Nó na palavra 2017

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NรณnaPalavra



Revista NónaPalavra Nó na palavra, nona palavra. A palavra do nono ano. A voz que baixa o tom até o chão da sobriedade. A fuga da resposta imediata, do grito oco, da conclusão veloz. A luta do pensamento para achar a sua forma: Atar e desatar, tecer, refazer, ponderar, reavaliar. A juventude e seu lugar. As juventudes e seus lugares. Arte, política, comportamento, educação. A casa, a rua, a escola, a cidade. A ciência e o desejo. A opinião construída e em construção. A palavra do nono ano sobre si e, principalmente, sobre os Outros: Eis o nó. Evandro Rodrigues

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A revista NónaPalavra resulta da trajetória do Projeto de Escrita, disciplina organizada especialmente para o 9º ano, série essa que marca, como sabemos, o fechamento do Ensino Fundamental II e promove a passagem para um momento muito privilegiado da escolaridade, o Ensino Médio. O objetivo do curso é levar o aluno a perceber a escrita como um espaço importante para a compreensão do texto, elemento organizador de nossas ideias. Durante o ano, a partir de práticas dissertativas e argumentativas, os alunos aprimoraram técnicas de pesquisa, exposição, explanação, explicação de ideias, bem como, no caso argumentativo, persuasão, convencimento e construção de opinião crítica. Tivemos como tema central o conceito de Juventudes, no plural, a fim de reforçar o caráter múltiplo da ideia de juventude. Lançamos mão de contribuições de distintos campos do saber (literatura, história, sociologia, psicanálise, música popular), com o intuito de transcender o recorte meramente etário que se costuma dar ao conceito de juventude e refletir sobre a experiência do ser jovem enquanto construção do presente. Esta revista apresenta artigos de opinião escritos pelos alunos que partem de perguntas como “Afinal, escola para quê?” e “Há no Brasil contemporâneo espaços de representação legítimos das juventudes?”, questões que norteiam duas das seções desta publicação. Também apresentamos textos que tratam de temas como drogas, padrões de beleza e desigualdade de gênero, assuntos também trabalhados nas aulas de Português com as turmas de 9º ano.

Boa leitura e boas reflexões! Laura Meloni Nassar e Evandro Rodrigues Laura Meloni Nassar é coordenadora pedagógica de 8º e 9º ano do Ensino Fundamental II e do 1º ano do Ensino Médio. Evandro Rodrigues é professor de Língua Portuguesa de 8º e 9º ano do Ensino Fundamental II e de Produção de Texto do 1º ano do Ensino Médio.


Sumário Exercícios de escrita O Conceito da Juventude .................................................................... 10 juventude .............................................................................................. 11 Juventude .............................................................................................. 12 Qual é o nosso lugar? ............................................................................ 13 Juventude .............................................................................................. 14

Artigos de opinião Há espaços para os jovens na sociedade atual? .................................. 18 As Regras na Sociedade ....................................................................... 19 Artigo de Opinião ................................................................................. 20 Artigo de opinião - Regras ou o caos ................................................... 21 Como a sociedade vê a escola.............................................................. 22 Liberdade restrita ................................................................................. 24 Refacção - Simplesmente isso? ........................................................... 25 Precisamos de regras? .......................................................................... 27 A sociedade sem regras ....................................................................... 28 Juventude ............................................................................................. 29 Artigo de Opinião.................................................................................. 32 Escola pra quê?...................................................................................... 34 O poder da escola ................................................................................. 36 Escola pra quê?...................................................................................... 37 Escola: confronto e transformação ...................................................... 38 Escola pra quê? ..................................................................................... 40 O reflexo da escola na sociedade ......................................................... 42 Escola pra quê?...................................................................................... 45 Escola, para quê? .................................................................................. 47 A Educação, a Política e o ser Adulto................................................... 49 Escola pra quê?...................................................................................... 51 Instrumento para Transmitir o Humano ............................................. 52 Escola para quê? .................................................................................... 54 Escola, apesar de tudo .......................................................................... 55 Escola, como? ........................................................................................ 56 Escola para quê? .................................................................................... 57


Escola pra quê?...................................................................................... 59 Escola: como é e como deveria ser ...................................................... 60 Escola para quê? .................................................................................... 61 Escola para quê? - Segunda versão ...................................................... 63 A importância das escolas para a sociedade ....................................... 63 Escola ..................................................................................................... 66 Por que escola? ..................................................................................... 68 Artigo de opinião- A escola ideal ......................................................... 70 Escola para quê? .................................................................................... 72 Artigo de opinião - Educação e juventude .......................................... 74 Educação é a solução? .......................................................................... 76

Textos diversos Mãe contra pai ...................................................................................... 78 Pai contra mãe ..................................................................................... 80 O Futuro ................................................................................................ 84 Mãe Contra Pai...................................................................................... 87 Pelos olhos de um ignorante, ............................................................... 89 o dinheiro é só o que conta .................................................................. 89 Pai contra mãe ...................................................................................... 90 Pai contra mãe ...................................................................................... 92 Sangue negro ........................................................................................ 94 Arminda ............................................................................................... 108 A voz interna ....................................................................................... 112 Sem Escolha ........................................................................................ 116 Boa moça ............................................................................................. 119 Liberdade ............................................................................................. 123 Pai contra mãe .................................................................................... 127 Arminda x Cândido ............................................................................ 130 A flor .................................................................................................... 131 Pai contra mãe .................................................................................... 133 Amigos................................................................................................. 136 Pai contra mãe ................................................................................... 138 Mãe contra pai .................................................................................... 139



ExercĂ­cios de escrita


O Conceito da Juventude Ana Julia Varjão

Juventude pode ser muito bem explicada como uma fase antes da vida adulta, na qual esses seres que ainda se formam tendem a questionar tudo e a duvidar da maioria das coisas que os próprios olhos veem. Isso, pelo menos, é o que a maioria dos filósofos e cientistas dizem por aí, que a juventude é uma fase em que questionamos tudo, duvidamos de tudo, e achamos que somos até, de uma certa maneira, “imortais”, pois achamos que simplesmente estamos sempre certos e que nunca poderemos nos ferir, que nada de ruim pode acontecer. Assim, os pais acabam se perguntando o que fazer com esses seres tão misteriosos e teimosos que são os seus filhos adolescentes. Com esse parágrafo, chego à conclusão de que a juventude pode ser interpretada como nada mais nada menos que uma fase de escolhas, derrotas, superações e discussões; é a hora em que o “conflito” desse grande romance imprevisível, que se chama vida, começa.

A adolescência é uma uma fase que costuma ter muita influência vindo de outros, principalmente seus pais e colegas mais destemidos, e o jovem precisa ser compreendido pelos seus mentores e pelas as pessoas ao seu redor. A adolescência é a fase mais importante de nossas vida, pois é essa fase que influencia o resto de nossas vidas. Por conta disso, muitas vezes, a única coisa que os jovens querem é seguir o seu sonho acadêmico e fugir das barreiras e rótulos impostos pela nossa sociedade, mas, apesar disso tudo, o que eles querem mesmo é ser feliz.

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juventude Caio Volpe

Juventude, para muitos, é a fase da vida em que você está entre a infância e a fase adulta, mas, pelo que vimos, sei que é bem além disso. Por exemplo, a juventude é representada pelos desenhos e séries como festeira, todos querem ser amigos da pessoa mais popular, usar as roupas da moda, mas nem todos os jovens são assim. Esses desenhos, em sua maior parte, fazem parecer que todos jovens são iguais. Eu penso a juventude como uma fase na qual temos muita voz, podemos nos expressar mais e ser ouvidos pela sociedade, como em manifestações, em pinturas, entre outros. Com essa voz maior que temos em nossa juventude, não podemos aceitar a antiga definição de juventude, que era a de miniadultos. Por fim, penso que não há uma definição perfeita para a juventude, ela está e estará sempre mudando, com nossas influências, influências de desenhos e séries, a mídia em geral, sempre a definição estará sendo mudada. Para finalizar, eu diria que o jovens querem ser ouvidos e querem curtir essa fase da vida em que você não tem tantas responsabilidades como um adulto.

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Juventude Bianca Schiachero Andrade.

Juventude, às vezes a melhor, às vezes a pior fase. É uma época difícil, pois é nessa fase que os reais problemas começam a existir, é nessa fase que já temos uma leve noção das nossas escolhas, nosso estilo… É a hora em que nossa diversão muda e, para aceitar o fato, demora um ano mais ou menos. Essa transição é uma nova experiência. Algumas coisas ficam mais chatas e sérias, tal como a escola, para alguns. A partir da juventude, nosso ponto de vista muda. Há coisas que fazemos na juventude que não podíamos fazer na infância: ir ao shopping sozinhos, por exemplo. Também, há coisas que não precisamos fazer quando somos crianças: tarefas de casa, por exemplo. De acordo com o site https://www.dicio.com.br/ juventude/, juventude tem os seguintes significados: 1-Parte da vida do homem entre a infância e a idade viril: o brilho da juventude. 2-Estado de uma pessoa jovem. 3-As pessoas jovens: instruir a juventude. 4-[Figurado] Energia, vigor, viço: conservar a juventude do coração.

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Qual é o nosso lugar? Maya Matta Lopes

A Juventude pode ser definida como um período transitório: o fim da infância e o começo de uma vida parcialmente adulta; lugar de desejo, saudosismo e imortalidade; etapa da vida “leve”, sem preocupações e inocente para outros, ou somente “o futuro do país”. Porém, a pergunta que a maioria não se faz é: “O que a juventude quer para si?”. Apesar das reflexões políticas e públicas que nos dão mais voz e valores, nós, juventudes com múltiplos olhares, somos quase sempre colocados como objeto, sem escolha do que nos será destinado. O lugar que antes ocupávamos era de totalmente adultos ou totalmente crianças, que tinham sua curta vida sem representatividade. Nunca nos deram tantas figurações como hoje, mostrando que a juventude é algo relativamente recente, uma construção temporal que há de ser ouvida. Os jovens de 15 a 29 anos, em geral, possuem os ditos problemas comuns, como crises de identidade, mas há também aqueles que, como a maioria dos jovens brasileiros, têm “problemas de adultos”, como acidentes de trânsito e assassinatos. Assim, como parte da população, que luta e sofre as consequências como qualquer outro cidadão, queremos e precisamos que nos deem liberdade de expressão e direito de representatividade como sujeitos, e não mais objetos.

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Juventude Thomas Pacini Stewart

Juventude é um período na vida de uma pessoa, entre a vida adulta e ser uma criança. Assim sendo, alguém muito novo para algumas coisas e muito velho para outras. Nesse período, a pessoa amadurece e se prepara para vida adulta. Nesse período da vida de uma pessoa, ela tem algumas dúvidas e está descobrindo o seu corpo. No século XIX e antes, a juventude não era bem retratada, quando uma pessoa é criança e depois vira um adulto, fazendo da juventude um conceito mais moderno. A juventude ainda não é um tema muito ocorrido na literatura e na mídia, mas tem alguns exemplos, como Harry Potter e outros.

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Artigos de opiniĂŁo

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Há espaços para os jovens na sociedade atual? João Pedro Moraes

Os jovens gostam de reunir-se com amigos para conversar, assistir filmes, jogar videogame, andar, ir na casa do outro, andar de skate. Dentre muitas outras atividades, algumas podem ocorrer na casa do jovem, um espaço em que ele fique com o amigo. Os jovens também querem sair e visitar lugares. Existem certos lugares que seriam como um ponto de encontro para os jovens, lugares como estações de trem e metrô, praças, parques e outros. Existem também certos lugares que têm um certo acúmulo de jovens, como o shopping, porém, em muitos desses lugares, os jovens são discriminados pela classe social, etnia, roupas que usam. Às vezes, mesmo não sendo barrado na porta, as pessoas do lugar podem olhar com certa discriminação, pensando que aquele não é o lugar de eles estarem. Também existem, porém, certos lugares em que os jovens com classe social menor e que são discriminados em outros lugares encontram-se, como em praças, e, muitas vezes, se em um lugar desses vai alguém com uma roupa que parece ser melhor, ele também pode sofrer discriminação. Os lugares de encontro dos jovens, além de eles estarem se encontrando como amigos, também simboliza que o jovem quer sair, se divertir e não ficar em casa, mostrando que ele também tem poder de sair com os amigos, se divertir e fazer as coisas. Acontece um “choque” quando os jovens frequentam lugares no qual eles “não poderiam frequentar”. Quando eles foram aos shoppings e estavam

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As Regras na Sociedade André Monteiro

Sabe-se que as regras garantem que as pessoas, com as suas diferentes crenças e ideias, possam conviver. Sem elas, a sociedade entraria em colapso e, quando indivíduos entrassem em discussões, eles poderiam não se entender e isso poderia acabar muito mal, por exemplo, em brigas e, ocasionalmente, em morte. Com regras isso aconteceria menos, pois os indivíduos iriam se sentir coibidos a entrar em um conflito, já que, mesmo que eles ganhassem, seriam punidos e isso incentivaria as pessoas a se entenderem de outras formas. Se pegarmos uma base de regras “boa”, como a Declaração dos Direitos Humanos, e um local onde as investigações e punições são corretamente aplicadas, as pessoas não poderiam ser escravizadas. Por exemplo, se um fazendeiro não quer pagar por mão de obra, ele não pode ir a uma aldeia indígena e escravizar os índios, pois, se ele o fizer, haverá consequências, como a apreensão de sua propriedade, o pagamento de multa ou, até mesmo, ser preso. Isso é importante pois o fazendeiro, sabendo disso, não escravizará ninguém

(partindo do princípio de que as investigações e punições funcionem). As regras, além de tudo, protegem a sociedade do colapso, pois, sem elas, os mais fortes, donos de megaempresas, portadores de mísseis, armas nucleares, controladores de mídia, dominariam os mais fracos e iria se estabelecer um regime de escravidão (não necessariamente uma escravidão em que todos os pobres virem escravos, mas muitos virariam e teriam alguns trabalhadores livres). Seriam formados grupos que disputariam a liderança local e um sistema ditatorial poderia surgir. A nível global isso acontece, já que não há leis a nível global. Portanto, as regras e as leis são essenciais para que as pessoas possam conviver, além de garantir que grupos com diferentes formas de ver o mundo possam coexistir.

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Artigo de Opinião Felipe Liberatori Cologni

As regras existem para que as pessoas possam conviver em uma sociedade justa, sem que uma minoria de pessoas tome vantagem da falta de regras para prejudicar um ou mais indivíduos. Sem regras, o mais forte poderia tomar facilmente tudo o que deseja do mais fraco. Por esse motivo, é necessário que haja regras para que uma pessoa não cometa atrocidades com os outros. Uma sociedade sem regras ou normas seria um caos porque não haveria nada que impedisse um cidadão de ferir ou roubar outro cidadão. As leis servem para trazer ordem e igualdade ao ser humano, para que a sociedade seja organizada de forma supostamente ética e todas as camadas possam supostamente interagir eticamente. Basicamente, as regras de nossa sociedade servem para manter a ordem, de maneira que uma convivência seja possível, e teoricamente para beneficiar todas as partes que a representam.

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Artigo de opinião - Regras ou o caos Bruno Besnosik

Na minha opinião, as regras são importantíssimas na sociedade, para impedir que pessoas façam algo de errado, impróprio ou que invada a propriedade de um outro cidadão. Mas mesmo com as leis, isso ocorre frequentemente hoje em dia, por exemplo, assassinatos, tráfico de drogas, assaltos, pichações e grafites ilegais, entre outros. Mesmo tendo regras que impeçam as pessoas de fazerem isso, é preciso ter algum tipo de autoridade para botar essas regras em prática. Temos como exemplo a greve da polícia no estado de Espírito Santo, que ocorreu no início deste ano, e temos dados que mostram que, em 6 dias de greve, teve o registro de 113 mortos, e esse número ultrapassa a média mensal do número de mortos no primeiro semestre de 2016. Além disso, essa greve mostrou o comportamento que pode ser atingido pelas pessoas quando não tem alguém para colocar essas leis em prática, houve casos de pessoas que não roubavam que começaram a roubar, saquear, outras pessoas aproveitaram a situação para matar, sequestrar, estuprar, e outros comportamentos antissociais. Esse exemplo mostra o que pode acontecer se uma sociedade ficar sem policiamento ou sem alguém que ponha as leis em prática. E é por isso que eu acho que sempre devem existir leis, mas não adianta ter leis se não tem quem as coloque em prática.

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Como a sociedade vê a escola Sophia Breschegliaro Moreto

Os adultos e a sociedade veem a educação como “estimular os jovens a avaliar com consciência os valores pelos quais a humanidade se rege e prestarlhes a sua adesão, procurando crer neles e seguindoos o mais fielmente possível. O grande objectivo da escola é o desenvolvimento do jovem ao nível de todas as facetas da sua personalidade para conseguir seguir um caminho digno e construir uma vida com base no sonho de cada um”. Vejo a escola não só como o lugar que “forma novos adultos”, mas, sim, um lugar que forma seu caráter, um lugar em que você conhece pessoas que marcam sua vida, que não vai esquecer, e, por fim, conhece o que é uma sociedade e como ela nos vê (nas escolas públicas, os adolescentes são obrigados a sentar e copiar o que os professores escrevem na lousa; quando o professor falta, o que é normal em uma escola do estado, porque ele não tem o mínimo de responsabilidade de avisar a direção, os alunos são liberados e não aprendem o necessário. Quando eu estudava no E.E. João Borges, toda semana os alunos eram liberados pelo menos oito vezes). Discordo da visão de muitas pessoas que dizem que a escola só é feita para se aprender Português, Matemática, Ciências etc., saem da escola só com as matérias na cabeça, que não é lugar de fazer amizades e que é para sair com a visão formada 100%. Acho que aquele você só se forma por completo depois de sai da bolha em que vivemos, por exemplo: saio direito da escola (um lugar privado), vou para casa, dentro de grades com

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seguranças e, às vezes, vou com as minhas amigas no shopping, onde tem mais segurança. Eu vivo numa bolha que espero sair o mais rápido possível. Não gosto de viver desse jeito, me sinto reprimida tanto fora quanto dentro da escola, porque dentro dela não me sinto à vontade de ser quem eu sou e nem fora, onde tem padrões para tudo e onde existe homofobia, machistas, racistas e preconceituosos de toda parte. Exemplo são as provas e testes que fazemos por oito anos, duas ou mais a cada trimestre, sem contar a faculdade, Enem e vestibular, que só testam coisas que em alguns anos iremos esquecer. Sei que usaremos Matemática, Português, Inglês etc., mas as provas, além das matérias e de ser quase um teste de pressão, que em uma uma hora temos que responder de 5 a 11 exercícios, dando exemplos, dando a sua opinião (mesmo não tendo certeza), acabam só testando nossas habilidade com equações, por exemplo, mas não testam as habilidades artísticas, morais ou cognitivas. Um grande exemplo é que Artes não tem prova. Minha conclusão é que queremos sair dessa bolha, mas temos medo de como a sociedade vai reagir, e queremos mudar essa visão que tem dos pré-adolescentes e dos adolescentes, ou seja, da juventude, e da escola. É que a sociedade reprime os alunos e as escolas só ajudam a fazer isso.

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Liberdade restrita Francisco Briza

O artigo de Immanuel Kant afirma que as crianças são mandadas para a escola logo no começo de suas vidas para se acostumarem com o padrão da sociedade, que é sentar e ouvir, e não para simplesmente aprender. Immanuel Kant comenta que a pessoa com o costume da liberdade não consegue deixar de ser livre, chamando a necessidade de liberdade de selvageria e capricho, que é o mesmo que dizer que um homem é obrigado a trabalhar, ignorando o seu desejo. O próprio sentido da palavra “capricho”, para falar do desejo de liberdade, já propõe algo pequeno, fazendo a imagem de uma humanidade perfeita, em que o mais importante é o trabalho e não a liberdade do indivíduo. Esse pensamento apenas serve para padronizar a conduta da sociedade, o que é um absurdo, pois a vontade individual e a liberdade são o que mais importa. Ainda, chama nossa motivação pessoal de selvageria e que deveria ser controlada. Comenta que a disciplina é algo que restringe a tal “selvageria”.

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Controlar tal motivação pela disciplina gera indivíduos frustrados e tristes, uma sociedade apática. Disciplina, também, não é necessariamente algo distinto de motivação. As afirmações de Immanuel Kant também imploram por um trabalho menos produtivo, tornando o resultado visivelmente inferior. O texto de Immanuel Kant é um absurdo, porque a imagem que é formada sobre o trabalho é de algo que necessariamente é distinto da vontade, e ainda chama a vontade de selvageria e capricho. Isso é inaceitável, pois vontade é algo inegável e necessariamente tem que ser ouvida. Além disso, a escola apresentada por Kant restringe-se a uma forma de alienação, e não a uma forma de libertação do indivíduo por meio do conhecimento.


Refacção - Simplesmente isso? João Pedro Moraes

O filósofo Immanuel Kant, em seu texto, conta o que acha sobre o modo que a escola se organiza. Segundo ele, a escola, em seu papel primário, tem como objetivo preparar as pessoas para viverem no mundo e conviverem socialmente. Então, tivemos que começar a ir para a escola cedo, pois ainda não estávamos acostumados com a liberdade. Ele tem razão em muitos pontos do texto, dizendo que a escola seria um lugar para aprender a conviver, obedecer e já nos acostumarmos com o modo que a sociedade se organiza. Ele está certo pois, acima de tudo, a escola está ensinando o que é necessário para se conviver socialmente. Mas, em certas vezes, o sistema atual não consegue cumprir esse objetivo. Com isso, nós podemos associar com o texto teórico apresentado, que diz que as regras podem ser variáveis em diversos casos, dependendo de certos fatores. Muitas escolas acabavam por ensinar a ordem colocando muitas regras que, de certo modo, “sufocavam” os alunos, chegando a machucar o aluno, e isso foi criticado na música “Another Brick in the Wall”, de Pink Floyd. Algo também citado no texto

apresentado, antigamente não existia uma negociação, as regras eram de um jeito e você seguiria sem nenhuma desculpa, sem nenhum jeito de justificar o motivo de elas terem sido burladas, algo que também “sufocava” o aluno, como citado anteriormente Outra coisa é, também, a qualidade da educação. Seria uma coisa estranha dizer que os primeiros países no ranking de educação (Suécia, Noruega, Holanda, Finlândia) estão lá apenas por “sorte”. Isso, provavelmente, se dá pois esses países têm um ensino diferenciado, que respeita as diferenças, e não seguem um modelo barato ou simples. Também, seria difícil dizer que é coincidência os melhores países no ranking de IDH também serem os melhores no de educação. As escolas precisam exigir a ordem e o respeito muitas vezes, mas em certos casos as regras podem ser negociadas, não sendo algo fixo, que nunca pode ser quebrado, mas algo que se reformula com as diversas variáveis que podem surgir. Entretanto certas regras não podem ser simplesmente “negociadas”. Um assalto a banco ou corrupção, por exemplo, independentemente do propósito, não

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são coisas negociáveis, que podem ser reformuladas, ou algo que uma pessoa não receba nenhuma punição (ou pelo menos não deveriam ser). O filósofo também diz a frase “Disciplinar quer dizer: procurar impedir que a animalidade prejudique o caráter humano, tanto no indivíduo como na sociedade”. Com essa frase, ele diz que educar seria impedir a pessoa de causar danos a si mesmo ou à sociedade, o que de acaba sendo verdade. Focando mais nas frases de Immanuel Kant (que são bem antigas) e na frase proposta no exercício de refacção, essa que diz que agora as regras são negociáveis, que é um texto atual, ao contrário dos de Kant, que são do século XVIII ou XIX, somente com as datas vemos que certas coisas mudaram, por exemplo, esse fator das regras, que atualmente é mais negociável do que antes, porém é necessário mais investimento em educação de qualidade e diversas outras coisas para a educação brasileira se comparar à de países de primeiro mundo, que, para isso, têm algum fator que diverge da educação de outros países.

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Precisamos de regras? Júlia Mangueira Morales

Regras, precisamos delas? Conseguimos viver sem? Bem, sim, regras são essenciais para haver uma harmonia e boa convivência entre as pessoas. Mesmo as regras mais chatas servem para melhorar o ambiente de convivência, com exceção de regras rígidas, excessivas, que podem oprimir alguém. Algumas regras não são muito agradáveis, mas, a partir do momento em que as seguimos, temos melhores resultados, apesar de muitas vezes dispensar muito esforço para realizálas. Por exemplo: chegar ao trabalho ou à escola em uma determinada hora, não chegar em casa tarde, entregar trabalhos e lições na data certa, não mexer no celular durante a aula.

convívio público. Muitas das leis que existem na escola são resultantes dos princípios que servem de base ao bom convívio”. Mas, agora, se pensarmos em uma escola sem regras, ninguém aprenderia nada e tudo seria um caos. Mas se, ao contrário, as regras fossem muito rígidas, as pessoas que a frequentam ficariam incomodadas com a falta de expressão e liberdade, como, por exemplo, se nenhum aluno pudesse expressar sua opinião. Assim, regras são necessárias para uma convivência agradável entre todos.

Todo lugar tem regras. A escola é um deles. Lá, além de aprendermos coisas “para usar na nossa vida e descobrir interesses”, tem regras para que possamos conviver ou até melhorar o desempenho escolar. Em uma reportagem do dia 18 de março de 2010, Rosely Sayão, no jornal Folha de S. Paulo, discute essa ideia: “Um deles, é o respeito às leis da instituição escolar, um espaço de

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A sociedade sem regras Luísa Becker Regensteiner

Uma sociedade sem regras viraria um caos? Sim, de fato. Sociedade é o agrupamento de seres que convivem em estado gregário e em colaboração mútua. Contudo cada uma dessas pessoas tem seus desejos, objetivos, religião, vontades, opiniões, problemas pessoais (seja econômico, de saúde, familiar etc.), medos e interesses, pois nenhuma pessoa é análoga a outra. Sendo assim, dentro de uma sociedade é fundamental e importante estabelecer regras porque, se as pessoas não souberem o que pode e o que não pode fazer, cada ser humano vai começar a fazer o que bem entender, na hora que quiser, e, o mais grave disso tudo, prejudicando a vida dos outros. Segundo Acácio Neto, a sociedade sem leis se destruiria, e isso é óbvio, pois vivemos e somos uma sociedade egoísta (www.anetux.com.br). Mas há leis e regras muito importantes, como: temos leis para a aposentadoria, temos a lei do salário mínimo, nós sabemos que é proibido fazer assédio, é proibido matar, é proibido estuprar uma mulher, entre outras.

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Todas essas leis são importantes para que o todos convivam em paz e ordem. Você, homem ou mulher que trabalha para sustentar seus filhos, que tem as contas pagas em dia, que trabalha até tarde para pagar a escola do seus filhos, que tem que comprar comida, como ficaria sua vida se seu patrão resolvesse te pagar 500 reais por mês? Você ainda teria comida ? Suas contas estariam atrasadas? É para isso que as leis servem, para tornar a sociedade organizada, para que ela possa se respeitar. Mas será que algum dia poderemos conviver sem regras ?


Juventude Luìsa Becker Regensteiner

Juventude é o momento em que uma pessoa deixa de ser uma criança para ser um adolescente. Para ser mais específica, a juventude está entre a idade dos 15 aos 29 anos, segundo o texto “Juventudes: estatísticas”’, que afirma que, com o passar do tempo, a sociedade passou a garantir direitos mais amplos à faixa etária dos 15 aos 24 anos, e posteriormente até os 29 anos. Esse momento na vida dos jovens é muito importante, pois o corpo e a mente mudam e amadurecem. É uma fase na qual os jovens vão ter mais liberdade para fazer suas próprias escolhas, experimentar novas coisas, seus interesses e opiniões sobre o mundo começam a surgir de modos diferentes, começam a se preparar para a vida adulta, aprendendo com suas experiências, fazem laços não só familiares, mas também com seus amigos, é o momento em que eles começam a se importar mais com seu corpo, com seus gostos, com sua sexualidade. O indivíduo começa a entender que sua responsabilidade vai além do pessoal, do familiar, começa a ter consciência de que a sociedade não é compromisso só do governo e que todo cidadão faz parte do mundo em que vivemos. Começa a ter consciência de que a sociedade é uma coisa só, faz escolhas de desejo, de autoafirmação. O indivíduo começa a entender a ajuda que ele necessita para poder crescer, para obter recursos, para ter um lugar dentro do ambiente em que ele

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vive, para poder trabalhar e conseguir construir sua vida. Uma criança que teve a atenção, o respeito dos pais, as suas necessidades atendidas, cresce entendendo que ele tem direito de falar, de se expressar, lutar pelos seus direitos, mostrar sua opinião, ter a mesma oportunidade que as outras pessoas têm. É por isso que, hoje, na atualidade, a sociedade passou a reservar mais atenção especial aos jovens, tanto que a juventude é vista, muitas vezes, como um assunto polêmico e muito comentado. Como exemplo, podemos ver que hoje temos o Centro Cultural da Juventude, temos os Jovens Aprendizes, a Secretaria Nacional de Juventude, programas de acompanhamentos para jovens grávidas, livros que falam a respeito da juventude no mundo globalizado e na sociedade. Também, temos alguns lugares na cidade que são relacionados à juventude, como quadras de basquete, futebol, tênis, praças, alguns shows, como o Lollapalooza, o Rock in rio e os shows das celebridades americanas e brasileiras, as baladas que antigamente não eram que nem as que nós temos agora em relação às bebidas alcoólicas, o tipo de música etc.

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Afinal, as crianças e os jovens são o futuro do mundo, como eu já disse. Os jovens precisam interagir, fazer amizades, ter liberdade para construir sua vida sozinho. O jovem também precisa ter uma boa educação, seus pais precisam dar ouvidos aos seus filhos. Os jovens precisam ser livres para terem suas experiências, para crescerem e amadurecerem. O jovem não quer ninguém no pé dele dizendo o que ele tem que fazer. A juventude também está relacionada de alguma forma à rebeldia, pois alguns adolescentes podem mostrar comportamentos agressivos ou passivos porque não foram bem educados pelos pais. A criança, desde de pequena, tem de aprender a respeitar o próximo, ser honesta, saber o que é errado e o que é certo. Hoje em dia, as relações entre pais e filhos estão cada vez mais distantes e incompreensíveis, não esquecendo da tecnologia que surgiu em nossa vidas, o que pode ser fator que influencia na rebeldia, já que a juventude é uma época de aprendizado. As drogas e a violência também aparecem na juventude como algo preocupante. Nós temos muitos casos de jovens presos e mortos por envolvimento


com as drogas, jovens que entram para a vida marginal e que consomem bebidas alcoólicas. A juventude também é representada como a época “maneira” porque os jovens gostam de ir a festas, gostam de viajar, praticar esportes etc. Isso é representado nas propagandas da televisão, como a Coca-Cola, que tem como objetivo mostrar os jovens se divertindo e, ao mesmo tempo, tomando o produto, já que a maioria das pessoas que consomem a CocaCola são jovens. Também, temos os filmes americanos e brasileiros que mostram como a vida do jovem é uma grande aventura, e alguns livros, como o Diário de um banana. A juventude é uma época bastante confusa de aprendizagem, em que eles precisam ser livres para viver sua vida, ter uma família, fazer conquistas, criar sonhos, fazer amizades, enfrentar suas dificuldades, se apaixonar, ter o apoio e o suporte dos pais para qualquer coisa… Afinal, o que é a vida de um jovem sem aventuras?

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Artigo de Opinião Pedro Alves Mussi

No debate em sala de aula, discutimos sobre as leis e o que elas afetam na sociedade. As leis são criadas com o intuito de controlar a sociedade, ou seja, limita-lá. Várias pessoas não respeitam as leis por vários motivos, mas o principal motivo nem sempre é tentar não ser “controlado”. As leis são criadas para que haja uma convivência melhor entre as pessoas. Em minha opinião, sem leis não conseguiria existir uma harmonia na sociedade, porque as pessoas iriam ser descontroladas. Imagine uma escola sem regras. Já seria um caos. Agora, imagine uma sociedade inteira sem leis. Não daria para viver. A partir do momento em que duas pessoas convivam em um mesmo local, é necessário haver um conjunto de regras a serem seguidas, para assegurar os direitos e deixar claro o dever de cada um. Fiz uma pesquisa e não achei nenhum dado, de nenhum lugar, sem regras ou leis para locais que frequentam duas ou mais pessoas. Isso significa que é praticamente impossível existir uma sociedade sem leis, pois, se não houvesse, seria um caos. Então, concluo que uma sociedade não sobreviverá sem regras ou leis.

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Escola pra quê? Felipe Perlman Gottlieb

Para que existem as escolas? O que elas significam? Qualquer um pode achar essas respostas na internet, ou ouvir de alguém, mas será mesmo que elas são pensadas ou estão sendo só repetidas? Provavelmente, só repetidas, pois as respostas mais comuns, e muito comuns, são: uma instituição criada para educar jovens. Para passarem no vestibular, conseguirem entrar em uma faculdade e, após isso, acharem um trabalho. A escola vai muito além disso: nela, nós, alunos, aprendemos a conviver com os outros e com o mundo em que vivemos; nos formamos para encarar os problemas do presente e possíveis outros no futuro; e, além disso, não são sempre só os professores que nos ensinam, existem as trocas de aprendizado, os alunos podem ensinar também, contando saberes aos professores e recebendo outros de volta.

Médio, respectivamente, evadiram da escola entre os anos de 2014 e 2015. O 9º ano do Ensino Fundamental tem a terceira maior taxa de evasão, 7,7%, seguido pela 3ª série do Ensino Médio, com 6,8%. Considerando todas as séries do Ensino Médio, a evasão chega a 11,2% do total de alunos nessa etapa de ensino. Essa taxa não está totalmente relacionada ao fato de que, para alguns, a escola não está funcionando do jeito que deveria funcionar; está, sim, mais relacionada à dificuldade de transporte em certas regiões, ou a lugares onde as famílias são muito pobres e os jovens têm que trabalhar antes da idade adulta (esses dois pontos são mais recorrentes em áreas rurais). “A evasão é maior nas escolas rurais, em todas as etapas do ensino, chegando a 16% no Ensino Médio”, informou o Inep em nota, confirmando a ligação entre as áreas rurais e a taxa maior de evasão.

Mesmo com essa importância que a escola tem, a taxa de evasão é muito alta. Segundo o site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), os novos dados revelam que 12,9% e 12,7% dos alunos matriculados na 1ª e 2ª série do Ensino

Mas, também, esses motivos não são os únicos. Talvez, o jeito que a escola funciona, hoje em dia, pode desinteressar os alunos. Aquela conversa de sempre, ”A escola é um tédio” ou ”Ficar sentado em uma sala de aula o dia inteiro é

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muito ruim”. Já existem algumas escolas que superaram isso, e, consequentemente, se os métodos de ensino parecidos com os delas fossem aplicados no Brasil, talvez a taxa de evasão diminuiria. Um exemplo de escola como essa seria a escola Vittra: localizada na Suécia, onde as barreiras físicas de uma sala de aula são quebradas, os alunos têm a total liberdade de circular pela escola, em seus pequenos grupos, aprendendo com um formato diferente, pesquisando os assuntos por conta própria, só com o auxílio de professores. Essa ideia é boa, porém, seria melhor aplicada se esses momentos de pesquisa não fossem plenos e totalmente livres; eles deveriam ser um pouco mais direcionados. A escola é muito importante, a educação é a única que pode mudar o jeito que as pessoas agem hoje em dia, porém, ela precisa de algumas mudanças para se adaptar ao mundo na atualidade.

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O poder da escola Ana Peixoto 9B

Nós deveríamos parar para pensar para que serve a escola. A resposta pode ser simples, educar, mas eu acho que serve para muitas outras coisas e deveria ser um lugar mais legal. Poderia nos ensinar muitas outras coisas e não ser ser tipo uma prisão que nos utilizamos. Eles tentam enfiar matérias que talvez não iremos usar nunca e é óbvio que nós não vamos aprender. Existem muitas escolas, atualmente, que quebram esse padrão de escola tradicional. Existe uma escola em Portugal que foi exemplo para a criação de várias escolas aqui no Brasil, que é a Escola da Ponte, cujo meio de ensino é bem diferente do que a gente conhece. Essas escolas não existem só nas capitais do país (Brasil), existem no interior também. Um exemplo desse tipo de escola é a escola Amorim Lima, em que o jeito de ensinar é diferente, não existe uma sala de aula por ano, mas, sim, várias salas grandes, nas quais têm alunos de todos os anos e, nessas salas, cada aluno tem roteiros que deve fazer individualmente, mas os mais velhos da classe ajudam os mais novos. No interior de São Paulo, em Ubatuba, existem escolas em que

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as crianças aprendem fazendo jogos e brincadeiras. Segundo alguns especialistas do documentário Escola para quê?, a escola que nós conhecemos está muito ultrapassada. As coisas mudaram, mas ainda precisam mudar. Algumas pessoas dizem que essas escolas não ensinam nada, mas eu acho que as crianças podem aprender tanto brincando quanto sentados em uma carteira.

Fonte: http://revistagalileu.globo.com/ Revista/Common/0,,EMI22091317774,00-ESCOLA+PRA+QUE.html


Escola pra quê? André Monteiro

Pode-se afirmar que a escola é um espaço de aprendizagem que tem muito a evoluir. Como disse Simone André, coordenadora de educação do Instituto Ayrton Senna, “O médico do século XX entra em uma sala de operação do século XXI. Ele consegue operar? Ele não consegue operar. Ele mal consegue entender o que tem ali, onde é que está o paciente. Se o professor do século XX ou XIX entra na sala de aula do século XXI, ele vai achar muito diferente? Não vai. Ele vai ver ali a lousa, o giz, as carteiras enfileiradas, lista de chamada, tudo conforme era no século XIX. A única coisa com a qual ele não contava era com a cabeça dos alunos do século XXI. E é aí que mora o conflito”. O espaço escola, a sala de aula, não evoluiu desde o século XIX. E isso é um problema, pois sem mudar os espaços não conseguimos mudar o método de ensino, a cabeça dos alunos e a cabeça dos professores. Segundo Paulo Freire, “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou criação”. Ou seja, o educador, ao invés de simplesmente escrever na lousa para os alunos copiarem, deveria criar um espaço em que os alunos usassem

sua ajuda para produzir e construir, em grupo ou individualmente, o próprio conhecimento. “O que define aprendizagem não é saber muito, é compreender bem aquilo que se sabe,” afirma António Nóvoa. “Precisamos de uma pedagogia, a partir de duas ideias centrais: primeira, construir um percurso individualizado e um acompanhamento próprio para cada aluno, permitindo que ele estude e trabalhe o conhecimento ao seu ritmo, no espaço escolar e noutros espaços e tempos, certamente em diálogo com os professores e outros colegas. E, segunda, assegurar uma forte participação do alunos na vida escolar e também uma ligação mais forte com os espaços familiares e sociais, que vão adquirir nas próximas décadas uma maior importância na educação”, afirma António Nóvoa. Portanto, a escola deve adotar uma postura em que a principal ideia seja construir um percurso individualizado e um acompanhamento próprio para cada aluno.

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Escola: confronto e transformação André Bánvölgyi

A escola, como instituição, por meio da mediação da experiência social do aluno, busca nele a capacidade de, além de inserir-se na sociedade, transformá-la. Para que funcione esse processo, é necessário que faça parte da mediação a conscientização do aluno sobre questões como: qual é a sua posição na sociedade; quais meios e espaços - culturais e sociais - lhe estão à disposição como consequência; como funciona o regime sob o qual vivemos e como se adaptar nele. Segundo a Coordenadora de Educação do Instituto Ayrton Senna, Simone André, “educação é invenção humana para transmitir o humano”¹. Ou seja, no processo de mediação, é preciso que sejam transmitidas as invenções, técnicas humanas que foram criadas para permitir a sua convivência coletiva — junto a outros seres humanos. Essas técnicas foram desenvolvidas ao longo do tempo, visto que o ser humano, tendo suas características próprias (como todos os animais têm), teve de se adaptar a diferentes ambientes, para que pudesse viver neles. Transmitir essas adaptações e como realizá-las é papel fundamental

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da educação — ajuda o indivíduo a compreender o “todo”, a totalidade à qual terá de se sujeitar. A escola, portanto, constitui um verdadeiro humano, que sabe das dificuldades que já foram superadas no passado e como terá de encará-las em um meio coletivo: a sociedade. Segundo a Professora Tatiana Peruchi de Pelegrin, “consideramos o homem como um ser histórico e social que, ao se apropriar do conhecimento, contribui para se constituir sujeito capaz de transformar a realidade”². Ou seja, o conhecimento é a compreensão de que é possível fazer a diferença em uma organização maior que a escola, que é formada por vários outros indivíduos. Assim sendo, a escola não tem só o papel de, por meio da mediação, ajudar o indivíduo a se adaptar na sociedade, mas também de mostrar que é capaz de mudá-la. Essa mudança, geralmente, ocorre por meio da cultura, que está sempre em movimento. A cultura é uma variável que se sustenta em inúmeras outras, como: condições sociais, econômicas, relevo, grupo étnico e meios de sustentação.


Assim, entendemos que, tendo assimilado a maneira de enfrentar a sociedade e como mudá-la, cada indivíduo terá a sua maneira de fazêlo. Para isso, é preciso de uma escola aberta às diversas visões de mundo e pensamentos de cada um, além de apelar mais abertamente a estudantes com cenários socioeconômicos diferentes, não somente para que muitos mais tenham acesso a uma educação mais, digamos, “humana” — em comparação à oferecida em seus respectivos cenários —, mas também para que os próprios educadores aprendam com a ampla diversidade desses cenários e saibam lidar com eles mais facilmente. Isso porque, uma vez que a capacidade de o indivíduo mudar a sociedade a sua volta é negada ou rejeitada, ele não a muda, muito menos faz parte dela — torna-se marginal, ou alienado.

Ficha “Quando sinto que já sei” - professores Evandro e Laura compilação de frases de maior destaque do filme Quando Sinto Que Já Sei, de Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima, 2014.

Site Gazeta do Povo, artigo de opinião “A educação escolar no processo de formação humana”, de Tatiana Peruchi de Pelegrin, 10/02/2016.

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Escola pra quê? André Perlman Gottlieb

Escola pra quê? Escola: uma instituição criada para educar e formar jovens para a vida adulta. Para prepararemse para o mundo do trabalho. Para passar no vestibular e conseguir entrar em uma faculdade. Mas não é só isso. A escola forma academicamente seus alunos, apresentando-lhes conhecimentos do mundo onde vivem. A escola é muito importante em três fatores: para a formação do aluno no presente e no futuro, para o desenvolvimento e amadurecimento pessoal, e as matérias que ajudam a exercitar nosso cérebro e seus conteúdos às vezes são essenciais. Segundo o site Observatório da Criança e do Adolescente, a taxa de abandono no Ensino Médio do Brasil em 2007 atingiu 13,2%, mas diminuiu desde então. Em 2012, foi criada a lei que proíbe o abandono escolar, e hoje, talvez por causa dessa lei, a taxa de abandono é de 6,6%. Para que os alunos se sintam mais interessados, seria preciso uma escola ideal, mas como ela seria? Normalmente, os alunos tendem a ser desinteressados na escola, muitas vezes pelos assuntos trazidos não agradarem. Quem nunca ouviu alguém

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dizer “Quando iremos usar a fórmula de bhaskara na vida?”. Mas como resolver esse problema? Para isso, temos o exemplo da Escola Politeia, uma escola privada na cidade de São Paulo, onde os alunos escolhem o que querem aprender por meio de pesquisas e sempre sendo orientados por um orientador da escola. Assim, os alunos são capazes de resolver os problemas que escolhem para si, desenvolvendo capacidade crítica e adquirindo um conhecimento que, muitas vezes, vai além de sua área inicial de interesse. Ainda pensando em aumentar o interesse dos alunos pela escola, alguns educadores trazem para suas aulas temas atuais sobre o que está acontecendo em nosso país ou, também, conflitos políticos no mundo. Assim, os alunos podem entender mais sobre os problemas sociais e políticos que observam todos os dias e sentir-se mais interessados e motivados nas aulas. A sociedade, segundo o dicionário do Google, é um agrupamento de seres que convivem em estado gregário e colaboração mútua, ou seja, um lugar onde as pessoas vivem colaborando umas com as outras. A escola, desde


sempre, nos prepara muito bem para podermos viver em sociedade, como quando você briga com seu colega e os professores sempre ensinam que isso é errado, fazem pedir desculpas um ao outro para resolver o conflito, ou, também, na relação de respeito entre os alunos e professores. As escolas ainda têm muito a melhorar, na questão do ensino, para um ensino mais diversificado. Com isso, talvez a taxa de abandono diminua, mas, enquanto isso, não podemos deixar de admitir que a escola é essencial para a vida de qualquer ser humano, preparando-o para sua vida adulta na sociedade em que vivemos.

Fontes: http://www.hypeness.com. br/2015/01/como-iniciativasde-educacao-inovadoras-buscamtransformar-o-ensino-no-brasil/ https://observatoriocrianca.org. br/cenario-infancia/temas/ensinomedio/562-taxa-de-abandono-ensinomedio?filters=1,131 http://www.pgdlisboa.pt/ leis/lei_mostra_articulado. php?nid=1793&tabela=leis http://escolapoliteia.com.br/nossaproposta/ Documentário Quando sinto que já sei, dirigido por Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima, 2014.

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O reflexo da escola na sociedade Flávia W. Meme - 9°B

A escola não sofreu grandes mudanças desde a época que surgiu, mas há várias pessoas e instituições que querem mudar isso, como é explicitamente apresentado no documentário Quando sinto que já sei. Nos tempos em que vivemos, já era mais que esperado que os padrões de uma escola tradicional (sala de aula, todos sentados em carteiras, o professor fala e o aluno escuta) já não fossem mais os mesmos. O espaço escolar não deveria ser somente um lugar para preparar os jovens e crianças para suas futuras profissões, deveria ser um local de compartilhamento de conhecimentos (tanto do professor quanto do aluno), onde todos pudessem se expressar livremente e formar suas opiniões, formando, consequentemente, seu caráter, como disse Simone André, Coordenadora de Educação do Instituto Ayrton Senna, no documentário Quando sinto que já sei: “A educação é a invenção humana, para transmitir o humano (…)”. Ou seja, a escola não só deveria ser um lugar de ensino, mas também ser um espaço que ajude o aluno a saber o que ele quer ser como pessoa.

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Segundo o artigo retirado do seguinte link, http://www.apagina. pt/?aba=7&cat=522&doc=13523: “Aprender deve constituir o primeiro propósito da vida escolar. Exige esforço por parte dos alunos e o reconhecimento de uma hierarquia — os professores têm conhecimentos que os alunos não têm e que precisam de aprender”. Será que realmente é necessário admitir uma hierarquia? Será que realmente precisa-se admitir que o professor é superior ao aluno somente porque ele sabe mais? Claro que há essa relação de ensinos, na qual um passa conhecimento ao outro, mas a pessoa é necessariamente superior a outra somente por saber mais? Hoje, as escolas transmitem bastante essa ideia, no geral, em que o professor fica à frente, de pé, e os alunos ficam sentados e ouvindo (nível acima). Não é somente algo do posicionamento, pois é claro que passar cinco horas de pé seria desconfortável aos alunos, mas a ideia que o aluno tem de obedecer ao professor, pois há uma hierarquia ali, não é algo certo. O aluno deve obedecer e respeitar o professor, pois ele está ali gastando seus dias ensinando o aluno e transmitindo um


conhecimento; o respeito não deve ser presente devido à superioridade do professor, mas, sim, o reconhecimento de que ele está ali para te ajudar e te mostrar os fatos e as teorias. É uma relação, não uma soberania. Se, algum dia, chegarmos a um padrão em que pudéssemos confirmar que todas as escolas do país são desse jeito, teremos um grande avanço social, pois teremos liberdade o suficiente para dizer o que pensamos ser ter medo que alguém nos reprima. Porque, se formos criados desse jeito (todos), nos acostumaremos com a ideia e, assim, conseguiremos talvez encontrar uma sociedade em que haja algum equilíbrio. Infelizmente, não é essa a realidade em que vivemos. Dados da TSE de 2014 sobre a escolaridade dos eleitores do Brasil mostram que, dos 142,8 milhões de eleitores, 7,4 milhões são analfabetos e 17,2 milhões não possuem educação formal alguma, somente aprenderam a ler e alguns a escrever, mas nunca foram à escola. Somente 8 milhões possuem o Ensino Superior completo, o que é cerca de apenas 6% dos eleitores. O que nos mostra que, além de o ensino público ser precário, ele não consegue atender uma grande parte da nossa população. A escola é muito importante para a formação de uma pessoa, pois, além de passar-lhe conhecimento, ensina como viver coletivamente, como conviver com respeito entre outras pessoas (pelo menos na teoria). A escola também é um lugar social. Além de ensinar como construir e melhorar suas ideias e pensamentos, ajuda a controlar seus sentimentos, como aponta Rafael Parente, ex-subsecretário de Novas Tecnologias Educacionais e Idealizador do

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GENTE: “Essa coisa de currículo, da gente só se importar com a parte cognitiva… A gente sabe que o humano tem várias outras dimensões, ele tem a questão emocional, que comanda para caramba a vida da gente. Se a gente for parar para pensar: quanto tempo que a gente gasta de vida lidando com as nossas emoções e quais as consequências das nossas emoções? Você consegue direcionar sua raiva? Por que você bate nas pessoas? A escola tem que lidar com este tipo de coisa” (trecho retirado do documentário Quando sinto que já sei). Uma escola deve ser um local de troca de conhecimentos, em que todos possam dizer o que pensam e não ter medo de errar. Um local que ensine o jovem e a criança a lidar com suas aflições cotidianas, ajudando a criar suas próprias opiniões. Claro que a escola não é a única força que vai trazer esse resultado, ainda mais porque não depende só dela, há a família, a mídia, as leis e a sociedade. Mas, talvez, um começo para essa melhoria e transformação da sociedade seja mudando o funcionamento das escolas e da formação do jovem e da criança. Como uma vez Nelson Mandela disse: “A educação é a arma mais poderosa que

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você pode usar para mudar o mundo”. Se queremos mudar o mundo, por mais que seja algo muito difícil, devido às opiniões, diferenças e preconceitos extremamente presentes no mundo que vivemos, talvez dando maior liberdade e espaço de pensamento às próximas gerações eles consigam dar um passo que a anterior não conseguiu, tanto socialmente quanto tecnologicamente. Pois talvez a sociedade não consiga mudar completamente, mas, se aos poucos mudarmos nosso modo de aprender e de enxergar as coisas, conseguiremos mudar a realidade na qual vivemos.


Escola pra quê? Caio Volpe 9b

A escola é uma instituição com um papel de extrema importância na sociedade. O compromisso da escola vai além de somente ensinar Português, Matemática ou nos preparar para o vestibular. Uma escola, sim, precisa de tais ensinamentos, mas, como algo de muita relevância para uma escola ser boa, tem de levar junto a seus objetivos valores éticos e sociais, e também educar, pois é na escola onde (jovens, crianças) possuímos nossas primeiras relações, o primeiro contato com o “diferente”, os primeiros conflitos, é lá que ganhamos maturidade, em conjunto aos ensinamentos de casa. O contato com pessoas diferentes durante a vida nos ajuda para a chegada à vida adulta. As taxas de evasão no Brasil são muito altas, segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, 13% dos jovens de 15 a 17 anos haviam parado de estudar precocemente, antes de concluir o Ensino Médio. A maioria (61%) desse grupo fora da escola abandonou a sala de aula antes mesmo de completar o Ensino Fundamental. Um dado desses nos faz pensar se a escola é realmente interessante. O modelo atual das

escolas é bom? Ficar 5 ou 6 horas sentado em uma cadeira ouvindo um professor falar é algo que atrai os estudantes? A estrutura das escolas é boa para o professor? Muitas vezes não… Apenas 0,6% das escolas brasileiras têm infraestrutura próxima da ideal para o ensino, com biblioteca, laboratório de informática, quadra esportiva, laboratório de ciências e dependências adequadas para atender o estudante e o professor. A pesquisa foi feita pelo CAQi (Custo Aluno Qualidade Inicial), Campanha Nacional pelo Direito à Educação, outro fator “não atraente das escolas”. O modelo de escola interessante seria um lugar onde os alunos, mediados pelos professores, fizessem suas próprias pesquisas e tirassem suas próprias conclusões, um lugar de aprendizado que não girasse em torno da sala, das cadeiras, mas, sim, aulas pela escola, o que é “menos pesado” do que ficar nas salas fechadas e, portanto, mais eficiente. Esse modo de ensino seria mais interessante para os alunos, que se envolveriam mais com o colégio, uma escola mais dinâmica, com muitas trocas de conhecimento entre os alunos.

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A escola, como visto no texto, possui um papel de extrema importância em ajudar o ser humano. Vimos que é na escola que possuímos nossas primeiras relações e conflitos, e é lá que aprendemos a lidar com essas divergências. A escola precisa ser mais interessante! Uma escola com muitas interações, os alunos aprendendo, pesquisando, algo mais envolvente.

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Escola, para quê? Davi Amaral

O que a escola deve ter para ser ideal? Como ela contribui com a sociedade? Essas duas perguntas, por mais que sejam diferentes, acabam por se completar. Uma escola deve desenvolver o aluno e o resultado do que a escola oferece, junto ao que o aluno já tem, vai ser o principal componente de uma sociedade, os cidadãos. Assim, a escola ideal deve tanto preparar profissionalmente o aluno como ensinar outras questões, além de simples provas, diferentemente do que a reforma do Ensino Médio propõe, que apenas tenta profissionalizar o aluno, o mais cedo possível. Antes de falar da escola ideal, devemos falar sobre os problemas que a educação tem. É muito comum dizer que a educação no Brasil é de má qualidade, e logo de cara nós temos um problema, pois, o que será a qualidade considerada? Certamente, o conceito de uma escola ideal na Amazônia não será a mesma em um grande centro, como São Paulo. Portanto, o molde de uma escola ideal deve ou deveria mudar de acordo com o contexto da região. Um indicador de baixa qualidade no ensino é a taxa de evasão. No Brasil, a taxa de evasão

chega a 12% só no Ensino Médio. Levando em consideração que uma escola deveria preparar o aluno para a sociedade, pelo menos 11% dos alunos do Ensino Médio não estarem preparados para o convívio social é um número assombroso. Uma escola ideal, no geral, não deveria tratar os alunos de maneira indústrial, assim, salas de aulas não deveriam ter 40 ou mais alunos para um único professor, coisa comum, pois torna o processo menos individual e aproveita-se praticamente nada do que o aluno já tem. Além disso, a educação mudou muito. Antes, a relação entre o professor e o aluno passava por moldes industriais, com menos espaço para o aluno e com uma relação hierarquizada. Muitos problemas podem ser localizados na educação brasileira. Qualidade, segundo o dicionário, significa a propriedade que determina a essência ou a natureza de um ser ou coisa, a capacidade de atingir o efeito pretendido, estratégia de gestão em que se procura otimizar a produção de resultados na função ou no papel exercido. Neste sentido, também define qualificação, que significa um conjunto de atributos que habilitam alguém ao exercício de uma função. A

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escola ideal ou a escola de qualidade deveria ser aquela que deixa o sujeito apto a fazer certas funções. Essas funções podem ser consideradas como as questões relacionadas às notas, como provas ou vestibulares. Sendo uma frente da escola que foca em princípios profissionalizantes. Porém, a escola ideal deve focar em dois principais pontos: essa parte das funções, sendo relacionadas às notas e avaliações do indivíduo, e, ao mesmo tempo, mostrar ao aluno, junto ao conhecimento pessoal do indivíduo, coisas que não estejam relacionadas às notas, mas, sim, ao funcionamento da sociedade e questões além das provas. Leandro Karnal é um historiador brasileiro, atualmente professor da Universidade Estadual de Campinas, na área de História da América, com muita experiência na área da educação. Ele defende que, para uma educação ter sucesso, precisa do envolvimento de questões artísticas na visão e conhecimento dos alunos, e esse tipo de ensinamento é uma das funções da segunda frente da escola, a que deve formar o estudante. Os conceitos das artes provavelmente não mudarão nada para a pessoa na hora de fazer uma prova importante, porém, essa frente que ajuda a desenvolver o aluno será de suma importância na vida dele em geral e na vida em sociedade.

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O principal componente da sociedade são os cidadãos, pois, apesar de outras coisas também terem importância, nenhuma delas funciona sem pessoas. Logo, essas pessoas, para que tenham uma boa sociedade, devem ter uma boa formação. O que deve formar esses cidadãos é a escola, a “parte” da escola que prepara o aluno profissionalmente ajuda na formação do aluno, mas a outra “parte” da escola que, junto ao conhecimento individual do aluno, prepara para questões não necessariamente relacionadas às provas será a principal formação dos indivíduos na sociedade. Assim, podemos perceber que, apesar de a qualidade de uma escola alterarse de acordo com seu contexto, uma escola ideal deve focar em dois pontos: o primeiro deles, algo mais profissionalizante, que tem seu foco em provas ou vestibulares, e o segundo lado, que foca em questões artísticas e ensinos que vão além de simplesmente notas em provas. Esse lado da escola que deveria montar e desenvolver os indivíduos e os preparar para a vida na sociedade. Assim, o papel da escola na sociedade é desenvolver o cidadão, o ponto principal da sociedade.


A Educação, a Política e o ser Adulto Martin

Normalmente, quando falamos sobre educação, acabamos pensando sobre quais são seus fundamentos e onde ela atua, e, bem, ela atua em vários lugares e de formas diferentes. Um dos lugares em que a educação é presente, ou tende a ser, é nos ambientes familiares, em que, na maioria das vezes, os menores de idade ou de responsabilidade dos adultos são educados. Outro lugar em que a educação é fundamentalmente aplicada seria, intencionalmente, nas escolas, onde seu principal interesse e objetivo geral é educar os alunos que ali estão presentes. Existem vários outros lugares em que a educação é presente, além do ambiente familiar ou escolar, como as cadeias, os hospícios, os departamentos e até os restaurantes. E, como já dito no começo, cada lugar coloca seu princípio próprio de educação e de como estabelecer suas relações, sendo elas hierárquicas ou não. Agora, vamos partir para introduzir o que é a educação e suas subcategorias. De começo, temos de considerar uma informação fundamental, que é: não existe educação sem repressão, ou seja, em qualquer lugar em que a

educação é presente, ela sempre age com uma de suas intenções limitadoras do ser humano. Mesmo que educar alguém signifique ter de alterar seus estados de tratamento, dependendo das circunstâncias, também possui a sua ideia de formação do caráter para o futuro. No fim das contas, se formos explicar em resumo o que é educação, o mais comum e certo a se dizer é que, dividindo em dois núcleos, a educação é reprimir e formar. De acordo com a lei atual, todos os indivíduos menores de 18 anos deveriam estar presentes e matriculados em uma escola, que, como já antes dito, tem função prioritária educar. Mas será que isso acontece mesmo? Existem algumas leis e programas públicos que beneficiam famílias para que, em troca, as crianças sejam colocadas em escolas, e um deles foi criado por Luiz Inácio da Silva, chamado Bolsa Família, que se baseia em colocar um grupo doméstico em condições mínimas sem necessidade de trabalho e, em troca, fazer questão de que os menores de idade estejam registrados em um colégio. Dito isso, repetir a pergunta é necessário: será que isso acontece mesmo? No fim

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das contas, a resposta é não, e isso por uma série de fatores. Um deles é uma questão social muito presente e discutida nos dias atuais, que envolve raças, posições sociais e financeiras. O jovem que não é presencial no ambiente escolar é algo cada vez mais normalizado e, ao nos darmos conta desse fato, podemos acabar nos perguntando: será que o problema é a educação, ou o problema é a falta de oportunidade? De fato, é algo a se pensar, porque, se formos criar uma lógica, uma coisa sustenta a outra, por exemplo, se falta uma educação decente, isso nos leva a pensar que a pessoa que deveria usufruí-la acabou não alcançando uma oportunidade, e, caso isso ocorra, o indivíduo não vai ter a mínima chance de experimentar qualquer tipo de educação que seja. Considerando todos os problemas e obstáculos sociais que temos, o papel do adulto seria de ótimo uso para resolvê-los, porém, infelizmente, os adultos com o cargo de educador também carregam complicações e, consequentemente, geram problemas em uma cadeia contínua, em que uma criança que é educada por um adulto mal posicionado acaba crescendo mal posicionada e, ao tornar-se um adulto, futuramente ela poderá influenciar e mal posicionar outros menores de

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idade. Caso um adulto assuma uma alta posição institucional escolar, ele poderá comandar diversos meios comunicativos de educação e, em consequência disso, se o próprio assumisse ideias autoritárias, seria perigoso e problemático para todo um sistema que, pela terceira vez dito, trabalha fundamentalmente com educação. No fim das contas, o Brasil carrega uma infinidade de problemas e influências externas que são diretamente ligada às instituições de educação e, provavelmente, a intenção seja de que as escolas fiquem cada vez menos coloridas, ou, mais especificamente dizendo, cada vez menos antropofágicas, em que os alunos são conduzidos de formas iguais, como ovelhas, e que os educadores e diretores fiquem cada vez mais autoritários, cada um permanecendo no lugar em que “deveria estar”.


Escola pra quê? Bianca Marcomini

O principal objetivo das escolas é ensinar crianças. Mas será que esse lugar é usado somente para fazêlas aprender vários conteúdos, ou também quer que os alunos aprendam a viver socialmente? E, mesmo que a criança não goste de estudar, isso significa que ela seja incapaz de aprender e que ela não possa ter prazer em estudar algum dia? Todos que já frequentaram escolas sabem que não se trata somente do ensino de conteúdos, mas também do ensino do convívio social, por exemplo: um professor de Educação Infantil tem o papel de ensinar às crianças que bater nos outros é errado, ensina a comunicar-se verbalmente e de forma pacífica. Mas isso não significa que quem não vá à escola não aprenda. Quem não vai à escola, e possui ou não irmãos, tem um ensino de como conviver socialmente muito menor, fazendo com que, às vezes, sejam mais agressivos do que quem vai à escola. E quem possui professores particulares e tem uma dúvida muito grande podem somente desistir. Mas quem vai à escola e tem uma dúvida muito grande vai ter de aprender sem poder desistir.

em dia, algumas crianças não possuem muito ou nenhum prazer em estudar. Mas isso não significa que elas não sejam capazes de aprender ou que não aprendam. Talvez os alunos não gostem de estudar, porque a escola é um ambiente autoritário, que quer que os alunos façam os seus deveres sem questionar. Para finalizar, digo que a escola tem um papel essencial na aprendizagem das crianças, na parte social e conteudista. E, mesmo sendo um lugar opressor, isso não é uma característica ruim, porque, na verdade, as escolas estão tentando nos representar como é a vida adulta.

Como vários de nós sabemos, hoje

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Instrumento para Transmitir o Humano Henrique Alves Caffagni

A escola ideal deveria ser aquela que não segue o modelo industrial, diferentemente de hoje em dia, que educa em massa para uma sociedade de massas, ou seja, sem a forma de ensino em que uma pessoa lida com quinze, vinte, quarenta alunos. A escola seria somente um instrumento para um humano transmitir a própria essência humana (segundo Simone André, Coordenadora de Educação, Instituto Ayrton Senna). Nos dias de hoje, já não cabe aquele modelo em que os alunos não são pensadores, em que nós só existimos para ficar quietos, copiar e repetir, sem nenhuma crítica ou questionamento (interno e externo), em que seria impossível um professor ouvir uma palavra de algum aluno sem menosprezá-lo. Como diz Alessandro Bigheto, pedagogo, filósofo e Mestre em História da Educação, “(...) educação é uma coisa que precisa ser pensada, educação é uma coisa que precisa ser refletida”, educar vai além do vestibular, educação é maior do que somente algo instantâneo e imediato. A escola, por sua vez, é importante, até essencial, para a constituição da sociedade, pois é uma preparação para algumas partes da vida de todos,

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contribuindo para as relações pessoais e sociais, pois “Só se aprende perante algo — e esse algo pode ser uma necessidade, um problema, um sonho, o que for —, alguém se interroga, alguém se aproxima, e os dois, com relação à fonte de conhecimento (...), fazem um combinado, ou seja, um projeto. Quando isso acontece, a aprendizagem deixa de estar centrada no tradicional aprendente, que é o aluno, e deixa de estar centrada no tradicional ensinante, que é o professor, para estar centrada na relação” (José Pacheco, educador e idealizador da Escola da Ponte). Nesse modelo que é condizente com a citação anterior, os alunos e professores “treinam” seu papel de cidadão (que seria cumprir seus deveres e fazer valer seus direitos, tendo como “meta” o bem comum individual ou de uma coletividade) e os professores precisam mostrar ao aluno, já em seu papel de cidadão, os caminhos. Portanto, a escola ideal, hoje em dia, é aquela que considera o aluno um ser pensante, crítico, em que está no centro a relação entre o aluno e o professor.


Fonte: Ficha “Quando sinto que já sei” - professores Evandro e Laura - compilação de frases de maior destaque do filme Quando Sinto Que Já Sei, de Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima, 2014.

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Escola para quê? Isabela Ng Rios

A escola é um lugar de aprender não só as matérias básicas, como Português, Matemática, Ciências, História, Geografia, Inglês, Educação Física, Educação Artística. Também é lugar de aprender a respeitar o próximo, a diferença, a consciência do próprios atos, saber o que é certo e que é errado. É fundamental que a criança e o adolescente aprendam isso na escola e em casa, por exemplo: sem isso a pessoa não consegue emprego; sem emprego, sem salário; sem salário, sem comida; e sem comida morre de fome. Não é só por isso que devemos aprender o respeito, a consciência e o certo, mas devemos aprender isso para viver em sociedade. Nós aprendemos na escola, em casa e na vida que escolaridade é super importante, pois podemos agir com consciência e não piorar a situação, mas, sim, só melhorar, por exemplo.

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Escola, apesar de tudo Jordana Emy Tatei

A escola é um dos ambientes mais importantes do mundo, se não for o mais. A escola te educa, ensina em vários sentidos, na questão da convivência, respeito, educação, aprendizado e várias outras coisas que também são ligadas a esses exemplos. O meu ponto de vista sobre é que a escola é essencial para o ser humano. Mas é claro que há coisas não tão boas, como as diferenças brutais entre escolas públicas e particulares. Não colocando barreiras de que as escolas particulares são mil vezes melhores que as escolas públicas, pois há vários casos que provam o contrário. Podemos, obviamente, concluir que o berçário, maternal, Ensino Fundamental I e II em escolas particulares são melhores. Tanto em questões de estrutura, em geral, como no ensino. Já em alguns Ensinos Médios e faculdades, as escolas públicas se sobressaem. E podemos ver isso no Enem. Não importa você sendo negro, branco, amarelo, rico ou pobre você “tem de” ir à escola, e isso é lei. Sem ela, você pode acabar sendo um analfabeto ou semianalfabeto, o que dificulta que você arranje um emprego

e siga sua vida. Há várias coisas boas na escola, como há ruins também. Não é em todas, mas em várias escolas tem uma coisa de selecionar os melhores alunos para fazerem os testes e a escola ter uma alta classificação, e, no caso, desclassificar ou não comunicar os alunos que não são tão bons em questões acadêmicas para não “prejudicar” a escola. Mas, comparado a alguns anos atrás, o analfabetismo veio à tona e começou a crescer novamente. E temos mais ou menos 12,9 milhões de analfabetos no Brasil, aponta o Pnad, que é um site sobre o analfabetismo no Brasil que encontrei. Então, na minha opinião, penso que as escolas deveriam melhorar o ensino do Brasil em vários aspectos citados ao longo do texto. Mas, mesmo assim, com as escola brasileiras não sendo as melhores, todos têm de ir, frequentar e aprender para garantir um futuro.

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Escola, como? José Antonio Santos

A escola é algo essencial para a sociedade, pois, além de trazer conhecimentos básicos para os alunos, ela também os ensina a conviver com outras pessoas, a respeitar os colegas e a cumprir as regras impostas pela sociedade. Isso em uma escola básica, pois ainda existem as intervenções culturais e populares que o espaço da escola pode ter, fora dos seus horários escolares, o que causa um maior conhecimento cultural, tanto para os alunos quanto para os seus pais. Apesar de a escola ser muito importante, ela está um pouco errada na sua forma de ensino, pois o ideal seria que as escolas dessem mais autonomia para seus alunos. Imagino que o ideal seria uma escola em que os alunos tivessem a liberdade de decidir o que eles querem fazer em cada aula, o que decidem estudar e por quanto tempo. Ao mesmo tempo, essa escola os prende dentro de um espaço, fazendo as atividades sem que possam opinar, o que faz com que os alunos saiam da escola sem a menor autonomia de seus afazeres.

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As escolas, em geral, têm suas aulas, atualmente, muito focadas em conteúdos que você precisa aprender para o vestibular, e não para a vida, o que acaba sendo meio desnecessário, pois a maior parte das pessoas acaba esquecendo grande parte das coisas que aprendem, principalmente álgebra. Esse método deveria ser mudado, pois não é eficiente (aprender para aplicar na prova) e acaba fazendo com que o aluno não aprenda de forma duradoura, às vezes, prejudicando o seu futuro.w


Escola para quê? Lívia Hattori

A escola, durante décadas, vem trazendo para a sociedade diferentes imagens e significados. Esperase que, hoje em dia, não exista mais aulas nas quais o aluno seja agredido (fisicamente e verbalmente) pelo professor; entretanto, o Brasil se coloca em primeiro lugar no ranking de agressão de alunos contra professores. Atitudes vivenciadas no cotidiano da escola podem, de uma forma não aprofundada, mostrar a visão dos jovens para tal espaço. Para muitos, escola é essencial; para outros, é desnecessária. No meio dessa discussão, existem fatos importantes para destacar: Lei nº 12.796, de 04 abril de 2013, que obriga pessoas de 04 até 17 anos a estudarem. Existem muitos tipos de ensino. No Brasil, os mais usados são tradicional, construtivista, Montessoriano, Waldorf e Freinet. Segundo o PNEUD (Programas das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em 2012, a taxa de evasão brasileira era de 24,3%, a terceira maior taxa nos 100 países com maior IDH, atrás apenas da Bósnia Herzegovina (26,8%) e Ilhas de São Cristóvão e Nevis (26,5%). A importância do colégio na sociedade é enorme, o padrão de ensino mundial faz os alunos aprenderem as matérias didáticas, como Matemática, e isso envolve o desenvolvimento intelectual, que acaba exercitando outros fatores, como o raciocínio. Porém, algo que nem todas as escolas têm são aulas para o desenvolvimento humano do aluno,

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como espaços para argumentação, conversas sobre o convívio social do grupo, meditação, trabalho voluntário. Ensinar alguém a ter uma personalidade mais forte e adquirir características boas para o convívio tem uma grande importância na sociedade. A escola ideal, nos dias de hoje, seria um lugar que, além das matérias-padrão, existissem outras que preparassem o aluno pra vida, ajudassem a enfrentar medos e, como citado acima, trabalhassem o desenvolvimento pessoal. Também, seria melhor um método de ensino que não precisasse sempre estar preso nas carteiras de uma sala, não houvesse uma relação de distância e tanta demonstração de autoridade entre professor e aluno, e que as punições, ao invés de um papel escrito “advertência”, fossem algo que mostre ao jovem como fazer melhor. Dessa forma, a escola viraria um pesadelo para quem a frequenta, mas um lugar bom de viver e que ensina coisas úteis para a vida. A instituição “escola” contribui para a compreensão e equilíbrio das nossas relações pessoais e sociais nas coisas simples do cotidiano, como o respeito ao próximo, o ato de dividir as coisas com os outros, o viver com pessoas de diferentes idades, personalidades e pensamentos. Sendo assim, escolas que abrem espaços para os alunos melhoram o modo de pensar, tem mais peso na sociedade.

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Escola pra quê? Mabell Brasil

Em geral, a ideia que se tem da escola é de um espaço em que crianças e adolescentes frequentam para estudar. Na maior parte do tempo, esses alunos aprendem a ler, escrever e outras matérias básicas. Outro fator importante da escola é que nela aprendem a respeitar e a conviver com outras pessoas, diferentes daquelas de sua família.

criançås ou adolescentes estudam todos juntos, não importa a idade, e cada um pode estudar o que quer, na hora em que quer, e em qualquer espaço da escola que quiser. E não concordam com a idade de uma escola normal, em que todos ficam em anos separados, em salas de aula, sentados com um professor; não acham que isso seria uma escola boa.

A maioria das escolas usam o mesmo método de ensino. A da minha avó, por exemplo, era francesa, só podiam falar francês dentro da escola e quem não falasse ia para a Coordenação e seria retirado da sala de aula, e só voltava quando liberaressem, e muitas vezes durava o dia inteiro fora da sala, de canto para a parede.

Muitas das escolas do Brasil e do mundo são públicas, muitas são boas, mas, também, muitas são ruins, e as ruins não tem o ensino certo ou fundamental para os alunos, e muitas vezes nem tem professores na escola, muitos faltam ou estão pouco se lixando para seus alunos; assim, não incentivam os alunos a estudarem e, depois, quando maiores, serem alguém na vida, pois precisamos do estudo para termos um emprego bom, ou, às vezes, nem estudam e ficam em situações ruins na vida.

Todo dia, quando batia o sinal, ao meio dia em ponto, todas as classes iam para fora e cantavam o hino nacional da França, sempre escolhiam um aluno que se destacava como o melhor entre as classes e erguiam a bandeira enquanto o resto cantava, isso acontecia no pátio principal da escola. Hoje em dia, os tempos mudaram e as escolas não sao tão rígidas como naquela época. Em classe, vimos um documentário que fala de uma escola que não segue com o padrão normal, por exemplo: os professores falam que as

Escola pra quê, então? A escola serve para ensinar crianças, adolescentes ou até adultos a ter um aprendizado bom e ser alguém na vida, pois sem estudos é difícil ter empregos, trabalhos, já que precisamos de históricos bons para ser alguém, e também para morar em um lugar bom e conseguir ganhar seu próprio dinheiro.

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Escola: como é e como deveria ser Mateus

A escola é importante para a construção de uma sociedade? Como a escola contribui para a compreensão de nossas relações pessoais e sociais? A instituição escola é um dos, senão o mais, principais meio de formação de um indivíduo. Sendo assim, muito importante para a formação de uma sociedade. É na escola que é feito o primeiro contato com uma comunidade, com a convivência em grupo, um lugar onde o professor transmite conhecimento para o aluno e o aluno transmite experiências para o professor, ambos aprendem. A função da escola não é apenas ensinar matéria para o aluno, a escola tem de fazer a pessoa entender e pensar sobre o que lê, conversa, escuta etc., e isso deve ser feito acompanhado pelos pais. Em uma análise do filme Tarja Branca, a pedagoga Maria Amélia Pereira colocou com ênfase a seguinte frase: “Ninguém nasceu para fazer vestibular, a gente nasceu pra ser gente. Brincar, pensar e conviver junto.“ Com base nos últimos dois parágrafos, a resposta da primeira pergunta é: sim, a escola é importantíssima para a construção de uma sociedade. Por

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exemplo, uma escola que prega a presença de um senso crítico nos alunos vai, consequentemente, criar uma pessoa crítica, que reflete, pensa e dá opinião sobre assuntos profissionais e do cotidiano (política, educação…). Se, em uma sociedade, muitas pessoas tiverem a mesma formação, seria uma sociedade “culta”, com uma presença da cultura nacional forte e mais inteligente. A escola ideal não é aquela sem aula, em que os alunos simplesmente fazem o que querem. Um aluno de hoje quer e precisa ter espaço para falar e ser ouvido, espaço para ele ser quem realmente é, e espaço onde são proporcionado trocas, de conhecimento, experiências, opiniões etc. Os professores não tem de mandar e falar o dia inteiro, enquanto os alunos escutam calados e sentados; escola é (deveria ser) um espaço de diálogo, no qual quem fala é ouvido, e não deveria ser um lugar de obrigações, mas, sim, de compromissos, que façam os alunos aprenderem, e não decorarem. Ou seja, a escola deve ser um espaço no qual todos se sintam bem e aceitos.


Escola para quê? Natália Udiloff

As escolas, atualmente, são um elemento fundamental em nossa sociedade. É um local que ensina e prepara pessoas para a sociedade. Escolas, além de ensinar as matérias básicas, devem introduzir as artes e os fatos da realidade. Outro ponto importante é a introdução do trabalho em equipe. No documentário Quando sinto que já sei, dirigido por Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima, é apresentada uma escola chamada Projeto Âncora, na qual os alunos fazem o exercício que quiserem, onde quiserem e se quiserem. Essa não é uma boa escola, pois não contém o fundamental: o ensino e a aprendizagem do aluno. Esta seria as matérias básicas, como Matemática, Português etc. Um aluno, sem essas matérias, não está completamente formado para participar de uma sociedade. Além disso, sem uma formação completa, o aluno terá chances menores de conseguir um bom trabalho. O aluno tem que se sentir confortável e tem que adquirir a habilidade de se expressar e tomar decisões, mas precisa aprender a ouvir e, às vezes, a obedecer, pois, se uma criança está acostumada a fazer o que quiser, ela não conseguirá participar de uma sociedade. A escola citada acima e as outras presentes no documentário dão uma impressão de liberdade expressiva. Nelas, o aluno faz o que bem entender, e isso não pode acontecer, pois desse jeito o alunos não aprendem. No mesmo documentário, são apresentadas afirmações que se referem ao currículo centrado

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apenas na parte cognitiva, sem levar em consideração os diferentes aspectos de desenvolvimento humano. Escolas como o Projeto Âncora não são coerentes com uma nova visão de educação, em que o aluno sinta mais prazer e interesse em aprender. Escolas existem não para oprimir o alunos, ou lotá-los de coisas para fazer. Escolas foram feitas para preparar bem um indivíduo que fará parte de uma sociedade, na qual terá que interagir com pessoas e problemas reais. Um indivíduo que não foi bem preparado em uma escola, para participar de “uma vida real”, pode posteriormente ter muitos problemas em enfrentar a realidade, como dificuldade de comunicação e trabalho. O nosso país apresenta um problema: muitas das escolas públicas brasileiras acabam, normalmente, falhando com seu compromisso por falta de estrutura, professores, aulas e dinheiro. A consequência disso é a má construção de uma sociedade, com muitos problemas. Quando é afirmado que as escolas públicas brasileiras falham com seu compromisso, não está sendo dito que a culpa dos problemas brasileiros sejam da educação, mas há uma parte que, por falta de escolaridade, algumas

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pessoas não aprendem como participar de uma sociedade. Finalizando, o papel das escolas é ensinar um cidadão a se comportar em uma sociedade, além de ensinar a conviver com outras pessoas e apresentar a realidade para os alunos. Se é dada muita liberdade para um aluno, ele não recebe tudo que é preciso para participar da mesma sociedade que os outros alunos que fizeram escolas menos liberais.


Escola para quê? - Segunda versão A importância das escolas para a sociedade Pedro Henrique Pinheiro Viana

A escola é, sem dúvida, muito importante para a sociedade, pois é ela que irá formar os futuros cidadãos desta sociedade. É na escola onde as pessoas irão se capacitar e adquirir os conhecimentos que utilizaram nas suas vidas no futuro. Sem a escola, as pessoas não teriam acesso a esses conhecimentos e não teriam condições de se desenvolver e de se profissionalizar. Não é só o acesso às disciplinas tradicionais (Matemática, Ciências, História etc.) que dá importância à escola. A escola também permite que o jovem conviva com outros de sua idade. A escola tem o dever de ensinar sobre respeito, tolerância, deveres e direitos. De um certo modo, podese dizer que é a escola que deveria ensinar as pessoas a pensar. A escola é um dos conceitos mais antigos da humanidade. Desde a antiguidade, já existia o conceito de passar os conhecimentos adquiridos pelos mais velhos aos jovens, para que eles tivessem condições de dar continuidade aos trabalhos de forma efetiva, e conseguirem atingir novos patamares de desenvolvimento. Sem

o conceito de escola, o ser humano jamais teria chegado tão longe. No entanto, a forma que as escolas são apresentadas hoje mostra uma série de problemas, e isso faz com que ela não consiga atingir, muitas vezes, os objetivos a que ela se propõe. O formato de ensino adotado atualmente pela maioria das escolas é, provavelmente, um dos principais motivos para o fracasso do atual sistema de ensino. Algumas das vezes, a escola passa a ser vista como algum tipo de obrigação ou castigo. Muitos jovens acabam não gostando de ir à escola. Dessa forma, ela passa a ser vista como um lugar onde se é obrigado a ficar sentado por várias horas, escutando pessoas falarem sobre temas que provavelmente não interessam a esse jovem. A maneira que a maioria das escolas trata os temas que são ensinados e a forma como são ensinados não é agradável. Não existe a opção de se escolher o que quer aprender. O sistema de ensino adotado pelas escolas deveria permitir abordar os assuntos de uma maneira que fosse interessante para a grande parte dos

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alunos. Os alunos deveriam gostar das aulas como gostam de um filme, uma novela, um livro ou um jogo. A forma de ensinar deveria ser dinâmica, de uma maneira que não soasse chato e entediante. Dessa maneira, os alunos iriam se interessar pelos temas que os professores apresentassem. A escola que é mostrada no documentário Quando sinto que já sei tem um modelo interessante quando se trata deste assunto. No documentário, a escola adota uma maneira de ensino muito mais livre do que as tradicionais, ao ponto de as aulas serem opcionais e de ensinarem as crianças utilizando jogos. As crianças que eram mostradas no documentário aparentavam se divertir no local de ensino e se mostravam muito mais motivadas ao aprendizado. Também, é abordado no documentário um outro problema, causado possivelmente pelo excesso de permissividade. Quando o jovem não é cobrado, ele tende a relaxar e se esforçar muito menos do que é esperado. Com isso, concluímos que um modelo de ensino ideal seria aquele que consiga manter o aluno interessado, sem que se perca a efetividade do ensino. É necessário que as coisas sejam muito bem dosadas. A maneira que a escola influencia

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nossas vidas pode ser tão positiva quanto negativa. A escola influencia positivamente quando permite que o que é ensinado contribua para o crescimento intelectual dos alunos e proporciona crescimento profissional, garantindo, assim, um bom emprego. Pois é sabido que as chances de crescimento profissional para pessoas que não possuem escolaridade são mínimas. Cada vez mais, a sociedade exige perfis de profissionais mais elaborados. Isso privilegia quem teve acesso a boas escolas e praticamente exclui aqueles que só tiveram acesso a educação básica. Um exemplo de influência negativa da escola é o das escolas públicas que não têm a capacidade de ensinar corretamente seus alunos. As escolas que são mostradas no documentário Pro dia nascer feliz, no qual são mostradas escolas que não são capazes de oferecer uma alimentação de qualidade, nem sequer têm banheiros decentes, promovendo, dessa forma, ambientes escolares inadequados. Também, são mostrados professores despreparados e sem nenhuma condições de ensinar. O transporte para essas escolas públicas também é de péssima qualidade, dificultando até que o jovem vá até a escola. Por causa desse tipo de coisa,


muitos alunos acabam abandonando o escola, sendo influenciados para o crime ou apresentando baixos índices de aproveitamento escolar, o que os tornam marginalizados e desvalorizados pela sociedade. Enfim, as escolas são de fato essenciais para a sociedade. Podemos até afirmar que uma sociedade é o espelho das suas escolas. Boas escolas conduzem a formação de bons cidadãos, capacitados intelectualmente. Porém, não podemos esquecer que para conseguirmos boas escolas é necessário ainda trabalhar muito. As escolas ainda têm muito o que melhorar, principalmente no que se refere às escolas públicas brasileiras. O ensino básico público brasileiro é de péssima qualidade. Isso é consequência de uma série de fatores: baixa remuneração e capacitação da classe docente, falta de verbas, adoção de modelos pedagógicos inadequados, e inclui até as escolhas erradas de governantes. Sem um ensino básico adequado, não é surpresa que a grande maioria dos alunos das escolas públicas não consigam concluir cursos superiores, o que, cada vez mais, contribui para o crescimento dos desníveis sociais apresentados no país.

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Escola Rafael Souza

Ela é fantástica, a escola. Nos ensina e aprendemos com ela. Porém, sua importância é relativa, já que, como afirmara Simone André, Coordenadora de Educação do Instituto Ayrton Senna, no documentário Quando sinto que já sei: “A educação é muito mais do que o que acontece numa sala de aula. A educação é invenção humana para transmitir o humano”. Isso significa que a escola, em si, não é necessariamente essencial para a educação, nos moldes “clássicos”, ou nos mais modernos e/ ou alternativos. Então, por que existe a escola? Ela é um espaço propriamente disponibilizado para o estudo, sendo assim, um espaço “isolado” e preparado para a educação. Esta é a sua função. A escola tem como função nos proporcionar um espaço para focarmos em nossa educação. Porém, ainda existem grandes problemas e dificuldades. “Como é que se constata que a educação é um fracasso, não só no Brasil, mas em muitos lugares do mundo? Pelas taxas de evasão”. Essa é uma afirmação de Alexandre Sayad, um jornalista, educador e fundador do Laboratório de Mídia e Educação,

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feita no mesmo documentário citado anteriormente. Muitos alunos deixam a escola no Ensino Médio. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada em 2010, o Brasil tem a maior taxa de abandono escolar no Ensino Médio dentre os países do Mercosul. Além disso, apenas 14% dos alunos brasileiros chegam no Ensino Superior. Isso acontece, provavelmente, graças às próprias escolas; sendo assim, temos em mente a seguinte pergunta: qual seria a escola ideal? Acredito que a escola ideal seja a que os alunos não abandonam, com taxa de evasão zero. Porém, assim como uma sociedade perfeita, a escola perfeita e ideal é, sim, utópica. A escola molda a educação e a personalidade dos alunos. Estes estão sempre em contato com opiniões diversas, tanto de professores quanto de colegas. Isso vai se misturando com as opiniões próprias de cada um, gerando pensamentos novos e diferentes. Por que a escola existe para as pessoas que não a frequentam? Ou, então, por que não é solucionado esse problema? São perguntas muito complexas, que


são complicadas de serem respondidas. No final das contas, a educação não é feita apenas em uma sala de aula e na instituição conhecida como escola, o estudo é, ou deveria ser, facilitado graças ao espaço próprio para o mesmo. Contudo, é possível observar que muitíssimos são aqueles que não concluem sua formação escolar, e pouquíssimos são aqueles que fazem algo e/ou pensam em maneiras de como corrigir essa situação. Existem, certamente, vários motivos, válidos ou não, para se deixar a escola. Também existem, certamente, vários motivos para aqueles que não fazem nada a respeito, válidos ou não (provavelmente mais motivos inválidos do que válidos). Mesmo assim, a maior parte desses motivos permanece desconhecida e/ou escondida. O porquê disso e como resolvemos os problemas da escola são questões que teremos que pensar por um bom tempo para resolvermos, se vamos resolvê-los, afinal.

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Por que escola? Sofia Peres

A escola para quê? Ela é importante para a sociedade? Como ela contribui para o equilíbrio das nossas relações pessoais e sociais? Será que existe uma escola ideal ou até mesmo perfeita para os dias de hoje? O ensino no Brasil é obrigatório dos quatro aos dezessete anos e, para muito jovens, é a principal base de estudos. Por lei, é obrigatório o ensino das matérias básicas, como Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, entre outras, e cabe à escola decidir se atribui outras matérias, como Dança, Teatro, Música, Circo etc., no currículo escolar. Porém, além de ensinar as matérias (troca de informação do professor para o aluno e do aluno para o professor), é na escola que ocorrem as primeiras experiências da pessoa, o que a faz entrar em sua esfera emocional. No entanto, no Brasil, segundo o site educacao.uol.com.br, a taxa de evasão (abandono escolar) é de 24,3% e apenas 49,5% da população brasileira tem o ensino médio completo. Por quê? Normalmente, a maioria das escolas apenas se importam com a parte didática e “esquecem” do aluno. Uma

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escola ideal para os dias de hoje seria uma escola que escutasse os alunos, suas experiências, estimulasse o aprendizado (não apenas “colocando” nota ou até mesmo botando certo medo, mas, sim, explicando por que tal matéria será importante na vida do aluno no futuro) e, principalmente, ir além da matéria. Entender o modo que o aluno estuda, se há algum bloqueio pessoal para que ele não entenda a matéria, tentar entender o aluno e não tratá-lo apenas como mais um número. A escola é uma das principais experiências que há. Ela, ao entrar na esfera emocional, não sai mais. Ela é fundamental para o desenvolvimento do ser humano: da parte intelectual são as matérias e da parte humana são os laços de amizades que cria, experiências e histórias que poderá contar por anos e sentir exatamente o que sentiu no momento. Já estudei em duas escolas durante meus catorze anos, uma considerada tradicional e outra considerada mais moderna. A partir das minhas experiências de ir todo dia de semana nesses ambientes, posso afirmar, com toda a certeza, que ambas as escolas


foram e ainda são fundamentais para o meu crescimento pessoal. Então, escola pra quê? A escola, além de ensinar matérias, traz experiências, deve te dar conforto, ser um local seguro e principalmente, faz cada indivíduo se descobrir.

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Artigo de opinião- A escola ideal Sophia Breschegliaro Moreto

A escola é considerada um local onde é formado o caráter e o intelecto, sendo apresentadas matérias como Matemática, Português, Ciências, História, entre outras. A escola é feita para garantir um futuro melhor, diploma e emprego com um salário permanente. Os professores, diretores, funcionários, sempre tendem a ter influências nas nossas vidas, decisões de faculdade, empregos e caráter, porque passamos 11 anos tendo aulas com eles e, como eles, todas as pessoas que passam ao longo de sua vida acabam montando sua personalidade. A escola ideal seria um local que, além das matérias comuns, como Português, Matemática, Ciências etc., teria aulas com mais ligação com artes e filosofia, tendo professores que não faltassem com tanta frequência e que gostassem da matéria que estão lecionando. O sistema educacional vigente está obsoleto. Imagino que o assunto não seja novidade para você. Se tiver filhos, deve haver algum desconforto no que tange à qualidade e validade da educação que eles recebem. Dentre elas, a promoção da competição em detrimento da cooperação entre alunos, a “decoreba”, a intolerância ao erro, o

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currículo padrão (sim, a Matemática é mais importante do que a Música em qualquer escola que você vá), o teste padrão, a obediência a qualquer preço, a padronização do estilo do ensino para pessoas com estilo de aprendizagem diferentes e o fato de termos zilhões de professores repetindo a mesma ladainha, quando poderíamos ter o melhor de todos, compartilhando o conhecimento simultaneamente para todos os aprendizados. Há muito se critica a qualidade do ensino e a função da escola na preparação do cidadão. Os pais atribuem à escola o papel de toda formação sociocultural dos seus filhos. Se o menino trata mal alguém, a culpa é da escola em que estuda. Todos reclamam, sentem falta de uma escola bem cuidada, pintada e limpa. Mas isso tem se mostrado uma utopia, tanto que há algum tempo solicitei à Secretaria de Educação de São Paulo que apontasse uma – uma só – escola sem pichação nas paredes ou nos muros. Importante é saber como sair desse círculo vicioso e conseguir uma escola pública com um prédio minimamente bem cuidado, que forneça um ensino de qualidade.


Mas, se você perguntar ao diretor de uma escola por que os muros nunca são preservados, ele possivelmente apontará a Polícia Militar pela parte externa e os alunos pelas paredes internas. Atualmente, a escola não é um lugar nem aconchegante, nem limpo, nem seguro, nem agradável. Nos fins de semana, as quadras são invadidas por alunos e pessoas de fora da escola, sem acompanhamento e organização. Quando se fala em uma Escola ideal, o primeiro pensamento que vem é a qualidade do ensino.

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Escola para quê? Tomas Steffen

Nos dias de hoje, a escola, embora não seja ideal para nossa sociedade, pois não ensina ou aprofunda temas raciais, sociais e políticos, é um dos fatores que a constroem, por vários motivos, principalmente culturais e sociais. As escolas também são muito importantes para nossa sociedade, pois ela faz muito mais do que apenas nos ensinar a fazer contas e escrever bem, ela nos prepara para vivermos a vida adulta. Sem ela, a sociedade não andaria para frente e, provavelmente, estaríamos vivendo em um lugar muito pouco desenvolvido, com líderes que não iriam ter o mínimo de aprendizagem intelectual e moral, e não iriam ter a mínima noção de como comandar um país, pois não teriam nem o ensino básico que a escola fornece. Mas, apesar de tudo, os líderes de hoje em dia parecem estar vivendo nesse mundo. Porém, mesmo nos ensinando tudo isso e nos preparando para a vida adulta, será que as escolas de hoje em dia são ideais para nossa sociedade? Certamente, não. As escolas nos ensinam várias coisas, porém, não é o suficiente. As escolas deveriam sair desse padrão ultrapassado, em que todos os alunos ficam trancados dentro das salas de aula, ensinando as

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mesmas coisas para diferentes alunos. Como já dizia Sabotage, na música “Canão foi tão bom”, “criança aprende cedo a ter caráter”, e, obviamente, esse caráter é diferente para cada pessoa. Então, uma escola ideal seria aquela com mais de um professor por matéria, na qual esses professores tentassem entender o estilo e o jeito de aprendizagem de cada aluno, pois, se há um aluno que aprende mais devagar que o outro, ficar passando a mesma matéria, no mesmo ritmo e na mesma velocidade, para diferentes alunos, não vai dar certo. Pode até parecer que o sistema está funcionando, com a maioria passando de ano, com notas acima da média, porém, esse é o problema: notas, números. Se percebemos bem, a nossa sociedade é montada em números, e esse pensamento de botar eles em primeiro faz com que as habilidades de cada um sejam apagadas, alienando cada vez mais todo mundo. As escolas também precisam ensinar mais questões sociais, como racismo, desigualdade social e racial, entre muitos outros, pois, de certa forma, se nós mesmos não corrermos atrás desses assuntos, ficaremos muito alienados. Mas, nos dias de hoje, temos


que tomar cuidado quando formos correr atrás desses assuntos, pois, se buscarmos informações em certas revistas, sites e jornais, acabamos ficando alienados do mesmo jeito, nesse mundo isolado de classe média em que vivemos. Mas, apesar de todas essas “falhas”, a escola ainda é um fator muito importante na sociedade de hoje em dia. Como dito anteriormente, a escola nos ajuda a passar pela vida adulta, mas ainda falta muito para ela nos ensinar a realmente viver e conviver nesse mundo. Mesmo assim, ela ainda contribui muito em nossas relações sociais, pois formamos amigos e aprendemos a, pelo menos, saber viver ao lado dos outros.

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Artigo de opinião - Educação e juventude Felix Zocchio

Por conta da maneira que muitas escolas usam para ensinar e tratar seus alunos, acabam tirando uma grande parte do interesse que eles deveriam ter, fazendo com que muitos jovens abandonem os estudos e suas escolas. Com o passar dos anos, os jovens mostram que a falta de interesse pelas suas escolas é grande. Muitas pessoas acham e colocam a culpa toda na parte dos jovens, dizendo que eles abandonam os estudos apenas por serem adolescentes e que eles não “ligam para seus futuros”, por conta de sua “fama de rebeldes”, porém, o abandono das escolas, na maioria das vezes, não é apenas por esse motivo, mas, sim, por conta do jeito em que suas aulas são produzidas. Em muitas escolas (nas quais a maioria das vezes são da periferia), os alunos, por conta do tempo integral, ficam mais da metade do dia sentados em carteiras, apenas anotando o que seus professores escrevem na lousa, sem ter nenhuma aula em que o professor pare e explique com cautela o conteúdo aos alunos. No fim, o ensino, ao invés de ser algo que o aluno entenda e pense sobre o assunto, vira apenas decorar as anotações do caderno. Isso pode resultar, em alguns casos, em uma falta de interesse vinda não só do aluno, mas também do professor, o que torna a situação ainda mais frágil. É comum ver alunos postando em redes sociais que não aguentam mais escola, mas será que o problema são eles? Ou seria a escola, que não deixa os alunos falarem o que pensam, que pensa no

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ensino como algo reto e rígido, que só pensa em olhar os alunos como uma nota no boletim e não como eles realmente são? De acordo com estudos, a evasão total de 11% no Ensino Médio é o retrato da situação na média das redes. Se considerada apenas a evasão na rede particular, ela é de 3,6%, seguida de 5,6% na rede federal, 9,4% na municipal e 12,2% na rede estadual (que é a principal ofertante da etapa). No levantamento 2007/2008, a evasão era de 14,4%, mantendo trajetória de queda até 2013/2014, quando atingiu 10,8%. Se as escolas começassem a ouvir o que o jovem estudante tem a dizer, ao invés de continuar defendendo o estereótipo de que adolescentes são vagabundos, que não sabem o que dizem e que querem tudo do jeito deles, o espaço de aprendizado poderia ser algo mais prazeroso, a vontade de estar na escola poderia aumentar para ambos os lados, afinal, o aprender não deveria ser torturante.

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Educação é a solução? Lucas de Paula Allabi

Muitas pessoas falam que a escola seria a solução de todos os problemas no Brasil, que os problemas da pobreza, do saneamento básico, da violência, da crise econômica seriam resolvidos, já que, se os pobres estivessem estudando, ganhariam qualificação e, assim, com qualificação, um emprego melhor e melhor salário, resolvendo o problema do dinheiro. Mas vamos analisar melhor suas condições de vida, a maioria das famílias não ganha dinheiro suficiente para sustentar os filhos e, assim, os jovens têm de trabalhar desde cedo, e isso encurta o tempo que se tem para dedicar à escola. É claro que sobreviver é muito mais importante que estudar, e vale ressaltar que não há sempre uma garantia de que se formando será mais fácil ganhar um emprego bom, porque a maioria da população de baixa renda é negra ou parda e, ainda hoje, há muito preconceito na hora de empregar alguém; sempre há menos chance de um negro ser contratado do que um branco. Como mostrado em uma pesquisa realizada em Ribeirão Preto (SP), pelo Instituto de Desenvolvimento Pessoal e Profissional (IDEP), em

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1995, com 328 adultos divididos em 4 grupos, os trabalhadores rurais alfabetizados, os trabalhadores rurais analfabetos, trabalhadores da zona urbana alfabetizados e, por fim, trabalhadores da zona urbana alfabetizados, podemos observar que os trabalhadores analfabetos se marginalizam dos trabalhos com melhores salários. Assim, podemos ver que, sim, a educação se relaciona diretamente ao trabalho. Mas será mesmo que com educação a economia e a qualidade de vida melhoram? Como dito antes, não, já que o acesso à educação é, sim, o problema final. Por isso, o certo seria uma reforma política, que facilitasse o acesso à educação e, ao mesmo tempo, garantisse moradia e qualidade de vida básica à população, para que ela não precise engrenar cedo ao mercado de trabalho, sem formação nenhuma.


Textos diversos

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Mãe contra pai Lucas Allabi

Eu estava na senzala, quase dormindo, quando meu senhor, Eliseu, chegou afobado tirando o cinto. Eu já achei que iria levar cintadas pelo vaso que quebrei de manhã quando estava limpando a mesa da sala de estar, mas, para meu azar, não era. Ele logo tirou toda sua roupa e começou a me estuprar, foi uma das piores noites que tive em toda a minha vida. Eu não sei se meu bebê foi feito naquela noite, já que não foi a única, nem a primeira; isso continuou por semanas, quase um mês. Eu percebi que estava grávida quando parei de menstruar, entrei em desespero, comecei a bolar mil planos para abortar o bebê, mas a negra Amanda disse que era melhor fugir. Ela tinha tudo planejado, conhecia um abolicionista que poderia me abrigar quando eu fugisse e assim foi: em uma noite chuvosa, fugi e logo corri para a casa do tal homem, que se chamava Agostinho; eu estava grávida de 4 meses. Agostinho era um bom homem, saia todos os sábados para se reunir com seus companheiros abolicionistas e também me dava boa comida e um bom quarto. Eu fiquei lá por mais ou menos 2 meses, o problema é que toda a vizinhança

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começou a suspeitar e até chamaram um capitão do mato. Por esses motivos, eu saí e fui procurar outro lugar para morar. Com muita sorte, achei um senhor bem velho que me escondeu no porão da casa dele. Ele era um pouco mal humorado e, na maioria das vezes, me ignorava completamente, porém eu não tinha nada a reclamar, afinal, ele estava me abrigando. A partir do oitavo mês as coisas começaram a se complicar, eu sentia muitas dores, sentia muita fome, mas não tinha muita comida para comer. Tive uma briga com o velho e ele quase me expulsou de casa. Mas o pior ainda estava por vir: eu estava com muitas dores e fui comprar remédio na farmácia que eu sempre ia, esse foi o maior erro da minha vida. Era uma noite calma, serena, com poucas estrelas e uma lua cheia, eu ia devagar, via cartazes sobre a recompensa da minha captura e, quando cheguei, o dono me estranhou. Eu disse que meu dono me mandou comprar remédios, ele olhou com uma cara estranha e começou a sussurrar com ele mesmo. Eu saí da farmácia um pouco assustada e apressada, com medo que ele chamasse alguns homens para me


capturar. Eu vi atrás de mim um homem com um bebê na mão. Por algum motivo, ele correu para a farmácia e deixou-o lá. Fiquei um pouco apreensiva e apressei o passo, mas, quando vi, ele já estava correndo atrás de mim, me amarrou, e eu gritei: — ME SOLTE!!!!!!!! Ele me ignorou e eu esperneei, até o momento em que disse: — Eu posso ser sua escrava se você não me devolver ao meu senhor!!! Ele ficou um pouco tentado, dava para perceber com o seu olhar, mas não adiantou de nada, ele me devolveu ao meu dono. Nas escadas, eu abortei. Quando meu senhor me pegou, quase me matou de tantas chibatadas, e eu me enforquei duas semanas depois, no abacateiro do quintal.

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Pai contra mãe Ana Julia Varjão

Nessa época em que estamos vivendo, os escravos fogem com frequência. São muitos, e nem todos gostam da escravidão. Ocasionalmente sucedem, costumam levar pancada e são arrastados de volta para seus senhores, e nem todos gostam de levar pancada. Porém grande parte é apenas repreendida, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderação, porque dinheiro também dói. Se algum senhor perde um escravo por fuga, manda os seus outros escravos espalharem avisos por todos os lados da cidade, sempre oferecendo alguma quantia em dinheiro pelo o seu serviçal, grande ou não, dependendo do valor do seu escravo ou do quanto ele trabalhava e era importante para o seu senhor. Quando não tem a quantia no anúncio, sempre tem uma promessa: “gratificar-se-á generosamente”, ou algo do tipo. Sempre achei interessante a tal função de capturar escravos, mas esse não é trabalho digno, muito menos nobre; nunca irei conseguir algum tipo de respeito ou até mesmo sustentar a minha família com tal “trabalho”, mas não posso negar que acho a ideia bastante atraente.

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Estava fazendo o meu caminho para a casa, depois de mais um dia perdido tentando achar um novo trabalho, e já haviam se passado seis semanas desde o meu último emprego como carteiro. Agora, estava casado com a moça Clara, uma órfã que se encontrava morando com a sua tia Mônica até me conhecer, pois agora estamos morando juntos. Lembro-me de quando estávamos no dia do nosso casamento, Clara estava conversando com suas amigas, que tentavam fazer com que desistisse de se casar comigo, afirmavam que ela estava entrando em um mau caminho, que eu não era trabalhador e que os nossos filhos iriam morrer de fome. Como se não bastasse as suas tão queridas amigas tentando desfazer a sua decisão sobre o nosso matrimônio, a sua tia Mônica também tentou convencê-la de que nosso casamento nunca iria dar certo; apesar de tudo, Clara não desistiu de se casar comigo. Estava entrando na porta de casa quando, de repente, me deparo com um aviso que deveria pertencer ao cobrador do nosso aluguel. Neste, o mesmo afirmava que se não pagássemos o que estávamos


devendo até a quinta-feira iríamos ser despejados. Estamos na segundafeira, entrei em casa com as mãos na cabeça, pensando o que iria fazer para conseguir todo esse dinheiro em apenas dois dias; mal eu sabia que a notícia mais chocante, que me deixaria mais preocupado com a nossa situação, ao mesmo tempo, seria a que me deixaria mais feliz, independentemente do que acontecesse, mas também seria a que me daria mais trabalho e mais exigiria de mim como um homem e pai de família. Quando entrei em casa, pude ouvir Clara gritando o meu nome desesperadamente, fiquei assustado. — Cândido! Cândido! — gritava a Clara, ao ouvir os meus passos se adentrarem pela escadaria velha da casa. — Por que gritas tanto, querida esposa? O que há? — foi nesse momento que pude perceber que Clara segurava em suas mãos uma ocorrência médica, e foi assim que percebi que estava prestes a me tornar não somente um marido, mas também um pai de família. — Não há de dizer mais nada, esposa, me tornarei um pai, correto? — a Clara somente concordou com a minha pergunta, estava tão feliz até eu ter de lhe contar o que o futuro nos guardava. Impressionantemente, Clara

não agiu surpresa ou não demonstrou tristeza com a notícia, somente olhou em meus olhos e me disse com as exatas palavras: “Pois bem, marido, há de arranjar um trabalho, se não teremos que morar com a titia Mônica, e saiba que homem nobre não mora debaixo de teto de tia.” No dia seguinte, saí a procura de trabalho ou qualquer fazer que consiga me dar um dinheiro para conseguir manter a nossa casa. Foi exatamente nesse momento que passei por uma rua onde encontrava-se um aviso pendurado. Era sobre uma escravo que havia fugido há mais de dois meses de seu senhor e a recompensa era de cem mil réis, o que era mais do que o suficiente para pagar as minhas dívidas. Olhei para o desenho da escravo e pensei bem se deveria tentar capturá-lo. Quando eu estava prestes a arrancar o aviso, me lembrei do que aconteceria se Clara descobrisse que estava capturando escravos, então continuei a minha jornada em busca de um emprego. Num piscar de olhos, o tão temido dia havia chegado, estava juntando as minhas coisas e as de Clara para irmos para a casa de sua tia Mônica. A vida se encontrava difícil nesse momento, todo dia eu saia pela manhã para tentar ganhar algum

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vintém e Clara não tinha se quer

— Cândido, meu filho, hoje mais

tempo de remendar as minhas roupas,

cedo estava pensando na situação

tanta era a necessidade de coser para

em que você e a Clara se encontram

fora. Tia Mônica ajudava a sobrinha,

e, com isso, cheguei à conclusão que

naturalmente. Quando eu chegava

a melhor escolha a se fazer agora

tarde, podia perceber que somente

seria ir até a Roda dos Enjeitados —

pela cara que trazia da minha busca,

quando tia Mônica terminou sua frase,

Clara e a tia Mônica já percebiam

não pude acreditar no que estava

que eu não havia trazido comigo

penetrando os meus ouvidos. Roda

nenhum vintém. Um dia, cheguei em

dos Enjeitados? Filho meu não vai para

casa pelas madrugadas da noite e,

Roda nenhuma!

com mais um dia sem suceder, decidi convencer Clara a deixar-me capturar escravos, afinal, era a nossa única saída, pois o feto já estava chegando ao seu oitavo mês na barriga da mãe e o que Clara ganhava cosendo não estava sendo o suficiente para nós dois. Depois de muitas trocas de farpas entre Clara e eu, ela finalmente concordou; estávamos em uma situação muito complicada para nos darmos ao luxo de escolher o que fazer para ganhar dinheiro. O meu trabalho não estava sendo

— Não, tia Mônica! Não posso fazer isso com o meu filho, eu tenho noção de que as coisas não estão fáceis, mas eu irei criá-lo. — Meu filho, eu não falo isso para aborrecê-lo, estou somente tentando alertá-lo. Criar criança não é fácil, principalmente quando não se tem vintém — depois desse último argumento da tia Mônica, me retirei para os meus aposentos e não quis mais saber dessa história de Roda dos Enjeitados.

fácil, nem sempre conseguia achar o

O último mês da gravidez de Clara

escravo, e quando conseguia o escravo,

passou mais rápido do que posso me

na maioria das vezes, não valia muito.

recordar, ainda estávamos vivendo

Chegando em casa mais um dia pela

com muitas dificuldades, e agora

noite, me deparei com a tia Mônica me

somos quatro bocas para alimentar.

aguardando na sala, como se tivesse

Como estava difícil continuar desse

algo perturbador para me contar. Um

jeito, aceitei, com muito desgosto,

silêncio tomou conta do ambiente assim

a sugestão da tia Mônica, peguei o

que eu entrei, até que finalmente tia

meu filho no colo e sai a caminho

Mônica decidiu se pronunciar.

da Roda dos Enjeitados. Quando

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estava virando a esquina para chegar

encontrava em lágrimas, mas precisava

no local, tive uma surpresa, vi uma

fazer isso para salvar o meu filho.

escrava descendo a rua, mas não era qualquer escrava. Lembrei-me do seu desenho e de sua descrição no aviso no momento que a vi. Era a minha chance de não enjeitar o meu filho, então, sai correndo e entrei em uma farmácia que havia por ali, implorei para o dono segurar o meu filho durante alguns minutos e, depois de uma pequena troca de farpas, ele aceitou. Saí correndo atrás da escrava e, quando consegui localizála de novo, agarrei-a pelo o braço e arrastei-a ladeira a baixo. De início, a escrava relutou, gritou por socorro, mas logo depois se calou, se lembrou de que ninguém iria socorrê-la. — Meu senhor, eu te imploro, não faça isso comigo, estou grávida e o meu filho merece um futuro melhor! — não posso negar que senti um pouco de pena da escrava, afinal, sabia pelo que ela estava passando.

— Trouxe a escrava fujona de volta, meu senhor! — o senhor agarrou a escrava pelo braço e jogou-a no chão, pegou um chicote e deu-lhe uma chicotada muito forte, que atingiu a exata região da barriga. A escrava não aguentou o castigo, a forma como foi tratada, e acabou abortando ali, no chão mesmo. O senhor olhou para aquilo como se não fosse nada, afinal, ele iria continuar tendo a sua escrava de qualquer jeito. Ele abriu a sua carteira, contou cem mil réis e me agradeceu por ter devolvido a escrava. Saí de lá o mais rápido que pude, ainda estava com aquela escrava na cabeça, com o que iria acontecer com ela depois disso tudo. Nem todas as crianças vingam, mas a minha há de vingar. Fui correndo até a farmácia, carreguei o meu filho nos braços e saí com maior felicidade do mundo daquele local,

— Pois bem, estamos na mesma

sabendo que o meu filho era o que

situação, se eu não te devolver, meu

importava agora.

filho acaba na Roda dos Enjeitados... — a escrava continuou relutando, chegou até a oferecer trabalho para mim, mas ninguém iria desfazer a minha cabeça agora. Estava entrando na casa do senhor da escrava, que nesse momento já se

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O Futuro André Bánvölgyi

Nasci Clara Barros, em abril de 1827, em uma vila do interior da região do Rio de Janeiro. Sou filha de comerciantes, mestiços, mas nunca tive a chance de conhecê-los. Meu pai deixou a minha mãe alguns meses antes do meu nascimento — dizia que “não havia pão que os alimentasse” e que voltaria logo que conseguisse mais dinheiro pela cidade. No entanto, eu soube anos depois que morreu de fome, sem condições de voltar à terrinha. Nasci e, em troca, minha mãe faleceu no parto. Foi assim que quem passou a cuidar de mim foi a minha tia, Mônica de Barros, sempre muito cuidadosa e atenciosa. Foi uma real salvação para o meu futuro. Cresci, e como todas as crianças e adolescentes daquela vila, cresci tola e sem educação formal. A minha tia ensinava como me cuidar e me virar na vida. Eu e ela passávamos os dias cosendo. Era o que tínhamos para fazer. Enquanto isso, os mulatos da rua tentavam me paquerar, mas nunca conseguiam — eu era dura, dura como um cabo de vassoura. Foi que um dia conheci Cândido Neves, um homem selvagem, mas elegante; esperto, mas curioso. Ficávamos

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namorando o dia todo, ele contando as histórias dos seus fracassos em outros empregos e eu só rindo. Ele escolhera caçar escravos, dizia que “era o que lhe bem pagava, tanto na alma quanto no bolso”. Eu sabia que ele era o homem certo para a minha vida; me conquistou de imediato. Foi em um belo dia desses que decidimos que nos casaríamos, e seria num futuro próximo. Noutro belo dia, em junho de 1850, nos casamos, e a festa foi a mais linda em tempos naquela vilinha — todos adoraram. Cândido foi bem aceito na casa, os diálogos saudáveis e limpos. Vivíamos em três, felizes. O serviço de Cândido não era muito recompensador, mas pagava o aluguel e nos pagava uma semana de comida. Assim, não demorou para que eu ficasse grávida, algo que representaria a mim e a Cândido um bom desafio de vida. Mas foi então que tia Mônica abriu a boca, e disse com todas as palavras que Cândido deveria arranjar um novo emprego, um jeito de viver que, necessariamente, fosse bom para o bolso. Algo que garantisse a comida de todo dia, algo que garantisse as contas em dia, mas que fosse digno de


um homem que estava prestes a ser pai. Cândido perguntava, indignado, à tia Mônica quando íamos ao mercado: — Que quer então que eu faça, além do que faço? — Alguma coisa mais certa. Veja o marceneiro da esquina, o homem do armarinho, o tipógrafo que casou sábado, todos têm emprego certo… Não fique zangado, não digo que você seja vadio, mas a ocupação que escolheu é vaga. Você passa semanas sem vintém — dizia Mônica. — Sim, mas lá vem uma noite que compensa tudo, até de sobra. Deus não me abandona. E preto fugido sabe que comigo não brinca; quase nenhum resiste, muitos entregam-se logo — dizia Cândido, aparentemente orgulhoso. Mas agora todos sabiam que a criança ia nascer logo, e nós não teríamos dinheiro suficiente para sustentar e abastecer a futura família de quatro pessoas. Os dias se passavam como anos agora. Eu e a tia cosíamos e conversávamos o dia inteiro, esperando a tardia volta de Cândido, que cada vez com mais frequência dizia que Deus não lhe ajudara naquele dia. Foi que Tia Mônica teve uma ideia: a de mandar o menino à Roda dos

Enjeitados, o lar das crianças que nasciam e cresciam de forma infeliz, e carregavam o peso da falta dos pais a vida toda. A princípio, eu tinha de aceitar, pois via um futuro mais triste do que imaginava que a criança teria na Roda. Cândido, por sua vez, recusou a proposta com toda a força. Para quê enjeitar? Eu até estava do seu lado, mas tudo me dizia que aquilo daria errado, e a solução era mandar o coitado à Roda. E não tinha serviço para Cândido; todo dia a mesma história. Não demorou para que o real dono da casa, credor de três meses de aluguel, viesse à casa tirar satisfação. — Cinco dias ou rua! - exclamou o dono, furioso. A tristeza foi enorme quando já haviam se passado os cinco dias e Cândido não havia conseguido nada. Fomos expulsos da casa. Sorte foi que tia Mônica conseguiu emprestados os quartos de baixo de um aposento de uma senhora velha e rica, mas mesmo assim faltava muita comida. A comida era arranjada de dia para dia, e era pouca coisa. E o que sucedeu: nasceu o menino. Sentimos uma mistura de alegria com tristeza enorme. Eu implorava todos os dias por um futuro aceitável, um futuro

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em que meu filho pudesse ser alguém, não um órfão que vivia das crenças… Aquela época foi horrível. Chegou o ponto em que tia Mônica, certa de sua decisão, disse a Cândido: “Se você não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos Barbonos”. Mas ele recusou, disse que ia levar por conta própria. Estavam prestes a seguir as horas mais longas, famintas e tristes da minha vida: fiquei no quarto, encolhida, chorando e imaginando o que se tornaria essa criança que podia ser minha… Ah! Tantas horas depois de todo aquele sofrimento pelo qual eu e tia Mônica passamos, Cândido voltou com a criança no colo, e espremido em sua mão havia um pequeno saco que parecia pesado. No mesmo instante, abriu-se uma possibilidade de esperança e futuro para o meu filho, o presente que há algumas horas podia estar prestes a perder… E eu estava certa! A alegria imediata foi tamanha que demos um abraço coletivo, e Cândido disse: — E que a vida de João Neves seja feliz e próspera como este momento! - declarou ele, definindo também o nome do rapaz. — Viva, João! - exclamou tia Mônica. Depois de alguns momentos, Cândido disse:

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— E olhem que a recompensa foi boa! Aquela Arminda de que havia lhes contado estava na Rua da Ajuda. Deixei o garoto com o farmacêutico por um tempo quando, depois de ver alguns rastros dela, a consegui localizar. Quando a peguei, ela implorando por Deus para deixá-la em paz, eu levei a danada para o seu senhor. O caso é que ela estava grávida de negrinho, e este se foi quando joguei ela no chão... — suspirou, deu uma pausa e disse — Nem todas as crianças vingam, sabem como é... Depois de um tempo, já estávamos alimentando João Neves, nosso amor, nosso sucessor, tudo pelo que lutamos durante a nossa vida inteira: um futuro.


Mãe Contra Pai André Perlman Gottlieb

Quando acordei, senti um sensação de enjoo e logo percebi que isso era consequência do acontecimento do mês passado. Estava na plantação quando seu Carlos me chamou. No caminho, ele disse que Lucrécia estava extremamente doente, então eu teria de ficar na cozinha e educadamente seguir suas ordens. Chegando lá, Fernanda, a filha de seu Carlos, veio correndo falar comigo: — Arminda, aproveite que está aqui e faça um belo prato de macarrão, e rápido, que estou morrendo de fome! — Entendido, senhora — respondi. A noite chegou e eu já estava a caminho da senzala quando me pediram para ir ao escritório de seu Carlos. Chegando lá, tal senhor começou a me elogiar, falou que tenho um belo corpo, chegou perto de mim e tentou levantar minha saia, mas eu resisti. Depois, ele saiu com muita raiva e, passados cinco minutos, voltou com uma corda. Eu já sentia o medo passando por todo meu corpo, pois eu sabia o que ia acontecer. Como esperado, ele amarrou meus pulsos e levantou minha saia. O medo já havia crescido tanto que virou pavor;

quando percebi, estava tremendo sem conseguir parar de chorar. Três meses depois já conseguia ver minha barriga crescer. Todo dia ficava aflita com esse filho e não pensava em outra coisa. Na plantação, comecei a conversar com Alberto, um homem que era meu único sonho nessa miserável vida, e ele me disse que adoraria fugir comigo e me ajudar a cuidar desse filho como uma família, mesmo que fosse difícil se esconder dos capitães do mato e do próprio seu Carlos. Todos os dias eu sentia sensações desconfortantes em minha barriga, meu desespero aumentava a cada dia que passava, a cada chute que o bebê dava. Não aguentava mais o irmão de seu Carlos, Pedro, que era médico e sempre dizia o que todo mundo repetia, que tudo ia ficar bem. Ele tinha muita confiança, afinal, era seu sobrinho que estava vindo. Estava lavando as roupas de Fernanda quando Carlos chegou. — Arminda, lave essas roupas! — E você nem pergunta sobre mim? — Ué, por quê?

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— Talvez porque você tem um filho seu dentro de mim — E você acha que eu vou ligar para um filho de uma negra imunda como você? Você é a coisa mais insignificante pra mim. Seja esperta, lave essas roupas pra evitar as consequências. Eu sentia tanta raiva dele, um homem tão mau assim, quando lembrei que Alberto conseguiu fugir com sagacidade e decidi que poderia fazer o mesmo. Logo no dia seguinte, eu esperei a noite chegar para efetuar minha fuga. Quando estava prestes a sair, chegou Pedro e disse que só me deixaria fugir se eu transasse com ele. Impulsivamente, aceitei a proposta. Então, fugi. Chegando ao quilombo, não vi Alberto lá. Então, soube que ele foi capturado por um capitão do mato. Uma semana depois, pediram para eu ir à cidade pegar um leite. Chegando lá, vi um homem me encarando mas nem me importei muito, devia ser só pela minha cor. Depois de um tempo, ele começou a me seguir e estranhei, mas continuei meu caminho. Quando percebi, ele já estava me segurando. Na hora eu já entendi do que se tratava, comecei a gritar, implorei por ajuda, porém ninguém se importou; as pessoas passavam e olhavam como

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se fosse uma cena normal, ou até me xingaram por pedir ajuda. O homem me levou para a casa de seu Carlos. Chegando lá, ele me jogou no chão e começou a escorrer sangue debaixo das minhas pernas Pedro veio correndo, estava na hora, minha bolsa havia estourado e comecei a sentir uma dor imensa. Estava entrando em trabalho de parto, eu fazia uma força enorme pro bebê nascer. Eu não aguentava a dor e, quando percebi, como uma luz, morri. O bebê já nascera morto; e eu estava lá, me vendo morta, deitada no sofá, cheia de sangue, e aceitei.


Pelos olhos de um ignorante, o dinheiro é só o que conta Bianca Marcomini

Refacção do texto `Pai contra mãe` de Machado de Assis, pelos olhos de Tia Mônica, escrito por Bianca Marcomini. Acordei hoje, possivelmente, de mau humor, nesse inferno de Deus, e novamente vou ser obrigada a olhar na cara daquele desgraçado que minha sobrinha chama de marido. Aquele ser humano é o verme mais repugnante deste planeta! Todo dia tenho de aguentá-lo aqui em casa pois ele não consegue permanecer no mesmo emprego por mais de cinco dias. Por causa disso, o inútil fica o dia inteiro sentado no sofá, buscando informações no jornal sobre aqueles animais negros que fogem de seus abrigos, como se fossem cachorrinhos, procurando oportunidades para capturá-los. Faz isso para tentar ganhar algum dinheiro, mesmo que seja pouco. Enquanto isso, ajudo minha sobrinha a coser para fora. Às vezes, fico pensando como minha vida é miserável. Por algum tempo ficamos passando fome e, quando não estamos, comemos uma comida horrível, comprada com o dinheiro de meu genro. Sempre soube que Cândido era completamente instável.

Mas Clara, como é sempre relutante, quis casar-se com ele. Bom, agora contarei-lhe minha versão da história que se passou. Há algum tempo, vivia somente com minha sobrinha, até ela decidir casarse com Cândido Neves — mesmo eles sendo muito velhos. Por mim, estava tudo bem eles se casarem, até virem com um papinho de ter um filho. Era só o que me faltava! Um homem que não arruma emprego fixo e uma mulher costureira quererem ter um filho e sustentar a família! Foi quando, finalmente, a escassez chegou. Estaríamos fora daquela desgraça toda. Mesmo se eles tivessem um filho, teriam de doar a criança para a Roda dos Enjeitados. A parte ruim foi que nos tiraram da casa que alugávamos. No final, não me preocupei nem um pouco pois, como já conheço uma senhora velha e rica, que é uma de minhas freguesas, consegui que ela nos emprestasse alguns quartos dos fundos por um

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tempo. E contaria a eles somente após a entrega da criança. Foi quando o menino nasceu. Oferecime para levá-lo à Roda, mas o pai insistiu em fazê-lo. Muito tempo depois, Clara e eu já estávamos começando a suspeitar que ele tinha fugido com a criança. E foi nesse exato momento que ele voltou com o menino e cem mil-réis nas mãos. Pensei por que diabos ele tinha voltado com a criança, até ele contar que finalmente capturou uma escrava, que abortara, e ganhou uma quantia de dinheiro muito boa. Vendo todo aquele dinheiro, perdoei-lhe e fomos todos para a casa daquela bondosa senhora de idade, com o bebê.

Pai contra mãe Bianca S. Andrade

Cândido Neves, esse é o meu nome. Vou contar-lhes uma história interessante que houve um tempo atrás. Minha época de sofrência financeira coincidiuse com a época escravocrata. Nessa época, não conseguia me sustentar e arranjei uma esposa, Clara Neves. Ela foi quem aceitou minha pessoa em minhas condições da época. Era costureira, seu trabalho era suado e bom. Já eu, um preguiçoso, quase não trabalhava. Após algumas semanas, decidimos ter uma criança. Tia Mônica nos avisara de que não era boa ideia porque mal conseguíamos nos sustentar, como dariamos uma vida para uma criança? Mas, sonhadores demais para termos noção de que iríamos criar uma vida, seguimos com nossa ideia. Com essa situação, tratei de arrumar um emprego que rendesse mais, mas custava para lucrar sendo um caçador de escravos e nossa situação ficava instável, pois ou tínhamos muito dinheiro após eu capturar um escravo e o levar para seu dono, ou eu ficava semanas, ou até meses, sem capturar nenhum. De qualquer maneira, eu só conseguia pensar na criatura que estava para nascer e tentava dar o melhor de mim para conseguir criá-lo bem.

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Passado alguns meses de discussão entre mim e a Tia Mônica, ela queria que deixássemos o bebê, assim que nascesse, na Roda dos Enjeitados, pois não teríamos condições para criá-lo. Tentamos, de todo jeito, evitar que isso ocorresse. Após mais alguns meses, o bebê nasceu, era um homenzinho lindo. Não tivemos escolha, tivemos que o deixar na Roda. Eu tentava adiar cada vez mais. Quando chegamos na rua da Roda, avistei uma negra correndo. Na verdade, não sabia ao certo se era uma escrava fugindo ou alguém correndo. Bom, não podia perder nenhuma oportunidade, deixei meu filho com um farmacêutico e corri atrás da suposta escrava fujona. Quando a peguei, era uma escrava grávida. Ela suplicou que eu a soltasse para ter seu filho livre, mas eu tinha que salvar o meu filho e, claro, não tive dúvidas, afinal, o filho dela só iria sofrer sendo um escravo. Levei-a de volta para seu dono. No minuto em que ele me entregou minha recompensa, ela abortou. Confesso, fiquei com pena, sei como é perder, ou quase perder, um filho. Conseguimos criá-lo por dois anos, pois capturei mais escravos nesse meio tempo. Só depois de conseguir o dinheiro que eu precisava naquele dia que tia Mônica contou-nos que tinha um abrigo de emergência para nós. Fiquei novamente, após esses dois anos, sem dinheiro por dois meses. Mas Clara havia recebido outro cargo além de costureira, desenhista de roupas. Isso salvara a família, por um tempo.

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Pai contra mãe Felipe P. Gottlieb

Acordando com os gritos do meu dono, na fazenda onde eu fui escravizada, olhei para frente, haviam meus amigos em minha volta, João e Maria, os dois olhando com estranhamento para mim. Perguntei-lhes qual era a graça, porém não houve resposta, só ficavam me encarando. O olhar baixou à minha barriga, olhei para baixo e esses gritos se transformaram em um choro parecido com um bebê. Tentei levantar, eu estava grávida, fiquei desesperada, cada vez mais os gritos aumentavam e não entendia nada. Corri para algum lugar mas, confusa, cai ao chão. Nesse momento, não o senti, parei de ouvir o choro, os passos de João e Maria ou qualquer outra coisa que estava acontecendo, só percebi que eu não estava mais lá. Abri os olhos e, primeiramente, fui olhar para minha barriga. “Ufa”, eu disse em voz alta, era só um sonho, mas foi muito realista, bem mais do que eu já tinha sonhado. Mas não posso ficar falando desse sonho, porque eu tenho que trabalhar, não é? Durante o dia, fiquei pensando nos poucos minutos que isso era possível, será que esse sonho significava alguma coisa? Afinal eu nunca havia

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sonhado, desde quando me conheço como escrava. “Aí!”, eu disse a Maria, pois ela acabara de interromper meu pensamento falando da fuga que estávamos planejando — ”Faltam só alguns dias, hein?“ —, mas eu não respondi. Passamos o dia naquele sol desgraçado, nem o nosso feitor aguentou. Quando foi chegando a noite, Adalberto, um homem já com uns 50 anos, mau como o diabo, pelo menos conosco, e que era o dono dessa fazenda, me chamou. Fiquei pensando o que aconteceria, não tinha feito nada de errado naquele dia, mas indo até ele descobri que dessa vez não era para árvore como objetivo de me dar chicotadas. Foi para seu quarto. Agora eu já sabia o que iria acontecer. Tentei gritar, mas lembrei que isso não funcionaria e, então, apenas aguentei. Tive o mesmo sonho nessa noite, acordei de novo olhando para a minha barriga e não tinha acontecido nada, mas estava passando mal, jogada no chão de um celeiro da fazenda, com uma imensa dor no coração. O tempo foi passando e, infelizmente, meus sonhos significavam alguma coisa, minha barriga ia crescendo, e sabia que


todas as escravas aqui abortariam pelo fato de ser um filho de seu Adalberto, porém, eu não, sou forte o bastante para pensar só no meu filho e não naquele homem terrível, mas com essa condição tivemos que adiar a fuga. Seis meses depois, mesmo com a barriga do jeito que estava, decidi que a fuga teria que ser nesse momento. Como estava muito quente, o nosso feitor iria em algum momento para dentro, pois não era um dos mais fortes e não aguentaria esse calor. “Fugiremos rapidamente”, eu dizia a Maria e João. Chegou a hora e, como previsto, o feitor foi mesmo para dentro. Fomos, rapidamente, sem criar alguma confusão, chegando perto da borda e percebemos que o homem estava se aproximando, já tinha percebido. Com pressa, sem olhar o caminho, os dois se prenderam na mesma armadilha para escravos eu me safei, e João gritou: “Arminda, nos tire daqui!”. Eu poderia tentar salvá-los, mas com certeza eu seria pega também. Então, me veio à mente que eu também poderia fugir. Como eu tinha esse filho pra cuidar, pulei o muro e deixei os dois serem pegos.

Depois de toda explicação a Marta, que foi quem me acolheu, fui dormir perturbada com minha decisão anterior. Agora, depois de alguns dias, comecei a ter a impressão de que eu estava me vendo na cidade, mas não sabia como. Talvez fossem cartazes falando que eu havia fugido, mas não sei. Chegando a noite, fui para fora da casa onde estava acolhida para tomar um pouco de ar e vi um homem forte seguindo em minha direção. Ele gritou meu nome envolvendo uma corda em mim; novamente, tentei gritar, mas sabia que nada aconteceria, afinal sou uma escrava. No máximo, alguém iria ajudá-lo a me levar para Adalberto. Durante o caminho, comecei a lembrar do que eu fizera com João e Maria, agora nada daquilo valeu a pena. Chegando à fazenda, fui jogada no chão, tão desesperada que desmaiei… Novamente, tive aquele mesmo sonho, com o mesmo choro, porém, quando eu caí ao chão, já querendo saber o que aconteceria, não abri os olhos.

Até que, depois de uma longa caminhada, encontrei a vila onde saberia que me acolheriam. Então é isso, dona Marta, foi isso que aconteceu comigo!

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Sangue negro Flávia W. Meme

Abro minhas pálpebras, ainda grudentas pelas lágrimas derramadas na escuridão. A dor ainda lateja eminentemente em minha genital, a imagem da noite anterior se repete infinitas vezes em minha mente, como se meu cérebro estivesse querendo punir a mim mesma por tal acontecimento, como se tivesse havido escolha. Olho para meus pulsos, que agora levam grandes hematomas feitos pelas duas mãos claras que os seguraram com força, empurrando-me contra o chão. Coloco os dedos em volta de um deles, inquieta. Continuo deitada, não tomando coragem o suficiente para aguentar os olhares curiosos e reprovadores. Remexo-me na terra áspera que outrora irritara minha pele, mas agora já não o faz mais. Fecho os olhos tentando reprimir o ódio que nunca poderia expressar, lembrandome da dor, enquanto um filete de sangue escorria por minhas pernas e meus lábios escuros soltavam lamentos desalentados. Em um momento, ele soltara meu pulso e achei que me deixaria ir, mas me enganei, o soltara para bater em meu rosto e vociferar para eu ficar quieta, se não nos encontrariam. Aquele filho de fazendeiro bastardo, que nada fazia além de observar as moças

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enquanto elas fazem seus trabalhos, nem chegara à idade adulta, mas sabia que ele era mais velho que eu, e que eu não poderia fazer nada para impedi-lo de saciar seus desejos pecadores. Sento-me com Maria José, chacoalhando de leve meu braço, ergo os olhos e percebo que um senhor estava chegando. Rapidamente levanto e posto-me sobre meus pés. Percebo o olhar preocupado de minha amiga, a única que fizera desde que estive aqui. Finjo que não percebo e encaro o homem barbado que vem em nossa direção. Suas vestes são brancas e finas, o que permite ver sua pele esbranquiçada através do tecido. — O que vocês estão esperando? Vamos! Todo grupo o segue, em direção às plantações infinitas. Ao pisar na terra areada, remexo meus dedos do pé, sentindo o solo macio e tentando evitar que as imagens voltem à minha mente. Começo a colher os grãos de café das plantas, retirando-os de sua origem, como fizeram a nós em nossas terras. Após várias horas sob o sol quente, temos o momento de descanso, no qual eles servem uma pequena quantidade de comida e água, retiro minha parte


diária e sento-me no canto, comendo calmamente a ração. Observo os campos verdes com o desejo de correr por eles e soltar meus cabelos sempre presos, sentindo o vento bater contra minha face, mas simplesmente me mantenho sentada. Por mais que eu não esteja com apetite, sei que se não comer irei desmaiar em pouco tempo, pelo trabalho árduo. Fico remexendo minhas pernas inquieta, ainda sentindo a sensação da violação em meu corpo. Mordo meu lábio e, rapidamente, o gosto de sangue invade minha boca. Cuspo o licor vermelho e novamente me lembro da noite anterior; o pânico me consome e, no fundo de minha mente, surge a ideia de eu estar enlouquecendo. Antes que qualquer outro pensamento apareça, o sino toca, indicando o fim do almoço. Enfio na boca o que restara da comida, e volto em direção às plantações. Quando o sol começa a se pôr, começo a voltar ao lugar onde durmo. Então, ouço gritos ao longe, olho em direção à origem do som e percebo muitas pessoas se aglomerando ao redor de algo. Aproximo-me e percebo que todos estão encarando o mastro de chibatadas. Ao vê-lo, meus pelos se eriçam e sinto as cicatrizes ainda não tão antigas, mas não tão recentes, queimarem em fogo sobre minha pele.

Um senhor arrastava pelos cabelos uma mulata mais velha, que se debatia e gritava por misericórdia. Ele não dizia nada com a cara passiva, simplesmente segurava-a com mais força a cada grito. Após acorrentar seus pulsos contra o mastro, ele vira-se para a multidão. — Essa negra defendeu um negrinho vadio, após ele roubar de uma pequena e inocente criança! Isso é para mostrar que não toleramos o roubo aqui. Ela irá receber vinte chibatadas, espero que sirva de exemplo! — após isso, ele enche os pulmões de autoridade e retira a cinta do bolso, preparando-se para dilacerar a pele da pobre coitada. — O que aconteceu? – viro para uma negra ao meu lado, não a conhecia. — Um menino negrinho roubou o brinquedo do filho mais novo do senhor, a mulher tentou protegê-lo, mas o senhor meteu-lhe cacetadas e ele morreu na hora... — ela soluça.— Ele era só uma criança... Fico sem saber o que dizer, assinto com a cabeça e viro-me para a cena novamente. Não sabia se me surpreendia ou não, um caso horrível, mas algo que nem hesito em duvidar ao ouvir. O branco ergue os braços e rapidamente os desce, fazendo o couro estalar contra as costas da outra. Fecho os olhos ao ouvir seu grito, tão rasgante quanto o chicote. Na terceira chibatada, viro-me

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de costas, não suportando ver a cena, e ignoro os gritos atrás de mim, indo para a cabana e desejando mais do que nunca adormecer. Após um mês do mesmo cotidiano doentio, de trabalho, cansaço, fome e dor, como sempre foi, algo diferente acontece. O sangue não vem e, no momento em que percebo o que está acontecendo, o pânico toma conta de mim. Não poderia ter uma criança, não poderia condenar uma vida a isso aqui. Passo o dia apreensiva, não sabendo o que fazer, e às vezes sentia algo remexer-se em minha barriga, mas sabia que não seria possível, pois o feto só começa a se manifestar após alguns meses. Lembro-me que costumava desejar ter um pequeno bebê para cuidar e criar, antes de ser retirada de minhas raízes e trazida a esse lugar pútrido. Continuo a manejar as plantas esverdeadas e de vez em quando acaricio meu ventre, não conseguindo evitar ter certo afeto. Mas, nesses momentos, garantia que nenhum olhar se dirigia a mim. Na hora do almoço, sento-me com Maria José, como de costume, com a cabeça cabisbaixa, e como silenciosamente a mísera comida. — Cê tá bem? — ela me pergunta. Levanto o olhar, encarando seus olhos

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negros, que há muito tempo já perdera o brilho da esperança. Recordo-me que ela já estava há três anos aqui. Eu estava há um e quase não aguentava, mal consigo imaginar passar três. Naquela noite, cruzo com o filho do senhor, ele abre um sorriso malicioso e anda calmamente em minha direção, como uma fera se preparando para atacar a presa. Sinto-me vulnerável como nunca sentira antes, a única coisa que consigo ouvir é meu coração retumbando forte contra minhas costelas, como se ele clamasse para se libertar. Minha respiração fica entrecortada e minha mente clama para eu me mover e fugir, mas parece que alguém me impregnou contra o chão. No momento em que ele se aproxima de mim, sua mão vai diretamente ao meu pulso. Ainda lembro-me da força com que me segurara da outra vez e quanto tempo os machucados demoraram para desaparecer. — Olá. — O que você quer? — ranjo os dentes. Sua mão aperta mais forte meu pulso e seu olhar me repreende. Com o pânico aumentando cada vez mais em meu corpo, a ponto de consumi-lo, recuo. — Boa noite, senhor – falo baixinho, olhando para meus pés descalços. — Como? – ele me provoca se divertindo com minha inferioridade.


— Boa noite, senhor — olho em sua direção e abro um sorriso, mas com meus olhos vazando puro ódio. — Em que posso ajudar? — sinto as palavras subirem por minha garganta como veneno e contenho-me em não cuspi-las. — Estava pensando em como nos divertimos no outro dia e que poderíamos nos divertir daquele jeito novamente. — Fale por você — murmuro. — Como? — ele pergunta, cada vez mais irritado. — Hoje estou muito cansada, passei o dia todo nos campos e preciso descansar. Talvez outro dia.. — tento me soltar de seu pulso, mas ele é firme. — Bom, mas eu estou com vontade agora. Nesse momento, desisto de ser discreta e começo a lutar para me soltar. Puxo meu corpo contra o seu, que segura meu pulso com cada vez mais força. Finco minhas unhas sujas em seu braço límpido, fazendo-o vociferar de dor, e nesse momento ele afrouxa a mão e me solta. Eu corro, aliviada pela distância, mas, então, seu corpo me atinge e caio no chão com seu peso. Ele solta uma risada perversa, estremeço de nojo em sentir seu corpo sobre o meu. Seu hálito soa contra minha nuca, ele se levanta e me vira no chão. Olho ao redor e vejo outros escravos passando.

Olhavam preocupados e com horror, mas não o suficiente para impedi-lo. Ele abre sua calça bruscamente e volta a se postar sobre mim. Num último desespero, levanto meu joelho e chuto seus testículos; ele se encolhe em dor e vejo minha chance de escapar. Levantome correndo, não me importando de estar quase nua, por minhas roupas terem rasgado quando ele tentou impedir de levantar-me. Corro cegamente pelos campos, somente me importando em afastar-me. Sinto uma mão em meu ombro e me encolho, mas percebo que elas são suaves e carinhosas, diferentes das dele. Olho para trás e deparo-me com Maria José, olhando mais preocupada do que jamais a havia visto. Ela seca uma lágrima que desce por minha face negra. Até aquele momento, não havia percebido que estava chorando. Reprimo as lágrimas, odiando minha fraqueza, quase tanto quanto o odeio. — Vamos entrar, antes que alguém perceba que estamos do lado de fora nessa hora. Entramos na cabana e várias pessoas já estão dormindo em seus leitos simples. Deito-me em meu espaço e ela deita-se ao meu lado. — Quer me contar o que aconteceu? — Estou grávida! — sinto meu estômago revirar. Ao dizer as palavras, tudo

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parecia mais real. Em outra situação qualquer, isso seria motivo de comemoração, mas a face de Maria José se transforma em puro horror, e eu, em minha posição, não esperava reação diferente. — De quem? — O filho bastardo do senhor. O horror em sua expressão só aumenta e surge pena, simultaneamente. Ela me abraça rapidamente, pois não devemos ter afeto com outros escravos e temos medo de nos denunciarem, pois isso daria em vinte chibatadas em nossas costas e mais ração ao delator. — Sinto muito — ela fala. — Você não está compreendendo, não posso continuar aqui. — Você está pensando em... — seu tom diminui gradativamente, quase não produzindo nenhum som — fugir? Concordo com a cabeça. — Você tá louca? — ela tenta ao máximo controlar o tom da voz. – Se descobrirem você tá morta. — Não posso condenar a vida dessa criança, não posso, nunca me perdoaria. E se acontecer o que aconteceu com o menino mês passado? Eu não ia aceitar. — Talvez eles o acolham, por ser filho de branco... – ela diz, esperançosa, mesmo sabendo o quão tolas são as palavras que ela sugere.

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— Ele irá negar. Se ele admitisse ter relações com negras, nenhuma mulher iria se casar com ele — falo. desolada. — Conheço um homem — ela fala, calmamente, ainda não parecendo se decidir sobre suas palavras — que é um negro livre, e ele pode estar disposto a te ajudar. Meu coração se enche de esperança. — Você faria isso por mim? — pergunto, emocionada. — Claro que faria, mas não tenho como garantir nada. — É o suficiente — permito-me pela primeira vez, desde que cheguei aqui, sentir esperança de verdade. – Muito obrigada. Viro-me de lado, fecho os olhos e adormeço com as mãos sobre a pequena vida que surgia dentro de mim. ... Certo dia, durante o intervalo, já havia passado duas semanas de minha conversa com Maria José e eu já havia perdido qualquer esperança que eu havia possuído de sair dali. Remexia melancolicamente a comida com os dedos sujos de terra. Maria está sentada ao meu lado, a negra parece inquieta com algo, e pergunto-lhe o que a incomoda. — Consegui dar um jeito de você sair daqui — ela cochicha.


Praticamente pulo de surpresa e a ansiedade me consome. Meu coração começa a palpitar agitadamente em meu peito. Não consigo lutar e abro o sorriso mais discreto que consigo. — Esse meu amigo vai te encontrar no fim da plantação, daqui a dois dias, ao pôr do sol. Como você vai conseguir ir até lá é por conta sua, mas ele se dispôs a cuidar de você até você ter o bebê. — Muito, muito obrigado! – falo, repetidas vezes, tentando controlar a felicidade e meu desejo de abraçá-la. O faria mais tarde, quando os senhores não nos tivessem observando. Fico olhando para o horizonte por alguns minutos, feliz demais para me preocupar em sequer comer. Então, algo começa a perturbar minha mente. — E você? — Eu o que? — Não vai vir comigo? — Não posso – suas bochechas ficam rubras. — Por que não? — Se eu fugisse, eles saberiam que foi ele que me ajudou. Não posso fazê-lo sacrificar tudo para me ajudar. Na época que ele estava aqui éramos amigos. Pelos olhos de Maria, eu sabia que os dois eram mais que amigos e que até hoje ela sentia sua falta. Sinto uma profunda dor no coração por perceber

que também estaria deixando Maria, que ficaria novamente sozinha. — Sinto muito — digo e toco de leve minha mão em sua coxa. Ela dá de ombros e começa a comer, mas consigo sentir melancolia emanando de seu corpo, junto ao suor. Sinto vontade de consolá-la e dizer que iria ficar com ela, mas não poderia nem cogitar a ideia, não por mim, mas pela criança que carrego; eu devo isso a ela, dar-lhe uma vida mais feliz. Após dois dias, lá estava eu, manejando a terra, enquanto o sol mais quente do dia queimava contra as minhas costas e eu só conseguia pensar que essa seria a última vez na vida que o faria. O dia inteiro, fiquei inquieta e um pouco paranoica. Toda vez que um senhor se dirigia a mim, eu achava que haviam me descoberto. Quando começo a ver o sol se pôr no horizonte, sei que é o momento, que é agora ou nunca. Peço ao senhor para poder ir fazer minhas necessidades e ele me dispensa com um aceno. Ando naturalmente pelo cafezal, então, uma mão me para e olho para quem a segura. Maria. — Boa sorte – ela murmura, muito baixo. — Muito obrigada por tudo, nunca vou esquecer — aperto sua mão desejando abraçá-la, mas seria inapropriado na frente de todos. – Um dia vou voltar para te buscar.

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— Não diga bobagens – ela ri, baixinho. — Adeus, Maria. — Adeus, Arminda. Sinto as lágrimas preencherem meus olhos, mas me repreendo, sabendo que elas poderiam me denunciar. Continuo a andar novamente, até que alguém me chama. — Ei, você! – o senhor fala. Um frio toma meu corpo, paro e viro-me, pedindo aos deuses que me ajudem. — O que faz na minha área? Abro um sorriso tímido. — Só procurando um lugar onde possa fazer minhas necessidades. — Vá e volte logo. Concordo com a cabeça, sabendo que pretendo fazer tudo, menos voltar. Apresso-me, com meu coração cada vez batendo mais forte com a ideia de liberdade. Chego em poucos minutos ao fim da plantação. A vários metros, encostado em uma árvore, um negro com um cachimbo barato na boca, o que claramente indicava que ele era livre. Por mais que pareça ter um corpo relaxado, sua feição é pura preocupação. Aproximo-me e, ao me ver, ele abre um grande sorriso. — Arminda? Concordo com a cabeça. ...

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Andamos silenciosamente e rapidamente, com medo de sermos notados. Ele aperta com os dedos sua calça na altura de suas coxas, deixando suas juntas brancas; seus olhos transitam de um lado para o outro, mas ele não cogita em olhar para os lados; com o canto do olho, noto seus dentes brancos dilacerando a pele negra frágil. Volto a olhar para meu pé, atenta no homem que acabara de salvar minha vida, esforçando-me para não ficar para trás. Depois do sol já ter-se ido, chegamos em uma pequena cabana no extremo da cidade, e percebo que em nenhum momento entramos nela. Agradeço mentalmente por Maria me trazer tudo aquilo, sendo que nunca a fiz nenhum favor. Percebo que ele fez isso conscientemente, pois por toda cidade há homens caçando escravos fugitivos para conseguir a recompensa. Ele abre a cabana, ela tem um cheiro de mofo reconfortante, um pequeno sofá desgastado, uma mesa de madeira corroída e velha, um pequeno fogão e um quarto onde eu via, no meio da escuridão, que havia uma cama velha lá dentro. — Não é muita coisa... — ele começa a falar, pela primeira vez desde que o vi. — Está ótimo – digo, interrompendo-o. — Muito obrigada mesmo, você não havia obrigação alguma de me acolher e o fez, e isso aqui — indico com a mão para o lugar — é muito melhor do


que o que eu tinha. Eu nem sei como agradecer. — Eu não podia deixá-la ter um filho naquele inferno. Pode não parecer, mas já passei por aquele lugar, somente carregando meu peso, imagina de mais uma pessoa. Enquanto ele fala, estende a mão em minha direção, com intenção de tocar minha barriga, mas eu recuo, colocando os braços ao redor de meu corpo, como uma armadura de proteção a meu filho. — Ei, não precisa se preocupar, ninguém vai te machucar aqui. — Você ainda não me disse seu nome — falo, tentando desviar o assunto. — Pedro.

tempo. Na fazenda sempre havia um ruído de gritos ou de lamentos, e às vezes de chicotes. Fecho os olhos, apreciando a liberdade, sentindo cada poro do meu corpo vibrar de felicidade e empolgação. Quando os abro de volta, Pedro está me observando, curioso. Então, ele sorri, uma coisa que deixei de praticar há muito tempo, quando tiraram de minha casa, a milhas daqui. Eu volto a comer, olhando somente para a comida, mais saborosa do que me lembrava que comida poderia ser. Fazia tanto tempo que eu só comia aquela maçaroca que me serviam dia após dia que havia me esquecido da sensação de explosão de sabores na boca e como ela se enchia de saliva com os diferentes gostos.

— Não seria necessário – sorrio, aceitando a comida, e como com as mãos, que estão sujas. Ele não mostra desprezo ou horror por essa ação e faz igual; não tenho certeza se ele o fez por gentileza ou porque costumava fazer isso também.

Após terminar de comer, ele me diz que separou o sofá para mim. Ele é um pouco pequeno, mas digo para ele que não me incomodo e que está mais que bom. Então, ele entra em seu quarto e, rapidamente, sua respiração fica lenta. Eu não consigo dormir, fico encarando o teto mofado, aproveitando o momento de estar ali. Começo a me sentir desconfortável e desço para o chão, que me acolhe melhor, como me acolheu neste último ano todos os dias que ia dormir. Após não sei quanto tempo, meus olhos começam a pesar e caio num sono profundo.

Como silenciosamente, estranhando e apreciando o silêncio depois de muito

Acordo com sua mão chacoalhando meu braço e eu recuo com seu toque quase

— Obrigada, Pedro. Ele sorri e vai em direção ao fogão, acende uma vela que ilumina o local e retira de uma das panelas uma pequena porção de comida. Ele a divide em dois pequenos pratos de barro. — Sinto muito não ter mais.

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inconscientemente. Ele me olha com certa pena, mas rapidamente abre um sorriso novamente. — Vou sair para meu trabalho e só volto no pôr do sol. Faça o que quiser até lá, só evite sair da cabana, qualquer um pode estar por aí. Concordo com a cabeça e, então, ele sai pela pequena porta. Eu fico ali, deitada, somente vendo as horas passarem e acariciando meu ventre, para não sentirme solitária. Após certo tempo, decido fazer algo e começo a limpar a casa suja, que não saberia dizer há quanto tempo está sem ser limpa. Tento deixar tudo o mais limpo o possível, me sentindo feliz por poder retribuir em parte o que ele estava fazendo por mim. Quando ele volta, leva um pequeno pedaço de carne nos bolsos e o cozinha rapidamente. Novamente, comemos silenciosamente, cada um em um extremo da mesa, com o silêncio ocupando o espaço entre nós. — Como Maria vai? — ele quebra o silêncio. — Bem... — digo, triste, lembrando-me de minha amiga que ainda vive naquele inferno. — Bem, dentro do possível daquele lugar. Ele solta um suspiro triste. — Queria tanto poder ajudá-la, mas ela se recusa. Às vezes penso que ela tem mais medo de sair de lá do que viver

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naquele lugar. — Talvez todos nós tenhamos — falo, lembrando-me do pânico que senti enquanto saia da fazenda. Ainda não sabia definir se aquela sensação havia sido boa ou ruim. Ele sorri para mim e, hoje, eu sorrio de volta. Gosto da sensação de meus músculos da boca se curvando para algo bom, diferente do que eu estava acostumada. Deixo o sorriso ali por alguns segundos, saboreando a sensação. Após terminar a comida, vamos dormir e, novamente, eu opto pelo chão. Estou quase adormecendo, quando o ouço dizer algo de dentro do quarto, cortando a escuridão. — Obrigado por limpar a casa. ... Após uma semana, depois da faxina, saio sob o sol escaldante para a minha caminhada, que agora se tornara diária. No meio do caminho, não consegui deixar de notar algo. Com o canto do olho, vejo um pequeno anúncio pregado em paredes, em que falam os negros procurados. Com o pouco que havia aprendido a ler nas aulas com os padres, antes de ser mandada à fazenda, li o nome Arminda, com breves descrições sobre mim, mas uma grande quantia de dinheiro para pagar. Aposto que aquilo havia sido arranjo daquele cretino, filho dos


senhores, mimado como uma criancinha. Ranjo os dentes de raiva, tentando parecer o mais natural possível, relendo repetidas vezes meu nome no anúncio. Ando apressadamente para a cabana, com o medo me consumindo pela primeira vez desde que saíra da fazenda. Levo a mão aonde meu filho vive e minha respiração começa a falhar; voltar para aquele lugar não é uma opção. Quando Pedro chega, apresso-me em sua direção, em pânico, como uma criança assustada. — Eles estão me procurando. Não posso voltar para lá, Pedro, não posso. — Ei, calma — ele coloca uma das mãos em minha bochecha magra. Deixo por alguns segundos ficar ali, apreciando o calor de sua pele contra a minha. Então, lembro-me da última vez que um homem tocou minha pele e afasto-me, estremecendo. — Você não poderá mais sair, a não ser que seja necessário. Concordo com a cabeça, disposta a passar o resto dos meus dias naquele pequeno lugar. Pelo menos, é melhor do que voltar àquele cotidiano deprimente e esmagador. — Vou fazer a janta — ele diz, calmamente, como se estivesse tudo bem. Mas não estava.

preocupados; finjo que não percebo, com as mão postadas em meu útero. Sentome no sofá e canto baixinho uma cantiga que aprendera em minha terra natal. No fim, acabo adormecendo, entrando nas profundezas de minha mente. Três dias após o anúncio, eu já estava mais calma e voltara à rotina que havia criado, retirando a parte da caminhada. Acordo com um longo bocejo e percebo que Pedro ainda está na casa. Estranho e vou à sua cama, chacoalho-o levemente e ele abre os olhos cansados. — Pedro? — Não estou me sentindo bem – ele diz, com a voz rouca. Levo a mão a sua testa, ele está ardendo em febre. — Você tem algum remédio aqui? – pergunto. Ele nega com a cabeça. Então, pego uma de suas camisetas e a umedeço com água da pia, coloco em sua testa, na esperança que aquilo melhorasse. Fico ajoelhada a seu lado sem saber direito o que fazer. Ao passar de algumas horas, vendo que não adiantou em nada, por mais de meu medo, sabia o que preciso fazer. — Vou comprar um remédio.

— Não estou com fome, obrigada.

— Você não pode se arriscar — ele me impede, segurando o meu pulso. — Não posso deixá-la ir.

Ele me olha de canto, com os olhos

— Não posso observá-lo morrer e não

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fazer nada. Pego do bolso de sua calça algumas moedas e ele não me impede. Rapidamente estava nas ruas, andando o mais rápido o possível atrás de uma farmácia. Lembro-me de uma que costumava passar em frente em minhas caminhadas, vou até lá e entro calmamente na farmácia. — Boa tarde – falo ao homem branco atrás do balcão. — Boa tarde. — Você poderia me dar um remédio para febre não muito caro? Ele se vira e retira das prateleiras um pequeno vidrinho, entrego-lhe as moedas e ele hesita por alguns segundos, como se me reconhecesse de algum lugar. Fico apreensiva, seguro minha respiração, mas ele somente me entrega o vidro e vira as costas. Saio de lá aliviada, voltando rapidamente e discretamente à casa de Pedro. Quando chego, ele está pior do que quando o deixara. Rapidamente, viro o remédio em sua boca, ele faz uma expressão de desgosto.

Por dois dias seguidos, cuido de Pedro, que não consegue nem se levantar da cama, e a febre não desce. Quando a noite cai, percebo que se não fizesse algo ele não estaria vivo na manhã seguinte. — Vou voltar à farmácia. Seus olhos clamam que eu não faça isso, mas ele não diz nada, por não ter força o suficiente. — Já volto — digo beijando-lhe a testa, com medo de nunca poder fazer isso no futuro. Pego o dinheiro que restara e saio. Ando sob a luz fraca das estrelas, sentindo a brisa em meu rosto, uma noite perfeita se não houvesse tantas situações péssimas. Caminho calmamente pelas ruas desertas e entro novamente na farmácia. O farmacêutico levanta uma das sobrancelhas ao me ver, surpreso por eu ter voltado. — Boa noite — digo, e ele gesticula a cabeça. — Preciso de algo mais forte, o que você me vendeu não foi o suficiente. — Bom, o preço será mais alto.

— Vai ajudar — digo, não tendo certeza.

— Tenho isso – digo, colocando as moedas sobre a mesa.

Ao anoitecer, ele já aparentava estar melhor. Faço a refeição dentro do possível e sirvo-lhe a comida, enquanto ele está deitado. Após isso, como a minha e vou dormir.

Ele concorda com a cabeça e pega outro frasco, mas dessa vez mais elaborado. Quando eu o pego do balcão, ele segura firmemente meu pulso.

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— Você sabe que está sendo procurada,


não? No momento em que ele diz essas palavras, sou tomada por pavor, sinto minhas pernas tremerem e fico sem palavras, não sabendo o que dizer. — Tome cuidado... — ele solta meu pulso. — Obrigada — digo, não tendo certeza se agradecia pelo remédio ou pelo homem ter acabado de salvar minha vida. Começo a descer a rua, aliviada, pensando em chegar a Pedro e dar-lhe o remédio que o permitiria sobreviver. - Arminda! – ouço alguém bradar meu nome atrás de mim e automaticamente viro-me para ver quem me chama. Ao virar meu corpo, rapidamente me arrependo. Ao fundo da rua, um homem com vestes simples, uma barba mal feita, magro, parecendo não comer bem há tempos, com olheiras profundas e veracidade nos olhos, estava um homem branco. Nada em sua aparência incomodava-me, o que me chamou a atenção fora a corda que ele carregava em suas mãos, segurando-a tão firme como se a qualquer momento ela decidisse escapar. Antes que eu conseguisse raciocinar qualquer coisa, ele segura com uma força surpreendente meu braços, então, começo a debater-me desesperadamente, não sabendo o que fazer. Ele segurava firmemente meus

pulsos, como antes o filho do senhor fizera, o que só me apavora mais. O homem começa a bradar-me para andar, mas eu resistia ao máximo, tentando tirar suas mãos de mim. Senti o desespero começar a tomar conta de cada célula de meu corpo e algo entalar em minha garganta, como um soluço que se recusava a sair. Queria gritar e implorar por socorro, mas sei que isso seria em vão. Minhas pernas afrouxam e, em um último desespero, viro-me para meu raptor, que cada vez me segurava com mais força e praticamente arrastava-me no chão áspero. Olho em seus olhos, que levam um ódio voraz, como um selvagem prestes a matar a presa. — Por favor, deixe-me ir, pelo amor do bom Deus! — ele nem parece se abalar com minhas palavras. — Estou grávida, meu senhor, se você tem um filho, pelo amor que você sente por ele, me solte, por favor. Eu te servirei até o fim dos meus dias, só me solte, não me deixe voltar para lá. Ao ouvir as minhas palavras, suas mãos afrouxam um pouco e vejo algo tremeluzir em seus olhos; sei que o atingi, espero. Estou ajoelhada, esperando que ele me solte, mas rapidamente ele se recompõe, com a fúria de volta em seus olhos, e puxa com uma força torturante meus pulsos. — Siga! — ele indica o caminho.

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— Me solte! — vocifero, agora cuspindo as palavras com o nojo que acumulara pelos brancos todo esse tempo. — Não quero que demore, siga! — ele fala, recusando-se a olhar em meus olhos. Começo a lutar contra ele, dando chutes em suas canelas em vão, implorando e gemendo pela força que fazia para resistir ao homem. Não poderia voltar àquele lugar, não pode ser uma opção. Olho para as pessoas em volta, que andam com naturalidade, nem ao menos virando os olhos para a cena que se passava. Não que eu esperasse atitude diferente. Grito e imploro, alegando que não poderia voltar para aquele lugar, que lá morreria, mas isso só o faz me olhar com mais desprezo. — A culpa é sua! Quem mandou fazer filhos e depois fugir?! — ele vocifera com nojo, como se estivesse falando com uma criatura inumana. Ele começa a me arrastar no chão e eu entro em desespero, gritando e lutando ao máximo, percebendo que a cada segundo me aproximo mais da fazenda do meu senhor. Não posso voltar àquele lugar, não posso condenar a vida do meu filho a isso. Após vários minutos de luta, avisto o grande casarão e o pânico me consome por completo. Começo a debaterme com as forças que me restaram, conseguindo me afastar um pouco da

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casa, mas em vão; em uma só puxada, o homem me traz para onde eu estava novamente. Enfim, minhas forças se esvaem e ele me arrasta porta a dentro. Solto murmúrios, implorando com minhas esperanças, já não existentes. Ajoelho-me aos pés do homem que arruinou a minha vida e o imploro mais uma vez para me deixar ir. Ele me ignora e olha através de mim. Ouço passos se aproximarem, e sei que é meu senhor. — Aqui está a fujona — o raptor fala, orgulhoso, e uma onda de nojo sobe por todo meu corpo. — Meu senhor! – apelo para minhas últimas esperanças, seu filho não o deixaria me matar, ele havia afeição demais a mim; do contrário, o pai não pediria tanto dinheiro em minha troca. — Entra — ele range os dentes, em tom de superioridade. Tento levantar-me, mas a força já não habita mais meu corpo. Caio no chão, desistindo de lutar contra qualquer outra coisa, desejando parar de respirar para sempre ao invés de voltar a isso aqui. Com o canto do olho, observo-o retirar o dinheiro que valia a minha vida e entregar ao homem, que fica satisfeito por destruir o meu futuro e de uma criança. Encosto a cabeça no chão. Só agora percebo que todo esse tempo estava chorando. Permito-me pensar em Pedro, com a vida esvaindo de seu


corpo enquanto a febre toma seus órgãos. Coloco a mão sobre meu ventre e consigo imaginar o pequeno coração do feto batendo; solto um soluço desalentado, pensando na vida que acabara de condenar a criança. Sinto mãos fortes segurarem meus cabelos e começarem a me arrastar. Com uma onda elétrica surgindo em meu corpo, luto uma última vez pela minha vida, me debatendo e tentando me soltar das mãos de meu senhor. Sinto algo úmido sair de minha perna. Olho para o chão e uma grande poça de sangue sai de minha genital. Ao ver aquilo, finalmente consigo me soltar, coloco as mãos sobre a poça do sangue rubro, que acumulado parecia negro. Solto um soluço desalentado, chorando pelo filho que nunca iria ter. Nunca saberia se era menino ou menina, nunca saberia das coisas que ele gostaria, nunca o ouviria rir ou sentiria seus pequenos braços envolverem o meu. As lágrimas escorrem livres em meu rosto e pingam no sangue do meu filho. Sinto as mãos de meu senhor em meu corpo e desisto de lutar. Lanço um último olhar de puro ódio ao meu raptor, que observava toda minha desgraça como um ótimo espetáculo, com um fascínio insano nos olhos. Quando entro na casa, seu filho espera sentado na poltrona, bebericando um suco, como em qualquer noite normal.

Ao me ver, seu sorriso fica largo, mas transforma-se em uma careta quando ele vê todo o sangue por meu corpo. O pai me joga sob os pés do filho e esbraveja. — Que isso cesse suas reclamações. Ele limpa as mãos sujas de sangue em um lenço que estava em seu bolso, como alguém limpa as mãos após mexer na terra, e se retira. O menino deixa a bebida em uma pequena mesa ao lado. Quando ele se aproxima, ainda consigo sentir as lágrimas escorrerem por meu rosto, mas faço questão de encará-lo nos olhos. Ele chega próximo, fazendo meu rosto ficar na altura de sua cintura. Ele estende a mão na direção de meu rosto e eu estou muito fraca para protestar. Ele me força a erguer o queixo, me fazendo olhar para ele. Seu olhar leva pena, diversão e superioridade ao mesmo tempo. — Ah, minha linda Arminda... – ele acaricia meu rosto como Pedro fizera para me acalmar, mas agora eu só sinto nojo e pavor. Com a outra mão, ele retira de trás do corpo um grande pedaço de madeira. Antes que eu processasse qualquer outra coisa, ele leva o tronco em direção a minha cabeça. Sinto uma dor latejante e, então, tudo fica negro.

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Arminda Francisco Briza de Mendonca

Como uma negra, eu vivo presa e torturada por um dono branco e rico que é conhecido por seu dinheiro. Ele me usa todos os dias e semanas. Desde o primeiro dia já pareciam décadas. Desde os 11 anos, minhas noites têm sido iguais, cheias de dor e rancor, que penetram em mim à força.

pequena era ter um filho. Pena que esse tempo acabou rápido. Depois que chegaram em nossa casa e mataram minha mãe e capturaram eu meu pai, passamos dias presos em uma feira de escravos. Eu fui comprada e vi meu pai pela última vez. Desde esse dia nunca mais me senti segura, livre ou feliz.

Como todos os dias, eu acordei olhado para o horizonte, sem esperança e com os pés molhados e frios na grama verde e bem cortada, que brilhava com a chuva da noite que passara. Minha comida da manhã era basicamente: feijão preto, os restos do porco que havia sido comido pelos brancos e, às vezes, tapioca. De manhã e de noite, sempre a mesma coisa: depois de comer, eu fico presa no campo com outros negros, mas meu serviço só começa à noite. Os dias e anos passavam e se repetiam.

Como todos os dias, eu acordei olhando para o horizonte, com o céu limpo mas o coração sujo. O dia passou e meu trabalho estava para começar. Os negros já haviam sido retirados para o celeiro, com o chão coberto de palha seca que cortava os pés descalços. Sentada, eu espero o branco chegar. Ao longe, escuto a porta abrir e a tinta velha, descascando, cair. Com um passo na frente do outro, ele se aproximava de mim. E sem tirar o olho de mim, eu me esforçava para não encará-lo. Os olhos cheios de tristeza de um branco me encaravam e a mão limpa de esforço me segurava pelo braço com força. Com um passo atrás do outro, eu era levada por ele até os lençóis vermelhos cor de sangue de sua cama. Um mosquiteiro branco enrolado ao redor balançava com o vento frio, que já não me arrepiava mais. Os panos que me envolviam

Como todos os dias, eu acordei olhando para o horizonte, sem um motivo para viver. Minha mente já pensou tanto que não tenho mais nem assunto para pensar, a única memória boa que sobrava em minha mente era quando tinha oito anos e vivia na minha aldeia. Minha mãe e meu pai viviam felizes, e meu sonho desde

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eram retirados com força, e com uma fissura ele me empurrou na cama e me olhou nos olhos. Mais um dia normal havia passado. Como todos os dias, eu acordei olhando para o horizonte, meus joelhos tremiam de frio, sentia enjoo e um sono que me prendiam no chão, me atormentavam. Nessa manhã, me senti diferente. Essa dor poderia ser da semente que o branco enfiou dentro de mim. Um momento de angústia e felicidade me torturavam: se realmente fosse um filho, como ele iria viver? Como falaria quem era seu pai? Não queria que ele vivesse como eu, mas, apesar de tudo, desde pequena sonhei com esse filho. Passei o dia deitada, sem falar e chorando, presa em meus pensamentos sem saída. Meu rosto e meu corpo se contorciam de dor e de medo, as lágrimas escorriam e molhavam o capim morto sob meu corpo. Mas agora a noite chegava. Como todos os dias, eu acordei olhando para o horizonte, sujo e molhado, o vento tremia o celeiro. A terra estava molhada e ninguém estava fora de casa. As telhas caíam e, com medo de ser atingida, coloquei-me debaixo de uma mesa onde os negros se apertavam. Um cheiro de suor e mato me encharcavam, porém, em um ato de desespero, corri para fora do

celeiro e nas rachaduras da parede me segurei. O vento e a chuva balançavam as folhas e os galhos das árvores cortadas, e as madeiras rachavam conforme eu botava força nelas. Então, tirei o pé do chão e o coloquei na rachadura. As mãos tremiam de incerteza e de frio, e o pensamento de fugir cresceu. A cada rachadura uma farpa penetrava em minha mão, mas o sentimento de dor não me incomodava. Uma rachadura atrás da outra. A primeira mão encostou na telha e, com dor, me puxei. Estava ventando mais e mais, molhado era no alto do teto. Me segurava, cansada, na calha; não tinha mas medo de morrer. O sol foi descendo e o dia finalmente começou a virar outro. Essa noite não será como todas as outras. Com enjoo e dor nas costas, mão machucada e hipotermia, o dia amanheceu. A chuva forte continuava a cair e avistei o branco em sua casa, olhando pela janela. Seus escravos me procuravam e a chuva derrubava alguns dos negros. No fim do dia, sobraram poucos em pé, e o branco continuava a olhar. Comecei a me sentir desprotegida: e se o branco me entregasse ou algum negro? Minha barriga doía e eu sentia ela mexer com chutes fortes do tempo a passar. Ainda continuava presa a mim mesma e as

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lágrimas salgadas que saiam dos meus olhos agora escorriam por meu corpo todo. Molhando-me cada vez mais, décadas de dor e angústia se passavam dentro de mim... e horas passavam enquanto o dia ia sumindo. As luzes da casa estavam acesas e iluminavam a grama verde e bem cortada. Não queria passar mais uma noite no telhado, então tirei minha roupa branca, para que minha pele negra e suja pudessem se molhar e se esconder das luzes brancas que a procuravam. Fui até a beira do telhado escorregadio e pendurei-me com os pés na parede, procurando alguma rachadura. Minhas mãos já estavam se cansando e escorregando quando achei o lugar onde botar o pé. Uma rachadura embaixo da outra, fui colocando o pé. Um vento bateu. Olhei para o lado e o branco não estava mais na janela; olhei para baixo e minha mão escorregou. Meu corpo rebateu contra o chão, minha visão estava borrada e o vento fazia galhos baterem em minha cara. Com muito esforço, levantei-me, meu joelho doía. Mancando, pelada e molhada de lágrimas, finalmente, dez dos oito anos, voltei a andar adiante. A dor da perda me segurava, mas a dor de minha mente me empurrava vagarosamente. Olhei para trás e o branco estava no celeiro. Atrás da árvore, esperei. O homem voltou para

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sua casa com um passo atrás do outro. Agora, o branco estava tão molhado quanto eu. Voltei a andar adiante, um passo na frente do outro, e o mato aumentava conforme eu andava. Minha pele escura, desgastada com a chuva. Só o que sobrava era o sal das lágrimas. Ninguém é de pedra. Caí na moita molhada e apaguei. Ainda de noite, mais desgastada, levantei-me e voltei a andar. Nunca tinha chegado tão perto da morte e da vida. Continuei a andar. Depois de décadas andando, cheguei à cidade. Deitei em um saco preto de lixo debaixo de um telhado e dormi. Nessa noite eu voltei a sonhar, sonhei no meu filho grande e em uma casa longe de brancos. Passei os dois meses seguintes usando roupa de saco de lixo e dormindo no colchão furado, com manchas e fedido. Eu comia apenas resto de comida de branco, mas, mesmo assim, preferia muito mais esse lugar. Minha barriga estava gigante e se mexendo muito, eu estava enjoada e magra, por conta dos enjoos. Meu passatempo preferido era ficar deitada, pensando no futuro do meu filha na cidade, e eu já havia arrecadado um dinheiro que eu tinha achado no chão. Meu enjôo estava mais forte do que nunca, então, fui comprar um remédio em uma drogaria que tinha lá perto. Já estava voltando quando um


branco, sem tirar o olho do meu, foi se aproximando, um passo na frente do outro. Tentando não encará-lo, continuei andando. Com sua mão branca, ele segurou no meu braço com força. Eu pensei em gritar, mas não gritei. Ele me arrastou até o dono da fazenda e me jogou. Com ódio, ele me agrediu. Um bebê branco sujo de sangue e minha esperança saíram de mim.

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A voz interna Jordana Emy Tatei

Me chamo Clara Neves, tenho vinte e dois anos e sou órfã. Por isso, moro com a minha tia Mônica desde pequena, pois meus pais morreram de uma doença rara da época. Agora, vou contar a história do meu passado. Casei me com um homem chamado Cândido Neves, que capturava escravos fugitivos e os levava de volta para seus donos de terra. Tivemos um filho, Vanishe Neves. Morávamos em uma simples e humilde casa. Quando era bem mais jovem, aprendi a ser dona de casa com a minha tia Mônica e vivíamos de costuras. Tive muitos namorados, mas nada sério, nenhum era de me dar saudades ou acender algum desejo. Até que conheci o Cândido. Então, tudo mudou. fomos nos conhecendo e descobri que ele era o homem perfeito, meu futuro marido. Eu era pobre, mas me orgulhava de ser branca e livre. A favor do nosso casamento ninguém nunca foi, mas nos casamos mesmo assim. Após o casamento, fomos para uma casa maior, mas bem simples. Tia Mônica deixou bem claro a nós que se tivéssemos um bebê, o que queríamos

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logo logo, ele iria morrer de fome, pois ela não iria se responsabilizar. Tia mônica sempre foi de falar as coisas na cara e sem dó. Ela e meu marido Candinho discutiam várias vezes; não por ele, pois sempre foi calmo e paciente com ela. Mas ela sempre implicava com ele. Sempre que eu percebia que iam brigar ou discutir me afastava, pois nunca gostei de brigas, principalmente entre eles, pois ficava sempre em uma péssima posição tendo de escolher entre a minha tia Mônica, que sempre cuidou de mim, ou meu querido marido Cândido. Um dia a criança deu sinal na casa, eu estava grávida. A notícia correu pela vizinhança em pouquíssimo tempo. Depois disso, passamos a trabalhar em dobro, eu e minha tia costurando para o bebê e vendendo para lucrar, e meu marido Candinho madrugava nas ruas tentando achar escravos. Tia Mônica ajudava, isso não posso negar, mas com muita má vontade, e isso se via de longe. A alegria em casa estava muito grande, até que cheguei perto de minha tia, após o jantar, para costuramos mais um pouco, e ela disse: — Vocês verão a triste vida dessa


criança — sussurrou ela. — Mas os bebês não nascem também? — perguntei. — Nascem, mas sempre com a impressão de que terão o que comer, a quem ser amado uma vida boa e tranquila, mesmo que seja pouco… — minha tia falou. — Mas, como assim? Ele será amado e terá a vida mais tranquila que nós conseguiremos dar a ele — eu disse. — Como? Quem o sustentará? Já é difícil nós três sobrevivermos, imagina em quatro e sem nenhum trabalho bom de verdade nessa família… — argumentou a tia Mônica. Cândido, quando ouviu isso, não aguentou, foi até ela e perguntou: — Já passou fome alguma vez? Não, né. Nunca deixamos de ter nosso bacalhau. O que quer que eu faça então? — Alguma coisa certa, não fique bravo, não estou te chamando de vadio nem nada, só digo que sua ocupação é muito vaga — disse a tia, em um tom de autoridade, voltando a costurar. — Sim, mas vem dia que compensa tudo e até sobra — terminou Cândido. Tia Mônica não abriu mais a boca, nem Cândido. Ele levantou e foi para o quarto. Eu fui, em seguida, juntarme a ele. Não conseguia dormir, fiquei pensando no que havia acontecido,

sabia que ele tinha procurado vários empregos mas em nenhum se encaixava. Capturava escravos há tanto tempo, era o que ele sabia fazer. Mesmo que não recebesse todos os dias, quando recebia valia a pena. Mas estava cada vez mais difícil capturar os escravos. E o clima em casa piorando. Um dia, ele foi atrás de um escravo e pegou um preto livre. Desculpou-se, mas acabou apanhando dos parentes do homem. E, assim, os meses foram passando, até que chegou no oitavo mês de pura angústia e necessidade; menos que o nono, mas prefiro nem comentar ou dar os detalhes antecipados. Tia Mônica deus a nós um conselho. Deixar a criança na Roda dos Enjeitados. Dessa vez meu marido não aguentou e bradou: — Está louca! Nunca! Nunca farei isso com meu filho. Nas últimas semanas do último mês, tia Mônica perguntou novamente sobre a Roda. Cândido não disse nada, apenas deu um murro na mesa, que quase quebrou de tão velha que estava. Então, intervi: — Calma, Candinho, tia Mônica não fala por mal. Tia Mônica disse: — Por mal ou por bem, digo o que é melhor para vocês dois. Como a

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criança vai sobreviver aqui? Na Roda ela vai ter uma boa vida, sem a chance de morrer. Diferente daqui, que será quase um destino morrer. Titia terminou e deu de ombros. Me aproximei de Candinho e fiquei pensando o que vai ser daqui para frente. Até que bateram na porta e, quando abri, era o dono da casa, cobrando o aluguel do mês e dos outros três anteriores. Perguntei se queria entrar, sentar e beber algo. Ele recusou, olhou em torno da casa para ver se havia algo valioso para pagar a dívida, mas não viu nada. — Vocês têm cinco dias para pagar o que me devem ou rua! — disse, em tom alto e áspero, e saiu pela porta. Candinho sabia que não tinha escapatória, nenhum de seus amigos ou vizinhos iria emprestar-lhe o dinheiro para pagar o aluguel. Ao fim de quatro dias, não achou recursos. A situação estava aguda. Não achava e nem contava com ninguém para emprestar algo. Iria para a rua mesmo. Nós não contávamos com a astúcia da tia Mônica. Ela teve a arte de alcançar o aposento para os três, nos fundos da casa de uma senhora rica. Dois dias depois de estarmos estabelecidos na nova casa, Vanishe

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nasceu. Era um menino, como eu e o Cândido queríamos. A alegria era muito grande em ter um filho homem. Mas a dificuldade em encontrar emprego forçava o Cândido a pensar em dar a criança para a Roda. Na noite em que iria levá-lo para a Roda, choveu muito. Então, assentou o pai a levá-lo à Roda na noite seguinte. Cândido aproveitou para ver todos os papéis dos escravos fugidos. Uma chamou sua atenção, a de cem mil réis. Tratava-se de uma mulata que valia cem mil réis. Disse para si mesmo que iria achá-la. No dia seguinte, ele se esforçou o dia inteiro, mas não a encontrou. Voltou triste para casa. Tia Mônica cobrou sobre a Roda novamente, descrevendo todo o infortúnio que a criança iria passar. Cândido disse que o levaria na manhã seguinte. Suspirei, aliviada, mas por dentro estava devastada. Queria que aquela criança ficasse comigo, era meu filho, mas tia Mônica tinha razão, não tínhamos como cuidar dessa criança que poderia morrer a qualquer momento. Na manhã seguinte, nos despedimos do bebê, até tia Mônica emocionouse, mas não mudou de ideia. Cândido, quando estava a caminho da Roda, viu uma mulata correndo de vestido e lembrou da mulata Arminda de cem mil réis, avistou uma fármacia, deu a


criança no colo do farmacêutico e disse: — Segure meu filho por uns instantes, eu já volto. O farmacêutico ia dizer algo, mas Cândido saiu correndo, atravessou a rua, até encontrar a mulata fujona. Cândido atou os pulsos da Arminda com uma corda. Ela tentou fugir e gritar, dizendo que estava grávida, mas logo parou, pois sabia que ninguém iria a socorrer, e foi levada à casa de seu dono. Quando lá chegou, devido ao esforço e à luta, a mulata abortou o bebê. Mas Cândido recebeu seus cem mil réis e foi embora. Passou na farmácia para pegar o nosso filho. A princípio, o farmacêutico quis enganálo, escondendo a criança nos fundos, mas logo foi explicando que a família estava lá no fundo da farmácia. Cândido foi em direção ao filho e pegou-o com a mesma fúria que pegou a escrava, só que a fúria era de amor. Depois disso, os dois foram para casa com cem mil réis. Tia Mônica, ouvida a explicação, desculpou o retorno da criança. Cândido abençoava a fuga da escrava que lhe rendeu cem mil réis. Isso permitiu que ficássemos com o nosso filho, mas bateu no coração do Cândido que: — Nem todas as crianças vingam.

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Sem Escolha Júlia M Morales

Minha vida foi destruída por aqueles homens, mas principalmente por aquele de sangue frio, insensível, que me entregou novamente à escravidão, à miséria, ao medo. Ele me fez abortar a minha única chance de felicidade, de ter vontade de viver… o único filho que eu conseguiria ter em toda a minha vida. Não posso dizer que depois de ser entregue ao meu senhor não tentei fugir novamente (o que não consegui), que não tentei ser livre. Como é difícil lembrar como tudo aconteceu. Esse filho, fruto não de um amor, mas de violência, era tudo que eu tinha para amar. Ele era parte de mim e ninguém tinha direito de tirá-lo. No início, não sabia o que estava acontecendo com o meu corpo. Aquela rotina pesada de 12 ou mais horas por dia, dormindo pouco, me alimentando mal, comecei a não me sentir bem: náuseas, sonolência e meu corpo se modificando. Senti medo, insegurança. Já estava prevendo o que poderia ser. E agora? Exausta, triste e insegura, fui conversar com minha amiga, Margarete, exescrava, que ainda trabalhava, em virtude de favores, para meu senhor

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e era casada com um negro livre. Era com Margarete que compartilhava meus segredos e minhas angústias. — Margarete, você está acordada? — sussurrei, colocando a mão em seu ombro. — O que houve, Arminda? O que a preocupa? — Margarete responde baixo, sonolenta. — Estou com muito medo. — Arminda, eu já disse que não é nada. — É sim, Margarete. Você não está percebendo o meu corpo mudar? Acho que eu estou… Antes que eu pudesse terminar, ela me interrompe, arregala os olhos e fica olhando para mim. Ficamos longos e tensos segundos em silêncio. — Grávida? — ela sussurrou bem baixo. Balanço a cabeça em sinal positivo. Margarete olhou para os lados querendo sair daquela situação, mas não conseguia. Olhou para mim novamente, com um olhar preocupado e pensativo. — Precisamos de um plano — falei. — Tenho uma ideia — disse Margarete —, mas acho que é muito perigosa. Me dê um tempo para eu pensar melhor.


Naquele dia, senti um grande alívio. Não me sentia mais sozinha. Mesmo trabalhando no frio, com enjoos e dores, a ideia de ter um filho já não me apavorava tanto.

desconfiado, e perguntou se o remédio era para mim. Nada disse e fui embora.

Margarete conseguia me passar um pouco mais de comida escondido de meu senhor e assim conseguia alimentar a mim e a meu filho.

Fui pelo Largo da Ajuda. O medo me invadia a todo momento. Eu sentia que algo iria acontecer, porém não segui minha intuição.

Nem sei direito o que aconteceu naquele dia, foi tudo tão rápido. Margarete chegou determinada a me levar escondida para a casa de uma conhecida. Fugir. Essa ideia me apavorava e ao mesmo tempo mostrava o caminho da liberdade para mim e para meu filho. Era a esperança de, pela primeira vez, poder levar a minha vida para o caminho que eu quisesse.

Percebi alguém me seguindo. Quando ia descer a rua de S. José, senti alguém se aproximando.

Margarete já tinha tudo planejado. O problema era convencer o meu senhor de que ela precisava da minha companhia para fazer compras para uma grande festa que ele iria dar.

Senti pavor. Compreendi na hora que naquele momento tinha perdido minha liberdade. Tentei desesperadamente fugir. Será que havia uma esperança? Pedi e implorei para aquele homem me libertar. Minha vontade de gritar era enorme. Eu queria que minha dor, a injustiça e a desigualdade não existissem. Porém não consegui soltar nada, só uma voz mais alta que o costume, mas logo entendi que ninguém viria me libertar. Maldita a hora que nasci escrava.

Foi assim que aconteceu. Com medo, insegura, sem saber ao certo o que ia acontecer. Eu era uma fugitiva. Minha liberdade durou uma semana. Não saia da casa onde estava escondida, até que um dia senti muitas dores e fui obrigada a ir a uma farmácia comprar remédios. O farmacêutico me olhou estranho,

Quatro dias depois, decidi ir ao mercado. Meu maior erro. Sai da casa que estava escondida, silenciosamente.

— Arminda! — alguém bradou. Levei um enorme susto, olhei para trás. Como eu queria não ter feito isso. Vi um homem tirando um pedaço de corda da algibeira e pegando bruscamente meus braços.

— Estou grávida, meu senhor! Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe,

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por amor dele, que me solte. Eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço! — Siga — repetiu. — Me solte! — Não quero demoras, siga! Não senti compaixão em seus olhos. Fui arrastada pelos olhares, quem iria defender uma escrava fugitiva? — Você é quem tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? — disse o homem, como se eu fosse culpada, como se eu tivesse outra escolha, como se eu fosse livre. Fui cruelmente arrastada, sem dó, apesar das minhas lamentações. Quanto mais me aproximava da casa de meu senhor, mais o desespero ia tomando conta de mim. Alguma coisa estava acontecendo com meu corpo. Comecei a sentir dores terríveis. Quando meu senhor abriu a porta, fui jogada no corredor como um saco de lixo. Dores, dores intensas. O que estava acontecendo? Um medo enorme se apoderou de mim. Meu filho estava nascendo e aqueles dois homens me tratando como se eu fosse uma mercadoria. Desmaiei. O que eu me lembro daquele momento é que meu filho morreu, e com ele foi-se a minha alegria de viver.

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Boa moça Lívia Hattori 9ºB

Cresci numa família pobre, minha mãe, Branca, costurava panos e meu pai, Albano, vendia-os. Como sou a irmã mais velha, sempre tive que cuidar da casa. Era uma vida difícil, mas não posso negar que me achava abençoada por nascer branca. Meu pai sempre me dizia para ser uma boa moça. Isso sempre me perseguiu, não sei se devo seguir tal conselho ou não, afinal, na lógica, eu não teria que agradar alguém, não teria que ser sempre uma boa moça, mas, na sociedade em que vivemos, talvez eu tenha. Sempre vi a sociedade de uma forma diferente, desde pequena não gostava dos nomes dados aos membros da minha família, principalmente o meu e da minha irmã, Clara e Luzia. Nunca entendi o motivo de um negro ser inferior na sociedade ou o motivo da mulher ter que servir o homem, mas nunca me expressei, sabia que ninguém iria me dar ouvidos ou, se dessem, seria pra me debochar, ou até me punir. Após passar minha infância inteira cuidando da casa e de Luzia, comecei a ouvir coisas sobre eu me casar, meus pais me arranjavam muitos meninos, alguns tinham até bom coração, mas

eu fazia o impossível para o casamento não acontecer. Me destruía, após eu não me casar, ficar ouvindo meu pai me xingando tanto, pois essa atitude não era de boa moça. A consequência disso tudo foi eu ficar até meus vinte e dois anos solteira, só tendo, às vezes, uns namorados para passar o tempo, mas nunca tive afeto por algum, porém, nada que eu me arrependa. Quando eu tinha 15 anos, meus pais morreram assassinados na volta do trabalho. Luzia já estava para casar, então eu estava literalmente sozinha e fui morar com tia Mônica, que também vivia numa condição ruim. Então, tive que começar a trabalhar. A primeira coisa que me veio à cabeça foi seguir o “negócio da família”. Dito e feito, passava o dia inteiro vendendo panos na rua. O dinheiro arrecadado não era suficiente, mas ajudava. Após sete anos, finalmente conheci Cândido Neves. Desde a primeira vez que o vi, senti que ele seria meu verdadeiro marido. Onze meses se passaram e o esperado casamento aconteceu. Não fui muito apoiada na minha decisão, mas estava certa de que era isso que eu queria. Cândido e eu fomos morar numa casa bem

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pobre, pois claramente nenhum de nós tinha a mínima condição de arranjar algo melhor. Apesar de morarmos em tal lugar, isso era o que menos importava, nós nos amávamos muito, mal tínhamos comida no prato, mas não éramos capazes de passar umas horas sem dar risada; eu nunca tinha sido tão feliz. Cândido nunca conseguiu parar por muito tempo em um emprego, o que piorava nossa situação. Tia Mônica sempre nos alertou sobre ter uma criança, falava que não era possível, que morreríamos de fome, porém nós queríamos tanto um filho, um único filho, que estávamos dispostos a qualquer coisa para ter um. Passado um tempo, eu engravidei. Para tentar ajudar, comecei a me esforçar muito no trabalho, mas mesmo assim não era o suficiente. Tia Mônica nos ajudava, mas não parava de nos desmotivar, sempre tentava nos convencer que levar nosso filho para a Roda era a melhor solução, mas nem consideramos tal solução. — Clara! Clara! Venha cá, mulher! É meu marido me chamando, nem sei quanto tempo fiquei aqui parada pensando na vida. De volta ao presente então. Os meses estão passando, o ambiente

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está cada vez pior, minha vida está pura angústia, desespero e tristeza, eu vejo que não há saída, o único jeito é aquele. Então, estou esperando a próxima vez que tia Mônica citar a Roda para eu apenas concordar, pois eu não consigo falar tais palavras. Agora, cada vez que alguém abre a boca, uma briga maior acontece. Eu achava que realmente não tinha como ser pior, até que o dono da casa em que nós moramos bate à porta, cobrando os três meses de aluguel atrasado. Caso ele não receba tudo em cinco dias, nós iremos ser expulsos de casa. É impossível pagar o aluguel nesse tempo. Com esforço, tia Mônica consegue os quartos do fundo emprestados da casa de uma velha rica. Há dois dias atrás, fomos expulsos de casa; hoje, o bebê nasceu. Nosso desejo está sendo realizado, é um menino. Nosso sentimento é uma mistura de alegria e tristeza, pois sabemos o futuro da criança; em um dia, nunca mais verei meu filho. Cansada de tudo, saí um pouco pra respirar um ar não tóxico. Não pude deixar de notar um anúncio de uma escrava fugitiva cuja recompensa é de cem mil réis. Fico surpresa com essa quantidade e, como de hábito, começo a pensar sobre o quão ridícula é a escravidão; então, oro pela negra fugitiva.


Voltando, Cândido está no portão da casa com a criança no colo, esperando para que eu pudesse me despedir do menino. Dou um beijo em sua testa e deixo em sua mão um terço. Estou chorando demais, corro para o meu quarto e já estou aqui por horas sozinha. No momento, eu odeio minha vida, me arrependo de tudo que tinha feito, acho que eu estaria melhor se fosse solteira mesmo. Do que adiantou toda aquela felicidade do início para depois, rapidamente, tudo aquilo se transformar radicalmente em um inferno? Onde está Deus nessa hora? Eu estou totalmente fora de controle. Ouço alguém bater à porta. Abro e vejo Cândido com o menino em um braço, no outro, uma sacola. Pego-a para ver o que tem dentro. Nunca tinha visto tanto dinheiro vivo em minha vida. Não entendo nada da situação, fico com medo de ele ter assaltado alguém, pergunto o que havia acontecido e ele apenas fala que tinha resolvido tudo. Insisto para ele me falar e ele está ainda calado. Estou com um grande mau pressentimento, então, já toda desequilibrada, começo a gritar com ele. Então, percebo nosso filho chorando, provavelmente assustado comigo, e começo a chorar junto novamente. Já sem forças pra falar, eu, soluçando, sussurro: — “Se

você não me contar agora o que você fez e da onde vem esse dinheiro, eu juro por Deus que saio dessa casa com a criança e você nunca mais verá eu ou ele”. Assustado, Cândido fala: — “Ta bom, Clara, te conto tudinho. Eu estava indo pra Roda, juro, mas então eu vi uma escrava foragida, uma que valia cem mil réis. Então, não pude perder tal oportunidade, deixei nosso filho na farmácia e corri para capturála. Consegui e levei ela pro seu senhor. Descobri o porquê de ela ser tão valiosa, ela estava grávida”. Percebo na hora que é a mulher do anúncio, por quem eu havia rezado, e, sem hesitar, pergunto se ela está bem. A resposta é: — “A neguinha caiu no corredor e lá mesmo fez um aborto, quando eu vi tinha sangue pra todo lado e ela estava morta, nem pra abortar ela serve… Mas ué, por que a pergunta?”. Fico em silêncio após saber de tudo, a raiva por ele se espalha por cada canto do meu corpo, fica mais forte a cada segundo, eu sinto a minha temperatura aumentar e minha cabeça começar a doer, viro de costas, pego uma cadeira e, com muita força, jogo em Cândido. Está lá, então, ele no chão, sentindo puro pavor. Começo a gritar com ele, xingo até acabar o vocabulário. Consigo de alguma forma sentir a presença do meu pai no quarto, como

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de costume, uma sensação de ele estar brigando comigo, provavelmente não estou sendo uma boa moça. Saio do quarto e vou tomar banho. Estou na banheira, ainda processando o que tinha acontecido. Eu queria tanto que isso fosse só um sonho, que nunca tivesse acontecido. Como ele é capaz de fazer algo assim e nem se importar? Não sei mais o que fazer, eu não aguento mais isso, não poderei me divorciar dele, minha vida será um inferno. Resolvo então fazer algo trágico. Pego uma caneta e um papel e escrevo: “Desculpa tia, eu não aguentei”. Cansei de ser boa moça, ou tentar ser, vejo que foi um grande desperdício eu me importar com isso. Passei parte da minha vida tentando agradar meu pai, que nem deve conhecer o verdadeiro significado de família e era tão ignorante que só era bom com quem lhe obedecia. Não quero ser lembrada como boa moça, cansei, apenas. Estou me afogando, começo a sentir a água tomando conta de meus pulmões, meus batimentos estão abaixando, já não sinto mais meu corpo dar resposta. Está tudo preto.

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Liberdade Maya Matta Lopes

Há aqueles que dizem que fui castigada por Deus diante de tamanhos pecados. E que Deus me perdoe, me perdoe pois já sofri demais. Nasci de uma imundície dos senhores de minha mãe, escrava de “sorte” vinda acorrentada de uma região do oeste da África. Vendida por 400 mil-réis, minha mãe fora levada para trabalhar para seu senhor, que, buscando substituir uma escrava doméstica que havia morrido há pouco, deixou-a trabalhando na Residência (a casa dos senhores). Logo que chegara, minha mãe foi introduzida à língua local e deram-lhe um nome português, além de ter de se adaptar a espancamentos e abusos de seus senhores. Como resposta ao que lhe foi imposto, fugiu. Em uma noite de frio, como dizia, saíra da Residência para dormir, quando vira alguns escravos com grilhões nos pés correndo em direção à cidade e rapidamente se juntou ao grupo. Como não sabia o que haviam planejado, logo foi capturada pela polícia. Com todo o alarde da polícia e de alguns cidadãos presentes, seu senhor logo buscou-a na delegacia e Chica,

como a chamavam, voltou com as mãos acorrentadas e com o pescoço encoleirada para que não fugisse mais. Fora espancada até quase a morte e nunca mais tentara fugir. Minha mãe resistiu à escravidão como pôde, sempre visando os filhos. Após alguns anos, nasceu meu irmão, um menino que tinha como pai outro escravo, fruto de um amor repentino, o que não acontecera comigo, fruto de um momento sujo e indesejável. Como mais um grilhão que era colocado nos pés de minha mãe, após sobreviver ao segundo parto (o meu), fora obrigada a trabalhar como ama de leite dos parentes próximos de Dona Adelaide, a “mulher oficial” de seu, e agora meu, senhor. Nasci na década de 30 e cresci com os filhos dos meus senhores. Criados pelas escravas, eles caçoavam de mim, mas não entendia o porquê. Filha de escrava, desde menina trabalhei com minha mãe na casa e aprendi suas tarefas. Quando minha mãe ficara doente, já ajudava e ganhava tapas na mesma intensidade dos dela, já que Dona Adelaide tinha prazer em, alguns dias, mesmo que

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fossem alternados, inventar problemas para distribuir tapas pela cozinha.

mas conheci um escravo que vinha da mesma terra que minha mãe.

Tínhamos uma rotina, acordávamos, trabalhávamos e saíamos da casa de nossos senhores. Quando criança, queria sair do cativeiro, fazendo com que a minha mãe tivesse de me puxar para ocuparmos o quartinho perto da Residência.

Escondidos, eu e José conversávamos durante o dia, pequenas frases sobre o oeste-africano. Atrasei minha fuga por causa dele e, dia após dia, nos encontrávamos cada vez mais. Eu o amava, mas mesmo em dias longos ou em dias curtos, em dias cheios de amor ou cheios de tristeza, a vida continuava a ser cativa, criada, mucama, doméstica e amante. Tudo, menos minha.

Apertadas em um pequeno cômodo, eu, minha mãe e outras cinco mucamas dormíamos e sonhávamos. Sonhávamos com fugas e liberdades, que eram tomadas pelo medo constante da dor e nunca eram executadas. Os anos passaram e, como uma tortura cruel, deixaram-me somente com as cinco mucamas sonhando. Minha mãe se fora, ficou meses doente, continuando a trabalhar até seus últimos dias. Assim, aos poucos, a injustiça se transformava em revolta dentro de mim. Ainda nova, fui apresentada às obscenidades e imundícies das relações forçadas com meu senhor. Com Chica morta, não podia falar nada a ninguém. Não adiantaria, eu era propriedade dele. O ódio me levou a pensar em um plano de fuga e, mesmo com todos os riscos, chance de morrer não havia, pois por dentro eu já estava quase morta. Diante do que estava passando, meu plano seria executado em poucos dias,

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Um dia, engravidei. E que Deus me perdoe se eu estiver errada, mas aquele filho era de José. Então, deixei-o sozinho, como forma de amor aos dois. Não poderia deixar que nosso filho vivesse como eu vivi. Em um dia de Sol, deixei a cozinha para buscar comida e corri até virar-me para trás e não mais ver a Residência. Um sorriso se apropriou do meu rosto. Procurando abrigo nos becos escuros das ruas da cidade, não vivi dias em um mesmo lugar e, para que não morresse, comia alimentos roubados. A liberdade havia chegado para mim. Os sentimentos de solidão e tristeza foram substituídos por felicidade quando minha barriga começou a despontar. Como se não temesse mais nada, parti para as ruas movimentadas


da cidade, procurando um futuro melhor, até então incerto. Procurando meios de transporte para lugares desconhecidos, cidades escondidas que as cinco mucamas falavam tanto em minha infância. Elas conheciam, mesmo que misteriosamente, a vida de todos na cidade ou todos que passaram por ela. Andava todos os dias procurando brechas ou grupos de escravos fugidos a quem poderia me juntar e, de noite, voltava para os becos escuros da Rua da Ajuda. Uma noite, inquieta com a fome e o fracasso, me sentava e levantava na escuridão, sem conseguir acompanhar os meus pensamentos. Foi nesse momento que me culpei por virar-me e virei, pois chamaram-me. Sem ter chance de me soltar, fui presa por uma larga corda que era segurada por um grande homem. Um capturador de escravos, não havia modo de escapar. Então, pedi-lhe compaixão: — Estou grávida, meu senhor! Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe, por amor dele, que me solte. Eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço! — Siga! — ele repetiu. — Me solte! — Não quero demoras, siga! — Peço que me solte, senhor, por

favor, me ajude! Meu senhor é cruel, ele vai me açoitar. Estou grávida, os açoites serão piores sentidos em meu estado. — Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? — perguntou-me o capturador. Não pedia a ninguém mais que me acudisse, pois sabia que não seria atendida. Com muita luta e dor, fui conduzida à Residência e, ao longo do caminho, segurava-me às paredes e resistia como podia. Pedi a minha mãe que me protegesse, gritei e pedi a Deus. Até que cheguei à força na casa. O capturador bateu à porta de meu senhor. — Senhor, aqui está a fujona! — gritou do lado de fora, o capturador de escravos. Então por obra de um destino cruel, atendeu o capturador. — É ela mesma. — Meu senhor, não me faça nada! — Anda, entra... Arquejando, caí no corredor. Levada pela dor que me causaram, só olhava para o chão e pensava em espancamentos, o futuro de meu filho, que continuaria a viver como eu e seu pai. O que se passara no momento fora muito rápido; quando me vi com uma

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imensa dor, já estava a abortar o filho. O filho querido, destinado a ser livre, o meu filho que jazeu no chão, morto. Eu, cativa, criada, mucama, doméstica e amante de meu filho, desfaleci. Quando me vi de volta ao mundo, meu senhor apontava para a criança morta, a criança malformada que abortei, e gritava para que lhe trouxessem os chicotes. Pregando o meu mau destino nas mãos de Deus, chicoteou-me no chão de sua própria casa, misturando seu próprio suor ao meu sangue e ao sangue do meu filho morto. Me dando pontapés e exigindo que fosse para meu cômodo com meu filho demoníaco, meu senhor despertou em mim um ódio que me fez atacá-lo. Aqueles que antes assistiam a cena, agora tentavam me tirar de cima de meu senhor, mas resisti até que senti um calor em minhas costas. Atiraram em mim. — Paguei! — exclamava meu antigo senhor. Deus me perdoe, me perdoe, pois preciso estar livre.

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Pai contra mãe Natália Zabotto Udiloff

Meu nome é Clara. Moro com meu marido Cândido Neves, com tia Mônica e meu filho, Branco Neves. Respeito muito meu marido, por isso, sempre faço o que ele manda e sempre fico quieta nas discussões entre ele e tia Mônica. Gostaria que ele trabalhasse como vendedor ou tipógrafo, pois seu trabalho é instável. Um dia temos dinheiro e comida, e no outro não temos um centavo. Minha tia sempre reclama sobre isso. Acho minha tia um pouco exagerada, pois quando briga com Candinho sai xingando ele pela casa. Antes de me casar com Cândido, morava em uma humilde residência com tia Mônica e vivíamos de costuras. Morei com os meus pais até meus três anos, até que uma enchente atingiu minha casa e apenas eu sobrevivi. Meus avós moravam muito longe, então fui morar com tia Mônica, irmã do meu pai. Tia Mônica que me ensinou a ser uma dona de casa. Com ela, aprendi a coser, cozinhar, arrumar a casa, coisas que mulheres precisam saber. Antes de me apaixonar por Candinho, já tive alguns namorados. Uns duravam umas semanas, até eu descobrir que

eram casados ou estavam apenas matando o tempo. Uma vez, um de meus namorados morreu. Fui ao seu velório e fiquei dias chorando ao saber que me pediria em casamento dali a uma semana. Normalmente, eu os conhecia pela janela da casa ou quando andava pela cidade. Candinho foi diferente, nós estávamos em um baile quando nos olhamos. Começamos a conversar e logo percebi que era com ele que queria viver pelo resto de minha vida. Já estava na hora de casar, pois eu já tinha vinte e dois anos. Meu sonho sempre foi ter um filho menino. Quando fiquei sabendo que estava grávida de um, foi uma alegria para mim e Candinho, mas tia Mônica nunca aprovou nós cuidarmos de Branco, pois Cândido não tem trabalho fixo, ele trabalha devolvendo escravos fugidos aos donos. Sua profissão é sempre o motivo das discussões entre ele e tia Mônica. Agora que já contei um pouco sobre mim, vou contar a história do ano em que meu filho nasceu. Quando eu fui morar com Cândido, a primeira coisa que queríamos era um filho, e titia me avisava:

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— Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome. Não dávamos muito ouvido a ela, eu por dentro, mas Candinho replicava. — Como é que vocês vão cuidar de uma criança se o pai dessa infeliz criatura nem se quer emprego tem? — disse tia Mônica — Tenho emprego sim, e a senhora nunca deixou de comer o bacalhau na janta — replicou Candinho. — Seremos quatro, o dinheiro não será suficiente. — O que quer que eu faça então? — Algo mais certo, como um marceneiro, um vendedor, um tipógrafo, algo que possa ser chamado de trabalho! Eram assim as conversas em casa. Tia Mônica sempre implicava com Candinho, tanto que ele tentou ser entalhador, mas não conseguiu ficar muito tempo parado. Os meses demoravam para passar, o dinheiro ia acabando com a falta de escravos, eu e titia a coser, e a única coisa que crescia rápido era o feto que carregava em meu ventre. Os dois últimos meses foram de pura angústia. Todos os dias Candinho voltava de mãos vazias, eu e titia

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cosendo como nunca cosemos antes, e o feto já pesando em meu ventre. Na última semana antes de Branco nascer, tia Mônica sugeriu levarmos a criança para a Roda. Mais uma discussão entre meus amados por conta de Branco, mas que foi finalizada com um barulho na porta. — Quem é? — exclamou Candinho. — Sou eu, o dono da casa. Este queria que pagássemos os aluguéis atrasados em cinco dias ou seríamos mandados para a rua. Não tínhamos dinheiro para pagar os aluguéis. Então, tia Mônica achou um aposento velho emprestado para nós, mas não nos contou na hora, pois queria ver se Candinho levaria o filho à Roda ou encontraria algum emprego decente. Passaram-se os cinco dias, nos mudamos para o aposento e, dois dias depois, Branco nasceu. Como não tínhamos dinheiro, foi tia Mônica quem realizou o parto. Tia Mônica continuava a insistir que levássemos o menino à Roda. Candinho, desesperado, embrulhou a criança em um pedaço de pano e saiu para levá-lo à Roda. Candinho era minha esperança de ficar com a criança. Quando ele retirou Branco de meus braços, senti a pior dor que já havia sentido. Chorei,


chorei muito por dentro. Quando Candinho saiu de casa, me retirei para meu quarto e comecei a rezar desesperadamente para que Candinho voltasse para casa. Depois de longas horas, eu ouvi a porta abrindo e tia Mônica exclamou: — Mas o que esta criança está fazendo aqui? Corri para a sala (o que não era um grande percurso) e lá estava meu marido, esbaforido, com Branco nos braços.

Sobre a escrava, acabei esquecendo dela, afinal Candinho estava certo, nem todas as crianças vingam. No dia seguinte, batizamos Branco e tia Mônica jurou que nunca mais iria sugerir levar a criança à Roda. Depois de um mês, o dinheiro acabou, e a história vai se repetindo… Toda hora, todo dia, toda semana, todo mês, cosemos, cuidamos de Branco, passando dificuldades, ganhando uma pequena quantia, tirando liberdade, ou até vidas, de escravos.

Não disse nada, apenas retirou-se sala. Entrei na sala e vi tia Mônica radiante com cem mil-réis na mão. Ela logo disse: — Cândido! O que você fez para achar este dinheiro? — Capturei uma escrava fugida que valia cem mil-réis, deixei nosso filho em uma farmácia, amarrei-a e levei-a ao dono. Quando cheguei lá, ela abortou o feto que carregava. Mas, nem todas as crianças vingam. Posso ficar com a criança? — Pode. Agora que temos dinheiro por mais ou menos um mês — disse tia Mônica. Naquela noite, não dormi de tanta felicidade, sabendo que meu filho ficaria conosco e que finalmente minha tia não brigou com Candinho por Branco.

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Arminda x Cândido Pedro Mussi

Vim de um país muito pobre na África, fui capturada, eu e minhas filhas, sem direito de falar nada. Estou sendo forçada a servir meu senhor, até que um dia me recusei a servi-lo sexualmente, mas ele não aceitou e fez à força. Passaram-se duas semanas e percebi que tinha algo estranho comigo, me sentia mal, com enjoo e sintomas de gravidez. Meu senhor soube que eu estava grávida mas ele nem parecia ligar. Passaram-se mais algumas semanas e decidi que eu ia tentar fugir. Consegui sair daquele lugar; logo quando saí, fui procurar um lugar para ficar. Passei em uma farmácia e perguntei se ele poderia me alojar, mas é claro que ele disse não, até que achei um refúgio para escravos fugidos bem pertinho da cidade. Consegui ficar lá por algumas semanas, até que um dia fui pegar um ar pela cidade e um homem branco parecia me seguir. Fiquei preocupada, até que ele me abordou de um jeito violento, me pegou à força e disse que iria me levar de volta para o meu senhor. Tentei muito, até admiti que estava grávida, mas ele nem pareceu ligar. Pensei em gritar por socorro, mas é óbvio que ninguém iria me ajudar. Cheguei na fazenda e meu senhor me deu uma surra que eu nunca

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tinha tomado antes, muito diferente das comuns. A surra foi tão forte que perdi o bebê. Passaram-se anos e continuei pensando em vingança daquele homem branco. Então eu tentei fugir de novo. Consegui sair da fazenda, mas como eu iria achar ele? Fui procurar pelo mesmo lugar que ele me encontrou, perto de uma Roda, mas não achei nada e fui andando, olhando, até que encontrei-o com seu filho e sua esposa. Pensei: já que ele fez eu perder meu filho, vou fazê-lo perder o seu. Esperei eles saírem e fui atrás de seu filho, peguei-o e levei-o até um refúgio vazio. Eu pretendia deixar o filho deles morrer de fome lá preso. Pensei um pouco mais e decidi que não era isso que eu queria, não iria fazer com ele o que ele fez comigo. Resolvi deixá-lo de volta com seus pais, mas é claro que Cândido não iria deixar barato, além do mais, capturei o filho dele. Então, pensei no que poderia fazer para deixar a criança sem ele ver e decidi que ia deixá-la no mesmo lugar em que a pegou. Achei um abrigo para que eu pudesse ficar, tive um filho depois, ninguém veio atrás de mim e fiquei fugida pelo resto da minha vida.


A flor Sofia Peres

Acabei de acordar e escuto minha mãe brigando com o meu pai, ignoro, como sempre faço, porém dessa vez pareceu mais sério. Ouvi que eles estavam brigando por causa de Xavier, nosso escravo, pois ele tinha roubado um pão de nossa mesa, novamente. Como pedido de desculpas Xavier sempre deixava uma flor em cima da mesa. Porém, papai, já cansado dessa situação e muito estressado, me pediu para ir à padaria para repor o pão. Com isso, fiquei feliz pois papai, pela primeira vez, me deixará sair sozinha. No caminho, encontrei minha tia Mônica, que ficou indignada porque meu pai me deixou ir sozinha apenas com dez anos. Tia Mônica, sempre muito alegre, fez uma brincadeirinha e me acompanhou à padaria, depois disso, levou-me para casa e, ao entrar, vimos papai e mamãe mortos e Xavier fugindo pelos fundos. Enquanto isso, tia Mônica chorava ao ver seu irmão morto. Tentei ajudá-la, porém nada adiantou, não tive reação... Não chorei, não gritei, fiquei apenas parada, tentando entender a cena. No mesmo dia, mudei-me para a casa de tia Mônica, que não sabia o que fazer pois sobrevivia com o dinheiro

que papai lhe dava. Então começamos a fazer um curso de costura, em qual me espetava a toda hora e, com isso, tia Mônica gritava: — Clara, se não conseguir fazer um simples remendo como você quer que sobrevivemos! Com o passar do tempo, não nunca mais vi tia Mônica sorrir e ela acabou se tornando uma mulher rabugenta e triste. Nesse meio tempo, abrimos uma loja de costura, à qual dedicava todo o meu tempo, e com isso minha vida social ia diminuindo e diminuindo. No meu trigésimo aniversário, como de costume, estava trabalhando, costurando a calça de Pedro, um bom homem que era um negro livre. Ao terminar, fui falar com a minha tia, que estava me chamando há um tempo. Nunca vi ela tão decepcionada, ela me disse, quase chorando: — Clara, já tens 30 anos e não tens nenhum marido, como você quer que sobrevivamos? Não sabia o que responder, pois não vinha nenhum homem em mente. Depois de um tempo, veio à mente um baile que acontecia a cada três meses e que seria hoje.

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Eu pensei e pensei sobre esse baile, e era o único jeito de eu conhecer o meu futuro marido o mais depressa possível. Passei horas me arrumando, coloquei meu vestido desgastado azul com algumas flores e minha sapatilha. Tia Mônica me acompanhou até a entrada e disse que eu saberia quem seria meu futuro marido, com isso, entrei animada, porém bastante nervosa. Quando cheguei, conheci Cândido Neves e senti que era este o possível marido. Nos conhecemos, conversamos e quando vi o casamento já estava planejado. Onze meses se passaram e era o o dia, o dia do meu casamento! Estava tão animada que nem consegui pensar em nada, apenas nos votos e no “sim” que eu iria dizer em pouco tempo. Minhas duas únicas amigas, menos por amizade que por inveja, tentaram dizer que eu iria me arrepender do passo que ia dar, porém as ignorei, precisava casar e amava Cândido. Cândido e eu fizemos os nossos votos e nos tornamos um só. Em seguida teve a festa, apenas para os próximos, que seriam tia Mônica e uns amigos de Cândido. Nessa festa havia escravos nos servindo, e um deles, em especial, chamou a minha atenção, mas não entendia a razão.

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Ele tinha uma pequena cicatriz no lado direito do rosto, mancava e seu olhar era vazio. Quando percebi, já estava me aproximando e querendo fazer mil e uma perguntas, como de onde era, qual era o seu nome, entre muitas outras. Mas fiquei com medo de já saber quem ele era, do que ele era capaz de fazer e o que ele fez com os meus pais. Porém tinha essa dúvida, será mesmo ele? Horas depois, na festa, não conseguia me divertir e apenas pensava nisso. Cândido achou que eu estava cansada, mas eu me sentia mais viva do que nunca, ao ver o possível assassino dos meus pais. Fui falar com ele, perguntei seu nome e a resposta era como o imaginado. Ele não me reconheceu, mas contou que viveu nessa região há muitos anos atrás. Perguntei quem era seu dono e o silêncio foi sua resposta, percebi um certo receio da parte dele ao responder as minhas perguntas e suspeitei de alguma forma que ele sabia quem eu era. Sai por um minuto, fui chamar Cândido, cuja profissão atual era caçador de escravos, e contei toda a história. Quando Cândido foi capturálo, ele havia sumido, apenas deixando uma flor sobre a mesa.


Pai contra mãe Thomas Pacini Stewart

Eu, Cândido Neves, sou um homem pobre. Eu morava com meu primo João, nunca tive um emprego fixo, já me interessei por tipografia, marcenaria e vários outros empregos, mas nenhum me aceitava direito.

quando não quer jantar comigo. Nunca deixamos de ter nosso bacalhau…

Um dia, procurando emprego, vi uma moça bonita e fui falar com ela. Ela se chama Clara, está com vinte e dois anos e ainda solteira, e eu com trinta anos. Nós começamos a namorar e com o tempo descobri que os pais morreram de uma doença desconhecida, por isso, mora com sua tia. A tia se chama Mônica, ela não me achava a melhor pessoa para namorar a sobrinha, já que não tinha um emprego fixo.

— Que quer então que eu faça, além do que faço?

Depois de onze meses, Clara e eu nos casamos, alugamos uma casa, fomos morar eu, Clara e tia Mônica. Eu e Clara queríamos um filho, só um. Quando nós descobrimos que Clara estava grávida, ficamos muito felizes, mas tia Mônica não gostou da ideia e falou para Clara que seremos pobres e miseráveis se essa criança nascer, e eu fui tirar satisfação com ela. — A senhora ainda não jejuou senão pela Semana Santa, e isso mesmo

— Bem sei, mas somos três. — Seremos quatro. Não é a mesma coisa.

— Alguma coisa mais certa. Veja o marceneiro da esquina, o homem do armarinho, o tipógrafo que casou sábado, todos têm emprego certo… Não fique zangado; não diga que você seja vadio; mas a ocupação é vaga e você passa semana sem vintém. Clara cosia muito para fazer roupa, agasalho, fralda e outras roupinhas para o bebê. Eu larguei o meu emprego de entalhador, não gostei do emprego. Descobri um novo emprego que me apaixonei, que é caçar escravos fugidos, só precisa de calma, agilidade e força. Depois de alguns meses, a caça de escravos começou a atrair mais mãos habilidosas, só no bairro tinha mais três, fazendo a minha família ficar mais apertada em relação ao dinheiro. Com essas circunstâncias, eu não parava

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em casa, de vez em quando nem para comer, e Clara nem tinha tempo de coser a roupa do marido. Clara cosia muito, sem parar, para ajudar com a renda da família, e tia Mônica ajudava, naturalmente. Tia Mônica começou a dar a ideia de levar a criança à Roda dos Enjeitados. A velha já estava me irritando, Clara dizia que a tia Mônica não falava por mal. A velha ficou irritado e foi para o quarto. Logo depois, alguém bateu à porta. Era o dono da casa, que estava sem o dinheiro aluguel há três meses — Quer sentar? — Não é preciso. Entrou procurando algo que poderia ajudar no pagamento. — Cinco dias ou rua! — disse o dono da casa. Fui em procura de um empréstimos, mas, como já sabiam que estava devendo até a roupa do corpo, ninguém emprestou. Então, fui à procura de escravos. Achei alguns panfleto velhos, consegui caçar alguns, mas não o suficiente para pagar o aluguel. Quando fomos expulsos, descobrimos que tia Mônica tinha conseguido uma casa de uma velha rica no fundo de uma cocheira. Dois dias depois, nasceu

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a criança. Era um menino, justo o sexo que eu e a mãe do menino queríamos. Tia Mônica se ofereceu para levar o menino à Roda dos Enjeitados, mas eu mesmo queria levar; o maior tempo que eu passar com meu filho melhor. Quando chegou a noite, começou a chover. Então, tia Mônica deixou ir na noite seguinte. Quando amanheceu, saí em busca de uma escrava que eu tinha achado o panfleto no dia anterior e que a gratificação era de cem mil-réis. Ela era uma escrava jovem chamada Arminda. Fui às ruas que normalmente frequentava, mas não a achei. Quando passei na Rua da Ajuda, vi uma farmácia, e o farmacêutico disse que tinha vendido uns remédios a uma pessoa com as características dela. Quando escureceu, tia Mônica me deu o bebê para levar à Roda dos Enjeitados. Quando estava chegando perto, eu quis ficar mais um pouco com meu filho, então diminui a velocidade e resolvi dar uma procurada na escrava fujona. Fui às rua que ela frequentava e, quando fui à Rua da Ajuda, achei-a. Corri até a farmácia e deixei a criança com o farmacêutico. Corri atrás da escrava, amarrei-a tão rápido que ela só percebeu depois de amarrada. Ela implorava para que a soltasse.


— Estou grávida, meu senhor, se vossa senhoria tem algum filho, peço-lhe, pelo amor dele, me solte. Eu irei ser sua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte. — Siga. — Me solte. — Você é quem te culpa. Quem lhe manda fazer um filho e fugir depois? A escrava tentava escapar e, assim, ela se machucou inteira. Todo mundo que estava na rua olhava, mas não fazia nada. Cheguei à casa do senhor de terra, bati à porta e ele mesmo abriu. — Aqui está a fujona. — É ela mesma. O senhor da escrava mandou ela entrar e ela caiu dentro do corredor. O senhor deu os cem mil-réis de gratificação. Voltei à farmácia e o bebê não estava com o farmacêutico. Eu quase o matei, mas antes ele me explicou que a criança estava no fundos com a família dele. Eu peguei o meu filho, voltei para a casa emprestada. Tia Mônica estranhou a volta do bebê e eu contei a ela tudo, que aceitou e depois ficou falando palavras duras à escrava.

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Amigos Victor Luís

Cândido voltou para casa com o dinheiro da entrega da Arminda feliz e pensando: “Agora vou poder sustentar meu filho e toda a minha família por um grande tempo!”. Após isso, ele fez várias festas, saiu de casa e ia se encontrar com amigos para beber, mas desse modo começou a gastar o dinheiro muito rápido, também porque ele não sabia nada sobre administração de dinheiro. Então, depois de dois meses o dinheiro acabou e Cândido, seu filho e Clara passaram fome novamente. Todos tinham feito muitos amigos que não podiam encontrar pela falta de dinheiro. Então Cândido tentou achar algo para fazer e ganhar dinheiro, mas, como ele não queria algo que exigisse muito tempo para aprender, tentou achar algo mais prático e fácil. Procurava, procurava e não achava nada. Seu filho começava a chorar de fome todos os dias e a Tia Mônica ficara ainda mais com a razão de leválo para a Roda. Quando Clara arranjava algum dinheiro, eles compravam arroz do mais barato possível, e o faziam para alimentar todo mundo. Mas um bebê precisa de mais nutrientes para crescer e se desenvolver do que só

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os que o arroz fornece, então o bebê estava subdesenvolvido em questão de crescimento e desenvolvimento de partes do corpo. Após ele completar os seus dois anos, ele aprendeu suas primeiras palavras, e a sua primeira palavra foi: “Etou co fó!”. Cândido e Clara ficaram abismados, porque normalmente as primeiras palavras de um bebê seriam “Papá” ou “Mamã”. Depois disso, quando o filho deles completou os cinco anos, eles deixaram o filho sair para brincar e fazer amigos. Quando ele foi para um parque que tinha ali perto, ele era o menor e mais fraco de todos. Alguns pediram se poderiam ser amigos dele, mas ele não sabia o que era amigo, e os meninos do parque explicaram que amigo era alguém que te ajudava, você ajudava e que se divertiam juntos. O filho voltou à casa e perguntou: “Papai e mamãe, vocês tem amigos?”. E eles responderam: “Sim, mas nós os perdemos por causa do dinheiro”. O filho disse: “O que é dinheiro?”, e os pais responderam: “É uma coisa difícil de conseguir”. Assim, ele perguntou: “Porque você não pede ajuda aos seus


amigos?”, e os pais disseram: “Porque nós não temos dinheiro, e dinheiro é respeito”. Ms os pais levaram em consideração a sugestão do filho e foram pedir ajuda a seus amigos, que disseram: “Nós lhe damos, casa, comida e lazer, mas você deve limpar a casa e cuidar de nossos pertences, tudo bem?”. E Cândido aceitou. Assim, ele começou a morar com seus amigos, sua mulher, seu filho, tia Mônica e todos moravam com eles também.

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Pai contra mãe Vitor Castro

Olá, meu leitor, vou contar-lhe uma história que me aconteceu anos atrás. Minhas humildes desculpas, não me apresentei. Sou Mônica, tia de Clara, que fora mulher de Cândido Neves. Tenho uma terrível saudade dela e tenho um ódio enorme desse homem maldito e seu trabalho escroto de caçar escravos. Agora vou lhe contar o porquê de tanto ódio, até não gosto de comentar o seu nome. Tudo começou quando ele e minha sobrinha se conheceram em uma dessas festas. Eles disseram que foi amor à primeira vista. Após algum tempo, Clara disse que ia ter um filho, no futuro, com aquele bastardo e vagabundo do Cândido. Seu trabalho, se é que podemos dizer assim, era caçar escravos como um capitão do mato. Mal tínhamos dinheiro, mas os dois estavam sempre felizes juntos. Após um tempo, o casal tivera a ideia estúpida de ter mesmo um filho, e quando mal podíamos nos alimentar. Mas meus esforços foram em vão e eles tiveram, após longos e árduos 9 meses, em que eu levava uma renda fixa. Por outro lado, Cândido trazia, às vezes, uma boa quantidade de dinheiro, porém era uma vez a cada

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dois ou três meses. E finalmente o bendito do bebê veio ao mundo e sem um nome. Após algum tempo, Cândido começou uma caçada a uma escrava que havia fugido de um senhor rico e era aparentemente normal. Depois de dois meses de “procura” da escrava fugida, ele não a encontrou. No mesmo período, nós não podíamos sustentar o bebê. Então, levá-lo à Roda dos Enjeitados era nossa melhor escolha. Cândido relutou muito, mas percebeu que era melhor para os dois lados e foi levá-lo, finalmente. Porém, horas depois, ele voltou com a criança, dinheiro e um sorriso enorme, dizendo que encontrou a maldita escrava e ela havia abortado quando chegou na casa do senhor. Não me lembro quantos meses se passaram, então, chegou sem avisar o dia em que foi levada minha querida Clara. Um homem negro a estuprou e a matou, junto com seu filho, que teve a cabeça estourada, foi o que os policiais disseram. Por sorte ou azar, eu e Cândido estávamos fora comprando comida. Depois disso, Cândido se matou. Tenho uma suspeita que pode ser o pai de algum amigo.


Mãe contra pai Mateus Ximenez Campanile

Negra. Mulher. Eu era escrava em um engenho em Goiás, meus pais me batizaram como Maria, mas para mim esse era nome de branco. Arminda me soava bem, podia parecer que eu estava sempre armada, como uma guerreira, ou podia dar um toque de harmonia. Como eu já disse, minha história começa em Goiás. Eu era escrava de um Senhor muito bondoso, ele só batia na gente às vezes e estava sempre no meio de nós. Seu Vicente. Ele era um homem alto e seus cabelos grisalhos eram puros da cor da neve, apesar de ser um homem jovem. Seus olhos eram da cor da terra, sempre que estava a me olhar, eu fingia que não ligava. Vosso Senhor era casado com uma mulher infiel e horrorosa, Brilhantina. Um dia, quando estava no poço, ouvi gritos vindos de dentro do casarão, uma voz poderosa e opressora xingando Brilhantina. Era Vicente. Ouvi dizer boatos que Vossa Senhoria perdeu a cabeça e surrou a coitada. Toda minha paixão secreta por Vicente já não existia mais. Passaram-se mais alguns monótonos dias até minha vida mudar drasticamente. Em um dia, um jagunço de Vicente me avisou que o Senhor queria me possuir. Eu não tinha

o que fazer, eu era escrava e ele era meu dono. Subi as escadas como se tivesse andando em direção ao meu padecimento, sendo compelida pelos funcionários do Senhor. Quando entrei no quarto, minha primeira sensação foi de morte, mas de vida também, algo em mim morria mas nascia algo maior. No começo, tentei negar o que estava prestes a acontecer, mas Vicente estava agindo com raiva e muita força. Meu Senhor me agradeceu e murmurou para que voltasse na noite seguinte. Foram mais de duas semanas que fez de mim sua parceira, até eu descobrir que eu estava grávida!! Eu tinha que alertar isso a Vicente, mas não sabia como. Comecei dizendo que sentia muita náusea e vomitava muito, que eu estava sentindo muita dor na região abdominal e que meu humor estava muito estável, mas o homem só queria saber de transar. Com quase metade da minha equivoca gravidez, um dos maiores apertos econômicos fez com que Vicente negociasse mais de metade dos cativos para um engenho de café no Rio de Janeiro. Mas meu Senhor me tratava de uma forma diferente dos outros. Ele fez questão de não me vender, mas eu estava

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determinada a sair dessa terra. No dia do deslocamento dos outros escravos, eu disse a Vossa Senhoria que não poderia trepar com ele pois tinha muitas tarefas para arrematar. Nessa noite, penetrei no meio dos escravos vendidos e fui para a cidade grande, rumo a uma melhor vida para mim e meu pequeno fruto. Uma porção de escravos foram transportados em carros de boi, porém a maior parte foi andando. Foram 15 dias andando até a capital. Quando nos aproximamos da cidade, eu achei a brecha perfeita para fugir do bando. Eram cerca de 50 escravos, sem contar os 10 que morreram a caminho do novo engenho. Caminhando por uma estrada de chão batido, cercada por mata, um dos jagunços parou para cortejar duas moças que por lá passavam. Eu me embucei atrás de uma moita e esperei o resto do bando passar. Fiquei lá por mais quase metade de uma hora. Eu não tinha para onde ir e já estava escurecendo. Uma mulher com idade avantajada me viu estirada na estrada e me convidou para ficar com ela por alguns dias. Eu hesitei, porém não tinha outra alternativa e aceitei. Chegando em seu humilde lar, uma casa pequena, feita de madeira e com o teto de palha, tinha uma essência de comodidade. O nome da senhora era Maria Tereza. Ela tinha muita fé em suas orações e em Deus.

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O único requisito dito por Maria era que eu teria que ajudar nas tarefas domésticas. Como para mim não era nenhuma surpresa, concedi sem me opor à fala de Terezinha. Minha hospitaleira disse que a igreja a qual frequentava acudia negros fugidos secretamente, pois eles tinham crenças um pouco divergentes dos católicos conservadores. Todos os negros eram mandados para um quilombo no meio da mata. Eu gostava muito de morar com Maria e sentia o mesmo vindo da minha colega. Como todas as manhãs, eu fui para a cidade comprar comida fresca para o lanche matinal, porém, nesse dia, senti vibrações negativas nos arredores de onde eu estava instalada. Quase na fase final de minha gravidez, eu julguei certo dar um passeio pela cidade, para sentir o ambiente onde meu bebê iria crescer. Atravessei o povoamento até a parte mais nobre da cidade, onde vi escrito em um casarão o nome Raúl Meireles, o homem que comprou os escravos de Vicente, o meu Senhor. Tentei ignorar o que tinha acabado de ver e fui fazer as compras, Tereza adorava comer torresmo no pão de manhã, quanto mais quentinho o pão, melhor. Muito distraída com as compras, não percebi que ocorria um cochicho sobre mim. O bairro era predominantemente de brancos, eu


era a única negra lá, exceto um homem preto de cabelos crespos e barba por fazer, forte nos braços e nas pernas, parecendo muito triste e apegado a um bebê que estava em seu colo, vindo na minha direção, em uma esquina não muito perto. Me senti muito incomodada neste estabelecimento, então, saí em direção a minha moradia. Estava admirando a linda paisagem urbana e a liberdade que eu tinha agora quando um braço robusto encostou no meu ombro e falou em alto tom: — Arminda!! Sem malícia alguma, virei para atender o chamado. Foi aí que eu vi aquele mesmo negro com o bebê, desta vez sem a criança, com uma corda na mão. Eu demorei um bocadinho para reagir, mas já era tarde e o maldito estava me encarcerando com uma corda. Sem nenhuma possibilidade de fugir, o homem me mandava andar mais depressa. Eu não podia pedir socorro pois estava fora da lei, apesar de muito errada a Constituição de nosso país. Toda a gente apoiaria a ação do sem coração que me arrastava pela cidade do Rio de Janeiro. O que me restava era seduzi-lo e convencê-lo de que eu era uma boa pessoa e não merecia isso. Eu contei da minha gestação e eu sabia que ele

tinha um filho, então usei o neném de exemplo. Eu ofereci minha mão de obra em troca da minha liberdade. Mas nada disso comoveu o maldoso homem. Passamos em frente de muitas pessoas que, ao invés de acharem algo estranho e errado, julgavam a atitude do negro certa. Ele estava me lavando à residência de Raúl, onde certamente eu apanharia muito. Ao chegar na mansão, o homem, chamado Cândido Neves, anunciou a Raúl que eu era a tal da escrava fujona, que logo confirmou e me jogou para o corredor de dentro da casa. Nessa hora, eu sentia uma dor inexplicável no peito, parecia que vinha do meu coração ou algo assim. O homem branco tirou da carteira cem mil-réis, certamente a recompensa posta sobre minha cabeça, e o mulato não teve chance de agradecer antes que eu tomasse uma das mais difíceis decisões da minha vida. Ali mesmo, no corredor, eu sacrifiquei a vida do meu já amado filho. O capitão-do-mato, antes tão corajoso, saiu correndo sem direção. A minha dor era ainda maior. A única coisa que eu podia ouvir era o choro de uma criança desesperada por amor, mas sabia que seu pedido não seria atendido.

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