Cobaia #152 | 2017

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Foto: Carolina Copello/Heifara Nascimento

A rotina de quem vive no Complexo Penitenciário da Canhanduba e no Presídio Regional Feminino de Itajaí

Itajaí, Junho de 2017 | Edição 152 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Especial

Cidadania

Olhares Múltiplos mobiliza cursos de Comunicação, Turismo e Lazer em Itajaí, Balneário e Florianópolis

Falta de fiscalização deixa calçadas de Itajaí em estado crítico, dificultando a passagem dos moradores

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Editorial O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgaram no início deste mês os dados do Atlas da Violência 2017. O estudo foi feito com base no número de homicídios de 2015 nas cidades com mais de 100 mil habitantes e mostra que metade dos crimes acontece em 2% dos municípios do país. A cidade de Altamira, no Pará, lidera o ranking das cidades mais violentas. Entre as cidades mais pacíficas, duas catarinenses estão no topo e mostram o contraste da violência em nossa região. Jaraguá do Sul e Brusque estão em primeiro e segundo lugar da lista respectivamente. Elas apresentam os menores índices de homicídios do país por 100

EXPEDIENTE

mil habitantes. Neste ranking, o estado de Santa Catarina ocupa o segundo lugar, perde apenas para o estado de São Paulo. Enquanto a cidade vizinha Brusque está no topo da tabela, Itajaí e Balneário Camboriú apresentam números de assassinatos considerados endêmicos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A cidade portuária possui uma das piores taxas do Estado, atrás somente de Joinville, Chapecó e Criciúma. No ano passado, 43 pessoas foram mortas na cidade. Em Balneário Camboriú, foram 15 homicídios para 128 mil habitantes. Os dados mostram que apesar da pouca distância que separam os municípios, há um verdadeiro abismo nas questões de segurança entre estas cidades. É preciso

fazer umas análise profunda dos dados para entender que cada local possui realidades distintas, mas eles servem como um alerta para que as instituições revejam as políticas de combate ao crime. Além dos dados preocupantes de algumas cidades de nossa região, o estudo mostra que as mortes entre os jovens cresceram 17,2% entre 2005 e 2015. Mais de 318 mil foram assassinados nestes 10 anos. Os principais alvos de homicídios são os negros. A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Os números completos podem ser acessados no portal do Ipea na Internet. Os dados assustam e mostram que ainda estamos bem distantes de nos tornarmos um país minimamente seguro.

Agência Integrada de Comunicação

Opinião

UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí

Atacama, além do deserto A sensação de tocar a neve pela primeira vez foi, além de congelante, encantadora. Eu não conseguia acreditar que estava na região que abriga o deserto mais árido do mundo e mesmo assim tocava a neve. A natureza é uma obra tão misteriosa! Em seus contrastes, é musa dos olhos, hipnotiza, seduz, apaixona. Ela é imensidão de descobertas, que junto de dois mexicanos e outros dois brasileiros, desbravei. Durante dois dias, nos aventuramos nos solos às vezes desérticos, às vezes congelados de San Pedro do Atacama. O caminho até chegarmos ao destino final foi uma amostra do que nos esperava. Ao longo do percurso, paramos para fotografar enormes cata-vento e, também, a Cordilheira de Sal. Era tudo tão novo e surpreendente que os olhos nem piscavam, estavam fixos, admirando as imensas montanhas cobertas por minúsculos cristais brancos. Naquele instante, eu sabia que apesar da viagem ter apenas começado, aquela seria uma das melhores experiências da minha vida. Ver e sentir um mundo novo se expandindo é renovador, pois quando estamos diante de um sonho tornando-se realidade, tudo é possível.

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS COMUNICAÇÃO, TURISMO E LAZER Diretor: Renato Büchele Rodrigues

Sinceramente, eu nunca imaginei ver de perto as paisagens que apreciei. Contemplar os gêiseres em El Tatio, expelindo água e cobrindo o ambiente com a sua fumaça cinza e espessa, juntamente com a composição formada pela Cordilheira dos Andes ao fundo e o deserto ao redor foi de encher os olhos. Até mesmo o frio de menos sete graus era amenizado ao viver cada instante daquela aventura. Aventura que não terminava nem nos caminhos que nos levavam de um lugar para o outro. Caminhos de vegetação verde tímida crescendo em meio ao deserto, caminhos que eram interrompidos por lhamas desfilando pela estrada. Caminhos de tons e formas que enfeitiçavam os olhos. Caminhos que transformaram duas horas em quase quatro horas de viagem, pois a cada nova composição que observávamos, estacionávamos o carro, saíamos e íamos contemplar a natureza. Acredito que este foi o dia mais longo da minha vida, um dia em que experimentei sensações tão diferentes uma da outra que foi até difícil de acreditar que tudo aquilo realmente estava acontecendo. Senti um frio de congelar pela manhã, mas durante a

tarde, passeando pelo Vale da Morte e o Vale da Lua, senti um calor que parecia queimar a pele. Caminhei dentro de uma caverna por vinte minutos, vi o pôr-do-sol mais lindo que meus olhos já apreciaram, vivi cada instante de maneira plena, apenas aproveitando a imensidão que me rodeava. Conhecer tantos lugares de belezas naturais exuberantes foi engrandecedor. Mas, passear pelo povoado de San Pedro do Atacama me fez sentir parte daquilo que eu estava admirando. Observar os turistas misturados ao povo local, as pequenas construções de lojas, restaurantes e o mercado com várias tendas de artesanato que contavam um pouco mais a história daquele lugar foi mais um de meus aprendizados. Perceber que nós também transformamos, assim como a natureza, tudo o que norteia o que vivemos é fascinante. No final, a natureza e nós somos sujeitos complementares, nós estamos aqui para descobrir tudo o que ela tem para nos oferecer, mas também para oferecer tudo o que somos. Juny Hugen 5º período de Jornalismo

Tiragem: 1 mil exemplares Distribuição Nacional Projeto Gráfico: Vinicius Batista Gustavo Zonta Diagramação: Tatiane Decker

Todas as edições do Jornal Cobaia estão disponíveis online. Acesse: issuu.com/cobaia! Você tem alguma sugestão para fazer, ou alguma matéria que gostaria de ver cobaia@univali.br

Mostra artística

Tainha Dourada

Mostra “Mulheres” do Grupo de Artistas Plásticos de Balneário Camboriú (GAP) estão em exibição na Biblioteca da Univali, Campus Balneário Camboriú. A exposição que permanecerá até dia 07 de Julho reúne pinturas e desenhos com a temática mulher. A entrada é gratuita e a mostra conta com obras de oito artistas.

Nos dias 06 e 07 de Julho acontece o Festival de Cinema Tainha Dourada, no campus de Itajaí. O evento realizado pelo curso de Produção Audiovisual tem como objetivo realizar mostra competitiva de curta-metragens universitários e promover palestras, oficinas e workshops na área de Cinema e Audiovisual.

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Edição: Gustavo Paulo Zonta Reg. Prof. Mtb/SC 3428 JP

publicada? Conte com a gente!

Agenda

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CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Rua Uruguai, 458 - Bloco C3 Sala 306 | Centro, Itajaí - SC - CEP: 88302-202 Coordenador: Carlos Roberto Praxedes

Siga-nos no Facebook: FACEBOOK.COM/JORNALCOBAIA


Foto: Carolina Copello/Heifara Nascimento

Antes de começar, peço que você, caro leitor, se dispa de qualquer e todo julgamento e preconceito que possa atrapalhar e desviar você de um objetivo maior no fim

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ESPECIAL Carolina Copello e Heifara Nascimento

4º período de Jornalismo

Canhanduba Era um dia nublado, que já caracterizava um ambiente pesado. A primeira portaria não nos pediu nada, apenas passamos normalmente com o carro. Na segunda, revistaram o porta malas do carro e pediram nossos documentos. Ao contrário do que se imagina, entramos em uma pequena área com lagoas artificiais onde viviam peixes. Havia uma pontezinha de madeira e canteiros com flores que cercavam o lugar feito de cimento. Pode parecer estranho falar que as coisas são feitas de cimento, mas isso fica tão evidente dentro da penitenciária quando se torna a única coisa que se pode ver. Este lugar mais humano era onde ficavam os agentes penitenciários. Refeitórios, salas de descanso, banheiros, cozinha… Tudo dentro de um único espaço que mais parecia uma casa. Seguimos. Uma sala branca tinha uma máquina enorme para identificação de objetos dentro de bolsas ou alimentos. E ao lado, um senhor recolhia nossos pertences. Entramos apenas com a roupa do corpo. Lá dentro, o prédio era enorme, os barulhos de grades abrindo e fechando eram constantes. Em um corredor enorme, passamos por umas três grades até chegarmos às galerias, é como eles chamam o conjunto de celas. É estranho dizer, mas em Itajaí temos um complexo modelo de penitenciária. Então é melhor guardar aquela ideia de lugar sujo, escuro e inóspito! Repito, dispa-se do seu estereótipo de cadeia. Subimos uma escada que ficava em uma espécie de gaiola, e que nos levou para um andar onde conseguimos ver toda a penitenciária sem ter contato com nenhum ambiente. As celas ficavam abaixo dos nossos pés que caminhavam em cima de grades e possibilitavam ver todos os acessos às celas. As fábricas eram visíveis por mais de um ângulo, conforme passávamos éramos observados da mesma forma como observávamos. A penitenciária é um local com poucos ambientes. Apenas o necessário. Nossa segunda visita possibilitou uma intimidade maior com o local, levamos câmeras, tripés e celulares para realizar entrevistas e fotos.

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Fotos: Carolina Copello/Heifara Nascimento


Fotos: Carolina Copello/Heifara Nascimento

Matadouro Ao lado de um enorme portão, havia um pequeno furo (era tudo, menos uma janela) onde nos identificamos. Ao entrarmos e sermos encaminhadas para a sala de revista, demos de cara com um simpático guarda que, apesar do horário (7h30), foi extremamente agradável e simpático. Estávamos em um local totalmente diferente. Ouvimos inúmeras vezes antes de ir que nós veríamos um local pior, uma estrutura arcaica e precária. Não foi diferente, infelizmente. O Presídio Regional Feminino é o mais antigo de Itajaí e antes abrigava presos do sexo feminino e masculino. Atualmente, abriga todas as presas de Itajaí e região, e ainda homens que foram presos por não pagarem pensão. Após revistarem nosso material, entramos em um grande pátio onde circulavam presos executando funções diferentes. A remissão é um assunto bem interessante, mas que vamos abordar depois. Logo que entramos, fizemos a primeira entrevista com um agente penitenciário há muitos anos no sistema, Carlos. O que fez nos ambientarmos mais rápido. Em um pequeno “tour”, era possível ver que o local separava as galerias, mas que o funcionamento era diferente. As presas tinham acesso ao pátio durante todo o dia, entre 8h30 até 18h, diferentemente da Canhanduba, onde o banho de sol dura duas horas por dia.

A área destinada aos agentes era simples, não passava de sofás e um pequeno refeitório. Mas isso não tirava o bom humor do turno que pegamos. As piadas e sorrisos eram frequentes, era uma sintonia incrível que conseguia expulsar a energia pesada que o ambiente trazia embutida. Visitamos a cozinha, a fábrica de costura e o berçário, que nos trouxe um sentimento forte de ser mãe e estar presa. Dentro do presídio, após o nascimento do bebê, a mãe pode ficar com a criança durante 12 meses. Depois, ela pode ser encaminhada ao pai, à família ou à adoção, conforme a vontade da mãe. C. N. tem 24 anos e é acusada de homicídio. Casada, tem uma filha de 4 anos que também nasceu dentro do presídio. O bebê que estava com ela no momento da entrevista já tinha 9 meses, e era visível no olhar da mãe a dor de saber que em pouco tempo não teria mais a criança em seus braços. A ala do berçário conta com uma estrutura que visa o bem-estar do bebê. Lá dentro, é impossível reconhecer o local como uma cela. Os papéis de parede com bichinhos e os enxovais transformam o lugar para não assustar as crianças. A reforma foi feita ainda há pouco e lá dentro as presas possuem um banheiro, uma cozinha e um pequeno pátio onde lavam e estendem as roupinhas dos bebês.

Elas, internas Cabelos curtos, mãos cansadas, rosto limpo e muita história para contar - para querer contar. Vítimas de si mesmas ou das circunstâncias onde viviam, as internas da Penitenciária Feminina de Itajaí tem uma característica em comum: todas são muito educadas. Sim. Aliás, nunca entrei em nenhum outro lugar no qual fossem tanto. Nem mesmo em um hospital ou em uma escola. Entre olhares desconfiados e curiosos, conversei com Samara*. Seu olhar trazia culpa, ressentimento, raiva de si mesma. Sua ficha trazia por volta de 60 anos de confinamento, culpada por mais de 100 assaltos à mão armada. Um passado do qual ela parou de se orgulhar quando um assaltante bateu na porta de seu pai. Samara*

era calma, conformada e ao mesmo tempo transbordava insatisfação consigo. Por seu bom comportamento dentro da penitenciária, teve possibilidade de trabalhar. “Quando eu sair daqui, nunca mais irei a um zoológico”, desabafa Samara*. Dona de cabelos curtos e um topete bem feito, ela conta como se sente um animal ao estar ali. Não por estar trancada, mas pelos olhares que recebe. O olhar do repúdio. O olhar de quem se acha superior. O olhar de quem não a conhece. - Você tinha problemas familiares? “Não.” - Como era sua estrutura familiar? “Boa.” - Com quantos anos você saiu de casa? “Assim que pude.” - Por quê? “Pelo simples fato de querer. E quis errado.

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ESPECIAL Fiz escolhas erradas, me envolvi com pessoas erradas.” Erros. Desde que nascemos aprendemos que somos feitos deles. Afinal, a humanidade necessita sentir na pele, por mais que ainda assim, repita o erro. O que precisa ser levado em conta? O arrependimento? O cumprimento da pena? Nessa visita, aprendemos que todos somos exceções. Todos somos exceções. Alguns reféns da sociedade, outros vítimas de um sistema falho, outros inocentes, dependentes, necessitados. Dentro daquele ambiente cinza, há mais sonhos que grades. E há muitas grades. Para cada direção que seu olhar foque, você observa metais formando barreiras para o ser humano não fugir. Nessa hora, vem na cabeça o questionamento que não é raro aparecer: faz sentido? A uma grade de distância, Vanessa falava sobre seu filho, que teve ali mesmo dentro da penitenciária. Homicídio era seu crime, acusada de matar a melhor amiga, por dinheiro.

Fotos: Carolina Copello/Heifara Nascimento

Nela, senti a maldade. Por mais que tivesse os cabelos lisos, o rosto calmo, a voz mansa, expressões coerentes, nela, eu senti. Por mais que - involuntariamente - exerçamos o ato de julgar, o que há dentro das cadeias é muito paralelo ao que estamos acostumados a acreditar. Eu não acreditava em ressocialização antes de entrar no convívio de quem paga pelo que cometeu, hoje, eu acredito. Não pelo governo, não pelo sistema, não pela sociedade. Acredito por quem está lá. E esse é o câncer: em hipótese nenhuma depende exclusivamente dele. Uma pessoa dependente precisa de tratamento. Uma pessoa sem estruturas, precisa de amparo. Uma pessoa sem recursos, precisa de oportunidades. Como ressocializar alguém que nunca foi socializado?

*nome fictício.

Os agentes São poucos que escolhem de verdade ser agente penitenciário. Mas, talvez, o número de pessoas que não conhecem a profissão é muito maior. Ser agente deve ser um grande conflito pessoal e uma linha tênue entre fazer sua função e ser humano. Por trás de cada um deles, uma incrível história que os torna frágeis e ao mesmo uma rocha. Ser agente não é ser polícia. É ser ouvinte, rigoroso, cobrado e julgado sem poder julgar. Poderíamos trocar as palavras “agente carcerário” por “médico” no texto a seguir, e caberia muito bem. “São oito da manhã e várias pessoas sentadas em um refeitório tomam café para aguentar um turno de 24 horas. Elas comentam casos e o que planejam fazer nas próximas horas. Nenhuma delas acha que coisas ruins vão acontecer, mas todos estão preparados para que a qualquer momento sejam chamados. E vão. Sem pensar, eles estão carregando gente para lá e para cá. Ouvindo histórias que a sua mente, no momento mais criativo dela, não conseguiria pensar.

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E o dia passa, um chama daqui, outro de lá. E toda vez que precisam mover alguém para fora de lá, parece um evento. A lista de procedimentos é longa, mas o sorriso também. E eles continuam a esperar que aquele seja mais um dia tranquilo, comum. Vão e voltam. Mais um café e já está na hora do almoço. E lá, ninguém almoça junto. Sorte sua se encontrar um colega legal para conversar na hora da refeição. Ou azar, vai que aquele cara chato senta do teu lado só para reclamar? Parece que o plantão ganha mais umas 4 horas. Chega gente, sai gente. Olha, é complicado, viu?! É que na verdade, ninguém queria estar lá. Já pensou se a tua profissão dependesse da complicação na vida de outra pessoa? Eu sei que estou te enchendo de perguntas, mas são boas reflexões. Enfim, vamos a mais um café. Às vezes, de tarde, tem bolo. Mas não é sempre, lá tem uma nutricionista que regra tudo, até porque se depender deles, ninguém come bem nessa correria diária. E quando tudo para, e não tem nada para fazer (é raro)

a cabeça começa a trabalhar. O psicológico, que nem sempre é forte, dá um nó no cérebro. Você olha para toda aquela gente e nunca sabe o que pensar, é tanta situação. Mas eles dizem que o melhor mesmo é não se envolver, é tratar conforme as regras, e deu. O dia anoitece, mas eles ainda estão lá, porque o plantão ainda não acabou. Se ficar calmo, eles se dividem, tem uns quartinhos de descanso, dormem uma, duas horas no máximo. Tomam café, sentam, conversam. E a noite, ela é sempre mais silenciosa mesmo, por isso que o cuidado é redobrado. A gente nunca sabe quando é que vai acontecer algo, não é mesmo? Mas quando o sol nasce, você toma um último café, olha para trás e agradece que nesse turno nada de diferente aconteceu. E vai dormir, porque depois da folga tem mais.

P.s.: Se o telefone tocar, não importa quando e onde, se os colegas precisam de ajuda, eles estarão sempre lá. “


Foto: Mateus Souza

Foto: Bianca Alves

Foto: Gabriel Fidelis

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ESPECIAL

Rally Mongol: documentário de uma aventura Jefferson Carvalho e Pricila Velasky Estudantes de Jornalismo

Uma viagem de 15 mil quilômetros da Inglaterra à Mongólia, atravessando áreas desertas em um carro antigo e sem conforto. A história dessa aventura de Raphael Erichsen, 25 anos, foi contada, com detalhes, no Auditório de Farmácia na Univali de Itajaí, na manhã do dia 6 de junho no Olhares Múltiplos 2017. Após receber o convite de um amigo em 2013, Erichsen pegou a estrada rumo ao país asiático, numa atividade da competição do Rally Mongol. Durante a viagem, perdeu-se próximo ao Afeganistão, entrou em contato com a organização para saber o caminho correto, e foi informado de

Foto: Sabrina Klan

que não havia um. Sem pres- írem da zona de conforto e sa para chegar, pois ganhava conhecerem melhor nosso quem demorasse mais, podia, mundo. então, observar ainda mais as Seus trabalhos são sempre características de envolvidos com cada região peralguma causa e corrida. Vestincom o intuito de do fantasias das causar impacto mais variadas, “a nas pessoas. Ele ideia é ser uma busca sempre celebração da esnão abrir mão “Um dia, tupidez”, comendessa busca, de tou Raphael. se reinventar, um rali A aventura de buscar cada também foi redia mais, novos cruzou latada em um retrajetos e coality show, mas nhecimento. Dunão como Ra- minha vida.” rante a palestra, phael desejava, ele mostrou um de forma apropouco de seus fundada. Por filmes, como, isso, escreveu o por exemplo, livro “Tudo Errado”, lançado Radical – Controversa Saga em março deste ano, onde de Dadá Figueiredo (2014), conta essa trajetória a partir Ilegal – A Vida Não Espera, e de sua visão e expõe vários A Cara do Mundo (que será aprendizados. Ele incentiva lançado no segundo semestre as pessoas para também sa- de 2017). Foto: Divulgação do evento

Flash Speedlight Pedro H. Homrich Estudantes de Jornalismo

A oficina de Flash Speedlite levou conhecimento aos participantes sobre este equipamento tão importante na fotografia, o flash. Ministrada pelo professor Eduardo Gomes, cerca de 15 alunos puderam aprender técnicas e macetes sobre a manipulação de luz através deste dispositivo. Segundo o professor, “muitas pessoas não têm o costume de utilizar o flash, porém quando sabemos usar, ele só nos ajuda”. Iniciou a oficina mostrando a diferença entre marcas e modelos, e quais os tipos essenciais para cada máquina, bem como dicas primordiais para a utilização. Ensinou a respeito do número-guia, que mede a potência do flash; reconhecimento de zoom, que a maioria dos equipamentos possui

para automatizar a disposição de luz; iluminação do assunto principal na foto e iluminação de fundo; incrementos de ponto, que regulam a potência de luz emitida, entre outros. Os participantes, que trouxeram suas câmeras pessoais, puderam experimentar estas técnicas na hora. Lucca Lima, 20 anos, acadêmico de Design de Jogos e Entretenimento Digital, conta que se inscreveu nesta oficina pela curiosidade que sentiu pelo tema. “Por gostar muito de fotografia, espero que estas técnicas possam contribuir para meu maior conhecimento”. Logo após as dicas passadas no Estúdio Branco, os alunos saíram à campo para experimentar na prática todas estas técnicas. Camila Barth apontou os principais erros e

acertos na hora de botar em pratica as ideias, utilizando como exemplo propagandas publicitarias e trabalhos de artistas da área de design, ressaltando a técnica de seis chapéus em que cada cor de um chapéu, no total seis, representaria um passo a ser seguido percorrendo o pensamento lógico, positivo, negativo, criativo, racional e pensamento das emoções e sentimentos. Em resumo, um passo a passo da elaboração de uma ideia. A oficina teve como desfecho uma atividade prática em que os alunos trabalharam em grupo na tarefa de criar uma nova imagem em cima de propagandas de doação de sangue através da ferramenta criativa dos seis chapéus.

Desenvolvimento e criatividade Laura Testoni e Fernanda M. Scherer Estudantes de Jornalismo

Com a finalidade de planejar ideias inovadoras , a oficina Desenvolvimento a Criativi-

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dade realizada pela professora mestre em Design Camila Barth Paiva apresentou novas técnicas para organizar e realizar ideias durante a segunda tarde do evento Olhares Multiplos, em Itajaí. Segundo a professora todos são criativos, no entanto

poucos tem coragem de arriscar e sabem utilizar as ferramentas para despertar essa criatividade. Camila Barth apontou os principais erros e acertos na hora de colocar em pratica as ideas, utilizando como exemplo propagandas publicitarias e

trabalhos de artistas da área de design, ressaltando a técnica de seis chapéus em que cada cor de um chapéu, no total seis, representaria um passo a ser seguido percorrendo o pensamento lógico, positivo, negativo, criativo, racional e pensamento das emo-

ções e sentimentos. A oficina teve como desfecho uma atividade prática em que os alunos trabalharam em grupo na tarefa de criar uma nova imagem em cima de propagandas de doação de sangue através da ferramenta criativa dos seis chapéus.


Foto: André Pinheiro

Informação: melhor amiga do jornalismo Fernando Rhenius Estudantes de Jornalismo

Como criar conteúdo midiático de qualidade em um mundo cada vez mais conectado? Este foi o desafio apresentado por João Carlos Veloso, durante a palestra Comunicação na BMW. A preleção foi uma das muitas atividades da edição 2017 do Olhares Múltiplos, evento que foi realizado entre os dias 06 e 07 de junho nos campi da UNIVALI, incentivando o fortalecimento da economia criativa, com palestras, painéis e workshops. Todos os cursos do Ceciesa-CTL - Centro de Ciências Sociais Aplicadas - Comunicação, Turismo e Lazer da UNIVALI participaram. À frente do departamento de comunicação da BMW no Brasil, João Carlos possui 20 anos de experiência no jornalismo, sendo 16 somente no setor automotivo. Um dos maiores desafios hoje no jornalismo é a criação de conteúdo com qualidade e principalmente respeitando as novas demandas dos leitores, cada vez mais ávidos por informação. “Trabalhar com comunicação, é trabalhar com credibilidade. O acesso a informação está mudando, notícias por WhatsApp, por exemplo, estão ganhando mais espaço. O Compromisso do jornalista é com a verdade e com o leitor”, enfatiza. Hoje a BMW possui departamento na Alemanha, dedicado exclusivamente à produção de conteúdo para todos os tipos de plataforma, não somente a trinca jornal-tv-rádio. Sendo o Brasil um dos mercados mais promissores para a montadora, o modo como se vende e consome informação é diferente do encontrado na Europa e Estados Unidos. De acordo com pesquisa realizada pela Secretaria de CoFoto: Gabriel Fidelis

municação Social da Presidência (Secom), 75% da população não tem o hábito de ler jornais impressos e 85% não lêem revistas. Em contrapartida, o Brasil é o terceiro país do mundo com a maior média de usuários conectados na internet, segundo pesquisa promovida pela Ericsson Consumer Lab. O tempo médio por pessoa, utilizando a internet por meio de computadores, tablets e celulares é em média 6 horas por dia. O país tem 123 milhões de brasileiros conectados. Tal comportamento passa a ser um desafio para quem faz jornalismo e produz conteúdo. “Na Europa e EUA o acesso à informação é feito mais pelo computador (desktop) PC do que o celular como no Brasil, este é o desafio na produção de conteúdo”. A disseminação de conteúdo, muitas vezes sem qualquer credibilidade e embasamento, é o principal entrave para quem trabalha e consome notícias. “A lealdade do jornalista é com a notícia, não com algum amigo ou empresa”. Além do fake news, matérias e editoriais pagos, acabam botando em cheques meios de comunicação, que acabam dando mais espaço para a publicidade do que informação. “Credibilidade está escapando dos meios de comunicação, por conta das notícias pagas, editoriais pagos. O leitor acaba não sabendo diferenciar o que é notícia e o que é publicidade”. Estas mudanças acabaram potencializando a ação de micro influenciadores, que por meio das redes sociais, blogs e sites, disseminam de forma positiva e negativa, opiniões sobre temas ou produtos. “Muitas vezes trabalhos a mídia tradicional, e esquecemos que em pequenos grupos, existem sim influenciadores que detém uma opinião, uma persuasão muito maior do que jornais e TVs. Hoje quando se planeja a compra de um produto, se dá mais ouvidos para um amigo, grupo de facebook do que a um material oficial. É preciso acompanhar e monitorar, casos de influência negativa, evitando assim prejuízos à marca”, analisa João. Além do conhecimento adquirido na faculdade, uma segunda língua, cursos de especialização e até a criação de blogs para praticar a escrita são válidos. João salienta que a principal motivo para escolher determinada empresa é a compatibilidade de valores. “Procure uma empresa que tenha os mesmos valores que os seus para trabalhar. Seria complicado trabalhar em um ambiente que não esteja de acordo com seus ideias e pensamentos. ”

Uma nova forma de narrar o feminismo Bruna Mayra e Pricila Velaski Estudantes de Jornalismo

Em uma era digital surge um portal de informações coordenado por mulheres que tratam de assuntos em sua maioria envolvendo o feminismo. Uma das idealizadoras do projeto é Clarissa Peixoto, 33 anos, jornalista e editora do portal Catarinas. O nome já remete a algo feminino, Catarina abreviação do Estado de Santa Catarina, que é o único estado brasileiro com nome feminino. Ao todo são 12 colunistas de toda parte do Brasil, 5 jornalistas idealizadoras e uma que atua na edição de vídeo. Clarissa apresentou o Portal em uma Palestra realizada

no dia 7 de junho na Univali como ferramenta de mudança - Campus Itajaí no estúdio de e integração com movimenTV do bloco C2. O envolvi- to social e coletivo. Segundo mento dos alunos Clarissa, o essene professores cial é a informapresentes com a ção, pensar além palestrante reda pauta para sultou em muiencontrar uma tas perguntas ao perspectiva. final da palestra. “Nem santas, “Nem sanA palestra era tas, nem bruxas, uma das tantas nem bruxas. somos muitas”, oferecidas pelo esse é o lema evento Olhares das Catarinas. O Somos Múltiplos aos esprojeto possui tudantes do Cenuma Associação muitas” tro de ciências e está presensociais comunite no Facebook, cação turismo Twitter, Instae lazer (CECIEgram, Youtube e SA) da Univali. possuem podcast O Catarinas trabalha com no SoundCloud. Para contato curadoria de informação, pro- e envio de matérias, entrar dução de conteúdo e observa- em contato com: portalcataritório de mídia. Visa a cultura nas@gmail.com

A luta por uma tela mais brasileira Jefferson Carvalho Estudantes de Jornalismo

Qual é o Brasil exibido pelo cinema? Muitas críticas são feitas em relação à realidade distorcida do país em várias obras cinematográficas onde locais turísticos são extremamente enaltecidos e alguns costumes repetidos na tela várias vezes para criar estereótipos do nosso povo. A Ex-aluna de Audio-

visual, Fabiana Mansur, veio até a Univali no último dia do Olhares Múltiplos para questionar justamente as grandes produções e comentar as alternativas oferecidas através da produção independente. Fabiana começou sua fala contando a história do cinema nacional e os impactos sofridos por ele devido às intervenções de países desenvolvidos, além da opressão durante a ditadura. Entre suas citações, o filme de Nelson

Pereira “Rio, 40 graus”, primeira obra a mostrar a realidade do povo brasileiro e não da burguesia. Além do enfoque em mostrar o outro lado de nosso país, ela comenta que o final do século XX foi marcado pela luta dos artistas para trazerem uma cultura realmente brasileira. Em tom de descontentamento, a jovem palestrante relata sentir falta de pesquisas científicas sobre o cinema ou de visões que o tratam como obra de arte. JUNHO | 2017

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Fotos: Fernando Rhenius

CIDADE

Sem calçadas no caminho Fiscalização escassa e desleixo de moradores tornam o ato de andar pelos passeios um desafio em Itajaí Fernando Rhenius 4º período de Jornalismo

“À

s vezes precisamos andar no meio da rua para poder caminhar”. Michel Borba enfrenta regularmente os perigos de caminhar pelas calçadas em Itajaí. Com a precariedade e sucateamento do transporte público, é cada vez maior o uso de carros, motos e bicicletas para um rápido deslocamento. Entre os meios, a calçada é a estrutura mais simples e funcional, que deveria ser, também, um dos ambientes mais seguros para os usuários. De acordo com o levantamento realizado em 1.600 cidades, entre os meses de abril e maio pelo site Mobilize Brasil e Instituto Corrida Amiga, 69,4% das calçadas apresentam alguma irregularidade. A

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falta de rampas de acessibilidade foi apontada pelos usuários como segundo item quase inexistente nos passeios com 12,2%, segundo a pesquisa. A falta de passeios públicos, calçadas que acabam sendo verdadeiras armadilhas para a população, se prolifera. Quando existe a calçada o perigo é qualidade. “Muitas calçadas são escorregadias que dá até medo de passar. Em dia de chuva evito calçadas quando percebo que o piso é muito liso”, explica Michel. Andar pela rua dividindo espaço com carros, ônibus é algo recorrente. Amália Agatha, moradora do bairro Murta, enfrente os mesmos desafios para se deslocar. “As calçadas são estreitas, é difícil para praticar esporte ou chegar em determinado local, pois precisamos desviar pela estrada, ou quando existe, é apenas barro ou está bloqueada por materiais de construção ou entulho”, comenta.

Falta de acessibilidade De acordo com a Lei Municipal Nº 2734 de 29/06/1992, “os proprietários de terrenos, edificados ou não, localizados em logradouros que possuem meio-fio, são obrigados a executar a pavimentação do passeio fronteiro a seus imóveis dentro dos padrões estabelecidos pela Prefeitura, e mantê-los em bom estado de conservação e limpeza”. Na teoria a lei existe, mas no dia a dia a falta de cuidados de proprietários e a fiscalização ineficiente da prefeitura acabam colocando a vida de pessoas com necessidades especiais em risco. “Já aconteceu de eu cair por causa de rampas malfeitas. Também caí por causa de buracos nas calçadas. Normalmente, as rodas dianteiras travam no buraco e a queda é inevitável, por isso, prefiro andar nas ruas, porque as

calçadas são mais perigosas”, comenta Susana Silva, cadeirante desde 2004. Ela enfrenta diariamente os desafios de se locomover pelas ruas de Itajaí. “O maior empecilho é a falta de rampas nas calçadas e rampas fora do padrão de acessibilidade estabelecido por lei. Quando malfeitas, as rampas são um perigo para a mobilidade urbana, pois o cadeirante corre o risco de cair devido à inclinação errada. ” Para João Paulo, diretor de controle urbano da Prefeitura Municipal de Itajaí, a fiscalização existe, porém, é insuficiente. “Estamos atualmente com cinco fiscais para vistoriar todas as ruas do município”, comenta. Mesmo em bom estado, a calçada deve seguir padrões tanto na construção, quanto na acessibilidade com rampas (com grau correto de inclinação) e

piso podotátil, o que auxilia deficientes visuais. A falta de renda é um dos fatores apontados por João Paulo na hora de construção e manutenção dos passeios. “As áreas com maior escassez de calçada são as periféricas. Os moradores dessas áreas acabam não colocando em seus projetos os passeios. Esquecem que a calçada é a primeira parte da sua propriedade”. Ainda segundo o diretor, a prefeitura fornece para os munícipes um guia com todas as especificações e instruções necessárias para a correta construção ou adequação das calçadas. Os loteamentos também acabam não disponibilizando o devido espaço para os futuros moradores. “Muitas vezes preferimos que o dinheiro de uma possível multa, seja empregado na cons-


Fotos: Fernando Rhenius

trução dos passeios, pois entendemos a situação econômica das pessoas que moram nestas áreas”, salienta João. A multa para quem não

estiver com sua calçada em dia é de 1 a 100 UFM (Unidade Fiscal do Município). Cada unidade equivale a R$ 165,01.

Acidentes podem ser cobrados na justiça Os riscos de sofrer um acidente em calçadas irregulares ou sem qualquer condição de uso, são grandes. O cidadão que sofrer alguma lesão ou tiver custos com tratamentos e remédios, pode e deve cobrar do poder municipal, eventuais custos. “Ao contrário dos acidentes envolvendo carros, em que se entra com processos contra o estado e município, poucos sabem que qualquer dano causado por acidentes envolvendo calçadas também podem ser cobrados judicialmente”, explica a advogada Cristina Vivan. “Caso a pessoa tenha sofrido alguma lesão, precisa provar por meio de laudos médicos, fotos e testemunhas que os ferimentos e gastos com remédios foram ocasionados por uma calçada irregular”.

Mesmo com todas as dificuldades, Susana encara seu dia a dia em uma cadeira de rodas com bom humor, comparando a realidade do Brasil com países europeus. “Tive a oportunidade de passar um tempo na Europa, e lá realmente existe acessibilidade. Quando retornei eu quis continuar andando nas calçadas, mas já no meu primeiro dia, com um computador no colo, caí um tombo, porque a roda dianteira encalhou num buraco. Inacreditavelmente consegui salvar o PC, mas o meu joelho ficou esfolado. Eu estava acompanhada da minha irmã. Rimos da experiência trágica porque o que nos resta é ter bom humor diante da dificuldade. ”

Faça valer seus direitos Veja os passos para ser indenizado pelo município caso sofra uma queda em calçadas, passeios públicos, bueiros abertos: • Identifique o local detalhadamente • Tire fotos do local e entorno • Consulte um médico, que deve fornecer um laudo comprovando que as lesões são oriundas da queda • Testemunhas que atestam que o acidente foi no local em questão

A falta de fiscalização coloca em risco a vida de pessoas com deficiências Fotos: Fernando Rhenius

As ruas se tornaram uma opção de passagem melhor do que as calçadas

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GERAL

Truques do destino Karoline Golçalves conversa com acadêmicos de Jornalismo sobre carreira Nathalia Fontana 5º período de Jornalismo

Há quem acredite em destino, missão ou predestinação. Há quem pense que nada disso existe. A relação de Karoline Gonçalves com a arte parece uma dessas coisas que tem que ser, que o mundo gira e o universo se reorganiza só pra acontecer. Símbolo de Itajaí, a Rua Hercílio Luz é lar da história da cidade. Guarda em si a Casa da Cultura Dide Brandão e o Museu Histórico de Itajaí. Guarda também o início da história de Karoline com a arte. Foi ao caminhar por lá com sua mãe que viu um cartaz de divulgação do CBT – Curso Básico de Teatro. O interesse surgiu na hora. Depois de certa insistência com a mãe e revezamentos de caronas planejados, a menina da Itaipava nos seus 13 anos de idade se apaixonou pelos palcos. Karoline é daquelas pessoas que você se delicia de ouvir. De voz doce, seu sotaque peixeiro brinca de puxar o “s” só pra dar ainda mais gosto de escutar, e deixar claras suas raízes. Mas não é apenas a sonori-

dade da fala que faz a gente se encantar pela Karoline. Poucas coisas são tão boas quanto ver que alguém faz o que realmente ama. Seus olhos – que não pude definir se eram verdes ou azuis – não mentem. Brilham ao falar de sua trajetória. Mesmo tendo se emaranhado no mundo das leis e do Vade Mecum e se aventurado pelos palcos, o sonho era claro: ser jornalista. Nem os ventos contrários a impediram de seguir o que queria. E lá foi ela. Ingressou no curso de Comunicação Social, foi pro rádio, pra TV, pro impresso, tudo pra aprender. Até a oportunidade da sua vida chegar por e-mail. Assessora de imprensa da Fundação Cultural de Itajaí. Estava aí sua vaga dos sonhos. Tem tudo a ver comigo! – pensou. Mesmo sem ter se formado, ela arriscou. Vai saber, né? Como diz ela, a gente tem que ser carudo, porque nada vai cair no nosso colo. Batalhou, foi atrás, e conseguiu! Se ela estava preparada? Óbvio que não. Mas não ia deixar essa oportunidade passar. E lá foi ela, viver seu sonho. A junção de suas duas paixões, arte e teatro, agora eram seu dia a dia. Toda a sua bagagem artística e seu contato com esse meio a auxiliou muito. Contatos, em geral, sempre fo-

ram ricos para a sua trajetória. E outras experiências vieram. Foi assessora de imprensa da Secretaria de Educação, onde sentiu a necessidade de uma especialização em comunicação empresarial. Passou por uma agência de comunicação, e viveu a realidade da iniciativa privada, trabalhando com publicidade, marketing e vendas. Mas sabe aquela história de destino? Ele sempre dá o ar da graça. Ainda em meio às clipagens e trabalhos da agência, aqueles vídeos motivacionais falando sobre fazer o que se ama saltaram aos olhos de Karoline. Ao mesmo tempo, vários artistas, conhecidos dos tempos da Fundação Cultural, começaram a procurá-la para realizar trabalhos de assessoria. Foi o chamado à aventura. A oportunidade, o momento e a vontade de empreender se uniram, e juntos fizeram nascer a Subjétil Comunicação e Produção Cultural. É, há coisas das quais não podemos fugir. Mesmo que os caminhos sejam tortuosos, o que a gente ama de verdade, de uma forma ou outra, volta pra gente. Karoline voltou ao mundo das artes, só que agora seu papel é outro. Deixa os palcos para os artistas - é neles que a mágica acontece.

Karoline usa as ferramentas de comunicação para fazer outros truques, como lotar a plateia do Teatro Municipal e, como se não bastasse,

fazê-la aplaudir espetáculos de pé. Transforma, sensibiliza, faz sentir. Tornar a gente mais humano é uma mágica e tanto. Foto: Nathalia Fontana

Karoline acentua sua paixão pela área cultural

Preço justo e qualidade Viação Praiana teve reajuste de 0,40 centavos em sua tarifa no mês de Maio Foto: Nicole do Prado

Matheus das Neves Nicolle Izabele do Prado Estudantes de Jornalismo

A tarifa da Viação Praiana ficou mais cara. O reajuste, de R$ 0,40, foi anunciado pela empresa em seu portal online e frota em 18 de Dezembro de 2016. A mudança no custo da passagem foi realizada em conjunto com o Departamento de Transportes e Terminais (DETER) e passou a ser R$ 4,00. De acordo com a empresa, o motivo dessa correção tarifária é a inflação e o encarecimento de materiais necessários para a operação. Os passageiros da companhia esboçam suas opiniões de diversas maneiras. Na página da Praiana no Facebook, onde a empresa possui 1,8 de 5 estrelas

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nas avaliações, há vários depoimentos dos usuários sobre o serviço prestado pela mesma, em um deles diz: “O preço aumenta, mas o serviço continua precário.” Nas ruas, o discurso ainda é o mesmo. “Não acho justo. Acho um valor muito elevado.” afirma Patrícia Nunes Rosa, de 30 anos, que completa: “Pra quem trabalha, pegar ônibus e pagar oito reais por dia é muito caro.”. Além disso, o maior questionamento por parte das pessoas que utilizam o serviço diariamente é justamente a qualidade versus o valor cobrado. Renata Souza, de 35 anos, diz que o preço é caro e que diversas melhorias precisam ser tomadas como limpeza, a tabela de horários, o atendimento por parte dos funcionários que às vezes são grosseiros com os passageiros e finaliza: “Acho que tem que ter um limite de passageiro.”

A viação Praiana de transporte coletivo interestadual que atua há 54 anos na região do Vale do Itajaí, se pronunciou sobre o assunto. Rafael Werner Seára, gerente administrativo da companhia, justifica dizendo que a linha não sofreu muitas mudanças, mas a frota em si cresceu com seis novos carros com ar condicionado, e o fato de também estarem testando um monitoramento total da frota para, em breve, informarem a localização dos ônibus em tempo real aos passageiros. Além disso, ele defende o preço como justo em comparação a outros meios de transporte que em seu discurso cita: “ um trajeto de cerca de 15 Km/dia, o usuário de um carro popular gasta em média R$ 27,00; A motocicleta fica com um custo próximo aos R$ 8,00 da passagem de ônibus, ida e volta”.

A empresa justificou o reajuste pela compra de novos carros


EDUCAÇÃO

Jornalismo e diversidade Em palestra no campus Itajaí, Jair Marques conversa com estudantes sobre aspectos da profissão

Silvio Matheus 6º período de Jornalismo

“Nós temos orgulho de sermos sempre oposição ao governo, para a opinião pública”, se gaba, no bom sentido da palavra, Jairo Marques. O sujeito, em sua frase, é o jornal Folha de São Paulo, e é empregado em primeira pessoa do plural pelo fato de que ele mesmo, Jairo, é repórter da Folha desde 1999. O jornalista esteve presente na Univali de Itajaí no último dia 25/05, onde ministrou uma palestra - com clima de bate-papo - sobre diversidade e inclusão. Acompanhado de outros colegas da Folha, Jairo falou de frente para alunos do curso de jornalismo da instituição durante longas e boas três horas. Jairo é um mato-grossense de Três Lagoas, nascido no ano de 1974. Diz ser comunicativo desde criança, logo, o caminho para as comunicações foi natural. Formou-se em Jornalismo pela UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Pós-graduado em Jornalismo Social na PUC-SP, ingressou na Folha logo após a conclusão do curso. Hoje, ele tem uma coluna fixa no diário. Quando falou sobre a posição política da Folha, o repórter já tinha fugido, há tempos, do assunto proposto pela palestra. “Diversidade é um assunto muito natural para vocês, estou vendo. Podemos conversar sobre outras coisas que fujam deste universo”, indicou. E aí o papo passou de dicas sobre a profissão, filosofia, censura até história da carteirada que deu em um Governador do Estado de Santa Catarina durante um trabalho na capital, Florianópolis. Vale a pena conferir alguns tópicos da conversa: O que é notícia? - Abordar o ineditismo, isso é notícia. A gente consegue transformar qualquer espetáculo em informação que valha. Mas precisamos ter cuidado para não somente entregar

Em 2003, o ainda repórter de externas, estava em ‘Floripa’ para cobrir uma feira de tecnologia. Acontece que no Como trabalhar a diversi- meio do evento a energia da Ilha caiu, e só voltou depois dade no jornalismo? de 55 horas. Logo, a pauta, - Não adianta você escrever que levaria aos leitores de sobre um universo que você São Paulo as novidades tecnão conhece sem minima- nológicas do sul do país, caiu mente entrar nesse univer- junto com a luz, e Jairo teve so. É preciso muita calma e que cobrir o apagão histórico um exercício diário de em- da capital catarinense. “Aquipatia, se colocar no lugar do lo era um caos, a luz caiu, os outro. Aceitar as diversida- telefones ficaram mudos, os des como normais, e não as carros morreram. Nós transiexplorar para ganhar clicks. távamos pelas ruas com medo de assaltos, mas rendeu boas Você já sofreu algum tipo matérias”, conta Jairo. Mal sabia ele que poucas de censura? horas depois estaria sendo - A comunicação passa por carregado por dois segurandiversos momentos em que ças do Governador, quinze pode ser manipulada, mas andares abaixo, de um dos diretamente isso é uma len- prédios da Grande Florianóda. É muito raro a mão di- polis. “Teve um momento, reta de alguém em suas ma- durante o blackout, em que a luz voltou. Eu aproveitei esse térias. momento para visitar uma Como está o clima político namoradinha que eu tinha na em São Paulo e como é o cidade. Ela morava no topo de exercício do jornalismo em um prédio, subi de elevador. Assim que eu me preparei épocas como a nossa? para voltar para a rua, a luz - São Paulo vive tensa. As caiu novamente, e lá estava pessoas brigam muito, mas eu, preso no apartamento da acho que isso é no Brasil minha namorada durante um todo, essa sensação de pola- dos maiores apagões do Braridade. Hoje, no táxi, vindo sil”, relata. Foi aí que Jairo deu a cardo aeroporto, inventei de falar mal da ação de desocu- teirada, ligou para a assessoria pação do Dória na Cracolân- do Governador e exigiu ajuda dia, quase apanhei do taxis- para descer as escadas, afita. Mas é muito interessante nal, ele era repórter do maior Jornal Impresso ser jornalista, e do país e estava trabalhar num impedido de traveículo com um balhar por um nome tão forerro do goverte quanto à FoOs capangas lha, em épocas As pessoas no. do Governador, como essa. Nós dois homens fortemos orgulho de sermos sem- brigam muito, tes, carregaram o repórter no colo pre oposição ao mas acho até o térreo. governo, para a Imagine você, opinião pública. que isso é no trabalhando durante um apagão Qual foi a maBrasil todo histórico, se vê téria mais marpreso dentro de cante da sua um apartamencarreira até to no topo de agora? um prédio. Lá embaixo, para - A matéria mais marcante um repórter, você seria uma da minha carreira foi feita boa fonte, surgindo ofegante, em Florianópolis. Numa fei- no hall de entrada, após perra de tecnologia. Na ocasião, correr 15 andares de escada. a cidade sofreu um apagão. Você desceria 15 andares de Eu tive que deixar minha escada. Mas para Jairo é diferedoma protegida para falar rente, não é que ele não quisobre a vida real dos ma- sesse descer os 15 andares de nézinhos da Ilha sofrendo escada, é que ele não podia, nem querendo. com a falta de energia. para o leitor, informação rasa. Devemos trabalhar no que é minimamente agregador.

O Malacabado Folha de S. Paulo

Aos nove meses de idade, o jornalista foi acometido pelo vírus da poliomielite. Em 1975, mais de três mil crianças em todo Brasil o foram. Na idade de aprender a engatinhar, Jairo perdeu os movimentos da cintura para baixo. Hoje ele vive em uma cadeira de rodas. “As pessoas tratam os deficientes de maneira reducionista, quase sempre com pena. Eu sou uma pessoa como qualquer outra, só não posso andar”, defende o repórter. Hoje Jairo escreve, além de tudo que já foi dito, para um Blog da Folha de S. Paulo, o “Assim como você”. No Blog, o cadeirante aborda aspectos da vida de pessoas com deficiência e escreve sobre cidadania. “Aqui você encontra histórias de gente que, apesar de diferenças físicas, sensoriais, intelectuais ou de idade, vive de forma plena”, diz as boas-vindas do site. Jairo fala de forma bastante crítica quando o assunto é a difusão das deficiências pelas mídias: “Hoje nós só vemos exemplos de superação; Fulano reaprendeu a andar, ciclano conseguiu mexer um dedo depois de um tratamento milagroso nos Estados Unidos. Os exemplos se multiplicam de maneira muito forte em grupos organizados, as pessoas começam a voltar sua vida para esses exemplos. Aí está o erro. Nós deveríamos ajudar as pessoas a aceitarem suas deficiências, para viverem plenamente, e não oferecer alternativas impossíveis de recuperação”. Em 2016, Jairo lançou o livro “Malacabado”, pela editora Três Estrelas. Nas páginas que se seguem, o repórter, colunista, blogueiro e escritor ajuda o leitor a entender a realidade das pessoas com deficiência. De forma irreverente, Jairo constrói uma narrativa direta sobre os mal-acabados, os deficientes. Cidadãos com os mesmos direitos, em teoria, que enfrentam muitas dificuldades no dia a dia. Malacabado conta a história de um jornalista sobre rodas. Um crítico de fala ácida, que defende sem pestanejar a integridade de pessoas com deficiência. “Em nós, não falta nada, somos pessoas integras. Nós comemos, nós bebemos, nós transamos. Não estou preso em uma cadeira de rodas. Se estivesse, não estaria aqui, a 900 quilometro de casa”, se gaba, no bom sentido da palavra, Jairo Marques.

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ESPORTE

Slackline em Itapema Saltos, giros e equilíbrio são partes do esporte que vem tendo uma procura cada vez maior na região Thiago Furtado e Andrew Santana 4º período de Jornalismo

O clima e atmosfera de beira de praia da cidade de Itapema, a aproximadamente 70 Km de Florianópolis, são convidativos à prática de esportes ao ar livre. Surfe, corrida e caminhada, futebol e vôlei de praia são comuns nas areias de Meia Praia e na Praia do Centro, as mais movimentadas da cidade. Há algum tempo, no entanto, algumas figuras equilibrando-se sobre “cordas bambas” passaram a integrar esse cenário, chamando a atenção de moradores e turistas. O esporte se estabeleceu por aqui através de um grupo de jovens já adeptos dos esportes em contato com a natureza. Há pouco

Saúde e Aprendizado A prática do esporte, sem dúvidas, traz benefícios para a saúde. Quem vê o jovem Bruno Alves (23), executando giros de 360º e 520º, certamente não imagina que há pouco tempo atrás ele pesava 20 Kg a mais do que os atuais noventa e poucos. Sabendo dos benefícios que a prática do slackline pode render, os amigos estão sem-

Foto: Thiago Furtado

mais de dois anos, surfistas associados à União Boards Interpraias, incorporaram o slackline e a associação passou a se chamar UBIS – União Boards Interpraias Slackline. O grupo geralmente se reúne na praia, onde foram instalados troncos de madeira que servem de apoio para as fitas. A modalidade mais praticada pelo grupo é o trickline, em que o praticante executa manobras sobre a fita. Geovane Helbing (23) é um dos bodyboarders que se encantou com o slackline e, hoje, é um dos membros mais ativos do grupo de Itapema. “Todo fim de semana a gente está aí”, assegura. Praticante há dois anos e meio, Geovane demonstra desenvoltura nas manobras sobre a fita e disposição para saltar por várias horas no fim de tarde de domingo.

Foto: Thiago Furtado

Poder Público pre dispostos a ensinar quem quiser se equilibrar sobre a fita. Além das duas ou três fitas para os praticantes mais avançados, há sempre uma menor e mais próxima do chão, onde qualquer um pode tentar andar. Não são ministradas aulas formais, mas qualquer curioso que chegar será bem vindo e auxiliado pela turma a iniciar o aprendizado do esporte. Foto: Thiago Furtado

No Brasil, esportes menos tradicionais geralmente sofrem com a falta de apoio dos órgãos governamentais. Em Itapema, porém, a mobilização da UBIS já rendeu alguns avanços: a prefeitura auxiliou na instalação dos tocos para amarração das fitas e o esporte está entre os que têm autorização para serem praticados após às 18h durante a temporada de verão, em que as praias da cidade ficam cheias. Depois desse horário, o local em que as fitas são instaladas precisa ser liberado para a prática.

Modalidades - Trickline - Longline - Highline - Waterline - Shortline Bruno perdeu cerca de 20kg depois que passou a se dedicar ao Slackline

Externos Itapema já sediou dois campeonatos de trickline e dois festivais de longline. Em cada um desses eventos participaram cerca de 30 praticantes, vindos

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de várias cidades da região. Segundo Geovane Helbing, mais do que a competição promovida, a intenção é de “interagir com os praticantes de outros

lugares e ajudar a fortalecer o esporte”, afirma. Assim, um esporte até pouco tempo desconhecido passa a se tornar mais visível e con-

quistar mais adeptos. Durante a reportagem, várias crianças se aproximavam para observar os saltos, giros e quedas dos garotos mais velhos e aproveitavam

para ensaiar uma caminhada na fita para iniciantes. Certamente, de agora em diante, sempre haverá uma turma saltando sobre as fitas nas praias de Itapema.


OPINATIVO

Uma batalha épica Feud, série produzida pelo canal FX, mostra a falta de interesse de Hollywood pelas mulheres mais velhas Foto: Divulgação

Mikael Melo 5º período de Jornalismo

uer dizer que poderí“Q amos ter sido amigas desde o início?”. O tom me-

lancólico da pergunta feita por Joan Crawford (Jessica Lange) para Bette Davis (Joan Crawford) na última cena de Feud (FX) não poderia demonstrar melhor a relação das duas atrizes. Diferentemente do apogeu vivido nas décadas de 30 e 40 em ambas as carreiras, Crawford e Davis envelheceram e com a progressão da idade também aumentou a dificuldade em conseguir papéis de destaque no cenário hollywoodiano. É nesse contexto que Ryan Murphy cria a narrativa do primeiro ano do seriado que promete, a cada temporada, contar uma história diferente sobre rivalidades históricas. Para iniciar, a rixa entre Bette e Joan foi a escolhida para receber os holofotes. Todo o entorno das gravações do filme “What Ever Happened to Baby Jane?”

(1962) é o marco histórico da produção, que sintetiza em oito episódios a relação cruel de duas das mais talentosas artistas da história do cinema. Uma tinha o que a outra mais desejava. Bette era a mais talentosa de seu tempo, mas era criticada pela pouca beleza. Joan era a mais linda de sua época, mas tinha o talento subestimado pelos críticos. No roteiro, dessa vez com pouco envolvimento de Murphy, fica claro desde o início que a maior parte da briga antológica veio por influência da mídia. Apesar de tudo ter começado com elas disputando um homem, por incrível que pareça. Toda o embate se agravou quando Crawford se demitiu do estúdio MGM e foi contratada pela Warner, a casa de Davis. Naquela época, as atrizes e atores tinham contrato de exclusividade com os estúdios, e não por obra como acontece hoje em dia. Jessica Lange (68) e Susan Sarandon (70) conseguem transpor para a tela todas as nuances exigidas pelas personagens. Com ajuda do roteiro extremamente coeso, as atrizes não deixam

o maniqueísmo tomar conta co de Baby Jane. Se uma proda história. Nenhuma delas dução estrelada por mulheé totalmente má ou boa, as res acima dos 50 anos fizesse qualidades e defeitos são co- um estrondoso sucesso em locados em jogo, não estabe- 2017 já seria uma surpresa, lecendo ou estereotipando imagina na perspectiva dos uma mocinha ou vilã. O elen- anos 60. Mesmo sendo um co por completo dos maiores sufoi muito bem cessos de 1962 selecionado, toem bilheteria, dos estavam na as carreiras de medida certa, Bette e Joan não mas as duas ginem As mulheres passaram gantes engoliperto do estreram a chance de representam lado do passado, qualquer outra continuaram pessoa brilhar. com oportuniapenas Com toques dades escassas e de delicadeza e de destaque du17% dos suavidade, a dividoso. Esse talreção das cenas seja o único funcionários vez condizia com tema que costutodas as mensara as oito horas gens do texto. A de Feud, o tradécada de 60 foi tamento dado tão bem ambientada quan- às mulheres mais velhas pelo to em Mad Men (AMC), os cinema. cenários, o figurino e a iluSegundo um estudo da minação conseguiram trans- Polygraph, uma plataforma portar os espectadores para online de cultura americao passado. na, as mulheres tem o maior Enganou-se quem pensou número de falas em apenas que os bastidores do filme 22% de todos os filmes proseriam o único cenário da duzidos nos Estados Unidos série. Boa parte dos episó- e só 18% deles tem antagodios foi dedicada para o de- nistas femininas, em 2016. pois, com foco nos reflexos Ao envelhecerem, a situação do sucesso de crítica e públi- tende a piorar, isso porque

as atrizes acima dos 40 anos representam apenas 20% de todos os papéis destinados a mulheres. Ainda de acordo com o levantamento, o auge de uma carreira feminina está na faixa dos 22 aos 31 anos, assustadoramente dispare em relações aos homens. Para eles, o ápice da carreira fica na faixa etária entre os 42 e 65 anos. Fora a idade, a cor da pele também parece ser fator determinante. Na terra do tio Sam, a porcentagem de atrizes negras em atividade está em 13%, a de latinas em 4% e a das asiáticas não passa de 3%. Além de enfrentarem falta de espaço no mercado, as mulheres ainda tem que conviver com a sexualização de seus corpos. Enquanto só 10% dos rapazes tira a roupa nas películas norte-americanas, o número de mulheres alcança os 25%. Por trás das câmeras, a situação consegue ser pior. Um estudo feito em 11 países mostra que a quantidade de mulheres na criação cinematográfica não passa dos 25%. As mulheres ainda representam apenas 17% dos funcionários de bastidores dos 250 filmes mais lucrativos dos Estados Unidos, em 2015. JUNHO | 2017

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COLETIVO FOTOGRÁFICO

Respeitável

público Acadêmicos: Kassia Salles, Bruna Costa Silva, Luana Amorim, Bianca de Geus Goulart, Grazielle Guimarães e Juny Hugen

emum-piscar.blogspot.com.br/

espeitável público! Uma “R salva de palmas para o teatro circo Biriba”. Essa frase,

além de marcar a infância de diversas pessoas, fez parte por 19 anos da vida de Rita Millani. Gaúcha, de 50 anos, Rita chegou tímida ao estúdio e preocupada com a sua caracterização. “O que vocês querem que eu faça?”, perguntou inúmeras vezes. Mesmo tímida no começo, ao decorrer do ensaio foi se soltando aos poucos, contagiando o ambiente com suas poses e suas histórias. Tudo começou quando entrou no teatro para trabalhar com vendas, junto com a mãe do palhaço Biriba. Assistindo a peça da primeira fileira, Rita sonhava em algum dia poder subir no palco. Após quase dois anos, uma das integrantes deixou a companhia e ai veio o convite para integrar o elenco. “Ela chegou e disse que você vai fazer e ai foi jogando as peças e os papeis, dizendo amanhã você vai fazer uma senhora, e eu ia lá e fazia”, conta rindo. Piriguete, senhora, caricata, caipira. Cada personagem revela uma nova face e uma nova personalidade da Dona Rita. Mesmo em horas complicadas, a sensação de estar no palco a fazia esquecer-se de todos os problemas. “A

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melhor alegria de um artista é o aplauso”. Ao ser questionada qual era o seu personagem favorita, ela fala sem pestanejar que era a caricata, uma personagem em que ela podia abusar da criatividade e da improvisação na hora de sua composição. Junto com o Circo Teatro Biriba, Rita viajou por diversas cidades do sul do país. Vinda do interior do Rio Grande do Sul, ela nunca imaginou que conheceria cidades como Blumenau e Itajaí, cidade a qual se apaixonou desde a primeira vez. No início ela conta que havia muitas dificuldades, pois havia lugares que não havia nem água encanada, nem esgoto. “Muita gente pergunta se nós tínhamos banheiro, se tinha cama”, relata. Com brilho nos olhos, ela ainda conta que tem muito a agradecer o teatro, não só pela experiência, mas também porque ajudou para o crescimento dos filhos. Durante a conversa ela fala que os filhos sentem falta da rotina e das pessoas que trabalham lá. A filha mais nova de Rita, por exemplo, hoje pensa em um dia seguir para esse lado artístico, tanto que faz aulas de teatro na Casa da Cultura de Itajaí. “Eu achei que ela odiava estar no palco, porém

agora ela está correndo atrás do teatro”, conta rindo. Após todo esse tempo, ela tece que tomar uma difícil decisão e deixar os palcos. Sempre pensando na família, Rita saiu do teatro por conta dos filhos. Como a filha queria iniciar na faculdade e o filho queria se estabilizar, ela se despediu dos palcos. Depois de deixar os palcos, todas as roupas da sua personagens foram doadas a circos da região. Com saudades de toda aquela loucura, ela diz que sempre que eles estão próximos, vai visitar eles, e pensa no verão voltar a ajuda-los nas produções. Depois de muitas caras e bocas, risos e brincadeiras foi a hora de se despedir dessa moça tão simples e tão pura de coração. Hoje ela corre atrás do tempo perdido, e está investindo em cursos e terminando os estudos para um dia quem sabe ocupar alguma cargo administrativo. Mesmo assim, perguntamos se uma dia ela voltaria para a loucura que é trabalhar no circo. Com os olhos brilhando e o melhor sorriso que pode dar ela diz: “Não vou dizer que dessa água não beberei. Eu amo teatro, eu sinto saudade, eles são a minha família”.


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