A REVISTA DIGITAL SOBRE BRASILEIROS QUE MORAM NOS
QUATRO CANTOS DO MUNDO
N° 03 - AGOSTO 2013
Paternidade mundo afora
Descobrindo a Patagônia
Anelise no caminho das Índias
Ana Biselli e Rodrigo Junqueira viajam por mais de
pela América
A REVISTA DIGITAL SOBRE BRASILEIROS QUE MORAM NOS
QUATRO CANTOS DO MUNDO
Reportagens Blogosfera Cinco blogs e sites que gostamos de acompanhar
8
Paternidade mundo afora Daniel Duclos e Michel Zylberberg contam como é ser pai no exterior
Gaúcha conta como foi a experiência de morar e trabalhar no país
Imbradiva pelas brasileiras na Alemanha
16 Do lado de cá Saudades da pátria é o tema de estreia da colunista Vanessa Bueno
26 Das ruas para as lentes de Stela Fotógrafa baiana registra o strrestyle mundo afora
52 A terceira idade está online Público já soma 200 mil fãs em página do Facebook
40 Reportagem da Capa 1000 dias por toda a América
72 Brasil, meu Brasil brasileiro... Confira o artigo de Lila Rosana sobre os protestos ocorridos recentemente no país
78 Cozinhando com pimpolhos Receita fácil de Gê Eggmann para você preparar com a ajuda das crianças
80 Foto do Leitor Expediente
Descobrindo a Patagônia
A REVISTA DIGITAL SOBRE BRASILEIROS QUE MORAM NOS
QUATRO CANTOS DO MUNDO
Diretora de arte e redação: Claudia Bömmels Editora de conteúdo: Vanessa Bueno Colunistas: Lila Rosana, Erica Palmeira, Gê Eggmann, Vanessa Bueno
69 Como fazer uma almofada sem costura
Convidados desta edição: Daniel Duclos, Michel Zylberberg, Anelise Cornely, Stela Alves, Joselene Drux, Ana Biselli, Rodrigo Junqueira, Ingrid Parente, Bruno Parente, Patricia Takehana, Leonardo Nunes de Azevedo, Debora Garcia, Miriam Naef.
Sede de mundo Conhecer novas culturas, aprender uma nova língua, viver um grande amor no exterior, trabalhar, estudar ou lutar por uma vida melhor, são algumas das razões pelas quais tantos de nós deixamos o Brasil para trás. Mas, mesmo longe da nossa pátria, sempre seremos brasileiros. Situações como os protestos ocorridos em junho deste ano no nossso país podem nos despertar diferentes sentimentos. Muitos, solidários às revindicações, saíram às ruas mundo afora, juntando-se a grande massa. Outros permaneceram imparciais. E você, como se sentiu? Indignado, indiferente ou empolgado? A psicóloga Lila Rosana convida, em seu texto "Brasil, meu Brasil brasileiro...", a refletir sobre o assunto e testar a sua brasileirice. “Quanto você ainda está conectado com o nosso país?”, questiona ela. E por falar em brasileiros conectados com a pátria, descobrimos a iniciativa de um grupo de brasileiras em Frankfurt, que fundou, há 15 anos, a Imbradiva. Uma instituição sem fins lucrativos que apoia as brasileiras em seu processo de integração na Alemanha. Um trabalho admirável, que se estende aos filhos dessas mulheres. A organização mantém uma creche internacional, onde as crianças podem ter contato com a cultura brasileira e aprender o português. A criação dos filhos também permeia o bate papo online que tive com os blogueiros de viagem Daniel Duclos e Michel Zylberberg, sobre paternidade no exterior. Daniel é pai em tempo integral, na Holanda, e Michel procura balancear a vida profissional com a familiar, na Suíça.
Aqui estre nós…
Esta edição apresenta ainda histórias de brasileiros viajantes e corajosos. Pessoas que fizeram as malas e partiram para a aventura. Encararam culturas diferentes, enfrentaram seus medos e testaram seus limites pessoais. Ana Biselli e Rodrigo Junqueira viajam, neste momento, há mais de mil dias pelas Américas. Patricia Takehana e Leonardo Nunes de Azevedo exploraram, cada qual ao seu modo, a belíssima região da Patagônia. Anelise Cornely saiu da sua zona de conforto em busca do sonho de viver no exterior. Tendo a Índia como destino, lá morou e trabalhou por três anos. Você também tem sede de mundo? Sonha em fazer uma viagem extravagante? Dar a volta ao mundo de barco, ou fazer um tour por seu estado de bicicleta? A viagem dos seus sonhos é visitar um lugar simples e deserto? Gostaria de morar do outro lado do mundo? Ou ainda não sabe qual é o destino dos seus sonhos? Convido-o a viajar conosco nesta edição. Quem sabe você se inspira e também sai viajando mundo afora? Se isso acontecer, lembre de nos contar!
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Claudia Boömmels Diretora de redação
www.brasileiros-mundo-afora.com
Momento mágico
Foto de Miriam Naef, que mora na Suiça, um país que ela acha encantador. E quem somos nós para discordar, não é mesmo?
Paternidade
mundo afora
Brasileiros mundo afora levou um papo descontraido e online sobre paternidade com dois blogueiros de viagem que são pais no exterior. Daniel Duclos é capixaba, de Vitória, cursou Biologia e Letras na Universidade de São Paulo e hoje escreve profissionalmente no seu blog Ducs Amsterdam. Além disso, Daniel é stay at home dad* na Holanda, onde mora e equilibra trabalho e famíla. Michel Zylberberg é carioca e escreve no seu blog Rodando Pelo Mundo. É casado com uma italiana, pai de uma filha e tenta balancear os vários papéis que ele exerce na Suiça: pai, marido, designer gráfico, fotógrafo e blogueiro. Entrevista: Claudia Bömmels
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Fotos: Arquivo pessoal
Brasileiros mundo afora (BMA): Daniel, você e sua esposa decidiram que ela trabalharia fora e você ficaria em casa cuidando da filha de vocês. Como os seus amigos e a família no Brasil reagiram? Michel, essa seria uma opção para você? Como é a divisão de tarefas em casa? Daniel: A decisão de eu ficar cuidando da nossa filha, que apelidamos carinhosamente de Babyduc, foi tomada bem antes dela nascer, quando passei a me dedicar ao Ducs Amsterdam como profissão e negócio. Enfrentei preconceito e resistência antes da bebê nascer, quando poucos entendiam o que eu estava fazendo. Hoje em dia esse é um conceito já mais praticado, mas há alguns anos era quase que desconhecido. Quando a Babyduc nasceu, o blog já estava fazendo algum sucesso e dando retorno. Então foi um pouco mais fácil de as pessoas entenderem nossa escolha: a Carla trabalhar fora e eu cuidar da pequena. Hoje, apesar de vez em quando ouvir algo atravessado, também recebo bastante apoio. Consigo ter um salário maior do que eu tinha no Brasil e ainda tenho tempo para me dedicar à família.
Foto: Claudia Bömmels
Michel: Acho muito legal a postura do Daniel, tendo enfrentado barreiras e preconceitos. Acredito que, no caso deles, tenha sido a melhor decisão. Já conosco as coisas foram um pouco diferentes, até porque o que eu ganho com o blog está longe de ser suficiente para viver. No mundo dos blogs de viagens, são poucos no mesmo nível do Ducs Amsterdam. Se pudesse viver de blog seria perfeito. Mas design foi a profissão na qual me formei e ter encontrado um emprego na área na Suiça foi bem legal também. Trabalho como designer gráfico em um jornal e cada semana tenho um turno diferente. Chego a trabalhar, muitas vezes, até meia-noite e também aos domingos. Mesmo ganhando um salário razoável, ainda sim não é suficiente para cobrir os gastos de uma família com filho na Suíça. Então, minha esposa trabalha meio período. Nesse tempo, a nossa filha frequenta uma creche, desde que ela completou cinco meses. É difícil conciliar trabalho, família, blog, viagens e fotografia - minha grande paixão. Muitas vezes, fico acordado trabalhando no blog até de madrugada e o dia fica apertado. Mas nos damos muito bem, dividimos todas as tarefas e a nossa gringuinha, apesar de ter menos de dois anos, já viajou conosco muitas vezes.
BMA: Como é a rotina de um dono de casa? Daniel: Bom, assim como nossa família não tem chefe, nossa casa não tem dono. Somos uma cooperativa e cada um faz a sua parte. Até mesmo a Babyduc, com seus dois aninhos, adora participar da movimentação da casa. A Carla trabalha período integral, então eu fico com a nossa filha durante o horário comercial. Quando a Carla chega, ficamos juntos, jantamos e trocamos: eu vou para o trabalho e ela fica com a bebê. Eu alugo um escritório compartilhado, assim saio de casa, encontro outros empreendedores e tenho um tempo exclusivo para trabalhar. Nos finais de semana, fazemos questão de sair juntos. Michel: Como geralmente tenho as manhãs livres, aproveito para organizar a casa, limpar e fazer compras. A única coisa em que minha esposa insiste, mas não levo jeito e acabo me esquivando, é cozinhar. Daniel: Michel, eu também não levo jeito para cozinha, mas percebi que cozinhar é como qualquer coisa: se você tem talento vai ser fácil, mas se não tiver, sempre é possível aprender o básico. A Carla tem bastante jeito para ensinar e me deu diversas e pacientes aulas. Se eu que era daqueles que queimava miojo consegui, todo mundo tem salvação.
BMA: Como vocês encaixam o trabalho relacionado ao blog no dia a dia? Como as parceiras encaram esse trabalho? Michel: Depois de sete anos trabalhando em todos horários possíveis e imagináveis, decidi convidar dois amigos para participarem do Rodando Pelo Mundo. Essa mudança ainda é recente e estamos buscando um ritmo para as publicações. Recebo também várias colaborações de blogueiros, amigos e leitores que ajudam a dar mais conteúdo de qualidade para o blog. A minha esposa aceita bem, respeita e acompanha o blog, até porque ela trabalha em uma agência de viagens. Hoje busco o equilíbrio, mas é complicado. Responder mensagens, tweets, publicar no Instagram, ler os recados no Facebook e tudo mais toma um bom tempo. Mas estar com a família e curtir juntos é e sempre será a minha prioridade. Daniel: Como já tinha dito, a ideia é que durante o horário comercial eu cuide da Babyduc e da casa. Durante a noite eu saio para o escritório para trabalhar no blog. Nem todo dia isso acontece: se estiver muito frio lá fora, por exemplo, é possível que eu fique em casa. Tem dias em que fico doente, tem dias em que a bebê precisa um pouco mais de mim. Às vezes, o blog sofre com isso e eu poderia estar crescendo bem mais se tivesse mais tempo. Mas foi uma escolha consciente que fizemos. A Carla sempre foi a maior incentivadora do meu projeto com o blog, e sem o seu apoio isso nunca teria virado realidade. Nos momentos em que eu desanimava ela me dava força para continuar. Nos momentos em que as coisas deram (e dão) errado, ela segura o tranco firme e continua me apoiando e me ajudando a manter o foco. Juntos estabelecemos metas de crescimento de renda e ela é bem agressiva com as metas! (risos). Enfim, eu faço o Ducs Amsterdam, mas sem a Carla o Ducs não existiria. É, como a nossa família, um projeto conjunto. Ah, parabéns Michel pelos novos membros do Rodando! Michel: Valeu! Senti que era o momento de mudar e agora é esperar pelos frutos que essa nova semente vai trazer. Concordo que a família é mesmo um pilar fundamental nessa caminhada, mas além dela temos também uma grande comunidade de blogueiros que se ajudam.
O Ducs Amsterdam é uma grande referência entre os blogueiros. O Daniel nunca escondeu a "receita do sucesso" e quer ver outros blogueiros crescendo junto com ele. Daniel: Fico até sem graça Michel, mas também muito feliz em saber que consigo, de uma maneira ou outra, ajudar. Concordo contigo, sempre preferi colaboração à concorrência e acho que a força mútua entre os blogs é fundamental.
BMA: Como é o sistema de creches, maternal e jardim de infância na Holanda e Suiça? Daniel: Creches aqui são muito caras e tem filas de espera. Porém, o governo dá uma ajuda e subsidia uma parte dos custos. A licença maternidade aqui na Holanda é relativamente curta: quatro meses, sendo que um mês deve ser tirado antes da data esperada para o parto. A licença paternidade é ridicularmente pequena: dois dias. Existe também uma licença parental não remunerada de 26 semanas para os dois se estiverem empregados há mais de um ano e a criança tiver menos de oito anos. Logicamente que fazer uma pausa sem receber por seis meses é inviável em 99,99% dos casos. Então, o que as pessoas fazem é tirar um dia por semana sem ganhar, diminuindo o impacto na renda e tendo uma semana de quatro dias por alguns anos.
Michel: As creches aqui na Suiça também são muito caras, como todo o resto. O altíssimo custo de vida é o preço pelo famoso “padrão de qualidade suíço”, que no final das contas até vale a pena. Essa opção da creche só se tornou viável para nós porque o trabalho da minha esposa reembolsa uma parte dos custos, o que alivia bastante as finanças. A licença paternidade aqui consegue ser ainda menor: um dia! Lembro que eu trabalhava como um zumbi nos primeiros tempos. A licença maternidade é de 14 semanas e as empresas são obrigadas a pagar uma ajuda de custo de 200 francos (cerca de 400 reais) por mês para cada filho.
BMA: Daniel, uma vez você escreveu que não é o único pai nos parquinhos públicos. Conte um pouco mais para nós. Daniel: Sim, se vê bastante pai cuidando dos filhos aqui, apesar das mulheres ainda serem maioria. Às vezes, me sinto um ET no parquinho. Mas também há dias em que nós homens somamos um número maior. As mães e os pais, em geral, são bem amistosos e eu consigo treinar meu holandês com eles. Também compartilhamos experiências. Não sinto qualquer hostilidade por eu ser um homem cuidando de uma criança no parquinho.
BMA: Michel como é na Suiça? Michel: Aqui geralmente são as mães e/ou avós que vão aos parquinhos. É raro ver pais por lá. Estes vão mais nos fins de semana. Mas, como existem parquinhos públicos em quase todos os quarteirões, muitos pequenos brincam sozinhos. Existe uma cultura muito legal de as crianças brincarem e fazerem esportes ao ar livre, apesar do clima frio boa parte do ano. Nos fins de semana, passeamos bastante com a nossa filha e tentamos ficar o mínimo possível trancados em casa. Daniel: Essa é uma dica boa Michel: sair. Ficar trancado dentro de casa é ruim tanto para o pai como para a criança. Eu saio sempre com a Babyduc, mesmo quando faz frio. É muito raro ver por aqui o que um amigo meu chamou de "piá de prédio", ou seja, criança criada dentro de casa.
BMA: Na Alemanha, cada vez mais pais querem tirar licença paternidade e participar mais da criação dos filhos. Outros reclamam sobre as altas expectativas que se tem com o homem moderno hoje em dia: ser bom pai, ter um bom emprego, sustentar a casa, ser um bom parceiro… Daniel: Cara, mas eu não acho que ser bom pai e bom marido seja expectativa alta. Pelo contrário, penso que é o mínimo esperado. Ter um bom emprego, já é o caso de discutir: O que é um bom emprego? O que dá muito dinheiro? Será que esse é o melhor critério? Não concordo dessas coisas serem expectativas altas impostas ao homem moderno. Acho que isso é o razoável de se esperar de uma pessoa: ser um bom pai ou uma boa mãe, companheiro, ser produtivo e contribuir de alguma forma para sociedade.
Outra coisa que implico é com essa de "pai participar". Participar da criação dá a entender que é obrigação da mãe e o pai "participa". Eu acho que pai não participa da criação, pai cria. Se não, não é pai. Eu fico com a Babyduc em casa durante 40 horas por semana, e ninguém diz que a Carla "participa" da criação dela. Ela cria nossa filha tanto quanto eu. E acho que com pai deve ser a mesma coisa, independente dele trabalhar fora ou não. Criar é tarefa dos dois. Já me disseram que admiram o sacrifício que faço pela minha filha, cuidando dela durante o dia. Eu entendo os sentimento da pessoa, pois realmente muitas vezes o trabalho de criar filho tem momentos muito difíceis, mas eu nunca considerei um sacrifício. Considero, na verdade, um privilégio. E tenho grande orgulho de ser pai, marido e também um stay at home dad. Gostaria de finalizar com uma citação de John Lennon, que me inspira: “So I like it to be known that, yes, I looked after the baby and I made bread and I was a househusband and I am proud of it. It’s the wave of the future and I’m glad to be in.”*
Michel: Difícil acrescentar algo depois de uma frase do Lennon. Tento todos os dias ser um pai melhor, mas é tudo questão de instinto e respeito. Não existe coisa melhor para uma criança do que crescer em um ambiente saudável e equilibrado. Cabe a nós, pais, darmos o nosso melhor.
Contato Ducs Amsterdam www.ducsamsterdam.net Rodando Pelo Mundo www.rodandopelomundo.com
* Pai em tempo integral * Eu gostaria que ficasse registrado que, sim, eu cuidei do bebê e eu fiz pão e eu fui um dono de casa e tenho orgulho disso. É a onda do futuro e estou contente de fazer parte dela.
Blogosfera
Cinco blogs e sites que gostamos de acompanhar
Longe e perto Carla Caldas é carioca e escreve desde 2011 no seu blog sobre viagens, gastronomia e lifestyle. Longe e perto é um blog informativo, com lindas fotos e textos muito gostosos de se ler. longeeperto.com
Na Alemanha tem? O blog Na Alemanha tem? mostra onde você pode achar em terras germânicas produtos parecidos com os brasileiros. As dicas de como e onde encontrar, por exemplo, água de coco, erva-doce, farinha de milho entre outros, são muito úteis. na-alemanha-tem.com
Continue curioso Continue curioso é um site que documenta as buscas e questionamentos de pessoas que se desprenderam de um jeito convencional de viver, para caminhar em direção ao desconhecido. Um site com retratos de vida inspiradores! continuecurioso.cc
RBBV Formada em Novembro de 2011, a RBBV – Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem – é uma comunidade composta por mais de 300 blogueiros que publicam sobre diferentes temas ligados a turismo e viagens. Um site muito informativo e interessante! rbbv.com.br
Lado B: pausa para o indispensável A jornalista Rita Alves entrevista no seu blog pessoas que relatam sobre o seu lado menos conhecido, o Lado B, e falam da importância dele no cotidiano. São histórias de pequenos gestos, hobbies, coleções, dons entre outros. Você conhece o seu lado B? ladob2.wordpress.com
Do lado de cá Vanessa Bueno é jornalista e expatriada. Mora na Alemanha há um ano e escreve sobre a vida fora do Brasil, com a participação especial de nossos leitores.
Meu vazio se encheu de amor Do lado de cá é muito bom, mas um dia acordei com uma sensação estranha. Tinha um buraco no peito. Uma falta de mim e da vida como eu conheço. Deu uma pressa em me livrar desse sentimento. Sai para caminhar, tem uns lugares lindos por aqui. De repente senti um alívio e tudo voltou ao normal. Contei para o médico. Ele disse: - Ah, não se preocupe. Isso é Heimweh e depois que completares um ano aqui passa, ou diminui bastante. Heimweh numa tradução livre para o português quer dizer saudades da pátria. Recomendoume o médico que fizesse pequenas viagens aos fins de semana. A prática tem ajudado muito. Outro dia na escola de idiomas o assunto era esse. Quase todos tinham histórias para contar. Quando a saudade de casa bate, uns lavam louça, outros dançam, ou assistem novelas. Meu colega russo cuida da horta. A menina do afeganistão só senta e chora. Para alguns é melhor focar no presente, para outros a solução é rever as fotos da família. Todos aqueles depoimentos pareciam acolher a minha falta. Relatei a experiência ao marido, que me disse: - Eu sei bem como é isso. - Sabe? Perguntei surpresa, afinal quem mudou de pátria fui eu. Ele explicou: - Viajei durante anos de país em país a trabalho, permanecendo de dois a três meses em cada local. Por isso, também experimentei esse sentimento. - E o que você fazia? - Quando eu estava sozinho no Brasil, por exemplo, na véspera do Natal, rezei e pedi a Deus para não sentir mais aquele vazio. No dia seguinte, aceitei o convite de um colega para sair. Foi quando te conheci e tudo mudou. Nesse dia, meu vazio se encheu de amor.
Carolina Ziliotto, que mora na Alemanha, mantém contato diário com a família via skype.
Foto: Carolina Ziliotto
Perguntei também aos leitores: O que vocês fazem para amenizar a saudade de casa? Olha o que a Carolina Ziliotto, que também mora na Alemanha, respondeu:
“Para evitar esse sentimento de saudade da pátria eu procuro focar no presente. Faço poucos planos a longo prazo. Tenho pequenos planos e vou vivendo a vida conforme ela se apresenta. O contato diário com minha família, via Skype, também ajuda bastante. Muitas vezes colocamos o papo em dia enquanto fazemos atividades do cotidiano como cozinhar, pintar o cabelo (minha mãe diz: "olha ali do lado vai pingar"). Também faço ginástica, pequenas viagens a dois, assisto novela brasileira, saio com as amigas... Vivo o que tem para viver hoje da melhor forma que consigo.” Na próxima edição da Brasileiros mundo afora falarei sobre minhas experimentações culinárias na Alemanha. Se você também mora do Lado de cá, de fora do Brasil, e tem boas histórias para contar sobre comidas e sabores, não deixe de escreve para mim: brasileirosmundoafora@gmx.net. Beijo e até a próxima!
Vanessa
Anelise no caminho das
Ă?ndias
Anelise Cornely tinha a curiosidade de saber como vivem as pessoas no exterior. Há três anos, criou coragem e trocou Porto Alegre por Mumbai, na Índia. Lá trabalhou, fez amigos e apaixonou-se. De volta ao Brasil, nos conta como foi essa aventura... Texto: Anelise Cornely | Fotos: Arquivo pessoal
E
m Setembro de 2009, por meio da indicação de amigos, ingressei em uma organização de jovens que trabalha com multiculturalidade e intercâmbio profissional no exterior. Assim, conheci pessoas de diversas nacionalidades e a vontade de conhecer o mundo aumentou em mim. Na minha cabeça era quase como que viajar para outro planeta. Eu sempre tive a ideia de que as pessoas no exterior eram muito diferentes, mas, na medida em que fui tendo a oportunidade de conhecer estrangeiros, essa fantasia diminuiu. Conclui minha faculdade de psicologia, consegui um emprego na minha área e estava em um longo relacionamento. Mas aquela vontade de explorar o desconhecido e o medo de postergar esse sonho além do tempo em que seria possível realizá-lo, falava alto dentro de mim. Foi então que comecei a buscar uma oportunidade real.
Por meio da organização de intercâmbio, tive acesso a um banco de vagas com oportunidades em todos os lugares do mundo. Pré-selecionei algumas oportunidades relacionadas a Psicologia e Recursos Humanos, dando preferência a países que eu já tinha referências e que já falava o idioma, além de português eu falo inglês.
Rotina intensa A Índia disponibilizava diversas vagas em RH, tem o inglês como a língua oficial e eu já conhecia algo sobre o país. Tinha feito amizade com um indiano, além de ter assistido à novela Caminho das Índias e alguns documentários. Com base nesse escasso conhecimento, enviei meu currículo para algumas oportunidades que me interessaram e comecei com as entrevistas via Skype. Para minha sorte, fui selecionada para uma vaga de estagiária de RH logo na primeira entrevista. Iniciei então uma imersão no tema Índia. Assisti diversos documentários, comprei livros, pesquisei na Internet e conheci pessoas que tinham morado lá. Confesso que fiquei um pouco assustada e diminui muito minhas expectativas. Minha família ficou bastante assustada. Era a primeira vez que eu sairía de casa e também a minha primeira viagem ao exterior. Me enchi de coragem e pedi demissão do meu emprego. Algumas pessoas reprovavam a minha decisão de partir para um país “não civilizado”, como diziam, mas não desisti. Assim que cheguei em Mumbai, na Índia, meu primeiro estranhamento foi com relação ao clima, muito quente, e o ar extremamente úmido. Senti dificuldades para respirar. Morei cerca de sete meses em um apartamento com estrangeiros de diversos outros países, que fizeram a gentileza de me apresentar a cidade. Foram muitos choques culturais: o cheiro das pessoas, a desorganização da cidade, a falta de infraestrutura.
Saía bastante à noite, passeava pela cidade de trem e fazia pequenas viagens pela Índia. Minha rotina era intensa: trabalhava, estudava inglês e procurava ler o máximo possível sobre a a cultura indiana. Aprendi a apreciar a culinária. Gostava de pegar os cardápios de restaurante para tele-entrega e escolher um prato aleatoriamente, sem nunca repetir o mesmo. Como psicóloga e profissional de Recursos Humanos, sempre achei a comunicação muito complicada. Apesar de todos se esforçarem para falar em inglês comigo, até mesmo esse idoma ainda não me era totalmente conhecido. Eu precisava saber o que as pessoas pensavam e diziam, além disso, precisava que elas se sentissem à vontade para se abrir comigo. Como a primeira língua na Índia é o hindi, essa dificuldade esteve presente até os meus últimos dias no país.
Deuses estrangeiros Depois de algum tempo, resolvi voltar a nadar, esporte que sempre pratiquei. Haviam poucas academias com piscina em Mumbai, mas uma delas ficava bem próxima à empresa onde eu trabalhava. Foi lá que conheci meu noivo, o Alishan. Saímos algumas vezes e, após quatro meses, ele me convidou para morar com ele e sua família. A partir de então, nos tornamos todos uma grande família, na qual sempre houve muito amor e respeito. Eles são muito abertos para outras culturas e foram carinhosos e receptivos comigo. Entendiam as minhas diferenças com relação a maneira de vestir, aos hábitos alimentares ou de higiene. Morei com eles até a minha volta para o Brasil.
Estrangeiros, na India, são tratados como deuses. São ilustres visitantes, não somente pela pele branca, que é muito admirada, mas também pela cultura moderna e pelos valores de individualidade e busca pela felicidade pessoal que possuem. Apesar disso, eu e meu noivo tivemos momentos difíceis em nosso relacionamento. Os indianos são, por natureza, machistas, visto que fazem parte de uma sociedade na qual a mulher é praticamente “vendida” por sua familia para o marido. As bebês meninas são abortadas, por isso é ilegal que o médico divulgue o sexo do bebê antes do nascimento. O comportamento de uma mulher ocidental é, portanto, muito diferente e acaba gerando conflitos. A minha ambição profissional, precisar trabalhar até mais tarde, querer sair com meus próprios amigos, me vestir do jeito que eu quero, sair pela rua sozinha, enfim, ser independente, foi algo difícil para ele entender. Mas, com o passar do tempo, conseguimos aceitar e conviver com as nossas diferenças.
De volta ao Brasil Durante o tempo em que morei na Índia, eu me comunicava com minha família frequentemente, via telefone, Skype e e-mail, em especial com minha mãe. Sempre estive muito próxima deles durante estes três anos, graças às novas tecnologias. Muitas vezes, eu e minha mãe conversavámos como vizinhas que se ligam para colocar o papo em dia. Enquanto estive lá, visitei o Brasil três vezes. Desde junho deste ano, estou de volta e em definitivo. Tomei essa decisão porque me sentia muito limitada. Mesmo após três anos morando na Índia, não conseguia falar fluentemente o hindi. Além disso, não era totalmente independente e acabava sempre dependendo de alguém para realizar tarefas simples do dia a dia. No trabalho eu também já não via futuro, pois a comunicação era uma barreira para que eu pudesse alcançar cargos mais altos. Enfim, sentia que havia chegado ao meu limite. No entanto, agora que estou de volta, há cerca de dois meses, sinto que já não conheço mais o meu país. Dentro da minha função de Recursos Humanos, estou tendo que reaprender tudo. No momento, ainda me sinto um pouco estrangeira em minha própria terra. Isso me faz sentir falta de lá, além de sentir saudades do meu noivo. Ele ainda não conhece o meu país, mas estamos planejando sua vinda para breve. Meu retorno ao Brasil tem me feito muito bem. Eu queria muito me sentir independente de novo. Trabalho em uma empresa indiana, com sede no Rio de Janeiro, onde moro atualmente e estou muito feliz. Pela primeira vez moro sozinha e estou buscando meu espaço nessa cidade maravilhosa. A Índia fará parte da minha vida para sempre. E daqui pra frente, só Deus, Ganesha, Shiva, Vishnu... sabem!
Anelise Cornely é gaúcha, de Porto Alegre. Psicóloga com atuação em Recursos Humanos, morou e trabalhou na Índia por três anos. Suas experiências por lá, ela contou em seu blog www.aneacaminhodasindias.blogspot.com.br
De volta ao Brasil, mora e trabalha atualmente no Rio de Janeiro.
Das ruas
para as lentes de Stela
Entrevista:
| Fotos:
A fot贸grafa Stela Alves encontrou um jeito diferente e divertido de divulgar o seu trabalho. Criou o blog Streetstyle by Stela e saiu fotografando pessoas e seus estilos mundo afora.
Mariana Saudino nas ruas do Rio de Janeiro
Robin Nilsson nas ruas de Copenhagen
Streetstyle by Stela
Foto:
Stela Alves é baiana, fotógrafa e adora viajar. Apaixonada por arquitetura, já realizou algumas exposições sobre o tema, como a coleção Janelas da Bahia. Já morou na França, Suíça e Inglaterra. Há 13 anos, mudou-se para a Alemanha para morar com o marido, o arquiteto alemão Peter Dohle, que conheceu quando passava férias em Portugual. Em entrevista, fala sobre o seu blog de moda Streetstyle by Stela.
Brasileiros mundo afora (BMA): Como surgiu a ideia de produzir o blog Streetstyle by Stela? Stela Alves: Sou fotógrafa profissional e percebi que um blog e um site funcionariam como vitrine para o meu trabalho. Ficou mais fácil para os clientes escolherem as fotos. Além disso, esse novo projeto, Streetstyle by Stela, reúne algumas paixões que eu tenho na vida: viajar, observar as pessoas e fotografar o inusitado. BMA: Você utiliza critérios para escolher quem irá abordar na rua? Stela Alves: Como é um blog de street style, procuro ficar atenta às tendências. Se no momento a moda é listras, por exemplo, saio às ruas procurando roupas com listras. Não posso fotografar apenas o que eu acho interessante, o blog tem que ter looks para todos os gostos. BMA: Você já passou por alguma saia justa durante uma abordagem? Stela Alves: Já fui esnobada por duas "patricinhas" em Düsseldorf, na Alemanha. Quando me apresentei como fotógrafa, que tinha um blog de rua e gostaria de fotografá-las, elas me olharam com uma cara de desprezo enorme e disseram: - De maneira nenhuma. Outra vez, em Paris, vinham em minha direção duas mulheres, uma bem mais fashion que a outra. Perguntei se podia fotografá-la, quando me dei conta de que a outra era uma celebridade. A mais fashion era sua assessora. Sorte que deu tempo de consertar o fora que eu estava prestes a dar. BMA: Dos países que você já visitou, qual mais gostou do que viu nas ruas? Stela Alves: A Dinamarca tem um povo lindo, simpático e com estilo próprio. Adorei. BMA: Qual o próximo destino do Streetstyle by Stela? Stela Alves: O Streetstyle by Stela está agendado para Berlim, Copenhagen, New York e Moscou. Ficou curioso? Acompanhe as descobertas de Stela no www.streetstylebystela.blogspot.com
Organização sem fins lucrativos desenvolve projetos de apoio e integração a mulheres Texto: Vanessa Bueno | Fotos: Imbradiva
Há 15 anos, duas brasileiras e uma alemã uniram-se em prol de um objetivo em comum: apoiar as migrantes de língua portuguesa no seu processo de integração na sociedade alemã. Dessa iniciativa nasceu, em Frankfurt, a Imbradiva - Iniciativa de mulheres brasileiras. De lá para cá, a organização não governamental se expandiu e hoje presta serviços como aconselhamento jurídico e psicológico, apoio a presidiárias, encontros de beleza e degustação da culinária brasileira, seminários e workshops, além de creche para os filhos das migrantes.
Desde 2003, a Imbradiva expandiu suas atividades aos filhos das associadas com a criação do Pirlimpimpim.
Na presidência da entidade desde 2005, Joselene Drux explica que as colaboradoras são todas voluntárias e atuam como intermediárias, ou seja, encaminhando quem as procura aos profissionais especializados. Segundo ela, os casos que chegam via aconselhamento incluem depressão, dificuldade de integração, divórcio e violência doméstica. A demanda gira em torno de três a quatro solicitações por semana. Joselene conta que chegou a ir na casa de uma mulher que ligou em busca de ajuda, mas garante que isso é exceção. Em casos como esses, a Imbradiva procura garantir que as agredidas sejam acolhidas em abrigos para mulheres e encaminha os processos legais pertinentes.
Colaboração Cerca de 13 pessoas integram a diretoria da Imbradiva hoje, dividindo-se em equipes para atender a diferentes frentes em que a organização atua. Além do grupo de aconselhamento, elas realizam visitas às detentas brasileiras do presídio em Preugesheim (JVA), em Frankfurt, semanalmente, ajudando no contato e envio de informações às famílias no Brasil e, em alguns casos, no retorno ao país. Também providenciam revistas, livros, roupas de inverno e o que mais for necessário. Entre as causas mais comuns de prisão, conforme o relato da presidente, está o transporte de drogas. “São meninas pobres, com uma vida difícil no Brasil, que acham que conseguirão ter um futuro melhor realizando esse trabalho de mulas, transportando drogas para os traficantes”, diz. Para dar conta da demanda de trabalho, as Imbradivinas, como se autodenominam, realizam encontros mensais. Nas reuniões, dividem as tarefas, definem os projetos e o orçamento da entidade. “Cada uma colabora como pode”, explica Joselene, acrescentando que a maioria realiza as atividades da Imbradiva após seu expediente de trabalho.
Os recursos de aporte aos projetos são gerados através de contribuições espontâneas de pessoas físicas e jurídicas, do pagamento de mensalidade das cerca de 60 sócias e da participação da instituição em feiras e eventos com venda de quitutes brasileiros. Aliás, foi em um desses eventos que Joselene entrou em contato com a ONG pela primeira vez. “Conheci o trabalho da Imbradiva durante uma festa brasiliera e logo me apresentei para as meninas. Fico muito feliz quando percebo que conseguimos ajudar as pessoas a resolverem suas questões e seguirem felizes. É o meu combustível para continuar”, registra.
Projetos Infantis Desde 2003, a Imbradiva expandiu suas atividades aos filhos das associadas com a criação do Pirlimpimpim. Trata-se de um grupo recreativo infantil, onde os pequenos são estimulados a se comunicarem em português. Por meio de atividades como contação de histórias, festas típicas e brincadeiras, as crianças entram em contato com a língua e a cultura brasileira. Com condução e supervisão de profissionais da área de educação, os encontros ocorrem uma vez por semana, em Frankfurt, e são direcionados a crianças de até seis anos. Como extensão do trabalho iniciado com o Pirlimpimpim, a organização fundou, em 2009, o Kita Curumim - creche internacional. A creche oferece dois grupos de atividades: português-alemão e inglês-alemão e pode receber até 22 crianças entre 10 meses e três anos. O Kita Curumim conta com o apoio do estado de Hessen, que paga parte das despesas. O restante dos custos é coberto pela mensalidade dos pais.
Encontros Um domingo por mês a organização também oferece a suas associadas e à comunidade em geral o BIA - Beleza integração e autoestima. Durante os encontros, é possível degustar pratos típicos brasileiros, além de fazer as unhas e cortar os cabelos com profissionais do Brasil. “Nosso objetivo é gerar uma troca de experiências entre as migrantes. Elas conversam, interagem e percebem que passam por situações parecidas, o que ameniza o sentimento de solidão e saudade da pátria", conta Joselene. Além do BIA, a ONG promove seminários e workshops de esclarecimento sobre temas como direito do estrangeiro, direito de família, mulher e saúde, formação profissional e mercado de trabalho. Muitas dessas atividades são apoiadas por organizações e entidades alemães.
Foto: Karla Barros Miguez
Após esclarecer todas as atividades da Imbradiva, a presidente da ONG deixa um recado para quem acaba de chegar na Alemanha: “Aprenda a língua e não desista. Morar na Alemanha pode ser bom."
Joselene Drux é natural de Olinda, em Pernambuco, mora na Alemanha há 32 anos e há 22 trabalha na Bolsa de Valores de Frankfurt. Exerce a presidência da Imbradiva desde 2005.
A entidade IMBRADIVA e.V. é um grupo mulheres migrantes que se articulam para realizar projetos, os quais promovem a integração da mulher brasileira na sociedade alemã. A nossa sede encontra-se em Frankfurt. Nossos Projetos e Serviços • Informação e aconselhamento; • Eventos e seminários de interesse das mulheres; • Encontros mensais BIA - Beleza, Integração e Autoestima; • Projeto JVA – visitas a detentas brasileiras, dando apoio e Informação; • Projetos infantis – Grupo Infantil Pirlimpimpim e Creche Internacional Curumim. IMBRADIVA e. V. Adalbertstrasse 36a, 60486 Frankfurt am Main Tel.: +49 (0)69 97 26 42 69 Fax: +49 (0)69 97 26 43 37 Email: mail@imbradiva.org Web: www.imbradiva.org
brasileirosmundoafora@gmx.net
Fotos: Claudia Bรถmmels
Ana Biselli é publicitária, Rodrigo Junqueira é economista. Juntos embarcaram na grande e inesquecível aventura de viajar durante mil dias pela América, explorando o continente de norte a sul, de leste a oeste. Além da paixão por viagens, o casal divide o prazer de compartilhar suas aventuras no site 1000dias.com.
Depoimento à Claudia Bömmels
Fotos: 1000dias
A ideia de fazer a viagem surgiu de um sonho que Ana e Rodrigo já alimentavam há tempos: conhecer cada lugar, cada canto da Terra. Antes de se conhecerem haviam viajado para diferentes lugares. Rodrigo já somava 40 países e Ana 21. Porém, foi em uma madrugada estressante, em Porto Alegre, que Ana ligou para o Rodrigo em Curitiba e disse: “Basta! Vamos tirar umas férias, pegar o carro e viajar!” E as férias tornaram-se uma viagem de carro por todo o Brasil. Estava criado o embrião do projeto 1000 dias. Durante quase dois anos, o plano foi ampliado para uma viagem pela América e mil dias lhes pareceu um número bem redondo.
O trocado para bancar a viagem Ana e Rodrigo financiaram a viagem com as suas próprias economias. Deixaram, por exemplo, de comprar o tão sonhado apartamento para realizar essa aventura. “Muitos nos perguntam se somos ricos ou se ganhamos na mega-sena e a resposta é outra pergunta: qual é a sua prioridade? Você tem uma casa ou um carro? Venda e vá viajar, se esse é o seu sonho.”, diz Ana. Durante o planejamento do 1000 dias, encontraram alguns parceiros que os acompanharam neste projeto, apoiando com equipamentos e divulgação. A viagem deveria durar exatos mil dias. De 28 de março de 2010 a 12 de dezembro de 2012, o dia do fim do mundo, segundo o calendário Maya. Ana comenta: “Se o mundo acabasse mesmo, teríamos passado os melhores mil dias do final de nossas vidas e sem precisar pagar as contas do cartão de crédito. O mundo não acabou e a viagem também não. Hoje já passamos dos planejados mil dias. No caminho, aprendemos com outros viajantes que uma viagem destas deve ter uma data de início, mas não de fim e que o principal é podermos nos adaptar e aproveitar as oportunidades que temos. Hoje a previsão de término é o início de 2014, afinal dinheiro ainda não cresce em árvore e outras grandes aventuras nos aguardam.”
Planejamento de viagem Ana conta que o planejamento da viagem deu-lhes um caminho macro, como por exemplo, os países por onde passaríam e o tempo médio em cada um deles. Porém, o roteiro detalhado, é totalmente espontâneo. Alguns locais eles já sabem de antemão que querem conhecer, mas completa dizendo que também descobriram muitos lugares lindos e que nem imaginavam existir, seguindo dicas de amigos que fizeram durante a viagem.
Não existe viagem sem “perrengues” A maior dificuldade da viagem que os dois enfrentatam foi o trecho de 200 km entre Alto Parnaíba, no sul do Maranhão, e a cidade de São Félix do Jalapão, em que a estrada aparecia nos mapas, GPS e até nas informações cedidas pelos moradores da região, mas desaparecia em meio ao deserto, chapadas e cerrado. Ana e Rodrigo estavam preparados para fazer o percurso em oito horas. Sem água e sem comida, levaram dois dias inteiros para conseguir cruzar de uma cidade à outra. Apesar das dificuldades, a publicitária comenta a experiência com animação: “A maravilha é que descobrimos pessoas muito boas nesse caminho. Gente simples, que não mediu esforços para dividir conosco seu prato de arroz com abóbora e um teto de palha para dormirmos. Foi uma noite inesquecível de muito aprendizado e risadas sob a luz de velas e com uma boa cachaça.” Tentando de todos os jeitos tirar a trava do estepe na Argentina.
Como fazer malas para uma viagem de mais de mil dias “Com um carro para carregar tudo (ou quase tudo) o que você quer, eu diria que fazer malas não foi um dos grandes conhecimentos que ganhamos nestes mil dias! Em tanto tempo de viagem, tivemos que estar preparados para todos os tipos de clima: frio, calor, praia, montanha, neve e chuva. Basicamente o que fizemos foi ter uma mala de inverno e uma mala de verão, que mesclamos conforme mudamos de estação”, diz Ana. Com o tempo, os dois ficaram craques em minimizar a parte mais chata de uma viagem: fazer e desfazer malas. Eles mantêm sempre uma mochila com o básico pronto: necessaire, roupas íntimas e uma camiseta limpa. Se ficam apenas um dia em um lugar, utilizam somente a mochila.
Preferem mala ou mochilão? Ana responde sem hesitar: “O nosso primeiro ano foi com um mochilão até que cansei de fazer e desfazer o tempo todo, já que para tirar uma camiseta eu tinha que desmontar toda a estrutura da mochila. Assim, decidimos por mala para o dia a dia no carro e mochilão para visitar as ilhas no Caribe, por exemplo, e qualquer trekking de montanha.”
O indispensável para se levar do Brasil “Acho que o jeitinho brasileiro não pode faltar”, comenta Ana, e completa: “Não para levar vantagem, mas para se adaptar aos imprevistos que aparecerem. Nada, mas nada, pode te desanimar e fazer querer desistir do seu sonho. Estar aberto a novas soluções o tempo todo trará uma perspectiva diferente de vida e uma nova experiência de viagem.” Segundo ela, é indispensável levar alguns pares de havaianas, pois as sandálias são muito caras no exterior e, podem soltar as tirar com o tempo.
Hospedagem: o simples nem sempre é a pior opção “Já dormimos no carro, campings, redes penduradas nos barcos amazônicos e onde mais você imaginar! A pior hospedagem que tivemos foi em uma cidade nas Reentrâncias Maranhenses, na noite em que aguardávamos carona no barco dos pescadores para a Ilha de Lençóis. Tudo era muito sujo, muito mofado, mas era a única da cidade. Quando chegamos na ilha, ficamos na casa de uma família que é toda feita de palha, paredes, teto e janelas, chão de areia, perfeito para a ilha, fresco e o melhor de tudo, limpíssimo! Moral da história, o simples nem sempre é a pior opção.”
No alto da montanha sagrada El Quemado, México Punta Gallinas, Colômbia.
Fim do passeio à mina Rosário, Bolívia.
Encontrando famosos No Deserto do Atacama, Ana e Rodrigo encontraram Glória Maria gravando um Globo Repórter, o primeiro desde que ela assumiu o lugar de Sérgio Chapelin. “Simpaticíssima, ficou muito curiosa com a nossa viagem e fez questão de nos incluir na matéria. Tivemos nossos 30 segundos de fama.”, brinca Ana. Em Memphis, Estados Unidos, na fila para visitar a Mansão de Elvis Presley, encontraram o ator Ethan Hawke e sua filha com a atriz Uma Thurman, mas preferiram não incomodar o artista.
A parte mais difĂcil em uma viagem como esta ĂŠ estar longe das pessoas que amamos, o resto tiramos de letra.â€?
Guatemala
“Nada, mas nada, pode te desanimar e fazer querer desistir do seu sonho.”
Bolívia
Chorar é inevitável Ana conta que eles choraram de emoção em várias situações, como quando chegaram ao cúme de uma montanha acima dos 5.800 metros pela primeira vez, quando fizeram carinho em uma baleia cinza na Baía Califórnia, ou quando nadaram ao lado de um tubarão-baleia em Galápagos. Entre as lembranças mais marcantes, estão outras duas situaçães: uma delas foi quando sobrevoaram a Groelândia. As imagem que eles tinham do Ártico finalmente se tornaram realidade. “Um continente gelado com desertos de gelo e icebergs maravilhosos e que sabemos que com o tempo irá desaparecer. As lágrimas foram instantâneas e naturais. Demorei um tempo para entender porque estava chorando. Logo toda aquela beleza não estará mais alí. Isso é muito triste.” Para completar, diz: “Outro momento em que chorei de desespero, foi quando a minha sobrinha nasceu. Era um misto de emoção, alegria e tristeza por não estar lá! A minha primeira sobrinha, a primeira neta dos meus pais, filha da minha irmã caçula. Já havíamos planejado estar em Curitiba para este momento, mas a pequena Luiza resolveu se adiantar, justamente quando estávamos dois dias sem comunicação. A parte mais difícil em uma viagem como esta é estar longe das pessoas que amamos, o resto tiramos de letra.”
Planos para depois da viagem Depois de viajar por mais de mil dias por todos os países da América, Ana e Rodrigo querem, segundo eles, começar uma das aventuras mais incríveis de suas vidas: ter filhos. Eles planejam voltar a trabalhar nas suas respectivas profissões e paralelamente dar continuidade ao projeto 1000 dias. Também pretendem escrever um livro, algum dia, para compartilhar o grande acervo de conhecimentos adquiridos nesses anos de viagem. “Nós sentimos a necessidade de vivenciar o mundo lá fora para assim aprender a valorizar ainda mais os pequenos momentos do dia a dia. Voltaremos à nossa rotina, mas, aos poucos, buscaremos estrutura para voltar para a estrada, porque também não somos de ferro.” Temos certeza de que essa não será a última viagem do casal. Acompanhe Ana e Rodrigo: www.1000dias.com contato@1000dias.com Twitter: @1000dias Facebook: 1000 dias
Viajar é mudar a roupa da alma Mário Quintana
Península do Kenai, no sul do Alaska.
Terceira Idade Clique de Michel Zylberberg na Swiss Harley Days 2013
O casal Ingrid e Bruno Parente apostou neste público-alvo e hoje comanda uma página com cerca de 200 mil fãs no Facebook
Texto: Claudia Bömmels
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Foto: Bruno Lois
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urante uma conversa com sua esposa, Bruno levantou a questão: “Será que encontraremos o público da terceira idade no facebook?” Interessado pelo tema, principalmente por ter pessoas muito queridas nesta faixa-etária na família, o casal criou, em janeiro de 2012, uma página na rede de relacionamentos chamada Aproveitando a terceira idade. Logo alcançaram a marca de 100 mil fãs e então investiram tempo e dinheiro no projeto, contrataram pessoal, focaram seus esforços em entender as demandas deste público e passaram a comercializar anúncios. Hoje, o Aproveitando a terceira idade é o maior site do Facebook publicado em português e direcionado a essa faixa-etária, contabilizando cerca de 200 mil fãs. Em maio desse ano, expandiram o negócio com o lançamento do site aterceiraidade.com. Segundo Ingrid, no novo espaço é possível aprofundar os conteúdos, além de trabalhar novas pautas, como saúde e prevenção, entretenimento, turismo, curiosidades, eventos, arte e cultura, casa e família. “Tivemos o cuidado de trabalhar uma marca que representasse bem a terceira idade e nossa identidade como empresa. Buscamos retratar as fases da vida e suas continuidades, com a simbologia de diversão em todas as etapas”, explica a empresária. O casal investe cerca de nove horas diárias na atualização do facebook e do site. “É preciso pesquisar, responder às mensagens, ajudar as pessoas que interagem conosco”, relata
Ingrid. A empresária conta que ela e seu marido ainda não chegaram à terceira idade, mas têm grandes expectativas para essa fase tão madura e de tanta sabedoria. Bruno é formado em Publicidade, com MBA em Propaganda e Marketing. Ingrid tem formação em Administração, com MBA em gestão empresarial avançada, MBA em Marketing Digital e tem experiência na área de Recursos Humanos, o que, segundo ela, facilita a análise de comportamento das pessoas. Ambos trabalham com marketing digital.
Tudo por eles Ingrid acredita que a fórmula de sucesso do Aproveitando a terceira idade é o amor e o carinho que ofertam aos seus leitores.“Fazemos realmente tudo pensando neles e para eles. Estudamos, lemos muito para estarmos sempre atualizados com o que o mercado necessita, Além disso, buscamos parcerias com profissionais em sintonia com o nosso propósito de ajudar, alertar e levar informações a esse público.” A recompensa para tanta dedicação é a interação com os leitores, principalmente quando eles enviam mensagens como: “Eu adoro esse site” ou “Gosto desse grupo, porque se preocupa com a gente da terceira idade.” Para Ingrid esse é o verdadeiro combustível que mantém a equipe motivada. Para quem ainda não conhece basta acessar: www.aterceiraidade.com
Foto: Leonardo N. de Azevedo
A Patagônia é uma região que abrange a parte mais meridional da América do Sul. Localiza-se entre a Argentina e o Chile, integrando a seção mais ao sul da cordilheira dos Andes. Lá encontra-se a maior quantidade de geleiras fora das zonas polares e isso ocorre em virtude do clima frio, com temperatura média de -10 graus. A região destaca-se pelas paisagens belíssimas e variadas, como desertos frios e secos, florestas e bosques de pinheiro, vales e rios, montanhas e principalmente gelo, os glaciares. Os brasileiros Patrícia Takehana e Leonardo Nunes de Azevedo viajaram, cada um a seu modo, pela Patagônia. Um deles, viajando de ônibus e a pé, testou seu próprio limite físico. O outro, enfrentando seus medos, viveu a grande aventura da sua vida: viajar sozinho de bicicleta durante 23 dias. Os dois compartilham conosco suas experiências.
Descobrindo a
Patag么nia
Bagagem de memórias Patricia Takehana é educadora de formação, marketeira de profissão, blogueira por hobby e viajante por paixão. Amante da natureza, de aventuras, da cultura asiática e de causas sociais, reside em São Paulo, mas já morou no Japão, na Austrália e no Chile. É autora do blog Bagagem de Memórias e está sempre em busca de boas recordações.
Texto: Patricia Takehama |
Fotos: Bagagem de memórias
M
ochila nas costas rumo ao aeroporto. Destino: Ushuaia, na Argentina. Aqui começa a minha aventura pelo sul da Patagonia, a última pontinha das Américas, que divide as paisagens mais lindas entre Chile e Argentina. Terra de montanhas, vulcões, lagos e geleiras, com clima imprevisível e dias tão longos que parecem intermináveis.
Ushuaia foi a primeira cidade por onde passei, literalmente o fim do mundo! Das margens do Canal de Beagle, partem os passeios de barco para ver de perto a fauna e flora local. Outra opção é o Parque Nacional Tierra del Fuego, com suas trilhas fáceis e agradáveis - uma ótima escolha para começar o aquecimento, já que não faltam opções de trekking na região. Hora de arrumar as malas e partir para Punta Arenas, no Chile. Foram 12 horas de ônibus com direito a paradas nas aduanas para carimbar o passaporte e um trecho de balsa para cruzar o Estreito de Magalhães. Um lugar imperdível da região é a Isla Magdalena, uma ilha onde vivem 350 mil pinguins fofos e simpáticos que caminham livremente entre as pessoas. Há poucas horas dali fica a cidadezinha de Puerto Natales, ponto de partida para o Parque Torres del Paine, o highlight da viagem. O tempo era curto e meu preparo físico não é muito bom, então havia optado por fazer um tour de van que passa em alguns pontos do parque. Infelizmente, pouco antes de eu chegar, um turista fez uma fogueira que acabou incendiando boa parte do parque e metade do roteiro que iria fazer estava fechado. A opção que tive foi fazer a trilha até a base das torres. O pessoal do hostel me garantiu que eu conseguiria terminar o percurso, apesar de não ser uma trilha fácil, e ainda me alertaram a ir preparada para o sol, chuva, vento e até neve. E lá fui eu para a caminhada do dia: 9 km de subidas em trilhas, florestas e pedras, e depois os mesmos 9 km para voltar. Tive muita sorte com o tempo, o dia estava lindo com o sol brilhando e o único desconforto foi carregar todas as roupas de frio durante todo o percurso. Foram cinco horas para ida e confesso que não foi fácil, mas chegar ao final da trilha e ver as três torres atrás de um lago azul turquesa é inexplicável. Sem dúvida, um dos lugares mais bonitos em que já estive. De volta a Argentina, a parada seguinte foi El Calafate, porta de entrada para o Glaciar Perito Moreno. Um passeio de barco te leva bem perto da geleira e uma caminhada fácil pelas passarelas completa a visão de diferentes ângulos. De tempos em tempos escuta-se barulhos que parecem trovões - é o glaciar em movimento. Indo mais para o norte fica a cidadezinha de El Chaltén, a capital argentina do trekking. São várias as opções de trilha, mas a imperdível e mais procurada é a que leva ao Fitz Roy, a principal montanha da região. O caminho chega a um lago bonito, que é um ótimo lugar para se almoçar os sanduíches amassados que vieram na mochila. Essa foi uma viagem incrível, com certeza! Conheci lugares fantásticos e pessoas acolhedoras, entre turistas e locais, que fizeram de cada momento uma boa lembrança. Destino aprovado e recomendado! Ficou com vontade de conhecer a Patagônia? Leia mais sobre esta viagem no blog Bagagem de memórias. bagagemdememorias.com facebook.com/BagagemDeMemorias Twitter: @BagagemMemorias
A Pata conheci sua dive natureza e
ag么nia 茅 ida pela ersidade e exuberante.
Patagônia edalando pela
Entrevista à Claudia Bömmels
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Fotos: Leonardo Nunes de Azevedo
Leonardo Nunes de Azevedo tem 35 anos, é graduado em direito e mora no Rio de Janeiro, lugar que ele descreve como “a cidade mais gostosa de se viver.” Além dos seus dois grandes amores - ele é casado com Clarisa e pai de Martín, um bebê de cinco meses - ele se interessa pelo Budismo e é apaixonado por viagens, esportes, pela natureza, fotografia e pedalar por montanhas. Em entrevista à Brasileiros mundo afora, Leonardo fala sobre a grande aventura que foi pedalar sozinho pela Patagônia e revela seus medos, desafios e conqusitas.
Brasileiros mundo afora (BMA): Há quanto tempo você pratica mountainbike? Eu não me considero realmente um mountainbiker, pois pratico o esporte esporadicamente. Mas tenho uma bike de montanha adaptada para viagens. Em uma viagem em 2001 pela Patagônia, vi dezenas de ciclo-viajantes. Chegando em casa, comecei a pesquisar os requisitos para se viajar de bicileta com segurança e fui montando a minha.
BMA: Como foi a experiência de viajar sozinho e de bicicleta pela Patagônia. De onde surgiu essa ideia? Pode parecer clichê, mas posso dizer que foi uma experiência para o resto da minha vida. Viajar sozinho e em uma época em que poucas pessoas estão rodando pela região, sem qualquer auxílio, fez toda a diferença. Foram dias dedicados a pedalar e a contemplação em silêncio. O sonho dessa viagem surgiu quando atravessei os Andes de ônibus de Osorno para Bariloche, no Chile. As paisagens e estradas eram simplesmente parte de algum outro sonho de adolescência: campos floridos, rios transparentes, picos nevados, vilas nas montanhas. Muitos anos depois, estava lendo uma revista de uma empresa aérea e nela havia uma reportagem sobre as melhores cervejas sul-americanas. A descrição de uma cerveja chilena era mais ou menos assim: “cruze os Andes desde San Martin de Los Andes e no povoado tal em um restaurante em frente ao lago tal, beba essa cerveja”. Pronto, esse foi o estopim para essa viagem. Decidi então cruzar os Andes para beber uma cerveja dessas (risos). Fui no começo de dezembro, iniciando e finalizando a viagem em Bariloche, na véspera do Natal, onde minha esposa foi me encontrar para passarmos as festas subindo montanhas. Comecei a viagem em frente a catedral de Bariloche, em uma manhã gelada, cheio de medos e inseguranças. Meus acompanhantes eram a bike, mantimentos, duas câmeras fotográficas, saco de dormir, barraca, panela, talheres, ferramentas e muita vontade de passar por grandes experiências. De fato elas foram muitas. Desde acampamentos solitários em frente a lagos transparentes, subidas intermináveis nos Andes, onde eu simplesmente empurrava a bicicleta e tentava sobreviver, até um ataque de cachorros no segundo dia, que quase terminou com a viagem. Teve de tudo!
O dia mais marcante para mim foi o último, um resumo dos 23 dias que passei na estrada. Sai de Peulla, uma vila chilena perdida nos Andes, onde só se chega por barco, com destino a Bariloche. Nesse dia, enfrentei minha pior subida. Inicialmente foram 20 km de estrada de cascalho e de sobe e desce. Depois foram 11 km de subida que me fizeram empurrar a bicileta pesada e cheia de carga por horas. Eu ria para não chorar. Chegando ao topo, fiz uma foto para registrar e a descida já me esperava! Nos primeiros 100 metros, um pneu furou e troquei a câmara pela milésima vez na viagem. Segui descida abaixo em direção a um lago onde pegaria uma balsa. De balsa em balsa e mais 30 km de asfalto, cheguei enfim em Bariloche. Parei a bicicleta em frente a uma casa de empanadas - imundo, faminto e muito cansado - e comi meia dúzia delas, acompanhadas de umas três cervejas. Foi o final perfeito para a viagem. Só me restava ir para o albergue e esperar a Clarisa chegar. No dia seguinte e sem muito tempo para descansar, partimos para a fase de montanhismo da viagem. Mas ai é história para outro dia!
BMA: O que não pode faltar em uma viagem dessas? Tranquilidade, pois você vai depender só de você mesmo, sem poder culpar ninguém pelos seus problemas. Pneu furou? Você troca. Tá com fome? Você arranja comida. Não tem onde dormir? Se vira! Em uma viagem de bicicleta, você fica só no essencial.
BMA:Dicas para quem quer conhecer a Patagônia de bicicleta... Vá fora de temporada. Novembro, dezembro, fevereiro e março são ótimos meses, porque Chilenos e Argentinos não estão de férias e o clima não é muito ruim. Q
BMA: Qual o seu próximo destino? Desde essa viagem já fiz algumas outras, como o Monte Roraima e o caminho de Santiago, mas todas a pé. Como nascimento do meu filho Martín, parei um pouco. No próximo ano, espero voltar para Patagônia. Quero apresentar a “terrinha” para o garoto!
Tenho verdadeira devoção por viagens. Elas são o que realmente me move e alimenta a minha alma."
Erica Palmeira é carioca e mora em Melbourne na Austrália. Arquiteta e autora do blog homesweetener.com, ela é a nossa especilista para projetos “faça você mesmo”.
Hoje vou mostrar para vocês como fazer uma almofada sem costura. Isso mesmo, e é muito fácil! Os tecidos que eu utilizei são de algodão e muito simples. Comprei por um ótimo preço em um fim de feira. Mas se você se sentir confiante, pode fazer combinações mais ousadas com tecidos mais caros.
Material que você vai precisar: -
Tecido de algodão ou a seu gosto; Fita termo-adesiva ou cola de tecido; Um lápis; Molde em papelão; Desenho impresso em papel transfer; Ferro de passar; Tesoura; Material para fazer o enchiemeno da almofada.
Vamos então fazer uma almofada bem linda? Comece colocando o tecido sob o molde. Preste atenção na margem, para sua almofada não ficar menor do que você gostaria. Trace o contorno, corte o tecido e repita o processo com o outro lado.
Transferindo a imagem para o tecido Primeiramente você precisa imprimir (na sua impressora caseria mesmo) o motivo que você quer utilizar em papel transfer. Depois, para transferir a imagem para o tecido, você deve colocar o ferro de passar na temperatura máxima, mas não use nunca a função vaporizadora.
E retire toda água antes de começar. É importante que você deixe o tecido esfriar por completo antes de retirar o papel transfer, se não seu desenho ficará prejudicado. Quanto melhor a qualidade do papel tranfer for, mais uniforme será o resultado. Desvire para o lado certo e encha a almofada com o material apropriado. Lembre-se de deixar um dos lados abertos para você colocar o enchimento da almofada. Depois de preenchida, é hora de fechar. A fita termo-adesiva permite que você dê um acabamento perfeito na almofada. Caso você não encontre a fita para comprar, pode usar como alternativa a cola para tecido. Não esqueça de que a cola leva mais tempo para secar. Prontinho! Gostou? Você pode baixar os desenhos lá no HomeSweetener. Basta seguir o link: bit.ly/16buz5d. Você tem dúvidas ou fez uma almofada legal e quer compartilhar comigo? Entre em contato através do homesweetener.com/talk-to-me/
Beijos da Erica
Foto: Priscilla Perlatti | Mamatraca
Brasil, meu Brasil brasileiro... Texto: Lila Rosana
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Foto: Catia Lenz
O povo brasileiro acordou! Mesmo que por um momento sonhou com um país diferente, com melhorias sociais e políticas. Os jovens carregaram os mais velhos para as ruas e chamaram a atenção do mundo para a realidade caótica que o Brasil vive. O movimento gerou pequenas mudanças no cenário nacional e provocou diferentes reações nos brasileiros mundo afora. Uns concordaram e, mesmo de longe, apoiaram o movimento; outros se indignaram ou tiveram reações de indiferença ou descrença com tudo o que aconteceu.
O que pensam sobre os protestos Com a atual tecnologia das redes sociais, tive a oportunidade de trocar ideias com diferentes brasileiros espalhados pelo mundo e pude ouvir as seguintes opiniões: “Sou brasileiro, mas não acredito que o que está acontecendo trará mudanças. Para mim é fogo de palha.” – Afirmou João*, que mora na Suíça. “Sempre vou apoiar qualquer movimento contra a corrupção no Brasil” – Afirmou Lara*, que mora na Espanha. “Não consigo entender porque esse movimento está acontecendo. Pelo o que estão lutando mesmo?” - Joana*, que mora na Inglaterra. “Brasileiro imita tudo mesmo, não é? Até para lutar pelos seus direitos não consegue ser original” – Afirmou Nadine*, que mora em Nova York.
“Estou há tanto tempo fora do país que não consigo me comover com o que está acontecendo por lá. É como se não me pertencesse mais” –, comentou Ricardo*, que mora no Japão. “Fico emocionada com o que vem acontecendo e com toda essa vontade de mudança do meu povo brasileiro. Não moro mais no Brasil por anos e não pretendo morar, porém quero ver aquele lugar melhor” – Disse Karine*, que mora no Canadá.
Simples hipóteses Será que os brasileiros que moram fora do país começam a ver a terra natal com diferentes olhos e sob diferentes perspectivas? Será que começam a sentir que os problemas sociais lá existentes não mais lhes pertencem? Por qual motivo alguns se solidarizaram e outros foram indiferentes e críticos? Bem, eu não tenho como responder a todas as perguntas com respostas simples. Mesmo que tivesse as respostas com certeza elas não alcançariam a verdade que está além da minha simples percepção. Porém, gosto de hipóteses, pois com elas podemos explicar (ou tentar) o mundo ao nosso redor. A primeira hipótese é de que os brasileiros expatriados se solidarizaram com os protestos porque desejam ver seus familiares e amigos, que lá permanecem, em boas condições de vida. Sabemos que muitos decidiram morar fora do país pelos mesmos motivos que a população saiu às ruas: política corrupta, violência, carência nas áreas de educação e saúde e assim por diante. É como se pensassem: “Eu não quero mais morar lá, eu não estou lá para brigar, mas, que bom que alguém está fazendo isso por mim.” Uma segunda hipótese tem relação com os que se sentem distantes desse sentimento de “luta por mudança”. Os brasileiros que não entendem, não gostam ou não ligam para o que está acontecendo no sul da américa podem ter o sentimento de não mais pertencer àquelas terras. É como se pensassem: "Eu não moro mais lá, por qual motivo me importaria?”. É mais ou menos como se nunca tivessem visitado o Iraque e nem mesmo conhecido pessoas de lá e, por isso, não se importam com as tragédias humanas por lá existentes.
Distorção dos fatos O mundo noticiou o Brasil, porém nem todos conseguiram perceber com clareza o que aconteceu. O jornal britânico The Guardian publicou que os jovens brasileiros estariam apenas expressando a frustração com serviços públicos e a Copa do Mundo. Já a BBC disse que os protestos se devem ao aumento dos custos do transporte público e os gastos com a Copa do Mundo. O The Times registrou que os manifestantes eram pessoas indignadas porque o Brasil vai sediar a Copa. Só para se ter uma ideia, alguns canadenses chamavam o protesto de “World Cup protests”. Acredito que um dos poucos conseguiu captar a essência de todo o movimento foi o o New York Times. Numa matéria sensata, o jornal citou o aumento das tarifas como o estopim das manifestações.
Uma paradinha para reflexão Penso que a sua percepção e reação diante das manifestações no Brasil podem ser um grande indicativo de como você atualmente está, ou não, conectado ao seu país de origem. Quais sentimentos foram despertados em você? Qual foi a sua opinião sobre? Qual o seu nível de interesse pelo assunto? Você se sentiu indignado, indiferente ou empolgado com tudo isso? Caso tenha interesse em “testar a sua brasileirice”, responda para si mesmo as perguntas acima.
Sobre a autora: Lila Rosana nasceu em Belém do Pará, onde formou-se em Psicologia Clinica e Organizacional . Morou por 11 anos em Fortaleza, no Ceará. Tem especializações em educação infantil, ludoterapia e estresse pós-traumático. Atualmente vive no Canadá, na cidade de Vancouver. Ela escreve no blog pessoal http://lila-conversandocomospais.blogspot.com/ que surgiu do trabalho de orientação de pais que fazia no Brasil, e para o jornal online Tribuna do Ceará: http://www.tribunadoceara.com.br/blogs/lila-rosana/
*Para preservar a identidade dos entrevistados, todos os nomes apresentados nos depoimentos desta matéria são fictícios.
Cozinhando com pimpolhos
Fotos: Thomas Eggmann
Oi! Eu sou a Gê Eggmann e aqui você vai encontrar as minhas receitas preferidas para cozinhar com a ajuda das crianças.
Bom apetite!
Receita de Pão Trançado Suíço Fácil de fazer!
INGREDIENTES: ● ● ● ● ● ●
1 kg de farinha de trigo; 150 g de manteiga sem sal; 600 ml de leite; 40 g de fermento biológico instantâneo; 1/2 xícara de açúcar; 1 colher de sopa de sal.
MODO DE FAZER Peneire a farinha de trigo, juntamente com o fermento, o açúcar e o sal, misturando bem os ingredientes. Em seguida, aqueça lentamente a manteiga e o leite, até que a manteiga esteja derretida e a mistura homogênea e morna. Adicione a manteiga e leite aquecidos à mistura seca e sove a massa com as mãos. Importante: não bata na massa! Você pode adicionar no máximo mais 200 gramas de farinha de trigo, caso a massa fique com a consistência “grudenta”. Quando a massa não estiver mais grudando nas mãos, sove por mais 10 minutos e coloque-a para descansar por quarenta minutos. Após o descanso, manipule a massa delicadamente, cortando-a com uma faca em três partes iguais e moldando em três tiras de 30 cm cada uma. Faça uma trança, coloque em uma forma com papel manteiga e deixar desescansar por mais 20 minutos. Pincele a trança com um pouco de leite e coloque para assar em forno pré-aquecido, em 180 graus. Asse por 40 minutos, até que esteja bem dourado por fora. Espere esfriar e sirva com uma bebida de sua preferência.
Foto do leitor Debora Garcia é do Rio de Janeiro, professora e blogueira. Ela escreve sobre suas aventuras mundo afora no do blog: revistadeviagem.net Fotos feitas em Chicago, no SkyDeck e no 103º andar. „Há uma caixa de vidro que se projeta para fora do prédio. Você pode sentar ou deitar nessa caixa, com Chicago a seus pés. É muito legal!“
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Histórias e opiniões de mães contemporâneas
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Tudo sobre minha mãe não é um blog típico de mães. Ele não tem a pretensão de oferecer receitas definitivas para nada - nem dicas de como alimentar os filhos de maneira saudável, nem como detonar na carreira, ao mesmo tempo em que se amamenta os bebês. O blog quer apenas incentivar um debate honesto, autêntico e bem-humorado sobre tudo o que envolve a vida com crianças. Os artigos abordam variados temas, desde gravidez e as dificuldades de adaptação à escola, até as diferenças entre se criar um filho no Brasil e em outros países, como os Estados Unidos ou a Alemanha. Na sessão Mães Anônimas, as leitoras podem escrever sobre qualquer assunto, até os mais delicados – como crises conjugais ou abortos espontâneos -, sabendo que seu anonimato estará inteiramente garantido. É um espaço para o desabafo. O blog conta com três colaboradoras regulares – Camila Furtado, Fabiana Santos e Adriana Nunes – e outras não tão regulares, mas igualmente inspiradoras, como Tânia Menai e Isabel Meireles… Mães como você, que estão buscando com o método “tentativa e erro”, mas também com muitos acertos, os melhores caminhos para seus filhos.
"Largamos tudo para viajar 1000 dias por toda a América. Uma viagem de carro do Brasil ao Alasca e à Patagônia, passando por todos os países das Américas e Caribe. Nosso objetivo? Compartilhar histórias e aventuras. Nos acompanhe!"
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