OutrOlhar | Especial | Agosto de 2010

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ANO 7 | EDIÇÃO ESPECIAL | AGOSTO 2010

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFV

Erivam de Oliveira

Muito além da sala de aula

Para escolher o seu curso, não basta ficar preso às disciplinas. Saiba um pouco mais sobre atividades da Universidade que colocam o conhecimento em prática ESTÁGIO

SAÚDE

Confira as inúmeras opções de trabalho oferecidas na universidade

Estudantes de medicina e enfermagem conhecem cedo a realidade da profissão

páginas 4 e 5

página 11

ENGENHARIA

AGRÁRIAS

Participação feminina no curso ainda é menor, mas cresce a cada dia

Criação de animais e fábrica de ração permitem contato direto com a prática

página 9

página 12


apresentação apresentação Quatro Pilastras

Um dos símbolos da UFV, elas foram construídas quando a Universidade ainda nem existia, na época da Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV). Quando se vem da cidade para o campus, você lê em cada pilastra um verbo em latim com as iniciais da ESAV: Ediscere, Scire, Agire e Vincere. Mas, se você não entendeu nada, pode ficar tranquilo. Ao sair do campus, estão os correspondentes em bom português: Estudar, Saber, Agir e Vencer. Uma síntese do processo de formação superior.

Parada Obr Projeto de Pesquisa Projeto de pesquisa é um estudo desenvolvido para aprofundar os conhecimentos acerca de algum assunto. A pesquisa sempre é orientada por um professor responsável e pode ser feita individualmente ou em grupos. Existem instituições direcionadas a incentivar financeiramente a pesquisa nas universidades, como o CNPQ (agência do Ministério da Ciência e Tecnologia) e a Fapemig (responsável pelo apoio a pesquisas do Estado de Minas Gerais). Um projeto de pesquisa sempre resultará numa apresentação a uma banca especializada, seja em forma de monografia de graduação, dissertação de mestrado ou tese de doutorado. Muitos alunos utilizam os resultados da pesquisa feita durante a graduação como trabalho de conclusão de curso e continuam estudando o assunto depois de formados.

EDITORIAL

Opções paralelas proporcionam formação de qualidade Mostrar que a formação superior extrapola o ambiente de sala de aula, os rigores dos procedimentos e conteúdos acadêmicos, ou mesmo dos currículos escolares. Esse foi o grande desafio colocado sob a responsabilidade de nossos estudantes-repórteres que produziram mais esta edição especial do jornal OutrOlhar. Tudo, como sempre, com muita riqueza de informações

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e com a preocupação de se utilizar uma linguagem agradável, simples e acessível. Algumas instituições de ensino têm a preocupação de oferecer aos seus alunos um amplo leque de opções paralelas que, certamente, enriquecem o conteúdo dos cursos e ajudam a tornar a vida do aluno mais atrativa e dinâmica. E na UFV não é diferente. Assim, durante semanas

nossos estudantes-repórteres se empenharam em recolher e trabalhar o depoimento de inúmeras fontes, responsáveis pelos temas e setores focados nos textos, registrando os fatos mais interessantes que ilustraram as matérias veiculadas. Não foram medidos esforços para oferecermos as informações de qualidade que você, leitor, certamente poderá utilizar para definir e planejar a

sua vida acadêmica, extraindo dela o máximo possível, no sentido de obter uma excelente formação ou optar por um curso que vá ao encontro de suas aspirações futuras. Dessa forma, o jornal OutrOlhar, dentro dos objetivos que norteiam nosso projeto, continua atento para produzir informação numa ótica diferenciada, uma vez que da pauta até a edição final, nossas edições

são idealizadas e elaboradas por estudantes como você, sob a orientação de professores oriundos do mercado de trabalho. Esperamos que esta edição seja um reforço de conhecimento e estímulo ao aprendizado, e que todos possam apreciar a leitura. Joaquim Sucena Lannes Editor

Edição Especial - Agosto de 2010


apresentação apresentação

rigatória Para não ficar perdido nas próximas páginas, você deve prestar atenção nestes conceitos básicos

Por Caroline Lomar, Lucas Gadbem e Rodrigues Alves

Foto e Arte: Rodrigo Castro

Convênios Internacionais

Quem nunca sonhou em viajar para fora do país, conhecer novos lugares, culturas e hábitos diferentes? Imagine então poder conviver com tudo isso e ainda ter experiências de trabalho e estudo. A Universidade Federal de Viçosa oferece essas oportunidades através de convênios e parcerias realizadas com universidades de todos os cantos do planeta. São mais de 75 instituições, em 21 países – que vão de Escócia ao Japão, de Estados Unidos à Holanda –, conveniadas à UFV. Para se inscrever nos programas, o graduando deve atender alguns requisitos que sempre constam nos editais, como bom nível de inglês, boas notas, participação em projetos de extensão e pesquisa e estar cursando algum período específico. A dica é ficar atento e não deixar essa chance escapar.

Projeto de Extensão O projeto de extensão é, por assim dizer, um projeto de pesquisa que ultrapassa os muros da universidade. A extensão tem por objetivo integrar a universidade e a comunidade em que ela está inserida, através de projetos que, ao mesmo tempo, ponham em prática o que se aprende em sala de aula e beneficie a comunidade em geral.

Chefe do Departamento de Comunicação Social (DCM): Prof. Ernane Corrêa Rabelo Edição especial do jornal-laboratório do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Endereço: Vila Giannetti, Casa 39, Campus Universitário - 36570-000 - Viçosa, MG Tel: 3899-2878

Reitor: Prof. Luiz Cláudio Costa Diretor do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes: Prof. Walmer Faroni

Edição Especial - Agosto de 2010

Coordenador do Curso de Comunicação Social/ Jornalismo: Prof. Carlos d’Andréa Editor Prof. Joaquim Sucena Lannes Registro: MT/RJ-13173 Editor de Fotografia Prof. Erivam de Oliveira Registro: MT/SP-20193

Subeditores Caroline Lomar, Daniel Fernandes, Lucas Guerra e Rodrigues Alves

Diagramação: Diogo Rodrigues

Redação Camila Caetano, Caroline Lomar, Daniel Fernandes, Diogo Rodrigues, Felipe Pinheiro, Kelen Ribeiro, Kívia Oliveira, Lilian Lima, Lucas Gadbem, Lucas Guerra, Maria Clara Corsino, Mayara Barbosa, Monizy Amorim, Murilo Araújo, Murilo da Luz, Nayara Souza, Olívia Miquelino, Paula Machado, Rodrigo Castro, Rodrigues Alves

Tiragem: 25000 Exemplares

Impressão: Divisão Gráfica Universitária

Os textos assinados não refletem a opinião da Instituição ou do Curso, sendo de inteira responsabilidade de seus autores

Revisão Final Rodrigues Alves e Diogo Rodrigues

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bacharelado bacharelado

Iniciação Científica dá experiência Projetos trazem vantagens para a universidade e também enriquecem o currículo do estudante Kívia Oliveira

A iniciação científica é uma oportunidade para os alunos de graduação terem o primeiro contato com os trabalhos científicos vinculados à universidade. Através do financiamento por órgãos como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minhas Gerais (Fapemig), o programa oferece uma bolsa – contribuição em dinheiro – como forma de incentivo para que os estudantes façam pesquisas extra-curriculares. Os alunos que têm interesse em trabalhar com pesquisa devem ficar atentos. As bolsas são distribuídas entre os departamentos da universidade e o aluno, independentemente do período que esteja cursando, desde que tenha boas notas, deve procurar o professor e manifestar interesse em trabalhar em determinada pesquisa. Após o processo de seleção, o estudante começa seus primeiros momentos da iniciação. Na universidade, a iniciação científica é bastante valorizada.

Kívia Oliveira

ESTUDANTE DE FÍSICA realiza trabalho de iniciação científica no seu departamento O curso de física, por exemplo, tem 30 alunos trabalhando com pesquisas nas áreas de física experimental e física teórica. Segundo o coordenador do curso de física, Alexandre Tadeu, “o programa é vantajoso tanto para o curso, que eleva sua qualidade com os alunos motivados, quanto para o professor e a universidade, que são beneficiados pelos méri-

tos de produção de conhecimento científico.” Do outro lado, o aluno também tem suas vantagens. De acordo com o bolsista Saimon Filipe Covre, “o estudante que faz a iniciação científica adquire experiência no meio da pesquisa acadêmica, além de produzir fora das disciplinas obrigatórias, o que é um diferencial no currículo. Sem contar a ajuda financeira.”

A iniciação científica está disponível para os alunos de bacharelado. Na licenciatura há oportunidade semelhante, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), que foca o desenvolvimento de projetos voltados para educação e ensino, o que não impede o aluno da licenciatura de se candidatar também à bolsa de iniciação científica.

Museus da UFV são alternativas de estágio Paula Machado

Paula Machado

A Universidade Federal de Viçosa possui sete museus vinculados a ela. Configurados como espaços educativos, eles contribuem tanto para a formação da comunidade – que pode visitálos – quanto para os estudantes da própria UFV, que utilizam suas dependências para as aulas e podem também estagiar nesses locais. Os museus da universidade trabalham em diferentes áreas do conhecimento. Existe a Casa Arthur Bernardes, que conserva objetos do ex-presidente natural de Viçosa; o Museu Histórico da UFV, que preserva um acervo representativo da trajetória histórica da Universidade; a Pinacoteca, que reúne obras de diversos estilos de arte contemporânea

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FACHADA do Museu Histórico da UFV, na Villa Giannetti brasileira; o Museu de Anatomia Animal Comparada, o qual expõe as anatomias de vários tipos de animais; o Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef, que reúne um acervo de rochas, minerais e solos, além de promover ações em educação ambiental; o Museu de Zoologia João Moojen, onde mais de 20 mil peças de coleções dedi-

versas espécies estão reunidas; e o Parque da Ciência, um centro de ciências interativo repleto de experimentos. Segundo afirma Priscila Ribeiro Soares, futura bacharel em ciências biológicas e estagiária do Museu de Zoologia João Moojen, essa atividade permite ao estudante vivenciar na prática aquilo que

se vê em teoria na sala de aula. A estudante de física e estagiária da Pinacoteca, Marilane Bhering, ressalta que o principal ganho de se trabalhar em uma instituição como essa é o pessoal. O jornalista e coordenador da equipe de comunicação do Museu de Ciências da Terra, Vitor Nascimento Secchin, destaca que os museus são lugares alternativos de se fazer estágios. Nesses locais, é possível trabalhar com dinâmicas e conteúdos diferenciados e, para ele, é isso que atrai os estudantes. Para o estudante de direito e estagiário do Museu Histórico da UFV, Edson Balbino, “é uma forma mais tranquila de estagiar e estar em contato com a cultura. Aqui também é possível conhecer outras realidades e ter uma visão mais ampla do passado e do futuro”, afirma.

Extensão na prática

Monizy Amorim

Muitas vezes o estudante chega à universidade ansioso por cursar, já no primeiro período, disciplinas práticas, que o permitam ter algum tipo de contato com a futura profissão. Porém, normalmente os primeiros períodos da graduação são mais teóricos e, por isso, alguns alunos desistem do curso logo no início, por achar que ele não corresponde às suas expectativas. Em alguns cursos da Universidade Federal de Viçosa existem projetos de extensão que permitem ao aluno um contato mais amplo com a profissão desde o início da graduação. Um deles é o curso de extensão em dança de salão, oferecido pelo curso de dança da UFV para a comunidade viçosense e universitários. Nele, o calouro de dança começa como monitor, ajudando os estagiários responsáveis por dar aulas no curso. Depois de um ano ajudando na monitoria, o estudante também pode ser professor de dança. Outro projeto de extensão no qual os alunos podem ingressar desde o primeiro período é a Rádio Itinerante, do curso de comunicação social/ jornalismo. Nele, os estudantes de comunicação ensinam os membros da comunidade a linguagem jornalística radiofônica, para que eles possam fazer seus próprios programas. Nesses projetos, nem sempre é exigido que o aluno tenha cursado muitas disciplinas práticas de seu curso, o que, em muitos casos, animam os estudantes a continuarem no curso escolhido, como aconteceu com a caloura de comunicação Marcelle Louise. “Participar do projeto me deu ânimo para continuar, porque no início é muita teoria. Estar na rádio é bom, porque permite que eu entre em contato com a profissão mais cedo”, conta.

Edição Especial - Agosto de 2010


bacharelado Estagiando para a vida bacharelado O que é

Bacharelado

A experiência de se aprender na prática, através do estágio, tudo aquilo que foi aprendido em sala Kívia Oliveira

Mayara Barbosa

Quando pensamos em ingressar numa universidade federal, uma das preocupações é de que forma vamos colocar tudo o que aprendemos na sala de aula em prática. Os cursos extracurriculares e estágios conseguem fazer com que os alunos tenham como vivenciar a profissão escolhida antes mesmo de se formar. O estágio é um processo de aprendizado importantíssimo para um universitário que queira se transformar num profissional qualificado. Na prática, o estudante vai conviver com as dificuldades de sua carreira no dia a dia. E vai estar preparado para agir de maneira mais adequada quando ingressar no mercado de trabalho. No curso de Comunicação Social/ Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa, os estudantes têm a oportunidade de trabalhar com a profissão através da Coordenadoria de Comunicação Social da instituição (CCS). A CCS é responsável pelos órgãos de comunicação da universidade. Ela abrange a Rádio Universitária, a TV Viçosa, o Núcleo de Produção de Arte, o site e o jornal da UFV, além do Núcleo de Divulgação Científica. Nesses diversos veículos, existem 26 estagiários, que recebem algum tipo de bolsa – em dinheiro ou alimentação gratuita no Restaurante Univer-

ESTAGIÁRIOS da CCS produzem matéria para o telejornal sitário. “Com o estágio os alunos saem com adensamento de conhecimento e exercitam na prática o que aprendem em sala de aula. Eles criam habilidade nas relações interpessoais, a ética profissional com os colegas e com as fontes”, diz a coordenadora da CCS e professora do curso de jornalismo, Kátia Fraga.

Dentro da CCS, os alunos de jornalismo atuam ativamente. Eles produzem e fazem matérias para as mídias com a supervisão de jornalistas, que vão orientar na execução das atividades com base em suas experiências como profissional. A estudante de jornalismo Lorena Tolomelli, de 21 anos, afirma que é difícil conciliar aula e

estágio, mas que o estágio é muito importante para sua formação. “A CCS é um lugar em que eu tenho realmente contato com o jornalismo, e posso aprender na prática a hierarquia, como me portar no mercado de trabalho. Além disso, é um diferencial para meu currículo. Isso faz diferença na hora de procurar um emprego”. Não são só estudantes de jornalismo que podem estagiar na CCS. Alunos de arquitetura também fazem parte da área de criação artística da instituição. Os estudantes do curso de bacharelado em direito da UFV também podem ter contato com a prática dentro da universidade, através do Laboratório de Práticas Jurídicas e o Posto Avançado da Justiça Especial Federal. O Laboratória de Práticas Juridicas atende a população carente da cidade de Viçosa, sem nenhuma restrição de causa. Nela, os alunos, a partir do sétimo período, dão orientação à comunidade. Eles acompanham e ajudam a solucionar casos com a supervisão de um professor do curso. Dentro do laboratório, os alunos têm contato com casos de direitos reais, usocapião e casos familiares, como de pensão e separação, por exemplo. “Aqui o aluno tem a oportunidade de ajudar a comunidade e ao mesmo tempo aprender o conhecimento que está sendo orientado pelo professor, desenvolvendo atividades próprias de um advogado”, conta o coord-

Quando o estudante alcança o título de bacharel, significa que ele está apto a desenvolver sua profissão no mercado de trabalho. Na prática, são todos os outros cursos que não estão aptos a dar aulas para ensino fundamental e médio, como jornalismo, direito ou engenharia elétrica, por exemplo. Quem segue a carreira de bacharel também pode continuar os estudos com mestrado e doutorado e ingressar na carreira acadêmica, se tornando professor universitário.

neador do laboratório e professor do curso de direito, Gabriel Pires. O Posto Avançado da Justiça Especial Federal cria um tipo de prática que não existe em Viçosa. O posto ajuda pessoas carentes em processos contra entes federais, atendendo casos que inicialmente não precisam de um advogado. Os estudantes acompanham os casos e as audiências públicas que acontecem no posto e aprendem a lidar com casos e a se portar em audiências jurídicas e com as partes. Para a aluna do nono período de direito, Barbara Fernandes, de 22 anos, a experiência deste estágio “dá uma boa base de vivência jurídica”. A experiência de se ter acesso à prática ainda no curso enriquece o conhecimento absorvido em sala de aula e coloca o aluno em contato com o que vai encontrar no mercado de trabalho e na vida.

Empresas Juniores simulam ambiente do mercado Paula Machado

Empresas Júniores (EJ) são locais em que estudantes de graduação podem trabalhar, se preparando para o mercado de trabalho em ambientes mais parecidos com o de uma empresa. Trata-se de uma instituição civil sem fins lucrativos, apenas educacionais, formada exclusivamente por estudantes do ensino superior com o objetivo de oferecer serviços de boa qualidade à baixos custos Edição Especial - Agosto de 2010

para a sociedade. Assim, além de estimular o crescimento profissional dos seus integrantes, as EJ também contribuem para o desenvolvimento do empreendedorismo de sua região. Quem participa de uma empresa júnior tem contato na prática com aquilo que vê em teoria na sala de aula, o que complementa sua educação formal. O diretor de marketing da EJ de secretariado executivo da UFV (SEC Jr.), Valério Bazoni, diz que existem trocas

de saberes entre o que ele aprende na teoria e na EJ. Assim é possível compartilhar suas experiências com o professor, fazer perguntas melhor formuladas e expressar suas opiniões em sala de aula. Também há a oportunidade de conviver com colegas em um ambiente que simula o do mercado de trabalho. Isso porque nela, como em outras empresas comuns, existem hierarquias: alguns integrantes exercem funções de diretor de marketing, diretor de qualidade,

presidente etc. Para o assessor de marketing da empresa júnior de gestão de cooperativas da UFV (Campic), Rogério Ferreira Coelho, as hierarquias são importantes para impor respeito e seriedade num ambiente de amizade. Outra vantagem dessas empresas é que, pelo fato de os próprios estudantes exercerem a sua gestão, eles possuem maior liberdade para trabalhar e dar suas opiniões. Além disso, como afirma a gerente de administração e finanças da

empresa júnior de economia da UFV (Ejesc), Aline Magalhães Fernandes, “lá você pode cometer erros e aprender com isso, o que é mais raro no mercado de trabalho”. A UFV possui empresas juniores em várias áreas: biologia, gestão de cooperativas, ciências econômicas, agronomia, agronegócio, zootecnia, secretariado executivo, educação física e engenharias civil, ambiental, florestal, de alimentos e de produção.

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licenciatura licenciatura

Fotos: Daniel Fernandes

O que é

Licenciatura

A licenciatura prepara os estudantes para serem professores de ensino básico. Alguns cursos oferecem a opção de se formar em licenciatura e bacharelado, mas para sair licenciado é necessário que se cursem disciplinas ligadas aos aspectos pedagógicos. Na UFV, os cursos que oferecem licenciatura são ciências biológicas, ciências sociais, dança, educação física, educação infantil, física, geografia, história, matemática, pedagogia e química.

FUTURAS INSTALAÇÕES do Departamento de Química, que dá suporte a um dos cursos de licenciatura da UFV

Estudar o ensino para querer ensinar A Didática é disciplina obrigatória em todas as licenciaturas, e ajuda a pensar o desejo de ser professor Murilo Araújo

Tem tanta coisa boa para saber por aqui, que temos a certeza de que você não deixará de ler esse jornal inteiro. Porém, se está explorando esta seção com mais cuidado, mais carinho, provavelmente você pensa em ser professor. Seu caminho na Universidade certamente será o de uma licenciatura. Se for mesmo, qualquer que seja o curso, em qualquer área, uma das coisas que você irá encarar nas salas de aula é a disciplina de Didática, e talvez isso nem seja uma grande novidade. Mas o que andam pensando por aí sobre isso? Segundo a professora Veranilda Mota, do Departamento de Educação da UFV, muitos alunos chegam à Universidade com a ideia de que a matéria é desnecessária, e ainda não conseguem compreender bem o quanto ela é importante para a formação do professor. “A didática é muito mal interpretada como uma disciplina que vai ensinar a ensinar,

ANTIGO PRÉDIO da Química: estrutura renovada para atender melhor os estudantes e realmente isso não se ensina”, afirma. Mas apesar das visões distorcidas, a professora ainda acredita que a Didática é “o coração da licenciatura”.

“ A didática é muito mal interpretada como uma disciplina que vai ensinar a ensinar

Veranilda Mota, professora

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Esse campo de estudos foi criado no século XVII por dois educadores europeus, Raquítio e Comênio. Na época, foi definida por eles como “a arte de ensinar tudo a todos”. Desde lá, vem se desenvolvendo em uma série de perspectivas sobre o ensino e a aprendizagem, aprofundando seus estudos e agregando novas teorias, com contribuições da psicologia, da sociologia e de vários

outros campos. Na UFV, o que se estuda em Didática consta na ementa da disciplina, que recebe o código EDU 155 e é obrigatória para todos os cursos de licenciatura. Segundo a ementa, a disciplina traz os seguintes temas: “A didática na formação do professor; diferentes concepções de ensino no Brasil; a sala de aula como espaço interdisciplinar; a construção do

conhecimento em sala de aula; e o planejamento de ensino (se ficou perdido, a gente esclarece: na UFV, as matérias têm códigos, a ementa resume o que se estuda e o Catálogo é o seu manual de instruções. Nele consta quase tudo de que você precisa saber. Confira no site www.res.ufv.br). É exatamente por causa deste percurso que Veranilda encara a disciplina com tanta importância. Segundo ela, é “o momento em que se vai despertar o desejo de ser professor, mesmo, de uma maneira mais consciente. Não pela trajetória e pelos ensinamentos aprendidos ao longo da vida, mas pela forma como você começa a pensar a sala de aula, o professor, o aluno, quando você começa a perceber que existem muitos modelos diferentes de escolas e muitas concepções diferenciadas.” O estudante Tainan Paes, calouro do curso de geografia da UFV, acha “que deve falar bem de como o professor dá aula, dos métodos para poder passar a matéria, da relação do professor com o aluno, da relação do professor com a matéria e como passar isso de forma interessante, de forma útil para os alunos, baseado também numa ideia crítica, dentro da disciplina para formar cidadãos, além do conhecimento técnico”. Edição Especial - Agosto de 2010


licenciatura

licenciatura

Aprendendo a ensinar ensinando Estudantes de Letras e Secretariado têm oportunidade de virarem professores antes mesmo de suas formaturas Daniel Fernandes

Rodrigo Castro

“Minha postura mudou quando comecei a dar aula. Primeiro porque agora assisto às disciplinas com um olhar diferente. Faço o possível para não atrapalhar as aulas de meus professores e tento participar sempre que posso, pois sei o quanto isso é valioso.” É assim que o professor-bolsista e estudante de letras André Luiz dos Santos descreve sua experiência no Celin (Curso de Extensão em Língua Inglesa), que faz parte de um projeto maior do Departamento de Letras da UFV, o Prelin – Projeto de Extensão em Ensino de Línguas. O programa se destina principalmente ao ensino de línguas estrangeiras, especificamente o inglês, no caso do Celin, e o francês, do Celif (Curso de Extensão em Língua Francesa). Ele também é usado como laboratório para os alunos terem contato com a docência (aprender a ensinar), e os trabalhos podem resultar em pesquisas científicas. Um fator interessante e que serve como grande incentivo ao público-alvo dos cursos (formado principalmente por estudantes da própria universidade) é o preço, muito abaixo do que se cobra fora do campus. O Celin, por exemplo, cobra R$ 192 pelo curso extensivo, que dura um semestre letivo. Caso o aluno renove sua matrícula, ele

PLACA APONTA para as sedes dos cursos de línguas estrangeiras da UFV, Celin e Celif recebe desconto. A experiência dos professores no projeto faz com que eles passem a se esforçar ainda mais em relação ao próprio curso. “Sei que parte do meu aprendizado agora vem de outro lado: quando dou aula, preciso triplicar meu conhecimento sobre o conteúdo X para poder transmiti-lo com segurança e isso me força a estudar muito mais do que geralmente o faço na graduação.” É exatamente essa experiência dos

estudantes-professores que torna o Prelin um projeto de sucesso. “Os professores são respeitados em sala de aula como tais, mas não deixaram ainda de ser estudantes, o que nos obriga a estar sempre estudando e adiquirindo conhecimento”, diz André. Numa semana são ministradas quatro horas de aulas no curso extensivo e seis horas no intensivo, de acordo com o site do projeto. Na opinião de André, os quatro

meses de aula são o bastante para a consolidação de uma metodologia de ensino própria e segura. “Foi uma questão de tempo para descobrir quem eu sou como professor e como gosto de conduzir minhas aulas – sempre debochadas, irreverentes e descontraídas. Mas tenho sempre em mente que, antes de tudo, minha posição na sala de aula é a de ensinar.” Além de tudo isso, o estudante do 6º período ainda afirma que as grandes amizades

feitas no curso são um dos frutos que mais valem a pena neste trabalho, mesmo com a insegurança de quem está começando a carreira profissional. “Sua idade será a mesma dos alunos e basicamente a rotina diária é a mesma. Fazer amigos é apenas uma consequência de um trabalho bem feito e, modéstia à parte, fiz grandes amizades no Celin.” O ingresso dos professores é feito por uma seleção organizada pelas coordenações dos cursos. No caso do Celin, o aluno interessado passa primeiro por um treinamento, o Teacher’s Training Course, em que há atividades de leitura, escrita, micro-aulas e observação das aulas do curso. “Ao término do treinamento, o estudante realiza uma prova didática, em que apresenta uma aula para a banca examinadora, composta pela coordenação e pelo professor que ajudou no treinamento”, explica a coordenadora do projeto, professora Maria Cristina Pimentel Campos. Com isso, espera-se garantir o nível de excelência no ensino das línguas. “Dessa forma o estagiário desenvolve tanto as quatro habilidades da língua (escuta, fala, escrita e leitura), quanto práticas e métodos de ensino, a fim de que, futuramente, ele venha a se tornar verdadeiro educador na área de idiomas”, finaliza Maria Cristina.

Pibid valoriza o magistério e auxilia estudantes Kelen Ribeiro

Com o objetivo principal de incentivar e valorizar o magistério nos cursos de licenciatura das universidades públicas do país, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), que atua na UFV desde novembro de 2008, foi criado em 2007 por uma ação conjunta do Ministério da Educação (MEC) e da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no intuito de inserir os bolsistas num trabalho atuante nas escolas de ensino báEdição Especial - Agosto de 2010

sico da rede pública, ao lado dos professores destas escolas. Inicialmente, foram aprovados quatro subprojetos na UFV, que beneficiavam os cursos de matemática, física, química e ciências biológicas. Com uma duração prevista de 24 meses, participaram do projeto cerca de 60 bolsistas. Atualmente, os cursos de sociologia, pedagogia, letras – português e inglês –, geografia, história e educação física também fazem parte do Pibid. Doze escolas de ensino básico da rede pública de Viçosa são beneficiadas pelo projeto e contam

com o trabalho de 107 bolsistas, 15 professores supervisores das escolas estaduais e 7 coordenadores de área, que são professores da UFV. A coordenadora de sociologia, Daniela Rezende, diz que os alunos participantes do projeto têm um melhor desempenho no curso, devido à experiência que o Pibid oferece. “O projeto contribui para que a formação em licenciatura seja bastante ampla e sólida, pois os alunos aprendem a desenvolver materiais didáticos, têm contato com estudantes do ensino médio, compreendem o funcio-

namento de uma escola em uma gestão administrativa e conhecem o planejamento e a rotina de um professor”. A aluna de ciências sociais Ana Paula Guedes entrou no Pibid neste ano e concorda com o fato de que seu desenvolvimento na experiência de licenciatura é muito maior. “Unindo a teoria da sala de aula com a prática que executamos no projeto, nos tornamos melhores profissionais, com muito mais rapidez.” Ela diz que o dinheiro que recebe do Pibid contribui para pagar seus gastos na cidade.

Não só os alunos da UFV são beneficiados, como também os estudantes das escolas públicas onde os projetos acontecem. A professora Marilene de Lima Dutra é também uma das supervisoras do projeto na Escola Estadual Dr. Raimundo Alves Torres. Ela diz que a participação dos alunos neste tipo de programa permite a realização de atividades que vão muito além do ensino teórico em sala de aula. Ela prepara, juntamente com os alunos de sociologia da UFV, um censo para conhecer a realidade da comunidade onde a escola está localizada.

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engenharias engenharias

A engenharia das Engenharias

Entenda como funcionam os projetos de extensão, pesquisa e estágios dos diversos cursos de engenharia da UFV Camila Caetano

Camila Caetano

Escolher um curso de graduação ou uma profissão não é tarefa tão fácil quanto demonstram os guias para vestibulandos. O “X” da questão envolve a afinidade que se tem com a profissão escolhida e a infraestrutura oferecida pelas instituições, como laboratórios, áreas experimentais, entre outros. Além disso, a qualidade dos professores é outro ponto de destaque. Porém, esses fatores por si só não são suficientes para determinar o sucesso profissional dos estudantes. A engrenagem que move os cursos de engenharia é construída, também, pelas pesquisas, estágios e projetos de extensão, estudos de extrema importância tanto para os que optam por mestrado, doutorado e afins, quanto aos que pretendem se inserir no mercado de trabalho. O Núcleo de Pesquisa em Ambiência e Engenharia de Sistemas Agroindustriais (Ambiagro) é um exemplo. Nele, alunos de diversos cursos (engenharia agrícola e ambiental, engenharia civil, matemática, física, agronomia, entre outros) têm a oportunidade de participar de estudos que

LABORATÓRIO do Departamento de Enhgenharia Agrícola: estrutura que auxilia nos estudos contribuem para seu aprimoramento profissional e pessoal. O engenheiro agrícola e ambiental Mateus Bueno, durante a graduação, integrou o núcleo por quatro anos. “O Ambiagro representou e representa uma importante etapa na minha formação profissional

como engenheiro agrícola e ambiental”, afirma. Para o graduando em agronomia Elton Eduardo, o núcleo aumenta o convívio entre graduandos, pós graduandos e professores. “É um excelente grupo de pesquisa, que visa sempre à participa-

ção conjunta de seus integrantes. Além de valorizar a boa pesquisa, valoriza também as pessoas, funcionando como um grande grupo de amigos, uma família”, comenta. A engenharia desse campo de estudo é complementada pelos estágios. Cada uma das áreas pos-

sui oportunidades para o estudante conhecer um pouco do dia de trabalho de sua profissão. As chamadas estações experimentais (espaço onde são feitas pesquisas e aulas práticas) são outro fator preponderante nos cursos. O Departamento de Engenharia Agrícola da UFV apresenta várias estações, como a de tratamento de esgoto e a lagoa de estabilização, por exemplo. A doutoranda Fabiana Ferreira afirma que a UFV tem uma ótima estrutura e os laboratórios de engenharia agrícola possuem todo material necessário para suas pesquisas. Assim como Fabiana, a professora do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV, Paola Lo Monaco, exalta a infraestrutura da Universidade nos cursos de engenharia. “Comparada às outras universidades que atuei, a UFV é top de linha”, diz. É dessa forma que a engrenagem das engenharias se move para construir um curso de destaque. A força motriz que dará energia a essa peça fundamental no cotidiano do profissional é nutrida por esses fatores, que vão muito além do que parafusos podem segurar.

Engenharia Agrícola e Ambiental da UFV é destaque em toda a América Latina Murilo Da Luz

O cuidado na preservação dos alimentos é uma grande preocupação atual, o que torna o armazenamento e processamento qualificados dos produtos agrícolas uma atividade fundamental. A UFV é considerada referência nesse setor em toda a América Latina graças à estrutura, à formação e à capacitação do profissional de engenharia agrícola e ambiental. A UFV foi a primeira universidade a ter no currículo aulas sobre armazenamento no Brasil e a técnica ganhou ainda mais espaço com a criação do Centro Nacional de Treinamento em Armazenagem

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– o Centreinar – que está localizado dentro do campus de Viçosa. Nele, já foram oferecidos diversos cursos, consultorias e assessorias a várias empresas da área, além de treinamento para mais de 20 mil pessoas de diversos países. O professor Tetuo Hara, um dos fundadores do Centreinar, diz que o Centro tem uma trajetória de sucesso desde sua fundação, há 34 anos. “Já colocamos profissionais em várias empresas, como a Bunge e a Cargill. No Ministério da Agricultura, nesse setor de armazenagem, trabalham cerca de 40 ex-alunos da UFV. Além disso, boa parte dos professores de várias universidades que atuam na área

também passaram por aqui”. Apesar de estar vinculado ao Departamento de Engenharia Agrícola, a prática do armazenamento é interdisciplinar. Ela depende, em algumas fases, da atuação de biólogos e pode ser incluída em pesquisas também por alunos do curso de engenharia de alimentos. Para o estudante que deseja seguir essa área, Tetuo Hara destaca o diferencial da UFV no setor. “A nossa estrutura física é muito boa, os conjuntos de cílios metálicos são maiores que os da Embrapa. Nós temos um laboratório de propriedades físicas que é equiparado ou superior a de muitas universidades americanas e canadenses”.

Diogo Rodrigues

SISTEMA DE ARMAZENAMENTO da UFV possui boa estrutura A UFV é uma das três universidades do país que preparam o estudante de engenharia agrícola e ambiental também para ser auditor em certificação no setor de

armazenagem. O corpo docente também é considerado referencial em pesquisa e traz para Viçosa estudantes de Cuba, Paraguai, Costa Rica e outros países das Américas. Edição Especial - Agosto de 2010


engenharias engenharias

Engenharia, substantivo feminino Predominância de homens nos cursos ainda é realidade, mas número de mulheres vem aumentando a cada ano Rodrigo Castro

Lucas Guerra Nayara Souza

Uma foto no quadro dos formandos datada de 1950 retrata uma realidade da época – o baixo número de mulheres inseridas em cursos considerados de homens, como engenharia, no caso, engenharia agrônomica, como era denominado o atual curso de agronomia da UFV. A figura é de Liene de Jesus Teixeira e os registros a apontam como sendo a primeira mulher a se formar em engenharia pela UFV. Depois de 60 anos, a realidade ainda não se alterou por completo. Apesar de não ser um fato recente as mulheres estudarem engenharia, os homens ainda são maioria nesse campo de estudo, fato capaz de despertar insegurança nas meninas no momento da escolha da profissão. Muitas delas temem não se adaptar ao curso e ainda sofrer preconceito, não só dentro da área, mas também dos familiares e amigos. De acordo com a estudante Meiriele Alvarenga, houve estranhamento de seus pais quando decidiu ingressar no curso de engenharia mecânica. “Meus pais perguntavam: você vai fazer o quê lá?”, conta. Entretanto, o que se tem visto é que as mulheres têm se destacado bastante como engenheiras, provando que o sucesso no curso e na vida profissional não se restringe a uma questão de gênero. A aluna de engenharia agrícola e ambiental Ana Cláudia Fernandes relata que as meninas da sua sala são as que

QUADRO DOS FORMANDOS em Engenharia Agronômica do ano de 1950. No detalhe, a primeira mulher a se formar pela UFV, Liene de Jesus Teixeira. Abaixo, sua ficha de matrícula na instituição.

possuem as maiores notas. “A gente nem ouve falar de diferenças, as meninas estão trabalhando em todas as áreas, até na mecanização”, diz. A estudante conta ainda que no mercado de trabalho existem algumas diferenças de áreas, mas que “para trabalhar, a galera faz concurso, e o concurso não diferencia homem de mulher”. Porém, em todo curso formado majoritariamente por homens, piadas e chacotas inevitavelmente acontecem. Quando a estudante Priscilla Leite decidiu fazer engenharia elétrica, sofreu um pouco de preconceito. Entretanto, foi esse o fator que a fez ter ainda mais vontade de estudar, para poder provar a todos que ela é capaz, Daniel Fernandes

PARTICIPAÇÃO feminina nas engenharias cresce a cada dia Edição Especial - Agosto de 2010

que não é o sexo que define aptidão. “Acabou sendo um incentivo quando eu ouvia as pessoas falando que era difícil. Isso me deu ainda mais vontade de fazer o curso”, diz. Em meio a tantos homens, as alunas ainda têm a companhia e o exemplo de professoras que, mesmo em número menor, estão presentes no curso. O mercado de engenharias demonstra um aumento no número de profissionais formados. Segundo o IBGE, no ano passado o número de engenheiros passou de 4,5% para 10%. Além disso, na UFV, de 2420 alunos que estudam nesse campo, 37,2% são mulheres. Ainda que culturalmente haja separação entre homens e mulheres em cursos de exatas, isso não pode ser considerado um aspecto capaz de criar uma segregação entre os sexos. “Na mecânica os meninos tem um pouco mais de percepção. Por cultura, eles já têm contato maior com o que é ensinado no curso. Mas depois de ingressar na UFV, o que determina seu sucesso não é se você homem ou mulher, mas a dedicação de cada um”, enfatiza Meiriele. Com o passar do tempo serão muitas outras a fazer parte do quadro das engenheiras da UFV.

Reprodução

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Conhecer para prevenir e remediar Alunos dos cursos de medicina e enfermagem são apresentados logo de início à realidade da saúde pública Rodrigues Alves

Se você se decidiu por algum curso da área de saúde com base no que fazem os personagens das séries médicas, é melhor rever sua posição. Os trabalhos dos personagens de Grey’s Anatomy, House e Plantão Médico servem para prender atenção do telespectador, mas estão longe de corresponder à realidade. Não só pela forma como os procedimentos médicos são aplicados na ficção como também por mostrarem um profissional que não atende às necessidades da sociedade brasileira. Para quebrar esses estereótipos comuns nas séries televisivas e no imaginário de muitos, os alunos dos recém-criados cursos de enfermagem e medicina da UFV têm, desde os primeiros períodos, contato direto com a situação do sistema público de saúde da região. O choque com a realidade está previsto tanto em disciplinas obrigatórias dos dois cursos como em projetos de pesquisa e extensão. A prática precoce é desenvolvida em visitas a casas, escolas, creches, salões de igrejas e associações de bairro, por exemplo. A coordenadora do curso de medicina, Cristina Dias, diz que as atividades estão de acordo com o que se exige no novo currículo das escolas médicas. Um dos objetivos dele é fazer com que o aluno não se forme médico apenas para tratar de pacientes doentes, privilegiar a especialização e pedir exames que encareçam o

ESTUDANTES de medicina e enfermagem encenam peça para tratar do combate à dengue tratamento. Os alunos do primeiro período do curso de medicina fizeram neste semestre uma inserção nas unidades básicas de saúde. Primeiro, eles diagnosticaram quais as necessidades dos adolescentes e, em seguida, montaram um programa de saúde que engloba palestras educativas sobre prevenção de gravidez, sexualidade e uso de drogas. Essas atividades também estão sendo importantes para o desenvolvimento de pesquisas no programa PET. No curso de enfermagem, os alunos saíram do campus para os bairros de Viçosa com trabalhos que abordaram higiene corporal, planejamento familiar e combate Lucianne Nogueira

CONTATO com a realidade da saúde pública desde o início

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Sue Hellen

à dengue, para a disciplina Educação e Saúde. Além dela, também existem no curso projetos de extensão que auxiliam a comunida-

de em questões de saúde pública, como envelhecimento, hipertensão e diabetes. Para muitos, foi uma surpresa

se deparar logo no início do curso com esse tipo de trabalho. “Pensei que eu ia vir para aula teórica ou no máximo para a prática em laboratório”, diz Sue Hellen Farias. A aluna de enfermagem afirma que com essas atividades há a preocupação por parte dos alunos, professores e preceptores de poder melhorar a situação da população viçosense. “Tudo isso faz com que a gente enxergue a realidade. A gente às vezes teoriza muito e não é o que acontece. A realidade é muito chocante”, afirma Ligiane de Almeida, aluna de enfermagem. Os futuros médico reforçam a importância da formação que busca um tratamento mais humanizado. “Eu acho legal esse contato, aprender como abordar, conversar, interagir, treinar procedimentos básicos”. O aluno Leandro Kuwae resume: “Ser médico não é apenas conhecer tudo sobre doenças, é também saber tratar as pessoas”.

Convênios com hospitais permitem a prática em níveis avançados Rodrigues Alves

A inexistência de um hospital-escola no campus da UFV não compromete o desenvolvimento de atividades práticas. A Universidade fez parcerias com hospitais da cidade, além de órgãos responsáveis pela saúde pública, para que os alunos possam vivenciar na prática os atendimentos a pacientes, as discussões clínicas e as intervenções cirúrgicas. No curso de medicina, os alunos passam a frequentar os hospitais, sempre acompanhados pelos docentes e preceptores (profissionais que auxiliam o trabalho dos professores responsáveis pelas disciplinas), no quinto período, com os estágios. Depois vêm o internato (os dois últimos anos que são

passados basicamente dentro do hospital) e a residência médica. A professora do curso de medicina da UFV, Elaine Travaglia, diz que, no próximo ano, a Universidade vai abrir residência médica (pós-graduação lacto sensu) nas áreas básicas: pediatria, ginecologia, cirurgia geral, medicina da família e comunidade e clínica médica. Ela acredita que a residência médica pode contribuir, assim como o curso de medicina, para melhorar a situação da saúde na região. Primeiro porque vai aumentar a proporção de médicos no interior de Minas Gerais (que é, segundo a professora, de 1 médico para 1.000 habitantes; em BH, é de 1 para 100). Muitos médicos permanecem na cidade mesmo após concluírem a pós-graduação. A residência influencia na qua-

lidade por três motivos: primeiro, permite criar nos hospitais um ambiente propício ao ensino, o que significa obedecer a certos protocolos; segundo, favorece a permanência de um médico que conhece a realidade local, tanto no nível primário, das unidades básicas, quanto nas especialidades; terceiro, por contribuir na formação dos futuros profissionais. “Os residentes acabam convivendo com os alunos de medicina, ajudam nas assistências e no desenvolvimento de pesquisas”, diz Travaglia. A parceria não é só interessante para a UFV e a sociedade viçosense. De acordo com a professora, os hospitais reconhecidos pelo MEC como ambientes de ensino recebem mais verbas pelo poder público. Edição Especial - Agosto de 2010


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Parcerias marcam Nutrição da UFV

Curso obteve conceito máximo no último Enade e cinco estrelas no Guia do Estudante nos últimos três anos Olívia Miquelino Lilian Lima

São 30 milhões de brasileiros hipertensos, um número que equivale à população do Canadá. Além da hipertensão, o diabetes e o colesterol são fatores de risco para doenças do coração, que matam milhares de brasileiros todos os anos. Por isso, a procura pelos conselhos de um nutricionista nunca foi tão grande como nos dias de hoje, o que fez aumentar o interesse por este curso superior. Com 33 anos de história, conceito máximo no último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, o Enade, o curso de nutrição da UFV é um dos melhores do país. Há três anos consecutivos classificado com cinco estrelas no Guia do Estudante, possui uma ampla estrutura voltada aos seus 265 alunos. São mais de 20 laboratórios, ambulatórios ligados ao ensino, pesquisa e extensão e um corpo docente formado por 23 doutores e três mestres. O currículo de nutrição estabelece o mínimo de quatro anos e meio, sendo oito períodos de dis-

ciplinas obrigatórias e optativas do curso e um semestre direcionado exclusivamente à realização de estágios. São três estágios obrigatórios que contam com a parceria de hospitais, empresas e prefeituras. No estágio orientado em nutrição clínica, o estudante acompanha a alimentação direcionada aos enfermos em leitos. Já na orientação em nutrição social, é realizado um trabalho junto à comunidade. “É muito bom ver o bem que a gente faz para eles”, afirma a aluna do quinto período, Olívia Coelho, sobre o Programa da Melhoria do Estado Nutricional de Ferro em pré-escolas, do qual faz parte. A parceria com empresas alimentícias facilita a inserção do estudante no terceiro estágio obrigatório, o supervisionado em nutrição industrial. “Estagiei dois meses na Garoto, o que representou uma vivência prática única. Lá convivi com profissionais já inseridos no mercado, que me passaram uma grande experiência”, conta a ex-aluna de nutrição da UFV e atual doutoranda em Ciências Alimentares, Mirelle Lomar. Além das oportunidades de es-

Kívia Oliveira

PESQUISA, extensão e convênios com empresas alimetícias oferecem oportunidades tágio, o graduando pode ter acesso a bolsas de iniciação científica e extensão participando de projetos acompanhados por professores do curso. Outro incentivo é a empresa júnior EMPNUT, que aproxima o estudante da realidade profissional. Mais um diferencial da

nutrição da UFV é o diálogo com outros cursos da universidade, como educação física, agronomia, bioquímica, entre outros. Outra exigência para se formar nutricionista pela UFV é a participação em atividades complementares, de no mínimo 60 horas.

“Buscamos formar bons profissionais, mas também pessoas que tenham uma visão mais ampla. Por isso, valorizamos a participação do aluno em órgãos colegiados e trabalhos voluntários”, afirma a coordenadora do curso de nutrição, Sílvia Priore.

Grupo de pesquisa Atividade Física e Performance reúne diversos cursos da UFV Caroline Lomar

Entre as diversas pesquisas e atividades realizadas pelo curso de educação física da UFV está o grupo Atividade Física e Performance, que faz parte do estudo sobre Biodinâmica do Movimento Humano. O objetivo da pesquisa é trazer contribuições ao conhecimento em torno da prática da atividade física. A pesquisa é comandada por diversos professores do curso em dois níveis de atuação – mestrado e doutorado. O grupo foi criado a partir da iniciativa de professores do Departamento de Educação Física assim que começaram os estudos Edição Especial - Agosto de 2010

para criação do mestrado na área, em 2001. Segundo um dos idealizadores do projeto, o professor Antônio José Natali, o norte dos estudos são as influências entre as atividades físicas e variáveis, como recursos ergogênicos – qualquer instrumento que facilite o exercício físico, como tênis especiais. “Estudamos os efeitos agudos e crônicos do exercício físico, os recursos ergogênicos em humanos e animais e a relação entre essas atividades, sejam físicas, esportivas ou laborais, e a qualidade de vida do indivíduo”, explica. Não só alunos do curso de educação física fazem parte da pesquisa. De acordo com Nata-

Kívia Oliveira

ALUNOS de educação física orientam a prática de exercícios li, alunos de cursos relacionados, como nutrição, também participam diretamente do grupo, investigando a relação entre alimentação e atividade física, assim como

mestrandos de educação física e doutorandos de outros cursos. O grupo interage ainda com o Departamento de Biologia Animal, através dos estudos de Fisiologia,

e com o Departamento de Veterinária, pesquisando os efeitos de esteroides anabolizantes em animais exercitados. Os testes são realizados em diversos laboratórios da Universidade e, segundo o professor Natali, contam com uma participação intensa dos alunos e da comunidade viçosense. “Neste grupo as pesquisas são realizadas em situações laboratoriais e cotidianas da prática de atividade física e, por isso, envolvem a participação da comunidade tanto como sujeitos das pesquisas quanto como, em alguns casos, pesquisadores, seja como professores da UFV ou alunos de mestrado”.

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agrárias agrárias

A pecuária leiteira na prática

Pioneiro no Brasil, PDPL possibilita aos estudantes participar, ainda na universidade, do manejo de gado leiteiro Maria Clara Corsino

Antes do leite chegar a sua mesa, o caminho é longo. São várias etapas de produção e processamento até atingir o consumidor final. Muitas dessas etapas são feitas ainda na criação das vacas. E é para melhorar a produção de leite que foi criado pela Universidade Federal de Viçosa o Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL). O PDPL é um projeto pioneiro entre as universidades federais, numa parceria com a empresa Nestlé. Há mais de 20 anos, os estudantes aprendem na prática a melhorar a vida do produtor rural, com soluções simples, mas que contribuem para dar mais qualidade ao leite. Por meio da extensão rural, os alunos que participam do PDPL

ajudam os produtores da região de Viçosa, fazendo visitas monitoradas às fazendas e procurando a melhor forma de desenvolver a produção com seus próprios recursos. O PDPL é dividido em três etapas, de acordo com a evolução dos estudantes. Na primeira, eles aprendem todo o manejo da produção, como lidar com os animais, a estrutura e os cuidados e técnicas necessários. Para o estudante de agronomia Vinícius Chaves, do 5º período, o PDPL é um lugar onde se aprende muito além da sala de aula. Segundo ele, depois de sair do programa, se tem muito mais oportunidades de emprego. Sua colega de turma, Francine Araújo, concorda que o programa faz com que os alunos saiam da universidade mais preparados. Ambos estão

Quem pode participar O PDPL é direcionado aos alunos dos cursos de medicina veterinária, zootecnia e agronomia, que estão, no mínimo, no 4º período e tenham interesse pela área. Os estudantes são selecionados por meio da análise de currículo (o que ele já participou dentro da Universidade e as experiências extracurriculares) e histórico escolar (avaliado a partir da média de notas).

Maria Clara Corsino

PROGRAMA feito em convênio com a Nestlé ajuda pecuaristas da região de Viçosa na primeira fase. A segunda etapa envolve a participação dos alunos em palestras, cursos e acompanhamento dos estudantes que estão na primeira fase. Na última fase, também são ministrados cursos, mas o foco principal são as visitas às fazendas. “É o último estágio, quando você é cobrado como profissional”, conta o estudante do 7º período de zoo-

tecnia Rodrigo Lopes. Rodrigo explica que no programa se aprende toda a parte prática de uma fazenda de criação leiteira. “É como se já estivéssemos no mercado de trabalho”, diz o aluno, que está na terceira etapa e também é monitor do PDPL. Para ele, é uma oportunidade de aprender muito mais quando se trabalha em grupo. “Quando você ensina,

você também aprende. Para quem deseja trabalhar na área é um diferencial”, acrescenta. Em todas as fases, os estudantes passam por sucessivas seleções. O aluno que não for aprovado em uma fase, não passa para a seguinte. Segundo os participantes, quanto mais tempo se permanece, melhor é para o currículo profissional e maior é o aprendizado.

Fábrica de Ração para alimentar a bicharada Diogo Rodrigues

Daniel Fernandes Diogo Rodrigues

Colocar em prática os conceitos aprendidos na sala de aula ajuda o estudante a compreender melhor o que está estudando e lhe dá uma breve noção de como será o seu futuro, a rotina de sua profissão. Para associar teoria à prática, a Universidade Federal de Viçosa possui diversos laboratórios e setores nos mais diversos cursos. Na área agrária não é diferente: o curso de zootecnia, por exemplo, possui 11 setores destinados a aulas práticas e pesquisa. São os mais diversos tipos de criação de animais, que variam

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CILOS que armazenam o estoque da Fábrica de Ração da UFV entre a equinocultura, cunicultura, avicultura, caprinocultura, bovinocultura e suinocultura, por exemplo.

Fábrica de ração Para alimentar todos os animais é preciso muita comida, ou melhor, muita ração. Para ser mais

exato, 2 mil toneladas por ano. Por isso, a UFV conta com uma fábrica própria, onde produz o que precisa para alimentar as diversas espécies criadas dentro do campus. Numa área de 1000 m², com 13 silos de 90 toneladas cada, rações são fabricadas baseadas nos estudos de nutrição animal, com balanceamento específico para cada espécie e fase do animal. Além disso, estudantes de pós-graduação ou envolvidos em projetos de pesquisa usam o espaço para formular os mais variados tipos de ração usados em seus estudos. “É uma oportunidade rara, especial, que poucos alunos do

Brasil podem ter, pois uma fábrica na proporção da que temos aqui é algo difícil de encontrar em outras universidades do país. Esse é mais um dos diferenciais a favor do aluno da UFV ”, afirma o responsável pela fábrica, Mauro Godoy. O espaço atende aos departamentos de zootecnia, medicina veterinária, biologia animal e à Granja Cachoeirinha, onde são criadas e abatidas as aves usadas na alimentação dos estudantes no Restaurante Universitário (RU). Alunos de outros cursos, como agronomia, engenharia agrícola ambiental, engenharia de produção e engenharia de alimentos também fazem uso da fábrica. Edição Especial - Agosto de 2010


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