afeto�sobre�duas�rodas
A perda da auréola “Olá! O senhor por aqui, meu caro? O senhor nestes maus lugares! O senhor bebedor de quintessências e comedor de ambrosia! Na verdade, tenho razão para me surpreender!” ‘Meu caro, você conhece meu terror de cavalos e viaturas. Agora mesmo, quando atravessava a avenida, muito apressado, saltando pelas poças de lama, no meio desse caos móvel, onde a morte chega a galope de todos os lados ao mesmo tempo, minha auréola, em um brusco movimento, escorregou de minha cabeça e caiu na lama do macadame. Não tive coragem de apanhá-la. Julguei menos desagradável perder minhas insígnias do que me arriscar a quebrar uns ossos. E depois, disse para mim mesmo, há males que vêm para o bem. Posso, agora. passear incógnito, cometer ações reprováveis e abandonar-me à crapulagem como um simples mortal, E eis-me aqui, igual a você, como você vê.” “O senhor deveria, ao menos, colocar um anúncio dessa auréola ou reclamá-la na delegacia caso alguém a achasse.” “Não! Não quero! Sinto-me bem assim. Você, só você me reconheceu. Além disso a dignidade me entedia. E penso com alegria que algum mau poeta a apanhara e a meterá na cabeça descaradamente. Fazer alguém feliz, que alegria! e sobretudo uma pessoa feliz que me fará rir. Pense em X ou em Z. Hein? Como será engraçado.” Charles Baudelaire
OBJETIVO ESPEciFiCO
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS
Investigar relações subjetivas envolvendo o uso da bicicleta e a redescoberta da cidade,a partir da exploração de caminhos incertos,e da vivência de lugares no território, embasado na teoria da deriva situacionista de Guy Debord e do conceito de espaço vivido de L e f e b v r e .
Por fim, discutir a exploração das cidades tendo como embasamento teórico a teoria da deriva situacionista e o espaço vivido de Lefebvre .
Compreender o embate da cultura do automóvel em contraste a outras cidades que consolidaram a cultura da bicicleta no território;
Apresentar a bicicleta como modal de transporte e discutir para além do modal funcionalista à visão de deriva ; Investigar, de forma preliminar, soluções tecnológicas de apoio à pesquisa que possam contribuir para a análise das relações subjetivas na cidade com foco nas bicicletas;
METODOLOGIA
pesquisa
JUSTIFICATIVA DO�RECORTE�GEOGRAFICO
As bicicletas públicas do projeto Pedala BH estão em sua ampla maioria na Regional R C 1
Estrutura c i c l o v i á r i a concentra-se na Região Central
Unidade urbana bem definida
Concentra�a�maior�parte�dos� grupos�ciclisticos�da�cidade�� concentra a maior parte do patrimônio histórico cultural e arquitetônico da cidade.
SUMARIO
5 MOBILIDADE URBANA BRAGANÇA, Luciana. BUEHLER Ralph, PUCHER John. COMISSÃO EUROPÉIA PARA AMBIENTES. LEFEBVRE, Henri. LUDD, Ned. HARVEY, David. GUAMACCIA, Matteo. LUDD, Ned. ROLNIK, Raquel. SEGADILHA, Ana. 6 AFETO SOBRE DUAS RODAS LEFEBVRE, Henri. DEBORD, Guy. CONSTANT. INTERNACIONAL SITUACIONISTA. 7 TECNOLOGIA 8 A BICICLETA EM BELO HORIZONTE 9 A INVESTIGAÇÃO DE RELAÇÕES SUBJETIVAS ENVOLVENDO O USO DA BICICLETA E A “(RE)DESCOBERTA” DA CIDADE 10 CONCLUSÃO
MOBILIDADE�URBANA espaCo�social�e�os�carros
“O automóvel é Objeto-Rei, a Coisa-Piloto. Nunca é demais repetir(...)O trânsito entra no meio das funções sociais e se classifica em primeiro lugar, o que resulta na prioridade dos estacionamentos, das vias de acesso, do sistema viário adequado. Diante desse “sistema”, a cidade se defende mal. No lugar em que ela existiu, em que ela sobrevive, as pessoas (os tecnocratas estão prestes a demoli-la(...)” (LEFEBVRE, Henri. 1991)
ESPACO ABSTRATO
é “produto de uma violência (nem sempre fisica), ”ele é político, instituido por um Estado, portanto, instituciinal”. (LEFEBVRE, Henri. 1991)
Este espaço que prioriza os setores produtivos, segundo Lefebvre,é caracterizado por ser um espaço homogeneizante que se sobrepõe aos espaços das relações cotidianas, suprimindo-os .
“O capitalismo precisa da urbanização para absorver o excedente de produção que nunca deixa de produzir. Dessa maneira, surge uma ligação intima entre desenvolvimento do capitalismo e a urbanização...” (HARVEY, David, 2015)
De acordo com Lefevre, é o espaço visto como raridade: “o espaço se torna raro(...) em particular em tudo que diz respeito à cidade e ao urbanismo. O tempo também se faz rápido, assim como o desejo”
MOBILIDADE�URBANA espaCo�social�e�AS�BICICLETAS Os produtores do espaço urbano, interessados em homogeneizá-lo por completo, não conseguem atingir o controle absoluto do espaço. A vida cotidiana de uma metrópole, despertam sentimentos de insastifação em relação aos ritmos da produção, sentimentos despertados pelos descompassos e disritmias entre os ritmos do corpo, e os ritmos das mercadorias.
provos
“O PROVOS (...) por volta da metade dos anos 60, produziu uma deflagração de consciências. Uma operação que obrigou o ocidente a rever os próprios planos de vôo e a desligar o piloto automático, oferecendo-a um largo número de humanos a visão de outras opções de vida...” (GUAMACCIA, 2001, p.11)
MOBILIDADE�URBANA iniciativas�que�promovem�a�bicicleta�em �cidades�com�topografia�acentuada
Belo Horizonte
descer floresta
São Francisco São Paulo
SEGADILHA, Ana. (São Carlos)
subir bahia andradas
“O gradiente de declividade da via foi indicado como o fator de menor importancia para a escolha da rota (...) Embora se esperasse que a declividade fosse um fator importante, este resultado esta de acordo com outras pesquisas relatadas na literatura.” (SEGADILHA. 2014)
MOBILIDADE�URBANA iniciativas�que�promovem�a�bicicleta� em�cidades�com�topografia�acentuada
sAO FRANCISCO
respeite o ciclista
400km
sAO PAULO
A F S
O B R
E T
O
E E S P A C O
D U A S
R
V
I
O D A S
V I
D
O
espaCo�vivido�sobre�duas�rodas
O espaço vivido é o espaço que os indivíduos expressam a experiência do ser no espaço, isto é, as relações subjetivas e afetivas do corpo no espaço vivido .
ESPACO� VIVIDO
Lefebvre coloca que é possível compreender o uso do corpo no espaço mediante a apropriação desses indivíduos sobre o espaço.Quando as relações de afeto que geram laços de pertencimento e que reafirmam a experiência individual ou coletiva do ser no espaço, torna-se possível a restituição do corpo, do desejo e do prazer . Os espaços do vivido se revelam como os espaços-tempo da vida, ja que os lugares podem ser lembrados sem que haja a denominação de funcionalidade ou forma. A redescoberta desses lugares embasados na afetividade e na experiências determinadas pelos seus usos. A deriva seria uma apropriação do espaço urbano através da ação do andar sem rumo.
DERIVA
“O adjetivo “psicogeográfico”, que guarda uma impressão interessante, pode, portanto, ser aplicado aos dados estabelecidos por esse gênero de pesquisa, aos resultados de sua influência sobre os sentidos humanos e até, de modo mais geral, a qualquer situação ou conduta que pareçam provir do mesmo espírito de descoberta.” (DEBORD, 1955)
“(...)as melhores pesquisas revolucionárias na cultura tentaram romper a identificação psicológica do espectador com o herói, a fim de estimular esse espectador a agir, instigando suas capacidades para mudar a própria vida. A situação é feita de modo a ser vivida por seus construtores. O papel do “público”, se não passivo pelo menos de mero figurante, deve ir diminuindo, enquanto aumenta o número dos que já não serão chamados atores, mas, num sentido novo do termo, vivenciadores.” (INTERNACIONAL SITUACIONISTA, 1958) Essa construção de situações vividas por seus construtores, a qual os situacionistas se referem, se aproxima do espaço vivido de Lefebvre na medida em que essa vivência no espaço representa aberturas de um novo espaço a ser construído a partir das relações afetivas do ser no espaço.
A deriva é uma técnica urbana situacionista para tentar desenvolver na prática a idéia de construções de situações através da psicogeografia .
ESPACO� VIVIDO
DERIVA
À vista disso, o presente trabalho procura reforçar o olhar para as relações lúdicas do território em busca de compreender outras lógicas possíveis, para além do entendimento da bicicleta como opção racional de transporte. Pensamos na possibilidade de discutir itinerários que fujam das rotas com trajetos fixos e apenas funcionais, abrindo espaço para rotas subjetivas que nem sempre serão o caminho mais curto mas, sim, aquele capaz de despertar a percepção de algum aspecto emocional na vivência do sujeito nos espaços da cidade .
JOGO�
SITUA CIONISTA
Vida� coti diana
Jogo
a�bicicleta�em�belo�horizonte a�cultura�da�bicicleta�na�cidade
Grupos ciclísticos
ocupam espaços da cidade
alguns de forma crítica e lúdica
apropriação que reafirma o caráter lúdico construtivo
retomada do caráter subjetivo da cidade
DERIVA
DEBORD
bricadeiras duvidosas
apreciadas pelo grupo
retomada dos espaços públicos
grupos contra hegemonicas
sentimento de deriva
cicloativistas
grupos contra hegemonicas
LEFEBVRE
ESPAÇO VIVIDO
apropriação dos espaços a partir da bicicleta
construção coletiva
(re) descoberta
(não) lugares
OFICINA�DESVIOS�EM�TRaNSITO
a�deriva
a�deriva
rua patrocínio
relógio praça da estação
árvore de grande porte
artista de rua
praça
artista de rua
cigarras
salumeria, rua sapucaí
mirante flores passarela funarte pôr do sol árvore frutífera carro de lanches funarte
banho de fonte, praรงa raul soares stonehenge rock bar
praรงa - floriano peixoto maritacas - floriano peixoto
paisagem - av. dos andradas rio arrudas
paisagem
arquitetura rua são geraldo
pixo -rio arrudas
benfeitoria
rio arrudas
parklets rua sapucaí
grafite - vila dias
pedal às 4:25
torres gêmeas arquitetura
pôr do sol rua sapucaí
viaduto santa tereza gospel na rua trem
CONCLUSAO
ESPACO ABSTRATO
Homogeneizante, de dominação da existência social do homem, reproduz as relações produtivas capitalistas com o objetivo de alojar todo seu potencial regulador nos espaços públicos da cidade .
acoes contra hegemo nicas
Essas ações correspondem à capacidade de indivíduos que representam a resistência em busca de transformações substanciais para a produção de espaços socialmente diferentes do modo dominante capitalista.
vida cotidi ana
ESPACO� VIVIDO
DERIVA
Representam uma base possível para a reinterpretação desse espaço. Para além da bicicleta como modal de transporte (num viés funcionalista) e dos reais benefícios para a saúde, para a mobilidade e o meio ambiente, ao permitir um modal de deslocamento mais próximo da escala do corpo humano, a bicicleta tem o potencial de suscitar a retomada das relações afetivas e subjetivas no espaço.
DERIVA
A partir da deriva e da apropriação do espaço por meio de deambulações urbanas e, conseqüentemente, de seus efeitos psicogeográficos, está na possibilidade de influenciar a percepção e os sentimentos em relação aos espaços da cidade – ainda que situações ou comportamentos imprevisíveis possam decorrer do mesmo espírito de descoberta.
ESPACO� VIVIDO
“A dimensão do vivido expressa a experiência imediata do ser com o espaço e suas dimensões diversas (...) O vivido refere-se aos espaços de representação do mundo que os indivíduos constroem para si mesmos pela afetividade ou repulsão em relação as pessoas, aos espaços e as coisas. Esse processo envolve, essencialmente, uma construção simbólica. Na dimensão do vivido, portanto, os indivíduos constroem abstrações ou representações de um mundo que foi por eles, efetivamente, experienciado.” (SANTOS 2015 )
A vivência e as relações subjetivas, que não se limitam a um pensamento funcionalista sobre o espaço, são ampliadas para as possibilidades de um novo espaço a ser construído, aberto a novas experimentações autônomas e coletivas.
grupos ciclisti cos
Desse modo, os grupos ciclísticos de Belo Horizonte que ocupam os espaços de forma lúdica e subversiva na proposição de novas situações, de alguma forma suscitam também aos vivenciadores uma sensibilização frente ao espaço homogeneizante, numa condição não espetacular e resistente. Novas formas de apropriação e experiências no espaço criam novas redes em mapas fixos, isto é, outras cartografias para além do espaço concebido.
apropria cao
reapropria cao retomada
res siginifica cao
“A apropriação dos espaços da cidade passa necessariamente pela apropriação de seu próprio corpo e seus próprios desejos, contrapondo-se à sociedade burocrática do consumo dirigido.” (AMARAL, 2015) Por fim para a sobreposição de novas linhas em mapas fixos, o exercício da psicogeografia, complementar ao método da deriva, registra o comportamento afetivo e subjetivo desses indivíduos, como possibilidade de despertar o prazer e de vivenciar o espaço por dentro. Em outras palavras, como possibilidade de explorar lugares desconhecidos ou re-apropriar espaços de forma a suscitar sua retomada e, conseqüentemente, sua ressignificação .
Trabalho de conclusão de curso Rafaela Perret, sob orientação de Fábio Queiroz. Centro Universitário Metodista Izabela Hendriz Belo Horizonte, 2015