Cobaia
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, agosto de 2013 Edição 123 Distribuição gratuita
Imprensa Nua Expor o corpo mexe com um tabu. Reportagem especial revela como a mídia impressa lida com a nudez
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Esporte
Campus
Extra
Surfando com os pinguins
Com trabalho e sem diploma
Olhares Múltiplos vêm aí
Rapaziada da prancha que não tem medo da água fria encara altas ondas no inverno
Saiba o que pensa gente que trabalha na Universidade, mas não tem curso superior
Megaevento do Ceciesa - CTL discute com o mercado conceito de Inteligência Orgânica LCD - Laboratório de Criação Digital
Cristóvão Vieira
Letícia Dias
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Economia Descubra por que é tão caro comer nas lanchonetes do campus
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Editorial
Extra
Observar para contar
Olhares Múltiplos 3ª edição
Da redação
Jane Cardozo da Silveira* todo mês. Nesta edição, destaque para a matéria especial feita por Wagner Heinzen e Waltermiriam Santos sobre o segmento da imprensa que se dedica ao nu. A dupla fez um levantamento das publicações que ousaram mexer com o tabu. Pesquisou, revirou
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Nesta edição,
destaque para a matéria
especial feita por Wagner Heinzen e Waltermiriam Santos sobre o segmento da
imprensa que se dedica ao nu
arquivos, garimpou acervos, produziu muito. E, é claro, ganhou as páginas centrais. Outro diferencial deste número é o quarteto de matérias envolvendo o campus da Univali em Itajaí. Elas surgiram de um exercício de observação realizado como parte da disciplina Reportagem Especial, do 6º período. A tarefa
dos acadêmicos era sair pelos corredores, lanchonetes, nos espaços de uso comum da Universidade, para selecionar do ambiente algum assunto que lhes chamasse a atenção a ponto de se transformar em matéria jornalística. No primeiro momento, eles foram orientados a observar sem fazer qualquer tipo de intervenção na cena. Só depois de feito o recorte e discutido em sala com professor e colegas, puderam partir para a apuração do assunto, agora já transformado em pauta. Detalhe: esse exercício de observação não precisava necessariamente resultar em reportagem sobre o campus. A partir do cenário intramuros da Universidade, os acadêmicos tinham liberdade para propor outros temas, desde que fossem inspirados na observação inicial. Assim surgiram reportagens como a da página 11, de Daniel Sousa e Rodrigo Ferreira, a respeito do veto ao cigarro em ambiente público, a de Cristiéle Borgonovo e Luciano Pinheiro, que repararam na hesitação dos acadêmicos para aderir ao novo sistema on line de empréstimos na biblioteca, e a de Cristóvão Vieira e Letícia Gonçalves, cujo olhar sensível focalizou os funcionários das lanchonetes e suas perspectivas. Esses e outros assuntos igualmente interessantes – surfistas que não temem o frio, gente que dança ciranda cultural, povo que anseia por um teatro – estão entre os textos desta edição. Aproveite e tenha uma boa leitura! Jane Cardozo da Silveira *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP
Fica esperto! 9º Festival Cultural Univali Entre os dias 16 e 20 de setembro, acontece o 9º Festival Cultural Univali! O evento oferece aos acadêmicos e frequentadores dos campi e unidades da universidade uma programação cheia de atrações culturais como dança, música, poesia e teatro. Essa semana recheada de apresentações promove a interação e expressão cultural entre artistas amadores e profissionais junto a universidade. Todas estas atividades celebram os 24 anos de reconhecimento da Univali como universidade e os 49 anos de Ensino Superior no município de Itajaí.
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A 3ª edição do Olhares Múltiplos está programada para os dias 24, 25 e 26 de setembro nos campi da Univali em Itajaí, Balneário Camboriú e Florianópolis. Realizado pelo Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação, Turismo e Lazer da Univali, “Olhares Múltiplos” pretende promover uma reflexão sobre a diversidade de conhecimento que pode ser adquirido no ambiente acadêmico e profissional. O evento é composto por cinco arenas: criatividade, tecnologia, tendência, mercado e social. O tema central das arenas em 2013 é Inteligência Orgânica, que é a capacidade de entender, assimilar e elaborar a informação e usá-la para escolher opções criativas e inovadoras na hora de solucionar problemas e tomar decisões. A programação do evento conta com mais de 200 atividades, entre elas: palestras, oficinas e minicursos, muitas delas gratuitas. A organização espera a participação de mais de três mil pessoas, entre acadêmicos, professores, profissionais e comunidade. Para mais informações acesse: olharesmultiplos.com.br LCD - Laboratório de Criação Digital
Neste segundo semestre, nosso jornal-laboratório reestreia com nova estagiária. Bárbara Porto Marcelino chegou em agosto disposta a enfrentar o desafio de diagramar o Cobaia sem nunca ter feito antes um trabalho sequer parecido. Explica-se: acadêmica do 2º período do Curso, ela ainda não passou pela disciplina de planejamento gráfico, que é oferecida no 5º período. Nada que não possa ser superado com uma dose extra de boa vontade, um pouquinho de confiança e uma santa ajuda de um egresso. Isso mesmo – muitos dos nossos ex-alunos, agora jornalistas já formados, continuam em contato com a Universidade. Alguns por conta das especializações que cursam aqui, outros porque querem simplesmente manter os laços – e são pessoas solidárias que se dispõem a compartilhar conhecimento sempre. E assim cá estamos: com uma edição pronta e diagramada no capricho por nossa “foquinha”, que tem se mostrado entusiasmada diante das possibilidades de aprendizado que um jornal-laboratório oferece. Para quem acompanha de perto o dia a dia do jornal é igualmente gratificante constatar o crescimento de quem vem semanalmente à redação, seja fazendo estágio remunerado ou voluntário. Evoluem também os demais acadêmicos colaboradores, aqueles que, embora não estejam pessoalmente na redação, remetem seus textos e assinam as várias reportagens que você lê
Espaço do Leitor Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br
Expediente Palestra com Eliane Brum A jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum é um dos destaques do evento Olhares Múltiplos. Ela vai conversar com os acadêmicos no dia 26 de setembro a respeito de um tema instigante para os futuros repórteres - “O Olhar e a Escuta: Jornalismo Sobre a Extraordinária Vida Comum”. O assunto rendeu para Eliane o Prêmio Jabuti 2007 de melhor livro de reportagem pela obra “A Vida Que Ninguém Vê”. Autora de quase uma dezena de livros, ela já ganhou cerca de 50 prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Prêmio Esso, Vladimir Herzog, Ayrton Senna, Sociedade Interamericana de Imprensa e Rey de España. Em 2008, recebeu o Troféu Especial de Imprensa ONU. A palestra com Eliane começa às 20h30min no Teatro Adelaide Konder, campus da Univali em Itajaí.
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, agosto de 2013. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Estagiária Bárbara Porto Marcelino TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional
Itajaí, agosto de 2013
Campus
Tão perto e tão longe Funcionários da Univali falam sobre perspectivas – e a falta delas – de acessar o ensino superior Cristóvão Vieira e Letícia Gonçalves
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lhos atentos, mãos no volante. Entre uma troca de marcha e outra, o motorista Leandro Domingues da Silva, 32 anos, fala de seus planos para ingressar no ensino superior enquanto dirige a Combi da universidade. Há sete anos ele transporta estudantes, professores e pesquisadores da Univali para diferentes fins. Apesar da convivência com o meio acadêmico, Leandro ainda não teve oportunidade de entrar na universidade. Mesmo assim, faz questão de frisar a importância da graduação. “Quem tem uma faculdade tem um diferencial no conhecimento e também no salário. É muito necessário”. O que Leandro comenta é confirmado pelo IBGE. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto no ano de 2010, trabalhadores com curso superior têm salário 230,4% mais alto. Ainda de acordo com o estudo, o trabalhador com formação universitária ganhou, em média, 7,6 salários mínimos, enquanto os
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Quem tem uma
faculdade tem
um diferencial no conhecimento e também no salário
Cristóvão Vieira
demais tiveram média salarial de 2,3 salários mínimos. Leandro quer cursar Engenharia Mecânica, pra conhecer o automóvel não apenas como motorista. “Tenho facilidade em aprender, mas só o prático não basta, tem que ter o teórico”, opina. Iniciar a faculdade, conta, é uma de suas prioridades para o próximo semestre. A decisão do motorista de ingressar no ensino superior, porém, parece uma exceção no quadro de funcionários da Univali. Dona Rosete Maria Wisentiner, conhecida como Dona Zete, não se anima em começar uma graduação. Funcionária da Univali há 18 anos, ela cuida da limpeza da TV Univali desde 2003. Durante esse tempo a zeladora assistiu a diferentes produções acadêmicas. Viu programas começarem e terminarem, e acompanhou a trajetória de figuras que se tornaram conhecidas do público regional, estadual e nacional. Tudo isso na faculdade. Apesar de não sentir mais
Cristóvão Vieira
Carlos, atendente da lanchonete Tentação do Mate
vontade de ingressar na universidade, dona Zete não deixou de incentivar sua filha, que aproveitou o benefício da bolsa de 35% de desconto para filhos de funcionários e hoje estuda administração. Dona Zete garante, ainda, que o desinteresse de hoje nem sempre existiu: na juventude, sonhava em cursar farmácia. “Mas não tenho mais pique. Terminei o ensino médio, logo passei a trabalhar e hoje depois desse tempo todo, não conseguiria acompanhar uma faculdade”, justifica. A situação dos atendentes Carlos Eduardo Alves Marinho e Rosemari Eberte é semelhante. Eles trabalham juntos na sucursal da lanchonete Tentação do Mate que fica dentro da Univali. Enquanto se esforçam pra atender aos pedidos de lanches na mesma velocidade da fome dos acadêmicos, eles ouvem as conversas sobre aulas, professores, provas, e trabalhos. Aos 41 anos, Carlos admite que nem mesmo o ambiente universitário o faz sentir vontade de começar uma graduação. “Eu entendo a importância do estudo. Falta emprego pra quem
Rosemari Eberte se esforça para atender aos pedidos de lanches dos acadêmicos
Itajaí, agosto de 2013
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não estuda e para quem estuda os salários são melhores, mas eu não tenho mais idade pra correr atrás”, diz o atendente, que trabalha há quatro meses na lanchonete. Assim como Carlos, Rosemari estudou apenas até a oitava série do ensino fundamental. Ela é funcionária do Tentação do Mate há três anos e meio e confessa que, em casa, a cobrança vem dos filhos. Rosemari é mãe de uma menina de 10 anos e um rapaz de 15. A opinião dos dois, segundo a atendente, é unânime: querem que a mãe volte para a sala de aula. “O problema é o tempo. Trabalho aqui das 15h até as 22h30 de segunda a sexta, e no sábado de manhã até às 18h”. Assim como Leandro, dona Zete e Carlos, Rosemari também acredita que a graduação faz toda a diferença quando se trata de melhores salários, maior conhecimento, realização profissional e pessoal. A importância do ensino superior, portanto, é reconhecida de forma unânime por esses personagens que convivem tão perto, e por vezes tão longe da universidade.
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campus
Filas em lanchonetes Alunos esperam mais de dez minutos para comprar lanches. Problema seria a falta de atendentes Ana Carolina Bernardes e Juciani Rosa
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odos os dias, às 7h30min, o acadêmico Philipe Gabriel, de 21 anos, chega ao Campus da Univali em Itajaí, onde ficará até o início da noite. Durante esse período, o estudante faz todas as suas refeições na própria universidade, porém, encontra dificuldades em certos horários do dia devido às grandes filas registradas nas lanchonetes: “Faço quatro refeições na Univali e o lugar em que pego menos fila é no Centro de Vivência, pois há mais opções”, destaca. Quando precisa lanchar no seu horário de intervalo, que é de cerca de 20 minutos, o acadêmico de Ciências Biológicas perde quase 10 minutos na fila e outros cinco para conseguir pegar seu lanche. As longas filas formadas em diversas lanchonetes do Campus Itajaí, principalmente em início de semestre, trazem a discussão sobre a necessidade de contratar mais funcionários para esses estabelecimentos. Para Philipe, o aumento do quadro de funcionários seria a melhor solução para o problema das filas. “Todas as lanchonetes deveriam contratar mais pessoas para atender no caixa. É algo simples que iria trazer muitos resultados para os estudantes”. O acadêmico Chrystian Luiz Perottoni, 19 anos, faz duas refeições por dia na Universidade e, assim como Philipe, acaba enfren-
Ana Carolina Bernardes
tando as filas e esperando alguns minutos para conseguir lanchar. “Todos que estão esperando para ser atendidos perdem mais tempo no caixa, já que alguns pagam com cartão. Contratar funcionários para atender neste local diminuiria o tempo de espera. Tem locais que fizeram isso e melhoraram muito”, afirma o estudante. Entre os horários com maior número de pessoas esperando para ser atendidos, os acadêmicos destacam o intervalo do período matutino, por volta das 9h30, e noturno, às 20h40. “Quando realmente quero descansar no intervalo, preciso ir até o Centro de Vivência, pois há mais lanchonetes e as filas são menores. Senão, fico com menos de cinco minutos para comer e descansar”, ressalta a universitária Danika Dias Azevedo, 20 anos. Ela afirma ainda que as lanchonetes com as maiores filas estão localizadas nos blocos C2 e C3, que ficam perto do seu local de estudo.
Novos funcionários
Durante os intervalos, as filas nas lanchonetes ficam cada vez maiores e os alunos reclamam
Os concessionários das lanchonetes do Campus Itajaí consideram que a contratação de novos funcionários para amenizar as filas seria uma boa solução, porém há vários fatores que estão ligados a isso. “A gente não consegue mais funcionários por causa do horá-
rio de trabalho. Eles não querem trabalhar aos sábados de manhã ou todos os dias no período noturno”, ressalta Ana Paula Seara Schilickmann, da Torteria Seara. Hoje, o estabelecimento conta com uma pessoa para atender no
Ana Carolina Bernardes
Funcionária da Torteria Seara, Ana Paula Seara Schilickmann
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caixa e três no balcão. Antes disso, havia apenas uma pessoa no balcão e duas no caixa, o que, segundo Ana Paula, dificultava o atendimento. Além da contratação de mais atendentes, a funcionária conta que outras possíveis Ana Carolina Bernardes
Acadêmicos precisam fazer lanches rápidos no campus Cobaia
soluções para o problema das filas seriam os clientes olharem as opções de lanches descritas em tabelas afixadas na parede antes de efetuar a compra ou adquirir mais fichas em uma só compra para que durem por mais dias.
Mudança que deu certo A necessidade de aumentar o quadro de funcionários para agilizar o atendimento já foi percebida por alguns estabelecimentos comerciais do Campus Itajaí. Na Lanchonete Terral, localizada no Bloco D1, a contratação aconteceu há alguns meses e os clientes já conseguem perceber a mudança. “Como tem muita gente que prefere pagar com cartão de crédito ao invés de dinheiro, o certo seriam dois atendentes no caixa, um para cada pagamento. Foi o que aconteceu no Terral e deu certo”, explica o acadêmico Philipe. A gerente da lanchonete, Vera Lúcia Bugowits, 32 anos, informa ainda que, além da contratação de novos funcionários, o estabelecimento também instalou um novo sistema de impressão: assim que o atendente do caixa finaliza a venda, a mesma comanda sai em uma impressora no balcão de preparo dos pedidos. “Até o cliente pagar eu já agilizo e preparo o lanche. Com esse novo sistema eu ganho três minutos em cada produto que leva cinco minutos para ser preparado”, revela a gerente. Itajaí, agosto de 2013
Campus
Lanches a preços mais altos Descubra por que os acadêmicos desembolsam mais dinheiro para se alimentar na universidade Bruna Passos e Caroline Maffi
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o outro lado da rua, um refrigerante custa R$ 3,00, mas se você for comprar em uma das 14 opções de restaurantes e lanchonetes distribuídas entre os blocos e o Centro de Vivência do Campus da Univali em Itajaí, vai pagar pelo menos R$ 3,50 pelo mesmo produto. Muitos acadêmicos questionam o porquê dessa diferença de preço em poucos metros de distância. Mas, afinal, por que uma universidade comunitária praticapreços de alimentos e bebidas tão altos? Quarenta acadêmicos e egressos, entre os cursos de Jornalismo, Relações Públicas, Administração, Psicologia e Direito deram sua opinião sobre o assunto. Segundo os dados levantados na enquete, 40% dos entrevistados acreditam que os estabelecimentos alimentícios dentro da universidade lucram com preços altos, por se aproveitarem de ser os lugares mais próximos das salas de aula. A acadêmica de relações públicas, Bruna Zuquete, de 20 anos, enfatiza que normalmente os estudantes não têm tempo para sair da faculdade e comprar algo mais em conta, e também aponta que é muito mais prático se alimentar onde é mais próximo de sua sala. “Temos pouco tempo de intervalo, isso faz com que procuremos algo mais próximo e prático para comer, porém é muito mais caro”. Osvaldo Vitte Filho, proprietário do Texburguer, concorda que os alunos dispõem de pouco tempo para se alimentar, e por isso acabam optando por comer perto do seu bloco, mesmo pagando um preço absurdo. A grande queixa dele é que não é fácil manter um estabelecimento em que se trabalha por cerca de oito meses e paga-se o aluguel durante todo o ano. “Por mais que nas férias de verão e de inverno os estabelecimentos fiquem fechados, precisamos dar um jeito de ter o valor do aluguel para mantermos o local”. A proprietária da Lanchonete do Pedro, Fabiana da Silva, de 38 anos, também diz que o problema nos valores está nos aluguéis. Em meio a um ambiente com aproximadamente 12 mil alunos em circulação, uma alternativa utilizada por Fabiana é a venda de produtos menores, como latinhas pequenas de refrigerante. Fabiana não acha justo ganhar mais do Itajaí, agosto de 2013
Caroline Maffi
No Texburguer, preços em promoção para atrair a clientela são frequentes
que deveria em cima dos produtos, e por este motivo acaba tentando conciliar o valor do aluguel com o preço que os alunos podem pagar. Luis Carlos Mantagna, proprietário há seis anos do Açaí Sarado e síndico do Centro de Vivência, justifica que o principal motivo que mantém os valores dos alimentos elevados é o custo dos aluguéis pelos espaços. “No Açaí Sarado invisto quase dois mil reais em aluguel e ainda cada proprietário precisa pagar o condomínio do centro mensalmente”. Seu Luis, como é conhecido, ainda conta que no caso do Centro de Vivência, eles são responsáveis pela manutenção, desde o papel higiênico para os banheiros, a todo e qualquer material de limpeza. E para o valor pago pelo local ser justo a
todos, ele é calculado por metro quadrado. Isso faz com que a Univali ajude a pagar esse aluguel, por ter lojas próprias, como o restaurante Bistrô do Sabor, a sala dos motoristas e a sala de informática. Preocupado com as filas, o síndico sugere que a Univali intercale o intervalo dos cursos, para que os acadêmicos não saiam todos ao mesmo tempo e enfrentem filas para conseguir comprar algo para comer. Outra sugestão, dessa vez dada pelo egresso em administração, Saimon Simas, 27 anos, seria a de que os acadêmicos, por meio do Diretório Central dos Estudantes da Univali (DCE), fizessem uma ação em parceria com os restaurantes e lanchonetes para baixarem os valores dos aluguéis e dos alimentos. Cobaia
Caroline Maffi
Com mais de dez mil alunos, o campus é um forte mercado
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Campus
Empréstimos online têm baixa adesão Acadêmicos demonstram hesitação em aderir ao sistema de autoatendimento da Biblioteca Cristiéle Borgonovo e Luciano Pinheiro
Cristiéle Borgonovo
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ora do intervalo de uma noite comum de aulas no campus da Univali em Itajaí. Na Biblioteca Central, cerca de vinte acadêmicos esperam na fila para ser atendidos pelos funcionários e proceder a empréstimo e devolução de livros. Uma colaboradora se apresenta aos alunos e os convida a experimentar o sistema de autoatendimento. Dos vinte, apenas dois saem da fila para se utilizar da nova tecnologia. A cena suscita o questionamento: o que pode explicar a suposta resistência à ferramenta mais rápida de interagir com a biblioteca? A resposta envolve inúmeros fatores, inclusive psicológicos. O sistema de autoatendimento da Biblioteca Central foi implantado em setembro de 2012 com o objetivo de agilizar os processos de empréstimo e devolução de obras. Na época, o departamento de comunicação da universidade disparou e-mails aos acadêmicos e funcionários informando da novidade, além de veicular anúncios na rádio Univali e postar matéria no site da instituição. A partir de então, iniciou-se o processo de adesão, que nos primeiros meses teve resultados irrisórios. Segundo a bibliotecária Cláudia Bittencourt Berlim, um dos motivos para isso é que para usar o autoatendimento o acadêmico precisa ter em mãos o Cartão Univali. Como a maioria dos alunos não sabe disso ou ainda não o possui, a fila do atendimento convencional continua grande, principalmente no horário do intervalo das aulas noturnas. A funcionária esclarece
nados indivíduos entrarem em estado de apreensão ao serem expostos a novas ferramentas e, assim, sentirem-se impedidos de se lançar ao que lhes é proposto. A profissional revela que cada pessoa precisa de uma análise singular para decifrar o que causa sua aversão a novas tecnologias, já que esse comportamento está intrinsecamente ligado a diversos traços de sua personalidade. Maria Celina conclui que uma mudança de postura frente às novas formas de interação digitais pode ser possível através da educação e treinamento para o seu uso cotidiano. Estes esforços precisam ser mais intensos para gerações mais antigas, que não tiveram contato com tecnologia em sua infância e adolescência.
Cristiéle Borgonovo
O sistema de autoatendimento da Biblioteca foi implantado em 2012
que, por estratégia, este é o horário em que a biblioteca disponibiliza funcionários para estimular os acadêmicos a aprenderem a usar o serviço. Como o cartão passará a ser obrigatório para o
Cristiéle Borgonovo
A fila do atendimento convencional continua grande
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hesitaria em fazê-lo. Já Morgana Giacomossi, do sexto período de Comércio Exterior, diz que evita a máquina por ter medo de não conseguir efetuar seus empréstimos corretamente. Fato que se prova possível pelo relato de Jéssica Maibuk, do nono período de Direito, que revela que já tentou utilizar o autoatendimento, mas não teve sucesso. Debruçando-se sobre a cena de abertura desta reportagem, na qual apenas 10% dos acadêmicos aceitaram o convite da funcionária para experimentar o novo sistema, contempla-se uma metáfora de como as novidades podem ser evitadas pelas pessoas, em um primeiro momento. A psicóloga Maria Celina Ribeiro Lenzi explica que há mecanismos psicológicos que fazem determi-
sistema de estacionamento do campus em breve, cada acadêmico vai precisar ter um e espera-se que acabe se acostumando a usá-lo, inclusive na biblioteca. A assessoria de comunicação da Universidade levantou estatísticas que mostram que a adesão ao novo sistema da biblioteca vem crescendo desde julho deste ano. Em uma medição realizada em um espaço de 30 dias, foram registrados mais de 70 mil empréstimos de obras, dos quais mais de nove mil foram feitos através do sistema novo. Segundo o setor de comunicação, a percentagem de 12,5% deve seguir a tendência de alta nos próximos meses, numa demonstração de que a nova ferramenta digital tem ganhado usuários a cada dia. Na prática, os alunos que circulam pela biblioteca na parte da noite apontam diferentes motivos para evitarem o sistema novo. Marcos Felipe Anacleto, do sétimo período de Ciências da Computação, por exemplo, afirma desconhecer o sistema e que se fosse convidado a usá-lo, não
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Setor ainda não registra movimento
Itajaí, agosto de 2013
Comportamento
A escolha do que vou ser quando crescer Decidir por uma carreira é um problema, principalmente quando chega o fim do Ensino Médio Mariana Feitosa e Pietra Garcia
Mariana Feitosa
Mariana Feitosa
Paulo Henrique Testoni acredita que os jovens não têm uma noção real da faculdade antes de ingressar
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garantia de uma melhor situação financeira, um bom emprego e um futuro melhor em todos os aspectos”.
Escolha precoce “Eu recebi uma proposta de emprego que já me colocava no mercado na área em que eu gostaria de atuar, nas artes cênicas”, diz Victor Zaguini, de 17 anos. Ele deixou de ser estudante em 2012 para viajar apresentando espetáculos com a companhia que hoje integra. Apesar de ter certeza de sua escolha, admite que há pressão social em torno do diploma universitário, como se fosse necessário escolher o rumo da vida aos 17 anos. A pressão pode levar a decisões erradas, como foi o caso de Paulo Henrique Testoni, de 20 anos. Ele cursou Ciências da Computação logo após o Ensino Médio e desistiu no meio do segundo semestre, quando optou por Publicidade e Propaganda. “Acho que se eu tivesse dado uma pausa, teria tido mais certeza do meu curso”. Mas é necessário entender que a escolha de um curso superior é só o começo, e não algo imutável. Em 1976, o alemão Erik Erickson, criador da teoria do desenvolvimento psicossocial,
afirmou que o ingresso no ensino superior deve ser visto como uma transição que traz potenciais repercussões para o desenvolvimento psicológico dos jovens estudantes. Esse processo é a primeira experiência com uma ideia de “identidade autônoma” vivida através da escolha profissional, e que marca a passagem da adolescência para a vida adulta. A tese agrada Paulo. Ele conside-
ra os estudantes imaturos para fazer escolhas por não ter uma ideia real do que é a faculdade. Já Tereza, a mãe citada nesta reportagem, acredita que uma pausa pode desestimular. Faz questão que o filho “vá no embalo” e emende o estudo. Para a psicóloga Léia Fontoura, uma grande pressão familiar gera problemas emocionais ao jovem. Cita o exemplo de quando o filho segue a
profissão do pai por comodismo ou obrigação. Ela diz que a primeira medida é dialogar com reciprocidade e respeito às opiniões. Para ajudar nessa fase há ainda os grupos de orientação vocacional e profissionais treinados para lidar com esse propósito. Conversar funcionou para Victor, que entrou em acordo com os pais: “Eles não abriram mão da formação, mas me deixaram ir no meu tempo.”
Mariana Feitosa
na da Silva de 17 anos, cursa o último ano do Ensino Médio, o “terceirão”. Ela estuda física, química e biologia, tudo pensando no vestibular. Aliás, o vestibular parece ser o assunto preferido de todos a sua volta. “O que você vai fazer, Aninha?” É a pergunta chave. A senhorita Silva é uma personagem fictícia, mas representa a realidade de vários adolescentes e jovens que cursam o último ano escolar e se veem prestes a ingressar em uma universidade. Nesse clima, o fator pressão pode ser um grande inimigo. O “índice de aprovação no vestibular” é usado por escolas e cursinhos como chamariz. A especialista em Psicologia Educacional e Orientação Pedagógica, Léia Viviane Fontoura, diz entender a pressão para que os jovens ingressem na Universidade logo após o colégio como uma realidade proveniente das classes sociais e culturais privilegiadas. Os pais relacionam diretamente seu desejo de que o filho tenha um bom futuro à escola e ao emprego, associando isso à felicidade. A dona de casa Tereza Maria da Cunha, de 46 anos, é de opinião que ter um curso superior é fundamental para os filhos. “É um passo importante para a
Cursinhos usam ranking de aprovados para atrair alunos
Corredores do campus são espaços de interação e contato com outros cursos
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Especial
Na mídia impressa com peladas e pelados Variados tipos de revistas expõem formas de nudez e constroem a história da imprensa segmentada Wagner Heinzen e Waltermíriam Santos
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assunto pode ser tratado com naturalidade ou com reservas. Expor o corpo em revistas, em especial nos últimos 60 anos, provoca a ira da sociedade conservadora e continua mexendo com o tabu do que seria decente. Contudo, a nudez vai além do caráter sexual e revela a necessidade humana de se autoconhecer e se informar. No maior mercado consumidor do mundo, os Estados Unidos, três homens tornaram-se gigantes no mercado editorial que exibe mulheres despidas. O mais famoso é Hugh Hefner. Em sua autobiografia, o legendário editor-proprietário da revista Playboy conta que, em 1953, uma revista anterior a sua mostrava mulher nua. Contudo, focava nas características do trabalho fotográfico, dando impessoalidade à modelo, que sequer era identificada. A publicação era definida como artística e, portanto, aceita nas bancas. Para criar uma nova revista, Hefner desejava incorporar conteúdo sexual sem marginalizar o erotismo num gueto, investindo ainda em cartunistas e bons escritores. Com esta atitude nasceu a primeira edição de Playboy, com ninguém menos que Marilyn Monroe na capa. Bob Guccione (1930 –
2010) lançou Penthouse em Londres, mas foi a partir de 1969, em território norte-americano, que criou um império, superando em determinado tempo as vendas de Playboy. Sua revista foi a primeira no mundo a publicar nu frontal, nus masculinos, casais fazendo amor, lésbicas e sexo grupal. Negando-se ao grotescamente explícito, a proposta era mostrar o relacionamento real entre as pessoas. Ampliando seus negócios, outro atrevimento de Guccione foi investir no filme Calígula, pronto em 1979 ao custo de 20 milhões de dólares. O terceiro homem forte das chamadas revistas masculinas é Larry Flynt, editor de Hustler. Bem direto no posicionamento entre sua publicação e a dos dois editores anteriores, Flynt diz: “A diferença é que eles têm vergonha de publicar temática pornográfica, e eu não”. Defendendo a pornografia como arte, fotos hard-core (com penetração) fazem parte do que ele publica. O Brasil por sua vez teve força neste segmento na segunda metade do século passado, com destaque para os anos 1960 em diante, quando surgiram publicações como Fairplay, Playgirl, Peteca, Lui, Velvet, Playmen, First Class, Festa, Exclusive, Adam, Club,
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Acredito que o
sensual seja aquela história de instigar, fazer o expectador querer ver mais do que está vendo
Prive, Psiu!, Homem, Penthouse, ManStatus, Status Plus, Sexy, Sexy Premium, Premium, SexWay, Hunter e Principal, entre outras. No entanto, se destacaram ao ir além de apresentar modelos, atrizes, cantoras e mulheres de fama relâmpago. Investiram na qualidade de
Foram mostradas aos jornalistas Jonas Garcia e Carla Querobim duas revistas com a modelo Luíza Brunet nas capas. Quando questionados sobre qual delas era vista como provocação sexual, a resposta foi a mesma: em Ele Ela, “É super sensual”, disse Carla. “Dá a impressão de que a modelo quer sexo e instiga isso”, falou Jonas. A nudez de Luíza em Manchete ficou natural para ele e menos apelativa para ela, o que pode ser entendido como escolhas acertadas das produções das revistas. l
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artigos, reportagens e entrevistas: Ele Ela, pela editora Bloch, e a Playboy brasileira, pela editora Abril. A primeira surgiu em maio de 1969. Carlos Heitor Cony, então diretor-editor explicou na edição de 20 anos: “Foi a primeira tentativa editorial, no Brasil, de tentar o mercado masculino, ou seja, uma revista dirigida a esse público meio enigmático”. Inspirada na alemã Jasmin, buscava oferecer conselhos no relacionamento da vida a dois, homem e mulher, marido e esposa. A primeira edição esgotou 350 mil exemplares em três dias. Em pleno AI-5, dois diretores da revista foram levados para prestar esclarecimentos aos militares, com alegação de que textos sugeririam que as esposas tinham direito a sentir prazer sexual. Não se publicava nenhum tipo de nu e as edições passavam previamente por censores. A coisa ficou brava mesmo na edição número cinco, que contou com 164 páginas – mais suplementos, e um dicionário de educação sexual. Cony levou bronca de um juiz e a edição foi recolhida das bancas. Bem, a ordem de recolhimento chegou tarde, já que 435 mil exemplares haviam sido vendidos em dois dias. “Era proibido escrever ‘transar’ e ‘sexo’”, ironizou Cony, completando: “Estas palavras parece que excitavam perigosamente os militares, os juízes de menores e as forças vivas da nacionalidade”. Entrevistas com Luís Fernando Veríssimo, Nelson Rodrigues, Darcy Ribeiro e Joel Silveira, somadas ao arquivo fotográfico da Bloch, destacam a marca deixada até o ano 2000 pela publicação, quando a editora chegou ao fim (a revista continuou em circulação por outras mãos, sem tanta qualidade no conteúdo, por pelo menos mais nove anos). Playboy nasceu intitulada WA Revista do Homem em agosto de 1975, nome que manteve por 35 edições, quando então pôde assumir a denominação matriz, impedida anteriormente pelo então ministro da Justiça Armando Falcão. Em grande reportagem na edição de 35 anos (agosto de 2010), Playboy mostrou fotos, adesivos, relatórios, testemunhos e táticas, descrevendo: “O Brasil vivia sob o regime militar instalado em 31 de março de 1964, que, especialmente entre os anos de 1969 e 1980, manteve a imprensa sob censura prévia”. Antes de ser impressas e distribuídas, as publicações tinham
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Itajaí, agosto de 2013
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Nudez Infantil Além da nudez em capas de publicações segmentadas aos homens, cujo conteúdo é sexual, revistas informativas também trouxeram ao longo do tempo a nudez infantil. Realidade, Manchete, Pais & Filhos e Veja são algumas delas. No artigo “Infância, ciência e
desenvolvimento: representações sociais na Revista Pais & Filhos”, os autores Cristiane Queiroz de Souza Assunção, Raquel Martins de Assis e Regina Helena de Freitas Campos explicam que isso aconteceu com maior frequência até o final da década de 1970, ilustrando “a perspectiva da infância como objeto natural a ser desvendado pela revista”, onde a nudez carrega uma metáfora de ‘conhecer’ e ‘descobrir’. Instituído em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) apresenta uma série de artigos sobre a exposição de imagem infantil que pode vir a caracterizar pedo-
filia. Isso tem feito com que a imprensa evite imagens de crianças sem roupa, mesmo que não sejam direcionadas a sexo explícito ou pornografia, diante das diferenças de interpretação. Jonas Garcia vai além: “Acredito que o que rege a temática é a época. Nos anos 1980 e 1990 tudo era bonito, tudo podia. Um grande exemplo são essas capas com as crianças. Que maldade há nisso? Nenhuma! São crianças, brincando. Mas aposto que se fosse hoje em dia várias pessoas se sentiriam ofendidas. Hoje, o que vale é o ‘politicamente correto’ que é extrema-
Pessoa l
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por mais discreto que pareça, envolve o sexo, demonstra o sexo. E o pornográfico creio que seja aquela coisa em que o foco não é a modelo, mas sim o seu sexo, o seu órgão, sem sensualidade e uma nudez mais escrachada”.
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que ter o conteúdo aprovado por um censor. A conduta restringia peitos e nádegas e vetava mamilos e pelos pubianos: “Tudo em defesa da segurança nacional contra um suposto plano de invasão comunista que planejaria solapar as instituições brasileiras por meio de revistas críticas”, ou, resumindo: “Para a ditadura, as mulheres peladas estavam a serviço de Moscou”. Juca Kfouri, diretor da publicação em julho de 1994, definiu-a assim para a revista Imprensa: “Playboy é uma revista de mulher pelada. Não há o que esconder. Fazemos uma revista para homens que têm fantasias”. “Nunca tive problema com nudez, nem por vergonha ou tabu. Sempre fui vaidosa com o corpo, mas sem exageros. Gosto de me cuidar por puro bem estar, muito mais do que vaidade”, revela a DJ Neoum, capa de Premium, braço da Sexy, hoje a maior concorrente de Playboy. “Faria novamente. Acredito que minha maior motivação tenha sido eternizar um momento. A paixão pela arte da fotografia, unida à beleza estética e à qualidade da produção, foram determinantes”. No contraponto, Neoum diz que críticas não chegaram a ela de modo direto, mas situações de preconceito e machismo aconteceram. “Eu não me importei, e não vou me importar jamais. Infelizmente existe esse preconceito, que pra mim não interfere em nada. Amo ter feito esse trabalho, e quanto mais tempo passa, mais gosto. Imagino daqui vinte anos como vou adorar revê-lo. Se despir é muito mais do que sensualizar. Estar nua é se despir de preconceitos, e até da própria beleza”, conclui. Para o jornalista Jonas Garcia, editor do jornal paulista Gazeta do Interior, existe uma linha muito tênue entre o que é erótico, sensual e sexual. “Nudez é o simples fato de estar sem roupa. O que vem depois disso são as variantes, a forma que essa nudez acontece. Acredito que o sensual seja aquela história de instigar, fazer o expectador querer ver mais do que esta vendo, como se fosse um jogo de sedução, uma forma do olhar, por exemplo. O sexual seria aquilo que
mente chato e serve como uma censura para a mídia brasileira”.
Homens pelados Revistas com nudez masculina tentaram ganhar mercado, mas esbarraram na baixa vendagem e em um público alvo tímido. Rose, Sui Generis, Bananaloca, Alone, Homens são alguns títulos que se direcionaram aos homossexuais. A história mais bem sucedida foi da G Magazine, “que tem apelo erótico bem explícito”, descreveu Veja. A lista dos peladões da publicação soma vários famosos, batendo, em meados dos anos 2000, 110 mil exemplares vendidos por mês, informou a Folha de São Paulo. Atualmente, G Magazine tem problemas de circulação. Sua primeira edição em 1997 saiu apostando em modelos com pênis ereto. A ausência dessas imagens teria sido o motivo do insucesso de Íntima & Pessoal, lançada em 1999, com fotos de homens pelados direcionadas ao público feminino. A publicação durou pouco. As mais recentes tentativas do ramo vieram apostando na fotografia sensual e nos modelos profissionais, vistos em A Capa, Junior, Aimé, H Magazine e DOM.
Realidade pornográfica
Durante a produção desta reportagem, foram mostradas a alguns profissionais capas de revistas contendo nudez. Sobre a imagem da Veja, publicada em 2010, o advogado Delvair Magalhães argumenta: “O sentido dela me parece ser de trazer informações e a nudez não coloca a criança em situação de vulnerabilidade, exposição e tom pejorativo. A imagem, do jeito que está, não faz a identificação completa do rosto. Aliado a isso, certamente houve acompanhamento de órgãos protetores da criança e adolescente com intuito de evitar exageros”. Sobre a revista Pais & Filhos, de 1970, o advogado preferiu não comentar, por desconhecer a legislação que vigorava na época.
Cobaia
Famosa pela qualidade de suas reportagens com aprofundamento, a revista Realidade teve 120 edições entre 1966 e 1976. Os três primeiros anos foram seu auge. Contudo, acreditar que ela é velharia é estar desatualizado, até porque em 1999 e 2004 foram lançadas edições retrospectivas e em 2010 a edição número 10, de janeiro de 1967, foi reeditada. É esta mesma que, em edição especial sobre a mulher brasileira, foi chamada de pornográfica por moralistas, devido a uma fotografia em preto e branco, em tamanho 10,5x14cm entre as páginas 72 e 73, feita durante um parto. De cerca de 400 mil exemplares impressos menos da metade circulou. Foram confiscados pela polícia. Entre as acusações, por conter reportagens obscenas.
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Saúde
É (mesmo) proibido fumar A batalha entre quem fuma e quem não suporta o cigarro se mantém apesar da legislação restritiva Daniel Souza e Rodrigo Ferreira de Melo e Silva
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ocê pode não gostar, mas eles existem. No trabalho, na família ou na faculdade, sempre vai haver um fumante. E eles batem o pé pelo espaço que, reduzido, ainda lhes é teoricamente de direito. Décadas atrás era permitido fumar em ônibus, em aviões, elevadores, restaurantes e muitos lugares fechados. Hoje isso só é permitido em locais pré-definidos e delimitados a céu aberto. A saúde do próximo e o fantasma do “fumante passivo” faz com que as regras sejam necessárias. Existe o fumante dito consciente, que procura um lugar afastado para saciar seu vício, e o descarado, que acende um mata-rato sem se preocupar com quem está em volta. Assim como também existe o consumidor de bebida alcoólica que não dirige quando bebe e o irresponsável, que causa transtornos, acidentes e eventualmente ocorrências mais graves. Filósofos modernos afirmam que se jogarmos fora todas as
drogas existentes no mundo, o ser humano vai buscar outra maneira de fugir da realidade. A questão, aliás, é antiga. Muitos vícios têm origens culturais, outros não são tão maléficos como pinta a imprensa e alguns, de fato, são um perigo para a sociedade e podem ser fatais, tanto para quem usa como para quem tiver a infelicidade de se envolver em algum caso onde eles sejam protagonistas. Todos conhecem os malefícios do cigarro, mas se o livre-arbítrio e a sociedade ainda permitem o consumo, a fumaça expirada pelos usuários vai continuar no ar. Na virada do milênio, o cenário era outro. Maços e carteiras eram vendidos na cantina da faculdade. Era permitido fumar dentro dos blocos e muitos professores não tinham pudor para se juntar aos acadêmicos fumantes. Hoje, a “geração Drauzio Varella” conseguiu mudar alguns hábitos. Se coletarmos todos os alunos que cursam Jornalismo,
Nick Koudis
Cigarro é um dos males com que a sociedade moderna convive
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Banco de Imagens
Décadas atrás era permitido fumar em ônibus, em aviões, elevadores, restaurantes e outros lugares fechados
modalidade historicamente ligada ao cigarro, teremos menos de 5% de fumantes na Univali. Nem o tradicional café tem vez nessa nova safra. Existem mais católicos fanáticos que fumantes entre os matriculados em um curso naturalmente ligado ao stress. Por mais que a nova realidade possa parecer animadora, na verdade, não é. Os jovens fumam pouco, mas entre eles o consumo de bebidas é preocupante se comparado a outros tempos. A médica Eliana Borges reforça a campanha pela saúde ressaltando o número de substâncias tóxicas que cada carteira de cigarro traz consigo. “A melhor tática é a educação: educar sobre os malefícios e sobre os perigos que ele representa. Até os 14 anos o cérebro da criança não está totalmente formado e quando se inicia o fumo antes desta idade ela terá dificuldade de aprendizado e concentração”. “Essa situação causa um desconforto geral, incomoda os não fumantes. Eu fumo por prazer, não me preocupo com a saúde como deveria, mas tento diminuir o ritmo”, revela Denner Junkes Cardoso, de 20 anos, estudante de Publicidade & Propaganda. Do mesmo curso, Laura Seccon, de 17, reforça o discurso. “Nunca me preocupei com saúde, talvez por não ter nenhum problema sério, mas acho que irei me preocupar futuramente. Fumo em média um maço por dia, talvez 10 por semana e não me incomodo com a falta de espaço, acho que quem mais se importa é quem não fuma”. O jornalista Adriano de Camargo Assis, de 24 anos, convive rotineiramente com fumantes, mas abomina o cheiro de fumaça. “Todos os tipos de fumo me incomodam, não consigo respirar perto e acho o hábito pouco higiênico. Já me ofereceram, mas eu nego. Meu padrinho e minha sogra fumam. É impossível não ter contato com fumantes”. Fato é que o cigarro é um dos males com que a sociedade moderna convive. Em tempos antigos, o cigarro era sinônimo de glamour e hoje basicamente causa repulsa em quem não é adepto ao vício. Com respeito de ambas as partes, talvez seja possível manter a relação tolerável. Como já dizia o slogan de uma das marcas: “Cada um na sua”, desde que o direito de um não interfira no direito do outro. Banco de Imagens
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Esporte
Não há tempo ruim para o surf catarina Amantes do esporte caem nas águas geladas e desafiam os limites do corpo em busca de ondas Letícia Dias, Pricilla Tiane Vargas e Raquel Cruz
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Não ia conseguir entrar no mar sem ela. As partes que a roupa não cobre, sofrem. Não consigo fechar a mão, perco completamente a sensibilidade dos dedos”, fala e mostra os membros já avermelhados antes mesmo de entrar na água. Enquanto faz carinho na prancha e espalha a parafina, permanece de casaco. Um de malha, outro de lã e, por cima, uma japona. Mesmo assim, treme de frio. Quem o assiste parece duvidar que ele realmente tenha coragem de cair na água. Puro engano! Rodrigo termina de vestir a roupa emborrachada, que antes só lhe cobria até a cintura, pega a prancha e se dirige em direção à passarela de acesso à praia. Ao longo da areia, é possível vê-lo, além de outros surfistas, no ritual de alongamentos. Em poucos minutos, lá vão eles, correm para o mar. O vento e a água gelada que espantam a maioria dos banhistas não são barreiras para quem surfa. “As ondas são maiores no inverno, levei dois caldos já, o mar é mais agitado”, descreve Conrado Feltz, de 22 anos. Para ele, não há estação melhor pra prática do esporte, já que o vento Sul atinge de cheio o litoral da região. Morador de Navegantes, faz o caminho até a orla pedalando, o que lhe serve de aquecimento. Chega fazendo desenhos na areia com os pneus. Encosta a bicicleta ao alcance dos olhos e também corre para onde as ondas quebram. Da orla, só se veem pontos escuros dentro da água. O vai-e-vem da maré revela quase cem deles e, há todo momento, mais gente se une ao grupo. Os amigos Rafael Henrique Laus, de 31 anos, e Jonathan Kreuz Berlitz, de 28 anos, conhecido como Cotonete, vêm de Balneário Camboriú e São José dos Cedros, só para surfar. “Nós fazemos parte de uma comunidade, uma espécie de tribo”,
Letícia Dias
faixa de areia se estende por doze quilômetros. Os grãos têm um tom de amarelo queimado. Molhados, grudentos, ásperos. A restinga, que mal cobre as dunas, divide o oceano da povoação. O vento forte em direção sudeste corta a pele e agita o mar. A garoa fina e gelada embaça as lentes da câmera fotográfica. Dias assim são comuns no inverno catarinense e, no litoral da foz do Rio Itajaí-Açu, não é diferente. O dia começa nublado na praia do Pontal, em Navegantes. Nem sinal de sol no céu, somente a cor cinza do horizonte se mescla com o azul escuro da água. Em agosto, a temperatura segue baixa, frio histórico em Santa Catarina. “É sinistro, cruel! A cabeça chega a queimar do frio na hora de entrar na água. É o mês mais frio do ano para surfar”, conta Rodrigo Pedro Dias, de 33 anos. Ele é um das centenas de surfistas que se arriscam no frio intenso em busca de ondas. Neste inverno, em especial, dividiu espaço na água com um pinguim, sob 0˚C. O rapaz alto, moreno, de cabelos e olhos escuros, não desfaz o sorriso largo nem sob risco de hipotermia. “Sempre fui muito apegado à natureza, trilhas e escaladas. Geralmente o pessoal aprende a surfar e depois começa a ter consciência ecológica. Comigo foi ao contrário, eu sempre fui apaixonado pela natureza e o surf só fez com que esse amor crescesse”, conta ele, que surfa desde os 17 anos. No verão, chega a ficar dentro d’água do amanhecer até o pôr-do-sol. Já no inverno, não aguenta mais do que 5 horas. O que atrapalha, conta Rodrigo, é que os movimentos ficam restritos dentro da roupa de borracha usada por surfistas e mergulhadores. “Apesar de ficar engessado por causa da roupa, o investimento vale a pena.
Antes e depois do surf, Rodrigo não dispensa o alongamento
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diz Rafael. Para Jonathan, uma das vantagens de se praticar o esporte nessa época do ano é o número reduzido de pessoas circulando na praia. Os surfistas dominam o espaço. O local de encontro da dupla é o Pontal, embora morem perto de outras praias catarinenses. “Em Navegantes, a condição do mar é melhor para o surfe”, completa Rafael. Ficar exposto por tempo prolongado às baixas temperaturas pode até despertar adrenalina nessa turma, mas tem outras consequências que o corpo sente. Os sintomas da hipotermia são uma delas e começam a ser percebidos antes mesmo de se entrar na água. Pés e mãos ficam endurecidos, mudam de cor por causa da baixa circulação e adormecem. O risco aumenta, explica o médico Plínio Augusto Freitas Silveira, depois de algumas horas sob frio intenso, mesmo que os termômetros não estejam marcando menos de 0˚C. Sensações que aparecem aos poucos e nem sempre são levadas a sério. “Começa a ter descontrole dos movimentos dos membros, dificuldade de respirar, redução da frequência de batimentos cardíacos e perda dos sentidos” – decisivo para quem está dentro da água. Em casos assim, orienta Silveira, é importante estar acompanhado no mar, para receber ajuda. O surfista sozinho, nem sempre consegue reagir. A mesma prática adotada pelos nadadores nas competições pode ser aplicada: massagem nos pés e nas mãos estimula a circulação do sangue e é uma atitude de emergência que pode ser feita mesmo na beira da praia. O designer Darcio Schutz, de 48 anos, surfa desde os 18 anos e diz que, com exceção do frio, surfar no inverno só tem vantagens. Mais ondas, menos banhistas e menor concorrência na fila por ondas. Para ele, o cenário bem diferente do verão faz valer a pena pular cedo da cama em um dia frio e correr para a praia. “Antes de surfar sempre faço alongamento, e no inverno, uso a long john (roupa adaptada)”, conta ele, mas não basta estar vestido, a roupa tem que estar em bom estado a ponto de vedar o corpo para evitar o contato direto com a água fria. Além dos cuidados, ele acredita só ter uma receita para quem mora no Sul do Brasil e quer aderir ao esporte nas quatro estações: “É preciso força de vontade”.
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Raquel Cruz
Rodrigo fica agasalhado enquanto cuida da prancha Raquel Cruz
Por uma questão de segurança, surfar no frio exige companhia
Dicas para não cortar o barato de quem surfa*: 1. Use a roupa adequada para o esporte, ela serve como isolante térmico e protege do frio os principais órgãos; 2. Preste atenção nas respostas do corpo e procure se aquecer imediatamente quando os sintomas da hipotermia aparecerem; 3. Nunca vá surfar sozinho sob frio intenso, além de ter o prazer da companhia, um ajuda o outro em casos de emergência; 4. Se permanecer na praia depois do surf, procure se aquecer, fazer uma fogueira; 5. Consumir bebida alcoólica para espantar o frio é mito. Bebidas doces e quentes, pelo contrário, ajudam a repor as energias; 6. Considere levar um termômetro na mochila. *Sugeridas aos surfistas pelo médico Plínio Silveira.
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Educação
Encontro de Relações Internacionais em SC Estudantes da Univali venceram disputa contra UFRJ e Balneário Camboriú vai sediar o XIX Eneri Carla Poli e Maria Isabel Debatin
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maior evento de relações internacionais em território latino-americano vai se realizar em Balneário Camboriú. Embora esteja programado para junho de 2014, ele já começou a ser preparado pelos centros acadêmicos e a coordenação do curso de Relações Internacionais da Univali. Cerca de duas mil pessoas são esperadas. Com isso, Balneário Camboriú vai ganhar visibilidade. Comércio e rede hoteleira terão movimento extra durante a baixa temporada, já que o evento será na primeira semana de junho. O XIX Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais (Eneri) “tem como propósito reunir acadêmicos para que haja um intercâmbio de informações referentes a assuntos ligados ao curso, oferecer palestras de profissionais renomados e também discutir as relações internacionais no âmbito público e privado”, explica a secretária-geral da comissão organizadora, Paula Costim. O projeto para o Eneri 2014 começou a ser elaborado em janeiro de 2013 e foi finalizado em março para apresentação à comissão avaliadora da Federação Nacional dos Estudantes de Relações Internacionais (Feneri). Após ser aprovado na primeira etapa, em Curitiba, foi aprimorado em alguns pontos e em abril foi novamente apresentado, dessa vez em São Paulo, na 18ª edição do evento, quando recebeu aprovação unânime. Estavam em votação dois projetos dos Conselhos Institucionais dos Estudantes de Relações Internacionais (Cieri) de duas universidades, Univali (Uni-
Divulgação
Comissão organizadora do XIX Eneri está preparando ações como limpeza de praia e doação de sangue para ampliar o encontro
versidade do Vale do Itajaí) e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Após o resultado, foram criadas nove comissões, dentre elas, administrativa, logística, marketing, relações públicas. São aproximadamente 30 acadêmicos na organização, do 1º ao 8º período, além de egressos, professores e coordenação. De acordo com a coordenadora administrativa, Leísa Jaboinski, não é comum um evento desse porte vir para Balneário Camboriú. “Queremos priorizar
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a qualidade acadêmica, envolver mais os participantes e também trabalhar o lado social”, explica Leísa. Para isso, toda a comissão está criando ações como limpeza de praias e doação de sangue, além da programação padrão de palestras durante o dia, visitas ao porto e também workshops com especialistas da área. Além de receber profissionais renomados, o Eneri também oferece oportunidade para apresentação de trabalhos acadêmicos incentivando os alunos que veem isso como um auxílio ao longo de sua formação Divulgação
Apresentação do projeto que foi aprovado em São Paulo
Mais conhecimento
Esquerda para direita: Pedro Francez, Paula Costim, Guilherme Fasolin, Mariah Alves e Ana Balbinot
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A acadêmica Caroline Rezendo Vas, de São Paulo, afirma estar ansiosa para a 19ª edição do evento: “O Eneri 2014 terá um setor acadêmico muito enriquecedor, além de propor que o aluno não seja apenas um ouvinte”. Ela, que conhece Balneário Camboriú apenas por fotos e relatos de amigos, acredita que esta será uma das melhores edições. A secretária-geral, Paula Costim, ainda ressalta que a elaboração do evento, desde o seu projeto, abriu um leque de informações para cada um dos participantes da comissão: “Nós tivemos que entender de tudo um pouco, e isso é muito bom para o nosso currículo”. Além disso, “o Eneri oferece a oportunidade de expandir os conhecimentos e agregar perspectivas relevantes de âmbito acadêmico profissional”. A partir de outubro começa a divulgação dos palestrantes e workshops em sites e mídias sociais, e em janeiro de 2014 se iniciam as vendas dos pacotes para os interessados. O evento se realiza entre os dias 4 e 7 de junho, período em que os olhos de diplomatas e acadêmicos de Relações Internacionais estarão voltados para Balneário Camboriú. Itajaí, agosto de 2013
Tecnologia
Mídia digital disputa atenção com os livros Mesmo com a internet acessível, os impressos continuam sendo a fonte de conhecimento mais confiável Ana Claudia Dutra e Cynthia Badlhuk
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para uso doméstico ou corporativo. São 85 milhões de máquinas em uso no país, que facilitam o acesso às informações. Esse avanço tecnológico incentivou muitas bibliotecas a criarem seu acervo digital, exemplo disso é a Biblioteca Virtual do Sibiun (Sistema de Bibliotecas da Univali), disponível no site da Instituição. É composta com uma seleção de links, sites, portais, home pages com conteúdo científico ou acadêmico e mais de 40 mil artigos e monografias, voltados aos cursos oferecidos pela universidade. A aluna da UFMG, Gabriela Pinheiro Souto, questiona a afirmação de que conteúdos online vão substituir os livros. Em sua tese “A influência da internet nos hábitos de leitura do adolescente”, ela afirma que o livro ainda continua sendo o meio mais econômico, adaptável às circunstâncias, fácil de transportar e simples para pesquisa e leitura. Ao contrário do que muita gente pensa, a tecnologia não afastou os jovens dos livros. Alexander Leber, bibliotecário da Univali e trabalhando no ramo há mais de uma década, afirma que nos últimos anos a procura por livros aumentou. “A internet veio para facilitar e através dela as pessoas vêm se aprofundar nos livros”, garante. É por esse motivo que a universidade reconhece a importância dos livros na for-
Livros e internet se complementam na hora da pesquisa
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Ana Claudia Dutra
Pesquisas apontam que aproximadamente quatro de nove brasileiros têm um computador
Ana Claudia Dutra
celular toca. A mão preguiçosa se estica e alcança o aparelho que está em cima do criado mudo. São 5h40min, começa mais um dia de trabalho. Os olhos abrem e fecham constantemente, até que se tenha força para deixá-los completamente abertos. Robert Alves de Jesus, de 21 anos, desliga o despertador e antes mesmo de levantar da cama, zapeia por suas redes sociais usando o smartphone. O cotidiano de Robert, assim como de outros jovens, está sempre atrelado a equipamentos que facilitam o uso da internet. Acadêmico de Design Programação Visual na Univille, e empregado na área, sempre busca referências online que lhe ajudam na construção de marcas e conceitos. Para ele, os conteúdos na web muitas vezes facilitam seu entendimento e estão em uma linguagem acessível. Mas destaca que os livros são sua fonte mais confiável e que recorre com frequência a eles, para complemento de suas pesquisas. A tecnologia levou as pessoas a complementar suas pesquisas com conteúdo da internet. Conforme estudo do Mercado Brasileiro de Tecnologia de Informação (TI), divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), aproximadamente quatro de nove brasileiros têm um computador
A Biblioteca da Univali recebe em média dois mil usuários por dia e dispõe de mais de 400 mil exemplares
mação acadêmica e investe no seu acervo físico, conhecido como Biblioteca Central Comunitária da Univali. O local recebe em média duas mil pessoas por dia e tem disponíveis mais de 400 mil exemplares de livros, periódicos, literatura cinzenta e multimeios. Esse amplo serviço começa pela indicação de livros recomendados pelos professores, propostas que visam suprir as necessidades acadêmicas. Os Cobaia
bibliotecários contam com a cooperação do aluno para a conservação do acervo, visando aumentar a vida útil das obras. O principal diferencial entre os livros e as informações da internet é que os primeiros costumam passar por um conselho editorial que revisa e organiza o conteúdo, caracterizando-os como mais confiáveis. André Vailati, professor de Publicidade e Propaganda
na Univali, afirma que a internet é uma terra sem lei onde qualquer um pode postar informações. Ele procura incentivar em seus alunos o hábito da leitura e destaca ainda que o livro não fica sem bateria. Na mochila do Robert o impresso continuará ocupando espaço, afinal, para ele ainda não existe uma tecnologia que possa substituir totalmente o conforto da leitura em um livro.
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Comunidades
Ciranda de cultura valoriza identidade Em Bombinhas, tarde cultural emociona o público, revive a tradição e recupera a memória coletiva Márcia Cristina Ferreira
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tarde anuncia uma trovoada daquelas. Mas as pessoas chegam sorridentes. Do outro lado da rua, o mar arrebenta na praia de Morrinhos, forte, cobrando seu espaço. Dentro da Casa de Cultura Piana do Crivo há uma profusão de cores espalhados em casacos pesados, cachecóis e gorros, deixando o local mais bonito e aquecendo do vento frio. Ali dentro, não dá para sentir o cheiro da maresia, mas sim uma combinação exótica de frutais, amadeirados e cítricos misturados à canela, chocolate e molho de cachorro quente que vem da cozinha. De repente, uma cortina imaginária separando palco e público é descerrada e, com um pouco de atraso, começa a tarde cultural. A 3ª Ciranda Cultural de Bombinhas é uma mostra das atividades realizadas no projeto Oficinas Culturais, que a Fundação Municipal de Cultura oferece no contraturno escolar. A mostra deste ano, em agosto, incluiu um espetáculo envolvendo dança, música, teatro e exposição de artes manuais apresentado por alunos e professores. O ponto máximo foi a peça teatral dramatizando a pesca artesanal e retratando a mulher dentro desse contexto. Carla Carboni, o professor Eri Cavalcanti e Natália Biti tocaram música brasileira de qualidade e capricharam na percussão Caique Lessa
Coral de Libras O local ficou pequeno para as cerca de 300 pessoas que prestigiaram a exibição. Na plateia, Laurinho, Lauro Silvério da Silva, de 62 anos, pescador e maricultor, olhava tudo sem pestanejar: “Foi fantástico. Parecia coisa de cidade grande”, afirmou na tribuna da Câmara, ele que também é vereador. Tambores soaram sob a regência do professor Eri Cavalcanti, com o grupo de percussão tocando ritmos brasileiros. O tempo parou. A escuridão do céu permaneceu anunciando a chuva, mas o tempo reprogramou sua ampulheta e deu uma trégua de quatro horas. Em seguida vieram coreografias exibidas pelo grupo da Fundação Municipal de Cultura, o trio WW Dance e um solo de Patrick Cancelier. E logo depois o Coral de Libras “Mãos que Cantam”, um dos raros corais de Libras do Brasil, apresentou duas canções. Ele é composto por 25 crianças de 4 a 12 anos, e nenhuma portadora de deficiência auditiva.
O grupo de dança da FMC apresenta a coreografia “Só Você”
Caique Lessa
Momento das orações no espetáculo “ A pesca da tainha ”
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Caique Lessa
A benzedeira ao som do violino da professora Vanessa Pschidt Cobaia
O cerco das tainhas No início da noite, as luzes amarelas do palco acentuavam os painéis pintados à mão, fixados nas paredes do cenário, feitos pelos alunos da professora Preta. Aos poucos, 70 artistas de todas as oficinas oferecidas na FMC pisaram o palco. Tainhas de espuma fixadas na rede de pesca, no chão, brilhavam e criavam a ilusão de estarem pulando, como fosse no mar. As mulheres, meninas, moças e até algumas senhoras octogenárias, cada uma com sua saia colorida, bailavam representando mulher, filha e mãe de pescador. Quando a benzedeira entrou em cena com seu ramo de ervas nas mãos, as cabeças baixaram e respeitosamente receberam a reza, relembrando um antigo costume do litoral catarinense. Ao fim das apresentações, uma plateia calorosa aplaudiu os artistas. “Foi lindo, um momento muito especial. Dá vontade de fazer uma por mês”, confessa a presidente da Fundação Cultural, Nívea Maria da Silva Bücker. Dona Salete Maria Pinheiro, aos 67 anos, no palco irradiava um sorriso enorme. “Errei um bocado, a única coisa que eu tinha que fazer era segurar a rede, mas não fiz (risos). Foi lindo.” Itajaí, agosto de 2013
Cultura
Balneário Camboriú ganha novos rumos Depois de quase meio século, artistas locais comemoram primeiras conquistas Bianca Escrich e Bruna Froehner
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Falar de cultura em Balneário Camboriú faz muitos se questionarem: Existem artistas na cidade? Em Balneário tem apresentações de teatro? São perguntas que não espantam, visto que o município não é conhecido pelas suas representações artísticas e sim pelos seus atrativos naturais, vida noturna, gastronomia, fatores que impulsionam o turismo. Mas a cidade tem artistas, sim. E essa afirmação vem das vozes mais variadas que vivem e trabalham na cidade. Seja Teatro, Dança, Música, Artes Plásticas, maneiras de expressar o talento e a arte é que não faltam. Pela ótica dos artistas de teatro de Balneário Camboriú, a cultura está caminhando. Para Júlio Batschauer, ator e diretor que trabalha há 17 anos na cidade, o município passa por um momento de transformação. “Nos últimos três meses, Balneário evoluiu mais do que em dez anos.” Na avaliação dele, a entrada de Anderson Beluzzo e Guilhermina Stuker, respectivamente Presidente e Diretora de Artes da Fundação Cultural da cidade, ajudou muito para que o cenário cultural evoluísse. Júlio destaca também a importância dos artistas na cobrança por melhorias no setor, defasado pela falta de incentivo público. Questões políticas interferiram na decisão do prefeito Edson Renato Dias (PMDB),
Bianca Escrich
Após anos de espera, Teatro Municipal de Balneário Camboriú deve ser inaugurado ainda neste ano
que no mês de agosto exonerou o presidente da Fundação Cultural, Anderson Beluzzo, e a Diretora de Artes Guilhermina Stuker, únicos representantes do Partido dos Trabalhadores (PT) na gestão atual. Na ocasião, os exonerados disseram ter ficado surpresos com a decisão. Anderson Beluzzo e
Bianca Escrich
Guilhermina Stuker, diretora de artes da Fundação Cultural de BC
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Guilhermina Stuker deixaram o PT e se articularam com o prefeito para reaver os cargos. “Na verdade, fomos nós que o procuramos para uma conversa a respeito da questão cultural de Balneário Camboriú, que merece toda a nossa atenção. Quando assumimos o cargo na Fundação Cultural, a frase de um escritor norteou nosso trabalho até aqui. Ele disse que estar à frente da cultura não se tratava de um desafio, mas sim um privilégio. E foi desta forma que encaramos o trabalho, por meio do diálogo com artistas locais,” comenta Guilhermina. Nos três primeiros meses em que estiveram à frente da Fundação Cultural, Anderson e Guilhermina trabalharam para que a Lei de Incentivo à Cultura fosse desengavetada e assinada durante a 2ª Conferência de Cultura, que reuniu 255 pessoas. A dupla também conseguiu um feito inédito durante a Conferência: o secretário de Relações Institucionais do Ministério da Cultura, Marcelo Pedroso, assinou a habilitação de Balneário Camboriú no Sistema Nacional de Cultura (SNC). Em julho deste ano foi publicado o primeiro edital da Lei de Incentivo à Cultura (LIC). Aprovada desde 2011, a LIC só agora se concretizou. O
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compasso de espera também se reflete nas obras do tão esperado Teatro Municipal, que ainda não foi inaugurado e já precisa de reparos nas instalações. A obra é polêmica: além dos constantes atrasos na entrega, o local possui apenas cerca de 300 lugares e não há vagas para estacionamento. “Estamos cansados de esperar, estamos desacreditados com datas de inauguração. Este é nosso grande anseio, sabemos que tendo um teatro teremos mais arte sendo apreciada. Cresceremos consistentemente na área cultural. Que venha logo o nosso Teatro”, desabafa Potyra Najara, Presidente da Câmara Setorial de Teatro e atriz. Apesar das críticas quanto
à obra do teatro, o ator e diretor Luciano Estevão vê com otimismo o momento que a cidade está vivendo: “Nós temos uma Lei de Incentivo à Cultura que vai proporcionar a nós artistas inscrevermos nossos projetos, além de uma Fundação Cultural preocupada com os artistas, facilitando e estreitando os laços com o poder público, e um Conselho de Cultura atuante.” Mas Luciano acredita que ainda há muito que melhorar. “A obra do teatro já virou uma novela, o projeto começou errado e acho que ainda vai levar alguns meses para ser inaugurado.” Luciano destaca também que o teatro é pequeno, mas que deve comportar a produção local. Divulgação FCBC
Mais de 200 pessoas reunidas na 2ª Conferência de Cultura
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Cultura
Os paradoxos da leitura no Brasil Pesquisa com dados do Ibope aponta que o número de não-leitores aumentou 5% em quatro anos Lucas Paraizo e Stefânia Enderle
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Fonte: Ibope Inteligência/Fundação Pró-Livro
ra edição eram 55% leitores para 45% de não-leitores, em 2011 a média empatou em 50% para ambos. Curiosamente, a única região do país que apresentou um aumento no número de leitores de 2007 para 2011, foi o Nordeste. “O que ajuda a explicar a atual posição do Nordeste frente às demais regiões é o grande número de pessoas estudando atualmente, sobretudo nas faixas etárias onde a leitura é considerada mais frequente – dos 5 aos 17 anos, período escolar”, explicam os realizadores da pesquisa. Nas regiões Sul e Sudeste, as pessoas leem mais livros completos e que não foram indicados pela escola, por exemplo.
Leitores Não - leitores
Motivação extra Para o leitor André Oliveira, 24 anos, esse hábito foi construído cedo dentro de casa. “Quando eu era criança, tive influência dos meus pais pra criar esse costume. Acho que parte importante disso foram eles terem me apresentado livros interessantes desde o início, criando assim um gosto especial e uma motivação extra”, conta o morador de Itajaí. Quando indagado sobre a influência da escola na sua formação como leitor, André destaca a dificuldade dos professores em incentivar os alunos a lerem mais. “No colégio foi exatamente o
Cumprimento de Alvarás está deixando copos vazios
Sem incomodar os vizinhos
Banco de Imagens
ocê anda na rua e vê pessoas com um livro debaixo do braço? Ao sentar em um ponto para esperar o ônibus, puxa da bolsa um exemplar, começa a ler, e, talvez, vê outras pessoas no local repetindo o ato? As respostas para cada uma dessas perguntas podem variar bastante entre cada pessoa, afinal, em um país de extremos como o Brasil, é difícil quantificar se a leitura está presente ou não no cotidiano. Costuma-se dizer que o brasileiro não lê, que falta o hábito e a cultura da leitura entre as novas e velhas gerações, mas a realidade pode confrontar essa afirmação: uma rede social voltada aos livros, completamente brasileira, é uma das que mais cresce no país, e há pouco tempo criou sua própria livraria online; em várias cidades é possível perceber o renascimento do interesse pelos sebos; e, provavelmente, você vai encontrar alguém com um livro na mão na rua hoje. No entanto, pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro, com dados do Ibope e intitulada “Retratos da Leitura no Brasil”, mostra uma queda na maioria dos índices de leitura. Considerando como leitor aquele que leu nos últimos três meses ao menos um livro inteiro ou em partes, a pesquisa mostrou que o número de não-leitores aumentou de 2007 para 2011. Enquanto na primei-
De acordo com a pesquisa do Instituto Pró-Livro, entre o público leitor a maioria são mulheres
O interesse pelos sebos tem aumentado em várias cidades
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contrário. Meus professores sempre indicavam livros não muito condizentes com a idade ou com os interesses dos alunos, leituras maçantes e entediantes”. Hoje, André conta que lê cerca de três livros por mês. Segundo a pesquisa do grupo Livrarias Curitiba (que integra também a Livraria Catarinense), as vendas de livros cresceram 22% de 2011 para 2012, e entre os títulos com o maior aumento estão os de literatura infanto-juvenil. Para Ayaça Castro, ex-funcionária de uma livraria em Balneário Camboriú, é difícil Cobaia
tentar estabelecer um público fiel como responsável pelo aumento das vendas. “Não tem um padrão de público definido que vai na livraria, principalmente hoje que a maioria das livrarias não vendem somente livros, mas também artigos eletrônicos, jogos, filmes, etc”, comenta a jovem de 25 anos. A diversificação dos artigos oferecidos em livrarias também é apontada pela pesquisa do grupo curitibano como um dos fatores do crescimento; além da maior saída de livros, os produtos tecnológicos vendidos na livraria aumentaram em mais
de 50% em 2012. No entanto, Ayaça ressalta que é possível perceber a diferença de público entre gêneros literários. Há sempre uma vísivel preferência de determinados públicos pelos setores de poesia, ou clássicos, romances e até quadrinhos. “Não sei se existe uma área que vende mais. Literatura estrangeira vende muito, romance também, o público feminino vai em peso, mas, em geral, o pessoal gosta mesmo de novidades, então a primeira coisa é ir pra sessão dos mais vendidos”, completa. Itajaí, agosto de 2013