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Lorena Moreno O fantasma de Utopia
não falando e resmungando muito, demonstrava satisfação. Eu e meu irmão estávamos aliviados de agora entendermos o que “inferno” e muitas outras palavras significavam, por causa da escola, e de termos amigos para brincar nos momentos bons e nos momentos ruins. Agora, encontramos conforto, nesse desconforto imenso que é a vida, por meio de rezas, comida e de tia Fátima, que me chamava de “menino” e não de João, me fazendo não esquecer que eu realmente era, o menino mais velho de Vitória e Fabiano.
O fantasma de Utopia
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Thales Thompson e Caleb Clark, reis de utopia, reino repleto de artes, poesias, comida e teatros, amavam assistir a peças de teatro e apresentações de dança, era o passatempo favorito do casal. Sobre a sala de teatro mais antiga do reino, havia a lenda de um dançarino que antes de se apresentar, teve seu parceiro morto por um vigilante de outro reino. Nessa história, se diz que, na hora de sua apresentação, o homem morreu de tanta tristeza enquanto dançava. Reza a lenda que qualquer casal perdidamente apaixonado que comparecesse ao teatro, durante a noite, dançaria junto de seu amado até a morte.
Nathaniel, trabalhador do reino, estava ciente daquela lenda, mas não era de acreditar em coisas sobrenaturais, se não fosse provado pela ciência ou pela lógica então era mentira, certo? Lá estava ele, às duas horas da manhã, limpando os camarins do fatídico teatro, quando ouviu um barulho. Decidiu ir investigar. Diante do palco, a luz estava fraca e junto a aquela pouca luz seus olhos assistiram ao casal monarca dançando, eram passos lindos e românticos, invejáveis inclusive. Ficou admirando-os um tempo e decidiu que atormentar o casal pedindo por silêncio seria uma péssima escolha, então apenas voltou às suas tarefas para poder ir para casa.
Após terminar o serviço, Nathaniel guardou suas coisas em uma bolsa transversal de couro, seguiu novamente o caminho que passava em frente ao palco e viu que o casal monarca ainda estava dançando. Qual o sentido daquilo? Pensou que já eram mais de três horas da manhã. Mas não foi isso que o intrigou realmente, ele agora via no rosto dos amados monarcas uma expressão de exaustão, eles claramente não queriam estar lá dançando.
Repentinamente, todas as luzes do palco foram acesas em tons vermelhos diferentes, o casal foi elevado do chão, parecia uma possessão demoníaca escrita pelo melhor dos autores daquele reino. O homem não podia acreditar no que via, achava que estava delirando. Como duas pessoas flutuariam e as luzes acenderiam em vermelho, se não havia ninguém para ligá-las? Seus pensamentos foram cortados quando ouviu um barulho alto o suficiente para dar um pulo de susto. As luzes agora estavam apagadas,
havia apenas uma acesa, de tom amarelado, e o casal monarca agora estava no palco, ambos caídos, como se tivessem sidos jogados de um local muito alto.
Nathaniel correu para o palco sem saber o que fazer. Chegando lá, deu de encontro com o rosto pálido dos monarcas. A cabeça de Thales estava sangrando e o nariz de Caleb… Céus! Parecia uma fonte! Não parava de jorrar sangue vermelho escarlate! Naquele momento o homem entrou em pânico, ali na sua frente estava o casal monarca morto, mas não não fazia sentido! Não é possível, ele só poderia estar delirando! O mesmo se beliscou e sentiu o aperto forte na pele, ainda sem entender muito bem o que estava acontecendo, começou a ficar tonto, tonto e cada vez mais tonto, até que uma hora sentiu que iria desmaiar, mas, ao invés de ver um preto diante de seus olhos, ele viu um vermelho, vermelho escarlate, igual ao que jorrava do casal monarca.
Na manhã seguinte, foi relatado no jornal que o casal monarca foi encontrado morto no teatro mais antigo do reino, junto a um funcionário público de utopia. Lucca Maschietto Previtali
Quase vidas, inférteis
Lá estavam eles, de novo, desolados, sem nenhuma fagulha de esperança a não ser das fantasias criadas ao longo do caminho, que foram inventadas como forma de saciar a grande sede de encontrar um resquício de boa vida naquele meio em que estavam.
A família se via, de forma natural e até cotidiana, cansada, já não aguentava mais essa repentina troca de locais em que iriam enfim se desenvolver até que um dia fracassassem e morressem. Após a perda de dois dos grandes membros da família, Sinhá Vitória já se sentia vazia, uma criatura oca, vagando em busca de paz, junto de seus dois filhos, cujos nomes só poderiam ser decididos por seus próprios destinos, estavam, todos, juntos de Fabiano, aquele que parecia, mesmo não demonstrando nem minimamente, o mais perdido e afetado pela nova instância em que se encontravam.
A viagem da família de sua antiga morada até a nova cidade grande que encontrariam foi certamente tortuosa, o caminho que traçaram parecia nunca acabar, passando de cenários e cenários, mas nunca mudando, até que, fora percebida a mudança climática e de solo, e isso Fabiano não poderia deixar passar sem notar, estava a quilômetros andando