Cobaia
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, outubro de 2014 Edição 132 Distribuição gratuita
Bruno Golembiewski
Amor Especial
A história de três personagens que não se conhecem, mas que estão unidos por um mesmo elo: proteger 08 e 09 Cultura
Literatura
Esporte
Do sol da Atalaia à luz do Soleil
Um escritor da nova safra
Na trilha da Mata Atlântica
Ex-ginasta itajaiense agora brilha no palco do circo mais famoso do mundo
Aos 24 anos, o carioca Raphael Montes desponta com envolventes textos de suspense
Mochila, tênis e repelente entram em cena para garantir uma aventura “natureba”
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montanhoso.blogspot.com.br
Saiba por que você não deve ler as últimas páginas
Gabriel Elias
Arquivo Pessoal
Crônica
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Editorial
Crônica
Operários do texto
A menina e o ônibus
Nesta edição, temos uma novidade que nos faz muito felizes: contamos com a participação especial de uma egressa. Recém formada, Olga Luisa dos Santos cedeu ao Cobaia parte da grande reportagem impressa que realizou como Trabalho de Conclusão de Curso. Em pauta, a derrocada de três grandes fabricantes de tecidos sediados na cidade de Brusque, terra natal de Olga. Complexo, o tema rendeu várias retrancas, algumas estampadas no jornal brusquense O Município Dia a Dia, que optou por divulgar exclusivamente o aspecto econômico da questão. Tendo acompanhado a trajetória da autora enquanto elaborava o TCC, conhecíamos o texto na íntegra e interessamo-nos justamente pelo que não foi publicado: o lado humano da história. Assim, coube-nos a retranca referente aos perfis dos operários. Homens e mulheres que se dispuseram a remexer em lembranças para nos ajudar a entender o que representou, para os trabalhadores das fábricas, a crise na indústria têxtil e o fechamento de empresas tradicionais do setor. Processo que abalou Brusque, o “berço da fiação catarinense”. A primeira reportagem da série “Tecendo Perfis” está na contracapa e focaliza um operário-padrão: Modesto Immianovsky. Conhecê-lo nos faz
Todos os dias eu pego ônibus para ir ao trabalho. Nas últimas semanas uma menina muito bonita começou a pegar o mesmo ônibus que eu. Nos primeiros dias fiquei reparando nos seus trejeitos, a maneira em que seus cabelos voavam conforme o vento entrava pela janela. Teve um dia que ela sentou no banco da frente do meu. Dessa vez, quando o vento batia, ele jogava seu perfume no meu rosto e eu, como não sou bobo nem nada, inspirava todo aquele maravilhoso aroma. Preciso conhecê-la melhor. Ela pega ônibus todos os dias comigo e não sei nem seu nome. Sei qual xampú usa, que tipo de roupas gosta de vestir, mas não sei como soa sua voz e nem pra onde vai. A empresa de ônibus tem mudado muito as linhas. Ela desce depois de mim, por isso não sei pra onde vai. Às vezes os ônibus aparecem sem cobrador, o motorista tem de fazer a dupla função de conduzir o veículo e ainda cobrar dos passageiros. De vez em quando ela vem de cabelo amarrado, é bonito, aparece seu pescoço e orelhas, com seus pequenos brincos dourados. Estou sentado mais uma vez no ônibus. Ela entrou. Tem poucos lugares vagos e um deles ao meu lado. Ela está observando onde vai sentar. Ela está vindo em minha direção. Estou suando frio. “Com licença”, disse a moça. Que voz suave. “À vontade”, respondi.
“
Jane Cardozo da Silveira*
A primeira reportagem da série “Tecendo Perfis” está na contracapa e focaliza um operáriopadrão: Modesto Immianovsky.
pensar no modelo de mundo em que vivemos e no que faz com as pessoas, como as usa e as descarta sem qualquer constrangimento. A Modesto, seguir-se-ão outros personagens selecionados por Olga e ouvidos por ela em longas conversas nas quais ficou evidente o quanto as pessoas apreciam falar e ter as trajetórias delas registradas. Mais que isso: o quanto nos beneficiamos ao compartilhar a experiência alheia, porque isso nos ajuda a rever valores, a redimensionar projetos e a reconhecer a dinâmica da vida. Esta, por sinal, pulsando intensamente ao longo de todas as páginas que antecedem a destacada contracapa. Esperamos que nossos leitores apreciem e fiquem com um gosto de “quero mais”, porque já estamos preparando a próxima edição. Boa leitura! Jane Cardozo da Silveira *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP
Fica esperto!
Estou ao lado dela. Preciso de uma pergunta que não seja tão idiota e nem muito inteligente para ela não me achar chato. “Você sabe onde é o hospital?”, perguntei. Que pergunta idiota. “Sei sim, daqui a três paradas você pode descer, caminhe um pouco e entre na primeira a esquerda que chegas lá”. “Obrigado”. Agora preciso descer onde ela indicou, senão vai pensar que sou louco. Desci no ponto próximo ao centro médico e logo peguei outra condução para ir ao trabalho. Outro dia e mais uma vez estou à espera de sua companhia. Ela entrou e sentou longe de mim. Nem sei se me viu. O lugar ao seu lado está vago. Me levantei e caminhei calmamente até o seu lado e sentei. Nos cumprimentamos e ela virou a cabeça para o lado da janela. Fiquei alguns minutos pensando no que ia falar. Não podia ser tão sem graça como da outra vez. De repente ela se levantou e saiu, já era sua hora de descer. “Tchau!”, falei. Ela acenou com a mão. Acabo de me dar conta que passei do lugar onde deveria descer. Os motoristas e cobradores entraram em greve. Fiquei dois dias sem trabalhar. Táxi ou mototáxi está além do meu orçamento e minha casa é muito longe para ir a pé. Os trabalhadores reinvidicavam melhores condições de trabalho e um leve reajuste nos seus salários. Como será que a menina do ônibus fez o seu trajeto diário
nesses dias, fiquei pensativo. Os patrões aceitaram as exigências dos trabalhadores e eu voltei a ir trabalhar no terceiro dia. Mais uma vez esperei a menina chegar para ver se dessa vez perguntava seu nome. Já havia passado de onde sempre embarca e ela não veio. Fiquei triste. O que aconteceu com ela. A partir da semana que vem as passagens dos ônibus vão aumentar alguns centavos. Perguntei a uma senhora que também pega a condução todos os dias se ela sabia por que a menina não veio. Ela me respondeu que a frota foi reduzida e que esse ônibus não iria até onde ela desce, ela tem de esperar mais meia hora até outro, que passa por quase todos os bairros para levá-la ao seu destino. Que tristeza! Agora não a verei mais. Não sei seu nome, nem seu número de telefone. Não consigo nem procurá-la na internet. Quem sabe acabo de perder um grande amor, alguém que faria a diferença na minha vida. A moça linda dos cabelos castanhos, olhos verdes, das blusinhas simples e sapatilhas de pano. Será que passearia com ela de mãos dadas pela praia e ficaria feliz ao vê-la sorrir. Amanhã os jovens politizados estão organizando um protesto contra o aumento das passagens. Tenho que ir, as coisas têm de voltar a ser como eram. Meu motivo é muito importante.
Espaço do Leitor
Oficialmente somos comunitária!
As asas do touro vermelho
No dia 30 de outubro, a Univali foi oficialmente reconhecida pelo Ministério da Educação como uma Instituição Comunitária de Ensino Superior. A universidade buscava esse reconhecimento há mais de dez anos. A reivindicação ganhou força quando foi instituída a Lei das Universidades Comunitárias, anunciada em 2013 durante visita da Presidente da República, Dilma Rousseff, ao Campus Itajaí . A Univali é uma das primeiras IES do gênero no Brasil a receber a certificação, dentre elas, mais três catarinenses: Unochapecó, Unoesc e Unesc. O reitor da instituição, Mário Cesar do Santos, comemora a conquista: “A Univali já é uma universidade comunitária de fato por seu compromisso, desde sua criação, com o desenvolvimento regional e atuação com as comunidades de seu entorno. A promulgação da portaria vem oficializar, perante o MEC, nossa vocação”. As universidades comunitárias catarinenses surgiram nos anos 1960 como resposta à concentração da oferta de ensino superior na capital, Florianópolis. Nascidas de movimentos populares, essas instituições são geridas por Conselhos e se mantêm com recursos arrecadados mediante pagamento de mensalidades pelos estudantes. Sem fins lucrativos, investem em projetos sociais ou reinvestem na melhoria de sua infraestrutura. “Além disso, as Universidades Comunitárias catarinenses geram massa crítica responsável pelo desenvolvimento ímpar do Estado e pela diversificação da economia e são destacadas, também, com ações de políticas públicas, como atendimentos na área da saúde e na prática jurídica”, afirma o reitor da Univali, Mário Cesar dos Santos.
Na Univali, as ações que tornaram a marca Red Bull um sucesso no Brasil e em mais de 140 países foram tema de palestra com Pedro Navio, o “cabeça” da empresa na América Latina. O evento abriu o calendário de novembro e foi uma iniciativa do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - Comunicação, Turismo e Lazer e do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - Gestão, junto com o curso de Publicidade e Propaganda. Pedro Navio é formado em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing e pós-graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas. Trabalha na Red Bull desde 2001. Ao compartilhar sua experiência com os acadêmicos, ele apresentou novos conceitos e ideias empreendedoras, e lançou luzes sobre o que está acontecendo no mercado publicitário. Red Bull é uma bebida energética sem álcool, comercializada desde 1887. Hoje, a marca é famosa não só pelo sabor, mas também pela embalagem, os comerciais que a divulgam, que fogem ao estilo de outras propagandas de produto parecido, e também pelo vínculo com os jovens e o esporte. A palestra foi aberta a todos os acadêmicos dos centros envolvidos e lotou o teatro Adelaide Konder, no Campus Itajaí.
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Bruno Golembiewski
Cobaia
Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br
Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, novembro e dezembro de 2013. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Estagiária Bárbara Porto Marcelino TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional
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Crônica
Não pule para o final Os versos de Drummond viram estória graças à imaginação fértil de uma repórter sonhadora Bárbara Porto
S
empre adorei ler, principalmente livros de romance. Aqueles bem piegas e clichês. Meus preferidos eram os com finais felizes. Pensava eu: já não basta a vida real ter tantos desencontros e desamores? Com medo de encontrar uma história com um fim desapontador, acabava sempre espiando as duas últimas páginas antes de começar a ler um livro de romance. Quando fiz 16 anos começaram aquelas perguntas, feitas pelas tias em ocasiões familiares e que toda adolescente não suporta: “Já tá com um namoradinho?”; “E os meninos?”; “Já tá na hora de namorar”. E duvide você, leitor, se quiser, mas eu nunca havia me apaixonado por ninguém até meus 16 anos e não me apaixonaria até os 17, mas esta é outra história. Eu era a garota mais romântica do meu ciclo de amigas e a única que nunca tinha trocado olhares bobos com um rapaz, nunca havia sentido o arrepio e aquele “frio na barriga” de quando se está apaixonada. Isto foi começando a me incomodar seriamente. Senhor Carlos, porteiro há mais de dez anos no prédio em que eu morava desde os meus oito anos, começou a perceber que algo me aborrecia. Sempre conversamos muito, e eu sabia que, além de bom ouvinte, Seu Carlos guardava segredos como ninguém. “Trocar figurinhas” com ele sempre me deixava aliviada e me fazia sentir bem. Então resolvi desabafar. Do meu jeito afobado, exagerado e manhoso de ser, contei a ele o que me desagradava fazia tempo: nunca ter me apaixonado. Muito calmo, ele me olhava e volta e meia soltava uma longa
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gargalhada, não sei se era do meu jeito de falar ou da minha história de uma jovem já desiludida com o amor. No fim da minha, quase, autobiografia amorosa, respirei fundo, soltei todo o ar de uma só vez e fiquei olhando para aquele senhor que aparentava ser mais velho do que, eu sabia, era. Ele me olhou e disse: - Vou lhe contar um causo da minha juventude, sobre um “grupinho” de amigos meus. Então eu sentei. Seu Carlos era bom ouvinte e também era um bom contador de histórias. Estas, que tendiam a ser longas. “Meu melhor amigo na juventude era João, garoto inteligente, bonito, com pais formados na faculdade, o que na minha época era difícil de encontrar. Sempre gostou de estudar e lia muito. Quando eu ia a sua casa, nas tardes de sexta-feira, sempre ficava olhando a enorme prateleira, repleta de livros, que ficava na sala. Eu sempre pensava em como João era sortudo. A única coisa que me incomodava nele era o seu costume de achar que sempre tinha razão, e por usar palavras difíceis eu não conseguia argumentar com ele. Brigávamos muito, mas logo passava. João era apaixonado por Teresa. E muitas das tardes que passávamos juntos eu o ouvia falar dela. Teresa era uma menina “certinha” demais. Família muito religiosa sabe? Fora da escola o único lugar em que eu a encontrava era nas missas de domingo. Sempre dizia para João: Sai dessa; essa menina não gosta de homem, de mulher, nem de ninguém. Fiquei ‘tolo’ quando, sem querer, ouvi Teresa falar para sua amiga, Maria, que estava apaixonada por um garoto, o Raimundo. Esse cara era o maior galanteador entre a juventude da minha época, um legítimo mulherengo. Mas a escola toda sabia que o Raimundo era caidinho pela Maria. Pobre Teresa, nunca teria chance nenhuma com Raimundo e nem ele teria chancecom Maria, que amava, desde a 4ª série, Joaquim. Esse sim era uma “figura”. No meu tempo apostávamos muito, tudo era motivo para se dizer: “Vamos apostar?” E Joaquim era o mestre nas apostas. Era bom em quase tudo. Jogo de cartas, dominó, palitinho, mas o seu “forte” era o futebol de botão, nesse jogo ele era o melhor, só perdia para uma pessoa: Lili. Todo mundo sabia que ele deixava a Lili ganhar, até eu deixaria. Que menina linda e simpática, um sorriso largo com uma boca cheia de dentes. Adorava brincar com os meninos e não tinha aquelas “frescuras” de meninas. Joaquim e metade do colégio eram bobos pela Lili, que não mostrava interesse por ninguém. Ela passou pelo ginásio sem ter nenhum namorado, mas estava sempre de bem com a
Quadrilha
João amava Teresa que amava Ra imundo que ama va Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os E stados Unidos, Teresa para o conv ento, Ra imundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou -se e Lili casou com J. Pinto Ferna ndes que não tinha entr ado na história Carlos Drummond de Andrade
vida e alegre, poderia ter o menino que quisesse, mas decidiu estudar e viajar. Eu ainda falo com João, que hoje mora nos Estados Unidos. Nós trocamos cartas. Minha neta até que tentou me explicar ‘essas coisas de computador’, mas não consigo entender, prefiro o velho e bom lápis e papel. Em uma destas cartas, Joaquim me relatou o desfecho destas histórias que acabo de lhe contar.” Quando Seu Carlos disse isto, pisquei rápido várias vezes e cheguei mais perto dele. Como uma verdadeira apreciadora de romance, eu estava muito curiosa para saber quem ficou com quem. Claro que minha expectativa era de que alguém se desse bem nessa história toda. E quando eu pensei que Seu Carlos levaria o restante da tarde para me
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contar o que havia acontecido, em um só suspiro ele descarregou o fim da história: João foi para os Estados Unidos, mas a saúde não anda boa não. Teresa foi para o convento, o que era de se esperar. Raimundo morreu de desastre. Quando caminhava na rua se distraiu e acabou não vendo o caminhão, que o esmagou sem dificuldade, veja só. Maria ficou para titia, e acho que está em um asilo. Joaquim, coitado, se suicidou. Nem quero falar muito nisto, me dá um aperto no coração. A Lili, a linda menina Lili, se formou em arquitetura e foi trabalhar na França, onde se casou com J. Pinto Fernandes, um engenheiro, que nem tinha entrado nessa história toda e se deu bem. Minha boca ficou aberta alguns minutos, meus olhos arrega-
lados e a minha mão tremendo, formigando. Senti uma vontade louca de dar uns tapas naquele senhor que me fez ouvir uma história com um final arrasador destes. Só uma pessoa havia saído ganhando? Ele achava que isto iria me animar? Vendo minha cara de horror e dúvidas, Seu Carlos foi logo se adiantando: “Minha querida, você ainda é tão jovem para sofrer por um amor que ainda nem sentiu. Sempre teremos dúvidas e essa é a graça da vida, não saber o final. Seja ele bom ou ruim a gente sempre se surpreende. Acreditaria em mim se pudesse ver sua cara.” Ele realmente estava muito satisfeito com a minha expressão de indignação. Mas a verdade é que quando Seu Carlos falou aquilo, logo pensei: a graça é não ler as últimas páginas.
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Crônica
Abrigadouro longevo Memórias de um lar de harmonia que hoje descansa em paz Luciano Pinheiro da Silva Neto
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uem a conheceu em seus últimos dias de vida não pudera imaginar que ela já fora tão cobiçada e vista como exemplo de formosura. Mas, as quase cinco décadas em que se manteve firme enfrentando com bravura as arduidades da vida, deixaram marcas profundas na beleza de seus contornos que agora jazem em descanso eterno. Sua arquitetura pouco rebuscada sugere que fora construída sem projeto por um carpinteiro que desenvolvera empiricamente a habilidade de erguer residências de madeira. Talvez o mesmo que levantou tantas outras casas de aparência minimalista do bairro, dada a semelhança entre elas. Cabia-lhe com perfeição o rótulo de rústica: quem pôde caminhar por entre seus cômodos era remetido a uma
atmosfera nostálgica onde retratos de família em preto e branco dividiam espaço com obras de arte compradas na beira da estrada. Nunca pretendeu ser requintada mesmo. Preferia, de verdade, ser confortável e aconchegante. As camas de madeira foram construídas por um dos netos de Luciano e Olindina, os felizes primeiros donos da falecida. O chão de assoalho, esmeradamente encerado por uma das filhas do casal, denunciava com um barulho inconfundível os passos de quem ousava levantar-se no meio da noite para ir ao banheiro. As paredes cheias de frestas não proporcionavam o isolamento acústico necessário para quem precisava ler em um dos quartos sem interferência do som da televisão da sala. Aliás, nada se fazia dentro de um cômodo dela que não pudesse ser ouvido nos
outros: esse sempre lhe foi um dos maiores defeitos que comprometia a intimidade das tantas pessoas que um dia a chamaram de lar. Com o passar dos anos foi ganhando algumas modernidades: freezer, micro-ondas, computadores, internet sem fio e até ar-condicionado. Tudo isso contrastava com o antigo que não se fez ausente nela até os últimos momentos de vida: no dia em que foi derrubada, ainda estava pendurado no alto da parede da sala o retrato de Getúlio Vargas da época em que fora presidente da República Velha. Luciano, morto há 28 anos, tinha um apreço imensurável pelo “pai dos pobres” que garantiu ao portuário os direitos trabalhistas pelos quais sempre lutou. Foi concebida para ser um lar de harmonia e felicidade de mais uma das tantas famílias Silva que
habitam o Brasil. E em suas primeiras décadas de vida assim ela foi. Testemunhou o nascimento e o fim de gerações da família. Nela os primeiros netos de Luciano e Olindina foram criados e, sob seu teto, os dois foram velados. Resistiu como uma valente guerreira a quatro enchentes, foi alvo de disputas e palco de brigas familiares, testemunhou infortúnios, conquistas, agressões e deleites dos tantos em que nela fizeram seu ninho. Sob a propriedade de sua última dona, Onadir da Silva, filha dos primeiros proprietários, abrigou familiares doentes e órfãos, serviu de refúgio para desabrigados e guarida a quem
passava por momentos de desalento. No fim de sua vida, a cinquentona moribunda caía aos pedaços com paredes e teto corroídos pela infestação de cupim. Nos dias de chuva, o telhado desuniforme permitia que litros de água vazassem para o seu interior. Assim como os seus primeiros moradores que morreram enquanto nasciam os descendentes, era hora de ceder o espaço do terreno a um lar mais confortável e seguro. Às nove da manhã do dia 30 de junho de 2013, a residência de número 158 da rua Indaial no bairro Dom Bosco de Itajaí/SC teve sua última parede derrubada. Após cumprir com louvor a missão de abrigar três gerações da família Silva, sua alma descansa em paz enquanto seus restos mortais são carregados por caçambas de entulho para o repouso eterno.
Amores de graduação - Isso vale uma crônica Um relato sobre paixões platônicas na sala de aula, daquelas que fazem perder o sono ou sonhar acordado Lucas Machado
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do. Criando expectativas, comemorando vitórias, lamentando os fracassos. Se eu pudesse contar a história dos meus anos como estudante, sem dúvida não seria através das notas, e sim de quem amei enquanto toda a loucura que é esse negócio de amadurecimento acontecia. Foram elas, as paixões platônicas, que me fizeram entender do que tratam essas músicas que falam sobre a delícia de estar amando, e a dor de ter que esquecer. Não existe algo mais louco que se apaixonar... Ou melhor, a paixão é a própria loucura, não é mesmo? É o estado mais sólido e sintomático dela: você transpira, engole seco, seu estômago embrulha, tem arrepios (que não são de frio), sorrisinhos fora de hora e lê tudo (eu disse TUDO!) que pode nas redes sociais envolvendo o felizardo (a) que Deus-sabe-lá-como te conquistou. Quando o professor faz a chamada, você sabe exatamente a hora de ouvir aquele “presente!”. Uma palavra tão simples vira a mais excitante música, que se dependesse de você, seria número 1 da Billboard e do iTunes. Já no fim de meu ensino médio, meu coração estava tranquilo. Não sou do tipo que gosta de ter problemas cardíacos, mas uma
emoçãozinha de estar gamado é sempre boa. Passei no vestibular e disse com peito estufado: “quero entrar na faculdade, fazer muitos amigos e conhecer alguém!”. Tudo bem, isso não aconteceu de fato, foi mais inconsciente. Mas sim, eu queria me apaixonar! E o cenário do início da vida acadêmica era perfeito: toda aquela sensação de liberdade, fazer o que gosta e estar em contato com pessoas vindas de diferentes lugares era propício a mais um capítulo das minhas paixões platônicas em sala de aula. E quando aconteceu (sim, aconteceu!) eu sequer percebi. Na realidade, diferente dos filmes, quando a gente conhece a pessoa que vai virar a nossa vida de cabeça para baixo, nos meses seguintes as coisas não ficam em slow motion ao som de Celine Dion. E o final pode até ser mais sem graça que o desfecho de How I Met Your Mother. Mas o que realmente importa é o que acontece no meio disso tudo: a maravilha de viver uma paixão nos intervalos das aulas e dormir de conchinha após uma prova. De esperar a segunda-feira como se fosse o Natal para voltar a ver aquelas covinhas. De saber que amanhã o sol vai nascer, a noite vai chegar e a carteira do canto, perto da janela, vai estar ocupada. Cobaia
Banco de imagens
A
verdade é que eu sempre fui de me apaixonar à primeira, à segunda, à décima quinta vista. De me apaixonar vinte vezes pela mesma pessoa e criar vinte motivos para insistir nela até que por alguma razão do destino a gente resolva virar uma comédia romântica com a Jennifer Aniston e uma música do Lulu Santos no final. Meu coração é viciado na adrenalina de conquistar, de poder ganhar ou poder perder. Ele gosta de disparar como se tivesse levado um susto quando a porta se abre e, com aquele andar inconfundível, a razão da minha possível alegria no dia senta-se em sua carteira e cruza os braços como se estivesse esperando que eu me aproximasse e contasse uma piada boba – para que assim esboçasse seu mais sincero sorriso. Algumas vezes isso já me aconteceu. Ok, não foi por tantas pessoas assim, mas te garanto que foi por muito tempo. Aliás, desde que me entendo por gente, venho desenvolvendo paixonites por quem estuda comigo. Seja no primário, antes da hora do soninho, ou na faculdade, depois de apresentar um seminário, os amores platônicos sempre fizeram parte da minha vida: me fazendo perder o sono ou sonhar acorda-
A universidade é um bom lugar para conhecer novas pessoas
Vivi o que eu tinha que viver, amei o que tinha que amar. Pelo menos, por enquanto. Dizem que a gente não escolhe por quem e onde se apaixona, mas se eu tivesse mesmo que escolher, talvez – e só talvez – faria tudo de novo. Nunca é perda de tempo se entregar a alguém que nos desperta algum sentimento. Na verdade, pra mim é mais que uma obrigação. Prefiro viver com a certeza de uma decepção amorosa do que com a pulga atrás da orelha por ter rejeitado um amor sincero. Ninguém merece dormir à noite e pensar “o
que poderia ter sido?”, “será que se eu estivesse com ele/ela eu estaria mais feliz?”. Esse tipo de coisa comigo não cola. Gosto de apostar, dar chance a quem quer estar do meu lado, de tomar um cafezinho a dois antes da aula de sábado e principalmente: fazer cafuné. Porque cafuné é bom, e todo mundo gosta. Se for durante o intervalo, melhor ainda. E se você ainda não viveu uma linda paixão em sala de aula, não se preocupe. É para isso que existe pós-graduação, mestrado, doutorado... E a carreira de professor. Itajaí, outubro de 2014
Comportamento
Coletividade 7 x 1 Individualidade É hora de o Brasil acordar e ver que, com planejamento e união, pode ser o país de todos os esportes Mariana Campos Silva
E
sperança estampava o rosto dos brasileiros. Dava gosto de ver: camisetas verde-amarelas por todos os lados, gente reunida e a alegria de estar vivendo mais uma Copa do Mundo no país do futebol. Patriotismo esse que só se vê dos brasileiros no esporte, e só enquanto o time ganha. (Afinal, quem não gosta de ser liberado mais cedo do trabalho para ver o jogo? Até mesmo os que não gostam de esporte entram nessa Quanto mais o time ganha, mais vezes o pessoal sai mais cedo). A cada vitória, mais felicidade e menos preocupação com os problemas políticos e econômicos. E então... a expectativa de vencer em casa foi esmagada por Die Mannschaft. Acabou o sonho. E acabou de um jeito dramático, exterminador, pintado de preto, vermelho e dourado. A Alemanha se mostrou superior em basicamente todos os
aspectos. Saiu invicta, tida como a seleção perfeita. Já o Brasil saiu desmoralizado, humilhado. Foi uma derrota que destruiu qualquer vestígio daquele futebol brasileiro que todos ainda esperavam. O amor pelo país foi guardado junto com as camisetas no fundo da gaveta, no aguardo da vingança daqui a quatro anos. O destino foi selado: o futebol do Brasil não dá mais medo. Acabou a invencibilidade. Entrou pra história, mas de um jeito que ninguém esperava, que ninguém queria. Mas o que estava faltando no time canarinho, que reunia tanta gente jovem e promissora? O mesmo elemento que não faltava na equipe alemã: a coletividade. É como olhar para o céu à noite: só uma estrela não é o suficiente para deixá-lo estrelado, bonito de ver. É preciso de uma constelação inteira. E o mesmo vale no esporte: de que adianta
ter vários bons jogadores sozinhos se não dão conta de se comportar como time? O mesmo não pode ser dito sobre o time nacional de vôlei masculino, que conquistou a prata no campeonato mundial recentemente. Antes, a equipe tinha vencido o Mundial três vezes seguidas. Apesar de terem ficado com o segundo lugar em 2014, os meninos dão um show de trabalho em equipe e técnica. Fizeram uma ótima competição. Porém... ainda falta o reconhecimento. A hegemonia do futebol é o que mais faz a diferença, o que mais importa para o brasileiro fanático por esporte. Uma vitória ou uma derrota podem mudar drasticamente o humor. O vôlei, que tem uma equipe brasileira tão consagrada, não recebe a atenção que merece. Está sempre escondido na sombra do futebol, cujos resultados têm sempre uma maior escala. Um 7 a 1 em Copa do Mundo de Futebol
contra um time de mérito não é nada comparado a ser tricampeão mundial de vôlei masculino. A explicação? Não saberia dizer. Que outros esportes merecem destaque, disso não te-nho dúvidas. Mas a prevalência do futebol ainda está longe de acabar. E o cenário atual pede uma mudança drástica. Talvez a pressão de ser “o país do futebol” esteja acabando com os jogadores. Tanto stress tem o efeito contrário, especialmente por essa nova geração ser tão jovem. Está faltando aquele futebol bonito, despreocupado, que tanto se via antigamente. Não havia medo, só alegria. Havia trabalho em equipe junto com talento, e os jogadores se
divertiam jogando. Se a Seleção recuperar toda essa espontaneidade, retornará aos bons tempos. O problema é que é mais fácil falar do que fazer. Se há uma luz no fim do túnel? Acredito que sim. Rever-ter a situação atual não será fácil após tanta desmoralização, mas é possível. É o povo brasileiro, afinal, não desiste nunca.
“Muro – Arte de rua” Grafite como movimento cultural é tema de documentário produzido por alunos de Publicidade e Propaganda Lana Martins e Thalita Constantinov
Itajaí, outubro de 2014
a entrevista do presidente da Fundação Cultural da Prefeitura de Balneário Camboriú, Anderson Beluzzo, falando sobre a Lei de Incentivo à Cultura, o que tem feito as pessoas mudarem suas opiniões sobre o grafite. “Anderson Beluzzo explica que as pessoas prezam pela beleza da cidade, e entendem que o grafite ajuda a embelezála, e isso coíbe a vontade de outros picharem, e nós, produtores, percebemos que isso realmente acontece em Balneário Camboriú”, constata o produtor Gilmar Antunes. Além do presidente da fundação, há depoimentos do senador e ex-governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira e do vicegovernador, Eduardo Pinho Moreira. Quando se trata de fazer a arte, os grafiteiros Vitor Gabriel Caetano, Diego Diant e Luiz Felipe Berejuk, popularmente conhecidos por “Vetor, Diant e Berejuk”, respectivamente,
demonstram na prática os grafites, além de abordar o preconceito que os grafiteiros sofrem no Brasil. Ao todo, são mais de 10 entrevistados, entre autoridades, grafiteiros e pessoas da comunidade.
Reprodução Facebook
U
m documentário com a proposta de mostrar o grafite de forma diferente. Esse é o “Muro – Arte de rua”, um trabalho atento à importância da streetart e do grafite como movimento cultural, que aborda temas como preconceito, urbanismo, contexto histórico, opinião pública, além de distinguir o grafite da pichação e desmitificar a ideia do grafiteiro como marginal. “Através desse trabalho, queremos mostrar os preconceitos que o grafiteiro sofre, além de explicar as principais diferenças entre o grafite e a pichação, que são comumente confundidos”, conta um dos produtores, Thiago Barreto. Com sete minutos de duração, “Muro” foi gravado em Balneário Camboriú e mostra a arte que os grafiteiros desenvolvem para realizar o trabalho, revelando que muitos vivem com o salário ganho por meio de grafites. O documentário conta com
Novidade na rede O documentário está disponível no site grafitebc. com.br desde o dia 10 de setembro. Antunes diz que a ideia, agora, é que os três grafiteiros administrem o site, alimentando-o com conteúdo relevante do universo do grafite. “Muro - Arte de Rua” é uma produção dos acadêmicos Ana Letícia Deolindo, Gilmar Antunes, João Retkwa, Thiago Barreto e Victor Vinícius, do 5. período de Publicidade e Propaganda, na matéria “Projeto Intercursos”, ministrada pela professora Adriana Stela Bassini Edral e pelo professor Hans Peder Behling. Um dos assuntos abordados é o preconceito que os grafiteiros sofrem
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Comunidade
Lei estadual amplia direito dos idosos Santa Catarina garante isenção ou desconto em passagens intermunicipais para quem tem 60 ou mais Gerusa Florêncio
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Celso Peixoto/PMBC
essoas com 65 anos de idade ou mais e com renda até dois salários mínimos têm direito a viajar gratuitamente ou a obter desconto de 50% no preço das passagens de ônibus interestaduais desde a entrada em vigor da lei federal n° 10.741, de 2003. Mas o que muitos desconhecem é que, em trajetos intermunicipais e para pessoas na faixa entre 60 e 65 anos, o benefício deve ser instituído pelos estados. Em Santa Catarina, desde 2010 uma lei estadual garante esse direito. O Setor de Cadastro Único da Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social de Balneário Camboriú realiza a emissão da Carteira para Idoso, documento que ajuda a formalizar o benefício. Podem obter a carteira as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, que não possuam renda comprovada e que estejam devidamente registrados no Cadastro Único para Programas Sociais. A carteirinha é entregue entre 30 e 60 dias após a solicitação. Caso o idoso possua renda comprovada de até dois salários mínimos, que compreende o valor de R$ 1.448, não terá direito à emissão da carteira, porém, pode viajar gratuitamente ou conseguir o desconto. Neste caso, deverá apresentar na rodoviária o comprovante de renda atualizado. Preenchendo os requisitos legais, a pessoa faz jus ao benefício, mas tem de solicitar a passagem especial (ou bilhete do idoso) com antecedência. De acordo com a lei federal n° 10.741, cada empresa de ônibus deve ter dois assentos reservados para idosos. Caso os lugares estejam ocupados, apresentando o documento o idoso ganha 50% de desconto no valor total da passagem. Quem fiscaliza as empresas é a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A isenção ou o desconto são válidos somente em território nacional.
Viagens em SC Lei estadual estende benefício aos trajetos intermunicipais, garantindo economia e assento preferencial
Santa Catarina instituiu em 2010 a lei nº 15.182, que dá isenção ou desconto nas passagens rodoviárias intermunicipais a quem tem 60 anos ou mais. Cada empresa deve ceder dois assentos por ônibus e o procedimento é igual ao das viagens interestaduais.
CVV trabalha para abrir um posto em BC Ong que atua em defesa da vida busca firmar uma parceria com a prefeitura local para atender à região Gerusa Florêncio
O
Centro de Valorização da Vida (CVV) busca firmar parceria com a Prefeitura de Balneário Camboriú para instalar um posto de atendimento na cidade. Recentemente, formou-se o Comitê Pró-CVV, com o intuito de conseguir voluntários para realizar o trabalho e levar adiante a ideia. Por enquanto, a ONG está elaborando as regras administrativas para a sua instalação. Um ofício foi encaminhado ao prefeito, Edson Renato Dias, para aprovação. O coordenador nacional de expansão do CVV, João Régis da Silva, conta que estão em fase de treinamento para os voluntários. O curso de 30 horas orienta sobre como realizar o atendimento, e é dividido em seis encontros. “Após o treinamento e aprovado o ofício, pretendemos ter um posto instalado na cidade em novembro”, destaca o
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coordenador. João Régis da Silva explica que o CVV busca expandir cada vez mais o atendimento. Balneário Camboriú possui uma população significativa, que corresponde a mais de 100 mil habitantes; a grande maioria são aposentados e uma parcela vive sozinha, o que chamou a atenção do CVV: “Há um índice considerável de isolamento em Balneário Camboriú e o CVV vai oferecer ombro amigo, companhia e uma oportunidade a mais para as pessoas dividirem seus problemas e anseios de forma anônima”, destaca.
Sobre o CVV O Centro de Valorização da Vida é uma ONG reconhecida pelo Ministério da Saúde, que existe há 52 anos e atende aproximadamente um milhão de pessoas por ano. Oferece apoio emocional aos que necessitam conversar e desabafar sobre quaisquer
“ Estamos
prontos a ouvir
não só problemas ou tristezas, mas também quem
deseja dividir suas alegrias pode nos procurar
problemas, como, relacionamentos, solidão, alcoolismo, drogas, dentre outros. O CVV busca a valorização da vida, por meio de um diálogo compreensivo e sem intromissões, cobranças Cobaia
ou julgamentos, feito por voluntários treinados para isso. O serviço é realizado por meio dos 69 postos de atendimento no Brasil, pessoalmente, por chat, telefone, Skype, Voip, internet e via e-mail. O órgão garante o anonimato e a privacidade da conversa. Quem procura pelo amparo não precisa se identificar. Os atendimentos realizados via web são apagados imediatamente após o término e o telefone não possui identificador. “O serviço existe para que a comunidade possa ter mais uma oportunidade de ser feliz, buscamos interagir numa conversa onde mais se ouve do que fala, e somos neutros de opiniões e direcionamentos”, destaca o coordenador. Ele ainda comenta que alegrias também são bem vindas ao CVV. “Estamos prontos a ouvir não só problemas ou tristezas, mas também quem deseja dividir
suas alegrias pode nos procurar”, esclarece. Para que o serviço seja realizado 24 horas no município, o ideal são 30 voluntários trabalhando. Para se tornar um voluntário, é preciso ter pelo menos 18 anos de idade, disponibilidade para realizar os plantões semanais e vontade de ajudar pessoas desconhecidas em situações emocionais das mais variadas. No site da entidade também está disponível uma ficha de inscrição pelo link http://goo.gl/hMfM6M, onde os interessados podem tornar-se voluntários. Se aprovado o ofício, o CVV terá um posto em Balneário Camboriú que possibilitará atendimento para toda a região, como Itajaí, Camboriú, Navegantes, Blumenau e demais municípios. Mais informações com o coordenador nacional de expansão, João Régis da Silva, pelo telefone: (47) 9982-4812 Itajaí, outubro de 2014
Cultura
Da ginástica ao circo, o caminho do artista A trajetória de Fábio Santos, itajaiense que há cinco anos faz parte da equipe do Cirque du Soleil Elyson Gums
palhaço, que imagina seu próprio enterro. Como era de se esperar, não há nada de fúnebre e a alegria toma conta da tenda. Fábio deixa de ser anfíbio e se transforma em um italiano boêmio. O catarinense Marcelo Perna também faz parte do show. Ele era ator e líder de uma escola de samba de Florianópolis antes de seguir carreira circense. Apesar das mudanças de temática, os dois shows têm semelhanças. São shows de tenda. Ou seja, ao contrário das apresentações nos luxuosos cassinos de Las Vegas, cerca de 3 mil pessoas se apertam debaixo dos panos para assistir à apresentação. Para Fábio, este tipo de show é o que melhor representa o que é o circo: “Na minha visão é o que tem mais mágica. Porque vou pagar o ingresso mais barato ou mais caro, e vou estar quase do lado das outas pessoas. Ombro a ombro, todos dividindo aquela energia, é emocionante”, comenta.
Os segredos da perfeição Em média, o Cirque du Soleil realiza dez apresentações por semana, intercaladas por períodos de treino que duram de seis a oito horas. Os componentes são
os maiores talentos esportivos do planeta, incluindo atletas de nível olímpico e campeões mundiais de diversas categorias. Os participantes vêm de todas as partes do mundo. Fábio se apresenta com pelo menos mais três acrobatas, que dividem um cubo feito de quatro barras fixas de ginástica, com mais duas barras atrás. Os acrobatas mudam de uma barra para outra, cruzandose no caminho. As colisões acontecem e fazem parte da rotina dos ensaios e apresentações. A solução é “dar um sorriso, voltar pra barra se estiver bem. Senão, chama outro e improvisa. O show continua”. Existem técnicas para maquiar os erros. Fábio cita o rearranjo da música e das luzes como exemplo. Além disso, a mistura de diversas
“
Se você é um
dançarino, tem
que ser o melhor
Arquivo Pessoal
F
ábio Luis Santos trocou as caminhadas ao molhe da Atalaia pelos holofotes do circo. Deixou os pódios do JASC e do Campeonato Brasileiro de ginástica artística pelas palmas das crianças e adultos nos palcos. Esta foi a trajetória do ginasta e acrobata itajaiense que integra o Cirque du Soleil, a maior companhia circense do mundo. Fábio leva as cores da bandeira brasileira e o jeito praieiro típico de Itajaí a todo o planeta desde 2009, quando deixou o Vale para conquistar públicos de todas as partes do mundo. Aconteceu por acaso. Após saber de uma audição feita em São Paulo, contou com os amigos, a família, e seu treinador, Marcelo Coelho, para se inscrever. A mudança repentina nos rumos da carreira foi influenciada pelo glamour e mística que envolve o Cirque. As dificuldades financeiras enfrentadas pela ginástica artística no Brasil também foram decisivas na escolha. Ao chegar, participou do então recém-criado espetáculo “TOTEM”. Por meio da fantasia e das cores, a peça conta a história da evolução humana. Fábio interpretava um anfibiano. Três anos depois, foi integrado ao “Corteo”. O espetáculo narra a trajetória de um
Coordenação, equilíbrio e agilidade são pré-requisitos no palco
de voltar pra casa quando se desligar permanentemente do Cirque. “O Brasil é o meu lugar”, afirma. “Tenho orgulho de ser brasileiro, de ser catarinense, de ser itajaiense”. O sentimento é recíproco. Os aplausos e gritos são o pagamento pela dor, lesões e cansaço da
maratona semanal de apresentações. “Às vezes as pessoas falam ‘tu não é aquele cara do Cirque?’ Esse reconhecimento paga tudo o que você sofreu. É como se você estivesse num pódio indo pegar a medalha”. Apesar de ser quase lendário, o Cirque du Soleil também é feito de gente simples.
dançarino. Se é
acrobata, o melhor acrobata. Se for André Schlindwein
ator, tem que ser o melhor ator. Eles buscam os melhores
Banco de Imagens
culturas e personalidades contribui para criar um elenco completo e coeso. Por fim, a própria reputação da companhia é um fator determinante, já que todos sabem que são os melhores do mundo no que fazem. “Se você é um dançarino, tem que ser o melhor dançarino. Se é acrobata, o melhor acrobata. Se for ator, tem que ser o melhor ator. Eles buscam os melhores”, conta Fábio.
A relação com o Brasil Fábio está no Brasil até o fim deste ano, fora das atividades do Cirque. Se recuperando de lesão, aproveitou o tempo para matar as saudades do seu estado. Já são cinco anos de viagens por todo o planeta, contato com as diversas nacionalidades que compõem o circo, e ainda assim o desejo é Fábio está no Brasil e afirma que aqui é o seu lugar
Itajaí, outubro de 2014
Cartaz do espetáculo TOTEM, do qual Fábio fez parte Cobaia
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Reportagem
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Um amor especial que faz toda a diferença Anjos da guarda de pessoas com deficiências, cuidadores contam histórias de carinho, atenção e respeito Bárbara Porto
m uma casa do bairro universitário, na cidade de Tijucas, vive Lenir Tomazoni, a Lilinha, como é chamada entre os familiares. Ela tem 67 anos de idade e uma vida saudável e ativa, mas isso só é possível devido aos cuidados e à atenção da irmã, Mariângela Tomazoni, e da sobrinha, Débora Marcelino. Lilinha faz parte do 1,4% da população brasileira que apresenta algum tipo de deficiência mental ou intelectual, segundo censo do IBGE de 2010. Esta condição a torna dependente de um cuidador que a ajude a desempenhar atividades básicas do dia a dia. A história desta, e de outros personagens, foi retirada da reportagem “Amor Especial”, feita pelos acadêmicos do 4º período de Jornalismo, Bárbara Porto, Bruno Golembiewski e Juliana Costa. Mariângela conta que, quando criança, Lilinha chegou a frequentar a escola normal, até mais ou menos a quarta série, quando a professora chamou Laura, mãe das duas, para conversar. Na época, pouco se conhecia sobre deficiências metais, e a professora de Lenir disse apenas que a aluna não conseguia se concentrar nas aulas, nem desenvolver os conteúdos como as outras crianças. Ela era ‘diferente’. Buscando a ajuda de um especialista, em Florianópolis, dona Laura teve o diagnóstico: deficiência mental leve. Estas três palavras mudaram para sempre a rotina da família Tomazoni. Pequenas ativi-
dades que parecem simples para a maioria das pessoas, para Lilinha são um grande obstáculo. Amarrar os cadarços, saber a diferença entre shampoo e condicionador, fazer o café, quanto de comida colocar no prato para se satisfazer, qual remédio tomar, quando ir dormir, são algumas das muitas situações em que um deficiente necessita de auxílio. Ter uma pessoa com deficiência mental em casa é como ter um filho pequeno, a atenção é redobrada e por 24 horas. Sentada no sofá da sala, Débora acaricia os cabelos completamente brancos de Lenir e, emocionada, fala sobre sua relação com a tia, que mora com ela e Mariângela há quatro anos. “Todos os dias aqui em casa a gente acorda do mesmo jeito, eu levanto, faço o café, e lá do quarto ela sente o cheiro. Então ela levanta, coloca a cabeça pra fora e lança um sorridente: Bom dia!”. Débora, com os olhos marejados, afirma que é um prazer cuidar da tia e fala sobre como se sente bem em poder fazer isso: “Todos nós temos um anjo da guarda, eu falo isso para os meus amigos, falo para os meus filhos. Aqui em casa o nosso anjo da guarda é de carne e osso e se chama Lilinha. Quando ela está em casa não temos problemas”. Não muito longe dali, na cidade de Brusque, vive Pierre Moritz, de 69 anos. Sentado em sua poltrona, Pierre tem aparência serena e fala pouco, só responde às perguntas que são direcionadas a ele. Um ‘sim’ ou ‘não’ que quase
não se pode ouvir. Quando a equipe de gravação chegou, Pierre, como uma criança, olhava sério e curioso com o canto do olho para aqueles desconhecidos que entravam em sua casa. A responsável por Pierre é a irmã mais nova, de 54 anos de idade, Teresa Moritz. Ela diz que a idade mental do irmão é de apenas três anos de idade. Recentemente, integrou-se ao grupo de super cuidadoras de Pierre, Isabel Montibeler, que passou a acompanhá-lo 24 horas por dia. A mãe de Pierre, já falecida, ficou muito tempo em trabalho de parto e pouco oxigênio chegou até o bebê, complicação que causou a deficiência. Segundo a American Psychiatric Association (Associação Americana de Psiquiatria), “a deficiência mental decorre em sua maioria (45%) de causas essencialmente orgânicas, que incidem precocemente, nos períodos pré e perinatal (durante o parto)”. Medidas preventivas ainda são o melhor caminho para evitar o problema. Teresa conta que assim que a deficiência do irmão foi constatada, a mãe foi atrás de toda informação possível. Ela percebeu que muitas crianças, assim como Pierre, não tinham oportunidade de frequentar uma escola normal, ter amigos com quem brincar e interagir. Determinada a ajudar o filho, viajou até o Rio de Janeiro em busca de uma escola que atendesse às necessidades de Pierre. Lá encontrou a APAE, única no país até então. Com a troca de experiências, voltou para Brusque e contribuiu
para a fundação de uma sede da APAE na cidade, que é a segunda do Brasil. Pierre é o primeiro aluno da instituição, e o que a frequenta há mais tempo, 59 anos. Na infância, Teresa revela que muitas de suas lembranças são de pessoas fazendo gozação com a deficiência do irmão, e que presenciar isso foi bem difícil para ela. “A gente passava na rua e as pessoas riam, faziam piadas dele, principalmente as crianças”. Mas, entre os familiares, Pierre recebe todo o apoio e incentivo de que precisa. As fotos espalhadas pelo apartamento revelam que ele participa dos passeios e viagens em família. E Teresa confirma: “Na família, Pierre nunca foi excluído”, e continua, “Ele é meu companheiro, eu já tenho dois filhos homens que trabalham o dia todo, têm as namoradas, e ele é meu parceiro. Eu vou para a praia, para a igreja e ele sempre está comigo”.
Dia a dia A rotina de um cuidador é semelhante à de um pai com um filho pequeno. Na hora de comer, Débora é quem prepara o prato de Lilinha, para que possa ser uma refeição balanceada. “Eu faço o prato da Lilinha porque ela não sabe a quantidade de comida que deve colocar. Ou ela bota muito arroz, muito macarrão, ou não coloca salada”. O mesmo acontece na hora do banho, é preciso estar por perto. A maioria dos deficientes mentais não sabe ler, não associa cores ao objeto e não
tem noção de quantidade, saber qual é o shampoo, qual é o condicionador e a quantidade que se deve usar não é tarefa fácil para eles. Lilinha é a aluna que frequenta há mais tempo a APAE de Tijucas. Todos os dias, perto das duas horas da tarde, a sobrinha Débora a leva para a escola. Mesmo tendo que parar seu trabalho várias vezes ao dia para atender as necessidades da tia especial, Débora assegura que tudo é uma questão de rotina. “Quando as coisas entram na rotina da vida da gente, não fica tão difícil, a questão é se adaptar e se acostumar com a situação, que tudo flui naturalmente”. O último personagem desta história é Ivone Garrozi, de 83 anos, moradora de Itajaí. Ela é mãe de João Luiz, de 53 anos, portador da síndrome de Down. Ivone sempre se esforçou pela integração do filho na sociedade, o que a levou a ser presidente da APAE de Itajaí por 14 anos. “Quando ele nasceu, a gente sentiu que ele era diferente, mas nós naquele tempo não sabíamos nada sobre deficiência. Eu fiquei bem desesperada, eu queria curar meu filho. Eu dizia para o médico que ia cuidar bem direitinho dele, e dali a 20 anos ele ficaria bom. Mas o médico dizia que não”. A casa é repleta de fotografias antigas e outras nem tanto. A maioria delas é dos filhos e netos, mas João Luiz está em praticamente todas. Dona Ivone se dedicou a vida inteira para oferecer uma boa qualidade de vida ao filho. Ela frequentou congressos, semi-
Bruno Golembiewski
Bárbara Porto
Da esquerda para a direita: Mariângela, Lilinha e Débora, na festa tão esperada pela família
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Cobaia
Lenir faz questão de celebrar todos os anos o dia do aniversário
Itajaí, outubro de 2014
Pierre, aos 69 anos, frequenta a APAE desde os 10
no meio da sala. Impossível não ver graciosidade naquele gesto. Não há vergonha nem preocupação com os outros. Ele faz por prazer, faz porque gosta, mas faz, principalmente, porque a mãe pediu com muito carinho. Ao final, Dona Ivone recebe um beijo de João Luiz: “Ele é o amor da minha vida”.
Perfil dos cuidadores Edileusa Pavesi, psicólo-
ga há 15 anos, trabalha na Clínica de Terapia Integrada Uni Dune Tê, da APAE de Brusque. Ela traça o perfil dos cuidadores: por uma questão histórica, são mulheres, donas de casa, e geralmente parentes da pessoa com necessidades especiais, mães ou irmãs. O cuidado está sempre focado neste universo familiar, dificilmente são pessoas de fora. Edileusa nunca havia sido procurada para falar
Bruno Golembiewski
nários e fez cursos. Comovida, diz que nesses 50 anos os filhos foram casando, os netos vieram e João Luiz ficou com os pais, em casa. No meio da entrevista, bem com jeito de mãe babona, Dona Ivone diz que o filho gosta de assistir à TV, futebol, novelas, ver filme, adora sambar, e pede a ele que dê uma palhinha para a equipe de gravação. João Luiz se levanta, tira os tênis e, com muita naturalidade, samba
Bruno Golembiewski
Bruno Golembiewski
Teresa afirma que cuidar de Pierre é uma alegria
Para Dona Isabel, estar ao lado de Pierre é uma lição de vida
sobre cuidadores de pessoas com deficiência mental, ela destaca a necessidade de se falar mais sobre o assunto. “O olhar para o cuidador de pessoas com deficiência ainda é muito novo, me parece que precisa ser muito mais divulgado, no sentido de que as pessoas precisam entender que elas também necessitam de cuidados”. Conclui dizendo que a melhor maneira de preservar a qualidade de vida dos cuidadores ainda é investindo em informação e formação destas pessoas.
Durante as gravações da reportagem, Lilinha estava na expectativa de seu aniversário, um dos dias mais especiais do ano para ela e para seus familiares, que veem nesse momento recompensado o esforço e a dedicação diários para com seu bem-estar. Além da deficiência, Lilinha, Pierre e João Luiz tem em comum o carinho, o amor, a entrega de seus cuidadores e, principalmente, a alegria de viver. Veja “Amor Especial” na íntegra: www.youtube.com/ watch?v=8kNuHP5TXHc
Principais causas Os fatores de risco e causas que podem levar à Deficiência Intelectual podem ocorrer em três fases: pré-natal, perinatal e pós-natal. Pré-natal Bruno Golembiewski
Fatores que incidem desde o momento da concepção do bebê até o início do trabalho de parto: 1) Fatores genéticos • Alterações cromossômicas (numéricas ou estruturais) - provocam Síndrome de Down, entre outras; • Alterações gênicas (erros inatos do metabolismo): que provocam Fenilcetonúria, entre outras. 2) Fatores que afetam o complexo materno-fetal • Tabagismo, alcoolismo, consumo de drogas, efeitos colaterais de medicamentos teratogênicos (capazes de provocar danos nos embriões e fetos); • Doenças maternas crônicas ou gestacionais (como diabetes mellitus); • Doenças infecciosas na mãe, que podem comprometer o feto: sífilis, rubéola, toxoplasmose; • Desnutrição materna. Dona Ivone não cansa de dizer que o filho é o amor de sua vida
Perinatal
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Fatores que incidem do início do trabalho de parto até o 30.º dia de vida do bebê: • Hipóxia ou anoxia (oxigenação cerebral insuficiente); • Prematuridade e baixo peso: Pequeno para Idade Gestacional (PIG); • Icterícia grave do recém-nascido (kernicterus). Pós-natal Fatores que incidem do 30.º dia de vida do bebê até o final da adolescência: • Desnutrição, desidratação grave, carência de estimulação global; • Infecções: meningites, sarampo; • Intoxicações exógenas: envenenamentos provocados por remédios, inseticidas, produtos químicos como chumbo, mercúrio etc; • Acidentes: trânsito, afogamento, choque elétrico, asfixia, quedas etc.
Fonte: http://www.apaesp.org.br/SobreADeficienciaIntelectual/Paginas/O-que-e.aspx João Luiz gosta de montar coreografias. Seu rítmo favorito é o samba
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Leitura
Do “sono” à realidade: o Super Cristinho Garoto de seis anos lança livro com personagem que ele criou em sonhos e pode concorrer ao Guiness Bárbara Porto e Gabriel Elias
O
filho, literalmente. O resultado: uma tiragem assinada por quem começa a ser reconhecido como o mais novo autor brasileiro. A produção do livro é totalmente independente, bancada pelos pais do menino e, hoje, Otávio viaja com eles e com o irmão mais novo divulgando a iniciativa nas escolas, conversando com as outras crianças e incentivando o hábito da leitura. “O sonho está virando realidade”, diz Deivid da Soler, o pai do pequeno escritor. “No começo, parecia uma brincadeira de criança, depois foi tomando corpo e está assim. Ele tem mais três histórias, todas de sonho”, conta Deivid. A primeira história, a que virou livro, mostra alguns momentos de lazer de Otávio, e serve para apresentar o Super Cristinho para as crianças. A segunda história fala sobre medo, e foi escrita numa época em que Otávio estava tendo muitos pesadelos. A terceira, fala sobre reciclagem. Otávio sempre gostou de ler, igual à mãe. O pai nem sempre gostou de ler, mas acabou sendo incentivado pelo próprio filho e já pegou o gosto pela leitura.
Fotos: Gabriel Elias
pequeno Otávio da Soler estava prestes a fazer cinco anos de idade quando seus pais lhe perguntaram qual tema ele queria para sua festa de aniversário. Otávio naturalmente disse que queria uma festa de super herói, mas não de qualquer personagem, ele queria o mais poderoso de todos: o Super Cristinho. Os pais estranharam, nunca haviam ouvido falar deste personagem. Quando perguntaram para Otávio quem era Super Cristinho, a resposta foi surpreendente. O Super Cristinho é um herói dos sonhos do menino, um homem que sua imaginação criou e que possui uma espada mágica com o poder de melhorar todos os males. Depois de contar o sonho e fazer os desenhos do super herói, Otávio convenceu os pais de que esse seria mesmo o tema da festa. Como uma coisa puxa outra, veio a ideia de retratar o super herói em um livro que servisse de lembrança aos convidados, porém, os pais foram percebendo que Otávio tinha novos sonhos com o Super Cristinho e decidiram investir na capacidade criativa do
Jucélia, mãe do jovem autor, incentiva outras crianças a ler e escrever
A artista plástica Solange Ribeiro teve a oportunidade de ajudar neste projeto. Durante uma tarde de autógrafos e conversas com alunos do Colégio de Aplicação da Univali, na Biblioteca Central do Campus Itajaí, a artista encarnou o personagem nascido dos sonhos do menino. Fantasiada de Super Cristinho, tirou fotos com as crianças e brincou com elas. Ela diz que amou a experiência: “As crianças ficam encantadas. Elas
“
No começo
parecia uma
brincadeira de
criança, depois foi tomando corpo e está assim. Ele tem mais três histórias, todas de sonho
perguntam: - Você não fala? Você é amiga do Superman? - Eles querem tocar na fantasia, tirar foto, brincar”. O pai de Otávio também já se fantasiou de Super Cristinho, e conta que curtiu a experiência: “As crianças querem conversar com a gente, querem que a gente fale com elas. E muitas vezes não dá pra falar”. Segundo a Biblioteca Nacional, Otávio é o escritor mais jovem do Brasil, com apenas seis anos de idade. Os pais estão em contato com o Guinness Book e talvez Otávio receba o título de escritor mais jovem do mundo. Ele nasceu em Urussanga, no sul de Santa Catarina. Adora as viagens, mas também adora video-game, e até pediu para o pai desenvolver um jogo do Super Cristinho. Deivid já está conversando com o curso de programação da Univali, e talvez o game também se torne realidade. O Super Cristinho é uma marca registrada e inclui, além dos livros, camisetas e brinquedos. O livro fala sobre fé: “Se acreditarmos e tivermos fé que conseguiremos, com certeza vamos”, diz Otávio em um trecho do texto. Assim, o Super Cristinho desce do céu com sua espada de fogo e ajuda Otávio. O livro é infantil, mas nós, os “grandões”, podemos tirar lições: Quantas vezes desistimos de algo porque parece difícil demais? Ou deixamos de fazer alguma coisa por medo do que as pessoas vão pensar ou dizer? Otávio, aos seis anos, lançou um livro. Pense nisso.
O boneco do Super Cristinho chamou a atenção da criançada
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Quem comprou o livro, muitos adultos e crianças, garantiu autógrafo
Otávio não foi o único a receber abraços, beijos e posar para fotos
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Literatura
Raphael Montes: talento da nova safra Ele já chegou a finalista em três prêmios brasileiros e se prepara para virar autor de seriados policiais Gabriel Elias
Deivid Bernardino
Itajaí, outubro de 2014
Cenas de crimes são comuns nas obras de Raphael, que vão desde o suicício ao sequestro
Método Para escrever um livro, Raphael sempre faz uma pesquisa com todas as informações que usará. Dias Perfeitos exigiu que ele fosse a uma sala de anatomia, atrás de informações para escrever as cenas. Foi também para Ilha Grande. Ele acha que conhecer esses lugares o ajuda a ter ideias. E coisas engraçadas acontecem nessas visitas. Certa vez foi a um sexshop para pegar algumas informações sobre mordaças e algemas. Depois de tomar tempo da vendedora sem ter a intenção de comprar nada, surpreendeu-se com uma proposta: “A vendedora espalhou o gel na mão dela e disse para eu lamber”, conta Raphael. Ele não lambeu a mão da vendedora, mas resolveu incluir esse episódio em seu livro. Para o segundo livro, não escolheu a editora que ofereceu o maior cachê, mas sim a que fez a melhor proposta de marketing. A intenção de Raphael era aumentar a divulgação da obra. Com a agenda cheia, o jovem escritor diz que os eventos atrapalham: “A rotina é não ter rotina”. Seu aniversário de 24 anos, dia 22 de setembro, ainda não teve comemoração. Agora, ele se dedica apenas à carreira de escritor, escreve o dia inteiro, sem pressão. Os dois primeiros títulos foram vendidos para o cinema, e têm previsão de lançamento para o fim de 2015. O próximo livro já esta a caminho, junto com dois seriados. Raphael enfrenta as dificuldades de um escritor do mundo moderno, onde os livros de papel têm dado lugar aos e-books e perdido espaço nas prateleiras por causa Cobaia
do download em PDF. Da mesma forma que as editoras têm lançado novos escritores no mercado, elas também têm investido em livros
digitais. Mas, ele segue em frente. Longa vida a Raphael e a literatura nacional – em qualquer que seja o suporte. Gabriel Elias
O acadêmico/repórter Gabriel Elias, com o autor Raphael
Reprodução Facebook
“
Gertrudes era a única pessoa de quem Téo gostava. Desde o primeiro momento, ele soube que os encontros com ela seriam inesquecíveis. Serenamente à sua espera, estava ela. Sob a luz pálida, o cadáver ganhava um tom amarronzado muito peculiar, feito couro. Era Gertrudes” (trecho do livro Dias Perfeitos – Raphael Montes). Aos 24 anos de idade, carioca, Raphael Montes tem se destacado como escritor policial. O primeiro livro dele, Suicidas, foi finalista dos Prêmios Benvirá de Literatura 2010, Machado de Assis 2012 da Biblioteca Nacional e São Paulo de Literatura 2013. O segundo, Dias Perfeitos, citado no início desta reportagem, vem exigindo do autor muito fôlego para percorrer o país em cerimônias de lançamento. Neste mês, enquanto esteve em Blumenau para mais uma dessas divulgações, conseguimos conversar com ele sobre escolhas, método e inspiração. Confira. Formado em Direito, Raphael começou a escrever contos aos 12 anos e sempre quis ser escritor, mas foi estudar Direito para “ter um pé no chão, caso a carreira de escritor desse errado”. Formou-se em agosto de 2013 e começou a prestar concurso para Procurador Federal. Suicidas foi escrito nos dois primeiros anos de faculdade. O segundo livro, Dias Perfeitos, lançado em março de 2014, o levou ao reconhecimento quando o jornal Estadão publicou uma reportagem sobre ele em meia página. A matéria anunciava Raphael como uma promessa literária policial. Dias Perfeitos conta a história de Théo, um estudante de Medicina que divide seu tempo entre dissecar cadáveres e cuidar da mãe paraplégica. Ao conhecer uma garota - Clarice, em uma festa, Théo fica obcecado por ela, que sonha se tornar roteirista de cinema. Dias Perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão de um psicopata apaixonado.
O autor distribuiu autógrafos no lançamento do livro em Blumenau
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Para apurar os sentidos e alegrar a vida, experimente sair da frente das telinhas e fazer outras descobertas Bruno Golembiewski
Pousada Portal do Sol
Esporte
Em contato com a natureza
Recortes do litoral catarinense, como este, em Bombinhas, reservam belas surpresas aos visitantes
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nha casa para irmos à trilha. Chegando a Zimbros, estacionamos a moto na casa de sua tia, dona Conceição, que morou a vida toda no local. Ao avisar que iríamos à trilha da praia Triste, ela deixou um recado: “Tomem cuidado na trilha e voltem antes do anoitecer”. Na entrada, dois pescadores
arrumavam suas redes para ir ao mar em busca de peixes. Perguntamos se estávamos no lugar certo e eles confirmaram com a cabeça. O mato era fechado e estava quente, cheio de insetos. Os barquinhos que compõem a paisagem de Zimbros foram ficando para trás. Fizemos a primeira
montanhoso.blogspot.com.br
final de semana me reservou uma aventura diferente. Fui convidado a conhecer a trilha da Praia Triste, que começa no final da Praia de Zimbros, no município de Bombinhas. Logo pela manhã, um velho amigo de infância passou em mi-
parada para passar repelente nas pernas, porque devido ao calor, viemos de bermudas. Os braços e o rosto também receberam o passar melado do repelente. Eu estava feliz, o contato com a natureza é incrível. O barulho dos pássaros e o cheiro de mato me faziam sentir o contato direto com aquele ambiente. Além disso, nada se ouvia, apenas o bater de nossos tênis, em ritmo constante para não perder o pique. Logo chegamos a uma baía pequena. O nome: Praia do Cardozo. O mar batia calmamente na areia. Um pouco para trás, duas árvores com um balanço feito de madeira e corda mostravam que não éramos os únicos a passar por ali. Seguindo o caminho na trilha, agora fechada, não era possível ver o sol, só a luz dele se projetando em pequenos focos a nossa frente. “Será que estamos chegando?”, me perguntei. A essa altura já tínhamos andado quase duas horas e ia ficando cada vez mais difícil o trajeto. Ao longe, comecei a avistar uma praia, bem pequena, solitária. Fiquei pensando porque se chamava praia Triste, um nome um tanto misterioso. Depois de descer uma ladeira, chegamos, que alívio, já estava cansado. No canto esquerdo, em cima de um elevado de terra, duas casas de madeira, bem simples. Ali moravam nativos, que a vida toda sobreviveram da pesca naquele lugar. Não tinha ninguém na casa. Provavelmente tinham saído de bateira para pescar. O sol estava forte, era meio dia. Embaixo de uma árvore, sentamos para comer. Do lado tinha uma bica de água doce, vinda de uma cachoeira a mais ou menos uma hora dali, nosso próximo destino. Tiramos das mochilas pão com presunto e queijo, bolachas e água para o almoço. De barriga cheia, me
recostei em uma pedra, senti a brisa bater no meu rosto e fechei os olhos. Passada a ‘siesta’, continuamos nossa aventura rumo à cachoeira. Dessa vez optamos por esconder as mochilas em uma árvore e seguir o caminho descalços. A cachoeira fica em um morro, portanto, a trilha era um pouco íngreme. De pés no chão, senti a maciez da grama, a umidade do barro e o espetar das pedras. Depois de quase duas horas, chegamos a uma curva, que descendo dava na queda d’água. Ali havia uma corda amarrada em um tronco para facilitar a descida. Ao me deparar com as águas que escorriam sobre as pedras, fiquei encantado. Em cima da cachoeira, as árvores cobriam o sol, dando um ar ainda mais incrível àquele lugar. Coloquei meu pé na água, que era muito gelada. Depois de alguns segundos parecia queimar. Não tinha trazido roupa reserva e também o frio me fez desistir de me molhar por inteiro. Sentamos `a beira da cachoeira e comemos duas laranjas cada um. Tínhamos trazido água e as frutas em uma sacola plástica. Ficamos apreciando a paisagem e descansando até o meio da tarde. Agora, a pior parte, o caminho de volta. Descendo o morro até a praia, apanhamos nossas coisas e entramos na trilha da praia de Zimbros. “Tchau, praia Triste, até breve”, pensei. O caminho de volta parecia ir bem mais rápido, apressamos o passo porque estava começando a escurecer. O cansaço tomava conta. Passamos nova dose do meloso repelente, calçamos os tênis. Quando chegamos a Zimbros, estava quase de noite. Exausto, subi na moto, coloquei meu casaco e seguimos até Itajaí, para casa. Obrigado, natureza!
montanhoso.blogspot.com.br
A paisagem encantadora da praia Triste como prêmio para quem encara uma dura caminhada
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Cobaia
Cachoeira à beira-mar: um exagero de beleza na Mata Atlântica
Itajaí, outubro de 2014
Conhecido também como arte suave, o jiu-jitsu é um esporte que ensina a respeitar o adversário Bárbara Porto
Fotos: ©mateusmarcelino
Esporte
Mais técnica, menos força
Energia, concentração, seriedade: lutadores de jiu-jitsu valem-se da técnica para aprimorar caráter
C
onfesso que acompanhar um treino de jiu-jitsu e ter estudado sobre o tema para poder escrever este texto me deixou com vergonha sobre os meus julgamentos quando assistia à uma luta pela TV. Espero que nenhum praticante ou apaixonado por jiu-jitsu tenha me ouvido quando eu disse: “Que chato, a luta foi para o chão, que sem graça”. Dificilmente irei fazer este comentário novamente. O jiu-jitsu é uma arte marcial extremamente técnica. A diferença de peso ou tamanho não impede que os movimentos sejam realizados corretamente. Força não é a característica principal do jiu-jitsu, a forma como a técnica é aplicada, como na maioria dos esportes, é
o diferencial, é uma luta em que o mais fraco pode derrotar um adversário mais pesado. Meu conhecimento sobre jiu-jitsu se restringia a algumas lutas a que assisti, por influência de amigos e familiares, pela televisão. Por isso, no meu imaginário, no centro de treinamento haveria um ringue, daqueles de luta livre, vários atletas musculosos com cara de maus e muito barulho de pessoas rugindo em força. Um verdadeiro cenário de guerra, que é desmitificado assim que entro na sala do centro de treinamento da Gracie Barra de Tijucas. As paredes são brancas, o tatame é aberto e amplo. Muito silêncio, inclusive das crianças que haviam terminado a aula e esperavam por seus pais. Fiquei
um pouco nervosa, afinal, me preparava para uma situação e encontrei outra totalmente diferente. Os alunos ficam com os pés descalços, se curvam e fazem uma reverência. Só então entram no tatame. Cada atleta, conforme vai chegando, repete os gestos. Concluo que seja um ritual e faço o mesmo. O treino tem uma hora de duração e é extremamente silencioso e bem segmentado. No aquecimento, ao mesmo tempo que o professor passa os exercícios, ele puxa um coro: “um, dois, três, quatro, cinco”. Os alunos completam: “seis, sete, oito, nove, dez”. Assim o aquecimento fica com um ritmo rápido e é realizado sem pausa. Só de olhar já fico sem fôlego e me pergunto se
Golpes são treinados intensamente e exigem muito preparo dos jovens aprendizes
Itajaí, outubro de 2014
Cobaia
aguentaria aquela sequência de polichinelos, flexões, abdominais e outros movimentos que nunca havia visto. Isso era só o começo. Já aquecidos - e ainda vivos - todos vão ao centro do tatame para observar o professor, faixa roxa, Luiz Ricardo Flôres. Com a ajuda de outro aluno, ele passa a técnica necessária para aplicação de um golpe, que será praticado em seguida pelos alunos. Com calma, Flôres diz onde posicionar os pés, como segurar o kimono do adversário, o melhor jeito de imobilizá-lo a partir daquele golpe. Admito que eu entendia o que era falado, mas tinha grande dificuldade de decorar a sequência dos movimentos. Problema que, naquela sala, só se aplicava a mim. Depois de memorizar os movimentos, os alunos partem para o ‘treino específico’, onde, em duplas, a técnica que Flôres ensinou é executada diversas vezes. Em certo momento as posições se invertem, quem está por baixo toma a posição superior, e fica sobre o colega, assim todos podem praticar, em um momento recebendo o golpe e em outro executando-o. Durante todo o treino os alunos conversam e se ajudam. Os mais experientes revelam o melhor jeito de aplicar o movimento, mesmo que seja contra eles mesmos. Um ambiente em que é notório o crescimento conjunto do grupo. Quando o professor diz: “tempo”, os alunos se separam e é possível perceber a exaustão que toma conta de seus corpos. Os olhos fechados e a respiração profunda deles me fez pensar o forno que, após tanto exercício, deveria ser dentro daquele kimono de pano grosso. Mas a folga dura pouco e todos se reúnem novamente em volta de Flôres que passa outro golpe, executado em
seguida pelos jiujiteiros, como são chamados os praticantes de jiu-jitsu. A última - e, para mim, a mais divertida - parte da prática é o “rola no tatame”. Uma espécie de “treino livre”, na qual os alunos praticam todas as posições ensinadas pelo professor naquele dia em forma de combate. Isso os ajuda a memorizar e aperfeiçoar a técnica. É neste momento que eu, como espectadora, noto como é empolgante a luta no chão, o que pela TV não é possível perceber. Estar ali, bem perto dos atletas e ver o quão concentrados eles estavam, é envolvente, e me despertou vontade de saber qual seria o próximo golpe, se ele daria certo e qual a reação do adversário atingido. Fim de treino. Antes de sair do tatame, todos os alunos e professor cumprimentam-se um a um, fazem uma reverência em respeito à imagem de Hélio Grace, atleta responsável pela difusão do jiu-jitsu no Brasil, e outra reverência ao tatame. Me levanto e faço o mesmo que os alunos, quando alguém chama minha atenção: “Ei, você tem que fazer a reverência assim, com os pés mais afastados”. Fico com vergonha e peço desculpas. Me aproximo do professor e lhe pergunto sobre a relação de respeito entre os alunos, e ele me responde: “Sem os colegas não temos treinos”. Hoje não é só o futebol nacional que é conhecido no mundo inteiro, o jiu-jitsu brasileiro também garantiu o seu lugar entre os melhores. O jiu-jitsu é conhecido, também, como “arte suave” e, após assistir a um treino, entendo o porquê desta denominação. Como águas de um rio, este esporte é, em sua superfície visível, leve e tranquilo, mas a força e energia que tem por baixo desta aparência simpática é surpreendente.
Os mais experientes ensinam aos novatos o melhor jeito de praticar o movimento
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Esporte
Loucura consciente A primeira vez a gente nunca esquece. Aluna se aventura no parapente e relata a radical experiência Paula Anelize Tizoni Leão
do outro. Bom, no meu caso literalmente me coloquei ao lado do instrutor na prática do tão temido parapente. Nunca pensei que das coisas que eu possivelmente faria um dia, me jogar a 104 metros acima do mar estaria na lista. Pensando em garantir o sucesso da tarefa, feita por amor à futura profissão e pelo mais profundo desejo de poder relatar uma experiência vivida realmente na pele, tive um tempo de prévias orientações com o instrutor Ricardo, que me equipou com pesados ornamentos para a realização do voo duplo de parapente. Fazia 15 minutos que eu esperava pelo retorno da minha colega de estudos, condenada à mesma loucura, que pairava no céu azul daquela tarde de domingo (17 de agosto), e a ansiedade era tanta que não percebi a plateia que se aglomerava a poucos metros. Somente após ouvir o grito “corre e não senta”, do instrutor, me dei conta de que era real e de que eu estava prestes a fazer uma loucura. Os segundos seguintes, após a decolagem frustrada e de frente com os arbustos do morro, foram os mais estranhos da minha vida. Um misto de medo, paz e uma sensação de liberdade dominaram cada pedaço de mim e por breves quatro minutos me mantive numa calmaria sem fim. Voltei à realidade após perceber que o chão, até então bem distante, começava a se aproximar rápido e os pontinhos lá embaixo a tomar forma de pessoas. O pouso forçado na praia
Fotos: Renata Rutes
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uem vem de Itajaí, já na descida da Praia Brava, consegue enxergar de longe aqueles pontinhos coloridos no céu. Não confunda com ‘pipas’, pois a única semelhança é o pairar no vento. O Morro do Careca, localizado na Praia dos Amores, em Balneário Camboriú, é um ponto para a prática do voo livre onde dois esportes radicais se cruzam: asa-delta e parapente. Um dos melhores picos da região para o exercício de esportes radicais, o local recebe em média, na temporada, 60 pessoas por dia, que pagam R$ 180,00 num voo duplo de parapente, para sentirem 20 minutos de pura liberdade. Para alguns é loucura, mas para outros é apenas o desejo de paz sendo expresso na sua forma mais pura. Segundo Ricardo Lincoln das Neves, instrutor de voo há quatro anos, a vontade de se lançar pelos ares veio num momento delicado da vida dele. Diferente da maioria das pessoas, que geralmente são encorajadas por amigos ou pela curiosidade, ele resolveu se aventurar no esporte após sofrer um trauma, consequência de um acidente. “Há nove anos me envolvi em um acidente de carro e entrei em depressão, mas logo decidi que, se fosse para morrer, seria fazendo algo que eu gosto”, conta. Para explicar melhor essa sensação e essa paixão inesperada pelo ‘voar’, entendi que a melhor maneira de esclarecer alguma coisa desse tipo era se colocando no lugar
A repórter e o instrutor Ricardo na decolagem, a 104 metros de altura e prontos para alçar voo
foi necessário para segurança e apesar de parecer desastroso, foi muito bem realizado. Segundo Gabriel Krummenauer, praticante há nove meses do esporte, o normal é retornar para o local de partida para a retirada do equipamento, mas se o vento ‘sumir’ é preciso fazer um pouso de emergência
Muitas instruções e equipamentos de segurança antecedem o salto rumo à Brava
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na praia. Uma equipe, a bordo de um veículo esportivo, fica de prontidão na ponta da Praia Brava para recolher o pessoal obrigado a descer nas areias. Lazer, coragem, loucura ou simplesmente por ofício da profissão (futura), não importa, a prática de esportes radicais com certeza é uma opção
ousada e muito bem pensada, que envolve não só a própria pessoa, mas profissionais dedicados e muitas rugas nos rostos das pobres mães. Fora os arranhões, o que ficou daquele dia foi a certeza absoluta de que eu não iria tão cedo me aventurar de novo no parapente.
Voo dura 20 minutos e a sensação de liberdade deixa um gosto de “quero mais” Cobaia
Itajaí, outubro de 2014
Concurso
Prêmio Chaplin de Comunicação 2014 Evento chega à 3 ª edição com mais categorias e muito espaço para revelar talentos acadêmicos Gabriel Elias
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romovido pelo Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação, Turismo e Lazer, o Prêmio Chaplin de Comunicação está com inscrições abertas. Além de incentivar a criação de peças específicas para concorrer, o Prêmio Chaplin é uma oportunidade que os acadêmicos têm de mostrar e valorizar os trabalhos produzidos nas disciplinas ao longo do tempo de formação. Então, mãos à obra, porque ainda dá tempo de figurar entre os vitoriosos na solenidade de encerramento do evento, marcada para o dia 18 de novembro, no Teatro Adelaide Konder – Campus Itajaí, a partir das 19 h.
Trajetória
COBAIA - Guilherme, no Prêmio Chaplin, o estudante de um curso pode se inscrever em uma categoria de outro curso? GUILHERME - Pode sim, desde que o trabalho tenha sido desenvolvido em sala e tenha um caráter acadêmico. Um acadêmico de Relações Públicas que tenha alguma matéria no Jornal COBAIA pode inscrever essa matéria desde que apresente todas as características de acordo
com o que o regulamento pede. COBAIA - Uma das novidades deste ano é a oferta de um novo sistema de inscrição. Como ele funciona? GUILHERME - Bom, neste ano, todo o processo de inscrição está online, através de um sistema interno para eventos que a Univali possui. Então, o acadêmico tem acesso a todas as categorias por esse sistema. É uma nova forma que a gente está utilizando pra facilitar as inscrições. A equipe organizadora não tem acesso aos trabalhos, os trabalhos vão direto para a equipe selecionada para avaliar os trabalhos. Essa distribuição é bem interessante, é a primeira vez que a comissão organizadora está utilizando. E não é só essa novidade, neste ano a premiação está com 40 categorias, diferente de outros anos, que eram menos. COBAIA - Como será feita a premiação em 2014? GUILHERME – Assim como em anos anteriores, só a equipe avaliadora sabe do resultado e ele é divulgado apenas no dia do evento. São três colocados em cada categoria. As três primeiras colocações recebem prêmio em forma de horas reconhecidas para compor as Atividades Complementares, um componente obrigatório no currículo dos
cursos. O primeiro lugar ganha um certificado de 20 horas mais um troféu, o segundo lugar ganha um certificado de 15 horas e o terceiro lugar um de 10 horas. É importante também destacar que basta o acadêmico inscrever o trabalho para ganhar duas horas. Por ter feito uma inscrição, já está sendo premiado e reconhecido com duas horas. COBAIA Como está funcionando a organização do evento neste ano? GUILHERME - A primeira e a segunda edição aconteceram como atividade de uma disciplina ministrada pela professora Lígia. Este ano é a primeira vez que o prêmio está sendo realizado pela Agência Integrada de Comunicação, e envolvendo toda a equipe de professores e coordenações dos cursos. COBAIA - Quantos trabalhos foram inscritos para esta edição? GUILHERME - Para esta edição foram inscritos 567 trabalhos. COBAIA - Como será feita a avaliação desses trabalhos? GUILHERME - A organização monta uma equipe de avaliadores com profissionais do mercado e professores. A composição da equipe permanece em sigilo. Os trabalhos são encaminhados para
julgamento através do sistema online no qual todos os concorrentes estão cadastrados. Nenhum acadêmico sabe quem são os jurados, apenas os professores envolvidos na organização. COBAIA – E a escolha de Charlie Chaplin para batizar o prêmio? GUILHERME - Charlie Chaplin foi ator, produtor, dançarino, diretor, escritor, roteirista, músico. Ele é um exemplo de criatividade, esforço e dedicação na área de Comunicação. Ele é referência e inspiração para uma carreira profissional. O Prêmio Chaplin de Comunicação é uma oportunidade para os acadêmicos serem reconhecidos e premiados por sua criatividade, esforço e dedicação. “A persistência é o caminho do êxito”. Charles Chaplin.
Artes: Adriano Debarba
O Prêmio Chaplin estreou em 2010, pelas mãos da professora Lígia Najdzion, como parte de uma disciplina. Na segunda edição, em 2012, voltou a ser realizado e premiou 30 trabalhos. O sucesso foi tanto que a ideia extrapolou o âmbito da disciplina para integrar, a cada dois anos, o calendário dos cursos de Comunicação. Por conta disso, esta terceira experiência é mais pretensiosa: tem a intenção de consagrar 120 trabalhos assinados por acadêmicos de Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Produção
Audiovisual e Fotografia. Podem concorrer estudantes regularmente matriculados de todos os períodos, mas – por enquanto - apenas os que estudam no Campus Itajaí. Cada concorrente tem direito a inscrever até seis trabalhos, e as produções em grupo podem ter no máximo seis participantes. A inscrição deve ser feita pelo site www.premiochaplincom. com.br. O evento é coordenado pela Agência Integrada de Comunicação (IN), representada pelos professores Hans Peder Behling, Jane Cardozo da Silveira e Lígia Najdzion. A equipe do Jornal COBAIA conversou com Guilherme Henrique da Silva, estagiário de Relações Públicas da Agência IN que, junto com a professora Lígia Najdzion, tem se dedicado à organização deste 3º Prêmio Chaplin de Comunicação.
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Cobaia
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Série ” s i f r e P o “Tecend
TCC de Jornalismo apresenta operários da indústria têxtil brusquense pós-crise dos anos 90
A crise que atingiu a indústria têxtil brasileira a partir da década de 1990 provocou a queda das três empresas pioneiras desse nicho de mercado na cidade de Brusque, reconhecida internacionalmente como Berço da Fiação Catarinense. Nascido e criado em torno de seu pólo têxtil, o município passou a sofrer mudanças sociais e econômicas com o fechamento da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, e a recuperação judicial da Buettner S.A. e da Cia. Industrial Schlösser. Nesse cenário de falência e reestruturação, funcionários deixaram de receber os salários e viram anos de suas vidas jogados fora junto com os empregos. Quem são esses operários e o que fazem hoje? No primeiro semestre de 2014, enquanto preparava a grande reportagem “O Silenciar dos Teares”, como Trabalho de Conclusão de Curso, a então acadêmica de Jornalismo Olga Luísa dos Santos foi em busca desses trabalhadores. O resultado do encontro entre a repórter iniciante e os veteranos tecelões rendeu a série “Tecendo Perfis”, que publicamos a partir desta edição.
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dam a fiscalizar o uso de equipamentos de segurança. Do jeito que Modesto sempre se portou na fábrica, é fácil entender por que ele integrou esse grupo. A experiência adquirida ao longo dos anos o fez ser mais cuidadoso, e saber agir em situações de emergência. Foi graças a esse olhar atencioso que pôde impedir diversas vezes que outros colegas se machucassem. São tantas as memórias que eu poderia permanecer ali pelo resto da noite. Mesmo com a esposa trabalhando de costureira em casa, a falta de interação com outras pessoas é perceptível em nosso bate-papo. Notei, na vontade que tem de explicar todos os detalhes, como sente necessidade de conversar para passar o tempo. Não é de espantar. A mudança brusca que o fechamento da Renaux provocou na vida de Modesto fez um homem já idoso, porém tão disposto quanto os jovens, substituir as horas intensas de trabalho por dias vazios. O envolvimento total com o empreendimento deixou marcas. Ao anoitecer, “um sono que não dá de aguentar” aparece e proporciona a Modesto poucas horas de bons sonhos e descanso. Entre 22 e 23 horas, o relógio biológico o acorda e, até as 5h30min, permanece sem pregar os olhos. Todos os dias, no mesmo horário, coloca a chaleira com água no fogo, faz o café, chama a filha caçula para trabalhar e volta para a cama. Agora, sim, é hora de dormir. “Aquilo lá para mim era uma terapia”, enfatiza o homem que se acostumou a viver assim: dormindo de dia e trabalhando de noite. Mudar essa rotina já foi aceito por Modesto como impossível. Além de assistir a programas no sofá de assento único bem posicionado próximo à TV, “a única coisa que eu faço é passear com a cachorrinha de manhã e de noite”. Cecília, com ar de quem precisa desabafar, reafirma: “Ele adorava aquele serviço”. Ela aproveita para relatar os últimos meses de trabalho do marido. Sem possibilidade de permanecer funcionando, a fiação do bairro Limoeiro foi fechada. Então, veio a proposta para trabalhar no setor de tecelagem, na Avenida Primeiro de Maio. Sem conhecimento na área, Modesto pediu que lhe dessem a conta, porém, a gerência não aceitou, e insistiu que tentasse mais alguns meses. Mesmo a contragosto, pensando em não deixar a empresa na mão, foi para a tecelagem. “Ele reclamava que não tinha serviço e que ele não conseguia ficar parado”. Além disso, o problema de visão dificultava o bom desempenho, já que não conseguia distinguir as cores dos fios mais finos. Mesmo assim, a jornada de trabalho era sagrada. A esperança de que tudo voltaria a ser como era não o desanimava. Hoje, a única expectativa de Modesto é de um dia receber o que é seu por direito. O desejo de usufruir do dinheiro da rescisão ainda não poderá ser realizado. Cabisbaixo, ele permanece no aguardo, junto às outras centenas de funcionários. Porém, o que mais lhe faz falta não são os bens materiais que ainda não pôde adquirir, ou a quantia que não recebeu: são aquelas noites, dentro da fiação, vendo enormes rolos de algodão se transformarem em fios e depois serem vendidos como tecido de luxo. “Olha, aquilo lá foi a minha maior alegria. Eu fiquei todo esse tempo porque eu gostava de trabalhar na Renaux. Eu gostava do que eu fazia”. O mesmo silêncio profundo que iniciou nossa conversa, agora a encerra, como a lacuna que o tempo deixou. Olga Luísa dos Santos
O sofá em frente à TV e ao lado da janela da sala é hoje o espaço mais ocupado por Modesto Immianovsky. Ocioso, faz dos programas televisivos companhia durante toda a noite. Os cabelos grisalhos frisam a idade, 67 anos. A má audição e o problema de coluna fazem parte da herança dos quase 35 anos de indústria têxtil. A memória não guarda mais tão bem as datas, mas, arquiva as lembranças dos bons momentos e insiste em passá-las incessantemente como a um filme que ele não quer deixar de ver. Em 1978, entrou na Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, em Brusque. Modesto recorda que começou quando o setor de fiação havia sido instalado no bairro Limoeiro. Não demorou muito para que a afirmação: “Eu tinha aquilo lá como se fosse a minha casa”, o fizesse perder o ar e se emocionar. A frase: “Porque tudo o que eu tenho...” interrompida por um longo silêncio, foi completada pelas lágrimas que rolaram pelo rosto e encharcaram as lentes dos óculos. A comoção tomou conta de nós. Minha, de Modesto e da filha dele, Rafaela, que acompanhava ao meu lado nossa conversa. Do mesmo local onde passa a maioria das horas, daquele sofá de assento único, ele se recompõe. Os olhos fixos em meu semblante atento são os mesmos olhos verdes que veem, por cima de uma armação fina, quadrada e dourada, um passado que para sempre estará presente na vida dele. No setor de fiação, as únicas máquinas em que nunca trabalhou foram a retorcedeira, na qual dois ou mais fios eram unidos e torcidos juntos; e a de filatório, onde os fios são estirados, torcidos em um anel e, depois de finalizados, enrolados em uma espula. Com o tempo e o interesse, aprendeu a manusear as demais, e sabia como uma fiação funcionava, do início, na chegada do algodão, até a saída dos fios prontos. Nunca havia entrado em uma indústria têxtil, já que antes de começar na Renaux, era pedreiro. “Quando eu trabalhava de pedreiro ganhava seis cruzeiros a hora, daí eu entrei na fábrica para ganhar 250 cruzeiros a hora”, recorda em meio a risos. Até a esposa interrompe a conversa para ressaltar: “Quem entrava na firma Renaux, ganhava na loteria”. Apesar da rotina, as horas passavam de maneira tão agradável, que quando implantaram o sistema 6 X 2, Modesto não viu nenhum empecilho em trabalhar seis dias direto. Sua vida foi moldada para dormir pela manhã e ir para a Renaux à noite. Os funcionários do terceiro turno eram beneficiados com um acréscimo no salário e ainda recebiam um prêmio por assiduidade; o que era um incentivo, passou a ser “uma brincadeira”. E ai de quem disser perto de Modesto que era ruim trabalhar aos fins de semana. “Quanto tu mais trabalhavas sábados e domingos, mais tu gostavas de ir”. É evidente como fazia tudo com prazer. Quando a empresa decidiu acabar com a jornada 6 X 2, Modesto se mostrou prestativo. Os próprios contramestres lhe inseriram como primeiro na lista a voltar ao sistema, caso retornasse. Muito parceiro com os colegas de trabalho, citados diversas vezes, não se importava em trocar a folga com quem precisasse. As palavras saem algumas vezes confusas, mas, a maioria delas, aveludadas pelo carinho e cuidado com que fala da empresa. Os dias tão quentes quanto o que conversamos naquela tarde, eram exaustivos dentro da fiação. O ambiente abafado, por conta dos motores das máquinas e do pó do algodão, agravava a sensação térmica. Com uma disposição jovial, conta da força que fazia para carregar latões com 25 quilos de fio, de um lado a outro do setor. Pela forma como descreve, parece que vejo um crachá pendurado no paletó: sempre pronto a ajudar. O amor pelo local de trabalho e pelo serviço exercido com tanto afeto e primor transbordam pelos olhos ainda molhados, radiosos ao contar aquela sua, sim - com pronome possessivo - história. Ainda lembra, como se fosse ontem, a enchente que atingiu Brusque em 1983. Normalmente, o transporte coletivo especial para os funcionários da fábrica os buscava no bairro Santa Luzia e levava até em frente à antiga Loja Renaux, atual Casas Bahia, no Centro da cidade. De lá, em outro ônibus, iam até o Limoeiro. Naquele dia, a água era tanta que para atravessar a Avenida Cônsul Carlos Renaux, depois do expediente, mandaram um caminhão buscar os trabalhadores. Dentro do baú foram levados até a Rua Tiradentes, próximo ao sindicato. Os gestos querem me mostrar a quantidade de água, que naquele “sacrifício”, tinha entrado no baú do veículo. Agora, espirros em meio a nossa conversa indicam que uma gripe de verão está por vir. A idade já não ajuda Modesto a se recuperar rapidamente dos problemas de saúde. A filha mais nova, preocupada e bem apegada ao pai, precisa sair. As férias da faculdade são uma brecha para que, em meio aos cálculos da engenharia química, Rafaela tenha um tempo para diversão. Quem toma o lugar da moça na sala é a mãe, Cecília. Ela também tem muita coisa pra contar, já que além de acompanhar o marido ao longo de sua trajetória, foi costureira para a empresa durante cinco anos, quando a fábrica decidiu abrir uma confecção. Observa que não demorou muito tempo para que o setor falisse. Quase toda a família Immianovsky trabalhou na Renaux. Junto com o casal, quatro dos cinco filhos “ganharam na loteria”. Sempre muito envolvido, Modesto também foi integrante da CIPA- Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho, após ajudar a conter um incêndio que atingiu a fiação. Os “cipeiros”, conforme a legislação trabalhista, são indicados pelo empregador e eleitos pelos colegas com a função de prevenir acidentes. Também aju-
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Itajaí, outubro de 2014