OPINIÃO: Questão das células-tronco precisa, o quanto antes, ser encarada em seu potencial técnico-científico.
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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFV n ANO 8 n EDIÇÃO N°28 n DEZEMBRO DE 2011 MARIANA TISO
Inaugurado em dezembro, o canigatil de Viçosa já recebeu seus primeiros animais. Criado a partir de uma parceria entre a Prefeitura de Viçosa e a UFV, o local tem capacidade de atender cães e gatos abandonados pela cidade, que serão tratados e preparados para uma possível adoção. Abanando o rabo e pulando muito, é com carinho que eles recebem aqueles que os visitam. PÁGINA 9
Nova opção para o problema de acúmulo de lixo na cidade MARIANA TISO
Construção de usina ecossustentável altera relação com lixo.
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Seguindo com a série de orientações sobre as profissões, OutrOlhar traz nessa edição o segundo encarte especial pautando carreiras, mercado de trabalho e as principais instituições onde são oferecidos os cursos. Medicina, Física, Gastronomia, Engenharia Florestal, Dança, Relações Internacionais, Economia Doméstica, Serviço
Falta de infraestrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é motivo de preocupação para os usuários. PÁGINA 9
MARIANA TISO
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CONFIRA!
MARIANA TISO
MARIANA TISO
Muitos jovens têm preferido alimentação rápida a uma dieta balanceada, devido à rotina tumultuada.
Social, Letras Tradução, Fisioterapia, Engenharia Mecânica e Pedagogia.
Ciclistas se arriscam e tumultuam a passagem de automóveis e pedestres em meio ao trânsito caótico de Viçosa. PÁGINA 10
2 OPINIÃO
OUTROLHAR DEZEMBRO DE 2011
AO LEITOR Cada edição do OutrOlhar se constituiu um desafio para o corpo redacional, formado pelos alunos do Curso de Jornalismo da UFV. Além de agradar a você, caro leitor, com temas que possam lhe despertar o interesse, nossos estudantes são ainda estimulados e cobrados a desenvolver textos de reportagens,
fotos ou ilustrações que possam atrair a sua atenção e o seu interesse. Os assuntos aqui abordados geralmente são tirados do nosso cotidiano, a partir dos fatos que certamente fazem parte do diaa-dia de nossa sociedade. Ou seja, do seu dia-a-dia. Todos relevantes para que possamos compreender melhor o funcionamento de nossa cidade, estado ou país, além das vidas
Redes sociais mobilizam mais do que a realidade Queda do presidente Rosni Mubarak no Egito, ocupação da Wall Street em Nova York, marchas contra a corrupção realizadas no Brasil. O que esses movimentos possuem em comum são a mobilização e organização dos manifestantes na internet. Ferramentas como Orkut, Twitter, Facebook e blogs destacam-se como grandes aliados nas mais variadas concentrações de forças populares em questões político-sociais do Brasil e do mundo. Trata-se de uma boa oportunidade para os jovens brasileiros mostrarem que os recursos que mais utilizam na internet são excelentes incrementos à expressão das inúmeras indignações que os afligem. E eles estão, de fato, participando ativamente dos debates e movimentações incitados nesses ambientes da web. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Datafolha, 71% dos 1200 jovens entre 18 e 24 anos entrevistados vêem a internet como um ambiente alternativo de mobilização social. Segundo eles, a discussão proporcionada pelas ferramentas da web são mais produtivas do que a forma repetitiva e padronizada dos meios tradicionais de comunicação. Mas a história é outra na hora de realmente sair às ruas para se posicionar e protestar. Na manifestação contra a corrupção realizada em agosto último, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, a Polícia Militar contabilizou pouco mais de 2 mil participantes, um número bem menor do que os 35 mil que confirmaram presença pelo Facebook. Mesmo com a grande diferença numérica entre aqueles que aderiram às mobilizações nas redes sociais e aquelas que participam fisicamente das concentrações nos espaços públicos das cidades, é incontestável a eficiência da web tanto na união daqueles que protestam por conta de uma iniciativa comum quanto na posterior organização das atividades a serem desenvolvidas fora do ambiente digital. Filipe Norberto
Edição nº 28 – Dezembro de 2011 Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), atualmente sob a responsabilidade da turma de 2010, na disciplina COM 252 – Jornal-Laboratório I. Apoio: Centro de Ciências Humanas Letras e Artes - CCH Endereço: Vila Giannetti, Casa 39, Campus Universitário35670-000- Viçosa. MG Tel: 3899-2878 www.com.ufv.br
de nossos semelhantes e as nossas próprias vidas. Por ser um jornal-laboratório experimental, as matérias aqui publicadas têm um enfoque especial, já que nossa estrutura é diferente daquela encontrada em um jornal de grande circulação, que são vendidos nas bancas. Os assuntos aqui tratados, além de levar até a você as informações e curiosidades do
eles estão envolvidos, certamente nos ajuda a viver e a conviver melhor, além, é claro, de entender o funcionamento da própria vida. Por isso, aproveite a leitura dessa e de outras edições do jornal OutroOlhar. Divulgue-o para seus colegas e familiares. Comente e discuta as nossas matérias. Joaquim Lannes Editor
Muito sucesso com pouco rock Os números apontam o Rock in Rio 2011 como um grande sucesso. Nas quase 100 horas de evento, ao longo de sete dias, reuniuse um público de 700 mil pessoas na Cidade do Rock para acompanhar as mais de 160 atrações ali apresentadas. Além disso, dados surpreendentes também foram conseguidos com a veiculação do festival na rede. Estima-se que 180 milhões de internautas de 200 países tenham acompanhado o festival por meio do site oficial ou redes sociais. Por outro lado, o Rio de Janeiro também foi beneficiado, segundo a Secretaria de Turismo da cidade, a Riotur. O Rock in Rio impactou mais de 880 milhões de reais na economia carioca, com uma média de 90% de ocupação da rede hoteleira, entre outros benefícios. Certamente o evento que, após dez anos de ausência voltou a ser realizado no Brasil, superou as expectativas. Mas e para os amantes da música, o Rock in Rio foi realmente gratificante? A verdade é que o nome por ele carregado sem dúvida perdeu força com o pas-
Chefe do Departamento de Comunicação Social (DCM): Prof. Joaquim Sucena Lannes Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Erivam de Oliveira Editor Geral Prof. Joaquim Sucena Lannes Registro: MT-RJ-13173 Orientação Fotográfica Prof. Erivam de Oliveira Registro: MT-SP-20193 Consultoria para Projeto Gráfico: Professora Laene Mucci
Reitora: Prof ª. Nilda de Fátima Ferreira Soares Diretor do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes: Prof. Walmer Faroni
seu interesse, servem ainda para estimular a compreensão crítica desse mundo que nos rodeia. Coisas e fatos que nos cercam e que para as quais nem sempre prestamos a devida atenção. Compreender melhor o funcionamento da sociedade em que vivemos e de outras, além de entender melhor o nosso próximo e as implicações dos fatos nos quais
Turma 2010 Lauzemir Carvalho. Amanda Moraes, Raíra Barbosa, Maíra Caixeta, Yara Viana, Janaina Campos, Rafael Fialho, Mar-
sar dos anos. O rock’n roll praticamente intocável em edições anteriores cedeu espaço a muitos artistas pops da atualidade, já que os roqueiros não são mais os mesmos. Para isso, basta ver as principais atrações do gênero no evento desse ano. Bandas como Metallica, Guns ‘n Roses e Red Hot
Estima-se “que 180
milhões de internautas de 200 países tenham acompanhado o festival por meio do site oficial ou redes sociais. Chili Pepers são todas ícones desse estilo musical, mas são grupos com muito tempo de estrada e que certamente já viveram o seu auge na carreira. Tudo isso serviu para críticos encherem a boca e afirmarem que “o rock morreu” ou que o evento deveria ser chamado, daqui para frente, de “Pop in Rio”. En-
celle Louise, Luciana Resende, Washington Luiz, Robson Passos, Frederico Maritan, Filipe Norberto, Diêgo Rodrigues, Lucas Alves, Letícia Abelha, Cibelih Hespanhol, Nina Koziolek, Mariana Tiso, Taís Pires, Júlia Boaventura, João Dalla, Camila Calixto, Marcos Meigre, Marcela Corcino, Ana Nunes, Iago Miranda, Raynan Nunes, Erika Vieira, Isabela Campanha, Iara Diniz, Kamilla Bernardes, Pablo Campos, Marcela Barbosa, Cristiane Cândido, Bruno Monteiro, Míriam Santos, Vanessa Coutinho, Laiana Cardoso, Angélica Almeida, Flávea Gomes.
fim, argumentos do contra, com certo embasamento e até nostalgia, mas nada que tire o brilhantismo do festival, tanto que o Rock in Rio 2013 já está confirmado e os patrocinadores anunciados. Analisando por um ponto de vista diferente, esse evento mostrou a capacidade do Brasil em organização, o que logicamente não serve de parâmetro para competições da magnitude da Copa do Mundo e das Olimpíadas, as quais vamos receber em 2014 e 2016, respectivamente. Mas, de qualquer forma, o festival pode ser encarado como um teste que, nesse primeiro momento foi bem realizado. Portanto, o Rock in Rio mudou, se tornou mais eclético, mais comercial. Para os saudosistas, no entanto, talvez não tenha empolgado tanto quanto as edições anteriores. Para os mais novos, ficou o fascínio em ter no Brasil tantas atrações juntas em um curto período. No entanto, fica a ressalva de que no Rock in Rio ficou faltando mais rock. Robson Passos
Miranda Impressão: Divisão Gráfica Universitária Tiragem: 2 mil exemplares Os textos assinados não refletem necessariamente a opinião da Instituição ou do Curso, sendo da responsabilidade de seus autores e fontes. Cópias são autorizadas, desde que o conteúdo não seja modificado e que sejam citados o veículo e o(s) autor(es).
Monitor: Rodrigo Castro Forte Cardoso (Turma de 2008) Sub-Editores: Comportamento - Amanda Moraes; Cultura – Miriam Santos; Vida, Ciência e Saúde – Cibelih Hespanhol; Opinião – Frederico Maritan; Entrevista – Washington Luiz; Meio Ambiente – Isabela Campanha; Cidade – Pablo Campos; Especial Profissões - Camila Calixto e Marcos Meigre; Revisão Final – Camila Calixto e Marcos Meigre; Edição Fotográfica - Mariana Tiso Diagramação Lauzemir Carvalho, Camila Calixto, Marcos Meigre, Iago
Universidade Federal de Viçosa 85 anos
OUTROLHAR DEZEMBRO DE 2011
OPINIÃO 3
Preconceitos ainda impedem a cura pela clonagem humana DIVULGAÇÀO
Muito se tem discutido sobre a aplicação de células tronco no tratamento de doenças humanas. Entretanto, a utilização destas ainda enfrenta uma série de questões éticas que impedem que essa técnica, cientificamente comprovada com um potencial útil, tenha maior contribuição em prol da saúde humana. As células-tronco possuem a capacidade de se dividir e originar células semelhantes à progenitora. Por meio de um processo conhecido como diferenciação celular, elas conseguem se transformar em tecidos do corpo humano como ossos, sangue, nervos e músculos. Mesmo assim, uma parcela da sociedade continua não aceitando a utilização desse processo no tratamento
Célula-tronco ainda hoje é tema de discussão entre pessoas de saúde e de vidas humanas. Religiões como a Protestante e a Católica, por exemplo, ratificam seu argumento contrário a essa prática afirmando que a vida começa no momento da fecundação. Por isso, se colocam contrárias ao fato de que vidas sejam salvas
e que males sejam curados por meio da aplicação desse processo científico. Toda crença religiosa tem valores que dificilmente são alterados. No entanto, há de se destacar que a prática em questão não tem o objetivo de criar um novo processo de originar vida humana,
mas somente é utilizada com o intuito de ajudar no tratamento e cura de doenças que há algum tempo são consideradas como irreversíveis, como no caso do mal de Alzheimer e de Parkinson. Entrando nessa questão moral, não vejo a clonagem terapêutica (nome que se dá ao processo científico) como prática inapropriada para o tratamento de doenças, uma vez que acredito que o processo não é de reprodução de novos seres humanos, mas somente de cura. Em virtude disso, nota-se que não há impedimentos cientificamente comprovados que minem a técnica. A lei brasileira permite a utilização de células-tronco exclusivamente para fins de pesquisa e terapia. Em contrapartida, em outros
países a prática já encontra maiores facilidades para se desenvolver e qualquer pesquisa sobre esse tema recebe a supervisão e aprovação dos próprios governos. Visto isso, a clonagem terapêutica não deveria ser encarada por religiões e por uma parcela da sociedade como um ato eticamente incorreto. A clonagem terapêutica ainda tem muito a se desenvolver e tratar pessoas necessitadas dessa técnica científica. Muito já foi descoberto a partir desse processo. Todavia, as restrições argumentadas por essa corrente de pensamento ainda impedem que a prática consiga atingir seus objetivos, além de criar uma imagem negativa da clonagem terapêutica. Frederico Maritan
Pedofilia é crime e devemos denunciar Movimentos pedem a divulgação dos documentos da ditatdura Segundo o Dicionário Aurélio, pedofilia significa “atração sexual de um adulto por crianças”. Um ato realmente abominável e é hoje um dos assuntos mais polêmicos em discussão, que merece desde capa de revista até programas inteiros de TV. Mas, afinal, é o ato em si que causa tanta consternação ou a figura indefesa de uma criança que faz repercutir tal tema? Notícias veiculadas por diversos meios midiáticos, nacionais e internacionais, dão conta do envolvimento de policiais, padres, pastores e cidadãos das mais diversas classes e profissões com os fatos. Algumas pessoas defendem tal prática e não são difíceis de serem encontrados, mesmo escondidos por trás de fakes termo usado para denominar contas ou perfis usados na Internet para ocultar a identidade real de um usuário. Estes afirmam que a prática é apenas um modo diferente de atração sexual. Enquanto isso, a sociedade e o governo, atuando em diversas frentes, tentam, de todas as formas, tornar popular
as possibilidades de denúncia que possam enquadrar os infratores, sejam elas por telefone ou por sites na internet. Casos de pedofilia não solucionados raramente ganham espaço na imprensa. Enquanto isso, as denúncias aparecem cada vez mais nas manchetes dos jornais. Mas a ânsia de divulgar para ter uma rápida resolução pode condenar, precipitadamente, uma pessoa inocente. O fato, por si só, é repugnante e a pessoa mencionada na notícia fica marcada para sempre, ainda que a culpa não seja provada. Posiciono-me contra a pedofilia e a favor de punições severas para aqueles comprovadamente envolvidos com esse tipo de prática. Porém, o correto seria uma apuração mais criteriosa antes de se acusar qualquer pessoa de prática tão abominável. Penso ainda que todo cidadão tem o dever de utilizar os telefones 100 ou 181 da Polícia Federal para denunciar esse tipo de delito.
Lucas Alves
O movimento pela divulgação dos documentos do regime militar ganha força no país. Em São Paulo, por exemplo, uma passeata promovida recentemente pediu o fim do decreto que impede a população de ter acesso aos registros da ditadura militar. Nomes como o de Jayme Antunes, presidente do Arquivo Nacional, e Chico Buarque, cantor e compositor, engrossam o coro dos que desejam a democratização destes documentos e uma possível responsabilização dos torturadores. O momento é de efervescência política, já que os representantes do grupo lutam pelo acesso ao acervo documental daquele período. Essa corrente recebeu a adesão de importantes figuras como a da juíza Kennarik Felippe, procuradora da República, de Frei Betto, escritor e religioso dominicano, e também do sociólogo Michael Lowy. Os mais conservadores
como o senador José Sarney, têm algumas resistências quanto ao assunto, embora ele tenha sido aprovado na Câmara dos Deputados com caráter de urgência sob o título Projeto de Lei 41/2010 e que agora vai para o Senado.
O que se “ aguarda é que
as manifestações se proliferem e formem uma espécie de bloco de resistência, a fim de que toda população conquiste o acesso aos arquivos O senador justifica a sua posição contrária afirmando que “não se pode realizar um Wikileaks da história do Brasil, o que poderia acarretar problemas diplomáticos para o país, como a relação com outros países da América Latina”. A presidente Dilma
não se posicionou contra o movimento e permitiu que a Chefe de seu gabinete em São Paulo, Rosemary Noronha, recebesse das mãos dos manifestantes um documento assinado por artistas, intelectuais, ativistas políticos e familiares das vítimas da ditadura. O que se aguarda é que as manifestações se proliferem e formem uma espécie de bloco de resistência, a fim de que toda população conquiste o acesso aos arquivos desse período de chumbo, que vigorou em nosso país de 1964 a 1985. Já no que diz respeito a uma possível punição dos militares da época, dificilmente ocorrerá algo similar com o que nossos hermanos argentinos fizeram recentemente, quando condenaram o ex-general Hector Gamen (84) e o ex coronel Hugo Pascarelli, (81) à prisão perpétua.
Diego Rodrigues
4 CULTURA
OUTROLHAR DEZEMBRO DE 2011
Seinenkai divulgam a cultura japonesa no Brasil Vanessa Coutinho Olhos puxados, peixe cru, do outro lado do mundo. Se quando falamos em cultura japonesa o que vem à cabeça são características como estas, saiba que a cultura nipônica possui muito mais peculiaridades do que imaginamos e está presente em Viçosa. Responsável por preservar e difundir esta cultura aqui, o grupo Seinenkai existe há mais de 15 anos e promove periodicamente festividades abertas a toda a população, onde são oferecidos pratos da culinária japonesa, bebidas, música e roupas típicas da terra do sol nascente. Segundo os seus integrantes, muito mais do que ser uma comunidade japonesa, o Seinenkai é um grupo de amizade. De acordo com Shoiti Nakamura, um dos membros do grupo, os eventos são mais voltados para a diversão dos integrantes do que propriamente
para a preservação da cultura. Shoiti diz ainda: - Quando o Senenkai foi criado tinha uma ênfase maior na preservação e difusão da cultura, nossos descendentes faziam feirinhas, shows e festas, mas agora isso mudou, fazemos mais eventos culinários - explica. O professor do Departamento de Biologia Geral, Carlos Sperber, esteve em março deste ano no Japão e relata um pouco de suas impressões a respeito dos japoneses: - Eles são muito contidos, discretos, quase nem notamos a presença deles. Outra coisa que eu reparei é que são muito detalhistas, tudo deles tem um trabalho minimalista – declara o professor. A comunidade japonesa no Brasil é bastante expressiva devido não só ao grande número de imigrantes, mas principalmente por sua marcante presença nos diversos meios sociais e culturais no país. Atualmente, o Brasil abriga a maior população japonesa fora do Japão.
Plante leitores, colha cidadãos
Quase 1,5 milhão de nikkeis (termo usado para denominar os japoneses e seus descendentes) residem no país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Um dos aspectos mais conhecidos no Brasil sobre a cultura japonesa é a culinária. No entanto, existe a ideia pré-concebida de que a comida japonesa seja apenas à base de peixe cru, mas existem inúmeros pratos fritos, assados e cozidos que compõem a rica culinária daquele país. A base da gastronomia japonesa é o arroz, que é utilizado em diversos pratos, de doces a salgados. Além do sabor e do comprovado valor nutritivo, os pratos japoneses são ainda apreciados por suas belas apresentações. Seja qual for o aspecto, a cultura japonesa merece ser conhecida verdadeiramente por sua importância milenar e riqueza de detalhes que ela possui e não apenas pelos olhos puxados ou pelo peixe cru que comemos nos restaurantes como sendo os pratos característicos do Japão.
CARLOS SPERBER
Grupo promove eventos gastronômicos e musicais à população
Gueixa é um exemplo característico da típica cultura japonesa
Centro Experimental torna a arte mais acessível
Laiana Cardoso
Flávea Gomes Aprender uma arte como desenhar ou tocar um instrumento é o desejo de muitas pessoas, mas muitos não o realizam pela falta de oportunidade. Aqui em Viçosa existe essa chance. Wagner Gomide, auxiliar de serviço do Centro Experimental de Artes da Secretaria de Cultura e Patrimônio da Prefeitura, explica que neste setor são oferecidos gratuitamente oficinas de de-
senho artístico, viola, violão, violão clássico, balé clássico, capoeira, percussão, danças de salão, de rua e do ventre. - Aqui no Centro Experimental procuramos dar oportunidades para jovens e crianças realizarem algo que gostam e quem sabe um dia transformarem isso em profissão - explica. Marcela Mazzini, coordenadora das oficinas de balé clássico e dança de rua, conta um pouco sobre a história do Centro: FLAVEA GOMES
Você já ouviu seus pais e professores dizendo que você precisa ler com mais frequência? Se eles agem assim, saiba que estão cumprindo um papel muito importante: o de incentivar a leitura, que é uma base essencial na formação de qualquer pessoa. A estudante Joana Lopes (15) diz que começou a gostar de ler assim que foi alfabetizada e que o incentivo partiu dos pais, que sempre a colocaram em contato com os livros. Joana é um bom exemplo do que afirma a professora Andréia Coutinho: - Os pais devem ser os primeiros a incentivar a criança a ler, fazendo com que ela perceba a importância da leitura na própria vida – alerta ela. Algumas escolas implantam projetos com vistas ao processo de alfabetização dos seus estudantes e criam programas como os “cantinhos da leitura” e “a hora da história”, que fazem com que os alunos tenham um primeiro contato com os livros. De acordo com a pedagoga Ileidiane Ribeiro, essa união entre pais e professores, com o objetivo de introduzir o hábito da leitura desde a infância, traz benefícios durante a vida inteira: - Existem diferenças entre as pessoas que têm contato com o livro desde a educação infantil. Elas costumam apresentar um vocabulário mais abrangente e têm um senso crítico maior do que aqueles que não possuem o hábito da leitura - acrescenta. A pedagoga afirma ainda que para ser bem sucedido em qualquer profissão é preciso, em primeiro lugar, ser um bom leitor.
Desenho é uma das habilidades aperfeiçoadas no Centro de Arte
- Existe há 17 anos e foi criado pelo então secretário de cultura, Marcelo Andrade, para possibilitar o envolvimento das pessoas com arte e cultura - conta. O local atende a aproximadamente 500 pessoas. As vagas são abertas para toda a comunidade, mas com foco nos estudantes de escolas públicas. Adultos também podem participar das aulas. A dança de salão, por exemplo, é mais voltada para este público mais adulto. Já para as oficinas de desenho artístico é necessário ter pelo menos 13 anos, enquanto que para a dança de rua a idade mínima é de 12. Os interessados em balé, viola e violão precisam ter, pelo menos, sete anos. O Centro funciona na Rua Gomes Barbosa, número 658, Centro. No ato das inscrições serão cobrados dois quilos de alimentos não perecíveis, destinados a ação social. As inscrições são abertas duas vezes ao ano, a próxima será em fevereiro de 2012. Fique atento.
CULTURA 5
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Quadrinhos podem servir de incentivo à leitura MÍRIAM SANTOS
Professores utilizam este gênero para complementar ensino Miriam Santos Para quem pensa que as histórias em quadrinhos (HQ) são simplesmente textos ilustrados, está enganado. Elas possuem uma linguagem própria, específica de leitura, e possibilitam trazer à tona uma enorme variedade de temas a serem refletidos e debatidos pela sociedade. Segundo educadores, seu uso apropriado pode oferecer resultados positivos como, por exemplo, estimular o pensamento reflexivo e crítico das pessoas, levandoas a repensar valores, crenças, costumes e até mesmo a sua própria forma de leitura. Existe, no entanto, um certo preconceito em relação à sua forma de linguagem que é associada a uma arte inferior, uma leitura infantil ou texto fraco. Para Lucas Piter Alves Costa, mestrando em Análise do Discurso pela UFV, esse tipo de narrativa possui uma linguagem muito rica, que pode ajudar a
Histórias em quadrinhos exigem conhecimentos extratextuais e são repletos de intertextualidade aprimorar a interpretação de quem lê. Segundo ele, todo texto diz alguma coisa sobre a sociedade em que é produzido. - Nem toda mensagem dos quadrinhos é óbvia e eles podem ser explorados assim como uma obra literária, mostram a sua cultura de alguma forma. A linguagem utilizada tem o potencial de expressar coisas que só com as palavras não seria possível. Quando você vai ler os quadrinhos com essa visão,
você abre a sua mente para um mundo de significados ressalta. Com aspectos diversificados de leitura, os quadrinhos inclusive contextualizam temas complexos da sociedade exigindo, muitas vezes, certa compreensão de acontecimentos atuais ou históricos. Nesse sentido, podem também servir de apoio ao ensino pedagógico pelos professores. É o que afirma Adriana da Silva, doutora em Linguística pela Unicamp.
- Para interpretar os quadrinhos, o aluno tem que ter conhecimento de mundo, conhecimento linguístico de outros textos, porque há intertextualidade presente nos quadrinhos. Tem que associar o aspecto verbal com o não-verbal e muitas vezes esse trabalho é tão complexo que a cada vez pode-se fazer uma leitura diferente. Isso demonstra que na verdade não é um texto inferior, dá pra se trabalhar em sala de aula, pra levar o aluno a
refletir, e a gente tem uma gama de possibilidades pra isso – explica ela. Ainda segundo Adriana, é essencial, porém, que as HQs sejam trabalhadas adequadamente, levandose em conta não somente a localização de determinados elementos no texto ou o duplo sentido da história, mas todas as práticas sociais e o universo que envolve a construção dos personagens, suas histórias e realidades em que se encontram. Dessa forma, os quadrinhos podem ser o elo entre o debate de narrativas e o contexto de fatos importantes para o aprendizado dos alunos, além de ser uma forma criativa e inovadora de chamar a sua atenção, como explica Nobuyoshi Chinen, professor e pesquisador da USP. - Desde que bem aplicado, os professores podem usar os quadrinhos como uma maneira de atrair os alunos. Tem a parte visual, do desenho, que pode ser mais agradável para a leitura – comenta o professor.
Produtos indianos em Viçosa: identificação com a cultura ou moda? Angélica Almeida
informações sobre a religião hindu e algumas histórias retratadas nas roupas, por meio de desenhos que representam histórias carregadas de simbologias.
É certo que no caso específico da cultura indiana, que é milenar e diversificada, torna-se difícil dominar tudo o que ela envolve, mas fica a dica para você que, assim como Nilson
Mota e Cíntia Saliba, também gosta do estilo indiano. Além da exuberância da moda existe por trás dela uma cultura que, para ser valorizada, precisa ser conhecida. ANGÉLICA ALMEIDA
Se é verdade que o nosso modo de vestir transparece geralmente a condição emocional das pessoas, também não se pode ignorar que muitas vezes escolhemos roupas com desenhos e estampas das quais desconhecemos o significado. A expressão popular “vestir a camisa” neste caso é correta para sugerir engajamento e dedicação a uma causa, entretanto isso acontece por vezes sem que nem saibamos nossa adesão e crença a determinados assuntos. O comerciante Nilson Mota (47), por exemplo, conta que há cerca de sete anos trabalha com produtos indianos, mas que não possui conhecimentos a respeito da cultura do país. A motivação de Nilson Mota surgiu não só da percepção de que era na época
um mercado pouco explorado em Viçosa, mas pela preferência pessoal diante da beleza das roupas. O comerciante acredita que produtos indianos não são uma questão de modismo e sim de identificação com o estilo, que na opinião dele é belo pelas cores, pela leveza e por transmitir alegria. Esse também é o caso de Cínthia Lopes Saliba (20), estudante de Ciências Econômicas da UFV, que gosta e usa as batas, vestidos, pulseiras e brincos no estilo indiano por achar todos muito bonitos e confortáveis. A estudante diz que procura não misturar peças, pois não gosta de exagerar. Ela revela que a admiração surgiu muito antes de a cultura ser retratada em novelas. A influência veio das irmãs mais velhas. Cínthia conta que não conhece muito profundamente a cultura indiana, somente algumas curiosidades, como
Vendedor Nilson Mota trabalha com produtos indianos pela beleza e explosão de cores
6 MEIO AMBIENTE
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Cultivar Bonsai é muito mais que apenas ter uma planta
Durante a vida, já dizia o dito popular, todos devem escrever um livro, g e r ar um filho e plantar uma árvore. E tem gente que vai além do simples plantar e cultivar uma árvore, dando carinho e amor ao vegetal. A arte de cultivar bonsai representa bem essa relação de paternidade. Os cuidados diários que uma muda precisa para se tornar uma mini árvore possibilita o estreitamento dos laços entre bonsaísta (denominação para aqueles que cultivam a arte) e a planta. A técnica de replicar uma árvore em uma miniatura surgiu na
RAYNAN NUNES
Raynan Nunes
China no século três a.C. e foi aprimorada posteriormente pelos japoneses - que a consideram uma filosofia de vida. - Quando você mexe com bonsai é uma meditação, é um tempo que você está separando pra você pensar na sua vida, estar descansando - é o que conta o estudante de Ciências Sociais e amante de plantas, em especial orquídeas, Geórggio Filipe de Paula Moraes (21), que há dois meses se apaixonou por bonsai ao conhecer mais do cultivo, filosofia e história por meio de vídeos na internet. Por meio de vídeo-aulas ele aprendeu o processo
Giórggio Filipe se encantou com a prática do bonsai após ter visto alguns vídeos na internet e está transformando três mudas por conta própria: duas de amora e uma de figos, em bonsai. Geórg-
gio p a s s a , em média, 30 minutos por dia cuidando das plantas. Para ele, ter bonsai é um hobby que
o encanta dia após dia: - Meu objetivo é quando menos eu esperar, eu ter plantas lindas – conclui.
Viçosa prevê a construção de Usina Ecossustentável Iara Diniz Você acorda, toma café e joga fora a caixinha vazia de leite e o saquinho de embrulhar pão. Antes de sair de casa, para ir para a escola, troca as pilhas do mp3 e atira ao lixo as velhas. Pelo caminho, consome um chiclete e uma garrafa de água. Em pouco tempo você já produziu boa parte da sua cota de um quilo de lixo, que todo brasileiro produz diariamente. Quanto
disso tudo vai ser reciclado? Muito pouco ou quase nada. A maior chance é que esse lixo pare em um lixão a céu aberto, como na maioria das cidades. Mas não em Viçosa. A criação de uma usina capaz de processar todo tipo de lixo, transformando-o em recursos úteis para a sociedade é um projeto desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa em parceria com a prefeitura da cidade e uma empresa privada. Por ser intensa a geração de lixo e a
IARA DINIZ
Descuido com o lixo é visível em diversos pontos de Viçosa
sua destinação incorreta (um problema não apenas local), a construção de uma Usina Ecossustentável, que pudesse transformar o lixo produzido em Viçosa e reaproveitá-lo, sem causar danos ao meio ambiente, foi vista como uma grande oportunidade, pensando nas características específicas da cidade. O projeto, coordenado pelo professor e engenheiro químico, Marcos Arêdes, consiste em construir uma Usina que reutilize todo lixo passível de reciclagem, incinerando o mínimo possível e utilizando 100% da energia da combustão de compostos orgânicos, além da tecnologia existente na universidade. O objetivo é economizar com todo o processamento de lixo e transformá-lo em valor econômico, contribuindo, desta forma, com o meio ambiente. - A idéia não é queimar as coisas, é bater e voltar. Porque quanto mais você queima material, mais carbono você emite pra atmosfera, por mais recursos que você tenha, somente o que não tiver destinação que nós iremos queimar - declarou Márcio. A proposta da Usina não se detém apenas ao caráter
ambiental ou econômico; o objetivo é unir todas as particularidades do lixo de Viçosa com os problemas sociais existentes, como a mão de obra mal remunerada e mal treinada na seleção de materiais recicláveis. O secretário do Meio Ambiente, Luiz Eugênio Moura, destaca a importância de um projeto como este para a população, apontando os pilares econômico, ambiental e social como sustentadores para construção da Usina: - No pilar econômico, o retorno do investimento é muito bom. Esse modelo de reciclar ao máximo é para trazer retorno. Porque a energia que essa usina utilizará será gerada por ela mesma, porque ela vai queimar parte do material que não tem destinação e isso sustentará o segundo pilar, que é o Ambiental, o carbono bater e voltar, o máximo possível. É uma questão simples que impacta na sustentabilidade – explica. O professor de Ciências Sociais, Marcelo Oliveira, que apresentou um projeto social para a instalação da Usina, acredita na absorção da mão de obra dos catadores como um aspecto positivo para estas pessoas, pois além de gerar emprego e atri-
buir maior valor aos seus trabalhos, trará mais dignidade e melhores condições de vida. Além do emprego direto de cerca de 100 trabalhadores com carteira assinada, a Usina se destacará por ser um grande laboratório de pesquisa e ensino. Segundo o professor Márcio Armes, a Usina Ecossustentável criará vínculos amplos com as empresas juniores da universidade e será uma grande oportunidade de estágio para os estudantes, tendo um papel não apenas de construir e desenvolver, mas também de educar. A iniciativa está sendo fomentada pela prefeitura, que definirá juntamente com a universidade a gestão da Usina. Estima-se que após a liberação de recursos a construção se dê dentro de seis meses a no máximo um ano, uma vez que a universidade detém grande parte das tecnologias necessárias à implantação. A Usina Ecossustentável é uma construção participativa, com 100% de sustentabilidade no processo de tratamento dos resíduos, que possibilitará ao município inclusão social e benefícios para o meio ambiente.
OUTROLHAR DEZEMBRO DE 2011
MEIO AMBIENTE 7
Animais silvestres sofrem ainda mais com descaso Iago Miranda A maioria das pessoas que levam animais silvestres para suas casas prejudicam não só estes seres vivos, mas a si próprios, ao contribuírem para o desequilíbrio ambiental do planeta. Em cativeiro, esses animais perdem a ca-
pacidade de se defenderem de predadores e de caçar seu próprio alimento. Por isso, podem facilmente morrer ao serem soltos, devido à dificuldade de readaptação ao meio. Isso significa uma perda irrecuperável para o patrimônio natural brasileiro, considerado o mais rico em biodiversidade do mundo. IAGO MIRANDA
S o l t u ra d e a n i m a i s p o d e l e v a r m e s e s p a r a a c o n t e c e r
Estima-se que 12 milhões de animais são retirados da natureza todo ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, (IBAMA). De cada dez, apenas um chega vivo na mão do consumidor. O tráfico ilegal de animais silvestres só perde para o tráfico de drogas e armas na escala dos mais rentáveis, garantindo retorno de aproximadamente US$ 700 milhões por ano. Subsistindo por meio da exploração humana, esta modalidade de tráfico causa danos irreparáveis à natureza. A Polícia Militar do Meio Ambiente de Viçosa exerce o policiamento ostensivo visando a preservação das espécies florestais e animais existentes no bioma da região, a Mata Atlântica. Um dos policiais da corporação é o sargento Fé1ix Guerra, que explica o perigo da
retirada desses animais para o meio ambiente: - Para todo efeito existe uma causa. Por isso, ao retirar um pássaro de um determinado bioma, o que pode acontecer: talvez este pássaro seja insetívoro, um comedor de insetos, e faltando este predador natural, as pragas vão aumentar ainda mais nas lavouras. Um exemplo é o gafanhoto, que tem atacado bastante as áreas de produtores rurais da região. É uma cadeia, um processo – explica. O convênio estabelecido entre a PM do Meio Ambiente e o IBAMA permitia aos policias soltarem os animais e tomar as providências administrativas, como lavratura de multas. Terminado esse convênio, os animais apreendidos têm de ser levados a Juiz de Fora, o que compromete a saúde deles e pode causar desequilí-
brios ambientais ao serem soltos em locais diferentes do seu habitat natural. O Brasil possui uma das maiores biodiversidades em fauna e flora do planeta. Mas devido aos grandes impactos ambientais e a ocupação humana desenfreada, vêm ocorrendo uma grande degradação de habitats naturais e o desaparecimento de espécies e formas genéticas. O comércio legal pode ser feito somente por criadouros ou comerciantes registrados no IBAMA. Antes de adquirir um animal silvestre, certifique-se de que ele tenha registro e exija a nota fiscal com o nome científico e popular da espécie, bem como o tipo e o número de identificação individual do animal. Para saber quais são os criadouros e comerciantes registrados, consulte o setor de fauna do IBAMA do seu estado.
Plantio de árvores ainda enfrenta muita burocracia Isabela Campanha
quase não se tem árvores. - Isto poderia ser compensado em outros espaços possíveis de plantar, como as margens do rio São Bartolomeu, com um parque linear de árvores nos dois lados da margem - explica Wantuelfer. O chefe do Departamento de Meio Ambi-
ente, Adelmo Cardoso Ribeiro Júnior, reconhece a falta de um planejamento municipal para o reflorestamento. As ações de arborização não estão acompanhando o intenso crescimento vertical do município. Para se conseguir uma melhor qualidade de vida e captar os bene-
fícios da arborização urbana, como a regularidade do clima e influência no balanço hídrico, a postura do município precisa ser mais enérgica, bem como o aumento da fiscalização de áreas de preservação e na obrigatoriedade da arborização urbana em casos de loteamento. ISABELA CAMPANHA
“Plante uma árvore e ajude o meio ambiente”. A atitude parece fácil, mas inúmeros são os entraves burocráticos. O grande problema do plantio de árvores no meio urbano é que este espaço concentra uma série de serviços à população que conflitam com a árvore, desde a rede elétrica às placas de sinalização. A disposição incorreta e a escolha indevida de uma espécie produzem transtornos futuros. Os atuais modelos de edificação e loteamento do solo, como é o caso da cidade de Viçosa, exigem um planejamento do processo de arborização urbana. A atitude inicial é fazer o levantamento do local a partir de suas características, a fim de identificar a melhor espécie a ser plantada. O cuidado se estende a regras que condicionam o plantio, como: presença de rede elétrica e de marquise; existência de passeio e sua
largura; as dimensões da rua; tipo de uso do solo e se são áreas comerciais ou áreas residenciais. Para isso é fundamental uma consulta técnica quando se pensa em plantar uma árvore. Os entraves são necessários, na medida em que os problemas podem ser evitados. O desinteresse das pessoas em plantar esbarra nos transtornos técnicos e estruturais que envolvem este processo. O próprio desconhecimento de códigos e regras que regulam a atividade faz com que o indivíduo se esquive de ações mais concretas. Segundo o professor do Departamento de Engenharia Florestal, Wantuelfer Gonçalves, a arborização urbana em Viçosa é um processo difícil porque as ruas e calçadas são estreitas e a cidade apresenta muitas áreas comerciais, dificultando o plantio de árvores. Os lugares das árvores estão sendo ocupados por prédios, no centro
Av enida P. H. Rolfs é uma das área s d a c i d a d e d e V i ç o sa q ue nã o p o ssui á r vo res
8 COMPORTAMENTO
OUTROLHAR DEZEMBRO DE 2011
Bebidas alcoólicas alteram comportamento dos jovens Amanda Moraes “O álcool entra, a verdade sai!”, este é um ditado popular que aparece muito nas conversas entre amigos e mostra como o comportamento das pessoas se torna vulnerável à bebida alcoólica. Essa mudança de atitude tem sido tema de vários estudos e preocupação da sociedade. Cada vez mais adolescentes e jovens estão aprendendo a “beber” cedo, seja em festas, ou com amigos e até familiares. A questão é que a mudança de comportamento que a bebida alcoólica pode causar acarreta consequências não só para eles, mas também para as pessoas que estão em sua volta. Muitos meninos e meninas começam a ingerir
bebidas alcoólicas para se inserirem no meio social. Normalmente são ainda imaturos para distinguir o certo do errado e acabam sendo influenciados. O estudante do segundo período de Engenharia Florestal, Demétrio Santiago Corrêa, (19), diz que iniciou no hábito aos treze anos de idade por influência de amigos. - Eu via todo mundo beber, achei legal e resolvi fazer o mesmo - afirma Já o estudante do sétimo período de Engenharia Civil, André Sabra (22) diz que começou a beber nas festas porque era muito tímido e quando fazia uso do álcool perdia a timidez. Segundo o Centro de Informação sobre Saúde e Álcool (CISA), os adolescentes também são vulneráveis aos danos causados pelo etanol, que podem contribuir para o fraco desempenho no trabalho ou
AMANDA MORAES
O álcool entra, a verdade sai
Consumo de álcool desde cedo pode acarretar aumento nas chances de dependência escola. Além disso, o uso dessas substâncias por jovens associa-se ao aumento nas chances de desenvolvimento de uso abusivo ou de dependência de álcool. O médico Léu de Camargo,
alopata e homeopata, alerta para os possíveis danos que o álcool pode causar: - O álcool possui um efeito sedativo que age no sistema nervoso, que controla funções como a respi-
ração, circulação do sangue e equilíbrio do corpo e, por isso, se ingerido em excesso pode causar danos à saúde e fazer com que as pessoas percam o equilíbrio - comenta Camargo.
O reflexo do cotidiano nos hábitos alimentares dos jovens Yara Viana
optar pelo lanche, melhor que sejam sanduíches naturais, frutas e sucos evitando gorduras saturadas, frituras e massa - relata. Ainda segundo a nutricionista, o aumento dos casos de desenvolvimento de distúrbios como a anorexia e a bulimia podem ser decorrentes da má alimentação. Tais doenças atingem principalmente meninas de até 24 anos, mas o número de homens com o problema
vem crescendo de forma relevante. O ideal de beleza ditado pela sociedade somado à péssima alimentação pode acarretar cobranças excessivas por parte dos jovens, é o que conta a estudante de 19 anos, que desenvolveu a doença há cerca de um ano - Eu me achava a pessoa mais gorda no meu grupo de amigas. Me olhava no espelho e não tinha vontade de sair de casa, quando ia vestir alguma YARA VIANA
Hamburguer, batata frita, um salgado daquela lanchonete preferida e para acompanhar, um refrigerante bem gelado. Escola, academia, aula de inglês, de violão, a vida anda cada vez mais corrida e o tempo parece curto demais. Atividades básicas, como cuidar da alimentação passam a ser secundárias e a partir disso a população cria hábitos alimentares cada vez piores. Por conta da correria cotidiana, questões básicas como o respeito ao horário das refeições e a necessidade de um ambiente tranqüilo no momento da alimentação passam a ser ignorados. Então aparecem os lanches rápidos e industrializados, que em sua maioria, possuem alto valor calórico, são recheados de gorduras e tem poucos nutrientes. O excesso de consumo desses tipos de alimento é o principal responsável pelo aumento das doenças cardiovasculares, obesidade, hipertensão, diabe-
tes e de distúrbios alimentares. Para evitar tais problemas é necessário dedicar mais atenção à alimentação. De acordo com a nutricionista Tânia Moreira, mesmo em dias corridos é possível se alimentar de forma mais saudável e correta: - Nos restaurantes self service podemos fazer excelentes refeições fora de nossa casa, muitas vezes com o mesmo tempo que gastamos em lanchonetes e fastfoods. Se tivermos que
Hábitos alimentares não balanceados colaboram para o desenvolvimento de doenças
roupa e ela ficava apertada eu chorava e ficava mal e aí comia, comia muito, tinha uma compulsão. Depois que o prazer passava, a consciência pesava e eu só pensava que ia engordar ainda mais. Então vomitava e fui fazendo isso várias vezes, era a forma de me punir – conta. Quando agravada, a bulimia e a anorexia podem causar problemas de saúde irreversíveis, deixando sequelas por toda a vida, ou até mesmo levar à morte. Não se trata de brincadeira nem de historias vistas somente na televisão, o assunto é sério e pode afetar pessoas que estão mais próximas sem que apareça o menor sintoma. Reeducação alimentar junto a exercícios físicos e acompanhamento psicológico são os primeiros procedimentos a serem tomados para a cura de distúrbios da mesma origem. Segundo especialistas, o respeito ao corpo e seus limites uma boa alimentação e pratica de exercícios físicos regulares, são dicas para evitar distúrbios.
OUTROLHAR DEZEMBRO DE 2011
CIDADE 9
Canigatil como solução para o problema de abandono de animais Bruno Monteiro Eles podem ser tranqüilos e dóceis ou mesmo agitados e raivosos. Seja como for, os cães são vistos geralmente como grandes amigos do homem, e ainda assim, estima-se que 75% deles estejam nas ruas. Ao andar pelas ruas de Viçosa é comum encontrar dezenas de cães e gatos maltratados e doentes, esse quadro pode ter sérias implicações para a saúde pública e para o bem-estar animal. Uma vez que esses animais não têm um controle veterinário, estão sujeitos a passar algumas doenças para os humanos, como a Leishmaniose, a Sarna e a Raiva, além
de proliferar pulgas e carrapatos. Uma das formas de diminuir esse problema é o canigatil, que recolhe animais abandonados e oferecelhes tratamento até a hora de uma doação. Na UFV existe um que, após passar anos desativado, passou por reformas e já está em funcionamento. Segundo o secretário de obras Kellisson Jubini, o projeto é parte de um convênio estabelecido pela Vigilância Epidemiológica de Viçosa em parceria com o Departamento de Veterinária da UFV. Kellisson alegou que a obra foi concluída e que atende ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em novembro de 2009 entre a UFV, a Prefeitura de Viçosa e Ministério Público Federal. Após anos de descaso com os
MARIANA TISO
Canil da cidade volta a funcionar para resolver o problema dos cães de rua.
Cães abandonados são comumente vistos pelas ruas de qualquer bairro de Viçosa animais e com a população, o poder municipal consegue, enfim, graças a intervenção de órgãos federais, fazer uma
É longa a espera por atendimento em hospital Não é atual o anseio da população por uma saúde pública de qualidade. Fatos como o ocorrido com o estudante Caíque de Souza, que teve que esperar 14 horas para ter seu braço engessado, não são difíceis de serem encontrados. - Eu me desloquei até o hospital São João Batista durante a noite para procurar ajuda, meu braço estava doendo muito e não conseguia dormir, me disseram que só poderia fazer o Raio-X pela manhã porque não havia operador do equipamento de plantão - conta o estudante. Ainda segundo Caíque, ele só conseguiu ser atendido pelo ortopedista perto do meio dia. O serviço de emergência também é precário, o município, que tem pouco mais de 70 mil habitantes, dispõe apenas de cinco ambulâncias, e apenas uma fica de plantão para resgate, também não há um número de discagem rápida para esse serviço. A população que depende do Sistema Único de Saúde (SUS) para agendar consultas sofre com a má qualidade da saúde pública do município,
hoje pelas ruas podem agora ser assistidos por aqueles que lhes consideram o seu melhor amigo.
Sindicato intervêm por empregados varejistas PABLO CAMPOS
Pablo Campos
obra que de fato consiga sanar um anseio de longa data da sociedade viçosense. Os inúmeros cães que vagam
Marcela Barbosa Desde o dia 18 de setembro, os supermercados e lojas varejistas de Viçosa estão oficialmente fechados aos domingos. Isso porque foi criado um termo aditivo à Convenção Coletiva de Trabalho na qual ficou “expressamente vedado o trabalho dos empregados no comércio varejista em domi n g o s , sob pena de pagamento de multa.” De acordo com o p re s i d e n t e do Sindicato dos Empregados no Comércio Atacadista e Varejista de Viçosa (SINDESCA V), Hélio Brustolini, essa medida foi tomada para amenizar os conflitos existentes entre patrões e empregados, já que os donos de algumas empresas não vinham pagando as horas extras para os funcionários que trabalhavam aos domingos e nem concediam as horas
de folga pelo tempo trabalhado, o que acarretava em uma série de brigas e processos. Essa decisão foi estabelecida após acordos entre o sindicato patronal de Viçosa e o sindicato dos trabalhadores. Ela surgiu para tentar regularizar a situação de trabalho e convívio entre eles. Ao contrário do que muitos pensam, ela não é uma Lei, podendo ser alterada de acordo com o consenso de ambas as partes que a firmaram. Algumas empresas até tentaram entrar na Justiça para conseguir a permissão de funcionamento aos domingos, porém ela não foi concedida por entenderem que esta, até o momento, é a melhor forma de atuação. No entanto, graças a liminares concedidas pela justiça, alguns supermercados voltaram a funcionar aos domingos.
Algumas “ empresas não
vinham pagando as horas extras para os funcionários que trabalhavam aos domingos e nem concediam as horas de folga pelo tempo trabalhado
SUS em Viçosa não atende äs necessidades populares enfrentando longas filas para marcar atendimento. A secretária municipal de saúde, Rita Maria Gomide, admite que “a situação não é a ideal” e que um sistema de agendamento de consultas e exames pelo SUS via telefone já foi licitado pela prefeitura, mas sem previsão de início. A assessoria do hospital São João Batista informou que o caso do estudante foi um fato
isolado, já que há sempre um funcionário responsável pela operação da máquina de RaioX de plantão e que uma investigação será promovida sobre o caso. Quanto a demora para atendimento, a assessoria do hospital informou que, pela demanda de pacientes na área de ortopedia ser grande, há uma sobrecarga no atendimento, o que estaria causando a demora.
10 ENTREVISTA
OUTROLHAR DEZEMBRO DE 2011 LUCIANA RESENDE
Por uma cidade com menos carros
Universitários tentam, por meio da realização das Bicicletadas, conscientizar comunidade viçosense quanto a meios de transporte alternativos e segurança para todos no trânsito. Luciana Resende A procura por meios de transportes alternativos se tornou uma constante na vida de todos que vivem em centros urbanos, nos quais o excesso de automóveis é um problema, tanto para o tráfego, quanto para o meio ambiente. Em Viçosa, a situação não é diferente e, desde o início de setembro, o movimento Bicicletada, presente em quase todos os estados do Brasil e de Portugal, realiza ciclos com passeatas com o objetivo de conscientizar a população sobre os benefícios do veículo.
A iniciativa em Viçosa foi do estudante de geografia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Raoni Garcia Ferreira, que trouxe a idéia de sua cidade natal, Ribeirão Preto (SP). Na UFV ele organizou, juntamente com alguns amigos, a primeira Bicicletada Viçosa, que ocorreu em setembro desse ano. Embora Raoni seja para muitos o mentor do movimento na cidade, para ele, o evento é considerado fruto da massa crítica, chamada “consciência organizada” pelos participantes. Com o lema “menos carro, mais bicicleta”, a Bicicletada é uma ciclopasseata que tem por obje-
tivo divulgar esse meio de transporte e tornar mais ecológicos e sustentáveis os sistemas de locomoção, principalmente no meio urbano. - Com o uso da bicicleta, temos um trânsito mais humanizado e menos caótico. A cidade também fica mais limpa – explica Raoni. Além disso, ele acredita que reunidos durante o evento a visibilidade para a quantidade de ciclistas no município aumenta, alertando a população para a necessidade de condições favoráveis e seguras aos usuários de bicicletas. Por ser algo recente, ainda prevalecem no movimento estudantes da UFV,
Brasileiros pedem o combate à corrupção Acostumadas a receber pessoas apressadas e atarefadas com os trabalhos do dia-a-dia, as ruas das capitais brasileiras voltam a ser palco de manifestações populares depois de diversas denúncias envolvendo ministros do governo. Marcadas sempre pela internet, as passeatas têm feito com que milhares de pessoas deixem o conforto de suas casas durante os feriados para protestar contra a corrupção, um mal que, segundo especialistas, atinge há séculos toda a sociedade. A professora do departamento de Ciências Sociais da UFV, Daniela Rezende, explica que a preocupação com a corrupção vem desde Platão e Aristóteles. Os filósofos já afirmavam que o fenômeno está presente em todos os regimes políticos e ocorre quando aquele que está no poder escolhe usar os bens públicos para beneficiar a si mesmo, ou seja, o seu interesse privado sobrepõe o real interesse da sociedade como um todo. - Para combater a corrupção, é necessário que ocorram reformas políticas, que
Professora Daniela Rezende em entrevista para o OutrOlhar as instituições se tornem mais não fazem parte do governo democráticas. As marchas estão sujeitos ao suborno, ao também são importantíssi- desvio de recursos. É preciso mas, uma vez que dão visibi- combater esse tipo de corruplidade ao problema - ressalta a ção para que tenhamos um resultado mais satisfatório lá em professora. Ela ainda diz que existem cima, no âmbito governamenequívocos na luta contra a cor- tal - explica Daniela. Outro cuidado a ser tomarupção: - A primeira idéia a se evi- do é a crença de que a mobitar é a de que o aumento de lização esporádica é suficiente denúncias significa um au- para resolver todas as dificulmento na corrupção em si. dades relacionadas ao probleQuando as denúncias apare- ma. - Não há estudos que comcem, significa que o combate está sendo mais adequado – provem a efetividade dessas manifestações. O certo é que afirma. esporádicas, Outro erro comumente manifestações cometido pela maioria das que ocorrem uma vez ou oupessoas é o de achar que a cor- tra, não são suficientes. Só rupção está presente apenas com um acompanhamento continuado é que será possível no governo. - O corpo social também acabar ou pelo menos diminué corrupto, os organismos que ir a corrupção - conclui.
mas os participantes já estão começando a conquistar adeptos na comunidade viçosense, por meio da divulgação panfletária e pela internet, com a utilização das redes sociais. Entre as ações da “Bicicletada Viçosa” estão previstos projetos de extensão. - Os projetos estão engatinhando ainda, mas irão acontecer. São dois idea-
lizados até agora, um de educação no trânsito, que será executado nas escolas de ensino básico, e um de análise da infraestrutura para os ciclistas de Viçosa - afirma Raoni. Para saber mais informações sobre o evento, os interessados em participar podem acessar o web site www.bicicletada.org/vicosa.
A prática musical e sua influência WASHINGTON LUIZ
Washington Luiz
Quatro pilastras é ponto de encontro para ciclo-passeata
Janaina Campos Muitas pessoas se interessam pela prática musical ainda quando crianças e nutrem durante o seu crescimento a vontade de fazer desse gosto muito mais do que uma profissão, mas uma forma de viver de bem com a vida. É o caso de Gabriel Marangoni (21), cantor da dupla Hugo e Marangoni, que desde criança despertou sua paixão pela música. Ele conta que começou a cantar no coral quando ainda tinha 6 anos incentivado pelos pais, sem os quais, segundo ele, não teria chegado até onde está hoje. Ao longo de sua adolescência cantou música erudita e rock, até encontrar no sertanejo universitário uma forma de transmitir bons sentimentos para as pessoas. Esse ritmo, que é uma nova vertente com influências do sertanejo raiz e do sertanejo romântico, faz um considerável sucesso na cidade de Viçosa. Graças ao sucesso da música sertaneja, a dupla Hugo e Marangoni tem feito vários shows ao longo do mês, de modo que Gabriel e seu companheiro, o também estudante de agronomia da UFV, Hugo Monteiro (21), tenham que relacionar a vida acadêmica à música e à agenda de shows que, apesar de difícil, é possível na maioria das vezes. Muito mais que trabalho ou diversão, Gabriel afirma que tocar é ter a alegria de ver a satisfação do público, ter um retorno positivo, e a sensação de que o dever foi cumprido: - Porque quando as pessoas gostam do seu trabalho, você se sente bem com você mesmo - conta Gabriel. A música pode influenciar na formação da auto disciplina, sensibilidade, paciência e capacidade de memorização. Pode ainda mudar os caminhos de uma pessoa. Assim, Gabriel encerra dizendo: - Não é só tocar, não é só cantar, a música em si, faz um bem incomparável - afirma.
OUTROLHAR JUNHO DE 2011
ENTREVISTA 11
Ansiedade pode causar Síndrome do Pensamento Acelerado A Síndrome do Pensamento Acelerado afeta jovens sobrecarregados com atividades diárias e informações vindas da televisão, da internet, dos aparelhos celulares e outros meios. Marcelle Louise Imersa numa bolha de consumo, tecnologia e informação, a juventude tem chances maiores de desenvolver doenças psíquicas ligadas ao estresse do dia-a-dia e à superexposição às mídias - internet, televisão, celular, entre outras. A Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) é uma dessas doenças modernas e afeta principalmente crianças e adolescentes sobrecarregados com atividades e informações. Segundo especialistas, o pensamento tem uma velocidade produtiva adequada para propiciar saúde emocional. Quando essa velocidade aumenta, os indivíduos tornam-se irritados, insatisfeitos com a própria vida, têm
dificuldades para se concentrarem, insônia, cansaço, fadiga e sentem-se incapazes de ficar felizes na realização das atividades diárias. A psicóloga Dolores Pena acredita que a Síndrome do Pensamento Acelerado ou Recorrente, como ela prefere chamar, está relacionada a uma alteração de comportamento muito comum em jovens: a ansiedade. Procurada pela reportagem do OutrOlhar ela respondeu a questões sobre o SPA: OutrOlhar: O que é a Síndrome do Pensamento Acelerado? Dolores: A Síndrome do Pensamento Recorrente ou Acelerado se relaciona especialmente com a manifestação no comportamento da ansiedade. Nesse comportamento a pessoa fica muito ligada à cognição, ao pensar,
como se o cérebro, a mente fosse o foco principal. OutrOlhar: Quais são as causas dessa doença? Dolores: O fato de pensar muito, estar mais atento aos comportamentos e hábitos, sugere uma dificuldade nas relações mais afetivas. Por exemplo, a pessoa pesquisa muito na internet, faz muitos jogos, cria muito. Funciona mais ou menos como uma “evitação”, uma atitude de evitar outra perspectiva de vida. O que caracteriza é ocupar-se sempre, a pessoa fica completamente ocupada com o fazer, com o pensar. OutrOlhar: Hoje os jovens estão muito ligados à internet, à televisão, ao celular, ao mp3 e estão sempre buscando informações, novidades. Qual é a relação do uso dessas tecnologias na SPA?
Dolores: São exatamente os meios de comunicação que estimulam o pensamento acelerado, que fazem com que as pessoas tenham respostas muito rápidas. Hoje, nenhuma pesquisa demora muito, antes você tinha que consultar vários livros, enciclopédias, agora você acessa várias fontes num único local e tem várias respostas. Hoje tudo está muito pronto, o automatismo é muito mais fácil e isso acelera. Na internet você consegue enviar um email, escrever um artigo, conversar no MSN, tudo ao mesmo tempo, você acelera e não presta atenção no seu corpo, nos seus limites. OutrOlhar: Como tratar essa síndrome? Dolores: A atividade física é importante para diminuir o nível de ansiedade e trabalhar muito o foco da-
quilo que acontece de fato no nível emocional, afetivo. Vamos pensar na perspectiva da prevenção, tentar cuidar para que não gere mais ansiedade e isso não se transforme em algo maior e tenha que ser tratado com medicamento. OutrOlhar: Que dicas você dá para o nosso leitor evitar a SPA? Dolores: Você que está se ocupando em demasia, se dando mil tarefas ao mesmo tempo, o que vai caracterizando o pensamento acelerado, desenvolva-se um pouco mais, faça relaxamentos, faça meditação, aproprie-se do seu pensamento. É o que nós precisamos, porque senão a gente entra na onda da resposta rápida, de tudo acelerado e, quando você vê, está com sintomas que dizem de uma dificuldade de lidar com o cotidiano, com o simples.
Jovens viçosenses reclamam da falta de lazer nos bairros MARCOS MEIGRE
Marcos Meigre Espaço para jogar bola, praça para se encontrar com os amigos... essas são as principais reivindicações dos jovens de Viçosa. Na cidade, no entanto, existem muitos lugares com problema de falta de opções para diversão. O bairro Sagrada Família é um exemplo disso. Carolina Francisca Teixeira (17) reclama da falta de áreas de lazer no bairro: _ Aqui não tem nada. Tinha um parquinho para crianças, mas tiraram. Maurício Gomes Júnior (16) aproveita as horas vagas em clubes da cidade ou no sítio da família. Quando está em casa, por falta de outras opções, o computador é a maior distração. E por falar em computadores, o telecentro
Falta de espaço para lazer no bairro Sagrada Família leva a brincadeira para rua comunitário do Sagrada Família é apontado como a alternativa para essa falta de estrutura de lazer. Ele é resultado de uma parceria entre a associação de moradores, a prefeitura municipal e a igreja católica do bairro. Lá, crianças e jovens de até 17 anos aprendem noções bási-
cas de informática e têm acesso a sites de pesquisa e diversão (alguns sites são bloqueados). Mas as reclamações principais ficam por conta da estrutura física do local. O secretário de obras de Viçosa, Kelison Jubini, explicou que o bairro não tem áreas de lazer porque
foi ocupado de forma irregular e, por isso, não obedeceu às regras de loteamento que mandam reservar parte da área total para construções públicas. No Sagrada Família esse espaço não foi reservado. De modo geral, os jovens reclamam da falta de áreas para prática de
esportes. O Chefe do Departamento de Esportes da cidade, Adailson Monteiro, disse que a secretaria apóia projetos esportivos que atendem ao bairro – como a Associação Palestra Estrelas, no bairro Estrelas. Sobre a construção de áreas recreativas (como praças), a prefeitura municipal não tem projetos nesse sentido para o Sagrada Família. O diretor do Instituto de Planejamento do município de Viçosa (IPLAM), Edson Bhering Fialho, explicou que se a prefeitura quiser construir praças ou outros ambientes públicos no bairro, precisa comprar lotes e indenizar os proprietários. Por isso, os adolescentes dizem que procuram alternativas para se divertirem, tais como reunir os amigos em casa, ir a clubes da cidade ou ainda a áreas de lazer próximas ao bairro.
12 VIDA,CIÊNCIA E SAÚDE O aumento do estresse diário incentiva a procura pela Yoga OUTROLHAR DEZEMBRO DE 2011
CIBELIH HESPANHOL
O contato consigo mesmo como um meio para buscar a paz interior. Cibelih Hespanhol Há mais de 50 mil anos o homem começou a descobrir no seu próprio corpo a manifestação dos movimentos e sons que percebia na natureza ao seu redor. Dessa forma, nasceu a Yoga, que na língua Sânscrito significa a união consigo mesmo. Mais especificamente, foram os povos arianos, habitantes da região hoje próxima à Índia, que supostamente iniciaram essa prática. Hoje, a procura por essas atividades vem aumentando em academias e centros especializados. Segundo professores, as razões pelo crescente interesse podem ser atribuídas ao estresse do dia-a-dia moderno que leva o homem, de terno e gravata, a se voltar a uma prática de origens tão remotas. Joana Junqueira dá aula
Professora do Grupo Entre Folhas, Joana Junqueira, em posição de alongamento enquanto pratica a Yoga de Yoga há quatro meses no Grupo Entre Folhas, localizado na Vila Giannetti da UFV. Ela elege o que chama de “contato grande consigo mesma” como um dos maiores motivos para se dedicar à prática. Para ela, a relação com seu próprio corpo permite conhecer suas limitações e possibilidades, pela sensa-
ção de calma e concentração encontrada no tempo dedicado a seu próprio bem-estar, algo difícil para se conseguir numa rotina turbulenta. Já foi comprovado que o estresse é um dos maiores problemas da atualidade. No Brasil, cerveja e futebol ainda parecem pouco para relaxar os mais de 193 milhões de ha-
bitantes. Somos eleitos pelo International Stress Management Association o segundo país mais estressado do mundo, ficando atrás somente da China. E esta doença já não é mais privilégio de adultos. Adolescentes e até mesmo crianças vêm sendo diagnosticadas com o problema. Dedicar-se à paz inte-
rior, seja na leitura de um bom livro, na conversa com um amigo, uma caminhada ou uma sessão de Yoga, são apontados como meios capazes de aliviar o estresse ao qual somos submetidos. Segundo Joana, a prática do Yoga traz alívio às pressões e melhora o rendimento na escola ou no trabalho.
A alimentação pode refletir no processo de envelhecimento Nina Koziolek
A preocupação com uma pele jovem e saudável pode ser observada em qualquer faixa etária. Empresas de cosméticos têm lançado produtos para retardar o envelhecimento,
que abrangem desde os adolescentes até os mais velhos. Mas você sabia que o envelhecimento também pode ser adiado ingerindo certos tipos de alimentos? Os chamados radicais livres são moléculas altamente reativas que podem danificar células do nosso
corpo, causando o envelhecimento. Segundo a nutricionista Adriana Faria, os antioxidantes, presentes em alguns alimentos, combatem esses radicais impedindo a oxidação de outras substâncias químicas. Entre as principais fonNINA KOZIOLEK
Vitamina C presente na laranja é um dos principais componentes que promovem antioxidação
tes de antioxidantes estão o selênio, o zinco, o b-caroteno, a vitamina C, a vitamina E, os flavonóides, as catequinas, a vitamina A e o Licopeno. Na lista dos alimentos que possuem essas substâncias podemos encontrar o cacau, a castanha-do-pará, as frutas cítricas, chás, peixes, tomate, uva, cenoura, entre muitos outros. - Uma castanha do Pará por dia supre toda a necessidade de selênio do nosso organismo, que é uma substância essencial para o combate ao envelhecimento - disse a nutricionista. Enquanto algumas coisas que ingerimos ajudam a prevenir o envelhecimento, outras colaboram nesse processo. Adriana cita as gorduras trans, as gorduras saturadas, refrigerante e o açúcar como os principais inimigos de uma aparência jovem. Mas
não somente isso, é certo que outros fatores também podem ajudar a contribuir, como a freqüente ingestão de álcool e cigarro. - Adolescentes têm a tendência a se alimentarem mal, ainda mais longe dos pais, como é o caso dos universitários. - Adriana ressalta. A estudante Larissa Campos tem 20 anos e, apesar da pouca idade, já demonstra certo cuidado com a alimentação: - A gente tem que cuidar agora porque depois vai ser tarde demais. O que eu puder evitar, eu evito. E estou sempre tentando incluir antioxidantes no meu dia-a-dia - afirma. Talvez você ache que pode ser um pouco cedo para começar a se preocupar com o envelhecimento. Mas lembre-se: uma dieta saudável hoje pode evitar as rugas de amanhã.