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Lívia Iozzi de Castro Serdeira Espelhos
brava, alimentou os meninos e então, agradecidos, os dois ajudaram a mãe a levantar o barraco de barro, era bem fuleiro mas servia bem à família.
Ao anoitecer, Fabiano ainda na construção, conversava sobre trabalho, dinheiro, coisa e tal. Porém, teve a surpresa de sua demissão, ‘’a cidade’’ atrai muitos homens vindos do sertão, mais fortes e com mão de obra mais barata que a de Fabiano, e com ele o patrão sairia no prejuízo, o pagamento é entregue a Fabiano, então com o anoitecer o patrão deixa o cabra, que caminhando de volta ao seu barraco topa com um bar, ao entrar lá ele se acha, se afoga na bebida, porém, nem a mais alcoólica delas conseguia embriagá-lo naquele momento. Sem forma de escapismo o cabra já se bastava de bebida, sente-se observado, sozinho e em má companhia, seus delírios vêm à tona, o fantasma que lhe seguia, o soldado amarelo, o patrão, Sinhá Vitória, seus filhos. Quando se deu por são, estava banhado pela raiva das ondas devorando-o, sua camisa amarrotada respingava água, se sentindo salgado, insone e perdido, ele vê ao horizonte casarões iluminados ofuscando a imensidão de barracos. Quantas vezes eles teriam de se ‘’mudar’’?
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Batidas na porta, Sinha Vitória abre a porta, o desgraçado havia chegado, molhado com os olhos marejados e a garrafa em sua mão, suas roupas em trapos denunciaram seus antecedentes, com a boa vontade de Sinha vitória, ela o deixou entrar, o homem se secou e se deitou, dessa vez mais completo. Lívia Iozzi de Castro Serdeira
Espelhos
O Sol nascia, e era em sua direção que caminhavam. Leste. Ficou decidido - mais por Sinhá Vitória - que iriam para perto do mar, onde o ar não é pesado. O menino mais novo ainda andava na frente, ombros tremendo de carregar o pesado baú de folhas, buscando aliviar o peso das costas da mãe e mostrar-se ao pai. O mais novo, que agora já não se via como criança, já havia aprendido a não lamentar-se nas saias de Sinhá Vitória e, agora, tentava acompanhar suas passadas largas. Fabiano era quem andava mais atrás, já cansado, fazendo esforço para respirar sem tossir de secura. Se dois dias de viagem e horas dormidas no leito de uma árvore já estavam deixando-o cansado, imaginou que nenhum fazendeiro o contrataria mesmo, era bom que fossem à cidade. Sua mulher sempre acertava.
Não demorou para que o caminho começasse a mudar, que a estradinha estreita de terra virasse uma larga faixa de asfalto quente, com caminhonetes passando aceleradas. Andaram pelo acostamento até encontrarem um desvio para um posto de estrada, onde descobriram poder usar os banheiros. Eram banheiros simples e pouco cuidados, mas foram o bastante para deixar os meninos impressionados. Sinhá Vitória demorou-se no espelho, decidindo se achava-se bonita ou não. Pensou por fim que gostava de como estava vistosa, mas que suas roupas e cabelo escondiam a beleza. Lavou o rosto e retornou os olhos para o reflexo. Não tinha tempo para pensar em tais frescuras, quem dera fossem a principal dificuldade.
Conheceram ali um caminhoneiro simpático, com quem trocaram poucas palavras e conseguiram uma carona. O homem não parou de falar por um minuto, durante as três horas de viagem. Os meninos dormiram nos bancos confortáveis, apoiados nos ombros da mãe. Fabiano, sentado à frente, entretiase olhando a paisagem passar rápido pela janela, sempre apreensivo com o que estaria por vir. Logo não via quase nada de vegetação, apenas fábricas imensas que deixaram-lhe estupefato, pensou que poderia trabalhar em uma daquelas, depois achouse bobo, não saberia nada do que fazer lá. O moço gentil deixou-os numa rua movimentada e, com uma gargalhada, advertiu que apesar de Recife ser linda de vista, lá poucos seriam tão solidários quanto ele.
Andaram confusos, a mãe agarrando as mão dos filhos e acompanhando o marido com o olhar. O bairro era pobre, cheio de casinhas com quintal de portão colorido e prédios baixos de tijolos aparentes, feios quando comparados com a casa de que haviam saído, que, embora fosse minúscula, era bem feita e bem acabada. Sinhá Vitória achou uma boa ideia trocar algumas palavras com o dono de uma lanchonete , em busca de informações sobre como achar trabalho e uma casa, por ali. O homem perguntou se ela sabia cozinhar e fingiu pensar por um instante, então falou que a empregaria e emprestaria-lhe uma casa.
A casa em questão possuía quatro cômodos, que eram dois quartos pequenos, um banheiro e uma cozinha com sofá e mesa. Depois de descobrir que havia uma escola perto,onde poderia matricular os meninos, qualquer coisa passou a ser uma pequena alegria para Sinhá, desde entender o chuveiro elétrico e os eletrodomésticos, a receber elogios diários dos clientes da lanchonete sobre sua comida. Estava trabalhando muito mais do que na fazenda, tendo de olhar também a filha do chefe depois da escola, mas isso não foi motivo de reclamação, estava grata por suas crianças estarem limpas, alimentadas e em contato com outras da mesma idade.
O menino mais novo estava indo bem na escola, conseguiu ser alfabetizado com facilidade - embora atrasadíssimo na turma - e fez amigos, com quem aprendeu a jogar bola. Para o mais velho, as coisas não foram tão fáceis. Foi colocado em uma turma dois anos mais nova e era constantemente chamado de burro e caipira, provocando-o ao ponto de fazê-lo arrajar briga. Meninos mais velhos aproximaram-se e começaram a pedir favores, que ele cumpria na