Guia Vinhos

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Santa Catarina

A serra entra no mapa dos vinhos finos

viajeaqui.com.br A G E N T E VA I A N T E S PA R A V O C Ê I R M E L H O R

vinhos GUIA DE

vol. 3

❖ EXCLUSIVO ❖

Testamos boas combinações para 10 receitas clássicas da cozinha brasileira

Mais

A volta dos minivinhos Viagem ao Douro, em Portugal Os surpreendentes vinhos... chineses (sim, eles vêm aí)

R$ 14,99 ED. 2009


SUMÁRIO Chilenos e argentinos

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A força dos vinhos hermanos

Novo terroir

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Villa Francioni muda a paisagem da Serra Catarinense

Velho Mundo

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Douro: vinho do Porto e muito mais

Harmonização

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Casamentos inéditos entre receitas brasileiras e vinhos

Aquecimento global

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Boas compras

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O novo mapa-múndi do vinho

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Acessórios para os amantes do vinho

Lojas de beber

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Enotecas, wine bars & Cia.

Politicamente correto

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Vinhos orgânicos e biodinâmicos ganham mercado no Brasil

Vinho da casa

A velha fórmula agora tem grife

Teste

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Beleza, saúde e nada de álcool no primeiro spa do vinho brasileiro

Garrafas single

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Minivinhos ganham espaço na carta de restaurantes

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Gigante adormecido

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Crítica

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China importa uvas e especialistas para competir no mercado de vinhos ......................................................................................................

Rogério Fasano comenta o poder de Robert Parker


PARA DEGUSTAR

SEM MODERAÇÃO

Q

A LEX A NDR E BATTIBUGLI

uando se chega ao terceiro especial sobre um mesmo tema, o retrogosto das edições anteriores é inevitável. E ele costuma aparecer na forma de uma pergunta bem tânica: Será que ainda restam assuntos interessantes para um novo número? Felizmente, quando você lida com um assunto nervoso e um time encorpado de jornalistas, fotógrafos e designers – conduzido pela competente Annette Schwartsman –, a missão de surpreender o leitor é sempre possível. Os resultados redondos dessa empreitada você confere em uma rica matéria sobre o sucesso de vinhos argentinos e chilenos no mercado nacional, na participação muito bem-vinda do jornalista Mauro Marcelo Alves, e numa harmonização aveludada entre importantes receitas nacionais e vinhos de todos os estilos – uma parceria ainda pouco explorada, mesmo entre os especialistas na bebida. O complexo buquê desta edição ainda reúne notas frescas sobre a região do Douro – famosa pelo vinho do Porto –, o universo crescente de casas que mesclam refeições com loja de vinhos, o novo conceito de vinho da casa em restaurantes, e o merca- A chef Mara Salles e os sommeliers Manoel Beato e Eliana Araújo durante a harmonização do ainda herbáceo dos vinhos chineses. Também há experiências alcoólicas no teste do Villa Europa Hotel & Spa do Vinho Caudalie, em Bento Gonçalves, e na visita à Villa Francioni, um dos nomes mais surpreendentes da nova fase do vinho brasileiro. Como um pouco de acidez sempre ajuda no equilíbrio de um bom produto, traçamos o futuro mapa vinícola de um planeta mais quente e contamos com o texto amadeirado do restauranteur Rogério Fasano sobre o fenômeno Robert Parker. Espero que a assemblage de informações agrade a você, leitor. Nós da redação recomendamos o consumo deste especial sem qualquer moderação.

Saúde, P.S. Se você não compreendeu alguns termos do universo vinícola espalhados pelo texto, veja o glossário que produzimos na matéria sobre harmonização.

Ricardo Castanho Editor de gastronomia do Guia Quatro Rodas rcastanho@abril.com.br


CHILENOS E ARGENTINOS

SOB A BÊNÇÃO

DOS ANDES A RECEITA DE SUCESSO DOS VINHOS HERMANOS, QUE DERAM UM SALTO DE QUALIDADE E INVADIRAM AS PRATELEIRAS DAS IMPORTADORAS E SUPERMERCADOS BRASILEIROS, TOMANDO O ESPAÇO ANTES RESERVADO AOS VINHOS DO VELHO MUNDO POR

MAURO MARCELO ALVES

FOTOS

FÁBIO SCHIVARTCHE


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e um lado e de outro, a magnífica Cordilheira dos Andes parece vigiar os serenos parreirais. Privilegiados por essa força da natureza, que já os protegeu da destruição, os vinhedos do Chile e da Argentina têm mais de um século de história e se transformaram, nas duas últimas décadas, em fonte de vinhos notáveis, apreciados pelo mundo. Plantando castas variadas, sobretudo originárias da França, os dois países aos poucos criaram sua identidade vinícola e, também, suas uvas emblemáticas: Malbec, na Argentina, e Carmenère, no Chile. Com elas, e ainda com Cabernet sauvignon, Merlot, Syrah, Chardonnay, Sauvignon blanc e outras, se integraram ao grupo dos poucos países que ousaram enfrentar os seculares vinhos europeus. E com sucesso.


CHILENOS E ARGENTINOS

A LIDERANÇA DE MENDOZA

BRU NO AGOSTINI

Os primeiros pés de uva da América do Sul foram plantados no Peru pelos espanhóis, no século 16, mas a viticultura nesse país declinou nos séculos seguintes por causa de terremotos, conflitos, pestes e pela substituição das parreiras pelo algodão. A partir do século 18, o Chile passou a liderar a produção de vinhos até que, pela sucessiva chegada de imigrantes europeus, Mendoza, na Argentina, tornou-se a maior região produtora sul-americana. Curiosamente, em meados do século 19, era mais barato para Buenos Aires importar os vinhos franceses de Bordeaux por navio do que trazer os garrafões de Mendoza em carroças. Em 1857, por exemplo, e já justificando a sua fama de grandes bebedores de vinho, os argentinos importaram 3,2 milhões de litros de Bordeaux (a população total do país era de um milhão de habitantes). Essa situação só foi modificada em 1885 com a construção da estrada de ferro, encurtando os mais de mil quilômetros de distância entre as duas cidades. Por conta disso, já no começo do século 20 a Argentina produzia 40% do vinho das Américas, com o Chile em segundo (34%), os Estados Unidos com 20% e o Brasil em quarto, com 4%. A Europa estava se recuperando da catástrofe provocada pela filoxera, praga disseminada por um pulgão que corroía as raízes da vinha, matando-a. Todos os parreirais europeus foram dizimados, e o mesmo ocorreria no Chile não fosse a proteção natural da Cordilheira dos Andes, de um lado, e do Oceano Pacífico, do outro, segundo acreditam os historiadores do mundo do vinho. A Argentina não ficou imune, mas pôde controlar a extensão da praga e preservar variedades como a sua querida Malbec.

Carne e uma taça de Malbec: combinação feliz na Argentina

DI V ULGAÇÃO

Vinhos descansam na vinícola Catena Zapata, em Mendoza

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VINHOS

Nesses primórdios, não havia muitas regras de plantio e muito menos a sistematização que hoje conhecemos: determinada uva num só terreno. Espécies diferentes eram plantadas lado a lado, colhidas juntas, e o vinho resultante era uma mistura que variava muito de safra para safra. Era vinho tinto ou vinho branco e ponto final. Os argentinos, em particular, privilegiavam a plantação de uvas de grande rendimento, mas de baixa qualidade, como a Cereza e a Criola grande. E seus vinhos eram freqüentemente misturados com água no momento de beber. É muito recente o salto de qualidade nesses dois países, mais ainda na Argentina, hoje o quinto maior produtor e também o quinto maior consumidor mundial de vinhos. O caminho percorrido foi a substituição dos pés de uvas inferiores por espécies européias nobres, através de técnicas modernas de cultivo. Junto veio a adoção de práticas enológicas amparadas na tecnologia, e o resultado foi um só: vinhos de melhor qualidade que competem fortemente no mercado global, particularmente no Brasil. De fato, Argentina e Chile disputam o mercado brasileiro garrafa a garrafa, sabendo que o consumo aqui tem crescido verticalmente nos últimos anos, na média anual de 20%. O brasileiro bebe quase três litros de vinho por ano, muito pouco se comparado aos 40 litros do argentino


– que já chegou a “entornar” 90 litros há duas décadas! Mas é preciso considerar que essa é a estatística que abrange o número total de habitantes do país. Considerando-se apenas os estados do sul e do sudeste, com clima mais propício, e os costumes trazidos pelos imigrantes europeus, o consumo é bem maior. Esse mercado manifesta hoje uma clara preferência pelos produtos dos dois países vizinhos. Há cerca de dez anos, metade das garrafas vendidas aqui era de vinho brasileiro, com os restantes 50% divididos entre vinhos europeus – predominando os italianos de qualidade inferior –, chilenos e argentinos. De cinco anos para cá, a situação mudou radicalmente após uma série de ações bem-sucedidas de marketing por parte das vinícolas dos dois países e suas importadoras, principalmente com a entrada em massa de seus vinhos nos supermercados. Hoje, de cada dez garrafas vendidas aqui, praticamente quatro são chilenas e argentinas. Por que essa condição tão favorável? Só a vizinhança explicaria? Não. A opinião unânime dos especialistas aponta para a velha e onipresente equação preço/qualidade. De repente, o brasileiro percebeu que poderia comprar vinhos argentinos a R$ 10, R$ 12 ou R$ 15, resultado imediato do livre comércio implantado pelo Mercosul.

Hoje o mercado brasileiro manifesta preferência pelos vinhos chilenos e argentinos, e de cada dez garrafas vendidas aqui, praticamente quatro são desses dois países Surpreso, percebeu que era um produto pelo menos razoável e passou a prestar atenção no rótulo, onde se lia o nome do produtor e as uvas utilizadas. O segredo: espécies nobres européias que, com a ajuda atual da tecnologia, seja no cultivo ou na vinificação, dificilmente ensejam vinhos intragáveis. E os chilenos, que chegaram antes ao mercado brasileiro e ficaram em desvantagem por causa do Mercosul, trataram de revisar seus custos, conseguiram uma tarifa especial e colocaram no nosso mercado vinhos também competitivos quanto ao preço, além de bem tipificados quanto às uvas utilizadas.

A GR A M A , OU M ELHOR , O V I N HO DO V I ZI N HO Por que o vinho brasileiro não consegue competir com os chilenos e argentinos no próprio mercado nacional? Resposta simples (ou simplória): porque essa é a vontade dos consumidores. Baseada em quê? Considerando-se o baixo consumo de vinho no Brasil, quase um artigo de luxo fora das regiões mais ricas, e que em conseqüência disso há muita desinformação, chega-se a algumas conclusões óbvias: » os vinhos mais baratos dos vizinhos têm um certo gosto padronizado, agradável à maioria dos brasileiros, que simplesmente querem algo que lhes pareça bom, sem maiores

interpretações ou análises organolépticas » os vinhos dos vizinhos têm terras mais apropriadas para o cultivo das viníferas, que não gostam de solo rico nem de chuva em excesso, justamente o que ocorre na maior parte do solo pátrio » os vinhos dos vizinhos não são associados aos terríveis garrafões nacionais de 5 litros, de “vinhos” feitos com uvas boas apenas para suco » os vinhos dos vizinhos, mesmo sendo vizinhos, são importados. E isso é uma grife, dá status a quem compra

» os vinhos dos vizinhos são, há muito mais tempo que os brasileiros, identificados pela uva com que são feitos, facilitando a escolha » os vinhos dos vizinhos são todos elaborados com uvas viníferas, o que não é o caso da maior parte dos nossos » os vinhos dos vizinhos têm preço bom em 90% dos casos » os vinhos mais caros dos vizinhos chamam a atenção da crítica especializada internacional, conseguindo pontuações acima dos 90. Os melhores vinhos brasileiros são ignorados.

VINHOS

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FUTUROLOGIA

O NOVO MAPA-MÚNDI DO VINHO

ESPECIALISTAS PREVÊEM DE QUE FORMA O AQUECIMENTO GLOBAL VAI ALTERAR AS REGIÕES VINÍCOLAS NAS PRÓXIMAS DÉCADAS POR

JULIANA CALDERARI

ILUSTRAÇÃO

JAPS

INGLATERRA É possível que se torne o maior concorrente da França na produção de espumantes. Há rumores de que renomadas marcas francesas já adquiriram terras no país.

CANADÁ Poderá se destacar como grande produtor de vinhos, feitos a partir de uvas tradicionais como Chardonnay e Pinot noir.

EUA

BRASIL

Os estados de Nova York, Washington e Oregon podem tomar o lugar da Califórnia como os principais produtores de vinhos americanos.

Os efeitos do aquecimento global podem fazer com que o estado de Santa Catarina se torne o preferido pelas vinícolas.

CHILE A produção poderá se deslocar em direção ao Oceano Pacífico, em busca de um clima mais ameno.

LEGENDA Países que podem ser beneficiados Países que podem ser prejudicados

ARGENTINA Manter o suprimento de água, vindo da Cordilheira dos Andes, será o desafio para os nossos vizinhos.

FONTES: GR EGORY JONES, JA NCIS ROBINSON, JORGE TONIETTO E M A NOEL BEATO.

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VINHOS


A

viticultura, mais do que uma indústria próspera no mundo, é uma tradição, um grande caso de amor entre alguns povos e suas uvas. Por isso, não poderia deixar de mobilizar muitos profissionais e grandes esforços em torno do tema, como o climatologista Gregory Jones. Maior autoridade no assunto, o norte-americano estudou 27 regiões produtoras de vinhos e, usando um programa capaz de simular as condições climáticas no futuro, comprovou que em 18 delas haverá elevação de temperatura. O clima mais quente leva ao amadurecimento precoce da uva, que concentra mais açúcares e produz mais álcool. Por outro lado, o desenvolvimento do sabor e da acidez é prejudicado, o que certamente afetará as propriedades dos vinhos como conhecemos hoje. Perda de aromas e alteração de cor são algumas das mudanças indesejadas.

FRANÇA

ALEMANHA

Regiões menos conhecidas podem ser beneficiadas, enquanto outras, mais tradicionais, correm o risco de sumir do mapa.

Seus vinhos brancos já vêm se beneficiando com o aumento da temperatura, e espera-se que aconteça o mesmo com os tintos.

“As projeções mostram que entre 2049 e 2099, a faixa ideal para o plantio de uvas viníferas deverá se deslocar de 200 a 500 quilômetros em direção aos pólos”, explica Jones, em entrevista ao Guia Quatro Rodas de Vinhos. Segundo os resultados, “será desafiador manter o cultivo em regiões já quentes como o sul da Califórnia e a Península Ibérica”. Outras, muito frias, como Rússia, Inglaterra e Canadá, poderão se tornar as grandes regiões produtoras do futuro – para desgosto dos franceses. A fi m de evitar maiores prejuízos, e para que ninguém deixe de apreciar um champanhe ou uma garrafa de Pinot noir, especialistas estudam alternativas para enfrentar a falta de água e o aumento de pestes causadas pelo calor. Veja, a seguir, quais regiões podem sofrer com o aquecimento global e quais podem se beneficiar com as mudanças climáticas.

RÚSSIA O aumento do calor pode ajudar no amadurecimento das variedades de uvas cultivadas.

ESPANHA A mudança no clima poderá levar os produtores a substituir as variedades existentes por outras mais resistentes às mudanças.

PORTUGAL

ITÁLIA

Será o país mais afetado pelo aquecimento global, com elevação de até 4,5oC em 50 anos.

A região mais afetada será provavelmente a Toscana, berço do Chianti.

AUSTRÁLIA A escassez de água poderá concentrar a produção na costa e no sul do país.

BÉLGICA

ÁFRICA DO SUL Haverá pouca alteração na temperatura, mas a falta de água poderá levar algumas vinícolas à falência.

O aumento da temperatura e o menor risco de nevascas ajudarão o amadurecimento das uvas Pinot noir e Müller-Thurgau.

DINAMARCA Clima menos frio e dias longos possibilitarão que as uvas atinjam o amadurecimento necessário para um bom vinho VINHOS

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FUTUROLOGIA

PODERÃO SER PREJUDICADOS França

Até 2049 a região de Bordeaux sofrerá um aumento de 2,3ºC, deixando a região no limite da temperatura ideal para o crescimento da tradicional Cabernet sauvignon. Na Borgonha, a temperatura poderá subir de 1,5ºC a 2,4ºC, afetando principalmente a uva Pinot noir, ideal para climas mais frescos. No sul do país, na região do Rhône, a elevação de temperatura deverá ser maior, e o amadurecimento da uva Syrah, por exemplo, poderá acontecer até cinco semanas antes do que ocorre atualmente, prejudicando o sabor e a cor do vinho. Por outro lado, é possível que outras regiões, como o Vale do Loire, sejam beneficiadas com as conseqüências do aquecimento global. Conhecida por produzir vinhos brancos bastante secos e de acidez elevada, a partir da uva Muscadet, a região tende a apresentar vinhos mais maduros e menos duros. Também já são bastante notáveis as melhoras no cultivo da Chenin blanc.

Austrália

Portugal

A viticultura lusitana será a mais afetada pelo aquecimento global. Prevê-se um aumento de temperatura de 4,5ºC em 50 anos e pode haver uma redução de até 70% na umidade do solo. Estudos indicam que Portugal deverá aumentar a variabilidade de uvas para driblar a crise.

Em 2100, a temperatura no interior do país deverá aumentar entre 5ºC e 7ºC e, na costa, de 3ºC a 5ºC. Além da maior demanda de água devido ao aumento da população e da temperatura, haverá queda nos níveis de precipitação. Acredita-se que uvas de baixa acidez como a Tempranillo, da região de Rioja, sofram bastante com o amadurecimento precoce da fruta. Uma das saídas é plantar variedades com boa resistência ao calor e à baixa umidade. No sul, a uva Palomino, com a qual é produzido o Jerez, poderia ser substituída, segundo especialistas, por variedades como Mantuo e Perruno.

A previsão é de que a temperatura aumente de 1ºC a 6ºC até 2070. Devido ao amadurecimento mais rápido das uvas, a colheita será feita por volta de dez dias antes do que acontece hoje em dia, prejudicando o nível de acidez e o sabor de variedades como Shiraz, Semillion e Chardonnay. O problema mais grave que o país enfrentará, no entanto, é a falta de água. Seu encarecimento e a maior necessidade de irrigação das plantações elevarão os preços do produto e diminuirão a competitividade dos vinhos australianos. Alguns especialistas acreditam que a saída será concentrar a produção na costa e mais ao sul do país, na ilha da Tasmânia.

EUA

Estima-se que o potencial de produção de vinhos de prestígio do país pode se reduzir a 81% até o final do século 21. A principal região produtora, Napa Valley, na Califórnia, deve ter um aumento de até 2,2ºC na média de temperatura até 2049, o que poderá diminuir a produção da região ou fazer com que as vinícolas optem por produzir vinhos de menor qualidade. As regiões de Washington e Oregon, na costa oeste, se tornarão boas alternativas. Outra aposta é o estado de Nova York, que já produz Rieslings encorpados e secos como os alemães modernos na região de Finger Lake. Também pode vir a ser grande produtor de Pinot noir e Cabernet franc devido à diminuição do risco de geadas.

África do Sul

Provavelmente será a região com menor elevação de temperatura, com um aumento de apenas 0,9ºC em 50 anos. Isso, porém, não livra os sul-africanos das conseqüências do aquecimento global, já que terão seu suprimento de água reduzido e encarecido. Acredita-se que algumas vinícolas não conseguirão sobreviver aos altos custos de irrigação e das novas tecnologias de adaptação que serão necessárias para manter a produção no país, famoso pela criação da uva Pinotage.

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VINHOS

Espanha

Itália

Groot Constantia Pinotage, da África do Sul

A previsão para a região do Piemonte, berço das uvas Barolo e Barbera, é que a temperatura suba cerca de 1,3ºC nos próximos 50 anos. Mas a região que poderá ser mais afetada é a da Toscana. Estudos com a uva Sangiovese, com a qual são produzidos os Chianti e os Brunello de Montalcino, mostraram que as mudanças climáticas na Itália poderão levar ao amadurecimento mais rápido da fruta e maior variabilidade na produção.


OS POSSÍ V EIS FAVOR ECIDOS Canadá

O país que no passado só era capaz de produzir o icewine, vinho feito a partir de uvas supermaduras e congeladas, hoje se orgulha dos resultados obtidos com as uvas Chardonnay e Pinot noir. O potencial de produção de regiões como a Colúmbia Britânica e Niágara deverão crescer proporcionalmente ao aumento da temperatura.

Krasnostop e Cabernet sauvignon). O aumento do calor pode ajudar no amadurecimento das variedades cultivadas.

Brasil

As previsões apontam de 1ºC a 3ºC o aumento da temperatura no país. A região da Serra Gaúcha, já bastante úmida, poderia sofrer com uma eventual elevação pluviométrica. O Vale do São Francisco, a segunda maior região produtora do Brasil, pouco seria afetado, pois as duas safras anuais já convivem com altas temperaturas e necessidade de irrigação. A boa novidade ficaria por conta de São Joaquim, no sul de Santa Catarina, uma das apostas do futuro. O clima da região já está menos frio e há bons vinhos brancos e tintos sendo produzidos a partir das variedades Chardonnay, Sauvignon blanc e Pinot noir.

Alemanha

É provavelmente o país que mais vem notando os efeitos do aquecimento. O amadurecimento precoce já fez com que os vinhos feitos a partir da principal uva local, a Riesling, tivessem um aumento de 2,5% no seu teor alcoólico nos últimos 30 anos. Também considerados bastante secos, os vinhos dessa variedade passaram a se beneficiar de uma quantidade extra de açúcar. O sul da Alemanha já se tornou produtor de vinhos tintos obtidos a partir de Pinot noir e Spätburgunder, e a tendência é melhorar ainda mais com o aumento de temperatura.

Inglaterra

Le Clos Jordanne, do Canadá

A mídia inglesa adora provocar os franceses e dizer que o aquecimento global forçará os produtores da região de Champagne, no nordeste da França, a investir no sul da Inglaterra. O aquecimento do ar e da corrente do Golfo vem possibilitando que a região de Sussex produza espumantes, que hoje somam 15% da produção total do país. Usando o método tradicional e clones das uvas francesas Pinot noir, Pinot munier e Chardonnay para produzir espumantes, a qualidade dos vinhos ingleses ainda não é uma ameaça aos veteranos franceses, mas as mudanças climáticas poderão equilibrar as condições entre os dois países.

As regiões do Vale Central e do Aconcágua serão as mais afetadas pelo aumento da temperatura. Uma alternativa é cultivar terras mais próximas ao Oceano Pacífico, que sofrem a influência da fria corrente marítima de Humboldt.

Rússia

A bebida produzida no país vinha do sul, das regiões da Criméia e Krasnodar, e era artificialmente adoçada e alcoolizada para que se tornasse “vinho”. Nos primeiros anos do novo milênio, utilizando cepas e tecnologia francesas, o país passou a produzir vinhos secos brancos (Chardonnay, Sauvignon blanc e Aligoté) e tintos (Pinot franc,

Chile

Argentina

A preocupação para os argentinos é manter o suprimento de água. Em Mendoza, a principal região produtora do país, as plantações da uva Malbec são irrigadas com a água vinda da Cordilheira dos Andes.

Dinamarca

Beneficiada pelo aquecimento global e pelo “sol da meianoite”, a Dinamarca está produzindo vinhos brancos, tintos, rosés e até espumantes a partir das uvas Müller-Turgau, Kerner, Auxerrois, Chardonnay e Pinot noir.

Bélgica

Château le Grand Vostock Cuveé Karsov, da Rússia

Algumas regiões do país, como Charleroi e Hageland, cultivam as uvas Pinot noir e Müller-Thurgau. O aumento da temperatura e o menor risco de nevascas ajudarão o amadurecimento das frutas.

VINHOS

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