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Cobaia
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, dezembro de 2012 Edição 118 - ESPECIAL DE NATAL Distribuição Gratuita
Editorial
Solidariedade
Jane Cardozo da Silveira*
As luzes que despertam um amanhã solidário Ana Maria Cordeiro e Gabriela Florêncio* O Natal é uma época mágica. No mês de dezembro os lugares ganham um colorido especial: árvores decoradas, luzes, presépios, Papai Noel. Tudo parece surgir da noite para o dia. Ambientes se transformam, os sentimentos se misturam, e o espírito natalino faz o amor ao próximo aflorar com mais força. Assim como qualquer outro sentimento é difícil definir a solidariedade. Ela se manifesta em pequenos gestos: é um olhar, um sorriso, uma atenção, é a esperança que une todos esses gestos de ajuda ao próximo em busca de um mundo que seja mais alegre e melhor para viver. O trabalho da Pastoral O Natal é a época em que muitas iniciativas solidárias surgem, independentemente de credo ou condição financeira. A Pastoral da Criança é um grupo mundial, ecumênico, que trabalha em favor de um desenvolvimento integral das crianças carentes, buscando melhorar a qualidade de vida das famílias. O trabalho é voluntário e contínuo, as crianças são atendidas desde a concepção até os seis anos de idade. A Pastoral da Criança está presente no município de Porto Belo há sete anos. Os trabalhos se desenvolvem na comunidade do Jardim Dourado, no bairro Perequê. Atualmente, existem 15 grávidas que estão sendo acompanhadas desde o início da gestação e 60 crianças cadastradas. O projeto funciona há 25 anos e já alcançou 19 países. Os voluntários visitam as casas, acompanham a rotina das famílias e, mensalmente, reúnem as crianças cadastradas junto com as mães na sede da pastoral. Maria Malvina Giraldi, Coordenadora da Pastoral da Criança da área norte de SC, diz que esse encontro, chamado de celebração da vida, é um momento de aprendizado, em que as mães recebem palestras e orientação espiritual. A equipe da Pastoral aproveita a oportunidade para pesar os pequenos. Durante a celebração as crianças são alimentadas. A comida passa longe das guloseimas: o foco é uma alimentação saudável, como sopas, arroz e feijão. No verão, por exemplo, servem salada de frutas. O cardápio só é alterado em datas especiais, como no Natal, por exemplo: “Mas, ainda vou pensar se vai ter refrigerante”, afirma a coordenadora. Maria deixa bem claro que a comemoração do Natal entre as pastorais é diferente: “Não há a figura do Papai Noel, queremos incentivar a valorização da família nessa data. Acho que o Papai Noel transformou o Natal em comércio e perdeu-se a espiritualidade”. Para a coordenadora, é importante que as pessoas aprendam a valorizar o Natal em família, muito mais que os presentes. Ela conta que, neste ano, uma doação muito importante foi feita pela Igreja Luterana, em forma de leite, um produto difícil de conseguir, pois
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necessita-se de grande quantidade. O leite será distribuído para todas as famílias cadastradas. É durante as visitas nas casas das crianças que os voluntários aproveitam para conhecer melhor as famílias. O trabalho da Pastoral é incessante. É focado também no futuro dessas crianças e não somente nas dificuldades por que passam atualmente. O grupo procura sanar dúvidas, levar informação e assistência para as famílias. A intenção é fazer a diferença na vida toda. A Pastoral luta, ainda, para diminuir o índice de mortalidade infantil, já que não basta fornecer o alimento, é preciso ensinar caminhos para uma vida saudável e abundante. “As mães, principalmente, já procuram a Pastoral quando precisam se orientar sobre a saúde.”
A festa de Zeni
Ser solidário independe do lugar e das condições em que se vive. É auxiliar o próximo sem diferenciar raça ou crença e, acima de tudo, sem esperar nada em troca. A enfermeira aposentada Zeni Domingos realiza o Natal para as crianças carentes no morro da Rua Itajubá, em Joinville. A área é resultado de ocupação e não tem infraestrutura. Marcas da violência e do tráfico de drogas começam a surgir na região, o que leva gente como Zeni a ajudar do jeito que pode: seja transportando alguém ao hospital ou doando comida. A profissão que escolheu dá pistas de que gosta de ajudar o próximo, já que ser enfermeiro exige, além de dedicação, gostar muito do contato com as pessoas. Ela mora no morro há mais de 20 anos e a proximidade do Natal proporciona um momento de alegria em uma data muito especial: “É sem-
Óbvio, mas nem tanto pre bom ver como as crianças ficam felizes com esse pequeno gesto” [a distribuição de presentes]. Para viabilizar a ação, Zeni conta com a ajuda de familiares, amigos e com pequenas contribuições dos médicos do hospital onde era enfermeira.
Responsabilidade social
O espírito solidário parte também da iniciativa privada. É o caso dos Correios que disponibilizam, há 23 anos, as cartas que recebem escritas por crianças, jovens e até adultos, para que sejam adotadas e tenham seus desejos realizados. Em 2010, a Campanha Papai Noel dos Correios foi vinculada a iniciativas da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento do Milênio. Inspirado por iniciativas como essa dos Correios, empresas de todo o Brasil voluntariam-se para cumprir uma responsabilidade social. No Hospital e Maternidade Santa Luiza, em Balneário Camboriú, o foco este ano são os filhos dos funcionários. Cada criança ganhou um padrinho escolhido entre a própria equipe do hospital. A coordenadora de Recursos Humanos do Santa Luiza, Fernanda Bastos Stringari, diz que crianças até 10 anos estão participando desse apadrinhamento: “É a segunda vez que executamos esse projeto. Ele é realizado pela nossa Comissão Interna de Prevenção a Acidentes, CIPA, que apoia causas sociais”. Inspiradas ou não pela magia do Natal, as pessoas aproveitam a data para realizar práticas solidárias. A época é de pensar no outro e querer que todo mundo tenha um Natal especial.
Um caderno especial de Natal para encerrar o ano? Parece uma opção óbvia demais para um jornal-laboratório. E é. Mas é surpreendente perceber o quanto nos envolvemos com essa data sem nos darmos conta de seu real significado. Em meio à correria do fim de ano, diante da perspectiva da temporada de verão, ávidos por inaugurar um novo ano, quem sabe melhor, muitos dos que professam a fé cristã acabam restringindo o Natal a uma confraternização familiar em que se trocam presentes, em lugar de tratá-lo como a celebração de um nascimento, a festa da natividade em cujo centro deve estar, é claro, o aniversariante. Uma passada rápida pelas ruas de qualquer cidade e já se percebe por que o carpinteiro de Nazaré e a sua Maria tiveram dificuldades para encontrar um lugarzinho lá em Belém da Judeia. Também aqui, entre nós, é preciso procurar com cuidado até achá-los – e ao Menino recém nascido. Bem mais fácil é localizar o Papai Noel em suas roupas nada discretas a atiçar os transeuntes com ofertas especiais. Não que o “bom velhinho” seja desagradável. Não é isso. Mas convém observar em que medida, de ano em ano, a figura dele vem se sobrepondo à do verdadeiro motivador da celebração.
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Muitos acabam restringindo o Natal a uma confraternização familiar em que se trocam presentes, em lugar de tratá-lo como a celebração de um nascimento, a festa da natividade em cujo centro deve estar, é claro, o aniversariante.
Está aí uma preocupação presente neste caderno, elaborado pelos acadêmicos do 6º período na disciplina de Reportagem Especial. Nossa intenção ao propormos a pauta era a de apresentar o Natal sob ângulos menos convencionais, desvendando seus sentidos, sua mágica. Como quem abre um grande baú e de lá vai tirando as peças mais inusitadas – bolinhas de gude, carretéis, soldadinhos de chumbo, bonecas de pano, carrinhos aos quais faltam as rodas, ... Pedaços de infância, cheiro de doce seco recém saído do forno, presépios, ninhos, cigarras, ternos de reis. Não sei se conseguimos traduzir tudo isso. Difícil. Um exercício e tanto! De qualquer forma, esperamos que você, leitor, goste e que estas páginas lhe inspirem nem que seja um tantinho do velho e bom espírito natalino. Não importa a qual credo você pertença, ou mesmo se você não pertence a credo nenhum.
Arquivo da Família Domingos
*Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP
Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, dezembro de 2012. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP
Zeni posa orgulhosa ao lado da sua árvore de Natal
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CAPA Banco de Imagens PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Gabriela Florêncio GRÁFICA Grafinorte TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional
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Revivendo o nascimento de Jesus Cristo sempre A sagrada família no estábulo em Belém é o verdadeiro símbolo da festa natalina e deve ter espaço privilegiado Amanda Fumegali, Amaro Paz e Talita Wodzinsky
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oje é um dia especial. Dia de entrar no quartinho da bagunça com um sentimento diferente, pegar algumas caixas empoeiradas, cheias de cores, cheias de alegria, cheias de Natal. Este momento repete-se há vários anos na família da dona Nora, itapemense nativa. “O dia de montar o presépio e as decorações natalinas é um dos mais importantes do ano!”, exclama. Dona Nora, 53 anos, é igual a milhões de pessoas no mundo inteiro: reserva um momento no mês de dezembro para arrumar o presépio, a árvore e a guirlanda na porta da frente. Os detalhes são tantos que é impossível passar despercebida uma das épocas mais esperadas do ano. O Natal é motivo de comemoração nos lares cristãos, como na casa da dona Nora. Entretanto, no comércio, é mais fácil achar a figura do Papai Noel que a representação da cena do nascimento do Menino Jesus. O aniversariante, a quem caberia o lugar de honra na festa, perde espaço. Enquanto isso o mercado se agita: o período é o que mais aquece as vendas no ano. Mas, apesar do corre-corre nas lojas, do movimento maior nas ruas, da agitação no comércio, nada disso remete necessariamente ao verdadeiro significado da data. De acordo com o padre da igreja matriz de São Francisco do Sul, Léo Effting, a tradição cristã enxerga o Natal como uma das festas católicas mais importantes do calendário, pois festeja o nascimento de Jesus Cristo. “Este nasceu do ventre de uma virgem e veio ao mundo com o propósito de revelar a existência de Deus e nos mostrar o caminho para a salvação da humanidade”, ressalta. O lugar em que nasce Jesus é um estábulo, um curral onde se recolhe o gado, espaço a que se chama também de presépio. Contudo, na tradição natalina a palavra presépio ficou de tal forma associada ao nascimento de Cristo que deixou de ser usada como sinônimo de estábulo ou curral. Presépio, no imaginário cristão, é a representação do momento em que o Salvador vem ao mundo em Belém da Judeia. A cena tal como a conhecemos hoje remete ao local humilde em que nasceria aquela criança que mais tarde se transformaria em um dos principais símbolos da busca da humanidade por um mundo mais justo e mais fraterno. A catequista Lucília Volpato, de Itapema, explica que os primeiros presépios surgiram na Itália e eram feitos em mosaicos que ficavam expostos no interior de igrejas e templos. Mas na primeira metade do século XIII foi construída uma representação artística do
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O presépio de Natal e uma das formas de representação artística do nascimento de Cristo nascimento de Cristo com figuras de barro. “A ideia é atribuída a São Francisco de Assis, que festejou a data em uma gruta na floresta de Greccio, na Itália, com uma manjedoura, um boi e um burro”, para explicar o nascimento de Cristo àqueles que não entendiam a história, completa Dona Lucília. O primeiro presépio de que se tem notícia é uma cena esculpida no século IV (325 D.C.), um baixo-relevo que enfeita um sarcófago, não se sabe a origem e nem a quem pertenceu. Atualmente faz parte do acervo do Museu das Termas, em Roma, na Itália. Nessa cena, Maria e José não estão presentes. Há apenas um pastor, uma árvore, a cabana e o menino Jesus envolto em faixas no cocho que lhe serviu de berço. Inclinadas sobre ele, as cabeças de um burro e um boi. São Francisco de Assis deu vida a um dos episódios mais importantes de toda a liturgia bíbli-
ca. “As pessoas acreditam naquilo que veem. O Presépio de Natal foi uma das contribuições mais importantes para a fé cristã, pois deu entendimento e vida às palavras cristãs”, esclarece o padre Léo. São Francisco, da cidade de Assis, na Itália, trocou a riqueza por uma vida religiosa e de pobreza, a quem chamava de “Senhora Pobreza”. Ele acreditava que pela pobreza um homem é capaz de ter comunhão com Cristo. O presépio de Francisco, contudo, nem sempre é representado com a simplicidade que lhe foi conferida pela história bíblica e reproduzida pelo santo de Assis. Existem aqueles de alto custo, feitos em ouro, cristal e outros materiais nobres. Seja como for, cabe ao presépio o lugar de honra na celebração natalina, afinal, para os cristãos, seu valor é mesmo simbólico e se traduz em uma palavra – Fé.
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Quem é quem no presépio? Menino Jesus: Filho de Deus e o Salvador Virgem Maria: Mãe de Jesus Cristo José: Pai terreno de Jesus Cristo Manjedoura em um curral: Local onde nasceu Jesus Burro, boi e ovelhas: Representam a simplicidade do local onde Jesus nasceu. Anjos: Responsáveis por anunciar a chegada de Jesus Estrela de Belém: Orientou os Reis Magos quando Jesus nasceu Pastores: Representam a simplicidade das pessoas do local em que Jesus nasceu Reis Magos: Belquior, Baltazar e Gaspar – seriam astrônomos
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Um encontro entre gerações: Artigo festival emociona uma cidade
A festa de Natal em Santo Antônio da Platina é tradição há décadas Guilherme Luz
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óculos, cabelo e barba brancos e um rosto inocente que parece de outro mundo. De fato, não há ninguém mais perfeito que ele para ser o símbolo máximo do natal ocidental. “Trabalho no ramo há cerca de 10 anos, sempre em cidades menores. Esta é a segunda vez que estou em Santo Antônio. Ano passado vim meio receoso, mas a festa é simplesmente incrível. Se depender de mim, continuarei aqui por mais um bom tempo.” Mesmo não sendo possível se manter somente com o empre go de Pa p a i Noel,
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odos aguardam ansiosos, principalmente as crianças. O gramado em que se aglomeram desaparece sob tantos pés. Disputam lugar para ver a chegada do bom velhinho. Por que ele vem de helicóptero, e não em seu tradicional trenó, ninguém sabe, e também não se importam. Faz sol de fim de tarde e a pequena Ana Gabriela está inquieta. A mãe e a avó trouxeram a garota para conferir um evento que já é tradição em Santo Antônio da Platina, pequena cidade com pouco mais de 40 mil habitantes no norte pioneiro do Paraná. Estão ali três gerações das Nespoli: Maria Lúcia, de 68 anos, Nancy, de 32, e a menina Ana Gabriela, de oito anos. É a quinta vez que Ana assistirá à chegada do Papai Noel de helicóptero. Sua vinda marca a data em que o comércio da cidade permanece aberto até mais tarde. Também significa a época em que as crianças começam a fazer seus pedidos de Natal. Nancy se lembra bem deste pequeno festival, pois quando criança também vinha se maravilhar com a chegada do Papai Noel. “Todo ano eu vinha, com minha mãe ou com minha tia. Era uma tradição incrível, um sentimento que só criança entende. Hoje, faço questão de trazer a Ana para o evento. Ano passado não pude trazê-la, mas a minha tia, aquela que sempre me trazia, fez o favor de acompanhá-la. É importante manter essa esperança do Natal viva enquanto ainda há tempo”. Agora, já se ouve o barulho do helicóptero se aproximando. As crianças pulam, agitadas, e gritam: “Papai Noel está chegando! Papai Noel está chegando!”. Os pais tentam controlar seus filhos, mas é inútil. A máquina pousa e Papai Noel aparece. Vestindo suas roupas vermelhas, botas pretas, barba branca e com um saco enorme de presentes - falso -, ele acena e dá a tradicional risada: “HO, HO, HO, Feliz Natal!”. As crianças vão à loucura. Todo o evento, até o anúncio de onde fica localizada a casa do Papai Noel, para onde serão enviadas as cartas com pedidos, dura cerca de meia hora. Depois, todos vão para casa, felizes, e Papai Noel se prepara para uma alta temporada. Emanuel Nunes tem 64 anos, e é de fato muito parecido com o bom velhinho. Barrigudo, de
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extra ajuda em uma época difícil da vida. Aposentado, com renda baixa, dívidas e muitos remédios para comprar, Emanuel e a esposa Márcia, de 61 anos, também aposentada, encarnam o perfil de tantos outros brasileiros. Até o dia 26 de dezembro ele fica em Santo Antônio da Platina. Então, volta para Londrina, onde vive com a mulher e seu gato de estimação. Quando questionado sobre o personagem que assume no Natal, o simpático velhinho afirma: “Na vida, temos apenas quatro fases. Na primeira, acreditamos em Papai Noel. Na segunda, não acreditamos em Papai Noel. Na terceira, fingimos acreditar em Papai Noel. Na última, somos parecidos com Papai Noel. Eu estou apenas tirando proveito disso, e dando alguma esperança para estas crianças. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que a primeira fase é a melhor de todas”.
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Papai Noel, Pai Natal e Santa Claus são alguns dos nomes atribuídos a São Nicolau ao redor do mundo.
Guilherme da Luz com participação da Redação
A origem do Papai Noel
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versão mais conhecida da origem do Papai Noel é a difundida pelo Catolicismo, que associa o símbolo a São Nicolau. Contudo, esse ícone pode ter raízes bem mais antigas que remontam à desintegração do Império Romano e à expansão do Cristianismo na Europa. De acordo com o historiador Rainer Sousa, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, nesse período de grandes transformações da civilização, as tradições das populações bárbaras foram adaptadas e incorporadas pela doutrina cristã. Entre elas, está a lenda do “Velho Inverno”: um senhor que batia nas casas no começo da estação fria pedindo comida e bebida. Quem o atendesse bem, conseguiria superar sem muita dificuldade os meses de frio intenso. Essa lenda foi absorvida pelos cristãos por meio da associação entre o “Velho Inverno” e São Nicolau. Ou Santa Claus, como é conhecido em inglês o bispo da Igreja Católica que viveu na Turquia no século III (ou IV, os registros históricos são controvertidos). Sobre ele correm várias versões: a mais aceita é a que lhe atribui diversos milagres, além de uma bondade sem igual pelo seu hábito de presentear os necessitados, algumas vezes deixando-lhes sacos de moeda perto das chaminés das casas. Outra versão é menos condescendente com o biografado e insinua que ele gostava mesmo era de presentear às escondidas as filhas de um camponês. Outra ainda conta que o religioso teria evitado que um camponês vendesse a filha dando-lhe moedas de ouro para pagar o dote de casamento da moça. Levou cinco séculos para Nicolau ser reconhecido como santo. De qualquer forma, a fama dele se espalhou até torná-lo padroeiro de países como Noruega, Grécia e Rússia. Papai Noel, Pai Natal e Santa Claus são alguns dos nomes atribuídos a São Nicolau ao redor do mundo. Inicialmente, ele não era representado tal como o conhecemos hoje e sim trajando roupas de monge – um hábito marrom ou verde escuro - e não possuía trenós nem renas. A imagem mais próxima do Papai Noel atual é de autoria do cartunista alemão Thomas Nast, que em 1886 a publicou pela primeira vez na revista norte-americana Harper’s Weeklys. Contudo, ainda se passariam 45 anos até que essa figura ganhasse popularidade após passar por adaptações, o que aconteceu em 1931 por conta de uma campanha publicitária de gigantesco sucesso da Coca-Cola. Naquele ano, outro artista, Haddon Sundblom, adotou o modelo de Nast para apresentar um Santa Claus com as cores do cliente - vermelho, branco e preto. Até então, o Papai Noel aparecia trajado em cores diversas, pois o vermelho não era um padrão. A síntese feita para a Coca-Cola foi tão divulgada pela empresa em todo o mundo que “pegou”, inclusive no Brasil. Assim, mesmo no verão o personagem veste bota, casaco e touca, uma vez que “o bom velhinho” é importado do hemisfério Norte, onde dezembro marca o início do inverno.
Fonte: http://www.historiadomundo.com.br/
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Abra sua porta para o Terno de Reis entrar Grupos familiares preparam, todos os anos, canções natalinas para celebrar a data com a comunidade Marcia Peixe e Stéphanie Wrubleski da Rocha
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noite já caiu e uma cantoria vem sendo entoada estrada afora. O som do violão, do pandeiro e do acordeom, une-se a vozes que anunciam, juntas, uma boa notícia: - “No céu surgiu uma estrela que guiou os Três Reis Magos à cidade de Belém, encontraram dentro uma estrebaria, deitado em uma manjedoura, protegido por Maria “ . As músicas trazem a passagem da visita dos Três Reis Magos ao menino Jesus. De porta em porta levam a mensagem que relembra o nascimento de Cristo. Os passos se aproximam e podem ser ouvidos. Aos poucos o som ganha força e os moradores são surpreendidos pela canção: - “Chegamos em sua casa viemos lhe visitar, trazemos felicidade, boas festas desejar. Os anjos do céu sempre cantam seu louvor, Maria Imaculada, a virgem mãe do Senhor. Nosso Reis aqui chegou trazendo paz e alegria, viemos saudar o senhor junto de sua família”. Em instantes as luzes se acendem, as chaves balançam à medida que a maçaneta é girada ao abrir a porta. Ainda sonolenta, a família recebe o Terno de Reis que canta mais algumas músicas e logo se despede a fim de continuar a caminhada madrugada adentro. Esta tradição rememora a trajetória bíblica em que Belchior, Baltazar e Gaspar foram visitar o menino recém-nascido, Jesus Cristo, e lhe entregar presentes.
Costume português
O Terno de Reis tem origem em Portugal e se disseminou no Brasil com a vinda dos imigrantes que introduziram o hábito na cultura popular. Entre os grupos a preparação para as visitas começa antes mesmo do Natal, com ensaio do repertório e organização da agenda de apresentações já delimitada. Silvio Ignácio Mendonça é o fundador do Grupo Folclórico Os Cantores da Paz de Itajaí e conta com empolgação como é a rotina deles nessa época: - Nós nos apresentamos em eventos em outras cidades da região como Blumenau, Joinville e Palhoça. A gente começa a visitar as casas dos amigos, familiares e vizinhos, ainda em novembro, não posso deixar de visitar ninguém. O legal é fazer surpresa, chegar na casa da pessoa sem que ela saiba. Adilson Silva, assim como seu Silvio, também é membro de um Terno de Reis, o Taquaras, de Balneário Camboriú. Há 17 anos eles levam adiante a tradição que passa de geração para geração na família. Participam os irmãos,
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filhos e amigos, são oito pessoas ao todo. - Nos apresentamos em igrejas, em escolas e espaços onde somos convidados. As apresentações se iniciam a um mês do Natal. Sílvio e Adilson tem agenda lotada, por conta de admiradores como Iria Terezinha Capraro Feller. - As músicas de Terno de Reis me emocionam, é uma maneira de me preparar para o Natal.
De casa em casa
Quando criança, Iria acompanhava a família que participava das apresentações de Terno de Reis, as melodias eram cantadas em italiano, no Bairro Vígolo em Nova Trento. - Me lembro que tocavam violão e acordeom. Acompanhávamos o grupo de casa em casa. Iria cultiva a tradição mantendo uma vasta coleção de CDs do gênero e quando o mês de dezembro se aproxima é hora de ouvi-los. Mas, a cantoria alta durante a madrugada nas noites que antecediam as festividades amedrontava a dona de casa blumenauense, Joceli Adam, quando era criança. Suas lembranças do Terno de Reis a remetem a momentos de choro e medo: - Eles vinham de madrugada cantar na janela do quarto de meus pais. Eu era muito pequena, não entendia o que estava acontecendo, me escondia atrás de minha mãe e de minha tia. Em alguns anos que eram meus tios que cantavam, mesmo assim não gostava porque tinha medo. E em seguida, corriam nas casas dos parentes para prestigiarem o momento. Apesar das más recordações, Joceli considera relevante esse costume: - Acho importante o Terno de Reis, pois, foi a primeira visita que o Menino Jesus recebeu, a dos Reis Magos. São muitas as pessoas que se preocupam em preservar o Terno de Reis, além de Sílvio, Adilson e Iria. No bairro Monte Alegre, em Camboriú, o Grupo de Casais Sagrada Família faz orações e mantém a tradição do Terno de Reis. A assistente financeira, Sandra Lopes de Lima Nascimento faz parte deste grupo e quando o assunto é Terno de Reis, a primeira recordação que lhe vem à mente é a de alegria, experiência de vida e resgate de histórias. Ela recorda um momento emocionante e especial: -Já era madrugada quando chegamos para a última visita, fomos até uma casa que fica no interior de Camboriú, estrada
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de chão, sem iluminação na rua, feita de madeira. Começamos a cantar, os vizinhos saíram para ouvir e a dona da casa saiu emocionada. Por ser uma casa bem humilde, ela pediu desculpas dizendo que não poderia nos acolher, pois a casa estava tão frágil que o assoalho poderia ceder. Apesar da reação da senhora o grupo não encerrou a visita, continuou ali do lado de fora, seguindo a cantoria, acolhendo aquela família com orações e alegria. Neste ano, o grupo do Monte Alegre tem como tema: “Este lar recebeu a visita da Sagrada Família”. São quatro semanas de visitas às casas levando a tradição do Terno de Reis e da oração em família.
Calendário católico
As visitas dos Ternos se iniciam no mês de dezembro e segundo o calendário cristão se encerram no dia 6 de janeiro, data a qual se convencionou como sendo a da chegada dos três Reis Magos ao abrigo onde o menino Jesus estava. Esse dia entre os católicos marca também a retirada dos presépios e da decoração natalina. O sentimento entre as pessoas que conhecem o Terno de Reis e ajudam a preservar essa cultura é, ao mesmo tempo, uma maneira de louvar o nascimento de Jesus Cristo e reacender a esperança no coração de cada pessoa.
Iria vive a tradição desde a infância e carrega consigo as canções em CDs
Arquivo grupo Sagrada Família
O grupo de casais Sagrada Família, além de músicas, leva oração e acolhida aos moradores da região
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Economia
Litoral é roteiro para comemorações em dezembro Agências de viagem confirmam interesse pelo turismo de sol e praia que oferece pacotes de lazer a baixo custo Gabriela de Godoy* Gabriela Florêncio
Paisagem preferida pelos viajantes em férias de verão
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s praias são campeãs de procura quando se trata de escolher um destino nas festas de fim de ano e nas férias de verão. Com custos mais baixos de passagens aéreas e pacotes promocionais oferecidos pelas agências de turismo, é mais fácil organizar uma viagem. E para quem se desloca das cidades próximas ao litoral, então, fica tudo mais barato. Mas tem moradores de lugares distantes, como o extremo oeste catarinense, que pensam duas vezes antes de encarar a maratona rodoviária entre um extremo e outro do estado. “Geralmente ficamos pela região mesmo. É final do ano e preferimos passar na praia”, afirma Laura Taysa Espig, que passará as comemorações de Natal e Ano Novo em Navegantes com seus familiares de Luis Alves. A jovem mora com tios em Blumenau e nos fins de semana vai para a casa dos pais em Luis Alves. Ela conta que seus avós e tios do lado materno
moram em Itapiranga, extremo oeste de Santa Catarina, e raramente passam essa data ao seu lado: “É complicado para eles virem para cá, principalmente pela minha avó já ser uma pessoa idosa. Nós preferimos que ela venha em uma outra data, em que possa vir de carro, acompanhada dos meus tios”. Passar as festas de fim de ano na praia não é opção só de Laura, mas também a preferida e mais procurada nas agências de turismo. O consultor de viagem da Trip Service Consultoria em Viagens e Eventos de Itajaí, Wagner Cavalett, informa que nacionalmente o local mais requisitado é o Nordeste do Brasil e internacionalmente Orlando, Miami e New York. “A procura por pacotes de passagens aéreas e hotel no Natal e Réveillon está bastante em alta. Apesar da maior demanda ainda ser de famílias, viagens individuais e em grupos estão sendo elevadas comparadas ao último ano”, assegura.
Contudo, a opção por viajar de carro ainda é válida, devido ao custo comparado ao de uma passagem aérea. Arthur Galli Rebelatto, responsável pelo Departamento de Projetos Internacionais da Câmara Brasil-Alemanha de Santa Catarina, alega que o custo de uma viagem aérea para o Rio Grande do Sul é superior ao de ônibus ou carro. “Neste ano eu irei com meu pai e minha namorada para Passo Fundo visitar minha mãe na semana do Natal. E por estarmos indo em três as despesas serão divididas. Mas mesmo assim, as demais vezes que vou para lá, sempre vou de ônibus. O valor que pago chega a no máximo R$ 160, inferior ao gasto de um aéreo”. Se o Natal será celebrado longe do mar, no Reveillon a história é outra: dia 28 Arthur pretende estar de volta a Santa Catarina para festejar a virada em Balneário Camboriú.
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Como é trabalhar e ficar longe da família no dia de Natal? Jéssica Gamba*
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édicos, enfermeiros, bombeiros, policiais, frentistas de posto, cobradores e motoristas de ônibus, garçons, cozinheiros, chefes de cozinha e jornalistas. O que eles têm em comum? São profissionais que trabalham na noite de Natal. O que sentem essas pessoas que têm de trabalhar e se dedicar aos outros enquanto a maioria está com os familiares? Para a enfermeira coordenadora da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Maternidade e Hospital Evangélico de Brusque (HEM), Angélica Tagarra, de 32 anos, a situação não é tão ruim. “A equipe daqui é como uma família, como a convivência é diária somos unidos e é sempre gostoso passar o Natal com eles”. Natural do Rio Grande do Sul, a profissional atua há cinco na instituição. “Minha família é toda de lá, então como sempre tenho que trabalhar os vejo no fim do ano e nas férias”. Contando com Angélica, o número de enfermeiros, técnicos e coorde-
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nadores no Hospital em regime de plantão no turno do dia é de 30 funcionários e durante a noite de 15 a 20. Nos dias normais são mais de 180 funcionários e cerca de 60 médicos. Como coordenadora de setor, Angélica, é responsável pela escala de plantão. “Monto a tabela conforme o banco de horas de cada funcionário, mas isso não quer dizer que eles não podem combinar algo entre si”. Já o chefe de cozinha do Monthez Hotel e Eventos de Brusque, Claudionor dos Santos Garcia, de 39 anos, prefere passar a noite de Natal com a família. Contudo, “A obrigação fala mais alto”. Diariamente Garcia trabalha das quatro da tarde à meia noite, mas na noite de Natal estica o turno até à uma da manhã. “Dependendo do número de hóspedes, fazemos o buffet, aí, volto a trabalhar cedo pela manhã novamente, lá pelas 7h, se não só à tarde, para preparar a refeição da noite. No ano passado o número era de 80 a 120 pessoas hospedadas”, destaca.
Jéssica Gamba
Decoração natalina ajuda...
Jéssica Gamba
... a humanizar ambientes
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O chefe de cozinha trabalha há 18 anos no hotel e afirma que além de gostar do que faz a principal motivação para continuar é o feedback dos clientes diante do serviço. “Quando eles chegam pra você e elogiam ou fazem uma crítica construtiva sobre o seu trabalho é o que faz tudo valer a pena no final do dia”. Embora ambos não celebrem o Natal com as famílias, a noite não passa em branco. No Hospital cada setor faz uma confraternização, mas também há uma ceia preparada para o grande grupo. “No meu setor, por exemplo, sempre combinamos de cada um trazer uma comida diferente daquela servida na ceia. Bolo, doces e chocolates fazem parte da lista. Além disso, revelamos o amigo secreto”. A ceia, em que todos os setores estão reunidos, é preparada pelas cozinheiras do hospital e o cardápio é organizado pela nutricionista. No ano passado, foi servido peru, arroz, farofa, maionese e saladas. No hotel, o cardápio da noite
de Natal deste ano inclui diversos pratos de saladas e sobremesas, entre outros. Após servir o jantar, o chefe de cozinha Claudionor dos Santos Garcia também tem espaço para celebrar e comer a ceia com os colegas de trabalho. Em Balneário Camboriú, cidade turística reconhecida nacionalmente, o recepcionista Lucas Oliveira, de 21 anos, trabalha no Hotel Plaza Camboriú há um ano e meio, e há três anos não passa a véspera de Natal com a família devido a sua obrigação profissional na área de hotelaria. “A minha sorte é que eu moro com meus pais, portanto, dá pra adiar a comemoração e, com o tempo, me acostumei a não passar mais a virada da véspera de Natal com eles, mas ficamos juntos no dia 25, com um bom almoço em família.” Além dele, alguns funcionários do mesmo hotel (recepcionista, seguranças, entre outros) comemoram o Natal - juntos - porque, afinal, felicidade só existe quando é compartilhada.
*Jornalismo, 6º período
Itajaí, dezembro de 2012
Cotidiano
Quem não tem passado, não entende o presente Líderes de instituicões blumenauenses relembram a infância e comprovam que o Natal não é mais o mesmo Felipe Adam
Felipe Adam
Sagrado e profano: rua XV de Novembro, a principal via do comércio de Blumenau, o contraste entre os interesses econômicos e a religiosidade simbolizada pela torre da Catedral
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oão, o penúltimo filho do agricultor Dionísio e da dona de casa Terezinha, esperava ansioso pelo Natal. O pinheiro era preparado durante todo o ano para que na época natalina, ele fosse enfeitado e ocupasse um lugar de destaque na casa. Outro menino, chamado Jacques, também aguardava aquele momento único, caracterizado pelas viagens que fazia junto à família na casa dos avós, no interior do Alto Vale do Itajaí. João cresceu junto com os oito irmãos na pequena localidade de São José, em Guaramirim, distante 179 quilômetros de Florianópolis. Foi para Joinville, Brusque e depois à Capital estudar Teologia e se ordenou padre em 1992. Enquanto isso, em Blumenau, Jacques também não teve uma infância fácil. Pelo contrário, com dificuldades, toda a economia que tinha serviu para bancar a faculdade de Comércio Exterior. Ambos cresceram, tornaram-se adultos e referências nas áre-
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as em que atuam. Jacques ou Carlos Jacques Dressler é o gerente executivo da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Blumenau - CDL. João é o pároco João Bachmann da Catedral São Paulo Apóstolo em Blumenau. Aos 45 anos e há quatro na comunidade, percebe que ainda se vê a presença da família, a centralidade cristã no casal e nos filhos. Porém, em épocas natalinas, o comércio é mais forte: - Ele vive de épocas baseadas em datas bíblicas. Veja maio, conhecido como o mês de Maria. As lojas associam a data como sendo o mês das noivas e também das mães. A própria figura do Papai Noel foi incorporada em cima de um santo, o São Nicolau. Para a Igreja Católica, o Natal simboliza a natividade de Cristo em Belém, onde Maria dá a luz numa manjedoura. Mas é na Páscoa que a fé chega ao ápice, quando a paixão e a posterior ressurreição de Jesus revelam todo o afeto que Ele devota a
seus filhos. Para Bachmann, o presépio é a fé que se testemunha na família: - Levar um pequeno a conhecer um presépio e ali contar sobre os personagens é a verdadeira transmissão da fé do Menino Jesus para a criança. Ela se sente ali representada. Na outra ponta da história, o Natal representa para a CDL, o momento mais forte de vendas durante o ano. Porém, elas estão mais baixas que o esperado para 2012, em Santa Catarina. E vários fatores podem ser listados como principais causadores da queda. O aumento do endividamento, por conta, da aquisição de bens com maior valor, reduz o dinheiro que poderia ser destinado para outras compras. Outro fator é a inadimplência. Neste último caso, devido à falta de planejamento, acaba-se comprando para além da capacidade de pagar. Aos 47 anos, o gerente executivo da CDL-Blumenau, Carlos Jacques Dressler, admite que a
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oferta de bens mudou, e o perfil de compras também. - As pessoas não mudaram tanto assim. A diferença é que, hoje, o acesso aos produtos é mais fácil. Dados da pesquisa Fecomércio-SC de Intenção de Compras para o Natal 2012, divulgada na segunda quinzena de novembro, demonstram que os catarinenses vão gastar, em média, R$372,25. O estudo aponta que cada entrevistado pretende comprar em torno de cinco presentes. Entre as principais cidades do estado, aparece Blumenau em primeiro lugar, com uma expectativa de gasto em torno de R$430,73. Para aliar todo o espírito dessa época ao encantamento de luzes e ao simbolismo do Papai Noel, a CDL realiza, com a colaboração da Prefeitura, o Magia de Natal. São investidos em torno de R$2 milhões para que se consiga realizar dois objetivos. De acordo com Dressler, um deles é reforçar a grife Blume-
nau: “São 45 dias de atrações no evento que já é o segundo maior da cidade”. A outra meta, considerada a mais importante, é o resgate do antigo Natal de Blumenau, com enfeites pelas ruas e espetáculos para os moradores. - O nosso objetivo não é fazer igual a Gramado. Mas fazer algo original, como os desfiles náuticos e decorações em prédios históricos. Enquanto o pequeno João e a família visitavam os vizinhos durante nove dias para orar na novena preparatória do Natal, Jacques ia para o culto, em especial na noite de véspera. Mas, ainda hoje, o Padre João, juntamente com os irmãos, celebram o Natal com a mãe no interior de Guaramirim. Jacques, agora casado e pai, tenta repassar aos filhos os mesmos preceitos que recebeu na infância. Ainda reza, mas admite que a confraternização acaba sendo maior que a espiritualidade. E o verbo confraternizar se restringe a cear e trocar presentes.
Memória
O verdadeiro significado do Natal perde espaço Pressionado pela sociedade de consumo, o caráter religioso da festa é ofuscado, mas assim mesmo resiste Bruna Andressa Osmari, Leonardo Costa e Rodrigo Ramos* Bruna Osmari
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essoas caminhando apressadas com sacolas nas mãos, crianças agitadas puxando a barra da saia das mães, lojas com promoções surreais tentando chamar a atenção. Essa é uma realidade bem próxima daquela vivida nos shoppings nas vésperas do Natal. O clima natalino, porém, vem muito antes. Em meados de novembro o comércio já exibe apelos em referência à data mais cobiçada do ano. Enquanto isso, em um shopping qualquer, uma grande e pomposa cadeira vermelha de veludo dá lugar a José Egon Ely, de 73 anos, mais conhecido como Papai Noel. Deve estar bem quente dentro daquele traje esquisito, mas assim mesmo ele se concentra pacientemente no ir e vir de crianças cheias de pedidos para o bom velhinho. A barba branca e comprida até a altura do tórax, os olhos azuis e, claro, a roupa vermelha e a touca, características do Papai Noel, fazem de José um representante fiel do que o comércio transformou no maior símbolo do Natal. Ele trabalha há dois anos
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Bruna Osmari
como Papai Noel no Shopping Atlântico, mas há muito tempo divulga o espírito natalino: “Faço visitas nas residências na noite de Natal. Reúno a família toda e faço uma corrente energética com todos os presentes transmitindo o ato de paz e amor e dou uma explicação pras crianças sobre o sentido do Natal”. Para tentar manter esses costumes, José ainda pede que as crianças que o visitam no shopping façam suas cartinhas, as quais ele coleciona e guarda para mostrar para suas netas futuramente. Segundo ele, hoje em dia o Natal passou a ser muito mais comercial e as pessoas começam a esquecer as questões sentimentais da época para substituí-las pelas materiais, impulsionadas pelo comércio, que vê seu lucro aumentando a cada dia enquanto a data de Natal se aproxima. Por ser de origem alemã, José Egon comenta que a crença em Santa Claus, como era conhecido tradicionalmente o Papai Noel em sua família, era algo muito forte, que marcava o espírito de confraternização da época natalina.
José, o bom velhinho do Shopping Atlântico, não esquece o verdadeiro sentido da data
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Erno e o ninho
Manter os costumes de um momento tão importante do ano e passá-los adiante é umas das preocupações de quem viveu isso da maneira mais pura, sem influência de lojas ou propagandas e que sente prazer em lembrar. Seja nas tradições peculiares a cada família, ou nas coisas que todos possuíam em comum, sempre era grande a espera pelo dia do Natal, como lembra Erno Dressler, de 66 anos: “Na minha família, que vivia no interior, fazíamos pastos e colocávamos embaixo de uma árvore, porque acreditáva-se que o Papai Noel vinha a cavalo, e os mais velhos colocavam cavalos lá para que as crianças pensassem que ele tinha vindo mesmo”. Outra versão dessa história conta que as crianças preparam ninhos contendo capim e os deixam sob o pinheiro na noite de 24 de dezembro, certos de que ao amanhecer do dia
25 passará por ali o burrico que leva Nossa Senhora em sua jornada para Belém, e ele precisa do alimento para recompor suas forças. No dia seguinte, em lugar do capim, a garotada encontra presentes recheando cada ninho. Os presentes fazem parte da celebração natalina em qualquer lugar do mundo, e Erno traz consigo a memória de um dos primeiros presentes que se lembra de ter ganhado no Natal: uma camiseta listrada que ele usou até não lhe servir mais. A união da família também é lembrada como fator crucial nessa época do ano para ele e a crença nos costumes não se alterou com o passar dos anos: “Natal para mim é o significado que aprendemos na infância com pais e irmãos: uma data sagrada, em que devemos lembrar o nascimento de Jesus. Para mim, o Natal sempre será o mesmo, não mudou e sempre continuará assim”.
Leonardo Costa
Para Erno, a data evoca ternas lembranças da infância
Rodrigo Ramos
Vó Fifi e a ceia Outro lado muito valorizado das festas de fim de ano envolve a culinária, a ceia de Natal. Só que os mais velhos não se metiam em filas imensas no supermercado. “Para comer no Natal, tinha peru e aquela carne de porco, tender, sabe. A vó Fifi matava mesmo. Ela prendia o porquinho, deixava preso um tempo, pra tratar, alimentá-lo, engordá-lo. Daí, perto da data, ela matava. Ela comprava o peru vivo e também era ela que matava”, relembra Elba Vieira Wendhausen Ramos, de 82 anos, que também comenta a respeito da decoração das árvores, naturais, as quais eram enfeitadas sem que as crianças vissem, para aumentar a surpresa: “A gente ficava num lugar, com a
Dona Elba Vieira sente falta da união das pessoas no Natal
Ataíde e o baú
Enquanto para alguns as lembranças evocam alegria e saudade, para outros, o passado não era esse tempo recheado de ninhos mágicos: “Não tenho lembranças; não tínhamos festa, nenhuma festa pelo Natal. A mamãe matava uma galinha e ensopava; às vezes, quando dava, fazia um bolo. Mas presentes ninguém ganhava e a gente nem sentia falta, porque não estava acostumado, nem sabia o que era isso. Naquele tempo as coisas eram muito mais difíceis. Tudo era distante, era caro” – quem conta é Ataíde Teixeira. Nascido na Ilha de Santa Catarina em 1920 e dono de prodigiosa memória, ele faz um reparo àquele comentário inicial – sobre não ter qualquer lembrança
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de antigos natais – e revela que aos seis anos, quando ia na casa de sua avó, via um baú em cuja tampa, por dentro, tinha uma porção de figuras de Natal coladas. “Não eram cartões, não, que naquele tempo a gente nem via cartão; eram figuras que talvez ela ganhasse dos fregueses quando ia nas casas entregar as trouxas da roupa que lavava pra fora”. Uns dez anos depois, já morando em Curitiba, Ataíde com certeza se lembrou das imagens que havia visto naquele velho baú da infância: “Eu tinha uns dezesseis anos e teve um desfile do Papai Noel na Rua XV. Fiquei encantado: aquela rua toda lotada de gente, o Papai Noel que eu nunca tinha visto assim tão de perto, tão grande. Foi bonito”.
vó e o vô, e só via quando estava tudo pronto, aí botava os presentes debaixo da árvore”. Acossado por interesses comerciais e sufocado pela sociedade de consumo, o Natal ainda vive, em sua forma mais pura, na memória e no coração de todos os que acreditam na importância da data e nela se inspiram para renovar-se a cada ano. A despeito do consumismo, a festa ainda é o feriado mais esperado do ano por muitos, pois consegue motivar a reunião da família, dos amigos, dos vizinhos. Vale lembrar as palavras de José Egan Ely, o próprio Papai Noel: “Natal é tempo de confraternizar e abraçar todo mundo, fazer a troca de presentes, mas no geral, é uma comunhão de família”.
Albúm de família
Aos 92 anos, Ataíde considera os Natais de hoje mais felizes
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Retrato
Tecelã de momentos: cem anos de recordação As memórias de uma mulher do ínicio do século XX que hoje carrega a quinta geração da família no colo Márcia Ferreira*
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missa está quase no fim quando chego. Geni me vê pela janela e vai à porta me receber. “Entra Marcinha. E não precisa tirar o sapato.” A chuva é fina, daquelas que a gente diz que é boa para molhar bobo. Mal entro, aumenta. Padre Jacob (José Jacob Archer) fala num tom alto o suficiente para sua ovelha ouvir. Embora sereno, soa firme e sua entonação transparece fé. “Creio em Deus Pai, Todo Poderoso, Criador do céu e da terra e em Jesus Cristo, seu único filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo...” Duas filhas estão ali, além de Geni, Inézia se posta ao lado da mãe. Completa o grupo Dona Benta Martins, que ajuda o padre. A missa é de unção dos enfermos e em intenção do restabelecimento da dona da casa, que nesta última semana esteve acamada, convalescendo de um resfriado muito forte. Deitada na cama, repetindo devagar, mas prontamente, a senhora centenária, de cabelos brancos e mãos extremamente finas, quase transparentes, com dedos longos, observa atenta. Não perde de vista a entrada da estranha em sua intimidade. Ainda mais estando tão perto. Sento ao seu lado, na cabeceira. Não me reconhece e demonstra tristeza por causa disso. Após uma pequena explicação, a anciã mais velha do município de Bombinhas desabrocha como uma orquídea selvagem, mas
da terra. Sem receios, conta sua história. Nasceu em 02 de fevereiro de 1908, dia de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira de Bombinhas, em Ganchos, município de Governador Celso Ramos. Aos cinco anos, quando seus pais se separaram, veio para Bombinhas em companhia do pai e irmãos. Naquele tempo não existia a menor possibilidade de que a mãe ficasse com os filhos, ainda mais tendo sido ela a sair de casa. Era outra época. Falamos de 1923. Foi criada pela avó paterna. Depois que a avó morreu, o pai casou-se novamente e então a responsabilidade pelo término da criação dos filhos coube à nova esposa. Dona Virgínia Rogério Silva da Cruz fala que ali começou uma fase difícil, pois sua madrasta a maltratava. Apanhava demais tanto da avó quanto da madrasta. “A vó era tão ardida. Nós apanhávamos pior que boi no pasto.” Trabalhava na roça de mandioca, no engenho de farinha e outras culturas que a família plantava, feito gente grande. Sempre morou no Centro e fazia o caminho a pé, com a enxada nas costas, pelos morros e atravessava rio, para poder trabalhar na lavoura, até onde hoje é o bairro do José Amândio. Diz que a vida de solteira foi muito pesada. Até os quinze anos não sabia que tinha mãe e quando veio a conhecê-la em uma passagem por Governador Celso Ramos, a
acusou de abandono. Falando com a impertinência e audácia da juventude que não entendia o choro. “Ah sua boba, você abandonou nós como se fosse filho de gato, de cachorro. Agora chora?” Hoje diz que quando soube que tinha mãe e ela não os queria, doeu demais. E explica que quando a gente é mãe e quer bem seus filhos tem certas coisas que machucam muito. A lembrança mais forte é do pai, por várias vezes repetiu que ele era um homem vivo. Sorridente, sempre muito limpo e arrumado. Nunca estava de cara amarrada. Contentamento era uma constância na vida do velho Rogério Francisco da Silva. Ri contando da juventude e até declamou uns versos das antigas cantigas. “_Menina, se tu soubesses como eu te quero bem. Pegou peixe no fundo do mar. Quanta grama o mar tem? Quanta grama o mar tem eu não posso te dizer. Pegou peixe lá do fundo e me apaixonei.” Lembra-se dos bailes, das danças e dos amigos. Conta que nessa época o amigo Faiale cortejou a defunta Siguifrida. Tem uma memória invejável e uma lucidez admirável. Casou-se aos 27 anos, já era considerada uma solteirona para a época. Seu Jacob José da Cruz tinha 18 e era filho da sábia benzedeira Otília Maria Júlia Mafra. Na casa da sogra, morou por 15 anos. Finalmente na pessoa de Dona Otília soube o que é ter uma mãe. “Ela Sheila Pinheiro
As cinco gerações. Da esquerda para a direita: Selma, Sheila, Dona Virgínia e a Geni com a bisneta Joana no colo
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Márcia Ferreira
Dona Virgínia não sai da cama há um ano, devido a uma queda era uma pessoa muito boa. Era Mafra né minha filha? Nem comia direito, era fila e mais fila de gente na sexta-feira santa pra benzer”. Virgínia deu a luz a seis filhos, pelas mãos das parteiras Dona Zefa Pinheiro, da Praia de Fora (hoje Quatro Ilhas), Dona Virgínia e Maria Virgínia, mãe e filha, do pé do morro do Mariscal. Três meninos e três meninas, a sexta não resistiu e faleceu ao nascer. Alvim, Antônio, Alírio, Geni e Inézia. Hoje são 20 netos, 46 bisnetos e 15 tetranetos e vem mais dois porque a neta Gabriela está grávida de gêmeos. São cinco gerações vivas numa mesma família e a filha Inézia mostra orgulhosa a foto que registra este momento. Está viúva há 11 anos, Seu Jacó morreu de infarto, e exatamente um mês depois faleceu o Alvim, filho mais velho, que não resistiu à luta contra o câncer. E aí reside a maior saudade de Dona Virgínia, o filho Alvim. Conta que passa horas acordada chorando no silêncio da noite, quando a casa dorme tranquila. Não sabe ao certo o motivo, talvez emoção, talvez saudade, é muita coisa, muita vivência, é um saber demasiado para uma única cabecinha. E tem um momento em que o peso de ter visto coisa demais acaba cobrando seu preço. O marido era pescador, os filhos também foram. Hoje já não há a preocupação do marido e filhos na labuta em mar aberto. Mas tem os netos e bisnetos
e esta é mais uma inquietude, pois o mar é farto, traz o sustento, mas é traiçoeiro. E a desatenção e descuido cobram um preço alto demais. Está sempre de olho nos ventos e no tempo, muito embora os filhos a questionem sobre isto. De todos os netos o maior cuidado é com o Galo (Valdemar Francisco Pinheiro Filho), que além de neto é afilhado. Ela fala que todos são queridos e amados, mas Galo é especial. Praticamente se criou na casa da avó. Só saiu quando começou a embarcar, ainda muito jovem. Nunca deu um tapa em seus filhos. Diz que a família é a maior riqueza que uma pessoa pode ter. Talvez tanta sabedoria seja pelo fato de não ter tido uma mãe presente que representasse a matriarca em seu desenvolvimento. Ou talvez porque sabedoria se adquire com a experiência. E hoje poder repassar tanto conhecimento de vida aos mais jovens é um privilégio dos mestres do saber popular. Neste natal Dona Virgínia receberá os amigos e familiares para os cumprimentos, mas todos vão embora em seguida. Não gosta de barulho, de fogos e não comemora o Natal. Houve um tempo que esta era uma festa muito grande em sua casa, mas quis o destino que o velho Rogério viesse a falecer justamente no dia 25 de dezembro. A velha senhora prefere o silêncio e a solidão. Bastam por companhia as lembranças e seus fantasmas. Jornalismo, 4º Período
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Álbum de família
Criatividade une gerações num palco improvisado No dia 25 de dezembro, a casa dos Bertoldi transforma-se em um alegre espetáculo natalino feito de lembranças Bárbara Bernardo e Manuella Perrone
Itajaí, dezembro de 2012
Acervo da família Bertoldi
imagens ainda um bebê. Mas, o dia 25 de dezembro nem sempre foi assim. A noite natalina da família remonta ao encontro de todos na sala da casa de Hercílio, o avô dos Bertoldi. Ali, no passado, o momento era exclusivamente de oração. E ainda hoje, na noite de Natal, com o rosário em mãos, Hercílio inicia o terço e é seguido por todos. “Se a família continua unida é preciso agradecer. Rezar o terço é uma tradição que cresceu com a gente”, afirma ele. A noite termina com a chegada do Papai Noel, que se vê perdido em meio a tantas crianças. Com sete filhos, o casal Bertoldi já soma 21 netos e três bisnetos. A encenação do espetáculo improvisado começou meio assim, ao acaso: “O que fazer para tornar a noite de Natal divertida para os adultos e as crianças?”, se perguntava Daniela Zuchi, nora de Matilde e Hercílio. Como a maioria dos avós, as ‘histórias de antigamente’ fazem parte das conversas quando toda a família encontra-se reunida. - E por que não tornar um dia tão especial em um espetáculo? Pois bem, Daniela respondeu a isso com afeto, teatro e criatividade: “Bem vindos ao Natal da família Bertoldi!”
Netos de Hercílio Bertoldi nas primeiras apresentações de teatro, em 1999. Da esquerda para a direita: Vanessa Graciola, hoje com 20 anos, Júnior Luiz Bertoldi, 21, Gianluca Bertoldi Bernardo, 15 e Bruna Taise Bertoldi, 22
Acervo da família Bertoldi
A foto ao lado mostra os Bertoldi em 14 de dezembro de 1974. A imagem abaixo traz a família na mesma pose 38 anos depois. Da esquerda para a direita, começando do fundo: Nivaldo Bertoldi, 52, Ademir Secondo Bertoldi, 51, Lovídio Carlos Bertoldi, 49, Pedro Jacir Bertoldi, 48, Celina Maria Bertoldi Bernardo, 50, Matilde Santina Bertoldi, 74, Hercílio Marcelino Bertoldi, 85 e Dionísio Bertoldi, 46
Bárbara Bernardo
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cenário é de uma casa antiga na cidade de Gaspar, no Vale do Itajaí. O ambiente principal, a cozinha. No fundo, um baú cheio de madeira para abastecer um forno a lenha coberto de panelas, que ainda será muito usado durante todo o dia. O público se acomoda ali mesmo, ao redor da mesa ou no sofá logo ao lado da geladeira. O lugar é apertado, mas a plateia não parece incomodada. Eles estão ansiosos: – Qual seria o filho, tema deste ano? Os atores se concentram na sala, cômodo ao lado da cozinha. Todos ainda ensaiam, pegaram os textos há poucas horas, naquele dia mesmo. O figurino é todo improvisado, roupas velhas e cara pintada. E, quando o primeiro ator abre a porta e o público pode vê-lo, já sabem quem é o personagem da noite. O menino entra e, da plateia, o pai dele ri de toda a situação. A criança se chama Juarez e vai interpretar o próprio pai, Nivaldo, em mais um Natal da família Bertoldi. Os Bertoldi não ficam para trás quando se fala em tradição. Nivaldo leva tudo na brincadeira, e seu sorriso mostra a satisfação com a peça, “Muitas vezes são histórias que nem mesmo lembramos. Durante o teatro os atores vão dando dicas do que interpretam, e quando vemos voltamos ao nosso tempo de criança junto com eles”. Netos viram atores, e pais e avós tornam-se o público de um espetáculo de improviso, que mistura memórias de membros da família interpretadas por seus próprios filhos. As histórias são surpresa e, geralmente, são passadas para os atores pelos próprios avós, que melhor do que ninguém conhecem as aventuras dos filhos. “Era uma época mais rígida, e não tínhamos tempo para rir das situações em que nossos filhos nos colocavam. E, se eles aprontavam, com certeza fugiam para rir em outro lugar”, conta Matilde Santina Bertoldi, a avó da casa. “Hoje, podemos reviver aqueles momentos, e temos tempo para entendê-los com mais humor”, lembra, os olhos cintilando enquanto fala. No teatro da família Bertoldi os atores têm no máximo 15 anos. “No início tinha vergonha de participar, mas depois vi que tudo era apenas para diversão da família. Decoramos tudo no mesmo dia da apresentação e mesmo assim dá certo”, afirma Gianluca Bertoldi, que participa dos teatros mesmo antes de entender o que estava fazendo. Hoje, com 15 anos, ele vê as fotos dos anos em que participou e se encontra nas
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Economia
Compras de Natal: um apelo para o consumo O comércio faz promoções para aquecer a demanda e incentivar os consumidores a gastar o décimo terceiro Bruna de Azevedo e Gabriela Bepler
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época de Natal é a mais iluminada e alegre do ano. É hora de rever o que foi feito e ter pensamentos positivos para o ano que está por vir, é tempo de reflexão, perdão e união. Também é motivo de alegria aquele salário “extra”, mais conhecido como 13º salário, que ajuda os trabalhadores nas contas do fim de ano. A época é propícia para gastos e investimentos, tanto nos presentes, quanto em pagamento de dívidas atrasadas. Uma das principais atrações para os gastos se encontra no Calçadão da Rua Hercílio Luz, no Centro de Itajaí, onde se tem a maior concentração de lojas da cidade. Lá se vende de tudo, de eletrônicos e móveis a roupas e calçados. Na época de Natal o investimento é grande para chamar os clientes e quem procura algo para presentear no Natal. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Itajaí (CDL), José Dada, comenta que a intenção é transformar o calçadão em um espaço onde as pessoas não aproveitem só para comprar, mas também para passear. “A primeira coisa que chama a atenção no Natal é a decoração, se nosso principal espaço não chamar a atenção dos moradores, turistas e clientes em geral, nós já vamos começar a perder a partir desse momento”. Ele afirma que as vendas dobram no Natal, e dependendo de como a loja se preparou durante o ano, pode lucrar ainda mais. “Cada loja tem que fazer o seu calendário e sua organização, do que pode ou não ser feito nessa época, como por exemplo, acabar com o estoque de alguma mercadoria, tudo vai da estratégia da loja”.
As lojas se preparam
As lojas têm de se preparar para a demanda aquecida. Principalmente no estoque e também no atendimento. Sandra Pereira é um exemplo dessa organização: como gerente se prepara dois meses antes, contratando pessoal e pensando nos produtos. “Sem organização, não há grandes vendas, principalmente numa época em que o consumidor compra e muito, temos que nos organizar para garantir nosso salário extra”, comenta.
Bruna de Azevedo
Hercílio Luz está enfeitada e iluminada para atrair os clientes, aumentar os lucros e alegrar os lojistas Outro gerente que se preparou para o Natal foi Osvaldo Ribeiro. Ele selecionou alguns produtos para fazer ofertas especiais: “No Natal, todos têm um dinheiro a mais para gastar, mas também aproveitam as promoções e até juntam os dois e assim, para nós, é muito melhor”. Além de vender os produtos recém lançados, o comércio ainda consegue se livrar de estoques antigos.
Lembrancinhas tentadoras
Andréia Cândido é enfermeira. O que faz com o 13º salário? “Eu pago todas as contas e com o que sobra, compro os presentes. É bem melhor pagar as parcelas e dívidas do que fazer novas”. Antônio Fernandes gosta de aproveitar o dinheiro compran-
do presente para os familiares. “Já que trabalhamos o ano inteiro e não compramos presentes, o Natal é aquela época que podemos aproveitar e pelo menos comprar uma lembrança ou algo que todo mundo use, é normal”. O mercado movimenta-se conforme seus públicos-alvo em qualquer período do ano. Mas o Natal carrega uma magia – apropriada pelo mercado – que faz muitos se renderem ao feitiço do comércio e cair na tentação das lembrancinhas. Marilene Cordeiro, de 59 anos, dona de casa, diz que todo ano procura dar lembranças para os parentes mais próximos, seu método é o da pesquisa, e afirma comprar presentes úteis. “Verifico o que cada um está precisando, essa é a parte mais difícil, depois começo a
analisar os preços do comércio e pronto, agrado a todos sem gastar muito”. Mas também existem pessoas como Volnei Machado, de 62 anos, que selecionam aqueles que serão presenteados. “Sou aposentado, no Natal dou presentes apenas para os netos, os que ainda são bem crianças, para compensar os que não recebem um presente, sempre realizo o almoço de Natal”. Para fugir das grandes compras e das faturas do cartão de crédito, famílias realizam confraternizações especiais: Letícia Guimarães, de 25 anos, é auxiliar de escritório, ela conta que sua família é numerosa e em função disso em todo Natal eles realizam o famoso “Amigo Secreto”. Bruna de Azevedo
O que fazer com o dinheiro extra? É muito comum que as pessoas esperem o 13º salário para aproveitar e comprar algo para a casa, presentes de Natal, aquela comprinha extra no supermercado ou mesmo para pagar alguma conta. Mas, o melhor mesmo é fazer com que a árvores de Natal esteja enfeitada com os coloridos das caixas de presentes. Mesmo com o dinheiro a mais, o economista Jairo Ferraciolli, comenta que as pessoas deveriam pensar mais no que investir o 13º salário, principalmente para pagar as dívidas. “Todas as famílias tem contas fixas, é inevitável, então, porque não aproveitar esse dinheiro extra e pagar essas dividas ou mesmo negociar, assim, é possível ainda economizar e ganhar algum desconto, e aí sim, pensar em compras”, explicou Ferraciolli. Consumidores pesquisam para encontrar presentes com menor preço
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Mercado
Natal em oferta: publicidade vende emoção Profissionais aproveitam o lado lúdico e comemorativo da data para conquistar clientes e consumidores Analú Vignoli e Michela Zamin Michela Zamin
cores vermelha e verde predominam nas campanhas de Natal e os descontos também fazem parte do pacote. Uma concessionária de automóveis da região optou por presentear os clientes com agenda, calendário e uma garrafa de vinho. No setor de arquitetura, outra preferiu algo mais tecnológico, um pen drive encaixado a um cartão.
Ainda existe afetividade?
Campanhas publicitárias de fim de ano enfatizam os descontos e aquecem comércio
A
magia do Natal encanta as pessoas. Deixa os corações amolecidos e cheios de lembranças nostálgicas. Época de festa, de reunir os familiares e de trocar presentes. No mercado publicitário, do significado religioso do Natal fica apenas o registro de uma data de sonhos. É “explorando” o lado emocional do consumidor que empresas aproveitam para ampliar as vendas. A data não faz distinção de setor. Empresas do varejo, automobilísticas e confecções, todas esperam com otimismo a chegada do Natal. ‘Aumenta a demanda, aqueles clientes que tem uma frequência conosco, relativamente baixa, geram demandas específicas’. Assim afirma a responsável pelo atendimento ao cliente da Agência Inteligência Marketing, Dagmar Clarissa Basseggio, mais conhecida como Ciça Muller, que também é dona da empresa. Parece que todos querem aproveitar para tirar uma “casquinha” do consumidor em potencial. O Natal se torna uma data em que as pessoas decidem dar uma pausa na rotina e se voltar para as comemorações pessoais. O mercado apenas aproveita para instigar o desejo de consumir, na verdade, aguçar o sentido de “obrigatoriedade” de comprar ao menos uma lembrancinha, para quem durante todo o ano esteve presente na sua rotina. Atendendo a clientes como
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o Vis a Vis Motéis, Colégio Unificado, Supermercados Schimit e Promenac/Camvel, Ciça revela que os trabalhos para as campanhas de Natal começam a ser debatidos com os clientes em outubro. Mas confessa que alguns deles acabam deixando
“
Um grupo pensa melhor que um indivíduo, cada
membro da equipe faz toda a diferença. Os projetos sempre envolvem todos nós
tudo para o último instante. “Se o cliente deixa para a última hora atrasa todo um processo, aí o fornecedor já está com uma sobrecarga de trabalho e alguma coisa pode não sair tão boa quanto o esperado.”.
Apesar da tradição, o comércio quer mesmo é se sobressair para o cliente. Desafio em dobro para os publicitários. Gustavo Henrique Seeling trabalha na área de criação da Agência Inteligência Marketing e afirma que o processo de elaboração e produção das peças leva cerca de uma semana para ficar pronto. Mas as mentes se rendem ao lado afetivo do Natal. Ciça ainda destaca que “as próprias empresas se presenteiam, au-
mentam o número de brindes.” É também uma oportunidade de estreitar relações com os clientes da agência e ajudá-los a firmar laços com os clientes deles.” Esse emaranhado consumista é tão tradicional nesta época quanto as celebrações religiosas que reverenciam o nascimento do menino Jesus. O Natal não pode ser Natal se os sinos deixarem de badalar. Se o presépio não for montado embaixo de uma árvore verde, carregada de bolinhas coloridas, com uma grande estrela dourada na ponta. Se nem ao menos um senhorzinho, barrigudinho, arrastando um saco vermelho estiver por algum canto da casa. Se o comércio deixar de nos enfeitiçar com as frases de efeito sobre harmonia e se na noite de 25 de dezembro nada nas mãos pudermos oferecer. Não é assim?
Michela Zamin
Tradição na publicidade
Se em Belém, ao sul de Jerusalém, nasceu o verdadeiro significado do Natal para os cristãos - Jesus, a data passou mesmo a ter relevância para o comércio em Nova York. Ainda hoje a cidade é destaque nesta época do ano. Os que já passaram por lá, no Natal, se dizem encantados com a decoração das casas, ruas, pontes e prédios, e com a oferta de produtos. Muitos são os símbolos do Natal: trenós, renas, duendes, presépios, árvores decoradas, luminárias e o famoso velhinho, de barba branca, trajes vermelhos, que sai pelas madrugadas carregando um saco nas costas. Características quase de uma história de terror, daquelas de assustar criancinhas. Mas, na verdade, ele é o ídolo delas (as crianças) - o Papai Noel. Todos esses itens acabam enfeitando jardins ou pendurados nas sacadas das casas. Mas os “criadores do brilho de Natal”, os publicitários, mesmo com tantas opções se dizem limitados na hora da criação. A data tão tradicional nos lares de todo o mundo não permite ousadias. O jeito é se cercar de argumentos comuns como a paz e a harmonia. “A data não proporciona muita liberdade na criação, ela acaba amarrando bastante a parte criativa” - conclui Ciça. É no tradicional que as empresas se apegam para chamar a atenção de seus clientes. As
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Empresas chamam a atenção de clientes com brindes
Michela Zamin
Da esquerda para a direita, a equipe da Agência Inteligência Marketing: Fernanda Santos, Jessica Jucá, Aline Muller Pasetti e Ciça Muller
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Moda
Roupas para arrasar na chegada do bom velhinho
O Natal e o fim de ano são datas especiais. Fique elegante nas festas sem deixar de lado o conforto Camila Aragão e Dayane Bueno
O
Natal está chegando e a dúvida mais comum, principalmente entre as mulheres, é qual roupa usar nesta data tão especial. Como o Natal simboliza uma reunião familiar, onde comemoramos o nascimento de Jesus Cristo, o melhor é optar por um look mais discreto para não errar. Se a sua escolha para o Natal for um vestido, a estilista Renata Garcia dá algumas dicas importantes: “Os vestidos estampados são uma ótima opção, mas nem todas podem usar certos estampados, por isso, devem ter cuidado ao escolher a estampa. Prefira sempre padrões pequenos para não aumentar o volume. Os de renda são outra tendência que está com tudo, esse tipo de vestido é ideal para usar no Natal porque nos remete a algo romântico e requintado”. Segundo a estilista,
as cores também são importantes para a composição de um bom look: “O vermelho é a cor tradicional do Natal, mas cores como o laranja, azul, amarelo, verde, e até mesmo preto são opções elegantes”. Como a ocasião reúne pessoas especiais em um momento especial, normal que toda mulher queira ficar linda e arrasar. A estudante Anne Aguiar optou por um vestido tomara que caia e longo: “Vou usar um saltão e um vestido florido. O tecido é bem fininho para dar um toque de sofisticação no meu look, que a noite merece”. Outra super dica para você arrasar é o paetê que vem ganhando espaço nas últimas estações e estará presente neste verão também. O brilho pode ser usado durante o dia. “O preconceito acaba quando os pequenos apliques são
Divulgação
Abuse do paetê para o final de ano
bem dosados em looks com peças neutras. Brilhar sim, mas não em excesso”, ensina Renata Garcia. Em uma produção para o dia, pode-se usar o paetê em blusinhas e jeans ou algo de alfaiataria. O segredo é o equilíbrio do brilho com peças básicas, pois o paetê chama atenção. Para as mulheres que têm o quadril largo o ideal é optar pelo brilho na parte superior, com blusas, casacos, coletes. Já as que reclamam de muito busto devem preferir peças mais básicas na parte de cima e brilho na parte de baixo. Mas se a intenção for disfarçar os quilinhos a mais, um vestido de paetê não é a melhor opção. Os acessórios para essa produção também precisam ser bem pensados, pois a atenção já está na roupa, por isso o melhor é dosar com acessórios neutros. Outras opções para o verão
são o tie-dye e as cores fortes como o azul royal. O tie-dye é um look despojado e descontraído. Para quem não conhece, é uma antiga técnica utilizada especialmente na Ásia e África. As técnicas de produção podem variar, geralmente os desenhos são produzidos através de tingimento do tecido, com algumas partes protegidas do contato com o corante. Antes do tingimento, é feito um preparo do tecido para se conseguir o efeito degradê, com a ajuda de barbantes, que são enrolados e amarrados fortemente nas partes que não devem ser tingidas. O azul royal vem com tudo no verão 2013, em sapatos, bolsas, acessórios, roupas. E saias longas nem se fala, são tudo. Inverno ou verão, elas sempre estão compondo os looks. São uma peça fundamental em um guarda roupa.
Nicolle Andrews
Reveillon no Brasil é sinônimo de praia, por isso a roupa da virada pode ser descontraída, confortável e até adequada para um banho de mar
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Itajaí, dezembro de 2012
Mobilidade
Obrigação e lazer: uma corrida contra o tempo Enquanto alguns diminuem o ritmo de trabalho, tem gente que vive as festas de fim de ano como uma maratona Patrícia Dias
T
udo parece estar sob controle até o momento em que o jovem aluno de Ciência da Computação e balconista de uma loja esportiva em Balneário Camboriú, Rafael Mafra, de 23 anos, percebe a chegada do mês de dezembro. A época, que de acordo com a Igreja Católica, é tempo de reflexão sobre o nascimento de Cristo, move nosso protagonista a se desdobrar no trabalho para faturar um extra e poder viajar, mesmo que só na véspera, para encontrar seus familiares e vivenciar com eles essa data tão importante para os cristãos. Rafael trava uma verdadeira corrida contra o tempo. “São tantas coisas para resolver, preciso trabalhar até mais tarde, encarar compras, gastos extras no cartão de crédito, agenda cheia de compromissos e listas de tarefas a serem finalizadas até poder dizer: Ufa! Só aí entro no ônibus, rumo à casa da minha família [em Campos Novos, no oeste catarinense] para com eles cear”. Para muitas pessoas a ficha de que o ano está realmente chegando ao fim e que há uma série de medidas a serem tomadas só cai quando resta pouco tempo para executá-las. Para evitar a correria típica da época, a dica é planejamento. O acúmulo de decisões resulta no estresse, então é preciso estabelecer prioridades. Entrar no ritmo que o fim de ano impõe pode consumir mais energia do que se imagina, explica a psicóloga Márcia Gomes. De acordo com a profissional, se Rafael e a maioria das pessoas praticassem regras simples tudo ficaria mais tranquilo e se aproveitaria de uma melhor forma a data tão esperada. A consultora de organização pessoal, residencial e empresarial, Nádia Arantes, orienta com algumas sugestões, desde as mais simples como programar em forma de tabela a distribuição das tarefas (compra de presente, viagem, ceia, etc.), até as mais específicas como organizar a noite de Natal. Afinal, um planejamento dos compromissos pode evitar, além do cansaço e do corre-corre, que se comece um novo ano com a conta bancária no limite ou abaixo dele.
Com o pé na estrada
O ideal é que as viagens de Natal e Réveillon sejam planejadas desde o início do ano. Quem deixa para pensar em passagens e reservas de hotel na última hora pode colocar em risco o roteiro dos sonhos e pagar um alto preço para passear. Nesse caso, a gerente de vendas de uma das
Itajaí, dezembro de 2012
Para a segurança
De olhos bem abertos
O motorista deve programar paradas, pelo menos, a cada três horas. Quem se expõe muito tempo na direção fica sujeito ao fenômeno da “hipnose rodoviária”, na qual se mantém com os olhos abertos, mas sem percepção da realidade à volta. Ela vem acompanhada de sonolência, perda de reflexos e de força motora. Em viagens noturnas, o alerta é para a redução da visibilidade e a prática de crimes cometidos à noite.
agências de viagem mais procuradas da região de Itajaí, Elizabeth Costa, afirma: “As tarifas que oferecemos são as mesmas o ano todo, o que muda com o passar do tempo é a disponibilidade de datas, horários e hospedagens. Quem deixar para programar sua viagem em cima da hora ficará sujeito a adaptar o passeio às possibilidades oferecidas”.
De olho no bolso
É importante manter os pés no chão para evitar começar o ano novo envolvido com dívidas antigas. Elaborar um orçamento, fugir dos parcelamentos e utilizar o 13º salário de forma adequada ajuda a começar esse novo período de forma tranquila e sem pendências financeiras. Nesse caso o profissional de Ciências Contábeis, Osvaldo Balduino, afirma que o grande segredo é não comprometer mais que 30% da renda, ou seja, é preciso existir uma reserva. Ainda alerta que o ideal é fazer compras a vista, no caso de parcelamentos, deve-se optar por não pagar juros. “Os juros estão muito altos no mercado atual, então o ideal é comprar a vista, pois com dinheiro na mão se conseguem ótimos descontos”. Com dicas simples é possível ter um fim de ano tranquilo e um início de 2013 com um verdadeiro sentimento de recomeço.
Locomoção facilitada
Assim como Rafael Mafra, muitas pessoas se deslocam para diferentes lugares nos últimos dias que antecedem as festas. Há quem vá ao encontro da família, quem decide comemorar o Natal e passar a virada de ano em um local diferente... Enfim, motivos para deslocamento seja de moto, carro, ônibus ou avião não faltam nesta época. Durante períodos como este, festivos, as empresas de transporte de passageiros se programam para suprir um mercado com demanda pra lá de aquecida. Na região de Itajaí, as empresas de ônibus ampliam sua frota, em média, com cinco linhas a mais
nas saídas de Balneário Camboriú para Florianópolis e Balneário Camboriú para o oeste do estado, assim também para o Paraná. Mesmo diante das mudanças, a relações públicas de uma dessas empresas, Mariana Toledo, garante que ocorrem transtornos, principalmente na véspera de Natal. Da mesma forma, imprevistos e contratempos acontecem nos aeroportos: mesmo com o aumento de linhas de voos é comum haver atrasos, problemas com bagagens e outros. Afinal, nesta época existe o público que viaja com frequência e a negócios, mas tem outra parte da população que tira férias e aproveita para viajar com a família durante toda a temporada de verão. Este segmento não amplia linhas tanto quanto o anterior, mas sofre com o esgotamento de passagens e os frequentes casos de overbooking - mais passageiros que lugares nos voos. Tem que opte por viajar com seu próprio automóvel, o que gera transtorno nas rodovias e preocupação por parte da Polícia Rodoviária Federal, que já no mês de novembro começa a programar a “Operação Fim de Ano” nas estradas federais de todo o país. Este trabalho tem como objetivo fiscalizar o trânsito durante os feriados de Natal e Ano Novo. De acordo com Inspetor da PRF – SC, Ewaldo Stelzemberger, em torno de 9,2 mil agentes vão se revezar nos 68 mil quilômetros de rodovias federais para controlar as infrações de trânsito e condutas de risco como excesso de velocidade, ultrapassagens em locais proibidos e embriaguez ao volante, que são as principais infrações presentes na maioria das ocorrências de trânsito com morte registradas pela corporação. Ações de fiscalização com etilômetros (os populares bafômetros), radares e carros de polícia em pontos estratégicos serão intensificadas em todo o país, principalmente para o cumprimento da Lei Seca.
JORNAL COBAIA
A PRF recomenda mais atenção nos trechos de pista simples e cuidados redobrados para as ultrapassagens. Em rodovias duplicadas a atenção deve se voltar ao limite de velocidade. Em trechos de rodovias que cortam cidades, a PRF pede mais atenção com a redução de velocidade e a maior presença de pedestres, ciclistas e motociclistas. O motorista deve procurar se informar sobre as distâncias que
vai percorrer, pontos de parada, existência de postos de combustível e de restaurantes à beira da estrada. Não esquecer sua documentação e do veículo. Pedem ainda que o motorista cheque os faróis, mantenha os pneus calibrados, motor revisado e com óleo e nível de água do radiador em conformidade. Cuidado com os equipamentos como estepe, macaco, triângulo, chave de roda e luzes do veículo.
Patrícia Dias
Ônibus extras para garantir mais viagens e atender todo mundo
Patrícia Dias
Comprar a passagem com antecedência evita frustrações à última hora
Ônibus
A dica é somente embarcar em terminais rodoviários homologados, evitando o uso de transporte clandestino, que não oferece segurança nem garantias em caso de acidentes. Exigir das empresas de transporte interestadual que todos os passageiros embarcados estejam devidamente identificados, como estabelece a legislação. Da mesma maneira, todas as bagagens devem estar etiquetadas e vinculadas aos respectivos passageiros. Quem utiliza o transporte deve exigir cinto de segurança em todos os assentos. Em caso de assalto, a recomendação é não reagir.
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Ciência
Da manjedoura até a cruz para salvar o mundo
O sofrimento de Cristo comparado às dores da sociedade moderna e explicado a partir do conhecimento científico Monike Furtado
A notícia
No dia 26 de novembro, Alison Lopes, de 24 anos, sofreu um acidente no trabalho logo após tentar erguer um poste. O operador do Porto de Itajaí sentiu dores no braço esquerdo no exato momento em que fazia um esforço intenso. A ambulância o levou para o pronto-socorro do Hospital Marieta Konder Bornhausen. Ele foi atendido e saiu de lá com o diagnóstico de deslocamento no braço e orientação de tratamento fisioterapêutico.
O início da dor - João, 19
“Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou. E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lhe puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram roupa de púrpura. E diziam: Salve, Rei dos Judeus. E davam-lhe bofetadas”. (..) “E era a preparação da Páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei. Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César. Então, consequentemente entregou-lhe, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e o levaram:.
Contemporaneidade
Nas costas, na cabeça, nas pernas. Infinitas possibilidades e combinações de dores. Alison nem gosta muito de conversar sobre isso: “Ah, sentir dor é mesmo horrível. Não vejo a hora de não sentir mais nada e começar logo a trabalhar”. O operador do Porto de Itajaí está há duas semanas afastado por ordens médicas. “Mas já é muito, né?”, se queixa o homem. São 14 dias sofrendo dor. Mas, para o conforto de Alison, em números sua dor parece menos latente: significam apenas 0,31% dos 4380 dias em que Beatriz de Oliveira já sentiu dores. Desde 2006, ela sofre de tendinopatia. “É uma dor insuportável”, diz a manicure sobre a doença nos ombros ocasionada pela repetição de movimentos. “Agora já é crônico. Mas aprendi a viver com dor”. Beatriz e Alison entram nos mesmos índices. Os dois sentem latejamento, dores agudas e fazem fisioterapia. Foram atendidos por médicos especialistas e tomam remédios para atenuar o problema. Remédios, por sinal, existem aos milhares, de todo tipo. Só no Brasil, a média é de 60 mil medicamentos registrados, segundo cruzamento de dados da Associação Federal de Farmácia e do Conselho Federal de Medicina. São
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séculos de cultura de medicação. O farmacêutico Ulisses Adriano do Vale observa que muitos remédios surgiram de usos comuns caseiros. “Um chá, uma erva, uma planta podiam ser parte do tratamento antigamente”. “Eu que tenho tanta dor, fico até acomodado já com a situação porque sei que tem algum tratamento, tenho quem procurar”, confidencia Beatriz. A manicure, que é cristã, se coloca no lugar de Jesus, açoitado e pregado na cruz: “Nem dá pra imaginar. Sem nenhum amparo, sem atendimento. Sabemos que tinha de ser assim, mas dói só de pensar na dor que Ele sentiu”. A relação da humanidade com a morte e a dor mudou de maneira drástica desde o período em que Cristo foi tido como morto até agora. Mas em uma coisa continuamos a concordar: dores devem ser evitadas e a morte procrastinada ao máximo. “Se Jesus tivesse sido atendido logo após o início da crucificação e se existissem os mesmos recursos que agora, Ele poderia ter recebido uma receita médica relativamente simples”, sugere o farmacêutico Ulisses. Depois de ter o atendimento e ser levado ao médico, Ele poderia ser tratado com morfina ou codeína, que diminuem a dor, deixando a pessoa sedada. “Ele seria tratado com o medicamento Codein, por exemplo, que custa R$34,00, e teria uma recuperação de dois ou três meses em casa. Mas as cicatrizes iriam ficar para sempre”.
Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito”.
Imprecisão
Todo cristão já ouviu alguma história sobre a morte do Salvador. Mas a própria Bíblia ainda deixa algumas brechas. Mesmo o Evangelho mais detalhado não nos explica o suficiente. “Eu não sei exatamente como foi, mas sei que Ele sofreu muito, né?”. A afirmação envolta em dúvidas de Fabiano Correia da Silva, católico não praticante, é comum mesmo aos fervorosos na religião. “A morte de Jesus Cristo trouxe consequências ao mundo”, explica o padre Edivaldo Nogueira. “ E s t a morte é um projeto de amor e a dor perpassa isto”. Fabiano, que não segue precisamente as doutrinas da Igreja, vai ter uma filha em fevereiro. “A gente já sente dor na cabeça ou em qualquer lugar e é ruim. Acho que a dor que minha esposa vai sentir no parto deve ser bem sofrida. Imagina então a dor que Jesus sentiu... Minha nossa!”, Fabiano espera a filha Sofia com ansiedade e vai ser pai na exata idade em que Cristo morreu, 33 anos.
Laudo médico
Em nossa imaginação, estimulada pelos clássicos hollywoodianos, a emoção da crucificação de Cristo é aguçada pelas cenas de sangue e choro. Mas, do ponto de vista científico, há outros pontos que merecem ser considerados. O médico legista americano Frederick Zugibe, de 76 anos, é um dos estudiosos da causa mortis de Jesus. Ele escreveu três livros e mais de dois mil artigos sobre o tema. O professor da Universidade de Columbia dissecou a morte de Jesus de forma objetiva. Católico fervoroso, atravessou meio século estudando a questão. Segundo Zugibe, Cristo morreu de parada cardiorrespiratória decorrente de hemorragia, perda de fluidos corpóreos e choque traumático causado por castigos físicos. Já para o médico generalista Eroni Foresti, de Itajaí, Jesus sofreu por outros fatores: “Se eu fizesse o laudo médico legal seria politrauma, ou seja, devido a um processo de ordem mecânica, com a ação de instrumentos cortantes e posteriormente com a ação de ordem bioquímica, com o processo infeccioso e ainda a inanição, Ele acabou morrendo
por não ter o atendimento. E isso pode ter levado à parada cardiovascular e assim, a falta de sangue na cabeça e de oxigênio, deixando Cristo em coma profundo e morrendo em seguida”. Foresti não tem a mesma vasta lista de estudo que o americano Zugibe, mas aponta o laudo a partir da experiência médica. “Até um tétano causado pelos pregos poderia ter causado a morte”. Zugibe trabalhou utilizando uma cruz de madeira e com voluntários suspensos, monitorou eletronicamente os detalhes da ação. Ele, que foi durante 35 anos patologista-chefe do Instituto Médico Legal de Nova York, baseou-se em três momentos da Paixão: a condenação, o açoitamento e a crucificação. No livro de Lucas, que também era médico, o relato do momento coincide com o que Zugibe teoriza: “o seu suor se transformou em gotas de sangue que caíram ao chão”. O fenômeno da hematidrose pode ocorrer em indivíduos sob stress mental, medo e sensação de pânico. As veias das glândulas sudoríparas se comprimem e depois se rompem e o sangue mistura-se então ao suor que é expelido pelo corpo. Monike Furtado
Suspiro final - João, 19
“E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota, onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. (...) Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede. Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissope, lhe chegaram à boca. E, quando
Ferido pelos pregos, Jesus poderia ter morrido de infecção causada pelo tétano. Hoje, médicos estudam a morte na cruz e dão diferentes laudos sobre os efeitos dessa tortura
JORNAL COBAIA
Itajaí, dezembro de 2012