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Carolina Faidiga da Costa Maternidade
Carolina Faidiga da Costa
Maternidade
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Como a maioria das mulheres da minha época, sempre quis ter um filho, cuidar dele, mas nunca desejei que fosse na pobreza em que me encontro agora. Meu marido Cândido Neves é um bom homem, ele fica o dia todo fora de casa atrás de escravos fugitivos, não me orgulho do trabalho que tem, eu preferia que ele trabalhasse em algum emprego fixo, mas é o que conseguiu por enquanto.
Estávamos sem casa, sem comida e com um bebê para nascer, mas graças a Deus minha tia Mônica arranjou um quarto de uma casa para nós. Ela já fez tanto por mim e foi a única pessoa que sempre esteve ao meu lado, minha única família antes do Candinho e não tenho como retribuir. A tia Mônica não gosta muito do Cândido, ela acha que eu mereço alguém melhor, provavelmente um homem rico e branco, que não deixe nossa situação financeira chegar onde está agora.
Uma manhã, comecei a entrar em trabalho de parto, mas o bebê demoraria para chegar. As contrações pararam por um tempo antes de o Candinho sair; ele tinha voltado muito tarde ontem, então questionei: —Cândido, preciso de dinheiro para comer antes de parir.
—Me desculpe, Clara, ontem não consegui nada. - Candinho respondeu.
—Então o que está fazendo? Vá agora e não se atreva a voltar com os bolsos vazios. — Eu disse tentando dar uma má motivação para que ele ficasse bravo e me deixasse.
Depois de o Cândido sair, a tia Mônica olhou para mim e disse:
—Clara, quando Cândido voltar vou falar seriamente com ele, para ele repensar a ideia de ir deixar o bebê na roda dos enjeitados, ele teria uma melhor condição de vida que nós não tínhamos como oferecer-lhe.
Mas, ao mesmo tempo, a tia Mônica deixou a escolha de levar o bebê ou não nas mãos do Candinho, não com a minha ajuda. E Cândido já se decidiu, ele não queria levá-lo e sinto que não podia falar nada para fazê-lo mudar de opinião, mesmo que eu tenha carregado aquele bebê por nove meses com o mínimo de comida de que um ser humano precisa para viver.
Quando Cândido chegou, sem nada no bolso, eu gritei com uma enorme dor:
— O BEBÊ ESTÁ NASCENDO AGORA!
O bebê nasceu depois de longas horas, mas tia Mônica foi rápida e disse:
—Se não levar esse bebê amanhã de manhã para a roda dos enjeitados, eu mesma o levarei!
—Depois falamos sobre isso, não se passaram nem duas horas desde o nascimento do meu filho, deixeme aproveitar — Respondeu Cândido, calmamente.
Conseguia pensar somente no tempo. Quanto tempo precisaria esperar para poder ter um pouquinho de paz? Qual seria o futuro do meu filho se ele fosse para a roda dos enjeitados? Eu tenho vivido na pele a sensação de não saber o porquê de meus pais não terem me querido… Como podia odiar ou amar tanto alguém sem mesmo conhecê-lo? Com tudo que estava vivendo agora, acho que finalmente entendi meus pais, eu queria que meu filho tivesse uma boa vida e sei que não podia lhe dar isso, talvez, só talvez, minha mãe pense do mesmo jeito.
Depois de vinte e quatro horas em trabalho de parto, estava exausta, então fui descansar cedo com o pecado de ir dormir esperando acordar sem o bebê pela casa e sim na roda dos enjeitados mas, quando acordei, a primeira coisa que vi foi o bebê engatinhando pelo chão, olhei assustada e infeliz para o Cândido, que estava com um enorme sorriso que foi se desmanchando quando viu minha decepção estampada no rosto. Quando percebi que estranhou meu rosto, voltei com a minha feição normal, sem emoções.
Calmamente, perguntei:
— O que aconteceu? Porque o bebê não está na roda dos enjeitados?
—Peguei uma escrava e ganhei uma boa grana, não precisamos mais deixar o nosso filho lá — Respondeu Cândido, voltando com um enorme sorriso.
—Como conseguiu? Como foi? - Perguntei como costumava, fingindo me importar com o trabalho de Candinho, de que não gostava.
—Uma fugitiva burra estava simplesmente andando pelas ruas e, quando a peguei, começou a usar a desculpa de gravidez. É cada coisa que falam para fugir de suas obrigações - Cândido explicou.
—É — Respondi pensativa.
Não sei se era verdade ou não; mas essa mulher imagina que estivesse lutando pelo seu filho, e eu, não. Decidi dar uma chance para esse bebê, não está indo uma maravilha mas também não uma porcaria; na pior das hipóteses acabo morrendo de fome ou pior, perco minha essência e eu mesma no caminho.