Entrevista
NA LINHA DE FRENTE AOS 42 ANOS, A ADVOGADA ROSANGELA MORO, QUE SE CONSIDERA VICIADA EM TRABALHO, ACABA DE ASSUMIR MAIS UM CASO – A DEFESA DO MARIDO, O JUIZ DA LAVA-JATO, SERGIO MORO TEXTO TATIANA SCHIBUOLA REALIZAÇÃO LENA CARDERARI FOTOS FERNANDO LOUZA
“Eu não gosto de ser chamada de senhora”
foi a primeira frase da advogada Rosangela Wolff Moro, 42 anos, nesta entrevista. Curitibana, geminiana, disse também, por meio de sua assessora de imagem: “Da minha exposição, cuido eu”, deixando claro que conversaria com CLAUDIA sem se preocupar com o que pensam dela, decidida a contar como tem vivido este período nervoso do país. Advogada da Federação das Apaes, mulher do juiz Sergio Moro, 44 anos, ela viu seu universo particular ser banhado por holofotes a partir de 17 de março de 2014. Era segunda-feira, nascia a
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Lava-Jato, operação conduzida por Moro que inquietaria a política nacional, a rotina do casal e dos filhos adolescentes – uma menina e um garoto. Exatos dois anos depois, Rosangela criava uma página no Facebook para interagir com os fãs do magistrado sob o polêmico nome “Eu Moro com Ele”, que hoje conta com quase 580 mil curtidas. A advogada já postou ali uma foto sua usando máscara com o rosto do juiz – e outra dele vestindo uma camiseta customizada onde se lê, em inglês: “Em Rô eu acredito”. Ela dá autógrafos e, no perfil, replica convocações de atos em defesa da força-tarefa de Curitiba. Afirma que a megaoperação não tem espaço em sua casa, mas acaba
de assumir a defesa do marido em processo movido contra ele pelo ex-presidente Lula. Embora a área criminal não seja sua especialidade, está segura da missão: “Confio na Justiça”. Na conversa, respondeu “Eu passo” às perguntas consideradas indesejadas. Afirmou que seus valores são muito parecidos com os de Moro, mas as preferências culturais “diametralmente” opostas. “Eu gosto de assistir comédia romântica; ele, de ler biografias.” Veja trechos do diálogo: Como foi sua infância? Sou filha de uma alfabetizadora de escola pública e um mestre de obras; tenho uma irmã mais velha.
Debate
ATÉ
QUANDO?
O ANO MAL COMEÇOU E JÁ FORAM NOTICIADOS 33 CASOS DE FEMINICÍDIO, COMO O DA CHACINA DE CAMPINAS. ESPECIALISTAS DISCUTEM AS BRECHAS DO SISTEMA DE COMBATE À VIOLÊNCIA DE GÊNERO E APONTAM SOLUÇÕES
N
TEXTO LETÍCIA PAIVA ILUSTRAÇÃO DÉBORA ISLAS
a manhã do primeiro dia do ano, os jornais noticiavam dois casos de mulheres assassinadas por exparceiros. Uma delas, incendiada em frente à própria casa, em Varginha (MG). A outra, assassinada a tiros, em uma chacina, em Campinas (SP). O técnico de laboratório Sidnei Ramis de Araújo, 46 anos, invadiu uma festa de Réveillon para matar a ex-mulher, Isamara Filier, 41, o filho de 8 anos e outras nove pessoas da família dela. Em seguida, se suicidou. Deixou uma carta justificando a chacina, que vitimou nove mulheres: “Quero pegar o máximo de vadias juntas”. Um manifesto de ódio às mulheres, em que as culpava pela impossibilidade de desempenhar o papel de pai e desdenhava das conquistas femininas. Desde 2005, Isamara já havia registrado cinco boletins de ocorrência contra o ex por injúria, ameaça e violência doméstica, mas desistiu de seguir com processo penal.
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Até o fechamento desta reportagem, outros 31 casos de mulheres assassinadas em circunstâncias semelhantes chegaram à imprensa. Entretanto, devido às limitações dos dados disponíveis, estima-se que as estatísticas de feminicídio, crime reconhecido como hediondo desde 2015, alcancem números maiores: sete mulheres são mortas por dia no Brasil, de acordo com o Mapa da Violência organizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais. Os algozes são parceiros, ex-parceiros, pais ou irmãos. A pena para esse tipo de crime varia de 12 a 30 anos de prisão. Embora, no papel, já tenhamos ferramentas poderosas contra a violência de gênero – incluindo a Lei Maria da Penha, internacionalmente reconhecida como uma das mais avançadas na questão –, o Brasil continua a figurar entre as cinco nações que mais matam mulheres no mundo. Quatro especialistas apontam as falhas que incrementam a vulnerabilidade feminina e indicam o que precisa mudar para que fiquemos realmente protegidas.
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GRAVIDADE ATENUADA
Marcela Ortiz, delegada da Delegacia de Homicídios da Capital, no Rio de Janeiro “Quando uma mulher é ameaçada e procura a delegacia, recebe uma medida protetiva, que determina a distância-limite para o agressor, a ser aprovada por um juiz no prazo de 48 horas. No entanto, muitas vezes, ela mora na mesma propriedade de seu algoz. Aí, acaba na rua. É necessário um trabalho mais profundo, de que a polícia nem sempre dá conta. O volume de queixas de violência doméstica é grande e a abordagem não pode ser apenas judicial. Após a denúncia, é preciso que exista uma assistência psicológica a longo prazo, que não oferecemos hoje. Quando o feminicídio se concretiza, o autor do crime responde a um questionário bastante extenso na delegacia. Ele costuma defender a legitimidade de sua ação e, mesmo que confesse, culpa a vítima, justificando o homicídio com base nas atitudes dela e em sentimentos de posse. Alega que a paixão o moveu. Não podemos ser complacentes com tais afirmações! E, muito menos, não devemos chamar a ocorrência de crime passional – nomenclatura que deveria deixar de ser usada, pois faz com que pareça menor. Agora, com a Lei do Feminicídio de 2015, podemos registrar explicitamente esses assassinatos em nosso banco de dados. Conseguimos elucidar mais de 90% dos casos, estatística superior a outros tipos de homicídio, mas ainda é difícil evitá-los porque a questão vai além da segurança pública e do trabalho da polícia: é cultural e educativa. O crime acontece, majoritariamente, dentro das casas e entre familiares e, não raro, a vítima já estava imersa em um contexto de violência doméstica desde a infância – um ciclo repetido nas gerações seguintes. Sem políticas de educação de gênero, os padrões tendem a se repetir.”
“Crime passional é uma nomenclatura que deveria deixar de ser usada”
“Sem proteção, a mulher não denuncia, temendo a morte“ DIREITOS ESTAGNADOS
Cristina Lopes Afonso, vereadora em Goiânia (PSDB), ativista pelas vítimas de queimaduras e contra a violência de gênero “Em 1986, meu namorado, um médico, jogou álcool em mim e ateou fogo. Aos 18 anos, tive 85% do corpo queimado. Três anos depois, o agressor foi condenado por tentativa de homicídio a 21 anos de prisão. Eu vivi na pele não só a queimadura, mas uma violência até então desconhecida. Antes, as agressões vinham em forma de manipulação: a cada decisão que lhe desagradava, ele ameaçava se suicidar e eu tentava impedi-lo. Por fim, ele premeditou me matar. Na época, dois anos antes da aprovação da Constituição que reconheceria os direitos femininos, as mulheres precisavam se organizar em movimentos pontuais para exigir garantias básicas. Com a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, houve uma acomodação e passamos a cobrar menos. Acreditava-se que haveria punições exemplares e ferramentas para resguardar a mulher. Não foi o que se viu – é como uma caixa de presente que, ao ser aberta, descobrimos estar vazia. Sem proteção, a mulher não denuncia, temendo o aumento da violência e a morte. Em 2015, o governo federal prometeu a criação da Casa da Mulher Brasileira, onde vítimas seriam acolhidas, mas apenas três capitais receberam as instituições. Além disso, em reação ao endurecimento e à difusão dos limites impostos pela legislação, comportamentos violentos exaltados passaram a ser defendidos abertamente, principalmente pelos homens. Não temos tido força para barrar essas manifestações. Precisamos pensar o que estamos fazendo para mudar nossa realidade com pequenas atitudes e, acima de tudo, demonstrando sororidade.” claudia.com.br fevereiro 2017
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Filhos
PRIMEIRA DOSE
NO BRASIL, O ÁLCOOL É PROIBIDO ATÉ OS 18 ANOS. NA PRÁTICA, METADE DOS ADOLESCENTES BEBE LIVREMENTE – ENTRE GAROTAS, O CONSUMO AUMENTA. AOS PAIS, CABE MINIMIZAR RISCOS TEXTO BRUNA NICOLIELO
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dizer ‘não’. Eles fazem combinados de forma séria e assertiva explicando por que o filho não deve beber. Justificam a proibição falando da lei e dos riscos à saúde”, diz Helena Barros, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e coordenadora do Ligue 132, serviço gratuito e confidencial que oferece orientações sobre drogas. “Um dos pilares do programa é formar pais autoritativos. Infelizmente, as famílias não estão prontas para pensar na prevenção e acabam ligando quando a situação já está bem complicada”, afirma. Um lembrete de Barros: é difícil voltar atrás se já permitiu a bebida.
DA PORTA PARA DENTRO O Sul e o Centro-Oeste concentram os maiores índices de consumo entre estudantes do 9º ano do ensino fundamental, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2016. E Porto Alegre é a capital com mais bebedores precoces. Cada família deve estabelecer suas próprias regras, e ser claro quanto a elas é útil, mas mesmo pais cuidadosos
não estão a salvo. A diretora de recursos humanos Sônia, de Porto Alegre, tem um combinado com os filhos, uma menina de 16 e um menino de 19: beber, só depois dos 18 anos. Isso não a poupou de lidar com um porre da filha. “O álcool está em todas as festas. Qualquer família está suscetível. Então, é preciso fechar o cerco”, diz ela, que, com outros responsáveis, entrou com uma ação no Ministério Público do Rio Grande do Sul reivindicando ações de prevenção e combate ao consumo de álcool entre os jovens. Como resultado dessa solicitação, o MP organiza um fórum de discussão sobre o tema desde 2011, além de fiscalizar festas de formatura. “A venda de bebidas é proibida nos eventos, mas os jovens já chegam alcoolizados. O número de atendimentos aumenta a cada ano”, explica a procuradora de Justiça Maria Regina Fay de Azambuja. A intervenção não é punitiva, mas voltada à manutenção da saúde. Eles são levados à promotoria da infância, que sugere encaminhamentos. “E tão importante quanto atendê-los é localizar os adultos que fornecem a bebida”, finaliza. claudia.com.br fevereiro 2017
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PURO FRESCOR
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O mercado ganhou, recentemente, diversos produtos de ação (e aplicação) direta no couro cabeludo: 1. Shampoo Esfoliante Detoxifying, Davines, R$ 165. 2. Tratamento Antiqueda Extrait Phyto-Aromatique, Sisley, R$ 858. 3. Shampoo Hidratante Alfazema Provençal, Phebo, R$ 18. 4. Gel-creme calmante Masque Hydra-Apaisant, Kérastase, R$ 260. 5. Leave-in para couro cabeludo Diaboost, Nioxin, R$ 240. 6. Óleo Hidratante Baobab Oil, Phyto, R$ 240. 7. Tratamento Revigorante Tea Tree, Paul Mitchell, R$ 176
EM SUAS
MÃOS NO TAPETE VERMELHO DO GLOBO DE OURO 2017, AS GRANDES ESTRELAS FORAM ANÉIS, PULSEIRAS E BRACELETES. INSPIRE-SE NAS APOSTAS DE NOSSA EDITORA DE MODA E BRILHE VOCÊ TAMBÉM
REALIZAÇÃO
FOTOS
Lena Carderari
João Ávila
STYLING
Beto e Celso Cavalcanti
Na mĂŁo direita: ANEL de prata com turmalina rosa bruta, Reny Golcman para Central de Designers, R$ 1 386; BRACELETE de prata com opala, turmalinas e pirita, Djaya Levy, R$ 10 215. Na mĂŁo esquerda: ANEL de prata, Mercedes West para Choix, R$ 832; ANEL de prata com resina preta, Cris Nascimento, R$ 450