A literatura angolana tem um importante papel de consciencialização e (re)construção nacional, explorando a busca pela unificação e afirmação das identidades de países outrora colónias, tanto no período colonial, como na pós-revolução. Como mecanismos de desconstrução, a ironia e a utopia/distopia atravessam o discurso históricocultural e literário em O Cão e os Caluandas (1985), A Montanha de Água Lilás: uma fábula para todas as idades (2000) e Predadores (2005), de Pepetela. Estas obras repensam a complexidade da realidade pós-colonial em Angola sob o signo da relação e do percurso de utopia/distopia/utopia.
Os romances pepetelianos desempenham um papel fulcral na asseveração da literatura angolana e na busca pela angolanidade. Através da reflexão sobre os ‘não-ditos’ da História oficial, Pepetela alegoriza a desconstrução do herói e a (des)crença das utopias fracassadas através da poética do desencanto irónico e subversivo.