Adotamos a
NOVA
ANO 6 | EDIÇÃO Nº 21 | DEZEMBRO 2009
ORTOGRAFIA
da Língua Portuguesa
a bc
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFV
Luiz Nemer
A história que poucas pessoas conhecem
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
A luta contra a dependência química com o auxílio da ciência página 6
ENTREVISTA
Confira o que nossos leitores fazem para se divertir quando não estão estudando página 11
COMPORTAMENTO
Conflitos familiares geram consequências e sequelas inevitáveis para os jovens página 5
Sob os pilares da Igreja Matriz, repousam tesouros da memória de Viçosa
Entenda como e por quê
página 9
página 13
Rodrigues Alves
Uma cigarra incomoda muita gente...
opinião opinião
Um jornal para a sala de aula
Comprovadamente, o uso de jornais em sala de aula, por professores, traz inúmeros benefícios para os estudantes. Entre esses benefícios, podemos destacar questões como despertar o interesse por informações, estimular o exercício de visão crítica sobre os fatos do dia-a-dia e sobre assuntos diversos, aquisição de vocabulário, interpretação de textos, inserção do estudante na sociedade, além, é claro, de criar o saudável hábito da leitura. O jornal OutrOlhar, ao longo de sua existência, tem procurado se aprimorar na difícil e planejada tarefa de servir de ferramenta para levar até os estudantes do nível médio das escolas públicas de Viçosa, fatos e informações relativas ao mundo no qual eles vivem. Fazem isso com um enorme prazer e procurando abordagens ao seu alcance, sobre atualidades e ainda sobre assuntos que geralmente se encontram adormecidos no cotidiano, ou realidades dessa camada da juventude. Algumas dessas temáticas até figuram como tabus no meio familiar. Nossos estudantesrepórteres têm primado pela tarefa de vasculhar, selecionar, preparar e contar as coisas de interesse desse públicoalvo, que, embora tenha pouco hábito de leitura, é bastante exigente e crítico quando as matérias não lhe interessam. Uma boa leitura para todos. Joaquim Sucena Lannes Editor
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HOMOFOBIA
Mente atrasada, assunto atual
Liberdade de expressão é um direito do cidadão, assegurado pela Constituição Federal Brasileira
Diego Mendes
Futebol, política, passeata... A homofobia, um dos temas mais comentados na atualidade, pode estar presente em qualquer um desses âmbitos. Porém, para entendermos melhor o motivo de tanta polêmica em torno desse termo, vamos ao significado da palavra. Segundo o dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, homofobia significa aversão aos homossexuais ou ao homossexualismo. No dia 17 de setembro, irritado após difícil partida contra o Atlético-MG, o técnico de futebol do Goiás, Hélio dos Anjos, mencionou que não trabalhava com homossexuais, e que lidava somente com homens. Na manhã do dia 27 de outubro, um representante de Estado, o governador do Paraná, Roberto Requião, declarou ao programa Escola de Governo (TV Educativa) que o número de casos de câncer de mama em homens estaria aumentando em consequência das inúmeras paradas gays. A cada mês são muitos os casos de homofobia que tomamos conhecimento, em um país que se diz democrático e preocupado em assegurar a liberdade de expressão dos cidadãos. Comentários como os assinalados acima devem ser rejeitados, sobretudo se seus autores forem influencia-
Maycon Martins
EDITORIAL
MARCHA NICO LOPES, que reuniu milhares de pessoas, foi manchada por ato homofóbico dores de grandes grupos sociais. Isso desperta ódio e alimenta a raiva dos preconceituosos, o que acaba por gerar atos de violência e
uma passeata que desde seu surgimento representou a luta contra a ditadura e a favor dos direitos iguais. A bandeira do orgulho gay, amarrada junto ao trio elétrico pelo bloco “Primavera dos Dentes”, representante de um grupo que defende a luta contra a homofobia, num dado momento, se soltou e caiu no chão. Eis que alguns jovens, em um ato irracional e brusco, atearam fogo à bandeira
“Viçosa precisa abrir a mente e respeitar a opção de vida do outro selvageria. Chegamos a Viçosa. Dia 31 de outubro, Marcha Nico Lopes, Coordenador do Curso de Comunicação Social/Jornalismo: Prof. Carlos d’Andréa
Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), sob responsabilidade da turma de 2008. Endereço: Vila Giannetti, Casa 39, Campus Universitário - 36570-000 - Viçosa, MG Tel: 3899-2878
Reitor: Prof. Luiz Cláudio Costa Diretor do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes: Prof. Walmer Faroni Chefe do departamento de Comunicação Social (DCM): Prof. Ernane Corrêa Rabelo
Editor Prof. Joaquim Sucena Lannes Registro: MT/RJ-13173 Editor de Fotografia Prof. Erivam de Oliveira Registro: MT/SP-20193 Subeditores Nayara Souza (Cidade), Daniel Fernandes (Ciência e Tecnologia), Lucas Guerra (Comportamento), Mayara Barbosa (Cultura), Monizy Amorim (Entrevista), Rodrigo Castro (Esportes), Rodrigues Alves (Meio Ambiente) e Sávio Lopes (Opinião)
Redação Alexandre Garcia, Andriza Andrade, Camila Caetano, Camila Campanate, Caroline Lomar, Daniel Fernandes, Diego Mendes, Diogo Rodrigues, Erik Oliveira, Felipe Pinheiro, Gustavo Paravizo, Hélio Assa-Fay, Jader Gomes, Jordana Diógenis, Kamilla Bitarães, Kelen Ribeiro, Kívia Oliveira, Lilian Lima, Lucas Gadbem, Lucas Guerra, Luiz Phillipe Souto, Luiza Sena, Marcela Sia, Maria Clara Corsino, Mayara Barbosa, Monizy Amorim, Murilo Araújo, Murilo da Luz, Nayara Souza, Olívia Miquelino, Paula Machado, Priscila Fernandes, Rayza Fontes, Rodrigo Castro, Rodrigues Alves, Samantha Dias, Sávio Lopes e Thiago Alves
e gritaram frases ofensivas aos homossexuais. Viçosa é uma cidade que respira educação e cultura. Já passou da hora de seus habitantes abrirem a mente e respeitarem a opção de vida do outro. Cada ser humano pode conduzir a vida da maneira que desejar, desde que não infrinja nenhuma lei. Essa não deve ser uma luta de um grupo, mas sim de todos. A liberdade de expressão é um direito previsto na Constituição Federal - inciso IX, do artigo 5º - e, se violado, é passível de punição. Diagramação Diogo Rodrigues (diagramação final) e Felipe Pinheiro (páginas 4,5 e 8) Impressão Divisão Gráfica Universitária Tiragem: 2000 Exemplares Os textos assinados não refletem a opinião da Instituição ou do Curso, sendo de inteira responsabilidade de seus autores
Revisão Final Rodrigues Alves e Diogo Rodrigues
Edição 21 - Dezembro de 2009
opinião opinião
De moeda em moeda, o comerciante enche o bolso O consumidor não precisa ficar com vergonha de pedir troco de R$0,01 ou R$0,02: é seu direito Olívia Miquelino
Olívia Miquelino
“Poço ficar lhe devendo um centavo, moça?”. Essa é uma pergunta frequente no comércio. Sempre acabamos deixando um centavo aqui, dois ali, até para não enchermos os bolsos de moeda. Será que você consegue imaginar que o centavos deixados para trás possam garantir a 90 famílias carentes uma cesta básica? Fazendo as contas de quanto custa os centavos nos bolsos dos outros, que podemos perceber a dimensão de se ignorar os trocos considerados pequenos. Um supermercado grande, que receba em torno de 1.500 pessoas por dia, e deixe de devolver a elas R$ 0,01 de troco a cada compra, lucra, no fim do ano, R$5.400. Esse valor, se dividido pelo preço de uma cesta básica média, poderia beneficiar cerca de 90 famílias
NA FALTA de moedas de R$0,01, troco deve ser de R$0,05 carentes. Mas todos sabem que não existe supermercado e nem comércio algum convertendo os nossos centavos ignorados em cestas básicas. O que de fato acontece é a contribuição desse troco para engordar
os bolsos de empresários e lojistas. Uma prática que se tornou comum é a do anúncio de um produto com preço quebrado, como os diversos “R$1,99” espalhados pelas prateleiras. Porém, essa é apenas uma atitude estratégica de
mercado, para que o consumidor pense que está gastando menos. A exigência do troco completo, com seu um ou dois centavos, não é sinal de mesquinharia e muito menos deveria ser motivo de vergonha, afinal, é um direito do consumidor. Segundo a agente do Procon, Giselia Santana, o comerciante, na falta de moedas de R$0,01 deve fornecer ao consumidor um troco de R$0,05. O que geralmente acontece é que o troco de R$0,02 e R$0,01 não é fornecido, o que beneficia o comércio e prejudica o consumidor. São essas simples matemáticas do cotidiano, com os seus resultados expressivos, que nos permitem visualizar o que, por vezes, parece não ter importância durante as compras do dia-a-dia, mas que reflete enormemente nos lucros de empresas em seus balanços de final de ano.
Os valores dos políticos que elegemos Sávio Lopes
Ao escolher nossos representantes no governo, devemos levar em conta uma série de fatores para que nosso voto não seja desperdiçado. Entre eles está o histórico de ações daqueles políticos que beneficiaram a população, assim como o de pendências ilegais e atos considerados c o r r up t o s . Porém, ao fazer essas avaliações, o que deve ser priorizado? A transparência ou os benefícios que o político trouxe para aqueles que o elegeram? Existem muitos casos de políticos que deveriam ser cassados por corrupção, os quais a população prefere que sejam mantidos em seus cargos, ao invés de serem
substituídos. Isso ocorre na maioria das vezes pelo fato de que o político, apesar de corrupto, conquistou a população com a ajuda do seu carisma ou de políticas que beneficiaram seus eleitores. Um exemplo bem conhecido dessa situação é o caso do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, que mesmo após receber sérias acusações de corrupção em obras realizadas na cidade, foi reeleito para diversos cargos na política brasileira. Numa enquete realizada pelo OutrOlhar, a maioria das opiniões coletadas (59,15%) pensa que, em primeiro lugar, o político deve beneficiar o povo que o elegeu. A moradora de Viçosa, Vívian Andaki, diz entre outras coisas que “precisamos de ações e não de apenas promessas. O político deve
“ Impunidade e desleixo não devem definir a política
Edição 21 - Dezembro de 2009
O que é mais interessante para a política? Um político corrupto que traz benefícios à população
59,15% (42 votos) Um político honesto que faz muito pouco pelo seu povo
40,85% (29 votos) Enquete virtual realizada de 2 a 9 de nov. http:// www.enquetes.com.br/popenquete.asp?id=883478
trazer qualidade de vida para a população, além do que a grande maioria acaba sendo corrupta”. Nesse impasse, um fator que deve ser levado em conta é que a corrupção pode trazer desequilíbrio no desenvolvimento econômico de uma região. Ao beneficiar empresas e negócios particulares, ela tende a levar empresas eficientes, porém não beneficiadas, à falência. Além da questão cultural, pois ao ser passivo à corrupção, ela pode se tornar um hábito. Prova disso é o resultado de um estudo
feito pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), o qual confirma que no período de 18 anos, entre 1988 e 2007, nenhum agente político foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Em ambos os casos, os cidadãos possuem fundamental importância para que a impunidade e o desleixo não definam a política. Exigir que os eleitos cumpram suas promessas e deveres é uma das formas de garantir o perfeito funcionamento do sistema democrático.
Por um exame de seleção mais justo Kamilla Bitarães
Não é à toa que o Ministro da Educação, Fernando Haddad, anda conversando com reitores de universidades federais sobre uma ideia que perdura há muito: o fim do vestibular. O atual modelo para ingresso no ensino superior é seletivo e excludente. Nas universidades federais, o número de vagas oferecidas é pequeno em relação à quantidade de inscritos. Assim, muitos candidatos competentes e preparados são impedidos de ter acesso às instituições de ensino. O conteúdo cobrado pelos exames seletivos também deixa a desejar. As escolas passam anos treinando o aluno a reter na memória fórmulas e datas, e os estudantes se veem, então, obrigados a se aprofundar em conteúdos de disciplinas que não farão sentido para o curso escolhido por eles. Sem contar a concorrência desleal entre os alunos. As melhores notas das provas diagnosticadas pelo governo são das escolas que atendem a um setor de melhor poder aquisitivo. Mas, se o vestibular não é o melhor método para o ingresso no ensino superior, qual seria a alternativa? A resposta está próxima. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), aplicado aos estudantes pelo MEC, mostra um caminho interessante. Essa é uma prova bem diferente da atual. Nela, o foco é a reflexão do aluno, e as fórmulas e equações decoradas são deixadas de lado. É um exame que testa a capacidade do estudante de juntar e processar informações. Melhor ainda se o Enem se transformasse em um programa de avaliação seriada, com uma prova por ano do ensino médio. Assim, os alunos estudariam durante todos os três anos, e não apenas no último. O estresse deles seria reduzido, e a avaliação, menos danosa e mais justa.
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comportamento O diário de uma grávida adolescente comportamento
Conheça as possíveis causas e consequencias que uma gravidez não planejada na adolescência acarretam a jovem
“Desespero! Medo! Por que não desce logo? Será? Ah! Se eu tivesse pensado melhor! Se eu tivesse esperado, tirado as minhas dúvidas!...” Os adolescentes ainda se arriscam a ter relações sexuais sem o uso de preservativo ou qualquer outro método anticoncepcional. Entre eles, o número de grávidas precoces e os que contraem doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) crescem a cada ano, e os maiores índices agregam a classe média baixa das periferias. De acordo com a responsável pelo Centro de Saúde da Mulher e da Criança em Viçosa, Ângela Maria da Silva Assis, o municípiio tem cerca de 25% das gestante atendidas por mês são adolescentes entre 12 e 19 anos. “Aqui no Centro, nós não atendemos menores de 18 anos desacompanhadas dos pais ou responsáveis. Geralmente elas aparecem com uma amiga. Nós aconselhamos que elas contem sobre a gravidez
Rodrigo Castro
Kívia Oliveira
para a família, mas, na maioria das vezes, elas adiam a conversa.” “Ainda me pergunto: deveria ter me aberto com meus pais? Nunca tivemos conversas sobre sexualidade... Na escola? Esse assunto nunca
foi tratado abertamente. Faltaram professores que falassem sobre o tema.” O primeiro elo da corrente é a sociedade que coloca a sexualidade como um tabu. A psicóloga Ja-
naína Quintes justifica que “é difícil falar, abertamente, sobre sexo com os filhos. Com os meninos é até um pouco diferente, mas as meninas são ensinadas desde pequenas que a sexualidade deve ser reprimida. Esse é um fator decisivo, coloca uma barreira e, quando a adolescente sente a necessidade, já é um pouco tarde para abrir um diálogo confortável.” Os pais precisam dá mais abertura sobre assunto aos filhos. Também a escola, com a sua importância para a formação, deveria dispor de educadores responsáveis para dar atenção especial à discussão sobre a sexualidade. A parceria da família com a escola formaria um conjunto eficaz na comunicação com os adolescentes, facilitando a absorção de informações de suma importância sobre sexo. “Confirmado. Uma criança se forma aqui dentro! Agora são quilos a mais, estrias, corpo que vai se deformar. Ninguém mais vai me querer! Os enjoos incomodam, já sinto desejos... Ah! Melância...
Uma gravidez não planejada acarreta muitas mudanças. Na parte biológica, os hormônios começam um turbilhão que o corpo não estava totalmente preparado para receber. O acompanhamento médico realizado durante o prénatal deve começar desde o começo. Ele quem garante a saúde da mãe e do bebê. O comportamento também sofre adequações à nova realidade, com rotina e hábitos novos, já que o amadurecimento é, de certa forma, acelerado. A responsabilidade surge de maneira brusca devido à ideia de cuidar de um indivíduo que depende totalmente da mãe. Para complementar, há um salto de algumas etapas da juventude que deveriam ter tempo para serem vividas. Além dos problemas com a perda das atividades escolares, de lazer e diversão. A adolescente deixa seus planos e perde a perspectiva de futuro. “Ah! Se eu tivesse acreditado naquelas aulas, naquelas palestras, naqueles ‘papos-cabeça’...”
Relação do jovem com as mídias pode virar problema Luiza Sena
Quem já não se desesperou quando não conseguia acessar a internet, a televisão não pegava e o rádio não sintonizava? É difícil encontrar alguém indiferente aos meios de comunicação. As mídias desempenham um papel de grande importância na vida de todos nós, seja como fonte de informação ou simplesmente como lazer. É através delas que temos acesso ao que é notícia no mundo inteiro. Elas norteiam os assuntos discutidos no dia-a-dia e permitem comunicação a distância. Como os veículos de comunicação exercem influência na vida das pessoas, eles precisam sempre buscar inovações que surpreendam e atendam às necessidades do público que busca informação, entretenimento e interação. Nesse mundo onde novas tecnologias surgem a todo o momento, a comunicação fica muito além do cara a cara. O virtual,
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muitas vezes, parece atrair mais a atenção das pessoas do que o contato pessoal. Isso é ainda mais frequente quando o usuário dos meios de comunicação é um adolescente. A internet é campeã de preferência entre eles. Daniel de Carvalho, estudante do ensino
“Tem dias
que passo o tempo todo na internet
médio, diz ser super atraído pela rede e não imagina viver sem ela, “Sem a internet eu demoraria muito mais tempo para resolver meus problemas escolares ou eu não resolveria. E também não comunicaria com meus amigos.” O rádio e a TV também visam à audiência do público jovem, buscando fazer parte da rotina
destes. Para isso, criam conteúdos direcionados aos adolescentes. Na TV, por exemplo, programas como Malhação possuem grande audiência. Na mídia radiofônica não é diferente. Segundo a integrante do Departamento de Jornalismo da Rádio Líder FM, Beatriz Fontes, a programação da rádio contém muita música e programas interativos, tudo para agradar aos jovens. Diversos estudos analisam a manipulação da mídia sobre o público jovem. Tal influência negativa diz respeito, entre outras coisas, à alienação que podem promover. Alguns jovens afirmam que, em determinadas vezes, preferem passar horas na internet a sair com amigos. “Tem dias que passo o tempo todo na internet, faço um monte de coisas e ainda posso conversar com meus amigos. Então a gente não sai, fica conversando pelo MSN”, comenta Daniel. Além desse distanciamento dos jovens, outros fatores podem ser
Luiza Sena
JOVENS utilizam tecnologias portáteis em seu dia-a-dia observados com relação à influência midiática. Edson Dalmonte, doutor em comunicação e cultura, ao entrevistar 214 estudantes da Bahia, concluiu que 74,1% consideram que a mídia diminui o diálogo familiar. Apesar disso, não se pensa nas mídias somente como má influência, existem muitas outras possibi-
lidades para que o uso dos meios seja positivo. A professora doutora em educação, Rosa Maria Bueno, aponta uma delas ao falar da TV como instrumento educativo, “A televisão produz saberes que de alguma forma se dirigem à educação das pessoas, ensinando-lhes modos de ser e estar na cultura em que vivem.” Edição 21 - Dezembro de 2009
comportamento Para o fim da violência basta coragem
comportamento
A superação depende principalmente do jovem, que deve enfrentar a situação e procurar o apoio da Assistência Social Daniel Guerra
Lucas Guerra
Uma briga de irmãos, discussões entre pai e filho, momentos de tensão entre os familiares... Quais jovens nunca passaram por essa situação? Muitos deles estão cansados de escutar: “isso aí é briga de família, logo resolve”. Entretanto, o grande erro de se pensar assim é que algumas vezes essas pequenas discussões escondem, na verdade, problemas bastante sérios. Não são poucos os adolescentes que enfrentam graves crises dentro de seu ambiente familiar. Alcoolismo, drogas, ausência dos pais e até mesmo violência física são exemplos capazes de causar danos irreparáveis a uma personalidade que ainda está em formação. Geralmente, tais conflitos acarretam reflexos como ansiedade, dificuldades de aprendizagem e concentração, baixa autoestima e evasão escolar. O medo é o grande inimigo dos adolescentes violentados. Segundo a assistente social Gracilene Muniz Braga, o jovem deve e precisa acreditar que a ajuda de um profissional é fundamental para que este possa ajudá-lo. Antes de agir, o adolescente teme a exclusão da família e a represália do agressor. É realmente difícil criar cora-
gem para procurar apoio, porém, esta é uma atitude que deve partir do jovem. “Com certeza esses jovens precisam quase que derrubar uma muralha por dia para vencer os desafios diários em busca da superação, mas é possível com ajuda apropriada e dedicação de sua par-
te” destaca a assistente social. O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Viçosa possui toda a estrutura necessária para auxiliar o adolescente coagido. Existe uma equipe multidisciplinar, com assistentes sociais e psicólogos, que escutam
o jovem e o acolhe de modo a traçar caminhos para a superação dos seus problemas. Juntamente com o CRAS, atuam o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e a Defensoria Pública de Viçosa. Um caso recorrente percebi-
do pelo CRAS é o abandono dos estudos por parte dos jovens que sofrem violência. De acordo com o Centro, a maioria desses adolescentes deixa a escola muito cedo. Dessa forma, é uma das obrigações da assistência social incentivar esses garotos a fazer o caminho de volta à educação. O professor tem papel fundamental na recuperação dos jovens em crise. A partir de seu fácil acesso aos alunos, ele pode propor dinâmicas e discussões que ajudem o estudante a se abrir. A professora Bárbara Maria Ulhoa ressalta a importância do mestre como o agente responsável pela superação das dificuldades enfrentadas pelos jovens. “O professor é o intermediário entre o aluno e a família. Não alguém que leciona apenas. Ele acaba sendo o pai, a mãe, o psicólogo destes jovens. Isso é um dever do professor”, afirma Bárbara. Em Viçosa existem dois projetos que visam auxiliar os jovens: o Urbano propõe discussões entre os integrantes (de 18 a 29 anos) sobre a violência doméstica e traça caminhos para a superação dos problemas; o Projovem Adolescente pretende criar um elo entre o jovem de 15 a 17 anos e sua família, de modo a impedir a violência doméstica.
Um momento de cultura na internet, por favor! Murilo Araújo
Quando se pensa em lan houses, a primeira coisa que vem à cabeça é diversão. Elas são uma verdadeira febre e vivem lotadas. Até quem tem internet em casa, muitas vezes visita alguma para jogar em rede com os amigos. O uso é interessante, mas a internet ainda tem muita coisa que não anda sendo aproveitada nesses espaços. “Quando a gente vai numa lan house, é só para descontrair um pouco mesmo. No máximo, fazer uma pesquisa, quando a escola pede ou ver um e-mail, nada demais”, afirma a estudante viçosense Natália Carvalho, de 16 anos. Na opinião de Joana D’Arc Rezende e Heloísa Meira, respectivamente, diretora e professora de uma escola pública de Viçosa, os jovens conhecem Edição 21 - Dezembro de 2009
a importância da internet como um espaço de informação. Segundo elas, uma prova disso é que na maioria das vezes em que os estudantes precisam fazer pesquisas ou saber mais sobre questões como a entrada na universidade, muitos procuram os espaços da escola para acessarem a internet, e cobram isso. Mas com a lan não é bem assim: “Quando eles vão pra lan house, é mais para um momento de diversão”, conclui Heloísa. Em uma pesquisa feita pelo OutrOlhar, com 155 estudantes de ensino médio de duas escolas públicas de Viçosa, essa realidade ficou bastante clara. Todos os entrevistados responderam que costumam acessar o Orkut ao menos uma vez na semana. Por outro lado, apenas dois deles afirmaram conhecer o site Domínio Público, uma biblioteca virtual do Ministério
da Educação, de divulgação do patrimônio cultural brasileiro, que contém um grande material disponível para downloads gratuitamente. Todos os participantes da pesquisa conhecem e acessam sempre o famoso site de vídeos YouTube, mas apenas três afirmaram já ter ouvido falar do Porta Curtas, um site que contém vários filmes curtos do cinema nacional, com duração média de dez minutos, assim como o material do YouTube. Uma quantidade considerável de alunos afirmou ainda ter acesso constante aos sites dos principais meios de comunicação do país. Entre eles, porém, a grande maioria tem acesso à internet já em casa. Quem acessa em lan house ainda não cultiva esse hábito (no quadro ao lado confira o resultado completo da pesquisa com os estudantes).
O que a galera acessa! Sites pesquisados
Nº de jovens que acessam
Orkut.com
O mais famoso site de relacionamentos do país
Twitter.com
Um microblog, com textos de até 140 caracteres
YouTube.com
Um dos mais famosos sites de vídeos do mundo
KlickEducacao.com.br
Conteúdo para ensino médio e pesquisa escolar
Sites de Jogos MundoJovem.com.br
Sem fins lucrativos, “Um jornal de ideias”
CienciaHoje.uol.com.br
Foca a produção tecnológica das universidades
Domínio Público
155 16 155 2 41 1 4
Biblioteca pública online do Governo Federal
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Rádio Universitária FM 100,7
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PortaCurtas.com.br
Site que exibe curtas-metragens nacionais
Portais de notícias diversas
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ciência e ciência e tecnologia
Daniel Fernandes
Dependentes ganham auxílio da ciência na luta contra o vício AVANÇO TECNOLÓGICO permite que remédios sejam utilizados como auxiliares no combate à dependência química, um grave problema de saúde pública Daniel Fernandes
Os elementos químicos presentes nos narcóticos, no cigarro e também no álcool são os principais responsáveis pela dependência orgânica, o fator mais difícil de ser vencido na luta contra um vício. Porém, não somente para o mal existem as combinações de elementos manipulados pelo homem. Recentes pesquisas mostram que alguns remédios que foram criados com outros objetivos - como um antidepressivo, por exemplo - apresentaram bons resultados também no combate à dependência de algumas drogas. Elementos químicos estão sendo utilizados para auxiliar os dependentes a sofrerem menos no processo de desintoxicação, momento em que sentem desconfortos físicos e mentais fortes, a chamada “fissura”. Agora, além da ajuda psicológica, e em alguns casos religiosa, oferecida pelas
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clínicas de reabilitação, quem luta contra qualquer dependência ganhou mais um aliado. Mais do que ajudar a amenizar as crises de abstinência, estão em estudo métodos que prometem ser capazes de acabar de vez com o
vício. Segundo dados de uma pesquisa desenvolvida por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Chile, a interrupção do córtex insular, uma pequena região do cérebro responsável por controlar as percepções das neces-
sidades corporais - como a vontade de comer, beber, fumar ou usar drogas, por exemplo - pode interromper a dependência das drogas. Ratos viciados em anfetaminas tiveram a região bloqueada quimicamente, e os resultados foram
Veja alguns dos remédios que são utilizados como auxiliares no combate à dependência química. Mas não se esqueça, os medicamentos só devem ser utilizados com prescrição e acompanhamento médico. Álcool (Naltrexona)
Cocaína/Crack (em estudo)
O remédio vem sendo utilizado para diminuir, ou até mesmo acabar, com a vontade de beber. Vem mostrando bons resultados no tratamento de dependência alcoólica.
Ainda estão em estudo compostos químicos que possam ajudar no tratamento dessas drogas. Até o momento nenhum foi provado cientificamente e, por isso, nenhum remédio é usado para essas drogas.
Heroína (Metadona e Buprenorfina) Os compostos são derivados do ópio, assim como a própria heroína. São usados com o mesmo fim: fazer com que o usuário não sinta a “fissura” causada pela falta da heroína. As doses vão diminuindo aos poucos, de acordo com a redução da necessidade do dependente.
Tabaco (Bupropriona) Desenvolvido originalmente como um antidepressivo, o medicamento passou a ser estudado para tratar também o tabagismo já que fumantes em tratamento de depressão relataram a redução na vontade de fumar.
surpreendentes. Enquanto estavam com a parte do cérebro desativada pelo remédio, os roedores não procuraram pela droga, efeito que acabava logo após o efeito do medicamento passar. Para a presidente da Casa do Caminho (instituição de tratamento para dependentes em álcool e drogas em Viçosa) Mara Costa, os medicamentos podem ajudar muito no tratamento dos dependentes, mas não se pode ter a ilusão de que apenas os remédios resolveriam. “Não se pode pensar que apenas o remédio será capaz de recuperar um dependente. Mas, se utilizado juntamente ao tratamento psicológico e também espiritual, os medicamentos serão mais um aliado nessa difícil batalha”. Apesar dos resultados positivos, esses remédios também são perigosos e só devem ser utilizados com prescrição e sob acompanhamento médico especializado. Edição 21 - Dezembro de 2009
tecnologia ciência e tecnologia
A química está em todos os lugares
Aulas podem parecer chatas, mas é possível relacionar os conceitos aprendidos na sala de aula com ações do dia-a-dia Caroline Lomar
Disciplinas como física e química estão longe de serem as preferidas entre os alunos do ensino médio. Elas geralmente são consideradas as mais difíceis, e os estudantes apresentam uma espécie de restrição aos números e conceitos apresentados nessas matérias, por considerá-los distantes e abstratos, de difícil compreensão. E a culpa disso pode ser também dos professores. Física e química são matérias de enorme aplicação no dia-adia. Existem muitos fenômenos que nos passam despercebidos no cotidiano e que podem ser explicados por aqueles conceitos abstratos da sala de aula. Procurados pela reportagem do OutrOlhar,
professores do Departamento de química da UFV não puderam opinar antes do fechamento desta edição. Mas, para Bárbara Morais, graduanda do curso de química, “o papel dos mestres é aproximar a ciência dos alunos e não deixálos amedrontados”. A formação universitária dos professores, que prioriza o bacharelado e a pesquisa científica, também pode ter influência nessa prática. Segundo relatos de estudantes do curso de química da UFV, o interesse sobre a educação em sala de aula precisa partir obrigatoriamente dos alunos, já que a grade curricular do curso não contempla esse aspecto. Uma nova linha de pensamento chamada Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) pretende com-
O computador como auxílio na aprendizagem
Edição 21 - Dezembro de 2009
Por que o gás do refrigerante escapa quando abrimos a garrafa? O refrigerante é formado basicamente por uma mistura de água, xarope e gás carbônico (CO2). Quando esse gás entra em contato com a água, se transforma em outra substância, o ácido carbônico (H2CO3). Além disso, antes do fechamento final da garrafa, é adicionado mais uma dose de CO2 para aumentar a pressão interna e conservar o refrigerante. Ao abrirmos a garrafa, escutamos um som de “tssss” – é o gás carbônico extra escapando. Depois disso, o ácido carbônico vira gás carbônico novamente, pois entrou em contato com o oxigênio do ar e, com a diminuição da pressão interna da garrafa, escapa. Fontes: Site da Associação Brasileira de Química (www.abq.org.br) e Fundamentos da Química – Química, Tecnologia, Sociedade, de Ricardo Feltre. Moderna, 2005.
√9 ∆ x2 ≤ 3 + 44 ≠ = m3 15
Thiago Alves Hélio Assa-Fay
Uma das formas de se repensar a educação é a tentativa da introdução do computador nas escolas, visando à criação de condições para que o estudante possa construir seus conhecimentos em ambientes informatizados. Professor de matemática há oito anos, André Campos diz acreditar que o uso de computadores em sala de aula pode auxiliar no aprendizado, sendo uma ferramenta disponível ao professor na transmissão do conhecimento. Por isso, fazse necessário que os professores
Quer ver como a química aparece no seu cotidiano o tempo todo?
A matemática no dia-a-dia
A INFORMÁTICA é grande aliada no processo de educação Hélio Assa-Fay
plementar o ensino tradicional e ajudar a modificar esse quadro de desinteresse dos alunos. Esses estudiosos propõem, entre outras coisas, que a tecnologia não seja só utilizada, mas explicada. Por exemplo: quase todos nós usamos celulares. Mas como funciona um celular? O funcionamento de um celular envolve, claro, conceitos de física e química. “O ensino tradicional também é importante. Os conceitos, as equações e as fórmulas são necessárias para entender todos os fenômenos tecnológicos. Mas contextualizá-los pode ser a melhor ferramenta para aumentar o interesse dos alunos e mostrar a eles que aprender química, física e biologia não é aquele bicho de sete de cabeças”, afirma Bárbara.
possuam algum domínio na área, para poderem utilizá-lo na preparação ou execução das aulas. Campos ressalta, porém, que não se pode colocar o equipamento como principal figura educacional, já que, em muitas vezes, o computador é usado apenas para informatizar processos de ensino já existentes. Para ele, professores e alunos devem assumir os papéis de personagens principais e usarem raciocínio e criatividade para a produção do conhecimento. “Somente assim o aluno estará se preparando para o mercado de trabalho e para a vida”, conclui.
Durante todo o tempo em que ficamos na escola, das séries iniciais ao ensino universitário, sempre nos deparamos com disciplinas que nos incomodam. Principalmente na época do vestibular, quando temos que estudar uma grande quantidade de matérias que nos parecem sem utilidade no dia-adia. Mas sabemos que nenhum conhecimento é inútil. Todos são frutos de experiências de pessoas comuns que, ao longo da história, observando as coisas simples da vida, desenvolveram raciocínios geniais. Um dos exemplos mais notórios disso é a matemática. Quem de nós nunca teve dificuldade de aprender ou de entender a utilidade dela em nossas vidas? A matemática está presente em tudo que fazemos. Nada do que conhecemos hoje, das modernas engenharia e arquitetura, passando por todos os sistemas de informação digitais às prodigiosas descobertas que permitem as viagens espaciais poderiam existir sem a matemática. O estudante de ciência da computação da UFV, Rafael
Azevedo, diz que “sem a matemática não existiria a computação. Ela é fundamental. Computação é quantificação de dados e sem matemática ela seria obviamente inviável”. Ele lembra que diversas vezes já se surpreendeu fazendo cálculos. “A matemática é tão comum em nossas vidas que nem percebemos. E, para mim, só a escrita supera a matemática quando falamos em evolução da humanidade”, afirma. O estudante de educação física Rodrigo Sena afirma que também para os esportes ela é essencial. “Em várias modalidades, como a ginástica olímpica, é preciso fazer cálculos, considerar ângulos, altura, peso para que o atleta tenha um salto bem sucedido” afirma. Ele lembra que “basta observarmos que a maioria das modalidades são feitas em locais com formas geométricas (campos, quadras), que utilizamos esferas como a bola para jogar futebol, etc”. Rodrigo completa lembrando que “no levantamento de peso, por exemplo, a força não é decisiva. Só quem domina a técnica flexionando o joelho no ângulo certo, considerando bem os pesos é que se desenvolve. E para isso a matemática é essencial”.
Uma das aplicações mais surpreendentes dos números é na música. Marcelo Augusto, músico e estudante de matemática, é fascinado pela relação entre números, ritmo e som. “Toda teoria musical desenvolvida até hoje foi baseada na experiência do grande matemático Pitágoras, que descobriu a proporção de sons que mais tarde seria as sete notas musicais: Dó, Ré, Mi, Fá, Só, Lá, Si” afirma. Ele completa dizendo que “aprender e gostar de matemática ajuda a gente a ter raciocínio lógico, facilita a compreensão de outros conteúdos na escola e nos ajuda, é claro, a viver bem”. Ele sugere o filme Donald no país na matemágica que usa a animação para explicar como a matemática pode ser fácil de entender e como ela está aplicada em coisas muito simples do cotidiano. Marcelo termina dizendo que “embora não seja comum fazer essa relação na escola, é preciso aprender a enxergar a matemática no dia-a-dia”. Assim os números deixam de ser os vilões do aprendizado e passam o ser o grande motivador da sede de entender e transformar o mundo.
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cidade
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Espaço público é onde jovens se encontram O calçadão possui diversas opções de lazer e é um dos pontos de encontro favoritos entre os jovens de Viçosa Felipe Pinheiro Marcela Sia
Cidade relativamente pequena e que abriga uma das maiores universidades federais do país, Viçosa deixa um pouco a desejar quando o assunto é opção de lazer para os mais jovens. Com atividades e eventos na cidade mais voltados para o mundo acadêmico, o calçadão se destaca na preferência dos mais novos como um lugar de encontro e diversão com os amigos. Nada melhor para se encontrar com a turma que um local que possui lanchonetes, pastela-
rias, sorveterias, lojas para todos os gostos e idades. O destaque entre a moçada é o shopping, que possui, entre outras atrações, um cinema, um fliperama e um ambiente agradável para se reunirem e baterem um papo. “Todo mundo vem pra cá, é aqui que encontramos os amigos”, disse a estudante Pâmela Cristina, 16 anos. “A gente fica mais conversando, à toa mesmo. Tem shopping né?!”, completou. Repara-se, ao passar pelo calçadão, os variados estilos das turmas de jovens. Roqueiros, skatistas, os que se vestem de maneira mais tradicional, entre outros. Tem espaço
para todo mundo. O encontro entre a Travessa Sagrado Coração de Jesus e a Rua Arthur Bernardes, mais conhecidos como calçadinho e calçadão respectivamente, fica repleto de estudantes nos horários depois das aulas e, principalmente, nos finais de semana. O estudante do ensino médio M.A, 18 anos, comentou sobre o point da juventude viçosense. ”Gosto de, no final de semana, na sexta, encontrar aqui no calçadão com os amigos.” “Aqui é o ponto que todo o pessoal se encontra, é um ponto marcante aqui”, finalizou.
Felipe Pinheiro
Horas de lazer e descanso são benéficas
TURMAS se encontram durante todo o dia no Calçadão
São inúmeras as inquietações que passam na vida de um jovem. Mais que qualquer outra fase da vida, a adolescência é uma época de incertezas e, para muitos, o futuro pode representar um motivo de preocupação. Alguns estudam, outros trabalham. Existem ainda aqueles que fazem os dois. Estudar e trabalhar são duas atividades que podem até caminharem juntas. O problema é quando a carga de atividades é tão intensa que não sobra tempo para o lazer. A importância do lazer para
necessita, em sua rotina diária, da prática de exercícios físicos regulares para combater os efeitos nocivos da vida sedentária”. As horas de lazer podem ser mais bem aproveitadas se forem destinadas a alguma atividade física ou prática esportiva. Segundo Renato Miranda, doutor em psicologia do esporte, um modo de liberar a energia psíquica e física dos jovens de maneira saudável e produtiva é através do esporte. “Ao sentir prazer no primeiro contato com determinado esporte, o jovem
o bem-estar e qualidade de vida, para indivíduos de qualquer idade, é comprovada em diversos estudos da área da psicologia. Apesar disso, o lazer nem sempre é levado a sério. Quando um jovem tem uma rotina intensa, com um grande número de atividades, as horas que deveriam ser dedicadas ao descanso, acabam ficando de lado. Principalmente quando o tão temido vestibular se aproxima. Uma carga forte de estresse pode abater qualquer pessoa, caso ela não dedique as horas necessá-
rias a diversão e a descontração. Mas é válido lembrar que os especialistas da saúde frequentemente alertam que meios como a internet e a televisão, tão utilizados pelos jovens, não devem ser considerados fontes primordiais de lazer ou descanso. Um bom motivo é que, em ambos os casos, não há a prática de qualquer atividade física. Conforme explica o personal trainer Fausto Porto, “a preocupação de promover e manter a saúde deve ser ressaltada para a população mundial, que, cada vez mais,
investe cada vez mais energia na prática esportiva e o esporte passa a fazer parte de sua vida. É como uma fonte de prazer a atrair cada vez mais”, completa o especialista. É cientificamente comprovado que, no momento do exercício, o corpo produz endorfinas, que são hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar. Um indivíduo que destina algumas horas semanais ao lazer, principalmente fazendo atividades físicas, terá uma mente mais descansada, mais feliz e mais produtiva.
Estúdios de tattoo e piercing de Viçosa funcionam sem permissão Lucas Gadbem
Na medida em que as tatuagens e os piercings foram derrubando barreiras e tornando-se cada vez mais aceitos perante à sociedade, foi comum observar o surgimento gradual de estúdios especializados nessa arte. Considerada, por muitos, como forma de expressão da personalidade, esse tipo de prática é observado com frequência, principalmente entre os jovens. Porém, eledesconhecem os riscos que as pessoas se submetem ao realizarem perfurações corporais. Por isso, todo cuidado é pouco na hora de escolher o local onde será feita a tatuagem, bem como a colocação de piercing.
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Para um estúdio obter o ofício legal para funcionamento, ele tem de cumprir com suas obrigações diante da lei municipal e, especificamente para esse tipo de estabelecimento, inúmeras precauções devem ser tomadas para que ele esteja enquadrado nas normas. Segundo o código criado pela Vigilância Sanitária, o profissional deve usar avental, luvas, gorros e máscara. As agulhas devem ser descartáveis, para evitar contaminação do paciente. AIDS e Hepatite C são alguns exemplos de doenças que podem ser transmitidas por agulhas infectadas. A
esterilização dos demais aparelhos deve ser realizada em autoclave, um aparelho metálico que realiza a esterilização pelo vapor sob pressão e alta temperatura. A assepsia da pele deve ser feita com álcool 70º GL por, no mínimo,
alega que nenhum estúdio de tatuagem e piercing tem autorização para o funcionamento porque descumprem uma ou outra medida. Farmacêutica há 30 anos e funcionária do Ministério da Saúde, Dirlene Luzia Melo Ferrante destaca a importância de uma casa comercial estar dentro da lei: “de acordo com o código do município, o estabelecimento que não possuir o alvará está impossibilitado de funcionar”. Dirlene diz que alguns estúdios da cidade não possuem nem o alvará de localização de funcionamento, ou
“O estabelecimento que
não possuir o alvará está impossibilitado de funcionar três minutos antes do ato, entre outras exigências. Diante desse quadro, a Vigilância Sanitária de Viçosa, após a fiscalização dos estúdios do município, num comunicado oficial,
seja, estão clandestinamente no mercado. A prática desse tipo de arte, quando mal executada, pode trazer várias consequências ruins para o individuo, desde DSTs, como já foi citado, até surgimento de tumores, que são causados por tintas sem registro. Outro aspecto a ser ressaltado é a dificuldade de remoção das pinturas e perfurações, que podem deixar marcas e cicatrizes pelo resto da vida. A vigilante dá a dica àqueles que ainda assim queiram fazer uma tatuagem ou piercing: eles devem exigir o alvará sanitário do estabelecimento escolhido. “Tendo o alvará, o estúdio está 100% legal e a pessoa não corre riscos ao se tatuar”, finaliza. Edição 21 - Dezembro de 2009
cidade
Thiago Araújo
Projeto prevê revitalização do centro de Viçosa Luiz Phillipe Souto
O arquiteto Aguinaldo Pacheco reuniu sugestões e formulou o projeto “O Centro é de Todos”, em busca de soluções para os problemas do centro de Viçosa. O projeto prevê a revitalização e requalificação da região central da cidade através de medidas, entre outras, voltadas à cultura e ao transporte coletivo. “O projeto beneficiará a juventude, não só porque o centro hoje é muito habitado por estudantes, mas principalmente porque serão feitos investimentos e ações na área de cultura e lazer”, conta Aguinaldo. Entre as mudanças propostas por ele, estão, por exemplo, as reformas da Praça Silviano Brandão (que abriga a Igreja Santa Rita de Cássia) e o alargamento das calçadas da região central. O projeto prevê também a criação da Estação Cultura, (um centro cultural que funcionaria no prédio da antiga estação e entorno), além da transformação do antigo prédio do Cine Brasil ( que atualmente funciona como estabelecimento comercial) num teatro municipal. Como uma alternativa ao transporte coletivo, Aguinaldo propõe a criação de um bonde. O novo meio de transporte se utilizaria da malha férrea que ainda corta a cidade. A ideia é formar um anel ferroviário na cidade, que beneficiaria a população da região central e de algumas zonas rurais incluídas no percurso. Outra proposta é a criação de um trem turístico, que se diferenciaria do bonde por apresentar um aspecto mais histórico, com locomotivas do tipo “maria fumaça” e vagões como os utilizados antigamente. Mais detalhes do projeto podem ser encontrados no blog do autor (www.aguinaldopachecoarquiteto.blogspot.com). Edição 21 - Dezembro de 2009
‘Tesouro’ escondido sob a torre A Igreja Santa Rita de Cássia guarda riquezas muitas vezes esquecidas ou ignoradas pelo povo Nayara Souza
Em Viçosa há uma riqueza escondida em um “castelo de pedra” com alta torre e escadaria. As portas estão sempre abertas. Contudo, poucos conseguem ver esse tesouro. Ao subir as escadas e passar pela entrada, o baú se abre diante de nossos olhos. É revelado o bem mais precioso de um povo: a sua história. Viçosa cresceu ao redor da capela, como acontecia com as cidades brasileiras na época do Império. As terras e o dinheiro para a construção do primeiro prédio foram doados pelo capitão Manoel Cardoso de Machado e sua esposa Ana Joaquina da Fraga, no dia 20 de agosto de 1805. Em 1950, o cônego Modesto Paiva tornou-se pároco, com a missão de reconstruir a fé e a igreja de Santa Rita, que, naquela época, já estava bastante debilitada. O fato é contado no livro
Viçosa é Terna, de José Dionísio Ladeira. Ele retrata a opinião do cônego, que acreditava ser muita ousadia para uma cidade pequena como Viçosa construir um templo tão grande. No entanto, após observar o apoio popular, ele percebeu que levantar uma torre naquele lugar seria possível. Osvaldo Tibúrcio, morador de Viçosa e grande amigo do cônego, se lembra de histórias sobre a construção do templo. “Para arrecadar dinheiro, rifaram um caminhão Volvo, que veio da Alemanha e só foi entregue ao ganhador no fim da construção, pois ele [o veículo] era usado para buscar material em São Paulo e, assim, só pode ser dado ao dono após o término da obra”, contou. Como esse, outros fatos interessantes envolvem a Igreja. A demolição da primeira matriz foi feita por presidiários, que, com a permissão das autoridades, a fizeram em poucos dias. As pedras
da escadaria foram batidas uma a uma pelas crianças da cidade. O mutirão envolveu todos: jovens e adultos, ricos e carentes, muito trabalhadores e outros, nem tanto. Dia a dia, fizeram a Igreja. Outro fato marcante foi a Campanha do Ouro, na qual as mulheres casadas de Viçosa doaram suas alianças para o santuário, como lembrou Maria das Graças Silva, moradora da cidade e hoje professora de catequese na Matriz. Existia ainda Maria da Baciinha, personagem famosa da cidade, que andava pelas ruas pedindo esmola. Mas, diferentemente do que muitos pensavam, as doações não eram para ela própria, mas para o Santuário, como contou o cônego. Maria, num gesto generoso e devoto, entregava tudo ao pároco, para ajudar na obra. Em 1953, foi divulgado um boletim cuja manchete era “Preso o Vigário de Viçosa, Cônego Modesto Paiva”. Após ser procurado
por fiéis, o cônego explicou que tomara essa atitude para chamar a atenção das elites da cidade, a fim de que elas pudessem se empenhar na concretização da obra. Ele realmente se encontrava preso, mas não numa cadeia, e sim às dívidas que o templo acumulava. Hoje o Santuário está erguido pelas mãos e histórias dos viçosenses. A pedra fundamental ainda se encontra no subsolo da Igreja. Ela foi feita de revistas, jornais e moedas e, segundo o vigário, retrata os valores da época, Outra curiosidade do Santuário é seu altar, cujo estilo destoa do restante da arquitetura, pelo momento histórico em que foi edificado. Ele foi projetado na época do Concílio do Vaticano II, quando a Igreja Católica passou por mudanças - as missas, que até então eram rezadas em latim e de costas para o público, passaram a ser rezadas nos idiomas locais e de frente para os fiéis.
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entrevista
entrevista Senar ensina artesanato na zona rural Maria Clara Corsino
“É muito gratificante. Pois não só ajuda na geração de renda das famílias, mas também na autoestima das mulheres participantes”. É assim que Gabriela Rizale define seu trabalho. Ela é artesã há 20 anos e há 15 dá aulas de artesanato para comunidades rurais do estado, através do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), uma entidade mantida por contribuições dos próprios produtores rurais. Gabriela também vive do artesanato que produz, como sabonetes naturais, telas, mandalas e cestas de fibra. Para fabricar suas peças, ela usa apenas matérias-primas colhidas diretamente na natureza. “Trabalho com fibras de coco, tábua e bambu e outros materiais que, com o passar do tempo, podem se tornar um problema para o meio ambiente”, conta. “Mas contribuo apenas com uma gota d’água” explica, referindo-se a sua ajuda na preservação ambiental. Os materiais utilizados pela artesã são colhidos por pessoas de oito comunidades carentes próximas a Viçosa. As embalagens que ela usa para os sabonetes também são feitas por pessoas de baixa renda, pertencentes às comunidades nas quais ela ministra os cursos. Sobre as aulas, Gabriela explica que o mais importante não é a geração de renda, mas a melhoria da qualidade de vida das pessoas, principalmente das mulheres, que são maioria. “Elas participam dos cursos buscando reparar sua autoestima. Isso porque elas começam a fazer os cursos sem perspectiva nenhuma, e depois já veem uma possibilidade de ter uma renda”. A artesã esclarece que não oferece cursos em Viçosa por falta de apoio. Apesar de morar aqui, nunca conseguiu ensinar artesanato na cidade. “Posso trazer os cursos para cá, mas preciso de suporte e que os alunos se interessem”, diz. Gabriela espera ainda dar aulas em Viçosa, para poder ensinar as pessoas a fazerem artesanato e terem uma fonte de renda, contribuindo ainda mais com a natureza e a valorização da cultura local.
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Música transforma vida de jovens
Kaue do Trombone fala sobre a importância da música para a mudança da realidade social Lucas Gadbem
Murilo da Luz
Tocar um instrumento é muito mais do que uma paixão. A música tem papel social e pode ser uma forma de se fazer carreira profissional, assim como aconteceu com Carlos Henrique Miranda, 32 anos, popularmente conhecido como “Kaue do Trombone”. Ele começou a tocar aos 13, passou por cima das dificuldades e atualmente é músico, professor de teoria musical e de instrumentos de sopro. Apesar de ter nascido em São Paulo, Kaue possui identidade com a música em Viçosa e sempre lota as casas de shows quando toca, além de se apresentar em outras cidades. Em entrevista ao OutrOlhar, ele fala sobre sua carreira, ressalta a influência que a música pode ter no futuro dos jovens e ainda dá dicas para quem pretende começar uma vida artística por aqui. OutrOlhar: Como você iniciou sua carreira musical? Kaue do Trombone: Foi quando fui para o colégio interno. Eu matava muita aula, só queria saber de bagunça e, quando entrei na Funabem [Fundação para a
KAUE auxilia grupo de percussão para jovens carentes Infância e Adolescência], gostei do som da banda militar que tocava lá. Comecei através da Casa da Música, toquei muito tempo em bandas marciais e, quando fiz 18 anos, me convidaram para a banda principal. Lá eles nos chamavam pelas iniciais do nome e foi aí que o Carlos Henrique virou Kaue. Hoje estou na banda da UFV, com o maestro Rogério, mas pretendo,
com calma, um dia fazer uma especialização fora de Viçosa. Você acredita que existem oportunidades para começar carreira em Viçosa? Todo lugar é bom pra começar, se houver dedicação. Viçosa não é diferente. Por mais que seja uma porcentagem pequena que começa aqui, existem lugares para tocar, como o Bar Leão, o Flor & Cul-
tura, festivais na cidade e também nas escolas, que geralmente abrem espaço para apresentação dos alunos. Mas claro que depois sair e arriscar em outras cidades é muito importante também. Mas você sente a falta de projetos que auxiliem esse começo? Eu auxilio um projeto, chamado Perifonia, que é um grupo de percussão formado por jovens carentes. Mas eu sinto sim. Seria legal que tivessem mais projetos, que houvesse uma escola de música em cada colégio. Entretanto, isso não acontece em Viçosa. Apenas no colégio Equipe, que é particular, há um incentivo para iniciantes. Aprender a tocar um instrumento pode mudar a realidade social do jovem? Creio que sim. Tenho muitos amigos que mudaram através da música, através do rap, do funk. E comigo também foi assim. Antigamente, eu só pensava em matar aula, ficar na rua, brincar de bolinha de gude e, hoje em dia, eu só penso na música. Tem de entender que é possível ter a música como profissão. Assim, acredito que a ela seja o meio para se mudar. Só não muda quem não quer. Maria Clara Corsino
PARTICIPANTES do curso de artesanato oferecido por Gabriela Rizale, por meio do Senar, na comunidade rural de Piranga Edição 21 - Dezembro de 2009
entrevista
entrevista
O que você faz para se divertir?
Estudantes contam suas opções de lazer em Viçosa e dão dicas sobre os lugares mais interessantes de se frequentar Fotos: Felipe Pinheiro
Paula Machado
Praticar esportes, ouvir músicas, encontrar com os amigos, ler, jogar no computador, desenhar, enfrentar desafios de matemática... Esses estão entre os passatempos favoritos da moçada. Qual deles mais combina com você? Em entrevista ao OutrOlhar, sete estudantes de Viçosa falaram um pouco sobre as suas opções favoritas para os momentos de lazer e deram sugestões de lugares para se frequentar na cidade.
Michelle da Silva, 20 anos
Lucas Salgado, 14 anos
“Gosto de jogar no computador, assistir televisão, pesquisar na internet, fazer desafios de matemática. Sugiro que as pessoas procurem sites de desafios, são bem legais”.
“Gosto de jogar futebol e encontrar com os amigos, em casa ou na rua. Sugiro que as pessoas joguem futebol, porque praticar esportes é bom e faz bem”. Thaís Crisóstomo, 13 anos
“Eu gosto de jogar basquete e futebol, sair com os amigos, ir ao cinema, um monte de coisas. Os lugares que sugiro para o pessoal são o Shopping Calçadão, o cinema e o Clube Campestre”.
“Gosto de sair para conhecer gente nova, curto festas e shows. Em Viçosa é meio difícil sugerir locais para frequentar porque não tem muita variedade, mas o Bar do Leão é um bom lugar”.
Kaique Simas, 14 anos
“Bom, eu gosto muito de andar no calçadão, ouvir música, desenhar, ler... Se for para sugerir um lugar para as pessoas irem será o calçadão, com certeza. É o melhor lugar do mundo!”. Valkíria Coelho, 15 anos
“Nos meus momentos livres, gosto de passear, assistir televisão e dormir. Recomendo, para o pessoal, o calçadão e a UFV, os mesmo lugares em que eu passeio”. Jaqueline Oliveira, 16 anos
“Gosto de passear, ir para a casa das minhas colegas, ouvir música. Sugiro que o pessoal ande de bicicleta na UFV, que é bem legal, e passeiem no calçadão.” Cristiana Sena, 17 anos
Incertezas sobre o Enem preocupam candidatos Monizy Amorim
Faltavam apenas três dias para realização da tão esperada prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Todos queriam saber como seria o exame depois das modificações anunciadas pelo Ministério da Educação, em março deste ano. A ansiedade de saber como seriam as provas passou logo, quando na manhã do dia 1º de outubro, boa parte da imprensa noticiava o vazamento das provas do Enem. Esse certamente foi o assunto mais comentado durante a semana. Surgiram críticas de todos lados e análises das consequências, sob diferentes ângulos. A reportagem do OutrOlhar visitou escolas da cidade para saber dos concluintes do ensino médio qual a opinião deles sobre o assunto. Edição 21 - Dezembro de 2009
A grande maioria dos entrevistados diz acreditar que o vazamento das provas demonstrou falta de organização e de respeito do governo com a educação. “O governo não tratou a prova com o devido respeito, porque ela vai selecionar a gente para entrar na universidade. Se um exame de tamanha importância vazou, que seriedade tem a universidade brasileira e o modelo
para entrar nela?”, protesta o estudante Wander Fernandes, 19. Em contraposição, as alunas Débora Alves e Daniely Lucarelli, ambas de 17 anos, dizem crer que o ocorrido foi apenas uma casualidade e que o governo não possui culpa. Durante a entrevista, parte dos estudantes se mostrou confiante mesmo depois da tentativa de venMonizy Amorim
da das provas. O principal motivo alegado foi que o adiamento do exame permitiu um maior tempo para se preparar. Já a minoria desconfiante argumentou que o motivo da preocupação seria a insegurança no momento da distribuição da prova. “Quem garante que, se o Enem vazar novamente, a falcatrua não será mascarada?”, questiona a estudante Débora Freitas, 17. Arthur Prado
Todos os candidatos afirmaram que a maior preocupação está em saber quais universidades vão aceitar a nota do Enem. Eles também demonstraram preocupação com a proximidade das datas de alguns vestibulares com as do exame, ou até mesmo a realização de ambos no mesmo dia, o que os obrigaria a escolher entre uma universidade específica ou o Enem. Monizy Amorim
Para Débora Alves e Daniely Lucarelli, a culpa pelo vazamento das provas não foi do governo. Débora Freitas se diz insegura quanto à realização do exame remarcado. Wander Fernandes questiona método de ingresso na universidade
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meio ambiente
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meio ambiente
ideias diferentes para cuidar do meio ambiente
Por Rayza Fontes, Jader Gomes e Jordana Diógenis Você já sabe de cor e salteado que, se nós não mudarmos nossos hábitos, sentiremos cada vez mais as consequências negativas de tantos anos de destruição ao meio ambiente, do qual fazemos parte. A mudança de atitudes pode acontecer em gestos rotineiros, como economizar água no banho ou ao escovar dentes. Por outro lado, nunca é demais conhecer maneiras diferentes para cuidar do Planeta Terra. É por isso que o OutrOlhar apresenta três delas a você:
Quem defende? A ONG Green Building Council Brasil afirma que, se 70% dos telhados fossem pintados de branco, a compensação ambiental seria equivalente à não emissão de 11 bilhões de poluentes que saem dos carros anualmente. Quem já está fazendo? A consulesa da Tailândia em São Paulo, Thassanee Wanick, e o secretário da Energia dos Estados Unidos e ganhador do Nobel de Física, Steve Chu. O que emperra? O preço. Telhado brancos podem custar 15% a mais do que as versões escuras, dependendo dos materiais utilizados, como, por exemplo, tintas sem chumbo, que evitam a contaminação do solo após chuvas. Arquitetos e especialistas em telhados dizem que em climas mais frios os “telhados reflexivos” podem causar custos mais altos com aquecimento, fato que não chega a preocupar os viçosenses. (RF)
3) Faça adubo orgânico do “número 2” Como assim? O papo é meio escatológico (relativo a excrementos), mas aguenta firme aí. A cada ano mais de 150 milhões de toneladas de dejetos humanos são transformadas em poluição e depositadas junto ao lixo urbano ou despejadas nos rios. Uma forma de se contornar esse desequilíbrio ambiental é o banheiro seco compostável. O vaso seco compostável recebe essa denominação por possuir duas características básicas: o seu funcionamento é seco porque não utiliza água, não requer gastos com encanamento e não há a necessidade de se fazer o
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tratamento da água. Além disso, ele é compostável, uma vez que transforma as fezes humanas em adubo orgânico fértil. Os dejetos, após serem tratados, podem ser utilizados como adubos para plantas. Quem defende? Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina construíram um banheiro seco dentro do campus da UFSC. Quem já está fazendo? Aqui mesmo em Viçosa há casas que já usam o banheiro seco: o GAO (Grupo de Agricultura Orgânica), que fica dentro do campus da UFV, e o SAUIPE (Saúde Integral em Permacultura), que
fica no distrito de Cachoeirinha, além de algumas poucas residências rurais. E se alguém duvida da higiene desse tipo de vaso, há pesquisas que comprovam que o seu uso não produz mau cheiro. O que emperra? Técnica. É preciso, para o bom funcionamento do banheiro, se adequar a algumas dimensões e utilizar materiais corretos. Na hora do uso, é preciso saber algumas regras: sempre jogar uma medida de serragem após o uso, não jogar materiais inorgânicos no vaso; evitar fazer xixi no vaso, para os homens; entre outras. ( JD)
Como assim? Muitas pessoas deixam de comer carne porque consideram uma judiação o que fazem com os animais na hora do abate. Mas a questão aqui é outra. A vaca, aparentemente um animal inofensivo, é uma espécie de mamífero que se alimenta de plantas, e para digeri-las, possui um órgão diferenciado, o rumem. É típico desses animais, os ruminantes, soltarem peidos constantemente e sem a menor contenção, o que libera para a atmosfera um alto índice de gases poluentes, como o CO2. Quem defende? Ralejandra Pachauri, pesquisador do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, explica que a emissão de gases “estufa” por parte das indefesas vacas é maior do que a provocada pelos carros, os grandes “vilões” do aquecimento global. Quem já está fazendo? Muitos vegetarianos compraram a ideia e estão ajudando na
diminuição do aquecimento global, por tabela. Como, por exemplo, a estudante de biologia Laís Oliveira, que prega uma mudança radical nos hábitos alimentares da população, para que o não consumo de carne vermelha favoreça a diminuição dos rebanhos e, consequentemente, a diminuição dos gases “estufa” na atmosfera. O que emperra? O hábito. Não é tão fácil fazer com que a maior parte da população deixe de comer carne vermelha. Além disso, alguns nutricionistas são categóricos na defesa da carne como uma importante fonte de proteína, responsável pela manutenção da saúde, ferro e vitamina B12. De toda forma, Ralejandra Pachauri diz que não é preciso uma mudança tão drástica. Apenas uma diminuição no consumo de carne vermelha seria suficiente para uma estabilização nas emissões de gases “estufa” de responsabilidade das vacas, fornecendo uma sustentabilidade ao ambiente. ( JG)
osa Mayara Barb
A questão não é apenas estética. Pintar o telhado da casa de branco reduz os efeitos do aquecimento global. De acordo com estudos da norte-americana Universidade de Berkeley, cerca de 25% da superfície de uma cidade é composta de telhados. Os telhados escuros comuns em todas as casas refletem apenas 25% da luz solar. Se eles fossem pintados de branco, compensariam 10 toneladas de emissão de CO2 a cada 100m². Isso porque os telhados de cores mais claras refletem mais a luz solar e absorvem menos calor, tornando as construções (e, em maiores proporções, cidades e o planeta) mais frias, diminuindo o uso de ventiladores e ares-con-
Rayza Fontes
1) Pinte o telhado da sua casa de branco 2) Diminua o consumo de carne vermelha bovina dicionados. Como assim?
Edição 21 - Dezembro de 2009
meio ambiente Canto do amor e da discórdia meio ambiente
Quando as chuvas se aproximam, as cigarras cantam à procura de uma companheira, incomodando muita gente Rodrigues Alves
Quando um cara está a fim de uma menina, uma das coisas que ele pode fazer para se aproximar dela numa festa é soltar uma “cantada”. Tem cantada de todo tipo, das mais criativas às mais bizarras e tradicionais. No primeiro caso, elas conseguem fazer com que a menina resolva ficar com o cara; as do segundo tipo fazem com que ele termine a noite sozinho, caso não encontre uma menina menos exigente. Mandar uma “cantada” para azarar alguém não é exclusividade da espécie humana. Entre os animais, especificamente os insetos, também existe o costume de dar cantadas para se aproximar da provável parceira, só que aqui o termo “cantada” é usado no sentido literal. Quando chega o período das chuvas, as cigarras machos, responsáveis pela sinfonia amorosa, se fixam no alto das plantas, geralmente ao amanhecer e ao entardecer, e cantam descaradamente e incessantemente em bus-
ca de uma companheira. Por isso que se diz que o canto da cigarra chama chuva. Na verdade, ele tem outro objetivo. “No caso da cigarra, o canto serve, basicamente, para atração sexual: o macho canta para atrair a fêmea, ele produz o barulho para se exibir, como parâmetro de seleção”, explica o professor de Entomologia Agrícola (área que estuda os insetos) da UFV, Raul Guedes. O professor passou um ano no Canadá estudando a comunicação acústica entre as larvas. Segundo ele, as cigarras utilizam os sinais acústicos para fazer corte à parceira para o acasalamento. Outros insetos, porém, se utilizam de sinais acústicos com outros propósitos: isolar, marcar território, chamar a atenção, recrutar/orientar e se defender (veja no fim desta reportagem como outros insetos produzem sons).
vamente pequeno vai fazer aquela algazarra toda”, diz o professor. Para produzir tanto barulho, o abdômen das cigarras machos é maior, pois precisa acomodar o órgão cimbálico, responsável pela cantoria (repare nas imagens que , por esse motivo, a cigarra macho é maior que a fêmea). A comunicação acústica das cigarras recebe o nome científico de “mecanismo tipo clique”. “Tem uma parte do corpo das cigarras machos que é flexível o suficiente para permitir que seja puxada. A membrana [que envolve uma espécie de bolsa de ar] é puxada quando o músculo contrai. Quando ele relaxa, ela volta para o lugar. O estalo é feito pelo movimento de contrair e relaxar o músculo. Tem que ser uma musculatura violenta. A frequência desse movimento vai dar o padrão de som diferente”, ensina o professor Raul. Cada espécie de cigarra tem um canto diferente. O barulho que incomoda tantos moradores de Viçosa é produzido pela espécie que recebe o nome científico de Quesada gigas.
a exr qaexrqaex rqaexrq aexrqa exrqa exrqa exrqa exrq aexrqa exrqaex rqaexrqa exrqaex Barriga musical rqaexrqa “O som é impressionante: a frequência, a energia envolvida ee x r q a e a altura são muito grandes. Você não imagina que um bicho relati- x r q aCanto e xnorRecanto Os frequentadores do espaço qdaaUFV e onde as cigarras estão presentes até no nome afirmam x ficarem incomodados com o não Cigarra fêmea
canto dos insetos. A nossa reportagem subiu até o Recanto das Cigarras para conferir a opinião dos estudantes e moradores de Viçosa
Cigarra macho que costumam usar o local como uma espécie de parque. A professora Maria Salete criou o hábito de ir ao Recanto das Cigarras quando era ainda estudante da UFV. Ela diz que ia todos os dias e ficava por seis horas estudando, meditando e olhando o céu. O som das cigarras nunca a incomodou. “É um canto alegre e faz parte da natureza. O que me perturba é o som alto dos carros que vêm aqui e acabam com o som natural do Recanto”. Para o aluno do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual Effie Rolfs, Marcos de Souza, o Recanto é “um lugar maneiro e tranquilo”, com uma trilha sonora “psicodélica”. O estudante de física da UFV, André Peixoto, acre-
dita que lá é melhor para estudar do que a própria biblioteca da UFV, por ser mais silencioso. Mas o canto da cigarra não atrapalha os estudos? “Para mim, é de boa. Eu gosto do som delas, a gente fica na cidade o dia inteiro, aqui aproxima a gente com o mato. Deixa o bicho cantar em paz, a gente já tira o espaço dele e ainda quer que ele fique mudo”. O único a destoar dessas opiniões é o responsável pela manutenção do Recanto das Cigarras há cinco anos, Ederval da Silva. Ele cuida do lugar das 7h até as 17h. Por ouvir o mesmo som por dez horas ininterruptas, se queixa: “Tem hora que o barulho é demais, o ouvido fica até zoando. Faz até perturbação na gente”.
Canto da Bicharada Inseto
Como emite o som
Frequência
Cigarra Grilo Esperança Gafanhoto
Órgão no abdômen Atrito das asas Atrito das asas Atrito das asas com as pernas
4 a 5 kHz 4 a 5 kHz 11 a 12 kHz 17 a 18 kHz
Quanto mais alta é a frequência, mais agudo é o som
Não são somente as pessoas que se incomodam com o canto das cigarras. Na fábula A formiga e a cigarra, de La Fontaine, enquanto a formiga trabalha duro todo o verão, juntando alimentos, a cigarra passa o tempo cantando. Quando chega o inverno, a formiga tem comida estocada, já a cigarra... Então, ela resolve pedir ajuda à formiga, que não fica nem um pouco comovida e dá uma lição de moral na faminta: “Não canEdição 21 - Dezembro de 2009
tava? Agora, dance!” A professora de Comportamento dos Insetos da UFV, Terezinha Della Lúcia, acredita que, apesar de difundida, a fábula é injusta com a cigarra. Ela apresenta a defesa: “A cigarra também busca o alimento, também ‘trabalha’. Ela passa um tempo grande da vida só se alimentando da seiva. Ela canta, na verdade, para completar o ciclo de vida dela. É injusto falar que ela passa o tempo todo cantando, porque é um período relativamente
curto. O canto serve para chamar a parceira. Depois, quando começa o período do acasalamento, já está próximo da morte dela.” O ciclo de vida da cigarra exige que ela passe um bom tempo se alimentando apenas da seiva, enterrada no solo. Depois que as fêmeas caem na lábia dos machos e são fecundadas, elas morrem, deixando os ovos nos ramos e folhas das árvores. Quando eles eclodem, as ninfas (nome dado às cigarras jovens) descem e se enter-
Rodrigo Castro
Fábula é injusta com a cigarra
ram no chão, onde, dependendo da espécie, permanecem sugando a seiva das raízes num período que pode variar de 4 a 17 anos. Depois desse longo “trabalho”, elas abandonam o esconderijo e sofrem
uma metamorfose, tornandose adultas, prontas para soltar o som e conquistar a parceira para o acasalamento. Quando conseguem, já está na hora de morrer e o ciclo se reiniciar.
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Rodrigo Castro
Viçosa ganha complexo multiuso para esportes e lazer
ARENA POLIESPORTIVA DE VIÇOSA utilizará parte da estrutura já existente da ASAV, localizada na Rua do Pintinho Samantha Dias
A cidade de Viçosa terá um complexo poliesportivo que será, para toda a população, um ponto de lazer e possibilitará a prática de diversas modalidades esportivas. O local contará com ginásio (já existente), campo de futebol, pista de atletismo, banheiros amplos, arquibancadas, sala de imprensa e estacionamento. A arena esportiva, projeto da Secretaria Municipal de Esportes iniciado em 2008, será construída na Rua do Pintinho, próximo ao campo da ASAV (Associação dos Servidores Técnico-Administrativos).
O chefe do Departamento de Esportes da cidade, Adailson Abranches Monteiro, afirma que a necessidade de um local adequado que atenda às demandas da liga esportiva, da prefeitura, e também da Universidade Federal de Viçosa aumentou significativamente depois que o campo do Viçosa Atlético Clube foi transformado em sede social para os associados. A partir de então, uma comissão foi formada com integrantes da ADEV (Agência de Desenvolvimento de Viçosa, ligada à prefeitura e à universidade), com a Pró-reitoria de Assuntos Comunitários da UFV, juntamente com
o reitor Luiz Cláudio Costa, a ASAV, a liga esportiva e várias outras entidades da área para tentar viabilizar a construção do complexo poliesportivo. Em abril deste ano, em reunião com todas as autoridades envolvidas, o reitor da UFV concretizou a cessão da área da universidade para a construção do campo municipal. Segundo Adailson, a escolha pela área da ASAV se deu, principalmente, devido à acessibilidade do local e pela existência de uma estrutura que será aproveitada. “No local da ASAV já tem um ginásio, banheiros, salas para reuniões, um campo, a terraplanagem
para o campo. De acordo com o projeto, o estádio terá capacidade para 10 a 15 mil pessoas, anexado junto com o ginásio”, afirma Adailson. Segundo o chefe do Departamento de Esportes, o projeto está em avaliação no Ministério do Esporte e, assim que for aprovado, serão iniciadas as obras de construção. “Creio que teremos a resposta até o final de dezembro deste ano. Aí vai depender da verba que eles vão nos fornecer. Se for 50%, nós vamos fazer de acordo com os 50% das necessidades. Se for 100%, nós vamos concluir tudo”.
Olimpíadas no Brasil incentiva o esporte Erik Oliveira
No dia 2 de outubro de 2009, a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida a sede das Olimpíadas de 2016. Uma oportunidade de o Brasil mostrar a sua força, principalmente na área esportiva. Mas qual a real importância da realização desse evento no país? Como anda o esporte nas escolas brasileiras? Quais as chances dos atletas de Viçosa participaram dos jogos? O professor do Departamento
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de Educação Física da UFV, João Bouzas, acha que a realização dos jogos é importante para o país em vários aspectos. O primeiro que ele destaca é o aumento do segmento esportivo e da atividade física, gerando uma motivação da prática de esportes nas crianças. Dessa forma, seria incentivada a criação de praças esportivas e novas escolas em todo o Brasil. Outros aspectos analisados são a imagem do Brasil no exterior, o aumento do turismo interno e internacional, além da criação de
vários empregos e o legado para o Rio de Janeiro. Contudo, para Bouzas, se o país não quer passar vergonha em relação aos resultados de seus atletas, é preciso investir na base esportiva. Para ele, os investimentos nesse setor têm evoluído, com projetos como as Olimpíadas Escolares, mas ainda são insuficientes. De acordo com o professor, é preciso investimento nas escolas, auxiliando na formação de professores e na compra de materiais para a prática esportiva.
Viçosa nos Jogos Nas Olimpíadas de Pequim, o atleta do levantamento de peso Wellison Silva tornou-se o terceiro atleta de Viçosa a disputar uma Olimpíada. Antes dele, já haviam disputado outras edições dos jogos, os atletas Maria Elizabete Jorge, também no levantamento de peso, e Ivanir Teixeira, no mountain bike. Bouzas acredita que esta participação incentiva as crianças de Viçosa a praticarem esporte e lhes dão esperança de estarem no Rio, em 2016.
Mente sã em corpo são Rodrigo Castro
Jogar bola é sempre a primeira opção quando o assunto é educação física, principalmente entre os alunos do sexo masculino. A disciplina, relegada sempre a um plano inferior e considerada como a hora de esquecer a rotina da sala de aula, passou por transformações em seus conceitos, e hoje mostra seu potencial não apenas esportivo, mas como formadora de cidadãos. Porém, quando praticada no período noturno, o professor tem que lidar com alguns fatores que influenciam o ritmo dos alunos e o interesse deles educação física. “O ambiente é mais reduzido, eles não fazem algumas coisas, por serem mais velhos e já trabalharem”, afirma Vanessa Della Lucia, professora de educação física da escola Effie Rolfs. Tais fatores, aliados à falta de material e estrutura adequados, muitas vezes desestimulam o aluno a se interessar pela disciplina. Ainda assim, Della Lucia mostra persistência e diz que é preciso muita força de vontade para seguir no ensino da disciplina. Ela descreve as dificuldades que os professores da disciplina têm para tornar a aula atraente. “A gente divide a cultura corporal em jogos e brincadeiras, dança, esporte, ginástica e luta. No ensino médio, eles gostam muito da prática de esportes, principalmente futsal, que vem de uma tradição tecnicista da educação física”. Ademais, é preciso muito trabalho para que a disciplina seja reconhecida como algo que realmente agregue algum valor ao indivíduo. O conceito de “mente sã em corpo são”, criado pelo poeta italiano Juvenal, ainda se encontra muito pouco desenvolvido na sociedade, já que valorizase muito mais o pensamento intelectual em detrimento do culto ao corpo como parte indivisível do ser humano. Edição 21 - Dezembro de 2009
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Torcida muito além das quatro linhas Torcedores conscientes aliam a alegria do futebol às questões sociais, antes deixadas no banco de reservas
Alexandre Garcia
Alexandre Garcia Priscila Fernandes
Que futebol é amor, diversão, amizade, cerveja e piada, todo mundo, principalmente os brasileiros, estão cansados de saber. Mas futebol também é coisa séria: é assunto de política (pública e privada), é religião (vide a Igreja Maradoniana, na qual Maradona, ex-craque argentino, é “deus”) e é filantropia. De forma geral, todo brasileiro torce pra algum time, nem que seja para a Seleção Brasileira. Está em nosso DNA o apego à “pelota” e à solidariedade entre comuns. Em menor dimensão, encontramos no futebol a formação de torcidas organizadas, entidades que amam profundamente seus times, indo do amor cego em tempos de conquistas, às duras críticas impostas em tempos de crise. Elas são os melhores amigos e inimigos que um time de futebol pode ter. Segundo o livro As torcidas organizadas de futebol, de Luiz Henrique Toledo, tais agremiações surgiram na Inglaterra, no final do século XIX, e começaram no Brasil no clube que hoje possui a maior torcida do país, o Flamengo.
História
A Charanga Rubro-Negra foi uma das primeiras torcidas organizadas de que se tem registro no Brasil. Em 11 de outubro de 1942, dia de final de Campeonato Carioca, um grupo de músicos flamenguistas se reuniu e formou uma banda que passou a tocar durante os jogos. O nome “charanga” surgiu jocosamente por causa da duvidosa qualidade sonora do grupo. Devido ao desafinamento, a Charanga era acusada de desconcentrar os adversários, algo como as vuvuzelas sul-africanas presentes durante a Copa das Confederações deste ano, alvo de grandes polêmicas e de reclamações por parte dos jogadores. As torcidas organizadas são muitas vezes chamadas de “o décimo segundo jogador”, mas, além de incentivar o clube em Edição 21 - Dezembro de 2009
TORCIDA FLAMENGUISTA se reúne em bar de Viçosa para assistir à reta final do Campeonato Brasileiro de futebol campo, elas ultrapassam o estádio e influenciam na estrutura do time. É o caso da Gaviões da Fiel, fundada em 1969, já nasceu com o intuito de “derrubar” o presidente do Corinthians. Segundo Cláudio Faria de Melo, fundador da Gaviões, a torcida resolveu organizar um movimento de resistir nas arquibancadas contra a permanência do Wadih na diretoria do Corinthians. Viçosa e região Em Viçosa não se encontram torcidas organizadas propriamente ditas, mas como o número de torcedores jovens é muito grande, há a presença de pequenos grupos, que vão aos bares e aos estádios em caravanas torcer para suas equipes de coração. O perfil dos integrantes das organizadas é composto notadamente pelos mais jovens.
A Máfia Azul Viçosa, segundo o presidente do grupo, Emerson Cardoso, é integrada principalmente por pessoas entre 20 e 25 anos. Além de Cruzeiro e Atlético, Flamengo, Corinthians, Vasco e Palmeiras também possuem um grande número de fiéis torcedores na cidade. Como as torcidas organizadas se concentram mais nas capitais e em lugares onde há uma maior organização entre os torcedores, em locais mais afastados, como Viçosa, os apaixonados por seus times têm a opção de se inscreverem nas subsedes de suas torcidas organizadas mais próximas. Na cidade de Ponte Nova há uma subsede da
Mancha Verde, maior torcida organizada palmeirense. Segundo o vice-presidente da Mancha Verde Ponta Nova, Moisés Saraiva Gurgel Couto, a filial de sua cidade tem um registro, é subordinada e segue os estatutos da sede da capital paulista. Para a criação do próprio regimento e para o registro legal na cidade, Moisés frisa que é preciso ter uma sede própria em Ponte Nova, o que ainda não existe. Afora os adjetivos negativos que algumas torcidas organizadas carregam, como desordeiras, violentas e rebeldes, há o forte caráter social e beneficente nelas. Nas palavras de Gurgel, “a torci-
As torcidas organizadas têm forte caráter social e beneficente
da organizada tem como fundamento reunir e criar uma família de torcedores que são fanáticos e apaixonados por futebol. Também, é lógico, tem a parte social que é muito importante. Fazemos várias campanhas sociais, como a campanha do agasalho, doação de sangue, festa para crianças, entre outras”. E decreta que isso não deveria ser apenas função de entidades sociais e, sim, “um dever de todos nós, seres humanos”. Segundo a Polícia Civil de Viçosa, nunca houve casos graves de violência na cidade por parte das torcidas, apenas pequenas desavenças resolvidas rapidamente. É neste clima de fairplay - termo estrangeiro que designa “jogo limpo”, sem violência - que é gostoso torcer e que faz desassociar o estigma de violência das torcidas, organizadas ou não.
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cultura cultura
O batuque do Maracatu em Viçosa Em apresentações e oficinas, grupo O Bloco revela para a cidade a tradicional cultura musical afrobrasileira Lilian Lima
Xequerê, caixa de guerra, ganzá, gonguê, alfaia. Esses são instrumentos que compõe a batida do maracatu. Em Viçosa, sua presença é marcada pelo grupo de cultura popular O Bloco. Nascido em junho de 2006, hoje conta com cerca de 35 pessoas. O maracatu é uma manifestação cultural afrobrasileira. Sua história inclui os escravos, caraterísticas religiosas e políticas. No Brasil, o berço das grandes Nações de Maracatu é a cidade de Recife, em Pernambuco. Os escravos batucavam reunidos em irmandades para cultuar santos, como Nossa Senhora do Rosário. Hoje, o maracatu é mais valorizado e é marca do carnaval de Recife. O grupo O Bloco não exercita o caráter religioso nem político dessa cultura. A releitura do grupo foca no ritmo forte
Camila Campanate
GRUPO O BLOCO desfila pela reta da UFV, mostrando o ritmo contagiante do Maracatu da percussão. A estudante Adeline Ribeiro Cunha, integrante do grupo, conta que o ritmo do maracatu chegou a Viçosa em 2003, com
o estudante de Pedagogia Rafael Wolak. O jovem passou a ensinar a dança para demais pessoas e, assim, conseguiu formar o primeiro grupo da cidade, o Nação Romão,
com 10 amigos. Com a saída do estudante, ficou a necessidade de preservar o maracatu. Em 2006, uma reunião decidiu a retomada do grupo, já com
o nome O Bloco. Desde então, um núcleo formado pelas 11 pessoas, que estão desde o começo da comunidade, coordena as atividades para que a rotatividade de integrantes não afete o projeto. Do desejo de preservar o maracatu em Viçosa, nasceu a iniciativa de produzir oficinas para jovens da cidade. Em agosto, O Bloco começou a disponibilizar o conhecimento para que jovens aprendam a tocar os instrumentos do maracatu. Adeline diz que acredita no poder da música em mexer com a mente dos adolescentes e que o diferencial do maracatu é trazer o lúdico, com a cultura e o popular. “Quem quiser vir, está livre. É só procurar nas oficinas, às 19 h das terças, e às 12h das sextas, na Casa da Paz, situada na Vila Giannetti”, convida Adeline. Eles pedem a contribuição de R$1 para a manutenção e limpeza do local. Os instrumentos usados pelos jovens são emprestados pelo próprio grupo.
Jovens congos perpetuam Escola Experimental graças à fé e à devoção une jovens à arte Felipe Luchete
Camila Campanate
Símbolo de expressão popular, fé e devoção à Nossa Senhora do Rosário, o Congado de Airões representa mais que uma festividade religiosa, demonstra uma perpetuação da cultura afrodescendente na cidade. Na manifestação popular, tradicional do distrito de Paula Cândido, tudo é feito em prol da padroeira do evento, expressando oração e demonstração de crenças. Os congos cantam, dançam pelas ruas e dividem seus alimentos. Os jovens, como parte mantenedora dessa cultura, se envolvem desde cedo, quando acompanham seus familiares nas festividades. Nessa oportunidade é que eles vão criando vínculo e percepção da importância que o congado tem para as suas raízes. Segundo o doutor em História da Educação, Milton Pires, o congado significa, para os jovens, “a oportunidade
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O CONGADO é transmitido pelas influências familiares de vivenciar memória, identidade, cooperação e solidariedade, valores necessários ao convívio social”. O congado também representa compasso e paz entre os congos. Emerson Henrique da Silva, 19, faz parte de um congo desde os 8 anos. Ele enfatiza que o congado é, para ele, sinônimo de equilíbrio e cooperação. “Sempre fazemos as pazes, porque esse ato prova que
nossa fé supera qualquer divergência”, argumenta. Milton Pires ressalta que, quando jovens, alguns tendem a se afastar da cultura, mas retornam aos rituais na idade adulta. “Para aqueles que migraram em busca de melhores condições de vida, o congado é uma referência, inclusive constituindo-se como justificativa para retornarem”, diz.
Mayara Barbosa
A arte aliada à educação é o carro chefe da Escola Experimental de Artes de Viçosa. O projeto da Prefeitura de Viçosa vem proporcionando, desde abril de 1993, o contato das crianças e adolescentes da cidade com a arte. A escola oferece oficinas nas áreas de artes plásticas, capoeira, contador de história, dança, viola e banda de música para alunos da escola pública, na faixa de 10 a 17 anos, em vários bairros. Os cursos oferecem a oportunidade de formação cultural e artística, bem como a integração dos alunos com a comunidade, através da realização de espetáculos em praças públicas e escolas. Mauricio Pereira do Vale, professor de violão destaca a importância da Escola de Artes. “É a oportunidade das crianças terem contato com a arte. Muitas vezes, os cursos de música ou dança são caros. Além disso, eles têm a
chance de ter contato, não só com a arte de sua oficina, mas também com as outras através das apresentações que realizamos.” Com as aulas na Escola Experimental, muitos alunos têm mostrado melhor comportamento e desempenho na escola. Muitas mães comentam da evolução do filho, afirma a secretária da escola Elaine Cristina. Além disso, o projeto incentiva a participação dos alunos em suas escolas, cobrando presenças e notas para que não percam sua bolsa na Escola Experimental, e para que possam se apresentar nos espetáculos. Somado à integração do jovem à sociedade e da ajuda no aprendizado escolar, as oficinas são uma opção de ocupação. A estudante do bairro de Nova Viçosa, Letícia Pereira Miguel, de 14 anos, dois anos na oficina de violão, afirma que o instrumento e as aulas ajudaram em varias questões, mas principalmente foi um motivo para sair de casa e do ócio. Edição 21 - Dezembro de 2009