu e os advogados que o defenderam. Nos relatórios constavam que o acusado era desempregado e sem endereço fixo. Então, como é que surgem quatro advogados para defender um“ Zé Mané” qualquer? O dia passou como uma rajada de vento, Demétrius nem acreditou, quando olhou no relógio e viu que já passavam das dezesseis horas, o terno já estava incomodando, mas ainda precisava encontrar com o juiz McCrow, olhando pela janela viu que a chuva ainda continuava firme, a temperatura também havia caído bastante, logo o inverno estaria começando, ele gostava das temperaturas baixas, era o mais perto que podia chegar de sua casa, a temperatura baixa o fazia recordar das tardes de cavalgada pela neve das pradarias de “Great Falls”. De cabeça baixa com a testa encostada no vidro da janela, ele refletia sobre inúmeras coisas, entre elas a conversa que teve na madrugada com Aleska, depois os agentes em sua sala, e no meio desse alvoroço o encontro com a senhora S’inclair, seria o réu o marido dela? Mas ele era bem mais jovem que ela, quantos anos será que ela teria? Pela cútis bem conservada, era impossível precisar uma idade, mas deveria estar na casa dos trinta, isso ele tinha certeza. Aquele cheiro ainda parecia passear no corredor do departamento. Um sorriso de derrota surgiu no canto de seus lábios, fosse quem fosse à senhora S’inclair, era uma mulher, além de exótica, muito esperta, quase sem esforço nenhum, ela conseguiu dobrá-lo com as provas que apresentou e ele em anos de profissão deixou uma
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advogada levar a melhor. O som da chuva foi interrompido com a entrada de seu assistente. — Ah!!! O senhor ainda está aqui? Pensei que já havia saído para se encontrar com o Juiz McCrow. - Demétrius virou-se para o jovem rapaz à frente da grande mesa e sentou-se para ouvir as notícias. — O que conseguiu descobrir sobre a senhora S’inclair? — Realmente existe um parentesco entre ela e o réu. Ela na verdade é cunhada dele, ou era. — Era por quê? — Há mais ou menos seis meses a senhora S’inclair ficou viúva, o marido dela irmão do réu estava em missão no Iraque, teve seu helicóptero abatido no deserto. O réu Brian S’inclair é a ovelha negra da família, na verdade ele é daqui mesmo da Califórnia, seus pais tem um rancho no condado de Monterey. A advogada Charlotte S’inclair é natural da pequena cidade de Dubois em Idaho, porém viveu em Montana desde a infância. — Então a senhora S’inclair viveu em Montana? Isso é muito interessante. Demétrius falou pensativo, enquanto corria os olhos pelos documentos trazidos pelo assistente. O que mais descobriu sobre ela? Tem filhos? — Tem um filho, de 23 anos que mora em Cambridge, mal iniciou o curso de direito em Harvard e já está trabalhando como estagiário para a corporação de Dominique Dantinni, o garoto é um fenômeno entre os advogados da companhia do velho Dominique. Me disseram que assim que ele se formar se tornará sênior precocemente. — Que idade tem essa mulher? — Ela tem quarenta e um anos, pelos meus cálculos este filho deve ter nascido no final do ensino médio. Ele não é filho do Major S’inclair. Ela se formou em Yale, no ano de 1999 e logo em seguida veio para a Califórnia a convite do próprio Been Gerard em Sacramento, ela trabalhou para o escritório de Gerard & Gerard, de
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1999 até o princípio de 2011, depois deixou a profissão para se dedicar ao casamento. Ela ficou viúva há pouco menos de seis meses. Aqui está o endereço dela em San Francisco, os telefones, registro social, nome de seus pais, etc... Foi o que consegui descobrir, agora se senhor desejar que eu aprofunde nas minhas pesquisas terá que me dar mais um tempo. — Por enquanto não. Você fez contato com Dawson ou com Antony? — Sim. Eles disseram que amanhã passaram por aqui. E quanto a... - O assistente continuou a falar, mas o pensamento de Demétrius saiu daquela sala, deixando-o totalmente surdo a voz de McRay. Aquelas últimas informações sobre a advogada teve um gosto ácido para Demétrius. Alguma coisa dentro dele o cutucou. O maldito remorso novamente estava batendo na porta. E se na sua vã ignorância Charlie tivesse ficado grávida? Ele jamais se perdoaria. Ele seria pai de um filho de vinte e três anos. A ideia o amedrontou e uma fisgada em seu estômago o trouxe parcialmente de volta a sala. Ainda pensativo. A voz do assistente estava muito longe. Até ouvir o nome Aleska. — Você pode repetir o que disse? — Eu.... Bem .... Estava falando da Senhorita Carmine. Estou lhe dizendo que vi a Senhorita Carmine e a Juíza Kimberly acompanhadas de Tony Reids, no saguão do Departamento de Investigação Federal. As caras não estavam muito boas não. O Juiz McCrow pediu para o senhor encontra-lo naquele pub que fica na Avenida 24 o Taverna Vallery. O senhor sabe onde é? — Sei. Vou dar por encerrado o expediente por hoje, se você quiser pode ir embora, já estou de saída também. — Vou aceitar uma carona se não se importa, minha namorada trabalha perto da Avenida 24. — Sem problemas, vamos. - Internamente Demétrius queria estar sozinho com suas ideias nada ortodoxa em relação à senhora
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S’inclair. “Merda!!!!! Por que será que estou tão incomodado assim com essa mulher? ” — Senhor Ballinderry, o senhor quer que eu procure saber mais sobre a Senhora S’inclair? - Demétrius olhou de soslaio para o assistente, e continuou a dirigir, enquanto pensava na pergunta. — Não. As informações que queria você já obteve. O que realmente quero saber é sobre a juíza Kimberly e o sócio de Carmine. Discretamente faça uma investigação sobre tudo a respeito da juíza, verifique até onde a senhorita Carmine está envolvida. Preciso me concentrar neste problema. Também quero saber sobre a candidatura de Carmine a promotoria. — Ok. Vou providenciar todas as informações sobre elas. O Senhor pode me deixar perto daquela esquina, o pub está três quarteirões abaixo. — Ok. Até amanhã. O assistente desceu do carro, e Demétrius seguiu rua abaixo até chegar ao pub, desceu do carro e entregou as chaves para o manobrista e atravessou passeio correndo sob a chuva que caia torrencialmente, seu guarda-chuva não o protegeu quanto queria, entrou no recinto e ficou admirado com o que viu, o pub era confortável, e sofisticado, ao entrar deparou com uma bela garçonete, então perguntou a ela sobre o juiz, ela lhe sorriu, quase lhe comendo com os olhos, e apontou para a mesa onde o juiz estava sentado, Demétrius achou até interessante flertar com a morena, mas naquele instante precisava dar uma atenção dobrada ao seu problema. — Joe. Chamou-o pelo nome. — Demétrius. Sente-se, relaxe um pouco, sua aparência está horrível. Quer beber? — Vou tomar uma cerveja. — Aqui tem uma cerveja escura muito boa. Espere vou chamar uma das meninas para lhe servir. - Quase que imediatamente ao final da frase uma garçonete de estatura mediana surgia diante da
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mesa. E perguntando lançou um olhar furtivo para o promotor, depois para o juiz. — O que os rapazes vão beber? — Quero uma cerveja, de preferência escura. — Você quer o caneco ou jarra? — Pode ser o caneco. O senhor está bebendo? - O juiz confirmou que sim, mas estava devagar, logo teria que ir embora. Assim que a garçonete saiu para trazer a bebida, ambos começaram a conversar, tendo a conversa interrompida apenas para receber a bebida. Algum tempo depois os dois amigos se despediam na porta de entrada do pub, e então Demétrius pegou o carro e foi para casa. No caminho ficou confabulando com os próprios botões sobre a conversa que tivera com o juiz, afrouxou sua gravata, e abriu os primeiros botões de sua camisa, mesmo com a música fluindo no interior de seu carro, ele começava a ver a formação de nuvens negras acima de sua cabeça. Infelizmente ele corria sério risco de ver seu nome misturado ao da juíza, tudo porque havia se envolvido com Aleska. Suspirou fundo e quase desacreditando em si próprio finalmente chegou até sua casa. Esperava ansioso que Aleska não estivesse por ali. Entrou no living e deixando as chaves no aparador atravessou o corredor de granito, já tinha aflouxado à gravata, desabotoado a camisa, tirado os sapatos, em segundos já estava nu, entrou no banheiro e ligou o chuveiro, a água quente começou a escorrer por entre seu corpo. E enquanto sentia aquela água escorrer, flashes da audiência começaram a passar por sua mente e o rosto da bela ruiva começou a assombrar seu banho, ela era quase o retrato de uma lembrança remota que se instalava em seu coração, a doce fragrância de gerânio só reforçara ainda mais aquela lembrança, ele sentiu um calor quase que alucinado por aquela boca, rosa cálido, aqueles olhos, como aqueles olhos se pareciam com os de Charlie,
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ele devia ter pedido o cartão de visita da bela senhora, estava diante do espelho embaçado, pensando em como seria abraçar aquelas curvas arredondadas da bela senhora, que cheiro deveria ter seu sexo, como seria explorar aquela feminilidade, será que seria uma onça ou uma gata, será que derreteria em seus braços, ou será que ele morreria de tanto tesão. Aquela mulher mexeu com sua masculinidade, ela era sem dúvida um belo troféu a ser colocado na horizontal sobre sua cama. Embrulhado por uma toalha na cintura ele desceu as escadas e foi até a cozinha comer alguma coisa. Como sempre a sua secretária era muito cuidadosa, além de organizar e limpar toda a casa, ela sempre deixava algo pronto para comer, Carmem era uma cubana radicada nos Estados Unidos há quase dez anos, e trabalhava para ele há oito anos, além de ser uma perfeita cuidadora de sua casa, ela também cuidava de suas roupas e de sua alimentação, era uma senhora de grande valor. Tinha duas filhas lindas, que Demétrius fazia questão de custear os estudos de ambas, ela era uma boa amiga em horas estranhas, e naquele momento ele estava pensando seriamente em conversar com ela e de repente ouvir alguma solução para este caso. “Quanta besteira homem, o que uma mulher de natureza simples poderá fazer para lhe ajudar, imbecil...” Demétrius pensou, recriminando-se. Olhando para a comida pronta, ele a colocou no micro-ondas por alguns instantes em seguida pegou um copo-de-leite, e enquanto comia lia alguns artigos em seu computador estava navegando, quando digitou na barra de endereços o nome de Charlie S’inclair, nada apareceu, nem uma foto, nem um perfil, mas ao digitar apenas o nome S’inclair uma série de coisas a respeito foram aparecendo, desde os mais famosos ranchos da Califórnia como também as inúmeras fotos de moças belas e homens, então em meio aquele número de imagens visualizou a notícia de casamento do Major Edmund S’inclair a senhorita Charllote, ele olhou a foto, e viu uma noiva linda, o vestido de casamento era um conjunto harmonioso com a
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mulher e seu cônjuge, ele reconheceu aquelas planícies douradas típicas da região de Helena, mas não tinha certeza, então viu a notícia do velório, a notícia trazia uma foto da advogada Charllote vestida com um tailleur preto, destacando a cabeleira ruiva, “Deus que mulher mais linda é ela” pensou olhando para o rosto triste da bela senhora. “Preciso descobrir uma maneira de encontrá-la novamente...” Ele não se conteve, salvou a foto no banco de imagens de seus arquivos. Depois de ler alguns artigos e estudar alguns casos para as audiências do dia seguinte, Demétrius resolveu ir descansar, já era madrugada e uma chuva torrencial caía sem trégua na cidade de San Francisco. Um raio cortou o céu e tudo escureceu, Demétrius já estava deitado quando as luzes acabaram, ele olhou para o celular e o configurou para despertar pela manhã, e se virou para dormir, o sono veio logo e com ele muitas lembranças de uma época remota...
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Três Uma vaga lembrança na noite escura
— Quem é a garota de cabelos vermelhos? - O jovem Demétrius perguntava a Bradley seu colega de classe desde a tenra infância. — Ah! Ela é a “Espiguinha cruel”? É a neta de Mitchel Robson. - Demétrius olhou para a jovem ruiva com interesse. — Ela é bem bonitinha. Aquele cabelo é um show quando o sol reflete sobre ele, você já viu? — Ora Dimi, tenho olhos apenas para minha Mad. Olhando para onde Charlie estava, Bradley continuou: —Ela é bonitinha sim, mas não faz meu tipo. — Já tem namorado? — Não meu velho, ainda não tem namorado. Se eu gostasse de ruivas provavelmente já estaria fazendo tranças naqueles cabelos. Se é que você me entende. — Sei. Você fala, como se ela fosse te deixar fazer tranças. Demétrius falou rindo da brincadeira do amigo. Eles continuaram a caminhar para o vestiário, enquanto conversavam. — Taí! Uma boa aposta. Duvido que você a pegue até a formatura. O que você acha? Seria uma oportunidade legal para você trocar óleo. Sem falar que ela ainda não foi tocada. Dizem, que a primeira vez com uma virgem é o paraíso, o que você acha? Melhor que ficar “enforcando o judeu” toda noite com a revista velha da playboy. — Cara! Que idiotice é essa, que você está me falando. Até parece que estou precisando mesmo de trocar o “óleo”. Ainda não estou desesperado e também não preciso de enforcar nenhum judeu. Demétrius respondeu meio constrangido. — Até posso 56
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pensar em apostar com você que a levo ao baile, mas não significa que vou transar com ela para ser o primeiro, essa é a última coisa que penso em fazer. Ainda mais sendo ela. Ele olhou em direção ao vestiário das meninas e depois olhou para o amigo. —Eu não vou apostar nada, porque não preciso disso, ela virá para mim, porque sou irresistível. Você verá... - Demétrius falou com ar de superioridade para o amigo. — Cara você está afim dela!!! Posso ver em seus olhos. Não acredito que a “espiguinha cruel” fisgou você. - Bradley começou a rir e logo em seguida mais sério completou: — Eu já tentei passear naquelas planícies cara, ela não dá mole. Mas minha irmã me contou que ela está paradinha na sua. — É. Eu já observei que ela me olha muito quando passo no corredor. Ou quando vou pegar material no armário. Acho que já a vi tirando fotos minha no campo. Mesmo no refeitório, ela pode estar conversando distraída, no momento em que entro, vejo os olhos dela me seguindo. Acho que sua irmã tem razão. Vou descobrir o que é que esta ruivinha tem a me oferecer. — Já vi este olhar, não acredito em você cara. Você vai pegar a “espiguinha cruel”? Eu estou sentido, alguém está babando por causa de um rabo de saia. - Os amigos entraram direto para o vestiário se trocar. Mais tarde, no refeitório Demétrius avistou a ruiva do 11º ano. Ela vestia um pequeno vestido rosa de rendas e uma jaqueta jeans, suas botas iam até a altura das coxas, quase no comprimento do vestido. Um lindo echarpe de lã contornava o pescoço, e um conjunto de pulseiras nos dois braços faziam par para as pequenas mãos que traziam alguns anéis, nas orelhas pequenos brincos competiam com a beleza daquele olhar acinzentado, sua pele não era de todo branca, ela tinha uma cor dourada, diferente da maioria das meninas, ela não possuía aquela cor vermelha nas bochechas, ela trazia um tom quase de pêssego, as pequenas sardas que cobriam seu rosto tornavam a pequena moça um conjunto
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exótico e quase misterioso. Naquele momento os cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo. “Ela realmente é muito linda”. Pensou, enquanto olhava para os colegas em um canto a esquerda da grande porta de vidro, estavam sentados conversando sobre a formatura, e ela estava com as amigas do grupo de torcida. Ela era bem popular entre as garotas, porém não circulava muito nas festas. Já havia visto ela algumas vezes, mas nunca ficou sabendo nada sobre suas paqueras, porém ele ao contrário já havia varrido quase a metade das meninas do ensino médio. Mas desde que a vira, ele se sentiu atraído por ela. Os olhos dela pareciam duas pedras brilhantes, ele muitas vezes já havia visto as nuances que aqueles olhos podiam ter de acordo com o humor ou mesmo com o reflexo do sol. Ela era uma visão estonteante. E embora tenha ficado constrangido com Bradley a respeito de enforcar o judeu, ele já o tinha feito, mas não com uma revista da Playboy, mas pensando nela. Pensando nas curvas generosas daquela cintura, no cheiro forte que seu sexo deveria ter na hora do H, ou mesmo nos gemidos que ela poderia dar ao ser possuída por ele. Um comichão estranho percorreu por toda a extensão de seu membro ainda em desenvolvimento. Ele sentia-se atraído por ela. Atravessou a grande sala onde faziam as refeições até a mesa para pegar um bandejão e ir colocar sua refeição. Enquanto caminhava para a fila percebeu que ela não estava mais na mesa, então alguém atrás de si falou quase sussurrando: — Foi um grande jogo que vocês fizeram hoje. Você estava perfeito na defesa. - Ele tremeu, quase vacilou. Então olhou para trás, e se deparou com a bela ruiva de seus sonhos. Ele notou desconsertadamente que ela não era tão baixa, era quase da sua altura, percebeu também que ela era muito mais linda de perto e que era também muito mais corajosa que ele. — Olá. É... É você.... Eu...Hã! - O que era aquilo? - Ele estava gaguejando. — Obrigado, tenho me esforçado. — Você pretende continuar jogando na faculdade?
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— Não.... Não sei.... Quero dizer.... Não pensei sobre isso. — Entendo. Ela respondeu. E sorrindo ela lhe falou —Adoro cavalos, você gosta? — Sim. Gosto. “Mas o que é que cavalos tem a ver com jogo????” Ele pensou. Mal sabia ele, que ela também estava desconcertada pela ousadia de aproximar e puxar conversa. Então falou o que veio na boca. Seu estômago estava se contorcendo, sua boca estava seca, e suas mãos estavam suadas... Era pânico? Seu atrevimento estava lhe causando um ataque de pânico. — Topa cavalgar nas planícies qualquer dia desses, será divertido. O que acha? — Eu... -Neste momento, ele virou-se para ela e seus olhares se cruzaram, ele se sentiu quente. E sem entender bem aquela sensação, ou mesmo a sua própria resposta, ele respondeu: — Eu adoraria. Posso te ligar? — Claro. Aqui está meu telefone, vou ficar esperando. Ela estendeu um pequeno papel cor-de-rosa para ele com o número do celular. Ele pegou o papel discretamente e certificou se nenhum de seus amigos estavam olhando. Para sua sorte ninguém estava vendo aquela conversa na fila do refeitório. Então, ela mudou de direção e foi pegar frutas e leite, enquanto ele pegava um hambúrguer, pão e um suco. Ele respirou fundo, “Nossa! Que perfume bom ela tem. Podem passar cem anos, onde eu estiver sempre vou me lembrar deste perfume. ” Aquele cheiro, era peculiar demais para ser esquecido. Um cheiro que ele vinha sentido há tempos pelo corredor da escola, ou mesmo na biblioteca, às vezes até mesmo no vestiário sentia aquela fragrância e agora ele tinha certeza, que ela era a dona do perfume gostoso. Depois daquela breve conversa no refeitório, eles passaram a trocar torpedos constantes, embora ainda não tivessem ficado juntos, passaram a se ver mais pelos corredores da escola, e a cada encontro trocavam sorrisos ou às vezes apenas olhares. Aquele jogo estava sendo uma novidade para Demétrius, pois a maioria
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das meninas queria pular freneticamente em seu colo, todas se derretiam, bastava apenas um estalar de dedos e elas vinham correndo. Porém, a ruivinha em questão não era assim, ela queria estar com ele, mas não da mesma forma que as outras. Olhando para o pedaço de papel em sua mão ele decidiu ligar para ela. — Charlie? — Olá. Pensei que nunca fosse ligar. — Então. É... Que você sabe, formatura se aproximando, tensão do final do campeonato, escolha de universidades, essas coisas... — Ainda não faço ideia de como deve ser a pressão, apenas imagino. Então, o que você quer? — Bom, você me convidou para cavalgar, se lembra? — Claro que me lembro, por que você acha que lhe dei meu telefone? Perguntou fazendo uma careta. — Pensei que talvez você quisesse me conhecer melhor. - Ele arriscou. — Eu lhe conheço muito mais do que imagina Dimi. - Ela falou suavemente e continuou. — Sei que quando não está treinando, está sempre cavalgando pela planície oeste em volta do rio. Sei que na maioria das vezes você está lá, olhando o barulho das cachoeiras, você fica por horas, sentado olhando para as margens daquela correnteza... — Como você sabe disso? - Ele se assustou. — Eu já lhe vi muitas vezes, também faço isso, mas gostaria de fazer com você. Você topa. - Ele pensou um pouco e então lhe respondeu: —Ok. Encontro-te amanhã pela manhã na Ravina do lobo, ok? —Sem problemas. A noite custou a passar, Great Falls estava no outono, época em que se começava a colheita do feno, muitas vezes Charlie participava da colheita, mas naquela manhã estava ansiosa era para cavalgar até a Ravina e se encontrar com Demétrius, havia feito
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apenas uma trança, vestiu um velho jeans, colocou uma camisa branca e uma jaqueta por cima da camisa e pegou seu chapéu de feltro com abas curtas. Olhou para as botas na entrada da porta da casa, sorriu e foi ao encontro delas ali postada no chão. — Bom dia senhorita Charlie, a voz da mãe dela ecoou escada baixo, ela se virou e deparou com o olhar inquisidor da mãe. — Bom dia mamãe. — Parece feliz. Posso saber onde é que você está indo? Que eu saiba a colheita começou mais cedo. - Charlie sorriu para mãe e terminando de calçar as botas, levantou-se e foi para cozinha tomar um café, a mãe a seguiu esperando por uma resposta. — Mocinha, pode me dizer o que vai aprontar nesta manhã. — Claro que posso, vou tirar umas fotos lá para os lados da ravina. — Vai sozinha? — Não. Demétrius estará comigo. — Demétrius? Quem é Demétrius? — Um colega de escola. Ele é filho do senhor Ballinderry. — Malcon Ballinderry? — Isso mesmo. A senhora o conhece? — O bastante para saber que ele não aprovará a amizade do seu único filho com qualquer garota que vive por aqui. — Por quê? — Ele quer o filho bem longe daqui - Enquanto falava, pegava uma bandeja com bolo e duas xícaras. — Tem planos de ingressar o filho na política. — Enquanto isso não acontece, vou passear com ele na Ravina. — Mocinha vá com calma. Não quero que se machuque. — Não precisa se preocupar, vou ficar bem, sei que ele já está com a passagem só de ida para Harvard. Entendo os riscos, mas confesso, estou afim de ficar com ele, quero passar estes últimos meses que ainda restam junto dele, mesmo que eu venha sofrer depois, tenho certeza que poderei conviver com o sofrimento da
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separação, mas jamais poderei viver com o arrependimento de não ter aproveitado um só instante ao lado dele. A senhora consegue compreender o que quero mamãe? — Meu Deus! Você é teimosa, igual ao seu pai. O que faço com você Charlie Robson? — Nada. Só seja meu colo quando eu precisar. - Ela sorriu para a mãe enquanto tomava um gole do café fumegante e comia um pedaço do bolo de cenoura. Sua mãe retribuiu o sorriso, com um ar de preocupação. Um pouco depois daquela conversa, Charlie saiu para selar um cavalo, no caminho encontrou com sua cachorra Laila. — Não Laila! Agora não. A cachorra pulava incessantemente na jovem, em busca de carinho. — Como você é teimosa menina, vá para casa. Já!!!! Ao alterar o timbre da voz, a cachorra obedeceu ao comando e saiu correndo em direção a grande casa. Charlie passou pelo estábulo e seguiu a grande cerca branca de madeira, ao longe alguns peões estavam no exercício diário de domar os novos cavalos, outros levavam o feno e a ração para as baias dos potros recém-nascidos. E ainda havia aqueles que eram responsáveis pela cobertura das éguas. O haras estava a pleno vapor, a criação dos cavalos Appaloosa era um orgulho para o avô de Charlie. Na medida em que ia trotando, ia se afastando da propriedade, antes de sair totalmente ainda visualizou o avô acompanhado de outros homens, estavam colhendo o feno, em uma área muito grande, aquelas colheitas durariam muitos dias para colher todo o feno. Ao alcançar a planície dourada das terras de seu avô, o cavalo baio que ela montava aumentou o trote, era um mestiço de sete anos, já conhecia a trajetória que ela fazia, então, ao passar pelas cercas naturais do terreno ele deslizou pelo caminho tranquilo, obedecendo aos cutucões suaves de sua amazona, ela contornou um pequeno vale onde havia um cemitério indígena, encontrou alguns descendentes de Cheyennes cuidando de seus rebanhos, havia uma reserva indígena nas
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imediações, ela contornou os limites da reserva até sair próxima a Ravina do lobo. O local era bastante ermo, mas Charlie já estava acostumada a cavalgar por ali, já estava acostumada ao som do vento que cortava a planície. A ravina era chamada de Ravina do lobo, por causa da grande quantidade de lobos que desciam da montanha para beber água nas imediações e caçar, mas com a proximidade da reserva e alguns ranchos, boa parte destes lobos desapareceu, foram caçados e praticamente dizimados daquele local. A Ravina nada mais era que um pequeno sulco aberto na grande planície, onde corria as águas provenientes das geleiras das montanhas e seguia para o rio Missouri, muita gente cavalgava por ali, outros se aventuravam nas trilhas que levavam até as montanhas. A manhã estava fresca, embora ventasse, ainda faltavam alguns meses para o inverno, logo aquele tom dourado, seria coberto pelo branco gelado da neve. O vento cortava o rosto de Charlie, ela virou-se para ficar contra ele, então viu Demétrius surgindo em um cavalo castanho com apenas uma parte da anca malhada, era um exemplar magnífico da raça Appaloosa. Ela observou o trote do cavalo, seguro como o cavaleiro que o guiava. Ele sorriu ao vê-la, acelerou seu cavalo até o encontro dela perto da ravina. — Bom dia! Charlie o cumprimentou iluminando o rosto com um sorriso terno e suave. — Bom dia! Esperando há muito tempo? — Não acabei de chegar. Que cavalo lindo! — Obrigado. Este é Dueto. — Ele é muito bonito. — O seu baio também é muito bonito. — Ah! Este é o Menino. Meu avô me deu quando ainda era uma menina. Você quer apostar uma corrida pelo vale? Até a orla do Missouri? — Valendo o quê? — Uma dança.
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— Não! Uma dança, não! Quero um beijo. -Ele arriscou. — Lhe dou o beijo, mas você me dá a dança. – Ela respondeu já cutucando a costela do cavalo e este foi saindo acelerado ao comando dos pés da amazona. — Feito. O último a chegar será a mulher do padre. — Mulher do padre? Você tem certeza? Que coisa mais feia. Gargalhadas cortavam o vento, enquanto dois cavalos corriam pelo vale, tão libertos quanto seus montadores... Finalmente chegaram nas proximidades do rio, diminuíram o trote, e em seguida desceram do animal. O barulho da queda-d’água na usina mais parecia um amontoado de trovão. Os cavalos estavam em alerta, mas ambos tranquilizaram os animais. O barulho ensurdecedor foi interrompido por Charlie: — Ganhei de você, mulherzinha do padre. Ela sorriu ao finalizar a frase. — Não. Você não ganhou. Ele a olhou. A juventude brilhava neles. — Eu deixei você ganhar, não suportaria a ideia de vê-la com um padre. — Isso seria sacrilégio. — Sim seria. Mas mesmo assim acho que você está me devendo algo. — Estou? Mas eu ganhei a corrida. — Mesmo assim. Quero ser ressarcido pela a humilhação. — Sendo assim, vejo que não tenho muita escolha. Ambos desceram dos cavalos e estando frente a frente um do outro perceberam que estavam os dois muito tensos. Ele a olhou e percebeu que ela estava tremendo, ele ia beijar aquela boca vermelha como uma cereja, o que deveria fazer? Dar um beijo de língua ou apenas um selinho como um garoto bobo do ginasial. — Você já beijou alguém antes? Perguntou a ela para ganhar tempo. — Não. Mas não deve ser difícil.
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— Não. Não é... Ela estava próxima, bem próxima, então ele viu que ela realmente era quase da altura dele, aquilo era uma novidade interessante, então ele inclinou um pouco a cabeça e ergueu o queixo da pequena, ela estava segura embora, tremesse, não estava tensa como a maioria das meninas, sabia o que queria, ele colou os lábios nos lábios dela, e ela instintivamente abriu-os e naturalmente as línguas começaram a bailar uma com a outra convidativa, perturbadora, densa. Jesus!!! Nunca Demétrius esperava por um beijo daquele, a volúpia e languidez de Charlie lhe tirou o fôlego. Ele perdeu a noção do tempo naqueles lábios. O primeiro beijo de verdade tinha que ser justo com a menina mais exótica da high-school, os lábios eram macios e delicados, o hálito fresco tornava o beijo agradável, e ela correspondia semnenhum tipo de constrangimento. Ao final ele aspirava o cheiro dos cabelos dela, ele aspirou e a abraçou por um momento. Precisava recuperar o ar, a cabeleira densa e vermelha era muito macia e sedosa. Ela era sem dúvida nenhuma, uma garota muito especial. — Menina! O que é isso? Você acabou de me dizer que nunca foi beijada. Onde você aprendeu a beijar assim? Ele falou baixo apenas para os ouvidos dela. — Deixa de ser bobo. Este é o meu primeiro beijo. Ela respondeu na mesma tonalidade. Mais solto ele continuou: — Jura! Isso é formidável. Venha, vamos caminhar. Fale-me de você. O que você gosta de fazer quando não está no colégio. Pegou em uma das mãos dela e então caminhou, até avistarem a grande queda do rio Missouri, era impressionante ver aquele volume de água. Os cavalos ficaram agitados, mas ele os conteve. Acalmando-os. Logo viu uma árvore e foi ao encontro dela para amarrar os dois animais. Então, os dois jovens caminharam por uma alameda estreita até uma grade de segurança, além da enorme grade ferro, havia também alguns bancos e um abrigo, era um
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lugar para descansar, ali era um ponto de apoio para os caminhantes e esportistas. — Venho sempre aqui tirar fotos. Charlie falou quase para si mesma. — Você gosta de fotografar? — Sim, adoro. Há poucos dias fui com o vovô até perto das montanhas, registrei ótimas paisagens, o dia estava claro, as montanhas pareciam que abraçavam o céu, tamanha era beleza das cores do sol refletindo sob o cume. Ela falou com uma emoção na voz que iluminava o rosto, Demétrius a ouvia com interesse. E observava cada expressão de sua boca, o movimento natural do rosto, o sorriso e o brilho do olhar. Observou também que ela tinha um orgulho na voz ao falar de si, diferente da maioria das meninas. Era cativante ouvi-la. Então ela olhou para ele. Ele sentiu-se aquecido, aquela sensação era muito boa. — Posso tirar uma foto sua? — O que você pretende fazer com minha foto? Demétrius perguntou meio ressabiado. — Colocar no meu álbum de recordação. Sei que você não pretende ficar por aqui. — Cidade pequena. Todos ficam sabendo dos planos da gente. Criticou quase sem pensar. — Você quer dizer planos de seu pai? — Não é só de meu pai. Eu cresci almejando um lugar bem diferente deste aqui, somos só nós dois e a governanta, imagina, ele é um político, a influência dele na minha vida está muito longe da influência de um cowboy. — Você queria ser cowboy? — Gosto muito de cavalos. Talvez um dia eu tenha o meu próprio haras. Mas isso num futuro bem distante. — Depois que você se tornar um político como seu pai deseja, você vai se aposentar, comprar alguns cavalos e irá cuidar deles
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como um rancheiro experiente. É isso mesmo que eu entendi? Perguntou sorrindo. Não me faça rir. - Ela concluiu. — Corrigindo: não vou ser político, vou ser alguém do judiciário, quero ser um promotor, talvez quem sabe um juiz. Na verdade, pretendo seguir carreira jurídica. Bom, isso vai depender da minha evolução acadêmica e do meu desempenho durante o meu trabalho. Se tudo der certo. Quero estar em Harvard no início do ano . Ele falou com orgulho de seu plano para seu futuro. — Mas e se você se apaixonar? Você vai partir assim mesmo? Ela perguntou olhando profundamente para os olhos azuis dele. Os olhos dela transformaram na expectativa da resposta. Ele não queria ser tão absoluto naquele momento, então ele a puxou novamente para si é lhe deu outro beijo. Um beijo molhado acompanhado de uma respiração acelerada, ele se conteve, não queria despertar nela outras sensações e muito menos ele não queria despertar sua vontade de tocá-la em outras partes. Então, olhou-a. Olhos dela estavam fechados, ela estava curtindo aquele momento tanto quanto ele. Então mudou para pequenos beijos, mordiscando os lábios de leve, suas mãos estavam nas faces dela, ela segurava duas presilhas de sua calça, puxando-o para si. Que sensação boa era aquela? Pensou enquanto afastava. Automaticamente levou a mão para um cabelo que escorregava da trança. Ele sorriu, estava tenso, será que exagerou? Será que foi além dos limites dela? — Então é assim o beijo? — Bom, existem outros tipos, mas teremos tempo para isso, por hora ficaremos apenas com este. Respondeu em tom de brincadeira. — Você está falando sério? Existem outros tipos de beijos? Ela afastou dele e caminhou até a beirada do barranco protegido pela grade que separava o terreno da margem da água do rio. — Bom é o que dizem, mas também estou em fase de aprendizagem como você. - Mentiu deliberadamente. Demétrius já tinha uma experiência sexual desenvolvida, desde os quinze
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anos, se enroscava com a filha mais velha da governanta de sua casa, ela era uns dois anos mais velha que ele, tinha uma bagagem sexual bastante significativa, lhe ensinou muitas coisas sobre o assunto, muitas coisas que seus amigos nem sonhavam que era possível fazer ou sentir. — Você está me dizendo que sou a primeira pessoa que você beija? Ela perguntou incrédula. — Já beijei outras, não com a mesma intensidade. Foi diferente, você respondeu ao meu beijo tão naturalmente que confesso que estou duvidando se você realmente nunca foi beijada. — Não fui beijada, ainda não havia encontrado alguém a altura. Finalizou indo em direção a ele. — Mas me diga, como vai ser daqui para a frente? — Você quer dizer se continuaremos a nos encontrar? — Isso mesmo? — Vou ser bem sincero com você. E espero que você compreenda o que vou lhe dizer. Ela segurou um fio do mato dourado que compunha o solo onde pisavam e ficou de frente para ele desafiadoramente semnenhum tipo de receio aparente na fisionomia. — Eu quero ficar com você, quero que você seja minha companhia no baile, quero aproveitar ao máximo sua companhia, porém minha vida futura já está planejada, não fica magoada comigo. Te acho uma princesa, mas não vou ficar aqui para sempre. Nosso namorico não pode ser sério. Você me entende? — Uau! Calma! Estou ficando sem fôlego só de ouvir estes quero. Primeiro não lhe falei nada sobre relacionamento sério. Segundo, mesmo sendo assim tão jovem aprendi as duras penas que não devemos apostar nossa vida baseada em relacionamentos, eles não são eternos. Não acredito em relação durável. Calma lá. Como você, também tenho planos. Por isso, também quero aproveitar o máximo de sua companhia. Não quero falar nada sobre o futuro, somente quero desfrutar o máximo que eu puder
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de você. É só o que me interessa. Ficar com você. - Ouvindo aquelas palavras ele a abraçou pelas costas, fazendo-a aninhar em seu peito. Surpreso com a atitude madura que ela demonstrara. O que era aquilo? Ele estava maravilhado com ela. — Você vai muito além de minhas expectativas Charlie. Não posso e nem devo me apaixonar por você. - Ele segredou em seus ouvidos. Ela ouviu e respondeu suavemente. — Não tema o amor. Deixe-o acontecer. Foi uma resposta quase inaudível de Charlie, mas sentida por ele. — Então você gosta de tirar fotos? - Demétrius perguntou ao ver uma beirada da Cannon na algibeira da sela do cavalo de Charlie. — Sim. É o meu passatempo preferido. - Respondeu ela pegando a câmera, e já clicando em direção a um lagarto que se estendia sobre a pequena pedra na beira do rio. —Veja como é lindo, - mostrou-lhe o visor da câmera, olhas as cores deste pequeno animal. Veja como ele compõe perfeitamente com aquela pedra. Ele pegou a câmera das mãos dela e olhou a foto recémtirada do pequeno réptil. E perguntou a ela: — Você tirou muitas fotos minhas? - Perguntou. — Algumas. Ela respondeu sem pestanejar. —Mas como você sabe disso? Ela se surpreendeu. — Muitas vezes a vi, e não sei por que, sabia que você estava me fotografando. — Foi tão óbvio assim? — Digamos que a minha percepção seja muito boa, e que eu também estava te observando. — Sim. Isso te incomoda? — Não. Nem um pouco. — Você estava me observando? Sério? — Vamos já está tarde, daqui a pouco teremos um monte de gente atrás de nós.
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— Me responda uma coisa? - Charlie olhou para a câmera e depois levantou os olhos para ele. — O que você espera de mim? — Eu.... Eu ainda não sei direito..., mas não quero fazê-la sofrer e nem quero me aproveitar de você. A verdade é que gosto muito de você. — Não tanto quanto eu gostaria. — Talvez, mas neste momento é tão bom ter sua companhia, e como é gostoso te beijar. E sentir seu cheiro. Sentir o calor de sua pele ao me abraçar, é gostoso sentir a maciez de seus cabelos. Você é muito linda Charlie Robson. Muito linda. - A voz foi abaixando, se tornando quase tão baixa quanto à respiração e Demétrius lhe deu um monte de pequenos beijos, nos lábios, no pescoço, nos cabelos, nos olhos e novamente na boca. Algum tempo depois eles montaram novamente em seus cavalos e começaram a cavalgar tranquilamente o caminho de volta. — Antes de apearmos. Gostaria de lhe fazer um convite, estou indo acampar no lago de St. Mary com uns amigos, você quer ir comigo? Vai ser muito legal. — Interessante. E vocês estão pretendendo ir quando? — No feriado do dia do trabalho. — Eu posso chamar alguns amigos meu? — Claro. Ela respondeu depressa. — Isso significa que você virá comigo? — Tenho que ver se não terei nenhum compromisso, afinal estou na reta final do meu ano letivo e ainda tem o campeonato. Mas vou ver o que faço. — Ficarei muito feliz, caso você venha. Agora vou realmente ganhar minha aposta. Saiu trotando o cavalo imediatamente ele a seguiu. — Assim não vale. Você está trapaceando. — Eu sei que estou. Quero ver você se tornando a mulher do padre. - Gargalhadas podiam ser ouvidas a distância. Os dois
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jovens fizeram o caminho de volta e quando se aproximaram do rancho de Charlie, ela voltou para encontra-lo logo atrás de si. — Obrigada pela companhia, você me fez muito feliz hoje. Ela sorriu para ele vermelha de vergonha. — Espere. Ele se aproximou e deu lhe um selinho nos lábios. —Quero te ver novamente. — Me liga. Para combinarmos alguma coisa. — Está bem. Vou ligar. Depois daquele primeiro encontro, Demétrius se encontrava todos os dias com Charlie; no colégio, quando não estavam juntos, eram os torpedos quem fazia companhia um ao outro. O celular vibrava a todo o momento, no almoço, no jantar, na hora de dormir, na biblioteca, enfim, estavam namorando, e aquilo era pura felicidade para o jovem casal. Os meses foram avançando, o relacionamento do jovem casal ia se adaptando as estações do ano conforme a magia das flores e da neve. Enquanto Demétrius e Charlie se conheciam, os pais já estavam começando a ficar incomodados com aquela relação. Principalmente o pai de Demétrius, e numa manhã, o senhor Malcon Ballinderry, apareceu no Rancho dos Robson. O avô de Charlie viu quando a caminhonete atravessou os portões do rancho indo direto para a casa grande. Ele achou estranho, pois Malcon não tinha interesse na raça de cavalos que eles criavam, ele era um político local fazedor de barulho, um republicano das antigas, cheio de amarras e preconceitos. O velho Mitchel montou em seu cavalo e foi ver o que estava acontecendo. Chegou logo atrás de Malcon, apeou do cavalo e entregou as rédeas a um peão que estava próximo. — Boa tarde Malcon? Perdeu alguma coisa por aqui? O velho Mitchel perguntou aos trancos. — Boa tarde Mitchel. A minha visita será curta. - Sem rodeios Malcon já foi falando sobre o namorico de Charlie e Demétrius.
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— Você veio aqui me dizer que minha neta está enrabichada com seu filho? Eu entendi direito. Você não quer o namoro dos dois? Você ficou louco Malcon? — Não fiquei Mitchel! Não quero que os dois fiquem juntos, e antes que acontece com ele a mesma coisa que aconteceu com seu filho temos que colocar um ponto final nesta história. Mitchel tirou o chapéu surrado da cabeça e o bateu nas pernas, estava empoeirado e sujo, por causa do trabalho no estábulo. Ele pensou na neta e com surpresa percebeu que ela estava ficando menos em casa, saia todas as tardes a cavalo, mesmo nos dias nublado, ela saia. Ele pensou na carinha de felicidade. Ela estava realmente namorando. E justo com o filho de Malcon? Ele caminhou de um lado para o outro, e então resolveu chamar a mãe de Charlie. — Venha vamos ver o que a mãe de Charlie tem a nos dizer. — Mitchel, eu não vim aqui para conversar com a mãe de Charlie, vim aqui para lhe pedir para me ajudar. Essas duas crianças estão se encontrando já tem uns meses. E desde que eles começaram a se envolver, o meu filho tem estado desfocado. Não quero isso, afinal já fiz um grande investimento na carreira dele e ele irá para Harvard assim que terminar os estudos. — Veja bem Malcon, também tenho planos para minha neta. Isso é apenas um namorico de adolescente. Não tem porque nos preocuparmos. — Como não? Você sabe como são esses jovens. Basta apenas uma gota de sangue e ela poderá engravidar dele. E acabará com os meus planos de torna-lo um homem da política. — Ah! Então é isso? Você está preocupado com uma possível gravidez. Fique o senhor sabendo que se isso acontecer, não iremos jamais lhe incomodar, não vou proibir minha neta de ver seu filho. Eles não vão ficar juntos mesmo, os destinos de ambos correm por direções opostas.
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— Deixa de ser xucro Mitchel, não é nada disso. Pensa no que eu te falei, e espero que você me atenda. Converse com ela, digalhe que o relacionamento deles é inviável, ela não está à altura de ... — Não está à altura? Ouse a concluir seu pensamento que eu vou lhe mostrar quem não está à altura. A discussão chamou a atenção dos peões e também de outros empregados, um deles correu para chamar Audrey, esta veio quase que tropeçando, ela viu o pai de Demétrius, aquilo não estava certo. Ela chegou quase sem fôlego, e pediu para o empregado chamar o marido no laboratório. — Homens! O que está acontecendo aqui? Mitchel tenha calma, cuidado com a pressão. Audrey estava assustada, a violência a deixava trêmula e bastante nervosa. — Audrey saia daqui! Gritou Mitchel. — Essa conversa já acabou o senhor Malcon já está de saída. — Estou sim. E olhando para Audrey, Malcon falou. Senhora Audrey, não quero sua filha perto de meu filho. Isso é apenas um aviso. Não responderei por mim se ela vier atrapalhar os planos dele. — O que? Você está ameaçando a minha filha? Toma tento Malcon. - Respondeu Audrey. Malcon seguiu para a caminhonete e saiu cantando pneu. Todos ficaram atônitos com aquela discussão. — Audrey? Desde quando Charlie está se encontrando com filho dessa égua? - Audrey balançou a cabeça consternada e respondeu: — Já tem alguns meses, mas isso é só um namorico, ele vai embora, ela sabe disso. O senhor irá proibi-la de se encontrar com ele? — Não Audrey. Não vou ser tão ignorante. Mas este cachorro me disse uma coisa, e é bom você pensar também sobre o assunto. — O que foi que ele insinuou?
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— Ele falou que basta um descuido nosso para uma gravidez indesejada acontecer. Eu não quero isso para minha neta. — Nossa!! Ele chegou a este ponto. Mitchel, é só um namorico, ela sabe que ele vai embora. Ela ainda tem um ano de ensino médio pela frente até a faculdade. Por favor, não vamos destruir a felicidade dela. — Você acredita mesmo que nós iremos destruir a felicidade dela? Olha Audrey tenho que ser sincero, pode ir se preparando, por que logo-logo estaremos catando os pedaços da felicidade de Charlie pela casa. Esse rapaz vai trazer problemas para nossa menina. Você vai ver. Eu já estou prevendo isso. — Não me diga isso nem de brincadeira, agora venha, vamos tomar uma água, é bom que você faz um lanche. Mais tarde conversaremos com Charlie, e veremos o que ela vai fazer a respeito. O evento do meio da tarde já havia sido esquecido quando Charlie chegou em casa. Estava cansada. O dia tinha sido puxado, estava no quarto se preparando para tomar banho, quando o celular vibrou. Era uma mensagem de Demétrius. E então ela respondeu. “...Charlie, meu pai esteve em sua casa, sua mãe lhe falou alguma coisa? ” “.... Não. Acabei de chegar, ela deve falar alguma coisa na hora do jantar... O que está havendo? Seu pai já está brigando com vc por causa da gente? ” “...É... Ele acha que nosso relacionamento irá atrapalhar meus estudos. ” “Vc tbm acha isso? ” “Charlie, já conversamos sobre isso... disse-lhe que não posso apaixonarme. ” “..., mas e se isso acontecer? Desde quando a gente controla o coração? ” “Eu prefiro não pensar sobre o assunto, desde o princípio fui muito honesto com vc. “...E se eu já estiver apaixonada? ”
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Um silêncio tomou conta do quarto. Ele havia encerrado os torpedos. Ela olhou para a tela do celular e percebeu que havia falado demais. Não devia ter lhe assustado. Quase chorando, entrou para o banheiro. Ficou bastante tempo submerso na banheira. Ao se sentir renovada saiu e se enrolou na toalha felpuda. Ao sair do banheiro deu de cara com a mãe. Charlie respirou fundo e imaginou que a mãe fosse falar alguma coisa, mas a mãe apenas lhe chamou para o jantar. Ela concordou com a cabeça e antes de trocar de roupa olhou para o celular novamente, estava do mesmo jeito. Contrariada colocou um moletom e uma camiseta e desceu para o jantar logo em seguida. Chegou à mesa e viu que a atmosfera estava querendo ficar carregada, então se sentou. — Boa noite Vozinho. Como foi a colheita hoje? Ele sorriu e lhe apontou a cadeira. Ela se sentou do lado dele, então ele falou: — Ainda temos muito que colher. Mas foram boas. Os peões estão dando uma força bruta. Acredito que mais duas semanas estarão com tudo pronto. — Isso é muito legal. Ela falou sorrindo. Já estavam todos na mesa. E Charlie estava internamente em contagem regressiva. Então a mãe puxou o assunto: — Charlie como foi seu dia? — Normal. — Por acaso o senhor Malcon lhe procurou? — O senhor Malcon? Não. Por quê? — Bem ele esteve aqui e fez a maior confusão com Mitchel? — Por minha causa? Vovô! Ela olhou para ele apreensiva. — Sinto muito. — Não precisa se desculpar. Adiantaria lhe dizer que não me agrada seu namorico com o filho de Malcon? — Vovô, Demétrius irá partir assim que terminar o ano letivo, ele está indo para Harvard.
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— Ele vai para Harvard. —E você como irá ficar? — Espero que eu fique bem. Bom pelo menos eu sei o que estou fazendo. — Minha filha, vale tanto a pena ficar com ele mesmo sabendo que não há futuro para vocês dois? Audrey perguntou. —Vale sim. Prefiro chorar pela partida dele, do que passar uma vida inteira sonhando com que poderia ter sido. – O avô olhou para a neta e viu o quanto ela tinha razão, mesmo contra sua vontade ele preferiu dar o voto de confiança para a neta. — Então tenha juízo. - O avô concluiu a conversa. — Vou tentar ser ajuizada. Mas entenda, também tenho planos, irei para Yale, se esqueceram????? Ela falou com entusiasmo tentando disfarçar a preocupação. — Pense nisso todos os dias. Porque seu namoradinho está pensando no futuro dele. O avô falou sem a suavidade de costume, ela sentiu-se abandonada. Sem o apoio de sua família era impossível de ter forças. Como suportaria a separação. Ela fechou os olhos para conter as lágrimas. O pai de Demétrius havia realmente aborrecido a todos. — Peço a vocês que não me abandonem, sei que vou precisar de vocês quando ele for embora, mas agora.... Agora quero apenas que me deixem aproveitar o pouco que nos resta. — Charlie vá para seu quarto, você teve um dia cheio, o nosso também não foi fácil. Amanhã, estaremos descansados, então será melhor para tomar decisões. Greg o marido de sua mãe falou em tom paternal para Charlie, ele nunca envolvia nas discussões da família, mas naquele momento ele veio em socorro dela. E ela concordou e então subiu correndo para o quarto. E no interior dele ela chorou agarrada ao seu travesseiro. Tarde da noite ela acordou com o bip de alerta de mensagem no celular. Ela olhou e viu que era de Demétrius.
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“Vc está dormindo? ” “Não. ” “Chegue na janela. ” “Estou deitada. ” “ Charlie, estou aqui. ” Ela viu a mensagem e não acreditou no que leu. Então se levantou e foi até a janela. Lá estava Demétrius, encostado na sua caminhonete, estava vestido com uma jaqueta preta de couro, e usava uma toca. Ele acenou a mão. Ela retribuiu e digitou para ele. “Estou descendo. ” Ele respirou fundo, ela vinha ao encontro dele. E então ela surge na varanda, desceu as escadas quase pulando os degraus. — Você ficou louco? O que faz aqui no meio da noite? Ele não respondeu de imediato apenas a puxou e descarregou-lhe um beijo profundo na boca, e ela correspondeu com a mesma intensidade. Ele passava a mão por toda a extensão do corpo de Charlie, chegou a colocar as mãos no pequeno seio dela que ainda estava em transformação, duas pequenas laranjas, duras como pedras. Ela o afastou e ele a olhou, a paixão ardia nos olhos deles. — Desculpa, não foi minha intensão. Disse desajeitado. Ela olhou para ele confusa, e ao mesmo tempo feliz. —Venha vamos sair daqui. Ele falou. — Para onde iremos? — Não sei. Apenas vamos sair daqui. — Entre no carro. Fique tranquila. É perto daqui. Não iremos demorar. Ela entrou na caminhonete e ele dirigiu até um pequeno lago represado que havia próximo a uma reserva indígena. — Estamos em terras indígenas. Ela falou. — Eu sei. Sempre venho aqui, principalmente à noite. Eles já estão acostumados comigo. — Você vem aqui para namorar?
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— Não. É a primeira vez que trago alguém comigo. Ele explicou enquanto parava o carro, então se virou para ela: — Charlie o que está acontecendo com a gente? Eu não consigo ficar longe de você. - Um instante de silêncio. —Mas preciso. Não vou mudar os meus planos, mas não sei o que fazer quanto ao que sinto por você. — Eu não quero que mude seus planos. Vamos aproveitar o pouco tempo que nos resta, apenas isso. Temos muita coisa para fazer, ainda somos jovens, não gostaria de tê-lo preso a mim, infeliz, e nem eu gostaria de estar com você pensando o que poderia ter sido minha vida. — É assim que você pensa? Ele perguntou. — Neste momento? Sim. Ela respondeu. — Venha vamos ficar na carroceria, a noite está linda. Ele falou, então saíram da cabine e foram para a carroceria da caminhonete, sentaram-se sobre algumas lonas, Demétrius havia levado algumas bebidas, mas ela não quis, os dois estavam tensos, ela olhou para o céu e viu que ele estava muito límpido, as estrelas estavam mais brilhantes que o normal. Ele abriu uma garrafa de cerveja, e enquanto tomava algumas coisas passavam na cabeça dele. —Charlie... Quero fazer amor com você? — Eu sei. Mas isso não seria legal. Não agora. — Desculpa, não quis te ofender... – Ele beijava-a e sussurrava palavras aos ouvidos dela, uma sedução natural e mágica. — Eu sei .... Estou sendo egoísta.... Mas existe... — Não se desculpe Dimi, também penso nisso. Mas agora não seria legal. Ela falou tentando dar uma distância entre os dois. — É. Você tem razão. Não precisamos fazer amor, mas existem outras formas de sentir prazer sem ter que... - um momento de silêncio, para então falar: — penetrar. Você quer tentar? Só um pouquinho. Juro que se você não achar legal, poderemos parar. O que você acha? - Houve um breve silêncio. A
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indecisão de Charlie era clara. Mas a determinação de Demétrius era maior, ele sussurrava nos ouvidos de Charlie enquanto beijavalhe o colo, a nuca, o lóbulo da orelha, causando-lhe arrepios de prazer, tudo aquilo era uma novidade. Uma novidade que fazia à vontade ser maior que o bom senso. — Vamos tentar meu amor, só tentar... — E você conhece essas formas? - Ela perguntou curiosa e ao mesmo tempo apreensiva. — Sim. Existem outras formas, e nós dois podemos descobrir juntos. Vamos tentar? — Mas.... Não sei se isso é certo.... Acho que estamos nos precipitando.... Eu... — Não precisa ficar com medo. Não vou lhe machucar. Prometo... Os beijos foram ficando mais intenso, as mãos também foram ficando mais ousadas até que ele a deitou sobre a lona e delicadamente levantou o moletom que ela vestia, o cheiro dela era muito agradável, então ele desajeitadamente começou beijar seus mamilos, logo estava lambendo, ela estava tensa, mas ele estava tão carinhoso que ela foi cedendo aos beijos, ele a beijava e lambia, chegou ao umbigo dela e demoradamente enfiava a língua e tirava, ela tremia com as sensações, então ele abriu o zíper da calça dele, ela ouvia tudo com os olhos fechados, ele fala coisas ao ouvido dela que ora entendia, ora não ouvia, ele pegou a mão dela e levou até seu membro duro. Ela assustou-se. A respiração dele estava acelerada, ele fez o movimento de subir e descer sobre seu membro, ela entendeu o que ele queria, então sem-jeito ela pôs a mão na estaca dura proeminente dele, ele gemeu, e voltou a beijála. —Charlie sinta minha paixão, veja como estou, não precisa ficar com medo, apenas me faça carinho com suas mãos. E deixe que o resto virá naturalmente. Apenas sinta minha paixão. — Como vou fazer isso? Ainda não estou pronta. — Eu sei. Somente o movimente, o resto eu faço. Ele falou quase sem voz. E então ele abaixou a calcinha dela e alisou
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delicadamente aquele monte de Vênus, ela continuava a movimentar seu membro, e ele? Bem , ele estava deixando sua mão caminhar por toda a extremidade do corpo de Charlie, então de repente, tirou a mão dela do seu membro e se colocou sobre ela. — Calma, ssshiu...! Tenha calma meu amor não vou te machucar, apenas sinta o tamanho do meu amor por você. Charlie avaliou meio confusa o movimento de vai e vem sobre o monte de Vênus sem penetrá-la, e ela correspondia com as mãos, alisando suas costas e cabelos, os beijos eram mais longos. Demétrius estava ficando desorientado, sentia que não ia aguentar muito tempo, então ele deu um gemido mais grave e Charlie sentiu um líquido quente banhar sua barriga. Ele havia despejado sua semente sobre ela. Ela viu aquilo com surpresa e curiosidade. Ela sentiu o membro dele ficar mole, e relaxado. Ele ficou em silêncio, um pouco de vergonha, e também frustração. Mas era preciso cautela, ele entendia a situação. — Isso é fazer amor... - Ela sussurrou preocupada. Ele sorriu e com uma voz rouca ele respondeu: — Não minha linda. Isso é apenas um ensaio para se fazer amor. Ele respondeu saindo de cima dela e deitando ao lado, ele pegou um lenço que trazia no bolso e limpou a barriga lisa dela. — Eu não me contive, me perdoe, mas venho sonhando com isso há muito tempo. Sei que você não entendeu nada do que acabamos de fazer, mas espero ainda lhe mostrar como fazer amor direito. —Você sentiu prazer? — Claro que senti. Posso lhe mostrar o que eu senti? — Hum! Isso acontece comigo também? — Sim, porém de modo diferente. Quer experimentar? — Não sei, vou perder minha virgindade com isso? — Não. Apenas vou lhe beijar de um modo mais especial. E beijando-a ele começou um ciclo de sedução inocente e ao mesmo tempo perigoso, os beijos languidos a fizeram relaxar, com muita delicadeza ele retirou seu moletom, então a deitou novamente em
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seus braços e voltou aos beijos. Ele a beijou em toda a extremidade do colo e foi descendo até a pélvis e naturalmente ela se abriu para ele, que maravilha aquela visão, ela possuía uma fenda pequena, coberta em toda sua extensão por pelos, mas ele não se preocupou, aos poucos foi manipulando o pequeno botão entre os lábios até endurecê-lo e então o chupou com vigor, ela estava entregue aquela sensação erótica, afagava os cabelos dele, gemendo e se contorcendo até que suas mãos meio que travaram nos cabelos de Demétrius ele percebeu que ela iria gozar, ele lambeu o pequeno orifício intocado de sua doce namorada e ela gritou, travando suas pernas na cabeça dele, ele a fez descobrir o prazer pela primeira vez na vida. Ela ficou estarrecida, jamais imaginara uma situação daquela ou que era possível sentir tal coisa. Impossível de se descrever, mas muito intenso. A respiração dele estava ofegante demais, ele sentiu que queria mais, tal o desespero de sentir aquele tesão. Então ele a virou e massageou seu pênis entre as nádegas dela, ela estava em uma posição maravilhosa à visão daquele dorso proeminente o levou à loucura, então ele deixou-se levar novamente pelo êxtase do momento. Os gemidos na noite se misturavam ao soprar do vento e apenas um nome saia de seus lábios. “— Charlie... Charlie... Charlie.... Vem para mim.... Eu te amo...” Perturbado Demétrius rolou de um lado para o outro e então abriu os olhos frustrado percebeu que tudo aquilo não passava de uma projeção de suas lembranças misturados com sua imaginação, estava em sua cama nu e suado. E para piorar constatou que tivera uma polução noturna durante o sono. — Merda! O que foi me acontecer? Levantou-se. Ainda eram três da manhã. Foi até a sua cozinha e pegou um copo de água. Voltou para o quarto e trocou o lençol. Há quanto tempo não pensava em Charlie daquele jeito.
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No início quando foi embora este sonho o perseguiu por dias a fio. A lembrança nítida daquela intimidade com Charlie era palpável até nos sonhos. Ele colocou o copo em cima do balcão e foi para o chuveiro. Tomou uma ducha fria para espantar os fantasmas e voltou novamente para a cama. Deitado, olhando para o teto começou a refletir sobre o que acabara de ocorrer, e seu instinto investigativo começou a povoar seus pensamentos com perguntas inquisitórias que ele foi respondendo a si próprio sobre os últimos acontecimentos do dia anterior. Então a imagem da bela advogada veio até sua mente, flashes do encontro passearam diante de seus olhos; pensou nos olhos acinzentados, na boca corde-rosa, no sorriso delicado ao lhe corrigir, no som da voz ao conversar com ele, a textura daquela pele, os cabelos vermelhos e o perfume. Então se sentou, quase sem ar constatou. E como um trovão que surge de repente, tudo fazia sentido e descobriu quase sem querer que a advogada Charllote S’inclair na verdade era Charlie Robson. Ele se levantou e foi até a sala, a pasta com os documentos sobre a advogadas estava sobre a mesa, com uma agilidade precisa ele folheou os inúmeros papéis e encontrou o documento sobre a advogada Charllote S’inclair, ele correu os olhos nas informações, e então lá estava, nome da mãe Audrey Robson, nome do pai Charlie Robson. Ele deixou a pasta sob a mesa e voltou para seu quarto desanimado. Ele não a reconheceu.... Uma situação que ele nunca imaginara acontecer. Mesmo se lembrando dela constantemente os vinte anos que o separavam o fez apagar totalmente a imagem real de Charlie, a lembrança que ocupava sua mente não tinha rosto, eram dois adolescentes. E encontrar com a Charlie mulher, era algo que não lhe ocorria, pois presumira erroneamente que ela havia ficado na vidinha provinciana da pequena cidade, tornando-se uma professora ou uma enfermeira do hospital local, nunca lhe ocorrera que Charlie Robson havia se tornado uma advogada, e ainda por cima viveria tão próximo a ele .... Praguejou inúmeras
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palavras sem sentidos.... Mortalmente viu que mesmo sem dizer uma palavra a ele, sobre quem era realmente, ela ainda exercia o mesmo poder do passado. O poder de levá-lo a agir de maneira irracional .... Inconscientemente no tribunal, ele cedeu a Charlie, ela naturalmente o deixava sem ação.
Quatro Encarando os fatos
O dia mal estava começando a clarear e Demétrius já estava em pé, caminhando até ao closet colocou um traje de corrida e saiu para espairecer o pensamento. A noite não tinha sido fácil, a constatação de ter estado com Charlie de uma maneira tão impessoal não fez muito bem ao seu ego. Enquanto corria pelo parque meditava nas informações que tinha lido sobre ela, casada, viúva, mãe de um filho ainda na adolescência. Ela ficara grávida na adolescência. Isso só podia significar uma coisa: ele era o pai. Se ele era o pai, porque ela nunca fez contato, porque nunca o procurou. E porque sua família nunca mencionou nada a respeito da gravidez ao seu pai. Isso é imperdoável, embora ele tenha partido repentinamente, ela sabia onde ele estava, vinte e quatro anos haviam se passado, o filho dela deveria estar mais ou menos com esta idade, ou melhor o filho deles. Estava consternado, uma amargura no coração o estava incomodando. Essa criança fora criada sem a presença dele, talvez jamais soubesse da sua existência. E atualmente era um jovem candidato a um futuro advogado promissor. Mesmo sem ter certeza deste parentesco com o filho de Charlie, era preciso
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procurá-la para saber a verdade sobre esta gravidez na adolescência. Embora ele tenha sido um cafajeste, ele tinha o direito de saber sobre a gravidez, ela não poderia ter omitido esta informação, ela tinha muita coisa para explicar e muita coisa para perdoar. A irresponsabilidade dele teve consequências muito mais sérias do que ele imaginava. Mas, teria que ser uma coisa de cada vez, agora precisava de afastar o fantasma de Aleska e da juíza Kimberly da sua vida profissional. Sua mente trabalhava a todo vapor, não era à toa que o consideravam frio e calculista, sendo assim, era preciso criar uma estratégia que o levassem para longe dessas duas sanguessugas, todas as ações de Aleska só demonstravam uma coisa: ela queria derrubá-lo, e os motivos deveriam ser pessoais, como explicar uma situação assim, só o fato de sair algumas vezes com ela, não seria indício que também se beneficiaria dos privilégios concedidos pela juíza. Ele tinha sentido premeditação nas palavras de Aleska, e agora seu instinto estava lhe mostrando que tinha razão. Quantas vezes será que Aleska deve ter usado seu nome para conseguir facilitar sua vida dentro dos departamentos. Ainda deu mais algumas voltas no quarteirão até chegar a sua residência. Com alegria viu o carro de sua secretária-faz-tudo estacionado na frente de seu portão. Entrou pelo portão da garagem e a viu na cozinha junto do fogão. Ele abriu um enorme sorriso para a mulher. — Carmensita, o café já está pronto? Gritou Demétrius de modo amigável, enquanto tirava o calçado para entrar em casa. — Já está prontinho. Vá para seu banho que estou terminando de fazer algumas panquecas e ovos mexido. Ele passou pela cozinha, atravessou por um corredor e subiu as escadas que dava acesso ao andar de cima onde seu quarto estava, ao entrar sentiu o aroma agradável de lavanda, sua secretária doméstica já havia passado por ali, e feito a higienização do ambiente, ele pegou uma toalha limpa e foi para o banheiro,
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tomou uma chuveirada rápida, fez a sua barba, em seguida colocou apenas um roupão e foi tomar seu café. Ao entrar na cozinha ele visualizou Carmem ela estava de costas para a entrada da cozinha, Carmem era uma mulher de mais ou menos uns 45 anos, seus traços eram finos, possuía um par de olhos bem escuro, cabelos negros, tez morena, era de estatura baixa, talvez chegasse a ser do tamanho das pernas de Demétrius, o volume avantajado dos quadris exaltava suas nádegas, dando-lhe um toque muito especial, sempre se vestia com tons escuros, e sempre usava maquiagem, diga-se de passagem, destacava os olhos e os lábios. Era uma mulher com um charme natural, mas não era o tipo de mulher que Demétrius gostava de levar para a cama. Carmem era uma profissional que muitos desejam ter, habilidosa e muito criativa, ela possuía um espírito de otimismo incomum na maioria das mulheres, muito metódica, organizada e franca, ela ganhou o coração de Demétrius em pouco tempo, de simples empregada, passou a ser a pessoa de confiança e também a confidente. Muitas vezes, Demétrius conversava com ela por horas, afim de reforçar seus pensamentos ou mesmo modificá-los, Carmem era uma pessoa sábia, e na simplicidade, ele encontrava a luz que precisava. — Bom dia patrão. Ela o cumprimentou com uma entonação alegre na voz. — Bom dia, empregada. Ele respondeu no mesmo tom, enquanto sentava diante da mesa pronta, pegou uma panqueca e a partiu ao meio, para comer. —Já lhe falei para não me chamar de empregada, seu encrenqueiro. Falou em tom de zombaria, enquanto colocava o prato e os talheres sobre a mesa. — Então, para de me chamar de patrão. Sinto-me um nazista quando você faz isso. Ele retrucou alegre. — Ok! Vou chamar-te de que então?
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— Chame-me de qualquer coisa, minha antiga governanta chamava-me de Dimi. Eu não lhe chamo de Carmensita? Perguntou curioso, mais do justo você me chamar de Dimi. — É estranho. Mas vou fazer o que me pede. Senhor Dimi. — Chega! Pode me chamar de patrão! - Exclamou com falsa impaciência. Você não consegue relaxar ao meu lado mesmo. Ainda em tom de brincadeira. – Carmem colocava os ovos mexidos em um prato e olhava para ele com curiosidade. Como é que podia aquele homem austero no trabalho fosse tão meigo e familiar com ela, as vezes nem acreditava, mas desde que viera trabalhar para ele, a empatia que surgiu entre os dois criou um laço muito forte, mas ela sempre mantinha uma distância considerável, afinal ele era o patrão e ela a simples empregada. — Tome seu café direito. Observei que a comida tem ficado na geladeira do mesmo jeito que eu a organizo. Falou chamando-lhe a atenção. — Meu tempo anda muito curto. E nos últimos dias estou com algumas coisas importantes para resolver. — Eu posso imaginar. - Ela lhe respondeu, aproximando da mesa com a jarra de café, ela observou que embora tivesse descontraído um pouco, alguma coisa o incomodava, estava com olhar fundo e tinha um par de olheiras que não combinavam nenhum pouco com aquele rosto aristocrata que possuía. —Está afim de conversar? Ela arriscou. — Estou precisando sim. Ele confirmou e voltou o olhar para sua única confidente: —Tem um tempo para mim? Ele perguntou largando o talher sobre o prato. — Desde que você coma sua comida direito, poderei fazer um pequeno sacrifício. Ela lhe disse sorrindo. — Vou falar enquanto como, pode ser? Ela o olhou revirando os olhos, então ele prosseguiu: — Em 24 horas minha vida
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organizada e premeditada virou totalmente de cabeça para baixo, algumas coisas estão fugindo do meu controle. — Hum... - Ela franziu a testa. E se encostou na beirada do balcão, segurando um pano de prato em suas mãos. — Três coisas: - Primeiro: minha tão almejada candidatura a eleição de procurador do estado está correndo o risco de não acontecer. –Segundo: Uma de minhas relações clandestina está me custando a cabeça literalmente – Terceiro e bem mais grave: acho que sou pai de um jovem de 23 anos. — Uau!!!! Ela exclamou séria. — Preciso tomar um copo d’água primeiro. Estupefata com as notícias. Depois ela voltou com o copo de água na mão, olhou para Demétrius comendo em silêncio, aguardando ela retornar. Quebrando o gelo ela arriscou: —Demétrius, primeiro obrigada por confiar em mim, ela disse séria. — Não é todos os dias que pessoas como eu tem a sorte de encontra pessoas como você. Ele apenas sorriu. Então ela continuou: — Parabéns pela paternidade. Tenho certeza que você se sairá muito bem como pai, mesmo que este filho seja... Assim... Hum ... tão mais velho que o habitual. — Fala sério Carmensita! Ele retrucou em tom de brincadeira. — Estou falando sério. Ela respondeu para ele, e com as mãos na cintura ela continuou. — Agora preste atenção, antes que comece a fazer suas ponderações. Diga-me: há quanto tempo você não tira férias? - Ele a olhou em silêncio, de cabeça levemente inclinada para o ombro esquerdo com um falso desinteresse nos olhos respondeu: — O que tirar férias tem a ver com os meus problemas? Ele retrucou, porém ela não se encolheu diante da pergunta e então continuou: — Estou com você o suficiente para saber que isso nunca aconteceu. Você é a pessoa mais controladora que conheço, às vezes até exagera. Estes problemas que surgiram são consequências desta sua mania de querer controlar as coisas
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conforme seus desejos. Nada nessa vida sobrevive ao controle. Um silêncio instalou no ambiente, o pensamento de Demétrius era rápido e antes que ele começasse a argumentar para reforçar suas decisões Carmem retomou a linha de pensamento e então continuou: —Lançar sua candidatura agora é um momento bom? Penso que antes de tomar esta decisão, você precisa espantar alguns fantasmas do seu armário. O primeiro se chama Malcon Ballinderry e depois tem seus relacionamentos, e a senhorita Aleska. E agora surge um filho. A mídia vai te esmagar na primeira semana de sua candidatura. Na minha simplicidade, penso que é um bom momento para se tirar férias e resolver seus problemas pessoais para depois se candidatar. — Desde quando você sabe sobre Aleska? — Para ser sincera, sempre soube. Ela já ligou algumas vezes para cá, e com aquela voz ácida de mulher superiora aos demais mortais. Carmem contou com desdém. — Sério? Por que nunca me contou isso? — Porque isso nunca foi da minha conta, por isso deixava os recados na geladeira. Você nunca os leu? — Hum.... Acho que alguns. Mas não me lembro nada a respeito desse assunto. — Demétrius, você é um patrão muito generoso, lhe tenho como alguém da família, só o fato de você pagar os estudos e o convênio médico de minhas filhas, é uma coisa que nunca poderei ressarcir, por isso se eu exagerar em alguma coisa me corrija. - Ela falou com sinceridade. Você sempre foi muito imparcial nas questões que diz respeito aos outros, mas quanto a você mesmo, sempre lhe achei omisso, você é criterioso, cheio de amarras, às vezes quer a justiça acima de qualquer coisa. Então coloque apenas uma pergunta para você. Já que você quis dividir estes problemas comigo. O que te importa neste momento? É realmente sua carreira ou sua vida pessoal que está estagnada.
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—Estagnada???? O que você quer dizer com isso? - Perguntou curioso. — Você vive sozinho, não tem feriados, não tem natal, nem ação de graças, não tem família e nem amigos. Sua vida se baseia em trabalho e sexo. — Carmensita pode parar. Você está pegando pesado. Afinal o promotor aqui, sou eu. — Você pediu. Não reclame. Um homem para ser totalmente feliz precisa de ter trabalho, casa e família. Você precisa pensar nisso. Seu trabalho está te cansando porque você não tem com quem dividir seus frutos. Então meu querido, reflita sobre esse monte de bobagens que lhe falei. — Você está certa. Preciso ponderar algumas coisas na minha vida. E realmente não tenho porque me candidatar agora. Quanto aos meus fantasmas, bem, não estou afim de lidar com eles no momento. Embora gostaria muito de esclarecer essa questão da gravidez de Charlie. — Quantos anos você tinha quando a deixou? — Estava com um pouco mais de dezoito anos. E ela apenas dezessete anos. Não a deixei de propósito, desde o início ela sempre soube que eu queria seguir carreira jurídica, quando consegui minha vaga em Harvard, fiquei tão ansioso que nem me despedi direito. A levei para o baile de formatura, e então depois de umas bebidas, ela cedeu aos meus caprichos. Logo em seguida, fomos para a casa, a deixei na porta e nem me despedi direito, estava muito sem graça, na verdade estava me sentindo um cretino, aproveitei dela e depois me arrependi, mas já era tarde, então agi como um babaca. Corri para minha casa, talvez no outro dia eu me desculpasse com ela por ter avançado o sinal, mas para minha surpresa quando cheguei em casa meu pai já havia arrumado tudo para mim, senti um alivio, pois aquilo talvez me livrasse do constrangimento que eu havia causado a ela, então parti, estando em Harvard me dediquei cem por cento aos estudos.
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Pensei nela muitas vezes, mas depois deixei de pensar, até esta semana, que as lembranças vieram mexer com meu sossego. — Não deve ter sido fácil para ela, talvez seja por isso que nunca tenha falado nada. Carmem falou. — Uma gravidez não se esconde. Ela deveria ter me procurado. — Quem lhe garante que ela não fez isso? Não se apresse a condenar promotor. Se coloque no lugar dela. - Fez se um silêncio. Demétrius tentou avaliar a situação de outro ponto de vista, Carmem olhou para o rosto de indecisão de Demétrius e perguntou: — O que é que você vai fazer no dia do Memorial1? —Até o momento? Nada de importante. Ele respondeu levantando-se da mesa. — Então venha até a minha casa, iremos fazer um banquete, para comemorar o início do verão. — Hum!!! Boa pedida, enfrentar o congestionamento na Golden em pleno feriado. Ele colocou as mãos nos quadris com um ar de desanimado. — Deixa de preguiça, e venha passar o dia conosco. Se quiser pode trazer a candidata à futura Senhora Ballinderry. - Falou em tom de brincadeira. Ele deu um olhar torto para ela. — Não ouse a repetir isso, ela não está na minha lista de futuras esposas, se houve uma lista, somente uma candidata estaria à altura. Mas, sinto que de acordo com os últimos eventos, ela queira-me bem longe da sua vida. — Bom, o convite está feito, espero você lá. E pare de se condenar, você não conhece o ponto de vista da moça. Agora suma da minha frente, preciso arrumar esta anarquia. Ela deu uma 1
Dia do memorial: feriado que acontece anualmente na última segunda-feira de maio, geralmente marca o início da temporada de férias de verão, feriado que homenageia os militares mortos em batalha.
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panada nas pernas dele, eles sorriram, então ele foi para o quarto se trocar, algum tempo depois o cheiro de seu perfume preencheu todo o ambiente ele caminhou pelo corredor e foi em direção a porta, passou a mão nas chaves e na valise em cima do aparador, e saiu. Deixando para trás um momento de descontração. No interior do carro, ele novamente assumiu seu ar carrancudo, ajustou o celular para atender as chamadas automaticamente, ajustou o bluetooh do painel com seu fone de ouvido, constatou os itens de praxe, ligou o carro e foi saindo lentamente da garagem com seu Buick Regal, antes de sair definitivamente deu uma boa olhada na sua casa, ela fora seu primeiro item de aquisição, trabalhou anos a fio para conseguir comprar aquela propriedade naquele lugar. Dirigir dentro de Westwood é um belo passeio, saiu devagar pela alameda de seu bairro, a arquitetura vitoriana do bairro o tornava um lugar muito acolhedor, o bairro possuía diretrizes próprias e convenções, quando ele conseguiu comprar sua casa naquele lugar se sentiu o mais poderoso de todos os homens, pois morar Westwood Park não é para qualquer um. O bairro fora criado em 1920 para as famílias de classe médio-alta de San Francisco, a maioria das casas que compõe o bairro foram projetadas por um único arquiteto e isso tornou o bairro como um grupo seleto de mínis mansões, um bairro totalmente voltado para quem tem filhos. E ele escolheu para morar, na época ainda sonhava em ter uma família, mas o tempo foi passando e este sonho foi ficando para trás. Agora olhando aquelas mães passeando com seus bebês pelas ruas tranquilas, ficou imaginando como teria sido se tivesse permanecido com Charlie, será que teria sido um bom pai. Mesmo aos dezoito anos quase dezenove??? Uma pergunta que jamais será respondida. Enquanto saia do bairro pela Av. Miramar, ele fez o contorno habitual para Av. Ocean e seguiu seu caminho até City Hall, em dias tranquilos gastava em torno de 20 minutos até seu trabalho, mas quando todos resolviam sair ao mesmo horário este curto espaço de tempo podia dobrar,
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mas hoje o dia estava tranquilo, a cidade estava coberta por uma névoa branca, massa proveniente do Oceano Pacifico, uma das características do tempo em San Francisco era que a cidade ficava alguns dias do ano coberto por essa neblina, e muitas vezes a temperatura ficava baixa, mesmo em dias de verão. Passar pelos semáforos e seguir pela avenida, subir algumas ladeiras e virar em algumas esquinas, se tornara automático ao longo dos anos. Demétrius se acostumou com o ritmo de vida de San Francisco, e não se imaginava viver sem algumas loucuras naturais daquele lugar. Atravessou uma avenida larga e avistou o centro nervoso de City Hall, era ali que tudo acontecia, os órgãos do governo se concentravam todos no mesmo lugar, uma estratégia urbana muito interessante, e muito eficaz, estacionou seu carro como de costume na sua vaga costumeira e enquanto pegava seus pertences, seu celular tocou, prontamente ele atendeu, era seu fiel assessor. —Bom dia McRay. Espero que sejam novidades. —Bom dia Ballinderry, os agentes Antony e Dawson já estão esperando pelo senhor aqui no gabinete. —Ótimo. Já estou subindo, arrume um café para esta reunião. —Rachel já providenciou. Hoje ela está um poço de gentileza. O assistente lhe respondeu com tom de brincadeira. — Isso é muito bom. Demétrius respondeu já no alto da escada, visualizando sua sala no fim do corredor. Em segundos já estava na sala colocando seus pertences em cima de uma mesa. Os homens se levantaram assim que ele entrou. — Bom dia promotor. Falaram em único som. — Bom dia. Senhores fiquem à vontade; a conversa vai ser longa. Feche a porta Antony. Sem rodeios nenhum Demétrius relatou a eles todos os eventos a respeito da Juíza e do escritório de Reids e também sobre Aleska. Os homens ouviram-no em silêncio, Dawson ficou surpreso quando soube sobre o relacionamento de Ballinderry e Carmine,
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supostamente ela também se relacionava com seu capitão. E aquilo realmente deveria ter um propósito. Conversaram por quase uma hora sobre vários assuntos sórdidos que envolviam a juíza, o advogado Tony Reids e a senhorita Carmine. — Não consigo compreender onde entro nisso. Falou Demétrius. Os dois amigos entreolharam e então Antony lhe respondeu: — Bem, acredito que a senhorita Aleska é a isca perfeita para prender todos nessa rede montada pela juíza e o escritório de Tony Reids. — Explique essa situação. — O senhor não é o único a ter Aleska nos braços. — Quanto a isso eu sempre soube, nunca tivemos nada sério. Apenas encontros esporádicos. — Sim, encontros esporádicos com o promotor, com o chefe do departamento de investigação, com o assistente do juiz, com o capitão, com o detetive, enfim, observa-se aqui um padrão de relacionamentos com as pessoas certas de cada departamento. Ponderou Antony. O senhor não acha isso estranho, talvez seja uma forma de tê-los nas mãos para quando precisasse. —Não quero acreditar nessa possibilidade. Demétrius fechou totalmente o cenho e levantou-se da mesa. Quero uma investigação completa sobre todas as atividades de Aleska. Quero isso para ontem. Demétrius estava diante da vidraça olhando a névoa que parecia se dissipar, mostrando a ponta de um sol brilhante... — O senhor nos disse que agentes federais estiveram aqui. Então ela já deve estar sob investigação. — Quero uma investigação sob outra perspectiva. Mas o que puderem fazer faça. Agora preciso trabalhar. Liguem-me, estarei esperando. - Demétrius finalizou a reunião. Os homens se levantaram e se despediram do promotor, então Antony que era
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amigo de Demétrius a uma longa data ficou para trás, enquanto saiam da sala e se dirigiu para Demétrius em particular: — Aceita almoçar comigo? Para conversarmos com melhor sobre este assunto? - Demétrius levantou a cabeça para olhar Antony. — Antony, tem muita coisa em jogo, nessa altura do campeonato a minha única vontade é somente esclarecer os fatos. Hoje não vai dar, mas lhe prometo que em outro dia. — Então ficamos assim. Antony respondeu-lhe desanimado. E saiu da sala. Demétrius já estava olhando para sua agenda quando seu assistente, bateu a porta, ele coçou o alto da testa e olhou para o jovem rapaz. — Como está à agenda para hoje? —Cheia, no momento temos que ir até o distrito acompanhar um depoimento de um suposto assassino e seu comparsa. E em seguida tem o caso daquele pessoal que invadiu o tribunal nu. Eles foram indiciados, temos também um caso de violência doméstica, também tem o relaxamento de uma prisão... — Outro caso da Senhora S’inclair? Perguntou curioso. — Não. A essa altura ela já está voando para o norte. Encontrei-me com ela no final dos tramites do processo do senhor S’inclair, aproveitei e conversei um pouco com ela. — Sério? E o que você conversou com ela? Demétrius estava realmente curioso. — Nada de interessante, a não ser que ela irá para Montana transformar seu rancho em uma pousada. Ela disse que o avô não anda bem de saúde, por isso deverá ir para a casa dele para ajudálo. Ela está pensando em investir no ramo de hotelaria. Disse também que não pretende mais advogar. Demétrius olhou para seu assistente incrédulo, ele era impossível.
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— Quanto tempo você realmente ficou conversando com ela? Pelo tanto de informações que conseguiu abstrair da moça, você deve ter conseguido o endereço dela aqui em SF e também o tipo de chá ou quem sabe o café que ela toma. — Chefe, o senhor está com ciúmes de mim? — Ciúmes??? Eu??? Não!!! Claro que não. Estou apenas curioso, com o grau de sua petulância. Demétrius respondeu severo. — Poxa! Não imaginei que isso fosse causar polêmica entre nós. O assistente falou com falsa preocupação. Apenas quis saber mais sobre ela, afinal a história dela me deixou curioso, e se bem percebi o senhor também ficou, e não podemos esquecer de um detalhe, ela é uma mulher muito bonita, diferente da maioria que conheço. — Deixa de rodeios, diga-me o que conseguiu com ela.... — Para ser sincero nada de especial, mas ela perguntou sobre o senhor... — Perguntou? O que ela queria saber? — Perguntou se o senhor tinha família, e se tinha filhos, perguntou sobre a sua candidatura. Achei muito interessante, respondi aquilo que achava conveniente em troca fiquei sabendo que ela está hospedada no Drisco Hotel. — Ela ficará no Drisco até quando? — Até o final da semana quando voltará para Great Falls. Interessante, o senhor também é de lá, não é mesmo? — Você para enxerido não serve, por que você é muito “enxerido”. Vamos trabalhar, desesperou Demétrius ao constatar que o assistente estava chegando muito perto de decifrar o segredo que ele tomou consciência na madrugada. — Vamos para o distrito 04 tem um depoimento de desacato que precisamos inquirir.
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—Sério? Desacato? Por que o MP2 terá que acompanhar? Demétrius falou quase desanimado. — Porque o acusado em questão é filho do prefeito. Quando ele ouviu que o acusado era filho do prefeito, ele achou interessante, pegou sua valise e saíram rumo ao distrito. No caminho Demétrius não tirava Charlie do pensamento, a voz do assistente estava longe, a vontade de largar tudo e ir até o hotel onde ela estava hospedada o deixou louco. — Senhor Ballinderry, a senhora S’inclair é uma mulher muito bonita não acha? McRay provocou. — Sim. Ela é uma mulher bonita. — E o senhor a conheceu. Afinal vocês são da mesma cidade. Great Falls deve ser uma cidade pequena, todos se conhecem, ou cresceram juntos, não é mesmo? — Onde você quer chegar McRay? Demétrius esbravejou. — Em lugar nenhum, pensei que vocês se conhecessem, porque uma coisa que não sai do pensamento, quando vocês se encontraram ontem na audiência, eu tive a sensação que o tempo parou para vocês, o seu olhar brilhou, e ela ficou igual a uma cera, a cor fugiu do rosto dela. — Chega dessa conversa. — Perdoe-me pela minha intromissão. Isso não acontecerá mais. — Chegamos. Demétrius disse sem estender a conversa. Saiu do carro batendo a porta e entrou dentro do departamento de polícia para ouvir mais um inquérito. Os dois homens subiram as escadas e foram de encontro com alguns investigadores. — Capitão o MP está aqui. Um dos investigadores falou com um homem que estava encostado no batente de uma porta de vidro. 2
MP- Ministério público
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— Vamos! Cheguem por aqui. Senhor promotor, sou o capitão Morrison, vamos ver o que os senhores poderão fazer para nos livrar deste embrulho de manga podre que encontramos. Demétrius olhou para o homem de meia-idade calvo de semblante sereno, que mais lembrava um avô do que um capitão da polícia. — Pode me mostrar o relatório? Demétrius pediu, e prontamente um dos investigadores lhe apresentou. Depois de ler os detalhes do relatório, ele entrou na sala onde estava um jovem totalmente transtornado. — Senhor Snyder, o senhor está em condições de me ouvir? O jovem chamado Snyder olhou para Demétrius e com um sorriso debochado começou. — Eu pedi a presença de um advogado. Você não é advogado. — Não sou. Mas estou aqui para lhe ajudar. Conte-me o que aconteceu. — Só depois que meu advogado chegar. — Você tem algum que possa vir aqui? —Tenho. Já pedi para chamarem. Porque ela ainda não veio. — Ela? Perguntou Demétrius — Sim. Dra. Aleska Carmine. Ao ouvir o nome de Aleska, Demétrius sentiu algo quebrar dentro de si, ele travou o maxilar, e o sangue bombeou na altura dos ouvidos. Porém, isso passou desapercebido para a maioria dos presentes naquela sala de interrogatórios. Ele respirou e assumiu seu lado frio, e rude. — É o seguinte caro rapaz, não estou aqui para brincar, por isso quero que responda algumas perguntas, e assim poderemos terminar esta audição. — Não Snyder. Você não tem que responder nada, se não quiser. Uma mulher confiante entrava dentro do recinto, então ela olhou para o homem que estava de costas para a porta, faíscas saíram dos olhos de Demétrius ao virar se para encarar a
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advogada. Ela sentiu um frio na espinha ao olhar os olhos frios e distantes de Demétrius. Mas como ele, ela também estava fria. — Bom dia, senhor Ballinderry. Que surpresa o MP se envolvendo em uma ocorrência simples como esta. Ele não respondeu ao bom dia, se direcionou apenas ao comentário que ela fez. — O MP está aqui não apenas pela simples ocorrência de desacato. Seu cliente foi muito além do desacato. E se ele cooperar talvez terá um acordo. — Sinto jogar água nos seus desejos. Mas a acusação acaba de ser retirada. Meu cliente está liberado. Venha Snyder, seu pai está esperando por você. — Espere! Demétrius falou em voz alta. — Vamos conversar em particular, antes de liberar seu cliente. Aleska olhou para Demétrius e percebeu que não poderia ignorar aquele tom de voz. Então, saíram da sala de interrogatórios para conversar, o clima estava muito tenso, a respiração de Demétrius era irregular, ele estava realmente muito bravo. Conversaram no corredor. — O que está havendo aqui? Não tente me enrolar, porque uma coisa que eu não sou doutora, é idiota. Desembucha, logo. — Não está havendo nada. Apenas o policial retirou a acusação. Não é a primeira vez que isso acontece. Você sabe disso. Não vejo razão pela desconfiança, o que você está imaginando. Um sorriso diabólico surgiu nos lábios dela. — É apenas coisa da sua cabeça. — Espero que realmente não esteja acontecendo nada. Mas isso! Isso que acabou de acontecer aqui está me cheirando a tráfico de influências, e se realmente for isso, vou colocar todo mundo na cadeia. — Calma, senhor promotor, não nade contra a maré, às vezes é preciso ver de que lado o vento sopra, e neste momento é o que estou fazendo. Agora se o senhor já terminou, vou levar meu cliente para casa. Vemo-nos qualquer dia desses. – Falou com
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malícia. Demétrius caminhou até a sala onde estava seu assistente e dois investigadores, ele estava irritado, mas controlou, e sentado em uma cadeira perto da mesa pediu um café, o assistente saiu para buscar, e então conversou com os dois investigadores. — Qual de vocês dois vão me contar o que houve. — Promotor... - começou o investigador chamado Richardson. — Essa almofadinha, foi interceptado em alta velocidade na estrada Real. Ao ser parado pelo policial de patrulha Joaquim, ele se negou apresentar a identidade, o policial Joaquim achou que ele estava embriagado e o obrigou a descer do veículo, durante a abordagem o jovem não mediu o que falava, desde coisas do tipo que todos os hispânicos são lixos, e que só serviam para plantar ou vender “a verdinha”, e que as mulheres eram fétidas e prostitutas. O policial Joaquim ignorou todos os insultos, então ele não se contentou e disse ao policial que chutaria o traseiro dele e que comeria a irmã dele, depois a namorada e por final comeria o rabo dele também. O policial o passou a preso. O trouxe para cá, e disse que queria ir até o final, não aceitaria levar esse desaforo para casa. E agora essa surpresa. Não estou entendendo. — Mas eu entendo. - Disse o outro investigador. — Esse cretino é filho do prefeito. O prefeito com certeza deve ter ameaçado o capitão, e o capitão é um bunda mole, abaixou a cabeça. É sempre assim. E toda vez que essa vadia aparece por aqui, a gente já sabe que o inquérito começa e termina naquela sala. O capitão baba por causa dela. Basta uma reboladinha e ele já muda totalmente as ordens por aqui. Demétrius sentiu nojo. Toda aquela conversa estava lhe causado uma náusea horripilante. Deus!!!! O que está acontecendo comigo? - Foi seu breve pensamento antes de correr para o banheiro e vomitar seu café da manhã. Quando ele voltou para a sala os dois homens ainda estavam lá, e seu assistente estava com o café. Os três homens olharam para ele como se tivessem vendo um fantasma.
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— Senhor? O que houve? - Foi à pergunta do assistente. —Só uma indisposição. - Demétrius respondeu friamente. Levando as mãos para massagear as têmporas. A velha dor de cabeça ameaçava desmoronar seu dia. Ele respirou, sentou-se, e então, começou a conversar com os investigadores. A conversa durou um tempo muito longo. Quando saiu do departamento de polícia, ele estava perplexo e o que ouvira da boca dos investigadores o deixou exausto. Não tinha sido fácil ouvir as declarações sobre Aleska, às trocas de favores dela e do capitão. O que mais o irritava é que ele também de algum modo fazia parte deste círculo vicioso, indiretamente ele também promoveu informações a ela, um caso ou outro às vezes era discutido em restaurantes ou mesmo entre uma transa e outra. Mesmo que sua participação tenha sido nula na maioria dos casos que Aleska trabalhou, muitas vezes discutiam sobre os caminhos que ela poderia fazer para vencer as demandas. Durante o trajeto de volta ao seu escritório, ele se manteve em silêncio olhando em direção as ruas. Enquanto o assistente dirigia ele não abriu a boca Demétrius achou bom pois, tentava se concentrar em uma sonata suave em stile ântico que preenchia todo o ambiente do veículo. Ele respirou profundamente algumas vezes, enquanto ouvia o coro de vozes, aquilo iria dar-lhe a calma necessária para suportar o restante do dia. De olhos fechados atrás de seus óculos escuros Demétrius meditava e buscava uma solução para aquela situação embaraçosa que estava vivendo. — Senhor? Chegamos. O assistente lhe falou em voz baixa. Demétrius abriu os olhos e viu o enorme prédio do supremo tribunal. Aquele realmente era o lugar de seus sonhos? - Perguntou-se, antes de sair do carro. Pegou sua valise, e subiu as escadarias do prédio da Divisão Criminal do Departamento de Justiça da Califórnia. — Obrigado McRay. Vá almoçar, vou dar andamento em alguns documentos mais tarde me encontre na audiência do caso Loretta.
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— Senhor quer que eu lhe traga alguma coisa? — Não. Agora vá. Demétrius passou pela porta principal e adentrou o corredor extenso do departamento. Chegou a sua sala e desabou no sofá. Sua mente estava perturbada nunca sentiu tanta vontade de fazer justiça como estava sentindo naquele momento. Abiu um pouco sua gravata e tirou o paletó, jogou-o no braço da poltrona e olhou para a mesa cheia de pastas. O barulho de um telefone o trouxe de volta a sua sala. Levantou-se e foi até o aparelho. — Senhora Rachel? O que foi? — Dr. Uma ligação de Portland. - Falou a assistente. — Portland? - Perguntou imaginando o que seria. — Sim. Posso transferir? - A assistente falou sem rodeios. — Pode sim. - Respondeu sem-muita paciência. — Ok. — Boa tarde. Senhor Ballinderry, meu nome é Nora Winslow, assistente social de Mildred Bell onde seu pai se encontra hospedado. Estou ligando para lhe falar sobre seu pai, o senhor pode comparecer à mansão Mildred Bell? Demétrius respirou fundo, a cabeça estava latejando bem mais forte que o de costume, ele estava tendo um pouco de dificuldade para concentrar na voz da mulher que lhe falava ao telefone, o único pensamento que lhe ocorria enquanto ela falava era: “só me faltava isso”! Então respondeu: — Quando posso agendar essa visita? Estou em meio a um trabalho importante, e que infelizmente minha ausência não é permitida. — Sabemos muito bem da dificuldade que seu trabalho oferece. Mas o senhor precisa ver seu pai o quanto antes, sua saúde está bem debilitada, e talvez ele não tenha muito tempo. — Ele piorou? - Foi à pergunta seca de Demétrius. — Sim. Acreditamos que ele não tenha mais que um mês de vida.
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Sentimos muito, mas o senhor precisa vir aqui. - Ele pensou rapidamente nas palavras da moça. — Pode agendar minha visita para sexta-feira que vem. Estarei aí sem falta. Ele respondeu para a mulher que estava do outro lado da linha. — Agradecemos sua compreensão senhor Ballinderry. Vou agendar sua visita. Até breve. Um clique finalizou aquela ligação. As decisões teriam que ser tomadas antes de ir fazer a visita ao seu pai. Colocou o telefone no gancho esfregou suas têmporas com as pontas dos dedos, e inspirou lentamente o ar. Logo em seguida pegou a primeira pasta de autos que estava em cima de sua mesa. Tentou ler, porém seu pensamento seguiu até a última discussão que teve com o pai sobre seus ideais políticos. O pai não conformava que ele tivesse se tornado um democrata. Afinal a família era republicana desde o início do século XIX. E ele fora contra todos os planos do pai. Corrigindo: quase todos, porque quando foi para se separar de Charlie, ele não contestou, não lutou por ela, não lutou por eles. Uma respiração profunda trouxe Charlie até ali próximo dele. Até mesmo a lembrança dela lhe trazia calma. Ela era o oposto de Aleska que o deixava louco de raiva. — Senhora Rachel, você pode vir até a minha sala. Ele falou pelo interfone. Antes mesmo de colocar o fone no gancho uma senhora de meia-idade surgiu na porta com um copo de água e o vidro de aspirina. Ele sorriu e agradeceu. Ela o conhecia muito bem, quando o viu entrando calado, cabisbaixo e sério ela já sabia que a cabeça dele deveria estar estourando de dor, e depois houve a ligação, já sabia que ele ia pedir uma aspirina. — Eu nem pedi, a senhora está lendo meus pensamentos senhora Rachel? Perguntou ele. — Entrando como senhor entrou, e depois recebe esta ligação, imaginei. O que o senhor quer além das aspirinas?
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— Quero que você desmarque todos os meus compromissos na semana que vem, vou viajar até Portland, devo ficar fora uns três dias. Quero também que você peça para Antony vir me encontrar no final da tarde sem falta. — Ok. Agora tome sua aspira e venha até a cantina fazer um lanche, fiquei sabendo que o senhor teve uma indisposição na delegacia. - Ela falou em tom de ordem, ele achou graça, então fez o que ela sugestivamente ordenou. Ao chegar à pequena cantina improvisada naquele departamento, ele viu uma mesa arrumada e um lanche posto sobre ela, alguns funcionários do departamento já estavam sentados comendo alguma coisa, ele achou aquilo interessante, e lhe perguntou: — Não estou entendo? Você quer que eu lanche com a senhora? Isso é sério? — Sim senhor. - A senhora passou por ele e puxou uma das banquetas e ele a seguiu. Na mesa tinha uma jarra de suco, dois burritos e alguns pãezinhos, tinha presunto e queijo, além da pasta de amendoim e a geleia de mirtilo. — Não sei se o senhor sabe, mas saco vazio não para em pé. Então coma alguma coisa para o senhor terminar o dia bem. — Senhora Rachel. Não sei o que seria de mim sem a senhora e o senhor McRay, vocês dois são bons amigos e ótimos assistentes. Ele falou e se sentou ao lado dela na mesa. — O senhor faz por merecer. Ela falou sorrindo. Aquele momento era impagável. Somente pessoas de bem saberia avaliar o sentimento bom que ia no coração de cada um naquela sala. Os dois seres se alimentaram em silêncio, ele pegou apenas um pedaço do burrito que a assistente levou, e tomou um copo de suco. E se sentiu imensamente grato pelas amizades que tinha, embora sua vida fosse conturbada, e ele tivesse umas manias estranhas, ali estava o verdadeiro Demétrius, sem máscara nenhuma.
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Cinco Um tempo que se apaga, um tempo que se inicia, Mitchel seguiu seu caminho
...Charlie chegou ao entardecer em Great Falls, embora cansada estava animada para encontrar com sua família novamente, tinha grandes planos para o rancho e se tudo desse certo, antes do ano novo já estaria atendendo a clientes na sua futura pousada. Estava se preparando para ir pegar suas bagagens quando avistou um funcionário antigo do rancho, era o senhor Colby, ele a avistou e foi ao encontro seu encontro. — Senhora S’inclair. Como foi de viagem? Perguntou o homem de meia-idade, ele deveria ter seus quase sessenta anos, já estava no rancho há mais de trinta anos. Charlie olhou para ele com um sorriso franco e disse: — Foi uma viagem muito tranquila Colby. Estou apenas cansada, estes últimos dias em San Francisco não foi muito fácil. Mas agora estou aqui, tudo será mais fácil. - Colby olhou para ela e uma nuvem de preocupação passou diante do olhar dele, esta nuvem não passou desapercebida aos olhos de Charlie. Então ela continuou: — Por que Greg não veio me encontrar? Aconteceu alguma coisa? — A senhora acabou de chegar, as ordens que recebi foi de levá-la até o rancho, depois a senhora Audrey irá falar com a senhora. Mas confesso, as coisas não estão muito bem com o patrão. - Ele finalizou. O coração de Charlie apertou, o patrão era o avô. Ele já estava bem doente, e a idade muito avançada, não era um prognóstico muito bom, levando em consideração a última vez que ela o encontrou, e a morte de Edmund, só servira para piorar o quadro que ele já vinha enfrentado. 104
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— Colby? Pode falar, nada mais me assusta. O vovô está no hospital? — Sim senhora. Levaram-no para Helena, esta tarde. Vossa mãe não lhe avisou, porque ela sabia que a senhora já estava vindo para cá. — Então você levará minha bagagem para o rancho, eu vou voar para Helena agora. Sabe me dizer para onde o levaram? — Acredito que seja no St. Peter’s. — Bom, não fique preocupado comigo. Pegue minhas coisas, peça para Paige para ajeitá-las na casa de hóspede, diga a ela que vou ficar lá por um tempo. Agora vá. — A dona Audrey não vai achar isso muito. Mas a senhora não é mais uma criança. Então o que me resta é só obedecer às ordens. O velho falou concordando com a decisão de Charlie. — É assim que eu gosto. – Ela falou forçando um sorriso. — Agora vá meu amigo, se eu tiver notícias ligo para vocês. Mal acabou de dizer estas palavras ela já estava pegando pequena valise de mão e seguiu novamente para o balcão comprar as passagens para Helena, quando ela olhou o velho ajudante do avô estava saindo com sua bagagem sentido estacionamento. Conseguiu uma passagem e quando deu por si o avião já estava aterrissando no aeroporto de Helena. Ao desembarcar no terminal, ela resolveu ligar para sua mãe e assim saber em qual hospital o avô estava. — Mamãe? — Charlie, minha filha. Tudo bem com você? Como foi sua viagem? Já se acomodou? Pedi para Colby lhe encontrar, infelizmente não foi possível fazermos isso. Tivemos que trazer Mitchel até Helena. — Mamãe, me diga em que hospital vocês estão? Estou aqui em Helena, acabei de chegar. — Não acredito! - Audrey exclamou surpresa. — Você está aqui em Helena? Estamos no St. Peter’s. Estarei lhe aguardando. —Estarei aí.
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Charlie vestiu seu casaco e caminhou pelo saguão de desembarque do pequeno aeroporto, caminhando a passos apressados ela ainda teve um pequeno vislumbre da pintura da colonização das terras de Helena. Saiu pela grande porta de vidro e se surpreendeu com o vento, a temperatura estava baixa, embora estivessem no verão, ao contrário da Califórnia, Montana era visitada pelos ventos das montanhas geladas do Parque Glacial. Charlie saiu pelo grande corredor em direção aos táxis e então chamou por um. Acomodou-se dentro do carro amarelo de doer os olhos. E falou com o motorista. — Hospital St. Peter’s, por favor. - A viagem não gastou nem cinco minutos. Antes que ela pudesse racionalizar os últimos eventos, o motorista já estava parado no local de desembarque de pedestres. — Chegamos senhora, a corrida custou $3,50. - Falou o homem sisudo de cor parda. Ela achou o preço bem salgadinho, mas não reclamou, deu lhe $ 5,00 e disse: — Fique com o troco. – O homem olhou para nota e agradeceu com alegria. Charlie entrou no hospital e foi direto ao balcão de informações. — Boa noite. Estou à procura de informação sobre um paciente que se encontra neste hospital. A jovem moça olhou para Charlie e perguntou: — Você é parente? — Sim. Sou neta. —Sobre quem você quer informação? Perguntou a moça, muito séria. — Mitchel Robson, ele veio de Great Falls esta tarde. A moça olhou na planilha de entrada do hospital e localizou o nome do avô de Charlie, então lhe respondeu. — Ele está na ala oeste, no setor de geriatria, no quinto andar, o quarto dele é o 1023. Toma, use este cartão enquanto estiver nas
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dependências do hospital. – A moça entregou um crachá de visitante para Charlie, ela o pegou e colocou no pendurado na lapela da jaqueta que vestia embaixo do casaco. — Como chego na ala oeste? Charlie perguntou. — Basta você seguir a fita azul até o elevador. - A moça indicou o chão para Charlie. Charlie olhou para o chão e viu com surpresa que o chão era marcado com fitas de cores diferentes, então ela seguiu a fita azul. Já estava cansada de caminhar por aqueles imensos corredores atrás da fita azul, até que visualizou o elevador. Então subiu até ao 5º andar. Ao sair do elevador viu uma enorme sala toda branca, havia uma senhora atrás do balcão já ia até a senhora pedir informação do quarto. Então viu Greg sentado em uma das poltronas, estava cochilando, ela olhou para ele e viu como ele estava cansado. Teria que acordá-lo. Caminhou suavemente e tocou no ombro dele: — Greg... - Sussurrou. Greg levantou a cabeça meio confuso e olhou em direção a pessoa que o estava acordando, com alegria viu Charlie, seu olhar se iluminou ao vê-la. — Charlie! Que bom lhe ver. - Ele se levantou desajeitado do pequeno sofá e abraçou Charlie com força. Ela correspondeu ao abraço. Então se separaram e ele a convidou para sentarse. Falando em tom baixo, apenas para os ouvidos de Charlie, Greg começou a relatar o quadro clínico de Mitchel. — Querida, seu avô não está bem, o médico já nos preparou, essa noite é decisiva. Sua consciência já não está mais conosco, está sendo mantido pelas máquinas, mas isso é um alivio paliativo. - Greg fez uma pausa, olhou para avaliar a reação de Charlie, mas ela apenas ouvia sem expressar nenhum tipo de emoção, estava impassível então ele prosseguiu: — Sinto muito ser portador de uma notícia tão triste. Mas sabemos que não é para qualquer um chegar aos 98 anos, lúcido como ele chegou.
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— Eu compreendo, mas nunca estamos preparados para dizer adeus para sempre. E confesso queria ele mais tempo comigo. Ainda mais agora que voltei para casa. Você contou para ele sobre os nossos planos? — Sim, contei a ele sobre o que estávamos pensando em fazer com o rancho. — Ele chegou a se manifestar sobre o assunto? — No primeiro instante fez cara de desagrado, dois dias depois, enquanto eu o ajudava a se alimentar, ele disse que estava tudo bem, que confiava em nós, que sabia que iríamos fazer o que fosse melhor para a propriedade. — Sempre assim. Mas vamos esperar e aceitar o que Deus reserva para nós. – Ela murmurou colocando as mãos nas mãos de Greg. — Você tem razão. Venha vamos vê-lo. - Ele falou suavemente enquanto se levantava e a apoiava em seus braços. Charlie encostou a cabeça nos ombros de Greg enquanto caminhavam silenciosamente até o quarto de Mitchel. Greg empurrou a porta e visualizou a esposa sentada na pequena poltrona do lado do homem de olhos fechados, ela estava coberta por uma manta rosa pálido, Mitchel jazia naquela cama alva e fria. O quarto estava sóbrio como tudo naquele lugar. Não existia vida nenhuma ali, só a esperança no coração dos parentes daquele homem. Audrey se levantou e foi ao encontro de Charlie. — Minha querida. Sinto muito, o que podíamos fazer por ele, nós fizemos, agora ele está nas mãos de Deus. — Tudo bem mamãe. Eu compreendo. - Charlie comprimiu os lábios, enquanto abraçava a mãe depois de alguns segundos sugeriu: — A senhora parece cansada, vá dormir um pouco, eu fico com ele. Audrey a olhou, Charlie acariciava seus cabelos carinhosamente. Virando-se para Greg continuou — Greg a leve para descansar. — Mas você fez uma longa viagem. Argumentou Audrey.
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— Eu sei. Mas quero ficar aqui com ele. Só isso me basta. Charlie respondeu. E já foi para o lado da cama e pegou na mão gelada que estava sobre a cama. Ela segurou ansiando que ele despertasse daquele sono profundo. Mas isso não aconteceu. Ele estava ali com um tubo introduzido na boca e canalículos nas narinas indicando que o ar estava sendo levado até aos pulmões e o mesmo processo estava sendo realizado pelo respirador, a máquina era quem estava bombeando o ar para dentro dos pulmões de Mitchel. No quarto havia apenas o som entediante do respirador e o bip constante da máquina de monitoração cardíaca, indicando que o coração do paciente ainda batia. Charlie sentou-se na poltrona em que sua mãe estava a pouco e olhou avaliando o casal que estava do outro lado da cama. Audrey e Greg estavam realmente desolados pela situação de Mitchel. Ela ficou com pena dos dois. — Greg vá. Qualquer coisa eu ligo para vocês. Vão descansar. Eu fico com ele. E por favor! Ligue para Kaleb, ele precisa saber sobre o vovô. - Audrey olhou para a filha e percebeu que ela tinha razão, afinal Mitchel ajudou na educação do neto, Kaleb trouxe vida para Mitchel, era preciso sim falar com Kaleb. Então, Audrey deu um beijo na testa de Mitchel sussurrou um pedido de desculpas a ele: — Mitchel, obrigada por tudo, se te fiz alguma coisa que o magoasse, peço que me perdoe. Amei seu filho mais que a mim própria. E amo você também como a um pai e um grande amigo. Não se esqueça disso, nunca... - Uma lágrima escorreu dos olhos de Mitchel, mas ninguém viu. Audrey saiu do quarto, amparada por Greg. Charlie ficou só com seu avô. Ela se levantou e aproximou-se do leito com suavidade afagou o rosto deformado pelas rugas do tempo, ele fora um homem muito lindo, mesmo com todos aqueles vincos profundos na pele, o tempo não desfazia a beleza que houvera naquele rosto. Charlie ajeitou o cobertor sobre o
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corpo dele, observou à temperatura, ele estava frio. Com suavidade afagou os cabelos escassos de Mitchel. — Vovô. Talvez não possa ouvir-me, mas preciso falar-lhe mesmo assim. Talvez lá no fundo ouça a minha voz e compreenda-me. Tem tanta coisa que gostaria de dizer-lhe, mas agora já não tem tanta importância assim. Os últimos dias em San Francisco não foram muito fáceis. Depois de tanto tempo me encontrei com Demétrius. Foi um desastre total. Não sei onde arrumei coragem para enfrentá-lo. Vê-lo só me fez sentir mais remorso em relação a Kaleb. De certa forma puni meu filho com o mesmo abandono do pai. Ah! Vovô ... O senhor não pode me responder... – lágrimas quentes escorreram dos olhos de Charlie, ela chorou por um tempo baixinho, então continuou: — O que vou fazer sem sua presença. Você foi meu guia, sempre me disse o que deveria fazer, e agora terei que seguir sem seus conselhos, logo agora que voltei para casa. - Um meio sorriso saiu de seus lábios em seguida ela ficou introspectiva, um silêncio se fez, então ela chorosa falou: — Vovozinho, seria tão bom se o senhor ficasse mais um pouco comigo, para me apoiar, ver as transformações que quero realizar no rancho, eu esperava que o senhor fosse esperar só mais um pouquinho. – Chorou até adormecer sentada ao lado do avô. — Charlie, acorde dorminhoca. — Vovô? Charlie assustou-se, confusa e sem entender direito o que estava acontecendo ela gaguejou: — Mas o senhor... O senhor não estava... em co... Ele deu um sorriso divertido, e a pegou pelas mãos. — Meu anjo, preste atenção, deixe de falar bobagens e me ouça. – Charlie olhou confusa para o avô, ele parecia revigorado, a sala estava iluminada, parecia que havia amanhecido, ela olhou para o homem parado ao seu lado na cama, confusa, mas lhe deu a atenção que ele pedia. — Charlie. Sempre tive certeza que você herdou do seu pai, a teimosia de querer vencer os obstáculos, você fez isso muito bem; nunca minha filha tive nenhum aborrecimento com
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você, fiquei muito triste com o jovem Ballinderry, mas não fiquei triste com você, cuidei do seu filho, eduquei-o até onde pude, hoje ele está aí um homem feito, agora é com você. Libero-te da promessa que forcei você me fazer anos atrás, e quero que me prometa que irá ser feliz, aconteça o que acontecer, você vai encontrar um jeito de ser feliz realmente com o jovem Ballinderry. Se o jovem Ballinderry voltar a te procurar você vai lutar por ele, me prometa agora. Charlie ouvia seu avô, tentando absorver as palavras dele. — Olha para mim. - Ela levantou a cabeça e olhou para os olhos do avô. — Me prometa que você vai ser feliz. E que se Ballinderry for o motivo de sua felicidade, você vai brigar com o mundo se for preciso. Posso confiar em você mais esta missão? — Vovô é tudo quero. Mas esta é uma promessa que não sei se vou poder cumprir, pois não depende apenas de mim. — Eu sei disso. Mas quando chegar a hora, você vai fazer o que tiver que ser feito. Estarei com você. Estarei sempre com você. – Michel disse isso e apontou para o coração de Charlie, então ele lhe deu um beijo no alto da cabeça. — Charlie tome conta de tudo. — Ah! Vovô, pode confiar, vou cuidar de tudo. — Essa é a minha garota! Fique com Deus... Eu sempre te amei desde o primeiro momento que te vi, com aqueles olhinhos assustados chegando em meu rancho, sempre te amei...Deus te abençoe, não se esqueça: Nesta vida o que realmente importa é ser feliz... – Ele se afastou em direção a porta. — Preciso ir ... Charlie o viu abrindo a porta e saindo. Lágrimas quentes molharam seu rosto, então ela acordou em um sobressalto da poltrona. Um bip longo saia da máquina de monitoramento, ela apertou a campainha, e em poucos segundos o quarto encheu de profissionais, um médico chegara para examinar o coração de Mitchel, e ela ouviu ele dizendo a enfermeira de plantão: — Hora do óbito: 03:45 hrs am. Charlie encostou-se na parede do corredor e foi escorregando bem devagar até ficar agachada, então chorou convulsivamente em silêncio.... Algum tempo depois uma senhora veio até onde ela estava. — Minha querida venha, vamos tomar um copo-d’água, já chamamos seus pais, eles já estão aqui, venha... Charlie olhou para a senhora de roupas azuis e se levantou. —
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Obrigada. Já estou bem. Charlie falou, enquanto secava as lágrimas. Sobre os ombros da senhora, ela viu a porta do quarto aberta e o corpo sem-vida de Mitchel estendido em cima da cama, já estava sem os tubos, Audrey estava ao lado da cama, e Greg estava ao lado dela, os dois também estavam emocionados, Charlie aproximou e ficou diante do casal. Os três fizeram uma oração e em silêncio ficaram. Então passado um tempo uma assistente social entrou no quarto. — Bom dia senhores, sei que todos estão entristecidos com a partida do senhor Robson, mas alguém terá que tratar do funeral, aqui está o cartão da funerária. – Os três olharam para aquela mulher baixinha e invocada entrando no quarto e antes de Charlie se manifestar Greg se adiantou: — Obrigado. – Greg pegou o cartão e olhou para o endereço. — Iremos levá-lo para o necrotério. – Ela continuou. — Vocês precisam de alguma coisa, querem que eu peça um psicólogo para lhes acompanhar? — Audrey você está bem? Charlie? – Perguntou Greg. — Estamos bem. As duas mulheres responderam em unisom. — Bom sendo assim, vocês devem sair, para os rapazes virem aqui levar o corpo lá para baixo. A frieza da assistente irritou profundamente Charlie, mas ela se conteve. Pegou seu casaco e antes de sair deu um último beijo na face de Mitchel. Sua mãe fez o mesmo, então Greg amparou as duas no corredor e os três saíram devagar até a sala de espera do andar. Greg foi até o balcão e começou a resolver os trâmites do óbito. As duas mulheres caminharam até a lanchonete, então pediram um café e sentaram-se diante uma da outra. — Foi melhor assim, Mitchel estava bem debilitado. Começou Audrey. — Eu compreendo. Charlie respondeu, naquele momento ela queria era ver o filho. — Precisamos de ligar para Kaleb. — Tentei falar com ele mais cedo, mas não o localizei.
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— Vou tentar agora. – Disse Charlie, então ela pegou o celular, e teclou o número de Kaleb, o celular chamou, uma vez, duas vezes, três vezes, então uma voz suave e firme atendeu o telefone. — Mãe? Me ligando a esta hora? — Kaleb... Ouça. Mitchel nos deixou. Ela sussurrou comprimindo os lábios. — Que horas foi isso? Kaleb perguntou com um tom triste na voz. — Poucas horas. Ainda estamos em Helena. O funeral deve ser daqui uns cinco dias. Ainda não sei direito, o Greg é quem está providenciando os trâmites. – Charlie falou. — Ok. Dentro de dois dias chego no Rancho. Como à senhora está? -Perguntou preocupado — Estou bem. – Ela respondeu e em seguida lhe perguntou: — E você o que anda arrumando com o velho Dominic? — Ele é muito austero e exigente. Mas estamos nos dando bem. Tenho certeza que ele me dará alguns dias para participar do funeral. Afinal ele era muito amigo do vovô. — Quanto a isto não tenho dúvidas. Estamos te esperando, meu querido. Desligou o aparelho e olhou para mãe sentada diante dela. Charlie observou que Audrey continuava muito bonita, o tempo realmente não passara para sua mãe, olhando aqueles olhos cor de amêndoa, apenas algumas rugas brincavam naquele rosto. Greg cuidava muito bem dela, era visível o cuidado que ele tinha com ela. — Filha, você está bem? – Audrey perguntou preocupada. — Estou apenas triste. As últimas horas não foram muito fáceis dona Audrey. – Charlie falou dando de braços. — Fiz uma viagem tranquila, mas horas antes tive uma discussão desagradável com Demétrius Ballinderry, uma discussão que eu poderia ter evitado. – Audrey parou com o copo no ar, admirada com aquela notícia. Charlie olhava para o copo inerte na mesa, sem-nenhuma alteração na face ou na voz. — Vou ter que conversar com Kaleb, antes dos
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dois se encontrar, por que Demétrius deixou isso bem claro, irá se aproximar do rapaz para lhe contar porque fora criado sem a presença do pai. — O que é que você está me dizendo? – Audrey alterou. — Esse cretino te engravida, te deixa sozinha, e agora se faz de vítima? É, isso mesmo que você está me dizendo? – Charlie balançou a cabeça em sinal afirmativo e olhou nos olhos da mãe, avaliando as palavras dela. — Mas é bem a cara do pai mesmo. Essa raça não presta. E meu neto tem o sangue desses irlandeses republicanos correndo nas veias. - Audrey falou revoltada. — Como foi que ele descobriu sobre Kaleb? – Perguntou para Charlie. — Não sei. Trabalhamos juntos em uma audiência. Ele me reconheceu. Corrigindo, ele não me reconheceu na audiência, mas o quer que tenha acontecido depois fez ele ligar os fatos e sacar que a Charllote S’inclair e Charlie Robson fossem a mesma pessoa. Até então, na audiência ele não demonstrou nenhuma reação ao ver-me, exceto pela gula de querer comer “carne fresca”, mas tirando isso, não demonstrou saber quem eu era realmente. Mesmo quando o corrigi, de propósito, ele me encarou, ficou um pouco constrangido, mas continuou a audiência normalmente. Praticamente dois dias depois ele surge no hotel, cheios de amarras e cobrança. Perdi a compustura. E falei o que estava entalado na minha garganta. — Audiência? Você voltou a advogar? – Audrey perguntou curiosa. — Não. O pai de Edmund, pediu-me um favor. Brian meteu-se em outra encrenca. Não pude deixar de ajudá-lo. — Pois é, ajudou o cunhado, e agora quero ver quem vai lhe ajudar. – Audrey falou indignada. Então continuou: — Demétrius não vai desistir assim do filho. E ainda teremos que fazer cara de paisagem, a hora que estes dois se encontrarem. – Charlie ficou
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curiosa. E Audrey continuou frustrada: — O maior sonho de Kaleb é saber sobre o pai. - Então Charlie desmontou: — Ele nunca me falou nada sobre isso. Você tem certeza? — Tenho minha querida, ao longo destes anos Mitchel sempre contornou muito bem as perguntas de Kaleb sobre o pai e sobre você. Porque vocês não ficaram com ele era a pergunta mais insistente. Até que um dia Mitchel abriu o jogo parcialmente com ele. Depois disso Kaleb nunca mais tocou no assunto. — Meu Deus. Nunca falaram nada comigo. — Vejo que você terá uma batalha pela frente. Porque Kaleb tem um gênio forte, talvez ele não compreenda como gostaríamos que ele compreendesse. – Audrey falou preocupada. Charlie respirou fundo e respondeu: — Isso será matéria para depois do funeral. — Nem me fale. Ah! O funeral. Mitchel não ia querer delongas, ele nunca foi amante de multidão. - Audrey falou como se tivesse falando consigo mesma. — Sei disso, mas teremos que prestar algumas homenagens, sem-contar que temos alguns parentes, que teremos que fazer contato. Os amigos e os próprios funcionários do rancho. — Você tem razão. Mas é um dispêndio muito grande de recursos. E não estamos numa época boa para tal regalia. — Não se preocupe com os recursos. Verei o que podemos fazer quanto a isso. – Charlie tranquilizou a mãe. — Meninas. - Greg aproximou-se. — Já tomei as primeiras providências para o translado do corpo. Podemos ir para casa. O restante agora será com o pessoal da funerária. – Greg concluiu. — Será tão estranho chegar em casa e não ver mais o Mitchel. Audrey falou em lágrimas. Então Greg a amparou e os três saíram do hospital em silêncio para casa em Great Falls.
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Seis Sob o véu da culpa
A última
audiência havia acontecido, quando Antony foi se encontrar com Demétrius na escadaria de City Hall. Demétrius estava conversando com alguns advogados, acompanhado de seu assistente, estava mais sério que o normal, mas tinha seus motivos para estar carrancudo, afinal não era homem de deixar as coisas para trás, os anos como assistente na promotoria o fizeram desenvolver outro tipo de personalidade, mais austero em sua decisões, minucioso nas suas ações e na maioria das vezes inflexível e determinado, lhe dera a cadeira de promotor, e agora sem uma ação plausível estava prestes a ter que desistir de tudo, por causa de uma escolha errada. Caminhando entre os homens, ele avistou Antony encostado em um dos pilares do prédio, trazia consigo uma pasta. Rapidamente se despediu de todos e foi em direção à Antony. Seu assistente o seguiu como uma sombra. — Antony conseguiu alguma coisa para mim? Foi à pergunta de Demétrius ao policial. — Sim. Consegui traçar todo o esquema da juíza e dos advogados de Tony Reids. O senhor não vai acreditar na extensão. - Antony falou sério. Demétrius o olhou com a feição carrancuda. Antony continuou: — Aleska é apenas uma das pontas do iceberg. - Demétrius estudou o rapaz a sua frente enquanto ouvia o que ele dizia. —A história é mais profunda. Pela minha experiência. Eu entregaria isso tudo aqui para os federais. Isso aqui Demétrius. Estendeu-lhe a pasta. — É nitroglicerina. Você, eu, não damos conta disso aqui não. Veja por si só, meu amigo e passe isso adiante. Demétrius entregou sua valise para o assistente e pegou a pasta com o policial. Olhou os primeiros levantamentos, então a cor
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fugiu da face de Demétrius. A boca dele secou, o coração acelerou, aquela sensação era um indicativo que ele estava prestes a fazer uma bobagem. — Meu Deus! Alguém mais está sabendo sobre isso aqui? Perguntou enquanto avaliava aquele material. — Não sei te informar. Mas se está havendo uma investigação, acredito que outras pessoas já devem estar de posse também deste material. — Existe alguma coisa contra mim? — Contra o senhor não. Mas contra seu antigo mentor sim. E isso pode te implicar de alguma forma, pois não existem provas materiais, mas há um envolvimento seu direto com as pessoas que estão na rede. — Então está em minhas mãos ferrar com todo mundo, ou fechar os olhos para esta merda toda? Demétrius questionou entre os dentes. — O que o senhor tem a perder? Antony perguntou. Demétrius pensou um pouco, depois olhou para ele com um sorriso diabólico, falou: — Eu não tenho nada a perder. Amanhã vou ver o que vou fazer com isso aqui. Por hora. Boca fechada! Os dois, entenderam? — Pode deixar. Os dois homens responderam a Demétrius. Não muito longe um par de olhos observava o movimento daqueles homens na escadaria. Registrando efetivamente toda a movimentação, assim que os homens se separaram, uma voz se fez presente ao celular: — Senhor. O policial Antony se encontrou com o promotor. Ficaram um tempo conversando. — Acredito que tem a ver com o dossiê. O que o senhor quer que eu faça. Quer que eu pegue a pasta? Tudo bem. Vou fazer contato. O homem misterioso desligou o telefone. E em seguida ligou para a Dra. Aleska. — Aleska? O patrão quer vê-la no restaurante de sempre hoje às oito horas sem atraso.
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Aleska estava no escritório terminando de fazer umas anotações de um dos processos que tinha para o outro dia. Estava muito nervosa. O encontro que tivera com Demétrius no DP3, não tinha sido dos melhores. Ele estava muito zangado, afinal o filho do prefeito o fez fazer papel de bobo. Ela se encostou na cadeira giratória do seu escritório, enquanto refletia. Paredes de vidro compunham um ambiente clean. Seu escritório era amplo e muito arejado, bem diferente da sala de Demétrius. Aleska tinha consciência que ela era apenas um instrumento nas mãos de seus sócios. Como também tinha consciência que sua ambição a levaram para aquele mundo, uma coisa puxando a outra, mesmo que se quisesse dar um basta, estava envolvida até a raiz dos cabelos. E agora tinha a pior parte, descobrira recentemente que estava grávida. Demétrius não iria gostar nem um pouco daquela notícia, ainda mais sabendo que entre ambos a relação só é embasada no sexo. Mas ela teria que contar para ele, afinal, não fez aquele bebê, sozinha, talvez fizesse a opção de interromper a gravidez, afinal, onde poderia encaixar aquela criança. E conhecendo Demétrius, com certeza ele iria sugerir a mesma coisa. Sem contar que havia a possiblidade de não acreditar que o filho fosse realmente dele. Mas era, aquele bebê era de Demétrius, e sem dúvida nenhuma, tinha ficado grávida no encontro que tiveram em Los Angeles, na “Submission Mansion” um clube fechado de práticas sexuais. Só de pensar naquela noite ela tremeu de desejo. “Será que Demétrius levará uma vida normal, sem estes gostos excêntricos pelo sexo selvagem, pela submissão? Ele nasceu para dominar, para impor respeito”, ela ficou imaginando “como seria ter um sexo normal com Demétrius”. Desde que o conhecera sempre fora tão duro, tão dominador, ele nunca deixou se intimidar ou mesmo se curvar diante dela, e o sexo entre eles sempre foi muito prazeroso, apesar da selvageria. Ele nunca fora violento ao extremo, mesmo 3
DP- Departamento policial.
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na dureza dos atos nunca a machucou. Quando ela o convidou para visitar o clube, ele ficou meio reticente, porém depois aceitou com a condição que não fosse o submisso, ela aceitou, pois era essa a situação queria experimentar, pelo menos de vez em quando sentia prazer em ser submissa a alguma coisa, pois na maioria das vezes, na sua vida diária sempre foi dominante em tudo, nunca aceitou perder nenhuma causa e tão pouco se sujeitou a ser menos diante das funções que exercera em seu cargo como advogada. Agora aquele telefonema vinha contribuir para seu estado de espírito agitado. Com certeza teria algum desafio a ser resolvido, e só esperava que este desafio não estivesse ligado a Demétrius, afinal o encontro do início da semana na casa dele não tinha sido muito bom, pois afinal ele deixara claro que não ficariam mais juntos, aquele encontro tinha sido o ponto final na relação entre eles. Isso a incomodara profundamente, não gostava de ser descartada, mas depois achou que foi a decisão mais acertada entre os dois, mas agora essa bomba. Como será que ele vai reagir ao descobrir que será pai. Ela quase gostou da ideia de gerar aquele bebê. Mas naquele momento seria impossível... Do outro lado da cidade, Demétrius entregava sua chave ao manobrista do Drisco Hotel. Como de costume olhou nas imediações e percebeu que o lugar era muito tranquilo, não era à toa que o hotel era muito procurado. Entrou no saguão e foi direto ao balcão onde uma jovem vestida em um tailleur vermelho o recebeu toda educada. — Boa noite senhor. Deseja um quarto? — Não, minha querida. Estou aqui para falar com uma hóspede, você pode anunciar-me a senhora S’inclair? — Ela o aguarda senhor? — Não. Sou muito amigo da família. Se é que você me entende flor. Demétrius falou cortês. A moça sentiu a face pegar fogo. E sorrindo lhe disse:
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— Não é prática do hotel, incomodar os hóspedes, mas o senhor me parece alguém muito educado. Vou ver o que posso fazer para lhe ajudar. — Vou ficar imensamente agradecido. Respondeu no mesmo tom de voz. — A quem devo anunciar? — Lucian McRay. Sou assistente do promotor Ballinderry. Demétrius mentiu descaradamente seu nome. Ele sabia que se usasse o nome verdadeiro, ela não desceria para conversar jamais. — Boa noite senhora S’inclair. Tem um senhor aqui no saguão que deseja lhe falar. — Senhor? Quem é? Charlie perguntou curiosa, não estava esperando por ninguém, já havia finalizado todas as suas pendências, para poder ir embora no outro dia. — Senhor McRay. Ele disse que é assistente do promotor Ballinderry. — McRay? Eu o conheço. Hum! Deixe-me ver... Pode mandar ele subir. Vou recebê-lo aqui no quarto, com certeza é uma visita rápida. Tem algum problema? — Não senhora. Claro que não tem nenhum problema. A jovem moça olhou para Demétrius quase desfalecendo pela beleza daquele homem parado diante dela. Ele olhou avaliando o perfil da jovem, imaginou a idade, depois o estereótipo e em seguida avaliou o corpo da moça. Era o tipo de mulher que não fazia a cabeça dele, muito comum. E muito magra. Ele gostava de carne, de pega. E a mocinha em questão talvez desmontasse na primeira investida dele. Interiormente ele sorriu ao imaginar a cena, o sorriso de lata dela também não ajudou muito na imaginação fértil dele. — Senhor McRay. O senhor pode subir até o quarto andar, ela está no quarto 63, fica na metade do corredor ao lado esquerdo. Ele se surpreendeu. Aquilo o deixou desconfortável. Pisar em um território longe dos olhos alheios, poderia ser um desafio difícil de
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conceber. Afinal ele iria estar cara a cara com a Charlie, longe das vistas dos outros, talvez não se conteria como havia planejado. O coração dele estava saindo pela boca, na medida em que o elevador subia, mais descompassado seu coração ficava, então a porta se abriu, ele saiu devagar do elevador e caminhou pelo corredor acarpetado e parou diante da porta 63, elevou a mão e deu três toques. Então Charlie abriu a porta. O chão sumiu para os dois. Naquele momento o ar também sumiu. Um formigamento se espalhou pela face de Charlie, ela ficou sem voz, e diante dela também estava um homem nas mesmas condições. Com um controle quase sobre-humano, ela o cumprimentou: — Senhor Ballinderry? Eu não compreendo, o senhor por aqui? Mas a jovem me disse que se tratava de McRay. — Ela não se enganou. Eu dei o nome de McRay. — Por quê? — Posso entrar? Ou iremos conversar aqui no corredor. Charlie engoliu em seco. Aquela não era uma ideia muito boa. Mas estava na hora de pôr um ponto final entre Demétrius e ela. — Desculpe-me. Por favor entre. — Prometo-lhe a demora será curta. - Ele falou seco, ela engoliu a saliva como se fossem pedras. Então ele entrou no quarto, havia uma sala e outra dependência onde estava uma cama larga, haviam bolsas arrumadas em um dos cantos, e algumas outras malas. — Vejo que a senhora está se arrumando para ir embora? — Sim. Viajo amanhã. Ela respondeu indicando-lhe uma das poltronas da sala. Ele olhou para ela. Estava linda, vestia um vestido cinza, que contornava toda a estrutura do corpo delgado, ele viu que ela possuía quadris largos e uma cintura acentuada. As coxas eram grossas, dando um contraste maravilhoso na panturrilha, os pés traziam um par de “peeptoe4” vermelho. E os 4
Sapato modelo peep toe caracteriza-se por deixar os dedos dos pés à mostra.
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cabelos, ah! Os cabelos, estavam em uma trança maravilhosamente avermelhada. Ele olhou para os olhos cinza e então viu que ela era realmente a sua Charlie, amadurecida, mais linda, “Mais Perfeita! ”, Ele concluiu em seu pensamento, ela sim o deixaria de quatro. — Senhor Ballinderry? O que te traz aqui? E porque usou o nome de seu assistente. Ela perguntou nervosa. Então ele saiu do transe. — Pelo mesmo motivo que você usou o nome de casada. Charlie Robson. A cor fugiu do rosto de Charlie, ela ficou sem ar. Então ele prosseguiu: — O que passou em sua cabeça, ao entrar naquele tribunal usando um nome pelo qual jamais faria ligação com você. Não entendi, qual a razão de deste subterfugio, você imaginou que eu não iria reconhecer-te? Logo que você saiu, eu soube que era você. Ele mentiu. — Eu sou Charllote S’inclair, este é o meu nome de casada — Viúva. Senhora S’inclair. Viúva há seis meses. Ele falou. — Não estou entendendo a sua indignação senhor promotor. Ela falou controlando seu nervosismo. — Até onde sei, não tem nada na lei dos Estados Unidos que impeça uma viúva de usar o sobrenome do marido. Se é isso que o está incomodando. Pronto! Acabei de me explicar. Agora gostaria que o senhor se retirasse. Tenho uma viagem para fazer, preciso descansar. Ela se levantou do sofá indo em direção à porta, ele a segurou e a fez sentar-se novamente. O toque das mãos de Demétrius queimou a pele de Charlie, a sensação da pele sobre a sua, fez seu coração disparar. — Não senhora. Você tem que me dar algumas explicações antes que eu saia por aquela porta e a deixe definitivo. - Ele falou duramente olhando nos olhos dela, ele percebeu quando a íris mudou de tonalidade, indicando que ela ficara nervosa. — Se eu não me engano, você já me deixou definitivo há vinte quatro anos atrás. Ela respondeu desvencilhando o braço da mão de Demétrius. Então ele respirou e continuou:
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— Não precisa me lembrar deste fato. Eu recordo muito bem daquela noite. Jamais esqueci do que você me deu de presente naquele baile de formatura. Ela ficou rubro de vergonha, então abaixou a cabeça em silêncio. — Perdoe-me pelo meu atrevimento não queria lhe constranger com estas palavras. Preciso apenas que me diga uma coisa: - ele falou sem rodeios. — Você engravidou na adolescência, quero saber quem é o pai de seu filho. - Ela ficou estática, olhou para ele aterrorizada, a palidez se destacou em sua face. A nítida expressão do medo congelado em sua face a denunciou, não era preciso nem chantageá-la, mas ele precisava ter certeza. — Diga-me! Ou irei exigir a verdade nos tribunais, através de um exame de DNA5. — Você ficou louco? - Ela falou em um tom quase inaudível. —O que te faz pensar que depois de vinte quatro anos de ausência pode invadir minha vida e exigir um teste de paternidade. Qual o objetivo disso? - Ele afastou-se um pouco para avaliar a postura corporal de Charlie. —Você está com medo que isso venha atrapalhar sua candidatura à procuradoria? - Neste momento ela já não fala tão baixo, sua voz já havia aumentado o timbre. Já estava se tornando sarcástica e áspera. —Pode ficar tranquilo. Isso não tem possibilidade nenhuma de acontecer. Concluiu com lágrimas nos olhos. — Diga-me. Eu preciso saber. - Ele falou mais brando. — Por que você precisa saber? O que te faz pensar que tivemos um filho? — Charlie. Ouça-me, sei que fui um cretino. Mas jamais poderia imaginar que naquela noite conceberíamos um filho. — Demétrius, vá embora, não vou lhe responder a esta pergunta. Saia daqui. 5
DNA : contêm a informação genética da estrutura celular de um indivíduo. Teste de paternidade.
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— Não. A ordem cronológica é bem clara. Não tem porque você negar isso para mim. Mas já que você quer brigar. Vou entrar com o pedido de verificação de paternidade amanhã pela manhã. — Você não teria coragem de fazer isso comigo. Não tem motivo para você me encostar contra a parede. Nunca lhe pedi nada, não é justo. Ela falou aflita. — Não é justo descobrir que tenho um filho com vinte três anos, que foi criado como um bastardo, sem a presença do pai e da mãe, por que sei minha cara que você também não ficou com ele. Então não me venha fazer papel de vítima. E tão pouco falar de justiça. É a sua última chance. Este filho que você teve na adolescência, é meu? - Ele foi duro com as palavras e sua reação corporal indicava que ele estava falando sério. O silêncio entre os dois era cortado pela respiração difícil que exalavam. Ambos estavam exaltados. Charlie levantou-se foi até a minicozinha e pegou um copo de água, sorveu um grande gole. Colocou o copo no balcão olhou para o rosto dele, a beleza não disfarçava a dor e a revolta daquele olhar. Ele estava realmente decidido a saber sobre o filho. Voltou a sentar-se diante dele. Ela apertava as mãos uma na outra. E respirando profundamente ela começou a dizer: — Sim. Eu fiquei grávida naquela noite. Ele quis morrer ao ouvir a confirmação de seus temores. Ela olhou para o rosto decepcionado dele e prosseguiu: — Enquanto você corria para Harvard, eu precisei mudar meus planos por um tempo. - Fez-se um breve silêncio, e com a voz embargada ela foi desabafando. — Você roubou a minha paz, o meu sossego e a vontade de ser feliz, todos estes anos, desde o nascimento de meu filho a única coisa que desejei ser, foi ser apenas melhor em tudo. Você não só aproveitou do meu amor. Você sapateou em cima dos meus sentimentos. Acreditei em você, fui fiel a você, e o que eu ganhei de volta. Um ano e meio em casa, para que ninguém pudesse ver o estrago que você tinha feito e depois disso minha família me fez voltar aos estudos. Fiquei pouco tempo com o bebê, tive que
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deixá-lo com minha família para educá-lo, para que eu pudesse cumprir minha promessa feita ao meu avô depois de ser humilhada pelo seu pai. — Charlie. – Sua voz estava baixa e consternada. — Sinto muito, sinto muito mesmo. Jamais poderia supor que a minha atitude insana fosse trazer tanta dor. Por que não me procurou? — Eu fiz isso. Por dias, mas sabe o que descobri? Que existia uma fila para falar com você. Seu colega de quarto, aquele tal de Scott Down disse-me que eu deveria entrar na fila das meninas que precisavam falar com você. Seu pai ainda foi pior que seu colega de quarto, disse que se eu realmente me importasse com você que eu deveria fazer um aborto, ou então deveria fazer como minha gente faz, dar meu filho para qualquer orfanato. Disse que um Ballinderry jamais teria o sangue de um hispânico correndo nas veias, Ele me humilhou, ameaçou destruir os negócios de meu avô e disse que jamais poderia reconhecer um mestiço como neto dele. Só porque minha mãe é hispânica. E agora você entra aqui exigindo respostas? O que você acha que meu filho dirá ao saber da verdade. — Seu filho? Não! Nosso filho! - Ele foi categórico e contundente. — O fato de desconhecer a existência dele não significa que eu o rejeitei. Isso jamais teria acontecido. Se eu soubesse das consequências daquela noite, nunca teria ido embora e você nunca teria sofrido o que sofreu. — Deixa de ser falso. - Ela começou amarga, passou as mãos pelos cabelos, estava exasperada. — Quando você me deixou em casa, você estava constrangido pela bobagem que havia feito. Nem para se despedir de mim você voltou. Eu fiquei te esperando - ela cruzou as mãos até a altura dos seios. Fiquei até ao anoitecer te aguardando. Mas você já estava longe. Nem uma mensagem... nada! Sua atitude não tem perdão. Você foi um insensível... um cínico.... - O silêncio doloroso era apenas cortado pela respiração ofegante, segundos depois Charlie olhou para o rosto amargurado
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de Demétrius e continuou, um pouco menos amarga, mas ainda ressentida. — Você não se preocupou, não atendeu minhas ligações, e nem respondeu minhas mensagens. Você não sentiu minha falta, nunca fez qualquer tentativa de saber sobre minha vida, nem através de nossos amigos, você foi embora pra Harvard e pronto, apagou todas as memórias sobre nós. - Ele a olhou arrependido, as palavras dela faziam sentido e eram justas. Mais uma pausa e então sarcasticamente ela concluiu: — Ah! Mas é claro!!!! Eu fui avisada. Você me disse que tudo não passava de apenas um relacionamento sem futuro. Desculpa por eu ter esquecido deste detalhe da nossa relação. — Não diga isso. - Ele começou sério. — Eu sei que não agi corretamente. Mas não me julgue. E nem duvide do que eu sentia por você naquela época. —Não estou te julgando. Ela o cortou. — Você não sabe o que houve. Eu te procurei sim, não foi apenas uma vez, te procurei, liguei para você, pedi para Bradley falar com você, mas ele me disse que você já estava com outro, a própria Madison pediu para eu não te procurar mais. Renée também me disse que você tinha ido estudar em Helena, pois fazia um tempo que não te via. - Charlie se surpreendeu com que ele estava lhe dizendo, mas continuou em silêncio. Ele estava sério, o timbre de voz estava mais suave, estava racionalizando os fatos ocorridos, uma de suas mãos estava sob a cintura e a outra em movimento, ora passava em seus cabelos ora ficavam inertes ao lado de seu corpo, ele andava pelo quarto de um lado para o outro e então ele parou e a olhou perplexo com a conclusão dos fatos — Agora tudo faz sentido. Bradley provavelmente seguiu as orientações de Madison, e a Renée acreditou que você tinha ido embora para Helena, você na verdade estava escondendo a gravidez de todos. Meu Deus! - Ele exasperou com aquela conclusão momentânea. — Eu te fiz muito mal, jamais poderia imaginar isso. Ele falou quase com um desespero na voz.
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— Chega Dimi! Chega! - Charlie exclamou — Agora por favor, vá embora. Não quero você na minha vida, nem na vida de meu filho. Já está tarde demais para concertar alguma coisa, não quero você na vida de Kaleb, e tão pouco desejo sua proximidade. Ela concluiu, porém ele respondeu com determinação. — Não quero concertar o passado. Mas quero fazer parte da vida de meu filho, você querendo ou não, vou procurar por ele e vou lhe contar o que aconteceu. - Ele foi categórico. E levantouse para sair. Ela pulou na frente dele. — Eu o proíbo de se aproximar de Kaleb. Ele já não é mais uma criança, é um homem feito, não posso permitir que você apareça na vida dele e destrua o que ele construiu. Você não é um exemplo a ser seguido. - Ela tentou se defender. E ele se enfureceu. — Não sou? O que você sabe da minha vida senhora S’inclair? Você se casou, construiu uma vida em cima de uma mentira. Embora tenha lhe deixado, no passado. Sempre esperei por você no meu futuro. E tenho certeza que mesmo tendo casado com o seu major, o homem da sua vida sempre fui eu. — Seu arrogante presunçoso! Você não é o homem da minha vida! E você jamais esperou por mim. Você nunca me procurou, e quando teve a oportunidade de encontrar-me estava com a Dra. Aleska. Poupe-me desse teatro. Você acha que ainda sou a garota imbecil que fui na adolescência? Basta um estalar de dedos e eu volto correndo para seus braços. Jamais! Não sinto nada por você, pois você é um .... Uma... - De repente sua boca foi tampada por um beijo. Um beijo duro, quase violento, ela tentou empurrá-lo, mas estava presa nos braços fortes dele. Seu perfume começou a entorpecer, todos os sentidos de Charlie estavam confusos, ele exalava poder e controle, aquilo assustou Charlie, os lábios macios e o hálito quente era um convite total a luxúria. Ele a fez suportar o beijo até o fim, um beijo áspero que aos poucos foi tomando outra proporção, foi suavizando, foi condensando, as línguas
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entrelaçavam em uma cadência erótica, ele começou a afagar o corpo de Charlie, suas mãos não prendiam mais, suas mãos afagavam com suavidade as pernas compridas de Charlie. Para desespero ela se viu seduzida por ele mais uma vez, seus pensamentos a fez lutar contra aquela entrega deliciosa, não poderia se entregar novamente, então com um esforço quase sobre-humano o empurrou para longe. Quando se separaram os dois estavam igualmente emocionados, pela descarga de energia daquele beijo. Ela soltou dos braços dele e automaticamente lhe deu um tapa bem forte no rosto, ele levou a mão a face dolorida. Deu um sorriso mordaz. E a desafiou: — Se eu quiser.... - Ela desviou o olhar da face vermelha dele -. — Olha para mim! – Ele exigiu, ela levantou o olhar envergonhada -. — Se eu quiser ... - olhou para a cama -. — Provo para você que tudo que está falando é da boca para fora. Você ainda me ama tanto quanto amo você. Mas não quero fazer isso senhora S’inclair. No momento só o que me importa é reconhecer meu filho. — Você me faz perder a razão. Desculpe-me. -Ela tentou se recompor. Desajeitada e constrangida pelo beijo, pela reação absurda dela em dar-lhe um tapa no rosto. Afastou-se dele. Precisava pensar rápido. Ela olhou para a face vermelha dele. O tapa foi mais forte que pensara em dar. Ele se afastou olhou-a duramente e foi para a porta. — Demétrius. Deixe-me conversar com Kaleb antes. É só o que te peço. Ela estava mais controlada, mas respirava fortemente, embora tivesse tremendo. Ainda de costas para ela ele respondeu: — Faça isso logo. Já esperei muito tempo para fazer parte da vida dele. E nem você, nem sua família, e muito menos meu pai vão me impedir de aproximar de meu filho. - Então Demétrius saiu batendo a porta atrás de si. No corredor Demétrius passou a mão no rosto quente, ela tinha uma direita muito forte e um beijo maravilhoso, que ideia, por que foi beijá-la? Perguntou-se. Ela estava tão brava, a
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voz estava aumentando o volume, que o beijo foi à forma mais adequada de calar a boca dela, mas beijá-la lhe deu uma sensação tão boa. Uma paz que ele havia esquecido que poderia sentir. E de repente e se viu feliz. A descoberta desse filho lhe trouxe uma felicidade instantânea e o beijo lhe revelou que o sentimento entre os dois era reciproco. Aquilo era claro. Ela ainda sentia alguma coisa por ele. Demétrius já estava na calçada quando o manobrista trouxe seu carro de volta, ele pegou as chaves e deu uma gorjeta ao manobrista. E saiu rumo ao seu endereço, o Drisco Hotel localizavase algumas quadras de sua casa, em dias de movimento era um percurso que deveria ser feito um pouco mais de uma hora, mas agora naquele horário, ele chegaria em casa em menos de vinte cinco minutos. Ele contornou a rua do hotel e pegou a Rua Divisadero, não quis dar a volta perto do presidio, achou melhor contornar. No caminho ele observou a arquitetura típica de San Francisco, as pequenas casas estilo vitoriano era uma constante naquele espaço todas as casas eram pintadas de uma cor só, ali naquela avenida as casas eram cor de areia, algumas possuíam grandes baywindow , ele também viu que aquela rua tinha muitos estabelecimentos comerciais, quase nunca passara por ali, achou bem interessante, passou pelo bairro Castro, o bairro mais gay do mundo, e cada metro quadrado é impossível encontrar um casal de hétero. Acelerou um pouco mais para sair logo dali daquela região, e pegou a Rua Market parando apenas nos semáforos, a vistas das construções das grandes casas nas encostas faz jus ao nome da rua. O interessante em San Francisco, é que, ou você está subindo ou você está descendo, a ladeira e a subida é algo natural para os habitantes de San Francisco. Em poucos minutos já estava na Rua San Pablo na Westwood Higland, logo ele avistou um dos portões da Boulevard Montrey. Pronto já estava em seu território, dirigiu lentamente na rua que dava acesso à sua casa, o bairro onde ele
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morava era muito tranquilo e muito agradável. Chegou em sua casa e acionou o portão da garagem. Estacionou seu carro e entrou em sua casa. A casa estava cheirando a lavanda. Carmem sempre deixava a casa com um aroma de flor. Demétrius trazia consigo a pasta da investigação de Antony. Ele deixou em cima da mesa da sala de jantar e foi até a cozinha. Estava com sede. Pegou um copo de água e subiu para seu quarto estava pensando em tomar um banho quando a campainha tocou, por um instante pensou que poderia ser Charlie, ou mesmo Antony, mas nunca imaginou que iria abrir a porta e dar de topa com Aleska. Aquilo apagou totalmente a sensação boa que teve com o beijo de Charlie. — O que te traz aqui? Perguntou seco. — Não me convida a entrar? Ela perguntou. —Seja breve, estou cansado, tive um dia cheio. E amanhã não será diferente. - Disse enquanto abria a porta para ela entrar. — Vou ser breve. Não sei como isso foi acontecer. Mas quero lhe comunicar que estou grávida. Aleska derrubou a notícia como se fosse uma massa pronta de bolo em uma forma, esperando apenas que fosse assada. Ele olhou para aquela mulher parada na porta de entrada de sua casa, e sem pensar direito a levou até a sala, onde pegou uma dose enorme de uísque para beber. Que pancada era aquela? Ele ainda queria quebrar o pescoço dela por causa do monte de coisas que os investigadores haviam dito sobre ela e o capitão. E agora ela estava dizendo que estava grávida de um filho seu. Que merda de ironia era aquela? Ele não ia dar conta. O vento estava realmente soprando por outras bandas. Ele começou a dar adeus à sua candidatura ali naqueles breves instantes. Ele não casaria com ela de forma nenhuma, daria assistência total, mas somente isso. Nada mais. Não a queria mais por perto. Ela estava fazendo muito mal a ele. Porém sem entender muito bem, uma parte de si pediu-lhe
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calma e pediu-lhe frieza de espírito. Pois, se fosse outra estratégia ele precisava estar preparado para o capote. — Que brincadeira é essa? Onde está a pegadinha? - Ele debochou, precisava de ganhar tempo para sacar qual era o objetivo dela. — Não é uma brincadeira. Estou grávida de cinco semanas. — Cinco semanas? E dá para descobrir que está grávida? Quem garante que isso não é um alarme falso. Disse isso, e se levantou novamente para pegar outra dose de uísque, enquanto colocava a bebida no copo, seu pensamento puxou os últimos acontecimentos, principalmente de cinco semanas atrás. E com certeza a gravidez de Aleska poderia ser sim, de um filho seu. Bebeu um grande gole da bebida. Depois da discussão com Charlie, essa era a notícia que jamais imaginaria ouvir naquela noite. — Meu ginecologista. Hoje fui fazer uma consulta de rotina, então fiz um exame de sangue e descobri a novidade. — Dois filhos numa mesma noite. A cegonha resolveu me dar um prêmio de papai do ano, ele falou para si mesmo. — Dois filhos como assim? Ela perguntou curiosa. — Não é nada. Esqueça o que acabou de ouvir. Mas agora me diga o que você pretende fazer? Terei que pedir um DNA. - Ele tinha certeza que ela iria interromper a gravidez, e ele não tinha certeza se estava pronto para este bebê gerado em meio à putarias de um final de semana em um clube fechado de sadomasoquismo. Mas ainda assim, era um filho, fosse de quem fosse, era um bebê. Era uma vida que estava crescendo no ventre daquela mulher. — Vou tirar. Ela respondeu. Ponto para Demétrius, e com tristeza ele pensou em Charlie, mesmo sofrendo, ela lutou pelo filho deles, se sacrificou e venceu os obstáculos. Aquilo encheu Demétrius de orgulho, mas agora estava diante de Aleska, uma mulher totalmente diferente da Charlie, que talvez se fosse estimulada também poderia querer ficar com o filho, mas ele ouviu
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aquelas duas palavras: “vou tirar” e então ele respondeu. — Se você vai tirar, por que se deu ao luxo de vir me contar sobre ele? Não passou pela sua cabeça que eu poderia querer este filho? Mas se você já tomou uma decisão, não poderei me opor a ela. Aleska sentou-se e olhou para aquele homem com um copo de bebida na mão, estava com o dorso nu, suas feições estavam sérias, observou que o rosto estava com um dos lados bem vermelho, alguém lhe dera um senhor tapa, pois aquela vermelhidão era bem típico, ele estava muito estranho, não questionou a paternidade, e tão pouco brigou, apenas deixou no ar a possibilidade de querer o filho. Mas ela não poderia gerar aquele bebê. Ele é fruto de uma situação de extrema selvageria entre ela e Demétrius, aquele bebê não foi programado e nem desejado, ele era um acidente, ela não queria gerar um filho assim, sem-amor, sem desejo, um filho gerado a partir de uma noite de luxúria. Era um grande erro.... — Demétrius você compreendeu o que eu lhe disse? Ela estava confusa. Quanto aos sentimentos que estava rolando ali. Naquela sala. Demétrius olhava para ela sem demonstrar nada, nem raiva, nem surpresa e muito menos indignação. — Claro que compreendi. Você está grávida de um filho meu. Está grávida de 5 semanas. Isso coincide com a nossa estada no clube em Los Angeles. Depois daquela loucura toda, com certeza seu DIU deve ter se deslocado, causando uma fecundação. — Eu realmente pensei que você fosse me acusar. — Porque haveria de fazer isso? Se você está gravida de cinco semanas, eu sei que estávamos juntos, mas se esta gestação for diferente disso, aí sim, saberei que você mentiu para mim. E terei motivos para brigar com você. — Você quer este filho? Perguntou novamente a ele. — Você quer este filho? Ele devolveu a pergunta. Ela baixou os olhos.
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— Foi o que eu imaginei. - Ele respondeu seco. Colocando o copo sobre a pequena mesa de centro, depois continuou sua linha de pensamento. — Sei que um filho não estava em nossos projetos, mas pense com carinho, sobre a possibilidade de gerar um filho meu. Vou dar a você todo o suporte necessário para que este bebê tenha um lar e uma família. — Você se casaria comigo? Ela perguntou. — Não! Mas estou disposto a dar todo o suporte necessário para que você possa conceber esta criança. Quero que esta criança seja amada, apesar de ter sido fruto de uma situação perturbadora entre nós. — Vou pensar sobre isso. Mas não espere muito de mim. Tenho minhas convicções, e embora você não acredite, eu acredito no amor, e acredito que gerar uma vida, é preciso amor, e não foi este o caso. Se me lembro bem, você e eu exageramos feio, fomos além dos moldes normais, a descarga de adrenalina que tivemos foi intensa, foi brutal, não acho justo criarmos uma criança concebida da forma como foi. Ela respondeu e levantando-se foi direto para a porta da sala, ele a seguiu. Então ela olhou para ele e disse: — Se você me convidasse para dormir com você hoje, eu iria aceitar, estou precisando muito da sua companhia. Ele a olhou, pensou um pouco, então disse: — O que te impede de ficar e dormir comigo? - Ela sorriu. — Você. - Ela respondeu. — Eu? Por quê? — Estou me apaixonando por você. E sei que isso não está nos seus planos. — Não está nos meus planos apaixonar-me por você por que meu coração pertence à outra mulher. Isso não seria justo com você. Mas se você quiser dormir comigo hoje, esteja à vontade. Ela abraçou-o e levantou os lábios para ele. Ele deu-lhe um beijo leve e rápido. E a levou para o quarto. Despiu-a e a levou para o banheiro junto com ele. Tomaram banho, e transaram no
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banheiro, mais tarde percebera que fora um erro, tentar apagar a lembrança de Charlie. Dormiu abraçado com Aleska. Mas em seu subconsciente era Charlie quem estava ocupando o lado da cama. Confuso ele acordou no meio da noite e então ele virou aquela mulher que dormia em seus braços e a cobriu de beijos. Languidamente Aleska retribuiu ao toque de carinho, ela fez o gesto de inverter as posições, mas ele a prendeu na cama. E sofregamente espalhou por toda a extensão de seu colo beijos, e lambidas, até que possuiu um dos seios entumecido de Aleska e chupou delicadamente, chupou um, chupou o outro, aspirou o perfume dos cabelos dela, e então cego pelo desejo trilhou toda a extensão da barriga e se deliciou entre as pernas de Aleska, aos poucos os beijos foram se tornando mais forte, de repente Demétrius sugava o ponto sensível no meio das pernas de Aleska, ela se contorcia e gemia, com as mãos acariciava os cabelos dele, então ele ajeitou toda a extremidade de sua masculinidade e a penetrou. Suave, em câmera lenta. Ele ajeitou toda sua extensão dentro de Aleska e fez suas arremetidas serem bem devagar, numa cadência erótica ritmada e sem pressa. <<O que é isso? Demétrius está fazendo amor? >> Aleska pensou, <<ele jamais se entregou assim para mim>>, ela aproveitou aquele momento como se fosse o último da vida dela, e deixou-se levar pela cadência que Demétrius estava promovendo a ela, mais um pouco e os dois se perderam naqueles movimentos, então quando o gozo estava por aproximar, Demétrius com uma voz rouca e perigosamente sensual sussurrou nos ouvidos de Aleska, “Charlie goze para mim. Goze agora amor, façame feliz novamente. Deixe-me te amar de novo, amor da minha vida”. Aleska viu todo o instante mágico morrer bem na sua frente. Demétrius estava sim fazendo amor, mas não com ela. Estava fazendo amor com outra pessoa. Ela sentiu uma inveja tão grande dessa mulher que ocupava o pensamento de Demétrius que se permitiu gozar só para sentir um pouco desse amor que ele devotava a esta total estranha. Ele gozou chamando pelo nome de
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Charlie. Aleska teve vontade de morrer naquela hora. Não existe humilhação maior para uma mulher que ser confundida por outra na cama. Algum tempo depois, Demétrius estava acordado, pensativo, ele sabia da mancada que cometera com Aleska, então se sentou e puxou Aleska até aos braços. — Aleska. Sei que você está acordada. Ela ficou em silêncio. — Perdoe-me pela indelicadeza. Confesso que não esperava por isso. Não depois de você ter me contado sobre a gravidez. — Demétrius. - Ela falou sem paciência na voz. — Eu seria uma louca se dissesse que não tem importância. Poxa vida! Você acabou de fazer amor com uma mulher imaginária de nome Charlie. Você se entregou e se deleitou, mas não foi comigo. Ele sabia que ela tinha razão. Então se levantou e foi pegar uma água, precisava sair daquele lugar, Aleska continuava a olhar para ele decepcionada, porém ele tentou ignorar aquela expressão decepcionada dela. — Você quer uma água ou algo para comer? Perguntou sem saber ao certo que fazer. Pela primeira vez aquilo soou estranho até para os ouvidos dele. — Não. Quero apenas dormir. Amanhã será um dia cheio. Ela concluiu. — Sim será um dia cheio. - Ele voltou para a cama e deitou-se ao lado dela alguns minutos depois adormeceu profundamente. Quando Demétrius acordou pela manhã, Aleska já não estava em sua cama, ele ficou um pouco pensativo sobre a noite que tiveram, “que vacilo, fazer amor com uma e chamar pelo nome da outra”. Se acusou mentalmente. Levantou-se da cama sem muita paciência. Um erro seguido do outro, ele teria muitas coisas para corrigir, como podia ele se enrolar da forma como vinha se enrolando. Mas agora ele precisava era tomar um banho, como num ritual diário ele fez a barba, tomou um banho, foi até o closet e escolheu uma camisa branca, pegou um terno verde escuro de corte exclusivo e uma gravata vermelha. Estava impecável. Usou sua colônia
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predileta, e se olhou no espelho, os cabelos já precisavam ser aparados, ele não gostava de deixá-los cheios, sempre os mantinha mais baixo, tradicional isso lhe dava um ar mais sofisticado e austero, além da seriedade e confiança que transmitia a quem lhe via tanto no trabalho quanto fora dele. Caminhou pelo corredor e desceu as escadas indo para a cozinha, o cheiro agradável do café denunciava que a cafeteira com timer programável, já havia executado sua tarefa conforme ele havia planejado, ele pegou uma xícara dentro do armário e virou o líquido negro em seu interior. Enquanto isso ele ligava a tv. Uma repórter falava sobre o clima daquele dia para San Francisco. O noticiário da manhã fora interrompido por um plantão ao vivo. “Bom dia! Notícia de última hora... Acabamos de receber uma triste notícia. O Judiciário de San Francisco está de luto. Morreu esta manhã vitimada por um trágico acidente a advogada Aleska Carmine. ” Incrédulo Demétrius deixou cair à xícara que estava em sua mão. Ouviu aquela bomba totalmente paralisado. O repórter continuou: “O carro da Senhorita Carmine fora encontrado agora a pouco, ao que tudo indica ela perdeu a direção e veio cair em um precipício. A polícia e a perícia já estão no local, um médico legista também. Fato muito desagradável, mas o que mais nos surpreendeu foi a polícia nos informar que nos pertences da advogada havia um exame positivo de gravidez, isso mesmo! Meus caros telespectadores, a doutora estava grávida. Ainda não sabemos lhes informar quem seria o pai, pois segundo fontes ela não era casada, mas tinha um namorado. Outro fato que nos chamou a atenção foi encontrarem uma pasta contendo documentos que supostamente seriam parte de alguma investigação de corrupção no judiciário de San Francisco. Fonte precisa nos disse que esta pasta está em poder dos federais. ” O noticiário continuava, enquanto mostrava as imagens do acidente. Demétrius não acreditava no que estava vendo. Mais ainda, não acreditava no que acabara de ouvir, então se levantou e foi até a mesa onde havia deixado à pasta. Só um bilhete estava no local.
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“Demétrius querido, Não é justo que você seja envolvido nessa sujeira. Não me culpe, nem me julgue. Sei que deve estar espumando de raiva neste momento. Mas só o que me importa é deixá-lo fora disso. Mesmo que você não acredite em mim, estou apaixonada por você. Beijos. AC” Demétrius amassou o papel em sua mão mudo e semnenhuma reação aparente, “Droga! Aleska o que você foi fazer? ” Ele disse para o nada. Totalmente atônito. Quando estava se preparando para sair, o telefone tocou, era Antony. — Demétrius que bomba é esta? Como a pasta foi parar nas mãos de Carmine? — Ainda estou processando essa informação Antony. Preciso que você venha aqui, me leve até onde ela está agora. Ordenou Demétrius. — Aguarde-me já estou chegando. Meia hora mais tarde Antony estacionava diante da casa do promotor. — Você demorou. Demétrius falou. — O transito está uma loucura, o nevoeiro esta manhã está mais denso, isso dificulta muito a visibilidade. Agora vamos, no caminho você me conta o que houve. - Demétrius lhe mostrou o bilhete que ela havia deixado. — Ela veio até minha casa, passou a noite comigo, me contou que estava grávida, e precisava de um tempo para decidir se teria nosso filho. Falou sem emoção. — Uau! Você acreditou que o filho era seu? Demétrius você sabe que isso pode não ser verdade. Ela pode ter vindo até aqui para pegar o dossiê. Muita coincidência, você não acha? — Eu não quero pensar nisso agora. Respondeu contraindo um músculo da face e olhando severamente para o olhar de
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desconfiado de Antony, enquanto ia em direção a porta do carro, mas o detetive não se intimidou com o olhar de reprovação dele, continuou a falar. — Ah! Eu não tenho dúvidas. Ela estava saindo com você e mais um monte de gente. Demétrius seja prático, e pense. Depois de uma pausa e já dentro do veículo ele perguntou: —Agora uma pergunta: você chegou a ler o material? — Não. Depois que nos separamos fui resolver um assunto pessoal, não mexi na pasta, logo que cheguei em casa Aleska chegou em seguida. — Isso só reforça minha teoria. Ela foi à sua casa para pegar este material. — Se isso for verdade, alguém mais sabia sobre esse dossiê. Mas não quero julgá-la, afinal eu deixei esta pasta em cima de uma mesa na minha sala. Talvez hoje pela manhã ela tenha visto este material e o levou consigo sem um plano anterior de ir à minha casa para apenas pegar esta maldita pasta. — A hora que você ver o carro dela, talvez você mude de opinião. — Quem está à frente das investigações? — O pessoal do trigésimo nono. Demétrius pense comigo, ela sai de sua casa na Westwood a caminho da casa dela na Union Square e aí sofre um acidente numa direção totalmente contrária, numa região praticamente remota e sem-movimento. Ela foi encontrar com alguém. Na verdade, ela deve ter ido entregar este dossiê para alguém. Não resta dúvida quanto a isto. — Então meu caro, se esta sua linha de pensamento tiver correta todos nós estamos correndo perigo. — Isso é uma possibilidade. - Antony o olhou concordando. — Chegamos. Veja com seus próprios olhos o que houve aqui. Demétrius desceu do carro e olhou o ambiente, era uma estrada reta sem-nenhuma curva de um lado havia algumas construções do outro o Pacifico. O que ela estava fazendo ali naquela região
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remota, pela manhã. O lugar estava cheio de curiosos e também policiais. O corpo dela já havia sido retirado, os documentos estavam sendo armazenado juntamente com os pertences pessoais. Demétrius sentiu-se muito mal ao ver o estado em que o carro ficou. Caminhou pela marca do pneu no asfalto, e pode concluir que realmente ela estava sendo seguida por alguém. Talvez isso tenha provocado o acidente, mas havia também um outro detalhe: aquela região diariamente vivia coberta pelo nevoeiro do Pacifico. Demétrius ficou pensativo, formulando questões em sua mente, e ao mesmo tempo dizendo para Antony. — O celular dela foi encontrado? Demétrius perguntou. — Posso verificar. — Outra coisa: no noticiário, disseram que os federais estavam de posse do dossiê, mas não estou vendo nenhum federal aqui. Pergunte sobre isso também. Enquanto isso, Demétrius estava observando a coleta de pistas do local, então viu que havia outro representante do MP e se aproximou, e Simon o avistou também e veio ao encontro de Demétrius. — Que bagunça Ballinderry. Demétrius olhou para ele concordando. Então o homem continuou: — O que faz aqui? — Vi pelo noticiário e vim ver com meus próprios olhos. A senhorita Carmine era uma conhecida. — Mais do que conhecida Ballinderry, ouvi sobre o relacionamento de vocês, eu mesmo cheguei a ver vocês juntos. Em vários jantares e alguns clubes na Califórnia. Demétrius não gostou do que ouviu, então soltou: — Tem alguma coisa que queira me perguntar Simon? — Tenho. Onde o senhor estava pela manhã? — Estava em casa. E antes que você venha supor alguma coisa contra mim. Carmine passou a noite comigo. Ela saiu pela manhã. Só não sei precisar a hora que foi isto, pois ela me deixou dormindo.
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— Então posso supor que o filho que ela esperava era seu? — Sim. Agora se não tiver mais nada para supor gostaria que você me notificasse para outras eventuais dúvidas que você possa ter em relação a mim ou ao meu relacionamento com Aleska. — Pode esperar que vou fazer isto. A propósito sua presença aqui não é recomendável, pois se você ainda não tem conhecimento, você é o suspeito número um nesta investigação. Antony chegou bem no momento em que o Dr. Simon dirigiu a palavra para Demétrius. Os dois homens se entreolharam silenciosamente. E saíram do local caminhando em direção ao carro de Antony — Demétrius isso aqui está parecendo uma conspiração. Um colega me disse que não houve nenhum federal por aqui, e que Aleska tinha marca de agressão. O celular dela também não foi encontrado e nem o laptop. — Precisamos estabelecer o horário que ela saiu de minha casa. E acessar os contatos dela, mais uma coisa? Você fez cópia do dossiê? Demétrius falou enquanto entrava no carro de Antony. —Adivinha? Caro amigo. Antony respondeu sorrindo. — Então me entregue, vamos colocar mais lenha neste fogareiro para queimar. No caminho Antony pegou um maço de cigarro e entregou para Demétrius. Demétrius achou aquilo estranho, e disse: — Cara, eu não fumo. Por que isso? Antony não respondeu, apenas virou o maço de cigarro, Demétrius visualizou um cartão de memória junto dos cigarros. Então sacou o que Antony estava tentando fazer. Se alguém estava vigiando os passos do promotor, nessas alturas também estava vigiando Antony e o assistente. Demétrius pegou o cartão de memória o colocou junto no bolso da camisa. Alguns minutos mais tarde estavam diante da casa de Demétrius. Ele desceu e ao chegar próximo da porta viu que ela estava aberta, então chamou por Antony. Os dois homens não acreditaram na bagunça que
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estava a casa. E definitivamente alguém estava procurando pela cópia deste dossiê. Antony ligou para o departamento e em questão de minutos o pessoal deles apareceu, fizeram uma varredura no local, mas nada foi apurado. Antony imaginou que provavelmente o apartamento dele também deveria esta de cabeça pra baixo. Enquanto ele providenciava uma diligencia até seu apartamento Demétrius tratou de ligar para Carmem, e também para seu assistente. — Carmem. Vou dar-lhe uns dias de folga, e qualquer coisa estranha, chame a polícia. Minha casa foi invadida. Não sei o que está realmente acontecendo, por isso, estou ligando, não se preocupe, estou bem... —Patrão! Vi os noticiários, fiquei com pena da senhorita Aleska... O senhor está bem? — Estou, fique tranquila. Só me prometa que vai se cuidar. — Quanto a isso, não precisa se preocupar, minha comunidade é unida, se houver alguma movimentação estranha nas imediações o pessoal cuida disso. Demétrius desligou o telefone e em seguida ligou para McRay. McRay também teve o apartamento revirado. Antony tinha razão, estavam atrás de possíveis cópias do dossiê. Demétrius pensou e então decidiu ligar para os federais. E marcou uma reunião em seu próprio escritório naquele mesmo dia para assegurar pelo menos a segurança das pessoas próximas a ele. E já que a situação estava tão melindrosa a melhor coisa a fazer era recuar. Era eminente a acusação contra ele, isso era um fato natural, afinal supostamente, ele foi o último a ver Aleska com vida. Duas semanas haviam se passado desde a tragédia ocorrida com Aleska, para sua sorte, as câmeras de vigilância do bairro onde mora, mostrou quando Aleska saiu de sua casa falando ao celular junto dela estava à pasta do dossiê. Três horas mais tarde as
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mesmas câmeras registraram o detetive Antony indo à casa de Demétrius e os dois saindo juntos. Vinte minutos depois três homens vestidos de macacão escuro, entraram na casa de Demétrius, estavam em uma van azul, com dizeres de manutenção de antena, o que despistou os vigilantes do bairro. As perguntas foram tantas, e foram tantos os relatórios, que tudo que Demétrius queria naquele momento era um lugar tranquilo para dormir. E no outro dia seguir viagem para Portland ver seu pai. O cartão de memória ainda estava consigo. Por uma razão desconhecida, ele não entregou aos federais como queria inicialmente, a conversa que tivera com eles no dia do acidente de Aleska lhe deixou com os dois pés atrás, uma situação estranha levantou suspeita em relação a um dos investigadores, pois ninguém sabia que ele havia ido ao hotel onde estava Charlie, e um dos investigadores perguntou a ele o que ele havia ido fazer lá, já que havia recebido o dossiê após o horário de trabalho, porque ele não levara o documento para o escritório. Somente ele e o Antony sabiam realmente o que continha naqueles documentos, nem mesmo seu assistente tinha tomado consciência do que seria aquilo. Ele repassou inúmeras vezes seu depoimento. Teve muito cuidado em omitir o nome de Charlie, pois em hipótese nenhuma poderia envolvê-la naquela sujeira. Seus superiores questionaram inúmeras vezes sobre uma possível cópia do dossiê, ele e Antony negaram veementes sobre uma possível cópia. Precisavam dar tempo ao tempo. Ele pegou o pequeno cartão de memória e o prendeu no fundo falso da capa de um livro, não era seguro, mas era o que podia fazer naquele momento. Mais tarde pensaria no que fazer com aquele pequeno objeto. A impressa não dava sossego, tanto a televisão quanto o rádio só sabiam explorar o assunto, a internet estava forrada de imagens dele e de Aleska. O telefone não parava de tocar. O tempo todo ele era abordado para esclarecer, principalmente o assunto da gravidez de Aleska. A gravidez fez a tragédia ser maior e bem mais
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chocante. San Francisco iria se lembrar por muito tempo dessa história. A comunidade inteira queria saber, quais as providências estavam sendo tomadas na investigação, queriam saber a posição de Demétrius diante das apurações, os mais fervorosos pediam justiça para Aleska. Demétrius estava realmente cansado, e esperava ardentemente que Charlie não estivesse vendo este circo de horrores que estavam pintando com a tragédia de Aleska e o seu nome. Passado o funeral de Aleska, Demétrius procurou o “Escritório de Integridade Pública” e desistiu formalmente de sua candidatura à procuradoria estadual, até que pudesse voltar para suas funções e desempenhar seu trabalho como sempre fizera seria a melhor estratégia dar um tempo do cenário jurídico. Estava arrumando sua valise e fazendo algumas anotações, quando seu assistente entrou pela porta. Ele olhou para o jovem, e esperou ouvir as notícias que estavam circulando pelo corredor do departamento. — O senhor desistiu da candidatura? — Não. Só não vou concorrer nestas eleições. Estes últimos acontecimentos não serão vistos com bons olhos pelos eleitores. — Mas esta também poderia ser uma oportunidade de ouro para vencer as eleições, pois a comunidade está comovida com as últimas notícias em relação à tragédia que abateu sobre o senhor. — Este é um motivo pelo qual não quero ser eleito. — É... Talvez tenha razão... O assistente viu que ele continuava a ler os papéis que estavam sobre a mesa. E então ele para chamar a atenção do chefe raspou a garganta, o que fez Demétrius olhar para ele como quem estivesse esperando para ouvir o que o rapaz tinha para dizer... — Bem mudando totalmente de assunto, o senhor já pensou em conhecer o filho da Senhora S’inclair? — Por que me faz esta pergunta? - Demétrius viu a fisionomia inquisitória de seu assistente -. — O que é que está acontecendo senhor McRay? Perguntou Demétrius curioso.
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— Veja com seus próprios olhos e tire suas próprias conclusões. - McRay lhe entregou um jornal local. O jornal trazia uma matéria sobre a nova safra de bons advogados que vinham surgindo nas últimas décadas. Ele leu a matéria e viu que entre os dez indicados, estava o nome de Kaleb Robson. Então percebeu que foto do rapaz era o motivo do burburinho dentro do departamento. A reportagem em si, não era lá essas coisas, mas a foto sim. Kaleb Robson era a cópia perfeita de Demétrius mais novo. Até ele se assustou ao ver o jovem rapaz, mas não demonstrou sua surpresa, desde que descobrira sobre que era pai de um jovem rapaz, ainda não havia parado para pensar sobre como seria sua fisionomia, e agora olhando para aquela folha do folhetim, viu que nem era preciso um teste, Kaleb era o DNA do próprio Demétrius. — O que há de tão extraordinário nessa reportagem, todos os anos soltam esta lista. Demétrius falou sem demonstrar interesse pelo jovem advogado. — Concordo, mas se o senhor olhar bem as fotos verá que entre eles existe um que é impossível não ver a semelhança com um determinado promotor renomado. McRay jogou não como curiosidade, mas como uma afirmação, que aquela semelhança não era mero acaso. — McRay você está precisando de uma camisa de força. Demétrius falou quase sério. — A Rachel disse que este rapaz deve ser seu parente. — Diga a ela para fazer um jogo que ela está afiadíssima...Demétrius respondeu para encerrar a conversa. McRay ficou com uma baita interrogação e sua curiosidade aumentou ainda mais. — O senhor está sabendo que o Velho Dantinni está abrindo uma firma aqui? — Alguém me falou sobre isso, na verdade será uma fusão com a firma de advocacia Roger’s & Willian’s.
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— Isso será como uma caça aos novos talentos. McRay falou. As grandes faculdades do país farão convênios com eles. — Essa é a promessa. Demétrius falou, enquanto continuava a ler e assinar alguns documentos para deixar tudo em ordem antes de sair de férias. — O jovem, o tal de Kaleb Robson, está finalizando seu curso e virá para cá como representante de Dantinni aqui em San Francisco. - McRay viu a cor fugir do rosto de Demétrius. Ele parou de escrever e olhou em direção a McRay. Mudo. A impressão que se tinha, era que ele não via nada na sua frente. McRay olhou para ele e perguntou: — Promotor? Está tudo bem? ... - E de repente Demétrius volta ao planeta Terra. — Quem lhe deu esta informação McRay? Este jovem ainda está terminando o curso. Ele provavelmente deverá ir para grandes centros. — Estava conversando com um amigo que enviou o currículo para a firma de Dantinni. E ele disse-me que será sabatinado pelo jovem Kaleb Robson que embora seja ainda um estagiário já está ocupando a cadeira de associado da firma de Dantinni precocemente. - McRay sabia o que realmente estava por trás daquele desconforto do seu chefe. Então resolveu dar um chute nas suas suposições. — Senhor me desculpe pela minha intromissão, mas preciso colocar o senhor a par de algumas notícias, mas percebi que o nome deste jovem lhe causa desconforto, isso é por que ele é filho da senhora S’inclair? Demétrius levantou-se de sua cadeira, saiu atrás da mesa e se posicionou diante da imensa janela de seu escritório, estava de costas para seu assistente, inúmeras coisas passavam na mente dele naquele momento, nem mesmo a neblina que ainda cobria a rua, o fazia dispersar de seus pensamentos. Era chegada a hora de começar a assumir suas culpas, e a primeira dela era assumir a paternidade de Kaleb, ainda que tardia. Virou-se para o assistente
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atrás de si, com as mãos no bolso da calça, com a gravata frouxa, a camisa branca destacava ainda mais sua palidez, o rosto já demonstrava o cansaço excessivo dos últimos dias, mas mantendo a altivez lhe respondeu: —Kaleb Robson é meu filho com a senhora S’inclair. Eu sou o cafajeste que a engravidou na adolescência. - McRay piscou inúmeras vezes, ele esperava por tudo, ou melhor ele já havia deduzido tudo, a semelhança entre os dois era clara e límpida como água, mas ouvir o promotor lhe falando daquele jeito lhe deixou totalmente sem ação. E antes que começasse a falar como um papagaio Demétrius continuou: — Kaleb é um dos motivos da minha desistência a candidatura. Não quero que esta situação venha a público, pois não quero ver o nome dele envolvido em um escândalo do passado. Preciso corrigir minha conduta irresponsável com ele e principalmente com a mãe dele. Antes de prosseguir com meus planos, terei que espantar alguns fantasmas da minha vida. E futuramente quando for sabatinado pela mídia, quero realmente responder as perguntas com a franqueza que a sociedade merece, não quero ter que omitir nenhum tipo de assunto, a lei precisa de homens que representam a verdade. Que tenham a moral e a conduta acima de qualquer suspeita. — Senhor, nem sei o que dizer. McRay soltou a voz. — Não espero que você diga alguma coisa. O que preciso agora é de discrição. Não quero que esta história saia daqui de dentro, ainda mais porque Kaleb não tem conhecimento deste por menor da sua vida particular. Em nome de nossa amizade, não fale sobre este assunto com ninguém, nem mesmo acentue nossa semelhança física para quem quer que seja. Quero este assunto se encerre. Aqui. Você pode fazer isso? - Demétrius usou um tom de voz que indicava muito bem que não estava brincando, ele estava determinado, e o tom autoritário na voz dizia claramente que sérias consequências aguardavam para quem tivesse tecendo a
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história pelo corredor do departamento. McRay engoliu em seco e respondeu quase gaguejando. — Cla... Claro senhor. Farei o que me pede. — Isso não é um pedido. É uma ordem. — O juiz McCrow pediu para o senhor ir até a sala dele. O que eu digo? – Demétrius estava evitando o chefe havia dias, mas agora precisava enfrenta-lo. — Irei lá assim que eu terminar por aqui. —Precisa de ajuda? —Não. Pode ir. Assim que eu entrar na sala dele, quero que você marque dez minutos em seu relógio e ao término deste prazo vá até a sala e diga que preciso atender uma ligação. —Pode deixar. Mais tarde antes de encerrar suas atividades, Demétrius foi até a sala do juiz. Deus três toques na porta suavemente. — Pode entrar. – Demétrius entrou em uma sala ampla e viu o juiz sentado em uma poltrona em frente à janela, a sala parecia uma sala de estar, não havia um papel fora do lugar. Impecavelmente organizada. —Sente-se aqui Demétrius, precisamos conversar sobre os últimos acontecimentos. — Ainda estou sendo sabatinado McCrow? — Claro que não. -Rebateu o juiz. — Eu queria externar meus sentimentos a você. Não esperava um desfecho tão arrebatador em relação a advogada, mas o que mais me surpreendeu foi saber que vocês teriam um filho. —É .... Também fiquei consternado com toda esta confusão. Mas acredito que as investigações nos levarão aos verdadeiros assassinos de Carmine. — Você acha que o acidente dela tem a ver com a investigação do caso da juíza? —Acho sim. —E você o que vai fazer?
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—Nada. Vou aguardar o término das investigações. —A respeito do dossiê? Você chegou a vê-lo? —Não tive tempo, nem sei o que havia naquele conteúdo. —Então você realmente não chegou a fazer nenhuma cópia de segurança? —Não. —Não entendi porque você desistiu da candidatura. Você sabe que você venceria facilmente. —Mc, não estou com cabeça. Vou sair de férias e talvez quando voltar eu pense melhor sobre o assunto. —Você é um bom homem, tenho certeza que você vai superar estes empecilhos. —Assim espero. – De repente o assistente de Demétrius bateu na porta e falou com Demétrius sobre o telefonema. —Preciso ir atender o telefone. O senhor já disse tudo? Demétrius perguntou evasivo. —Sim. Vá. E tenha uma boa viagem até Portland. Espero te ver em breve. – Os dois homens se despediram. Então Demétrius saiu da sala do juiz cheio de perguntas na cabeça. Demétrius deu por encerrado seu expediente um pouco antes do horário, deixou tudo organizado para o promotor substituto e despediu-se de sua equipe, com a promessa de voltar. Quando Demétrius entrou em seu carro, trazia consigo seus pertences e principalmente o cartão de memória, sentiu-se mais leve; aquela parte de seus problemas por hora estava resolvido, então dirigiu até o flat Gorgeus na Marina District, desde a invasão de sua casa, Demétrius não voltou mais a ficar lá, apenas pegou seus pertences, pediu para Carmem providenciar o concerto necessário, ele perdeu um pouco a esperança. Por mais que não admitisse, no fundo sabia que a morte trágica de Aleska havia roubado uma parte dele que ele desconhecia, mas que estava fazendo falta. Ele não sabia dizer ao certo o que realmente o incomodava, mas uma parte dele
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apontava o dedo para a própria consciência. Mais uma culpa para o currículo extenso que ele trazia na bagagem. Ele sabia que só teria descanso no momento em que colocasse todo mundo atrás das grades. Mas enquanto isso não acontecia, sabia que seria assombrado pela culpa do silêncio e da omissão. Embora não tivesse amor por ela, ele tinha uma amizade profunda, afinal eram anos de relacionamento, um relacionamento diferenciado do normal, mas era um relacionamento, às vezes ele queria dar um basta naquilo que tinham um com o outro mas, era viciado no jeito que faziam sexo; ela era uma amante formidável, na maioria das vezes em que se entregava era sem dúvida nenhuma a melhor parceira; ela conseguia que sua submissão o deixasse a mercê dela, e isso a tornava poderosa aos olhos dele e o fato de saber que ela trazia seu filho no ventre o deixava mais fragilizado diante de tudo que havia acontecido. Os dias haviam passado, mas a dor ainda estava ali presente, perturbando sua paz de espírito. Ao chegar em seu quarto ele só pensava em dormir e no outro dia sumir de San Francisco, então observou que havia um recado de Carmem para ele na secretária eletrônica: “Patrão, queria te chamar para uma reunião em minha casa hoje, mas sei que o senhor não está afim de ver gente. Então vou cuidar de tudo, enquanto estiver fora, mas espero que ao voltar, o senhor retome sua vida. Afinal dependo do senhor (Carmem falou sorrindo), tenha uma boa viagem e muito boa sorte com seu filho e a Charlie (ainda sorrindo). Ah! Senhor deve uma visita à minha casa. Vou cobrar. (Um silêncio, e a voz embargada) Dimi... (uma pausa na voz). É estranho te chamar assim... (outra pausa, acompanhada de um breve suspiro) o senhor é um amigo muito querido. Que Deus esteja com você. As meninas lhe enviam um beijo (algazarras de criança ao fundo dizendo, “mãe fala para ele trazer presentes”, “Não! Mãe fala que eu mandei beijo”, “mãe deixa eu falar também”) Bom deu para perceber como elas estão agitadas hoje. Fique com Deus, e me mande notícias. ”
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Demétrius sorriu com o recado deixado, então pegou o celular e enviou uma mensagem para a amiga: — “Empregada (já lhe pedi para não me chamar de patrão), obrigado pelo convite, mas vou deixar para outra oportunidade, saio daqui algumas horas, cuide das minhas coisas, fique tranquila que o depósito continuará do mesmo jeito. Afinal te elegi como a minha serva (risos). Trarei os presentes minhas anjinhas. Tudo de bom Carmensita. ” Ainda era madrugada, quando Demétrius dirigiu-se até o aeroporto internacional de San Francisco, e embarcou em um avião sem escalas até Portland. Uma hora e meia mais tarde, aterrissava no aeroporto da cidade das rosas. A manhã estava bem fria e muito chuvosa, e Demétrius pensou que não estava muito diferente de seu humor, pegou sua bagagem, e caminhou pelo grande saguão, o aeroporto estava com pouco movimento, e isso facilitou sua ida até o balcão da empresa de locação de carros. Feito os tramites, ele pegou a chave e seguiu o funcionário até onde estava uma fila de carros estacionados, ele havia escolhido um utilitário Toyota, um carro prático para a viagem que teria que fazer até a Mansão localizada em uma pequena vila fora de Portland. Demétrius entrou no carro configurou o GPS. Olhou o sistema do veículo para assimilar melhor seu funcionamento, não era todo os dias que andava em um veículo ecologicamente correto. Portland é considerada a cidade mais sustentável dos Estados Unidos, e isso é um grande diferencial para todos que visitam a cidade pela primeira vez. Depois de ajustar o pen-drive no aparelho de som do carro, Demétrius saiu rumo a Welches.
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Sete A verdade de Kaleb
A casa estava cheia de gente, havia pessoas que Charlie nem
sabia que eram parentes de Mitchel, fizeram muitas homenagens, muitos discursos. Conforme seu pedido, fizeram a cremação do corpo dele, as cinzas deveriam ser espalhadas no lago Santa Mônica. Ela já estava exausta de tanto receber as condolências e ser receptiva com os convidados, precisava descansar e se encher de força para conversar com Kaleb sobre Demétrius. Mas ela não parava de pensar na carta de Mitchel lida por Kaleb durante o funeral. As coisas para Demétrius estavam conturbadas, ela vira pelo noticiário que a noiva havia falecido em um acidente de carro, um dia depois de Mitchel, a mãe quem ouvira a notícia, depois mais tarde ela olhou as notícias na internet, vira também que a moça estava grávida, ela teve pena de Demétrius ao saber sobre o bebê, sentiu uma vontade louca de ligar para ele, mas evitou. Ela também não estava bem para consolar ele, dois momentos cruciais na vida de ambos. Olhou para a sala cheia de pessoas, buscou refúgio no olhar da mãe que compreendeu que o cansaço havia chegado, então foi para seu antigo quarto, onde muito de suas recordações ainda estavam na parede, entrou no quarto e olhou com saudades para tudo que ainda estava ali. Antes de aproximar-se da cama, pegou uma caixa grande, dentro do pequeno closet atrás da porta de entrada. Sentou-se na cama, e então abriu a caixa, dentro haviam cartas, um celular, uma câmera fotográfica, e várias fotos. Inclusive fotos de Demétrius. Ela olhou para aquele jovem e viu que a semelhança entre ele e o filho eram realmente gritantes.
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Tirou as fotos e olhou uma por uma, precisava fazer contatos com os antigos amigos, afinal estava de volta, olhou a foto da turma, olhou a foto das amigas, Renée, Clair, Fay, Madison. Madison era muito especial. A amiga de todas as horas, aguentou os choros, as revoltas, suportou as decisões e foi madrinha escolhida de Kaleb, ela e Bradley, na época eram apenas amigos. Os amigos que ficaram para trás. Enquanto Demétrius e Charlie foram buscar seus sonhos longe de Great Falls. Bradley e Madison ficaram entre idas e vindas, acabaram apaixonando-se e se casaram. Madison atualmente trabalhava na Universidade, e Bradley estava seguindo os passos da família na criação de cavalos. Os dois formaram uma família muito linda, possuíam dois filhos. Que Charlie ainda não conhecia. Olhou as fotos e sentiu saudades daquele tempo, depois pegou o álbum de fotos de Kaleb, ela registrara tudo que podia, na esperança de um dia poder mostrar para Demétrius tudo que ele tinha perdido, mas ela também perdera muito do filho. Ali estavam às comemorações, os aniversários, entre outras coisas até a primeira comunhão. Ela também se sentia muito culpada, e agora teria que abordar um assunto que talvez fizesse Kaleb se revoltar contra ela e principalmente contra Demétrius. Mas não havia muito que fazer precisava enfrentar aquela situação. Olhando para a foto de Demétrius jovem, ela percebeu que muita coisa havia mudado, mas aquele olhar para ela era o mesmo, quando ele apareceu naquele quarto de hotel, fora o olhar que lhe surpreendeu, o mesmo brilho, ela sorriu em silêncio, então separou a foto em cima da cama. Guardou as fotos novamente dentro da caixa e fechou. Então ao levar a caixa para o lugar, um anuário velho caiu sobre si. Ela abaixou para pegar, então viu que era o anuário de Demétrius, na mensagem para a posteridade dizia: “O mundo pertence a quem se atreve, a vida é "muito" para ser insignificante. Suprema Corte dos Estados Unidos, aguarde-me logo estarei chegando. Demétrius Ballinderry”.
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“— Falta pouco para você chegar promotor Ballinderry”. Pensou em voz alta. Fechou o anuário e voltou para a cama. Tirou os sapatos e se deitou. Pegou a foto de Demétrius e a colocou na sua agenda. Estava debaixo das cobertas, quando ouviu alguns passos no corredor, mas ignorou completamente, fechou os olhos e começou a pensar nas homenagens feitas a seu avô. Como é assustador, essa história de perder alguém que ama para sempre. Numa hora você está ali com ela, feliz ou brigando, e de repente tudo muda. A última vez com a pessoa amada será eternamente a última vez. A morte é algo injusto para quem fica, é uma experiência humana em que nada que é feito, pode mudar o curso. Aí entra a aceitação. De repente a gente precisa aprender a aceitar a dor da perda. Lágrimas quentes rolavam pelo rosto de Charlie, ela entregou-se ao seu choro até finalmente dormir. Quando Charlie acordou já estava escuro, ela perdeu totalmente a noção do tempo, a casa estava em silêncio, aquilo indicava que as pessoas já tinham ido embora, então ela se levantou e foi tomar um banho, tirou o vestido pesado e procurou algum moletom no armário, para sua surpresa encontrou uma camisa que fora de Demétrius e uma calça de malha. Ela balançou a cabeça e não acreditou no que viu. Mas estava realmente, afim de trocar de roupa, as roupas dela deveriam estar na casa de hospede, então teria que se contentar com aquelas que estavam ali. Pegou as roupas e foi para o banheiro. Colocou a banheira para encher, em seguida mergulhou o corpo na água quente. E relaxou, e naquele momento reconfortante pensou no beijo que Demétrius lhe deu a força, o qual ela correspondeu e adorou, no fundo ela havia gostado de cada segundo daquele beijo. Com pesar sabia que ainda amava aquele homem, e que se pudesse estaria com ele naquele momento de dor que ele deveria estar passando. Embora aparentasse um homem arrogante e frio, ela sabia que ali escondia um menino frágil e carente. Muito carente. Respirou fundo o cheiro do sabonete líquido da esponja e sentiu-se revigorada.
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Talvez naquela noite conversasse com Kaleb sobre Demétrius. Após escovar os cabelos, e colocar a única roupa que estava à mão. Ela desceu até aos aposentos inferiores da casa. Ao chegar no topo da casa viu que ainda havia algumas pessoas, provavelmente iriam dormir ali. — Alguém sabe dizer-me onde está Kaleb? - Perguntou para os que estavam ali na sala conversando. — Charlie, a última vez que eu o vi, ele estava conversando com a filha de Page. Greg respondeu. — Hum... - Charlie fez uma careta. — Se conheço a peça essa conversa deve estar acontecendo em um lugar mais reservado. — Não diga isso nem de brincadeira. A Page terá um ataque. Respondeu a mãe. — Acho melhor ir procurá-lo. - Charlie falou. Então Greg disse: — Ele saiu na pick-up já tem um tempo. — Sério? Então vamos esperar. - Charlie deu de braços.
Longe dali um casal estava nadando nas águas frias de um lago nas terras indígenas. Kaleb nadou até sentir dor nos braços, então saiu da água, nu, Gyna olhou para aquele corpo maravilhoso e o devorou com os olhos. — Você não está com frio? A jovem perguntou a Kaleb — Você vai acabar tendo uma hipotermia, vem aqui perto da fogueira, vem aquecer-se. — Estou afim de aquecer é no meio das suas coxas, maravilhosa. Kaleb falou sem rodeios. — Se nossas mães souberem o que fazemos quando sumimos, elas vão nos casar na primeira hora. Falou a moça em tom de brincadeira com o jovem rapaz.
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— Graças a Deus, que você não pensa nisso. Ele falou próximo a ela. Então ele se sentou no cobertor estendido diante da fogueira. — É sorte sua. Pois gosto tanto de você que sei que jamais seriamos um par perfeito. Mas adoro transar com você. — Também adoro. Vem cá, — Não! Você está gelado. – Ela respondeu sorrindo. —Cavalgue em mim como você faz com Pietro. - Ele disse enquanto alisava as pernas da jovem, ela sorriu, pois Pietro era o cavalo que ela selava de vez em quando no rancho. Afastou-se dele por uns instantes e pegou um preservativo na bolsa, abriu e revestiu o membro avantajado de Kaleb e em seguida montou nele como se realmente tivesse cavalgando. Kaleb fechou os olhos e concentrou-se naquela sensação de senti-la subindo e descendo em seu membro, a intimidade dela o agasalhou como se fosse parte dele, ele a segurou pela cintura, mas ela controlava as arremetidas de ambos. Ela apertava seu peito e mexia suas ancas, mansa, quase torturando, uma contração mais forte em seu interior, denunciou que sua amazonas estava prestes a explodir em um clímax, ele afundou mais a arremetida, ela contraiu com mais força a pélvis para apertar ainda mais aquele pedaço de músculo que estava no seu interior, ele gemeu alto, quando percebeu que estava literalmente com o membro atracado àquela gruta quente e molhada, era uma tortura segurar o prazer que estava por vir para ambos, enquanto ainda segurava um pouco mais, ela saiu de cima dele para que ele pudesse terminar, então ele a colocou de quatro, e a luz crepitante da fogueira iluminou as curvas salientes de sua amazonas Seu membro duro queria voltar a se agasalhar novamente dentro daquela pequena abertura. Aquela visão era um presente da natureza. — Gyna você é muito gostosa. - Kaleb sussurrava. As arremetidas ainda demoraram um pouco mais, então um frenesi denunciou o prazer, uma onda de calor subiu pelos membros
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inferiores até ao âmago dos dois amantes. Então os descompassos das respirações fizeram sessar os gemidos. — Mulher cada dia que passa, você fica mais gostosa. Kaleb desmontou sobre Gyna. E ambos sorriram, ela virou para ele e lhe deu um beijo nos lábios, em seguida ele sugou lhe um dos seios, e alisou a intimidade dela como se fosse um grande prêmio. — Tem quanto tempo que transamos? Ele perguntou indiferente. — Uns oito anos. Sei lá, desde que resolvemos perder a virgindade. Ela respondeu. Então ela olhou para ele, e viu que uma sombra pairava naquele olhar. — Por que você pergunta? — Você gosta de mim? — Gosto muito de você Kaleb, mas como amigo, sempre foi assim. Não é? — Então, você transa com outros caras? — Para ser sincera. Sim. Você não transa com outras mulheres? — Uma vez ou outra surge alguma oportunidade. Mas o que nós temos é estranho, você não acha? — Eu não acho nada, gosto de transar com você, e mesmo que você tenha um relacionamento sério, ou que eu tenha um relacionamento sério, acho que vou dar para você toda vez que você quiser. - Ela sorriu. E ele balançou a cabeça não acreditando no que ouvia. — Não quero te decepcionar. Mas se por acaso eu realmente encontrar o tal do amor, não faremos isso mais. Eu não terei coragem de ser infiel. — O pior é que você tem razão. Eu também não teria coragem. Então por enquanto vamos curtir um ao outro, enquanto a gente ainda podemos. - Lhe deu um breve beijo. E mudando totalmente de assunto ela continuou: — O funeral de seu avô foi longo, e muito triste. Fiquei com pena de sua mãe. — É fiquei preocupado com ela também. Mas aquele chororô não era só com a morte de meu avô, ela estava sofrendo por mais
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alguma coisa. O olhar dela para mim estava pesado, depois das homenagens disse-me que precisa ter uma conversa comigo. E agora estou aqui com você. Estou pensando que talvez seja relacionado com meu pai biológico. — Por que você acha isso? Ela insinuou alguma coisa? —Mais ou menos. Ela disse que tinha algumas coisas importantes para tratar e que talvez isso viesse mudar totalmente minha vida, a única coisa que considero importante é a revelação do nome do meu pai. —Minha mãe me disse que você é a cara dele. — Sua mãe sabe quem é meu pai? — Acho que todos no rancho sabem quem é seu pai, mas seu avô proibiu este assunto. — Eu sei sobre isso. Mas me conta o que sua mãe lhe disse. — Ela sabe muito pouco. Certa vez ela me disse que sua mãe e ele namoraram um tempo, depois ele foi embora estudar fora, mas na verdade parece que a família dele foi quem o mandou para a longe, para ele não ter contato com sua mãe. Aí ela ficou grávida, eles não quiseram saber do assunto. Então, quando você estava para nascer o velho Mitchel reuniu todo mundo e pediu que ninguém mais falasse sobre o fato com ninguém da cidade, embora você crescesse sem o pai, você teria muito mais que isso, você teria toda uma família para cuidar de você. — Que maravilha! Todos no rancho têm conhecimento sobre minha verdadeira origem e eu não. Mitchel foi muito cruel comigo essa que é a verdade. Kaleb falou chateado. —Minha mãe também nunca concordou com a decisão de seu avô, isso fez sua mãe sofrer demais. Gyna falou tentando justificar. Kaleb estava sentado diante da fogueira. Seu olhar brilhava com a luz da fogueira, o fogo crepitante aquecia os corpos nus dos dois jovens. — Sou muito grato a todos. Mas confesso senti muita falta dos dois na minha vida. Nunca entendi o afastamento dela. Mesmo
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depois, quando ela se casou, ela sempre me olha com uma tristeza de doer o coração. É uma tortura ver a dor naqueles olhos. Essa é a impressão que eu tenho, ela o ama tanto ou odeia tanto que aproximar de mim tornou-se insuportável. Kaleb falou com a voz embargada. — Talvez faça sentido, minha mãe disse que nunca viu um filho tão parecido com o pai como você. Você é a cópia perfeita dos Ballinderry. — O que é que você está me dizendo? Que meu pai é um Ballinderry? — Ai! Kaleb, não deveria ter lhe dito nada. Converse com sua mãe, ela é quem deve lhe contar esta história. — Você sabe o nome dele? Deste Ballinderry? — Não. - Gyna respondeu-lhe abaixando o olhar, então Kaleb soube que deveria conversar com a mãe sobre isso. Levantou-se e foi recolhendo as roupas espalhadas pelo chão, pegou as roupas de Gyna e levou até ela. — Vamos voltar, quero falar com minha mãe ainda hoje. — Kaleb, você não é nem uma criança, respeite o luto dela, espere ela vir até você. — Não vou fazer isso, pois se as minhas suspeitas estiverem certas, as lágrimas que vi hoje tem mais a ver com Demétrius Ballinderry do que com o enterro de meu avô. — Como assim? Me explique! Você está sendo precipitado, espere. - Gyna vestia as roupas enquanto exigia uma explicação: — Me explique isso direito. — Um dia após o falecimento de meu avô, houve uma tragédia em San Francisco, um dos promotores de justiça, Demétrius Ballinderry perdeu a namorada ou noiva em um trágico acidente. Ela estava grávida. Essa notícia perturbou severamente o humor de minha mãe, e também de minha avó e do próprio Greg. Eu falei sobre o assunto na hora do café, no dia em que cheguei de viagem, minha mãe derrubou a xícara que estava em suas mãos ao
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ouvir a notícia. Eu vi que a cor fugiu do rosto dela. A primeira coisa que ela perguntou foi se ele estava no carro. Isso mexeu muito com todos. Tenho certeza. Depois disso, principalmente no funeral, ela passou a olhar para mim com uma intensidade que não é natural dela. — Você está sendo injusto com ela, não tem nem seis meses que ela ficou viúva, agora seu avô. Pensa direito, e espere. Gyna tentava trazer Kaleb para a razão. — Você desde criança sempre foi muito afobado. Fico imaginando como você será quando se tornar um advogado. Por que o que você tem de paciente, você tem muito mais de turrão. Respire. Vista sua roupa com calma, e vamos voltar tranquilamente. Colocar sua mãe contra a parede só tende a piorar as coisas. Kaleb viu que Gyna estava com a razão, ela tinha um dom enorme de ponderar as coisas. Ele terminou de vestir as roupas, ela também já estava pronta. Apagaram a fogueira, e pegaram as cervejas, e colocaram novamente na sacola, e eles entraram na caminhonete, ele dirigia ao som de uma balada de Randy Travis no rádio, a canção falava de um homem que só fazia promessas que não eram cumpridas, e que o amor iria embora depois daquela última promessa. Ele não prestou atenção nenhuma na letra, a não ser no toque suave do violão. Ele demorou chegar no rancho, mas antes deixou Gyna na cidade na casa de uma amiga, enquanto dirigia, pensou no que Gyna havia lhe falado, e então concordou, a amiga mais uma vez tinha razão. Pensou em Gyna, até quando os dois iriam manter aquele tipo de relação, semcompromisso nenhum, ele gostava dela, mas não amava, e isso era preocupante, pois o que iria acontecer se caso ele se apaixonasse por outra mulher, o que ele iria fazer com ela. Quando Kaleb passou pela porteira do rancho viu que a varanda ainda estava acesa, uma mulher estava sentada na cadeira de balanço do avô, era sua mãe, os cabelos vermelhos eram inconfundíveis, estava enrolada em uma manta xadrez velha que
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ficava no quarto dela, muitas vezes ela o enrolara na manta e dizia que era o abraço do papai. A manta era o abraço do papai, aquilo repetiu na sua cabeça, até ele estacionar o veículo e descer para então ir ao encontro dela naquela varanda. — Ainda acordada Senhora S’inclair ou devo dizer Ballinderry? Charlie se surpreendeu com o tom de reprovação na voz de Kaleb. Ficou sem ação e engoliu em seco, antes de começar a falar agradeceu em pensamento por estar enrolada naquela manta, poderia assim disfarçar um pouco o nervosismo. — Kaleb, o que é isso? - Perguntou indignada. —Eu também quero conhecer a história que todos conhecem, menos o bobo aqui. Respondeu seco e notoriamente revoltado. — Sinto muito em lhe decepcionar, - ela começou olhando-o com firmeza e atitude. — Mas você não é o único. Seu pai também não sabia da sua existência até duas semanas atrás. Como você também ficou indignado. Mas não dou o direito para nenhum dos dois me julgar. Agora deixa de amarras e sente-se aqui para conversarmos. - Ela falou duramente com ele, sem alterar o tom de voz. Ele a obedeceu, sentou-se na cadeira ao lado. Então ela lhe ofereceu uma bebida. — Você quer beber? Perguntou. Ele olhou para a caneca que ela trazia nas mãos. Então perguntou: — É whisky? — Sim. — Passe-me a garrafa. Ela entregou-lhe a garrafa e uma caneca e ele deixou cair o líquido na vasilha, então levantou a caneca para brindar: — Ao vovô. — Ao Vovô. Ele respondeu. — Kaleb. Não tenho muito que dizer. Não foi por vontade minha que o nome de seu pai tenha sido ocultado de você. Quando fiquei grávida, houve uma série de fatores que nos afastaram e com isso criou-se uma raiva por parte de meu avô em relação à família de seu pai. O velho Ballinderry tornou nossa comunicação impossível. Logo, seu pai não ficou sabendo sobre
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sua existência. - Ela relatou sem por menores, ele observou a objetividade na fala dela, e seu sangue esquentou, ele pensou que merecia um pouco mais de consideração e sentimentos. Então destilou sua revolta. Sua voz áspera e o tom baixo, quase inaudível, era apenas o início de uma grande tempestade entre os dois. — Simples assim, Charlie? Somente isso. Não é o bastante para mim. Porque nunca me explicou realmente o que havia acontecido com vocês. — Kaleb quando conheci seu pai, sabia que ele tinha planos. Ele queria seguir carreira pública, estava indo para Harvard, eu seria apenas a namorada do colegial. Não contava com uma gravidez. Também não imaginava que ele fosse embora da forma como fez. Ele foi um babaca. Mas eu também fui muito ingênua e despreparada. Acreditei que daria conta, acreditei no sentimento que nos unia, o pouco que eu ficasse com ele seria o suficiente para mim. — Tanto faz. Vocês foram dois egoístas. Essa que é a verdade. — Isso não é verdade. Éramos felizes, foram os melhores meses de minha vida, amei seu pai e sei que ele também me amou, então não pense você que fomos egoístas, éramos jovens demais, tínhamos planos, e também uma ingenuidade peculiar a nossa idade. - Ele olhou para ela avaliando as palavras e pensando que o amor deles não foi tão forte assim. Ela continuou a falar: —Diga-me uma coisa. Você mora em Cambridge, leva sua vida lá, e quando está aqui dorme deliberadamente com Gyna, se eu não estiver errada, vocês transam desde o ensino médio, o que você acha que vai acontecer com sua vida caso ela fique grávida de você? — Isso ainda não aconteceu. —Hipoteticamente falando. Pense .... Apenas pense na possibilidade da Gyna ficar grávida. Como seria? — Hipoteticamente falando se ela ficar grávida não vou fugir como meu pai fez.
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— Mas ele não fugiu. Apenas não participou da sua vida por falta de comunicação. Vamos ser práticos. Você é quase um advogado. Ela argumentou, porém ele não estava afim de querer compreender nada. Naquele momento ele queria apenas uma coisa: — Afinal? Vai dizer o nome de meu pai? Ele realmente é um Ballinderry? - Charlie olhou nos olhos de Kaleb, e uma emoção tomou conta da voz dela, por um momento achou que fosse ficar sem ar, mas era preciso falar o nome dele. — Demétrius Ballinderry. - Um silêncio mortal caiu naquela varanda. Kaleb admirava o desempenho profissional daquele homem, o sonho dele era se tornar de alguma forma um profissional do mesmo naipe que Demétrius Ballinderry. E agora descobria que o seu super-herói era nada mais nada menos que o babaca que o deixou sem pai. A emoção que sentia era muito conflitante, estava com muita raiva, mas também estava orgulhoso. O que era aquilo tudo? Depois de macerar a informação em seu íntimo, ele falou, mais para ele do que para a própria mãe. — Um dos melhores promotores do estado da Califórnia. — Sim. O mesmo que foi envolvido recentemente em uma tragédia. Ela respondeu. Kaleb sorveu um gole maior do whisky, o liquido desceu queimando a garganta. — Tenho uma coisa para te contar. - Ela olhou-o curiosa. — Assim que me formar estarei indo para a Califórnia, o senhor Dominic associou-se a uma firma em San Francisco. — Então cedo ou tarde vocês dois vão se encontrar em um tribunal. Ela falou sem preocupação. — Isso mesmo. - Depois de um tempo ele perguntou: —Mas e ele como reagiu ao saber da minha existência assim tão tardia? — Para ser sincera eu não sei te dizer como ele reagiu. Ele foi até o hotel em que eu estava e como você, encostou-me contra a parede. Ele ficou bastante nervoso ao saber da verdade. Vocês
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dois são idênticos não só na aparência, mas quando querem uma coisa são teimosos demais. Ela falou dando de braços. — Mas e agora? O que vai mudar em nossas vidas? Não tenho interesse nenhum em tê-lo por perto. Kaleb falou sem emoção. — Ele foi cruel com você. Ele não merece perdão. — Acho melhor você deixar o menino Kaleb de lado, por uns instantes. E ouvir-me. - Um instante de silêncio estabeleceu entre os dois, mais serena ela voltou a falar -. — Não foi culpa de Demétrius. - Ela começou. — Tudo bem.... Eu não tenho certeza o que ele faria em relação a notícia de minha gravidez. – Charlie olhou para o filho que estava de cabeça baixa no mais profundo silêncio -. — Mas sei, com toda certeza que ele jamais teria me deixado sozinha.... Mesmo que fosse só por você, ele teria ficado ao meu lado.... Teria ficado com você... Entre nós havia amor, muito amor, foi por isso que você foi concebido. Não o condene. Não é justo com você, nem com ele e principalmente comigo. Sua revolta só fará minha desgraça ser ainda maior... — Agora estou entendendo a mensagem que o vovô deixou para mim; a maior prova que eu daria do meu amadurecimento seria aceitar de maneira humilde as explicações de meus pais sobre coisas que nunca quis entender ou não que era o momento de entender. — Então. Quando chegar o momento do seu encontro com ele. O que será inevitável, seja um autêntico Robson, o receba com toda educação que foi criado, dê-lhe o abraço da reconciliação. Ele precisa disso muito mais do que eu. — Sente alguma coisa por ele? Kaleb perguntou olhando para a mãe. — Acreditava que não. Mas quando ele apareceu no hotel daquela forma, percebi que ainda tenho por ele um sentimento muito forte. - Charlie fez um silêncio para reviver o beijo entre eles e depois voltou a falar —Ele ainda faz parte da minha vida.
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Mas agora vou viver por aqui. E ele ainda está correndo atrás dos sonhos. Como você. — Por que você foi embora? Porque me deixou aqui? - Ele perguntou mais suave, depois já alterando a voz: — Não me venha dizer que foi por causa da promessa, por que sei que no fundo não foi isso. — Quer você queira acreditar ou não, a promessa feita ao meu avô tem uma proporção muito grande na minha ausência. A outra era vencer, queria fazer minha história diferente da minha mãe. Eu quis te levar, mas o vovô não ficava sem você. De certa forma você trouxe vida a ele novamente. Era como se ele tivesse tido uma segunda chance de estar novamente com meu pai. Talvez seja por isso ele nunca tenha deixado você montar e nem participar de rodeios. – Aquela explicação respondia a superproteção do avô em relação a ele. — O que você pretende fazer daqui para a frente, senhora S’inclair? — Tenho alguns planos, estou querendo transformar isso aqui em um resort. — Em um resort? Mas e a criação de cavalos do Greg? — Irá continuar, o que vou fazer é dinamizar nosso capital, em tempos de escassez, é preciso inovar, e Great Falls tem um potencial turístico muito forte. Já estou com o projeto pronto. O Greg topou a ideia, agora é correr atrás do financiamento. — Isso será muito interessante. — Bom, pedi ao Larsson para abrir o testamento na semana que vem. Ele me disse que você terá que estar presente. Você também é um dos beneficiados do Vovô. Ele olhou-a com tristeza. — Eu espero. Dominic deu-me até o final do mês de folga. E em relação ao curso estou com minhas atividades em dia, semcontar que posso estar resolvendo as coisas virtualmente.
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— Agora tem outro assunto que preciso abordar com você. Ela olhou com carinho para o filho que trazia um olhar aborrecido-. —Você não se preocupa com a Gyna? - Ao ouvir o nome de Gyna, Kaleb a olhou atento ao que ela estava abordando. —Ficam por aí pelas campinas, fazendo sabe-se lá o que. E depois você vai embora, e a deixa, você não pensa nos sentimentos dela? — Para ser sincero, enquanto estou aqui, penso nela. — Você apenas pensa no prazer que o encontro de vocês lhe proporciona, mas isso não é pensar nela. É pensar apenas em você. — Somos adultos, sabemos o que queremos, já conversamos sobre isso. Ela é maior de idade e eu também. — Não acho isso justo. — Você não acha isso justo, porque acredita que estamos fazendo mesma coisa que você. Mas no nosso caso é diferente. Somos amigos, apenas isso. E se caso acontecer uma gravidez, o que acho impossível. Não farei com ela o que te fizeram. Pode ter certeza disso. Me perdoe pelo meu excesso de franqueza. Charlie ouviu aquela explicação e achou melhor não falar mais nada. Ele era como o pai, quanto mais ela falasse, mais ele iria argumentar o contrário. — Já está tarde. Vou dormir. Charlie falou a ele. — Também vou descansar. Respondeu. — Você vai ficar bem? Sobre seu pai. — Vou ficar bem. — Só quero que você lide com esta situação sem se expor ao ridículo. Tudo bem? — Compreendo o que você quer, mas não espere que eu seja receptivo com ele. Ele terá que lutar muito para conquistar minha amizade.
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Oito Os pecados de Ballinderry
A viagem de Demétrius até a região de Welches levou um pouco
mais de uma hora, Demétrius dirigiu pela rodovia tranquilamente, a paisagem típica do entorno da rodovia era um convite ao sossego. O estado do Oregon orgulha-se por ser um dos poucos estados que mantém a cultura do ecologicamente correto, para todos os lados que se olha, só se enxerga o verde, e mais verde e o colorido das flores. A viagem durou um pouco mais de uma hora, a constatação da preservação do meio ambiente deu um gás ao ânimo de Demétrius. Ele não ousou acelerar o carro como de costume, percorreu o caminho calmamente, a natureza intocada da região era um deleite para os olhos acostumados a selva de pedra, por onde passava podia ver casas cercadas de jardins, muito bem cuidado, rosas de todas as cores, não era à toa que chamavam Portland de a capital das rosas. Uma cidade com uma característica peculiar, vibrante e cheia de vida. Os olhos já estavam acostumando com os pés de rododendros6 e azaléas, um pouco antes de chegar ao cruzamento que levava a mansão, Demétrius avistou uma enorme cascata, ela deveria ter mais de 30 metros. Ele parou o carro para ver o cenário lírico, pensou que se Charlie tivesse ali, com certeza iria parar para fotografar. Será que ela ainda continuava com este robe? Ele achava muito lindo o jeito que ela olhava para a natureza, ela tinha um dom natural para ver a beleza 6
Designação genérica de numerosos arbustos e pequenas árvores da família das Ericáceas, de folhagem geralmente persistente e flores grandes e vistosas, espontâneas e também cultivadas em grande escala para fins ornamentais.
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até mesmo em um lagarto comum que circulavam pelas ravinas. Mas aquele lugar era de fato muito deslumbrante. Um lugar com personalidade própria, a música fluía no interior do carro criando uma atmosfera de pura liberdade, ao som de Wish You Were Here de Pink Floyd Demétrius desatava o nó da garganta que se encontrava desde a tragédia de Aleska. A letra da música dizia muito sobre sua tragédia pessoal... “Como eu queria que você estivesse por aqui... nós somos duas almas perdidas nadando em um aquário... o que nós encontramos? Nada além dos nossos velhos medos... como eu queria que você estivesse aqui…” Ele não amava, mas sentiu uma dor dilacerante em perdê-la da forma como perdeu. E o remorso ainda corroía-lhe a alma, afinal a noite de amor que tivera, não fora realmente com ela. E a constatação das últimas palavras nos braços dela era como um açoite, ele não podia mudar o passado e tão pouco poderia transformar aquelas lembranças em algo bom, afinal estava com a mulher que dizia que estava grávida de um filho seu, e no auge do prazer o nome que sai de lábios era o nome do seu verdadeiro amor. “Uma lástima” - pensou consigo mesmo. Demétrius saiu da estrada principal e seguiu vagarosamente pela estrada de terra batida ladeada por imensos carvalhos e faias, rodou ainda uns três quilômetros até que parou diante de um imenso portão de ferro com uma placa dizendo Mansão Mildred Bell, apertou o interfone e se identificou. Imediatamente as grandes grades de ferro abriram e ele deslocou por uma estrada estreita cheia de vegetação típica da região, o cheiro de mato molhado se destacava naquela manhã, pequenos roedores cruzavam o caminho, mais uma curva e ele visualizou a imensa propriedade , a mansão era sem dúvida um grande monumento vitoriano, lembrava os palácios ingleses do século XVIII, que abusavam da assimetria e dos detalhes com colunas torneadas e balaústres, ele viu com imensa curiosidade o número de vidraças na faixada da imensa casa, o entorno da mansão havia um imenso jardim e ao norte da construção um campo de golfe, avistou também uma
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quadra, e talvez , não tinha certeza uma piscina. Pelo horário que chegara, com certeza encontraria o pai em alguma atividade. Diante da imensa propriedade, olhou o estacionamento e escolheu o melhor lugar para parar seu veículo. Então seu coração acelerou, quantos anos não via o pai? Uns cinco anos. Desde que se posicionara como um democrata, a relação entre eles ficou muito difícil. O que fez o velho Ballinderry tomar a decisão de vir morar em uma casa de repouso. Demétrius ainda ficou no carro refletindo, não seria um encontro muito fácil, e dado às circunstâncias talvez nem chegasse a se falar, já que a assistente lhe disse que o pai estava em uma situação frágil. Se isso realmente fosse fato, não haveria discussão. Demétrius estava cansado, mas precisava ouvir o que o pai tinha a lhe dizer, enquanto caminhava pelo estacionamento, ele observou o belo lugar que seu pai morava, será que viver ali tão bom quanto o externo estava lhe mostrado? Demétrius vestia uma camiseta de algodão branca, sobre ela uma camisa xadrez aberta e uma calça jeans, estava despojado de seus trajes habituais. A camiseta de algodão evidenciava o tórax bem malhado, as mangas da camisa não disfarçavam o bíceps forte, estava divinamente lindo. De óculos escuros e cabelos despenteados, ele foi atravessando o pequeno trecho que separava o estacionamento do jardim e a entrada da mansão, então surge uma jovem moça vestida com um conjunto rosa, a blusa recatada não deixava de marcar os seios empinados e volumosos, ela caminhou de encontro a ele, quando a jovem se aproximou, ele não pode deixar de notar a beleza natural da moça. Ela era uma mulher branca, provavelmente deveria estar na casa dos vinte, talvez quase trinta, os cabelos não eram compridos, mas tinha um corte muito bonito, os olhos eram claros, olhando de relance Demétrius observou o quadril arredondado da moça, as coxas grossas e as nádegas eram um conjunto muito interessante, e muito sensual, imaginou como seria estar dentro das partes intimas
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daquela jovem, poderia ser bem apertada para cobrir seu membro avantajado. Então olhou para o rosto dela e um sorriso espontâneo surgiu acompanhado de uma voz suave que fez o pensamento de Demétrius dissipar por completo: — Senhor Ballinderry? Suponho. A jovem perguntou delicadamente. — Sim. Sou eu. — Sou Nora Winslow. A assistente que te ligou alguns dias atrás. —Então foi você? Um prazer senhorita Winslow. Ele a cumprimentou disfarçando o lado predador que sempre estava em alerta. - No dia, em que ela ligou, ele nem se quer pensou na suavidade daquela voz. E agora estava diante de uma moça relativamente interessante, ela não deveria passar de 1,60m de altura, talvez até tivesse exagerando, seria menos de 1,60 m, possuía os lábios cor-de-rosa e um olhar bastante sensual. Seria aquele, um par de olhos verdes? Ou cinzas? Ele ficou curioso, aquele tipo de olhos provavelmente deveria ser como um termômetro na hora do prazer. “Mas que tolice era aquela? ” Ele estava até o pescoço com problemas mal resolvidos e estava ali avaliando a possibilidade de levar aquela mulher para cama. “Fora de cogitação Senhor Ballinderry”, seu inconsciente gritou. — Fez uma boa viagem? — Sim. Muito tranquila. — Imaginei que não fosse vir. — Por quê? — Acompanhei pelos noticiários alguns de seus problemas. – “Pronto até ali naquele fim de mundo a história já tinha chegado. A conversa ia ser mais pesada do que imaginava. ” Demétrius pensou frustrado. — O meus problemas não me impediram de vir até aqui. Como pode ver. - Ele retrucou. Nora olhou admirada com a beleza dele. “Jesus! ” Ela pensou intimamente ao ver aquele deus grego subindo pela escadaria da mansão. Já tinha o visto pela internet e também
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pelos noticiários. Mas vê-lo assim, pessoalmente era uma emoção indescritível. Caminharam pelo imenso salão da recepção. Como a arquitetura, os móveis também seguiam o padrão vitoriano, Demétrius entrou pela grande sala e se sentiu em um palácio. Era realmente um lugar muito requintado. Bem diferente da maioria das casas de repouso que existia pela Califórnia. — O senhor deseja ver seu pai agora? Ou quer conhecer nossas dependências? — Não. Quero acabar logo de uma vez com esta expectativa. — Sendo assim, gostaria de lhe pedir para evitar que o faça se exaltar, ele tem estado bastante alterado nos últimos dias. Ele sabe sobre as notícias da Califórnia. — Mas se ele não anda bem, por que não evitaram que a notícia chegasse até ele? — Bem que tentei, mas ele é bastante teimoso, acabou tendo notícias suas através do próprio noticiário na TV. Um dos nossos hospedes mostrou para ele. — E como ele reagiu? Demétrius perguntou para avaliar a postura que deveria ter diante das acusações que fosse receber dentro daquele quarto. — Hum! Não gostou. Culpou os “Democratas” e os “Malditos Robsons”. — Vejo que ele não mudou. Esse tempo afastado não significou muita coisa para ele. Demétrius respondeu sério. — Faça sua parte. Mesmo que você não concorde, deixo-o falar, dê a ele a misericórdia que um moribundo tem direito. Demétrius olhou para a moça, e deu a mão à palmatória, não valeria a pena gastar energia com um burro empacado, então entrarão em um elevador até o terceiro andar, a porta abriu para uma sala ampla, longe de parecer um local de repouso, a sala era ricamente decorada, havia uma senhora vestida com um uniforme verde-bebê, ela devia ter não mais que cinquenta anos, ela recebeu os dois com um sorriso.
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— Nora querida, que prazer em lhe ver. Vejo que traz um visitante. Nora sorriu, e apresentou Demétrius a senhora. — Prazer em ver-lhe também senhora Evan. Este é o filho do senhor Ballinderry. — Senhor Ballinderry. Sou a cuidadora de seu pai. Disse em tom cortês. — O senhor está com sorte, hoje ele está bem para receber visitas, só gostaria de pedir que o senhor seja compreensivo com seu pai. Ele é uma pessoa bem difícil, e pela minha experiência, sei que vocês não devem ser amantes um do outro. - Demétrius estreitou as pupilas ao ouvir o tom de voz daquela mulher sisuda com ele. — Já vi que o senhor também não deve ser fácil. Mas não se zangue. Estou trabalhando aqui, há mais de cinco anos e me lembro muito bem da última vez que o senhor lhe fez uma visita, e não foi muito agradável. — Prometo conter-me. A visita será rápida. - Demétrius respondeu secamente, enquanto colocava os óculos no bolso da camisa. — Não acredito nisso senhor Ballinderry! A assistente o repreendeu. — O que? – Demétrius a olhou interrogativo antes de continuar. — Ele e eu temos muitas diferenças, que talvez não sejam superadas apenas com uma conversa. — Tudo bem. Então que tal o senhor apenas ouvi-lo? Nora falou serenamente. — Não posso garantir muita coisa. - Respondeu ele colocando as mãos no bolso da calça jeans, em seguida deu um pequeno sorriso. Que amoleceu os joelhos de Nora. — Estarei aqui fora, agora vá, é o último quarto da direita. A senhora Evan lhe falou, e em seguida olhou para Nora com ar de repreensão. Ela esperou até que ele saísse de perto delas e falou com Nora:
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— Mas o que é isso Nora? Você está se desmanchando? Nora olhou para a mulher e respondeu: — Senhora Evan. Olha para ele, como não derreter? A senhora viu como ele é bonito? E o perfume dele? Aposto com qualquer um que deve ser Allure da Chanel. — Menina tola, esse cheiro é de bergamota e madeira, está mais para algo como da Yves Saint Laurent, sedutor e envolvente, como ele próprio. Eis um predador em carne e osso, as mulheres devem arrastar um caminhão para ficar com ele. — E põe carne nesse osso. A senhora viu o peitoral deste homem? Meu Deus! Não me importaria de dormir apenas uma noite com ele, só para ter o prazer de senti-lo sobre mim. Nora falou mais consigo do que com a colega de trabalho. — Nora? Você ficou louca? Olha o que você está falando. Nora balançou a cabeça e olhou para a senhora e sorriu. — Calma senhora Evan, isso é apenas uma brincadeira. Imagina só uma coisa dessas. — Pois é, já estou imaginando a confusão que seria. — Deixa disso, vamos nos concentrar no trabalho. - Nora falou, enquanto pegava uma planilha contendo informações sobre os idosos daquele andar. Olhou rapidamente. E saiu falando entre sorrisos. — Vou até o quarto da senhora Anderson. — Vá. Qualquer coisa eu lhe chamo. Nora foi caminhando sentido oposto ao de Demétrius, no caminho ela ficou pensando nos lábios bem delineados dele, pensou na proporção daquelas mãos, fechou os olhos por um instante e sorriu ao imaginar sendo beijada por ele. “Hum! Não me importaria mesmo de passar uma noite com ele. ” - Voltou a afirmar consigo mesmo. Demétrius deu três toques na porta antes de entrar. Ao abrir a porta viu sobre a cama um homem calvo com a barba por fazer,
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estava com um respirador, não parecia doente, parecia forte, determinado e carrancudo, estava de olhos fechados. Demétrius pensou no exagero das duas mulheres ao dizer que ele estava no fim da vida, aquela imagem estava longe de ser um velho moribundo. Mais parecia alguém que gostava de manipular as atenções. Demétrius pensou com tristeza nessa possibilidade, e pediu a Deus para dar-lhe a calma necessária. Não sabia o que estava para enfrentar. Então o velho abriu os olhos e deparou com seu filho parado nos pés da cama. Não sorriu, nem demonstrou alegria. Olhou para Demétrius e já foi falando: — Então você apareceu? - A voz do homem demonstrava debilidade, talvez Demétrius tenha sido apressado demais em avaliar seu pai. Então respondeu com a mesma frieza. — O senhor queria falar comigo. Estou aqui. — Ajude-me a sentar, quero olhar para você. - Demétrius ficou sem-jeito, não queria ter contato físico com o pai, só o visual já era o bastante. Mas viu que não tinha jeito, então aproximou da cama e ajudou o pai a se sentar de maneira confortável. — Como você está? — Estou bem. - Demétrius respondeu seco. — Vi os noticiários. O que tem verdade naquelas notícias.? — Algumas coisas. O que o senhor quer saber. — Eu quero ouvir a sua versão para os fatos. É isso. — Para que? Para rechaçar-me como sempre faz. Não tenho porque lhe dizer o que realmente houve. - Demétrius respondeu dominando a raiva que crescia interiormente. — Vejo que você amadureceu, está bem diferente da última vez que nos vimos. — O senhor também mudou fisicamente. O que tem para falar comigo? — Como disse: assisti aos noticiários, se bem lhe conheço você desistiu de sua candidatura à procuradoria do estado pela Califórnia?
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— Não desisti. Apenas não me candidatei agora. Existem coisas que preciso resolver para enfrentar uma eleição de peito aberto, sem-nenhum tipo de restrição que cause minha reprovação diante do público. — E a morte da sua amante seria um dos motivos que fez você desistir da sua candidatura? — Não. Não foi só a morte de Aleska que contribuiu para minha decisão, mas outro motivo que descobri bem recente. — O seu filho bastardo com a menina dos Robsons. - Aquela afirmação causou indignidade em Demétrius, ele momentaneamente sentiu uma raiva quase incontrolável, mas se conteve. Ele sabia que o pai gostava de provoca-lo -. — Ele não seria um filho bastardo se o senhor não tivesse impedido que a notícia chegasse até a mim. — Não me julgue, fiz o melhor que achei para você, e olha onde você chegou. Se você tivesse ficado e assumido uma gravidez não planejada, sua vida hoje seria diferente. Com certeza estaria limpando estrume de cavalo com o velho Mitchel. — O senhor nunca pensou em mim, se tivesse pensado ao menos uma vez, saberia que futuramente essa decisão tola iria custar-me muito caro. Não concorrer às eleições é um exemplo. — Então você vai me culpar por isso? — Não. A culpa é totalmente minha. — Então ela teve o bebê, pensei que tivesse tirado conforme havia sugerido. O velho falou sem nenhum rancor. Demétrius sentiu nojo ao ouvir aquelas palavras. — É bem a sua cara ser prático com os problemas, se não pode resolvê-los o senhor os extirpa da face da Terra. Graças a Deus ela foi forte, teve nosso filho e ele é um jovem com um belo futuro pela frente. — Muito interessante. Você já o conhece? — Não. Se ele saiu um pouco de nós com certeza não vai querer ver-me nem pelas costas.
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O velho Ballinderry soltou uma gargalhada quase do mal. — Deixa de frescura homem. Se você sabe que este rapaz é cria sua, exija a paternidade, e faça valer seus direitos. E concorra as eleições. O que te impede na verdade é que você ainda quer essa mulher. Não é o filho bastardo que impediu sua candidatura, é o remorso que você tem em relação a essa moça. — O senhor gosta mesmo de alfinetar-me. Mas saiba que não vou perder meu tempo com sua acidez, já estou bem crescidinho para dar-me ao luxo de abaixar a cada grito que senhor der. — Essa é uma fala louvável de um promotor. Mas então, quero me escute, o meu tempo está acabando, não quero te pedir perdão, por que sei que não te fiz nenhum mal. — Como não me fez mal? Essa história do filho não é um mal? Poderia ter assumido meu filho, poderia ter feito à história da vida de Charlie diferente. E o senhor vem me dizer que não me fez nenhum mal. - Demétrius estava bastante irritado, mas estava controlado, não estava agressivo. O velho Ballinderry parece que foi a outra dimensão, não retalhou o filho como de costume, mas mudou de assunto de forma natural e quase serena -. — Demétrius. Sua mãe quem escolheu seu nome, ela amava muito a civilização grega em particular a história de Demétrio Falereu um homem bonito, com feições clássicas, cabelos claros, e um par de olhos azuis extremamente arrogantes, ela dizia que Demétrio tinha o poder de avaliar friamente o mundo a sua volta. Ele era dono de uma sensualidade única e quase perversa. Muitas vezes duvidei da minha paternidade, pois ela pintava este homem da mitologia com tanto amor, que era impossível não sentir ciúmes da eloquência quando ela fala dele. Cheguei à loucura de pedir um teste de paternidade, foi por isso que ela foi embora, não perdoou a minha loucura. Deixou-nos, sem ao menos dizer para onde iria. Demétrius perdeu o chão com aquela notícia. Crescera acreditando que a mãe havia falecido. Fora criado pelo pai e a governanta. Incrédulo, aproximou-se e sentou-se em frente a cama do pai.
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Aquela história era inacreditável. — Por favor gostaria que não me julgasse, mas sei que errei profundamente com ela. O velho falou com um pouco de remorso na voz. — Somente com ela? Cresci acreditando em uma mentira. Demétrius estava tendo uma dificuldade imensa em controlar sua paciência. — Como pode fazer isso comigo? Não vejo razão em permanecer aqui, para ouvir o final desta história, ou de mais outra. Demétrius concluiu já se levantando. Mas o pai o conteve. — Não vá. Você precisa ficar, por favor! O olhar do velho pedia misericórdia. Então Demétrius voltou e sentou-se. Ballinderry continuou: — Anos mais tarde sua mãe casou-se novamente, e teve mais dois filhos. Zarek e Simon Hill, estes são os nomes de seus irmãos. Zarek atualmente mora em Great Falls, ele é o CEO7 no banco local, é um homem respeitável e bastante querido na cidade, já seu outro irmão é advogado, mora no estado do Texas, se eu não me engano mora em Austin, também é um homem bastante influenciável na área jurídica do Condado de Travis. Em minhas andanças com o partido tive a oportunidade de conhecer o senador Aaron Natan, então antes que você encontrasse com seus meios irmãos tratei de ajustar alguns acordos com Aaron para conseguir te encaixar na Universidade de Harvard, quando soube da possível gravidez da neta do Mitchel, tratei de dar um jeito de você nunca ficar sabendo. Os colegas de quarto foram muito bem pagos para te manter ocupado, até que a menina desistisse realmente de procurar você. — Não acredito no que estou ouvindo. Isso é monstruoso. Possuo dois irmãos e o senhor nunca me disse nada, e a minha mãe? Por que ela nunca veio falar comigo? Por que ela concordou com você? Aceitou sua loucura. — Ela bem que tentou. Mas não teve êxito. Agi desta forma mais por vingança. Não me conformava saber que ela seguia com 7
CEO é a sigla inglesa de Chief Executive Officer, que significa Diretor Executivo em Português.
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a vida, não podia deixar a felicidade dela ser completa, precisava faze-la sofrer pelo abandono. Só não esperava que você fosse irresponsável a ponto de fornicar com a menina. — Não queira comparar-me ao senhor, éramos jovens, estávamos juntos a um tempo considerável. — Se Sou um monstro, você não está muito longe de mim. Sendo ela, uma menina, o que você fez com ela, foi tão criminoso quanto o que fiz depois. – Seguindo aquela linha de pensamento o pai de Demétrius tinha razão. E Demétrius abaixou a cabeça para pensar no seu pecado -. — Estou cansado, você pode voltar amanhã? Tenho Cof!...Cof!...Cof!... Mais coisas para lhe dizer. Preciso lhe deixar a par de tudo que aconteceu. Demétrius viu o cansaço na voz, e viu que ele estava realmente esgotado. Talvez ele não voltasse, o que poderia descobrir mais se o que mais lhe importava já estava perdido. — Eu volto. Mas me responda uma coisa a minha mãe vive onde? — Ela faleceu há uns dois anos, morava em Helena. – Demétrius sentiu uma dor muito forte ao ouvir que a mãe não estava mais viva. — E meus irmãos? Que idade eles têm? — Zarek deve estar com trinta e nove anos e Simon deve ter uns trinta e oito, ou talvez menos um pouco, não tenho muita certeza da idade deles... Demétrius... ouça... sinto muito por tudo isso.... - Demétrius estava com muita raiva, mas não manifestou nada para o pai, apenas saiu do quarto sem olhar para trás, enquanto o velho moribundo derramava uma lágrima no olhar. Ao sair do quarto Demétrius precisava ir ao banheiro, então viu que havia um no final do corredor, ele entrou, e lágrimas quentes saíram de seus olhos, lágrimas de raiva, frustração e impotência surgiram como cascatas. Ele entregou-se alguns segundos ao silêncio dolorido, então respirou fundo e lavou o rosto na tentativa de apagar a sombra da sua fraqueza, desde pequeno não chorava. Sempre fora um garoto frio, às vezes era calculista demais, mas
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não chorava. Ao sair do banheiro, olhou para as duas mulheres na recepção. Colocou seus óculos escuros e aproximou-se dizendo: — Devo voltar amanhã. Que horas vocês acham que será melhor? — Você pode voltar pela manhã. Ele estará descansado, fica mais fácil conversar. - Respondeu a senhora Evan -. — Então volto pela manhã. Demétrius respondeu e virou-se para ir embora. — Senhor Ballinderry? Pode me dar uma carona até a cidade? Ele a olhou curioso, não estava afim de companhia, mas talvez fosse bom para ele naquele momento. — Nós usamos nossos carros, porém sempre que posso o troco por uma carona. Eu iria voltar com uma amiga, mais tarde. Mas como o senhor está indo para lá... — Venha lhe dou a carona. — Que bom. Vou pegar minha bolsa. Então a jovem saiu apressada por um corredor e entrou em uma sala minúscula, exclusiva dos funcionários. Então a senhora Evan veio logo atrás. —Nora tenha juízo, este não é um homem qualquer, só quem é bobo que não percebe que ele é um caçador. Você vai fazer bobagem se dormir com ele. Acredite. - A senhora Evan falou preocupada. — Pode ficar tranquila. Só vou pegar uma carona. Imagina se ele vai perder tempo com uma pessoa simples como eu. Semnenhum atrativo. Ele nem se quer olhou na minha cara. - Nora respondeu convicta. Minutos mais tarde já estava no interior do carro com Demétrius, ele estava de pouca conversa, porém ela estava bem receptiva. Demétrius entendia bem a leitura corporal da jovem, bastava apenas um estalo, para ter mais uma na sua enorme coleção, mas a voz da razão estava no comando, ele precisava de dar um tempo, de tudo inclusive do sexo.
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— O senhor já tem onde ficar? Ela perguntou desajeitada. Ele estava propenso a mudar totalmente a conversa, olhou-a de soslaio, mas se conteve. Respondeu à pergunta da moça. — Fiz uma reserva no River Place. — Um lugar muito tranquilo, o senhor irá gostar do serviço prestado por lá. — É foi bem recomendado. — Pretende conhecer nossas cervejarias? Talvez eu possa... — Senhorita Winslow... – Demétrius começou a falar – mas ela o cortou — Me chame de Nora. — Tudo bem Nora, hoje não estou no meu melhor dia, para ser sincero estou esforçando-me o máximo para não ser indelicado com a senhorita, gostaria muito que mantivéssemos uma distância considerável. Será melhor para nós dois. – O quê? O que era aquilo? Demétrius estava saindo fora de um encontro? — Senhor Ballinderry, sinto muito tê-lo feito entender tudo errado, mas só ia convidá-lo para tomar uma cerveja, talvez dançar um pouco. Apenas isso. Às vezes precisamos de quebrar algumas regras. E vejo que o senhor está precisando realmente de fazer isso. — Você sempre é assim direta ao ponto? Perguntou. — Na maioria das vezes. O que acha? — Sobre ser direto? — Não. Experimentar uma cerveja local. Ela respondeu em meio a sorriso contagiante. — Tudo bem, mas só para constar, isto não será um encontro. — Tudo bem, aqui está o endereço da cervejaria, é a Horse Brass pub, vá de taxi, assim você não terá a responsabilidade de dirigir. — Está bem. Horas mais tarde, Demétrius estava em frente ao pub lotado de gente, e pela primeira vez em anos, estava entrando em um pub
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apenas para beber, hoje ele não seria o caçador. Estava mesmo afim de curtir a noite sem cometer nenhum tipo de exagero que pudesse se arrepender mais tarde. Já estava no interior do estabelecimento, descobriu que a jovem assistente havia feito reservas, havia acabado de se sentar na mesa quando a viu entrar pela imensa porta de madeira em formato de barril. Para seu desespero, ela estava vestida com trajes nada convencionais, um vestido vermelho denunciava as formas arredondadas e muito bem definidas, uma parte das coxas grossas era um verdadeiro deleite de se ver, as pernas eram torneadas, o bumbum levemente arrebitado e estava sem calcinhas, sua experiência em vestidos colados sabiam lhe dizer exatamente que debaixo daquele tecido só tinha pele, nada mais que isso, o decote no vestido mostrava perfeitamente o par de seios empinados, um conjunto completo de tentações. “Que maravilha deveria ser, tocar aqueles seios” o pensamento de Demétrius ia e vinha saboreando a ideia maluca de levar aquela garota para cama. Então ele se levantou para receber a garota na mesa reservada. Ela sorriu ao se aproximar. — Boa noite senhorita Winslow. — Boa noite senhor Ballinderry. — O que achou da cervejaria? — Local bastante agradável. — Também gosto daqui. Vejo que o senhor ainda não fez seu pedido. — Cheguei um pouco antes de você. Mas aceito sua sugestão afinal você é a conhecedora. — Nem tanto assim, mas já que você está me colocando no comando, que tal tomarmos cerveja escura do tipo Stout? — Stout? — Sim, você vai gostar, ela é mais encorpada que a cerveja clara, além do mais o paladar é mais doce, nos faz lembrar de chocolate misturado ao café torrado. Isso acontece por que é
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elaborada com maltes especiais mesclado com o amargo do lúpulo. Dizem por aí que é afrodisíaca. Posso pedir? Ele sorriu e acenou com a cabeça concordando com a sua anfitriã, aquela menina estava mesmo com segundas intenções. Ela sorriu de volta, então se virou para o barman a sua frente: — George meu querido, este é um conhecido, eles está nos visitando, por isso vamos apresentar a ele nossa Stout. Pode trazer uma jarra, para começar. — Você é quem manda boneca. Uma jarra de Stout saindo. Não demorou nem cinco minutos para uma garçonete trazer uma jarra de um líquido escuro com espumas cor de conhaque. Nora pegou a tulipa a sua frente e serviu a cerveja para Demétrius, ela encheu o caneco até a metade, aguardou a espuma baixar um pouco, então completou até que o liquido chegasse à borda. Demétrius olhou com interesse o que ela estava fazendo. Então ela lhe entregou a tulipa com a cerveja. — No primeiro copo a gente capricha para colocar a cerveja da maneira educada, mas depois da primeira rodada, posso garantir que este fenômeno não acontece mais. Concluiu com um sorriso nos lábios. Ele pegou a cerveja avaliando aquele sorriso fácil. — Obrigado. Ele esperou por ela para brindar. — Iremos brindar a que Demétrius? Ela perguntou provocativa. — A vida. Ele disse pensando no monte de coisas que havia passado nos últimos dias. — Brindemos à vida. Tin-tin. O barulho das tulipas se chocando concluiu aquele brinde. Levaram a bebida aos lábios ao mesmo tempo. — Uau! Ela é mesmo diferente. A espuma, possuí uma cremosidade muito saborosa, bem diferente das cervejas que já tomei. — Sim. A cerveja que normalmente tomamos é Pilsen o teor alcóolico dela é bem menor que a Stout e o sabor também é bem
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diferente, mesmo a Bock, cujo teor alcóolico é maior que a Stout, não tem essa particularidade. Por isso, devemos ter mais cautela com os tipos de cervejas que ingerimos, os desavisados ficam de pileque antes de terminar a segunda rodada. — E a senhorita resolve me apresentar uma das mais fortes? Por acaso está querendo me embebedar? - Ele perguntou desafiando-a com um olhar de matar. — Claro que não! Tenho certeza que um homem como você não fica de pileque assim tão facilmente. Ou fica? - Ela olhou com curiosidade. — É. Você tem razão. É preciso algumas jarras para me derrubar. — Isso é muito bom, pois quero que você conheça mais alguns tipos. O que você acha da ideia.? — Estou aqui para isso, não é mesmo? Depois de algumas tulipas a conversa entre Demétrius e Nora estava bem mais relaxada, no auge da noite, já haviam experimentado vários tipos de cervejas, algumas terríveis ao paladar, outras saborosas. No final estavam tomando a última rodada de Pilsen. — Então? O que você faz quando não está acusando seus réus? — Eu? - Demétrius pensou um pouco. Uma sombra passou diante dos olhos dele. Pensou em Aleska. — Eu costumava relaxar. Mas nos últimos dias estive mais ocupado do que de costume. — Costumava relaxar? Em que sentido você costumava relaxar? E o que te impedi de querer relaxar neste momento? Já não estamos relaxando? Ela perguntou com uma malícia na voz.... Falei tanto de mim. Gostaria de ouvir sua história. Nora comentou. — Não tenho muito que falar de mim. O que eu poderia lhe dizer?
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— Sei lá? Falei sobre meu trabalho, sobre minha infância. Você poderia tentar fazer o mesmo. Ou de repente me contar o que te faz realmente relaxar? — Bom, não tive uma infância muito fácil, praticamente fui criado pela governanta que havia em minha casa, meu pai era obcecado por política, vivia atrás de seus republicanos preferidos, viajando na maioria das vezes, porém, na minha adolescência ele passou a ficar mais tempo comigo, me instruindo a tornar um homem público. Ele falou com tristeza. — Ele conseguiu? — Conseguiu. Tornei-me um representante do povo nos tribunais. — Era o que você queria? — Sim. Mas poderia ter feito outras escolhas. Porém, não abro mão da minha profissão, gosto do que faço. — Ele tem muito orgulho de você. — Eu gostaria de ter o mesmo sentimento, mas não tenho nenhum orgulho dele. — Por que não? Você é o que é, por causa das imposições dele. Talvez, se ele não tivesse exigido tanto de você, você não teria chegado até onde chegou. — Isso é muito relativo. Por conta das imposições dele meu filho cresceu sem a minha presença e se conheço bem a mãe dele, ele não foi forçado a fazer nada. — Uau? Você tem filho? Mas que idade, você tinha quando ele nasceu? - Ela perguntou curiosa já que aparentemente Demétrius não parecia nenhum velho. Ele sorriu imaginando o motivo da surpresa. — Pouco mais de dezoito anos. – Ela colocou a mão na boca para tampar a surpresa. —Meu Deus! Mas você era muito jovem! Se você estava nessa idade tão precoce quanto anos estava a moça
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— Dezessete anos. - Um silêncio mortal caiu entre os dois, no momento em que ele falou. — Pode apedrejar; mereço seu repúdio. — Meu Deus! Quantos anos tem seu filho? — Ele está com vinte e três anos. — Nossa! Gravidez na adolescência é bastante complicado. Por isso, existem os preservativos e os anticoncepcionais. - Nora falava mais para si mesma do que para ele. Depois ela sintonizou o que estava falando. — Perdoe-me, não estou lhe julgando. Gravidez na adolescência é muito comum hoje em dia, mas há vinte anos atrás era um tabu, você sabe, o aborto foi aprovado justamente para evitar este tipo de coisa. — Eu sei e não aprovo. E graças a Deus Charlie teve nosso filho. — Você é contra o aborto? — Claro que sou. O aborto é uma forma de assassinato. Não aprovo, mas também não repreendo quem o pratica. — Como assistente social, vou lhe dizer, sempre sugiro esta opção, quando surge em minha sala uma situação como a sua, pais na adolescência. É preciso avaliar a situação pensando no futuro destes jovens. Principalmente quando este jovem tem um futuro promissor. Ou quando se trata de uma situação de extremo perigo ou pobreza. Atualmente não aconselhamos as adolescentes a prosseguirem com uma gestação. Por isso, investimos pesado em campanhas para uso de preservativos e principalmente o uso das pílulas, e se acontecer uma gravidez por que não interromper? — Prefiro não discutir, sendo você uma assistente social, já tem a sua opinião formada quanto ao assunto do aborto. O que não é meu caso, pois em qualquer circunstância penso no direito à vida, salvo aqueles que que são condenados a perdê-la por consequência de seus atos. — Você é contra o aborto e a favor da pena de morte? Isso é interessante, gostaria de ouvir sua opinião em relação a isso. Ele
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olhou para ela e viu que de certa forma ela o estava desafiando. Ele não se intimidou. — Não sou a favor da pena de morte. Nestes anos de promotoria, tive a sorte de não estar diante de nenhuma situação extremada como essa. E espero não me deparar no futuro. Sei que será bastante desconfortável levar um jure a condenar alguém a uma cadeira elétrica. Por que esta é minha função, corroborar com o a decisão do jure. — Você é muito perspicaz. Ela respondeu. — Obrigado, isso é um elogio ou é uma crítica? Não precisa me olhar assim, prefiro não saber. Bem, acho que já estou na minha hora. Demétrius falou olhando para o relógio. — Nada disso, vamos dar uma esticada a uma danceteria, vamos dançar um pouco. Ela insistiu. Porém ele percebeu que já havia esgotado seu limite, se não fosse embora, com certeza iria parar na cama com aquela mulher, e esta era uma coisa que ele não queria. — Você foi maravilhosa, adorei conhecer sobre as cervejas, mas estou bastante cansado. Quero estar cedo na mansão. Preciso de terminar de conversar com meu pai. — É uma pena. Confesso que gostaria de aproveitar mais sua companhia. Ela foi franca com ele. — Fico lisonjeado. Mas veja você. Ainda estou me recompondo, faz apenas alguns dias que perdi minha noiva (como se isso fosse muito importante, que desculpa mais esfarrapada, seu pensamento o acusou). — Me desculpe. A perda de sua noiva, não deve ter sido fácil para você, você quer falar sobre o assunto? — Tudo bem. Eu compreendo. Mas não quero falar sobre isso. Estou na minha hora, preciso descansar. Então, chamou o garçom e pediu a conta.
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Meia hora mais tarde já estava em seu quarto. Avaliando a noite que tivera com a assistente social. “Uma noite bem agradável” ele pensou. Nora era uma mulher bem interessante, e muito inteligente, mas com certeza não era o tipo dele. Imagina se ele resolvesse fazer sexo selvagem com ela, como fazia com Aleska, com certeza ela iria processá-lo, não era qualquer mulher que se submetia a selvageria na cama. Exceto as dominadoras, essas gostam de ser subjugadas, sentem um prazer imensurável ceder aos caprichos de um homem. Ele pensou um pouco sobre o assunto, então foi ao banheiro, enquanto dava vazão as suas necessidades fisiológicas, seus pensamentos voaram, para um lugar muito distante, daquele momento presente. Após certo tempo tomou uma chuveirada quente e então foi dormir. O dia amanheceu fresco, ao contrário de San Francisco, Portland não era invadida pela névoa do Pacífico pelas manhãs, o dia era um perfeito convite à vida. Ele estava olhando pela janela, e viu que havia algumas pessoas caminhando pelo jardim, havia um grupo praticando tai chi chuan, em San Francisco era normal ver estes grupos espalhados pelos parques, houve um tempo na vida de Demétrius que ele pensou em praticar também estes movimentos, mas acabou desistindo. Talvez se tivesse tornado isso como hábito algumas coisas na sua vida poderiam ter sido diferentes. Demétrius colocou uma camiseta preta de algodão e vestiu uma calça jeans, pegou uma camisa xadrez e sobrepôs sob a camiseta. Deu apenas uma ajeitada no cabelo, fazia uns três dias que não usava gel no cabelo, achou ótimo olhar se no espelho ao natural. Pegou seus óculos escuros, sua carteira, seu celular, e as chaves do carro então saiu do quarto, mais uma vez teria que falar com o pai. Ao contrário do dia anterior ele estava mais relaxado, talvez a boa noite de sono, ou mesmo a ida na cervejaria tenham feito algum milagre. Desceu para tomar um café, e no salão amplo verificou que havia muitas pessoas no ambiente, ao chegar perto da grande porta aberta de vidro, uma jovem veio lhe receber.
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— Bom dia senhor. — Bom dia. — Em que quarto está hospedado? — Estou no terceiro andar, quarto 23. A jovem verificou a lista que estava em suas mãos, e marcou o nome de Demétrius, então olhou para ele com um sorriso pediu para que ele a seguisse até a mesa reservada. Demétrius agradeceu e enquanto sentava pegou o cardápio que estava sobre a mesa. — O senhor quer que eu traga seu café? — Quero sim, você pode trazer um café preto, forte e sem açúcar? — Não vai comer nada? Talvez um croissant? Ele pensou se estava com fome, então concordou com a moça. — Vou aceitar sua sugestão. Ela sorriu novamente para ele, então se afastou para buscar o pedido. Enquanto isso Demétrius pegou um jornal local para ler as notícias. Porém, ao ver as notícias do país não gostou do que viu. Em uma das colunas estava notícias da Califórnia. Com os dizeres, “...ainda continua sem solução o trágico acidente da advogada de San Francisco. Seu noivo, o promotor público Demétrius Ballinderry, era um dos candidatos a uma das vagas de procurador do estado, desistiu da candidatura, fontes do judiciário confirmaram que a sua desistência está diretamente ligada ao acidente que vitimou sua noiva”. Demétrius aborreceu-se com a leitura, Aleska não era sua noiva, e sua desistência em parte não tinha nada a ver com o acidente dela. Alguém no departamento estava jogando, e ele precisava descobrir o que realmente estava por trás disso tudo. Mas agora ele precisava terminar a conversa com o pai, e depois deveria procurar por Charlie, e finalmente resolver sua vida com ela. O encontro que teve com ela no hotel deixou bem claro para ele, que ainda a amava, e a queria tanto quanto a primeira vez que a viu. Ele iria lutar para conquistar seu amor novamente, nem que para isso fosse preciso desistir do seu cargo público. Não ficou muito tempo no café, logo que a garçonete o serviu apenas sorveu um
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pouco do liquido negro e mordeu um pequeno pedaço do croissant, saiu em seguida ainda com um resquício de mal humor devido a matéria no jornal. Enquanto dirigia até a mansão ouvia a voz de Mick Jagger que dizia que “velhos hábitos eram difíceis de perder, e que ele não poderia desistir e nem a deixar só”. O refrão da música era o que realmente ele estava passando. A música terminou e a voz de Rosanne Cash veio como um recado “há razões de não encontrarmos luz para onde nossos sonhos navegam, porque o que sonhamos é possuir o amor, nós precisamos de amor e o que realmente queremos é ter o amor...” ele novamente parou diante daquela enorme cascata, muitas pessoas caminhavam naquela trilha, ele ficou um instante, como se tivesse tomando decisões. E então prosseguiu sua viagem, chegou aos portões da mansão, e como no dia anterior se identificou e o imenso portão se abriu. Ele entrou pela alameda ladeada por vegetações e inúmeros esquilos, logo avistou a imponência da mansão, fez uma curva e entrou no estacionamento. Ao contrário do dia anterior, sua anfitriã não estava esperando por ele. Ele caminhou pelo chão coberto por pedregulho até a imensa escada, então subiu por ela, ao chegar no alto da escada, olhou novamente para o imenso jardim e avistou o campo de golfe. Aquilo mais parecia com um resort do que uma Instituição de Longa Permanência para Idosos. Entrou no imenso salão para pegar sua credencial de visitante, e seguiu até ao elevador e apertou o número três correspondentes ao andar onde o pai estava morando. Algumas pessoas estavam subindo junto com ele para o mesmo andar, mas o mais que se ouviu ali dentro foi apenas um bom dia, ao que parecia ninguém estava muito afim de conversar. Atravessou o hall e foi ao balcão onde a senhora Evan estava, então ele se aproximou: — Bom dia senhora Evan. — Bom dia Senhor Ballinderry. — Como meu pai passou a noite? Vou poder vê-lo?
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— A noite dele não foi das melhores, depois que o senhor saiu ele ficou mais agitado que o de costume, mas sabíamos que isso viria acontecer. Não se espante, se o humor dele estiver ácido. — Espantaria se ele estivesse de bom humor. Demétrius respondeu tranquilamente. — Venha, vou te levar até ele. Hoje a senhorita Winslow trabalha em outro departamento. Enquanto conversavam caminhavam lentamente pelo corredor: — Ela trabalha o tempo todo aqui? Perguntou casualmente. —Três dias por semana, os outros dois dias ela trabalha na cidade, atendendo as solicitações do conselho tutelar, ela lida com as jovens que se metem em encrencas como drogas, gravidez, doenças sexuais, entre outras, violência familiar de um modo geral. - Demétrius ouviu a explicação. Ele achou interessante ela mencionar o nome da colega de serviço, como que para saber sua opinião a respeito dela. — Muito interessante. Ser assistente social não é muito fácil, é preciso se desdobrar. Os problemas sociais são inúmeros, e os Estados Unidos não diferem de outros países, as questões sociais e a vulnerabilidade social de muitos jovens faz com que os trabalhos dos assistentes sejam de grande importância para a comunidade. — Concordo com você. - A senhora Evan abriu a porta e lá estava o pai deitado na mesma posição do dia anterior. O encontro de Demétrius e Nora na cervejaria acabou distraindo-o, ele não pensara muito nas revelações que o pai havia lhe feito, mas agora ali, olhando para ele, toda a emoção do dia anterior voltou e ele percebeu que estava confuso e também com raiva do pai. — Bom dia pai. - Demétrius falou ao aproximar da cama. - O velho Ballinderry olhou em direção ao filho. Ele parecia mais cansado. — Conforme combinamos estou de volta. Ainda temos muito que conversar. — Bom dia. Depois do que conversamos, imaginei que iria correndo atrás da neta do Mitchel.
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— Imaginou errado. Talvez faria isso na adolescência, agora já é tarde para este comportamento. Não sou mais um menino. — Mas continua fazendo bobagens do mesmo jeito. — Por que o senhor está me dizendo isso? Demétrius perguntou curioso. — Você deveria ter mantido sua candidatura a qualquer preço, um homem forte não tem medo dos intemperes diários, eles estão todos os dias em nossas portas nos desafiando sempre a ser melhor a cada segundo. - Demétrius olhou para o velho em sua cama, avaliando e medindo aquele raciocínio momentâneo, então respondeu evasivo, quase sem emoção. — Talvez deveria ter mantido, mas não estou em uma posição privilegiada no momento. Descobrir que sou pai, e horas depois perder meu outro filho junto com mãe dele em um trágico acidente, me fez avaliar algumas coisas na minha vida. Na verdade, são duas situações conflitantes, a gravidez de uma adolescente no meu passado e a gravidez de uma colega de profissão... [ele respirou profundamente e continuou] assuntos pessoais que a mídia iria adorar explorar, em poucas horas seria devorado sem dó pelos meus inimigos. Por décadas serei lembrado. Conhecendo bem a população do estado da Califórnia, não me perdoariam tão facilmente mesmo tendo cidades totalmente liberais e sem preconceitos no estado, boa parte do estado ainda se consideram severos em seus conceitos morais, e um representante do povo precisa ter sua moral ilibada e sem mácula. O pai de Demétrius ignorou totalmente a explicação do filho. — Você desde menino sempre procurou justificar demais suas ações. Se candidate pelo estado de Montana, lá é o nosso território, sua gente está lá, ainda possuo forças que podem ser usadas ao seu favor. — Eu sempre soube disso. Mas no momento tenho outras coisas para resolver. Demétrius pensou no problemão que ainda
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estava pendente. Talvez se encontrasse a pessoa certa poderia fazer justiça de maneira que seu nome não fosse envolvido. — Você está com algum problema? — Talvez. Mas vendo seu estado, acredito que você não poderá me ajudar. — Conte-me. Cof!... Cof!... Cof!... E.…Cof!... Eu saberei se vou poder te ajudar. - Demétrius pensou um pouco sobre o assunto, o pai estava tossindo muito, ele estava com uma máscara de oxigênio no rosto, os anos como fumante trouxe-lhe consequências severas ao pulmão. Olhando a fragilidade do pai, pensou na gravidade da situação e no perigo que o pai poderia sofrer caso resolvesse contar a história para a pessoa errada. Ficou em silêncio avaliando os prós e os contras, e antes de responder, o pai lhe falou: — Preciso compensar seu sofrimento... Cof! ...Cof!.... De alguma maneira, não precisa temer pela minha segurança... Cof!...Cof!...Cof!... Já estou velho demais para temer a morte. Confie... Cof!... Cof! em mim, não vou lhe decepcionar. Não mais. Ouvindo aquelas palavras, Demétrius decidiu narrar os últimos eventos ocorridos, falou das provas destruídas e também sobre a suposta queima de arquivo, que no caso o acidente de Aleska, disse que não poderia confiar em ninguém, pois a facilitação começava desde o mais simples departamento da prefeitura aos escalões dos secretariados do governador. O velho Ballinderry ouviu atentamente a história. Não fez nenhuma observação. Então depois de um tempo disse: — Peça para a senhora Evan vir aqui. Demétrius a chamou. — Evan minha querida, preciso de um favor seu. Cof!...Cof!...Cof!... — Êta... Tossinha sem fim! Já lhe falei que quanto mais ansioso, mais o senhor vai tossir, deixe-me arrumar este oxigênio, o senhor é muito teimoso. – Então ela se aproximou da cama e regulou o oxigênio de forma que o fluxo da respiração ficasse
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melhor. —Prontinho, acho que isso vai melhorar um pouquinho, agora me diga que o senhor deseja? — Você é mesmo um anjo. Mas estou respirando bem, preciso que você me arrume um daqueles telefones que vocês têm por aí. Você pode fazer isso? — Hum! Que pedido mais estranho? Você já tem seu telefone ao lado de sua cama, não consegue fazer chamada? Já lhe disse que você precisa discar o zero e falar com a atendente o número desejado. — Eu sei disso minha querida, mas não quero que esta ligação fique na minha ficha, se é que você me entende garota, isso é muito particular para que pessoas estranhas fiquem sabendo o que vou conversar. - A enfermeira olhou para o velho na cama, depois olhou para o filho que estava sentado ao lado, percebeu pelos olhares que algo muito sério estava acontecendo. Semquestionar mais, ela decidiu que fosse o que fosse, precisava ajudar seu paciente. — Pelas caras vejo que algo sério está acontecendo por aqui, vou trazer um daqueles telefones descartáveis que temos para vender no bazar. Seja lá o que for, espero que possa ajudar. Então ela saiu e foi arrumar o telefone para o velho Ballinderry -. — Não entendi. Porque pediu um telefone para ela, se eu tenho um aqui. — Porque se conheço bem o sistema, o seu telefone e talvez até o meu já estejam grampeados. Aprenda, nunca deixe ser surpreendido pelo inimigo, você tem que pensar como ele. Demétrius percebeu com uma admiração desconhecida que seu pai tinha total razão para aquele cuidado. A senhora Evan voltou meia hora depois com um aparelho nas mãos. — Este é um bom aparelho. Tenho certeza que vai ajudar. — Perfeito, minha querida. Obrigado. O pai de Demétrius a agradeceu. Então, assim que ela saiu do quarto, ele falou com o
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filho. — Dimi pegue minha agenda, e veja o número de Walter Lee em Washington DC, faça a ligação e me passe o telefone. Demétrius olhou o número e digitou no aparelho, então ao sinal de atendimento ele repassou o aparelho para o pai. — Quem fala? - A voz rouca do pai perguntou. —Preciso falar com Walter Lee, diga que é o velho Ballinderry, ele saberá quem é. Como num passe de mágica, o velho Ballinderry começou a conversar com o tal Walter Lee. — Como vai meu jovem? .... Eu? Cof! Cof!... Estou por aqui esperando a dona do destino passar... Cof! Cof!... Para me levar a terra do nunca. Estou te ligando... (uma pausa na voz...) Por que preciso de um favor pessoal. (Outra pausa na voz) .... Quero saber como anda sua agenda. Isso é muito bom.... É perfeito.... Talvez, eu tenha algo que vai lhe interessar muito. Mas preciso de sua discrição. .... Não. Este não é meu número. Estou usando um desses celulares descartáveis, é... Isso mesmo. Sabemos como funciona... Só mudam de endereço ... A prática é a mesma da guerra fria.... Sim.... Achei arriscado conversar com você, através do meu aparelho, você pode vir me encontrar? Continuo de férias no mesmo resort. (Sorrisos). Gostaria muito que você... (Cof!!!...Cof!!! Cof!!!...) Não demorasse (Cof! Cof! Cof!...), meu tempo não é dos maiores, é... Já estou com a passagem comprada para o andar de cima... (sorrisos). Ótimo, vou te aguardar. O velho Ballinderry desligou o aparelho, e entregou ao filho. Estava novamente com o semblante exausto. Demétrius ficou em silêncio. Esperando ele falar alguma coisa. — Dimi, Walter é filho de um grande amigo meu, ele deve ter mais ou menos sua idade, ocupa uma posição privilegiada no senado, exerce uma influência muito forte na câmara, é um dos líderes dos republicanos em Washington. Se tem uma pessoa que vai fazer esse circo pegar fogo sem te queimar, este é Walter Lee. — O senhor tem certeza disso? Não tenho confiado em ninguém. E a minha maior preocupação é que isso vaze de alguma forma e prejudique outras pessoas que estão comigo.
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— Tenha fé. É o que posso lhe dizer a esta altura. Amanhã ele vai estar aqui, então você poderá contar com o apoio dele. Estou cansado. Mas ainda temos que conversar. Você pode ficar e almoçar comigo? A gororoba que servem aqui é muito boa. Demétrius acabou sorrindo da piada. Então concordou com ele. Mais tarde estavam assistindo a um jogo de basebol na tv. O pai não estava tossindo como antes, já haviam almoçado e ele havia tomado os remédios, estava mais relaxado que na parte da manhã. — Você era um excelente lançador. O velho Ballinderry disse. — Eu gostava de jogar. Respondeu olhando para tv. — Quando você partiu fiquei muito só. Senti muito sua falta. Quando você se formou achei que fosse explodir de tanto orgulho. — Eu também senti muita falta de casa. — Ela ainda é sua. Não vendi nem ela e nem o rancho. - Então Demétrius olhou para o pai, surpreso com aquela notícia. — O que senhor está me dizendo? O senhor não vendeu a propriedade? — Não. Desde sua partida de Great Falls, aluguei o rancho. A cidade já não tinha nenhum interesse, segui Aaron Natan como consultor, afinal alguém precisava bancar seus estudos. Recentemente fiz contato com meus advogados, o contrato de aluguel está para vencer, o locatário tem interesse em comprar, mas acho que você não vai querer vender, ou vai? — Honestamente não sei. Talvez não a venda. Terei que avaliar as possibilidades. — Sua mãe adorava aquela casa. — A casa da cidade? — Sim. Ela está fechada, mas o escritório do Bill, faz as manutenções necessárias nela sempre que precisa. Se eu morrer hoje, você ficará bem financeiramente. Sua mãe deixou para você uma soma considerável de dinheiro também.
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Aquilo surpreendeu Demétrius, mesmo vivendo longe, ela ainda pensou nele. — E os meus irmãos? Não contestaram? Afinal nem convivi com ela, não tenho nenhum tipo de lembrança a respeito dela. Isso me deixa até constrangido. —Você não precisa ficar constrangido, este dinheiro é seu por direito, ela deixou para você. O velho respondeu ríspido como sempre fazia quando Demétrius questionava demais. Demétrius passou a tarde toda com o pai, no final da tarde despediu-se dele e voltou novamente para o hotel na cidade, estava descansando olhando para o teto avaliando as revelações que o pai havia lhe feito, como seria encontrar-se com seu meio-irmão, em Great Falls, era impossível imaginar tal encontro, como também era impossível imaginar o encontro dele com o filho, porém encontrar Charlie novamente seria bem interessante. Ele estava formulando grandes planos para ela, quando o telefone tocou, pelo visor ele viu que desconhecia o número, mas o prefixo revelava que a ligação era de Montana. Ele atendeu com um misto de curiosidade e apreensão.
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Nove Zarek Hill
O dia amanheceu e um vento frio cortava todo o rancho dos
Robsons, um silêncio nauseante circulava toda a propriedade, o luto era visível e palpável em todos os rostos que se via em circulação. Mas a vida precisava seguir ... Greg estava no centro de manejo dos animais, verificando alguns cascos, mas seus pensamentos estavam principalmente no desenvolvimento das atividades, agora que não tinham mais a influência direta de Mitchel era preciso ter cautela e bom senso com os negócios, principalmente na venda dos potros. Estava concentrado com seus inúmeros pensamentos, quando Charlie aproximou. Ele ouviu o barulho de seus passos, então virou-se para olhar a enteada, era uma mulher bonita, nem aparentava ter mais de quarenta nos de idade, ele analisou seu semblante, estava sofrendo bem mais que sua esposa, porém estava firme. Os anos morando fora deram-lhe mais resistência para enfrentar os embates da vida. Ela estava vestida em um jeans velho e uma camisa xadrez, trazia consigo um chapéu, provavelmente iria cavalgar. Mas para surpresa de Greg ela perguntou: — O que tem para mim? — O que tenho para você? Você quer dizer em relação ao trabalho aqui no rancho? Ele respondeu também perguntando. — Isso mesmo. Não vou ficar sem fazer nada. Preciso trabalhar para espairecer meus pensamentos. — Isso é melhor que terapia. Venha vou lhe mostrar as dependências do centro. Ele largou o casco do cavalo e entraram nas instalações do centro de manejo. —Veja, estes aqui são alguns potros órfãos que precisam ser alimentados, porém estamos fortificando o feno e a alfafas para dar-lhes mais nutrição, vieram
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de um outro haras, estão bem desnutridos. O velho Hans nos pediu este favor. Porém, a égua que iria alimentá-los os rejeitou, então estamos fazendo isso artificialmente. — Coitadinhos, irei cuidar deles, me ensine o que tenho que fazer. — Isso é muito fácil, veja o que faço. – Greg pegou uma mamadeira e encheu-a com leite de cabra e entregou para Charlie. Os olhos dela brilharam de contentamento. — Vou amamentá-los de quanto em quanto tempo? — Bom agora já passou a fase crítica, já estamos fazendo isso a cada quatro horas. Mas não se espante, não vou deixar você de castigo aqui. Temos um funcionário exclusivo para isso, depois eu lhe apresento. Depois de amamenta-lo você irá cuidar da higienização do potro e da sua mamadeira, verifique a assepsia do ambiente e dos vasilhames. E é isto. Acho que foi fácil para você compreender esta atividade. — Eu compreendi sim, agora me diga onde pego o leite para encher as mamadeiras? — Estão na geladeira, venha aqui e veja. - Caminharam até uma sala onde haviam algumas estantes com medicamentos e material veterinário e uma mesa com cadeiras e a geladeira. Haviam alguns colchões e também mantas. Charlie sabia muito bem para o que aquilo tudo servia, embora estivesse afastada, ela não havia esquecido das atividades de um haras. Acompanhou Greg e o ajudou a encher a mamadeira com o leite de cabra. Em seguida voltou até onde estava o potro e então ela começou a alimentá-lo, e Greg voltou para sua atividade de verificação dos cascos. Algumas horas depois um telefone tocou no recinto. Greg foi atender, era Audrey chamando-os para o almoço. No caminho Charlie e Greg começaram a conversar sobre a criação de um resort no local.
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— Greg precisamos ir até ao banco e verificar as condições de um financiamento para este empreendimento, o projeto está pronto, o que você acha de irmos hoje? — Por mim tudo bem... iremos depois do almoço. Eu já andei conversando com Zarek, ele ficou entusiasmado, será muito bom para Great Falls, o prefeito também gostou da ideia. — O prefeito? Não entendi? — Eu comentei com o prefeito sobre isso, precisamos do apoio do município para a aprovação do projeto. E ele ficou entusiasmado com que pretendemos fazer. — Você fez muito bem, eu não havia pensado nisso. Mas e o gerente do banco? Será fácil conversar com ele? — Ele é um rapaz bem astuto, um excelente administrador, tenho certeza que no momento em que conversarmos realmente expondo nosso projeto ele irá nos ajudar, afinal haverá uma avaliação de risco, e ele será o homem que fará essa avaliação. — Entendo. - Já estavam em casa quando terminaram a conversa. Charlie entrou na casa de hospedes e foi tomar um banho para almoçar. Meia hora depois, ela estava na cozinha da casa principal, seus cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo, vestia um terninho bege e uma camisa vermelha. Seu look discreto era complementado pelo pequeno brinco de diamante e uma gargantilha em ouro. Estava totalmente “clean”. Uma mulher de negócios, nada a ver com a moça que estava nos estábulos com os cavalos. Todos olharam para ela. Kaleb sorriu ao vê-la entrar. Os passos dela eram delicados e precisos. — Isso tudo é para impressionar o gerente? - Kaleb perguntou? — Hum! Nem tanto Kaleb, estou vestida para apenas tratar de negócios. — Se ele for um homem normal, ele irá cair de quatro sob seus saltos. Kaleb continuou.
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— Acho que está na hora de vocês dois saberem que o gerente em questão é muito próximo a você Kaleb. Audrey falou séria. — Próximo a mim? — Sim. — Ele é meio-irmão de Demétrius Ballinderry. Um silêncio mortal caiu na cozinha. — Ele é filho de Malcon Ballinderry? Perguntou Charlie. — Não. Ele é filho da mãe de Demétrius, Helena Hill. — A senhora está dizendo que tenho um tio? Que tenho uma outra avó. Mas isso é muito interessante, ainda nem digeri a última notícia e agora vem está??? Só que me faltava, resta saber qual será o próximo round. – Kaleb falou com uma acidez constrangedora. — Nem sei o que dizer, mamãe. Charlie respondeu. — Não precisa dizer nada, isso não é problema nosso. — A senhora tem razão. Charlie concordou. Greg por sua vez falou sobre o assunto. — Sou amigo de Zarek, ele é um bom homem, vai nos ajudar, não precisamos dizer nada do laço que une ele ao nosso Kaleb. — Obrigado Greg. Pelo menos alguém está pensando em mim. Kaleb falou dando de ombros. — Mas deixa de ser dramático Kaleb, ele sabe que você é filho de Demétrius, basta olhar para você e ver a semelhança de vocês três. Audrey falou séria. — Bom, não quero saber, ainda não resolvi o que vou fazer com o promotor, vou deixar para me preocupar com o gerente mais tarde. Kaleb falou saindo da mesa sem-comer. — Kaleb? Volta aqui. — Deixa ele Charlie. Ele precisa de um tempo. Embora seja um homem, ainda é jovem, deve estar confuso, cheio de dúvidas e provavelmente deve estar muito ansioso para encontrar se com o pai. - Greg falou para Charlie.
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— Estou preocupada, ele parece que está revoltado com Demétrius. E sem razão, eu expliquei o que houve. Mas ele não quis me ouvir. — Tudo é questão de tempo. Ele precisa digerir e você também precisa aprender a esperar, vamos ver o que o destino aguarda para o desfecho desta história. Horas mais tarde Greg e Charlie estacionavam a caminhonete em frente ao banco ela olhou para Greg com apreensão. Ele sorriu e disse: — Tudo vai dar certo. O projeto é muito bom. Confia .... — Você tem razão. Ela respondeu com um sorriso. Então saíram do veículo e caminharam para o banco. Ao entrarem no estabelecimento algumas pessoas olharam para ambos, cumprimentaram Greg e olharam com curiosidade para Charlie. Mas não era para menos, em uma cidade como Great Falls ver uma mulher com as feições de Charlie chamava a atenção, pois ela possuía os cabelos vermelhos, mas sua tez era de um dourado quase que exclusivo, a herança hispânica era um diferencial no estereótipo corporal de Charlie. Eles deram uns quatro passos e o gerente veio ao encontro deles. Charlie perdeu o ar ao ver o irmão de Demétrius, ele também possuía o mesmo magnetismo do irmão, era mais baixo, ao contrário de Demétrius possuía os cabelos castanhos claros, os olhos também eram azuis, possuía uma barba cerrada ao rosto, dando um ar sensual ao sorriso, os olhos eram mais profundos, os lábios mais finos, e uma covinha linda no queixo. Jesus!!!!! Era um partido irrecusável. As mulheres deveriam derreter aos pés dele. — Boa tarde Senhor Davis! Senhora S’inclair, por favor venham até a minha sala. Zarek falou educadamente. Ele ficou impressionado com a fisionomia de Charlie, aliás ficou encantado. — Boa tarde Senhor Hill, trouxemos o projeto. —Vamos! Sentem-se, antes de mais nada gostaria de dar-lhe os meus pêsames, Mitchel era um grande homem, foi um grande
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cliente, seria uma honra mantê-los conosco. Zarek indicou as poltronas para se acomodarem. Charlie estava sem-jeito, esperava encontrar um velho e eis que surge um deus grego tão belo quanto o pai de seu filho. Eles conversaram por horas, Zarek olhou o projeto de maneira extremamente criteriosa e avaliativa, para ele também era importante ter aquele projeto aprovado, seria um grande negócio para o banco e para a cidade. Depois de analisar, trocar ideias, Zarek falou olhando para Charlie: — É um projeto ambicioso. Isso vai se tornar uma referência entre os turistas. É só uma questão de tempo. Vocês vão ver só. Eu gostei muito e vou ajudá-los no que for preciso. Vou contatar meus superiores, peço a vocês uns quinze dias para dar andamento nos trâmites da burocracia. Tudo bem? — O senhor gostou do projeto? Charlie perguntou. — Se gostei? Claro que gostei. Irei fazer o que tiver no meu alcance para colocarmos este projeto em ação. Ele não escondia o deslumbramento por Charlie, chamou uma assistente pelo interfone: — Darcy traga-nos um café. — Senhora S’inclair, toma café? Não toma? — Sim senhor. — Ótimo. Traga-nos três cafés. — Mas senhora S’inclair, então decidiu morar em Great Falls? Perguntou puxando conversa com Charlie. — Sim. Cansei de viver no sul. — Morava onde? Desculpe meu interesse. — Não tem problemas. Eu vivi em San Francisco por algum tempo, mas aí fiquei viúva há alguns meses. - Disse com uma certa reserva. Neste instante a assistente entra com o café, Charlie foi invadida por uma sensação de angustia, aquele assunto era ruim de se falar. — Eu fiquei sabendo. Que tragédia, receba meus sinceros sentimentos.
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— Obrigada. – Enquanto Zarek servia o café o assunto entre ele e Greg foi sobre os cavalos, Charlie pegou sua xícara e sorveu quase que imediatamente o líquido, logo em seguida olhou para Greg: — Podemos ir? Perguntou Charlie quase desesperada para sair dali. —Bom não temos mais nada para resolver, temos Zarek? Perguntou Greg sem a formalidade do senhor Hill. — Não. Agora levo o projeto para o comitê e aguardarmos. — Tudo bem, ficaremos aguardando seu telefonema. - Charlie e Greg saíram em silêncio, já na rua Greg lhe falou: — Topa outro café? — E por que não? - Charlie respondeu sem muito entusiasmo. Entraram em café alguns metros do banco. Sentaram-se em uma das mesas que dava vista para a rua. —Greg o que você achou? Será que teremos aprovação? — Eu não duvido. Zarek ficou bem interessado no projeto. Vamos ser sinceros este projeto vai trazer turistas, isso significa circulação de dólares no mercado interno do município. Não tem erro, iremos conseguir. — Espero que você tenha razão. Charlie respondeu olhando para o movimento interno do café. — O que você achou de Zarek? Perguntou curioso. — Se parece muito com o irmão, mais baixo e musculoso, mais gentil. Percebi que é direto, não perde muito tempo, gosta da praticidade. Um homem bem interessante. — Em trinta minutos você verificou isso tudo? Estou impressionado. Greg estava surpreso. — Me perdoe, mas na minha profissão é tão normal ficar atento aos detalhes que nem percebi que estava avaliando o moço. - Ele sorriu, ela também, depois falaram de outras coisas referentes ao projeto. Então algum tempo depois já saindo do café Charlie falou a Greg:
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— Estou pensando em ver alguns amigos, acho que você pode voltar para o rancho sozinho, eu volto de táxi. Charlie falou de repente. — Você tem certeza disso. Greg perguntou surpreso. — Sim. Por que você acha que não devo? — Não é nada. Só que fico preocupado com você, apenas isso. — Não se preocupe eu sei me cuidar. Me diga uma coisa? A Madison e o Bradley ainda moram no mesmo lugar? Perguntou olhando para o rosto de Greg. — Moram sim. Vou te deixar na casa deles. — Então vamos, estou doida para conhecer os filhos deles. Minutos depois Greg estacionava sua caminhonete em frente a uma casa rosa de dois andares, havia um jardim em frente à casa, que dava um aspecto aconchegante a propriedade, a rua era bem tranquila e arborizada. Uma pequena cerca de madeira separa o jardim da rua e um portão igualmente pequeno, Charlie passou por ele e chegou até a porta, então apertou a campainha, segundos depois uma mulher de cabelos castanhos abriu a porta. E com um sorriso aberto recebeu Charlie. — Meu Deus! É você mesmo Charlie? Brad corra aqui! Venha ver quem está em nossa porta! Entre Charlie, não fique aí parada, venha! Amor! A Charlie está aqui. A mulher abraçou demoradamente Charlie, ambas ficaram emocionadas. — Oh! Mad, me perdoe por ter vindo sem marcar, mas é que me bateu uma saudade de você. — Que é isso Charlie. Você pode vir a hora que quiser, desde quando irmãs precisam marcar hora para se ver. Meu Deus! Mas você está tão bonita. Seus cabelos, seu rosto, gente! Olha suas roupas! Você está maravilhosa. - Madison não cabia em si de tanta alegria. Charlie entrou na casa da amiga, tirou o casaco e o pendurou em um suporte na porta de entrada, a sala era ampla, no centro havia uma lareira, os móveis eram rústicos, e havia muitas almofadas nos sofás, aquele deveria ser um lugar preferido da
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família. Madison pegou na mão de Charlie e a puxou para dentro. Bradley aproximou- se feliz em vê-la. Ele havia mudado muito, estava gordo e seus cabelos já não possuía mais os cachinhos que Madison amava. Mas estava bonito e conservado. — Que surpresa maravilhosa! Seja bem-vinda Charlie. Agora é para ficar? — Sim. Agora é para ficar. Charlie se sentiu bem ao dizer aquelas palavras. — Venha, sente-se e nos conte sobre você. Como vai Kaleb, sua mãe, ah! Menina sentimos tanto pela perda de Mitchel. — Também sentimos, mas ele viveu bem. Deu o seu melhor para todos nós. — É mesmo. Agora me fale de você. Estou te achando com a carinha muito triste, este olhar, ah! Este olhar.... Eu conheço isso, só pode ser o Dimi, é ele? Não é? — Sim. Embora esteja ainda dolorida com a morte de meu avô, ele está fazendo mais estrago que o meu luto. — Me conta. O que está havendo? Eu vi na internet que ele está em uma fase ruim. A noiva faleceu, que tragédia! Estava grávida, você viu as notícias? — Vi sim, mas não me inteirei bem dos detalhes. — É isso que está te perturbando? Madison perguntou. — Não. Ele descobriu sobre Kaleb. — Minha querida isso era inevitável, infelizmente é uma situação que não poderíamos evitar. Mas como isso ocorreu? Pouquíssimas pessoas sabem sobre isso. — Nos encontramos em uma audiência. Não sei o que levou ele a descobrir sobre a minha gravidez. Na véspera da minha partida de San Francisco, eis que ele bate à porta no hotel para me cobrar explicações. Estava contrariado, fiquei na defensiva, mas ele bom com os argumentos, então quando comecei a esbravejar, alterando o tom de minha voz ele me conteve com um beijo, que virou meu sossego de cabeça para baixo.
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— Não acredito! E depois o que você fez? — Eu perdi minha razão. – Um suspiro e ela continuou: — Ele vai entrar com o reconhecimento de paternidade. - Madison olhou para a amiga com alívio, há anos pensava que Demétrius precisava saber a verdade sobre aquela noite de formatura, mas nunca teve coragem de confrontar seu pensamento com a amiga. Agora tudo que podia fazer era lhe dar apoio. — Você já conversou com Kaleb sobre isso? Madison perguntou. — Depois do funeral, tivemos uma conversa. — Como Kaleb reagiu? — Reagiu igual ao pai dele. Os dois são muito parecidos, não só fisicamente, na teimosia também. Neste momento ele não quer saber de Demétrius. Mas eu sei que isso é da boca para fora. — Também sei disso, ele sempre especulou sobre como era o pai, inclusive uma vez quando ainda estava no colegial, me pediu uma foto do pai para um trabalho de escola. Mais tarde soube, que a foto era para ele mesmo, não havia trabalho nenhum. Charlie ouviu aquilo com surpresa. — Você deu a foto de Demétrius para ele? — Não. Mas deveria ter dado. Ele sofreu muito todos estes anos. — Eu nunca deveria ter guardado este segredo. Mas o vovô não queria saber, você se lembra bem de tudo que aconteceu. — Claro que me lembro. Não esqueci. O sofrimento seu foi meu também. Enquanto as duas conversavam o telefone de Bradley tocava insistentemente. Bradley atendeu enquanto saia para outro cômodo da casa. — Alô. — Bradley? Sou eu Zarek. Topa uma cerveja? Madison se importaria? Estou precisando conversar um pouco.
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— Zarek? Claro que não. Ela está ocupada com a visita de uma amiga. Com certeza, ela não vai ligar. Onde você está? Vou encontra-lo, e ainda volto para o jantar. — Estou no It’ii Do. — Fica aqui perto. Dê-me cinco minutos. – Em seguida Bradley volta até a sala onde Madison e Charlie ainda conversam, ele chega para avisar a esposa, então ela olha para ele com ar de falsa irritação. — Já sei! A cervejinha nossa de cada dia. Ele sorri como um garoto pedindo ordem para a mãe. Ela continua. — Pode ir, mas quero você aqui às 18:30 para o jantar. — Você é um amor, minha querida. Posso trazer um amigo para jantar conosco. É bom que ele faz companhia a Charlie. Madison olha para o marido e depois para Charlie, com uma dúvida no olhar ela, oscilou, então perguntou para Charlie: — Fica para o jantar? — Fico. Mas não quero dar trabalho. —Trabalho nenhum. - Madison respondeu e em seguida virou para o marido: — Então pode trazer seu amigo para nos fazer companhia. — Quem seria este amigo? Alguém que eu conheça? Charlie perguntou. — Não você não o conhece. Se eu não estiver enganada deve ser Zarek, ele trabalha no banco, é o gerente. — Eu o encontrei hoje. Conversamos sobre o financiamento para meu empreendimento. — Ah! Então você já o conheceu! O que achou dele? — Muito educado. Atencioso. — Só isso? Você não o achou atraente? Eu o acho muito bonito. Ele deixa a mulherada maluquinha. Mas não se comprometeu com nenhuma ainda. Um belo partido.
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— Eu não o olhei por este lado, confesso que não estou em um momento bom para pensar em relacionamentos, afinal ainda estou recuperando a perda de Edmund. — Eu compreendo, e agora o Mitchel, que barra amiga. — Tudo bem. Eu vou superar. — Claro! Nada que um amasso de Demétrius Ballinderry não cure. Madison respondeu com sarcasmo. — Claro que não! Eu preciso de um tempo, foram muitas coisas. Eu preciso ficar sozinha. — Me diga isso a hora que Demétrius aparecer por aqui reivindicando o direito de ser pai e o direito de dormir ao seu lado em sua cama. — Madison você é terrível. Jamais Demétrius deixará a vida dele na Califórnia para morar novamente aqui em Great Falls. — Eu aposto o que você quiser, que logo, logo ele estará por aqui, revirando seu mundinho de cabeça para baixo. Agora venha me ajudar.... — Onde estão seus filhos? Charlie perguntou curiosa. — Estão em um acampamento. Vou vê-los em três semanas. Madison explicou. Algum tempo depois as duas amigas haviam preparado o jantar, estavam terminando de colocar a mesa quando os dois homens entraram pela porta. —Boa noite para todas. Charlie este é Zarek, creio que vocês já devem ter se visto na agência Bancária. —Zarek esta é a nossa amiga Charlie. Os dois se entreolharam e cumprimentaram com apenas um leve inclinar de cabeça. — Venha Zarek, fique à vontade, o toillet fica no final do corredor a sua esquerda. Madison falou com Zarek. Ele agradeceu e foi até ao final do corredor. Minutos depois voltava a sala de jantar. Sentou-se ao lado de Charlie. A conversa fluiu naturalmente entre eles. Já passava das nove horas da noite quando Charlie pediu para Bradley ligar para um táxi para ela ir embora.
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Zarek não deixou. — Nada disso, levo você para sua casa. Falou categoricamente. — Mas eu moro na zona rural. Ela falou justificando. — Sou seu vizinho senhora S’inclair, sou o proprietário do Rancho St. Helena. Ele respondeu. ela sorriu ao saber que eram vizinhos. — Já que é assim, vou aceitar sua carona. —Então vamos. Despediram se dos amigos e entraram no carro. No caminho um silêncio perturbador se fez presente. Então Zarek puxou conversa: — Eu estou meio sem jeito com a senhora.... Não sei ao certo como trata-la sem ser... – Ela o cortou: — Chame-me apenas de Charlie como todos, não precisamos de formalidade, vou chamá-lo de Zarek se não se importar, os anos na Califórnia me deixaram um pouco à vontade com as formalidades, se é que senhor me entende. Aliviado com o que acabara de ouvir, Zarek lhe deu um sorriso. — Também prefiro assim. Me fale de você, o que te fez voltar para Great Falls? — Decidi voltar quando meu marido falecera, fiquei meio perdida, meu avô já estava com uma idade avançada, decidi que deveria ficar com ele um pouco mais, mas os meus planos não deram muito certo. E você? O que viu em Great Falls? — Eu vim para cá para cursar a faculdade, acabei ficando, amo este lugar, minha mãe era apaixonada por Great, cresci ouvindo as lendas locais, então quando terminei o colegial optei por vir para cá, e estou aqui desde então. — Great Falls é mesmo encantadora. Também amo este lugar. Você disse que é dono do Rancho St. Helena? Imaginei que ele pertencesse aos Ballinderry.
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— Malcon Ballinderry fez uma doação à minha mãe, pouco depois da separação deles. Mas ele ainda é dono do Rancho Corvo Pequeno, aquele que faz divisa com as terras indígenas. — Então você é um Ballinderry? Ela perguntou semnenhuma surpresa. — Não. Na verdade, sou um Hill, minha mãe Helena Hill foi casada com Malcon Ballinderry. — Não estou compreendendo porque você está me contando isso. Ela disse. —Charlie estou lhe contando isso com um único intuito, agora que você está aqui em Great Falls, quero que você me ajude a aproximar de meu sobrinho, seu filho, eu sei da sua história com meu meio-irmão. “Oh! Mas como é atrevido! ” Charlie pensou indignada. Mas se conteve. Afinal havia dado liberdade para ele, mas não havia imaginado que ele seria assim tão direto ao ponto. —Por favor! Perdoe-me pela intromissão em um assunto tão pessoal. Mas como me abri com você, pensei que pudesse ir direto ao ponto. — Não... eu... apenas me esqueci dessa espontaneidade que existe aqui em Great Falls, você me pegou desprevenida, eu... nem sei o que dizer... Kaleb recentemente ficou sabendo da existência de Demétrius, não sei como poderia lhe ajudar a aproximar-se dele. Ele... ele é tão parecido com o pai, honestamente não sei o que dizer. O silencio voltou a preencher o espaço entre eles. A mente de Charlie divagava no que acabara de ouvir, e Zarek se amaldiçoava por ter sido tão apressado. — Zarek, gostaria que você não me levasse a mal, eu preciso de um tempo para fazer uma aproximação de vocês. — Eu compreendo, por isso sei que posso contar com seu apoio. — Demétrius sabe de você? — Não sei. Você conheceu Malcon Ballinderry? Ele é especialista em manter as pessoas bem longe. Duvido que ele
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tenha falado alguma coisa, minha mãe tinha uma mágoa muito grande. — Que loucura. Quantos segredos mais Malcon escondeu dele. — É, o Malcon fez muito mal a ele e a minha mãe. — Você tem outros irmãos? — Sim. Simon, mora no Texas. — Simon sabe sobre Demétrius? — Sim. Mas ao contrário de mim, ele é indiferente. Eu quero aproximar, pois este foi um desejo de minha mãe.... Eu não queria ser indelicado com você. — Não. Você não está sendo indelicado. Eu só não esperava por isso. — Podemos começar de novo? Perguntou enquanto estacionava o carro. — Como assim? — Charlotte S’inclair eu sou Zarek Hill, adoraria ser seu amigo. Falou olhando para ela estendendo a mão em sinal de amizade. Agora foi a vez dela sorrir. Ela lhe estendeu a mão. — Também vou gostar de ser sua amiga Zarek Hill. Ele saiu do carro para abrir a porta para ela. Ela lhe deu boa noite antes de subir as escadas da varanda de sua casa. Da janela Kaleb a viu chegar. Ele viu Zarek Hill, ficou enciumado, e ao mesmo tempo quis protegê-la, ela já havia se machucado demais com Demétrius, não queria que o outro irmão fizesse o mesmo. Dentro de casa, Charlie foi até a cozinha pegar uma água, então viu Kaleb emburrado na escada, parecia um menino. Ela olhou para ele e viu que ele estava perturbado com alguma coisa. — Boa noite Kaleb? Não está com Gyna? — Não. Ela foi a uma festa com uns amigos. — Você não quis ir? — Não. Estou tentando estudar. — O que está te incomodando?
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— Além das últimas notícias? Você e o tal do Zarek chegando tarde da noite em casa. — Ah! Kaleb tem dó! Eu não tenho que dar explicações da minha vida para você. E quer saber? Este comportamento infantil já está me fazendo mal. — Não compreendo é você chegar em casa com irmão do cara que te prejudicou. Por acaso está pensando em colecionar irmãos? — Olha aqui! Você está sendo muito impertinente nesta questão com Demétrius. Como você ele também foi prejudicado. Então não diga aquilo que você não conhece. Cresça! Pare de sentir pena de si próprio e veja a situação como ela realmente é. Isso é ridículo. Eu não estou colecionando irmãos, e mesmo que se o tivesse fazendo, sua opinião não me importa muito. Dizendo isso ela saiu batendo a porta e foi em direção ao estábulo. Correu com lágrimas nos olhos, chorou convulsivamente, a raiva de Kaleb contra tudo era de se esperar, mas não poderia permitir ele sobrepujar o próprio pai ou mesmo outra pessoa ligada a ele. Ela entrou onde estavam os potros órfãos e ficou um tempo com eles. As lágrimas haviam cessado, mas ainda estava magoada. Não tinha noção das horas, quando voltou para sua casa, foi direto para o quarto. Resolveu tomar um banho para poder dormir. Olhou no relógio. E sem decisão nenhuma ela fez o improvável, pegou seu celular e discou o número de Demétrius. — Alô! Do outro lado da linha um homem de voz grave atendia o telefone com surpresa na voz. — Charlie? É você? — Sim. — O que houve? Você está bem? — Não. Meu avô foi sepultado há alguns dias, contei para Kaleb sobre você, porém não está sendo fácil. Ele está revoltado demais para enxergar o obvio. Estou te ligando nem sei porque,
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não deveria, você também está cheio de problemas. Eu vi o noticiário. Sinto muito, honestamente. — Minha querida, tenha calma. Sinto muito pela perda de Mitchel, e quanto a Kaleb, dê tempo ao tempo, eu não vou aparecer assim do nada. Fique tranquila. Também estou digerindo esta novidade, embora não esteja mais com raiva. — Você não compreende? Ele está com raiva de você. Ele está te culpando por tudo. E nós dois sabemos que eu tenho mais culpa que você. Eu sabia que você não iria ficar, e mesmo assim acreditei que o meu amor fosse o bastante para me sustentar. Mas aí ele nasceu, eu não consegui ficar, minha culpa era muito maior que a coragem de permanecer ao lado de Kaleb. Você pode me entender? É isso. Ele culpa você por tudo, mas na verdade eu é que fiz a bobagem, você foi embora da minha vida, mas eu abandonei nosso filho. Quem merece a raiva de Kaleb sou eu, não você. Demétrius ouvia em silêncio a voz chorosa de Charlie. Aquilo o comoveu, anos de sofrimento estavam aflorando na voz da mulher amada. Ele não tinha o que falar, por que como ela, também carregava a culpa. — Charlie, você quer que eu vá aí? — Não. Claro que não. Eu nem sei porque te liguei. Desculpa, fiquei confusa, tivemos uma discussão, eu... cheguei em casa com seu irmão, Kaleb não gostou, ele falou coisas ruins para mim.... Ao ouvir sobre o irmão ele arrepiou os cabelos da nuca. — Meu irmão? Você quer me explicar essa história direito. Ele falou com ela de maneira branda. Mas ela ainda continuava a falar atropelando as palavras, ela estava realmente chateada com a discussão. — Desculpa eu não sei se você sabe sobre seu irmão, o que mora aqui, ele se chama Zarek, eu e ele jantamos na casa da Mad e Brad, mas não tem nada a ver, porém o Kaleb... O Kaleb disse que
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eu estou fazendo coleção de irmãos. Eu fiquei irritada com ele, coleção? Como assim? Como ele pode me julgar dessa maneira. — Isso é coisa de filho ciumento. Agora tenha calma. Pare de chorar. Não quero que você sofra com as insinuações de nosso filho. Estou terminando de resolver uns problemas pessoais e vou voar para Great Falls. — Não! Não quero você aqui. Você tem sua vida ajustada em San Francisco, seu trabalho. - Ele ouviu, mas não se importou muito com que ela estava dizendo. Com uma voz para lá de sensual ele disse: — Logo estarei aí, porque como meu filho já sinalizou, não vou deixar ninguém se aproximar de você, ainda mais se for meu irmão. — Você sabe sobre seu irmão? — Não. Eu soube sobre a existência de meus irmãos ontem. Uma surpresa tão grande quanto saber da existência de Kaleb. Mas estou bem. Quero que você fique bem. Estou indo ao seu encontro. Esta é uma promessa que vou cumprir Charlie. — Demétrius você está me deixando confusa. — Não fique confusa. Apenas confie em mim. Vou provar para você que não sou um crápula completo. Ele sorriu, ela ficou em silêncio. — Eu não devia ter te ligado. Fui precipitada, mas estou tão sozinha, que juro que tudo que queria neste momento era estar no aconchego de seus braços, mesmo você não merecendo. Mas é tudo que eu queria. — Logo isso será possível. Agora tente dormir. Amanhã Kaleb vai estar mais calmo e você também, aí será possível vocês conversarem. — Talvez você tenha razão. Obrigada por me ouvir. — Não tem de que, minha querida. Sempre que quiser me ligue. Adorei ouvir sua voz. Então ela escutou o clique do telefone, e o silêncio ocupou a noite...
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Dez O lado quente de Nora Winslow
Demétrius estava com o celular nas mãos sem acreditar que
Charlie havia ligado para ele, uma evolução no relacionamento deles sem dúvida nenhuma. Muitos acontecimentos justificavam aquela ação. Ele sabia que o filho não ia aceitar a notícia assim de graça, sendo o rapaz um Ballinderry iria contestar. Agora saber que o meio-irmão está nas proximidades de Charlie, aquilo não lhe soou muito bem aos ouvidos, ele teria que andar bem mais depressa com suas decisões, não estava nem um pouco afim de dividir a atenção de Charlie com outro, ainda mais sendo seu irmão. Ele custou a dormir muitos pensamentos invadiam seu sossego. O dia estava quase amanhecendo quando o sono chegou.
Quando Demétrius acordou já passava das nove da manhã em Portland, em Great Falls deveria ser umas dez da manhã, já que a diferença de fuso horário é mais ou menos uma hora de uma cidade para outra, ele pensou em ligar para Charlie. Mas ficou momentaneamente indeciso, decidiu levantar-se e foi para o banheiro atender suas necessidades fisiológicas, fez sua a barba como de costume e em seguida tomou uma ducha. Observou suas feições refletida no espelho, ele nunca foi um homem indeciso, não tinha porque não ligar, afinal ela abriu o precedente para isso. E antes de se vestir, pegou o celular e no registro de chamadas e rediscou o número dela. — Bom dia. Ele falou ao ouvir a voz dela do outro lado da linha. — Demétrius? — Como você passou a noite? Perguntou.
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— Depois que você desligou, bem melhor. Obrigada pelo apoio. Eu sei que não deveria ter ligado. Não sei o que me deu. — Fiquei feliz. E o Kaleb? — Ele voltou para Cambridge esta manhã. — Ele precisa de um tempo. – Demétrius falou suavemente. — Digerir toda esta situação e ainda o luto, não deve estar sendo fácil. — Espero que você tenha razão. - Ela respondeu desanimada. — Também espero. Olha, se precisar me liga. Eu só te liguei, porque realmente fiquei preocupado com você. Até mais. Demétrius falou. — Obrigada pela consideração. Você também se precisar me liga. Tchau!!! — Tchau! Minha querida. Desligou o aparelho e foi se vestir. Enquanto vestia, organizava seus pensamentos para as resoluções importantes que deveria ter naquele dia. Como um ritual diário, pegou seus documentos, as chaves do carro, os óculos e o celular, então saiu do quarto. Como no dia anterior seguiu para o refeitório, ao entrar na grande sala uma moça o observava insistentemente. Ele estava de óculos escuro e pode ver. Ela não tirava os olhos de cima dele, a insistência da moça o deixou constrangido. Então a cumprimentou com leve inclinar de cabeça, ela sorriu e veio em sua direção. — Demétrius Ballinderry! Não está lembrado de mim? Ele a olhou confuso, e realmente sem saber quem era aquela figurinha estampada em sua frente como dois de paus. — Pois não! Eu ... estou meio confuso, nos conhecemos de onde? — Do ensino médio! Ora bolas! Sou eu! Renée. Não está me conhecendo? Estudamos na mesma escola. Não se lembra? — Ah! Renée. Me perdoe. Faz tanto tempo que não nos vemos que confesso, não te reconheci de imediato.
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— Eu compreendo. Minha fisionomia modificou bastante. Ao contrário de você que apenas ficou mais bonito. Você está morando aqui em Portland? — Não. Apenas visitando. — É maravilhosa não é mesmo. — Sim. Demétrius respondeu educadamente. —Estou indo tomar um café? Aceita fazer-me companhia? - Perguntou, porém no íntimo pedia a Deus para ela não aceitar. — Não irei te atrapalhar? Ela perguntou. Ele quase desistindo da ideia disse: — Não. Será um prazer. Venha. A recepcionista os levou para a mesa juntamente com sua convidada. Fizeram os pedidos. Demétrius pediu apenas um café preto e amargo. Sua conhecida não parava de falar, ele por sua vez apenas concordava. Então veio a conversa que ele queria interminavelmente evitar, mas conhecendo Renée, ela não dispensaria saber a resposta. — Demétrius, vi pelos noticiários sobre sua noiva, que coisa horrível, tudo aquilo que estão dizendo é verdade? Ela foi assassinada ou foi apenas um acidente? Ela realmente estava grávida? Fiquei chocada. Demétrius raspou a garganta, pela inconveniência, mas decidiu responder: — Parte do que estão dizendo é verdade, mas você sabe, a mídia é muito tendenciosa. O que posso lhe dizer que o laudo da perícia ainda não saiu. Portanto, é muito cedo para dizer a natureza real do acidente de Aleska. — Ela estava mesmo grávida? — Sim. Estava. Ele fez uma pausa e observou a cara de espanto da moça. Ela levou um gole do café até os lábios, e ele continuou: — Foi tudo muito rápido. Estou abstraindo todo esse acontecimento infeliz. — Como você está superando?
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— Um dia de cada vez Renée. Respondeu lacônico. — Que coisa mais triste, a Charlie também perdeu o marido em um acidente há alguns meses, você sabia? — Fiquei sabendo. — E eu que achava que vocês dois fossem se casar, ter filhos e envelhecer juntos. Não acredito que aquele amor lindo de vocês era apenas de adolescentes. Ainda acredito que vocês dois nasceram um para o outro e que merecem ficar juntos. Tenho a impressão que todos nós queríamos que vocês ficassem juntos. — A vida é cheia de surpresas. Charlie e eu tivemos um bom momento em nossas vidas. Mas passou. Talvez tenhamos outros momentos bons. Porém, serão novos. Charlie e eu temos muita coisa para acertar. —Você tem razão. Renée respondeu observando o rosto triste de Demétrius. — Demétrius obrigada pelo café, tenho um compromisso com uns representantes de uma empresa, e já estou atrasada essa vida de CEO é osso. — Foi bom te encontrar Renée. — Também gostei de lhe rever. Pense no que eu te disse sobre você e Charlie. Se deem uma chance. Demétrius ficou olhando para a janela pensativo, Renée tinha razão ao dizer que ele e Charlie precisavam se dar uma chance. Nas atuais circunstâncias não tinha certeza de mais nada em sua vida, imediatamente colocou o guardanapo em cima da mesa e levantou-se e saiu para ir se encontrar com o pai e o amigo. Era a hora de começar a colocar os pingos nos “is”. Enquanto esperava pelo carro, ligou para seu assistente em San Francisco. —Bom dia McRay, como anda as coisas por aí? —Bem difíceis sem o senhor. Mas estamos cumprindo a agenda conforme a sua orientação. —Imaginei mesmo que vocês teriam um pouco de dificuldade, mas e o meu substituto, está gostando dele?
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—Sim. Muito tranquilo, competente. Só achei estranho uma coisa, ele andou revirando seus livros, tive a impressão que estava procurando algo específico, perguntou-me se você tem o hábito de levar processos para casa. —Deve estar seguindo ordens, isso é natural. Não precisa se preocupar. Na verdade, eles querem ter certeza que eu não tenho cópia do maldito dossiê, vão ficar revirando até se cansarem ou encontrarem alguma coisa. —Esse maldito dossiê já deve ter virado cinzas há muito tempo. McRay respondeu. —Não acredito nisso. Penso que se alguém pegou este dossiê, deve ter guardado para utilizar no tempo certo. E sobre as investigações do acidente, já saiu o resultado do laudo? —O Antony ficou de trazer os resultados esta tarde. O senhor volta quando? —Ainda não decidi. Fui convidado no início do mês para realizar uma palestra a um grupo de futuros formandos na faculdade de direito em Cambridge. Vou aproveitar esta folga, para fazer algo diferente. — Já assisti a uma palestra sua. Gosto muito de sua atuação. —Obrigado. Você foi a minha casa? —Passei ontem por lá, já está tudo arrumado novamente. Sua secretária é muito eficiente. Ela me disse que deu falta de alguns livros e cds. Mas acho que você já esperava por isso. —Sim. Mas não estou preocupado, só o que me importa agora é saber o que matou Aleska e colocar todos na cadeia. Estou pouco me lixando com esta investigação, sobre esse dossiê. Quero resultados. Doa a quem doer. —Este é o Ballinderry que conheço, destemido e justo. —É... McRay, em breve estarei de volta. Até breve. —Até breve, mais tarde ligo para o senhor. —Ok. Demétrius desligou o telefone e o carro já estava estacionado na sua frente, pegou a chave do manobrista e saiu
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tranquilamente pela propriedade, logo na rua ele ligou o som do carro, e foi fazendo seu caminho até a mansão. Minutos mais tarde estava estacionando seu carro no enorme pátio da mansão, por incrível que pareça o sol brilhava naquela manhã, ele se sentiu aquecido, era a primeira vez em semanas que via o brilho intenso do sol, viu aquilo como um bom sinal, desceu do carro, colocou os óculos escuro e veio caminhando a passos largos, estava ansioso pelo encontro com o tal de Walter Lee, contornando o jardim encontrou com Nora Winslow, o encontro não havia sido mero acaso, ela o viu quando estava estacionando o carro, e foi ao encontro dele no jardim. —Senhorita Winslow? Bom dia! —Bom dia senhor Ballinderry, como o senhor vai? Não nos encontramos ontem, fiquei sabendo que ficou até no final da tarde, fico feliz em saber que o senhor esteja se acertando com seu pai. — Estamos caminhando sem-maiores problemas. — Tenho ingressos para um show esta noite. Quer mudar um pouco a rotina? — Um Show? — Sim. Dom Williams. — Tudo bem, mas quero deixar claro para você, não é um encontro. Eu não sei o que você quer Nora Winslow, mas antes que você se machuque quero que você saiba, que não tenho nenhuma intensão com você, nem com outra pessoa. —Calma! O senhor é muita areia para meu caminhão. Ela falou sorrindo, depois voltou a falar em meio ao sorriso. —É só um show, depois poderemos jantar, então eu vou para minha casa e você para seu hotel frio. —Sendo assim eu topo. Nora olhou para o homem que estava a sua frente e pensou no quanto poderia aproveitar daquela boca sem ser tão prudente como vinha sendo. Mas resolveu se comportar e fazer o jogo dele.
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— Ótimo, venha vou subir com você, seu pai hoje está com visita, diz que é para um jogo de cartas, eu nem acreditei, depois da noite horrorosa que ele passou. — Por quê? Demétrius perguntou mais curioso do que preocupado. — O problema respiratório dele intensificou na noite, eu já te falei que o quadro de enfisema pulmonar dele é grave e irreversível, é só uma questão de tempo para ele deixar de respirar de vez. — Ontem ele tossiu muito, a respiração dele estava bem mais ofegante. Demétrius comentou. — Ele tem estado assim direto, espero que tenha juízo e fique no oxigênio hoje, enquanto joga o tal jogo de cartas. Se você puder ajudar ficaria imensamente feliz com a sua cooperação. — Vou fazer o que posso nesse sentido, mas você conhece o homem, sabe muito bem que ele é uma pessoa extremamente difícil e muito teimoso. Já estavam no corredor quando eles passaram pela senhora Evan. Ela torceu o nariz ao ver Nora caminhando ao lado de Demétrius. Em seguida eles entraram no quarto, alguns minutos depois Nora saiu e os deixou sozinhos. —Nora, Nora o que você está caçando. Você vai acabar se machucando. Este homem não é qualquer um. Só de olhar dá para perceber que ele não está nem um pouco interessado em você e você está arrastando a maior asa para ele. A senhora Evan falou com preocupação. —Está visível assim? Falou sorrindo. Depois continuou: — Sossega, ele não quer nada comigo. Ainda está curtindo o luto. —Sossega? Estou nem aí para você. Só estou falando, porque não quero ver ninguém chorando pelos corredores. Só por isso. —Pode ficar tranquila, eu só quero dar uns amassos nele. Mas ele não quer nada comigo.
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—Socorro! Meu Deus! - Exclamou olhando para cima incrédula. — Essa mulher perdeu o juízo. No quarto o velho Malcon apresentou o jovem Walter Lee para Demétrius, logo de cara um sentimento de empatia surgiu entre os dois homens, conversaram abertamente sobre o problema que Demétrius vinha enfrentando. Foram horas de conversa, o velho Malcon ouvia atentamente o relato dos fatos apurados pelo filho, um sentimento de revolta tomava conta de seu peito, mas ele ficou em silêncio, a noite não havia sido fácil para ele, era preciso guardar fôlego para ver o final daquele episódio na vida do filho. Muito tempo depois, Demétrius tirou um pequeno cartão de memória de dentro de um pequeno relicário. Malcon reconheceu a pequena peça em ouro dada a ele pela mãe ainda pequeno. Não sabia que ele ainda possuía aquela pequena joia. —Você ainda tem o relicário que foi de sua mãe? —Sim. Eu o trago comigo sempre que posso. E este era um lugar perfeito para guardar este cartão. —Com certeza, você fez muito bem. Agora é comigo Demétrius. Daqui para lá, será eu a tomar as providências cabíveis sobre este caso. Embora esteja fora de meu reduto político, tenho contatos importantes na Califórnia. Walter Lee falou sem rodeios. —Para não levantar nenhuma suspeita quero que você continue sua vida normalmente. Você volta ao trabalho quando? —Dentro de uns dias. Demétrius respondeu. —O velho Malcon. - Olhando para o homem com a máscara de oxigênio deitado na cama. —Me disse que você desistiu de sua candidatura à procuradoria do estado da Califórnia? —Não desisti. Mas era inviável diante das circunstâncias que surgiram. —Eu compreendo. Mas e se você se candidatasse ao posto de juiz, na cidade de Missoula, o que você acha disso?
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— Seria interessante. Isso ainda é para este ano? — Sim. Você tem um currículo invejável, tem uma reputação muito forte no meio jurídico. Não seria difícil enfrentar as eleições por lá, você só não pode dizer que é um democrata declarado, (risos a parte). Demétrius nunca havia imaginado uma possibilidade dessas, estaria a 270 km de distância de Great Falls. Ele poderia dividir seu tempo entre uma cidade e outra, e assim talvez poderia recuperar ou melhor dizendo, poderia novamente pensar em construir uma vida com Charlie Robson. — Tenho prazo para responder a essa proposta? — Sim. Você tem até abril para me dar o retorno, julho terá a primeira convenção, onde os candidatos precisam se apresentar diante do colegiado e colocar suas propostas para ser analisada. O resto você já sabe como funciona. — Estamos com muito pouco tempo. Ainda preciso finalizar uma série de coisas em San Francisco. — Então vamos fazer assim. Você resolve o que precisa ser resolvido e logo em seguida você me diz o que quer. E eu vou lhe ajudar. — Ficamos combinados assim. Os dois homens apertaram as mãos para fechar o acordo. Walter Lee, se despediu de Demétrius e Malcon, e saiu, para a surpresa de Demétrius havia um helicóptero aguardando pelo jovem rapaz. Walter Lee passou pelo corredor ao telefone, mesmo assim não deixou de flertar com Nora, dando-lhe um sinal que queria lhe falar. A jovem moça olhou para o rapaz, não com muito interesse, mas mesmo assim o seguiu. Enquanto ele falava ao telefone, ela observou as feições dele, era de estatura mediana, ela calculou um metro e setenta e cinco, ou talvez um pouco menos, tinhas os cabelos negros, os olhos dele também eram escuros, sua tez era clara, no rosto o nariz e os lábios formavam um conjunto perfeito com o queixo quadrado. Eram finos e bem clássicos, dava a ele um
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ar de superioridade mesmo que se tivesse vestido em trapos. Embora simpático e bem-apessoado, nem de longe lembrava o porte físico de Demétrius, se fosse para comparar os dois, ele seria um Jason Bateman do filme “Quero matar meu chefe” e Demétrius seria Ryan McPartlin do filme “Amor certo, hora errada”. Uma comparação bem específica para fazer em relação aos dois homens. Nora foi até ele e pegou seu cartão de visita, deu um sorriso, apenas por educação. Então ele lhe disse. — Senhorita Winslow, por favor! Este é meu cartão pessoal de visita, o número de meu celular está nele, gostaria muito de poder tomar um café com a senhorita. — Agradeço o convite senhor Lee, mas acredito que temos uma distância bem grande um do outro. Ele respondeu evasiva. — Sim. Mas basta um telefonema e eu virei tomar este café, e talvez possamos nos conhecer e quem sabe até marcarmos um jantar. O que acha? — Acho o senhor muito confiante. Vou guardar seu cartão. Quem sabe eu possa precisar quando for a Washington. — Tudo bem, vou ficar aguardando. Logo em seguida ele saiu em direção ao pequeno heliporto que havia próximo a Mansão. No quarto Demétrius observava o pai em silêncio, viu que a aparência dele estava bem mais debilitada que o dia anterior. Ele mal falou enquanto conversava com Walter Lee. Estava com a máscara de oxigênio, e se manteve deitado quase o tempo todo. — Você mal falou. Está tudo bem? - Malcon olhou para o filho, e resolveu tirar a máscara para poder falar-lhe melhor, Demétrius o impediu de fazer esforço: —Apenas me ouça, quero que fale o mínimo possível, sei que sua noite não foi muito boa. Malcon concordou com um balançar de cabeça. Demétrius continuou a falar: — Espero que nem o senhor e nem ninguém que esteja ligado a mim fique na linha de tiro dessa investigação, por que isso ao meu ver é um bando de mafiosos. Contrariando os pedidos do filho Malcon lhe respondeu:
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— Não se preocupe, Walter sabe muito bem com agir, tenho certeza que amanhã pela manhã, as pessoas envolvidas nessa sujeira irão ter que prestar esclarecimentos aos federais. Nenhuma suspeita recairá sobre você, por isso permaneça aqui, enquanto o circo começa a pegar fogo em San Francisco. A Golden Gate será a imagem mais vista nos noticiários a partir de amanhã. Coaf!... Coaf!... Coaf! ... — Eu disse para você não se esforçar. Demétrius chamou a atenção do pai. — Não... eu preciso que você me ouça, talvez não tenha outra chance de lhe falar. Coaf! ...Coaf!... Me prometa que você vai aceitar a chance de concorrer a vaga de juiz no condado de Missoula. Demétrius ouviu aquilo e pensou que mesmo sem condições o pai ainda queria estar no controle. Em um breve instante pensou nas palavras de Nora Winslow sobre o tempo dele. Ele poderia se rebelar, porém não o fez, mas também não fez uma promessa na totalidade: —Pai eu não vou lhe prometer que vou aceitar concorrer ao cargo de juiz em Missoula, mas posso lhe prometer que vou voltar para Montana, vou continuar minha carreira jurídica em nosso estado, isso eu posso lhe prometer. — Eu... – A voz mais baixa de Malcon estava deixando Demétrius confuso. — Eu sempre soube que você iria voltar. Escute .... Fiz uma bobagem enorme afastando você da neta de Mitchel Robson e também de sua mãe. Preciso do seu perdão. —Não tenho que lhe perdoar, esta é uma situação entre nós que deverá ser discutida mais tarde. No momento você precisa descansar. —Eu preciso de seu perdão, por favor... Aquilo era dolorido demais, embora o pai tivesse errado, em todos os sentidos, não cabia a Demétrius condená-lo. Demétrius respirou profundamente, olhou para o pai segurando aquela máscara na mão, o canalículo verde conduzia o oxigênio até aos pulmões, o pai já estava pagando pelo mal que fizera a ele e a
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Charlie, o inferno dele já estava ali, morando em um asilo, sozinho, longe da família, longe de tudo aquilo que ele construiu ao longo dos anos. Aquilo era um castigo muito maior que a falta do perdão. —Você já está perdoado meu pai. Não precisa preocupar com isso. —Isso me deixa em paz. Agora posso dormir sossegado. Vá quero ficar sozinho, vá descansar, confia em Walter, ele será um grande amigo. E tenha cuidado com o que diz ao telefone. Ele pode estar grampeado. —Eu providenciei outra linha. —Então está bem. - Dito isso Malcon fechou os olhos e permaneceu quieto. Demétrius ainda ficou no quarto por um tempo, depois se levantou e viu a temperatura do pai. Estava normal, porém respirava com muita dificuldade. Aquilo preocupou Demétrius, antes de ir embora, resolveu conversar com a senhora Evan, e talvez se fosse preciso deveria levar o pai para o hospital. A senhora Evan veio até o quarto, aferiu a pressão e a temperatura corporal de Malcon, pela cara, Demétrius viu que ela não gostou dos resultados, então ela falou: —Senhor Ballinderry vou chamar nosso médico de plantão, penso que será preciso levar seu pai até a um hospital. Demétrius estava no corredor caminhando de um lado para o outro, por dez minutos, talvez um pouco mais, já estava ficando sem paciência quando o médico saiu do quarto e veio ao seu encontro. —Senhor Ballinderry, não há muito que fazer, mesmo levando seu pai a um hospital, não se pode fazer mais nada por ele. Ele está partindo, talvez ainda viva até ao final de semana, mas acredito que esta noite seja crucial. Pedi para ligarem um respirador artificial para melhorar as condições dele, mas isso é só para deixa-lo confortável. Sugiro que o senhor vá para casa, a noite será longa, mas não há necessidade que o senhor fique por aqui, pois ele não
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irá acordar, demos um remédio para baixar a pressão, isso fará com que ele durma. Demétrius ouviu aquelas palavras lentamente, então talvez estivesse perto do fim, mas ele não estava preparado para a morte do pai, ele ainda precisa conhecer o filho, ele precisava abençoar seu casamento com Charlie. Mas o que ele estava pensando, jamais Malcon faria tal coisa, jamais.... Sendo assim ele passou as mãos pelos cabelos e em seguida no rosto e disse ao médico: —Posso vê-lo novamente? —Esteja à vontade, mas não precisa permanecer. Demétrius entrou novamente no quarto, e viu que o pai já estava conectado ao respirador artificial. Aproximou -se da cama olhou o ser que estava inerte na cama. Olhou a volta e viu o ambiente que o circundava, ele viveu ali por quase dez anos, toda vida de Malcon esteva resumida em um quarto com uma estante de livros, uma televisão, sua coleção de isqueiros e sua coleção de chapéus, não havia mais nada. Essa era a vida de Malcon. Demétrius sentiu um misto de pena, talvez um pouco de remorso pelas brigas infinitas que tiveram por causa de política, e agora não havia sobrado nada, a não ser discos velhos, papéis sem fim. Uma vida inteira resumida em um quarto de 6mx6m e um banheiro ladrilhado de flores. Definitivamente Demétrius não queria ter o mesmo fim, aquela situação o fez ainda mais querer estar próximo do filho. Ele iria conquistar o coração do filho. Seria para o filho tudo aquilo que o pai não foi para ele. Não que ele estivesse reclamando, mas estava na hora de começar a corrigir os passos errados que dera. Essa era a certeza que tinha naquele momento. Demétrius saiu devagar, sabia que aquela noite seria crucial. A ida ao show com a senhorita Winslow fora para o espaço, ele não estava com cabeça para mais nada, enviou-lhe uma mensagem, e pediu a Deus para ela compreender a situação.
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Já fazia mais de uma hora que estava em seu quarto, havia ligado o computador, e colocara o celular para carregar, pediu um serviço de quarto, olhou no pequeno bar e viu algumas minigarrafas de Jack Daniel’s, Jean Bean, Old Tavern, Dalmore, ele balançou a cabeça negativamente para as garrafinhas, mas era o que ele ia fazer, iria tomar um bom gole de whisky puro, para poder relaxar e dormir um pouco. Ele precisava de beber naquela noite, desde que Aleska morrera não bebia, antes de se encharcar decidiu tomar um banho demorado, quando saiu do banheiro usava apenas um roupão felpudo que estava à disposição no banheiro. Enfiou-se no roupão e voltou para o quarto, sentou-se diante do computador e começou a navegar, enquanto bebia um gole grande de whisky, já estava começando a relaxar por causa da bebida, então houve uma batida na porta, deveria ser o serviço de quarto, mesmo não estando com fome pediu uma refeição. Mas para sua grande surpresa, quem estava na sua porta era a senhorita Winslow. Ele não acreditou no que viu, ela estava com lindo rabo de cavalo, um sobretudo negro cobria-lhe até as botas pretas, estava maquiada, um batom vermelho nos lábios, os olhos estavam bem marcados, muito sexy, estava pronta para a guerra. Ele ficou imaginando o que deveria ter debaixo daquele sobretudo negro. “Santo Deus! Essa garota está me vencendo! Vou ter que dar a essa mulher o que ela está querendo, não sou de ferro e nem um santo, ainda...” Pensou diabolicamente ao olhar para o meio sorriso estampado naquele rosto maquiado. —Recebi sua mensagem, porém, não sou mulher para aceitar um não como resposta, eu sei que você está fugindo de mim, mas não estou nem aí para seus argumentos promotor. Nora lhe disse sem rodeios. —Nora, você não sabe o que está dizendo. – Ele tentou argumentar. Depois continuou: — Eu não sou homem de compromissos, e tão pouco sou bonzinho, talvez você tenha criado uma expectativa errada sobre mim. Ela o olhou em silêncio,
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ainda parada na porta, os dois se desafiavam mutuamente com olhares sedutores, o garçom chegou com a refeição. Fazendo Demétrius baixar a guarda. — Senhor seu pedido. O garçom olhou para os dois parado naquela porta, Demétrius saiu da posição que estava dando passagem para o jovem rapaz e consequentemente para Nora. — Por favor! Coloque-o na mesa, Demétrius indicou o local, e entregou uma gorjeta ao funcionário que saiu sem olhar para trás assim que Demétrius fechou a porta ela falou sedutoramente: — Seu problema promotor, é que você fala demais. - Disse enquanto partia para cima de Demétrius, ele se chocou com o beijo que ela lhe deu, porém não se fez de rogado, correspondeu imediatamente ao desejo que emanava entre eles naquele momento, que alegria foi descobrir que aquele sobretudo negro tampava apenas um conjunto de lingerie extremamente sexy, ele gemeu ao ver o fio fininho entrando no meio das nádegas dela. Ele tinha o maior tesão por rendas, ainda mais uma tão pequena. Ele aspirou o cheiro agradável de rosas que estavam impregnados na pele de Nora, ela era muito mais baixa que ele, uma experiência nova, pois sempre se relacionava com mulheres praticamente tão alta quanto ele, porém o estilo mignon de Nora era muito bonito de se ver e experimentar, ele a pegou no colo como a uma criança e ela o abraçou pelas pernas, beijando-o intensamente, ele caminhou até a bancada do banheiro e a colocou sentada, então arrancou-lhe o sutiã sem-nenhuma delicadeza e abocanhou com uma certa gula os seios apetitosos de Nora. Misericórdia! Ele estava sentindo falta de sexo, descobriu ao ver seu membro duro feito pedra. Ela tiroulhe o roupão e o deixou totalmente nu. Ela soltou um gritinho ao ver o tamanho do membro dele. — Uau! Não imaginava que seria esta proporção toda. Falou quase que consigo mesma.
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— Prometo que não vou te machucar. Mas agora você está aqui boneca, pediu por isso, iremos até o fim. Ele falou rouco aos ouvidos dela. E ele foi até o fim mesmo, a fez gozar com as mãos em cima do balcão do banheiro, enquanto trocavam beijos e mordidas, sentindo que ela estava pronta para recebê-lo dentro dela, ele a levou para o quarto, colocando-a sentada na beirada da cama, com aquela enorme estaca se aproximou dela e disse sem rodeios: — Seja boazinha Nora, me mostre o que você sabe fazer. Ela entendeu muito bem o que ele quis dizer , sem escrúpulo nenhum ela colocou o membro dele na boca e começou a chupá-lo, ele massageava os cabelos dela, e empurrava mais fundo a cabeça dela em toda extensão do seu membro, ela teve um pouco de dificuldade, porém ele colocou até o fundo, uma sensação de ânsia aproximava de sua boca, mas ele tirava antes de acontecer, fez isso por um tempo, então de repente ele a colocou de quatro, com a visão do paraíso estampada em sua frente, ele agasalhou seu membro com uma proteção e em seguida enrolou sua mão naquele rabo de cavalo, verificou se ela ainda continuava molhada então colocou seu avantajado membro dentro de Nora, ela gritou, tentou se afastar um pouco, mas ele a reteve ao segurar seus cabelos, ou ela permitia a entrada do enorme membro na sua cavidade ou ele acabava por puxar seus cabelos, a penetração ocupou toda sua intimidade. Ele se assustou com o aperto que levou em seu membro, relaxou um pouco para ela se acostumar com toda aquela pressão, foi se ajeitando até perceber que poderia movimentar sem machucá-la e então adeus aos cuidados ele galopou sem dó. Quanto mais ela gemia mais ele entrava, e foi assim até que ele percebeu o interior dela se contraindo, ele sabia que ela estava preste a explodir de prazer a qualquer momento, então ele tirou o membro rijo de dentro dela, e abocanhou lhe a pequena cavidade com a boca, até ela gritar novamente , quase entregue, ele tirou a proteção de seu membro e novamente o
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entregou para ela chupá-lo sem avisar ele despejou toda sua semente no interior da boca de Nora, e ela recebeu aquilo com todo o prazer que podia ter. Passados aquele frenesi, ele voltou com sua postura distante, afastou-se dela, pegou a camisinha e a levou até o banheiro, então voltou com uma toalha e estendeu para Nora, ela pegou, e em seguida agradeceu. Ele estava na mesa colocando outra dose de whisky, ofereceu a ela. Ela pegou um gole e o devolveu, não parecia cansada. — Nora, preciso deixar claro que o que houve aqui foi puramente sexo. Eu jamais iria te procurar para isso, mas você veio até mim. Espero que você não tenha nenhum tipo de arrependimento sobre o que acabamos de fazer. — Claro que não. Sou bem crescidinha para saber o que estou fazendo. Simples assim. Não precisa ficar na defensiva. — Não. Eu quero apenas deixar claro, eu te achei uma mulher bastante interessante desde que te vi, porém não planejava chegar ao ponto que chegamos. Espero que o que acabamos de fazer não seja usado contra mim. Ela se levantou e caminhou até ele nua, apenas uma bota negra fazia parte do vestuário dela, ele se amaldiçoou ao olhar aquele tesão de mulher ali no seu quarto, enquanto talvez o pai estivesse morrendo, naquele momento nem por um segundo ele pensou em Charlie. “Droga! Demétrius, você é o cara mais cretino que existe na Terra” sua consciência o acusou. Ele tomou mais um gole de whisky, ela estava perto demais, então ela pegou uma camisinha que estava na mesinha, a descascou e com os lábios e agasalhou o membro semi relaxado de Demétrius. “Misericórdia! Que fogo é esse? ” E antes de querer recusar, ela já estava agasalhando toda sua extensão com sua pequena gruta. Ela sentou sobre ele e começou a contrair só a musculatura interna, ele gostou daquela sensação de aperto em seu membro, ela sussurrava palavras obscenas em seus ouvidos. Ele a apertou com os braços, enquanto a beijava e mordiscava seu colo, ela lhe oferecia os seios durinhos para serem sugados e como uma
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criança ávida sugou, sugou até ao ponto de se entregar totalmente aquela “louca insaciável” na noite. Deixaria para se arrepender mais tarde ou talvez no outro dia, quem poderia saber o que realmente iria acontecer... O celular tocava insistentemente na cabeceira da cama, Demétrius sonolento conseguiu encontrá-lo quase que por milagre, ainda dormindo atendeu com uma voz rouca: — Espero que seja urgente. — Senhor Ballinderry, aqui é a senhora Evan, acho melhor o senhor vir até a mansão, seu pai piorou. Ela falou secamente. — Senhora Evan. - Ele despertou ao ouvir a voz da enfermeira. — Chego aí em poucos minutos. Demétrius viu a cabeleira negra esparramada em sua cama, “Merda” ele praguejou para si mesmo. Ele já ia acordar Nora quando o telefone dela tocou. Em sobressalto ela despertou, e pegou o aparelho no bolso do sobretudo. — Pode falar. Já estou indo. Desligou o aparelho e olhou para Demétrius, ele estava de braços cruzados com as feições fechadas, mas ainda assim estava radiante. Ela se levantou e foi até a bolsa que havia trazido consigo pegou uma muda de roupa e foi até o banheiro tomou um banho rápido e se vestiu, em poucos minutos ela voltou vestida de calça jeans e uma camisa listrada. Ela viu que Demétrius ainda estava em silêncio avesso ao movimento do quarto. Ela pegou um pouco da bagunça que fizeram e jogou no lixo, então voltou e viu que ele ainda continuava estático. — Demétrius você precisa se vestir. — Ele está morrendo. — Sim. Agora preste atenção no que vou lhe dizer: você veio até aqui, ficou com ele, conversou, dividiu seus problemas, ele pode te ajudar. Você foi generoso. - Ela falou em sinal de conforto.
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— Você tem razão. Confesso que pensei que daria tempo para ele conhecer meu filho. Pensei muita coisa, menos que ele morreria assim tão rápido. Ele se levantou e foi até o banheiro vestiu uma camisa branca e uma calça de brim. Pegou uma jaqueta e olhou para Nora. Então disse a ela: —Nora, a noite foi muito gostosa, eu bebi mais do que devia, nem me lembro se usamos proteção? —Usamos sim, Demétrius. —Você é uma mulher surpreendente. Eu não sei o que dizer. Obrigado pela noite. —A reciproca é a mesma. Você está mais calmo. Acho que já podemos ir. Eu vou no meu carro, mas estou preocupada, você está bem mesmo? Afinal você bebeu além da conta, vai dar para dirigir? —Estou bem. Fique tranquila. Dito isto os dois saíram do quarto e foram para a mansão. Malcon Ballinderry morrera pela manhã, Demétrius ficou ao seu lado até o último suspiro, morreu chamando o nome de Helena. Que ironia, amou desesperadamente a mulher a ponto de perdê-la para sua obsessão, mas nem no último suspiro ele se libertou daquele sentimento de posse. Logo depois de morrer Nora veio até Demétrius e lhe entregou uma carta. Demétrius recebeu a carta e olhando para o corpo do pai inerte na cama ele abriu a carta. Meu filho, Se a pequena Nora está lhe entregando esta carta é por que, enfim tudo acabou. Talvez eu não tenha tido tempo de lhe dizer algumas coisas, somos bastante egoístas, você e eu, mas isso é natural do ser humano. Você conseguiu alcançar seu espaço sem a minha interferência, isso provou a mim o quanto você se parece com sua mãe Helena. Helena se estivesse viva teria muito orgulho de você. Espero que você possa amar uma mulher assim, como amei a sua mãe. Amei tanto que destruí totalmente a nossa convivência,
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não cometa o mesmo erro que eu. Eu sei que em breve você irá correr para os braços da menina dos Robson, quero lhe dizer que abençoo vocês. Diga-lhe que sinto muito pelo mal que causei a ela e ao filho de vocês. Meu neto. Mas sou um homem orgulhoso demais para ceder, este foi o meu erro. Agora vou lhe deixar algumas coisas para você resolver para mim. 1.Tem uma caixa de madeira na estante de livros, abra-a, nela existem alguns documentos, junto com a chave de um cofre, verá que o número da conta bancária estará anotado em uma caderneta preta, nela também consta vários números de telefone, inclusive de pessoas que poderão lhe ajudar muito, principalmente se você for dar andamento na sua vida profissional, quanto ao testamento, você poderá abri-lo sem a presença de nosso advogado, eu já deixei tudo registrado, você só deverá tomar posse daquilo que é seu. 2.Com o dinheiro que lhe deixei preciso que você providencie uma casa para a senhora Evan e um carro novo para a pequena Nora, duas almas que conseguiram cuidar do meu bem-estar, enquanto estava aqui absorto com os meus pecados. 3.Não quero um funeral, assim sendo enterre-me aqui mesmo na mansão, já deixei tudo acertado com os administradores. 4.Se você for um homem esperto vai pegar todo o dinheiro que lhe deixei e correr atrás da sua felicidade. Nós dois sabemos que sua felicidade está sob o grande céu de Montana. 5.Esqueça meus desejos. Vá viver seus sonhos, você ainda é jovem, acredito que deva ter sonhos, então vá vive-los, a vida é muita curta. E antes que eu finalize esta carta; preciso que você guarde consigo apenas aquilo que for importante para seu bem-estar, o que é descartável não deve ter importância em nossas vidas. Estes são os assuntos pendentes que deixo para você. Espero que você tenha tido a oportunidade de me ver antes de minha partida. Nos mais quero apenas que me perdoe por todo mal que lhe causei. Depois que Helena me deixou nunca mais fui feliz em minha vida, mas você foi sempre meu maior orgulho. Por isso quero que você vá atrás da sua felicidade. Nesta vida só o que realmente importa é ser feliz. Malcon Ballinderry.
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Demétrius estava com os olhos marejados pelas lágrimas. Nora estava ao seu lado, porém não disse uma palavra se quer. Ele foi na estante de livros e encontrou a caixa de madeira, abriu -a e verificou o que tinha nela, além de uma série de documentos, haviam fotos. Com um misto de confusão e surpresa, verificou que as fotos eram de seu filho com Charlie. Seu pai tinha vários momentos do menino registrado, ainda bebê, em parques, na escola, com amigos, em aniversários, com uma mocinha que deveria ser a namoradinha, Demétrius viu aquilo meio estarrecido, como o pai conseguiu tudo aquilo? Vários momentos especiais na escola, formaturas e bailes. Ele não sabia o que pensar. Encontrou um outro envelope que continha outras fotos, viu que era a foto da mãe dele com outros bebês, eram os irmãos que ele não conhecia, repassou as fotos e viu que havia foto recente dos dois irmãos. Ele olhou bem para Zarek e para Simon. Como seria encontrar com este dois. Respirou fundo fechou a caixa e virou-se para Nora: — Ele deixou tudo acertado a respeito do funeral? — Sim. — Vamos fazer conforme ele deseja. — Você quer descansar um pouco, temos um quarto para este fim, você deita um pouco, descansa, toma um chá ou um café, enquanto providenciamos os trâmites para você. — Sim. Eu quero. — Venha comigo. Demétrius a seguiu pelo corredor até a sala, ele caiu no sofá como uma abóbora, fechou os olhos e ficou quieto por um tempo; flashes passavam diante de seus olhos. Quantas coisas lhe foi tirado. Tudo porque o pai desejou, e agora ele o mandava largar tudo e correr para os braços de Charlie, pela primeira vez ficou sem saber o que fazer, pela primeira vez sentiu medo do futuro que o aguardava.
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Acabou adormecendo, quando acordou percebeu que havia um bule de café sob a mesa e uma xícara. Ele estava um pouco confuso, mas aos poucos foi colocando os pensamentos em ordem. Ainda deitado viu que havia um paletó preto em cima da cadeira, viu que havia um bilhete. “Demétrius, Tomei a liberdade de ir até ao seu quarto no hotel e lhe trouxe uma troca de roupas, tome um banho, coma alguma coisa e tome o analgésico, acredito que depois de todo aquele whisky e mais as emoções que vieram a seguir devem ter dado uma bela dor de cabeça em você. Ligue a tv, ou volte a descansar, estarei de volta na hora do sepultamento. O esquife de Malcon já está sendo velado na capela, ele será sepultado às dezesseis horas, conforme desejo dele. Obrigada pela noite maravilhosa. Sua amiga, Nora.” Demétrius respirou fundo olhou para a mesa novamente e viu a cartela de analgésico, não pensou duas vezes, levantou e tomou dois comprimidos. Em seguida foi tomar um banho, estava com a barba por fazer, mas não havia como faze-las, o jeito era deixar como estava. Colocou o terno escuro e se olhou no espelho, há muito tempo não via aquele par de olheiras no rosto, mas elas estavam ali, estampadas. Ele pegou seus óculos escuros e saiu rumo à capela. Mas antes, ligou para seu assistente em seu escritório para saber o resultado do laudo do acidente de Aleska. — McRay? Boa tarde. Olhou para o relógio e constatou que já eram meio-dia. — Senhor Ballinderry, tentei falar com o senhor mais cedo, mas o senhor não atendeu. Fiquei preocupado. Aconteceu alguma coisa?
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— Meu pai faleceu. Agora me dê o resultado do laudo. — Senhor! Aceite minhas condolências. — Obrigado McRay, mas vamos ao que interessa. - Demétrius estava sem paciência nenhuma, isso graças a noite de bebedeira e o sexo com Nora. — Bem... então vamos ao que interessa.... O senhor não vai acreditar. Foi acidente. — O que? Isso não é possível. — Estou com o relatório da perícia aqui, o carro caiu no precipício por erro do próprio condutor, ela estava a cento e quarenta em uma via que permite apenas sessenta km por hora, além das curvas. O senhor já está cheio de problemas, mas eu preciso lhe dizer que também saiu o resultado da autópsia dela. Ela não estava grávida. — O que você está me dizendo McRay? Aleska não estava grávida! — Não senhor. E o tal dossiê foi encontrado na casa dela pelos federais. — McRay nada do que você está me dizendo faz sentido. — Eu sei. Antony e eu estamos por entender o que ocorreu. Mas, agora podemos respirar mais sossegados. — A mídia já divulgou os resultados do laudo? Isso vai ser uma bomba em San Francisco. Assim que eu terminar aqui estarei voltando. — Iremos ficar muito felizes, embora prefira que o senhor fique mais um pouco por aí. — Eu não acredito em nada desse laudo. Não acredito. Eu preciso conhecer a verdade o quanto antes. Mais tarde ligo para você. Assim que Demétrius desligou o telefone, seu pensamento puxou pela conversa que tivera com o pai : “não se preocupe, Walter sabe muito bem como agir. Tenho certeza que amanhã pela manhã, as pessoas envolvidas nessa sujeira irão ter que prestar esclarecimentos aos federais.
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Nenhuma suspeita recairá sobre você, por isso permaneça aqui, enquanto o circo começa a pegar fogo em San Francisco. ” Demétrius seguiu pela alameda externa até a capela onde o esquife do pai estava, ele entrou na capela vazia e sentou-se diante do corpo sem-vida de Malcon. Uma música suave preenchia o silêncio. Não havia mais nada, tudo havia acabado.
Onze O tormento das recordações
Que loucura era aquela? Dois dias atrás havia conversado com
Demétrius e agora estava vendo-o pelos principais noticiários do país. Charlie ficou com muita pena dele. Estava sentada na frente da televisão ouvindo as declarações dele aos repórteres da “KVLY Tv”, ... “Boa noite caros telespectadores, que loucura essa reviravolta no caso da Advogada Aleska Carmine e seu acidente em San Francisco, sua falsa gravidez. A Golden Gate está um caos. O nosso representante local conseguiu contato com o promotor Ballinderry via telefone para nos dizer sua opinião a respeito sobre este lamentável engano. — Boa noite senhor Ballinderry? Primeiramente gostaríamos de externar ao senhor e a sua família nossos pêsames, ficamos sabendo de sua recente perda, seu pai Malcon Ballinderry faleceu esta semana. (Demétrius raspa a garganta antes de começar a falar) — Boa noite Susan, obrigado pelos sentimentos. Demétrius respondeu com uma voz grave. —O que o senhor pode nos dizer sobre esta reviravolta no caso do acidente de sua noiva, estamos todos chocados. — Recebi a notícia com a mesma surpresa que vocês. 237
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— Sobre o falso positivo da gravidez, como o senhor reagiu a este fato? — Aliviado. — E quanto ao fato do laudo apontar para acidente e não uma queima de arquivo como foi sugerido no princípio? —Queima de arquivo ou não. Nada justifica a perda irreparável de Aleska, antes de tudo era uma mulher excepcional, determinada e brilhante em sua — É o senhor tem toda razão. Senhor Ballinderry, o que pretende fazer daqui para a frente depois de se deparar com esta loucura toda. — Susan vou continuar a cuidar da minha vida profissional. —E como fica sua candidatura? —Este ano não será possível mais, este contratempo me fez avaliar outras opções na minha vida. Vamos ver para que lado o vento irá soprar daqui para frente. — Obrigada senhor Ballinderry por nos ter cedido um pouco de seu tempo para nos responder estas perguntas. —Por nada. —Como vimos o senhor Ballinderry está tão surpreso com nós. Vamos para uma pausa para a propaganda de nossos patrocinadores. Charlie ainda estava com o queixo caído. Sua mãe aproximou-se com uma caneca nas mãos e entregou a ela. —Então o Ballinderry velho faleceu? Audrey perguntou. —É o que parece. Charlie respondeu. —Velho asqueroso, morreu sem conhecer o neto. Audrey continuou. —A senhora nunca vai perdoá-lo? —Não. Ele foi o culpado de toda essa merda que houve na sua vida e na vida de Kaleb. —Eu penso diferente. Se existe alguém realmente culpado na minha história sou eu mesma. Se eu não tivesse confiado demais
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em mim mesma, talvez teria visto que Demétrius nunca esteve pronto para o amor, eu acreditei que poderia amar por nós dois. — Você era uma menina. - Não se culpe. Audrey a defendeu. Em seguida perguntou: — Kaleb deu notícias? — Não. Você acredita que ele deixou uma procuração com o advogado para representa-lo na leitura do testamento. — Ele puxou ao sangue dos Ballinderry, turrão igual ao avô. — Ele precisa de um tempo. Quando estiver pronto volta a falar comigo. Greg aproximou das duas mulheres na cozinha, observou que estavam falando algo importante, provavelmente deveria ser sobre Kaleb, entrou em silêncio, sempre muito discreto, só falava se fosse convidado para tal, caso contrário mantinha-se ausente de qualquer comentário. —Bom dia meu amor. Audrey falou indo em sua direção com um sorriso, o qual ele correspondeu. —Bom dia Minha. Bom dia Charlie. —Bom dia Greg, e aí? Notícias para nós? Estou muito ansiosa, você não está? —Ainda não sei de nada, mas Zarek virá mais tarde trazer uma de suas éguas para ser cobrida por um de nossos garanhões, quem sabe você converse com ele. —Ele também se interessa por cavalos? —Sim. Ele tem bons espécimes em seu rancho, também comercializa como eu. Mas não faz disso seu ganha pão. Ele gosta de ter bons cavalos, e as vezes os vende quando existe uma boa oferta. —Eu sei como é isto. Vou deixar vocês aqui e ver meus potrinhos órfãos. Charlie disse enquanto deixava sua caneca em cima de uma mesa e saia pela porta da cozinha, onde um cachorro estava deitado, ao vê-la saiu a segui-la. Ela olhou para ele e lembrou-se do seu antigo cão que vivia atrás dela, como este labrador negro.
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—Ah! Veludo, você vem me fazer companhia? Lindo, vamos.... O cão a ouvia e a seguia abanando a cauda. Charlie passou pelo estábulo e viu alguns cavalos nas baias, mas não parou, caminhou para verificar os potros órfãos, eles já iriam começar a ser misturados com outros potros para a ambientação com a manada, no berçário haviam três potrinhos, mas apenas um estava dando preocupação, justamente aquele que Charlie estava cuidando. Ela chegou até ele e o afagou: —Ei menino! Como você está hoje? Estou aqui para cuidar de você. Vamos comer um pouquinho, meu querido? Charlie conversava com ele em voz baixa, Veludo, o cão labrador havia deitado próximo aos sacos de ração, Charlie preparava as mamadeiras, arrumando o leite fortificado para levar até o pequeno animal, o pequeno potro trazia um olhar muito apagado, ao levar a mamadeira até a boca dele ela entrou no cercado, e com o zelo de uma mãe foi acariciando a fronte do animal, com o intuito de animar o pequeno ser quadrúpede. Com muita paciência ele conseguiu vencer uma mamadeira, Charlie ficou feliz: —Isso mesmo menino! Vamos tentar mais uma daqui a pouquinho? Hum, não precisa me olhar assim vou te dar daqui a pouquinho, vou só limpar seu espaço, para você descansar mais um pouquinho. Então Charlie largou a mamadeira em cima de uma caixa e foi pegar a pá para recolher os estrumes que estavam no local, ela trouxe um balde para servir de recipiente para recolher os dejetos, enquanto fazia isso, observou que o animalzinho começou a deslocar pelo cercado, aquilo a deixou animada: —vamos lá meu querido, vamos levantar! Você consegue! Vamos! Venha atrás de sua mamadeira! Venha!!! Isso mesmo... Olha só Veludo! Alguém resolveu vir atrás de mais papa. Charlie largou a pá e pegou a outra mamadeira para estimular o pequeno potro a querer mais. Era bonito de se ver, a felicidade apagou o olhar e o semblante amarrado que ela trazia. E o potro tomou mais duas mamadeiras e caminhou pelo cercado, enquanto
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ela limpava e fazia assepsia dos utensílios usados, aproveitou e organizou o monte de feno que estava abandonado em uma cocheira, por um momento teve a impressão que alguém teve dormindo naquele lugar, sorriu lembrando das vezes que fazia amor com Edmund no interior das cocheiras. Não foram uma vez apenas, mas várias vezes durante o tempo em que foi casada com ele. Não dava nem para acreditar, mas já estava fazendo quase um ano que ele havia partido. Encostou-se no mourão de peroba do cercado e sua memória voltou ao último dia que dormiram juntos. — Nem acredito que já estamos em casa. Charlie conversava com Edmund, enquanto arrumava as fardas em um grande mochilão camuflado típico das forças armadas; ela precisava falar qualquer coisa que não fosse a viagem dele para o Afeganistão. Ele sabia que ela estava apreensiva e cheia de medos, mas não podia deixar transparecer que também estava angustiado, conferiu item por item e com tristeza percebeu que não faltava mais nada para levar. — Querida, preste atenção, é só mais uma missão. Vou voltar, e mesmo se acontecer o inevitável, onde eu estiver vou estar sempre com você. — Eu prefiro ter você aqui comigo. Ela respondeu com lágrimas nos olhos. Ele beijou-lhe os olhos molhados. — Minha “estrelinha de fogo”, não quero que fique triste, é só por alguns meses. Venha, vamos deitar, tenho que pular muito cedo, quero aproveitar as horas que faltam junto de você. Ele a pegou no colo e a levou para o quarto em penumbra. Lá fez as lágrimas dela e a dor dele transformar no mais sagrado encontro de corpos, sorrindo levantou a cabeça dela para alcançar-lhe os lábios, em seguida tirou, a beijou delicadamente, tirando peça por peça do vestuário que cobria seu corpo, afastou-se e a olhou inteira, registrando cada detalhe do corpo dela, então se despiu e foi ao encontro dela que o aguardava em pé próximo a cama, ele se posicionou atrás do corpo nu de Charlie, surrando palavras suaves, a tocava sem pressa, sua respiração estava tranquila, sua voz parecia uma
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melodia, o sotaque californiano a deixava totalmente maluquinha, ele a deixava totalmente envolta em um casulo: — Eu já lhe disse o quanto te acho sexy! - Levantando-lhe os cabelos ele alojou a boca na clavícula dela. — Adoro os contornos suaves de seu corpo... - o dedo escorregava pelos braços ... — Gosto de sentir sua reação ao meu toque... - ele alisava sensualmente as costas, aspirou o cheiro dos cabelos dela... — gosto do cheiro de seus cabelos... – mordiscou-lhe o pescoço, ela gemeu: — gosto de ver o quanto você se desmancha. Ele sentou na cama e a puxou junto consigo e a deitou em seu colo ... — Gosto do seu gosto em meus lábios, você é doce como mel... - então ele a virou e lhe deu um longo beijo, ela estremeceu, ele não tinha pressa —Veja o que você faz comigo, ele estava com o membro todo entumecido, mas não deixou ela o tocar. — Eu sei que você quer. Mas terá que esperar. - Ele acariciava as partes intimas dela, penetrando-a com os dedos, beijava-lhe todo o corpo, sugou-lhe os seios duros, se deliciou a cada centímetro dela. Aquilo estava se tornando uma agonia para os dois, então deitando-a na cama ele sobrepôs a ela, os olhos dela estavam fechados, ele sussurrou: —Olha para mim Charlie, me veja. - Ele pediu. Ela abriu os olhos e o viu. — Você está fazendo amor comigo, Charlie, sou eu quem está aqui com você, sempre estive com você. Ela fechou os olhos por um instante, mas depois os abriu e fitou profundamente aqueles olhos escuros e disse o que ele sempre quis ouvir: —Edmund possua-me. - Ela respondeu entre os gemidos... — possua-me, quero sentir você, quero seu amor para mim. então a penetrou, a penetrou fundo, e a suavidade tornou-se algo quente e selvagem, de repente todo aquele clima romântico se converteu em um fogo que reluziu totalmente a vida de Charlie. Edmund conseguiu levá-la aos céus. E momentos depois tudo ficou escuro, o sangue formigava nas extremidades de seus membros, as estocadas pareciam não ter fim, bem lá no fundo ouvia a respiração descompassada de Edmund, ele estava tão ofegante quanto ela, os sussurros já não eram mais compreensíveis aos ouvidos, a não ser pequenas palavras, “vida”, “gostosa”, ”amor”, a sensação era tão boa, que seria impossível descrever com palavras tudo aquilo que sentia, então veio um cansaço natural e letárgico. Aquilo era fazer amor ou ele só queria deixá-la marcada para o resto da vida. Ela nunca saberá. Pois ele se foi...
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O latido estridente de Veludo tirou Charlie do pequeno transe, olhou assustada para o cão. —O que foi veludo? Nunca viu o devaneio de uma mulher? Então, com alegria viu o porquê do barulho, o pequeno potro estava sugando a mamadeira seca, aquilo não poderia acontecer, pois ele estaria sugando ar, isso poderia ser prejudicial. Ela o conteve, e sorrindo tirou a mamadeira da boca. — Calma menino! Já vou lhe dar outra. Enquanto enchia a mamadeira ficou pensando em como foi bom fazer amor com Edmund, mas não sentia falta dele, aquilo a incomodava muito. Quando recebeu a visita dos oficiais para informar que ele havia morrido, ela ficou em choque, chorou, mas depois de alguns dias percebeu que não sentia falta dele. Aquilo a deixou muito mal consigo mesma. Como podia ser daquele jeito. Pensava nele, pensava em como faziam amor, porém o que mais doía era saber ele tinha consciência que ela amava outro homem. Droga! Ela amava outro homem. E quando fizeram amor pela última vez, ele a fez ver que sabia, que sempre soube, então quando ele pediu para ela abrir os olhos, era para ela ter certeza que quem estava ali era ele, e não o outro, era ele que estava fazendo o que o outro não fez. Essa constatação era um punhal no coração de Charlie. Agora teria que juntar novamente forças para recomeçar a vida realmente sem nenhum dos dois homens em sua vida. Por que Edmund não voltaria, mas e Demétrius? Demétrius jamais iria vir até ela. Ela não poderia alimentar nenhuma esperança em relação a esta possibilidade. Terminada sua atividade no centro de manejo, Charlie percebeu que ficara muito tempo com seus pensamentos e com seus afazeres, nem havia imaginado que já estava perto do almoço. Mas não estava com fome, ela terminou de lavar os vasilhames, os guardou para ser usado algumas horas depois, então foi olhar os cascos de alguns cavalos, como fazia quando era mais nova, olhou apenas de dois cavalos, aquela atividade nunca foi seu forte,
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organizou o feno, porém, o pensamento estava uma desordem total. Ora pensava no telefonema de Demétrius, ora pensava em ir até Cambridge e enfrentar Kaleb de frente, mas ideia a desanimou no mesmo instante que surgira. Tudo que ela e Kaleb precisavam no momento era um tempo para esfriar a cabeça. Ele deveria estar fazendo mal juízo dela, já faziam dois dias que havia partido sem se despedir, nem um telefonema. Até quando ficaria com raiva? Pronto!!! Agora começara a pensar em Zarek, o que estava acontecendo com ela? De repente, estava pensando em como ele é atraente demais, mas deveria correr dele, ele era um homem proibido para ela: “qualquer um!!! Menos Zarek, Senhora Charlie, menos o meio-irmão do pai de seu filho...” foi seu pensamento... até parece que um homem como aquele iria perder tempo em querer alguma coisa com uma viúva igual a ela, sem contar que ele sabia sobre Demétrius. Seria bem estranho. Mas na seca em que ela estava, talvez até teria uma noite com seu gerente interessante. Ela realmente estava ficando com um parafuso frouxo, só podia. Estava com uma escova preta nas mãos, pensou se escovava o cavalo naquele momento ou ia até em casa almoçar. Desistiu de escovar o cavalo, quando aparece bem na sua frente o objeto de seu possível pecado: Zarek. — Pensei que viesse somente à tarde. Ela falou meio aos tropeços, rubra de vergonha. — Mudanças de planos. Ele respondeu olhando-a por inteiro. Charlie endireitou o corpo e enfrentou o par de olhos escuros a sua frente; ele lembrava muito Demétrius, sua aparência e o jeito de sorrir eram quase idênticos. Indiscutivelmente mais baixo, bem mais musculoso, sem dúvida nenhuma um homem bem marcante, tinha que concordar com Madison as mulheres deveriam cair aos pés dele. — Como tem passado? — Bem. E você? Não apareceu mais. Ela falou casualmente.
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— Estou bem. Vou reunir uns amigos neste fim de semana, gostaria muito que você fosse? — Uma reunião? Você quer dizer um happy hour? Quem vai estar lá? Alguém que eu conheça? — Talvez, o Bradley e a Madison, o Greg com a Audrey entre outros alguns amigos de meu trabalho, o prefeito com a esposa e o xerife também devem aparecer. — Alguma comemoração? — Não. Apenas uma reunião, alguns negócios podem surgir com este tipo de evento. — Entendo. Vou fazer um esforço para ir. Obrigada pelo convite. Charlie respondeu a ele enquanto colocava a escova na prateleira próximo a cocheira do pequeno potro. — Então ficamos assim. Sorrindo saiu do estábulo deixando-a sozinha. Ele caminhou pensativo. Charlie era uma mulher muito bonita, mas trazia um olhar distante. Ele percebeu que a presença dele a incomodava, ela olhava para ele avaliando-o, como se buscasse encontrar alguma coisa interessante. Mas ele não estava disponível, como ela também não estava. Ele amava Renée, e aguardava o dia em que pudesse acabar com as diferenças existente entre eles. Acelerou seus passos até a caminhonete, mas Greg o interceptou antes que ele entrasse no veículo. — E então? Encontrou Charlie no estábulo? — Sim. Fiz o convite espero que você a convença em ir até a minha casa. A presença dela é fundamental. — Ela vai. Pode esperar. Ela perguntou sobre o financiamento? — Não. Ela vai se surpreender. Vou dar a notícia diante de todos. — Estou feliz que o comitê tenha aprovado rápido. — Como não iam aprovar. É um empreendimento que trará captação de recursos para o município. Isso é bom, para o turismo local e também para a criação indireta de empregos, todos nós iremos ganhar com este projeto.
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— Assim espero. Estamos animados. — Também estou muito animado. Charlie vai conseguir realizar seu intento. Bom, preciso ir. Qualquer coisa me ligue. — Pode deixar. Te ligo mais tarde para te dar notícias. O dia passou muito rápido, Charlie havia ficado o dia todo por conta das atividades no estábulo. A exaustão indicou que precisava ir para casa, tomar um banho e deitar. Não estava com fome. Queria apenas descansar, e voltar no outro dia para continuar a cuidar do pequeno potro. Antes de sair olhou o pequeno animal, verificou o feno e a temperatura do local estava tudo bem, ele iria passar a noite confortável. Charlie já havia transferindo-se para a casa de hospedes, Page havia organizado suas coisas no pequeno chalé, mas ela precisava dar seu toque pessoal, porém era uma coisa que ela não estava nem um pouco afim de fazer. Estava caminhando a passos lentos para casa, então seu telefone tocou, pelo visor identificou a chamada, era Kaleb. — Kaleb? — Oi. Ocupada? Perguntou Kaleb do outro lado da linha. — Não. — Quero-lhe pedir desculpas pelo meu comportamento imaturo. Fui precipitado, infantil. — Não se preocupe. Passamos por muitas coisas nestes últimos dias. Não tiro sua razão. Compreendo seu ponto de vista. — É, mas não justifica. Agora com a cabeça fresca percebi o quanto fui mesquinho com você. Charlie ouvia a voz do filho em silêncio, e imaginando o quanto deveria ser difícil para o filho admitir seus pensamentos. — Kaleb, você precisa de um tempo, na verdade tudo aconteceu muito rápido, cometi alguns erros com você que poderiam ter sido evitados. Eu jamais deveria ter omitido de você o nome de seu pai, como também jamais deveria ter deixado você com minha família. Houve uma de sucessões de erros.
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— Eu sei. Você teve seus motivos. E nestes anos todos você fez o que pôde para demonstrar seu amor por mim, mas Demétrius... — Demétrius não sabia da sua existência. — Mas agora ele já sabe. E ainda não apareceu para ao menos tentar se explicar. — Eu sinto muito, mas vocês dois foram vítimas dessa trama toda. Não existe um culpado. Nessa história o que prevaleceu entre nós foi apenas o orgulho ferido. E é por isso que espero que você o receba bem. Ele precisa do seu perdão. Ele errou, mas eu errei muito mais. Éramos muito jovens. Compreenda apenas que os acontecimentos do passado não podem de forma nenhuma modificar o nosso comportamento atual. E você é um homem, não é mais um menino. — Você tem razão. — Você virá para a leitura do testamento? — Não. Deixei uma procuração com o advogado, ele resolverá o que for preciso. No momento preciso me concentrar nos meus estudos. O curso está terminando. Quero estar bem para os exames finais. —Você vai conseguir vencer os obstáculos, é um cara esforçado. Tenho certeza que tudo dará certo. — Mãe. — Sim. — Eu não sei como dizer. Sempre fico constrangido quando preciso dizer algo mais importante, mas saiba, você é uma pessoa muito importante para mim. Amo você. As palavras de Kaleb encheu o coração dela de alegria. — Também te amo meu filho. Fique em paz. — Já estou em paz. Até breve. Ele finalizou a ligação. Charlie ficou olhando para o celular pensando nas palavras do filho. Ele já estava digerindo. Aquilo era um bom sinal. Demétrius já poderia fazer contato com o filho.
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O vento frio anunciava que a noite traria chuva, ela sentou-se nas escadas olhou para a escuridão que anunciava a tempestade. Aquilo estava muito feio, os animais estavam agitados, alguns peões já estavam em alerta. Ela ficou pensando se deveria ir também, então Greg passou pela porta. — Nem pensar. Pode ficar quietinha em casa. Nós iremos monitorar as coisas na cocheira. Amanhã a gente se vê. — Mas quero ajudar. Charlie respondeu para Greg. Ele a olhou em reprovação. — Chega por hoje. Se precisar de você lhe chamo. Então, a contragosto viu que não tinha muito o que fazer, terminou de retirar as botas e entrou no interior de sua nova residência. O ambiente estava confortável, ela olhou em direção a pequena cozinha e decidiu fazer um café, enquanto tomava um banho. Depois de programar a cafeteira, se dirigiu ao banheiro, ao passar pelo corredor ligou o aparelho de áudio e ao som de Little Big Town tirou suas roupas e as colocou no cesto. Nua ela se olhou no espelho, estava sem brilho, o olhar estava apagado, era uma imagem em preto e branco, pensou. Entrou no pequeno box quase no automático, abriu a torneira e deixou a água escorrer pelo corpo, ficou ali curtindo aquele momento ouvindo apenas a voz doce da vocalista Karen Fairchild preencher a casa. Estava ansiosa para a vida voltar ao normal. Desde que Edmund falecera, ela não descansou nem um segundo, o tempo todo se manteve ocupada, para não pensar, mas agora percebeu que esta fuga só atrasaria sua vida. Precisava retomar seus planos, e definitivamente precisava tirar Demétrius do seu coração. Mas ver o irmão dele só reforçava ainda mais aquele sentimento que jamais deixara de existir. Demétrius estava vivo em seu coração. Então ela chorou, chorou convulsivamente por tudo. Por todos os momentos ruins que passara, pelas perdas e principalmente por não ter certeza sobre o que fazer dali em diante.
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Doze Happy hour
Ela nem acreditou quando entrou na caminhonete e a ligou
para ir até a casa de Zarek. Greg havia insistido muito para que fosse, muito sem jeito decidiu ir. Custou para escolher uma roupa adequada, seu guarda-roupa era muito formal, acostumada a estar apenas em eventos jurídicos ou em eventos militares, ela estava realmente totalmente fora dos hábitos locais. Optou pela escolha de um jeans e uma camisa branca em tecido cambraia, em seguida jogou uma jaqueta, para complementar o simples look, calçou uma bota e pegou seu chapéu, quem não a conhecesse dos tribunais acreditaria sem sombra de dúvidas que ela sempre pertencera aquele lugar. Estava se sentindo estranha, mas o frio que estava começando a fazer não lhe fez mudar de ideia. Ligou a ignição da caminhonete e saiu em direção ao rancho de Zarek. Rodou um pouco mais de 15 minutos até chegar no alto de um morro, então avistou a propriedade de Zarek aninhada na planície plana coberta pelo capim dourado. De onde estava dava para ver todo o panorâmico da propriedade, desde o estábulo mais ao norte até a casa que provavelmente seria de hóspedes ao sul. A casa principal ficava próxima as margens de um lago artificial, cercado por árvores anãs de folhas coloridas. Charlie tirou o pé do acelerador, diminuiu a velocidade, depois de uma curva entrou na estrada que dava acesso ao rancho, ladeada por pinheiros, o cheiro agradável das folhas do pinus revigora o espírito, ela passou perto de um redondel de uns vinte e cinco metros de circunferência, em seguida visualizou o estacionamento próximo a um celeiro, o terreno estava coberto por uma fina camada de brita, contrastando com a grama verdinha que circundava o entorno da grande casa, haviam
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vários carros estacionado, intimamente pedia a Deus por não estar atrasada, Greg e sua mãe saíram bem na frente dela, deu um breve suspiro, desligou o carro e pegou o casaco, e deixou o chapéu sobre o assento, não precisaria dele naquele momento. A casa principal era uma construção em estilo colonial, com amadeirado branco e dava um toque romântico com suas imensas janelas verdes, à frente da casa havia um alpendre decorado com plantas ornamentais e cadeiras brancas, a vista do lago era impressionante, com certeza o final da tarde sentado naquele alpendre deveria ser único, pois a impressão que se tinha é que estava bem em frente ao pôr-do-sol. Ela visualizou o celeiro pintado em cor vermelha com beirais brancos, “por que será que todo celeiro eram pintados daquela cor?” Pensou, enquanto olhava as três baias em seu interior, novamente seu olhar voltou para a varanda da casa. Caminhou em direção a ela rapidamente, subiu dois lances de escadas e com surpresa viu uma namoradeira suspensa em um par de correntes grossas pintadas de branca, a varanda era extremamente aconchegante e muito charmosa, tudo era muito limpo e organizado, o zelo e o cuidado naquela propriedade eram sem dúvida nenhuma algo marcante, que estava totalmente relacionado com a personalidade de seu proprietário. Mal terminou de subir as escadas Madison e Bradley surgiram para recebê-la. —Seja bem-vinda Charlie! Que bom que veio. Estávamos preocupados com você. Já estava pensando em pedir para Bradley ir atrás de você. Madison falou com sua voz tranquila. Charlie olhou para ela com um sorriso e depois para Bradley, ele estava concordando com ela. —Realmente a Madison estava ansiosa, graças a Deus você apareceu, agora poderei ir conversar com os homens, enquanto vocês trocam as figurinhas. Bradley falou abraçando Charlie, porém Madison se adiantou:
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—Nada disso, prometi que faríamos sala para Charlie enquanto Zarek estivesse ocupado e é o que vamos fazer, venha Charlie. Madison usou aquele tom maternal que as mães usam quando querem que os filhos fazem do jeito delas. Charlie deixou os braços caírem sobre o corpo não acreditando no que acabara de ver e ouvir. —Bradley meu querido, a Madison sempre foi essa rabugenta mandona? Charlie arriscou a brincar com a amiga. —Bradley veja bem o que vai dizer, depois não reclama se for dormir no sofá. Ele falou em tom mais firme, em seguida começou a rir. —O que você acha Charlie? Perguntou Bradley. —Eu penso que você é um santo. Madison de Deus, você está igual aquelas professoras, autoritárias e sem razão. —Autoritária e sem razão? Você pegou pesado. Madison respondeu ameaçando uma falsa carranca. —Venha vamos entrar, vou lhe apresentar umas pessoas, é bom que você vai se familiarizando, isso vai ser legal. —Alguém de nossa época? Charlie perguntou. —Sim. Temos Shades, que é nosso xerife, temos a Nadine que é a esposa do B. Mathis, a esposa do prefeito e o prefeito são mais velhos que nós, então acredito que você não deve se lembrar deles. Bradley explicou enquanto caminhavam para a grande sala. Charlie ficou maravilhada com o estilo country dos móveis, tudo ali reforçava o bom gosto e a sofisticação de Zarek. —Porque Zarek não veio me receber? Charlie perguntou a Madison. — Ele está ocupado, mas já vem fazer parte do círculo. Madison olhou para Charlie com curiosidade e avaliando a amiga perguntou: —Você está interessada em Zarek? Charlie olhou para ela e respondeu: —Não é fácil olhar para Zarek e não pensar algumas bobagens.
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— Você está ciente que não é Zarek seu objeto de cobiça, você sabe muito bem que na verdade ele te traz à lembrança viva do Demétrius. — Já te disseram que seu pior defeito é franqueza. Você chega a ser chata por ser assim tão direta. Charlie brincou. — Você perdeu o costume? Já vi que vou ter que pegar leve até você se acostumar comigo novamente. Madison respondeu tranquilamente e pegando pelas mãos de Charlie a reteve: —Não quero ser desmancha prazer, mas desconfio que o coração do nosso anfitrião tenha dono. — Sério? Mas você mesmo disse que ele não tem ninguém e que as mulheres só faltam beijar o chão que ele passa. Charlie respondeu. — Eu sei o que disse. Mas você não estava interessada nele. Agora que eu estou vendo que há um interesse, preciso ser sincera com você. Madison explicou. — Quem é a felizarda? Charlie perguntou: — A Renée. — A Renée?! Não acredito. Ela não está morando em Portland? — Na verdade Zarek e Renée são iguais a cão e gato. Não sei quando irão se entender. Madison explicou. — Isso deve ser mal de família -resmungou Charlie, Madison pôs a rir. — Vamos sair fora deste vento. Ele está de matar. Bradley falou com as duas mulheres. As duas mulheres entraram na sala e todos voltaram a atenção para elas, com um sorriso Madison falou entre os dentes: — Amiga hora do show. Charlie lhe devolveu um sorriso meio constrangido. Charlie tinha uma grande dificuldade em ficar no meio de pessoas desconhecidas, ela sempre que podia evitava os convites, afim de não ter que lidar com as pessoas de um modo geral. — Este é Bill Mathias, advogado e também corretor, ele é
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representante da maioria das pessoas que moram aqui. Bill Mathias aproximou-se de Charlie com olhos ávidos, mais parecia um lobo seco por carne fresca. Então, quase que por instinto, ela o cumprimentou secamente. — Senhor Mathias. Ele cheio de cerimônia a cumprimentou. — Mais bela pessoalmente senhora S’inclair. Estou à sua disposição, eis o meu cartão. O homem lhe entregou um cartão de visita. Charlie pegou o cartão e o colocou no bolso da jaqueta e saiu de perto rapidamente. — Este é nosso xerife, você deve se lembrar dele Andrew Shades. — Sim. Claro que me lembro. Charlie respondeu. — Prazer em revelo Shades. — Charlote! Seja bem-vinda! Quanto tempo não nos vemos. Você continua linda, o tempo não passou para você, continua uma menina. O xerife lhe falou pegando em sua mão. — Shades, você não muda, continua o mesmo. – Andrew Shades era o único colega de classe que a chamava pelo nome correto. Madison continuou nas apresentações, ela conheceu a esposa do prefeito, o prefeito, depois encontrou Nadine, a esposa de Bill Mathias, era uma mulher bonita, porém sisuda, não sorria muito, o humor também não era dos melhores. Parecia ser uma pessoa amarga e totalmente sozinha. Com todas aquelas apresentações, Charlie se sentia um peru em noite de ação de graças, meio sorrisos, uma conversa aqui, outro comentário ali, era a vida de uma cidade pequena, todos sabiam da vida de todos, os assuntos iam desde a vida dos filhos na escola ao pai que estava na casa de repouso. Já estava pensando em beber alguma coisa, quando Bill Mathias se aproximou com uma bebida, ela aceitou de bom grado. Naquele momento seria bem-vindo uma bebida mais forte:
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— Obrigada senhor Mathias, o senhor adivinhou. Ela agradeceu. Porém ao fitá-lo viu que havia algo mais além daquela gentileza. Não gostou da expressão dele. — Como lhe disse senhora S’inclair estou aqui para servi-la, de qualquer maneira que desejar, basta que me ligue e terei o maior prazer em servi-la. Charlie teve a impressão que ele a despia por inteiro. Aquilo lhe deu nojo. Definitivamente aquele homem era um nojento. “Coitada da Nadine”, pensou com seus botões. Com a bebida nas mãos Charlie procurou ver onde estava sua mãe e sentou-se próxima a ela, e ficou ouvindo as conversas do cotidiano delas, ora respondia uma ou outra pergunta, ora questionava algum ponto interessante da conversa. Mesmo estando entretida com a conversa, ela estava muito curiosa, pela ausência de Zarek e os demais homens. Alguma coisa estava acontecendo. Não viu nem o Greg e agora o Bradley também havia desaparecido. Sua mãe percebeu o incômodo, então colocou a mão sob o joelho inquieto de Charlie. — Que ansiedade é esta? Perguntou Audrey. — Não é ansiedade. Onde os homens se meteram? Você não percebeu que todos sumiram? — Está tudo bem. Audrey respondeu com um sorriso. Charlie sabia que podia confiar, se houve alguma coisa errada ela seria a primeira a ter um ataque. Balançando a cabeça pela conclusão que chegara, viu Zarek se aproximando da imensa porta na sala. Sem dúvida nenhuma ele era alguém com um forte magnetismo, era impossível ficar imune. Ele atraia todos os olhares para si. E com uma segurança invejável ele sorriu para todos. — Senhoras, peço que me desculpem pela minha ausência, creio que a Madison fez as honras. Charlie espero que não tenha se cansado em esperar, mas foi por uma causa muito importante, gostaria que você se aproximasse para que eu possa dizer o motivo desta reunião. Zarek estendeu-lhe a mão, ele falara de um modo
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gentil e extremamente cortês, Charlie pegou nas mãos dele e se levantou indo ficar ao lado dele no centro da sala. — Charlie quero que você conheça algumas pessoas que fizeram parte do comitê para aprovação de sua carta de crédito e consequentemente a aprovação de seu projeto. — Hum!? Ela se espantou. — Isso mesmo! Essa reunião foi feita para comemorarmos o pré-lançamento de seu resort. A alegria foi geral, tamanha foi a surpresa de Charlie. Aquilo seria o início de uma grande transformação, não só para a cidade, mas principalmente para os Robsons. Depois de ter explanado a todos sobre suas intenções em relação ao resort Charlie afastou-se do burburinho, foi para a grande janela que havia na sala, dava para visualizar o lago, ela deixou-se descansar um pouco naquela tranquilidade, as águas estavam se preparando para congelar, mais alguns meses e tudo estaria tampado pela neve. Seria o primeiro natal sem Edmund e sem seu avô. Enquanto olhava distraída para o lago não percebeu a aproximação de Zarek. —Pensando em que senhora S’inclair? Ela virou-se para ele e pensou: “Droga! Porque ele não se parece com um ogro, totalmente estúpido. Porque ele tem que ser esta tentação? —Você tem uma propriedade muito bonita. Ela respondeu rapidamente, ele achou estranho, mas não falou nada. —Aos poucos vou estruturando-a. Ela sorriu, e gentilmente o agradeceu: —Obrigada pelo apoio. Sem o seu esforço não teria tido a aprovação do comitê. —Estou aqui para ajudar meus clientes. Mas saiba que seu projeto teve seu próprio mérito. Ele é muito bom e acendeu o interesse dos políticos locais. Vai ser bom para todos nós. Zarek concluiu. —Com certeza. Ela respondeu. Um silêncio caiu sobre os dois. O que era aquilo?
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— Zarek. Eu... — Não diga nada Charlie, posso lhe chamar assim? — Claro! Todos me chamam assim, ela respondeu sem jeito. — Seu constrangimento na minha presença é notório. Eu não sei por que, talvez eu lhe traga algum tipo de recordação, sei lá .... Eu sei que lhe incomodo. — Não! Não diga isso! Não é constrangimento. Charlie balbuciava. — Eu não sei ... Eu te vejo e um monte de bobagem passa em minha cabeça, ai meu Deus! Que eu estou dizendo... falou sem jeito... — Se não é constrangimento, então o que é? Ele desafiou. — Você é muito atraente.... Não sei o que dizer... talvez seja química. Curiosidade. O que eu poderia lhe dizer? Ela olhou para ele passando as mãos pelo cabelo em sinal de impaciência. Ele ficou encantado com o sorriso dela. — Venha. Vamos caminhar um pouco. Pegaram o casaco e foram para área externa da casa, seguiram rumo ao deck que havia próximo da casa, caminharam até um banco, e sentaram-se. Então depois de alguns segundos ele voltou a falar: —Entre nós dois existem dois fantasmas, mas confesso que quero passar um tempo com você, mesmo tendo consciência da existência deles em nossas vidas. Charlie ouviu o que ele estava dizendo, sabia muito bem que ele estava se referindo a Renée e a Demétrius, pois do mesmo jeito que a Madison deu um jeito dela ficar sabendo sobre a Renée, com certeza deve ter feito a mesma coisa em relação a Demétrius. — Você ama Renée? Charlie perguntou — Da mesma forma que você ama meu irmão. Mas precisamos saber o que está rolando entre nós. Quero muito preservar sua amizade, mas este... – Charlie o silenciou com um beijo, um beijo leve, ele correspondeu, então se afastaram sorrindo. — Não é química! Responderam sorrindo.
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— Me perdoe. Se eu não fizesse isso, você ia continuar a falando. — Você é ótima Charlie, eu não teria tido coragem, tudo bem! Até passou pela minha cabeça, mas sempre descartei. Zarek explicou. Depois daquele beijo, os dois quebraram alguma coisa que não souberam explicar, mas a conversa entre eles se tornou mais natural, tempos depois Bradley e Madison aproximaram-se, para alegria do casal Charlie e Zarek conversavam animadamente como amigos. Madison olhou para os dois com carinho, ela amava demais seus amigos e naquele momento tudo o que ela mais desejava era que Renée e Demétrius estivesse ali, cada qual com seu par verdadeiro. Para tudo ficar perfeito.
Treze Inevitável encontro
Demétrius mal acreditava que havia passado dois meses desde que se deram o início das investigações no judiciário de San Francisco e a morte de seu pai. A volta para San Francisco se deu dois dias depois de ter sepultado seu pai. Nora foi uma grande amiga, ajudou-o nos pormenores pós-enterro, isso foi muito importante, acelerou os tramites legais e também na organização dos bens pessoais que o pai havia deixado. Demétrius doou todos os bens, guardou consigo apenas alguns livros e fotos, estando em San Francisco, tratou de cumprir o pedido do pai, através de um representante legal, providenciou uma casa confortável para a senhora Evan e
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um bom dinheiro para a aposentadoria dela, além de trocar o carro de Nora, deixou ordem explicita para seu representante comprar uma casa também para Nora, o dinheiro que o pai deixou foi mais que suficiente para fazer as doações. Agora era um homem rico, muito rico, se quisesse poderia deixar seu cargo público e voltar para Montana. Mas não fez isso, tomou a decisão de permanecer no cargo até que todos os envolvidos naquela rede fossem presos e condenados. Usando da influência do pai, ele conseguiu mexer com os pauzinhos para acompanhar de perto toda investigação, além de participar como um dos promotores no caso, fez questão de acompanhar todos os depoimentos. O condado de San Francisco tinha pressa em resolver este caso, pois as eleições estavam se aproximando, e uma mancha daquela no judiciário não era bom para ninguém. Estava saindo do fórum junto de seu amigo Antony e seu assessor. — Vocês têm um tempo para um drink? Perguntou Demétrius. Os dois entre olharam e responderam quase em um único som. — Claro que temos!!! — Já estava com saudades do velho Demétrius. Antony falou sorrindo. Seguiram caminhando até o estacionamento, e depois combinaram de se encontrar em um pub situado a rua Mission, o Royal Cuckoo, a brincadeira entre eles era que quem chegasse por último pagava toda a conta. Mas sempre chegavam juntos, então a conta era rachada igualmente. —Bem, vou de um scotch puro. Demétrius falou, Antony e McRay optaram por uma cerveja, após o brinde começaram a conversar sobre o assunto do momento a investigação do judiciário de San Francisco. Depois de um certo tempo Antony perguntou a Demétrius: —Demétrius você vai voltar para Montana? —Vou.
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—Tem lugar para um assistente? McRay perguntou desajeitado. — McRay já estou providenciando um outro gabinete para você. Não vou te deixar na mão. Um assistente como você vale peso de ouro. — Obrigado senhor. Mas não vou encontrar outro chefe como o senhor. — Outro chefe eu não sei McRay, mas a Dra. Chase está precisando de um assistente que seja eficiente, eu indiquei seu nome para ser avaliado. — Dra. Chase? Ela é magnifica. McRay deixou escapar. — Sim. Chase é uma boa garota. Antony complementou meio constrangido. Demétrius percebeu algo no ar. — Antony não é possível, você e a Chase? Isso procede? Um sorriso preencheu o rosto de Demétrius. — É. Tivemos juntos por um tempo. Mas minha jornada de trabalho não conciliou com as dela, então não deu certo entre nós. Mas somos amigos. — Demétrius quando você encerra por aqui? — Estamos na reta final. Creio que mais alguns dias e coloco um ponto final. Neste final de semana vou a Cambridge, fui convidado a fazer uma palestra sobre o nosso sistema prisional. —Sistema prisional? Um tema bem polêmico. Desde 11 de setembro nossas prisões tem sido alvo constante dos direitos humanos. Antony falou. —É, mas ainda assim, estamos bem melhor que muitos países da américa. McRay defendeu. —O sistema prisional não é bom em lugar nenhum. O que ocorre são os preconceitos e a má vontade dos profissionais dentro destas instituições. Finalizou Demétrius.
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Dias depois ... Demétrius encerrou suas atividades em San Francisco com chave de ouro, a investigação havia chegado ao seu final com o saldo positivo para o sistema, ele ficou impressionado com as revelações que ocorreram, indiciaram pessoas importantes, mas o que mais interessava a Demétrius era realmente saber a verdade sobre a morte de Aleska. Em uma manhã fria de novembro, Walter Lee fez contato com ele. Encontraram-se em um café próximo ao centro financeiro — Bom dia Demétrius. Walter Lee se levantou para cumprimentá-lo. — Sente-se, nossa conversa será breve. — Bom dia Walter. Enquanto os dois homens se acomodavam, uma garçonete veio até a mesa para atendê-los. — Bom dia senhores. O que vão pedir? — Quero apenas um café preto e sem açúcar, por favor, disse Demétrius. — Prefiro um descafeinado. Pediu Walter a jovem. — Já estou lhes trazendo. Alguma coisa para comer? Perguntou a moça com um leve sorriso nos lábios, mas nenhum dos dois homens pareceu perceber. Estavam com as feições sérias, era notória a preocupação no olhar de Demétrius. Os dois homens recusaram, então a moça saiu para buscar o café. — Quero que veja estas fotos. Walter entregou-lhe um envelope. Demétrius abriu o envelope e viu várias fotos dele com Aleska, e de Aleska com outras pessoas, inclusive seu ex-chefe o juiz McCrow. — O que é isto? Demétrius perguntou — Estas fotos, e outros documentos foram encontrados na casa do juiz McCrow. Você estava sendo vigiado de perto. Infelizmente as investigações concluíram que ele deu ordem direta para Aleska pegar o dossiê na sua casa. E na manhã em que ela
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faleceu, esteve com ele, o que nos leva a crer que o acidente foi uma queima de arquivo. Demétrius não acreditava no que ouvia. — Meu Deus! Estou sem palavras. Walter continuou: — Quando os federais começaram a investigação, passaram a monitorar você e outros promotores do judiciário, para saber quem fazia parte do esquema montado a décadas pelo próprio juiz, em uma das escutas perceberam que você também corria risco, porém não poderiam lhe avisar, ficaram distantes, mas então detectaram seu relacionamento com a advogada, a dúvida surgiu, você cresceu profissionalmente no meio jurídico através da influência direta do juiz McCrow, muitas das suspeitas respingaram também em você. Surgiu o dossiê fornecido ao seu investigador, de propósito pelos federais. Suas reações diante das revelações foram decisivas, notaram que você não fazia parte do esquema e tão pouco tinha conhecimento de tal fato. Era a chegada a hora de revelar a você sobre tudo que foi descoberto. Mas aí Aleska sofreu o acidente fatal. O juiz deu ordens aos seus cumplices para ir à sua casa, diga – se de passagem, policiais que faziam parte da mesma rede, encontrar uma possível cópia do dossiê, não encontrando nada, ele suspendeu a ordem de eliminá-lo. Segundo ele, sempre gostou do seu jeito apaixonado de defender a justiça e o estado. Ele não viu necessidade por hora de eliminá-lo. — Eu estava com um pilantra bem debaixo do meu nariz e nunca percebi nada. Essa história é suja e revoltante. — Não é só isso. Se você lançasse a candidatura, o grupo estava arquitetando um plano de acabar com sua carreira. — Como assim? — Olha o outro envelope. Walter pediu: Demétrius não acreditou no que viu, a vida sexual dele com Aleska fora registrada em vários momentos e lugares. Mas a mais degradante aos olhos, foram as fotografias do clube noturno que frequentavam em Los Angeles. Vê-la vendada e amarrada naquela cama, o deixou desconfortável por um instante.
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— Existem cópias dessas imagens? Demétrius perguntou. — Não sabemos. Se estas imagens vierem a público acaba com tudo que você já construiu. — E o pior que nem sabemos se elas serão utilizadas contra mim. Respondeu olhando outras imagens ainda piores. — Eu sugiro que você coloque alguém de confiança para rastrear essas imagens. Você realmente decidiu afastar de seu cargo público? — Por enquanto sim. Demétrius respondeu evasivo, enquanto retornava as fotos para o envelope. — Se você for lançar sua candidatura pelo nosso estado, conte comigo. Walter falou sorrindo —Seu pai queria isso. E eu estou aqui para lhe ajudar. — Vou me lembrar disso. Mas agora tenho que tratar um jeito de rastrear essas fotos. — A sorte sua que você não é casado. — Mas tenho um filho que está pretendendo iniciar sua vida profissional na carreira pública, essas fotos podem vir a comprometer seu trabalho. Não sabemos qual foi o propósito disso. Demétrius respondeu preocupado. — Não sabia que tinha um filho. Sendo assim, é preciso realmente rastrear. Talvez não tenha mais nada. Mas seguro morreu de velho. — Por enquanto, essa quadrilhada foi desmantelada. Demétrius retrucou. — Assim espero. Mas nós dois sabemos. Que este tipo de célula sempre existirá. — Mas enquanto a justiça existir, temos que coibir e condenar veementemente qualquer tipo de corrupção. — Concordo com você. Agora, mudando totalmente de assunto, me responda uma pergunta: — Faça-a. Respondeu Demétrius curioso. —Você está envolvido com a senhorita Winslow?
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— Não. Claro que não. Demétrius respondeu pensando na noite que tiveram. — Ela é uma boa garota. Cuidou de meu pai sem interesse nenhum, apenas pelo prazer de realizar seu trabalho de forma correta. — Graças a Deus. Walter respondeu aliviado. — Você se interessou por ela? Perguntou Demétrius. — Sim. E como você deu o sinal verde, vou me empenhar um pouco mais para conquistá-la. — Boa sorte, meu amigo. Demétrius respondeu com sinceridade. Demétrius despediu de Walter com a promessa que voltariam a se encontrar. Mais tarde em seu gabinete, ele avaliou a documentação que estava em seu poder, repassou as fotos comprometedoras sem acreditar em como conseguiram ter acesso aquele material. Ligou para Antony e o aguardou em seu gabinete. Estava relendo o texto que prepara para a palestra quando uma batida leve em sua porta o tirou a concentração. Ele olhou para a direção da porta, fechou seu laptop, e deu autorização para entrar. — Antony. Vamos entre e feche a porta. Demétrius disse ao investigador. — Sente-se. O homem entrou com uma certa curiosidade. — O que houve? Fiquei curioso, vim o mais rápido que pude. O que está acontecendo? — Veja com seus próprios olhos. Demétrius lhe entregou o envelope de fotos. Antony repassou algumas, e as voltou para o envelope. — Como isso aconteceu? Por acaso o senhor está sendo chantageado? — Ainda não. Mas chamei você aqui para um último favor. Preciso rastrear estas fotos e recolher os negativos para destruir qualquer possibilidade de cópia. Você consegue? — Rastrear os negativos? De onde vieram estas? — Foi encontrado no escritório de McCrow.
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— McCrow? Mas por quê? — Ele também faz parte da rede que foi criada aqui em San Francisco. Supõe-se que ele é quem deu ordem para eliminar Aleska. — Eu sabia. O dossiê foi encontrado? — Sim, também estava no escritório dele. Não vou estar por aqui, vou estar em Great Falls nos próximos dias. Então tente recuperar estes negativos, acredito que a segurança de meu filho vai estar diretamente ligado a isso. —Concordo com você. Este é um material precisa ser destruído imediatamente. Fique tranquilo darei um jeito de lhe ajudar no que for preciso. —Conto com você. Antony se despediu de Demétrius desejando-lhe sorte e então saiu da sala e novamente Demétrius ficou sozinho. Ele contornou a mesa e ficou de frente para sua janela, ele gostava de descansar os olhos naquele nevoeiro que muitas vezes invadia a cidade. Aquele era o último dia como o representante do povo pelo estado da Califórnia. Não estava triste, estava aliviado, um peso fora retirado de seus ombros. Respirou fundo. Virou-se e olhou o entorno de sua sala, os seus pertences se resumia em algumas caixas de papelão. Era hora de encerrar seu expediente, já havia fechado todos os relatórios relacionados aos autos que era de sua responsabilidade e assinado vários alvarás e apelações, deu baixa em todos os processos que estavam sob sua mesa, não deixou nada pendente. O novo promotor não iria encontrar dificuldades em seguir com o trabalho realizado, seu assistente, McRay, era muito competente, seguiria com o seu sucessor, ou melhor, sucessora Dra. Chase. Já passava do meio-dia. Pela primeira vez em anos de trabalho seu expediente estava sendo encerrado na hora do almoço. Ele achou graça, sorriu e pegou seu paletó na cadeira para ir embora. Já havia se despedido de todos e feitos os agradecimentos. Rachel ficou encarregada de enviar seus pertences ao seu endereço. Abriu
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a porta e veio andando calmamente pelo corredor, e para sua surpresa todos os seus colegas estavam ali, deram uma salva de palmas a ele. E assim ele saiu do departamento de justiça sem olhar para trás. Cidade de Cambridge, faculdade de direito Harvard. Era o que estava escrito na enorme placa em frente ao departamento de direito. Se identificou a um assistente que já o aguardava, seguiu-o até a salão vermelho local onde ocorria diversos eventos importantes da faculdade. Demétrius encontrou-se com velhos professores e também conheceu os novos. Estava nervoso, ele sabia que entre os alunos tinha um muito especial, seu filho, aquela seria a noite em que ele iria conhecer o filho pessoalmente, no entanto não podia imaginar como isso aconteceria, ele não queria ser rechaçado, ainda mais na presença de terceiros. Não conseguia prever qual seria a reação de Kaleb, mas iria enfrentar o que viesse. Da antessala dava para se ouvir o burburinho dos alunos e demais presentes, um dos assistentes disse que o salão estava lotado, além de Demétrius havia mais dois palestrantes convidados, cada qual com um tema diferente. Estavam compondo a mesa para proferirem os demais temas propostos para aquele evento. Suas mãos estavam suadas, parecia sua primeira apresentação. Ouvia atentamente a leitura de seu currículo por parte do apresentador, então a deixa: —Convidamos para tomar o lugar a mesa o Dr. Demétrius Ballinderry, promotor de justiça pelo estado da Califórnia. E Demétrius entrou para sentar no seu lugar a mesa. Ele olhou o enorme salão, muita gente para se ver. Então relaxou, a tensão que sentiu antes de adentrar no recinto foi se dissipando, os temas abordados foram extensos e cansativos, mas ao final tudo correra muito bem. Melhor do que o esperado. A sua retórica foi bem
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aceita e elogiada entre os participantes, estava tomando um drink com um juiz conhecido, conversando sobre os últimos acontecimentos no meio jurídico, quando alguém se aproximou, observou o jovem que vinha em sua direção, sua cópia rejuvenescida. Seu filho, ele o olhava com um semblante carregado, estava tão tenso quanto ele. Kaleb parou a uma pequena distância, Demétrius pediu licença ao colega juiz e foi ao encontro de Kaleb. — Podemos conversar! Os dois falaram juntos. Demétrius respondeu primeiro. — Podemos, vamos sair daqui. Demétrius caminhou em direção ao jardim externo, Kaleb o seguiu. A ansiedade daquele encontro estava se convergindo em uma formação de tempestade. Demétrius havia se preparado muito para aquele momento, mas agora descobrira que não iria dizer quase nada do que queria. — Não quero prolongar nada. Kaleb começou. — Recebi a notificação do reconhecimento de paternidade. Eu só tenho uma pergunta. Kaleb olhou para ele, e viu sua própria face. —Porque agora? — Porque era o certo para se fazer. O tempo que demorou não vem ao acaso. Seria do mesmo jeito se fosse a vinte três anos atrás. Nunca cogitei a sua existência. E desde o dia em que soube, fiz o que era certo. — E o que você espera de mim. Reconhecimento? Felicidade? Gratidão? O que você espera? Kaleb falou mais ríspido que gostaria. — Não criei nenhum tipo de expectativa com o nosso encontro. Então posso lhe dizer, que não espero nada, fiz o que era certo, sua opinião neste momento é irrelevante. — Já imaginava que seria irrelevante. Afinal você está apenas corrigindo um erro do passado. Então não espere que eu vá correr para o abraço, porque de você quero o que sempre tive, distância. Cresci sem a sua presença, continuarei assim. Demétrius respirou
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profundamente. Pela primeira vez deparou consigo mesmo, porque o jovem à sua frente era osso duro de roer como ele. Pensou em como venceria aquela teimosia. — Kaleb não espero seu abraço. Desconhecia sua existência. Então não tem porque você ficar revoltado comigo. — Sabe por que você não sabia da minha existência? Porque você nunca amou Charlie verdadeiramente. Você nunca se preocupou com ela. Afinal! Foi apenas uma transa no baile de formatura. Quantas formaturas temos para comemorar? Eu também transei com minha namorada no meu baile de formatura, mas não a deixei como um embrulho na porta de casa e segui para a faculdade. Tive a decência de me despedir. Tive a decência de ligar para ela, enquanto estávamos nos adaptando com a separação. Eu pensei nela, mesmo sabendo que minha vida iria tomar outro rumo, afinal também tracei meus planos. Charlie merecia sua preocupação. E você a deixou para trás. Nunca mais a procurou. Que parte dessa história sórdida não consigo compreender? - Kaleb olhou para aquele homem à sua frente, a dor estava estampada nos olhos. Mas ele era controlado e frio. Ele se tornaria aquilo. Ele olhou para o pai com um misto de raiva e ao mesmo tempo felicidade. Ele estava diante de seu pai, tendo uma discussão tola, mas que precisa ter. Porque como ele havia prometido para a mãe não ia facilitar a vida de Demétrius. —Você tem toda razão. Somos seres passíveis de erro, cometi um grave, e neste momento tudo o que desejo não é recuperar o tempo perdido. Mas recomeçar uma nova página. Se vou ter o seu perdão, somente o tempo irá dizer. Quanto a sua mãe. Eu sei o que sinto por ela, e sei que ela não é indiferente a mim. Errei feio, mas vou me redimir dos meus pecados. Nem que seja a última coisa que faço. —Cara você é inacreditável. Depois de tudo, você ainda acredita que ficará com ela? Kaleb sussurrava mais para seus
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sapatos do que para Demétrius. De cabeça baixa, olhava para a grama úmida pelo sereno. — Não espero sua aprovação. Mas o que eu precisava fazer em relação a você, já estou fazendo. Então, agora vou atrás do que realmente me importa. Não vai ser fácil. Mas vou fazer o meu possível. Terminamos por aqui? Demétrius perguntou. Kaleb olhou para ele, e pensou no que havia conversado com a mãe. —Não temos mais nada para conversar. Foi sua resposta seca para Demétrius. Então ele se afastou. Demétrius permaneceu ainda sentindo a brisa fria. Logo a neve iria cobrir tudo. Ele voltou para o salão vermelho permaneceu mais um pouco e depois se despediu dos organizadores indo embora sem perceber que um jovem o observava de longe. Uma neblina cobria o campus em Cambridge, um vento frio passava pelos rostos. Kaleb estava se dirigindo a sala de aula, quando foi abordado por um dos secretários do campus. —Jovem Kaleb. Pediram-me para entregar-lhe este envelope. O secretário lhe entregou e saiu logo em seguida. Ele pegou o envelope e viu o nome de seu destinatário. Seu pai. Dentro do envelope havia documentos e uma chave. E um bilhete. Kaleb, Alguns destes documentos lhe dá o direito de ter acesso a uma conta bancária em seu nome. Talvez, você não precise de dinheiro, mas ele é seu. Esta chave é de minha residência em San Francisco, estou passando para você, sei que está com um emprego garantido na terra do arco-íris. Você irá conhecer Carmem, minha secretária de confiança. Espero que vocês se deem bem. Não precisa ser teimoso. Aceite. Não é fácil começar em um trabalho e ter que procurar um lugar para morar. A casa está disponível. Então usufrua. Demétrius.
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Enquanto Kaleb lia o bilhete, Demétrius seguia para o aeroporto para voar até a cidade de Great Falls em Montana. Não tinha mais como recuar, estava de voltando para casa. Tempos depois já no saguão de desembarque seu telefone tocou. Não reconheceu o número, nem imaginou quem seria. — Alô. — Senhor Ballinderry, sou eu Kaleb. Acabei de receber seu envelope. — Antes que você comece seu discurso de autodefesa. Quero que saiba, que não fiz porque é minha obrigação, fiz porque o considero, tenho apreço por você, mesmo que você ainda esteja confuso com toda essa situação. Me recuso a aceitar este envelope de volta. Kaleb ouviu do outro lado da linha, e respondeu. —Eu queria dizer que sinto muito por ontem, nestes últimos dias nem eu ando me reconhecendo, poderia pelo menos ter ouvido você. Peço desculpas. - Demétrius se viu naquele rapaz, a relação dele com o pai era inconstante, tinha muito ressentimento, e ali estava uma situação quase igual à sua. Então respondeu para o filho: —Façamos assim: você aceita de bom grado o que lhe deixei, e estaremos quites. —Tudo bem. Fiquemos acertado assim. Outra coisa: não a faça sofrer mais do que já sofreu. Kaleb falou em um tom sereno. Demétrius ouviu, era tudo o que ele mais desejava. —Kaleb, não tenho intensão de fazer sua mãe sofrer. Temos uma história que precisa ser finalizada, apenas torça para que dê certo, por que decidi que vou lutar pela mulher que Charlie se tornou. É essa mulher que quero para mim. Um silêncio ocupou aquele instante. Pai e filho estavam vivendo um conflito interno, particular pela mesma mulher...Kaleb cortou aquele instante: —Nos encontramos por aí. Kaleb finalizou. —Ótimo. Nos encontramos por aí. Demétrius desligou o telefone.
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Quatorze Os dois lados da mesma moeda
Demétrius já tinha esquecido de como o frio poderia ser dolorido naquelas bandas do país. Acostumado com a temperatura agradável na maior parte do ano na Califórnia, agora teria que se readaptar ao frio, ao vento cortante e a umidade constante, mas existia uma coisa que era indiscutível, quando céu estava azul, não existia lugar mais lindo que aquele. Dois dias que haviam se passado desde que chegou a Great Falls, mas ainda estava relutante em procurar por Charlie, não sabia o que ia encontrar, não sabia se alguém já estava ocupando seu lugar, não sabia nem se ela o queria, apenas supunha que a conquistaria novamente. Procurou pelo telefone de Bradley e ligou para ele, marcaram de se encontrar mais tarde. Em seguida fez contato com seu advogado e pediu uma reunião, queria saber sobre as propriedades que possuía, já era hora de tomar posse do que era seu por direito, estava começando a ficar entediado com suas estadias em hotéis, precisava viver novamente no conforto de uma casa. O telefone tocou: — Bom dia senhor Ballinderry. Ouviu a voz de taquara do recepcionista. — Bom dia. — O senhor Bill Mathias está aqui para vê-lo. — Já estou descendo. Demétrius respondeu secamente. — Sim senhor. Respondeu o recepcionista. Ao descer encontrou com um homem de meia altura, além de gordo era calvo e totalmente sisudo. Ele raspou a garganta e com um sorriso amarelado se apresentou. — Senhor Ballinderry, sou Bill Mathias, é um prazer tê-lo por aqui. O homem estendeu a mão para cumprimentar Demétrius. 270
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Demétrius o olhou desconfiado, aquele era o advogado do seu pai? Estava mais parecendo um protótipo de mafioso do que de advogado. Após os cumprimentos de praxe, Demétrius indicou a mesa para tomarem um café. Enquanto esperavam o café, Demétrius analisava o homem sua frente. Não gostava do que via. Definitivamente não foi com a cara daquele homem. Demétrius ouvia a voz arrastada do velho explicando sobre o imóvel e sobre o rancho, e da preocupação da família que havia se estruturado no rancho. — Bill? Posso lhe chamar de Bill? — Claro! — Eu quero vender as duas propriedades, diga para os locatários do rancho para dar um preço. Vou vender a eles. Ou então eles a deixam, para que eu possa tomar posse do que é meu. Quero a resposta até o fim da tarde. Arrume um corretor de confiança para avaliar a casa da River Bend. — Pensei que o senhor fosse querer tomar posse da casa, afinal seu pai a conservou até nos dias de hoje para o senhor mesmo. O advogado tentou interpelar. — Não tenho pretensão de viver em uma casa daquele tamanho. — Realmente é uma propriedade grande. Já que é seu desejo, não faltará pretendente, aquela casa é muito admirada pelas pessoas da cidade. — Faça o que for o melhor. E dê-me a resposta o quanto antes. O advogado Bill se despediu de Demétrius deixa-o sozinho na mesa do café. Ele chamou pela garçonete e pediu ovos mexidos e bacon também pediu um jornal. Precisava ler as notícias locais. Na verdade, ele não queria pensar, a vontade dele era correr atrás de Charlie, esse era seu desejo, mas ele estava se segurando. Voltar para casa não estava sendo muito fácil. Sentado ali naquela ampla sala, sozinho, ele avaliava o que era certo depois de tanta coisa errada que fez.
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O aroma do café o trouxe de volta, pegou o telefone diversas vezes, mas não teve coragem de ligar nenhuma vez. Estava lendo sobre a economia do estado quando o barulho da porta lhe chamou a atenção, para sua surpresa a pessoa que entrava para tomar café era seu meio-irmão. Os dois homens se olharam, mas nenhuma palavra foi dita. Demétrius terminou de tomar o café e saiu do recinto, passou pela mesa, e cumprimentou o irmão com apenas um balançar de cabeça. Do outro lado da cidade Charlie acompanhava alguns engenheiros na construção dos chalés, o canteiro de obras estava cheio, ela precisava que aquela construção não demorasse tanto, afinal precisava resguardar o sossego dos animais, estava trocando algumas ideias com o chefe de obras. Quando viu uma picape se aproximar da casa principal. Com desagrado viu que se tratava do advogado Bill. Ela estava a todo custo mantendo-o mais longe possível. As diversas tentativas de conquistá-la só trouxeram aborrecimento. Agora todas as vezes que o via, sempre mantinha alguém por perto. — Que bons ventos trazem o senhor por aqui senhor Bill? Charlie perguntou, tentando ser a mais educada possível. — Passei no seu vizinho. — Qual vizinho? Homem de Deus tenho uns quatro vizinhos. — O rancho Corvo Pequeno. — Bela propriedade. — Sim, foi colocada à venda hoje, juntamente com a casa da River Bend. Charlie ficou muda. Ela reuniu sua coragem para perguntar-lhe. — Foi o proprietário quem lhe comunicou? — Sim. O jovem Ballinderry está na cidade, ele colocou as duas propriedades à venda. Charlie não deixou terminar a frase. — O senhor está me dizendo que o Demétrius Ballinderry está na cidade?
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— Sim. Ele está hospedado na Quinta. Charlie sentiu seus joelhos tremerem. Seu coração bateu descompassadamente, sua boca secou. Demétrius estava de volta. Ele estava ali em Great Falls, ela não o perderia dessa vez. Não! Ela iria deixar o orgulho de lado e iria atrás dele. Já estava cansada de sofrer, pediu licença para os homens, e saiu foi ao encontro de Greg e lhe disse: — Greg, preciso resolver um assunto urgente na cidade, você pode fiscalizar para mim. Greg olhou o rosto pálido de Charlie, e lhe perguntou: — O que está havendo, você está pálida. — Eu.... Preciso ir até a cidade. Depois te explicou. Ela pegou seu casaco e as chaves de seu carro e foi para a cidade. No caminho seu pensamento estava confuso, e cheio de dúvidas, precisava ir ao encontro dele. Estava trafegando na estrada RiverFront, quando visualizou a silhueta conhecida, havia uma picape parada no parque, Demétrius estava observando a cachoeira, mas era de se esperar, no mesmo lugar em que se beijaram a primeira vez. Ela procurou um estacionamento e mais que depressa foi onde ele estava. O barulho da imensa cachoeira era horrível, mas não faltava aquele que não vinha ali para observar as quedas das águas. Ela se aproximou e ele virou-se imediatamente, havia sentido a presença de alguém, mas jamais podia imaginar que se tratava dela. Charlie estava com seus cabelos amarrados em uma trança. Vestia um jeans velho, coberto por um casaco branco, o rosto estava estampado uma mistura de surpresa e alegria, os olhos estavam marejados, e os lábios, ah! Os lábios estavam convidativos. Demétrius teve o impulso de pegar aqueles lábios e beijá-los ardentemente, mas ela queria falar. Meu Deus! Ele estava louco de vontade de beijá-la e ela queria falar? Mas ele se conteve, se limitou apenas em perguntar: — Charlie? O que faz por aqui? — Eu acabei de saber que você colocou as propriedades à venda. Eu ... precisava ver você...eu estou cansada...por favor! Não
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me interrompa. Me deixe falar enquanto estou com coragem. Ele continuava imóvel olhando para ela. —Eu não posso deixar você ir embora novamente. Eu não sei se você me ama. Mas olha para mim, ainda posso amar por nós dois. Eu ... só não quero mais ter que ficar te esper... Demétrius a interrompeu com um beijo, desta vez ela não o rejeitou, ela correspondeu totalmente entregue, lágrimas quentes desciam, pela face de Charlie. — Eu não vou embora, vim para ficar. Demétrius sussurrou aos ouvidos dela, enquanto a confortava nos braços. — Mas você está vendendo as propriedades. Ela olhou para os olhos dele, ele estava tão emocionado quanto ela. —Eu pensei... — Não...você pensa muito... ele voltou a beijá-la. —Pare de pensar. Onde podemos arrumar um lugar mais sossegado que este? — Sua casa? Ela respondeu. — Minha casa? Mas eu ainda nem fui lá, estou ficando em um hotel. — Então para que você quer um lugar mais sossegado? — Vou te mostrar. Venha. Charlie entrou no veículo com Demétrius e não perguntou para onde estavam indo, mas Demétrius seguiu rumo a River Bend, estavam indo para a casa dele. Chegaram na imensa propriedade, aquela casa era de uma arquitetura sem igual, era uma pena Demétrius colocá-la a venda. Charlie olhou para o hall de entrada, as pedras polidas da fachada externa davam um ar bucólico a arquitetura neoclássica, o piso também possuía o mesmo estilo das pedras da parede. Ela desceu do veículo sem pensar muito no porquê estava ali. Olhou para o imenso gramado e a fonte no meio do jardim. Ela sorriu, ele a observou, pegou em suas mãos e a puxou em direção a porta. Embora a casa estivesse fechada, ela estava em perfeito estado de conservação e limpeza. — Quando esta casa foi construída?
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— 1940. Ela pertenceu ao meu avô. Meu pai terminou a construção. — Porque você quer vendê-la? — Ela é muito grande. Mesmo que eu forme uma família, ainda sobraria muito espaço sem ser usado. — Você tem razão. — Porque você me trouxe aqui? — Porque quero um lugar sossegado e eu conheço um. Venha Atravessaram um corredor e subiram um lance de escadas, a casa estava fechada, os móveis estavam todos cobertos. Chegaram a um quarto, parecia um quarto de solteiro, mas a cama em estilo vitoriano, não era de solteiro, era uma cama de casal em estilo vitoriano, além da cama imponente, o quarto possuía uma imensa estante e uma escrivaninha, aquele deveria ser o quarto de solteiro de Demétrius. Ela olhou questionando. — Não entendi. Por que me trouxe aqui? — Charlie preciso me redimir com você, eu não quero que você pense mal, mas eu não posso fazer com você o que fiz naquele baile de formatura. Eu quero fazer amor com você, da forma correta, como deveria ter feito desde o início. — Você ficou louco? Charlie perguntou áspera, deixe-me sair daqui, não quero isso, não agora. Mas ele aproximou e colou novamente seus lábios nos dela, ela lutou apenas um segundo, pois no outro segundo, ela soltava um gemido de satisfação, suas mãos não estavam mais brigando, estavam afagando os cabelos negros de seu amante, ela aspirava o cheiro dele, e o toque das mãos. Sem saber como ocorreu, quando percebeu o que realmente estava acontecendo já estava deitada naquela cama, sem a blusa e sem o sutiã. Como? Mas não retesou, deixou ele seguir com o intento, ela também queria aquilo. Então ele a despiu, totalmente. — Eu sonhei muitas vezes com isso. Sempre quis saber como seria vê-la nua. A pele alva era um contraste com aqueles cabelos vermelhos. Ele se aproximou e contornou toda a extensão do
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corpo delgado. Com a língua. Ela fechou os olhos para sentir aquele toque insano, ele era meticuloso, tocou cada polegada do corpo dela. Com surpresa Demétrius percebeu que a pressa de possuir uma mulher havia acabado, feliz, descobrira naquele instante, que a pressa que sempre tivera em possuir suas parceiras, na verdade não passava de anseio em estar com a sua verdadeira proprietária. Agora saberia realmente como era fazer amor, mas sua vontade estava o sufocando de uma maneira tão febril que ele estava com medo de assustá-la. — Charlie, eu não vou conseguir me segurar por muito tempo, eu preciso estar dentro de você, preciso te sentir. Ela olhou para ele de maneira desconhecida, o olhar dela queimava o dele, o que era aquilo? Ela apenas sorriu, então avançou sobre ele tirando o restante de roupa que ainda havia sobre o corpo dele. “Então, este é Demétrius”. Pensou. Ainda com cara de má. Ela o jogou sobre a cama, e com o cinto imobilizou as mãos dele acima da cabeça, ele mantinha os olhos fechados. Uma risadinha rouca saiu de sua garganta. Charlie estava no comando, ele permitiu, devia isso a ela. Era justo. Ela mordeu, esfregou e beijou com uma intimidade monstruosa seu membro rijo. Ele sussurrava palavras de carinho, ela respondia com obscenidades ao ouvido dele. O pensamento dele não acreditava no que ouvia, a tão pacata Charlie era sem dúvida nenhuma a mulher mais emocionante que já tivera junto dele. Ele já não conseguia pensar direito, sempre acostumado a estar no comando, ser subjugado pela mulher amada era algo novo, surreal. —Charlie me solta, eu não estou aguentando, eu ... por favor, Charlie, eu... Charlie... Charlie não ouvia, parecia que estava em transe. Ela apenas se inclinou sobre ele e o cobriu. Toda a extensão de Demétrius invadiu todo o ser de Charlie, ela gemeu alto, teve a nítida impressão que estava sendo rasgada pela imensidão daquele membro rijo de Demétrius, ainda com um pouco de dificuldade ela o agasalhou, depois de alguns segundos imóveis, ela foi se acostumando com toda aquela extensão em sua intimidade, aí ele
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se mexeu. Mexia aos poucos, acompanhando o ritmo dela, lento, apertado, e então aos poucos foi acelerando o ritmo, ele estava desesperado, pois estava com as mãos ainda imóveis, e acostumado a sempre estar no comando aquilo o deixou totalmente desesperado de tesão. Ele sentia que alguma coisa ia explodir a qualquer momento, mas ela controlava, a adrenalina impulsionava a extensão do seu corpo para dentro dela, mas os músculos internos o retinha, era uma guerra, ele estava perdendo, ele sentiu que não ia aguentar mais aquele jogo, ele sentiu a musculatura dela enforcando totalmente seu membro, ele fechou os olhos e com um urro de prazer inundou totalmente a cavidade quente de Charlie. Ela desatou o cinto das mãos de Demétrius. E caiu sobre ele, exausta e com a respiração descompassada. Eles estavam suados. Ele se sentia o homem mais feliz da terra, havia imaginado tanta coisa para aquele primeiro encontro, e para sua surpresa fora ela quem o surpreendera. — Charlie que loucura foi essa? Jamais em minha vida experimentei algo tão profundo como o que acabamos de fazer. — Essa é minha vingança. Respondeu entre risos. Sempre pensei em fazer isso com você. — Não acredito que você passou anos pensando em se vingar. Ele brincou. — Digamos que no início eu queria te enforcar. Mas depois daquele beijo em San Francisco, mudei de ideia. Ela olhou para ele feliz. — Mas agora está na hora de retribuir. Ele se afastou para olhar aquela mulher que estava ali em seus braços. Linda! Haveria todo tempo do mundo para se dedicar a ela, e de alguma maneira apagar os anos perdidos.
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Quantos dias haviam passado desde aquela tarde com Charlie em seu quarto de solteiro? Demétrius havia perdido a noção do tempo. Deixara os compromissos para outro dia, desligara o celular e se entregara totalmente e exclusivamente para Charlie. Ainda se lembrava de acordar ao entardecer nos braços de sua amada. Não acreditava que aquilo estava acontecendo, mas estava. E agora que já haviam passado alguns dias, ele estava ajeitando sua vida a nova rotina de viver em Great Falls. Charlie não queria que ele vendesse a casa da River Bend, ainda mais depois das tardes quentes que tiveram em seu antigo quarto de solteiro. Mas ele não queria viver naquela casa. Estava mexendo em alguns papéis no escritório de seu pai quando o telefone tocou. — Alô. Ballinderry falando. — Bom dia Demétrius, sou eu, Antony. — Antony? Notícias boas espero. — Sim. Encontrei o material. — Você conseguiu encontrar? —Sim. Encerramos mais um episódio. Acabou. Demétrius sentiu um peso enorme sair de suas costas. — Quero que você siga minhas instruções. Ainda não sei se o terreno está totalmente seguro, então até encontrarmos, façamos como combinamos. — Façamos como você queira. Até breve. Antony finalizou a ligação. Demétrius sabia que este material já deveria estar em sua caixa postal, afinal foi o combinado entre ele e Antony. Ele olhou para o relógio e certificou se ainda tinha tempo de ir buscar o envelope antes que caíssem em mãos erradas. Não queria que Charlie soubesse sobre aquela história, tão pouco desejava que a memória de Aleska fosse denegrida. Sem esperar muito pegou as chaves do carro e foi até a empresa de serviço postal da cidade. Não demorou muito para chegar a empresa, estacionou seu carro e saiu sem prestar muito a atenção nas pessoas que passavam por ele. Ele
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às vezes era distraído, ainda mais quando tinha em mente alguma coisa importante para fazer. E conforme ele esperava, o envelope contendo todo o material estava em sua caixa postal. Ele pegou o envelope e voltou novamente para sua casa. No aconchego e na segurança de seu escritório, sentou-se atrás da imensa mesa de mogno negro, abriu o envelope, e verificou o material, dentro dele havia um pendrive, um rolo de filmes, cds, alguns negativos e as fotos reveladas, havia um bilhete de Antony lhe explicando o que continha cada material e como foi encontrado. Em seguida, Demétrius se levantou pegou seu laptop e conectou o pendrive, verificou cada detalhe sórdido vivido por ele e Aleska no clube da submissão. Os cds continham também o mesmo material, ele verificou os negativos e depois olhou o rolo de filmes. Estava tudo ali agora era só incinerar. E foi o que ele fez, desceu até a cozinha da casa, no quintal, fez uma pequena fogueira, em fim estava tudo acabado. Embora não fosse cem por cento certeza, ele precisava acreditar que por um tempo aquela ameaça estaria longe dele e das pessoas que estavam próximas a ele. Alguns minutos depois ele estava novamente em seu escritório, o pendrive ainda estava conectado e os cds estavam sob a mesa, sem esperar muito apagou os dados do pendrive e em seguida quebrou os cds. “Pronto! Acabou”. Foi seu pensamento. Agora tudo que ele precisava era de um banho. Estava tenso. E ainda teria que encontrar com Bradley em um bar para um drink. Ele sabia que a intensão de Bradley na verdade, era aproximá-lo do irmão. Para seu próprio bem, esperava que essa aproximação não fosse conflitante. Um pouco antes das dezessete horas, Demétrius estacionava seu carro em frente ao Eddies, a ideia era jogar um pouco discutir bobagens e beber, aquele era o dia em que Bradley poderia chegar tarde em casa sem-que Madison o colocasse para dormir no quarto de hóspedes. Demétrius fez um pouco de hora dentro do carro já
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estava bem frio, logo seria o dia de ação de graças. Por anos passara este feriado sozinho, mas este ano seria diferente. E o mais engraçado era que estava adorando a ideia. Na rádio local tocava uma balada country de Brad Paisley que falava de um casal de amantes tão ardentes, tão apaixonados, que não se preocupavam com que as pessoas diziam, tudo que queriam era apenas se beijar, apenas se tocar. A melodia o fez pensar nas tardes ardentes que passava com Charlie, e no quanto ela era importante para ele, não tinha mais que esperar, Antony havia lhe dado o salvo conduto que tanto esperava, aquele era o momento de pedi-la em casamento. Ficou imaginando como ela receberia aquele pedido tão tardio. O envolvimento deles não se resumia apenas em sexo. Afinal ele a amava e acreditava que o sentimento era mútuo. Depois de um tempo resolveu enfrentar o frio e ir encontrar com Bradley. Sair naquele estacionamento era pedir a Deus uma cama e um aquecedor de presente. Ninguém merecia aquele frio, e as pessoas circulavam com a maior naturalidade pelas imediações. Ele ainda estava se adaptando a toda aquela temperatura. Entrou às pressas no recinto, naquele horário o bar ainda não estava cheio, o movimento começava mesmo a partir das dezenove horas, ao inserir-se naquele ambiente quente, ele deu graças à Deus, nem acreditou no prazer que sentiu ao sentir o ar quente do interior do bar. Caminhou devagar pelo ambiente na esperança que Bradley estivesse por ali. Mas o que acabou mesmo acontecendo foi se encontrar com seu meio-irmão. Demétrius o viu sentado próximo ao balcão com o ar tão imponente quanto ao seu próprio jeito de ser, ele se reconheceu no meio-irmão, percebeu a leve semelhança física entre eles. Então concluiu que a semelhança de ambos era exclusividade de sua mãe. Zarek levantou o olhar e fixou
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diretamente em sua direção, de um modo cortês cumprimentou Demétrius, então ele se aproximou. — Boa noite! Demétrius disse. — Boa noite! Zarek respondeu, indicando-lhe um assento prosseguiu. — Pegue uma bebida enquanto Bradley não chega. — O que está tomando? Perguntou Demétrius. — Um scotch. Puro e sem gelo. — Também vou tomar um. O barman aproximou e atendeu os dois homens no mesmo instante. Uma dose do liquido dourado preencheu um terço do copo. Depois do brinde, Demétrius tomou apenas em um gole. O garçom serviu mais uma. Demétrius pegou o copo e sentou-se ao lado de seu irmão, Zarek olhou para ele pensativo, o recinto já apresentava um burburinho de vozes e o tintilar do gelo nos copos. — Helena poderia estar viva para ver esta cena. Zarek falou de repente. — Que cena? Demétrius perguntou distraído. — Nós dois, aqui, tomando um scotch. — Como ela era? Demétrius perguntou. — Era uma apaixonada. Ela conseguia ver beleza em quase tudo que estava a sua volta. Mas não era completa. Os olhos dela eram tristes. Mesmo sorrindo, mesmo distribuindo todo aquele amor. Demétrius ouviu calado. — Conviver com ela deve ter sido bom. — Não. Ela era muito linda, amorosa, dedicada, mas havia momentos em que às vezes era difícil, tinha um gênio do cão, teimosa e determinada. O Simon lembra muito ela. —Você ficou sabendo da minha existência desde quando? Zarek olhou para o Demétrius, ele parecia angustiado, ou não? Ele tinha uma expressão indescritível. — Ela sempre falou de você para Simon e eu, desde pequeno, crescemos ouvindo ela falar de seu aniversário, da mágoa em
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relação ao seu pai, e o afastamento de você. Determinado em juízo. Aquela informação era nova para Demétrius, mas conhecendo seu pai ele sabia que aquilo era possível. Então ele respondeu: — Fui saber da existência de vocês um pouco antes da morte dele. No início fiquei consternado, depois nem sei avaliar direito o que realmente pensei, eu queria ter tido a oportunidade de vê-la. De tocá-la. Foi uma sensação ruim, mas passou. Espero que possamos ser amigos. Concluiu sorrindo. Bradley surgiu no hall de entrada com um enorme sorriso estampado na face. — Meu atraso foi providencial, vejo que vocês tiveram a oportunidade de se conhecer. Isso me deixa feliz. Bradley abraçou os dois irmãos e chamou o barman para mais uma bebida. — Já que você se atrasou, essa rodada é por sua conta. Demétrius brincou. — Não percamos nosso tempo. A noite avançou, os amigos já estavam se preparando para ir embora. Quando Bradley comentou com Demétrius sobre o baile de dos veteranos. — Demétrius, a Madison comentou com você sobre o baile dos veteranos? — Não. Mas eu sei sobre a reunião que ela promove, a cada cinco anos? — Sim. E este ano ela está empolgadíssima, já que você e a Charlie se acertaram, talvez seja uma oportunidade em concertar algumas burradas do nosso baile de formatura. - Demétrius olhou para Bradley, e percebeu que tipo de burrada que ele estava se referindo. — É. Uma burrada como a que eu fiz, não tem muito concerto. Acredito que levarei uma eternidade para concertar o mal que eu fiz a Charlie.
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— Eis a sua chance. E quanto a você Zarek aproveita a oportunidade para agarrar de vez o amor de sua vida. A Renée vai estar presente, ela disse que este ano ela ganha a coroa da rainha do baile, isso se a Madison deixar. Mas é uma boa oportunidade para vocês dois se acertarem. Bradley estava parecendo um padre franciscano, distribuindo oportunidades de ser feliz naquela cidade fria. Mas tudo que ele queria era que a vida de seus dois amigos se acertasse, e que todos fossem realmente felizes. — Vamos para casa. Você está de fogo, vou te deixar lá amanhã você vem pegar seu carro. Zarek, nos vemos amanhã. Se despediram, Bradley realmente estava de fogo, mas estava bem, porém como queria conversar mais com Demétrius ele aceitou a carona, para casa. No caminho uma música de Blake Shelton, dava as pistas para Demétrius sobre sua vida e a vida de Bradley. — É assim que me sinto em relação a Madison. Demétrius ouviu a letra que dizia justamente o que ele também sentia em relação a Charlie, a vida inteira sozinho, mas agora era a hora de se curar. —Demétrius. - Bradley começou. — Eu fiquei muito bravo com você, cara! Como você transa com a Charlie e a deixa sozinha? Você não tem noção do que essa moça passou, se eu soubesse que você ia se aproveitar dela, eu não teria deixado você ir tão longe. Me senti muito culpado, afinal eu te estimulei. Você deixou todo mundo na mão. Não só a Charlie, mas todos os seus amigos. Você já pensou nisso? —Bradley, não foi culpa sua. Eu me deixei levar pelo momento. Também não sei onde estava com a cabeça. Passei anos me arrependendo disso, mas não quero ficar revolvendo isso a todo momento em que enchermos a cara. —Dizem que vocês transaram em baixo do palco. Cara! Isso é verdade? Você foi ridículo. - Bradley olhou para Demétrius que estava dirigindo, ele estava tenso com aquela conversa. Mas não disse nada. O silêncio dele só estimulava Bradley a falar. —Agora
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eu te pergunto: Quanto tempo você pretende realmente ficar? Porque até onde eu sei, você nunca foi amante dessa vida provinciana. E Montana é bem diferente da Califórnia. Você vai realmente largar seu ideal? Suas conquistas para ficar aqui? É isso mesmo? Eu não acredito em você. Demétrius parou em frente à casa de Bradley, desligou o veículo, e então falou: —Não tenho nenhuma intenção de abrir mão de Charlie, se você e a Madison estão imaginando que vou partir, podem esquecer, deixei São Francisco para trás, por isso vou ficar por aqui, talvez na próxima eleição me candidate a vaga de promotor ou mesmo juiz, neste meio tempo pretendo trabalhar advogando, ou talvez quem sabe vou entrar de cabeça na criação de cavalos. Muita coisa aconteceu em pouco tempo, minha vida virou totalmente de cabeça para baixo, larguei meus projetos, porém não significa que eu desisti. Quanto ao futuro? Espero que eu possa ser feliz. Espero que as amizades que deixei por aqui sejam reconquistadas. Como também espero conquistar a amizade de meu filho. Bradley eu sei que você tem razão. Mas vou devagar. Eu não tenho o controle. Não sei nem como pedir Charlie em casamento, depois de tudo que ela passou, não sei se sou digno de ser seu marido. Mas este é o meu desejo, então pode ficar frio. Não vou sumir pela manhã novamente como fiz a vinte poucos anos atrás. Bradley ouviu atentamente as palavras de Demétrius, percebeu a dor na voz, porém não o apedrejou mais, a ideia de vê-lo como juiz ou mesmo como um promotor, o deixou aliviado: —Demétrius nós não queremos que você desista da sua carreira pública, Charlie mencionou isso, ela prefere ficar sem você do que ver você se anulando. Você é bom no que faz. Pensa nisso. As eleições serão no ano que vem, podemos lhe ajudar a se acertar por aqui, ou quem sabe em Helena, sei lá, mas seria bom tê-lo exercendo seu papel como o homem da justiça que sempre foi. Demétrius pensou no que Bradley havia acabado de dizer, mas ele
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não tinha certeza se era isso que desejava, embora no fundo bem no fundo ele sentia falta de suas atividades. — Você está me dizendo que a Charlie prefere me deixar partir a ver-me anulando a mim mesmo? — Sim. Talvez ela não tenha dito a você. Mas ela conversou com Madison sobre isso. Ela disse que o povo precisa de homens como você. — Eu voltei por ela. Nada na minha vida estava tendo sentido, em poucos dias minha vida virou um caos, você não tem noção dos erros que cometi. O meu relacionamento com Aleska trouxeme situações inacreditáveis, duras e acarretou danos severos a minha vida pública. Danos dos quais temo prejudicar a vida de meu filho no futuro. — O que você fez? Se corrompeu também? — Não. Mas minhas ações errôneas de momento me levaram a ser chantageado, mesmo eu tendo resolvido o problema, nunca vou ter certeza, que acabou. As pessoas envolvidas estão presas. Mas não é para sempre. — Eu acompanhei pelo noticiário, a morte de sua noiva, a gravidez, nós vimos. Mas pelo que você está dizendo, o que a mídia nos mostrou não chega nem perto da verdadeira história. É isso! Ou estou enganado? - Bradley perguntou curioso. — É isso mesmo. A mídia nem sonha com que realmente rolou nos bastidores dessa história sórdida. — Você acredita que se vier a lançar candidatura pelo estado de Montana, esse povo pode vir a lhe prejudicar aqui? — Essa é uma possibilidade que pode existir sim. Por isso, quero dar um tempo. Demétrius explicou. — Quer me contar o que de tão grave você fez? — Qual seu interesse? — Preciso saber para compreender melhor o que realmente está acontecendo. Só isso.
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— Meu relacionamento com Aleska não era muito normal. As vezes frequentávamos alguns clubes privados destinados a práticas de BDSM. É isso, e num desses clubes nós fomos filmados, registraram nossas ações, corrigindo, registraram minhas ações com ela. - Demétrius vomitou as palavras em direção a Bradley, este, porém o olhou apático, por um instante ficou em silêncio, assimilando o que havia acabado de ouvir. Passados alguns instantes, ele começou a rir. —Não me diga que você estava sendo o submisso dela, por que se for isso você realmente está acabado, falou rindo da situação. Demétrius não achou graça nenhuma, e com uma carranca continuou: —Não! Eu não era o submisso. Mas o babaca que usava o chicote nas nádegas dela. —Desculpa por ter rido. Mas deixa de ser idiota. Se você era o cara que estava com o chicote, você pode ter certeza que isso não vai assustar ninguém. Depois da era dos cinquentas tons, virou moda. Isso pode não ser bem-visto aos olhos do judiciário, mas aos olhos do povo e aos olhos das mulheres, isso não é problema. —Bradley, você bebeu demais. Demétrius respondeu não acreditando no que tinha acabado de ouvir. —Não estou bêbado. Escute o que vou lhe contar para você entender, cidades como Nova York, Chicago, San Francisco e Los Angeles, desde a segunda guerra mundial tem clubes dessa natureza, pessoas do país inteiro são filiadas a este movimento, embora tenha uma série de parafilias, ele é adotado por vários casais, isso é normal. Eu não vejo nenhum crime nisso, vejo até uma situação bem natural, sua noiva deveria ser uma pessoa bem esclarecida. Tudo é uma questão de escolha e bom senso. —Sim, mas um homem público tem compromissos com a sociedade, com a ética, sua vida pública e sua vida privada devem andar juntas de maneira que ambas expressem seu caráter, devemos ser condizentes com os valores éticos e morais da
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sociedade, uma situação torpe como esta pode trazer uma série de dúvidas quanto ao profissionalismo que exercemos nos tribunais. Simples assim, eu cometi um erro grave, e estou sendo punido por isso. Aleska não está aqui para dizer que foi opção, ela não está aqui para dizer que era amante desse tipo de parafilias, como eu também não vou poder me defender, por ter sido um sádico ao usá-la como minha submissa. — Mas isso pode ser contornado, caso você decida se candidatar ao cargo de promotor ou mesmo juiz pelo estado de Montana, essa é uma situação que poderá ser jogada facilmente para debaixo do tapete. — Não compreendo. O que você está me dizendo. — Estou lhe dizendo que muita gente faz parte desse tipo de clube, e se bem conheço eles vão até admirar você por isso. Vai por mim. – Bradley falou sério. Demétrius ficou pensativo. Não quis questionar. Ele já estava com sono, queria ir para casa. — Amanhã a gente se vê. Obrigado pela noite. Demétrius falou com Bradley. — Ok. Se cuida. E cuidado com essa neve no asfalto. Vá devagar, Bradley recomendou. Demétrius acenou com a cabeça. E saiu devagar pela rua. No retrovisor viu quando o amigo entrou em casa. Em poucos minutos estava estacionando seu carro na garagem de sua casa. Entrou imaginando dormir sozinho. Como num ritual programado, destravou o alarme, entrou pela porta da cozinha, tirou suas botas, em seguida pendurou as chaves no suporte, reprogramou o alarme, e se dirigiu até a geladeira para ver o que tinha de comestível no seu interior, pegou um prato de macarrão e o colocou no micro-ondas, comeu distraidamente, afinal não era todos os dias que Charlie aparecia. A desculpa era o trabalho intenso no resort. Mas agora sabia que tinha um motivo. Até que a conversa com Bradley tinha sido boa. Conhecendo as dúvidas que assolavam o coração de Charlie
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ele iria dar um jeito. A cozinha era acolhedora, porém com o inverno ela não era muito aquecida, terminou de comer, colocou o prato dentro da pia. Em seguida caminhou pensativo por entre os cômodos, passou por um corredor que o levou para a sala de jantar com seus móveis vitorianos, e logo estava na sala, abrindo a jaqueta e a camisa, tirou as peças e as deixou sobre o sofá, subiu para o quarto. Ao andar pelo corredor percebeu a porta semiaberta, e a luz do abajur acesa. Na penumbra do quarto ele a viu deitada sob as mantas. Que surpresa boa! Charlie dormia profundamente em sua cama, parecia feliz, mesmo dormindo, ela causava uma sensação de deleite aos olhos de Demétrius. Ele estava profundamente apaixonado por ela, como quando na adolescência. Terminou de tirar suas roupas e entrou nu debaixo das cobertas com muito cuidado, para não acordá-la. Ajeitou o braço para dormir de conchinha com sua amada. Aquilo era muito prazeroso. Uma sensação nova, um despertar totalmente diferente. Era amor. Sem dúvida nenhuma. O calor de Charlie não só o aqueceu imediatamente, como também o fez adormecer. Um sono tranquilo livre dos fantasmas o encheu de paz e sossego. O perfume dos cabelos dela era um bálsamo para aplacar os remorsos de sua alma. Ao adormecer, Demétrius esqueceu de todas as dúvidas que o afetavam durante o dia, esqueceu da conversa que tivera com Bradley. Ali estava seu conforto, bem ali nos braços de Charlie estava seu paraíso. Um pouco antes de amanhecer, Charlie acordou abraçada a Demétrius, sua respiração suave demonstrava que ele dormia tranquilamente, a luz fraca do abajur o iluminava. Parecia mais jovem. Estava mais bonito. Ela o tocou, delineou com as pontas dos dedos os braços fortes, contornou os olhos, o nariz e depois os lábios, como aqueles lábios sabiam ser ousados quando ele desejava. Houveram muitas noites em que desejara o conforto daquele calor em seu corpo, e agora ali estando com ele, ela se perguntou se aquilo seria para sempre. As dúvidas estavam
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assombrando seu pensamento nos últimos dias. Ela não conseguia vê-lo em outro papel que não fosse o de um homem defendendo com toda garra os direitos da sociedade, ele era apaixonado pelo que fazia, e ficar ali, se anulando não era o que ela queria para ele. —O que está te perturbando? Demétrius perguntou, enquanto abria os olhos e a encarava, ela sorriu, e respirou fundo. —Estou pensando, você precisa retomar sua vida pública. Você voltou para cá, já tem alguns meses, embora você esteja esperando a venda das propriedades, eu não consigo vê-lo como um roceiro, sinceramente não é o seu desejo, você sempre foi muito bom em defender os interesses da sociedade, e de repente, você dá um outro rumo para sua vida, tudo para ficar comigo, isso não combina com você. A impressão que tenho, que a qualquer momento a ficha vai cair, e você vai enxergar a burrada que está fazendo com você. Tenho evitado pensar, mas quanto mais o tempo passa, mais vejo que esta possibilidade se aproxima. Charlie abriu o coração de maneira espontânea, Demétrius elevou a cabeça e a apoiou sobre sua mão de maneira que seu braço ficou elevado. Uma veia pulsava na lateral de seu rosto. Aquilo era uma característica que ele tinha sempre que se chateava com algum tipo de conversa, porém ao falar sua voz saiu calma e pausada. — Esta noite tive uma conversa com Bradley, ele me contou sobre suas dúvidas e principalmente sobre sua preocupação em relação a minha vida pública. — E? Charlie perguntou curiosa. — Minha vida pública só poderá acontecer depois que eu resolver minha vida pessoal, neste caso, se oficializarmos nossa relação. Talvez ano que vem eu venha me candidatar. - Charlie afagou os cabelos de Demétrius. Ele sorriu, pegou a mão que o afagava e deu um beijo nas pontas dos dedos. - Continuou a falar: — Eu quero me casar com você. Minha vida não tem mais sentido se você não estiver ao meu lado. Sei que cometi muitos erros, mas
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estou me redimindo. – Então ele aproximou mais de Charlie. — Você não precisa me dar a resposta agora, neste momento, afinal não tenho nenhum anel para oficializar meu pedido. Mas lhe prometo que até o final da tarde, vou dar um jeito neste pequeno detalhe. Uma lágrima teimosa escorreu dos olhos de Charlie, Demétrius colheu-a com os lábios. – Por que as lágrimas? Isso é um sim? - Ela sorriu, levantou os lábios para ele, então ele se apossou delicadamente, foi breve, porém o calor se espalhou de tal forma entre eles que não havia como negar a sedução que os envolvia, o fogo grego se espalhou entre os dois, um beijo lascivo se tornou exigente, e aos poucos Demétrius já havia ajeitado Charlie sob seu corpo, pequenos beijos e línguas brincavam insistentemente sobre a pele alva de Charlie. Demétrius sussurrava — Adoro o cheiro de sua pele, isso me excita. Eu quero possuir você totalmente, te marcar, te fazer minha. A esta altura ele já havia desnudado-a totalmente, com pequenos beijos e promessas, arrancava gemidos de Charlie. Propositalmente levou as mãos de Charlie ao seu membro rijo, ela sentiu a necessidade dele, tentou avançar sobre ele. —Não, minha querida. Neste momento somente eu estarei no controle. Ela gemeu ao ser tocada atrevidamente no meio das pernas. Desistiu de avançar. Tudo que aquele momento exigia era apenas render-se ao prazer ele lhe proporcionava. Desta vez, Demétrius tomou as rédeas, eles fizeram amor. A entrega entre eles, foi totalmente carregada de sentimentos, não havia mais nenhuma sombra, nenhum fantasma, era o recomeço desejado por duas almas gêmeas. Quando o ápice finalmente chegou nas asas do amor, a falta de oxigênio, a eletricidade percorrendo todo o corpo, um grito de liberdade ecoava dos lábios de Charlie. O nome de Demétrius se tornara um mantra. Demétrius se sentiu perdoado. Enfim , poderia se perdoar também.
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Epílogo
Nossa! Jamais pude imaginar os percalços que iriamos enfrentar para
chegar até aqui. Mas chegamos. Neste exato momento estou em meu antigo quarto. Lá em baixo, os convidados estão chegando para testemunharem meu casamento. É. Eu aceitei o pedido de casamento de Demétrius. Mas não pense você que saiu como ele queria. Tivemos que barganhar algumas coisas. E uma delas foi a candidatura dele ao cargo de procurador geral do condado. Dentro de três dias serão as eleições, e graças a Deus e aos nossos amigos e também por insistência de nosso prefeito, ele se candidatou pelo condado de Cascade, ele está bastante apreensivo com o resultado, afinal foram dias de exposição na mídia, entrevistas, em jornais, rádios e tv. Debates sem fim. Reviraram a vida dele e a minha também, mas ele se saiu bem. Chegou na reta final com uma alta aceitação dos cidadãos do condado. Isso me deixou muito orgulhosa. Como também estou orgulhosa com a escolha deste vestido bordado discretamente, suas rendas francesas são bem peculiares, só que o espartilho está me matando e ainda vou ficar um tempo aqui, até Kaleb vir me buscar. Estou radiante com todos os acontecimentos dos últimos meses. Demétrius vendeu suas propriedades, a casa maravilhosa foi comprada por Bradley, Madison ficou tão feliz que até acabou engravidando novamente, e por falar em gravidez, você nem imagina, com a correria destes últimos dias, não dei muita atenção para meu ciclo, e hoje pela manhã descobri a novidade, também estou grávida. Imagina só, a hora que Demétrius ficar sabendo dessa novidade, mas estou assustada, não imaginava jamais que na idade que estou fosse engravidar novamente. Uma benção, meu avô iria gostar dessa notícia. E como eu havia idealizado, o resort se tornou um empreendimento de sucesso, e Greg fez o Rancho dos Robison’s se tornar um dos haras mais importante do condado. Meu filho está finalizando seus estudos, e do jeito que a coisa está indo será tão brilhante quanto o pai, e graças a Deus, eles se acertaram. Não foi fácil, mas aos poucos Demétrius conseguiu descongelar o coração de Kaleb, a
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amizade deles não é uma maravilha total, afinal são dois teimosos, mas eles convivem muito bem. Kaleb finalmente descobriu que Gyna é o amor de sua vida, porém ela se recusa a sair de Great Falls, mas conhecendo a teimosia natural dele, ele vai conseguir dobrá-la a ir viver com ele na Califórnia. Zarek e Renée finalmente ficaram juntos, eles formam um belo casal, para nossa alegria, ela decidiu abrir o próprio negócio na cidade, e como ela possui o dedinho de Midas, nem preciso de dizer que está sendo um sucesso. Os meus votos de casamento estão sob a penteadeira. O escrevi dezenas de vezes, não sei porque acho que vou esquecer todas as palavras no momento em que estiver na frente de todos. Olhando-me no imenso espelho que foi colocado para poder-me arrumar não consigo ver minha verdadeira imagem, mas vejo a menina que fui. Com um lindo vestido de cintura baixa e saia em camadas de renda e tule, apenas uma tiara de pedrarias compõe a trança que Demétrius pediu-me para usar, e foi o que fiz, trancei meus cabelos vermelhos em uma única trança, como quando nos conhecemos. Meu Deus! Por que essa demora, esqueceram de mim? Me aproximo da janela novamente. O jardim foi todo coberto por causa do inverno. Transformamos o local em um ambiente climatizado, por que se não, que outra forma poderia usar este vestido com decote em forma de coração. Um barulho na porta chama minha atenção. Três leves batidas. — Entre. Era Kaleb. Ele vestia um terno escuro, estava com um sorriso estampado no rosto. E um olhar encantador. — Mamãe. Você está linda. — Obrigada Kaleb. Você também está. Respondi sorrindo. — Pronta? — Sim. Muita gente? — Todos os convidados vieram. Afinal em dois dias teremos um procurador eleito no condado. E todos têm certeza que será o senhor Demétrius Ballinderry. Ele concluiu em tom de brincadeira. Então vamos, tenho um pai ansioso por uma esposa. Então saímos do quarto, e na medida em que descíamos o degrau da escada eu sentia meu coração acelerar um pouquinho mais. Ao passarmos pela grande porta de vidro, saímos dentro do biombo construído em nosso jardim, e lá no fundo estava ele. Não enxerguei mais, a
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ninguém, somente via seu olhar me queimando e ao mesmo tempo me prometendo o quanto seriamos felizes depois do nosso sim. Tudo estava finalmente voltando para os trilhos. No final tudo o que realmente importa é apenas o amor. Este sentimento estranho que nos leva a conflitos e a grandes enganos. Mas também que une e desperta a vida para o que há de melhor nela. Viver é isso. Essa é a mágica. Isso é o mais importante. E viver a dois é viver literalmente em busca da perfeição que jamais existirá. Pois a vida não é feita de perfeições, mas é constituída de nossas vivências e desassossegos. Ao encontrar um equilíbrio entre os erros do dia a dia encontramos a nós mesmos espelhados um no outro.
Fim...
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1ª edição Formato Coloração Tipo de papel Acabamento Tipografia
Julho de 2016 A5148x210 Preto e branco Couche 90g Brochura com orelhas Clube de Autores S/A
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