REVISTA DIGITAL - 9O ANO - 2021
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Nó na palavra, nona palavra. A palavra do nono ano. A voz que baixa o tom até o chão da sobriedade. A fuga da resposta imediata, do grito oco, da conclusão veloz. A luta do pensamento para achar a sua forma: Atar e desatar, tecer, refazer, ponderar, reavaliar. A juventude e seu lugar. As juventudes e seus lugares. Arte, política, comportamento, educação. A casa, a rua, a escola, a cidade. A ciência e o desejo. A opinião construída e em construção. A palavra do nono ano sobre si e, principalmente, sobre os Outros: Eis o nó.
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SUMÁRIO Ana Carolina Barbosa Nunes
Gravidez na adolescência e a evasão escolar................................................................... 10
Alex Franco Falbo Mansur
Escola para quê?........................................................................................................................ 10
Antonio de Castro Prandini
“Escola para quê?” e os jovens que não estudam nem trabalham ........................... 11
Arthur Lopes Brandão Takahashi Pandemia, juventude e escolas............................................................................................ 12 Caio Henrique Palomo Lemos
Qual é a função da escola?..................................................................................................... 12
Caíque Prall Sitchin
Escola para quê?........................................................................................................................ 13
Danilo de Oliveira Conceição
Escola para além dos estudos............................................................................................... 14
Dora Bontempi
Evasão Escolar é um Problema Social................................................................................ 15
Elis Nunes Ferreira
Escola para quê?........................................................................................................................ 16
Eva Doberti Suarez
Desigualdade Escolar............................................................................................................... 17
Felipe Fanhais Siqueira
Escola para quê?........................................................................................................................ 17
Gabriela Burza Barbera
O significado da escola na vida de gestantes adolescentes....................................... 18
Gustavo Penteado Gobe
Problemas na educação refletem o Brasil........................................................................ 18
Iolanda Magalhães Blanco
Escola para quê?........................................................................................................................ 19
Isabel Bersou Ruão
Para além da educação........................................................................................................... 20
João Vitor Dente
Qual é o papel da escola?........................................................................................................ 22
Lara Greger Tavares Rocha
A escola prepara para a vida?................................................................................................ 22
Laura Martins Beatrice
Escola para quê?........................................................................................................................ 25
Lívia Dantas
Educação em uma sociedade mal educada....................................................................... 26
Luana Rayol
A educação nas escolas públicas......................................................................................... 28
Lucas Watanabe A. P. Litvin
Escola para quê?........................................................................................................................ 28
Luiza Varanda de Mattos
Evasão e motivação escolar.................................................................................................. 29
Maria Luísa Barbosa Nunes
Desigualdade educacional brasileira................................................................................... 30
Maria Luiza De Toledo Calil
Nem-Nem.................................................................................................................................... 31
Mariana Magalhães Furtado
Escola e seus papéis................................................................................................................ 31
Pedro Martins Ayoub Fernandes Escola para quê?........................................................................................................................ 32
Peter Gabriel Martyn Ganns
Escolas precárias....................................................................................................................... 33
Rafael Barros
Papéis desconhecidos............................................................................................................. 33
Rafael Djigov Cavalcanti
Educação: a grande arma........................................................................................................ 34
Ricardo Chrispim C. de Albuquerque Escola para quê?........................................................................................................................ 35 Ryhan Santos dos Anjos
Escola para quê?........................................................................................................................ 36
Sophia Abe Roveda
Os “nem nem”............................................................................................................................ 37
Sophia Casolari Landell Balbino Escola para quê?........................................................................................................................ 38 Sophia Martins e Galiano
Evasão Escolar .......................................................................................................................... 39
Theo Rocabado Zapella Andrade Escola pra quê(m)?.................................................................................................................... 40 Vicente Detoni Franzini
Escola para quê?........................................................................................................................ 41
Ana Carolina Barbosa Nunes
Mãe contra pai........................................................................................................................... 46
Danilo de Oliveira Conceição
Felicidade x Trabalho................................................................................................................ 48
Dora Bontempi
Mãe e filho................................................................................................................................... 50
Elis Nunes Ferreira
Pai contra mãe........................................................................................................................... 52
Eva Doberti Suarez
Pai contra mãe reinventado................................................................................................... 53
Francisco Priolli Xavier
A busca......................................................................................................................................... 55
Gabriela Burza Barbera
Sem pai nem mãe..................................................................................................................... 57
Gustavo Penteado Gobe
Pai contra mãe........................................................................................................................... 59
Iolanda Magalhães Blanco
Pai contra mãe........................................................................................................................... 61
Isabel Bersou Ruão
Parto.............................................................................................................................................. 62
João Vitor Dente
A mãe sem filho......................................................................................................................... 63
Lara Greger Tavares Rocha
Capitães da areia outro fim.................................................................................................... 64
Laura Martins Beatrice
Ele contra mim........................................................................................................................... 65
Lívia Dantas
Enjeitado?.................................................................................................................................... 66
SUMÁRIO - CONTINUA NA PÁGINA 6 E 7
Luana Rayol
O passado da mãe..................................................................................................................... 68
Lucas Watanabe A. P. Litvin
Pai contra mãe........................................................................................................................... 70
Luiza Varanda de Mattos
Dora, Dora................................................................................................................................... 71
Maria Eduarda Santos Costa
Um pai sem mãe........................................................................................................................ 73
Maria Luísa Barbosa Nunes
Mães sem filhos........................................................................................................................ 75
Maria Luiza de Toledo Calil
Eu contra eu mesma................................................................................................................ 77
Mariana Krausz
Pai contra mãe........................................................................................................................... 79
Nina Schnaider Redondo
Estado contra mãe.................................................................................................................... 80
Rafael Coutinho Talocchi
Mãe contra o pai........................................................................................................................ 82
Rafael Djigov Cavalcanti
Duas e scolhas um final........................................................................................................... 84
Rafael Barros
O dinheiro manda...................................................................................................................... 85
Ricardo Chrispim C. de Albuquerque Pai contra mãe reinventado .................................................................................................. 88 Ryhan Santos dos Anjos
Cândido Neves........................................................................................................................... 89
Sofia Colasanto Gonzales
Clara.............................................................................................................................................. 91
Sophia Abe Roveda
Cândido Neves........................................................................................................................... 92
Sophia Casolari Landell Balbino A fuga de Arminda.................................................................................................................... 94 Sophia Martins e Galiano
Pai contra mãe - Cândido Neves.......................................................................................... 95
Vicente Detoni Franzini
Remetente: Cândido Neves................................................................................................... 9 9
Ana Carolina Barbosa Nunes
Eu juventude............................................................................................................................ 102
Caio Henrique Palomo Lemos
Na minha época...................................................................................................................... 103
Danilo Oliveira Conceição
Juventude, ela é uma complicação.................................................................................... 104
Davi Henning Generoso Feresin Juventude.................................................................................................................................. 105 Dora Bontempi
Refração.................................................................................................................................... 106
Elis Nunes Ferreira
Juventude.................................................................................................................................. 106
Enzo Thalenberg Di Domenico
Voz.............................................................................................................................................. 107
Francisco Priolli Xavier
Pensamentos de Chico: um cérebro bipolarizado ....................................................... 108
Frederico Leoni Zucker
Feio............................................................................................................................................. 110
Gabriela Burza Barbera
Eu jovem................................................................................................................................... 111
Gustavo Penteado Gobe
Quadrinha do fim da infância.............................................................................................. 111
Iolanda Magalhães Blanco
Eu juventude............................................................................................................................ 112
Isabel Bersou Ruão
Não sou o seu jovem............................................................................................................ 113
Lara Greger Tavares Rocha
Minha juventude, minha música........................................................................................ 114
Laura Martins Beatrice
Sozinha...................................................................................................................................... 115
Lívia Yano Dantas
Ser adolescente é................................................................................................................... 116
Lorenzo Pagani Legat
Fundo do poço........................................................................................................................ 117
Lucas Watanabe A. P. Litvin
Período de insegurança....................................................................................................... 118
Luiza Varanda de Mattos
Esboço....................................................................................................................................... 118
Maria Eduarda Santos Costa
Eu juventude............................................................................................................................ 119
Maria Luiza De Toledo Calil
Maturidade.............................................................................................................................. 120
Mariana Figueiredo Krausz
Criação de identidade............................................................................................................ 120
Mariana Magalhães Furtado
Minha história é o que eu tenho pra dar......................................................................... 121
Nina Schnaider Redondo
Calor........................................................................................................................................... 122
Pedro Martins Ayoub Fernandes A juventude.............................................................................................................................. 122 Rafael Coutinho Talocchi
Juventudes............................................................................................................................... 123
Rafael Djigov Cavalcanti
Liberdade na juventude para quem?................................................................................ 124
Rafael Fonzaghi Barros
O problema dos outros sempre parece menor............................................................. 125
Ryhan Santos dos Anjos
Eu juventude............................................................................................................................ 125
Sophia Abe Roveda
Ver o tempo.............................................................................................................................. 126
Sofia Colasanto Gonzales
O caos de dentro.................................................................................................................... 127
Sophia Casolari Landell Balbino Soneto da decadência........................................................................................................... 128 Theo Rocabado Zapella Andrade História...................................................................................................................................... 129
ARTIGOS DE OPINIÃO
Ana Carolina Barbosa Nunes
Gravidez na adolescência e a evasão escolar
A
escola ocupa em nossas vidas um espaço de formação, com a intenção de promover a construção ética e moral, criando um cidadão para a sociedade. O mais célebre educador do Brasil, Paulo Freire, defende que o objetivo da escola é ensinar o aluno a “ler o mundo” para poder transformá-lo.
No entanto, muitos jovens
abandonam a escola por questões familiares, trabalho e gravidez. No caso das meninas, a maior taxa de abandono é por questões da gravidez. Segundo o G1, 75% das adolescentes com filhos estão fora da escola no Brasil. Isso só em 2013 entre meninas de 15 e 17 anos. Mais de 257 mil delas não estudam nem trabalham. Para essas garotas que engravidam precocemente, a gravidez é vista como algo negativo do ponto de vista emocional e financeiro, mudando drasticamente suas vidas.
A adolescência é uma fase que
marca a transição entre a infância e a vida adulta. A gestação vai demandar muita maturidade dessas meninas, elas vão ficar impossibilitadas de viver sua adolescência e obrigadas a se tornarem adultas. Sendo que a prioridade da vida delas vai deixar de ser a escola
e ter um futuro bom para elas mesmas e vão ter como prioridade dar um futuro para seus filhos. Por isso muitas delas abandonam os estudos para dedicar exclusivamente filhos, aumentando o risco de desemprego e a dependência econômica de seus familiares.
Um estudo sobre a evasão
escolar feito colaborativamente entre o Ministério da Educação, a Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências (Flacso), perguntou aos jovens de 15 a 29 anos porque pararam de estudar e o que os havia motivado a fazer. Cerca de meninas 18,1% falaram que a gravidez foi o principal motivo, já entre os meninos, apenas 1,3% falaram que interromperam seus estudos pela mesma razão.
Para ilustrar tal questão a edu-
cadora e oficineira independente Érica Guerra evidencia como a sociedade joga sobre as mulheres a responsabilidade sobre seus filhos: “É ela quem para de estudar para cuidar da criança e não o pai. Isso é cruel porque cria um ciclo que afasta as mulheres da escola e de outras perspectivas de vida”.
Essas jovens brasileiras nem
sempre vão poder contar com a ajuda de seus familiares e o pai da criança. É questionável se uma criança tenha capacidade
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de cuidar de outra. Toda essa responsabilidade vai tradicionalmente para a mãe. O pai escolhe se vai assumir a criança ou não, se escolher que não quer, ele paga uma pensão de apenas 20%. Para essas meninas, infelizmente o aborto não vai ser uma opção em casos de gravidez indesejada, uma vez que há criminalização desta prática. Alex Mansur
Escola para quê?
O tema: “escola para quê?” é
um tópico de discussão muito importante no Brasil. Ainda mais considerando a grande diferença entre escolas públicas e privadas ou a quantidade de jovens que abandonam os estudos e seus diversos motivos ou o acesso à educação.
É importante mencionar os di-
versos motivos pelos quais jovens saem da escola antes de concluir seus estudos como: precisar de mais tempo para ajudar a família, precisar trabalhar, não ter meios de chegar na escola, gravidez precoce, desinteresse e entre outros…
Muitos alunos acabam abando-
nando a escola também por não entenderem o motivo de estarem lá, o que também nos faz refletir sobre qual é a real função da escola na vida de um aluno e se os alunos conseguem enxergar isso.
As escolas não conseguem se
adaptar aos tempos modernos já que o pensamento das juventudes vai mudando cada vez mais rápido, com o questionamento do porquê de estarem fazendo atividades e como seriam inseridos no mercado de trabalho após sua formatura. Sem falar que existem jovens que vão estudar enquanto trabalham nas horas livres, o que também os limita a não descobrir outros hobbies e paixões além do que eles veem nos estudos.
Por tanto, não existe um jeito
exato de como melhorar o sistema educacional, mas ele também não está bom ou acessível para todos. Não por culpa da escola, mas sim por conta da pressão que muitos adolescentes sentem de serem inseridos cedo no mercado de trabalho e abandonar os estudos. Antonio Prandini
“Escola para quê?” e os jovens que não estudam nem trabalham
Algo muito debatido nos tempos
atuais é “Escola para quê?”. Esse é um tópico muito recorrente. Para entender melhor precisamos analisar mais profundamente os tópicos que levam a essa discussão, como exemplo, os “nem-nens”. Jovens que não estudam e nem trabalham, um conceito que é conhecido por
pesquisadores a mais de uma década.
Para o Banco Mundial eles
representam cerca de 11 milhões (20% dos jovens) de pessoas na faixa dos 15 aos 29 anos. Dados de 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, um a cada cinco jovens não estão na escola, em treinamento ou trabalhando.
Algo que temos que ressaltar é
que isso não acontece por escolha desses jovens. Segundo o estudo “Se já é difícil, imagina para mim”, existem diversas coisas que deixam esses jovens chamados de “nem-nens”.
A primeira delas é o que as
autoras chamam de barreiras à motivação interna, ela consiste na falta de aspiração e predisposição para voltar aos estudos ou ao trabalho. Nesse motivo, o principal grupo encontrado são as mulheres casadas e com filhos pequenos, vivendo sob normas que reforçam o papel de “cuidadoras” nesta sociedade, esse papel que restringe as oportunidades econômicas. Em 2013, 59,1% dos “nem-nens” eram representados por mulheres de 15 a 17 anos.
O segundo “grupo” que as
autoras citam, estão os jovens que querem voltar a estudar ou trabalhar, mas não tomaram providencias por falta de recursos e ferramentas. Muitos dos jovens
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entrevistados se inscreveram no Enem ou enviaram currículos, mas não deram continuidade.
E para finalizar temos os jovens
que embora tenham se esforçado para retomar estudos ou achar um trabalho, desistiram por barreiras técnicas, como, desafios de conciliar um emprego e a sala de aula, poucos recursos financeiros ou qualificação e até mesmo falta de transporte público seguro para locomoção.
No final desta pesquisa,
após ouvir as frustrações e necessidades desses jovens, as pesquisadoras recomendaram ações de política pública para aumentar a capacidade desses jovens levarem adiante os objetivos e projetos de vida.
Segundo as autoras, para con-
seguir elevar a oferta de cursos técnicos com o objetivo de viabilizar a participação desses jovens no mercado de trabalho, é preciso facilitar o acesso a informações sobre oportunidades e como elas podem mudar vidas, criar um sentimento de pertencimento e preparação nesses jovens que acreditam que essas oportunidades não são disponíveis para eles e por último, oferecer programas de mentoria para que esses jovens consigam lidar com as dificuldades associadas ao cumprimento de objetivos.
Após tudo que foi apresentado e
discutido, sabemos que é preciso ajudar a incluir esses jovens no mundo do trabalho, retomando os estudos e fazendo cursos técnicos. Isso pode dar grandes benefícios para os jovens que são os futuros trabalhadores, trazendo grandes mudanças para o futuro do país. Arthur Lopes Brandao Takahashi
Pandemia, juventude e escolas A Covid-19 tem sido um grande desafio para diversas áreas de trabalho. Já se passou mais de um ano desde o início da pandemia causada por esse novo vírus. Doença que matou mais de 600 mil pessoas, só no Brasil! Muitas massas foram afetadas, porém um grupo foi, sensivelmente, mais afetado: os jovens. Eles sofreram imensas consequências e os problemas mentais e físicos que a pandemia trouxe para a juventude fez com que a vida escolar apresentasse vários efeitos negativos. As dificuldades físicas que a pandemia trouxe ao ensino geraram resultados prejudiciais na educação, criando estresse nos jovens. Essas barreiras fizeram com que eles tivessem dificuldades de se organizar, impossibilitados de ficar em um ambiente de sala de aula, necessário ao estudo. Uma pesquisa realizada pelo Conselho
Nacional da Juventude entre abril e junho de 2020, em que foram entrevistados 33.688 jovens de 15 a 29 anos mostra que 82% têm dificuldades para se organizar, 80% não conseguem tirar dúvidas ou acham difícil tirá-las online. Muitos também afirmam ter dificuldades para ter um ambiente confortável e tranquilo para estudar. Ter um ambiente tranquilo é essencial para estudar e uma vez não tendo isso, o estudante pode ter problemas de se organizar, problemas para tirar dúvidas, já que a casa poderia estar barulhenta e poderia provocar e agravar sérios problemas mentais. O aspecto emocional fragilizado foi o efeito negativo desta pandemia que mais intensificou o desempenho escolar. Na mesma pesquisa mostra-se que 70% dos jovens notaram que seu estado emocional se agravou e 73% disseram que sofrem com redução de atividades de lazer e cultura. Com relação ao emocional, destaca-se que 63% sofre de ansiedade, 57% tédio, 52% sobrecarga, 51% tristeza, exaustão 50%, 48% insegurança. Por esses variados motivos, cerca de 28% desses mesmo jovens pensaram em não voltar às aulas O impacto do ensino online sobre suas emoções originou um problema maior, a evasão escolar. Um dos grandes causadores da evasão escolar seria o sufoco, a fragilidade
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emocional. Os estudantes que não participam das aulas costumam ter auto estima baixa, o que dificulta a sua volta às aulas e a comunicação com os professores. Certamente, as emoções fragilizadas foram de grande impacto aos jovens em suas vidas escolares. As frustrações geradas pela incapacidade do ensino online e o ambiente à sua volta fez com que a juventude fosse impactada fortemente. A pandemia não passou e certamente não acabará tão rapidamente e atender esta geração de estudantes deveria ser certamente uma prioridade para que não aconteça outro efeito negativo na vida escolar. Devemos socorrê-los antes que seja tarde demais. Caio Henrique Palomo Lemos
Qual é a função da escola?
A escola e a educação são muito
importantes para a nossa sociedade, o papel delas seria para o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos indivíduos para que pudessem se tornar cidadãos, participativo na sociedade em que vivem. A importância da escola na juventude é que ela ajuda na convivência dos alunos, que fazem trabalhos de integração, a escola também é importante para o desenvolvimento intelectual dos jovens, muitas vezes a falta da
escola pode trazer sérios problemas para os indivíduos.
Quando falamos de abandono
escolar temos que olhar o motivo do mesmo, muitas vezes vem da necessidade de entrar cedo no mercado de trabalho, para ajudar suas famílias que passam por crises financeiras. Segundo psicologia.pt, é possível elencar alguns fatores que provavelmente irão ajudar na evasão escolar, como, preconceito em relação a aprendizagem, a linguagem, a hábitos, a condição socioeconômica, entre outros.
Segundo a PNAD, no Brasil a taxa de abandono do ensino médio entre jovens de 14 a 29 anos é de 20,2%, seja por terem abandonado a escola, seja por nunca a terem frequentado. Isso traz consequências para esses jovens como a dificuldade de entrar no mercado de trabalho, por causa disso são criados programas governamentais que ajudam as pessoas que não conseguem se inserir no mercado de trabalho e acabam tendo salários muito menores do que os estudantes que completam os estudos.
Segundo o Semesp a média
salarial de quem concluiu o Ensino Superior é de R$ 6.072,00. Já a média salarial dos brasileiros que concluíram apenas o Ensino Médio é de R$ 2141,00. A média é ainda menor quando falamos
dos brasileiros que pararam os estudos no Ensino Fundamental, o grupo tem uma média salarial de R$ 1892,00.
Portanto, é muito importante
que as escolas trabalhem com os alunos para conscientizá-los e mostrá-los como a permanência na escola pode ajudar a reverter essa situação, como proporcionar melhores oportunidades de emprego futuramente.
Caíque Prall
Escola para quê?
É inegável que, toda criança/
adolescente já se fez a pergunta: escola para quê? Responder isso até é fácil se formos pensar de uma maneira clichê. Temos que aprender para poder fazer faculdade e se tornar um profissional de sucesso. Mas será que é só isso?
Com o fim da pandemia cada vez mais próximo e tudo voltando ao “normal”, se fizermos um pequeno esforço, conseguiremos reconhecer o quanto a escola nunca foi e nunca será somente o aprendizado. Aprender a aprender, a convivência (muitas vezes com gente que você não gosta) e a responsabilidade são algumas das coisas que somente a escola presencial ensina. Falo isso como um estudante que vem “reaprendendo” a viver.
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Ao mesmo tempo, temos uma
realidade triste e sombria que é muitas vezes ignorada ou subestimada pelo próprio povo. Segundo dados do IBGE, somente 27,4% das população com mais de 25 anos no Brasil, completaram o Ensino Médio. Além disso, segundo dados desse mesmo levantamento, as chances de que um trabalhador com nível superior completo continue empregado cinco trimestres após a pesquisa é de 95,3%. Entretanto, esse percentual cai para 87,4% quando se analisa os profissionais com Ensino Fundamental completo e Ensino Médio incompleto. O que isso tudo quer dizer, afinal, é que quanto maior o seu nível de escolaridade, maiores serão as suas chances de manter seu trabalho por longos períodos e de competir em pé de igualdade pelas melhores oportunidades do mercado.
Temos somente 17,4% de
brasileiros que completaram o Ensino Superior. Isso quer dizer que 82,6% da população não tem o preparo adequado para, não só a sua carreira profissional, como para questões da vida que somente um ambiente como a escola pode te ensinar. Isso tudo se dá, principalmente, pelo pouco investimento público e pela desistência de alunos pela carência financeira.
O Brasil investiu em 2020
cerca de 42 bilhões de reais na educação, segundo o site oficial do governo federal. Se formos comparar com um país como o Canadá, por exemplo, que investe 330 bilhões de reais por ano, segundo a BBC, este número fica mais absurdo ainda. Resultado: o Brasil tem cinco vezes mais analfabetos que o Canadá.
A realidade é que só com mila-
gres, existe vida bem sucedida sem educação básica. Enquanto esses números não mudarem, continuaremos sendo um país extremamente desigual, com um potencial enorme desperdiçado nas mãos de quem não se preocupa nem um pouco com o vendedor ambulante da 25 de Março que sonhava em ser um advogado de sucesso. Danilo de Oliveira Conceição
Escola para além dos estudos
A merenda escolar é uma algo
essencial para alunos de baixa renda, segundo a tese feita por Auremary Nazareth Gomes Fonseca e José Carlos, da UFMA, o governo Federal no intuito de oferecer uma merenda escolar de qualidade aos alunos das escolas públicas indica aos órgãos competentes repensarem o cardápio adotado a fim de contribuir para a obtenção de um rendimento
escolar mais significativo e ainda manter a saúde. A escola para muitos alunos de baixa renda, além de oferecer formação acadêmica, serve para oferecer uma alimentação diária.
Muitos alunos só vão à escola
para receber essa alimentação diária, segundo o site “diplomatique”. Sem aulas, os alunos das redes públicas municipal e estadual ficaram sem merenda, que, para muitas crianças e adolescentes, representa a principal, e, às vezes única, refeição do dia. Muitos alunos, por conta da quarentena, deixaram de receber a alimentação diária oferecida nas escolas. Na rede estadual, 3 milhões de refeições por dia deixaram de ser fornecidas por conta da suspensão das aulas.
O governador Dória anunciou
um programa emergencial para 700 mil alunos da rede estadual, ou 20% do total, considerados de baixa renda ou vivendo na extrema pobreza, cujas famílias vão receber o valor de R$ 55,00 ao mês por estudante, com efetivação prometida para abril. Ele alega que esse valor corresponderia a uma cesta básica, o que não procede.
De acordo com o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica em São Paulo, em fevereiro deste ano,
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custava R$ 519,76. Portanto, o valor que o governo estadual pretende pagar por aluno é cerca de 10% do custo dos alimentos básicos. Sem falar que, por força de uma lei federal, 30% dos alimentos consumidos nos estabelecimentos de ensino devem ser provenientes de agricultura familiar e orgânica, o que certamente não ocorrerá nessa situação em que as famílias ficarão encarregadas de comprar os produtos. Dessa forma, a refeição dos alunos perderá valor nutritivo no período em que perdurarem as medidas de contenção da pandemia.
A pandemia do Covid-19 mos-
trou como muitos alunos de baixa renda dependem da escola, que sem ela muitos estudantes passaram fome. Isso nos mostra também como as famílias provenientes de auxílio governamental, são tratadas com total descaso pelos seus governantes. Um relatório de duas agênc ias da ONU revela que o fechamento das escolas, devido à situação pandêmica, gerou uma grande crise nutricional pelo mundo.
Segundo o estudo “Covid-19,
perdendo mais que as aulas”, numa tradução livre, mais de 370 mil crianças foram afetadas. Muitas delas dependem da merenda escolar para sobreviver. O relatório foi compilado com o
apoio do Instituto Innocenti, do Unicef, e do Programa Mundial de Alimentos, PMA.
Também pode-se destacar, que
esse problema não resultou apenas no Brasil, mas foi de ordem mundial. Desde o fechamento das escolas, em março passado, mais de 39 bilhões de merendas deixaram de ser distribuídas em todo o globo. A chefe do Unicef, Henrietta Fore, disse que, apesar das provas contundentes de que as escolas não são um centro de transmissão da Covid-19, milhões de crianças continuam fora das salas de aula. E, para os alunos que só comem no colégio, o fechamento representa mais do que perder o ensino, as crianças deixam de receber a nutrição para crescerem.
Fore afirmou que, à medida em
que se espera a vacina e se discute a reabertura das instituições de ensino, é preciso priorizar a merenda escolar. Ela defende mais investimento na higienização com fornecimento de sabão e água limpa em cada escola ao redor do mundo.
Um motivo de preocupação
para o Unicef é o êxodo escolar. Com a pandemia, 24 milhões de alunos correm o risco de desistir da educação, o que causaria um retrocesso no aumento do número de matrículas, obtido nas últimas décadas.
O diretor-executivo do Programa
Mundial de Alimentos, David Beasley, disse que a perda da merenda escolar prejudica o futuro de milhões de crianças pobres pelo mundo. E o risco é para uma geração inteira.
Durante a pandemia, houve uma
redução de 39% na cobertura de serviços de merenda escolar incluindo programas de micronutrientes em países de rendas baixa e média.
Além disso, os projetos de
combate à má nutrição infantil também foram prejudicados. Com o fechamento do ano passado, em alguns países, toda a merenda escolar foi suspensa.
Podemos concluir, então, que
a merenda escolar é essencial para muitos estudantes, e que a escola, além de ensinar crianças e jovens, serve para que muitos dos alunos de baixa renda consigam ter uma alimentação diária. Por conta desses alunos que dependem da merenda, o governo fez com que as escolas públicas tenham que oferecer a merenda de acordo com o número de estudantes. Outra observação é que a pandemia fez com que muitos alunos não conseguissem uma alimentação diária por conta da suspensão das aulas.
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Dora Bontempi
Evasão Escolar é um Problema Social
A escola tem como papel a for-
mação conteudista, de ensinar o conhecimento de diferentes áreas visando [a] preparar os jovens para a vida adulta profissional. Além disso, o papel social da escola é extremamente importante: o desenvolvimento como indivíduo em relação ao outro, ter visão do coletivo e aprender a viver em sociedade. Porém, há várias barreiras que podem impedir essas funções de serem cumpridas e de fazerem sentido. Um forte indício disso é a evasão, um sintoma da falência educacional brasileira, cujas causas vão além da qualidade da escola e formação de professores. A evasão é um problema social.
O primeiro fator que determina
o abandono escolar é a baixa renda. Dados do IBGE mostram que o percentual de abandonos dos estudantes pobres, de 15 a 17 anos, sem concluir o ensino médio, é de 11,8%. Esse percentual é oito vezes maior do que os ricos (1,4%). Isso se dá pela necessidade imediata de geração de renda para apoiar a família e[,] além disso, a razão psíquica é um fator importante. A falta de conexão dos estudos com os desejos e interesses dos estudantes e também a consciência da mínima
oportunidade de emprego no futuro. A desigualdade social leva os jovens ao desinteresse pela escola.
Isso muitas vezes pode levar
ao tráfico, um meio de ganhar renda mais eficiente e a curto prazo. Diante das perspectivas de trabalho futuro relacionadas à formação escolar[,] essa possibilidade aparenta ser mais atraente. De acordo com o site OPovo, “A falta de acompanhamento e oportunidades, a baixa autoestima e a atração pelo “dinheiro fácil” são fatores considerados por especialistas”.
A gravidez precoce também é
um fator determinante, entre as meninas, para a evasão escolar. De acordo com um estudo da Fundação Abrinq, 13,7% das adolescentes que estão fora do ambiente escolar, não tiveram filhos. Mas quase 30% são mães e não concluíram o ensino fundamental. Cuidar de uma criança é uma enorme responsabilidade que passa a ser prioridade. Assim, para serem mães, as meninas sacrificam os estudos.
Além disso, dados da Síntese
de Indicadores Sociais apontam que a evasão é maior entre pretos (8,4%) do que brancos (6,1%). Além da questão econômica, a discriminação e o racismo estrutural nas escolas são causas relevantes. Assim como
o abandono escolar de jovens LGBT+, uma vez que a permanência do indivíduo na escola está relacionada às interações sociais positivas que estabelece dentro dela.
Todos esses são fatores sociais
que influenciam diretamente na evasão e[,] consequentemente, no cumprimento do papel da escola. Dessa forma a escola reflete a estrutura social do país, as desigualdades, portanto cumpre também a sua função de forma desigual. Elis Nunes Ferreira
Escola Para quê?
Em uma sociedade na qual
a desinformação está muito presente em tudo que fazemos, a educação e o ensino são essenciais para as pessoas conseguirem ingressar nela. A escola tem uma grande ligação com os índices de pobreza e de violência. Mesmo que investir na educação não mude esses índices drasticamente, é algo que vale a pena considerar. Além disso, é fácil perceber que o acesso à informação é diretamente proporcional ao IDH, e países com índices de escolarização baixo tem o Índice de Desenvolvimento Humano baixo também. Sabendo disso, é possível entender que todos devem ter escolarização e serem alfabetizados para o melhor
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funcionamento de um país.
Há jovens no Brasil que são ape-
lidados de nem-nem, são pessoas que se encontram fora da escola e também desempregados. É um problema muito grave, considerando que 20% da população de 15 a 29 anos está nessas condições e, de acordo com a UERJ, 70% dessas pessoas estão entre as 40% mais pobres. A desocupação se dá por dois motivos principais: o desinteresse pela escola e a falta de oportunidade. Além disso, 66% dessas pessoas são mulheres, e 57% das meninas de 15 a 17 que têm filhos abandonaram a escola. Olhando esses dados[,] é possível ver claramente que a desocupação é causada por dificuldades ligadas ao gênero e a pobreza.
Um dos motivos de as garotas
estarem nessa situação está diretamente ligada a gravidez indesejada, a maioria das mulheres consideradas nem-nem tem um ou mais filhos. Hoje em dia a maioria das pessoas tem a postura de dizer que foi culpa da menina e que ela deve sofrer as consequências, porém isso resultará na garota saindo da escola e tendo que criar uma criança quase sem recursos em vários casos. Então acredito que o que deveria ser feito é aceitar que a gravidez adoloscente acontece não importa o que fizermos, e aceitar essas garotas grávidas no ambiente escolar.
Considerando tudo o que men-
cionei, um bom jeito de diminuir o número de pessoas que estão fora da escola seria providenciar suporte e aceitação para as pessoas que são discriminadas e se sentem marginalizadas no ambiente acadêmico. E também deveríamos providenciar e espalhar as informações aos jovens em relação às possibilidades infinitas que a escola oferece. Isso porque a educação é extremamente importante e deveria ser para todos, não importa a classe social, cor, gênero ou sexualidade.
Eva Doberti Suarez
Desigualdade escolar
A função da escola é garantir
o desenvolvimento dos seres humanos, trabalhar as habilidades consideradas essenciais como escrita, matemática, artes, ciências; também é um lugar para socializar com pessoas da mesma idade, preparar as crianças e as juventudes para a sociedade. Mas será que a escola é igualmente fundamental para todos? Por que será que, de acordo com o IBGE, 11,8% dos jovens mais pobres abandonam a vida escolar sem completar o ensino médio, mas somente 1,4% dos jovens mais ricos abandonaram-na?
Geralmente, no 9 Ano é quando começa a evasão escolar dos
estudantes de escolas públicas; a maioria do Norte e Nordeste (9,2%). Os jovens pobres abandonam os estudos, normalmente, para ir trabalhar e sustentar suas famílias, porém também existe a falta de interesse em uma boa ou básica educação, ou até em uma futura boa ou razoável profissão por que, de acordo com o YAHOO, quanto mais os estudantes se afastam das escolas, mais desqualificação profissional vamos encontrar. O que a escola poderia fazer para manter esses jovens na trilha acadêmica? O que pode chegar a ser atraente para eles lá?
“Idealmente, o sistema de
ensino deveria oferecer igualdade de oportunidades para todos, independentemente da origem, para que a pessoa pudesse desenvolver seus potenciais. Mas ele reflete a estrutura social do país. Estudos mostram que quanto mais igual o país menos desigual o ensino”, disse a analista do IBGE Betina Fresneda. Como em muitas coisas da nossa vida, é um reflexo da sociedade do país, não é diferente com as escolas; na nossa sociedade, existe uma grande desigualdade entre classes sociais, mas será mesmo possível igualar a nação? E igualar o ensino?
Como acabar com a desigualdade através da escola? Se, de acordo com El País, o acesso à educação para todos os cidadãos brasileiros
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não acabar com a desigualdade no Brasil.[?] Podemos ver que a educação não é distribuída igualmente, e nem mesmo vista com o mesmo interesse. Mas será que os jovens que abandonam a escola têm as mesmas oportunidades profissionais e condição de vida que teriam se terminassem a escola? Felipe Fanhais Siqueira
Escola pra quê?
Para que a escola serve na juven-
tude das pessoas? Bom, a escola não só tem o papel de ensinar, como também tem um grande papel na formação de alguém como pessoa. Mas porque as pessoas saem tão cedo da escola? Seria necessário uma reforma nos métodos de ensino, afinal há muitos relatos de pessoas falando que não usufruem de grande parte do que aprendem na escola.
Muitos jovens que não traba-
lham ou estudam, são chamados de “nem-nem” e eles agora representam 11 milhões (20%) de pessoas dos 15 aos 29 anos. Apesar de que o número de anos de ensino aumentaram, a produtividade dos trabalhadores não. A taxa de desocupação entre pessoas com 14 a 17 anos é de 39% e de 18 a 24 anos 25,3%.
O desemprego, que hoje atinge
11,8% da população ativa, é maior
entre jovens, mulheres e trabalhadores sem nível superior. Sem mencionar o fato que a maioria é negra. Os brasileiros fora da escola e do mercado de trabalho estão presos a barreiras relacionadas à pobreza e ao gênero. (Uerj), confirma que 70% dos nem-nem estão entre as famílias representadas dentro dos 40% mais pobres.
A escola serve para ajudar as
pessoas a entrar em alguma universidade e conseguirem um trabalho. Mas as condições de algumas pessoas acabam as desmotivando e por isso elas saem da escola e não conseguem um trabalho. Gabriela Burza Barbera
O significado da escola na vida de gestantes adolescentes
A gestação precoce ocorre por
diversos motivos, como a falta de acesso a métodos contraceptivos e a desinformação sobre a gravidez. Uma gestação na vida de uma adolecente pode causar diversos impactos para essa jovem, como levá-la a evasão escolar.
A evasão escolar atinge milhares
de jovens, ocorrendo por diversos motivos. No caso das meninas, a gravidez precoce talvez seja a principal causa para esse acontecimento.
Em uma sociedade com uma
estrutura tradicional patriarcalista,
as responsabilidades do cuidado de uma criança são normalmente atribuídas à figura materna, e, muitas vezes, as jovens que engravidam são incentivadas a deixar a escola. A coordenadora de uma pesquisa sobre evasão escolar feita em parceria com Ministério da Educação, a Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências (Flacso) afirma “Na parte qualitativa da pesquisa percebemos que um percentual razoável das meninas saíram da escola por pedido ou sugestão do namorado ou marido”. Essa pesquisa com jovens entre 15 e 29 anos aponta que, entre as meninas, 18,1% indicaram a gravidez como o principal motivo para a evasão escolar. Já entre os meninos da mesma faixa etária, somente 1,3% declararam que interromperam os estudos pela mesma razão.
Ao engravidar, as prioridades
na vida dessa jovem são suprir e cuidar de seu filho, e, muitas vezes, é a única responsável pelo cuidado integral da criança. Ter que continuar frequentando a escola se torna um fardo, e a vergonha, dificuldades de saúde e estruturais podem fazer com que a adolecente deixe de frequentar o local. Uma pesquisa feita pela Fundação Abrinq mostrou que quase 30% das mães adolescentes, com até 19 anos, no
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Brasil, não concluíram o Ensino Fundamental.
Mesmo depois do período de
gestação, a falta de suporte, não ter onde deixar o filho durante o período das aulas e às vezes a falta de apoio dos pais impede que essa jovem volte para a escola e complete o ensino obrigatório. “Depois que ele nasceu, esperei ele sair mais ou menos do peito e tentei voltar a estudar, só que aí ele ficava chorando muito para mim não poder ir para a escola e eu parei de novo”, contou Stefanie Sampaio Batista, mãe do Bryan, de 3 anos.
Na sociedade em que vivemos,
na qual o cuidado com os filhos é normalmente incumbido às mulheres e a estas não é oferecido nenhum tipo de suporte, as jovens grávidas não têm condições de cuidar de seus filhos e continuar frequentando a escola.
Gustavo Penteado Gobe
Problemas na educação refletem o Brasil
“Ensinar não é transferir conheci-
mento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” Paulo Freire
Antes da quarentena eu achava
a escola importante, mas não tanto como hoje. Eu acreditava que eu só ia para a escola porque
isso fazia parte da minha rotina e nada mais. Mas, hoje, é diferente. Durante o tempo [em] que ficamos sem aulas presenciais percebi o quanto ela é importante. Não apenas para transmitir conhecimento, mas também para conviver com colegas e professores. Como disse Paulo Freire, um dos maiores pensadores sobre educação no Brasil, eu acredito que esse contato com colegas, professores e outros profissionais da escola nos ajudam a criar mais conhecimento e nos transformar.
Nesses últimos meses de
quarentena[,] percebi melhor também que no Brasil o acesso à educação é muito desigual, como todo o restante das coisas do país. Segundo uma pesquisa realizada pelos sociólogos Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicadas (Ipea), Rogério Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP), e Flávio Carvalhes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2017, o Brasil era o nono país do mundo com a maior desigualdade de renda, segundo o coeficiente de Gini. O mais desigual do continente americano.
O Brasil é também um dos países
com o maior número de habitantes sem diploma do ensino médio do mundo. De acordo com a Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 52% dos adultos entre 25 e 64 anos não possuem esse nível de formação. E apenas 15% da população brasileira tem curso superior.
Para os estudiosos, para o Brasil
reduzir a pobreza para menos da metade, seriam necessárias enormes melhorias, como, por exemplo, garantir formação superior para todos. Uma mudança mais realista, segundo os pesquisadores, seria a de garantir que ninguém saísse da escola sem o ensino médio completo.
Mas os alunos mais pobres, em
geral negros e moradores das regiões menos desenvolvidas do país, acabam desistindo da escola antes de terminarem o ensino médio porque precisam trabalhar e ajudar as famílias. Isso acaba fazendo com que esse ciclo de pobreza continue. Porque[,] segundo estudo feito pelo pesquisador Sergio Firpo, professor do Insper, um trabalhador com diploma de ensino superior pode ganhar até 5,7 vezes mais do que os profissionais com outros níveis de ensino.
Além da pobreza levar os jovens
a desistir de estudar, também vemos que muitas escolas públicas e das regiões mais pobres não tem condições sanitárias boas nem mesmo material e professores. Isso também desanima os
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estudantes a irem para a escola.
Na minha opinião, são muitas
coisas que precisam mudar na educação no Brasil e eu não tinha noção disso antes. Eu não tenho as respostas do que precisa ser feito, mas sei que tem muita coisa que não está certa. Uma boa maneira de começar a ajudar a melhorar a educação no Brasil é termos uma melhor política para valorizar as escolas e os professores.
Iolanda Blanco
Escola para quê?
Se você perguntasse para
qualquer aluno de qualquer série como é a sua escola dos sonhos, ele provavelmente diria que desejaria uma escola sem lições de casas, sem incontáveis exercícios, sem provas e com mais tempo de recreio. É claro que a escola é uma peça fundamental para a educação, mesmo assim ela é vista como um símbolo de opressão para a juventude, onde jovens passam horas sentados em carteiras enfileiradas de frente para uma lousa, dentro de um sistema monárquico em que a figura de autoridade é o professor.
Há décadas que a escola
segue o mesmo modelo de ensino, claro que houve mudanças, mas a sala de aula
atual é a mesma que na época da revolução industrial, por isso que os jovens que não estudam nem trabalham já estão em 11 milhões no Brasil.
No final do ano a única coisa
importante para a escola são as suas notas, que você obtém fazendo inúmeras provas onde tudo que importa é quantas fórmulas, datas, espécies, pronomes e tipos de rochas você consegue memorizar antes de sentar em uma carteira e colocar o máximo de informações que você conseguir se lembrar em um papel em 1 hora.
Se a escola realmente real-
mente explorasse o potencial dos estudantes, a criatividade seria tão importante ser incentivada como a matemática. O Brasil tem aproximadamente 21 milhões de estudantes do 6° ano até o 3° do médio e sua grande maioria são ensinados da mesma forma. Cada indivíduo tem suas próprias inseguranças, problemas, dificuldades e mesmo assim são educados de uma maneira genérica que não se importa se um aluno é bom escrevendo ou lendo enquanto outro se expressa melhor com músicas e arte.
“Todo mundo é um gênio.
Mas, se você julgar um peixe por sua capacidade de subir
em uma árvore, ele vai gastar toda a sua vida acreditando que é estúpido.” Essa é uma frase de um dos maiores pensadores da história, Albert Einstein, e descreve perfeitamente a educação atual. Milhares de jovens passam a vida toda pensando que são burros e um fracasso simplesmente por não conseguir resolver um problema de matemática, o papel da escola deveria trazer o melhor dos alunos e não reprimi-los.
problemas globais com criatividade e inovação. O tempo passou e a escola não mudou, se ela continuar da maneira que é hoje as consequências podem ser desastrosas no futuro. Cabe à escola formar um cidadão intelectual mas também artístico, criativo, crítico e inovador.
A escola vem preparando alunos para o mesmo futuro por mais de 100 anos, no começo da revolução industrial preparava os alunos para trabalhar em fábricas, assim como melhor ensiná-los do que enfileirar dezenas de crianças sentadas em cadeiras, dar a eles uma breve pausa para comer e voltar para uma caixa de concreto copiando textos de um quadro negro. Talvez esse modelo tenha funcionado na época, mas se passaram séculos, o mundo evoluiu e a educação precisa evoluir também. Senão vamos ficar presos no tempo até ser tarde demais.
ma do Brasil é a educação, é extremamente comum, porém equivocado. O problema da educação precisa ser encarado de múltiplos âmbitos, é insuficiente investir na educação pensando que isso por si só irá diminuir a desigualdade.
No futuro um bom funcioná-
rio não será o que consegue seguir ordens e decorar fatos, mas sim saber resolver os 20
Isabel Bersou Ruão
Para além da educação
O discurso de que o proble-
Um estudo feito pelos soció-
logos Marcelo Medeiros (Ipea/ UnB), Flávio Carvalhaes (UFRJ) e Rogério Barbosa (Centro de Estudos da Metrópole – USP), mostra que, se a partir de 1994, início do Plano Real, tivéssemos um sistema educacional “perfeito” (aquele em que todas as crianças e adolescentes do país estão matriculadas regularmente, não repetem de ano, não evadem da escola e após se formar no ensino médio conseguem emprego), a desigualdade no país em 2018 seria
apenas 2% menor.
“É fundamental que a desi-
gualdade no Brasil caia. Só que isso é pouco [2%] diante do grande esforço educacional que nós teríamos feito. É pouco diante do grande desafio que a gente tem de combater a desigualdade e a pobreza. A conclusão disso é que nós precisamos de educação e algo mais para combater desigualdade e pobreza. O discurso ‘basta investir em educação que o problema será resolvido’ é um discurso errado”, pondera Marcelo Medeiros.
Se fosse garantido que ninguém
deixasse o sistema de ensino sem um diploma universitário, em que todos os alunos tivessem conseguido um diploma semelhante ao de formação de professores e Ciências da Educação (uma das profissões mais mal pagas do mercado)[,] a desigualdade teria recuado 4%.
Se[,] desde 1956, todos os
alunos tivessem concluído o ensino médio ou tivessem o ensino superior incompleto, a desigualdade não teria caído nem 10% em 2018. Apenas[,] se[,] há mais de 60 anos, o ensino superior tivesse retornos financeiro equivalentes aos proporcionados por um diploma em medicina (uma das carreiras mais bem pagas do
país) é que[,] então, a diminuição da brecha poderia chegar a um patamar substancial: 18%. Porém, o estudo ressalta que oferecer educação de elite para toda a força de trabalho é algo irrealista.
Medeiros ainda aponta que
a educação pode apenas ser vista como uma alternativa em um prazo muito longo e[,] além disso, uma possível solução seria o Brasil massificar o acesso à universidade para[,] então, ter um melhor resultado na queda da desigualdade.
Na visão do pesquisador
Rogério Barbosa, o estudo comprova que é preciso deixar de lado a ideia de que a educação é a solução para os nossos problemas, “A educação é mais que necessária, é um requisito de cidadania, que possui inúmeros bens sociais. Mas hoje não é ela a credencial que vai te fazer ganhar mais. Os aumentos do salário mínimo, por exemplo, foram a principal política distributiva na década de 2000. Muito mais rápida e efetiva do que a educação”.
Hoje em dia as mulheres
possuem uma mão de obra mais qualificada que a masculina e mesmo assim possuem 21
uma remuneração menor em mesmas funções,[.] de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2019, a desigualdade salarial entre homens e mulheres que desempenhavam a mesma função era de 15%, podendo chegar a 35%. Podemos pegar esse caso como exemplo de que não basta melhorar a qualidade e extensão do ensino, se problemas em outros campos sociais também não forem combatidos. Um dos mecanismos para diminuir a desigualdade é inserir a mulher na educação, por consequência[,] no mercado de trabalho. A inserção na educação foi feita, porém o impacto na redução da desigualdade não foi tão grande. Isso se dá pelo fato de que a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho tem como causa mais intensa, o machismo, não a educação.
É ineficiente e insuficiente
apenas investir na educação e aumentar a oferta de cursos técnicos com o objetivo de aumentar a população ativa no mercado de trabalho, se não houver intervenções em outras áreas sociais.
João Vitor Dente
Qual é o papel da escola?
Escola para quê? A escola
ocupa um papel de muita importância na nossa sociedade. Entretanto, seu papel e sua finalidade ainda são incertos para grande parte da população brasileira. A escola introduz um ganho econômico na sociedade, mas isso eventualmente oculta o ganho social e cultural da escola, que são vitais para o ser humano.
É fato que a mão de obra
qualificada e as indústrias e empresas que se formam a partir da formação da população, trazem benefícios para a economia do país. Um exemplo que indica isso é a prova do PISA, um exame anual realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que visa a analisar o desempenho de países em diversas matérias. Os resultados indicam que os países que ficaram nas colocações mais altas de educação, como Japão e Finlândia, apresentam também um desenvolvimento econômico estável.
Todavia, a educação não deve
ser um serviço do país. Ela é um direito de todo cidadão e sua função é maior que
apenas um ganho econômico. As escolas são de suma importância para a construção da subjetividade do indivíduo. É durante a escola que ocorre a parte mais significativa do nosso crescimento, que se inicia na educação infantil. Segundo o Comitê Científico Núcleo Ciência Pela Infância, a fase dos 0 aos 6 anos é um período crucial onde estruturas e circuitos cerebrais são desenvolvidos, assim como habilidades base para o futuro. Isso indica que desde do início da educação precisamos ter atenção em todas as pluralidades do crescimento humano. Esse desenvolvimento da mente não acaba aos 6 anos e percorre toda a adolescência. Algumas áreas do cérebro se completam somente após os 21 anos. Por isso é importante termos escolas que ofereçam uma rede de apoio para o desenvolvimento de todos os jovens.
interativa encoraja a aprendizagem de todos e incentiva a percepção de que a criança está inserida numa comunidade e que deve estar sempre atenta para fazer sua parte”.
É por meio do ensino que
afinal? A escola prepara os alunos para quê? Essas são questões com inúmeras respostas. Geralmente quando é perguntado qual o motivo que os leva a irem para a escola, alguns respondem que é para se formar e fazer faculdade, outros respondem que é uma obrigação, outros que para aprender, mas o que todas as
aprendemos a nos comunicar e nos entendemos como indivíduos. A convivência com outras crianças da mesma idade é fundamental para nosso desenvolvimento. Assim diz a psicopedagoga especializada em neuroaprendizagem Maria Irene Maluf que afirma que “trabalhar de uma maneira 22
Contudo, a formação social
não é a única que precisa ser levada em consideração. Adquirimos muita cultura por meio das escolas, como por meio da literatura, por exemplo. Uma pesquisa realizada com alunos da 7a série em uma escola pública de Teresina indica que 5 de 35 alunos leem quatro livros anualmente, 13 leem 2 livros por ano, cinco leem apenas 1 e quatro alunos não leem livro algum. Logo, é necessário manter espaços para que a leitura seja cada vez mais possível. Lara Greger Tavares Rocha
A escola prepara para a vida?
Para que serve a escola
respostas dadas revelam, é que dentro da nossa sociedade ir à escola é considerado essencial, mas por quê? A resposta comum dada aos jovens é que, dentro da nossa sociedade, aqueles que não estudam não vão ser inseridos no mercado de trabalho, mas a função única de uma escola não é, e não deveria ser apenas essa.
A estrutura de uma escola
comum na atualidade é a de que jovens de idades parecidas sejam separados por turmas, e assim sejam ensinados usando os mesmos métodos, sendo que são indivíduos completamente diferentes, todos em carteiras enfileiradas dentro de uma sala de aula, e vem sendo assim desde muito tempo. É possível avaliar alguém corretamente dessa forma? Não necessariamente uma prova vai dizer se um aluno é inteligente ou não, pois existem tipos diferentes de inteligência com diferentes propósitos. Muito potencial intelectual acaba sendo desperdiçado dessa maneira, há uma grande preocupação apenas com o conteúdo do vestibular, o que também dificulta que a escola ensine coisas baseadas no dia a dia do aluno.
A educação teria resulta-
dos mais efetivos, se essas
inteligências e formas de pensamento fossem exploradas de outra forma? O educador Paulo Freire, é muito conhecido justamente por criar um método, em que os alunos não precisassem aprender tudo da mesma forma, a educação para ele deveria ser na prática, se existisse um aluno que a família trabalhasse em uma padaria, por exemplo, ele não ensinaria o alfabeto por uma cartilha, mas sim relacionando as letras com as palavras de seu cotidiano lá. Existem algumas escolas que procuraram explorar essas diferentes formas de ensino, e algumas delas são apresentadas no documentário “Quando sinto que já sei”.
O documentário “Quando
sinto que já sei” tem como objetivo mostrar que o modelo de ensino que vem sendo usado, já se tornou ultrapassado e que há formas melhores e diferenciadas de aprendizagem. Para isso, foram apresentadas algumas escolas no Brasil criadas com essa lógica de ensino inovadora, a maioria em pequenas comunidades, ou cidades pequenas, muitos profissionais da área educacional e alunos foram entrevistados no documentário também. A maioria dos discursos dos educadores fala sobre esse atraso no modelo de educação, como 23
no discurso de Simone André, coordenadora de educação do Instituto Ayrton Senna, onde ela faz a seguinte reflexão: “Se um cirurgião for para uma sala de cirurgia do século 21, ele consegue operar? Não, ele não vai nem saber o que fazer, mas e se um professor do século 20 ou 19, viesse dar aula numa escola no século 21, ele conseguiria? Sim, ele ia ver a mesma estrutura, carteiras enfileiradas, um giz, uma lousa, a lista de chamada, uma sala de aula igual a sua, a única coisa diferente seria a cabeça dos alunos”.
Parando para pensar, isso é
uma reflexão bem plausível. Sim, o nosso sistema educacional ainda possui a mesma estrutura de aprendizado, porém o pensamento e a cabeça dos jovens de hoje em dia mudou muito, eles querem ser ouvidos e querem expressar sua opinião, isso mudou devido a uma menor repressão social em relação a eles. A tecnologia também mudou a sala de aula e os alunos, pois ela mostrou aos jovens novas formas de obter conhecimento. A internet e as outra redes sociais deram abertura para milhares de novas formas de aprendizado, cursos online, tutoriais, vídeo aulas, entre outros, mas, ao
mesmo tempo que esses meios são inovações, eles não podem substituir a experiência trazida por um educador, o educador pode tratar de um indivíduo em especial e direcioná-lo para o aprendizado, ensinar não só a matéria, também ensinar ao aluno com experiências de vida.
O educador, quando inserido
dentro do sistema, acabou por perder um pouco desse lado afetivo, o trabalho do professor passou a ter um grande peso burocrático, uma responsabilidade enorme. O designer de fluxos de conversação, Luiz Algarra, comenta sobre isso: “1 pessoa para lidar com 20, 30, esse é o modelo industrial, é uma equação simples, é um educador vivendo todo seu espaço de angústia, de desejo, de medo, de segurança, de vontade, de insegurança, sendo responsabilizado por uma instituição, para criar um espaço de aprendizagem com 40 crianças, como é que ele consegue?”. Isso é algo que pode ser mudado, inclusive algumas das escolas citadas no documentário conseguiram proporcionar esse lado não burocrático.
A primeira escola que foi
abordada é o Projeto ncora (Cotia SP), nasceu como uma
iniciativa de assistência social e em 2012 conquistou o status de escola do ensino fundamental em período integral. Lá não há divisão dos alunos nas salas por séries ou idade, não é necessário aprender dentro da sala de aula, pois na escola existem espaços livres de aprendizagem, além de ter uma forte integração com a comunidade onde a escola está inserida. Alguns alunos expressaram gostar dessa grande diversidade de espaços de aprendizagem. A aluna Julia Basilio afirmou: “Pelo menos eu, quando estava em outras escolas, me sentia muito presa dentro de uma sala de aula, aqui não, aqui você pode sentar na grama, fazer uma lição com um colega, dá um certo ar de liberdade”. As atividades, vêm da autonomia e interesse por aprender de cada aluno, a partir de livros didáticos. Eles escolhem quais exercícios querem fazer, e têm sempre um professor à disposição para tirar dúvidas, também existem tutores, com quem os alunos podem compartilhar o conhecimento e expressar suas opiniões.
Uma escola como essa[,]
que torna o aprendizado mais prazeroso, é rara, mas não deveria ser, porque não mudar o método de ensino!? para 24
que serve a escola como conhecemos hoje? ela prepara os alunos para a vida realmente? Um youtuber chamado Prince Ea[,] fez um vídeo chamado “What is school for?” em que, ele conta sobre o que aconteceu com ele depois que se formou e o que ele percebeu: “Eu passei 16 anos indo para a escola, e eu ainda não sei, quando eu terminei não sabia como pagar minhas próprias contas, comprar uma casa, ou solicitar um empréstimo, eu não sabia nada sobre investimentos, construir crédito, ou arrumar um emprego...todas as coisas que me ensinaram de verdade eu esqueci...e não sou sou só eu, todos os estudantes “cantam a mesma música” quantos de vocês, evitam contato visual com o professor para tentar não ser chamado? Com medo de levantar a mão, por medo de estar errado...o que você espera quando a pergunta mais comum em sala é, Isso vai cair na prova?, veja, se a escola colocasse aprendizagem ao invés de testar e memorizar, como o padrão superior, então a letra f não significaria fracasso, e se a escola estivesse mesmo interessada no nosso sucesso acadêmico, os estudantes acordariam mais tarde, teriam mais liberdade,
e bem menos, lição de casa, e isso não é minha opinião, isso foi cientificamente provado por estudos...o que eles fazem é colocar informação na sua cabeça, e depois de obrigam a vomitar em uma prova, isso não é educação, isso é bulimia, e quanto mais bulímico você é mais você se sai bem nas avaliações...a escola ensina você pontos, mais a verdadeira educação deveria mostrar como conectá-los… Algumas coisas são justificáveis, precisamos saber ler, escrever, e alguma aritmética, isso é justo, mas você está me dizendo, que rochas metamórficas e ígneas são mais importantes que autocuidado?! Se o suícidio é a terceira causa principal de morte entre pessoas de 10 à 24 anos e estudos de Harvard sugerem, que o maior preditor de sucesso é autocontrole e saúde emocional, então por que, não somos ensinados a lidar com o estresse, bullying, ou rejeição, ansiedade e depressão, habilidades que precisamos para o resto da nossa vida…”.
O que ele diz é válido, e
prova[,] que a resposta para a pergunta[,] “a escola prepara os jovens para a vida?” é não,[.] além de não adquirirmos conhecimentos essenciais, como cozinhar, defesa pessoal, administrar nosso dinheiro,
lidar com o bullying, aprender a lidar com[,] depressão, ansiedade, rejeição, os alunos ainda passam por estresse e um cansaço absoluto, o estresse e problemas que muitos jovens enfrentam na vida[,] tem relação com a vida escolar, ou são consequência de algo que não lhes foi ensinado. Nem por isso devemos abandonar a escola, o que devemos fazer como sociedade é o questionamento do modelo e estrutura escolar, para que[,] assim, possamos ter uma educação diversificada, uma que pense no individual, uma em que não só o conteúdo de uma prova faça parte do aprendizado, mas que também faça parte, experiências para a vida, uma escola onde a troca de conhecimento seja prazerosa. Laura Martins Beatrice
Escola pra quê?
Talvez você já tenha acordado
de manhã e tenha pensado “escola para quê?”, ou, talvez, já tenha escutado pessoas reclamando do sistema escolar, das matérias, ou, pessoas falando que o único problema do Brasil é a educação. Eu sinceramente já me fiz a primeira pergunta zilhões de vezes, mas depois que entramos nessa quarentena percebi que escola 25
não é um lugar só de aprendizado de professor para aluno, e sim uma instituição de acolhimento para todos os jovens, principalmente os de pior situação financeira. O triste é saber que os problemas principais da escola não podem ser resolvidos por ela, e sim por sistemas de fora, e é uma pena saber que para eles a educação não é uma prioridade.
Muitas pessoas acreditam
que o único problema do Brasil é a educação, e elas não estão erradas mas também não estão certas. Até porque para ter um estudo de qualidade é preciso dormir bem, comer, ter o material escolar, saneamento básico, estrutura familiar, entre outras coisas, podemos concordar que grande parte dos jovens não tem isso, sem contar os que têm que trabalhar para ajudar no sustento da família. Para a educação ser o principal problema do Brasil falta muito ainda como por exemplo: melhorar os espaços escolares e os materiais doados pelo governo, melhorar a distribuição de renda para que o filho possa se dedicar à escola sem se preocupar com a renda familiar ou se vai ter dinheiro para comer, dar motivos para o estudante se manter na escola, melhorar o saneamento básico, incluindo por exemplo
a distribuição de absorventes e camisinhas, garantir comida na mesa (o que algumas escolas já têm), etc.
Muitos especialistas acredi-
tam que o sistema de educação do Brasil é falho, e infelizmente temos muitos dados que comprovam isso, como por exemplo; esse estudo que saiu no site exame.com, dizendo que alunos de em média 14 e 15 anos tem desempenho matemática irelevantemente estagnado[,] tendo uma variação média de 0,8 em relação a 2015, também temos muitas crianças e adolescentes que não estão matriculados em escolas, segundo o anuário brasileiro da educação básica, e alguns dos motivos são: baixa renda familiar, trabalho infantil / iformal, domicilios em areas rurais, isoladas ou de risco, entre outras (site: noticiasconcursos.com.br), e não podemos esqueser de um dos principais motivos: a falta de investimento. Esses são só alguns dos exemplos entre centenas deles.
A escola tem um papel super
importante em nossas vidas, é ela que vai nos impulsionar para o nosso futuro, é ela que nos guia, é ela onde passamos em média 18 anos da nossa vida, e é uma pena que nem todos os jovens possam ter
essa experiência completa, temos que lutar para cada vez mais a escola fique acessível para todos, tanto para pessoas com alguma deficiência física ou mental, tanto para meninas que engravidaram cedo, tanto para pessoas mais velhas que não conseguiram estudar na infância… a escola é um lugar para todos. Acho que agora já podemos responder a questão de pra que serve a escola. Lívia Dantas
Educação em uma sociedade mal educada
Em um país de economia
ascendente e órgãos públicos precários como o Brasil, é comum a crença de que apenas a educação pública e o investimento governamental nessas instituições poderá salvar o nosso país de suas dificuldades socioeconômicas. Para suportar tal ideia, se usa como exemplo países europeus super desenvolvidos, que apresentam altos índices de escolaridade e mão de obra de ponta, com PIB e IDH altos. Contudo, existem também nações como a Argentina, que,apesar dos problemas socioeconômicos e PIB mediano, apresenta altos índices de alfabetização dignos de potências globais, com 99,51% de seus 26
jovens alfabetizados em 2018. Isso evidencia que uma melhoria na escolarização não está necessariamente relacionada ao crescimento econômico de um país, pelo menos não a curto prazo, como defende o artigo “Apenas acesso à educação não é suficiente para reduzir desigualdade no Brasil” por Heloísa Mendonça, publicado no El País.
Adicionalmente, as condições
de vida precárias em nosso país impossibilitam o aproveitamento pleno da escola por diversos jovens. Segundo uma pesquisa publicada no site da UOL em 2020, 116,8 milhões de brasileiros sofriam algum grau de insegurança alimentar. Há outras questões que dificultam ou se tornam prioridades frente aos estudos, como a falta de transporte para a escola, de apoio familiar e a moradia precária contribuem para menores taxas de escolarização. Tais elementos revelam que, para uma educação funcional que influencie positivamente a economia, é necessário o desenvolvimento coletivo de uma base social consistente, promovendo a melhora da infraestrutura e a compreensão das juventudes.
Ao projetarmos instituições
de ensino visando [a] um
futuro crescimento econômico, desencadeamos uma das mais fortes características dos métodos de ensino brasileiros: o conteudismo. Termo este utilizado para classificar algo estritamente teórico, que valoriza o conteúdo em detrimento da forma. Fenômeno evidenciado quando a capacidade de um aluno é medida por sua habilidade de reproduzir as informações que lhe foram passadas. De forma a qualificar o jovem como um mero receptor ao invés de um ser crítico e pensador. Tal metodologia sobrecarrega os estudantes, fazendo com que não se sintam pertencentes ao ambiente escolar. Como podemos observar em relatos de alunos e professores no documentário “Pro dia nascer feliz” de João Jardim.
Apesar de a escola ser vista
como uma instituição de preparação para o mundo do trabalho, a necessidade de auxiliar na renda familiar é uma das principais causadoras da evasão escolar no Brasil. Foi estimado pelo instituto Datafolha que cerca de 4 milhões de estudantes na faixa de 6 a 34 anos deixaram os estudos no ano de 2020, sendo mais da metade deles das classes D e E. Mesmo com iniciativas como o Bolsa
Família, a pobreza no Brasil ainda afeta diversas famílias, colocando outras necessidades como a obtenção de alimento e moradia acima da educação. Esses dados alarmantes explicam a inserção precoce desses jovens no mundo do trabalho informal.
Para muitos, a escola, ainda
que precária, é vista como um abrigo. A violência doméstica e a fome tornam-se incentivos para diversos jovens, principalmente de áreas periféricas, frequentarem o ambiente escolar. Porém, a hostilidade presente no ambiente escolar também é um forte causador de desmotivação entre as juventudes. A adoção de sistemas de ensino antiquados e pouco plurais, que posicionam o professor como um ser superior “inimigo” dos alunos, dificulta sua aproximação com a matéria, impactando negativamente seu desempenho escolar, muitas vezes gerando constrangimento, tristeza e raiva. Ao tornarmos a escola um ambiente tão intolerável quanto o mundo externo, sem nenhum atrativo ou razão pela qual o aluno deva ficar, perdemos os jovens que necessitavam daquele abrigo, expondo-os, à criminalidade, diversos tipos de violência, abusos e trabalhos 27
exploratórios. O documentário “Quando sinto que já sei” de Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima, problematiza a perversidade em nosso sistema educacional e retrata escolas que seguem diferentes metodologias, optando pela não diferenciação de séries, a não utilização de salas de aulas e adoção de diretrizes não convencionais.
Para que as instituições de
ensino promovam melhorias que impactem as condições socioeconômicas do nosso país, são necessárias diversas mudanças no modo como enxergamos e tratamos a educação. Os métodos de ensino repressores, ainda muito comuns no Brasil, desmotivam as juventudes. Estes, pensados para a formação de uma mão de obra em massa, reduzem o jovem a um receptáculo, sem opiniões e, consequentemente, voz. A pobreza e a falta de acesso a condições básicas de vida são outros fatores que prejudicam a escolarização. Para o avanço educacional, é indispensável a luta coletiva pelo exercício pleno dos direitos básicos e pela formação de ambientes seguros e plurais dispostos a tratar as juventudes como seres pensantes da sociedade.
Luana Rayol
A educação nas escolas públicas
Existe uma grande desigual-
dade social entre as escolas públicas e as particulares? É claramente notável que a precariedade no sistema educacional brasileiro vem crescendo ao longo dos anos. Isso é perceptível pois a maioria dos alunos de escolas públicas não tem uma condição financeira tão boa iguais aos de escolas particulares.
A escola desempenha dois
papéis básicos na sociedade, a socialização e a construção moral, ética e psicológica dos alunos. As escolas públicas brasileiras passam por diversos problemas que refletem diretamente na qualidade de educação, essas questões são geralmente estruturais e afetam instituições em todo o país. Portanto, a questão da educação pública não envolve apenas a desvalorização das instituições de ensino e dos profissionais. Ela percorre em questões sociais mais amplas, como a fome, desemprego e a pobreza.
Alguns dos principais pro-
blemas em escolas públicas são a escassez de materiais didáticos, desvalorização de professores, indisciplina
de alunos, falta de recursos essenciais e infraestruturais, etc. A diferença mais marcante entre o ensino particular e o ensino público certamente é a estrutura oferecida pela escola, o acolhimento aos alunos e a manutenção de áreas e materiais.
Por mais que os alunos se
esforcem e os professores deem o conteúdo corretamente, de alguma maneira a rede privativa sempre vai estar à frente. No meu texto eu quis falar diretamente o meu ponto de vista sobre a desvalorização do ensino público e como ele infelizmente está sendo deixado de lado por muitos. Lucas Watanabe Almeida Prado Litvin
Escola pra quê?
Eu, Lucas como estudante do
ensino fundamental II de uma instituição particular da zona oeste de São Paulo, acho a escola muito importante, pois na minha opinião a esse ambiente não é só estudar para ser alguém na vida, a escola também te ajuda a socializar, fazer amigos e aprender a lidar com certas questões que, com certeza quando estiver na vida adulta serão importantes.
A função social da escola 28
é o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas do indivíduo, capacitando seus alunos a se tornar um cidadão, participativo na sociedade em que vivem. A escola também tem a sua função básica que é garantir a aprendizagem de conhecimento, habilidades e valores necessários à socialização do indivíduo, trazendo bons modelos e conteúdos culturais básicos da leitura, da escrita, da ciência das artes e das letras, sem estas aprendizagens dificilmente o aluno poderá exercer seus direitos de cidadania, porém não são todos que conseguem cursar numa boa instituição de uma maneira boa e educativa.
Um bom exemplo de citar isso
são as crianças de comunidade e de baixa renda, como estudam? Morando em um pequeno lugar, com barulho e também sem ter o apoio necessário,sem ter acesso a livros e etc.
Nesse sentido, a educação,
para o Brasil, deve ser vista como uma política social, como um compromisso básico para a garantia dos direitos dos cidadãos, e mesmo a escola deve assumir um novo papel na sociedade, ou seja, prover ações para os cidadãos.
Eu cheguei a conclusão que
a escola exerce dois papéis fundamentais na sociedade: socializar e democratizar o acesso ao conhecimento e promover a construção moral e ética nos estudantes. Esses dois papéis compõem a formação de pessoas conscientes, críticas, engajadas e com potencial de transformação de si mesmas e da sociedade.
Cabe à escola formar alunos
com senso crítico, reflexivo, autônomo e conscientes de seus direitos e deveres.
E percebi também que a
educação muda vidas, ela representa muito mais do que ir à escola para adquirir conhecimentos. Ela é a base para o desenvolvimento pessoal e profissional. Crianças estimuladas a buscar o aprendizado estarão mais preparadas para os desafios da vida e serão cidadãos mais conscientes e comprometidos. Luiza Varanda de Mattos
Evasão e motivação escolar
Podemos dizer que a escola
é a principal instituição social responsável pelo desenvolvimento de jovens através de conteúdos formais considerados essenciais para a vida dos indivíduos. No entanto, sabemos que o acesso a essas
instituições é desigual e nem todos os jovens conseguem concluir o ciclo do ensino básico. As razões que levam a essa desigualdade são diversas, e englobam desde a falta de interesse pelo processo de aprendizagem, condições financeiras adversas, localização geográfica, falta de material até a necessidade de inserção precoce no mercado de trabalho. Esses são apenas alguns dos fatores que explicam, no Brasil, o alto índice de evasão escolar. A falta de motivação entre os jovens reflete principalmente a incapacidade das escolas de se colocarem no papel definidor de um futuro melhor.
juntamente com a necessidade de trabalhar, um dos principais motivos que incentivam o abandono escolar. Entre as mulheres, a gravidez precoce e as tarefas domésticas costumam ser fatores definitivos para essa evasão. Economicamente, a evasão escolar tem efeitos significativos no país como um todo, estima-se que 35 bilhões de reais ao ano são desperdiçados, uma vez que o investimento gasto em alunos não tem retorno no mercado de trabalho qualificado (valor calculado a partir da renda do trabalho ao longo da vida a partir da conclusão do ensino médio).
De acordo com o portal UOL,
não representa para esses jovens uma ferramenta para a construção de oportunidades melhores no mercado de trabalho. Jovens deixam a escola por considerarem a entrada no mercado de trabalho imediata mais promissora do que a educação formal poderia oferecer-lhes no futuro.
o Brasil tem a terceira maior taxa de evasão escolar (24,3%) entre os cem primeiros países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo. Entre os países lationo-americanos, o Brasil também ocupa o terceiro lugar, perdendo apenas para Guatemala (35,2%) e Nicarágua (51,6%). Ou seja, um em cada quatro alunos no Brasil abandonam a escola antes de completar o último ano do ensino médio.
De acordo com o portal
G1, a falta de interesse é, 29
Fica evidente que a escola
Soma-se a esse fator, a
proposta pedagógica e a metodologia da escola. O papel que a escola tem de manter um processo de aprendizagem onde o aluno se sinta pertencente à escola e, de certa forma, protagonista em seu
desenvolvimento é fundamental para a motivação dos jovens estudantes. Porém, por muitas vezes não se adequarem às individualidades e diferenças dos estudantes, acabam incentivando essa evasão.
Segundo um estudo realiza-
do pelo portal Observador, três em cada dez jovens não gostam de frequentar a escola. Ele aponta que, além da insatisfação com o pouco tempo de intervalo, grande parte dos alunos, queixam uma monotonia nas aulas que desmotivam a participação, e a vontade de ir para a escola. Em concordância, um artigo publicado pela Escola Caminhar mostra que uma frustração indigesta é despertada nos estudantes uma vez que outras habilidades que talvez sejam norteadoras para alguns alunos, como música, desenho, dança e etc, não são valorizadas.
Como apresentado, são
muitos os motivos que levam os alunos a perder o interesse no processo de aprendizagem. Analisamos, então, que tornar as escolas um ambiente interessante seria o ideal para uma melhora nos índices de evasão do Brasil. Isso, porém, não soluciona o problema, uma vez que, como mencionado,
a desigualdade de renda, a falta de estrutura familiar, a necessidade de trabalho entre outras, também interferem nas oportunidades desses jovens. A busca por um ambiente escolar mais acolhedor e afetivo talvez preencha as camadas de desinteresse dos alunos, ou pelo menos encurte a distância entre eles e os estudos. Maria Luísa Barbosa Nunes
Desigualdade Educacional Brasileira
O capitalismo no Brasil é um sistema que divide a nossa sociedade, exalta a elite, causa de forma avassaladora a desigualdade da população e de forma direta impacta na educação brasileira.
Uma educação de qualidade
deveria ser um direito para todos, mas isso não ocorre, pelo contrário, a classe com menos privilégios econômicos continua com pouca base para adentrar no mercado de trabalho e isso favorece a permanência da disparidade social.
De acordo com o site futura.
org, 258 milhões de jovens e crianças não têm acesso à uma educação de qualidade, principalmente pessoas com 30
menos recursos financeiros, negros, trans e mulheres, que sofrem com a desigualdade racial e de gênero. Assim essa diferença causa o afastamento do sistema educacional e, consequentemente, a falta de oportunidades para os jovens ingressarem no mercado de trabalho.
Em contrapartida, a escola não
cria situações de motivação e implementação de projetos que de fato ajudem os jovens a descobrir suas habilidades e perspectivas para o futuro.
As instituições escolares,
apesar de promoverem caminhos de acesso ao mercado de trabalho, tem, como principal objetivo, formar intelectualmente os jovens, para serem autônomos, se posicionarem no mundo e receberem mais motivação para continuar nas escolas.
Mas, não há investimento
na escolarização de qualidade para as classes sociais mais carentes, o que reforça o distanciamento de acesso à educação e a repetição de um ciclo vicioso em fortalecer constantemente a desigualdade.
Uma mudança efetiva para
começar a combater a desigualdade educacional brasileira
acontecerá se houver de verdade a inclusão de uma educação justa e igualitária para todos os jovens. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é preciso enfatizar a importância do investimento da sociedade na educação e na formação dos estudantes.
A qualidade e igualdade nos
setores educacionais pode promover a permanência da juventude na escola e garantir a transformação da juventude e criação de novas oportunidades para adentrar no mercado de trabalho e vislumbrar um futuro. Maria Luiza De Toledo Calil
Nem-Nem
Estudos feitos pelo IBGE
apontam que,inúmeros jovens que não concluíram o ensino médio,tendem a ter muita dificuldade em arranjar empregos no Brasil de hoje em dia. O desemprego no Brasil, hoje, atinge 11,8% da população ativa, os dados coletados apontam que em maioria esse grupo de jovens estão entre os 15 e 29 anos, sendo eles possuidores de uma renda baixa e jovens negros. “De forma geral, os jovens que não concluíram o ensino médio
são em sua maioria negros, com baixa renda familiar e são precocemente direcionados para o mercado de trabalho — quase sempre aquele, informal e precário.”
“Brasileiros fora da escola e
do mercado de trabalho estão presos a barreiras relacionadas à pobreza e ao gênero.” A partir de dados coletados pela Pnad, a situação das mulheres é mais delicada, a população feminina entre 15 e 17 anos é menos da metade, sendo 48,6%, mas dentre aqueles jovens em 2013 que não estudavam ou trabalhavam elas representavam 59,9% do total. Essas meninas passam por diversos desafios, apenas 27,9% dessas mulheres concluíram o ensino médio, e mais ou menos 31,9% já tiveram no mínimo um filho.
De acordo com o Banco
Mundial, um estudo feito apresentou que, os agora chamados “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham) já são 11 milhões de pessoas na faixa de 15 aos 29 anos - cerca de 20%.
“Quase 14 milhões de jovens
estudam ou trabalham, mas apresentam atrasos grandes de aprendizagem ou estão em empregos com pouca relevância em termos de competências 31
exigidas pelo mercado, segundo levantamento do Banco Mundial. “Muitas vezes, o primeiro trabalho é determinante para o sucesso da trajetória profissional”” aferiu Wagner Santos, coordenador do núcleo de juventude do Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária.
Com todos os dados apresen-
tados, podemos afirmar, que os jovens que não concluíram o ensino médio, sendo por questões da vida pessoal ou por necessidade, tem uma grande dificuldade de conseguirem vaga no mercado de trabalho, e com isso se traz a grande taxa de desemprego no Brasil. Mariana Magalhães Furtado
Escola e seus papéis
A escola é uma instituição
muito importante dentro da sociedade, ela é múltipla e pode servir para a manutenção das desigualdades sociais, ou pode ser um motor muito importante para modificações estruturais.
As principais funções da
escola são: prover uma rede de apoio e acolhimento quando as famílias não atendem este papel, ou suplementar o apoio
dado pelas famílias; promover um espaço de convívio e troca; preparar os jovens para o mercado de trabalho. Esta última, porém, não deveria ser considerada como única ou como a função principal, como hoje é vista. Este pensamento costuma vir junto com o princípio da meritocracia. Na meritocracia, considera-se que o esforço é o único fator que determina o sucesso, o que já foi provado como falso, pois nem todas as pessoas partem de uma mesma situação social. Desta maneira os mais favorecidos socialmente alcançam bons empregos com mais facilidade, perpetuando a desigualdade social.
A escola também é vista
como a solução para a desigualdade social, mas, segundo o estudo dos sociólogos Marcelo Medeiros, Rogério Barbosa e Flávio Carvalhes, se tivermos uma educação perfeita desde 1994, a desigualdade social e o nível de pobreza só reduziria em 4%. Como foi analisado, houve uma redução mas a educação só pode ser vista como uma alternativa para solucionar as
questões de pobreza e desigualdade social a muito longo prazo, o que não é viável para um problema tão urgente como é no Brasil.
O estudo da Ana Luiza
Machado e Miriam Muller, de 2018, para o Grupo Banco Mundial, mostra que só criar mais cursos técnicos não significa mais pessoas trabalhando, isto porque são necessárias outras mudanças, como ajudar estes jovens a se inserir no mercado de trabalho.
No meu entender, a função
principal da escola é ensinar a juventude a pensar, compreender e criticar o mundo à sua volta. Isto vai levar a população a refletir, e perceber as injustiças da sociedade de que participam, o que um governo opressor e as classes altas não desejam. Assim, precisam manter as classes mais baixas desmotivadas, sem re
cursos críticos e desta ma-
neira sem mobilidade social. Segundo Paulo Freire – o objetivo principal da escola é ensinar o aluno a ler o mundo e assim poder transformá-lo.
32
Pedro Ayoub
Escola pra quê?
A função da escola é muito
complexa, relativa[,] é muito difícil de ser atingida nos dias de hoje. A escola representa uma instituição para socializar os valores, transmitir conhecimentos e valores, desenvolver as potencialidades físicas, cognitivas e emocionais dos indivíduos, a função da escola é garantir o aprendizado para que o indivíduo tenha a capacidade de exercer sua cidadania, conseguir um emprego e participar de maneira efetiva dentro da sociedade.
O sistema educacional no
Brasil é quase o mesmo que no século passado, com alunos sentados em suas carteiras enfileiradas e seus professores dando suas matérias em pé na frente de todos, porém a educação é muito mais do que acontece em uma sala de aula. Atualmente a escola não tem suporte do bom senso e das ciências, é um sistema que não está funcionando.
O nosso sistema educacional pode ser considerado universal, que é realmente muito bom, mas a evasão escolar é muito alta. Alguns estudos indicam que temos uma geração de excluído, que são
chamados de ”nem-nem”, A geração nem-nem se trata de um grupo volumoso de jovens brasileiros que nem trabalham nem estudam. um estudo feito por pesquisadores no início de Março mostra que 11 milhões de pessoas na faixa etária de 11 aos 29 anos se encontram nessa situação, e um dos motivos dessa evasão escolar é a falta de de atrativos e condições para o estudo.
e que segundo o professor Renato Colistete descreve em sua tese. É preciso investimento de qualidade, socializar as ideias, dar voz aos alunos, interagir com os professores, que têm um papel muito importante de facilitador e mentor do conhecimento.
Na tese de livre docência do
A escola é algo que muitas
professor Renato Colistete, ele conta a manifestações dos alunos do sistema público em 2016 contra as mudanças na estrutura do sistema educacional do estado de SP. ele descreve uma demanda de pessoas que não tem voz ( alunos ), recebem um pacote pronto de péssima qualidade que é a educação pública. o professor avaliou que a única chance de melhorar a educação é o envolvimento das pessoas beneficiárias ( alunos ) e ele identificou que esses problemas começaram a surgir desde o século 18.
E como mudar essa situação
em que parte da população se encontra? É preciso criatividade e analisar o contexto em que o jovem vive. solução não é única como o governo de SP impôs aos alunos em 2016
Peter Gabriel Martyn Ganns
Escolas Precárias pessoas já vivenciaram, mas não é um sistema perfeito, principalmente considerando o apoio dado pelo governo, mas mesmo assim, temos que pensar porque devemos participar dele.
O Brasil tem um grande
problema, porque a escola pública é tão impopular que todo mundo na escola particular paga para não ir à escola particular mas não ficar na escola pública, uma suposição feita pela má imagem do apoio governamental.
Muitos de nós frequentamos
escolas públicas, mas para quê? Por ser instável e a segurança ser a mais baixa, por que correr esse risco de não ser considerada uma grande pessoa pela sociedade, considerada como fazendo apenas um milionésimo do básico, mas 33
algumas pessoas se inspiram muito para aprender E nas escolas públicas, o governo vai querer ajudar aqueles que “não têm entusiasmo para aprender” ou economizar dinheiro.
Meu ponto é que talvez
isso não seja um preconceito contra a escola, mas um preconceito contra as pessoas da escola, mas um preconceito contra as pessoas que estudam nela, o que leva à falta de apoio do governo. Rafael Barros
Papéis desconhecidos
Existem muitos motivos pelos
quais vamos para a escola. A principal razão é para adquirir as habilidades e a educação necessárias para viver com autonomia e sucesso. O colégio também nos ensina habilidades sociais que precisaremos em nossas vidas e carreiras futuras. A educação nos ensina como colaborar efetivamente com os outros, porém a escola é muito mais do que isso.
A educação é fundamental
para o futuro do país, porém nem sempre essa educação chega aos jovens, de acordo com site EL PAÍS, 11 milhões de jovens entre 15 e 29 anos não estão nem trabalhando
nem estudando e a partir do ano de 2035 a força de trabalho começará a cair no Brasil. Para reverter isso é necessária uma mobilização do governo e das escolas para inspirar os jovens a voltarem aos estudos. Uma solução proposta pelo site EL PAÍS sugere que se criem programas de apoio ou de mentoria para ajudar esses jovens a lidar com as dificuldades associadas ao cumprimento de objetivos, motivando-os e fazendo com que acreditem que os estudos podem mudar o seu futuro.
A escola não é somente
uma fonte de conhecimento acadêmico, ela tem um papel social, pois para muitos alunos do Brasil a refeição escolar é a única refeição do dia, já que, de acordo com o site UOL, 9% da população brasileira (19 milhões de pessoas) passam fome ou tem insegurança alimentar. O colégio também é um porto seguro para muitas crianças e adolescentes que encontram ali um lugar protegido da violência presente no dia a dia de quem vive em comunidades perigosas.
A escola também é um ótimo
lugar para a convivência em sociedade. Fazer amizades é muito importante. Na convivência com os colegas o aluno
vai criar recursos para compreender essas frustrações, perceber o outro, colocar-se no lugar do outro e construir recursos para lidar com a diversidade. A pandemia ajudou muito a realçar a importância da convivência com pessoas diferentes do seu ciclo familiar. Amizades são essenciais para a saúde mental. Quando passamos por dificuldades, tristezas e inseguranças, muitas vezes os amigos ou professores serão também nosso apoio, inspiração ou exemplo, nos ajudando a seguir em frente mais fortes. Outra coisa importante das escolas é o incentivo ao esporte, que além de ser essencial para a saúde do aluno promove a socialização, o trabalho em equipe e dá a oportunidade aos alunos de entrar em contato com as frustrações relacionadas a vencer ou perder.
Definir o papel da escola é
algo muito amplo que impacta todo o presente e futuro de crianças, jovens e de suas famílias, é a instituição mais importante de um país, é ela que define a qualidade de vida de uma nação, pode minimizar as desigualdades sociais e proporcionar ao indivíduo o sucesso profissional e pessoal.
34
Rafael Cavalcanti
Educação: A Grande Arma
“A educação é a arma mais
poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Uma alusão feita por Nelson Mandela, mostrando que a base de uma nação e sua melhor arma para mudar sua realidade é a educação, que está desde os primórdios de nossa civilização moderna ligada com a escola. A escola tem a imensa responsabilidade de ensinar e moldar os jovens de uma nação que são, por sua vez, o futuro da própria.
A Constituição Federal, emiti-
da em 1988, em seu 6 artigo, prevê que o direito a educação como inerente a todo cidadão brasileiro. Entretanto, em 2019 mais de 1,1 milhões de crianças e adolescentes estavam sem acesso à educação, e com a pandemia este número saltou para 5,1 milhões, segundo o G1. Levando em conta que nos primeiros dois anos do governo atual o seu investimento na educação foi o menor desde 2010, conforme o MEC, sob essa ótica, mostrando que, mesmo com esses dados alarmantes, eles não estão tratando o tema com a seriedade necessária. Porém, esse descaso com os investimentos na educação
existe há muito tempo, pois desde 1807, quando temos os primeiros dados em relação à educação brasileira. Segundo eles, cerca de apenas 6% dos jovens de 5 a 14 anos estão nas salas de aula, já em 1830 ainda tínhamos somente 15% dos jovens nas escolas, alcançando a marca de 50% somente no final do século XX. Nosso começo foi desastroso e decepcionante, de acordo com a pesquisa realizada por Renato Perim Colistete, professor da FIA-USP, mesmo havendo demanda na época, tudo era ignorado. Enquanto o Brasil estava destratando a educação, diversos outros países estavam investindo pesado nessa área e isso resultou em uma imensa disparidade, que nos segue até os dias de hoje.
Levando tudo isso em con-
sideração, é notório, que as tentativas (e a falta delas) de nosso governo se mostraram como um fracasso, entretanto vem crescendo o número de escolas, projetos e institutos que têm um sistema de educação completamente diferente do usual. Ressignificando a escola e a educação, uma educação livre, uma educação de regras que não restringem, uma educação do como e do quando, não da proibição. E como dizia Paulo Freire
“Importante na escola não é só estudar, é também criar laços de amizade e convivência”. Assim, se mostra que há diferentes modos de educar uma criança, que há diferentes formas de criar um cidadão. Um cidadão que tenha empatia, respeito e pensamento crítico, não só uma pessoa que passe no vestibular, vá para o mercado de trabalho e ganhe um grande salário. A escola é também responsável pela formação do ser humano e de como ele interpreta e interage com diferentes situações de sua vida, mostrado na escola Projeto Ancora, frisando que a educação está pouco a pouco mudando para uma forma mais humanizada e consciente, junto de nossa sociedade atual.
Depreende-se, portanto,
sendo extremamente fundamental a adoção de medidas que venham ampliar os investimentos na educação e a instituição de um modelo escolar que privilegie a pluralidade nas formas de ensino. Dessa maneira, cabe não somente ao governo, mas sim a sociedade como um todo, fazer com que todos os jovens tenham acesso à educação e assegurar que ela seja de qualidade, a fim de que nossa realidade mude tanto na sala de aula como também nas ruas de nosso país. Somente 35
assim, usaremos nossa principal arma de mudança para desenvolver intrinsecamente nossa sociedade, desse modo mostrando para que a escola existe. Ricardo Albuquerque
Escola pra quê?
Será que os problemas
estão só dentro das escolas? Principalmente as escolas públicas têm muitos problemas internos, mas para eles acontecerem de onde começa esses problemas? Está na cara que os problemas da educação não são só dentro das escolas, para isto acontecer muitas coisas que estão erradas e mal distribuídas para a população e assim chegar a afetar a educação brasileira. Na minha opinião, o que afeta mais a educação brasileira é a corrupção, desviando dinheiro que seria para a melhoria das escolas, para o saneamento básico, saúde e etc e a desigualdade social.
Por conta dessa corrupção
muitas famílias são prejudicadas, pois a escola, além do aprendizado, serve de abrigo e ajuda para estas famílias, distribuindo merendas e lanches, fazendo com que fique mais fácil para suas mães sustentar seus filhos, porém por conta
dessa imoralidade que muitos na política fazem a educação e a vida dos mais pobres são muito afetadas,. então como podemos melhorar estas questões?.
Segundo o IBGE, a Diretoria
de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019., O principal motivo para os jovens terem abandonado ou nunca frequentado escola era a necessidade de trabalhar, apontada por 39,1%, seguido pelo não interesse (29,2%). Isso acontece pela falta de distribuição de renda, que deveria ser melhor, e assim os alunos deveriam estudar sem se preocupar com as condições financeiras ou se você terá que trabalhar para alimentar as pessoas que estão na sua casa. Logo em seguida, nós vemos que 29,2% dos alunos acabam largando a escola no ensino médio pela falta de interesse o site (http://portal.inep. gov.br) revela que 68,1% dos estudantes brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem nível básico de matemática, o mínimo para o exercício pleno da cidadania. Outro problema que contribui com a educação estar estagnada e ser tão problemática é o desvio de dinheiro, na matéria do site
(https://agenciabrasil.ebc. com.br) mostra que em 2018 a CGU identificou, ao longo das investigações, 65 contratos suspeitos, cujo os valores totais são de R$1,6 bilhões. Assim, afetaram-se milhares de vidas que dependem deste dinheiro para melhorar a educação. Outro problema muito grande para as mulheres é a informação e a distribuição de camisinhas e anticoncepcionais. Na matéria do (https:// agenciabrasil.ebc.com.br.) o segundo maior motivo das mulheres acabarem largando o ensino médio é que 23,8% delas largam a escola por conta da gravidez. Estes são um dos centenas de problemas que temos que estão afetando a educação.
Nós já entendemos que escola é muito importante para nossas vidas e acaba sendo triste pensar que boa parte da população sofre muito quando o tema é educação, por isso que, vendo estes dados, nós todos temos que lutar para acabar com esses exemplos como falta de informação, falta de investimento nas escolas, falta de saneamento básico no país, distribuição de renda, pobreza e etc que estão acabando com o futuro do nosso país que são nossos estudantes e que estão tirando o sentido 36
da escola. A escola é para ser um lugar acolhedor onde não [se] precisa se lembrar dos problemas do mundo de fora e que também todo mundo conseguisse fazê-lo sem preocupações e não deixar de completá-la,também não tendo que ser deixada de lado por algo de extrema importância na sua vida pessoal e sim aprender e socializar. É para isso que a escola serve!. Ryhan Santos dos Anjos
Escola para quê?
No Brasil as escolas há muito
tempo tem tido problemas, como a falta de material, violência, falta de merenda, falta de reformas, falta de professores e salários atrasados para os funcionários.
As escolas quase não rece-
bem investimentos. Muitos jovens saem em busca de emprego para ajudar a família em casa, mas às vezes não conseguem, pois grande parte dos empregadores procuram funcionários que tenham pelo menos acabado o ensino médio.
Segundo o site El País, 11
milhões de jovens de 15 a 29 anos não estão estudando nem trabalhando. É um
contingente enorme que estará fora do mercado de trabalho por um bom tempo.
Desta forma não ajudando o
pib brasileiro aumentar, assim as escolas vão continuar recebendo pouco e nem recebendo investimentos.
Um estudo recente mostrou
que se o Brasil tivesse uma educação de qualidade por um tempo razoável não seria suficiente para melhorar os salários e impactar na distribuição mais igualitária de renda do trabalho no país. A pesquisa foi realizada pelos sociólogos Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicadas (Ipea), Rogério Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP), e Flávio Carvalhes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
As escolas do país devem
ter conteúdos e atividades que chamem a atenção dos alunos, para que eles se interessem pelas matérias e assim contribuir na aprendizagem e diminuir a vontade de sair da escola, e que tenham cursos profissionalizantes para caso ele saia tendo experiência na área.
Sophia Abe Roveda
Os ”nem nem”
Um dos maiores problemas
da educação no Brasil é a evasão escolar. Por conta da educação formal não ser atrativa para jovens de baixa renda, muitos acabam largando a escola e vão à procura de trabalho. Mas[.] por não serem formados e muitos trabalhos oferecidos a esses jovens oferecerem condições precárias, a maioria acaba não fazendo nenhum dos dois, assim sendo chamados de “nem nem”.
Segundo a Revista Educação,
em um estudo recente apresentado em Brasília no início de março, os jovens reconhecidos como “nem nem” (nem trabalham e nem estudam) representam 11 milhões de pessoas na faixa etária dos 15 aos 29 anos (cerca de 20%). É um percentual enorme de pessoas que provavelmente estará fora do mercado formal por muito tempo, comprometendo muito a mão de obra brasileira e assim perpetuando que as famílias continuem com baixas condições financeiras.
Mas por que os jovens largam a escola? Segundo a Revista Educação, de 16 de maio de 2018, os jovens abandonam o estudo por não haver um 37
atrativo na educação, e[,] ao invés de estar estudando, estão em busca de emprego ou trabalhando em condições precárias. Essa reportagem nos mostra dois exemplos: o primeiro é de um jovem chamado Vítor, que tem 19 anos, não terminou o ensino médio e por isso ficou mais difícil arranjar um emprego. O segundo exemplo é de uma menina chamada Carla, de 17, que teve de largar os estudos para cuidar de seu bebê, ela não consegue trabalhar e vive na casa da mãe.
O ponto em comum nessas
histórias é o fato dessas duas pessoas serem jovens de baixa renda, que não conseguem uma saída para a falta de estudos e consequentemente ao desemprego e acabam se encontrando em uma situação de vulnerabilidade social.
Para que os problemas de
evasão sejam evitados, a escola precisa se tornar um ambiente atrativo e preparatório, para manter os alunos interessados. A escola deve orientar esses alunos no segmento universitário e profissional, assim abrangendo assuntos importantes para que no mínimo esses estudantes tenham em mente a importância da busca pela formação e como isso os afeta no mercado de trabalho.
Sophia Casolari Landell Balbino
Escola pra quê?
A escola é uma grande rede
de proteção, principalmente quando se trata de colégios públicos, pois normalmente alunos dessas instituições são pessoas de baixa renda, que têm menos acesso a alimentos, higiene, educação... Por isso, nesse caso seu papel é oferecer apoio e conforto, mas na maioria das vezes isso não acontece.
Na minha opinião, um dos
principais deveres escolares é exercer uma função social. Ou seja, ter contato com as pessoas, formar amizades... Por isso, com a chegada da pandemia do COVID-19 houve uma grande fragilização da mentalidade de crianças e adolescentes.
Além disso, a educação é
uma tentativa de salvação da economia do país, que prepara jovens para terem uma ótima inserção no mercado de trabalho e formar pessoas conscientes e alfabetizadas, mas é um plano que não apresenta eficácia devido a muitos motivos. “Em termos globais, a educação já não é mais uma grande solução para os problemas de pobreza e desigualdade no Brasil. Ela pode ser vista
como uma alternativa apenas num prazo muito longo”, diz o sociólogo Marcelo Medeiros. Mas uma boa pergunta a se fazer é “se a escola é uma tentativa de salvação da economia, então por que não investem nela?”.
No site do governo brasileiro
na matéria do Ministério da Educação, afirma-se que “se o estado ou município não investir no mínimo 25% do seu orçamento total em manutenção e desenvolvimento do ensino, o FNDE envia, automaticamente, um comunicado aos tribunais de contas estaduais e ao Ministério Público informando o não cumprimento da legislação.”
“Quem não cumprir o prazo
ou não conseguir comprovar que investiu 25% do orçamento em educação passa a ser considerado inadimplente no Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias (Cauc) do governo federal. Com isso, deixa de receber recursos de transferências voluntárias da União e fica impossibilitado de firmar novos convênios com órgãos federais.” Ou seja, mesmo com severas legislações o governo não investe a quantidade necessária de dinheiro nas escolas. A explicação de 38
Marcelo Medeiros diz que “ ter um ensino médio é pouco para combater as diferenças de renda. O Brasil precisa massificar o acesso à universidade para ter um resultado melhor na queda da desigualdade. Nas últimas décadas, o ensino superior foi expandido, mas ainda precisa ser muito mais”
Algo extremamente importan-
te a ser citado é que as escolas públicas e privadas apresentam grandes diferenças, o que faz as pessoas serem levadas para caminhos opostos com grande desigualdade. No documentário “Pro dia nascer feliz”, uma professora de escola pública afirma que os professores de ensino público não estão preparados para ensinar tal tipo de adolescentes. Ao longo do documentário, múltiplos professores descrevem problemas como a falta de respeito dentro da sala de aula, mas essa não é a principal dificuldade e sim os conflitos agressivos, assassinatos, venda de drogas… Isso deixa claro que a escola pública precisa de transformações. Com professores preparados, mais segurança e melhor estrutura.
Um caso grave que infeliz-
mente acontece no mundo inteiro são os “Jovens nem nem”. De acordo com o site “El
País”, no Brasil, 11 milhões de jovens, quase um quarto da população entre 15 e 29 anos, nem estudam nem trabalham. Existe um estudo chamado “Se já é difícil, imagina para mim…”, que diz que esse problema ocorre principalmente por questões financeiras e de gênero, e afeta principalmente mulheres, sendo elas 66% dos nem-nens. Os jovens nem-nens possuem algumas razões por estarem nessa situação como: falta de motivação para retomar os estudos; os que têm alguma iniciativa mas não têm as ferramentas precisas; não conseguem trabalhar e estudar ao mesmo tempo…
Com isso, podemos concluir
algumas coisas. Que o ensino remoto fragilizou intensamente a saúde mental de alunos e atrapalhou o ensino; que a educação deixou de ser uma solução para a desigualdade no Brasil devido aos números extremamente baixos de alfabetização; que mesmo a escola sendo um lugar para acolhimento não investem o dinheiro necessário nela; que existe um grande desequilíbrio entre as escolas privadas e públicas e que infelizmente um quarto da população Brasileira nem estuda nem trabalha.
Sophia Martins e Galiano
Evasão escolar
É inegável que, ao nos per-
guntarmos por qual motivo nos dirigimos ao colégio, ainda na infância, o discurso pouco muda. Frequentamos esse espaço para nossa formação profissional para vida adulta, garantindo o básico da aprendizagem de conhecimento, habilidades e valores necessários à socialização. No entanto, a conscientização de grande parte da população não coincide com a evasão escolar, sendo a maior parte das escolas públicas. Afinal, o que leva esses jovens estudantes a deixarem a escola? Todavia, o espaço escolar público é extremamente oposto e desigual em suas condições se comparado ao particular.
Os diversos motivos para
deixar os estudos não são poucos, isso vindo de diversas camadas sociais, porém, muito mais de classes sociais mais baixas. É preciso ter em mente que jovens geralmente no ensino médio podem estar passando por pressão familiar ou até mesmo sentimento pessoal. Em determinada faixa etária, esses indivíduos têm como preocupação maior se 39
inserir cedo no mercado de trabalho, devido à dificuldade financeira vivida pela família já de muito tempo.
No próprio contexto atual e
pandêmico, isso tem sido forte preocupação para jovens de baixa renda. Só no primeiro ano de pandemia do coronavírus, por exemplo, mais de 172 mil alunos deixaram de frequentar a escola, segundo a OMS, entre seis e dezessete anos de idade. Esse número tem apenas aumentado conforme os anos, e a pobreza populacional só é mais um dos colaboradores para esse problema.
Levando em consideração
esses aspectos, concluímos que o principal fator para essa evasão ainda no primeiro ano do ensino médio é principalmente a crise de valores na sociedade moderna. É possível pontuarmos outras variadas circunstâncias que estão associadas ao desinteresse dos estudantes, por falta de acesso ao básico. E ainda esse sendo um dos principais problemas sociais no Brasil, muito pouco abordado para discussões, a educação não decola como uma preocupação para o Estado.
Theo Rocabado Zapella Andrade
Escola pra quê(m)?
Já há algum tempo, em um
cenário global, um dos principais requisitos para a formação de uma sociedade que tenha oportunidades de empregos razoáveis, acesso à informação, melhor qualidade de vida e participação de indivíduos em seus âmbitos sociais, é uma boa estrutura educacional. No Brasil, o processo de formação das instituições de ensino público ao longo dos séculos passou por diversos empecilhos devido à falta de investimento e ampliação do acesso ao estudo. Isso gerou consequências que perduram até hoje em nossa sociedade e acaba fazendo com que uma jornada educacional qualificada seja inacessível a uma grande parcela dos jovens brasileiros. Sendo assim, o Brasil acabou formando seu processo educacional de uma maneira excludente e desigual que impacta sua juventude até os dias atuais, por isso, o problema da educação brasileira é um fator histórico.
É na instituição escolar que
ocorre a formação em conhecimentos gerais - desde o letramento até disciplinas mais avançadas -, desenvolvimento
do caráter moral e ético e capacitação para uma vida em sociedade e para o mercado de trabalho, além de ser também um lugar de convívio social e, para alunos de uma condição de vida mais difícil, um refúgio de suas realidades precárias ou situações desagradáveis no ambiente familiar. São esses e outros motivos que fazem da educação um direito de todos, desde a infância até o final da juventude. Porém, com a desigualdade de ensino do Brasil, esse direito não é assegurado para grande parte dos jovens brasileiros.
Tendo em vista o problema
do atraso educacional do país, é preciso ter um panorama histórico do papel do ensino até os dias atuais. No início do processo de formação da educação brasileira, existia um grande descompasso em relação a outros países, que possuíam estruturas econômicas e sociais semelhantes. Uma das hipóteses para tentar justificar esse atraso era que talvez “não houvesse demanda” da população, já que o Brasil era um país muito agrário e rural, constituído predominantemente por núcleos familiares pobres e escravos libertos.
Entretanto, o professor da
Faculdade de Economia, 40
Administração e Contabilidade da USP, Renato Colistete, em uma análise de manuscritos antigos, concluiu exatamente o contrário. Ele estudou abaixo-assinados realizados entre os anos de 1830 e 1919, que contavam com pedidos de providência da população de baixa renda por escolas e professores para suas crianças e jovens. O professor também pôde constatar que muitas das assinaturas eram escritas “a mando” de alguém, já que muitos - e em alguns casos, a maioria - dos que participavam das petições e iniciativas eram iletrados. Colistete também pontuou que “De fato, as petições, sozinhas, não representam um movimento generalizado de demanda [...] mas são o indício de algo que pode ser mais generalizado do que a gente imagina”.
A solicitação por instituições
de ensino da população de classes sociais mais baixas daquela época não é uma surpresa, já que, por muito tempo, a educação era acessível unicamente a homens e meninos brancos de elite, fazendo com que a parte majoritária dos brasileiros fosse impossibilitada - até proibida - de aprender. A negligência do Estado naquele período causou um grande impacto
na sociedade atual. Hoje, a parcela mais prejudicada com o problema estrutural da educação brasileira são pessoas de classes sociais baixas, negros e mulheres. Pode-se então afirmar que, desde sua origem, o “ensinar” brasileiro sempre foi construído de uma forma desigual.
Hoje, a falta de investimento na educação pública e a dificuldade de acesso a um currículo educacional básico completo impacta[m] e continuará afetando a população e juventude do país. Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2019, 51,2% das pessoas de faixa etária igual ou superior a 25 anos não completaram a educação básica. Além disso, dentre os 50 milhões de brasileiros de 14 a 29 anos, 20% - equivalente a 10 milhões -, não completaram alguma etapa da escolaridade até o ensino médio, e dentre esses 10 milhões, 71,7% são negros ou pardos. Em 2020, a evasão escolar foi
ainda mais impactada e acentuada pela pandemia, e 5,5 milhões de jovens e crianças entre 6 e 17 anos não tiveram acesso à educação por falta de recursos, e 1,38 milhão abandonaram as instituições
de ensino, já que as escolas públicas não têm condições e investimento suficiente para providenciar ferramentas essenciais para o estudo e aprendizado à distância, de acordo com dados da PNAD de 2020.
A educação é - ou deveria ser
- um direito de todos, porém, como apontam os dados e a história, isso nunca ocorreu no Brasil. É necessária uma reparação no processo educacional do país, e, para isso acontecer, toda a bagagem histórica de séculos de desigualdade, exclusão e negação de direitos teria que ser reconhecida e levada em conta. Portanto, o ensino só cumprirá seu verdadeiro e real papel quando finalmente conseguir abranger todas as plurais juventudes brasileiras, constituídas de jovens pobres e ricos, brancos e negros, homens e mulheres e mais outras diversas e múltiplas realidades. Vicente Franzini
Escola para quê?
Desde a Independência
Brasileira e anteriormente, o debate sobre a Educação nacional existiu, com focos diferentes, como “O governo deveria financiar escolas públicas?”, no Século 19, para 41
“Como fazemos uma escola?”, no século 20 e, até hoje em dia, quando o debate virou “Escola para quê?”.
A escola em uma sociedade
utópica serviria, principalmente, para trazer informações necessárias para a integração funcional da pessoa na sociedade, além de criar uma personalidade, formar caráter, etc. Essas seriam importantes ferramentas para o processo de amadurecimento do indivíduo, além da eventual entrada no mercado de trabalho da pessoa, mas não vivemos em uma utopia.
Ao invés disso, temos um país
como o Brasil, onde a adesão em escolas pela população em massa só ocorreu no Século 20, enquanto em outros países desenvolvidos esse mesmo patamar já tinha sido alcançado quando entramos nesse século.
Mas, até mesmo hoje em
dia, não temos grande adesão nas escolas. De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica, em 2018, 90% dos alunos concluíram o Ensino Fundamental 1, 76% o Fundamental 2 e apenas 64% o Ensino Médio.
O porquê desses níveis
abismais de completude do
currículo escolar completo? Por quê os jovens decidem abandonar as escolas? Para o que servem as escolas? Podemos começar a responder essas perguntas vendo estatísticas de quem são essas pessoas que decidem sair das escolas.
De acordo com o IBGE, em
2017, aproximadamente 91,1% dos alunos elegíveis dentre os 25% mais ricos do país estavam matriculados, enquanto esse mesmo dado para os 25%
menos ricos estava em 57,3%, mostrando uma relação direta entre a classe social de uma pessoa, e suas chances de estar matriculado no ensino médio.
Algo que vários alunos na
faixa etária da transição do 9° ano do EF e 1° ano do EM se perguntam, com a dificuldade das matérias evoluindo, e menos aparente o uso real do conteúdo aprendido, em geral é se desestimulado a vontade de aprender dos alunos, que
42
contribui à evasão escolar, sendo esse o segundo principal motivo do fenômeno.
Esses problemas mostram
uma clara necessidade de uma reforma escolar, mas como ela deveria parecer e como executaremos-a?
Para fazermos uma reforma
decente precisamos sobretudo não apenas ensinar o aluno o que está no livro e na lousa mas precisamos ensiná-lo a pensar por conta própria, criar sua própria perspectiva sobre
o mundo, sem influências externas, além de ensinar ao aluno sobre outros tópicos que ele provavelmente precisará no futuro, como por exemplo o Mercado Financeiro, impostos, contas e etc.
Além disso, para consertar-
mos de vez o problema da evasão escolar, temos várias soluções, todas que precisam de uma reestruturação maior do que exclusivamente escolar, com projetos como, por exemplo, dar auxílios a pais de
alunos matriculados, para que, mesmo com dificuldades, os pais consigam dar ao filho uma educação garantida.
E, por fim, precisamos melho-
rar o ensino para ele ser mais cativante aos alunos, proporcionando um ambiente mais agradável e educativo, com um melhor treinamento de professores e coordenadores sobre esses assuntos serem de grande importância.
Então, voltando a pergunta
inicial, “Escola para quê?”, a
43
escola Brasileira têm grandes falhas, uma delas sendo a existência e prevalência da pergunta acima, mas pode ser consertada, pode chegar em um nível próximo ao nível descrito no início do texto de uma sociedade utópica, mas para isso precisa de trabalho, esforço e dedicação do Governo Brasileiro mas, também do Povo Brasileiro, tendo uma melhor visão do professor, da escola, do que ela representa e do que podemos fazer para melhorá-la.
Ana Carolina Barbosa Nunes
maravilhada com tudo aquilo. Até que voltei à realidade, se ficasse muito tempo ali as pessoas poderiam me notar, precisava de um abrigo e comida. Antes de dormir me veio à mente de novo, as piores
Mãe contra pai
lembranças que passei com o repugnante pai da
Sei o que vai acontecer comigo se des-
fosse um objeto, os momentos em que me deixava
cobrirem o que eu fiz… Mas não queria
dias sem comer, me castigava e o pior deles, que
minha criança, quando me comprou como se eu
me violentou. Lembro exatamente do dia em que fui
voltar para aquele lugar em que me mal-
jogada, arrastada para aquele quartinho minúsculo às
tratam, me humilham, castigam e sou
escondidas. E agora uma parte daquele homem que
obrigada a satisfazer o desejo de meu
mais odeio, está dentro de mim. Ele nunca vai aceitar
senhor. Tenho muito medo e esse medo
a coisa que está dentro de mim e vai matá-lo e me culpar por tê-lo. Comecei a chorar, dormir com os
aumentou quando descobri que estava
olhos cheios d’água.
grávida.
Conforme o tempo, minha barriga foi crescendo e eu
No início não acreditei que estava com um ser
a odiando cada vez mais, tinha pensado em deixar
dentro de meu ventre, vi os sinais, mas neguei a
em uma porta do orfanato, mas quem iria querer
mim mesma. Aquilo não poderia estar acontecendo
uma pessoa negra para criá-la e tratá-la como filho!?
comigo! Depois que tudo aconteceu, não ia suportar
Foi aí, que me deparei com o seguinte pensamento,
mais essa. Comecei a tremer e entrar em pânico e
ele não teria ninguém, somente a mim e eu só teria
agora o que ia fazer? Pensei em matá-lo, mas a co-
ele. Poderíamos ser uma família e ter um ao outro
vardia venceu, tinha que pensar e rápido. Foi quando
para cuidar. Minha mãe e meu pai já morreram, faz
ouvi outros escravos falando que iam fugir do nosso
muito tempo que estou sozinha e durante os meus
senhor, eu criei coragem de fugir junto e consegui
pensamentos percebi que não estava mais com ódio
escapar. Mesmo assim, não consegui sentir felicidade,
ao ver minha barriga. Senti esperança ao saber que
pelo contrário, fiquei angustiada, com medo de ser
meu filho não seria escravo e não iria deixar ninguém
pega e me entregarem.
machucá-lo. O ser que está dentro do meu ventre é
Depois que me acalmei comecei a reparar na cidade
igual a mim, não tem nada a ver com o monstro do
ao meu redor, durante toda a minha vida só conheci o
seu pai, vai nascer de uma escrava e não vai ter os
casarão e a senzala, não sabia que existia um mundo
mesmos direitos de seu pai.
além do que conhecia e que ficava a poucas distâncias
Vou conseguir um lugar estável para meu filho, pois
de onde passei a minha vida toda. São tantas pessoas
não poderia ficar mais com aquelas lembranças do
circulando para lá e pra cá e lugares tão diferentes
passado, ele ia continuar me forçando a tais ações,
para conhecer. Fiquei um bom tempo olhando e
46
branco do que para negro. Ele me agarrou e foi aí que
nada e ninguém ia fazer ele parar.
compreendi o que tentava fazer. Queria gritar, mas
Choro muito quando penso no meu passado e fico
logo sabia que ninguém ia socorrer uma escrava.
aflita quando penso no meu futuro. Peço todo dia para Oxalá, para que eu consiga criar meu bebê longe
Tentei explicar para ele que estava grávida, para ter
daqui.
piedade de mim, que seria sua escrava, mas nada adiantou, vi nos seus olhos que estava decidido.
Por um bom tempo consegui me alimentar de restos
Mesmo assim falei que meu senhor era muito mau e
de comida, mas sempre ficava mais esfomeada, pois
que me castigaria, eu ia lutar e lutar pela vida do meu
tinha dias que achava mais restos e dias que não
filho, nem que precisasse ajoelhar e ir arrastada.
achava nada.
Infelizmente não adiantou, caí no chão aos prantos
Comecei a ficar desesperada ao ver folhetos por toda
e relembrei novamente o rosto da pessoa que mais
a parte com meu rosto e com uma oferta de grande
desprezo em toda minha vida, meu dono. Ele deu cem
quantia para quem me capturasse viva e levasse de
mil réis para o mestiço, depois me olhou e deu aquele
volta para meu patrão. Não queria nem pensar em
sorrisinho de lado, sinalizando que aqueles sofrimen-
quais torturas ele me faria, se eu voltasse. Aquele
tos, castigos, estupros iam continuar e que nunca ia
carrasco faria de tudo para me ter de volta. Odeio
me deixar fugir de novo.
minha vida, a única força que tinha, para não fazer nada precipitado é meu filho, só por ele que ainda
Apesar de relutar, não consegui segurar meu filho
continuei aqui, ele é a minha luz.
e abortei. Chorei muito… foi como se todas aquelas esperanças de criar um futuro com meu filho desa-
Tem dias que olhei para minha barriga e solto um
bassem por completo, comecei a tremer, eu paralisei.
sorriso e existem dias que isso me fazia lembrar o
Senti como se eu fosse a culpada por meu filho estar
horror do ato brutal que passei, isso me fazia vomitar
morto em minha frente e meu corpo começava a
e ficar nervosa.
jorrar muito sangue, parecia que eu tinha perdido meu
Foi quando me lembrei de que minha mãe tinha uma
corpo por completo. Comecei a negar a mim mesma,
amiga que morava longe daqui, em uma casa na zona
aquilo não poderia estar acontecendo comigo. Meu
rural e eu poderia criar meu filho lá e trabalhar para
pior pesadelo se tornou realidade, minha criança
pagar a hospitalidade. Tomara que eu consiga chegar
estava morta, meu patrão estava na minha frente
lá e que ela me aceite, tive uma sensação que nunca
segurando um chicote na mão.
senti antes, precisava chegar rápido, pois havia cada vez mais folhetos espalhados sobre mim e também capturadores de escravos, não podia ficar nem mais um segundo ali. Foi quando escutei meu nome: — Arminda! — uma voz grossa falava meu nome. Olhei e vi que era um homem mestiço, mais para
47
Danilo de Oliveira Conceição
disse que se tivéssemos um filho morreremos de
Felicidade x Trabalho
Mesmo com nossa vida pobre não descartamos o
Meu nome é Clara, eu sou órfã, moro
grávida comecei a medir fraldas, costurar roupinhas
fome. Mas disse a ela que nossa senhora nos dará de comer. desejo de ter um filho. Quando percebi que estava junto com minha tia, mas fazia com má vontade. A
com minha tia chamada Mônica, que
notícia se espalhou rapidamente pela a vizinhança.
costurava junto comigo. Eu não costura-
Minha tia continuava falando da vida ruim que nós
va tanto ao ponto de não namorar, mas
teríamos, falando também que as crianças nascem
os namorados apenas queriam matar
e acham sempre alguma coisa certa que comer,
o tempo; não tinham outro empenho.
ainda que pouco. Perguntei o que ela quis dizer com
Passavam às tardes, olhavam muito
“certa”. Ela disse que certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas em que é que o pai dessa infeliz
para mim, e eu para eles, até que a noite
criatura que aí vem gasta o tempo? Pois candinho não
a fazia recolher para a costura. O que eu
conseguia ficar em nenhum emprego.
notava é que nenhum deles me deixava
Candinho, quando soube da advertência que minha
saudades nem me acendia desejos.
tia fez a ele, foi ter com ela , não áspero mas muito menos manso que de costume, e lhe perguntou se já
Eu queria casar, naturalmente. Era, como dizia minha tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe pegava, mas
algum dia deixaria de comer.
o peixe passava de longe; algum que parasse, era só
Ele perdera já o ofício de entalhador, como também
para andar à roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e
abriu a mão de outros muitos, melhores ou piores.
ir a outras.
Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo.
O amor traz sobrescritos. Quando vi Cândido Neves,
Não obrigava a ficar longas horas sentado. Só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço
senti que era este o possível marido, o marido ver-
de corda. Ele lia os anúncios, copiava-os, metia-os
dadeiro e único. O encontro deu-se em um baile, o
no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória.
casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais
Fixados os sinais e os costumes de um escravo
bela festa das relações dos noivos. Eu tinha 22 e ele
fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo,
30 anos.
amarrá-lo e levá-lo.
Eu e Candinho, que era como eu chamava-o, querí-
Havia mãos novas e hábeis. Como o negócio
amos um filho, mas minha tia, logo que chegamos
crescia, mais de um desempregado pegou em si
à casa pobre em que nos abrigamos depois do
e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e
casamento, nos avisou dos possíveis filhos. Ela me
deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de
48
um competidor. Quer dizer que as nossas dívidas
de escravos fugidos. As gratificações pela maior parte
começaram a subir, sem aqueles pagamentos pron-
eram promessas, algumas traziam a soma escrita e
tos ou quase prontos dos primeiros tempos. A vida
escassa. Uma, porém, subia a cem mil-réis. Tratava-
tornou-se difícil e dura. Comíamos fiado, mal e tarde.
se de uma mulata, vinham indicações de gesto e de
O senhorio mandava pelo aluguéis.
vestido. Candinho andara a pesquisá-la sem melhor fortuna, e abriu mão do negócio.
Eu não tinha sequer tempo de remendar a roupa do meu marido, tanta era a necessidade de coser para
Eu ficava muito agoniada em pensar em ter que levar
fora. Tia Mônica me ajudava, naturalmente. Quando
o meu filho para a roda. Candinho voltou para os
ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara que não
cômodos tristes, e encontrou Tia Mônica já com meu
trazia vintém. Jantava e saía outra vez, à cata de
filho pronto para ser levado à roda. Quando ele veio
algum fugido.
me consultar estava resignada. Candinho foi obrigado a cumprir a promessa; me pediu que eu desse ao meu
Após oito meses que o meu filho estava crescendo
filho o resto do leite que ele beberia da mãe. O peque-
dentro de mim, minha tia deu a horrível ideia de levar
no adormeceu, o pai pegou dele, e saiu na direção da
o meu filho para a roda dos enjeitados. Candinho ficou
Rua dos Barbonos.
muito bravo e deu um soco na mesa quando ouviu a ideia. Eu tentei acalmá-lo, dizendo que minha tia não
No momento em que Candinho saiu com o meu filho
tinha dito aquilo por mal, mas ela continuou falando
nos braços eu fiquei desnorteada e tonta, parecia que
que aquilo seria o melhor para nós e saiu. Minutos
eu tinha morrido, até que meu lindo marido apareceu
depois o dono da casa bateu na porta falando que
em casa com o meu filho nos braços e os mil-réis no
se não pagássemos o aluguel em cinco dias ele nos
bolso.
colocará para a rua.
Quando eu vi meu marido de volta, junto com o meu
Assim se passaram os cinco dias e fomos colocados
filho, foi uma sensação de ter nascido de novo, na
para fora da casa, fomos para os aposentos que
hora eu fiquei sem palavras, a única coisa que eu
minha tia havia arrumado no fundo da casa de uma
pensava era no meu filho. Eu o peguei rapidamente
senhora velha e rica. Dois dias depois nasceu o meu
do colo de Candinho e não o soltava mais, agora
filho lindo, meu marido ficou muito feliz e triste ao
sabia que viveria mais feliz e sem peso nenhum na
mesmo tempo. Tia Mônica insistiu em dar a criança à
consciência.
Roda: — Se você não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos Barbonos. Candinho pediu que não, que esperasse, que ele mesmo a levaria. Nós desejamos um menino e o nosso desejo foi atendido. Naquela noite meu marido reviu todas as suas notas
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Dora Bontempi
a possibilidade de me ligar verdadeiramente a alguém.
Mãe e filho
com a possibilidade de que no futuro eu pudesse ter
Eu estava grávida daquele sórdido do
fui esquecendo esse pensamento. Hoje esse futuro
meu senhor, que havia me obrigado a
estava quase palpável. Envolvi minha barriga com a
dormir com ele, certa noite. Cansada
mão. Dar à luz e cuidar de uma criança traria sentido à
Lembrei-me de que, quando eu era menina, sonhava um filho, porém sempre esteve longe do meu alcance,
minha existência. Eu seria a pessoa mais importante
de tanto ter resistido e com hemato-
na vida de um ser. Meu filho seria um verdadeiro alívio
mas doloridos pelo meu corpo e dores
de amor.
musculares nas coxas, deitei de lado e
O senhor aparentava não se importar. Olhava-me
suspirei. Não tinha força para me mover.
com um olhar de desgosto e indiferença. Eu sabia que
Que ódio, eu nunca havia sido violentada
ele não sentiria a menor culpa ao me bater. Era isso
de tal maneira! Sempre fui obrigada a
que eu temia. Todos esses anos eu pude aguentar
aguentar chicotes, mas isso era algo que
a dor, porém meu filho não poderia. De fato, eu não
eu não esperava. Como se não bastasse
poderia viver mais nenhum dia naquela casa, estava
o momento traumático, descobri depois
decidida a fugir. Esperei a noite, quando o senhor
a minha gravidez. Passei dias vivendo
adormeceu, para sair cuidadosamente pelos fundos.
com o peso de ter que aguentar uma
Pulei a mureta de trás da casa e saí correndo sem
gestação contra a minha vontade.
fazer barulho.
Meu ventre ia crescendo a cada dia mais, e eu ia per-
Vagava eufórica pelas ruas, muitos pensamentos
cebendo as mudanças do meu corpo, a menstruação
corriam pela minha cabeça na velocidade dos meus
havia parado há um tempo, meu peso ia aumentando,
passos. Eu estava ciente do risco, havia possibilidade
a fome também e às vezes sentia cólicas. Certa vez,
de eu ser capturada por alguém no meio do caminho
eu tropecei em um buraco e por reflexo coloquei a
e se fosse entregue ---de volta sofreria consequên-
mão na barriga. Esse gesto involuntário se repetia
cias torturantes. Mas também pensava na esperança.
também quando eu apanhava. Estava começando a
Finalmente estava fugindo e poderia nunca mais
me identificar com meu corpo, ele era meu e o feto
precisar viver submetida àquele homem, nunca mais
dentro dele também. Depois de tantos rompimentos
apanharia. Também projetava e sonhava com o
e muito tempo de solidão, estava me deparando com
momento em que veria meu filho nascer. Ainda não havia conseguido pensar em como me sustentaria
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e cuidaria da criança ou para onde iria. O medo me
castigaria com açoites - coisa que, no estado em que
possuía, mas estava, de certa forma, aliviada por ter
eu estava, seria pior de sentir. Com certeza ele me
conseguido escapar.
mandaria dar açoites.
Passei alguns dias vendendo alimentos com outras
O homem culpou-me por estar grávida, julgando-me
escravas fugidas, encontrava-me na rua. Um dia,
irresponsável e continuou me arrastando em direção
ia descendo a rua de S. José quando senti alguém
à Alfândega, onde residia meu senhor. Eu tentei
aproximar-se.
resistir por todo o caminho, com grande esforço, inutilmente. Cheguei, enfim, arrastada, desesperada,
— Arminda! — ele me chamou.
ofegante. Ainda ali ajoelhei-me, mas de novo, em vão.
Virei-me, por reflexo. Ele, tirando um pedaço de corda
O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao
da algibeira, agarrou os meus braços com força. Eu
rumor. Ouvi seus passos se aproximando, senti o suor
tinha sido pega. Tentei fugir, mas o homem, com suas
escorrendo pelo meu rosto. Mais preocupada do que
mãos robustas, atava-me os pulsos e dizia que eu
comigo, eu pensava no meu filho, que com certeza
andasse. Eu não podia voltar, comecei a suar e entrar
não resistiria aos açoites.
em desespero. Quase gritei, mas depois de soltar um
— Aqui está a fujona. - disse o estranho.
curto grunhido percebi que ninguém viria libertar-me, pelo contrário. Pedi então que me soltasse pelo amor
— É ela mesma.
de Deus.
— Meu senhor!
— Estou grávida, meu senhor! — exclamei na es-
— Anda, entra…
perança de fazê-lo ter piedade de livrar-me. — Se
Caí no corredor. Ali mesmo meu senhor abriu a cartei-
vossa Senhoria tem algum filho, peço pelo amor de
ra e tirou os cem mil-réis de gratificação e entregou
Deus que me solte; eu serei sua escrava, vou servi-lo
ao moço. Ele guardou as notas na carteira enquanto
pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!
novamente me dizia que entrasse. No chão, onde eu
Não adiantou.
jazia, fechei os olhos quando vi o açoite.
— Siga!
Levada de medo e de agonia, após algum tempo de
— Me solte!
luta, senti uma dor abdominal. Meu sonho de liberdade escorrendo por entre as pernas, manchando meu
— Não quero demoras; siga!
vestido de vermelho.
Houve aqui luta, porque eu, sem saber mais o que fazer, gemia arrastando-me e ao meu filho. Alegava que o senhor era muito mau, e provavelmente me
51
Elis Nunes Ferreira
lhe contei- o que você vai fazer?
Pai contra mãe
— É claro que não! - eu disse - essa criança é um
— Você vai acabar com o bebê, certo? - Carmen perguntou, tentando não ser indelicada. presente de Deus, preciso dar a ela uma boa vida.
Minha infância foi feliz enquanto durou,
Tânia e Carmen tentaram me convencer a ficar, ar-
o que é muito raro para pessoas na
gumentaram que era melhor realizar um aborto com
minha situação… meus pais fugiram
ervas ou simplesmente criá-la na casa. Mas eu estava
de uma fazenda de café quando eu
já com a ideia presa na cabeça, eu iria fugir, eu nunca iria querer entregar a minha criança a essa vida de
ainda não tinha nascido. Então eu cresci
tortura. Meu plano era simples, esperar até o senhor
em um quilombo perto de um lindo e
ir trabalhar e iria escapar pela janela, para ninguém
vasto rio. Minha mãe me deu o nome
na rua me ver. Também teria que pegar um pouco de dinheiro para conseguir me virar, o senhor era rico,
de Arminda, que significa “mulher do
então nem repararia no sumiço de alguns reis.
exército” ou “a mulher armada”, porque,
Tudo ocorreu conforme planejado, assim que estava
de acordo com ela, eu sou uma pessoa
livre eu fui para a papelaria do irmão da Carmen, ela
muito forte.
havia me dito o endereço logo antes de eu sair. Eu
Quando eu tinha mais ou menos doze anos de idade,
queria fugir daquela cidade o mais rápido possível,
nosso quilombo foi invadido por quase 30 homens, eu
mas vi anúncios de procura com minha descrição no
ouvi muitos gritos e pedidos de perdão a Deus, mas a
jornal, então resolvi ficar quieta até que ele desistisse.
maioria não sobreviveu. Eu fui arrastada aos berros e
Mas depois de algumas semanas percebi que ele não
fui levada para ser “vendida”.
iria desistir, e que ele apenas aumentaria a recom-
Fui então forçada a trabalhar para um moço cruel,
pensa até todos na cidade estarem à minha procura. Por isso acordei às seis da matina para ir comprar os
junto com outras duas mulheres, Carmen e Tânia.
tíquetes de trem com o dinheirinho que havia pego
Pouco a pouco minha dignidade foi sendo arrancada
do senhor, eu estava andando rapidamente pela rua
de mim, acho que minha força foi permanecer sã em meio a tudo aquilo. Nenhuma pessoa deveria passar
quando senti as mãos fortes me agarrarem.
pelo que eu passei, mas mesmo assim eu tinha receio
Assim que percebi o que estava havendo ele já havia
de tentar fugir, ouvi coisas terríveis que aconteciam...
me prendido, eu me remexi e berrei, mas de nada
Mas assim que eu descobri que estava grávida eu
adiantava.
sabia que não poderia ficar ali, queria dar uma chance
— Estou grávida, meu senhor! Eu exclamei. Se Vossa
de vida melhor para minha criança
Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele
— Nossa senhora! - Tânia exclamou, assim que eu
que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo
52
— Siga! repetiu Ele.
emprego fixo, mas é o que conseguiu por enquanto.
Eu estava em pânico chutando e retorcendo enquanto
Estávamos sem casa, sem comida e com um bebê
tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!
para nascer, mas graças a Deus minha tia Mônica
ele me arrastava pela rua até a casa do homem que
arranjou um quarto no porão de uma casa para nós.
me violentou. Eu não entendia por que ninguém fazia
Ela já fez tanto por mim e foi a única pessoa que
nada.
sempre esteve do meu lado, minha única família
— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer
antes do Candinho e não tenho como retribuir. A tia
filhos e fugir depois? perguntou o moço.
Mônica não gosta muito do Cândido, ela acha que eu mereço alguém melhor, provavelmente um homem
Não consegui responder ele, eu estava lutando para
rico e branco, que não deixe nossa situação financeira
não ser puxada, mas não era possível. A porta do
chegar aonde estou agora.
senhor abriu, não parei de lutar, eu não aguentaria
Uma manhã, comecei a entrar em trabalho de parto,
viver se o futuro do meu filho acabasse sendo o
mas o bebê demoraria para chegar. As contrações
mesmo que o meu. Meu corpo cedeu ao estresse e
pararam por um tempo antes do Candinho sair; ele
houve um aborto, o fruto que eu cultivei entrou sem
tinha voltado muito tarde ontem então não tinha
vida nesse mundo.
falado com ele, então perguntei: — Cândido, preciso de dinheiro para comer antes de parir.
Eva Doberti Suarez
— Me desculpe Clara, ontem não consegui nada. — Candinho respondeu. — Então o que está fazendo? vá agora e não se atreva a voltar com os bolsos vazios — Eu disse
Pai contra mãe reinventado
tentando dar uma má motivação para que ele consiga algo para comer, mas ao mesmo tempo em um tom
Como a maioria das mulheres da minha época, sempre quis ter um filho, cuidá-lo, mas nunca desejei que seja na pobreza que me encontro agora. Meu marido, Cândido Neves é um bom homem, ele fica o dia todo fora de casa atrás de escravos fugitivos, não me orgulho do trabalho que tem, eu preferia que ele trabalhasse em algum
de medo de que ele ficasse bravo e me deixasse. Depois do Cândido sair, a tia Mônica olhou para mim e disse: — Clara, quando Cândido voltar vou falar seriamente com ele, para ele repensar a ideia de ir deixar o bebê na Roda dos enjeitados. Para ser sincera, aquilo me aliviou e me deixou pensando ao mesmo tempo. Se o nosso filho fosse
53
deixado na Roda dos enjeitados, ele teria uma
e sim na Roda dos enjeitados. Mas, quando acordei,
melhor condição de vida que nós não temos como
a primeira coisa que eu vi foi o bebê engatinhando
oferecer-lhe. Mas, ao mesmo tempo, a tia Mônica
pelo chão e olhei assustada e infeliz para o Cândido,
deixou a escolha de levar o bebê ou não nas mãos
que estava com um enorme sorriso no rosto que foi
do Candinho, não com a minha ajuda. E Cândido já se
se desmanchando ao ver minha decepção estam-
decidiu, ele não quer levá-lo e sinto que não posso
pada no rosto. Quando percebi que estranhou meu
falar nada para fazê-lo mudar de opinião, mesmo que
rosto, voltei com o meu rosto normal, sem emoções.
eu tenha carregado aquele bebê por nove meses com
Calmamente, perguntei:
o mínimo de comida que um ser humano precisa para
— O que aconteceu? Por que o bebê não está na
viver. Quando Cândido chegou, sem nada no bolso, eu
Roda dos enjeitados?
gritei com uma enorme dor:
— Peguei uma escrava e ganhei uma boa grana, não precisamos mais deixar nosso filho lá- Respondeu
— O BEBÊ ESTÁ NASCENDO AGORA!
Cândido, voltando com um enorme sorriso.
O bebê nasceu depois de longas horas, mas tia
— Como conseguiu? Como foi? - Perguntei como
Mônica foi rápida e disse:
costumava, fingindo me importar com o trabalho de
— Se não levar esse bebê amanhã de manhã para a
Candinho, de que não gostava.
Roda dos enjeitados, eu mesma o levarei!
Não gosto de violência, não sou contra nem a favor da
— Depois falamos sobre isso, não se passaram
escravidão, não opino, estou acostumada a somente
nem duas horas desde o nascimento do meu filho,
seguir a maioria, não contruir uma opinião própria;
deixe-me aproveitar — Respondeu o Cândido,
somente sei que racismo é algo estruturado e não
calmamente.
posso mudar isso, e, graças aos escravos fugitivos
Conseguia pensar somente no tempo. Quanto tempo
que o Cândido devolve para seus donos, ainda não
precisaria esperar para poder ter um pouquinho de
morri de fome.
paz? Qual seria o futuro do meu filho se ele fosse
— Uma fugitiva burra estava simplesmente andando
para a Roda dos enjeitados? Eu, tendo vivido na pele
pelas ruas e, quando peguei-a, começou a usar a
a sensação de não saber o porquê de meus pais não
desculpa de gravidez, é cada coisa que falam para
terem me querido… Como podia odiar ou amar tanto
fugir de suas obrigações! - Cândido explicou.
alguém, sem mesmo conhecê-lo? Com tudo que
— É — Respondi pensativa.
estou vivendo agora, acho que finalmente entendi
Fiquei pensativa, não sei se era verdade ou não; mas
meus pais, eu quero que meu filho tenha uma boa
essa mulher, imagino que estivesse lutando pelo seu
vida e sei que não posso lhe dar isso, talvez, só talvez,
filho, e eu, não. Decidi dar uma chance para esse bebê,
minha mãe pensasse do mesmo jeito.
não está indo uma maravilha mas também não uma
Depois de vinte e quatro horas em trabalho de parto,
porcaria; na pior das ocasiões acabo morrendo de
estava exausta, então fui dormir cedo, com o pecado
fome ou pior, perco minha essência e eu mesma no
de ir dormir esperando acordar sem o bebê pela casa,
caminho.
54
Francisco Priolli Xavier
de ter de cuidar de mim e de meu filho sozinha. Optei por esperar, e finalmente, minha vez havia chegado. — Estou livre, meu Deus do céu. -bradei por muitas vezes sozinha.
A busca
Por dias me mantive escondida nesse enorme silvei-
Senti o sangue escorrendo pelas minhas
ro. Estava agora na hora de ir ver meu amado, seu
pernas, e me lembrei de como cheguei
nome era Ajagunã, era alguém lindo, alto e forte com o coração maravilhoso, um homem doce e corajoso
até aqui. Amedrontava-me a sensação
que finalmente conheceria seu filho. O tal pequenino,
de ter tudo aquilo que foi conquistado
passava dias e noites esperneando e chutando diver-
sumindo, sendo de maneira tão inespe-
sos lugares em minha barriga.
rada. Tudo corria bem, mas de repente
— Quanto amor sinto por essa criança Deus, algo
e tragicamente, meu chão desabou,
indescritível.
e agora vinha a escassez de qualquer
— Decidi então que no dia seguinte caminharia em
mínima gota de esperança.
direção à cidade, e procuraria meu marido.
Depois de dias vivendo esta incessante fuga, estive
— Será amanhã então. Disse em voz alta e me pus a
pela primeira vez acompanhada de paz e tranqui-
dormir entre folhas e galhos.
lidade, é claro que não deveria me dar por vencida
Acordei com o sol batendo em minha cara durante a
pois, para viver uma vida de fugitiva, a necessidade
alvorada, levantei e decidi que já era hora de procurar
de manter o foco, os olhos abertos e a atenção me
Ajagunã pela cidade.
cobria da cabeça aos pés. Qualquer desleixo poderia
Quando a escuridão já estava quase tomando conta
me custar muito.
da paisagem por completo, avistei descendo por uma
Pensava sozinha, finalmente poderei reencontrar meu
longa rua, um cartaz com a silhueta de um homem
marido, homem este que plantou um pedacinho de
parecido com meu marido. Quem dera me tivessem
Deus em minha barriga. O pai de meu filho já havia
ensinado a ler, não entendia o que aquilo significava.
conseguido fugir do repugnante ser que, por cerca de
Mas uma voz me dizia que isso não era um bom
uma eternidade, nos prendia e maltratava. Ele pensou
sinal, acredito que fosse meu filho. Esse pensamento
em um plano, para que nós dois saíssemos daquele
fazia bastante sentido, dado ao fato de que já havia
lugar hediondo, infelizmente o plano não permitia
passado por vários outros cartazes, sempre com
uma saída simultânea, era preciso que um saísse de
números e silhuetas de pretos. Mantive a procura e
cada vez. Meu marido insistiu para que eu fosse a
agora já estava exausta. Me imaginei tendo de fazer
primeira a sair. Mas assim que descobri minha gravi-
isso todos os dias, pois o objetivo me parecia muito
dez, imaginei que não seria capaz de lidar com o fato
distante. Foi quando magicamente escutei uma voz
55
mesmos aparentavam já estar cientes da ocorrência
doce, vinda de trás de mim, e ela repetia:
que estava em andamento.
— Arminda, Arminda! —
Falhei na tentativa de explicar como meu senhor era
— Será que teria terminado minha procura? Será que
maldoso, um homem horrível e que quando chegasse,
havia encontrado Ajagunã?- pensei comigo mesma.
sem sombra de dúvidas seria recebida com uma
E no momento que me virei de costas caí em uma
porção de açoites.
desilusão, era um homem desconhecido, mas que exalava através de seu olhar, uma sensação de alívio
— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer
e gratificação.
filhos e fugir depois?
Foi então que o miserável sacou uma corda de sua
Preferi nem responder a esta pergunta, apenas con-
algibeira, e amarrou meus pulsos uns aos outros, e
tinuei caminhando, e no momento em que reconheci
manteve para si um pedaço da corda, usado para me
uma parte do terreno, me desesperei, a ficha nunca
arrastar. Quando finalmente compreendi a situação,
havia caído com tanto impacto. Minha cabeça foi a
cai em mágoas e desespero, estava sendo levada
mil, tantos pensamentos, lembranças e sentimentos,
para meu senhor. Tentei correr, mas já não tinha
foram capazes de me dar uma última força, apoiei
energia nem força para cumprir essa tarefa. Nesse
meus pés em uma parede, e com muito esforço tentei
momento, dei-me por vencida, e entendi que a única
puxar a corda, de nada adiantou, apenas prolonguei o
opção seria implorar, implorar por minha vida e pelo
tempo até minha chegada.
meu sentimento de liberdade. Eu gritei, tentei, mas
Finalmente estava lá, arrasada, e desesperada, o
logo percebi que ninguém viria me ajudar, pedi pelo
homem bateu a porta, e contra minhas expectativas,
amor de Deus, mas mesmo assim, o homem me
meu senhor a atendeu. Quando vi sua imagem, minha
mantinha presa, e me forçava a caminhar.
pressão caiu, não conseguia entender sequer uma
— Estou grávida, meu senhor! Se Vossa Senhoria
palavra que fosse dita ao meu redor, ouvi alguns
tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me
murmúrios mas não dava atenção, estava mais
solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo
preocupada comigo, e com meu filho. Passando pelo
que quiser. Me solte, meu senhor moço! -tentei por
corredor, pouquíssimo tempo depois, desabei no
mais uma vez, porém assim como anteriormente, tive
chão, olhei para cima e vi a imagem embaçada, de
como resposta um puxão de corda e uma frase de
dois porcos, trocando não só uma, mas duas vidas por
discordância.
dinheiro.
— Siga! -o homem exclamava.
Por mais alguns momentos, escutei murmúrios, e me dei ao trabalho de me levantar, uma tarefa quase que
— Me solte! -disse enquanto fixava meus pés no
impossível. Senti muita dor, e muito sangue escorren-
chão.
do, me dei conta da situação, meu filho estava vindo
— Não quero demoras; siga!
ao mundo, porém vinha sem vida.
Via os olhares que observavam a situação, mas os
56
Gabriela Burza Barbera
com as costas doendo, e no dia seguinte quase não tinha força para levantar da cama. Podia ver pela expressão no rosto de Cândido quando ele chegava em casa que não tinha conseguido nenhum dinheiro.
Sem pai nem mãe
Mas ele não parava. Logo depois de jantar, saía de novo em busca de um escravo fugido.
Eu estava grávida. A criança que eu e Candinho tanto queríamos finalmente viria. Esperei meu marido chegar em casa e contei a notícia para ele, que a recebeu com grande felicidade. Logo em seguida, contamos à tia Mônica que ficou desorientada. Ela pensava que não conseguiríamos cuidar da criança, mas
As coisas continuaram a não melhorar. Tia Mônica dizia que Cândido precisava achar outro ofício, um que garantisse dinheiro. Ele já teve muitas oportunidades de conseguir algum trabalho melhor, mas não se manteve em nenhum deles. Conforme o tempo ia passando, eu podia sentir minha barriga crescendo, o bebê ficando cada vez mais pesado e a quantidade de comida diminuindo.
eu sabia que iríamos.
Candinho mal parava em casa e, quando voltava, o dinheiro ainda era muito pouco. O que iríamos fazer?
— Deus nos há de ajudar, titia.
Faltavam poucos meses para nosso filho nascer e mal
Comecei a trabalhar com mais vontade, tendo que
conseguíamos nos manter. O desespero tomou conta
fazer as costuras encomendadas e o enxoval do meu
de meu corpo conforme pensava no que poderia
filho, além de medir fraldas. Tia Mônica ajudava, mas
acontecer com nosso bebê se continuássemos desse
com má vontade, sempre reclamando do ofício de
jeito. Será que ele sobreviveria?
Cândido, que não estava rendendo muito dinheiro.
Mais um mês tinha se passado, o que significava
Candinho ficou bravo quando descobriu o que tia
que o bebê poderia nascer a qualquer momento. Fui
Mônica falou e discutiu com ela, dizendo que minha
até a cadeira que estava perto dos meus materiais
tia nunca tinha ficado um dia sem comer. Além disso,
de costura e ao me abaixar para pegá-los senti uma
insistiu que nós seríamos perfeitamente capazes de
coisa molhada descendo pelas minhas pernas. O bebê
cuidar de nosso filho e que logo tudo melhoraria no
estava vindo. Tia Mônica veio correndo e me levou
seu ofício.
para o quarto, deitando-me na cama. Logo em se-
Os dias que se seguiram não foram muito bons. A
guida, chamou algumas mulheres da vizinhança para
porção de comida estava ficando escassa e as dívidas
ajudar com o parto.
de Candinho estavam aumentando. Eu praticamente
Depois de um tempo, finalmente peguei meu filho
não tinha tempo de cuidar da roupa do meu marido,
no colo e minha alegria não poderia ser maior ao ver
pois a necessidade de fazer costuras para fora era
que era um menino. Ah! Candinho ficaria tão feliz com
muito maior. Todo dia, eu terminava muito cansada
57
aquilo. A criança era um menino, exatamente o sexo
filho? Mas será que ele viveria melhor lá, já que nem
que queríamos.
casa nós tínhamos?
Ouvi o barulho da porta de casa e sabia que era o
Os cinco dias acabaram. Estávamos nos preparando
Cândido. Chamei-o e ele apareceu no quarto logo em
para sair da casa. Não sabia o que iríamos fazer
seguida. O sorriso no rosto do meu marido só aumen-
quando saíssemos daqui, mas tia Mônica nos surpre-
tou, principalmente quando mostrei a ele o menino.
endeu, contando que tinha arrumado um lugar para
Mas minha felicidade foi, aos poucos, diminuindo
ficarmos, e me senti totalmente grata à minha tia por
quando as perguntas e preocupações que tive duran-
isso. Ao chegar no lugar, arrumamos nossas poucas
te a gravidez me atingiram novamente.
coisas no espaço, e descansamos.
Duas semanas se passaram, com muita agitação.
Passadas algumas horas, o bebê começou a chorar e
Cândido estava ficando ainda mais tempo fora
isso fez com que tia Mônica, novamente, nos dissesse
de casa em busca de escravos fugidos, mas sem
para mandar o menino para a Roda dos Enjeitados.
sucesso. Um dia, durante o jantar, a tia Mônica nos
Daquela vez, como nenhuma outra solução tinha
aconselhou a levar nosso filho para a Roda dos
aparecido, Candinho concordou. Ele me pediu para
Enjeitados, mas a ideia não foi bem recebida por meu
amamentar nosso filho, e percebi que era a última vez
marido, rejeitando-a na hora.
que iria segurá-lo no colo. Quando terminei, ele pegou o menino no colo e saiu, fazendo-me entender que
— Titia não fala por mal, Candinho - disse, na tentati-
eu nunca mais veria meu filho. Sem força para mais
va de fazê-lo se acalmar.
nada, me encostei na poltrona e dormi com um sono
— Por mal? - replicou tia Mônica - Por mal ou por
agitado.
bem, seja o que for, digo que é o melhor que vocês
Não sei por quanto tempo fiquei daquele jeito, acor-
podem fazer. Vocês devem tudo.
dando somente com o barulho da porta sendo aberta.
Não era mentira. As coisas estavam muito difíceis em
Alívio percorreu meu corpo quando vi Candinho
casa e… Meus pensamentos foram interrompidos por
entrando com nosso filho no colo e dinheiro na mão.
uma batida na porta. Era o dono da casa.
Não prestei atenção na história que ele contou,
— Venho pelos aluguéis vencidos. Não posso mais
somente na sensação de ter o meu filho nos braços
esperar. Eles devem ser pagos dentro de cinco dias ou
novamente.
todos vocês irão dormir na rua. Ao dizer isso, o homem saiu, e, logo em seguida, Candinho também. Fui para nosso quarto e me preparei para dormir. Ao sentar na cama, o pânico me atingiu e pensei no conselho da tia Mônica. Mandar meu filho para a Roda dos Enjeitados. Como eu poderia fazer tal coisa? Como poderia abrir mão do meu
58
Gustavo Penteado Gobe
Mônica, que logo nos falou: — Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome. — Nossa Senhora nos dará de comer, dizia Clara. Mas isso não nos desanimou e um dia engravidamos.
Pai contra mãe
A notícia correu de vizinha a vizinha. Clara trabalhava
Há meio século, os escravos fugiam com
agora com mais vontade, e assim era preciso, uma
frequência. Eram muitos, e ninguém
vez que, além das costuras pagas, tinha de ir fazendo
gostava de ser escravizado. Quem perdia
com retalhos o enxoval da criança.
um escravo por fuga dava algum dinhei-
Tia Mônica não parava de nos atormentar e dizia
ro a quem o levasse. Punha anúncios
para deixar a criança na roda dos rejeitados quando
nas folhas públicas, com os sinais do
nascesse. Cada vez com mais dívidas eu procurava
fugido, o nome, a roupa, o defeito físico,
escravos em todo lugar, mas eram escassos. A natureza ia andando, o feto crescia, até fazer-se
se o tinha, o bairro por onde andava e a
pesado à mãe, antes de nascer. Chegou o oitavo mês,
quantia de gratificação.
mês de angústias e necessidades, menos ainda que
E eu, que vivia sempre com fome e sem dinheiro,
o nono, cuja narração dispenso também. Melhor é
acabei entrando para o ofício de pegar escravos
dizer somente os seus efeitos. Não podiam ser mais
fugidios. Não era nobre, mas garantia comida. Já tinha
amargos.
trabalhado em tipografia, em cartório, em loja, mas
— Não, tia Mônica! dizia para a Tia Mônica, recusando
nada durava e eu voltava a passar fome. Quando me
o conselho que me custa escrever, quanto mais ouvi-
apaixonei por Clara, que tinha 22 anos e morava com
-lo. Isso nunca!
uma tia, Mônica, e cosia com ela. Não cosia tanto
Se isso não fosse pouco, um dia o dono da casa,
que não namorasse o seu pouco, mas os namorados
credor de três meses de aluguel, veio em pessoa nos
apenas queriam matar o tempo; não tinham outro
ameaçar.
empenho. Queria casar, naturalmente. Era, como lhe dizia a tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe
— Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no
pegava, mas o peixe passava de longe; algum que
ferrolho da porta e saindo.
parasse, era só para andar à roda da isca, mirá-la,
A situação era aguda. Não achávamos casa, nem
cheirá-la, deixá-la e ir a outras.
pessoa que nos emprestasse algum lugar. Foi Tia
Clara viu em mim o amor que esperava. E eu também
Mônica quem conseguiu um aposento para nós três
me apaixonei por ela. Nos casamos onze meses
em casa de uma senhora velha e rica, que lhe prome-
depois numa linda festa. Fomos morar na casa de Tia
teu emprestar os quartos baixos da casa, ao fundo da
59
cocheira, para os lados de um pátio.
– Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos
Assim, mudamos e dois dias depois nasceu a crian-
e fugir depois? eu disse.
ça. Fiquei muito feliz e ao mesmo tempo triste. Tia
O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao
Mônica insistiu em dar a criança à Roda. “Se você
rumor.
não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos
– Aqui está a fujona, eu disse.
Barbonos.”
– É ela mesma.
Decidi que eu mesmo a levaria. Na noite que resolvi
– Meu senhor!
levar, queria passar o maior tempo possível com meu
– Anda, entra...
filho e fui andar pelas ruas da cidade. E sem querer vi uma escrava fugida, que ofereciam 100 réis pela
Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da
captura.
escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis de gra-
– Arminda! gritei, conforme a nomeava o anúncio que
tificação. Guardei as duas notas de cinquenta mil-réis,
tinha lido.
enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da
Arminda voltou-se. Foi só quando peguei em seus
dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.
braços que ela compreendeu e quis fugir. Era já
O fruto de algum tempo entrou sem vida neste
impossível.
mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de
– Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa
desespero do dono.
Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo
Voltei à farmácia onde tinha deixado meu filho,
tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!
agradeci depressa e mal, e saí às carreiras. Não para a Roda dos enjeitados, mas para a casa de emprés-
– Siga! repeti.
timo com o filho e os cem mil-réis de gratificação.
– Me solte!
Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do
– Não quero demoras; siga!
pequeno, uma vez que trazia os cem mil-réis.
Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo, arrastava-se a si e ao filho. Quem passava ou estava à porta de uma loja, compreendia o que era e naturalmente não acudia. Arminda ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoites, – coisa que, no estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar açoites.
60
Iolanda Magalhães Blanco
“também quem mandou engravidar em primeiro lugar
Pai contra mãe
semanas atrás. Para que uma criança vivesse, outra
“. Essa frase ficou ecoando em minha cabeça, ela estava grávida. Grávida como Clara estava algumas teve que sucumbir.
Estávamos todos reunidos, alegres, Clara
A imagem de um feto sem vida agora nítida na minha
tinha nosso filho em seus braços, chorava
cabeça, será que eu sou tão diferente de Arminda?
de felicidade pois não teria que se despedir
Quem sabe, a sua fuga, era nada mais nada menos,
do mesmo. Abraçava-o com vigor, as lágri-
que uma tentativa para ver a sua criança crescer, beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar, pular....
mas contornando o nariz, sem conseguir
Assim como eu e Clara.
conter a emoção, apertando-o quase como
“Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa
se quisesse espremer aquela pequena cria-
Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele
tura de amor. Sabia que essa euforia toda
que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo
seria passageira, logo o dinheiro da captura
tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!”, sua
de Arminda se esgotaria, e tia Mônica esta-
voz me assombra, como um grito de uma criança que
ria no meu ouvido novamente, dizendo que
nunca nem sequer iria nascer, por minha culpa.
o menino teria que ir.
Mas eu precisava do dinheiro, para que a minha criança crescesse, beijasse, risse, engordasse, pulasse. Fiz
Mônica não estava totalmente errada, precisáva-
o que precisava ser feito, meu trabalho capturar os
mos recuperar a casa e eu devia trazer o mínimo
escravos fujões, já o havia feito milhares de vezes,
de estabilidade para a minha família. Meu filho, mal
os avistava, seguia os negros e mulatos por um
havia chegado nesse mundo e já quase tivera que
período de tempo e em seguida os agarrava. Depois
me despedir dele, nem nome ele tinha ainda. Graças
de amarrados só deveria os levar para o lugar em que
ao bom Deus o dinheiro chegou a tempo, já estava
deveriam ficar, recebia a gratificação e ia embora. Por
a procura de Arminda a alguns dias, quando eu a vi
que desta vez foi diferente?
uma esperança pareceu se acender no meu peito. Os acontecimentos ainda vividos na minha memória,
Não sei, realmente não sei.
a mulata contorcendo-se no chão, o homem me
— Venha, Cândido, venha celebrar com seu filho, ouvi
entregando duas notas de cinquenta mil-réis, logo
Clara dizer.
em seguida o aborto. O fruto de algum tempo que
Olhei em sua direção, recebi meu filho com a mesma
entrou sem vida neste mundo, me lembrei da frase
fúria com que pegara a escrava fujona de há pouco,
dita apenas alguns momentos atrás, “nem todas as
fúria diversa, naturalmente, fúria de amor.
crianças vingam.”
Mas no fundo do meu coração senti algo, algo
De relance consegui ver Clara abençoando a fuga
diferente, remorso e culpa. Nem todas as crianças
da escrava, tia Mônica, que agora se encontrava
vingam, me bateu no coração.
com a criança nos braços, estava julgando a escrava,
61
Isabel Bersou Ruão
cheiro de meu filho, o calor de meu filho. Senti uma
Parto
Ele amamentou-se sem nem abrir os olhos deixando
Quando a primeira contração veio,
era… desconfortável, doeu um pouco no começo, mas
imediatamente senti medo, iria apenas
era incrivelmente gostoso. Porém, a cada mamada
mãozinha tocar a maçã do meu rosto, coloquei minha mão sobre a dele, querendo nunca soltar.
uma de suas mãos apoiada em meu seio. Amamentar
pari-lo para logo deixá-lo. Tentei ignorar
que meu filho dava, eu me sentia cada vez mais fria.
uma felicidade que crescia em mim por
Vi meu filho recém-nascido ser tirado de meus braços, colocado nos do pai, que o levaria para longe,
acreditar que teria um filho para ama-
sem nada a garantir que vingaria. Cândido abriu a
mentar, cuidar, ver crescer.
porta e o vento gélido os acolheu, vi os pequenos
Por mais que minhas razões fossem boas, não podia
olhos de meu garotinho tremerem com o súbito frio,
impedir o parto. Lembro de Tia Mônica chegar e me
minha única vontade era pegá-lo em meu colo nova-
ver encurvada, me apoiando em uma cadeira enquan-
mente e deixar que se esquentasse no calor junto ao
to eu segurava minha barriga durante uma contração
meu seio. Cândido não olhou para mim quando saiu.
dolorosa. Ela me ajudou a chegar até a cama, pegou
Senti meus braços pesarem como se estivessem
lençóis, subiu minha camisola, passou um pano com
sem vida ao meu lado. O lençol sujo de sangue ainda
água fria em minha testa. Encorajava-me a empurrar
estava na cama, emaranhado em minhas pernas.
e parecia não se incomodar com meus gritos de dor.
Estas, por sua vez, estavam nuas, com minha cami-
Mas eu não queria parir, deixar meu filho sair de meu
sola erguida até o quadril. Meus seios cheios de leite
ventre, onde estava seguro ao alcance de meu abraço.
tocavam o tecido fino da roupa, sem a chance de
Quando ele finalmente nasceu comecei a chorar e a
poderem se acostumar com a boca de uma criança.
rir, não acreditava que agora havia vindo ao mundo
Meus cabelos molhados de suor grudavam em meu
o bebê de quem eu era mãe. Mas, então, Tia Mônica
pescoço. Nada disso me incomodava, apenas o fato
pegou uma tesoura e cortou o cordão umbilical. Me
de meus braços estarem vazios sem meu bebê para
bateu um súbito desespero, parei de chorar e rir, nada
dar sentido à cena.
mais me ligava àquela criança.
Não tinha lhe dado um nome.
Tia Mônica levou-o até mim para que eu o ama-
Inesperadamente, senti meus olhos secos.
mentasse. Peguei meu filho com os dois braços e o aconcheguei junto de meu peito. Fechei os olhos ao beijar sua delicada cabeça e inspirei seu cheiro. O
62
João Dente
amigável. Claro que não se importariam com uma mulher escrava, mas as mudanças no país haviam surtido algum efeito. Eu ainda estava muito ferida
A mãe sem filho
de minha fuga, e precisei comprar alguns remédios em uma farmácia próxima. Eu tinha apenas alguns
A vida que eu tinha sempre foi muito difícil.
trocados que havia encontrado, então não deu para
A tortura de ser uma escrava no Brasil era
comprar muita coisa, ainda mais com a má vontade
talvez o maior sofrimento que se podia ter.
do vendedor. Quando estava saindo, percebi os
Passava por diversas torturas, ferros aos
anúncios de meu antigo senhor colocando um preço para quem me capturasse. Eu recolhi os anúncios que
pés e ao pescoço, máscaras que impediam a
consegui, sem parecer suspeita, mas já sabia que algo
alimentação e muitas chicotadas. Eu, como
de ruim estava para acontecer.
uma mulher grávida, precisava permanecer
Um dia, um homem me encontrou tentando pegar
em pé, mesmo que todas aquelas ativida-
outros remédios que faltavam, quando percebi a sua
des fossem interminavelmente exaustivas e
intenção de receber a recompensa por minha captura. Tentei fugir outra vez e aquela força dentro de mim
dolorosas.
havia voltado. Apesar de tudo que passei ainda tinha
O bebê que estava em minha barriga me trazia re-
vontade de viver e ver meu filho crescer. Mas daquela
pugnância, era o fruto do maior abuso que sofri em
vez não foi possível escapar.
minha vida, o qual não pretendo contar novamente.
O homem me capturou. Nessa hora, sabia que vol-
Aquele feto, ainda que me causasse entojo, fazia-me
taria à posse de meu antigo senhor. Minha última
compadecer por suas inúmeras dores que sentiria em
medida desesperada foi apelar para o lado pessoal,
sua vida.
contei-lhe de meu amor por meu filho, mas o homem
Um dia que estava na senzala, meu senhor distraiu-
estava destinado a pegar a recompensa por minha
-se, dando-me a possibilidade de escapar daquele
captura. Portanto, o que eu temia se tornou verdade,
lugar. Eu sabia que se fosse capturada o que acon-
ele me levou para o senhor de escravos. De volta
teceria comigo seria muito pior, mas não havia muito
àquele pesadelo fui punida com forte tortura, o que
caminho para tal acontecimento. Por isso aproveitei
causou a morte de meu filho.
o único sopro de esperança que eu ainda tinha e saí
O vazio se instaurou em minha alma e aquela espe-
correndo com todas as minhas forças. Cortei-me com
rança que surgia dentro de minha havia se esvaído.
arames e bati muitas partes de meu corpo, não era
Nas manchetes, bradavam o fim da escravidão, mas
uma fuga fácil mas eu continuei. Sabia que estava
sabia que eu nunca seria livre. Estaria sempre presa
escapando por mim e por aquela criança pois a força
no momento da morte de meu filho. Depois desse
que surgiu dentro de mim não era de uma pessoa só.
dia, mesmo com a abolição da escravatura, a saudade
Por fim, cheguei à uma cidade minimamente
tirou a disposição que vivia dentro de mim.
63
Lara Greger Tavares Rocha
vontade de participar também. Era um chamado, ele
Capitães da Areia outro fim
então chegaram João de Adão com seu companheiro
Quando Pedro Bala e os Capitães da areia
o grupo dos furadores de greve e Pedro ficou muito
queria aquilo mais do que tudo, pertencer àquela luta assim como seu pai um dia havia pertencido. Eis que Alberto e chamaram os capitães da areia para conter entusiasmado. Essa seria a oportunidade perfeita
resgataram Dora e a levaram para o trapi-
para que ele lutasse pela liberdade ao lado dos
che, eles perceberam que ela estava com
grevistas.
febre bem alta. Logo eles chamaram a mãe
Ele vai até o trapiche e conta a todos sobre o que João
de santo Don’Aninha para cuidar dela. Com
de Adão havia dito e junto com Professor ele bola um
o tempo ela começou a recuperar aquele
plano para conter os furadores de greve. Eles iriam
seu mesmo semblante alegre e rosado de
de madrugada onde se dividiram em três grupos, um chefiado por ele, outro por Professor e outro por João
sempre, não estava mais triste e nem aflita
Grande, levando o máximo de armas que tinham.
como quando estava no orfanato. Voltou a
— Se eu não voltar, é Dora quem vai chefiar vocês
ser a Dora que todos conheciam, Dora mãe,
ouviram bem!? - Pedro Bala disse com muita con-
irmã, e a tão amada noiva de Pedro, todos
fiança na coragem de Dora, e assim o plano seria
estavam felizes com sua volta.
executado na madrugada.
Passado muito tempo, com a volta de Dora, alguns
Estavam todos se preparando para ir quando Dora
membros do grupo começaram a buscar suas am-
disse a Pedro:
bições. Volta Seca com o apoio da mesma se tornou
— Obrigada por confiar em mim, mas por favor diga
um dos membros do bando de Lampião, Gato decidiu
que tu vai voltar, assim poderemos nos casar ainda
ir para Ilhéus junto com Dalva, Pirulito virou padre
um dia, tenho fé em você - ao ouvir isso ele apenas
com a ajuda do Padre José Pedro, Boa Vida virou um
depositou um curto beijo nos lábios dela e respondeu:
malandro conhecido nas ruas da Bahia. Tudo estava sendo encaminhado e os que continuavam no tra-
— Volto sim! - .
piche, Professor, João Grande, estavam sempre ao
Os fura greves atacaram e numericamente eles
lado de Pedro Bala, assim como Dora. O único que
estavam com uma vantagem muito maior que os
não havia encontrado nenhum caminho ou saída, era
Capitães da areia, mas, mesmo assim, os três grupos
o Sem-Pernas todo o ódio já o consumia, não havia
avançaram bravamente e lutaram. Pedro Bala lide-
lugar para ele. Ele deveria acabar com esse sofri-
rava o que ia na frente, abateu muitos do grupo dos
mento, dando um fim a sua vida, era o que ele estava
fura greves, até que, de repente, o líder dos furadores
determinado a fazer.
pegou Pedro Bala desprevenido com um tiro.
A greve havia começado na cidade, o barulho, os
Assim que os Capitães da areia viram que Pedro havia
protestos, tudo aquilo despertava em Pedro Bala a
sido atingido, avançaram com muita força para poder
64
Laura Martins Beatrice
vencer a batalha. No fim acabaram por afugentar os furadores. Professor e João Grande foram à procura do corpo de Pedro Bala no meio de tudo, assim como Dora. Quando o encontraram ele já estava morto, não
Ele contra mim
havia nada que pudesse ser feito. Como seu pai ele havia morrido defendendo a liberdade. Dora chorava desesperadamente, não conseguia acreditar naquilo, todos os Capitães da areia também choravam pela
Esta história começa quando eu conheci Cândido
morte de seu líder.
Neves, o homem pelo qual me apaixonei. Eu o conheci
No saveiro do Querido D-Deus o corpo do grande
em um baile, senti que ele poderia ser meu possível
capitão Pedro Bala sumia no meio do mar, morrera
marido. Cândido trabalhava pegando os escravos
por todos, por algo em que acreditava. orgulhou-se
que fugiam de seus donos, esse não era um trabalho
disso até o fim e, agora, os Capitães da areia teriam
estável, tinha vezes em que ele não conseguia pegar
uma nova chefe, Dora a quem Pedro havia depositado
os fujões, e outras nas quais ele voltava com muitos
toda confiança. Ela não sabia se teria forças para isso,
réis no bolso. Embora eu e minha tia Mônica preferís-
mas teria de fazê-lo. Ele confiou na coragem de sua
semos que ele fosse trabalhar com algo mais seguro,
amada e ela deveria deixá-lo orgulhoso.
ele disse que não conseguia.
Dora, mãe, irmã e ex noiva de Pedro Bala era agora a líder dos capitães da areia, cuidaria deles e os prote-
Logo depois do casamento ele veio morar com a
geria com sua vida. seu coração mandava-a cumprir
gente, tenho quase certeza de que minha tia não
com essa palavra e, para isso, ela sempre tinha a
estava confortável com ele ali, mas o que poderíamos
ajuda de Professor e João Grande, aqueles que a
fazer? Não tínhamos dinheiro, ela sabia disso, por isso
ajudaram desde o começo, Professor principalmente,
ela estava o tolerando. Quando estava tudo se encai-
pois seu amor por Dora ainda prevalecia. Ele a apoiava
xando dentro daquela casa, quando eu descobri que
em tudo, estava sempre lá para ela, e com o tempo
estava grávida, foi um misto de emoções, minha tia
isso foi o motivo para que Dora percebesse que não
estava preocupada com o fato de não termos como
via professor como apenas um irmão. Ela o amava, e não poderia mais esconder, já era passado muito
sustentar aquela criança, já meu marido não queria
tempo que havia amado Pedro e desde então seus
saber de mais nada ele só pensava em seu futuro
sentimentos por Professor vieram à tona.
filho. Eu estava dividida entre as duas opiniões, eu já
Quando ela os confessou, Professor se sentiu imen-
amava aquele filho com todo o meu coração, mas por
samente feliz, ser correspondido por Dora foi o que
outro lado eu sabia que não tínhamos dinheiro.
ele sempre quis, e faria o necessário para estar ao
O tempo foi passando e minha barriga crescendo, a
lado dela e cuidar dela sempre. Dora tornou-se uma
chegada do bebê estava se aproximando, e nesse
líder amada por todos.
meio tempo Cândido não tinha conseguido nenhum trabalho. Quando sentamos à mesa para jantar
65
Lívia Y Dantas
àquela noite, a minha tia deu a ideia de levarmos o nosso filho para a roda dos rejeitados. Cândido começou a brigar com a minha tia no mesmo segundo, eu
Enjeitado?
comecei a chorar, só de pensar que meu filho, minha maior paixão, ia ser tirado de mim, aquilo me dava
Lembro-me de quando casei-me com
pânico, não consegui mais ficar na mesa de jantar, me
Candinho, tia Mônica me alertara sobre
retirei e fui deitar torcendo para quando acordar não
sua fama de vadio mas não dei ouvidos,
lembram daquele ocorrido.
o desejo de casar era maior. Na época em
A tia Mônica não tirava a ideia de colocar a minha
que o conheci estava para fazer 22 anos,
criança na Roda dos rejeitados, ela dizia que devíamos
quase certa de que nunca me tornaria
deixar esse filho para trás, e, assim que tivéssemos dinheiro, teríamos um novo filho. Teve uma deter-
noiva, mãe. Porém, no baile de nosso
minada hora que ela parou de implorar e começou
primeiro encontro soube que ele se ca-
a ameaçar, cada vez ameaças maiores. Depois de
saria comigo, agarrei-o então com todas
sermos muito pressionados decidimos dar o bebê
as minhas forças. Na época ele arranjou
para a Roda dos rejeitados.
um emprego de entalhador para pedir a
O grande dia chegou, o dia em que ia ver a carinha do
minha mão, apesar da aparente insatis-
ser que eu mais amava no mundo, mas era também o
fação tia Mônica não deu palpite, aceitei
dia que iam arrancar o meu bebê de mim.
a proposta com imensurável satisfação. A
A dor era suportável mas muito forte, depois de meia
festa foi boa, as primeiras semanas foram
hora de muito esforço ele nasceu: era um menininho,
as mais felizes de minha vida até então.
meu maior amor. Pena que não consegui ficar admi-
Queríamos um filho, tia Mônica não gostou da ideia e
rando-o por muito tempo, minha tia o arrancou dos
dizia que uma criança só traria fome, principalmente
meus braços, e deu-o para Cândido levá-lo.
depois que Cândido deixou o ofício de entalhador. Além disso, os meses passavam e eu acabara de completar 23 anos, a ideia de não poder engravidar me aterrorizava constantemente. Sabia que antes da criança nascer ele deveria ter um emprego certo, como dizia titia. Não gostava da ideia de meu marido ser um caçador de escravos, um ofício tão violento, cruel, mas o que poderia fazer? Era o único ofício que aguentava e precisávamos do dinheiro. Quando descobri a gravidez tive medo, mas devo
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ao certo por que me deixaram.
admitir um breve alívio. Uma criança, eu pensava, um sucessor para Candinho, um ser que seria amado e
De minha mãe, lembro de seu doce rosto, de seu
cuidado por pai e mãe. Animada, contei a notícia para
colo seguro e das cantigas que murmurava em meu
titia, ela, amarga, soltou premonições pessimistas.
ouvido quando eu chorava. Recordo menos ainda de
Não pude acreditar, como ela podia ser tão seca e
meu pai, não posso formar uma imagem nítida de seu
tão insensível? Me convenci de que era apenas uma
rosto. Sei que contava para meus irmãos histórias
maneira de extravasar o fato de nunca ter conseguido
sobre meu avô, que fugiu de seu senhor e conseguiu
ser mãe. Candinho, por outro lado, ficou encantado.
ganhar a vida na vila. Ao relembrar disso, confesso
Assim como eu, ele sabia que agora teria de trabalhar
que senti um pouco de vergonha de ser esposa de
mais do que nunca, então começou a passar mais
Candinho, mas não há nada que pudesse fazer agora,
horas longe de casa. Eu trabalhava incessantemente,
a barriga era grande e o tempo escasso.
tentando economizar tecido e retalhos para o enxoval
A cada dia que passava, sabia que estava mais
do bebê. Os meses se passavam e a barriga crescia,
próxima de perder meu filho. Sabia que se o medo
nossa situação piorava. Admito que em certas noites
se concretizasse, perderia Cândido e ele a mim. Tia
o medo de que o trabalho se revelasse inútil me
Mônica manteve-se, ou pelo menos parecia, firme
assombrava. Desse modo, me punha a trabalhar mais
dizendo que ela mesma levaria o rebento à roda.
e mais, se não para o meu filho, para o marido, eu
Como ela poderia levar uma criança a um lugar sem
pensava.
amor, onde ela não teria lar e precisaria trabalhar duro
Agora faltava pouco para o nascimento da criança.
desde cedo? me perguntava inconformada.
Passávamos fome, havíamos perdido a casa e Candinho
Certa tarde no celeiro emprestado, enquanto cosia, senti
incansavelmente procurava por anúncios de escravos
a criança, ela estava para chegar. Neste momento o de-
fugidos. Ele estava aflito, deixara de rir como antes, fora
sespero se apossou de meu corpo e se já não estivesse
humilhado. Eu, tola, não pensei nas consequências de
sentada, teria caído. Por longos segundos a respiração
uma gravidez. Estava tão preocupada em não acabar
me foi tomada. Tia Mônica, trabalhando ao meu lado,
como a tia Mônica, sozinha...fui egoísta. Mas seria
olhou-me séria e, calmamente, pôs-se a preparar as
mesmo tão ruim querer uma criança para amar como eu
coisas para a chegada da criança.
nunca havia sido? Pensava,enquanto cosia.
Continuei ali imóvel, meu filho está indo embora,
Titia dizia que teríamos de levar a criança para a roda
pensei. Como poderia chamá-lo de meu se antes
dos enjeitados, para que esta não sofresse por nossa
mesmo que pudesse conhecê-lo seria tirado de mim.
miséria. Mas como poderíamos, Candinho faria tudo
Como um reflexo, um pensamento cruel passou por
em seu alcance para evitar isso e a simples ideia de
minha mente ainda atônita, não quero que ele chegue.
meu filho crescer sem pai nem mãe me era repug-
Ao repetir essas palavras em minha cabeça fui
nante, um destino cruel. Fui criada por tia Mônica e
tomada por vergonha, raiva, era o meu filho e vê-lo vivo
muito poucas são as memórias de meus pais. Não sei
e saudável seria uma benção, deveria me conformar.
67
Luana Rayol
Quando dei por mim, tia Mônica ainda preparava-se para o parto e Candinho, que porventura encontrava-se em casa, olhou-me incrédulo, apreensivo. Por que não
O passado da mãe
pude segurar mais alguns dias? Me perguntava. Cândido poderia até ter arranjado algum dinheiro…
Aos dez anos de idade perdi meus pais,
As dores do parto já se anunciavam, porém tudo foi muito rápido. Minutos antes estava cosendo uma
foi um sentimento muito incomum para
fralda e agora olhava, nos braços de tia Mônica, a
mim, uma criança. Achava que já havia
criança mais bela que já vira e que jamais teria a
presenciado dores grandes como essa,
chance de usá-la. Ouvi seu choro, um alívio. “É um
mas claramente estava errada. Antes de
menino”, disse titia entregando-o em meus braços cansados. O apreciava envolvido em meu colo, ele se
os meus pais falecerem de tuberculose,
acalmara, seus olhos fechados e sua minúscula mão
eu trabalhava em uma fazenda de trigo
repousava em meu seio. Enquanto lágrimas escor-
para ajudar a manter a casa com eles,
riam pelo meu rosto, já molhado de suor, tive certeza de que admirava a coisa mais preciosa desse mundo.
não era remunerada o suficiente, mas
Dava de mamar enquanto Candinho e tia Mônica
pelo o menos ganhava o necessário para pôr comida na mesa.
acompanhavam atentamente cada movimento do bebê. Sabia que, quando aquele momento acabasse,
Depois que meus pais morreram minha tia chamada
um deles o levaria de mim. Apertei-o com mais força,
Mônica ficou com a minha custódia, já que ela era
mas não adiantou, ele adormeceu. Logo o senti
minha parente mais próxima, não era o que eu bem
sendo levado dos meus braços, seu peso diminuía
queria ou esperava, mas naquela época eu não esco-
mas a força que fazia para tentar mantê-lo perto
lhia nada, só aceitava.
de mim aumentava. Sabia que precisava deixá-lo ir, que poderia o machucar, mas não conseguia. As
Minha Tia não era exatamente aquela pessoa
lágrimas me bloquearam parte da visão e os soluços
adorável que aparentava, ela conseguia ser bem
me fizeram fraca. Senti um braço sobre meus ombros
inconveniente às vezes, nunca apoiou nenhum dos
que me impedia o movimento. Ouvi a porta do celeiro
meus relacionamentos e um de seus piores medos
bater, seu barulho ecoou no cômodo e pela minha
era descobrir que eu havia engravidado, ela sempre
cabeça só passava a imagem das malignas mãos
me falava que, se em algum dia eu engravidasse,
que o tomaram de meu colo. Reconheci, então, a voz
por mais que ela gostasse de crianças, ela iria me
de tia Mônica que sussurrava ao meu lado que tudo
expulsar de casa, não só pelo trabalho de cuidar de
ficaria melhor. Logo compreendi, fora Cândido quem
um recém-nascido, mas sim pelos altos custos de
tomara a criança de mim.
68
despesas que iriam ser necessárias para cuidar do
informou que eu deveria levar o meu filho para um or-
bebê.
fanato, e ainda falou isso com o meu marido. Depois disso nunca mais relatei nada da minha gravidez a ela.
Desde os 14 anos eu comecei a procurar pelo meu futuro marido. Sempre que trazia algum menino para
Nove meses depois, meu filho nasceu, foi uma alegria
a casa minha Tia ou reclamava ou perguntava sobre a
imensa em minha vida, a razão do meu viver. Já, para
fortuna dele. Eu tive vários namorados mas nenhum
Cândido, ele era só mais uma criança, nunca entendi
realmente durou, eu nunca conseguia sentir afeto o
o problema de afeto que meu marido tinha com seu
suficiente por eles, às vezes nem sequer me lembrava
próprio filho.
como se chamavam, isso talvez porque eu apenas os
Até que um dia durante meu sono, acordo com a
usava para preencher o vazio dentro de mim.
porta batendo, era Cândido, ele estava muito ofe-
Segui minha vida assim até conhecer Cândido Neves
gante e agitado, perguntei o que havia acontecido e
aos meus 20 anos, um homem que sobrevivia de
quando ouvi as palavras dele, desabei. Cândido estava
pegar escravos fugitivos. Ele não tinha um emprego
contando que não tinha escolha, uma questão de vida
fixo, e não ganhava bem, mas assim que o conheci
ou morte, ele havia levado meu filho para o orfanato.
percebi o quão importante ele iria ser para mim, con-
Passei dias deitada chorando me lamentando onde
versamos durante dois meses, namoramos durante
que eu errei, foi o mesmo sentimento de perder meus
4 meses e nos casamos depois de 2 anos. Por mais
pais, a vida que eu esperei nascer durante 9 meses
enfrentassemos dificuldades, nosso amor era maior,
tinha se ido em menos de 1 ano. Isso partiu meu
era tudo para mim e tudo para ele.
coração de tantas maneiras que nem conseguia mais olhar para Candido.
Depois de dois meses de casamento eu engravidei, não sabia se reagia bem ou mal, pensava na felicidade
Então, alguns meses depois juntei minhas coisas e
que traria em nossas vidas, mas pensava muito no
saí de casa em busca de uma vida melhor, abandonei
que minha tia me contava, que as despesas e o tra-
meu marido pois não aguentava mais olhar para ele
balho iriam me consumir e eu não saberia mais o que
e lembrar de meu filho. Até hoje penso nos dois e me
pensar. Assim que contei a notícia a Cândido ele teve
lembro dos poucos, mas na maioria, bons momentos
uma reação muito questionável, ele me falou:
que tivemos.
— Por mais que eu te ame muito, nós temos que pensar nas grandes despesas que essa criança trará, eu iria a amá-la, mas terei que passar mais tempo ausente para conseguir mais dinheiro. Já a minha tia , como esperado, chorou e falou que minha vida havia acabado, imediatamente, me
69
Lucas Watanabe A. P. Litvin
sempre me ajudava. No final da minha gravidez, tia
Pai contra mãe
Candinho perguntou:
Mônica veio conversar comigo e Candinho. Disse que deveríamos levar a criança à Roda dos enjeitados.
— Enjeitar o quê?
Trabalho e moro com a minha tia Mônica.
Candinho arregalou os olhos e até deu um soco na
Nós somos costureiras e pelo fato de
mesa de tanta raiva que ficou.
tanto trabalharmos, nem tenho tanto
Eu falei:
tempo para namorar. Minha tia sempre
— Titia não fala por mal, Candinho.
implicou com os meus namorados, às
Tia Mônica replicou. Por mal ou por bem, seja o que
vezes ela nem sabia o nome deles.
for, digo que é o melhor que vocês podem fazer. Vocês
Até que um dia eu vi um homem, estávamos num
não têm dinheiro e querem aumentar a família, ela
baile ele se chamava Cândido Neves, senti na hora
terminou a frase com um gesto de ombros, deu as
que ele poderia ser o meu marido, um marido verda-
costas e foi para o seu pequeno quarto.
deiro, único. Nessa época eu já tinha os meus 22 anos
Eu fiquei meio chocada, pois ela sempre insinuava que
e ele 30.
eu não deveria ter o bebê, mas dessa vez ela foi cruel.
Nos casamos uns 11 meses depois, mesmo com os
Dei a mão a Candinho, para ampará-lo e ele fez uma
meus amigos e minha tia achando que ele não era
careta e chamou a tia Mônica de maluca.
homem para mim. Só porque Cândido era um homem
Até que bateram na porta de casa. Era o dono da
pobre, cheio de dívidas e ele pegava escravos fugidos.
casa, veio cobrar os três meses de aluguel atrasado.
Mas é que ele era tão apaixonado por mim…
Ele veio receber os aluguéis vencidos, como não
Mesmo depois de casados, a tia Mônica não era
tínhamos o dinheiro ele falou que se, em cinco dias
a favor da nossa relação. Ela sempre implicava e
não pagássemos, teríamos que deixar o imóvel.
ainda dizia que se um dia eu tivesse um bebê que ele iria passar fome. E foi assim que aconteceu, eu
— Cinco dias ou rua! Ele repetiu e foi embora.
engravidei.
Candinho tentou de tudo, mas não conseguiu nenhum
Cândido também continuava o mesmo, sem um
dinheiro e os dias foram passando. A situação era
emprego, só ficava tentando e tentando arrumar algo,
aguda.
mas sempre voltava para casa sem um vintém.
Tia Mônica conseguiu arrumar um lugar para ficarmos,
Trabalho bastante, tem dias que nem tenho tempo
só que ela danada que é, não falou nada até o dia de sairmos da casa, para que Candinho se agilizasse. A casa
de remendar as roupas de Cândido, mas a tia Mônica
70
Luiza Varanda
emprestada era de uma velha senhora rica. Dois dias depois, meu filho nasceu e a tia Mônica insistia em dar meu bebê. Naquele mesmo dia
Dora, Dora
Candinho olhou todas as suas notas de escravos fugidos, para ver se conseguia alguma quantia. Não achou
Depois de dolorosos meses no orfanato,
nada que o ajudasse e ficou muito triste. Lembrou do
Dora com a ajuda dos meninos do tra-
tempo que morou no albergue.
piche foi capaz de fugir. Pedro Bala, que
Não tinha mais o que fazer, eu e Candinho decidimos
junto com os garotos pensou no plano
levar a criança. Meu bebê dormiu e meu marido levou
para salvá-la, não foi capaz de executá-
ele embora.
-lo, já que se encontrava muito doente
Num dos becos que andava, Candinho acabou avis-
depois de ser exposto às condições
tando um vulto de uma mulher. Percebeu que era
tortuosas no tempo em que viveu no
uma escrava fugida, a Arminda. Nisso, ele entrou numa farmácia e pediu ao farmacêutico que cuidasse
reformatório.
da criança que ele já viria buscá-la.
Dora chegava no trapiche quase sem conseguir
Candinho não pensou duas vezes, foi atrás da mulher
conter a ansiedade que transbordava dentro de si. Via de longe, Pedro Bala no fundo do trapiche.
e a pegou pelos braços. Foi arrastando a escrava pela
Aumentava a velocidade dos passos, e correu em
rua, em direção à rua da Alfândega, onde morava o
sua direção. Ela parou, frente a frente com Pedro. O
senhor da escrava.
rapaz se encontrava fraco, magro, pálido, quase sem
Chegando lá, Candinho entregou a escrava que foi
vida. Pedro Bala sentia a dor da morte arder pelo
reconhecida pelo senhor, e esse o gratificou com duas
corpo, mal conseguia andar. Mesmo assim, estava
notas de cinquenta mil-réis.
feliz por rever Dora, feliz como nunca estivera antes.
Ele voltou à farmácia, para buscar seu filho. Ao chegar
Não continha o sorriso que contagiava Sem-Pernas,
não o viu. Ficou desesperado, mas o farmacêutico
Pirulito e Professor.
disse que ele estava com sua família. Candinho pegou
O brilho nos olhos de Dora, ao reencontrar seu
seu filho de volta e foi para casa com os cem mil-réis
marido, quase iluminava o trapiche. Estava feliz. Os
no bolso.
dois se abraçaram, e Dora percebia nos olhos de Pedro uma dor sem fim, uma necessidade de paz. Um desejo de descanso, e de liberdade. Liberdade da dor. Ela sabe. Pedro já sentia dor nas pernas, e logo se sentou no chão, ao lado de Dora. Ele não conseguia se mover,
71
não tinha forças para dizer tudo o que desejava. Mas
observando a vela diminuir seu brilho, até apagar.
não era necessário. Dora entendia, era como se ela
Tudo fica escuro. Um silêncio profundo toma conta do
pudesse ouvir a voz de Pedro através dos olhos, que
trapiche. Dora se deixa sentir dor e chora. Não deixa,
agora úmidos deixavam cair lágrimas. Os meninos do
porém, que Pedro perceba. Chora silenciosamente, e
trapiche os deixaram sozinhos, procurando algo para
se controla para não deixar a dor ser maior que ela,
comer.
continuando em silêncio.
Iluminados por uma única vela que já chegava ao fim,
-Você vai ser uma boa médica- sussurra Pedro Bala.
Pedro chorou,. Os braços de Dora o envolviam na
Os dois dormiram de mãos dadas em meio às
tentativa de confortá-lo. Ela não demonstra senti-
lágrimas.
mento algum.
Dora acordou pouco tempo depois. Percebe a ausên-
— Tô doente, muito doente, sabe?-Diz Pedro Bala
cia dos suspiros de Pedro. Seus dedos estavam frios,
entre lágrimas.
assim como os pés. Ela sentou, e, na escuridão, tocou
Dora não responde. Continua sem expressão, como
o rosto dele, que estava gelado. Seu coração não batia
se estivesse morta. Ela sabe.
mais.
A menina lhe oferece um pouco d’água, e ele recusa.
Ela não chorou. Em meio ao silêncio, ela recolheu
Não consegue engolir, sente muita dor.
algumas roupas jogadas, enfiou numa bolsa, pegou um pedaço de pão e vestiu o casaco de Pedro que ela
A esposa se deita ao lado de Pedro e segura sua mão,
usava como travesseiro durante a noite. Dora beijou a
o menino ainda soluçando aproxima a mão de Dora
testa de Pedro Bala e saiu do trapiche, para sempre.
no rosto e suspira.
A menina andava com pressa e chega na estação
— O que você quer ser quando crescer? - pergunta
de trem da cidade. Aguardou o dia surgir sentada no
Dora.
banco da estação, sem conseguir pensar na morte de
Espantado com a pergunta, ele diz:
Pedro.
— Não sei, não vou crescer- e chora ainda mais[.]
Dora se passava facilmente por um garoto, devido às
Dora não se mostrou triste, não se mostrou preocu-
roupas largas e o cabelo bagunçado. Conseguiu pagar
pada com a temida morte de Pedro, o que o chamou
uma passagem com uns trocados que conseguira.
atenção.
Sentou no fundo do vagão, e não deixou espaço para
— Quero ser médica- disse ela — quero ajudar os
a tristeza, já que esta, a mataria também. Rumo à
outros.
uma nova vida.
Pedro com um olhar curioso, não disse nada. Ficam os dois olhando para o teto do trapiche,
72
Maria Eduarda Santos Costa
fui paciente o suficiente para aprender bem, assim só me restando garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. No final acabei desistindo e decidi só voltar a trabalhar quando me casasse com Clara, o que não demorou muito para acontecer.
Um pai sem mãe
O nosso casamento foi a mais bela festa, os amigos
Em minha pobre vida, sentia carência de várias coisas, a minha pior e mais horrenda foi a minha carência por estabilidade, eu não conseguia ter um emprego fixo. Tudo começou comigo querendo aprender tipografia, desisti quando percebi logo cedo que eu precisava de algum tempo para compor bem, e que ainda não ganharia o bastante. O comércio me chamou a atenção logo depois, era uma carreira boa e com algum esforço consegui entrar de caixeiro para um armarinho. Porém com a obrigação de atender e servir a todos feria o meu orgulho, o que me fez desistir depois de cinco ou talvez seis semanas. Fiel de cartório, carteiro e outros empregos, todos deixados por mim depois de muito pouco tempo.
de Clara, acredito que menos por amizade que por
Então eu conheci a Clara e quando me vi apaixonado
perguntou Clara
por ela fiquei ainda mais determinado, ou desespe-
— Nascem, e acham sempre alguma coisa certa que
inveja, tentaram fazê-la desistir do casamento admitindo que a nossa relação seria uma bagunça, Clara e eu apenas ignoramos. Depois do casamento tudo se seguiu bem, eu e Clara, junto com sua Tia Mônica, estávamos felizes, nós nos entendemos e rimos sem esforço algum, nós poderíamos não ter muito do que comer, mas pelo menos estávamos felizes e mais, queríamos um filho. Um dia nossos sonhos se realizaram, estávamos esperando um bebê e enquanto eu e Clara riamos de felicidade com a notícia Tia Mônica ficou desorientada. Depois que soubemos da notícia eu e minha esposa estávamos trabalhando duro para conseguir dinheiro para o nosso filho, principalmente Clara que além de costuras para vender também costurava para o nosso filho. Tia Mônica mesmo que de má vontade nos ajudava, mas ainda conseguia tirar tempo para falar mal do meu ofício. — Vocês verão a triste vida, suspirava ela — Mas as outras crianças não nascem também?
rado, para procurar um emprego, acabei resolvendo
comer, ainda que pouco…
trabalhar no mesmo ofício de meu primo, quem
— Certa como?
estava vivendo de favor. Ser entalhador não parecia
— Certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas
ser muito difícil, ainda mais quando já tinha aprendido
em que é que o pai dessa infeliz criatura que aí vem,
certas coisas, mas tudo se arruinou quando eu não
73
gasta o tempo?
pela primeira vez eu fiquei preso em um emprego.
Sabendo dessa conversa, tentei confrontá-la e expli-
Quando Clara já estava do oitavo para o nono mês
car-lhe que nunca ficou um dia sem comer, enquanto
de gravidez, que tudo ficou ainda pior a ponto de Tia
ela continuava refutando meus argumentos.
Mônica ter uma idéia terrível, levar o bebe para à Roda do enjeitados. Eu não pude acreditar em suas palavras,
— Que quer então que eu faça, além do que faço?
não existia coisa mais dura do que pensar em tirar a
— Alguma coisa mais certa. Veja o marceneiro da
criança de dois jovens pais que queriam uma criança,
esquina, o homem do armarinho, o tipógrafo que casou
para beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar,
sábado, todos têm um emprego certo… Não fique
pular. Não tinha coisa mais dura.
zangado; não digo que você seja vadio, mas a ocupação
Tudo piorou depois que o dono da casa, com três
que escolheu, é vaga. Você passa semanas sem vintém
meses de aluguel atrasado, bateu em nossa porta nos
— Sim, mas lá vem uma noite que compensa tudo, até
apenas cinco dias para pagar tudo que devemos. Sai
de sobra. Deus não me abandona, e preto fugido sabe
logo de casa para tentar pelo menos uma pequena
que comigo não brinca; quase nenhum resiste, muitos
quantia de dinheiro mas sem sorte, ao fim dos quatro
entregam-se logo.
dias fomos expulsos.
Assim como ofício de entalhador de vários outros,
Depois de expulsos nós só não fomos morar na rua
sendo eles melhores ou piores, eu desisti de todos eles
por causa de Tia Mônica, que conseguiu deixar nós três
até achar um que finalmente me chamou a atenção.
morando de favor na casa de uma velha rica, infeliz-
Pegar escravos fugidos me trouxe um encanto novo.
mente isso não durou muito tempo e logo tivemos
Eu não precisava ficar horas sentado fazendo sempre
que viver em favor de outras pessoas. No meio dessas
a mesma coisa. Esse ofício só exigia força, olho vivo,
mudanças meu filho nasceu e ao mesmo tempo em
paciência, coragem e um pedaço de corda. Eu lia os
que fiquei feliz também fiquei triste, já que Tia Mônica
anúncios, copiava os no meu bloco de notas e já saia os
ainda não havia mudado de ideia e depois de muito
procurando, o que não levava muito tempo. Era preciso
falar me fez concordar em dar o meu filho para a Roda
muita força, assim como muita habilidade. Mais de
na noite seguinte.
uma vez, a uma esquina, via passar um escravo como
Na noite daquele mesmo dia ainda olhei as minha
os outros, e descobria logo que estava fugindo, quem
notas de escravos, onde o fugitivo de mais valor era
era, o nome, o dono, a casa e a gratificação.
uma mulata aparentemente grávida, no começo pensei
Um dia os lucros começaram a escassear. Os escravos
em abandonar o caso mas depois que olhei melhor a
fugidos já não vinham como antes. Havia mãos novas
quantia que ganharia já me animei e na manhã do dia
e hábeis que faziam o trabalho melhor que eu. Minhas
seguinte me pus a procurá la.
dívidas começaram a subir, a vida ficou mais dura e
Sem sorte, voltei para casa desolado, quando cheguei
difícil.
ainda tentei convencer Tia Mônica a não fazer isso mas
Eu sinceramente não aguentava mais o meu ofício e
já era tarde demais, pedi que pelo menos me deixasse
queria trocar o mais rápido possível, mas eu não con-
segurar meu filho uma última vez, que foi prontamente
seguia achar um negócio que se aprendesse depressa,
concedido, peguei meu filho no colo e saí de casa
74
Maria Luísa Barbosa Nunes
andando sem rumo. Enquanto chegava ao final da rua resolvi entrar em um dos seus becos, quando cheguei ao seu final e resolvi virar avistei o vulto de uma mulher e quando
Mães sem filhos
olhei melhor vi que era a mulata fugida. Quando percebi quem era comecei a segui-la sorrateiramente e
Na minha juventude era esperado que
enquanto a seguia avistei uma farmácia onde entrei rapidamente e dei meu filho para o farmacêutico pe-
eu me casasse, tivesse filhos e cuidasse
dindo que cuidasse dele e não dando chance para ele
das tarefas domésticas, isso tudo não
responder sai novamente em busca da mulata.
era tão ruim, talvez eu até desejasse me
Capturá-la não foi tão difícil, acredito que por ser uma
casar, porém com alguém especial, que
gestante, ela tentou se soltar da corda onde a amarrei
me fizesse sentir saudades. Ao mesmo
mas sem sucesso e quando percebeu que a sua força não ajudaria começou a pedir para que eu a soltasse,
tempo nunca quis ser acorrentada a um
o que claramente não fiz. Visto que meu filho recém
casamento com homens muito mais
nascido ainda estava naquela farmácia à minha espera.
velhos do que eu e sem amor.
Assim que cheguei na casa de seu dono a mulata caiu
Sou órfã e fui criada pela minha tia Mônica, sendo
no chão enquanto seu patrão me dava o dinheiro.
assim criada sem afeto, mas sempre me esforcei para
Quando fui pago, a mulata que ainda estava no chão
ser educada aos seus olhos. Conforme cresci percebi
começou a ter um aborto.
que minha tia chamava atenção de diversos homens,
Eu acabei vendo todo o aborto acontecer e ver aquele
se tornando amante de muitos. Mesmo alguém
feto entrar sem vida neste mundo. Quando tudo
sendo considerada um pouco rebelde, sempre me
acabou eu sinceramente nem me importei com toda a
corrigia, desejava fortemente o meu casamento e que
situação e fui correndo buscar o meu filho na farmácia. Assim que cheguei há farmácia peguei o meu filho e fui
eu cumprisse deveres sendo uma mulher.
correndo de volta pra casa, quando cheguei contei tudo
Estou com vinte e dois anos e tive diversos pre-
para Clara e Tia Mônica o que tinha acontecido e mos-
tendentes para namoro, mas não amei nenhum,
trei os cem mil-réis que ganhei com a mulata. Beijava o
os homens somente se importavam com a minha
rosto do meu filho com lágrimas verdadeiras em meus
beleza, ou me viam como sua empregada. Apesar de
olhos, eu abençoava a fuga e não me importava com o
aceitar alguns namoros, não desejava me casar com
aborto.
qualquer um deles, e eles também não queriam se
— Nem todas as crianças vingam, disse batendo em
casar comigo.
meu coração.
Um dia encontrei um homem chamado Cândido Neves, nos tornamos próximos e apesar de ele não ter nada de especial e nem um emprego vantajoso,
75
tinha a impressão de que ele me via como sua namo-
a nossa situação. Com isso minha tia me aconselhou
rada e como alguém importante para ele. Minha tia
a deixar meu filho na Roda de Enjeitados. Em parte eu
Mônica provavelmente preferiria que eu me relacionas-
concordava com ela, pois não podia dar uma boa vida
se com homens mais bem-sucedidos, mas considerou
para ele, mas a notícia de ter um filho trouxe muita
Cândido aceitável e logo me casei com Candinho.
felicidade para mim e meu marido e não conseguimos simplesmente abandoná-lo. De qualquer forma, somen-
Tudo que Cândido Neves fazia era apenas sua obriga-
te Cândido e minha tia podiam decidir o destino do meu
ção como marido, mas acredito que todos os homens
filho, minhas falas nunca importaram naquela casa.
deveriam amar, cuidar de suas esposas e as verem como iguais. Eu procurava ter espaço nas decisões de
Com o ventre crescendo, a cada dia pensava sobre
família, tentava dar conselhos a meu marido e mostrar
o nascimento da minha criança, Candinho esperava
minha importância. Já ele era alguém perdido, percebi
ansiosamente para ter um filho e eu havia aceitado
que me amava, mas nunca tentou melhorar nosso
engravidar. Como pude ignorar minha tia? Sei que
relacionamento e suas finanças.
precisávamos deixá-lo no orfanato.
A cada dia tinha mais dúvidas sobre meu amor por ele,
O dia do parto chegou, além de passar pela dor física, o
tentava me distrair pensando que me casei por amor,
pensamento de abandoná-lo me atormentava. Nasceu
mas na verdade somente casei pelo mínimo de roman-
um menino lindo que se vivesse conosco, não duraria,
ce que me despertava e pela ideia de ser amada.
por isso não dei carinho e meu filho não conheceria o amor maternal, assim como eu.
Neves tentava vários empregos diferentes, mas nunca conseguia um trabalho fixo. Até que começou a tra-
Passados alguns dias, fomos despejados da casa,
balhar como caçador de escravos, em que caçava os
Cândido teve que entregar nosso filho a Roda, e de-
escravos fugitivos e devolvia para seus donos. Após
morou para voltar. Após isso ele chegou em casa com
um tempo, esse trabalho ficou comum e não foi mais
muito dinheiro e o nosso filho nos braços. Envolvi-me
necessário realizá-lo, como os impostos aumentavam
de alegria e meu parceiro disse que havia conseguido
dia a dia, não conseguimos mais nos sustentar como
devolver uma escrava ao dono por uma ótima quantia
antes. Com isso, comecei a me arrepender de nosso
de dinheiro e com isso conseguiu ficar com nosso filho.
casamento e, ao mesmo que Cândido desejava filhos,
Duvidei de como conseguiu fazer aquilo em tão pouco
não conseguia melhorar nossa condição financeira, eu
tempo e pedi uma explicação, ele me contou que já
sendo mulher não podia trabalhar e ainda minha tia me
havia visto a escrava encontrada, disse que ela estava
pressionava para não ter nenhum um filho.
grávida, mas, mesmo com pena, conseguiu entregá-la para o dono e a mulher foi obrigada a abortar.
Meses se passaram e chegou o momento tão esperado por Candinho, engravidei. Apesar da minha
Acredito que Cândido não teve pena da mulher, assim
felicidade de mãe, eu sabia que não estávamos com
como me disse, mas a questão era que teve que
boas condições financeiras para criar um filho, estáva-
escolher entre resgatar nosso filho e não capturar
mos morando de aluguel, o que complicou ainda mais
a escrava grávida. Meu esposo não se importava
76
com as mulheres e era indiferente aos escravos,
de escape. Sei que perdi meus pais cedo demais, não
até porque era assim, os perseguindo que ganhava
tenho quase nenhuma memória sobre eles, minha
dinheiro.
mãe infelizmente faleceu alguns dias após meu parto por uma gripe forte, e meu pai a seguiu um tempo
A maioria dos homens são como ele, sei que não
depois, vivi sempre com minha tia, minha única fa-
deveria me importar com a escrava sobre a qual
mília, e nunca pude aproveitar muito. Não sou rica, e
Cândido comentou, mas eu também sofri nas mãos
preciso trabalhar para não sermos expulsas de casa,
dos homens, vivi sem meus pais e fui criada para pro-
era bem cansativo. Enquanto passava pelas ruas fui
criar. Penso que a escrava foi criada como um objeto,
vendo em vários postes cartazes que diziam estar
consigo imaginar a dor de uma mãe sem o seu filho e
procurando escravos desaparecidos, lembro de já ter
o pior é que o culpado foi meu próprio marido.
ouvido falar em um homem que os seguia até achar e devolver aos donos, como meras propriedades. Parei de frente a um dos cartazes que chamou minha
Maria Luiza de Toledo Calil
atenção, nele estava escrito que um grande homem, que possuía várias terras e poder, perdeu um escravo
Eu contra eu mesma
muito importante para o trabalho. A descrição do
Acordei mais uma vez cansada, como
esquerda, e com os dois dentes debaixo faltando”,
escravo era: “procura - se um negro, manco da perna uma coisa meio repudiosa, mas sabia que esse
acontecia quando passava noites intei-
trabalho de encontrar escravos fugidos davam um
ras costurando roupas para os outros.
certo dinheiro aos homens com a mesma situação
Minha tia já estava acordada, ela costu-
que a minha. Lembro bem de já ter ouvido falar de
rava como eu, mas em uma carga menor
um tal de Cândido alguma coisa, ele caçava e devolvia
pela sua idade. Logo que saí da cama fui
os escravos aos seus donos, nunca o vi, mas tenho curiosidade.
comer o que me estava disponível. Sai
Comecei a ir mais rápido, pois precisava pegar os
de casa procurando um serviço, ou seja,
serviços e me arrumar para o baile que iria acontecer
fui bater de porta em porta perguntando
dentro de algumas horas. O baile é meio que uma
se alguém precisava de uma costureira.
tradição dessa região, algum morador disponibiliza a casa e todos vão para festejar, pelo que sei os únicos
Como de costume, enquanto passeava pelo meu
que o frequentam são pessoas que moram nessa
bairro fui sendo cortejada, alguns homens eu já
região, também não sei quem está organizando, fui
conhecia mas parecia que sempre surgiam mais,
convidada por um dos meus admiradores, não me
parecia até uma rotina. Fui andando e pensando em
agrada ir à festa acompanhada, mas não perderia por
qual rumo minha vida tinha levado, sobre como meus
nada. Já tinha um traje em mente, provavelmente
dias eram sempre os mesmos, e sem nenhum meio
77
usarei aquele vestido que eu mesma remendei,
onde todos estavam dançando. Músicos tocavam
lembro de ver uma senhora indo jogar fora um vesti-
uma linda melodia calma, que pela minha experiência
do todo rasgado e na mesma hora a grite - Não faça
normalmente é uma dança com um parceiro, me
isso com esse lindo vestido! - tadinha levou um belo
senti desanimada na hora, não tinha ninguém, e a
susto, mas a parei pois achei o tecido muito lindo,
pessoa que iria me acompanhar me esqueceu. Dei
era de um tipo de florado com mangas, eu peguei o
uma breve passada de olhos no local onde estava, e
vestido para mim e o concertei, nunca cheguei a usar
foi quando, encostado em uma parede, com uma cara
ele, essa vai ser uma ótima oportunidade.
não muito feliz, avistei um lindo homem, não sei o que aconteceu comigo, mas pela primeira vez um homem
Passei por muitas casas para ver se alguém precisava
me cativou, nunca me senti presa a ninguém, mas ele
do meu atendimento, e no final consegui pegar dois,
parecia diferente.
sendo eles um paletó de um homem de idade, e algumas meias de uma mulher jovem. Fui logo apressada
Fui me aproximando aos poucos, ele tinha um certo
ir me arrumar, sem antes óbvio finalizar a costura das
ar misterioso, percebi que ele olhava para mim com
meias, o paletó iria deixar para amanhã de manhã,
os mesmo brilhos eu o olhava, quando cheguei ao seu
coloquei o vestido em meu corpo e me senti linda,
lado pude ouvir sua pergunta:
não me senti cansada ou com sono, senti que possuía
— O que uma moça tão bela está nesta festa, e
muita energia, e que iria gastá la a noite inteira.
aparentemente desacompanhada?
Bem quando estava saindo encontrei minha tia
— Bom, minha doce companhia me deu um bolo,
— Lembre dos combinados, Clara, nada de trazer
então estou sozinha aqui, quer fazer uma companhia
nenhum homem aqui para casa e nem pense em
para mim? - dei meu típico sorriso no final.
chegar muito tarde, meia noite já está ótimo, vou
— Seria uma prazer, qual seu nome, querida?
estar te esperando — dei meu belo sorriso e a
— Fico muito feliz em te conhecer, prazer me chamo
abracei.
Clara, e o senhor?
Muito obrigada, tia, vou me divertir demais nesta
— Cândido, Cândido Neves - quando ele terminou
festa, não se preocupe, seguirei todas as regras, te
de falar o nome fiquei em choque, era aquele mesmo
amo.
homem que caçava escravos, sinto que até minha
Saí toda empolgada, tinha combinado com minha
boca abriu.
companhia de o encontrar na esquina da minha casa
— Nossa, que surpresa, já ouvi falar de você.
às oito e meio, fiquei esperando e esperando, quando
— Espero que tenham sido só coisas boas - ele me
o relógio bateu nove horas já tinha decidido que iria
esticou o braço para eu cruzar os meus no dele.
para a festa sozinha. A festa já tinha começado há um
Ele me levou até a pista de dança, para minha sorte
tempo, então quando cheguei já estava bem agitada,
as músicas lentas continuavam.
quase não conseguia me mover no meio da multidão.
Dançamos a noite inteira, foi perfeito, nunca me senti
Peguei um copo de água e fui diretamente para o local
tão bem com alguém, logo quando terminamos de
78
dançar o informei que precisava ir para casa, ele disse
Ele sabia que eu era órfã e que meus pais haviam
que acompanharia. Nós fomos de mãos dadas em
morrido quando eu era bem pequena e desde da
um grande silêncio, mas não aquele silêncio esquisito
morte de meus pais eu sempre morei com minha tia.
com um clima estranho, mas um silêncio bom, como
Acho que como eu havia perdido meus pais muito
se nós nos conhecêssemos há muito tempo.
nova desde de menor eu sempre sonhei em ter filhos, e sempre estar ao lado deles, algo que infelizmente
Ele me deixou em frente de casa, e eu estava com
não aconteceu comigo. Cândido nunca pareceu
um largo sorriso no rosto, senti uma enorme conexão
animado com essa ideia até porque a história de vida
com o rapaz que me acompanhava, eu certamente
dele era outra. Ele nunca teve boa relação com seus
tinha a vontade de o conhecer mais. Quando fui
pais nem com seus irmãos, então não via porque ter
entrar em casa ele me puxou e me deu um belo beijo
um filho. Por mais que fosse meu sonho, eu tentei
romântico, uma coisa bem clichê, mas eu amei, eu
deixar essa ideia de lado para não gerar brigas, mas
poderia falar para todos que eu realmente encontrei
eu sempre soube o que queria.
algum homem que prestava.
Depois de um tempo juntos eu comecei a me sentir estranha, me sentia enjoada, e eu estava fora de mim mesma, meu humor havia mudado e eu não sabia o que era. Foi quando pensei na possibilidade de estar
Mariana Krausz
grávida. Dois meses depois percebi que eu estava certa, e por um momento fiquei a pessoa mais feliz do mundo. Depois caiu minha ficha que eu tinha que
Pai contra mãe
contar para o Cândido e que ele certamente não ia gostar da ideia.
Quando conheci Cândido Neves, um
Eu demorei um tempo pensando em como iria contar
homem que trabalhava em pegar
a ele, pensava em tudo, no que eu poderia falar, em
escravos fugitivos, que não tinha um
qual seria sua reação, em possíveis brigas que iriam
emprego fixo e pelo seu trabalho não
acontecer, e isso me apavorava, eu não queria que
ganhava bem, foi como se depois de
nossa relação mudasse por causa de um sonho meu
alguns relacionamentos que não deram
e que por mais que ele tentasse disfarçar eu sabia
certo eu tivesse encontrado um homem
que não era o que ele queria.
que realmente eu viaum futuro. Com
Quando já era quase perceptível ver que eu estava grávida(,) eu fui contar a ele depois que ele voltasse
ele as coisas pareciam dar certo, eu me
do trabalho, quando ele chegou eu contei que estava
sentia à vontade ao seu lado. E depois de
grávida, não consegui identificar sua reação, ele ficou
muitos homens, ele parecia ser a pessoa
parado e não disse uma palavra. No dia seguinte, ele
certa. 79
não voltou do trabalho e no outro dia também não.
filho, a criança a qual eu segurei por nove meses, para
Depois de dois dias ele chegou em casa e a gente
um orfanato. Quando ele disse isso eu só paralisei e
conversou sobre o assunto. Ele disse que a gente pre-
fiquei sem reação nenhuma, depois que eu realmente
cisa pensar no que íamos fazer com um filho nosso
parei para pensar, que o homem na qual eu amava
chegando, aquelas palavras me deram um certo alívio
tirou meu filho de mim. Eu só conseguia pensar no
e ao mesmo tempo uma confusão na minha cabeça,
que seria do futuro do meu filho, só conseguia pensar
eu ficava me perguntando o que é que ele quis dizer
que ele se sentiria abandonado pelos próprios pais.
com “vamos pensar no que podemos fazer com
Depois desse dia eu não conseguia olhar na cara dele.
nosso filho”. Ele sabia que meu maior sonho era ser
Peguei minhas coisas e fui embora, sem nem pensar
mãe e estar presente na vida do meu filho.
duas vezes de tanta raiva e tristeza que eu estava
Os meses foram se passando e nosso filho nasceu,
sentindo. Fui morar com minha tia e nunca mais
era a criança mais linda que eu já tinha visto na vida,
queria nem ouvir falar em Cândido Neves, onde no
ninguém conseguia tirar o sorriso do meu rosto, eu
começo era o homem da minha vida e no final era o
estava muito feliz e mais feliz ainda porque por incrí-
homem que tirou um pedaço de mim.
vel que pareça, parecia que o Cândido estava feliz com o nascimento do nosso filho. Com o tempo se passando e nosso filho com quatro
Nina Schnaider Redondo
meses, eu via meu marido muito cansado, ele não era mais aquele homem animado que eu tinha me apaixonado. Naquele dia eu acordei, porém alguma coisa havia acontecido, eu sempre acordava com o som do
Estado contra mãe
choro do meu filho e nesse dia não ouvi nada, quando levantei da cama fui ver meu filho como de costume,
— Arminda! - bradou uma voz masculina
ele não estava lá, nem ele nem o Cândido.
atrás de mim.
O que pensei foi que ele deveria ter levado nosso filho para dar uma volta. O dia foi se passando, já era
Quando me virei, dei de cara com um
quase de noite quando Cândido chegou em casa ele
homem branco, tirando uma corda da
não estava com nosso filho, foi nessa hora que eu co-
algibeira, a poucos passos de distância.
mecei a entrar em desespero. Ele me acalmou e disse
Comecei a correr instintivamente, mas
o que ele tinha feito. Ele falou que não aguentava
senti-o agarrar meu braço com força e
mais pensar que tinha que cuidar de uma criança, ele falou que eu sabia que ele nunca quis ter filhos, e que
atar meus pulsos.
só aguentou esses nove meses porque pensava que
Era isso o que eu mais temia. Um de
poderia mudar de ideia, mas não mudou. Ele deu meu
meus principais pesadelos estava se 80
tornando realidade. Não conseguia
lojas olhavam curiosos através das vitrines, os que passavam lançavam-me um olhar de indiferença ou
processar o que estava acontecendo.
nojo. Ninguém viria me acudir.
Foi tudo muito rápido. Desespero correu
Eu faria qualquer coisa para não voltar para o lugar de
pelas minhas veias e me paralisou.
onde fugi, para que meu filho não tivesse de aturar o
Alguém estava gritando. Talvez fosse eu.
que aturei, para que ele vivesse.
Tudo parecia lento e acelerado demais,
— Meu senhor é muito mau, senhor moço! Ele vai me
fiquei tonta e comecei a suar dema-
castigar com a vara e o açoite! Por favor!
siadamente e minhas pernas pareciam
Eu estava começando a tremer e reconhecer as
prestes a ceder.
vielas, vias e calçadas das redondezas da horrível
Quando consegui recobrar parte de meus senti-
casa onde passei quase toda a minha vida. Diversas e
dos, parei de berrar. Ninguém iria me ajudar. Então
aterrorizantes lembranças também vinham se aproxi-
comecei a implorar para o homem que estava me
mando a cada passo, e eu não conseguiria...
arrastando pelas ruas que me soltasse, pelo amor
— Você é que tem culpa. — A fala do homem que-
de Deus! Não poderia voltar para aquela casa. Não
brou meus pensamentos. — Quem lhe manda fazer
aguentaria.
filhos e fugir depois?
— Estou grávida, meu senhor! — Ouvi uma angústia
Eu queria esgoelar várias verdades para meu captu-
cristalina em minha súplica. — Se Vossa Senhoria
rador, mas, no momento, sabendo que iriam apenas
tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me
irritá-lo, não disse nada.
solte; eu serei sua escrava, vou servi-lo pelo tempo
Alcançamos a esquina da residência do homem que
que quiser. Me solte, meu senhor moço!
tantas vezes me machucou e eu entrei em completo
— Siga! o moço gritou.
desespero; enganchei meus pés numa parede e tentei
Eu me contorci.
recuar com o máximo de força que me restava, mas
— Me solte!
o homem, que era muito forte e estava decidido a me entregar a qualquer custo, me arrancou do ponto
— Não quero demoras; siga!
onde empaquei.
Eu roguei, voltei a berrar, esperneei, tentei lutar e me
Já estava arquejando, praticamente sem conseguir
soltar… nada adiantou. Ele apenas apertou o passo e
me sustentar de pé, quando fui empurrada pelos
deixou o aperto da corda ainda mais firme. Continuei
últimos metros até a porta da frente do casario. Meus
bradando e relutando; era tudo o que eu podia fazer.
joelhos, apesar de todo o meu esforço, se enrola-
Enquanto estava sendo arrastada pelos becos e ruas,
ram. A única alternativa que me restava era voltar
as pessoas em volta assistiam. Os que estavam nas
a implorar, mas seria inútil. A porta já estava sendo
81
Rafael Coutinho Talocchi
destrancada, e reconheci a silhueta que surgiu no batente. — Aqui está a fujona — disse o homem que me puxou pelo que pareceu uma eternidade de volta para
Mãe contra o pai
esse lugar.
Cândido levava meu filho para o que para mim sig-
— É ela mesma. — falou a voz que me atormenta há
nificava a morte. Ele ia andando pelas ruas até onde
tantos anos.
eu não pudesse mais vê-lo, com meu filho no colo.
As coisas passaram a ser um borrão de imagens
Eu tinha consciência que não o veria mais, que ele iria
e sons, e tive a impressão de que os dois homens
embora para sempre e que nunca, jamais conseguiria
imundos continuaram trocando palavras, mas só
esquecê-lo. Como deixei isso acontecer? Me pergun-
consegui enxergar e ouvir com mais nitidez, ainda que
tei. Então comecei a refletir sobre meu passado.
tudo parecesse ocorrer de forma vagarosa demais,
Não me lembrava de meus pais, lembrava apenas
quando caí, de alguma forma, no chão do corredor de
de sempre ter estado com minha tia Mônica. Por
entrada.
mais que não me lembrasse de nada, sabia que nem
Só então percebi que havia uma sensação estranha
sempre havia sido daquela forma. Certa vez em uma
entre minhas pernas, algum líquido escorrendo por
tarde qualquer estava conversando com tia Mônica
elas e uma dor que se assemelhava às que sentia
e o assunto se tornou o foco da conversa, ela me
durante meus incômodos mensais, só que mais
contou sobre meu passado antes de estar com ela.
intensa. Mas, naquele momento, só conseguia prestar
Contou que antes de estar com ela, eu morava com
atenção no dinheiro sendo passado de uma mão à
meus pais que eram de extrema pobreza. Quando
outra e ouvir, ainda que parecesse distante, a voz
nasci, eles não tinham condições de cuidar de mim e
mais repulsiva que conheço me mandando entrar.
por isso a colocaram na roda dos enjeitados, que foi
Estava sendo puxada pela gola de meu vestido
onde a tia Mônica acabou me adotando.
surrado enquanto tentava absorver o que estava
Desde pequena, sempre morei com a tia Mônica.
acontecendo. No esforço que fiz para levantar, o
Quando criança, costumava brincar com as outras
sangue escorreu entre minhas coxas. Sabia o que isso
crianças da região e tinha lembranças de que minha
significava, já tinha visto outras mulheres passarem
infância havia sido muito boa. O tempo passava e eu
por isso.
estava me tornando mais velha e agora começava a
Meu filho não haveria de vingar. Chegou ao mundo
me interessar em ter namorados e encontrar alguém
como uma massa disforme de líquidos e materiais
para me casar. Nunca cheguei a me envolver em
orgânicos. Morto.
algum relacionamento sério. Tive vários namorados, porém nenhum deles se intereressava muito por mim
Assassinado.
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e nem eu me interessava muito por eles também.
puro sofrimento e a demora de Cândido só piorava as
Quando a noite caia me recolhia para as costuras.
coisas.
Passei anos repetindo este ciclo e já estava exausta.
De repente, vi Cândido bem longe ainda retornando
Certa vez, encontrei um homem chamado Cândido
com nosso filho no colo. Não conseguia compreender
Neves que à primeira vista não era diferente dos
tal situação, pois para mim estava claro que nunca
outros, porém após conhecê-lo melhor comecei a me
mais veria meu filho. Fui tomada por uma alegria que
interessar por ele. Outro motivo pelo qual estava com
jamais havia sentido. Não conseguia me acalmar de
mais disposição a me comprometer em um relacio-
tanta ansiedade para ter meu filho de volta.
namento com Cândido era que já estava cansada de
Quando Cândido chegou, perguntei-lhe como ele
ficar sozinha e nunca ter algo sério. Cândido era um
havia feito para não perder nosso filho e ele começou
homem razoavelmente bonito, mas não tinha quase
a me explicar.
nenhum dinheiro. Era muito pobre e trabalhava como caçador de escravos. Era um trabalho que exigia
Ele me contou que no caminho para a roda, encontrou
muito esforço físico e pouco recompensado. Mesmo
uma escrava que havia fugido de seu senhor e estava
assim acabei casando com Cândido.
tentando escapar. Ele não perdendo tempo partiu para a captura e pegou a escrava, contou também
Tia Mônica não gostava muito de Cândido, já que
que a escrava estava grávida e que na captura acabou
quem sempre tinha que bancar as contas da casa era
perdendo seu filho.
ela. O tempo foi passando e eu acabei engravidando. Mantive segredo por muito tempo, porém certo dia a
Com esta notícia, perdi minha alegria e fui tomada por
criança nasceu e não foi mais possível manter segre-
um forte sentimento de culpa, era como se tivesse
do. Com a notícia, minha tia ficou indignada e sabia
trocado meu filho pelo da negra e que por mais que
que era impossível manter mais uma pessoa naquela
a moça fosse apenas uma escrava, ela também era
casa onde ninguém tinha dinheiro. Com isso ela nos
mãe e agora neste exato momento estava sentindo a
expulsou de casa e disse que só poderíamos voltar
mesma dor insuportável e eterna que eu havia senti-
se colocássemos a criança na roda dos enjeitados.
do quando levaram meu filho.
Eu não tinha capacidade de fazer isso, já que para mim seria como matar meu próprio filho já que nunca mais o veria. Mas não teve jeito, Tia Mônica estava certa. Nós não tínhamos condições de criar aquela criança. Então Cândido pegou meu filho e o levou em direção a roda dos enjeitados. Eu não me aguentei de dor e comecei a chorar incessavelmente, pensei que ia morrer de um ataque do coração. Foram horas de
83
Rafael Dijigov Cavalcanti
dono da terra. Porém, é uma questão de tempo até que sejamos mortos pela situação de trabalho escravo a que estamos submetidos ou tentamos fugir em um sonho de uma vida melhor.
Duas Escolhas um Final
Minha mãe se chama Maria, uma senhora de 50
Nasci já na lavoura, nasci já presa a um
anos, que nem Deus explica como está viva, pois
senhor que não demonstrava nenhum
diariamente era maltratada além das tentativas incessantes de conseguir sua alforria. Nunca conheci
respeito por mim e tampouco aos meus
meu pai e quando era criança cheguei a perguntar
semelhantes na mesma situação. Enfim,
quem era meu pai, o que aconteceu com ele e
nascer como uma escrava é muito mais
diversas outras perguntas. Porém, minha mãe só
do que não ter a liberdade, ser escravo
respondia que não tinha ideia onde o homem estava,
é não ter nenhuma possibilidade [de]
até que então, quando completei meus 15 anos de vida, ela finalmente me explicou falando:
sonhar e pensar em um futuro mini-
— ”Ele era um homem forte, esbelto e de uma in-
mamente melhor, até nossa fala era
teligência tremenda, entretanto certo dia ele estava
tapada, pela “máscara de flandres”, que
planejando fugir comigo, enquanto eu ainda estava
de acordo com eles era para nossa “edu-
grávida de você, estava tudo pronto. O plano era
cação”. Os mesmos que tiraram nossas
que ele iria primeiro e depois eu o seguiria, alguns
crenças, culturas e vidas, têm a visão de
homens o avistaram, então o pegaram e mataram brutalmente.”
que nós somos o povo a ser “educado”, que ironia.
Então ela concluiu dizendo que não importava o que
Recebi o nome de Arminda, porém desde meus
todas as tentativas mal sucedidas de fuga e suas
acontecesse eu não deveria fugir. Levando em conta
primeiros anos, percebi que, de humano, só tinha o
punições, eu e minha mãe decidimos continuar com
nome mesmo. Via minha mãe, irmãos e outros traba-
nossa vida na lavoura.
lhando diariamente de forma mais de que desumana,
Os anos foram se passando e eu encontrei o João,
além das constantes mortes e torturas para os que
um homem lindo, forte e nos apaixonamos à primeira
“desrespeitassem as regras”, como, por exemplo,
vista. Então começamos a ter um relacionamento
tentar fugir. Já conheci vários que tentaram fugir deste
escondido de todos, porém um dia ele foi assassinado
inferno, porém todos foram caçados por homens que
pelo senhor do engenho, pois ele foi acusado de ter
se chamavam caçadores de escravos e quando pegos
roubado algumas mercadorias. Assim, dias antes
eram duramente castigados e até assassinados pelo
84
Rafael Fonzaghi Barros
de sua execução, eu descobri que eu estava grávida, então ele me disse: — Por favor, fuja com nossa criança, ela não merece viver está miséria por uma escolha nossa.
O dinheiro manda
Logo, comecei a pensar no plano, comecei a pensar
Cândido Neves é o meu marido, mas nós
a vida que meu filho iria ter se eu não fugisse, outro escravo na mão desse sistema, outro ser humano a
o chamamos de Candinho. Esse homem
ser explorado, portanto, não pensei duas vezes, em
cedeu à pobreza quando adquiriu o ofício
uma quarta-feira a noite iria fugir e escapar por um
de pegar escravos fugidos, mas tinha
campo. Assim foi, quando chegou a noite eu comecei
um defeito grave, ele não aguentava
minha fuga. Minha mãe me ajudou a saltar um pe-
nenhum emprego ou ofício. Começou
queno portão no fundo da fazenda e então comecei
por querer aprender tipografia, porém
a fugir para um campo. Estava correndo como podia, porém, avistei um homem grande e forte correndo
viu que era preciso algum tempo para
em minha direção e gritando. Tentei escapar, porém,
compor bem, e ainda assim talvez não
fui capturada, tentei o lutar e implorei que não me
ganhasse o bastante, foi o que ele disse
entregasse, me ofereci para ser escrava do homem,
a si mesmo. O comércio chamou-lhe
mas ele me respondeu com a frase
a atenção, era uma carreira boa. Com
— Decides ter filho e ainda tenta fugir, irá sofrer as
algum esforço entrou de caixeiro para
consequências.
um armarinho. A obrigação, porém, de
Então ele me levou de volta para a terra do dono.
atender e servir a todos feria-o na corda
Ainda tentava me debater, arranhar para tentar
do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis
alguma fuga, porém nada funcionou. Então fui jogada
semanas estava na rua por sua vontade.
em uma sala e espancada até que eu abortei meu
Fiel de cartório, contínuo de uma repar-
filho. Estava desolada no chão sangrando e abraçando meu bebê que nem chegou a dar um suspiro, e
tição anexa ao Ministério do Império,
junto dele se foi minha vontade de viver.
carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos. Quando nós nos apaixonamos não tínhamos mais do que dívidas, ele ainda morava com seu primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas de obter um emprego, ele resolveu adotar o ofício do primo,
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de que aliás já tomou algumas lições. Não lhe custou
desejo de ter um filho. Quando percebi que estava
apanhar outras, mas, querendo aprender depressa,
grávida comecei a medir fraldas, costurar roupinhas
aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complica-
junto com minha tia, mesmo ela fazendo com má
das, apenas garras para sofás e relevos comuns para
vontade. A notícia se espalhou rapidamente pela a
cadeiras. Queria ter que trabalhar quando casasse, e o
vizinhança.
nosso casamento não demorou muito.
Minha tia continuava falando da ruim vida que nós
Candinho tinha 30 anos, eu tinha vinte e dois. Eu era
teríamos, falando também que as crianças nascem e
órfã, morava com minha tia chamada Mônica, que
acham sempre alguma coisa certa que comer, ainda
costurava junto comigo. Eu não costurava tanto ao
que pouco. Perguntei o que ela quis dizer com “certa”
ponto de não namorar, mas os namorados apenas
ela disse que certa, um emprego, um ofício, uma ocu-
queriam matar o tempo; não tinham outro empenho.
pação, mas em que é que o pai dessa infeliz criatura
Passavam às tardes, olhavam muito para mim, e eu
que aí vem gasta o tempo.
para eles, até que a noite me fazia recolher para a
Candinho, quando soube da advertência que minha
costura. O que eu notava é que nenhum deles dei-
tia fez a ele, foi ter com a tia, não áspero mas muito
xava-me saudades nem me acendia desejos. Queria
menos manso que de costume, e lhe perguntou se já
casar, naturalmente. Era, como dizia minha tia, um
algum dia deixaria de comer.
pescar de caniço, a ver se o peixe pegava, mas o peixe
Candinho perdera já o ofício de entalhador, como abrir
passava de longe; algum que parasse, era só para
mão de outros muitos, melhores ou piores. Pegar
andar à roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e ir a
escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo. Não
outras.
obrigava a ficar longas horas sentado. Só exigia força,
O amor traz sobrescritos. Quando vi Cândido Neves,
olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda.
senti que era este o possível marido, o marido ver-
Ele lia os anúncios, copiava-os, metia-os no bolso
dadeiro e único. O encontro deu-se em um baile, o
e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os
casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais
sinais e os costumes de um escravo fugido, gastava
bela festa das relações dos noivos. Minhas “amigas”,
pouco tempo em achá-lo, segurá-lo, amarrá-lo e
menos por amizade que por inveja, tentaram me
levá-lo. A força era muita, a agilidade também. Mais
avisar do passo que ia dar.
de uma vez, a uma esquina, conversando de coisas
Eu e Candinho queríamos um filho, mas minha tia
remotas, via passar um escravo como os outros,
logo que chegamos à casa pobre em que nos abriga-
e descobria logo que ia fugido, quem era, o nome,
mos depois do casamento nos avisou dos possíveis
o dono, a casa deste e a gratificação; interrompia
filhos. Ela me disse que se tivéssemos um filho mor-
a conversa e ia atrás do vicioso. Não o apanhava
reremos de fome. Mas disse a ela que nossa senhora
logo, espreitava lugar azado, e de um salto tinha a
nos dará de comer.
gratificação nas mãos. Nem sempre saía sem sangue, as unhas e os dentes do outro trabalhavam, mas
Mesmo com nossa vida pobre não descartamos o
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geralmente ele os vencia sem o menor arranhão.
senhora velha e rica. Dois dias depois nasceu o meu filho lindo, meu marido ficou muito feliz e triste ao
Um dia os lucros entraram a escassear. Os escravos
mesmo tempo. Tia Mônica insistiu em dar a criança à
fugidos não vinham já, como dantes, meter-se nas
Roda, mas Candinho pediu que não, que esperasse,
mãos de Candinho. Como o negócio crescesse, mais
que ele mesmo a levaria. Nós desejamos um menino
de um desempregado pegou em si e numa corda, foi
e o nosso desejo foi atendido.
aos jornais, copiou anúncios e deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um competidor. Quer
Naquela noite, meu marido saiu de casa preocupado
dizer que as nossas dívidas começaram a subir, sem
e só voltou mais tarde sem falar nada. Saiu de manhã
aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos
para ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua
primeiros tempos. A vida tornou-se difícil e dura.
do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, parecia
Comia-se fiado e mal.
procurar algo, mas não achou.
Eu não tinha sequer tempo de remendar a roupa
Candinho voltou para os cômodos, triste, e encontrou
do meu marido, tanta era a necessidade de coser
Tia Mônica já com meu filho pronto para ser levado à
para fora. Tia Mônica me ajudava, naturalmente.
roda. Não quis comer o que tia Mônica lhe guardara;
Quando ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara
não tinha fome, disse, e era verdade. Cogitou mil
que não trazia vintém. Jantava e saía outra vez, à
modos de ficar com o filho; nenhum prestava. Não
cata de algum fugido. Já lhe sucedia, ainda que raro,
podia esquecer o próprio albergue em que vivia.
enganar-se de pessoa, e pegar em escravo fiel que ia
Quando ele veio me consultar estava resignada.
a serviço de seu senhor; tal era a cegueira da necessi-
Candinho foi obrigado a cumprir a promessa; me
dade. Certa vez capturou um preto livre; desfez-se em
pediu que desse ao filho o resto do leite que ele bebe-
desculpas, mas recebeu grande soma de murros que
ria da mãe. Assim se fez; o pequeno adormeceu, o pai
lhe deram os parentes do homem.
pegou dele, e saiu na direção da Rua dos Barbonos.
Após oito meses, meu filho estava crescendo dentro
Ele não estava nada feliz em ter de levá-lo; o
de mim, minha tia teve a horrível ideia de levar o meu
agasalhava muito, o beijava, cobria seu rosto para
filho para a roda dos enjeitados. Candinho ficou muito
preservá-lo do sereno.
bravo e deu um soco na mesa. Eu tentei acalmá-lo
Quando voltou, estava com a criança nas mãos. Por
dizendo que minha tia não tinha dito aquilo por mal,
uma incrível sorte ele encontrou uma mulata foragida
mas ela continuou falando que aquilo seria o melhor
que lhe rendeu uma grande recompensa, suficiente
para nós e saiu. Minutos depois o dono da casa bateu
para manter nosso filho!
na porta falando que se nós pagarmos o aluguel em cinco dias ele nos colocará para a rua. Assim se passaram os cinco dias e fomos colocados para fora da casa, fomos para os aposentos que minha tia havia arrumado no fundo da casa de uma
87
Ricardo Albuquerque
escrava, quando me aproximei de Arminda segurei forte em seu braço e logo amarrei seus punhos com uma corda e imediatamente a mulher me revelou
Pai contra mãe reinventado
que estava grávida e por conta disso ela estava com medo dos castigos físicos que ela iria receber quando
— Nós não estamos tendo mais condi-
ela voltasse para seu dono. Porém minha vontade
ções de pagar as contas, por conta da
de receber a recompensa e conseguir pagar minhas
chegada do nosso filho, Clara! - disse
despesas eram tão grandes que a ignorei. Assim ela
Cândido.
começou a lutar fisicamente pela sua liberdade e eu
— Eu sei, mas tem uma coisa que a gente pode fazer
pensando em minha família tive que usar força bruta
para resolver isso que a minha tia Mônica deu a ideia
para resistir a tentativa de fuga da escrava. Por conta
— disse Clara.
disso eu acabei percebendo que o bebê dela morreu durante a briga, assim eu disse para ela sem nenhum
— O que a gente pode fazer?
peso na consciência.
— O pensamento que ela compartilhou era de levar
— Nem todas as crianças vingam.
ele para a Roda dos Enjeitados.
Após isso fui arrastando a Arminda no chão pelos
Após esta ideia eu fui pensar melhor sobre o assunto,
punhos até o seu dono. Com isso recebi o dinheiro da
até que depois de muita reflexão eu e Clara decidimos
recompensa e retornei para casa com meu filho nos
que iríamos deixar o nosso filho na adoção. Então
braços, como se nada tivesse acontecido.
comecei a arrumar as coisas para levar o nosso bebê até lá. Saí de casa triste e muito cabisbaixo, pois independentemente de tudo eu ainda amava o meu filho. Este foi o caminho mais difícil que eu já fiz na minha vida, porém eu sabia que se eu o entregasse lá a nossa condição iria melhorar muito. Enquanto eu caminhava com o meu filho, de repente eu tive a impressão de ter visto uma escrava foragida que eu procurava faz tempo para entregá-la ao seu dono e ganhar minha recompensa . Com isso eu deixei o meu recém nascido aos cuidados de um farmacêutico ao lado de onde nós estávamos. Apressei o meu passo para conseguir alcançar a
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Ryhan Santos dos Anjos
eu tinha deixado muitos trabalhos melhores e piores,
Cândido Neves
Tinham mãos novas e hábeis. Como o negócio
Eu, Cândido Neves, era uma pessoa
e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e dei-
pegar escravos me deu encanto, não me obrigava a ficar várias horas sentado. crescesse, mais de um desempregado pegou em si tou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um
que não me rendia à pobreza. Até o
competidor. Quer dizer que as minhas dívidas come-
momento em que tive que aderir ao
çaram a subir, sem aqueles pagamentos prontos ou
ofício de pegar escravos que haviam
quase prontos dos primeiros tempos. A minha vida
fugido. Tenho o defeito de não gostar
tornou-se difícil e dura. Eu comia fiado e mal.
do meu trabalho nem do meu ofício,
Clara não tinha sequer tempo para remendar as
ele não tinha estabilidade. Comecei a
minhas roupas. Tia Mônica ajudava a ela, naturalmente. Quando eu chegava à tarde, dava para ver
procurar outros trabalhos com muito
pela minha cara que não trazia vintém. Jantava e
esforço, virei caixeiro, mas por conta de
saía outra vez, à cata de algum fugido. Já me sucedia,
ter que atender e servir todos feria meu
ainda que raro,me enganava pela cor das pessoas, já
orgulho, em cinco ou seis semanas eu
peguei um escravo fiel que ia a serviço de seu senhor, era tanta minha cegueira da necessidade. Certa vez
já tinha pedido contas e estava na rua.
capturei um preto livre; pedi desculpas, mas recebi
Também tentei emprego como carteiro
grande soma de murros que me deram os parentes
mas abandonei pouco depois de ter
do homem.
conseguido.
– É o que te faltava? perguntou a tia Mônica, ao me
Quando me apaixonei pela Clara, eu só tinha dívidas
ver entrar, e depois de ouvir eu narrar meus equívocos
mesmo, ainda que poucas, graças a um primo que
e suas consequências. E me disse, - Candinho, procu-
morava comigo. Meu primo era entalhador, depois de
re outra vida, outro emprego.
tentar conseguir um emprego eu decidi ter o mesmo
Eu queria efetivamente fazer outra coisa, não pela
emprego dele. Ele tinha me dado algumas dicas e
razão do conselho, mas por simplesmente gostar de
não custava nada tentar pegar outras, mas, como eu
trocar de ofício; seria um modo de mudar de pele ou
quis aprender depressa, aprendi mal por conta disso,
de pessoa. O pior é que não achava um emprego que
não fazia obras finas.
aprendesse depressa.
Eu tinha trinta anos e a Clara vinte e dois, ela era órfã,
Saí rápido, atravessei a rua, até ao ponto em que
morava com a tia. Quando a Clara via que eu era o
pudesse pegar a mulher sem dar alarme. No extre-
possível marido dela. Eu perdi meu emprego, como
mo da rua, quando ela ia descer a de S. José, eu me
89
Alfândega, onde residia o senhor. Na esquina a luta
aproximei dela. Era a mesma, era a mulata fujona.
cresceu; ela pôs os pés na parede, recuou com grande
– Arminda! chamei, conforme a nomeava o anúncio.
esforço, inutilmente. O que alcançou foi, apesar de ser
Voltou-se sem cuidar malícia. Foi só quando eu,
a casa próxima, gastar mais tempo em lá chegar do
tendo tirado o pedaço de corda da algibeira, peguei
que deveria. Cheguei, o senhor estava em casa, acudiu
dos braços da escrava, que ela compreendeu e quis
ao chamado e ao rumor.
fugir. Era já impossível. Eu, com as mãos robustas,
– Aqui está a fujona, eu disse
atava-lhe os pulsos e dizia que andasse. A escrava
– É ela mesma.
quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que
– Meu senhor!
ninguém viria libertá-la, ao contrário. Pediu então que
– Anda, entra...
a soltasse pelo amor de Deus.
Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da
– Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa
escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis e me
Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele
deu. Eu guardei as duas notas de cinquenta mil-réis,
que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo
enquanto o senhor novamente dizia à escrava que
tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!
entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da
– Siga! eu repeti.
dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.
– Me solte!
O filho de Arminda depois de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe
– Não quero demoras; siga!
e os gestos de desespero do dono. Eu vi todo esse
Houve aqui luta, porque ela se arrastava e ao filho.
espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que
Quem passava ou estava à porta de uma loja,
fossem, foi o que fiz sem querer conhecer as conse-
compreendia o que era e naturalmente não acudia.
quências do desastre.
Ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoites, – coisa que, no
– Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o
estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com
coração.
certeza, ele lhe mandaria dar açoites. – Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? perguntei Não estava em maré de riso, por causa do filho que lá ficara na farmácia, à espera dele. Também é certo que não costumava dizer grandes coisas, fui arrastando a escrava pela Rua dos Ourives, em direção à da
90
Sofia Colasanto Gonzales
encomendas tínhamos. Então, resolvi puxar o assunto que estava encucada a tarde inteira: — Titia, você acha que irei me casar?
Clara
— Claro que sim minha filha, uma moça tão linda quanto você há de achar pretendes logo. Por que a
Era uma sexta à tarde. Estava apoiada
pergunta?
no parapeito da janela de minha casa
— Não sei, sinto que estou a tempo demais desa-
e observava os homens que passavam
companhada. Daqui a pouco, já estarei velha e nem
pela rua. Alguns acenavam para mim
filhos vou conseguir ter.
com um sorriso de canto, mas não pa-
— Que bobagem minha filha! Você ainda tem pouca
ravam para falar comigo. Quando o Sol
idade, há de encontrar alguém de boa família que
começou a baixar, me recolhi para dentro
deseje você.
da casa, pois tinha que acabar de coser o
— Espero que sim.
vestido que usaria na noite seguinte.
Fui para meu quarto e vesti minha camisola. Me deitei
Enquanto costurava, vários pensamentos me vinham
na cama e esperei o sono vir. De repente, comecei a
à cabeça. Eu tinha 22 anos e ainda não havia arran-
me ver lavando roupas em um riacho que nunca tinha
jado um homem para me casar. Mesmo que rapazes
visto antes. Na minha frente havia um belo campo
me olhassem com certo desejo, nenhum deles
onde duas crianças brincavam alegremente. Depois
permanecia por muito tempo. Tinha medo de acabar
de lavar as peças, eu os levava comigo para uma
como minha tia Mônica, que não casara e nem tivera
casa simples. Chegando lá, havia um belo homem,
filhos e tinha que sustentar-se. O que queria era um
de barba castanha, camisa xadrez e botas sentado
lindo esposo e dois filhos, porém já estava ficando
na mesa da cozinha. Eu o beijava e as crianças o
velha e não via ninguém que me despertasse o fogo
abraçavam. Depois, eu preparava a comida e todos
da paixão. Além disso, não vinha de uma linhagem
nós almoçávamos. O homem ia dormir em um dos
muito nobre, o que dificultava que moços me esco-
cômodos e as crianças brincavam na sala. Quando,
lhessem. Em meio a tantas ideias, acabei furando
inesperadamente, eu via uma chama que já tinha
minha mão com a agulha. Fiz um curativo rápido e fui
dominado a cozinha se alastrar por onde meus filhos
comer.
estavam. Rapidamente, os coloquei pra fora da casa através da janela e fui chamar meu suposto marido.
No jantar havia arroz, feijão e miúdos de frango. Eu
Porém, ele não acordava e algo em mim dizia que
comi com minha tia e conversamos um pouco sobre
não podia sair sem ele. Eu tentava de tudo, mas nada
o baile de amanhã, o preço dos tecidos e quantas
adiantava. O fogo se alastrava cada vez mais e a
91
Sophia Abe Roveda
fumaça já tomava conta do cômodo e eu ficava cada vez mais desesperada. Foi aí que acordei, completamente tensa.
Cândido Neves
Tentava dormir de novo, mas não conseguia. Levantei-me da cama e fui passar o café. O dia
Eu poderia imaginar mil maneiras para
seguiu sem grandes mudanças e eu estava cada vez
ficar com meu filho. Eu e minha mulher
mais ansiosa para o baile. Coloquei o lindo vestido
poderíamos ficar sem comer para
branco que tinha feito e uma sapatilha um pouco velha. Chegando no local, encontrei algumas amigas
poder dar a ele o que comer, mas aí nós
e fiquei conversando com elas. Em certo momento,
morreríamos de fome e deixariamos
fui pegar uma bebida e vi um homem alto, com barba
nosso filho órfão. Eu poderia começar
e que estava fazendo todos em sua volta rirem. Me
a roubar e vender os itens furtados
aproximei e vi como contava suas histórias e piadas
para poder comprar comida, mas isso é
de maneira tão faceira. Percebi que ele me lançava
imoral e se eu fosse pego seria morto,
olhares de desejo e eu os retribuía. Nunca tinha sentido aquilo, uma paixão tão imediata e intensa. Depois
assim deixando minha mulher e meu
de certo tempo, ele me tirou para dançar e foi ali
filho sem comida. Poderíamos pegar
que perguntei seu nome, era Cândido Neves. A partir
dinheiro emprestado e quando as coisas
daquela dança eu sabia que aquele seria o homem
melhorassem pagaríamos aquilo que
com quem me casaria.
ficaremos devendo, mas e se as coisas só piorarem? Eu poderia arranjar mil soluções! Porém nenhuma delas iria dar certo, todas resultariam em fome ou morte. Não há nada que eu possa fazer para manter meu filho comigo. Tia Mônica já falou que eu devo deixá-lo na Roda dos enjeitados o mais breve possível. Se não o menino morreria de fome mas não consigo imaginar isso como uma boa escolha, é impossível gostar da ideia de deixar seu filho único e amado num lugar onde um estranho qualquer pode o pegar e levá-lo para longe ou pior: meu filho acabe ali esquecido pensando que nós não o amamos o suficiente e deixamos-lo lá por não ser digno do amor de uma
92
ele tenha um futuro próspero e farto, para que ele não
mãe, um pai ou de qualquer outro amor.
tenha que abrir mão da coisa que mais ama.
Como a tia Mônica consegue ser tão insensível? Ela nem teve filhos, como ela pode sugerir que eu
Entrando no beco e indo em sentido ao Largo da
abandone o meu? Ela não imagina a dor que é ter
Ajuda, vejo o vulto de uma mulher… é uma escrava
uma única opção e essa ser a pior escolha para você!
fugida!
Provavelmente ela não entende a angústia de ter que
Entrei em uma farmácia e pedi para que o farma-
abrir mão da coisa que mais se ama! Mas no fundo
cêutico guardase meu filho por um instante, com
sei que ela está certa e que isso é para o bem do
uma expressão de confusão no rosto do atendente
meu filho. Porém é muito difícil deixar de ser egoísta
eu bradei o nome da mulher do anúncio de escravos
e aceitar que o melhor a se fazer era o pior a se fazer
fugidos. ARMINDA!
para mim.
Fui atrás dela e a agarrei, ela resistiu.
Depois de várias brigas e ameaças, chegou a hora de
— Siga!
levar meu filho à roda dos enjeitados. Por mais que fosse a nossa única opção, essa foi a escolha mais
— Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa
difícil a se tomar! Pois é melhor um filho vivo do que
Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele
um filho a sete palmos do chão. Então o melhor a se
que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo
fazer é deixá-lo num estabelecimento onde ele tives-
tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!
se comida, bebida e vestimenta ao longo de sua vida.
Ela diz isso, mas estou nem aí! Quem mandou engra-
Quem sabe alguém o acolha e o ame mais do que eu
vidar e fugir depois?
e minha mulher, pensar nisso faz doer o peito mas
— Siga!
nem o amor que sinto pelo meu filho será capaz de
— Se solte!
sustentá-lo.
— Não quero demoras; Siga!
Quando boto o pé pra fora de casa um sentimento árduo enche meu peito e me arrependo profunda-
Arminda implora, e diz os castigos que o senhor dela
mente de estar fazendo isso, mas se não for feito
seriam fatais a ela e o filho não resistiriam, mas eu
meu arrependimento vai ser maior! Pois nem poderia
não me importo! Só arrasto a escrava fugida.
imaginar a vida que meu filho estaria tendo.
— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer
Ando devagar, observando o dia e pensando em mais
filhos e fugir depois?
ideias egoístas para ter meu filho junto a mim e minha
Após arrastá-la por muito tempo, chegamos na esta-
mulher. Eu o imagino crescendo e ficando forte e
dia do senhor dela.
esperto como eu! Correndo e divertindo-se! Depois eu
Eu a entrego, recebo meu pagamento de 100.000
o imagino mais velho trabalhando, com uma mulher,
réis! Por ela ter relutado tanto acabou abortando. Eu
filhos, dinheiro e uma casa farta.
assisti a tudo, porém nem todas as crianças vingam.
Creio que não verei isso acontecendo, mas espero que
93
Pelo menos agora tenho dinheiro o suficiente para ter
O trabalho era muito pesado, o dia começava com
meu filho comigo!
a colheita de capulhos em sacaria, depois ocorria a
Volto alegre para farmácia e com dinheiro nos bolsos,
separação das sementes nas descaroçadoras onde
pego meu filho no colo e volto depressa para casa.
era retirado o algodão, esse era encaminhado às fiandeiras onde obtém-se a fiação, depois os fios
Quando chego explico o ocorrido para Mônica, ela me
eram distribuídos nas máquinas de tear, e assim era
perdoa e dou graças a Deus pela fuga da escrava! Tia Mônica fala coisas sobre a escrava, mas pouco
obtido o tecido.
me importo, estou com meu filho em meus braços!
Durante as manhãs o senhor andava pelo engenho
Lágrimas me escorrem no rosto, breve mente me
para ter certeza de que todos estavam fazendo seu
lembro do aborto da escrava, mas pouco me importo.
devido trabalho, e se não, haveria consequências. Um
— Nem todas as crianças vingam
dia enquanto colhia capulhos, avistei o senhor passando por perto, e achei estranho pois cada vez mais se aproximava de mim. Fiquei com medo pois achei
Sophia Casolari Landell Balbino
que tinha feito algo de errado, mas ao invés disso ele
A fuga de Arminda
havia ninguém. Sem nenhuma explicação de por que
Desde os meus 14 anos me tornei uma
chão, segurou meu braços com muita força de forma
escrava, existiam pessoas que como
que não pudesse escapar. Ele levantou o meu vestido
havia me chamado para conversar particularmente, o que soou estranho, mas o segui. Depois de uma longa caminhada chegamos ao final da plantação, onde não havia me levado para lá, ele brutamente me jogou no
e desceu suas calças, tentei recusar, tentei escapar,
profissão caçavam escravos fugidos
tentei lutar, mas era tarde demais…
e os entregavam a seus senhores em
Depois desse dia continuei a trabalhar, mas fiquei
troca de dinheiro, nunca tentei fugir pois
traumatizada, havia sido violada! Senti tantas coisas:
sempre tive medo de ser pega, sabia que
raiva, vazio, tristeza, fúria, angústia, medo, rancor,
se algum dia isso acontecesse, coloca-
vergonha, ÓDIO! Queria me livrar de todos esses
riam um ferro ao redor do meu pescoço
sentimentos horríveis, não estava confortável, por isso me perguntava se deveria fugir, mas algo que eu
e iria apanhar. Por isso nunca tive cora-
sabia que deveria fazer era permanecer em silêncio.
gem, apesar de desejar muito a minha
Depois de alguns meses comecei a ficar assustada
liberdade.
pois tinha certeza de que estava grávida e a última
Trabalhava num engenho com a produção de roupas
coisa que desejava era ter uma criança e ter de vê-la
dos escravos, lençóis, sacarias e outros misteres.
crescer no meio de um engenho com péssimas
94
Sophia Martins Galiano
condições. Quando eu estava com quase seis meses de gravidez, o senhor quis conversar comigo, fiquei apavorada mas queria ouvir o que ele tinha a dizer. Disse a mim que podíamos secretamente formar uma
Pai contra mãe - Cândido Neves
família, sem que ninguém soubesse e criaríamos o bebê juntos. Naquele momento estava muito nervo-
De fato eu, Cândido Neves não poderia
sa, nunca iria criar meu filho com um homem nojento que me estuprou! Por causa do nervosismo não disse
estar em pior estado, sem dinheiro
nada, só vi a mão do homem em direção a minha
ou sequer esposa. Mesmo sendo um
barriga. Era esse o sinal, sem pensar duas vezes
homem branco, apesar de meus pri-
saí correndo, ele tentou me seguir mas eu consegui
vilégios existirem, no momento tenho
despistá-lo.
tantos direitos quanto um escravo
Corri o mais rápido que pude até sair do engenho, mas não me dei conta de que havia chegado em um
negro.
centro comercial, onde havia uma grande movimenta-
Até esse momento, me garanto nas recompensas
ção, ou seja, mais chances de ser caçada. Tentei andar
das capturas de escravos fugidos, cheguei a tentar
por lugares menos cheios, mas depois quando virei
empenhar-me na tipografia, contudo mais uma vez
em uma esquina avistei um homem, que olhou para
terminei sem sucesso. Após inúmeras tentativas
mim como se eu fosse uma presa. Tinha certeza de
com outros trabalhos, o que me restou foi o ofício de
que era um caçador de escravizados, por isso comecei
caçador de escravos
a correr, mas ele me alcançou, e agarrou-me muito
O que me resta agora? É deixar que o Senhor guie
forte para que não pudesse escapar. Gritei o mais
meus próximos passos, honestamente, não sei mais
alto que pude, pedi para me libertar pelo fato de estar
nem dizer ao certo o que me virá a acontecer. Afinal,
grávida, estava tão nervosa que até disse que podia
com esse tipo de vida e recursos, é assim que outros
ser sua escrava e que o serviria por quanto tempo
como eu devemos continuar, apenas “vivendo”.
ele quisesse. Cândido não desistiu. Persisti o máximo
Foi naquele extemporâneo evento que decidi com-
que pude, mas ele se irritou e começou a me arrastar
parecer, que me trouxe total descolamento de vida,
em direção ao meu senhor. Sem piedade alguma o
sem nem mesmo saber. E logo avistei a moça mais
homem me entregou a ele, agradeceu e entregou
graciosa daquele recinto, pois bem, me encontrava
cem mil-réis a Cândido Neves. Depois daquele mo-
no sentimento da paixão, aquilo já não era mais uma
mento nem imaginava o que aquele homem faria
discussão.
comigo, apenas sei que nunca estive tão apavorada
É com a maior certeza que digo, nunca havia sentido
em toda minha vida.
tão fortemente aquele carinho por alguém antes, meus batimentos estavam acelerados. Tão profundo,
95
tão intenso...que sensação. Diante dessa situação,
estarem inconformados com minha falta de esta-
posso dizer que inconscientemente o amor me levou
bilidade no emprego, não deixava de sonhar. E para
ao total estado de vulnerabilidade. Mal sabia eu que
minha sorte, Clara também esperava por uma criança.
aquele amor seria correspondido pela bela dama
Explicitamente ninguém poderia nos impedir, apesar
também .
de contrariarem sou agora um homem de família e posso muito bem tomar decisões.
Consequentemente, esse amor recíproco nos leva a um precedente casamento, sem consentimento fa-
Após nove meses, nossa tão esperada e amada
miliar ou apoio de meus colegas. Tanto minha esposa
criança nasceu, preenchendo a casa de alegria e
quanto eu continuávamos com condições precárias,
grande comemoração. Não posso nem acreditar, toda
de pura necessidade financeira, o que levou-nos a
aquela fantasia de um dia poder ser pai tornando-se
morar com a tia de Clara, que a propósito não gostava
real. É fascinante como esse bebê pôde completar
de mim tanto assim.
aquele vazio dentro de mim.
Compreendo a preocupação de tia Mônica, seu medo
No entanto, toda essa felicidade não foi duradoura,
de não podermos sustentar a criança, mas com o
mais do que nunca nos faltava dinheiro, estamos
tempo tudo há de se encaixar em seu lugar. Era tudo
devendo meses de aluguel para o dono da casa em
uma questão de tempo, sem contar que cabia a mim
que moramos. As dificuldades, que já eram muitas,
decidir o que faremos ou não. Confesso que a tia
aumentaram com a pressão do proprietário da casa
Mônica me aborreceu com esse assunto.
que exigia receber em poucos dias o aluguel atrasado de três meses. O que levou a que nesse mesmo final
Após o casório, entendi todo caminho de Clara, e que
de tarde finalizamos nossa mudança para uma casa
ainda menina já se tornara órfã. Vivia com sua tia que
de empréstimo.
a auxiliava nas costuras, e para ajudar muitas vezes era necessário que fosse desfrutada dos homens
Foram após inúmeras tentativas que Mônica co-
vazios que encontrava pelas ruas. Seu verdadeiro
meçou a nos convencer de que o mais prudente a
desejo era poder um dia casar-se, não com aqueles
se fazer era aceitar a ideia de se desfazer de nosso
que ela satisfazia nas noites, mas sim com quem a
filho. Não podíamos mais acatar aquela situação de
amasse de verdade, assim como ela.
qualquer maneira.
Tia Mônica não disfarçava sua insatisfação com a
Toda a situação me levou a tomar medidas extremas,
ideia de morarmos todos em conjunto, o que para
uma decisão mais do que impossível, teria de levar a
mim tem pouca importância, ainda mais depois de
criança à Roda dos enjeitados. Peguei a criança com
tudo que já me aconteceu. O mais inacreditável foi ter
profunda tristeza, e a carreguei em meus braços à
chegado até aqui, junto de Clara com um teto para
caminho da roda.
nos abrigar.
Com a consciência pesada caminho vagarosamente,
Sempre projetei em minha vida uma família com
quase sempre recuando meus passos, sem embargo
esposa e filhos, apesar de muitos ao meu redor
de ser o mais prudente a se fazer. Pensava e pensava
96
em alguma alternativa, porém realmente não havia
quanto eu continuávamos com condições precárias,
mais o que fazer.
de pura necessidade financeira, o que levou-nos a morar com a tia de Clara, que a propósito não gostava
Conforme o caminho, fui parar em um beco muito
de mim tanto assim.
escuro, e logo mais à frente avistei uma pessoa. Não podia acreditar em meus olhos, era ela mesmo,
Compreendo a preocupação de tia Mônica, seu medo
Arminda. Já a procurava há muito tempo, com a
de não podermos sustentar a criança, mas com o
recompensa de sua captura ganhei cem mil réis em
tempo tudo há de se encaixar em seu lugar. Era tudo
meu bolso, o que irá trazer meu filho de volta.
uma questão de tempo, sem contar que cabia a mim decidir o que faremos ou não. Confesso que a tia
Apressadamente, deixei meu filho em uma farmácia
Mônica me aborreceu com esse assunto.
logo ao lado, cujo proprietário havia conhecido na
Após o casório, entendi todo caminho de Clara, e que
véspera, e parte em busca da escrava.
ainda menina já se tornara órfã. Vivia com sua tia que
Logo pego a escrava, que se debatia feito louca su-
a auxiliava nas costuras, e para ajudar muitas vezes
plicando por liberdade. Enquanto a amarrava, gritava
era necessário que fosse desfrutada dos homens
dizendo estar grávida e que receava por castigos físi-
vazios que encontrava pelas ruas. Seu verdadeiro
cos que possivelmente receberia de seu dono. Mas é
desejo era poder um dia casar-se, não com aqueles
lógico que ignorei seus apelos, aquilo não importava
que ela satisfazia nas noites, mas sim com quem a
me de maneira alguma, era minha grande chance de
amasse de verdade, assim como ela.
retornar com meu filho para casa.
Tia Mônica não disfarçava sua insatisfação com a
Não podia descartá-la simplesmente, foi então que a
ideia de morarmos todos em conjunto, o que para
tomei e coloquei a criança em meu colo. Visivelmente,
mim tem pouca importância, ainda mais depois de
eu estava transbordando de alegria, toda aquela
tudo que já me aconteceu. O mais inacreditável foi ter
situação agora de forma reversa não poderia estar
chegado até aqui, junto de Clara com um teto para
melhor. Pois bem, vendi a escrava e ganhei meus
nos abrigar.
prometidos cem mil réis. A caminho de casa, sorrindo olhei para meu filho, disse que estava na hora de voltar para sua casa,
Sempre projetei em minha vida uma família com
reencontrar sua tia e sua mãe. E foi sem entender
esposa e filhos, apesar de muitos ao meu redor esta-
sequer uma palavra total estado de vulnerabilidade.
rem inconformados com minha falta de estabilidade
Mal sabia eu que aquele amor seria correspondido
no emprego, não deixava de sonhar. E para minha
pela bela dama também .
sorte, Clara também esperava por uma criança. Explicitamente ninguém poderia nos impedir, apesar
Consequentemente, esse amor recíproco nos leva a
de contrariarem sou agora um homem de família e
um precedente casamento, sem consentimento fa-
posso muito bem tomar decisões.
miliar ou apoio de meus colegas. Tanto minha esposa
Após nove meses, nossa tão esperada e amada
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criança nasceu, preenchendo a casa de alegria e
meu bolso, o que irá trazer meu filho de volta.
grande comemoração. Não posso nem acreditar, toda
Apressadamente, deixei meu filho em uma farmácia
aquela fantasia de um dia poder ser pai tornando-se
logo ao lado, cujo proprietário havia conhecido na
real. É fascinante como esse bebê pôde completar
véspera, e parte em busca da escrava.
aquele vazio dentro de mim.
Logo pego a escrava, que se debatia feito louca su-
No entanto, toda essa felicidade não foi duradoura,
plicando por liberdade. Enquanto a amarrava, gritava
mais do que nunca nos faltava dinheiro, estamos
dizendo estar grávida e que receava por castigos físi-
devendo meses de aluguel para o dono da casa em
cos que possivelmente receberia de seu dono. Mas é
que moramos. As dificuldades, que já eram muitas,
lógico que ignorei seus apelos, aquilo não importava
aumentaram com a pressão do proprietário da casa
me de maneira alguma, era minha grande chance de
que exigia receber em poucos dias o aluguel atrasado
retornar com meu filho para casa.
de três meses. O que levou a que nesse mesmo final
Não podia descartá-la simplesmente, foi então que a
de tarde finalizamos nossa mudança para uma casa
tomei e coloquei a criança em meu colo. Visivelmente,
de empréstimo.
eu estava transbordando de alegria, toda aquela
Foram após inúmeras tentativas que Mônica co-
situação agora de forma reversa não poderia estar
meçou a nos convencer de que o mais prudente a
melhor. Pois bem, vendi a escrava e ganhei meus
se fazer era aceitar a ideia de se desfazer de nosso
prometidos cem mil réis.
filho. Não podíamos mais acatar aquela situação de
A caminho de casa, sorrindo olhei para meu filho,
qualquer maneira.
disse que estava na hora de voltar para sua casa,
Toda a situação me levou a tomar medidas extremas,
reencontrar sua tia e sua mãe. E foi sem entender
uma decisão mais do que impossível, teria de levar a
sequer uma palavra que ele correspondeu com um
criança à Roda dos enjeitados. Peguei a criança com
belo sorriso no rosto...
profunda tristeza, e a carreguei em meus braços à caminho da roda. Com a consciência pesada caminho vagarosamente, quase sempre recuando meus passos, sem embargo de ser o mais prudente a se fazer. Pensava e pensava em alguma alternativa, porém realmente não havia mais o que fazer. Conforme o caminho, fui parar em um beco muito escuro, e logo mais à frente avistei uma pessoa. Não podia acreditar em meus olhos, era ela mesmo, Arminda. Já a procurava há muito tempo, com a recompensa de sua captura ganhei cem mil réis em
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Vicente Detoni Franzini
casa que exigiu o aluguel atrasado de três meses, que
Remetente: Cândido Neves
enjeitados, mas no caminho achei uma negra, no qual
Rio de Janeiro, 14 de Fevereiro de 1887.
para a devolução da escrava, corri até um boticário
não conseguimos pagar. Tive que levar o meu tão amado filho à roda dos o dono tinha uma recompensa enorme, cem mil réis perto onde estava e capturei a foragida.
Olá, João, desculpe-me pela demora
Foi uma batalha fervorosa, a estúpida ainda tentou se
em lhe escrever novamente, desde a
libertar mas não conseguiu, até que o dono chegou e
última correspondência que enviei para
me deu o dinheiro, finalmente poderia ter o meu filho
vossa mercê, passei por dificuldades em
de volta.
assegurar uma profissão, tentei vários
Voltei à casa de Mônica e Clara e expliquei a situação,
ofícios, desde tipógrafo, até entalhador
Mônica agradeceu por eu ter pego a negra e Clara ficou muito feliz de ter o nosso filho de volta. Espero
e comerciante, mas nada conseguia.
que esse dinheiro dure até achar outro negro para
Por fim decidi seguir o ofício de caçador
capturar novamente.
de escravos. Fiquei até conhecido por alguns escravos após um tempo
Atenciosamente,
Foi então que achei o amor de minha vida, Clara, a
Cândido Neves.
amo muito, logo se casamos mesmo com a objeção de Mônica, sua tia e pessoa com qual vivia (e qual iria viver junto de), devido a problemas financeiros, nos casamos, e decidimos ter um filho. A obrigação de todo homem decente é claro, nenhum homem é homem sem ter um filho, então tivemos um, mesmo com a mais forte objeção da Mônica. Como não sou gente de mal, tentei ajudá-la, mas não conseguia contribuir devido a dificuldade de achar escravos fugidos, como havia uma grande competição na área. Todo dia via se tinha um novo escravo fugido e já ficava atento para pegá-lo, mas sem sucesso. Então, após discussões sem fim, eu e Clara fomos convencidos por Mônica a dar o filho, após o dono da
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Juventude é época de mudança. Não se sabe se é adulto ou criança. Tempo de conflito Insegurança de nossos corpos. Aí vem a cobrança, não se tem mais esperança.
ANA CAROLINA BARBOSA NUNES
Jovem, Novo, Juventudeee!. Virtude de experimentar coisas novas. Porém é hora de tomar atitude. (Era para ser a melhor fase de nossas vidas!) Sem planos, vamos ficar insanos! Lutaremos pelos direitos humanos. com o tempo que temos, derrubaremos os tiranos. (Era para ser a melhor fase de nossas vidas!) Precisamos informar Não nos conformar e transformar. Falam que tudo está em nossas mãos. Mas alguém me perguntou, se eu quero ser o futuro da nação? Juno Novais de Oliveira
102
CAIO HENRIQUE PALOMO LEMOS
“Na minha época eu andava 10 quilômetros para ir à escola” “ Na minha época eu não tinha essa facilidade que vocês têm agora não” “Quando eu tava na escola eu tinha que ler a BARSA para descobrir o que eu precisava” A juventude sempre é mais fácil quando é a dos outros.
103
DANILO OLIVEIRA CONCEIÇÃO
Juventude, ela é uma complicação Tendo várias perguntas tipo ser ou não ser Contendo vários problemas e complicações Mas isso é só um lado do que é real No outro lado também é só mimimi Mas os dois são complementos um de cada um É menina ou mulher, um moleque ou homem Tem essa preocupação que aparece de muitos É sol, é verão, é poema, é canção Que confunde meu coração Juventude, tem muitas perguntas em si Que talvez não tenha nem explicação E traz a lembrança do que tempo em que não se tinha tanta preocupação Juventude, tem muitas perguntas em si Que talvez não tenha nem explicação E traz a lembrança do tempo em que não se tinha tanta preocupação (tentativa de fazer uma paródia com o tema de juventude da música “morena” do cantor Vitor Kley)
104
DAVI HENNING GENEROSO FERESIN
A juventude hoje em dia, em comparação com a
Uma coisa é fato, antigamente era outra ve-
geração passada, passa a impressão de ter superado
locidade, as pessoas tinham mais tempo pra
muitos obstáculos e regredido em outros, no sentido
pensar, mais tempo pra entender, pra ouvir, ser
de que em nossa situação atual, a informação nunca
escutado.. não se complicava tanto, hoje em dia
esteve tão presente em nossas vidas, no celular, na
pra você conseguir solucionar algo de errado
tv, nas ruas , nas conversas sobre coisas extrema-
na sua vida e que você gostaria de concertar,
mente fúteis, um bombardeamento de informações
você vai precisar analisar todo o seu dia a dia
que mexe nossa cabeça diariamente e vai moldando
com turbilhões de coisas que de alguma forma,
ela a uma forma de pensar e viver que a juventude
podem te causar mal, e evitar o que te faz mal,
passada não teve.
talvez seja deixar de fazer tudo o que está presente no seu dia, nos seus hábitos, ficou muito
Essa discrepância de realidade que veio com a
difícil romper gatilhos de prazer na era em que
evolução tecnológica e do mundo em geral, trouxe
tudo foi projetado para ser prático e descartável,
uma ansiedade e diversos problemas relaciona-
desde um salgadinho a um celular com 1.001
dos de uma forma nunca antes vista , os jovens
funções.
desenvolvem problemas e tomam soluções para solucioná-los que acabam gerando mais problemas,
Tudo isso me faz pensar que nossa geração tem
numa bola de neve que é tanta coisa, tantas possi-
um déficit de felicidade verdadeira, de verda-
bilidades e tantos conflitos que fica muito fácil entrar
deiros prazeres na vida, já que temos tantos
em uma profunda depressão.
prazeres que não são realmente de verdade fica difícil resgatar aquilo que ninguém pode
Tal depressão que na geração passada talvez os
construir ou te dar ,verdadeiros sentimentos e
jovens entrassem de outra forma, uma forma menos
presença, o que pode ter proporcionado a juven-
frenética e mais sincera de solidão, menos superfi-
tude passada uma leveza maior na vida, no dia a
cial talvez.
dia, na simplicidade, na forma de fazer as coisas e que nós, nunca saberemos como é.
105
o que ainda vai ser o que nunca para pra esperar o que tem uma mente que cabe ao corpo que mistura o tempo com o sonho que ainda não sabe o que vai ser mas não esquece queria ser jovem,
DORA BONTEMPI
não sei se sou o que eu queria ter sido mas não sou jovem, sou o que já não é mais. o que ainda não é o que nunca pode parar o que tem uma mente que não acompanha o corpo que mistura o sonho com a dúvida que ainda não sabe o que vai ser e não para é difícil ser jovem, ainda não sou o que quero ser não sei se sou só serei quando crescer? mas sou jovem, sou obrigado a ser.
106
ELIS NUNES FERREIRA
já não posso mais ser
Mudar, mudar, mudar É assim que nos veem Onde está nosso estar?
Mudar,
Mudar, mudar, mudar
Uma obrigação? Confusa um caos. Identidade, indecisão, indescritível.
Não acaba nos 20
Muito bom? Muito ruim.
Infância à adolescência, adolescentes a adultos Mas também de adultos a velhos, de ano a ano, de vida à morte Alguns querem-nos ser Mas nós só queremos passar Os que não são Dorian Gray Nos veem como uma ameaça Instáveis Indecentes
ENZO THALENBERG DI DOMENICO
Mudar tudo muda
Uma passagem para a desgraça… O desespero, uma bosta; Simplesmente uma merda. A contemplação do tempo para ser, A morte entediante. Uma mudança para a passagem, Uma passagem para a mudança. Com personalidade única, Uma energia caótica. O pessimismo sincero e crítico. Espontaneamente empolgado, alegre Difícil de lidar, recuso sem noção. Com volatilidade, ágil e elétrico.
Ingratos
Venenoso
É tudo que somos? Isso é o que nunca muda
Uma visão sincera a essa voz, Triste, amável, raivosa…
Mudar, mudar, mudar
Tão julgadora, imponente e vulgar.
Nem tudo é uma fase
Bruta de forma histérica.
Onde está nosso estar?
Desigual a qualquer outra. Ass.: Eu lírico
107
FRANCISCO PRIOLLI XAVIER
Será que eu presto para alguma coisa?
Eu sou só um vagabundo. Na verdade, não é isso.
Já pensei em textos, frases, poemas.
É que eu me sinto inseguro.
Letras de música, mas sobre qual tema?
Sinceramente, tô fazendo isso pra quem?
Repeti isso como um ator pratica a cena.
Meu coração diz que minha música pode salvar o
Isso tudo valeu a pena?
mundo.
Sei lá, às vezes faz sentido.
Mas minha mente me diz que não ajuda ninguém.
-O Quê? -Não sei, só pensei em rimar isso com umbigo. — resposta a mim mesmo. Vamos falar sobre música, por que você parou? Se zangou, ou algo ruim se tornou? Alguém te forçou? Não, só não tinha compromisso.
108
Música não serve, mas preciso ir para algum lugar.
Mas é só sobre dinheiro? Tem certeza?
Eu me conheço, e tenho a clara noção de que traba-
Pra que mais serve o trabalho, aliás, por que tra-
lhar, como alguém comum, não é algo que desperta
balhamos? A resposta é simples, para viver em
meu interesse. Na verdade, só me preocupa.
sociedade é necessário que cada indivíduo exerça
E acho que isso tem a ver com a juventude em si, o
uma função, quanto mais importante, mais bem
acesso a toda essa tecnologia, me faz perceber que
remunerado será.
eu quero ganhar dinheiro em cima de mim, e não da
De verdade? Quanto mais importante for a função?
minha mão de obra.
Então você quer dizer que... Pera, você sabe bem disso, é sobre dinheiro sim. Quer dizer, não o dinheiro em si, mas a necessidade e a pressão que o mundo faz em torno de um jovem: -Ah você precisa estudar, pra passar em uma faculdade e arrumar um emprego! Realmente preciso? Acho que sim, né? É isso ou virar um Zé Ninguém! Aliás, eu posso ler Desobediência Civil, queimar meus documentos e ir morar no mato, já li, achei a ideia entediante. Enfim, nada disso faz o menor sentido, foda-se tudo, joga pro alto. Não posso, amanhã tem prova.
109
Das longas unhas, dos finos dedos.
Teu pé Andou An Dou Dou An Dou An Dou
Das onduladas rugas, o cais de teu corpo. Tua perna. Fina, como se implorasse à mãe, o divino leite. Tua perna. Repleta de pelos Mal formados. Repleta de manchas. Cicatrizes Teu tronco Marcado pela seiva. Magricela, suado. Coberto pela leve camisa, já anexada às escamas. Tua aparente costela
FREDERICO LEONI ZUCKER
Faltava-lhe um pedaço-já abandonado. Teu rosto. Longo. Coberto pelo pelo. “Mal feita” Coberta pelo tédio Coberta pelo medonho, que preenche-o de ponta a ponta Coberta por Flandres. És tu! Tu de corpo feio De grito preso De choro baixo Tu, feia. És tu, beleza!
110
Eu. Jovem. Quando foi que isso aconteceu?
GABRIELA BURZA BARBERA
Parece que até ontem eu era criança. Mas ao mesmo tempo, parece que sou assim desde sempre. Mesmo assim, eu ainda não sei ser jovem. Mas o que é ser jovem? É estar sempre estudando? Saindo com os amigos? Sempre me dizem para ser eu mesma. Mas e se eu não sei quem sou? Então eu sou nada? Não. Alguma coisa eu sou. Mas o que? Quer dizer, quem?
GUSTAVO PENTEADO GOBE
Brincar como criança acabou A dificuldade do novo ficou Amigos que nunca vou esquecer Dificuldades na escola que preciso vencer Pessoas e caminhos novos ainda vão surgir E um futuro melhor posso ajudar a construir
111
IOLANDA BLANCO
A juventude, onde penso e sinto de tudo Mas não posso nada Onde tenho que saber quem sou Mesmo sem saber muito bem quem era Saber sobre o futuro Mesmo sem saber muito bem sobre o passado Ser a espontaneidade, a falta de noção, a diversão e a irresponsabilidade E ainda lidar com as inseguranças, medos, dúvidas, violências e rejeições Ter que ajudar em casa, cuidar dos irmãos, aprender a cozinhar, a andar pelas ruas, gerenciar tempo e dinheiro Mas ainda ter tempo de ir a festas, fumar, beber e fazer merda por aí Ser constantemente ser forçado a olhar para o futuro E a enfrentar problemas que preferimos ignorar Mudanças estão constantemente e bruscamente acontecendo O que antes era rotineiro agora é inusitado Relações e pensamentos sempre em modificação A adolescência é onde somos novos demais para sermos adultos Mas velhos demais para voltarmos a ser crianças
112
ISABEL BERSOU RUÃO
Me disseram que teria mais liberdade
Seu desejo de espelhação
Que poderia escolher
Não
Mas como, se me direcionam
Meu respeito por você não é admiração
E limitam?
Serei aquele que nunca veio antes Mesmo que tantos outros me sejam
Me moldam para que eu vá ser Mas se esquecem que já sou
Admissões precisam ser feitas
Mudar? Posso
Não sei por onde vou mas não vou por onde você foi
Mas não cabe a você me dizer para o quê
Preciso que segure a minha mão Mas não Não me guie
“Não vá por aí, meu jovem, que não tem chão” Pois então cairei E cairei duro
Talvez minha ideia de liberdade esteja equivocada
Quero que meu corpo se molde pela minha própria sina
Mas entende que não importa?
Não é que não penso que não quer me ajudar
Digo a mim o que sou
Ou que não o respeito
E eu grito mais alto, velho
Apenas quero a liberdade de poder formar os meus próprios calos
Entenda o prazer do desafio Pelo simples fato de desafiar
Não me diga que ando fácil
Porque quero
É duro
Porque posso
Não sou senhor da dor
Meu controle de eu está acima do seu
Mas não pense que não a conheço
Se quiser não ser pelo simples fato de não querer
113
A juventude é como uma música Move-me, do começo ao fim Começa com a melodia Mudo conforme ela continua Quem sou eu na partitura? A música se intensifica Me derruba com força
LARA GREGER TAVARES ROCHA
Meu corpo pesado, se recusa a mover-se
A música continua E parece que todos exceto eu estão empenhados Estou fora do ritmo!? Porque corri tanto? A música fica mais lenta Meia noite, já é outro dia Acordo de manhã A música continua E antes que ela chegue ao fim Dançarei conforme seu som Me sinto alegre Me sinto brava Me sinto triste Tenho medo Mas devo continuar Pois um dia, a última nota vai soar E poderei tocar uma nova música
114
Um turbilhão de sentimentos passando pela minha cabeça, 24 horas por dia, isso é ser jovem?! Eu sei que é difícil passar por tudo que a juventude nos traz e mostra, mas será que é para ser tão difícil assim, como está sendo pra mim, ou todos ou jovens têm esse mesmo sentimento. Será que todos na minha idade entendem o que eu tô sentindo, mesmo eu
LAURA MARTINS BEATRICE
não sabendo ao certo? Tem várias (para não dizer todas) coisas em relação à juventude que me deixam perplexa, mas a maior delas é como pessoas mais velhas não conseguem me entender mesmo já tendo passado por tudo que eu estou passando, por que que elas não sabem que quando eu estou com raiva elas têm que me acalmar, e não “colocar mais lenha na fogueira”? Por que meus pais não entendem que a única coisa que eu quero quando estou chorando é um abraço, eu não quero que eles gritem comigo ou me expliquem o porquê da briga? Porque a minha tristeza e raiva não é entendida? Talvez eu não entenda isso porque eu sou jovem, porque não entendo nada da vida. Pelo menos é isso que eles falam, e como uma jovem não posso retrucar os mais velhos. Enfim, a juventude.
115
LIVIA YANO DANTAS
Ser adolescente é saber que cresceu mas não saber quando. Ser adolescente é saber trigonometria. Ser adolescente é saber que suas decisões afetam as coisas ao ser redor. Ser adolescente é saber o básico sobre a guerra fria. Ser adolescente é saber que adultos não possuem todas as soluções. Ser adolescente é saber fazer prova a caneta. Ser adolescente é saber que os preconceitos não são apenas palavras más. Ser adolescente é saber a teoria da evolução. Ser adolescente é saber que quer fugir mas não saber para onde. Ser adolescente é saber a data de acontecimentos relevantes. Ser adolescente é saber que seu futuro depende de você. Ser a adolescente é saber recitar a canção do exílio. Ser adolescente é saber que sua opinião vale menos. Ser adolescente é saber escrever artigos de opinião. Ser adolescente é saber o que privilégios mudam tudo.
aber que o mundo ainda não está preparado para te receber.
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LORENZO PAGANI LEGAT
Ô o fundo do poço. Não dá pra piora (piorar). Dói subir, mas... a saída tá (está) lá. Ô o que miséra (miséria). Se é só se esforça. Mas como se esforçar, se não consegue levanta! (levantar). Mas eu tenho esperança. Sei que um dia vou subir. Mas até lá demora, e já quero desisti (desistir). Não consigo descansa (descansar) — Sem sabe (saber) se tu ta (está) bem. O mainha (mãezinha) obrigado, por carregar um peso assim! A esperança nunca que acaba. Mas a paciência sim. E a minha paciência, já está chegando ao fim! O mainha (mãezinha) quero que saibas — Que culpa tua não foi não. A culpa foi minha, por não ter tomado jeito não! To (estou) tentando melhora (melhorar). Mesmo que não consiga não. Porque sei que um dia, eu paro de piora (piorar) tudo que é bom.
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LUIZA VARANDA DE MATTOS
Quando passamos de criança
Não sou ainda o que serei,
à fase da juventude, em
assim como não sou o que fui.
muitos sentidos, me parece que a adolescência é um novo
Um esboço do futuro,
nascimento.
um novo do passado, um sem-lugar determinado.
Nessa fase da vida, além da
LUCAS WATANABE
insegurança, surgem outras
Um isso quase aquilo,
questões e um turbilhão
um ser ou não ser.
de transformações com o
Um esperar infinito,
nosso corpo. Mas ao mesmo
um andar,
tempo é um processo de
um correr.
amadurecimento mental e físico importante para quando
Um quase eu,
chegarmos à vida adulta.
um esboço mal traçado.
Entender as transformações
Uma penumbra não completamente escura.
do meu corpo que ocorreram rápidas e desordenadamente,
Um talvez sempre talvez.
lidar com as espinhas na frente do espelho e perceber que eu não era mais aquela criancinha que eu era até um tempo atrás.
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MARIA EDUARDA SANTOS COSTA
Juventude, chega tão rápido
Juventude, pros adultos é difícil de entender
e se vai mais ainda.
para a maioria não fazemos nada da vida,
Para alguns são os melhores anos das suas vidas
nossa escolhas e obrigações são fáceis
enquanto para outros são os piores
e não temos que nos preocupar com nada
Juventude, é o inferno, é a paz,
Enquanto tem a minoria que realmente consegue
é se encaixar, é se rebelar,
ver
é se chamar de adulto e ao mesmo tempo de criança,
o peso das nossa obrigações
é passar por hormônios, é crescer
o quanto nossa vida é agitada
é ter medo de não ser ouvido, é ter medo de não ser aceito e como somos afetados de diversas maneiras é ser jovem. Eu ainda tenho muito o que viver ainda tenho muitos momentos felizes e tristes para
Pra mim é a junção de tudo isso
passar
é uma mistura de emoções
e ainda mais obstáculos para percorrer
em um momento me bota pra cima
mas independente disso eu posso dizer que
no outro me coloca pra baixo
até agora,
e às vezes eu nem sei o que eu estou sentindo
eu gostei da minha juventude.
119
MARIA LUIZA DE TOLEDO CALIL
Eu estava conversando com meu pai, e de presente no meu aniversário de 15 anos eu pedi para fazer uma tatuagem simples, pequena e não muito chamativa, e ele falou que só quando eu tivesse uma maturidade mais avançada e fosse dona das minhas próprias ações ele ia deixar eu fazer. Eu fiquei meio insatisfeita com a resposta e fui perguntar para minha mãe também, e ela me disse quase a mesma coisa que meu pai, que quando eu tivesse com uma maturidade que não ia me levar a fazer coisas no impulso aí sim ela deixaria, falou que até me leva no tatuador. Para mim toda essa conversa que tivemos, principalmente no meio da fase em que estou passando, me descobrindo e conhecendo sobre tudo, foi extremamente necessária, porque a partir dela eu pude refletir muito sobre maturidade. Depois de um tempo eu fiquei pensando, “e se eles tivessem me deixado fazer essa tatuagem? Uma escolha feita durante minha juventude no calor do momento iria intervir em mais coisas no futuro?”, só de pensar me dá um leve arrepio. Com tudo o que eu aprendi sobre a juventude foi que muitas das decisões que eu tomar durante essa fase, têm que ser revisadas pela minha cabeça mais de uma vez, ela pode acabar afetando bastante no futuro, resumindo minhas ações hoje em dia podem refletir bastante em meus atos no futuro, então essa é uma parte da minha vida muito importante, repleta de aprendizados e conhecimentos.
MARIANA FIGUEIREDO KRAUSZ
Quando eu tinha nove anos eu queria pintar meu cabelo de roxo, minha ideia era ficar igual a uma personagem de um desenho animado que eu assistia. Minha mãe não queria deixar, então meu padrinho conversou com ela e disse que ia me dar de aniversário a pintura no cabelo, ele falou para ela que era melhor eu fazer essa mudança com nove anos do que mais para frente com trinta. Eu acho que ele falou isso porque para mim a juventude é uma fase da vida de mudanças, em que você descobre coisas que você gosta ou não, é quando você constrói sua identidade. A minha já foi roxa.
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MARIANA MAGALHAES TEIXEIRA FURTADO
Identifico o ano passado como um ano sem
as minhas questões. Sei que isso é um imenso
esperanças e sem oportunidade de olhar para
privilégio.
frente. Agora sinto que estou em um lugar de
Me sinto também profundamente incompreendida
reflexões, principalmente sobre a juventude e como
pelos adultos ao meu redor, como se eu não tivesse
eu me relaciono com essa entidade que é manchete
as ferramentas para explicar o que quero dizer.
em todos os lugares. E culpo isso também ao fato
Culpo-os também por não fazerem o esforço de
de que o ano inteiro tivemos projetos virados para
tentar me entender. Talvez uma das razões de eu
essa questão.
não ser compreendida da maneira que eu desejo seja
Não tenho a esperança de mudar o mundo. Sinto
precisamente essa falta de ferramentas no modo de
que já estamos no começo do fim.
falar. Talvez não consiga me expressar direito.
Acho que tenho ferramentas que possibilitam uma
Tenho interesses diversos e vejo isso como
primeira análise mais aprofundada da sociedade
uma vantagem, também não entendo muito
e seus funcionamentos. Ver e realmente entender
quem é fissurado por apenas uma coisa. Como
o quão injusto e profundamente errôneo são os
futebol, quantas pessoas têm sua personalidade
innerworkings da nossa sociedade me deixa com
inteiramente moldada por qual time eles torcem.
uma grande dificuldade de criar ilusões, no sentido
Acho isso um tanto empobrecedor.
de uma fantasia, para conseguir continuar
O fim, acho muito importante perceber que todos
Eu não lembro quem falou isso mas lembro de
nós vamos morrer, isso é óbvio mas realmente
escutar em algum lugar: “A falta de ilusão é a
parar e entender que tudo que eu vivi vai de fato
morte”.
ser esquecido e que a existência individual é
Tenho muita sorte de ter pessoas que eu julgo
insignificante me traz um grande alívio, quero ser
serem intelectuais para que eu possa despejar
esquecido, quero dar espaço a coisas novas.
121
A juventude pode levar-nos a cometer muitos erros, por inocência ou inexperiência, geralmente. Às vezes nos traímos demais, e deixamos de explorar o grande potencial que temos, grande dentro de nós, que faz parecer que somos capazes de revolucionar o mundo! o atrito do afeto sumiu fugiu escapuliu e eu fiquei
E isto é verdade, nós realmente podemos.
PEDRO AYOUB
NINA SCHNAIDER REDONDO
outras vezes sentimos uma energia tão
mas na juventude ainda nos falta tanta sabedoria para lidar com esse potencial. Daí todas as coisas ditas impossíveis podem tornar-se promessas fáceis, e aquelas coisas fáceis podem parecer impossíveis.
gelada
algumas frustrações e decepções podem
estática
gerar-se a partir disto, mas isso não é de
parada
todo ruim.
uma estátua
A [vida, juventude] é uma boa escola.
de gesso
Sempre chega o tempo em que você con-
e marfim
segue dominar tuas capacidades e dar a exata medida das coisas, e você verá que
presa
mesmo os teus maiores erros e frustrações
no oco
se tornaram para ti um excelente tesouro
do fundo
no caminho de tua evolução e realização
de mim
pessoal .
122
RAFAEL COUTINHO TALOCCHI
A juventude é uma etapa muito importante da vida,
visão comumente representada em filmes e séries
que possui diversas questões e visões diferentes
já que nunca são mostrados os problemas da ju-
tanto dos próprios jovens como de pessoas já adul-
ventude é apenas a parte da diversão, ignorando as
tas. Mas um grande problema é a forma como esta
diversas mudanças que ocorrem na vida dos jovens
juventude é vista por pessoas mais velhas e que
nesta etapa da vida.
nem sempre é a realidade.
No geral existem muitos pontos de vista da socie-
Muitas vezes pessoas mais velhas podem ver a ju-
dade em relação às juventudes, porém o que mais
ventude como uma etapa da vida em que todos são
predomina é o de que os jovens estão sempre cau-
extremamente irresponsáveis e não têm nenhuma
sando problemas e confusões e que não são capazes
capacidade de pensar o que é certo ou errado sozi-
de fazer nada sem a ajuda de pessoas mais velhas.
nhos. Este ponto de vista também impõe diversos
Concluindo é possível dizer que não exista uma
estereótipos a estas juventudes e que se não forem
forma correta de analisar as juventudes, pois estas
cumpridos, o indivíduo será visto como alguém sem futuro e completamente sem solução.
são muito diversas e específicas, sendo impossível
Outro problema relacionado a este modelo de visão
se fossem todas iguais. Além disso generalizar a
da juventude é que para estas pessoas mais velhas
juventude como se todos fossem “vagabundos” e
um jovem que se divirta e não consiga ir muito
não tivessem nenhuma responsabilidade também
bem na escola é uma pessoa ruim e muitas vezes é
é um equívoco já que cada indivíduo é diferente e
atribuída certa culpa a estas pessoas por estarem
mesmo que o jovem queira fazer algumas coisas que
aproveitando a vida.
aos olhos de pessoas já adultas pareça um absurdo é
encaixá-las em um único modo de julgá-las como
sempre importante lembrar que um dia estas pes-
Outra visão é também a de que a juventude no geral
soas também já foram jovens e que faziam coisas
esteja sempre em festas, fazendo coisas erradas e
similares eram julgadas por mais velhos.
causando problemas para a sociedade. Esta é uma
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RAFAEL DJIGOV CAVALCANTI
“O homem nasceu livre e por toda a parte vive
ser recheada de sonhos e objetivos. Desse modo,
acorrentado”. Uma frase de Jean-Jaques Rosseau,
a professora Luana Tolentino nos mostra que: “A
que ilustra, a juventude como um todo, porém a
pobreza não pode nos tirar o direito de sonhar”, e ela
quantidade de correntes e sua dureza, variam de
conclui dizendo que o quão mais precária é sua con-
acordo com sua etnia, localização e classe. Nesse
dição, menor é sua perspectiva de uma vida melhor
prisma, destacam-se dois aspectos importantes:
e mais curto o seu leque de sonhos e possibilidades.
como a capacidade de se livrar dessas correntes está
Consoante a isso, confirmando o fato de que mesmo
intrinsecamente ligada à sua condição econômica
dentro de nossos mais profundos pensamentos e
e da forma que elas, como uma navalha, cortam os
desejos nossas correntes nos acompanham. Assim,
sonhos dos menos afortunados.
certas vezes, até mesmo, acabando com a única esperança que lhe restam.
Em primeira análise, evidencia-se que na juventude, principalmente, tentamos nos libertar de todas
Desprende-se, portanto, a adoção de medidas que
essas correntes, entretanto sua condição econômica
venham ampliar a possibilidade do sentimento de
é um fator essencial para este feito. Sob essa ótica,
verdadeira liberdade, para todos os jovens, indepen-
o Pnad e a Unicef tem dados de cerca de 1,7 milhões
dente de sua classe social. Dessa maneira, cabe aos
de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam
governos locais e a nós como sociedade, fazer com
em situação de trabalho infantil em 2019, mostran-
que todos os jovens voltem a sonhar, por meio do
do que enquanto uns têm a corrente, da obrigação
aumento de oportunidades e incentivo dos interes-
de estudar, os mais pobres em sua juventude já
ses da juventude, a fim de que o futuro do mundo
trabalham exaustivamente. Dessa forma, conclui-se
seja o mais livre e sonhador possível. Somente
que a juventude e sua liberdade, bem como suas
assim, poderemos nos livrar das correntes de nossa
decisões são para uns, uma escolha e para outros o
sociedade e alcançaremos um futuro mais verdadei-
único caminho que lhe foi dado
ro em todos os aspectos possíveis.
Além disso, é notório que a juventude é e deve
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RAFAEL FONZAGHI BARROS
RYHAN SANTOS DOS ANJOS
A juventude é como um sonho frágil Que na estrada da vida e apenas um pedágio Para uma vida sem muitos sonhos
Antigamente as juventudes eram muito diferentes,
Mas com vários pensamentos medonhos
os jovens faziam coisas diferentes, tinham problemas diferentes e soluções diferentes. Muitos pais e avós falam como a juventude deles
A juventude é uma mistura
foi mais difícil e que nós, jovens de hoje, não temos
Com O problema dos outros sempre parece menor
porque reclamar, porém muitas vezes eles não
muito conhecimento sobre várias culturas
compreendem os nosso problemas assim como nós
A juventude aprende sobre várias caras
não compreendemos os problemas que eles tinham,
Mas tem que decorar a fórmula de bhaskara
na realidade não existe mais facil ou mais difícil cada uma tem suas dificuldades e suas vantagens, nós por exemplo nos tempos de hoje temos muito
A juventude é uma fortificação das amizades
menos liberdade de sair e brincar na rua por conta do crescimento e da urbanização das cidades, por
Mas na vida adulta tem muita diversidade
outro lado nossos pais e avós não tinham acessibili-
Os jovens são os menos compreendidos
dade à internet, meios de comunicação e tecnologias
Pois não são crianças mas devem se comportar
que facilitassem o dia a dia.
como adultos
Ou seja, não tem um tempo melhor ou pior para ser jovem, sempre terá seus problemas e suas vantagens, mas sempre tentamos diminuir os problemas dos outros. O problema dos outros sempre parece menor que o seu já que não é você quem o sente.
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Eu perco o tempo vendo o tempo passar Eu amo o silêncio mas não posso parar, Pois a vida escorre e o tempo corre e eu não posso parar.
SOFIA ABE ROVEDA
Mas como vou cantar-dançar a vida sendo que eu não tenho tempo? Dizem: “Você é jovem! Pare de reclamar! Quero ver quando chegar à minha idade” Mas mãe, dói! Esse viver machuca, me faz espinhos e me rasga a pele. A voz na calada da noite quer cantar, mas só sabe chorar. Eu não aguento mais! Esse mundo que me pressiona e me bota numa caixa de sapato. Mas agora vou voar! Mãe, vou partir, ser livre! Sem drogas, sem bebidas Eu lhe prometo! E eu volto, me liberte dessa caixa E me deixe respirar! Eu voo mas eu volto! Livre, sentada na mesa entre os bons amigos, vejo o tempo finalmente do meu lado.
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Tendência instintiva do corpo de manter o equilíbrio. Tudo grita dentro do peito O nó na garganta tem voz; aquela que nunca sai A cabeça é um emaranhado de pensamentos que aparecem no volume máximo
SOFIA COLASANTO GONZALES
É impossível ficar em um lugar barulhento assim. Busco a paz Ou a ilusão desta Como haveria de ter algo realmente pacífico num cenário de caos? Impossível Então crio lacunas de ilusão ao longo dos dias imaginando que, ali, vive o silêncio E desfruto desse nada até sentir que o caminho do meio está começando a chegar Olho paisagens bonitas enquanto minha mente é um borrão e, de alguma forma mágica, as coisas se acalmam Mesmo que seja só um lapso, Um momento minúsculo, em meio à imensidão de segundos. Por um instante, esqueço que tudo está tão confuso E levo para minha confusão diária a lembrança dessa sensação Como um incentivo Até mesmo uma esperança Tudo está louco, mas ainda sinto E isso é muito.
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SOPHIA CASOLARI LANDELL BALBINO
De repente da felicidade fez-se a tristeza Escura como um poço sem fim E dos abraços apertados fez-se um lauto vazio E das tardes ensolaradas fez-se um breu De repente do ânimo fez-se a melancolia Que desfez a última esperança E da euforia fez-se a angústia E da comemoração fez-se a amargura De repente, não mais que de repente Fez-se frustrante o que era animador E doloroso o que se fez acolhedor Fez-se do branco, o escuro Fez-se da vida algo sem sentido e propósito De repente, não mais que de repente.
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THEO ROCABADO ZAPELLA ANDRADE
minha história é o que tenho para dar não tenho muito a oferecer mas ao mesmo tempo tenho tudo carrego junto a mim memórias que compõem uma canção inacabada escrita com o que vi, renovada a cada segundo minha história é o que sou não sou ninguém mas ao mesmo tempo sou o mundo meus afetos, meus laços, minha vida, meus passos meu jeito risonho e coração profundo minha história é de onde vim não vim de lugar nenhum mas ao mesmo tempo vim de muitos nasci em volta do amor mas ainda sim o procuro faço raízes aonde vou e não sei do futuro chego aqui de mãos vazias apenas com a minha voz e o mar de palavras submersas em mim
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Equipe do Colégio Oswald Professor de Português e Projeto Escrita: Evandro Rodrigues Professores: História: Diego Lucena Ciências: Danilo Safi Educação Artística: Bruno / Roger / Eric Jan / Arthur / João Paulo Nascimento Matemática: Rita Belinelo Inglês: Juliana Cernea, Luciana Palmieri e Adriana de Rezende Geografia: Bruno Picchi Ed. Física: João Simão / Julia Santos e Letícia Doretto / Eduardo Longhi Projeto Intervenção: Marina Faria / Tarso Monitora de Língua Portuguesa: Gabrielle Sá Vital dos Santos Assessora de Língua Portuguesa: Vivian Cristina Gusmão Coordenação: Laura Meloni Nassar Assistente de Coordenação: Rosana Barbosa Nunes Direção: Andrea Andreucci Ramos Maria
Revista Digital do 9o ano - 2021 Nó Na Palavra Criação e diagramação: Editoração – Central OEP Coordenação: Thiene Ferreira Editoração: Efigênia Maria Pereira da Silva
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