Cobaia JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, setembro de 2016 - Edição 146 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Fotos: Gustavo Zonta
Eleições em Itajaí
O que eles planejam para os jovens Em entrevistas exclusivas para o Jornal Cobaia, candidatos a prefeito de Itajaí, Anna Carolina, João Paulo e Volnei Morastoni, apresentam suas propostas para o público jovem e adolescente Pág. 3 a 6
Especial
Cidadania
Cinema
Fora, Temer: manifestações em Itajaí pedem a saída do novo presidente
Transexuais e travestis lutam em busca de direitos e aceitação da sociedade
Jornalista Fernando Leão volta à Univali para lançar documentário
Pág. 7 a 9
Pág. 10 a 11
Pág. 15
Itajaí, setembro de 2016
Opinião
Editorial
Crônica
É hora de votar
Todos temos um poder
O
s brasileiros irãos às urnas no dia 2 de outubro no momento em que o país atravessa uma das maiores crises políticas da história. Impeachment, ex-presidente investigado, Operação Lava-Jato, milhares nas ruas entoando o “Fora, Temer”. Apesar das eleições serem para representantes municipais, prefeitos e vereadores, a conjuntura da política nacional deverá influenciar diretamente a escolha dos eleitores em suas cidades. Em Itajai, três nomes disputam a preferência do eleitorado para ocupar o cargo máximo do Executivo: a vereadora Anna Carolina (PSDB), o candidato da situação, João Paulo (PP), e o ex-prefeito Volnei Morastoni (PMDB). Para ajudar o eleitor jovem nesta escolha, realizamos entrevistas exclusivas com todos eles sobre suas propostas para os adolescentes. Nesta hora, a informação ainda é a melhor arma que o eleitor tem para tomar uma boa decisão. Portanto, as páginas 3, 4, 5 e 6 são leitura obrigatória para quem vota na cidade. Neste cenário político efervescente, cabe ressaltar que neste mês a cidade foi palco de duas manifestações contrárias ao governo de Michel Temer. Centenas foram às ruas de Itajaí para pedir a saída do novo presidente. Para entender melhor o que pensam os manifestantes e o porquê de tanta insatisfação, leia a reportagem de Juny Hugen e Maicon Renan, das páginas 7 a 9. Boa leitura e, se for às urnas, vote de forma consciente. Até outubro!
Fernando Rhenius – estudante de Jornalismo
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uitos de nós cresceram querendo ter superpoderes. Quem não gostaria de usar e abusar da visão de raio X do Super Homem ou de todas as traquitanas do sinto de utilidades do Batman? Pois é. Tem quem sonha em tomar as famosas pastilhas encolhedoras do Chapolin Colorado. Temos um poder, um poder enrustido que só aparece em determinadas horas do dia e só é acessível para quem possui carro. O famoso pisca alerta. É batata, o ser humano se transforma no paladino da justiça (pelo menos na sua própria cabeça) no exato momento em que aperta a tecla mágica. Em questões de segundos, parar em fila dupla se torna uma necessidade, trancar ruas para buscar seus queridos filhos na escola é algo de direito. Sabe aquela vaga preferencial para idosos ou pessoas com necessidades especiais? Ela acaba de ser tomada e com razão pelo super, mega, poder do pisca alerta. É como se o dono do poder ou da ignorância dissesse em alto e bom som: “estou parando, estou errado, mas o pisca alerta resolve isso”. E assim acontece em todas as cidades. O salvo conduto que as luzinhas dão a quem as ativa são superiores a, por exemplo, quem trafega na faixa da esquerda a 20 km/h. Outro superpoder que temos e gostamos de usar.
Mas não é apenas em áreas urbanas que o pisca é usado de forma errada e imbecil. Em rodovias, muitas vezes para avisar de um acidente, pista lenta ou apenas para poder tirar uma foto de alguém caído no chão, lá estão as luzinhas piscando como se não houvesse amanhã. Para seus donos poderem registrar acidentes e terem seus cinco minutos de fama e compartilhamentos no Facebook. Tem fila? Eles que passem por cima, primeiro preciso resolver o problema do foco da câmera do celular! O Código Brasileiro de Trânsito é claro, usar o pisca alerta só em caso de emergência, algo realmente sério, quando o carro quebrar no meio da via, ou no acostamento. Mas o sério de hoje não é o sério do código de trânsito. Ter que andar alguns metros a mais e estacionar o carro em uma vaga chega a ser uma ofensa maior do que xingar a mãe. Qual o problema de parar em fila dupla, não é mesmo? Estou imune a questionamentos, multas (se o guarda não aparecer) e ainda ganho tempo. Tempo este que os outros motoristas perdem, filas se foram e o trânsito, como todos sabem, acaba virado, literalmente, num alho. Mas não tem problema. Basta apertar o botão mágico do pisca alerta que todos os meus, não, os nossos problemas estão resolvidos.
Gustavo Zonta - editor Reg. Prof. Mtb/SC 3428 JP
UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí
Expediente:
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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - COMUNICAÇÃO, TURISMO E LAZER Diretor: Prof. M.Sc Renato Büchele Rodrigues CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Rua Uruguai, 458 - Bloco C3 Sala 306 | Centro, Itajaí - SC - CEP: 88302-202 Coordenadora: Prof. M.Sc Vera Lúcia Sommer Agência Integrada de Comunicação
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Edição: Gustavo Paulo Zonta | Reg. Prof. Mtb/SC 3428 JP Colaboração: Mikael Melo Tiragem: 2 mil exemplares | Distribuição Nacional PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Gabriel Elias da Silva
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Itajaí, setembro de 2016
Fala,candidato! Em uma disputa eleitoral que pode ser decidida pelos eleitores com idade entre 16 e 24 anos, Anna Carolina (PSDB), João Paulo (PP) e Volnei Morastoni (PMDB), candidatos a prefeito de Itajaí, apresentam suas propostas para os jovens e adolescentes
No dia 2 de outubro, 143.131 pessoas poderão ir às urnas em Itajaí para eleger prefeito e vereadores. Os adolescentes e jovens da cidade, que têm idade entre 16 e 24 anos, representam quase 15% (14,88%) do total do eleitorado. Se a idade máxima for ampliada para até 29 anos, esse percentual chega a 26,08%. Esses dados mostram que a participação da juventude no processo eleitoral fará grande diferença no resultado e, portanto, é fundamental que esse público saiba quais são os projetos que os candidatos à Prefeitura de Itajaí têm para eles.
Anna Carolina (PSDB)
Foi pensando neste cenário que o Jornal Cobaia realizou entrevistas exclusivas com os três candidatos a prefeito da cidade: Anna Carolina (PSDB), João Paulo (PP) e Volnei Morastoni (PMDB). Na pauta das conversas, assuntos de interesse direto dos jovens: participação nas decisões do governo, espaços de lazer e cultura, mercado de trabalho e bolsas de estudo para o ensino superior.
João Paulo (PP)
Os mesmos questionamentos, definidos pela reportagem do Cobaia através da análise dos planos de governo, foram feitos aos três concorrentes. Assim, o leitor/eleitor pode comparar as propostas e fazer a melhor escolha.
Entrevistas: Gabriel Silva e Mikael Melo Fotos: Gustavo Zonta
Volnei Morastoni (PMDB)
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Itajaí, setembro de 2016 1 – Qual será a participação que os jovens e adolescentes terão em um futuro governo Anna Carolina? Na hora que eu falar em saúde, em educação, segurança, vou estar sempre contemplando os jovens. Até porque eu preciso fazer um trabalho firme com os jovens porque a juventude está muito ligada à criminalidade hoje aqui em Itajaí. Tem algumas medidas de lazer que eu gostaria de fazer e são medidas simples. Por exemplo: nós não temos, nos bairros mais afastados, quadra poliesportiva. Mal temos um campo de futebol para que eles possam chutar uma bola. Quando a gente lembra de juventude, lembra de criminalidade. Um dos meios que a gente tem de combater é a ocupação. Ocupação no lazer, no colégio. O que estão me pedindo muito é a iniciação profissional nos colégios. Hoje a gente tem a FEAPI (Fundação de Educação Profissional e Administração Pública de Itajaí) que pode dar esses cursos profissionalizantes de forma gratuita. Mas é preciso levar eles para dentro do colégio. Nós também temos que fazer uma campanha muito forte contra as drogas. Na hora que fizermos o combate às drogas, a gente consegue melhorar e acertar em outros assuntos que tem tudo a ver com os jovens.
Anna Carolina Martins (PSDB)
Coligação: A Itajaí Que Você Quer PSDB/DEM/PR/SD/PSC/PTC/PRB/REDE/ PTB/PSL/PC do B/PTN
Idade: 35 anos Formação: Superior completo em Direito / Especialista em Gestão de Cidade Experiência política e administrativa: Atual vereadora
rior através de bolsa de estudos. Você pretende manter/ampliar ou criar algum programa que incentive os jovens e adolescentes a ingressarem na universidade? Eu acho que a universidade é pouco utilizada junto à administração municipal. A Prefeitura de Itajaí financia muitas bolsas de estudo. E isso é ótimo. Só que não é a prefeitura que financia, somos todos nós. Então eu pergunto: por que essas pessoas que recebem a bolsa não podem dar uma contraprestação junto ao município? Um estágio em alguma coisa referente à área? Deveríamos ter. Porque todos nós patrocinamos. Essa contrapartida deveria vir. De repente, no último ano de estágio, em vez de ser dentro da universidade, ser fora. Algumas áreas específicas já acontecem, dão esse tipo de apoio, mas só que nós poderíamos usar mais. A gente tem que pensar, de forma criativa, que há meios de economizar. Nós precisamos, pois a arrecadação no município caiu muito. E não precisa só ver números, é sentir. A gente sente quando não vemos mais os caminhões nas ruas, quando olhamos lá no porto e não vemos nenhum contêiner no pátio. A gente sente isso e é visto aos olhos. Tem que ser feito e pode ser feito. Só precisamos de profissionais para ajudar nesse momento crítico de Itajaí.
2 – No seu plano de governo, tem uma proposta específica para o público jovem que é na área de lazer e cultura. A proposta é “ampliar o financiamento e o número de espaços públicos multiculturais para a juventude e conceder bolsas de incentivo a jovens que desenvolvam atividades culturais para sua comunidade”. Como colocar em prática essa proposta? Essa é uma ideia que a gente vai fazer, obviamente. Mas nós temos um problema muito grande na cultura de Itajaí. Na Fundação Cultural, 100% dos cargos são comissionados. Nós não temos ali profissionais efetivos que continuem mantendo um processo. Quando a gente pensa em política, a gente tem que pensar em política para 50 anos. Obviamente que não podemos abrir um concurso simplesmente no dia primeiro de janeiro. A gente vai ter outros profissionais ali, para dar essa cobertura, mas nós vamos abrir concursos para que tenham profissionais efetivos para manter as nossas ideias em áreas específicas. A minha ideia, inclusive, é que o prefeito tem a responsabilidade de dar lazer. Quando a gente fala do jovem, nem todos têm necessidade de estar trabalhando aos 16 anos. E se eles tiverem o prazer e a oportunidade de estarem envolvidos com a arte, com a música, com a poesia, pintura, grafite, é algo que eu gostaria muito de produzir para Itajaí.
4 - O desemprego entre os jovens com idade entre 18 e 24 anos atingiu 24% neste primeiro trimestre segundo o IBGE. Você falou sobre colocar cursos dentro das escolas. Como ajudar para facilitar a inserção dos adolescentes e jovens no mercado de trabalho? O FEAPI é um pedido dos pais. Claro que a gente pode trazer para a FEAPI mais cursos de iniciação para o trabalho. Porque tem muito adolescente de 16 e 17 anos que gostaria de trabalhar, sente essa responsabilidade junto aos pais. Se a lei ainda não permite, traz restrições, vamos preparar essas pessoas para que, quando a lei permitir, elas já tenham um diferencial no mercado de trabalho. A ideia é fazer iniciação do trabalho dentro das escolas. Eu já tenho uma pessoa estudando isso para mim, porque não é qualquer profissão que a gente pode colocar ali. Tem o centro de inovação tecnológica aqui em Itajaí, a gente quer fazer aqueles espaços para início de trabalhos, startups. Só que isso é de médio a longo prazo. Outras ideias vão surgir na hora em que a gente colocar profissionais responsáveis e com formação para isso. Eu estou contando com o auxílio de entidades, como a universidade, para ajudar a expandir todo esse potencial. Porque é da minha função aqui ocupar os adolescentes, até para diminuir a criminalidade. Hoje nós temos um conselho tutelar falido, que não consegue resolver problemas, não tem um número de profissionais competentes para isso nem estrutura
3 - A Prefeitura de Itajaí possui um projeto de auxílio aos estudantes que cursam ensino supe-
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humanizada. De forma alguma eles conseguem defender os direitos dos adolescentes como gostariam. 5 - Anna Carolina, você aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, seguida pelo candidato Volnei Morastoni e o candidato João Paulo em terceiro lugar. Por que você acha que está liderando as pesquisas e como pretende chegar à frente em outubro? Eu impugnei essa pesquisa de maneira formal. Eu sei que estou na frente, porque eu faço o acompanhamento de pesquisa. Acredito que a minha diferença para os outros, olhando as pesquisas, é que as pessoas me veem de forma mais autêntica. As pessoas estão, com razão, muito cansadas da política. Eu tenho falado com bastante sinceridade para o povo há quase quatro anos aqui na Câmara de Vereadores. Eu sinto o reflexo disso. As pessoas dizem que eu ecoei as vozes das ruas em vários momentos, mesmo quando isso trouxe algum risco para a minha integridade. Eu passei por diversos processos aqui. Comissão de ética, respondo processo cível, respondo processo criminal. Entraram no meu escritório, na minha casa, arranharam meu carro. Nós estamos numa eleição diferente porque, até então, não existia Whatsapp, não existiam as redes sociais com a força que têm. Itajaí é uma cidade grande e poderosa. Eu conheço o poder dessa cidade. É uma cidade que já foi a maior arrecadação, está entre as três. É uma cidade rica. É uma cidade com porto, pesca. É uma cidade da construção naval, da construção civil. É uma cidade que o turismo pode ser explorado. É uma cidade de dar inveja. Se tu olhar as fotos lá da década de 70, os políticos são os mesmos que estão tocando a nossa cidade hoje. Se eu vencer essa corrida, vai ser uma virada de página muito grande para o município. Muita gente que era beneficiada por ser amigo, ser parente, por ter empreiteiras, por ser conhecido, vai ser prejudicada financeiramente. O nosso lema é dar oportunidade para todos, é deixar as pessoas trabalharem. É fazer uma gestão tecnológica, transparente, para evitar a corrupção, o desvio, para fazer as empresas e as pessoas daqui continuarem investindo aqui, porque elas não querem mais, infelizmente. O que a gente está precisando agora é que a nossa cidade não seja vista como uma província, mas seja olhada do tamanho que ela tem: uma grande cidade, com uma grande arrecadação, grandes pessoas, um grande celeiro cultural e também profissional. Nós temos a Univali. Lá tem professores, tem pós-graduação, tem doutorado, tem mestrado. Os melhores estão conosco. Por que é que os melhores não podem ajudar a compor e a transformar Itajaí? É disso que eu estou falando.
Itajaí, setembro de 2016 1 - Qual será a participação que os jovens e adolescentes terão em um futuro governo João Paulo? Eu participo da política desde muito cedo. Comecei no grêmio estudantil, na época do “Fora Collor”. Depois, fui presidente do Diretório Acadêmico de Direito, do DCE e do Diretório Catarinense da União dos Estudantes. Fui da União Nacional dos Estudantes, da Organização Continental Latino Americana e Caribenha dos Estudantes. Em razão dessa minha história no movimento estudantil e nos movimentos sociais, valorizo muito a participação política da juventude. É errado dizer que a juventude é o futuro. A juventude é o presente do Brasil. Nós temos que ter políticas para a juventude porque ela é uma fatia muito grande da população. O Brasil é um país ainda jovem, então merece isso. Hoje já existe um órgão na Secretaria da Criança e do Adolescente para políticas para a juventude e esse órgão tende a ser fortalecido no meu governo. Eu, quando procurador geral, fiz a lei que criou esse órgão. Temos alguns candidatos a vereador que tem muita identidade com isso e a gente tem buscado fazer isso de forma integrada. Tive uma reunião com a juventude dos partidos que compõem a base e pude contar um pouco da minha trajetória e pedi a eles o engajamento, não só agora, mas também na sequência, em um eventual governo. 2 - Uma das principais críticas feita pelos jovens é que faltam nas cidades espaços de lazer e cultura específicos para eles. No seu plano de governo, existem propostas que abrangem os adolescentes nestas áreas, mas de forma genérica. Há algum projeto específico para fomentar atividades culturais e de lazer entre os jovens? Tenho sido cobrado em algumas localidades sobre a criação de pistas de skate, o que é um investimento ótimo a ser feito. Ele não gera manutenção, como gera um campo de futebol. A pista de skate fica pronta e uma vez por ano precisa reformar. Às vezes não precisa nem ser pintada, a própria garotada faz grafite, pinta e, se você manter aquela estrutura de concreto, agrega muito para a juventude. Nós temos uma pista aqui na Beira-Rio, que é num bairro nobre, e que a molecada toda aproveita. Nós precisamos de espaços como estes na periferia. O prefeito tem que garantir esses espaços de lazer, de integração para a juventude, para as famílias. E eu vou adiante: quando os investidores fazem um loteamento na cidade, além de toda a infraestrutura de saneamento, drenagem, asfalto, meio fio, deveriam também, antes de vender o lote, deixar uma infraestrutura de lazer. Senão fica muito fácil: o cara pega um poste, faz lá os quadrados, começa a vender e ganhar o seu dinheiro. Depois, a prefeitura tem que vir com a creche, com a escola, com o ponto de ônibus, com as áreas de lazer.
3 - O desemprego entre os jovens com idade entre 18 e 24 anos atingiu 24% neste primeiro trimestre segundo o IBGE. No seu plano de governo, você propõe apoiar ações para integrar a educação formal com a formação profissional e também ampliar a oferta de qualificação de jovens aprendizes em parceria com a sociedade civil. Como pretende implantar esses projetos? Nossa cidade tem uma posição geográfica muito boa e estratégica: nós temos um aeroporto, um porto, rodovias e pontos intermediários entre cidades importantes. Mas algumas empresas encontram dificuldade na mão de obra qualificada. Nós precisamos preparar a nossa juventude. E para isso existe a FEAPI (Fundação de Educação Profissional e Administração Pública de Itajaí), que é uma escola técnica com cursos de curta e média duração que capacitam as pessoas para essa empregabilidade. Existe o ensino formal pela universidade, que é muito bom, mas, além da universidade custar caro, nem sempre atende imediatamente a demanda de mercado. E até para que ele se mantenha estudando, é necessário que ele tenha o mínimo de formação para qualificar sua mão de obra. Para mudar esse quadro de desemprego, temos que, primeiro: melhorar a qualificação da nossa mão de obra. Segundo: incentivar para que novas empresas venham para a nossa cidade e as que aqui estão permaneçam e ampliem sua produção. Não há programa social melhor para o trabalhador do que dinheiro no bolso, para que ele defina onde vai comprar, o que vai vestir, onde o filho vai estudar. E isso se consegue com emprego e renda.
acreditamos nessa retomada de crescimento na cidade. 5 - E no seu governo você pretende estabelecer parcerias com a Univali? Todas possíveis. A única crítica que faço à Univali é um probleminha chamado “muro”. A Univali poderia fazer muito mais pela cidade e principalmente pelas comunidades no seu entorno. Eu sei que ela ajuda muita gente, sei da filantropia, mas eu ainda acho que ela poderia ter uma inserção social na cidade de maior impacto. Eu verifico falas do tipo: “Vamos visitar a universidade de Seattle para verificar o plano de mobilidade...”. Poxa, não tem engenheiro aqui? Não tem urbanista aqui? “Vamos visitar o projeto da Universidade Federal de Viçosa sobre como tratar as crianças...”. A Univali foi constituída com patrimônio público. O terreno, o asfalto, tudo isso foi o povo. A maioria do povo que construiu cada tijolinho não estudou ali. Pagou e não usufruiu. Então, a Univali, para mim, precisaria ter uma inserção na sociedade maior. Pretendo conversar com a direção, respeitosamente, porque tem sempre aquela questão da autonomia universitária que é muito caro a todos nós. Eu não sou a favor de ingerência política na Univali. Mas os problemas sociais eu quero jogar para dentro do muro. Se não puder derrubar o muro, quero jogar para dentro dele algumas demandas sociais, para ver se a gente consegue firmar parceiras, porque a cidade vai crescer com isso e o alunado também. 6 - João Paulo, você aparece em terceiro lugar em pesquisas de intenção de votos. A Anna Carolina está em primeiro lugar seguida pelo Volnei Morastoni. Por que você acha que está nesta posição e como pretende chegar à frente em outubro? Eu não analisei todos os números. Mas o que eu tive conhecimento é que 82% do eleitorado não havia decidido o seu voto. Se 82% do eleitorado ainda não decidiu seu voto, a eleição está aberta, em primeiro lugar. Em segundo lugar, os dois candidatos são profissionais da área. Estão no mercado há 8, 12, 30 anos. Então, se esses dois candidatos não conseguiram, com o seu currículo, convencer mais do que 20%, isso divido entre os dois, eu me dou por muito satisfeito. Eu cheguei agora. A eleição está aberta e há uma diferença entre eu e meus adversários: eles já contam com a vitória. Eu não. Eu estou buscando voto a voto, conversando e vou vencer! Na verdade, há uma exaustão da classe política. Existem duas propostas que não são a minha: uma o povo já conheceu, tinha a economia de vento em popa, tinha o apoio do governo municipal, estadual e federal. E o povo disse: não, muito obrigado. A outra candidatura é contra tudo e contra todos. Tem o dedo em riste. Então, a pesquisa não corresponde à realidade. Eu tenho números melhores do que estes.
4 - A Prefeitura de Itajaí possui um projeto de auxílio aos estudantes que cursam ensino superior através de bolsa de estudos. Você pretende manter/ampliar ou criar algum programa que incentive os jovens e adolescentes a ingressarem na universidade? Os programas que existem serão mantidos e o desafio para a ampliação é econômico. Nós temos todo o interesse em ampliar. A melhor formação dá a chance de melhores empregos, dignifica a pessoa e há um princípio bíblico que diz: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Quanto mais se estuda, quanto mais se emancipa, quanto mais se cresce intelectualmente em qualquer área do conhecimento, melhor está a sociedade, melhor está a juventude. Portanto, melhor estará a democracia e a participação política. Agora, temos um imponderável econômico: a cidade não é uma ilha, ela está inserida numa crise econômica nacional e internacional, e nós, sozinhos, não conseguimos contornar todos esses problemas. Mas Itajaí já cresce a uma média muito superior a que Santa Catarina e o Brasil crescem hoje. Itajaí cresceu uma média de 700% nos últimos 20 anos. Então,
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João Paulo Bastos Gama (PP)
Coligação: Inovação, Ética, Trabalho e Competência PP/PSB/PSD/PT/PROS/PRP
Idade: 40 anos Formação: Superior completo em Direito / Especialista em Direito Público Experiência política e administrativa: Procurador-geral da Prefeitura, presidente da OAB de Itajaí e presidente do Instituto de Previdência de Itajaí
Itajaí, setembro de 2016 1 – Qual será a participação que os jovens e adolescentes terão em um futuro governo Volnei Morastoni? Os jovens são fundamentais e devem estar sempre incluídos. Com frequência se diz que as crianças e os jovens são o futuro da cidade, do Brasil. Crianças e jovens só serão o futuro se tiverem o presente. Primeiro: é importante que nós tenhamos uma cidade saudável, com educação, com saúde, com segurança. Esse é o tripé básico da cidadania. Depois eu sempre digo que a alma da cidadania está na cultura, no esporte, no lazer saudável. Essa essência da cidadania e da cidade é o ambiente propício para a criança e para o jovem. Esse é o contexto que eu imagino: nós temos que ter o jovem sempre presente nas políticas públicas, um diálogo permanente e uma representação da juventude no governo. Na verdade, existe uma Secretaria da Criança e da Juventude que é muito mais voltada para determinadas políticas públicas, voltadas mais para a vulnerabilidade que acomete crianças e jovens. Mas nós precisamos ter uma Coordenadoria da Juventude no governo. Acho importante para poder estabelecer todas essas relações com a juventude. Não tenho muitas informações do governo atual sobre como, exatamente, ele está procedendo. Mas, de um modo geral, encontro muitas contrariedades dos jovens que não têm um espaço suficientemente valorizado e nem as políticas públicas que favoreçam os jovens em geral.
Volnei José Morastoni (PMDB)
Coligação: A Mudança Que Itajaí Precisa PMDB/PDT/PPS/PEN/PV
Idade: 66 anos Formação: Superior completo em Medicina Experiência política e administrativa: Prefeito de Itajaí (2005-2008), Deputado Estadual por três mandatos e vereador duas vezes
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praças que foram revitalizadas, com quadras de esporte, pistas de skate, infantis. Entre o discurso e a prática, é a prova da verdade. A gente, na prática, realiza. 3 – O desemprego entre os jovens com idade entre 18 e 24 anos atingiu 24% neste primeiro trimestre segundo o IBGE. No seu plano de governo, você propõe “a criação de um programa para inserção dos adolescentes e jovens no mercado de trabalho e parcerias e convênios com empresas e instituições”. Como pretende implantar esse projeto? A prefeitura é uma instituição que deve estar permanentemente sintonizada com a sociedade. O prefeito e sua equipe de governo devem estar com os radares ligados, sintonizados, captando todas as mensagens que emanam da cidade em todas as áreas e setores, e promover parcerias. A prefeitura sozinha não dá conta de realizar tudo o que precisa ser feito. Então, devemos intensificar essa interlocução. A universidade é uma instituição de primeira grandeza da cidade, onde a prefeitura deve interagir intensamente, desde buscando recursos e auxílio de planejamento na parte administrativa, mas também na saúde, educação e nas parcerias que devem propiciar aos jovens universitários oportunidades de estágio em todas as áreas. Intensificar essa relação de oportunidades de estágio, que é sempre importante para o estudante e que depois a cidade possa oferecer oportunidade de emprego. Assim, entra a parceria que a prefeitura deve ter com todos os setores ligados ao porto, à pesca, à construção naval, ao turismo. Deve incentivar a roda da economia da cidade nessas parcerias com todos os setores. O porto está falido? É a prefeitura, o líder maior, que vai ter que, eleito, ainda na transição, juntar as forças locais, juntar o governo do estado e chegar à presidência da república para discutir as saídas políticas para o nosso porto, para que ele seja reativado e possa voltar a sua normalidade. Falo isso porque, se isso está bem, se a economia está bem, se esses pilares da nossa economia estão bem, você tem empregos, funcionam os outros setores dos serviços em geral, do comércio, da indústria. Isso se reflete na juventude, nas oportunidades que vão ter. Mais importante que uma política específica são as políticas gerais. Dentro desse contexto, ele vai, naturalmente, encontrar as oportunidades que ele precisa.
2 – Uma das principais críticas feita pelos jovens é que faltam nas cidades espaços de lazer e cultura específicos para eles. No seu plano de governo, existem propostas que abrangem os adolescentes nestas áreas, mas de forma genérica. Há algum projeto específico para fomentar atividades culturais e de lazer entre os jovens? Já fui prefeito uma vez, de 2005 a 2008. Eu tinha uma prática que procurei exercitar em que os jovens sempre foram, de alguma forma, incluídos. Itajaí é uma cidade onde se respira cultura, música, teatro, dança, esportes. Nós tínhamos isso vivamente ativado, com o Arte nos Bairros, comoo Escola Aberta, com os Festivais de Música. Eu criei o Conservatório da Música Popular num convênio com a Unicamp. Nós tínhamos o balé Alicia Alonso, que era um balé cubano adaptado ao perfil brasileiro das nossas crianças e jovens. Eu criei, por exemplo, a FEAPI (Fundação de Educação Profissional e Administração Pública de Itajaí), que é uma fundação de ensino e cursos profissionalizantes. É um espaço importante para os jovens. Na área dos esportes, nós criamos o bolsa atleta, criamos um percentual destinado do orçamento dos impostos para as atividades esportivas, assim como tem para a cultura. E procuramos sempre intensificar o esporte em todas as idades. Nós recuperamos mais de 40 quadras, entre praças novas e
4 – A Prefeitura de Itajaí possui um projeto de auxílio aos estudantes que cursam ensino superior através de bolsa de estudos. Você pretende manter/ampliar ou criar algum programa que incentive os jovens e adolescentes a ingressarem na universidade? Quando fui prefeito da outra vez, mantive essas bolsas de estudo e sempre procurei ampliar isso, para dar o
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máximo de oportunidades para os jovens. Quando eu fui estudante, quando saí de Itajaí para estudar em Curitiba, em 1969, naquele ano estava nascendo a Univali. Quando entrei na faculdade de medicina, embora eu trabalhasse fora, precisei me socorrer na Prefeitura de Curitiba, que tinha um programa de bolsas de estudo. É uma forma que a prefeitura tem de ajudar. Por isso, nós queremos ativar a economia da cidade, não só por causa das bolsas de estudantes, mas porque tem que pagar a folha de pagamento, os fornecedores, os programas sociais e cada vez temos que ampliar. Nós fomos a primeira cidade do estado em arrecadação. Nós temos que recuperar essa condição e, a partir daí, teremos recursos para fazer a cidade melhor na área de incentivos a programas sociais na cultura, esporte, lazer, saúde e educação. Além disso, temos que ter uma parceria forte do município com a Univali. Eu procurei ter isso já no meu governo passado, mas agora estou mais convencido ainda de que nós temos que interagir firmemente com a universidade. E dessa interação vão resultar muitas oportunidades para os próprios estudantes, de estarem não só em campos de estágio na própria prefeitura, mas também nessa parceria com todos os demais setores do porto, pesca, construção naval e turismo. 5 – Volnei, você aparece em segundo lugar em pesquisas de intenção de votos. A Anna Carolina está em primeiro lugar seguida do candidato João Paulo. Por que você acha que está nesta posição e como pretende chegar à frente em outubro? Essas pesquisas são muito vareáveis, elas sempre refletem o momento. A campanha é muito dinâmica. Depois dessas pesquisas nós já entramos num outro ritmo da campanha: já vieram os programas de televisão, de rádio, debates, entrevistas e isso tudo vai ajudando a esclarecer as pessoas, os eleitores e formando uma opinião mais abalizada. Nós temos pesquisa, por exemplo, onde estamos tecnicamente empatados, outras onde eu estou na frente. O que a gente vem observando é que a minha candidatura, a nossa proposta, vêm crescendo e tende a se consolidar, o que nos dá uma boa perspectiva de sucesso na eleição. A minha candidatura vai se diferenciando dos outros candidatos porque, enquanto os dois estão debutando, começando na vida política, eu estou encerrando minha vida política. Eu tenho para oferecer para a população meus 40 anos de médico somados com a trajetória política. É a experiência que eu ofereço e a população é que tem que decidir se quer que eu ainda sirva ou se simplesmente quer pegar alguém novato, que não tem experiência nenhuma, para arriscar um novo momento de uma cidade que não está bem, que está doente, está mal, em crise e, dependendo do que acontecer e como se conduzir essa cidade, pode ir para um desfiladeiro sem fim.
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ECOS DO SILÊNCIO As ruas ainda entoam o “Fora”, mas agora é a vez de Michel Temer
Juny Hugen e Maicon Renan 4º período de Jornalismo
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aminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não”. A música de Geraldo Vandré ecoou nos quatro cantos do Brasil, tornando-se a trilha sonora da maior manifestação popular do país. As ruas foram tomadas por milhares de pessoas que tinham um desejo em comum: escolher quem iria representá-las. Diretas Já foi o nome da campanha que, entre 1983 e 1984, buscou o que para muitos é o significado da democracia: o direito do voto. Trinta e dois anos depois, quem assume o protagonismo em mais uma luta por esse direito são os filhos e netos daqueles que lutaram contra a Ditadura Militar. O impeachment que interrompeu o segundo mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff, em agosto deste ano, desencadeou uma série de manifestações que contestam o valor dos 54 milhões de votos recebidos por ela nas últimas eleições presidenciais. Assim como questionam a legitimidade do novo governo, representado por Michel Temer. Em Itajaí, no mês de setembro, duas manifestações, nos dias 1o e 15, reuniram centenas de pessoas contrárias aos últimos acontecimentos. “O problema em romper o processo democrático é que, se tiram nosso direito de voto, as eleições perdem o sentido. Eu sinto que o meu direito foi jogado no lixo”, afirma o jornalista Sandro Silva. Mas, como é possível questionar a decisão de um Congresso que também foi escolhido por nós? Aí está a importância e responsabilidade em escolher os homens e mulheres que decidem pelo povo o que somente o povo deveria decidir. O coordenador do curso de História da Univali, o professor Francisco Braun Neto, explica que a atual situação política do Brasil é reflexo de uma democracia ainda jovem, que está passando por um processo de consolidação. “A compreensão do processo democrático é uma problemática internacional, no Brasil e América Latina é um conceito distante, pois passamos por um longo período do século XX submer-
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Fotos: Maicon Renan
Duas manifestações aconteceram em Itajaí no mês de setembro e reuniram centenas de pessoas contrárias ao governo Temer
so em regimes ditatoriais”. Além disso, Chico ressalta que ainda falta à população o entendimento sociológico, cultural e filosófico sobre o que é política. “Esses estudos deveriam acontecer nas escolas e universidades”, opina. “Nós temos esperança que algo possa mudar, por isso é importante que nos manifestemos”. A afirmação do estudante de Educação Física Igor Smaniotto representa um sentimento de mudança que muitos brasileiros carregam e que, antes do impeachment, também ecoava nas ruas. Hoje, pelas manifestações que ainda acontecem pelo país, boa parte das 54 milhões de pessoas que elegeram Dilma não se sentem representadas pelo projeto “Uma ponte para o futuro’’, defendido no governo Temer. Ajustes trabalhistas, cortes na educação e saúde e todos os ministérios sendo liderados por homens brancos são alguns dos pontos mais questionados pelos manifestantes. ‘’Um governo sem mulheres e negros Muitos jovens e adolescentes expressaram seu descontentamento com o cenário político
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Fotos: Maicon Renan
Os movimentos de rua mostram que, independentemente do posicionamento político, a insatisfação com o governo é um sentimento comum entre a população
não têm representatividade alguma para mim’’, afirma a estudante Júlia Cadore dos Santos. As crenças ideológicas que norteiam o cenário político brasileiro transformaram o país em uma partida de futebol, em que o importante é que o seu time vença. Essa polarização tem distanciado a sociedade como força coletiva, segmentando-a em dois grupos ideológicos: a esquerda e a direita. Professora do curso de Direito da Univali, Queila Jaqueline Nunes Martins explica que para a democracia funcionar as pessoas não deveriam apenas defender um conceito ideológico, mas aplicá-lo em cada ação de sua vida todos os dias. “A ideologia é somente um discurso, a demagogia é a pior coisa que existe para a democracia”, destaca. A inclusão social e a busca por direitos igualitários são alguns dos pilares fundamentais para a democracia. Mas como uma sociedade pode alcançar esses objetivos? Bruna Ribeiro, integrante do movimento O início da manifestação, que saiu da Igreja Matriz, aos olhos de um espectador
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estudantil, diz que os movimentos sociais podem ser uma alternativa, pois aproximam pessoas que pensam e vivem em uma sociedade desigual, propiciando assim, dentro de sua realidade, uma compreensão maior de bem estar coletivo. “Essa pode ser uma motivação para o povo buscar sua emancipação e autonomia, fortalecendo, consequentemente, o estado democrático”. Assim como em 1984, quando os primeiros ecos demoraram a ser ouvidos, o som das ruas que gritam por mudança hoje parece não chegar ao Planalto, nem no Congresso Nacional. Embora sejam ecos “inaudíveis’’, deixam claro que a insatisfação é um sentimento comum, independentemente do posicionamento político da maioria da população. O estudante de Direito Lucas Lima destaca que os jovens não podem desistir, pois o futuro do país é a juventude. “Nós temos que lutar pelos que já estão cansados de lutar e por todos aqueles que não acreditam mais”.
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Cidadania
Questões de gênero Eliz Haacke e Mikael Melo - 4º período de Jornalismo
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u trabalhei quatro anos em uma loja, quando me assumi transexual fui demitida por isso. Me ofereceram aumento de salário para eu não começar o tratamento hormonal”, relata Isabela Mantovani, 26 anos, transexual e acompanhante de luxo. Isabela conta que procurou emprego em diversos lugares, principalmente na área de comércio, e ouviu “não” em todos, sempre com a mesma desculpa. Uma amiga tentou ajudá-la, mas com ressalvas. “O problema não é você, é a sociedade. As pessoas vão ver você, vão ficar retraídas e deixarão de comprar na loja”. Essa é apenas uma entre muitas histórias de transexuais e travestis marginalizadas pela sociedade. A transexual, por falta de oportunidades, seguiu o caminho da prostituição há um ano e meio. Mantovani agenda tudo pela internet. Seus clientes têm poder aquisitivo maior e sempre a ajudam financeiramente. Cerca de 90% deles são casados ou namoram. Ela conta que o preconceito vem, em sua maioria, dos homens. Apesar de nunca ter sido agredida fisicamente, Isabela já foi atacada verbalmente e ameaçada, além de já ter visto amigas sofrendo agressão. “O cara que te xinga hoje é aquele que te procura amanhã para um encontro”. O psicanalista Evandro Alves liga o preconceito a vontades e desejos reprimidos desde a infância. “Você só implica com algo que não está bem resolvido consigo mesmo”. Para Evandro, os dois anos de acompanhamento antes da cirurgia de retirada do pênis são essenciais. É preciso ter certeza do que está sendo feito para depois não haver arrependimento. Tal fato traria trans-
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Transexuais e travestis são marginalizadas pela sociedade e sofrem para conseguirem empregos e concluir o ensino regular
tornos psicológicos muito sérios na vida da pessoa. O Sistema Único de Saúde (SUS) realiza as operações de mudança de sexo desde 2013, em São Paulo, mas há um prognóstico de ampliar para outros estados. Identidade Algo que à primeira vista pode parecer simples, como receber atendimento médico, fazer matrícula em universidades ou, simplesmente, ir a festas, pode ser extremamente constrangedor para quem não se identifica com o gênero de nascimento. Já negaram
à Isabela o direito de ser chamada pelo nome social em um posto de saúde. O funcionário do local insistiu em usar o nome de registro quando ela precisou de atendimento. Felizmente, nem todos os estabelecimentos funcionam dessa forma. O Bar Pixel, balada alternativa com unidades em Joinville e Curitiba, confecciona carteiras de identidade com nome social para transexuais. Só há permissão para maiores de 18 anos entrarem nas festas, assim, as pessoas são obrigadas a usar o documento original para comprovar a idade. A ID Pixel sai sem custo e de-
mora de cinco a sete dias para ficar pronta. É preciso preencher um formulário com data de nascimento, nome social, foto 3x4 e números de RG e CPF. Concluir o ensino médio é outro obstáculo encontrado por transexuais. A carioca Bárbara Aires de Oliveira começou o processo de transição de sexo na adolescência e, nesse período, reprovou por faltas. Quando tentou de novo, já transicionada, desistiu após ser perseguida e agredida por colegas da escola. Mesmo passando mais de 10 anos, o pai ainda não fala com ela. “Minha mãe não
entende, respeita, mas não aceita. Meus tios demoraram sete anos para autorizar que eu visitasse suas casas. Fui chamada de vergonha e motivo de chacota pela família”. Bárbara encontrou ajuda no coletivo PreparaNem, criado por uma amiga trans com o objetivo de preparar travestis e transexuais para a prova do Enem, visando à conclusão dos estudos e ingresso no ensino superior. Atualmente, ela cursa Jornalismo na FACHA (Faculdades Integradas Hélio Alonso) no Rio de Janeiro e participa de ações em prol da diversidade. Victor Marques Loja
Isabela procurou emprego em diversos lugares, principalmente no comércio, mas ouviu “não” em todos
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Victor Marques Loja
Direitos O delegado David Tarciso Queiroz de Souza, responsável pela Polícia Civil de Balneário Camboriú, enfatiza que a delegacia da mulher só atende casos relacionados à Lei Maria da Penha, ou seja, casos de violência doméstica. De acordo com David, nos últimos seis meses alguns travestis sofreram ameaças por disputa de pontos de prostituição nas ruas. Na região, não são frequentes atentados contra travestis e transexuais, o mais comum são essas disputas. Ele ainda relata que não existe uma lei específica para casos desse tipo. Um transexual operado só pode ser atendido na delegacia da mulher se as circunstâncias se encaixarem na Lei Maria da Penha, caso contrário, será atendido na Delegacia de Policia Civil. “Não basta ser mulher, não basta ser transexual, não basta ter o gênero feminino ou equiparado, é necessário que se encaixe em uma dessas situações descritas nessa lei”, relata. Se uma transexual for presa, o delegado afirma que sem dúvida nenhuma, colocaria essa pessoa em uma cela destinada a mulheres. Porém, a lei não especifica nenhuma diferenciação para essas situações. Eliomar Beber, responsável pela Delegacia da Mulher de Balneário Camboriú, explica que não existe atendimento diferenciado para transexuais, “Para a lei, ele é um homem”, afirma. Eliomar conta que ainda se busca uma solução para questões como: “Em qual banheiro o travesti deve ir? Feminino ou masculino?”. Preconceito Danielle Ferreira, transexual de 17 anos, começou sofrendo preconceito dentro da própria casa. A jovem, que tem dois irmãos homossexuais, começou mesclando características femininas com masculinas, faz tratamento hormonal há pouco mais de um ano e relatou que a
Danielle começou o tratamento hormonal há mais de um ano e pretende fazer, no futuro, uma cirurgia de mudança de sexo
mãe não aceitava a ideia de ter uma filha transexual. “Ela não me ajudou, mas agora, que eu resolvi me impor, ela acordou e viu que tenho essa aparência mais feminina”, explica. Mas não é só em casa que ela lida com esse tipo de situação. De acordo com Danielle, quando passa na rua, as pessoas que a conhecem fazem deboche e, às vezes, a chamam de ‘gostosa’ só para ofendê-la. Mas esse comportamento vai além disso. Ela já sofreu e ainda sofre o cyberbullying (assédio virtual) e diz que o preconceito na internet triplica. “As pessoas se escondem em perfis falsos porque é muito mais fácil você xingar alguém pela internet do que pessoalmente”. Danielle se considera trans há dois anos e pretende fazer uma cirurgia de mudança de sexo no futuro. Hoje, a cirurgia não é prioridade. “Infelizmente é um fato que acontece, se uma trans se preocupar com isso, ela vai ser muito infeliz”, conclui.
Fontes: Alexandre Saadeh (Instituto de Psiquiatria - Hospital das Clínicas); Secretaria Estadual da Justiça e Defesa da Cidadania
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Economia
O preço para o altar Dienifer Mânica e Karine Amorim - 6º período de Jornalismo
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or efeito de mãos e dedos sutis, eis que surge o objeto de encantamento de muitos. Movimentos velozes regem tecidos e pedrarias. Os pés cansados pela dinâmica incessante das máquinas. Mãos e unhas beliscadas em prol de tesouras, agulhas e ideias que unem criatividade e dom. A cor, quase sempre branca, ou talvez pérola, nevada, gelo e a mais atual off white. É nesse ciclo que nascem os vestidos de noivas. O vestuário mais desejado e esperado no fim do corredor da Igreja. Uma das vestimentas mais caras no mundo da moda. Em meio a tudo isso, é importante se atentar a dicas e novas maneiras na hora de escolher o vestido ideal. Maio é considerado mês das noivas, e junto com ele aparecem os mais variados eventos e exposições relacionados a esse universo. Mas será mesmo que esse mês ainda é o mais escolhido na hora dos preparativos para a união matrimonial? Segundo pesquisas realizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2014, o mês com maior número de casórios foi dezembro, com 12,65%, seguidos de novembro e outubro, com 10,16% e 9,81%, respectivamente. Francielle da Silva e o marido Romaldo realizaram a cerimônia em outubro do ano passado. A escolha da data foi por causa do aniversário dos dois. Apesar de escolherem outubro, eles contam que maio foi essencial. “O mês de maio nos auxiliou muito, pois esse é o mês em que são realizadas as mais variadas exposições e mostras de noivas, onde muitos profissionais apresentam seus trabalhos com um desconto muito maior do que o normal”. Foi jus-
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Especialistas dão dicas para economizar na hora da escolha do vestido de noiva
tamente nessas exposições que Francielle teve suas maiores inspirações para o vestido perfeito. Juntou várias ideias que viu nos eventos e acabou optando por mandar fazer o vestido com uma costureira conhecida. O trabalho de mão de obra da costureira saiu por R$ 1.700. “Como seria eu quem iria escolher os teci-
dos e as pedrarias, pesquisei os preços em vários locais e consegui economizar nesse quesito. O preço total do vestido ficou R$ 4 mil, e a peça ficou para mim”. Dezenove anos, sem nenhuma experiência e com um investimento de R$ 130 em uma máquina de costura usada. Foi assim que Joelma Martins teve seu Foto: Dienifer Mânica
Alugar o vestido é uma alternativa para quem quer gastar menos
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contato inicial com a profissão. Hoje, dezessete anos depois, ela tem um atelier próprio em Itajaí, intitulado “JM”. Com seis cursos ao total, terminou recentemente o “Estilismo”, no Instituto di Moda Burgo Brasil, e começará em breve um curso especializado em vestidos de noiva. Questionada sobre a crise no mundo da moda, Joelma afirma que isso não existe nesse meio. “Existe adaptação, ao contrário do que muitos denominam como crise. Se antes as noivas iam atrás de ateliês sofisticados e com preços de R$ 8 mil a R$ 10 mil o aluguel, hoje, elas procuram locais com preços mais acessíveis, entre R$ 3 mil a R$ 4 mil, mas que não decaia na qualidade e no resultado final”, explica. Por falar em preços, a empresária dá dicas para economizar na hora da escolha do vestido. A primeira é alugar, ao invés de comprar pronto ou mandar fazer. Mas, ela faz alertas para a hora de alugar: o primeiro aluguel, com medidas e escolhas da noiva, sairá mais caro. Outra saída é a escolha de uma costureira com preços mais acessíveis. Joelma explica que nesse caso a noiva poderá escolher tecidos e pedras a seu gosto. Existe uma ampla variedade de tecidos e pedras. O segredo é não pecar na hora de escolher a renda, caso seja o gosto da noiva, pois geralmente são os tecidos mais caros. “Para quem
deseja ter um custo mais baixo, aposte em tecidos que já venham bordados, e compre algumas pedras avulsas apenas para dar um toque final. Pois, apesar de sair mais caro, a economia será na mão de obra”, ressalta. A maquiadora Sara Regina casou-se em 2014 e sempre teve a ideia de alugar o seu vestido de noiva. Na época, pagou R$ 3.600 pelo aluguel e primeiro uso exclusivo. “Eu sabia que não poderia mandar fazer um vestido, pois é muito caro, então optei pelo aluguel”. Dicas finais É de conhecimento prévio que más escolhas na hora do vestido de noiva podem acarretar no seu bolso ou na carteira. Por isso, a comerciante de moda Lis Pires dá uma ajudinha nesse quesito. Dona do atelier de vestidos Ellegance, em Balneário Camboriú, ela destaca que os modelos alugados são mais viáveis. Porém, para a noiva que deseja um vestido sob medida há maneiras para driblar o preço. “Vestidos mais trabalhados, com babados e muitas saias, saem com valores mais altos. Na hora de escolher as rendas, é importante ficar atenta também que as rendas francesas são as que têm preços mais elevados”, revela. E a dica final de Lis é a seguinte: na hora de escolher o tecido, não se revele como noiva. Diga que você está comprando despretensiosamente um tecido branco para outra finalidade. Pois dessa maneira não há risco de cobrarem preço exacerbado, simplesmente por saberem que o vestido é de noiva. Anotaram as orientações? Agora é só segui-las corretamente e escolher o tão sonhado vestido de noiva.
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Cultura
Fé e benzeduras:
tradição que permanece
Kamila Dias e Kerolaine Rinaldi - 6º período de Jornalismo
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longa estrada de chão serpenteia por vários quilômetros. Com o dia ensolarado, a poeira branca fica assentada no solo apenas até o próximo carro passar. O lugar é pacato, ainda com pedaços cercados por árvores ou pastos, com casas interrompendo o verde. Quando a rua se divide em duas, é possível ver uma casinha de madeira empoeirada, com vários tipos de plantas na frente. O teto desgastado e a madeira escurecida devido a anos de chuva e pó parecem ser segurados por um tipo de argamassa natural. Debruçada na janela lateral, olhando para a rua, a mulher observa o pouco movimento do dia. A cada pessoa que passa pela residência, um grito. “Vá com Deus, meu filho. Que Jesus te acompanhe!”. Durante a semana, as horas passam devagar na localidade do Sertão do Trombudo, em Itapema. Caminhando apressada pela rua, uma mulher diminui a velocidade quando se aproxima da idosa. Apesar da surdez parcial, ela entende no mesmo instante o que é preciso. Um benzimento. Dor de rotina, sem causa específica, como uma carne rasgada. Apenas para afastar qualquer maldade que possa atingir seu corpo. A porta da frente é aberta e a visitante convidada a se sentar em um sofá de frente para a entrada. Com uma capa amarela desbotada, o móvel substitui uma cadeira de plástico branca que acomodou centenas de pessoas que foram benzidas durante anos por Domingas. – “Quantos anos tu tens, minha filha?” – ela questiona. – “Eu tenho 20”. – “É novinha ainda. É sorteirinha?” – “Tenho namorado”
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No interior de Itapema, a benzedeira Domingas, 86 anos, mantém vivo o costume de curar através de rezas
E com a breve apresentação, Dona Dominga, como é chamada por todos, começa o ritual. A velocidade da fala às vezes não permite distinguir as palavras. A forma simples de falar não segue as normas gramaticais e, apesar da idade avançada, o tom de voz é alto, forte. “Eu te benzo pela frente, eu te benzo pelo lado, meu senhor crucificado. Minha estrela gloriosa cheia de boas venturas, olhai essa criatura”. Começa em ritmo rápido, segurando um rosário pela cruz e apontando para ela. A oração segue. “Arretirais a raiva, exibição, traimento, a traição, no corpo dessa irmã não ficarão”. Por minutos, o benzimento segue. Agora, totalmente concentrada, quem passa na rua nem é percebido. Sentada em uma poltrona surrada encostada na parede, atrás de Dominga, há diversas imagens de santos. Papa João Paulo II parece ter sido recortado de um calendário, um porta retrato traz uma foto desbotada de Nossa Senhora Aparecida. Há uma louça branca com a borda quebrada e nela está escrita a oração ao anjo da guarda em letras cursivas pretas. Uma imagem de Santa Paulina tem cerca de um palmo. Uma foto das netas colada na parede. Todo o ambiente tem um leve cheiro de arruda.
De olhos fechados, a cabeça apoiada na mão esquerda e ainda com o crucifixo apontado, ela finaliza depois de alguns minutos. – “Pai Nosso pequenininho / Leve essa irmã no bom caminho / Que nada lhe atrapalhe / Nem a noite, nem de dia / Nem no pingo do meio dia”. O benzimento e a espiritualidade como um todo são considerados pela ciência cada vez mais como um complemento à medicina. No hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, uma pesquisa sobre isso está em fase de conclusão. Durante uma ressonância magnética, com o paciente concentrado em suas orações, áreas do seu cérebro se modificam. Quando questionada sobre sua opinião a respeito dessas práticas aliadas à medicina tradicional, a mestra em Assistência em Enfermagem, Fernanda Piccolo, fala convicta que a imposição de mãos e orações feitas para o paciente podem, sim, ajudar. Domingas Jeremias Caetano, de origem humilde, sempre levou uma vida simples. Natural de Itapema, que na época de seu nascimento ainda pertencia a Porto Belo, foi criada pelo tio. Ela conta que aprendeu a benzer aos 40 anos, depois da morte da mãe. A falecida aparecia em
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seus sonhos todas as noites e recitava versos a ela. A filha Salete Martins, uma das poucas que conhecem a história, conta que o novo marido de sua mãe a levou para conhecer uma benzedeira experiente, pois acreditava que um dom estava sendo passado à esposa. Com a “irmã Cristina”, aprendeu as orações corretas e passou a atender pessoas. Suas filhas nunca tiveram interesse em aprender o ofício, afirma Tausa, a mais nova. Como não moravam com a mãe, não acompanharam o processo de aprendizagem e a curiosidade nunca foi despertada ao longo dos anos. Dos vários netos, muitos nem acreditam na prática da avó, pois se converteram ao protestantismo, como fez Magda Martins. Ela, debruçada no balcão da farmácia onde trabalha e com o queixo apoiado na palma da mão, comenta sobre o respeito que tem pelas práticas da avó, apesar de não acreditar que ela possua algum poder. Com 14 anos de experiência como médica, Janaína Sortica Fachini também se demonstra cética a respeito da eficiência do benzimento, mas considera uma possível ajuda no tratamento, pois a fé é muitas vezes um facilitador para a cura. Ela menciona ter pacientes que, mesmo frenquentando casas de benzimentos, continuam ainda optando e buscando o tratamento medicinal para as mesmas doenças. Ao falar sobre o assunto, Janaína refere-se, muitas vezes, sobre o olhar dela pelo viés da medicina. Desta forma, a médica alega: “Eu acredito que a medicina não garante a cura por benzedura, isso na nossa medicina tradicional. Mas ela enxerga o benzedor, acredito eu, como muitas vezes um
tratamento coadjuvante, um tratamento de apoio espiritual, desde que não atrapalhe na prática clínica”. No Brasil, existem penas para quem pratica o charlatanismo e curandeirismo. Há diferença entre os dois casos e também entre eles e a liberdade religiosa. A advogada Manuelly Medeiros faz questão de diferenciar as situações. Apontando para seu dedo indicador esticado, ela fala: “Primeiro, a liberdade religiosa existe até o momento em que a saúde de uma pessoa não seja prejudicada. Se o pastor, benzedeira ou outro agente realizar uma ação religiosa que afete negativamente a saúde da pessoa, ele pode responder legalmente”. Agora, com dois dedos levantados em forma de V, ela continua. “O curandeirismo é a tentativa de cura com meios sem comprovação cientifica, como, por exemplo, prescrever substâncias e fazer diagnósticos. Mesmo de forma gratuita”. Com o dedo anelar também esticado, ela conclui: “E o charlatanismo é a promessa de cura por meio secreto ou infalível sabendo ser falso”. Domingas não promete curar as pessoas que a procuram. “Ah, nega, eu acrerdito que quando eu benzo...”, deixa a frase no ar com uma risada convencida, “mas só Jesus tem poder pra curar, né”, completa. A velhinha feliz sempre demonstra depois de benzer como ainda é forte e saudável. Levantando-se, ela pula e coloca as palmas das mãos no chão, erguendo-se rapidamente em seguida. Aos 86 anos, parcialmente surda e com problemas de memória, ela segue atendendo quem a procura. Pessoas de várias cidades da região, de várias idades e diversas crenças.
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Solidariedade
Moradores de rua recebem ajuda de projetos sociais Matheus das Neves - 4º período de Jornalismo
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Foto: Matheus das Neves
No Brasil, número de moradores de rua pode chegar até a 2 milhões. Os que vivem em Itajaí recebem a atenção de projetos sociais
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uinta-feira, 30 de maio de 2013, noite de Corpus Christi. Enquanto muitos perambulavam pelas ruas de Itajaí sem rumo, com fome e desacreditados de esperança, duas senhoras faziam o gesto mais humano do mundo. Maria Olímpia de Souza Ferreira e Jadna dos Santos cozinhavam para alimentar aqueles que passavam necessidade nas ruas e não esperavam nada daquele dia. As duas mal sabiam que, mais tarde, aquela ação se tornaria o projeto voluntário “Kombi da Sopa”. Alimentar, vestir, entender e fazer refletir sobre aqueles que moram na rua. Este é o intuito do projeto idealizado pelo diácono Juarez Carlos Blanger, da Associação Maria Mãe de Jesus, de Itajaí, à qual o projeto é hoje vinculado. A iniciativa cresceu, criou corpo e é feita com o auxílio de voluntários. Os alimentos são preparados, embalados e distribuídos por toda a cidade. O “Kombi da Sopa” possui cozinheiras, motoristas e entregadores que levam a comida e as roupas até os moradores de rua. Na entrega, eles tentam descobrir como o morador chegou até ali e o que ele já passou depois de tantas caminhadas. Em alguns casos, para levar conforto, declaram palavras divinas aos necessitados.
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Voluntários vivenciam em cada entrega uma nova experiência. Vivenciam cada agradecimento, sorriso e renascimento de esperança daqueles que já não sabiam o significado dessa palavra. Sentem-se completos e refletem sobre as reclamações Voluntários vivenciam, em cada entrega, uma nova experiência diárias que, se comparadas com a vida nas ruas, perdem o sentido. A voluntária Jeovana Lino diz se sentir mais Gabriel Silva e Sergio Augustin – 5º período de Jornalismo humana através da ação. “Me sinto triste e feliz ao mesmo Sexta-feira, madrugada fria. rua como seu lar são proble- de dependentes. “À primeira tempo. Triste por não poder Do lado de fora do carro, mas com drogas e alcoolis- vista, quando eu cheguei nesfazer mais e feliz por tentar a temperatura chega aos 14 mo, seguido de desemprego, sa comunidade (Pró-Vida), ajudar”. Jeovana afirma que graus. Marcos Trindade dei- problemas familiares, perda não fui para me internar, para o trabalho é recompensado xa o conforto de casa e sai às de moradia e decepções. Es- me tratar. Fui, simplesmente, com a gratidão dos morado- ruas de Itajaí ao encontro de ses fatores são desconheci- em busca de um lugar para res de rua. “Quando a gente pessoas sem lar. São doentes, dos pela maioria das pessoas. que eu tivesse uma morte digse aproxima, eles se sentem viciados e esquecidos pela so- Marcos Trindade entende a na”, revela. acolhidos e nos retribuem ciedade. “Nós fazemos um situação desses moradores, Depois de tratado, Marcom um sorriso em agrade- grupo de três a quatro pesso- pois já sentiu na pele a dor de cos passou a trabalhar como cimento”. as e, de quinze em quinze dias, viver à margem da sociedade. voluntário na comunidade. Reconhecida, a “Asso- preparamos sopas e distribuí“Em 25 de junho de 2007, Hoje, recebe para auxiliar no ciação Maria Mãe de Jesus” mos pela madrugada aqui na eu estava numa situação bem tratamento dos acolhidos pela recebeu uma homenagem região”, conta Marcos. crítica de rua e de saúde, há 23 casa. “Somos ex-usuários, teda Arquidiocese de FloriaNo Brasil, segundo esti- anos em uso consecutivo de mos muito conhecimento de nópolis, pela ação solidária, mativas do Instituto Brasilei- droga. Porém, esse uso e abu- onde esses usuários vão e saem novembro de 2015. O ro de Geografia e Estatística so de drogas vai acarretando bemos como abordá-los. As projeto cresce a cada dia. – IBGE, o número de mora- sérios problemas de saúde. pessoas pensam que existem Os alimentos e as roupas dores de rua pode chegar a 2 Por um motivo não só de re- só homens, mas também há são arrecadados com a aju- milhões, o que representa cer- cuperação, mas por um moti- muitas mulheres que estão no da da comunidade. As en- ca de 1% da população brasi- vo de saúde, fui me internar uso de droga”. tregas acontecem todas as leira. A maioria é jovem, com no Pró-Vida”, conta Marcos. Marcos enxerga esperança quartas-feiras, das 18h30 as idade entre 25 e 35 anos. O Pró-Vida é uma casa de onde o olhar da sociedade não 23h, em todo o município Com base em dados e recuperação que abriga e tra- alcança. Vê uma vida esperande Itajaí. Para ajudar ou ser pesquisas de grande escala, ta usuários de droga. Criada do para ser resgatada do fundo voluntário basta entrar em profissionais da área de rea- em 1992 pela Primeira Igreja do poço. Usa suas experiências contato com Juarez, atra- bilitação concluíram que os Presbiteriana de Itajaí, a insti- nas ruas para o resgate social, vés do telefone celular (47) fatores que contribuem para tuição sem fins lucrativos atua o tratamento de viciados, e tra9607-3195. que pessoas acabem tendo a na reabilitação e reeducação balha para um futuro melhor.
A história de quem já viveu nas ruas
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Cinema
Egresso volta à Univali para lançar documentário Grazielle Guimarães - 4º período de Jornalismo
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No primeiro longa-metragem da carreira, Fernando Leão uniu as histórias da Serra Catarinense com as do Seridó
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proximar as histórias de personagens tradicionais da Serra Catarinense e do Rio Grande do Norte, Nordeste Brasileiro, mostrando os contrastes e as similaridades entre as regiões. Este foi o objetivo do jornalista e cineasta Fernando Leão, egresso da Univali, no desenvolvimento do documentário “Da Serra ao Seridó”. O primeiro longa-metragem da carreira de Leão foi apresentado para as turmas dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Univali no início de setembro. Fernando conheceu o Sertão Potiguar em 2011 e se apaixonou pela forma como as pessoas recebem os visitantes. Segundo ele, bem parecida com a forma que os moradores da Serra Catarinense recebem os turistas. “Nós tivemos então a ideia de produzir este documentário. Filmamos no verão de 2012 no Seridó e no inverno do mesmo ano na Serra Catarinense. Passamos por um período de pós-produção e em 2015 finalizamos o projeto”, explica Fernando.
Em maio de 2015, Leão realizou o lançamento oficial no cinema de rua, em Lages. A produção independente teve ajuda de diversos colegas e amigos de profissão. Preparados com todos os aparatos
tecnológicos para a filmagem, o principal desafio foi encontrar parceiros que tivessem realmente o desejo de trabalhar e desenvolver o projeto. “Nós realizamos o trabalho principalmente pela enorme
vontade de registrar a memória das pessoas”, afirma Leão. Conversando com os alunos após a exibição do filme, Fernando pôde mostrar que, com dedicação e paixão por cinema, é possível desenvolFoto: Ednilson Junior
O cineasta conversou com alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda
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ver produções audiovisuais de alta qualidade, explorando as diversas e contrastantes realidades brasileiras. Além disso, demonstrou aos estudantes que, para ser um bom profissional de jornalismo, é necessário ouvir o que as pessoas têm a contar sobre suas experiências de vida. Leão afirma que um dos objetivos do documentário é ouvir pessoas que não estão nos principais programas da televisão aberta nacional, mas que tem histórias muito interessantes para contar sobre a sua terra. Por fim, o cineasta afirmou estar muito feliz em retornar à universidade onde se formou. “Este é o nosso primeiro longa-metragem e estamos muito felizes por mostrar nosso trabalho aqui, principalmente por ser egresso. Ver vocês sentados no mesmo lugar onde estive e trazer este retorno é uma grande felicidade. O mais importante desta amostra é receber esse feedback do que vocês acharam e poder discutir o tema, esta é a maior das realizações”, finalizou Leão.
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Asilo Dom Bosco:
Coletivo Fotográfico
Kairós
Acadêmicas: Bruna Gonçalves, Karol Braga, Katyanne Krull e T a t i a n e D e ck e r | O r i e n t a ç ã o : P r o f . E d u a r d o G o m e s coletivokairos.wordpress.com
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anos de história
ituado na rua Indaial, em Itajaí, o Asilo Dom Bosco tem uma fachada que chama a atenção por lembrar uma igreja. Lá dentro, estrutura e recursos são oferecidos para manter cada idoso confortável dentro de suas limitações. Fundado em março de 1936, o asilo possui hoje capacidade para 80 idosos. Para que os objetivos de oferecer assistência ininterrupta, estimular a autonomia, promover a qualidade de vida, complementar a presença da família e fortalecer o convívio familiar e comunitário sejam alcançados, 50 colaboradores atuam no local. Sem contar os voluntários fixos, que são aproximadamente 20. Segundo a psicóloga Aline Emilio, diferente do que algumas pes-
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soas pensam, a psicologia dentro do asilo entra na parte social. “Não é clinica, fazemos mais a parte de acolhimento dos idosos, avaliações psiconeurológicas, trabalho multiprofissional sempre envolvendo a equipe. As atividades ficam sob responsabilidade da psicologia: passeios, atividade cognitivas e lúdicas”. Algo nítido e perceptível, através da conversa com qualquer morador, é que o lugar é repleto de carinho e boa vontade. É claro que esse não é um final de vida dos sonhos, porém, quem vive lá mostra ser muito feliz. Os funcionários e voluntários do lar são vistos como bons amigos, pessoas com as quais os idosos sabem que podem contar. E no final das contas, o que eles mais precisam é disso mesmo: AMIGOS!