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Mateo Doberti Desigualdade entre escolas
trabalho e estabilidade econômica. E há razões históricas para esses problemas que estão presentes até hoje dentre os brasileiros. O pesquisador norte-americano Peter Lindert fez um estudo para saber por que algumas nações no século XIX começaram, a de repente, dar tanta atenção ao ensino primário, sendo que o Brasil não era uma delas. Ele constatou que pouco a pouco se passou a cobrar cada vez mais impostos para investir na construção de escolas e na contratação de professores. “No século XIX, finalmente, a educação começou a ser mais bem distribuída. Pelo poder público. Não dá para aumentar a oferta de educação sem dinheiro público”. Essa última parte é importante, porque nos lembra de que são necessários investimentos e verba na educação para que continue funcionando, e não apenas boa vontade, muito menos dos alunos, que têm sido frequentemente responsabilizados pela precariedade das escolas brasileiras.
O professor da Uerj, Adalberto Cardoso, diz que o Brasil gasta hoje em educação, em termos de PIB per capita, a mesma coisa que a Europa, ou seja, em torno de 20%. O problema é que o PIB per capita no Brasil é menor.
Lindert confirma uma tese que afirma que quanto maior a participação eleitoral dos cidadãos, maior a necessidade das figuras políticas de responder às demandas por educação, usando dados de diversos países do mundo. Segundo o pesquisador, não adianta apenas uma pequena parcela dos homens adultos votar, pois as suas pautas de interesse não abrangem as preocupações dos mais pobres. Se para eles há algum problema com a educação, a elite resolverá o seu problema contratando professores e escolas particulares. Esse tipo de “democracia elitista” existia em muitos lugares no século XIX, com o uso de voto censitário, que limitava o voto a apenas uma minoria com certos níveis de renda. Apesar de o voto censitário não existir mais no Brasil, o pensamento por trás dele permanece. A transformação dessa profunda questão da precariedade e ignorância no sistema educacional brasileiro necessita de políticas públicas em diversos setores, e que sejam contínuas, que assegurem uma educação de qualidade competente para a população em geral, não só para as classes média e alta. Essas políticas precisam assegurar que os jovens ampliem seu repertório cultural e social, conheçam novas tecnologias, sejam criativos, explorem a cidade, e que sejam protagonistas na construção de seus próprios currículos, como defende Wagner Santos. O Brasil já é um país bem desenvolvido economicamente. Precisamos garantir as necessidades do povo, dando-lhes poder de participação e quebrando a estrutura complexa e enraizada que não fornece até hoje aos nossos alunos a base para que possam estudar. Mateo Doberti
Desigualdade entre escolas
A desigualdade entre o ensino particular e o ensino público é o que compõe o maior problema educacional no Brasil
Muitos jovens em escolas públicas não chegam a terminar o ensino fundamental e o ensino médio. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que a taxa de abandono escolar no ensino médio na rede pública mais do que dobrou no ano passado. Em 2020, o percentual de estudantes que abandonaram instituições foi de 2,3%, enquanto que, em 2021, a taxa foi de 5,6%. Ainda segundo o levantamento, a região Norte do país foi a que mais sofreu com o abandono dos alunos. Enquanto o país teve um índice de 5% no ensino médio, os estados do Norte, juntos, acumularam uma taxa de 10,1% de abandono. Já na etapa do ensino fundamental. O valor foi de 2,5% nesta região. a tendência na queda de jovens de 15 a 17 anos que deixaram a escola sem concluir o ensino médio: o patamar era de 7,1% em 2019 e está agora em 4,4% no segundo semestre deste ano. Como apresentado nos dados acima, o índice de pessoas que abandonam o ensino médio na escola pública é muito grande, porque algumas vezes não tem aula por falta de professores e a baixa qualidade educacional faz os jovens desistirem de terminar o ensino médio em escolas públicas.