JESUÍTAS ONTEM E HOJE RELEITURA HISTÓRICA DOS JESUÍTAS (edição quadrilingue)
Norberto Dallabrida José Eduardo Franco
Prefácio de Pierre Antoine Fabre
Jesuítas Ontem e Hoje Releitura Histórica dos Jesuítas Conversas com o historiador José Eduardo Franco (edição quadrilingue)
F ICHA T ÉCNICA Título: Jesuítas Ontem e Hoje. Releitura histórica dos Jesuítas. Conversas com o historiador José Eduardo Franco / The History of the Jesuits revisited. Conversations with the Portuguese historian José Eduardo Franco / Jesuites hier et aujourd’hui. Relecture historique des Jesuites. Entretien avec l’historien portugais José Eduardo Franco / Re-lectura histórica de los Jesuitas. Conversaciones con el historiador portugués José Eduardo Franco Autores: Norberto Dallabrida e José Eduardo Franco Composição & Paginação: Luís da Cunha Pinheiro Instituto Europeu Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes e Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Lisboa, fevereiro de 2015 ISBN – 978-989-8814-01-2 Esta publicação foi financiada por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do Projecto “UID/ELT/00077/2013”
Norberto Dallabrida José Eduardo Franco
Jesuítas Ontem e Hoje. Releitura histórica dos Jesuítas. Conversas com o historiador José Eduardo Franco (edição quadrilingue)
IECCPMA CLEPUL Lisboa, 2015
Índice I Jesuítas Ontem e Hoje. Releitura histórica dos Jesuítas. Conversas com o historiador José Eduardo Franco 5 Prefácio: Um historiador contemporâneo . . . . . . . . . . . . . Jesuítas Ontem e Hoje. Releitura histórica dos Jesuítas . . . . .
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II The History of the Jesuits revisited. Conversations with the Portuguese historian José Eduardo Franco 27 Foreword: A contemporary historian . . . . . . . . . . . . . . . The History of the Jesuits revisited . . . . . . . . . . . . . . . .
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III Jesuites hier et aujourd’hui. Relecture historique des Jesuites. Entretien avec l’historien portugais José Eduardo Franco 49 Préface: Un historien contemporain . . . . . . . . . . . . . . . Jesuites hier et aujourd’hui. Relecture historique des Jesuites . .
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IV Re-lectura histórica de los Jesuitas. Conversaciones con el historiador portugués José Eduardo Franco 75 Prefacio: Un historiador contemporáneo . . . . . . . . . . . . . 3
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Re-lectura hist贸rica de los Jesuitas . . . . . . . . . . . . . . . .
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Parte I Jesuítas Ontem e Hoje. Releitura histórica dos Jesuítas. Conversas com o historiador José Eduardo Franco
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PREFÁCIO Um historiador contemporâneo José Eduardo Franco é bem conhecido pela energia do seu empenho ao serviço da história da época moderna, bem expresso numa obra pessoal muito inovadora e através de uma série de projetos coletivos de grande envergadura, cujo impacto ultrapassa largamente as fronteiras do seu país. Mas este estudioso é menos conhecido pela intensidade da sua reflexão historiográfica: é um historiador contemporâneo, que sabe o que faz e porque o faz, hoje, no nosso tempo. O diálogo que lemos neste livro, aberto pelas quatro línguas aos quatro cantos do mundo, dá-nos disso uma bela demonstração com a participação atenta e bem informada de Norberto Dallabrida. Franco começa por revelar dois grandes desafios do vasto projeto editorial António Vieira que leva a cabo com Pedro Calafate. O primeiro desses desafios é a publicação de um Vieira integral. Aqui, não se trata apenas da ambição de apresentar um conhecimento marcado pela exaustividade, mas trata-se também da vontade de compreender o que pode animar um homem religioso, em que cada legado – carta, sermão, poema, panfleto, tratado. . . – é habitado por uma mesma finalidade última: a da Glória de Deus. Não é a verdade do mundo, mas a glória do mundo como mundo criado, ou seja, animado por um mesmo motor, uma mesma dinâmica, uma mesma alma. A história é atravessada por estes grandes impulsos unificadores. E aquele que poderia
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transportar um homem como Vieira está certamente, em grande parte, na atração que ele representa hoje para nós, que procuramos uma inteligência compreensiva semelhante, como o foi sem dúvida, no século XX, um outro António, Gramsci (interessado em encontrar nos filósofos ou historiadores do pensamento a mesma aspiração que levou à tradição marxista italiana depois da idade barroca). O segundo desafio, crucial para uma nova visão de Portugal sobre o seu passado, é de fazer ver de que forma aquele que se tornou um “monumento do património nacional”, foi primeiro um profeta in deserto; como é que este futuro “imperador” da tradição literária portuguesa não só não foi profeta na sua terra, mas pelo contrário foi violentamente contestado e, aliás, contestável nas soluções políticas que propôs para o Brasil colonial. Os trabalhos de pesquisa destes últimos anos colocaram à nossa disposição, com a edição finalizada da Obra Completa de António Vieira, novos documentos e lançaram Vieira no xadrez complexo, no qual ele não é o Rei, mas onde, por esta razão, ele permite redescobrir todas as peças: o Vieira integral, é também isso. * Torna-se sobretudo interessante quando José Eduardo Franco, na sequência do diálogo, abre a perspetiva sobre a história da Companhia de Jesus. Primeiramente, seguindo o destino de Vieira na literatura antijesuítica do século XVIII, como o fez num dos seus principais livros, tornando-o uma obra de história cultural, permitindo-nos repensar o sentido deste conceito: uma história de mises en culture, ou de que forma os escritos, vestígios de um passado, semeiam outros tempos nos quais produzem outros frutos, e de que forma esta sedimentação define uma das alterações, das transformações e mesmo das traições, mas que só podem ser entendidas a partir dessas suas raízes longínquas. Regressar a Vieira, pela edição do seu legado intelectual, é também, sem cessar, partir novamente dele para atravessar os oceanos imensos da cultura católica (romana, imperial e nacional) da Europa latina. É www.clepul.eu
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através deste duplo movimento que Franco quer evitar o duplo perigo de separar neste continuum cultural uma “lenda negra” ou uma “lenda dourada” da Companhia de Jesus. Tem razão em preocupar-se, pois aqueles perigos nunca estão afastados. Enrique-Hernán (tenho prazer de citar e saudar aqui, como francês prefaciando um diálogo português, um colega espanhol) e eu próprio, damo-nos conta desses perigos ao debatermos, neste início de 2015, um projeto comum sobre o alumbradismo de Inácio de Loyola nos seus anos de formação. A “lenda negra”, seria a de confinar Inácio, do lado dos juízes, nos palácios da Inquisição. Mas a “lenda dourada” seria a de o encarcerar nos calabouços destes mesmos palácios sem que fosse possível controlar as suas derivas, as suas evoluções, as suas tomadas de posição. Como bem demonstrou Guido Mongini no seu Ad Christi similitudinem, o pequeno livro dos Excercícios Espirituais é também ainda – entre outras coisas – o cruzamento de caminhos, guiado em ortodoxia para um peregrino incerto. * Tomada de posição: fiquei impressionado, ao ler este diálogo, com a sua dimensão política. Franco insiste no envolvimento do sebastianismo, grande mito místico e político da monarquia portuguesa, no discurso do antijesuitismo, em particular no século XVIII, no período pombalino. O nosso historiador salienta: “enquanto que a corrente do sebastianismo se apoiava na possibilidade de regeneração de Portugal no mundo pelo aparecimento de um Rei Restaurador, era na Companhia de Jesus e no jesuitismo que se projetavam todos os receios, medos e influências degenerescentes”. É uma apreciação profunda. Por um lado, ela confirma a inteligência estratégica de António Vieira, que, na sua obra profética estende a monarquia e o império português à dimensão do universo – o “Quinto Império”, e, assim, reconfigura o universo, de uma certa maneira, nessas novas fronteiras sem fronteiras, mas garante ao rei de Portugal a missão de fundar este império e chamar a si a www.lusosofia.net
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iniciativa da regeneração; podendo nós entrever, desde o século XVII, a antecipação mais lúcida das invetivas de um sebastianismo antijesuíta. Por outro lado e mais fundamentalmente, inspira-nos um olhar de longa duração sobre a história da Companhia de Jesus: o antijesuitismo engana-se sempre na incriminação de um antimonarquismo jesuíta? Ou mais precisamente, não será frágil a fronteira entre, por um lado, uma definição contra-monárquica da Companhia, patenteada, por exemplo, nos célebres Monita Secreta, que denunciam um contrapoder, uma monarquia-sombra, e, por outro lado, uma certa forma de antidespotismo, do que podemos encontrar testemunhos num grande número de iniciativas e de obras no âmbito da própria Companhia de Jesus, até ao século XX? Sabina Pavone não demonstrou precisamente nas suas Astuzie dei gesuiti, que os Monita Secreta estavam longe de ser apenas uma caricatura grosseira? Mas a ironia da história é que nos cenários de longa duração – e, por exemplo, os de um “progressismo” da Companhia de Jesus no longo curso dos seus compromissos políticos –, as construções filojesuíticas fizeram-se sempre mais tarde do que as construções antijesuíticas, campeãs da continuidade através de uma série de topoï reiterados infinitamente desde os primeiros séculos da “antiga Companhia”. Assim sendo, como bem demonstram as investigações recentes sobre a “nova Companhia” nas quais José Eduardo Franco participou ativamente, o mais útil hoje em dia não é fazer a história desta instituição à luz do princípio da unidade, de uma identidade essencial, mas, pelo contrário, inscrever essa história numa linha fragmentária, rompida, violentamente pontuada por expulsões e renascimentos.
Pierre Antoine Fabre École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris
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Jesuítas Ontem e Hoje Releitura histórica dos Jesuítas Atualmente José Eduardo Franco é o diretor do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL), uma das maiores unidades de pesquisa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) de Portugal no campo das Ciências Sociais e Humanas. Um dos grandes projetos que ele codirige com Pedro Calafate – professor da Universidade de Lisboa – é a Obra Completa do Padre António Vieira, constituída por 30 volumes. Essa extraordinária publicação, que envolve pesquisadores renomados de países europeus e do Brasil, é o coroamento de uma série de estudos que José Eduardo fez sobre o padre António Vieira. Em 2008, publicou Padre António Vieira (1608-1697): Imperador da Língua Portuguesa (Editora Correio da Manhã) e, em coautoria com Isabel Morán Cabanas, O Padre António Vieira e as mulheres: uma visão barroca do universo feminino (Editora Campo das Letras). No ano seguinte, organizou a coletânea Entre a selva e a corte: novos olhares sobre Vieira (Editora Esfera do Caos), que contém trabalhos dos pesquisadores brasileiros Alcir Pécora, Paulo de Assunção e Valmir Francisco Muraro. Em verdade, esses estudos sobre o padre Vieira são um desdobramento da exaustiva e metódica investigação científica realizada por José Eduardo sobre a Companhia de Jesus em perspectiva comparada e mundial. Na sua dissertação de mestrado, orientada pelo professor António Nóvoa, estudou a Brotéria, revista científica dirigida por je-
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suítas portugueses desde o fim do século XIX, que resultou no livro Brotar Educação (Roma Editora, 1999). Contudo, a sua tese de doutorado intitulada “O mito dos Jesuítas em Portugal – séculos XVI-XX”, defendida na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), em 2004, sob a orientação do Professor Doutor Bernard Vincent, é um trabalho académico de fôlego, de abrangência global e de longa duração sobre a Companhia de Jesus. Tendo menção da banca Très Honorable avec Félicitations du Juri, essa tese foi publicada em forma de livro em Portugal e na França, tendo respectivamente os seguintes títulos: O Mito dos Jesuítas: em Portugal, no Brasil e no Oriente (séculos XVI-XX), em dois volumes (Editora Gradiva, 2006-2007) e Le Mythe Jesuite: au Portugal, au Brésil et en Europe (XVI-XX Siècles) (Editora Arké, 2007). José Eduardo também é autor de Jesuítas e Inquisição: cumplicidades de confrontações (Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2007). Com essa trajetória académica, ele tornou-se o especialista mais abalizado sobre a Companhia de Jesus em Portugal e um dos jesuitólogos mais competentes no espaço euro-americano. À luz de categorias da nova historiografia e de um corpus documental amplo e em parte inédito, José Eduardo lança um olhar revisionista sobre a presença dos jesuítas em Portugal e no mundo. Nesta direção, especialmente na obra-chave O Mito dos Jesuítas, ele problematiza a representação pombalina dos jesuítas que foi em boa medida perpetuada pelos liberais e mações no oitocentos. De outra parte, José Eduardo explora o caráter paradoxal da perspectiva iluminista do Marquês de Pombal, colocando em evidência os seus traços autoritários em relação aos seus adversários – parte da nobreza e a Companhia de Jesus. Neste ano do bicentenário da restauração da Companhia de Jesus, na entrevista que segue, ele revisita as questões fulcrais da Companhia de Jesus ao longo de quase meio milé-
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nio e fala do projeto da edição das obras completas do padre António Vieira.
Norberto Dallabrida (ND) – Neste ano ficou concluída a Obra Completa do Padre António Vieira, coordenada pelo senhor e por Pedro Calafate, ambos docentes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Trata-se de uma obra colossal formada por trinta volumes de um agente social da elite intelectual luso-brasileira do seiscentos. Por que vocês conceberam e concretizaram esse projeto editorial? José Eduardo Franco (JEF) – Uma cultura só se pode afirmar e se compreender plenamente se disponibilizar os seus clássicos, as fontes pioneiras da sua língua e da sua literatura, em edições completas e criticamente anotadas, mas também, desejavelmente, em traduções para as línguas de grande circulação internacional. Decidimos empreender este projeto editorial de grande dimensão por reconhecermos a ausência de uma edição efetivamente completa da obra integral daquele que Fernando Pessoa apelidou de “Imperador da Língua Portuguesa”. Constituía uma falha grave no quadro das línguas e das literaturas de expressão portuguesa a não existência de uma edição global e cientificamente preparada daquele que é considerado um dos maiores prosadores de todos os tempos. Muitos desejaram fazê-lo. Com efeito, desde os anos 50 do século XIX registaram-se quase duas dezenas de tentativas e projetos de fato começados de preparação de obras completas de Vieira. Todos ficaram pelo caminho, logrados por vicissitudes várias. Na verdade, esta não é a única lacuna importante no âmbito da história da nossa cultura. Ainda há muito trabalho de casa a fazer para disponibilizar editorialmente as obras completas de figuras de primeira linha da história de Portugal e do Brasil. Consideramos que é nossa missão enquanto estudiosos da história e da literatura fazer este trabalho preliminar, esta tarefa de base, fundamental, que é trazer a lume www.lusosofia.net
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de forma sistemática, global e criticamente anotada a obra toda dos autores mais importantes da nossa história. Não só é uma forma de recuperar e de dar a conhecer o que de melhor se produziu ao longo da nossa história cultural, qualificando o nosso património literário e potenciando o seu capital referencial em termos simbólicos e de inspiração criativa, como também é uma maneira de oferecer ao conhecimento de todos a integral dimensão dos trabalhos de cada autor, fomentando novas abordagens, investigações com reflexos na renovação dos conteúdos de ensino existentes sobre os mesmos. Portanto, editar a obra do maior orador luso-brasileiro de todos os tempos poderá ser um ponto de partida para motivar equipas de pesquisadores a realizarem trabalhos semelhantes em torno da obra de outros escritores, ou seja, a fazer o que eu chamo “o trabalho de casa da cultura”.
ND – Parabéns pelo vosso empreendedorismo editorial, que merece palmas no espaço luso-brasileiro e mundial. Quais os principais textos inéditos publicados na obra completa do padre António Vieira? JEF – Em primeiro lugar, conseguimos publicar na totalidade, pela primeira vez depois de várias tentativas frustradas, aquela que Vieira considera a sua “obra magna”, a Clavis Prophetarum (A Chave dos Profetas), que o grande jesuíta morreu a escrever na Quinta do Tanque, onde estava retirado nos arredores da Baía na década de 90 do século XVII. Até se tinha difundido uma espécie de narrativa mais ou menos lendária que fazia desta obra um tratado maldito ou amaldiçoado pelos inquisidores que o censuraram. Atribuía-se a essa maldição os insucessos havidos nas várias tentativas falhadas em vista da sua publicação total. Agora foi traduzida do latim e dada à luz do prelo em dois volumes, estando acessível a todos os que a queiram ler e desfrutar do conhecimento da utopia revolucionária que o autor propõe nesta obra.
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Importa ainda salientar a edição nesta obra completa de mais de 100 cartas inéditas e parcialmente inéditas, muitas delas traduzidas do latim, permitindo assim ampliar e corrigir significativamente o trabalho importante feito no princípio do século XX por João Lúcio de Azevedo, o maior biógrafo de Vieira. Depois há a acrescentar alguns sermões desconhecidos, relatórios e memoriais descobertos e reunidos na nossa Obra Completa, ou até mesmo poesia e teatro da autoria do Padre António Vieira, que, com os textos acima referidos, ampliam em vários milhares de páginas a obra de Vieira conhecida até hoje.
ND – Por que Vieira distingue a sua obra Clavis Prophetarum (A Chave dos Profetas)? Comente um pouco essa “obra magna”. JEF – Esta foi a obra que se tornou objeto das suas maiores, mais longas e mais ponderadas preocupações intelectuais. Dedicou-lhe longos anos e acabou por deixar-nos como uma espécie de testamento, um testamento-utopia para o seu povo, para o Brasil, para Portugal e para o mundo. À luz de uma fé inabalável em Cristo e no seu Evangelho idealizou um mundo novo, uma sociedade humana nova, uma terra nova habitada por homens e mulheres capazes de viver em concórdia, em fraternidade e de praticar a justiça em harmonia com Deus e com a natureza. Preocupado que estava com as fraturas que se tinham aberto no seio da Cristandade europeia com os movimentos da Reforma e da contrarreforma e das subsequentes guerras religiosas dos 30 Anos, com o estender dos conflitos europeus entre as potências coloniais à escala global, com o aumento da intolerância no seio do catolicismo, nomeadamente com a consolidação do poder da Inquisição e a perseguição aos Judeus, Vieira quis propor uma via alternativa, quis revelar e afirmar que havia uma promessa de um mundo novo inscrita na genuína herança espiritual do cristianismo e desejada desde sempre por todas as culturas humanas. O padre Vieira traduziu essa utopia na ideia de Quinto Império, uma utopia proto-ecuménica, onde teriam lugar as culwww.lusosofia.net
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turas e ritos dos diferentes quadrantes da humanidade, inclusive as dos seus queridos e muito perseguidos cristãos-novos de origem judaica e os próprios judeus que ainda não se tinham convertido. Raymond Cantel, estudioso francês de Vieira, classificou a utopia consignada nos seus escritos proféticos, particularmente na História do Futuro e n’A Chave dos Profetas, uma das mais generosas e mais globais utopias de sempre, pois abarcava toda a humanidade e fazia do planeta terra no seu todo o palco da sua realização.
ND – O padre Vieira viveu de forma anfíbia entre a América Portuguesa e a Metrópole/Europa. Recentemente, o senhor organizou a coletânea Entre a selva e a corte: novos olhares sobre Vieira (Editora Esfera do Caos, 2009). Quais os aspectos inéditos trazidos por esse livro sobre a trajetória luso-brasileira de Vieira? JEF – Por ocasião das comemorações dos 400 anos do Nascimento do Padre António Vieira em 2008, entendi por bem convidar um grupo misto de especialistas brasileiros e portugueses, que desenvolviam investigação e análise em torno da vida e obra deste jesuíta, para contribuírem para uma obra coletiva com abordagens inovadoras sobre o maior orador da nossa história cultural comum. Pessoalmente, e como estudioso de Vieira, tenho a preocupação fundamental de unir pesquisadores brasileiros e portugueses nas equipas de pesquisa que constituo no meu Centro de Investigação para estudar quer o Brasil colónia, quer o Portugal da Época Moderna e, particularmente, António Vieira. Tendo nós uma história comum de séculos, faz grande sentido juntarmos os olhares e os métodos e práticas científicas de ambos os lados de Atlântico para realizarmos estudos avançados com resultados ricos e inovadores. Felizmente, conseguimos reunir um plêiade de excelentes especialistas que focaram aspectos importantes do pensamento e do impacto dos escritos deste Pregador, destacando, como o título indica, a sua longa vida marcada por duas experiências extremas: o convívio com reis, príncipes e outras figuras da alta elite europeia tanto na corte www.clepul.eu
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portuguesa como noutras cortes, por exemplo a de França, a corte papal ou a da rainha Cristina da Suécia, entre outros ambientes de grande prestígio e conforto; e a sua vida aventurosa de missionário e fundador de novas missões em regiões inóspitas dos sertões das selvas brasileiras, procurando converter à Fé cristã o maior número possível de ameríndios. Temos nesta obra, que foi muito bem acolhida pelo público leitor especializado e não só, estudos importantes que situam a obra de Vieira no debate entre os Antigos e Modernos, onde se observa o jesuíta a ter uma posição bem avançada, considerando, na esteira de Bacon e contra os conservadores antimodernos, que os verdadeiros Antigos são os Modernos, na medida em que estes têm atrás de si a longa experiência de acumulação de saber herdada da tradição científica e cultural. Por seu lado, temos análises que relevam a grande atenção de Vieira aos problemas do seu tempo, estando em sintonia com preocupações e perspectivas de figuras como Newton, que também apostarão em soluções utópicas para resolver os problemas da humanidade. Dispomos neste livro, entre muitas outras abordagens, de ensaios sobre a incontornável teolologia do Quinto Império, a relação atribulada de Vieira com a Inquisição e a sua indefectível defesa dos judeus e cristãos-novos, a extraordinária projeção dos sermões de Vieira que chegaram até ao Sudão, além de estudos que analisam o pensamento antropológico do Padre António Vieira e a sua reflexão crítica, considerada precursora como proto-pensamento fundador de uma ideografia dos Direitos Humanos que se viriam a afirmar no século seguinte das Luzes e da Enciclopédia.
ND – Em verdade, os estudos sobre o padre António Vieira são um desdobramento do revisionismo historiográfico sobre os jesuítas que o senhor colocou em marcha desde a sua dissertação de mestrado, cujo tema foi a revista Brotéria, que se aprofundou na sua tese de doutorado, publicada em dois tomos e sob o título O mito dos jesuítas. O senhor poderia justificar o seu investimento
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científico no sentido de problematizar a representação da Companhia de Jesus em Portugal e no Brasil? JEF – Permita-me que esclareça que o meu interesse pela Companhia de Jesus como objeto de estudo partiu precisamente das minhas primeiras pesquisas e ensaios sobre o Padre António Vieira. Em 1995 defendi uma tese na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa sobre o pensamento utópico de Vieira e os seus fundamentos teológicos, tendo dois anos depois, no ano de 1997, publicado um livro em coautoria com o meu colega Bruno Cardoso Reis sobre Vieira na Literatura Anti-Jesuítica, onde pude abrir caminhos de pesquisa para estudos especializados e mais aprofundados quer em torno de personalidades e revistas, quer em torno de grandes temas e problemáticas relativas aos Jesuítas. Com efeito, foi o estudo atento de Vieira que me despertou o interesse por um trabalho mais aturado sobre a Ordem fundada por Santo Inácio de Loyola em algumas das suas mais significativas expressões, influências e contradições. Dentre os diferentes trabalhos que publiquei sobre este campo de estudo, ficaram mais conhecidas as seguintes obras: Brotar Educação (1 volume), sobre a história e o pensamento pedagógico da revista mais importante dos Jesuítas em Portugal (a Brotéria) e O Mito dos Jesuítas em Portugal, no Brasil e no Oriente (2 volumes). Os meus livros sobre os Jesuítas, mas também sobre os seus críticos e inimigos, pretendem fundamentalmente – na linha de outros ensaios que têm sido publicados nas últimas décadas em vários países, nomeadamente em França, onde me doutorei na EHESS – contribuir para propor uma nova e mais complexa leitura da história dos jesuítas e da história de Portugal e do Brasil na relação com a Companhia de Jesus. A nossa história cultural e política está muito marcada por hermenêuticas simplistas e simplificadas do papel e da ação da Companhia de Jesus, decorrentes da produção, especialmente desde o tempo do Marquês de Pombal, de uma historiografia apologética e de uma cultura de combate que gerou muito discurso propagandístico, ora estabelecendo, de um lado, uma imagem negra da Companhia de Jesus como responsável pelos séculos negros da nossa www.clepul.eu
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decadência, ora, do outro lado afeto aos inacianos, fazendo dos Jesuítas a Ordem mais brilhante, mais inovadora, mais eficaz, mais laboriosa e mais empreendedora da história da Igreja. À luz do ideário da “história da complexidade” – concebido pela Escola dos Annales e pela cognominada “Nova História” que inaugurou, a fim de superar o ideário da história positivista e da “história tribunal” –, procurámos sugerir um olhar diferente e mais matizado sobre a trajetória dos Jesuítas a partir de vários ângulos e usando as novas ferramentas interdisciplinares que hoje podem enriquecer grandemente o conhecimento histórico. O nosso escopo passa fundamentalmente por compreender e fazer compreender, do modo mais distanciado possível e evitando a tentação de julgar o passado, em ordem a realizar aquilo a que chamo o trabalho de desminagem da história povoada de estereótipos (quais minas prontas a rebentar) que condicionam a nossa interpretação, ou seja, o trabalho de despreconceitualizar a leitura histórica que temos a obrigação de realizar como historiadores. O historiador não é um juiz, o historiador é antes um ressuscitador de mortos e deve apresentá-los, ao olhar das mulheres e homens seus contemporâneos, na sua mais inteira estatura, a mais próxima possível do tempo em que esses mortos, agora ressuscitados pelo discurso histórico, realmente viveram e tendo em conta o quadro mental das suas sociedades vivas. Procuramos, pois, entender a óptica dos vários atores históricos e seus multímodos interesses em jogo em cada época e o contexto cultural, político e religioso, assim como destacamos a importância dos imaginários sociais que marcaram as mundividências onde se geram as iniciativas fundadoras dos movimentos históricos, onde se desempenham os papéis pessoais e institucionais e onde também se desenharam os conflitos sociais. Portanto, sendo a história humana uma história quase sempre dramática, uma história em tensão e conflito, o historiador tem a obrigação de conhecer e compreender a raiz do conflito histórico que faz mover a história da humanidade. Sendo a história muitas vezes vivida, percepcionada e representada pelos seus autores e construtores de memória histórica como uma história dramática, cabe, porém, ao historiador crítico distanciar-
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-se e desenvolver aquilo a que eu chamo um método de desdramatização da memória histórica. Só desdramatizando as imagens feitas do passado poderá o historiador verdadeiramente compreender as raízes e os atores da história enquanto drama.
ND – A representação pombalina dos jesuítas, que emergiu em meados do século XVIII, teve um impacto significativo e vida longa, sendo ressignificada pelos liberais e mações no oitocentos e, particularmente, na instituição da República portuguesa na década de 1910. O senhor poderia matizar esse antijesuítismo de longa duração na História de Portugal? JEF – Embora o Marquês de Pombal se tenha revelado um dos grandes protagonistas bem sucedidos no combate à implantação e à influência dos Jesuítas no século XVIII, expulsando e contribuindo para a destituição da Companhia de Jesus enquanto Ordem na Igreja Católica, o antijesuitismo é um fenómeno muito mais vasto e mais complexo. A crítica e a oposição à afirmação dos Jesuítas surge com o nascimento da sua Ordem em 1540, e a corrente do antijesuitismo acompanha a expansão global desta instituição religiosa ao longo de toda a época Moderna, persistindo durante a época contemporânea até boa parte do século XX. Os ideólogos e os propagandistas antijesuítas surgem dos mais variados quadrantes, registando-se as primeiras manifestações de crítica sistemática à natureza e ação dos Padres da Companhia dentro da própria Igreja entre o clero católico regular e secular, nomeadamente entre Dominicanos e Franciscanos, até ganhar terreno entre o protestantismo, que começou a temer esta Ordem católica muito eficaz. Há a relevar o papel da corrente jansenista e algumas das suas figuras maiores, como o filósofo Blaise Pascal, no combate à teologia moral e aos métodos pastorais dos Jesuítas, sem deixar de salientar os inimigos políticos mais aguerridos dos Jesuítas no século das Luzes, que vão levar a melhor a esta poderosa Ordem, conseguindo abatê-la com o apoio das
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monarquias católicas e depois do próprio papado na segunda metade de setecentos. Em Portugal e no Brasil colónia os Jesuítas encontram desde os primeiros anos da sua implantação fortes opositores, não só entre missionários e frades de outras Ordens, entre inquisidores e bispos, como entre colonos, cujos interesses económicos colidiam com os dos jesuítas. Este antijesuitismo português e brasileiro vai engrossando em arsenal de críticas e imagens negativas, até encontrar no tempo de Pombal um braço político forte que acaba por cumprir as velhas reivindicações de limitação da esfera de ação dos Jesuítas – reivindicações que já vinham muito de trás, mas às quais o poderoso Ministro de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, sentindo-se ameaçado na sua posição por alguns opinion makers da Companhia de Jesus, decidiu responder cortando o mal pela raiz e decretando-lhes a expulsão. Todavia, mais do que esta medida política ousada foi significativo e modelador o investimento do Estado pombalino numa máquina de propaganda para justificar a necessidade de combate com a produção e divulgação de autênticos “catecismos antijesuíticos” traduzidos em várias línguas. Estas edições estabelecem um mito negro dos Jesuítas, fazendo-os responsáveis pela decadência portuguesa e constituindo-os como temíveis inimigos de todos os poderes legítimos e das políticas em favor do progresso da humanidade. Esta imagerie negra da Companhia de Jesus vai ter uma forte influência nos discípulos antijesuítas do período liberal e republicano, erigindo os Jesuítas como o Outro negativo por excelência, o estrangeiro invasor, o inimigo a evitar e a abater. Uma verdadeira ideologia antijesuítica afirma-se no discurso propagandístico de uma cultura de combate. O antijesuitismo e a leitura dogmática e simplificada do passado português fazem do jesuitismo um sebastianismo invertido. Ou seja, enquanto que a corrente do sebastianismo depositava no aparecimento de um Rei Restaurador a possibilidade de regeneração e reafirmação de Portugal no mundo, na Companhia de Jesus e no jesuitismo que aquela gerava projetavam-se todos os receios, medos e influências degenerescentes. A corrente antijesuítica, transver-
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sal a muitas correntes e ideologias (normalmente anticatólicas mas não só), encontrou nos jesuítas um bode expiatório facilmente mobilizador para agregar massas em torno de causas que, no fundo, pouco tinham a ver com a questão da Companhia de Jesus e o seu ideário. Os Jesuítas tornaram-se um bom campo imaginário, com um magnetismo propagandístico muito eficaz para mover multidões e simplificar explicações dos males que acometiam a sociedade.
ND – Como o senhor analisa o antijesuitismo na instituição da República em Portugal no início dos anos 10 do século XX? Nesse processo há aspectos novos? JEF – A corrente antijesuítica, que por vezes assume foros de uma verdadeira ideologia negativa, torna-se muito mimética, muito repetitiva. É uma espécie de sinfonia de sons sempre iguais, que toca sempre a mesma ária, mudando apenas algumas tonalidades e alguns instrumentos. A primeira lei que o regime da I República portuguesa, democrática e alegadamente pluralista, publica a 8 de outubro de 1910 não é mais do que a reposição em vigor da lei do Marquês de Pombal, do tempo do Absolutismo, que expulsara os Jesuítas. Boa parte das correntes laicas do período do liberalismo como do republicanismo do século XIX e primeiras décadas do século XX herdaram a obsessão antijesuítica do tempo do Marquês de Pombal, incrementando-a em grau extremo numa espécie de jesuitofobia. Reproduziram e aplicaram primária e generalizadamente a ideia de que os Jesuítas foram os grandes, quando não os únicos, responsáveis pela decadência do país, relendo toda a história nacional com base nesta chave hermenêutica. Aqui se observa a afirmação plena da “causalidade diabólica”, muito teorizada por León Poliakov, para explicar os efeitos da ação da Companhia de Jesus como produtora de decadência social, moral, artística, económica, religiosa e política. O aspecto mais inovador do discurso antijesuítico deste período é o recurso a argumentos científicos para explicar o papel degenerescente dos Jesuítas. Posso referir, como exemplo, o www.clepul.eu
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caso emblemático do médico psiquiatra Miguel Bombarda, ideólogo republicano e cientista materialista renomado, que tentou demonstrar, na sua obra célebre Ciência e Jesuitismo editada no primeiro ano do século XX, que a vocação para alguém se tornar jesuíta resultaria de uma doença mental, de uma deformidade cerebral. Tornar-se jesuíta seria uma forma de loucura, uma falta de razoabilidade. Entendidos como seres degenerados, os Jesuítas foram caracterizados pelos ideólogos e cientistas republicanos com anti-heróis inoculadores de uma espécie de veneno que degenerava as sociedades onde exerciam a sua influência e as conduziam a um retrocesso e obscurantismo invencível. É aqui que a corrente do antijesuitismo vai formular soluções eugenistas e próximas do nazismo, ao defender que era preciso recorrer a determinados métodos de isolamento (em ilhas desertas, em manicómios ou em regiões continentais interiores, ermas e isoladas) para levar à extinção desta raça degenerada de homens e evitar a propagação da sua pestilência religiosa. O antijesuitismo caiu no excesso ideológico de usar todas as ferramentas interpretativas disponíveis para abater a presença e a herança jesuítas, exercitando um perigoso caminho hermenêutico simplificador para mobilizar os seus adeptos contra um inimigo que se descrevia como uma ameaça estrangeira para melhor afirmar a proposta da Ideia Republicana, que fazia do jesuitismo o seu retrato negativo.
ND – Em 2014 comemorou-se o bicentenário da restauração da Companhia de Jesus, que é parte integrante da restauração política na Europa, cuja ponta do iceberg foi o Congresso de Viena. Para o nosso mundo contemporâneo, marcado pela globalização neoliberal, secularização e pluralidade cultural, qual/is o/s principal/is legado/s dos jesuítas? JEF – A Companhia de Jesus tem-se revelado ao longo destes seus quase 500 anos de história uma das Ordens da Igreja Católica com mais capacidade de resiliência, de adaptação, de resistência e, digamos as palavras exatas, de sobrevivência bem sucedida. Não deixa de ser um www.lusosofia.net
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dos fatores que causam espanto, questionamento e produzem diferentes leituras, tanto da parte dos simpatizantes como da parte dos detratores, o facto de a Ordem de Santo Inácio ter sido uma das instituições católicas mais criticadas, mais perseguidas e expulsas quer dentro, quer fora da Igreja, quer no contexto dos Estados cristãos, quer fora da sua jurisdição, regressando sempre, renascendo das cinzas. Não esqueçamos que, como a Companhia de Jesus, outras Ordens foram objeto de perseguição e até de extinção pontifícia, como é o caso mais conhecido dos Templários. Contudo, os Templários desapareceram enquanto Ordem – a não ser que consideremos a sua metamorfose portuguesa na Ordem de Cristo um significativo resquício da sua sobrevivência localizada – e não tiveram a capacidade de reprojeção que os Jesuítas haveriam de granjear. Registam-se em toda a história dos Jesuítas quase uma centena de acontecimentos persecutórios, de expulsões e outras medidas de limitação da sua ação em todos os continentes onde se implantaram. Só no Brasil colónia conhecem-se várias expulsões parciais e em Portugal três expulsões totais. Foram contestados, violentamente odiados e impiedosamente expulsos, ora por serem demasiado ousados e progressistas, ora por serem conservadores, ora pela sua liberdade crítica em relação a interesses de elites coloniais e senhores poderosos, ora por se imiscuírem em assuntos temporais, ora ainda por terem criado poderosas infraestruturas de ensino, redes de campos missionários em todos os continentes e terem discordado fortemente de práticas esclavagistas. A sua ação multímoda fez dos Jesuítas um mito janiforme, ou seja, de duas faces: de face luminosa por parte dos que simpatizavam e defendiam o seu papel e a sua influência, considerada muito benéfica e/porquanto guiada pelo Espírito Santo; e de face negra por parte dos que procuravam explicar a sua eficácia organizativa e expansiva como sendo devida a métodos obscuros conspirativos e pouco cristãos. Não obstante, o mito simplificou, de ambos os lados da barricada, a natureza e o modo de agir e pensar dos Jesuítas. Os membros da Companhia nem sempre atuaram e pensaram do mesmo modo, mesmo em contextos e tempos semelhantes. Jesuítas houve santos, ousados, cor-
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rentes, brilhantes oradores e empreendedores, como houve a um tempo Jesuítas que se contradisseram, relaxaram os seus ideais, conspiraram, renegaram os seus ideais. Assim, aconteceu com os Jesuítas como em todas as instituições humanas, por mais perfeitas que se apresentem. Apesar de todas a medidas políticas de expulsão e de eliminação, a Companhia de Jesus regressou sempre, qual Fénix renascida das cinzas, e é hoje novamente uma das mais importantes, umas das mais influentes Ordens da Igreja Católica, especialmente no plano da cultura e da ciência, contando com milhares de membros superiormente qualificados a dirigir instituições educativas, a trabalhar em colégios e universidades, a atuar como missionários, a orientar centros de espiritualidade, com ação pastoral nos mais diferentes ambientes e esferas sociais. Em grande medida, do ponto de vista da sociologia das organizações e das novas ciências do empreendedorismo, especialistas das mais variadas áreas, como Charles Boxer, Dauril Alden ou Chris Lowmney, procuraram explicar esta capacidade de resiliência e de adaptação a diferentes tempos e contextos complexos à luz do seu modo de organização e de governo centralizado e concêntrico, ou seja, coordenado através de poderes polarizados, mas sempre referindo-se e prestando contas a um poder central que tudo dirige de Roma, na pessoa do Superior Geral e do seu conselho. Por isso, apelidaram a Companhia de Jesus de multinacional avant la letre, contemporânea antes do tempo, com capacidade de coordenar simultaneamente uma rede bem montada de comunidades e atividades em todos os continentes. Portanto, a Ordem concebida por Inácio de Loyola no tempo da era da protoglobalização foi preparada para responder aos desafios de um mundo que se globalizava: uma Ordem ágil, capaz de criar redes e atuar coordenadamente, com protocolos simplificados, e fielmente em vários palcos do planeta. Por outro lado, valores fundantes e fundamentais de carácter espiritual e de formação humana inculcados por uma formação académica longa e diversificada – excecionalmente longa se tivermos em horizonte de comparação o tirocínio praticado pela outras Ordens religiosas –
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conferem aos jesuítas mais eficácia e influência. O investimento fortíssimo na educação sólida dos seus membros é sem dúvida um dos fatores do sucesso e da capacidade de manter atual o legado e a pertinência da ação dos Jesuítas. O empreendedorismo, a educação integral e superior, a fidelidade ao seu ideal de Ordem religiosa, a capacidade de adaptação a diferentes culturas e mentalidades, o trabalho em rede são aspectos que fazem dos Jesuítas uma das Ordens que melhor soube responder às transformações de um mundo em acelerado processo de globalização.
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Parte II The History of the Jesuits revisited. Conversations with the Portuguese historian JosĂŠ Eduardo Franco
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FOREWORD A contemporary historian José Eduardo Franco is well known by the energy of his commitment to the service of modern history, this unquestionably shown in his very innovative personal production, and in the creation of a series of large-scale joint research projects, with an impact extend well beyond the Portuguese borders. Nonetheless, as a scholar he is less renowned by the intensity of his historiographical analysis: he is above all, a contemporary historian, aware of what he does, and why he does it, today, in our time. The dialogues we read in this book, presented in four languages and in this way open to the four corners of the world, give us a beautiful demonstration of this, in the thoughtful and insightful participation of Norberto Dallabrida. Franco begins describing the two major challenges encountered in the production and assembling of the vast editorial project António Vieira, a project he conducts together with Pedro Calafate. The first of these two challenges is the publication of the complete works of Vieira. This entails, not only the ambition of bringing about a comprehensive knowledge, but also the aspiration of understanding in-depth, of what may animate a religious man, whose every legacy – letter, sermon, poem, pamphlet, treatise . . . is inspired by the same ultimate goal: the Glory
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of God. It is not the truth of the world he yearns for, but the glory of a world as a created world, in other words, a world animated by the same engine, the same dynamic, the same soul. History is crisscrossed by these great unifying impulses. And the aspiration that could drive a man like Vieira, still resonates today, in what his life and work represents to us searching for a far-reaching intelligence, such as we can find in the twentieth century in another Antonio, . . . Gramsci (he also trying to find in the philosophers and historians of thought, the same aspiration that sustained the Italian Marxist tradition, after the Baroque age). The second challenge, crucial to a new vision of Portugal about its own past, is to understand how Vieira became a “monument of our national heritage”, our first prophet in the wilderness; and how this future “emperor” of the Portuguese literary tradition, not only did not become a prophet in his own country, but on the contrary, he was violently contested and moreover, the political solutions he proposed for the colonial Brazil, deemed questionable. The state-of-the-art research on Vieira from recent years in the finished edition of the Complete Works of Vieira, presents new documentation reveals how Vieira was in the midst of a complex chess-like social game, in which he was not the centerpiece, the King of the game, but for this very reason, it become possible for him to rediscover all the pieces in the game: a holistic Vieira . . . he also represents that. * It becomes especially interesting when José Eduardo Franco, in the sequence of the dialogue introduces a new perspective on the history of the Company of the Jesus. First, following the path of Vieira in the anti-Jesuit literature of the eighteenth century, as he did in one of his major books, and crafting it into a work of cultural history, making possible for us to rethink the meaning of this very concept: a history of the mise-en-culture, or how written traces of a past may pollinate other epochs www.clepul.eu
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producing other fruits, and how this sediment defines some of the revisions, transformations and even betrayals, that can only be understood when understanding their remote past roots. To return to Vieira, editing his intellectual legacy, also implies re-journeying from him, in order to cruise the vast oceans of the catholic culture (Roman, imperial and national) in the Latin Europe. In a double movement in this cultural continuum, Franco aims at escaping the twofold danger of separating the “black legend” and the “golden legend” of the Society of Jesus. And he is quite right in worrying, because those dangers are never far away. Enrique-Hernán and myself (I’m pleased to quote and greet here – as a Frenchman prefacing a Portuguese dialogue, a Spanish colleague) recognized these dangers, at the beginning of 2015, when discussing a common project on the alumbradismo of Ignatius of Loyola during his formative years. The “black legend” implied reducing Ignatius to the camp of the judges in the palaces of the Inquisition. On the other hand, the “golden legend” would be to see him imprisoned in the cells of these same palaces, making it rather difficult to analyze the course of his actions, his evolution, his positioning. As demonstrated by Guido Mongini in his Ad Christi similitudinem, his little book of Spiritual Excercícios is also, among other things, a crossroads, a manual in orthodoxy for the uncertain pilgrim. * A positioning: in reading this dialogue, I got quite impressed with its political dimension. Franco insists on the central role played by the sebastianism – the central mystical and political myth of the Portuguese monarchy, in the anti-Jesuit discourse, particularly in the eighteenth century, the Pombal period. Our historian points out, “. . . While the mainstream of sebastianism was grounded on the possibility of the restoration of the dominant role of Portugal in the World with the advent of a Redeemer King, all the suspicion, fears, and destructive influences were projected onto the Society of Jesus and the Jesuits”. This is a profound idea. For one, it confirms the strategic intelligence of António www.lusosofia.net
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Vieira, who, in his prophetic work magnifies the Portuguese monarchy and empire into a universal dimension: the “Fifth Empire”, and thus in a sense, he reconfigures a universe with new frontiers without frontiers, while preserving for the king of Portugal, the mission of founding this Empire, and to assume the main lead in re-generating it; making possible for us to identify, already in the seventeenth century, the most lucid anticipation of the criticisms of the anti-Jesuit sebastianism. In addition, and more fundamentally, he inspires us to see the history of the Company of Jesus in a long-term perspective: are the anti-Jesuit views seriously wrong in accusing the Jesuits of having an anti-monarchic position? Or more precisely, is it not rather insubstantial the boundary between, on the one hand, an anti-monarchical definition of the Company endorsed by for example, the legendary Monita Secreta, denouncing a hidden power, a shadow monarchy; and, on the other hand, a certain form of anti-despotism, evidenced in the many initiatives and works of the Company of Jesus, well into the twentieth century? Has not Sabina Pavone shown precisely this in their Astuzie dei Gesuiti, that the Monita Secreta were not far from being just a crude caricature? But the irony of the story is that in the long-term scenarios – for example, the scenarios of “progressivism” of the Society of Jesus in the long history of its political commitments, the Jesuit-apologetics were always of a later date than the anti-Jesuit discourses, as champions of continuity through a series of topoï infinitely repeated starting in the first centuries of the “old Company”. Thus, as lucidly demonstrated by the recent research on the “new Company” in which José Eduardo Franco actively participated, the most useful position today, is not to write the history of this institution assuming a an institutional unity or an essential identity, but on the contrary, to inscribe their story on a fragmented path, broken, punctuated by violent evictions and renewals. Pierre Antoine Fabre École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris www.clepul.eu
The History of the Jesuits revisited José Eduardo Franco is currently the director of the Center for Lusophone and European Literature and Culture (CLEPUL) at the Faculty of Letters, University of Lisbon, one of the largest research units of the Foundation for Science and Technology (FCT) of Portugal in the field of Social Sciences and Humanities. One of the major projects he coordinates together with Pedro Calafate – professor at the University of Lisbon, is the preparation and edition of the Complete Works of Father António Vieira, consisting of 30 volumes. This extraordinary publication, involving a number of leading European and Brazilian researchers, is the culmination of a series of studies that José Eduardo Vieira carried out on the writings of Father António Vieira. In 2008 he published the volume Father António Vieira (1608-1697): Emperor of the Portuguese Language (Correio da Manhã Publisher) and together with Isabel Morán Cabanas co-authored the book Father António Vieira and Women: A Baroque Vision Of The Feminine Universe (Campo das Letras Publisher). Furthermore, the following year, he edited the compilation Between The Jungle and The Court: New Perspectives on Vieira (Esfera do Caos Publisher) including works of the Brazilian researchers Alcir Pécora, Paulo Assunção and Valmir Francisco Muraro. In fact, these studies on Father António Vieira are an offshoot of the systematic and exhaustive scientific research that José Eduardo conducted on the Society of Jesus, in a comparative and global perspective. In his masters’ thesis supervised
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by Professor António Nóvoa, he analyzed Brotéria, a scientific journal run by the Portuguese Jesuits since the late nineteenth century, a study resulting in the book Budding Pedagogy (Roma Publisher, 1999). Moreover, his doctoral thesis entitled The myth of the Jesuits in Portugal, XVI-XX centuries, defended at the École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris) in 2004 under the guidance of Professor Doctor Bernard Vincent, is a noteworthy scholarly accomplishment, entailing the study, on a global scale and during a long historical period, of the Company of Jesus. The thesis was awarded the highest French academic distinction of très honorable avec félicitations du jury, and was published in book form in Portugal and France respectively, with the titles: The Myth of the Jesuits in Portugal, Brazil and the Orient (XVI -XX centuries) in two volumes (Gradiva Publisher, 2006-7) and Le Mythe Jesuite: au Portugal et au Brésil et en Europe (XVI -XX Siècles) (Arké Publisher, 2007). José Eduardo is also the author of The Jesuits and the Inquisition: Complicities in Confrontations (State University of Rio de Janeiro Publications, 2007). With this brilliant scholar trajectory, he became the most authoritative expert on the Society of Jesus in Portugal, and one of the most competent experts in this field in Euro-American academic circles. Applying new historiographical categories and working with an extensive documentary corpus in part unpublished, José Eduardo takes a revisionist look at the presence of the Jesuits both in Portugal and in the world. Continuing in this direction, especially in one of his fundamental works: The Myth of the Jesuits, he problematizes the “Pombaline1 ” representation of the Jesuits, largely perpetuated by liberals and masons in the 1890s. Moreover, José Eduardo explores the paradoxical character of the liberal-enlightened stance of the Marquis of Pombal, revealing characteristic authoritarian traits in relation to his adversaries: disfavored members of the aristocracy, and the Company of Jesus. Thus, in this bicentennial year of the restoration of the Company of Je1
Antagonistic representation of the Jesuits endorsed by the Marquis of Pombal in S. XVIII.
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sus, in the interview that follows, he reviews several the key issues concerning the Company of Jesus over nearly half a millennium and tells us about the ongoing project of editing the complete works of Father Vieira.
Norberto Dallabrida (ND) – This year at the University of Lisbon, your started the project of editing the Complete Works of Father António Vieira, a project coordinated by yourself and by Pedro Calafate, both professors at the Faculty of Letters of the University of Lisbon. This is a colossal undertaking, consisting of editing the thirty volumes of a prominent social actor of the Luso-Brazilian intellectual elite, in the 17th century. How did you conceived and decided to carry out this editorial project? José Eduardo Franco (JEF) – A culture can only affirm itself and be fully understood when its classics, the founding sources of their language and its literature are available in comprehensive and critically annotated editions, but also, hopefully, in editions translated to languages with large international circulation. We decided to undertake this large editorial project in the absence of a complete edition of the Works of whom Fernando Pessoa dubbed “the Emperor of the Portuguese Language”. The absence of a comprehensive and scientifically organized edition of a writer regarded as one of the greatest prose writers of all times, constituted a serious failure in the context of the Portuguese speaking languages and literatures. Many scholars wanted to participate in this undertaking. In fact, since the 1850s you will find nearly two-dozen attempts of projects that began preparing the complete works of Vieira. All these projects failed, outdone by many and various incidents.
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As it so happens, this is not the only important gap in the history of our culture. There is still a lot of homework waiting to be done in editing the complete works of figures of first line in the history of Portugal and Brazil. As scholars of history and literature, we see as our mission to carry out this preliminary work, this fundamental groundwork that is, bringing to light, systematically, comprehensively, and critically annotated, the works of the foremost authors of our history. Not only is it a way to recover and raise public awareness about the best that has been produced throughout our cultural history, qualifying our literary heritage and increasing its referential capital both in symbolic terms and as sources of creative inspiration, but also this work will make available to all, the full scale dimension of the legacy of each author, fostering novel approaches, and providing a scholarly research that will contribute to the revitalization of much existing educational material on these authors. So, editing the work of the greatest Luso-Brazilian orator of all times, can be a good starting point to motivate other teams of researchers to undertake similar undertakings around the work of other writers, namely, to do what I call “the homework of culture”.
ND – Your editorial entrepreneurship truly deserves praise, not only in the Luso- Brazilian cultural domain but even worldwide. What are the major unpublished texts that the complete editing of Father Vieira’s oeuvre offers? JEF – Firstly, we managed to publish in full, for the first time, and after several other failed attempts in the history of these documents, a manuscript that Vieira himself considered his opus magnum: the Clavis Prophetarum (The Key of the Prophets). The great Jesuit had died while writing it in the Quinta do Tanque near Bahía, a place where he had retired in his last years, in the last decade of the seventeenth century.
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Moreover, some story more or less legendary was weaved around this work, that this manuscript was ill fated or accursed by the inquisitors who censored it. All the failed attempts to edit the whole work of Vieira were blamed on this so-called curse. Now we have translated it from Latin and edited it in a two-volume edition, open to all who interested in reading it and appreciate learning about the revolutionary utopia Vieira gave us in this work. It also important to emphasize we have edited and included over hundred unpublished and partly unpublished letters that we have translated from Latin, making possible to widen and correct significantly the important work done by João Lúcio de Azevedo, the greatest biographer of Vieira, in the early twentieth century. Also we have added previously unknown sermons, reports and recovered memorandums that are now introduced and compiled into the Complete Works, and even poetry and theater plays written by Father António Vieira, that when added to the texts mentioned above, extend into several thousand pages the acknowledged works of Vieira we know today.
ND – Why does Vieira singularize this particular work, the Clavis Prophetarum (The Key of the Prophets)? Can you tell us something about this “opus magnum”? JEF – This work became the object of Vieira’s foremost, lifelong and deepest intellectual concern. He dedicated many years to it, and eventually left it to us, as his last will, a testament- utopia bequeathed to his people, to Brazil, to Portugal and to the world. Sustained by an unwavering faith in Christ and his Gospel, he envisioned a new world, a new human society, a new earth populated by men and women able to live in harmony and goodwill, being just in harmony with God and with nature. He was worried with the rifts that slashed the European Christianity with the Reform and the Counter-reform, and with the thirty years of religious wars that followed, with the acceleration of Eurowww.lusosofia.net
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pean conflicts between the colonial powers to a global scale, with the raise of intolerance at very the core of Catholicism, namely the power consolidation of the Inquisition, and the persecution of the Jews. So, Vieira searched for an alternative vision, proposing a new direction, revealing to us and proclaiming that the promise of a new world was real and fundamental to the genuine spiritual heritage of Christianity, and moreover, that this is what all human cultures had always longed for. Father Vieira embedded this utopia, into the idea of the Fifth Empire, a proto-ecumenical utopia, where the cultures and ceremonies from all peoples could coexist, including those of his beloved and much persecuted New Christians of Jewish origin, and of the Jews themselves who had not yet been converted. Raymond Cantel, a French scholar specialized on this material, described the utopia enshrined in Vieira’s prophetic writings – particularly in the History of the Future and in The Key of the Prophets- as one of the most generous and global utopias ever conceived, because it embraced all humanity and encompassed the entire world.
ND – Father Vieira belonged to two different worlds: the Portuguese America and the Metropolis/Europe. Recently you edited an anthology “Between the Jungle and the Court: New Perspectives on Vieira” (Esfera do Caos Publisher, 2009). What can we learn in this book about the Luso-Brazilian trajectory of Vieira? JEF – On occasion of the celebrations of the 400th anniversary of the birth of Father Antonio Vieira in 2008, I invited a group of Portuguese and Brazilian researchers, experts on the life and work of this Jesuit, to participate in a joint project to study the work of the greatest orator of our common cultural history, from a new perspective and with original approaches. Personally, and as a Vieira scholar, I have the vital concern of pooling Brazilian and Portuguese researchers in collaborative circles at the Research Centre I direct, developing research on the www.clepul.eu
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colonial Brazil, or on Portugal in the Early Modern Period, and particularly on António Vieira. We have a common history since centuries, thus it makes great sense to join views, scientific methods and practices from both sides of the Atlantic to conduct advanced studies with innovative and enriching results. Fortunately, we managed to gather a group of excellent specialists which focused on important aspects of the thinking and impact of the Preacher’s writings, underlining as the title indicates, his remarkably long life marked by two extreme experiences: living with kings, princes and other figures of the high European elite at the Portuguese and other courts, for the example at the court of France, or at the papal court of Queen Christina of Sweden, and other milieus of great prestige and comfort; and on the other hand, his adventurous life as a missionary and founder of new missions in inhospitable regions at the backlands of Brazil’s jungles, trying to convert the largest possible number of Amerindians to the Christian faith. In these volumes that have been very well received by the public, by both specialized readers and the general audience, we have included important studies that positioned the work of Vieira in the debate between the Old and the Moderns, showing that the Jesuit had rather advanced views, in line with Bacon and against the anti-modern conservatives, because the truly Old ones are Modern ones to the extent that behind them lies the long experience of accumulation of knowledge inherited from the scientific and cultural tradition. Also we have studies that demonstrate Vieira’s great attention to the problems of his own time, sharing the concerns and views of a famous scholar like Newton, who also advocated utopian solutions to solve the problems of humanity. In this volume, among several other studies, we include essays on the essential teleology of the Fifth Empire; on Vieira’s troubled relationship with the Inquisition and his unwavering defense of Jews and New Christians; on the extraordinary diffusion of Vieira’s sermons reaching all the way to Sudan; as well as studies analyzing the anthropological thought of Father António Vieira and his
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critical reflections and insights, these regarded as proto-thoughts, precursors to an ideography of Human Rights that would be acknowledged only in the following century, the century of the Enlightenment and the Encyclopedia.
ND – In fact, your studies on Father Antonio Vieira are the offshoot of the historiographical revisionism about the Jesuits that you set in motion already with your master’s dissertation, and whose theme was the Brotéria Journal, a thesis that you further developed in your doctoral thesis and that was published in two volumes entitled The Myth of the Jesuits. Can you comment on your scientific interest in problematizing the representation of the Society of Jesus in Portugal and Brazil? JEF – Let me clarify that my interest in the Society of Jesus as an object of study originated in my early research and essays on the work of Father António Vieira. In 1995 I defended a thesis at the Faculty of Theology of the Catholic University on the utopian thinking of Vieira and its theological foundations, and two years later, in 1997, I published a book with my colleague Bruno Cardoso Reis entitled Vieira the AntiJesuit. This book intended to open the road for more specialized and advanced research, and to further studies around either personalities or journals, or major themes and issues relating to the Jesuits. Surely it was the careful study of Vieira that sparked my interest for a more comprehensive work about the Order founded by St. Ignatius Loyola in some of its most significant arrangements, its influences and its contradictions. Among the different studies I carried out in this topic, the most renown were: Budding Pedagogy (Volume 1) focusing on the history and pedagogical perspective of the most important publication of the Jesuits in Portugal (the journal Brotéria); and The Myth of the Jesuits in Portugal, Brazil and East (2 Volumes). My books on the Jesuits, but also about their critics and enemies, aim fundamentally – like other works I published the last years in many countries, particularly in www.clepul.eu
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France where I got my doctoral degree at EHESS – at presenting and proposing a new and multifaceted reading of the history of the Jesuits, and of the history of Portugal and Brazil in relation to the Company of Jesus. Our cultural and political history is marked by simplistic and simplified hermeneutics on the role and deeds of the Company of Jesus, resulting from – especially since the time of the Marquis of Pombal – an apologetic historiography and a belligerent culture that generated much propagandistic discourse, creating an shadowy image of the Company of Jesus as responsible for the dark centuries of our decay, while on the other hand presenting an rather admiring view of the Jesuits, describing them as the brightest, most innovative, most effective and most industrious and entrepreneurial Order in the history of the Church. According to the ideals of a “history of complexity” of the Annales School, surnamed “New History”, and launched with the objective of replacing the ideas of a positivist history and a “history-tribunal”, we suggest here a different and nuanced view on the trajectory of the Jesuits from different angles and perspectives, and utilizing new interdisciplinary tools that can greatly enrich our historical knowledge. Our objective is fundamentally to understand and make the readers understand, -in a detached manner, and avoiding the temptation to judge the past, that is trying to achieve what I call the “de-mining” of a history packed with stereotypes conditioning our interpretation (like mines ready to detonate), in other words, to do the work of disarticulating preconceptions in the historical reading, that after all it is our responsibility as historians to offer. The historian is not a judge but rather a reviver of the dead, and must present them from the view of their contemporaries, in their entire standing, at the closest proximity to the contexts where these dead- now resurrected in the historical discourse – actually lived, and take into account the mental frame of their living societies. We aim, therefore, at understanding the standpoint of the various historical actors and their many interests at stake, in every age and cultural, political and religious context, as well as stressing the relevance of the social imaginary that animated the worldviews from where the
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foundational initiatives of historical movements are generated, where individual and institutional roles are played, and where social conflicts are shaped. Consequently, as the human history as almost always a dramatic history, a history in tension and conflict, the historian has the responsibility of knowing and understanding the root of the historical conflict that moves the history of mankind. As history is often experienced, perceived and represented by its authors and by the builders of historical memory as a dramatic history, it is the task of the critical historian to distance himself and develop what I would call a method of de-dramatization of the historical memory. Only by de-dramatizing the images of the past, can the historian truly understand the roots and the actors of history as drama.
ND – The unsympathetic representation of the Jesuits endorsed by the Marquis de Pombal that emerged in the mid eighteenth century, had a significant and long lasting impact, becoming resignified by liberals and masons in the 1800s, particularly in the establishing of the Portuguese Republic in 1910s. Could you nuance this long lasting anti-Jesuitism in the history of Portugal? JEF – Although the Marquis de Pombal proved one of the major players in the successful offensive against the Jesuits and their influence in the eighteenth century, outlawing and supporting the banning of the Society of Jesus as an Order in the Catholic Church, the antiJesuitism is a broader and more complex phenomenon. The censure and opposition to the Jesuits start already with the birth of this Order in 1540, and a current of anti-Jesuitism follows with the global expansion of the Jesuits throughout the Modern period, persisting during the contemporary period until well into the twentieth century. Ideologues and anti-Jesuit propagandists arise from many different quarters, but note that the first systematic critics to the style and action of the Company appears within the Church, from the Catholic clergy, regular and secular, particularly from the Dominicans and the Franciscans, gaiwww.clepul.eu
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ning further ground among Protestants, they fearing this very effective Catholic Order. It is noticeable the role of the Jansenist movement and its major spokesman, the philosopher Blaise Pascal, in attacking the moral theology and pastoral methods of the Jesuits, not to forget the role of the fiercest political enemies of the Jesuits in the age of Enlightenment, who will defeat this powerful Order with the backing of the catholic monarchies and with the support of the papacy in the second half of 1700s. In was in Portugal and in the Brazilian colony, where and almost since the time of their arrival the Jesuits met with the strongest opposition, not only among missionaries and priests of other Orders, inquisitors and bishops, but also among the settlers, whose economic interests clashed with the Jesuits’. The Portuguese and Brazilian anti-Jesuitism added to the arsenal of condemnations and negative reports, until at the time of Pombal, the demands for limiting the sphere of action of the Jesuits (demands that had a long history) found a strong political support in Sebastião José Carvalho e Melo, the powerful minister of King D. José I, who had felt threatened in his position by some voices from the Society of Jesus, that determined to eliminate the evil by its roots and banish them. This was not only a bold political move, but also part of a significant step in the Pombal regime, leading to the instauration of a state propaganda machine, justified on the need to combat the Jesuits, where truly “anti-Jesuit catechisms were produced, circulated and translated into several languages. These booklets created a dark myth of the Jesuits, making them responsible for the Portuguese decline and describing them as terrible enemies of the legitimate political power, and against the policies supporting human progress. This black imagerie of the Society of Jesus would influence the anti-Jesuit disciples of the Liberal and Republican period, stigmatizing the Jesuits as the negative Other par excellence, the foreign enemy that should be avoided and confronted. A truly anti-Jesuitical ideology was entrenched in the propagandistic discourse of a belligerent culture. The anti-Jesuitism to-
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gether with a dogmatic and simplified reading of the Portuguese past, transformed the Jesuitism into an upturned Sebastianism. That is, while the Sebastianism crusade deposited a hope of regeneration and restoration of the standing of Portugal in the world in the coming of a Restorer King, in the Society of Jesus and the Jesuits were projected all fears, anxieties and all suspicion of perverting influences. The (usually antiCatholic but not only) anti-Jesuitical ideas, cutting across many dogmas and ideologies, found in the Jesuits an easy scapegoat, able to mobilize the masses around causes that actually had little or nothing to do with the Society of Jesus and its ideas. The Jesuits became a suitable imaginary arena, aided by an effective propaganda that mobilized the crowds and provided oversimplified explanations for the evils that afflicted society.
ND – How do you understand the anti-Jesuitism in the institution of the Republic in Portugal in the early XX century? Have you encountered new facets in this process? JEF – The anti-Jesuitical ideology sometimes assumes the character of a truly negative ideology becoming very mimetic and repetitive. It is like a symphony where the notes are always the same, always playing the same tonal scale, changing just a few tones and some instruments. The first law issued by the 1st Portuguese Republic, democratic and allegedly pluralistic in October 8, 1910 is nothing more than the restoration of the old law of the Marquis of Pombal from the time of Absolutism and the expulsion of the Jesuits. Many secular liberal and republican ideas at the nineteenth and early decades of the twentieth century, had inherited the anti-Jesuitical obsession of time of the Marquis of Pombal, intensified to an extreme degree in some sort of Jesuit-phobic reaction. They basically acted on the broad notion that the Jesuits were the major, if not the sole cause of the decline of the country, re-reading the entire national history based on this hermeneutical key. Here we can observe a full case of the “diabolical causality” www.clepul.eu
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much theorized by Leon Poliakov, to explain the effects of the action of the Society of Jesus defined as the cause of social, moral, artistic, economic, religious and political decay. The most innovative aspect of the anti-Jesuitical discourse of this period was the use of scientific notions to explain the degenerating role of the Jesuits. I refer for example, to the emblematic case of the psychiatrist Miguel Bombarda, a republican ideologue and renowned materialist scientist, who in his notorious works Science and Jesuitism published in the early years of the twentieth century, intended to demonstrate that the inclination to become a Jesuit had to be the result of a mental illness, a cerebral deformity. To become a Jesuit would be a form of madness, a lack of reason. Seen as degenerate beings, the Jesuits were characterized by ideologues and republican scientists, as antiheroes, propagators of a sort of poison that degenerated the societies where they exercised their influence, leading to a backlash and invincible obscurantism. It is here that the anti-Jesuitism crusade would formulate quasi-Nazi eugenic solutions, arguing that it was imperative to isolate them (in deserted islands, asylums, or barren and isolated continental regions) to help the extinction of this breed of degenerate men and prevent the spread of their religious pestilence. The anti-Jesuitism fell into the ideological excess of using all available interpretive tools to annihilate the existence and heritage of the Jesuits, choosing a dangerous and simplifying hermeneutic road in order to mobilize their adepts against an enemy described as a foreign threat, in contrast to the Republican ideals, making of the Jesuits its negative portrayal.
ND – This year marks the bicentenary of the restoration of the Society of Jesus, also as part of the political restoration in Europe, and whose tip of the iceberg was the Congress of Vienna. In our contemporary world, marked by neoliberal globalization, seculari-
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zation and cultural plurality what is/are the main legacy/legacies of the Jesuits? JEF – Over these its almost 500 years of history, the Society of Jesus has proven to be one of the Orders of the Catholic Church with most resilience, adaptation, resistance, and an amazing aptitude for a successful survival. One of the factors that still causes astonishment, wonderment and that produces different readings – both from supporters and detractors of the organization- is that the Order of St. Ignatius was one of the more persecuted, banned and criticized Catholic institutions from within and outside the Church, either in the context of Christian States or outside their jurisdiction, but always returning and rising from the ashes. Do not forget that, as the Society of Jesus, other orders were subject to persecution and even papal extinction, as in the known case of the Templars. However, while the Templar Order disappeared – unless you see their metamorphosis into the Portuguese Order of Christ, as a vestige of local survival, they did not have the capacity for re-projection that the Jesuits had. The history of the Jesuits registers nearly a hundred persecutory events, evictions and other measures to limit their action in all continents where they settled. Just in the colonial Brazil they suffered several partial interdictions, and in Portugal three total injunctions. They were challenged, violently hated and ruthlessly banned, sometimes for being too bold and progressive, sometimes by being conservative, sometimes by reason of their critical freedom from the interests of the colonial elites and powerful lords, sometimes by meddling with secular matters, sometimes for having created powerful educational infrastructures and missionary networks in all continents, and for their strong condemnation of slavery-like practices. The multimodal action of the Jesuits made them into Janus type myth, i.e. with two faces: a luminous face seen from those who sympathized and defended their role and influence, seen as pious and guided by the Holy Spirit; and an dark face seen by those who explained their organizational efficiency and expansion as the result of conspiratorial and unchristian methods. www.clepul.eu
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Nevertheless, this myth simplified from both sides of the fence, the character and style of acting and thinking of the Jesuits. The members of the Company did not always act or reasoned in the same way, even in similar contexts and times. Some Jesuits were saints, other were daring and other mediocre, there were brilliant lecturers and entrepreneurs, as also other Jesuits contradicted themselves and relaxed their principles, conspired and betrayed their ideals. This happened to the Jesuits as it happens to every human institution, however perfect as they intend to be. Despite all the political measures to eradicate them, the Jesuits always came back, like the Phoenix reborn from the ashes, and now once again they are one of the most important and influential orders of the Catholic Church, especially in terms of culture and science, with thousands of members with superior qualifications directing educational institutions, teaching in colleges and universities, acting as missionaries, guiding centers of spirituality, performing pastoral work in many different settings and social spheres. Experts from different fields such as the sociology of organizations and the new science of entrepreneurship, like Charles Boxer, Dauril Alden or Chris Lowmney sought to explain the resilience and adaptation of the Jesuits in different epochs and contexts, to their mode of organization and centralized and concentric governance, i.e. a coordination based on polarized powers but always referring to, and accountable to a central power directing them all from Rome in the person of the Superior General and his Council. For this reason, the Society of Jesus was nicknamed “a multinational avant la letre�, contemporary before its time, with the ability to simultaneously coordinate a network of wellassembled communities in all continents. In this way the Order created by Ignatius of Loyola in an era of proto-globalization was prepared to meet the challenges of a world towards globalizing: a nimble and flexible Order, able to create networks and act coordinately with simplified protocols, faithfully, in many different parts of the planet.
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Also, fundamental spiritual and humane values, deep-rooted in a long and thorough academic training – exceptionally long if we compare it with the apprenticeship practiced by other religious orders – gave the Jesuits more competence and influence. A long-term investment in the solid education of their members, is surely one of the factors for their success as well as their ability to keep alive the legacy and significance of the Company of Jesus. Entrepreneurship, an integral and superior formation, fidelity to their ideals as religious order, ability to adapt to different cultures and mentalities, and a strong networking, are traits that made of the Jesuits one the most able Orders in answering to the transformations of a world in an accelerated process of globalization.
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Parte III Jesuites hier et aujourd’hui. Relecture historique des Jesuites. Entretien avec l’historien portugais José Eduardo Franco
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PRÉFACE Un historien contemporain
José Eduardo Franco est bien connu pour l’énergie de son engagement au service de l’histoire de l’époque moderne, par le moyen d’une œuvre personnelle très novatrice et d’une série d’entreprises collectives de grande envergure, dont l’écho a largement franchi les frontières de son pays. Mais il est moins connu peut-être pour l’intensité de sa réflexion historiographique : c’est un historien contemporain, qui sait ce qu’il fait et pourquoi il le fait, aujourd’hui, dans notre temps. Le dialogue qu’on va lire, ouvert par ses quatre langues aux quatre vents du monde, en donne une belle démonstration, avec le concours très attentif et informé de Norberto Dallabrida. * Franco dévoile pour commencer deux grands enjeux de la vaste entreprise éditoriale Antonio Vieira qu’il conduit avec Pedro Calafate. Le premier de ces enjeux, c’est la publication d’un Vieira intégral. Ce n’est pas seulement là l’ambition d’une savante exhaustivité, c’est aussi la volonté de comprendre ce qui pouvait animer un homme religieux,
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dont tout geste – lettre, sermon, poème, pamphlet, traité. . . – était habité d’une même finalité ultime : celle de la gloire de Dieu. Non pas la vérité du monde, mais la gloire du monde comme monde créé, c’est-à-dire mû par un même moteur, une même dynamique, une même âme. L’histoire est traversée de ces grandes impulsions unificatrices. Celle qui pouvait porter un homme comme Vieira est sans doute pour beaucoup dans l’attrait qu’il représente aujourd’hui pour nous, qui sommes à la recherche d’une telle intelligence compréhensive, comme put l’être sans doute, au XXe siècle, celle d’un autre Antonio, Gramsci (il serait intéressant de repérer les philosophes ou historiens de la pensée que la même aspiration a conduit vers la tradition marxiste italienne puis vers l’âge baroque). Le second enjeu, crucial pour le regard du Portugal sur son passé, c’est de faire voir comment celui qui est devenu un “ monument du patrimoine national ”, fut d’abord un prophète in deserto ; comment ce futur “ empereur ” de la légende portugaise ne fut nullement prophète en son pays, mais au contraire violemment contesté, et d’ailleurs contestable, dans ses choix politiques pour le Brésil colonial : les travaux de ces dernières années, qui trouveront avec l’édition en cours de nouveaux matériaux, ont replacé Vieira sur un échiquier complexe dont il n’est pas le Roi, mais dont, pour cette raison, il permet de redécouvrir toutes les pièces : le Vieira intégral, c’est aussi cela. * Mais c’est bien davantage encore, quand José Eduardo Franco, dans la suite du dialogue, ouvre la perspective sur l’histoire de la Compagnie de Jésus. D’abord, en suivant le destin de Vieira dans la littérature antijésuite du XVIIIe siècle, comme il l’a fait dans l’un de ses meilleurs livres, il fait œuvre d’histoire culturelle, et fait réentendre le sens de ce mot : une histoire des mises en culture, ou comment des écrits, traces d’un passé, ensemencent d’autres temps dans lesquels ils produisent d’autres fruits, et comment cette sédimentation définit une des altérations, des transformations, voire des trahisons, mais qui ne sont www.clepul.eu
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elles-mêmes possibles que si quelque chose continue d’être entendu de ces traces lointaines. Revenir à Vieira, par l’édition de ces traces, c’est aussi, sans cesse, repartir de lui pour traverser les océans immenses de la culture catholique (romaine, impériale et nationale) de l’Europe latine. C’est par ce double mouvement que Franco veut éviter le double péril de découper dans ce continuum culturel une “ légende noire ” ou une “ légende dorée ” de la Compagnie de Jésus. Il a raison d’en être aussi soucieux, car ces périls ne sont jamais tout-à-fait écartés. Enrique Garcia-Hernán (j’ai plaisir à citer et à saluer ici, comme français préfaçant un dialogue portugais, un collègue espagnol) et moi-même, nous en rendons bien compte en discutant, dans ce début de l’année 2015, d’un projet commun sur l’alumbradismo d’Ignace de Loyola dans ses années de formation : la “ légende noire ”, ce serait d’enfermer d’emblée Ignace, du côté des juges, dans les palais de l’Inquisition ; mais la “ légende dorée ”, ce serait de l’enfermer dans les geôles de ces mêmes palais sans prendre la mesure de ses choix, de ses évolutions, de ses prises de parti. Comme l’a bien montré Guido Mongini dans son “ Ad Christi similitudinem ”, le petit livre des Exercices spirituels est bien aussi – entre tant d’autres choses ! – à la croisée de ces chemins, guide en orthodoxie pour pèlerin incertain. * Prises de parti : je suis frappé, à la lecture de ce dialogue, par sa dimension politique. Franco insiste sur l’enrôlement du sébastianisme, grand mythe mystique et politique de la monarchie portugaise, dans le discours de l’antijésuitisme, en particulier au XVIIIe siècle, à l’époque pombalista. Il note qu’ “ alors que le courant du sébastianisme appuyait la possibilité de régénération du Portugal dans le monde sur l’apparition d’un Roi restaurateur, c’était sur la Compagnie de Jésus et sur le jésuitisme que l’on projetait toutes les craintes, les peurs et les influences dégénérescentes ”. C’est une remarque profonde. D’une part, elle confirme l’intelligence de la stratégie d’Antonio Vieira, qui dans www.lusosofia.net
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son grand œuvre prophétique, élargit la monarchie et l’empire portugais aux dimensions de l’univers – le “ Cinquième empire ” – et donc, le dissout, d’une certaine manière, dans ces nouvelles frontières sans frontières, mais conserve au roi de Portugal la mission de la création de cet empire, et lui conserve donc l’initiative de la régénération ; avec très certainement, dès la fin du XVIIe siècle, l’anticipation très lucide des menaces d’un sébastianisme antijésuite. D’autre part, plus fondamentalement, elle nous inspire une vue de longue durée sur l’histoire de la Compagnie de Jésus : l’antijésuitisme se trompe-t-il toujours dans l’incrimination d’un antimonarchisme jésuite ? Ou plus précisément, la limite n’est-elle pas fragile entre d’une part une définition contremonarchique de la Compagnie, à l’œuvre par exemple dans les célèbres Monita secreta, qui dénoncent un contre-pouvoir, une monarchie de l’ombre, et d’autre part une certaine forme d’antidespotisme, dont on pourrait trouver la marque dans un grand nombre d’actions et d’œuvres issues de la Compagnie de Jésus, jusqu’au XXe siècle ? Sabina Pavone n’a-t-elle pas justement montré dans ses Astuzie dei gesuiti, que les Monita secreta étaient bien loin de n’être qu’une caricature grossière ? * Mais l’ironie de l’histoire, c’est que dans les scénarii de longue durée – et par exemple celui d’un “ progressisme ” de la Compagnie de Jésus dans le long cours de ses engagements politiques –, les constructions philojésuites auront toujours un temps de retard sur les constructions antijésuites, championnes de la continuité au travers d’une série de topoï infiniment réitérés depuis les premiers siècles de l’ “ ancienne Compagnie ”. Aussi, comme l’ont bien montré les recherches récentes sur la “ nouvelle Compagnie ”, auxquelles José Eduardo Franco a activement participé, le plus utile aujourd’hui n’est pas de faire l’histoire de cette institution selon le principe d’une unité, d’une identité à elle-même essentielles, mais au contraire d’ inscrire cette histoire sur une
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ligne fragmentée, rompue, violemment scandée de chutes et de renaissances.
Pierre Antoine Fabre Paris, 6 janvier 2014
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Jesuites hier et aujourd’hui. Relecture historique des Jesuites José Eduardo Franco est actuellement directeur du Centre de Littératures et Cultures Lusophones et Européennes de la Faculté des Lettres de l’Université de Lisbonne (CLEPUL), une unité majeure de recherche dans le domaine des Sciences humaines et sociales au Portugal et financée par la Fondation pour la Science et la Technologie (FCT). L’un des grands projets qu’il codirige avec Pedro Calafate – professeur à l’Université de Lisbonne – est l’édition des Œuvres complètes du Père António Vieira, composée de 30 volumes. Cette extraordinaire publication, dans laquelle sont engagés des chercheurs renommés de plusieurs pays européens et du Brésil, représente le couronnement d’une série d’études que José Eduardo a fait sur le père Vieira. En 2008, il a publié Padre António Vieira (1608-1697): Imperador da Língua Portuguesa (Ed. Correio da Manhã) [“ Père António Vieira (1608-1697) : Empereur de la Langue portugaise ”] et, en collaboration avec Isabel Morán Cabanas, O Padre António Vieira e as mulheres: uma visão barroca do universo feminino (Ed. Campo das Letras) [“ Le Père António Vieira et les femmes : une vision baroque de l’univers féminin ”]. L’année suivante, il a organisé le recueil Entre a selva e a corte: novos olhares sobre Vieira (Ed. Esfera do Caos) [“ Entre la jungle et la cour : nouveaux regards sur Vieira ”], lequel contient des travaux des chercheurs brésiliens Alcir Pécora, Paulo de Assunção et Valmir Francisco Muraro.
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Ces diverses études portant sur le père Vieira sont un déploiement de la recherche scientifique exhaustive et méthodique menée par José Eduardo à propos de la Compagnie de Jésus dans une perspective comparée et mondiale. Dans sa dissertation de Master, menée sous la direction de M. le Professeur António Nóvoa, il a étudié Brotéria, une revue scientifique dirigée depuis la fin du XIXe siècle par des jésuites portugais. Ce travail est à l’origine du livre Brotar Educação (Roma Editora, 1999). Sa thèse de doctorat intitulée “ O mito dos Jesuítas em Portugal – séculos XVI-XX ” [“ Le mythe jésuite au Portugal – XVI-XX siècles ”], soutenue en 2004 à l’École des hautes études en sciences sociales (Paris) sous la direction de M. le Professeur Bernard Vincent, est un travail académique d’un grand élan, d’une ampleur globale et d’une longue durée sur la Compagnie de Jésus. En ayant obtenu la mention Très honorable avec félicitations du jury, cette thèse fut ensuite publiée au Portugal et en France, avec les intitulés suivants : O Mito dos Jesuítas: em Portugal, no Brasil e no Oriente (séculos XVI-XX), en deux volumes (Ed. Gradiva, 2006-2007) et Le Mythe Jésuite: au Portugal, au Brésil et en Europe (XVI-XX Siècles) (Ed. Arké, 2007). José Eduardo est aussi l’auteur de Jesuítas e Inquisição: cumplicidades de confrontações (Ed. Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2007) [“ Jésuites et inquisition : complicités de confrontations ”]. Grâce à cette trajectoire académique, il est devenu le plus éminent spécialiste de la Compagnie de Jésus au Portugal et l’un des jésuitologues les plus qualifiés dans l’espace euro-américain. Sous l’enseigne de la nouvelle historiographie et d’un imposant corpus documentaire, en grande partie inédit, José Eduardo jette un regard critique sur la présence des jésuites au Portugal et dans le monde. Dans ce sens, et en particulier dans l’œuvre fondamentale, ‘O Mito dos Jesuítas [“ Le mythe jésuite ”], il pose le problème de la représentation pombalina [du Marquis de Pombal] des jésuites qui fut, en grande partie, maintenue par les libéraux et les francs-maçons au dix-neuvième siècle. Par ailleurs, José Eduardo explore le caractère paradoxal de la perspective illuministe du Marquis de Pombal, en mettant en relief ses traits auto-
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ritaires vis-à-vis de ses adversaires que furent une partie de la noblesse portugaise et la Compagnie de Jésus. En cette année du bicentenaire de la restauration de la Compagnie de Jésus, José Eduardo Franco revisite, dans l’entretien qui suit, les questions fondamentales que soulève l’histoire de la Compagnie de Jésus, longue de presque cinq cent ans et nous présente le projet d’édition des œuvres complètes du père Vieira.
Norberto Dallabrida (ND) – Cette année a terminé, à l’Universidade de Lisboa [Université de Lisbonne], le lancement de l’Œuvre complète du père António Vieira, coordonnée par vous et par Pedro Calafate, tous deux professeurs de la Faculté des Lettres de l’Université de Lisbonne. Il s’agit d’un ouvrage colossal, composé de trente volumes et portant sur un agent social de l’élite intellectuelle luso-brésilienne des années 1600. Pourquoi avez-vous conçu et mis en œuvre ce projet d’édition ? José Eduardo Franco (JEF) – Une culture ne peut s’affirmer et se comprendre pleinement que si elle met à disposition du grand public ses classiques, les sources pionnières de sa langue et de sa littérature, sous forme d’éditions complètes avec un appareil de notes critiques. A cela s’ajoute aussi l’importance de les faire traduire dans les langues de grande circulation internationale. Nous avons décidé d’entreprendre ce projet d’édition de grande envergure parce que nous avons reconnu l’absence d’une édition intégrale de l’œuvre de celui que Fernando Pessoa a désigné comme “ l’Empereur de la langue portugaise ”. Cette absence d’édition complète et scientifiquement préparée de l’un des plus grands prosateurs de tous les temps constituait une importante lacune dans le domaine des langues et des littératures d’expression portugaise. En effet, depuis les années 50 du XIXe siècle, nous trouvons un catalogue de presque deux dizaines d’essais et de projets qui ont en quelque sorte préparé l’édition des œuvres complètes de Vieira. Mais les précédents chercheurs se sont
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tous arrêtés en chemin, vaincus par les différentes vicissitudes rencontrées. A vrai dire, celle-ci n’est pas la seule lacune importante dans le domaine de l’histoire de notre culture. Il y a encore beaucoup de travail éditorial à faire pour mettre à disposition du public, les œuvres complètes d’autres figures de premier rang de l’histoire du Portugal et du Brésil. Nous considérons que notre mission, en tant que spécialistes de l’histoire et de la littérature, est de mener le travail préliminaire. Il s’agit d’un travail de base, fondamental, qui consiste à mettre en avant, de manière systématique, globale et enrichie de notes critiques, l’œuvre complète des auteur les plus importants de notre histoire. C’est une façon de récupérer et de faire connaître ce qui s’est produit de mieux au long de notre histoire culturelle, permettant ainsi de mettre en valeur notre patrimoine littéraire et de renforcer son capital référentiel en termes symboliques et en tant que source d’inspiration créatrice. Mais il s’agit aussi d’une manière d’offrir au public en général la dimension intégrale des travaux de chaque auteur, en encourageant de nouvelles approches, de nouvelles recherches et des rebondissements dans la rénovation des contenus de l’enseignement portant sur leurs œuvres. Editer l’œuvre du plus grand orateur luso-brésilien pourra constituer un point de départ pour motiver des équipes de chercheurs qui font des travaux similaires autours de l’œuvre d’autres écrivains, c’est-à-dire faire ce que je désigne comme “ un devoir de culture ”.
ND – Félicitations pour votre entreprise éditoriale qui mérite l’applaudissement de l’espace luso-brésilien et mondial. Quels sont les principaux textes inédits publiés dans l’œuvre du père Vieira ? JEF – D’abord je dois dire qu’après plusieurs essais infructueux, pour la première fois, nous avons su publier la totalité de ce que Vieira lui-même considérait son “ chef d’œuvre ”, le Clavis Prophetarum (“ La Clé des prophètes ”), que le grand jésuite rédigeait au moment de sa mort à la Quinta do Tanque, à proximité de Baía, où il était parti en www.clepul.eu
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retraite vers les années 90 du XVIIe siècle. Il y avait d’ailleurs un récit, plus ou moins légendaire, qui faisait de cet ouvrage un traité maudit par les inquisiteurs qui l’ont censuré. Cette malédiction expliquerait les échecs qui eurent eu lieu lors des diverses tentatives d’édition du texte dans son intégralité. Il a maintenant été traduit du latin et paraît en deux volumes. Il est donc désormais accessible à tous ceux qui veulent découvrir et apprécier l’utopie révolutionnaire que l’auteur propose dans cet ouvrage. Il faut aussi signaler la parution dans cette édition intégrale de plus de 100 lettres intégralement ou partiellement inédites et dont plusieurs furent traduites du latin. Ces lettres permettent ainsi d’amplifier et de corriger considérablement l’important travail mené au début du XXe siècle par João Lúcio de Azevedo, le plus grand biographe de Vieira. Enfin, nous avons ajouté quelques sermons méconnus, des rapports et des mémoires découverts et réunis dans notre Œuvre complète, voire de la poésie et du théâtre de la main du Père António Vieira, qui, avec les textes cités plus haut, amplifient en plusieurs milliers de pages l’œuvre de Vieira qui était, jusqu’à présent, donnée à connaître.
ND – Pourquoi Vieira distingue-t-il son ouvrage Clavis Prophetarum (“ La clé des Prophètes ”) ? Pouvez-vous commenter un peu ce “ chef d’œuvre ”. JEF – Cet ouvrage fût l’objet des préoccupations intellectuelles les plus grandes, à la fois les plus durables et les plus pondérées de Vieira. Il lui a consacré de nombreuses années et il a fini par nous laisser une espèce de testament, un testament-utopie pour son peuple, pour le Brésil, pour le Portugal et pour le monde. À la lumière d’une foi inébranlable dans le Christ et son Évangile, il a projeté un nouveau monde idéal, une société humaine renouvelée, une terre nouvelle habitée par des hommes et des femmes capables de vivre en concorde, en fraternité et de pratiquer la justice en harmonie avec Dieu et la nature. Inquiet par les fractures qui divisaient la chrétienté européenne suite www.lusosofia.net
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aux mouvements de la Réforme et de la contre-réforme, aux guerres de religions qui s’ensuivirent, suite à l’étendue des conflits européens entre les puissances coloniales à l’échelle globale, suite à l’augmentation de l’intolérance au sein du catholicisme, avec notamment la consolidation du pouvoir de l’Inquisition et la persécution des Juifs, Vieira a souhaité proposer une voie alternative à tout cela. Il a voulu révéler et affirmer la promesse, inscrite dans l’héritage spirituel authentique du christianisme, d’un monde nouveau, un monde qui était souhaité, depuis toujours, par toutes les cultures humaines. Cette utopie a été mise en forme et exprimée par le père Vieira avec l’idée d’un Cinquième Empire ; une utopie proto-œcuménique dans laquelle auraient leur place les cultures et les rites des différents groupes de l’humanité, telles que les nouveaux chrétiens d’origine juive (lesquels lui étaient si chers et hélas tant persécutés), mais aussi les juifs eux-mêmes non encore convertis. Raymond Cantel, spécialiste français de Vieira, a classifié l’utopie consignée dans ses écrits prophétiques, en particulier dans História do Futuro [“ L’histoire du Futur ”] et dans A Chave dos Profetas [“ La clé des prophètes ”], comme étant l’une des utopies les plus généreuses et les plus globales de toujours, car elle comprenait l’ensemble de l’humanité et faisait de la planète entière le lieu de sa réalisation.
ND – Le père Vieira a vécu de façon double entre l’Amérique portugaise et la Métropole/Europe. Récemment, vous avez organisé le recueil Entre a selva e a corte: novos olhares sobre Vieira [“ Entre la jungle et la cour : nouveaux regards sur Vieira ”] (Ed. Esfera do Caos, 2009). Quels sont les aspects inédits apportés par ce livre sur la trajectoire luso-brésilienne de Vieira ? JEF – Pour l’occasion des commémorations des 400 ans de la Naissance du Père António Vieira, en 2008, j’ai trouvé intéressant de réunir un groupe mixte de spécialistes brésiliens et portugais qui menaient des recherches et des analyses sur la vie et l’œuvre de ce jésuite. Je les ai www.clepul.eu
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ainsi invités à participer à un ouvrage collectif sur le plus important orateur de notre histoire culturelle commune, et cela en privilégiant des approches novatrices. Personnellement et en tant que spécialiste de Vieira, j’ai la préoccupation fondamentale de réunir les chercheurs brésiliens et portugais dans les équipes de recherche que je constitue dans mon Centre de Recherche pour que l’on étudie ensemble soit le Brésil en tant que colonie, soit le Portugal de l’époque moderne et, en particulier António Vieira. Puisque nous avons une histoire commune de plusieurs siècles, il est sensé de rassembler les regards, les méthodes et les pratiques scientifique des deux côtés de l’Atlantique pour réaliser des études avancées avec des résultats riches et novateurs. Heureusement, nous avons eu les moyens de réunir une pléiade d’excellents spécialistes qui se sont concentrés sur des aspects importants de la pensée et de l’impact des écrits de ce prédicateur. L’accent a été mis, comme l’indique le titre, sur sa longue vie marquée par deux expériences extrêmes. D’une part, la convivialité avec les rois, les princes et des figures de la haute élite européenne de l’époque aussi bien qu’avec la cour portugaise et celle, par exemple, de la France, voire même de la cour papale ou celle de la reine Christine de Suède, entre autres environnements de grand prestige et de grand confort. Et d’autre part, sa vie d’aventure en tant que missionnaire et fondateur de nouvelles missions dans les régions inhospitalières des “ sertões ”, les jungles brésiliennes, et qui avait pour objectif la conversion à la Foi chrétienne du plus grand nombre possible d’Amérindiens. Dans cet ouvrage, qui a été très bien reçu par le public spécialisé ou pas, nous trouvons d’importantes études qui situent l’œuvre de Vieira dans la querelle entre les Anciens et les Modernes. On constate que la position défendue par le jésuite est bien en avance sur son temps, dans le sillage de Bacon et contre les conservateurs antimodernes ; une position qui considérait que les vrais Anciens sont les Modernes, dans la mesure où ils ont derrière eux la longue expérience de cumul d’un savoir héritier des traditions scientifiques et culturelles. Par ailleurs, nous avons des études révélatrices de la grande attention que Vieira portait aux problèmes de son temps. Ce qui
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le mettait en phase avec les préoccupations et les perspectives de figures comme Newton, qui parient sur des solutions utopiques pour résoudre les problèmes de l’humanité. Nous disposons, dans ce livre, entre autres, d’essais sur l’incontournable théologie du Cinquième Empire, sur la relation tourmentée de Vieira avec l’Inquisition, son indéfectible soutien aux juifs et aux nouveaux-chrétiens, sur l’extraordinaire projection des sermons de Vieira, lesquels sont arrivés jusqu’au Soudan. L’ouvrage contient également des études qui analysent la pensée anthropologique du Père António Vieira et sa réflexion critique, considérée pionnière comme protopensée fondatrice d’une idéographie des Droits humains que les Lumières et l’Encyclopédie affirmeront au siècle suivant.
ND – À vrai dire, les études sur le père António Vieira sont un dédoublement du critique historiographique sur les jésuites que vous avez mis en marche depuis votre dissertation de Master, dont le sujet était la revue Brotéria, et que vous avez approfondi avec votre thèse de Doctorat, publiée en deux volumes sous l’intitulé O mito dos jesuítas [“ Le mythe des jésuites ” ]. Pouvez-vous justifier votre investissement scientifique qui vise à problématiser la représentation de la Compagnie de Jésus au Portugal et au Brésil ? JEF – Permettez-moi de préciser que mon intérêt pour la Compagnie de Jésus en tant qu’objet d’étude a précisément eu comme point de départ mes premières recherches et mes premiers essais sur le Père António Vieira. En 1995, j’ai soutenu une thèse à la faculté de Théologie de l’Université Catholique Portugaise sur la pensée utopique de Vieira et ses fondements théologiques. Deux ans plus tard, en 1997, j’ai publié un livre en collaboration avec mon collègue Bruno Cardoso Reis sur Vieira na Literatura Anti-Jesuítica [“ Vieira dans la Littérature anti-jésuitique ”], où j’ai pu ouvrir les chemins de la recherche aux études spécialisées et plus approfondies, que ce soit autour de personnalités et de revues, ou bien de grands thèmes et problématiques www.clepul.eu
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portant sur les jésuites. En effet, c’est l’étude attentive de Vieira qui a éveillé l’intérêt pour un travail plus approfondi sur l’Ordre fondé par Saint Ignace de Loyola et sur quelques-unes de ses expressions, de ses influences et de ses contradictions les plus significatives. Parmi les différents travaux que j’ai publiés sur ce sujet de recherche, les plus connus sont les ouvrages : Brotar Educação (1 volume), sur l’histoire et la pensée pédagogique de la revue la plus importante des Jésuites au Portugal (Brotéria) et O Mito dos Jesuítas em Portugal, no Brasil e no Oriente (2 volumes) [Le mythe des jésuites au Portugal, au Brésil et en Orient]. Mes livres sur les jésuites, mais aussi sur leurs détracteurs et leurs ennemis, – dans la lignée d’autres essais qui ont été publiés ces dernières décennies dans différents pays, notamment en France, où j’ai soutenu mon Doctorat à l’EHESS – souhaitent contribuer à proposer une lecture à la fois nouvelle et plus complexe de l’histoire des jésuites, de l’histoire du Portugal et du Brésil dans leurs relations avec la Compagnie de Jésus. Notre histoire culturelle et politique est très marquée par des herméneutiques simplistes et simplificatrices du rôle et de l’action de la Compagnie de Jésus. Ces interprétations découlent de la production, surtout à partir de l’époque du marquis de Pombal, d’une historiographie apologétique et d’une culture de combat qui a engendré beaucoup de discours de propagande, soit en établissant, d’un côté, une image noire de la Compagnie de Jésus désignée comme responsable des siècles sombres de la décadence portugaise. Soit, en établissant, à l’inverse, un discours qui prend partie pour les ignaciens, en faisant des Jésuites l’Ordre le plus brillant, le plus innovateur, le plus efficace, le plus laborieux et le plus entrepreneur de l’histoire de l’Eglise. À la lumière des idées de “ l’histoire de la complexité ” – conçue par l’Ecole des Annales et désignée comme la “ Nouvelle histoire ” qui fut inaugurée pour dépasser le concept de l’histoire positiviste et de “ l’histoire tribunal ” –, nous avons cherché à suggérer un regard différent et plus nuancé sur la trajectoire des Jésuites à partir de plusieurs angles et en utilisant les nouveaux outils interdisciplinaires qui
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enrichissent beaucoup, de nos jours, la connaissance historique. Notre objectif est essentiellement celui de comprendre et de faire comprendre, de la façon la plus distancée possible et en évitant la tentation de porter un jugement sur le passé, de sorte à accomplir ce que j’appelle un travail de déminage de l’histoire peuplée de stéréotypes (telle des mines prêtes à exploser) qui conditionnent notre interprétation. En d’autres mots, il s’agit du travail qui consiste à supprimer les préjugés de la lecture historique, une tâche que nous avons, en tant qu’historiens, l’obligation de mener. L’historien n’est pas un juge. L’historien est avant tout quelqu’un qui ressuscite les morts et qui doit les présenter, au regard des femmes et des hommes qui sont ses contemporains, dans leur dimension la plus complète et la plus proche possible du temps où ces morts-là, désormais ressuscités par le discours historique, ont vraiment vécu. Cela en tenant compte du cadre mental de leurs sociétés vivantes. Nous cherchons donc à comprendre l’optique des différents acteurs historiques et la multiplicité des intérêts en jeu à chaque époque, ainsi que le contexte culturel, politique et religieux. Par ailleurs, nous mettons aussi en évidence l’importance des imaginaires sociaux qui ont marqué les visions du monde où les initiatives fondatrices des mouvements historiques trouvent leur origine, où les rôles personnels et institutionnels ont été joués et où se sont dessinés les conflits sociaux. Parce que l’histoire humaine est presque toujours une histoire dramatique, faite de tensions et de conflits, l’historien est dans l’obligation de connaître et de comprendre la racine des conflits qui font mouvoir l’humanité. Puisque l’histoire est souvent vécue, perçue et représentée par ses auteurs et les bâtisseurs de mémoire comme étant dramatique, alors, il appartient à l’historien critique de se distancer et de développer ce à quoi je donne le nom de dédramatisation de la mémoire historique. C’est seulement en dédramatisant les images toutes faites du passé, que l’historien pourra vraiment comprendre les racines et les acteurs de l’histoire en tant que drame.
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ND – La représentation pombalina [du Marquis de Pombal] des Jésuites, laquelle a émergé vers le milieu du XVIIIe siècle, a eu un impact important et une longue postérité. Elle a gagné un nouveau sens par la voix des libéraux et des maçons au dix-huitième et, en particulier, au moment de l’institution de la République portugaise pendant la décennie 1910. Pourriez-vous nuancer cet anti-jésuitisme de longue durée dans l’Histoire du Portugal ? JEF – Bien que le Marquis de Pombal se soit révélé l’un des grands protagonistes qui ont eu du succès dans le combat contre l’implantation et l’influence des Jésuites au XVIIIe siècle, en les expulsant et en contribuant à la destitution de la Compagnie de Jésus comme Ordre au sein de l’Église Catholique, l’anti-jésuitisme est un phénomène bien plus vaste et plus complexe. La critique et l’opposition à l’affirmation des Jésuites sont nées au moment de la création de l’Ordre en 1540. Le courant de l’anti-jésuitisme accompagne l’expansion globale de cette institution religieuse durant l’époque Moderne, il se maintient tout au long de l’époque contemporaine ainsi que pendant une grande partie du XXe siècle. Les idéologues et les propagandistes anti-jésuites sont issus des horizons les plus variés. De plus, les premières manifestations de critique systématique vis-à-vis de la nature et de l’action des Pères de la Compagnie de Jésus ont eu lieu au sein même de l’Église parmi le clergé catholique régulier et séculier, notamment parmi les Dominicains et les Franciscains, jusqu’à ce qu’il ait gagné du terrain auprès des Protestants qui se sont mis à craindre cet Ordre catholique très efficace. Il faut souligner le rôle du courant janséniste et de quelques-unes de ses figures les plus importantes, comme le philosophe Blaise Pascal, dans le combat contre la théologie morale et contre les méthodes pastorales des Jésuites, sans oublier les ennemi politiques les plus déterminés des Jésuites au siècle des Lumières. Ceux-ci ont gagné le combat contre cet Ordre religieux puissant, en ayant été capable de l’abattre avec l’appui des monarchies catholiques d’abord, puis de la papauté elle-même, pendant la deuxième moitié du XVIIIe siècle.
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Dès les premières années de leur implantation au Portugal et dans la colonie du Brésil, les Jésuites doivent faire face à une forte opposition, non seulement parmi les missionnaires et les frères des autres Ordres, parmi les inquisiteurs et les évêques, mais aussi parmi les colons, dont les intérêts économiques entraient en conflit avec ceux des jésuites. Cet anti-jésuitisme portugais et brésilien va voir s’amplifier son arsenal de critiques et d’images négatives, jusqu’à ce qu’il rencontre, au temps de Pombal, un bras politique fort qui finit par accomplir les vieilles revendications de limitation de la sphère d’action des Jésuites – revendications qui étaient très anciennes, mais auxquelles le puissant Ministre de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, en se sentant menacé dans son poste par quelques opinion makers de la Compagnie de Jésus, a décidé de répondre en coupant le mal à la racine et en décrétant leur expulsion. Toutefois, encore plus que cette mesure politique osée, ce qui a été significatif, qui a servi à infléchir l’opinion et à justifier la nécessité de combattre l’Ordre, c’est l’investissement de l’Etat pombalino dans une machine de propagande avec la production et la divulgation de vrais “ catéchismes anti-jésuitiques ” traduits en plusieurs langues. Ces éditions établissent un mythe sombre des Jésuites, en les rendant responsables de la décadence portugaise et en les peignant comme d’effroyables ennemis de tous les pouvoirs légitimes et des politiques en faveur du progrès de l’humanité. Cette imagerie sombre de la Compagnie de Jésus aura une forte influence auprès des disciples anti-jésuites de la période libérale et républicaine, en dressant l’image des Jésuites comme l’Autre négatif par excellence, l’envahisseur étranger, l’ennemi à éviter et à abattre. Une vraie idéologie anti-jésuitique s’affirme dans le discours de propagande d’une culture de combat. L’anti-jésuitisme et la lecture dogmatique et simplifiée du passé portugais font du jésuitisme un sébastianisme inversé. Alors que le courant du sébastianisme appuyait la possibilité de régénération du Portugal dans le monde sur l’apparition d’un Roi restaurateur, c’était sur la Compagnie de Jésus et sur le jésuitisme que l’on
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projetait toutes les craintes, les peurs et les influences dégénérescentes. Le courant anti-jésuitique, transversal à beaucoup de courants et idéologies (en général anticatholiques, mais non exclusivement), a trouvé chez les jésuites un bouc émissaire de mobilisation facile pour agréger des masses autour des quelques causes qui, au fond, concernaient peu la question de la Compagnie de Jésus et ses idées. Les Jésuites sont devenus un bon champ imaginaire, avec un magnétisme de propagande très efficace pour mouvoir des foules et simplifier les explications des maux qui touchaient la société.
ND – Comment analysez-vous l’anti-jésuitisme dans l’établissement de la République au Portugal, au début des années 10 du vingtième siècle ? Y-a-t-il de nouveaux aspect dans ce processus ? JEF – Le courant anti-jésuitique, qui prend parfois les contours d’une vraie idéologie négative, devient très mimétique, très répétitif. Il est une espèce de symphonie de sons toujours égaux, qui concerne toujours le même domaine, en changeant seulement quelques tonalités et quelques instruments. La première loi que le régime de la Ière République portugaise, démocratique et soi-disant pluraliste, publie le 8 octobre 1910 n’est autre que la remise en vigueur de la loi du Marquis de Pombal, du temps de l’Absolutisme, laquelle avait expulsé les jésuites. Une bonne partie des courants laïques de la période du libéralisme comme de celle du républicanisme du XIXe siècle et premières décennies du XXe siècle ont hérité l’obsession anti-jésuitique du temps du Marquis de Pombal, en l’élevant à un degré extrême dans une espèce de jésuito-phobie. Ils ont reproduit et appliqué de façon élémentaire et généralisée l’idée selon laquelle les Jésuites ont été les grands, si ce n’est même les seuls responsables de la décadence du pays, en relisant toute l’histoire nationale sur la base de cette clé herméneutique. On observe ici l’affirmation pleine de la “ causalité diabolique ”, très théorisée par León Poliakov, pour expliquer les effets de l’action de la Compagnie de Jésus comme productrice de décadence sociale, morale, artistique, www.lusosofia.net
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économique, religieuse et politique. Le recours à des arguments scientifiques pour expliquer le rôle dégénérescent des Jésuites est l’aspect le plus novateur du discours anti-jésuitique de cette période. Je peux signaler, comme exemple, le cas emblématique du médecin psychiatre Miguel Bombarda, idéologue républicain et scientiste matérialiste de grande renommée, qui, dans son ouvrage célèbre Science et jésuitisme publié en 1901, a tenté de démontrer que la vocation pour devenir jésuite serait la conséquence d’une maladie mentale, d’une déformation cérébrale. Devenir jésuite serait une forme de folie, un manque de raison. Les Jésuites ont non seulement été considérés comme des êtres dégénérés par les idéologues et les scientifiques républicains, ils ont également été caractérisés comme des antihéros, inoculateurs d’une espèce de poison qui dégénérait les sociétés sur lesquelles ils exerçaient leur influence, les menant vers un état de régression et un obscurantisme invincible. C’est là que le courant de l’anti-jésuitisme formulera des solutions eugénistes proches de celles du nazisme, en défendant le recours à certaines méthodes d’isolement (dans des îles désertes, dans des asiles ou dans certaines régions continentales intérieures, isolées et inhabitées) pour aboutir à l’extinction de cette race dégénérée d’hommes et éviter la propagation de leur pestilence religieuse. L’anti-jésuitisme est tombé dans un excès idéologique faisant feu de tous les outils interprétatifs disponibles pour mettre fin à la présence et à l’héritage des jésuites. Le mouvement s’est engagé sur une pente herméneutique dangereuse et simplificatrice pour mobiliser ses adeptes contre un ennemi que l’on décrivait comme une menace étrangère dans le but de mieux affirmer la proposition de l’Idée républicaine, qui faisait du jésuitisme son portrait négatif.
ND – En 2014 nous célébrons le deuxième centenaire de la restauration de la Compagnie de Jésus, qui fait partie intégrante de la restauration politique en Europe, dont la pointe de l’iceberg a été le Congrès de Vienne. Pour notre monde contemporain, marqué
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par la mondialisation néolibérale, la sécularisation et la pluralité culturelle, quel est ou quels sont les principaux héritages jésuites ? JEF – Tout au long de son histoire, longue de presque 500 ans, la Compagnie de Jésus a été l’Ordre de l’Eglise catholique qui a su montrer les plus grandes capacités de résilience, d’adaptation, de résistance et, il faut utiliser les mots exacts, de succès dans l’effort de survie. Il faut reconnaitre qu’il s’agit de l’un des facteurs les plus étonnants, qui pose le plus de questions et qui produit différentes lectures, aussi bien de la part des sympathisants que des détracteurs, le fait que l’Ordre de Saint Ignace ait été l’une des institutions catholiques les plus critiquées, les plus poursuivies et expulsées, tantôt à l’intérieur, tantôt à l’extérieur de l’Eglise, tantôt dans le contexte des Etats chrétiens, tantôt en dehors de leur juridiction, en revenant toujours, en renaissant de ses cendres. N’oublions pas que, de même que la Compagnie de Jésus, d’autres Ordres ont également fait l’objet de poursuites et ce jusqu’à l’extinction pontificale. C’est le cas, par exemple, de l’Ordre des Templiers. Cependant, les Templiers ont disparu comme Ordre – sauf si l’on considère leur métamorphose portugaise en l’Ordre du Christ comme un important vestige localisé de leur survie – et ils n’ont pas eu la capacité de nouvelle projection que les Jésuites allaient atteindre. Au long de l’histoire des Jésuites, on a gardé le souvenir de presqu’une centaine d’actes de persécution, d’expulsions et d’autres mesures de limitation de leur action dans tous les continents où ils se sont implantés. Rien que dans la colonie du Brésil (colonie), plusieurs expulsions partielles sont connues et au Portugal, on peut compter trois expulsions totales. Il ont été contestés, violemment haïs et impitoyablement expulsés, soit parce qu’ils étaient trop osés et progressistes, soit parce qu’ils étaient conservateurs, soit encore par leur liberté critique vis-à-vis des intérêts des élites coloniales et des seigneurs puissants, ou bien parce qu’ils s’immisçaient dans des affaires temporelles, soit encore parce qu’ils avaient créé de puissantes infrastructures d’enseignement, des réseaux de champs missionnaires dans tous les continents, soit finalement parce
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qu’ils ont fortement manifesté leur désaccord quant aux pratiques de l’esclavage. Leur action sur différents plans a contribué à faire des Jésuites un mythe janiforme, c’est-à-dire à double face : une face lumineuse dépeinte et entretenue par ceux qui sympathisaient avec eux et qui défendaient leur rôle et leur influence considérée comme très bénéfique parce que guidée par le Saint Esprit ; et d’un autre côté, la face sombre propagée par ceux qui cherchaient à expliquer leur efficacité d’organisation et d’expansion comme étant due à des méthodes obscures, conspiratrices et peu chrétiennes. Cependant, le mythe a simplifié, des deux côtés, la nature et le mode d’agir et de penser des Jésuites. Les membres de la Compagnie n’ont pas toujours pensé et agi de la même façon, même dans des contextes et des temps semblables. Des Jésuites, il y en eut des saints, des audacieux, des ordinaires, de brillants orateurs et entrepreneurs, de même qu’à un certain moment, il y en eut qui se contredirent, qui conspirèrent et qui délaissèrent ou renièrent leurs idéaux. Ce fut ainsi pour les Jésuites, comme pour toute institution humaine, quelque soit leur degré de perfection. Malgré toutes les mesures politiques et les tentatives d’expulsion et d’élimination qu’elle a subies, la Compagnie de Jésus est toujours revenue tel un Phénix qui renaît de ses cendres et demeure toujours l’un des plus importants et influents Ordre de l’Eglise catholique, en particulier dans le domaine de la culture et de la science. Il compte, aujourd’hui, des milliers de membres avec des qualifications supérieures qui dirigent des institutions éducatives, travaillent dans des écoles privées et des universités, agissent comme missionnaires, orientent des centres de spiritualité, et exercent une action pastorale dans les environnements et les sphères sociales les plus divers. En grande partie, du point de vue de la sociologie des organisations et des nouvelles sciences de l’entreprenariat, des spécialistes de différents domaines, comme Charles Boxer, Dauril Alden ou Chris Lowm-
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ney, cherchent à expliquer cette capacité de résilience et d’adaptation à des temps différents et des contextes complexes à la lumière de leur mode d’organisation et de gouvernement centralisé et concentrique ; c’est-à-dire coordonné à travers des pouvoirs polarisés, mais se rapportant toujours et rendant des comptes à un pouvoir central qui dirige tout depuis Rome, en la personne du Supérieur général et de son conseil. C’est pourquoi, pour cette raison, il ont désigné la Compagnie de Jésus comme une multinationale avant la lettre, contemporaine avant l’heure, capable de coordonner simultanément un réseau bien monté de communautés et d’activités dans tous les continents. L’Ordre conçu par Ignace de Loyola dans le temps de la proto-globalisation a été préparé pour répondre aux défis d’un monde qui se globalisait : un Ordre agile, capable de créer des réseaux et de mener des actions coordonnées avec fidélité, suivant des protocoles simplifiés sur différentes scènes du globe. D’autre part, plusieurs valeurs fondamentales de caractère spirituel et humain inculquées au travers d’une formation académique longue et diversifiée – exceptionnellement longue si nous avons à l’esprit, en terme comparaison, l’enseignement qui est pratiqué dans d’autres Ordres religieux – confèrent aux jésuites le plus d’efficacité et d’influence. Le très fort investissement dans l’éducation solide de ses membres est sans doute l’un des facteurs de succès et de la capacité à maintenir à jour l’héritage et la pertinence de l’action des jésuites. L’entreprenariat, l’éducation intégrale et supérieure, la fidélité à son idéal d’Ordre religieux, la capacité d’adaptation à différentes cultures et mentalités, le travail en réseau sont des aspects qui font des jésuites l’un des Ordres qui a su le mieux répondre aux transformations d’un monde qui se trouve dans un procès de globalisation accéléré.
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Parte IV Re-lectura histórica de los Jesuitas. Conversaciones con el historiador portugués José Eduardo Franco
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PREFACIO Un historiador contemporáneo
José Eduardo Franco es conocido por su dinamismo y empeño al servicio de la historia de la época moderna, lo expresó bien en una obra personal muy innovadora y a través de una serie de proyectos colectivos de gran dimensión, cuyo impacto ultrapasa largamente las fronteras de su país. Pero este estudioso es menos conocido por la intensidad de su reflexión historiográfica: es un historiador contemporáneo, que sabe lo que hace y porque lo hace, en nuestro tiempo. El dialogo que leemos en este libro, que, por ser presentado en cuatro lenguas, se abre al mundo entero, dándonos de eso una bella demostración con la participación atenta y bien informada de Norberto Dallabrida. Franco comienza por revelar dos grandes desafíos del relevante proyecto editorial António Vieira que lleva a cabo con Pedro Calafate. El primero de esos desafíos es la publicación de un Vieira integral. Aquí, no se trata apenas de la ambición de presentar un conocimiento marcado por la exhaustividad, pero se trata también de la voluntad de comprender lo que puede animar a un hombre religioso, en cada legado – carta, sermón, poema, panfleto, tratado. . . – es habitado por una misma finalidad última: la gloria de Dios No es la verdad del mundo,
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pero la gloria del mundo como mundo creado, o sea, animado por un mismo motor, una misma dinámica, una misma alma. La historia es atravesada por estos grandes impulsos unificadores. Y aquel que podría transportar un hombre como Vieira está ciertamente, en gran parte, en la atracción que él representa hoy para nosotros, que procuramos una inteligencia comprensiva semejante, como lo fue sin dudas, en el siglo XX, un otro Antonio, Antonio Gramsci [interesado en encontrar en los filósofos o historiadores del pensamiento la misma aspiración que llevó la tradición marxista italiana después de la edad barroca]. El segundo desafío, crucial para una nueva visión de Portugal sobre su pasado, es de hacer ver de qué forma aquel que se tornó un “monumento del patrimonio nacional”, fue primero un profeta in deserto; como es que este futuro “emperador” de la tradición literaria portuguesa no solo fue profeta en su tierra, por el contrario, fue violentamente contestado y, por otra parte contestable en las soluciones políticas que propone para el Brasil colonial. Los trabajos de pesquisa de estos últimos años colocaron a nuestra disposición, con la edición finalizada de la Obra Completa de Vieira, nuevos documentos y lanzaron Vieira en el ajedrez complejo, en el cual él no es el Rey, pero donde, por esta razón, él permite redescubrir todas las piezas: el Vieira integral es también eso. * Se volvió interesante sobre todo cuando José Eduardo Franco, en la secuencia del dialogo, abre la perspectiva sobre la historia de la Compañía de Jesús. Primeramente siguiendo el destino de Vieira en la literatura antijesuítica del siglo XVIII, como lo hizo en uno de sus principales libros, tornándolo una obra de historia cultural, permitiéndonos repensar el sentido de este concepto: una historia de mises en culture, o de que forma los escritos, vestigios de un pasado, siembran otros tiempos en los cuales producen otros frutos y de que forma esta sedimentación define una de las alteraciones, de las transformaciones y www.clepul.eu
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hasta de las traiciones pero que solo pueden ser entendidas a partir de esas sus raíces lejanas Regresar a Vieira, por la edición de su legado intelectual, es también, sin cesar, partir nuevamente de él para atravesar los océanos inmensos de la cultura católica (romana, imperial y nacional) de la Europa latina. Es a través de este duplo movimiento que Franco quiere evitar el duplo peligro de separar en este continuum cultural una “leyenda negra” o una “leyenda dorada” de la Compañía de Jesús. Tiene razón en preocuparse, pues aquellos peligros nunca están alejados. Enrique Hernán (y tengo el placer de citar y saludar aquí, como francés prologando un dialogo portugués, a un colega español) y yo propio nos damos cuenta de esos peligros al debatir, en este inicio de 2015, un proyecto común sobre el alumbradismo de Ignacio de Loyola en sus años de formación. La “leyenda negra” sería la de confinar Ignacio, al lado de los jueces, en los palacios de la Inquisición. Pero la “leyenda dorada” sería la de encarcelarle en los calabozos de estos mismos palacios sin que fuese posible controlar sus derivas, sus evoluciones, sus tomadas de posición. Como bien lo demostró Guido Mongini en su Ad Christi similitudinem, el pequeño libro de los Ejercicios Espirituales es también – entre otras cosas – el cruzamiento de caminos, guiado en ortodoxia para un pelegrino incierto. * Toma de posición: quedé impresionado, al leer este dialogo, con su dimensión política. Franco insiste en el envolvimiento del sebastianismo, grande mito místico y político de la monarquía portuguesa, en el discurso del antijesuitismo, en particular en el siglo XVIII, en el periodo pombalino. Nuestro historiador resalta: “mientras que la corriente del sebastianismo se apoyaba en la posibilidad de regeneración de Portugal en el mundo por el aparecimiento de un Rey Restaurador, era en la Compañía de Jesús y en el jesuitismo que se proyectaban todos los recelos, miedos e influencias degenerantes”. www.lusosofia.net
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Es una apreciación profunda. Por un lado, ella confirma la inteligente estratégica de António Vieira, que en su obra profética extiende la monarquía y el imperio portugués a la dimensión del universo – el “Quinto Imperio” –, y así reconfigura el universo, de una cierta manera, en esas nuevas fronteras sin fronteras, pero garante al rey de Portugal la misión de fundar este imperio y llamar para si la iniciativa de la regeneración; pudiendo nosotros entrever, desde el siglo XVII, la anticipación más lucida de las invectivas de un sebastianismo antijesuita. Por otro lado y fundamentalmente, nos inspira a una mirada de larga duración sobre la historia de la Compañía de Jesús: ¿será que el antijesuitismo se engaña siempre en la incriminación de un antimonarquismo jesuita? O más precisamente, ¿no será frágil la frontera entre por un lado, una definición contramonárquica de la Compañía, patentado, por ejemplo, en los célebres Monita Secreta, que denuncian un contrapoder, una monarquía-sombra y, por otro lado, una cierta forma de antidespotismo, del que podemos encontrar testimonios en un gran números de iniciativas y de obras en el ámbito de la propia Compañía de Jesús, hasta el siglo XX? Sabina Pavone ¿no habrá demostrado precisamente en sus Astuzie dei gesuiti, que los Monita Secreta estaban lejos de ser apenas una caricatura grosera? Pero la ironía de la historia es que en los escenarios de larga duración y, por ejemplo, los de un “progresismo” de la Compañía de Jesús en el largo curso de sus compromisos políticos, las construcciones filojesuiticas se hicieron siempre más tarde de lo que las construcciones antijesuíticas, campeonas de la continuidad a través de una serie de topoï reiterados infinitamente desde los primeros siglos de la “antigua Compañía”. Así como bien lo demuestran las investigaciones recientes sobre la “nueva Compañía” en las cuales José Eduardo Franco participó activamente, lo más útil hoy en día no es hacer la historia de esta institución a la luz del principio de la unidad, de una identidad esencial,
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pero por el contrario, inscribir esa historia en una línea fragmentaria, rota violentamente puntuada por expulsiones y renacimientos.
Pierre Antoine Fabre
École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris
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Re-lectura histórica de los Jesuitas José Eduardo Franco es el director del Centro de Literaturas y Culturas Lusófonas y Europeas (CLEPUL) de la Facultad de Letras de la Universidad de Lisboa, uno de los más importantes centros de investigación de la Fundación para la Ciencia y la Tecnología (FCT) de Portugal, en el campo de la Ciencias Sociales y Humanidades. Uno de los principales proyectos que él dirige, conjuntamente con Pedro Calafate – profesor de la Universidad de Lisboa, es la edición de las obras completas del Padre António Vieira, que consta de 30 volúmenes. Esta extraordinaria publicación que incluye a un número de importantes investigadores de Europa y Brasil, es la culminación de una serie de estudios que José Eduardo realizó sobre el Padre Vieira. En 2008 publicó el volumen Padre António Vieira (1608-1697): Emperador de la Lengua Portuguesa (Editora Correio da Manhã); y también, en coautoría con Isabel Morán Cabanas publicó El Padre António Vieira y las mujeres: una visión barroca del universo femenino (Editora Campo das Letras). Al año siguiente editó la colección de textos Entre la Selva y la Corte: Nuevas Perspectivas Sobre Vieira (Editorial Esfera del Caos), que contiene obras de los investigadores brasileños Alcir Pécora, Paulo Assunção and Valmir Francisco Muraro. De hecho, estos estudios sobre el Padre Vieira son una ramificación de la minuciosa y metódica investigación científica desplegada por José Eduardo sobre la Compañía de Jesús, en una perspectiva comparada y a nivel mundial. En su tesis de maestría, dirigida por el profesor Antó-
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nio Nóvoa, analizó la revista Brotéria dirigida por Jesuitas portugueses desde finales del siglo XIX, estudio que resultó en el libro Brotar Educação (Roma Editora, 1999). Igualmente, su tesis doctoral titulada “El Mito de los Jesuitas en Portugal – siglos XVI -XX”, defendida en la École des Hautes Études en Sciences Sociales (París), en 2004 bajo la dirección del Profesor Bernard Vincent, es un formidable trabajo académico, de alcance global y en una larga perspectiva histórica sobre la Compañía de Jesús. La tesis fue galardonada con la máxima distinción de la academia francesa como très honorable félicitations avec du jury, y fue publicada en forma de libro en Portugal y en Francia con los respectivos títulos de: El mito de los Jesuitas: en Portugal, Brasil y Oriente (siglos XVI -XX) en dos volúmenes (Editorial Gradiva, 2006-2007), y Le Mythe Jesuite: au Portugal et au Brésil et en Europe (XVI -XX Siècles) (Editora Arke, 2007). José Eduardo es también el autor de Los Jesuitas y La Inquisición: Complicidad de la Confrontación (Editora de la Universidad Estatal de Río de Janeiro, 2007). Con esta trayectoria académica, José Eduardo Franco se convirtió en el experto de mayor autoridad sobre la Compañía de Jesús en Portugal y uno de los más competentes jesuitólogos en el espacio euro-americano. Basada en una nueva historiografía y con un muy extenso y parcialmente e inédito corpus documental, José Eduardo presenta una amplia visión revisionista sobre de la presencia de los Jesuitas en Portugal y en el mundo. Continuando en la misma dirección, sobre todo en la obra clave El Mito de la Compañía de Jesús, él problematiza la representación pombalina2 de los Jesuitas, que se perpetúa en gran parte por la acción de liberales y masones en las ultimas décadas del siglo XIX. Por otra parte, José Eduardo explora el carácter paradójico del pensamiento ilustrado-liberal del Marqués de Pombal, destacando sus autoritarismo en relación a sus principales adversarios: la aristocracia y la Compañía de Jesús. Siendo este el año del bicentenario de la restauración de la Compañía de Jesús, en la entrevista que aquí 2
Perspectiva sostenida e institucionalizada por el Marques de Pombal, S. XVIII
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reproducimos, él retorna a los temas claves de la Compañía de Jesús durante casi medio milenio y comenta sobre la edición de las obras completas de proyecto Padre Vieira .
Norberto Dallabrida (ND ) – Este año se concluyó en la Universidad de Lisboa, el proyecto de edición de las Obras Completas de Padre António Vieira, bajo su dirección y la de Pedro Calafate, ambos profesores de la Facultad de Letras de la Universidad de Lisboa. Esta es una obra monumental que consiste en editar los treinta volúmenes de un célebre agente social, parte de la élite intelectual Luso-Brasileña del siglo XVII. ¿Cómo habéis concebido y realizado este proyecto editorial? José Eduardo Franco (JEF) – Una cultura puede afirmarse y comprenderse plenamente sólo si tenemos acceso a sus clásicos, que son las raíces fundadoras de su lengua y su literatura, en ediciones completas y comentadas críticamente, y también, en lo posible con traducciones a las lenguas de mayor difusión internacional. Decidimos emprender este enorme proyecto editorial al reconocer la falta de una edición completa de la obra de aquel a quien Fernando Pessoa designó como el “El Emperador de la Lengua Portuguesa”. El no existir una edición amplia y científicamente preparada, de la obra de quien está considerado como uno de los más grandes escritores en prosa de todos los tiempos, ha constituido un fallo grave en el contexto de las lenguas y literaturas de habla portuguesa. Y ya muchos deseaban intentar esta empresa. De hecho, ya desde mediados del siglo XIX hubieron casi dos docenas de tentativas y proyectos para la editar las obras completas de Vieira. Todos ellos quedaron abandonados en el camino, fracasando ante muchas y diversas vicisitudes. En realidad, esta no es la única omisión importante en la historia de nuestra cultura. Todavía hay un número de tareas que es necesario realizar, para editorializar las obras completas de figuras de primera línea en la historia de Portugal y Brasil. Nuestra misión como estudiosos www.lusosofia.net
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de la historia y la literatura, es llevar adelante este trabajo preliminar, esta tarea básica y fundamental que es traer a la luz de forma sistemática, completa y críticamente comentada, toda la obra de los autores más importantes de nuestra historia. No sólo es una forma de recuperar y mostrar lo mejor que se ha producido a lo largo de nuestra historia cultural, cualificando nuestra herencia literaria y mejorado su capital referencial en términos simbólicos y de inspiración creativa, pero además es una forma de ofrecer al conocimiento de todos, la dimensión integral de la obra completa de cada autor, fomentando nuevos enfoques y una investigación que se vea reflejada en la renovación de los contenidos educativos existentes sobre estos clásicos. Así, editar la obra del más grande orador luso-brasileño de todos los tiempos, puede ser un excelente punto de partida para motivar a investigadores a llevar a cabo tareas similares en torno a la obra de otros escritores, es decir, para hacer lo que yo llamo “hacer las tareas de la cultura”.
ND – Felicitaciones por su emprendimiento editorial que merece un aplauso en el espacio luso-brasileña y aún mundial. ¿Cuáles son los principales textos inéditos de la obra completa de Padre Vieira? JEF – En primer lugar, conseguimos publicar en su totalidad, por primera vez después de varios previos intentos fallidos, una obra que Vieira considera como su “obra magna”, la Clavis Prophetarum (“La Llave de los Profetas”), dado que el gran jesuita falleció mientras la escribía en la Quinta do Tanque donde estaba retirado, en los alrededores de Bahía en la década del 90 del siglo XVII. Inclusive se había difundido una fábula más o menos legendaria que veía esta obra como un tratado maldito, o maldecido por los inquisidores que la censuraron. Se creyó que esta supuesta maldición era el motivo de los fracasos e intentos fallidos de su publicación total. Ahora ya la hemos traducida del latín y llevada a impresión en dos volúmenes, y está accesible a todos www.clepul.eu
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los que quieran leerla y disfrutar de conocer la utopía revolucionaria que el autor proponía en esta obra. También hay que destacar que la edición de la obra completa incluye más de 100 cartas inéditas y parcialmente inéditas, muchas de ellas traducidas del latín, lo que permite ampliar y corregir significativamente el importante trabajo realizado a principios del siglo XX por João Lúcio de Azevedo, el mayor biógrafo Vieira. Después hay que añadir varios sermones hasta ahora desconocidos, informes y memorandos que han sido descubiertos y que también hemos incluido en las Obras Completas, inclusive poesía y piezas de teatro escritas por el Padre António Vieira, que sumadas a los textos mencionados anteriormente, amplían por varios miles de páginas la obra de Vieira conocida hasta hoy.
ND – ¿Porqué Vieira distingue particularmente su obra Clavis Prophetarum (“La Llave de los Profetas”)? Podría usted comentar esta “obra magna”? JEF – Esta obra se convirtió en el objeto de sus más grandes, duraderas y profundas reflexiones e inquietudes intelectuales. A ella le dedicó muchos años y nos la ha dejado como una especie de testamento, una utopía-testamento para su pueblo, para Brasil, para Portugal y para el mundo. A la luz de una fe inquebrantable en Cristo y su Evangelio ideó un nuevo mundo, una nueva sociedad humana, una nueva tierra habitada por hombres y mujeres capaces de vivir en armonía, en fraternidad y en la práctica de una justicia en armonía con Dios y con la naturaleza. Preocupado con las fracturas que se habían abierto en la Cristiandad europea con los movimientos de Reforma y Contrarreforma y los 30 años de guerras religiosas que les siguieran, con la propagación de conflictos europeos entre las potencias coloniales a una escala global y con el incremento de intolerancia dentro del catolicismo, particularmente con la consolidación del poder de la Inquisición y la persecución de los judíos, Vieira quiso presentar una vía www.lusosofia.net
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alternativa, quiso revelar y afirmar que la promesa de un nuevo mundo yacía inscrita en verdadera herencia espiritual del cristianismo y que había sido deseada desde siempre por todas las culturas humanas. El Padre Vieira transpone esta utopía en la idea del Quinto Imperio, una utopía proto-ecuménica, donde culturas y ritos de diferentes cuadrantes de la humanidad coexistirían, incluyendo las de sus amados y muy perseguidos cristianos nuevos de origen judío y las de los judíos que aún no se habían convertido. Raymond Cantel, erudito francés especializado en Vieira, ha clasificado esta utopía inserta en sus escritos proféticos, sobre todo en la Historia del Futuro y en La Llave de los Profetas, como una de las utopías más generosas y más globales, porque englobaba a toda la humanidad y tenía la tierra entera como el palco de su realización.
ND — El Padre Vieira vivía en dos mundos, era parte de la América Portuguesa y también de la Metrópolis Europea. Recientemente usted organizó la antología “Entre la selva y la corte: nuevas perspectivas sobre Vieira” (Editorial Esfera de Caos, 2009). ¿Qué aspectos nuevos aporta este libro sobre la trayectoria luso-brasileño de Vieira? JEF – Con motivo de las celebraciones del 400 aniversario del nacimiento del Padre Antonio Vieira en 2008, me pareció oportuno invitar a un grupo de expertos portugueses y brasileños que desarrollaban estudios de investigación sobre a la vida y obra de este jesuita, a desarrollar conjuntamente un trabajo de investigación con perspectivas innovadoras sobre el orador más grande de nuestra historia cultural común. Personalmente, y como estudioso de Vieira, tengo un interés primordial en reunir a investigadores brasileños y portugueses en los equipos de investigación del Centro de Investigación que yo dirijo, con el objetivo de investigar sobre la historia colonial de Brasil, sobre Portugal en la Edad Moderna, y muy particularmente sobre la obra de António Vieira. Dado que tenemos una historia común desde hace siwww.clepul.eu
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glos, tiene mucho sentido reunir las perspectivas, métodos y prácticas científicas de ambos lados del Atlántico, para llevar adelante estudios avanzados con resultados fructíferos e innovadores. Afortunadamente, conseguimos reunir un número de excelentes especialistas que se centraron los aspectos más importantes del pensamiento y el impacto de los escritos del Predicador, destacando, como el título lo indica, su larga vida marcada por dos experiencias muy diversas: conviviendo con reyes, príncipes y otros personajes de la aristocracia y la élite en la corte portuguesa, así como en otras cortes de Europa, por ejemplo en la corte de Francia o en la corte papal de la reina Cristina de Suecia, y entre otros ambientes de gran prestigio y confort; y por otro lado su vida aventurera como misionero, fundador de nuevas misiones en las regiones inhóspitas del interior de las selvas de Brasil, intentando convertir a la fe cristiana el mayor número posible de amerindios. En esta obra, que ha sido muy bien recibido por el público experto así como por el público en general, hemos incluido estudios muy importantes que posicionan la obra de Vieira en el debate entre los Antiguos y los Modernos, donde se observa que el jesuita tiene una posición muy avanzada, situándose en la tradición de Bacon y contra los conservadores anti-modernos, porque los verdaderamente antiguos son los modernos, en la medida en que tienen detrás de ellos la larga experiencia de acumulación de conocimientos heredados de la tradición científica y cultural. Asimismo, incluimos estudios que subrayan el gran interés de Vieira por los problemas de su tiempo, su estar en sintonía con las preocupaciones y perspectivas de figuras como Newton, que también apelaba a soluciones utópicas para resolver los problemas de la humanidad. Tenemos en este libro, entre muchos otros enfoques, ensayos sobre la teleología esencial del Quinto Imperio, sobre la conflictiva relación de Vieira con la Inquisición, y su defensa inquebrantable de judíos y cristianos nuevos, sobre la extraordinaria difusión de los sermones Vieira que llegaron inclusive hasta Sudán, además de estudios que analizan el pensamiento antropológico del Padre António Vieira y su reflexión crítica, considerándose a esta como precursora,
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como proto-pensamiento fundador de un ideografía de los Derechos Humanos que vendría sólo a afirmarse en el siglo subsiguiente, en el siglo de la Ilustración y del Enciclopedismo.
ND – De hecho, estos estudios sobre el padre Antonio Vieira son una ramificación del revisionismo historiográfico sobre los Jesuitas que usted puso en marcha ya en su tesis de maestrado y cuyo tema fue la revista Brotéria, y que después usted profundizaría en una tesis doctoral publicada en dos volúmenes bajo el título de El mito de la Compañía de Jesús. ¿Podría usted comentar acerca de su interés científico en problematizar la representación de la Compañía de Jesús en Portugal y Brasil? JEF – Le aclaro que mi interés en la Compañía de Jesús como objeto de estudio se basa en las primeras investigaciones y ensayos que escribí sobre el Padre António Vieira. En 1995 defendí una tesis en la Facultad de Teología de la Universidad Católica sobre el pensamiento utópico de Vieira y sus fundamentos teológicos, y dos años más tarde, en 1997, publiqué un libro en coautoría con mi colega Bruno Cardoso Reis intitulado Vieira el Anti-jesuita. Con este libro pude preparar el camino hacia una investigación mas especializada y mas avanzada sobre el tema, ya sea sobre personalidades, publicaciones, y sobre los grandes temas y cuestiones relacionados con los Jesuitas. De hecho, fue el estudio cuidadoso de Vieira que despertó mi interés por un trabajo más minucioso sobre la Orden fundada por San Ignacio de Loyola, sobre sus producciones más importantes, su influencia y sus contradicciones. Entre los diferentes trabajos que he publicado sobre esta temática, los mas conocidos son las siguientes publicaciones: Brotar Educação (volumen 1) sobre la historia y el pensamiento pedagógico de la publicación más importante de los Jesuitas en Portugal (Brotéria), y El Mito de los Jesuitas en Portugal, Brasil y Oriente (2 volúmenes). Los libros que he publicado sobre los Jesuitas, pero también otras publicaciones acerca de sus críticos y enewww.clepul.eu
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migos, están principalmente destinadas – siguiendo la misma línea de otros escritos que he publicado en las últimas décadas en varios países – sobre todo en Francia, donde me doctoré en la EHESS – a proponer una nueva y más compleja lectura sobre la historia sobre los Jesuitas y la historia de Portugal y Brasil en relación con la Compañía de Jesús. Nuestra historia cultural y política está marcada por hermenéuticas simplistas y muy simplificadas sobre la función y participación de la Compañía de Jesús, resultado de la elaboración – sobre todo desde la época del Marqués de Pombal – de una historiografía apologética y una cultura beligerante, que generó un discurso muy propagandístico, muchas veces presentando una imagen muy negativa de la Compañía de Jesús, ésta entendida como la organización responsable de los siglos oscuros de nuestra decadencia, y otras veces por el contrario, presentando una imagen cordial de los ignacianos, presentando a los Jesuitas como la más brillante, más innovadora y eficaz, más industriosa y emprendedora Orden en la historia de la Iglesia. Desde la perspectiva de la “historia de la complejidad” de la escuela de los Annales y también llamada “Nueva Historia”, concebida con el fin de superar la ideología de una historia positivista e “historia-tribunal” – hemos procurado presentar una visión diferente y más matizada acerca de la trayectoria de los Jesuitas desde varios ángulos, y utilizando nuevas herramientas interdisciplinarias con las cuales hoy en día podemos enriquecer enormemente el conocimiento histórico. Nuestro objetivo esta orientado fundamentalmente hacia el comprender y ayudar a comprender nuestra historia, del modo más distanciadamente posible y evitando la tentación de juzgar el pasado, a fin de realizar lo que yo llamo “des-minar” una historia saturada de estereotipos (como minas a punto de detonar) y que condicionan nuestra interpretación, es decir, realizar la tarea de des-preconceptualizar la lectura histórica, que esta es nuestra obligación como historiadores. El historiador no es un juez, el historiador es más bien un resucitador de muertos y debe presentarlos desde la visión de los hombres y mujeres de su tiempo, en toda su integridad, lo más cercanamente posible a la época y cir-
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cunstancia en que estos muertos – momentáneamente resucitados en el discurso histórico – realmente vivieron, y teniendo en consideración el encuadre mental de sus sociedades. Por lo tanto procuramos entender la perspectiva de estos diversos actores históricos y sus complejos intereses en juego, en las diversas épocas y contextos culturales, políticos y religiosos, así como también destacamos la importancia del imaginario social que marcan la visiones del mundo, desde donde se generan las iniciativas que constituyen los movimientos históricos, y donde se articulan los roles personales e institucionales y así como también los conflictos sociales. Por lo tanto, siendo la historia humana casi siempre dramática, en tensión y conflicto, el historiador tiene la obligación de conocer y comprender la raíz del conflicto histórico que mueve la historia de la humanidad. Siendo la historia a menudo percibida y representada por sus autores y por los constructores de la memoria histórica, como una historia dramática, es la tarea del historiador crítico de distanciarse y desarrollar lo que yo llamaría un método de des-dramatización de la memoria histórica. Sólo desdramatizando las imágenes construidas en el pasado, podrá el historiador realmente comprender las raíces y los actores de la historia entendida como drama.
ND – La representación de los Jesuitas patrocinada por el Marqués de Pombal, que surgió a mediados del siglo XVIII tuvo un impacto significativo y persistió durante muchos años, siendo resignificada por liberales y masones en el mil ochocientos, particularmente con el establecimiento de la República de Portugal en la década de 1910. Podría usted precisar sobre este anti-jesuitismo de larga data en la historia de Portugal? JEF – Aunque el Marqués de Pombal llegó ser uno de los principales protagonistas y además victorioso en la ofensiva contra los Jesuitas y su influencia en el siglo XVIII logrando la suspensión de la Compañía de Jesús como Orden de la Iglesia Católica, el anti-jesuitismo es un fenómeno mucho más amplio y complejo. La crítica y la oposición a la www.clepul.eu
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presencia de los Jesuitas comienzan ya con el nacimiento de la Orden en 1540, y una corriente anti-jesuítica acompaña a la expansión global de esta institución religiosa a lo largo de la época moderna, persistiendo durante toda la época contemporánea hasta bien entrado el siglo XX. Los ideólogos y propagandistas anti-jesuitas surgen de los mas diversos sectores sociales, y las primeras manifestaciones de critica sistemática al estilo y el accionar de los Padres de la Compañía surge dentro de la Iglesia misma, entre el clero católico regular y secular, particularmente entre Dominicanos y Franciscanos, hasta ganar terreno en el Protestantismo, que comenzó a temer esta orden católica muy eficaz. Fue también relevante la influencia de la corriente Jansenista y algunas de sus principales figuras tales como el filósofo Blaise Pascal en la ofensiva contra la teología moral y los métodos pastorales de los Jesuitas, y sin olvidar también a los enemigos políticos más feroces de los Jesuitas durante el Iluminismo que subyugarán a esta poderosa Orden, consiguiendo desmantelarla con el apoyo de las monarquías católicas y después con ayuda del papado en la segunda mitad del mil setecientos. En Portugal y en la colonia Brasileña, ya desde los primeros años de su fundación, los Jesuitas encuentran sus más duros oponentes, no sólo entre misioneros y monjes de otras órdenes, sino también entre inquisidores y obispos, y entre los colonos, cuyos intereses económicos entraban claramente en conflicto con los Jesuitas. El anti-jesuitismo portugués y brasileño va a aumentar el arsenal de críticas y e imágenes negativas, hasta obtener en la época de Pombal un fuerte apoyo político en la figura de Sebastião José de Carvalho e Melo, el poderoso ministro del rey D. José I que finalmente dará oídos a las demandas – de antigua data – de limitar el ámbito de acción de los Jesuitas. Carvalho e Melo, sintiéndose amenazado en su posición por importantes miembros de la Compañía de Jesús, decidió cortar el mal de raíz y decretó la expulsión de los Jesuitas. Más allá de ser una audaz medida política, fue muy determinante y significativa en el estado Pombalino, la creación de una máquina de propaganda estatal, justificada bajo la necesidad de combatir los Je-
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suitas y donde fueron producidos y difundidos auténticos “catecismos anti-jesuíticos” traducidos a varios idiomas. Estas ediciones crearon un mito negro sobre los Jesuitas haciéndolos responsables de la decadencia portuguesa y definiéndolos como temibles enemigos de los poderes legítimos, y de las políticas en favor del progreso de la humanidad. Esta imagerie negra de la Compañía de Jesús tendrá una fuerte influencia en los discípulos anti-jesuitas del periodo Liberal y Republicano, definiendo a los Jesuitas como el Otro negativo por excelencia, el extranjero invasor, el enemigo a quien hay que evitar y combatir. Una verdadera ideología anti-jesuítica se fortaleció en el discurso propagandístico de una cultura beligerante. El anti-jesuitismo y una lectura dogmática y simplificada del pasado portugués hicieron del jesuitismo un sebastianismo invertido. Esto significa que mientras que la corriente sebastianista depositaba en la aparición de un Rey Restaurador la esperanza de la regeneración y restauración de Portugal en el mundo, por lo contrario, en la Compañía de Jesús y en el Jesuitismo que ésta promovía, se proyectaban todas las desconfianzas, los temores, y las influencias degenerantes. La cruzada anti-jesuítica, transversal a muchas corrientes e ideologías (normalmente anti-católicas, pero no solamente) hizo de los jesuitas un chivo expiatorio fácil de movilizar para unir a la población en torno a causas, que en el fondo, poco tenían que ver con el tema de la Compañía de Jesús y sus ideas. Los jesuitas devinieron un conveniente terreno imaginario, con un magnetismo propagandístico útil para movilizar a las multitudes y simplificando las explicaciones de los males que afligían a la sociedad.
ND – ¿Cómo analiza usted el anti-jesuitismo en la institucionalización de la República en Portugal a principios del siglo XX? Has encontrado dimensiones nuevas en este proceso? JEF – La corriente anti-jesuítica , que a veces asume características de verdadera ideología negativa, se vuelve muy mimética, muy repetitiva. Es una especie de sinfonía de sonidos repetidos, que siempre www.clepul.eu
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toca en una misma escala, cambiando solo unas pocas tonalidades y algunos instrumentos. La primera ley que el régimen de la I República Portuguesa, democrática y supuestamente pluralista, instaura el 8 de octubre de 1910, no es más que el restablecimiento de la ley del Marqués de Pombal del tiempo del Absolutismo y que expulsó a los Jesuitas. Muchas corrientes laicas del periodo del liberalismo y del republicanismo en el siglo XIX y en las primeras décadas del siglo XX, heredaron la obsesión anti-jesuítica del tiempo del Marqués de Pombal, incrementándolo al extremo de convertirse en una especie de jesuitofobia. Reprodujeron y aplicaron en lo particular y en general, la noción de que los Jesuitas eran los principales responsables, que no los únicos, de la decadencia del país, releyendo toda la historia nacional basada en esta clave hermenéutica. Aquí se da la total aseveración de la “causalidad diabólica” teorizada por León Poliakov, para explicar los efectos de la acción de la Compañía de Jesús como supuesta causa de decadencia social, moral, artística, económica, religiosa y política. El aspecto más innovador de discurso anti-jesuítico de este período, es el recurso a argumentos científicos para explicar el papel degenerante de los Jesuitas. Me refiero al caso emblemático del psiquiatra Miguel Bombarda, ideólogo republicano y científico materialista de renombre, que intentó demostrar en su famosa obra La Ciencia y el Jesuitismo, editado en el primer año del siglo XX, que la vocación de convertirse en jesuita sería el resultado de una enfermedad mental, de una deformidad cerebral. Convertirse en Jesuita sería una forma de locura, de falta de cordura. Entendidos como seres degenerados, los Jesuitas fueron caracterizados por ideólogos y científicos republicanos como anti-héroes, inoculadores de una especie de veneno que degeneraba a las sociedades en las que ejercía su influencia, y que llevaba a un retroceso y a un oscurantismo infranqueable. Es aquí donde la corriente anti-jesuita formulará soluciones eugénicas rayanas al nazismo, al proponer era necesario recurrir a rigurosos métodos de aislamiento (en islas desiertas, en manicomios o en regiones continentales en el interior del país, lugares áridos y aislados) para llevar a la extinción a esta raza de hombres degenerados
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y evitar la propagación de su pestilencia religiosa. El anti-jesuitismo cayó en el exceso ideológico de utilizar todas las herramientas interpretativas de que disponían para destruir la presencia y el patrimonio de los Jesuitas, eligiendo un peligroso camino hermenéutico simplificador, con el objetivo de movilizar a sus adeptos contra un enemigo al que describían como una amenaza extranjera, afirmando la Idea Republicana, que hacía de los Jesuitas su contrapartida negativa.
ND – En 2014 se conmemora el bicentenario de la restauración de la Compañía de Jesús, que es parte de la restauración política en Europa y cuya punta de iceberg fue el Congreso de Viena. En nuestro mundo actual, marcado por la globalización neoliberal, la secularización y el pluralismo cultural, cuál/cuáles es/son él/los principal/es legado/s de los Jesuitas? JEF – La Compañía de Jesús demostrado a lo largo de sus casi 500 años de historia ser una de las órdenes de la Iglesia Católica con más capacidad de resistencia, de adaptación, y para decirlo exactamente, de triunfal sobrevivencia. Uno de los factores que causan asombro, interrogantes y que producen diferentes lecturas tanto entre partidarios y detractores, es el hecho de que la Orden de San Ignacio, haya sido una de las instituciones católicas más criticadas, más perseguidas y expulsadas tanto dentro como fuera de la Iglesia, ya sea en el contexto de los estados cristianos o fuera de su jurisdicción, regresando siempre, renaciendo de las cenizas. No hay que olvidar que al igual que la Compañía de Jesús, otras órdenes fueron objeto de persecución e incluso de extinción papal, como es el conocido caso de los Templarios. Sin embargo, la Orden de los Templarios desaparece como tal – a menos que se considere su metamorfosis en la Orden Portuguesa de Cristo como un remanente significativo de sobrevivencia local- y no tuvieron la capacidad de re-proyección que los Jesuitas poseían. Se observan en toda la historia de los Jesuitas casi un centenar de incidentes de persecuciones, expulsiones y otras medidas para limitar su acción en todos los www.clepul.eu
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continentes donde se establecieron. Sólo en el Brasil colonial sufrieron varias expulsiones parciales, y en Portugal tres expulsiones totales. Fueron confrontados, violentamente odiados y despiadadamente expulsados, a veces por ser demasiado audaces y progresistas, otras veces por ser conservadores, otras veces por su libertad crítica en relación a los intereses de las élites coloniales y amos poderosos, a veces por involucrarse en asuntos seculares, y otras veces por haber creado poderosas infraestructuras de enseñanza, campos de redes misioneras en todos los continentes y por haber discrepado fuertemente en contra de las prácticas esclavistas. Su acción multimodal hizo de los Jesuitas un mito janiforme, es decir con dos caras: una cara luminosa para aquellos que simpatizaban con ellos y defendían su rol y su influencia, considerada benéfica y/por ser guiados por el Espíritu Santo; y una cara sombría para los que trataban de explicar su eficacia organizativa y expansionista como el resultado de métodos dudosos, conspiratorios y poco cristianos. Sin embargo, en ambos lados de la barricada, el mito simplificó la naturaleza y la forma de actuar y de pensar de los Jesuitas. Los miembros de la Compañía no siempre actuaron o pensaron de la misma manera, incluso en contextos y tiempos similares. Hubieron Jesuitas santos, osados, ordinarios , brillantes oradores, y emprendedores, así como también hubieron Jesuitas que se contradijeron, que relajaron sus ideales, que conspiraron, que renegaron de sus ideales. Ocurría esto con los Jesuitas del mismo modo que ocurría con todas las instituciones humanas, por mas perfectas que éstas pareciesen. A pesar de todas las medidas políticas para expulsar y eliminar a los Jesuitas, ellos siempre regresaron como el Fénix que renace de sus cenizas y hoy son nuevamente una de las más importantes e influyentes órdenes de la Iglesia Católica, especialmente en el plano de la cultura y la ciencia, con miles de miembros altamente calificados dirigiendo instituciones de enseñanza, trabajando en colegios y universidades, ac-
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tuando como misioneros, orientando centros de espiritualidad, y con acción pastoral en muy diferentes ambientes y esferas sociales. En gran parte, desde el punto de vista de la sociología de las organizaciones y de la nueva ciencia de la gestión empresarial, expertos en diferentes campos, tales como Charles Boxer, Dauril Alden o Chris Lowmney, trataron de explicar esta capacidad de resistencia y adaptación a diferentes épocas y circunstancias complejas, desde la perspectiva de su forma organizativa y su gobernanza centralizada y concéntrica, es decir, coordinada a través de poderes polarizados, pero siempre refiriéndose a y dando cuentas ante un poder central que todo lo dirige desde Roma, en la persona del Superior General y su Consejo. Por esto la Compañía de Jesús recibió el apodo de multinacional avant la letre, contemporánea antes de su tiempo, con capacidad de coordinar simultáneamente y en todos los continentes, una red bien ensamblada de comunidades y actividades. En este modo, la Orden diseñada por Ignacio de Loyola en la era de la proto-globalización, ya estaba preparada para afrontar los retos de un mundo que se globalizaba: una orden ágil, capaz de organizar redes sociales y actuar coordinadamente, con protocolos simplificados, y fielmente, en diversas etapas de planeta. Por otra parte, valores espirituales y humanos esenciales y fundamentales, inculcados a lo largo de una larga y compleja formación académica – excepcionalmente larga si se la compara con el aprendizaje practicado por otras órdenes religiosas – confieren a los Jesuitas más eficacia e influencia. La gran importancia que se da en la Orden, de conferir una sólida educación a sus miembros, es sin duda uno de los factores de su éxito, y así como la capacidad de mantener vigente el legado y la eficacia de acción de los Jesuitas. El espíritu empresarial, una educación superior e integral, la fidelidad a su ideal de Orden religiosa, la capacidad de adaptarse a diferentes culturas y mentalidades y el trabajo en red, son aspectos que hacen de los Jesuitas, una de las órdenes que mejor supo responder a las transformaciones de un mundo en un proceso acelerado de globalización.
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José Eduardo Franco (n. 1969) Historiador, jornalista, poeta e ensaísta. Especialista em História da Cultura. Doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris em “História e Civilização” e Doutorado em “Cultura” (através de equivalência) pela Universidade de Aveiro, Mestre em História Moderna pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Tem desenvolvido trabalhos pioneiros de investigação nos domínios da mitologia portuguesa e das grandes polémicas históricas que marcaram a vida cultural, política e religiosa do nosso país. Especial novidade têm representado os seus estudos sobre os Jesuítas, de modo particular, sobre o fenómeno do antijesuitismo e sobre a hermenêutica dos mitos e das utopias portuguesas e europeias. Articulista assíduo da imprensa periódica, tendo já várias dezenas de artigos publicados nas áreas da História, da Mitocrítica, da Hermenêutica da Cultura, da Ideografia Europeia, da Filosofia, da Ciência das Religiões, das Ciências da Educação e da História da Mulher. Entre a sua vasta obra publicada podem-se destacar os seguintes livros: O Mito de Portugal, Lisboa, Roma Editora, 2000 (Premiado por unanimidade com o 1.o Prémio “Livro 2004” da Sociedade Histórica da Independência de Portugal); Brotar Educação, Lisboa, Roma Editora, 1999; Monita Secreta (Instruções Secretas dos Jesuítas). História de um manual conspiracionista (em co-autoria com Christine Vogel), Lisboa, Roma Editora, 2002; O Mito do Milénio (em co-autoria com José Manuel Fernandes), Lisboa, Paulinas, 1999; Falésias da Utopia, Lisboa, Editora Arkê, 2000; Teologia e Utopia em António Vieira, Separata da Lusitania Sacra, Lisboa, 1999; Vieira na Literatura Anti-Jesuítica (em co-autoria com Bruno Cardoso Reis), Lisboa, Roma Editora, 1997; História dos Dehonianos em Portugal, Porto, Edições Dehonianas, 2000; Fé, Ciência e Cultura. Brotéria – 100 anos (co-coordenação com Hermínio
100 Rico, Prefácio de Eduardo Lourenço), Lisboa, Gradiva, 2003; coordenação da edição do manuscrito inédito do tratado do Quinto Império em Portugal, com edição integral do Tratado da Quinta Monarquia de Sebastião de Paiva, Prefácio de Arnaldo Espírito Santo, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006; O mito do Marquês de Pombal (em co-autoria com Annabela Rita), Lisboa, Prefácio, 2004; Metamorfoses de um povo: Religião e Política nos Regimentos da Inquisição Portuguesa – com edição integral dos Regimentos da Inquisição Portuguesa (em co-autoria com Paulo de Assunção), Lisboa, Prefácio, 2004; Dois exercícios de Ironia: “Contra os Jesuítas” de Sena Freitas e “Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade o Papa Pio IX” de Antero de Quental (em co-autoria com Luís Machado de Abreu), Lisboa, Prefácio, 2005; Influência de Joaquim de Flora em Portugal e na Europa. Com edição dos escritos de Natália Correia sobre a “Utopia da Idade Feminina do Espírito Santo” (em co-autoria com José Augusto Mourão), Lisboa, Roma Editora, 2004; O Mito dos Jesuítas em Portugal e no Brasil, Séculos XVI-XX, 2 Vols., Lisboa, Gradiva, 2006-2007; O Padre António Vieira e as Mulheres: Uma visão barroca do Universo feminino (em co-autoria com Isabel Morán Cabanas), Porto, Campo das Letras, 2008; Padre Manuel Antunes (1918-1985): Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeia (co-coordenação com Hermínio Rico), Porto, Campo das Letras, 2007; Jesuítas e Inquisição: cumplicidades de confrontações, Rio de Janeiro, Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2007; Padre António Vieira (1608-1697): Imperador da Língua Portuguesa (coordenação e co-autoria), Lisboa, Correio da Manhã, 2008; Jardins do Mundo: Discursos e Práticas (co-coordenação com Ana Cristina da Costa Gomes), Lisboa, Gradiva, 2008; Dança dos Demónios: Intolerância em Portugal (co-coordenação com António Marujo), Lisboa, Círculo de Leitores/Temas e Debates, 2009; Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal (co-direção com José Augusto Mourão e Ana Cristina da Costa Gomes), Lisboa, Gradiva, 2010; Dicionário Histórico das Ordens, institutos religiosos e outras formas de vida consagrada católica em Portugal (direção), Lisboa, Gradiva, 2010; Arquivo Secreto do Vaticano. Expansão Portuguesa – Documentação (coordenação geral), Lisboa, Esfera do Caos, 2011. Foi Coordenador Geral do projecto da edição crítica (em 14 volumes) da Obra Completa do Padre Manuel Antunes, sj publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Além do seu trabalho de pesquisa, de coordenação de projectos e de organização de congressos internacionais de grande projecção (p. ex. “Inquisição Portuguesa”, “Padre Manuel Antunes: Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeia”, “Jardins do Mundo: Discursos e Práticas”, “Ideas of/for Europe”, “Ordens e Congregações Religiosas em Portugal: Memória, Presença e Diáspora”; “A Europa das Nacionalidades. Mitos de origem: Discursos Modernos e Pós-Modernos”), tem exercido as funções de Director do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de Vice-Presidente da Assembleia Geral
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101 da C OMPA R ES – Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos e do Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes (instituição fundada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em parceria com a ESAD-Fundação Ricardo Espírito Santo Silva).
Norberto Dallabrida possui graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1988), graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1984), mestrado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1993) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (2001). Realizou estágio pós-doutoral na Université Rene Descartes, Paris V. Atualmente é professor concursado (efetivo) e pesquisador na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É docente de História da Educação no Curso de Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação na UDESC. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em História da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Ensino Secundário em Santa Catarina no século XX, Grupo Escolar em Santa Catarina, Escola Nova e Historiografia da Educação.
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Esta publicação foi financiada por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do Projecto “UID/ELT/00077/2013”
Torna-se sobretudo interessante quando José Eduardo Franco, na sequência do diálogo, abre a perspetiva sobre a história da Companhia de Jesus. Primeiramente, seguindo o destino de Vieira na literatura antijesuítica do século XVIII, como o fez num dos seus principais livros, tornando-o uma obra de história cultural, permitindo-nos repensar o sentido deste conceito: uma história de mises en culture, ou de que forma os escritos, vestígios de um passado, semeiam outros tempos nos quais produzem outros frutos, e de que forma esta sedimentação define uma das alterações, das transformações e mesmo das traições, mas que só podem ser entendidas a partir dessas suas raízes longínquas. Regressar a Vieira, pela edição do seu legado intelectual, é também, sem cessar, partir novamente dele para atravessar os oceanos imensos da cultura católica (romana, imperial e nacional) da Europa latina. É através deste duplo movimento que Franco quer evitar o duplo perigo de separar neste continuum cultural uma “lenda negra” ou uma “lenda dourada” da Companhia de Jesus.
(excerto do Prefácio)