Cobaia
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, abril de 2013 Edição 119 Distribuição Gratuita
Doces venenos
Produtor, consumidor e governo discutem o uso dos agrotóxicos na produção agrícola
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Mercado
Mídias
Extremos
Vida exposta na rede
Equipe enxuta e boa vontade
Além dos lugares perfeitos
Ser popular nas páginas de relacionamento pode aumentar o status social
Assessorias de imprensa contornam dificuldades para dar conta do recado
Em Guabiruba, falta infraestrutura para a prática de manobras radicais
Alan Vignoli
Lucas Coppi
Arquivo pessoal - Diogo Polheim
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Artigo
O jornalismo como ferramenta da transformação social
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Ombudsman
Editorial
Carlos Golembiewski*
Tempo de mudanças
A edição de Abril está melhor
Jane Cardozo da Silveira*
L
á vamos nós rumo a um novo semestre. Enquanto a maioria se prepara para um novo ano, nós – na Univali – nos habituamos a planejar a vida por semestre, porque é assim que a Instituição se organiza. Isso é ao mesmo tempo trabalhoso e interessante. Trabalhoso porque implica duplas tarefas: cadastro de planos de ensino duas vezes ao ano, por exemplo. Mas, interessante, pois nos proporciona um tempo – ainda que breve – para reavaliar as nossas práticas. Reavaliar é a palavra de ordem no Cobaia nesta primeira metade de 2013. Começamos pela parte gráfica. Inspirados nas observações do nosso ombudsman, o professor Carlos Golembiewski, procuramos dois especialistas na área para nos ajudar: os jornalistas e professores José Isaías Venera e Ana Cláudia Dalagnoli, ambos formados aqui mesmo com a gente. Os primeiros resultados dessa iniciativa já aparecem neste número: fontes sem serifa (em outras palavras, letras sem aqueles pequenos traços de arremate), mais leves
e fluidas; editorias identificadas em tarjas verticais; capa mais limpa. Outras mudanças virão no decorrer dos próximos números. Assim, gradualmente, pretendemos chegar ao segundo semestre com o projeto gráfico totalmente reformulado. Em relação ao conteúdo, a intenção é incentivar os acadêmicos a observar o que os cerca de maneira atenta para que, a partir de
A intenção é incentivar os acadêmicos a observar o que os cerca de maneira atenta para que produzam reportagens capazes de revelar ângulos incomuns do cotidiano
uma percepção mais cuidadosa da realidade, elaborem pautas instigantes e produzam reportagens capazes de revelar ângulos incomuns do cotidiano. “Despir-se de si para alcançar o outro”, diz Eliane Brum, é o que o repórter tem de fazer se for ousado o bastante para mostrar o que salta aos olhos, mas nunca é dito; o que fica na sombra e teima em escapar do foco. É preciso cultivar a sensibilidade sem a qual é impossível sentir-se motivado a encarar a “aventura da reportagem” tal qual a entendem Kotscho e Dimenstein. Aos nossos acadêmicos, recomendamos que se perguntem continuamente: Por que faço jornalismo? Para que faço jornalismo? Para quem faço jornalismo? Esperamos que as respostas a essas inquietações façam aumentar o número de colaboradores deste jornal-laboratório, mantendo-o vivo e em permanente transformação. Boa leitura! *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP
Fica esperto!
Analisar o jornal Cobaia é sempre uma tarefa difícil. Apesar disso, a pedido da prof.a. Jane Cardozo, aceitei o desafio de fazer algumas observações sobre a edição de número 118 que trouxe como tema central o Natal. Digo difícil porque de certa forma acredito naquela máxima que: “é muito mais fácil falar do que fazer”. Por outro lado, sei que crítica é fundamental, principalmente, quando se pensa no papel do jornalista na sociedade atual. Deixando isso de lado, observo que o Cobaia 118 trouxe na sua essência uma identidade visual e gráfica. A colocação das retrancas em destaque do início ao fim me agrada porque consegue situar o leitor desde o primeiro momento em relação à reportagem que ele vai ler. A abertura das fotos, de maneira mais diversificada, também me agradou. Entretanto, gostaria de sinalizar de forma construtiva três situações que em minha opinião poderiam ter ficado melhores: Capa – a ideia do laço vermelho significando presente foi boa. Porém, acho que faltou a palavra Natal. Ex. Natal é... Solidariedade, Tradição, Presentes... (numa alusão às retrancas/matérias do jornal); Página 2 – a reportagem sob a retranca Solidariedade ficou fora de lugar. Acho que ali é lugar para se colocar Editorial ou Artigo, enfim, material do chamado Jornalismo Opinativo. Por estar naquela página, não parecia ser uma reportagem. Repórter ou Modelo - na retranca Moda – página 14 – aparece a foto da repórter que assina a reportagem posando de modelo numa praia. Como ela já assina o texto, não ficou legal. Como diz o manezinho da ilha: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Isto é, devemos evitar sempre que possível transformar o repórter em personagem da matéria. Os personagens devem vir do povo. Por fim, a equipe do Cobaia está de parabéns. Jornal é texto, reportagem, tão em falta nos dias de hoje. E isto a edição especial de Natal teve de sobra. Um abraço a todos e até a próxima. *Carlos Golembiewski, jornalista formado há 25 anos pela Unisinos, Doutor em Comunicação Social pela PUC do Rio Grande do Sul.
Espaço do Leitor Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br
Convênio Internacional
Projeto Rondon
A Universidade Nacional Autônoma do México (Unam) e a Univali firmaram convênio de colaboração acadêmica, científica e cultural. O programa permite que mestrandos, doutorandos e demais professores transitem entre as duas instituições, especialmente na área de ciências jurídicas. A Univali é a primeira universidade brasileira a aderir a esse programa. Mais informações: (47) 33417575.
Grupos de estudantes universitários atuando em regiões distantes das suas universidades de origem para promover o bem estar e melhorar a qualidade de vida de comunidades carentes. Assim é o Projeto Rondon, uma iniciativa de sucesso que mobiliza talentos e energias há décadas. Se você é acadêmico da Univali e quer participar dessa história de solidariedade, entre em contato pelo e-mail: projetorondon@univali.br ou ligue para (47) 3341-7758.
Edição digital
Museu Oceanográfico
IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, março de 2013. Distribuição gratuita
Curso de extensão em edição de vídeo está aberto no Campus da Univali em Balneário Camboriú. As aulas vão capacitar para a operação em ilhas digitais. A idade mínima para participação no curso é de 16 anos e as inscrições terminam dia 13 de junho ou com o preenchimento total das vagas. Informações sobre custos no site www.univali.br/ eventos, no Campus da Univali de Balneário Camboriú ou no telefone (47) 3261-1262.
O Museu Oceanográfico Univali, em Balneário Piçarras, recebeu a 2ª maior coleção de tubarões e raias do mundo, tornando-se assim o segundo maior museu oceanográfico, atrás do Museu Nacional dos Estados Unidos, em Washington e à frente das coleções de Londres, Paris e Nova Iorque. O Museu da Univali deve ser aberto ao público no segundo semestre deste ano. Outras informações: (47) 3261-1287.
EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP
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Cobaia
Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI
FOTO PRINCIPAL DE CAPA Monike Furtado PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Gabriela Florêncio TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional
Itajaí, abril de 2013
Tendência
Artigo
“Con los terroristas” Paulo Alves
O
olhar é de espanto, Luciana parece não acreditar no que está vendo. Enquanto espera a companheira de trabalho para juntas limparem o banheiro masculino, olha fixamente para o centro da quadra. O garoto que está sem camisa, com um capacete na cabeça e calça jeans, chama a atenção. Ele não é o único. No meio do ginásio de esportes da Univali, aproximadamente 50 pessoas estão vestidas de um jeito diferente. “Tem até gente de cueca, meu Deus do céu”, gargalhando e com a mão na frente da boca porque não acredita no que vê, a faxineira não sabe por que os alunos estão fazendo isso. “ Ouvi eles falarem que fazia parte do trote de Educação Física, mas que trote estranho, né?”. Luciana estava certa, fazia sim parte do trote que os calouros de Educação Física levaram. O que a faxineira não sabe é que os alunos estão aderindo à nova mania da internet, o Harlem Shake. Jefferson Miguel entrou neste ano na faculdade e foi um dos participantes do vídeo que tem apenas 30 segundos. “É uma coisa que virou mania no mundo, como não é permitido fazer trote na Universidade, os veteranos decidiram fazer uma coisa divertida para integração com os calouros.” Engana-se quem pensa que o trabalho foi rápido. Os alunos de Educação Física levaram uma hora e meia para acertarem os passos.
“Achei excelente a ideia, se fosse um trote daqueles de zoar com a pessoa, quase ninguém iria. Aqui, toda a sala veio”.
Entenda a febre
No dia 2 de fevereiro de 2013, quatro amigos vestidos com fantasias de ET, Power Ranger, Chinês e Pantera cor de rosa, colocaram no Youtube um vídeo de apenas 36 segundos em que todos dançam, comicamente, parte de uma música chamada “Harlem Shake”(Em português quer dizer, se agite no passo Harlem) . Ela foi remixada pelo Dj e produtor musical norte americano Harry Rodrigues, conhecido como Baauer. Durante os primeiros 15 segundos de vídeo, os quatro fazem movimentos de conotação sexual. Quando a batida da música troca, eles dançam mexendo os braços para cima e para baixo. Esse vídeo que parece simples, já atingiu mais de 41 milhões de visualizações no Youtube (dados de 23-032013). Mas essa, não foi a versão do Harlem Shake que emplacou mundo afora. O estilo que o mundo usa hoje é a versão que cinco amigos da Austrália fizeram logo após verem no Youtube o vídeo original. Os australianos usaram a edição de vídeo para deixar o Harlem Shake mais dinâmico. A música tem dois estágios: o primeiro é uma batida mais suave, geralmente apenas uma pessoa dança fazendo o mesmo movi-
“
Vamos bater na tecla da mudança, da transformação, do amor, da paz, da justiça. Vamos debater, vamos ter mais tempo de produzir pautas
Pessoas do mundo inteiro se rendem à mania do Harlem Shake
mento. Passados 15 segundos, um corte no vídeo e o ritmo acelerado na música faz com que várias pessoas entrem em cena e apareçam dançando ou fazendo movimentos de conotação sexual. Segundo o Youtube, até março de 2013, foram postados mais de 145 mil vídeos relacionados ao tema que tiveram mais de 175 milhões de visualizações. Para se ter uma ideia da febre mundial depois que a moda estourou, 4 mil novas versões de Harlem Shake são postadas diariamente no site. Os criadores de “Os Simpsons” fizeram uma chamada para o programa com os personagens dançando. Quem também entrou na onda foram: cientistas da NASA, jogadores do Corinthians, Luan Santana, bombeiros, apresentadores de TV, a banda do Programa do Jô, Panicats, todo mundo aderiu ao Harlem Shake.
Bombando nas redes
Pelo facebook usuários no Brasil e no mundo combinam de se encontrar para fazer um Harlem Shake gigante. Juliano participou de um Harlem Shake produzido em Balneário Camboriú. “Abrimos um grupo no facebook e cada um foi convidando os amigos, acho que no dia tinha umas 500 pessoas. Ficamos duas horas gravando, foi muito legal, conheci várias pessoas e o vídeo ficou bem divertido.” Divulgação
Bruna Froehner*
Jornalismo e Segurança No papel de acadêmica de Jornalismo, me vejo com um grande desafio pela frente. Auxiliar na construção de um mundo melhor, de um novo tempo. Mas para esse novo tempo chegar, é necessário pensar em planejamento, em ações que auxiliem nesse processo. E uma questão que está sempre em pauta, é a segurança pública. Você já ouviu alguém dizer: Nossa, a gente liga a TV e só vê desgraça? Pois é, será que não é a hora de a gente parar com conformismo e imaginar como fazer para que as pessoas vejam notícias boas? Não dá para deixar de cobrir o factual. Não dá para deixar de mostrar o que acontece no mundo, de ser um espelho onde se reflete a realidade. Mas dá para pensar, sim, em como transformar o mundo, através do jornalismo. Na academia, sempre ouço falar no Novo Jornalismo. Aquele olhar diferente que é necessário o jornalista ter, além do modelo engessado que temos. Bem, para fugir desse modelo seriam necessárias algumas mudanças. Primeiro, acredito eu, que ao invés de bater em cima das mesmas teclas sempre, como: Mais uma vítima de arma de fogo, mais um caso de violência contra a mulher, mais um jovem que morre por causa do tráfico de drogas... Poderíamos pensar nas razões disso. Por que isso está acontecendo? O que nós, acadêmicos, jornalistas, seres humanos precisamos fazer para mudar essa história? Já dizia a frase: “Não são as respostas que movem o mundo...”. Então vamos questionar. Vamos questionar o delegado, o vereador, o prefeito, o deputado. O Conselho Tutelar, os milhares de pais, os adolescentes, os viciados, os professores, os doutores. Vamos ouvir desse povo o que eles têm de melhor, vamos bater na tecla da mudança, da transformação, do amor, da paz, da justiça. Vamos debater, vamos ter mais tempo de produzir pautas, vamos analisar. Precisamos de mais espaço para o debate? Precisamos de mais tempo nas produções? Precisamos de mais inteligência? Vamos lutar para isso. O segundo passo, acho que começa aqui, a decisão. Eu decido que vou procurar pautas melhores. Que vou além da ronda diária, que vou me dedicar mais para tentar entender o que acontece com o mundo. Eu decido que não vou ter preguiça de ir além, que mesmo sabendo que meu tempo é curto, não vou deixar meu leitor, meu telespectador achar que minha matéria é o fim da linha. Mas que eu o instigue a pensar, a questionar, a ir sozinho atrás da verdade. E que entendamos de uma vez por todas que a verdade é muito além do que imaginamos, e que isso tudo que estamos fazendo, faz parte de uma construção. Os outros passos eu vou descobrir, por onde meus pés precisam trilhar, para poder investigar, aprender e ensinar. A segurança das pessoas depende de mim, de você e de todos nós. Sejamos melhores estudantes, melhores jornalistas e vamos conseguir que a Dona Maria que está lá na casa dela vendo TV, possa sorrir e dizer: Que notícia boa! *Acadêmica do 6º periodo de Jornalismo
O movimento do Harlem Shake, febre na internet, já se popularizou no meio dos jovens
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Cobaia
Você escreve e quer participar deste espaço? Entre em contato com a gente! E-mail: cobaia@univali.br
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Cotidiano
A loja virtual matou a física Sebos e livrarias lutam para se manter frente à concorrência das estantes virtuais Bruna Andressa Osmari e Rodrigo Ramos
O
estudante de História na Univali, José Roberto Severino, sempre foi apaixonado pela leitura. Seu gosto pela literatura era tão grande que ele sentia a necessidade de um lugar onde pudesse se reunir com outras pessoas que apreciassem tanto quanto ele um belo livro. Queria poder trocar opiniões e livros. Com o tempo, José Roberto, apelidado de Beto, passou a reunir em sua casa amigos e até alguns professores para estudar e desfrutar o prazer da leitura. Então Beto teve a ideia de abrir um sebo. O Casa Aberta, de Itajaí, existe desde 1991. O sebo foi batizado desta maneira “porque ela é isso mesmo, uma casa aberta”, relata Beto. Ao longo de 22 anos, muita coisa mudou para os proprietários José Rober-
to e Ivana Bittencourt. O sebo está instalado no mesmo local há sete anos, sendo esta a sua quarta sede. Em 1998, a Casa Aberta começou a vender livros novos também, se tornando livraria e sebo. Hoje, o acervo da loja ultrapassa 20 mil livros. Para a gerente, Roberta Bittencourt, apesar da ótima localização e de a Casa Aberta ser o único sebo e uma das poucas livrarias de Itajaí, ainda assim é muito difícil se manter. – Infelizmente, as pessoas não leem muito e muitas de nossas vendas são através da internet. É preciso estar sempre se atualizando, renovando estoque, fazendo propaganda, promoções – conta Roberta. Em Brusque, o único sebo existente fechou suas portas no começo deste ano. O Cantinho do Leitor era administrado por Valério Schmitz e sua esposa desde fevereiro de 1997. Na época, Brusque era a única cidade da região que não tinha uma loja de livros usados, então o espírito empreendedor de Valério o fez investir no sebo. Os primeiros anos geraram lucro, mas, especialmente após o advento das lojas online, “não só os sebos, como as livrarias e lojas de porta sentiram bastante”. – Os livros são um dos itens que mais se vende e mais se compra. Essas grandes distribuidoras fazem promoções que realmente chamam o pessoal. Compra-se no cartão, com
frete grátis, e tudo mais. E as pessoas deixam de comprar no sebo – lamenta Valério. Há muitas dificuldades para manter um sebo de portas abertas e viver apenas dele parece tarefa impossível. Para Beto, o sebo nunca foi a única fonte de renda. Valério também tem outras formas de faturar. Ele é profissional da área têxtil, enquanto sua esposa, que também administrava o Cantinho do Leitor, é professora de teatro. – Em grandes cidades, como São Paulo e Porto Alegre, conheço donos de sebo que vivem apenas com este tipo de negócio. Mas em Itajaí e em outras cidades pequenas, acredito que seja impossível. Talvez, se a pessoa for sozinha, com muito esforço, consiga. Mas uma família com filhos, eu acho impossível – relata Roberta Bittencourt. Valério fechou o sebo de Brusque já que tê-lo não era mais viável, pois o estabelecimento não estava mais dando lucro algum, só o suficiente para pagar o aluguel do local e o contador. Parcela da culpa ele deposita nos sites de venda online. Para ele, “a loja virtual matou a loja física”. O administrador do único e último sebo brusquense credita outra parcela da culpa à cultura das pessoas que moram na cidade. “Aqui a cultura do sebo não pega. Aqui o pessoal curte muito comprar o novo”, lamenta.
Bruna Osmari
Livros impressos ainda atraem apreciadores da leitura
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Cobaia
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Mídias
Enquanto isso, na minha página... A cada dia mais internautas expõem a vida em publicações nas redes sociais Alan Vignoli
Gi
sel
e_
Fra n
cez
O
estudante Carlos Alberto Barni Júnior, 18 anos, é encontrado como @ carlos_jrr no microblog Twitter, ou o Carlosjuniorr do Instagram, rede social de compartilhamento de fotos. Quem o segue pode ficar sabendo qual balada ele curtiu com os amigos no final de semana, a foto do sushi ou sobremesa que é postada antes de o alimento ser consumido, provocando a reação imediata de seus seguidores, ou qual a nova capa utilizada no Iphone dele, que aparece, geralmente, num registro feito em frente ao espelho. O monitoramento de quantos “curtir” ele recebe por postagens é feito durante todo o dia. A cada notificação recebida no celular, aproveita para checar todas as redes sociais, já sin-
cronizadas no aparelho. “É um vício, toda vez que mexo no Iphone aproveito para olhar as minhas páginas. Pra mim, é uma forma de poder acompanhar o dia a dia dos amigos e das pessoas que eu admiro”, conta Carlos. Os dados mostram que, a cada dia, mais usuários aderem ao uso das redes sociais. Segundo reportagem publicada na versão on line do Jornal Folha de São Paulo, em 19 de março, o número de usuários do Facebook no Brasil aumentou 458% em dois anos. De acordo com o vice-presidente do Facebook na América Latina, Alexandre Hohagen, o país conta, atualmente, com 67 milhões de usuários. Em 2011, quando o Facebook começou os trabalhos no Brasil, o número de cadastrados na rede social era de12 milhões. Alan Vignoli
O celular é o companheiro para checar as redes ao longo do dia
Itajaí, abril de 2013
O Instagram também tem números expressivos de contas cadastradas. Em matéria publicada pelo portal de notícias G1, em 18 de janeiro, a empresa divulgou que a rede social tem 90 milhões de perfis ativos por mês no mundo. Os dados divulgados também apontam que 40 milhões de fotos são publicadas diariamente no aplicativo. Além disso, 8.500 curtir e 1000 comentários são dados por segundo no Instagram. O funcionário público Luiz Henrique Machado, 29, é um dos que costumam compartilhar a sua rotina através de fotos e textos nas redes sociais. “É uma maneira de mostrar para as pessoas que você é normal, igual aos outros”. Luiz afirma que gosta de escrever sobre a forma como as pessoas se comportam perante a sociedade. Quando questionado sobre o conteúdo do que publica, ele destaca: “É uma espada de dois fios, sou responsável pelo que eu escrevo, mas não como vou ser interpretado”. Para o mestre em Sociologia André Torquato, a exposição nas redes sociais da internet está ligada à necessidade do homem moderno de estar bem informado, exercer influência e participar de um grupo social. Além disso, é uma forma de medir a própria popularidade. “Quando você posta algo e outras pessoas “curtem” elas estão, de certa forma, concordando com a sua maneira de pensar. É um estímuCobaia
lo para continuar naquele caminho”, explica. André também aponta que antes do surgimento das redes sociais o homem buscava outras formas de popularidade, muitas vezes medida pelos bens materiais que cada um possuía. Ele afirma que hoje a pessoa pode se destacar não só pelos bens materiais, mas também pelas postagens nas mídias sociais. A psicóloga Eunice E. Enokida comenta que há muitos produtos incentivando as pessoas a exporem a sua vida na internet, entre eles revistas, realitys shows e programas televisivos. “Se perdeu a noção de público e privado, antigamente você mantinha uma discussão entre quatro paredes, hoje parece que há a necessidade de expor para todo mundo”. Antes, analisa ela, as pessoas se relacionavam mais umas com as outras, hoje em dia o contato com o outro se tornou distante, perdeu-se o convívio. Eunice orienta o internauta a sempre manter o bom senso sobre o que é apropriado postar na internet, buscar o equilíbrio, levando em conta se o que você publica é positivo para a sua imagem. André afirma que postar registros do cotidiano na internet é uma forma de garantir status. “Quando alguém posta a foto de uma comida mais sofisticada,
por exemplo, ou faz check in em um restaurante de luxo, mostra que ele consome aquilo, tendo em vista que na nossa sociedade quem tem acesso ao que o capitalismo oferece tem status, do contrário, não”. Quanto ao futuro das mídias sociais, ele diz que ainda é cedo para fazer uma análise definitiva. “Eu vejo com um pouco de reserva o entusiasmo. Fico na aposta no que isso vai dar, é algo muito novo. Acredito que essas publicações serão um grande auxílio para formar dossiês de quem as publica”. André diz ainda que esses registros podem ser utilizados como busca de arquivos pessoais e ferramenta para mapear o perfil das pessoas.
Famosos conectados
Pessoas públicas aderem às redes sociais como forma de estar mais perto dos seus fãs. A cantora Ivete Sangalo é a Veveta no Instagram e posta, regularmente, fotos de bastidores dos shows e da sua rotina. O jornalista da Rede Globo, William Bonner, é @Realwbonner na web, onde é chamado de “tio” por seus seguidores. Quem acompanha a telenovela Salve Jorge, pode saber de novidades sobre a trama seguindo a autora Gloria Perez (@Gloriafperez) que está sempre conectada no Twitter. Exceto pelo número de seguidores e de comentários por publicação, a lógica de postagem dos famosos, publicando a rotina de trabalho, diversão e novidades sobre a vida pessoal, não difere muito da lógica adotada pelos Carlos e Henriques que encontramos nas redes sociais. Há que se compartilhar os registros do fim de semana, retuitar a frase que traduz sentimentos, ou usar o melhor filtro para aquela foto do pôr do sol. Mas sem se esquecer de fazer o check in na vida real.
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Estética
A construção de um belo sorriso Especialistas apostam na tecnologia, no conforto e apresentam novidades para melhorar a aparência Daira Gomes
O
dia amanhece frio. Antes de ir às compras, ela corre para escovar os dentes. O espelho reflete os habituais dentes tortos que tanto incomodam. A caminho do centro da cidade, muda de planos e procura um consultório odontológico sem saber que já pode sair dali com aparelho. Na cadeira do dentista, não tem jeito, é preciso extrair os sisos para começar o tratamento em busca do sorriso ideal. Rebeca Zimmermann, de 21 anos, usa aparelho fixo, mas a situação é uma das mais complicadas. Segundo seu dentista, é um caso clínico que deveria ter sido acompanhado desde o começo da formação óssea para que, na adolescência, pudesse ser consertado sem danos. Sem condições de pagar o aparelho antes, o jeito é encarar o tratamento agora. Especialista em ortodontia, Aldo de Carli orienta os pais para observarem o desenvolvimento dos dentes na criança desde cedo. “Se a criança apresentar queixo proeminente ou até mesmo um céu da boca estreito e com problemas respiratórios, deve ser feito tratamento o quanto antes para minimizar os problemas na adolescência. O primeiro contato com o ortodontista já na infância é importante, ou até mesmo quando os pais notarem alguma alteração na sequência e na posição dos dentes permanentes”, aconselha. “Não podemos esquecer que hoje existe uma demanda muito grande de tratamentos em pacientes adultos, que serão submetidos a cirurgias para correção de problemas esqueléticos nos maxilares, tratamentos reabilitadores com implantes ou simplesmente esse paciente adulto que procura atendimento para correção do mau posicionamento dos dentes, melhorando sua estética e função mastigatória.” No começo, não é fácil por causa dos incômodos. Mas ruim mesmo é ficar sem os seus companheiros chicletes! Acostumada a mascar, Rebeca luta contra o chiclete que insiste em grudar no aparelho. A rotina a obriga a usar o fio dental três vezes ao dia! “É preciso ter paciência”, reclama Rebeca, que faz manutenção no dentista a cada dois meses.
tálico, mas vive o drama dos dentes tortos ou muito espaçados, é possível fazer o tratamento ortodôntico sem que todo mundo perceba. Dois aparelhos oferecem esta comodidade: o fixo de porcelana, uma opção cada vez mais acessível; outro é o aparelho totalmente transparente. A transparência do aparelho ortodôntico, o conforto e a praticidade fazem com que mesmo sendo algo novo no mercado, já tenha a preferência dos que iniciam o tratamen-
to. “Ele é praticamente invisível, você endireita seus dentes sem ninguém perceber, podendo comer e beber o que quiser durante o tratamento,” comenta a especialista em ortodontia, Daniella Silveira Amarante.
Transparência discreta
O aparelho transparente usa tecnologia de imagem 3D para elaboração de um completo plano de tratamento com imagens da posição inicial até a posição final desejada para os dentes. Ou seja, a partir
deste plano de tratamento, é feita uma série de alinhadores personalizados, usados com um plástico médico transparente e resistente. “Cada alinhador move o dente lentamente e é usado por volta de duas semanas, sendo substituído pela próxima série até atingir a posição final desejada. Mas existem casos de maior complexidade que não podem ser tratados com o aparelho”, explica Daniella. Ela conta que a aceitação dos pacientes tem sido muito
boa, pois é um sistema que não necessita de aparelho fixo e nem dá a sensação de estar em tratamento. Os primeiros resultados tendem a aparecer entre seis meses e um ano. Os ortodontistas interessados em tratar com o aparelho ortodôntico transparente devem fazer treinamento específico para isso. Aproximadamente 71 mil dentistas são credenciados para usar o sistema ao redor do mundo. No Brasil, são mais de 1.700 já treinados. Banco de imagens
Aparelho de porcelana
Para quem não gosta do aparelho convencional me-
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Casos complexos exigem aparelhos convencionais Cobaia
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Saúde
Perigo à mesa: alergia alimentar Saiba quais são os sintomas e os alimentos que podem provocá-la Fernanda Pereira e Natália Alcântara
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ocê provavelmente já passou por isso. Ao ser convidado para uma festa, ou para um jantar na casa de um amigo, talvez até em um restaurante, de repente aparece alguém oferecendo alguma coisa que você nunca experimentou ou até já provou, mas não gostou. É indelicado recusar o prato. Dificilmente se admite não gostar da comida, às vezes pode ser mais fácil apenas dizer “não posso comer porque sou alérgico”. A publicitária Fernanda Menegolo sabe bem o que é passar por esse tipo de situação. Aos 12 anos de idade, estava de férias com os seus pais no litoral paranaense, quando experimentou pela primeira vez um dos pratos favoritos da família: camarão frito. “Eu sempre recusei qualquer prato com camarão, achava que eu não iria gostar”, conta Fernanda. O episódio foi inesquecível. Assim que mordeu um pedaço do petisco a reação foi imediata, começou a ficar com falta de ar, e sentir uma coceira na garganta. “Fiquei muito apavorada, era como se alguém estivesse apertando minha garganta”, relembra. Naquele momento, ela descobriu que era alérgica a crustáceos. Catorze anos depois ela ri da situação, e conta que ficou sem saber qual realmente é o sabor do camarão. “Para mim o sabor do camarão é falta de ar”, brinca. Depois deste episódio, nunca mais comeu qualquer tipo de crustáceo. “Melhor ficar sem saber o sabor do que correr riscos de uma nova crise”, complementa Fernanda. De acordo com a nutricionista Luana Macedo, a alergia alimentar acontece quando o sistema imunológico reconhece as proteínas do alimento como um elemento estranho. Assim, o organismo ativa os anticorpos que acabam causando algumas reações imediatas para se livrar do inimigo. Os tipos de alergia alimentar incluem as reações de hipersensibilidade mediadas pela imunoglobulina (IgE), e outros mecanismos de defesa, causados pelo sistema imunológico. “Quando a resposta imune acontece, é importante que ocorra a exclusão total do alimento”, explica a nutricionista. Dados do Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar apontam que cerca de 6% dos casos de alergia atingem crianças menores de três anos e cerca de 3,% atingem adulItajaí, abril de 2013
tos. O quadro alérgico pode se manifestar desde a infância, onde é mais comum a alergia a proteínas do leite de vaca e da clara do ovo, que normalmente se manifestam nos primeiros anos de vida e podem ou não durar até a adolescência. Podendo surgir também durante a adolescência ou na fase adulta. Alergia tem sintomas parecidos com os de outras doenças. Alguns se manifestam imediatamente, como edema de glote (obstrução aguda da laringe), urticária, azia e choque anafilático. Outros podem acontecer de forma aleatória, conforme a ingestão do alimento, sendo os sintomas mais comuns, diarreia, vômito, dor abdominal e inflamação do esôfago, conhecida também como esofagite alérgica. Desde criança a jornalista Claudia Reinert apresentava sono agitado, dores abdominais e constante mal estar. Chegou a ter crises de síndrome do pânico por causa das frequentes e violentas dores, mas por não receber diagnóstico apropriado, acabou aostumando-se com o que sentia. Só no final de 2011 decidiu procurar um médico alergista. Apesar de acreditar que seu mal-estar não teria cura, veio o diagnóstico: esofagite eosinofílica. Fernando Valério, especia-
lista em cirurgia digestiva, explica que a esofagite alérgica atinge cerca de 1% da população, sejam adultos ou crianças. Pode causar dores fortes no esôfago, crises de vômito, diarreia e azia. “Para minha surpresa o médico diagnosticou a doença, que é rara e pouco conhecida. Ainda estão desenvolvendo estudos nesta área”, conta a jornalista. Após o inicio do tratamento, Claudia explica que já percebe melhoras em sua rotina. A parte mais difícil é seguir a dieta a risca, já que foram retirados de seu cardápio alimentos como aveia, cevada, carne bovina, crustáceos, ovos, leite, cacau e trigo. Ainda não existe um tratamento específico para a esofagite eosinofílica. Depende das necessidades do paciente. “Ainda não há um posicionamento se o objetivo do tratamento é a cura ou o simples controle dos sintomas”, explica Valério. Os tratamentos mais comuns são as dietas restritivas, em que o paciente deixa de ingerir os alimentos causadores da reação alérgica, e passa a utilizar alguns medicamentos antirrefluxo, corticoides e antialérgicos. “Hoje os corticoides são os medicamentos com melhor resposta, e 90% dos pacientes respondem bem ao tratamento após duas semanas de uso”, enfatiza o médico. “Penso que existem doen-
ças piores, como a diabetes, por isso tento focar para que nos próximos três anos eu consiga realizar o tratamento de maneira correta. Se fizer tudo certo na alimentação e na ingestão de medicamentos e injeções é provável que reverta o meu quadro em até 80%. Isso me anima, mas é muito difícil fazer a dieta”, desabafa Claudia.
Intolerância é diferente
Alergia e intolerância alimentar: termos diferentes, mas normalmente confundidos. A nutricionista, especialista em clínica funcional, Luana Macedo comenta que é muito comum as pessoas confundirem alergia e intolerância, pois os sintomas são muito parecidos. “Para identificá-los é necessário que o diagnóstico seja feito a partir das diferentes reações que cada organismo apresenta”, enfatiza. A intolerância alimentar é uma reação adversa aos alimentos e não envolve o sistema imunológico, podendo ser resultado de fatores como contaminação por meio de água, alimentos (os mais triviais, nestes casos). Também podem ser causadas por intoxicação, ou por peculiaridades que cada organismo apresenta. Os casos mais corriqueiros são os de intolerância à lactose, ou seja, a todos os alimentos que tem por base o leite, também à glicose ou à frutose,
espécies de açúcares, comumente encontrados em frutas e vegetais.
Transgênicos assustam
Alimentos transgênicos são organismos geneticamente modificados. Existem hoje diversas discussões acerca da produção de alimentos transgênicos. Argumentos favoráveis chegam a ser efusivos quando defendem que estes alimentos geneticamente modificados podem ser a alternativa para a erradicação da fome no mundo, devido ao baixo custo de sua produção. Mas nem todos os especialistas no assunto concordam. A analista de solos Daiana Sallaberry explica que esses alimentos são prejudiciais ao ecossistema e nocivos à saúde. “As pessoas estão apenas preocupadas com o bolso e não com a saúde. Os alimentos transgênicos interferem e podem contaminar a genética da biodiversidade, sua produção exige maior uso de pesticidas, o que causa maior poluição ambiental, além é claro, de alterar negativamente as características do solo. As mutações causadas nesses alimentos estão desenvolvendo nos animais e seres humanos, diversas espécies de alergias que ainda hoje estão sendo identificadas. Até agora não foi possível mensurar os estragos já causados por conta da produção transgênica”, alerta a analista.
Fonte: Consenso Brasileiro Sobre Alergia Alimentar / Arte: Eder Souza
Cobaia
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Agricultura
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O ladrão de doces Ele altera o sabor, mas deixa colorido. Não é saudável, mas muita gente usa Monike Furtado
o meio da geada e do frio da serra catarinense, um casamento promete colorir a neblina. A sobremesa será de calda de framboesa e bolo com recheio de morango. Verde não vai faltar: alface, rúcula e couve-flor. E o doce fica por conta dos brigadeiros com recheio de frutas para todos os gostos. - Comida pra mais de metro – diz o noivo, contente por isso tudo ainda ser uma economia no orçamento do novo casal. Uma mesa farta e barata. As refeições da cerimônia serão abastecidas pela própria produção da família, que ingressa com vontade no mercado da agricultura. – No começo é difícil. Mas fui eu quem escolheu trabalhar na terra, né? Enquanto todo mundo sai de cidade pequena pra ir pra cidade grande, eu fiz o inverso. – É assim que Guilherme Raduenz começa a contar a história de sua empreitada no negócio de frutas e verduras. Mas só vontade não enche barriga. Ele foi para Florianópolis, formou-se em Agronomia na Universidade Federal de Santa
Catarina e voltou à cidade natal de sua mãe, Rancho Queimado. O município, grande em extensão e forte na agricultura, é conhecido como a capital nacional do morango. Sônia Martins Raduenz é a mãe de Guilherme. Foi ela quem plantou nele a semente da vida rural. - Eu estou me voltando mais para a produção orgânica, sem o uso de agrotóxicos. – Guilherme confia no sucesso de produtos diferenciados para levar seu negócio adiante e trabalha com hidroponia. A hidroponia é uma técnica de cultivo suspenso em que as raízes não entram em contato com o solo. As plantas recebem uma solução nutritiva balanceada que contém água e todos os nutrientes essenciais. A novidade agrega valor. Mas, a produção orgânica em Santa Catarina ainda não é o forte no mercado. – Nós fizemos um teste com o molho de tomate orgânico. Não deu certo. Ficou lá, nas prateleiras. As pessoas não compraram porque era muito mais caro que o outro. – A experiência de Laércio José Schimitt, gerente de com-
pras de supermercado, não é um caso isolado, mas também não pode ser generalizada. - Acredito que o mercado pague mais por um produto orgânico. É uma forma de retomarmos a valorização dos produtores menores e ainda evitar a contaminação por uso excessivo de agrotóxicos. O problema é preço e disponibilidade, esclarece o professor de Ciências Biológicas da Univali, Marcos Luiz Pessatti, especialista em Ecotoxicologia. - Eles veem o preço e acabam desistindo. Um ou dois reais a mais na conta do consumidor ainda mudam a opinião em relação aos produtos orgânicos. Todo mundo quer um produto bonito e de preferência bom para a saúde, mas não quando isso muda no total da compra, avalia Oilson Machado, também gerente de compras de um supermercado local. – Eu procuro a fruta que esteja mais perfeita. Esse caqui, por exemplo, não pode ter corte, não pode tá batido aqui do lado como esse, viu? – Exige a dona de casa Telma Blasus. – E orgânico eu compro uma vez por semana só.
Monike Furtado
Cultivadas de forma hidropônica, as frutas são suspensas... Monike Furtado
Monike Furtado
... e recebem uma solução que contém água e nutrientes Monike Furtado
O cultivo de morangos é muito popular nas propriedades rurais de Rancho Queimado
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Cobaia
O agronômo Guilherme está focado na produção de orgânicos
Itajaí, abril de 2013
Monike Furtado
Os animais, como as abelhas e as aves, também são prejudicadas pelo uso contínuo e desenfreado de pesticidas
Uma camuflagem (im)perfeita
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as plantações, o verde das folhas e o vermelho do morango cintilam em meio à estufa. Mas para sustentar o gosto e as cores tão perfeitas, muitos produtores recorrem a modos perigosamente tentadores de produção. Eles prometem economia, produtividade e menos preocupação: os agrotóxicos. – Tem muita gente que não respeita a quantidade do produto que pode ser usada. – diz Camila Schwambach, futura esposa do fazendeiro Guilherme. Ela e a família vivem do manejo de morango desde a infância. Camila conhece bem os segredos da terra, mas os da química nem sempre são tão simples de ser revelados. Para evitar a exposição exagerada a agrotóxicos, a Central de Abastecimento do Estado de Santa Catarina (CEASA), de São José, teve a iniciativa de fazer o monitoramento dos produtos. Assim, o Centro de Apoio Operacional ao Consumidor faz a análise das frutas e verduras que estão à venda. Todo mês, 10 análises são identificadas e mapeadas, diz Marcelo de Tarso Zanellato, coordenador do projeto. Os índices dos últimos anos não são favoráveis. Em 2012, 36% das coletas foram insatisfatórias. E o programa é justamente para tentar reverter estes números. Em Rancho Queimado, todos convivem com a comercialização do morango. E convivem também com o agrotóxico Itajaí, abril de 2013
usado nas plantações. Morar em regiões próximas a áreas de produção aumenta o risco de contaminação. O professor Pessatti inumera os possíveis problemas de saúde que o uso do agrotóxico pode trazer: - Os sintomas mais comuns são diarreia, vômito, fadiga muscular, tontura, dor de cabeça, vertigens, dificuldade respiratória. Mas podem levar a problemas neurológicos, como depressão, pânico, ansiedade, insônia e câncer. A quantidade de pessoas que tomam antidepressivos é muito grande em Rancho Queimado. Problemas como ansiedade e depressão são comuns, explica Graziela Hinckel Schurhaus, enfermeira na unidade de Saúde da cidade. A associação com os agrotóxicos é inevitável, visto que é comprovada a alta intoxicação dos produtores rurais. Mudar essa realidade é um processo demorado. Iniciativas já foram tomadas para tentar interferir no uso dos agrotóxicos. Para evitar a venda indiscriminada de venenos, a Lei nº 7.802/89, em seu art. 13, estabeleceu que “a venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de receituário próprio, prescrito por profissionais legalmente habilitados, salvo casos excepcionais que forem previstos na regulamentação desta Lei”. - Nem todos os agrotóxicos são nocivos ao ser humano. De acordo com a legislação
vigente, agrotóxicos preservam produtos agrícolas da ação de seres vivos nocivos, desde que regulamentados e utilizados dentro dos parâmetros legais. A consequência do uso é um ganho de produtividade. Isto ocorre pela necessidade de se tornar a agricultura mais competitiva no mercado. Para a economia, maior produtividade significa ganho em escala e maiores lucros. Mas, cabe ao Estado fiscalizar e controlar este uso. O mundo todo utiliza. – A explicação é de Jairo Romeu Ferracioli, professor de Logística, com foco nos estudos da economia brasileira. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa é responsável pelo registro de agrotóxicos, reavaliação toxicológica e fiscalização das empresas de agrotóxicos. A Anvisa realiza periodicamente o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos. Os resultados mais recentes apontam que 28% das amostras analisadas estavam insatisfatórias. As principais irregularidades verificadas foram presença de agrotóxicos não autorizados para a cultura ou teores de resíduos de agrotóxicos em níveis acima dos autorizados. Marcelo de Tarso Zanellato, coordenador do projeto de monitoramento da CEASA, alerta: - Dar a informação aos produtores é importante. Para todos termos a consciência de que a saúde não pode ficar num patamar abaixo da economia. Cobaia
Abelhas somem As abelhas são responsáveis por 70% da polinização de um dos principais produtos catarinenses: a maçã. Sem elas, as 600 toneladas por ano colhidas no estado podem sofrer uma queda drástica. Mas, o sumiço das abelhas registrado com o passar dos anos representa um risco muito grande de, em um futuro não distante, faltar a polinização de nossos pomares, esclarece Afonso Inácio Orth, professor de Fitotecnia na Universidade Federal de Santa Catarina, especializado em Apicultura. – O governo, estadual e federal, tem que trabalhar para identificar claramente o problema. Nós temos algumas certezas, que são o uso dos agrotóxicos próximo aos apiários e possivelmente, o desflorestamento da Mata Atlântica. É uma encruzilhada intrigante. Nem os apicultores, nem os pesquisadores sabem
explicar a razão do sumiço. – Nós e a maioria dos produtores de Santa Catarina não sabemos o porquê. Elas simplesmente vão embora. A gente vive falando que deve ser por causa dos venenos usados, né? Mas, não tem muito a fazer, já que não é a gente que usa o agrotóxico, lamenta Zeni Marian Kampner da Silva. Ela e o marido pediram até ajuda de outros produtores para tentar entender o que acontece com as abelhas. O chefe da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), Walter Miguel, é também médico veterinário, o que ajuda no mapeamento do problema. – Estamos vivenciando regiões que estão com 80% de mortalidade. A mortalidade e o desaparecimento das abelhas estão generalizados em todo o estado, adverte.
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Mercado
O segredo é a boa vontade A palavra de ordem nas assessorias de imprensa das prefeituras da região é atender e bem todos os veículos Lucas Coppi
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uatro pessoas precisam desdobrar-se para informar a uma população de 70 mil habitantes o que acontece diariamente em uma instituição onde trabalham mais de 2000 pessoas. Os números assustam? Pois essa é a realidade da assessoria de imprensa da Prefeitura de Camboriú, no litoral norte de Santa Catarina. Comandada pelo jornalista Peeter Lee Grando, a equipe enxuta se divide entre as mais diversas tarefas e faz o possível para que as informações sobre o governo do município cheguem à imprensa e, assim,
a seu público alvo: o povo camboriuense. A realidade da assessoria da Prefeitura de Camboriú é compartilhada, em menor ou maior escala, por equipes de comunicação de outras prefeituras da região. São muitas as cidades que dispõem de poucos recursos para seu departamento de relacionamento com a imprensa. No entanto, esses profissionais buscam alternativas para driblar as dificuldades. “Nós temos nossas estratégias. Precisamos fazer releases, clipagens, fotos, coberturas de eventos e até cerimoniais. Nos dividimos por
turnos, discutimos a escala de eventos, tudo para não deixar passar os principais acontecimentos da cidade”, comenta Peeter. O jornalista lembra que quando ele iniciou seu trabalho na assessoria da Prefeitura de Camboriú, há oito anos, tudo era muito diferente. A começar pelo tamanho da equipe. Se hoje os quatro profissionais, entre jornalistas e estagiários, já precisam desdobrar-se, em 2005 era mais complicado: Peeter trabalhava sozinho. “Eu tinha que bater o escanteio e ir na área cabecear. Agora a equipe cresceu,
mas a cidade também. Se eu continuasse sozinho seria impossível trabalhar”, explica o jornalista.
Respeito aos veículos
No entanto, a equipe enxuta não é um problema que atinge apenas a assessoria de Camboriú. Se Peeter conta com quatro pessoas em uma cidade de quase 70 mil habitantes, Murilo José também sofre com o mesmo problema em Itajaí. O jornalista, responsável pela Secretaria de Comunicação da cidade, com população que se aproxima de 200 mil pessoas, tem a sua Lucas Coppi
disposição uma equipe com 12 profissionais. Ou seja, em proporção, uma equipe com tamanho parecido com a assessoria de Camboriú. “Nós trabalhamos em 12 pessoas, sendo que só duas das 33 secretarias têm assessoria própria. É pouca gente, mas precisamos fazer nosso trabalho da melhor maneira possível”, garante Murilo. Mas o crescimento da equipe em pessoal não é o segredo para um bom trabalho. Tampouco a divisão “por editoria”, que permite que cada profissional acabe trabalhando mais de perto com as pastas que envolvem assuntos de sua preferência. Para Peeter, um bom trabalho de assessoria de imprensa não é possível sem o bom relacionamento com os veículos da mídia. “Aqui, nós tratamos todos os veículos da mesma maneira. Pode ser jornal ou televsião, rádio ou internet, todos têm o mesmo tratamento. Procuramos dar uma atenção exclusiva a cada profissional. Acho que esse é nosso diferencial e o mais importante no nosso trabalho”, avalia.
Serviço público
O pensamento de Peeter sobre a importância do relacionamento com os veículos de imprensa é compartilhado por Naiza Comel, editora do Jornal Linha Popular, de Camboriú. Para ela, “nem todas as assessorias de imprensa de prefeituras têm o que poderia se chamar de estrutura adequada, mas a relação entre assessores e imprensa pode melhorar muito com “boa vontade”. Naiza acredita que, no caso das assessorias de serviço público, é importane os profissionais saberem que “é uma obrigação dos órgãos públicos divulgar seus planos e ações. Ter em mente que é uma obrigação informar a população sobre as decisões públicas é algo que deve nortear o trabalho do assessor de imprensa que atua nesta área”.
Treinando fontes
A capacitação das fontes é outra opção para a melhora no trabalho de uma assessoria de imprensa de pouca estrutura. Muitas vezes, os veículos vão direto às fontes, sem passar pelas assessorias. No entanto, nem todas as fontes estão preparadas para esse contato. “Ações como media trainning podem melhorar essa interação”, recomenda Naiza. Prefeitura de Camboriú, tarefas divididas para informar a população sobre as ações do Executivo
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Cobaia
Itajaí, abril de 2013
Segurança
Os fantasmas da Rua Inglaterra Mais de um ano depois, autoridades de Balneário Camboriú avaliam o fechamento do presídio Marcelo Shaw Marcelo Shaw
Advogado Carlos Laus condena as violações de direitos humanos que eram comuns no local Marcelo Shaw
Presidente da OAB Reti Jane Popelier discursa no evento que celebrou o fechamento da Instituição
Itajaí, abril de 2013
Cobaia
E
m 2008, o cineasta Nicolas Winding Refn lançou um filme chamado “Bronson”. Embora o uso do nome do notório ator de filmes de ação Charles Bronson não seja mera coincidência, na verdade é uma biografia verídica do autointitulado “prisioneiro mais violento da Inglaterra”. Michael Peterson, personagem central da trama, fora originalmente preso por assalto a um banco postal, com uma sentença de sete anos. Cumpriu mais de 30 na solitária. Michael, que em algum ponto assumiu o alter ego de Charlie Bronson, rotineiramente atacava outros presos, guardas, diretores, enfim, qualquer coisa que se colocasse em seu caminho. O filme de sua história é um sutil mergulho pela demência humana. A sensação desconfortável de que não haverá um final feliz se faz presente em cada minuto. E é exatamente isso que acontece: no fim, vemos Michael ensanguentado e completamente deformado, com seu queixo deslocado literalmente pendurado no seu rosto, roçando seu corpo contra as grades de uma cela que não é muito maior do que ele mesmo em pé. Claro que, até por ser um filme, o exemplo é exagerado. A coisa é que nossa sociedade, mesmo dentro de um paradigma baseado na normalidade, é viciada em violência. Quando tentamos estabelecer qualquer conversa acerca dos direitos dos prisioneiros, boa parte de nós ainda acredita que eles não mereçam destino melhor do que a versão cinematográfica do Michael Peterson. “A coisa que nos esquecemos é que a prisão é feita para reparar o ser humano. Quando as condições desse confinamento são desumanas, não há muito reparo, então não há muito sendo feito”, é a opinião do psicólogo Marcus Mascarenhas, “eu acho engraçado que há uma visão comum de que os presos perderam direito aos direitos humanos básicos. Em que ponto um erro pode te condenar a não ser mais humano?”. Essa desumanidade era um conceito bem estabelecido no Presídio Regional de Balneário Camboriú, um calabouço que, até 2012, em condições precárias, abrigava cerca de 400 detentos; sua capacidade máxima era de 100 prisioneiros. Quando se passa pelas ruínas deixadas nesse pouco mais de um ano após seu fechamento, os corredores ainda gritam com o pesadelo do passado. Não há ventilação, é excessivamente úmido, pouco iluminado, literalmente está a só algumas chamas e tridentes de ser o inferno. Roque Cerutti, juiz de direito titular na 1ª Vara Criminal de Balneário Camboriú, foi o homem responsável por decretar, no dia 31/01/2012,
o fim dessa época escura da cidade. “Bom, o presídio de Balneário Camboriú já estava em um processo de decomposição por anos e, graças em larga escala à intervenção da Ordem dos Advogados do Brasil, conseguimos resolver aquele grande problema que durante anos vinha transtornando não só os operadores de direito, mas também toda a sociedade”. Essa intervenção não teve sucesso rápido. “Há 24 anos, a Diretoria da OAB, na época presidida por Walkisse Garrozi Mascarenhas Passos, reivindicou à Secretaria de Segurança do Estado de Santa Catarina providências urgentes para adequar a cadeia pública instalada na Rua Inglaterra às condições legais”. Quem explica é Reti Jane Popelier, que presidia a Subseção da OAB de Balneário Camboriú quando o presídio foi, finalmente, interditado “Todas as diretorias seguintes deram continuidade aos pedidos de melhorias. Tanto que diversos segmentos da sociedade civil fortaleceram o movimento, ao ponto em que os três municípios (Balneário Camboriú, Camboriú e Itajaí) criaram um consórcio através do qual conseguimos a construção do complexo localizado na Canhanduba”. Foi nesse bairro de Itajaí que foi construído o Complexo Penitenciário do Vale do Itajaí (inaugurado no dia 13/03/2012), uma vitória de toda a sociedade local. Embora seja um caminho, Roque Cerutti pede cautela: “A situação melhorou bastante, mas ainda não está perfeita. Acredito, contudo, que em curto espaço de tempo, o DEAP (Departamento de Administração Prisional), a secretaria de justiça, e o governo do estado terão que ampliar aquele presídio para melhor acomodar a demanda. Tanto que isso nos foi prometido e, pelos nossos diálogos recentes com eles, confiamos que será cumprido”. Foi no dia 07/12/2012, Dia da Justiça, que a OAB/BC, ainda sob a presidência de Reti, organizou um evento de celebração pelo fechamento do Presídio Regional de Balneário Camboriú. Autoridades e advogados, que se organizaram em diversas comissões lutando pela mudança, se reuniram num dia extremamente quente. O que se viam eram camisas suadas. O advogado Carlos Laus disse: “Se está quente para vocês aqui fora, imagina como estaria para eles ali dentro”. As portas fechadas e uma marretada simbólica por parte da classe da advocacia em Balneário Camboriú sinalizaram o final de uma batalha de mais de duas décadas. “Ao longo desses 24 anos, perdemos incontáveis vidas trancadas naquele calabouço por diversas doenças. Poucas foram ressocializadas”, lamenta Reti Jane.
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Retrato
Azambuja: o fim dos anos dourados A rua que impulsionou o comércio têxtil de Brusque perdeu espaço para outras regiões da cidade Aline Hodecker
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barulho dos ônibus e o movimento de clientes há algum tempo desapareceu. As pequenas lojas viraram quitinetes. Os manequins foram trocados por cadeados e anúncios de aluguel. O comércio da rua Azambuja, em Brusque, não vive mais seus anos dourados. Conhecido como a 25 de março da região, o local era parada obrigatória de lojistas que revendiam vestuário popular, aproveitando o baixo preço de atacado oferecido pelos fabricantes locais. Essa equação de sucesso se iniciou na década de 1980. O Brasil passava por um momento econômico difícil com a inflação muito alta. Na época, era vantagem comprar a pronta entrega. Pedidos de mercadoria com prazo de 30 ou 60 dias davam prejuízo. Todos os dias os preços subiam e não era possível vender para receber um ou dois meses depois. Outro fator que fez deslanchar o comércio na região foi a enchente de 1984. O desastre natural resultou na quebra de empresas e com isso centenas de funcionários foram demitidos na cidade. Pela primeira vez o governo liberou o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para as pessoas que foram atingidas pela enchente. O desemprego, a inflação e o espírito empreendedor fizeram muita gente comprar uma máquina de costura e abrir pequenas confecções de fundo de quintal. Com mercadorias prontas, o que se procurava era um bom ponto para despachar e finalmente começar a ver lucro no próprio negócio. Na época a 25 de março em São Paulo já era conhecida nacionalmente como uma grande distribuidora de produtos de baixo custo. Dentre as mercadorias, o vestuário tinha grande saída. Os pequenos empreendedores de Brusque procuraram espelhar-se nesse exemplo. Em 1983, depois de três anos de construção, foi inaugurado o primeiro Centro Comercial de Brusque, o comercial Oscar Schulenburg. A família Schulenburg já mantinha malharia na cidade desde 1948. E percebeu a necessidade de um lugar que pudesse acomodar de forma mais profissional os empreendedores locais. Rapidamente as salas foram alugadas e o ponto começou a dar lucro. Anilcon Schulenburg, 73 anos acompanhou com seus irmãos desde a infância o progresso da família no ramo da malharia e do vestuário. Aos poucos seu pai foi deixando de lado o ramo têxtil e investiu na
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Arquivo pessoal - Anilcon Schulenburg
Foto da rua Azambuja em 1993 mostra como era intenso o movimento de carros e pedestres na época
área imobiliária. Mais conhecido como seu Nilo, ele relembra: “Antigamente começava-se a trabalhar muito novo, eu e meus irmãos estivemos juntos com meu pai, acompanhando seu trabalho e suas dificuldades, e com isso ganhamos experiência”. O auge do comércio da rua Azambuja foi em 1994, quando diariamente passavam pelo comércio local de 70 a 100 ônibus. Ninguém da cidade es-
perava por um fluxo tão grande na época. Seu Nilo foi um dos precursores na divulgação da rua. Grande parte dos clientes era do Rio Grande do Sul e do Paraná. Com o passar do tempo o grupo de jovens empresários decidiu que estava na hora de criar normas. Fundaram a AICA (Associação do Comércio da Rua Azambuja), o que deu mais força ao grupo, que desde os anos 80 contava com o apoio do governo municipal.
Paula Dallagnolli, 43 anos, mora desde a infância na rua Azambuja, de frente ao Centro Comercial Oscar Schulenburg. Acompanhou a construção, o auge e a quebra do comércio na rua. Já trabalhou em uma das lojas do primeiro centro comercial da cidade. Hoje se lembra com saudades: “Minha família e eu sentimos falta daquela movimentação, carros, vans, ônibus. Acompanhamos o movimento desde o início”.
Com o tempo, o fluxo de clientes em Brusque chamou atenção e outros empresários construíram shoppings maiores e mais equipados em áreas diferentes da cidade. Seu Nilo acredita que esse fato, juntamente com o controle da inflação, foi levando a freguesia da Azambuja para outros lugares. Alguns dos antigos lojistas da rua hoje migraram para shoppings enquanto outros mudaram de ramo. Divulgação
Shoppings e áreas de lazer espalhados pelo município deslocaram o eixo do comércio e mudaram o cenário
Cobaia
Itajaí, abril de 2013
Foz do Vale
Farra do Boi: da tradição à marginalização Brincadeira, violência, crime ou cultura: um costume e muitas controvérsias Marcia Cristina Ferreira
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o início, os farristas se reuniam na Semana Santa, segunda-feira os bois já estavam em Bombinhas. Comprava-se a partir de um rateio e, portanto, o boi pertencia a número grande de pessoas. Não havia energia elétrica, conservar alimentos era algo extremamente difícil, sendo assim carne de gado fresca era raridade por estas bandas. A farra do boi, ou brincadeira do boi como muitos preferem chamar, era uma desculpa para brincar com o bicho de segunda a quarta-feira, deixá-lo descansando e alimentá-lo até sábado de aleluia, quando o animal seria carneado, dividido entre os que pagaram por ele, e assim se teria carne à mesa no domingo de Páscoa. A festa era familiar. Pai, mãe, filhos, não importava a idade, desde os menores, alguns bebês de colo, até os mais idosos, e inclusive muitos turistas ficavam a postos nas varandas de seus lares ou em volta de mesas com guloseimas oferecidas pelos donos das casas por onde os animais corriam, já que naquela época cercas eram algo quase inexistente, além de desnecessárias. Os bois eram soltos nas praias, e como havia muito mato, se esgueiravam morros acima, se embrenhavam na mata e somente os mais corajosos iam atrás. Falamos da década de 60.
Choque cultural
Dona Maria Helena Pinheiro da Silva, 59 anos, conta que o principal intuito de trazer o boi era para o povo consumir a carne no domingo de Páscoa. “O Sr. Walter, pai do Waltinho do Cartório, o Sr. Gui (irmão do Waltinho), eram quem organizava as encomendas de boi, pois tinham pastos em Porto Belo”. A vereadora Lurdinha (Lourdes Matias), 49 anos, explica que a farra do boi de fato faz parte da cultura local e de toda a região como Barra Velha, Navegantes, Itapema, Camboriú Velho, Tijucas, Porto Belo, Governador Celso Ramos e Florianópolis destacando as praias dos Ingleses, Pântano do Sul, Armação do Pântano do Sul, Ponta das Canas e Barra da Lagoa. Fala que desta forma a brincadeira aconteceu até a década de 70, quando os mais jovens resolveram soltar bois durante toda a quaresma. Acontece que Bombinhas sempre foi, desde os primórdios, um destino turístico no verão e com a evolução dos tempos cada vez mais a procura auItajaí, abril de 2013
Fabrício Pinheiro
mentava. Assim que terminava o carnaval, como aliás ainda hoje acontece, o turismo continuava em fluxo alto e naturalmente com os bois soltos nas ruas (todas de chão batido) o turista corria assustado classificando a brincadeira como barbárie. Além do mais, muitos dos animais ao chegar em frente às lojas ou portarias de hotéis e pousadas e ver seu reflexo nos vidros das portas e vitrines, adentravam nos recintos, levando a porta consigo. Os estilhaços faziam cortes no corpo do animal e provocavam sangramentos. Muitos turistas fotografaram, levando o caso à imprensa e os farristas acabaram com a fama de que machucavam os bois a pauladas e os deixavam correr até a morte. Lurdinha acredita que havendo um consenso entre legislativo, executivo, judiciário e comunidade seria possível construir um projeto para restaurar a brincadeira do boi como acontecia até os anos 70. Com um local apropriado e tendo atestados de que os animais estariam sendo bem tratados e com segurança para Em Bombinhas, a manifestação resiste apesar de estar proibida
“
Não somos marginais, somos pessoas e nossa cultura é fundamental, é nosso patrimônio
quem fosse assistir. Ela crê que seria uma forma inclusive de atração turística a mais para o município. Patrícia Vilma Pinheiro da Silva, bibliotecária e atualmente assessora parlamentar na Câmara de Vereadores de Bombinhas, entende que a farra do boi é uma prática muito antiga, que chegou para a comunidade de Bombinhas e todo o litoral catarinense com
os portugueses, mais especificamente da Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores. “Com a criminalização do movimento, aquilo que era para nós uma brincadeira, passou a ser divulgado pela mídia como uma barbárie, e os pescadores e familiares acusados de vândalos, cruéis e ignorantes.” O estereótipo imposto por quem desconhece o que realmente foi a brincadeira, causa tristeza nas famílias bombinenses que trazem em suas lembranças a beleza e a saudade desses tempos, que chegam a arrancar lágrimas dos mais velhos, como lembra a vereadora Lurdinha. Patrícia ainda fala que quando criança, muitas vezes participou da farra do boi, acompanhada de seus pais, e recorda que era um tempo de convivência em comunidade e havia muita troca de saberes e fazeres. “Queremos ser respeitados, brincadeira do boi é, sim, tradição, não somos marginais, somos pessoas que cultivam aquelas coisas que para nós são mais caras, e nossa cultura é sim fundamental para nossa simbologia.” Patrimônio cultural é toda manifestação que inclui bens corpóreos e incorpóreos, visto sob o prisma individual ou coCobaia
letivo e que, de alguma maneira, vincule-se com a identidade nacional, consta no artigo 216 da Constituição Federal de 1988. Sendo a cultura um bem de natureza tanto material, como imaterial, de uma forma bem ampla é o conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo. É o meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência transformando a realidade. Costumes, modo de agir remetem à tradição. Por esta lógica a farra do boi não apenas abrange o conceito de tradição, como também se insere na memória de um povo. E memória não precisa ser antropólogo para entender que se preserva e se valoriza.
A lei
Além da Lei Federal 9.605/98, que prevê em seu artigo 32, que é proibido “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”, impondo pena de detenção e multa, sendo aumentadas até um terço se ocorre a morte do animal, a Farra do Boi foi expressamente proibida pelo Recurso Extraordinário número 153.531-8/ SC; RT 753/101 em território
catarinense, por força de acórdão do Supremo Tribunal Federal, na Ação Civil Pública de n.o 023.89.030082-0. Em 2007, o município de Governador Celso Ramos fez um projeto de lei regularizando a prática e a enquadrando como patrimônio cultural do município. A Lei Municipal nº 542/2007 previa que os grupos organizadores deveriam cadastrar-se junto ao órgão competente da prefeitura, para que pudessem ser responsabilizados civil e penalmente caso ocorresse dano à integridade física do animal. No mesmo ano, o Tribunal de Justiça deferiu, no dia 22 de outubro, o pedido de liminar requerido pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) para suspender a aplicação da lei, “Apesar de o legislador municipal ter se preocupado com a integridade física dos animais, constata-se que a chamada ‘brincadeira do boi’ pode resultar em efetiva violência”, sustentou o relator da ação, Desembargador Nelson Schaefer Martins. O magistrado considerou que, se a lei não fosse suspensa, estaria aberta a possibilidade de submissão dos animais a tratamento cruel.
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Internet
Abaixo-assinados online: fazem diferença? Cidades da região usam a novidade que pressiona a classe política brasileira - as petições virtuais Jonas Augusto da Rosa Divulgação
No site da Avaaz, a petição contra a verticalização do Canto do Morcego mobiliza gente de toda parte
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ão necessários dois minutos para confirmar a assinatura em um dos sites que reúnem abaixo-assinados online. Mas se assinar é um processo rápido, atingir os objetivos da petição é complicado e demorado. Segundo a professora de jornalismo Laura Seligman, a mobilização por causas em comum se tornou uma tendência no cenário da internet. O ativismo online, chamado ciberativismo, é uma prática que pode se sustentar sem o apoio dos meios tradicionais de comunicação. Vários temas envolvendo abaixo-assinados online, nos últimos anos, chamaram atenção da mídia e da população. O Movimento Gota D’água, para inviabilizar as obras da Usina Belo Monte, no norte do país, reuniu dois milhões de assinaturas. Mas, não impediu o início da construção. Já o Projeto de Lei de iniciativa popular, o Ficha Limpa, conseguiu dois milhões de assinaturas, e a aprovação da medida.
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O advogado Bruno Horwatitsh Cunha explica o funcionamento das petições online: para que o uso de abaixo-assinados leve à criação de um PL, essas iniciativas devem obedecer à legislação especifica. “Em Blumenau é necessário reunir 1% de assinaturas do total de votantes da última eleição.” “Buscar assinaturas no ambiente virtual é mais fácil e rápido para se atingir a meta imposta, mas ficar apenas nisto, não é o suficiente”, opina Cunha. Para ele, mesmo que uma petição não atenda aos requisitos legais, um abaixo-assinado tem força política para atingir seu objetivo. A vereadora Anna Carolina Martins (PRB), de Itajaí, acredita que é necessária uma mobilização além da web. “Itajaí é um exemplo disso. Além do uso da internet, houve uma mobilização de 1,5 mil pessoas no Canto do Morcego para impedir a aprovação do Plano Diretor do município.” No fim de 2012, o poder legislativo de Itajaí votou um
novo Plano Diretor que dividiu opiniões. A situação gerou uma petição online. Mesmo reunindo 4,5 mil assinaturas, a petição não foi suficiente para impedir a aprovação. Apesar disso, Anna Carolina afirma que “os abaixo-assinados, tanto online quanto físicos, são importantes para nós do legislativo.” A acadêmica de Arquitetura e Urbanismo Bruna Górski Varella já apoiou várias propostas virtuais. “No início eu assinava e compartilhava, mas vi que não tinha efeito.” A acadêmica de Direito Leidiane Santos de Jesus nunca participou de abaixo-assinados online, mas acredita ser válido para buscar soluções. “Acho importante, mesmo que não atinja seu objetivo naquele momento, porque inicia um debate.” A jornalista Juliana Soares cobriu pautas que envolviam assinaturas online. “O uso da petição online é uma maneira de dar visibilidade à questão, sem ter que esperar que alguém noticie na mídia.” GraCobaia
ças às redes sociais, como Facebook e Twitter, as petições, e seus respectivos sites, acabam sendo amplamente divulgados no mundo da web. “Na redação, sempre comentamos, caiu no facebook é notícia”, conta a jornalista. A estudante de Arquitetura e Urbanismo Charline Carelli é autora da petição que solicita o arquivamento do Projeto de Lei, de Balneário Camboriú, que limita o uso de bicicletas e outros veículos alternativos, sob multa e apreensão. Quando Charline teve informação do PL, questionou a validade. “Como eu uso bicicleta como meio de transporte e estudo arquitetura e urbanismo, achei incoerente o projeto. Pesquisei na legislação federal e no código de trânsito argumentos que o invalidassem.” A estudante achou necessária uma ação que gerasse a mobilização da comunidade. “Foi a primeira vez que usei essa ferramenta.” C h a rline escolheu o website charge.org, para criar a petição.
O site oferece também assessoria de imprensa, link personalizado e outros serviços de divulgação gratuitos. A expectativa da estudante era discutir a mobilidade urbana sustentável. “Eu esperava que a comunidade participasse, mas o abaixo-assinado tomou proporção nacional.” Quanto às conquistas da petição, Charline aponta que o sucesso da causa se deve a vários fatores. “Nós nos mobilizamos e protocolamos a petição na Câmara dos Vereadores, anexando-a ao processo.” O texto do projeto de lei, alterado, eliminou tudo o que se referia ao trânsito. Para Charline: “Se não houvesse a reação em cadeia, o autor do PL não saberia que quase nove mil assinaturas estavam contra o seu projeto”. “Acompanhada de outras medidas, a petição online é válida, já que a manifestação popular é uma demonstração clara da vontade pública”, conclui.
Itajaí, abril de 2013
Esporte
Muito além das quatro linhas do futebol A realidade dos clubes de pequeno porte, onde a falta de dinheiro não é a única dificuldade Maria Cecília Largura
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eduz aqui, aperta ali, pede patrocínio, acumula várias funções numa pessoa só, pede ajuda para os torcedores e apela até para uma reza daquelas. É, o dia a dia de um time de futebol de pequeno porte não é fácil. Os salários astronômicos, a fama, os milhões de torcedores e os funcionários com trabalhos extremamente específicos passam longe da realidade dessas equipes. O cotidiano dos grandes times em nada se compara aos apertos que os menores enfrentam para conseguir participar de um campeonato. Hoje, no país, a maioria dos mais de 800 clubes profissionais filiados à Confederação Brasileira de Futebol se mantém sob condições muito difíceis. Falta calendário, apoio e, principalmente, dinheiro. Em Santa Catarina não é diferente. O principal problema dos pequenos times é a falta de recursos. Não simplesmente a falta de dinheiro, mas sim tudo o que as dificuldades financeiras acarretam. Falta de estrutura, incapacidade de pagar bons salários para os jogadores, poucas condições para se fazer melhorias nos estádios e diversos outros problemas que eles precisam enfrentar. O Camboriú Futebol Clube, equipe que ascendeu à elite do Campeonato Catarinense há dois anos, é um dos times que passa por essas dificuldades. José Henrique Coppi, presidente da Cambura – assim o time é chamado pelos torcedores - diz que a maior dificuldade é a falta de recursos. “Quando um jogador se machuca, a recuperação dele pode ser retardada devido à falta de estrutura no departamento médico, por exemplo, e isso nos prejudica porque o jogador acaba ficando muitos jogos fora do time”, comenta Coppi. Ainda devido à falta de recursos, os times pequenos também enfrentam outro problema: não tem como competir com os grandes que pagam salários maiores aos jogadores. Por isso, acabam perdendo os melhores atletas para quem pode pagar mais. Coppi afirma ainda que o salário de um mês dos jogadores mais bem cotados do futebol mundial chega a ser o equivalente ao orçamento do Camboriú para dois anos inteiros. “Nada é de graça, além de pagar jogadores e funcionários é preciso pagar árbitros, policiais, bolas, uniforme... Além de comida, alojamento, lugar para a concentração antes do jogo e inscrição dos jogadores na Federação Catarinense de Futebol”. O que ameniza a situação Itajaí, abril de 2013
é a ajuda financeira do governo municipal. O XV de Outubro, de Indaial, clube da Segunda Divisão de Santa Catarina, também recebe uma verba da prefeitura. Além do investimento público, os patrocínios privados são de grande importância para o bom andamento dos clubes. “Os valores recebidos são baixos e gastamos muito. Precisamos pagar os jogadores o ano inteiro, mesmo que o campeonato ocorra durante apenas quatro meses”, afirma Antoninho Menegazzi, vice-presidente do clube indaialense. Ele ainda lamenta a baixa presença de público nas partidas oficiais. “Têm jogos em que não temos 100 pagantes no estádio. A renda dos ingressos nem sequer paga as despesas da partida, com árbitro, policiamento e bolas, por exemplo”. Além das dificuldades fora das quatro linhas, o recurso escasso dos times pequenos pode influenciar até nas decisões da arbitragem na hora do jogo. Gabriel Zucki, goleiro
do Camboriú, acredita que os times maiores são favorecidos. “A arbitragem tem medo de errar contra um time grande e na maioria das vezes acaba favorecendo esses clubes. Na dúvida, o árbitro sempre vai apitar a favor do grande. Os pequenos dificilmente são ajudados pelo apito”, afirma Zucki. Mesmo com tantos obstáculos, os clubes pequenos buscam manter-se atuando profissionalmente. Em muitos casos, o que explica a insistência em um negócio não rentável é a paixão dos diretores pelo futebol e por suas equipes. “A gente faz isso por amor. Aqui na diretoria ninguém vive de futebol. Todo mundo tem seus negócios, suas empresas. Nós fazemos futebol porque somos apaixonados. Talvez esse seja o motivo pelo qual as dificuldades não nos fazem desistir”, reflete Coppi. Os dirigentes e todos os funcionários trabalham para que um dia seus times cresçam, tenham mais recursos, mais estrutura e, quem sabe assim, se tornem grandes.
Rafael Nunes de Medeiros
No estadual, o tricolor enfrenta grandes times como o Avaí Lucas Coppi
Sem condições de competir com os times que pagam salários maiores aos jogadores, os nanicos perdem seus melhores atletas Cobaia
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Extremos
Guabiruba: lugar para manobras radicais Com potencial para modalidades como parapente e downhill, a cidade precisa investir em infraestrutura Beatriz Ferreira
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prática de esportes entre os jovens enfrenta cada vez mais a concorrência das tecnologias digitais. Com tantas opções de entretenimento a um clic, tem gente que prefere as redes sociais a um bom futebol com a galera aos fins de semana. Mas, também tem quem cultue mais que uma rotineira prática desportiva – são os adeptos de esportes radicais. No Médio Vale do Itajaí, a cidade de Guabiruba oferece o cenário perfeito para modalidades como parapente, downhill, motocross, skate e bmx. O skate e o bmx são muito populares em Guabiruba, contudo a cidade ainda não conta com a estrutura necessária para fazer evoluir esse tipo de esporte. Alex Luis Scheffer, de 17 anos, já pratica o skatismo há quase três anos, e reclama que ele e os colegas têm poucos recursos. Na falta de uma pista adequada, acabam improvisando. Vale tudo para criar os obstáculos exigidos pelas manobras. No momento, usam caixotes e o próprio leito das ruas, ou calçadas e escadarias, como lugar de treinamento. Só que o improviso é mal visto pela população, acarreta problemas de segurança e diminui o rendimento de quem tem potencial para competições.
Arquivo pessoal
Esportes como o downhill (popular DH) e o parapente também são praticados em Guabiruba, onde a natureza é generosa em espaços adequados para essas modalidades. Como a paisagem ajuda, os desportistas pouco interferem no cenário natural. É o que garante Maicom Vicentini, dono do local onde pousam os esportistas de parapente: “Não são eles quem polui a área, pelo contrário, eles se comprometem a preservar o meio, mas sim o público que assiste aos voos e muitas vezes deixa resíduos no local.”
Dupla santa
A pista de skate mesmo improvisada, foi fechada por falta de apoio
Segundo Maicom, há cerca de dois anos não se utiliza a área de decolagem em Guabiruba, que fica no Morro São José. O presidente do Clube de Parapente do Vale (CPV), Sérgio Luis Spengler, explica que existem duas áreas de decolagem na região – além dessa, no Morro São José, tem uma em Gaspar. Só que os praticantes – ou voadores, como são chamados – só vêm usando a pista de Gaspar. Guabiruba, diz Spengler, tem um grande potencial de voo, inclusive já houve muitas competições ali. Mas, deixou de ser usado porque em Guabiruba praticamente não há voadores. “Esperamos a integração de gente de Guabiruba ao esporte. Isso
Beatriz Ferreira
vai resultar em benefícios tanto para a cidade quanto para os esportistas.” O CPV pretende reativar a pista de voo em Guabiruba já a partir deste ano: “Para 2013 e 14, vamos voltar a ter um evento anual no São José e, com certeza, voltar a realizar voos no município.” No caso do downhill, que significa montanha abaixo, existem dois espaços em outro morro, o Santo Antônio, que os praticantes aperfeiçoaram, acrescentando rampas. Diogo Polheim, de 19 anos, garante que há excelentes esportistas em Guabiruba, entre eles Jonathan Cardozo Schweigert, de 16 anos e Neto Pozzi, de 18 anos. Mas, sem patrocínio, eles enfrentam dificuldade para participar de competições. E ainda estão prestes a perder um dos locais de treino, porque o proprietário da área vai ocupá-la em breve. O prefeito Matias Kohler (PP) admite que o município carece de investimentos na área do esporte, principalmente de esportes radicais. Kohler considera a prática desportiva uma das formas de combater o uso de drogas e diz que é pretensão do governo municipal investir em esporte, lazer, turismo; mas para isso é preciso dotar a cidade da infraestrutura adequada à demanda de visitantes.
Arquivo pessoal
Para voar alto... Arquivo pessoal
Cenário dos saltos de parapente: nem um voador à vista por falta de incentivo
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Arquivo pessoal
...o município precisa abrir caminhos
Cobaia
Itajaí, abril de 2013