Cobaia
Itajaí, março de 2015 Edição 134 Distribuição gratuita
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI
Caderno especial
“No meu bairro tem”
p. 07 a 15
Coletivo Fotográfico focasdafoto
Editorial
Crônica
Jornalismo: “No meu bairro tem”
Somos as feras Por Eduardo Abreu *
Jane Cardozo da Silveira* Na primeira edição de 2015, o Cobaia mostra ter começado o novo ano com muito fôlego. De cara, já oferecemos a nossos leitores um caderno especial. Produzido no segundo semestre de 2014 pelos então acadêmicos do quarto período de Jornalismo (hoje no quinto período), o caderno delineia o município de Itajaí por meio de alguns dos bairros que o integram. “No meu bairro tem ...” é uma pequena amostra da diversidade de que somos feitos, nós, brasileiros, às voltas com a nossa crença em um mundo mais igual e mais acessível a todos, como querem os responsáveis e os colaboradores da Escola Helen Keller, de Balneário Camboriú, que prepara cães-guia para assegurar mais mobilidade aos cegos. Ôpa! Mas estávamos falando dos bairros de Itajaí e pulamos para a cidade vizinha!?! Isso mesmo, afinal, o trabalho da Helen Keller, de tão importante, não está limitado a um espaço geográfico. Ao contrário: o que pretende é justamente ampliar os limites daqueles que, impossibilitados de enxergar, querem e precisam ter garantido seu direito de ir e vir em segurança. Em Balneário Camboriú, em Itajaí ou em qualquer lugar do mundo. Embora o trabalho edificante de preparação dos cães-guia ainda encontre di-
ficuldades para se expandir, os abnegados que a ele se dedicam o fazem movidos por um sentimento essencial à vida: a solidariedade. Solidárias são, igualmente, aquelas pessoas que compartilham o que sabem com
“
No meu bairro
tem ...” é uma
pequena amostra da diversidade de que somos feitos, nós, brasileiros, às voltas com a nossa crença em um
mundo mais igual e mais acessível a todos os outros de maneira generosa. É o caso de Inês Orsi, que trabalha como professora voluntária de yoga - e relata essa experiência na reportagem da página 12, em que revela ter sido esse o jeito que encontrou de fazer dife-
rença no mundo. Por sinal, os caminhos escolhidos para se atingir essa meta podem ser os mais inusitados, pelo menos se julgarmos a escolha mediante os critérios da maioria. O preâmbulo vale para anunciar a opção feita pelas Carmelitas, religiosas que vivem em clausura e constante oração. E não é em nenhum lugar distante no planeta. O Carmelo em que se refugiam fica mesmo em Itajaí - é um dos lugares de fé representante do bairro Cabeçudas no caderno especial. Contudo, está muito distante do cotidiano atribulado que o cerca. As Carmelitas não se expõem a câmeras e gravadores, mas - assim mesmo - a vida de renúncia a que se devotam é retratada na página 10. Outros devotos também mobilizaram nossos jovens repórteres nesta edição: paroquianos da Vila Operária, ou fiéis ardorosos de Nossa Senhora em Cabeçudas, todos têm seu espaço neste universo de experimentação do jornalismo que vai às ruas, aos bairros, ouve as pessoas, registra as impressões que elas têm do mundo. Não se contenta com telas, teclados e bytes. E - embora os utilize em profusão - questiona as formas como são regulados. Tem matéria a respeito na página 6. Boa leitura !
Eu tive a felicidade de visitar Curitiba neste fim de ano. Até mesmo o ar tem cheiro de casa. Entretanto, tudo para lá tem seu lado hostil da grande cidade. A selva de pedra esconde suas feras por detrás dos imponentes troncos dos arranha-céus. Quando pisei na cidade, logo que desembarquei, já me deparei com uma carreta que, insatisfeita com algo, entregava as bagagens. Mas eu lhe sorri mesmo assim. Sorrir me limpa por dentro, acredito. Por Deus, eu preciso sorrir. Com tal recepção, fez-me considerar se eu deveria, uma vez mais, destituir meu rosto do sorriso que eu sempre ostento. Por um momento ou dois cogitei voltar aos meus instintos mais urbanos, violentos e carrancudos. É assim que se vive na selva. Sempre atento. Sempre estressado. Ainda que seja a selva de concreto, asfalto e dióxido de carbono. Quando o sorriso caiu, eu já estava correndo, urbanizado, para fora da estação. Mas cá estou, sempre eu. Pus-me a observar os transeuntes que, assim como eu, haviam-se transmutado nas feras da cidade grande. E convenha comigo, é odiável. Foi quando paralisei e olhei em minha volta, fingindo procurar algo. E de fato, talvez procurasse. Eu sondava aqueles rostos opacos, carrancudos, procurando o resquício daquela sabedoria que, como uma bala, explodiu no meu peito. E eles me encaravam, raivosos, porque eu não tinha mais a pressa. E que pressa a vida precisa ter? E por que não sorrir, não apenas com mais frequência, mas incansavelmente? Se os olhos são as janelas da alma, o sorriso é a claraboia. E de apressado, basta o coração.
Jane Cardozo da Silveira *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP
Espaço
Fica esperto!
Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br
Boas-vindas!
Univali comemora
O ano letivo já começou na Univali e todos são bem-vindos: calouros e veteranos. Mas, você sabe quantas pessoas iniciaram sua graduação na área de comunicação na Univali? Para Relações Publicas e Fotografia, temos 31 novos acadêmicos em cada curso. Em Produção Audiovisual, são 37 novos alunos. A nova turma de Jornalismo é composta por 43 acadêmicos. O curso mais procurado na área da Comunicação neste semestre foi Publicidade e Propaganda, com um total de 89 futuros publicitários. Mas, calma, galera, o mercado de trabalho tem lugar para todos vocês! Esperamos que todos os calouros fiquem satisfeitos com o curso que escolheram e todas as oportunidades que ele oferece. Bom semestre para todos nós!
Depois de receber a nota máxima em todos os quesitos referentres à coordenação, concedidos pela comissão do MEC que visitou em fevereiro o Curso de Jornalismo da Univali, o coordenador, prof. Carlos Roberto Praxedes dos Santos, tem mais um motivo para comemorar. Acaba de ser designado como integrante da Comissão Assessora de Área para o Enade 2015. A portaria que nomeia a comissão foi publicada no Diário Oficial da União do dia 09 de março. O grupo é composto por sete pessoas, a maioria ligada a universidades federais. No mesmo documento, é apontado o nome do prof. Giorgio Gilwan da Silva entre os membros da Comissão do Enade para a Área de Tecnologia do Design Gráfico. O prof. Giorgio coordena o Curso de Design com linha de formação em Design de Jogos e Entretenimento Digital no Campus Florianópolis. De acordo com a profª Maria Elisabeth Pereira Kraemer, da Gerência de Ensino e Avaliação da Univali, as indicações são honrosas para a Instituição, já que as comissões de área são responsáveis pela definição das diretrizes e pela formulação das matrizes de prova a serem aplicadas no Enade 2015.
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* Acadêmico do 3˚ período de Publicidade e Propaganda
Cobaia
Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, março de 2015. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Estagiária Bárbara Porto Marcelino TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional
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Crônica
Bárbara Porto Marcelino
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elo menos uma vez na vida você há de encontrá-la, ficar cara a cara com esta danada que passa todos os dias por você. Ela é o carro em alta velocidade que ultrapassa no sinal vermelho, é a onda que engole, fria e rápida, ela é a doença que aflige, lenta e terminal, ela são os anos que te consomem, ela é o prefácio da dor mais agonizante que vem do coração: a saudade. Ela é o mistério da vida, ela é muito mais interessante que a própria vida. É a causa da discórdia eterna entre os homens. Pra onde iremos depois que ela passar? E como entendê-la, como aceitá-la? A verdade é que ela é uma convidada extremamente desagradável, nunca se está preparado para recebê-
-la. Se ela vier, que se aceite, se ela chegar, que se engula, como um prato de comida frio. Não tente compreendê-la, os que tentaram se entristeceram, enlouqueceram, ou pior, tornaram-se fanáticos em procurar uma maneira de superá-la. Mas quem passou por ela nunca voltou para contar a experiência de andar de mãos dadas com esta confusa acompanhante. Ela não te permite um último adeus, um último abraço, um último beijo, um último sorriso, um último “eu te amo”. Talvez devêssemos entender que a palavra ‘último’ não exista para ela, e, então, até que teríamos certa simpatia por este personagem ilustre que todos conheceremos um dia. Com o passar do tempo, com as experiências da vida,
observamos, conforme ela vai levando nossos entes queridos, que de todos os nossos companheiros na vida ela é a única que, com toda certeza, sempre nos acompanhará. Não se pode negar que graças a ela a vida adquire outro significado. As voltas que o ponteiro do relógio dá são cada vez menos importantes e valiosas. O que você faz com o seu tempo é o que conta de verdade. Não é um desentendimento, uma divergência de opiniões, uma escolha errada, o fim de um namoro que o deixarão abatido. Mas, cuidado, não permita que o sofrimento que ela causa endureça seu coração. Desisto, quantas explicação e para quê? Se o que ela leva, ela não traz de volta.
Mas há um lugar em que ela não é o personagem principal. Há um lugar no qual ela não pode entrar sem ser convidada. Quando fechamos os olhos e caímos no sono profundo, entramos em um mundo onde o final não existe e onde sempre haverá a chance de dizer pela última vez ...
sentado de frente para um monte de mato e ele me olha com o canto dos olhos. Mais do que nunca, hoje não posso me atrasar, nem vou dar ”bom dia”. Cheguei na hora em ponto na fábrica. “Driinnn!” O relógio despertou, eu me levantei e sem pressa pude me arrumar melhor. Tomei café e saí caminhando tranquilamente pela rua. Cheguei bem cedo ao meu serviço, é raro um dia em que isso acontece. Trabalhando, notei que alguma coisa estava diferente, foi quando comecei a relembrar o meu dia. Acordei cedo, tomei café, saí de casa e... Aquele senhor mais velho não estava sentado de frente para um monte de mato me olhando com o canto dos olhos. Achei estranho, mas continuei o meu serviço. Dias se passaram e o velho senhor não estava mais lá
quando eu passava de manhã cedinho. Hoje, mal despertou o relógio e eu já estava acordada. Tomei um bom banho e um café. Saí e mais uma vez não encontrei aquele senhor mais velho sentado de frente para o monte de mato me olhando com o canto dos olhos. Como eu não estava atrasada, parei para pensar um pouco e resolvi sentar lá no banquinho onde ele se sentava. Quando fui chegando mais perto, percebi que ali, de frente para um buraco no meio do m o n te de mato,
Por Juliana Costa Masera
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rabalho no primeiro turno e mesmo assim ainda não consegui me acostumar a dormir cedo. Novamente acordei atrasada, já faltam vinte minutos para às 5h e eu tenho que ir caminhando trabalhar. A fábrica fica a pouco mais de cinco minutos. Lavo meu rosto, pego um copo de café e saio correndo porta afora. Como sempre, aquele senhor mais velho está sentado de frente para um monte de mato e me olha com o canto dos olhos. Ele parece estranho. Estou muito atrasada para lhe dar “bom dia”, além do mais, ele, como todos os velhos, vai querer ficar conversando e eu não tenho tempo para isso hoje. Sigo meu caminho e ainda consigo chegar cinco minutos antes do meu horário. “Driinnn!” Desperta o relógio às 4h, me levanto, meio
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cambaleando e lembro que devo chegar antes no serviço, pois quero sair um pouco mais cedo hoje. Lavo meu rosto, pego um copo de café e saio de casa. Como sempre, aquele senhor mais velho está sentado de frente para um monte de mato e ele me olha com o canto dos olhos. Fico pensando o que ele faz antes das 5h da manhã lá sentado, olhando para aquele mato. Sigo meu caminho, não posso parar pra conversar, pois pretendo sair mais cedo hoje. Cheguei vinte minutos antes no meu serviço, como eu planejei. Mais um dia em que fui dormir tarde. Quando o relógio despertou hoje, o desliguei. Pra variar, me atrasei. Quase dando 5h me levanto, lavo meu rosto, pego um copo de café e saio aos pulos da minha casa. Como sempre, aquele senhor mais velho está
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havia uma vista linda do sol nascendo. E eu nunca tinha percebido isso. Fiquei admirando a cena incrível que se fazia em frente aos meus olhos e no mesmo instante o remorso tomou conta de mim. Cheguei atrasada no meu serviço.
Perfil
Guia para o bem O Coletivo Photocomf apresenta o perfil fotográfico de Jatobá, um cão treinado para proteger Alberto Mergen, Gabrielle Berlitz, Jaciara Voss e Marcelo Shaw
O
melhor amigo do homem, seu braço direito, parceiro pra todas as horas e, por que não, seus olhos. A escola formadora de cães-guias Helen Keller atua na região de Balneário Camboriú e é a única no país com filiação e reconhecimento internacional para isto.
Os primeiros passos A escola começou em Florianópolis depois de uma viagem que o fundador, Augusto Gonzaga, fez para a Europa anos atrás. Ao ver uma pessoa andando com um cão-guia pela primeira vez, ele achou fascinante, a ponto de desejar trazer aquilo para o Brasil, para Florianópolis. Naquela época (em torno de 1993) isso era novidade no país. Aos trancos e barrancos a escola foi ganhando forma mas, primeiramente, era necessário um treinador. Como a função era muito específica, de início foi feita a adaptação de dois cães de fora para pessoas no Brasil. Os dois primeiros cães-guias do país vieram através da Helen Keller. João Nirto, antigo presidente da escola, tinha o desejo de encontrar um cão para o filho cego, que amava cachorros. Um dos amigos de João, Fabiano Pereira, era criador de cães da raça Akita. Como ambas as partes tiveram interesse, foi combinado que Fabiano passaria uma temporada no exterior para aprender todo o treinamento e já trazer um cão-guia treinado. Após conseguir angariar fundos, Fabiano passou quatro anos de estudo na Austrália aprendendo tudo sobre treinamento de cães-guias e, obtendo a formação, logo voltou ao Brasil com a cadela Winter para o filho de João. Durante este tempo de treinamento, Fabiano treinou e adaptou cerca de 20 cães, mas ao voltar para o Brasil se deparou com uma realidade diferente e alguns problemas começaram a surgir.
Mudanças, ajudas e custos O custo para se conseguir um cão-guia era (e ainda é) muito alto, indo desde a compra do filhote até os gastos com saúde e ração, ficando em média R$ 35.000,00 até ser entregue. Vale lembrar que este custo não é repassado ao cego, que o recebe gratuitamente da escola junto com um kit contendo todo o material
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de trabalho do cão. Apesar dos custos, o trabalho seguiu firme e forte durante todo esse tempo, passando também por uma mudança de local. A escola de cães-guias Helen Keller se mudou para Balneário Camboriú no ano de 2008. Segundo Luciane Franke Martins, responsável pelo administrativo da escola, para a pessoa cega conseguir seu cão-guia, antes de tudo deve ter uma noção de orientação e mobilidade. “O cão serve como um auxílio, não como a solução total de locomoção para o cego. É preciso que a pessoa cega já saia de casa e tenha uma noção clara dos locais por onde passa, como atravessar uma rua ou pegar um ônibus. Além disso, para conseguir um cão-guia deve-se entrar na fila de espera”. Atualmente no site da escola há uma fila de cerca de 3.000 pessoas (segundo dados passados pela escola, no Brasil são cerca de 6 milhões de cegos e menos de 100 cães-guias em atividade, em Balneário Camboriú são cerca de 300 pessoas cegas). Neste momento, a escola tem seis cães em socialização que futuramente serão treinados. A escola de cães-guias Helen Keller é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), o que significa que apesar de terem uma facilidade para firmar parcerias e convênios com o poder público, ainda precisam de doações para realizar o trabalho. Diferente de uma ONG, uma OSCIP tem reconhecimento oficial e legal amparado pela lei do terceiro setor (lei 9790 de 23/03/99), o que torna mais clara sua prestação de contas e com isso deixa os doadores (tanto pessoas físicas como jurídicas) mais cientes de onde seu dinheiro está sendo empregado, podendo também ser abatido do imposto de renda. Um dos benefícios desta parceria com o poder público é servir como consultoria para obras de acessibilidade na região, como o piso tátil que está começando a ser implantado por toda a cidade de Balneário Camboriú. Outro benefício muito importante apareceu alguns meses atrás, quando a escola conseguiu um terreno para construir sua sede em Balneário Camboriú (local próximo ao horto florestal). Apesar de conseguirem o terreno, ainda é necessário angariar fundos para a construção, estimada para come-
çar em 2015. A escola tem parceria com o IFC (Instituto Federal Catarinense) – Campus Balneário Camboriú em um projeto-piloto que formará cinco funcionários públicos de cinco regiões diferentes do Brasil nas funções de treinadores e instrutores de cães-guias. Com todo este reconhecimento tanto dentro quanto fora do Brasil, é de se espantar que todo este trabalho seja realizado por uma equipe consideravel-
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mente pequena (atualmente, três funcionários). Por isso é tão necessária a ajuda da comunidade neste processo. Além de doações, a escola também precisa do seu tempo e dedicação. Segundo Luciane, antes de o cão ser treinado para a adaptação com o cego, existe a socialização do animal. “Entre os dois e os dezoito meses, em média, o cão passa pela fase de socialização, que consiste na ação voluntária de uma pessoa que
o leve a todos os lugares de seu cotidiano, como trabalho, parques, shows e shoppings. Isto serve para o cão entender o mundo a sua volta e ter uma vivência no maior número de situações p a r a
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Fotos: Coletivo Photocomf
se manter calmo quando o mesmo acontecer ao lado do cego”. Durante este tempo, todos os custos são pagos pela escola, como ração e exames no veterinário, cabendo ao socializador a parte de educar o cão para viver bem em sociedade. Atualmente a escola conta com dois cães em adaptação e seis em socialização.
Atobá Um deles é o cão Atobá, um calmo labrador que está em fase de socialização com o casal Mari e Nelvo Hermes. O casal conheceu o trabalho de socialização através da Helen Keller e sempre quis ter uma experiência com cães de grande porte. Após a inscrição no site, logo foi agendada uma visita à casa deles. Uma semana depois, foram presenteados com Samba, um lindo Golden Retriever. A experiência durou um ano e meio e foi seguida por essa, com o labrador Atobá. Nelvo comenta que foi uma grande mudança na vida dos dois. “Quando começamos a socializar cães, nossa rotina mudou totalmente, pois ele é um cão que precisa estar dentro de casa, levar no trabalho, sair, ir a vários lugares. Não é como um cão doméstico que você sai e só vê quando volta para casa”. O casal comenta que nunca foi barrado por onde passou, pois sempre se apresentaram e explicaram sobre a lei que os ampara. Apesar de algumas pessoas acharem estranho um cão entrando em todos os ambientes (inclusive sentado ao lado em voos ou viagens de ônibus) os cães-guias podem entrar em qualquer local, visto que são amparados pela lei federal 11.126 de 2005 e pelo decreto 5.904 de 2006. Os custos com veterinário e ração são cobertos pela escola. Segundo Nelvo, o pro-
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cesso é bem simples e sem burocracia para o socializador. “Nós ligamos para a Luciana e ela avisa ao veterinário que nós estamos a caminho. Na consulta, eles têm um bloco em que registram como está a saúde do cão e qual foi o procedimento, entrando em contato com a escola para o pagamento”. Em casa, o casal segue uma apostila com dicas de comandos para explicar ao cão sobre os locais da casa em que não deve ir e a hora certa de comer (o cão em socialização come duas vezes ao dia e quando está em treinamento come uma vez no fim do dia). Caso o socializador tenha alguma dificuldade, basta entrar em contato com a escola para agendar uma visita de
um treinador. A importância do trabalho do socializador é bem resumida por Nelvo: “A nossa parte é levar o cachorro para conhecer o mundo, para ter experiências. Quanto mais experiências ele tiver nesta fase até os quinze meses, mais fácil ele vai se adaptar à pessoa cega. A diferença que um cão-guia faz na vida de um cego é imensa, são coisas assim que vão nos motivando”. Após o tempo de socialização, o cão tem um treinamento que dura entre quatro e seis meses. Neste treinamento, o foco é localizar faixas de segurança, pisos táteis e deixar o cão confortável com a presença de um novo amigo, no caso, a pessoa cega. O trabalho de um cão-guia dura
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em média nove anos, sendo aposentado logo depois deste período. Apesar de não haver uma raça definida para este serviço, a Helen Keller trabalha com três raças de cães: Golden Retriever, Labrador e um mestiço entre elas pois tem uma aparência e temperamento mais dócil, o que facilita a inserção do cego com o cão no meio social. Por serem raças de grande porte, podem vir a sofrer de uma doença chamada displasia coxofemoral, que acaba os impedindo de trabalhar como cães-guias, já que causaria muita dor ao animal. Quando isso ocorre, o cão vai para adoção. Caso tenha interesse em ajudar socializando um cão, basta preencher o formulário
através do site www.caoguia.org.br e acompanhar a escola de cães-guias Helen Keller também pelas redes sociais. Quando iniciam os trabalhos com uma nova ninhada, é por estes meios que eles avisam a comunidade. Se não tiver condições de doar seu tempo, a escola aceita doações em dinheiro, com todos os dados para depósito disponíveis no site www. caoguia.org.br Para conhecer mais sobre o trabalho do Coletivo Photocomf acesse: photocomf.wordpress.com
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Debate
A implantação do marco civil da internet Expert em novas tecnologias, George Menezes analisou o tema durante palestra a estudantes de Jornalismo Caroline de Borba com colaboração de Daniel Schiavoni
Fotos: Emerson Luis Kufner / TV Univali
O especista conversou com uma turma de 30 alunos
“
Não é perfeito, mas é um avanço comparado até a países mais evoluídos que o Brasil”. É o que pensa sobre o marco civil da internet o bacharel em Logística e MBA em Gestão Estratégica de Varejo e Vendas George Menezes. George, que montou uma startup enquanto participava do programa de incubadoras empresariais da Univali, hoje produz aplicativos para smartphones e tablets. Expert em novas tecnologias, ele foi convidado por acadêmicos de Jornalismo a conceder uma coletiva sobre o marco civil da internet, ocasião em que falou sobre as mudanças e analisou fatores relacionados à nova lei, sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff em 2014. A Lei Nº 12.965, conhecida como Marco Civil da internet, veio para revolucionar o mundo cibernético. Os três pilares preponderantes no marco são a liberdade de expressão, a neutralidade de rede e a guarda segura de dados. George destacou que a
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neutralidade de rede foi um dos pontos mais discutidos do Marco Civil. “Hoje está resolvido que a rede é neutra. Uma rede
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A legislação não
está perfeita ainda, tem muita coisa em que ela precisa melhorar, mas já mostra caminhos para todos os envolvidos
neutra é a que garante que a velocidade de navegação será a mesma para acessar qualquer tipo de conteúdo e que, salvo casos extremamente pontuais, a
A professora Jane Cardozo conduziu a entrevista
conexão deve ter a mesma taxa de transferência todos os dias. Então, nenhuma operadora, seja banda larga, internet discada, celular ou até TV por assinatura vai poder questionar o que você usa e lhe cobrar diferente por isso”. Com relação à guarda segura de dados, George destacou que, com a nova lei, as empresas de Internet não poderão repassar ou vender dados dos usuários sem a devida autorização, principalmente para fins de publicidade: “Eu vejo essa questão da guarda segura de dados de uma forma boa para o usuário, porque, ao mesmo tempo em que se exige que as operadoras guardem o número de IP e outros dados de conexão, protegem-se os dados particulares do usuário e eles não podem ser vendidos ou transferidos para terceiros sem você ter aceitado algum termo de serviço”. Antes da aprovação da lei, não existia nenhuma medida específica sobre crimes cibernéticos, sendo os infratores julgados pela Constituição de 1988. “Até então, a Justiça vinha enfrentando esses
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problemas com a Constituição de 88, mas com o Marco Civil e a Lei Carolina Dieckmann isso se tornou efetivamente crime, ficou reconhecido que existe um meio informático que de certa forma facilita essa distribuição de controle de compartilhamento e assim, junto com a Guarda Segura de Dados, você criou meios para correr atrás de quem causou qualquer tipo de problema com o número do IP e livrou ferramentas como o Facebook da responsabilidade de divulgação desse conteúdo. Porém, quando tiver uma decisão judicial obrigando a remoção daquele conteúdo, e daí o Facebook ou outra ferramenta não auxiliar, aí sim eles se tornam culpados pelo que está acontecendo”, ressalva. George Menezes admite que a lei precisará passar por alguns ajustes para ir ao longo do tempo tomando forma e se adequando
melhor às necessidades de todos. “A legislação não está perfeita ainda, tem muita coisa em que ela precisa melhorar, mas já mostra caminhos para todos os envolvidos: governo,
operadoras e usuário, o que se pode e o que não se pode fazer na internet”.
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Itajaí, Itajaí,março marçode de2015 2015
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Cabeçudas
De boca em boca a história se faz O bairro de Cabeçudas reserva mistérios religiosos desconhecidos, inclusive pela comunidade Bárbara Porto Marcelino, Bruno Golembiewski e Juliana Costa
A Gruta Nossa Senhora da Rosa Mística é conhecida pela bica
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Cabeçudas, apaixonante bairro de Itajaí. O local é antigo, começou a ser povoado no século passado, por famílias de pescadores, mas somente no início deste século passou a ser procurado por conta de seu balneário. Cabeçudas reserva mais que um visual agradável e cenários naturais de tirar o fôlego, a relação religiosa é forte e
Fotos: Bruno Golembiewski
urvas sinuosas, brisa fresca e belas paisagens. Na estrada, de longe, já é possível avistar o mar refletindo um brilho intenso, gesto simples e gentil do sol. Não demora muito para começar a surgir grandes casas e prédios que vão desde o morro até a beira da praia. Assim são os caminhos que levam à
A santa possui três rosas no peito, cada uma com diferente significado
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foi inspiração para esta reportagem. No final da Rua José Menescal do Monte, ao lado de um pequeno morro, está a gruta Nossa Senhora da Rosa Mística. No lugar, muitas árvores e bancos feitos de pedra. Do início da rua, é possível avistar a gruta. Algumas flores artificiais desbotadas e um pouco de cera derretida antecipam a imagem da Santa. Ela fica bem protegida atrás de um vidro e de uma grade. A placa, colocada aos pés da imagem, fornece informações mínimas sobre a construção do local e está datada de 1997. Além da santa, há uma bica em frente à gruta, evidenciada pelo som da água corrente. Muita sujeira e objetos inesperados, como garrafas de bebidas alcoólicas, maços de cigarros e até um sofá, deixam uma primeira impressão de abandono. O lugar, que deveria ser de orações e reflexão, é mais conhecido por conta da bica, como confirma Celso Santos, um jovem morador do bairro São Vicente. “Eu pego água da bica com frequência, sempre que vou à praia, mas Cobaia
não conheço a história da santa”. Celso admite que nem ao menos sabe se a água que acabou de pegar é boa para consumo. Não é de se estranhar que poucas pessoas conheçam a história de Nossa Senhora da Rosa Mística. A santa, como o nome indica, é Maria, mãe de Jesus. Portando as três rosas, ela se tornou conhecida por esse nome após diversas aparições na Europa e também na América, inclusive no Brasil. Sua imagem é marcada pela presença de três rosas no peito: uma branca, outra amarela e uma vermelha, simbolizando, respectivamente, a oração, o sacrifício e a penitência. Ao lado da gruta, numa casa em reforma, vive Seila Sara Sene. Há pouco mais de um ano morando em Cabeçudas, ela conta que desconhece as origens da construção religiosa no local, mas sabe que missas são rezadas pelo menos uma vez ao mês. “Não me incomodo com as missas rezadas ali. O que realmente me irrita é o descuido de órgãos públicos com a limpeza e segurança do lugar. Pessoas despejam lixo, fazem uso de drogas e bebem ao redor da gruta”. Ela conta que já bancou, com o próprio dinheiro, pessoas para limpar o terreno. Na frente da casa de Seila, há 11 anos mora dona Maria da Glória. Uma senhora simpática que responde as perguntas com muito entusiasmo e certa curiosidade. Ela faz as
mesmas reclamações que a vizinha e confirma que alguns moradores pagam para limpar o local. Quando questionada sobre as origens da gruta, dona Maria balança a cabeça de forma negativa, mas aponta com o dedo casas de moradores mais antigos, que ela acredita conhecerem a história. Desvendando o mistério A casa de pintura vermelha e branca é antiga. O muro que a cerca é baixo com um portão velho de ferro, que já precisa da ajuda de um pedaço de madeira para se manter de pé. Neste lugar, que parece ter saído de um filme infantil, é onde vive Dona Maria Isabel, moradora do bairro de Cabeçudas há 51 anos. A expectativa de que ela fosse a fonte para uma conclusão sobre a origem da gruta era grande. Logo de cara, dona Maria resmunga, em sotaque bem peixeiro: “Eu não gosto da gruta, tu sabes que eu não conheço quase ninguém aqui da Cabeçudas”. Dona Maria Isabel conta que com o aumento da população no bairro, e com a construção de mansões, ela quase não sai de casa. Sobre a gruta, o pouco que sabe é referente à bica que tem no local. “Antigamente a água vinha naturalmente, e quando fizeram as encanações novas eu fiquei com medo da água estar contaminada pelo esgoto”. O próximo passo em busca de uma resposta foi procurar
Maria Isabel, há 51 anos em Cabeçudas: “Não conheço mais ninguém”
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A primeira aparição dela foi na França, no ano de 1858
Irmão Eduardo O culto a Nossa Senhora da Rosa Mística em Itajaí surgiu com Eduardo Ferreira. Ele nasceu em 31 de julho de 1972, na Vila Operária. Em 6 de janeiro de 1983, encontrou uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida no quintal. Em 12 de outubro de 1987, Eduardo e a irmã estavam rezando diante da Santa quando uma luz azul saiu da mão da imagem e iluminou o ambiente. Na tarde de 12/02/1988, ele viu em seu quarto, pela primeira vez, uma moça de veste branca e faixa azul na cintura. No braço direito, carregava um terço. Os cabelos da mulher eram pretos e seus olhos, azuis. Ela se apresentou como Nossa Senhora do Rosário. A segunda aparição de Nossa Senhora a Eduardo foi em 18/02/1988. Em 12/02/1997, Nossa Senhora marcou suas aparições para as quintas feiras e ainda todo dia 12 de cada mês. Também quando o céu necessitasse intervir com uma mensagem de alerta. Depois disso, Eduardo deixou sua atividade profissional de enfermeiro para se dedicar inteiramente à devoção. Centenas de pessoas já receberam a Eucaristia pelas mãos dele, no Santuário de Nossa Senhora da Rosa Mística em São José dos Pinhais (PR), onde ele vive hoje. Fonte: estigmasdecristo.zip.net a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Fazenda. Uma placa na gruta e alguns moradores a indicaram como responsável pelo lugar. O pároco Júlio César foi receptivo e atencioso. Esforçou-se em procurar as informações, e apu-
rou que a construção da gruta Nossa Senhora da Rosa Mística é do final da década de 90. Ela foi idealizada e construída de forma particular por uma família tradicional de Itajaí, os Emmendoerfer, mas com o consentimento de autoridades
locais. A história que circula entre os moradores é de que um padre havia construído, mas o padre Júlio desmente os boatos. “Há uns dois anos, a imagem da Nossa Senhora da Rosa Mística foi destruída por vândalos. As irmãs Carmelitas a reconstruíram e restauraram e, a partir daí, a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes assumiu a gruta, mesmo não pertencendo ao bairro onde ela está localizada”, conta o padre Júlio César. Ele continua informando que o grupo de irmãos da paróquia faz a oração do terço na gruta todo dia 12, às 20h. O padre mesmo já rezou uma missa, quando a nova santa foi colocada. Perguntado sobre a água, Júlio Cesar conta que já foi feito um teste que comprovou que ela não é recomendada para consumo, devido à ferrugem dos canos. Aos pés do antigo hospital Em Cabeçudas há outra gruta além da Nossa Senhora da Rosa Mística. Na Rua Deputado Francisco Evaristo Canziani, na estrada que dá acesso aos molhes e ao bairro, é possível avistar a Gruta Nossa Senhora de Lourdes. Um lugar calmo, aberto, limpo e com muitas árvores em volta. A cera de vela derretida e as flores bonitas mostram que não faz muito tempo que alguém esteve rezando e demostrando sua gratidão e fé. Ela foi construída no ano de 1910 para ser o local das romarias celebradas pela Igreja. A gruta fica no pé do morro que, hoje, tem um mato fechado e denso. Ali, cerca de 50 anos atrás, funcionava o Hospital Santa Beatriz, o principal hospital de Itajaí por muitos
Seu Osmar curte Cabeçudas como poucos, há 35 anos caminha e pedala pelo bairro
Itajaí, março de 2015
anos. Ele foi inaugurado em 03 de janeiro de 1887 e funcionou como hospital até 1962, quando foi transformado em sanatório para pacientes com tuberculose. Esta história é contada no livro “Itajaí, Imagens e Memória”, escrito pela artista plástica Lindinalva Déola da Silva, no ano de 1995. Em uma página dedicada ao hospital, a autora salienta a importância dele para a cidade de Itajaí, tanto no atendimento convencional quanto no combate à tuberculose. Lindinalva também conta que a gruta foi construída pela Sra. Elizabeth Malburg, esposa do então vereador de Itajaí, Nicolau Malburg. Durante muito tempo, a gruta foi administrada por quatro irmãs de caridade italianas, que eram enfermeiras do hospital. Quem ilustra e dá vivacidade a esta história é Osmar Luís Caetano, de 70 anos, morador da Rua Camboriú, próximo à Beira Rio. Todos os dias ele vai à gruta rezar, deixa sua bicicleta no local e sai a pé. Faz isso desde 1979. Caminha da gruta até a Igrejinha de Cabeçudas. Ele se lembra da época em que o hospital ainda funcionava. Conta que o prédio tinha dois andares e era dividido em duas partes: a administrativa e a área médica. Depois da construção do Hospital Marieta Konder Bornhausen, na metade da década de 50, o terreno do Santa Beatriz foi vendido a uma empresa do exterior, que o demoliu. “Diziam que a ideia da empresa era construir um hotel cinco estrelas e que só não fizeram isso porque a justiça não permitiu”. Seu Osmar também se lembra do preconceito contra as pessoas com tuberculose, já que naquela época a doença provocava o mesmo medo
que, ainda hoje, a AIDS causa na população. Em frente à gruta Nossa Senhora de Lourdes, mora seu Valdir Florêncio da Veiga, de 76 anos, natural de Itajaí. Ele conta que a imagem da santa foi quebrada algumas vezes e após as violações, passou a ser protegida por uma grade. Fato confirmado pelo Pe. Júlio César. “A imagem não pôde ser restaurada na última vez em que foi quebrada. Então, uma nova estátua de Nossa Senhora de Lourdes, feita com resina, foi construída. Um casal aqui da paróquia vai semanalmente limpá-la”. Para o padre, como
O carioca Valdir Florêncio da Veiga
essa gruta é mais acessível do que a da Nossa Senhora da Rosa Mística, acaba proporcionando mais envolvimento com a comunidade. Estão aí duas palavras essenciais para a elaboração desta reportagem: envolvimento e comunidade. A participação e o interesse dos personagens deu consistência à história. Todos eles cheios de disposição em ouvir e mais ainda em falar. Por vezes iam além do tema principal, contavam sobre suas vidas, sobre um filho ou alguma doença que os aflige. Em comum, o que todos têm é a paixão e o prazer de morar em Cabeçudas.
Na sua rotina, ele reserva um momento para rezar na Gruta Nossa Senhora de Lourdes
Cobaia
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Cabeçudas
Um lugar para a paz Há 28 anos o Carmelo de Santa Teresa é ponto de turismo na região, mas preserva oração e silêncio Isadora Santos e Schaline Maísa Rudnitzki Loureiro
Silvana Matilde mora em Balneário Camboriú e frequenta as missas semanalmente. Para ela, estar ali não é somente um momento de intimidade com Deus, é a possibilidade de se sentir perto de sua única filha mulher que há nove anos optou pela vida religiosa. A jovem abandonou a faculdade aos 19 anos e, em dois meses, tomou a decisão que mudaria sua vida e de sua família. A irmã Lúcia Maria da Santíssima Trindade tem um sorriso simples e encantador, e se surpreende ao encontrar a mãe e a vó na sala de atendimento após a missa. A mãe beija a mão da moça e da Madre através das grades, esse é todo o carinho possível. Para Silvana, outro momento especial é ouvir o coral durante as missas e saber que a filha está sempre sorridente, participando do canto litúrgico. Ali, embora separadas por uma grade encoberta por um véu, é surpreendente a docilidade dos cantos. São vozes que inspiram calma e paz, tão distantes da correria do dia a dia. A professora Beth Eliassen, que hoje reside em Florianópolis, guarda com carinho as lembranças do período em que frequentava as missas no Carmelo junto com o Grupo de Jovens de que participava. “Faz muito tempo que não vou, mas adoro ir ao Carmelo. Sinto muita paz, essa com certeza é a palavra que expressa o que sinto lá: paz! Quando vou, parece que tudo vai dar certo, as irmãs me parecem as pessoas mais sábias do universo. Engraçado isso, mesmo na clausura parece que elas sabem exatamente como nos sentimos e sempre têm palavras de consolo. São mensageiras de Deus.”
Telhados em ponta: a arquitetura do Carmelo o destaca na paisagem
te instaladas na parte inferior da capela, que já vem passando por adaptações para recebê-las. “Nossa vida é de oração, contemplação e serviço. Acordamos às cinco da manhã, temos nossos horários de oração silenciosa, de partilha e de trabalho. Somos muito felizes. Temos algumas candidatas para entrar na Ordem, mas estamos nos conhecendo, é preciso haver a certeza de que esta é a vocação delas”, conta a Madre Terezinha de Jesus.
Hoje, no convento, são 13 irmãs vivas e cinco no céu, pois conforme seus votos, não devem deixar a Ordem nem mesmo após sua morte. Para que as aspirantes à vida religiosa possam entrar, será preciso que o novo prédio seja construído, já que a edificação atual conta com 14 celas - ou quartos, e apenas mais uma moradora poderia integrar a casa. No novo Mosteiro, estão previstas 25 celas, número máximo de irmãs conforme a Igreja permite.
Isadora Santos
Isadora Santos
com a Capela Santa Teresinha na Rua Juvêncio Tavares D’Amaral, em frente ao mar. A capela serve a comunidade com missas periódicas e nos rituais, como casamento e batismo. As missas na capela do Mosteiro recebem fiéis diariamente, alguns residem em volta, na própria comunidade, e outros vêm para conhecer ou buscar orientação espiritual. A moradora Rosângela Gastão Giana, ministra da Eucaristia, explica que prefere as missas no Carmelo pois ali encontra paz. “Nos sentimos chamados a ajudá-las. Eu e minha família estamos sempre presentes para levá-las ao dentista, ao mercado, o que for necessário”. Para Rosângela, a presença do Carmelo no bairro significa um território santo. Embora muitos moradores de Cabeçudas desconheçam o local, é ali que ela encontra paz e se sente privilegiada por ter esse lugar tão perto de sua casa. No mosteiro, além da capela, há duas salas de visitas para atendimento das irmãs aos moradores e familiares, uma pequena loja com os artigos confeccionados pelas irmãs para venda, entre eles terços e pinturas em tela. Na recepção, ainda existe a roda dos abandonados, utilizada hoje para receber doações.
Schaline Maísa Rudnitzki Loureiro
O
longo trajeto até o mar agitado, as tardes com vento e o movimento da orla são tão característicos para os frequentadores da Praia de Cabeçudas em Itajaí, que talvez poucos saibam o que há de mais especial nesse bairro. A praia está cercada de simbologia, a natureza, a gruta com Nossa Senhora e uma fonte são paradas praticamente obrigatórias dos turistas. Nos dias quentes e agitados do verão, quem passeia pela orla de Cabeçudas talvez procure por silêncio ao fugir das praias mais lotadas do litoral catarinense, mas poucos conhecem o lugar onde o silêncio paira por completo. Onde é possível ver ao longe o mar, mas sem ouvir um único som das águas. Onde reina a tranquilidade, o cheiro das flores que se abriram para a primavera e onde o único barulho é o de passos apressados pelas escadarias que levam algumas dezenas de fiéis a encher a pequena capela. No alto da Rua Benjamin Constant, número 425, vivem 13 freiras que optaram por uma vida de pobreza e religiosidade. Fizeram votos perpétuos de clausura e silêncio. Desde 30 de dezembro de 1985, habitam o Carmelo Santa Teresa e da Divina Misericórdia. O bairro de Cabeçudas conta
Um novo mosteiro
Isadora Santos
Momento da consagração: celebrações no bairro atraem muitos fiéis
No bairro, a comunidade conta ainda com a Capela Santa Teresinha
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A arquitetura do Carmelo chama a atenção por sua imponência e pelos traços, com várias torres despontando pelo céu calmo do local e pelas longas escadarias que levam até à entrada da capela. Porém, o prédio sofre com a degeneração do tempo e, hoje, as irmãs precisam de um novo local para residir, já que o atual corre o risco de desabar. Com muito empenho, Zenaldo Feuser - o curador do Carmelo conseguiu gratuitamente o projeto do novo convento e metade do valor necessário já foi alcançado através de doações, o valor total da obra é estimado em mais de R$ 4 milhões. As irmãs vivem do que produzem no mosteiro e do que recebem em caridade, o que significa que ainda é preciso reunir muitos esforços para que o projeto saia definitivamente do papel. Durante o período de obras, com previsão de um ano e meio, as irmãs ficarão provisoriamenCobaia
A produção de terços é um dos meios pelos quais as irmås se sustentam
Doações para a construção do novo mosteiro podem ser feitas nas agências: Banco do Brasil Agência: 0401-4 (Itajaí-SC) Conta Corrente: 28620-6 Bradesco Agência: 0330-1 (Itajaí-SC) Conta Corrente: 035968-8 Ainda é possível ajudar as irmãs por meio do ofertório nas missas e também com a compra das peças artesanais que produzem, como escapulários, terços, imagens de santos e pinturas em tela. Missas Segunda a Sexta: 17h Sábado: 17h30 Domingo: 08h30
Atendimento 09h às 10h30 15h às 16h30
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Vila Operária
Reconstrução da história O legado de mais de 30 anos da Igreja Nossa Senhora da Paz ajuda a conservar a memória da Vila Operária Letícia Wolff Maia e Luzara Pinho
À
s seis horas da tarde de um sábado, o coro das vozes dos fiéis fervorosos inicia a procissão de entrada de mais uma celebração na igreja Nossa Senhora da Paz, no Bairro Vila Operária. A missa comemora os 39 anos da reconstrução da igreja, que através dos anos colecionou histórias e fatos marcantes tanto para a formação do bairro, quanto da população local e da comunidade religiosa. A Igreja Nossa Senhora da Paz
faz distinção de pessoas. Não
existem privilégios, a porta sempre está aberta
A atual Igreja adotou outro estilo arquitetônico, mas o local é o mesmo
Operária ficou marcado na enchente de 2008 que atingiu boa parte dos moradores de Itajaí e região e desabrigou milhares de pessoas. A igreja Nossa Senhora da Paz também teve parte de sua sede tomada pela água. O que representou muita tristeza, também se tornou motivo de satisfação para dona Edir,
Wálter Smykalla
iniciou um novo ciclo no ano de 1975, quando foi reinaugurada. O bairro Vila Operária tem este nome por ter sido o local de residência da maioria dos operários que trabalhavam no ramo têxtil em Itajaí. A comunidade sentiu a necessidade da construção de um templo para as pessoas se reunirem, realizarem encontros e celebrações religiosas. Foi quando uma antiga construtora
Letícia Wolff Maia
“
A igreja não
e incorporadora atuante na época doou o terreno para a construção do primeiro projeto da Igreja. Com o crescimento do comercio e da população, os responsáveis pela comunidade religiosa chegaram à conclusão de que aquela estrutura não atendia mais à comunidade e, então, deram inicio à construção de uma nova igreja, que contou com a colaboração de parte expressiva da comunidade. Dentre as muitas pessoas que fazem parte dessa história, está Edir Elza Reis dos Santos, coordenadora do conselho de pastoral da comunidade. Desde pequena, Edir acompanha de perto a trajetória da Nossa Senhora da Paz. Aos sete anos de idade, começou a participar da comunidade da Vila Operária e hoje é uma das responsáveis pelas atividades realizadas na igreja. Como colaboradora e engajada nas causas sociais, tanto do bairro quanto da comunidade religiosa, dona Edir destaca que o retorno dos moradores da Vila Operária é sempre positivo e incentivador. “Todas as vezes que nós do Conselho da Pastoral precisamos de alguma coisa, é só sair no bairro, fazer o pedido e a gente é atendido imediatamente. O pessoal colabora muito, são muito generosos com os nossos pedidos. São pessoas especiais porque nunca nos disseram não. A gente sempre tem um retorno expressivo”. Um dos exemplos da solidariedade do Bairro Vila
que se surpreendeu ao receber forte apoio da comunidade local. “Conseguimos abrigar 40 pessoas no segundo piso do salão e a gente conseguiu alimento com a comunidade. Mesmo as pessoas atingidas pela enchente nos ajudaram a atender às que estavam abrigadas no nosso salão em situação pior”. De acordo com dona Edir, a Igreja Nossa Senhora da Paz recebe a ajuda e conta com a participação, principalmente das pessoas mais velhas do bairro. Além disso, ela destaca a falta dos jovens na comunidade e a mudança dos valores. “Fui catequista por 28 anos. Mas antigamente os pais levavam os filhos e eles já sabiam as orações. As crianças tinham aquela vivência religiosa em casa. Hoje, boa parte não sabe fazer nem o sinal da cruz”, conta, sem esconder a decepção. Apesar do descontentamento de dona Edir, ainda há crianças e adolescentes que dedicam grande parte do seu tempo às atividades religiosas. É o caso de Matheus Lino dos Santos Alves, 14 anos, que há quase dez anos é coroinha na Igreja Nossa Senhora da Paz. Seu maior incentivador era seu avô, que morreu no ano passado. A família de Matheus sempre teve como tradição participar assiduamente da comunidade e o jovem aderiu por gosto a esse estilo de vida. Apesar da pouca idade, Matheus acredita na importância da renovação das gerações
dentro da igreja para que exista a continuidade nas atividades religiosas. “A gente está construindo uma vida, a maioria das pessoas começam a desistir. É bom que os jovens venham pra construir uma nova geração”. Matheus não está sozinho no trabalho de incentivo à comunidade. Segundo o padre Sérgio José de Souza, “A igreja não faz distinção de pessoas. Todas são acolhidas e não existe lugar específico pra cada um. Não existem privilégios, a porta sempre está aberta”. O pároco atua há quase quatro anos na Igreja Nossa Senhora da Paz e já teve a oportunidade de trabalhar com outras comunidades e regiões do Estado. Para o padre, a comunidade tem um diferencial. “Participa e se doa muito, se lança muito ao trabalho, tem um zelo, uma história da própria comunidade, pois é um dos bairros mais antigos de Itajaí, portanto, a história da Vila Operária nos faz sentir a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho de tantos outros que já passaram pela igreja”. A construção da comunidade do bairro Vila Operária se fortaleceu principalmente pela equipe que ocupa boa parte de sua rotina diária para cuidar e organizar as atividades da Igreja Nossa Senhora da Paz. São mais de 100 membros ativos, entre catequistas, coordenadores e demais participantes que escrevem diariamente essa história de fé.
Quadro com uma pintura da antiga Igreja Nossa Senhora da Paz
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Costa Cavalcante
Aulas voluntárias de Yoga da professora Inês Orsi ajudam a manter o corpo e a mente saudáveis Leandro de Souza, Mariana Campos Silva e Maria Carolina Cândido
oncentrar, respirar e relaxar... São esses os verbos que conduzem a aula de Yoga da professora voluntária Inês Orsi. Todas as segundas-feiras, das 19 às 21h, 30 mulheres se reúnem no Centro de Arte e Lazer (CAL) Helena da Costa Moraes Gonzaga, no bairro Costa Cavalcante, para realizar a prática de meditação. A paixão pela Yoga começou há oito anos. Inês, de 60 anos, não se contentava em ser apenas dona de casa. Após fazer vários cursos, finalmente encontrou a atividade que lhe despertou interesse: a Yoga. Inês foi convidada por suas colegas de meditação para formar seu próprio grupo após a saída da professora. A partir daí, procurou especialização na área e realizou o curso de instrutora na Casa de Yoga Shanti Om, em Joinville. Por conta do interesse das colegas, Inês se dedicou ao estudo da prática por meio de palestras e pesquisas em artigos e livros. Após se mudar para o município de Penha e ficar seis meses praticando a atividade sozinha, a professora montou um grupo em Itajaí, o atual. “A energia do grupo era maior, aprendi muito com as alunas”. As aulas da professora Inês não têm ligação com o município, mas o espaço em que a prática ocorre é cedido espontaneamente pela prefeitura. De forma voluntária, Inês se dedica e não pensa em parar tão cedo. “Amo fazer este trabalho voluntário porque o benefício é meu também, faço com amor”. A prática se divide em três etapas: no primeiro momento, a parte teórica; depois, exercícios de alongamento e postura; e, por fim, a técnica de relaxamento, chamada Yoga Nidra.
“O diferencial da nossa aula é o teórico. É fundamental passar o conhecimento do que é o Yoga e contextualizar no cotidiano”, explica Inês. Antes de sair de sua casa em Penha, onde passa metade da semana, Inês se prepara com meditação, comidas leves, foco e leitura. O mesmo acontece com suas alunas, que chegam para a aula com a intenção de esquecer seus problemas e alcançar o equilíbrio. Na turma de Inês só há mulheres, mas homens também podem praticar. A única restrição é com relação a crianças. As demais faixas etárias estão livres para participar. É o caso da estudante Sthefany Pianecer, de 17 anos, que faz Yoga desde os 12 anos de forma intercalada. O incentivo começou com a mãe que também pratica a atividade. Sthefany sentiu a necessidade de frequentar constantemente as aulas devido a sua ansiedade e estresse. A Yoga ajudou na concentração da estudante, melhorando seu desempenho em sala de aula. “Me irrito com facilidade e aprendi no Yoga a respirar fundo, pensar em coisas boas e refletir. Toda vez que acontece uma situação dessas coloco em prática o que aprendi”. Para Aderli de Araújo, que desempenha várias atividades durante o dia, a Yoga ajuda a buscar equilíbrio. “Às vezes não dá tempo para fazer nada e a Yoga nos ensina que temos tempo para tudo e a dar valor a pequenas coisas”, afirma a professora de educação física. Aos 39 anos, Aderli acredita que é preciso ter autoconhecimento para compreender o próximo. Para ela, trabalhar com outras pessoas significa adquirir sabedoria. Outro serviço oferecido gra-
Fotos: Leandro de Souza
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Saúde física e mental
A yoga aliada à boa alimentação é uma prática completa para bom funcionamento de corpo e mente
tuitamente para a comunidade é o programa Itajaí Ativo, da Fundação Municipal de Esporte e Lazer (FMEL). Postura correta, ginástica laboral, caminhadas e exercícios em academias ao ar livre são algumas das atividades praticadas. Os membros são acompanhados por profissionais da área de Educação Física. No total, mais de 500 pessoas participam do programa, em 11 bairros de Itajaí. Na Paróquia São Cristóvão, em Cordeiros, as atividades são às segundas, quartas e sextas, das 7h30 às 8h30, com mais de 100 participantes. O educador físico Jairon Machado explica que o Itajaí Ativo é um programa disponível não apenas para gru-
pos da terceira idade. Jairon reforça que qualquer pessoa pode participar, inclusive crianças. “Grande parte dos membros são pessoas idosas, mas é um trabalho muito gratificante. Os idosos têm muito mais compromisso e são bem humorados, isso ajuda muito”. Terezinha de Souza, 62 anos, soube da existência do programa no posto de saúde. Dona Terezinha sofre de diabetes e participa do Itajaí Ativo do bairro Cordeiros há oito anos para fazer exercícios com acompanhamento de um profissional. “É excelente, aqui a gente faz caminhada, aprende a manter alguns cuidados básicos com a saúde. Eu gosto muito”.
Já Tito Felício da Silva, 69, frequenta o programa por hobby há seis anos. Desde a juventude, seu Tito se interessou por esporte e gosta de praticar atividades físicas. “Sempre fui ativo em muitos seguimentos, faço caminhadas, já joguei muita bola e ainda ando de bicicleta”. O Centro Comunitário do bairro Costa Cavalcante existe há 28 anos e atende adolescentes e adultos em cursos vinculados à prefeitura. Está localizado na rua Sergipe, número 71. Funciona de segunda à quinta-feira das 13h às 22h. Devido à estrutura do espaço, por enquanto não há vagas na turma de Inês. Os interessados devem aguardar até o próximo ano.
Yoga é uma prática de meditação milenar de origem indiana, baseada no budismo e hinduísmo. Entre os dez métodos, o mais conhecido é o Hatha Yoga, que combina esforço físico, mental e emocional. A yoga ajuda na prevenção de doenças, dores ósseas e musculares, alivia o stress, além de melhorar as funções cerebrais, respiratórias, a autoestima e as relações interpessoais.
Fisicamente, o yoga pode fortalecer os músculos e torná-los ainda mais flexíveis
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Rio Novo
Do quintal para o recreio Alimentação na Rede Municipal de Ensino de Itajaí incentiva a agricultura familiar Bruna Bertoletti, Mariana Vieira e Thamiriz Garcia
lônia Japonesa, no bairro Rio Novo. Em sua plantação, estão os mais diversos tipos de hortaliças, verduras e legumes. A produção varia de acordo com a época do ano. E foi pensando na valorização da mão de obra no campo, cada vez mais escassa, que, em 2007, junto com outros 20 agricultores familiares da região, ele criou a Cooperativa Rural e Artesanal de Itajaí. A Cooperar hoje reúne mais de 40 trabalhadores da área que, juntos, querem expandir os horizontes da agricultura familiar para além dos muros e cercas de suas propriedades. Segundo José, a iniciativa organiza o trabalho no município e, como cooperativa, procura oportunizar uma melhor distribuição dos produtos. Em 2010, a Cooperar assumiu o abastecimento de creches e escolas municipais de Itajaí. Depois de colhidos, separados e embalados em caixa, as hortaliças, verduras e legumes saem das propriedades
dos cooperativistas e vão direto para o prato das crianças. Os alimentos são colhidos e, no outro dia, já são entregues para garantir a qualidade. As 105 unidades de ensino da rede municipal de Itajaí recebem, diariamente, produtos como alface, aipim, chuchu, abóbora, beterraba e cenoura. Esta é o alimento preferido da pequena Alice, que tem apenas dois anos de idade e segue a dieta da merenda escolar. Todo o cardápio é montado por nutricionistas como Fabrina Betiolo. Ela garante que os produtos vindos da área rural da cidade fazem a diferença na alimentação. “Eles são produzidos em menor quantidade, sem agrotóxico, em um preparo especial, e isso só vem a beneficiar a saúde das crianças.” Keila Rosa de Oliveira é mãe da Alice, que hoje faz parte da turma de uma das escolas de educação infantil, e do Arthur, que já frequentou a creche municipal. Ela se sente feliz e satisfeita com a alimentação oferecida nas unidades de ensino. Para a mãe dos pequenos, além de ser uma prática saudável, torna cada vez mais sustentável a agricultura familiar na cidade. E uma das pessoas que se beneficia desse bom resultado é Dona Isabel da Silva. Aos 61 anos, complementa sua renda com quatro horas de trabalho todos os dias em uma das propriedades rurais na Colônia Japonesa e não se vê longe do campo. “Eu cresci, casei, fiquei viúva e nunca saí da roça”.
Fotos: Victor Schneider
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tajaí é reconhecida pelo seu potencial econômico proveniente das movimentações efetuadas no maior complexo portuário do Sul do país, localizado na foz do Rio que passa por aqui. Mas, no interior do município, encontra-se a área rural, responsável por 80% do território da cidade e com uma rica fonte de subsídio para a população. São, pelo menos, 450 famílias que vivem e trabalham sob sol e chuva, dedicando-se à agricultura no município. O cultivo é variado e vai de grandes propriedades que produzem arroz às pequenas plantações de hortaliças. São 1.013 propriedades rurais distribuídas nas 18 comunidades localizadas no campo. São Roque, Salseiros, Brilhante e Paciência são algumas das localidades onde a terra é fonte de renda para muitas pessoas. José Lana trabalha há mais de 40 anos com agricultura. Seu cultivo é num pequeno vilarejo conhecido como Co-
tura, querendo estudar e morar nos perímetros urbanos. “Falta programa do governo para apoiar o nosso trabalho, apoiar o estudo na área do jovem filho de agricultor”. Seu José acredita que com um pouquinho mais de valorização, aquele trabalho feito bem pertinho do centro de Itajaí, no bairro Rio Novo, e que pouca gente conhece, pode, em breve, tomar proporções maiores e atrair mais interessados para o setor
agrícola. Assim, muita gente vai poder se beneficiar dos alimentos saudáveis vindos da terra, como as crianças da rede municipal de ensino da cidade.
Em números Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, divulgados no ano passado, mostram que a agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos produzidos no Brasil. É um dos setores da economia que mais cresce na produção de alimentos, geração de riquezas e distribuição de renda, além de ter participação importante na geração de empregos. Segundo o relatório Perspectivas da Agricultura e Desenvolvimento Rural das Américas, lançado também em 2013, 77% do setor agrícola está na agricultura familiar, mas mesmo com toda a evolução do setor, ainda existem muitos desafios a serem enfrentados. O presidente da Cooperar, José Lana, acredita que falta incentivo para a categoria, principalmente, para os jovens. Ele diz ver as crianças e adolescentes, ali mesmo, da colônia, cada vez mais afastados da agricul-
O que é agricultura familiar? A agricultura familiar é a prática de cultivo da terra tendo como mão de obra o núcleo familiar em pequenas propriedades rurais. Diferencia-se da agricultura patronal, em que os trabalhadores são contratados para cultivar em propriedades de médio e grande porte.
A agricultura familiar produz mais da metade dos alimentos no país
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São João
Centro de Arte e Lazer propicia a integração de idosos no bairro São João Paula A. T. Leão Carvalho e Juliana Nascimento
odos os dias, quando o relógio desperta às sete da manhã, Dona Zuleica já está acordada, preparando o café do marido, Hélio (72). Ela, que almoça todos os dias com a filha Denise (36), casada, e realiza as tarefas de casa com tanto capricho, não deixa de se preocupar com a saúde, dando atenção para toda a família, inclusive para si mesma. Na rotina tranquila da senhora de 65 anos, a quinta-feira é um dia especial. Pede um ritual diferente e, logo cedo, ela enrola os ‘bobes’ no cabelo, veste a melhor roupa e faz a maquiagem, como a mulher vaidosa que é. Aguarda a hora de sair e não esconde o brilho nos olhos. “Gosto de me arrumar para ver minhas amigas”. Zuleica Tavares da Silva é aposentada há três anos e, desde então, frequenta o Centro de Arte e Lazer (CAL) do bairro São João. Ela faz parte de uma das quatro turmas de idosos que integram os grupos de convivência do centro. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h, com a oferta de diversas atividades voltadas para a terceira idade. Dona Zuleica conheceu o CAL inicialmente como aluna
dos cursos de crochê e pintura, oferecidos para a comunidade através do programa Arte nos Bairros, que possibilita o aprendizado de trabalhos manuais, como oportunidade de acréscimo na renda familiar. “Frequento o CAL, pois acredito que isso seja uma terapia pra mim, aqui estamos sempre em grupo, e rimos bastante. Acredito que este espaço é im-
“
Por aqui, todos
os participantes têm a mesma
ideia. Continuar aprendendo e
tendo acesso à informação, sem deixar de viver pelo fato de ter mais de 60 anos
portante pela valorização do idoso”. As tardes dos grupos de idosos são preenchidas com muitas atividades, que estimulam o bem físico, psicológico, emocional e incitam os relacionamentos sociais através da recuperação da autoestima. As atividades desenvolvidas variam, seguindo uma rotina que as idosas respeitam muito. A canção de boas-vindas no Centro é entoada pela Educadora Social e Professora, Néris Clara Madeira Alves, que trabalha há 20 anos no local e não deixa de ler diariamente uma mensagem motivadora para o grupo. “As mensagens alegram e espantam qualquer baixo astral, elas chegam aqui e esquecem os problemas”. O material do artesanato, o lanche e o almoço são totalmente gratuitos e todos fornecidos pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Itajaí. Quando questionada sobre o que a motiva a ir toda quinta-feira ao CAL, dona Zuleica não tem dúvida: “O que mais gosto é das amizades que fiz aqui, é muito bom estar ao redor de pessoas que nos fazem bem, além do ambiente ser muito alegre e acolhedor”. Colega e também frequentadora do grupo, Veneza So-
Fotos: Paula A. T. Leão Carvalho
T
Diversão e amizades
Dona Zuleica é vaidosa e capricha na produção antes de ir ao CAL
ares, de 80 anos, participa do CAL há mais de 20 anos. “Sinto-me muito acolhida aqui, é como se estivesse com minha segunda família”. Maria Terezinha da Silva Almeida, 70 anos, líder de um dos grupos do CAL e participante há dez anos, afirma: “Por aqui, todos os participantes têm a mesma ideia. Continuar aprendendo e tendo acesso à informação, sem deixar de viver pelo fato de ter mais de 60 anos”.
O CAL O Centro de Arte e Lazer do Bairro São João é um dos primeiros no município e, há 43 anos, acrescenta qualidade de vida para mais de 300 pessoas. O CAL proporciona aos idosos diferentes práticas de vivência como jogos de carta, dominó, passeios e atividades em grupo, práticas livres de crochê, bordado, corte e costura e artesanato. Atualmente, funcionam quatro turmas de idosos, com cerca de 50 pessoas cada. O horário de funcionamento do CAL é das 12h30 às 21h30.
Uma vez por mês, as turmas promovem um almoço especial, quando podem levar acompanhante. A atividade funciona como uma confraternização em que todos juntos fazem a comida e se divertem. “Cozinho desde os 19 anos, para mim é uma diversão”, conta Hilda da Silva Molleri, 83 anos, responsável pela cozinha e Coordenadora do CAL São João. Ela, que há 17 anos trabalha no centro, recebe a ajuda de sete educadoras sociais e quatro funcionárias, que fazem a manutenção do local. O secretário de Desenvolvimento Social de Itajaí, Marcelo Sodré, afirma que o objetivo do Centro é trabalhar a convivência e otimização do tempo dos idosos, que muitas vezes sentem-se sozinhos e podem até entrar em depressão. Sodré explica que, além da convivência, é preciso elevar a autoestima. “Os trabalhos das idosas, como os bordados, chinelos, crochê e artesanato, são mostrados em pequenas exposições, realizadas de tempos em tempos no CAL”.
É no CAL que os idosos encontram, além de novos conhecimentos práticos, boas amizades e aconchego
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Cobaia
Itajaí, março de 2015
Itaipava
Os prazeres do vinho Casal de idosos traz a delícia do vinho para os moradores do bairro Itaipava André Felipe Schlindwein, Daniel Schiavoni e Lucas Gabriel
André Schlindwein
Os barris guardam o vinho já pronto
Itajaí, março de 2015
base da vinícola. Um galpão, imponente por fora, mas simpático e convidativo por dentro. Na entrada, logo se veem as caixas lacradas e garrafas em prateleiras, como se fosse uma vitrine, além de grandes recipientes com bebidas em fase de maturação. O som do rádio, o barulho dos mascotes da família e o bom humor dos donos ajudam a quebrar o clima rígido de uma fábrica. Débora Gasparini é a mais nova funcionária da Villa Prando. Com apenas três meses na vinícola, ela já participava de quase todas as etapas de produção. “Eu faço um pouquinho de tudo, sou uma aprendiz dos Prando”. Débora também afirma que as pessoas ainda não estão muito acostumadas a experimentar bebidas artesanais. “Mesmo assim temos um público fiel que só aumenta a cada dia”. Há quem acredite que o vinho consumido com moderação é sinônimo de bem estar e disposição. Honório é um bom exemplo disso. Sempre animado e com a mesma satisfação de um artista que apresenta sua obra, ele conta a origem
Daniel Schiavoni
É
com a mesma sutileza de quando enchemos a taça que o aroma da bebida hipnotiza o nosso olfato. E quando bebemos, o nosso paladar experimenta a suavidade que, independente do tipo, somente um bom vinho é capaz de proporcionar. Se você também gosta, saiba que não precisa ser um Sommelier, para perceber os prazeres dessa bebida sensorial. E se você mora em Itajaí, nem precisa ir muito longe. Ao deixar o centro da cidade, aos poucos a natureza vai ganhando espaço no trajeto. As árvores contornam a subida de uma estrada de terra que mesmo densa é bem sinalizada. O bairro é a Itaipava, mais precisamente, a Alameda Mata Atlântica. Nesse belo e bucólico recanto, o engenheiro agrônomo Honório Prando mora e administra a vinícola Villa Prando. No quintal da casa de dois andares, feita com tijolos à vista, alguns cachorros rodeiam os carros estacionados, como se fossem flanelinhas. Logo ao lado do terreno, sem nem mesmo uma divisória, está a
A vinícola está no mesmo terreno que a casa feita de tijolos à vista
da Villa Prando. “O vinho artesanal sempre fez parte da minha família. Quando eu era criança, mesmo sem poder experimentar, meu pai já me ensinava a preparar todas as etapas da bebida. Acredito que foi assim que eu me apaixonei por trabalhar com as maravilhas da terra, por isso mesmo que me tornei engenheiro agrônomo”. Com o passar do tempo, veio a ideia de criar a vinícola em conjunto com alguns amigos. “A princípio era algo só pra gente, mas foi dando certo e virou um pequeno negócio”. A vinícola de fato não chega a ser uma grande fábrica, todos os processos são feitos da forma mais manual possível. Entretanto, chamar de “pequeno negócio” é modéstia de Honório. Quem mora ou costuma passar por Itajaí, provavelmente já reparou que não há muitas videiras na cidade. Para Honório, “Nada te impede de importar produtos de outras regiões. Um exemplo é a Castanha do Pará, que mesmo morando em Santa Catarina temos acesso”. Ele explica também que faz questão de escolher pessoalmente as uvas quando viaja. A respeito da divulgação de seu negócio, prefere não investir muito nesse aspecto. “Tenho medo de não conseguir suprir a demanda de público. Prefiro os clientes fiéis e os que vêm de forma espontânea, pelo boca a boca”. Em 2014, o 11º Concurso Nacional de Vinhos Finos do Brasil, também conhecido por Cobaia
Concurso Mundial Bruxelas-Brasil, foi realizado no Costão do Santinho, em Florianópolis. Na competição, foram inscritos vinhos de Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná. Santa Catarina teve 10 vinhos premiados, sendo um deles com Grande Ouro, cinco com Ouro e quatro com Prata. Um dos cinco vinhos catarinenses premiados com ouro foi o Brisa do Mar, da Villa Prando. Uma garrafa de um litro do vinho Brisa do Mar custa 70 reais. “O preço baixo é uma forma de concorrer com os vinhos internacionais”, Honório explica. Ele ainda completa: “O status do vinho é uma ilusão. Existem variedades para todos os gostos e bolsos”. Apesar do reconhecimento mundial e da tradição da Villa Prando, a vinícola ainda não é popular entre os moradores de Itajaí. As visitas podem ser agendadas pelo telefone (47) 33485710.
O vinho no auxílio à saúde O vinho pode trazer benefícios à saúde, desde que seja apreciado com moderação. Para que os benefícios não se transformem em danos, a quantidade recomendada é de uma taça (aproximadamente 100 ml), ou duas por dia, se essas forem apreciadas junto com as refeições. Isso porque a bebida age na corrente sanguínea de duas formas: como anti-coagulante e vasodilatador. Isso ajuda na redução da
pressão sanguínea. Essas duas características fazem do vinho um importante aliado contra o infarto. Vale ressaltar que a uva contribui para acelerar o metabolismo, o que pode ajudar no controle do peso.
Tipos de vinhos disponíveis Graciatto Cabernet Sauvignon Marina Cabernet Sauvignon Farol Cabernet Sauvignon O Porto Cabernet Sauvignon / Merlot Brisa do Mar Chardonnay Premiado com ouro.
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Por Olga Luísa dos
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Série III ” s i f r e P o “Tecend Santos
O homem que enfrentou - e venceu - a crise das têxteis em Brusque
No terceiro capítulo da série “Tecendo Perfis”, a então formanda de Jornalismo Olga Luisa dos Santos encontra-se em Nova Trento com o ex-funcionário da Cia. Industrial Schlösser, Lino Melzi. A entrevista a seguir, feita no primeiro semestre de 2013, é reveladora do impacto que o fechamento dessa indústria têxtil – e a derrocada do setor em Brusque - produziu não só na cidade sede, mas em toda a região
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onhecer a história de vida de um trabalhador que dedicava 12 horas do seu dia à empresa me motivou a romper os limites geográficos e dirigir-me até o bairro Indaiá, na cidade de Nova Trento. A localidade situada às margens da Rodovia SC 411 guarda tradições hoje pouco cultivadas por moradores de municípios mais populosos. Por não saber onde ele mora, paro em um bar para perguntar aos cidadãos que aproveitam um sábado à tarde jogando sinuca. É evidente que naquele local característico do interior, todos conheceriam Lino Melzi. De portões abertos, percebo que sou esperada por ele, sua esposa e alguns familiares. Incrível como aquele lugar revela-se tão acolhedor. Enquanto me ajeito em uma cadeira, ele prefere ficar ao lado do filho mais novo no sofá, disposto em um espaço nos fundos da casa. Lino é um dos pais de família que trabalharam por mais de 20 anos na Companhia Industrial Schlösser. Como a maioria deles, entrou na empresa em busca de estabilidade e boas condições de trabalho. Trocou ferramentas como prumo, nível, régua e pá, que usava como servente de pedreiro, para aprender a manusear equipamentos bem maiores. Tudo começou quando um senhor conhecido como Miro da Claraíba, sabendo da disponibilidade de vagas na Schlösser, indicou o nome de Lino para uma função. Sem conhecimento na área, foi chamado no dia 03 de fevereiro de 1989 para ser limpador de teares. Atividade que, ele pretendia, fosse passageira, já que um objetivo de crescimento havia sido traçado nos primeiros dias dentro do setor. Foram seis meses na limpeza, oito meses como magazineiro, onde trabalhava nos teares de toalhas de banho e felpa, até se tornar tecelão reserva. O interesse pelo funcionamento das máquinas e a disponibilidade de aprender fez Lino ser indicado, entre tantos tecelões, como
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mecânico de manutenção. Entre as primeiras dificuldades, ele destaca de maneira simples e humilde as longas horas dentro de um ônibus para ir a Brusque. Com os enormes olhos claros fixos no meu semblante, ele relata sua rotina. Todos os dias, por volta das 3h, já estava de pé. Começava a se preparar de madrugada, pois antes das 4h o ônibus apontava na rodovia para buscar os empregados da Renaux, Buettner e Schlösser. Ele acrescenta que 12 pessoas do Indaiá trabalhavam nas indústrias têxteis brusquenses, sem contar os que vinham do bairro Moura, do vizinho município de Canelinha, e de outras localidades de Nova Trento. Quando o relógio marcava 5h, a sirene indicava o início da jornada de trabalho. O som ecoava pelo parque fabril novamente às 13h30m, desejando às centenas de funcionários um “Até amanhã”. Enquanto muitos se dirigiam ansiosos às suas casas, Lino sabia que a distância era longa. Somente por volta das 15h estaria novamente no aconchego do seu lar. Trabalhar em outra cidade nunca foi fácil, principalmente quando veio a promoção dentro do setor. Mesmo tendo que acordar de madrugada e chegar no meio da tarde, Lino sentiu a necessidade de aperfeiçoar seus conhecimentos. À noite, voltava a Brusque para fazer um curso técnico no Senai. Sentado ao lado, o filho mais novo ouve atento cada palavra. Os olhos claros iguais aos do pai refletem admiração por aquele que perante o menino é um exemplo. A mãe pede que ele desça do sofá e entre em casa. Lino volta a me explicar sobre suas funções. Responsável por 36 teares, tinha como parceiros outros seis mecânicos, que respectivamente davam manutenção de 12 a 30 equipamentos cada um. Nomes como Amilton, Sílvio são citados com apreço durante o bate-papo. Uma vez ao mês a equipe se encontrava para uma reunião com a gerência. Foi por meio dessas prestações de conta que souberam sobre as dificuldades financeiras que a administração dizia passar. “Uma hora eles diziam que não saía pano. Tinha meses que nós vendíamos 700, 800 mil metros de tecido. Então eu pensava, pra
onde é que ia esse dinheiro?” Lino revela também que intrigas entre a família Schlösser eram explícitas para os funcionários. “Quando tinha uma reunião em que um ia, o outro não queria participar. Parece que quando os velhos tocavam era outra coisa”. Mesmo sem entender o que realmente acontecia, eram frequentes os boatos entre os funcionários sobre um possível fechamento da fábrica. A missa em alusão ao Dia de Ação de Graças, em novembro de 2010, foi um momento crucial. “O pessoal da empresa chegou a comentar que achava que aquela talvez fosse a última missa. E eu pensava: Meu Deus, escutar essas mensagens que eles falam ali não dá pra pensar que isso vai acabar”. A sensação de que aquela história chegava ao fim não queria ser sentida nem por ele, nem por ninguém. O modo como ainda tem guardados os folhetos das celebrações reafirma os valores daquele homem criado no interior. “Tinha sempre alguma mensagem naquela folha que eu acho que não tinha quem não chorasse”. Guardar os folhetos da missa foi um jeito encontrado por Lino para manter preservada a tradição de momentos exclusivos passados na Schlösser. As preces e orações feitas na tão comentada celebração não puderam ser repetidas no ano seguinte. Novembro levou com ele a última missa e trouxe dezembro, o último mês. “Nós paramos dia 18 de dezembro para voltar em janeiro, como sempre foi feito. Aí quando nós paramos dia 18, não recebemos o pagamento de dezembro, nem o décimoterceiro, nem as férias. Disseram que retornaríamos dia 06 de janeiro, depois adiaram e falaram que voltaríamos dia 12. Quando nós chegamos, eles simplesmente disseram que não iriam mais tocar.” Incertezas passavam, naquele momento, a desnortear o destino de mais de 600 funcionários. Com a voz exaltada, Lino destaca, inconformado: “Não eram apenas seiscentos e poucos funcionários, eles deveriam ter pensado que eram seiscentas e poucas famílias”. Naqueles lares, o Natal de 2010 não pode ser comemorado com presentes, nem ceias fartas. Pai de dois filhos, aos 45 anos, se mostra
Cobaia
muito apegado à família. “Todo final de ano a gente comprava mais alguma coisinha, mas naquele foi meio difícil. Eu fico contente, porque nós estávamos com saúde, mas, por conta das condições financeiras foi complicado”. Minha afirmação sobre os laços familiares vão se confirmando com a chegada de vários parentes. Enquanto conversamos em uma varanda no fundo da casa, mãe, irmãs e sobrinhos se cumprimentam na cozinha. Sábado à tarde, na casa dos Melzi, é dia do tradicional café em família. Todos se reúnem lá, já que a matriarca mora com ele. No período em que a Schlösser declarou a paralisação do parque fabril, Lino construía uma nova casa. Os gastos aumentavam enquanto o salário nem sequer era pago. Assim que saiu da empresa, sem saber se retornaria, começou a trabalhar de maneira informal, como servente de pedreiro, com o cunhado. Ainda na esperança de voltar para a Companhia e, sem a carteira de trabalho, optou por realizar alguns serviços como forma de ajudar nas despesas com a construção. No dia 29 de maio de 2011, a empresa decidiu exonerar todos os funcionários, liberando suas carteiras para outros registros. Não demorou muito para que uma nova oportunidade possibilitasse um recomeço. Empregado em uma metalúrgica em Nova Trento, hoje, Lino é responsável por desenhar peças no setor de ferramentaria. Além do novo emprego, a liberação da aposentadoria também incentivou a realização do sonho de Lino: a conclusão da casa. Com o imóvel pronto e impecável, ele comemora suas conquistas. “Se hoje eu tenho o que eu tenho aqui, foi graças a Schlösser”. Essa declaração é de um entre tantos trabalhadores que construíram seus futuros junto à indústria têxtil, e ainda aguardam pelo reconhecimento de sua dedicação e esforço. Até hoje Lino espera, como seus colegas, pelos salários atrasados. Há quase quatro anos acompanha as
Olga Luisa dos Santos
negociações sobre o que é seu por direito. Apesar de ainda não ter recebido, Lino demonstra uma característica fascinante que até aquele momento não havia percebido em ninguém. A maior preocupação revelada desde o início de nosso bate papo é com os amigos de profissão. Principalmente com aqueles que pagavam aluguel e tinham muitos filhos. Ele cita várias vezes como algumas pessoas não poderiam ter ficado desempregadas naquele momento. A esperança, porém, serve como combustível para seguir em frente: “Uma hora sai”, ele se conforma, referindo-se à indenização trabalhista pendente. Foram 22 anos de entrega. Mas, Lino acredita que a fábrica deveria ter levado em consideração o esforço dos funcionários, e primeiro ter honrado todos os deveres junto a eles. O cheiro de café parece apressá-lo. A fala acelerada descreve as paradas na portaria da fábrica, quando vai a Brusque: “Escorrem lágrimas ao olhar para dentro e ver aquilo tudo abandonado. Corta o coração pensar que passei a maior parte da minha vida lá, e hoje está tudo parado”. Um longo silêncio o transporta para aqueles teares e o faz refletir sobre o significado da Schlösser. Com os olhos brilhando, define: “Foi o meu rumo de vida”. Sua esposa pergunta se já terminamos nossa conversa, e acrescenta que um café nos espera. Faltaria alguma coisa se eu não citasse o quanto me comoveu ver a família reunida em torno daquela mesa. A forma como fui acolhida me fez sentir parte dela e reforçou o desejo de manter vivas essas ricas memórias. Itajaí, março de 2015