OPINIÃO Manifestações movimentam ruas por melhores condições de vida no Brasil página 2.
Fotografia por Isadora Canela e Marianana Elian
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO ● ANO 10 - EDIÇÃO Nº 35 ● FEVEREIRO DE 2014
AS MUDANÇAS ESTÉTICAS NO ADMIRÁVEL CORPO NOVO Como as alterações corpóreas criam representações e identidades. página 8
O APLICATIVO DO MOMENTO
“CONTANDO OS PLAQUÊS DE 100”
Repleto de funções, ele está cada vez mais popular entre os jovens. página 7
Conheça a trajetória do gênero músical funk ostentação na página 10
Fotografia por Monique Bertto
QUANDO A ESCOLA E A FAMÍLIA CAMINHAM JUNTAS
Fotografia por Camila Denadai
Fotografia por Lhaís Carvalho
As vantagens desta parceria na página 11
ONDE ESTÁ NARCISO? O uso constante da tecnologia pelos jovens desperta a apreciação da própria imagem ao mesmo tempo em que os tira da vida real. página 3
“ TRISTEZA
NÃO TEM FIM, FELICIDADE SIM”
Mesmo na adolescência é possível sentir depressão. Como disse Vinínicus de Moraes, “a felicidade é como a pluma que o vento vai levando”. Mas é preciso que exista. página 8
O BARULHO INCÔMODO DAS FESTAS DE VIÇOSA Como solucionar este problema na página 5
OPINIÃO
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
AO LEITOR “ R O L E Z A N D O ” Missão cumprida. Mais uma edição do OutrOlhar elaborada por nossos estudantes especialmente para você, leitor. Em 12 páginas que compõem esta edição, procuramos retratar o máximo de informações e de temas sempre voltados para o seu gosto e interesse. Durante seis meses, nossos alunos do Curso de Jornalismo pesquisaram temas, fizeram contatos, saíram em reportagens, ouviram especialistas e fontes, elaboraram ilustrações e arrumaram todo esse material produzido no sentido de criar dois produtos totalmente dedicados a você. Nesta edição, temos de destacar a reunião de alguns temas tecnológicos voltados para o cotidiano nas escolas, na vida doméstica e social. Esperamos que goste e que tudo
que aqui foi reunido e publicado lhe seja útil e agradável. Indique o jornal para parentes e amigos. Paralelamente, gostaríamos de chamar a atenção para o fato de que esses futuros profissionais colocaram em prática experimentalmente as atividades que logo serão do dia a dia no mercado de trabalho. Sempre tendo como foco central, é claro, você leitor, e os temas que possam lhe ajudar a entreter e a direcionar o seu cotidiano. Após um breve período de descanso, estaremos de volta dando continuidade a esta atividade que congrega ensinamentos no campo jornalístico, cujo objetivo central é o de servir e atender a você. Uma boa leitura. Joaquim Lannes Professor Editor
O fenômeno dos rolês por Thaíss Moreira
Você já ouviu falar do “rolezinho no shopping”? Esse evento começou no final de 2013 com encontros em shoppings da classe média marcados via internet. Os primeiros rolês foram feitos por jovens, em sua maioria pobre e e negros, da periferia de São Paulo. Hoje, já viraram um grande fenômeno social em todo o Brasil, desde que esses adolescentes foram tratados como bandidos por terem feito “baderna” nos corredores. Sem opção de lazer e de cultura, os jovens marginalizados, mergulhados na cultura do “funk ostentação”, marcam pelo Facebook encontros entre 1 mil e 5 mil pessoas para “fazer a festa” nos corredores dos shoppings. Eles se encontram, cantam, dançam, passeiam e fazem um grande movimento no estabelecimento. Alguns desses adolescentes participam do rolê com a intenção de roubar e de degradar, mas a maioria quer se divertir, conhecer novas pessoas e, prin-
cipalmente, fazer compras de produtos de marcas caras para ostentar riqueza e poder. Os shoppings da classe média em todo o Brasil têm recorrido a ordens judiciais para proibir a entrada desses jovens. Quando o evento é marcado, o estabelecimento recebe policiamento e vigilância dobrados. Será que se jovens da classe média e da classe média alta marcassem esses encontros, os lojistas, a administração dos shoppings e os consumidores ficariam tão horrorizados e com tanto medo, como ficaram com o rolezinho dos jovens marginalizados? Esse fenômeno ganhou grande proporção na mídia e muita força entre os adolescentes “rolezeiros” por todo o país depois de ter gerado polêmica e de ter demonstrado discriminação. Em minha opinião, não há mal algum em querer se divertir em locais públicos desde que os jovens não extrapolem na bagunça. Mas que, também, nem a sociedade extrapole no preconceito.
O GIGANTE ACORDOU,
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), atualmente sob responsabilidade da turma de 2012, na disciplina Jornal Laboratório I TURMA
Ana Abreu, Ana Moreira, Ana Richardelli, Bruna Guimarães, Bruna Santos, Camila Denadai, Camila Macedo, Caroline Bacelar, Caroline Mauri, Cássia Lellis, Dayane Pereira, Fernando Cézar, Gabriel Novais, Gabriela Dalton, Graziele Oliveira, Hugo Amichi, Isadora Canela, Júlia Drumond, Juliana Souza, Letícia Natalina, Lhaís Carvalho, Lidiany Duarte, Lucas Kato, Lucas Moura, Marco Neves, Mariana Elian, Monique Bertto, Pedro Cursi, Pedro Vital, Thaiss Moreira, Vinicius Sant’Anna, Yane Guadalupe EDITOR CHEFE
Prof.° Joaquim Sucena Lannes MONITOR
Lauzemir Carvalho DIAGRAMADORES
Camila Denadai, Gabriel Novais, Yane Guadalupe EDITOR DE ARTE
Gabriel Novais EDITOR FOTOGRÁFICO
Lucas Kato REVISORA
MAS FOI DAR UM ROLEZINHO
Graziele Oliveira
Você ainda se lembra daqueles 20 centavos? Este trocado do ônibus pagou pelas cartolinas que foram a boca do anonimato nas manifestações do ano passado. Trocado do ônibus. A insatisfação local com o preço do transporte coletivo desencadeou um movimento nacional sem foco, no qual afirmaram que o “Vem Pra Rua” não era só pelo dinheiro. Pessoas que antes nem sabiam do preço das passagens sensibilizaram-se com aquela questão e começaram a reivindicar também por melhorias na saúde, na educação, na segurança, pelo feminismo, contra a homofobia e a corrupção política. Os descontentamentos paralelos dispersaram os olhos do governo da causa primária. Esses olhos deveriam ter enxergado somente a força do Gigante, mas viram o maior defeito dele: o apreço pela desorganização. O velho ditado “chumbo trocado não dói” não se encaixou aqui. Quiseram limpar a casa com a mesma vassoura que o po-
REITORA
Graziele Oliveira analisa as manifestações contra a Copa do Mundo
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Fotografia por Michael Maia
der público jogou a sujeira para debaixo do tapete. A um ano da Copa do Mundo de 2014, as manifestações não poderiam ter ocorrido em momento mais oportuno: o do Brasil como sede de dois eventos de grande visibilidade internacional, como a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude. Quem acreditou que os movimentos nas ruas pressio-
nariam o governo brasileiro por meio da imagem que outros países fariam daqui, deve ter aprendido que se prejuízos de uma história não foram eliminados com o imediatismo das palavras de ordem, imagina na Copa! O Grande Anônimo mascarou a real situação com o próprio rosto e fez dela um cinema mudo, no qual os protagonistas foram vistos, mas não ouvidos. Lamen-
tavelmente, este espetáculo recebeu como prêmio apenas um comunicado oficial na televisão. Além de investimentos federais em infraestruturas que atendam as necessidades fundamentais da população, faltaria também aos cidadãos agirem focados no propósito das manifestações para que estas tenham mais organização que um rolezinho em shopping.
Manifestações com objetivos diversos são um alvo fácil para a incompreensão do governo
APOIO
Centro de Ciências Humanas Letras e Artes - CCH
Prof.ª Nilda de Fátima Ferreira DIRETOR DO CCH
Prof.° Walmer Faroni CHEFE DO DCM
Prof.° Joaquim Sucena Lannes COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO
Prof.° Mariana Lopes Bretas ENDEREÇO
Vila Gianetti, casa 34, Campus Universitário 36570-000 Viçosa - MG Tel.: 3899-2879 www.com.ufv.br
Os textos assinados não refletem necessariamente a opinião da Instituição ou do Curso, sendo da responsabilidade de seus autores e fontes. Cópias são autorizadas, desde que o conteúdo não seja modificado e que sejam citados o veículo e o(s) autor(es).
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
TÁ NO FACEBOOK DE NOVO, NARCISO?
Reprodução
OPINIÃO
Lhaís Carvalho relata sobre o uso exagerado da internet
Computadores, tablets, smartphones, tecnologia. A toda hora, tomamos conhecimento de novos dispositivos que prometem facilitar a nossa comunicação e o nosso aprendizado. Talvez, nem tanto assim. Estamos rodeados de telas; com um toque, podemos obter informação em qualquer lugar. Não há tantas restrições no mundo cibernético. Podemos conhecer a realidade dos outros, saber o que eles pensam e o que sentem. Podemos ser os outros e deixar com que todos vejam quem nós somos, o que fazemos e o que queremos que eles saibam de nós. Estamos sempre conectados, acompanhamos o ritmo das mudanças, nos adaptamos a cada site de relacionamentos lançado na rede. Sim, é fascinante, mas não seguro. Raphaela Reale (17) acredita que a exposição
da vida pessoal se tornou desnecessária. Assim como outros entrevistados pelo jornal OutrOlhar, ela tem contas em várias redes sociais e as mantém ativas. No seu dia a dia, convive com amigos, às vezes olhando para o visor do celular. No colégio dela, ser pego usando um aparelho móvel em sala dá o direito ao professor de expulsar o aluno da aula, mas, como observadora que é, percebe que a maioria cai na tentação. Cautelosamente. Ela diz que isso atrapalha no desempenho escolar e que prefere acessar a internet em horários extraclasse, como Juliana Neves (16), a garota tímida que evita o exibicionismo virtual. Já Camila Sathler (17), apaixonada por fotografia, gosta de mostrar seus momentos especiais para seus contatos, mas evita manifestar suas opiniões. Uma foto não repercute tão negativa-
mente quanto palavras mal interpretadas. Ela pensa. E talvez tenha fundamento. Para o psicanalista formado pela Faculdade de Medicina da UFRJ, Francisco Daudt, a crítica é uma obtenção de visibilidade quando se sente inseguro, inferior. A vontade de tornar-se conhecido é natural do ser humano. Por meio dos outros, construímos nossa visão de nós mesmos, ou seja, a autoestima vem de fora Vemos aqui, caro leitor, que esses tipos de sites são um ambiente propício para externarmos nosso instinto de sociabilidade. Mas, de modo instantâneo, deixamos em segundo plano nossos afazeres diários para nos preocuparmos com uma autoestima efêmera, dependente da tecnologia. Ah, e sobre Narciso... Procure saber antes que você se afogue em seu próprio ego, feito ele.
Narciso: a representação do ego feito por Caravaggio
O DIFERENCIAL TEM QUE ESTAR EM VOCÊ A perspectiva e a dinâmica do mercado brasileiro por Fernando Cézar ao poder e aos status sociais. Já com a febre do ouro, os ofícios requisitados derivaram da extração deste metal, como os garimpeiros e desbravadores, além de funcionários da Coroa. E o tempo foi passando, e o Brasil se
Reprodução
Cada momento, cada década, tem estilos musicais, comidas, e até esportes mais populares. Isso também acontece nas profissões. Essa variação se dá, além do tempo, pelo espaço, ou seja, cada parte do globo terrestre tem suas próprias – e mutáveis – características sócio-culturais e econômicas. Vamos nos ater às mudanças das profissões. No Brasil, os ofícios mais almejados variaram bastante com o passar do tempo, aliás, com o passar de pouco tempo, já que a “civilização” da nossa nação é bem jovem se comparada com as dos países do Velho Mundo. Com o caráter de exploração, a colonização do Brasil atraía aventureiros de toda ordem para o seu solo. No século XVI, o ponto forte na economia da maior colônia de Portugal era a importação de açúcar, portanto, o processo mercantil de escravos já era uma grande fonte de lucro. Outra profissão de destaque era a de senhores de engenhos, a qual estava altamente ligada
tornava atraente para naturalistas, pintores, construtores e comerciantes. O progresso industrial brasileiro levou à procura de novas e estimadas profissões. Hoje, o Brasil se vê diante de notáveis eventos esportivos e, novamente,
o cenário sócio-econômico sofre mudanças e outras carreiras surgem com grande força. Com o panorama de um alto fluxo de pessoas do exterior, o país procura melhorar rapidamente a sua infraestrutura e o fornecimento de servi-
O profissional do futuro alia sua especialidade ao conhecimento diverso
ços. Diferentes campos de atuação estão sendo visados, isto vai desde o da construção civil até os serviços de hotelaria, comunicação, ciência da computação, marketing e outros. Agora, a grande questão é como se destacar nas carreiras da atualidade. Apenas ser formado em uma profissão que está “em alta” já não é mais o suficiente. É necessário ter foco naquilo que é desejado. O engraçado é que a dinâmica do mercado está cada vez mais exigente, mas, ao mesmo tempo, contraditória, querendo funcionários especializados e que sejam também generalistas, ou que cumpram a “multitarefa”. Persistência, talvez, seja a palavra do momento. A profissão, por mais simples que seja, quando realizada com determinação e sabedoria, é reconhecida. Reconhecida, às vezes, por alguém que você nem imagina e até mesmo nem conheça. O mercado pode ser cruel, mas, sem ter como fugir dele, você escolhe o sucesso ou a derrota.
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CIDADE
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
QUANDO A VIOLÊNCIA ACONTECE EM CASA Gabriela Dalton relata as medidas que podem ser adotadas nessa situação
A violência contra as mulheres pode ocorrer em diversas fases da vida. Ela acontece em qualquer classe social, podendo se iniciar ainda na infância e seguir até a terceira idade. A violência no âmbito doméstico e na vida sexual, muitas vezes, é
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cerceada pelo silêncio, pelo medo e pela dor. Instituições públicas ajudam, em diversas localidades, na prevenção e no apoio a essas vítimas. Em Viçosa, existe um projeto chamado Casa das Mulheres. Procurada pelo OutrOlhar, a cabo Ivone, assesso-
A maioria delas vem com um histórico de violência, muitas até estão ameaçadas de morte. Normalmente, elas não procuram ajuda na primeira vez em que são violentadas, até porque não reconhecem muitas atitudes como violência.
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Ana Santos
ra de imprensa da Polícia Militar de Viçosa, relata que são registrados, aproximadamente, dois boletins de ocorrência por dia de agressões contra as mulheres na cidade. A Casa das Mulheres oferece apoio jurídico e psicológico para essas vítimas, disponibilizado pelos estudantes da UFV. A psicóloga da Casa, Ana Santos, conta que a equipe auxilia as mulheres agredidas a tomarem as medidas necessárias. - Fazemos um acolhimento para orientar as mulheres em relação à Lei Maria da Penha, explicando para elas quais são as medidas de proteção que podem conseguir e onde procurar ajuda para isso. Os alunos encaminham-nas para as instituições parceiras e há vezes em que acompanham essas mulheres, trabalhando junto com a Defensoria Pública para solicitar as medidas protetivas – explica. Por vezes, as vítimas vão até a casa em uma situação de desespero. A psicóloga acredita que essas mulheres
adquirem uma esperança de saírem da vida de violência extrema devido ao apoio que recebem na instituição. - As vítimas chegam muito fragilizadas, necessitando de alguma ajuda para que elas saiam da situação em que vivem. Elas acabam ficando dependentes do trabalho da polícia e da Casa, mas chegam desesperadas na tentativa de encontrar alguém ou alguma instituição que possa auxiliá-las. A maioria delas vem com um histórico de violência, muitas até estão ameaçadas de morte. Normalmente, elas não procuram ajuda na primeira vez em que são violentadas, até porque não reconhecem muitas atitudes como violência. Como, por exemplo, as violências psicológica, moral e patrimonial. A maioria delas não vê isso como violência – afirma Ana Além do apoio psicológico recebido, é essencial que a mulher que sofra algum tipo de agressão procure sempre um apoio judicial para procedimentos jurídicos. O
professor do Departamento de Direito da UFV, Ricardo Lemos, esclarece a atitude que as vítimas devem tomar. - Qualquer vítima de violência doméstica deve procurar uma autoridade policial para que possa registrar o boletim de ocorrência. Deve-se levar toda a documentação quanto à agressão que foi sofrida, inclusive, se for necessário, os exames periciais para se comprovar as lesões à integridade física da vítima. Dessa forma, tudo vai ficar documentado e a pessoa terá uma base para solicitar medidas protetivas através da Lei Maria da Penha – explica. A Casa das Mulheres está localizada em frente à Delegacia de Viçosa, e funciona das 8 às 18 horas. O Governo também oferece um apoio imediato a esses casos por meio da Central de Atendimento À Mulher, que funciona 24 horas por dia, no telefone 180. Se você conhece alguma vítima de violência doméstica, denuncie. Não deixe o que começa com gritos terminar em silêncio.
OS PREJUÍZOS DA VARIAÇÃO DO TEMPO Caroline Mauri apresenta como essas mudanças influenciam no cotidiano de em Viçosa (MG)
Fotografia por Caroline Mauri
Cultivo de hortaliças é um dos mais prejudicados pelas fortes chuvas, intensificadas devido a variação da temperatura durante o verão Não é de hoje que Viçosa é conhecida pelas suas alterações de tempo. Há quem diga que aqui é possível vivenciar as quatro estações do ano em um só dia. No período de verão, essas variações se tornam mais frequentes. Isso ocorre por vários motivos, mas, principalmente, pelo aumento da umidade do ar que o calor causa, gerando mais nuvens e chuvas que caem com a mesma facilidade com que se formam. Esses fatores prejudicam
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a região em um aspecto geral, principalmente, as áreas de risco, como morros e encostas, e aceleram a degradação dos cursos d’água, ambos afetados pela erosão do solo. De uma maneira mais específica para a agricultura, atividade econômica comum na cidade, as grandes variações de temperatura durante o dia afetam a fotossíntese e a transpiração das plantas, interferindo em seus aspectos fisiológicos, como afloração e amadurecimento de frutos.
Segundo o professor de Fertilização do Solo da UFV, Edson Mattiello, o fato se agrava ainda mais com a alternância de períodos de sol e de chuva. – Um período seco e de sol intenso diminui o crescimento vegetal, ou seja, a cobertura do solo. Somam-se a isso, as constantes queimadas que ocorrem nessa época, intensificando a exposição do solo para o novo período de chuvas, que, por sua vez, agravam
a erosão e o deslizamento de barreiras – explica. Arrastando partículas e nutrientes das camadas superficiais da terra, a erosão empobrece o solo e reduz sua fertilidade, sendo um dos problemas mais comuns em locais de relevo acentuado como o de Viçosa. – A grande quantidade de chuva prejudica também o cultivo de hortaliças em baixadas, seja pelo processo de inundação, seja pela proliferação de doenças agríco-
las, afetando a oferta desses produtos no mercado e, consequentemente, seu preço – complementa Mattiello. Ainda segundo o professor, para evitar prejuízos nessa situação, é importante que se realize um levantamento das áreas de risco e a revegetação dos locais degradados. Aos agricultores, cabe evitar a realização de queimadas e garantir o manejo correto das áreas agrícolas, mantendo a cobertura vegetal.
CIDADE
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
CALOUROS MOVIMENTAM MERCADO IMOBILIÁRIO Todos os anos, Viçosa recebe novos moradores. Eles são, em sua maioria, jovens que possuem o intuito de estudar na UFV. Por esta razão, existe uma grande movimentação no mercado imobiliário da cidade. Muitos estudantes buscam por vagas em repúblicas, que são casas onde moram grupos em média de quatro ou mais alunos. Dessa forma, as contas saem a um preço mais baixo, mas nem sempre há vagas. Entretanto, outros preferem locar um apartamento, pois optam por um número reduzido de moradores, por maior privacidade, mesmo que isso custe um pouco mais caro. Edson Saraiva de Léles Júnior, funcionário de uma imobiliária de Viçosa, relata que janeiro é o mês em que há maior procura por imóveis. E que as pessoas devem atentar para detalhes como documentação, valores, necessidades do futuro morador, condições dos apartamentos avaliados e que não ofereçam riscos. - A pessoa deve procurar o que se adequa ao seu perfil, financeiramen-
Fotografia por Letícia Natalina
Leticia Natalina apresenta a grande procura por imóveis no início do ano
Estudante analisa a oferta de aluguéis na cidade de Viçosa durante o período de matrícula das instituições de ensino te falando, e também com relação ao local, à locomoção, à segurança, ao preço, como já foi dito. Visitar o imóvel sempre, e olhar direito o tamanho e outras coisas - explica. Danielle Oliveira, caloura do curso de Agronegócio, começou a sua busca por um novo lar pela internet, por meio de grupos de repúblicas no Facebook.
Mesmo antes de vir para a cidade, fazer sua matrícula, ela já havia agendado algumas visitas para conhecer as casas e os moradores. Mas o que ela considera ser o mais importante é ir ao local para conhecê-lo, conversar com vizinhos e buscar por informações para só depois fechar um contrato. - A oferta é muito grande, as imobiliárias algumas
vezes querem apenas fazer negócio. É preciso que a própria pessoa se preocupe em avaliar as condições do lugar, olhar a questão de segurança e o conforto. Afinal, é uma cidade nova, você precisa se sentir bem, pois não é fácil viver longe de casa – conta ela. O ideal é que o estudante determine quais são suas prioridades e desejos
antes de buscar uma nova moradia. Outras atitudes importantes são conversar com pessoas que moram nos locais há mais tempo e sempre visitar os imóveis. Grande parte das imobiliárias de Viçosa localiza-se próximas ao campus, é fácil encontrar uma. A exigência de documentos costuma sofrer poucas variações de uma imobiliária para outra.
BARULHO DAS FESTAS INCOMODA MORADORES
Fotografia por Monique Bertto
Monique Bertto traz a visão dos dois lados da história na cidade de Viçosa
Barulho excessivo prejudica a saúde e a concentração
Imagine a cena: você está estudando para uma prova importantíssima de matemática que terá no dia seguinte, às 8 da manhã. Tenta se concentrar, mas no andar de baixo seu vizinho está dando uma festa com o som no último volume. Você simplesmente desiste porque o barulho torna isso impossível. Mas o que, além disso, poderia ser feito neste caso? Foi nessa situação em que o estudante da UFV, Tales Campos, se viu diversas vezes. O barulho dos vizinhos se tornou constante e, muitas vezes, fez com que ele saísse de casa para poder estudar. - Eu deixava de ficar na minha própria casa porque o barulho me incomodava muito. Quantas vezes eu não tive que dormir na casa de algum amigo, algum conhecido, só para não arrumar confusão no prédio - conta. Em Viçosa, muito se discute sobre o barulho que as festas em repúblicas provocam e sobre o distúrbio que causam aos seus vizinhos. Embora a lei ampare quem se sinta lesado pelo som alto, um diálogo sim-
ples pode resolver as coisas em grande parte das vezes. Éverton Marques também é estudante da UFV e organiza festas em repúblicas na cidade. Ele conta que entende que os vizinhos têm razão em reclamar e, por isso, sempre que alguém se incomoda com o barulho, eles rapidamente diminuem o volume ou encerram o som. - Sempre procuramos o diálogo, conversamos com o carro da fiscalização ou da polícia e desligamos o som imediatamente. Outra solução que buscamos é planejar as festas para que se encerrem, ou o volume diminua, antes das 22 horas. Deste modo, evitamos a reclamação do vizinho e criamos uma política de boa vizinhança. Não creio que proibir tudo seja a melhor solução, prezo sempre pela conversa para que seja possível chegar a um ponto em que possamos nos divertir sem incomodar o sono ou o descanso alheio – explica. O estudante Pedro Cursi também conta que em duas ocasiões a polícia foi chamada até a sua república
por causa do som alto. Para ele, algumas reclamações realmente têm fundamento, mas também existem outros tipos de barulhos que não são levados em consideração muitas vezes. - Em alguns casos, os vizinhos são exagerados e reclamam de qualquer barulho que acontece. O problema é que eles mesmos fazem barulho. Mas como são por motivos diferentes, brigas de casais, brigas com filhos, entre outros, eles acham que podem reclamar só porque o barulho que a gente faz é por causa de festa. O que é incoerente. – opina Pedro. Existem muitos pontos de vista divergentes sobre esse assunto, e os limites que dividem ambas as partes também não são muito bem definidos. Em todo caso, se você se sentir incomodado com algum barulho exagerado próximo a sua casa, saiba que existem diversas leis federais e municipais que permitem acabar com o abuso sonoro; mas o diálogo, assim como em tantas outras situações, continua sendo a melhor opção.
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CIÊNCIA E TECNOLOGIA
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
Fotografia por Pedro Cursi
Jovens perdem a noção do tempo e passam horas mexendo no celular
CELULARES QUE FAZEM DE TUDO, ATÉ CHAMADAS TELEFÔNICAS Pedro Cursi justifica a preferência pela mensagem de texto
Quantos aplicativos você tem no celular? Você nem precisa ser fissurado em tecnologia para sentir vontade de usar, pelo menos, alguns
deles. Conhecidos como apps, esses softwares (programas) são desenvolvidos especificamente para equipamentos móveis. Sejam re-
lacionados à educação, aos bate-papos, às redes sociais ou a qualquer outro segmento, eles são cada vez mais numerosos, tornando rara a
utilização do aparelho para a sua função principal: a de fazer chamadas telefônicas. Para João Lucas Vinhal (19), estudante do Curso de Engenharia de Produção da UFV, os aplicativos ganharam espaço por dois motivos: a facilidade na hora de utilizá-los e o fato de terem um custo muito baixo ou mesmo de serem gratuitos. Uma chamada, por exemplo, em alguns desses aplicativos pode variar de R$ 0,20 a R$ O 80, dependendo da operadora. Em contrapartida, alguns apps de bate-papo podem gravar áudios e enviá-los como mensagem sem nenhum custo, basta que o celular esteja conectado à internet. Ainda segundo João Lucas, outro fator que aumenta a popularidade desses programas é que eles podem ajudar as pessoas tímidas a se expressarem. - Quando eu comecei a paquerar, ainda existia aquela vergonha. Eu tinha medo do assunto acabar e
ficar um clima chato. Aí eu mandava mensagem para ela, e o tempo que ela demorava para responder me dava a chance de pensar em alguma outra coisa - conta. Há quem prefira, no entanto, usar os bate-papos ao invés da ligação para preservar a privacidade. Pedro Machado (22), aluno do Curso de Geografia da UFV, fala que em certa ocasião estava na rua e precisava conversar com seu irmão. Para que as pessoas não ouvissem a conversa, ele utilizou uma rede social para enviar um texto e manteve sigilo sobre o assunto. Independente dos motivos que levam as pessoas a usarem esses softwares, o que se pode observar nas ruas, escolas e até mesmo em igrejas, são as várias pessoas utilizando o celular para além da ligação. É bem provável que, ao fim desta leitura, você olhe para o lado e se depare com alguém utilizando o celular desta maneira.
Nunca foi tão fácil se localizar Ana Richardelli apresenta as vantagens que os aplicativos de localização oferecem
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Outros serviços que têm feito sucesso
Fotografia por Ana Richardelli
Se localizar em uma cidade até então desconhecida: este é o principal desafio encontrado pelos calouros ao chegarem a Viçosa. Encontrar restaurantes, pontos turísticos, o cinema e até a própria Universidade Federal de Viçosa pode se tornar uma tarefa considerada difícil para os novos estudantes, mas a solução para este problema está mais perto do que se imagina. Com a disseminação de tablets, iPads, smartphones e outros, é cada vez maior o número de aplicativos que chegam ao mercado com o objetivo de atender as demandas dos consumidores. E uma das necessidades mais frequentes entre os jovens é a de se informar sobre o local onde vivem. Buscando alcançar essa fatia de mercado, as grandes empresas de serviços têm lançado aplicativos como o Google Maps e o Mapas, que permitem a visualização de mapas e de imagens de satélite de inúmeras cidades do globo terrestre. A partir deste recurso, os usuários podem simplesmente digitar o endereço desejado que o serviço disponibiliza a rota mais fácil de ser percorrida para chegar até ele, com o auxílio de fotos.
Foursquare Criado em 2009 e de origem norte americana, o Fousquare é uma rede social que possibilita ao usuário visualizar dicas e opiniões sobre os mais diversos lugares. Integrado ao Google Maps, o serviço fornece a posição exata e o momento em que o cliente fez check-in em um determinado local, ao mesmo tempo em que oferece também a localização de seus amigos. O download do aplicativo é gratuito e disponível para Android, BlackBerry, iOS, Windows Phone e Windows 8.
Alunos recorrem ao serviço, disponível em computadores, para se localizarem na cidade A estudante de Direito, Mariana Rocha (19) reconhece a importância de ter acesso a esses aplicativos pelo celular. Segundo ela, plataformas como essas podem ser úteis na hora de encontrar o local de algum compromisso:
- Assim que eu descobri que poderia baixar esse serviço no meu celular, resolvi testar e deu certo. O tempo que a gente economiza é muito grande. Esse aplicativo já me ajudou a encontrar desde casas de
amigos até locais de reuniões do estágio – conta. Além disso, outra ferramenta incorporada a um desses aplicativos torna possível que os estudantes obtenham informações instantâneas sobre acidentes
Aqui Pode Já pensou em encontrar um lugar que se adapte à sua necessidade em um só clique? É isso que o serviço Aqui Pode propõe ao usuário. Considerado um guia de locais, ele permite com que proprietários dos mais diferentes tipos de estabelecimentos façam cadastro no serviço. Desta forma, o usuário pode encontrar restaurantes, churrascarias, pizzarias, lanchonetes e baladas de um jeito rápido e prático. Além disso, ele informa quais desses lugares permitem a entrada de cachorros, crianças ou oferecem acesso para cadeirantes. Para conferir, acesse: www.aquipode.com nas ruas, obras que atrapalham o trânsito e até mesmo estatísticas sobre engarrafamentos. O download, disponível para os sistemas operacionais Android e iOS, pode ser feito gratuitamente por meio do celular.
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
Programas para celular
auxiliam nos estudos Fotografia por Ana Richardelli
Ana Moreira mostra uma nova forma de aprendizado por meio de dispositivos móveis
Interação entre o novo e o tradicional método de ensino
Em um tempo não muito distante, o avanço tecnológico permitiu um amplo e diversificado modo de adquirir informações. Os aplicativos móveis, softwares desenvolvidos para serem instalados em um dispositivo eletrônico móvel, são criados para facilitar a vida de seus usuários. Segundo o jornal francês Le Monde, o número de downloads desses aplicativos cresceu, aproximadamente, 74% em um ano. Associam este aumento ao número de venda de smartphones. Desta forma, a quantidade de jovens que fazem uso dessa ferramenta aumenta, situação que preocupa professores pelo uso abusivo de celulares dentro das salas de aula. Apesar de muitos serem vistos como distrações, os aplicativos também podem ser utilizados para fins aca-
dêmicos. Para a estudante de cursinho, Leilane Cristina (19), esta pode ser uma forma prática de tirar dúvidas, apesar da pouca quantidade de informação. – Você pode conferir e estudar a hora que quiser, e independente do lugar onde esteja. Mas, nos aplicativos gratuitos, a informação é limitada, tem pouca, isto é uma desvantagem. Eles servem mais para dúvidas rápidas e não muito precisas. – diz a estudante. O Eccológica, um aplicativo criado pelo estudante João Gabriel Alkimim (18), finalista do prêmio “Jovens Inspiradores de 2013”, foi construído para gerar um impacto positivo na sociedade. Ele transforma os tablets e os celulares em uma ferramenta de entretenimento e de educação. João Gabriel digitalizou todo o material didático da escola para di-
namizar as aulas. Para a professora de uma rede privada, Denise Schiavon, esta pode ser uma ideia viável. – Acho muito válido para buscar por informações, mas sempre tem que haver um retorno, uma cobrança, na qual eu perceba nitidamente que, realmente, eles interagem com o assunto. – declara ela. Aplicativos como Edmodo, Frog Dissection, History: Maps the World, Professor Garfield, e The Elements, além dos apps de idiomas como LinguaLeo, Babbel, Duolinguo, e Voxy, estão entre os melhores para quem deseja se inteirar e aprender. Com o objetivo de tirar dúvidas, atualizar e pesquisar, essas ferramentas podem ser de grande valor para os estudantes que sejam empenhados e interessados neste novo meio de aprendizagem.
Nova febre entre os jovens Ele é o aplicativo que já tem 430 milhões de usuários. Só em dezembro de 2013, 30 milhões tiveram acesso ao Whatsapp, considerado por muitos como um novo vício, tanto quanto o Facebook. Gratuito no sistema operacional Android e antes pago no iOS, agora o aplicativo para smartphones é grátis em todas as plataformas, mas cobra 1 dólar (R$ 2,34) após um ano de uso. Mas afinal, o que o Whatsapp tem de tão atrativo? Como mais importante, ele permite a troca de mensagens a qualquer momento desde que o usuário tenha conexão com a internet. Segundo o Financial Times, ele tem feito para SMS em celulares o que o Skype fez para chamadas internacionais em telefones fixos. Além disso, é possível a troca de áudios, imagens, uma gama de emoticons, vídeos, contatos e até localização. Para facilitar ainda mais a vida dos usuários, outra característica importante é a possibilidade de conversas em grupos, muito utilizadas para a re-
Fotografia por Bruna Santos
Saiba mais sobre o Whatsapp e as seus benefícios por Bruna Santos alização de eventos ou de um simples social, e, também, como meio de estudo. No Brasil, o aplicativo está presente em 72% dos aparelhos, como mostra um levantamento da empresa de pesquisas OnDevice. Na África do Sul e na Indonésia, os números
também são relevantes. Uma pesquisa apontada pelo G1 relata que os adolescentes brasileiros estão começando a substituir a rede social por aplicativos quando o assunto é conversar com os amigos. Carolina Batalha (17), estudante do Ensino Médio, confirma este fato.
- Converso com a maioria dos meus colegas pelo Whatsapp. É tudo muito simples e, pelo fato de ser através do celular, posso conversar em qualquer lugar. Estou usando mais ele do que o Facebook e o Twitter. E, pelo o que estou vendo, quase todo mundo
da minha turma também. Carol, como gosta de ser chamada, também conta que existe um grupo com todas as meninas da sua sala de aula. Lá, elas comentam sobre trabalhos, tiram suas dúvidas, além de, lógico, colocar os assuntos em dia.
O aplicativo que não sai das mãos dos jovens permite o envio de áudio, mensagens, imagens e vídeos
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VIDA E SAÚDE
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
MUDANÇAS CORPORAIS NA PÓS-MODERNIDADE Dentro de toda a história, diversas civilizações utilizaram técnicas de modificação corporal como forma de pertencimento e de manifestação de símbolos que os caracterizavam em uma determinada sociedade, tribo ou grupo. Quando nos deparamos com esses mesmos processos de modificação do corpo em nossa sociedade contemporânea, podemos perceber uma mudança de sentidos e resignificações. Cirurgias plásticas, tatuagens, piercings, implantes, entre outros tipos de intervenções, atualmente, ganham cada vez mais espaço e aceitação em diversos âmbitos da nossa vida cotidiana. A psicóloga Regina Marquez esclarece que a forma como as modificações corporais são utilizadas hoje em dia, em grande parte, possuem a contribuição e a influência da mídia e da publicidade que estão inseridas na lógica capitalista em que vivemos. - Um ponto no qual devemos prestar atenção, principalmente, no que diz respeito aos jovens, é em relação ao consumo que se faz da nossa mídia atualmente. A mídia, os veículos de comunicação e, em boa
Fotografia por Lucas Kato
Lucas Kato entrevista especialistas nas técnicas de intervenção estética parte, a nossa sociedade capitalista, criam padrões de beleza e de estética que reforçam um sentimento de individualização e de espetacularização do corpo. O mundo moderno e a busca por uma identidade pessoal e ideológica provocam o aumento na demanda por intervenções estéticas ou cirúrgicas. Clínicas de cirurgias plásticas, estúdios de piercings e tatuagens, entre outros, saíram da
clandestinidade, ganharam profissionalização, puderam avançar em questões técnicas e tecnológicas, e estão cada vez menos marginalizadas em nossa socidade. O tatuador Vítor Coelho fez sua primeira tatuagem aos16 anos. Hoje, aos 31, ele é profissional da área e diz que acha difícil pensar em tatuagens e em piercings dentro de um contexto social mais amplo. Ele afirma que cada tipo de mo-
dificação representa algo ou possui valores identitários e ideológicos diferentes em cada indivídio. - É como se fosse uma marca. Uma marca pessoal que vai integrar e interagir com o corpo e com a identidade da pessoa. Essa marca pode vir de experiências, ideologias, ou de uma arte que a pessoa gostaria de ter eternizada. Por outro lado, por questões éticas profissionais, procuro não me in-
Modificar o estado natural do corpo tornou-se uma prática recorrente entre os jovens
trometer, mas, como tatuador, também me preocupa a banalização de algo que eu considero como arte. Tenho atendido jovens que só se preocupam com a questão estética. Essa fase da vida é cheia de dúvidas e de questionamentos, e isso pode trazer futuros arrependimentos. Para você tomar a decisão de intervir no estado natural de seu corpo, é preciso pensar muito sobre isso e ter também maturidade. Os jovens podem receber e serem influenciados diariamente por ideais que reforçam a escolha pessoal, a vaidade, a independência, a originalidade e a atitude. Quando percebidos por outros ângulos, é possível entender que a maioria dos indivíduos também procura aceitação dentro dos grupos nos quais eles se identifiquem e possam se sentir pertencentes, afirma a psicóloga Regina. As modificações corporais na nossa sociedade contemporânea, quando feitas com responsabilidade, podem ser representadas como um ato de construção identitária. É uma dinâmica na qual os indivídios podem ter a sensação de apropriação de si mesmos e liberarem-se da estética convencional.
TRISTEZA CONSTANTE PODE SER DOENÇA Veja os sinais da depressão e descubra como tratá-la com Camila Denadai
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podendo ser afetadas em qualquer idade, inclusive quando adolescentes. – Eu me sentia sempre muito cansada, dormia o
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dia todo. Chorava por qualquer coisa também. Parecia ter perdido o sentido, sabe? Queria me trancar no quarto e não sair mais.
O tratamento, na maioria dos casos, alia a farmacologia à psicoterapia. ambos são essenciais para que o indivíduo volte a ter uma vida saudável. Bruna Cardoso
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Como diz o poeta Vinínicus de Moraes, “a felicidade é como a pluma que o vento vai levando”. Mas é preciso que ela exista. É comum sentir-se triste por acontecimentos do dia-a-dia. Esse sentimento faz parte da condição humana. Na adolescência, as alterações hormonais, as pressões com a escolha profissional, entre outros dilemas típicos da faixa etária, podem mexer com o jovem. Contudo, é preciso estar atento: quando a melancolia se torna persistente, pode ser um sintoma de depressão. Segundo dados de 2012 da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo,
– Hoje aos 18 anos, Renata* conta a sua experiência dos 15. Foi a mãe quem a levou ao psicólogo após perceber as crises, especialmente por já haver outros familiares com depressão. De acordo com a psicóloga Bruna Cardoso, há outros sinais que podem identificar a doença, como irritabilidade, isolamento social, falta de prazer nas atividades cotidianas, sentimento de culpa, transtornos alimentares e de sono. Ela ainda comenta que a depressão geralmente é causada por múltiplos fatores: – A predisposição genética somada a situações estressantes, como assaltos, morte de ente querido, doenças físicas, bem como algumas drogas, como cor-
tisona, anfetaminas, álcool e maconha, podem desencadear a doença. – Bruna diz e ainda emenda que “caso se perceba alteração das relações pessoais e se apresente os sintomas, o jovem deve conversar com a família e procurar um atendimento profissional.” – O tratamento, na maioria dos casos, alia a farmacologia à psicoterapia. O medicamento prescrito por um médico ou psiquiatra alivia os sintomas, enquanto a psicoterapia realizada por um psicólogo trabalha a causa da depressão. Ambos são essenciais para que o indivíduo volte a ter uma vida saudável. – complementa. Nota da redação: Nome fictício usado à pedido da fonte.
VIDA E SAÚDE
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
ANIMAIS ABANDONADOS NAS RUAS CONTINUAM SENDO PROBLEMA PARA A CIDADE Fotografia por Yane Guadalupe
Yane Guadalupe explica a importância da castração para evitar transtornos nas ruas de Viçosa
Sem castração, cães abandonados aguardam em lar temporário por adoção responsável Muito se fala do grande número de animais abandonados nas ruas de Viçosa (MG). Nas redes sociais, as pessoas se comovem e fazem apelos para que esses animais sejam adotados e não se tornem vítimas de maus tratos. Ocorre que um grande número de estudantes que passam pela cidade ado-
tam ou adquirem um animal e, quando formam, o abandona ou o deixa nas ruas. Os voluntários da SOVIPA (Sociedade Viçosense de Proteção Animal) lidam diariamente com casos de atropelamento em que as pessoas não prestam socorro ao animal, e de pessoas que os maltratam nas situa-
ções mais absurdas. De acordo com eles, tem crescido os casos de maus tratos e de abandono de animais na cidade. O problema é que, por mais eficientes que sejam os trabalhos realizados pela SOVIPA, eles não são suficientes para atender à demanda da cidade. A Socie-
dade Viçosense de Proteção animal é uma organização não governamental que vive de doações e de trabalho voluntário. Segundo a presidente da SOVIPA, Cássia Dardengo, “muitos cães doentes são abandonados nas ruas e ali se reproduzem, inclusive cães de raça e animais que foram adotados.” - Os donos argumentam que têm mais o quê fazer lamenta. Uma das ações da organização é a promoção de feiras de adoção aos fins de semana. Entretanto, a castração ou esterilização dos animais é a maneira mais eficiente de reduzir o número de cães abandonados. O procedimento impede que eles se reproduzam e gerem filhotes que também ficariam nas ruas. A adoção de um animal precisa ser levada a sério. Eles necessitam de higiene e de boa alimentação, além de afeto, é claro. A castração é um ato de amor ao seu cachorro de estimação para se evitar que novos animais se-
jam abandonados nas ruas. - A esterilização (castração) dos cães é necessária, tendo em vista o quê um animal abandonado sofre nas ruas. Isto traz uma série de problemas para toda a sociedade. A irresponsabilidade de um indivíduo que não dá atenção ao seu animal traz prejuízo para a sociedade como um todo - argumenta a presidente da SOVIPA. Nota da redação: A matéria da castração de animais tinha por objetivo abordar também a questão do fechamento do canil municipal, que, por convênio, funcionava na Universidade. Atualmente, o canil não está recebendo novos animais. O veterinário responsável pelo local pediu demissão alegando superlotação de cachorros no canil e falta de mão de obra para ajudá-lo. Procurados pela nossa reportagem para se manifestarem sobre o assunto, os atuais responsáveis, por “motivo de férias” ou “compromissos de agenda”, não puderam conceder entrevistas.
UM JEITO DIFERENTE DE SER E SENTIR
Fotografia por Camila Macedo
Camila Macedo mostra o importante desafio sobre a inclusão da criança autista na sociedade
Existe um consenso em torno do que caracteriza o autismo. Ele é entendido como aspectos que indicam déficits na comunicação e na interação social. De acordo com a Associação de Amigos do Autista (AMA),
essas características estão presentes antes dos três anos de idade, e atingem 0,6% da população, sendo quatro vezes mais comuns em meninos do que em meninas. Estudo divulgado pelo Centro de Controle e Prevenção de
Doenças (CDC), nos Estados Unidos, mostrou que o autismo afeta uma em cada 88 crianças. - Dependendo do grau, ele pode levar a pessoa a ser reclusa e a viver em seu próprio mundo, mas outras pessoas se desen-
Inseridas ao meio social, os autistas tem melhores condições de desenvolvimento
volvem muito bem, podendo até ter uma vida social bem próxima do habitual e obter sucesso em vários ramos, inclusive na vida profissional. – explica a psicóloga Priscila Ferreira de Oliveira. Em dezembro do ano passado, a legislação brasileira deu um passo em direção à inclusão e à aceitação social das pessoas com autismo, principalmente em sua vida pedagógica. A Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764), que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, significou uma grande vitória para os autistas, seus familiares e profissionais da área. A psicóloga Priscila acredita que “é importante fazer um trabalho reabilitador com a escola, com a sociedade e com os próprios familiares. Não adianta tratar apenas o
autista, é preciso tratar a sociedade em que ele vive. A conscientização social é fundamental, e a criação desta lei será um grande avanço.” Segundo a empresária Glauciane Lima, mãe da pequena Gabriela (5), que possui um grau leve de autismo, “os pais precisam ter consciência de que a responsabilidade de educar é deles, e devem acompanhar de perto o processo de ensino-aprendizagem de seus filhos.” O autismo foi um dos temas abordados no horário nobre da Rede Globo, na novela Amor à Vida. A personagem Linda, interpretada pela atriz atriz Bruna Linzmeyer, chamou a atenção sobre o respeito e o amor que devemos ter com as pessoas autistas, sendo também uma forma de quebrar os preconceitos existentes.
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CULTURA
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Entre tambores e gonguês:
cultura
a expressão do maracatu em Viçosa
para todos
Caroline Bacelar descreve um pouco do ritmo afro-brasileiro Fotografia por Gabriel Novais
Popularmente conhecido como um ritmo musical, o maracatu originou-se no estado de Pernambuco (PE) em meados do século XVIII. Caracterizado, principalmente, pela percussão forte com uso de tambores, caixas, taróis, ganzás e gonguê, o ritmo está longe de ser apenas uma opção de lazer. Também conhecido como Baque Virado, ele é utilizado pelo Maracatu Nação como uma manifestação da cultura afro-brasileira. Atualmente, os grupos reúnem diversos participantes interessados em sua cultura e as atividades são divididas em oficinas e ensaios. Nas primeiras, acontecem aulas técnicas instrumentais. Dos ensaios, participam aqueles que foram selecionados a partir das oficinas para representarem o grupo em apresentações festivas. A partir da popularização do ritmo, várias outras manifestações culturais surgiram pelo país. Em Viçosa, o maracatu ganha força com o “Grupo de Cultura Popular O Bloco”. Mais conhecido como “Bloco”, o grupo surgiu em junho de 2006 após a iniciativa de estudantes da Uni-
Apresentação do Bloco no Centro de Vivência da UFV versidade Federal de Viçosa (UFV). O objetivo inicial era realizar uma reunião para estudar os ritmos percussivos afro-brasileiros. A estudante de Educação Física, Lívia Cunha (19) participou por quatro meses do grupo. - O Bloco ensina seus participantes nas oficinas sobre cultura e ritmos afro-brasileiros com técnicas de percussão e canto. Além de ser uma atividade divertida com dança e música agitada, o que mais me motivou a entrar para o maracatu foi meu interesse em conhecer diferentes culturas. E o gru-
po nos desperta um respeito e interesse por essa cultura. Desde a sua formação, o Bloco se apresenta em diversos eventos do município, como na tradicional Marcha Nico Lopes e no circuito de festas para a Nossa Senhora do Rosário. As oficinas são abertas ao público e acontecem nas terças-feiras, às 19 horas, e nas sextas-feiras, às 12 horas. Já os ensaios são aos domingos a partir das 16 horas. Todas as atividades ocorrem na Casa da Paz, situada na Vila Giannetti, no campus universitário da UFV.
Mariana Elian conta sobre Feira do Conhecimento A cultura está relacionada a todas as formas de conhecimento, seja o acadêmico, seja o popular. A Feira do Conhecimento de Viçosa teve início em 2009 e, desde então, acontece anualmente na Praça Silviano Brandão e procura dar espaço aos estudantes de Ensino Básico e Médio, com toda a mistura entre estas duas vertentes. O projeto foi idealizado e iniciado pelo Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef (MCTAD). A Feira acontece ao final do ano e busca reunir os trabalhos de escolas públicas de educação básica, realizados ao longo do ano e que estejam vinculados à Universidade Federal de Viçosa. Recentemente, ela passou a integrar a programação do Simpósio de Integração Acadêmica (SIA) e a da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. - A Feira cresceu e tomou novas proporções. Sua participação no SIA ampliou as possibilidades e foi um elo para a apresentação e exposição dos trabalhos desenvolvidos pelos estudantes em conjunto
com a UFV - afirma Fernanda Souza, funcionária do MCTAD. Os processos para a participação na Feira do Conhecimento podem ser de vários tipos e formatos, como os projetos desenvolvidos por meio de programas de iniciação à docência (PIBID), à extensão (PIBEX), e científica (PIBIC), e como os projetos de extensão, os programas de educação tutorial (PETs), os estágios de ensino e os projetos pedagógicos diversos. - A variedade de projetos disponíveis é muito importante para a diversificação dos trabalhos. Os projetos procuram atender diferentes demandas e pessoas, sempre pensando nessa interação da cidade com a Universidade. A Feira procura incentivar os estudantes a participar do meio acadêmico – completa Fernanda. Para aprimorar e expor seus conhecimentos, procure os projetos disponíveis na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFV no telefone (31) 3899-1747. São vários projetos que atendem aos mais variados interesses.
“OSTENTAÇÃO FORA DO NORMAL” Gabriel Novais conta a trajetória do novo gênero musical que tem como tema a cultura do consumo
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Arte por Lucas Kato
O funk deixa de mostrar apenas o cotidiano das periferias e passa também a falar sobre dinheiro, mulheres e fama. A criminalidade é substituída pela cultura do consumo e dá origem ao “funk ostentação”. O subgênero, que tem raiz na capital paulista, se expande e ganha o gosto dos jovens, assim como o do brasileiro em geral. Na televisão, nas rádios, e, principalmente, na internet, os mc’s e DJ’s marcam presença, tomando um lugar nunca antes ocupado pelo ritmo. No entanto, o percurso do subgênero até a popularidade foi longo. Para estourar em 2012, os primeiros passos tiveram que ser dados em 2008, quando gravadoras e produtores tentavam difundir o funk na Zona Leste de São Paulo. A região, até então monopolizada pelo rap, foi cedendo espaço ao ritmo de origem carioca. A mistura entre os gêneros aconteceu e os sucessos começaram a vir à tona.
Iniciada em São Paulo, o funk ostentação conquista o gosto dos jovens no Brasil MC Boy dos Charmes foi quem encabeçou o primeiro grande sucesso, em 2011, com a música “Megane”, que leva nome de um carro de luxo. O hit estourou no esta-
do de São Paulo e abriu portas para diversos outros mc’s, DJ’s, e até mesmo produtoras audiovisuais. Os clips começaram a ser cada vez mais bem produzidos para que
chamassem atenção na internet. A estratégia deu certo e São Paulo deixou de ser o limite do funk ostentação. MC Guimé é o mais conhecido das personalida-
des do ostentação. Seu grande hit “Contando os plaques de 100” conta com mais de 42 milhões de visualizações no YouTube. O astro não sai dos holofotes e ganha espaço junto a outros artistas que representam o gênero, influenciando adolescentes em todo o Brasil. – Conheci na internet, já gostava de funk, mas o ostentação me ganhou, batia com meu estilo – diz o estudante Arthur (16), que leva essa tendência como um estilo de vida. O adolescente viçosense completa. – Acho legal a parceria dos caras, eles estão juntos fazendo sucesso. Tem MC mais novo que eu ganhando grana. No Youtube você pode ver toda a saga percorrida pelo funk ostentação em um vídeo explicativo de três minutos. É só procurar “FUNK OSTENTAÇÃO EM 3 MINUTOS” no portal de videos.
COMPORTAMENTO
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
BOM CONVÍVIO FAMILIAR REFLETE NA ESCOLA Juliana Souza mostra a importância deste relacionamento nas atividades
Desde que foi fundada em 1965, em São José do Triunfo, Viçosa (MG), a Escola Estadual José Lourenço de Freitas vivencia inúmeras situações de dificuldade para atender às crianças e aos jovens do bairro e da região. A primeira construção, por exemplo, possuía apenas quatro salas de aulas, fazendo com que várias turmas se distribuíssem em casas alugadas ou doadas, que serviam de espaço para o aprendizado. No horário do recreio, todos se deslocavam para a sede para a refeição, o que hoje seria inconcebível em virtude do perigo que representa tantas crianças pelas ruas. Os arquivos da escola ainda guardam as fotos que registram os alunos praticando educação física em um lote vago do bairro. Em 1992, a escola ganhou mais algumas salas na sede, mas a situação melhorou para toda a comunidade somente em 2009, quando
os alunos, enfim, puderam estudar todos no mesmo local. Hoje, são, aproximadamente, 450 estudantes divididos entre o Ensino Fundamental e Médio. O colégio guarda muitas histórias de vitórias e de derrotas. São alunos que venceram na vida profissional, que ganharam medalhas, como na Olimpíada Brasileira de Matemática, mas também alunos que perderam suas vidas em função das drogas e de criminalidades, ou que largaram tudo para viverem na marginalidade. É com pesar que Marília Lopes Cardoso, funcionária da escola há 22 anos, contabiliza pelo menos oito mortes de ex-alunos desde o ano 2000. Para ela,
apesar do desenvolvimento e da evolução na parte estrutural do local, um fator que justifica este fato é o afastamento da família.
muitas vezes nós não temos esse suporte, muitas vezes a escola tem que fazer esse trabalho sozinha. E isso influencia de uma forma muito negativa. Nós podemos perceber, pelos dados que a gente tem dos alunos que têm assistência da família, é visível o resultado. Então é muito importante que os pais se envolvam.- explica Drogas, violência, gravidez na adolescência e outros assuntos polêmicos são uma realidade nas instituições de ensino de todo país. Este quadro não é diferente aqui. A participação da escola neste processo de discussão é fundamental, mas, como salienta Marília, o tempo que os jovens passam fora do âmbito escolar é muito maior.
“Nós precisamos muito contar com a família, para estar caminhando junto com a escola numa só direção” Marília Cardoso
- Nós precisamos muito contar com a família para estar caminhando junto com a escola numa só direção, e
Frustração na sala de aula Fotografia por Ana Moreira
Bruna Guimarães mostra desafios enfrentados pelos professores
Portanto, esse trabalho deve ser no mínimo conjunto. - Eu acho que o período que ele (o estudante) passa lá fora com os amigos, com a família, precisa ser complementado. Gabriel Santos (14) é um estudante da rede de ensino estadual da cidade e acredita que a presença de seus pais foi fundamental para seu desenvolvimento. - Meus pais sempre conversaram comigo sobre tudo, sexo, drogas, violência, e a escola também sempre fala dessas coisas com a gente. Então, não tem como não aprender. Os dirigentes da escola apelam para que os pais dialoguem mais com a instituição, busquem soluções conjuntas, participem ativamente na vida de seus filhos. Segundo a direção, muitas vezes o estudante expõe, externaliza todos os seus anseios e problemas dentro da sala da aula. Escutar a voz de um professor observador, muitas vezes pode salvar a vida de um jovem.
agressividade no ambiente escolar por Cássia Lellis
Uso de de celulares atrapalha rendimento de estudantes na sala de aula Peça fundamental na pessoal dos professores. deles. Corta o meu coração, formação de todas as ouConversas, brincadeiras, sair na rua e ver alguns dos tras profissões, o trabalho celulares e xingamentos ex- meus ex-alunos vendendo de professor ainda não re- plícitos direcionados ao pro- picolé na rua para ajudar cebe todo o respeito que fessor, assim como o desin- os pais. É muito triste você sua importância merece. teresse dos alunos, são fatos se esforçar tanto para ajuMuitas vezes, o desres- corriqueiros na realidade dar seus alunos e eles não peito vem daqueles a quem destes profissionais. Adriana demonstrarem o menor inesses profissionais mais se Diniz, professora da rede pú- teresse. – conta Adriana. dedicam: dos seus alunos. blica de ensino, relata o comOs professores tentam Segundo dados de 2013 da portamento infantilizado dos aconselhar, pedem respeito, Organização Internacional adolescentes que preferem se esforçam para consciendo Trabalho (OIT), a profis- brincar a valorizar a aula que tizar estes alunos de que um são de professor, juntamente ela conta preparar com todo futuro melhor depende deles com a de médico, está entre carinho e preocupação. Isso mesmos e de que isto comeas mais desgastantes, ge- já fez com que ela voltasse de ça na sala de aula. Recenterando uma alta incidência um dia de trabalho arrasada. mente, Adriana abandonou de afastamento por licença. - Eu queria poder ter or- o magistério e foi em busca O comportamento dos jo- gulho de ver um aluno bem de uma nova profissão. Sevens dentro da sala de aula, formado, queria poder con- gundo ela, foi difícil ajudar além de impactar o apren- tar para a minha família e quem não queria ser ajudizado, afeta também a vida amigos sobre o desempenho dado, remar contra a maré.
As brigas entre alunos são as responsáveis por ocupar a maior parte dos livros de ocorrência de muitas escolas de Viçosa. Os desentendimentos, que podem causar até mesmo agressão física entre eles, são um dos problemas mais recorrentes. Críticas, humilhações, apelidos, falar de forma desrespeitosa da mãe dos brigões, fofocas, preconceito e até atrair a atenção das meninas, são fatores que podem ocasionar esses conflitos. Vanderlei Donizete Lopes, diretor da Escola Estadual Alice Loureiro, afirma que, além desses motivos mais recorrentes, muitos conflitos começam fora da escola e acabam se concretizando na sala de aula. Ele também destaca as redes sociais como um possível “campo de batalha”, onde os alunos trocam ofensas e ameaças que prejudicam a convivência entre eles. São comuns também brigas entre estudantes que eram muito próximos e que, por brincadeiras excessivas e desagradáveis, ou mesmo por algum desentendimen-
to em um jogo de futebol, ficaram na inimizade. Isto faz surgir determinados grupos, dentro de uma mesma sala, que estão em constantes disputas e provocações. L.R.L é aluno da Escola Estadual Alice Loureiro e prefere não ter seu nome identificado. Ele admite já ter brigado algumas vezes. - Eu já briguei por vários motivos. Uma das brigas foi com um colega por uma brincadeira boba de puxar a cadeira. Caí no meio da sala, todo mundo riu, fiquei bravo demais e parti para cima dele. Teve também a vez em que um menino estava “cantando” a minha namorada. Até na hora de se divertir, sai algumas brigas. Uma vez, o menino furou a fila do ping-pong, isso causou confusão e envolveu muita gente - conta. O diretor Vanderlei esclarece que os casos de desentendimento entre os alunos exigem muita paciência e compreensão, por isso, inicialmente, ele busca conversar e resolver a situação da maneira mais amena, tentando ouvir as explicações de cada um.
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MEIO AMBIENTE
OUTROLHAR FEVEREIRO DE 2014
PLANTANDO BOAS IDEIAS E COLHENDO EQUILÍBRIO Descubra os benefícios da agroecologia na reportagem de Lidiany Duarte
Fotografia por Lidiany Duarte
O gosto da fruta consumida direto do pé é bem mais gostoso, não é mesmo? A natureza trata de cuidar e de nos presentear com a fruta bem docinha. Sempre foi assim, desde os tempos das nossas bisavós, a natureza faz bem o seu papel e nos dá o alimento de maneira saudável. Com o passar dos tempos e com a modernidade, o homem começou a investir no agronegócio, plantando com o auxilio de remédios – os agrotóxicos – para aumentar a produção, visando o lucro comercial. A natureza e a saúde das pessoas começaram a sofrer com essa interferência errada do homem no meio ambiente. Para mudar essa situação, surgiu o Movimento Agroecológico, que busca uma relação de equilíbrio entre a sociedade e a natureza. A Agroecologia é um modelo alternativo de agricultura socialmente justa, economicamente
Participantes do Projeto Mulheres e Agrocologia em Rede, desenvolvido pelo Centro de Tecnologias Alternativas viável e ecologicamente sustentável. Ou seja, além de respeitar a natureza, ela busca o respeito e a boa convivência entre as pessoas de culturas, gêneros e etnias diferentes.
Descarte de lixo eletrônico
Lucas Moura revela soluções para a cidade Com o elevado uso de equipamentos eletrônicos no mundo moderno, o chamado “lixo eletrônico” tem se tornado um grande problema ambiental quando não descartado de forma adequada. Composto pelo resíduo do material presente em, por exemplo, monitores de computador, telefones celulares, pilhas, baterias, computadores e impressoras, este tipo de lixo possui substâncias químicas (como o mercúrio) que podem provocar a contaminação do solo e da água. Além disso, também pode ser extremamente perigoso para a saúde de quem trabalha com o lixo diretamente em lixões, aterros sanitários ou mesmo nas ruas. De forma a não prejudicar o meio ambiente, o lixo eletrônico, assim como o comum, possui locais apropriados para o descarte. A Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa, logo em seu primeiro andar, é um dos lugares na Universidade que recebe pilhas e baterias usadas. Outros departamentos e centros também fazem a coleta. Os celulares também podem ser entregues nas próprias empresas de telefonia celular, que destinam corretamente o lixo, até mesmo para a produção de novos equipamentos.
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No ano passado, em campanha realizada em parceria com a Prefeitura de Viçosa, com a UFV e outros órgãos, o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) – responsável pelo fornecimento da água, tratamento de esgotos sanitários e limpeza da cidade –, recolheu mais de duas toneladas de lixo eletrônico. Segundo seu assessor técnico, Marcos Alves de Magalhães, quando não houver nenhuma campanha do gênero programada, o ideal é ligar para o serviço e agendar a retirada dos equipamentos maiores. - Se a pessoa descarta o lixo eletrônico em locais que não são apropriados, em lixeiras comuns da cidade, por exemplo, ela corre o risco de ter seu descarte misturado com outros lixos, o que prejudicaria o meio ambiente da mesma forma. Por isso, ao reunir uma grande quantidade desse tipo de resíduo, pedimos que nos liguem, pois iremos até a casa da pessoa buscar - disse. Mais informações: o agendamento para recolhimento do lixo eletrônico pode ser realizado pelo telefone do SAAE (31) 3892-6000. Então, vamos contribuir para um mundo melhor?!
Em Viçosa, o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA), por meio do desenvolvimento de projetos baseados nos conceitos agroecológicos, busca o fortalecimento da
agroecologia como ciência, prática e movimento, valorizando e incentivando a agricultura familiar por meios agroecológicos. Hoje, também há o Curso de graduação em Agroecologia. A
Universidade mais próxima com o curso é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IFET), que fica na cidade de Rio Pomba (MG), a 102 km de Viçosa.
SOBRAS DE CACHAÇA SÃO UTILIZADAS
NA PRODUÇÃO DE ETANOL Hugo Amichi mostra a ideia criativa dos fazendeiros da região Produtores de cachaça da região de Viçosa estão utilizando o resto da fabricação da bebida, que não pode ser consumida, para gerar etanol. Este combustível serve para o abastecimento de carros que ajudam em outras áreas de produção nas fazendas. Os alambiques, local onde a cachaça é produzida, precisam descartar cerca de 30% do produto que fabricam. Esta quantidade é chamada de “cabeça” (o início da destilação) e de “cauda” (o produto final da destilação). As duas porções eram consideradas grandes problemas dos produtores, e, além de serem muito tóxicas para o consumo, tinham alto custo para o descarte. Usando equipamentos que custam em torno de 15 a 70 mil reais, os fazendeiros conseguem eliminar o excedente de água que fica na cabeça e na cauda para produzirem o etanol. A proporção é de 2 litros de cabeça e cauda para 1 litro de etanol. O custo de produção de 1 litro de etanol está estimado em R$1,00 a R$1,50. Para o professor do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV, Juarez de
Souza e Silva (69), que disseminou a ideia na região em 1984, a produção desse etanol caseiro, além de ajudar na própria fazenda, também é um modo mais sustentável de fabricar o combustível. - Muito pelo contrário do que acontece com a grande usina, na produção de cachaça na pequena propriedade, nós fechamos um ciclo virtuoso. Praticamente, você não traz nada de fora da sua propriedade (exceto a adubação inicial), mas, durante os sete anos da manutenção da lavoura, alguns restos da cana, ponta e palha são dadas a animais que vão produzir mais adubo, sem contar a vinhaça, que são os restos de produção da cachaça usados para a fertirrigação das plantações. Portanto, toda a sobra é utilizada, não queimamos nada, o que prejudicaria o solo e causaria outros impactos ambientais na região. - explica Apesar de mais sustentável e eficaz, uma lei estadual (nº 15 456) não permite a produção deste etanol em larga escala. A lei estima que a produção diária do combustível seja de 5 mil litros para o consumo in-
terno. Segundo o professor, essa lei não apenas limita a renda dos pequenos produtores, como também a produção nacional do álcool. - Eles consideram o álcool uma estratégia do governo, eles colocam o álcool na gasolina, tiram o álcool da gasolina para controlar preço. Se o agricultor tem condição de colocá-lo no mercado igual ao leite é colocado, sem leis que restringem a produção, poderíamos produzir muito mais álcool do que está sendo produzido. A produção deste combustível está nas mãos de grandes produtores, e não dos pequenos. O leite aqui é o inverso, mas o leite não é uma forma de controlar o mercado, o álcool sim. Outra coisa que desanima a fabricação de etanol por pequenos produtores, é não ter onde usar a produção, pois ele é utilizado para consumo próprio – explica. A pequena produção de etanol, contudo, ainda é vista de forma criativa para pequenos fazendeiros. A briga para a produção em larga escala vai continuar acontecendo e as pesquisas na área continuarão, segundo afirma nosso entrevistado.