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Exposição “A tiragem da cortiça: antes e depois” A exposição temporária “A tiragem da cortiça: antes e depois” abriu portas no dia 1 de junho, no Núcleo Rural de Coruche, e estará patente até 31 de maio de 2022. Organizada pelo Núcleo Rural de Coruche em parceria com o consórcio EEC PROVERE Montado de Sobro e Cortiça, a mostra aborda as práticas e o saber-fazer associados à tiragem da cortiça como parte do vasto património cultural imaterial da comunidade coruchense. Interpretando essa realidade, a exposição surge na sequência do processo para a inclusão da tiragem da cortiça em Coruche no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial e, numa perspetiva mais ampla, alinha também o Núcleo Rural de Coruche com a visão estratégica do Município face à fileira da cortiça no século XXI. Antes de nos envolvermos montado adentro, recebem-nos 50 sobreiros ornamentais. Entramos e descobrimos diferentes texturas, cheiros, sabores e objetos. Desvendamos a Árvore Nacional de Portugal, de raízes profundas na terra e no tempo, mas também a forma como esta moldou e sustentou historicamente grande parte da estrutura socioeconómica de Coruche, onde há registos da existência de cavacas fossilizadas de sobreiro, o que indica «ser esta a árvore típica que se desenvolveu espontaneamente desde épocas remotas» (Ribeiro, 2009, p. 171). Factos históricos atestam a importância económica do sobreiro para o Concelho, como é o caso do documento de D. Afonso V que, datado de 7 de junho de 1456, atribuiu o «monopólio da comercialização da cortiça a Martim Leme, burguês mercador, natural de Coruche, por um período de 10 anos e a quantia de duas mil dobras de ouro» (O Verdilhão, 1990, p. 2).
Além da valorização da prática secular da tiragem da cortiça e do saber-fazer associado, que poucas novidades conheceu por via da evolução tecnológica (Mendes, 2018), singularizada pela utilização de um único instrumento – a machada corticeira –, a exposição “A tiragem da cortiça: antes e depois” mostra-nos como o negócio da cortiça alavancou e modificou profundamente a vida económica da região. Aprendemos como a cortiça passou a «exportar-se em grande escala, constituindo a principal fonte de riqueza do Concelho» (Pró-Coruche, 1930, p. 8) e como a sua exploração trouxe riqueza expressa na transferência dos proprietários dos montes para a aldeia: «(...) com a cortiça veio o dinheiro, e com o dinheiro foram surgindo as pessoas distintas, formando classes» (Caiado, 1923, p. 4). Ao longo da exposição o montado chama-nos, como que acertando o melhor dia com o manajeiro. Somos recordados de como, em Coruche, a tirada da cortiça se sagrou atividade económica incontornável e transversal a todo o Concelho, concentrando-se maioritariamente nas freguesias de São José da Lamarosa, Couço, Branca e Santana do Mato, onde está presente também o maior número de tiradores – homens com qualidades diferenciadoras e excecionais no desempenho de uma atividade que assume um legado familiar e intergeracional. É, aliás, possível identificar no Concelho famílias com tradição na tiragem de cortiça, atividade que mantém a nobreza do seu cariz tradicional e o zelo pela vitalidade da árvore. O descortiçamento persiste em resistir à mecanização. Ainda que existam equipamentos para o fazer, nenhum processo automático e mecanizado é capaz de tirar cortiça de modo tão rentável quanto o homem e a sua machada. É também nesse sentido que a exposição “A tiragem da cortiça: antes e depois” contribui para a salvaguarda de um património cultural imaterial fundamental para o exercício de uma das mais importantes fileiras da economia portuguesa: a cortiça. Recorde-se, por fim, que o Município de Coruche candidatou com sucesso a atividade da tiragem da cortiça ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. 44