Jornal OutrOlhar | Edição 26 | Junho de 2011

Page 1

OPINIÃO Real situação do Brasil e o que está por trás da preparação para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 PÁGINA 3

DIEGO ABREU

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFV n ANO 8 n EDIÇÃO N°26 n JUNHO DE 2011

O impacto das energias alternativas em nossas vidas Petróleo, gás natural, hidrelétrica, eólica, solar, biomassa. As fontes de energia de que disposmos são inúmeras e todas elas possuem um ponto positivo e um negativo. Afinal, existe a matriz ideal? Qual o melhor caminho a seguir? O OutrOlhar levantou questões que envolvem o uso dessas fontes energéticas e dos combustíveis no Brasil, mostrando a forma como são produzidas e o caminho que elas percorrem até chegar ao nosso uso no dia-a-dia.

PÁGINA 12

Halterofilismo

ARQUIVO PESSOAL

PABLO CÉSAR PÉREZ GONZÁLEZ

BULLYING

Cada vez mais comum no cotidiano dos jovens, problema pode trazer transtornos para toda a vida. PÁGINAS 6 e 7 Semáforos em Viçosa Secretaria de Trânsito busca solução para o tráfego na cidade com a instalação de sinais nas ruas do centro.

PÁGINA 4

Instrumentos Esporte praticado em Viçosa há mais de 40 anos ganha cada vez mais espaço nas disputas nacionais. PÁGINA 16

Vegetarianos Jovens são atraídos por instrumentos não convencionais. PÁGINA 12

Kit Anti-Homofobia Psicóloga discute o kit, proposto pelo governo, para combater homofobia nas escolas. Conheça os benefícios do vegetarianismo e relatos de quem optou por tirar a carne da sua dieta diária. PÁGINA 14

PÁGINA 11


2 OPINIÃO

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

AO LEITOR Mais um grupo se despede das atividades do OutrOlhar. A presente edição, marca a despedida da turma 2009 que segue o seu caminho. A partir de agosto, outros acadêmicos assumem a responsabilidade de colocar em circulação as edições subsequentes do nosso jornal-laboratório. Os mesmos caminhos em prol do aprendizado e da informação se repetirão com essa nova turma que certamente irá experimen-

tar as múltiplas atividades práticas que envolvem a produção de um jornal impresso. A tarefa não é das mais fáceis, tendo em vista que elas ocorrem paralelamente a outros conteúdos e responsabilidades do Curso. Por isso desejamos aos que se despedem um bom desempenho nas atividades que os esperam e boas vindas àqueles que ingressam no jornal-laboratório Em tempo: Não são poucas as vezes que ao circularmos uma edição constatamos pequenos erros de

revisão que acabam escapando aos nossos cuidados na correria do fechamento. A nossa última edição foi assim. Afinal, são tantos os detalhes no processo industrial de produção do jornal que o fechamento torna-se uma verdadeira fábrica de adrenalina. Para esses deslizes a equipe do OutrOlhar pede desculpas e a sua compreensão.

Joaquim Lannes Editor

Quando um direito de todos vira realidade de poucos Todo cidadão tem o direito de ir e vir. Este princípio é assegurado pela Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988. No entanto, o cansativo cotidiano dos cadeirantes, deficientes visuais e auditivos demonstra que há muitas situações em que a lei é ferida devido à falta de acessibilidade. O Dicionário Aurélio registra que a c es s i b i l i da de significa a condição de acesso aos serviços de informação, documentação e comunicação por parte de portador de necessidades especiais. Embora o uso do termo portador de necessidades especiais esteja, na maioria das vezes, associado apenas a deficientes físicos, a verdade é que todas as pessoas podem um dia ter sua mobilidade reduzida e necessitar de adaptações que facilitem e permitam a prática de atividades do

dia-a-dia, é o caso de pessoas com membros fraturados, idosos, mulheres grávidas, obesos, entre outros. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado no ano 2000, no Brasil, o último índice que divulgou números relativos

do universalizar a acessibilidade, a legislação determina que, além dos espaços públicos, meios de transporte, como ônibus e metrôs, assim como os de comunicação, tais quais telefones públicos e internet, devem ter seu uso estendido aos portadores de necessidades especiais.. Apesar da lei nacional ter significado um avanço, a maior parte das cidades encontra dificuldades no cumpr imento da norma. É o caso de Viçosa. Em terra onde pedestres e motoristas pouco se entendem, sobra para os deficientes físicos a difícil tarefa de se locomoverem. Muitas são as pessoas que enfrentam diariamente problemas e são vetadas de irem e virem pelo fato da cidade não proporcionar o acesso de todos os cidadãos à todas as dependências do município. Frederico Cabala

Apesar da lei nacional ter “ significado um avanço, a maior parte das cidades encontra dificuldades no cumprimento da norma. aos portadores de necessidades especiais, aproximadamente 14,5 % da população possui algum tipo de deficiência. Ainda que, há tempos, parcela da população reivindique por condições de acessibilidade, o assunto passou a ganhar resposta do governo nacional a partir da lei nº 10.098, do ano 2000. Visan-

Edição nº 26 – Junho de 2011 é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa(UFV), atualmente sob a responsabilidade da turma de 2009, na disciplina COM 380 – Edição. Apoio: Centro de Ciências Humanas Letras e Artes - CCH Endereço: Vila Giannetti, Casa 39, Campus Universitário35670-000- Viçosa. MG Tel: 3899-2878 www.com.ufv.br Reitora: Prof ª. Nilda de Fátima Ferreira Soares Diretor do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes: Prof. Walmer Faroni

Chefe do Departamento de Comunicação Social (DCM): Prof. Joaquim Sucena Lannes Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Erivam de Oliveira Editor Geral Prof. Joaquim Sucena Lannes Registro: MT-RJ-13173 Orientação Fotográfica Prof. Erivam de Oliveira Registro: MT-SP-20193

Ação da Natureza x Ação do Ser Humano Chuvas inundam cida- e a ocupação das cidades, des e deixam milhares de muitas foram e são as fordesabrigados. Deslizamen- mas de agressão: áreas destos de terra destroem casas, matadas, rios canalizados, Terremoto mata milhares estradas, construções em de pessoas. Tsunamis des- áreas inadequadas, recursos troem cidades... Desastres naturais utilizados de forma naturais tornam-se cada vez desordenada, produção desmais frequentes no mundo. controlada de lixos, além E quando acontecem mui- dos gases tóxicos lançados tos são os danos para a po- na atmosfera. E o resultado pulação do local atingido. de todas essas ações do hoDe acordo com o Livro, mem são os problemas amDesastres naturais: conhecer bientais e consequentemenpara prevenir, as tragédias te os desastres naturais, que são responsáveis por expres- só prejudicam a humanidasivos danos e de. Como perdas, de caAs nossas ações exemplo, as ráter social, com o meio ambiente chuvas que econômico e estão diretamente c a u s a r a m ambiental. E tragédia na ligadas a esses nota-se que desastres? Estamos região seresses desasprejudicando a nós rana do Rio tres tem tido no início mesmos? O ser uma recorhumano interfere no desse ano. rência e imS e n controle do meio pactos cada ambiente há tempos, do assim, vez mais ine gradativamente cito Rachel tensos, o que essa interferência tem Carson em os cientistas se tornado maior e Primavera sugerem já simultaneamente mais Silenciosa: ser resultado O homem é agressiva. das mudanparte da naças climátitureza e sua cas globais. guerra contra a natureza é Então se questiona se as inevitavelmente uma guernossas ações com o meio ra contra si mesmo... Teambiente estão diretamente mos pela frente um desafio ligadas a esses desastres? Es- como nunca a humanidade tamos prejudicando a nós teve, de provar nossa mamesmos? turidade e nosso domínio, O ser humano interfere não da natureza, mas de nós no controle do meio am- mesmo. biente há tempos, e gradaAté quando existirá esse tivamente essa interferência conflito da ação do homem tem se tornado maior e si- x a ação da natureza? Porque multaneamente mais agres- a natureza vem “cobrando o siva, ou seja, nós passamos a preço” por tantas agressões interferir no equilíbrio na- sofridas ao longo do tempo. tural dos ecossistemas. Com a industrialização Ana Laura Fontes

Giuliano Sales, Jader Elisei, Juliana Corrêa, Karinna Matozinhos, Laio Brandão, Luan Santos, Lucas Constantino, Lucas Lucena, Luiza Quintão, Marco Câmara, Marden Chaves, Pâmera Mattos, Patrícia Freitas, Patrícia Santos, Pedro Augusto, Rachel Barroso, Rafaela Mello, Thaíssa Vaz, Thamara Pereira, Thiago Penna, Thiago Soares, Virgílio Júnior e Wanessa Assunção. Ilustrações Diego Abreu e Fernanda Borel Diagramação Bruno Guimarães, Daniel Fardin e Lucas Lucena Impressão: Divisão Gráfica Universitária Tiragem: 2 mil exemplares

Turma 2009 Ana Laura Fontes, Bianca Damas, Bruna Honorato, Bruno Guimarães, Camila Barros, Carolina Pavanelli, Clara Júlio, Cristiane Cândido, Cristiano Pires, Daniel Fardin, Diana Espinal, Diego Abreu, Eduardo Nascimentos, Fábio Moura, Fernanda Oliveira, Flávea Gomes, Frederico Cabala,

Os textos assinados não refletem necessariamente a opinião da Instituição ou do Curso, sendo da responsabilidade de seus autores e fontes. Cópias são autorizadas, desde que o conteúdo não seja modificado e que sejam citados o veículo e o(s) autore(s).

Universidade Federal de Viçosa 85 anos


OPINIÃO 3

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

País rico é país que prioriza a educação Falemos sobre mudanças: 2011 é o ano da educação no Brasil. De um lado, o Plano

Nacional de Educação (PNE) do decênio 2011-2020 prevê uma série de reformas legis-

Circo político midiático Durante 2005-2006, a mídia direcionou todas suas atenções para Brasília e para as denúncias de corrupção. Grandes meios de comunicação passaram a cobrir e a acusar os políticos que tinham seus nomes envolvidos no escândalo do mensalão. Inúmeras CPI’s foram instauradas e o grande fluxo de informações, passados para o público sem uma lógica ou explicação, deixavam as pessoas confusas e com uma idéia errônea sobre o que realmente estava acontecendo. A mídia repassa ao público as denúncias de corrupção política da maneira que melhor convir a ela. No caso acima, especificamente, as informações foram passadas aos espectadores sem, muita das vezes, uma apuração mais profunda. Repórteres e locutores divulgaram informações como se elas fossem a verdade absoluta. Rotineiramente, novos escândalos “rondam” o Palácio do Planalto. Em meados do mês de maio, os dados bancários do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci vazaram na mídia. Foi portanto, descoberto

que, o ministro enriqueceu vinte vezes mais entre 2006 e 2010, período em que exerceu o cargo de consultor e o mandato de deputado federal. A sua empresa de consultoria, a Projeto faturou R$ 20 milhões só no ano passado, quando Palocci chefiou a campanha da então candidata a presidente, Dilma Rousseff à Pre s i d ê n cia. Os jornais começaram a especular, apontar culpados e a criar teorias para o caso. Sem isentar Palocci da acusação, o problema está no fato de a mídia buscar a todo custo o caos político visando apenas conquista de audiência. A questão não é fazer uma cobertura intensa da vida política durante alguns meses e sim cobrir o que acontece no Palácio do Planalto diariamente. Grandes leis e muitas ações injustas acorrem sem que os eleitores fiquem sabendo. Políticos conseguem ser reeleitos sem terem contribuído em nada nos mandatos. Talvez se houvesse uma cobertura transparente dos atos políticos, poderia se evitar todo o circo armado em épocas de “febre de escândalos”.

A mídia “ repassa ao público

as denúncias de corrupção políticas da maneira que melhor convir a ela.

Rafaela Mello

lativas para melhor atender a questão da educação nacional, entre elas o tão aguardado aumento do percentual do PIB destinado à educação até atingir o patamar de 7%. De outro, o início do governo Dilma traz novas propostas, e é bom lembrar que a presidenta prometeu erradicar o analfabetismo no Brasil. Investimento na educação é um dos maiores clichês do horário eleitoral e, apesar de tanta saliva gasta, este ainda é um dos setores mais defasados do país. Segundo dados do IBGE, a taxa de abando-

no escolar no Brasil com relação ao ensino médio é de 11,5 %, em Minas Gerais esse número cai para 9,3 % e em Viçosa para 6,4 %. Longe de ser um problema somente financeiro, a educação brasileira traz outras diversas deficiências de difícil solução, entre elas a desvalorização do professor. Essa profissão, que outrora encantou crianças e jovens, cheios de vontade de serem responsáveis por transmitir conhecimento, é hoje tratada com descaso e até com chacota. Outro grande problema

está no modelo educacional do nosso país: importado de outras terras. Ele é negligente às reais dificuldades dos jovens brasileiros. Se prende à teoria sem uma real adequação ao contexto em que se aplica. Thamara Pereira NOTA Para conhecer detalhadamente os dados referentes a educação brasileira, acesse www.todospelaeducacao.org. br/educacao-no-brasil. Na página você encontra números por regiões, estados, municípios e escolas.

A Copa e as Olimpíadas são do Brasil, vale comemorar? O Brasil passará pelo maior teste de toda sua história esportiva nos próximos seis anos. Ao sediar a próxima edição da Copa do Mundo, seguida pelos Jogos Olímpicos, o país assume uma responsabilidade sem precedentes. A análise dos disparates sociais e econômicos que nos separam de um padrão aceitável pelos órgãos esportivos em questão vem sendo, no entanto, substituída de maneira irresponsável por um descompromissado clima de oba-oba. Em Outubro do ano passado, a possibilidade de receber o maior evento multiesportivo do mundo começava, pela primeira vez, a se concretizar. O julgamento da sociedade carioca e brasileira, quase sempre convertido em uma onda ilimitada de eufórica aprovação, contrastava-se com o clima moderado presente em Madri, e, sobretudo em Chicago e Tóquio. Entre os japoneses, aliás, a desconfiança se sobrepunha a qualquer vestígio de empolgação. Consciência ou não, lucidez ou não, a verdade é que, todas as visitas do Comitê Olímpico Internacional à cidade, foram ofuscadas por um “Tóquio não precisa de Olimpíadas”, slogan desferido pela população, contrária ao plano do governador Shintaro Ishiha-

ra. Coincidência ou não, caso a parte ou não, a imprensa japonesa mostrou-se, de uma maneira geral, parte do processo, não evidenciando um posicionamento pró ou contra, mas apresentando de maneira clara balanços e projeções sobre as possíveis consequências econômicas e sociais. Por aqui, se há de haver um papel de comprometimento da mídia com povo, o mesmo vem sendo bastan-

canos ocorridos na mesma Rio de Janeiro em 2007? É do conhecimento de poucos, mas antes mesmo do fim das competições, o Governador do estado, Sérgio Cabral, já apresentava projetos de demolir o tradicional parque Julio Delamare e o estádio de atletismo Célio de Barros, ambos parte do complexo do Maracanã. O fato deixaria mais de 150 atletas sem local de treinamento, além de desativar piscinas utilizadas em programas de inclusão esportiva e formação de base de nadadores. Para a Copa do Mundo de 2014 a história muda pouco, são pendências administrativas e estruturais bastante semelhantes. A ausência de parcerias privadas coloca em cheque a capacidade dos estados de bancarem, sozinhos, a construção de estádios. Porque fatos como esse e tantos outros dignos de desconfiança ficam isentos da pauta midiática esportiva? Porque construções de verdadeiros elefantes brancos orçados em valores exorbitantes passam despercebidas? Porque o objetivo primordial na mídia nacional se limita a inflar o ego da população enquanto priva a mesma de questionamentos e análises críticas e pontuais? Vale questionar...

passará pelo “maiorO Brasil teste de toda sua

história esportiva nos próximos seis anos, ao sediar a próxima edição da Copa do Mundo, seguida pelos Jogos Olímpicos. te difícil de se enxergar. Os meios de comunicação preferem bater incansavelmente na tecla do “legado olímpico” para acalmar o cidadão a respeito de questões envolvendo educação, saúde, saneamento e infra-estrutura. Isso para não falar das obras super faturadas. Mas ora, existe um certo “legado das taxas e impostos abusivos” que jamais foi visto, era este que deveria se converter em benefícios palpáveis para a população, tornando real a verdadeira obrigação do estado. Lembram dos Jogos Panameri-

Virgílio Amaral


4 CIDADE

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

“Semaforização” pode ser solução para o trânsito A instalação de semáforos, juntamente com outras mudanças, pode ser o que faltava para diminuir o caos nas ruas da cidade.Com a nova sinalização, pedestres e carros terão preferências definidas e a expectativa é de que o trânsito fique mais aliviado em horários de pico. Confira tudo a respeito e mais a repercussão do projeto nas reportagens abaixo. Patrícia Freitas Não é raro sair de casa e, ao passar pelo centro ou outras áreas mais movimentadas da cidade, encontrar o trânsito caótico, com automóveis parados no principais vias, pedestres atravessando entre os carros fora das faixas e motos e bicicletas costurando em meio a todo esse caos. Segundo autoridades, esse tumulto é resultado de fatores como o “crescimento desordenado da cidade, o seu relevo acidentado, a falta de estrutura das ruas para a pavimentação, a sinalização de baixa qualidade e o excesso de faixa de pedestres. Além desses, o principal causador da má fluidez no trânsito de Viçosa é a enorme quantidade de veículos que circulam

no município: mais de 28 mil (segundo dados do site da Câmara), número muito acima do normal para uma cidade desse porte. Devido os grandes transtornos que o caos no trânsito vinha causando para a cidade, no fim do ano passado foi aprovado na Câmara Municipal um projeto que visa melhorar a circulação de todos. A solução encontrada para amenizar o problema de congestionamentos em horários de pico e a má convivência entre pedestres e automóveis foi a implantação de um sistema de semáforos pela cidade. A instalação, juntamento com a alteração nas mãos de ruas, além de novas faixas de pedestres e mais sinalizações, deverão ser encerradas no final deste mês.

Ladeira dos Operários sofrerá alterações Jader Elisei Um dos pontos mais críticos do trânsito de Viçosa é o trecho que vai desde a entrada da reta da UFV até a rua Gomes Barbosa. Esse caminho inclui toda a Ladeira dos Operários, corta a rua Pe. Serafim e entra na Gomes Barbosa. Todos os dias de semana, às 8h e às 18h, uma imensa fila de carros se forma na entrada da universidade, dificultando o trânsito das ruas circunvisinhas, aumentando o tempo gasto dos motoristas e pedestres e tornando incertos os horários de compromissos de quem passa por ali. A prefeitura, com a reformulação do trânsito do centro da cidade, espera resolver o problema - ou parte dele - instalando semáforos nas esquinas das junções entre as três ruas citadas. As poucas faixas de pedestres que existem por ali são pouco respeitadas pelos motoristas. Os semáforos devem aumentar a segurança no local e determinar períodos para que os

pedestres atravessem. A medida já pode ser visualizada por quem passa pelo local, pois alguns postes já foram colocados e devem começar a funcionar até o final do mês. O jornalista José Paulo Martins é a favor da tentativa e acha que a população está mal-acostumada a andar no meio da rua, mas que para ele tal fato será corrigido com as novas faixas de pedestres, pois estes não terão de se policiar quando tiver de atravessado de um lado para o outro da via. Além disso, ele conta que já perdeu consulta no dentista e ficou meia hora parado no trecho da Ladeira dos Operários. Por isso, concorda com tais medidas tomadas para o local. Paula Tibúrcio acha que o costume de se atravessar a rua não será trocado nos períodos determinados pelos sinais e que a saída em massa do trabalho, da aula e o início do turno da noite na UFV são os principais motivos para que o caos se instale na Padre Serafim, que normalmente a faz perder cerca de 15 minutos.

De acordo com Luiz Carlos D’Antonino, Secretário Municipal de Trânsito, implantar os semáforos é a forma mais eficiente para começar a resolver o problema porque ele “irá ordenar as preferências” e evitará a ocorrência como as observadas na atualidade. As novas sinalizações serão instaladas, ao todo, em dez cruzamentos, sendo a maioria deles no centro da cidade. Além dos convencionais semáforos para os carros, haverá os para pedestres, facilitando ainda mais e evitando possíveis transtornos para os que andam a pé. A expectativa do secretário é de que o trânsito fique mais aliviado e flua de maneira melhor, especialmente nos horários críticos. Isso, claro,

Primeiro sinal foi instalado em junho na avenida Santa Rita se tanto pedestres quanto os veículos respeitarem a nova sistemática implantada, respeitando hora certa de seguir ou parar. Segundo a secreta-

ria, a previsão para o início do funcionamento dos semáforos é o final do mês de junho.

O que o povo pensa sobre os semáforos Luiza Quintão A população viçosense ainda não está acostumada com essa mudança que vai ser muito sentida, já que a cidade não conta há bastante tempo com tecnologias controlando o trânsito e os pedestres. As opiniões por enquanto são divergentes. Há quem concorde com a decisão da prefeitura e acredite que ela seja a melhor opção para a melhoria do problema do trânsito no momento. Outras, no entanto, acham que os sinais só vão piorar o que já está muito confuso. A radialista Margareth Souza tem suas dúvidas. Segundo ela, saber se o semáforo vem para o bem ou para o mal, só depois de passada a fase de experiência: - Viçosa não tem espaço para onde fluir o trânsito. Não temos grandes avenidas, não temos estrutura, não temos ruas largas. Você põe um sinal numa esqui-

na e na outra já tem outro. Como é que vai fluir? E o pedreste, será que ele tá preparado pra isso? A gente não teve uma formação no trânsito, eu acho que os dois lados precisam caminhar juntos. Será que vai melhorar ou piorar? Eu só acredito vendo. - Afirmou ela. Para a estudante Camila Bueno, que além de pedestre também é ciclista, o viçosense sabe se virar com o que tem: - A mudança pode piorar a fluidez do trânsito e complicar o que já está difícil. A gente se vira na nossa bagunça. O viçosense aprendeu a se mover no trânsito assim. Talvez isso deixe tudo mais confuso ainda - Declara. José Maria da Paixão trabalha como motorista e vê a situação de outra maneira. Para ele, quando viçosa teve semáforo, o trânsito funcionava e fluía: - Viçosa precisa disso e precisa educar o pedestre. O

pedestre não está respeitando as faixas e com isso vai ficar melhor. Queria parabenizar a iniciativa - ressalta. O taxista Ademar Ferrante vai além. Ele é a favor dos semáforos, mas acha que a cidade precisa de mais alternativas para desafogar o trânsito. Em sua opinião, o semáforo é uma das iniciativas para começar a se consertar os diversos problemas do tráfego: - Semáforo não é a solução definitiva. O que faz o trânsito ser desse jeito é a quantidade de carro e a largura das ruas que é a mesma há mais de dez anos. - Declara. Essas são a opiniões de apenas uma pequena parte da população que vive a difícil situação das vias no dia-a-dia da cidade de Viçosa. Segundo secretário d’Antonino, a nova sinalização vai mesmo estar presente, queira a população ou não.


CIDADE 5 Café Filosófico promove debate sobre a vida contemporânea em Viçosa OUTROLHAR JUNHO DE 2011

Clara Júlio Desde abril, uma série de eventos culturais, criou em Viçosa um novo e interessante espaço para debates sobre a vida contemporânea. O Café Filosófico, projeto de extensão apoiado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), é uma iniciativa dos professores do Departamento de Ciências Sociais da instituição em conjunto com uma equipe de alunos. O projeto tem o intuito de se constituir em um espaço aberto junto à comunidade para a promoção de reflexões sobre o mundo, o tempo, a ciência, a política e o município, dentre outros temas. Por meio de saraus, debates, exposições, filmes e apresentações artísticas, o Café traz a opinião crítica e a produção cultural para o cotidiano dos moradores

viçosenses. Os encontros acontecem (em intervalos pré-definidos e previamente divulgados) na Casa Artur Bernardes (localizada na Praça Silviano Brandão), no Cine Carcará (no subsolo do Centro de Vivência da UFV) e demais espaços abertos da universidade, como a Estação Ferroviária Central. Previsto para funcionar até dezembro deste ano, com uma pequena lacuna em julho, o projeto poderá ser prolongado até 2012, conforme avaliação após esta fase inicial O professor do Departamento de Ciências Sociais e coordenador do Projeto, Diogo Taurino, está confiante com a recepção do público até o momento. Segundo ele, a organização se sente muito satisfeita com o comparecimento nos encontros, que tem apresentado a média de 150 a 200 pessoas presentes. O que falta, de acordo com Diogo, é apenas conseguir trazer mais moradores da

DIVULGAÇÃO

Encontro movimenta a cidade e levanta temas regionais e internacionais

Integração Com bom público, projeto do Departamento de Ciências Sociais une cidade e UFV cidade que não estão diretamente envolvidos com a UFV. A intenção, como enfatiza o professor, é construir um diálogo entre a cidade e a universidade. Neste sentido, a participação da população viçosense é considerada crucial para a concretização de efetivos de-

“A tua piscina tá cheia de ratos?” Marco Túlio Câmara Leptospirose, peste bubônica e hantavirose são apenas algumas das doenças transmitidas pelos ratos e demais bichos que aparecem inconvenientemente nas casas devido à falta de saneamento básico. Mais que um transtorno urbano, a aparição desses animais indesejados gera problemas de saúde pública e serve de indicativo da falta de educação e higiene dos moradores ou de sua vizinhança. A venda de produtos que eliminam tais vetores, como inseticidas, ratoeiras e raticidas, tem aumentado significativamente na cidade no último mês. De acordo com o gerente de um dos estabelecimentos comerciais de artigos agrícolas, as vendas desse tipo de produto aumentaram cerca de 50%. Mas deve-se tomar cuidado ao manuseá-los, principalmente se houver animal de estimação na casa, já que muitos desses produtos são venenosos até

para os humanos. Mesmo com o aumento da aparição de ratos percebido pela população, a vigilância epidemológica da Prefeitura de Viçosa informa que não tem recebido denúncias, o que leva a crer que o número de casos não sofreu aumento. Ela informa, ainda, que não existem programas de combate a roedores na cidade, mas está iniciando um projeto de conscientização nas escolas e em toda a cidade, para que a população colabore para o não surgimento desses bichos: - O acúmulo de lixo, a ração de cachorros ou gatos aberta, a área suja e os detritos no fundo de quintal só aumentam a incidência de ratos no local. É preciso que o cidadão cuide da limpeza de sua casa também para que não tenha visitas inesperadas - explica a veterinária responsável pela vigilância, Roberta Tavares. E quando a casa é limpa, mas ainda assim surgem ra-

tos? É o caso da estudante Marcela Oliveira Alves, moradora do bairro de Ramos. Residente no mesmo local desde 2009, ela diz que esse ano já apareceram dois ratos na sua casa: - Em uma dessas vezes, a rede de esgoto numa rua ao lado havia estourado, o que deve ter colaborado para que os ratos surgissem, além do fato de ter construção próxima na qual era depositada lixo na porta de casa. Já fiz denúncias, mas nunca tomaram nenhuma providência. A limpeza da rua é escassa, só recolhem o lixo e pronto - afirma a estudante. Para evitar esse constrangimento, segundo informa a veterinária Roberta, é necessário cuidar da limpeza de sua casa e da rua. Caso veja alguma irregularidade, entre em contato com a vigilância epidemológica ou com o SAAE para tentar resolver o problema. Mas a prevenção com a limpeza continua sendo o melhor remédio.

bates nos encontros: - Os temas mobilizados dizem respeito a todos os moradores de Viçosa - Explica Diogo Taurino. - A proposta é criar um espaço de reflexão e formação de opinião sobre questões pautadas pela sociedade civil - Ressalta.

O coordenador faz, ainda, um apelo aos jovens no que diz respeito ao peso de sua representatividade neste tipo de evento: - A presença dos jovens é substantiva para que eles possam vocalizar seus problemas e demandas - finaliza o professor.

O dilema do primeiro emprego Diego Abreu Conseguir o primeiro emprego é tarefa cada vez mais difícil para quem não tem muito a apresentar no currículo, e esse quadro tende a se agravar durante o ano. Segundo estudo recente sobre a mão de obra qualificada no Brasil feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2011 a produção nacional deve aumentar cerca de 5%, o que reflete, de maneira direta ou indireta, na maior busca por trabalhadores com qualificação e/ou experiência profissional. Espera-se que o setor econômico com maior geração de empregos seja o comércio e reparação, só em Minas Gerais a expectativa é a de abertura de mais de 80.00 novos empregos neste setor. No entanto, para Agnaldo Nunes, Gerente Financeiro da Casa do Empresário, a inflação

experimentada nesses últimos tempos deve frear o crescimento em comparação ao ano de 2010, contudo para fazer parte destes números e conseguir um emprego, a dica é ficar atento a datas festivas, como dia das mães, páscoa, natal, dentre outras, já que são as épocas de aquecimento do comércio que aumento do número de trabalhadores para atender os clientes. Os que têm interesse em trabalhar, independente da área de atuação, podem entrar em contato com o Sistema Nacional do Emprego (SINE) de Viçosa. A idade mínima para fazer o cadastro no órgão, que fará a intermediação do trabalhador entre empregador, é de 16 anos, e é necessário levar carteira de trabalho, identidade e CPF. O SINE Viçosa fica na Rua Dr. Milton Bandeira, 140, sala 310. O Telefone é (31) 3885-1805.


6 COMPORTAMENTO

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

Não é só uma brincadeira inocente O bullying vem se tornando um problema cada vez mais comum no dia-a-dia dos jovens. A prática transforma suas vidas em verdadeiro tormento. Nesse especial, OutrOlhar aborda o tema de maneira mais completa, listando causas, perfis, consequências e formas de se tratar o assunto. Confira as reportagens: Lucas Lucena Quem nunca brincou ou foi alvo de brincadeiras na escola? Empurrões, fofocas e apelidos são comuns no ambiente escolar, mas essas “brincadeiras”, consideradas normais por muitos, podem não ser tão inocentes como possam parecer. Quando esse

comportamento se torna repetitivo e causa incômodo a vítima. O fato pode ser caracterizado como bullying – termo inglês utilizado para designar a prática de atos de violência que ocorrem de forma intencional. Alguém sofre bullying quando é exposto repetidamente a ações negativas por parte de uma ou mais pessoas

e não tem a capacidade de se defender. As vítimas normalmente são tímidas, fisicamente mais fracas e geralmente tem baixa auto-estima e dificuldades sociais, o que torna o trabalho de defesa muito mais difícil. Os agressores consideram esses indivíduos alvos fáceis justamente por saber que eles não irão retaliar. A psiquiatra

Ana Beatriz Barbosa da Silva explica: – Os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas. Existem diversas formas de bullying: o verbal (xingamentos e provocações), o social (criação de rumores, ex-

clusão, quebra de amizades), o físico (socos, chutes, etc) e o ciberbullying (praticado pela internet). As consequências para as vítimas desses ataques são variadas e dependem muito de sua estrutura psicológica, mas podem se configurar, entre outros problemas, como angústia, depressão, evasão escolar e até em suicídio.

porque muitas vezes a atitude de intolerância de uma criança pode ser o retrato de uma educação ineficaz e até mesmo de uma ausência de diálogo na vida deste filho. A vítima se caracteriza por sua retração. As crianças

que sofrem com esta agressão são, geralmente, tímidas e com dificuldade de impor-se diante uma situação controversa. E é por isso que tornam-se alvos, pois aqueles que agridem identificam esta dificuldade em suas vítimas.

- São pessoas com dificuldades para se posicionar, de marcar um limite e se defender. Então o agressor percebe isso e aproxima-se da pessoa, que acaba não conseguindo se proteger – pondera a psicóloga.

Perfis de agressores e agredidos Giuliano Sales Como uma agressão comum, o bullying envolve dois agentes: O agressor e a vítima. Algumas características são marcantes desses dois personagens e facilmente identificáveis, desde que haja constante diálogo e confiança entre jovens e pais ou crianças e funcionários da escola. No caso do agressor, segundo pesquisas e especialistas na área psicológica, estas pessoas buscam em uma situação como o bullying um possível status, uma maneira de mostrar-se como superior à outra. - O agressor é uma pessoa que possivelmente não respeita o espaço do outro e não sabe se colocar no lugar do mesmo. Ele não respeita o limite de ninguém – afirma a psicóloga Grasiela Gomide. A psicóloga aponta a falta de empatia como uma das principais causas deste tipo de violência, além disto, a

pessoa que agride alguém desta forma apresenta dificuldades de entender e respeitar a diferença, seja ela de nível social, econômico ou meramente físico. Nestes casos, a atenção dos pais deve ser redobrada,

“Brincadeiras” de mal gosto podem geram indivíduos violentos ou depressivos Bruna Honorato Brincadeiras espontâneas são normais, porém quando elas extrapolam o limite do aceitável, deve se ficar esperto. Adolescentes, com mentes inquietas vêem a necessidade de perturbar e intimidar por meio de violência a outros jovens. Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra e estudiosa no

assunto diz que os agressores, conhecidos como bullies, escolhem um aluno-alvo que se encontra em desigualdade de “poder”. - A prática do bullying agrava o problema em questão, podendo também criar quadros graves de transtornos psíquicos e/ou comportamentais, que por vezes, trazem prejuízos irreversíveis - alerta.

A psiquiatra relata que no exercício diário de sua profissão e de acordo com as investigações que desenvolve, observa que não apenas as crianças e os adolescentes sofrem com as conseqüências imorais, mais também muitos adultos experimentam aflições intensas provenientes de uma vida estudantil traumática. Nesse contexto, vale des-

tacar que angústia, ataques de ansiedade, transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, além de fobia escolar e problemas de socialização são algumas das doenças resultantes do bullying. A situação é tão grave que pode levar, inclusive, ao suicídio. Diante disso o agressor e sua mente inquieta, que não aprendeu a converter a raiva em diálogo e para quem o

sofrimento do outro não é motivo para deixar de agir, se sente satisfeito, supondo ou precipitando o quanto aquela crueldade será sofrida para o agredido. Em um balanço geral, pode se dizer que os agredidos estão sujeitos a se tornarem adultos depressivos, ansiosos ou violentos, repetindo em suas relações sociais aquelas vividas na escola.


OUTROLHAR JUNHO DE 2011

COMPORTAMENTO 7

Ciberbullying pode ser ainda mais prejudicial que o bullying comum Agressão na internet se torna mais comum e já causa preocupação. Marden Chaves

ternet, então a exposição se torna muito maior, e aquilo fica lá - ela pondera. Uma consulta realizada no ano de 2010 pela ONG Plan, defensora dos direitos da infância, com 5 mil estudantes brasileiros entre 10 e 14 anos, revelou que 17% já haviam sofrido cyberbullying ao menos uma vez. Com a dimensão do universo virtual, o agressor pode ser um completo desconhecido. Dessa forma, a vítima não sabe nem de quem se defender. Ainda

segundo a psicóloga: - Reverter a situação é muito difícil, assim como é um grande constrangimento para a vítima. Ninguém está totalmente imune ao cyberbullying. Cuidados como não acessar sites duvidosos e prestar atenção ao fornecer certas informações na internet são de praxe, mas importantes. Ainda que ocorra virtualmente, o cyberbullying deixa marcas bem reais em suas vítimas.

FERNANDA BOREL

O bullying é, quase sempre, relacionado a um convívio direto entre os envolvidos. No entanto, o agressor e sua vítima não precisam nem mesmo se conhecer. As novas tecnologias virtuais, representadas principalmente pelas redes sociais, deram origem a uma nova versão da prática: o cyberbullying.

Mensagens depreciativas em sites e via torpedos, e-mail com ofensas e ameaças, entre outras formas são ações que caracterizam o cyberbullying. A psicóloga da Divisão Psicossocial da UFV, Grasiela Gomide, acredita que essa nova forma de agressão pode ser ainda mais prejudicial que o bullying comum: - No pessoal fica entre mim e você e mais uns dois que estão vendo, o cyberbullying é divulgado pela in-

A batalha contra o bullying não precisa ser solitária Patrícia Santos Não há dúvidas que quem sofre bullying precisa de auxílio. A melhor forma de superar este trauma é procurando obter um diálogo com pessoas que possam ajudar, sejam elas as autoridades da escola, a família ou, até mesmo, psicólogos. Mas de que forma esta ajuda pode ser exercida? A psicóloga Grasiela Gomide explica que em escolas onde existe atendimento psicológico, o principal aspecto que precisa de atenção é o comportamento dos alunos, verificando se há abertura para os professores con-

versarem sobre o assunto. Já em clínicas psicológicas, a atuação se concentra na recuperação do trauma que já aconteceu, sendo parte do papel do médico mostrar que as consequências do bullying não determina quem ela é ou deve ser na vida. Grasiela diz ainda que é importante que a vítima aprenda a se posicionar perante o agressor, não permitindo-se sentir inferior diante dos insultos e percebendo que o problema não é consigo, e sim com quem pratica esta violência. Desta forma, é possível que a pessoa recupere sua auto-estima.

Infelizmente, a maioria das pessoas que sofrem bullying passam muito tempo caladas, sem delatar as agressões à alguém, com medo de sofrerem violências ainda piores se houver alguma punição para os agressores. - As vítimas se tornam reféns dos jogos de poder dos praticantes de bullying diz a psiquiatra e escritora, Ana Beatriz Silva. Ela também afirma que as pessoas que sofrem esta violência muitas vezes sentem vergonha por estarem nesta situação e não conseguem desabafar com os pais

sobre o assunto, acreditando ser uma decepção para eles. É importante ressaltar que o local onde acontece o bullying, seja ele a escola, a faculdade, o trabalho ou qualquer outro ambiente, é também responsável por suas consequências, pois nesses locais são cultivadas as diversas formas de convivência, as quais deveriam manter relações de respeito e tolerância entre o grupo. Por isso, deve-se ficar atento aos comportamentos entre as pessoas para impedir a criação de um ambiente que propicie esta prática.


12 MEIO AMBIENTE

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

Energia e combustíveis: seus impactos em nossas vidas

Eduardo Nascimento e Fernanda Castro A maioria dos jovens acha maçante quando tem de estudar questões relacionadas

à energia e combustíveis. O que poucos sabem é que essas duas palavras estão mais presentes no nosso cotidiano do que se pode imaginar. Energia não é somente a

luz que se consome, a água aquecida do chuveiro ou a geladeira conservando os alimentos. Combustível não é apenas o que se coloca em carros e motos para que eles

andem. Ambos os pontos envolvem meio ambiente, economia, ecologia e até fatores sociais. OutroOlhar levantou questões sobre as principais fontes energéticas

e combustíveis que o Brasil dispõe, desde a produção até que elas cheguem na sua casa ou nos veículos que os nossos leitores utilizam no dia-a-dia. Confira:

Renováveis ou não-renováveis? Qual é o melhor caminho? Hoje, praticamente tudo que usamos vem do petróleo: sacolas, combustível, asfalto. Logo, é difícil encontrar um substituto. Além disso, o óleo um dia se esgotará. Outro problema é que o petróleo é um grande poluidor, como explica o especialista em biomassa, professor Jadir Nogueira da Silva: — Tiramos o petróleo, o queimamos para movimentar os veículos e jogamos seus resíduos na atmosfera. Poluição do ar, que afeta água, solo e terra. Tudo está interligado — afirmou. Com o aumento nos preços, os motoristas têm procurado meios para fugir da gasolina. Um deles é o GNV (Gás Natural Veicular). Apesar de ótima fonte de energia, é também fóssil e causa os mesmos problemas ambientais. É caro armazená-lo, já que não tem forma nem volume definido, é necessário prensá-lo até a forma líquida para ocupar menos espaço. Outro combustível fóssil é o carvão mineral. Fácil de distribuir, reduzindo custos, reage com o oxigênio, forma o dióxido de enxofre que asINFOGRÁFICO

socia-se com o vapor d’água e forma a chuva ácida. Portanto, é necessário se pensar uma alternativa limpa para esses problemas, não é? Recentemente o Japão enfrentou sérios problemas com suas usinas nucleares. O que poucos sabem é que, embora a energia nuclear seja uma fonte não renovável, ela é considerada limpa. Após a extração, o urânio é enriquecido para que a quebra de suas moléculas (fissão nuclear) libere mais energia do que na forma bruta. O calor liberado gera vapor que movimenta uma turbina, gerando a energia elétrica. O fato de ser uma energia limpa vem agora: todo o gás liberado pelas usinas é composto apenas de vapor de água. Entretanto, o maior problema da energia nuclear é o lixo radioativo. O processo para a perda de radioatividade pode levar de 50 a 100 anos. Qualquer contato humano pode gerar doenças. Apesar de acidentes como o de Fukushima, no Japão, terem assustado o planeta, especialistas tem defendido o uso dessa energia em substi-

tuição aos fósseis. Um deles é Patrick Moore, co-fundador do Greenpeace, que afirma que o maior erro é associar a energia nuclear a bomba atômica, coisas bem distintas. Alternativas e soluções Em contraponto às energias “sujas” existem as chamadas renováveis e limpas. A energia hidrelétrica é contraditória. Não polui o meio ambiente mas devasta uma grande área na produção. Para a obtenção de eletricidade é necessário represar a água de um rio que não seja nivelado. Assim a energia gravitacional é transformada em energia cinética. A hidrelétrica é barata se comparada as outras. Por isso e pela quantidade de rios apropriados, de acordo com dados da Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a hidroeletricidade é a mais consumida no país. A energia solar, além de limpa é praticamente inesgotável. Sendo assim, ela seria a melhor fonte, não é? Não é bem assim: a radiação solar precisa ser armazenada, já

que durante a noite não há luz. Além disso, é uma fonte cara: instalar um aquecedor solar para quatro pessoas custaria em torno de R$ 3.600. Já um chuveiro elétrico tem o valor médio de R$ 50. Outra fonte limpa e renovável é a eólica. A energia é obtida através da movimentação de pás gigantes conectadas a um gerador, transformando a energia de movimento em eletricidade. Diversos países da Europa já contam com centrais eólicas. O Brasil ainda “engatinha” nessa questão: embora o potencial seja grande, ele está concentrado no Nordeste. Além da inconstância dos ventos, o maior problema na questão eólica é o custo da instalação: sete vezes mais que o de uma hidrelétrica. De acordo com o professor Jadir, a fonte ecologicamente correta mais importante é a biomassa. 32% da energia consumida no país é proveniente da biomassa das plantas. A grande responsável é a cana-de-açúcar, que pode produzir combustível líquido e eletricidade. E por que a biomassa é

tida como a mais importante das energias renováveis? Simples. A energia vinda das plantas é um auxiliar ao meio ambiente: enquanto os combustíveis fósseis poluem a atmosfera, a biomassa faz o contrário. Como é uma planta, para crescer realiza a fotossíntese. E nesse processo ocorre o chamado “sequestro de carbono”, que é a retirada desse gás, o maior componente dos gases de efeito estufa. Portanto, a biomassa completa o “ciclo do carbono”: produz e retira o CO2. O esforço atualmente, como esclarece o professor, é na obtenção de combustíveis líquidos que possam substituir o petróleo. Energia e combustíveis não são assuntos simples. Envolvem diversas outras questões que afetam diretamente você, leitor. A solução vista pelo professor Jadir parece simples: diversificar a matriz energética, evitando aumentos de preços e os apagões. Afinal, energia e combustível são praticamente tão importantes quanto a água e o alimento para o homem moderno.

Saiba as vantagens e desvantagens de diversas fontes energéticas ARTE: VICTOR GODOI


OUTROLHAR JUNHO DE 2011

MEIO AMBIENTE 13

A sua cidade respeita o meio ambiente? Cristiano Silveira, Fábio Moura e Laio Brandão Devido a importância do tema, o OutrOlhar mantém, desde maio de 2008, uma editoria que aborda questões

sobre o Meio Ambiente. De lá para cá, fatos como limpeza pública, lixo hospitalar, educação ambiental, entre outros, foram temas das nossas páginas. Para tal, procuramos ouvir técnicos, auto-

ridades e a população com o objetivo de proporcionar um amplo debate As diversas matérias publicadas, nesses cinco anos e 19 edições, mostraram desde novos projetos à falta de

respeito e descaso da população ou autoridades. Nesta edição, retomamos alguns desses temas com o objetivo de verificar o que evoluiu e o que ficou da mesma forma na cidade, confira a seguir.

Nos últimos anos, nem tudo virou lixo LAIO BRANDÃO

O aumento da produção de lixo em Viçosa tem se mostrado visível, seja para os envolvidos na coleta ou para os mais distantes, responsáveis apenas pela limpeza doméstica. Diante desse cenário, novas alternativas devem ser criadas. OutrOlhar apurou o que mudou, comparado aos últimos anos. Responsável pela coleta municipal, o SAAE vem ampliando sua atuação; segundo o professor Marcos Magalhães, técnico responsável pela administração da limpeza em Viçosa, a quantidade de lixo recolhido por dia chega a 50 ton. Para reduzir os impactos no aterro, reaproveitando o material reciclável, desde 2008 o projeto Interação, da UFV, vem montando uma estrutura de coleta seletiva em parceria com o SAAE; o projeto teve início com três bairros. Hoje, a separação de materiais em PEV’s (pontos de entrega

PEV’s: os Pontos de Entrega Voluntária destinados à coleta seletiva

voluntária), contempla quatro bairros - havendo já um quinto “na mira” -, além de todas as escolas da cidade. Para a coordenadora, Nádia Dutra, não basta apenas que se implantem os containers de separação, se a população também não se reeducar, “a maioria desses alunos mora perto da escola, a família deles deve também ser conscientizadas para contribuir”. Além da grande estrutura de limpeza, há outros agen-

tes nessa questão. Anônimos, circulando pelas ruas, os membros da ACAT, Associação de Catadores, são responsáveis pela coleta de cinco toneladas mensais de material reciclável. Com oito integrantes, a ACAT já foi formada por mais de 30 membros. Atualmente, perde com a ausência de muitos, que preferem vender seus materiais a “atravessadores”. Formada em 2006, com auxílio do Procat, projeto lide-

rado pela professora Ângela Santana, a ACAT recebeu 39 mil reais para sua estruturação, que incluiu a compra de 11 carros, orientação médica, física e alimentar. A instituição é considerada entidade de utilidade pública, o que garante uma renda mensal pela prefeitura. Porém, para seu José Pedro, presidente da ACAT, desde o fim do projeto os membros carecem “de luvas, materiais de limpeza e uniforme”. Em entrevista, a professora Ângela, declarou que pretende voltar “no máximo no 2º semestre”. Apesar dos diferentes métodos utilizados, há ainda uma produção de lixo muito maior em relação ao material reaproveitado; aproximadamente 1500 t contra 17. Enquanto serviços tem cumprido suas funções, a população deve, à medida que aumenta sua produção, também aumentar sua preocupação.

FÁBIO MOURA

Verticalização: agressões ao meio ambiente só aumentam

Obra irregular, à margem do rio, desrespeitando o código florestal

Não faz muito tempo que o OutrOlhar dedicou uma de suas páginas ao crescimento desordenado de Viçosa. Um ano após a publicação dessa matéria, nossos repórteres voltaram às autoridades responsáveis pelo assunto na cidade com o intuito de saber o que mudou. Em Viçosa, o Instituto

de Planejamento Municipal (Iplam) é responsável por liberar o início de qualquer construção. Caso haja um empecilho ambiental, o processo é enviado à Secretaria de Meio Ambiente. Se a obra for embargada, o Departamento de Fiscalização tem, em Viçosa, o dever de verifi ar o cumprimento do Códi-

go Florestal Brasileiro. Segundo o diretor do Iplam, Geraldo Vieira, hoje não são liberados alvarás de construção que estejam em desacordo com a lei. — Falta, na verdade, fiscalização quanto ao cumprimento do projeto de obra aprovado e, até mesmo, da continuação de uma edificação embargada, pois, acreditando na impunidade, os construtores a levam a frente, — disse. De acordo com o Secretário de Meio Ambiente, Luís Eugênio, 80% das obras na cidade tem seu projeto alterado. Já o chefe do Departamento de Fiscalização (DF),

Alexandre Valente, ressalta que a fiscalização a essas obras não é uma atribuição desse órgão. No entanto, como as secretarias responsáveis não dispõem de fiscais, o DF é que realiza a vistoria. - Nós temos apenas 12 fiscais para diversas funções. Depois de embargarmos a obra, a lei prevê multa e até prisão. Porém, não temos condição de verificá-las — afirmou. Em resposta a isso, o secretário de governo, José Antônio Taffarel, afirma que há o planejamento para ampliação do número de fiscais. — Porém, alguns problemas são mais urgentes — explica o secretário

Notas do meio ambiente O OutrOlhar publicou e agora vai conferir: Lixo Hospitalar: Esse foi um dos temas das edições de 2006, época em que os hospitais estavam se adequando as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a qual determina que os centros de saúde são responsáveis pelo lixo que produzem. Hoje, os dois hospitais da cidade – São Sebastião e São João Batista – separam o lixo hospitalar do comum. Logo após, uma empresa especializada col eta e incinera todo o lixo hospitalar. Desde 2006 uma lei determina que todo o lixo reciclável produzido por instituições públicas deve ser destinado aos catadores. Segundo eles, apenas um banco a cumpre. Até a UFV está contrariando a regra, o que lhe rendeu uma ação judicial. Coleta de lixo orgânico: Com a sua reestruturação, mais bairros têm sido atendidos pelo SAAE. Quanto ao destino do lixo, o aterro sanitário tem se modernizado; a finalização do projeto só depende do licenciamento do terreno, que ainda não saiu devido a lei que impede aterros de serem construídos a menos de 20 km de aeroportos. O intrigante, segundo o professor Marcos Magalhães, “é que nem a capital do país se enquadra na lei.” Sacolas Plásticas: A lei municipal que entrou em vigor em novembro de 2010 determina que os estabelecimentos da cidade troquem as sacolas plásticas tradicionais por sacolas biodegradáveis. O comércio tem até novembro de 2011 para se adequar. Porém, dos oito grandes mercados, dois ainda permanecem fora da lei, sendo um deles o maior da cidade.


10 ENTREVISTA

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

Uso excessivo de celular pode atrapalhar a vida social CAMILA BARROS

Especialistas alertam para o risco do uso celular entre adolescentes Camila Barros

“Eu estava na aula, com o professor fazendo perguntas pra mim e eu respondendo, até que meu celular começou a tocar e eu pedi um minuto para atender minha mãe no telefone.” Essas são as palavras da estudante de agronomia da UFV, Roberta Siqueira*, natural de Sete Lagoas, Minas Gerais, que não vive sem o celular desde os nove anos de idade. - Meu pai comprou celular pra me vigiar e, desde então, ele faz parte da minha vida, relata. Durante a entrevista a estudante não para, enquanto responde as questões levantadas, olha para o celular, confere os e-mails, se conecta nas redes sociais. Os seus dois celulares com, dois chips cada, já chegaram a tocar simultaneamente e a receber noventa e cinco chamadas em um único dia. O celular quase nunca está na bolsa, mas sim nas mãos a espera pela próxima ligação. - Já cacei o celular na bolsa e estava com ele na mão, diz rindo.

Estudante de agronomia da UFV reconhece sua mania por tecnologia desde criança, e além do celular, assume dependência por redes sociais Além disso, os celulares ficam ligados o dia inteiro, até mesmo a noite quando está carregando. A dependência descrita por Roberta* revela indícios de uma síndrome que começou a ser estudada há três anos por especialistas. Trata-se da nanofobia, a expressão vem de “no móbile”, ou seja, é o medo de ficar sem utilizar

o celular. Essa dependência vem do aumento no número de celulares no país, são mais de 108,7 milhões de telefones habilitados, somente no Brasil. Os sintomas variam de acordo com o grau de dependência, que se inicia com uma preocupação excessiva de ter mais de um aparelho, sempre carregá-lo, nunca deixar sem

bateria e ficar com eles nas mãos. Os sintomas se agravam quando se constata alterações no nível psicológico, como variação no humor, ansiedade, respiração acelerada e até taquicardia. De acordo com especialistas os sintomas nem sempre são percebidos pelos usuários. Na maioria das vezes a constatação vem de amigos

e familiares que percebem o uso inadequado do aparelho. Além disso, é na adolescência que se verifica mais incidência da doença, pois são eles os maiores alvos das novas tecnologias. - De seis em seis meses eu tenho que comprar um aparelho mais moderno, afirma Roberta*.

Body Piercing acredita que menores não devem se tatuar Fazer tatuagens ou colocar brincos e alfinetes em menores de 18 anos é proibido em alguns estados. Em Viçosa, no entanto, com o acompanhamento dos pais e apresentação de documentos, menores de idade conseguem fazer a arte no corpo. O body piercing Nilton Cesar Rodrigues da loja Imperium Tattoo, localizada no Calçadão, situado do centro de Viçosa, diz que é grande a fluência de menores que procuram fazer tatuagens e aplicar piercings na cidade. Ele, no entanto, aconselha a todos fazê-las após os 18 anos, pois a cabeça e opinião mudam. Ele afirma que cobriu suas primeiras tatuagens com outras artes. As mais pedidas são as bor-

boletas e os nomes de pessoas (motivos dos maiores arrependimentos e dores de cabeça). Ilustrando, ele conta que um jovem que tatuou o nome da namorada na altura do abdomên, terminou com ela e cobriu a tatugem com um duende. Depois de um tempo voltou o namoro e tatuou o nome dela do outro lado do abdomên, mais uma vez terminaram e o recurso foi tatuar um mago no lugar. Os métodos mais utilizados hoje para a remoção de tatuagem são o laser e a cirurgia plástica. No entanto, até bem pouco tempo eram utilizados a água de bateria e a castanha de caju para remover as tatugens dos arrependidos. Para Nilton, os riscos de colocar um piercing em um jovem, é que o corpo está em crescimento e é grande a pro-

KIVIA OLIVEIRA

Luan Santos

Brinco no nariz é um dos piercings mais colocados por jovens e adolescentes a procura de identificação babilidade da jóia espelir. O body piercing conta que uma mãe já brigou com ele por se recusar a colocar um piercing na filha de dez anos. -“Acho legal colocar acima

dos 15, 16 anos. Apesar de achar que acima dos 18 é o idéial”, afirma. São muitos os motivos que levam uma pessoa a tatuar o corpo ou colocar um

piercing. Entre eles a busca de algo diferente, a singularidade ou até mesmo uma filosofia. “Afinal, estamos sempre nos posicionando e nos afirmando” conclui Nilton.


OUTROLHAR JUNHO DE 2011

ENTREVISTA 11

Kit anti-homofobia propõe combate ao preconceito Bianca Damas O Ministério da Educação (MEC) criou o kit anti-homofobia que seria distribuído no segundo semestre desse ano para seis mil escolas públicas de Ensino Médio do país. Porém o material foi vetado pela presidente Dilma Roussef. A partir da polêmica gerada pelo fato OutrOlhar procurou a psicóloga e doutoranda em educação Anna Claudia Eutrópio Batista d’ Andrea, pesquisadora em educação sexual, para abordar o assunto. OutrOlhar: Uma pesquisa elaborada pelo MEC revelou que um dos maiores preconceitos nas esco-

las são contra os homossexuais. Que leitura você faz da educação brasileira quanto a esse fato? Anna Claudia: A educação brasileira tem avançado muito na discussão das diversidades dentro da escola. A construção da homofobia como um tema a ser enfrentado é muito recente. Ao contrário do preconceito racial e com deficientes, por exemplo. Há uma conivência social com a prática da homofobia, porque a homossexualidade ainda é considerada uma coisa errada na nossa cultura. OutrOlhar: O que pode influenciar a eficácia do kit nas escolas? Anna Claudia: Não adianta distribuir uma ferramenta sem ter pessoas para utilizar. A minha apos-

Fazer parte da arte Carolina Pavanelli

Anna d’Andrea diz que a educação pode combater o preconceito Anna Claudia: É, e essa desinformação é ainda mais intensa nas temáticas da sexualidade pelo tanto que nós somos obrigados a falar só o que pode ser dito. O kit anti-homofobia não está inventando a homossexualidade,

só está trazendo pro debate da escola algo que sempre existiu de uma forma oficial. A gente enfrenta preconceito com educação. A ideia é a construção de uma possibilidade de reconhecer todos como semelhantes

Por uma dança que causa impacto Bruno Menezes Levar a dança para os quatro cantos de Viçosa e região. Este é o objetivo do grupo Impacto de dança de rua, projeto que começou tímido por meio de uma parceria do Centro Experimental de Artes e a FUNABEM, mas que cresceu e se profissionalizou. A prova são os diversos prêmios conquistados pela companhia, entre eles o “Cena Minas”, importante premiação concedida pelo Ministério da Cultura. Hoje, sob o comando da diretora Patrícia Lima, o grupo Impacto atua em Viçosa e região como promotor da dança. Apoiados pela Lei Estadual de Incentivo a

Cultura, a produtora Ana Carol Camargo explica que os dançarinos atuam em cidades como Ubá, Ponte Nova, Coimbra, Teixeiras e Cajuri, dando aulas e capacitando outras pessoas. - É uma forma de inclusão, pois viver da dança é possível e o grupo Impacto é uma prova disso, declara Ana Carol. O veterano Jean Carlo relata que no início não sabia nada de dança, mas resolveu se inscrever nas aulas ministradas pelo grupo. No princípio tudo não passava de uma ocupação, mas a aptidão se revelou e hoje ele não pensa em outra coisa. - O grupo Impacto mu-

dou minha vida completamente, afirma Jean que já está há oito anos na companhia. A dança também é tudo na vida de Rodrigo Abrantes. Para “Branco”, como ele é conhecido, foi por meio dela que ele visualizou um futuro melhor, adquiriu autoconfiança e responsabilidade. - Pesquiso e estudo muito porque isso também faz parte da dança. Eu amo o que faço, confessa ele. Nos relatos dos integrantes do grupo Impacto podemos concluir que a dança é capaz de mudar a vida das pessoas. A dica deixada por eles é simples: dance sempre, se solte e faça movimentos. BRUNO MENEZES

Esculturas, gravuras, fotografias, pinturas, desenhos...essas são apenas algumas das formas de expressão de arte, sendo que cada uma delas tem suas especificidades. Um olhar bem treinado pode facilmente caracterizar a obra de um artista a partir de sua matéria-prima ou da técnica que utilizou para produzir a peça. Isso mesmo, para se tornar íntimo desse universo, basta treinar o comportamento para a observação e contemplação da arte. Como? Através de visitas a museus, cinemas, casas de arte, espaços culturais, exposições..enfim, qualquer lugar onde manifestações artísticas estejam presentes. É o que defende Sandra Galhardo, curadora da Pinacoteca da UFV, especialista e amante do assunto. No espaço onde ela trabalha, qualquer um pode visitar as exposições e, mais ainda, pode programar uma data para divulgar seu próprio trabalho. Ainda assim, a presença de adolescentes é rara. Ela acredita que essa situação pode ser explicada pela preguiça que o jovem tem de rotinizar atividades artísticas. “Mesmo estando em Viçosa, sei o que está em cartaz nos principais teatros e museus do Rio de Janeiro”, exemplifica ela. A maioria dos adolescentes, no entanto, não se preocupa com esse tipo de informação, ficando ausente dos eventos promovidos em sua própria cidade. Para Sandra, a falta de espaços que propiciem vivência artística não é desculpa para ficar de fora do mundo da arte. Em Viçosa, há vários espaços que expõem peças artísticas para todos os gostos, do amador ao artista renomado. A preocupação em escolher temas variados em alternância também faz parte do dia-a-dia da curadora, a fim de agradar o maior número de apreciadores. Assim, a especialista garante: manter o hábito de participar ativamente da arte refina o gosto até de quem não entende muito do assunto e pode trazer muitas mudanças para a formação de pessoas, ainda mais quando se trata de adolescentes, que estão formando seus gostos e preferências, daí a importância de participar com freqüência de espaços artísticos.

ta é que vai ser muito efetivo se cair nas mãos de bons professores. Então, dependendo ele pode alimentar o preconceito, ao invés de enfrentá-lo. OutrOlhar: Então, o kit pode incentivar a homofobia? Anna Claudia: As reações contrárias a distribuição do kit tratavam a possibilidade dele vir a estimular o desejo homossexual. Acho que essa fala revela um desconhecimento do modo como o desejo sexual opera, pois ele não é marcado pela racionalidade. Sendo assim, não é ver o filme, ou ler um livro que vai determinar o desejo. OutrOlhar: Assim podemos falar que a desinformação gera o preconceito.

BIANCA DAMAS

Debate sobre o material termina em veto da proposta pela presidenta

Grupo Impacto leva dança para Viçosa e região, com o apoio pela lei Estadual de Incentivo a Cultura


12 CULTURA

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

Instrumentos não convencionais também atraem jovens Juliana Corrêa

Quando se pensa em jovens praticando algum instrumento musical, geralmente se imagina algumas pessoas tocando violão, bateria ou guitarra em uma banda de garagem. No entanto, em vários casos, não é isso que se vê. Muitos jovens em Viçosa estão quebrando antigos tabus, e experimentando aprender a tocar instrumentos que fogem do convencional. José Marcos Vieira Júnior é um exemplo. Ele faz mestrado em educação na UFV, e toca bombardino, um instrumento de sopro que produz um som mais grave, e é indicado para acompanhamento em bandas e orquestras. José toca o bombardino há 10 anos, e conforme

esclarece, a escolha do instrumento foi circunstancial. Sua preferência é tocar músicas que afloram os sentimentos, como músicas clássicas e MPB. Já a estudante de agronomia Daniela Souza da Silva prefere flauta transversal. Há cinco anos, escolheu o instrumento justamente por ele ser diferente, e pelo fato de gostar muito de música erudita. A flauta transversal pode ser utilizada tanto em orquestras como em bandas de rock, o que atrai algumas pessoas a praticá-lo. O estudante de arquitetura e urbanismo Pedro Almeida toca os tradicionais violão e bateria, mas há aproximadamente dois anos, elegeu também o atabaque de madeira (o verdadeiro atabaque é feito com couro) - um instrumento de percussão composto por duas caixas de tamanhos diferentes tocadas com as mãos,

Aprenda a ser um instrumentista Flávea Gomes

JULIANA CORRÊA

Cada vez mais aumenta a busca por instrumentos musicais diferentes

Estudantes se reunem para praticar instrumentos que gostam no Conjunto de Sopros da UFV produzindo um som mais lento e acústico. O atabaque, segundo Pedro, é fácil de se tocar e acessível, e fácil até mesmo de se fazer. O mundo da música está

novas. Por isso, não se preocupe com o que irão pensar de você, encontre seu instrumento, aprenda e o pratique, seja ele comum ou não.

Sexualidade é discutida na arte

DIVULGAÇÃO

As obras culturais que abordam a temática da diversidade sexual são classificadas como Cultura LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). -A manifestação artística que se utiliza da temática da sexualidade é caracterizada como cultura LGBT. Mas não se pode, enfim, dizer que determinada obra seja consumida só por gays, explica a socióloga Luciana Stern. No entanto, o termo “Cultura LGBT” é contestado por muitos, por simplificar uma representação artística como exclusiva de um grupo da população (no caso, os homossexuais). Na música, por exemplo, quem nunca ouviu: “Todo gay gosta de Madonna”? Acompanhados de preconceito, alguns artistas e gêneros culturais são estereotipados como sendo do público LGBT. A diversidade de gostos culturais dentro de um grupo faz com que não exista regra. Não é porque você gosta Lady Gaga, que você é homossexual e vice-versa.

-Tem coisa melhor que dançar Lady Gaga numa balada?, questiona a estudante heterossexual, Marília Sobral (18). -Sou homossexual e não curto nada disso que dizem ser próprio do público gay. Gosto de pagode e sertanejo, diz Sávio Moreno, estudante (19). -A representação artística com a temática da diversidade sexual quer, enfim, propor a discussão, concluiu a socióloga. Nesse sentido, o grupo estudantil Primavera nos Dentes promove todos os anos eventos que possam debater o assunto. -O nosso objetivo é propor ações para alimentar a discussão em torno da diversidade dentro e fora da UFV, declarou Thais Faria, integrante do Primavera nos Dentes. Na intenção de discutir a diversidade sexual, o movimento estudantil pretende realizar dois eventos importantes no segundo semestre desse ano: em agosto, o pré-Enuds (Pré Encontro Nacional dos Universitários sobre Diversidade Sexual) e em outubro, a Segunda Parada Gay de Viçosa.

DIVULGAÇÃO

Lucas Constantino Já pensou em aprender um instrumento? A sua dificuldade é não ter um professor? Como diria o Casseta e Planeta “seus problemas acabaram”. Agora você pode aprender violino, violoncelo e flauta, já aqueles que preferem cantar podem ter aulas de canto coral! Tudo isso gratuitamente na Escola de Orquestra de Câmara de Viçosa. A Escola faz parte da Associação dos Amigos da Orquestra de Câmara de Viçosa que este ano faz parceria com o Ponto de Cultura de Viçosa no projeto “Sons da Cidadania”. O objetivo é oferecer oportunidade de aprendizado de instrumentos para jovens e crianças de escolas públicas. Os alunos que se destacarem poderão fazer parte do grupo musical e até dar aulas futuramente, contribuindo para a formação de novos músicos. O professor de violino que também participa da Orquestra de Câmara e foi aluno da Escola, Wesley Carlos Dias, disse que o trabalho com um grupo de quatro pessoas, “é cansativo, porém muito satisfatório quando se vê os alunos tocando, chegando e saindo felizes das aulas”. Já a professora de violino, Teresinha Ramalho, aconselha todas as pessoas a aprenderem música: - “Estudar música, um instrumento, ajuda as crianças, jovens e adultos a ter disciplina, já está comprovado cientificamente que ajuda no aprendizado na escola e eu acho que se não servir como profissão, é cultura, traz felicidade, é positivo para a vida das pessoas e todos nossos atos soam música”, ressalta. Jaime Barros da Silva Neto, aluno da Escola de Orquestra, acha interessante aprender violino, um instrumento bonito ao qual poucos tem acesso: - Tocar é bonito, tudo tem música, afirma. Ainda segundo ele, mesmo tendo nascido no Pará, só conheceu o violoncelo quando mudou para Viçosa e se inscreveu na Escola de Câmara. Para quem tem interesse em se inscrever na escola, basta se dirigir a Praça Silviano Brandão, n° 131, edifício Padre Carlos, 3° andar ou ligar para 3891-1635 e deixar seu nome na lista de espera para as aulas do segundo semestre de 2011.

repleto de instrumentos diferentes. Para encontrar o que melhor se encaixa em seu perfil, muitas vezes é preciso abrir seus horizontes e ir atrás de coisas

As obras (“The True”, “I’m the one”) são do artista plástico Jeferson de Souza. Elas foram apresentadas em um evento internacional sobre a visibilidade sexual em 2010.


Todo sábado tem cinema de graça no centro da cidade Wanessa Marinho “Sentem-se confortavelmente em suas poltronas e aproveitem a viagem.” Com estas últimas palavras, Júlia Fagundes termina sua breve introdução. As luzes então se apagam e o filme começa. Estamos falando sobre o projeto Estação Cinema – Recuperando os Trilhos, que acontece na cidade desde o começo de abril. Júlia é estudante do curso de Letras da Universidade Federal de Viçosa e em uma atitude pioneira conseguiu aprovar o seu projeto por intermédio do Programa Procultura da UFV. O projeto vem exibindo sessões de cinema todos os sábados na Estação Hervé Cordovil, situado bem no centro da cidade. E de graça!

O Estação Cinema tem como principal objetivo facilitar o acesso ao cinema e representar uma opção de cultura e lazer para a população viçosense. Mas não pense que lá você encontrará filmes como “Bruna Surfistinha” ou “Velozes e Furiosos 5”. A proposta é outra. Com uma temática diferente a cada mês, o projeto propõe a exibição de filmes do circuito alternativo, ou seja, não são exibidos filmes recém-lançados ou sucessos de bilheteria do último mês. Mas lá você pode encontrar Charles Chaplin e Alfred Hitchcock, entre outros. A estudante Clarissa Cotrim (16) afirma que gosta bastante de cinema. Essa é a sua primeira sessão na Estação Hervé Cordovil. Ela diz que aprova o projeto por trazer cultura e incentivar o acesso ao cinema na cidade. Enquanto

o seu amigo Yago Pereira (18) ressalta o quanto é bom relembrar os filmes antigos. Ossamu Tanizaka (18) também participa pela primeira vez e diz que achou a proposta bem bacana. “Eu gosto de uns filmes mais cabeça. O de hoje, eu nunca ouvi falar mas pelo nome acho que vai ser massa”, afirma. Após as sessões acontecem debates sobre o filme exibido, sobre o diretor e sobre o tema. Júlia ressalta que é interessante o espectador acompanhar os filmes durante o mês inteiro para que entenda a temática escolhida e assim o debate evolua. Daniel Froes (21) tem acompanhado as sessões desde o início do projeto. Ele afirma não ter cultura cinematográfica nenhuma e que tem aproveitado os filmes para adquirir conhecimento. “E é bacana porque é no

CULTURA 13 DIVULGAÇÃO

No escurinho do cinema

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

Filmes de junho do projeto Estação Cinema na Estação Hervê Cordovil centro da cidade, voltado para a cidade, uma opção fora das 4 pilastras”, acrescenta. O projeto Estação Cinema, que segue com a sua programação até o mês de Dezembro, é uma alternativa

para a já conhecida falta de atividades culturais em Viçosa. As sessões acontecem todos os sábados às 19h30. Para mais informações acesse www.recuperandostrilhos. blogspot.com.

Opções culturais em Viçosa dividem opiniões da população Rachel Monteiro

no, que é um espaço seguro, com bom estacionamento, mas poderia ter um pouco mais de opções. Em contrapartida às reclamações, o secretário de cultura e patrimônio, Antônio Luiz Miranda, relatou que a secretaria apóia todos os eventos culturais que são realizados no município e oferece e realiza várias oficinas, como a de dança, violão, sanfona, teatro. Ele lembrou que todos os eventos

realizados pela secretaria são gratuitos. O secretário disse também que há uma determinação da atual administração para resgatar os eventos populares do município, como o carnaval, a festa de aniversário da cidade, e outros eventos, e que muitos ainda estão sendo discutidos detalhadamente para serem posteriormente divulgados. Fazendo uma avaliação geral das opções culturais em

Viçosa, ele reconhece que falta um teatro ou um local mais adequado para realizar esses eventos no município, mas afirma que a prefeitura já está estudando um projeto para se criar esse local. Acrescentou ainda que a cidade tem sim muitos eventos oferecidos para todos os públicos e idades. Contudo, a afirmação não parece condizer ou agradar a opinião comum. CRISTIANO SILVEIRA

O título de cidade universitária que Viçosa possui muitas vezes não condiz com a realidade quando falamos de opções de eventos culturais para seus moradores. A cultura também faz parte da educação e formação social e intelectual do jovem, mas muitos destes, e os próprios moradores, reclamam que poderia haver mais opções de eventos no município. Teatro, cinema, mostras culturais, dentre outros, são algumas das carências citadas. Ramon Freitas Guilherme, estudante do 3º ano do Colégio Effie Rolfs, acredita que a cidade não tem tantas opções culturais quanto deveria. -Dentro da UFV tem o Cine Carcará, vários eventos, como mostras, exposições, teatro, mas fora da universidade não tem tantas opções assim. Acho que deveria ter mais oportunidades para os jovens, principalmente eventos musicais de qualidade, afirma. A estudante Luíza Araújo, do 2º ano, também compartilha da ideia de que a cidade

ainda é pobre de opções culturais. -Tenho vontade de ir ao teatro, mas aqui não tem. No cinema só vou quando passa algum filme bom. Acho que a UFV também poderia ter mais opções pro público, e com preços mais acessíveis, ou até de graça. A universidade poderia fazer também uma espécie de seminário de cultura, com palestras informando sobre o que é realmente cultura, pois muitas pessoas não tem esse conhecimento, afirma a estudante. A queixa de poucas opções culturais não é só dos estudantes, mas também dos moradores em geral. O funcionário público Carlos Roberto da Silva é da opinião que, por Viçosa ser uma cidade universitária, poderia ter mais opções de entretenimento não só para os estudantes, como também para os moradores. -Isso deveria partir dos próprios departamentos da universidade, sobretudo da área de ciências humanas. Lá tem estrutura, espaços muito bons, como o Fernando Sabi-

Shows como os do ViJazz são alternativas para suprir a carência de eventos culturais em Viçosa


14 VIDA, CIÊNCIA E SAÚDE

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

Cada “louco” com suas manias sejam elas normais ou patológicas Karinna Matozinhos Quem nunca saiu de casa com aquela dúvida: será que eu tranquei a porta? Ou, o ferro elétrico está desligado? Volta para conferir uma vez ou até pode sair com aquela desconfiança que fica tudo bem. Mas, para certas pessoas a dúvida as consome de tal forma que elas têm que voltar inúmeras vezes para ter certeza. E a cada vez que se volta para conferir é necessário repetir uma frase três vezes. Esse comportamento é diagnosticado como o TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo. Mania todo mundo tem uma ou outra. Aquele hábito de ter um comportamento sempre do mesmo jeito, como só dormir de um lado, entrar sempre com o mesmo pé nos lugares e por aí vai. Algumas, são até engraçadas, mas é preciso estar atento ao que limita estas manias normais das patológicas que

são as causadoras do transtorno. Mas afinal o que pode ser visto como TOC? Segundo os especialistas o TOC é uma atitude que você tem noção que é estranha, sofre com isso e ela demanda do seu dia mais de três horas. A pessoa sabe que esse comportamento não é normal, mas não consegue evitar. Quem sofre de TOC pode ter apenas o comportamento obsessivo, só o compulsivo ou os dois. Mas qual a diferença entre um comportamento obsessivo e o compulsivo? Por exemplo, a pessoa tem medo de pegar uma doença, esta é a obsessão. Para tentar se livrar dela tem que fazer um ritual, como lavar as mãos cantando a música Parabéns pra você duas vezes, o ato de lavar as mãos é a compulsão. Segundo o professor assistente de psiquiatria da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Fernando Machado Vilhena Dias, o TOC é mais comum na infância e adolescência. São raros os casos

K A R INNA MATOZINHOS

TOC é mais comum nas crianças e adolescentes.

Pisar no rejunte das calçadas pode ser um erro fatal para quem sofre TOC, já para as pessoas de manias normais esse comportamento representa apenas uma afição de pessoas que tem mais de 30 anos iniciarem os sintomas. Fernando também afirma que o TOC é conhecido como a loucura da dúvida e pode consumir a vida toda deixando pessoa presa num labirinto angustiante. Um exemplo muito conhecido é o Rei Roberto Carlos. Suas manias surgiram na infância por influência do avô, que não vestia roupas da cor marrom. Roberto que

já fez muito sucesso com a música “Quero que vá tudo para o inferno”, atualmente não consegue cantá-la por causa das palavras negativas da letra. O Rei também só usa nas suas apresentações roupas brancas e azuis, só sai pela mesma porta que entrou e ao se curvar para agradecer o público ele murmura palavras desconexas. Existe tratamento e quem sofre de TOC tem que pro-

curar ajuda, pois os sintomas só agravam com o tempo. Dependendo da gravidade a doença é tratada com antidepressivos em altas doses e com uma terapia congnitiva comportamental, em que o terapeuta tenta convencer o doente de que suas preocupações são infundadas. Para isso, ele não só usa argumentos lógicos, como expõe o paciente ao objeto de suas aflições.

Equilíbrio e diversidade na hora da alimentação Em nome da saúde, da religião ou em grande parte do meio ambiente, muita gente aderiu à dieta vegetariana. No entanto, ainda existe muito receio e dúvidas a respeito dessa dieta. Será que trocar a carne e os alimentos de origem animal por frutas, sementes, vegetais e hortaliças não faz mal à saúde? Em primeiro lugar é preciso saber que existem várias maneiras de adotar esse tipo de dieta. Nem todos os vegetarianos evitam todos os tipos de alimento de origem animal, apenas o vegano ou vegetariano total. È possível ser, por exemplo, um semi-vegetariano e excluir somente a carne vermelha, pelo menos duas vezes por semana, ou um lactovegetariano e excluir todo o tipo de carne e alguns alimentos de origem animal, mas comer derivados do leite. Ou ainda um ovolactovegetariano e não consumir nenhum tipo de car-

ne, mas comer ovo e derivados do leite. Fábio Fernandes Melo, é ovolactovegetariano há 14 anos. Ele começou a seguir a dieta, pois achava injusto matar o animal para comer. Hoje sente que sua alimentação melhorou: - Quando eu comia carne, era só arroz, frango e batata frita, relata. No entanto, ele afirma que sente falta de opção para vegetarianos em diversos lugares que freqüenta e que é preciso ter cuidado: - Hoje eu tenho consciência que é perigoso, conheço pessoas que passaram mal por seguir essa dieta, tem que ter um acompanhamento, esclarece. A nutricionista, Julicristie Oliveira, também é ovolactovegetariano e decidiu seguir a dieta por motivos de saúde, ambiental e espiritual. Ela afirmou que a dieta não é prejudicial à saúde:

CRISTIANE CÂNDIDO

Cristiane Cândido

Hortaliças, legumes e verduras são alguns dos alimentos típicos de uma dieta vegetariana - Alguns estudos comprovam que a dieta é saudável e ajuda a evitar doenças cardiovasculares, obesidade, mas é preciso ser equilibrada, pois a falta de certos nutrientes pode causar deficiência de vitamina B12, anemias, explica. Ao contrário do que mui-

tos pensam ser vegetariano não é apenas deixar de comer carne, quem adota essa dieta tem que estar disposto a se alimentar de maneira mais saudável e nutritiva. Para isso é preciso tomar alguns cuidados: - Ter bastante atenção na hora de alimentar, comer le-

guminosas, oleaginosas, frutas, vegetais e hortaliças, não dá pra ficar sem, atentou Juliscristie. Como foi dito, há muitas formas de adotar essa dieta, mas para garantir a saúde nada melhor que um bom acompanhamento nutricional.


OUTROLHAR JUNHO DE 2011

VIDA, CIÊNCIA E SAÚDE 15

Vai um cigarrinho aí? O cigarro é umas das principais causas de morte evitável. Thaíssa Vaz Apesar da diminuição do uso do cigarro com o passar dos anos, é assustador pensar que 4,9 milhões de pessoas ainda morrem ao ano em todo o mundo, devido ao uso contínuo dele, segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). Além disso, o cigarro é apontado como uma das principais causas de morte evitável no planeta. Experimentar um cigarro é, muitas vezes, a primeira etapa para o posterior acarretamento do vício. Dentre os atuais fumantes, 90% iniciaram o uso do cigarro antes dos 19 anos. De acordo com o pneumologista Olber Moreira, é considerado fumante o indiví-

duo que fumou mais de 100 cigarros, o equivalente a 5 maços, em toda a sua vida e ainda fuma. Fumar é um comportamento social adquirido especialmente por influências. Tanto fatores sociodemográficos, ambientais, comportamentais e pessoais podem conduzir ao vício. Crianças e adolescentes estão sempre na busca de identificação com seus pais, amigos e ídolos e, acabam assumindo posturas dos mesmos. A adolescência é uma fase marcada por grandes mudanças e experimentações. E é nessa etapa que a grande maioria dos fumantes experimenta ou consome de forma regular o tabaco. O primeiro passo para largar o vício parte da motivação pessoal do fumante. A partir daí, será realizada a

abordagem comportamental do paciente e será dado início ao tratamento com medicamentos. O médico pneumologista ainda ressalta: - Nos casos de elevado grau de dependência, podemos associar medicamentos comprovadamente eficazes (terapia de reposição da nicotina e os não nicotínicos). Uma vez cessado o tabagismo, as doenças tabaco-dependentes, que já chegam a 50 tipos, terão incidência menor com o passar do tempo- relata. No Brasil, as campanhas de combate ao tabaco têm surtido efeitos positivos, proporcionando a queda gradual do seu uso nas duas últimas décadas. Mas isso não significa que os cuidados devem ser retirados. O cigarro já deixou de expressar status e estilo pessoal, agora a realidade é outra.

Envelhecer com dignidade Diana Saballos

O espaço dos fumantes na sociedade está cada vez mais limitado. Em alguns lugares, o consumo do cigarro só é permitido em áreas isoladas, o que acaba por levar à diminuição do vício e da utilização do tabaco em todo o mundo.

Quando o peso ideal é só um engano Pâmera Mattos Incontáveis dietas, academias lotadas, remédios emagrecedores ou inibidores de apetite são algumas das alternativas utilizadas diariamente por pessoas que lutam por um peso “ideal”. Depois de tanto esforço, você sobe na balança e vê o ponteiro apontando para o peso almejado, enfim respira aliviado! Você pode ter atingido o peso desejado, mas nem sempre isso significa que não está obeso. Os indica-

dores antropométricos servem para verificar o excesso de peso, mas muitas vezes apresentam um resultado equivocado. A maioria deles não faz distinção entre o percentual de gordura corporal ou músculo e aí que reside o problema. O peso pode estar elevado devido a uma grande quantidade de músculos e não por excesso de gorduras. Uma das fórmulas antropométricas mais conhecidas é o Índice de Massa Corpórea (IMC) que divide o peso pela altura ao quaPÂMERA MATTOS

Profissional mede percentual de gordura em academia de Viçosa

drado. De acordo com o resultado dessa divisão é possível verificar se o seu peso é o ideal para sua altura. Mas esses indicadores isolados podem levar a um diagnóstico e uma dieta alimentar incorreta, principalmente quando se trata da saúde de adolescentes. Segundo a nutricionista Caroline Lameirinhas Carvalhar , especialista em nutrição funcional: - Os usuários deste índice podem realizar uma dieta restrita para queimar músculo, já que pode não ter gordura para “queimar”. E a massa múscular é necessária para um envelhecimento bem sucedido, mantendo qualidade de vida e autonomia. Esta situação pode ser ainda mais complicada se considerarmos os usuários adolescentes. Eles querem resultados rápidos para uma adaptação de turma ou conquista de um parceiro. Mas, como estão no auge das

mudanças corporais, o peso é uma das variáveis que está em constante modificação, pois o corpo ainda está se estruturando. A difícil aceitação e cobrança nesta etapa da vida é grande. Além disso, a mídia e educadores físicos iludem com promessas absurdas de um corpo perfeito e vendem bem o produto. Os adolescentes querem um corpo bonito e quando o IMC indica um sobrepeso, imediatamente estes jovens mudam os hábitos alimentares e de vida para se inserirem no grupo dos que não possuem os quilinhos a mais. Existem métodos mais eficazes para averiguar o sobrepeso e a existência de doenças cardiovasculares. Medidas de pregas antropométricas e exames bioquímicos. Sinais e sintomas como dor de cabeça e perda de apetite. Deve-se avaliar todo o conjunto.

Ficar procurando por cremes ou substancias “milagrosas” que prometam a juventude por mais tempo não adianta. Envelhecer é inevitável. Como o professor da Saúde Pública e Epidemiologia do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV, Adelson Araújo Tinoco falou, até os dias de hoje, não existe jeito de impedir ou retardar o envelhecimento. “Um dia, se tivermos boa sorte, todos nos vamos ficar velhos, pois é um processo natural fisiológico. No entanto, pode-se envelhecer saudavelmente e ajudar a quem estiver na terceira idade ter uma vida digna”, afirma. O professor Adelson é um dos coordenadores do Programa Municipal da Terceira Idade de Viçosa, PMTI, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos idosos da cidade. Ele explicou que durante a terceira idade aparecem várias complicações para a saúde comuns a essa etapa da vida, e que fazem os idosos terem mais cuidados com a saúde. Ivones Maria, secretária do programa, explica que as atividades ali oferecidas ajudam a diminuir os efeitos desses transtornos e promovem o bem-estar físico e mental. Por exemplo, são oferecidas aulas de dança de salão e forró. Aulas de exercícios físicos, como, hidroginástica, caminhada ao ar livre, alongamento, entre outras. Além das atividades físicas, o PMTI oferece gratuitamente acompanhamento médico e de nutricionista para os idosos, e mantém uma relação estreita com a família deles. A secretária Ivones recalca que a inclusão e participação da família do idoso na vida do mesmo é sumamente importante para que esta possa ser de boa qualidade.


16 ESPORTE

OUTROLHAR JUNHO DE 2011

Projeto ligado a ASAV revela talentos do esporte em Viçosa Atletas do halterofilismo foram convidados para o mundial no Peru Thiago Penna

disputar competições importantes tanto em âmbito regional quanto nacional. O resultado é possível notar nos inúmeros resultados obtidos, desde a realização da parceria, os atletas já conquistaram o brasileiro sub 17 e sub 20, além das ótimas colocações obtidas em outros torneios disputados. Devido às boas colocações, os jovens Romário

Martins e Josan Ramos, revelações do projeto, foram recentemente convocados para integrar seleção brasileira sub 17 de levantamento de peso. Que recentemente participou do mundial em Lima, no Peru. O projeto é aberto ao público, sendo realizado treinos de segunda a quinta feira as 15h:30min para iniciantes, e de segunda a sábado as

10h:30min e as 13h:30min para a equipe de competições. Segundo o coordenador do projeto e mestrando em Educação Física, Pedro Meloni diversas ações tem sido realizadas nas principais escolas da cidade de Viçosa com o intuito de “incentivar a prática esportiva e divulgar essa iniciativa visando formar novos atletas”. ARQUIVO PESSOAL

O halterofilismo, popularmente chamado de levantamento de peso, é um esporte pouco conhecido pela maioria dos jovens, mas graças a um projeto vinculado a UFV, a cidade de Viçosa tem se destacado como um dos principais pólos reveladores de atletas da modalidade. O esporte consiste no levantamento da maior quantidade de peso sob duas barras. Desenhos egípcios revelam que o surgimento desse esporte pode ter sido há mais de 4mil anos a.C. Em Viçosa o esporte é

praticado há mais de quatro décadas e já teve atletas gabaritados como a esportista pioneira Maria Elizabeth, que em 2000 chegou a representar o Brasil nas Olimpíadas de Sidney pela categoria até 48kg. A ASAV (Associação dos servidores administrativos da UFV), desde a sua criação, em 1984, promove a prática do esporte por meio do auxilio na cessão de espaços para a prática além de equipamentos e profissionais gabaritados para a organização da modalidade e treinamento dos atletas. Em 2008 a UFV passou a dar também suporte ao esporte através de um convenio que permite que atletas de alto rendimento possam

Em Viçosa o esporte é “ praticado a mais de quatro

décadas e já teve atletas gabaritados como a esportista pioneira Maria Elisabete

Romário Martins, atleta viçosense disputando campeonato mundial de halterofilismo pela seleção brasileira

Videogames também incentivam a prática de esportes “Ele estimula o sedentarismo e acaba deixando as pessoas acomodadas e preguiçosas...” Talvez seja esta frase que você mais tenha ouvido, atualmente, quando o assunto é videogames. Porém, saiba que esse cenário está mudando. E mudando muito. Desde a popularização dos primeiros videogames, ainda na década de 70, nunca se viu tanto interesse no mercado como hoje. O perfil de quem joga também mudou. Videogame parece não ser mais um “brinquedo de criança”. Os consoles, assim como os jogos, estão cada vez mais modernos e acumulando funções que não possuíam anteriormente. — Eu uso meu videogame para, além de me divertir, me exercitar também — afirma Everton Costa, engenhei-

ro elétrico de 23 anos. Exercitar-se pelo do videogame. Essa é a mais nova onda dos jogos virtuais. Mas como isso pode acontecer? Alguns novos videogames do mercado exigem que o usuário se movimente para controlar seu personagem virtual, que imita o movimento do jogador real. Por exemplo, para que o personagem do jogo bata na bolinha, em uma partida de tênis, é preciso que jogador movimente as mãos como se rebatesse a bolinha, como no jogo real. As consequências dessas mudanças, no modo de jogar são grandes. — Eu nunca tinha me interessado em praticar esporte nenhum e há dois meses comecei a jogar tênis, influenciado pelo que fazia na sala de casa, no videogame — disse o estudante de 15 anos Gustavo Alves.

Para o preparador físico Márcio Castro essa mudança de hábitos é sem dúvida muito saudável. Qualquer prática esportiva ou exercício físico é algo muito válido para a saúde. E existem academias fora do Brasil, que já usam esse tipo de tecnologia nas aulas de ginástica, relata. Essa iniciativa não é só de academias. Em uma escola Australiana, algumas aulas de basquete na educação física são feitas com esse tipo de videogames que exigem a movimentação dos usuários. — Mais que uma atividade física específica dá pra perceber que os videogames, promovendo essa maior interação com o jogador, têm funcionado como um grande incentivador da prática esportiva de um modo geral — finaliza Márcio mostrando a nova tendência do esporte cada vez mais ligado à tecnologia.

JON NAGL

Daniel Fardin

Jogador com os controles do videogame na mão em pleno exercício


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.