Jornal OutrOlhar | Edição 22 | Maio de 2010

Page 1

ANO 7 | EDIÇÃO Nº 22 | MAIO 2010

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFV

Rodrigues Alves

Entre os muros da escola Lev co antam n de diçõ ento e en sin s físic most om ra as a d éd io e as e reali m V sco dad iço las p e da sa úb lica s s

páginas 8 a 11 LIXO

MERENDA

VOVÓ DE PESO

HISTÓRIA

SAAE implanta projeto de coleta seletiva nas escolas visando à educação ambiental

Saiba qual é o caminho que a comida percorre até chegar ao prato do estudante

De lavadeira a atleta olímpica: conheça a trajetória de luta e superação de Bete

Casa Arthur Bernardes guarda e expõe legado do mais ilustre viçosense

página 6

página 14

página 17

página 18


opinião opinião

EDITORIAL

Reconhecimento ao Projeto OutrOlhar Ainda no processo de fechamento desta edição fomos surpreendidos por duas notícias bastante gratificantes para o projeto OutrOlhar. A primeira foi sobre a repercussão da matéria especial que retrata as condições das escolas públicas da região, o que resultou em melhorias para a comunidade. A ética tão necessária à nossa profissão acabou também cumprindo seu papel social, resolvendo irregularidades numa escola pública, antes mesmo da circulação desta edição. Isso porque, ao cumprir sua tarefa de ouvir todos os envolvidos no problema, os alunos do OutrOlhar conseguiram sensibilizar a Secretaria Regional de Educação, que retirou as crianças das condições precárias em que estudavam. A segunda foi o reconhecimento externo desse projeto que vem sendo desenvolvido há quatro anos com dedicação e entusiasmo dos alunos envolvidos. Ficamos orgulhosos com as premiações recebidas pelo jornal OutrOlhar na etapa sudeste do XV Congresso de Ciências da Comunicação – Intercom – a Exposição da Pesquisa em Comunicação (Expocom). O evento aconteceu em Vitória (ES), entre 13 e 15 de maio. O OutrOlhar venceu nas modalidades jornal-laboratório, jornal impresso (edição especial) e melhor fotografia jornalística (publicada recentemente na edição fotográfica), concorrendo com fortes e tradicionais cursos da região. A valorização externa também coroa o Projeto OutrOlhar, mostrando que o Curso de Jornalismo da UFV está no caminho certo na formação de novos profissionais para o campo. Parabéns a todos. Joaquim Sucena Lannes Editor

2

Corrupto, só na cadeia! O voto consciente garante que políticos, como Arruda, não sejam eleitos

Q

uando elegemos um político, o escolhemos pela sua história e pelo que ele disse durante a sua campanha. Quase sempre funciona assim. Desta forma, como os corruptos chegam ao poder? Porque ninguém, é claro, tem como saber o que um político fará após eleito. Pelo menos a maior parte de nós não tem bola de cristal para prever o futuro. Na maioria das vezes, os eleitores não escolhem corruptos. Com certeza, os brasilienses, por exemplo, não votariam em José Roberto Arruda se soubessem o que ele faria. O ex-governador do Distrito Federal foi descoberto pela polícia federal num esquema de corrupção que ficou conhecido como mensalão do DEM (ex-partido de Arruda), em novembro do ano passado (o episódio do dinheiro na meia, lembra?). De lá para cá ele foi afastado do governo, cassado, preso e por decisão do Supremo Tribunal Federal, desde o dia 12 de abril aguarda o fim do processo em liberdade. Durante este tempo, Arruda foi descoberto tentando subornar uma testemunha, sofreu muitos protestos (de estudantes como eu e você), foi expulso do partido Democratas e viu sua base de governo afundar junto com ele. Escândalo que abalou a todos de modo muito rápido.

Um político ser preso por corrupção não é muito comum, se considerarmos a história recente do nosso país. Cada vez mais, eles têm sido descobertos e nada acontece. Um exemplo é o mensalão, esquema denunciado pelo ex-deputado Roberto Jeferson do PP em 2004, no qual, segundo ele, alguns deputados federais recebiam dinheiro em troca do voto no Congresso Nacional. Neste caso, ficou claro que quem tem rabo preso, tenta defender sua vizinhança, ou, como dizia a minha avó, “quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra!” Na época se falava muito do delicioso cheirinho de pizza no ar. Já Arruda, depois das denúncias, se viu sozinho (coitado!) em meio a um mar de acusações di-

bém, e principalmente, porque a corrupção é uma praga comum a todos os lugares. Nos níveis federal, estadual e municipal. Nos poderes executivo, legislativo e até no judiciário (detentor de um pouco mais de credibilidade que os outros dois). Todos nós vamos votar em outubro. Escolher presidente, governador, deputado federal, estadual e senador. E somos responsáveis pelas conseqüências dessas escolhas. Inclusive quem vai votar pela primeira vez. ``. Cada verba desviada, cada obra superfaturada, é um ônibus escolar a menos, um posto de saúde desativado, entre outras coisas úteis removidas do nosso dia-a-dia. Não dá para fechar os olhos e acreditar que não somos respon-

“Quem coloca um corrupto no

poder são os próprios eleitores, os mesmos que pagam por isso fundidas pela mídia. Talvez se fez alguma coisa por causa da grande exposição. Mas a mídia também divulgou o mensalão. Será o começo do fim de uma era de escândalos ou foi muita sorte nossa, já que o ex-governador do Distrito Federal era o mais cotado para ser o vice do candidato a presidência José Serra? Este fato é importante não só porque o Distrito Federal é a capital administrativa do país. É tam-

Coordenador do Curso de Comunicação Social/Jornalismo: Prof. Carlos d’Andréa

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), sob responsabilidade da turma de 2008. Endereço: Vila Giannetti, Casa 39, Campus Universitário - 36570-000 - Viçosa, MG Tel: 3899-2878

Reitor: Prof. Luiz Cláudio Costa Diretor do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes: Prof. Walmer Faroni

Editor Prof. Joaquim Sucena Lannes Registro: MT/RJ-13173 Editor de Fotografia Prof. Erivam de Oliveira Registro: MT/SP-20193 Subeditores Rodrigues Alves (Cidade), Gustavo Paravizo (Ciência, Vida e Saúde), Diogo Rodrigues (Comportamento), Jader Gomes (Cultura), Lucas Guerra (Entrevista), Mayara Barbosa (Esportes), Olívia Miquelino (Meio Ambiente) e Maria Clara Corsino (Opinião)

sáveis pelos atos dos políticos eleitos. Pois mesmo não tendo como prever as ações deles, é nossa obrigação cobrar para que elas sejam honestas. Votar é mais do que exercer a cidadania, como propõem as bonitas propagandas na TV. Votar consciente é um compromisso de responsabilidade assumido com os outros, com nós mesmos, enfim, pela coletividade.

Do busão à “caixinha de fósforos” É a primeira vez que nós, estudantes de Jornalismo, abrimos este espaço no jornal-laboratório OutrOlhar para dialogar com você. Depois de levantar a situação da segurança dos ônibus escolares, nossa equipe se empenhou para verificar as condições físicas dos ambientes onde você estuda. Muita apuração, muito trabalho e as respostas foram surpreendentes. A reportagem especial (da página 8 à 11) mostra qual o ambiente você utiliza para estudar depois de viajar em pé, em ônibus antigos, sem placas de identificação e sem cintos de segurança. Na mesma escola onde encontramos uma sala improvisada que os alunos chamam de “caixinha de fósforos” (página 11), também descobrimos Neemias, um garoto de 12 anos que fez a diferença e ganhou medalha de ouro nas Olimpíadas de Matemática (página 12) Neemias é figurinha fácil na biblioteca de sua escola. E por falar em biblioteca, tem escola que transformou esse espaço em sala de aula. Já na biblioteca pública, faltam investimentos e até mesmo profissional com formação adequada (página 12). Confira! Boa leitura! Lilian Lima Redatora

Maria Clara Corsino

Redação Camila Caetano, Camila Campanate, Caroline Lomar, Daniel Fernandes, Diego Mendes, Diogo Rodrigues, Erik Oliveira, Felipe Pinheiro, Gustavo Paravizo, Hélio Assa-Fay, Jader Gomes, Jordana Diógenis, Kamilla Bitarães, Kelen Ribeiro, Kívia Oliveira, Lilian Lima, Lucas Gadbem, Lucas Guerra, Luiz Phillipe Souto, Luiza Sena, Maria Clara Corsino, Mayara Barbosa, Monizy Amorim, Murilo Araújo, Murilo da Luz, Nayara Souza, Olívia Miquelino, Paula Machado, Priscila Fernandes, Rayza Fontes, Rodrigo Castro, Rodrigues Alves, Samantha Dias, Sávio Lopes, Talles Carvalho e Thiago Alves

Diagramação Diogo Rodrigues (diagramação final e edição de arte) e Felipe Pinheiro (Cultura, Esportes, Opinião e Ciência, vida & saúde) Impressão: Divisão Gráfica Universitária Tiragem: 2000 Exemplares Os textos assinados não refletem a opinião da Instituição ou do Curso, sendo de inteira responsabilidade de seus autores

Revisão Final Rodrigues Alves e Diogo Rodrigues

Chefe do departamento de Comunicação Social (DCM): Prof. Ernane Corrêa Rabelo

Edição 22 - Maio de 2010


opinião opinião

Em ano de disputas, Copa do Mundo impõe derrota à cidadania

Brasileiro deixa seu fanatismo pela bola falar mais alto que seus deveres de cidadão, e futebol tem mais atenção que eleições

E

ste ano promete muitas emoções para os brasileiros, tanto no campo da política quanto dos esportes. Com a coincidência de dois fatos tão importantes como as eleições presidenciais e a Copa Mundial de Futebol Masculino, o resultado que se tem é muita informação sendo produzida e pouco tempo para as digerir. Infelizmente, no Brasil, dá-se mais atenção ao evento esportivo do que ao futuro (próximo) do nosso país. Você já parou para pensar que enquanto a maioria dos olhares estão voltados para os jogos muita coisa suja do mundo político pode estar passando despercebida? A mídia, às vezes, por apoiar um ou outro candidato, deixa de noticiar, ou noticia de forma mais amena, informações que possam prejudicá-lo. E o que não vai faltar durante o campeonato mundial é

Marianne Gomes

assunto que distraia e interesse ao público, não é mesmo? O problema ainda se agrava porque o cidadão brasileiro “apaixonado por futebol” tende a se dedicar mais à sua paixão do que

às propostas e à vida política dos candidatos. Em pesquisa do “Datafolha”, publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo” no dia 26/04, 42% dos entrevistados disseram preferir o mundial do que as elei-

ções, enquanto 36% responderam dedicar o mesmo nível de atenção a ambos. Entre os jovens de 16 a 24 anos, a preferência pelo futebol é ainda maior: 47%, contra apenas 28% que se diz atento à disputa eleitoral. É um perigo para os quatro próximos anos de uma nação que seus governantes sejam eleitos por cidadãos tão desatentos às questões políticas. Igualmente perigoso é o fato de que os torcedores apaixonados – e cegos como todos os que se deixam tomar pela emoção - parecem associar a sua satisfação com os resultados da Seleção Brasileira de Futebol com as realizações do governo em exercício. Muitos presidentes bem populares tiveram o fim de seus mandatos na mesma época em que o Brasil foi campeão da Copa, é o caso de Juscelino Kubitschek, João Goulart, Garrastazu Médici (um dos repressores e mantenedores

da censura no nosso país), Itamar Franco e do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Convenhamos que essa associação é, no mínimo, nada inteligente. Um povo que reclama tanto de seus governantes, que só sabe os chamar de corruptos, ladrões, vivendo à se lamentar de sua desgraça e tem uma atitude como esta, de nem ao menos se dar ao trabalho de pesquisar sobre seus candidatos, merece sim um título mundial: de preguiçoso! Se você não exerce seu dever de cidadão, preferindo entregar-se ao lazer de assistir a um bom jogo, depois será difícil ter a quem reclamar seus direitos. Ou reclame-os ao Dunga. Estão em falta nesse país aquelas boas mães que aconselham: “meu filho, primeiro o dever, e depois – se sobrar tempo – o lazer”. Paula Machado

O controle social das mídias

D

e acordo com o dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, o verbo censurar significa, entre outras coisas, proibir a divulgação ou execução de algo. Mas quem tem o direito de proibir a divulgação de notícias, por exemplo? No Brasil, durante o governo do presidente Getúlio Vargas, nos anos de 1937 - 1945 e da ditadura militar (1964 – 1985) o governo se achava no direito de proibir a publicação de qualquer posicionamento contrário ao seu. Usando até de violência para obrigar que os meios de comunicação, como o rádio, os jornais e revistas, mostrassem com antecedência todo o conteúdo a ser veiculado, para que os órgãos oficiais analisassem e só assim decidissem pela publicação. Edição 22 - Maio de 2010

Caso não fosse autorizada, os jornais deixavam partes da página em branco ou substituem a matéria proibida por poesias e receitas de bolo. Além de usar a mídia como meio de propaganda, para exaltar

nhecimento dos acontecimentos do país e do mundo, no âmbito político, econômico e cultural. O problema é que do mesmo modo que os governantes do passado se apropriaram do grande po-

mas os jornalistas não têm quem os regule, uma vez que a censura é proibida. E com razão. Todo mundo tem o direito de expressar e publicar sua opinião, mas com responsabilidade.

“Atualmente a Constituição Federal impede que exista a censura prévia os feitos do governo. Atualmente a Constituição Federal impede que exista a censura prévia, como nos casos já citados. Já que o papel do jornalismo na apuração e divulgação das informações é de grande importância para o desenvolvimento da democracia, , quando bem feito, permite que a população tome co-

der de alcance da mídia para fins próprios, bem como impediram a publicação de tudo que era considerado ofensivo ou danoso ao governo, os jornalistas irresponsáveis, que faltam com a verdade ou usam da profissão para benefício próprio, merecem ser punidos. Todos os profissionais que desrespeitam a lei são punidos,

De acordo com o advogado Gabriel Pires, professor da UFV, a melhor maneira de regular o que é publicado na imprensa é punindo os erros. O controle da mídia deve ser feito pela população e uma maneira de fazer isso é verificar em diferentes veículos de comunicação a veracidade das notícias

e buscar sempre informações de qualidade, que priorizem os acontecimentos e mostrem todos lados dos fatos. Em época de eleição, é preciso que toda a mídia esteja voltada para o processo eleitoral e que contribua para a escolha dos candidatos de maneira transparente. E se abusos forem cometidos por jornalistas que omitirem a verdade ou publicarem informações falsas, que a justiça seja capaz de punir, sem censurar.

Rayza Fontes

3


comportamento comportamento

Indiretamente, hábitos de casa afetam o desempenho escolar

Diogo Rodrigues

Diogo Rodrigues

Tênis, luva de goleiro, laranja, toalha, pote de iogurte, comida, sacolas e roupas por todos os lados. A bagunça adolescente, tal qual a que você vê na foto ao lado, é um fator de grande influência no comportamento de um jovem na escola onde estuda. Para o estudante do 2º ano do ensino médio Danilo Soares, de 16 anos, seus hábitos em casa influem bastante no seu aprendizado. “Em casa eu tenho costume de ficar muito tempo na internet, por ter preguiça de estudar”, diz. Ele afirma que faz bastante bagunça em casa, sobretudo no seu quarto, e diz que não age de forma distinta em seu colégio. “Ultimamente ando muito desleixado, empurrando tudo com a barriga”, comenta. Não muito diferente é o aluno do 1º ano do ensino médio Higor Araújo, de 15 anos, que deixa clara a falta de zelo com seus materiais escolares. “Chego em casa e já vou jogando minha mochila em qualquer lugar e os cadernos para todos os lados”, relata. Higor conta que faz as tarefas escolares sempre na última hora. “E olhe lá”, completa. No entanto, ele diz ter consciência das consequências que isso pode gerar.

FALTA DE ORGANIZAÇÃO em casa influi também no comportamento escolar dos estudantes “Não é bom, porque quando não faço os deveres minhas notas abaixam e eu deixo de aprender”, diz. Ele completa dizendo que sua má organização em casa atinge também a sua mãe. “É só deixar alguma coisa jogada que ela vem me cobrando para fazer as tarefas, estudar para as provas”, conta. Segundo a pedagoga Catarina Greco Alves, que há 16 anos

trabalha no Coluni (Colégio de Aplicação da UFV), um aluno traz consigo as desorganizações existentes em casa e na família. Para a pedagoga, que possui especialização em supervisão escolar e orientação profissional de carreira, a primeira formadora de caráter de um adolescente deve ser a família. Mas Catarina conta que, atualmente, vem acontecendo o

inverso. “Muitas famílias estão delegando à escola atitudes que normalmente seriam adquiridas no seio familiar”, diz. Na opinião de Catarina, é importante manter contato com as famílias dos alunos. “Quando você conhece o pai, a mãe, a história desse jovem, você passa a entender o comportamento dele na escola”, diz.

Para respeitar é preciso conhecer Nayara Souza

Na sua escola tem cantineira, tem porteiro, tem a tia da limpeza? Você conversa com eles? Sabe a história de cada um? E como você se relaciona com as pessoas que chegam antes de você e muitas vezes saem depois, para que a escola seja um lugar bom para o aprendizado? O Outro Olhar te apresenta algumas dessas pessoas. Uma delas é Nelza Matilde Paixão, da E. E. Effie Rolfs, que conta ser apaixonada até no nome. No ramo há 18 anos, ela diz gostar muito de trabalhar em escolas. “Tia” Nelza, como é co-

4

nhecida pelos alunos, diz preferir trabalhar na portaria porque assim vê mais gente. Segundo ela, “cantina é prisão”. Aos 59 anos, ela diz esquecer da idade perto dos alunos. “Os meninos me chamam de sapeca”. Mas a maioria das pessoas que convivem com Nelza não sabe que durante a infância ela não pôde estudar. Sua mãe achava que formação escolar não era importante. Desde cedo, Nelza teve que trabalhar muito. No entanto, a rigidez de sua mãe, ao contrário de gerar revolta, apenas aumentou sua capacidade de entender o ambiente escolar. Nelza diz que é raro encontrar um aluno que a

desrespeite, mas, quando encontra um estudante um pouco mais ríspido, ela pensa: “talvez ele venha de uma família como a minha.” Ela diz que na maioria das vezes a culpa dos atos desrespeitosos não é do aluno, pois “se faltar carinho em casa, a pessoa não consegue levar carinho para fora.” Outro exemplo é o auxiliar escolar Luís Gonzaga Balbino, da Escola Municipal Dona Nanete. Segundo o assistente administrativo Dhone Tavares Pimentel, o “Seu” Luís é um presente. “Ele é um grande observador de comportamento, por isso consegue entender os alunos”, diz Pimentel.

Perguntado sobre problemas de preconceito ou desrespeito por parte dos alunos, Luís diz nunca ter passado por nada. “Às vezes, quando vejo um aluno respondendo o professor, chego e converso.” Ele diz que conversar com os estudantes é a solução. Luís começou a trabalhar aos 15 anos, como servente. Já morou em São Paulo, Rio de Janeiro e até no Paraná. No entanto, seu local de trabalho preferido é mesmo a escola. Ele também dá aulas de música para os alunos. De acordo com Seu Luís, as aulas podem formar cidadãos e incentivar os alunos a terem mais educação e respeito.

O papel da escola e da família

Talles Carvalho

O aluno puxa-saco, o professor problemático, aquele aluno atrevido, ou a professora mal paga. São muitos os personagens diferentes convivendo todo dia, vivendo os mesmos problemas, dividindo um único espaço: o ambiente escolar. A escola sempre foi enxergada como uma entidade formadora de pessoas, carregando funções vitais e de responsabilidades maiores do que a educação. No ambiente escolar reúnem-se várias amostras de diferentes estratos sociais e, por isso, todas as relações características do mundo em que vivemos são minimizadas e trazidas para uma única realidade. Para a professora de história Stella Maia, “Muitos alunos têm problemas familiares e isso atrapalha o desenvolvimento deles no aprendizado”. Há cinco anos ela dá aulas na E. E. Emílio Jardim, situada na cidade de Coimbra. Diariamente, ela vivencia a realidade de uma escola pública brasileira. Além disso, a professora destaca a influencia do comportamento dos país sobre o aluno. Outra questão presente no ambiente escolar está relacionada ao chamado bullying, quando grupos de alunos ameaçam e agridem seus colegas mais indefesos. Também emerge nesse contexto o sexting, que consiste na exibição pública de conteúdo intimo de outras pessoas, muito presente no universo escolar mais jovem. A professora ressaltou um ponto principal na relação entre escola e família. Os dois ambientes devem ter suas funções definidas. Eles podem interagir, mas deve estar claro para cada um as responsabilidades em relação ao adolescente. Edição 22 - Maio de 2010


comportamento

comportamento

Desrespeitar leis é um ‘fenômeno brasileiro’ Para sociólgos, há brechas na legislação: algumas questões de desrespeito às leis fogem ao domínio do judiciário Diogo Rodrigues

Samantha Dias

As leis existem para criar uma coesão entre as pessoas e viabilizar a convivência entre elas. Porém, em nosso cotidiano, é comum nos depararmos com diversas situações de desrespeito ao código legislativo. A nossa sociedade parece cultivar o “jeitinho brasileiro”, hábito de querer levar vantagem em tudo, mesmo passando por cima das leis. Exemplos desse desrespeito são os carros estacionados em locais proibidos (veja foto ao lado), atos de corrupção de alguns políticos e até atos de depredação nas escolas, demonstrando que a prática de desrespeito começa cedo. O professor de direito Gabriel Pires explica que o nosso sistema de normas jurídicas teve sua origem no direito Romano. A Lei das XII Tábuas é o mais antigo direito dessa civilização e data dos anos 450 a.C. Com ela, houve uma transição no sistema de leis, que de orais, baseadas nos costumes e hábitos, passaram a ser redigidas em tábuas. O professor afirma que, atual-

CARRO DESRESPEITA placa de “Proibido Parar e Estacionar”, dentro do campus da UFV mente, no direito internacional, alguns códigos ainda são fundamentados nos costumes. No Brasil, porém, toda a legislação é baseada na Constituição Federal. Para Gabriel, a tendência brasileira de desrespeito aos dispositivos legais deve-se, principalmente, à falta de efetividades delas. “Se até

os aplicadores da lei dão um jeitinho, a sensação de impunidades nas pessoas só aumenta”. Thales Neves Silva, Túlio Mendonça dos Santos e Raul Correa da Silva, adolescentes de 15 anos, creem que não é possível respeitar tudo que é imposto e que essa ideia de desrespeito parte, principalmen-

te, do exemplo dado pelos próprios aplicadores. “Na sala de aula a gente não pode conversar, mas não tem como, a gente conversa mesmo. Até os professores conversam”, explica Túlio Mendonça. Thales Silva relata que “essa regra do ‘tudo pode’ está enraizada na cultura brasileira, tanto é que te-

mos políticos corruptos, porque a população é corrupta. A culpa é nossa”. Para a socióloga Daniela Alves, algumas questões de desrespeito à legislação vigente fogem ao domínio do direito. “Na questão do estacionamento público, por exemplo, tem que se pensar que as cidades não estão preparadas para esse grande número de carros. O direito, como algo que deve sempre ser preservado, muitas vezes entra em contradição com questões públicas e ninguém tem interesse em pensar nas questões públicas”, comenta. Na sociedade brasileira, conforme a visão de Gabriel, há uma “inflação legislativa”. A grande quantidade de normas, que são muitas vezes desconhecidas pelos próprios legisladores, contribui para a sua falta de aplicabilidade e ineficiência. Gabriel Pires acredita que, com o tempo, as pessoas assimilam determinadas regras e elas deixam de ser leis. Sendo assim, no futuro será possível reduzir seu número, mas não acabar com elas, porque sem legislação a sociedade não se mantém – vira um caos.

Vandalismo em escolas é crime previsto em código penal Sávio Lopes

Desde a pichação no muro até o rabisco na carteira, todo ato de deteriorar bens alheios pode ser considerado vandalismo. Nas escolas, a ocorrência do vandalismo afeta diretamente a estrutura da instituição e os demais alunos. Livros danificados, mesas quebradas, muros riscados – todos esses estragos físicos dificultam o rendimento do estudante. Segundo os estudos da professora do Departamento de Edu-

cação da UFV, Maria Veranilda Mota, o ambiente deteriorado afeta negativamente o comportamento do aluno e pode, inclusive, gerar atitudes vândalas. Com isso, nota-se um círculo vicioso, pois o meio precário gera a rebeldia, que acaba por causar o vandalismo contra o ambiente físico, o que propicia mais inconformidade. As causas desse comportamento são diversas. Em entrevista para o OutrOlhar, a pedagoga do Coluni, Catarina Alves, e a professora de história da E. E. Emílio Jardim,

Código Penal Artigo 163 - Dano

Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: pena-detenção de uma a seis meses, ou multa.

Edição 22 - Maio de 2010

Stella Maia, relataram que diversos problemas comportamentais nas escolas são derivados da negligência educacional da família. Ambas concordam que há uma transferência de responsabilidades familiares para a escola. Outros fatores são a pressão sobre o aluno, a exigência dos pais, problemas familiares e sociais, segregação e falta de perspectiva. Isso pode determinar um comportamento “transviado” no jovem. Catarina Alves ressalta que, “quando o aluno possui metas e perspectivas de futuro, o seu comportamento é outro”. Stella Maia conta que um problema enfrentado pelo professor ao corrigir o estudante é que, dependendo de como é feito, pode ferir os direitos que constam no Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo ela, a proteção

Sávio Lopes

CARTEIRA PICHADA: exemplo de dano a bem público excessiva faz com que muitos professores não tomem medidas de correção por medo de que a lei se volte contra eles, por mais que a intenção seja a de educar o aluno. No entanto, atos vândalos são

atos criminosos. De acordo com o artigo 163 do Código Penal, “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia” pode causar “penadetenção, de um a seis meses, ou multa” para o infrator.

5


ciência ciência, vida e saúde

Você tem fome de quê?

Comida na escola não é apenas “lanchinho”. A alimentação escolar precisa ser pensada, da compra até o prato Gustavo Paravizo Murilo Araújo

O direito à educação garante a formação de cidadãos e acontece em uma etapa importante da vida, em que o indivíduo está em fase de profundas e decisivas transformações. Um elemento importante nesse processo é, sem dúvida, ter uma alimentação de qualidade, que ofereça ao organismo condições para que ele se desenvolva. Nesse aspecto, a escola desempenha papel fundamental ao fornecer a seus alunos uma alimentação balanceada, rica em nutrientes. A alimentação que chega aos pratos dos estudantes na escola é vendida por empresas de todo o país, que são escolhidas através de um processo de licitação que acontece a cada semestre. Quando chegam à cidade, os alimentos ficam estocados no Setor de Merenda Escolar, que funciona no prédio do Colégio de Viçosa. De lá, os alimentos são encaminhados semanalmente para as escolas, onde as refeições são preparadas (confira mais sobre caminho no infográfico abaixo). Segundo a secretária de educação Vera Saraiva, os alimentos são escolhidos para a compra a partir de pedidos feitos pelos diretores das escolas. Essa lista deve passar pela avaliação de nutricionistas, sendo que, atualmente, a Secretaria conta apenas com duas estudantes estagiárias. Normas estabelecidas pela Lei Federal 11947/2009 e pelas diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, também são pontos de referência

para a escolha dos alimentos. As normas destacam que a alimentação na escola deve ser saudável e balanceada, preocupando-se inclusive com necessidades alimentares específicas nas diferentes faixas etárias dos estudantes (confira mais sobre as leis no box acima). De acordo com dados da pesquisa sobre segurança alimentar nas escolas que tem sido feita pela nutricionista Maria do Carmo Lopes, professora da Universidade Federal de Viçosa e especialista em alimentação escolar, as refeições servidas nas escolas de Viçosa ainda apresentam algumas deficiências. Segundo a pesquisa, algumas medidas simples poderiam ser adotadas para a obtenção de melhores resultados: adição de uma

laranja à refeição proporcionaria melhor atendimento às necessidades de vitamina C, por exemplo. Outra sugestão da pesquisadora é acrescentar na alimentação um copo de leite ou iogurte logo ao início do dia. Quem Fiscaliza A legislação brasileira também determina os responsáveis por fazer a fiscalização dos alimentos consumidos nas escolas. Essa tarefa cabe ao Conselho de Alimentação Escolar, o CAE. Esse órgão existe nas três instâncias da administração da educação pública (federal, estadual e municipal), e em Viçosa é composto por representantes dos poderes Executivo e Legislativo, além de representan-

tes dos professores, dos pais dos alunos e da sociedade civil. O conselho acompanha a aplicação dos recursos enviados ao município para a compra dos alimentos da escola. Além disso, os seus membros devem estar preocupados com a qualidade dos produtos, “desde a aquisição até a distribuição, observando sempre as boas práticas higiênicas e sanitárias”, como determina a Lei Municipal 1.431/2001. Para isso, os conselheiros devem, visitar periodicamente as escolas e o Setor de Merenda Escolar, para avaliar o tipo de armazenamento dos alimentos, sua qualidade e validade. Nesse processo, é fundamental o contato com a Vigilância Sanitária local.

Devem também incentivar os diretores a capacitar os responsáveis pelas cozinhas das escolas, a fim de garantir melhor fiscalização, conservação e aproveitamento dos alimentos fornecidos. É preciso também que os alunos e as suas famílias contribuam com a fiscalização da comida que chega ao prato do estudante. Além disso, é importante acompanhar os vários órgãos da administração das escolas, desde as diretorias, até a Secretaria de Educação, passando pelo Setor de Merenda Escolar e pelo Conselho de Alimentação Escolar, que devem levar em conta os interesses de pais e alunos, além de trabalhar para que a preocupação com uma alimentação se torne um hábito.

Após o preparo, o alimento vai direto para os pratos de alunos de 21 escolas e 18 centros de eucação infantil viçosenses

Quando a comida é entregue nas escolas, o responsável pela cozinha deve conferir o pedido e verificar os prazos de validade

Ilustrações: Murilo Araújo

O caminho da alimentação escolar em Viçosa

6

O Departamento de Material da Prefeitura abre licitação semestralmente para o fornecimento de alimentos às escolas

As empresas selecionadas entregam os alimentos três vezes por semestre no setor de merenda escolar, que fica no Colégio de Viçosa

Os alimentos ficam armazenados e posteriormente são distribuíos semanalmente nas escolas, de acordo com pedidos dos professores

Edição 22 - Maio de 2010


vida e saúde A saúde começa pela boca ciência, vida e saúde

A higiene bucal pode contribuir tanto na prevenção de doenças quanto na melhoria estética e da vida social do indivíduo Murilo Araújo

Camila Campanate Kelen Ribeiro

O nosso hábto alimentar diário inclui diversas refeições, como café-da-manhã, almoço, lanches e jantar. Mas entre essas refeições, uma prática é muito importante: a higiene bucal. Muitas pessoas não escovam os dentes após se alimentarem. Esse desleixo geralmente não acontece por falta de orientação dos pais. De acordo com a dentista Gisele Lourenço, a educação da limpeza dos dentes deve ser feita no início da vida, cuidando da boca dos bebês, mesmo que estes ainda não tenham dentes ou a formação dentária não esteja completa. Segundo a dentista, a simples prática dos pais de soprar a comida ou o leite do bebê já permite o primeiro contato da criança com a bactéria da cárie. Às vezes, os pais não consideram que o cuidado com os dentes de leite dos filhos tenha efeito a longo prazo e não se preocupam com a higiene bucal das crianças “Muitos pais não dão a importância a dentição de leite, mas ela é muito importante, pois segura o espaço e induz a erupção dos dentes permanentes”, enfatiza Gisele.

TÉCNICA em higiene bucal dá dicas sobre escovação Cáries e doenças bucais podem surgir desde o aparecimento dos primeiros dentes. Por isso, a criança deve ser treinada para que saiba escovar seus dentes corretamente e sozinha. Esse treino deve começar aos dois anos. No entanto, é preciso ajuda e supervisão dos pais durante todo o processo, pois, além de as crianças não possuírem uma coordenação motora completamente desenvolvida para uma limpeza perfeita, existe o risco de ocorrerem acidentes durante o manejo da escova. A criança pode assumir sua

própria escovação entre os 8 e 9 anos de idade. O porteiro Silvério Corrêa tem um filho de cinco anos e diz que auxilia e realiza a higiene bucal da criança desde que ela nasceu: “Minha esposa e eu usávamos uma escovinha de dedo para limpar as gengivas quando ele era bebê. Hoje ele está maiorzinho e eu fico na cobrança o dia inteiro, principalmente depois que ele come”, afirma o pai. Ele também diz que leva o menino ao dentista a cada seis meses para fazer limpeza e tratamento dentário, pois acre-

dita que assim qualquer eventual problema pode ser prevenido. Essa falta de orientação e costume da limpeza dos dentes pode também ser causada pela falta de orientação e costume dos pais. Quando eles não dão um bom exemplo, o filho acaba não seguindo os passos de limpeza que se devem ter com os dentes. As crianças das escolas públicas de Viçosa, por exemplo, são orientadas a realizar a higiene bucal, mas, quando chegam a suas casas, os pais acabam não fazendo um trabalho contínuo dessa prática que é feita nas escolas. “Essa higienização deve ser feita nas escolas mesmo, mas os pais também devem ser chamados para reforçar esse hábito, porque não adianta orientar as crianças se os pais têm hábitos errados”, comenta a dentista. A má higiene bucal não afeta só a boca. Alguns problemas no estômago ou até mesmo uma infecção urinária podem ser causados por descuido com a região bucal. Segundo a técnica em higiene dentária Rita de Cássia Cardoso, alguns pacientes vão ao médico para tratar de alguma infecção ou doença e acabam não descobrindo a cura e, por isso, são encaminhados aos dentistas. “O que aconte-

ce na maioria das vezes é que esses pacientes não têm boa higiene bucal”, afirma a técnica. De acordo com a Secretaria de Saúde de Viçosa, há dez anos, o índice era de cinco cáries por pessoa. Há 6 anos, esse número caiu para 3,5. Já na última pesquisa, este valor correspondeu a menos de uma cárie por habitante. Cuidar e preservar os dentes não são tarefas difíceis e não custam caro para o bolso. Uma simples pasta de dente, um fio dental e uma escova de cerdas macia e cabeça pequena já são suficientes para se ter uma boca saudável e limpa. Gisele reforça que as pastas comuns possuem o mesmo efeito nos dentes, mas devem ser utilizadas corretamente para dar um bom resultado. “No geral, qualquer pasta dental pode ser usada, porque o intuito dela é auxiliar a higienização”, comenta Gisele. Dentes bonitos e saudáveis também são importantes para a vida social das pessoas. “Conseguir algum emprego, trabalhar como vendedor, namorar... a boca bem cuidada tem uma função social”, destaca Rita. Quando se cuida bem da boca, a saúde e o sorriso refletem a auto-estima e amor próprio de uma pessoa.

A higiene nas palmas das nossas mãos Felipe Pinheiro

Muitas vezes, na correria de todos os dias, fazemos algumas coisas meio que sem prestar muita atenção e sem creditar a sua devida importância. Quer ver? Lavar as mãos, tomar um banho, cortar as unhas, pentear o cabelo, limpar os ouvidos... são atividades quase que automáticas em nossas vidas. Ações rotineiras, que não devem ser abandonadas. Muito pelo contrário! Devem receber cada vez mais a nossa atenção para levarmos uma vida mais saudável e preventiva em relação a doenças e infecções. Edição 22 - Maio de 2010

O cuidado com nossa saúde começa na atividade mais básica e rotineira, o lavar das mãos. De acordo com a técnica em enfermagem da Divisão de Saúde da Uni-

das unhas, por exemplo, pode inclusive causar contaminação com doenças parasitárias intestinais - inclusive a famosa “Solitária” -, que podem causar diarreia, vômi-

Sem uma higienização adequada das mãos, podemos contrair diversos tipos de doenças versidade Federal de Viçosa, Lúcia de Faria, “o principal cuidado que devemos tomar é a lavagem das mãos. Lavar antes e após as refeições e também depois de utilizar o vaso sanitário”. A má limpeza

tos e até quadros mais graves. Com uma higienização inadequada das mãos, podemos contrair diversos tipos de doenças quando a mão infectada entra em contato com a boca, os olhos ou até em ali-

mentos que ingerimos ou algum objeto que, por descuido, brincamos de mordê-lo. Além do mais, com as mãos sujas podemos prejudicar várias outras pessoas, pois ajudamos a espalhar os micróbios para vários outros ambientes. Mas isso é só o começo dos cuidados que devemos tomar. Outras medidas também são fundamentais na prevenção de doenças e infecções, como “lavar bem e pentear os cabelos. Cuidar da higienização dos pés, esfregando-os bastante durante o banho e deixando-os bem sequinhos após a choveirada”, como explica Lúcia. Claro que nem é preciso falar

daquele famoso “bom banho”, né? De acordo com a técnica em enfermagem, uma pessoa que não toma um banho direito está propícia a ter doenças de pele, coceiras no corpo, assaduras e a própria contaminação com doenças. Para aqueles que ainda não se antenaram aos cuidados com sua higiene pessoal, fica a dica de Lúcia: “tomar banho todo dia, lavar as mãos sempre! Lavá-las nunca é demais, lave o quanto quiser e sempre que possível, não faz mal. Só de tomar esses cuidados básicos já se evita bastante a contaminação com doenças e melhora a sua qualidade de vida”.

7


cidade Fora de base cidade

Reportagem Especial

EDU CA ÇÃO

Da editoria Cidade

Uma segunda casa é a forma como muitos definem a escola. Pode até parecer exagero, mas basta calcular pra ver que boa parte do tempo de sua vida você passa sentado no banco da sala de aula, jogando bola na quadra, pesquisando na biblioteca, lanchando no refeitório, paquerando no pátio... Para a professora do Departamento de Educação da UFV, Maria Veranilda Mota, a importância de uma infraestrutura adequada nos colégios se deve ao fato de que é neles que as pessoas se desenvolvem. “O espaço escolar tem uma influência forte na formação dos indivíduos. Ele pode contribuir para educar ou deseducar”, diz a professora, que trabalhou quase dez anos no nível básico antes de começar a dar aula em universidades. “Platão e Aristóteles ensinavam até debaixo de árvores. Claro que os tempos mudaram, mas o conhecimento não requer um ambiente chique. Isso é bobagem”, afirma a diretora da Superintendência Regional de Ensino do Estado de Minas Gerais (SRE-MG), Ana Maria Gomes. Em seguida, a diretora completa que não pode negar que o espaço físico motiva os alunos. “Todos nós queremos um espaço bonito e agradável, até mesmo para aumentar a autoestima”, disse em entrevista concedida na sede da Superintendência, em Ponte Nova, no dia 8 de abril. Dos vários ambientes escolares, é na sala de aula que os alunos permanecem o maior tempo (ou deveriam). Se os estudantes não gostam de ficar sentados nas cadeiras ouvindo o professor falar, os da escola Raul de Leoni têm motivos reais para se queixar, ainda mais no verão. A lateral das salas foi feita com metalon (uma espécie de lata), que, por ser bom condutor de energia, esquenta muito no calor, a ponto de ninguém conseguir sentar perto da “parede”. Agora, no primeiro semestre do ano, o problema é outro. “Os alunos reclamam que está escuro, que está frio”, conta a professora

8

A equipe de reportagem do OutrOlhar percorreu todos os colégios regulares e públicos de ensino médio de Viçosa e um de São José do Triunfo e encontrou falhas na infraestrutura. Confira nesta reportagem especial como estão os ambientes frequentandos pelos estudantes da cidade. Colaboraram Camila Caetano, Caroline Lomar, Daniel Fernandes, Erik Oliveira e Rodrigues Alves. Camila Caetano

BURACO na sala de aula da Escola Raul de Leoni é tampado com colchões pelos alunos

“Quase arranquei a

tampa do meu dedo aí Maria Aparecida Fialho Diretora da escola

Eduardo Gomes Aluno do tempo integral

“O buraco não atrapalha o

aprendizado. Cabe ao professor enfeitar a sala para disfarçar a feiura

“Nunca chegou essa informação aqui. Se tivesse chegado, eu tinha providenciado para arrumar

Ana Maria Gomes Diretora da Superintendência

O OUTRO LADO

Superintendência culpa direção das escolas A diretora da Superintendência Regional de Ensino do Estado de Minas Gerais, Ana Maria Gomes, explicou ao OutrOlhar que a maioria das falhas apontadas na reportagem são consequências da má gestão de alguns diretores escolares.

Segundo a SRE-MG, cada escola recebe uma verba denominada de manutenção e custeio para resolver problemas como troca de lâmpadas, compra de materiais como papel higiênico e conserto de equipamentos dos laboratórios, por exemplo.

O repasse de dinheiro é calculado pelo número de alunos. Em escolas mistas de ensino fundamental e médio, como as que a equipe de reportagem visitou, o governo manda R$ 21 para cada aluno regular. Por ano. Dividido em três parcelas.

de geografia da escola, Elaine Rodrigues. Muitas salas não têm o número de lâmpadas necessárias, o que deixa o ambiente escuro. Para sair da rotina das salas, muitos professores preparam aulas para os laboratórios. Quando eles existem nas escolas, a maioria (tanto os de física, química e biologia quanto os de informática) não comporta o número de alunos. A professora de biologia do Raul de Leoni, Cléa de Oliveira, disse não preparar muitas aulas para o laboratório porque não tem como caber mais de 40 alunos no espaço. Outro problema é o número de equipamentos. Professora de química da escola Effie Rolfs, Lúcia Soares reclama da falta de materiais e reagentes, o que faz com que só ela faça os experimentos. Os alunos ficam só observando. Ana Maria explica que os laboratórios não foram construídos para suportar uma turma inteira. O certo, segundo a diretora da SRE-MG, é que a turma seja dividida em duas: uma metade fica na sala de aula, tendo aula teórica, e a outra vai para o laboratório, para ter aula prática. Por outro lado, ela acredita que “se é um bom professor de física, química e biologia, ele tem como trabalhar muito, não precisa ter um laboratório de última geração”. Pouco espaço e falta de materiais também são comuns nas bibliotecas. Na escola Santa Rita, ela simplesmente não existe. A biblioteca do colégio, assim como a sala de professores, se transformou em sala de aula. Segundo Ana Maria Gomes, a Superintendência tem conhecimento do problema e já começou o processo para que se construa mais duas salas de aula. Os problemas de infraestrutura também entram em campo, literalmente, nas aulas de educação física. A diretora da SRE-MG reconheceu que “uma quadra coberta não é luxo, mas uma grande necessidade”, já que as condições do tempo, muitas vezes, impedem que as aulas de educação física aconteçam. Em Viçosa, porém, só a escola Dr. Raimundo Alves Torres (Esedrat) tem quadra coberta. Edição 22 - Maio de 2010


cidade

Minha escola, minha vida

cidade

Veja exemplos dos problemas de infraestrutura encontrados nas escolas de ensino médio de Viçosa

LABORATÓRIO

Camila Caetano

BANHEIRO Camila Caetano

Os alunos da escola Raul de Leoni só podem ir ao banheiro quando chegam, na hora do recreio e ao término das aulas. “Não tem porta, não tem papel higiênico, não tem lixo, não tem espelho”, reclama Thays Gabrielle, alunba do 2º ano

Rodrigues Alves

QUADRA Em Triunfo, a quadra está servindo como canteiro de obras. O professor de educação física, Cristiano de Oliveira, disse que as atividades físicas, para desgosto dos alunos, foram substituídas por jogos de tabuleiro e vídeos, dentro da sala

Dos 19 computadores do laboratório de informática da escola Raul de Leoni, quatro funcionam. Alunos e professores dizem que o espaço não é usado durante as aulas. A diretora explica que o laboratório serve para um curso de editoração

BIBLIOTECA

Camila Caetano

SALA DE AULA

Rodrigues Alves

A bibliotecária da escola Raul de Leoni, Ana Barros, disse não ser possível a criação do “cantinho da leitura”. “Teria que ter um lugar maior, para abrigar mais alunos”

Camila Caetano

QUADRA?

Algumas turmas da escola Raul de Leoni fazem deste pátio uma quadra para a prática de esprotes. “Não posso dar volei e futsal. Tem que improvisar com chinelo e giz”, disse Márcia Fortes, professora de educação física. Edição 22 - Maio de 2010

Na escola José Lourenço, os vidros estão quebrados, e os alunos, para ligar o ventilador, juntam as pontas de fios desencapados

9


cidade cidade

As condições físicas das escolas

Camila Caetano

Avaliação feita pelo OutrOlhar levou em conta critérios como iluminação, ventilação, conforto, limpeza e funcionalidade Daniel Fernandes

Effie Rolfs

Banheiros Biblioteca Laboratórios Quadra

Biblioteca

Biblioteca Laboratórios Quadra

Refeitório

Refeitório

Salas de aula

Salas de aula

Enem: 5742º lugar

Enem: 11610º lugar

Camila Caetano

Esedrat

Banheiros

Santa Rita de Cássia

Banheiros

Laboratórios

Camila Caetano

Raul de Leoni

Quadra Refeitório Salas de aula Enem: 10689º lugar

José Lourenço

Rodrigues Alves

Banheiros

Quadra

Refeitório

Biblioteca

Laboratórios

Salas de aula

Enem: 11972º lugar Banheiros Biblioteca Laboratórios

Alice Loureiro

Daniel Fernandes

Quadra Refeitório Salas de aula Banheiros

Quadra

Biblioteca

Refeitório

Laboratórios

Salas de aula

LEGENDA:

10

Ótimo

Bom

Regular

Enem:

Enem: 15473º lugar

*

Ruim

Não existe * A escola não aparece no ranking do MEC pelo baixo número de inscritos no exame Edição 22 - Maio de 2010


cidade cidade

Corredor vira sala de aula em Triunfo A escola tem salas com vidros quebrados e fios desencapados. Faltam refeitório, laboratórios e um espaço para a biblioteca Reportagem Especial

EDU CA ÇÃO Rodrigues Alves Erik Oliveira

Cláudia de Souza conta que uma vez apareceu uma barata na “caixinha de fósforo” e ninguém segurou a correria das alunas e da professora. A “caixinha de fósforo” é como Cláudia e os colegas, alunos do 3º ano do ensino médio, da turma da manhã, da escola José Lourenço, chamam a sala onde estudam. O colégio fica no distrito de São José do Triunfo, a 11 quilômetros de Viçosa. A sala foi improvisada num beco da escola (ver foto). Dos dois lados, ela faz divisa com duas salas, cujas janelas abrem para dentro da “caixinha de fósforo”. Na frente, um madeirite (tipo de madeira prensada usado para cercar locais de obras) que não alcança o teto serve de parede. Era para ser uma sala improvisada, mas ela já funciona na escola há três anos.

O frio, o cheiro de mofo e, principalmente, o barulho dos alunos das salas ao lado, são as principais reclamações daqueles que estudam no local. A professora de biologia Rita Moreira se queixa do quadro, que não escreve direito por ser velho, e de um espaço mínimo obrigatório inexistente entre as carteiras. A diretora da Secretaria Regional de Ensino de Minas Gerais (SER-MG), Ana Maria Gomes, disse desconhecer a existência da “caixinha de fósforo”. Durante a entrevista, num primeiro momento, ela achou que a sala fosse improvisada por conta da reforma que a escola está passando. A reportagem, porém, alertou que a sala funciona desde 2007 e que não tinha previsões para deixar de existir mesmo depois da reforma. Segundo a diretora, é preciso levar em conta o aumento no número de alunos no ensino médio. A engenheira civil da Superintendência, Daniela Silva, diz que a escola já passou por uma ampliação de quatro salas há pouco tempo. Segundo ela, a sala continuou funcionando no beco, mesmo depois da ampliação, porque o número

Rodrigues Alves

IMPROVISADA, sala de aula funciona há três anos num beco da E. E. José Lourenço de Freitas de alunos aumentou. Mesmo dizendo que nada justifica a sala, a diretora apresentou outra explicação. “Os funcionários são distribuídos pelo número de turma. Então, formam turmas pequenas como essa para ter muitos funcionários. Se enxugassem

Estrutura modelo traz bons resultados Daniel Fernandes

Caroline Lomar Daniel Fernandes

Professores qualificados e com dedicação exclusiva, processo seletivo para entrada e infraestrutura modelo. Para a diretora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (Coluni), Eunice Bittencourt, esses são os fatores que fazem da instituição o melhor colégio de ensino público do país, segundo o MEC. Os alunos contam com uma estrutura inimaginável para a maioria das escolas de todo o país. Localizado dentro do campus da UFV, o Coluni oferece a seus estudantes laboratórios de química e biologia, a biblioteca central da universidade, quadras do Departamento de Educação Física e também o Restaurante Edição 22 - Maio de 2010

ALUNOS DO COLUNI se encaminham para as salas de aula Universitário. Resultado: cerca de 90% dos seus alunos são aprovados na UFV e tem alto índice de aprovação em vestibulares de outras instituições de renome, como UFMG, USP e Unicamp. “Ainda existe um grande abis-

mo entre o Coluni e as demais escolas. Infelizmente, colégios estaduais e municipais não possuem as mesmas condições que nós. A curto e médio prazo é difícil imaginar essas esferas de ensino em igualdade”, afirma Eunice.

a escola e colocassem, como a lei provisoriamente, numa sala que é, manda, de 25 a 30 alunos, a escola ao mesmo tempo, sala dos profesficaria mais organizada”. sores, laboratório de informática e Após o alerta do OutrOlhar, biblioteca, sendo que nenhum dos desde o dia 23 de abril, a “caixinha espaços funciona adequadamende fósforo” não comporta mais te. “A biblioteca é um espaço de os alunos da escola José Louren- leitura e pesquisa, trabalho extraço. Eles foram transferidos para turma. Em casa não há incentivo, uma sala que foi planejada para a escola não oferece também”, laser laboratório de química, física menta a professora de português e biologia. A diretora do colégio, Tânia Almeida. A quadra está Rozelene Ferreira, conta que o es- servindo de canteiro de obras. Os paço sempre foi alunos, mesmo usado como sala depois da reforNada justifica de aula desde a ma, vão conticonstrução. Nes- essa sala. Olha nuar sem lugar te ano, porém, para comer, a direção estava o custo desses porque não está planejando fa- alunos e o previsto a conszer com que o trução de um laboratório fun- sacrifício dessa refeitório. cionasse. No professora A direção entanto, desde disse que no ano Ana Maria Gomes quando a cozipassado quatro Diretora da Superintendêcia nha foi fechada professores saípara reformas, o que era para ser ram da escola por falta de condilaboratório estava servindo como ções mínimas de trabalho. Seguncozinha improvisada. Agora, por do o vice-diretor José Roberto de exigência da SRE-MG, a cozinha Freitas, o estado da escola afeta a foi para o pátio até que as reformas perspectiva de futuro e o aprendiestejam concluídas e o laboratório zado porque “gera nos alunos involtou a servir como sala. disciplina e desleixo com a escola”. A reportagem constatou que os E completa: “Eles só esperam conproblemas de infraestrutura não seguir o diploma de ensino médio. se restringem à “caixinha de fósfo- Eu falo: ‘A UFV está ali e vocês joro”. A biblioteca está funcionando, gam a oportunidade fora’”.

11


entrevista ?

entrevista

Juventude em alerta Conheça os principais temores dos adolescentes de ensino médio Lucas Guerra Hélio Assa-Fay

Ter medo é natural. Quem de nós nunca sentiu a angústia de não ter aquele amigo por perto, de não ser capaz de realizar aquele trabalho da escola ou até mesmo de não conseguir realizar nossos sonhos. Isso é normal na juventude. E tem sua explicação. As escolhas e decisões tomadas agora, nessa fase da vida, são fundamentais para definir o futuro dos jovens – será que essa foi a decisão certa? Em volta a muitas incertezas, os adolescentes se pautam de apreensões. O OutrOlhar realizou uma enquete com alunos do ensino médio para descobrir quais são suas maiores preocupações. Hélio Assa-Fay

Vestibular e rendimento escolar são os maiores temores apontados pelos jovens em relação ao futuro. Além de escolher uma carreira profissional, toda a preparação do ano será refletida em uma prova. Para a estudante Ana Carolina, do 1º ano, passar no vestibular é sua maior preocupação, pois se prepara desde já para cursar medicina. Segundo a aluna, para alcançar essa meta é necessária, também, uma excelente preparação dos professores, algo que para ela falta na escola. “Alguns professores estão vindo muito despreparados para dar aula para a gente”, afirma. A família vem logo em seguida. Os medos variam entre perder entes queridos, brigar com pais e construir família. A estudante Ingride Gouveia, diferentemente, vê

no distanciamento da família uma de suas apreensões. “Dependendo do curso que vou fazer, ter que me afastar da minha família é uma coisa que me preocupa”, diz. Ter os amigos sempre por perto e não perdê-los após o término dos estudos também é constante preocupação nos relatos dos jovens. O fim de todo período escolar após a graduação do ensino médio e a nova vida que os aguarda nas universidades são as principais razões para os adolescentes temerem o distanciamento dos colegas. Mariane Pena vai além. Para ela, a saúde de seus amigos é também algo que preocupa. “Tenho medo de perdê-los ou de vê-los muito doentes”, confessa Relacionamento foi outro assunto levantado. A adolescência é

o momento dos primeiros namoros, do surgimento de concepções sexuais, do receio de se afastar dos amigos ao namorar. Para Estefany Rodrigues, ter um bom (ou bonado) namorado é fundamental. “Uma de minhas preocupações é arranjar um homem bem rico”, conta a estudante. O medo de não conseguir um bom emprego é algo que também afeta os jovens. As exigências do mercado de trabalho, a necessidade de qualificação profissional e a obrigação de trabalhar caso não seja aprovado no vestibular são as causas desse temor. Segundo Reginaldo Lino, ter o futuro profissional impedido por não ter chance de estudos melhores é algo que teme. “Seria complicado não ter oportunidade para conseguir

um bom emprego”, diz. A solidão também foi tema de destaque. As preocupações são as de ficar sozinho, longe dos amigos e da família, sem companhia ou apoio das pessoas queridas. Para o estudante César Medeiros, não ter ao seu lado alguém com quem possa contar o preocupa bastante. “Tenho medo ficar sozinho e, quando precisar de alguém, não ter ajuda das pessoas que eu gosto”, comenta. Vestibular, família, amigos, relacionamento, futuro profissional ou solidão. Sejam quais forem seus medos, preocupar com aquilo que nos interessa é fundamental. Entretanto, mais importante ainda é aceitar e enfrentar esses desafios; saber sempre tirar algo de positivo de cada um deles.

Psicóloga explica... Como um psicólogo avaliaria as preocupações dos jovens? Quais as razões que explicariam os medos dos adolescentes? Para esclarecer e analisar as respostas dos adolescentes, o OutrOlhar conversou com a Professora de Psicologia da Educação Rita de Cássia de Sousa. Ela discute sobre o tema e aponta motivos para os temores dos jovens, medos que são naturais nesta fase da vida.

OutrOlhar: Você se surpreendeu pela maior preocupação do jovem ser o vestibular? Rita de Cássia Souza: Eu acho que, por estarmos em uma cidade universitária, a UFV torna-se uma referência para todas as escolas. Não sei se esse resultado seria o mesmo em outra cidade. Dessa forma, é criada uma relação de status no fato de se estudar na UFV. A cidade tem uma universidade gratuita, o que aumenta ainda mais o imaginário do jovem em relação a ela. A exaltação excessiva do vestibular feita pelas escolas tornase uma preocupação constante para o jovem? Hoje as escolas formam os alunos para o vestibular e para o mercado de trabalho. Eu acho um equívoco, coloca-se nas escolas que passar no vestibular é si-

12

nal de felicidade. Mas a passagem por uma universidade reconhecida não é garantia de sucesso, nem mesmo de bom emprego. Acredito nas inteligências múltiplas. Cada um tem o seu talento. Isso é o que deve ser valorizado. De que forma a psicologia e as escolas podem ajudar o adolescente nesses medos? A psicologia, hoje, visa encontrar no jovem as inteligências múltiplas, onde ele realmente é bom. É isso o que deve ser valorizado. Deve-se criar no jovem a ideia de que ele é capaz, incentivando-o sempre. Muitas vezes a família projeta nos jovens aquilo que ela deseja, e não o que os adolescentes desejam. Essa pressão familiar sobre a decisão do futuro pode criar angústias? A gente deve buscar nossa es-

sência. A família deve respeitar a essência de cada um. Talvez o que o jovem queira fazer, aquilo que o torne realizado quanto pessoa, não é o que os pais querem. A família deve ter amor incondicional. O adolescente deve ser o que o torne feliz, realizado, não importa o que faça. Por que o medo da solidão? Nós somos sujeitos sociais. Prestamos mais atenção em tudo que é humano. Necessitamos do toque, do olhar, do carinho, da companhia de outra pessoa. Isso é fundamental para a vida. Então, a necessidade de um convívio social tem a ver com nossa própria sobrevivência. Buscamos convívio social, ser estimado, admirado. Dessa forma, a solidão traz muita angústia. Por isso temos essa preocupação de estar sozinho.

Edição 22 - Maio de 2010


entrevista

entrevista

Os livros estão desorganizados, não há bibliotecária e a limpeza deixa a desejar Jordana Diógenis

Além de incentivar a formação de leitores, as bibliotecas atuam como um espaço social que estimula e sustenta um dos princípios da escola: formar cidadãos conscientes, autônomos e críticos. Segundo a professora Elisa Cristina Lopes, do Departamento de Letras da UFV, “quem lê tem formação e capacidade cognitiva muito aguçada. Defendo estratégias de melhorias do ensino nas escolas através da biblioteca.” A Biblioteca Municipal de Viçosa está localizada no Espaço Cultural da Estação Ferroviária, próxima ao balaústre, no centro da cidade. Durante visita ao local, a reportagem do OutrOlhar observou a ausência da placa de bronze que a identifica como patrimônio público. Segundo a funcionária da Biblioteca, Regina Alves Pinto, a placa foi roubada no segundo semestre de 2009 e a prefeitura ainda não providenciou outra. Deficiências como a “desorga-

Em enquete com estudantes do ensino médio da E. E. Effie Rolfs, o OutrOlhar descobriu que a localização e o ambiente silencioso da Biblioteca são os principais atrativos para esses visitantes. A Biblioteca Municipal de Viçosa conta com cerca de 8 mil livros em seu acervo e possui em torno de 3 mil usuários cadastrados.

nização do acervo, a inexistência do cargo de bibliotecária no quadro dos funcionários municipais, a falta de sinalização e inacessibilidade ao local, a obsolescência de equipamentos, o uso inadequado de seu entorno e o descuido com a limpeza” foram observadas pela professora Elisa Cristina, em 2008, durante uma exposição realizada na Biblioteca Municipal de Viçosa sobre o centenário da morte de Machado de Assis. Para revitalizar o espaço, a professora coordenou durante o ano de 2008 o projeto Biblioteca Viva, que pretendia integrar a Biblioteca Municipal às escolas, por meio do entretenimento e da criação de

Dentre as queixas dos estudantes da Effie Rolfs, foi dito que alguns livros são muito velhos e que reformas poderiam ser feitas para expandir a Biblioteca e torná-la mais aconchegante e confortável.

eventos culturais que atraíssem a comunidade viçosense. No entanto, segundo Elisa Cristina, o projeto faliu neste ano, por falta de apoio e de incentivo da Prefeitura de Viçosa. “Ela faltou no sentido de não contratar bibliotecários. Os profissionais que trabalham lá não possuem essa especialização. Isso acabou impedindo a realização de nossas metas, como a criação de um regulamento para a Biblioteca”, comenta. Para a professora, é compromisso da instituição pública elaborar e executar políticas que incentivem a leitura, pois, para ela, a biblioteca deve agir como um espaço de lazer para todos.

Programa Formando Leitores Segundo a secretária municipal de Educação, Vera Saraiva, a prefeitura aderiu ao programa Formando Leitores, um projeto da Secretaria de Cultura do Estado que pretende reformar e reavivar a Biblioteca. Entre as propostas estão a organização do acervo de livros, bem como a obtenção de novas obras; a capacitação dos funcionários na área de biblioteconomia; a informatização e a instalação de computadores; a reforma e a ampliação do espaço da Estação Cultural; e a obtenção de novos móveis e de nova placa de bronze. O projeto será iniciado ainda este ano.

Sobram cachorros nas ruas de Viçosa Murilo da Luz

Lucas Gadbem

Que os animais de rua causam problemas e transtornos para Viçosa, como já foi mencionado na matéria “Meu amigo cão”, publicada na edição nº 11 em julho de 2007, muita gente já sabe. O que poucos sabem é que existe uma instituição responsável por acolher e proteger a bicharada. A Sovipa (Sociedade Viçosense de Proteção aos Animais) é um órgão de funcionamento voluntário que busca dar abrigo aos cães e gatos de rua e mantê-los alojados até que alguém se disponha a adotá-los. Cerca de 200 animais estão alojados na Sovipa. Os cães e gatos consomem pelo menos 100 sacos de ração por mês. Parte deste montante é doado pela prefeitura. O associado da Sovipa, Augusto Mosander, afirma que os gastos vão além da alimentação. “Temos, por exemplo, remédios, Edição 22 - Maio de 2010

MUITOS CACHORROS vivem abandonados nas ruas de Viçosa tratamento de combate a pulgas e carrapatos, limpeza dos canis que são formados por uma área coberta com casinhas de madeira e uma parte ao ar livre, coberta de terra e grama, para que os animais exercitem-se, façam suas necessidades, banhos, em alguns casos alimentação especiais”. Ao retirar os animais da rua, são tomadas precauções como cuidados com higiene, vermifu-

A história de Neemias que o livro sagrado desconhece Rodrigues Alves

Biblioteca municipal enfrenta problemas

gação, tratamento contra sarna, alimentação adequada, combate a pulgas e carrapatos e um tempo de observação para apresentação de sintomas de outras doenças. Segundo Augusto, atualmente a entidade não realiza mais o recolhimento dos animais, por falta de espaço e verba. Ele diz que tem sido feita prestação de auxilio básico aos cães e gatos. “Como não temos mais condições de recolher

animais, só podemos mesmo é tentar impedir maus tratos, destino inapropriado dado pela carrocinha, seguimos denúncias e alguns tratamentos básicos para alguns animais como tratamento de sarna para evitar que esta se prolifere para outros animais”, explica Esse quadro, porém, pode ser revertido, desde que as pessoas passem a adotar cães e gatos de rua. Todavia, o voluntário afirma que a procura para adoção de animais é baixa. Ele diz que a vontade de se ter um cachorro ou gato de raça ainda é muito maior. Além disso, poucas pessoas percebem como o animal de rua pode ser dócil, amigo, companheiro e grato aos seus novos donos. Para quem se interessar em colaborar ou adotar um animal , é só entrar em contato com Augusto, pelo telefone (31) 9608-6874 e todas as informações pertinentes serão passadas.

NEEMIAS com sua medalha Rodrigues Alves

O Neemias da Bíblia é copeiro do rei babilônico. Ele larga a profissão para ajudar as pessoas de Jerusalém, lugar onde nasceu. É daí que vem o significado do seu nome: Deus conforta. O Neemias de S. José do Triunfo estuda no 8º ano da escola José Lourenço. Ele se tornou especial para todos do lugar onde sempre morou por receber, no Rio, a medalha de ouro na Olimpíada de Matemática. “Parece até brincadeira: você faz uma prova aqui e depois conhece o Maracanã”, diz. Os pais, José e Leiziane Miguel, não acreditaram quando souberam que o filho conseguiu a 8ª posição entre todos os participantes do país. Leiziane diz que o filho sempre gostou de estudar. “Ele carrega o livro até para o banheiro”, conta. Na escola, é disputado para trabalhos em grupo. Em casa, tem que disputar o PC com Douglas, irmão mais novo, para jogar The Sims. Ele diz que se pudesse escolher seria paleontólogo, mas acha mais viável ser biólogo. Sobre o futuro, Neemias sempre hesita. Pode ser resultado da perda do irmão de cinco anos. Ele se lembra dos socos fraquinhos quando os três irmãos brincavam de lutinha. “Deus não erra. Mas por quê? A gente não entende”, diz o pai. Nesse momento, Neemias faz jus ao nome dele: é um conforto à família Miguel.

13


meio ambiente meio ambiente

Coleta seletiva será implantada em escolas municipais Coordenado pelo SAAE, projeto visa a propagação de valores ligados à consciência ambiental e à cidadania Fotos: Luiz Phillipe Souto

Kamilla Bitarães Luiz Phillipe Souto

Nunca se falou tanto em lixo no Brasil. A chuva que gerou o caos no Rio de Janeiro, e o lixão da favela Bumba, localizado em Niterói, que soterrou dezenas de pessoas e casas, foram destaques nos meios de comunicação de todo o mundo. No caso da cidade de Niterói, o lixo empilhado em forma de pirâmide, sem qualquer tratamento, acabou provocando deslizamento, matando dezenas de moradores que mantinham as suas casas sobre o lixão da favela. E bastou a catástrofe de Niterói ser destaque na mídia para que problemas em outras cidades do Brasil viessem à tona. São casas, escolas e creches em cima do lixo ou próximas às encostas e regiões de risco. Faltam planejamento, e, principalmente, políticas públicas de educação ambiental. Em Viçosa, a questão do lixo também é problema sério. A “cidade educadora”, que tem população de aproximadamente 75 mil habitantes, chega a produzir uma média de 50 toneladas de lixo por dia. Boa parte desse material, como pode ser observada pelas ruas de Viçosa, principalmente na região central, é descartada no chão, em terrenos baldios, e no ribeirão da cidade, o São Bartolomeu, importante manancial do município. Na tentativa de melhorar a realidade viçosense e promover

Curiosidades Um litro de óleo é capaz de poluir 1mi de litros de água A cada 28 toneladas de papel reciclado evita-se o corte de 10 mil m² de floresta A reciclagem de uma tonelada de jornais evita a emissão de 2,5 toneladas de CO2 para a atmosfera 100 toneladas de plástico reciclado evitam a extração de uma tonelada de petróleo Na reciclagem de uma tonelada de alumínio economizase 95% de energia e evita-se a poluição causada pelo processo convencional: redução de 85% da poluição do ar e 76% do consumo de água Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br

MÓVEIS VELHOS e entulho jogados ao lado do balaústre, na região central da cidade a consciência ecológica, o Sistema Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) deu início a um projeto que tem por objetivo a implantação da coleta seletiva nas 21 escolas municipais da cidade. De acordo com a Secretária de Educação, Vera Saraiva, o SAAE já entrou em contato com as escolas para que o projeto seja colocado em prática. A coleta seletiva refere-se à separação e classificação do lixo, objetivando aproveitar tudo o que é reciclável. As escolas da rede municipal de Viçosa receberão novos contêineres para que o lixo seco

Números do Lixo em Viçosa A limpeza da cidade custa, por mês, cerca de R$ 300 mil. No entanto, a arrecadação mensal feita pela prefeitura, para esse fim, gira em torno de R$ 80 mil Em média, mais de R$ 100 mil são movimentados no mercado da reciclagem O lixo transforma-se em oportunidade para muitos. Cerca de 1% da população viçosense se sustenta através dele O papel corresponde a cerca de 90% do lixo descartado nas escolas Em Viçosa, mais de 50% dos materiais potencialmente recicláveis ainda são descartados junto ao lixo da coleta convencional Fonte: Marcos Magalhães, assessor técnico do SAAE

14

ou inorgânico (vidro, papel, metais e plásticos) seja separado do material orgânico (restos de comida, frutas e verduras). Caminhões do SAAE passarão pelas escolas para coletar o lixo seco. O destino desse material será a Usina de Reciclagem de Viçosa. Lá, o lixo será separado pelos catadores, e, posteriormente, vendido para empresas de reciclagem. Nessas firmas, o material passa por um processo de transformação industrial ou artesanal, que possibilita reaproveitálo. Ele deixa de ser lixo para virar matéria prima. O assessor técnico do SAAE, Marcos Magalhães, afirma que o projeto será, primeiramente, voltado à educação ambiental, para que haja uma difusão da consciência ecológica. Essa consciência, segundo o assessor, deve ser trabalhada, inicialmente, com os alunos, para que eles sejam transformados em agentes pró-ativos, não apenas ouvintes, e transmitam, depois, aos pais e a toda família. Para que todo esse processo de coleta seletiva e reaproveitamento do lixo realmente funcione nas escolas, Marcos explica que, antes, são necessários outros tipos de reciclagem, como a “reciclagem da cidadania e do comprometimen-

to”. Para promover essa educação ambiental, o projeto contará com treinamentos e capacitação de profissionais do ensino, para que sejam trabalhados, de forma interdisciplinar, os temas lixo e coleta

seletiva com os alunos. Além de tratar essa temática dentro da sala de aula, o projeto também promoverá peças teatrais nas escolas, abordando o assunto de forma lúdica e mostrando aos estudantes a importância da ecológica.

LIXO ESPALHADO pelo chão invade parte de uma calçada Edição 22 - Maio de 2010


meio ambiente

meio ambiente

Economize dinheiro ajudando o meio ambiente Projeto que ensina a fazer sabão com óleo e gorduras residenciais ganha espaço na cidade de Viçosa Murilo da Luz

Que tal aprender a fazer um sabão sem gastar dinheiro e que ainda ajude o meio ambiente? Pois é, isso já é possível. O Projeto Sabão Ecológico utiliza aquele resto de óleo de cozinha da sua casa para fazer sabão, evitando a contaminação dos esgotos e dos solos, e dessa forma contribuindo para a preservação da natureza. Se na sua cidade existir um sistema para tratar o esgoto, esse óleo jogado pia abaixo pode deixar o processo 45% mais caro. Mas mesmo se não houver, o resto da gordura pode matar alguns animais e plantas que vivem nas tubulações. Estudante de engenharia ambiental da UFV, Matheus Dias vem trabalhando com esse proje-

to desde 2008 nas escolas públicas de Viçosa. Ele fala da importância do sabão ecológico para o meio ambiente. “Nós visamos a conscientização de todos para que as gorduras e óleos utilizados nas casas não sejam levados para o aterro da cidade, e sim transformados em sabão. Fazemos, ainda, palestras sobre educação ambiental, para ajudar a orientar as crianças”, comenta. A iniciativa de fazer o sabão ainda não ganhou apoio de nenhuma empresa ou instituição, mas está funcionando na prática, com as oficinas que são dadas em vários bairros da cidade. Viçosa ainda não possui pontos de coleta de óleo – essa é uma das metas do projeto. Mas, enquanto isso não acontece, são oferecidas oficinas que ensinam a fabricar o

Receita do “Sabão Ecológico” 1) Ingredientes: • 6 Litros de óleo usado e coado • 2 Litros de água (de torneira) • 1 Kg de soda cáustica em escamas; • 2 Copos de desinfetante

dissolver completamente as escamas, cerca de 3 minutos.

2) Precaução: utilize luvas e coloque uma máscara no rosto para proteger o nariz e a boca.

6) Adicione o desinfetante e misture até a consistência de um mingau grosso (15 minutos).

3) Prepare um tabuleiro grande, forrando-o com um pedaço de plástico, para facilitar o desenforme. Reserve-o.

7) Despeje no tabuleiro, espere endurecer (em 4 horas ele estará macio, então corte os pedaços), mas só desenforme após 24 horas.

4) Em um balde de plástico, adicione os dois litros de água fria e em seguida a soda (ATENÇÃO: NUNCA COLOQUE A ÁGUA SOBRE A SODA!). Misture até

Usar o sabão após 3 dias (72 horas), para não causar irritação. Nunca use o sabão para higiene pessoal, apenas para limpeza de roupas e vasilhas.

sabão e, depois, todos podem levar o produto para suas casas, o que é um bom incentivo para quem quer começar a economizar.

Sauás correm risco de extinção Diego Mendes

Vocês sabiam que aqui em Viçosa existem animais ameaçados de extinção? Pois é, a cidade em que moramos vive essa realidade, que também está presente em muitos outros lugares no mundo. Nos últimos anos, o número de macacos sauás na região diminuiu muito, o que de acordo com o núcleo de pesquisas do Museu de Zoologia da Universidade Federal de Viçosa, colocou a espécie no grupo de animais em perigo de extinção. O macaco sauá é popularmente conhecido como Guigo. Esses macacos possuem características peculiares, que os diferem dos demais. Eles têm tamanho médiano, costumam pesar em torno de 1kg e, além de leve, é ágil e rápido. Os sauás costumam viver no topo das árvores e dificilmente descem ao solo. Os macacos sauás se reproduzem em períodos irregulares e, quando nascem, são carregados nas costas do pai até pararem de mamar. Normalmente, animais dessa espécie vivem até os 13 anos de idade. Edição 22 - Maio de 2010

Diego Mendes

O professor de biologia e funcionário do Museu de Zoologia da UFV, Renato Feio, diz que, apesar de estarem em risco de extinção, não existe nenhum projeto específico de proteção aos Sauás. “A gente conta com a boa vontade dos proprietários, o trabalho exercido pela polícia ambiental e principalmente a conscientização da população”. Advogado formado na UFV, Lucas Carvalho SAUÁ empalhado no Museu de Zoologia reforça a importância da conscientização da socie- Minas Gerais. Em Viçosa já é difídade na manutenção da existência cil de achar esses primatas até mesda espécie. Lucas diz que, segundo mo no maior fragmento de mata o artigo 225 da Constituição Fe- atlântica do município, a Mata do deral, “o meio ambiente é direito Paraíso. de todos e sua preservação é dever Para fazer uma denúncia de da sociedade e do Estado”. crime ambiental, recorra ao setor Os macacos Sauás podem ser de agricultura e meio ambiente da encontrados nos estados do Rio prefeitura de Viçosa. O telefone é de Janeiro, São Paulo e sudeste de 3892-5553.

5) Adicione o óleo pouco a pouco, mexendo sempre.

Einstein, paus e pedras Olívia Miquelino

“Não sei com que armas a 3ª Guerra Mundial será lutada. Mas, a 4ª Guerra Mundial será com paus e pedras”. Essa famosa frase foi dita pelo físico alemão Albert Einstein. Aquele mesmo, da foto do seu livro de ciências, com cabelos desgrenhados e língua para fora. Mas por que Einstein resolveu falar sobre as guerras e suas armas? E porque paus e pedras, se tecnologicamente o mundo está cada dia mais avançado? As respostas a essas perguntas estão numa série de pesquisas que Einstein realizou e que possibilitaram a construção de uma das armas mais potentes da história: a bomba atômica. O cientista temia que um conflito travado com armas nucleares poderia significar o fim dos homens. Assim, restaria pouco para um novo conflito e, de fato, os homens de uma 4ª Guerra brigariam com paus e pedras. Parece tão claro que a sociedade caminha a passos largos rumo a novos e surpreendentes avanços, que a primeira vista a frase de Einstein soa distante e na contra mão dos fatos. Mas, hoje, há quem concorde com ele, quem defenda que do jeito que coisa anda, a única solução é mesmo que a sociedade dê um passo para trás. Para o professor de química da UFV, Paulo Gontijo, ou se mudam as

atitudes em relação ao planeta ou se aceita sua destruição. “Ninguém tem que dizer o que o outro deve fazer ou pensar. A conscientização para certas questões deve partir de cada um e não ser imposta por terceiros”. Segundo o professor de física Luiz Marquês, existem estimativas de que daqui há 20 anos a terra abrigará, aproximadamente, 10 bilhões de pessoas. A grande discussão é se o planeta vai suportar. O professor lembra ainda que, hoje, para cada ser humano do planeta, há uma vaca. Esse animal emite metano (CO2) através das suas fezes e gases. Com o aumento populacional, aumenta-se o consumo pela carne bovina e daí por diante é só uma questão de lógica: 10 bi de pessoas + 10 bi de vacas + bilhões de veículos nas ruas + lixões = aquecimento global. Dados como esse têm sido divulgados por diversas ONGs, na tentativa de alertar a população. Uma delas é bem conhecida e aparece sempre na mídia: o Greenpeace. Essa é uma ONG internacional, que possui membros espalhados por todos os continentes. Ela promove debates sobre questões ligadas à proteção do meio ambiente. A ONG prega o investimento em energias limpas, como a solar e a eólica, e traz uma série de alternativas de como viver bem e de bem com o planeta.

15


esportes esportes

Diferentes formas, mesma paixão Jovens de Viçosa contam como prentendem assistir às partidas do maior torneio futebolístico mundial Rodrigo Castro

do, junto ao samba, ao feijão com arroz e à beleza do povo. Quando chega a Copa, a cada quatro anos, chega também a hora de se parar o que se está fazendo para acompanhar o time canarinho. Ver os jogadores mais valorizados do mundo reunidos numa única seleção é um privilégio que só os brasileiros têm. A seleção impõe respeito e medo a qualquer adversário, e por isso é tão mágico o momento em que torcedores se reúnem para vibrar junto ao

Que a Copa do Mundo mobiliza todo o país para assistir aos jogos da seleção brasileira já não é novidade para ninguém. Dizer que “o país para” durante o evento futebolístico já virou um clichê, mas que continua – e provavelmente continuará por muito tempo – válido. Isso porque a população brasileira há muito tempo elegeu o futebol como um de seus representantes culturais no mun-

Eu não vou fazer nada por ser ano de vestibular. Devo assistir aos jogos em casa, com os amigos da república, mas nada de especial. Gustavo Lopes, 17 anos

Fotos: Rodrigo Castro

time. A arquibancada é o seu lugar preferido, mas nem sempre é possível estar presente de corpo e alma junto à seleção. Por isso, excepcionalmente durante o evento, muitos se viram como podem em casa, bares e outros locais para assistir às partidas. Em Viçosa não poderia ser diferente. Quatro estudantes da cidade contam onde e como assistirão aos jogos da seleção brasileira, e enfatizam: quanto mais pessoas, melhor.

Provavelmente eu vou ficar com minha família em casa. A gente sempre para e faz alguma coisa especial para todo mundo: gente de fora, amigos... Raul Pimenta, 15 anos

Eu não gosto muito de futebol não, mas assisto, e pretendo sair pra assistir os jogos. Onde tiver gente é melhor. Tamires Lima, 16 anos

Eu vou ver todos os jogos que eu puder na casa dos outros, lá em casa mesmo, em bares... Se tiver gente pra assistir junto é melhor. Ricardo Amorim, 17 anos

Os cuidados na hora da atividade física Monizy Amorim

Fazer caminhada pela manhã ou no fim da tarde? Qual tipo de roupa é indicado para fazer exercícios físicos? Para desfazer essas e outras dúvidas, o OutrOlhar procurou o Coordenador Geral do Laboratório de Performance Humana do Departamento de Educação Física da UFV, João Carlos Bouzas. O cuidado nas atividades físicas começa no momento de se escolher qual roupa certa para se vestir. O professor afirma que é necessário adequar as vestimentas à temperatura do ambiente onde a prática vai acontecer. Se estiver frio e se for pela manhã, indica-se que se usem luvas, gorro e casaco, para evitar que a pessoa resfrie. Já no verão, quanto menos roupas forem usadas, melhor.

16

Devido à correria do dia-a-dia e pela falta de tempo, o número de “atletas de final de semana” tem aumentado cada dia mais. Que mal pode ter jogar aquela peladinha com os amigos? O professor João Carlos afirma que é necessário se tomar cuidado, pois há maior risco de acidentes cardio-

e corridas, alternando os dias dos exercícios. Uma dúvida muito comum entre praticantes de esporte é se existe um horário apropriado para fazer atividades físicas. Segundo Bouzas, isso é relativo. “Você tem que respeitar o que seu corpo pede por ser melhor para você”, afirma.

Respeitar os limites do nosso corpo é fundamental ao praticar exercícios vasculares, conhecido como infarto, nesses “atletas” do que numa pessoa que não pratica atividade nenhuma. “Jogar bola é bom? É, mas desde que, durante a semana, a pessoa faça outro tipo de atividade, até para gerar uma condição para jogar um futebol de melhor qualidade”, conta. A esses “atletas” o professor indica que se faça, ao longo da semana, musculação

Na verdade, a questão do horário vai de pessoa para pessoa, pois tem gente prefere levantar cedo, enquanto outros têm uma maior dificuldade em pular da cama logo que clareia o dia. A essência para se praticar exercícios físicos é respeitar os limites do nosso corpo. De nada adianta aumentar subitamente a carga das atividades. Segundo o professor

João Carlos Bouzas, os exercícios devem ser feitos de pouco a pouco, pois se não, o corpo rapidamente começa a dar sinais de que algo está errado. “Se a dor aparecer é porque você fez um pouquinho além da conta do que deveria ser recomendado”, diz o professor. A afirmação de que o exercício só faz efeito quando sentimos dor, na verdade não passa de um mito. Um outro cuidado deve ser tomado ao fim das atividades, pois uma parada repentina nos exercícios quando estes estavam acelerados pode causar desmaios. Assim como acontece um aquecimento gradativo à medida que fazemos o exercício, quando vamos parar é preciso que a diminuição também seja gradativa, cinco minutos antes do fim das atividades. Caso você esteja correndo e não pare de uma vez, diminua a velocidade da corrida e depois comece a ca-

minhar mais devagar, para aí sim parar. Ainda hoje muitas pessoas associam a prática de atividades físicas principalmente à perda de peso. No entanto, a realização destes exercícios traz benefícios a muitas áreas da vida, principalmente a saúde. Melhora o transporte de oxigênio no sangue, diminui a possibilidade de problemas cardíacos, diminui as chances de ser hipertenso e diabético.

Duração de um exercício Segundo o professor João Bouzas, o Colégio Americano de Exercício no Esporte indica que as pessoas façam uma atividade diária de 30 minutos de duração

Edição 22 - Maio de 2010


esportes

esportes Monizy Amorim

Vovó

de

| o s e |p

A VIçOSENSE Maria Elizabeth Jorge, mais conhecida como Bete, foi a mulher mais velha a participar dos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000 Mayara Barbosa Thiago Alves

Quem passa por Maria Elizabeth Jorge pela rua pode achar que sua rotina é igual a de uma dona casa ou trabalhadora comum viçosense. Muitas dessas pessoas nem imaginam que Bete, como é mais conhecida, é levantadora de peso e representou a todos nós brasileiros em uma Olimpíada. Em 2000, formando a Comitiva Brasileira, Bete participou das Olimpíadas de Sydney, representando o país em meio aos melhores atletas do mundo. Terminou classificada em décimo lugar, uma ótima colocação considerando que era a atleta mais velha de todo os Jogos, com 43 anos. Mas a história da “Vovó do Peso”, como ficou famosa, não começa com a glória nos Jogos Olímpicos. Maria Elizabeth nasceu em Viçosa, é filha de servidor da Universidade Federal de Viçosa e sempre teve uma vida difícil. Trabalhava lavando roupa para estudantes e era garçonete, mas sempre foi ligada aos esportes. “Eu estudava, lavava 68 quilos de

roupa para fora, trabalhava na pizzaria e corria 30 quilômetros por dia”, relembra. Começou com o handebol e, apesar da baixa estatura, passou pelo basquete, para depois chegar ao atletismo. Chegou a correr várias maratonas e seis Corridas de

aceitou. Ela começou a treinar com 34 anos de idade. Com oito meses de preparação, se tornou Campeã Sul-Americana. Durante todo esse tempo, Bete nunca teve patrocinador ou apoio financeiro. Todas as suas despesas foram pagas com recurso próprio

“Não acreditava que, de lavadeira,

picos foram muito comemorados. Bete se tornou referência no seu esporte e um orgulho para a cidade de Viçosa. Infelizmente, hoje ela não tem todo o apoio nem o reconhecimento que esperava. Bete trabalha com um projeto que treina crianças no levantamento de peso. Embora conduza a atividade com poucos recursos, não desiste de poder mudar a vida dessas crianças através do esporte, podendo dar oportunidades de serem pessoas vitoriosas no esporte e na vida. Ela treina 18 crianças no Clube Municipal de Viçosa. As crianças não precisam pagar para participar. Elas necessitam apenas ter bom rendimento escolar. A importância da atleta foi

eu poderia estar numa olimpíada, representando 190 milhões de pessoas

Edição 22 - Maio de 2010

São Silvestre, mas, pela falta de recursos e patrocínio, acabou não conseguindo grandes resultados. E foi durante seus treinos de atletismo, que o treinador da equipe de levantamento de peso da UFV, o professor David Monteiro, viu seu potencial para a modalidade. O convite para a prática do esporte foi recusado na hora, como conta Bete. “Existia muito preconceito em relação à mulher no levantamento de peso e o medo de ficar muito masculinizada. Isso existe ainda nos dias de hoje”, conta. Entretanto, em 1991, veio o segundo convite. Desta vez, Bete

ou do seu treinador. Sendo mulher, negra e pobre, sofreu preconceitos. Mas, ao mostrar seu talento e seu esforço, vencendo várias competições pelo mundo, conseguiu sua classificação para as Olimpíadas de 2000. Em Sydney, realizou seu sonho. “Quando entrei na vila olímpica eu tremi e chorei. Não acreditava que de lavadeira eu poderia estar em uma olimpíada, representando 190 milhões de pessoas”, conta Bete, sobre a emoção de estar entre os melhores atletas do mundo. No Brasil, sua participação e seus resultados nos Jogos Olím-

muito além. Alunos da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) produziram um documentário relatando sua trajetória vitoriosa no esporte e na vida. O vídeo foi apresentado também em Viçosa, no Dia Internacional da Mulher, e ficou 45 dias exposto na Pinacoteca da UFV. Aos 53 anos, Maria Elizabete Jorge, a “Vovó de Peso”, orgulha da sua trajetória: de lavadeira a atleta olímpica. Um exemplo para todas as idades, mas principalmente para a juventude, superando o preconceito de cor e de posição social. Exemplo de mulher lutadora, que vence as dificuldades e é movida por sonhos que superam obstáculos e constroem uma importante e vitoriosa história.

As conquistas de Bete 1992|Campeã Sulamericana 1994|Sexto lugar no Mundial da Turquia 1996|Campeã Sulamericana 1997|Campeã Mundial Master 1998|Campeã Mundial Master 2000|Nono lugar nas Olimpíadas de Sidney

17


cultura cultura

De Viçosa à presidência da república O menino, o advogado, o político, o filho ilustre da terra: Arthur Bernardes é uma das principais figuras da história da cidade Jader Gomes Luiza Sena

Curiosidades Seu pai, Antônio Bernardes, nasceu na cidade de Castanheira da Pera, em Portugal Foi casado com Clélia Vaz de Mello Bernardes, com quem teve sete filhos. Apenas um deles seguiu a carreira política Hoje, a exposa de Arthur, Clélia Bernardes, dá nome a um bairro viçosense Duas de suas filhas ainda estão vivas, mas não residem em Viçosa Sua carreira política foi impulsionada pelo sogro,

18

A história mora aqui Casa Arthur Bernardes

ARTHUR BERNARDES tinha o apelido de “O Calamitoso” tuguês e Latim. O inicio de sua carreira na política aconteceu em 1904, aos 29 anos, quando foi elei-

Carlos Vaz de Mello, que detinha enorme prestígio na política Assumiu a presidência aos 47 anos, permanecendo no cargo de 15/11/22 a 15/11/26. Foi o 13º presidente da república Foi eleito com 466.877 (quatrocentos e sessenta e seis mil, oitocentos e setenta e sete) votos O Dia das Crianças, no Brasil, foi oficialmente decretado por Arthur Bernardes, no dia 12 de outubro de 1924 Arthur Bernardes enfrentou muitas crises e revoltas durante a presidência,

to vereador de Viçosa. Faleceu de infarto, em 23 de março de 1955, aos 79 anos no Rio de Janeiro.

ganhando o apelido de “O Calamitoso” Foi obrigado a se exilar em Portugal devido a sua participação em atos revolucionários durante a década de 30. Voltou ao Brasil cerca de um ano e meio depois

Durante a ditadura do governo de Getúlio Vargas (de 1930 até 1945), Bernardes teve seus movimentos severamente vigiados pelos órgãos de segurança nacionais, chegando a ser obrigado a se confinar em Viçosa

Em 1953, comemorou Bodas de Ouro, em Viçosa

O museu “Casa Arthur Ber- uma construção em estilo eclétinardes”, situado na Praça Silviano co, surgido na França no século Brandão, foi anteriormente resi- 19 e que integra em uma só peça dência do ex-presidente durante vários estilos arquitetônicos anos períodos em que ele passava na teriores. Em alguns cômodos os cidade. Segundo a restauradora móveis estão posicionados da responsável pelo acervo do museu, mesma maneira de quando o local Helena Fortes, a casa atual dava era habitado. lugar até então a outra construO responsável por controlar as ção, comprada por Arthur Bernardes através de um leilão. Em 1922 começaram as obras da nova casa que hoje é o museu. A construção, feita entre os anos em que Bernardes era presidente, foi concluída em 1926. Os documentos arquivados no museu mostram que em 1959, quatro anos após a morte do ex-presidente, um projeto, depois transformado ANTIGA casa, que hoje abriga o museu em lei, autorizou a criação do “Museu Histórico da visitações ao local, Vantuir Ferraz, Cidade de Viçosa”. Porém, o fei- diz que o museu tem, em média, 4 to não tinha sido levado adiante, mil visitantes por ano. De janeiro até que em 1984, com apoio da a março de 2010, recebeu mais de família Bernardes, foi solicitado 500 visitas não agendadas e 200 o tombamento da casa para a ins- marcadas com antecedência. A talação do museu. O processo de guia do museu, Tatiana Fontes, tombamento foi finalizado em 5 destaca a diversidade no perfil dos de setembro de 1995 e o museu visitantes e defende uma adapta“Casa Arthur Bernardes” inaugu- ção na linguagem e postura para rado em 1996. atender as necessidades de cada Quem visita a casa encontra tipo de público.

O QUE é ? Tombamento Um ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados.

Edição 22 - Maio de 2010

Luiza Sena

Com certeza você já ouviu falar de Arthur da Silva Bernardes. Político e advogado, foi o fundador da Escola Superior de Agricultura e Veterinária, a ESAV, atual UFV. Essa foi sua contribuição mais aparente, não apenas para Viçosa, onde nasceu em 8 de agosto de 1875, mas, de certa forma, para todo o país. Arthur Bernardes é, sem dúvida, o cidadão viçosense mais conhecido pelo Brasil. Começou como vereador e presidente da câmara da cidade. Foi deputado federal, secretário de finanças de Minas Gerais, presidente do estado (cargo equivalente ao do atual governador), chegando à Presidência do Brasil em 1922, aos 47 anos. A fim de estudar, saiu de Viçosa rumo a Ouro Preto aos 19 anos, mas foi na Faculdade de Direito de São Paulo que se tornou advogado, em 1900. Depois de formado e antes de iniciar na política, Arthur Bernardes trabalhou no Jornal “Correio Paulistano” e no Instituto de Ciências e Letras de São Paulo, dando aulas de Por-

Acervo Museu Casa Arthur Bernardes


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.