Cobaia
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, maio de 2013 Edição 120 Distribuição gratuita
Karine Mendonça
Lazer ao ar livre
Parque Ecológico do São João, em Itajaí, oferece opções de diversão e ar puro em um só lugar
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Meio ambiente
Segurança
Esporte
Lixo quase some com praia
Júri de homicídio sem cadáver
Itajaiense é destaque nacional
O local sofre com a ação do homem, espantando turistas e pescadores
Sentença sem localização do corpo da vítima é debatida entre especialistas
Atleta peixeiro de handebol é aposta de medalha nas Olimpíadas do Rio em 2016
Beatriz Ferreira
Alan Vignoli
Divulgação
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Música
Trio australiano relembra o tom retrô do rock sessentista
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Ombudsman
Editorial
Carlos Golembiewski*
Por um jornalismo preventivo Jane Cardozo da Silveira*
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ncentivar o acadêmico a dedicar-se à busca de informação sobre um tema socialmente relevante e que, de preferência, também o motive pessoalmente. É o que procuramos fazer sempre que um aluno se apresenta na redação do Cobaia para ajudar a compor a edição mensal do nosso jornal laboratório. Neste primeiro semestre de 2013, tivemos a satisfação de receber alunos do 1º período interessados em botar a mão na massa logo cedo. É o caso de Beatriz Ferreira, que já teve matéria publicada na contracapa da edição anterior e, neste número, emplaca a reportagem das páginas 04 e 05 sobre um lugar pouco conhecido e, por isso mesmo, desvalorizado: a faixa de praia no município de Tijucas - um ecossistema raro no litoral brasileiro e que merece ser tratado com mais carinho por autoridades e população. Saiba por que conferindo o trabalho da nossa caloura. Na outra ponta da trajetória acadêmica, já frequentando o último ano do curso, o 6º período comparece apresentando atividades produzidas na disciplina Reportagem Especial. O resultado desse esforço conjunto se encontra na página 03, em perfil fashion, e da 07 à 16, numa sequência que ostenta grande diversidade de interesses: a vida noturna em estilo vintage, uma série televisiva, uma questão judicial, a relação entre alimentos
e bem estar, uma tendência que se consolida no comércio, um espaço de lazer que ajuda pais e filhos a interagir, uma preocupação que aumenta entre os pais da geração Z, uma esperança que surge entre os atletas da geração y, um inventário cultural que envolve todas as gerações. Além disso, temos outras colaborações: estampadas na página 02, as notas da redação e a coluna do nosso ombudsman, o professor Carlos Golembiewski; na 03, artigo de um colaborador do curso de Relações Públicas (sempre muito bem vindos), e na 06 o cenário da arte teatral na região sob a ótica de quem organiza e participa do Itajaí em Cartaz, festival catalisador de artistas e público realizado pelo sétimo ano na cidade.
Estão aí partes do mosaico que constitui a realidade vivida por nossos alunos e que acabam formando um painel revelador da visão de mundo que os caracteriza
Estão aí partes do mosaico que constitui a realidade vivida por nossos alunos e que acabam formando um painel revelador da visão de mundo que os caracteriza. Desejamos que essas diversificadas formas de se relacionar com o entorno encontrem cada vez mais canais de manifestação. E que esses canais sejam empregados para que nossos agora aprendizes se convertam no futuro em jornalistas capazes de “se antecipar aos fatos, para alterar o rumo dos acontecimentos, oferecendo informação de qualidade, sem espetacularização da notícia”- como proclama Javier Bernabé Fraguas. O jornalista espanhol integra a corrente dos adeptos ao jornalismo preventivo, um movimento surgido em 2003 para lutar por uma imprensa voltada à origem dos fatos. “Nós trabalhamos em cinco áreas temáticas, que são crises institucionais, crises sociais, crises de direitos humanos, crises ambientais e crises humanitárias [...] agimos onde é possível. Por exemplo, se eu tenho uma pessoa que pensa dessa forma e participa de um programa de rádio, uma vez por semana, e que toque nesses temas, já é um começo.” É assim que pensamos também nós, do Cobaia. Por pequeno que seja, cada gesto, cada passo na direção daquilo em que acreditamos, faz diferença. Boa leitura! *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP
Fica esperto! Prêmio Unimed de Jornalismo
A Univali oferece 1.364 vagas para entrar na Universidade. As vagas são para todas as áreas de conhecimento nos campi Itajaí, Balneário Camboriú, Balneário Piçarras, Tijucas, Biguaçu, Kobrasol – São José e Florianópolis – Ilha. Para participar, o candidato precisa entregar o requerimento de inscrição preenchido na área de processo seletivo do Campus Itajaí ou nas secretarias acadêmicas dos demais campi, com a fotocópia dos documentos. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 29 de julho. A relação completa de cursos e o formulário de inscrição estão disponíveis no endereço: univali.br/seletivo
A 12ª edição do Prêmio de Jornalismo Unimed SC contempla três categorias: Profissional, com três subdivisões - Jornal/Revista, Rádio e Televisão -, Destaque Acadêmico e Novo Repórter. A categoria Destaque Acadêmico, destinada a estudantes de jornalismo do Estado, já é tradicional no Prêmio. Além do reconhecimento, o aluno ganhador dessa categoria recebe um smartphone como prêmio. A categoria Novo Repórter, em seu terceiro ano, é voltada a alunos do ensino fundamental e médio das redes pública e privada. A participação é gratuita e exclusiva aos profissionais de imprensa, estudantes de comunicação e alunos matriculados no ensino fundamental. O prazo para a inscrição é até 02 de julho. O regulamento completo e outras informações estão no site www.premiodejornalismo.com.br.
As inscrições para o prêmio Transat Jacques Vabre foram prorrogadas, elas podem ser feitas até o dia 03 de junho. O prêmio irá levar dois alunos do curso de Jornalismo da Univali para a França. Os vencedores terão a chance de participar de intercâmbio cultural na cidade francesa de Le Havre, lugar de partida da regata Transat Jacques Vabre, a partir do dia 03 de novembro. Para mais informações acesse o blog: www. blogdojornalismo.wordpress.com
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A edição do Cobaia do mês de abril está bem melhor do que as anteriores. O jornal ficou mais moderno, limpo, claro e com fotos coloridas. Tudo para atrair o interesse do leitor. Percebe-se de “cara” que o tipo da letra mudou e a diagramação também. Ficou mais agradável ler o jornal. Enfim, o Cobaia está mais sintonizado com os dias atuais, onde a oferta de mídias digitais nos coloca em patamares nunca antes imaginados. Apesar da melhora, percebo que em relação às fotografias, a qualidade final poderia ser melhor. Acredito que quando vão ser impressas no papel, as fotos ficam mais escuras e perdem um pouco de definição. Problema, aliás, não só do Cobaia, mas dos jornais impressos em geral. A capa também agradou. A foto em primeiro plano de um morango chamou a atenção do leitor. A manchete DOCES VENENOS caminhou nesse sentido. Despertou a curiosidade, papel principal de uma manchete, mesmo que eu tenha sentido a falta do verbo. Por fim, o jornal está melhor e aos poucos vai ficando mais acessível ao leitor.
Para refletir Em abril deste ano, o Jornal Nacional, da TV Globo, exibiu uma reportagem preocupante acerca dos alunos que frequentam o ensino superior. O texto do repórter informou que 28% dos 7.129 alunos que se candidataram a uma vaga de estágio no Estado de São Paulo foram reprovados em língua portuguesa. O mais assustador da reportagem é que o teste aplicado nos alunos era o velho e bom “ditado”. Ou seja, as pessoas estão perdendo oportunidades de trabalho porque não sabem escrever as palavras do próprio idioma. A reportagem mostrou alguns erros dos candidatos: pro-penção; (separada e com cedilha);essepicional ( com dois S e dois I); sensura (com S). Olhando para o que foi escrito dá pra dizer que estamos no fundo do poço. Por isso, duas sugestões: uma para os alunos e outra para os governantes. Aos alunos: se dediquem mais à leitura diária, por exemplo, a de jornais impressos. Acredito que uma hora por dia seja suficiente. Descubra esse prazer maravilhoso que é viajar com as palavras. Já aos governantes, a dica é simples: uma carreira federal ao professor. Que lhe proporcione o mínimo de dignidade. Parabéns a toda equipe do Cobaia e até a próxima.
Ingresse na Univali
Prêmio Transat Jacques Vabre
E edição de abril está melhor
Vitória para o Jornalismo da Univali Após dois anos participando somente do vestibular de verão, neste ano o curso de Jornalismo da Univali volta a oferecer vagas nas provas de inverno da Acafe. Parabéns à Coordenação do curso pela batalha diária e as conquistas. Cobaia
*Carlos Golembiewski, jornalista formado há 25 anos pela Unisinos, Doutor em Comunicação Social pela PUC do Rio Grande do Sul.
Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, maio de 2013. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP FOTO PRINCIPAL DE CAPA Karine Mendonça PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Gabriela Florêncio TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional
Itajaí, maio de 2013
Tendência
De Brusque ao mundo A trajetória da modelo Carine Scalvim no circuito da moda internacional Aline Hodecker
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a bagagem, bem mais que fotos, comerciais e cachês. Amizades, experiências, maturidade e muito, muito conhecimento. Carine Scalvim, hoje com 25 anos, começou a carreira de modelo ainda criança. Aos 12 anos sua altura e seu rosto já chamavam atenção. Foi o que motivou a menina a se matricular em um curso de modelo em sua cidade, Brusque. No início das aulas começaram a surgir trabalhos para Carine. Aos 17 anos, com um pouco mais de experiência, Carine foi selecionada por uma agência de São Paulo para na Coréia do Sul. De lá a jovem engatou uma outra viagem: China, uma turnê com duração de dez meses. Voltou ao Brasil e a morar com a família, mas só por quatro meses. Shangai, na China, passou a ser sua casa por seis meses. A família Scalvim já não segurava mais a jovem em casa. Depois de ligeiros dois meses, Carine embarcava novamente em direção a Ásia. Dessa vez a modelo deslanchou em comerciais na Tailândia. Revelando com sucesso seu lado atriz. Aos 20 anos, decide voltar e terminar os seus interrompidos estudos. Concluído o ensino médio, o curso pré-
-vestibular veio em seguida. Com sucesso, a jovem iniciou Engenharia de Produção na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Minas Gerais. Abandonou as câmeras e as passarelas e se dedicou aos estudos. Um ano e meio no estado, nem o curso nem Minas encantaram a jovem. Voltou a Brusque, e aos flashs. Conciliou a profissão de produtora de moda aos seus trabalhos como modelo. Mas a carreira e as viagens não pararam por aí. Em 2010, os pedidos da mãe de Carine foram atendidos. A jovem se inscreveu ao concurso Menina Fantástica, reality show que rodava no programa Fantástico, da Rede Globo. O reality procurava jovens para trabalhar como modelo. Sem esperar, a brusquense foi passando pelas seletivas e quando viu era uma das moradoras da casa, em São Paulo. Participando das provas, Carine foi a primeira eliminada do programa. A estada na casa durou uma semana. E a ligeira moradia já lhe rendeu: “Na primeira semana, as pessoas me reconheciam na rua. Alguns até me pediam pra tirar foto”, conta a ex-reality. A Mega Model Brasil, produtora do concurso e uma das maio-
res agências do país, contratou Carine. E por três meses a moça morou em São Paulo. Mas, assim como Minas Gerais, a grande capital não a seduziu. Terras estrangeiras. Essas sim encantaram Carine. Por não ter gostado de sua estada em São Paulo, seu próximo embarque era em direção ao Chile. Durante três meses a capital, Santiago, foi o endereço da moça. Muito aceita pelo mercado chileno, campanhas e comerciais foram estrelados pelo marcante e belo rosto de Carine. No ano passado, além do Chile, a Índia e a Turquia também fizeram parte de seu roteiro. Em Istambul, a cobiçada modelo brasileira abrilhantava as cores e os panos do Oriente. Desde novembro está com a família em Brusque. E em trabalhos na região, Carine revela sua experiência. Tem o desejo de encerrar a carreira e voltar aos estudos, dessa vez Cosmetologia e Estética. Mas as propostas de trabalho em Miami e Nova Iorque e encantam. “Acredito ser o sanho de qualquer modelo encerrar carreira nos Estados Unidos, mas por enquanto não há nada decidido” admite Carine.
Arquivo pessoal
Música
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O trio consegue capturar e transpor em suas músicas toda a complexidade da atmosfera psicodélica
Crystopher Kinder*
Psicodelia da Austrália Tame Impala é uma banda formada por Kevin Parker (vocais, guitarra, baixo e bateria), Jay Watson (bateria e guitarra) e Dominic Simper (percussão, baixo e guitarra) e ainda conta em apresentações ao vivo com o músico Nick Allbroock (baixo). O grupo foi formado em 2007 e lançou dois EP’s, em 2008 e 2009, antes de lançarem seu álbum de estréia intitulado Innerspeaker em 2010. A sonoridade da banda australiana está relacionada ao neo-psych, dream pop e ao rock alternativo em geral. É psicodelia da terra dos cangurus! O grupo nasceu a partir de outra banda de Kevin Parker, chamada Dee Dee Dums, que já tinha certo reconhecimento e já havia ganhado algumas boas posições em festivais. Algumas mudanças na formação e depois de trocarem o formato de dois guitarristas para o formato básico (baixo, bateria e guitarra) o grupo mudou o nome para Tame Impala. O trio foi ganhando sucesso e logo em seguida começaram a aparecer as oportunidades de tocarem com grandes nomes do gênero, tais como The Black Keys, MGMT e You Am I, além de se apresentarem também em festivais mais renomados. Existem muitas coisas a serem percebidas e destacadas nesse álbum em meio ao turbilhão de timbres e sons. A começar, o LP não deixa de ter a característica retrô, devido a sonoridade remeter muito ao que se ouvia na década de 60, fortemente influenciado por bandas como Cream e Jimi Hendrix Experience (ambas bandas de rock psicodélico dos anos 60),há também toda aquela vibe stoner misturada com British Pop e o exotismo dos arranjos contemporâneos. O vocal de Kevin, comparado frequentemente ao beatle John Lennon, se encaixa perfeitamente nas melodias criadas pelas linhas de baixo e pela guitarra com delay e phasers que juntos formam a excentricidade sonora audível na multidimensionalidade lisérgica arrastada pelos 53 minutos do álbum. O trio consegue capturar e transpor em suas músicas toda a complexidade da atmosfera psicodélica e a elevar a um patamar etéreo onde os solos de guitarra à la 60’s convergem primorosamente com os teclados para incorporar uma ambientalidade peculiar às tracks do disco. As onze músicas do Innerspeaker envolvem um território complexo, que muito pode ser explorado quando o escutamos. Diversos sons proporcionam a característica que frequentemente denominamos como ‘trippy‘, devido a sua capacidade de nos fazer relaxar e viajar mentalmente para os lugares mais distantes imagináveis, tudo isso apenas através da música, uma droga da qual nem todos usufruem os efeitos. Tame Impala se mostrou uma banda promissora com um álbum de estreia sólido e, no ano passado, a banda lançou seu segundo álbum de estúdio, o Lonerism.
*Acadêmico do 3º periodo de Relações Públicas
Carreira exige sacrificios que vão além de um rosto bonito. Atitude e independência são fundamentais
Itajaí, maio de 2013
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Ecologia
Praia abandonada pede socorro Desprezada por banhistas e poder público, orla marinha de Tijucas sofre com poluição Beatriz Ferreira
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cidade de Tijucas, embora muita gente não saiba, também tem praia. Ela fica no chamado Pontal Norte do município, só que tem um diferencial em relação às outras: em lugar de areia, o fundo do mar naquela parte da costa é formado por um lamaçal que tem até 17 metros de profundidade. Essa formação geológica peculiar atrai pesquisadores, porém afasta banhistas e faz com que a praia em Tijucas seja um ambiente pouco frequentado. Ao contrário do que acontece em outras cidades litorâneas. Mas essa característica da praia tijuquense é rara no Brasil. Outro diferencial daquele ambiente é imenso costão que lhe serve de moldura. O problema do litoral em Tijucas não é a formação geológica, mas a ação do homem naquele meio. Grande quantidade de lixo fica espalhada ao longo da orla, proveniente na maior parte do rio que desemboca na região. Animais mortos também são encontrados ali. Os costões são alvo da poluição causada pela deposição de resíduos. A falta de consciência da população, somada à ausência da fiscalização municipal, faz com que a sujeira se acumule e torne o lugar insalubre. Mesmo assim, crianças do Pontal brincam naquela área: traves de futebol denunciam com que finalidade a área é usada.
Beatriz Ferreira
Beleza exótica
Planície de Chênier: depósito de lama intercalado por cordões de areia Beatriz Ferreira
Filtros gigantes
Débora Ortiz Lugli, mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental, professora do Curso de Oceanografia na Univali, diz que apesar de ainda não ter feito estudos em Tijucas, é possível que a recuperação daquele ecossistema passe pela implantação de um manguezal. Ela explica o procedimento: os mangues funcionam como um filtro gigante, principalmente de água salina, tendo sua própria funcionalidade. Manguezais fazem proliferar uma infinidade de espécies que enriquecem o ambiente e se refletem no aumento da produção pesqueira. Antes de se adotar qualquer medida, no entanto, Débora aconselha submeter o projeto a testes para comprovar sua eficácia. Havendo interesse da prefeitura, a professora se dispõe a colaborar nesse sentido. Outro professor do curso de Oceanografia da Univali, o doutor em Geologia Marinha João Thadeu de Menezes, explica que a praia de Tijucas
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tem aquela grande quantidade de lama devido à conformação das encostas que a protegem e impedem a formação de ondas que alcancem a beira-mar. A orla, nesse caso, conta apenas com micro marés, ou seja, não há grande variação entre as marés alta e baixa. No norte do Brasil também se encontram áreas de grande proteção, mas lá ocorre intensa variação de marés. Portanto, a combinação de fatores verificada em Tijucas torna aquele ambiente único, tanto que há chances de haver apenas mais uma praia com a mesma característica em todo o país.
A degradação do meio e o acúmulo de lixo na região da praia de Tijucas
Detalhes no solo como consequência da ação do homem. Cenário lembra as terras áridas do nordeste brasileiro
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Fer
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Desde 2004, o professor João de Menezes e mais uma equipe de pesquisadores das Universidades de Boston e da Carolina do Norte realizam trabalhos em torno da baía e da planície costeira de Tijucas, para entender a formação geológica do local. O município está em cima de uma planície a que os estudiosos classificam como planície de Chênier - carvalho, em francês. Essa planície é um depósito de lama intercalado por cordões de areia, que levou cerca de cinco mil anos para se formar. O rio Tijucas ajuda no acúmulo de sedimento lamoso ao largo da praia. A diferença em relação aos rios que desembocam em Itajaí ou Itapocu, em Barra Velha, é que eles sofrem a ação de correntes marítimas que chegam até a orla, o que impede esse acúmulo de lama. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a área possui a sua beleza natural. Incomum, é exótica e exuberante, embora não seja vista assim por quem busca praias de banho. Isso acaba promovendo desvalorização imobiliária na praia de Tijucas, que incorpora uma distribuição populacional inversa às demais cidades litorâneas, pois quem ocupa as residências à beira-mar não são as pessoas de maior poder aquisitivo. Pelo contrário, já que ali os terrenos têm um custo baixo, devido à pouca procura. Os próprios moradores dos arredores e os demais tijuquenses não dão o devido valor ao local.
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Google Maps
Descuido com o ambiente
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Posição geográfica da praia é responsável pela formação lamosa e rara do terreno marinho
secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Antônio Cantalício Serpa e a assessora de imprensa da prefeitura de Tijucas, Karina Duarte Peixoto, acreditam que com o desassoreamento do rio Tijucas a cidade ainda terá um importante papel na área náutica, entretanto a praia consiste daquela formação lamosa e permanecerá assim. A implantação de molhes ainda é cogitada - eles executariam o papel de barreiras, que auxiliariam na limpeza da água, porém o custo é alto e não há previsão para tal projeto, porque - afirmam – seria preciso contar com recursos federais, a partir de projetos do município. O farmacêutico Nilson Carlos de Oliveira já colaborou na administração da prefeitura de Tijucas entre 1976 e 1982, como vice-prefeito, e depois na câmara, como vereador, em 1986 e 1992. Desde o tempo em que ele era funcionário público, consta que já havia interesses em melhorar o local, porém ele diz que nada saiu do papel sempre sob a alegação de falta de recursos. Outras cidades, como Biguaçu, pleitearam a implantação de molhes e não foram atendidas. Ao contrário de Balneário Piçarras, que ostenta três molhes em sua orla marítima, todos feitos com recursos federais. Enquanto isso, em Tijucas, os problemas que a praia gera já se tornaram comuns a ponto de ninguém mais reivindicar melhorias. Nilson confirma,
como morador da cidade, que a praia sempre foi suja, porém há uns trinta anos houve uma ocasião em que a praia ficou limpa por cerca de um mês, após uma grande ressaca. Moradores da região, seu Lelo e a esposa, dona Rosa, contam que na época da grande ressaca a praia estava muito mais limpa e era possível banhar-se. Então, eles reuniam a família e iam até lá aproveitar, chegando a acampar na orla da praia. Aos 72 anos, pescador desde os 12, seu Lelo tem uma paixão pela pesca que está enraizada em sua família. Dentre os 21 irmãos, os quais todos se dedicaram à pesca, ele é um dos mais moços e ainda está na ativa. Foi aprendiz de seu pai, que era mestre de barco, pescou por toda a sua vida, e agora ensina os filhos. Além de funcionário do estado, pelo qual ele é aposentado, a pesca foi o meio a auxiliá-lo no sustento de toda a sua família. Pois apesar da lama, a praia de Tijucas é boa para a pesca, tendo diversidade e fartura. Seu Lelo pesca em alto-mar. A distância geralmente varia de 10, 12 a 16 milhas, e como cada milha vale por 1852 metros, a pesca custa-lhe muito tempo, energia e paciência. Muitas vezes, há tempos, ele saía à boca da noite, voltando apenas no outro dia pela manhã, ou saía próximo à meia-noite, retornando à tarde, porém admite que hoje em dia está cansado e são poucos os pescadores que mantêm esse ritmo. Beatriz Ferreira
A implantação de molhes é cogitada no local, eles executariam a função de barreiras para colaborar com a limpeza da água. Medida depende de projeto municipal
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Cultura
7º Itajaí em Cartaz: a cidade sob aplausos Evento ofereceu 12 espetáculos de teatro, seminário sobre produção cultural, oficinas e debates Mariana Feitosa
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uando as luzes se apagam, os decibés dos gritos aumentam. A cortina vermelha de veludo se abre e pessoas dão vida a vidas que não são suas, mas que escolheram para brincar de viver. Mulheres, homens, animais, personagens conhecidos e anônimos. Seja bem vindo ao mundo do teatro. Inaugurado em 2004, com estrutura de 505 poltronas e 10 lugares para cadeirantes, além de um palco de nove metros de largura, o Teatro Municipal de Itajaí é um ambiente mágico para os amantes desta arte. Aliás, uma peça de teatro é um momento de magia para qualquer um que a assista. Desperta sensações, a imaginação que voa, o drama e a comédia. E é por tudo isso que, pelo sétimo ano consecutivo, o mês de maio é tempo do Itajaí em Cartaz. Realizado entre 18 e 24 de maio com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o VII Itajaí em Cartaz ofereceu 12 espetáculos de teatro, encontro de caixeiros de teatro lambe-lambe (teatro de bonecos em miniatura), seminário sobre produção cultural, workshop e debates. Além de tudo isso, o Itajaí em Cartaz veio com a missão de fazer os grupos pensarem no que produzem, de gerar intercâmbios, debate e reflexão estimulando o espírito de equipe. O evento, conta o coordenador Daniel Olivetto, começou mais como uma mostra. Mas, a partir do ano passado, essa “cara de mostra teatral” foi substituída por uma estrutura de festival de teatro, com debatedores, oficinas e mesas redondas abertas à comunidade e, principalmente, visando à formação e amadurecimento da classe artística itajaiense. A cidade de Itajaí é reconhecida nacionalmente por seu potencial artístico e tem hoje um conservatório de música, inúmeras bandas independentes, fortes nomes do canto popular, saxofonistas e músicos focados no jazz e no blues, e também vários grupos de teatro. Dentre os “teatreiros de plantão”, dez são as companhias e grupos filiados à Rede Itajaiense de Teatro, uma associação criada para unir os artistas, lutar por apoio e direitos e, claro, promover eventos culturais para a cidade. Com o intuito de mostrar o trabalho dos afiliados é que a Rede teve a iniciativa de criar o Itajaí em Cartaz. Valéria Oliveira, coordenadora do Itajaí em Cartaz em 2011, cita a palavra “profissionalização” como fio condutor daquela edição do evento. Valéria diz que com esse formato conseguiu chegar até a comunidade e também fortalecer a Rede enquanto
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Mariana Feitosa
Rede Itajaiense de Teatro realiza pelo 7º ano o Itajaí em Cartaz
grande grupo, e usa novamente a palavra de ordem: “Tornar tudo mais profissional”. Para 2013, Olivetto decidiu manter esse “novo jeito” e inovar acrescentando o tema “Produção Cultural: Gestão de Coletivos e Políticas Públicas” ao programa, além de levar o foco das oficinas para a formação de artistas. Para Daniel, “é preciso pensar o que o seu teatro leva ao público”. Valéria completa: “O novo tem sempre que chegar. O velho tem experiência, mas o novo pulsa”. Uma das atividades mais aguardadas da programação foi a “Oficina de Produção Cultural”, ministrada por Gláucia Gricolo, atriz e produtora de Florianópolis. Gláucia conta que
sua oficina é voltada para grupos de artistas de todas as áreas, não somente do teatro, e ensina a montar um bom projeto para inscrição em leis de incentivo à cultura, editais e manutenções de grupo. Gláucia não é um rosto inédito na história do Itajaí em Cartaz, ela já participou da edição do ano passado como debatedora. Como atriz, observa que o movimento teatral itajaiense é invejável: “Em Florianópolis não há essa união dos grupos, não se vê um momento como este de todos juntos para panfletar o evento. É como se Itajaí preparasse o público para a chegada da cultura, e a cidade só tem a ganhar com essa conexão, essa união”.
Aline Ewald
União dos artistas locais é destaque no cenário cultural do estado Mariana Feitosa
Em frente à Fundação Cultural, artistas itajaienses se reúnem para a divulgação da arte do Teatro Cobaia
Itajaí, maio de 2013
Variedades
O declínio de The Walking Dead Mesclando momentos espetaculares aos sem sal, série se divide entre alegrar e desapontar fãs Rodrigo Ramos
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esde a sua primeira temporada, The Walking Dead é campeã de decepcionar os seus espectadores. Na primeira, o season finale foi extremamente decepcionante. A segunda teve problemas em todo o seu desenrolar, monótono, que pegou embalo apenas na reta final e nos deixou com aquele gostinho de quero mais. A terceira temporada pode ser facilmente dividida em duas. A parcela de episódios de 2012 trouxe tudo o que a série tinha de bom à tona e fez com que ela entrasse no patamar dos melhores seriados na TV atual. Já a parcela de 2013 foi enrolando, deixando tudo em banho-maria, até que o season finale veio para destronar o programa da lista das melhores coisas da televisão na temporada.
Cenário
Os oito primeiros episódios desta temporada foram precisos em diversos aspectos. O primeiro deles foi conseguir instalar os personagens em um novo cenário – o presídio – e fazer com que ele fizesse parte importante da série, se tornando tão revelante quanto um personagem, além de trazer sempre novos perigos e desafios para o elenco. Basicamente, tudo gira em torno daquele lugar e os roteiristas fazem isso direitinho ao longo de toda a temporada. Ao mesmo tempo em que a prisão se torna palco principal, não menos importante é Woodbury, a cidade perdida onde ainda há um número considerável de sobreviventes e que vivem em harmonia, em paz, isolados dos zumbis – estes, isolados do lado de fora dos muros e portões gigantes da cidade. Em pequenos passos, ela vai se consolidando e se tornando relevante para a trama. Tudo naquele lugar é perfeito demais e, como é de se esperar, o tal Governador (David Morrissey) tem uma face obscura que poucos conhecem.
Elenco
Os personagens novos foram bem estabelecidos e suas histórias bem expressadas na tela. Entendemos como funciona o senso cruel e controverso das ações do Governador e ganhamos cada dia mais simpatia por Michonne (Danai Gurira), a mulher que ostenta uma espada inseparável e que ajuda Andrea (Laurie Holden) a sobreviver após se separar do grupo liderado por Rick (Andrew Lincoln). Enquanto Itajaí, maio de 2013
isso, os personagens sobreviventes das temporadas anteriores mostram-se melhores em diversos aspectos. Eles se tornam figuras tridimensionais de uma forma que antes não ocorria. Os roteiristas arredondaram e passaram verniz nos personagens. Agora os dramas, as tensões, os temores, as motivações e as ações parecem genuínas, sendo levadas cada vez mais ao extremo. A sensação é de que o cerco vai se fechando cada vez mais para eles e a probabilidade de morrem ou terem um surto psicótico ou psicológico é grande. Ou seja, finalmente a série fez o que não conseguia antes: tornar todos interessantes, capazes de fazer com que o espectador realmente sinta as emoções deles e se identifique com cada pessoa em cena. Ainda sobre os personagens, a série consegue desenvolvê-los bem e é notável a evolução deles, seja do pequeno Carl (Chandler Riggs) ou de Andrea, que se antes era desprezível, nesta temporada se torna uma das melhores em cena. A primeira metade da temporada é certeira em tudo o que faz. Diferente da temporada anterior, esta é objetiva e não fica dando voltas em torno de um assunto. Quando precisa resolver uma situação, ela vai lá e pronto. Coloca um ponto final. “Made to Suffer”, o oitavo episódio da série, culmina em uma situação extrema, sendo o primeiro confronto com o pessoal da prisão contra Woodbury. O melhor capítulo de toda a série. Com ele, os fãs esperaram alguns meses até ver no que isso iria resultar. E eis que The Walking Dead começa a jogar tudo pelo ralo. Os outros oito episódios complementares fizeram o que os primeiros não fizeram. Mantiveram um ritmo narrativo mais lento, não priorizaram tanto a ação e ficando muito mais no falatório. Em alguns momentos, a tática funcionou. Foi dada a oportunidade de os personagens se entrosarem e se familiarizarem, como é o caso de Rick e Michonne, uma parceria que ainda irá render bons frutos à série. Destaque também para o duelo verbal entre Rick e o Governador, num episódio em que este fora o único atrativo. O problema desta segunda parte é não saber dosar os pontos mais baixos e os altos. Os episódios que antecedem o esperado season finale com o iminente confronto entre o exército de Woodbury e o grupo da prisão, Governador contra Rick, não são ruins iso-
ladamente, pois as tramas se sustentam, mas acabam passando a impressão, num contexto geral, que serviram apenas para preencher o espaço entre o meio da temporada e o seu desfecho com “Welcome to the Tombs”. Ah, o episódio final. The Walking Dead, depois de ousar bastante, matar personagens, trazer mais violência e mortes de zumbis, desenvolver seus personagens com louvor, eis que toma um caminho o mais covarde possível. O final da temporada é decepcionante. O ponto positivo é ver o Governador simplesmente perdendo a cabeça. David Morrissey honrou o papel do maior vilão da série até agora – e também dos quadrinhos. O Governador chega num nível de loucura no padrão Hitler. Contudo, é só isso que há de interessante para se ver neste desfecho. O tão aguardado ataque do Governador e seu exército se inicia promissor, mas acaba rapidinho. Vários homens batem em retirada por conta de dois atiradores na prisão. Exato. Dois atiradores. Não faz sentido nenhum recuar por conta disso. Nem de longe a missão estava perdida ou o grupo de Woodbury estava em menor número ou com menos armamento. Mas, como diria Gloria Perez, quem não entende direito, não sabe voar. Pois bem, atualmente estou sem minhas asas. No fim das contas, o ataque à prisão leva uns cinco minutos e termina. Acho que a maior reviravolta deste final é não termos o confronto entre Rick e Governador. Além disso, os personagens principais se mantêm no mesmo lugar, com um adicional de sobreviventes da cidadezinha. E o Governador? Sumiu. Foi pra onde? Ninguém sabe. O que sabemos é que na temporada que vem teremos mais dele, e mais presídio. Ou seja, The Walking Dead chegou ao término de seu terceiro ano sem sair do lugar, especialmente nos últimos oito episódios. Estes foram apenas alegóricos, peças que sobraram no jogo e não acrescentaram basicamente nada. Foi covarde e broxante. Nem o fã mais apaixonado pela série conseguiu ficar satisfeito com o desfecho. Faltou pulso firme e convicção de que The Walking Dead poderia estar entre as cinco melhores séries da TV – mas por suas escolhas equivocadas e mais fáceis, mostrando pouca ousadia, o seriado acaba sendo a sua própria ruína. Cobaia
Divulgação
Primeira metade da temporada é certeira em tudo Divulgação
Novos personagens estabelecidos, com histórias bem delineadas... Divulgação
... e evolução dos antigos, entre mortes, sangue e violência.
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Segurança
Alan Vignoli
Casos como o do goleiro Bruno levantam a discussão entre autoridades sobre júri sem cadáver Alan Vignoli
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advogado de defesa se levanta. Numa última tentativa de defender o réu, suposto autor de um crime em que o corpo não foi encontrado, ele exclama que, enquanto estivesse falando, a vítima entraria no plenário viva. Todos da sala, imediatamente, olham para a porta principal. Sentindo-se vitorioso, o advogado rebate: “Estão vendo como há dúvida? Todos olharam para a porta acreditando que a vítima poderia entrar mesmo!”. Muito satisfeito de comprovar a tese de que seu cliente não poderia ser julgado por um crime sem corpo, ele volta ao seu lugar. Então o promotor se levanta, já sorrindo, antes mesmo de começar a falar, atitude essa incompreensível para o advogado de defesa, que já se julgava vencedor. Virando-se para os jurados, o promotor comenta: “Nesse tribunal inteiro, só quem não olhou para a porta foi o réu. Somente ele sabe que a vítima jamais entraria aqui, pelo simples motivo de que tem certeza que a assassinou”. O réu foi condenado.
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Essa história é contada pela especialista em criminologia, Ilana Casoy, e ilustra o artigo “Crime sem corpo”, escrito por ela para o site do canal de televisão Investigação Discovery. Segundo Ilana, a história é famosa no mundo jurídico e pode ter ocorrido num tribunal francês. O julgamento de crimes sem corpo ultrapassa os contos conhecidos na área do Direito e levanta a discussão sobre o assunto, dividindo a opinião de especialistas na área. O delegado da Polícia Civil de Camboriú, Rodrigo Coronha, afirma que é possível julgar crimes de homicídio em que o cadáver não foi localizado. “Você não precisa, necessariamente, do corpo pra provar que o crime existiu. Dependendo das provas periciais que foram coletadas durante o inquérito policial, fica evidente que pode ter havido um crime”, argumenta. Em 2011, Coronha participou da investigação de um caso onde o corpo da vítima não foi encontrado, mas, segundo ele, não restam dúvidas de que ela foi assassinada. O delegado conta que pelo desaparecimen-
“
Você não precisa, necessariamente, do corpo pra provar que o crime existiu
to em si, escutas telefônicas, objetos encontrados da vítima e outros elementos da busca, foi possível chegar àquela conclusão. “Provamos que ela estava morta, mas não conseguimos provar a autoria do crime”. O réu, também acusado de outros crimes, está preso, mas foi absolvido do assassinato. Para o médico legista do Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina (IGP-SC), Hugo Cobaia
Sérgio Pretto, é impossível que alguém seja julgado sem que o corpo da vítima tenha sido encontrado. “Pra medicina legal, não existe homicídio sem corpo. Se não há cadáver, não há crime”, destaca. O legista comenta que sem a análise feita na vítima, é impossível levantar prova material suficiente para chegar a uma conclusão e apontar um culpado. “Trabalhamos com evidências, há uma frase célebre na medicina legal que diz ‘o cadáver tem muito a contar’”. A advogada criminal, Micheli Silva Simas, também se posiciona contra o júri sem cadáver. “Como advogada de defesa, eu afirmo que não é possível apontar um culpado sem que se tenha um laudo pericial. Muitas vezes, todos os indícios no processo penal apontam para a morte da pessoa, mas não há como ter certeza absoluta”. Ela respalda a sua tese, afirmando que já houve casos onde a pessoa já tinha sido dada como morta e depois aparece viva. Além disso, para ela, julgamentos dessa natureza vão contra o próprio código penal, que diz no artigo 158: “Quando a infração deixar vestígios,
será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. Ambos os especialistas, porém, fazem ressalvas às suas opiniões, em se tratando de casos específicos. Hugo assegura que em casos de réu confesso, por exemplo, o acusado poderá ser julgado. Já Micheli defende que o código deveria ser revisto, para que em ocorrências onde haja indícios suficientes para apontar um culpado, o julgamento possa ser realizado sem entrar em contradição com a lei. Camille Amorim Mello, 20 anos, acadêmica do 7° período do curso de Direito é uma estudiosa do assunto. Ela garante que há possibilidade de encontrar o criminoso sem fazer o exame de corpo delito direto no cadáver. “Há o corpo de delito indireto, que busca vestígios e todas as provas ao redor do crime”. A estudante sustenta a afirmação citando o artigo 167 do código penal: “Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”. Itajaí, maio de 2013
Alan Vignoli
A repercussão na mídia
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caso do goleiro Bruno, condenado a 22 anos de prisão pelo assassinato e ocultação de cadáver da ex-namorada Eliza Samúdio, pode ser acompanhado de perto pelos brasileiros, devido à cobertura exaustiva da mídia sobre o ocorrido. A partir dele, outros casos de júri sem cadáver foram pauta para a imprensa. O G1, portal de notícias da Globo, em matéria publicada no dia 18/11/2012, elenca histórias como a do ex-policial José Pedro da Silva, condenado a 17 anos de reclusão pela morte da adolescente Michele de Oliveira Barbosa. As provas utilizadas contra ele foram o DNA do sangue da vítima e fios de
cabelo achados no carro do réu. Micheli critica a atuação da imprensa em algumas situações. Para ela, muitas vezes, no Brasil a mídia é quem julga. “A forma como imprensa trata casos como o do goleiro Bruno, acaba influenciando na decisão do júri”. Camille também comenta que há diversos fatos dessa natureza que não viram notícia, mas onde foram comprovados os crimes. “Cada vez mais haverá formas de identificar o crime sem que haja o corpo, todo delito é praticado por alguém”. Até agora, a única certeza que se pode ter é a de que nem sempre o promotor pode proferir o discurso sorrindo. Elementos como escutas telefônicas e objetos da vítima ajudam a polícia na investigação do culpado Alan Vignoli
Quer saber mais?
Título: Homicídio sem Cadáver - Coleção Ciências Penais Autor:Eduardo Luiz Santos Cabette Análise jurídica sobre o crime de homicídio sem a principal prova: o corpo. As provas, no Direito Penal, têm o objetivo de autoria e materialidade. De fácil compreensão, o livro apresenta uma reflexão sobre a prova da materialidade. Valor: R$20,00, em média
“O cadáver tem muito a contar”, afirma o médico legista Hugo Sérgio Pretto Alan Vignoli
Título: Homicídio sem cadáver - O caso Denise Lafetá Autor:Tiburcio Delbis O livro analisa o caso de Denise Lafetá, morta em 1988 em Minas Gerais. O julgamento ocorreu sem o corpo ser localizado e sem o exame de DNA. A obra está disponível na Biblioteca Central Comunitária Valor: R$119,00 em média (somente em sebos) Advogados defendem que há casos onde a pessoa dada como morta apareceu viva depois
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Cobaia
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Saúde
Comer bem ajuda a diminuir o estresse Sem rotina para refeições, exercícios físicos e muito sono, fica difícil espantar o mau humor e o desânimo Daira Gomes
C
om a correria do dia a dia, as pessoas estão cada vez mais sedentárias e em busca de praticidade na hora de se alimentar. Muitas optam por algo mais rápido, mais acessível, mais gorduroso. Mas passar o dia todo fora de casa não serve de desculpa para uma refeição errada. E nem de justificativa para o dia se transformar em um estresse total. Viviane de Santana, 24, fiscal sanitarista da prefeitura de Balneário Piçarras, faz todas as refeições na hora certa. “Durante a correria, meu organismo avisa o horário para comer”, conta. Quando tem tempo ela escolhe uma fruta para levar ao trabalho. Segundo a nutricionista Ana Ta-
vares, atividades estressantes aliadas a hábitos alimentares errados podem contribuir para o aparecimento de doenças. Ao contrário, evitar gorduras e açúcares e ingerir “frutas, verduras e legumes, arroz e feijão, peixes de águas profundas, como salmão, sardinha e arenque, os cereais integrais, como a aveia, a linhaça, o centeio e o germe de trigo, são grandes aliados no combate ao estresse”. E aqui vale destacar que outras práticas saudáveis, como uma rotina de esportes ou uma simples caminhada, juntamente com uma boa noite de sono, também são ótimas estratégias para manter o equilíbrio do organismo e diminuir o estresse.
Muito diferente do que acontece com Maria Sônia Borges, 38, que trabalha com realização de eventos e come muito mal. “Costumo trocar o café pelo almoço. É muito raro eu acordar e saborear uma fruta com um suco no café da manhã”. E as demais refeições seguem a mesma sequência errada. O resultado: “Meu trabalho é muito corrido, passo o dia estressada por não ter uma boa alimentação”.
Uma boa dica
Ter uma fruta na bolsa ou na mochila, uma barrinha de cereal no carro ou na gaveta da mesa no escritório é sempre uma boa. E para quem precisa almoçar em restaurante, a dica é optar pelas
preparações mais saudáveis. “Na hora de montar o prato, comece pela salada, lembrando que quanto mais colorido, melhor, pois cada cor representa um nutriente específico e importante ao organismo. Preparar um sanduíche natural com verduras, queijo branco e peito de peru para comer no trabalho, torna-se uma opção melhor para quem vive na correria”, sugere a nutricionista Ana. A mudança de hábitos nem sempre é uma tarefa fácil, mas com disciplina e deter-
minação, tudo é possível. Pequenas escolhas podem fazer toda a diferença.
de anco
ens
imag
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Obesidade infantil assusta Karine Nunes
F
rutas, sucos naturais, leite, pudim, pães... Estes são alguns dos itens que compõem o cardápio do café da manhã servido às crianças na Creche Adélia Russi, em Itajaí. Os alunos sentam-se à mesa logo após a chegada, as 8h30. No total são quatro refeições que a creche oferece, em nenhuma delas os produtos industrializados vão a mesa. A segunda refeição é o almoço, às 11h: são servidos pratos salgados - peixes, saladas, sopas, arroz, feijão, verduras refogadas, sempre acompanhados de suco ou água. No período vespertino, as outras duas refeições são o lanche da tarde e a chamada janta, que vai à mesa às 16h30. A nutricionista Priscila de Oliveira Schroeder esclarece que, nos cardápios, frituras e refrigerantes são diariamente substituídos por frutas e verduras. Cada vez mais os programas de saúde têm ganhado espaço. Nas creches de Itajaí não é diferente, cerca de dez anos atrás todas as escolas municipais da cidade eram supervisionadas por apenas uma nutricionista. Hoje a cidade está dividida em polos para desenvolvimento de um trabalho mais minucioso. Cada um desses polos é acompanhado por uma nutricionista, que além de desenvolverem os cardápios, fiscalizam nas
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escolas o cumprimento do menu. De acordo com profissionais da área da saúde, os cuidados já na infância com a obesidade são de extrema importância. A nutricionista Cristina Matos explica que a má alimentação das crianças pode acarretar o aparecimento precoce de doenças crônicas como a hipertensão arterial, diabetes, além de um problema de autoestima e convívio social. De acordo com Ariane Cardozo, que trabalha para a empresa fornecedora de frutas e verduras para as escolas de Itajaí, a compra destes alimentos cresceu bastante nos últimos anos. “As nutricionistas entram em contato com nossa empresa, verificam quais as frutas e verduras da época, depois nos encaminham os pedidos, elas fazem esse contato anterior para que nenhuma mercadoria do cardápio deixe de ser entregue”. Ariane conta que as crianças tem como sobremesa todos os dias um tipo de fruta. No fim de 2011, a Secretaria de Educação do município de Itajaí em parceria com o Sindicado da Pesca desenvolveu em todas as creches da cidade um programa chamado “Filho de peixe, Peixinho é”. O programa tinha como finalidade ressaltar a importância da pesca para o município, mos-
trar como o pescado é saudável, como pode trazer benefícios e muito mais do que isso, implantar nos cardápios escolares o peixe, que até então não fazia parte. O programa foi um sucesso, desde os últimos meses do ano passado e até agora o peixe é servido para as crianças pelo menos duas vezes na semana. O cuidado das profissionais nas creches nem sempre surte resultados. Há casos mais graves, em que a criança precisa de acompanhamento individual. Às vezes, até mesmo de um médico pediatra. Hoje no município de Itajaí, profissionais da educação e saúde estão trabalhando em parceria, a fim de desenvolver um trabalho cada vez mais qualificado. Daniela Santos, coordenadora do programa Saúde nas Creches, que atende o município, conta que as profissionais que estão dentro dos centros educacionais têm, além do dever de acompanhar e fiscalizar, procurar a secretaria de educação do município caso detectem um caso mais grave de crianças com problemas de peso. Daniela explica que, na secretaria, existe uma profissional para conversar com essa criança e com os pais, instruindo sobre todos os problemas que a má alimentação pode acarretar. “Há casos em que precisamos encaminhar Cobaia
essas crianças ao pediatra”, conta a coordenadora. A nutricionista Priscila de Oliveira diz que, para atender as necessidades dos educandos, as nutricionistas se baseiam na orientação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Esse material que hoje serve de guia para sas profissionais dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE. Dona Luzia Silvestre, mãe de Ana Julia, aluna da creche Adélia Russi, conta que aprova os trabalhos contra a obesidade infantil que estão sendo desenvolvidos no centro educacional, “Acho importante o cuidado já nesta idade, mas também sei que tenho que dar o exemplo em casa, nem sempre é fácil.” Dona Luiza diz que a falta de tempo é inimiga da boa alimentação, que às vezes chega em casa tão cansada do trabalho que não
sente vontade de preparar algo mais saudável para o jantar e acaba apelando para os produtos congelados. A obesidade infantil é considerada hoje uma epidemia em todo o mundo. Os números preocupam. O índice de obesidade infantil brasileiro está se igualando ao registrado nos Estados Unidos, onde 15% das crianças e adolescentes estão obesos. A conclusão é resultado de uma pesquisa feita pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Uerj, que mostra que três em cada dez crianças estão acima do peso. Entre as meninas, o porcentual de obesidade foi menor, de 8,4%.
Itajaí, maio de 2013
Economia
Comércio popular: (quase) tudo por 10 reais Para incentivar o consumo, lojas de Indaial vendem mercadorias a preços baixos Maria Cecília Largura Maria Cecília Largura
Mercado do segmento popular se divide entre pontos de venda no varejo e endereços que só atendem no atacado, suprindo lojistas de menor porte
D
ez reais. O que dá para fazer com dez reais hoje? O que você faria com esse dinheiro? Poderia comprar comida, bebida ou até coisas supérfluas, daquelas que se compra na empolgação. Pode parecer pouco, mas é possível comprar muita coisa com essa quantia, inclusive roupas e calçados. Há três anos as lojas que vendem tudo, ou quase tudo, a dez reais vêm se destacando no comércio de Indaial, SC. Em 2010, foi aberta a primeira loja e, depois dela, vieram mais cinco. Os empresários Bruno Affonso da Silva, 28 anos, e sua mulher, Jaqueline da Rocha, 26 anos, começaram no ramo do comércio há oito anos. No início atendiam apenas clientes lojistas em um pequeno escritório de representação. Esses clientes compravam as roupas para então, revendê-las a um preço único em diversas cidades do estado. Foi então que tiveram a ideia de montar uma loja para vender suas peças, também a preço único, a partir daí surgiu o Atacadão do 10. Ao ver que seu negócio tinha dado certo, Bruno e Jaqueline resolveram expandir, depois de se estruturarem, abriram mais duas lojas. Nas três eles vendem produtos no sistema de varejo, para o público em geral poder comprar. E em uma delas a venda é no atacado, em que as peças são vendidas em grandes quantidades, geralmente para lojistas que depois revendem a mercadoria. Itajaí, maio de 2013
Seguindo esse mesmo esquema de vendas a preço único, Luiz Correia, 45 anos, que fornecia peças para Bruno, sempre teve curiosidade em saber como estava o mercado, como funcionava o esquema da loja, até que decidiu abrir a sua própria loja de dez reais. “Vi que a dele (Bruno) deu certo e como ainda tinha mercado aqui em Indaial, decidi investir. Tem dado certo”, afirma. Apesar do nome, as lojas não vendem os produtos apenas
por dez reais. Os preços são baixos, mas muitas vezes variam de acordo com diversos fatores. Jaqueline conta, por exemplo, que o algodão teve um aumento de 22% no último mês, então a margem de lucro passou a ficar muito baixa, o que fez com que os preços subissem. Se no começo, lá em 2010, quando as lojas de dez reais surgiram, só a classe média/ baixa comprava, hoje, 20% das vendas vão para a classe alta.
Bruno diz que as vendas para as pessoas mais favorecidas aumentam geralmente nas festas de final de ano. “Os chefes vêm comprar presentes para os funcionários e até para a própria família”, afirma. Os produtos variam: linhas bebê, juvenil, masculina, feminina, acessórios, além de calçados e artigos para a casa. Tudo é comprado de diversos fornecedores, optando sempre pelo melhor preço sem esquecer a Maria Cecília Largura
Sem preconceito: lojas recebem consumidores de todas as faixas de poder aquisitivo Cobaia
qualidade dos produtos. Ariel Leonardo Peixe, 20 anos, não gosta muito de comprar presentes. Mas, quando precisa comprar alguma coisa, vai às lojas de dez reais. Ele diz que as peças são praticamente iguais às compradas em outras lojas. “Quando tenho que comprar presente, principalmente pra minha mãe, venho aqui. Além do preço ser ótimo, as atendentes ainda me ajudam a escolher o que levar para ela”, conta. Se alguns acham prático e barato comprar as peças de dez reais, outras pessoas não pensam da mesma maneira. À procura de qualidade e muitas vezes exclusividade nas roupas, os consumidores mais exigentes dizem que apenas as peças das grandes marcas podem lhes proporcionar isso. Carla Schulz Jansen, 23 anos, nunca foi a uma loja de preço único, ela compra suas roupas no shopping e em lojas exclusivas. “Eu prefiro investir em algo mais caro, mas, que dure por um bom tempo”, afirma. Ela diz ainda que não abre mão do conforto que só essas roupas proporcionam. As lojas de dez reais podem ser uma saída para quem está com orçamento apertado e não liga para roupas e acessórios que não sejam de marcas famosas. Optando pelas lojas mais baratas ou as de preços mais altos, o que pode se levar em conta é que quanto mais lojas, maior a diversidade e melhores são as opções para todos os bolsos e gostos.
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Diversão
Nostalgia dá tom à vida noturna na região A inspiração em décadas passadas está na decoração, no cardápio e na trilha sonora Maycon da Silva
S
empre há quem lamente o que considera o fim dos bons e velhos tempos vividos em décadas passadas. “Tempos de ouro”, no Rádio, na TV e nas ruas de todo o país. Época da brilhantina no cabelo, dos vestidos de poás, das jaquetas de couro e das calças blue jeans. Essas lembranças jamais serão esquecidas, se depender dos que vêm trabalhando na reedição de festas inspiradas no passado. Bares e restaurantes também vêm aderindo ao tema na decoração e na trilha sonora. “Baturité, a Festa”, realizada há pouco em um luxuoso hotel na praia do Estaleiro, em Balneário Camboriú, é um exemplo dessa onda nostálgica e trouxe à memória hits dos anos 80, 90, 2000. A casa noturna Baturité se consagrou no Sul do país e elevou com ela o nome da cidade, ajudando a apelidá-la de Ibiza Brasileira. Quem acima dos 30 não frequentou uma das suas famosas festas a fantasia, com certeza ouviu falar nelas. “Noites mágicas e inesquecíveis. Essa frase traduz bem a época em que o Baturité era o responsável pelo entretenimento em Balneário Camboriú. A união da nossa linda orla, belos frequentadores e música de qualidade era sinônimo de alegria. Tal combinação
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atraía turistas de todos os estados do país e várias faixas etárias”, lembra a caçadora de nostalgia e jornalista Sílvia Rampon.
Alô, som...
Outra forma de saudosismo se manifesta na retomada do Karaokê. Inventado nos anos 40, se espalhou do Japão para o resto do mundo, e hoje tem lugar reservado em festas e bares, como é o caso do TAJ Bar, endereço de descontração dos descolados em Balneário Camboriú e região. O Taj oferece aos seus frequentadores menu e decoração indo-asiáticos. Com frequência varia suas line up (lista de DJs) e os DJ’s convidados trazem sempre uma relação de músicas nas mais diversas vertentes do house. Porém, a competição entre os usuários do karaokê mantém características idênticas às competições do resto do mundo, com prêmios singulares. Como cada desempenho é único, o troféu deve acompanhar e ser digno de cada apresentação: caixas de fósforo e jarros em forma de fruta são distribuídos aos aspirantes a cantor, como prêmio de consolação pela atuação ao microfone. Grandes nomes da música, no entanto, podem ser inspiradores a ponto de revelar gratas surpresas. É o caso do desem-
penho da primeira campeã do jogo, a jornalista Sílvia Rampon que, ao interpretar Elis Regina, emocionou os presentes e voltará a competir em outras fases do projeto. O restaurante Recanto da Sereia, à beira da praia, em Itapema, tem um bar com direito a radiola de fichas, bombas de gasolina e uma lambreta para dar o clima retrô ao lugar, que conta ainda com iluminação e música ambiente dos tempos da brilhantina. Garçonete “pin up”, ladrilhos em preto e branco, cardápio personalizado e músicas no estilo Elvis de ser e viver, o Ooby Dooby Rock Café, na Avenida Atlântica, em Balneário Camboriú, era um dos mais procurados quando se tratava de rock and roll de alto nível direto dos anos 60, 80 e 90. A lanchonete e bar há pouco deixou de existir, mas seu site continua na rede. O que chama a atenção nele é a forma como os links são apresentados (claro, por pin up’s), na capa uma caricatura de Elvis tocando sua habitual guitarra. Ao passar o mouse sobre ele, abre-se uma radiola na qual você tem a opção de escolher sua música. Ainda em Balneário Camboriú, o “Das Antiga” vem movimentando as noites da city há três anos. O bar já se tornou ponto de encontro dos mais diversos nichos, dos filhos de Jah ao estilo Elvis. Oferece comida de boteco, carta de vinhos e petiscos caiçaras. Com isso vem se destacando e se firmando. Mesmo sem música ao vivo, devido à área em que se localiza não permitir, “os habitués dizem que o clima cool e nostálgico aliado à vibe da galera que frequenta é o que o torna diferente e procurado”, afirma o sócio proprietário Marcio Oliveira. O “Túnel do Tempo” é outro endereço em Itajaí que vem mostrando que o que é bom não pode ficar esquecido. Apesar do pouco espaço, o bar ampara os fãs da era do disco, acomodando-os em mesas para quatro pessoas, plotadas com fotos dos antigos ídolos. O destaque são os músicos que se apresentam ao vivo. A plateia aplaude de pé os flashbacks. Cobaia
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Bares apostam em karaokês como estratégia de descontração Divulgação
Estabelecimentos conquistam simpatia do público com clima retrô
Itajaí, maio de 2013
Internet
Pequenos online precisam de atenção Crianças usam a internet para estudar ou se divertir. Pais devem estar atentos às armadilhas da rede Lucas Coppi
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ma grande rede de computadores interligados. Esse é um dos significados da famosa internet, que nos permite ficar horas navegando entre as milhões de páginas espalhadas por todos os quatro cantos do mundo, seja com pesquisas, jogos, ou mesmo para mandar um e-mail para um parente ou amigo que mora longe. Tendo um papel cada vez mais importante na sociedade, a internet está presente na rotina de pessoas de todas as cores, raças, classes sociais e faixa etária. Inclusive das crianças. Brincar de pega-pega, peão, correr no parque ou descer no escorregador, já foram as principais brincadeiras entre os pequenos. Mas estes pequenos hoje já passaram dos 30 anos. O mundo moderno faz com que as atuais gerações tenham mais interesse pela tecnologia, por um computador potente e com internet rápida. Por uma conversa com um amigo que nunca conheceu, ou ainda por se transformar no personagem do jogo preferido. Na maioria das vezes, é necessário entender o ambiente em que a criança vive para saber do seu fascínio pelo mundo virtual. A influência dos amigos, do pai, mãe e da escola são muito importantes, principalmente para que elas aprendam a navegar, tendo discernimento para escolher as páginas em que devem passar o tempo.
simplesmente por sair da realidade dela. Um primeiro passo para entendermos o papel da Internet na vida das crianças é procurarmos conhecer suas práticas culturais cotidianas, inclusive o consumo de mídias de modo em geral”.
Na escola
Desde pequenos, os alunos do Colégio de Aplicação da Univali (CAU) podem usufruir de um laboratório de informática com acesso à internet. Semanalmente, os professores levam seus alunos ao espaço para que possam ter conhecimento e noções básicas de informática. “A internet é uma fonte de pesquisa e aprendizado, para os alunos de seis, sete anos que estão se alfabetizando é um modo diferenciado de aprender”, comenta a professora Luciana da Silva Pereira. A diretora do C A U, Arlete Steil
Kumm, explica que a presença da internet e suas possibilidades em sala de aula são de extrema importância. “A educação hoje está moderna e as crianças precisam aprender esse novo meio de pesquisa, a internet hoje é um instrumento para a aprendiz a g e m” , comenta. “Se desd e pe-
Considerações
A jornalista e mestre em educação Gilka Girardello destaca em sua pesquisa “Produção Cultural Infantil Diante da Tela” vários aspectos e estudos sobre as crianças e essas novas mídias. Ela escreve que “a discussão é sempre a busca de entender melhor os processos imaginativos que podem ocorrer quando as crianças pequenas, particularmente entre os quatro e seis anos de idade, brincam na Internet”, relatando sobre o porquê as crianças se envolvem tanto nesse meio. Ainda segundo Gilka, “em todos os sistemas, a criança encontra narrativas que estimulam de modo diverso seus processos de identificação, e em cada um deles ela vai sendo interpelada de modo diferente. A cultura das mídias, porém, assume um papel cada vez mais importante nesse processo, até porque ela permeia as demais situações familiares, escolares e sociais, por onde a criança transita, por isso o mundo virtual chama tanto a atenção, por exemplificar algo que aconteceu em casa, ou Itajaí, maio de 2013
Banco de imagens
Cobaia
queno ele tiver acesso e for orientado, logo ele saberá usar o meio da melhor forma possível. Algumas ainda não têm (internet) em casa, e nada melhor que ela ter essa nova experiência no local onde ela deve aprender, na escola”, afirma Arlete.
O jogo no recreio
Diariamente, às 16h, começa o recreio dos alunos do colégio. Eles correm até o terceiro andar do prédio para passar os vinte minutos do intervalo no laboratório. Bryan Pereira, de oito anos, já tem seu jogo preferido. “Ben 10 é o que eu mais gosto, tem várias fases e até já sei certinho o site pra jogar”. Ele até tem dicas de sites para jogos online. “Tem um monte de sites legais, todo mundo joga, até o meu pai, é só colocar no Google”, disse. Com a mesma idade, mas pensamento diferente, Victor Yacono usa a internet para fazer pesquisa e mandar e-mails. “Gosto de jogar, mas em casa, aqui prefiro fazer minhas tarefas e pesquisas. Aproveito também para mandar e-mail para meus amigos da sala”.
Pai, filho e rede social
Há quase quatro anos, Victor Berlinck Von Gilsa, de apenas sete anos, usa a internet para procurar jogos online e vídeos. “Gosto muito de usar a internet, para jogar e ver vídeos de motos, carros e desenhos”. O pai, o consultor Yalli Rauber Von Gilsa, é o exemplo para o filho e explica como ele entrou para o mundo das redes sociais. “Ele começou no Orkut para postar as fotos dele e ver dos amigos, primos e parentes, mas depois ele descobriu o Facebook, que eu e a mãe dele temos, e agora não larga mais”. Apesar de Victor mostrar independência na frente do computador, Yalli diz que sempre monitora o filho nesse momento. “Mesmo que ele saiba ler tudo e acessar várias páginas, sinto que ele ainda não pode ficar à frente da internet sozinho, onde muitas armadilhas podem aparecer. Não só pela segurança dele, mas como de vírus que podem estragar o computador, além de pedofilia e pornografia”, comenta. Ele conta também que notou uma certa diferença no comportamento de Victor. “Ele vê algo diferente em um site e pede para comprar, pois na internet a criança fica muito vulnerável às propagandas exibidas, começa a virar um novo consumidor”. Comparando sua infância com a de Victor, Yalii diz que “fica receoso e refém dessa modernidade, mas é interessante porque a informação corre com mais rapidez e isso torna as nossas crianças e gerações futuras mais preparadas e prontas para enfrentar essa realidade que se impõe”. Apesar de gostar e aprovar as redes sociais, pode se perder muita coisa. “Perdemos definitivamente o calor humano e a construção das relações no seu devido tempo. Tudo é muito objetivo, direto e volátil, mudando o tempo todo. Ganhamos em possibilidades, mas perdemos em intensidade. No meu tempo eu mal jogava vídeo game, mas subia em árvores, andava de bicicleta, andava descalço e ia para a escola a pé. Passava tardes brincando e construindo relações com amigos que perduram até hoje. Atualmente, vejo muita frieza”, aponta o consultor. A internet tem, sim, seus lados bons e ruins. Com ela podem ser feitas pesquisas e viagens pelo mundo todo, contato com as pessoas distantes. Aproxima e, ao mesmo tempo, deixa as pessoas longe umas das outras. No entanto, nos deixa perto de um mundo diferente, o mundo virtual.
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Esporte
Patrianova: esperança de medalha em 2016 Atleta nascido em Itajaí ganha o mundo jogando handebol, cala a crítica e mantém humildade Paulo Alves Divulgação
Aos 19 anos, Arthur Malburg Patrianova vem se consagrando com performances surpreendentes para o seu biotipo
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m dois meses, tudo mudou. Do anonimato para a fama. Da desconfiança pela pouca idade, para a confirmação. Um dia foi taxado como uma promessa, hoje é o principal nome do Brasil para as Olimpíadas de 2016. Com apenas 19 anos de idade, parece não acreditar em como tudo aconteceu tão rápido. Patrianova, o sobrenome que hoje aparece na camisa da seleção, virou nome. Virou apelido também, Pátria. Quem vê de longe acha que foi fácil chegar à seleção brasileira de handebol adulto. Não foi, nem um pouco. Precisou de uma chance e aproveitou muito bem. O dia era 29 de novembro de 2012, dia da primeira final da Liga Nacional de Handebol, (principal campeonato da categoria no país). Pinheiros e Metodista se enfrentavam em São Paulo. Patrianova começou a partida no banco de reservas. O time estava jogando mal, até ele entrar em quadra e aproveitar a chance que teve. Sorte do Pinheiros que venceu por 27 x 24, com 5 gols dele. No segundo jogo da final, mais três gols e além do título nacional,
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teve como prêmio a convocação para a seleção principal de handebol. As críticas caíram sobre a comissão técnica: “Por que chamar um garoto?”. Calou os críticos. O ótimo desempenho em amistosos contra a Coreia do Sul o fez estar na lista dos convocados para o Mundial da Espanha em janeiro de 2013. A fala lenta mostra um garoto que pensa muito bem antes de responder cada pergunta. Nada comparado ao jeito dentro de quadra. Rápido e vibrante, no máximo dos seus 1,94 metro de altura, Arthur não teme os marcadores com mais de 2 metros, comuns no handebol. No mundial em janeiro, foi um dos principais nomes do Brasil, na melhor campanha da história da seleção (Brasil ficou em 13º Lugar). Despertou o interesse de vários clubes europeus. Pode se tornar o jogador de handebol mais jovem da história do Brasil a se transferir para a Europa. Mas isso tudo não parece tirar a humildade do garoto, que se lembra das origens de um jeito especial. Começou a jogar aos 11 de idade em Itajaí – SC, nos campeonatos
entre colégios. Era baixo, com braços finos, mas chamava a atenção pela habilidade e velocidade. Não demorou a despertar interesse dos técnicos da FME. Ganhou bolsa de estudos em um dos principais colégios da cidade e representava Itajaí em competições Brasil afora. A cada ano que passava, ficava mais alto, mais habilidoso e mais forte. Com dezesseis anos de idade foi convocado pela primeira vez para as categorias de base da seleção brasileira, até que foi convidado para jogar em São Paulo. Não pensou duas vezes, a maior cidade do Brasil foi o destino de um garoto que buscava um sonho. O Esporte Clube Pinheiros foi o lugar que Arthur escolheu para conquistar esse sonho. Sonho que se concretizou. Arthur Malburg Patrianova é apontado por muitos como o Neymar do Handebol, sem os milhões de reais, claro. O ano de 2013 começou muito bem para o garoto de Itajaí que ficou conhecido em todo o mundo do handebol. A ideia é de renovar a seleção brasileira para as Olimpíadas do Rio em 2016 e Patrianova é o principal nome para isso. Cobaia
Fã Clube
Desde que começou a ser convocado para a seleção brasileira de handebol, Arthur ganhou vários fãs ao redor do País e do mundo. Uma fã inclusive criou uma página no facebook para ele, que tem quase duas mil curtidas (1986 likes – dados de 12-04). A fã procura sempre informar aos seguidores onde o atleta está, se é na Europa em uma sequências de amistosos com a seleção brasileira, ou se é no Brasil, no clube onde joga. A página tem várias fotos do craque jogando e ainda sorteia camisas dele de vez em quando. Divulgação
Alegria, alegria: com ele, melhor campanha da história
Itajaí, maio de 2013
História
Barra Velha inventaria patrimônio cultural Em fase de mapeamento, ação promove exposições a curto prazo e futura instalação de museu histórico Paula Silva
Paula Silva
Deborah, autora do hino local, vai colaborar com censo da Cultura
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preservação de objetos e costumes representa a manutenção de uma identidade, seja individual ou coletiva. O resgate do patrimônio cultural de um lugar ajuda-nos a compreender como moradores viviam em determinadas épocas. Estar em contato com a história é de extrema importância para que possamos perceber suas transformações e permanências. Objetos como um pilão, um ferro a brasa, um televisor antigo, um moedor de carne, redes de pesca, embarcações, enfim, tudo isso pode representar um tempo, uma cultura e pessoas, explica o historiador Juliano Bernardes, Diretor de Cultura da Fundação Municipal de Turismo, Esporte e Cultura de Barra Velha. A FUMTEC iniciou, no começo de abril, um inventário do patrimônio cultural do município. Este inventário tem por objetivo final a criação de um Museu para a cidade, assim como promover exposições com os objetos. A equipe está em fase de mapeamento, entregando aos moradores um formulário. As famílias devem assinar se permitem ou não que seus bens sejam expostos, se pretendem Itajaí, maio de 2013
doá-los ou aceitam registrá-los, explica Juliano. Serão levados em conta bens materiais e imateriais. Os moradores devem identificar objetos, edificações, locais históricos e/ ou benzimentos, rituais, cantorias, danças, histórias diversas, entre outros. Por enquanto os materiais devem permanecer com seus moradores. Entretanto, há um acervo digital com registros de fotos, vídeos e áudios dos objetos já localizados. Deborah de Paula Júlio, natural de São Paulo, moradora há 37 anos em Barra Velha, será uma colaboradora para o patrimônio cultural do município. Por volta de 1976 compôs o hino da cidade, que é tocado em eventos oficiais e escolas até hoje. Quando veio morar em Barra Velha, Deborah ficou encantada, “aqui era um verdadeiro paraíso, era encantador. Tinha dias que a faixa de areia era imensa, era algo maravilhoso. A minha casa foi a primeira a ser construída aqui nesse morro e era lindo, com a mata atlântica em volta e muitos pássaros. Lembro que eu costumava sair com meu marido aos domingos para passear. Em um domingo muito lindo, admirando a pai-
Paula Silva
sagem no morro do Cristo, falei pra ele: eu vou fazer um hino para Barra Velha.” Outra contribuição será uma cruz com Jesus Cristo crucificado, que foi esculpida a canivete em 1912. A cruz pertencia à antiga igreja Matriz Divino Espírito Santo, construída em 1910 e demolida em 1968, no local outras duas igrejas foram construídas. Com a primeira destruição, muitos santos, castiçais e outras relíquias foram jogados no lixo. Algumas pessoas recolheram os objetos e tem guardados em suas casas até hoje, afirma D. Donília Bernardes Borba, que mora ao lado da igreja, em uma casa construída em 1921 e que sofreu poucas alterações desde sua primeira construção. A cruz está guardada no salão paroquial e será doada como contribuição para o patrimônio cultural da cidade. A iniciativa do inventário veio depois que o Diretor de Cultura da FUMTEC, Juliano Bernardes e a assessora da Fundação, Juralice Rodrigues, participaram da Capacitação Museológica – Sustentabilidade dos Museus, realizada pela Fundação Catarinense de Cultura e Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte, realizada na cidade de Lages com a participação de diversos municípios.
1º Seminário de cultura de Barra Velha
“Olhares sobre o ontem e os desafios do porvir na Cultura de Barra Velha”. Com esse tema a comunidade local vem reunindo segmentos interessados em preservar o patrimônio cultural do município. Em abril, realizou-se um seminário em que palestrantes professores, historiadores e pesquisadores abordaram aspectos da história local. Foram mencionados, entre outros temas, a existência de sambaquis, as populações indígenas, a ocupação europeia, o antigo cemitério desativado na década de 20 e a Festa do Divino, principal celebração folclórico-religiosa de Barra Velha. O seminário contou com apresentações do Grupo Folclórico Municipal Alma Açoriana, do Boi de Mamão Mestre João e Pedro Inácio, Terno de Reis Mensageiros da Paz. Também acolheu a Bandeira do Divino, o Casal Imperial de 2013 e seus foliões. Dezenas de pessoas participaram do evento, entre as quais alunos do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) e da Escola de Educação Básica Conselheiro Astrogildo Odon de Aguiar. Cobaia
Esculpida a canivete em 1912 , a cruz também foi inventariada Paula Silva
A bandeira do Divino é acompanhada de apresentação musical Paula Silva
Seminário teve boa aceitação do público
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Diversão
Itajaí oferece lazer para toda a família Perfil sobre o Parque Ecológico destaca as sensações de quem frequenta o espaço Karine Mendonça
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clima é de um parque de diversões. O moço do algodão doce faz brilhar os olhos de um pequenino de cabelos cor de avelã que salta do balanço e corre para o carrinho: — Por favor, pai, por favor! Eu sempre quis um desse azul. O pai não cede. O jovenzinho, que não deve ter mais que cinco anos, volta aos brinquedos com a cara emburrada e com os bracinhos firmes ao lado do corpo, como um soldado pronto para o combate. A birra não resiste à primeira deslizada no escorregador de madeira. Com um frio na barriga, ele abre um sorriso e acena para o homem que lhe observa de longe, sentado na mureta de pedras. Empoleirada num labirinto de ferro pintado de azul, uma menina prende as pernas em uma das barras e solta o corpo. De cabeça para baixo, a blusa cor-de-rosa escorregalhe até o peito, evidenciando o umbigo proeminente. Com os cabelos soltos batendo-lhe no meio das costas e os pés descalços, sujos de terra, ela avança para mais uma aventura. As mãos seguram com firmeza uma barra de ferro, presa por duas correntes a uma trave de madeira, e
Karine Mendonça
Um largo gramado para empinar pipas atrai as crianças Karine Mendonça
Desde 1996, o Parque Ecológico de Itajaí convida a comunidade para um passeio em meio à natureza
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Cobaia
as plantas dos pés reforçam a sustentação. Em posição fetal, com as pernas junto ao peito, a menina se balança no ar de cabeça para baixo. O chão vira teto, as pessoas pisam o céu e as nuvens, brancas como algodão, ficam a um toque das mãos. Parece um conto de fadas e, se não fosse pela tontura que a fantasia lhe causa, a menina ficaria eternamente no embalo da imaginação. Do lado oposto ao parquinho, observa-se, em meio ao mato que há muito não é roçado, um casal trocando carícias à margem do rio Itajaí-Mirim. Alguns pequeninos se arriscam a molhar os pés na água barrenta. Outros, apenas jogam pedrinhas a uma distância segura. Cenas semelhantes a essa se repetem desde a tarde do dia 21 de setembro de 1996, quando foi inagurado o Parque Ecológico do São João. O espaço foi batizado como Alessandro Weiss somente três anos mais tarde. Alessandro era piloto itajaiense da Fórmula Stock Car, um campeonato de carros populares lançado em 1979 no Brasil. Ele teve a vida interrompida, bem como o sonho de disputar campeonatos europeus de automobilismo, ao
colidir em um poste na rodovia Jorge Lacerda, próximo a Ilhota, em sete de setembro de 1999, a poucos dias de completar 30 anos. Enquanto o sol ainda brilha forte e ilumina a foto de Alessandro encravada em uma pedra no meio do Parque, é possível desfrutar do espaço público à sinfonia dos pássaros, sentir o vento que bagunça os cabelos de quem, despreocupadamente, admira a natureza. Às margens do Itajaí-Mirim, o Parque Ecológico faz um convite às brincadeiras de criança. No gramado verdinho, os pequeninos brincam de balanço, escorregador, roda-roda, empinam pipa e arriscam um pega-pega. Por uma trilha ecológica, por vezes mal roçada e com mato batendo nas canelas, os visitantes vislumbram a vegetação de Mata Atlântica e o curso do rio. À medida que o céu enegrece, eleva-se ao ar que outrora exalava a fragrância da natureza, um cheiro de fumo queimado. Homens com os olhos semicerrados e testas encrespadas encaram os passantes na ausência de vigilantes no local. Atenção crianças, é hora de voltar para casa. Karine Mendonça
O nome homenageia o falecido piloto itajaiense de Stock Car
Itajaí, maio de 2013