CoCriança: Experienciar a paisagem para autonomia da criança

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Andrea Amato Muner Orientadora: Profa. Dra. Karina Leitão Coorientadora: Profa. Dra. Catharina Lima Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo Agosto 2020


COCRIANÇA: EXPERIENCIAR A PAISAGEM PARA A AUTONOMIA DA CRIANÇA



Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Catalogação na Publicação Serviço Técnico de Biblioteca Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Muner, Andrea Amato COCRIANÇA: experienciar a paisagem para autonomia da criança / Andrea Amato Muner; orientadora Karina Oliveira Leitão. coorientador Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima - São Paulo, 2020. 272 p. Trabalho Final de Graduação (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 1. Paisagem. 2. Crianças. 3. Autonomia. 4. Oficinas. I. Leitão, Karina Oliveira, orient. II. Lima, Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos, coorient. III. Título.

Elaborada eletronicamente através do formulário disponível em: <http://www.fau.usp.br/fichacatalografica/>



AGRADECIMENTOS Queria primeiro agradecer à todas as crianças dos CCAs, que nos acolheram desde o começo e abriram os seus braços para o CoCriança. Que nos ensinaram, durante esses anos, a cuidar do que é nosso e a sonhar juntos! Aos meus pais, Ilso e Lucia. À minha mãe, por ter me ensinado o poder que têm os pensamentos, as palavras e as ações em nossa formação enquanto ser humano, em nossas relações interpessoais e, principalmente, na transformação de realidades. E ao meu pai, por me ensinar a lutar e me posicionar concisamente pelo que acredito, mas, acima de tudo, a cuidar e defender o que amo. Hoje, cada vez mais, tenho certeza de que, se meus sonhos - entre eles o CoCriança - puderam acontecer, é porque tive a base, suporte e apoio dos dois. À minha irmã, Cati, que consegue extrapolar todos os sentidos da palavra irmã: pois além de minha cúmplice e companheira de vida, me apoia e é presente em cada momento de minha trajetória, questionando até essencialmente entender e,


assim, fazendo também parte. Agradeço por ser a irmã que,

tenha a força para continuar, a crença para seguir e o

quando juntas, somos muito mais.

sentimento para crescer cada vez mais. Obrigada por terem co-criado este projeto de vida comigo, se hoje ele existe, é

Agradeço à minha querida orientadora, Karina, por ter sido

graças a vocês:

completa em todos os sentidos da palavra professora, pois

À Bia, que sem ela nada disso seria possível. Sou eternamente

ensina, acima de tudo, pensando no humano e no ético,

grata por sua parceria, por todas as trocas e reuniões. Por

sem deixar de contribuir enormemente para o crescimento

me ensinar sempre a olhar com beleza para as coisas e a

técnico, prático, crítico e científico de seus alunos. A ela,

cuidar para poder crescer.

por sempre nos acolher entre tantas dúvidas e incertezas,

À Amanda, por toda a sua força, que sem ela, teríamos sido

dentro desta trajetória que foi a FAU e é a vida. Obrigada, Ka,

metade. Obrigada por ser um exemplo de determinação e

por todo o carinho, paixão e inspiração que traz ao ensinar.

lealdade, sabendo dar a devida importância ao que se faz necessário.

À Catharina, que me ensinou desde os primeiros dias de FAU

À Cami Audrey, por ser tão verdadeira que transborda com

a olhar com leveza e boniteza para a cidade e seus espaços,

um olhar. Agradeço por sua resiliência e convicção de ideais

a projetar com sentimento, sensações, e que projetar com o

que, hoje, sustentam e dão forma ao CoCriança.

outro faz muito mais sentido. Mas, agradeço, principalmente,

À Cami S, por ser muito e mais um pouco! Por toda a sua

por ter me ajudado a encontrar meu caminho nas belezas e

energia, que é sempre acompanhada de muito sentimento

responsabilidades que é ser uma paisagista.

e responsabilidade, se fazendo parte fundamental para todo o nosso projeto.

À Hulda, por ter me inspirado tanto. Por todas as palavras

E à minha amiga May, por todo o seu carinho, amor e

trocadas ao longo de seus textos e reuniões.

companheirismo, mas também, por me ensinar sempre a ouvir e a comunicar. Agradeço por todas as nossas conversas e

Às meninas do CoCriança por, primeiro, estarem sempre nos

realidades co-criadas, que transformam a minha vida.

cuidando umas das outras, fazendo com que este projeto

Às meninas que entraram e estão junto. Agradeço por também


investirem neste sonho compartilhado: à Yumy, por nos ensinar

longo deste importante setênio de nossas vidas.

a trabalhar com cautela, nos fazendo enxergar os muitos pontos de vista; à Gabi, por sua leveza no olhar e dedicação no atuar; e

Aos facilitadores do Programa Germinar, Márcia Andrade,

à Sil e à Ray por acreditar e co-criar.

Rafa Fueb, Márcia Alexandre e Nati Rocha, por todos os

Ao Lucas, por ter também participado e se dedicado a

ensinamentos, que transformam preenchendo o meu eu e

registrar os encontros, obrigada por sua parceria! E também

transbordando para os outros.

a todos que já passaram pela Equipe CoCriança: Ilana, Jayne, Aline, Ju Pedote, Natalie, André, Andresa, Julia López e Mafê.

Aos educadores dos CCAs - Irmã Clara, Bruno, Kelli, Nathani, Sandra, Mari e Irmã Renata - pelo compromisso e parceria;

Agradeço ao Jhun, por ser tudo de um companheiro, me

à Sueli, por ter nos ajudado tanto e por sua força de luta por

tranquilizando nos momentos de dúvidas, me incentivando

uma cidade mais justa e igual; ao Fetiche, por todo o apoio e

nos de certeza e me apoiando nos de fraqueza. A ele, por

cuidado em casa; à Tonko por também cuidar e acreditar em

ser tão verdadeiro e carinhoso, e por ter me ensinado

nós; à Helô e à Erica por toda a ajuda e dedicação; ao Pedro,

a aprimorar com cuidado e paciência, e dedicar ao que

pelos desenhos...

acredito com a devida atenção. E a todos que preencheram os nossos espíritos de força e À Mari e à Isinha, parceiras de toda a minha vida, por se

vontade a cada vez que ouviram falar do CoCriança, que

fazerem sempre presentes em todos os momentos, e que

acreditaram e acreditam, assim como nós, na esperança

me ensinam muito sobre confiança e acolhimento.

mobilizadora de sonhos que concretizou nosso projeto!

Às minhas amigas “lôras”: Tati, Tai e Ritinha, que tornaram todos esses anos de FAU muitíssimos mais leves! A elas e à Ba Muhle, Paulinha, Ju Piments e Olie, agradeço pelas altas gargalhadas, os acolhedores abraços e todas as celebrações que passamos ao



EQUIPE COCRIANÇA 2019 O CoCriança inicia no primeiro semestre de 2017

Amanda Scotton

com a equipe fundadora - seis primeiros nomes.

Andrea Muner

Com o passar dos anos, essa configuração foi se alterando, agregando muitos colaboradores, até o presente dia. 2017 Amanda Scotton Andrea Muner Beatriz Martinez Camila Audrey Ilana Mallak Mayte Albardía

Aline Silva

2018 Amanda Scotton Andrea Muner Beatriz Martinez Camila Audrey Ilana Mallak Mayte Albardía

Aline Silva

Camila Sawaia

Camila Sawaia

Jayne Andrade

Jayne Andrade Julia Lourenção Julia Pimenta Natalie Maia

2020 Andrea Muner Beatriz Martinez

Beatriz Martinez

Camila Audrey

Camila Audrey

Camila Sawaia

Camila Sawaia

Mayte Albardía

Mayte Albardía Ana Clara Muner Aline Silva

Ayumy Pompéia

André de Moura

Gabriela Viola

Andresa Reis

Rayza Miranda

Ayumy Pompéia Julia López Gabriela Viola Maria Fernanda Pugliesi Natalie Maia Rayza Miranda Silvia Di Eusanio


ABSTRACT

This final work of graduation reports the experience lived by the author over

her years of work in the academic extension group, CoCriança, at University of São Paulo’s School of Architecture and Urbanism. As the project is based on participatory methods with children, the narrative aims to get the reader closer to the universe of the Construction Workshops, which happened after the remodel of the public spaces Praça Livre Para As Crianças, in the district of Brasilândia, and Praça do Samba, in Perdizes. In these places, each group of children takes action and builds autonomously the project they created, leading the decision-making processes and the execution of the activities. They act as real agents of the urban transformation when also inviting the local community to collaborate. Each of these spaces - one in the north and the other in the west of São Paulo - had a great influence both on the construction processes themselves and on the children’s learning processes, guiding to a reflection of the different relations that each group experienced in their co-created reality. Understanding the landscape as the totality that happens from human expression, CoCriança encourages the free play and in the city, in a way that these children build beyond their individual formation their shared feelings, which are stimulated by the sensations caused by the landscape, increasing the relation of belonging to the environment in which they live in. In this way, when appropriating the tools of the process, critically analyzing and seeing themselves as citizens of rights and with effective actions in regard to territories, they build their autonomies.


RESUMO

Este trabalho final de graduação relata a experiência vivida pela autora ao

longo de seus anos de atuação no grupo de extensão universitária, o CoCriança, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Sendo o projeto baseado na metodologia participativa com crianças, a narrativa busca aproximar o leitor do universo das Oficinas de Construção, que aconteceram após as reformas dos espaços públicos Praça Livre Para As Crianças, no distrito da Brasilândia, e Praça do Samba, em Perdizes. Nelas, cada grupo de crianças coloca a mão na massa e constrói de forma autônoma o projeto que criou, protagonizando os processos de decisão e execução das atividades, agindo como real agente da transformação urbana ao convidar, também, a comunidade local para colaborar. Cada um desses espaços – um na zona norte e outro na zona oeste de São Paulo – teve grande influência tanto nos processos de construção em si quanto nos de aprendizagem das crianças, guiando a uma reflexão das diferentes relações que cada grupo vivenciou em sua realidade co-criada. Entendendo a paisagem como a totalidade que acontece a partir da expressão humana, o CoCriança estimula o brincar livre e na cidade, a fim de que essas crianças construam, além de suas formações individuais, o sentimento compartilhado, que é estimulado pelas sensações provocadas pela paisagem, aumentando a relação de pertencimento ao ambiente em que vivem. E, desta forma, ao se apropriarem de ferramentas do processo, analisarem criticamente e se enxergarem como sujeitos de direitos e de ações efetivas sobre os territórios, constroem as suas autonomias.



“Eu quero falar que a nossa Praça é um lugar pra se divertir, onde as crianças vêm brincar, os adultos vêm fazer suas coisas, suas necessidades. Aqui é um lugar bom pra estudar, pra regar planta, trazer o seu animal para brincar... Trazer o seu filho para brincar, porque a Praça é importante pra gente. Porque se não fosse graças à Praça, quase nem todas as crianças desse mundo teriam algum lugar pra brincar.” (João. Oficina 04 de Construção - Elisa Maria, 2019).


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

13

2.O PROCESSO

19

2.1 OPÇÃO POR ATIVIDADES COM CRIANÇAS NA METODOLOGIA PARTICIPATIVA - Metodologia Participativa - Ser Criança Na Cidade

21

2.2 O COCRIANÇA - História - As Oficinas - Oficinas de Projeto - As Obras - Brincar e criar (n)o espaço - Algumas de nossas referências

24 24 31 35 37 42 43

2.3 AS OFICINAS DE CONSTRUÇÃO

46

21 22


2.4 A PESQUISA - Planejamento - Vivências - Organização dos registros - O processo de análise

3. OS ENCONTROS

51 52 54 57 60

65

3.1 A ESCOLHA DOS LUGARES

66

3.2 LINHA DO TEMPO

74

3.3 OS ENCONTROS COM AS CRIANÇAS

76

182 183 186 192

4.3 PERCEPÇÕES DE PAISAGEM - O que é paisagem? - O direito à paisagem - Educação e paisagem

196 196 200 202 205

4.4 CONQUISTAS DE AUTONOMIA - Sobre educação e experienciar - Sobre educação e a reflexão crítica sobre a prática - Sobre educação, rebeldia e criticidade - Sobre educação e ser sujeito no mundo

211

163 217

5. SOBRE O MEU E O NOSSO APRENDIZADO

4. RELATO DE MEUS SENTIDOS

4.1 ANÁLISE DO CONTEÚDO - Oficinas de Construção - Análise das tabelas

164 164 169

218

6.1 BIBLIOGRAFIA

220

6.2 LISTA DE IMAGENS

4.2 COMO O LUGAR INFLUENCIA NO PROCESSO

173

223

6. BIBLIOGRAFIA

7. ANEXOS



1 INTRODUÇÃO

“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos” (FREIRE, 2019, p. 33)


1. INTRODUÇÃO Quando optei pela graduação no curso de arquitetura e

alimentar formas de dominação racionalista da sociedade urbana.

urbanismo, uma de minhas maiores vontades era a de transformar a

Nesse momento, me encontrei sem esperança no curso que eu

cidade de São Paulo. Queria torná-la mais habitável, mais verde, mais

estava, em mim e em minha missão. A favor de quem e do que estava

artística, mais agradável. Mais do que isso, ainda queria que todos

estudando? Em seu livro, Pedagogia para Autonomia, Freire (2019) explica

tivessem esses direitos, de poder ser na cidade e vivenciá-la como uma

que somos todos seres da esperança que, por “n” razões, acabamos nos

experiência política, estética e formadora. Antes mesmo de entrar na

tornando desesperançados. Daí que uma das nossas brigas como seres

Universidade, então, me envolvi com grupos autogeridos e coletivos de

humanos deva ser dada no sentido de diminuir as razões objetivas para

intervenções urbanas, que atuavam livremente com a mesma finalidade:

a desesperança que nos imobiliza.

transformar a relação do indivíduo com a paisagem.

Então, em 2017, criamos o CoCriança. Somos um grupo de

Com o tempo, a urgência dessa vontade foi se perdendo,

extensão universitária que tem como base a metodologia participativa

à medida que, já no terceiro ano de FAU, a arquitetura se tornou um

com crianças. Através de dinâmicas e atividades lúdicas cooperativas,

“bicho de sete cabeças”. Isto porque, o leque do abrangente curso se

buscamos promover uma aprendizagem vivencial que valoriza suas vozes

abriu de tal maneira - encontrei tantas outras possibilidades, deveres e

na co-criação de espaços de brincar inovadores. Assim, incentivamos que

saberes dentro desses anos de graduação - que acabei me distanciando

elas reconheçam os seus direitos como cidadãs ativas, experienciem a

daquela primeira vontade que eu tinha.

paisagem e participem dos processos de decisão e transformação urbana

para uma maior autonomia como indivíduos e como grupo social.

Me questionava, então, qual era o real papel do arquiteto?

Se ele é capaz de projetar o sonho em realidade, sobre quais sonhos estaríamos falando? O de quem realmente vai usufruir do espaço, ou

“(...) já não foi possível existir sem assumir o direito e o

o do próprio arquiteto? Segundo Wehmann (2019), ao elaborar um

dever de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. E tudo isso nos

sistema de significações não a partir das percebidas e vividas por aqueles

traz de novo à imperiosidade da prática formadora, de natureza

que habitam, mas a partir de sua própria interpretação do “habitar” a cidade, os arquitetos acabam por criar uma metalinguagem que passa a

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Imagem 02: Crianças do CCA Elisa Maria posam para foto coletiva na Praça Livre Para As Crianças, que se encontra em sua configuração inicial, ainda no ano de 2017 (Fonte: CoCriança).


Cae nessinv elicipsam quatiis quibus aut erio et desequas net eatias dolupti ntesece pratur?Vitius factastum actaremquem publice ritienam, nu ventra, nont? quiderfica di sedo, quem locchil iciemus at consulus se con Etratus cordint ienihilii con tratortuium P. Fui ina, dinatum patea videm se hocchus cus bont. Valium num is? que ac re nostrum horum, notem et facieme acrevit. Udem ducioris es addum is num pre dum vil capervivere, di eorume in tusquidius corionihilla teatro cor publia prita, consulo cciverentea ducerit. Oximularimil condam. Marena, confex sulartertem trioris; es! Ebuloste con rei se, vitius pulto et vatimur. Quam praribem stilibunum lat nihiliciam it L. Imei conunt graet quam inatatus re eti, ublis senimolia? Nos consciena, cus remqua deestrat, noculoc chumus; Cat. An vivertus bonestra, num opubliena, susserum tussolium ternit, ublia rei prox senit. Udero consum firisquit. Ecemeis quitiae deatuam popublicae cono. enenterit. Ihilin sigili scem iam sules audese nonsinam lare ta nonsist vidienatus, Catiaet ommordi entifex stred ficastus essi iam. Vatus suscri sciam te cotanti listre condace movehen atilium veret auciora vir ad inatum ipsere maximun tilicit. Nit? Andiu culicus ac re, diemqui ssendiessid dintrae, quam quo movervigna, Cate, omnit renihilium Palin pario cris, Catqui et fac tus humGiaestium que cus volor sunt mod et od ut erent.

Cae nessinv elicipsam quatiis quibus aut erio et desequas net eatias dolupti ntesece pratur?Vitius factastum actaremquem publice ritienam, nu ventra, nont? quiderfica di sedo, quem locchil iciemus at consulus se con Etratus cordint ienihilii con tratortuium P. Fui ina, dinatum patea videm se hocchus cus bont. Valium num is? que ac re nostrum horum, notem et facieme acrevit.

Cae nessinv elicipsam quatiis quibus aut erio et desequas net eatias dolupti ntesece pratur?

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eminentemente ética. E tudo isso nos traz de novo à radicalidade da esperança. Sei que as coisas podem até piorar, mas sei também que é possível intervir para melhorá-las” (FREIRE, 2019, p. 52. Grifo nosso).

Poder atuar na esfera da educação como prática formadora de pessoas que possam agir nas cidades, reconhecendo os seus direitos e também que a luta política faz parte da prática cidadã, era tudo que eu sonhava desde o começo. A esperança voltou a fazer parte de mim, ainda mais trabalhando com as crianças - que são seres de esperança. Eu estava, com elas, produzindo e lutando por formas de resistência aos obstáculos de nosso sonho. Sim, nosso, pois como veremos mais adiante, a infância como grupo social é excluída dos processos de decisão, da construção e do uso da cidade. Isto é, não há espaço para ser criança nas cidades, mesmo isto sendo um de seus direitos.

Neste trabalho, portanto, passarei pelas bases do CoCriança,

contextualizando o que foi - e é - este projeto de vida, a fim de entender a sua relevância para as cidades, mas, sobretudo, para as crianças. Sendo ele criado coletivamente, muito do que apresentarei é fruto das vivências, avaliações e reflexões feitas pelo grupo de facilitadoras do CoCriança e, Imagem 03: Crianças na Oficina Levantamento de Recursos na Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2018; Imagem 04: Crianças na Oficina Conversando com Autoridades na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

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por isso, usarei a primeira pessoa do plural para referi-las. Entretanto, com base na pesquisa qualitativa fenomenológica, buscarei também escrever os meus relatos sobre a experiência por nós vivida e, assim, ressaltar


INTRODUÇÃO

algumas de minhas percepções sobre o processo como um todo.

Maria, na Brasilândia, zona norte de São Paulo; e a Vila Anglo Brasileira,

Para este trabalho final de graduação, optei por focar nas Oficinas

em Perdizes, zona oeste. Cada um desses lugares possui particularidades

de Construção da metodologia CoCriança, que ocorrem após a concepção

intrínsecas aos processos de urbanização de São Paulo e que acabaram

do projeto co-criado, mas, principalmente, após a realização das obras,

tendo grande influência tanto na construção dos projetos paisagísticos,

que foram realizadas em parceria com o poder público. Ao longo dessas

quanto nos processos de aprendizagem das crianças.

oficinas, as crianças colocaram a mão na massa e construíram de forma

Entendo, também, que o brincar livre e na cidade constrói, além de

autônoma, protagonizando nos processos de decisão e execução das

sua formação individual, o sentimento compartilhado das crianças. E assim,

atividades, agindo como reais agentes da transformação urbana ao

no último capítulo, partindo de uma longa reflexão sobre a paisagem como

convidarem, também, a comunidade local para colaborar.

a totalidade que acontece a partir da expressão humana, e a cidade como

Desta maneira, o primeiro capítulo deste trabalho irá introduzir

tradução das manifestações, da criação e das impressões de cada indivíduo

ao leitor o que é a realização do CoCriança como um todo, passando

urbano (LIMA, 2017), vou discorrer sobre como estimular a percepção de

por sua história, metodologia, referências e relações construídas ao

sensações provocadas pela paisagem aumenta a relação de pertencimento

longo dos três anos de atuação. Para além do processo coletivo, buscarei

ao ambiente em que vivem. Sendo, desta maneira, um dos objetivos do

relatar também o passo a passo que usei para o desenvolvimento deste

CoCriança co-criar e construir esses ambientes - que costumam ser criados

TFG, que é composto por um longo detalhamento de análise em todo o

apenas por adultos - com as crianças, a fim de incentivar que mais relações

material de registro produzido durante as Oficinas de Construção.

se estabeleçam entre elas e o lugar em que vivem.

Composto por fotos, vídeos, transcrição de falas, registros

Isto é, a construção coletiva da paisagem contribui para a

pessoais e coletivos, avaliações e etc, utilizei este material para a escrita

formação de indivíduos politizados, pois, ao se enxergar como um sujeito

do segundo capítulo. Nele - que objetiva descrever o que foram todos os

de direitos e de ações efetivas sobre o território, a criança constrói a sua

encontros com as crianças - busco aproximar o leitor da realidade por nós

autonomia. Enquanto isso, o território em si influencia nessa construção

vivida, apresentando a linha do tempo do trabalho, os roteiros e relatos

sobre a criança, o que irei analisar também nos processos dos dois

de oficinas e uma breve descrição de cada um dos bairros: o Jardim Elisa

estudos de caso e pesquisa bibliográfica.

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2 O PROCESSO

Este primeiro capítulo busca introduzir ao leitor qual a minha intenção, enquanto pesquisadora, ao analisar o que foram esses três longos anos de trabalho com o CoCriança. Dentro deste período, direcionarei a análise desta dissertação a um semestre específico, mas é de suma importância que o projeto como um todo seja introduzido, pois o segundo semestre de 2019 - período que irei me aprofundar - é resultado de tudo o que fizemos antes. O CoCriança, hoje, é composto por nove mulheres1 que se dedicam semanalmente ao projeto. Atuamos com base na metodologia participativa com crianças, com o objetivo de promover aprendizagem vivencial que valorize a sua voz na co-criação de espaços de brincar inovadores. Dessa maneira, para fim de aproximar o leitor a esse universo que se tornou cotidiano para mim, irei primeiro justificar a importância de que esse trabalho aconteça com crianças na metodologia participativa, afinal, as grandes protagonistas de tudo o que fizemos até agora são elas, que analisaram, discutiram e projetaram, até que planejassem e co-construíssem esses espaços que lhes foram concedidos a respeito do reconhecimento de seu direito como cidadãs. A infância nas cidades foi esquecida: em 1973, 75% das crianças brincavam na rua; em 2016 esse número caiu para o 15% (FREE RANGE KIDS, 2019). Imagine quantas brincam agora em 2020? A sociedade adultocêntrica escondeu as crianças. Elas devem ficar dentro de suas casas “em segurança”, e assim, as cidades seguem sem criar espaços 1

Ler equipe CoCriança na página 05 deste trabalho.

19


públicos estruturados de maneira que sejam receptivos a elas. Quem

de nossa metodologia e algumas de nossas bases teóricas, até o instante

ouve a voz dessas crianças? Quem busca atender aos seus desejos,

do foco deste trabalho: as Oficinas de Construção, que vou introduzir no

reconhecendo suas vontades como sujeitos no mundo de agora e,

terceiro momento deste capítulo.

também, o seu direito a ser criança nas cidades?

Vale lembrar que, apesar do CoCriança ser composto

É a partir desses questionamentos que surge o CoCriança. Por

coletivamente por mulheres, quem escreveu este trabalho fui eu e, logo,

meio de oficinas lúdicas e cooperativas, buscamos resgatar a voz e a vez

diz respeito aos meus processos. Dessa maneira, buscarei mencionar

das crianças para a co-criação de espaços públicos, reconhecendo seus

o trabalho coletivo quando necessário, ou até mesmo referenciar

direitos como cidadãs. Assim, no segundo momento deste capítulo irei

bibliograficamente as teses escritas pelas outras fundadoras2, para fim

apresentar um pouco do que é o CoCriança, expondo o funcionamento

de que as opiniões não se misturem. Não foi simples fazê-lo, pois estive imersa no processo do CoCriança como um todo também, mas espero ter conseguido. Portanto, no último momento deste capítulo irei detalhar o meu processo de pesquisa. Também passarei pelo método utilizado por nós, facilitadoras do CoCriança, até chegar ao meu posicionamento de análise perante as Oficinas de Construção, contribuindo para que fosse possível relatar os meus sentidos, que irei apresentar no último capítulo desta dissertação3.

Imagem 05: Crianças caminham pelas ruas do Jardim Elisa Maria na Oficina Desenhando os Sonhos, 2017 (Fonte: CoCriança).

20

2 Maria Teresa Albardia (2019) e Camila Sawaia (2019) também publicaram trabalhos acadêmicos referentes ao CoCriança. 3 Ler capítulo 4. Relato de Meus Sentidos.


O PROCESSO

2.1 OPÇÃO POR ATIVIDADES COM CRIANÇAS NA METODOLOGIA PARTICIPATIVA Metodologia Participativa

ela, nos aproximamos das problemáticas que vivem essas pessoas a fim de ter um entendimento verdadeiro de suas necessidades e não construir

Vivemos em uma sociedade extremamente desigual. O Brasil

em torno de especulações ou dogmas socialmente estabelecidos como

é o sétimo país com maior desigualdade do mundo , e a configuração

corretos e/ou errados.

das nossas cidades refletem essa problemática. Em São Paulo, a maior

parte dos investimentos financeiros, de infra-estrutura, transporte, lazer,

envolvidos que os aproxima a uma cidadania ativa. Segundo Leite

etc. são direcionados para o centro, aumentando o seu valor de uso

(2018), só aqueles que participam das questões da sociedade são

pela terra e empurrando as classes mais populares para as periferias.

considerados cidadãos ativos. Já a cidadania passiva considera cidadão

Da mesma forma, aqueles que fazem parte dos processos de decisão

aqueles que por questões legais estão incluídos na sociedade. Para

da cidade são os que detém maior poder aquisitivo e, portanto, vivem

este trabalho, estaremos o tempo todo objetivando uma cidadania

no centro. Ou seja, as cidades brasileiras são planejadas por poucos

ativa, principalmente por entender que desta maneira o sujeito cidadão

e construídas para poucos, gerando um ciclo em que os que estão no

consegue ter maior autonomia para lutar por seus direitos em via de

poder constroem segundo as suas prioridades, e os que estão na base da

uma sociedade mais justa e igual.

pirâmide econômica continuam excluídos das tomadas de decisão para a

construção do meio urbano.

série de princípios, a fim de alcançar um processo que seja mais:

Em contramão a esta lógica construtiva, que vem se perpetuando

“sensível à cultura envolvente; honesto e transparente em relação aos

ao longo dos séculos, o projeto participativo busca promover a

verdadeiros objetivos almejados; democráticos por basear-se no diálogo

participação ativa de todas as pessoas mobilizadas num processo de

e no compromisso; inclusivo por dar voz aos que são tradicionalmente

tomada de decisões nas áreas relevantes ao seu presente e futuro (LEITE,

marginalizados; sustentável pelo efeito multiplicativo capaz de gerar

2018, p. 18). Dessa maneira, ao construir-se com a população e não para

novas dinâmicas comunitárias” (LEITE, 2018, p. 19); e de efeito duradouro

1

A construção participativa é um passo dos agentes nela

Sendo assim, a metodologia participativa atua segundo uma

por envolver e sensibilizar a comunidade do local. 1

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) - 2019.

Assim, o CoCriança surge como ferramenta participativa, que

21


busca reconhecer e instrumentalizar a voz dos cidadãos tradicionalmente

excluídos, a fim de contribuir para a formação de uma sociedade mais

como ativo e representativo de sua classe frente às tomadas de decisão,

inclusiva, justa e igual. Para que isso seja feito de maneira não impositiva

o projeto participativo busca instrumentalizar e contribuir para que

e de fato equilibrada, segundo Boff, em seu livro Como Trabalhar Com o

as pessoas internas ao processo possam “caminhar com as próprias

Povo, existem dois pontos muito importantes que devem ser levados em

pernas”. Isto é, o agente externo, como figura educativa, está fadado a ir

consideração quando se usa a metodologia participativa com camadas

desaparecendo, até se tornar de todos dispensável (BOFF, 1984).

populares, que no nosso caso, se aplica à co-construção de um espaço público:

Com o objetivo de incentivar o reconhecimento do cidadão

Sendo assim, o CoCriança se apresenta como uma metodologia participativa, uma vez que dois de seus objetivos são promover a participação das crianças nos processos de decisão e transformação

“Em primeiro lugar, o agente externo deve reconhecer sua

urbana, e reconhecer e instrumentalizar a voz das crianças para

situação de classe e o caráter de classe de seu pensar e agir (...). O que

autonomia. O que podemos introduzir como um projeto urbano-

importa sobretudo não é onde está, mas de que lado luta. O que conta

educacional que contribui para a formação de uma cidadania ativa dessas

não é a origem da classe, e nem a situação da classe, mas a posição,

crianças, que estarão se apropriando desde a infância de ferramentas

opção e prática da classe (...) de se situar ao seu lado na luta por uma

para a co-criação de suas cidades.

sociedade nova” (BOFF, 1984, p. 5).

Ser Criança Na Cidade

Esta lógica de inserção do agente externo em um lugar que não

Para tratarmos da relevância que tem o trabalho com crianças

é o seu é de extrema importância para o cuidado que se deve ter ao co-

na metodologia participativa do CoCriança, é válido lembrar o que

criar um projeto participativo. Ao reconhecer que a origem e situação do

diz Albardía (2019) sobre a designação às crianças como indivíduos

outro não é a mesma que a minha, há um reconhecimento da identidade

sem fala2, isto é, as infâncias consideradas sujeitos sem voz. E assim,

daquela pessoa, valorizando-a também como sujeito e, logo, cidadão de direitos.

22

2 “Infância” tem como origem infantia, do latim, onde o verbo fari , que significa falar; fan que significa falante; e in que constitui a negação do verbo em questão; dão


O PROCESSO

desconsideradas como agentes propositivas e apenas levadas em consideração quando direcionadas ao “futuro adulto”. A infância, como

Imagine, então, a importância de inserir as crianças das camadas

categoria social, só é válida de investimentos pois um dia se tornará um

populares no processo de transformação urbana. De repente, elas, que

adulto melhor; “o olhar para a criança pelo que representa e não pelo

socialmente representam o sujeito sem voz e que por isso devem ficar

que ela é, como indivíduo que, desde que nasce, tem a capacidade de

sentadas na escola, caladas, apenas recebendo e decorando informações,

Ser.” (ALBARDÍA, 2019, p. 31. Grifo nosso).

são perguntadas “qual o seu sonho para este lugar?”, “vamos transformar

A metodologia participativa, ao incentivar os agentes de

este lugar juntos?”.

transformação a poderem opinar sobre si, inclui aqueles que, normalmente,

Ainda sob esta lógica, o mundo adulto não permite às crianças,

estariam deixados à margem dos processos de decisão e inserção

como grupo social, de exercerem o seu papel como cidadãs. Isto porque,

urbana. Ao focarmos na criança como agente de transformação urbana,

além de serem consideradas sem voz, existe um medo que paira sobre

reconhecemos a sua voz e a sua importância como sujeito no mundo. As

as famílias das grandes cidades que considera a rua um lugar perigoso.

enxergamos no agora, e não no futuro, levando em consideração que elas

Portanto, lugar de criança não é na rua, é dentro de casa, protegida e em

são agora usuárias e propositivas em nossas cidades. Segundo Leite, a

segurança.

metodologia participativa atua em benefício de fornecer:

É por este e outros motivos, justamente, que podemos afirmar que uma cidade pensada para as crianças é uma cidade pensada

“Credibilidade dos cidadãos na sua importância perante

para todos, e isso se aplica não somente à segurança, mas também à

o Governo e nas suas capacidades técnicas e sociais capacitando-os

infraestrutura, lazer, transporte, cultura, etc. Portanto, uma cidade

para lidar com outros problemas que existam ou que possam surgir na

pensada pelas crianças é uma cidade ainda mais inclusiva, justa e

comunidade por iniciativa individual ou coletiva” (LEITE, 2018, p. 20).

igual. Quando propomos atuar com elas como cidadãs ativas, estamos

sentido ao conceito como um todo. Infans refere-se ao indivíduo que ainda não é capaz de falar; infans designa, então, àquele indivíduo sem fala - mesmo ele conseguindo biológica e racionalmente articular o seu discurso e as suas palavras desde criança.” (ALBARDÍA, 2019, p. 29).

imediatamente incluindo a todas as outras camadas da sociedade o direito à cidade, como argumenta Wendell:

23


2.2 O COCRIANÇA “[A Praça] É bom porque um monte de crianças pode brincar.

História

Mas nós não estamos expulsando os usuários de droga de onde eles

Visando co-construir uma cidade que seja habitada por todos,

moram. Eles podem ficar aqui, como eles quiserem, mas, também tem

o CoCriança consiste numa atuação coletiva que tem como premissa

que ter o direito da criança.” (Informação verbal, Wendell, Oficina 04

promover a aprendizagem vivencial de um projeto participativo e

de Construção - Elisa Maria, 2019).

paisagístico, onde se reconheça e valorize a voz da criança. Nascemos em 20171, de uma disciplina de Planejamento Urbano

As crianças já carregam em si a empatia. Wendell, nesta fala, não

e Paisagismo2 - na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo

pensa em expulsar os usuários de drogas da praça, todos têm direitos ao

(FAU-USP) - e éramos em seis idealizadoras, que tinham a intenção inicial

uso da cidade. No entanto, não se pode esquecer do direito da criança,

de atuar em parceria com o CCA Elisa Maria, localizado na Brasilândia,

onde elas brincam afinal?

zona norte de São Paulo. Isto porque, as professoras doutoras Catharina

É neste sentido que o CoCriança surge como uma ferramenta para

Pinheiro e Karina Leitão, orientadoras das duas disciplinas, apresentaram

que elas tenham suas vozes ouvidas e possam participar dos processos de

como ponto de partida para o projeto final de arquitetura, o contato com

decisão e transformação urbana como cidadãs ativas. Exercem, assim, o seu

algumas lideranças locais que nos apresentaram o distrito da Brasilândia.

direito civil, pois prevê a liberdade de expressão, de justiça, de lazer, entre

A disciplina propunha que seguíssemos os seguintes passos:

outros; o político, pois garante o direito a participar e ser representada; e o

primeiro um mapeamento, pesquisa e levantamento de alguns dados

social, abrangendo seu direito ao bem-estar, à segurança e à oportunidade

sobre a região. Depois, localizar problemáticas que fossem relevantes

de viver uma vida civilizada (LEITE, 2018, p. 31).

e tivessem potencial para o desenho de um projeto de intervenção

Neste trabalho, iremos analisar como as Oficinas de Construção

urbana. Este modelo de desenvolvimento de projeto, inclusive, é

que o CoCriança elaborou e realizou com as crianças, através do

aplicado em grande parte das propostas que os alunos da FAU aprendem:

processo participativo de construção da paisagem, contribuiu para que se tornassem mais conscientes de sua posição como cidadã ativas e, portanto, mais autônomas.

24

1 Para uma melhor situação do contexto, usar Linha do Tempo CoCriança no capítulo 3.2 deste trabalho. 2 As disciplinas Projeto da Paisagem (AUP0654) e Desenho Urbano e Projeto dos Espaços da Cidade (AUP0282), oferecidas no quarto ano da Faculdade, eram integradas.


O PROCESSO

pesquisa-levantamento, campo, desenho e projeto. O que é curioso para refletirmos sobre como ocorreu o desenvolvimento das oficinas do CoCriança, que veremos mais adiante. Apesar deste modelo ser o convencional na Faculdade, um procedimento excepcional, bastante relevante, oferecido pelas professoras, foi a opção por uma região onde já existisse esse contato inicial com moradores locais. Isto nos possibilitou a abertura de um canal de comunicação direto e aberto com o CCA Elisa Maria que foi de fundamental importância para o CoCriança como um todo. As crianças com as quais iniciamos o projeto tinham por volta de 9 a 12 anos na época, e buscando resgatar a sua voz como agentes propositivas de um projeto de co-construção urbana, nós do CoCriança iniciamos o nosso contato com elas por meio de uma oficina lúdica que tinha como objetivo principal conhecer as suas percepções sobre a própria realidade3. Segundo Albardía,

“A fim de resgatar a voz e a vez da criança, frequentemente ignorada, o CoCriança pretende constituir as condições para viabilizar um projeto colaborativo, que devolva o protagonismo das crianças 3 Oficina 01 de Projeto: Investigativa a partir de Jogos Cooperativos. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”.

Imagem 06: Primeiro logo do CoCriança, criado em 2017 pelas fundadoras do grupo durante as disciplinas AUP0282 e AUP0654 (Fonte: CoCriança); Imagem 07: Atual logo do CoCriança, criado em 2020 pela designer Keila Akemi (Fonte: CoCriança).

25



como agentes, usuárias e possíveis transformadoras de todos os espaços que estão em volta delas” (ALBARDÍA, 2019, p. 113).

Esta última oficina, além de ter nos guiado para a escolha da praça de intervenção, nos aproximou muito dos desejos dessas crianças. Isto é, entendemos que nosso trabalho não poderia se encerrar em um

Por isso, o CoCriança fundamenta-se numa base teórica da pedagogia e da arquitetura paisagística, onde entendemos que as crianças são peças fundamentais para a estruturação de uma cidade mais justa, inclusiva e responsável. Entendemos também que elas, como qualquer outro cidadão de direitos, devem ser ouvidas, consideradas e inseridas nos processos de tomada de decisão. Percebemos que as oficinas seriam um canal de extrema

projeto pontual, nos aproximar dessas crianças, perguntar sobre os seus sonhos, conversar sobre possíveis criações de realidades, e irmos embora. Por isso, apesar do nosso trabalho para a disciplina ter sido entregue, decidimos seguir com o CoCriança. Nos inscrevemos para o Programa Unificado de Bolsas5 (PUB) da USP, e conseguimos que o CoCriança se tornasse um projeto de extensão universitária, viabilizando a sua continuidade e futura co-construção da praça.

relevância para que pudéssemos ouvir e entender o que as crianças do CCA Elisa Maria estavam querendo nos dizer. Por isso, em parceria

“Um dos saberes primeiros, indispensáveis a quem, chegando

com o educador da época, Bruno César, decidimos retornar com uma

a favelas ou a realidades marcadas pela traição a nosso direito de

segunda oficina , a qual teria como proposta conhecer presencialmente

ser, pretende que sua presença se vá tornando convivência, que seu

os espaços em potencial para uma possível intervenção. Além disso,

estar no contexto vá virando estar com ele, é o saber do futuro como

em cada um dos três espaços que visitamos, fizemos alguma atividade

problema e não como inexorabilidade. É o saber da história como

com as crianças, como, por exemplo, um primeiro desenho do que elas

possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está

enxergavam, e outro com aquilo que gostariam que tivesse nesse lugar.

sendo. (...) meu papel no mundo não é só o de quem constata o que

4

ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. 4 Oficina 02 de Projeto: Desenhando os Sonhos. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”. Imagem 08: Projeto criado pelo grupo CoCriança, segundo os desejos das crianças, como apresentação final para a disciplina de Planejamento Urbano (AUP0282) e Paisagismo (AUP0654), 2017.

(...) No mundo da história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar” (FREIRE, 2019, p. 74. Grifo nosso). 5 Hoje, em Julho de 2020, o CoCriança já foi contemplado com quatro anos de bolsas PUB.

27


com base freiriana, estamos nós, facilitadoras, aprendendo com elas.

Sobre esta passagem de Freire, posso dizer que, a partir do

momento em que nos tornamos um projeto de extensão universitária, abrindo a possibilidade para que pudéssemos atuar como sujeitos que intervém no mundo, ressoou dentro de mim uma potência de atuação perante a profissão do arquiteto. A extensão universitária nos possibilitou aprender além do que o ensino da FAU nos permite, pois estávamos de fato colocando à prova e à serviço da sociedade o que antes pertencia só à Universidade. Entretanto, executado à maneira de “um serviço que deve ser prestado sem arrogância e quase por implosão histórica. Antes de isso ser um título de glória ou mérito, é uma obrigação ética e uma missão social objetiva” (BOFF, 1984, p. 7). Ou seja, finalmente pudemos sair do tradicional modelo de aprendizado arquitetônico que se restringe apenas ao projeto, criado segundo as vontades do arquiteto, e irmos à campo. Sendo que, estar em campo é também um dos principais aprendizados que o CoCriança busca construir com suas crianças, para que elas possam experienciar a cidade como cidadão de direitos e como sujeitos ativos no mundo.

É curioso, então, o paralelo que vou traçar, ao longo desta

Entendemos que o CoCriança estava fazendo procedimentos de pesquisa-ação, pois o que estava sendo por nós pesquisado tinha a intenção de mudança. Segundo Severino (2007, p. 120) “ao mesmo tempo que [o pesquisador] realiza um diagnóstico e a análise de uma determinada situação, a pesquisa-ação propõe ao conjunto de sujeitos envolvidos mudanças que levem a um aprimoramento das práticas analisadas.” Afinal, estávamos aprendendo com as crianças e com a pesquisa, ao mesmo tempo que isso acontecia, íamos adaptando e criando os nossos encontros. O segundo aprendizado que o CoCriança viveu foi ao longo deste primeiro ano de bolsas fornecidas pelo PUB - 2º semestre de 2017 e 1º semestre de 2018. Precisávamos validar o projeto com as crianças e, portanto, criamos a nossa terceira oficina6, em que construímos todos juntos quatro maquetes diferentes que possibilitasse o melhor entendimento espacial das crianças. Todo esse processo foi de fundamental importância para alinharmos nossas expectativas a respeito do que seria de fato construído e conseguíssemos passar para a próxima etapa de pesquisa: o levantamento de recursos para a construção.

narrativa, entre os nossos aprendizados através do CoCriança, e os aprendizados das crianças. Pois, o tempo todo, como projeto educativo

28

6 Oficina 03 de Projeto: Co-criação do Espaço. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”.


O PROCESSO

Nossa quarta oficina7 aconteceu no primeiro semestre de 2018. Nela, traçamos as mais variadas possibilidades de recursos que as crianças poderiam conhecer dentro do bairro, e que pudessem nos ajudar a viabilizar a praça. Nesse momento, começamos a exercitar com elas a importância de envolver a comunidade e recursos do local no processo de construção como um projeto coletivo e feito por e para todos. Assim, estávamos nós do CoCriança também pensando nas diferentes maneiras que poderíamos viabilizar a Praça, pois ainda não possuíamos materiais para a sua construção. Como nosso único financiamento até então era as bolsas de extensão, paralelamente às oficinas, começamos a nos inscrever em editais, participamos de alguns concursos, e buscamos contatar outros agentes que pudessem se interessar na construção do projeto das crianças. Estávamos traçando inúmeras possibilidades de algo que a FAU nunca nos ensinou: levantar recursos para uma obra de teor público, e precisávamos de argumentos concisos que sustentassem o investimento de algum financiador de nosso projeto. Percebendo a relevância deste movimento para a concretização de um projeto urbano, criamos a quinta e a sexta oficina8, que buscavam compartilhar de ferramentas 7 Oficina 04 de Projeto: Levantamento de Recursos. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”. 8 Oficina 05 e 06 de Projeto: Argumentação Criativa e Conversando com as Autoridades. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”.

Imagem 09: Crianças apresentam sua maquete representativa da praça da Rua Rosa Alboni, 2017 (Fonte: CoCriança); Imagem 10: Meninos criam os seus cartazes de divulgação para a festa na praça da Rua Rosa Alboni, 2018 (Fonte: CoCriança).

29


argumentativas com as crianças e exercitar o seu discurso a partir

buscava anunciar e celebrar a realização da praça, nomeada por votação

da afirmação de seus direitos, proporcionando experiências que as

durante a festa de Praça Livre Para As Crianças10.

colocassem em situações estimuladoras para a criatividade.

O financiamento do projeto veio através da parceria estabelecida

Este momento foi muito importante para a sustentação teórica

com o poder público: conseguimos direcionar a verba de uma emenda

do CoCriança e, para além do material coletivo que escrevíamos, Maria

parlamentar para a Subprefeitura da Brasilândia e fomos contempladas pelo

Teresa Albardía fundamentava as bases de nossa metodologia em seu

edital do Programa Aprender na Comunidade, da USP. Ao mesmo tempo,

trabalho de mestrado, como quando afirma:

nos foi oferecida a parceria com outra co-construção de uma praça na Vila Anglo Brasileira, no distrito de Perdizes, zona oeste de São Paulo. Na época,

“(...) o CoCriança se apresenta como uma ferramenta disponível para a comunidade, que consegue ajudá-la a pensar numa forma de atuação para a re-apropriação e ressignificação dos espaços da criança na sociedade” (ALBARDÍA, 2019, p. 114).

estávamos no início de 2019, e considerávamos a nossa primeira etapa da metodologia de projeto participativo infantil finalizada no Elisa Maria, tendo de esperar pelo início das obras para dar continuidade. Por isso, aceitamos. Iniciamos o contato com as crianças do CCA Sal da Terra, localizado próximo à nova praça de intervenção, em maio de 2019. Desta vez, as crianças eram um pouco mais velhas, tinham de 11 a 13 anos, e nós estávamos com

Ou seja, sendo um dos objetivos principais do CoCriança

nossa metodologia toda escrita e sistematizada passo a passo no mestrado

promover o senso de pertencimento, fortalecendo os vínculos da

já publicado de Albardía (2019). Por tanto, foi interessante perceber as

comunidade com os espaços públicos, no segundo semestre de 2018,

diferenças de se trabalhar com uma idade mais avançada, mas também em

conseguimos a confirmação da verba para a construção da praça. E,

relação a realização do projeto em um período mais curto de tempo, com

como este momento de celebração era importante de ser compartilhado

verba já pré-determinada e numa região mais central da cidade, ou seja,

em comunhão com as famílias das crianças, educadores do CCA e moradores do bairro, fizemos a nossa sétima oficina9 de projeto, que 9

30

Oficina 07 de Projeto: Convocando a Comunidade. Ler item 03 deste capítulo

“Oficinas de Projeto”. 10 Esta votação foi documentada para que o nome da Praça pudesse tramitar como projeto de lei, oficialmente denominada Praça Livre Para As Crianças em 20 de Junho de 2020 (ver anexo xxx).


O PROCESSO

com menos escassez de recursos urbanos e infraestrutura.

para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo.

Ao longo dos dois meses que tivemos com as crianças da Vila

Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ao

Anglo, confirmamos nossa metodologia, não como ponto final pois ela

anunciar a novidade” (FREIRE, 2019, p. 31).

sempre estará se adequando às características do lugar, mas de forma assertiva como processo educacional-urbano. Para tanto, tivemos também mais um trabalho acadêmico publicado a respeito desta primeira etapa de projeto, da Camila Sawaia (2019), que escreve sob a ótica da pedagogia, afirmando este olhar com o objetivo de:

Portanto, por mais que minha vontade fosse a de mostrar um

trabalho pronto, com um ponto final - o que não foi possível devido ao momento atual em que estamos vivendo11 - aqui, apresentarei os processos. São eles frutos de minhas indagações, pesquisas, algumas constatações, intervenções e aprendizados. Assim, os processos que

“(...) perceber a cidade enquanto sala de aula ampliada, isto é,

apresento neste trabalho são sobre as Oficinas de Construção que o

investigar as relações de aprendizagem entre a sala de aula e a cidade

CoCriança elaborou em conjunto com ambas as crianças dos CCAs, sendo

a partir da compreensão das diferentes culturas e do estabelecimento

elas no Elisa Maria e na Vila Anglo.

de uma nova relação com o urbano” (SAWAIA, 2019, p. 63).

As Oficinas

É interessante, então, pensar que o CoCriança não é, ele está

sendo e, por isso, estamos constantemente pesquisando, constatando e mudando o nosso projeto. Assim como afirma Freire:

Buscado estabelecer um diálogo constante e aberto com as

crianças, nossa metodologia acontece por meio de oficinas construídas coletivamente pelo o grupo, e que se estruturam através de atividades lúdicas que envolvem a cooperação. Segundo escreve Sawaia (2019, p. 66), têm “a finalidade de fazer as crianças sentirem-se à vontade para

“Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso

11 Este trabalho foi escrito no primeiro semestre de 2020, momento em que o mundo passava por uma longa fase de isolamento social, causada pelo vírus Covid-19. Por tanto, as atividades de construção de ambas as praças tiveram de ser interrompidas.

31


se expressar e auxiliá-las a desenvolver e organizar uma opinião crítica a respeito do espaço em que vivem, nos permitindo entender sua visão sobre esses espaços e sua percepção enquanto cidadãs”. Dessa forma, elas acontecem no CCA do grupo de crianças, ou no local onde irá acontecer a intervenção, a depender de seu objetivo pré-estabelecido.

Para tanto, o formato das oficinas é estruturado da seguinte maneira:

1. Aquecimento, 2. Atividade principal e 3. Reflexão. Assim, conseguimos fazer com que os encontros sejam aproveitados ao máximo. Isso porque, para além de um único objetivo, através dos outros dois momentos - o inicial e o final - costumamos introduzir outros elementos que possam contribuir para o maior aprendizado do grupo de crianças como um todo. O aquecimento costuma ser uma atividade de movimento, em que possa acontecer uma maior integração entre as crianças ou a introdução sobre o assunto da atividade principal. Para tanto, há vezes que o aquecimento não se trata de uma elevação da temperatura corporal, mas uma prévia sobre o próximo assunto, a fim de contribuir para uma futura imersão das crianças na oficina. Sendo assim, esse momento costuma ter de 15 a 30 minutos de atividade e, às vezes, é seguido por uma breve conversa sobre o que acabou de ser feito ou sobre o que veremos a seguir. A atividade principal diz respeito ao grande objetivo da oficina. Imagem 11: Crianças na Oficina de Argumentação Criativa, Jardim Elisa Maria, 2018 (Fonte: CoCriança); Imagem 12: Crianças na atividade de mapeamento afetivo durante a Oficina Investigativa, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

32

Por exemplo, para uma oficina de Desenvolvendo o Planejamento, esse é o momento em que cada grupo de crianças vai se sentar e escrever no


O PROCESSO

Esqueletos de Oficinas12, a fim de elencar quais as necessidades para a

o tempo todo co-criando com as crianças. Para nós, não existe outra forma

execução da oficina seguinte, criada por elas mesmas. Esta é a parte prática

de se fazer isso se não for através do diálogo e da escuta, que acontece de

da oficina, que as crianças irão colocar a mão na massa e fazer acontecer,

maneira enriquecedora quando criamos um ambiente que estimule a fala das

contribuindo para uma maior aproximação da realização do projeto.

crianças. Essas falas dizem respeito não só à um olhar crítico sobre o processo

Tanto o primeiro quanto o segundo momento da oficina

como um todo - que é essencial para uma auto-avaliação do CoCriança em si

costumam ter abordagem lúdica, no qual o CoCriança desenvolve

-, mas sobre elas mesmas como indivíduos de vontades únicas, que sentem e

seus objetivos principais através de jogos, dinâmicas e co-criação. Há

verbalizam seus sentimentos de maneira diferente. “Se a ‘experiência ensina’,

vezes em que o último momento também se insere numa dinâmica de

importa ouvir e aprender as lições da experiência. E isso não é possível sem

movimentos, por exemplo, quando fazemos uma roda de ciranda ou uma

reflexão cuidadosa da própria experiência” (BOFF, 1984, p. 4).

brincadeira cultural. Entretanto, a última atividade da oficina, a reflexão,

Então, essas oficinas se baseiam em cinco valores que o

costuma acontecer em formato de conversa ou escrita, na qual o grupo

CoCriança elencou como fundamentais para a construção de uma ética

faz uma breve avaliação crítica sobre a prática do dia. Este momento é de

que possibilite às crianças o papel de usuárias, agentes e transformadoras

extrema importância para metodologia CoCriança, pois, segundo Freire:

urbana, logo, de sujeitos ativos no mundo. São eles: Diálogo, Cooperação, Educação Socioambiental, Autonomia e Liberdade. A partir desses

“O ideal é que, cedo ou tarde, se invente uma forma pela qual os educandos possam participar da avaliação. É que o trabalho do professor é o trabalho do professor com os alunos e não do professor consigo mesmo” (FREIRE, 2019, p. 63).

valores, criamos nossa primeira etapa de oficinas, que aconteceram até o início das obras de construção de ambas as praças.

Apesar deste trabalho tratar dos processos do CoCriança; sobre as

Oficinas de Projeto, vou apresentá-las já em seu formato final, sem discutir as alterações que foram feitas ao longo do tempo ou as avaliações em conjunto do grupo de facilitadoras. Lembrando que, apesar disso, para

12

O CoCriança, como projeto pedagógico-paisagístico, se propõe a estar

as Oficinas de Construção, irei discutí-las no capítulo 3.3 deste trabalho,

Sobre os Esqueletos de Oficinas ler capítulo 3.3 sobre as oficinas.

apontando toda a avaliação feita em grupo até a sua configuração final.

33


OFICINA 02 Desenhando os Sonhos

OFICINA 01 Investigativa Com o objetivo de conhecer a realidade das crianças, esta primeira oficina propõe atividades lúdicas que buscam ouvir o que elas têm a dizer sobre o seu bairro, sobre a cidade e os trajetos que costumam fazer, já pensando nos desafios e nas potencialidades de cada lugar. Assim, podemos nos aproximar de suas visões críticas sobre o espaço urbano e qual a relação que possuem com a paisagem local.

34

Esta é a primeira oficina que acontece no espaço público, pois busca estimular nas crianças a capacidade de observar, imaginar, criar e projetar a paisagem em que vivem. Nela, iremos observar quais os seus desejos e sonhos para o futuro espaço co-criado, considerando suas experiências como usuárias da cidade, estaremos atentas às suas falas e tomaremos notas para o futuro projeto.

Com o objetivo de incentivar o projeto participativo, cada grupo de crianças vai discutir sobre seus desejos para o espaço. Em seguida, vão avaliar sua relevância e co-construir um pequeno modelo, exercitando a projeção espacial e dinâmica em grupo.

OFICINA 03 Co-Criação do Espaço

OFICINA 04 Levantamento de Recursos

Esta oficina tem como objetivo mapear os recursos existentes dentro da comunidade local das crianças para a viabilização do projeto por elas desenhado. A fim de auxiliar o seu pensamento para além dos recursos econômicos, estendendo aos aspectos sociais, culturais, públicos, ambientais e humanos. Desta maneira elas começam a se aproximar da realidade que será a construção de seus sonhos.


OFICINAS DE PROJETO Oficinas de Projeto

OFICINA 06 Conversando com Autoridades

OFICINA 05 Argumentação Criativa Buscando instrumentalizar a voz das crianças para uma possível argumentação em defesa da realização de seu projeto, esta oficina compartilha alguns conceitos de direitos cidadão, seja ele da criança, político e de objetivos para um desenvolvimento sustentável (ODS). Fazemos isto por meio de atividades lúdicas que exercitam a sua argumentação frente possíveis agentes contrários à construção, pensando nas vantagens e desvantagens de reformar o seu espaço.

Apresentamos às crianças os processos de decisão urbana, buscando situá-las sobre a relevância da construção de seu espaço. Assim, iremos dialogar com autoridades locais a fim de ajustar todos os pontos necessários para o início da construção.

Com a confirmação da construção do espaço, esta oficina busca criar materiais de divulgação do início da intervenção, convidando os moradores locais a participarem do primeiro evento de celebração da realização do sonho.

OFICINA 07 Convocando a Comunidade

Celebração com os Moradores!

A fim de encerrar este ciclo de ideação e trajetos para a construção do projeto, realizase uma celebração no espaço de intervenção urbana, que una as crianças com as demais pessoas da comunidade. Nela, as crianças poderão apresentar todo o seu processo e aproximar-se dos moradores locais buscando também envolvê-los. Todas as imagens desta página são de autoria CoCriança.

35



As Obras A materialização do sonho em realidade é o meio pelo qual o

concedido através da emenda parlamentar não foi o suficiente para a

CoCriança consegue mostrar às crianças que ser sujeito no mundo, não

construção de todo o projeto desenhado pelas crianças, nós, equipe

se trata de apenas receber o ambiente em que vivemos, mas sermos

CoCriança, optamos por comprar os demais materiais via Programa

aptos a experienciar a paisagem em sua totalidade, pois: a observamos,

Aprender na Comunidade - que havíamos ganhado pela USP - e co-

refletimos, analisamos criticamente e, acima de tudo, a transformamos

construir durante as Oficinas de Construção.

de acordo com aquilo que nos faz sentido. É por este motivo que a obra

A Subprefeitura, então, ficou responsável pela obra de demolição

é uma fase muito importante na metodologia CoCriança, pois é por meio

e infraestrutura, e nós pelos acabamentos, áreas verdes, brinquedos

dela que a criança, tradicionalmente tida como “sem voz”, percebe que

e resíduos. Essa opção, apesar de ter sido tomada primeiramente

foi ouvida e que tem potência para tal.

devido às limitações financeiras, teve fundamento segundo os

Além disso, a obra é o primeiro passo da materialização de todo o

princípios pedagógicos do CoCriança, pois incentivou que as crianças se

trabalho que tivemos, onde as crianças podem validar o aprendizado das

responsabilizassem pelo planejamento e a construção dessa etapa final

Oficinas de Projeto, para se sentirem agentes propositivas da transformação

(como nas imagens 14 e 19 a seguir).

urbana. Por isso, é a partir daí, que iniciamos as Oficinas de Construção, onde

Isto é, todo esse processo aconteceu no segundo semestre de

quem cria as atividades é o próprio grupo de crianças que, já tendo passado

2019, período da história do CoCriança que este trabalho pretende analisar.

pela primeira etapa do projeto, passa a planejar cada novo elemento a ser

Durante ele, passamos pelo início e término das obras, além das Oficinas de

inserido na praça com muito mais liberdade e autonomia.

Construção, que contribuíram para promover a participação dessas crianças

A obra de infraestrutura do lugar da intervenção deve acontecer em parceria com alguma empresa ou entidade que tenha os

nos processos de transformação urbana, através de atividades lúdicas que incentivam suas conquistas de autonomia e ocupação da paisagem.

conhecimentos técnicos para tal. No caso do Elisa Maria e da Vila Anglo,

A fim de ilustrar o que foi a materialização deste processo, que

ambas as obras ocorreram em parceria com as Subprefeituras do bairro

antes pertencia apenas ao papel, apresento a seguir o projeto co-criado

após passar por um período de licitação, que seleciona a empreiteira

para ambas as praças: Praça Livre Para As Crianças, na Brasilândia e Praça

que apresentar a proposta com menor orçamento. Como o dinheiro

do Samba, em Perdizes.

Imagem 13: Meninas do CCA conversam com um dos pedreiros da obra de reforma da Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).

37


PROJETO: PRAÇA LIVRE PARA AS CRIANÇAS

9.

Este projeto foi construído em parceria com a Subprefeitura da Brasilândia e pelas próprias crianças, pois fizemos a compra de materiais através do Programa Aprender na Comunidade da USP.

7.

3.

4. 5.

MATERIAIS ADQUIRIDOS PELO PROGRAMA APRENDER NA COMUNIDADE 6. Terra de Canteiros 7. Materiais de Pintura 8. Parede de Escalada 9. Bancos e Mobiliário

1.

6.

N

2.

OBRA SUBPREFEITURA 1. Piso Intertravado 2. Escadas 3. Arquibancada 4. Escorregador 5. Canteiros de Jardim

8.

0

1

5m

Imagem 14: Planta de projeto executivo da Praça Livre Para As Crianças, 2019. (Autoria CoCriança).


Imagem 15: Praça Livre Para As Crianças no dia anterior ao início da reforma, Jardim Elisa Maria, 2019; Imagem 16: Praça Livre Para As Crianças durante a sua construção em parceria com a Subprefeitura da Brasilândia, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).

Imagem 17: Praça Livre Para As Crianças já no final de sua reforma, Jardim Elisa Maria, 2019; Imagem 18: Instalação das agarras de escalada e plantio das mudas durante a Oficina 08 de Construção, Jardim Elisa Maria, 2019. (Fonte: CoCriança).

39


PROJETO: PRAÇA DO SAMBA Este projeto foi construído majoritariamente pela Subprefeitura da Lapa. As crianças, tiveram participação na pintura dos bancos da praça.

OBRA SUBPREFEITURA 1. Quadra Poliesportiva 2. Arquibancada 3. Corrimão da Escadaria 4. Novos Brinquedos de Parquinho 5. Novos Equipamentos de Ginástica 6. Mesas e Bancos 7. Banco Curvo 8. Pista de Corrida

6.

5.

MATERIAIS ADQUIRIDOS PELO PROGRAMA APRENDER NA COMUNIDADE 9. Materiais de Pintura

4.

3.

7. 2. 5.

N

8.

0

6

18m

Imagem 19: Planta de projeto executivo da Praça do Samba, 2019 (Autoria CoCriança).

1.

6. 9.


Imagem 20: Início da construção da quadra poliesportiva e arquibancada na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019; Imagem 21: Bancos, quadra e arquibancada quase prontos após a reforma da Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

Imagem 22: Início da reforma dos brinquedos na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019; Imagem 23: Mobiliário de brinquedos já prontos após a reforma em parceria com a Subprefeitura da Lapa, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

41


Brincar e criar (n)o espaço

em meio urbano, saindo de dentro de suas casas e escolas, a fim de

“Seria a brincadeira um mero passatempo da infância, ou

devolver o seu lugar nas cidades. Dessa forma, ao poder usar do mundo

uma possibilidade para cada ser humano, em qualquer fase da vida,

real como espaço em potencial para sua criação, as crianças se afirmam

de intervir no mundo que habita?” (NASCIMENTO, 2009, p. 33. Grifo

como sujeito ativo e criativo nas cidades, se apropriando de seu direito

nosso).

como cidadãs. Para além disso, buscamos construir oportunidades onde elas

Ao brincar a criança interage com o mundo real. Sendo ela o sujeito da ação e o brinquedo a materialização, a brincadeira em si é a interlocução entre a criança e a materialidade. Segundo escreve Nascimento em sua tese, existiriam três realidades próprias do ser humano: a realidade psíquica, interna, o “eu” de cada sujeito; a realidade externa, objetiva, à qual corresponde o “mundo real”; e a realidade compartilhada, intermediária entre as duas primeiras, que aconteceria

possam se expressar livremente, com tempo e autonomia para criar a sua própria materialização do espaço. Dessa maneira, entendemos que é através da brincadeira e da criatividade que, expressando as suas individualidades, as crianças interagem com o seu exterior. Elas aprendem e ensinam enquanto brincam e, assim, vão criando as ferramentas necessárias para transformar o meio em que vivem de acordo com a sua realidade.

no espaço potencial, onde pertenceria o brincar e a criatividade (WINNICOTT, 1975, p. 152 apud NASCIMENTO, 2009, p. 34). Ou seja,

“Dar-se o direito a criar é extrapolar as rígidas fronteira dos

ao oferecer a oportunidade para que as crianças criem e brinquem (n)o

papéis sociais destinados a nós numa sociedade sempre mais regulada,

espaço, estamos contribuindo para que elas também consolidem o seu

é oportunidade de crescimento humano” (WEHMANN, 2019, p. 43.

espaço potencial, como forma de afirmação de suas existências como

Grifo nosso).

sujeitos no mundo. Buscando fortalecer o uso da cidade e sua ocupação pela criança, a metodologia CoCriança propõe atividades lúdicas que ocorram

42

Segundo Wehmann, no mundo adulto, ter o tempo para o

ócio, para parar, imaginar e criar, é uma oportunidade de resistência à


O PROCESSO

imposição da rotina alienante do dia a dia. Quando nos preocupamos

Algumas de nossas referências

com o processo de apropriação do espaço, entendemos a importância

do tempo de transformação desse lugar, assim como na produção de

CoCriança, gostaria de pontuar algumas das referências que utilizamos

uma obra de arte, ambos necessitam de espaço potencial para imaginar

para criar as Oficinas de Construção. Elas contribuíram não só para

e criar, sem a compressão do tempo de processo em prol do produto que

sua criação, como também para as reflexões que fizemos sobre nossos

seja vendável.

encontros com as crianças e, assim, para que pudéssemos nos aproximar

As crianças, durante suas brincadeiras, estão sempre criando.

Por fim, sobre a nossa formação ao longo desses anos de

de um resultado mais efetivo e condizente com os nossos objetivos.

O mundo da brincadeira, é um mundo da criação, é a exteriorização da

subjetividade do eu da criança com o ser/estar no espaço, no mundo.

itens anteriores a este capítulo, a primeira delas, que norteou nosso

Para além das referências que já foram apresentadas nos

Esse processo lhe possibilita desenvolver sua identidade, sua autoestima e estabilidade emocional (DIAS, 2017). Dessa forma, ao projetar com a criança “refere-se à ‘construção’ do espaço como ‘construção’ de si mesmo, tanto na criança, quanto no arquiteto” (NASCIMENTO, 2009, p. 35). Um espaço se transforma quando é apropriado através da brincadeira, gerando o elo de afetividade, pertencimento, e a sensação de segurança. Quando co-construímos um espaço das crianças em meio urbano, há uma identificação de todos, pois todos nós já fomos crianças. A metodologia CoCriança, assim, busca trabalhar com atividades lúdicas que possam conectar as crianças com a paisagem em que vivem. Dessa maneira, nossas atividades propõem o brincar como ação criadora e transformadora de realidades, em que a criança tenha o tempo e o espaço para tal.

Imagem 24: Meninos desenham a praça na Oficina Desenhando os Sonhos, 2019, Praça do Samba (Fonte: CoCriança).

43


trabalho desde as primeiras Oficinas de Projeto, é a comunicação.

cada pesquisa.

Albardía (2019), em sua tese de mestrado que discute o CoCriança,

apresenta pela primeira vez a Metodologia Comunicativa Crítica (MCC),

metodologias que têm como princípios o diálogo e a igualdade. Sendo

que passa a ser uma de nossas bases em todas as oficinas. Isto porque

que a MCC, segundo Albardía, busca superar as desigualdades sociais a

ela “se apresenta como uma metodologia de pesquisa social baseada

partir da reflexão, colocando ênfase nas interações sociais que acontecem

na intersubjetividade e na reflexão, dois pilares fundamentais para a

na vida social como chave para a transformação da realidade (GÓMEZ,

geração do conhecimento a partir de trocas humanas e das experiências

2006 apud ALBARDÍA, 2019, p.74).

e vivências de cada contexto” (GÓMEZ, 2006 apud ALBARDÍA, 2019, p. 72).

Podemos enxergar, então, um paralelo entre as duas

Assim, através da comunicação feita com a devida intenção de escuta empática, conseguimos projetar e construir junto com as

Tratando-se o CoCriança de uma pesquisa feita com pessoas e

crianças, de maneira que participem dos processos de tomadas de

que, portanto, acontece de maneira qualitativa, sob meu entendimento,

decisão. Para que pudéssemos fazer isto de maneira efetiva, o CoCriança

não há como ela acontecer sem diálogo. Afinal, nossa sociedade pode

buscou mais referências em metodologias de oficinas e facilitação que

ser definida a partir de vários pontos de vista, e é a partir do diálogo

já fossem aplicadas com esse objetivo - o de promover o diálogo - e que

que podemos encontrar um denominador em comum que construa um

incentivassem uma maior participação e abertura das crianças.

conhecimento em conjunto (ALBARDÍA, 2019).

A segunda de nossas principais referências é o Caderno de

É importante lembrar que o diálogo também é um dos princípios

metodologias participativas “Vamos ouvir as crianças?” do Projeto

que baseiam as metodologias participativas, pois é através dele que se

Criança em Foco (2013). Viemos usando-o desde o concebimento das

entende corretamente o “porquê?” de se construir - o objetivo do projeto

Oficinas de Projeto, pois, assim como o CoCriança, o Caderno foi escrito

- e o “para quem?” - verdadeiros beneficiários e interlocutores (LEITE,

a partir de um referencial “que considera as crianças capazes de agir

2018, p. 28). Dessa maneira, assim como as metodologias participativas,

e transformar o seu entorno, no momento presente de suas vidas”

a MCC objetiva uma sociedade mais igual, justa e inclusiva, levando em

(PROJETO CRIANÇA PEQUENA EM FOCO, 2013, p. 4).

consideração também o ponto de vista dos sujeitos protagonistas de

44

Algumas de nossas atividades no decorrer dos processos de


O PROCESSO

criação das oficinas foram inspiradas neste Caderno, como o Mapa

de transformação do lugar em que vivem, iniciando este processo dentro

Afetivo, a Linha do Tempo, o Passeio Fotográfico, Os Caminhos das

delas mesmas, o Germinar tem grande influência em nossa formação.

Crianças, etc. Para além desta inspiração, o Caderno sugere que o grupo

Tendo o CoCriança o objetivo de promover o senso de coletividade

seja formado pelos participantes - as crianças - e os facilitadores, que

do grupo de crianças com a afirmação das individualidades, muitas das

contribuem para formar um espaço de fala, troca e ação entre as pessoas

atividades por nós vivenciadas durante o Programa em facilitação, foram

presentes.

depois reproduzidas nos CCAs. Isto porque o Germinar, que se fundamenta

A facilitação de grupos de pessoas, viemos a entender ao longo

em uma visão antroposófica na educação e formação de indivíduos,

do CoCriança, como ferramenta fundamental para que nossa proposta

tem como um de seus princípios promover processos e vivências de

de ouvir as crianças ocorresse de maneira que interferíssemos o mínimo

autoconhecimento que ampliam a consciência dos indivíduos sobre si

possível em suas tomadas de decisão. Isto porque, a figura do facilitador

e os outros. Ou seja, atividades onde discutimos prática de feedback,

se apresenta como um mediador, que escuta e acolhe, a fim de transmitir

temperamentos quente e frios e mais algumas ferramentas reflexivas,

a segurança para que o outro possa se expressar. Portanto, em 2019,

foram inspiradas pelo Programa.

optamos por nos inscrever em um curso de formação de facilitadores, o Germinar.

Podemos perceber que todas as referências utilizadas por nós até agora usam como base fundamental a comunicação. Sendo

Nossa terceira grande referência, o Programa Germinar

esta estabelecida por meio do diálogo aberto entre as duas partes

é um programa que está sob a responsabilidade da cooperativa

participantes, os nossos momentos de reflexão em grupo, que

ConViver em parceria com o EcoSocial, e apresenta ferramentas para

aconteciam sempre aos finais de cada atividade, eram estruturados em

o desenvolvimento social, considerando a pessoa como o centro desta

cima de conteúdos e perguntas que ajudassem a criar um ambiente

transformação1. Dessa forma, pensando no CoCriança também como um

seguro e confortável para que todos pudessem se expressar livremente.

projeto que busca auxiliar pessoas no percurso de se tornarem agentes 1 O Programa Germinar estimula a vontade de trabalhar e aprender em grupo pela expressão das individualidades e o respeito à visão e ao comportamento das outras

pessoas, o que potencializa a transformação de cada um e do todo - ecosocial.com.br/ programa-germinar (acesso em 23/07/2020).

45


2.3 AS OFICINAS DE CONSTRUÇÃO

Como apresentado no capítulo anterior, a metodologia CoCriança

S: A gente planejou como é que a gente ia sair na rua. A

constitui em duas etapas de oficinas realizadas até agora. Este trabalho

gente dividiu o que cada um ia fazer, porque tinha o tempo… [tinha

vai retratar e se aprofundar na etapa das Oficinas de Construção que

que] gravar e entrevistar. Aí a gente anotou, e foi pra rua (Informação

fizemos com as crianças. Enquanto as Oficinas de Projeto serviram para

verbal, Stefani, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo, 2019).

embasar nossa metodologia, trabalhar criativamente e exercitar nossa comunicação, pode-se dizer que a etapa das de Construção foi a fase de colocar em prática o planejado, refletir sobre nossas ações e assumir as responsabilidades.

Para fim de se ter um maior entendimento sobre os objetivos

desta etapa de oficinas, vou dividí-las em dois grupos principais: momento de planejamento e momento de intervenção. Sendo um dos objetivos principais do CoCriança reconhecer e instrumentalizar a voz das crianças para a autonomia, durante toda esta etapa, buscamos planejar - entender os recursos humanos, financeiros e materiais, atribuir as responsabilidades e estruturar uma intervenção - para depois agir com muito mais propriedade e deixando que as próprias crianças protagonizem, contribuindo para que um dia consigam realizar a mesma atividade sem o CoCriança, de forma autônoma.

Facilitadora: Quem é que pode contar [o que fizemos]? Da... última semana - mais fácil. Como é que foi?

46

No diálogo acima, a facilitadora pergunta às crianças o que é que foi feito na semana anterior, e Stefani responde que eles planejaram a atividade para sair na rua. Para isso, ela descreve quais foram as responsabilidades assumidas por cada um do grupo: controlar o tempo, gravar, entrevistar, anotar. Este momento corresponde ao planejamento, em que as crianças escrevem exatamente o que deve ser feito para que no momento da ação consigam atuar como um grupo coeso, contribuindo também para o desenvolvimento de suas habilidades coletivas. A fim de auxiliá-las a desenvolver o planejamento, o CoCriança criou o Esqueleto de Oficinas1, um formulário de atividades inspirado nos nossos roteiros de oficinas2 - que fazíamos para a nossa própria atuação como grupo - e nos “Gabaritos de Atividades” da ONG Internacional CISV3. No CISV, a partir dos 12 anos, os jovens são incentivados a criar, 1 Anexo III. 2 Ler capítulo 2.4 O processo de pesquisa - Planejamento. 3 O CISV (Children’s International Summer Villages) é uma organização internacional que educa por um mundo mais justo e pacífico: cisv-sp.org.br/sobre-o-cisv/quem-somos.


O PROCESSO 9. Pense e descreva aqui as atividades que vão acontecer na oficina. 10. Coloque quanto tempo será necessário para cada atividade - levando em consideração o tempo total da oficina, os ensinamentos que você quer passar e os materiais que quer produzir. 11. Tem algum produto esperado ao fim dessa oficina? (cartazes, maquete, lista do que foi decidido na oficina) 12. Descreva um passo a passo do que precisa ser feito antes da oficina acontecer. 13. Quais materiais vão ser necessários para a oficina? 14. Onde você pode conseguir esses materiais?

planejar e executar as suas próprias atividades “que priorizam a vontade do jovem, estimulando sua autonomia e sua capacidade de interação e As perguntas, que teriam de ser respondidas pelas crianças,

foram divididas em quatro grandes grupos, sendo o formato final o

BÁSICO

seguinte

1. 2. 3. 4.

CONTEÚDO

5. 6. 7.

8.

Pense em um nome legal para a sua oficina! Qual é a sua frente de trabalho? Qual data pode acontecer a oficina? Quantas crianças vão ser facilitadoras desta oficina e quantas vão participar? Qual é o objetivo da sua oficina? Qual conteúdo você precisa dominar para dar essa oficina? Quais princípios você quer abordar na sua oficina? - Diálogo - Liberdade - Educação Sócio-ambiental - Cooperação - Autonomia O que você já sabe sobre o assumto? O que você precisa aprender? Onde você acha que pode adquirir esses conhecimentos?

RECURSOS

PROCESSOS

negociação” (BROGGI, 2019, p. 31).

Este material contribuiu para estimular a discussão nos pequenos grupos de crianças que fosse conduzir a atividade. Nós, facilitadoras, participamos desses momentos atentas para que todos do grupo participassem e opinassem, assumindo a responsabilidade por ao menos uma tarefa no dia da execução da atividade. Como no exemplo a seguir:

47


A: Não, tem que ver os materiais necessários: tinta é... pincel, a bandeja… Facilitadora: E como é que a gente vai conseguir os materiais necessários? Então, pedir pra alguém do grupo trazer… A: Ou pedir pras pessoas que a gente entrevistou, pra ver se elas podem ajudar.

o resultado, a então materialização de todo o esforço, e experienciam uma nova relação com a paisagem, pois agem de forma autônoma e criativa para a sua transformação. De acordo com Lima, quanto maior a possibilidade de formular alternativas (utópicas ou não) ao presente, maior o grau de decisão autônoma, de consciência, maiores as possibilidades de desalienação do homem (LIMA, 2017, p. 306). E durante esta prática, as

G: A gente podia fazer algum cartaz pra pergunta se alguém poderia...

crianças formulam e executam suas alternativas de maneira consciente e

A: Eu posso perguntar pro meu tio que mora ali do lado. Porque

criativa, se apropriando das ferramentas de intervenção da paisagem:

o meu tio é marceneiro, ele pinta também, então… (Informação verbal, Angelina e Gabriela Gama, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo, 2019).

“Ô gente, quem tá com o rolo, quando for usar, vocês tiram o excesso pra poder durar a tinta, viu? Porque se não, não vai dar”

No diálogo, Angelina e Gabriela discutem sobre todas as

(Informação verbal, Agatha, Oficina 06 de Construção - Elisa Maria, 2019).

ferramentas que seriam necessárias para pintarem a praça, indo além do material já fornecido pelo CoCriança e buscando mais alternativas que pudessem envolver os outros moradores do bairro. Durante as Oficinas de Construção foi de fundamental importância a articulação com as demais pessoas da comunidade, pois essas também ajudaram durante os momentos de intervenção. Os momentos de intervenção são de extrema riqueza, pois as crianças conseguem de fato assumir total protagonismo e “colher os

Na fala acima, Agatha explica aos demais colegas como é que eles deveriam fazer para pintar de forma correta, a fim de economizar a tinta (Imagem 25). Nesse momento, ela e mais algumas crianças assumem o papel de facilitadoras da intervenção de pintura e tentam organizar o processo de forma clara, explicando qual a maneira correta de se pintar, já que uma boa parte do grupo nunca tinha passado por isso.

frutos” de todo o processo de seu trabalho. Nesse momento, elas vêm

48

Imagem 25: Agatha assume a posição de facilitadora e explica aos colegas como fazer para pintar. Oficina 06 de Construção, 2019, Praça Livre Para As Crianças (Fonte: CoCriança).



Os momentos de intervenção contribuíram muito também para

graciosamente, assumindo a posição que o CoCriança os incentivou a

que o “pequeno caos” às vezes acontecesse. Isto porque, nós, grupo

ter: de agentes propositivos na co-criação da paisagem. Em sua resposta,

de facilitadoras, buscávamos interferir o mínimo possível na condução

Angelina assume a responsabilidade do processo como um todo, desde

e interpretação que as crianças tinham sobre as atividades que elas

o planejamento até a execução, percebendo a autonomia de sua ação

mesmas planejavam. Ou seja, por mais que o nosso julgamento viesse

quando reconhece que “não foram as outras pessoas”.

sobre o que estava acontecendo, deixávamos que elas assumissem o

Ainda a respeito da fala acima, Bianca complementa a resposta

protagonismo, pois o “caos” também seria material muito rico para a

quando diz que o que foi feito por eles vai ficar permanente, apontando

discussão nas atividades de reflexão, contribuindo para o aprendizado.

para uma nova relação que ela construiu com a paisagem, pois esta agora tem a “sua marca”.

C: A gente vai fazer umas perguntas sobre o que vocês acharam do projeto... a atividade [pintar os bancos]. É... Pra vocês quais são os pontos positivos e negativos? A: O positivo é que a gente que escolheu como é que a gente ia pintar e como é que a gente ia fazer. Tipo, não foram as outras pessoas, foi a gente. B: Foi legal ver que vai ficar permanente… (Informação verbal, Cássio, Angelina e Bianca, Oficina 07 de Construção - Vila Anglo, 2019).

Todo esse processo reflexivo para as Oficinas de Construção é de fundamental importância. É tão relevante que, enquanto planejam, as crianças também devem conceber esse espaço de avaliação, criado para que possam interiorizar os seus aprendizados. A reflexão crítica sobre a prática como forma de ferramenta para uma maior autonomia dessas crianças, irá ser discutida mais adiante no capítulo 4.3 deste trabalho. Em suma, focarei nas Oficinas de Construção pois elas contribuem para que as crianças vivenciem situações onde se posicionam como sujeitos ativos no mundo, que diz respeito aos seus processos nas conquistas de autonomia e às transformações de sua

O diálogo acima acontece entre as crianças no momento em

relação com o entorno. Assim, contribuem para o aprendizado de

que Cássio conduz a atividade fazendo perguntas que estimulassem a

um trabalho colaborativo dessas crianças, que experienciam assumir

reflexão do grupo sobre o processo de pintura. O que Angelina responde

responsabilidades para a co-construção da paisagem local.

50


O PROCESSO

2.4 A PESQUISA Como descrito no capítulo 2.2 deste trabalho, o processo de pesquisa, no início do CoCriança, acontecia de forma empírica.

postura nos encontros com as crianças, objetivando aprender as suas visões de mundo.

Isto porque estávamos desenvolvendo algo novo para todas nós na

A observação feita com base fenomenológica - que adotei

graduação, aprendendo aos poucos e sem ainda saber nomear ou

para análise deste trabalho final de graduação sobre os processos do

conceituar o que era. Entretanto, seguíamos atuando segundo nossos

CoCriança - enxerga o que chamamos de fenômeno como “a verdade da

princípios e sendo muito bem acompanhadas por nossas professoras

forma que se apresenta”. Isto é, os fatos como as coisas são, e não como

que nos orientavam sobre posturas a serem adotadas em campo e sobre

eu acredito que elas acontecem. Segundo Wehmann:

algumas metodologias de pesquisa complementares. Paralelo a isso, íamos lendo sobre o assunto, buscando e registrando tudo que podíamos para possíveis avaliações. Neste item de capítulo, irei apresentar quais foram essas posturas adotadas por nós - facilitadoras CoCriança - e que foram usadas durante todo o processo do projeto com as crianças do Elisa Maria e da Vila Anglo. Discorrerei sobre elas ao longo de quatro momentos, que nomeei de acordo com o uso e a função do material coletado: planejamento, vivências, organização dos registros e processo de análise. Para além disso, no decorrer deste ano, entendi também que

“A pesquisa qualitativa fenomenológica permite, por tanto, ir do concreto da situação vivida às estruturas invariantes, os comuns entre as experiências. Entretanto, seus resultados não são universais, pois os fenômenos são sempre situados (ou seja, influenciados pelo contexto em que se manifestam) e resultado de um diálogo entre dois interlocutores, nas quais aquele que pergunta é ativo, um facilitador que auxilia a trazer o fenômeno a tona justamente com o colaborador que responde” (WEHMANN, 2019, p. 155).

minha pesquisa se trata de uma pesquisa qualitativa, pois busca o entendimento de pontos subjetivos, focando no ser humano como agente

Neste caso, seríamos nós de fato as facilitadoras e as crianças

e levando em consideração atitudes que aconteçam, comportamentos e

as colaboradoras, e o que eu apresento neste trabalho é o resultado

motivações. E, para que uma melhor análise pudesse ser feita sob algum

deste diálogo estabelecido entre nós. Por mais ausente que eu tente me

rigor metodológico, decidi adotar a observação fenomenológica como

colocar ao reportar o que as crianças manifestaram ao longo das oficinas,

51


sempre haverá alguma interferência minha, pois é humanamente

O planejamento acontecia sempre. Ele era feito através dos

impossível se abster de nossa subjetividade. Ou seja, irei relatar aqui

roteiros de oficinas, indispensáveis para que conseguíssemos atuar de

a troca entre os sentidos vividos e significados por mim, percebidos

maneira coletiva e uniforme como um grupo de facilitadoras. Nele,

enquanto estava com as crianças. Para tanto, ao longo deste trabalho

inserimos primeiro o número da oficina, seu nome e quais facilitadoras

relatarei como aconteceram esses encontros, citarei algumas de suas

estariam presentes. Depois, as atividades em ordem de acontecimento,

falas, apresentarei imagens e vou descrever algumas de suas ações.

pontuando qual a facilitadora responsável, o horário de início, tempo

O material de registro e avaliação dos nossos encontros,

de duração, o local, quais seus objetivos, materiais necessários/

como já disse, organizei e dividi-os nos seguintes momentos:

necessidades e a descrição da atividade em si. Sobre os roteiros das

planejamento, vivências, organização dos registros e processo de

oficinas, irei retomá-los mais detalhadamente no capítulo 3.31 deste

análise, sendo a ocorrência deles não necessariamente nessa ordem,

trabalho, onde reescrevo todos eles já fazendo as possíveis correções ou

mas majoritariamente, sim. Por tanto, buscando compartilhar o que

ajustes que foram considerados relevantes por nós ou no decorrer dos

me foi mostrado pelas crianças durante as oficinas, e tentando trazer

encontros, ou no momento posterior e eles.

de forma sistêmica e explicativa o que foi feito por mim posteriormente

A criação destas atividades era feita coletivamente entre todas as

para organizar tais conteúdos, vou descrever o passo a passo dos nossos

integrantes do CoCriança que fossem responsáveis por estarem presentes

métodos de registros. Assim, poderei concluir este trabalho através de

no momento de suas realizações. Também seria muito relevante que,

uma análise que perpassou todo o material levantado por nós ao longo

antes disso, alguém relatasse como havia acontecido a oficina anterior,

do projeto, nossas avaliações coletivas, e meus questionamentos e

para que houvesse uma breve avaliação e possível correção de rumo.

pesquisas individuais.

Por esse motivo, quando os encontros terminavam, sempre fazíamos entre as facilitadoras, uma breve reflexão que trouxesse um pouco do que havíamos sentido e percebido, e assim poderíamos avaliar

Planejamento 1

52

Capítulo 3.3 - Os encontro com as crianças.


O PROCESSO CoCriança o que valia a pena repetir no outro CCA, ou o que deveríamos tentar de

Oficina 5: Desenvolvendo o Planejamento Dea, Cami A, Yumy e Rayza

outra maneira. Este método nos permitiu construir uma cronologia diferente em cada CCA. Isto, somada às diferentes disponibilidades de horário de cada turma, resultou no desenvolvimento de oficinas de construção que conversassem entre si, mesmo que as crianças de cada bairro não estivessem propriamente dialogando. Afinal, “é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática” (FREIRE, 2019, p. 40). Considerando o que diz Freire sobre a importância

1) Introdução: trajeto(s) CCA - Praça ​Yumy ​14h

Local:​ ​CCA Elisa Maria Objetivo: mapear afetivamente o trajeto entre o CCA e a praça com pontos que julguem importantes. Descrição da atividade: em dois ou três grupos, desenhar os trajetos entre a praça e o cca, com tudo que eles forem lembrando que existe (casas de gente conhecida, lojinhas, bares…). Marcar a direção de suas respectivas casas e escolas. Colocar também possíveis memórias mais sensitivas ou comentários sobre os trajetos. Tentar qualificar os trajetos, e compará-los. Por que gostamos mais de um trajeto que de outro? Como nos sentimos em cada um? Em diferentes horários do dia? *Necessidades - mapa de dois pontos iniciais: CCA e Praça

da reflexão crítica sobre a prática, para nós, a avaliação da oficina de segunda-feira (no Elisa Maria) para a construção da oficina de quinta-feira (na Vila Anglo), se tornou de extrema importância. Segundo Wehmann,

“Essa postura reforça a importância da aceitação de equívocos e oportunidades não-exploradas na análise posterior a cada entrevista [oficina], os quais auxiliaram a refinar os roteiros das entrevistas [oficinas] subsequentes (...)” (WEHMANN, 2019, p. 157).

Por isso, apesar de cada atividade de nossas oficinas ter um

[40 MIN]

2) Explicando o roteiro ​Dea​ ​14h40 Local:​ ​CCA Elisa Maria Objetivo:​ ​praticar o planejamento Descrição da atividade: - Explicação do nosso roteiro - como funcionam os tempos, deslocamento - Sorteio de quem fica com qual atividade do roteiro (comunicação, planejamento, pintura e fechamento) *Necessidades - fazer um flip roteirão [20 MIN]

3) Planejando - ​Bia e Dea​ ​15:00h

Local:​ ​CCA Elisa Maria Objetivo: ​praticar o planejamento teremos que bolar a próxima oficina, já prevendo os possíveis conflitos Descrição da atividade: Divididas em 4 frentes de trabalho, as crianças terão que planejar

objetivo2 previamente traçado como algo que acreditávamos fazer 2

Ler Roteiros de Oficinas em Capítulo 3.3 - Os encontro com as crianças.

Imagem 26: Exemplo de Roteiro de Oficina criado durante as reuniões de planejamentos entre a equipe de facilitadoras CoCriança (Fonte: CoCriança).

53


sentido no momento em que se encontravam as crianças, para que o

[deixamos] de enxergar a criança como o futuro da nossa sociedade, para

fenômeno - a realização das oficinas - pudesse ser observado em sua

olhar para ela também como o presente da nossa realidade”. E assim,

totalidade, nós não estávamos somente atentas às respostas verbais

fomos desenvolvendo métodos de escuta-ativa, diálogo e observação

das crianças, mas também àquelas respostas introjetadas aos níveis de

para entender mais o que elas estavam querendo nos dizer e quais os

envolvimento ou às suas expressões corporais. O que nos leva ao segundo

verdadeiros significados de cada manifestação.

passo de meu processo de pesquisa: as vivências com as crianças.

Nossa postura durante os encontros, portanto, era inicialmente propositiva. Afinal, como já mencionei, o CoCriança tem uma abordagem

Vivências Este projeto - o desenvolvimento constante deste trabalho com as crianças - foi, então, sempre muito ambíguo para mim. Isto, porque, ao mesmo tempo que buscávamos desenvolver oficinas de caráter propositivo, estávamos o tempo todo tentando nos manter ausentes de qualquer forma de intervenção ou influência nas decisões tomadas pelas crianças. Não é fácil, e muitas vezes nos pegamos discutindo ou inserindo algo no projeto que depois teríamos que voltar atrás, pois era uma vontade nossa, e não delas. Para tanto, por mais que soubéssemos quais os caminhos que deveríamos seguir, quem criava os resultados e manifestava os desejos, eram as crianças. Albardía (2019) fala sobre a importância da escuta na metodologia CoCriança, pois ao “escutar o que a criança quer hoje, (...)

54

de pesquisa-ação, uma vez que estávamos trabalhando com roteiros de oficinas que possuíam objetivos. Segundo Freire (2019), “ensinar exige compreender que educação é uma forma de intervenção no mundo”. Mas, ao mesmo tempo, “ensinar exige saber escutar” e “exige disponibilidade para o diálogo”. Ou seja, quando as crianças vinham com propostas diferentes das nossas, estávamos abertas para mudar o que havia sido planejado. Por esses motivos, tentávamos chegar da forma mais aberta e livre nas crianças, de maneira que saíssem respostas que não viriam, caso a pesquisa fosse feita de outra forma. E isso acontecia de tal maneira que, às vezes, precisávamos mudar o sentido do roteiro que estava preparado, pois percebíamos algo muito valioso que aparecia e que deveria ser levado em consideração. Segundo Wehmann,


O PROCESSO

“A noção de uma pesquisa que evolui à medida que avança não é incompatível com o rigor metodológico ou resultados relevantes” (WEHMANN, 2019, p. 167).

de oficinas. Para a nossa atuação em campo, então, por mais que tivéssemos o objetivo da oficina pré-estabelecido durante o seu planejamento, interpretei nosso posicionamento como observação fenomenológica.

Esta noção foi de grande aprendizado durante a pesquisa em campo. Enquanto íamos criando algo, que para nós já fazia parte de nossa metodologia, em campo os resultados eram outros, o que nos direcionava a novas maneiras de atuar com as crianças. A princípio, fomos até um pouco rígidas para começar a alterar o que havíamos feito no Elisa Maria pelas demandas que as crianças da Vila Anglo nos pediam. Mas, ainda quando estávamos fazendo as Oficinas de Projeto com elas, percebemos que não poderíamos permanecer do mesmo jeito e que sermos flexíveis, explorando as outras realidades das crianças, nos traria grandes oportunidades de aprendizados. Essa mudança de trajeto é fruto de nossa segunda postura, que é a de observar. Tentávamos, sempre, na medida do possível, apenas coletar as informações que nos eram fornecidas pelas crianças e anotar quais as suas vontades ou suas respostas ao que havíamos planejado. Essa coleta de dados costumava acontecer durante as atividades - enquanto algumas facilitavam atividades, outras anotavam, outras faziam registros audiovisuais - ou logo que voltávamos para casa, escrevendo os relatórios

Isto porque, esta forma de olhar, fenomenológica, nos fazia estar presentes ao máximo, observando cada pequena coisa como algo inédito. As crianças fazem isso, estão sempre atentas às pequenezas da vida. O que é que elas estão tentando nos dizer a cada vontade que surge durante a projeção da praça? Como é que fazemos para não inserir as nossas vontades na realização do projeto? Nós sabemos como caminhar, mas o trajeto todo, quem cria são as crianças. Segundo o documentário “Miradas” (2019)3, que o programa Território do Brincar propõe, o primeiro passo para a observação fenomenológica do brincar é o passo “Terra”, onde devo observar e descrever objetivamente o fenômeno, prestar atenção no movimento do corpo. Recomenda-se suspender os pré-conceitos, a fim de se alcançar uma compreensão empática, inclusiva e global do que está sendo relatado pelo interlocutor. Claro que isto é humanamente impossível, já que somos o que somos inclusive por nossas formações, mas há de se fazer um esforço para ouvir o que lhe é dito sem imediatamente ir 3 MIRADAS. Direção de Renata Meirelles e Sandra Eckschmidt. São Paulo: Território do Brincar/ALANA, 2019. Online: bit.ly/-miradas (acesso em 27/05/2020) (31 min.)

55


traçando paralelos em nosso imaginário cognitivo.

os outros usuários haviam jogado lixo. E era isso que fazíamos enquanto

monitoramento de nossos encontros, em forma de relatórios.

Para tanto, tomei nota de frases cruas ditas pelas crianças, fiz

uso de nossos registros audiovisuais e guardei o que por elas foi escrito.

O terceiro passo é o “Ar”: compartilhar em grupo as evidências,

Nesta fase de não julgamento, a escuta-ativa é de extrema importância,

sendo elas algo que antes eu não estava vendo, mas logo comecei a

pois estimula que façamos uma escuta em que tudo o que está sendo

ver. Descobrimos isso através da observação. Sobre esse passo, Renata

dito pelas crianças é colocado no mesmo lugar de relevância.

Meirelles fala que o percebe enquanto vê as crianças brincarem:

O segundo, o passo “Água”, consiste em observar e registrar as narrativas, a sucessão de acontecimentos, seu decorrer no tempo - ex: as crianças sempre se frustavam todas as vezes que retomávamos à praça e

“(...) que o brincar delas [crianças] era um trabalho corporal. Mas, o brincar, ele era o próprio esforço (...). E esse esforço, que acabei chamando de “um brincar com empenho”. Ali, eu pude ver as crianças tendo um exercício do empenho, que isso era o tudo para elas. (...) Isso se bastava para elas, era o começo, o meio e o fim do brincar” (MIRADAS, 2019. Grifo nosso).

Ainda sobre o exemplo dado no passo “Água”, um dia, nós pegamos nossas vassouras e pás e começamos a recolher todo o lixo com ajuda dos vizinhos. A partir desse dia, as crianças entenderam que a limpeza da praça poderia ser uma ação coletiva, que poderiam sempre trazer vassouras velhas de casa e “manter a praça limpa” passava a ser um constante empenho, que fazia parte do uso coletivo. .

Imagem 27: Crianças brincam livremente nos tocos de madeira (frame do Documentário MIRADAS).

56

Para a praça, há o constante empenho em construir. Cada


O PROCESSO

oficina que fazemos é um novo desafio a vencer; cavar a terra, buscar

de maneira contínua e constante, sendo feita por meio de gravações

material, pintar a parede, escalar o muro, plantar cada muda, varrer

audiovisuais, fotos, materiais escritos pelas crianças e facilitadoras,

constantemente, limpar com água… Cada dia que passamos naquele

roteiros e relatórios de oficinas, e as atas de cada reunião das facilitadoras.

espaço, coletivamente, estamos criando - brincando, com empenho - um

Para minha pesquisa, busquei primeiro registrar minhas cruas

símbolo delas dentro do mundo adulto. É uma forma de interlocução

percepções nos diários de oficinas, que escrevi no capítulo 3.3 deste

com o resto do mundo, por isso tanta paixão por esse lugar.

trabalho: “Os encontros com as crianças”. Neles, transcrevo algumas

O último passo dessa observação fenomenológica, o “Fogo”,

falas e menciono momentos que estavam frescos em minha cabeça

acontece dentro do observador, que vai mudando as suas perspectivas.

logo após o acontecimento de cada encontro. Fiz isso para conseguir

É um lugar de encontro, o lugar da transformação, de novas maneiras

contextualizar as situações que foram vivenciadas por mim de forma a

de ver o mundo. O fenômeno e o observador tornaram-se um só. E é

criar uma narrativa que aproxime o leitor do universo das oficinas, que

o que sempre acabamos aprendendo com o CoCriança: construir o

era muito rico em sentimentos.

espaço urbano sob a perspectiva da criança, é construir brincando, é ter

Os diários de oficinas formam, assim, minha primeira organização

constante esperança porque é ter empenho e dedicação ao fazê-lo. Esse

de registros. Enquanto eu relatava minhas percepções, também tentava,

exercício de observação é sem fim, pois fica o tempo todo nos revelando

segundo a observação fenomenológica, escrever tudo o que acontecia

novas formas de olhar, de ver e entender como é importante que as

e chamava a minha atenção, a fim de, após um tempo, poder criar esta

crianças criem seu direito à cidade, à paisagem e ao brincar, de forma

narrativa transcrita para este trabalho. Dessa maneira, fui anexando

autônoma e viva de esperança.

todos os materiais produzidos pelas crianças e os registros escritos pelo nosso grupo de facilitadoras.

O segundo passo na organização dos registros, foi mergulhar em

Organização dos registros De modo geral, a coleta dos registros deste trabalho aconteceu

todos os vídeos gravados ao longo das Oficinas de Construção, um dos mais ricos materiais que o CoCriança possui. Desta forma, pude revisitar os encontros com as crianças sob outro olhar, não mais como agente

57


propositiva daquele momento, mas apenas como espectadora. Eles

que conseguisse evidenciar minha pesquisa de forma organizada e clara,

foram de fundamental importância para que eu pudesse trazer à mostra

decidi me basear no método utilizado por Wehmann (2019), em que a

as preciosas falas das crianças, que são as principais protagonistas deste

autora explica sua operação de análise de pesquisa, que reinterpretei

trabalho, e é, através de suas vozes, que eu escrevo as minhas conclusões.

segundo os seguintes passos:

Durante as oficinas, um aspecto que facilitou que avaliássemos

Passo 01: passei por tudo o que coletamos, estando atenta à

o que estava sendo feito, como importante medidor de processo, foram

totalidade do que me era apresentado assim como à cada detalhe -

as atividades de reflexão que aconteciam ao final de cada encontro.

posicionamento semelhante ao descrito no passo “Terra”, na observação

Tentávamos nelas, sempre criar um espaço em que as crianças se

dos encontros.

sentissem confortáveis e acolhidas para poderem expressar o que

Passo 02: transcrevi as falas e diálogos dos vídeos, principalmente

sentiam e pensavam a respeito do que experienciaram ao longo do dia.

das crianças, como no exemplo abaixo. Chamei-as de “unidade de

Dessa maneira, conseguíamos incluí-las também na contínua avaliação

significado”, e fui selecionando as que considerava de maior relevância,

do processo que todos nós estávamos passando, sem especulações

com um olhar bem atento ao que poderia ser usado como evidência

criadas pelo grupo de facilitadoras, apenas perguntas que fossem

do que vou apresentar nas conclusões deste trabalho4, ou no que

respondidas pelas crianças. Todo este conteúdo era registrado por vídeo,

costumamos objetivar como grupo CoCriança5:

escrito a punho por elas mesmas ou por nós.

Nome

Vale lembrar que, por mais que estivéssemos sempre

registrando, nosso método era empírico. Portanto, este TFG contribuiu

Angelina e Bianca

para sistematizar o material que, no dia a dia, acabava não tendo uma organização de análise detalhada. Por serem também registros subjetivos, gravamos principalmente aquilo que nos toca, aquilo que enxergamos como processo de transformação em cada criança ou no grupo como um todo. Dessa forma, a fim de encontrar algum rigor metodológico

58

4 5

Unidade de Significado (Ang) - O positivo é que a gente que escolheu como é que a gente ia pintar e como é que a gente ia fazer. Tipo, não foi as outra pessoas, foi a gente. (Bianca) - Foi legar vê que vai ficar permanente...

Ler capítulo 4. Relato de meus sentidos. Ler tabela 01: Convergências e Objetivos CoCriança (p. 62).


O PROCESSO

Passo 04: Com a intenção de determinar uma estrutura geral Passo 03: escrevi o significado de cada transcrição, traduzindo

do fenômeno, como no passo “Água” descrito anteriormente, efetuei

em minhas palavras as intenções identificadas em cada fala. Em forma

a síntese de convergências de falas. Isto é, identifiquei significados

de narrativa, contextualizo o momento em que aconteceram a fim de

em comum em todas as falas e fui criando o que Wehmann chama de

aproximar o leitor do universo relatado. Este quadro chamei, ainda

convergências, buscando encontrar evidências sobre os objetivos de

segundo Wehmann, de “Discurso Articulado”:

atuação da metodologia CoCriança nas próprias falas das crianças:

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

(Dea) - Como cês acham que a praça vai ficar daqui a um ano? (Ang) - Se as pessoas cuida, bonita. (Layza) - É, com mais vida. Se as pessoas colabora, não sujarem e não jogarem lixo. (Dea) - Cês acham que cês vão tá indo na praça ainda? Ang e Layza) - Sim.

Quando Dea pergunta como as crianças acham que a praça vai estar em um ano, Angelina responde que bonita, e Layza diz que se as pessoas cuidarem, não jogarem lixo, a praça estará com mais vida. Por último as duas afirmam que estarão indo à praça ainda.

- A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

É... a gente decidiu fazer alguns vídeos lá na praça, postar no YouTube, Facebook, tirar foto dos cartazes, e o nome das redes sociais vai ser “Jornalzinho da Praça” - “Jornalzinho da PDS”. É isso.

Bianca explica o plano de comunicação: fazer fotos e vídeos, postar no Youtube e Facebook - que terão o nome de Jornalzinho da PDS - e tirar fotos dos cartazes.

- Crianças expressam a própria vontade - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A criação coletiva de alternativas ao problema

59


“Esta estrutura tem um caráter de generalização, pois acontece

aquilo que é efetivamente percebido, de tal forma que o fenômeno

a partir do agrupamento dos discursos que se repetiam” (WEHMANN,

ao se mostrar também não se mostra sempre do mesmo modo e pela

2019, p. 163). Para tanto, tive que escrever e reescrever cada uma delas,

mesma face” (WEHMANN, 2019, p. 153. Grifo nosso).

até que conversassem entre si e, dessa forma, pudessem dialogar com os objetivos do CoCriança6 e, consequentemente, em congruência com os Relatos de Meus Sentidos7.

As tabelas são um resultado, então, de todo o registro audiovisual

que temos feito durante as Oficinas de Construção. Temos inúmeras falas de extrema relevância para o projeto, que podem ser lidas ao final deste trabalho no item Anexo 3. As que eu considerei oportunas para dialogar com o texto do trabalho, transcrevi identificando a criança e o momento em que foi dita.

Por isso, devo dizer que, ao escrever minhas interpretações sobre o que por nós foi vivido ao longo de nossos encontros, estou por mais que tenha transcrito exatamente como ouvi - imediatamente trazendo o meu olhar sobre algo que por elas foi dito. Mas ainda assim, há muitas falas que dizem por si só e, por isso, fiz questão de transcrever todas e anexá-las ao final deste trabalho.

Vale lembrar mais uma vez, que é impossível observar estas falas e não me abster, assim como traz Wehmann em seu trabalho, onde analisa também entrevistas com moradores de comunidades em Fortaleza, por meio da observação fenomenológica:

O processo de análise Enquanto criava as convergências de todo o conteúdo que organizei por meio dessas tabelas, meu primeiro passo foi relacionálas aos objetivos que traçamos como os principais ao longo do projeto

“O fenômeno forma-se assim entre o olhar intencional e o que

CoCriança. São eles:

é olhado, não existindo em outras condições. Ou seja, o que é percebido é resultado de uma operação entre aquilo que é doado à percepção e

1. Promover o senso de coletividade do grupo com a afirmação das individualidades

6 7

60

Ler tabela 01: Convergências e Objetivos CoCriança (p. 63). Ler capítulo 4. Relato de meus sentidos.

2. Reconhecer e instrumentalizar a voz das crianças para a


O PROCESSO

autonomia

apareceram no decorrer da pesquisa, poderei aprofundar a discussão de

3. Promover a participação das crianças nos processos de decisão e transformação urbana

comparação dos dois lugares10 - que acabaram tendo grande influência nos processos de aprendizados de cada criança - e irei evidenciar a

4. Fortalecer o uso da cidade e sua ocupação pelas crianças

conclusão deste trabalho em seus três últimos itens de capítulos11.

5. Promover o senso de pertencimento, fortalecendo os vínculos da comunidade com os espaços públicos

No que tange meu processo de pesquisa, sobre o objetivo CoCriança de reconhecimento e instrumentalização da voz das crianças para sua autonomia, irei discutir principalmente no capítulo 4.4. “Conquistas de

8

Enquanto grupo, reconhecer esses passos como nossos objetivos

autonomia”, onde relaciono muitos dos momentos vividos ao longo do

principais, está sendo de extrema importância para conseguirmos analisar o

projeto, com o livro de Freire (2017) Pedagogia da Autonomia. Já o objetivo

CoCriança como um projeto urbano-pedagógico. Portanto, por mais que meu

fortalecer o uso da cidade e sua ocupação pela cidade, irei discutir mais a fundo

trabalho não vá percorrer detalhadamente por todos esses objetivos, ao elaborar

no capítulo 4.3. “Percepções de paisagem”, onde discorro sobre as diferentes

a Tabela de Convergências e Objetivos (p. 63), fiz questão de já relacioná-los,

leituras de paisagem, me aprofundando no texto de Wehmann (2019) e de

como forma de contribuição de minha pesquisa para o grupo CoCriança.

Lima (2017). Sobre este último capítulo, irei fundamentar a importância de

Nela, inseri também a quantidade de Unidades de Significado que transcrevi de cada grupo de crianças - Elisa Maria: 66, Vila Anglo: 51

se exercitar o direito à paisagem com as crianças, como ferramenta para sua interlocução com o espaço e consequente ocupação de uso na cidade.

- e o número de vezes e frequência que cada convergência aparece. Fiz

Apesar desses serem os dois objetivos do CoCriança que

isto a fim de balizar e de alguma maneira conseguir “medir” o conteúdo

fundamentam a discussão aqui neste TFG, durante todo o texto não

internalizado por cada grupo de crianças.

deixarei de passar pelos os outros também, para tanto, apresento algumas

Por meio desta tabela, irei apresentar algumas análises9 que me 8 A análise deste trabalho foi desenvolvida com assessoria voluntária da rede colaborativa Ventura - linkedin.com/company/ventura-monitoramentoeavaliacao. 9 Ler capítulo 4.1. Análise do conteúdo

conclusões a respeito deles no capítulo 4.1. “Análise do conteúdo”. 10 Capítulo 4.2. Como o lugar influencia no processo. 11 Ler capítulos 4.3. Percepções da paisagem, 4.4. Conquistas de autonomia e 5. Sobre o meu e o nosso aprendizado.

61


Tabela 01 - Convergências e Objetivos CoCriança


Frequência Elisa Maria Vila Anglo

Convergência

Objetivo

Demonstram uma relação afetiva com o projeto

4

6%

17,64%

9

A criação coletiva de alternativas ao problema

7

10,6%

17,64%

9

Verbalização de sentimentos

0

0%

21,56%

11

Crianças assumindo responsabilidades

10

15,1%

29,41%

15

Crianças expressam a própria vontade

14

21,21%

7,84%

4

A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema

17

25,75%

9,8%

5

Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto

5

7,57%

15,68%

8

Protagonismo no planejamento e na execução de atividades

28

42,42%

39,21%

20

Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade

13

19,69%

19,6%

10

Crianças tomando decisões sobre o processo

18

27,27%

25,49%

13

Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem

14

21,21%

3,92%

2

Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar

12

18,18%

9,8%

5

A paisagem como diferencial positivo

11

16,66%

13,72%

7

A praça como lugar de encontros e tempo livre

8

12,12%

5,88%

3

A paisagem como afeto e vínculo com o lugar

8

12,12%

13,72%

7

O entendimento da paisagem como espaço de construção

15

22,72%

27,45%

14

A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem

13

19,69%

3,92%

2

A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público

18

27,27%

15,68%

8

Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros

13

19,69%

1,96%

1

A importância de envolver a comunidade no processo

12

18,18%

21,56%

11

A praça como espaço de qualificação da comunidade

9

13,63%

13,72%

7

Total de Unidades Transcritas

66

100%

100%

51

Promover o senso de coletividade do grupo com a afirmação das individualidades

Reconhecer e instrumentalizar a voz das crianças para a autonomia

Promover a participação das crianças nos processos de decisão e transformação urbana

Fortalecer o uso da cidade e sua ocupação pela criança

Promover o senso de pertencimento, fortalecendo os vínculos da comunidade com os espaços públicos



3 OS ENCONTROS

Neste capítulo, iremos mergulhar no que foram todos esses

encontros com as crianças do CCA Elisa Maria e do Sal da Terra ao longo das Oficinas de Construção. Palavras são poucas para descrever a energia que preenche o nosso corpo ao ver o sorriso no rosto de cada criança, ao receber os seus beijos e abraços todas as vezes que entramos pela porta da sala de aula. É esta energia que me movimenta a seguir defendendo e argumentando a relevância que tem o CoCriança dentro de uma cidade tão segregada e desigual quanto São Paulo.

A fim de contextualizar de forma explícita e clara esta desigual

realidade que rege nossa atuação, no primeiro momento irei relatar um pouco sobre os processos que ocorreram para a escolha de ambos os lugares de intervenção: o primeiro no Jardim Elisa Maria, na Brasilândia, zona norte de São Paulo; e o segundo na Vila Anglo Brasileira, em Perdizes, zona oeste. A aproximação do CoCriança com cada um desses lugares se deu de maneira completamente diferente, que acabou tendo grande influência no processo de construção de cada lugar de intervenção.

Tudo isso aconteceu em uma ordem temporal que talvez não

fique muita clara apenas em um texto corrido como o que venho fazendo até então. Portanto, decidi imprimir uma linha do tempo que contextualize tanto o processo do CoCriança como um todo, quanto o processo apenas das Oficinas de Construção, que sugiro que o leitor retire do caderno - pois é destacável - e use-a para acompanhar a leitura

65


3.1 A ESCOLHA DOS LUGARES dos encontros com as crianças no terceiro momento deste capítulo.

Assim, espero que entenda ainda mais o CoCriança, e, sobretudo,

os desafios e alegrias que passamos ao longo de todos esses anos de

“Uma questão a ser considerada é que cada fenômeno está sempre vinculado ao contexto em que surge, ou seja, é sempre um fenômeno situado” (WEHMANN, 2019, p. 164).

trabalho com as crianças dos CCAs Elisa Maria e Sal da Terra. Ver um sonho que foi co-projetado materializar-se na sua frente após muito esforço, não há palavras que descrevam esse sentimento, ainda mais quando ele é compartilhado com tais “figurinhas” que são cada uma dessas crianças, que apresento a seguir.

Segundo a citação acima, não há, numa pesquisa feita através da observação fenomenológica, como fazer a análise do processo como um todo, sem antes situar o lugar onde o fenômeno do processo ocorre. Por tanto, neste capítulo irei descrever ao leitor a respeito de ambos os distritos em que realizamos os projetos. Primeiro, contarei um pouco da história da construção de nossa relação com cada CCA e, depois, apresentarei uma tabela criada por mim, que possibilite uma leitura dinâmica e comparativa das desigualdades vividas entre as crianças dos dois bairros. Isto irá contribuir para um melhor entendimento do Capítulo 4.2 deste trabalho, em que busco apresentar como o lugar influencia no processo das crianças. Como já dito anteriormente, o CoCriança é vinculado à Universidade de São Paulo, uma vez que se estabeleceu como grupo de extensão universitária, sendo consequência da disciplina de Planejamento Urbano com a de Paisagismo. No início, a proposta da disciplina era que os grupos de trabalho projetassem em alguma área da Brasilândia, e por isso, foi por meio dela o nosso primeiro contato

Imagem 28: Vista da janela do CCA Elisa Maria, na Brasilândia, zona norte de São Paulo, 2019 (Fonte: CoCriança).

66

estabelecido com o distrito.


OS ENCONTROS

A escolha do CCA Elisa Maria, ou seja, a proposta de trabalhar

há dois anos na busca de recursos, aceitamos, pois desta vez, o recurso

com crianças foi uma vontade que surgiu coletivamente pelo grupo de

destinado à reforma da nova Praça já existia e conseguimos, através dessa

alunas, em 2017. E, para além das professoras Catharina Pinheiro e

oportunidade, levantar o financiamento para a construção no Elisa Maria.

Karina Leitão, quem fez a nossa ponte com a diretoria do CCA foi a Ana

A oportunidade surgiu através de uma conversa com o Vereador

Sueli Ferreira, nossa parceira até hoje e uma das maiores lideranças e

Eliseu Gabriel, que nos apresentou algumas praças em São Paulo, as

mulheres de força daquela região.

quais ele já tinha a verba para a construção. Ele nos pediu que fizéssemos

Iniciamos, assim, o contato com as crianças. Elas tinham, na

o processo participativo para a concepção do projeto, e escolhemos a

época, de 9 a 11 anos, e já abordavam no CCA Elisa Maria, com o então

Praça Doutor Vicente Tramonte Garcia - carinhosamente apelidada pelos

educador Bruno César, diversas questões como direitos humanos,

moradores de “Praça do Samba” - na Vila Anglo Brasileira que, entre

violência contra mulher, diversidade, respeito, diálogo, etc. Fomos,

todas opções que nos foram apresentadas, era a que possuía menores

assim, ao longo de nossos encontros, aprofundando nossos laços e

índices de vulnerabilidade social.

nos desafiando como grupo para a construção da Praça Livre Para As

Vale destacar a relevância do percurso em que os fatos

Crianças. Entretanto, não havíamos recursos financeiros suficientes para

aconteceram ao longo de cada processo - não mais na ordem: 1. CCA, 2.

tal, apenas, a nossa determinação.

Escolha do lugar, 3. Projeto e 4. Verba, como no Elisa Maria; mas 1. Verba,

Nessa época, estávamos convictas que a proposta do CoCriança

2. Escolha do lugar, 3. CCA e 4. Projeto, na Vila Anglo. A diferença desses

era construir os espaços públicos sempre na periferia, já que iniciamos

processos culminaram em diversas questões que acabaram sendo muito

a pesquisa na Brasilândia, onde as próprias crianças nos indicaram

relevantes para esta pesquisa e para os aprendizados de todo o grupo.

quais eram os lugares em potencial para o projeto. Porém, à medida

Essas divergências serão apresentadas mais para frente no capítulo 4.2

que fomos precisando ir atrás de apoio financeiro para a construção da

Como o Lugar Influencia no Processo.

Praça Livre Para As Crianças, outra oportunidade nos foi dada de aplicar

Iniciamos, então, o contato com as crianças do CCA Sal da

a metodologia também para a construção de uma praça na Vila Anglo

Terra, na Vila Anglo, por intermédio de uma moradora do bairro. Ela

Brasileira, em Perdizes, zona oeste de São Paulo. E como já estávamos

representava uma organização de moradores do bairro, o Movimento

67


Amigos da Vila Anglo (MAVA), que teria dado o primeiro passo para

02, p. 69) de cada distrito. Nela inseri dados que fossem mais relevantes

conseguirem a destinação da emenda parlamentar à reforma da Praça

a este trabalho e destaquei os que apresentam maior discrepância entre

do Samba. Dessa maneira, o nosso contato com essa organização de

distritos, assim poderemos ter uma visão comparativa a respeito da

moradores permaneceu até que a reforma fosse concluída.

realidade de cada lugar, o que influenciou muito no desenvolvimento de

As crianças do CCA Sal da Terra tinham cerca de 11 a 13 anos

cada grupo de crianças ao longo do projeto.

quando iniciamos o projeto. A associação desenvolve, para além de trabalhos educativos, alguns religiosos, pois “em 2014 a fundadora e presidente, juntamente com toda a diretoria da Sal da Terra passou a administração da mesma para a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Consolação, que desde então vem remodelando as formas de atendimento, promovendo eventos que fortaleçam os vínculos familiares e com a comunidade local”1. Este fator também contribuirá para nossa análise do capítulo 4.1 Análise de Conteúdo.

Assim se deram as escolhas de ambos os lugares de intervenção

do CoCriança: o CCA Elisa Maria, através do contato com as professoras da FAU e lideranças locais; e o CCA Sal da Terra, através do Vereador Eliseu Gabriel e por intermédio inicial do MAVA. A seguir, apresento primeiro um mapa (Imagem 29) com a localização de ambas as praças em seus respectivos distritos, e depois, a Tabela de Dados dos Distritos (Tabela 1 Texto retirado do site da Associação Sal da Terra: ccasaldaterra.blogspot. com/p/quem-somos.html (acesso em 15/07/2020).

68

Imagem 29: Localização da Praça Livre Para As Crianças no Distrito da Brasilândia e da Praça do Samba no Distrito de Perdizes.(Fonte: CoCriança).


OS ENCONTROS

Praça Livre Para As Crianças - CCA Elisa Maria

Praça do Samba - CCA Sal da Terra

• Bairro: Jardim Elisa Maria

• Bairro: Vila Anglo Brasileira

• Distrito: Brasilândia

• Distrito: Perdizes

• Subprefeitura: Freguesia do Ó/Brasilândia

• Subprefeitura: Lapa

Dados Físicos

Tabela 02 - Dados dos Distritos Índice

Brasilândia

Perdizes

Medida em

Área

21

6,3

km²

Favelas

29,6

0

número total de domicílios em favelas ÷ número total de domicílios x 100

Arborização viária

21

6,3

km²

Árvores contabilizadas no sistema viário por área do distrito

236,5

1.101,50

árvores / km²

Área verde por habitante

28,93

11,04

Equipamentos Públicos de Cultura

1,44

2,63

a cada 100.000 habitantes

Mapa da Desigualdade; SMC; IBGE; Seade - 2017

Equipamentos Públicos de Esporte

0,18

0,09

a cada 10.000 habitantes

Mapa da Desigualdade; SEME; IBGE; Seade - 2018

Observação

Fonte Site da Prefeitura de SP

Brasilândia: 2º maior número do município

Mapa da Desigualdade; SEHAB; HabitaSampa; IBGE 2018 Site da Prefeitura de SP

Brasilândia: 9º pior do município Perdizes: 12º melhor do município

Mapa da Desigualdade; SMDU; Geosampa

cobertura vegetal m² / pop. local A Brasilândia tem sua área norte destinada ao Parque Estadual da Cantareira

Mapa da Desigualdade; SVMA

69


População

70

Índice

Brasilândia

Perdizes

Medida em

População

281.977

114.778

pessoas

Densidade Demográfica

13.427

18.218

Habitantes/km² 2020

Brasilândia: 2º maior número do município

Seade 2020

Mulheres

146.941

62.180

pessoas

Brasilândia: 52,11% Perdizes: 54,1%

Seade 2020

Homens

135.035

52.608

pessoas

Brasilândia: 47,89% Perdizes: 45,8%

Seade 2020

Razão de sexos

91,9

84,81

número de homens para cada 100 mulheres

0 a 4 anos

22.878

4.976

pessoas

Brasilândia: 8,11% da população Perdizes: 4,33% da população

Seade 2020

5 a 9 anos

23.337

5.363

pessoas

Brasilândia: 8,27% da população Perdizes: 4,67% da população

Seade 2020

10 a 14 anos

18.211

4.827

pessoas

Brasilândia: 6,46% da população Perdizes: 4,2% da população

Seade 2020

População com Menos de 15 Anos

22,85

13,21

em %

Seade 2020

População com 60 Anos e Mais

11,31

24,97

em %

Seade 2020

População Preta e Parda

50,6

9,37

em %

IBGE 2010

Índice de Envelhecimento

48,48

189,01

em %

Seade 2020

IDH

0,769

0,957

0a1

O Estado de São Paulo 2016

Observação

Fonte Seade 2020

Seade 2020


Saúde

Índice

Brasilândia

Perdizes

Medida em

Observação

Fonte

Taxa de Natalidade

18,53

9,89

por mil habitantes

em 2014

Seade 2020

Taxa de Mortalidade na Infância

14,5

6,26

Por mil nascidos vivos até 15 anos

em 2014

Seade 2020

Idade média ao morrer

60,01

78

anos

Brasilândia: 9º distrito com idade mais baixa do município

Mapa da Desigualdade; SIM 2018

Nascidos Vivos de Mães com Menos de 19 Anos

14,29

0,54

%

Brasilândia: 4º maior número do município

Mapa da Desigualdade; SMS; SINASC

Mães que fizeram Sete e Mais Consultas de Pré-Natal

71,68

93,46

%

em 2014

Seade 2020

Nascimentos de Baixo Peso (menos de 2,5kg

10,03

8,45

%

em 2018

Mapa da Desigualdade; SMS; SINASC; CEInfo

Unidades Básicas de Saúde (UBS)

0,47

0,18

para cada 10.000 habitantes

Tempo de espera para consultas - clínico geral

62,46

48,62

tempo médio em dias de espera

Brasilândia: 2º lugar com tempo mais longo do município

Mapa da Desigualdade; SMS; SIGA Saúde 2018

Leitos hospitalares¹

0,011

1,49

Número total de leitos hospitalares ÷ População total x 1.000

Brasilândia: 2º mais baixo índice do município

Mapa da Desigualdade; CNES; SMS; SES; IBGE; Seade 2018

Violência contra a mulher

237,4

112,4

Número total de ocorrências de violência contra a mulher ÷ População feminina na faixa etária de 20 a 59 anos x 10.000

Mapa da Desigualdade; SSP; IBGE; Seade 2018

Homicídio Juvenil (15 a 29 anos)

45,25

0

mortes a cada 100.000 habitantes

Rede Nossa SP - 2016

Mapa da Desigualdade; SMS; IBGE; Seade 2018

1 A Portaria GM/MS n° 1101/2002 (vigente até outubro de 2015), estabelecia como ideais os valores de 2,5 a 3,0 leitos para cada mil habitantes.

71


Econômico Educação

72

Índice

Brasilândia

Perdizes

Medida em

Observação

Fonte

Renda per Capita

502,19

3.300,27

Em reais correntes

em 2010

Seade 2020

Domicílios Particulares com Renda per Capita até 1/4 do Salário Mínimo

11,22

4,23

%

em 2010

Seade 2020

Domicílios Particulares com Renda per Capita até 1/2 Salário Mínimo

27,61

5,42

%

em 2010

Seade 2020

Emprego formal

0,47

4,47

a cada 10 habitantes participantes da PIA (população em idade ativa) com idade igual ou superior a 15 anos

Brasilândia: 5º distrito com menor taxa do município

Mapa da Desigualdade; MTE; RAIS - Microdados; IBGE; Seade - 2017

Concluintes do Ensino Fundamental

3.441

781

pessoas

Concluintes do Ensino Fundamental - Rede Pública

3.371

228

pessoas

Brasilândia 98% Perdizes: 29,2%

Sebrae, MEC - 2011

Concluintes do Ensino Fundamental - Rede Particular

70

553

pessoas

Brasilândia 2% Perdizes: 70.8%

Sebrae, MEC - 2011

Concluintes do Ensino Médio

1.964

889

pessoas

Concluintes do Ensino Médio - Rede Pública

1.944

504

pessoas

Brasilândia: 99% Perdizes: 56,7%

Sebrae, MEC - 2011

Concluintes do Ensino Médio - Rede Particular

20

385

pessoas

Brasilândia: 1% Perdizes: 43,3%

Sebrae, MEC - 2011

Sebrae, MEC - 2011

Sebrae, MEC - 2011


Índice Paulista de Vulnerabilidade Social² (IPVS)

Índice

Brasilândia

Perdizes

Medida em

Observação

Fonte

IPVS grupo 1 - Vulnerabilidade Baixíssima

0

85,9

% da população exposta

em 2010

Seade 2020

IPVS grupo 2 - Vulnerabilidade Muito Baixa

25,1

10,9

% da população exposta

em 2010

Seade 2020

IPVS grupo 3 - Vulnerabilidade Baixa

26,5

3,1

% da população exposta

em 2010

Seade 2020

IPVS grupo 4 - Vulnerabilidades Média

18,6

0

% da população exposta

em 2010

Seade 2020

IPVS grupo 5 - Vulnerabilidades Alta

17,7

0

% da população exposta

em 2010

Seade 2020

IPVS grupo 6 - Vulnerabilidades Muito Alta

12

0

% da população exposta

em 2010

Seade 2020

2 O IPVS baseia-se em uma tipologia derivada da combinação de indicadores sintéticos das dimensões socioeconômica e demográfica, permitindo classificar os setores censitários em sete categorias, segundo o grau de vulnerabilidade social da população neles residente

73


3.2 LINHA DO TEMPO Este item de capítulo consiste na esquematização de duas linhas do tempo. A primeira, do início de 2017 ao final de 2019, refere-se a todo o período de trabalho do CoCriança, apresentando as oficinas em cada CCA, as premiações em editais e participações em concursos, as publicações de teses produzidas pelas integrantes do grupo, os processos de financiamento de obra, etc. A segunda, situada no segundo semestre de 2019, apresenta todo o processo das Oficinas de Construção, objeto principal de análise deste trabalho, a fim de esquematizar ao leitor qual oficina aconteceu antes da outra, pois isso teve grande influência nas tomadas de decisão e correção de percurso do CoCriança. Por tanto, esses dois materiais foram pensados de maneira que o leitor possa retirá-los do caderno de leitura e posicioná-los livremente enquanto lê o resto do trabalho. Caso a leitura aconteça de forma online, basta clicar no link “Linha do Tempo” ao lado, que abrirá um PDF anexado, criando, assim, uma melhor compreensão através do referenciamento temporal.


LINHA DO TEMPO cocriança


3.3 OS ENCONTROS COM AS CRIANÇAS A partir do que foi situado na linha do tempo das Oficinas

projeto que trabalha com crianças de áreas que se identificam como

de Construção, este capítulo irá descrever todos os encontros com

comunidade, entendemos que avaliar os nossos processos é de extrema

as crianças que aconteceram no segundo semestre de 2019, desde o

relevância, tanto pela questão pedagógica - afinal, estamos o tempo

momento em que os projetos das praças passaram pelos seus devidos

todo aprendendo com as crianças -, quanto pela questão do trabalho

processos de licitação. Iremos mergulhar em cada oficina, passando

com a comunidade em si.

pelo seu roteiro, os ajustes necessários, comentários, descrição de meus

diários de campo, fotos, materiais produzidos pelas crianças, etc, a fim

Ficha técnica e roteiro e 2. Diário de campo com fotos e avaliações.

de entender como aconteceram e o que foram todos os processos de

aprendizados e pesquisa que o CoCriança passou.

queira desenvolver oficinas lúdicas de co-criação com crianças, a parte 1.

Dessa maneira, cada oficina será dividida em duas partes: 1. A fim de tornar este trabalho uma possível referência para quem

ficha técnica e roteiro terá todo o detalhamento das informações básicas “Não existem regras fixas de trabalhar com o povo. O que

e necessárias para a oficina acontecer: duração, número de crianças,

existem são apenas balizas, setas indicadoras. Cada um tem que

local, materiais necessários, objetivo geral da oficina, descrição das

assumir o risco, pois o risco faz parte de todo aprendizado que se funda

atividades em ordem cronológica, assim como o tempo e objetivo de

principalmente na experiência. (...) É impossível dar sempre certo. Em

cada uma.

nenhum lugar talvez mais do que aqui vale o dito de que é fazendo que

se aprende. Daí a importância do processo como tal“ (BOFF, 1984, p.

os processos de aprendizado do CoCriança, adicionei o item “alteração

4. Grifo nosso).

no roteiro”, que busca apontar o quanto da oficina aconteceu de acordo

Além disso, para o mesmo fim e com a intenção de demonstrar

com o que havíamos planejado. Dessa maneira, ao longo do próprio

Em sua citação, Boff explica a importância de se voltar para os

processos ao longo do trabalho com o povo . Sendo o CoCriança um 1

1 Para Boff, “povo” compreende ao termo do “conjunto das classes oprimidas ou subalternas. Entenderemos sempre “povo” não no sentido “clássico” (de “nação”), mas

76

roteiro, irei tachar o conteúdo não utilizado e escrever de cinza claro no sentido “classista” (de “classes populares”). De resto, é como “povo” que o pessoal costuma se autodenominar nos grupos de trabalho popular. Por vezes, “povo” quererá dizer simplesmente a comunidade popular com a qual se está trabalhando.” (BOFF, 1984, p. 4).


OS ENCONTROS

aquilo que foi adicionado em campo pela equipe de facilitadoras. A parte 2. diário de campo, fotos e avaliações busca aproximar o leitor das experiências vividas pelos agentes aos quais este trabalho se refere: às crianças e ao grupo CoCriança. Para tanto, transcrevi os diários de oficinas que escrevi no decorrer de nossos encontros, fazendo neles pouquíssimas alterações, com a intenção de criar uma narrativa agradável e fluída de ser lida. Paralelamente a isso, adicionei as fotos registradas pelo CoCriança ao longo do processo e os materiais produzidos pelas crianças - como Esqueletos de Oficinas, textos de reflexão, desenhos, etc. Esse material, o leitor verá, é de extrema riqueza para a pesquisa deste trabalho, assim como o registro de falas que acontecem ao longo das oficinas, que também entrarão neste capítulo como elementos ilustrativos de nossos encontros. Por meio deste vasto conteúdo, pude percorrer um longo trajeto de análise e avaliações, feitas sozinha ou junto com as outras facilitadoras. Por fim, vale dizer que os roteiros que vou transcrever neste trabalho, foram todos feitos coletivamente pelas facilitadoras do CoCriança, e reescritos agora por mim, de maneira que pudéssemos ter um material conciso, único e co-criado de todas as Oficinas de Construção. Imagem 30: Crianças também fazem o registro das oficinas na Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2020 (Fonte: CoCriança); Imagem 31: Atividade de linha do tempo na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2020 (Fonte: CoCriança).

77



JARDIM ELISA MARIA BRASILÂNDIA

Imagem 32: Em vermelho - Localização geoespacial do Distrito da Brasilândia no Município de São Paulo (Fonte: Google Maps e CoCriança).


24/09/2019 OFICINA 1: RETOMANDO O CONTATO Local: CCA Elisa Maria e Praça Livre Para As Crianças Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 24 Alteração no roteiro: Adaptação da segunda atividade.

Materiais Necessários fotos das oficinas anteriores fita adesiva

Objetivo geral: Restabelecer o contato com as crianças do CCA Elisa Maria. Para isso, a oficina consiste primeiro em um momento de integração entre o grupo de crianças e o de facilitadoras, seguido de atividades que contribuem para o resgate da memória sobre tudo o que já foi feito durante o projeto. Após uma conversa sobre o último ano, discutiremos quais seriam os próximos passos.

80


ROTEIRO

1. APRESENTAÇÃO / PIF-PAF DE NOMES

2. LINHA DO TEMPO

(30 minutos)

(45 minutos)

Objetivo Conhecer e estabelecer vínculo com as crianças. Descrição da atividade Primeiro, fazer uma rodada de no-

Objetivo Contribuir para que as crianças antigas e as novas

mes, onde cada criança fala o seu e faz um movimento preferido. Em seguida, todos da roda repetem. No Pif-Paf, as crianças ficam em uma roda e uma de nós no meio. A pessoa do meio aponta para uma criança aleatória e diz “pif!”. A criança apontada tem que abaixar o mais rápido possível e as duas do lado devem apontar uma para a outra e falar o nome da outra. Quem falar o nome mais rápido, vence. A criança que “perder”, fica sentada e vai fazendo a etiqueta do nome enquanto o jogo continua com as outras. Vamos repetir o jogo duas vezes. Na segunda vez, a criança que vencer da primeira vez, vai ser a pessoa que fica no meio.

3. RODA DE CONVERSA

participem em conjunto para relembrar as oficinas que foram feitas anteriormente. Descrição da atividade Esta atividade deve acontecer na Praça Livre Para as Criança. Primeiro, colocar no chão um craft com uma linha do tempo das oficinas realizadas na etapa de projeto (data e nome da atividade) e distribuir fotos dessas atividades para todas as crianças presentes. Juntas, elas têm que associar a foto à oficina correspondente para colar no craft em ordem na parede. A ideia é que as crianças novas tentem adivinhar as atividades e as antigas consigam relembrá-las. Em seguida, as crianças antigas podem contar como foi aquela atividade para as crianças novas.

4. CIRANDA

(20 minutos)

(20 minutos)

Objetivo Atualizar as crianças sobre o processo de reforma da

Objetivo Fazer uma atividade lúdica para o encerramento da

praça e refletir sobre os próximos passos. Descrição da atividade Em roda, conversar com as crianças perguntando como estão após as férias e se passaram na praça, contar o que foi feito até agora, sobre a festa de inauguração, fase de licitação - explicar como funciona -, falar sobre novas responsabilidades e como será essa etapa de oficinas, pois eles vão começar a criar as atividades.

oficina.

Descrição da atividade Realizar uma roda de ciranda e depois fazer uma brincadeira na qual cada pessoa dá um beijo na bochecha da pessoa que estiver ao lado dela. Quando chegar na pessoa que começou a rodada, o sentido se inverte e cada um dá um beijo na pessoa que estiver do seu outro lado.

81


DIÁRIO

AGATHA

Foi muito bom estar de volta no CCA Elisa Maria! As crianças ficaram

muito animadas, sempre muito sorridentes; muitos haviam esticado bastante de tamanho. Como estamos trabalhando lá fazem três anos, as turmas também tinham sido alteradas, mas as coordenadoras do CCA, muito fofas, fizeram um esforço para juntar as crianças que já estavam conosco na mesma sala, junto com a nossa nova educadora, a Sandra.

Primeiro, fizemos uma rápida atividade de integração - Pif-Paf - que

“Aconteceu que, depois qu e, tipo, que acabou a festa, aí vocês não cons eguiram vim mais. Ai, vocês pararam de vim . Ai, sempre que eu passav a lá perto da praça, aí os moradores de rua co meçaram a ir pra ficar lá e estragar tudo.” (Diário de Campo, Ofici

na 01 de Construção - Eli sa Maria, 2019).

nunca falha ao envolver as crianças. Depois, fomos para a Praça Livre Para as Crianças. Ela também está bem mudada… o trailer de Hambúrguer já não

existe mais, havia bastante lixo e alguns moradores iniciaram uma reforma que eliminou o patamar do meio, deixando-o no mesmo nível que a rua. Alguns usuários de drogas também estavam usando a Praça, por isso ficamos só na parte de cima; mas, como de costume, eles foram muito compreensíveis ao projeto e começaram logo a se mobilizar e recolher todo o lixo que estava acumulado. Um deles inclusive me chamou de canto e disse “ó, quando vocês voltarem aqui da próxima vez, isso aqui vai tá tudo limpo!”

Para a oficina, levamos algumas fotos impressas e

fomos, junto com as crianças, relembrando os momentos que vivemos nos últimos anos, a fim de construir uma linha do tempo na parede. Essa hora ficou um pouco desorganizada,

82


Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

83


acho que faltou, de nossa parte, um pouco mais de detalhamento de

AGATHA

la, no escadão ali, tinha Eu lembro até que na vie u um monte de coisa lá um homem, tipo, ele pego e ao escadão e fez um do lixo que tava em frent o. barquinho de brinqued bastante potêncial Então eu acho que eles têm pra ajuda nóis. trução - Elisa Ma-

na 01 de Cons (Diário de Campo, Ofici ria, 2019).

como isso poderia ter sido feito. Mas, deu certo! No final, estávamos com uma linda linha do tempo, onde conseguimos relembrar um pouquinho dos momentos que dividimos.

De volta para o CCA, e as crianças com lanche em mãos,

tivemos uma conversa sobre como vão funcionar as coisas de agora em diante: que nós não iríamos mais chegar com as oficinas prontas. Nessa próxima fase são elas mesmas que propõe como as oficinas vão funcionar. Ou seja, a responsabilidade delas aumentou para a construção da Praça. Nós, o CoCriança, seremos apenas facilitadoras do processo que elas vão organizar.

Foi realmente emocionante ouvir das crianças um retorno

grande de responsabilidade e sugestões de como poderíamos fazer para, não só irmos atrás de meios para a construção, como inclusive, integrar os usuários da Praça à construção do projeto, porque “se eles participarem, eles não vão querer destruir uma coisa que eles mesmos ajudaram a fazer”.

MARQUINHO

Eu tive uma idei a de criar uma d inâmica que expl ique sobre aquil o que a gente tá fa zendo na Praça . Pras pessoas qu e moram lá pert o. (Diário de Campo

, Oficina 01 de Construção - Elisa Maria , 2019).

84


Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

85


16/10/2019 OFICINA 2: COMO INFORMAR A COMUNIDADE? Local: CCA Elisa Maria e Praça Livre Para As Crianças Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 22 Alteração no roteiro: Pouca

Materiais Necessários instrumentos papéis A6 caneta

Objetivo

geral:

Refletir sobre as próximas ações necessárias para a construção da praça e bolar alternativas para contar aos moradores do bairro sobre a reforma, a fim de convidá-los a participar do projeto. Introduzir as crianças ao Maracatu como cultura popular e como possível ferramenta de divulgação na comunidade.

86

ROTEIRO

1. INTRODUÇÃO AO MARACATU (15 45 minutos)

Objetivo Explicar para as crianças como vai funcionar a dinâmica do dia e contar um pouco sobre o que é o maracatu. Descrição da atividade Perguntar às crianças sobre proposta de fazer uma apresentação de maracatu no domingo para as pessoas do entorno (isso nunca aconteceu), retomando a importância dos vizinhos estarem cientes e envolvidos no processo de construção e manutenção da praça. Conversar também sobre o que é o Maracatu e como será a oficina. * Ao final desse momento de introdução, dividir as crianças em dois grupos. A ideia é que cada um faça as duas atividades seguintes (atividades 2. e 3. ocorrem simultaneamente) separadamente devido à quantidade de instrumentos disponíveis para todas e, assim, podemos trabalhar com grupos menores.

2. OFICINA DE MARACATU (60 45 minutos)

Objetivo Tocar e se divertir! Descrição da atividade Na praça, em um primeiro momento, pegar o ritmo com o corpo. Depois, subdividi-las em grupos menores e cada criança escolhe o instrumento que quer aprender, alternando após um tempo.


3a. COMO INFORMAR A COMUNIDADE - 4X4X4

3b. LEVANTAMENTO DE RECURSOS

(30 minutos)

(30 15 minutos)

Objetivo Chuva de ideias para chegar em quatro principais! Descrição da atividade No CCA, dividir as crianças em 4

Objetivo Viabilizar as propostas a fim de convidar os morado-

subgrupos com no mínimo 4 integrantes cada. Nesse primeiro momento, cada uma delas deve pensar sozinha em 4 atividades para chamar a comunidade para ajudar na construção e colaboração da praça. É importante deixar claro que elas precisam fazer essas propostas sozinhas, sem a ajuda de outros amigos. Depois, dividir cada subgrupo em duplas, cada criança explica para a outra da dupla sobre as atividades que pensou e, juntas, elas escolhem 4 atividades que consideram mais efetivas para o objetivo. Ao final, os quartetos são formados novamente e cada um escolhe as 4 melhores ideias entre todas do seu grupo. Essas serão as propostas que eles vão colocar em prática. Ter uma facilitadora do CoCriança por cada 2 grupos! Que ajude no brainstorm das crianças nos âmbitos de divulgação: internet, meio físico, artístico - música, pintura -, conversas com organizações, eventos, etc.

res do bairro para contribuir na reforma da praça. Descrição da atividade Cada criança escolhe uma das 4 ideias que seu grupo elencou para ficar responsável. Ter um momento para cada quarteto falar as suas ideias, e as crianças responsáveis por cada atividade se agrupam novamente por semelhança de assunto.

4. ENCERRAMENTO (15 minutos)

Objetivo Momento de comunhão entre as crianças. Descrição da atividade Retomar a ciranda, dessa vez acompanhada do maracatu, fazendo duas rodas - uma dentro da outra.

87


DIÁRIO

Este relato foi baseado na experiência da facilitadora Beatriz Martinez.

movimento, por este motivo dei um tempo para que eles pudessem beber água e me contar como foi o Maracatu. Quando começamos a desenvolver a atividade eles entenderam mais facilmente o que deveria ser feito. Com o tempo muito mais curto, não foi possível terminar a oficina, e tive que pensar rapidamente em um fechamento, retomando as ideias gerais.

A oficina iniciou com atraso de trinta minutos porque as crianças

ainda não estavam na sala e o carro com os instrumentos também atrasou. Iniciei explicando como seria a atividade e a organização em dois grupos - um na Praça tocando maracatu e outro em sala realizando a atividade de ideias para divulgação. Enquanto aguardávamos os instrumentos chegarem, retomamos a música da ciranda e as crianças cantaram e se divertiram.

Quando o primeiro grupo foi para a Praça, fiquei em sala guiando

o mapeamento das ideias com o outro grupo que, apesar do tempo apertado, conseguiu escolher quatro delas para desenvolver e inscrever as crianças que atuariam em cada. Quando o segundo grupo chegou da Praça, estava muito agitado por estar em uma atividade de bastante

88

As ideias levantadas foram:

ram book e instag ce fa m u er z be - fa car no youtu lo co e tu ca ra al - gravar o ma repórter ou jorn - chamar um leta fletos de bicic n a p os ir u em ib - distr ncipalmente ri (p es z a rt ca lar - produzir e co ) outras praças forme heiro e outro in in d e d o d la - folheto com da praça ando carro anunci m u m co r a s s - pa s escolas - falar com a


Assim, com essa finalização apressada fomos para a

Praça dançar a ciranda. Encontramos o outro grupo finalizando a experiência com o maracatu e uma caixa com um som muito alto que o vizinho colocou. Provavelmente ele se incomodou com o som das alfaias. Por conta dessa música muito alta e pelo pequeno espaço na praça, foi um pouco difícil cantar e dançar a ciranda. As crianças por outro lado voltaram felizes para o CCA. Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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29/10/2019 OFICINA 3: CONSTRUINDO A COMUNICAÇÃO Local: CCA Elisa Maria e Bairro Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 22 Alteração no roteiro: Alta, não tivemos tempo para a atividade 4

Materiais Necessários papéis A6 lápis, borrachas e canetas papéis diversos, cartolinas sala de informática

Objetivo geral: Iremos dar continuidade ao que foi planejado na oficina anterior, a fim de incentivar as crianças a protagonizarem na divulgação do projeto que estão construindo, como convite para o envolvimento de toda a comunidade.

90

ROTEIRO

1. TELEFONE SEM FIO (45 minutos)

Objetivo Refletir com as crianças sobre a importância de estabelecer uma boa comunicação e saber passar o intencionado. Descrição da atividade Dividir em quatro grupos com uma facilitadora e cerca de cinco crianças cada um. Cada criança recebe o número de folhas A5 correspondente ao número de integrantes do grupo. A facilitadora fala no ouvido de cada criança uma frase relacionada à praça, e elas têm de desenhar a frase na folha de papel. Depois de 5 minutos, o montinho de papel na mão de cada uma gira para o lado, e a próxima criança interpreta o desenho que recebeu, passá-lo para trás do montinho, e escreve o que entendeu do desenho. Elas têm mais 5 minutos para o mesmo procedimento e o montinho é passado para o lado novamente. Dessa vez, elas recebem uma frase, que tenham que ler e fazem um desenho que corresponda à frase recebida. E assim por diante, até o montinho de folhas retornar à primeira criança. Quando retornar, cada criança apresenta o resultado do que lhes foi retornado. Ao final da atividade, fazer uma breve reflexão, sobre a importância de se saber transmitir uma mensagem que contenha a sua intenção.


2. DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO

3. APRESENTAÇÕES E CONCLUSÕES

(50 80 minutos)

(15 minutos)

Objetivo Colocar em prática as ideias obtidas na última ofici-

Objetivo Compartilhar com todos o que foi feito e os encami-

na, desenvolvendo as estratégias ação. Descrição da atividade Primeiro, relembrar o que fizemos na última oficina, quais ideias de divulgação apareceram e que grupos de trabalho havíamos montado. Depois, explicar que a ideia é desenvolver ainda mais essas estratégias de comunicação, tentando obter alguns produtos. Repassar as ações de cada frente de trabalho (boca a boca, redes sociais e cartazes), não necessariamente precisamos repetir os grupos da última oficina. Abrir para que todos deem sugestões dos cartazes a serem produzidos. * Boca a boca: - Passar com um carro anunciando - Falar com as escolas - Falar com os moradores e com os amigos, preparar o que falar * Redes Sociais: - Criar e decidir um nome para as redes: Instagram, Facebook e Youtube. - Decidir e estruturar quais vão ser as primeiras postagens (quais vídeos e quais fotos) * Cartazes e panfletos: - Pensar, fazer e colar os cartazes de divulgação do projeto - Realizar panfletos para serem distribuídos para a família e os amigos.

nhamentos para os próximos dias. Descrição da atividade Em roda, cada grupo apresenta o que fez e conta como o que foi feito pode ser desenvolvido dali pra frente. Depois da apresentação de cada frente, abre-se para perguntas e sugestões do grupo todo, de modo a validar as propostas. Todos os materiais gráficos produzidos serão expostos e pensaremos conjuntamente onde colocar cada um.

4. ENCERRAMENTO: “CUIDANDO DO SENTIR DO GRUPO”

(20 minutos)

Objetivo Expandir o repertório de sentimentos das crianças e contribuir para sua identificação.

Descrição da atividade Levar um painel no qual vão estar descritos diversos sentimentos associados a cores. Em um primeiro momento, ler cada um deles e entender o seu significado. Depois, cada criança recebe adesivos em branco e devem pensar individualmente sobre como se sentiram durante as atividades desenvolvidas durante a oficina. Quando conseguirem identificar esses sentimentos, cada uma delas coloca três adesivos coloridos em cima do branco com a respectiva cor escrevendo o nome ao lado, e cola no painel. A ideia é que, ao final da atividade, consigamos visualizar como o grupo todo reagiu às atividades propostas.

91


DIÁRIO

Já havíamos feito a mesma atividade na Vila Anglo, então

isso seria importante na vida real, como se deve explicar bem o que está

estávamos mais certas da ordem das coisas e como explicar para as

querendo ser dito, e mostramos que, para a próxima atividade, iriam

crianças, principalmente porque a primeira atividade é um pouco mais

ter de comunicar aos vizinhos e comunidade, que a Praça está sendo

complicada, mas, deixando isso claro já na explicação, elas fizeram um

construída e que elas precisariam de ajuda.

esforço maior para entenderem. E deu certo! As dividimos em quatro

grupos de cinco e seis integrantes para depois jogarem o “telefone sem

acordo com o lugar que gostariam de estar: boca a boca e carro de som,

fio” que na verdade é por meio de desenho e frases. A atividade ocorreu

redes sociais, e cartazes e panfletos. Fiquei no grupo do boca a boca com

bem, todas estavam muito envolvidas, e cada uma de nós facilitadoras,

quatro meninos e quatro meninas.

ficou andando pelos grupos auxiliando quaisquer dúvidas que apareciam.

para conversar com os moradores: sair com nome, número e idade dos

A discussão após a atividade também foi muito boa, umas

três crianças apresentaram os seus resultados de “telefone sem fio” e

As crianças se distribuiram nas frentes que propusemos de

As meninas estavam concentradas em construir uma narrativa

“entrevistados”. E os meninos chegaram a escrever a narrativa (post it):

fizemos uma reflexão sobre o que foi bem feito e o que faltou para que a informação inicial conseguisse chegar até o final. Emendamos em como

“Boa tarde. Estamos ba tendo nas portas comunican do sobre a Praça Livre Para As Crianças, nas praças do Elisa Maria…”

ar para “... podemos te cham gente algum evento que a fizer na Praça?”

92


Saímos para a rua em dois grupos.

O primeiro contato foi com uma vizinha, dona de um comércio próximo ao CCA. Os meninos, a princípio, não sabiam muito bem como abordar, leram o texto que escreveram e pediram para a dona contribuir. Ela não entendeu muita coisa e até achou que eles estavam pedindo contribuição em dinheiro… Tive que intervir um pouco e falar para que eles explicassem mais sobre o que estamos fazendo na Praça, o para quê estávamos pedindo ajuda, etc. Ficou um pouco mais claro para a dona, depois disso, mas ela preferiu não passar o telefone.

93


O próximo contato foi um vizinho que estava sentado num bar

e que trabalhava como gari - inclusive, ele já tinha contribuído com a revitalização da Praça Clara Nunes, junto com o Projeto Nossa Vila Limpa. Dessa vez, os meninos conseguiram explicar um pouquinho melhor para ele o projeto e o porquê de estarmos pedindo pelo número de telefone. Saíram muito mais satisfeitos com o novo contato e o número de telefone que conseguiram coletar. E foi assim por diante, fomos fazendo por um lado da rua e as meninas pelo o outro. Elas chegaram até a passar na UBS e na escola vizinha. Estavam os dois grupos muito empenhados, tentando contatar o maior número de pessoas possíveis. Subimos também para a rua da Praça, mas o tempo já estava apertado e tivemos que voltar… Ao final, conseguiram juntos 19 números para contato. Para terminar a oficina, cada grupo apresentou como tinha sido sua atividade, foi um momento bem importante para validar e valorizar o que havia sido feito. O grupo boca a boca conseguiu coletar muitos desejos dos moradores para a praça:

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AGATHA

o vão inação as pessoas nã m ilu s ai m m co ) ... “( tas coisa… Jardim, plan sa es , lá da ra er a is co fazer ea areia para brincar, ár de ço pa es , os ed qu in ções, br das [as pessoas] fala bi be de e qu os ui Q . de lazer.. s praças nças brincarem, mai ram. Coisa pras cria cício e aças, aparelho de exer porque tem poucas pr foodtruck.” ção - Elisa Oficina 03 de Constru , al rb ve ão aç rm fo (In Maria, 2019).

Também pude ver os lindos cartazes

que as crianças criaram, e soubemos que o grupo das redes sociais haviam produzido o seu primeiro vídeo para o canal do YouTube, que se chamaria “Praça é Nossa”, evidenciando a sensação de pertencimento construído, ao longo do projeto, entre as crianças e o lugar.


Grupo Redes Sociais: Nomes elencados para as redes: - Praça é show -> 1 voto - Praça de todos - Praça é nossa -> 5 vo tos - Praça livre - Praça sem raça -> 3 vo tos

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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11/11/2019 OFICINA 4: DIVISÃO DAS FRENTES DE TRABALHO Local: Praça Livre Para As Crianças e CCA Elisa Maria Duração: 2h 15min Número de crianças participantes: 20 Alteração no roteiro: Alta, a atividade 1 não foi só uma conversa; não fizemos a atividade 3.

Materiais Necessários cartaz explicativo de cada frente 4 esqueletos de oficinas impressos

Objetivo geral: Dividir as crianças em grupos por temas que têm como assunto as ações que faltam para concluirmos a reforma da praça. Nesses grupos, começar a trabalhar o planejamento com elas, introduzindo os esqueletos de oficinas e buscando criar soluções para as suas vontades.

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ROTEIRO * andar até a Praça (15 minutos)

1. CONVERSA (30 45 minutos)

Objetivo Apresentar às crianças o que foi aprovado e o que

falta ser feito na praça. Criar contato com os pedreiros e construtores e reconhecer o trabalho deles. Descrição da atividade Contar para as crianças o que vai ser feito pela construtora, o que não coube na verba da prefeitura e ainda precisa ser feito. Explicar as quatro frentes (brinquedos, arte e lixo, jardim e comunicação) e o que cada uma vai fazer. Sentar as crianças em roda e pedir para que escrevam o nome e a frente que desejam ficar num papelzinho. Se os grupos ficarem desiguais em número de integrantes, conversar com elas para tentar equilibrar e nenhuma frente ficar sobrecarregada. * voltar para o CCA

3. MONTANDO O CALENDÁRIO COLETIVO (25 minutos)

Objetivo Compartilhar o que foi feito em um calendário Descrição da atividade Cada frente escolhe uma criança para apresentar o que foi feito e quantas oficinas serão necessárias para a sua frente. Criar um calendário grande e, com uma criança de cada frente, ir preenchendo coletivamente com possíveis datas para as oficinas. Cada frente deve ter uma cor e ir colando adesivos coloridos nas datas das oficinas.

2. DIVISÃO DAS FRENTES DE TRABALHO (60 minutos)

Objetivo Cada grupo de trabalho deve começar a articular as ideias do que acham que falta para a finalização da praça e como fazê-lo através de oficinas. Descrição da atividade Nos grupos, as crianças repassam o que precisa ser feito, pensam nas possibilidades (ex: tinta, grafite, mosaico, etc), tentam levantar todos os pontos (tempo, número de oficinas, conteúdo necessário, etc) que elas achem necessários, e olham e preenchem os esqueletos (não precisamos terminar).

4. ENCERRAMENTO: FUNGA ALÁFIA AXÉ, AXÉ (15 minutos)

Objetivo Finalizar a atividade em comunhão. Descrição da atividade Cantar Funga Aláfia Axé, Axé (4x) seguindo a coreografia: mãos que saem da cabeça em direção ao outro (te dedico bons pensamentos), mãos que saem da boca (te ofereço boas palavras), mãos que saem do coração (te ofereço bons sentimentos) e mãos que passam pelos antebraços e se direcionam para o outro (veja, não escondo cartas nas mangas, podes confiar em mim).

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DIÁRIO

Em um primeiro momento, fomos até a Praça, pois muitas crianças

ainda não haviam visto como estava o andamento da obra que havia começado cerca de duas semanas atrás, e precisávamos contar a elas o que estava sendo feito pela prefeitura, e o que restava para ser construído por nós.

Foi um momento muito espontâneo, estavam em êxtase com

a construção! Os meninos que haviam ficado responsáveis pelas redes sociais, logo assumiram a câmera e começaram a filmar as entrevistas com os pedreiros, entre eles, com nós do CoCriança. E quando fomos ver, tinha cerca de quatro grupos de crianças, em cada canto da Praça, fazendo o registro de tudo com os nossos celulares também.

Falavam coisas maravilhosas para a câmera, super orgulhosas com o

processo, defendendo o direito das crianças de brincar e usar a rua, mostrando onde seria a nova arquibancada, o tobogã, o canteiro de plantas, etc. Deixamo-

ALYSSON

“E aqui vai ser aonde vai ser o escorregador... Aqui é onde nós vamos colocar as plantas.” (Diário de Campo, Oficina 04 de Construção - Elisa Maria, 2019).

A oficina na Brasilândia esse dia foi muito especial. Já havíamos

feito a mesma Oficina de Divisão de Frentes de Trabalho na Vila Anglo, na semana anterior, e estávamos indo com a expectativa meio baixa, pois esperávamos talvez sair, de novo, sem alguma coisa mais concreta do planejamento.

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as bem livres, os pedreiros estavam só observando, acredito que bem satisfeitos

acordo com o Marcus, já

com o trabalho que estavam fazendo, e elas pisando em cima de toda a obra,

entendendo o espírito da

pulando de uma mureta a outra, explorando cada novo canto daquela pequena

atividade (post it).

Praça.

Depois, houve um momento de concentração novamente, e a facilitadora

sarmos

tentou passar um pouco sobre as novas frentes de trabalho e as novas

começamos a preencher o

responsabilidades, comentando o que deveria ser feito e pensado, de agora

Esqueleto de Oficinas, que

em diante, por eles. Que eram:

ficou como na foto abaixo

Brinquedos or - escorregad gua - bomba d’á - balanço Arte e Lixo s ra xei - construir li - placas o ic a s mo - massa para ta - spray e tin

Jardim - elaborar canteiro - plantas penduradas - vasos de madeira pared e Comunicação - placas de avisos na pr aça - redes sociais - evento de inauguração da praça - fazer a divulgação de ofi cinas para o bairro

De volta ao CCA, pedimos para que cada um escrevesse em um pedaço

Depois de converum

pouquinho,

Marcus

“eu achei que essa seria a

frente em que eu mais poderia ap render alguma coisa” (Diário de Campo, Ofici na 04 de Construção - Elisa Maria , 2019).

muito bem escrito.

Sinto que, na Brasilândia, além de termos uma praça

de papel qual seria a frente que gostaria de ajudar a organizar, e dividimos

menor, as crianças tiveram mais facilidade para entender a ne-

cada grupo em uma sala. Como ninguém optou pela frente de brinquedos, a

cessidade de se estruturar uma atividade. Mas, também, pela

juntamos com a de arte, que acabou sendo o maior grupo.

quantidade de anos que já viemos trabalhando com elas e pela

escassez de quaquer manifestação do poder público.

O resultado no grupo de Jardim, que acompanhei, foi ótimo. Um casal

de crianças participou muito, mas também dava abertura aos outros dois, que se

manifestavam com menor frequência, mas eram bem instigados por mim. Os quatro

uma canção africana, que foi ótima para o fechamento do dia.

estavam na frente de Jardim porque já haviam plantado alguma coisinha, mas, de

Por último, puxamos uma atividade muito tranquila de

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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25/11/2019 OFICINA 5: DESENVOLVENDO O PLANEJAMENTO: PINTURA Local: CCA Elisa Maria Duração: 2h 20min Número de crianças participantes: 15 Alteração no roteiro: Pouquíssimo, apenas reajuste de perguntas na reflexão.

Materiais Necessários 4 mapas com os pontos: CCA e Praça canetas coloridas flip chart 4 esqueletos de oficinas impressos

Objetivo geral: Praticar com as crianças o planejamento de uma atividade mais curta para que elas se familiarizem com o Esqueleto de Oficinas. Para isso, pensar coletivamente quais são os principais momentos das oficinas, seu funcionamento e necessidades.

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ROTEIRO

1. INTRODUÇÃO: TRAJETO CCA - PRAÇA (40 minutos)

2. EXPLICANDO O ROTEIRO

Objetivo Mapear afetivamente o trajeto entre o CCA e a Praça

(20 minutos)

Livre Para As Crianças com os pontos que julguem importantes. Descrição da atividade Em grupos de até 5 crianças, desenhar o trajeto entre a Praça e o CCA com tudo que eles forem lembrando que existe (casas de gente conhecida, lojinhas, bares, etc): marcar a direção de suas respectivas casas, colocar também memórias mais sensitivas ou comentários. Pode ser através de imagem ou escrito.

Objetivo Pensar coletivamente quais são os principais mo-

3. PLANEJANDO (60 minutos)

Objetivo Praticar o planejamento enquanto criamos a próxima

oficina.

Descrição da atividade Dividir as crianças em 4 frentes de trabalho, que deve planejar uma das seguintes atividades enquanto preenchem os Esqueletos de Oficinas. Lembrar que cada atividade é parte de um todo, de modo que é importante que todas as atividades estejam alinhadas entre si. - introdução: atividade de aquecimento e contextualização do que vai acontecer [30 min] - planejamento: atividade para pensarem coletivamente como será dividido o espaço da parede [30 min] - pintura: terá de pensar na divisão de grupos, ordem de acontecimento das coisas [60 min] - fechamento: atividade que sintetize de alguma forma o que foi feito e que as pessoas falem como se sentiram ao longo do dia [30 min]

mentos de uma oficina, a fim de instruí-los a criar uma única oficina coletivamente. Descrição da atividade Explicar para as crianças como nós fazemos o roteiro de oficinas - como funcionam os tempos, deslocamento. Depois, definir qual grupo ficará responsável por qual atividade da próxima oficina, que será de pintura.

4. REFLEXÃO (20 minutos)

Objetivo Refletir sobre as dificuldades e facilidades de criar uma atividade em grupo. Descrição da atividade Em roda, cada criança escreve no papel às seguintes perguntas cada grupo vai contar como foi fazer o planejamento, guiados pelas seguintes perguntas: - O que eu senti durante a atividade? - Conseguimos chegar no objetivo? - Eu participei ativamente? Por que? - Vocês acharam difícil? - Vocês gostaram dessa atividade? Por que?

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DIÁRIO Nós já havíamos feito essa oficina na Vila Anglo na semana

as etapas da próxima oficina. Sendo assim, o grupo de Comunicação

anterior, então, a preparação foi mais fácil, mas a oficina não teve um

pensou na atividade de aquecimento; o grupo de arte - que era o maior

desenrolar semelhante. As crianças da Brasilândia, além de serem

de todos - foi pensar na logística da pintura; e o grupo de Jardim, que

mais novas e, por isso, um tanto mais dispersas, são ainda o dobro em

ficou comigo, pensou em uma atividade de encerramento.

quantidade, o que deixou as coisas um pouco mais difíceis.

No meu grupo tinha seis crianças, por isso, foi um tanto mais

A atividade dos mapas foi

fácil de criar uma atividade. Fomos

muito bem sucedida. Estávamos em

construindo o fechamento da oficina

quatro grupos e os mapas dos trajetos

que ficou muito bom, com uma pergunta

do CCA até a Praça Livre Para As Crianças

para cada membro do grupo fazer, todos

saíram completamente diferentes uns

estavam

dos outros. Teve grupo que pensou

atenção. Pensaram em fazer primeiro as

muito mais nos detalhes que viam na

perguntas depois puxar dois jogos - pif

rua, outros em cada casinha que ia

paf e coca cola. Conseguimos também

passando, outros se atentaram mais

decidir quem ficaria responsável por

aos cheiros - da coxinha da tia do

explicar cada atividade. Segue como ficou

salgado, do lixo, do coco do cachorro;

o roteiro em trinta minutos de atividade

foi muito interessante observar qual o

(post it rosa):

recorte que cada um decidiu dar para a paisagem local.

Depois, escrevendo no flip chart, fomos conversando e

relembrando como é que funcionam as oficinas que nós fazemos todas as vezes que vamos para lá. Esse foi um momento muito precioso em que as crianças sentaram todas viradas para mim e prestaram atenção, além de irem participando com respostas às perguntas que as facilitadoras faziam.

Divididas nos grupos da oficina anterior (arte, jardim,

comunicação), cada uma foi com uma facilitadora para pensar e organizar

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Ellen “Eu sugiro fazer um desenho assim, ai... tipo fazer, desenhar nossa praça, como que tá lá dentro. Desenhar assim as crianças brincando. Chamar a Cleo e o Joe, os grafiteiros“ (Diário de Campo, Oficina 05 de Construção - Elisa Maria, 2019).

concentrados

e

prestando

Depois de termos isso definido, fizemos uma roda em que cada grupo contou como havia sido a sua experiência em planejar a atividade, e que estavam confiantes para executá-la na semana seguinte.


5 min - perguntas: (Marquinhos explica): - o que vocês acharam de hoje? (Luiz) - o que vocês acharam de fazer/criar uma ati

vidade? (Caique) - o que você sentiu quando estava fazendo a pintura? (Anna) - o que você gostou de fazer? (David) - você achou que teve a cooperação de todos? (Marcus) 15 min - Pif Paf (Anna explica) 10 min - Coca Cola (David explica)

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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OFICINA 6: PINTANDO A PRAÇA !

02/12/2019

Local: CCA Elisa Maria e Praça Livre Para As Crianças Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 20 Alteração no roteiro: Alta, pois não tivemos a presença da grafiteira

Materiais Necessários lápis e papel latas de tinta pincéis bandejas de tinta rolinhos balde de água

Objetivo geral: Pintar a Praça de acordo com o que foi previamente planejado pelos crianças na última oficina e se divertir! Para tanto, oficina é baseado na Esqueleto de Oficinas escrito pelo próprias crianças.

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ROTEIRO

1. INTRODUÇÃO (30 minutos) - Alysson, Henrique, Anderson, João e Wendell¹

Objetivo Lembrar como a Praça era e como ela vai ficar. Descrição da atividade No CCA, fazer as seguintes perguntas para o resto da sala: - o que você achava da Praça antes? - o que você está achando da praça agora? - como você acha que a Praça vai ficar depois que ter minar a reforma? Depois, fazer a dinâmica em que as pessoas desenhem a Praça como querem que ela fique. E, por último, fazer filmagens, fotos e entrevistas.

3. PINTANDO

2. PLANEJANDO A PINTURA (20 minutos) - Tiffany, Gabriel, Maria Clara, Julia, Edgar, Denise, Renata, Evelin e Agatha² Objetivo Validar o que será pintado na parede. Descrição da atividade Explicar o que havia sido pensado para ser pintado na parede, mostrando os desenhos que foram feitos na última oficina. Perguntar sobre outras ideias e, junto com a grafiteira, tentar fazer um esqueleto coletivo do que de fato vai ser pintado lá. (Especificar aspectos como a diversidade das crianças representadas na pintura - isto foi feito na oficina 07 seguinte).

4. CONVERSA

melhor se organizar com as crianças e se tem alguma coisa que elas já possam ir pintando. Dividir as crianças em 4 grupos. Dois grupos estariam pintando, um grupo escrevendo as regras da praça que serão pintadas no muro; e o último grupo estaria detalhando o que mais poderia estar no muro. Caso a gente encontre madeiras para fazer placas, um ou mais grupos (dependendo de quantas crianças e quantas madeiras houverem) podem ir pintando placas estimulando o cuidado com a praça e avisando que “o trabalho está em andamento”.

(30 15 minutos) - Luiz, Caique, Anna, David, Marcus, Mary e Wagner¹ Objetivo Brincar e conversar. Descrição da atividade O primeiro momento da atividade será uma roda de conversa, onde serão feitas as seguintes perguntas: - o que vocês acharam de hoje? (Luiz) - o que vocês acharam de fazer uma atividade? (Caique) - o que você sentiu quando estava fazendo a pintura? (Anna) - o que você gostou de fazer? (David) - você achou que teve a cooperação de todos? (Marcus) Depois, jogar 15 minutos de Pif-Paf e quem explica é a Anna, e 5 minutos de Coco Cola, quem explica é o David.

1 O conteúdo escrito dessa atividade foi extraído do Esqueleto de Oficinas escrito pelo grupo de crianças na oficina anterior e reescrito segundo minha interpretação. Tentei deixar o mais fiel possível ao original.

2 Este grupo acabou não preenchendo o Esqueleto, o planejamento foi decidido oralmente.

(60 minutos) - Tiffany, Gabriel, Maria Clara, Julia, Edgar, Denise, Renata, Evelin e Agatha

Objetivo Pintar e se divertir ! Descrição da atividade Ver com a grafiteira como ela acha

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DIÁRIO

Essa oficina foi um tanto caótica. Chegamos um pouco atrasadas

A primeira atividade foi conduzida pelo grupo só de meninos.

com as tintas no carro, e essa seria a primeira vez que estaríamos

Eles são ótimos quando conseguem focar e fazer, - o que é difícil nessa

efetivamente fazendo a construção da praça junto com as crianças.

idade - são muito interessados e articulados Eles souberam puxar a oficina

Antes, ainda estávamos muito na teoria desse dia que viria, planejando

muito bem: explicaram, controlaram o tempo, e fizeram o fechamento

como seria, a fim de que as coisas saíssem menos bagunçadas dentro do

da atividade. Foi bem

possível. Mas, como sempre, não há muito controle sobre trinta crianças

curta,

livres em uma praça, ansiosas para pegar o pincel e sair pintando. Por

vinte minutos, pois já

isso, na medida da bagunça, a oficina foi um sucesso!

havíamos perdido muito

Outro fato que nos desestruturou um pouco, principalmente às

tempo tentando decidir

crianças que haviam planejado a atividade, foi que a grafiteira do bairro

o que faríamos sem a

não pode comparecer à oficina, e nos avisou quando já eram 14h30. Por

grafiteira.

isso, tivemos que rapidamente pensar em qual seria nosso plano B para a oficina do dia. As meninas do grupo foram ótimas. Elas “tomaram as rédeas” da sala e, enquanto o primeiro grupo fazia a primeira atividade, foram com uma das facilitadoras para o carro e para a Praça deixar as tintas preparadas. Decidimos, então, em conjunto, que o melhor seria apenas pintarmos a base da parede para depois vir o grafite.

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de

apenas

Anderson

“A gente vai en tregar um pape l pra vocês, pra você s desenha a pr a ça. Como vocês qu erem que ela fi ca.”

(Diário de Cam

po, Oficina 06 de Construção - Elisa Mar ia, 2019).


Depois, quando já eram cerca de 15h15, partimos para a Praça.

Lá, ainda ficamos na dúvida de como deveríamos prosseguir, pois além da parede, pensamos que seria uma boa ideia pintar as placas de avisos - essa ideia partiu das meninas. Ficou um tanto caótico, porque todo mundo queria opinar e não conseguimos tomar decisões; faltava suporte para os rolos, água, e algumas crianças foram buscar um cabo mais longo para conseguirem usar de extensão para o rolo e pintar a parte mais alta do muro.

Nesse momento, eu sai com mais quatro meninos para comprar

o suporte dos rolos e, quando voltei, a cor escolhida para a base da parede foi o azul. Depois de abrirmos a lata de tinta, em menos de vinte minutos a parede estava pronta! Teve ainda um momento bem importante, em que a Agatha pegou o rolo da mão de um dos meninos

AG

ATHA “E não é pra fi car brincando, porque tem gen não sabe, não te que tem maturida de pra pintar u de... fica tacan ma paredo tinta no ou tro, fica pintan Isso não é brin do o outro. cadeira não, en tão, pinta direi isso é pra vocês to. Que mesmos, não é pras tias. Que vão vir lá dos elas não cafundó dos Ju das pra pintar é vocês mesmos isso aqui . Então, vocês têm que valori zar e fazer direito.” (Diário de Cam

po, Oficina 06

de Construção - Elisa Maria, 2019).

que estava brincando e falou (post it): Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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No final, já estava no limite da hora do

lanche deles e tivemos que ir mandando pequenos grupos para o CCA pra já ir lavando as mãos e o material de pintura. Enquanto isso, as quatro meninas ficaram na Praça finalizando o recado escrito na parede: “Reservado para Graffite - CCA”.

Deitamos as placas pintadas de amarelo no

chão da sala de aula para secar e o último grupo fez a atividade de fechamento que eles haviam preparado e cada criança foi escrevendo a resposta numa folha de papel. No final, por falta de tempo, ficamos só nas perguntas sem os jogos preparados.

Esse fechamento foi ótimo,

nos trouxe o silêncio e concentração de volta e pudemos encerrar o dia muito satisfeitas com as crianças e com o resultado que tivemos.

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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14/12/2019 OFICINA 7: CONSTRUINDO COM A COMUNIDADE I Local: Praça Livre Para As Crianças Duração: 4h Número de crianças participantes: 10 Alteração no roteiro: Média. As atividades não tiveram uma ordem para acontecer, elas ocorreram simultaneamente. Materiais Necessários lápis e papel flip chart e canetões luvas de borracha sacos de lixo sprays de grafite latas de tinta pincéis bandejas de tinta rolinhos balde de água

Objetivo geral: Fazer uma conversa coletiva que integre as crianças do CCA e adultos do bairro a fim de problematizar a discussão sobre o descarte de lixo na Praça, a ocupação pelos usuários de drogas e a vontade de se construir uma praça que todos possam participar. Além disso, iremos limpá-la coletivamente e fazer o grafite que as crianças planejaram.

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ROTEIRO 1. PREPARAÇÃO Objetivo Organizar a praça para receber as pessoas com comidas e bebidas. Descrição da atividade Levar alguns bancos e mesas, e disponibilizar um lanche para que seja consumido em comunidade. Itens importantes para esta preparação: pão, mussarela, 3 galões de água 5L, bolo, pão de queijo, faca, toalha de mesa, copos eco CoCri, cadeiras e mesa.

2. RODA DE CONVERSA Objetivo Saber o que pensam os moradores do bairro sobre

a praça, ouvir os seus desejos para o lugar e discutir sobre as possíveis soluções que encontram para os seus desafios. Descrição da atividade Em roda, trazer algumas perguntas que instiguem a discussão. - O que você pensa da praça hoje? - Quais são os desafios da praça pra vocês? - Como podemos solucionar esses desafios ? - Podemos tirar algum responsável por algo? A partir das ideias, elaborar um plano de ação, tentando colocar alguns responsáveis pelas funções.

3. RECOLHENDO O LIXO Objetivo Aumentar o senso de comunidade ao fazer a limpeza conjunta da Praça.

Descrição da atividade Levar sacos de lixo e luvas de borracha para executar a limpeza da praça. Entretanto, esta etapa não foi muito bem planejada, pois também desejávamos criar uma atividade lúdica com as crianças para a coleta do lixo, o que acabou não acontecendo.

4. PINTANDO Objetivo Fazer o grafite da Praça e continuar a pintura. Descrição da atividade As crianças vão contar para o grafiteiro qual é o desenho que elas desejam. Depois, vamos ver com ele, como ele acha melhor se organizar com as crianças e se tem alguma coisa que elas já possam ir pintando. Além disso, vamos escrever as “ideias da praça”, terminar as placas e pintar a parede da escalada com as crianças que não estiverem engajadas com o grafite.

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DIÁRIO

Neste dia em especial, eu estava insegura. Essa seria a primeira

vez que estaríamos fazendo uma oficina neste formato: completamente aberto e dedicado à comunidade, pois apenas a festa do ano passado que havia sido um momento de compartilhar. Além disso, por motivos de agenda do final de ano, o CCA havia cancelado a oficina de segunda, dia 09, e estávamos apostando que as crianças poderiam vir por conta própria - já que era um sábado - e ainda que teriam distribuído os panfletos que preparamos aos vizinhos, a fim de convidá-los a participar da atividade de sábado. Havíamos planejado distribuir os panfletos ao longo da semana junto delas, mas, devido à chuva torrencial que caiu durante a semana toda, não conseguimos realizar essa atividade, que ficou, então, sob responsabilidade da educadora da turma, a Sandra.

Outro problema aconteceu antes dessa oficina: a grafiteira

desmarcou conosco mais uma vez um dia antes. Ou seja, tivemos que ir atrás de outro grafiteiro em menos de 24 horas. Mas, conseguimos. Combinamos às 10h na Praça. Eu e o novo grafiteiro chegamos e fomos organizando as coisas: mesa, lanche, bancos, latas de tintas, etc. Logo. chegou a Sandra com mais meninas - Ellen, Mary, Ágata, Julia e Tiffany. Foi muito gratificante ver que conseguiram e quiseram vir! Os usuários de drogas também estavam na Praça quando chegamos, e, como sempre, pedimos para que nos dessem licença para fazer a atividade com as crianças, e eles, muito educadamente, começaram a retirar seus “pertences” e limpar um pouco o espaço.

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Em seguida chegou o resto da equipe CoCriança e alguns

vizinhos começaram a se aproximar. Ainda não eram muitos, então sai com as crianças para chamar alguns e os que foram chegando foram chamando outros. No final, estávamos com cerca de uns dez adultos interessados em arrumar, construir e limpar a Praça conosco, sendo um deles o Anderson, nosso antigo amigo do trailer, que acabou se mudando com o passar dos anos.

Enquanto ouvíamos o que os vizinhos tinham para nos contar,

o grafiteiro foi conversando com as crianças e fazendo o desenho no papel, que logo viraria o nosso mural na parede. Elas queriam que ele fizesse crianças brincando na Praça, mas que fossem diversas, ou seja, que tivessem cegas, cadeirantes e, principalmente, meninas negras! Enquanto uma das facilitadoras ia conversando com os vizinhos que foram dando várias ideias do que poderia ser feito na Praça afim de ocupá-la, fui auxiliando as crianças e o grafiteiro na pintura da parede. Elas pintaram mais uma parede, de preto dessa vez, onde escreveram “Nossas Ideias”, que elencaram como:

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

ça limpa - manter a pra plantas - cuidar das dos - respeitar a to - não urinar brinquedos - preservar os imal zes do seu an - coletar as fe - divirta-se

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Do lado, pretendem colocar uma caixinha de giz, onde deixarão

espaço para “Suas Ideias”, em que os usuários da Praça possam escrever seus desejos para o lugar.

Além desse novo mural, novas crianças da vizinhança se

aproximaram para ajudar e pintaram um pouco do grafite já que o grafiteiro havia terminado o contorno. Um dos vizinhos, o Severino, nos ajudou muito trazendo mais pincéis, cabo de rolo de tinta e água. Fizemos também um grande mutirão de limpeza esse dia. Compramos luvas e fomos recolhendo todo o lixo da Praça e colocando em sacos plásticos. Teve outro momento muito significativo que o caminhão de lixo passou e retirou todo o lixo que costuma ficar acumulado em um dos postes que tem na calçada. Um dos planos dos vizinhos para o próximo mutirão é a construção de vasos de pneu, a fim de atribuir outro aspecto para aquele lugar “viciado”.

Algumas outras ideias que surgiram da conversa com os vizinhos

foram: - colocar plantas

- varrer todos os dias - organizar encontros - pneus com plantas - colocar câmera

- brinquedoteca

- academia

- estacionamento - coleta seletiva (contatar cooperativa) - organizar uma agenda cultural

- conversar com os usuários de drogas - ceia de natal com usuários de drogas

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Teve um momento em que estava pintando e um dos vizinhos

veio se despedir de mim, dizendo “ó, sábado que vem, 10h, estou aqui. Vamos fazer os pneus. Sábado que vem, 10h”.

Quando já estávamos próximos das 14h, ninguém mais tinha

forças pra nada. Alguns vizinhos ainda estavam por lá, mas era visível o cansaço das crianças que estavam sentadas. Então, resolvemos parar, pois, apesar do lanche - que foi um sucesso, não sobrou nada estávamos todos com fome de almoço. Organizamos as coisas e fomos embora, extremamente satisfeitas com o resultado do dia.

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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OFICINA 8: PLANTANDO!

16/12/2019

Local: Praça Livre Para As Crianças Duração: 4h Número de crianças participantes: 15 Alteração no roteiro: Altíssimo. Atividades 1 e 2 ocorreram simultaneamente, a última atividade não aconteceu e a oficina tomou 1h30 a mais do que o planejado. Materiais Necessários saco de composto ferramentas: pá, enxada, cavadeira articulada, picareta pás de jardim mudas de planta

Objetivo geral: Vivenciar o processo de plantio como forma de interlocução com a paisagem urbana, contribuindo para a apropriação desta ferramenta de construção.

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ROTEIRO 1. FALANDO SOBRE PLANTIO

3. CARTA PARA DAQUI A UM ANO

(20 minutos)

(40 minutos)

Objetivo Passar para as crianças alguns conceitos básicos so-

Objetivo Escrever uma carta reflexiva sobre o que foi este ano de atividades com o CoCriança na Praça Livre Para As Crianças e o CCA. Descrição da atividade Começar fechando todos os seus olhos e relembrando os fatos do mais recente para o mais distante, quais foram as atividades que fizemos ao longo do ano - cada pessoa que for lembrando, vai falando em ordem aleatória. Depois, individualmente elas vão escrever uma carta para elas mesmas lerem daqui a um ano. Nós, CoCriança, vamos ficar responsáveis por enviar esta carta para elas - ou por Whatsapp, ou por correio mesmo. Vamos pedir para que elas escrevam pautadas nas seguintes perguntas: - o que você diria para você mesma daqui a um ano? contar para vocês mesmas como foi o processo de construção da praça - escrever o que aprenderam neste período - como vocês imaginam que a praça vai estar daqui a um ano? - como vocês se imaginam usando a praça? - o que vocês esperam estar fazendo daqui a um ano?

bre como plantar.

Descrição da atividade Explicar a importância de um solo com terra e composto, os usos das ferramentas, quais plantas temos para usar e como se dá o processo de plantio. Qual o melhor lugar para se colocar as plantas que toleram ou não mais sol.

2. PLANTANDO! (60 240 minutos)

Objetivo Que as crianças vivenciem o processo de plantio, coloquem a mão na terra e se divirtam. Descrição da atividade Primeiro, vamos dispor cada muda de planta no lugar em que, coletivamente, achemos melhor para ficarem. Depois, organicamente, as crianças vão pegando as ferramentas e plantando a sua muda. Um outro grupo que tiver interesse, pode acompanhar a instalação das agarras de escalada na parede.

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DIÁRIO

Essa oficina foi bem atípica também! Apesar do roteiro, muita

Damasceno para pegar algumas ferramentas emprestadas - pá, enxada

coisa não saiu como planejado. Estávamos com cerca de 15 crianças, já

e cavadeira articulada. Conversamos um pouquinho com as crianças e

que estávamos no final do ano e, portanto, seria nossa última oficina.

fomos para a Praça.

Havíamos planejado fazer uma atividade de encerramento, como na Vila

Anglo, com as crianças escrevendo uma carta para daqui a um ano, mas

monte de lixo no chão, os usuários de drogas no mesmo lugar e o ponto

não tivemos tempo para isso. Acredito que um dos motivos dela ter sido

viciado próximo ao poste cheio de lixo de novo. Conversamos e pedimos

tão “espontânea”, tenha sido pela urgência que tínhamos em plantar as

para que dessem licença e, enquanto eles saiam, alguns vizinhos se

mudas doadas, pois a terra havia chegado havia uma semana, e só nesse

aproximaram.

pequeno espaço de tempo estava compactada e bem suja de urina e

outros resíduos. Por isso, também não conseguimos fazer uma atividade

um pouco do porquê precisávamos revirar a terra. Assim, usar a enxada

de planejamento antes com as crianças.

passou a ser uma das coisas mais divertidas de se fazer. O nosso amigo

Severino apareceu também e nos ajudou muito com água, vassoura, pá

118

Chegamos ao CCA, depois de passar no Espaço Cultural Jardim

Quando chegamos, foi um tanto frustrante nos deparar com um

Comecei ensinando às crianças como usar as ferramentas e falei


e uma picareta que facilitou demais a escavação.

Logo chegou o carro

que estava com todas as mudas de plantas e fomos descarregando.

Havíamos

conseguido de doação:

- 1 Pitangueira ndras - Cerca de 20 Calia de Barba- Entre 50 mudas -de-serpente de Gra- Entre 100 mudas ma-amendoim

Renata

“A gente tá ajudando o tio a fazer a escalada. Ajudar a colocar os parafusos pra ele não demorar muito pra colocar, pra fazer.” (Diário de Campo, Oficina 08 de Construção - Elisa Maria, 2019).

Foi divertido explicar como seria o tamanho do

buraco para colocar a Caliandra, ou qual a distância entre uma muda e outra, quanto de composto que deveríamos acrescentar dentro do buraco… Tudo isso foi repetido por mim em pequenos grupos de crianças que se auto-dividiram: a maioria dos meninos ficou no patamar de baixo da praça, e a maioria das meninas nos canteiros próximos à escada. Também teve outro grupo que se juntou para cavar o maior buraco, onde plantamos a Pitangueira.

Na verdade, antes de começarmos a oficina, ainda

no CCA, perguntei para as crianças quem é que já tinha Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

plantado alguma vez na vida. A maioria respondeu que

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não, ou que “só o feijãozinho no algodão”. Por isso, foi muito transformador observar que, no decorrer da oficina, todas estavam plantando como se fizessem isso já há um bom tempo, carregando um enorme sorriso no rosto e gargalhando alto!

Outra atividade que aconteceu no

decorrer da oficina, além da limpeza da Praça, foi a instalação das agarras de escalada. Um dia antes da oficina, decidimos que seria bem mais divertido se as agarras fossem instaladas na presença das crianças. Por isso, teve outro grupo que ficou com o homem que estava executando o serviço de instalação.

Infelizmente, nosso tempo começou a

acabar, e ainda faltava bastante coisa a ser feita. Por isso, a educadora sugeriu ir para o CCA para, depois, aquelas que tivessem avisado seus pais, pudessem retornar para continuar plantando. Voltaram cerca de seis crianças ainda muito dispostas!

) - E você, o que “(homem escalada da? você acha da escala ho que é muito (Henrique) - Eu ac divertir um bom pras criança se o tempo delas com pouco, e nao perder m diferente!” pouca coisa. É... é be truOficina 08 de Cons (Diário de Campo, ). 19 20 ção - Elisa Maria,

Começamos a arrumar as coisas para ir embora um pouco antes das

18h. A praça estava com outro aspecto, era outro ambiente. Com a ajuda do Severino, elas puderam aguar um pouco as plantas e guardar as mudinhas que sobraram na casa dele. Ao final, tiramos uma fotos com aqueles que sobraram, e as crianças saíram correndo para estrear a parede de escalada.

120


JULIA

“Gente, olha o resultado: aqui ó, essas plantas ficou bem bonitinho. Aí ali tá ficando a escalada. (...) Aqui tem essas plantas. Aqui tem essas plantas também, que a gente plantou bastante planta.” (Diário de Campo, Oficina 08 de Construção - Elisa Maria, 2019).

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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21/12/2019 OFICINA 9: CONSTRUINDO COM A COMUNIDADE II Local: Praça Livre Para As Crianças Duração: 4h Número de crianças participantes: 7 Alteração no roteiro: Esta oficina não teve um roteiro escrito antes de acontecer, apenas um planejamento oral das facilitadoras. Materiais Necessários pneus velhos luvas de borracha sacos de lixo sprays de grafite latas de tinta pincéis bandejas de tinta rolinhos balde de água mudas de plantas

Objetivo geral: Limpar coletivamente a praça e fazer os vasos de pneus para ocupar o espaço de ponto viciado de lixo, além disso, envolver os usuários de drogas do espaço para nos ajudar com o grafite da praça.

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ROTEIRO 1. PREPARAÇÃO

- PINTANDO

Objetivo Organizar a praça para receber as pessoas com co-

Objetivo Pintar a parede do fundo da praça e os pneus para

midas e bebidas.

os vasos.

Descrição da atividade Levar alguns bancos e mesas, e dis-

Descrição da atividade Conversar com um dos usuários de

ponibilizar um lanche para que seja consumido em comunidade. Itens importantes para esta preparação: pão, mussarela, 3 galões de água 5L, bolo, pão de queijo, faca, toalha de mesa, copos eco CoCri, cadeiras e mesa.

drogas da praça que sabe grafitar, e pedir para que ele escreva na parede ao fundo: “Praça Livre Para As Crianças”, como elas mesmas haviam planejado. Enquanto isso acontece, as crianças vão pintando os pneus que foram doados pelos vizinhos, e que irão se transformar nos novos vasos da Praça que vão enfeitar o poste de energia da calçada, onde as pessoas costumam jogar o lixo.

- RECOLHENDO O LIXO Objetivo Aumentar o senso de comunidade ao fazer a limpeza conjunta da Praça.

Descrição da atividade Outra ação que deve acontecer nesse dia, como de costume, é a limpeza da Praça. Levar sacos de lixo e luvas de borracha e, a fim de envolver os vizinhos, pedir pás e vassouras emprestadas.

123


DIÁRIO

Esse dia não sairia como havíamos

planejado: um dia antes da oficina acontecer, conversei com a Sandra, educadora, que me disse que nenhuma das crianças do CCA poderia comparecer à oficina. Isto porque, na segunda feira, quando algumas delas voltaram para continuar plantando com nós na Praça, uma delas pediu para a responsável do CCA avisar a mãe que estaria conosco, sob responsabilidade do próprio CCA. Porém, a mãe dela ligou para o CCA no dia seguinte alegando que sua filha havia retornado para casa às 23h dizendo que estava conosco. Enfim, a diretora do CCA não permitiu mais que as crianças fossem para a Praça fora do horário de aula, pois não poderiam mais alegar que elas estariam sob sua responsabilidade. E nós ficamos sem crianças que pudessem estar

presentes na nossa última oficina do ano,

garrafas de água, flip chart, latas de tinta e pincéis, um vaso de Espada de São Jorge - que seria plantado

que aconteceu durante um sábado, pois

-, e mais algumas outras coisas pequenas. Eu estava nervosa desta vez, tinha medo que os adultos não

iriam, mais uma vez, construir junto com

aparecessem para fazer os vasos conosco, que o grafiteiro do bairro também não fosse, os vizinhos

os vizinhos.

estivessem viajando e que não tivéssemos nenhuma criança para participar da oficina.

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Um de nossos carros levou um monte de coisas: saco de composto, seis banquinhos, mesa,


Esse medo permaneceu ainda ao longo de uma hora, enquanto

duas de nós do CoCriança saíram para chamar alguns vizinhos, fui ao mercado próximo da praça para comprar o lanche - pão, mussarela, panetone e pão de queijo. Quando estava passando pelo caixa ouvi um “Dea!”, era o Wagner, uma das crianças do projeto, que estava com seu primo, o Caique. Foi ótimo, porque ele veio para a Praça ajudar e durante um tempo, também saiu atrás de alguns que moram por perto, mas sem sucesso. Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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Até mais ou menos 11h30 ficamos só nós, organizando as coisas e

recolhendo o lixo com os usuários de drogas - que já tinham deixado a Praça de ponta cabeça em apenas cinco dias. Nesse tempo, alguns dos poucos vizinhos que haviam se comprometido foram aparecendo, a Noemia - liderança comunitária do Jardim Damasceno - também veio com suas duas netinhas, o vizinho Severino e algumas crianças do entorno também apareceram.

Uma das usuárias de drogas, ficou lá conosco conversando até quase

13h, e ‘o Osmir que é grafiteiro também. Um dos vizinhos já havia falado com ele sobre pintar a Praça com a gente, então, quando apareceu, fui conversar com ele a fim de decidirmos onde e como seria o seu grafite. Para tanto, tivemos que passar primeiro uma demão de tinta branca, que o Wagner, o Caique e, principalmente, o Severino ajudaram muito! Enquanto isso o Osmir ia treinando em outro muro como é que faria a tipografia que escreveria “Praça Livre Para As Crianças”, ele mesmo já sabia o nome. Só que, quando deu umas 13h e tanto, ele saiu para buscar uma régua e não voltou mais… Então, quando terminamos a oficina, ficamos só com a parede em branco, pronta para o seu grafite. Paralelo a isso, as crianças que apareceram foram pintando os pneus que conseguimos de doação para montar os nossos vasos. Buscamos também mais dois sacos de terra no terreno dos vizinhos, e misturamos a isso o composto que trouxemos.

Nesse dia, entretanto, o caminhão de lixo só foi passar perto das 14h

para recolher todo o resíduo que fica acumulado próximo ao poste, onde iríamos colocar os vasos de pneu. Quando eles retiraram tudo, as crianças

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“atacaram” o poste com tinta, foi uma lambança que acabou se espalhando para o chão! Elas se divertiram muito.

Depois, montamos os vasos de pneus, colocamos tábuas de

madeira - que encontramos descartadas na rua - na base dos vasos, adicionamos entulhos até o segundo pneu de altura, no terceiro pneu colocamos a terra e, por fim, plantamos: três Agaves e uma Espada de São Jorge. Como havia sobrado Grama Amendoim e Barba de Serpente da última oficina, adicionamos algumas aos vasos e o máximo que pudemos aos canteiros da Praça.

Eram quase 16h, quando conseguimos terminar de arrumar tudo.

E, no final, acabamos construindo tudo com as crianças de novo, porém, as da vizinhança. Adicionamos, também, algumas placas pedindo para não jogarem lixo na base do poste, e fomos embora, exaustas e famintas, mas muito satisfeitas com o nosso trabalho.

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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VILA ANGLO BRASILEIRA PERDIZES

Imagem 33: Em vermelho - Localização geoespacial do Distrito de Perdizes no Município de São Paulo (Fonte: Google Maps e CoCriança).


17/10/2019 OFICINA 1: COMO INFORMAR A COMUNIDADE? Local: CCA Sal da Terra Duração: 2h 20min Número de crianças participantes: 14 Alteração no roteiro: Adaptação da última atividade Materiais Necessários caixinha de som papéis A6 caneta cartazes flip com sentimentos adesivos brancos adesivos coloridos

ROTEIRO 1. COREOGRAFIA DE NOMES (25 minutos)

Objetivo Integrar as crianças e as novas facilitadoras CoCriança, aquecendo também o corpo. Descrição da atividade Primeiro, em uma roda grande, cada um fala o seu nome e faz um movimento que te represente. Em seguida, todos da roda repetem os movimentos de cada um para memorizar. Depois, divididos em grupos menores, os participantes devem criar uma coreografia em conjunto que integre todos os movimentos dos integrantes. Ao final, cada grupo vai apresentar sua coreografia duas vezes, sendo a primeira falando os nomes, e a segunda sem falar os nomes e com uma música de fundo.

2. RODA DE CONVERSA (15 minutos)

Objetivo Atualizar as crianças sobre o processo de reforma da

Objetivo geral: Apresentar as novas facilitadoras do CoCriança e contar para as crianças o desenrolar da reforma da Praça. Após isso, pensar nas próximas ações necessárias e bolar alternativas para contar aos moradores do bairro sobre a reforma, a fim de convidá-los a participar das futuras oficinas de construção.

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praça e refletir sobre os próximos passos. Descrição da atividade Em roda, conversar com as crianças perguntando como estão após as férias e se passaram na Praça, contar o que foi feito até agora, sobre a festa de inauguração, fase de licitação - explicar como funciona -, falar sobre novas responsabilidades e como será essa etapa de oficinas, pois eles vão começar a criar as atividades.


3. COMO INFORMAR A COMUNIDADE - 4X4X4 (30 minutos)

Objetivo Chuva de ideias para chegar em quatro principais! Descrição da atividade Dividir as crianças em 4 subgrupos com no mínimo 4 integrantes cada. Nesse primeiro momento, cada uma delas deve pensar sozinha em 4 atividades para chamar a comunidade para ajudar na construção e colaboração da praça. É importante deixar claro que elas precisam fazer essas propostas sozinhas, sem a ajuda de outros amigos. Depois, dividir cada subgrupo em 2 duplas. Cada criança explica para a outra da dupla sobre as atividades que pensou e, juntas, elas escolhem 4 atividades que consideram mais efetivas para o objetivo. Ao final, os quartetos são formados novamente e cada um escolhe as 4 melhores ideias entre todas do seu grupo. Essas serão as propostas que eles vão colocar em prática

5. ENCERRAMENTO: “CUIDANDO DO SENTIR (20 minutos) DO GRUPO” Objetivo Expandir o repertório de sentimentos das crianças e

contribuir para sua identificação. Descrição da atividade Vamos levar um painel no qual vão estar descritos diversos sentimentos associados a cores. Em um primeiro momento, vamos ler cada um deles e entender o seu significado. Depois, cada criança vai receber adesivos em branco e elas devem pensar individualmente sobre como se sentiram durante as atividades desenvolvidas durante a oficina. Quando conseguirem identificar esses sentimentos, cada uma delas coloca um três adesivos coloridos em cima do branco com a respectiva cor escrevendo o nome ao lado, e cola no painel. A ideia é que, ao final da atividade, vamos conseguir visualizar como o grupo todo reagiu às atividades propostas. Essas serão as propostas que eles vão colocar em prática.

4. LEVANTAMENTO DE RECURSOS (40 minutos)

Objetivo Viabilizar as propostas a fim de convidar os moradores do bairro para contribuir na reforma da praça. Descrição da atividade Cada criança escolhe uma das 4 ideias que seu grupo elencou para ficar responsável. Ter um momento para cada quarteto falar as suas ideias, e as crianças responsáveis por cada atividade se agrupam novamente por semelhança de assunto.

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DIÁRIO

* cartazes (aparece 13 vezes)

crianças se desligaram do CCA nesse meio tempo. Mas as

- de inauguração da praça poder - colocar papel ao lado do cartaz para ar - saber o que as pessoas poderiam ajud ão - colar nas escolas da região e no port

que continuaram, estavam muito felizes em nos rever! Que

do CCA

Voltamos ao CCA Sal da Terra. Ficamos cerca de

três meses sem passar por lá e, infelizmente, algumas

saudades!

A princípio, na verdade, acho que o calor estava

desanimando a todos um pouco. Iniciamos o aquecimento com uma atividade de nomes, pois estávamos com três facilitadoras novas. A dinâmica envolvia um pouco de coreografia, e as crianças, mesmo não tão animadas a princípio, fizeram tudo direitinho e tivemos resultados divertidos.

Depois, sentamos em roda para conversar, relembrar

o que havíamos feito no semestre anterior, o que aconteceu nesse meio tempo de licitação de obra e qual era o novo resultado; algumas crianças já tinham passado pela Praça e visto o começo da reforma. O resultado, a confirmação da obra, as deixou mais animadas! E, nesse momento, também passamos pela conversa de responsabilidades para as próximas oficinas, pois elas que irão elaborar o que os colegas terão de fazer em cada atividade. No 4x4x4 as crianças foram bem dedicadas, sentaram em silêncio e pensaram em ótimas ideias - acho que elas se animaram com a concretização da reforma:

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* entregar folhetos nas casas (aparece 9 vezes) - colocar o projeto

* internet (apareceu 4 vezes)

* encontro/evento na praça para falar com pessoas (apareceu 3 vezes)

- pedir a ajuda de moradores “especia listas” - comidas, bebidas, dança, música, atividades, etc - inauguração da praça

* sair comunicando sobre o evento da

- postar no Facebook vezes) - página no Instagram (apareceu 2 s) - usar redes sociais (apareceu 6 veze vezes) - publicar fotos e vídeos (apareceu 4 - publicar projeto da praça

* falar na TV

praça (apareceu 3 vezes)

- falar para família e amigos


Após as ideias serem apresentadas, nós, facilitadoras, pensamos em três

agrupamentos que surgiram: Redes Sociais, Cartazes e Eventos. As crianças se dividiram por grupos de interesse e começamos a escrever nos cartazes o que seria necessário para cada uma dessas frentes. Essa etapa ainda foi um pouco confusa, pois é a primeira vez que lidam com planejamento de uma ação, então, os olhares sempre recorriam a nós, buscando aprovação e questionamentos sobre o que escrever. Minhas respostas, normalmente vinham sempre com perguntas: “o que a gente precisa para fazer um evento?”, “o que atrai pessoas para um evento?”, ou “quem teria uma caixa de som? como conseguimos obtê-la?”. A seguir, o que foi escrito por elas:

Eventos:

Cartazes:

ias, folhetos para am - Cartazes nas ru , ando para reuniões gos da escola cham aça inauguração da pr da rmações ter em ca - Pensar que info a desenho ou algum cartaz e se vai ter foto plo , dia 24: ter exem - Reunião quinta de cartazes

- Feira Cultural: Iremos falar sobre o projeto, apresentar as meninas da USP, faz er os cartazes antes de sábado - Quinta Feira, dia 24: Dividir o que cada um tem que fazer, o que cada um vai fala r - Evento de Ajuda: depois que a obra estiver pronta. Música (quem chamar), Som (do no do som?), Apresentação (qual?), Comida (paren tes, senhoras do MAVA) - Evento de Inauguração: depois que tudo estiver pronto - final de semana

Por fim, depois que cada

grupo apresentou seu plano de ação, fizemos uma atividade de avaliação. Dessa vez, trouxemos escritos cerca de trinta sentimentos nos cartazes e pedimos para que eles colocassem adesivos que correspondesse ao que sentiram durante o dia de oficina. Essa atividade foi muito bem sucedida. Aumentar o repertório das crianças buscando nomear o que passa dentro delas está sendo muito importante. Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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24/10/2019 OFICINA 2: CONSTRUINDO A COMUNICAÇÃO

ROTEIRO 1. TELEFONE SEM FIO (45 minutos)

Local: CCA Sal da Terra Duração: 2h 15min Número de crianças participantes: 14 Alteração no roteiro: Atividade 3 foi incompleta e não fizemos a atividade 4.

Materiais Necessários papéis A6 lápis, borrachas e canetas papéis diversos, cartolinas sala de informática

Objetivo geral: Dar continuidade ao que foi planejado na oficina anterior, a fim de incentivar as crianças a protagonizarem na divulgação do projeto que estão construindo, como convite para o envolvimento do resto da comunidade.

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Objetivo Refletir com as crianças sobre a importância de estabelecer uma boa comunicação e saber passar o intencionado.

Descrição da atividade Dividir em quatro grupos com uma facilitadora e cerca de cinco crianças cada um. Cada criança recebe o número de folhas A5 correspondente ao número de integrantes do grupo. A facilitadora fala no ouvido de cada criança uma frase relacionada à praça, e elas têm de desenhar a frase na folha de papel. Depois de 5 minutos, o montinho de papel na mão de cada uma gira para o lado, e a próxima criança interpreta o desenho que recebeu, passá-lo para trás do montinho, e escreve o que entendeu do desenho. Elas têm mais 5 minutos para o mesmo procedimento e o montinho é passado para o lado novamente. Dessa vez, elas recebem uma frase, que tenham que ler e fazem um desenho que corresponda à frase recebida. E assim por diante, até o montinho de folhas retornar à primeira criança. Quando retornar, cada criança apresenta o resultado do que lhes foi retornado. Ao final da atividade, fazer uma breve reflexão, sobre a importância de se saber transmitir uma mensagem que contenha a sua intenção.


2. DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO

3. APRESENTAÇÕES E CONCLUSÕES

(50 80 minutos)

(15 minutos)

Objetivo Colocar em prática as ideias obtidas na última ofici-

Objetivo Compartilhar com todos o que foi feito e os encami-

na, desenvolvendo as estratégias ação. Descrição da atividade Primeiro, relembrar o que fizemos na última oficina, quais ideias de divulgação apareceram e que grupos de trabalho havíamos montado. Depois, explicar que a ideia é desenvolver ainda mais essas estratégias de comunicação, tentando obter alguns produtos para já serem apresentados na feira cultural, no sábado. Discutir o que eles acham legal de apresentar na feira cultural e tentar organizar a atividade com base nas prioridades que eles colocarem. Repassar as ações de cada frente de trabalho (eventos, redes sociais e cartazes), não necessariamente precisamos repetir os grupos da última oficina. Abrir para que todos deem sugestões dos cartazes a serem produzidos. Eventos: - Feira Cultural: pensar na apresentação - Evento de Divulgação Redes Sociais: - “Jornalzinho da PDS” (Praça do Samba): Instagram, Facebook e Youtube - Decidir e estruturar quais vão ser as primeiras posta gens (quais vídeos e quais fotos) Cartazes: - Pensar e fazer os cartazes de divulgação do projeto na feira cultural do CCA. - Realizar panfletos para serem distribuídos para a família e os amigos.

nhamentos para os próximos dias. Descrição da atividade Em roda, cada grupo apresenta o que fez e conta como o que foi feito pode ser desenvolvido dali pra frente. Depois da apresentação de cada frente, abre-se para perguntas e sugestões do grupo todo, de modo a validar as propostas. Expôr todos os materiais gráficos produzidos e pensar conjuntamente onde colocar cada um.

4. ENCERRAMENTO (15 minutos)

Objetivo Finalizar a oficina com um momento de comunhão. Descrição da atividade Sentar em roda e fazer um exercício de respiração. De olhos fechados, relembrar o que eles sentiram no fim da outra oficina e no fim dessa. Refletir se alguma coisa mudou. Fazer uma rodada onde cada um fala um sentimento ou palavra que defina o que está sentindo. Desafio: não repetir nenhum. Fim da oficina.

135


DIÁRIO

Essa oficina não estava no nosso

cronograma. Ela surgiu como demanda da Oficina “Como Chamar a Comunidade?”, pois percebemos que seria melhor se estivéssemos com as crianças para a construção de tudo aquilo que havíamos elaborado na semana anterior. Além do que, ficamos sabendo que elas teriam uma Feira Cultural de apresentações do CCA e, construir com elas uma apresentação para os familiares de todo o trabalho que estamos fazendo, seria de extrema importância. Ou seja, esta oficina seria para colocarmos em ações tudo que havíamos elaborado na semana anterior.

A primeira atividade foi bem divertida!

Nesse dia, elas voltaram a se familiarizar com a gente, e a dinâmica do Telefone Sem Fio com desenho foi tão divertida que queriam jogar de novo! Nesse momento, trabalhamos com elas a importância de se passar uma boa mensagem, de colocar no papel aquilo que se quer que seja entendido, pois seria isso o que iríamos fazer no resto do dia.

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Distribuídas nas suas frentes de interesse


- Redes Sociais, Cartazes e Eventos - começaram as ações: o grupo de Redes Sociais, na sala de Informática, criou o Instagram da praça, o Facebook e o canal do Youtube; o grupo dos Eventos pensou em como seria a apresentação para a Feira Cultural, foi para a sala de informática escolher as fotos, e conversou com a equipe de Cartazes quais seriam as necessidades para o sábado de Feira Cultural; e, por sua vez, o grupo de Cartazes elaborou todos os cartazes que eles vão colocar no CCA para apresentar aos familiares no final de semana. Inclusive teve um grupo que se auto organizou e foi comigo para a Praça gravar o primeiro vídeo, completamente elaborado por elas mesmas, para poderem postar nas redes. Nesse ponto vamos contribuir apenas com a edição.

Nós havíamos até pensado em uma

dinâmica de encerramento, mas não tivemos tempo. O processo foi super orgânico e todas as crianças participaram e contribuíram com ideias para a divulgação. Elas saíram da atividade tão animadas, que tiveram algumas que até falaram

BIANCA, ANA E STEFANI

(Bianca) - E é isso, gente! Se inscrevam no canal. (Ana) - Deixem o seu like. (Ste) - Se vocês quiserem deixar alguma coisa nos comentários sobre o que vocês querem pra melhorar a praça, o que vocês querem saber é só deixar aqui em baixo que a gente responde.

(Diário de Campo, Oficina 02 de Construção - Vila Anglo, 2019).

em produzir mais coisas em casa. Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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06/11/2019 OFICINA 3: DIVISÃO DAS FRENTES DE TRABALHO

ROTEIRO

Local: Praça do Samba Duração: 2h 15min Número de crianças participantes: 9 Alteração no roteiro: Muito alta, atividades 2 e 4 foram adaptadas e não fizemos atividade 5

1. IDA À PRAÇA: CONDUÇÃO

Materiais Necessários 15 vendas de olhos cartaz explicativo de cada frente 4 esqueletos de oficinas impressos calendário dos meses de novembro e dezembro

Objetivo geral: Dividir as crianças em grupos por temas que têm como assunto as ações que faltam para concluirmos a reforma da praça. Nesses grupos, começar a trabalhar o planejamento com elas, introduzindo os esqueletos de oficinas e buscando criar soluções para as suas vontades.

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* Antes de sairmos para a Praça, passar o vídeo produzido por elas na última oficina.

(15 30 minutos)

Objetivo Sensibilizar as crianças através dos outros sentidos, que não a visão, em relação ao caminho do CCA até a praça. Trabalhar o cuidado e a confiança com o outro. Descrição da atividade Caminhar em duplas até a Praça sendo que uma delas deve estar vendada e a outra conduzindo. No meio do trajeto, elas devem alternar. Chegando à praça, fazer uma roda e conversar sobre o que sentiram no percurso. “O que você sentiu durante o percurso quando conduzido e quando condutor? Como foi confiar no outro, foi fácil? Você teve medo? Você reparou em coisas novas durante o percurso? Cheiros, sons, calor, frio.. Você achou o percurso mais longo ou curto?”


2. CONVERSA

3. DIVISÃO DAS FRENTES DE TRABALHO

(45 minutos)

(45 minutos)

Objetivo Apresentar às crianças o que foi aprovado e cons-

Objetivo Cada grupo de trabalho deve começar a articular as ideias do que acham que falta para a finalização da praça e, então, como fazê-lo através de oficinas. Descrição da atividade Nos grupos, repassar com as crianças o que precisa ser feito, pensar nas possibilidades (ex: tinta, grafite, mosaico, etc), tentar levantar todos os pontos (tempo, número de oficinas, conteúdo necessário, etc) que elas achem necessários, e olhar e preencher os esqueletos.

truído, e o que falta ser feito para finalizar o projeto da Praça, retomando as frentes de trabalho. Descrição da atividade Dar uma volta na Praça e ir mostrando às crianças o que está sendo feito, atualizá-las sobre como vai ficar e o que ainda falta ser feito, pois não coube na verba da Prefeitura. Depois, sentar em roda e explicar o que são as quatro frentes (brinquedos, arte, jardim e comunicação), em que eles serão divididos para começar a planejar as próximas oficinas de construção. Por último, pedir a eles que escrevam seu nome e a frente que deseja atuar em um papel. falem em nossos ouvidos qual a frente que gostariam de atuar.

4. MONTANDO O CALENDÁRIO COLETIVO (15 minutos)

Objetivo Compartilhar o que foi feito em um calendário. Descrição da atividade Cada frente escolhe uma criança para apresentar o que foi feito e quantas oficinas serão necessárias para a sua frente. Criar um calendário grandão e, com uma criança de cada frente, ir preenchendo coletivamente com possíveis datas para as oficinas. Cada frente terá uma cor e vai colar adesivos coloridos nas datas das oficinas.

5. ENCERRAMENTO: FUNGA ALÁFIA AXÉ, AXÉ (15 minutos)

Objetivo Finalizar a atividade em comunhão. Descrição da atividade Cantar Funga Aláfia Axé, Axé (4x) seguindo a coreografia: mãos que saem da cabeça em direção ao outro (te dedico bons pensamentos), mãos que saem da boca (te ofereço boas palavras), mãos que saem do coração (te ofereço bons sentimentos) e mãos que passam pelos antebraços e se direcionam para o outro (veja, não escondo cartas nas mangas, podes confiar em mim).

139


DIÁRIO

A primeira atividade era de percepção do

percurso do CCA até a Praça do Samba. As crianças, em duplas, uma guiou a outra que estava com um pano tampando os olhos. Foi engraçado ver o quanto elas se divertiram no trajeto, mas, ao mesmo tempo, foi bem difícil que elas mantivessem a concentração

Brinquedos

(Angelina, Otávio, João, Cássio e Laysa) - tocos de escalada - balanços - caminho da floresta

focada ou o silêncio. Por isso, acho que a atividade não conseguir surtir tanto o efeito que gostaríamos: que elas conseguissem prestar atenção aos outros sentidos durante o trajeto. Mas, mesmo assim, a conversa que tivemos ao sentar em roda na Praça, teve um tanto de contribuição delas. Conseguimos passar por todos os pontos necessários.

A segunda atividade foi uma conversa.

Primeiro, perguntamos o que elas perceberam que

Arte

(Bianca, Ana, Stefanie e

Gabi) - mosaico no espelho das escadas - pintar as escadas - pintar bancos

havia mudado na Praça, já com a reforma quase no fim. Sem nem mesmo precisarmos caminhar ao redor, elas já foram apontando tudo, acho que já deviam ter visto

A Oficina na Vila Anglo foi bem fora

das minhas expectativas! Cheguei um tanto atrasada, então as outras facilitadoras já haviam passado o primeiro vídeo do Youtube que as próprias crianças produziram na nossa oficina anterior de Construção da Comunicação.

140

antes. Depois, tentamos explicar mais uma vez como é que funcionariam as oficinas daqui em diante: que elas mesmas seriam responsáveis por criar e conduzir as atividades. Tiveram alguns olhares de dúvidas, eu achei, e elas também não estavam muito animadas... Mas seguimos explicando cada frente de trabalho que dividimos:

Comunicação

(Wesley, Vinícius e Ra quel) - placas de informes na praça - alimentar redes sociais - evento de inauguração da praça - fazer a divulgação de oficinas para o bairro


Jardim

- horta - composteira - desnível: pedras, terra e plantas

Pedimos para que elas contassem na nossa

orelha qual seria a frente escolhida, e, como ninguém escolheu Jardim, o juntamos com o grupo de Arte.

Essa parte, senti um pouco de dificuldade

nossa como facilitadora mesmo em direcionar o que deveria ser ou não pensado. Primeiro, no grupo em que estava, houve

Inviável. Tivemos que repensar como seria essa estrutura.

uma chuva de ideias de onde iríamos pintar, como, com o que - elas

pensaram em bastante coisas. Mas foi difícil de trazê-las para um plano

minutos que nos sobraram - em que cada grupo contou rapidamente o

real, principalmente no que dizia respeito à contabilização do tempo. Isso,

que havia pensado e tentamos conversar com eles sobre o calendário.

porque, depois fomos pensar, essas crianças nunca tiveram experiência

Mas também foi algo que passamos muito rápido, já que percebemos

em planejar qualquer tipo de atividade ou, ainda, só tiveram contato com

que o resultado da atividade anterior não foi o esperado.

Ainda teve um momento - que no final foram apenas dez

esse tipo de oficina com nós mesmas! Ou seja, não tinham referências o suficiente.

Por isso, tentamos estruturar melhor através do Esqueleto

conversa de avaliação da oficina e resolvemos reestruturar: a

de Oficinas que elaboramos, mas ainda assim, ficou algo vago, mas,

próxima atividade deveria ter um planejamento menor, quem sabe

especialmente, muito grande para elas fazerem: “quantas oficinas a gente

só uma atividade dentro de uma oficina mais extensa. As crianças,

precisa para pintar os bancos? umas três?”. E assim, o meu grupo, saiu

definitivamente, precisavam ainda se familiarizar mais, tanto com o

com quase 11 oficinas para concluir as atividades que estavam planejando.

Esqueleto, quanto com o planejamento em si.

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

Saímos, então, as cinco facilitadoras para a nossa típica

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14/11/2019 OFICINA 4: DESENVOLVENDO O PLANEJAMENTO: COMUNICAÇÃO Local: CCA Sal da Terra e Bairro Duração: 2h 15min Número de crianças participantes: 20 Alteração no roteiro: Baixa, só adaptação na atividade 3. Materiais Necessários 2 mapas com os pontos: CCA e Praça canetas coloridas 2 esqueletos de oficinas impressos 2 câmeras

Objetivo geral: Praticar com as crianças o planejamento de uma atividade mais curta para que elas se familiarizem com o Esqueleto de Oficinas. Esta atividade será de entrevista com os moradores do bairro, a fim de abrir um primeiro canal de comunicação entre eles.

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ROTEIRO 1. INTRODUÇÃO: TRAJETO CCA - PRAÇA

3. REFLEXÃO

(20 minutos)

(20 minutos)

Objetivo Mapear afetivamente o trajeto entre o CCA e a Pra-

Objetivo Refletir sobre o processo, a fim de analisar a importância de planejar e quais as diferenças entre ela e a prática. Descrição da atividade Em roda, pedir para as crianças responderem em um papel, individualmente, às seguintes perguntas: O que eu senti durante a atividade? Conseguimos chegar ao objetivo? Eu participei ativamente? Por que?. Em seguida, vamos refletir com elas sobre as dificuldades de planejar o que foi executado no momento do boca-a-boca.

ça do Samba com os pontos que julguem importantes. Descrição da atividade Em grupos de até 5 crianças, desenhar o trajeto entre a Praça e o CCA com tudo que eles forem lembrando que existe (casas de gente conhecida, lojinhas, bares, etc): marcar a direção de suas respectivas casas, colocar também memórias mais sensitivas ou comentários. Pode ser através de imagem ou escrito.

2. PLANEJANDO E EXECUTANDO O BOCA(90 minutos) A-BOCA Objetivo Praticar o planejamento de atividade simples e experienciar a comunicação interpessoal ao sair na rua para falar com os vizinhos. Descrição da atividade Divididas em 2 grupos de trabalho, preencher os esqueletos de oficinas a fim de planejar a interlocução com os moradores do bairro, lembrando de passar pelos seguintes pontos: - quem fica responsável pelo trajeto - quem fica responsável pelo tempo - quem filma - quem anota - quem conduz a entrevista Depois, sair pelo trajeto elaborado e pedir para conversar com as pessoas dos lugares que considerarem mais importantes, até acabar o tempo planejado por elas também.

- Alguém já tinha feito algo do tipo antes? - Foi importante ter passado pelos pontos do esqueleto? - O esqueleto ajudou? - Foi importante ter uma pessoa responsável por cada atividade? - O que foi planejado saiu como o esperado? - Como foi ter que administrar o tempo? - Algum desafio inesperado apareceu? - Como foi lidar com o desafio? Foi superado? Como?

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DIÁRIO

Como havíamos refletido na oficina anterior,

dessa vez, pensamos em uma atividade que fosse menor para que as crianças pudessem praticar o planejamento e se familiarizar com o Esqueleto de Oficinas.

Por isso, a primeira atividade foi bem tranquila.

Também, não havia muitas crianças esse dia, e pudemos dividí-las em dois grupos. Cada um recebeu uma folha A3 com o CCA em um canto e a Praça no outro, e pedimos para que elas fossem escrevendo e desenhando tudo o que lembrassem que existisse no trajeto. Eu não esperava que fossem sair mapas tão empenhados! Elas lembraram de cada detalhe e os resultados foram bem diferentes: em um mapa foram lembradas as pessoas do trajeto, no outro os detalhes.

Observação: - Do Sal da Terra até a Praça é mais movimentado - Muitas casas - Muitos cachorros - À noite dá medo de andar na rua - A rua Mundo Novo é muito escura e deserta.

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Essa atividade foi muito bem sucedida! O grupo das meninas

terminou de preencher o Esqueleto com muito mais agilidade - estavam bem menos dispersas que o outro grupo -, por isso, as chamei para a sala de informática, onde publicamos o primeiro vídeo no canal do Youtube. Esse foi o tempo do outro grupo se preparar e saímos.

Eu fiquei com o grupo das meninas e o Otávio, que ficou

responsável por cuidar do tempo, enquanto elas fariam as entrevistas. Por isso, fiquei responsável pela filmagem, já que o grupo tinha uma pessoa a menos que o outro. O desenvolvimento das entrevistas foi bem parecido com os do Elisa Maria, as crianças foram melhorando a cada entrevista que passava. Na primeira, elas sentiram que a entrevistada não estava dando tanta importância ao que estavam falando; já nas

Depois disso, seguimos com a segunda atividade, em que eu

expliquei como eles fariam para organizar o “Boca-a-Boca” para contar para os moradores do bairro sobre a reforma. Nessa hora, foi muito legal, que antes mesmo de eu terminar a explicação, as meninas já foram falando que teriam que criar perguntas, fazer uma entrevista e que gostariam de gravar para postar em seus canais de Youtube. Realmente, parece que elas estão entendendo muito bem o espírito da coisa! Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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próximas, conseguiram convidar os entrevistados para participar das atividades de mutirão e explicar que o projeto de construção era delas mesmas.

O tempo que tivemos de saída foram de 35 minutos, o que

acabou ficando um tanto apertado para conseguir mais de cinco entrevistas. Voltamos para o CCA e fizemos a discussão da atividade, que foi a melhor de todas as conversas que já tivemos com eles. Nesse momento, o grupo de facilitadoras improvisou, e usamos muito do que aprendemos no Germinar para engajá-los na discussão. Senti que todos tiveram seu lugar de fala respeitado e se sentiram acolhidos. Primeiro, pedimos para que eles escrevessem as seguintes reflexões no papel, que tiveram algumas dessas respostas:

Eu participei ativamente

? Por que?

ivo?

Conseguimos chegar ao objet

“Eu consegui gravar as entrevistas e a gente ntas como: você “Sim, fizemos outras pergu conseguiu os números de telefone e divulgamos quer ajudar?” o nosso Instagram e Yo os entrevistar, utube” “Sim, chegamos, conseguim “Sim, porque eu tinha qu ” e falar o tempo e eu conseguimos alguns números falei.” conta que eu “Na minha opinião não, por “Sim, participei ativam ente, fiquei ao lado da trevistado mais queria ter conseguido ter en apresentadora, e ajudand o a relembrar as coipessoas” sas.” seguimos falar “Só algumas coisas, não con “Não, pois gostaria de ter me expressado mais e com muitas pessoas.” ter ajudado.”

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Como exemplificado acima, as respostas foram muito

enriquecedoras para a discussão. Pudemos, inclusive, ter um momento de feedback muito positivo, em que uma das facilitadoras agiu muito bem ao tornar uma possível situação de conflito em apenas um retorno baseado no sentimento que um deles estava tendo em relação às meninas que, para ele, não responderam seu trabalho: falar as horas.

Para além da discussão de sentimentos, que é algo que

estamos tentando desenvolver desde o começo com esse grupo de crianças na Vila Anglo, o entendimento de como foi importante dividir tarefas, cuidar do tempo e experienciar uma atividade previamente planejada, atingiu o nosso objetivo!

O que eu senti durante

a atividade?

- “Eu achei algo bem inter essante, porque foi algo diferente que a gente não costuma fazer sempre, então eu go stei bastante” - “Na primeira entrevista eu senti vergonha, mas depois fui fic ando de boa.” - “Primeiro eu senti medo, mas depois meus amigos foram ajudando a entrevistar”

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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28/11/2019 OFICINA 5: DESENVOLVENDO O PLANEJAMENTO: PINTURA Local: CCA Sal da Terra Duração: 2H Número de crianças participantes: 10 Alteração no roteiro: Nenhuma

Materiais Necessários cartaz com comportamento frio cartaz com comportamento quente flip chart 2 esqueletos de oficinas impresso

Objetivo geral: Praticar com as crianças o planejamento de uma atividade mais curta para que elas se familiarizem com o Esqueleto de Oficinas. Para isso, pensar coletivamente quais são os principais momentos das oficinas, seu funcionamento e necessidades. Fazer, também, algumas atividades que aproximem mais as crianças da autoavaliação para a percepção de sentimentos.

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ROTEIRO

1. COMPORTAMENTOS QUENTES E FRIOS¹ (30 minutos)

Objetivo Ajudar as crianças a fazerem uma autoavaliação de

qual o tipo de comportamento que costumam ter em uma situação de conflitos - quente ou frio. Descrição da atividade Primeiro, ler todos juntos os dois cartazes com os comportamentos frios e com os comportamentos quentes, localizados um em cada extremo da sala. Depois, explicar que definem, no extremo, como cada um tende a se comportar em uma situação de conflito, e que, cada um, deverá andar pela sala enquanto reflete sobre as situações de conflito em que já passou na vida e quais foram os comportamentos que teve. Feita a reflexão, pedir para que se posicionem o mais próximo do cartaz que julga ser a sua maneira de agir, como se fosse um termômetro, sendo o meio da sala “neutro”. Haverá um momento para que os participantes fazem convites para os colegas experimentarem estar em outro lugar que julgue ser mais pertinente ao comportamento do outro. Em seguida, quentes e frios fazem pequenos grupos, sem mistura entre si e escrevem nos flip charts os recados que querem dar para o outro grupo.

1 Esta atividade foi adaptada do Programa Germinar: Desenvolvimento de Facilitadores, uma iniciativa da Associação ComViver e EcoSocial.


2. EXPLICANDO O ROTEIRO

4. INTRODUÇÃO E PRÁTICA DO FEEDBACK

(15 minutos)

(15 minutos)

Objetivo Pensar coletivamente quais são os principais mo-

Objetivo Aprender o que é um feedback, como dá-lo a outra

mentos de uma oficina, a fim de instruí-los a criar uma única oficina coletivamente. Descrição da atividade Explicar para as crianças como nós fazemos o roteiro de oficinas - como funcionam os tempos, deslocamento. Depois, definir qual grupo ficará responsável por qual atividade da próxima oficina, que será de pintura.

3. PLANEJANDO (15 minutos) Objetivo Praticar o planejamento enquanto criamos a próxima oficina. Descrição da atividade Dividir as crianças em 4 frentes de trabalho, que deve planejar uma das seguintes atividades enquanto preenchem os Esqueletos de Oficinas. Lembrar que cada atividade é parte de um todo, de modo que é importante que todas as atividades estejam alinhadas entre si. - introdução: atividade de aquecimento e contextualização do que vai acontecer [30 min] - planejamento: atividade para pensarem coletivamente como será dividido o espaço da parede [30 min] - pintura: terá de pensar na divisão de grupos, ordem de acontecimento das coisas [60 min] - fechamento: atividade que sintetize de alguma forma o que foi feito e que as pessoas falem como se sentiram ao longo do dia [30 min]

pessoa e como recebê-lo. Praticar o feedback nos pequenos grupos de planejamento Descrição da atividade Com uma folha grande explicar a teoria do feedback, salientando seus impactos, o caráter construtivo do “presente” que é recebê-lo de outra pessoa, e que ele só pode ser feito com base na ação de uma pessoa que causou um sentimento em você. Sentadas numa grande roda, cada criança deve dar um feedback com verdade e amor para um colega.

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DIÁRIO

Esta oficina foi reformulada muitas vezes

antes de acontecer. Isto, porque, no começo da semana, havíamos feito também uma oficina de planejamento de pintura no Elisa Maria, e entendemos a importância de trazê-la para a Vila Anglo. Porém, com base na última oficina da Vila Anglo, pudemos perceber o alto desempenho na elaboração de atividades das crianças, que planejaram muito bem, resultando em uma ótima roda de discussões.

Mas ainda precisávamos trabalhar um

pouco mais o “sentir” deste grupo de jovens e, principalmente, o “como dar feedbacks” uns aos outros, a fim de fomentar as discussões e aproximálos da importância de cuidar da Praça. Para tanto, usamos como base algumas das

“(Dea) - E ai, o que que vai acontecer, de é... Nessa parte aqui, que é a ativida relacionada à praça? (Cauã) - A gente vai pintar a praça. oé (Dea) - Só que precisa de pensar com que vai ser feito isso, né... (Cauã) - Organização?” strução -

(Diário de Campo, Oficina 05 de Con Vila Anglo, 2019).

atividades que havíamos aprendido no curso Germinar.

A primeira foi uma atividade de movimento, em que colocamos em

cada extremidade da sala de aula um cartaz com algumas das características de posicionamento de pessoas que agem de forma “fria” e de forma “quente” em conflitos (como na foto). Fomos fazendo perguntas reflexivas, pedindo para que se enxergassem em situações nas quais se depararam em um conflito e qual foi a forma que conscientemente agiram. Foi muito boa essa atividade, pois convidamos a Mari, educadora, a participar e ela esteve muito presente.


Por fim, descrevemos tudo no roteiro: tempo, materiais,

importância, divisão de grupos e responsabilidades. Teve um momento em que eu perguntei “pronto, posso deixar tudo com vocês? Vocês conseguem fazer sozinhos? Eu não vou fazer nada, hem!”. Eles responderam que sim e, em seguida, a outra facilitadora complementou “viram só? Isso é autonomia! Porque, quando a Dea diz que quem vai fazer tudo sozinho são vocês, ela está dando autonomia para vocês”. Imediatamente a expressão no rosto deles mudou! Lembro do Wesley abrir um grande sorriso e exclamar “que legal!”. Em seguida, a Gabi que estava escrevendo, pegou a caneta vermelha e circulou bem forte no esqueleto o pilar da “autonomia” que trabalhamos, e que eles tinham deixado passar, já que antes disso, não lhes fazia sentido.

amor e fa(Dea) - E se eu dou um feedback com ? lando a verdade para a outra pessoa (Layza) - Causa felicidade! tá o que aqui? (Dea) - Felicidade né? A pessoa ela Ela tá recebendo um... presente né? ra pessoa a (Gabi) - Ela está insentivando a out melhorar! ivo que você (Dea) Isso, exatamente! É um insent dá pra ela. strução - Vila Anglo,

(Diário de Campo, Oficina 05 de Con 2019).

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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LAYZA “(Layza) - Eu fiquei triste, quando a Gabi falou que não ficaria bonito pintar o negócio de malhar. (Yu) - Boa. É um ótimo feedback.” strução

(Diário de Campo, Oficina 05 de Con - Vila Anglo, 2019).

Preenchidos os esqueletos, voltamos para a lousa onde eu

expliquei um pouquinho, por meio de exemplos, qual a importância do feedback. Como fazemos para falar para o outro o que sentimos em relação a uma ação que ele fez. Ou seja, que sempre falamos um sentimento (meu) em relação a uma ação (de alguém).

Então, sentamos em roda no chão, e eu iniciei a nossa rodada

de feedback. Disse que havia ficado muito feliz quando a Angelina disse que traria um monte de material para a oficina seguinte e que consequentemente, participou ativamente da elaboração do roteiro.

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Em seguida, ela me trouxe um feedback muito positivo de volta também. E eles começaram a se expressar muito bem, inclusive a Mari, que estava fazendo um grande esforço para não colocar a impressão do sentimento dela sobre algum deles. Primeiro, fizemos de maneira espontânea e depois fomos passando para que cada um da roda fosse falando um. Lembro principalmente do Wesley falando “eu me senti distraído quando a [não me lembro quem] ficou me cutucando com a caneta”. Excelente!

MARI

“Eu quero falar de novo: eu me senti muito feliz, porque eu lembro quando tudo começou , essa história da praça é, lembro como que cada um fazia as coisas... foram entrando crianças, foram sai ndo crianças. E tá tudo sendo construido com muito esforço de vocês todos, de vocês todas, e tá ficando tud o muito legal, gente, sério. Obrigada por cês terem ficado com as crianças e brigada vocês [crianças] também, cês tão se esforçando muito.” (Diário de Campo, Oficina 05 de Con 2019).

strução - Vila Anglo,

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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OFICINA 6: PINTANDO A PRAÇA!

05/12/2019

Local: Praça do Samba Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 9 Alteração no roteiro: Alta, a última atividade não teve tempo para acontecer

Materiais Necessários latas de tinta pincéis bandejas de tinta rolinhos balde de água

Objetivo geral: Pintar a Praça de acordo com o que foi previamente planejado pelas crianças na última oficina e se divertir! Para tanto, esta oficina é baseada no Esqueleto de Oficinas escrito pelas próprias crianças.

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ROTEIRO 1. TRAJETO E BRINCANDO COM AS CORES (45 minutos) - João, Otávio, Stefani, Bianca, Ana Beatriz, Cássio¹ Objetivo Observar o ambiente e aquecer. Descrição da atividade Enquanto andamos para a Praça do Samba, João explica que todos devem ir reparando nas cores que aparecem no caminho. Depois, já na Praça, Stefani, Bianca e Ana delimitam um espaço para um jogo onde um ou dois pegadores ficam no meio e, de costas, falam alto o nome de uma cor. Os participantes devem passar de um lado para o outro da Praça pulando numa perna só. Apenas quem tiver no corpo a cor que foi dita pode passar andando normal. O objetivo é passar de um lado para o outro sem ser pego. Os que forem pegos, na próxima rodada, viram pegador.

3. CONVERSA (30 minutos) - João, Otávio, Stefani, Bianca, Ana Beatriz, Cássio¹ Objetivo Refletir sobre a pintura. Descrição da atividade Sentar em roda e o João e o Otávio conduzem a conversa sobre a pintura passando pelas seguintes perguntas: - você gostou de pintar? - quais foram os pontos positivos e os pontos negativos? - você sabe o que o outro fez? - o que poderia ter sido feito diferente? - você sabe porquê fez? - ficou bonito?

2. PINTANDO! (60 90 minutos) - Layza, Angelina, Gabriela S., Wesley, Vinícius, Gabriela G.¹ Objetivo Pintar e se divertir! Descrição da atividade Primeiro, dividir em três dois grupos com dois representantes de facilitadores em cada. Um grupo pinta o banco em formato de minhoca, outro os bancos perto da quadra, e o último, os em formato de lua. A criança facilitadora anota as ideias dos colegas enquanto eles criam coletivamente o que será pintado em cada banca. Com a ideia pronta, pintar! 1 O conteúdo escrito dessa atividade foi extraído do Esqueleto de Oficinas escrito pelo grupo de crianças na oficina anterior e reescrito segundo minha interpretação. Tentei deixar o mais fiel possível ao original.

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DIÁRIO

Chegamos esse dia e as crianças estavam muito animadas para

pintar. A Angelina logo veio me contando que trouxe o que tínhamos combinado: comprou com seu tio a bandeja para tinta. Tentamos dar uma organizada nos grupos, relembramos o roteiro e dividimos quem falaria o que de acordo com quem estava presente no dia.

Na hora de sair para a Praça, o João fez a introdução da atividade.

Parecia bem tímido, pois seu olhar e fala estavam baixos. Tentamos incentivar que explicasse, e as instruções foram: “no caminho para a Praça, vão reparando nas cores que aparecem”. Achei uma ideia bem bacana, já que o resto do dia seria com tintas.

Na Praça, foram as meninas - Stefani, Bianca e Ana - que

explicaram a primeira atividade que funcionava como um elefantinho colorido. Foi bem improvisado o jeito que elas explicaram, mas, entre eles, todos se entenderam e conseguiram jogar. Claro, ainda tiveram algumas dúvidas quando começaram, mas, em geral, funcionou muito bem como aquecimento de uma atividade que mexeria com pintura.

Tivemos que encurtar um pouco esse primeiro momento, pois já

estávamos atrasados com o horário, e tinha muita nuvem no céu, indicando que uma chuva bem pesada viria. Então, depois que a Layza e Angelina explicaram o que haviam pensado para a pintura, fomos todos buscar as tintas no carro. Houve um rápido replanejamento que tivemos que fazer em relação a quais bancos pintar, pois a ideia inicial do grupo era pintar três

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bancos, mas com apenas nove crianças, optamos por pintar só dois.


Outra mudança em relação ao roteiro foi o formato como os grupos

foram divididos. A ideia era fazer por números tendo ao menos uma dupla que planejou a atividade como responsável. Mas ao invés, eles se dividiram rapidamente por afinidade, ficando as meninas Gabi, Bianca, Ana e Stefani juntas com o banco menor e os outros com o banco maior.

Durante a pintura deu tudo certo, todos participaram, pois havia pincel

e rolo suficiente, e não houveram discussões. O grupo maior pintou só a base dos bancos, e as meninas conseguiram terminar o que planejaram. Quando estávamos terminando, tivemos que dar uma corrida pois a chuva parecia se aproximar cada vez mais. Então, todo mundo ajudou a levar um pouco de volta para o CCA, mas, não puderam ajudar a lavar as coisas, pois a chuva começara e já era horário de lanche.

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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OFICINA 7: REFLEXÃO

12/12/2019

Local: Praça do Samba e CCA Sal da Terra Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 9 Alteração no roteiro: Nenhuma

Materiais Necessários latas de tinta pincéis bandejas de tinta balde de água 10 envelopes 10 sulfites A4 canetas

Objetivo geral: Terminar de pintar os bancos da Praça, finalizar a oficina anterior com a reflexão planejada pelas crianças e fazer um encerramento retrospectivo e de despedida para até o ano que vem.

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ROTEIRO 1. FINALIZAR OS BANCOS

3. CARTA PARA DAQUI A UM ANO

(80 minutos)

(40 minutos)

Objetivo Terminar a pintura dos bancos. Descrição da atividade Encontrar as crianças já na praça, e

Objetivo Escrever uma carta reflexiva sobre o que foi este

(30 minutos) - João, Otávio, Stefani, Bianca, Ana Beatriz, Cássio¹ Objetivo Refletir sobre a pintura. Descrição da atividade Sentar em roda e o João e o Otávio Cássio conduzem a conversa sobre a pintura passando pelas seguintes perguntas: - você gostou de pintar? - quais foram os pontos positivos e os pontos negativos? - você sabe o que o outro fez? - o que poderia ter sido feito diferente? - você sabe porquê fez? - ficou bonito?

ano de atividades com o CoCriança no CCA. Descrição da atividade Começar fechando todos os seus olhos e relembrando os fatos do mais recente para o mais distante, quais foram as atividades que fizemos ao longo do ano - cada pessoa que for lembrando, vai falando em ordem aleatória. Depois, individualmente escrever uma carta para si mesmo ler daqui a um ano. Nós, CoCriança, nos responsabilizamos de enviar esta carta para as crianças - ou por Whatsapp, ou por correio mesmo. Pedir para que escrevam pautadas nas seguintes perguntas: - o que você diria para você mesma daqui a um ano? - contar para vocês mesmas como foi o processo de construção da praça - escrever o que aprenderam neste período - como vocês imaginam que a praça vai estar daqui a um ano? - como vocês se imaginam usando a praça? - o que vocês esperam estar fazendo daqui a um ano?

1 O conteúdo escrito dessa atividade foi extraído do Esqueleto de Oficinas escrito pelo grupo de crianças na oficina anterior e reescrito segundo minha interpretação. Tentei deixar o mais fiel possível ao original.

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cada uma termina de pintar um banco que faltou da semana anterior, podendo usar da sua livre criação.

2. CONVERSA


DIÁRIO

Este dia estávamos muito animadas para terminar os bancos da

Terminados os bancos, tiramos fotos e voltamos para o CCA.

Praça com as crianças e fazer o encerramento do ano. Na Praça, como

Ficamos na quadra externa e as crianças manifestavam estar desanimadas,

havia nove crianças, funcionou muito bem, pois tinha um banco para

sentadas todas apoiadas na parede. Começamos puxando uma roda de

que cada uma pintasse individualmente. Como já haviam feito a base

conversa, que foi rapidamente entregue ao João e ao Cássio, dois dos

da pintura na oficina anterior, era só finalizar por cima. A maioria delas

meninos que estavam co-organizando a atividade de encerramento. Eles

começou a pintar imediatamente fazendo linhas, bolas, triângulos ou só

timidamente foram fazendo as perguntas que haviam planejado.

mesmo jogando tinta, mas, conforme o desenho foi criando forma, o resultado não correspondia com o que estava na cabeça delas, e foi difícil lidar com as manifestações de frustração. Uma das meninas começou a chorar, de tão decepcionada que estava; outra decidiu abandonar o desenho… Nós auxiliamos da forma que conseguimos, ensinamos técnicas, ajudamos a pensar em novas soluções. Teve outro grupo que agiu de forma oposta, jogou um monte de tinta e começou a misturar tudo em cima do banco, só quis se divertir com as tintas. Foi curioso as diferentes reações, como algumas delas são muito mais desprendidas da avaliação alheia e do autojulgamento enquanto outras encaram a atividade muito mais rigidez estética.

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JOÃO, ANGELINA E GABI

idade? (João) - Cê sabe por quê fez essa ativ pro povo (Ang) - Pra praça ficar mais bonita, ça. parar de ir no pier. Pra volorizar a pra (Gabi) - Pra ter mais vida. ça. Pra (João) - Pra ficar mais bonita a pra vir mais pessoas. strução - Vila

(Diário de Campo, Oficina 07 de Con Anglo, 2019).


Em complemento a isso nós, facilitadoras, fomos adicionando

da chamada de atenção, foram se abrindo mais para as respostas e

algumas perguntas como “vocês acham que foi melhor pintar em grupo

demonstrando diferentes pontos de vista sobre a atividade.

ou sozinho?”, “teria sido melhor ter feito um rascunho antes de pintar?”.

E elas foram respondendo, mas bem lentamente, sem muito desejo de

olhos e fossem nos ajudando a lembrar o que foi que fizemos, desde o

elaborar a discussão. Nesse momento, demos um toque neles para que

momento em que nos encontrávamos, até o primeiro dia em que nos

nos dessem algum retorno, pois estavam todos desanimados. Depois

conhecemos, quando a Irmã Renata nos apresentou. Foi muito gostoso

Começamos a última atividade pedindo para que fechassem os

ir passando em ordem inversa por todas as oficinas… Percebi que houve um esforço da maioria deles para lembrar.

E, por último, deixamos um papel e caneta na frente de cada

um para que escrevessem uma carta para eles mesmo daqui um ano imaginando como estariam a Praça e contando como havia sido a experiência de construí-la durante esse ano, o que eles sentiram, o que estariam fazendo em um ano, se estariam ou não usando a Praça… E que sinalizassem se nos permitiam ler, para que pudéssemos usar em pesquisa. Eu e a educadora Mari escrevemos também.

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

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4 MEUS SENTIDOS RELATO DE

Sendo este trabalho final de graduação na área urbano-

paisagística da arquitetura, mas em articulação com o campo disciplinar educacional, chego, finalmente, às minhas conclusões sobre o processo do CoCriança como um todo.

Enquanto as avaliações e muito do que apresentei até agora foi

escrito coletivamente, neste último capítulo apresento as minhas reflexões sobre o CoCriança. Entendo, através dos outros materiais acadêmicos que já foram produzidos pelo grupo, a relevância deste trabalho nas variadas áreas, como a da comunicação e da pedagogia. Entretanto, o que eu proponho aqui é uma discussão sobre a formação de indivíduos que vão contribuir para a construção de uma cidade mais justa, igual e inclusiva. E que isso se torna uma verdade à partir do momento em que essas pessoas rompem a barreira da segregação e da fatalidade das coisas como elas estão, e passam a se enxergar como sujeitos ativos no mundo.

É muito importante, dessa forma, avaliarmos qual a realidade

em que estamos inseridos; se ela se encontra como está, o que podemos fazer para mudá-la? Segundo Freire: “A mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio de sua superação, no fundo, o nosso sonho” (FREIRE, 2019, p. 77. Grifo nosso).

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4.1 ANÁLISE DO CONTEÚDO

Dessa maneira, este capítulo contempla primeiro uma análise

Oficinas de Construção

com a intenção de denúncia das situações em que atuamos enquanto CoCriança, sendo uma delas na periferia da Cidade de São Paulo e outra

numa região mais central. E a partir do entendimento desta discrepância

e pudemos ler sobre os processos de cada uma delas, além de tê-

sócio-espacial e da influência que o lugar tem no processo é que iremos

las situado na Linha do Tempo, irei demonstrar qual a configuração

passar para a segunda etapa da discussão: como é que podemos superar

considerada ideal para a metodologia CoCriança (páginas 166 e 167).

a situação e partir para a construção de uma nova realidade, a qual se

Assim como foi feito com as Oficinas de Projeto na redação dos trabalhos

fundamenta na existência de experiências positivas e afetos com o lugar?

de Albardía (2019) e Sawaia (2019), o que escrevo a seguir é fruto de

longas reflexões, avaliações e revisões feitas coletivamente pelo grupo

Ter o direito de experienciar a paisagem em que vivemos através

de atividades que incentivem a liberdade e a criatividade nos constrói

Agora que já fomos introduzidos às Oficinas de Construção

de facilitadoras do CoCriança.

enquanto indivíduos que saibam usufruir da prática cidadã e da vida em comunidade. Indivíduos que percebem o seu lugar no mundo, afinal “a paisagem surge como um fenômeno que integra o homem ao seu espaço de vida” (WEHMANN, 2019, p. 205).

Portanto, através da uma formação pedagógica que caminha

para a autonomia daqueles que buscam o seu direito ao usufruto da cidade, no último momento deste capítulo iremos analisar como uma se relaciona à outra: ser sujeito no mundo é agir de forma autônoma. Isto pois, “exercer a autonomia está diretamente relacionado com o ato de construir relações saudáveis com o mundo e com os outros, permitindonos conectar ao mundo com liberdade e originalidade” (NASCIMENTO, 2009, p. 52).

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Imagem 34: Crianças do CCA Sal da Terra pintam o banco da Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).



OFICINA 01 Como Articular com a Comunidade?

OFICINA 03 Desenvolvendo o Planejamento da Intervenção Após levantadas e planejadas as possibilidades de comunicação com a comunidade local, o grupo de crianças protagoniza na divulgação de seu projeto de co-construção do espaço. Assim, iniciam o primeiro passo para uma intervenção coletiva da paisagem: convidar os agentes locais.

Refletir sobre e planejar quais são as ações possíveis de serem feitas, dentro do grupo de crianças, para informar aos moradores do bairro sobre a reforma do espaço e sobre o início das oficinas participativas de construção, a fim de convidá-los a participar do processo. Além disso, pensar nas necessidades do grupo, articulando hipóteses sobre como as pessoas do bairro poderiam contribuir para a construção.

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Todas as imagens desta página são de autoria CoCriança.

OFICINA 02 Construindo a Comunicação

Levando em consideração os elementos restantes para que a construção do espaço seja concluída, inicia-se o processo de planejamento e intervenção. Sendo assim, a oficina que for co-criada pelas crianças nesse momento, será executada no próximo encontro no lugar da intervenção. Para isso, as crianças são divididas em grupos que ficam responsáveis por planejar ao menos uma atividade para a próxima oficina. Auxiliadas pelo Esqueleto de Oficinas, elas devem discutir sobre o conteúdo, material, tempo, responsabilidades e demais necessidades.


As oficinas 03 e 04 intercalam entre si, passando por todos os elementos previamente determinados pelo projeto, como pintura, brinquedos, plantio, etc, até que a construção do espaço esteja finalizada. Esta oficina acontece no espaço da co-construção. Após terem planejado as atividades que vão acontecer, as crianças experienciam assumir o papel de serem facilitadoras, protagonizando no processo da construção participativa e se responsabilizando pelas ações planejadas pelo grupo.

OFICINA 04 Oficina da Intervenção

OFICINAS DE CONSTRUÇÃO OFICINA 05 Planejando a Festa

Por fim, este é o último planejamento que as crianças fazem relacionado ao projeto. Com a construção do espaço terminada, elas discutem quais os seus desejos e necessidades para conseguir realizar uma festa de inauguração do mesmo. Para tanto, fazem uso dos meios de comunicação previamente desenvolvidos e articulam com a comunidade local, convidando-os à festa.

O último encontro do CoCriança acontece através de uma celebração em comunhão com os familiares, educadores e amigos das crianças, além de todos os demais moradores do bairro. Nesta festa, faz-se uma breve apresentação - preparada pelas crianças - do projeto desde o seu início, a fim de reconhecer o que fizeram e celebrar com os demais convidados presentes.

Celebração: Inauguração do Espaço

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Sendo esta a configuração final das Oficinas de Construção, vale

ficar responsável por uma oficina inteira - correspondente à oficina da

uma reflexão sobre os seguintes pontos:

sua frente. Entretanto, como esta seria a primeira vez que as crianças

A Oficina Retomando o Contato, que aconteceu na Brasilândia,

estariam lidando com um planejamento tão amplo e detalhado, não

permanece na Metodologia CoCriança, contanto que seja considerada

houve um reconhecimento da tarefa necessária, e tivemos que alterar

como “coringa”. Assim, em momentos que o grupo de facilitadoras e de

nossa rota.

crianças tenham passado algum período afastadas - como aconteceu na

O que o CoCriança fez, como já apresentado, foi pedir para

Oficina 01 no Elisa Maria e na Oficina 08 na Vila Anglo1 - faremos uso

que cada grupo de crianças se responsabilizasse apenas por uma das

dela. Ela se apresentou muito eficiente tanto em resgatar a memória das

atividades da Oficina de Intervenção. O que acabou funcionando muito

crianças já presentes no projeto, quanto em introduzir às novas todo o

bem, apresentando resultados surpreendentes descritos ao longo deste

trabalho já feito.

trabalho.

A Oficina Divisão das Frentes de Trabalho não entrará na

Por fim, vale dizer que as oficinas do Elisa Maria, Trabalhando com

Metodologia. As “frentes de trabalho” foram uma forma de dividir as

a Comunidade, aconteceram aos sábados, e foram extremamente

crianças ao longo das Oficinas de Projeto para conseguirem pensar

enriquecedoras para o processo de participação para a construção do

estrategicamente no levantamento de recursos dentro da comunidade.

projeto. Apesar disto, elas não apareceram na Metodologia como uma

“O objetivo foi estabelecer (...) equipes de trabalho que conseguissem

oficina em si, pois acreditamos que esta forma de agregar os moradores

desenvolver de forma autônoma propostas de intervenção específicas

do bairro nas Oficinas de Construção, deveria acontecer todas as vezes

para cada área” (SAWAIA, 2019, p. 158). Como apresentado no capítulo

que estivéssemos no momento da intervenção. Entretanto, isso não foi

anterior, foram elas: brinquedos, arte, jardim e comunicação.

o que aconteceu na Vila Anglo por falta de calendário compatível do

Na tentativa de retomar esse conteúdo para o planejamento de oficinas, o CoCriança pensava que cada grupo de crianças poderia 1 Esta oficina aconteceu em 2020 e, para fim de pesquisa, não entrou na análise geral deste trabalho. Ver anexo I - Vila Anglo, Oficina 08: Retomando o Contato.

168

CoCriança com o CCA Sal da Terra.


MEUS SENTIDOS

Análise das tabelas A tabela de Convergências e Objetivos CoCriança (p. 63) foi muito relevante para a escrita final deste trabalho, pois tirei algumas conclusões sobre a objetividade das Oficinas de Construção. Dessa forma, ao longo de todo este capítulo farei uma breve comparação na frequência com que as convergências apareceram em cada uma das tabelas de falas - do Elisa Maria e da Vila Anglo - a fim de compartilhar com o leitor algumas

educativos que elas convivem. Por esses motivos, nos dedicamos mais na Vila Anglo a trazer atividades que usavam de ferramentas que contribuíssem para uma avaliação individual, num sentido de reconhecer a sua pessoa como ser humano de sentimentos e de ações, sendo estas últimas a forma que se relaciona com os demais do grupo. Como, por exemplo a atividade de Comportamentos quentes e frios, ou a de Introdução e prática do

das observações que fiz. A exemplo do que pôde ser interpretado como resultado das tabelas de análise e que não era algo que eu imaginava encontrar, trago primeiro o número de vezes que as crianças “verbalizam seus

Convergência Verbalização de sentimentos

Elisa Maria 0

0%

Vila Anglo 21,56%

11

sentimentos”. Para nós do CoCriança, as crianças da Vila Anglo tinham uma dificuldade maior em verbalizar o que estavam sentindo, por

feedback2.

isso, acabavam sendo impacientes em suas ações umas com as outras.

Consequentemente, o número de vezes que as crianças da Vila

Partindo do senso comum de poder atribuir este fato à idade delas -

Anglo conseguiram verbalizar o que estavam sentindo é muito maior

11 aos 13 anos -, nós relacionamos esse comportamento à temática

do que no Elisa Maria, que, por falta de atenção nossa, acabaram

das atividades que o CCA Elisa Maria já faz com suas crianças, isto é,

verbalizando seus sentimentos com adjetivos, como no exemplo a seguir:

sentíamos as crianças do Elisa com o coração muito mais aberto para tratar de assuntos coletivos ou sobre as relações interpessoais. Isto porque, vale lembrar que as falas dessas crianças não transparecem apenas ao processo do CoCriança, mas sobre todos os demais ambientes

Homem da escalada: E você, como se sente tendo uma 2 Ver capítulo III. Encontro com as Crianças. Oficina 05 - Desenvolvendo o Planejamento: Pintura. Vila Anglo.

169


escalada dessa aqui?

que no Elisa Maria, a frequência de vezes que as crianças trazem esse

R: Muito legal, para ter mais brinquedo. Tinham poucos

assunto como algo relevante para elas é muito maior. Isso se deve,

brinquedos aqui também, agora tem que ter mais, porque do mesmo

provavelmente, à idade dessas crianças, que no Elisa são cerca de dois anos

jeito que tinham poucos brinquedos, tinha gente que se importava.

mais novas, mas que também não tiveram a oportunidade de conviver

(Informação verbal, Renata. Oficina 08 de construção - Elisa Maria, 2019).

com tantos brinquedos nos poucos espaços livres de seus bairros.

O fator idade, então, pode ser um fator determinante também

É provável que, quando indagada pelo instalador das agarras de

para o motivo pelo o qual as crianças da Vila Anglo assumem uma maior

escalada sobre o que sentia em relação ao novo brinquedo, Renata queria

responsabilidade de ações perante o desenvolvimento do projeto,

dizer que se sentia feliz ou alegre por terem pessoas que, como ela, se

mesmo apesar de este ser um fator que buscamos trabalhar em ambos

importavam com a presença de mais brinquedos na Praça. Entretanto,

os grupos da mesma forma, pois faz parte de nossa metodologia.

ela usa um adjetivo - legal - para tratar de sua emoção.

Convergência Convergência Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem

Elisa Maria 12

18,18%

Vila Anglo 9,80%

Crianças assumindo responsabilidades

Elisa Maria 10

15,10%

Vila Anglo 29,41%

15

5

Além disso, uma convergência que resolvi manter, mas que 13

19,69%

3,92%

2

poderia ter retirado, pois ela não diz respeito às falas das crianças, mas a de nós, educadoras, é a “facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto”. Isto porque, apesar de não sinalizarem quanto ao

Outra constatação que é possível fazer através da análise de

processo que acontece dentro das crianças, essa convergência diz respeito

convergências é a quantidade de vezes que elementos que representem o

à nossa metodologia, que tem como um dos pilares principais o diálogo e

brincar aparecem na fala dos dois grupos de crianças. Podemos perceber

a autonomia. Ou seja, entendemos que, por meio de um diálogo aberto

170


MEUS SENTIDOS

e verdadeiro, estabelecemos com nossas crianças um aprendizado mútuo

Uma outra convergência que achei bem relevante ter aparecido

baseado na confiança, contribuindo para que elas se sintam mais seguras

é a que diz respeito à “paisagem como afeto e vínculo com o lugar”.

e responsáveis para agir de maneira autônoma e consciente:

Como veremos no capítulo 4.3. deste trabalho, em que faremos uma longa reflexão sobre as diferentes percepções das crianças em relação à

Facilitadora: O que a gente tinha planejado pra hoje é: a gente

paisagem, esta convergência evidência a relevância do CoCriança como

vai pintar o grafite, como a gente decidir... E, aí, outra coisa que a gente

um projeto Paisagístico-Educacional. Isto porque, ao expressarem o

tinha pensado era em chamar o pessoal daqui - os vizinhos - para

cuidado que têm com o espaço, as crianças estão reconhecendo o seu

conversar sobre o lixo (...) E aí eu queria saber o quê vocês querem

direito à paisagem, pois valorizam e apreciam o lugar em que vivem, que

fazer (...).

passa a ser um lugar “bonito” e “bom”, assim como na fala de Agatha a

A: Eu acho que a gente podia, primeiro pintar... aí, se a gente

seguir:

terminar de pintar, a gente chama o pessoal pra falar sobre o lixo. “É, pros nossos pais também virem aqui, ficar conversando,

(Informação verbal, Agatha. Oficina 06 de Construção - Elisa Maria,

enquanto nós também podemos tirar nosso dia pra brincar, essas

2019).

coisas. E eu espero que dê tudo certo e que, dessa vez, não destruam

Nesse exemplo, a facilitadora explica a situação para as crianças,

a Praça.

contando que, apesar de terem planejado uma atividade, ela não

Vai ficar bem bonito, bem bom, bem trabalhado. E que dê

acontece exatamente como o esperado, e pergunta qual a opinião das

tudo certo.” (Informação verbal, Agatha. Oficina 04 de Construção -

crianças sobre isto. O que Agatha responde com muita propriedade,

Elisa Maria, 2019).

apontando a solução.

Convergência A paisagem como afeto e vínculo com o lugar

Elisa Maria 8

12,12%

Vila Anglo 13,72%

7

Esta fala de Agatha transparece muitos dos principais objetivos

das Oficinas de Construção. Agora que já passamos por sua conformação final, podemos perceber que, através das oficinas que buscam articular

171


com a comunidade e construir a comunicação do grupo de crianças,

estas passam a ter uma maior certeza na “importância de envolver a

com muito mais autonomia e segurança perante todo o processo de

comunidade no processo”. Mais do que isso, as crianças “reconhecem e

co-construção das praças. Como são elas que planejam e executam as

praticam o seu direito de fala na comunidade”, principalmente quando

atividades, passam a se apropriar muito mais das “tomadas de decisões

saem para fazer as entrevistas, fazendo convites aos demais moradores

sobre o processo” a cada Oficina de Planejamento, e “entendem a

a participarem do projeto que, para elas e para todos, entendem ser de

paisagem como um espaço a ser co-construído”, pois também passam a

grande importância.

se enxergar muito mais como sujeitos ativos no mundo a cada Oficina de

Estas oficinas contribuíram para que as crianças atuassem

Construção.

Convergência

Elisa Maria

Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade

12

18,18%

Crianças tomando decisões sobre o processo

18

27,27%

Vila Anglo 9,80%

25,49%

Convergência

5

Protagonismo no planejamento e na execução de atividades

15

A importância de envolver a comunidade no processo

12

22,72%

27,45%

42,42%

39,21%

20

14

E a última análise que faço sobre as convergências aqui neste

capítulo é a que fala do “protagonismo no planejamento e na execução de atividades” das crianças. É de grande relevância que esta seja a

18,18%

21,56%

11

convergência que mais aparece nas unidades de significado, pois ela é a essência de metodologia que trabalhamos com as Oficinas de Construção.

172

28

Vila Anglo

13

O entendimento da paisagem como espaço de construção

Elisa Maria


MEUS SENTIDOS

4.2 COMO O LUGAR INFLUENCIA NO PROCESSO “(...) que me faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. (...) que as condições materiais em que e sob que vivem os educandos lhes condicionam a compreensão do próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios” (FREIRE, 2019, p. 134. Grifo nosso).

Esta citação de Freire faz alusão a exatamente o que será descrito neste capítulo: o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos influencia - e muito - nos processos de aprendizados e na vida das crianças. Tratando ecologia como “ramo da biologia que estuda as relações entre os organismos vivos e entre os organismos e seus ambientes1”, percebemos ainda mais a relevância que tem uma análise comparativa deste princípio, para que possamos compreender como se desenvolvem as “percepções de paisagem” que as crianças estabelecem com o seu entorno no decorrer do projeto. Ainda baseado em Freire, veremos nos próximos dois capítulos como a experiência da paisagem, de fato, influencia muito na compreensão da criança ao próprio mundo, além de sua capacidade de aprender, responder aos desafios e se aproximar de uma maior 1 Dicionário Michaelis Online (michaelis.uol.com.br), acessado em 16 de julho de 2020.

Imagem 35: Vista da Praça do Samba, crianças do CCA Sal da Terra pedem aos vizinhos um pouco de água para pintar os bancos, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança). Imagem 36: Crianças do CCA Elisa Maria, caminham pelo o bairro para contatar os vizinhos na Oficinas 03 Contruindo a Comunicação, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).

173


autonomia. Portanto, neste capítulo, iremos introduzir essas relações

definitiva para a sua reforma infraestrutural. Ou seja, ao longo desse

das crianças com o seu entorno, destacando as discrepâncias entre os

período, ganhamos e perdemos verbas mais de uma vez. Ninguém,

dois projetos como fruto da desigualdade sócio-espacial que rege São

nenhum político ou empresa tinha interesse em investir seu dinheiro

Paulo, a fim de entender como o lugar influenciou no processo como um

em um lugar desacreditado de mudança. Enquanto isso, a obra na Vila

todo, ao longo desses anos. Para isso, irei compreendê-la como território

Anglo foi iniciada já com a verba de emenda parlamentar concedida.

fragmentado caracterizado pela predominância da lógica capitalista na

Nós, o CoCriança, acabamos por atuar como ponte que conectava os

produção do espaço urbano.

interesses políticos do vereador e a população, uma vez que atuamos

No período dos encontros no Jardim Elisa Maria, na zona

com a metodologia de projetos participativos.

norte, e na Vila Anglo Brasileira, na zona oeste, fomos percebendo

Depois, quando a verba da emenda parlamentar de ambas

como a injustiça e a desigualdade social sistêmica ocorrem em uma

as praças já existia, e achávamos que não teríamos mais como perde-

base multidimensional. A criança enquanto grupo social já é minoria e

la, iniciou-se a fase de licitação. Inseridos na lógica de livre oferta, a

também oprimida, uma vez que todas as relações de poder e ação em

empresa que vier com a melhor proposta financeira para a obra, ganha

nosso contexto partem de uma estrutura adultocentrista. E, para além

a licitação de construção. Porém, o que não sabíamos, é que a Praça no

disso, a cidade é ainda menos possível para as crianças que vivem na

Elisa Maria corria o risco de não ter empresas interessadas. Teriam de ser

periferia, como é o caso do Elisa Maria. Isto é, enquadram-se múltiplos

no mínimo três, e, até o prazo concedido, tínhamos duas. Foi só depois

sistemas de opressão, que nos leva a pensar em distintos urbanos e

da prorrogação limite, que o projeto obteve uma terceira empreiteira e,

distintas infâncias, que, em sua relação, conformam espaços, dinâmicas

finalmente, a obra teve início.

e possibilidades sociais bastante diferentes.

Estamos inseridos em uma lógica de produção que terceiriza os

A primeira grande diferença com a qual nos deparamos foi a

serviços públicos, em que as empreiteiras que constroem no solo urbano,

dificuldade de conseguir verba para a reforma da Praça na zona norte.

agem de acordo com o único interesse do capital: o lucro. E não qualquer lucro,

Levando em consideração que iniciamos o nosso trabalho no Elisa Maria em 2017, foi só no começo de 2019 que conseguimos a verba

174

Imagem 37: Praça do Samba após a reforma da Subprefeitura. Crianças do CCA Sal da Terra terminam de pintar os bancos, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).



um altíssimo e desprendido de ética. Em seu doutorado, Wehmann explica

percebemos que o desinteresse do poder privado nas pequenas e distantes intervenções urbanas, nos impedia de exercer nosso

“(...) as críticas de Lefebvre e Certeau à cidade como espaço de exploração que submete as classes exploradas às estratégias estatais ainda fazem sentido? Com as devidas traduções, sim. Esses processos caracterizam a urbanização capitalista. À medida que determinados agentes

capitalistas

conseguem

direcionar

os

investimentos,

especialmente públicos, para setores de seus interesses, outras áreas da cidade não recebem ou recebem de forma deficiente, fragmentando a cidade em espaços atrativos e os espaços que restam, como resultado de planejamento urbano que não cumpre o papel democrático que lhe é atribuído” (2019, p. 57. Grifo nosso).

Qual seria, então, o papel do Estado? A ineficiência do poder público se alinha ao desinteresse das empresas e fortalece a maneira como a produção do espaço urbano é concebida. A consequência é que algumas regiões fiquem desprovidas da infraestrutura básica, ferindo direitos garantidos na Constituição. Ao final, são reproduzidos em solo urbano os interesses do capital e não os interesses Humanos. Permitindo que o dinheiro dite as regras da nossa cidade e não as reais necessidades de cada lugar.

176

Ao abrir o processo de licitação de ambas as obras,

papel como co-construtoras do espaço público. Não existem empresas interessadas em construir a Praça do Elisa Maria.

Ao mesmo tempo em que o valor de verba destinado

para a Praça da Vila Anglo foi bem maior que o do Elisa Maria, as suas necessidades eram distintas e, pode-se dizer, inversamente proporcionais. A Praça da zona norte exigia reformas infraestruturais: mudanças de nível, escoamento d’água, iluminação. Já a da zona oeste tratou-se de reforma voltada à qualidade da Praça, que já possuía a infraestrutura básica. Esses fatos nos parecem importantes uma vez que, por um lado, escancaram diferenças de investimento, possibilidades e disponibilidades do poder público, reforçando a dificuldade das ações no Elisa Maria e enquadrando-o enquanto periferia também nas prioridades governamentais; e, por outro, demonstra questões estruturais das diferentes condições urbanas nas distintas localizações da cidade.

Dessa maneira, ainda segundo a citação de Wehmann, a Vila

Anglo cumpre com o papel do espaço atrativo, recebendo investimentos de ambos os lados - público e privado -, enquanto o Elisa Maria se encaixa nos espaços que restam, carente de lugares que possivelmente possam

Imagem 38: Praça Livre Para As Crianças após a reforma da Subprefeitura. Crianças terminam de pintar os vasos, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).



se tornar atrativos, pois não há espaços livres, e carente de qualquer

isso, seria importante que as oportunidades se dessem em todos os

investimento. Mesmo a Praça Livre Para As Crianças - por mais que

lugares de forma justa, mas, como vimos, não é o que acontece: o último

tivesse potencial para receber investimentos, pois carecia de qualquer

ponto a refletirmos sobre o processo de financiamento é justamente

infraestrutura que a tornasse atraente aos usuários - é uma praça com a

a oportunidade. Na Vila Anglo, o processo participativo de construção

área cerca de vinte vezes menor do que a Praça do Samba, na Vila Anglo

foi um pedido do poder público - representado na figura do vereador

e, portanto, não cabe receber uma boa quantidade de mobiliário urbano,

-, enquanto que no Elisa Maria, a sociedade civil teve de se auto-

brinquedos, vegetação ou mesmo uma quadra. Isto é, o espaço da Praça

organizar e “correr atrás” de algum agente que pudesse investir no lugar.

Livre Para As Crianças é compacto e não corresponde numericamente às

necessidades que o bairro de fato carece .

que a auto-organização aconteça, é preciso tempo-espaço para tal.

2

Da mesma maneira, para que haja oportunidades para

Entretanto, segundo as atividades em campo do CoCriança, não é

“É neste sentido que se defende aqui que a verdadeira

democratização da produção da cidade demanda o reconhecimento de “cidade oculta” não só como algo a ser mensurado para planejamento de demandas, mas aceito como uma obra coletiva” (WEHMANN, 2019, p. 212. Grifo nosso).

Assim como explica Wehmann, buscando construir uma cidade verdadeiramente democrática, é importante que seu planejamento seja participativo no sentido de se construir uma “obra coletiva”. E para 2 A exemplo do dado “árvores contabilizadas no sistema viário por área do distrito”, exposto no capítulo 3.1 Sobre a Escolha dos Lugares.

178

o que acontece numa cidade segregada como São Paulo: no bairro da zona oeste, diferentes coletivos auto-organizados se engajaram e participaram ativamente da construção coletiva do espaço. Por outro lado, no Elisa Maria encontramos bastante dificuldade de articulação com a comunidade e não pudemos contar com coletivos locais.

A falta do tempo-espaço para uma articulação da sociedade civil,

pode ser um dos motivos para essa menor estruturação dos coletivos locais. Mas a falta de crença na “palavra” ou no retorno do poder público, com certeza desestimula que as pessoas tentem correr atrás da mudança. É por esse desamparo, tanto do poder público, quanto da sociedade civil, que as crianças do Elisa Maria sentem uma maior necessidade da corresponsabilização do cuidado pelo espaço da Praça:


MEUS SENTIDOS

Convergência

Elisa Maria

A corresponsabilização do cuidado pelo espaço público

18

com

15,68%

Ou seja, em um ambiente seguro e propício para a “expulsão”

8

do opressor, a análise do contexto histórico-político-social das crianças contribui para a construção de uma maior autonomia delas. Isto é,

Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros

Consequentemente,

27,27%

Vila Anglo

13

19,69%

1,96%

estimula que exercitem a reflexão crítica sobre a sua realidade e criem um

1

número maior de alternativas ao problema, como podemos perceber: o

menor

envolvimento

da

comunidade local, a Praça Livre Para As Crianças acaba sendo ocupada por usuários de drogas, impedindo que elas possam brincar livremente.

Se tratarmos desta desigualdade urbana como elemento

pedagógico, conseguimos, através da experiência, ter uma discussão muito mais rica e contextualizada de elementos com as crianças do Elisa Maria. Tal processo, segundo Freire (2019)

Convergência A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema

Elisa Maria 17

25,75%

Vila Anglo 9,80%

5

Mais uma vez, nota-se que a frequência com que as crianças do Elisa surgem com “alternativas criativas e conscientes ao problema” é muito maior do que na Vila Anglo. O que me leva a pensar na quantidade de vezes que as crianças do Elisa têm que buscar e lutar para conseguirem

“(...) numa área de miséria só ganha sentido na dimensão

concretizar o que desejam. Não é fácil, inclusive é bastante frustrante,

humana se, com ela, se realiza uma espécie de psicanálise histórico-

voltar à pracinha e nos deparar com boa parte do que havíamos feito

político-social de que vá resultando a extrojeção da culpa indevida. A

destruído ou depredado. Entretanto, este fato nos faz refletir sobre o

isto corresponde a “expulsão” do opressor de “dentro” do oprimido,

que fizemos de errado e quais são então as outras possibilidades para

enquanto sombra invasora. Sombra que, expulsa pelo oprimido,

encararmos este “problema”. Fazemos isso coletivamente, estimulando

precisa ser substituída por sua autonomia e sua responsabilidade”

que as crianças também criem soluções - que as vezes são bem mais

(FREIRE, 2019, p. 81. Grifo nosso).

179


eficientes que as nossas - contribuindo para a expansão de um repertório criativo e eficiente das alternativas traçadas por elas, como quando dizem: “A gente colocou brinquedos - o que faltou. Ai, a gente colocou, tipo assim, a gente conversar com as pessoas do bairro pra ver se alguma dessas pessoas pode ajudar, sabe? Aí, a gente também colocou pra falar com a Prefeitura. (...) Também a gente colocou pra gente mesmo, tipo, pra trazer algo da nossa casa pra... reutilizar” (Informação verbal, Maria Clara. Oficina 10 de Construção - Elisa Maria, 2020).

Na informação verbal acima, Maria cita brinquedos, quando perguntada pela facilitadora sobre o que ela acha que falta na Praça. Em seguida cria alternativas variadas para que consigam ter o seu direito de brincar assegurado, refletindo em mais uma consequência da disparidade sócio-espacial: a Praça na Vila Anglo teve o mobiliário de brinquedos incluso no seu alto orçamento, a do Elisa Maria, não. Partindo da ideia de que o envolvimento com a cidade vai determinar a relação do indivíduo com o espaço urbano, percebemos que as crianças do Elisa Maria sentem-no enquanto um lugar no qual Imagem 39: Crianças brincam no mobiliário de brinquedos instalado na Praça do Samba pela Subprefeitura da Lapa, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança); Imagem 40: Crianças brincam no escorregador de concreto construído pela Subprefeitura da Brasilândia, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).

180

gostariam de estar e vivem e usam muito mais a cidade do que as da Vila Anglo. Nem sempre ela se apresenta adequada a tal, mas as crianças


MEUS SENTIDOS

não a entendem como perigosa ou como um lugar que não deveria ser

criança, adulto, até animais. E a Praça é um lugar aonde a gente não

ocupado por elas e partilham o desejo de poder estar na cidade. Essa

pode destruir. É um lugar onde as crianças vem brincar, os adultos

relação fica bastante evidente em muitas das falas das crianças, como

fazem suas coisas... É bem importante a Praça pra gente.” (Informação

indica a tabela de convergências:

verbal, João. Oficina 04 de Construção - Elisa Maria, 2019. Grifo nosso).

Convergência Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem

Elisa Maria 14

21,21%

Vila Anglo 3,92%

2

As crianças do Elisa reconhecem que também devem ter o “direito à cidade e à paisagem”, ao contrário das crianças da Vila Anglo, que costumam ter esse direito assegurado. Por isso, partindo da vivência na zona norte, tivemos a percepção de que a criança na periferia se apropria mais das ruas e espaços públicos em seu bairro. É ali que acontece toda a sua infância e juventude, muitas vezes por não ter outra opção, a criança da periferia só vive o mundo do seu bairro, que na maioria das vezes é carente de espaços de brincar de qualidade para atendê-la e, assim, aprende a imaginar um mundo e se apropria de tudo a sua volta como uma forma de diversão.

Para essas crianças, a rua deixa de ser espaço estritamente de circulação e ganha maior dimensão, tornando-se espaço de convivência, trocas e enfrentamento de adversidades. É nesse contexto que as crianças, com autonomia, tornam-se protagonistas do seu cotidiano. Elas dominam as ruas que, por sua vez, não são e nunca foram projetadas para serem seguras para elas, mas que, segundo a fala de João, têm a sua devida importância. Partindo de uma necessidade por espaço de brincar, que é muito maior que a das crianças da Vila Anglo, o envolvimento das crianças do Elisa Maria se mostrou mais expressivo desde o início do projeto, uma vez que se apresentava enquanto uma luta por um direito que lhe estava sendo negado, por uma necessidade que, como apontamos, não é (ainda que também o seja legítimo) apenas para desfrutar, mas uma necessidade que vai além e incide nos direitos básicos e fundamentais da criança: o brincar, experienciando a paisagem enquanto relação de afeto. A que afeta e é afetada.

“E também, a Praça é um lugar público, aonde pode ter

181


4.3 PERCEPÇÕES DE PAISAGEM “... perceber uma paisagem não significa recebê-la passivamente, é vivê-la, recolhê-la, assimilá-la, reencontrar seu

os lugares de encontros, onde o coletivo transforma e as relações se estabelecem.

sentido” (LIMA, 2017, p. 300).

Ainda assim, não entendia o significado de paisagem em toda sua amplitude da palavra. Já me é de costume longas experiências de

Quando ingressei na FAU, meu sonho era o de envolver as

imersão na natureza, sou grande amante das plantas e seus processos,

pessoas no cuidado com o espaço público. Isso porque, desde criança,

mas a arquitetura da paisagem ainda ficava um pouco distante para mim,

me lembro de não entender como é que as pessoas poderiam ter medo

mal interpretada pelos paisagismos de revistas, pelos grandes parques,

de andar nas ruas, sujar o que é de todos ou criticar tanto o ambiente

ou na pura contemplação. Até que a Professora Catharina Lima me

em que vivem e serem passivas ao que recebem. A medida que cresci,

recomendou o seu artigo: “O direito ao (in)compressível: arte, cidade,

essa inquietação me fez ir para o campo da arquitetura e do urbanismo,

paisagem e transformação social”.

na esperança de que poderia ser uma pequena - entre tantas pessoas -

agente de transformação urbana.

que é paisagem, segundo as suas variadas interpretações, para que

Entretanto, conforme fui aprendendo, percebi que o

possamos entender a importância de instigar nossas crianças a percebê-

planejamento urbano tem muitos entraves, são muitas regras que

la e assimilá-la, a fim de reconhecê-la como um direito fundamental

deveriam ser cumpridas ou processos lentos de decisões que vão

no direito à cidade. Trarei algumas de suas percepções, que, enquanto

postergando e tornando nossas ações cada vez mais difíceis. O que

trabalhávamos com elas, busquei observar: “quais as diferentes

eu queria, na verdade, era trabalhar a cidade no campo dos afetos.

percepções que essas crianças criam em relação ao espaço?”. Porém,

Era poder transformá-la, engajar mais pessoas e, junto delas, sentir a

conforme o tempo foi passando, entendi que o quê buscava não era só

cidade através do cuidado, criar um vínculo, pois temos direito à poder

analisar as suas percepções espaciais, mas seus conhecimentos sobre

vivenciá-la de maneira positiva. Ou seja, o que eu queria era a pequena

a história, as verdades construídas, as sensações vividas em relação ao

modificação urbana, próxima, de maneira a transformar a paisagem

todo, e a capacidade de se reconhecerem como pertencentes e agentes

local. Para isso, não há melhor maneira de fazê-la do que trabalhando

de transformação desse todo. Por isso, conforme fui pesquisando e

182

Neste capítulo, portanto, irei discorrer um pouco sobre o


MEUS SENTIDOS

mencionei acima, entendi que, na verdade, o que eu teria que observar

da Arquitetura da Paisagem, como síntese estética e socioambiental

como fenômeno eram “quais as diferentes percepções das crianças em

(LIMA, 2017).

relação à paisagem”, a fim de reconhecer a sua importância para a

Porém, quando falamos em paisagem, além de nos remeter à apreciação dela, o uso do termo nos lembra jardins e espaços

educação.

cenograficamente belos. E, ainda, inseridas no imaginário urbano, essas

O que é paisagem?

são as mais populares entre os nossos parques, com elementos da natureza, ambientes calmos e verdejantes.

“O lugar oportuniza a experiência da paisagem, mas não é

Esta definição bucólica de paisagem, tem referência a partir do

idêntico a ela. A paisagem seria a experiência do lugar através dos

Renascimento, quando as cidades esfumaçadas sugeriam a paisagem

afetos, enquanto fenômeno que se forma entre o experienciador e o

campestre como antídoto. As composições de cena, no limite, eram

lugar” (WEHMANN, 2019, p. 105. Grifo nosso).

feitas artificialmente, a fim de que os pintores pudessem concluir a pintura imaginada. Assim, montava-se a “cenografia” das propriedades

Mas, afinal, o que é paisagem? Quando falamos essa palavra

com jardim e paisagens (LIMA, 2017, p. 299).

em alto som, qual a associação imagética que nossos pensamentos

Além disso, Wehmann (2019, p. 106) complementa que, ainda

fazem? Uma colina? Árvores, plantas, vento, talvez pássaros? Por que

nessa época, o conceito paisagem surge “no momento em que a

isso acontece?

humanidade, enquanto sujeito, dissocia-se da natureza, transformada

A paisagem, para Geoffrey Jellicoe (1985), conforma-se a partir

em objeto”. Por tanto, antes existia uma aproximação do ser humano

de variadas instâncias, tais como as características ambientais de um lugar

que, ao existir na natureza, encontrava a si mesmo e sentia-se no

(relevo, hidrografia, vegetação, etc), a sua história econômica e cultural,

mundo, através da contemplação da paisagem, pois identifica-se. Após

o pensar artístico em dado momento histórico, as correntes filosóficas

o Renascimento surge uma distância entre o “eu” e o “mundo”, ou o

da época e o conceito prevalente de natureza na esfera da cultura. Todas

homem e a natureza, que coloca a contemplação da paisagem como uma

essas condições prévias têm, igualmente, sua materialização no campo

maneira de esquecer-se de si e gozar do momento, não mais integrado

183


ao todo e sim, individualizado. Por tanto, ainda hoje, quando falamos em observação da paisagem, remetemos àquela contemplação desinteressada, em que a personagem se senta para apreciar e se desliga do contexto em que está inserida. Muitas vezes, ao nos sentarmos para contemplá-la em meio ao caos urbano, nos desligamos do automatismo apressado, da massificação de informações que nos rodeia, e anestesiamos nossas percepções. Wehmann ainda explica “A dissociação entre o mundo natural, abstratificado e objetificado, e o sujeito, individualizado em sua subjetividade, (...) exigiria a formação de um novo órgão para a percepção sensível. Assim, é a sensibilidade que vai assumir o papel de integração sensível do homem ao mundo que habita, porém em um domínio aonde não cabe a razão, senhora do conhecimento objetivo. A paisagem, nesse momento, assume o sentido de face do mundo, ponto de contato entre dois pólos bem definidos: a subjetividade humana (o homem interior) e o exterior do mundo (aquilo que se pode perceber do mundo) (WEHMANN, 2019, p. 110. Grifo nosso)

Ou seja, se a paisagem é, na verdade, o ponto de contato entre o Imagem 41: Texto de criança da Vila Anglo sobre como foi participar do projeto e como estará em um ano, Oficina Reflexão, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

184

eu e o mundo exterior, podemos dizer que ela é a coexistência entre nós


MEUS SENTIDOS

e o mundo. E é neste sentido que busquei observar as percepções das

Anglo, no último dia de oficina de 2019, a construção da Praça aparece

crianças em relação à paisagem no decorrer do projeto das duas praças.

como tradução do que ela estava criando e expressando ao transformar

Pois, cada criança recebe e assimila o lugar em que vive de diferentes

a sua paisagem. O fato dela amar “ter feito a Praça”, é uma maneira de

maneiras, que acabam, também, por influenciá-las no modo em que vão

grafar no mundo a sua subjetividade, pois quem criou foi ela, através

interagir e atuar no mundo, dando a ele o seu sentido: pois o entregam o

da sua experiência da paisagem. E assim, reciprocamente, o mundo

seu sentir e o significam à sua maneira individual de cada uma.

“grafava” as crianças, pois elas estavam o tempo todo decodificando a

Este entendimento foi também o que transformou a minha

totalidade em que estavam inseridas: as histórias, ao conversar com os

relação com a palavra paisagem. Durante esses anos no CoCriança, me

moradores; a política, ao lutar pela permanência de uma lugar livre de

foi muito importante entender a amplitude que carrega o seu significado

brincar; o lazer, ao transformar o novo uso desse espaço; a sensação,

- que acontece à partir da relação sujeito-sujeito, onde um afeta o outro:

ao perceber cada nuance da nova ambientação; e a estética, ao pintar,

o mundo nos afeta e nós afetamos o mundo, e a paisagem é a totalidade

plantar e, constantemente, limpar, a fim de estarem em um lugar

que percebemos através da nossa expressão.

agradável. Segundo Lima,

Imagem 41: “Eu amei ter feito a Praça. O resultado.

“Dessa forma, a paisagem se oferece, generosamente, à

Eu imagino a Praça daqui um ano ainda legal e do jeito que

experiência estética da fruição desinteressada (para quem tem

“construímos”. E quero terminar de fazer a Praça ano que vem,

tempo livre para experienciá-la), mas, também na chave política

fazer o mosaico, pintar a parte de cima, as escadas e alguns

de uma leitura crítica de mundo, uma vez que as impressões do

lugares... E eu amei criar, fotografar as redes sociais e etc. Eu

homem sobre a terra, nela estão grafadas, por vezes sob camadas

amei a experiência de tudo” (Gabriela Gama, texto da autora,

que aguardam decodificação” (LIMA, 2017, p. 300. Grifo nosso).

Oficina 07 de Construção - Vila Anglo, 2019. Grifo nosso).

No texto acima escrito por Gabriela, uma das crianças da Vila

185


O direito à paisagem “O reconhecimento desse direito é o reconhecimento à cocriação da cidade. (...) é reconhecer a cidade como uma paisagem

“A assimilação da lógica de produção industrial pela sociedade tem seus reflexos nas formas de produzir e pensar a cidade, o mundo construído pelo e para o homem” (LIMA, 2017, p. 303).

habitada e o direito à paisagem, a ser assegurado como elemento fundamental dos processos de apropriação do espaço enquanto valor

O trecho acima evidencia a lógica de construção do espaço

de uso essencial em propostas democráticas de estruturação do espaço

urbano. Segundo Lima, estamos vivendo cidades, produzidas por nós

urbano” (WEHMANN. 2019, p. 33. Grifo nosso).

mesmos, que não nos propiciam o tempo livre. Isto porque, imersos no sistema capitalista, em que “tempo é dinheiro”, ter-se o direito ao tempo

Tomando como partida a paisagem como a totalidade que

livre é um grande privilégio, onde aqueles que conseguem pagar, são os

percebemos através de nossa expressão humana, quando estamos com

únicos que podem fazer uso do ócio. Wehmann (2019) completa quando

as crianças e propomos a experienciação do uso e a reestruturação do

diz que “sob o capitalismo, toda a liberdade será cerceada, inclusive a

espaço urbano através da co-criação, praticamos o direito à paisagem.

do tempo livre. Mesmo o tempo não dedicado ao trabalho deverá ser

Este direito não se dá de forma passiva, ele aparece quando há a

dedicado ao capital”.

participação do experienciador no espaço em que acontece sua vida.

É urgente que tratemos desse tema com nossas crianças, pois,

“É, nós precisamos de um lugar pra se divertir, pra ser mais

vivemos em uma cidade extremamente contraditória. A maioria da

livres. Porque também não é só nós que temos que usar esse lugar,

população vive em uma luta constante, na tentativa de ter seus direitos

pode ser muita gente” (Informação Verbal, Henrique, Oficina 04 de

básicos garantidos - à moradia, saneamento, abastecimento de água, etc.

Construção - Elisa Maria, 2019).

Isto é, a cidade é construída por poucos e para poucos. Nesse contexto, como é, então, que conseguimos assegurar uma relação saudável entre a criança e seu espaço de vida?

Nesse trecho, Henrique contesta seriamente sobre a necessidade do seu direito à ter o tempo livre para poder se divertir. Para as crianças, a lógica do “tempo é dinheiro” não existe; tempo para elas é diversão, é

186


MEUS SENTIDOS

brincadeira, e portanto, deve ser levado a sério. Coloco aqui uma provocação que Lima (CANDIDO, 2007 apud LIMA, 2017) faz em seu texto, quando contraria a frase de Benjamin Franklin de que “tempo é dinheiro”, nos lembrando que “na verdade o tempo é o tecido de nossas vidas”, e disso podemos dizer que as crianças entendem profundamente. Porém, quando inseridos na lógica capitalista, tentamos dar “função” a todo o nosso tempo, pois adultos têm que estar sempre produzindo, nos fazendo úteis, e isso acaba por podar uma de nossas maiores distinções humanas: a criatividade. Imagem 42: “(...) a gente decidiu pintar os bancos e fazer o jardim e o tobogã. Foi muito legal trabalhar com vocês a Praça ficou linda e sem a ajuda de vocês a Praça ia ficar sem vida” (Angelina, texto da autora, Oficina 07 de Construção - Vila Anglo, 2019. Grifo nosso).

Neste relato, conseguimos perceber a assimilação estética que

Angelina faz da Praça linda com a Praça antes sem vida. O que é essa (re)construção material e poética do espaço? Seria uma praça sem vida, uma lugar em que a criança não tivesse a oportunidade de fazer uso dela, de vivenciá-la de forma fruidora e livre? Angelina, por ter tempo para estar na Praça, pôde criá-la, estabelecendo, assim, uma conexão

Imagem 42: Texto de criança da Vila Anglo sobre como foi participar do projeto e como estará em um ano, Oficina Reflexão, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

187


com o lugar que não é só contemplativa porque é linda, mas que passa a ter vida porque existe uma troca afetiva da criança com o lugar. Porém, como a produção das cidades está inserida na lógica capitalista, a construção criativa e coletiva dos espaços acaba sendo comprimida. Fica-se muito mais fácil e rápido, ao planejar o espaço urbano, homogeneizar as demandas construindo na lógica da produção em série. Todos os cidadãos são inseridos numa mesma “caixinha de desejos”, onde o habitar se resume a apartamentos de menor custo; o investimento na locomoção prioritária é o automóvel apenas para o transporte casa-trabalho, trabalho-casa; o atendimento de saúde “ao menos se tem”, ainda que sucateado; e, assim, o lazer acaba sendo reduzido, quando não, esquecido. “Com o repetitivo substituindo a unicidade, o espaço passa a representar o triunfo do factual e do sofisticado sobre o espontâneo e o natural, o triunfo do produto sobre a produção e finalmente o triunfo dos gestos e atitudes repetitivas que transformam o espaço urbano em produtos homogêneos que podem ser vendidos ou comprados. A diferença entre os espaços passa a se dar pela quantidade de dinheiro empregada, reinando a quantificação e a repetição” (LIMA, 2017, p. 303).

Imagem 43: Criança pára e desenha o que vê e o que gostaria que tivesse na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

188

Essa repetitiva construção do espaço, do produto triunfando

sobre a produção, foi uma das nossas questões de projeto enquanto


MEUS SENTIDOS

atuávamos com o poder público, pois há um limite de opções disponíveis

direito dos habitantes a fruir e (re)criar cotidianamente seu espaço de

na restrita Tabela da EDIF1. A quadra deve ser padrão, o parquinho,

vida, parte integrante e essencial do direito à cidade, o direito à realização

padrão, o banco e as mesas, padrão. Que criança é padrão? Como é que

prático-sensível, à base morfológica que permita uma digna vida urbana”.

se desenvolve o lúdico, o brincar, o criar com crianças, quando se têm

Assim, sob a experiência dos afetos cotidianos, paisagem é experiência

sempre as mesmas opções?

estética e, por isso, leitura crítica de mundo, como na fala de Agatha:

Um grande problema que as cidades encontram em padronizar

seus espaços públicos de lazer, é a não apropriação da população do

“Eu acho que vai melhorar bastante a nossa Praça, vai ficar bem

entorno sobre esse lugar. Como a construção é feita numa lógica de cima

bonita. E que seja um espaço tanto pra nós quanto pros pais, pros adultos, pras

para baixo, e os moradores do entorno não participam do processo, o

crianças, pra todos ter um pouquinho de tempo pra brincar, pra se divertir”

espaço acaba por se transformar em um “lugar de ninguém”, pois não há a

(Informação verbal, Agatha, Oficina 04 de construção - Elisa Maria, 2019).

identificação das pessoas com aquele novo lugar que lhes foi “oferecido”.

Por esse motivo, o projeto participativo - tanto com adultos como

Percebemos como melhorar bastante aparece, na fala de Agatha,

com crianças - surge como uma alternativa à padronização mercantil dos

vinculado à bonita, que é um adjetivo estético, formando a sua avaliação do

espaços públicos. Quando trabalhamos coletivamente na construção de

lugar através de uma leitura estética e, portanto, crítica de mundo. Além disso,

um lugar, há um longo e gradual envolvimento da população, que vai

em sua fala, Agatha associa a melhora positiva da Praça com o fato de que

sendo aprofundado durante o processo. As pessoas, no decorrer dessa

mais pessoas poderão se divertir no espaço, lembrando que isso só é possível

criação coletiva, desenvolvem uma relação afetiva pelo espaço, que

se tiverem um pouquinho de tempo para fazê-lo. Isto é, o direito à paisagem,

acaba por trazer a sensação de pertencimento e de valorização.

também, remete ao lazer, que implica na existência do espaço-tempo para tal.

Segundo Wehmann (2019), “o direito à paisagem seria assim o 1 (Departamento de Edificações) Tabelas de Custos Data-Base Julho de 2019, usada para os projetos da Praça Livre Para as Crianças e Praça do Samba. https://www. prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/obras/tabelas_de_custos/?p=288573 (acesso em 28/05/2020).

Por trás dele, além da sua própria fruição e construção humana, estão também questões políticas de direitos trabalhistas, que asseguram a possibilidade do ócio. Ou, ainda, do direito ao brincar das crianças. Enquanto desenvolvíamos as oficinas com as crianças, sempre

189


soubemos da importância de estarem cada vez mais autonomamente se

sendo assim, deve-se construir relações afetivas com o lugar em que se

apropriando do espaço público que nunca lhes foi livre ou de estar. Que

habita, pois, elas formam nossas memórias e nos fazem sentir vivos e

direito à cidade é concebido a uma criança que tem medo de sair de casa?

pertencentes ao meio em que estamos, como na fala de Wendell:

Ou a uma criança que, para poder estar na rua, tem que “competir” com carros em alta velocidade ao procurar um pequeno espaço para brincar?

“Nós estamos na nossa Praça mostrando como que eles estão reformando. Nossa Praça está sendo reformada graças aos moços que

“[A Praça] é um lugar que as crianças podem brincar... Porque,

estão ajudando” (Diário de Campo, Wendell, Oficina 4 - Elisa Maria, 2019).

na rua, tipo, passa muito carro, então não dá pras crianças brincarem. Então, aí a Praça é pras crianças brincarem, se divertirem” (Informação Verbal, Tiffany, Oficina 4 - Elisa Maria, 2019).

Inúmeras vezes, quando fazem alusão à Praça, as crianças usam o pronome possessivo nossa, expressando essa sensação de pertencimento que foi desenvolvida ao longo de todo o projeto entre a

“É muito engraçado, hoje em dia vocês [adultos] falam que as

criança e o lugar em que habitam. Segundo Wehmann (2019), ao cuidar

crianças só ficam na internet, mas e nosso espaço para a gente brincar?

de um lugar, cultivá-lo, através da ação transformadora consciente,

Vocês não ajudam!” (Informação verbal, Edgar, Apresentação de teatro

estamos fixando-o como marco de paisagem. Essas experiências da

na festa - Elisa Maria, 2018).

paisagem, especialmente da infância, determinam nossas memórias espaciais e funcionam como parâmetros de valoração do lugar.

Na fala de Edgar - construída coletivamente pelo grupo da sala

As experiências da paisagem, para além de formarem a nossa relação com

para apresentação de teatro na Praça Livre Para as Crianças - existe o

o lugar em que vivemos, nos forma também como sujeitos no mundo. Isto é, elas são

tom de reivindicação quando ele contesta sobre o direito da criança a ter

uma série de marcos que vão constituindo a nossa identidade. Para tanto, é de extrema

um espaço livre que possam brincar. O direito à cidade, a poder usufruir

importância propiciar situações em que as crianças experienciem a paisagem, e sobre

do espaço público como cidadão, a poder permanecer em qualquer

isso, falaremos mais no capítulo 4.4 em “sobre educação e ser sujeito no mundo”.

um de seus bairros e se locomover entre eles, é um direito de todos. E

190

Imagem 44: Crianças plantam mudas durante a Oficina Plantando! na Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).



Educação e paisagem

dizer que o que viemos fazendo com essas crianças é também uma estratégia política. Política, pois as incentivamos a usar o espaço público

Este item de capítulo diz respeito a tudo o que foi até agora

de maneira a fruí-lo, não só por serem crianças, mas também porque

falado em relação ao direito à paisagem dessas crianças e sobre o que

esse é um dos direitos do cidadão; de maneira a criá-lo coletivamente

discutirei nas “conquistas de autonomia ” adquiridas por elas ao longo

e não a reproduzi-lo como se fosse um produto, já que para poder

do processo. Para tanto, transcrevo um parágrafo de Wehmann:

criar, é necessário também envolver-se e perceber a essência do lugar.

2

O fazemos através do “tempo livre”, com atividades lúdicas e artísticas, “(...) compreendo que o controle do tempo é parte da

que estimulam as crianças à autonomia e à criatividade. Ou seja, cada

estratégia de restrição da liberdade e controle das opções daqueles

vez mais, elas vão se desalienando da não-percepção da paisagem e

que não controlam o sistema. O tempo livre é o tempo da autonomia

caminhando para interpretá-la e, subjetiva e criativamente, concebê-la

e da criatividade, da des-alienação - é perigoso a um sistema para o

reconhecendo o seu direito e o dos outros, como quando dizem:

qual o inesperado representa uma ameaça ao lucro previsto. É nesse sentido que o uso do tempo para a experiência da paisagem é tão

“Eu acho que a gente podia conversar com eles [moradores

insurgente: uma decisão autônoma cujos resultados não são passíveis

de rua], porque eles, sabe, pegam o lixo, essas coisas e transformam

de mercantilização, e que fomentam a re-interpretação do espaço como

em bastante coisa. Então, acho que a gente podia pedir a ajuda deles

lugar, ponto de encontro entre estratégias e táticas” (WEHMANN,

também, pra eles ajudarem, a tipo, procurar as coisas pra gente

2019, p. 50. Grifo nosso).

reciclar e fazer, sabe, os brinquedos, os lixos... e eu acho que se eles participarem, eles não vão querer destruir uma coisa que eles ajudaram

Considerando que ter espaço para o tempo livre antecede ao que chamamos de ação criativa, e que a autonomia e a criatividade são

a fazer” (Informação verbal, Agatha, Oficina 01 de Construção - Elisa Maria, 2019. Grifo nosso).

imprescindíveis para a construção coletiva de um espaço público, posso 2

192

Ler capítulo 4.4 Conquistas de Autonomia.

Neste trecho, Agatha acredita que os moradores de rua podem


MEUS SENTIDOS

criar coisas também, a partir do lixo, o que possibilitaria a reciclagem,

trabalhar com elas que, como cidadãs, têm direito à paisagem, mais isso

a construção de brinquedos e de lixeiras. Ela sabe que, se houver o

se torna uma realidade e, assim, passam também a compartilhar o seu

envolvimento dos moradores de rua, eles irão cuidar também da Praça

espaço para que outros tenham direito a ele. Isto é o que Freire (2019, p.

que eles ajudaram a fazer, assim como aconteceu com ela. Ou seja,

124) chama de uma “ética universal do ser humano, pela qual devemos

nesta fala, a criança reproduz, autonomamente, os valores que foram

lutar bravamente se optamos, na verdade, por um mundo de gente”.

passados a ela. Ela sugere uma alternativa criativa e consciente ao

Wehmann (2019) escreve que as paisagens compartilhadas se

“problema” que é a ocupação da Praça pelos moradores de rua, com a

formam pelo afeto que os moradores do bairro estabelecem durante

intenção de envolvê-los também na construção do espaço coletivo, a fim

a “defesa” ou a “luta” destes lugares, que passam a ser espaços de

de desenvolver uma co-responsabilização de cuidados a partir de uma

identidade compartilhada pela a comunidade:

relação afetiva. A medida em que as crianças passam a se preocupar também

“(...) os lugares citados como paisagem da comunidade são

com os moradores de rua, pensando em meios de incluí-los - e não

objeto da ação política dos moradores, que se fazem ouvir por amor

os colocar à margem do projeto, como é costumeiramente feito pela

aos “seus espaços”. Ao permitir a expressão de si enquanto membro

sociedade - elas estão atuando politicamente. Isto, porque, ao “romper”

autônomo e ativo da comunidade, suscitam perguntas: Por que eu não

com o condicionamento pré-estabelecido do cidadão “marginal”, as

tenho direito à essa paisagem? Por que a prefeitura não nos consulta?

crianças estarão suscetíveis a questionar esta ordem desigual que rege

Por que eu não posso, mas o “bacana” pode?” (WEHMANN, 2019, p.

a sociedade.

2016. Grifo nosso).

A importância deste projeto, o CoCriança, consiste em educar as crianças para que atuem hoje e depois como cidadãos que rompam com

o que Wehmann (2019) chama de uma cidade segregada e desigual, pois

compartilhado e - através da metodologia CoCriança - compreendem que,

essa cidade expressa as relações de uma sociedade igualmente segregada

para que o seja e para que a mudança de fato aconteça, os moradores

e desigual. Nesse sentido, quanto mais nós, como educadoras, buscamos

do bairro devem também participar da sua construção. Por exemplo,

As crianças entendem que esse espaço deve ser um lugar de uso

193


quando perguntam a opinião dos vizinhos e a sua disponibilidade para

“A gente tá fazendo o cartaz... da Praça e, também, [estamos]

ajudar na construção da Praça, a fim de também envolvê-los, como

passando na rua, falando, assim, sobre a Praça, que a gente vai

aconteceu durante as entrevistas:

construir uma praça pras crianças. E que isso a gente tem que valorizar, não estragar essa Praça” (Informação verbal, Ana Clara, Oficina 03 de

S: Você conhece a Praça do Samba?

Construção - Elisa Maria, 2019).

Morador: Conheço. S: O que você acha do bairro? Você gosta de morar aqui?

Ana Clara, nesta fala, manifesta a importância que tem a Praça

Morador: Gosto muito. Moro há 24 anos.

Livre Para As Crianças no contexto em que está inserida, e que, portanto,

S: O que você acha que poderia mudar na Praça?

deve ser um espaço de cuidado e reconhecimento pelo valor que tem.

Morador: Só diversão pra criança. Sem negócio de samba, de bagunça. (...)

Criar a oportunidade para que, já na infância, essas crianças entendam a importância de atuar propositivamente na cidade, no meio

A: Tá, a gente queria... a gente tá chamando algumas pessoas

em que vivem, lhes dá ferramentas para uma convivência menos desigual e

pra ajudar nessa segunda parte da reforma, que é pintura, e a gente

segregada na cidade. Esta oportunidade acontece quando existe o tempo-

queria saber se você queria ajudar a gente.

espaço para as contínuas experiências de paisagem, que aos poucos,

Morador: Hoje não. Mas volta, pode passar, que eu ajudo!

facilita para que a criança se reconheça como sujeito ativo no mundo.

(Informação verbal, Stefani, Ana Beatriz e morador. Oficina 04 de

Sobretudo, como sujeito de direitos, indivíduo de opiniões e de ações,

Construção - Vila Anglo, 2019).

portanto, político. Contribuindo para a formação da sua autonomia. Por estes motivos, a construção da noção de direito à paisagem

Ou ainda, como explica Ana Clara ao espectador do vídeo criado

da criança caminha junto de uma educação para a autonomia. Afinal,

coletivamente pelas crianças, enquanto cria cartazes para divulgação no

“como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico,

bairro:

social, dos educandos?” (FREIRE, 2019).

194

Imagem 45: Crianças pintam os pneus que vão virar vasos na Oficina Construindo com a Comunidade II, Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).



4.4 CONQUISTAS DE AUTONOMIA “Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. (...) A

Ao brincar, as crianças dialogam com o mundo. Seu corpo é o

autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é

interlocutor desse diálogo, e a paisagem a totalidade que acontece entre

vir a ser. (...) É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem

o experienciador - criança - e o mundo. Ao vivenciar, brincar e construir

de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da

esta paisagem coletivamente, estamos incentivando nossas crianças a

responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas de liberdade”

movimentar os seus corpos no espaço e buscarem a sua autonomia.

(FREIRE, 2019, p.105. Grifo nosso).

Segundo Harvey “ao produzirmos nossas cidades, estamos produzindo a nós mesmo” (HARVEY, 2004, p. 210), ao produzir nossa cidade enquanto

No decorrer de meu trabalho, enquanto estudava o direito

criança, começa-se o amadurecimento desse processo que é o de “se

à paisagem, sempre soube que meu objetivo seria contribuir para a

enxergar no mundo”, que vem através dessas experiências por elas

formação da autonomia dessas crianças. Isto, porque entendo que um

vivenciadas.

dia não estarei mais lá para ajudá-las a lutar pelo direito a se ter um

Neste capítulo, irei falar sobre essas experiências que tivemos

espaço livre e público de brincar. Por tanto, co-criando o caminho para

com nossas crianças durante o projeto, e que foram significativas para

tal, CoCriança e as crianças juntas, fomos construindo esse direito.

a contribuição de suas formações como sujeitos no mundo. Para tanto,

Na etapa de construção das oficinas, principalmente, tentamos

cada item deste capítulo dialoga com algumas das propostas que Freire

passar para elas todas as responsabilidades que se deve ter ao

traz em seu livro “Pedagogia da Autonomia”, que cruzam com as ações

reivindicar e construir coletivamente um espaço. Mas foi só depois de

e relações por nós vividas enquanto construíamos coletivamente cada

ler Paulo Freire, “Pedagogia da Autonomia”, que percebi que autonomia

uma das praças e que, portanto, cruzam com as experienciações da

e direito à paisagem devem caminhar juntas mesmo. Isto é, se queremos

paisagem.

contribuir para a formação de uma infância cada vez mais autônoma, pois se reconhece como sujeito ativo no mundo e, portanto, de direitos, devemos estimulá-las a experiências que proporcionem esta vivência de mundo - que como já vimos -, vivências da paisagem.

196

Sobre educação e experienciar “Os

espaços

onde

meus

interlocutores

relatam

as


MEUS SENTIDOS

experiências de paisagem são (...) aqueles conhecidos e re-conhecidos

João e seus colegas, nesta citação, fazem uso do pronome

pela continuidade das experiências. Cada novo aspecto experienciado

possessivo “nosso”, pois entendem não só o lugar - a Praça - como deles,

adiciona ali nova camada, aprofundando a relação entre o indivíduo e

mas também a criação do vídeo como um todo. Este é um momento da

o mundo (...).

oficina, que justamente entregamos nossos equipamentos de filmagem

É a partir dele que se estabelecem vocabulários estéticos e de entendimento do mundo, estabelecendo as diferenças e os limites

às crianças para que elas próprias protagonizem e experenciem como é que se registra um processo co-criado.

entre os “seus” espaços, que o identificam, e os demais, construindo

Essa experienciação que propomos às crianças acontece, então,

essas experiências como parte de si mesmo - parte da sua história

não só numa relação entre a criança e o lugar, mas também entre a

que se entrelaça e o ancora no mundo através do lugar.” (WEHMANN,

criança e os variados papéis que elas devem assumir durante a co-criação

2019, p. 215. Grifo nosso).

com a comunidade deste lugar, levando em consideração que este é um espaço público e que, portanto, quanto mais envolvimento tiver, mais

Segundo Wehmann, quanto maior a continuidade de

pessoas assumirão também a identidade com o mesmo.

experiências que vivemos em um lugar, mais aprofundada se estabelece

Isto porque, na metodologia CoCriança partimos da premissa de

a nossa relação com o mesmo. Por tanto, o longo processo do projeto

que a realidade, a paisagem em que vivemos, será transformada, pois

participativo é de fundamental relevância para a construção dessa

somos sujeitos ativos e de voz, e portanto, nós praticamos a mudança

identidade que acontece como resultado do entendimento que o

que queremos ver acontecer. Segundo Freire, o importante para esse

indivíduo cria nos espaços que estabelece como “seus”. Como na fala de

processo é trabalhar a autonomia do educando:

João, quando introduz o vídeo co-criado pelas próprias crianças:

“É preciso (...) que o formando, desde o princípio mesmo

“Esse é o nosso segundo vídeo do nosso canal da nossa Praça”

de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também

(Informação verbal, João, Oficina 04 de Construção - Elisa Maria, 2019).

da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

197


produção ou a sua construção” (FREIRE, 2019. Pág, 24. Grifo nosso).

Quando, durante as Oficinas de Construção, as crianças se tornam responsáveis por criar as atividades e conduzi-las, estamos incentivando a possibilidade da construção de um saber que, ao ter de comunicar ao colega, a criança precisa fazer um esforço ainda maior para se apropriar do que antes foi passado a ela. Nós, facilitadoras, assumimos um papel de auxiliar, tentando sempre mostrar que o que é por elas trazido tem tanto valor quanto o que é trazido por nós. Tudo é recriado, repensado e reaprendido coletivamente, resultando numa validação por elas mesmas do que antes foi passado por nós. Nas palavras de Freire (2019, p. 117) elas se tornam capazes, como sujeitas cognoscentes, de inteligir e comunicar o inteligido: J: É... enquanto a gente vai andando até a Praça, vejam as cores das paredes, desenha... Pra gente ter umas ideias, pra quando for desenhar lá. Facilitadora: Pra ir observando as cores? J: É. [e fala baixinho] Que vergonha… (Informação verbal, João, Oficina 06 de Construção - Vila Anglo, 2019). Imagem 46: Meninos filmam e entrevistam os amigos durante a Oficina Construindo a Comunicação, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança); Imagem 47: Meninas pintam cada uma o seu banco na Praça do Samba durante Oficina de Reflexão, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

198

Neste diálogo, João faz um esforço para comunicar às outras


MEUS SENTIDOS

crianças qual é a proposta da atividade que ele e seu grupo criaram.

também, que vão aprendendo. É importante que as deixemos livres para

Ele sente vergonha, pois está assumindo um papel que normalmente

que coloquem suas vontades no mundo e que aprendam não só pela

não lhe é concebido, logo, não se sente confortável em assumi-lo. Mas,

teoria, mas pela prática, que as vezes implica em errar.

mesmo assim, João faz o esforço de passar aos outros, pois essa foi a responsabilidade que ele combinou com o seu grupo.

Neste caso, ficaram tão entusiasmadas com tamanha liberdade e pintaram com tanta ansiedade que, o que haviam vislumbrado em

Esta troca de papéis nos permite construir juntas, educadoras e

suas cabeças não correspondia ao que viam esboçado em seus bancos.

crianças, a elaboração de um novo conhecimento, pois estimula que as

Uma delas chorou frustrada, outras duas fizeram que iriam abandonar

crianças passem pela experiência de exercer um papel que normalmente

a pintura.

não lhes é concedido: de produtoras do saber. Algumas delas estão tão

Há vezes que, se deparando numa situação dessas, tenhamos

desabituadas a estar nesse lugar que, quando simulamos que ali estejam,

vontade de pegar o pincel e terminar o desenho para a criança,

acabam se auto sabotando. Foi um caso na Praça do Samba, quando

“resolvendo o problema”. Mas, na verdade, se queremos contribuir para

estávamos terminando de pintar os bancos na Oficina de Reflexão:

a sua formação, a única maneira de ajudá-la é oferecendo materiais e auxílio para que ela mesma traga a solução, usando a sua inteligência, a

G: Bianca, eu não sei por onde começar... Bianca, o que é que eu faço agora?

fim de que se aproprie do conteúdo. Entendo que, neste caso, as crianças tiveram raiva do que

B: Eu não sei... É que a tinta não tá nem ficando preta, como

estavam criando, pois, na verdade, amavam e se identificam com aquela

eu pensei… (Informação verbal, Gabriela e Bianca, Oficina 07 de

criação que, no fim, não correspondia com o que haviam imaginado. Não

Construção - Vila Anglo, 2019).

é fácil, ao educando, assumir a radicalidade do seu eu. “Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador,

Apesar de as termos deixado livres para criação, as meninas

criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar”

não tinham repertório técnico para mexer nas tintas, afinal, elas nunca

(FREIRE, 2019, p. 42). Mas cabe a nós, educadoras, propiciar condições a

haviam pintado bancos de concreto antes. Mas é assim, experimentando

vivencias em que se assumam, olhando para seus erros e acertos durante

199


o aprendizado, como na reflexão que fizemos ao final desta oficina no dia:

Sobre educação e a reflexão crítica sobre a prática “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da

Facilitadora: E pintar sozinho, foi fácil?

relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blá-blá-blá e

Todos: Não.

a prática, ativismo” (FREIRE, 2019, p. 24).

Facilitadora: É mais fácil sozinho ou em grupo? Todos: Em grupo!

A fim de relacionar tanto teoria quanto prática, o CoCriança

Facilitadora: Por que?

busca, como projeto educador, contribuir também para uma formação

J: Porque deu pra conversar.

crítica das crianças. Cada oficina na metodologia é planejada com três

S: É, tipo, sozinho demora mais pra você pensar a situação

atividades principais: 1. Aquecimento/integração; 2. Planejamento/

(Informação verbal, João e Stefani, Oficina 07 de Construção - Vila

mão na massa; 3. Reflexão/avaliação. Neste capítulo, refletiremos sobre

Anglo, 2019).

a importância deste terceira bloco, em que o que foi produzido pelas crianças tem um tempo para por elas ser profundamente sentido e

Aqui, podemos perceber como as crianças avaliam que teria sido

compreendido.

mais vantajoso fazer a pintura do banco se tivessem feito uma conversa antes disso, para criarem coletivamente. Portanto, ao convidá-las a

Facilitadora: Mas e depois? Acaba com uma atividade grande?

experienciar, sentir-se produtoras de saber e criadoras da materialização

S: Eu acho que depois a gente conversa sobre o que a gente

de espaços, devemos acolher a maneira que essas crianças lêem e lidam

fez. (Informação verbal, Stefani, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo,

com o mundo. Para tanto, a experenciação deve sempre vir acompanhada

2019).

do exercício de reflexão crítica sobre a prática, a fim de fundamentar o conhecimento.

Neste diálogo, a facilitadora explica às crianças como é que funciona a estrutura das oficinas, pois este é um momento essencial para que elas mesmas possam planejar a delas. Stefani, já reflexiva sobre

200


MEUS SENTIDOS

o projeto, responde que sempre há uma conversa sobre o que foi feito

vive nos demais homens, e o que diferencia um homem dos demais é

durante o dia.

a forma como as ideias resplandecem em cada homem em particular.

Segundo Freire (2019, p. 38), todo entendimento implica,

(...) O pensar (...) não é individual como o são ter uma sensação ou

necessariamente, comunicabilidade. Ou seja, não há como digerirmos o

sentir (perceber). O pensar é universal e ganha o caráter individual

que foi trabalhado em oficina, se não sentarmos para ter esse precioso

em cada homem na relação que estabelece com os sentimentos e as

momento de reflexão, em que não só desafiamos cada criança a

sensações particulares” (MUTARELLI, 2014, p. 72. Grifo nosso).

verbalizar o que pensa sobre a atividade do dia, mas, principalmente, o que sente em relação a isso. Este gesto permite que elas elaborem as

Neste caso, entendemos o tamanho da importância dessas

suas próprias versões do que lhes foi ensinado, como faz Stefani:

discussões em grupo após cada atividade. É um momento de reflexão, em que todas as crianças já passaram pela observação ou experienciação

“Eu me senti muito feliz porque por mais que... Não, eu gostei que a gente conseguiu fazer o que a gente queria mesmo, o nosso objetivo, e é isso aí.” (Informação verbal, Stefani, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo, 2019).

Muitas vezes, propomos ainda, que essas discussões ocorram em roda, para que cada criança tenha o desafio de comunicar o seu entendimento. Assim, deixamos de transferir o conhecimento e passamos a coparticipa-lo. É o que explica Rudolf Steiner, quando fala sobre a educação antroposófica “O mundo das ideias que está em meu íntimo é o mesmo que

Imagem 48: Momento final da oficina: roda de feedback, na Oficina de Planejamento: Pintura, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).

201


e que as sensações - únicas - serão compartilhadas, apontando a

Dessa forma, quanto mais exercitamos a capacidade de indagar, de

individualidade de cada uma.

comparar, de refletir, de duvidar e de aferir, “mais crítico se pode fazer o

(...) bom-senso” (FREIRE, 2019, p. 61).

A prática então, segundo Mutarelli, é universal, pois ela se coloca

ao alcance de todas. Mas, a maneira que cada uma vai fazer a conexão daquilo que lhes foi oferecido com o seu interior, é único, e portanto, individual.

Sobre educação, rebeldia e criticidade “O necessário é que (...) o educando mantenha vivo em si o gosto

V: Eu me senti feliz, porque tipo, a gente tava trabalhando todo

da rebeldia que, aguçando sua curiosidade e estimulando sua capacidade

mundo junto, conversando, dialogando, daí a gente tava mais... como

de arriscar-se, de aventurar-se, de certa forma o “imuniza” contra o poder

que eu posso dizer? Mais junto, mais…

apassivador do ‘bancarismo’” (FREIRE, 2019, p. 27. Grifo nosso).

Facilitadora: Unido? É união é um sentimento também

Podemos entender a importância pela rebeldia a que Freire

(Informação verbal, Vinícius, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo, 2019).

se refere, quando observamos as diferentes manifestações ao projeto

Nesta citação, Vinícius faz um esforço para conseguir verbalizar

que têm as crianças do Elisa Maria e as da Vila Anglo. Na Vila Anglo, a

aquilo que sentiu durante a prática coletiva de planejamento da atividade.

Praça está conservada e a população a mantém assim. Houve, inclusive,

Neste dia, todos fizeram o planejamento junto com o seu grupo, mas

no dia em que retornamos após as férias de janeiro1, um apontamento

apenas Vinícius verbalizou ter sentido uma união entre eles.

pelas crianças de que o aro da cesta de basquete estava quebrado, e

Essa transformação interna que ocorre durante a avaliação

que deveríamos consertar. Curiosamente, no mesmo dia, saindo da

crítica sobre a prática contribui para que cada criança vá desenvolvendo,

Praça, vimos um grupo de quatro homens grandes carregando um aro

ao longo do processo, o bom-senso. Pois, assim como exercitamos com

se dirigindo para lá. Perguntamos se eles estavam indo levá-lo para a

eles a técnica para uma construção coletiva, exercitamos também o reconhecimento daquilo que estão sentindo em relação às suas ações.

202

1

Oficina 08 - Retomando o Contato, 2020.


MEUS SENTIDOS

quadra e um deles respondeu: “nóis quebrou, nóis vai consertar”. Já no entorno da Praça Livre Para as Crianças, ainda não se

tals, ai acho que eles vão se tocar, vão ver” (Informação verbal, Agatha, Oficina 10 de Construção - Elisa Maria, 2020).

conseguiu colocar em prática essa consciência de bairro ou de cuidado pelo espaço público, o que se têm são apenas alguns indivíduos de

Um dos nossos desafios, enquanto educadoras, é estimular essa

resistência. Por isso, resta às crianças que se politizem com mais afinco,

rebeldia como ponto de partida para a mudança, mas estando atentas

reforçando sua insubmissão e crítica à realidade que lhes é condicionada,

para que essa postura rebelde não se estagne. Isto porque, rebeldia pura

como na fala de Agatha sobre a situação da Praça, no dia em que

e simples pode terminar em falta de respeito.

retomamos as atividades:

No caso das crianças do Elisa Maria, a rebeldia deve se alongar até termos uma postura revolucionária, como é a de Agatha na citação acima. Há

“Esse é o ruim, porque as pessoas reclamam, reclamam, que

uma leve limiar entre as duas, “a rebeldia é ponto de partida indispensável,

a gente não tem nada, não tem praça, não tem coisa pras crianças se

é deflagração da justa ira, mas não é suficiente” (FREIRE, 2019, p. 76). Como

divertirem... mas quando tem, eles vão lá e destróem!” (Informação

acontece nesta última fala de Agatha, que imediatamente aponta a solução

verbal, Agatha, Oficina 01 de Construção - Elisa Maria, 2019).

crítica e estratégica para aquilo que lhe é um desafio. Por tanto, precisamos estar atentas para construir com as crianças também esta posição crítica

São, constantemente, indignadas e frustradas pelo modo em que os adultos do entorno depredam a sua Praça. Isso gera nelas uma rebeldia contra a forma como as coisas se dão, que as estimula a tentar maneiras variadas de soluções a cada vez que uma das anteriores não funcionou:

sobre a realidade, anunciadora de nossos sonhos, capaz de transformar porque não aceita e revolucionária, pois anuncia a superação. Nos cabe, então, estimular essa inquietação, esta curiosidade e persistência para que, cada vez mais, elas sejam capazes de se emancipar da heteronomia e conquistarem a capacidade de intervir no mundo. Pois a

“E tem que ir lá né? Porque não adianta! Tem que ir, pra usar,

situação que se encontram não é “destino certo ou vontade de uma força

ai provavelmente vai ter que pintar tudo de novo, por as plantas lá

maior”, tampouco é uma fatalidade. Aproveitamos o descuidado do poder

de novo... (...) Se a gente ir lá quase todos os dias, lá brincar, ir lá e

público em investir na infraestrutura básica de seus bairros, para levantar

203


discussões de, por exemplo, motivos pelos quais as pessoas tendem a

“A boniteza de ser gente se acha, entre outras coisas, nessa

descartar o lixo na calçada, criando pontos de acúmulo de resíduos, os

possibilidade e nesse dever de brigar. Saber que devo respeito à

conhecidos “pontos viciados de lixo”. Ou, de por que este lixo acumulado

autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática em

contribui para que os nossos rios sejam todos poluídos? Ou ainda, como

tudo coerente com este saber” (FREIRE, 2019, p. 60).

a localização urbana de nossa praça implica nos interesses econômicos e políticos vigentes no lento processo de licitação do projeto?

Enxergar junto com as crianças essa possibilidade de brigar

pelo que a elas é de direito, realmente, é a maior boniteza na prática “(...) necessária e urgente se fazem a união e a rebelião das

da metodologia CoCriança. Assim, lutamos pelo direito dessas crianças,

gentes contra a ameaça que nos atinge, a da negação de nós mesmos

como cidadãs, por um espaço livre e público destinado a elas e por

como seres humanos, submetidos à fereza da ética do mercado”

elas construído, pois, mesmo crianças, também são seres de vontades

(FREIRE, 2019, p. 125).

e conhecimento. Como também, pelo direito à periferia da cidade de também ter e poder usufruir de um espaço digno de lazer.

Sobre este ponto, podemos entender a relevância que se tem

É por essa e outras razões que trabalhamos com a educação, com

em criar situações e oferecer ferramentas para que as crianças possam,

a transformação do espaço urbano e com a reivindicação do que é nosso e

ao longo do projeto CoCriança, lutar pelo seu direito à paisagem. Direito

das nossas crianças por direito. Juntos vamos desenvolvendo e entendendo

este que lhes proporciona não só a insubmissão às forças da ética do

que nossas ações no mundo não são passivas, pelo contrário, temos grande

mercado, pois nos proporciona à pausas na rotina, ao tempo-livre para

força mobilizadora dentro de cada um e, à medida que a reconhecemos,

apreciação estética e de lazer; mas também uma operação ativa na

temos maiores possibilidades de nos tornar sujeito da história.

constituição de si como indivíduo e dos seus lugares, de forma dialógica

e autônoma (WEHMANN, 2019 p. 221).

sendo esta, mas poderia ser outra. E é por isso que devemos lutar para

Quando Freire fala:

204

A realidade que vivemos não é imutável. A realidade está

transformá-la.


MEUS SENTIDOS Sobre educação e ser sujeito no mundo

Foi o que aconteceu na Oficina 05 - Construindo o Planejamento:

Qvortrup, em seu artigo “Nove teses sobre a infância como

Pintura, na Vila Anglo (imagem 49). Havíamos acabado de escrever tudo

um fenômeno social ”, apresenta e questiona os motivos pelos quais

no roteiro da oficina que as crianças iriam conduzir: tempo, materiais,

as crianças, como grupo social, não são levadas em consideração nas

importância, divisão de grupos e responsabilidades. Quando houve um

análises sociológicas a respeito de economia e política. Ou seja, na

momento em que perguntei “pronto, posso deixar tudo com vocês? Vocês

maioria das vezes, quando mencionadas as crianças, elas aparecem sob

conseguem fazer sozinhos? Eu não vou fazer nada!” Eles responderam

responsabilidade dos pais ou ainda como membros constituintes da

que sim e, em seguida, a Rayza, a outra facilitadora, complementou

família, mas não consideradas como sujeitos individuais, particulares

“viram só? Isso é autonomia! Porque, quando a Dea diz que vocês vão

e distintos. Porém, sabemos que as “crianças são criadoras, inventivas,

fazer tudo sozinhos, ela está contribuindo para a autonomia de vocês,

porque se envolvem em ações propositivas” (QVORTRUP, 2011, p. 207)

que não vão mais precisar dela”. Imediatamente a expressão no rosto

ou seja, são também sujeitos da história, e afirmar isto ao mundo é a

deles mudou. Lembro do Wesley abrir um grande sorriso e exclamar

missão do CoCriança.

“que legal!”. Em seguida, a Gabi que estava escrevendo, pegou a caneta

2

O problema, ainda segundo Qvortrup, é que o “mundo adulto”

vermelha e circulou bem forte no Esqueleto de Oficinas o pilar da

não as enxerga como autônomas o suficiente para também participarem

“autonomia” que trabalhamos, e que eles tinham deixado passar, já que

das decisões políticas, econômicas e urbanas. Por isso, por meio das

antes disso, não lhes fazia sentido.

oficinas que fazemos, proporcionamos situações em que se coloquem

Fazê-las entender que são sujeitos no mundo exige, na prática

como agentes de transformação, e assim comecem a assumir o papel de

educativa, também uma abertura a se expor ao risco. Colocá-las no

sujeito na produção do mundo, e não apenas de recebedor, entendendo

papel de planejador e criador da oficina ou no papel de agentes da

o real significado de autonomia.

transformação urbana, é incentivar que se desafiem a assumir estas posições que a sociedade adultocêntrica as privou de exercer. Como

2 Artigo publicado em Eurosocial Report Childhood as a Social Phenomenon: Lessons from an International Project, n. 47, 1993, p. 11 - 18. Tradução de Maria Letícia Nascimento. Norwegian University for Science and Technology, Trondheim, Norway.

no diálogo a seguir, quando Edgar e Denise explicam aos colegas o funcionamento da atividade que seu grupo organizou:

205


E: [A gente] Vai dividir em grupos, pra pintar. Aí vai ter o espaço pra colocar “suas regras”. Aí, que nem, vai fazer o desenho, aí nós vamos pintar nós brincando na Praça. D: A Cleo não veio hoje, mas a gente vai pintar o muro, todo mundo junto. Aí, quando a Cleo vir, ela vai desenhar pra gente aplicar a tinta no desenho (Informação verbal, Edgar e Denise, Oficina 06 de Construção - Elisa Maria, 2020).

No momento desse diálogo, enquanto vão falando, eles trocam olhares o tempo todo buscando um o apoio do outro (imagem 50), evidenciando o desafio que é para eles assumir esse lugar. Edgar e Denise, então, se colocam na posição de sujeitos ativos quando, não só criam a atividade, mas comunicam o que criaram para o resto do grupo. Nesse dia, a grafiteira Cleo não pode comparecer à atividade, e nos avisou em cima da hora. Por isso, as crianças tiveram que readaptar o que haviam planejado e o fizeram muito bem. Como quando Denise explica a solução aos outros dizendo que, como a grafiteira não poderia pintar naquele dia, teriam que fazê-lo todos juntos. Sua fala evidencia não só uma solução criativa e coletiva ao problema, como também o Imagem 49: Planejando a Oficina de Pintura, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança); Imagem 50: Crianças explicam o funcionamento da atividade de pintura, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).

206

entendimento de que quando assumimos a posição de sujeitos, teremos de construir, reconstruir e constatar para mudar o que propomos. Esta


MEUS SENTIDOS

não é uma tarefa fácil, mas que estimula a passagem da heteronomia

e sem as devidas finalizações. As crianças notaram - Oficina 10, ano de

para a autonomia.

2020 (imagem 48) - e apontaram que os bancos não estavam chumbados

Assumindo tais responsabilidades, as crianças deixam de

e o escorregador não estava finalizado.

depender de um agente externo - a grafiteira - para que a ação de pintura

Elas perceberam também, que ainda faltava a instalação dos

na Praça seja realizada. Assim, no decorrer do projeto CoCriança, nosso

brinquedos, as plantas precisavam ser replantadas, e a Praça carecia

objetivo é que elas se apropriem dessas ferramentas que viemos usando

de mais limpeza. Essa situação nos permitiu, mais uma vez, agir como

para co-criar um espaço coletivo, e possam também assumir esse lugar

sujeitos: não íamos permitir que nos oprimissem e deixassem nossa

de sujeitos no mundo. Como quando Freire diz:

Praça daquela maneira.

“Um esforço sempre presente à prática (...) [é] o de persuadir

“A gente escreveu ‘faltam brinquedos’, ai aqui nós colocamos

ou convencer a liberdade de que vá construindo consigo mesmo, em si

construir, procurar ajuda, comprar materiais, customizar e reutilizar”

mesma, com materiais que, embora vindos de fora de si, reelaborados

(Informação verbal, Julia, Oficina 10 de Construção - Elisa Maria, 2020).

por ela, a sua autonomia. É com ela, a autonomia, penosamente construindo-se, que a liberdade vai preenchendo o “espaço” antes

“Limpeza. Nós colocamos que precisa de mais um dia. Aí nós

“habitados” por sua dependência. Sua autonomia que se funda na sua

podemos fazer um dia pra gente trazer, por exemplo, coisas de casa

responsabilidade, que vai sendo assumida” (FREIRE, 2019, p. 91).

- a gente traz das nossas casas mesmo - pra gente fazer a limpeza na Praça. Tipo, uma vassoura a gente pode trazer de casa mesmo, uns

Sobre isso, posso relatar outra situação que tivemos que contornar durante nosso projeto na Brasilândia, que foi a incapacidade

produtos” (Informação verbal, Tiffany, Oficina 10 de Construção - Elisa Maria, 2020).

da empreiteira contratada de terminar a obra. Como tiveram problemas com a logística de entrega de materiais e alguns furtos dos mesmos,

Nas falas de Julia e Tiffany acima, podemos perceber como elas

acabaram dando por terminada a Praça muito depois do prazo previsto

apontam o que ainda carecia de cuidado na Praça, e logo trazem soluções

207


208


criativas ao problema, agindo como protagonistas desta solução. Juntas, então, começamos a elencar quais as nossas possibilidades, dentro do contexto que nos encontrávamos, para lidar com esses problemas, e as crianças também trouxeram o nome de três pedreiros conhecidos ou familiares que poderiam nos ajudar. São as crianças que trazem as soluções. Elas, que se sentem responsáveis pelo estado em que a Praça se encontra a cada vez que voltamos para lá, já sabem o que devem fazer. O que estamos construindo com elas é justamente esse trajeto para que, um dia, elas possam agir de forma autônoma, livre e responsável. “Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não apenas objeto, mas sujeito também da história” (FREIRE, 2019, p. 53. Grifo nosso).

Imagem 51: Crianças refletem sobre como arrumar os últimos detalhes da Praça Livre Para As Crianças, na Oficina Perspectivas 2020, Jardim Elisa Maria, 2020 (Fonte: CoCriança).



5 NOSSO APRENDIZADO

SOBRE O MEU E O

“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2019, p. 25)


O meu processo de aprendizado durante a prática do CoCriança

política-pedagógica.

na minha vida, por hora, tem sido o maior de todos. A oportunidade

que tive de poder usufruir desta Universidade pública que é a FAU-USP

Autonomia”, de Freire, que fundamentei este aprendizado. Seguindo a

deveria ser efetivamente um direito público no sentido literal da palavra,

linha freireana, inconclusa que sou como ser humano, continuo sempre

em que todos pudessem ter a mesma oportunidade de experienciar o

aprendendo e, agora, compreendo um pouco melhor. Em suas palavras,

que é poder fazer pesquisa, extensão e ensino como tríplice educativa e

“o[s] educador[es] (...) podem demonstrar que é possível mudar. E

de qualidade que a Universidade nos proporciona.

isso reforça nele[s] ou nela[s] a importância de sua tarefa político-

Veja, não estou aqui para enaltecer a USP. Reconheço, inclusive,

pedagógica.” (FREIRE, 2019, p. 110). Afinal, os objetivos do CoCriança

os tantos defeitos discriminatórios, meritocráticos, financeiros, entre

são fundamentados na mudança, na mudança urbana, paisagística, da

outros, que ela tem. Mas, devo reconhecer também, que é por meio

criança, do bairro e dos educadores.

dela que temos a oportunidade de vivenciar a educação exercendo um

dos seus maiores deveres que é o de politizar pedagogicamente.

aprendendo como discente - tudo que já tive o prazer em apresentar nos

Lembro quando este TFG era apenas uma ideia, e eu o discutia

capítulos anteriores -, e tive também a oportunidade de aprender como

com a Karina: eu queria falar de educação, do CoCriança, mas queria

integrante do meio em que estava inserida. Aprendi politizando-me na

me ausentar de qualquer intervenção que nós, como educadoras e

luta estudantil, contra o sistema extremamente meritocrata e excludente

facilitadoras, poderíamos ter sobre as crianças. Isso porque, o CoCriança

que é o seu processo seletivo e de permanência na universidade, na

para mim sempre foi um processo, como já disse, muito empírico de

formação feminista, e na luta dentro do que é a extensão universitária e

conhecimento, em que, eu sabia os motivos pelos quais estava lutando

todo o seu dever de responsabilidade com a sociedade.

- éticos e de direitos à cidade, à paisagem e humanos. Mas, o que eu

não sabia - embora a Karina naquela época já me avisara - era que

corpo estudantil, por completo. Pois estava praticando a pesquisa,

nossa metodologia não era apenas uma facilitação ao processo de

o ensino e a extensão, mas, principalmente, por ter professoras-

desenvolvimento-criativo das crianças, mas sempre foi uma formação

orientadoras que me estimulavam a curiosidade e o diálogo o tempo

212

Mas é claro que sim! Foi lendo o livro “Pedagogia da

Voltando em relação à USP, tive, então, a oportunidade de ir

Durante a extensão do CoCriança, pude aprender a ser discente,


NOSSO APRENDIZADO

todo, criando a troca didática que Freire tanto fala entre professor e

conseguimos ou não alcançar nossos objetivos. Mas, é importante

aluno. Pude, também, aprender a ser integrante, porque não só éramos

constatar que também sempre fazemos esse monitoramento entre

um coletivo da faculdade atuando fora dela, mas também porque

nós da equipe educadora. De tempos em tempos, nos reunimos para

éramos um coletivo em si. E trabalhar em grupo nos traz os maiores

avaliar como cada uma se sente dentro do nosso coletivo. Conversamos,

aprendizados, pois precisamos aprender a nos comunicar, a ouvir e

expomos sentimentos, medos e desejos, e avaliamos o que deve se

saber escutar e a respeitar.

manter e como podemos mudar, buscando ouvir cada uma por igual.

Trabalhando em coletivo no CoCriança, aprendi que todas

Foi assim, trabalhando no coletivo, que aprendi que precisamos

precisam se sentir respeitadas, amadas e essenciais ao propósito que

juntas construir um ambiente que seja propício para quem tem o que

tem o CoCriança para cada uma. E que, para tanto, precisamos saber nos

dizer tenha gosto em expressá-lo.

comunicar e saber escutar.

E por fim, durante o meu processo com as crianças, pude

vivenciar o terceiro dos meus aprendizados dentro do CoCriança: o de “Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo,

experienciar ser docente. Sobre este aprendizado, gostaria de transcrever um parágrafo que Freire traz em seu livro sobre ser professor:

como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos

“Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor

a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o

que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma

outro, fala com ele (...) (FREIRE, 2019, p. 111. Grifo nosso).

definição. (...) Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. [1] (...) Sou professor a favor da decência

Sempre buscamos também construir com as crianças o diálogo

contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da

através da escuta-ativa, afinal, é ele um dos pilares do CoCriança. Era

autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de

um exercício constante, em que nos monitorávamos o tempo inteiro,

direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra

fazendo avaliações pós-oficinas - como as relatadas - e discutindo se

qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos

213


indivíduos ou das classes sociais. [2] Sou professor contra a ordem

mas a consciência de sua inconclusão é que gerou a educabilidade.

capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura.

É também na inconclusão de que nos tornamos conscientes e que

Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. [3]

nos inserta no movimento permanente de procura que se alicerça a

Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou

esperança” (FREIRE, 2019, p. 57. Grifo nosso).

professor a favor da boniteza de minha própria prática (...)” (FREIRE, 2019, p. 100. Grifo do autor).

Certo dia, ainda este ano, quando retornei ao CCA para conversar

com a Nathani, uma das coordenadoras, passei pela Praça Livre Para As Neste único parágrafo de Freire, resgato um dos meus maiores

Crianças. Foi decepcionante, durante apenas o mês de janeiro, período

aprendizados como professora, que quem me trouxe foi a Karina [1], de

de férias, era como se a Praça tivesse retornado à estaca zero: todas

que não estou apenas facilitando a luta por direito dessas crianças. Estou

as plantas haviam morrido, a pintura das crianças já estava coberta de

contribuindo também para que elas se formem crítica e politicamente,

grafites e tinha lixo por toda a parte.

inseridas no bairro em que estão, se assumindo como seres de direitos

Enquanto falava com a Nathani, foi difícil não esconder o meu

sociais, cidadãos, paisagístico e etários. E que, se contribuo para isso,

desânimo, “será que nunca vamos conseguir? Será que a Praça vai ficar

elas, o tempo todo, contribuem para a minha formação também, quando

assim para sempre mesmo?”, pensava. Conversamos por cerca de trinta

me trazem as suas dores e angústias que, juntas, decidimos lutar [2].

minutos e fui à sala das crianças, ver como estavam. Qual foi a minha

Acima de tudo, aprendi que jamais devemos perder a esperança

surpresa com a felicidade delas! O sorriso no rosto de cada uma, outras

enquanto seres inconclusos, enquantos temos certeza de que o mundo

que vieram me abraçar veemente, todas carregadas com a esperança de

se transforma e não é uma fatalidade que a periferia seja como está

que, se eu havia voltado, nossa luta pela Praça ainda não tinha terminado.

enquanto que os bairros centrais usufruem de toda a infraestrutura e

E assim, apenas nesses cinco minutinhos de energia que estive com elas,

serviços [3].

me enchi de esperança de novo! “Vamos sim, vamos dar um jeito, pintar tudo de novo, limpar tudo de novo, vamos consertar nossa Praça!” “Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis,

214

Qual o sentido em ser professora se desacreditamos que as


NOSSO APRENDIZADO

coisas possam mudar? Como podemos mudar se não temos esperança? A beleza de nossa prática está realmente na construção deste sonho. Em acreditar que, cada dia que passa, estamos cada vez mais perto de concretizá-lo. Se tem uma coisa que aprendi com as crianças do CoCriança, foi isso. Me emociona pensar que ao ser professora, como aqui transparece, tenho a possibilidade de poder compartilhar todos os ideais de minha ética. E que, ao ser professora no CoCriança, posso intervir no mundo e compartilhar com as crianças o que, para mim, é ético como estudante, como arquiteta, urbanista e paisagista, como mulher e como ser humano. “A boniteza da prática docente se compõe do anseio vivo de competência do docente e dos discente e de seu sonho ético” (FREIRE, 2019, p. 92).

Imagem 52: Equipe CoCriança no concurso Mobiliza Breton, Aline, Mayte, Dea, Jayne, Camila Audrey, Camila Sawaia e Amanda (esq. para direita), 2018 (Fonte: CoCriança); Imagem 53: Debate sobre metodologias participativas, Dea e Bia apresentam o CoCriança, IAB São Paulo, 2019 (Fonte: CoCriança).

215



6 BIBLIOGRAFIA

217


6.1 BIBLIOGRAFIA ALBARDÍA, Maria Teresa Santos. Protagonismo infantil na américa latina:

HARVEY, D. A globalização contemporânea: espaços de esperança. Rio

metodologias participativas na vida das crianças das classes populares.

de Janeiro. Loyola: 2004.

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina. Orientadora Marilene Proença Rebello de

JELLICOE, Geoffrey. The Landscape of man. Ed. Thames and Hudson.

Souza. - São Paulo, 2019.

London: 1985.

BOFF, Clodovis. Como Trabalhar Com o Povo. 7ª Edição. Arquivo

LEITE, Edmilson Madre Deus. O processo participativo e a sua expressão

PDF, disponível em: servicioskoinonia.org/biblioteca/pastoral/

na arquitetura africana: algumas experiências. Tese (mestrado) -

BoffClodovComoTrabalharPovo.pdf. 1984.

Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa. Orientado por Miguel Ângelo Soares Pinto da Silva. - Lisboa, 2018.

BROGGI, Anna. A Educomunicação e suas Práticas - Um Estudo de Caso da ONG CISV. (Graduação em Licenciatura Educomunicação) - Escola de

LIMA, Catharina P. C. S.; ALBUQUERQUE; Elaine M. de; LIMA, Gabriel C.

Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo. Orientação: Profa.

dos Santos, WEHMANN, Hulda Erna. O direito ao (in)compressível: arte,

Dra. Cláudia Lago. São Paulo, 2019.

cidade, paisagem e transformação social. In: RUA [online]. nº. 23. Volume 2, p. 291 – 309 – e-ISSN 2179-9911 - Novembro/2017. Consultada no

DIAS, Marina Simone. Brincando na cidade, crescendo em cidadania:

Portal Labeurb – Revista do Laboratório de Estudos Urbanos do Núcleo

um estudo sobre os parques infantis de Barcelona, Espanha. In: Oculum

de Desenvolvimento da Criatividade, 2017.

Ensaios, vol. 14, núm. 3, 2017. Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

MUTARELLI, Sandra Regina Kuka. O querer, o sentir e o pensar de Rudolf Steiner na literatura para crianças e jovens: os atos da vontade.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

educativa. 60ª ed. Rio de Janeiro/ São Paulo: Paz e Terra, 2019

da Universidade de São Paulo. Orientadora Maria dos Prazeres Santos

218


BIBLIOGRAFIA

Mendes. – São Paulo, 2014.

V., Lima, C.Fenomenologia e Paisagem: espaços de transitividade em intervenções associadas ao paisagismo e arte contemporâneos.

NASCIMENTO, Andréa Zemp Santana do. A criança e o arquiteto: quem

Pesquisa realizada com apoio da FAPESP-2012- 2014 – proc. no 01735-1

aprende com quem?. Tese (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Orientadora Vera Pallamin. -

PROJETO CRIANÇA PEQUENA EM FOCO. Vamos ouvir as crianças?

São Paulo, 2009.

Caderno de metodologias participativas. Arquivo digital PDF. Realização CECIP e Bernard van Leer Foundation. Rio de Janeiro, 2013.

QVORTRUP, Jens. Nove teses sobre a infância como um fenômeno social. Artigo publicado em Eurosocial Report Childhood as a Social

WEHMANN, Hulda Erna. O direito a habitar a cidade: o reconhecimento

Phenomenon: Lessons from an International Project, n. 47, 1993, p. 11

da experiência estética como direito à cidade. Tese (Doutorado) -

- 18. Tradução de Maria Letícia Nascimento. Norwegian University for

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Science and Technology, Trondheim, Norway

Orientadora Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima. - São Paulo, 2019.

SAWAIA, Camila Pinto de Souza. A cidade como lugar educativo: contribuições do protagonismo e do olhar infantil. (Graduação em Pedagogia) - Instituto Superior de Educação de São Paulo – Singularidades.

Filmes:

Orientação: Prof.a Me.Tatiana Schunck. São Paulo, 2019. MIRADAS. Direção de Renata Meirelles e Sandra Eckschmidt. São Paulo: SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São

Território do Brincar/ALANA, 2019. Online: bit.ly/-miradas (acesso em

Paulo: Cortez Editora, 2010.

27/05/2020) (31 min.)

PALLAMIN, V. (pesquisadora responsável), ARANHA, C., BARTALINI,

219


6.2 LISTA DE IMAGENS Imagens Imagem 01 - Foto da Praça Livre Para As Crianças em seu último dia de

P. 8

oficina de 2019 (Fonte: CoCriança).

Desenhos Desenho 01 - Introdução. Autor: David, 2019 (Fonte: CoCriança).

P. 12

Desenho 02 - O Processo. Autora: Dayane, 2018 (Fonte: CoCriança).

P. 18

Desenho 03 - Os Encontros. Autor desconhecido, 2018 (Fonte:

P. 64

CoCriança).

Desenho 04 - Meus Sentidos. Autor deseconhecido, 2019 (Fonte:

CoCriança).

Desenho 05 - Nosso Aprendizado. Autora: Maryane, 2019 (Fonte:

P. 162 P. 210

CoCriança).

Desenho 06 - Bibliografia. Autor: Marcus, 2018 (Fonte: CoCriança).

P. 216

Desenho 07 - Anexos. Autor: Marcus, 2019 (Fonte: CoCriança).

P. 222

Ícones Todos os ícones, das linhas do tempo e dos roteiros de oficinas, foram cocriados por Andrea Muner e Camila Audrey.

220

P. 75 a 161


BIBLIOGRAFIA

221



7 ANEXOS

223


7.1 ANEXO I OFICINAS OFICINA 10: PERSPECTIVAS 2020

10/03/2020

Local: CCA Elisa Maria e Praça Livre Para As Crianças Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 18 Alteração no roteiro: Baixa Materiais Necessários 10 cartões verdes 10 cartões vermelhos fita crepe canetas

Objetivo geral: Ouvir o que as crianças têm a dizer sobre a atual situação da Praça. Elencar o que pode ser considerado como pronto por elas e o que temos que nos dedicar ainda para construir. Elencado o que falta, elaborar coletivamente possibilidades de soluções.

ROTEIRO 1. AQUECIMENTO: SI MAMA KAA (15 minutos)

Objetivo Movimentar o corpo e brincar. Descrição da atividade Ensinar a letra e a coreografia da

224

música africana Si Mama Kaa às crianças. É uma atividade de movimentos e entrosamento.


2. RODA DE CONVERSA

(20 minutos) Objetivo Conversar sobre as férias, como se encontra a Praça e o que entendemos como desafios. Descrição da atividade Discutir com as crianças sobre a atual situação da Praça, afirmando que não desistimos de deixá-la como sonhamos que seja. Para isso, iniciaremos perguntando quem é que já foi visitá-la, sobre o ponto viciado de lixo, sobre os usuários de drogas, sobre os nossos desafios e elencar quais atividades podem ser feitas semanalmente na Praça.

4. CARTÕES VERDE E VERMELHO

(60 minutos) Objetivo Ouvir das crianças o que ainda deve ser feito na Praça e o que consideram como pronto. Descrição da atividade Primeiro, pedir que as crianças fechem os olhos e pensem sozinhas o que está mais pronto na Praça e o que está menos pronto, ou seja, o que é que ainda nos demanda bastante trabalho para terminar. Depois, em duplas, cada uma recebe um cartão verde e outro vermelho onde terão de posicioná-los da seguinte maneira: o verde onde consideram como pronto e o vermelho onde consideram o lugar menos pronto do projeto - nós também podemos colocar os nossos cartões (colocar em lugares que elas não pensaram). Quando terminarem, analisar por um momento a distribuição dos cartões na Praça, a ver se as respostas foram homogêneas ou não. A proposta é que, pensando nos lugares em que ainda temos coisas para fazer, cada criança vá para um outro cartão vermelho, que não o seu, e ali proponha um encaminhamento/solução para o que pode ser feito. Repetiremos isso três vezes de modo a obtermos três propostas de encaminhamento por lugar escolhido.

3. BRINCADEIRA

(15 minutos) Objetivo Brincar pensando nas potencialidades dos espaços da Praça. Descrição da atividade Na Praça, pedir para que elas corram até um lugar que tenham as características abaixo. Enquanto isso, facilitadoras devem anotar seus movimentos. Elas só devem ir até o lugar, quando dissermos a frase “Seu Mestre mandou ir até…” - Um lugar alto - Um lugar baixo- Um lugar de brincar - Um lugar fresco (sombra) - Um lugar para descansar - Um lugar quente - Um lugar bonito

5. EXPLORANDO AS SOLUÇÕES

(30 minutos) Objetivo Ler as propostas para todo o grupo e levantar se mais alguém tem algo a acrescentar. Descrição da atividade De volta ao CCA, a criança pega os cartões concentrados em um lugar e lê em voz alta. Abrimos para o restante do grupo dar cada dupla vai falar as suas opiniões sobre as propostas e sobre os encaminhamentos pensados juntos. Lembrar de perguntar se alguém tem como contribuir de alguma forma com essas propostas (algum conhecido ou familiar que se disponha a ajudar, etc.).

6. BRINCADEIRA SI MAMA KAA

(15 minutos) Objetivo Finalizar a oficina brincando um pouco. Descrição da atividade Repetir a primeira brincadeira para ver se as crianças entenderam.

225


DIÁRIO

Este relato foi baseado na experiência da facilitadora Gabriela Viola.

Dois meses após nosso último encontro, esta oficina começou

um banner com mensagens dos alunos para sensibilizar os moradores

agitada, pois as crianças estavam muito felizes em nos ver novamente,

do entorno a não jogarem lixo. A Agatha disse que as crianças tem que

e nós, de revê-las! Estavam todas maiores e falando ao mesmo tempo,

ir lá mais vezes para os usuários verem que a Praça é usada por eles e

querendo contar histórias e saber como estávamos, por isso, foi muito

também que devemos pintar de novo as paredes que foram grafitadas.

bom começar a oficina com a brincadeira de Si Mama Kaa que criou um clima descontraído na sala.

Quando sentaram, perguntei a elas sobre as férias e se tinham

ido na Praça. Um bom número respondeu que sim e comentou da sujeira, do cheiro de xixi e dos grafites que foram feitos em cima das pinturas que elas haviam feito, demonstravam bastante frustração. A Renata chegou a contar que tinha ido brincar com os irmãos nas férias em um momento que os usuários de drogas não estavam lá. Elas já começaram

RENATA

a gente colocou, “Os negócios que sujo. Também as a escada, tá tudo locamos tá tudo planta que nós co , a gente desenhou pisada, e também m m por cima... E te lá, eles desenhara lá dentro.” um monte de lixo

a dar ideias para limpar a Praça e a Daiane, a nova educadora, sugeriu fazer

JOÃO

“(Dea) - Então a gente tem que limpar tudo de novo! Sim! Não! Sim! Sim! [respostas variadas terminadas em sim!] ão uç tr (João) - Mas eles sempre vão bagunOficina 10 de Cons (Diário de Campo, ). 20 20 , - Brasilândia ça! [quase chorando]” (Diário de Campo, Oficina 10 de Construção - Brasilândia, 2020).

226

Depois, fomos para a Praça e fizemos a atividade

“meu mestre mandou”, indicando lugares que elas deveriam identificar no espaço como “lugar alto”, “lugar baixo”, etc, e se posicionar neles. A maior dificuldade delas foi encontrar o “lugar bonito”, que acabou sendo associado à professora deles e algumas crianças se posicionaram perto das árvores.


escalada e no escorregador e uma das duplas colocou nos bancos que ficam no nível superior e nas escadas novas, identificando que o projeto infraestrutural tinha sido feito. Já os cartões vermelhos foram colocados nos lugares onde falta limpeza, outros brinquedos e novas plantas.

Quando voltamos para o CCA, pedimos para pensarem em

soluções para esses itens que ainda precisam ser resolvidos e várias ideias surgiram! Elas sugeriram:

No caminho até lá, fomos conversando com a Daiane que nos

contou que as crianças mais novas do CCA não têm um lugar para atividades externas porque a praça mais próxima com quadra fica a 15 minutos andando e é muito longe pra ir com os pequenos. As educadoras já tentaram levar essas turmas na nossa Praça mas não conseguiram ficar lá por causa da sujeira/mal cheiro. Precisamos pensar em formas de permitir que essas visitas possam acontecer porque existe essa demanda e esse interesse por parte do CCA.

Na atividade seguinte, pedimos para elas pensarem no que

estava pronto e o que faltava na Praça e colocarem cartões verdes itens prontos - e cartões vermelhos - itens a fazer - nos locais que elas pensaram. Elas colocaram a maioria dos cartões verdes na parede de Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

- Pedir ajuda para os moradores do entorno para limpeza - Pegar material de limpeza (balde, vassoura, produtos) nas próprias casas e fazer um mutirão para limpar - Fazer uma vaquinha para comprar mais tinta para pintar de novo a parede grafitada - Usar garrafas PET cortadas para fazer vasos para as plantas - Fazer um balanço e/ou uma gangorra com pneu e madeira (quando explicamos sobre a limitação do espaço para um balanço, elas disseram que poderia ser um de uma pessoa só) - Pedir ajuda financeira para a prefeitura - Pedir ajuda para o projeto Vila Limpa

227


- O David falou que o pai dele tem madeira sobrando em casa e poderia ver com ele de doar para o projeto - Possíveis pedreiros que podem ajudar: tio e avô da irmã da Renata (ela vai falar com o tio) e padrasto do João - A Anna sugeriu de colocar o brinquedo que é uma escada entre o escorregador/escada e a parede de escalada para criar um circuito com os brinquedos - Falar com pessoas do bairro que saibam colocar os brinquedos na praça.

228

No final, fizemos a brincadeira Si Mama Kaa mais uma vez e

encerramos a oficina. No geral, foi muito produtivo e deu pra ver que ainda vamos precisar de energia e força para terminar a Praça mas as crianças estão empenhadas e envolvidas!


Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

229


09/03/2020 OFICINA 8: RETOMANDO O CONTATO Local: Praça do Samba Duração: 2h 10min Número de crianças participantes: 28 Alteração no roteiro: Baixa

Materiais Necessários fotos das oficinas anteriores 15 cartões verdes 15 cartões vermelhos fita crepe canetas

Objetivo geral: Ouvir o que as crianças têm a dizer sobre a atual situação da Praça e receber as novas. Elencar o que pode ser considerado como pronto por elas, e o que temos que nos dedicar ainda para construir. Elencado o que falta, elaborar coletivamente possibilidades de soluções.

230


ROTEIRO 1. RODA DE CONVERSA E APRESENTAÇÕES (15 minutos)

Objetivo Se apresentar e conhecer os novos alunos, retomar o contato com as crianças. Descrição da atividade Fazer uma rodada de apresentações, perguntando sobre algo legal que cada um fez nas férias. Perguntar se alguém foi na Praça alguma vez nos últimos tempos; pedir para as crianças antigas contarem para as novas o que foi feito até agora.

3. LINHA DO TEMPO (45 minutos)

Objetivo Integrar as novas crianças ao projeto enquanto as

mais velhas contam à medida que lembram o que já vivemos ao longo do ano passado. Descrição da atividade Dividir as crianças em sete grupos com 4 pessoas em cada um. Cada grupo terá, necessariamente, uma das crianças mais antigas no projeto. Elas recebem 4 fotos numeradas de acordo com a ordem das oficinas do ano passado e, juntos, Com fotos de todas as nossas oficinas impressas, pedir que as crianças posicionem essas fotos numa linha do tempo. Relembrar o que fizemos, contando para os alunos novos.

2. AQUECIMENTO: PIF-PAF (20 minutos)

Objetivo Conhecer e estabelecer vínculo com as crianças. Descrição da atividade Em uma roda, com uma das facilitadoras no meio, ela aponta para uma criança aleatória e diz “pif!”. A criança apontada tem que abaixar o mais rápido possível e as duas do lado devem apontar uma para a outra e falar o nome da outra. Quem falar o nome mais rápido, vence. A criança que “perder” senta e aguarda. Repetir o jogo duas vezes. Na segunda vez, a criança que vencer da primeira vez, vai ser a pessoa que fica no meio.

4. CARTÕES VERDE E VERMELHO (45 minutos)

Objetivo Ouvir das crianças o que ainda deve ser feito na Praça e o que consideram como pronto. Descrição da atividade Cada grupo recebe um cartão verde e outro vermelho onde terão de posicioná-los da seguinte maneira: o verde onde consideram como pronto e o vermelho onde consideram o lugar menos pronto do projeto - nós também vamos colocar os nossos cartões (colocar em lugares que elas não pensaram). Quando terminarem, analisar por um momento a distribuição dos cartões na Praça, a ver se as respostas foram homogêneas ou não. A proposta é que, pensando nos lugares em que ainda temos coisas para fazer, cada criança proponha um encaminhamento/solução para o que pode ser feito.

231


DIÁRIO

Este dia estávamos bem animadas, pois era nossa primeira

oficina com as crianças da Vila Anglo. Além disso, conseguimos o contato de algumas das meninas que tiveram que sair do CCA pois completaram 14 anos, a Raquel, a Bianca e a Ana Beatriz, e elas foram super solícitas e vieram para a atividade também. A educadora Mari, em particular, ficou muito feliz em revê-las, pois não sabia que isso aconteceria.

Chegamos e elas já estavam todas sentadas na garagem prontas

para sair. Eram cerca de trinta crianças, e esse é o número que vamos trabalhar a partir de agora até a finalização do projeto na Vila Anglo. Isto porque, o nível 3, que sempre trabalhamos, está apenas com nove alunos a tarde. Conversando com a Irmã Renata, decidimos que seria uma boa ideia integrar o nível 2 também ao projeto - as crianças do nível 2 têm de 9 a 12 anos.

Já cientes desta nova configuração de turma, nós do CoCriança

pensamos em adequar as atividades de maneira que o nível 3 seja

adoraram, e fomos para a terceira atividade dentro da quadra. Tínhamos

responsável por planejar e coordenar as futuras oficinas. Estamos muito

sete crianças que haviam participado do projeto ano passado, uma boa

animadas com este formato, pois acreditamos que isto incentivará as

quantidade para dividi-las em grupos menores de quatro. Cada grupo

crianças mais velhas a responsabilizar-se cada vez mais pelo projeto, de

recebeu quatro fotos e nós fomos montando a linha do tempo. Essa

maneira mais autônoma.

atividade ocorreu melhor do que esperava! A maioria delas estava

Nossa primeira atividade foi uma breve apresentação de quem éramos,

prestando muita atenção às imagens e às explicações das que estavam

e o que estávamos fazendo. Na rodada de nomes, lembro que uma das

conosco ano passado. As oficinas do começo foram mais difíceis de

crianças do nível 2, a Duda, disse que nas férias tinha vindo brincar na

lembrar, mas mesmo assim conseguiram. Enquanto contavam, as

Praça, e depois essa fala se repetiu mais umas duas vezes.

menores faziam perguntas e, as vezes nós, facilitadoras, fazíamos

algumas intervenções para explicar os porquês daquelas atividades

232

Em seguida, jogamos Pif-Paf, que foi bem divertido, elas


terem acontecido de tais maneiras. Vale ressaltar que pude perceber todas as crianças do projeto antigo participando ao acrescentar alguma de suas lembranças aos menores.

A última atividade tinha o objetivo de incentivá-los a

trazer a percepção do grupo sobre o que para eles estava pronto e o que faltava ser feito na Praça. Eles seguiram nos mesmo grupos, então tinha um representante do antigo projeto por grupo. Pude reparar que essas crianças fizeram descrições às outras a fim de explicar o porquê de estar ou não prontos os lugares escolhidos.

Segue abaixo o que nos foi ouvido sobre o que falta, e

suas devidas observações:

- gira-gira: arrumar a concretagem que está quase saindo - desnível: fazer o tobogã - gol e cesta de basquete: arrumar e falar com o vizinho que disse que tinha rede disponível - floresta: arrumar o caminho - mesa de pic-nic: está quebrada (está é uma mesa de madeira antiga) - jardim de chuva: falta fazer - escada da arquibancada: para subir para o parquinho

Ao final, quando estávamos voltando para o CCA, aconteceu

uma cena muito curiosa que nos deixou muito felizes: vimos um grupo de homens jovens carregando um aro de cesta de basquete e andando em direção para a Praça do Samba. Perguntamos a eles se estavam indo levar o aro para lá mesmo, só para confirmar, e um deles nos respondeu “sim, nóis quebrou, nóis vai consertar”.

Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.

233


7.2 ANEXO II JUSTIFICATIVA PRAÇA LIVRE PARA AS CRIANÇAS

Secretaria Geral Parlamentar Secretaria de Documentação Equipe de Documentação do Legislativo

JUSTIFICATIVA - PL 0325/2019 A escolha do nome da praça partiu do desejo das crianças do CCA Elisa Maria em dar um novo significado à praça. Foi então que, organizadas pelo Co-Criança que atua com as crianças do bairro há dois anos, escolheram desde o local que seria reformado até a convocação da comunidade para participar ativamente da apropriação e reforma da praça. O objetivo do projeto é fortalecer o território da criança na cidade através da ressignificação dos espaços livres e de lazer, tendo como premissa o resgate do protagonismo das crianças, enquanto agentes e usuárias dos espaços urbanos. A oficina de escolha de nomes foi realizada a partir do levantamento de questões relevantes para o cotidiano das crianças. As crianças então foram divididas em grupos e convidadas a pensar no bairro Elisa Maria com base em uma brincadeira de "stop" com temas como meio ambiente, sentimentos, personalidades locais e no que é ser criança no bairro e, ao final, cada grupo escolhe seus nomes para serem colocados em votação. Foi organizada uma festa na praça com o objetivo de povoar aquele espaço, mostrar sua capacidade de vitalidade e também de convocar comunidade, com as crianças no papel central as quais, a todo momento, demonstravam o desejo de que a reforma fosse concretizada. Houve então a votação com os nomes escolhidos pelas crianças e o resultado foi "Praça livre para as crianças", revelando o desejo de um espaço ao qual elas querem realmente pertencer. Assim, a justificativa do nome se dá em virtude da escolha das crianças, da legitimação e apoio que a comunidade dos arredores vem demonstrando e da consolidação do significado da reforma da praça.

234

O "projeto Co-Criança" foi idealizado pelo grupo de disciplinas obrigatórias da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, na matéria de Desenho Urbano e Projeto dos Espaços da Cidade e Projeto da Paisagem, sob a orientação da Profa. Dra. Karina Leitão e Profa. Dra. Catharina P. C. dos Santos Lima e realizado petas alunas Amanda Scotton, Andréa Muner, Beatriz Martinez, Camila Ferrara, Ilana Mallak e Mayte Albardía e tem, como principal objetivo, estabelecer uma parceria entre o corpo discente da Universidade com a comunidade local através do dialogo, alinhado com os movimentos sociais


O objetivo do projeto é fortalecer o território da criança na cidade através da ressignificação dos espaços livres e de lazer, tendo como premissa o resgate do protagonismo das crianças, enquanto agentes e usuárias dos espaços urbanos. A oficina de escolha de nomes foi realizada a partir do levantamento de questões relevantes para o cotidiano das crianças. As crianças então foram divididas em grupos e convidadas a pensar no bairro Elisa Maria com base em uma brincadeira de "stop" com temas como meio ambiente, sentimentos, personalidades locais e no que é ser criança no bairro e, ao final, cada grupo escolhe seus nomes para serem colocados em votação. Foi organizada uma festa na praça com o objetivo de povoar aquele espaço, mostrar sua capacidade de vitalidade e também de convocar comunidade, com as crianças no papel central as quais, a todo momento, demonstravam o desejo de que a reforma fosse concretizada. Houve então a votação com os nomes escolhidos pelas crianças e o resultado foi "Praça livre para as crianças", revelando o desejo de um espaço ao qual elas querem realmente pertencer. Assim, a justificativa do nome se dá em virtude da escolha das crianças, da legitimação e apoio que a comunidade dos arredores vem demonstrando e da consolidação do significado da reforma da praça. O "projeto Co-Criança" foi idealizado pelo grupo de disciplinas obrigatórias da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, na matéria de Desenho Urbano e Projeto dos Espaços da Cidade e Projeto da Paisagem, sob a orientação da Profa. Dra. Karina Leitão e Profa. Dra. Catharina P. C. dos Santos Lima e realizado petas alunas Amanda Scotton, Andréa Muner, Beatriz Martinez, Camila Ferrara, Ilana Mallak e Mayte Albardía e tem, como principal objetivo, estabelecer uma parceria entre o corpo discente da Universidade com a comunidade local através do dialogo, alinhado com os movimentos sociais e com as necessidades daquela população. O projeto Co-Criança teve início no Jardim Elisa Maria, na Brasilândia, em conjunto com as crianças que habitam o bairro e são muitas vezes levadas a ocupar espaços insalubres. Foi adotada uma metodologia de diálogo e jogos participativos com a crianças, e a posteriori a tradução dos seus desejos em um projeto que leva em consideração a pesquisa e as especificidades do local, chegando à concretização dos mesmos em conjunto com as crianças e com a comunidade. Com o apoio do Programa Unificado de Bolsas (PUB), foi possível dar continuidade ao projeto ao longo de 2017, 2018 e 2019. Diante da tamanha importância do presente projeto, conto com o apoio dos meus nobres pares para a sua aprovação.

235


CoCriança Como preparar oficinas?

7.3 ANEXO III ESQUELETO DE OFICINAS

Pense em um nome legal para a sua oficina!

Qual é a sua frente de trabalho?

Qual data pode acontecer a oficina?

Quantas crianças vão ser facilitadoras desta oficina e quantas vão participar?

Qual é o objetivo da sua oficina?

Qual conteúdo você precisa dominar para dar essa oficina?

Quais princípios você quer abordar na sua oficina?

liberdade

educação sócio- ambiental diálogo cooperação

autonomia


O que você já sabe sobre o assunto? O que você precisa aprender sobre o assunto? Onde você acha que pode adquirir esses conhecimentos?

Tem algum produto esperado ao fim dessa oficina? (cartazes, maquete, lista do que foi decidido na oficina)

Descreva um passo a passo do que precisa ser feito antes da oficina acontecer.

Pense e descreva aqui as atividades que vão acontecer na oficina.

Quais materiais vão ser necessários para a oficina?

Onde você pode conseguir esses materiais?

Coloque quanto tempo será necessário para cada atividade - levando em consideração o tempo total da oficina, os ensinamentos que você quer passar e os materiais que quer produzir.


7.4 ANEXO IV Tabela de Análise de Falas - Elisa Maria Nome

Unidade de Significado

Julia

Tia, tem gente morando nessa praça aqui, os moradores de rua.

Agatha

Aconteceu que, depois que, tipo, que acabou a festa, aí vocês não conseguiram vim mais. Ai, vocês pararam de vim. Ai, sempre que eu passava lá perto da praça, aí os moradores de rua começaram a ir pra ficar lá e estragar tudo.

Agatha relaciona a nossa ausência (CoCriança) ao CCA com a ocupação dos moradores de rua na praça. Ela passava na praça e observava que os moradores de rua não cuidavam do espaço.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

Bia

(Bia): Antigamente vocês eram mais crianças. faz dois anos que a gente começou a fazer isso, e aí, agora, o assunto é mais sério: a gente vai planejar a oficina, junto com vocês. A gente não vai mais trazer o que a gente vai fazer. Vocês vão ajudar a gente a construir isso. Entenderam? (Crianças) - Sim !! (Bia): Com muita responsabilidade, porque, pra gente poder brincar na praça, a gente tem que ser responsável, certo?

Bia explica às crianças que elas serão as novas responsáveis por criar/planejar as oficinas. Ela enfatiza que essa é uma tarefa que exige responsabilidade.

- Crianças assumindo responsabilidades - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.

Agatha

Eu acho que a gente podia conversar com eles [moradores de rua], porque eles, sabe, pega lixo, essas coisas e transforma em bastante coisas. Então, acho que a gente podia pedir a ajuda deles também, pra eles ajuda, a tipo, procura as coisa pra gente recicla e fazer, sabe, os brinquedos, os lixos... e eu acho que se eles participarem, eles não vão querer destruir uma coisa que eles ajudaram a fazer.

Agatha acredita que os moradores de rua podem criar coisas também, a partir do lixo. Que eles poderiam ajudar na reciclagem, na construção de brinquedos, na construção das lixeiras. Ela sabe que se houver o envolvimento dos moradores de rua, eles irão cuidar também da praça que eles ajudaram a fazer.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A importância de envolver a comunidade no processo

238

Discurso Articulado Oficina 1: Retomando o Contato Julia constasta que tem outras pessoas, além delas, usando a praça. Essas pessoas são moradores de rua.

Convergência - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Agatha

Esse é o ruim, porque as pessoa reclama, reclama, que a gente não tem nada, não tem praça, não tem coisa pras criança se diverti... mas quando tem, eles vai lá e destrói.

Agatha constata que, apesar das pessoas reclamarem sempre da falta de espaços públicos, não há um cuidado coletivo pelos poucos que se tem.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público

Agatha

Eu lembro até que na viela, no escadão ali, tinha um homem, tipo, ele pegou um monte de coisa lá do lixo que tava em frente ao escadão e fez um barquinho de brinquedo. Então eu acho que eles têm bastante potêncial pra ajuda nós.

Agatha relata que viu um dos moradores de rua transformando o lixo em objetos criativos e, por isso, percebe o potêncial dos moradores em poder também ajudar na construção criativa.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema. - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público. - A importância de envolver a comunidade no processo.

Agatha

Eu acho que quando a gente termina de fazer assim, já tivé quase tudo pronto, a gente podia também, as vezes, prepara alguma coisa assim, pra fazer alguma apresentação na praça, pra insentivar eles a não bagunçarem as coisas.

Agatha reflete sobre a finalização da praça, que seria uma boa ideia fazer uma apresentação que mostre às pessoas o trabalho todo feito, a fim de sensibilizá-las a não destruir o trabalho feito.

- Crianças expressam a própria vontade. - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades. - A importância de envolver a comunidade no processo.

Marquinho

Eu tive uma ideia de criar uma dinâmica que explique sobre aquilo que a gente tá fazendo na praça. Pras pessoas que moram lá perto.

Marquinho têm a ideia de criar uma dinâmica que explique sobre o processo de construção da praça à comunidade

- Crianças expressam a própria vontade. - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades. - A importância de envolver a comunidade no processo.

Julia

Ai tem gente que pegou, tem gente que destruiu o escorregador... ai tem moradores de rua que começaram a ir pra lá, né. ai, tipo, quando cê passa lá... quando cê passa de noite, tem gente dormindo em cima [da praça] e em baixo.

Julia associa a falta de uso e o vandalismo aos brinquedos praça com o aumento de moradores de rua, que eles ocupam a praça inteira para dormir.

- A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

Marquinho

A parte que era a parte de alimentação lá virou praticamente um estacionamento.

Marquinho constata que o que era antes uma praça de alimentação, virou um estacionamento.

- Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

239


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Oficina 3: Construindo a Comunicação Gabriel

- como você pode ajudar nas praças? (vendedor)- não jogando lixo - o senhor gostaria de ir ao evento da praça? (vendedor) - sim.

Em entrevista Gabriel pergunta como vendedor poderia ajudar na praça. O homem responde que “não jogando lixo”. Depois, se o vendedor gostaria de ir ao evento da praça, e ele responde que sim.

- A importância de envolver a comunidade no processo. - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

Agatha

Com mais iluminação as pessoas não vão fazer coisa errada lá, essas coisa... jardim, plantações, brinquedos, espaço de areia pra brincar, área de lazer... quiosque de bebidas falaram, coisa pras criança brinca, mais praças porque tem poucas praças, aparelho de exercício e foodtruck.

Quando descrevendo o que os moradores relataram que gostariam que tivesse na praça, Agatha entende que com mais iluminação, mais difícil das pessoas fazerem coisas ilegais

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema. - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros. - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

João

Eu só quero pedir pra vocês se inscreverem, “meterem” o gostei, porque esse vídeo é muito importante para o nosso CCA. (...) iremos começar falando dos cartazes, que a gente iremos fazer.

João pede aos espectadores que curtam o vídeo deles no YouTube, pois o vídeo é muito importante para o CCA. criam uma narrativa para o vídeo e apresentam os cartazes que eles então fazendo.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A importância de envolver a comunidade no processo

Ana Clara

A gente tá fazendo o cartaz... da praça e, também, passa na rua, falando, assim, sobre a praça, que a gente vai construir uma praça pras crianças. E que isso a gente tem que valorizar, não estragar essa praça.

Ana Clara apresenta os cartazes que estão construindo e pede aos espectadores que valorizem o projeto e trabalho que estão fazendo.

- Crianças assumindo responsabilidades - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade

240


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Vitor e Professora

- oh, a gente sabe que você não tem conhecimento com o projeto que a gente tá fazendo que é chamado CoCriança. Oh, o que você diz, que a gente fazer esse projeto pra ajudar a praça, pra cada aluno do CCA ir lá, brincar e fazer um monte de brincadeiras? (professora) - eu acho interessante, porque é um lugar que a gente não tem espaço pras criança do CCA pode tá brincando, né? E a gente poder sair um pouco desse espaço aqui [do CCA]. Que aqui a gente não tem uma quadra, não tem um parque descente... E eu acho interessante porque não vai ser aberto apenas para as crianças do CCA, no caso seria também pra comunidade inteira, certo? No caso das crianças da comunidade, eu acho que é uma coisa legal, onde pode haver espaço pra elas tá ali se conhecendo, brincando, cuidando também, né? Ensinar a cuidar e a ter espaço que não seja só o CCA, o refeitório, já que a gente não tem uma quadra tão interessante, a gente tem a praça que vocês estão ajudando a reformar e a revitalizar.

Vitor pergunta à professora sobre o que ela acha do projeto que estão fazendo na praça. Ele quer saber a opinião dela em relação aos alunos do CCA poderem usar a praça e poderem criar brincadeiras. A professora responde que acha o projeto interessante pois eles não têm um espaço no CCA apropriado para isso. Que, então, seria ótimo poderem sair do CCA, pois não têm uma quadra. Lembra que não têm parques no bairro. Ela fala que seria ótimo para que a comunidade inteira possa usufruir do espaço, a praça como lugar de encontros, de cuidados. Usar da educação para cuidar do que é público.

- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como diferencial positivo - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

João

Esse é o nosso segundo vídeo do nosso canal da nossa praça.

Oficina 4: Divisão das Frentes de Trabalho

- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade.

Wendell

Nós tamos na nossa praça mostrando como que eles estão reformando. Nossa praça está sendo reformada graças aos moços que tão ajudando.

João apresenta o vídeo que as crianças estão produzindo coletivamente para apresentar a praça que assumem como delas. Wendell apresenta a praça que está sendo reformada e reconhece a importância de ter ajuda dos funcionários públicos.

- Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Crianças assumindo responsabilidades - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

241


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Wendell

É bom porque um monte de criança pode brincar, mas nós não estamos expulsando os usuários de droga de onde eles moram. Eles podem ficar aqui, como eles quiserem, mas, também tem que ter o direito da criança. Por isso que existe o ENCA.

Wendell comenta que a praça é boa porque as crianças podem brincar e que, apesar disso, os usuários de dorgas podem co-existir no mesmo espaço que eles, desde que respeitem o direito da criança. Por este motivo que existe o ENCA.

- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A paisagem como diferencial positivo - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

Wendell

A gente nem podia vir aqui por causa dos usuários de droga.

Wendell realata que não podiam usar a praça por receio em relação aos usuários de drogas.

- Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

Agatha

Eu acho que vai melhorar bastante a nossa praça, vai ficar bem bonita. E que seja um espaço tanto pra nós quanto pros pais, pros adultos, pras crianças, pra todos ter um pouquinho de tempo pra brincar, pra se diveritir.

Agatha acredita que a praça vai ficar bem bonita após a reforma, sendo melhor do que está hoje. Ela pespera que a praça se torne um espaço tanto para as crianças, quanto para adultos. Para que todos tenham um pouco de tempo livre.

- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como lugar de encontros e tempo livre A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A praça como espaço de qualificação da comunidade

Agatha

É, pros nossos pais também vim aqui, ficar conversando, enquanto nós também pode tirar nosso dia pra brincar, essas coisas. E eu espero que dê tudo certo e que, dessa vez, não destruam a praça. (...) vai ficar bem bonito, bem bom, bem trabalhado. E que dê tudo certo.

Agatha pensa que a praça é para os adultos também usarem, além das crianças, que podem tirar o dia para brincar. Ela espera que, dessa vez, não destruam o que elas construiram, pois acha que vai fica muito bonita a praça, muito bem feita.

- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

242


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

João

Eu quero falar que a nossa praça é um lugar pra se divertir, onde as crianças vem brincar, os adultos vêm fazer suas coisas, suas necessidade. Aqui é um lugar bom pra estudar, pra regar planta, trazer o seu animal para brincar. TRAZER O SEU FILHO PARA BRINCAR, porque a praça é importante pra gente. Porque se não fosse graças à praça, quase nem todas as crianças desse mundo teria algum lugar pra brincar.

João trata com seriedade da importância da praça como um lugar para se divertir, brincar e encontros. Um lugar bom para passear, estudar, cuidar da natureza e passar o tempo livre. Mais do que isso, é um lugar para se passar tempo em família, porque a praça é um lugar importante para as crianças, especialmente pois elas podem brincar em seu espaço.

- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

Henrique

É, nós precisamos de um lugar pra se divertir, pra ser mais livres. Porque também não é só nós que tem que usar esse lugar, pode ser muita gentes.

Henrique fala não só da importância das crianças terem um espaço livre para brincar, mas todas as pessoas.

- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

Tiffany

É um lugar que as crianças pode brincar... Porque, na rua, tipo, passa muito carro, então não dá pras crianças brincarem. Então, ai a praça é pras crianças brincarem se divertirem.

Tiffany constata que, já que na rua têm muitos carros e não há espaço para as crianças, a praça é um ótimo lugar para elas brincarem e se divertirem

- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.

João

E também, a praça é um lugar público, aonde pode ter criança, adulto, até animais. E a praça é um lugar aonde a gente não pode destruir. É um lugar onde as crianças vem brincar, os adultos fazerem suas coisas... É bem importante a praça pra gente.

João constata que a praça é um lugar público e que, portanto, todos podem usar e devem cuidar. Além disso, ele menciona os diferentes usos da praça pelos seus usuários, pontuando que é um lugar muito importante para eles.

- Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade”

243


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Agatha

Aqui vai ser aonde vai ter as planta também, que é - que eu acho que o lugar fica mais bonito quando tem plantação, árvore, essas coisa.

Agatha apresenta, no vídeo, os elementos que compõe a nova praça. E que, para ela, quando tem vegetação, o lugar fica mais bonito.

- Crianças expressam a própria vontade - A paisagem como diferencial positivo.

Alysson

E aqui vai ser aonde vai ser o escorregador... Aqui é onde nóis vai coloca as planta.

Alysson apresenta, para o vídeo, os novos elementos que compõe a praça.

- Crianças tomando decisões sobre o processo - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

Dea

Agora, o que a gente vai fazer, é contar um pouquinho pra vocês como é que a gente faz as oficinas, tá? Porque hoje, nesses grupos que a gente tava, cada grupo vai pensar numa atividade que, semana que vem, a gente vai pra praça e a gente vai pintar.

Dea

Ellen e Yumy

244

Oficina 5: Desenvolvendo o Planejamento: Pintura Dea explica como é que se planeja as oficinas: cada grupo irá pensar em uma atividade porque, na semana seguinte, as crianças vão para a praça para pintar!

- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Planejamento e execução das ações organizadas pelas crianças - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

Então agora, todo mundo já sabe que semana que vem a gente vai mexer com tinta, que a gente vai pintar a nossa praça. (...) então a gente [as educadoras] não vai trazer, a gente não vai falar pra vocês o que a gente vai fazer, porque quem vai decidir isso hoje são vocês.

Dea explica com transparência que as crianças irão pintar a praça na próxima oficina. E que, a partir de então, elas que irão decidir o que será feito.

- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Planejamento e execução das ações organizadas pelas crianças - Crianças tomando decisões sobre o processo.

(Yu) - Mas então, o que vocês acham, a gente já tinha visto algumas coisas, lembra que vocês tinham escrito que era legal ter as regras da praça... E o que mais cês achavam bom ter naquele muro de desenho? (Ellen) - O que mais pode ter? Então, como nóis tinha dito, em cima da escalada: o céu.

Yumy pergunta a opinião das crianças em relação ao que elas gostariam que tivesse de pintura na praça, para isso, ela resgata algumas ideias anteriores já ditas por elas. Ellen responde que em cima da pintura da escalada poderia ter o céu.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Alysson

Na hora que nóis for pintar, nóis pode fazer na parede, tipo, umas crianças brincando.

Alysson sugere de pintar a parede da praça com a representação de crianças brincando.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar.

Alysson e Yumy

(Yu) - E toda oficina, ela também tem que ser registrada. Olha, o Lucas tá aqui registrando essa oficina que a gente tá dando. E vocês têm que ficar responsáveis por tirar foto e pensar, tipo, “ah, vai ter alguém responsável por filmar a oficina”. Essas coisas também, vocês podem pensar. (Alysson) - Então, nóis pode pesquisar nessa parte como é que nóis pode pintar nossa praça. (Yu) - É, dá pra trazer referências de como vocês podem pintar a praça. Isso é bem legal para uma atividade de aquecimento, por exemplo.

Yumy explica como será a oficina de planejamento exemplificando uma das responsabilidades que as crianças poderiam exercer, por exemplo, de registrar a oficina por audiovisual. Em seguida, Alysson sugere que eles poderiam fazer uma pesquisa de maneira de pintar a praça. E Yumy confirma que trazer referências de pinturas é uma ótima ideia, inclusive para uma atividade de aquecimento.

-Crianças assumindo responsabilidades - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

Ellen

Eu sugiro fazê um desenho assim, ai... tipo fazê, desenhar nossa praça, como que tá lá dentro. Desenhar assim as crianças brincando... Dá pra desenhar, pra mim, assim... Chama o Joe, tipo a Cleo e o Joe, os grafiteiro.

Ellen explica como ela gostaria que fosse a nova pintura na praça: um desenho da própria praça com crianças brincando. Ela ainda sugere que deveríamos chamar os dois grafiteiros locais: Cleo e Joe.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar -O entendimento da paisagem como espaço de construção.

(Julia) - Tipo assim, eu to falando, tipo assim: é duas e quarenta e cinco, o A e o B começa a pintar. (Yu) - Ah! Dois grupos pintando ao mesmo tempo? (Ellen) - É, o A e o B vai pintar ao mesmo tempo, tipo, meia hora. E o D e o C vai pintar depois, tipo, meia hora. Entendeu?

Julia explica à Yumy detalhadamente como será a atividade por elas planejada: primeiro pinta o grupo A e B. E Ellen complementa que o grupo C e D pintam depois de meia hora.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.

Julia, Yumy e Ellen

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Julia

Tia, deixa eu explicar, assim, que eu e a tia tava pensando aqui. Assim, não tem onde que eles vão escrever? Então, a gente vai ter formas assim. Ai, dentro dessas formas a gente deixa pra eles escreverem e, em baixo, a gente pede pra eles colocarem o nome deles, de tinta. A gente escreve a palavra “nome” de tinta. Ai, sabe aqui, perto das coisas? A gente vai revesando, de um e um mês. Ai, tipo, nesse mês, ai a gente vai e vê as ideias que tem. As ideias que tem, a gente pega, a água e passa, que vai ser fácil de tirar. Ai, a gente escreve no papel pra ver depois, no final do ano, quantas crianças escreveram regra, essas coisas.

Julia explica sua ideia para o grupo enquanto criam a atividade: haverão formas para que outras crianças que usem a praça escrevam a opinião delas em relação à praça e, a tinta, escrevam seus nomes. Depois disso, as crianças do CCA deverão ir se revezando para, de mês em mês, recolher as ideias que forem surgindo, apagando os nomes, e lendo as novas sugestões como se fossem “regras” novas de uso da praça.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A importância de envolver a comunidade no processo.

Julia

O nosso deu certo, e a gente fez também algumas coisas, como se fala, algumas gincanas... É, tipo isso, e também a gente fez, a gente falou o que a gente queria colocar na praça, o que a gente não queria. E eu achei que foi fácil.

Julia fala o que achou da atividade que acabou de acontecer: para ela foi fácil, o grupo dela criou algumas gincanas e falaram o que gostariam que tivesse ou não na praça.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

Oficina 6: Pintando a Praça! Edgar e Denise

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(Edgar) - Vai dividir em grupos, pra pintar. Aí vai ter o espaço pra colocar “suas regras”. Aí, que nem, vai fazer os desenho, aí nóis vai pintar nóis brincando na praça. (Denise) - A Cleo não veio hoje, mas a gente vamos pintar o muro, todo mundo junto. Aí, quando a Cleo vim, ela vai desenhar pra gente aplicar a tinta no desenho.

Edgar explica a atividade de pintura: terá um espaço direcionado para as crianças escreverem as “suas regras”, outro espaço com o desenho das crianças brincando na praça. E Denise complementa que, como a grafiteira não veio para pintar no dia, todos irão pintar o muro todos juntos.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

João, Mari e Renata

(João) - Eu vou fazer uma pergunta e, uma pergunta sobre a praça, eu quero pergunta como é que vocês achavam que era a praça antes? (Todos) - Bem ruim. (João) - E agora? (Mari) - A gente tá reformando ela e tals, e espero que fique melhor. (João) - Como vocês acham que vai ficar depois? (Todos) - Melhor. (Renata) - Não tão melhor... Porque não é todas as pessoas que vão querer cuidar.

João conduz a conversa antes da primeira atividade que ele e o grupo planejaram. Primeiro, ele quer saber como os outros achavam que a praça era antes, depois como a praça está agora. As crianças respondem que antes era bem ruim e que agora esperam que, com a reforma, fique melhor. João faz sua última pergunta: como acham que vai ficar depois, no que a maioria responde com um “melhor”. Porém, Renata expressa alguma dúvida em relação a isso, pois entende que todos devem cuidar da praça para que o melhor aconteça.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A paisagem como diferencial positivo - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

Anderson

A gente vai entregar um papel pra vocês, pra vocês desenha a praça. Como vocês querem que ela fica.

Anderson explica a atividade que ele e o grupo criaram: cada criança terá de desenhar como gostariam que a praça ficasse.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.

Agatha

O Edgar, a Denise e a Renata é do nosso grupo. Aí eles falaram que eles quer pintar a parede, então a gente falou assim: “então como cês quer pintar a parede, vocês ajuda eles também, falando as coisa.” Porque se eles são do nosso grupo, eles têm que saber também as coisas.

Agatha conta a uma das educadoras do CoCriança que se o Edgar, a Denise e a Renata são da equipe delas, então, eles também deveriam assumir as responsabilidades de explicar a atividade também.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.

Agatha

E não é pra ficar brincando, porque tem gente que não sabe, não tem maturidade pra pintar uma parede... fica tacando tinta no outro, fica pintando o outro. Isso não é brincadeira não, então, pinta direito. Que isso é pra vocês mesmos, não é pras tias. Que elas não vão vir lá dos cafundó dos Judas pra pintar isso aqui - é vocês mesmos. Então, vocês têm que valorizar e fazer direito.

Agatha dá uma bronca nos meninos que estavam atrapalhando a atividade que ela conduzia, alegando que não é para pintar um ao outro e sim, a parede. Ela explica a eles que não é um trabalho fácil para as facilitadoras do CoCriança vir de longe e ajudá-las com a praça, e que, portanto, isso deveria ser valorizado por eles, já que o CoCriança faz isso por eles.

- Crianças expressam a própria vontade - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

247


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Agatha

O gente, quem tá com o rolo, quando for usar, vocês tiram o excesso pra poder durar a tinta, viu? Porque se não, não vai dar.

Agatha explica às outras crianças como é que se usa o rolo de tinta: tirando o excesso para economizar.

Convergência - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.

Oficina 7: Construindo com a Comunidade Ellen, Julia e Agatha

(Ellen) - Nóis queria um monte de criança brincando no parque. (Julia) - Mas tipo, não precisa ser só crianças, pode ser crianças cegas, mudas, essas coisa... (Agatha) - É, crianças de todo tipo pra... (Ellen) - Negras. É, pode ser aquelas criança que usa cadeira de roda... Brincando no parque que nóis vamo criar.

As meninas explicam ao grafiteiro que gostariam de crianças com diferentes características, que não fossem apenas braco-normativas, brincando no parque que elas iriam criam com o desenho.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Crianças tomando decisões sobre o processo - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.

Dea e Ellen

(Dea) - E o quê que vai ter no parque? (Ellen) - Escorregador, escalada, balanço... A bomba de água.

Dea pergunta o que elas gostariam que tivesse no parque do desenho do grafite. Ellen responde com elementos que, para ela, representam a praça.

- Crianças expressam a própria vontade - Crianças tomando decisões sobre o processo - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar.

Bia e Agatha

(Bia) - O que a gente tinha planejado pra hoje é: a gente vai pintar o grafite, como a gente decidir... E, aí, outra coisa que a gente tinha pensado era em chamar o pessoal daqui - os vizinhos - pra conversar sobre o lixo (...) E aí eu queria saber o quê que vocês querem fazer. (...) (Agatha) - Eu acho que a gente podia, primeiro pintar... aí, se a gente terminar de pintar, a gente chama o pessoal pra falar sobre o lixo.

Bia esclarece às crianças qual era o plano do dia perguntando o que elas preferiam: pintar o grafite como decidirem, ou chamar os vizinhos para converçar sobre o lixo. Agatha coloca sua opinião quando diz que poderiam primeiro pintar para depois, quando terminarem, chamar os vizinhos.

- Crianças expressam a própria vontade - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.

João

Fala galera! Hoje a gente vai aqui na praça, e vamos entrevistar as pessoas que tão colocando plantas. Bora lá!

João introduz o vídeo que ele e as outras crianças gravam, dizendo que vai entrevistar as pessoas plantando na praça.

Oficina 8: Plantando!

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- Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade.


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

João

Eu sou o João, e eu quero apresentar uma coisa: hoje nós tá aqui na praça, pra entrevistar as pessoas que tão plantando, vamo lá! Aqui, a Julia e a professora Dea estão cavando, colocando árvores. Aqui é o escorregador de cimento. Ali, o homem tá fazendo uma escalada. Vamos lá entrevista ele!

João apresenta as ações na praça para o vídeo criado por ele e as outras crianças. Ele mostra algumas crianças plantando, o escorregador de cimento e o homem que está fazendo a parede de escalada.

- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

João e homem da escalada

(João) - Como o senhor se sente fazendo esses brinquedos para as crianças? (homem da escalada) - Eu me sinto muito bem! Feliz né, pode trazer um pouco de brincadeira e animação pra vocês né? E você, como você se sente poder ter uma escalada dessa pra vocês? (João) - Bem também, pra nós poder brincar porque, de todas as reformas que teve aqui na pracinha, nunca teve esse brinquedo.

João entrevista o homem que instala a parede de escalada na praça perguntando como ele se sente em instalar o brinquedo para as crianças. O homem responde que está feliz por poder trazer um pouco de brincadeira e animação a eles. Depois, o homem faz a mesma pergunta a João, que responde que está bem também, pra eles poderem brincar, pois essa é a primeira vez que uma reforma instala um brinquedo desses.

- Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.

Renata e homem da escalada

(homem escalada) - E você, como cê se sente tendo uma escalada dessa aqui? (Renata) - Muito legal, pra ter mais brinquedo. Tinha pouco brinquedos aqui também, agora tem que ter mais, porque do mesmo jeito tinha poucos brinquedos, mas tinha gente que se importava.

O homem que instala a parede de escalada pergunta como Renata se sente em relação ao novo brinquedo. E ela responde que acha muito legal para terem mais brinquedos, porque antes tinham poucos brinquedos, mas mesmo assim, tinha gente que se importava com a praça.

- Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.

Julia

Gente, olha o resultado: aqui ó, essas plantas ficou bem bonitinho. Aí ali tá ficando a escalada. (...) Aqui tem essas plantas. Aqui tem essas plantas também, que a gente plantou bastante planta.

Julia apresenta o resultado da oficina, muitas plantas que ficaram bonitas e a parede de escalada.

- O entendimento da paisagem como espaço de construção - A paisagem como diferencial positivo

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Henrique e homem da escalada

(homem escalada) - E você, o que você acha da escalada? (Henrique) - Eu acho que é muito bom pras criança se divertir um pouco, e nao perder o tempo delas com pouca coisa. É... é bem diferente!

O homem que instala a parede de escalada pergunta a opinião de Henrique sobre o brinquedo, e ele responde que acha muito bom para as crianças poderem se divertir, usarem o tempo delas com uma brincadeira diferente.

- Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.

Renata

A gente tá ajudando o tio a fazer a escalada. Ajudar a colocar os parafusos pra ele não demorar muito pra colocar, pra fazer.

Renata explica que as crianças estão ajudando o homem da parede de escalada a instalar as peças, colocando os parafusos.

- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.

Renata

Os negócios que a gente colocou, a escada, tá tudo sujo. Também as planta que nós colocamos tá tudo pisada, e também, a gente desenhou lá, eles desenharam por cima... E tem um monte de lixo lá dentro.

Oficina 10: Perspectivas 2020

- O entendimento da paisagem como espaço de construção - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

Agatha

E também, tá muito cheiro de mijo lá. E também, tem um monte de lixo lá, que os moradores deixaram, né, pros lixeiros pegarem, e ai, tipo, eles deixam um monte de cheiro de mijo, e junto com o cheiro de lixo que já tem perto... Aí, num dá nem pra passar lá perto.

Agatha reclama do cheiro de urina e de lixo que tem a praça, isso devido ao acúmulo de sacos que os moradores depositam até que passe o caminhão de lixo.

- Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

Renata

Eu aproveitei pra brincar quando eles [os moradores de rua] não tavam lá não.

Renata conta de uma vez que brincou na praça quando não havia mais ninguém usando.

- A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

250

Renata relata a atual situação da praça, que está suja, com as plantas pisadas e o desenhos pintados por cima.


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Dea e João

(Dea) - Então a gente tem que limpar tudo de novo! - Sim! Não! Sim! Sim! [respostas variadas terminadas em sim!] (João) - Mas eles sempre vão bagunça! [quase chorando].

Dea sugere que o grupo limpe a praça de novo e recebe respostas variadas entre sim e não, que terminam em sim. João, descontente com a situação, argumenta que as pessoas sempre vão desarrumar.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

Agatha

E tem que ir lá né? Porque não adianta! Tem que ir, pra usar, ai provavelmente vai ter que pintar tudo de novo, por as plantas lá de novo... (...) Se a gente ir lá quase todos os dias, lá brincar, ir lá e tals, ai acho que eles vão se tocar, vão ver.

Agatha fala sobre a ocupação da praça, que as crianças devem ir lá e usar, brincar, pintar, colocar as plantas de novo. Que só desse as pessoas vão ver que a pracinha é importante para eles.

- Crianças expressam a própria vontade - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.

Dea e Evelin

(Dea) - E por que que tem mais papel verde na escalada? (Evelin) - Porque esse foi o único brinquedo que sobrou, que a gente colocou aqui.

Durante a atividade, Dea pergunta por que as crianças indicaram a parede de escalada como finalizada. Evelin responde que porque esse foi o único brinquedo que sobrou.

- Crianças tomando decisões sobre o processo.

Ana Clara

Aqui, no papel em vermelho, a gente colocou limpeza, muitos brinquedos e mais plantas. Ai limpezas: pedir ajuda para os moradores; brinquedos: colocar mais brinquedos novos; plantas: fazer mais plantações.

Durante a atividade, Ana Clara indica ter notado que faltava arrumar na praça a limpeza, mais brinquedos e plantas. E como solução, para limpeza, pedir ajuda para os moradores; os brinquedos, instalar novos; e para plantas, plantar mais!

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.

Julia e Agatha

A gente escreveu “falta brinquedos”, ai aqui nós colocou construir, procurar ajuda, comprar materiais, costumizar e reutilizar.

Agatha e Julia, durante a atividade, explicam que faltam brinquedos na praça. E como solução, pensaram em contruir, procurar ajuda, comprar materiais, customizar e reunitilizar.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Tiffany

Limpeza. Nós colocamo que precisa de mais um dia. Ai nós podemos fazer um dia pra gente trazer, por exemplo, coisas de casa - a gente traz das nossas casas mesmo - pra gente fazer a limpeza na praça. Tipo, uma vassoura a gente pode trazer de casa mesmo, uns produtos.

Tiffany e sua dupla acham que o que falta para a praça ficar pronta é limpeza. Como solução, eles pensaram em tirar um dia para cada criança trazer da sua casa produtos de higiêne e vassouras para limpar.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.

Edgar e Tiffany

(Edgar) - Na planta também, nós podemos cortar as garrafas assim, coloca. (Tiffany) - Tipo, nós fazer um dia pra gente planta algumas coisas.

Como solução para as plantas que faltam na praça, Edgar sugere que plantemos em garrafas e Tiffany sugere um dia só para isso.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.

Denise

Brinquedo. Tipo, balanço, dá pra gente fazer balanço de pneu. Gira-gira.

Denise aponta como solução para os brinquedos da praça fazer balanço de pneu e colocar gira-gira.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.

Maria Clara

A gente colocou brinquedos - o que falto. Ai, a gente colocou, tipo assim, a gente conversar com as pessoas do bairro pra ver se algumas dessas pessoas pode ajudar, sabe? Ai, a gente também colocou pra falar com a Prefeitura. (...) Também a gente colocou pra gente mesmo, tipo, pra trazer algo da nossa casa pra... reutilizar.

Maria Clara acha que faltam brinquedos para finalizar a praça e, como solução, ela acha que podem conversar com moradores do bairro para pedir ajuda, falar com a Prefeitura, e as próprias crianças poderiam reunitilizar o que têm nas suas casas.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo. - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A importância de envolver a comunidade no processo

Evelyn

Limpeza. E também, eu coloquei “chamando o grupo de pessoas pra limpa” é, lá a praça. E falar pras pessoas trazer essas coisas, vassoura, balde, porque aí com tudo isso a gente vai limpar melhor e conseguir limpar mais rápido.

Evelyn acha que falta a limpeza para terminar a praça. Como solução ela acredita que chamar um grupo de pessoas para ajudar, que possam trazer baldes, vassouras, vai ser mais rápido de limpar.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo. - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A importância de envolver a comunidade no processo

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Tabela de Análise de Falas - Vila Anglo Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Oficina 1: Como Informar a Comunidade? Yu e Bianca

(Yu) - E o que vocês decidiram? É que eu não sei, eu cheguei agora, e não to sabendo de nada... (Bianca) - A gente decidiu colocar umas plantinhas em volta da pracinha (...) É... brinquedos.

No começo da oficina, Yumy pergunta o que é que foi decidido em relação à reforma da praça, pois ela não estava no ano anterior. Bianca responde que elas decidiram colocar brinquedos e plantas em volta da praça.

- Crianças tomando decisões sobre o processo. - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

Stefani

A gente pensou em divulgar pra feira cultural... e, eu e o João, a gente vai ficar responsáveis. Nas redes sociais vai ser a Gabi e o Cauã que vai ficar responsáveis. E nos panfletos vai ser a Gabriela. E a gente pensou em fazer um encontro na praça, depois que a gente sair divulgando, a gente pensou em passar na casa das pessoas que a gente conhece, marcar um dia pra gente ir na praça, pra gente conversar com essas pessoas, sobre o que a gente vai fazer, e aí todo mundo vai ajudar.

Stefani explica o plano pensado por eles para divulgação da reforma da praça: ela e o João vão ficar responsáveis pela divulgação na feira cultural. A Gabi e o Cauã responsáveis pelas redes sociais, e a Gabriela responsável pelos planfetos. Eles também pensaram em fazer um encontro na praça, sair divulgando na casa das pessoas que eles conhecem, marcar um dia para irem à praça para conversar com as pessoas sobre o que será feito.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

Bianca

A gente separou o que a gente precisa pra feira cultural: a gente vai precisar de vocês do grupo dos cartazes pra sábado, pra semana que vem. A gente pensou, pra feira cultural, a gente pensou em apresentar o projeto pras pessoas, apresentar vocês [CoCriança] e só. (...) E a gente dividiu dois evento, que é o evento de ajuda, que vai ser pra gente pedir ajuda pras pessoas, que vai acontecer depois que a obra pesada tiver pronta. E o evento de inauguração, que vai ser depois que tudo tiver pronto.

Stefani explica o plano para a divulgação dos eventos: vão precisar do grupo dos cartazes para a semana seguinte, e pensaram em apresentar o projeto e o CoCriança na feira cultural do CCA. Além disso, decidiram dois eventos, um para pedir a colaboração das pessoas depois que a reforma da subprefeitura estivesse pronta, e outro de inauguração quando tudo estivesse pronto.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Raquel e Layza

(Raquel) - Nossas ideias, a gente fez, tipo, espalhar folhetos e cartazes pelas ruas do bairro mesmo. (Layza) - A gente vai querer também criar uma página no Instagram e divulgar. E, também, vai ter hashtah, vai ter foto pra divulgar. (Raquel) - A gente sair por ai pra falar com os nossos amigos, pessoas próximas, a gente falar o que é a praça. Ah, a gente fez um exemplo de cartaz de folheto, que é esse [mostra o cartaz]. E o último é, é inauguração, fazê... tipo uma inauguração, um evento quando terminar a reforma de praça, que aí vai ter comida, bebida, música, atividades. Quando, com todo mundo que ajudou, a gente faz tipo um evento pra comemorar a inauguração da praça.

Raquel e Layza explicam o plano de comunicação delas: vão espalhar planfetos e cartazes pelas ruas do bairro, criar uma página no Instagram para divulgar através de hashtags e fotos, sair para falar com amigos próximos, explicar o que é a praça, e fazer um evento de inauguração quando terminar a reforma da praça, com comida, bebida, música e atividades.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

Bianca

(...) vai ser em forma de foto e vídeo, e as responsáveis sou eu e a Ana Beatriz.

Bianca explica o formato da divulgação: foto e vídeo, e as responsáveis, ela mesma e Ana.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.

Bianca

É... a gente decidiu fazer alguns vídeos lá na praça, postar no YouTube, Facebook, tirar foto dos cartazes, e o nome das redes sociais vai ser “Jornalzinho da Praça” - “Jornalzinho da PDS”. É isso.

Bianca explica o plano de comunicação: fazer fotos e vídeos, postar no Youtube e Facebook - que terão o nome de Jornalzinho da PDS - e tirar fotos dos cartazes.

- Crianças expressam a própria vontade - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A criação coletiva de alternativas ao problema

Ana

Gente, aqui vai ter um tobogã porque a gente tem muita dificuldade pra subir, então com o tobogã vai ser mais fácil e com as escadas também.

Ana sobe um barranco enquanto explica que, no futuro, será um tobogã e escada, para facilitar na subida.

- A paisagem como diferencial positivo - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Oficina 2: Construindo a Comunicação Stefani

Então, gente, a reforma começou pelo corrimão que, pra começar nem tinha, e agora tem até lá em cima.

Stefani explica a reforma da praça apresentando o novo corrimão da escada.

- O entendimento da paisagem como espaço de construção.

Ana e Bianca

(Ana) - E agora a gente vai mostrar a quadra pra vocês. Já tá quase pronta, já tá com as grades, com a estrutura. (Bianca) - Sim, gente, a gente escolheu colocar a arquibancada, porque, tipo, tem pessoas que querem assistir o jogo e tals, e eu acho legal também.

Ana e Bianca apresentam a nova quadra e arquibancada da praça, que estão quase prontas. Bianca explica também o porquê da escolha de colocar a arquibancada.

- Crianças tomando decisões sobre o processo - A paisagem como diferencial positivo - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

Gabi

(Gabi) - E aqui, antes era pedra, e agora a gente tá reformando e vai ter um jardim também.

Gabi explica que no espaço do playground onde antes era pedra, será transformado em jardim também.

- O entendimento da paisagem como espaço de construção.

Ana, Bianca e Dea

(Bianca) - E essa é a Dea, ela é da USP, e ela tá ajudando a gente na arquitetura da praça. (Ana) - Ce quer explicar mais um pouquinho do projeto? (Dea) - Sim, é eu faço parte do Coletivo CoCriança, e a gente tá fazendo o projeto da praça na verdade junto com eles, porque quem pensou, e elaborou e planejou foram vocês, né? (Todos) - Sim.

Bianca apresenta a Dea para aqueles que estiverem assistindo ao vídeo, dizendo que ela ajudou na arquitetura da praça. Ana pede pra Dea explicar um pouco sobre o projeto. Dea explica que faz parte do CoCriança, que está fazendo o projeto da praça junto com as crianças, porque quem pensou, elaborou e planejou foram elas próprias, e crianças concordam.

- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade.

Stefani, Ana e Bianca

(Bianca) - E é isso, gente! Se inscrevam no canal. (Ana) - Deixem o seu like. (Ste) - Se vocês quiserem deixar alguma coisa nos comentários sobre o que vocês querem pra melhorar a praça, o que vocês querem saber é só deixar aqui em baixo que a gente responde.

Bianca e Ana, no final do vídeo pedem para os espectadores se inscreverem no canal da praça, e Stefani pede para que deixem comentários e perguntas sobre o que as pessoas gostariam que melhorasse na praça, que elas responderiam.

- Crianças assumindo responsabilidades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A importância de envolver a comunidade no processo.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Oficina 4: Desenvolvendo o Planejamento: Comunicação Angelina

(Angelina) - Qual é o seu nome? - Hilary (Ang.) - É, a gente tá num projero da Praça do Samba. Você conhece a Praça do Samba? E a gente quer saber, se você pode ajudar a gente a construir as reformas da Praça? É, as reformas são: arte, pintura, brinquedo... É, se você pode colaborar pra limpeza da praça. - Dependendo do dia, posso.

Angelina entrevista uma das moradoras do bairro e explica sobre o projeto que estão fazendo na Praça do Samba. Ela convida a moradora a participar do cuidado e reforma da praça, de arte, pintura, brinquedo e limpeza.

- Crianças assumindo responsabilidades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

Angelina

(Ang.) - Você conhece a Praça do Samba? - Aquela ali né? Sei. (Ang.) - É, a gente tá fazendo um projeto pra meio que construir a praça, e ai, a gente precisa saber se você pode ajudar a gente em alguns materiais, ou divulgando pras outras pessoas, ou trabalhando na praça. - É, tem que ser trabalhando? Pra dar dinheiro num pode? Tem que,ser, por exemplo, pra dar o que? (Ang.) - Não. Materiais. - Qualquer material? Tipo, um saco de cimento. E como é que faz? Tem que levar lá? (Ang.) - Não, aí você fala pra gente. Cê comunica pra gente. - Ah entendi, eu dou. Saco de cimento eu dou.

Angelina entrevista um morador do bairro, explicando sobre o prajeto da Praça e convidando-o a ajudar na construção coletiva. Ela assume a responsabilidade de receber os materiais que o homem quer doar para o projeto.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

Stefani

(Ste) - Você conhece a praça do samba? - Conheço. (Ste) - O que você acha do bairro? - Eu acho bom de morar, tranquilo.

Stefani entrevista uma moradora do bairro. A moradora um lugar tranquilo e gostoso de morar. Ao responder sobre o que poderia mu-

- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade

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Nome

Stefani e Ana

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

(Ste) - O que você acha que poderia mudar na praça? - Ah, acho que já foi mudada, a quadra que vai ser bem útil né, pras crianças tá brincando. E mais limpa também né, os donos dos cachorros deixa lá tudo cheio de cocô. (Ste) - Você acha necessária essa reforma? Por que? - Eu acho! Acho, não, tenho certeza! Justamente por esse que eu tô te falando, os brinquedos também tão bem escasso, bem sujo... (Ste) - E a última pergunta, você já foi alguma vez lá ou costuma ir? - Vou todos os dias com meu filho.

dar na praça, a moradora afirma que a reforma já ajudou muito, pois as crianças terão um espaço para brincar, mas que, apesar disso, ela poderia ser mais limpa. Por último, a moradora afima ir à praça todos os dias com seu filho.

- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.

(Ste) - Você conhece a praça do samba? - Conheço. (Ste) - O que você acha do bairro? Você gosta de morar aqui? - Gosto muito. Moro há 24 anos. (Ste) - O que você acha que poderia mudar na praça? - Só diversão pra criança. Sem negócio de samba, de bagunça. (Ana) - Você gostou o que mudou na praça? - Maravilha! Ainda hoje eu tava lá. É coisa pra adulto, pra idosos. Tem mesa de tijolos, tem tudo! Ficou muito bonito. (Ste) - Você acha necessária essa reforma? Por que? - Sim, sem dúvida! Deixar limpa, tem uma pessoa pra limpar agora. (Ana) - Tá, a gente queria, a gente tá chamando algumas pessoas pra ajudar nessa segunda parte da reforma, que é pintura, e a gente queria saber se você queria ajudar a gente. - Hoje não. Mas volta, pode passa, que eu ajudo!

Stefani e Ana entrevistam um morador que afirma gostar muito de morar no bairro. Ao responder sobre o que poderia mudar na praça, ele diz que poderia ter mais diversão para criança, mas que, com a reforma, a praça está uma maravilha, um lugar que todos possam usar. Apesar disso, ainda é preciso limpeza no espaço. Por último, ele se disponibiliza a ajudar na reforma.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A paisagem como diferencial positivo - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Stefani e Ana

(Ste) - O que você acha do bairro? Você gosta de morar aqui? - O bairro é bom. Gosto. (Ste) - O que você acha que poderia mudar na praça? - Ó, o que poderia mudar já foi feito lá né, alguma coisa lá né. É, poderia ter mais insentivo aqui né, pras crianças, pra brincar lá né. (Ste) - Você acha necessária essa reforma? Por que? - Sim. Ah, porque tava abandonada ali já né, há muito tempo. O pessoal fica usando droga ali já né, num é bom. (Ana) - A gente queria saber se você quer ajudar a gente com a parte de pintura, essas coisas? - Sim.

Stefani e Ana entrevista um morador que afirma gostar de morar no bairro. Ele acha que a reforma já melhorou muito a praça, mas que poderia ter mais insentivos que as crianças pudessem brincar. Antes da reforma, ele achava a praça abandonada e relaciona à frequencia de usuários de drogas. Por fim, ele se disponibiliza a ajudar com a pintura.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A paisagem como diferencial positivo - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

Oficina 5: Desenvolvendo o Planejamento: Pintura Yumy e Stefani

(Yu) - Quem é que pode contar? Da última semana, mais fácil. É como é que foi? (Ste) - A gente planejou como é que a gente ia sair na rua. A gente dividiu o que cada um ia fazer, porque tinha o tempo, gravar e entrevistar. Aí a gente anotou, e foi pra rua.

Yumy pergunta às crianças o que é que foi feito na semana anterior, e Stefani responde que eles planejaram a atividade para sair na rua. Para isso, se dividiram em responsabilidades tempo, gravar, entrevistar, anotar.

- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.

Dea e Cauã

(Dea) - E ai, o que que vai acontecer, é... Nessa parte aqui, que é a atividade relacionada à praça? (Cauã) - A gente vai pintar a praça. (Dea) - Só que precisa de pensar como é que vai ser feito isso, né... (Cauã) - Organização?

Dea explica como é que se organiza a atividade ralacionada à praça, e Cauã entende que eles irão então pintar a praça.

- Crianças assumindo responsabilidades - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Yumy e Gabi

(Yu) - E como é que é? A gente chega aqui, toda vez, e como é que a gente faz? Como é a ordem das coisas que a gente faz? (Gabi) - Vocês se organizam, com o horário...

Yumy pergunta às crianças o que é que as facilitadoras costumam fazer toda vez que chegam ao CCA, e Gabi responde que elas se organizam, observam o horário.

- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.

Yumy, Layza e Dea

(Yu) - E o que a gente fez na semana passada? A primeira atividade? (Layza) - A gente escreveu no papel o que que tem no caminho até a praça. (Yu) - Isso. E a outra a gente foi vendado até a praça. (Dea) - Não é? A gente chama isso de “atividade de aquecimento”. (Yu) - É. E ela sempre tem a ver com o resto da oficina, assim. Mas é uma coisa pra começar, pra vocês acordarem assim. (Layza) - Um estímulo!

Dea e Yumy explicam às crianças como é que funcionam as oficinas, exemplificando a atividade de aquecimento, como funciona, e Layza compreende que é um estímulo para as próximas atividades.

- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.

Angelina, Gabi e Dea

(Ang.) - Não, tem que ver os materiais necessários: tinta é... pincel, a bandeija... (Dea) - E como é que a gente vai conseguir os materiais necessários? Então, pedir pra alguém do grupo trazer... (Ang.) - Ou pedir pras pessoas que a gente entrevistou, pra ver se elas podem ajudar. (Gabi) - A gente podia fazer algum cartaz pra pergunta se alguém poderia... (Ang.) - Eu posso perguntar pro meu tio que mora ali do lado. Porque o meu tio é marceneiro, ele pinta também, entaõ...

Dea discute com Angelina e Gabi como é que elas vão planejar a oficina. Angelina diz que primeiro teriam que ver quais os materiais necessários e depois sugere de pedir emprestado para as pessoas entrevistadas na oficina anterior. Gabi também sugere de fazer cartazes pedindo ajuda, e Angelina lembra do tio que mora próximo à praça e é marceneiro, que, portanto, poderia ajudar na pintura.

- Crianças assumindo responsabilidades - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.

Yumy e Stefani

(Yu) - Mas e depois? Acaba com uma atividade grande? (Ste) - Eu acho que depois a gente conversa sobre o que a gente fez.

Yumy pergunta sobre o que é a última atividade da oficina, e Stefani responde que nolmalmente é feita uma conversa sobre.

- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Dea, Layza e Gabi

(Dea) - E se eu dou um feedback com amor e falando a verdade para a outra pessoa? (Layza) - Causa felicidade! (Dea) - Felicidade né? A pessoa ela tá o que aqui? Ela tá recebendo um... presente né? (Gabi) - Ela está insentivando a outra pessoa a melhorar! (Dea) Isso, exatamente! É um insentivo que você dá pra ela.

Enquanto explica sobre como dar feedback, Dea pergunta qual o efeito de fazê-lo com amor e falando a verdade, e Layza responde que causa felicidade! Depois, Gabi ainda complementa o entendimento dizendo que isso é um insentivo para que a outra pessoa melhore.

- Verbalização de sentimentos

Dea e Angelina

- (Dea) - Eu vou dar um [feedback]. Eu vou falar pra Angelina, que eu fiquei muito feliz, quando a gente tava no final da atividade, e você começou a dar várias ideias e pegou muitas responsabilidades pra você, e eu senti que o grupo andou assim, caminhou. (Ang.) - Dea, posso dar um pra você? Eu também me senti feliz, porque você também seria feliz por ajudar a gente a construir as coisas que ninguém quase tinha.

Durante a roda de feedbacks, Dea diz para Angelina que ficou muito feliz, porque Angelina deu varias sugestões e assumiu responsabilidades, contribuindo para o grupo. Angelina decide dar um feedback para Dea também, dizendo que ficou feliz com a ação da Dea que ajudou o grupo a encontrar materiais que não sabiam que tinham.

-Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Verbalização de sentimentos - Crianças assumindo responsabilidades.

Layza e Yumy

(Layza) - Eu fiquei triste, quando a Gabi falou que não ficaria bonito pintar o negócio de malhar. (Yu) - Boa. É um ótimo feedback.

Layza dá um feedback para Gabi dizendo que ficou triste com a fala dela, de que não ficaria bonito pintar o equipamento de exercício.

- Verbalização de sentimentos - Reconhecimento e prática do seu direito de fala.

Mari

(Mari) - Eu quero falar de novo: eu me senti muito feliz, porque eu lembro quando tudo começou, essa história da praça é, lembro como que cada um fazia as coisas... foram entrando crianças, foram saindo crianças. E tá tudo sendo construido com muito esforço de vocês todos, de vocês todas, e tá ficando tudo muito legal, gente, sério. Obrigada por cês terem ficado com as crianças e brigada vocês [crianças] também, cês tão se esforçando muito.

Mari dá um feedback geral ao projeto CoCriança, relembrando quando tudo começou, que foram entrando e saindo crianças, e como tudo está sendo construido com o esforço coletivo, tanto das facilitadoras, quanto das crianças que estão se esforçando muito.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Verbalização de sentimentos.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Dea

(Dea) - Eu me senti também um tanto desrrespeitada e frustada, quando eu tava sentada nesse grupo e eu tive que chamar a atenção, muitas vezes, né. Do grupo em geral. Então, vai pra todos do grupo.

Dea dá um feedback para o grupo que trabalhou junto, dizendo que se sentiu desrrespeitada e ficou frustada porque teve de chamar a atenção de todos muitas vezes.

- Verbalização de sentimentos - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.

Mari e Dea

“(Mari) - Eu to bolando uma aqui na minha cabeça, mas eu to... é porque a minha eu acho que ela interfere meio que no sentimento de outras pessoas que eu tinha observado dali. Então, vamo vê se vocês me ajudam: eu me senti envergonhada com algumas falas da Gabriela Sudario enquanto ela demonstrava despreso no que as pessoas falavam. Então o que eu senti, foi vergonha alheia. Mas é um sentimento próprio isso? (Dea) - É. Mas o cuidado aí é na Gabi demonstrar o despreso, porque, na verdade, o que ela tava fazendo era alguma ação, que você entendia como desprezo. Mas não necessáriamente pra ela era isso. Então, tem que ver qual foi a ação que ela fez, então: “”eu me senti envergonhada quando a Gabi, é... Falou, ou não falou, ou não prestou atenção, no que os outros tavam falando””. Aí isso pra você remete ao desprezo, mas não necessáriamente isso foi um desprezo pra ela. Cês entenderam essa parte? Porque eu não posso colocar no outro, isso, uma coisa que não é uma ação né? Da gabi. Um sentimento de desprezo, porque o desprezo é um sentimento.”

A professora Mari tenta formar um feedback para Gabi dizendo que se sentiu envergonhada com algumas falas da aluna, enquanto ela demonstrava desprezo pelas pessoas de seu grupo. Mari sentiu vergonha alheia. Dea, então, explica que, ao falar que a Gabi demonstrou desprezo, Mari está colocando um sentimento na ação de Gabi - o de desprezo -, o que não se pode saber. Por tanto, para que o feedback ficasse correto, Mari teria que dizer que Gabi, por exemplo, falou junto com os outros.

- Verbalização de sentimentos Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.

Vinícius e Yumy

(Vini) - Eu me senti feliz, porque tipo, a gente tava trabalhando todo mundo junto, conversando, dialogando, daí a gente tava mais... como que eu posso dizer? Mais junto, mais... (Yu) - Unido? É união é um sentimento também.

Vinícius dá um feedback de como se sentiu em relação ao planejamento em grupo e disse que ficou feliz, pois todo mundo estava conversando, dialogando, e Yumy complementa com unido, pois união é um sentimento também.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - A criação coletiva de alternativas ao problema - Verbalização de sentimentos

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Stefani

(Ste) - Eu me senti muito feliz porque por mais que... não, eu gostei que a gente conseguiu fazer o que a gente queria mesmo, o nosso objetivo, e é isso ai.

Stefani dá um feedback de ficou feliz durante a atividade, pois seu grupo conseguiu chegar ao objetivo.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Verbalização de sentimentos

Angelina

(Ang.) - Eu me senti feliz, mesmo não prestando atenção. Mas mesmo assim eu consegui sentir feliz, porque o meu grupo, ele reuniu e decidiu quem ia fazer qualquer coisa pra saber quem é que ia fazer aquilo. Então, mesmo eu não prestando atenção eu consegui mesmo pensar o que eu queria fazer com o meu grupo.

Angelina diz ao grupo que se sentiu feliz durante a atividade de planejamento, porque o grupo dela estava unido e puderam decidir as devidas responsabilidades de cada um. Assim, mesmo que ela estivesse desatenta, ela conseguiu tomar decisões com o grupo.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - A criação coletiva de alternativas ao problema - Verbalização de sentimentos

Oficina 6: Pintando a Praça! João e Dea

(João) - É... enquanto a gente vai andando até a praça, vê as cores das paredes, desenha... Pra gente ter umas ideias, pra quando for desenhar lá. (Dea) - Pra ir observando as cores? (João) - É. [e fala baixinho] Que vergonha...

João explica a atividade de aquecimento planejada por seu grupo: enquanto andam até a praça, todos devem ir observando as cores, a fim de terem ideias para pintar.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.

Gabi

Então, a gente vai fazer o negócio né, de pintar. E a gente vai separar vocês em grupos, 1, 2 e 3. E é, a gente vai pintar.

Gabi explica a atividade de pintura planejada por seu grupo, onde os participantes serão divididos em 3 grupos para pintar.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.

Layza

Isso! Tipo assim, ó: vamos pintar de azul, amarelo, verde. Azul, amarelo e verde.

Layza explica qual cores quer usar para pintar os bancos da praça.

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Oficina 7: Reflexão Bianca e Gabi

(Gabi) - Bianca, eu não sei por onde começar... Bianca, o que é que eu faço agora? (Bianca) - Eu não sei... É que a tinta não tá nem ficando preta, como eu pensei...

Enquanto pintam, Bianca e Gabi dialogam sobre como pintar o banco e ambas não sabem o que fazer.

- Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar

Cássio

A gente vai fazê umas perguntas sobre o que vocês acharam do projeto... a atividade [pintar os bancos]. É... Pra vocês quais são os pontos positivos e negativos?

Cássio faz as perguntas que foram elaboradas por seu grupo de planejamento: ele quer saber o que as outras crianças acharam da atividade, quais foram os pontos positivos e os negativos..

- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.

Angelina e Bianca

- (Ang) - O positivo é que a gente que escolheu como é que a gente ia pintar e como é que a gente ia fazer. Tipo, não foi as outra pessoas, foi a gente. (Bianca) - Foi legar vê que vai ficar permanente...

Angelina responde que, para ela, um ponto positivo da atividade foi que eles mesmos escolheram como iriam pintar, não as outras pessoas. E Bianca acha que um ponto positivo foi ver que vai ficar pintado permanentemente.

- Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

Dea, Bia, João e Ste

(Dea) - E pintar sozinho, foi fácil? (Todos) - Não. (Bia) - É mais fácil sozinho ou em grupo? (Todos) - Em grupo! (Bia) - Por que? (João) - Porque deu pra conversar. (Ste) - É, tipo, sozinho demora mais pra você pensar a situação.

Na reflexão sobre a atividade, Dea e Bia perguntam se foi mais fácil pintar sozinho ou em grupo. As crianças respondem que em grupo, porque podem conversar e porque sozinho demora-se mais para pensar.

- A criação coletiva de alternativas ao problema

Mari

Eu queria agradecer vocês, pelo carinho com as crianças, pelas oficinas muito bem elaboradas. Foi tudo muito bom, muito maravilhoso. Teve uma evolução muito grande deles e vocês fizeram parte disso, então, muito obrigada.

Na última atividade do ano, Mari, a educadora, agradece ao CoCriança pelo carinho com as crianças, pelas oficinas elaboradas, mas, principalmente, pela evolução que ela pode ver nas crianças.

- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Verbalização de sentimentos - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.

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Nome

Unidade de Significado

Bia, Layza e Dea

(Bia) - Mas ces acham que a atividade do jeito que foi tava perfeita. Ces acham que nada podia ter sido diferente? (Layza) - Não, o Vinicius, ele deu uma ideia semana passada de fazer várias bolinhas e todo mundo concordou. Só que aí, chegou hoje e a gente fez outras coisas (Dea) - Então, no final das contas cada um fez o seu né? E, como a Bia tava falando, ninguém conversou pra desenhar...

Bia pergunta se as crianças acham que a atividade criada por elas poderia ter sido feita diferente, e Layza lembra que na semana anterior eles haviam planejado coletivamente de pintar umas bolinhas nos bancos, só que isso não aconteceu, pois cada um acabou pintando do seu jeito. Bia complementa, então, que faltou conversar sobre o desenho.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças tomando decisões sobre o processo

João, Angelina e Gabi

(João) - Cê sabe por quê fez essa atividade? (Ang) - Pra praça ficar mais bonita, pro povo parar de ir no pier. Pra volorizar a praça. (Gabi) - Pra ter mais vida. (João) - Pra ficar mais bonita a praça. Pra vir mais pessoas.

João pergunta ao grupo se eles sabem o porquê de terem feito a atividade. Angelina responde que foi para a praça ficar mais bonitas, pras pessoas usarem e para valorizá-la. Gabi diz que é para a praça ter mais vida, e João complementa que é para a praça ficar mais bonita e vir mais pessoas usá-la.

- A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

Bia, João e Ste

(Bia) - E dessa vez vocês sentiram que todo mundo foi escutado? (João) - Eu acho que não. (Ste) - Ela falou do que eles queriam fazer [bolinhas no banco]. Talvez seja porque eles realmente não tenham lembrado, mas assim, eles podiam ter conversado com a gente, ter dado a ideia, a gente podia ter dado mais sugestão... Podia ter sido mais, assim... (Bia) - Conversado?

Bia pergunta se da vez que pintaram o banco, individualmente, as crianças sentiram que todos foram escutados. João responde que não, e Stefani complementa que talvez a ideia de pintar com bolinhas realmente não surgiu porque foi esquecida, mas que, se tivessem lembrado, eles poderiam ter conversado entre si para discutir a ideia.

- A criação coletiva de alternativas ao problema - Verbalização de sentimentos - Crianças assumindo responsabilidades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala.

Angelina

A gente decidiu o quê que a gente queria na praça!

Relembrando a trajetória do projeto, Angelina fala da vez que eles escolheram o que teria na praça.

- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - O entendimento da paisagem como espaço de construção.

264

Discurso Articulado

Convergência


Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Angelina, Layza e Dea

(Dea) - Como cês acham que a praça vai ficar daqui a um ano? (Ang) - Se as pessoas cuida, bonita. (Layza) - É, com mais vida. Se as pessoas colabora, não sujarem e não jogarem lixo. (Dea) - Cês acham que cês vão tá indo na praça ainda? Ang e Layza) - Sim.

Quando Dea pergunta como as crianças acham que a praça vai estar em um ano, Angelina responde que bonita, e Layza diz que se as pessoas cuidarem, não jogarem lixo, a praça estará com mais vida. Por último as duas afirmam que estarão indo à praça ainda.

- A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

Oficina 7: Reflexão (material escrito pelas crianças) Gabi

Eu amei ter feito a praça. O resultado. Eu imagino a praça daqui 1 ano ainda legal e do jeito que “construimos”. E quero terminar de fazer a praça ano que vem, fazer o mosaico, pintar a parte de cimas, as escadas e alguns lugares... E eu amei criar, fotografar as redes sociais e etc. Eu amei a experiência de tudo.

Gabi relata que amou ter feito a praça e o resultado alcançado. Em 1 ano, ela imagina que a praça vai estar ainda do jeito que construíram, e que, antes disso, gostaria de terminá-la, fazer o mosaico, pintar mais lugares que faltaram. Ela relata ter amado criar, e aprender a fotografar e divulgar. Isto é, Gabi amou toda a experiência.

- O entendimento da paisagem como espaço de construção - Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Crianças tomando decisões sobre o processo - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema.

Angelina

Olá, durante todos os dias que a gente começou a planejar a praça foi bem legal. No começo quando vocês falaram da praça achei bem legal ai quando vocês falaram que a gente ia se ver depois das férias, achei que vocês não iam voltar, mas quando vocês voltaram, eu fiquei mais feliz ainda. Ai depois que a praça começou a colocar corrimão, quadra, comecei a ficar mais feliz. Ai eu achava que a oficina tinha acabado mais não porque a gente decidiu pintar os bancos e fazer o jardim e o tobogã. Mas foi muito legal trabalhar com vocês. A praça ficou linda e sem a ajuda de vocês a praça ia ficar sem vida. Não sei se ano que vem estarei aqui, mas adorei!!!!

Angelina escreve que gostou de planejar a praça. Ela comenta que, apesar de ter gostado do projeto, tinha medo que a equipe do CoCriança não retornasse após as férias, mas que, como retornamos, ficou muito feliz. Ela ficou muito feliz também quando começaram a instalar os elementos na praça - corrimão, quadra... Ela imaginava que o projeto terminaria por aí, na obra, mas não foi o que aconteceu, pois as crianças decidiram pintar os bancos, fazer o jardim e tobogã. Ela achou muito legal fazer o projeto com o CoCriança. Para ela, a praça ficou linda e sem nosso projeto, estaria sem vida.

- O entendimento da paisagem como espaço de construção - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - Percepção da paisagem como diferencial positivo - Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Crianças tomando decisões sobre o processo - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A praça como espaço de qualificação da comunidade.

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Nome

Unidade de Significado

Discurso Articulado

Convergência

Gabi Vieira

Eu gostei de participar da reforma e eu gostei do que eu fiz na praça. Gostei de ter ajudado a pintar os bancos, de ajudar a escolher os brinquedos, de ajudar e de fazer as maquetes, conversar e das coisas. E no primeiro dia eu achei que não ia dar em nada, mas agora eu percebo que era verdade. E eu achei bem legal reconstruir a praça e de toda a praça.

Gabi escreve que gostou de participar da reforma e do que fez na praça: pintado os bancos, ajudado a escolher os brinquedos, ajudado a ter feito as maquetes e conversar. No início, ela não achava que o projeto realmente aconteceria, mas agora ela vê que é real. Por fim, ela achou muito legal o processo e o resultado final.

- O entendimento da paisagem como espaço de construção - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Crianças tomando decisões sobre o processo.

Oficina 8: Retomada Duda

O nosso é no gira-gira também que, ele tá bom, mas o ruim dele porque tem criança quando vai girar é, tem vez que criança cai ali. E tá ruim porque também tá bambo e machuca.

Duda menciona o gira-gira da praça como elemento não finalizado, pois, apesar de bom, quando a criança vai girar tem perigo de cair, já que está bambo.

- Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar.

Duda, Bianca e Dea

(Duda) - Tem dois lugares que a gente colocou, né. Porque lá tá sem o aro de basquete e aqui tá toda rasgada a rede de futebol. (Bianca) - A gente pode falar com aquele moço lá, lembra? Que falou que tinha rede, rede pro gol. (Dea) - Ah, verdade! Um que a gente conheceu na rua, né?

Duda fala da falta do aro de basquete e do problema na rede de futebol rasgada. Como solução, Bianca lembra que poderiam pedir ajuda a um dos moradores que se disponibilizou durante as entrevistas.

- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.

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