O Livro de letras

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Enquanto houver opressão e violência Haverá luta e resistência @MarkaoAborigine


1- Natural da Terra 2- Adolescencia em retratos 3- Nomenclatura 4- O azul de uma caneta 5- A colônia 6- Pangéia 7- Rap Amador 8- As primeiras letras do alfabeto 9- Comicos Conteúdos 10-Cumplicidade 11-Ossos secos 12-Pretérito imperfeito 13-Coisas que sempre quis dizer


Natural da Terra Como Conselheiro incomodo o sistema sem o uso de armas Aborígine. A ação faz a vanguarda Com formação não há dominação, retrocesso Microfone dispara rimas, atitude, protesto. Diferentes a aqueles que o próprio idioma nega Que enxergam heróis naqueles que promovem a paz com guerras Persegui o talibã pelos afegãos é pacífico Mortes causadas por patrocínio Deles próprios. Estados Unidos da América Se a Amazônia é o pulmão vocês são... Bem parecido a parlamentares, terno e gravata Que reduzem a alegria do povo em uma cesta básica Contorcem meu caráter, minha imagem é de bandido Me negam o lazer e mesmo assim não fui eu que assassinei o Galdino Sei que sou teu alvo. Tua munição não me acerta Minha mente é revestida de aço, sou Lamarca, sou Marighela ...Natural da Terra... Do ódio e tristeza, seqüestro o embaixador Sem usar de torturas transformo em alegria e amor Dou aos pobres o que com suor tirei dos ricos Sou cangaceiro, sou nordestino, Brilhante Jesuíno Não comemoro hipocrisia, festejos, vai ver Sou excluído, sou sem terra, sou Pataxó Matalauê Mais de cinco milhões de almas representa o jovem aqui A dor dos xavantes, tapuias, caiapós e tupis Sou senzala, mas se preferir sou a favela Sou o escravo no açoite sua seqüela Sou quem cresceu desconfortado com as desigualdades Sou imortal, sou ágil, sou Zumbi dos Palmares. Canhões de consciência apontados para o governo Sou João Candido o almirante negro Pulmão brasileiro defendo com unhas e dentes No jardim de Margarida, vive sempre Chico Mendes.


...Natural da Terra... Ribeirinhos, seringueiros, bóia fria, carvoeiro Sou a coluna que percorre os estados brasileiros O R puxado, o S chiado, sou a catira, sou o repente Sou o forró, sou o bumbá, sou tchê oxente Sou o arroz tropeiro, baião de dois, sarapatel, o açaí A buchada de bode, o queijo, feijoada, o pequi Sou a mistura, sou mestiço, sou um só Sou a criança, sou o adulto, sou o avô, sou a avó Sou caatinga, sou sertão, sou o cerrado Sou pantanal, sou planícies, sou planaltos Sou São Francisco, Amazonas, Parnaíba Sou as nascentes, as correntes cristalinas Sou as grutas, vida selvagem, belo vale, fauna e flora Sou o cantador que canta a dor com pandeiros e violas Sou instruído, destemido, revoltado, sou a chama Sou mais um louco desta terra, sou Pindorama. Pronto pra guerra Pra viver de defende esta terra *Letra composta em 2004 e originalmente batizada de Pindorama, palavra que em tupi guarani significa Terra de Palmeiras. Logo reflete-se através da mesma a força, beleza e povo do verdadeiro Brasil.


Adolescência em retratos Oh pátria armada, estagnada, um berço hostil. Inocente sensualidade, contraste infanto juvenil. No Brasil sem censura, sem vergonha, sem caráter. Em close, televisores ensinam posições em sessões a tarde. Modernidade... Infância com vestimentas adultas Normalidade... Danças eróticas e crianças semi nuas Como se não bastasse a triste gramática da vida Jovens ligados às palavras crime, drogas e bebida. Fotografia construída da juventude que não se interessa Afoitos por uma pobre conversa, mas não pra uma palestra. Desértica mentalidade, repleta de futilidade. Pensa que é uma fase da vida, mas transforma a vida em fase. Terminal! Vivem na Terra do nunca. Nunca crescem Nunca amadurecem ao mesmo tempo em que envelhecem Hey garoto me responda o que é ser brega 14 anos em escola ou 14 anos em uma cela? Hey garota me responda o que é ser brega 14 anos virgem ou 14 anos aidética? Vem ver, retratos desta adolescência. O porquê do meu grito de urgência Sabe cercados de más influências. Aonde vão chegar? Imagine Maria retirando o líquido amniótico A esperança esquartejada, saída fechada, o futuro em destroços. Assassino. Substantivo mais adequado a quem pratica tal ação Pois a vida se forma no momento da concepção irmão. Desconheço sua opinião, o que pensa, mas te falo. Que o DNA está completo já no óvulo fecundado Desculpe se pressiono a mesma tecla e nela sempre insisto É chocante, mas imagine o aborto de Jesus Cristo. Não é paranóia. Quantos livros não escritos? Quantas soluções não apresentadas, quantos amores não vividos? Por outro lado pesadelos, traumas psicológicos. Gravidez ectópica nas trompas de falópio


Sentimentos culposos, fleches, fiel companhia. Reflexos de risos inocentes, transpiração, taquicardia. Muitos desejam o que você desperdiça o amor de um filho. Amor, fidelidade, palavras chave, o livra do abismo. Com elas, salvará vidas. Tanto da haste, quanto da Síndrome da imune deficiência adquirida. Seres burros fazem sexo e não amor Não pensam com o cérebro, mas com o órgão reprodutor. Assim se entregam, se usam, se tocam, se vendem. Assim são traídos, assim se arrependem. Porém tarde. O olho azul foi falso e do mesmo modo o corpo malhado Prazer individual, momentâneo, indelicado. E esta tolice origina consequências muito sérias Descem pelo ralo lágrimas de remorso e venéreas Eis o resultado da falta de diálogo e alienação da juventude Marcas levadas por toda senectude. Vem ver, retratos desta adolescência. O porquê do meu grito de urgência Sabe cercados de más influências. Aonde vão chegar? Click... Fotografia é tirada da juventude nesse mundo podre Triste... Que muitas vezes nós jovens fazemos pose. *Letra composta em 2006. Vencedora dos prêmios Melhor Letra e Originalidade no Festival de Música Popular de Samambaia no ano de 2009. Web Vídeo lançado em 2009 gerou grande repercussão e excelentes críticas por todo o país. Sendo utilizado em escolas públicas do DF como objeto de formação.


Nomenclatura Eu canto em todo canto, mas quando canto não encanto Pois meu canto em quem escuta só traz espanto Pois analiso a conjuntura da inexistência da alegria Dia e noite, dia açoite, noite fria Daqueles que de madrugada com a mão calejada pedem a parada do ônibus Se dirigem ao combate, mas no primeiro round soa o congo Derrota. Ao invés do lábio amado sentem a lona Após o máximo recebem o mínimo que compra a mortuária semipronta

Não é faz de conta, mas se conta o que se faz Põe-se data de validade em humanos. Não mais trabalharás Aliás somos ensinados a sermos individualistas Aprendemos a administrar e não ajudar que precisa Assim uma fila de pós-graduados, formados, doutorados. A procura do emprego onde varrerão seus currículos rasgados Resultado alcançado sem esforço pela elite Que comemora com vinho do porto no conforto da Fashion Week Um calçado onde o cadarço equivale a meu salário Enquanto isso uma pessoa morre a cada três segundos por não ser alimentado Quanto vale uma vida? Responda-me você desta corja legislativa maldita Recebe três vezes o salário, mas nada faz Convocações extraordinárias para orgias sexuais Tem mais. São estes que sustentam a exploração humana por contendas Como o governador que mantém o trabalho escravo em suas fazendas Eu canto e em meu canto questiono a pena branda O cifrão criminoso, a guerra negra, a paz branca Quem canta? O natural da terra Pindorama Em luta nomenclatura Marcus Dantas Enquanto houver opressão e violência Haverá luta e resistência


No Brasil de caboclo, de mãe preta e pai João. No sertão onde a palma de gado se faz alimentação Grão é cozido na lata de alumínio. Verdade Em outra parte, berço 18 quilates, foi sustagem. Tecle Sap. Entenda que os Brasis são bem parecidos Não existem diferenças entre pobres e ricos Apenas um erro em substantivos Um é bandido e o outro cleptomaníaco Frutos perdidos da família que não conversa Uma muito pouco e a outra através das teclas E é nessa terra, nesse contexto que escrevo texto, com o pretexto De voltar a ação e uma ação com efeito Pois meus feitos são bem feitos, denunciam os defeitos Encontrados em deputados, senadores, vereadores, prefeitos Estes que financiam indústrias, secas, enchentes. Constroem atingidos por barragens, destroem esta gente Quantos indigentes que migraram em busca de gabinetes, escritórios Mas tal sonho hoje migra para cidades dormitórios Obvio. Aceita-se currículo com foto A aparência leva a competência a óbito

Triste episódio. Mamãe me dá uma boneca Papai me dá uma bicicleta. Ao pranto se entrega e molha a terra Onde floresce o subemprego, a subsistência, o viaduto habitat Mas a resistência vem em pequenas sementes que se tornam um belo colar Eu canto e em meu canto pronuncio a esperança Tocada em latas de tintas por jovens e crianças Quem canta? O natural da terra Pindorama Em luta, nomenclatura Marcus Dantas. Enquanto capitalizam a realidade Eu socializo meus sonhos Eu canto e em meu canto uso a mesma narrativa O discurso de uma vida coletiva Que é vivida não por uma, mas por tantas. Em luta nomenclatura Militância. *Letra composta em 2004.


O azul de uma caneta Acordo bem cedo, missão encontrar emprego. Ônibus lotado, mal alimentado, vários do mesmo jeito. Olhares em que só vejo insegurança O corpo de pé, mas adormecida a esperança. Pela janela noto boas condições, privilégios. Contando moedas para o meu retorno ao inferno Nessa curta viagem vejo dois mundos Onde sou um degrau a ser pisado na escada do futuro Sirvo pra servir, básico ao acabamento. Barrado na entrada, porta fechada, suspeito, elemento. Minhas mãos calejadas deram o nó em muitas gravatas O suor de meu rosto ainda limpa suas privadas A procura de mais uma chance... Aqui estou Chegou minha parada minha jornada começou Avenidas, endereços, entrevistas, imploro. Dou meu sangue por um subemprego, por favor, vem logo. Curriculum não tenho, mas me empenho palavra de homem. Minha agonia se soma a de todos os meus clones. Nunca, nunca, nunca posso desistir Bater de porta em porta e o que vier aceito. Lavador de chão, peão, servente, pedreiro. Aceito o que tiver de braços abertos Só pra ver meu filho com um caderno Não hei de me render, pois meu Senhor és forte. Um centavo honesto é um milhão perante o ouro do revolver Mesmo que do lixo tire meu sustento Da sobra do restaurante meu alimento O dinheiro é necessário pro comer, pro vestuário. Me contento com diárias, mas meu sonho é um salário E na carteira de trabalho ver o azul de uma caneta Hoje não realizado! No céu estrelas Que iluminam meu desgosto, meu entristecer. Juntamente a uma pergunta: Emprego algum por quê? Talvez porque o segundo grau não tenha completado Ou pelo endereço do meu lar, do meu bairro.


Entre o endereço de firmas perdi meu vale transporte Dormi fora de casa não pode Se eu pedir eu sei que alguém vai me ajudar “Sai fora vagabundo tu quer é si drogar”. Nunca, nunca, nunca posso desistir Achei uma cobertura vou deitar, tenta dormir. Espero que ninguém venha se divertir Minha carteira de trabalho em branco vira um diário Onde a caneta azul escreve o triste fato Mais um dia cansado, sem emprego. Portas se fechando, o caminho mais estreito. Escutando insultos, vítima do preconceito. “Não contrato bandido, não contrato preto”. Pros homens um suspeito, humilhado pela madame. Soco, sangue, e como se não fosse o bastante. Sem emprego, sem experiência. Será que acordar com consciência? E ver minha família sem um salário Ou será que esta noite morrerei queimado? Nunca, nunca, nunca posso desistir Não posso desistir, Vou ter que prosseguir, pois a caminhada é árdua na nação; É triste meu irmão ver meu filho sem um pão, mas se hoje eu não consigo amanhã eu vou atrás. Meu filho não vai mais chorar Minha mulher vai se alegrar uma vida boa eu vou lhes dar. E tirarei as amarguras O sofrimento, a dor sem cura. E lhes trarei tudo de bom eu sei, pois derrotado nunca serei.


Mãe por que o papai ta demorando? Será que vai trazer o brinquedo que quero tanto? Eu vejo em teus olhos que a senhora ta preocupada A senhora sabe de alguma e não quer me dizer nada Não é nada não, são apenas algumas contas que tenho para pagar Vai assistir o desenho que já vai começar Mas a esperança e o desenho foram interrompidos Acharam na noite passado o corpo de um mendigo

E uma voz inocente que não hesita em dizer Mãe olha o papai na TV. *Letra composta em 2001. Neste mesmo ano vence o Festival de Música Escolar do CEM 03 de Taguatinga DF. Em 2008 levou os prêmios de Melhor Letra e Originalidade junto ao Festival de Música Popular de Samambaia e em 2009 Melhor Letra no Festival de Música Popular de Santa Maria.


A colônia O saber me é negado Desprezaram minha raiz Nas argolas do submundo me amarraram Fui esquecido pelo país Restou-me ler nos livros A história de um povo submisso Cabisbaixo e preguiçoso Uma colônia de conformismo Li que o invasor é o herói Que o natural da terra é selvagem Esta nação não foi erguida por nós Mas por coroas de coragem Que entravam mata adentro Bandeirantes, catequistas Encontravam minérios e fruto Mas estupravam as indígenas Esta parte não foi contada Pra muitos não existe Pois a educação foi comprada Por gravatas imundas da elite Puseram um quadro negro Depois trouxeram o giz Na senzala vejo cadeiras A cada sentar uma cicatriz Mais que chibatadas e correntes A desigualdade muito me fere Ao saber que governadores e presidentes Em educação nada investem Pois o conhecimento não é de interesse Melhorias no ambiente da escola Predominaria nos gabinetes o medo Pois o jovem saberia em quem vota. *Poesia composta em 2004 e musicada por Rodriggo Misquita em 2009 para o CD ‘Dia e noite. Dia açoite. Noite fria.’


Pangéia Dos olhos tire a venda, veja os problemas que o mundo enfrenta. Entenda. Resolva-os! Não trate pessoas diferentes com indiferença Coisas banais como estas escondem os demônios verdadeiros Lobos em pele de cordeiro, multiplicadores do preconceito. Asnos, estúpidos, cérebros atrofiados. Não entendem que descendem de Adão e Eva ou evoluíram dos macacos? Não acredita, tem dúvidas, pensa que é bobagem? Consulte, leia a bíblia, estude e escute Darwin. Achei que era pouco, pesquisei e fiquei fascinado. Ao saber que a seis milhões de anos na África surgiram nossos primeiros antepassados Continente distante... Não como se imagina A cada ano que passa dele a gente se aproxima Desculpe-me deixe prosseguir com meus argumentos Do início ao fim destes versos tu irás mudar alguns conceitos Continuar como está é difícil prepare-se para o choque. O primeiro habitante brasileiro possuía traços negroides Essa foi profunda, alta voltagem. Não foi descarga elétrica foi apenas a verdade Ame ao próximo, não é isso que disse Jesus? Quando chegaram nesta terra não encontram mulheres e homens nus? E hoje aqui estamos três raças, três estilos Um só povo, um só sangue, um só sorriso Portanto a pessoa que tu julga contigo a um laço, parentesco Se não possui a competência de amar pelo menos use o respeito. Somos um povo, uma só gente. Mais semelhantes do que diferentes. Inferioridade feminina, mentira, adjetivo inexistente Me entenda, nove meses, placenta, útero, ventre Lembre-se. O primeiro cidadão brasileiro era mulher Luzia como Maria mãe de Jesus e esposa de José


Espero que estes versos entrem em seu coração E entenda que o amor nasceu para todos independentemente da opção Pois o que importa é atenção, felicidade, cumplicidade, carinho Saiba que nunca erra o alvo, o tal chamado cupido A gente que erra. Vemos a flecha onde não está O que bombeia o sangue ta longe órgão reprodutor quer procriar Este erro cometi, vivi, deixei-me levar pela atração Esqueci o interior e conheci a dor da traição Nisto adquiri experiência para toda uma vida A embalagem pode ser bonita, mas a validade pode está vencida Toda uma vida. Meu e seu futuro próximo Depois do plantio vem a colheita vê se respeita os idosos Fábricas, estradas, escolas, faculdades Foram construídas graças a união de vários sotaques De costumes, emoções, transpirações Esta terra que você pisa não contém um, mas cinco corações Lições de amizade que não combinam com intolerância Mas são exemplos... Para que encontre mudança. Somos um povo, uma só gente. Mais semelhantes do que diferentes *Letra composta em 2008 com título original ‘Lhe mostro como estás errado’.


Rap amador Aborígine Rap amador Não por falta de profissionalismo, mas por excesso em amor Aonde vou carrego lembranças de minha trajetória Do primeiro Rap que fiz em um trabalho da escola Percorri várias lojas a procura de bases de Rap Ensaios e mais ensaios tenho gravado em fitas k7 Tamanha emoção quando escutava o resultado E notava que o microfone não tinha chiado Próximo passo levar o som para outro cômodo Pois no horário da novela provoca certo incomodo Componho iluminado pela clave que brilha no horizonte Resulta nesta sombra um jovem empunhando um microfone Um pequeno homem que caminha com uma caderneta Mostra orgulhoso ao irmão suas simples letras Se queixa que é reconhecido na escola, notas máximas O que não acontece em sua casa Lições que promovem crescimento, amadurecimento Para que após uma década escutam a voz e vejam o talento Amigo e amiga, façam da vida um verdadeiro palco Protagonista da própria história de sucesso, receba os aplausos Efetuados com carinho e calor Aborígine Rap amador Muitos cantam por amor a música Eu por amor a quem escuta A qualidade deste disco é compatível com as oportunidades Negado ao plebeu, pois com a “alta corte” não mantém amizade Não cantarei o que cantas só pra satisfazer teu ego Sou diferente de você não pleiteio sucesso E esta diferença discrimina minha competência Sintonize, mas não encontrará esta canção feita com excelência Tenho consciência que tudo é possível para a realização de um sonho E que na procura da mesma ocorrem vários tombos


Mas o importante é erguer-se. Não escutar os gritos de contra Pois como você ninguém sonha Meu objetivo? Calma lá espere que lhe conto Gravar um disco! Produzido com um programa comprado por dez contos Tecle control, como o mouse arraste o loop Vê? É tão simples possuir atitude O programa é falso, mas o sonho é verdadeiro Buscar o que acredita não é vergonhoso, mas digno de bater no peito De coração fiz a canção e os ‘bicos’ mudam de estação Escutam e dizem... Ihhh é a mesma base do Markão Ou o Markão imitou? Que absurdo Não lhe ensinaram que as ordens dos fatores não alteram o produto? E tal produto se deu a soma de simplicidade e fervor Com muito orgulho Aborígine Rap amador Muitos cantam por amor a música Eu por amor a quem escuta *Letra composta dentre 2006 e 2009.


As primeiras letras do alfabeto Antes alcançávamos amizade, amor à arte. Agora atingimos, armas, algemas, ápice. Alienados, amarguramos, atiramos Atravessamos a atmosfera, ainda andamos. Acabando, atrasando, arruinando A alma antes aberta agora acoima ao avanço Azarenta arruína a amigos Arranca, abafa, abate ao alívio Abolimos a alegria, aceitamos ao avesso Ainda asseguramo-nos, atestamo-nos aos acertos Atravesso a avenida, acelero à alguém A arte armada amedronta. Ave... Amem Atinge abundantemente, acaba a alegria Adia a anistia, ação aterroriza. Ataca algo, alguém. Acrescenta a agonia Atribui a alguém aonde a alienação asfixia Alicia, altera, arrebenta alicerces Apenas apela as angústias aparentemente alegres Antes alcançávamos aptidão, atitude Agora atingimos armas assim ataúdes. Bravamente brigamos, batalhamos, Brasil. Bombas, bandidos, bandos, Brasil. Bombardeando, benfeitores brasilianos Bravos, brutos, bambas brigando Bravamente brigamos, batalhamos, Brasil. Bombas, bandidos, bandos, Brasil. Bases, batidas, Brasília – braveza Benevolente, busco brotar beneficência, beleza Corruptos corrompem cidadãos com covardia Crimes com causa certa contra cidadania Candidatos. Canalhas com contrato Certificam-se, cheques, cestas, cartões, cidadãos comprados.


Como cabrestos, currais construídos com concreto. Carreatas, contribuem com crescimento, cemitérios. Criminalidade, contamina, comanda comunidade Cultura cai, corrupção cresce, chacina, cárcere. Característica certa, centros, caatinga, cerrado Capangas, cheira-cola, calafrio, cansaço Corações cauterizados, catástrofes. Cavalaria, cassetete, calabouço, choro, choques. Cenário cheio: Caçadores cinzentos carregam códigos Covardes criminosos. Corajosos caem cronicamente. Comâ Clausulas, causas, cada cinco contra. Cinco. Certificados cara cuidado. Crimes? Câmaras, congressos contém capitulados. Carregue consigo coragem. Cristo concede, combate. Capital criminal canta cale-se Como costume caminha comandado Canção completada, cantada calado. Corpos cegamente cometem ciladas Consciências corrompidas, corpos, covas cavadas. *Letra composta dentre os anos 2004 e 2007.


Cômicos conteúdos Propagandas autorizadas me oferecem entorpecentes Só chapo o coco se por cocada em chapa de fazer misto quente Entende? Nacionalista derramo Rum, vodca, whisky Nordestino é arretado comigo só alambique vice? Não! Isso não é comigo Prefiro leite fermentado, pois contém lactobacilos vivos Me responda amigo, qual é o melhor veneno pra rato? Aquele que contém formol, pra conservar por mais tempo o defunto usuário Mais um cigarro jogado no cheio cinzeiro Junto com teus dentes, teus pulmões e teus cabelos Isso é fraco. Me amarro na erva - chá mate Farinha de mandioca e lança perfume Kaiak Ao meu ver tudo isso é ridículo É lógico aos olhos portadores de miopia e astigmatismo Catarata, daltonismo Joy cadê seus óculos? Eu rimo mesmo é a base d’água pouco cloro Me deu foi sede traz pra cá quero tomar Preferencialmente não gaseificada, pois dá vontade de arrotar Rimas metafóricas que provocam sorrisos Conteúdos cômicos, pois ouvido não é pinico. Agradando a tudo e a todos, minha rima é unissex. Perfeccionista passo a lixa depois de usar unhex O doce mais doce dos doces, puro açúcar é minha rima Se for diabético é adoçante, ou melhor, insulina. Se divirta, pois meu Rap lhe deixa alegre. Até alivia o estresse Se divirta, pois meu Rap lhe deixa alegre. Sorrir até emagrece Meu Rap é como engenho de cana de açúcar Adiciona o caldo no tacho e cria rapadura Merece uma surra quem diz que isto é tolice Meu Rap é uma peia de galho de xique-xique


Relaxante como uma rede debaixo de um pé de umbu Tão criativo como o menino vestido de papangú De norte a sul minha fala aglutina, enche de graça Igual ao interior. O povo reunido em volta da TV da praça Mas foi de graça toda alegria da primeira idade Minha mãe tratando o machucado com mercúrio e mertiolate E como arde a falta de cultura nesta vida É como trocar o papel higiênico por folha de urtiga E há quem diga que existe artista lacto purga Aquele que quando canta dá dor de barriga em quem escuta Propagandas autorizadas oferecem o sexo Músicas venéreas, mulheres-cadelas, letras um décimo do alfabeto Lá no Congresso tem gente carente, sem renda alguma Sem dinheiro pra comprar carteira leva o dinheiro na sunga Não se importe se no Big Brother quem venceu não lhe deixou feliz “Agente vamos mudar” tudo, com diz o Roriz. Se divirta, pois meu Rap lhe deixa alegre. Até alivia o estresse Se divirta, pois meu Rap lhe deixa alegre. Sorrir até emagrece *Letra composta dentre os anos 2006 e 2009.


Cumplicidade Falaram-me de mentiras. Eu de verdades. Falaram-me de intrigas Eu de amizade. Falaram-me de tristezas Eu de alegria Falaram-me de solidão Eu de sua companhia. Falaram-me de lágrimas Eu de sorrisos Falaram-me de riquezas Eu em espírito Falaram-me do rancor Eu do perdão Viraram-me a face Eu estendi a mão. Falaram-me de pesadelos Eu estou sonhando Falaram-me “Eu odeio” Respondi “Eu te amo.”. Veja só... O amor chora Feliz, pois agora o silêncio não é resposta. O perfume da rosa e não a dor do espinho Socialização do respirar, um pulsar, um caminho. Veja só... O milagre que contemplo A fonte da vida, energia que obtenho. Quando olho para ti e o coração, enxergo. É na despedida que eu te espero. *Poesia composta em 2004, musicada por Thaís Ribeiro e Jefferson Diego para o CD ‘Dia e noite. Dia açoite. Noite fria.’


Ossos Secos O sopro da vida que bate em meu peito O sopro da vida... O sopro da vida que traz a vida Aos ossos secos... Para o azul do céu se clama que no solo aja um verde O pranto que cai é a água que a terra não sente há meses Vida sofrida, cacimba vazia, riacho de terra. Carne resseca, mas a esperança não hiberna. É embalada pela cantiga, pelo som da viola. Pela nuvem negra que mal chega e já vai embora Na roça, carroça de palma, para o gado cultivador. Devido à gota que caiu daquela nuvem que passou Lavrador. Sempre na certeza que não esta a sós Sua esperança é resistente à seca como um Aveloz Inspiração pra nós da caatinga de concreto Frustração no pretérito e para o futuro incrédulos Pra que? Por quê? E Como? Suponho que já foram de encontro aos seus sonhos Esperar, alcançar – verbos ligados. Espera e alcança, mas não na cama, acordado. Levanta e anda, pois a chama arde, nunca é tarde. Nos ossos secos brotarão músculos e carnes Nas adversidades o crer não pode ser morto Pois a vida vem do azul do céu em forma de sopro. O sopro da vida que bate em meu peito O sopro da vida... O sopro da vida que traz a vida Aos ossos secos... Em partículas de água vejo o rosto de um só povo Enxergar uma beleza nas cores do arco-íris é o tesouro Que deve ser utilizado como um bem comum De modo que unidos na mão, não sejam, senão um. E não distintos pelo reflexo do espelho Homem é homem. E não homem branco/homem negro Livres da exclusão de nobres horários Em novelas os índios não serão brancos maquiados


Do quadro negro e do giz branco flui o ensino Isolados só resta o vazio Este vazio que se expande Faz enxergar diferente cores em um vermelho de um mesmo sangue Relevante é o todo em um e o um em todo O pequeno gigante o fraco poderoso O conflito, o insulto, o olhar agressivo. É interrompido pela força de um suspiro Gemido produzido pela idosa debilitada Que em sua fraqueza busca força e traz a calma Pára! Quem briga se reconcilia Esta idosa é o osso seco com sopro de vida. O sopro da vida que bate em meu peito O sopro da vida... O sopro da vida que traz a vida Aos ossos secos... Pois a vida é pra se viver E a felicidade alcansar Com dignidade colher E solidariedade plantar *Letra composta em 2006


Pretérito Imperfeito Como é belo o nascer de uma estrela vivida Nunca pude contemplar com um andar tremulo e mente entorpecida Senti a brisa do orvalho puro, mas foi envolvida Pelo refluxo alimentício, perfume combustível, incendeia e vicia Se subia de degrau em degrau em silencio Pois o filho não interrompe o sono da mãe em sofrimento Consciência inativa, cansaço, murmuro, os muros acolhem O balancear do responsável pelo sofrimento que nunca dormem Situações ridículas, o mundo gira sem o despertar da luz Desentupidores de pias são os membros que limpam a não digestão de alimentos crus Boas idéias, prestigiar Sol com grandes amigos Só ele é assim lhe faz descer em círculos Viciosos que no caminhar se mostram dolorosos Assinatura na carteira de trabalho? Na certidão de óbito Corpos não reconhecidos, presos, despedaçados Como o meu coração em uma dose de ilusão e fracasso Braços levantados, preso na insensatez, inconsciência Viram copos, viram carros. Riem alegres, choram na doença Desrespeito com o templo, com a crença No momento santo o pecado faz a presença Atos burros, atos tolos, sujo como rato de esgoto O cheiro é o mesmo, mas o rato não procura o veneno diferente do outro Prestação da morte, caso de saúde pública Responsável pela destruição através de torturas Físicas, emocionais, psicológicas Palavras ferem mais que tapas Se irrigam com álcool as rosas No despertar amanhecem mortas São as histórias de vida que foram destruídas Depositadas em calçadas, corredores de hospitais e clínicas Coincidem com a minha. Felizmente sem agravantes Pois o acaso tinha preparado algo pra mim muito tempo antes


Ao invés de ser arrastado por não conseguir andar Ando para arrastar pessoas que como eu não conseguem enxergar Que o vazio do coração não é preenchido por alegrias mundanas Gargalhadas na madrugada de um chão frio que se faz cama Mas a propaganda sempre usa o sucesso Artistas, modelos jovens esbeltos Pódio certo, 1º colocação em júris internacionais É o Brasil a terra dos melhores comerciais Mas é claro quantos sorrisos damos, quanto compramos? Daquilo pelo qual atravessamos o atlântico Também né com esse calor Só uma gelada e uma mulata de maiô Absurdo a imagem feminina usada como objeto Para atrair o profissional competente, mas agora doente e sem sucesso Absurdo a imagem de jovens contentes e sempre alegres Mas escondem o futuro adulto que acorda em suas próprias fezes. Num país que desce redondo Segue arruinando sonhos Quantas, quantos? Que nesta noite adentraram seus lares e ao invés de trazer alegria, fartura, bênçãos Trarão somente a tristeza, pranto, sofrimento Quantas, quantos? Nesta noite serão encontrados aos pedaços dentro carros devido o acidente provocado pela embriaguez Quantos nesta noite provarão o álcool pela primeira vez? Quantos, quantas? Eu? Eu não! Eu não serei mais conivente com isto, nunca mais. *Música composta em 2007. Integra a Revista Aborígine VOL.1 e é utilizada nas oficinas e palestras sobre Drogadição através do projeto Aborígine – Juventude, cultura e cidadania.


Coisas que sempre quis dizer Papais e mamães prematuras continuam a calcular Preço, custo, despesa, que uma vida lhes trará Adolescência perdida, preconceito, sufoco A solução é bem simples. Assassinato não! Aborto É fácil imaginar o pulso acelerado o medo Tentativa de fuga da haste, do esquartejo É fácil imaginar um tubo sugando a massa cerebral Vida corroída por substancia que contem sal Hoje em dia é inválida essa dádiva divina Com conseqüências brutais o viver se assassina A criança que faria sorrir espera o lixeiro Para ser incinerada e não pra ir pro berço Foi o anjo que partiu, olhar não reluziu Pois seria um dos 26 que morrem entre mil Quem comete isto não foi nascido, foi tirado de um tumor São os monstros pegajosos que Holywood não mostrou Eu sempre quis dizer onde o preconceito nasce A boneca não é preta, criança penteia uma Barbie Homem, mulher. Branco, negro. Abismo nos salários 63% dos pobres, negros e pardos Porcentagem atingida pelos residentes de Brasília Que em 12.720 os salário fixa Sempre quis dizer sobre você que permanece calado Diante dos camponeses assassinados e do trabalho escravo No Pará, do tribunal internacional sou o júri popular Condenando FHC culpado por Eldorado dos Carajás A justiça esqueceu, eu sei que seu mandato acabou Mas para as famílias camponesas restou a dor. Infelizmente motivos não faltam pra eu escrever Coisas que sempre quis dizer. 4x É a igualdade social que preocupa as classes altas Como se vê no não apoio a reforma agrária Isto se é notado quando fazendeiro criam milícias armadas Pois tem medo de perderem seu peões e suas enxadas


Ganância patrocinada por robozinhos de gravata O tal da ética à deputada agride, ofende, maltrata Pois ao saber do erro na casa A verdade doeu, a pactuação saiu cara Sempre quis dizer minha arma é minha cultura O exemplo mais claro de que um filho teu não foge a luta Sou a favor da greve, do protesto, da queima de pneus Mesmo que atrasem o caminhar dos meus e do seus Pois sei que é fácil discordar quando se está com estômago cheio Que é difícil se calar quando a desrespeito aos seu direitos O futuro a Deus pertence. Não corra por seus objetivos Frase burguesa capitalista que financia seu conformismo Capitalismo. Muito perigo, não injete em seus organismo Beba coca cola diariamente e em uma década estará com câncer maligno Ursinhos constantemente são entregue as namoradas Na fauna brasileira não existem, não vejo pelúcias de araras Você parou pra pensar no que falei na última rima Notou que não fala eu te amo, mas ‘i love you’ pra sua mina 500 anos de invasão, dominação exercida pelo FMI Vamos resitir, ao invés de inglês nas escolas que se ensine o Tupi. Infelizmente motivos não faltam pra eu escrever Coisas que sempre quis dizer. *Letra composta em 2006.

Markão Aborígine, 26 anos, é MC e Conselheiro Tutelar. Fundador e coordenador de projetos da ONG Coletivo ArtSam. É idealizador do Sarau Samambaia Poética e Prêmio Hip Hop Zumbi. Possui 02 CD’s lançados: ‘Dia e noite. Dia açoite. Noite fria’ de 2009 e o CD de poesias ‘A Vida em Poesia’ lançado em 2010. Produziu documentário, vídeo clipe e mostra Meio Século e série fotográfica ‘Retratos do abandono’. Contatos: aboriginerap@gmail.com www.aboriginerap.blogspot.com 061 – 9602 6711



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