PEDRO AUGUSTO
SUPLEMENTO ESPECIAL: Estatuto da Criança e do Adolescente completa 20 anos...
TRÂNSITO Secretaria vai promover cursos educativos com crianças em escolas do município visando a conscientização da população a longo prazo
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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFV n ANO 7 n EDIÇÃO N°24 n NOVEMBRO DE 2010
ECA COMPLETA 20 ANOS Estatuto da Criança e do Adolescente completa duas décadas defendendo os direitos dos jovens. Confira nesta edição suplemento especial comemorativo da lei que modificou a assistência às crianças e jovens.
EI, PSIU! Seu Madruga, Pango, DiCastro e Canarinho. Conheça os perfis de personagens excêntricos que fazem parte do dia a dia da cidade de Viçosa. PÁGINA 13 LUAN SANTOS
POR UMA CIDADE MAIS VIÇOSA FRED CABALA
Apesar da pequena quantidade de lixeiras na cidade e dos maus hábitos da população, medidas como a substituição das sacolas plásticas visam diminuir o impacto ambiental. PÁGINA 9
Diferenças de estilo: De patricinhas a punks, jovens dos mais diversos gostos e estilos interagem respeitosamente em toda cidade
IDENTIDADE, ESTILO E GOSTO MUSICAL
Escolha profissional
de se juntar com os iguais, vem da necessidade de sentir-se protegido e parte de uma causa. Desde a infância formam-se vínculos de ami-
zades com identidades parecidas, o que influencia na construção da personalidade do indivíduo. A adolescência é uma fase de muitas dúvidas
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Projeto Ajudôu
Obras literárias despertam desejo de poucos FÁBIO MOURA
Pesquisar sobre cursos e conhecer o dia a dia da profissão podem ser boas alternativas no processo de escolha de uma carreira. Para especialistas esse será apenas o primeiro passo. PÁGINA 3
o que faz com que os jovens busquem segurança em grupos de mesmas preferências para se afirmarem. PÁGINA 6
KÍVIA OLIVEIRA
“É impossível ser feliz sozinho” diz a música Wave de Tom Jobim. O psicólogo Felipe Stephan Lisboa afirma que a iniciativa do homem
JOGOS DE TABULEIRO AUXILIAM APRENDIZADO Novos estudos na área da educação apontam que a utilização de jogos como o RPG facilitam o aprendizado de jovens de todas as idades.
Livros são cada vez menos lidos pelos adolescentes da cidade
O interesse de alguns leitores não é o bastante para encher as bibliotecas da cidade. A baixa procura por livros se deve, em grande parte, às facilidades da internet. Para incentivar a leitura, professores criam novos artifícios para o ensino da Literatura. PÁGINA 5
Projeto oferece aulas grátis de judô e jiu-jitsu para alunos de escolas da rede pública da cidade em parceria com a prefeitura e a ASPAMV . PÁGINA 16
2 OPINIÃO
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AO LEITOR Repercussões do OutrOlhar Em nossa edição nº, 22, os estudantes que integravam a equipe de reportagem do jornal OutrOlhar fizeram uma ampla investigação sobre a infraestrutura das escolas de ensino médio de Viçosa, fato que acabou originando uma matéria especial sobre as condições dessas instituições geridas com dinheiro público no município. Além da capa, ilustrada com foto de uma sala de aula irregular, à época existente numa das escolas visitadas pela reportagem, na periferia de Viçosa, a matéria
veiculada como manchete da edição, ocupou quatro páginas internas, amplamente ilustradas com fotos e detalhamento de tudo aquilo que viram e ouviram os nossos “repórteres-estudantes”, nas escolas visitadas. As fontes da reportagem foram professores, dirigentes dos colégios em questão e até da Superintendência Regional do Estado de Minas, além de estudantes e funcionários de todos os estabelecimentos que integram o texto. A reportagem em questão acabou originando repercussões variadas. Recebemos muitas manifestações de apoio e incentivo de uma parcela de nossos leitores – estudantes, educadores da cidade e até de juristas – e
como não poderia deixar de ser também foram registradas manifestações de desagrado por parte de um grupo de professoras de um dos colégios citados na matéria, que acharam injustos alguns conceitos nela emitidos. Por se tratar de um veículo laboratorial útil e imprescindível para formação profissional voltada para o campo jornalístico, OutrOlhar, desde a sua criação, nunca adotou uma linha denuncista ou sensacionalista. Ao contrário, sempre foi preocupação maior de nosso corpo redacional direcionar as abordagens e angulações voltadas para a formação cidadã do público escolhido como alvo de nossas atenções: alunos do ensino médio das es-
colas públicas da cidade. Por isso, ao recebermos notícias sobre tais manifestações procuramos de imediato fazer contato com as professoras insatisfeitas que receberam a nossa atenção e a abertura de espaços na presente edição para que pudessem se manifestar a respeito, mesmo não sendo este um ato usual do jornal. A entrevista encontra-se publicada na página 14 desta edição. A partir desta edição OutrOlhar passa a ser produzido por uma nova turma até meados de 2011. Boa leitura.
Joaquim Lannes
...e o Brasil desistiu da política Já dizia a sabedoria popular: brasileiro tem memória curta. Você concorda? Esse dito é comumente usado para justificar a reeleição de políticos que tiveram seu governo marcado por corrupção, escândalos ou descaso com os interesses dos cidadãos. Mas longe de ser sintoma de fraca memória, a verdade é que o dito reflete a falta de interesse que o nosso povo tem na política. É como na escola, quando gostamos muito de uma matéria a aprendizagem é fácil, e até divertida. Mas se a lição é daquelas que torcemos o nariz só de olhar, fica muito mais difícil entender e logo depois da prova já esquecemos tudo de novo! Para grande parte dos brasileiros a política é isso, uma matéria chata e difícil de entender. E não era pra menos, a forma de se tratar do assunto no nosso país se destina muito mais ao marketing do que à busca de soluções.
As campanhas políticas têm um formato engessado, não é comum fazer com que se debatam idéias, propostas, programas. O horário eleitoral é repleto de promessas políticas já tão desrespeitadas
acabam por nos atingir direta ou indiretamente. Não acompanhar o quadro político é deixar o caminho livre para que eles façam como bem desejarem. Ou você participa das dcisões políticas ou
Não acompanhar “ quadro político é deixar
o o caminho livre para que eles façam como bem desejarem que caíram no descrédito da população. Esses espaços acabam, afinal, descartados pelos cidadãos, implicando um grande gasto em torno de um instrumento pouco eficaz naquilo que se propõe. O que nós perdemos com isso é que quanto mais nos afastamos, menores são as chances de colhermos resultados positivos da política. As ações dos governantes
é comandado pelos que participam. Se a sua escola não está em boas condições e não contou com melhorias nos últimos anos, existem pessoas responsáveis por isso, e foi você quem escolheu essas pessoas para te representar. Portanto, a culpa é sua também. Da mesma forma, se no seu bairro as mudanças atenderam as suas necessidades,
Diretor do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes: Prof. Walmer Faroni Chefe do Departamento de Comunicação Social (DCM): Prof. Ernane Corrêa Rabelo Universidade Federal de Viçosa
Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), sob responsabilidade da turma de 2009 - COM 230 - Atividades Programadas em Jornalismo Impresso. Apoio: Centro de Ciências Humanas Letras e Artes - CCH Endereço: Vila Giannetti, Casa 39, Campus Universitário35670-000- Viçosa. MG Tel: 3899-2878 Reitor: Prof. Luiz Cláudio Costa
Coordenador do Curso de Comunicação Social/ Jornalismo: Prof. Erivam de Oliveira Registro: MT/ SP-20193 Editor Prof. Joaquim Sucena Lannes Registro: MT-RJ-13173 Editor de Fotografia Prof. Erivam de Oliveira Registro: MT-SP-20193 Monitoria Kívia Oliveira
é sinal de que você está bem representado na Prefeitura e na Câmara Municipal. A fiscalização da política se tornou muito mais simples com o surgimento da internet. Na rede, você tem acesso a prestações de contas e deliberações, além de ser um instrumento que facilita a mobilização popular. Exemplo disso é o projeto Ficha Limpa. Criado a partir da iniciativa da população, o projeto ganhou força nas redes sociais da internet e virou lei, embora tenha sido bastante difícil colocá-lo em funcionamento devido aos casuísmos dos políticos de ficha suja. Em Viçosa, o acompanhamento político pode ser feito nas sessões da Câmara de Vereadores, toda as terçasfeiras às 18h30min. A pauta de cada reunião é publicada no site da câmara (www.camaravicosa.mg.gov.br). Confira! Participe! Thamara Pereira
Subeditores Bianca Damas (Comportamento), Bruna Honorato (Cidade), Clara Júlio (Esportes), Eduardo Nascimento (Entrevista), Lucas Lucena (Cultura), Giuliano Sales (Meio Ambiente), Lucas Constantino (Vida, Ciência e Saúde) e Thaíssa Vaz (Opinião).
EDITORIAL Em um jornal totalmente feito por nós, alunos do curso de Comunicação Social, procuramos pautar os mais diversos assuntos que estivessem voltados aos nossos leitores. As abordagens foram realizadas buscando relevância e didática para que pudessem ser trabalhadas em sala de aula pelos professores. Uma edição com um enfoque político foi inevitável com as eleições para presidente, governador, senadores e deputados federal e estadual tão recentes. Sentimos a necessidade de deixar nossos leitores e possíveis eleitores mais próximos e íntimos do assunto. Uma novidade nessa edição do nosso jornal-laboratório foi a criação de um suplemento onde trataremos de um tema relevante ao nosso públicoalvo. Vamos abordar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que completou, em 2010, 20 anos de existência. O Estatuto é um conjunto de normas jurídicas com o objetivo de proteger integralmente a criança e o adolescente brasileiro. O tema das drogas e da gravidez na adolescência também foi abordado em nossa edição, mas não da maneira habitual, mas de uma forma clara e próxima da realidade do nosso público. Além disso, em uma das principais reportagens, trouxemos à tona um tema bastante em alta, que é a questão das tribos sociais entre os jovens. A matéria discorre sobre os principais estilos musicais e a influência da moda na vida dos jovens de Viçosa. A maior novidade em nossa produção foi a revitalização do projeto gráfico, por sugestão da turma que traz mais leveza e identidade ao nosso jornal-laboratório. Uma ótima leitura a todos! Thaíssa Vaz
Revisão Final Camila Barros, Clara Júlio e Thaíssa Vaz Diagramação e Projeto Gráfico Daniel Fardin e Lucas Lucena Impressão: Divisão Gráfica Universitária
Redação Ana Ventura, Bianca Damas, Bruna Honorato, Camila Barros, Carolina Pavanelli, Clara Júlio, Cristiano Silveira, Daniel Fardin, Diana Celina, Diego Abreu, Eduardo Nascimento, Fábio Moura, Fernanda Castro, Fred Cabala, Giuliano Sales, Jader Elisei, Juliana Corrêa, Karinna Matozinhos, Laio Brandão, Laura Fontes, Luan Santos, Lucas Constantino, Lucas Lucena, Ludmila Alves, Luiza Quintão, Marden Chaves, Patrícia Freitas, Patrícia Santos, Pedro Augusto, Rachel Monteiro, Rafaela Mello, Raul Gondim, Talles Carvalho, Thaíssa Vaz, Thamara Pereira, Thiago Soares, Thiago Penna, Túlio Câmara, Virgílio Amaral e Wanessa Marinho.
Tiragem: 2.000 Exemplares Os textos assinados não refletem a opinião da Instituição ou do Curso, sendo da responsabilidade de seus autores e fontes.
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OPINIÃO 3
Balaústre ainda é nosso cultural de uma cidade. Viçosa, com seu acelerado crescimento vertical, tem perdido inúmeros patrimônios dando lugar a grandes construções. Creio que seja esse o motivo de tanta reprovação por parte da população: o medo de se perder mais uma identidade do município, o balaústre. Apesar de não terem sido devidamente divulgadas, as propostas da prefeitura não anseiam por um “destombamento” do balaústre. O termo foi erroneamente empregado. Mas o que significa o termo tombamento? Tombamento é a transformação por reconhecimento de um bem em patrimônio histórico. Dessa forma, o destombamento seria a realização
de intervenções em um patrimônio que destruam a sua história. O que a prefeitura quer fazer não é nenhuma novidade na arquitetura da cidade. Nas primeiras décadas do século XX, o balaústre possuía rampas de acesso que foram posteriormente retiradas devido a reivindicações de moradores, porque onde existiam as rampas as avenidas eram mais estreitas e com a construção de um prédio na região, dificultou-se a saída das garagens, uma vez que a Avenida Bueno Brandão ainda era de mão dupla. Para que a secretaria de trânsito se certificasse da eficácia das possíveis alterações, foram realizadas simula-
ções com um programa utilizado pelos agentes da BHTRANS. Enquanto que com o fluxo atual na região se tem uma retenção de 18 veículos, abrindo-se o acesso a retenção cai para 3 veículos. É aqui que entram os
questionamentos e incertezas. Será que isso efetivamente vai trazer melhorias para o velho e desordeiro problema no trânsito de Viçosa? Não se pode dizer ao certo. Mas acho válido tentar. Thaíssa Vaz
DIEGO ABREU
Não é novidade para ninguém que o trânsito de Viçosa é cada vez mais caótico. Com uma estimativa de 30 mil veículos em circulação, pode-se dizer que a estrutura da cidade é bastante precária e precisa urgentemente de alterações, as quais vêm sendo realizadas aos poucos. Uma das propostas da prefeitura com o objetivo principal de melhorar a fluidez do trânsito no centro da cidade, é o projeto de intervenção no balaústre, patrimônio histórico da cidade, que vem sendo alvo de grandes polêmicas e dividindo opiniões. Como a grande maioria, tenho consciência do valor de um patrimônio histórico para a construção da imagem
Presença da mulher na política precisa aumentar O que você vai ser quando crescer? A primeira participação efetiva das mulheres brasileiras na política foi em 1932, quando elas receberam o direito de votar. A partir daí, oportunidades de contribuições femininas dentro do governo começaram a surgir. Em 1933, tivemos a primeira deputada federal e em 1979 a primeira senadora. Este ano, pela primeira vez, tivemos na mesma eleição, duas candidatas à presidência e em 2011, a primeira mulher eleita para governar nosso país. O que muita gente não sabe é que mesmo com essa abertura tendo acontecido há bastante tempo, a mulher brasileira ainda precisa de cota para se candidatar. Todos os partidos são obrigados a destinar 30% de candidaturas às mulheres. Essa é uma tentativa de equilibrar a participação de ambos os sexos na representação política e assegurar a igualdade entre os gêneros. Mas apesar de ter cada vez mais força, a presença da mulher ainda é pequena em
comparação à dos homens. O índice para candidaturas femininas não foi cumprido por muitos partidos políticos no pleito de 2010 e muitas das candidaturas registradas nem mesmo existiam. A questão é que a participação feminina na política tem importância por diversos fatores. Há uma sensibilidade feminina que diferencia
dar de perto com várias questões que podem ser muito bem discutidas na política. Cuidar da casa requer tratamento delicado com o orçamento, preocupação com a educação dos filhos e com a saúde. Talvez, o que criou um cenário de dona de casa para a mulher, tenha sido o que a ensinou a ser boa para o poder. Mas as tarefas de casa ainda são aquelas que atrapalham a inserção das mulheres na política. Diferente dos homens, quando a mulher arruma um emprego fora, ela acumula funções. A tarefa de cuidar dos filhos e da casa, na maioria das vezes, continua na mão dela. É claro que a visão aqui colocada é muito simplista diante o assunto em questão. A conclusão que posso tirar é que precisamos dar maior visibilidade àquelas que sempre foram consideradas capazes de comandar tão bem uma família e podem muito bem governar uma nação.
Mas apesar de ter cada vez mais força, a presença da mulher ainda é pequena em comparação à dos homens totalmente o tipo de trabalho entre os gêneros. Em vários acontecimentos históricos de luta, as mulheres estavam presentes e foi a partir da força delas que a relação entre os gêneros foi mudando e se igualando ao longo dos anos. A mulher, tratada por muito tempo como aquela que deve cuidar da casa, aprendeu a li-
Luiza Quintão
“O que você vai ser quando cidade universitária, você pode crescer?” Uma pergunta engra- visitar o campus, a biblioteca e çada quando éramos crianças, sentir o clima de um universo agora tem um peso que mal dá que em pouco tempo será o pra carregar. Antes de decidir o seu. O contato com profissionais que vamos ser, é melhor saber da área também ajuda na deciquem somos e o que queremos: são: aos 17 anos, pressionada O que eu gosto de fazer? Quais por meu pai a cursar medicina, são as minhas habilidades? acompanhei o trabalho de méQue tipo de vida eu quero ter? dicos em um pronto-socorro, Apesar do que parece, esses saí de lá com a certeza de que questionamentos não precisam não era o que eu queria e optei trazer mais pressão pras nossas por engenharia. E ainda assim vidas além daquelas que muitas não foi a escolha certa pra mim. vezes já sentiNo decorrer mos. É possível da graduaQue tipo de atravessar esse vida eu quero ter? ção, fiz novas processo de descobertas e forma prazeroescolhi o jorsa, despertando a nossa curio- nalismo, definitivamente. sidade e tentando conhecer as Talvez você tenha a sorte de profissões. ter a certeza do que quer desO site Guia do Estudante de sempre, ou quem sabe se (www.guiadoestudante.abril. descubra pelo caminho. Após com.br) apresenta mais de 200 avaliar as opções, o que se deve opções e provavelmente muitas ter em mente é que escolher a delas você nem sabe que exis- profissão é uma decisão só sua tem. É claro que pesquisar so- e mesmo sendo importante, não bre o assunto não é garantia de significa que seja definitiva. Se uma escolha acertada, mas pelo em algum momento você enmenos não se corre o risco de tender que errou na escolha, deixar uma profissão de lado por sempre há tempo de fazer o não conhecer. que nos realiza. A decisão que Outra boa fonte de pesquisas precisa tomar agora é apenas sobre cursos são os sites das fa- o primeiro passo de uma longa culdades, com informações so- história que será construída por bre grade curricular e disciplinas você. Wanessa Marinho oferecidas. Morando em uma
“
4 CULTURA
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Independente do estilo, banda de garagem é coisa séria RAFAEL GAROTTI
Bandas de garagem formadas por estudantes ganham destaque em Viçosa. Thiago Penna Geralmente é durante a juventude que os meninos e meninas passam a se interessar mais pela música. Esse interesse, por vezes influenciado pelo trabalho de algum artista, grupo ou tendência, pode acabar por levar o jovem a uma participação mais efetiva nessa área, fazendo com que ele também se enverede por este campo. A vontade de viabilizar um trabalho solo ou constituir um grupo torna-se, portanto, uma consequência natural dessa influencia. Muitos levam a sério e acabam se instituindo nas chamadas “bandas de garagem”, denominação que se dá a grupos ainda amadores que surgem dos encontros ou ensaios em suas casas. Assim, o que muitas vezes começa como uma mera brincadeira entre amigos pode virar coisa séria. É comum bandas que começaram a tocar na adolescência acabarem fazendo sucesso por todo o país. É o caso, por exemplo, dos músicos cariocas do Roupa Nova, banda que teve início na década
Black Doors, banda de rock formada por estudantes, leva a sério o rótulo de banda de garagem com ensaios constantes e shows na cidade. de 1970 com o nome de Os Fanks. O estilo musical tocado pelos conjuntos é variado sendo possível encontrar desde aqueles que tocam pagode como a Suingue e Sedução, formada por estudantes escola Escola Estadual Dr. Raimundo Alves Torres (Esedrat), até o rock antigo tocado pela Black Doors, esta formada por alunos da Escola Estadual Efiie Rolfs. Questionados sobre onde é o melhor local para se ini-
ciar um trabalho com as bandas em Viçosa, os integrantes de ambos os grupos citaram o Galpão e o Bar do Leão que costumam dar espaço a esse gênero. Embora ressalte que Viçosa ofereça poucos locais para a visibilidade dos novos talentos musicais, nossos entrevistados também citaram festivais independentes, como o Metal Fest, como um palco para ser visto na cidade. Baseado na escassez de locais e oportunidades, para
mostrar trabalhos e de novos talentos, a rádio Universitária FM promove há algum tempo o programa Estúdio Acústico, produzido e apresentado pelo radialista João Vicente. Segundo ele o programa trabalha basicamente com grupos e artistas, em sua maioria, ainda desconhecidos do grande público, com o objetivo de possibilitar a visibilidade necessária para a conquista do gosto dos ouvintes. Essa visibilidade deve aumentar ainda mais
nos próximos meses, com a estréia do programa também na grade da TV Viçosa. O radialista ressalta que diversas bandas iniciantes têm procurado o programa e critíca a escassez de oportunidades destinadas às bandas iniciantes na cidade . “O jovem tem que ter personalidade para entrar nesse meio e saber direcionar o conhecimento de forma a conviver melhor com o mundo a sua volta e a respeitar mais e a ser respeitado”, explicou.
Maestro viçosense Hervé Cordovil é pouco conhecido na cidade Diego Abreu
“Entrei na Rua Augusta a 120 por hora, botei a turma toda do passeio prá fora. Com três pneus carecas sem usar a buzina, parei a quatro dedos da vitrine, Falou!” “Era um biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho, mal cabia na Ana Maria. Biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho que na palma da mão se escondia” “Minha vida é andar por esse país prá ver se um dia descanso feliz, guardando recordações das terras onde passei, andando pelos sertões dos amigos que lá deixei” Se você conhece alguma dessas músicas , conhece também o trabalho do maestro Hervé Cordovil. O compositor viçosense trabalhou com grandes nomes como Adoniram Barbosa, Luiz Gonzaga, Noel Rosa e ou-
tros. Ele é pouco reconhecido, mas é considerado por autoridades no assunto como um dos maiores nomes da música popular brasileira da década de 1950. O grande motivo de sua pouca fama é que muitas vezes a música não é associada a quem as compõe e sim ao intérprete. Em Viçosa, a desativada estação central de trem, onde atualmente funcionam a Biblioteca Municipal e um pequeno auditório, é o que
há de mais expressivo batizado com o nome desse ilustre viçosense, mas isso não é suficiente para a preservação de sua memória. Segundo José Timóteo Júnior, graduado em Jornalismo pela UFV, e que dedicou seu trabalho de conclusão de curso em memória ao grande compositor, “batizar uma pequena biblioteca não preserva a memória do maestro. É necessário um acervo digitalizado das obras,
pois o tempo contribui para sua deterioração”. A documentação dos trabalhos de Hervé apresenta aos viçosenses que o ex-presidente Arthur Bernardes não figura sozinho como personalidade de grande notoriedade em âmbito nacional. Rogério Moreira Campos, maestro que rege o Coral da Universidade Federal de Viçosa ressalta que Hervé transitou por diferentes ritmos, como o baião, MPB e até mesmo pelo inicio do rock brasileiro com Rua Augusta, música regravada por Raul Seixas em 1973. Recentemente Zeca Baleiro gravou versão de Uma Loira para o DVD O Coração do HomemBomba Ao Vivo. Nele, Zeca se refere ao compositor como “mestre Hervé Cordovil”.
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CULTURA 5
Métodos mostram que os livros não são “coisas do passado” Internet é FÁBIO MOURA
Professores tentam diferentes formas incentivar os alunos; alguns jovens ainda buscam obras por conta própria
Lucas Lucena
Fábio Moura Cristiano Silveira “As cidades vinham surgindo na ponte dos nomes, e Paris era uma torre ao lado de uma ponte e de um rio, a Inglaterra não se enxergava bem no nevoeiro, um esquimó, um condor surgiam misteriosamente trazendo países inteiros.” Esse é um trecho de Um Escritor Nasce e Morre, do livro “Contos de Aprendiz” de Carlos Drummond de Andrade. A descrição dessa passagem pelo autor remete a sua primeira experiência literária. Em Viçosa, apesar do pequeno interesse, alguns jovens ainda buscam o encanto e a riqueza contida nas linhas de um livro. Maior variedade de livros nas bibliotecas e novos métodos de incentivo à leitura por parte dos professores, são pontos positivos na construção do hábito de leitura. Enquanto as bibliotecárias indicam obras, as professoras de Literatura Brasileira cobram a sua análise em prova. Apesar dos incentivos, ainda prevalece o interesse pessoal
Livros ainda cativam parte dos jovens da cidade, apesar do cada vez mais baixo interesse pela literatura na busca literária. A aluna Giselle Priscila do 3° ano do Coluni, não gosta das leituras obrigatórias. “No entanto, acredito que a obrigação influencia aqueles que não lêem”, disse. Segundo as bibliotecárias, os romances de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Machado de Assis, entre alguns outros, são as obras preferidas dos alunos do ensino médio. Na tentativa de aumentar o número de leitores, professores das escolas públicas incentivam seus alunos com métodos diversificados em sala de aula. Para a professora de Português da E.E. Dr. Raimundo Alves Torres
(Esedrat), Rosimar Gomes, trabalhar com livros que viraram filmes, documentários e até mesmo com reportagens que possibilitem uma abordagem mais ampla sobre os temas, é uma alternativa que acaba gerando interesse no estudante. A professora de Literatura da E.E. Alice Loureiro, Wanilza Soares, acredita que uma abordagem sobre o contexto histórico no qual os autores estão inseridos, bem como suas obras, é um excelente método de apoio à leitura. “Para levar os alunos a determinados livros, é necessário apresentar as suas principais características e
contar um pouco do seu desenrolar”, disse. Ficou constatado pela nossa reportagem que incentivos à criação do hábito de leitura estão disponíveis aos alunos na maioria das escolas públicas de Viçosa. O acesso ao conhecimento, o desenvolvimento do senso crítico, além do despertar da imaginação são resultados da leitura prazerosa e não “obrigada”. Apesar de algumas bibliotecas das escolas não atenderem as necessidades, por diversos fatores que não vem ao caso nessa reportagem, existem outras opções, como as bibliotecas online e a biblioteca da estação.
“Cobrando a leitura em prova, os professores incentivam os alunos. O que “A maioria dos livros que li foram por interesse próprio.” “ “Através do livro, encontrei o saber. pensam os alunos? “O interesse pode ser despertado a partir de uma boa abordagem dos clássicos em sala de aula. THAMARA ALVES, 3° ano, Effie Rolfs
GRAZIELI DE OLVEIRA, 1° ano, Raul de Leoni
ANA PAULA SILVA, 1° ano, E.E. Santa Rita
GUSTAVO FERREIRA, 3° ano, Coluni
Busca por resumos afasta alunos das bibliotecas escolares Um lugar calmo, silencioso, propício para a leitura e, na maioria das vezes, sob os cuidados de uma bibliotecária atenciosa e disposta a indicar bons livros. Mas, e se ao invés disso, os alunos procurarem resumos dos livros cobrados em aula, em outros lugares, como a internet? A busca pelo lado “mais fácil”, como definiu a professora de português da E.E. Raul de Leoni, Vânia Sabino, tem sido a realidade dos alunos do ensino médio. “A biblioteca deveria ser o
complemento para leitura
lugar mais visitado da escola”, relata a bibliotecária da E.E. Santa Rita, Maria Novaes. Para ela, o fluxo e empréstimo de livros na biblio-
“
da Universidade Federal de Viçosa, não tem uma boa procura. Para a supervisora, Mônica Carvalho, a biblioteca poderia atrair mais os
A experiência presente nas linhas de uma obra não pode ser substituída por resumos. teca é quase irrisório. Porém, algumas escolas públicas de Viçosa apresentam uma realidade um pouco diferente. A E.E. Alice Loureiro, apesar de disponibilizar todos os livros pedidos no vestibular
alunos. “Acredito que falta um incentivo maior dos professores e mais interesse por parte dos alunos”, disse. A busca por resumos é incentivada até mesmo pelas editoras, que enviam obras
resumidas para as escolas. Os alunos ainda destacam outros motivos, como o elevado número de livros obrigatórios para o vestibular, a indisponibilidade de algumas dessas obras na biblioteca e a falta de recursos das famílias dos jovens para adquiri-los. Ainda de acordo com Novaes, a experiência presente nas linhas de uma obra não pode ser substituída por resumos. A internet é uma importante ferramenta de aprendizagem. Porém, não deve substituir o livro.
“Não tem na biblioteca”. “É muito caro”. É comum ouvir essas respostas quando se questiona porque alguns alunos deixam de ler os livros cobrados na sala de aula ou optam por um resumo da obra. Para quem tem acesso à internet, tais afirmações podem se tornar meras desculpas, pois cada vez mais cresce o acervo de obras literárias disponíveis gratuitamente na web. Espalhadas pela rede estão dezenas de bibliotecas virtuais com livros para download dos mais diversos autores. O site Domínio Público, por exemplo, possui um extenso catálogo. Entre os livros disponíveis, estão obras de escritores renomados e figurinhas carimbadas de vestibular, como José de Alencar, Fernando Pessoa, Euclides da Cunha, Gil Vicente, Machado de Assis e renomados clássicos da literatura mundial como Willian Shakespeare e Oscar Wilde. Já o portal Klick Educação possui uma biblioteca que agrega livros de romancistas nacionais que são de interesse de vestibulandos e estudantes do ensino médio. Navegando mais um pouco, é possível encontrar análises de livros dos principais processos seletivos, uma técnica que ajuda a melhor compreensão do conteúdo lido. Diferente do resumo, que se limita a encurtar uma obra, as análises são um estudo mais aprofundado dos romances, discutindo, dentre outros, aspectos como foco narrativo, enredo, personagens e a crítica social de cada livro. Porém as análises literárias não substituem uma obra. O consenso entre os professores é de que somente a leitura da obra na íntegra é que vai permitir que o aluno reflita e responda as questões dos testes com mais exatidão, as análises são complementos. No site Passeiweb são mais de duzentas obras analisadas e quase quinhentos resumos comentados por professores. PARA LER E ESTUDAR
Domínio Publico www.dominiopublico.gov.br
Vestibular Web http://tinyurl.com/Vestweb
Klick Educação http://tinyurl.com/klickedu
Passeiweb http://tinyurl.com/passeiweb
6 COMPORTAMENTO
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Calçadão aproxima estilos, identidades e gostos musicais variados Luan Santos Bianca Damas “É impossível ser feliz sozinho” diz a música Wave de Tom Jobim. O psicólogo Felipe Stephan Lisboa disse que a iniciativa do homem de se juntar com os iguais, vem da necessidade de sentir-se protegido e parte de uma causa. Desde a infância formam-se vínculos de amizades com identidades parecidas, o que influencia na construção da personalidade do indivíduo. A adolescência é uma fase de muitas dúvidas o que faz com que os jovens busquem segurança em grupos de mesmas preferências para se afirmarem na sociedade. Emos, punks, coloridos, patricinhas, mauricinhos e skatistas. Estes são alguns dos estereótipos que definem o comportamento, o estilo de vestir e gostos musicais dos adolescentes de hoje. Em todas as épocas os grupos (tribos) existiram (confira na
linha do tempo) como uma forma de identificação social. No “Calçadão de Viçosa”, por exemplo, pode-se encontrar jovens com diversas tendências de identidades, idades, membros ou não das escolas do município. Anna Letícia, 15, estuda no Colégio do Carmo e musicalmente se considera eclética. No entanto, acha que seu estilo se assemelha às patricinhas, garotas de classe média alta muito vaidosas. Fernanda Mendonça, 14, é do Colégio Equipe e também ouve de tudo, desde Justin Bieber à Luan Santana. A amiga Luiza Piconço, 14, diz que acorda às seis horas da manhã para se maquiar e fazer chapinha. Todas elas trocam de roupa na escola para irem ao Calçadão após as aulas. Willian Capelete, 17, estuda no Colégio Esedrat. Ele tem um estilo de se vestir bem colorido, mas procura roupas que o deixem “à vontade”. Seu amigo Daniel Valente do Colégio Anglo se acha “básico”, mas preocupa-
LUAN SANTOS
Jovens de estilos diferentes interagem na cidade.
Skatistas se reúnem em loja de tatuagem e body piercing localizada em galeria do calçadão de Viçosa se em vestir-se bem. Ambos curtem o pop rock eletrônico e internacional. Isaac Ladeira Barbosa, 17, do Colégio Equipe e Rafael Lopes, 20, do Ágora são skatistas e se consideram Punk 77, estilo dentro da produção cultural que possuem certas características como o princípio de autonomia e o interesse pela aparência agressiva. Eles escutam desde Sex Pistols até Ramones, passando ainda por
outros grupo e intérpretes do gênero. Para Lisboa a idéia de “tribo”, muito disseminada na atualidade, é entendida como um grupo fixo e à parte da sociedade. Ele afirma, porém, que entre as “tribos” pode haver interação, pois os grupos são permeáveis a outras influências, apropriando-se de não somente de um estilo, ousando em roupas e músicas. Ele explica que
é natural que, no decorrer da vida, as pessoas mudem seus gostos e desejos. Dessa forma, apesar de cada jovem ter uma personalidade, seja ela baseada em ídolos, construída com base nos amigos ou mesmo sem influências fortes. Pelas ruas de Viçosa percebe-se que mesmo com as diferenças os jovens convivem entre si e trocam experiência, gostos e compartilham de atitudes.
Linha do tempo: A moda através das décadas
Cintura bem marcada, sapatos de salto alto e explosão de cosméticos. Dois estilos de beleza: a ingênua chique, como Audrey Hepburn e a mulher fatal, representada por Brigitte Bardot.
Rock and Roll. Na imagem de Elvis Presley e James Dean, os jovens usavam blusões de couro, topetes e calças jeans. A minissaia e os vestidos tubinho que saíram das ruas para as lojas de grife.
Libertação sexual, experiências com drogas e reclamação dos direitos das mulheres. A década das irregularidades abusou dos jeans e calças militares, em calças boca de sino, tachinhas, bordados e muito brilho.
As academias eram os principais locais da moda. Calças moletons, com listras verticais e esportivas. Sapatos baixos e cabelos exageradamente altos ficaram em vogue juntamente com o blush, que corria solto nas bochechas das mulheres.
Dos minimalistas aos rappers e boys band. No entanto, o grunge tomou proporções enormes entre os adolescentes do mundo inteiro. Calças e bermudas largas e as camisas xadrez criavam um estilo despojado entre os jovens.
A diversidade de estilos possibilita aos jovens se inspirarem em ídolos, ícones e décadas diferentes para comporem seus visuais e se expressarem através das roupas.
FOTOS: REPRODUÇÃO / ARTE: LUCAS LUCENA
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COMPORTAMENTO 7
Quando os desafios da juventude superam fronteiras e continentes
TALLES CARVALHO
Independente do país ou cultura, eles enfrentam o mesmo desafio: ser jovem em qualquer lugar Talles Carvalho Eles estão na noite, andando pela movimentada cidade de Bangalore na Índia. Estão nos bailes que tocam Kuduro, em Angola. Também estão nas escolas do Reino Unido. Exatamente agora, alguns deles estão lendo esse jornal. E todos se conhecem e se convencem mais a cada dia: os países não são mais as prisões dos jovens. Não só porque uma cultura global vem arrastando todos para o mesmo nicho, mas também porque os grandes problemas crescem e se universalizam da mesma forma, a uma velocidade incrível. Em Angola “as principais preocupações dos jovens são as mesmas que em qualquer outro lugar: a criminalidade, o desemprego” revela Rui Luiz dos Santos, 27, quando questionado sobre as grandes aflições do jovem angolano. Diferente da visão de Pepe Granderth, Finlandês de 17 anos: “Acho que a violência não é um problema, o grande problema é que os jovens aqui bebem demais.” Quando se fala em juventude deve se conjugar
Franceses intercambistas utilizam da vida acadêmica para mais do que um momento de aprendizado, mas também de agregação cultural na UFV sempre os mesmos verbos: estudar, morar, preocupar, namorar, trabalhar, sobreviver, se divertir... É uma fase de decisões e enquanto uns se dedicam inteiramente aos estudos, outros intercalam atividades escolares ao trabalho. “Trabalho em um restaurante luxuoso, realmente não gosto das pessoas que vão lá, mas faço para me manter” completa Pepe, finlandês que divide suas horas diárias entre o emprego de garçom e um curso técnico em hotelaria. O trabalho pode ser um pesadelo em qualquer socie-
dade, fazer escolhas acadêmicas e profissionais decidindo uma carreira é complexo não só para o adolescente brasileiro. Há principalmente o medo de não conquistar um espaço no mercado de trabalho. Na França, “todos que querem, têm acesso às universidades públicas, que não são as melhores. Porém, se querem ingressar em faculdades mais conceituadas, devem fazer um preparatório de 2 anos” explica Baptista, 23, Francês estudante de engenharia elétrica (inter-cambista da UFV).
Redes sociais e as armadilhas da internet Camila Barros e Carolina Pavanelli MSN, Orkut, Facebook e Twitter. A moda entre os adolescentes é interagir por meio das redes sociais. Porém, a repercussão na mídia gira em torno da nova ferramenta desenvolvida pelo site Twitter, a Twitcam. Sua função é transmitir imagens ao vivo ao mesmo tempo em que permite comentários ou twittes. Entretanto, os jovens têm utilizado esse recurso para se exporem de forma mais ousada, criando uma grande polêmica em torno do sexo virtual. De acordo com o psicólogo Felipe Lisboa, o relacionamento virtual decorre da idealização de um universo
fantasioso, em que os usuários compartilham seus desejos sexuais mais íntimos. Diversos casos de menores que utilizaram a Twitcam foram parar na justiça. Após a gravação de cenas explícitas, jovens veiculam determinado vídeo em toda a rede, para qualquer um realizar o download e posteriormente armazenar o arquivo. Esses adolescentes cometem um crime, exposto pelo artigo 240, no Estatuto da Criança e do Adolescente–ECA (vide matéria especial nesta edição), “para quem adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de re-
gistro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente, e prevê a reclusão de um a quatro anos”. Para o estudante, Freitas*, 18 anos, a falta de diálogo com os pais pode ser uma das hipóteses para o mau comportamento entre os adolescentes e a falta de consciência dos seus atos. Ele revela que já participou de sexo virtual, em uma sala de bate papo, com os amigos. Já a estudante Jaqueline Silva da Rocha, 17, utiliza frequentemente os sites de relacionamento para se comunicar com os amigos, mas enfatiza que não concorda que jovens se exponham.
Diante de tantos desafios e testes, a juventude se refugia nas formas de expressão que possuem, e isso não é privilégio da nossa geração. No papel principal está a música, que sempre canalizou a força do jovem e hoje continua sendo a forma artística mais presente para eles, “aqui há preferência pelo hip-hop e o rap norte-americano, mas também valorizamos cantores locais como: Cesar Gurro, Gil Semedo” diz David, 22, Cabo Verde. Enquanto se ouve muito funk em vários lugares do Brasil, a bla-
ck music o rock e o eletronic dominam o cenário musical francês. No continente africano “Kuduro é como o funk dos brasileiros” diz Rui Luiz, Angola. O brasileiro está no meio desse corredor imenso em que se estreita o mundo. Dono da simpatia que é uma característica só dele, o jovem vai cavando o seu espaço, e conhecendo o mundo onde os países não são bandeiras de diferenciação nem separação, mas sim, a identidade que os tornam únicos nessa aldeia global.
Erotização precoce Myley Cyrus divulga fotos sensuais na internet, Lindsay Lohan se envolve em escândalos com álcool e prisão. A mocinha da novela faz sexo com seu namorado em horário nobre. Todos esses acontecimentos, protagonizados por jovens, estão presentes no nosso cotidiano e acabam influenciando o comportamento, principalmente da juventude. A supervisora da Escola Estadual Effie Rolfs, Alessandra Vieira, confirma essa tendência e diz perceber conversas sobre sexo entre alunos e professores, o uso de roupas decotadas para chamar a atenção é uma grande preocupação com o corpo por parte dos adolescentes. A causa para essa antecipação da sexualidade dos jovens, facilmente perceptível, pode ser
atribuída ao que é veiculado na mídia e à postura desses ídolos teen, mas isso não corresponde a todo o processo. Conversas na família, orientação no colégio e auto-estima e auto-valorização por parte dos indivíduos são fundamentais para que cada fase de desenvolvimento seja vivida na sua plenitude, completa Alessandra. REPRODUÇÃO
8 MEIO AMBIENTE SAAE adapta aterro da cidade Giuliano Sales A produção anual de lixo nas cidades teve um aumento considerável. Viçosa não é exceção, atualmente gera-se em média 50 toneladas de lixo/ dia. O destino desses resíduos vem se tornando uma preocupação para as autoridades, visto que sua produção supera a capacidade de absorção do meio ambiente. Diminuir os efeitos detrativos que o lixo causa no meio ambiente é uma das principais dificuldades. Em Viçosa, essa preocupação cabe ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) que, procurando uma forma menos nociva ao meio, está adaptando um aterro controlado em sanitário. Mas, afinal, qual a diferença entre os dois? Tecnicamente o aterro concentrado é bastante rudimentar, nele todo o material coletado é levado até um local e depositado. Depois, uma máquina encobre esses resíduos com terra. Para tanto é destinada pela prefeitura uma área, a qual terá todo seu terreno impermeabilizado evitando a contaminação do lençol freático com xorume. Em Viçosa, este terreno está situado a 15 Km do centro da cidade, na serra do Siriquite. O professor de geomorfologia da UFV, André Faria, diz: “O aterro sanitário é ambientalmente mais correto. Para aplicá-lo é necessário seguir uma série de normas que são definidas pelos órgãos ambientais e ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)”. Para a adaptação está sendo investido, segundo o diretor do SAAE, Marcos Magalhães, aproximadamente 200 mil reais: “intervenção em drenos de gás, para remoção do metano, sistema de dreno para a captação do xorume, complementação e revestimento da lagoa de xorume, limpeza e cobertura total da área do aterro”. O diretor vê a obra como essencial, apesar do curto período de vida do aterro sanitário (10 a 20 anos). André Faria acha pouco eficiente investir apenas na adaptação do aterro. A conscientização das pessoas é um elemento primordial para combater o aumento do número de lixo: “a solução tem que ser global com a participação e envolvimento de todo mundo e com políticas públicas efetivas”.
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Mineroduto divide opiniões quanto a riscos para a biodiversidade Alterações do fluxo dos rios e do padrão de uso das terras estão entre os principais fatores Patrícia Santos Você sabe o que é um mineroduto? Segundo a mineradora Ferrous Resources, é um sistema de tubulações para o transporte de minério de ferro a longas distâncias. Ele é de baixo impacto ambiental, quando comparado às formas tradicionais de transporte. Mas de acordo com ambientalistas, isso não quer dizer que o sistema seja 100% seguro. No mês de julho, por exemplo, houve um acidente em Espera Feliz – Zona da Mata mineira, que deixou a cidade em estado de emergência. A tubulação do mineroduto, ali existente, se rompeu e despejou uma mistura de pó, água, amido e cálcio no rio São Sebastião, responsável por 70% do abastecimento da cidade. Em Viçosa, a empresa
Ferrous Resources está em fase de licenciamento ambiental para a construção de um mineroduto que passará por propriedades na área rural da cidade, numa extensão de 15,5 km. Mas quais são os riscos da instalação deste empreendimento em nossa região? O professor de Ciências Biológicas da UFV, Jorge Dergam, diz que a extensão do impacto ambiental nunca é zero. “Alguns aspectos negativos da construção são alterações do fluxo das águas dos rios e do padrão de uso das terras, tendo também o risco de atingir locais de espécies endêmicas”. Além disso, ele enfatiza que o prejuízo de um acidente como o de Espera Feliz tem a ver com o caráter do minério. “O próprio amido é um contaminante ambiental que provoca a diminuição do pH da água, modificando as taxas de oxigênio e podendo causar as mortes dos peixes”.
Já os assistentes de comunicação da Ferrous Resources, Giana Assis e Diego Leão, afirmam que não há nenhum material tóxico na composição do mineroduto que possa oferecer risco em caso de acidente. “O que passará pelo mineroduto é uma polpa de minério de ferro, como uma borra de café. São 70% do produto e 30% de água.” Os porta-vozes da empresa explicam que, no caso de acidente, o que pode acontecer é um pouco de sujeira e que será mantida uma distância segura de nascentes, a fim de minimizar a possibilidade de desastre ambiental. A construção deste mineroduto terá a duração de um ano e meio, com o fim previsto para início de 2013. A expectativa é que sejam gerados cinco mil novos postos de trabalho, diretos e indiretos, além da geração de impostos, parcerias e a movimentação da economia local.
Quais as vantagens e as desvantagens do mineroduto?
CNãoVantagens transporta componentes químicos; Não transporta material tóxico; Não é inflamável; Não apresenta risco de explosão; É um sistema de transporte rápido; Afeta pouca a paisagem; Não faz barulho; Não tem cheiro.
D Desvantagens
Possibilidade de acidentes; Alteração de fluxo das águas dos rios; Alteração do padrão de uso da terra; Risco de atingir locais de espécies endêmicas; Retirada de uma riqueza finita da cidade;
Parque do Cristo ainda não saiu do papel Raul Gondim Na edição nº. 16, de maio de 2008, o OutrOlhar noticiou que a Prefeitura Municipal estava elaborando projeto com vistas à implantação de um Parque Ambiental no Cristo de Viçosa. Passados quase dois anos e meio, nossa reportagem entrou em contato com as autoridades locais para saber a quantas anda a proposta, sabendo que de lá para cá nada foi feito ainda no local. Desde que foi criado no ano 2000, o Cristo de Viçosa tenta se firmar como um dos principais pontos turísticos da cidade. Entretanto, a burocracia tem impedido a implementação de um projeto de aproveitamento da área onde ele foi erguido. Idealizado pelo professor Arlindo Paula Gonçalves em 1995, o Cristo, de local atrativo da cidade, passou a ponto de violência e marginalidade. Seu idealizador faleceu antes mesmo do início das obras. Por isso, o projeto
ficou nas mãos de Manoel Duarte Pontes, Edir Baião, José Bernardes Raposo e José Oliveira. Os 22 metros da estátua levaram quatro anos para serem concluídos e só foram possíveis com a ajuda da Prefeitura Municipal, da UFV, de doações, da venda de adesivos e de promoção de bingos. Recentemente, o Cristo ganhou o título de Parque Municipal, mas o projeto de implantação continua em tramitação. Dele faz parte uma área de reflorestamento e lazer que vai beneficiar o Bairro Bela Vista e o turismo na cidade. Segundo a Chefe do Departamento de Extensão e Meio Ambiente da Secretaria Municipal de Agricultura e
Urbanismo, Edivânia Rosa Evangelista, no ano de 2006 foi feito um diagnóstico pelo Centro Mineiro para Conservação da Natureza (CMCN), no qual ficou constatada a viabilidade de construção de um parque naquela área. Dessa forma, foi enviado ao Ministério do Turismo um projeto de requalificação do Parque do Cristo, sob a orientação do professor do Departamento de Engenharia Florestal da UFV Wantuelfer Gonçalves, que prevê a construção de uma área de convivência para até 300 pessoas sentadas, quiosque de ginástica, quadra poliesportiva, parquinhos infantis, pista de skate, pista de alongamento, restaurante, arena de teatro, além de uma programação voltada para a
Hoje eu não aconselho ninguém a ir ao Cristo.
educação ambiental, com trilhas e caminhadas. Este ano, embora aprovado, o projeto do parque entrou em processo de reformulação e correção para se adaptar a normas de orçamentos e de licitação. O Instituto de Planejamento Municipal (IPLAM) é o novo encarregado da entrega do projeto para o Ministério do Turismo, que estipulou um prazo até 30 de dezembro para o término de sua revisão. A Chefe de Departamento Edivânia, apesar de otimista com relação ao projeto, adverte: “Hoje eu não aconselho ninguém a ir ao Cristo Redentor, mas ano que vem já vamos ter outra perspectiva”. Atualmente, o local encontra-se totalmente abandonado. A base da estátua encontra-se suja e mal conservada e o acesso muito precário, com a via sem calçamento e praticamente tomada pelo mato.
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MEIO AMBIENTE 9
Lei municipal determina subtituição das sacolas plásticas Sacolas oxi-biodegradáveis possuem um tempo de degradação quarenta vezes mais curto. Laio Brandão Tema importante e dos mais discutidos atualmente em diversos setores da sociedade global, como política, economia e educação, o meio ambiente é hoje assunto de grande destaque em Viçosa. A consciência ecológica e ambiental, através de pesquisas e estudos, tem conquistado espaço em múltiplas áreas de atuação na cidade, inclusive na Câmara de Vereadores. Por meio de um projeto, ficou proibido o uso de sacos e sacolas plásticas descartáveis; aquelas mesmas, brancas de alças, convencionais, utilizadas principalmente em supermercados. O material deverá ser substituído por sacolas oxi-biodegradáveis,
ou por sacolas ecológicas de pano, papel ou fibra natural, as ecobags. A alternativa é conhecida, e já foi tema anteriormente de debates em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, principais capitais do país, e chega agora a Viçosa. A lei, aprovada em 18 de agosto deste ano, tem por objetivo principal reduzir o acúmulo de resíduos e a poluição no município; fatores para os quais os sacos contribuem apenas para que aumentem. E visa ainda à conscientização ecológica e ambiental da população por meio de campanhas educativas que informem sobre a lei. As sacolas plásticas percorrem um longo caminho até chegarem ao seu destino final. Um processo que se inicia na produção, passando então pela entrega e distribuição, consumo, e o tradicional descarte através de sua utilização nas lixeiras
EDUARDO NASCIMENTO
Sacolas Plásticas Utilização em lixeiras dificulta a sua separação. de banheiro e cozinha; o que dificulta a separação, já que o produto mistura-se ao lixo orgânico e o não reciclável. Segundo a professora do Departamento de Ciências Sociais da UFV e coordenadora do projeto de reciclagem Interação, Nádia Dutra, os sacos e sacolas descartáveis, diferentemente do vidro, do plástico e do papel, acumulam quase que completamente no aterro, pois não há compradores para o
material, exceto para uma pequena quantidade de sacolas coloridas. Sendo ainda descartada a eliminação dos resíduos pela queima, já que o produto é um derivado do petróleo, e contém Polietileno (de baixa densidade), o PEBD, na composição. O que representaria a poluição do solo e também do ar, além dos riscos de intoxicação para os trabalhadores do aterro e da usina, onde é feita a diferenciação dos objetos.
O saco de plástico foi criado na década 1960 e nos anos 70 se tornou popular com a distribuição gratuita nos mercados e lojas. Hoje, em Viçosa, mais de 300 mil sacolas são distribuídas por mês pelos principais supermercados e lojas, com a previsão de mais de 100 anos para sua decomposição. Com a substituição, as novas sacolas, oxi-biodegradáveis, reduziriam esse tempo à apenas 18 meses.Um período 40 vezes mais curto. Isso ocorre porque no plástico biodegradável existem moléculas de oxigênio que se desprendem mais facilmente com a ação do sol e do calor, acelerando sua decomposição. A partir de novembro, 90 dias após aprovação do projeto, a lei será regulamentada e os estabelecimentos comerciais terão um ano para se adequar aos novos padrões em vigor.
Cada vez menos viçosa, cidade sofre com lixo Fred Cabala O dicionário Priberam da Língua Portuguesa atribui à palavra Viçosa o significado de lugar com paisagem exuberante. No entanto, a grande presença de entulhos e ausência de lixeiras torna o termo inadequado para descrever a cidade. Uma curta caminhada pelas vias centrais da cidade já é suficiente para se perceber que a falta de zelo com a limpeza pública e coleta nas ruas, praças e avenidas é uma infeliz realidade que há muito acompanha o município e prejudica a qualidade de vida da população. A questão do lixo causa bastante incômodo para os moradores e visitantes de Viçosa, sobretudo nos últimos anos, devido ao crescimento do número de habitantes na cidade e o consequente aumento da quantidade de resíduos produzidos. Como tentativa de modificar tal situação, desde o início do ano, os serviços de limpeza de Viçosa passaram para a responsabilidade do Serviço Autônomo de Água e Esgoto
(SAAE), órgão que já reali- devido à contratação de uma zava o tratamento de água e nova empresa que produzirá esgoto no município. os cestos de lixo. De acordo com a lei n° Muitos moradores, en2.002/2009, que atribui tretanto, questionam à adnovas funções para a insti- ministração pública e fazem tuição, há um prazo de 18 comparações da situação cameses do início dos serviços ótica de limpeza da cidade prestados para a realização de com municípios próximos um referendo popular, com como Visconde, Rio Branco fins de consultar a opinião e Cajuri, apontados como pública e decidir se a limpeza melhores exemplos no trada cidade perto com o lixo manecerá sob Falta de urbano, ainda competência zelo com a limpeza que contem dessa empresa pública e coleta com menos pública. recursos. Há nas ruas, praças Transcorritambém os e avenidas é uma dos nove meses que enteninfeliz realidade. da aplicação da dem que o lei, os serviços problema do do SAAE tem sido alvo tanto acúmulo de lixo é uma via de de elogios como de críticas, o mão dupla, na qual cidadãos que gera dúvidas em relação e poder público têm parceà sua eficiência. O assessor las de culpa. A comerciante técnico do órgão, Marcos Rosana Reis, por exemplo, Magalhães, afirma que o ba- destaca que “Viçosa, por lanço dos serviços prestados ser uma cidade universitária “é bastante positivo, ainda deveria ser modelo em eduque tenha muito a melho- cação nas ruas, mas isso não rar”, e que um grande nú- ocorre porque as pessoas não mero de lixeiras chegará ao têm atitudes cidadãs”. É nesmunicípio até o fim do ano se sentido que Júlio Márcio,
“
chefe do Departamento de Limpeza Urbana, ressalta que o vandalismo é um grande obstáculo ao asseio da cidade: “Em 2005 foram adquiridas 75 novas lixeiras, e dessas 50% já foram arrancadas ou destruídas”. Ele ainda lembra que na edição nº 22 do OutrOlhar foi anunciada uma campanha de conscientização das escolas de ensino médio do município tendo em vista
o recolhimento seletivo do lixo. Entre cobranças à administração pública e a falta de conscientização dos habitantes, reside o lugar comum da compreensão que, caso não haja trabalho conjunto, o problema permanecerá insolúvel, e a cidade, com o Balaústre e Biblioteca Municipal rodeados de entulhos, continuará não merecendo o nome que possui. FRED CABALA
LIXO Sacos de lixo são constantemente vistos pelas ruas da cidade.
10 VIDA, CIÊNCIA & SAÚDE
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Quando a boneca é substituida pelo bebê Gravidez na adolescência muda a vida e adia os sonhos de jovens Túlio Câmara Formar-se no ensino médio, ingressar em uma faculdade, conseguir uma estabilidade profissional e econômica para então constituir família. Esses são os sonhos da maioria dos adolescentes. Mas, muitas vezes, essas aspirações são interrompidas por uma surpresa: a chegada de um filho decorrente de um relacionamento. Natália Menezes* é uma dessas adolescentes que viu sua vida modificar significativamente depois que foi surpreendida por uma gravidez inesperada. O namoro estável de um ano, com um parceiro mais velho, provocou uma gravidez aos 16 anos. Na ocasião, ainda estava no segundo ano do ensino médio. Com medo das reações, escondeu a gravidez dos pais até o quinto mês, mas quando assumiu, não sofreu
represália e contou com o apoio e o companheirismo do namorado. Ela conta que não se arrepende de ter tido o filho, mas tem a consciência de como tudo seria diferente se tivesse tomado mais cuidado. “Com a gestação, perdi muita matéria na escola, o que pode me prejudicar no
dinheiro, construir uma casa, para aí sim a gente casar” , revela Natália. A rotina de ser mãe não é nada fácil. Enquanto as amigas programam baladas nos finais de semana, chegando em casa de madrugada, a mãe adolescente tem que cuidar do filho. A psico-pe-
“
Com a gestação, perdi muita matéria na escola vestibular. Queria muito fazer faculdade, mas tive que adiar esse sonho devido ao bebê” , explica. Casos como o de Natália não são raros. Mesmo cientes dos métodos contraceptivos, a gravidez precoce é frequente em todo o país. Nesse caso ela teve a sorte de ter o apoio de seu namorado, que continua com ela e a ajuda na criação do filho, mesmo não sendo casados. “Não quero casar por agora. Vamos esperar um pouco pra juntar
dagoga Stael Silva informa que essa “queima de etapas” pode ser prejudicial na educação das crianças, que são inocentes nessa história toda. “A adolescência é uma fase de transição em que a mulher muda o seu corpo e suas idéias. Muitas vezes ela não está madura o suficiente para assumir o papel de mãe, ou seja, uma educadora, interferindo na formação psicológica da criança” , afirma. “A chegada de um filho é sempre encantadora, mas
também é trabalhosa. As gestações, mesmo as não planejadas, devem ir até o fim. Independente da idade dos pais, ter filhos implica em diversas mudanças de rotina e de gastos, que devem ser encaradas com maturidade e responsabilidade,” finaliza a psicopedagoga.
Pseudônimo criado para reservar a identidade de nossa entrevistada.
Aumento dos casos de dengue preocupa a população Patrícia Freitas
Você reparou que mesmo antes do verão chegar, a incidência de pernilongos na cidade aumentou consideravelmente? O fato é preocupante uma vez que, com a chegada do calor e o aumento das chuvas, a temperatura fica cada vez mais propícia para a reprodução e proliferação desses insetos e, dentre eles, de uma espécie que tem causado muitas dores de cabeça às autoridades ligadas aos setores de saúde de todo o país: o aedes aegypti. Este mosquito é o vetor da dengue, uma das doenças endêmicas que mais preocupam e há muito tira o sossego da população. Febre alta, mal-estar, falta de apetite, cefaléia, dores musculares e nos olhos: esses sintomas inespecíficos são os iniciais da dengue. No tipo mais brando da doença, o tratamento consiste apenas
DIVULGAÇÃO
Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, perigo do verão em aliviar os sintomas, evitando certos medicamentos que possam causar complicações. Os casos de dengue hemorrágica já são mais perigosos, e o tratamento deve ser acompanhado por médicos, devido às grandes chances de agravamentos.
De acordo com a Vigilância Epidemológica, o número de casos de dengue notificados em Viçosa neste ano, até o final do mês de setembro, foi de 253, sendo 172 deles confirmados. Números preocupantes, considerando que em 2008 e 2009 os casos
confirmados no município durante o ano todo foram de 56 e 80, respectivamente, quantidades que, somadas, não chegam à dos nove primeiros meses de 2010. A Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) alerta que os focos de dengue encontrados por toda a cidade neste ano já passaram de 200 em agosto. Esse número, que já se aproxima ao dos dois anos anteriores inteiros, é bastante desproporcional tendo em vista que a partir de agora, até o fim do ano, há uma tendência de aumento significativo das chuvas. Isso torna ainda mais fácil o acúmulo de água em locais favoráveis para a reprodução do vetor. Uma vez que a doença só pode ser transmitida através do aedes aegypti, o Ministério da Saúde esclarece que a forma mais eficaz para se evitar a dengue continua
sendo não deixar água parada em quaisquer recipientes que possam servir de depósitos para o desenvolvimento das larvas do mosquito. Entretanto, a prevenção e o combate à dengue exigem a participação de toda a população. Ações isoladas não são suficientes para acabar com os focos da doença, já que bastaria apenas um local propício para que o inseto vetor tenha a possibilidade de se reproduzir.
NOTA DA REDAÇÃO Segundo fontes ligadas à prefeitura, a substituição do prefeito anterior devido ”a ilegalidade nas contas da campanha”, os denominados fumacês (que pulverizam inseticida pelos bairros) desapareceram, deixando desprotegida a população da cidade.
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VIDA CIÊNCIA & SAÚDE 11
Entidades auxiliam no combate às drogas Marden Chaves O consumo de álcool e drogas em Viçosa aumentou consideravelmente nos últimos anos. Os mais jovens continuam sendo os alvos diretos do tráfico. Segundo as manchetes dos principais jornais da cidade, nos últimos meses, a Polícia Militar tem registrado um significativo aumento nas ocorrências com drogas. Contudo, hoje, existem diversas entidades de apoio que auxiliam os usuários em suas tentativas de ficarem livres do vício. O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), por exemplo, oferece acompanhamento psicológico e encaminhamento para eventuais internações, caso seja essa a opção da pessoa. Para isso, uma série de exames médicos deve ser realizados previamente. A coordenadora do CREAS, Denise Maria Costa lembra, no entanto, que a iniciativa deve partir do próprio dependente. “Não adianta virem os familiares, a pessoa mesmo tem que procurar”, afirma.
A psicóloga da instituição, Andréia de Souza Trindade, explica que os mais jovens buscam ajuda após enfrentarem situações de alto risco, como ameaças de traficantes ou uma overdose. Ela ainda destaca que nessa fase de adolescência, os amigos possuem maior influência que os próprios pais do paciente, o que acaba atrasando a procura por auxílio. Sobre a atual situação da cidade, ela reconhece o agravamento. “Está muito fácil o acesso a droga”, explica. O centro de reabilitação Casa do Caminho, no Bairro Santa Clara, também se inclui na iniciativa de proteção e suporte ao usuário de drogas. Na Casa, o tempo máximo de internação é de dois meses e, segundo Geraldo de Freitas Pimenta Filho (monitor no local), a metodologia é bastante espiritualizada, seguindo cinco itens fundamentais: a paz, o amor, a retidão, a verdade e a não-violência. “O trabalho de conscientização é feito de maneira serena e tranquila,
sem imposições”, esclarece. Ainda segundo ele, dos mais de dois mil internos que já passaram pela Instituição, aproximadamente 60% estão recuperados. M.W (utilizamos a-penas as iniciais no intuito de preservar a identidade do entrevistado), de 38 anos, dependente químico e interno na Casa do Caminho, veio do Nordeste há pouco tempo para buscar o tratamento. Usuário de crack por quatro meses, ele fala sobre a reação com sua família. “Foi destruição total. Quando a gente entra de cabeça no álcool e na droga, a família toda adoece”, pondera. Na Casa, ele garante estar se adaptando bem. “Identifiquei muito com a doutrina e estou me dando muito bem”, diz. A cidade de Viçosa possui ainda grupos como o Amor Exigente, de apoio aos familiares dos dependentes químicos e com grande alcance nacional e o tradicional Narcóticos Anônimos, com reuniões dos usuários e busca por uma ajuda mútua.
Tempo seco propicia aparecimento de viroses Lucas Constantino As variações de temperaturas ocorridas no inverno enfraquecem o sistema imunológico acarretando viroses como gripe e resfriado. O Dr. Carlos Júnior, provedor do Hospital São Sebastião, explica que “a falta de umidade tem sido a principal causador da proliferação das viroses, tanto em Viçosa, quanto no Brasil todo. O tempo seco facilita a circula-ção do vírus pelo ar”, afirmou ele. De acordo com Cláudia Ferreira, Secretária de Epidemiológica, casos mais incidentes no município são a catapora e a “virose”. Os sintomas da “virose” são variáveis, mas, em geral, causa indisposição, vômito e diarréia. O vírus não tem nome definido, pois possui várias formas. Esta mutabilidade somada à especificidade de
cada organismo explica a variabilidade dos sintomas de pessoa para pessoa. O casal de namorados Thamara Pereira e Frederico Cabala, ambos do corpo editorial do jornal OutrOlhar, se contaminou no mesmo dia e tiveram reações diferentes. “A dor no corpo, o enjôo, a febre nós dois tivemos. Mas a diarreia, só o Frederico que teve”, afirmou Thamara. A outra virose recorrente no município é a catapora, nome popular da Varicela. “Na quinta-feira eram duas. Na sexta já estava toda cheia de pintinhas”, declarou Fernanda Monteiro. Essa é uma doença contagiosa e geralmente adquirida na infância. Seus sintomas são: febre, dor de cabeça, coceira e exantemas (pequenas erupções na pele).
O período de incubação é de sete a 21 dias. Ou seja, “você pode estar contaminado hoje, mas só daqui há três semanas apresentar os sintomas. Mesmo sem sintomas você pode estar contaminando outras pessoas” explicou Carlos. O único jeito de se prevenir contra vírus é a vacinação. Para a catapora, o governo não disponibiliza vacinas na rede pública pois seu custo é alto. Mas, não há tanto o que se preocupar. “Esses surtos virais são passageiros. Não duram mais que sete dias. A recomendação é repouso, alimentação redobrada e medicação sintomática. O importante, na catapora, é evitar coçar os ferimentos; já na virose, ingerir soro fisiológico para repor os sais minerais” concluiu o médico.
Volume alto nos fones de ouvido pode causar surdez Daniel Fardin
“Perda de audição? Isso é coisa de gente velha”, foi o que afirmou Amanda Lopes, estudante de 16 anos que não larga nem por um minuto seus fones de ouvido sempre tocando no volume mais alto. Mas aí está o problema. Esse hábito de ouvir música em volumes elevados está tornando cada vez maior a perda auditiva entre os jovens. Os tocadores de MP3 são mania e não é de hoje que existe uma enorme preocupação dos médicos e especialistas com as pessoas que passam muito tempo usando este acessório que, somente à primeira vista, parece ser inofensivo. Muitos estudos e pesquisas têm sido feitos nessa área, e os resultados? Cada vez mais preocupantes. Mas será mesmo que usar fones de ouvido pode prejudicar nossa saúde auditiva? A resposta é sim. Veja só: existem MP3 players no mercado com uma intensidade sonora de até 120 decibéis em seu volume máximo. Este volume, para se ter uma ideia, tem a mesma intensidade sonora produzida pela turbina de um avião em decolagem e mais alto até do que o barulho produzido por uma serra elétrica ligada, segundo dados da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO). O volume seguro recomendável pela SBO é de 85 decibéis, acima disso a audição já pode sofrer danos irreparáveis. Para
ficar mais fácil, digamos que o volume do seu player vai de zero a 100. Dessa forma, 85 decibéis equivale ao volume em torno de 65. Porém, mesmo nesse volume, não se pode exagerar. A SBO recomenda apenas 8 horas de audição por dia em 85 decibéis. O ruído muito elevado destrói uma parte do ouvido, chamada célula ciliar, que é uma célula nervosa responsável por receber os estímulos sonoros que chegam até o ouvido, informou o otorrinolaringologista Flávio Henrique Tannure. O médico explica que essa célula encontrada na parte conhecida como “ouvido interno” - não se regenera e qualquer dano causado a ela será carregado por toda vida. Flávio também avisa que a perda auditiva causada pelos fones de ouvido acontece de maneira lenta. E quando se percebe qualquer défict na audição, já pode ser tarde demais. Então, caso seus fones de ouvido estejam sempre acima dos níveis seguros de volume, fique ligado: se de repente as pessoas parecerem estar falando mais baixo e um zumbido estiver te acompanhando em qualquer lugar que você vá, “talvez esteja na hora de procurar um otorrinolaringologista, pois esses são os primeiros sintomas de uma audição prejudicada”, alerta o doutor Flávio Henrique.
Quantos decibéis?
Saiba abaixo quantos decibéis (dB) alguns itens produzem
FONTE: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OTOLOGIA / ARTE: DANIEL FARDIN
12 CIDADE
OUTROLHAR NOVEMBRO DE 2010
Indisciplina e excesso de veículos contribuem para “caos” no trânsito Ana Ventura
Um curso de educação para o trânsito será oferecido nas escolas da cidade, em breve. Ele será voltado para as crianças em fase pré-escolar, no intuito de formar e consientizar os jovens. O secretário de Trânsito, Luiz Carlos D’Antonino, destaca a importância de se pensar num processo especial de educação de pedestres, ciclistas e, principalmente, dos futuros cidadãos a longo prazo. “Ciclista hoje é um peso a mais no nosso trânsito, ele não faz a sua parte”, afirmou o secretário. Ele pondera que a indisciplina pode ser justificada não só pela falta de consciência, mas também pela ausência de maior regulamentação e fiscalização voltadas espe-
cificamente para os ciclistas. da utilização desses meios e a Diferente de alguns anos criação de ciclovias nos lugaatrás, quando “as bicicletas res topograficamente viáveis eram emplacadas pela prefei- da cidade. tura e eram multadas na rua”, Tanto Luiz D’Antonino relembra D’Antonino. quanto Ulysses Baggio aponO professor Ulysses da tam a quantidade de autoCunha Baggio é pesquisador móveis existentes como um da área de Geografia Urbana. dos problemas centrais do Segundo o trânsito de professor, é As bicicletas Viçosa. O necessária eram emplacadas que se nota, maior reade acordo pela prefeitura e lização de com Bagmultadas na rua campanhas gio, é “uma educativas e espécie de a elaboração de projetos para declínio do caminhar na cimelhoria da infra-estrutura dade contemporânea” e seria viária. O pesquisador sugere interessante uma retomada a ampla adoção de bicicleta e do hábito das caminhadas, ônibus, a promoção da cons- especialmente numa cidade cientização da população vi- como Viçosa na qual “quase çosense para a importância todas as coisas se mostram
relativamente muito perto”. Conforme dados do Departamento Nacional de Trânsito, até o mês de agosto desse ano, estavam registrados 27.726 veículos automotores, incluindo carros, caminhões, ônibus, motocicletas e outros, com placas da cidade. Número considerado elevado para a população de Viçosa, estimada em 74.171 habitantes, segundo dados do ano passado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Porém, o levantamento não engloba os veículos com placas de outras localidades que transitam aqui e que também afetam a circulação no município. Durante o mês de setembro, foram realizadas algu-
mas atividades relacionadas ao trânsito. Entre elas, estão o “Seminário de Trânsito e Mobilidade 2010” na UFV, que contou com um ciclo de palestras sobre o tema, e a Semana Nacional de Trânsito, voltada para a conscientização da população sobre a importância do uso do cinto de segurança e da cadeirinha. O Secretário informa também que dentro da política educativa da secretaria encontra-se, em estudos, a instalação, em breve, de dez semáforos, na cidade.
CONFIRA A FOTO INTERATIVA EM 360° NO SITE:
WWW.COM.UFV.BR/PHOTO
PEDRO AUGUSTO
Trânsito desordenado pode ter seus dias contados, daqui a alguns anos, quando o projeto de educação para as crianças em idade pré-escolar da cidade surtir seus efeitos iniciais
Bicicletas causam transtorno e são problema na cidade Bruna Honorato
Rápida, econômica, viável, porém perigosa. A bicicleta é um dos principais meios de locomoção dos estudantes viçosenses. Entretanto, existe uma série de limitações para a sua franca utilização. Ciclistas, pedestres, motociclistas e automóveis disputam acirradamente um mesmo espaço nas ruas de Viçosa e, como nosso velho e conhecido físico Newton disse há tempos, “dois corpos não ocupam o mesmo espaço simultaneamente”. Logo, imprudências e irregularidades causam acidentes. Nessa disputa por um lugar na via, todos pensam estar certos e não há um respeito mútuo. Segundo o Secretário de Trânsito de Viçosa, Luiz Carlos D’antonino, a cidade tem uma topografia bastante acidentada e o ciclista também não respeita ou anda na contramão, nas calçadas e até no próprio Calçadão. É
ANA VENTURA
Combinação de carros, bicicletas, pedestres e motocicletas torna o trânsito cada vez mais insuportável preciso se disciplinar e para isso uma série de campanhas relacionadas à educação no trânsito estão para ser colocadas em prática. “É mais um meio de transporte que a secretaria vai incentivar”, relatou D’antonino. É nesse contexto que a Secretaria de Trânsito, responsável pelo trânsito e transporte público, realizará brevemente um curso de Educação no Trânsito nas escolas.
André Siqueira Saraiva, 17 anos, estudante do 3º ano da escola Effie Rolfs, reclama que os motoristas não respeitam os ciclistas e independente de estarem certos ou não “jogam” o carro em cima. Já Daniel Braga, da mesma idade e estudante da mesma série dessa instituição, diz que o motorista respeita quem trafega com bicicleta. Para ele é o ciclista que, por vezes, é impruden-
te, invadindo um espaço que não lhe é de direito. Ambos concordam que o trânsito é caótico, desorganizado, mas como a bicicleta é um meio de locomoção ágil, optaram por ela principalmente para ir à escola. Nesse ínterim, o taxista Geraldo Rosa acredita que os pedestres e ciclistas são sem educação e quando chegam à faixa não esperam o carro passar, avançam de imediato.
A Lei Municipal 1.914, proveniente de um projeto das vereadoras Cristina Fontes Araújo Viana e Lúcia Duque Reis também seria uma possível solução para amenizar toda essa falta de infra-estrutura do sistema viário, visto que visa promover a política de incentivo ao uso de bicicletas, motocicletas e outras providências. Cristina Fontes, atual presidente da Câmara Municipal, acredita na viabilidade dessa lei, a partir de parcerias entre a universidade, o legislativo, executivo, empresas de ônibus , dentre outros, até mesmo porque existe um projeto dentro da mobilidade urbana para estimular o uso da bicicleta. De acordo com ela, inclusive as discussões em torno da criação de ciclovias já surgiram juntamente com a possibilidade da vinda do VLT (veículo leve sobre o trilho) para a cidade.
OUTROLHAR NOVEMBRO DE 2010
CIDADE 13
Semana da Diversidade se torna oficial em Viçosa PEDRO AUGUSTO
Evento LGBT ganha espaço no calendário e leva centenas de pessoas às ruas Rafaela Mello Com o objetivo de desmarginalizar os homossexuais e colocá-los no campo de visão da sociedade, foi organizada pela recém-formada ONG Movimento Diversidade de Viçosa (MDV) e o grupo Primavera nos Dentes a “I Semana da Diversidade de Viçosa”. Com o tema “Nos trilhos da Diversidade- Parada: Viçosa”, a cidade viveu no final do mês de setembro, dias de debates, palestras e festividades. O município incluiu em seu calendário oficial a “I Parada LGBT” (LGBTLésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), mobilizando Prefeitura Municipal, Polícia Militar, Câmara dos Vereadores e imprensa local. De acordo com Brenda Santunioni, uma das organizadoras do evento e fundadora da ONG, o episódio trará visibilidade para a classe LGBT. Segundo ela, “É muito importante saber que a partir
Primeira Parada Gay de Viçosa, realizada pela ONG Movimento Diversidade de Viçosa (MDV), reúne público heterogêneo e movimenta a cidade de agora haverão políticas públicas voltadas para a nossa classe e no calendário da cidade um evento específico pra gente”. A passeata que encerrou o evento saiu do alto da Av. Bueno Brandão em direção a Praça Marechal Deodoro da Fonseca. Com a expectativa inicial de cinco mil pessoas, a Polícia se organizou com
o apoio de vinte quatro homens, interditando o trânsito na área do trajeto. Animada por DJ e trio elétrico, a parada contou ainda com a presença de Drag Queen's, travestis e simpatizantes, além de um considerável número de populares. Ponto importante foi a divulgação de políticas de conscientização sobre do-
enças sexualmente transmissíveis e reivindicações de alguns direitos, como a união homoafetiva. Durante a semana, ocorreu ainda a eleição da Miss Gay de Viçosa. As candidatas, cinco ao total, foram avaliadas nas categorias: traje típico, gala e performance. A vencedora Tâmaga Muller, que não é moradora de Viço-
sa e foi eleita pelos presentes no evento, acredita que esse é um grande passo para o município. “Viçosa só tem a crescer com a realização desse evento. Já é hora das pessoas se conscientizarem e deixarem o preconceito de lado. Essa data se tornará um grande marco para a cidade.”, finalizou a miss eleita que já pensa no próximo título.
Personagens ilustram o cotidiano viçosense Karinna Matozinhos
blioteca da UFV estudar um pouco. Lá se depara com uma figura, dentre tantas outras, com pasta na mão, lendo um livro e que depois vai tomar um café no DCE. Até então parece ser uma pessoa normal. Mas se olhar fixamente por alguns segundos logo vai perceber sua semelhança física com um famoso personagem da televisão, o “Seu Madruga”, da série “Chaves”, apresentada no SBT. Fica ainda mais surpreso ao saber que apesar da pasta e dos hábitos estudantis ele não é mais aluno. Apenas frequenta o ambiente universitário e é bastante conhecido entre os estudantes. À noite você decide ir a um dos lugares mais famosos de Viçosa, o Bar do Leão.
Basta sentar e logo sente alguém lhe cutucando, olha pra trás e não vê ninguém. Depois uma figura engraçada lhe oferece um panfleto, você educado estica a mão para pegá-lo e, não mais que de repente, o personagem que lhe ofereceu retira o papel rapidamente. Este é o “Pango”, ele tem andar calmo, pernas meio tortas, um jeito peculiar na fala que ninguém entende e um sorriso de poucos dentes. Além do Leão, ele é visto em qualquer evento público da cidade como uma figura um tanto “fora do ninho”. Na volta para casa você ouve um “boa noite” do seu porteiro e nem imagina que aquela voz que lhe respondeu encanta muitas pessoas da cidade. Ele canta desde os
anos 80, tem dupla sertaneja e atualmente faz sucesso com o forró. No quartinho do prédio ele tem um pôster da dupla que faz parte e seu CD, gravado ano passado. No acervo musical existem outras composições que ele garante que serão lançadas no próximo álbum. Este é o seu Osvaldo, mais conhecido como “DiCastro” da dupla: Marcos e DiCastro. São pessoas comuns de Viçosa. Pessoas com as quais convivemos no dia a dia. Pessoas que por vezes nos divertem e que até cumprimentamos, mas nunca nos preocupamos em pensar que por
trás de suas figuras engraçadas e pitorescas, que até alegram a cidade, existem interessantes histórias de vida.
KARINNA MATOZINHOS
Você acorda atrasado para ir ao colégio, sai rapidamente pelas ruas da cidade e chega na sala de aula onde tudo ocorre normalmente. No caminho de volta para casa o calor está insuportável. Aparece então um vendedor de picolé que fala: “Ei, psiu!”. Você acha que é pra tentar lhe vender o produto e nem imagina que esta expressão é parte da letra de uma música composta por ele. Seu nome é Helvécio Carlos Rosa, o “Canarinho”. Do picolé ele tira seu sustento, da música sua realização e felicidade. Ele canta desde criança e já tem um CD, gravado em 2002. “Poderosa” é sua música mais conhecida. À tarde você, como um bom aluno, resolve ir à bi-
14 ENTREVISTA
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Dançando, aprendendo e inspirando
Cursos Técnicos: sempre uma opção para o ingresso no mercado
Diana Saballos Os irmãos Rariel e Rafael Escolástico, de 16 e 17 anos respectivamente, pertencem ao grupo de dança de rua Impacto, uma companhia do Núcleo Academia que proporciona uma atividade saudável, diversão e disciplina. Os jovens são moradores de Nova Viçosa e estão no segundo grau da Escola Estadual Raimundo Alves Torres (Esedrat). O irmão mais velho participava das atividades artísticas do colégio e fazia parte do grupo de dança da Rebusca, um projeto da Igreja Presbiteriana. A inserção total no mundo da dança de rua começou quando surgiu o convite para fazer parte do grupo Impacto. “Eu dançava na Rebusca e quando o projeto acabou os professores me convidaram para estagiar no grupo por causa de meu bom desenvolvimento”, conta Rafael lisonjeado ao relembrar o episódio. Rariel quis entrar no grupo após ter visto uma apresentação do irmão. Ele procurou a academia Núcleo, fez o teste de admissão e conseguiu a vaga.
Com 4 meses de estágio, Rariel participou de uma apresentação no Centro de Vivência da UFV, da qual lembra com muito entusiasmo e orgulho. Rafael tem dez meses de trabalho e já participou de cinco apresentações. A mais importante delas foi uma amostra que o Impacto fez numa competição entre grupos de dança em Joinville, no estado de Santa Catarina. “O pessoal do grupo tinha mandado a inscrição para competir, mas só conseguiu amostra. Tinha grupos de todo o Brasil; é a cidade da dança e a gente estava lá, apresentando em Joinville”. Para os irmãos, a dança tem um peso positivo: “atividades como estas afastam os meninos das ruas, ensinam e cultivam a dedicação e a disciplina, pois a escola está em primeiro lugar. Então, tem que se esforçar muito para poder praticar a dança e tirar nota boa ao mesmo tempo”, afirmam. A vice-diretora do colégio, Eliana Real, confirma estas informações e
acrescenta que os irmãos e outros cinco estudantes, que também são membros do grupo Impacto, servem de inspiração para os outros alunos. “O envolvimento dos meninos neste tipo de atividades só melhora a convivência dentro e fora da escola. A apreciação da arte aumenta a auto-estima e faz com que se sintam valorizados e compromissados em dar o bom exemplo”. Rafael e Rariel pretendem continuar no grupo de dança até serem contratados e ganharem remuneração. Ambos querem seguir carreira artística, mas também pretendem ter outra formação profissional. Rafael gostaria de ser médico. Rariel brinca de seguir os passos do irmão, mas admite que ainda não fez sua escolha. Até decidirem, ainda há muito tempo para sonhar. O que importa, segundo eles, é “seguir em frente, nunca desistir dos sonhos, se esforçar para alcançá-los e aproveitar as oportunidades que a vida traz”, concluem os irmãos.
Laura Fontes
Muitos adolescentes ao concluírem o ensino médio ficam em dúvida: ensino superior? Empregos? Cursos Técnicos? Para a maioria dos jovens ingressar no ensino superior é a melhor alternativa. Para outros, por falta de oportunidades, condições financeiras ou dúvidas, os cursos técnicos são uma boa escolha. De acordo com Almir Alves, Diretor Geral da Escola Técnica de Viçosa (ETEV), “O ensino técnico é um curso de formação profissional, de curta duração, focado na rápida inserção do estudante no mercado de trabalho”. No mercado atual, vemos o grande crescimento informacional, industrial e tecnológico que demanda mais a profissionalização. Porém, a falta de mão-de-obra especializada, causa o desemprego devido à má formação. É aqui que entra a importância do ensino técnico com relação à empregabilidade. Todavia, fazer um curso profissionalizante não é garantia de emprego. Segundo Almir, isso depende da própria pessoa, pois existem alunos que fazem o curso e se inserem no mercado e outros que o curso não faz
diferença. “Dentro da sala de aula você já percebe para onde o aluno esta caminhando e se ele vai ter um bom aproveitamento depende dele”, diz. O diretor garante que o mercado tem demanda. “Se for um estudante esforçado, dedicado e que tem interesse na área, com certeza as portas estarão abertas para ele.” Almir ainda destaca que os jovens devem ter em mente que o ensino técnico não precisa ser o fim da linha. Ele é uma forma de se profissionalizar e ter algo a mais para oferecer ao mercado. O importante é continuar estudando e entrar em uma universidade. Na região da Zona da Mata, em Viçosa e todo o estado de Minas Gerais os cursos de Informática, Meio Ambiente, Segurança do Trabalho, Enfermagem, Farmácia e Construção Civil possuem mercado com uma grande demanda. No município, existem algumas escolas técnicas que abordam áreas diferenciadas, como a ETEV e a Escola Técnica José Rodrigues da Silva, e para se inscrever é necessário estar cursando ou ter concluído o ensino médio.
Portas abertas para transformar polêmica em algo construtivo Virgilio Amaral
GIULIANO SALES
Em nossa edição 22 (maio de 2010) a matéria de capa Entre os muros da escola fez um levantamento “mostrando a realidade das condições físicas das instituições públicas de ensino médio da cidade”. A citada reportagem causou insatisfações e reclamações dos dirigentes da Escola Estadual Raimundo Alves Torres (ESEDRAT), com a qual sempre mantivemos excelentes relações. Por isso, democraticamente procuramos a diretora da escola, a professora Analice Saraiva Valente Araújo, e a supervisora Maria de Fátima Pônzio Lacerda, para que elas pudessem fazer as suas considerações a respeito da referida reportagem, em uma entrevista franca e objetiva, a qual transcrevemos a seguir. OutrOlhar: O que vocês têm a dizer sobre o conteúdo
Profª Analice conversa com Joaquim Lannes, editor do OutrOlhar publicado na edição nº 22 do OutrOlhar? Maria de Fátima: Primeiro vamos elogiar as edições anteriores. Os professores de português daqui já trabalharam com o jornal OutrOlhar em sala. Ficamos chateados porque tínhamos muito respeito pelo jornal e quando recebemoso nº 22, ficamos aborrecidos pela situação de colocar a escola como uma cadeia. OutrOlhar: A foto das
grades em um dos corredores foi tirada no interior do colégio. Só foram feitas, depois de ouvirmos os estudantes que nos chamaram atenção para o fato e porque tivemos acesso ao local da foto. Analice: Sobre a grade, eu ainda não tinha escutado nenhum comentário sobre incomodá-los.É a única forma deles terem o material pedagógico. Não prejudica na aprendizagem, de forma alguma.
Maria de Fátima: A escola é situada em uma comunidade delicada. Coloca-se aqui grade nos computadores, nas impressoras, na televisão. Quem chega aqui para visitar fala: “Pra que isso?”, mas é para resguardar os recursos didáticos e pedagógicos, para garantir qualidade. OutrOlhar: Outra questão levantada pela matéria que parece ter incomodado diz respeito ao refeitório, vocês teriam algo a acrescentar? Analice: Não existe refeitório, ela (repórter) colocou que era bom. Ela colocou que nossa biblioteca é ruim; ela é ótima. Colocou que nosso refeitório é regular ou bom, e a gente não tem refeitório. Temos cozinha. Refeitório é onde as pessoas sentam e almoçam. Então eu estava exatamente questionando a matéria dela, tirando o valor. Na
hora que ela valorizou uma coisa que a gente não tem, e o que a gente tem ela não valorizou, eu questionei. OutrOlhar: A linha editorial do OutrOlhar é voltada para despertar a reflexão dos alunos no meio em que vivem, na escola e na sociedade. O que vocês acham dessa iniciativa? Maria de Fátima: Acho excelente, só que nessa edição a gente não gostou. Nem chegamos a distribuir. Ficamos pensando: seria bom levar para eles mesmos terem esse olhar crítico? Analice: A gente até achou que seria uma boa forma de trabalhar, mas temos professores e professores, alunos e alunos, que poderiam levar para outro lado, então ficamos com medo de colocá-lo em sala de aula e não saber trabalhar.
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ENTREVISTA 15
Jogos que ensinam e descontraem as salas de aula ARQUIVO PESSOAL
Pedagoga defende a utilização de atrativos como apoio ao aprendizado Eduardo Nascimento Thiago Soares Brincar é coisa de criança? Jogos em sala de aula parecem uma coisa fora do comum? Saiba que não é bem assim. Em vários estudos sobre a educação já se fala da utilização de jogos como apoio ao ensino tradicional. Em entrevista ao OutrOlhar, a pedagoga Maísa Maia Barbosa dos Santos, 38, formada pela UFV, conta sua experiência como criadora de jogos que servem de suporte à educação, tanto de nível fundamental quanto de ensino médio. Em Viçosa, na Escola Estadual Dr. Raimundo Alves Torres (Esedrat), onde sua filha Maria Clara Barbosa Maia Lima, 11, cursa o 6º ano, os números serviram como tema. A professora pediu aos alunos uma releitura de jogos matemáticos e as crianças teriam de criar ou recriar um desses. Daí nasceu o A Turma 606 na Terra da Matemática. Na história, Maria Clara e seus colegas acham um velho livro de matemática
Maísa Maia mostra de que forma os jogos de tabuleiro podem, junto aos livros, auxiliar no aprendizado na biblioteca. Ao abrirem, descobrem um portal que os transporta ao reino do Mago Sudoku, que embora não fosse mau, gostava de transformar aqueles que não vencessem seus desafios em elementos matemáticos garantindo a continuidade dos números e afastando a solidão. Maísa quis trazer os estudantes para mais próximo do conhecimento. Segundo ela, é importante não estimular a competição: “Na Turma 606
o vencedor não é o que chega primeiro. O grupo todo deve vencer conjuntamente. O segundo, terceiro e demais colocados sempre terão outras chances de se recuperarem, assim, eles aprendem que para vencer, precisam trabalhar em conjunto”, relata. A sala de aula não deve ser encarada como o único local de aprendizado, afirma Maísa. Ela ressalta que, atualmente, está sendo muito comum o uso dos jogos RPG como auxílio ao ensino de
História. “Mostrar ao aluno que ele também pode confeccionar o próprio conhecimento só acrescenta. O ensino precisa de outros apoios. Somente o giz e quadro não formam o conhecimento que se pretende”, explica. O exemplo não fica só em Viçosa. A convite do Secretário do Meio ambiente do estado do Acre, a pedagoga desenvolveu outros dois jogos, um voltado inteiramente ao público adolescente. Criados a partir do projeto
Zoneamento Ecológico e Econômico do Acre, os jogos discutem temas relacionados ao estado, como a floresta, cultura, biodiversidade e já estão sendo aplicados em salas de aula do estado. E computador? Para ela, o tabuleiro permite trabalhar todos os conteúdos dos jogos eletrônicos. Em escolas públicas de Viçosa, muitas vezes, não há computadores suficientes aos alunos “O tabuleiro é mais barato. Os alunos podem ajudar no processo de criação e utilizar materiais alternativos, de reciclagem. O jovem pode levar o jogo para casa sem se preocupar se possui ou não computador. Ele participa de forma muito mais cooperativa, que é a intenção nesse tipo de apoio”, explica A pedagoga vê a utilização da brincadeira em sala de forma bastante positiva. Para ela, o ser humano joga e brinca desde que nasce. O prazer e o envolvimento auxiliam muito no processo de aprendizagem de temas tratados como complexos. Meio ambiente, política, cultura e até mesmo a matemática, muitas vezes odiada pelos alunos, passou a ser vista de forma mais livre e leve.
Sexualidade ainda é tabu no âmbito familiar Juliana Corrêa
“Você ainda não está na idade certa para isso!” Quantas vezes você já ouviu essa frase dos seus pais? Para eles, os jovens não têm idade para nada, principalmente quando se fala sobre sexo! É durante a adolescência que surgem as principais dúvidas a respeito da iniciação da vida sexual. A psicóloga Andrea de Souza Trindade, em entrevista ao OutrOlhar, procurou esclarecer algumas das dúvidas mais frequentes que circulam entre a juventude, e que em muitos dos casos, não são respondidas pelos responsáveis. Segundo ela, não existe uma idade certa para se iniciar a vida sexu-
al, isso depende do desenvolvimento psicológico e mental de cada um. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, um dos maiores problemas da sexualidade na adolescência, é a falta de informação. E não se trata da informação disponível na mídia. É necessário que ela surja dentro da própria casa, com a família, o que na maioria das vezes não acontece. Para Andrea, informar os filhos também exige certos cuidados. Os pais precisam observá-los, cautelosamente, para terem uma noção do momento em que as questões e as dúvidas em relação à
sexualidade estão chegando, e assim, poderem orientá-los adequadamente. Adiantar-se demais, e querer conversar sobre o assunto antes da hora também pode complicar na decisão do adolescente, e até comprometer seu desempenho na hora do relacionamento. De acordo com a UNESCO, a idade da iniciação para as meninas é em torno 15 anos, e para os meninos, 14. Segundo Andrea “essa precocidade se dá devido à alta estimulação sexual presente na vida cotidiana, e como consequência, o interesse acaba chegando mais cedo. Já que o assunto muitas vezes não
é conversado, a curiosidade momentânea supera a busca pela informação, o que leva os jovens a quererem aprender na prática”. A psicóloga ressaltou ainda as consequencias que uma vida sexual precoce pode fazer. “Não se pode generalizar e dizer que as consequencias serão as mesmas para todos, pois tudo vai depender se a primeira vez foi ruim ou não, se foi boa ou não. Mas como geralmente os adolescentes não estão preparados, os resultados tendem a ser um tanto quanto traumáticos”. Então é preciso tomar certos cuidados, pois sabese que aprender na prática
não é sempre a melhor forma. Em tese, seria preciso buscar mais informações, e um preparo de como deve ser a iniciação sexual. Além das implicações psicológicas de uma vida sexual precoce, vale lembrar algumas outras, como a gravidez, a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, e outras. “Por isso, não vale a pena iniciar uma vida sexual por curiosidade, pressão do companheiro ou influência dos amigos”, segundo a psicologa. Para ela, “buscar informação dentro de casa e saber esperar pelo momento certo é sempre a melhor opção”, finaliza Trindade.
16 ESPORTE
OUTROLHAR NOVEMBRO DE 2010
Projeto da UFV promove prática da natação para estudantes Nadar oferece aulas de natação à comunidade de Viçosa Clara Júlio O que você pensa sobre praticar natação? Além de ser um dos poucos esportes que não possuem contra-indicações, a modalidade promove benefícios físicos e mentais. Com o objetivo de atender à comunidade de Viçosa, o Projeto Nadar, da UFV, oferece aulas para iniciantes, aperfeiçoamento de nado e treinamento de equipes para competições nos níveis mais avançados. O Projeto Nadar, que existe desde 1977 e passou por diversos nomes e formatos até chegar ao modelo atual, se estende a alunos de
todas as idades, com a meta de ser uma opção saudável de lazer e melhora da qualidade de vida. Embora se direcione principalmente para adolescentes e jovens, que formam aproximadamente 30% do total de alunos, as atividades abrangem desde a categoria pré-mirim (6 anos) à categoria máster (a partir de 19 anos). As aulas, que acontecem de terça à quinta em horários variados, são realizadas no Departamento de Educação Física da UFV. Outra característica importante a se destacar é que os instrutores são os próprios estagiários do curso de Educação Física, o que permite que o aprendizado ocorra nos dois sentidos: para quem é aluno e também para quem ensina.
KÍVIA OLIVEIRA
O coordenador do projeto, Paulo Lanes Lobato, afirma que o programa possui, atualmente, cerca de 200 pessoas inscritas, mas apresenta estrutura para um número ainda maior de alunos. Portanto, guarde esta informação: escassez de vagas não é problema! Ele informa Esporte proporciona benefícios físicos e mentais para todas as idades que as turmas, com a méclimáticas do município”, do projeto seria, deste modo, dia de dez alunos cada, facilitado através de uma parsão divididas por faixa etária, diz. O coordenador ainda ceria viável. num sistema em que se proA inscrição no programa é cura atender às necessidades chama a atenção para uma particulares de cada nada- possibilidade interessante. aberta e pode ser realizada no dor. Paulo também enfatiza Segundo ele, o Projeto Na- Departamento de Educação a importância de divulgação dar estaria aberto à formação Física da UFV. O custo das local da iniciativa. “A nata- de turmas específicas para as aulas é de R$35 mensais, e o ção é uma atividade muito escolas da cidade, caso haja treinamento noturno é grarecomendada para a saúde, interesse e comprometimen- tuito. Para quem quer deixar principalmente em Viçosa, to por parte das referidas es- o sedentarismo, a falta de opdevido às variadas condições colas. O acesso às atividades ções não é mais desculpa.
Ajudôu oferece prática de artes marciais Ludmila Alves
KÍVIA OLIVEIRA
Projeto Ajudôu, em parceria com a prefeitura, oferece aulas de judô e jiu-jitsu gratuitamente para alunos de escolas da rede pública da cidade. Há dez anos o Projeto Ajudôu incentiva a prática das artes marciais entre crianças e jovens do município de Viçosa. As atividades tiveram início em 2000 por iniciativa do professor de educação física da UFV, Evandro Pena. As práticas de judô e jiu-jitsu são oferecidas para os alunos na faixa etária de 5 à 16 anos das escolas públicas do município. “A importância do projeto está na formação social das crianças e adolescentes, além de dar a elas a oportunidade
de praticar uma atividade física”, comentou o professor Arlindo Paiva, atual responsável pelo Ajudôu. Ainda em sua opinião, as artes marciais exigem dos jovens muita disciplina. O professor está a frente do projeto há oito anos. As crianças e adolescentes integrantes desse projeto recebem, além das aulas gratuitas, os kimonos (vestimenta usada na prática de artes marciais), lanches e participam com frequência de palestras educativas. Arlindo destaca
que a disciplina e a obediência são requisitos básicos para a permanência no projeto e, por esse motivo, o conselho tutelar constantemente encaminha ao projeto alunos que precisam melhorar o comportamento e o desempenho escolar O Projeto Ajudôu treina hoje 62 alunos, os quais têm a oportunidade de participar de campeonatos de âmbito regional, nacional e até internacional. Uma das conquistas mais recentes foi o vicecampeonato na competição
Juvenil Internacional de jiujitsu na cidade de São Paulo. O Ajudôu tem parceria com o “Bom de Bola, Bom de Nota”, projeto este já enfocado em uma edição anterior do OutrOlhar, com a Prefeitura Municipal e com a Associação dos Praticantes de Artes Marciais de Viçosa (ASPAMV). Arlindo Paiva finaliza explicando que os interessados em participar dos projetos devem procurar o Departamento Municipal de Esportes ou a academia da rua Virgilio Val, 27.
Qual a diferença entre jiu-jitsu e judô? O Ajudôu incentiva a prática de duas artes marciais japonesas: o judô e o jiu-jitsu. O jiu-jitsu, no Brasil desde 1915, se caracteriza pelo uso de golpes específicos para derrubar, dominar e submeter o oponente. Tais golpes podem ser torções de braço, tornozelo e estrangulamentos, para imobilizar o adversário. Inclui também quedas, golpes traumáticos e defesas pessoais, conhecidos por saídas de gravata, esquivas, contra-golpes. O judô, por sua vez, é uma vertente do próprio jiu-jitsu, porém com técnicas menos perigosas e é mais defensivo. Exige muita coordenação motora e um bom repertório de movimentos para ataques e defesas, os quais se relacionam com o trabalho mental do esportista. Esse esporte passou a ser praticado no Brasil em São Paulo no início da década de 20, sendo ensinado por Takaharu Saigo. A classificação do nível de habilidade dos praticantes de judô e jiu-jitsu é distinguida através das faixas coloridas, porém cada arte marcial tem uma escala de cores diferentes.